artigo - Faculdade de Comunicação e Artes – PUC Minas
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VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC Meu nome é Itaú Unibanco, mas pode me chamar de Itaú Resumo Este artigo é resultado do trabalho de conclusão de curso e tem a intenção de compreender e refletir sobre a comunicação no contexto de organizações financeiras que vivenciam processos de fusão, por meio de um estudo específico sobre a fusão do Itaú com o Unibanco. O propósito é analisar os discursos produzidos nesse momento no Twitter. A partir de uma perspectiva de interfaces entre os campos da comunicação organizacional, da web 2.0 e da administração, pretendemos entender a recepção, por meio de uma análise dos tweets postados durante a fusão. A metodologia constitui-se de revisão bibliográfica, por meio de seminários sobre os conceitos utilizados, levantamento bibliográfico e estudo de caso utilizando o método quantitativo para interpretação dos discursos/posts, com categorização de tweets. Palavras-chave Comunicação Organizacional; recepção; discurso na web; fusões e aquisições; twitter. 1. Introdução A contemporaneidade tem sido marcada por uma série de fenômenos atrelados à globalização, ao crescimento da sociedade de consumo, às transformações no cenário econômico e às novas tecnologias. Tudo isso influencia o relacionamento e o modo de se comunicar do indivíduo. Ambientes como o Facebook, o Orkut, o MSN e o Twitter, na então web 2.0, proporcionam a circulação de uma grande quantidade de informações e de opiniões dos seus usuários. Por meio dessas mídias sociais pode-se, ao mesmo tempo, conseguir credibilidade para ações de política de uma empresa como trazer problemas de reputação para a mesma e de rejeição da sociedade. Um boato lançado na rede pode prejudicar a imagem de uma empresa, na medida em que nessa rede o compartilhamento é rápido e a opinião das pessoas, especialmente a dos “amigos” conectados, tem um grande poder de influência. É por esse e outros motivos que as mídias sociais são canais importantes quando se tem um contexto de fusão, que envolve não só as empresas, mas também seus empregados, os clientes, ou futuros clientes. Buscamos nesse artigo analisar o modo como os discursos produzidos, por ocasião da fusão – pelos dois grandes bancos brasileiros: Itaú e Unibanco circularam no Twitter. A opção por apreender como se deu tal processo comunicativo neste ambiente virtual deve-se à consideração de que um estudo sobre a comunicação no contexto das organizações não pode se limitar apenas aos discursos produzidos pelo Itaú e pelo Unibanco, mas, examinar, também, o modo como interagem com todos os outros discursos produzidos por aqueles que também se sentem impactados pela fusão, ou seja, a recepção. Para entender melhor a produção de discursos, foi necessário refletir sobre 1 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC alguns conceitos que permeiam a comunicação, especialmente o papel da recepção no processo comunicativo. 2. Transformações conectadas Todas as mudanças no cenário contemporâneo interferiram na concepção e entendimento do campo da comunicação. Se antes os receptores eram vistos como interlocutores passivos, agora eles são considerados participantes ativos do processo de comunicação, os papéis de emissão e recepção não são mais fixos. E com o surgimento das novas formas de interação junto ao advento da internet, os interlocutores ocupam novos espaços para se comunicar. Segundo Braga, “a introdução da internet permitiu, entre outras coisas, uma certa relativização do monopólio de produção de conteúdos midiáticos, vigente desde o surgimento dos meios eletrônicos”. (BRAGA, 2006, p.23). Isso significa que novos enunciadores ganharam espaço para dispersar conteúdos. As novas mediações deixaram a comunicação mais interativa e conforme La Fuente e Paula (2011), citando Silverstone (2002)1, a mídia passa a proporcionar não mais apenas informação, mas também entretenimento, conforto e novas experiências de interação. Ainda segundo as autoras, “entender as mídias como lugares de interação nos faz pensar em novas formas de relacionamentos, com códigos, linguagens, suportes e estratégias diferenciadas, com produções de sentidos até então inovadores”. (LA FUENTE, PAULA, 2011, p.10). Ou seja, a comunicação atual se dá em meio a uma intrincada rede de conexões, permitindo o surgimento de novas maneiras de relacionamento. Estas que podem ser vistas no compartilhamento de conteúdos nas mídias sociais, já que nesses canais o usuário tem maior liberdade e facilidade para se tornar emissor e divulgar informações. Assim, a ascensão da web 2.0 é vista como facilitadora de conexões interpessoais e de trocas de conteúdos. Diante disso, a comunicação surge como um campo de pesquisa complexo que se orienta em duas perspectivas, a relacional e a informacional. Embora o paradigma informacional possibilite a retroalimentação do processo, isto é, um tipo de troca entre emissor e receptor, essa troca, como afirmou Oliveira e Paula (2008), ocorre sempre a posteriori, e não durante o processo. Além de o receptor ser visto como apenas um destinatário da mensagem que reage ao estímulo provocado, demonstra, uma relação de causa e efeito mecanizada e não a interação. Segundo Vera França, o paradigma informacional provocou a análise de duas dimensões: 1 SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo, Loyola, 2002. 2 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC Primeiramente, pautado na naturalidade e na evidência da lógica transmissiva, as análises vão se ocupar dos seus resultados: uma dada mensagem foi ou não bem transmitida, provocou que tipo de efeitos. Um segundo caminho, uma vez que o processo é tomado mecanicamente e cada um dos seus elementos tem papel fixo, definido previamente, é estudá-los separadamente: estuda-se a lógica da produção dos emissores; a característica dos meios (natureza técnica, modos operatórios); as mensagens (conteúdos); a posição e a atitude dos receptores. (FRANÇA, 2001, p.25). Essa visão é considerada mecanicista, porque desconsidera a construção de significados e trocas simbólicas, determinando o pólo receptor como mero ponto de chegada daquilo que já está difundido (BARBERO apud BRAGA, 2002), isto é, a mensagem vem pronta e imutável do emissor para o receptor apenas inferir o conteúdo. Dessa forma, não se considera a individualidade, nem o repertório do receptor e muito menos o contexto social e cultural no qual ele está inserido. Com as mudanças ocorridas na sociedade, novas reflexões e abordagens sobre o campo da comunicação surgem, emergindo-se novas visões. Fatores como o contexto sociocultural no qual o indivíduo se insere, a produção de discursos e de sentidos e a relação entre os interlocutores, formam as dimensões básicas para o estudo do paradigma relacional. Essas dimensões, segundo França (2001), são denominadas respectivamente de dimensões contextual, simbólica e interacional. Para Lima (2008), a comunicação pelo viés relacional é “um processo de construção conjunta entre interlocutores (...), a partir de discursos (...), em situações singulares (dentro de um determinado contexto)”. (LIMA, 2008, p.114). Diante desta perspectiva, a comunicação compreende pólos de interlocução interagindo um com o outro em determinado contexto, que é sustentado pela linguagem na produção de discursos. Os papéis de emissão e recepção do sujeito na internet são unificados, e assim, a partir das inúmeras formas de se produzir conteúdo, o fluxo de informação em rede se caracteriza por ser “todos para todos”. Isto é, não há apenas um emissor ou um discurso para várias pessoas receptoras, mas uma série de discursos e de emissores que falam para outros tantos emissores; causando assim, uma liberação do pólo da emissão (LEMOS; 2003) e criando novas discussões a respeito da relação do receptor com o meio, com a mensagem e com o emissor. No ambiente da web 2.0, a troca de discursos é intensa, nela o discurso se constitui de forma oral (vídeos) e/ou escrita. As pessoas presentes nessas mídias sociais são chamadas de atores, pois tem uma participação ativa naquele meio. Di Felice afirma que: 3 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC A passagem de um modelo comunicativo baseado na separação identitária entre emissor e receptor, e num fluxo comunicativo bidirecional, para um modelo de circulação das informações em rede no qual todos os atores são, ao mesmo tempo, emissores e receptores – e, portanto, tecnologicamente ativos – altera a prática e o significado do ato de comunicar. (DI FELICE, 2010, p.316). O mundo já não é mais tão passivo quanto nos conceitos do paradigma informacional, principalmente no meio virtual, onde a interação é maior e as respostas às publicações são instantâneas. A web 2.0 promove um poder aos atores que não lhes era concedido na era do paradigma informacional: o poder de se pronunciar com mais liberdade e velocidade para o mundo a respeito das informações que lhes são enviadas. 3. Twitter – What’s happening? O fenômeno do Twitter é um microblogging em que os usuários criam um perfil e podem, por postagem, enviar no máximo 140 caracteres, chamados tweets, instigados pela pergunta “What‟s happening?” (O que está acontecendo?). As informações postadas variam consideravelmente em conteúdo e intenção, indo dos assuntos mais banais às reclamações, campanhas, protestos e tentativas de ganhar fama no microblogging. Alguns dos recursos do Twitter são: o botão de RT (retweet) que permite que informações publicadas por alguma pessoa possam ser repassadas por outro usuário; o uso do @ mais o nome do usuário, que permite a identificação desse usuário; o direct message é usado quando se deseja enviar uma mensagem privada a outro usuário; a hashtag, facilita a busca por determinado tipo de informação, (#). Utilizar a hashtag antes de palavras ou termos possibilita a formação de tópicos e quanto mais eles são citados mais relevância ganham, podendo alcançar o top 10 dos trending topics (TT). Os TT‟s são os tópicos mais comentados no Twitter. Nesse contexto, conseguimos perceber a ideia discutida por Lemos (2003) sobre a liberação do pólo da emissão, já que essa ferramenta dá autonomia aos usuários para produzirem e divulgarem conteúdos próprios e ao mesmo tempo também obterem respostas imediatas, em que as pessoas podem acrescentar informações ao tweet ou apenas comentar. As empresas tem visto cada dia mais o Twitter como uma forma de trabalhar sua imagem. Ser influente é ser capaz de gerar efeitos e ações na rede social e resulta em determinados tipos de reputação. (RECUERO; ZAGO, 2009). Hoje, inúmeras empresas possuem grupos de pessoas, terceirizadas ou não, que analisam o conteúdo publicado na rede para saber o que as pessoas estão falando delas. Além de poderem pesquisar sobre os estilos de vida e consumo dos usuários. Dessa forma, é possível corrigir erros ou 4 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC fazer melhorias em alguns produtos/serviços, além de perceber falhas na imagem que é passada ao público. Mas, muitas organizações sentem dificuldade para se inserir na web 2.0, já que para criar um perfil nas mídias sociais, deve-se ter um posicionamento claro e um discurso bem direcionado para seu público, gerando conteúdo relevante. 4. Mudança organizacional: o processo de fusão do Itaú/Unibanco Sobre os conceitos de fusão e aquisição entre empresas, embora sejam próximos e por vezes usados em conjunto, há diferenças no campo conceitual, já que teoricamente são operações distintas. Conceitualmente, segundo Casali (2006), entende-se por fusões e aquisições, em sua face operacional, a integração técnica, administrativa e cultural de duas ou mais organizações em uma maior. Porém, para fins deste estudo, faz-se importante estabelecer distinções entre os dois processos, que por vezes são tratados como comuns. Para alguns autores, a diferença entre esses dois fenômenos é a de que enquanto nas aquisições a empresa comprada desaparece, nas fusões há uma combinação de duas ou mais empresas, as quais formam uma terceira nova identidade (BARROS; SOUZA; STEUER, 2003), ou seja, as duas empresas deixam de existir legalmente para formar uma totalmente nova. Porém, nem sempre na prática o discurso de fusão permanece, já que na maioria das vezes não há igualdade entre as empresas parceiras e uma delas acaba por tomar um maior controle nessas transações. Talvez seja por isso que esses processos sejam sempre referidos lado a lado. Os processos de fusão e aquisição podem ser divididos em três etapas (CANÇADO; TANURE, 2003): definição da intenção de compra, negociação e integração. A principal semelhança entre fusão e aquisição é nessa última etapa: integração organizacional. Além do viés econômico, as fusões e aquisições englobam questões culturais das empresas e de seus funcionários; sendo assim, defende-se que para o sucesso da operação, é fundamental que a integração ocorra com êxito. Esta pode ocorrer de três formas: assimilação, mescla e pluralidade (TANURE, 2001). A que propõe uma maior igualdade entre as culturas é a mescla, na qual há “uma convivência de culturas, sem a dominância de uma delas, com moderado grau de mudanças em ambas”. (TANURE; CANÇADO, 2003, p.12). Dessa forma, a aculturação pela mescla tenta fazer valer o conceito de fusão e busca de fato uma convivência das duas culturas, para aos poucos estabelecer o melhor de cada uma delas, porém, na prática uma cultura acaba por dominar, mesmo que sutilmente. 5 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC Em 2008, o Itaú e o Unibanco anunciaram a fusão, se tornando um dos maiores bancos do Hemisfério Sul. O processo foi selado em meio à crise mundial que assolou o mundo no final desse ano. Ele foi totalmente sigiloso durante os 15 meses de negociações. Nesse tipo de processo o sigilo é muito importante, pois é essencial que as informações sejam dadas no momento certo, para que não sejam deturpadas e não se criem especulações. Apesar de ter sido anunciado em 2008 que os bancos continuariam a operar separadamente, mantendo suas agências, em um curto prazo houve mudanças dentro delas, nos sites e nos comerciais. As propagandas do Unibanco foram extintas e a decoração azul das agências foi substituída pelo laranja do Itaú. Mas isso foi apenas o início de um longo e cuidadoso processo. Percebemos que houve inicialmente um intenso trabalho de comunicação, direcionada ao público interno e posteriormente a divulgação de campanhas informando à sociedade a união de agências e serviços. Após a fusão, foi lançado, em 2009, o slogan, “Um banco único, feito para você”, unificando o slogan dos dois bancos (Unibanco: “O banco único”. Itaú: “Feito para você”) buscando demonstrar que a integração mantém os pontos fortes de cada banco, ou seja, os dois se tornariam um, cultivando o que cada um tem de melhor. No começo de 2010, outra campanha foi ao ar, buscando familiarizar ainda mais a sociedade com a fusão, mas deixando claro que a marca Itaú prevaleceria: “O meu nome é Itaú Unibanco, mas pode me chamar de Itaú”. Ao contrário do slogan anterior, de 2009, essa frase demonstra o destaque de um banco e o esquecimento de outro, o que coloca em dúvida o caráter da integração, surge assim, um tensionamento: fusão ou aquisição? 5. Metodologia Tendo em vista o objetivo de realizar um estudo sobre os sentidos produzidos a partir de suas experiências de recepção dos discursos dos bancos pelos clientes do ItaúUnibanco, optamos pelo Twitter, por suas características de velocidade e acesso, e a metodologia qualitativa e exploratória organizada em dois eixos. Um teóricobibliográfico que abrange a reflexão sobre a natureza da comunicação no contexto contemporâneo, a comunicação no contexto das organizações, mídias sociais e fusão e aquisição. O outro eixo é empírico, o qual consiste na análise de tweets postados pelos clientes dos dois bancos. A revisão bibliográfica foi necessária para aprofundar conceitos fundamentais para a compreensão do objeto a ser pesquisado. Como a pesquisa foca a recepção, as nuances do processo comunicativo, especialmente os pólos de emissão e recepção e a negociação entre esses pólos, foram analisadas, gerando reflexão sobre o tema. Nesse 6 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC mesmo eixo de pesquisa, foram trabalhados os conceitos de fusão e aquisição buscando entendê-los conceitualmente e assim, desenvolver uma visão mais crítica em relação ao processo de integração Itaú Unibanco, objeto do estudo de caso da presente pesquisa. O estudo de caso do processo de fusão Itaú Unibanco foi o que motivou o interesse em pesquisar as percepções do público externo à organização diante desse processo de mudança. Para definir estudo de caso tem-se que ele é (...) uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados. (YIN, 2005, p.32-33). Dessa maneira, o estudo de caso foi o propulsor das primeiras hipóteses elaboradas. O corpus da pesquisa foi constituído das postagens no Twitter. A seleção dos tweets ocorreu no período de outubro à dezembro de 2010, período no qual a fusão encontrava-se em andamento. Esta escolha deu-se, portanto, devido ao grande buzz gerado nas redes sociais, particularmente no Twitter, devido a sua grande rotatividade de comentários acerca de temas variados e à exposição de experiências dos usuários, também sobre diversos assuntos. Pesquisou-se no campo “Search” e no “Advanced search”, subcampo “all of these words”, do próprio site, pelas tags #itau #unibanco #itau unibanco #fusao. A partir daí todo o conteúdo que continha alguma dessas palavras foi coletado através do “print screen”, e depois salvo em pdf. Foi analisado o que as pessoas disseram sobre sua visão ou experiências com os dois bancos no processo de integração. A coleta dos dados foi feita semanalmente, de segunda à sexta-feira, totalizando 20 dias em outubro, 24 dias em novembro e 19 dias em dezembro. Determinamos que os finais de semana fossem excluídos da coleta de dados devido ao baixo volume de postagens dos usuários. Na fase de pré-análise, foi feito uma codificação de todos os dados, contabilizando os tweets mês a mês e contabilizando aqueles com assuntos ou palavras que ocorreram mais vezes (a tag não entra aqui como palavra mais frequente). Nesse momento, foi pensado em algumas hipóteses sobre o objetivo da pesquisa e algumas categorias emergiram, sendo elas: informativos; insatisfação com os serviços; satisfação; saudosismo; participação dos funcionários; resposta à comunicação institucional. 7 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC A partir dessas categorias, alguns tweets foram selecionados para a análise de conteúdo e discurso. Esse material é considerado um dado secundário, pois está disponibilizado online e foi gerado por outra fonte, que não foi o grupo. Entende-se que análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações” (BARDIN, 2004, p.31). Essa análise se fundamenta no tratamento das informações contidas em uma mensagem. Ainda segundo Bardin, “a análise de conteúdo pode ser uma análise dos „significados‟ (exemplo: a análise temática), embora possa ser também uma análise dos „significantes‟ (análise léxica, análise dos procedimentos)” (BARDIN, 2004, p.34). Para a pesquisa, utilizou-se a análise dos significados. A análise de discurso trabalha, assim como a análise de conteúdo, por meio de enunciados e não apenas palavras presas à questão da lingüística. Para compreender melhor os discursos, as análises entraram no estudo de recepção na web, esta vista como um meio de comunicação complexo, devido aos infinitos canais onde se pode manifestar. Segundo Knewitz, na internet “(...) a audiência, mais do que ativa, é interativa; e a polissemia do conteúdo é ampliada com o surgimento do hipertexto”. (KNEWITZ, 2009, p.8). Isto é, mais do que nunca o receptor é ativo e dinâmico, e o processo comunicativo mais complexo. A partir da organização das informações, de observações e de deduções, foram feitas, seguindo a metodologia as análises de conteúdo, interpretações. O processo de recepção foi considerado importante meio de análise do processo de fusão, pois, através dela, identificamos pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a fusão, expondo suas opiniões, críticas e sugestões. 6. Transformações desconectadas? A análise de conteúdo foi desenvolvida a partir dos tweets referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2010, período no qual a fusão encontrava-se em andamento. Com os tweets coletados podemos perceber que há uma diferença significativa na quantidade de cada mês, conforme demonstramos: outubro (1483), novembro (1950) e dezembro (513). Os meses de outubro e novembro tiveram o maior número de tweets relacionados à fusão porque foi nesse período em que ocorreu a migração de contas e a transformação de todas as agências Unibanco em Itaú, além de ter sido um momento em que a fusão completava dois anos e que o Itaú Unibanco Holding alcançou o maior lucro no terceiro trimestre do ano entre os bancos. Sendo assim, os clientes vivenciaram, especialmente nos dois primeiros meses, diversas situações novas resultantes da conclusão da fusão entre os dois bancos. Em dezembro, o 8 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC número de tweets diminuiu, demonstrando que os clientes estavam mais familiarizados com os novos processos. Dessa forma, percebemos que foi durante esses meses que os clientes sofreram os primeiros impactos da fusão no seu dia-a-dia. A partir das categorias sugeridas, observamos a quantidade de postagens - 3946 tweets -, o que demonstra envolvimento dos atores com a fusão dos bancos Itaú e Unibanco. A categoria com o maior número de tweets foi a informativos com 2509; em seguida insatisfação com os serviços, 791; saudosismo, 244; participação dos funcionários, 190; resposta à comunicação institucional, 144; e a satisfação: 68 tweets. Observamos que as categorias participação dos funcionários e informativos, não contem teor opinativo sobre a fusão, o que enfraquece o seu valor para este artigo, uma vez que se referem a assuntos cotidianos de trabalho dos funcionários e da rotina dos bancos, não falam sobre a fusão em si. Na maioria das vezes, apenas divulgam links de matérias jornalísticas a respeito dela, sem exibir opinião. Os tweets transcritos confirmam esta percepção: @vvsobrinho: Itaú Unibanco conclui fusão e lança filme – Marketing – http://t.co/a4PyfOh via@portalexame / (outubro/2010) @alinecamedeiros: Hoje rolou CHANDON para os funcionários no prédio onde trabalho para celebrar a conclusão do tombamento das agências do Unibanco -> Itaú \o/ / (outubro/2010) @DiogoSuzuki: Hoje festejamos o fim do tombamento das agências Unibanco para o Itaú! Agora somos 100% Itaú! / (outubro/2010) @juu_vasconcelos: Amanhã tem confraternização Itaú Unibanco PARTE 2 =D deeeeliiiiicia ^^ / (dezembro/2010) No entanto podemos perceber que a categoria de insatisfação com os serviços (791) se destacou porque esse período de 3 meses foi o momento, conforme já mencionado, de migração de contas e mudança de todas as agências para o padrão Itaú. Na noite de 24 de outubro, foi anunciado pelo Itaú Unibanco que no dia seguinte todas as agências já estariam integradas, todas com a marca Itaú, e isso gerou um grande número de comentários no dia 25, uma segunda-feira, quando as pessoas de fato vivenciaram essa mudança. Os serviços também já estavam unificados, e com isso, muitos clientes, que antes, eram do Unibanco tiveram dificuldade nas operações que costumavam fazer, apresentando descontentamento a respeito disso. Ou seja, percebe-se que há uma insatisfação forte entre os clientes com a mudança de comportamentos, com os serviços prestados e, ainda, resistência em se adaptar aos novos processos: @fernandolfs: o itau tirou meu acesso da conta unibanco e não me contou qual a conta nova, não é sensacional?! / (outubro/2010) 9 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC @luizmarinho: ser ex-cliente Unibanco numa agência recém convertida a Itaú é um inferno: funcionários perdidos tentando se adaptar aos novos sistemas. / (outubro/2010) @francfloyd: e todo esse circo de incompetência para fornecer uma simples INFORMAÇÃO. #itaucard #itau #unibanco #lixo / (outubro/2010) @Elaine_Borges: Itaú e Unibanco juntos, só tornou o atendimento terrível. Era uma vez a maravilha de ir ao unibanco e não enfrentar fila. Ninguém merece. / (outubro/2010) @vinnycordeiro: @tdbem Fala do Itaú+Unibanco? O pior é o site do Home Banking: o do Unibanco era redondinho e super prático, o do Itaú é uma confusão só. / (novembro/2010) Além da resistência quanto aos novos serviços e procedimentos, os clientes Unibanco se sentiram prejudicados pela mudança, especialmente aqueles que se diziam clientes há muito tempo, pois não perceberam um cuidado do banco no momento da transição: @LuMicheletti: Quando o Itaú comprou o Unibanco, eles não pensaram na zona que iam fazer na minha vida, mudando os números e as senhas das minhas 3 contas. / (outubro/2010) @JotaJota80: Minha agência #Unibanco migrou hoje para #Itaú. Em um dia de #Itaú já tive mais problemas do que em 5 anos de #Unibanco. / (outubro/2010) @danimaciel: Estou a 1 hora na fila do Itau pra falar com gerente sobre cartão. Falta de respeito c cliente que não pediu para mudar de Unibanco p Itaú. / (novembro/2010) A categoria saudosismo (244) nos chamou atenção porque mostra que os clientes Unibanco se viram mais atingidos pela fusão e, consequentemente pelos novos procedimentos do banco que incorporou as diretrizes do Itaú, além de se sentirem excluídos desse processo: @marifiorelli: sendo obrigada a aprender a usar o Itaú home banking. Saudades do Unibanco. Usabilidade Itaú #fail / (outubro/2010) @Micabuess: Todo dia eu me enrolo com meu novo banco ITAU. Quando era UNIBANCO, eu era feliz e neeem sabia. / (outubro/2010) @GabrielaTorres_: Eu realmente odeio o banco Itaú. Péssimo atendimento e os caixas eletrônicos todos quebrados. Quero Unibanco de voooolta! / (novembro/2010) @Sarmento01: Do que vale ser Uniclass, ter uma gerente eficiente e educada se na hora de ir ao caixa a fila é única. Itaú me dá saudades do Unibanco. / (dezembro/2010) A grande maioria dos tweets nesta categoria são dos clientes Unibanco os quais demonstraram sentir falta do banco e do relacionamento que tinham antes, enquanto que os clientes Itaú quase não se manifestaram. Talvez isso ocorra pelo fato de ter sido o Unibanco a desaparecer, evidenciando uma aquisição e não uma fusão. O fato de muitos serviços terem sido substituídos dificultou a adaptação dos clientes e intensificou o sentimento de saudosismo. Mais do que a integração da marca em si, em uma fusão é 10 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC necessário a integração das culturas organizacionais, que se refletem nos serviços oferecidos. A falta de serviços que remetam a ambas as culturas sugere o descarte de uma para o enaltecimento da outra, o que logicamente, pode gerar uma sensação de desprezo em relação aos clientes que tiveram sua cultura negligenciada. Como todos os processos de fusão, o do Itaú Unibanco também contou com uma parcela de satisfeitos. No caso, foram 68 tweets no universo de 3946 tweets. Esta categoria nos leva a pensar em como as mídias sociais são abertas, dando oportunidades e possibilidades de participação e de manifestação a todos, valorizando a importância da recepção no processo comunicacional. Algumas pessoas tiveram boas experiências no período da fusão, manifestaram suas opiniões e consideraram que houve integração dos serviços: @felipeginja: Migração Unibanco -> Itaú terminou! O que já era bom ficou ainda melhor! =D / (outubro/2010) @Co_Imparcial: Banco vazio! Até que curti a união Itaú-Unibanco. / (novembro/2010) @rcrubio: @sacsantander De boa povo, aprendam com o Itaú cuja integração com o Unibanco foi imperceptível. Elevar a qualidade, vamos fazer juntos? / (dezembro/2010) Não se pode esquecer que as pessoas tendem a usar a internet mais para reclamar do que para elogiar. A insatisfação exige das pessoas uma manifestação quase imediata daquele sentimento e as redes sociais digitais podem ser aproveitadas com este fim devido ao fácil uso e por sua grande visibilidade. Por isso, hoje muitas empresas mapeiam os conteúdos relacionados aos seus produtos e serviços nas redes virtuais, a fim de reparar algumas falhas e tentar resolver de forma mais rápida o problema de seu cliente. Isso pode evitar que uma informação negativa sobre a empresa seja disseminada pelas mídias sociais, através dos amigos das pessoas que compartilham ou simpatizam com o conteúdo postado. A categoria resposta à comunicação (144) se relacionou com as propagandas, ratificando as mídias sociais como um lugar onde o receptor tem mais espaço para comentar sobre as mensagens que ele recebe. Muitas pessoas elogiaram os comerciais, veiculados na TV, produzidos pelos dois bancos enfatizando a qualidade da produção e a criatividade e também parodiando os slogans, usando-os tanto para elogiar quanto para criticar os próprios bancos. Em outubro, para anunciar a conclusão da fusão, o Itaú Unibanco lançou, no dia 24, o comercial “1+1 é maior que 2”, o filme publicitário celebrava o fim da migração das agências, agradecendo a dedicação dos funcionários e a 11 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC paciência dos clientes e provando que a união dos dois bancos foi uma grande soma. Após a veiculação do comercial, o Twitter apresentou vários tweets sobre esse assunto: @SilviaMoretti: A campanha do Itaú Unibanco, maior que dois, é linda! / (outubro/2010) @GregGaboardi: 1 + 1 > 2 segundo o Itaú Unibanco. Essa matemática vale para o dinheiro que entra na conta? / (outubro/2010) @luizamz: Pro Itaú Unibanco 1+1 é maior que 2?! É hoje que eu ponho meu dinheiro lá! Vai render muito mais! Hahaha =P / (novembro/2010) @marcoasf: Realmente o atendimento Itaú/Unibanco piorou muito após a unificação. Como diz a propaganda 1+ 1 não é igual a dois, nesse caso -1. / (novembro/2010) Outro filme de sucesso sobre a fusão dos bancos foi lançado no período anterior à coleta de dados dessa pesquisa, mas contribuiu para refletirmos sobre o processo de integração: “Imagine”. Este filme foi veiculado em maio de 2010, com estréia no intervalo do Jornal Nacional e fez parte da nova campanha institucional Itaú Unibanco de 2010. No filme, há a participação dos funcionários cantando “Imagine” de John Lennon. O locutor diz que: (...) o Itaú Unibanco reuniu seus sonhadores para imaginar. (...) Imaginar como podemos ser cada vez mais próximos de você. Como nos preparar para atender necessidades que você ainda nem sabe que vai ter. Muita gente vai dizer que isso é um sonho. Esse é o nosso sonho. Meu nome é Itaú Unibanco, mas pode me chamar de Itaú. Itaú, feito para você sonhar. (IMAGINE. Agência: Africa. Direção/filme: Mauricio Guimarães/Luciano. 20/05/2010). Esse comercial indica que a percepção dos clientes em relação ao desaparecimento do Unibanco, como marca e cultura, no processo de fusão, não é equivocada, porque o slogan “Meu nome é Itaú Unibanco, mas pode me chamar de Itaú” deixa transparecer a intenção de que apenas a marca Itaú iria prevalecer. Ou seja, confirma que os processos de fusão na prática não têm igualdade e uma empresa sempre predomina sobre a outra, por isso a proximidade desse conceito ao de aquisição. O discurso de fusão do banco Unibanco para seus clientes no período da transição apresentou-se como um paradoxo ao anunciar que realizaria uma fusão, mas que a integração dos serviços seguiria o modelo de operação do Itaú; assim, todas as agências do Unibanco se tornaram Itaú e poucos dos serviços do primeiro foram mantidos. O relacionamento com o cliente sempre foi uma característica marcante do Unibanco, um argumento que foi muito assimilado pelos clientes e pelo público em geral, sendo sempre reforçado pelas campanhas publicitárias e slogans, “Nem parece um banco”. Porém, percebe-se que este forte atributo foi diluído no momento da fusão 12 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC com o Itaú, uma vez que a cultura organizacional e o modo de gerir os negócios do Itaú prevaleceram, embora o discurso da fusão tenha sido oposto, pois segundo o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, “o Itaú tinha atributos de modernidade e tecnologia e o Unibanco, mais jogo de cintura e flexibilidade (...) precisávamos manter as coisas que eram valorizadas no Unibanco, principalmente a questão do relacionamento com o cliente”. (MANZONI JUNIOR, 2011). Assim, além das questões práticas do dia-a-dia de um cliente com o banco, percebemos nos tweets que os clientes reclamaram de não terem mais um tratamento com a qualidade que o Unibanco lhes dava. O filme Imagine, foi construído com a participação dos colaboradores dos bancos e buscou destacar a preocupação do Itaú Unibanco com as pessoas, tentando utilizar desse atributo de sucesso do Unibanco, que talvez seja uma das poucas características da cultura do Unibanco a ser mantida. Processos como esse, do Itaú Unibanco, sempre foram muito delicados, mas com a presença das mídias sociais houve um aumento de sua complexidade. A diferença entre vantagem e desvantagem da presença de ferramentas como o Twitter está no tratamento que lhes é dado. Se houver um acompanhamento constante desses meios e um retorno à sociedade, pode-se tirar muito proveito disso, reconhecendo tanto falhas como qualidades, minimizando problemas e potencializando méritos. 7. Considerações finais A integração do Itaú com o Unibanco, denominada por eles como fusão, nos surpreendeu por ter se consolidado em um cenário de crise mundial. Na medida em que se vive no contexto da cibercultura, em que o indivíduo tem a possibilidade de postar suas experiências na rede, surgiu o interesse em associar ambos os processos nesta pesquisa e assim, ter uma visão mais ampla sobre a comunicação, que engloba os processos de produção, recepção e circulação. Os dados apresentados e analisados nos levaram a entender que a fusão Itaú Unibanco não foi bem recebida por grande parte dos clientes, porque um número elevado deles se manifestaram insatisfeitos e entenderam que a fusão foi muito mais uma aquisição, devido a ausência de integração dos procedimentos e sim a valorização dos padrões de um dos bancos. O discurso organizacional sobre a fusão foi ambíguo, deixando espaço para várias interpretações. O Unibanco praticamente sumiu, a identidade visual e a cultura organizacional não são mais visíveis, restaram apenas alguns serviços como o 30 horas e o Uniclass e a vontade do Itaú Unibanco em tentar manter o know how, remanescente do Unibanco, no relacionamento com o cliente. É 13 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC interessante perceber que os clientes que já eram do Itaú raramente apresentaram reclamações, indicando que o atendimento e os serviços desses clientes permaneceram os mesmos e por esse motivo eles não tinham insatisfações relacionadas à fusão. Já os clientes do Unibanco reclamaram constantemente das mudanças vindas desse processo, pois foram eles que tiveram que se adaptar. Destacamos que no período de coleta dos tweets, o Itaú Unibanco ainda não possuía um perfil no Twitter direcionado aos clientes, mas alguns meses depois da intregração final dos serviços, o banco não só criou um perfil para passar informações aos seus clientes (@itau) como criou outro que os auxilia diretamente esclarecendo dúvidas ou tentando solucionar problemas com contatos via direct message (@itau30horas). A falta de suporte do banco em relação às mídias sociais pode ser considerada prejudicial ao processo de fusão, pois vários problemas podiam ter sido constatados e esclarecidos se o banco já utilizasse o Twitter. Isso nos mostra que as mídias sociais são importantes para as empresas, não só para divulgação, mas para verificar problemas e falhas na aceitação e reconhecimento de suas políticas e ações. Se desde o período de transição das agências e serviços, o Itaú Unibanco tivesse aberto um espaço para um contato mais direto e com respostas imediatas às dúvidas e reclamações dos clientes, monitorando seus discursos na rede, provavelmente o processo de recepção da fusão teria sido menos desgastante e o índice de descontentamento dos clientes com o banco teria sido menor ou menos comentado na web. Este artigo tem como fundamentação teórica a comunicação como um processo dinâmico, não linear e em constante movimento e o Twitter contribui para essa dinâmica, na medida em que abre espaço para a movimentação dos atores envolvidos, de informações e interações. Por fim, consideramos que esta pesquisa pode trazer contribuições acadêmicas, já que busca compreender melhor as modificações nas relações de recepção na web. E entender como ocorre o fenômeno de circulação de discursos nesse meio, em que qualquer informação pode ganhar tal reconhecimento, podendo ser disseminada num sentido global. Estudos como esse trazem à vista as novas maneiras de relacionamento entre organização e sociedade e de sua importância em cenários de mudança, como o de objeto de estudo desse artigo. 8. Referências bibliográficas BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Ed. 70, 2004. BRAGA, Adriana. Interação social e apresentação do self nos weblogs. Mediação nº5. Belo Horizonte, Novembro de 2006. 14 VI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas – “VI Abrapcorp 2012 – Comunicação, Discurso, Organizações” São Luiz/MA – 26 a 28 de abril de 2012 Espaço de Iniciação Científica - EIC BRAGA, José Francisco. O receptor na comunicação midiática. Texto mimeografado. 2002. CASALI, Adriana Machado. Comunicação Organizacional em fusões e aquisições Internacionais. 2006 204f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, Florianópolis. DI FELICE, Massimo. 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