Baixar em PDF - Federação Brasileira de Gastroenterologia

Transcrição

Baixar em PDF - Federação Brasileira de Gastroenterologia
Consenso Nacional e Latino-Americano
sobre Helicobacter pylori
Luiz Gonzaga Vaz Coelho
6
A identificação do Helicobacter pylori, em 1983, por Marshall & Warren1 e
a rápida comprovação de sua participação em várias afecções gastroduodenais
repercutiu tremendamente na prática médica diária. Gastroenterologistas, clínicos, cirurgiões, patologistas e microbiologistas, entre outros, logo se dividiram
entre os absolutamente céticos (especialmente cirurgiões), os reticentes e aqueles
que, acompanhando e acreditando nos rápidos avanços publicados na literatura
internacional, iniciavam sua própria observação sobre o tema. Entre nós, reflete
essa estupefação inicial um artigo de revisão intitulado “Campylobacter pylori:
uma nova luz na etiologia da gastrite crônica e da úlcera péptica?” que enviamos,
em 1987, para a revista da Associação Médica Brasileira, que aguardou mais de
um ano para sua publicação2. E, inusitadamente, visto se tratar de um artigo de
revisão, foi acompanhado de um prudente editorial escrito por Zeitune &
Bettarello3.
A validação dos métodos diagnósticos para a identificação do microrganismo
por técnicas microbiológicas (teste da urease e cultura) ou histológicas, com
emprego de colorações especiais, logo permitiu a realização de estudos clínicos
objetivando determinar seu real papel na história natural da gastrite crônica e,
especialmente, da úlcera péptica. Em Belo Horizonte, Queiroz et al., em 1987,
ao adicionarem cloreto de tetrazolium ao meio de cultura, conseguiram conferir
uma coloração dourada às colônias de H. pylori, facilitando sua identificação,
método desde então conhecido como meio Belo Horizonte4. Ainda entre nós,
Barbosa et al.5, em 1988, desenvolveram método histológico específico para a
identificação do H. pylori utilizando a técnica de imunoperoxidase (peroxidaseantiperoxidase) ao empregar antisoros produzidos em coelhos, e Rocha et al.6
descreveram o emprego do esfregaço pela carbolfucsina na identificação do microrganismo. O desenvolvimento de métodos não-invasivos sensíveis e específicos
para a identificação do H. pylori, especialmente o teste respiratório com uréia
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
marcada com carbono 13 ou 14, ao dispensar a necessidade da realização de
endoscopia para coleta de material, facilitou sobremaneira a realização de ensaios
terapêuticos nas afecções gastroduodenais. Em 1990, em parceria com o Centro
de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), órgão da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) validamos, entre nós, no Hospital das
Clínicas da UFMG, o teste respiratório com uréia marcada com carbono 147.
Mais recentemente, foi também validado o teste com carbono 13, que, por não
ser radioativo, pode ser empregado também em crianças e gestantes8. Deve ser
ressaltado, entretanto, que em todo o mundo, inicialmente, a disponibilização
de métodos diagnósticos sensíveis e específicos permanecia restrita a poucos
centros especializados. Na prática diária, os médicos dispunham apenas do teste
da urease, muitas vezes manipulado artesanalmente e não validado, ou da pesquisa
histológica do microrganismo empregando-se a coloração H&E ou, menos
freqüentemente, alguma coloração inespecífica mais sensível.
Os ensaios terapêuticos iniciais mostraram que, embora o H. pylori fosse
sensível in vitro a uma ampla gama de antimicrobianos e a supressão temporária
do microrganismo logo após o final da terapêutica fosse facilmente obtida, a sua
erradicação – aqui definida como a ausência do microrganismo nos exames
realizados pelo menos um mês após o final do tratamento – não era facilmente
obtida. Logo foi observado que praticamente todos os agentes antimicrobianos
quando testados em monoterapia contra o microrganismo apresentavam resultados
sempre decepcionantes, com índices de erradicação não superiores a 30%.
O difícil acesso a métodos diagnósticos sensíveis e específicos aliado aos
problemas observados na erradicação do microrganismo originaram uma profusão
de propostas de tratamento – quase sempre baseadas em pequenas casuísticas –
que dificultavam a abordagem propedêutica e terapêutica dos portadores da
infecção. Ilustra bem este momento um estudo escocês que, ao analisar retrospectivamente os prontuários médicos de 156 pacientes tratados até o início da
década de 1990, em diferentes regiões da Escócia, observou que foram empregados 56 diferentes regimes anti-H. pylori; além disso, apenas um terço dos
pacientes tinha confirmação prévia da presença do microrganismo e somente
15% deles foram submetidos a controle da erradicação após a terapêutica9.
Em 1994, o conceituado Instituto Nacional da Saúde (NIH) norte-americano realizou, com grande repercussão, uma reunião de consenso propondo normas
para o manuseio da infecção pelo H. pylori 10.
No ano seguinte, sendo o Brasil escolhido para sediar, sob a presidência do
professor Luiz de Paula Castro, em Belo Horizonte, o XXIV Congresso PanAmericano de Enfermidades Digestivas, concomitantemente ao XI Congresso
Pan-Americano de Endoscopia Digestiva, XII Seminário Brasileiro de Endoscopia
Digestiva e o II Congresso Mineiro de Gastroenterologia, a Comissão Científica
128
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
destes acolheu a sugestão dos membros da regional mineira da Sociedade Brasileira
de Endoscopia Digestiva (SOBED) para realizar, durante os eventos, um Consenso
Nacional sobre H. pylori e Doenças Associadas.
CONSENSO NACIONAL SOBRE H. PYLORI E
DOENÇAS ASSOCIADAS
Como primeira providência, a Comissão Organizadora do Consenso, formada
por Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG), Carlos Alberto Silva Barros (MG) e David
Corrêa Alves de Lima (MG), enviou correspondência a todos os sócios da Federação
Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e da SOBED sobre questões envolvendo
essa infecção (Quadro 1).
Quadro 1. Questionamentos enviados aos sócios da FBG e da SOBED como
subsídio à realização do Consenso Nacional sobre H. pylori e Doenças Associadas
1. Em quem deve-se pesquisar o microrganismo?
2. Qual(is) o(s) método(s) de escolha?
3. Qual o número e local de coleta dos fragmentos de biópsia a serem obtidos?
4. Quem deve comunicar o(s) resultado(s) do(s) teste(s) ao paciente?
5. Quem deve ser tratado?
6. Principais esquemas terapêuticos.
7. Como realizar o controle do tratamento?
8. Re-tratamento. Quando e como?
9. Miscelânea: desinfecção do instrumental, infecção em familiares e crianças, custo
adicional dos métodos diagnósticos, relação com carcinoma gástrico.
Após essa consulta prévia, a Comissão Organizadora constituiu o grupo
responsável pela elaboração do Consenso, convidando mais dez profissionais nacionais com interesse e estudos na área para associarem-se àquela: Alfredo José Afonso
Barbosa (MG), Antônio Frederico Novaes Magalhães (SP), Celso Affonso de Oliveira
(MG), Dulcienne Maria Magalhães Queiroz (MG), Fernando Cordeiro (PE), Joffre
Marcondes de Rezende (GO), Luiz de Paula Castro (MG), Márcio Mateus
Tolentino (SP), Marcus Túlio Haddad (RJ) e Schlioma Zaterka (SP).
Em reunião ocorrida durante o Congresso Pan-Americano, realizado de 13
a 17 de novembro de 1995, o grupo definiu posições referentes a indicações de
pesquisa do microrganismo, os critérios para sua identificação, antes e depois do
129
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
tratamento, sugerindo ainda os métodos diagnósticos a serem empregados, o
local de coleta e o número de fragmentos a serem obtidos quando se procedesse
ao exame por endoscopia digestiva. No tocante à terapêutica anti-H. pylori, foram
ainda acordadas as situações em que sua indicação já estava definida, bem como
aquelas ainda consideradas em experimentação. Na ausência de estudos multicêntricos nacionais e claramente representativos da realidade brasileira, o grupo
decidiu sugerir recomendações terapêuticas gerais, ao invés de propor esquemas
definidos, particularizando, entretanto, variáveis como duração de tratamento,
número de antimicrobianos, associação com anti-secretores e período ideal para
realização do controle de erradicação. Por fim, foram feitas recomendações quanto
à oportunidade de retratamento e cuidados para desinfecção do instrumental
endoscópico.
Um texto preliminar foi redigido pela Comissão Organizadora e, após aprovação por todos os membros participantes, foi encaminhado para publicação no
GED – Gastroenterologia Endoscopia Digestiva, órgão oficial da FBG e da SOBED,
vindo a lume no volume de março/abril de 199611.
Dada a relevância e atualidade do tema, ficou estabelecida uma avaliação deste
primeiro Consenso em um dos próximos eventos nacionais das especialidades, bem
como da ativação do “Núcleo Brasileiro para o Estudo do Helicobacter pylori ”, fundado
em Porto Alegre, em 1994, durante a realização do XXXIII Congresso Brasileiro de
Gastroenterologia e IX Congresso Brasileiro de Endoscopia Digestiva. Os quadros 2
a 7 ilustram as principais recomendações emanadas desta reunião.
Quadro 2. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: critérios diagnósticos
Na endoscopia
Utilizar, pelo menos, dois métodos dos discriminados abaixo:
urease + histológico
urease + esfregaço
Alternativas
Sorologia em indivíduos virgens de tratamento ou
Teste respiratório com uréia marcada com C13 ou C14
Biópsias: local e número de fragmentos
* 1 fragmento representativo do antro para teste da urease
* 2 fragmentos do antro para histologia ou esfregaço
130
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
Quadro 3. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: quando pesquisar
Sempre que solicitada pelo clínico, ou
Nas seguintes situações
• Úlcera péptica duodenal
• Úlcera gástrica
• Duodenite erosiva
• Pregas gástricas hipertrofiadas
• Suspeita de linfoma
Quadro 4. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: quando tratar
Terapêutica definida
• Úlcera péptica duodenal
• Úlcera péptica gástrica
• Duodenite erosiva
Terapêutica experimental
• Gastrite antral acentuada
• História familiar importante de câncer gástrico
• Linfoma MALT bem diferenciado restrito à mucosa
• Encefalopatia porto-sistêmica
Quadro 5. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: recomendações terapêuticas
1. Período de tratamento: 7 a 14 dias
2. Associar dois ou três dos seguintes antimicrobianos:
a) Amoxicilina
b) Tetraciclina
c) Claritromicina
d) Furazolidona
131
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
(continuação)
e) Metronidazol/Tinidazol
f) Sais de bismuto
3. Associar um anti-secretor:
a) Inibidor da bomba de prótons, ou
b) Antagonista dos receptores H2
Quadro 6. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: controle de tratamento
1. Época do controle: no mínimo três meses após o término do tratamento
2. Métodos de escolha:
a) Teste respiratório com uréia marcada com C13 ou C14 é o método ideal
b) Caso não seja disponível o teste respiratório, utilizar endoscopia com biópsias da
seguinte forma:
• colher dois fragmentos do antro e dois do corpo e colocá-los no mesmo frasco para
teste da urease
• colher dois fragmentos do antro e dois do corpo e colocá-los no mesmo frasco para
histologia
• total: oito fragmentos
Quadro 7. Consenso Nacional Sobre o H. pylori e Doenças Associadas –
H. pylori: recomendações para retratamento
• Duração: 7 a 14 dias
• Utilizar pelo menos três antimicrobianos associados a anti-secretor
• Não repetir o metronidazol nem a claritromicina
• Não tentar terapêutica de erradicação do H. pylori mais do que três vezes
• Se for possível, utilizar cultura e antibiograma
132
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
CONSENSO LATINO-AMERICANO SOBRE
A INFECÇÃO POR H. PYLORI
Durante sua gestão à frente da Associação Interamericana de Gastroenterologia
(AIGE), o professor Luiz de Paula Castro, estimulado pela reunião do Consenso
Brasileiro de 1995 e pelo apoio imediato de colegas latino-americanos, decidiu
promover, em 1999, uma reunião de consenso sobre infecção por H. pylori no
âmbito latino-americano, nomeando-nos, juntamente com Raúl León Barúa, do
Peru, para organizá-lo.
Os organizadores decidiram então que este seria realizado de 17 a 20 de
fevereiro de 1999 no Hotel Rio Othon, em Copacabana, na cidade do Rio de
Janeiro, com um representante de cada sociedade latino-americana filiada à AIGE,
indicado, por sua qualificação e interesse na área, pelo presidente da sociedade
nacional, além de experts internacionais especialmente convidados para esse evento.
Constituiu exceção a Argentina, que participou com três representantes, embora
com direito a apenas um voto. Isto se deveu ao fato de aquele país possuir duas
entidades nacionais de gastroenterologia e de uma terceira entidade – Clube do
Duodeno –, já envolvida em organizar uma reunião de consenso semelhante na
América Latina, ter abdicado deste, unindo-se à AIGE e enviando um representante.
Organizado pela Congress Ltda., de Belo Horizonte, teve o apoio da indústria
farmacêutica (Abbott, Astra, Byk Química, GlaxoWelcome e Janssen-Cilag), cujos
representantes puderam assistir ao encontro, porém sem direito a voz ou voto.
O Consenso apresentou como principais objetivos:
a) orientar o médico latino-americano na melhor forma de abordar os indivíduos infectados pelo microrganismo;
b) organizar e sistematizar o conhecimento latino-americano na área;
c) estimular a realização de estudos multicêntricos internacionais na América
Latina; e
d) sensibilizar entidades governamentais ou não para a complexidade e dimensão do problema associadas a este microrganismo.
Ficou deliberado que a reunião não seria aberta ao público externo e seria
dividida em quatro workshops: Epidemiologia, Patologia e Patogenia, Diagnóstico
e Clínica, Tratamento e Vacinas. Em cada workshop, cinco representantes de
cada país latino-americano apresentaram os estudos realizados na área em seu
país. A seguir foram proferidas uma a duas conferências de atualização no tema
específico pelos experts internacionais. Cada workshop contou com um presidente
e um relator, os quais redigiram, logo após o seu término, uma síntese contendo
todos os dados apresentados, conclusões e uma proposta de recomendações sobre
o assunto. No último dia, uma reunião plenária com participação de todos os
países decidiu, em votação unitária por país, as recomendações propostas à
133
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
comunidade latino-americana. As conclusões desta reunião foram apresentadas
pelos coordenadores do Consenso, em reunião especial durante o Congresso
Panamericano de Gastroenterologia (GASTRO 99), realizado em agosto/1999,
em Vancouver, no Canadá, e publicadas em periódico internacional12.
Foram indicados como representantes da Argentina
Argentina: Rodolfo Ernesto Corti,
Rodolfo Emilio Pedrana e Fernando Man; Bol
Bolíívia
via: Jaime Saravia Burgos; Brasil:
Chile:
ômbia: Oscar Gutierrez;
Schlioma Zaterka;
Antonio Rollan Garcia; Col
Colô
Costa Rica: Edgard Izquierdo S.; Cuba: Miguel Gonzales-Carbajal Pascual;
E quador: Gustavo Ayala; México: Margarita Dehesa Violante; Paraguai: Jesus
to Rico: Rafael Mosquera;
u: Alberto Ramirez Ramos; Por
eru:
orto
Ortiz Villalba; Per
R ep
ú
blica
D
ominicana:
U
r
ugua
i
zuela:
epú
Dominicana: José Ariel Ortega; uguai: Henry Cohen; Vene
enezuela:
Ramon Piñero. Além dos representantes dos países acima mencionados também
participaram como convidados internacionais os Drs. Richard Hunt (Canadá),
Pelayo Correa (EUA), Francis Mégraud (França), Mario Quina (Portugal),
Eamonn Quigley (Reino Unido), Thomas Monath (EUA), Jorge Valenzuela
(Chile) e Alejandro Bussalleu Riviera (Peru). Como convidados brasileiros
participaram Marcus Túlio Haddad (RJ) e os membros da diretoria da AIGE
(Luiz de Paula Castro, Jerônimo Martins de Andrade, Celso Mirra de Paula e
Silva e David Lima).
O programa científico do evento foi assim constituído:
QUINTA-FEIRA (17/2/99)
WORKSHOP SOBRE EPIDEMIOLOGIA
Presidente: Dr. Jerônimo Martins de Andrade (Brasil)
Relator: Dr. Schlioma Zaterka (Brasil)
8h30 – 8h40
Abertura
8h40 – 9h
Conferência: América Latina: Fonte precoce e variada
do conhecimento sobre Helicobacter pylori e patologia
gastroduodenal – Dr. Raúl León Barúa (Peru)
9h – 9h50
Representantes do Chile, Brasil, Argentina, Costa Rica,
Peru e Bolívia
9h50 – 10h15
Discussão
10h15 – 10h45 Intervalo
10h45 – 11h15 Palestra: Epidemiologia do H. pylori – Dr. Francis
Mégraud (França)
11h15 – 11h30 Discussão
11h30 – 12h
Palestra: Epidemiologia do câncer gástrico na América
Latina – Dr. Pelayo Correa EUA)
12h – 12h15
Discussão
12h15 – 14h
Almoço
134
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
WORKSHOP SOBRE PATOLOGIA E PATOGENIA
Presidente: Dr. Alejandro Bussalleu Riviera (Peru)
Relator: Dr. Rodofo Emilio Pedrana (Argentina)
14h – 14h50
Representantes do Chile, Argentina, Colômbia,
Equador e México
14h50 – 15h15 Discussão
15h15 – 15h45 Palestra: Patogenia da infecção por H. pylori – Dr.
Richard Hunt (Canadá)
15h45 – 16h
Discussão
16h – 16h30
Coffee break
16h30 – 17h
Palestra: Patologia da infecção por H. pylori – Dr. Pelayo
Correa (EUA)
17h – 17h30
Discussão
SEXTA-FEIRA (18/2/99)
WORKSHOP SOBRE DIAGNÓSTICO E CLÍNICA
Presidente: Dr. Celso Mirra (Brasil)
Relator: Dr. Henry Cohen (Uruguai)
8h30
Abertura
8h30 – 9h
Conferência: H. pylori e dispepsia funcional – Dr. Eamonn
Quigley (Irlanda)
9h – 9h50
Representantes de Cuba, Paraguai, Porto Rico,
República Dominicana e Uruguai
9h50 – 10h15
Discussão
10h15 – 10h45 Coffee break
10h45 – 11h15 Palestra: Diagnóstico da infecção por H. pylori – Dr.
Mario Quina (Portugal)
11h15 – 11h30 Discussão
11h30 – 12h
Palestra: Microbiologia da infecção por H. pylori – Dr.
Francis Mégraud (França)
12h – 12h15
Discussão
12h15 – 14h
Almoço
WORKSHOP SOBRE TRATAMENTO E VACINAS
Presidente: Dr. Marcus Túlio Haddad (Brasil)
Relator: Dr. Jorge Valenzuela (Chile)
14h – 14h10
Schlioma Zaterka (Brasil)
14h – 14h50
Representantes da Venezuela, Brasil, Colômbia, Costa
Rica, Peru e Bolívia.
14h50 – 15h15 Discussão
135
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
15h15 – 15h45
15h45 – 16h
16h – 16h30
16h30 – 17h
17h – 17h30
Palestra: Tratamento da infecção por H. pylori – Dr.
Richard Hunt (Canadá)
Discussão
Coffee break
Palestra: Vacinas – Dr. Thomas Monath (EUA)
Discussão
SÁBADO (19/2/99)
REUNIÃO PLENÁRIA
Coordenadores:
9h – 9h15
9h15 – 9h45
9h45 – 10h
10h – 10h30
10h30 – 10h45
10h45 – 11h15
11h15 – 11h30
11h30
11h45
12h15
12h45
–
–
–
–
11h45
12h15
12h45
13h
Luiz Gonzaga Vaz Coelho (Brasil) e Raúl León Barúa
(Peru)
Leitura das propostas do relator do workshop sobre
Epidemiologia
Discussão e votação das propostas do relator
Leitura das propostas do relator do workshop sobre
Patologia e Patogenia
Discussão e votação das propostas do relator
Leitura das propostas do relator do workshop sobre
Diagnóstico e Clínica
Discussão e votação das propostas do relator
Leitura das propostas do relator do workshop sobre
Tratamento e Vacinas
Discussão e votação das propostas do relator
Coffee break
Apresentação pelos relatores das conclusões finais
Encerramento
Ao término dos exaustivos trabalhos do Consenso, todos os participantes do
Consenso se confraternizaram assistindo ao deslumbrante desfile das Escolas de
Samba campeãs do carnaval carioca de 1999.
Nos quadros 8 a 12 acham-se resumidas as principais recomendações e
propostas de estudo emanadas do Consenso.
Quadro 8. Consenso Latino-Americano Sobre H. pylori –
H. pylori: epidemiologia – recomendações de estudo e conclusões
Recomendações de estudo
• Modos de aquisição da infecção
• Comportamento da infecção na infância, em especial antes dos dez anos de idade,
mediante métodos diagnósticos sensíveis e específicos
136
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
(continuação)
• Freqüência e mecanismos de clareamento espontâneo da infecção em crianças
• Estudos populacionais avaliando a prevalência da infecção em relação a condições
socioeconômicas, sanitárias e educacionais
Conclusões
• Por suas diferentes condições geográficas, demográficas e socioeconômicas, a América
Latina constitui região especialmente rica para estudos sobre a infecção por H. pylori
• A prevalência da infecção por H. pylori no continente latino-americano é alta, em torno
de 60%, variando de 30% a 90% na dependência das condições socioeconômicas da
população
• A infecção por H. pylori é adquirida primordialmente na infância, não sendo estabelecido
até o momento em que idade ela é mais comumente adquirida. Os dados atuais não
mostram diferenças entre sexos, tanto em adultos como em crianças
• A prevalência da infecção não é um marcador para risco de câncer gástrico. Enquanto a
primeira é muito semelhante em diferentes países da América Latina, o último varia
consideravelmente
Quadro 9. Consenso Latino-Americano Sobre H. pylori –
H. pylori: diagnóstico
Recomendações:
Gerais
• Cuidadosa relação custo–benefício ao decidir investigar a presença da infecção por H. pylori
• Campanhas educativas de esclarecimento aos clínicos gerais sobre o correto manuseio da
infecção pelo H. pylori
• Testes à determinação de anticorpos em saliva ou PCR, conquanto úteis, não estão ainda
indicados para a maioria da situações, ficando reservados para casos especiais ou
protocolos de investigação
Úlcera péptica
• Busca ativa de pacientes com antecedentes de ulcera péptica. Proceder propedêutica por
métodos não-invasivos (sorologia ou teste respiratório) e, em caso positivos, submetê-los
a tratamento
• Pacientes com úlcera complicada (por ex.: hemorragia ou perfuração), nos quais a pesquisa
de H. pylori não foi realizada, devem ter sua presença confirmada e, se positivos, tratados
• Usuários de AINEs portadores de úlcera péptica devem ser investigados. Caso infectados
por H. pylori, devem ser tratados
137
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
(continuação)
Câncer gástrico
• Considerar a pesquisa de H. pylori e eventual tratamento em familiares de primeiro grau de
pacientes portadores de câncer gástrico
Crianças
Em crianças, recomenda-se a realização inicial de testes diagnósticos não-invasivos
(sorologia, testes respiratórios com carbono-13 ou antígenos fecais)
Dispepsia
Pacientes com sintomas dispépticos com mais de três meses de duração e idade maior que 30
ou 40 anos (na dependência de viverem em regiões de alta ou baixa prevalência de câncer
gástrico) devem ser submetidos à endoscopia digestiva alta. Nesta, o método inicial de
pesquisa de H. pylori deve ser o teste da urease. Biópsias adicionais serão realizadas de acordo
com os achados endoscópicos, o contexto clínico e a prevalência local de câncer gástrico
Controle de erradicação
A confirmação da erradicação, quando indicada, deve ser preferencialmente realizada por
teste respiratório com carbono-13 ou 14, 4 a 6 semanas após o final do tratamento
Quadro 10. Consenso Latino-Americano Sobre H. pylori –
H. pylori: tratamento – indicações
Indicações indiscutíveis
• Pacientes com úlceras gástricas ou duodenais em atividade ou com antecedentes ulcerosos,
caso sejam positivos e não tenham sido tratados
• Pacientes com linfoma gástrico do tipo MALT de baixo grau
• Pacientes com câncer gástrico precoce após ressecção endoscópica ou cirúrgica
Indicações discutíveis
• Pacientes com dispepsia funcional. Não houve consenso nesta afecção, embora se
assinalasse a importância de considerar com maior ênfase a possibilidade de tratar
pacientes de países com alta incidência de câncer gástrico
• Pacientes com história familiar de câncer gástrico
• Pacientes com refluxo gastroesofágico patológico carecendo de uso prolongado de
inibidores de bomba protônica
• Gastrite acentuada diagnosticada por endoscopia e estudo histológico
138
CONSENSO NACIONAL E LATINO-AMERICANO SOBRE HELICOBACTER PYLORI
Quadro 11. Consenso Latino-Americano Sobre H. pylori –
H. pylori: regimes terapêuticos e recomendações
Regimes terapêuticos
• À semelhança do que foi observado em outras regiões do mundo, entre as combinações
terapêuticas com melhor eficácia, diversos estudos realizados na América Latina confirmam
que combinação de inibidor de bomba protônica (omeprazol 20 mg, lanzoprazol 30 mg,
pantoprazol 40 mg), claritromicina 500 mg e amoxicilina 1,0 g, duas vezes ao dia, por 7 a
14 dias (preferencialmente por 10 dias) é aquela que produz melhores índices de
erradicação
• Diferentes estudos realizados no continente latino-americano têm demonstrado a baixa
eficácia de regimes contendo metronidazol dado os elevados índices de resistência ao
antimicrobiano (47% a 70%) observados entre nós
• Esquemas terapêuticos empregando furazolidona podem ser considerados em populações
de baixa renda, com efeitos colaterais contornáveis
Recomendações
• Aumentar o número de estudos clínicos com furazolidona possivelmente associada a
antagonistas dos receptores H2 e tetraciclina ou amoxicilina
• Estudos em pacientes com gastrite acentuada, de forma a definir o efeito da terapêutica
de erradicação na evolução desta entidade
• Realizar estudos populacionais que definam a efetividade em relação ao custo da
terapêutica anti-H. pylori em dispépticos de países com baixa incidência de câncer gástrico
com aquela obtida em países de alta incidência
Quadro 12. Consenso Latino-Americano Sobre H. pylori –
H. pylori: vacinas
• O impacto que o H. pylori produz na saúde das populações da América Latina é de tal
magnitude que justifica políticas de saúde pública
• A vacinação representa o único método aceitável na prevenção de doenças associadas a
esta infecção, incluindo a úlcera péptica e o câncer gástrico
• A vacina ideal deve ser segura, bem tolerada (especialmente em crianças pequenas),
prevenindo a infecção ou reduzindo-a a níveis baixos (pelo menos 50% dos vacinados).
Preferencialmente, deve ser profilática e terapêutica
• A vacina deve ser constituída de um componente bem definido do H. pylori, além de um
ou mais adjuvantes aceitos clinicamente. Não deve produzir reações cruzadas com o
hospedeiro e deve conferir proteção à maioria das cepas
139
A GASTROENTEROLOGIA NO BRASIL II
(continuação)
• A vacina deve ser produzida com facilidade, em grandes quantidades e comercializada a um
preço razoável
• A via, o programa de imunização e a necessidade de reforço devem ser compatíveis com as
práticas atuais de imunização
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
Marshall BJ, Warren JR. Unidentified curved bacilli in the stomach of pacients with
gastrits and peptic ulceration. Lancet 1984; i:1311-5.
2. Coelho LGV. Campylobacter pylori: uma nova luz na etiologia da gastrite crônica e da
úlcera péptica? Rev Ass Med Brasil 1988; 34:14-7.
3. Zeitune JMR, Betarelo A. Editorial. Rev Ass Med Bras 1988; 34:3-4.
4. Queiroz DMM, Mendes EN, Rocha GA. Indicator medium for isolation of
Campylobacter pylori. J Clin Microbiol 1987; 25:2378-9.
5. Barbosa JA, Queiroz DMM, Mendes EN, Rocha GA, Lima Jr GF, Oliveira CA.
Immunocytochemical identification of Campylobacter pylori in gastritis and correlation
with culture. Arch Pathol Lab Med 1988; 112:523-5.
6. Rocha GA, Queiroz DMM, Mendes EN, Lage AP, Barbosa AJA. Simple carbolfuchsin
staining for showing C. pylori and other spiral bacteria in gastric mucosa. J Clin Pathol
1989; 42:1004-5.
7. Coelho LGV, Chausson Y, Passos MCF et al. Test respiratoire à l’ureé marquée au
carbone-14 pour le diagnostic de la colonization gastrique par Helicobacter pylori.
Gastroenterol Clin Biol 1990; 14:801-5.
8. Coelho LGV, Reber M, Passos MCF et al. Application of isotope-selective non-dispersive
infrared spectrometry for the evaluation of the 13C-urea breath test: comparison with
three concordant methods. Braz J Med Biol Res 1999; 32:1493-7.
9. Penston JG, Mistry KR. Eradication of Helicobacter pylori in general practice. Aliment
Pharmacol Ther 1996; 10:139-45.
10. National Institute Of Health – Consensus Conference. Helicobacter pylori in peptic
ulcer disease. JAMA 1994; 272:65-9.
11. Coelho LGV, Barros CAS, Lima DCA et al. Consenso Nacional sobre H. pylori e doenças
associadas. GED 1996; 15:53-8.
12. Coelho LGV, Léon-Barúa R, Quigley EMM et al. Latin-American Consensus Conference
on Helicobacter pylori infection. Am J Gastroenterol 2000; 95:2688-91.
140

Documentos relacionados

NT 02/2014

NT 02/2014 hepáticos anormais Fonte: MICROMEDEX

Leia mais

H.pylori

H.pylori puderam ser utilizados, de forma revolucionária, na prática médica diária de clínicos e gastroenterologistas. O alcance desta descoberta pode ser avaliado pelo resultado de inquérito recente entre ...

Leia mais