Confia nas Promessas do Senhor?

Transcrição

Confia nas Promessas do Senhor?
Confia nas Promessas do Senhor?
Data: 27 de Janeiro
Passagem Bíblica: Génesis 15:1-17:27
Confia nas Promessas do Senhor?
Contexto Geral
Depois de Abraão ter resgatado Ló, Deus confirmou as suas promessas de
protecção e recompensa a Abrão. Este notou que lhe faltava um herdeiro para receber as
recompensas prometidas por Deus e pensou que o seu servo Eliezer poderia servir como
seu herdeiro. Mas Deus assegurou a Abrão e a Sarai que eles teriam um filho e muitos
descendentes tão numerosos como as estrelas do céu. Abrão acreditou em Deus e o
texto bíblico diz-nos que isso lhe foi imputado como justiça. Entretanto, Deus deu
instruções para que Abrão preparasse uma cerimónia para que se realizasse o concerto,
sacrificando animais, cortando-os ao meio e criando um caminho entre as duas metades.
Então Deus selou o seu pacto com Abrão (Gn 15:1-21).
Dez anos depois de deixar o lar e caminhar para Canaã, Abrão e Sarai ainda não
tinham um único filho. Então ela sugeriu a Abrão que se deitasse com a sua serva Agar
e que tivesse um filho dela. Quando Agar concebeu, ela acreditou que era melhor do
que Sarai, e a sua atitude provocou a ira em Sarai, que a maltratou de tal maneira que
Agar teve de fugir. Deus encontrou Agar e falou com ela dizendo-lhe para voltar.
Também lhe prometeu que o seu filho Ismael teria muitos descendentes. Agar voltou e
deu à luz a Ismael (16:1-16).
Quando Abrão tinha 99 anos, Deus reafirmou o seu pacto com o seu servo,
realçando que multiplicaria a Abrão. Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, cujo
significado é que ele se tornaria o pai de muitas nações. Deus disse a Abraão que os
seus descendentes seriam uma grande nação e que reinariam na terra em que ele vivia.
Posteriormente, Deus declarou que o seu pacto seria com os descendentes de
Abraão por todo o tempo. Por isso deu instruções a Abraão para que praticasse a
circuncisão como sinal do pacto. Todos os machos que nascessem dos descendentes de
Abraão ou a qualquer dos seus escravos precisavam de ser circuncidado ao oitavo dia do
seu nascimento. Os machos que não fossem circuncidados não fariam parte do pacto de
Deus com Abraão (17:1-14).
A resposta de Abraão foi um sorriso ao imaginar-se, juntamente com Sara, pai
de um filho da sua própria mulher. Deus confirmou a sua promessa dizendo que Isaque
nasceria dentro de um ano. Entretanto, em obediência a Deus, Abraão circuncidou-se e
também a Ismael e a todos os machos da sua casa (17:15-27).
Confie na Palavra do Senhor (Gn 15:1-6)
Capítulo 15, versículo 1. Este capítulo tem características que se identificam com as
fontes E e J. Alan Jenks considera que esta passagem, pelo menos 15:1-6 e 13-16, tem
as características da fonte E (“Elohist”, The Anchor Bible Dictionary, vol. II, New York,
Doubleday, 1992, 480). As características principais da fonte E são: o uso da palavra
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Elohim; o sonho ou a visão como natureza das revelações divinas; reflexão nos
problemas de pecado, culpa e inocência e realce do “temor de Deus”. Outro aspecto a
ter em conta nas narrativas eloístas é o escopo histórico concentrado apenas em Israel,
começando com a abordagem divina a Abraão. Estas abordagens de Deus ao ser
humano provocavam um sentimento de temor, o qual se expressa nas diferentes
experiências que as pessoas vivem como resposta à vontade de Deus. Portanto, há uma
intenção clara do autor em fazer um apelo ao povo para viver em lealdade religiosa e em
obediência ao pacto. Por outro lado, as personagens exprimem as suas intenções e
mostram emoções fortes.
O versículo começa com a preposição “depois” (rj"a") de ligação com os
eventos, “estas coisas” (hL,aeh; μyrib;D]h"), anteriores para dar continuidade à narrativa.
Mas o importante é a menção de que “veio a palavra do Senhor”. O verbo que foi
traduzido por “vir”, em hebraico corresponde ao verbo “ser” (hy;h;), que neste caso
específico pode significar “aconteceu”. Como diz Wenham “isto é uma frase
tipicamente introdutória da revelação a um profeta, por exemplo, 1 Sm 15:10, Os 1:1;
mas em Génesis só se encontra aqui e no versículo 4” (Genesis 1-15, 327). A forma de
Deus se revelar é através de uma visão (hz,j}M"). Este termo é usado principalmente para
profetas que recebem a comunicação de Deus, a qual não estaria acessível de outro
modo. Esta forma não aparece muitas vezes, mas surge uma vez em Ezequiel e duas em
Números, na história de Balaão. Certamente está associada a um estado extático. No
caso de Abrão, a visão serve para que a palavra de Iavé aconteça na sua vida. Napier diz
que “o mistério da visão é o mistério da Palavra – o mistério da revelação do próprio
Deus e do significado da história à luz do seu impacto eficaz sobre ela, o seu reinado
sobre ela e do seu propósito final para redimir toda a história” (“Vision”, IDB, vol. 4,
791). Portanto, isto significa que Deus vai revelar o desenrolar da história a Abrão, para
que este confie na palavra do Senhor.
As primeiras palavras que o texto nos apresenta vindas de Deus são: “Não
temas” (ar;yTiAla"). Encontramo-nos perante um contexto Imperativo, em que o verbo
se encontra no Modo Volitivo, usando o Imperfeito com a negativa la". Esta negativa é
mais dissuasora do que categórica (Guilherme Kerr, Gramática Elementar da Língua
Hebraica, §240), pois expressa um desejo da parte de Deus.
Abrão tinha-se exposto a um perigo constante naquela região, que eram as
guerras, e ao libertar Ló mais estava sujeito a uma retaliação. É por isso que Deus se
apresenta como o seu “escudo” (ˆgem; - magen). O escudo era o objecto constituinte da
armadura de um soldado. Para que o guerreiro se pudesse defender ele teria de
transportar o seu escudo. Só usava escudo quem queria preservar a vida para o futuro.
O segundo símbolo usado por Deus é o de um “galardão”. A palavra rk;c;
(sakar) diz respeito à recompensa alcançada por um trabalho feito e também pela
fidelidade. Este conceito encontra-se já em Jr 31:16: “... reprime a tua voz de choro, e as
lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho”. (Cf. Is 40:10; 2 Cr
15:7). Estes dois elementos apontam para uma situação de guerra contra o inimigo. O
medo de enfrentar o futuro pode levar ao desânimo. Para combater este inimigo é
necessário aceitar Deus como nosso escudo e depois lutar confiantes na recompensa,
que certamente resulta na presença de Deus na nossa vida.
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Versículo 2. A forma como Abrão se dirige a Deus apresenta um novo título, yn;doa}
(Adonai). Constable, nas suas notas, diz que com este título “Abrão estava a colocar-se,
voluntariamente, sob a liderança soberana de Deus” (http://www.soniclight.com/
constable/notes/pdf/genesis.pdf). Na realidade a preocupação de Abrão é com a
recompensa: yliAˆT,TiAhm" (“O que me darás?”).
O Particípio Activo do verbo Ële/j (holeq) apresenta uma acção contínua, “eu
ando continuamente”. A situação em que ele se encontra ainda não foi quebrada. A
expressão “sem filhos” (yriyri[} faz lembrar a voz do profeta Jeremias em relação a
Jeoiaquim: “escrevei que este homem está sem filho, e é homem que não prosperará nos
seus dias; nem prosperará algum da sua geração para se assentar no trono de David e
reinar mais em Judá” (22:30), para depois anunciar a vinda de um renovo, cujo nome
será “O Senhor Justiça nossa”.
A dificuldade com este versículo encontra-se na palavra qv,m,Aˆb, (ben-mesheq)
traduzida por “mordomo”. Segundo Propp, nós não sabemos o significado desta
palavra, “embora desde Áquila (séc. I) mešeq tenha sido considerada como uma variante
ou uma soletração defeituosa de mašqe(h), “copeiro”( William H. Propp, “Eliezer”, The
Anchor Bible Dictionary, vol. II, New York Doubleday, 1992, 463). O Léxico DBD
traduz por “filho de aquisição”, isto é, “aquele que vai adquirir a minha casa” ou “o
herdeiro da minha casa”. A LXX traduz como um nome próprio: “o filho Maseq”.
Quase que parece haver um jogo de palavras uma vez que “Damasceno” é qc,M,D"
(dameseq). A época mais tardia que se conhece para a existência da cidade de Damasco
é 1482 a.C., numa lista de cidades siro-palestinas escrita nos muros do templo de Amun,
em Karnak, no Egipto(Wayne T. Pitard, “Damascus”, The Anchor Bible Dictionary, vol.
II, New York, Doubleday, 1992, 6).
O nome “Eliézer” em hebraico é composto por ylia,“, que significa “meu Deus”, e
por rz,[,, que significa “apoio” ou “força”.
Versículo 3. A dúvida persiste na mente de Abrão, porque a sua experiência lhe diz que
assim está a acontecer. A sua grande aflição era que um estranho nascido em sua casa
herdasse os seus bens. Nas aflições dificilmente se mantém um raciocínio claro,
facilmente se aponta o dedo a Deus, dizendo, por outras palavras, que ele era o culpado.
É de notar que o complemento “a mim” (yli - li) aparece antes do verbo, como forma de
realçar a pessoa de Abrão. Por outro lado o verbo ˆt"n; (natan), que significa “dar” está
no Perfeito, deduzindo-se que a acção está completa. Este sentimento de Abrão leva-o a
viver apenas na dependência daquilo que já viveu, nem sequer considera que o tempo de
acção de Deus poderia ainda estar incompleto.
Facilmente se pode deduzir que a palavra para “semente” ([r"z; - zara‘) significa
“descendência”, isto é, um filho que continuasse a memória de Abrão e herdasse aquilo
que ele possuía.
O que acontecia normalmente naquela época era que “um casal sem filhos
adoptava uma criança, muitas vezes um escravo, para os servir em vida e sepultar e
lamentar quando morressem. Em troca por este serviço, eles designavam o filho
adoptado como seu herdeiro presumível. Se ao casal nascesse um filho natural depois
desta acção, o filho natural tornava-se o herdeiro principal demovendo o filho adoptado
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para uma posição secundária. (Victor P. Hamilton, The Book of Genesis: Chapters 1—
17, 1990, 420).
Abrão confronta Deus com o “eis” (hNehi - hinneh), designando a realidade. Ele
tem alguém nascido na sua casa, o seu mordomo Eliézer. Literalmente o texto diz: “o
filho da minha casa” (ytiyBeAˆb,- ben-beiytiy)
Versículo 4. O autor repete que a “palavra de Iavé” veio a Abrão, mas sem usar o verbo
hy;h; (hayah). Mas certamente a expressão “eis” (hNehi - hinneh) realça a presença da
palavra de Iavé, contrastando com o “eis” do versículo anterior, nas palavras de Abrão.
O pronome, “este”, não se refere directamente a Eliezer, mas corresponde ao que Abrão
disse sobre “um nascido em sua casa”. O que a palavra de Deus quer dizer é que não
basta nascer na casa para se ter direito à herança, mas sim aquele que tem a sua fonte, a
sua origem, em Abrão.
O verbo ax;y; (yatsa’), que significa “sair; vir”, é usado com ênfase especial na
ideia de origem ou fonte, e está no imperfeito, designado acção incompleta. É muitas
vezes usado para referir que a salvação tem a sua fonte, ou origem, em Deus (Is. 51:5),
assim como a palavra que sai da sua boca (Is 45:23; Ez 33:30). A reforçar a ideia vem a
palavra h[,me (me‘eh) que é a fonte da procriação, isto é, a sua parte mais íntima.
Quase que podemos dizer “do mais íntimo do seu ser”.
Versículo 5. A associação de ideias surge com o verbo ax;y; (yatsa’) novamente. Só
que desta vez o verbo está no Imperfeito Hiphil (causativo) e é seguido da palavra
“fora” (≈Wj), que também pode significar “rua” ou “campo”. Deus faz Abrão sair para o
exterior, segundo o escritor sagrado é Deus que provoca esta saída. Deus continua a
conduzir o rumo da história. Abrão sai do interior para o exterior e é nesta relação com
o exterior que ele alcança o plano de Deus.
O verbo fb"n; (nabat) tem o sentido de “olhar com atenção”, “observar com
prazer, com esperança e expectação, com favor e com respeito”. Só olhando com
atenção Abrão conseguiria deixar de apontar o dedo a Deus, como o culpado do que se
passava na sua vida.
Contar as estrelas seria uma tarefa impossível para Abrão, mas para Deus não
seria impossível fazer da sua semente um povo numeroso como as estrelas. João, no
livro do Apocalipse, também diz que os remidos no céu são incontáveis (7:9). Constable
diz que “esta é talvez uma promessa sobre os filhos espirituais de Abrão, aqueles que
teriam fé em Deus como ele. Abrão pode não ter agarrado esta diferença uma vez que
deve ter tomado, naturalmente, a promessa como uma referência a filhos físicos” (http:/
/www.soniclight.com/constable/notes/pdf/genesis.pdf).
Versículo 6. Esta é a única resposta que o ser humano deve dar a Deus. O verbo ˆmia,“h,w]
(vehe’emin) encontra-se no Hiphil do verbo ˆm"a; (’aman) que significa “confirmar,
suportar” mas também “crer” ou “confiar”. Ele também transmite a ideia de “ficar
firme”.
A palavra bc"j;, no Niphal, significa “ser imputado”, “ser reconhecido” ou “ser
contado”. Provavelmente esta palavra está associada com a lei das dívidas. Os actos
eram contabilizados. Portanto, neste versículo temos um resumo dos versículos
anteriores em que “o acto de fé receptiva é reconhecida finalmente como um factor
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decisivo na relação com Iavé” (K. Seybold, “bcj”, Theological Dictionary of the Old
Testament, vol. V, Eerdmans, 1986, 243).
Deus concede justiça a quem crê nele. Hq;d;x] (tsedaqah) só aparece em
Deuteronómio e Génesis, no contexto do Pentateuco. Em Dt refere a atitude apropriada
de alguém que vive uma relação pessoal com Deus. Portanto, a justiça é a declaração de
aceitação de Deus do próprio acto de fé que Abrão realizou em direcção a ele. A fé
coloca uma pessoa numa relação perfeita com Deus, pois ele reconhece nesse acto a
atitude apropriada da parte do homem.
Confie no Tempo do Senhor (Gn 16:1-3)
Capítulo 16, versículo 1. Este capítulo apresenta uma de duas histórias relacionadas
com Agar (cf. capítulo 21). Há quem considere que este episódio tem origem na fonte
Javista e que depois foi redaccionada por alguém que viu elementos importantes na
fonte eloísta que se podiam inserir naquela (cf. O. Kaiser, Introduction to the Old
Testament, 92). Desta forma o redactor procurou integrar a concepção de um Deus que
actua de forma poderosa com um Deus que comunica pessoalmente. O Javista descreve
Deus como o divino que não precisa de dar muitas explicações, pois actua conforme
deseja e quando deseja. Assim, esta história possui uma construção teológica
sofisticada, cujo objectivo não é reflectir as tradições orais, mas “dar o conhecimento
geral de que Ismael era o nome de uma tribo beduína (ou tribos; Gn 16:12; 21:20-21) e
que Agar era a ancestral lendária dos ismaelitas” (Knauf, “Hagar”, ABD, vol. 3, 18).
Este autor ainda afirma que a menção da nacionalidade de Agar, egípcia, é “um plano
literário para ligar a história em Gn 16 com Gn 12:10-20. Se a primeira história de Agar
foi escrita no tempo de Ezequias, a nacionalidade de Agar pode dissimular a oposição
do autor à política estrangeira de Ezequias”. Mas se o objectivo dos escritores é
demonstrar que há um certo perigo em não se acreditar nas promessas de Deus, não será
uma forma de dissimulação do autor, mas uma mensagem clara do autor para o rei que
estava a apoiar-se na força do Faraó do Egipto. Sem dúvida, a mensagem desta história
reflecte a perda de paciência dos servos de Deus no que concerne à demora do
cumprimento da promessa. Como escreveu Calvino: “A fé de ambos era defeituosa,
não, na verdade, em relação à substância da promessa, mas em relação ao método que
eles utilizaram” (citado de Leupold, Genesis, vol. 1, Baker Book House, 493).
O versículo começa com uma referência a Sarai, e para o caso de alguém não
saber o autor realça que ela é a mulher de Abrão. Mas mais importante do que isto é a
menção de ela “não lhe gerava filhos” (/l hd;l]y; aOl – lo’ yaledah lô). O problema
persistia e a promessa de Deus não se via concretizada. No entanto o autor prepara-nos
para o que se vai seguir informando sobre a presença de Agar.
Algumas versões portuguesas têm: “e ele tinha uma…”. No entanto, no texto de
hebraico lê-se: “e ela tinha…” (Hl;w] – welah). Aqui a preposição l] (le) está associada ao
sufixo pronominal h; (ha), portanto Hl; (lah) significa “para ela”, mas na frase pode
traduzir-se: “ela tinha…”. Ela chamava-se “Agar” (rg;h; - hagar), uma palavra que
provavelmente virá de uma raiz que significa “abandonar, afastar”.
Versículo 2. Sarai continua a ser a protagonista desta história, pois é ela que toma
decisões neste assunto tão delicado. Era uma vergonha para o homem não ter herdeiros,
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mas para a mulher era um falhanço ignominioso. No entanto, ela não deixa de referir
que é Iavé quem a tem impedido de ter filhos. O verbo “impedir” (rx"[; - ‘atsar) está no
Perfeito, o que indica que para Sarai a acção de Deus está completa, realizada, nada
mais se pode fazer a não ser encontrar outra solução.
Yamauchi descreve que na cultura hurriana os maridos exigiam que se as suas
mulheres não pudessem dar à luz filhos, elas tinham de lhes providenciar uma
concubina de quem pudessem ter filhos (Edwin M. Yamauchi, "Cultural Aspects of
Marriage in the Ancient World," Bibliotheca Sacra 135:539 (July-September
1978):245). Este não parece ser o caso. Abrão não exigiu nada. Sarai é que pensou que
se Agar concebesse ela teria filhos dela. Duas ideias se apresentam aqui: ou ela os
adoptaria como seus ou tornar-se-ia fértil em consequência da concepção de Agar.
Muitos adoptam esta segunda posição (Samson Kardimon, "Adoption As a Remedy For
Infertility in the Period of the Patriarchs," Journal of Semitic Studies 3:2 (April
1958):123-26), porque parece que é o que acontece com as mulheres de Jacó. No
entanto, o texto aqui é muito claro quando diz “terei filhos dela” (hN;Memi – mimmennah),
é a preposição ˆmi (min) com o sufixo pronominal hN;M, (mennah).
Abrão deu ouvidos ao que Sara propôs. A palavra “ouvir” é [m"v; (shama‘).
Versículo 3. Abrão e Sarai estavam já há 10 anos em Canaã à espera de um filho como
Deus lhes prometera. Claramente a paciência de Sarai tinha-se esgotado. Brueggemann
afirma que “teologicamente, a narrativa assevera que Abraão e Sara não acreditavam na
promessa. Como em 12:10-20, Abraão tomou a promessa nas suas próprias mãos, não
querendo esperar que Deus realizasse o seu propósito inescrutável” (Genesis, 151).
Confie na Sabedoria do Senhor (Gn 17:1-2, 17-19)
Capítulo 17, versículo 1. Este capítulo 17 tem influência da tradição Sacerdotal, onde
se procura apresentar Abraão sem as grandes tensões entre a fé e a dúvida. De acordo
com esta tradição, Abraão é uma figura muito elevada, dominando a situação à sua volta
(L. Hicks, “Abraham”, The Interpreter’s Dictionary of the Bible, Vol. 1, Nashville,
Abingdon Press, 1962, 19). Deve ser por isso que a secção começa precisamente com a
menção à idade de Abraão.
A palavra ˆB, (ben) pode ser traduzida por “homem”, embora signifique “filho”.
Contudo tem-se traduzido por “idade” em vários textos (Gén. 5:32; 7:6 e outros),
porque está associada a um número respeitante a anos. Os 99 anos são uma indicação de
decrepitude. Com esta referência o autor deseja mostrar que Deus pode fazer algo
importante, mesmo com aqueles que, humanamente falando, para mais nada serviriam.
O verbo ha;r; (ra’ah), que significa “ver”, encontra-se no Niphal Imperfeito
jussivo, transmitindo a ideia de reflexo. Isto significa que é Deus quem pratica a acção
sobre si mesmo, de modo que a palavra passa a ter o significado de “aparecer”. Deus
deseja que isso aconteça. É da vontade de Deus aparecer a Abraão e falar com ele.
Deus apresenta-se como o yD"v" lae (El Shadai). A origem do termo “Shadai” é
completamente discutida, pois várias hipóteses têm sido aventadas. No entanto, parece
que Albright conseguiu provar que o “nome deriva de uma raiz da Mesopotâmia do
norte e chegou a Canaã com os ancestrais de Israel como um deus da família patriarcal”
(Betty Jane Lillie, “Almighty”, The Anchor Bible Dictionary, Vol. 1, New York,
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Doubleday, 1992, 160). A tradução da palavra por “Todo Poderoso” deriva da tradução
feita pela LXX e pela Vulgata, onde temos a palavra pantokravtwr (pantokrátôr), cujo
significado é “todo+poder”. Mesmo que não saibamos o verdadeiro significado da
palavra, resta-nos, no entanto, o facto de a palavra ter sido usada para designar um deus
que orientava a família. Esta palavra apresentava um deus familiar. Provavelmente este
conceito estará implícito neste texto. Deus é tão familiar que decide dar ao patriarca a
experiência de o conhecer “embora esta seja mais uma experiência intuitiva do que um
conhecimento empírico (“não lhes foi perfeitamente conhecido” [Ex. 6:3]); a completa
comunhão com Deus só é possível onde “o meu nome Iavé” é conhecido” (Martin Rose,
“Names of God in the OT”, The Anchor Bible Dictionary, Vol. 4, New York,
Doubleday, 1992, 1005).
Por isso mesmo, este Deus é o que pode dar ordens. Os imperativos que surgem
a seguir são muito importantes para a compreensão daquele termo. Gramaticalmente
temos um Imperativo, o segundo (hyeh]w, - weheyeh = “e sê”), que se encontra numa
dependência lógica do precedente. O uso do vav copulativo (w] traduzido por e) mostra
esta dependência, a qual serve para expressar uma certeza como consequência de uma
acção prévia. “Neste caso o primeiro imperativo contém, como uma regra, uma
condição, enquanto o segundo declara a consequência que o cumprimento da condição
envolverá” (E. Kautzsh (ed.), Gesenius’ Hebrew Grammar, Oxford, Clarendon Press,
1985, 325). Portanto, o sentido da frase é que se Abraão andar na presença de Deus
certamente será perfeito. A perfeição é uma consequência, e não algo que ele tenha de
produzir em si mesmo.
A palavra hebraica μymit; (tâmîm) transmite a ideia de “completo”.
Versículo 2. A palavra “concerto” (tyriB] - beriyt) aparece 13 vezes neste capítulo. É
difícil saber exactamente qual é a etimologia da palavra. Tem-se, no entanto, procurado
relacioná-la com a palavra hrb (brh) que tem a ver com uma refeição onde se
estabelece uma aliança. Os contratos entre as pessoas, normalmente eram feitos a partir
duma refeição. Este acto trazia consigo o sacrifício de um animal que era comido no
fim. No mundo antigo, portanto, o objectivo era estabelecer uma relação entre duas
pessoas, nações e mesmo entre Deus e uma pessoa. O Antigo Testamento mostra como
este acto tem uma tradição rica e complexa. O facto é que o conceito de “concerto,
aliança” “prova que a religião de Israel era histórica, e não a imaginação de gerações
posteriores” (Elmer B. Smick, “hrb”, Theological Wordbook of the Old Testament,
Vol. 1, Chicago, Moody Press, 1980, 129). Este concerto vem já desde os tempos
formativos da história de Israel.
O texto mostra que é Deus quem toma a iniciativa de concretizar este concerto.
Até porque Ele chama-o de seu - “o meu concerto”. Por outro lado, o concerto é visto
aqui como um objecto que se pode colocar entre duas pessoas, algo visível. O seu
conteúdo, porém, é cheio de promessas.
“Multiplicar” vem do verbo hb;r; (rabah) que significa “ser, ou tornar-se
grande”. Neste caso o verbo encontra-se no Hiphil, dando a ideia de uma acção
causativa activa. Isto significa que Deus é que provoca a multiplicação pela acção da
sua própria vontade.
Versículo 17.
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Versículo 18.
Versículo 19.
Verdades Bíblicas Para Transformação Espiritual
1. Precisamos de receber as promessas do Senhor na sua palavra pela fé.
2. Precisamos de confiar que Deus cumpre com as suas promessas à sua maneira e
no seu tempo em vez de querermos fazer as coisas pelas nossas próprias mãos.
3. Embora nem sempre compreendamos como é que o Senhor realizará as suas
promessas, podemos confiar que ele agirá de modo que reflicta a sua sabedoria
profunda.
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