Revista Frutas e derivados - Edição 08
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Revista Frutas e derivados - Edição 08
SUMÁRIO CAPA DEZEMBRO 2007 PRODUÇÃO PerformanceCG FOTOS Banco de Imagens do Ibraf 26 07 14 33 ENTREVISTA 07 CONHECER PARA VALORIZAR Presidente da Frente Parlamentar da Fruticultura, Afonso Hamm, fala sobre políticas públicas para auxiliar o setor. FRUTAS FRESCAS SEÇÕES 14 04 06 10 editorial espaço do leitor campo de notícias 12 no pomar 30 tecnologia PASSEIO NO POMAR Turismo rural é crescente no País e oferece oportunidades para aumento de renda ao fruticultor. Panorama dos principais acontecimentos do trimestre. VITIVINICULTURA 18 DA UVA AO VINHO Brasil se destaca em qualidade, tecnologia, exportação e, também, na produção do vinho. 36 FRUTAS NA PRATELEIRA 37 Investimentos e parcerias transformam frutas em produtos diferenciados para indústria alimentícia e construção. 38 Frutas nativas, muitas ainda desconhecidas como a Platonia, compõem a riquíssima biodiversidade brasileira. agenda eventos Frutal, Expofruit, Caravana das Frutas movimentam o setor no País. artigo técnico Pesquisa constata benefícios da correção do solo com calcário para o pomar. MEIO AMBIENTE AFINAL, O QUE É BIODIVERSIDADE? opinião Acontecimentos do trimestre. 41 33 Gotejamento reduz consumo de água e energia, evita contaminação de mananciais e traz vantagens para a produção. . Exportações de frutas frescas fecharão 2007 superavitárias, apesar das dificuldades. AGROINDÚSTRIA 26 Hora de cuidar de maçã, novas variedades de citrus, nectarina e caju e tecnologia não tecidos. 44 45 46 campo & cultura produtos e serviços fruta na mesa Manga, cheia de história. editorial DIRETOR PRESIDENTE Moacyr Saraiva Fernandes UVA, TURISMO E BIODIVERSIDADE PRIMEIRO VICE PRESIDENTE Aristeu Chaves Filho A uva cultivada em terras gaúchas, paulistas e no Vale São Francisco é a grande estrela do final de ano, nas mesas de brasileiros e estrangeiros. Uvas e vinho estão na matéria de capa desta edição. A variedade sem sementes é o maior destaque na mesa, mas a Niágara também tem seu espaço garantido, enquanto diversas outras cultivares se destinam à produção dos vinhos nacionais, com rótulos que se destacam internacionalmente. A uva é também uma alternativa ao produtor que se propõe abrir a propriedade e atuar no segmento do enoturismo, uma das formas de turismo rural já consagrada no Vale dos Vinhedos, referência turística nacional. O Circuito das Frutas, em São Paulo, também tem na uva e no vinho, uma de suas ações para atrair o turista e agregar renda à propriedade. Outro exemplo é o Projeto “Colha e Pague”, com produção de caqui, onde os produtores abrem a propriedade para que as próprias pessoas colham suas frutas e levem para casa. Com pesquisa, parceria e investimentos, abacates, no Paraná, tornaramse óleos essenciais para culinária e cosmética, enquanto caquis, maracujás e laranjas, no Estado de São Paulo, compõem novas versões de vinagres; já as bananas tornaram-se base de farinhas, que levarão mais sabor à alimentação das pessoas com restrição ao consumo de glúten. No Rio de Janeiro, toneladas de cascas de coco verde deixaram de poluir e são agora placas para construção de lajes ou revestem muros compondo projetos paisagísticos criativos, entre outras utilidades. É a criatividade do Projeto Coco Verde reduzindo lixo de aterros sanitários, preservando recursos naturais. Por falar em recursos naturais, vale lembrar que nos planos para o próximo ano, a proteção à biodiversidade precisa estar em pauta – por conta do presente e do futuro, cuja conta a natureza tem enviado em forma de mudanças climáticas sérias. Ao protegê-la, o fruticultor estará garantindo o futuro de frutas nativas, como araçás, cereja do rio grande, mangaba e pajurá, que poderão ser, além de tudo, oportunidades para novos negócios. Que as frutas sejam fonte de renda e de inspiração para um mundo melhor em 2008! Até lá, se Deus quiser. Marlene Simarelli Editora [email protected] fale conosco REDAÇÃO para enviar sugestões, comentários, críticas e dúvidas [email protected] ASSINATURA para solicitar seu exemplar [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 ANUNCIOS para anunciar na Frutas e Derivados [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 SEGUNDO VICE PRESIDENTE Roland Brandes DIRETORES Jean Paul Gayet (Diretor Tesoureiro) Paulo Policarpo Mello Gonçalves (Diretor Secretário) Carlos Prado (Diretor Superintendente Nordeste) Valdecir Roberto Lazzari (Diretor Superintendente Sul) Rogério de Marchi (Diretor Agroindustrial) Waldyr S. Promicia e Roberto Pacca do Amaral Júnior. CONSELHEIROS Luiz Borges Junior (Presidente) André Luiz Grabois Gadelha (Primeiro Vice-Presidente) Américo Tavares, Antônio Carlos Tadiotti, Dirceu Colares, Etélio de Carvalho Prado, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco Cipriano de Paula Segundo, José Bendito de Barros, José Carlos Fachinello, Luiz Roberto Maldonado Barcelos, Roberto Frey e Sylvio Luiz Honório. COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO Antônio Ambrósio Amaro (Presidente) Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi, Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos Donadio, Osvaldo K. Yamanishi, Rose Mary Pio e Tales Wanderley Vital. CONSELHO EDITORIAL Moacyr Saraiva Fernandes Maurício de Sá Ferraz Valeska de Oliveira COORDENAÇÃO Luciana Pacheco [email protected] EDIÇÃO Marlene Simarelli MTb 13.593 [email protected] REDAÇÃO Daniela Mattiaso e Marlene Simarelli REVISÃO Vera Bison COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Layza Portes, Luciana Pacheco e Samara Monteiro PUBLICIDADE José Carlos Pimenta Telefone (11) 3223-8766 [email protected] DIREÇÃO E PRODUÇÃO DE CONTEÚDO ArtCom Assessoria de Comunicação R. Reginaldo Sales, 186 - sala 2 - Vila Maria CEP 13041-780 - Campinas - SP Telefone (19) 3237-2099 [email protected] DIREÇÃO DE ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Performance Design Gráfico S/C Ltda. Rua Tobias Monteiro, 160 - Sala 02 - Jd. Aeroporto CEP 04355-010 - São Paulo - SP Telefones (11) 5034.8806 / 5034.7806 [email protected] CIRCULAÇÃO Distribuição IBRAF - Instituto Brasileiro de Frutas Telefone: (11) 3223-8766 [email protected] IMPRESSÃO E ACABAMENTO Copypress Distribuição: nacional. Tiragem: 6.000 exemplares. Frutas e Derivados é uma publicação trimestral do IBRAF - Instituto Brasileiro de Frutas, distribuída a profissionais ligados ao setor. Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do Instituto. Para a reprodução do artigo técnico e do artigo opinião, é necessário solicitar autorização dos autores. A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida, desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de publicação. ESPAÇO DO LEITOR “Quero cumprimentá-los pela qualidade da publicação. Parabéns por tudo: pela excelente profundidade dos assuntos tratados, pela bela apresentação, etc. Lendo a edição 7, vi que na página 37, o texto “Tecnologia e Recuperação”, aliás, a primeira matéria que procurei ler, traz não propriamente erro, mas uma construção menos feliz. Trata-se da afirmação, ipsis literis: “O homem deve fazer o manejo correto do solo para aumentar a fertilidade e ‘ter o mínimo de condições’ para manter a recuperação da vegetação”... Quanto á primeira parte da afirmativa, tudo ok, mas, quanto à parte final, acredito que a melhor construção seria: (...) ‘ter, na pior das hipóteses, o mínimo de condições’ (...); ou ainda ‘ter, pelo menos, o mínimo de condições’ (...).” 6 Fabrício Ribeiro Andrade Estudante de Agronomia Universidade do Estado do Mato Grosso, Nova Xavantina – MT ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “P arabenizo os editores pela qualidade do material. As matérias são de alta qualidade e fácil entendimento. Gostei muito das reportagens Frutas Frescas – Primeiro Passo, Artigo Técnico – Controle de Contaminação por Fungos, Meio Ambiente – Terra Seca, sendo que a última reportagem listada é um fator muito importante para a produção de frutas, bem como alimentos, pois sem o correto uso da terra em poucos anos ela se tornará improdutiva e os custos para recuperação serão maiores do que se houver um correto manejo.” “T ive a oportunidade de ter em minhas mãos um exemplar da Revista Frutas e Derivados e observei a qualidade e substância das matérias veiculadas. A equipe que faz a revista está, sem dúvidas, de parabéns pelo conteúdo e atualidade das matérias.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ Christian Reichmann Sassi Engenheiro Agrônomo, Castro – PR ○ “É muito bom contar com uma publicação como essa, permitindo assim termos sempre uma visão atualizada sobre o setor.” ○ ○ ○ Breno Sardinha Wanderley Palmas – TO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Tenho observado que o Instituto Brasileiro de Frutas, através da revista Frutas e Derivados, vem contribuindo a cada dia para o real desenvolvimento da fruticultura moderna por todo o Brasil. Desenvolvo trabalhos na fruticultura no Tocantins e tenho a oportunidade de ler as matérias que são escritas sobre o assunto em cada edição. Parabéns pelo trabalho.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rui Lara de Assis Engenheiro Agrônomo, Lagoa Santa – MG ○ ○ ○ ○ ○ ○ E-mail: [email protected] ○ ○ Fax: (11) 3223-8766 ○ ○ Endereço: Av. Ipiranga, 952 • 12º andar CEP 01040-906 • São Paulo • SP deste valioso material eclético sobre fruticultura, editado pelo Ibraf, que contribui de forma substancial com a atualização eo aprimoramento dos técnicos e profissionais que lidam com as frutas brasileiras.” ○ ○ ESCREVA PARA ○ ○ ○ ○ Antonio Roberto Gonçalves Técnico Agropecuário - EMATER, Santa Isabel do Ivai – PR ○ ○ “Foi com imensa satisfação que recebi o primeiro exemplar da revista, o qual será de grande valia ao trabalho que estou desenvolvendo na região.” “Gostaria de agradecer o recebimento ○ ○ ○ Léon Bonaventure Fruticultor em Paraisópolis – MG e Campos do Jordão – SP ○ ○ “É um prazer ler sua revista. Parabéns aos jovens que a preparam. Uma sugestão: Por que não fazer um número especial sobre a exportação de frutos via aérea?” ○ Alberto Prates dos Santos Co-editor Revista Direito Imobiliário, São Paulo – SP Walter Fonseca dos Santos Técnico - CONAB Brasília – DF ARQUIVO PESSOAL ENTREVISTA AFONSO HAMM CONHECER PARA VALORIZAR Marlene Simarelli O futebol marcou o início da vida profissional do deputado federal Afonso Hamm (PP/RS), 45 anos. Na década de 80, atuou no Grêmio Esportivo Bagé, time de sua cidade no Rio Grande do Sul; no Brasil de Pelotas e também na seleção gaúcha de juniores. Filho de descendentes alemães ligados à terra, formou-se em Agronomia. Antes de ingressar na política, trabalhou na Cooperativa Bageense Mista de Lã (Cobagelã) durante 15 anos. Hamm iniciou sua trajetória na vida pública como vereador e secretário da Agricultura de Bagé. Foi presidente da Associação dos Arrozeiros de Bagé, diretor técnico da Federarroz e do Clube do Plantio Direto. Sua luta pela fruticultura começou quando assumiu o cargo de assessor especial do ministro da Agricultura Pratini de Moraes e coordenou o Programa Nacional de Fruticultura. Desde então, foi presidente do Comitê de Fruticultura da Metade Sul do Rio Grande do Sul por nove anos - atualmente, é vice-presidente do Comitê; coordenador Estadual do Profruta, RS, e diretor administrativo da Emater, RS. Atualmente, Hamm é membro da Comissão da Agricultura, Pecuária, Abastecimento, Desenvolvimento Rural e Cooperativismo e também da Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Entre as diversas ações no Congresso Nacional, está a liderança da Frente Parlamentar em Defesa da Fruticultura Brasileira. A política, no entanto, não o afastou do campo. Ainda hoje Hamm produz, entre outros, uvas e pêssegos em sua terra natal. Frutas e Derivados - É muito divulgado que o Brasil consome poucas frutas. Como analisa a falta de políticas públicas para incentivo ao consumo? Afonso Hamm - Os governantes brasileiros ainda não entenderam a dimensão e a importância da fruticultura brasileira. O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo e só recentemente iniciou a constituir políticas públicas para o setor. As empresas exportadoras e os fruticultores, até o momento, vinham sustentando o segmento. Hoje, 7 ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO AFONSO HAMM contam com a Frente Parlamentar da Fruticultura Brasileira, formada por mais de 200 deputados federais e 15 senadores. Com esta força política no Congresso Nacional, conseguimos inserir a Fruticultura na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e também no Plano Plurianual 2008-2011, garantindo recursos orçamentários para uma política pública que verdadeiramente impulsione a fruticultura brasileira. “Um dos pontos fundamentais é estabelecer política de sustentação e competitividade da fruticultura” Frutas e Derivados - Quais medidas podem ser rapidamente aplicáveis para aumentar o consumo? E verbas para implementar as medidas? Afonso Hamm - Colocar em execução os programas de promoção e estímulo ao consumo certamente vai garantir o aumento de consumo de frutas no âmbito do mercado interno, melhorando a condição nutricional e a qualidade de vida. No âmbito externo de ação, promoção e marketing, é importante a participação em feiras internacionais. Busca e aproximação dos comércios internacionais são políticas previstas e planejadas. Quanto às verbas, pretendemos implementar a partir dos recursos orçamentários 2008-2011. Frutas e Derivados - O poder aquisitivo da população aumentou, aumentou o consumo de produtos alimentícios industrializados, mais caros do que frutas. No entanto, o aumento do consumo de frutas não ocorreu e elas continuam sendo consideradas caras. O que fazer para mudar este panorama e este paradigma? Afonso Hamm - O consumo brasileiro de frutas está aumentado à medida que incrementam novos pólos de fruticultura no Brasil e também com o uso mais aprimorado de tecnologia, garantindo frutas de melhor qualidade. O consumidor deve ser estimulado a consumir frutas de época, em franca colheita e produzidas na região. Estas, em função da alta disponibilidade, normalmente se apresentam com preços mais acessíveis dentro da capacidade de compra da população. É preciso também campanhas educacionais, mostrando propriedades nutritivas; traçando um paralelo de qualidade de saúde e de vida, como, por exemplo, a substitui8 ção de refrigerantes por sucos naturais, que propiciam a garantia da qualidade de vida e a longevidade. Frutas e Derivados - Embora o setor tenha entrado na Lei das Diretrizes Orçamentárias, o governo não contemplou recursos para a Fruticultura. Em sua opinião, por quê? Afonso Hamm - Recentemente, por meio da força política da Frente Parlamentar da Fruticultura Brasileira, sensibilizamos o governo, por intermédio dos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Indústria e Comércio Exterior, sobre a viabilidade e importância econômica e social da cadeia frutícola. Atualmente, mais de cinco milhões de famílias no Brasil têm a fruticultura como principal sustento. A proposta do governo no Plano Plurianual não contemplava o setor. No entanto, graças à ação política da Frente está sendo reordenado de forma definitiva, priorizando a fruticultura como uma política econômica e social de grande relevância para o País. Frutas e Derivados - Emendas foram apresentadas nesse sentido. Como está o processo e quais as possibilidades da Fruticultura receber as verbas? Afonso Hamm - Como presidente da Frente Parlamentar de Fruticultura, estamos estimulando os deputados e senadores a apresentarem emendas para atender os produtores de seus Estados e principais pólos de fruticultura do País. No Rio Grande do Sul, por exemplo, estamos consolidando emendas e recursos por meio da relatoria do PPA e da Lei Orçamentária Anual (LOA 2008). Com a conscientização da importância da fruticultura nacional, o setor conquistou espaço na Comissão da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, onde indicamos emendas de prioridade de atendimento do setor frutícola. Frutas e Derivados - O abono de 5% acordado com o governo sobre o valor da parcela do Prodefruta e outras dívidas da fruticultura não entraram no decreto presidencial 3496/2007. Quais as chances de se corrigir este equívoco, visto que outros segmentos foram contemplados? Afonso Hamm - A carência de políticas públicas para a fruticultura e a falta de interesse por parte dos governantes ainda demonstram que existe falta de reconhecimento da verdadeira importância da fruticultura na concepção de políticas. Por meio da Frente Parlamentar da Fruticultura, com mobilização dos parlamentares, já pressionamos o Governo Federal, por intermédio dos ministérios da Agricultura e ENTREVISTA AFONSO HAMM no Exterior devem ser o nosso cartão postal de apresentação das frutas brasileiras. O Brasil é conhecido mundialmente pelo futebol e certamente terá reconhecimento pela excelência de suas frutas. Planejamento com o propósito de reparar o equívoco e estender esse benefício ao produtor fruticultor, desfazendo a discriminação por parte do governo. Frutas e Derivados - Quais medidas estão previstas para desoneração tributária das frutas e seus insumos? E os benefícios para o setor e a sociedade, quais são? Afonso Hamm - A gradativa evolução de conscientização e sensibilização da importância das frutas certamente conduzirá a uma busca e conquista gradual de alguns redutores na carga tributária na cadeia de insumos e serviços de forma direta nas frutas. Existe uma carência de legislação de incentivos nos âmbitos nacional e estadual. Até o momento, existe ausência de incentivos por parte do governo. Frutas e Derivados - Os diversos setores se movimentam para o estabelecimento de marcos regulatórios para a inserção em mercados estratégicos internacionais. O que está sendo feito, neste sentido, para a fruticultura brasileira tornar-se globalizada? Afonso Hamm - O primeiro passo é a conscientização dos tomadores de decisões no País. Um dos pontos fundamentais é estabelecer política de sustentação e competitividade da fruticultura brasileira, passando por ações estratégicas como defesa sanitária vegetal eficiente; ações de logística, passando por estradas, postos e aeroportos adequados e aprimorados para atender à demanda do setor. Assim como, intensificando e estimulando missões empresariais do setor na prospecção do fortalecimento e da ampliação de mercados conquistados e também a busca de novos mercados, a exemplo do Japão, que importa manga brasileira. Podemos ampliar de forma significativa os negócios com os fruticultores brasileiros. As embaixadas do Brasil Frutas e Derivados - Que outras políticas públicas podem colaborar para fortalecer e proteger o fruticultor? Entre elas, está o aumento da educação formal e da atualização profissional do fruticultor? Afonso Hamm - A profissionalização da atividade frutícola está em franca evolução. O apelo de competitividade, a exigência cada vez maior do consumidor brasileiro e das exigências de padrões internacionais está promovendo uma verdadeira revolução desde o processo produtivo com treinamento, capacitação e qualificação técnica e mão-de-obra. Há, ainda, o uso maior de tecnologias aprimoradas, como a irrigação localizada e a fertirrigação, incluindo práticas de manejo ambiental sustentável, intensificando o aprimoramento das pessoas envolvidas no processo. As unidades de classificação, padronização e embalagens cada vez mais aprimoram os cuidados sociais, valorizando seus quadros de pessoal. Frutas e Derivados - Como avalia a situação do dólar em constante queda e as perspectivas de exportação em função disso? Afonso Hamm - O desequilíbrio cambial prejudica a rentabilidade dos negócios internacionais, mas, por outro lado, aguça a capacidade de gestão e a busca máxima de eficiência em todas as fases do processo de produção à comercialização, associados ao incremento de comercialização, que compensam o exportador. “O consumidor deve ser estimulado a consumir frutas de época em franca colheita e produzidas na região” Frutas e Derivados - Quais são os projetos e as perspectivas da Frente Parlamentar da Fruticultura para 2008? Afonso Hamm - O reconhecimento da importância da fruticultura brasileira começa a ter eco a partir de grande convivência e uma mobilização nacional, unindo produtores, empresários, fruticultores, comerciantes, exportadores e governo, conscientizando assim, a relevância da atividade da fruticultura para a nação brasileira. 9 CAMPO DE NOTÍCIAS Luciana Pacheco “Mais Frutas na Escola” Colhe os Primeiros Frutos “A maçã brasileira alimenta o corpo, a escola alimenta a mente, e juntas formam alunos saudáveis e inteligentes”. Foi com esta frase que a aluna Letícia Gravana, da Escola Estadual Cristo Rei, ganhou o concurso promovido pelo projeto Mais Frutas na Escola, organizado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, com apoio da Associação Brasileira de Produtores de Maçã – ABPM, que em sua fase piloto atingiu 275 escolas somando mais de 130 mil alunos do estado. Conforme pesquisa realizada nas escolas, a aceitabilidade da maçã entre os alunos foi de 93%, sendo que os alunos que não degustaram a fruta, afirmaram não gostar ou não ter o hábito de consumo. Quanto a qualidade, o produto foi classificado como ótimo e bom em 95% das escolas. A idéia do projeto surgiu quando os produtores brasileiros de maçã começaram a exportar sua fruta para o projeto inglês “Frutas na Escola”, onde surgiu a seguinte reflexão: “por que não atender também as crianças brasileiras com ações semelhantes?” A partir de então a associação reuniu esforços com produtores e com a Secretaria da Educação do Estado de Santa Catarina para que o projeto virasse realidade. O projeto agora está sendo ampliado para 451 escolas, envolvendo cerca de 270 mil alunos do estado de Santa Catarina. Projeto Estimula Uso do Pedúnculo do Caju em Receitas O “Projeto Caju”, promovido pela Fundação Banco do Brasil (FBB) em conjunto com o Serviço Social da Indústria (Sesi), deve evitar que 10 mais de 350 mil toneladas de pedúnculo de caju - a parte da polpa - sejam jogadas fora, por ano, na região Nordeste do País. A idéia é eliminar o desperdício e estimular o aproveitamento integral da fruta por meio de ações de educação alimentar que incluem palestra e degustações. O Estado do Ceará, principal produtor nacional de caju, foi o primeiro a iniciar as ações. O trabalho está sendo realizado na Unidade Regional do Sesi, CE, dentro do “Projeto Cozinha Brasil”. Segundo a assessoria de imprensa da FBB, quase 6,5 mil pessoas já participaram das ações, que incluem coquetéis em eventos, palestras, oficinas e distribuição de receitas. Os próximos Estados a se integrarem no projeto são o Piauí, o Rio Grande do Norte e a Bahia. Ao todo, estão previstas 193 ações educativas de massa, para atender a 500 mil pessoas nos quatro Estados. O potencial de utilização do caju é extenso. A fruta pode ser consumida in natura ou servir de matéria-prima para doces, sucos, refrigerantes, de forma artesanal ou industrial. Brasil Poderá Produzir Bromelina do Abacaxi Uma pesquisa para a extração e purificação da bromelina - família de enzimas presentes na polpa e na casca do abacaxi - está sendo realizada pela Universidade Estadual de Campinas, SP, (Unicamp). O objetivo é desenvolver um método de uso industrial para a produção da bromelina pura, utilizando como matéria-prima os subprodutos do processamento da polpa do abacaxi - a casca e o talo -, já que o Brasil, apesar de ser um dos maiores produtores de abacaxi no mundo, importa a bromelina empregada nas indústrias farma- cêutica e alimentícia. O professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Luiz Carlos Bertevello, prevê a conclusão da pesquisa em três anos. “Métodos diferentes estão sendo testados para obtenção da bromelina e um meio para automação do processo para ser usado na indústria está sendo estudado pela equipe. Precisa-se chegar em grau de pureza farmacêutica para o uso humano e a pesquisa ainda não está nessa fase”, afirma Bertevello. A bromelina é usada em vários medicamentos, devido aos seus efeitos digestivos, diuréticos, laxantes e cicatrizantes e, também, na indústria alimentícia, na clarificação de cervejas ou como amaciante de carnes. Descoberto Poder Nutricional do Camu-Camu O camu-camu, fruta pouco conhecida e originária da várzea amazônica, tem despertado interesse de pesquisadores da Unicamp por seu enorme potencial nutricional. Segundo os especialistas, a fruta, de cor arroxeada, possui em média o dobro de vitamina C, se comparada, por exemplo, à concentração encontrada na acerola. “Se houvesse incentivo à produção da fruta por parte das autoridades, as exportações seriam alavancadas. O Brasil poderia ser o principal exportador de frutas tropicais do mundo”, defende a engenheira de alimentos Rosalinda Arévalo Pinedo, que desenvolveu uma pesquisa de doutorado sobre manutenção dos atributos de qualidade do camu-camu, na Faculdade de Engenharia Química (FEQ), orientada pelo professor Theo Guenter Kieckbusch. Campanha vai Promover Mirtilo Tornar mais conhecido o mirtilo, também conhecido como blueberry, é o foco da campanha que está sendo promovida pela Niceberry, empresa especializada em frutas finas, em parceria com seus distribuidores. A pequena fruta azul-escura, com sabor levemente agridoce, pode ser consumida fresca ou em forma de geléias, sucos, doces em pasta e fermentados, além de congelada e utilizada como polpa para a produção de sorvetes, sucos, iogurtes e tortas, sem perder suas propriedades nutricionais. As folhas também são usadas para fazer chá, saladas e medicamentos. O mirtilo possui propriedades antioxidantes, que atuam na prevenção ao câncer e retardam o envelhecimento. O segredo está nos pigmentos antocianos, que agem de maneira benéfica no organismo no combate aos radicais livres; antiinflamatório, melhora a circulação e reduz o colesterol ruim. Pela ausência de sódio e colesterol, o mirtilo é considerado um alimento nutracêutico - alimentos funcionais que além de nutritivos atuam como medicamentos e previnem doenças. A Niceberry cultiva o mirtilo em Itá e Bom Retiro, SC. Para informações adicionais e receitas acesse o site: www.niceberry.com.br Lançada Frente Parlamentar em Defesa da Citricultura Uma Frente Parlamentar em Defesa da Citricultura foi lançada na Assembléia Legislativa de São Paulo, no final de outubro. A Frente atuará em conjunto com a Comissão de Agricultura da Assembléia, que possui caráter permanente na Casa, para discutir e propor ações de fortalecimento do setor. A Frente irá trabalhar para solucionar os problemas dos citricultores, principalmente de pequeno e médio portes, os mais afetados pelas constantes crises da citricultura. A principal reivindicação dos produtores é a melhoria do preço pago pela caixa de laranja, considerado muito abaixo do custo de produção. O presidente da Associação dos Municípios Citrícolas (Amcisp), Kal Machado, pediu uma ação imediata da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, SP, no reajuste do preço da caixa da laranja. “O produtor está cansado de esperar. A Secretaria tem instrumentos para fazer com que os preços sejam reajustados já.” A cartelização das indústrias, o empobrecimento dos municípios citrícolas, o combate a pragas e doenças e os altos custos de insumos e fertilizantes foram assuntos abordados e também serão encaminhados pelos parlamentares. Fruit Logistica 2008 A maior feira de frutas e hortaliças do mundo oferece grandes oportunidades para os empresários do setor. O evento, que ocorre de 7 a 9 de fevereiro de 2008 em Berlim, na Alemanha, inclui, além do mercado de frutas frescas e secas, as hortaliças, nozes, produtos ecológicos, prestação de serviços, transporte e técnicas de armazenagem. Com apoio da Câmara Brasil-Alemanha, o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) é a entidade organizadora do pavilhão brasileiro na feira alemã. Os interessados em adquirir ingressos deverão contatar a Câma- ra de Comércio e Indústria BrasilAlemanha, representante oficial no País da Messe Berlin GmbH empresa responsável pela realização de feiras na capital alemã, pelo telefone: (55) 115187- 5214 ou pelo e-mail [email protected] Software Auxilia Uso Correto de Agroquímicos O maior banco de dados sobre pragas e doenças que ocorrem na agricultura brasileira está reunido no software Agrofit, lançado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Agrofit está disponível na internet para produtores e profissionais ligados ao ensino e à extensão rural. O programa traz todos os produtos fitossanitários registrados no Brasil e autorizados para uso nas diferentes culturas. Um banco de dados mostra as indicações de uso em cada cultura, com formas de tratamento para minimizar danos ao meio ambiente e contaminações aos produtos agrícolas. Traz ainda descrição técnica dos agentes, com acesso a imagens e explicações sobre tipos de danos que causam. Produtos de uso na agricultura orgânica também constam do Agrofit como produtos de controle biológico, feromônios etc. O serviço pretende reduzir o uso inadequado e excessivo de agrotóxicos nos cultivos por conta dos freqüentes erros na identificação dos agentes causadores de pragas e doenças, considerado um dos maiores problemas agrícolas do País. Para consultar o Agrofit, entre no site: http://extranet.agricultura. gov.br/agrofit_cons Colaboração: Daniela Mattiaso 11 NO POMAR NECTARINA IAC AUROJIMA Produção de frutos com padrão de qualidade comercial, necessidade de acúmulo de horas de frio com temperaturas abaixo de 7,2o C menor que 50 horas, produtividade que pode chegar a 30 toneladas por hectare e baixa porcentagem de frutos rachados – fator limitante de cultivo – são as principais vantagens da nova nectarina ‘IAC Aurojima’. Lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas, SP, em novembro, os frutos da Aurojima podem atingir até 130g e têm formato globoso pouco desuniforme, sem ápice, de base peduncular estreita e cavidade rasa. Outras características são: pele de coloração de fundo amarelo pouco esverdeado, com matiz vermelho intenso; polpa com textura firme, de cor amarela, sucosa e auréola presente ao redor do caroço solto. O sabor é doce acidulado, atingindo teor de sólidos solúveis de 15ºbrix nos frutos maduros e acidez pH 4,5, com marcante aroma. A Aurojima tem maturação de precoce a mediana, com ciclo em torno de 110 dias. Edvan Nova cultivar é mais resistente à rachadura de frutos Alves Chagas, pesquisador que liderou as pesquisas com a nova cultivar, observa que “a produção de pêssegos e nectarinas cresceu nos últimos anos, graças, sobretudo aos programas de melhoramento genético existentes no Brasil, em especial, os que disponibilizam cultivares adaptados às diversas condições do País”. Chagas ressalta que, “em função da adaptação climática, hoje, além de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, há cultivo no Espírito Santo e Rio de Janeiro”. Maiores informações: Centro de Fruticultura/IAC, telefone (11) 4582-7284, email: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ HORA DE CUIDAR DA MAÇÃ De dezembro até abril, alguns cuidados com a maçã devem ser tomados para que o produtor possa ter boa produtividade e uma fruta de qualidade, mantendose competitivo no mercado. Segundo o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), José Luiz Petri, os produtores precisam ficar atentos ao controle de pragas e doenças, poda, condução, raleio de frutos, polinização, controle de plantas daninhas, adubações e, principalmente, a colheita. Neste período, a recomendação, segundo Petri, é continuar os tratamentos fitossanitários para controle de doenças de verão e monitoramento de pragas, com especial atenção à mosca-das-frutas, Grafolita e o ácaro, sendo que quando atingir o nível de dano deverá ser feito o controle. Além disso – orienta - os tratamentos químicos devem ser feitos com fungicidas de contacto ou sistêmicos, a cada 7 a 10 dias, dependendo das condições climáticas; já os inseticidas devem Cuidados na colheita asseguram frutos ser aplicados quando houver o ataque de alguma praga, além do uso de herbicidas. melhores ao consumidor Quanto ao raleio, “eventualmente se faz uma complementação de raleio manual, feito com tesouras, em que se retiram os frutos em excesso, procurando deixar um ou dois frutos por inflorescência. Mesmo os que fazem raleio químico precisam realizar um repasse de raleio manual para retirar os frutos que ficaram”, alerta. Petri observa que “em alguns casos há necessidade de utilizar reguladores de crescimento para raleio químico, controle da queda de frutos na pré-colheita ou para retardar a maturação”. O produtor ainda precisa ficar atento com a ocorrência de granizo, utilizando cobertura com telas para o pomar e um seguro para se prevenir de prejuízos. Cuidados especiais devem ser tomados durante a colheita, evitando retirar frutos fora do ponto e batidas durante o manejo. O transporte também precisa ser cuidadoso para que as maçãs cheguem com qualidade ao consumidor. ABPM ○ 12 IAC PRODUZ MAIS COM MENOS FRIO ○ ○ ○ ○ ○ ASSOCIAÇÃO PAULISTA DOS PRODUTORES DE CAQUI NOVO CITRUS NO MERCADO Um novo citrus sem semente e mais doce está sendo lançado no mercado: o bigpon. A fruta, um híbrido de tangerina e laranja, foi desenvolvida no Japão, em 1972, e introduzida há cerca de 20 anos no Brasil. O engenheiro agrônomo, Sérgio Ituo Masunaga, do Departamento de Bigpon da Associação Paulista de Produtores de Caqui (APPC), em Pilar do Sul, SP, conta que inicialmente a fruta ficou conhecida como ‘tangerina azeda’, devido à sua forte acidez. “Isso já foi mudado. Conseguimos desenvolver uma fruta menos ácida, com sabor encorpado, aplicando técnicas apropriadas de irrigação, plantio, poda, entre outras”. A marca comercial da nova fruta será Kinsei. Segundo Masunaga, o cultivo é bastante complicado e as regiões de clima mais ameno, com maior umidade, são as ideais. “A colheita atrasa um pouco, mas a coloração chega a 100%, o que garante melhor aceitação no mercado”, explica. Rico em vitamina C, sais minerais e fibras, o bigpon auxilia na prevenção de câncer, gripe e arteriosclerose. Informações com a APPC, telefone (15) 3278-3589. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Bigpon pode ser consumido in natura e na forma de doces LANÇADO CLONES DE CAJUEIRO COMUM Os primeiros clones de cajueiro híbrido para plantio comercial, gerados a partir do cruzamento do cajueiro comum com o clone de um cajueiro anão-precoce, foram lançados pela Embrapa Agroindústria Tropical, em parceria com a Companhia de Óleos do Nordeste (Cione). Os lançamentos buscam atender à demanda por castanhas de caju de tamanho maior, voltadas para a exportação, e também, para a indústria de sucos. A avaliação dos clones foi feita em experimento instalado na Fazenda Jacaju, em Beberibe, CE. Os novos cajueiros têm altura intermediária menor – 5,3 metros em média aos oito anos – comparada à altura média estimada entre 8 e 15 metros do cajueiro comum. Os novos clones demandaram 14 anos de pesquisa de equipe formada por profissionais das áreas de melhoramento genético, fitopatologia, entomologia e pós-colheita. Mais informações via e-mail: [email protected] ou pelo Agroblog Tropical: http://blog.cnpat.embrapa.br - blog corporativo da Embrapa Agroindústria Tropical. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ NÃO TECIDOS PROTEGEM FRUTAS DIVULGAÇÃO ○ As frutas nos pomares ficam expostas a muitas adversidades, como chuva, insetos, geadas, calor intenso etc. Para evitar prejuízos, os fruticultores podem usar uma solução de cultivo protegido: os saquinhos e mantas de nãotecidos, conhecidos como agrotêxteis. “Eles ajudam no controle das pragas e possibilitam redução no uso de agrotóxicos, pois a manta protege as frutas por um período maior, o que as mantêm sadias”, afirma David Levy, engenheiro agrônomo de uma empresa multinacional que cultiva melão e melancia e utiliza os nãotecidos há três anos. Para ele, “é a única forma de ter certeza que o ‘vírus amarelo do melão’, transmitido pela mosca branca, não vai interferir na planta e nem reduzir a quantidade de açúcar da fruta”. A Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (Abint) assegura que o nãotecido desenvolvido para a agricultura tem uso simples, barato Não tecidos permitem entrada de água, e eficiente, além de possuir algumas características especiais: conserva a luz e ar no cultivo do melão permeabilidade - garantindo a passagem de ar, água e luz -, e é tratado contra a ação de raios ultravioleta (UV). Outro aspecto importante, segundo a Abint, é que o nãotecido pode ser totalmente reciclável após seu uso, pois é feito de polipropileno. Mais informações no site: www.abint.org.br 13 ○ ○ ○ RENAR MAÇÃS PASSEIO NO POMAR O Turismo Rural pode ser alternativa de renda para o fruticultor e excelente ferramenta de divulgação de seus produtos, mas é preciso disposição para abrir a propriedade e gostar de receber Samara Monteiro 14 FRUTAS FRESCAS OS SETE ANOS DO CIRCUITO DAS FRUTAS EM SP O Sebrae São Paulo desenvolve uma série de atividades com o intuito de contribuir para a formação e orientação do produtor neste setor. Marcos Alexandre Barbosa Mange, Gestor de Projetos da instituição, explica que “as ações, que são desenvolvidas, consideram o território como um todo, além da fruticultura; iremos mapear o público-alvo para priorizarmos os setores, visando o desenvolvimento deste território através do eixo do turismo”. O Pólo Turístico do Circuito das Frutas, um consórcio criado há 7 anos, formado por nove municípios paulistas das regiões de Campinas e Jundiaí, é um exemplo bastante conhecido. O principal objetivo do projeto é agregar valor ao pequeno produtor e incentivar o turismo e o desenvolvimento sustentável. Mange observa que o Sebrae desenvolve desde o início ações pontuais na região, como o Projeto Uvas e Vinhos, que se propõe a profissionalizar e incrementar a vitinicultura regional. Realiza, também, atendimentos pontuais aos produtores do Circuito das Frutas por meio do Sistema de Apoio a Agroindústria (SAI). “Hoje, o Sebrae-SP está ampliando a linha de atuação junto ao Circuito e trabalha para estruturar um projeto maior. As primeiras atividades estão sendo conduzidas, entre elas, a formação de um comitê gestor composto de líderes regionais, presidentes de associações, secretarias municipais e empresários locais. A intenção de todo projeto desta dimensão é preparar um ambiente favorável para que a governança local seja o principal motivador no desenvolvimento de futuros projetos para promover o desenvolvimento do território”, explica Mange. Segundo o presidente da Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas, José Luiz Rizzato, “hoje é mais uma ferramenta de fomento de negócios turísticos para o produtor ou empreendedor rural. Mas estamos tentando resgatar a fruticultura como a base de nossos produtos”, enfatiza. De acordo com ele, no ano passado cerca de 6 mil pessoas percorreram as 30 propriedades associa- FOTOS SÍTIO SAKAGUTI O turismo rural está em expansão no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Turismo Rural (Abraturr) mostram que há cerca de 4.800 propriedades atuantes no segmento, 55% delas localizadas no Sudeste. Deste total, 37% são produtoras de hortaliças, frutas e grãos. O crescimento se dá, principalmente, por duas razões: de um lado, a necessidade do produtor rural de diversificar sua fonte de renda e agregar valor aos produtos; do outro, a vontade dos moradores das grandes cidades de reencontrar suas origens. Neste cenário, o fruticultor encontra algumas possibilidades de atuação: pode ser a abertura da fazenda para a colheita da fruta e aulas sobre o processo de produção; ou, ainda, o enoturismo, uma união de passeio pelos parreirais, com palestras sobre o processamento do vinho e degustação da bebida. De acordo com a bacharel em turismo e assessora de imprensa da Abraturr, Rute Fogaça, “o turismo rural é definido como um conjunto de atividades turísticas, desenvolvidas no meio rural, comprometidas com a produção agropecuária, que agrega valores a produtos e serviços oferecidos pelas propriedades rurais, como também, resgata e promove o patrimônio cultural e natural da propriedade”. Considerada recente, a atividade ganhou, em novembro, uma linha de financiamento do Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar (Pronaf) e se destina aos pequenos e médios produtores rurais interessados em agregar valor à atividade agrícola por meio do turismo rural. De acordo com João Baptista Mattos Pacheco Neto, presidente da Câmara Setorial de Lazer e Turismo no Meio Rural, “esta linha de crédito vai ajudar enormemente o produtor rural que necessita adaptar parte da sua estrutura para receber o turista, como por exemplo, reformando sanitários ou outras instalações”. Segundo Pacheco, a linha de crédito só foi possível devido à grande participação e colaboração da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), Câmaras Setoriais e Pronaf. Produtores Márcio e Fumiko Sakaguti gostaram dos resultados do “Colhe e Pague” na plantação deles de caqui 15 FRUTAS FRESCAS ENOTURISMO: EFICIENTE CANAL DE DISSEMINAÇÃO DA PRODUÇÃO DO VINHO O enoturismo brasileiro é jovem como a produção de vinho no País, mas já colhe bons frutos. O Vale dos Vinhedos, no RS, por exemplo, é o roteiro brasileiro preferido no segmento. E não é para menos, afinal, o pequeno vale gaúcho é referência na produção nacional de vinhos, com 32 vinícolas e a produção de alguns dos melhores rótulos nacionais, como o Miolo Terroir, o Gran Reserva Valduga Cabernet Sauvignon e o Cabernet Sauvignon Laurindo. Tanta sofisticação, aliada à qualidade na produção do vinho, fez com que a região se destacasse no setor 16 turístico, impulsionando ainda mais a produção de uva e de vinho. Para se ter uma idéia, a região conta com uma diversidade de passeios turísticos que remetem à disseminação do consumo do vinho. Um exemplo é o complexo Villa Europa, com hotel e spa voltados exclusivamente para o universo do vinho. Os cinco hectares do complexo foram transformados em área de cultivo para 7.500 mudas de uva Merlot importadas da França. Com isso, foi iniciada a produção em pequena escala do VE, o vinho exclusivo do local, produzido pela Vinícola Miolo. “Pensar na agregação de valor das vinícolas é considerar que o turismo rural pode ser impulsor para o desenvolvimento das mesmas, pois a prática do agroturismo, ao oferecer degustação e comercialização dos produtos, torna possível refletir o planejamento de roteiros pelas vinhas e cantinas onde a bebida é elaborada”, enfatiza Rute Fogaça, da Abraturr. A Vinícola Dom Cândido se destaca no enoturismo no Rio Grande do Sul. De acordo com seu enólogo e técnico agrícola, Daniel De Paris, os ganhos com a abertura para visitações nos vinhedos, na vinícola com degustação de produtos são vários: “cria credibilidade, conhecimento da marca e é uma forma de mostrar a qualidade dos produtos aos consumidores”. O Vale dos Vinhedos é a primeira região do Brasil a obter a Indicação de Procedência de seus vinhos finos, exibindo o Selo de Controle em todos os seus produtos. Desde que foi criada, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos ViCIRCUITO DAS FRUTAS das, o que é ótimo para produtores como Antônio Roberto Losque, que cultiva caqui, pêssego, uva, ameixa, amora e dekopon nos 11 hectares de terras da sua Chácara São Vicente e Vale das Frutas, em Jundiaí, SP, cidade integrante do Circuito. Losque participa do turismo rural há 1 ano e conta que a atividade ajuda a melhorar a rentabilidade, mas não a venda das frutas. “Como já temos a estrutura pronta, abrir a propriedade para a visitação não custa muito, e o que ganho contribui para pagar todos os gastos do sítio, incluindo funcionários e despesas”. Em sua chácara, Roberto dá aulas sobre a imigração italiana na cidade, história local e fala sobre o cultivo da uva. Além disso, oferece passeio, colheita e degustação de frutas e subprodutos. Em março deste ano, a produtora Fumiko Sakaguti e seu marido Marcio abriram, pela primeira vez aos turistas, o Sítio Sakaguti, em Piedade, SP. Por meio do “Colhe e Pague”, as pessoas conheceram e saborearam o caqui e aprenderam sobre a vida no campo. Fumiko, que colhe anualmente 50 mil/kg da fruta, conta que gostou da experiência. “Vendemos toda a colheita e conseguimos pagar as despesas que tivemos. No ano que vem vou fazer de novo”, ressalta ela. Mas não é só no Sudeste que o turismo rural se destaca. Algumas ações individuais em outros estados também têm dado resultados. É o caso do programa de visitas criado pela Renar Maçãs, em Fraiburgo, Santa Catarina. O engenheiro agrônomo da empresa, Luciano Roberto Mondin, conta que a produção de maçãs da empresa está localizada numa área de mata nativa, com 750 hectares, onde há Araucárias centenárias. “Na época da colheita, disponibilizamos jipes antigos do exército aos turistas, que podem passear pelos pomares e colher a fruta”, afirma Mondin. Além do passeio pelo pomar, da colheita e de aulas sobre a produção da fruta, existem outras formas de atrair o turista e incrementar o turismo rural. Entre elas estão a gastronomia típica, arquitetura histórica, folclore e música (talentos locais), lidas rurais, recreação e preservação da fauna e flora. nhedos, a Aprovale, já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. “Para isso foi necessário, no entanto, seguir os passos da experiência e passar, primeiro, por uma Indicação de Procedência”, conta o diretor executivo da associação, Jaime Milani. A conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos tornou-se uma garantia de origem com qualidade da região, o que traz vantagens para o viticultor e vinicultor, especialmente para os consumidores e visitantes do Vale, que encontram infra-estrutura de atendimento, respeito à natureza e as características dos valores sociais que determinam a essência do produto. “E o mercado também ganha, pois recebe um produto de maior valor agregado, gerando confiança ao consumidor que sabe que vai encontrar vinhos e espumantes de qualidade com características regionais”, enfatiza Milani. Nos parreirais e vinícolas do Vale do São Francisco, o enoturismo já começa a conquistar espaço. Jorge Garziera, enólogo e diretor da Vinícola Garziera, afirma que investe no turismo em sua propriedade, porque “é uma forma de conquistar e fidelizar nossos clientes por meio do relacionamento direto e pela qualidade dos nossos produtos. Além de conhecer os parreirais, a vinícola e degustar o vinho, os turistas ainda conhecem a gastronomia típica da região”. O QUE É PRECISO SABER Crie um forma especial para receber as pessoas. Pode ser contando a história do local e do cultivo da fruta, por exemplo; Faça vários tours para conhecer o que outros produtores desenvolvem e o que é tendência; Procure cursos de capacitação em turismo rural. Formação e conhecimento são fundamentais; Reflita se está disposto a receber pessoas na sua propriedade, pois, às vezes, elas podem quebrar alguma coisa ou fazer “bagunça”; É fundamental ter cestas para a colheita e balança para a pesagem das frutas; Infra-estrutura como banheiros, área para alimentação e estacionamento são fundamentais. Para conhecer mais sobre o assunto, saber sobre roteiros de turismo rural nacionais e internacionais e as histórias de sucesso na atividade, o produtor pode entrar em contato com a Câmara Setorial de Lazer e Turismo, pelos telefones (11) 5067-0324 e (11) 5067-0377; com a Associação Brasileira de Turismo Rural (Abraturr), (11) 38157688 - www.turismorural.org.br ou com o Circuito das Frutas, (11) 4817-1618 - www.circuitodasfrutas.com.br Colaboração: Daniela Mattiaso Outro modelo de turismo dissemina consumo de frutas Desde 2005, o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) em parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e apoio do Sebrae-SP, realiza o Turismo Saudável. O projeto visa fidelizar turistas estrangeiros ao consumo de frutas brasileiras, com degustações nos principais hotéis e aeroportos do Brasil. Neste período, foram 55 mil degustações em cafés da manhã de 45 hotéis, além de 3 salas de desembarque internacionais de aeroportos. E o resultado atingiu as expectativas: “primeiro pela divulgação das frutas brasileiras demonstrando suas qualidade e variedades, bem como dos sucos nacionais. Em segundo lugar porque conseguimos entender o perfil do consumidor estrangeiro”, explica a gerente executiva do Instituto, Valeska Oliveira. A última ação aconteceu durante o GP Brasil de Fórmula 1, nos hotéis oficiais do evento em São Paulo, em outubro, onde houve a degustação de 7.600 cafés da manhã e contou com a participação de produtores do Fruta Paulista, projeto de capacitação em Boas Práticas Agrícolas e marketing nacional e internacional da fruta de São Paulo. Abacaxi, banana, melão, maçã, limão, manga, mamão, tangerina, uva, figo, goiaba, nêspera, pêssego e dekopon fizeram parte do café da manhã de pilotos, equipes e turistas. No total, foram degustadas 1341 caixas de frutas de empresas exportadoras e de produtores do Fruta Paulista. Pilotos, dirigentes das equipes e formadores de opinião também receberam arranjos de frutas com um melão personalizado com a logo de cada equipe e folders com dicas de consumo, valor nutritivo e receitas. Durante o café da manhã foram aplicados questionários para identificar o perfil dos turistas, seus hábitos de consumo de frutas em viagens e no país de origem. O resultado demonstrou que a fruta é o alimento preferido no café da manhã de 85,9% dos turistas estrangeiros e as favoritas são abacaxi, melão, mamão e manga. De acordo com Valeska Oliveira, projetos assim beneficiam o trabalho do fruticultor porque além de conhecer o consumidor estrangeiro, procura, ainda, saber como funciona o setor de alimentos e bebidas do setor hoteleiro, grande mercado a ser explorado pelo produtor. E, também, os hotéis precisam enxergar no produtor um meio de obter uma fruta com melhor qualidade. “Percebemos que mesmo em hotéis localizados nos pólos de produção, não são servidos produtos de qualidade. Este é um trabalho que o setor hoteleiro, junto com o produtor, poderia desenvolver na busca pela fidelização do consumidor, destacando a origem da fruta”, ressalta. 17 O Brasil se destaca quando o assunto é produção de uva. Afinal, em várias regiões são encontradas videiras das mais diversas variedades. Mas não é só o consumo da fruta in natura que impulsiona a produção. O País já se destaca em qualidade, tecnologia, exportação e, também, na produção da bebida dos deuses, o vinho Samara Monteiro 18 VITIVINICULTURA Sul, são: Bordo, Isabel, Niágara Branca e Rosa; e as Européias Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Riesling, Chardonnay e Moscato Giallo”, ressalta Watanabe. O QUE ELA TEM QUE ENCANTA? Há uma tradição de se comer uvas no Natal e na passagem de ano, principalmente porque o consumo da fruta está ligado a alguns rituais. Quem nunca deixou um pacotinho de sementes de uva na carteira para atrair mais dinheiro? Segundo o engenheiro agrônomo do Centro de Qualidade em Horticultura da Ceagesp, Gabriel Bitencourt, “nesta época do ano, o consumo da fruta aumenta em 100%, ou seja, dobra”. Além da tradição, outro motivo para a disputa pela fruta é que, em novembro, as uvas brasileiras estão sozinhas no mercado internacional, em países como Estados Unidos e na Europa. Sem contar a enorme safra de uvas rústicas, tipo Niágara, na região de Jundiaí, SP, crescente no período. O consultor Jean-Paul Gayet, presidente da Associated Consultants in the Fruit Industry, explica que neste período existe uma demanda em praticamente todo o mundo. “Isso é chamado de janela e nesta época do ano dura, em média, de 4 a 7 semanas. Isso favorece o Brasil”, ressalta. Existe outra janela entre os meses de maio e junho, porém menos remuneradora, com duração de 3 a 4 semanas. Há, ainda, as demandas de contra-estações, supridas pelo Hemisfério Sul durante a entressafra do Hemisfério Norte. É o caso, por exemplo, das exportações chilenas e da África do Sul, que suprem o Hemisfério Norte de dezembro a maio. Mas, afinal, o que é que a uva tem que encanta tanto os consumidores? “Sem dúvida nenhuma é o sabor”, afirma Gabriel Bitencourt. Resultado de uma mistura de açúcar das frutas e seu equilíbrio com a acidez, é pelo paladar que a uva atrai. “Mas outros fatores também contam, como os taninos, os aromas, a textura e a suculência da baga. Além de sua Jean-Paul Gayet: país recebe estrangeiros em busca de conhecimento e ofertas para transferência de tecnologias de produção ARQUIVO PESSOAL Outra vez é dezembro! O mês mais aguardado do ano também é comemorado pelos fruticultores. Afinal, é quando aumenta o consumo da fruta-símbolo das festas natalinas, a uva. Trazida ao Brasil pelos portugueses na época da colonização, aproximadamente em 1535, essa frutinha delicada e de sabor adocicado teve sua produção impulsionada pela imigração italiana no final do século 19, iniciada, principalmente, no Sul do País. Hoje, o cultivo da videira se espalha pelas terras brasileiras, em regiões cujas características de clima e solo se diferem, e o que se vê é uma produção intensa e o abastecimento quase diário do mercado. Isso porque, mesmo sendo considerada uma cultura de clima temperado, em razão de ocorrer queda de folhas no outono, a videira apresenta fácil adaptação climática e também se desenvolve muito bem em regiões de clima mediterrâneo, ou seja, verões secos e quentes, e invernos frios e chuvosos. Por isso, o cenário é o seguinte: o Rio Grande do Sul lidera a produção nacional de uva, com mais de 620 mil toneladas/ano, onde se destaca o Vale dos Vinhedos, formado pelas cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. A região é conhecida, também, pela produção de vinhos, e já se constitui como destino preferido dos enoturistas no Brasil. Em segundo lugar está São Paulo, com uma produção anual de 195 mil toneladas, famoso pelo cultivo da uva de mesa nas cidades de Jundiaí, Indaiatuba, Jales, São Roque, São Miguel Arcanjo, Pilar do Sul e Dracena. Um outro ponto a favor do Estado é que ele tem o maior mercado consumidor da fruta, seguido do Rio de Janeiro e Brasília. Um pouco abaixo no ranking, mas com uma produção não menos importante, vem Pernambuco, com 155 mil toneladas anuais. Como diz o gaúcho Jorge Roberto Garziera, que deixou a terra dos pampas e foi produzir uva e vinho no Vale do São Francisco, o clima tropical da região é um presente e garante produção constante. “Diariamente vemos todas as fases do cultivo acontecerem. Enquanto planto hoje num pedaço da terra, ainda hoje vou colher em outra área”, ressalta ele em tom alegre. No total, o País produz, aproximadamente, 1,3 milhão de toneladas por ano, das mais diversas variedades, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o engenheiro agrônomo, Hélio Satoshi Watanabe, da Ceagesp, “para o consumo in natura, as mais cultivadas são a Itália, Rubi, Brasil, Benitaka, Red Globe, Centenial, Festival, Niágara, Morena, Linda, Clara, Red Meire e Thompson Seedles”. Já, para a produção de vinho, há as variedades Americanas para vinho de mesa e Européias, voltadas para os vinhos finos. “As mais produzidas, principalmente no Rio Grande do 19 VITIVINICULTURA aparência, tamanho, uniformidade, formato do cacho e o engaço túrgido e verde”, enfatiza o engenheiro. E os gargalos? Ah, sim, pois eles também existem e estão atrelados à falta de confiança do consumidor em relação ao produto. Ninguém gosta de comer uva azeda e, de acordo com o engenheiro agrônomo Renato Faccioly de Aguiar, “é preciso organizar o mercado interno e estabelecer regras para as características de classificação e padronização das uvas. Esta medida é importante para diferenciar os bons dos maus produtores e evitar o abastecimento do mercado com frutas de baixa qualidade”. Aguiar faz consultoria para produtores de uva, é viticultor no Vale do São Francisco e elabora projetos de investimento para o Banco do Nordeste e Banco do Brasil. Para ele, a solução, neste caso, deve vir em forma de lei decretada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Outros fatores prejudiciais, segundo Gabriel Bitencourt são: “distribuição ruim, cujo resultado é a fruta de má qualidade na mesa do consumidor; pouquíssimas ações de marketing e marcas confiáveis no setor; e o custo do produto, item prejudicial, mas que não é o mais preocupante”. VOLUME DE EXPORTAÇÃO DA FRUTA AUMENTA EM 2007 Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o volume exportado de uva pelo Brasil até outubro deste ano foi de 64 mil toneladas, um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado, 42 mil toneladas. Em valor, o crescimento foi de 71%, representando US$ 138 milhões contra US$ 81 milhões em 2006, o que coloca a uva no primeiro lugar no ranking de exportações. “O setor é um dos mais organizados do País”, afirma o consultor Jean-Paul Gayet. Para ele, “não há muito o que melhorar em termos de tecnologias de produção, colheita e pós-colheita. Neste sentido, hoje somos um benchmarking para outros países. Por isso, recebemos muitas visitas de estrangeiros em busca de conhecimento e, também, ofertas formais de colaboração técnica para transferência de tecnologias de produção”. Faz 25 anos que a uva brasileira de mesa é mandada para fora e o consumo concentra-se, principalmente, na América do Norte, Europa, Oriente Médio, Ásia, Federação Russa e outras ex-repúblicas soviéticas. Mas se antes a procura era pelas variedades com sementes, principalmente a Itália e seus derivados, como a Rubi Vermelha e a Brasil Negra, agora a preferência internacional é pelas uvas sem sementes, de cores branca, vermelha e negra. “Nas brancas, prevalece a procura pela Thompson, Sonaca e 20 Melissa, seguidas pela Festival. Na vermelha, o destaque fica por conta da Crimpson. No entanto, não há ainda clareza quanto à preferência das variedades negras, mas o consumo é maior da Midnight beauty, Black beauty, Sable e Autumn Royal”, enfatiza Gayet. Uma das fases mais importantes para o sucesso da exportação, além do pós-colheita, é o pré-resfriamento da fruta, cuja exportação é feita via mar e pode levar de 9 a 11 dias para chegar aos Estados Unidos ou Europa, e de 25 a 30 dias para o Oriente Médio e Ásia. Acrescenta-se aí, mais três dias de espera no porto de embarque, graças à burocracia governamental. Mas o que enfraquece o setor, segundo o consultor, são os custos proibitivos de praticamente tudo, “o famoso custo-Brasil, criado pelos impostos monstruosos, pela burocracia recorde do governo, que só aumenta, em vez de diminuir. Sem esquecer do câmbio totalmente irreal, que fez com que as receitas diminuíssem 45% em três anos, enquanto os custos com mão-de-obra e embalagens continuam subindo sem parar. E, ainda, a escolha do Itamaraty de negociar em blocos, sem resultados por falta de coesão no Mercosul, faz com que os produtores brasileiros precisem pagar os impostos de importação na União Européia, quando os outros países fornecedores estão isentos”, desabafa. O resultado disso, no caso da uva, é que os excelentes preços conseguidos nas chamadas janelas não dão mais lucro ao produtor, pois as margens ficam todas para pagamento de impostos e taxas. “Certa vez, ao voltar de uma viagem para o Chile, um importante empresário brasileiro do setor de uva resumiu suas impressões da viagem dizendo: o que diferencia o Chile do Brasil, no caso das exportações, é que lá, os milhares de membros e funcionários do governo só têm um objetivo: fazer a fruta chegar o melhor e mais rapidamente possível até o porto da Filadélfia. Aqui é o contrário, quanto mais empecilhos, melhor! ” - relembra Gayet. Para exportar com sucesso contam, também, as especificações técnicas dos produtos, de sua emba- lagem, a certificação do uso das boas práticas agrícolas, sem o qual não é possível exportar para a Europa, por exemplo. Atualmente, esse tipo de certificação é privado, mas a tendência é a exigência de uma certificação governamental. As negociações comerciais são complexas e da condução delas depende o sucesso: negocia-se calendário de embarques, quantidades a embarcar de cada tipo a cada semana e, finalmente, os preços. Os pagamentos são feitos em parte com adiantamento sobre o embarque, mediante remessa dos documentos, parte na boa chegada das frutas, e o saldo entre três a quatro semanas após sua chegada. DA UVA AO VINHO... UM MERCADO EM EXPANSÃO Anualmente, o Brasil produz cerca de 380 milhões de litros da ‘bebida dos deuses’. Mas apesar disso, consome 300 milhões de litros, sendo 25 milhões/l das vinícolas brasileiras, que produzem vinhos finos. Destes, 45 milhões/l são importados e 230 milhões/l são produzidos com variedades não-viníferas. E para onde vai o vinho brasileiro? “Principalmente para países como Japão, Suíça, Estados Unidos, Alemanha e França”, afirma o enólogo e técnico agrícola, Daniel De Paris, da Vinícola Dom Cândido, localizada em Bento Gonçalves, RS, a capital brasileira da uva e do vinho. O mercado mundial de vinhos vem passando por transformações, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes, gerando oportunidade de expansão para a produção de vinhos finos de melhor qualidade. “Como conseqüência, cresce a produção de uvas viníferas, que estão roubando o espaço antes pertencente às frutas de mesa”, explica Amélio Dezem, sócio-proprietário da Vinícola Dezem, de Toledo, PR. Não é de se surpreender que o Rio Grande do Sul também seja o maior produtor da bebida. Do Estado, cuja média anual da produção fica em torno de 330 milhões de litros, saem 90% dos vinhos e derivados elaborados no País. Além disso, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a cadeia produtiva vitivinícola gaúcha envolve 620 estabelecimentos vinificadores e 12.829 unidades produtoras de uva, estas ocupando uma área de 27.986,97 hectares. Atualmente, registra-se um processo de crescimento da área de cultivo de uva e vinho em diversos outros Estados, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Vale do São Francisco. Praticamente onde se vê ARQUIVO PESSOAL Daniel de Paris: mercado brasileiro de produção de vinho está crescendo, mas ainda é caro produzir 21 VINÍCOLA GÓES uva, se vê vinho, bem como projetos de integração entre as diferentes zonas produtoras. A criação da Câmara Nacional da Viticultura, Vinhos e Derivados, que reúne entidades da cadeia produtiva de todo o País, é reflexo desta expansão. E a qualidade surpreende. “Os vinhos e espumantes das novas vinícolas são tão bons quanto às das tradicionais, pois utilizam as uvas viníferas em sua composição”, enfatiza Dezem. Atualmente, as vinícolas brasileiras estão se dedicando a trabalhar com variedades como a Cabernet e Cabernet Franc, Sauvignon, Merlot, Tannat, Tempranilo, para os vinhos tintos; e Chardonnay, Sauvignnon Blanc, Chenin Blanc e Malvasia, para os vinhos brancos. As exportações de vinhos brasileiros têm superado barreiras e conseguido consolidar sua presença em mercados mundialmente disputados, como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Inglaterra. Segundo o Ibravin, “o primeiro trimestre de 2007 reflete este desempenho, fechando com crescimento de 120% em relação ao mesmo período de 2006, ultrapassando os U$ 450 mil”. Apesar da política de câmbio desfavorável, que prejudica as exportações tanto da fruta quanto do vinho brasileiros, o número de empresas exportadoras praticamente duplicou em relação ao ano passado, bem como o preço médio exportado por litro, que teve um aumento de 56%. O Ibravin é responsável pelo projeto setorial Wine From Brazil (Vinhos do Brasil) e desde 2002 apóia as vinícolas brasileiras na promoção de seus vinhos no exterior. Por meio do apoio que o projeto recebe da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), o grupo realiza ações de divulgação da bebida brasileira, como anúncios nos principais veículos de comunicação estrangeiros e eventos de degustação. COM A PALAVRA, OS VITIVINICULTORES Localizada na cidade de São Roque, interior de São Paulo, a Vinícola Góes produz, anualmente, 9 milhões/l de vinho. Para a produção da bebida a empresa mantém 15 hectares de plantação de videiras, de onde colhe 80 mil/t por ano. Além disso, tem parceria com outros produtores da fruta, em cujas propriedades coloca enólogos e engenheiros agrônomos para um acompanhamento direto, oferecendo assistência. Cerca de 20 pessoas trabalham para eles entre o cultivo da uva e a produção do vinho. Segundo Fábio Henrique de Góes, enólogo da vinícola, a principal dificuldade para os produtores de vinho é “a falta de divulgação. Só agora é que o País está começando a realizar campanhas de 22 Fábio Henrique de Góes: vinícola participa do projeto de retomada da produção de vinhos em São Paulo marketing para a colocação de vinhos brancos, principalmente dos espumantes, no mercado nacional e internacional”. A Vinícola Góes ainda não exporta sua produção, mas de acordo com Góes, está iniciando o processo de negociação com Estados Unidos e Ásia. A Vinícola Góes faz parte de um projeto de retomada da produção de vinho no Estado de São Paulo, criado em fevereiro deste ano por meio de uma parceria público-privada, o SP Vinho. Fazem parte os Sindicatos da Indústria do Vinho de São Roque e Jundiaí, a Prefeitura de São Roque, a Secretaria de Estado da Agricultura, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e diversas vinícolas da região. Com o objetivo de transformar o vinho produzido no Estado, tradicionalmente artesanal, para um produto de exportação, o SP Vinho prevê aumentar de cerca de 30 para mais de 100 o número de produtores formais de vinhos no Estado, em um prazo de dez anos. A iniciativa deve atingir toda a cadeia produtiva, desde o plantio da uva ao engarrafamento. “São Paulo consome 64% do vinho no País, mas, por ano, compra 75 milhões de litros de vinho do Sul para ser engarrafado aqui. Com isso, deixa de gerar emprego, imposto e fixação do homem no campo”, explica Góes. Para Daniel De Paris, da Vinícola Dom Cândido, de Bento Gonçalves, RS, “o mercado brasileiro de produção de vinho está crescendo. Mas nossa dificuldade maior ainda são os vinhos de baixo custo, muito inferiores em termos de qualidade, que entram no País para concorrer com o nosso, bem como os impostos elevados sobre os produtos brasileiros, a burocracia para exportação, exigida pelos países exportadores, variação cambial e retorno financeiro lento”. A Vinícola Dom Cândido produz, anualmente, 270 mil/l de vinhos. Esporadicamente, a empresa aumenta sua produção para criar produtos diferenciados, como o Bag in Box, variedades novas, entre elas a Marselan; e, ainda, realizar testes de campo, como o que estão fazendo no momento com variedades de origem francesa. Para garantir a qualida- de dos produtos, por meio de um controle maior, a empresa optou por trabalhar apenas com sua própria produção de uva, 370 mil/kg por ano, localizada na região da Serra Gaúcha, nas cidades de Veranópolis, com uma área de 50 hectares, e de Bento Gonçalves, onde cultiva 12 hectares. A uva é uma das culturas que mais expressa rendimento em produção e rentabilidade por hectare no Vale dos Vinhedos. Hoje, produtores com pequenas áreas conseguem ter um bom nível de vida. Mas para Daniel De Paris, ainda é muito caro produzir vinho no Brasil. “Os custos de produção da uva com tratamentos fitossanitários e trabalhos de manuseio das práticas culturais são altos. Sem contar os gastos com material de expediente, como garrafas, rolhas e rótulos, e os terríveis impostos sobre o produto final”, enfatiza. Também no Rio Grande do Sul, em Nova Pádua, localiza-se a Vinícola Boscato, cuja produção anual gira em torno de 400 mil/l, variando um pouco, conforme a safra. De acordo com Roberta Boscato, engenheira agrônoma, mestre em biotecnologia e sommelier da empresa, “a produção da Boscato Vinhos Finos já foi maior, mas optamos por reduzir a capacidade produtiva e, com isso, aumentar cada vez mais a qualidade dos nossos produtos. Para isso, investimos, também, em tecnologia nos vinhedos, na elaboração, amadurecimento e envelhecimento dos vinhos”. Atualmente, a vinícola exporta seus produtos em pequena escala para a República Tcheca e os Estados Unidos. A empresa produz uvas viníferas tintas, em sua maior parte Cabernet Sauvignon e Merlot e, também, as brancas, como a Chardonnay. “Produzimos 45% de uvas necessárias para a nossa produção, numa propriedade de 14 hectares”, afirma Roberta. Dessas uvas são produzidos os vinhos das linhas Gran Reserva e Reserva Boscato. Os vinhedos estão localizados numa microrregião favorável para a viticultura. São áreas de encostas, com escarpas de 716 a 816 metros de altitude, situada na parte su- BOSCATO Roberta Boscato: empresa investe em tecnologia desde os vinhedos até o envelhecimento dos vinhos VITIVINICULTURA perior da região Nordeste do Estado, no alto do Vale do Rio das Antas, Serra Gaúcha. Além disso, a empresa conta com 19 parceiros, que seguem o mesmo padrão de cultivo, de onde são retirados 55% das uvas necessárias para produção do vinho. De Vale para Vale, é no Vale do São Francisco que o gaúcho Jorge Roberto Garziera se realiza. Com uma produção própria de 30 hectares de uvas viníferas, a Vinícola Garziera colhe duas safras por ano, aproximadamente 700 mil/kg no total, proporcionando 500 mil/l de vinho ao ano. A vantagem de cultivar uva nesta região, segundo ele, é que “o clima permite o cultivo durante todo o ano e, conseqüentemente, investimos apenas 50% do que é necessário para produzir uva e vinho em outros Estados”. Garziera explica, também, que desenvolver uma política de aproveitamento da fruta é vantajoso para o produtor, criando outros subprodutos e aderindo ao enoturismo. “É preciso diversificar, pois o mercado está competitivo demais e ainda existem muitos tabus, como o bairrismo e o preconceito com os vinhos nacionais”, ressalta. Um pouco mais ao Sul está a Vinícola Dezem, implantada no município de Toledo, PR, numa área de 70 hectares, cujas atividades iniciaram em 2004, com uma produção de 40 mil/l. Quase três anos depois, esse número subiu para 60 mil/l e a expectativa é chegar a 100 mil/l em pouco tempo. No momento, a empresa utiliza apenas 10 hectares de terras para o cultivo da videira. Para Amélio Dezem, sócio-proprietário da vinícola, “ela sempre será uma empresa de pequeno porte, a chamada vinícola boutique, pois a meta é nos destacarmos pela qualidade”. Além de suas próprias frutas, a vinícola tem parceria com um outro produtor, o agrônomo Marcos Link, também consultor da empresa. “Primamos por esta relação, porque ele está em contato direto com nosso enólogo, e muita coisa é decidida em conjunto, a partir do vinhedo”, enfatiza Dezem. Trabalham, entre o cultivo e a fábrica de vinho, 12 pessoas. Entretanto, na época da colheita outros profissionais são terceirizados. Diariamente, a Vinícola Dezem recebe turistas e empresários para visitação e degustação, que são gratuitas. Neste momento, é possível divulgar os processos, como o cultivo da videira e todas as etapas dentro da vinícola; bem como a recepção da fruta até o engarrafamento da bebida. 23 Retrospectiva e Tendências Como foi 2007 para o setor e o que vem pela frente? Renato Faccioly é engenheiro agrônomo e viticultor no Vale do São Francisco e presta consultoria para outros produtores. Além de vivenciar as vitórias e os percalços da produção, ainda presta serviços para empresas como a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e elabora projetos de investimento para os bancos do Nordeste e do Brasil. Com um posicionamento positivo quanto à produção de uva no País, Faccioly fala como foi o ano para os produtores da fruta e dá dicas de como se preparar para 2008. FD – É possível fazer um diagnóstico de como foi o ano de 2007 para a produção de uva? RF – Tivemos alguns percalços nos meses de julho e agosto, até meados de setembro, devido ao excesso de oferta de uva com sementes no mercado interno. Em função do câmbio, os grandes produtores deixaram de exportar e estocaram o produto. O resultado é que com a chegada da safra da uva sem sementes, eles precisaram desocupar as câmaras frias e colocar a uva de baixa qualidade no mercado. Isso aumentou a oferta da fruta e causou a queda dos preços. Mas num balanço final, o ano foi bom. No Vale do São Francisco, por exemplo, a produção em 2006 foi de 210 mil/t, com a exportação de 58 mil/t exportadas. Este ano, estima-se que a região tenha produzido 230 mil/t e exportou 70 mil/t. FD – Além do câmbio, houve outras dificuldades? RF – Precisamos nos acostumar com o câmbio e trabalhar para nos destacar em qualidade e produtividade por hectare. Mas tivemos, sim, outras dificuldades como os custos com a mão-de-obra, que absorve quase 50% do custo total da produção da uva. Outras foram os preços de agrotóxicos e fertilizantes, que não acompanharam a queda da moeda norte-americana. FD – Mas há o que comemorar, não é mesmo? RF – Sim, claro. Nossas maiores conquistas foram o ajuste no pacote tecnológico para a produção de uva fina sem semente Thompson, muito valorizada 24 no mercado, e o desenvolvimento da uva Itália, selecionada a partir de uma mutação ocorrida nos parreirais da região daqui do Vale. É importante salientar, ainda, a melhora na qualidade e no aumento da produção. Hoje, falamos de produções de até 40 toneladas/hectare. FD – Pode-se dizer que o ano teve adversidades quando o assunto é o clima. Como isso impactou a produtividade? RF – No primeiro semestre, a chuva terminou cedo e no segundo, não houve problemas com ela. Ressalto que a estratégia dos produtores de trabalhar com consultorias especializadas e, por isso, antecipar a produção do segundo semestre, foi importante e diminuiu os riscos. Além disso, o forte verão e o calor na Grécia prejudicaram a qualidade da fruta lá e nos ajudou, já que o país é nosso competidor direto. FD – Há incentivos para a produção de uva no Brasil? RF – Nenhum. Não existe uma política agrícola definida para esta cultura. Os produtores usam apenas o crédito rural oficial, porém este não cobre todos os custos de implantação que, em alguns casos, chegam a R$ 50 mil/hectare. FD – Quais são as previsões do setor para 2008 e como o produtor pode se planejar? RF – A expectativa dos produtores é ter um ano tão bom como este. A minha sugestão é que eles tentem minimizar os riscos existentes na atividade. Uma alternativa é escalonar a produção para colher a fruta mensal ou quinzenalmente, regulando a oferta e garantindo um fluxo de caixa positivo durante todo o ano. Para o mercado externo, é importante fazer análises de mercado periódicas com a ajuda de consultorias especializadas, bem como investir em câmaras frias e antecipar contratos de exportação. Vale, também, estudar maneiras para reduzir o custo com a logística, como a exportação em navios refeers ao invés de conteineres. Para os pequenos e médios produtores, sugiro se agruparem em associações e cooperativas. PRODUÇÃO BRASILEIRA DE UVA POR ESTADO ESTADOS PRODUÇÃO (TON) VALOR (MIL R$) ÁREA (HA) Rio Grande do Sul 623.878 560.997 44.298 São Paulo 195.357 265.742 10.414 Pernambuco 155.781 365.354 5.111 Bahia 117.111 255.005 3.938 Paraná 95.357 136.722 5.657 Santa Catarina 47.355 33.359 4.512 Minas Gerais 12.318 26.238 893 Goiás 2.398 2.772 84 Ceará 2.172 3.665 67 Paraíba 1.980 3.168 110 Mato Grosso 1.805 4.679 151 Espírito Santo 522 1.315 34 Mato Grosso do Sul 502 1.003 47 Rondônia 242 206 25 Distrito Federal 162 384 38 Tocantins 72 158 4 Piauí 52 78 2 TOTAL 1.257.064 1.660.845 75.385 Fonte: IBGE 2006 25 AGROINDÚSTRIA FRUTAS NA PRATELEIRA Fruticultores e empresas trilham por novos mercados, com muita pesquisa e dedicação, e apontam tendências e oportunidades para a área Layza Portes Suas características adocicada, ora amarga e ácida, tão perceptível ao nosso paladar, aliada às suas fortes propriedades, têm feito com que cada vez mais o mercado de frutas ganhe, além da mesa, as prateleiras dos supermercados, o olfato, a pele, ou até mesmo, os jardins da casa do consumidor. Frente aos novos desafios que surgem na fruticultura, o produtor se renova e mostra que é possível trilhar outros caminhos, embora, muitas vezes longos e de extrema dedicação. Mais de uma década de pesquisas foi necessária para que o engenheiro agrônomo Rosalino Miguel Piccin explorasse outras alternativas para a comercialização do abacate. No mergulho do universo dessa fruta 26 tão apreciada, Rosalino e o parceiro do projeto, Paulo Furusato, percorreram as principais capitais do Sul e do Sudoeste, como Porto Alegre, São Paulo e Curitiba, para encontrar informação técnica e um profissional que conhecesse a fundo outras aplicações da fruta. Foi aí que encontraram o químico Nabi Assad Filho. Há dois anos, a extração do óleo da polpa da fruta ganhou toda a força que necessitava e virou um novo negócio para esses produtores da região de Ubiratã, PR. “Queria fazer uma renda extra além do meu trabalho como engenheiro agrônomo”, lembra Rosalino. Com essa nova aplicação do abacate, o engenheiro agrônomo é fornecedor de óleo de abacate para empresas de cosméticos e de alimentos: matéria-prima utilizada na composição de produtos de higiene pessoal, como xampus e sabonetes, e azeite utilizado na culinária. O método utilizado pelo grupo é um diferencial: enzimático, ou seja, sem o uso de solvente e outros produtos químicos. “O nosso óleo é puro. Praticamente orgânico”, destaca Rosalino. Nesse segmento, há 114 anos a Dierberger atua nos mercados nacional e internacional de óleos extraídos de frutas, de variedades, como a laranja brigarade, o limão siciliano e o tahity. O grupo é também um grande fornecedor para os mesmos segmentos industriais, onde o óleo de Rosalino ga- IND. ÔMEGA 3 AGROINDÚSTRIA “Existe a barreira da concorrência e as dificuldades para promover esse produto. O fruticultor deve pensar e analisar bem antes de entrar neste mercado”, recomenda Sérgio. Rosalino M. Piccin: óleo de abacate segue para indústria de cosméticos e alimentícia nha força. A empresa atua no cultivo da própria produção e no refino do óleo com operações em Barra Bonita e Dois Córregos, SP. “Está em crescimento o cultivo das frutas orgânicas. Com isso, o produtor consegue agregar um valor maior ao seu produto em relação a óleo convencional, extraído de plantações que utilizam defensivos agrícolas”, avalia Robson Luiz Fernandes, supervisor de Controle de Qualidade da Dierberger. Em média, os produtores de Ubiratã têm extraído de 10 mil a 12 mil litros do óleo de abacate ao ano. Para cada uma tonelada da fruta – com venda do quilo a R$ 0,07 – é possível extrair cerca de 70 litros de óleo. Rosalino conta que o litro é vendido entre R$ 16,00 e R$ 20,00. Com o nome Produção e Comércio de Óleos Vegetais Livres, a pequena empresa conta com uma equipe de oito profissionais. “O produtor pode fazer a sua renda extra todo ano e colocar o fruto, dessa forma, no mercado”, recomenda Rosalino. Foi com essa mesma idéia de explorar novas oportunidades que um grupo de produtores de caqui da região de Jundiaí, SP, somou forças e fundou, há três anos, a Cooperativa Nossa Senhora das Vitórias. “Com a união, aumenta o volume para a compra e venda”, defende Sérgio Tomazetto, produtor da fruta há quase 25 anos e vice-presidente da associação, que conta, hoje, com 20 membros. Mais tarde, os fruticultores tiveram a idéia de produzir o vinagre de caqui. O investimento inicial foi cerca de R$ 400 mil. Um dos fruticultores cedeu um barracão para a fabricação do produto. Hoje, eles contam com uma produção anual que varia de 70 mil a 80 mil litros e são fornecedores do produto para as cidades de Jundiaí e São Paulo. Agora, estão com a possibilidade de levar o vinagre para uma rede de supermercados. Eles começam a ganhar as principais redes de supermercados do País e se tornam fortes aliados da culinária e da boa saúde. Com fábrica em Assis, SP, os vinagres Dom Spinosa dão um passo importante para o alimento ao explorar novas frutas em sua composição. Tudo começou quando há uma década a engenheira química Vilma Spinosa concentrou seus estudos em fermentação acética em seu doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vislumbrou a oportunidade de oferecer um produto diferenciado a partir da técnica que a família desenvolveu durante décadas. Atendendo ao gosto de diferentes paladares, hoje os vinagres Dom Spinosa chegam à mesa do consumidor com sabores de laranja, maracujá, tangerina e cana-de-açúcar. Atualmente, a produção da empresa é de 4 mil litros, cerca de 16 mil unidades ao mês. “O mais difícil é entrar no mercado com o produto. O vinagre ainda é pouco consumido, mas este segmento está crescendo”, revela Rosana de Luccas, engenheira de alimentos e sóciaproprietária da marca. A empresa compra o suco da fruta já processado ou a própria produção do agricultor. Rosana revela que a empresa consegue manter estoques regulados de vários sabores ao longo do ano. Mediante a venda, eles não enfrentam dificuldades de atender aos pedidos. A logística do grupo tem distribuição para todo o País. Três grandes etapas marcam a produção do vinagre Dom Spinosa. Primeiro, a fruta passa por Vilma Spinosa: vinagres chegam fermentação, asà mesa com sabores de laranja, sim como o vinho. maracujá, tangerina e cana-de-açúcar DOM SPINOSA PARA TODOS OS PALADARES 27 O segundo passo é a fermentação acética, do vinho para o vinagre, fase onde atuam as bactérias. O terceiro e último é a filtragem. “Nosso processo é praticamente semi-artesanal. Trabalhamos com frutos orgânicos. Sem conservantes, nossos vinagres guardam propriedades das frutas como anti-radicais livres e compostos antioxidantes”, revela. Atualmente, a Dom Spinosa integra um programa de empresas incubadoras do município de Assis, SP, onde recebe incentivo e apoio da Prefeitura local e do Sebrae. Hoje, está instalada numa área de 150 metros quadrados, mas com o crescimento da empresa surge a necessidade de um espaço maior. Dois funcionários integram a equipe de produção, mas quando a oferta de frutas é maior, outros colaboradores entram para reforçar o time. PRONATU NOVAS OPORTUNIDADES 28 Os novos rumos, que a fruticultura toma, surgem além das iniciativas vindas do campo e que, indiretamente, também fomentam o trabalho dos produtores. Em Pariquera-Açú, SP, o projeto de um curso de pós-graduação se tornou um novo alimento. O então estudante José Conrado Alves patenteou a idéia e a empresa Pronatu – há mais de 25 anos no mercado de alimentos – criou a marca Dona Mari, que paga pelo uso da fórmula da farinha de frutas à base de banana e batata-doce. “Estamos tendo boa aceitação no mercado. É um produto muito procurado pelas pessoas que não podem consumir glúten, os celíacos. Para 2008, as novidades são as farinhas de casca de maracujá e goiaba”, revela Edson Skurczinski, gerente administrativo da Pronatu. As frutas para a composição da farinha são fornecidas pelos produtores do Vale do Ribeira, SP. A produção mensal da marca chega a duas toneladas. “Nossa grande dificuldade é com o custo de Frutas para a fabricação do procomposição da farinha duto. Não consesão fornecidas guimos fazer ao pelos produtores do preço da farinha Vale do Ribeira Fonte: Edson Skurczinski tradicional, como a de trigo, por exemplo. O processo exige mais tempo e o investimento é maior para a quebra da fruta e, assim, para a transformação em farinha”, revela Edson. Para se obter um quilo do produto, no sabor banana verde, são necessários aproximadamente cinco quilos da fruta. Já, para a mesma proporção da farinha de banana madura, o processo exige de sete a oito quilos do alimento. Também na indústria alimentícia, a Gemacom, com sede em Juiz de Fora, MG, há 17 anos é fornecedora de preparados, sendo 50% deles à base de morangos. A outra parte é de frutas, como o pêssego, coco, mamão, maçã e banana, utilizados na fabricação de iogurtes, bebidas lácteas e refrescos. O trabalho da Gemacom é bem próximo ao fruticultor, orientando-o desde o início do processo, da limpeza, passando pelo manuseio, ao armazenamento do fruto. Com 200 toneladas/mês da matéria-prima, a empresa fornece para todo o AGROINDÚSTRIA Brasil, em especial, Centro e Leste do Estado de Minas Gerais. “Temos um nicho interessante de mercado, onde agregamos valor ao produto final de nossos clientes”, comenta Henrique Neves, gerente industrial do grupo. DO CERRADO PARA O BRASIL Uma fruta muito conhecida da culinária regional de Goiás, o pequi, tem conquistado cada vez mais espaço na mesa do consumidor brasileiro. Atento a esse novo paladar, desde 2000, a Cerrado Goiano trabalha com o processamento da fruta e a comercializa para rede de supermercados, como azeite ou a fruta em conserva. O produto tem também atravessado fronteiras, sendo exportado para Estados Unidos, Espanha e Alemanha. “O mercado do pequi é bastante oscilante, porém, observamos um certo crescimento e popularização do consumo. As desvantagens seriam a sazonalidade da fruta e a restrição de mercado pela peculiaridade culinária”, comenta Danilo de Pinho, gerente comercial da empresa. No momento, o grupo está construindo novas instalações, onde serão fabricados licores de frutos do Cerrado. A relação da empresa é direta no campo com os extrativistas. Em 2006, a Cerrado Goiano, também em parceria com o Sebrae, levou orientação sobre a coleta do fruto para cerca de 1.000 deles. “Os extrativistas são os mesmos em todos os anos, pois nos preocupamos em fidelizar esta relação”, explica o gerente comercial. Após a extração do fruto, o processo de produção concentra-se na exaustão e na pasteurização no alimento. Embalados em potes de vidro, todos os meses a produção mensal gira em torno de três toneladas, o equivalente a 2 mil caixas. FOTOS PROJETO COCO VERDE LIXO QUE VIRA LUXO Projeto desenvolveu aplicações de coco verde revistindo muros com efeitos paisagisticos e na construção para preenchimento de lajes O frescor do coco vai além do seu sabor. Sua fibra ganha a decoração de casas, jardins, empresas e áreas públicas. Produtos reciclados à base da fibra da fruta chegam para dar um novo conceito para os segmentos de paisagismo, aquarismo, jardinagem, ou ainda, como células vaporativas para as linhas de climatização térmica e acústica. Philippe Mayer, gerente de Projetos da empresa Coco Verde, que recicla e utiliza a fibra no desenvolvimento de diversos produtos, conta que no passado eles já foram um dos maiores distribuidores de coco do Rio de Janeiro. A partir de 2004, toda a fibra da fruta passou a ser manufaturada. Assim, desenvolveram tecnologia própria e ganharam um novo mercado. “Nessa procura de solução para o lixo, descobrimos uma nova fórmula”, comemora. Segundo ele, seus produtos e suas aplicações estão sendo levados também para outras regiões do mundo, como Ásia e África. Mayer conta que a cada copo de água de coco verde de 250 ml, mais de um quilo de lixo é gerado. Caso o fruticultor tenha o interesse de mandar uma amostra de coco para o projeto e se tornar um possível fornecedor da matéria-prima, basta entrar em contato com a empresa pelo telefone (21) 3346-1030. 29 TECNOLOGIA GOTA A GOTA Uma opção econômica e produtiva de irrigação para o fruticultor que quer colher frutas de alta qualidade, com redução de água e energia F. R. DE MIRANDA/EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL Daniela Mattiaso FLÁVIO BLANCO/EMBRAPA MEIO NORTE Gotejamento em melão assegura produtividade de 30 ton/ha Com o avanço da tecnologia e os novos estudos na área de fruticultura, pesquisadores e produtores observaram que podem produzir mais e com melhor qualidade, de forma econômica e eficiente, por meio do sistema localizado de irrigação, conhecido como gotejamento. “É uma técnica que irriga apenas a zona radicular da planta e não toda a sua superfície. O gotejamento se adapta muito bem na fruticultura em geral, mas também depende de condições locais apropriadas, como solo, clima e cultura. Nos últimos anos, a técnica vem sendo aplicada também em culturas anuais, como a cana-de-açúcar e o café. Por meio dela, é possível a fertirrigação, um processo que permite a aplicação de adubos e fertilizantes junto com a água da irrigação, com pronta disponibilidade para a planta, já que é inserida de forma solúvel diretamente no solo”, explica o professor e chefe do Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos na Área de Hidráulica e Irrigação, da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS-Unesp), Fernando Braz Tangerino Hernandez. Segundo ele, com apenas 40% da zona radicular irrigada é possível suprir as necessidades da planta de forma plena, obtendo a mesma quantidade de fruta, porém com melhor qualidade. “Isso faz parte do processo de modernização da agricultura”, afirma Hernandez. VANTAGENS Tecnologia mantém solo úmido, reduzindo estresse salino 30 São muitas as vantagens do sistema “gota a gota”. De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Norte, Flávio Blanco, “por funcionar com baixa vazão e baixa pressão, quando comparado à irrigação por aspersão, o gotejamento proporciona grande economia de energia elétrica, pois a pressão da água ARTCOM ACL Carlos Barth: sistema elimina lixiviação de produtos químicos para lençóis freáticos em sua tubulação é aproximadamente a metade. O gotejador possui um mecanismo que faz com que a água perca pressão e, com isso, saia da tubulação gotejando, sem espirrar, razão pela qual deu origem ao nome do sistema. O gotejamento também poupa a quantidade de água usada, já que ela é distribuída de forma racional e localizada na planta”. A alta freqüência de irrigação e uniformidade, superior a 90%, são outras grandes vantagens do gotejamento, segundo Blanco. Para ele, “isso é particularmente vantajoso quando se utiliza a fertirrigação, pois a quantidade de fertilizante necessária pode ser dividida em várias aplicações durante o ciclo, o que aumenta a eficiência dos fertilizantes nas plantas e reduz o risco de impacto ambiental, pois não há excesso de nutrientes no solo”. Ao irrigar e adubar diretamente e exclusivamente a zona radicular da planta, o sistema não molha frutas e folhas, minimizando a incidência de plantas daninhas, manchas e doenças, com melhor distribuição da água e dos nutrientes, uniformizando os frutos. Além disso, não há interferência da ação dos ventos, acelerando a evaporação ou arrastando a água fora da plantação. “Outro benefício é a possibilidade da utilização de água salina para irrigação, muito comum no Nordeste. O gotejamento mantém o solo mais úmido, reduzindo o efeito do estresse salino. A distribuição de água no solo faz com que os sais sejam deslocados para as bordas do bulbo molhado, criando uma condição mais favorável para o desenvolvimento das raízes na região central do bulbo”, conta ele. TECNOLOGIA produtividade em até 30%, quando comparado ao sistema por sulcos. A produtividade média alcançada nesses Estados com o gotejamento do melão é de 30 toneladas por hectare, enquanto a média nacional é de 22 toneladas por hectare. Já, em relação à produtividade da melancia, estudos realizados no Ceará mostraram que, com o gotejamento e um bom manejo da fertirrigação, é possível obter produtividades de 50 a 70 toneladas por hectare, enquanto a produtividade média alcançada neste Estado é de 35”, afirma ele. O maracujá é outra fruta beneficiada pela prática, cada vez mais crescente no cultivo em função dos bons resultados. Flávio Blanco conta que “há 25 anos considerava-se alta uma produtividade de 20 toneladas por hectare; hoje pode-se conseguir acima de 40 toneladas com o uso do gotejamento e fertirrigação. Com relação à qualidade, foi notado aumento no peso médio dos frutos de maracujá, com obtenção de frutos maiores”, diz. GOTEJAMENTO NO BRASIL De acordo com Luiz Carlos Fernandes, engenheiro agrônomo e diretor da Irrigaplan, empresa de Leme, SP, atualmente, no Brasil, cerca de 300 mil hectares são irrigados ex- FRUTAS GOTEJADAS O gotejamento já vem sendo amplamente utilizado no cultivo de algumas frutas. Entre as principais estão morango, abacaxi, laranja, uva, melão, melancia e maracujá. Segundo o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fábio Rodrigues de Miranda, as principais regiões produtoras de melão do Ceará e Rio Grande do Norte, por exemplo, há mais de 15 anos só utilizam a irrigação por gotejamento. “Verificamos que esse método reduz em até 60% o gasto de água, diminui em cerca de 80% os custos com mão-de-obra e aumenta a 31 ARQUIVO PESSOAL TECNOLOGIA clusivamente por gotejamento. “Certamente é o sistema que mais cresce no País”, afirma. Segundo Carlos Barth, especialista em irrigação, da empresa Netafim, de Ribeirão Preto, SP, o uso de gotejamento em fruticultura cresce de 20% a 50% ao ano, dependendo da fruta. “Isso acontece, principalmente, porque ela aumenta a área irrigada e pode substituir a aspersão. Quem não tem nenhum sistema, quando coloca, opta pelo gotejamento e quem tem por aspersão, quando troca, coloca o gotejamento. Barth explica que “a alta eficiência desse tipo de irrigação resulta em economia de água, que é um bem escasso nos dias de hoje, possibilitando também cultivar e colher durante o ano todo. Por conta do controle perfeito do uso da água no sistema, não há lavagem ou lixiviação de produtos químicos utilizados na produção, para os lençóis freáticos. Além disso, gera um fruto com resistência pós-colheita, por se desenvolver de maneira sadia.” O engenheiro agrônomo Rafael Regiani, da Regiani Bombas e Irrigação, de Cariacica, ES, aponta outra razão que leva o Luiz Carlos Fernandes: certamente é o sistema que mais cresce no País produtor a preferir cada vez mais o sistema: o problema da escassez de água decorrente da má distribuição das chuvas ao longo do ano, que faz as culturas sofrerem com estiagens e veranicos imprevisíveis. “É neste ponto que o gotejamento entra com mais uma de suas vantagens, pois garante o fornecimento de água às culturas, em quantidade satisfatória, sem interferir no microclima do pomar ao longo das estações do ano. Isso sem falar nos custos dos componentes que têm se tornado cada vez mais competitivos e atraentes para o produtor”, diz ele. DICAS E INFORMAÇÕES Antes de adotar o gotejamento em sua fruticultura, fique atento para algumas dicas: O preço dos equipamentos para um sistema completo de irrigação por gotejamento varia conforme o local, a distância da plantação em relação ao manancial e o tipo de cultura. O orçamento acaba sendo diferenciado para cada projeto. Além do sistema de irrigação por gotejamento, composto de bomba hidráulica, filtros (de areia, tela ou disco), válvulas e registros, tubos, mangueiras e emissores (gotejadores), entre outros, é necessária a instalação de uma rede de energia elétrica e uma fonte de captação de água, que pode ser de um rio, lago, represa, tanque ou poço. Para o bom funcionamento do projeto são necessários também cálculos hidráulicos bem-feitos. A indicação é consultar uma empresa especializada em gotejamento para construir um sistema completo. Apesar de o custo operacional ser inferior em relação aos demais métodos de irrigação, com menor gasto de água e cinco vezes menos energia, é preciso contratar mão-de-obra qualificada para trabalhar com o sistema. A presença de alta concentração de ferro (Fe) na água de irrigação causa entupimento dos gotejadores. Para contornar esse problema, existem tratamentos que podem ser feitos na água. É imprescindível fazer a análise da água utilizada em laboratório especializado. Disso depende a eficiência da fertirrigação. O sistema pode ser adotado em diferentes tipos de solo, exceto os de textura muito arenosa, embora alguns ainda possam ser contornados via projeto. A filtragem da água é obrigatória no gotejamento para evitar entupimentos dos gotejadores. O processo - mais simples ou mais completo - varia de acordo com a qualidade da água. O gotejamento é um sistema de irrigação fixo, que não precisa ser transportado de um local para outro. É necessário monitorar constantemente a vazão da água. O ideal é que a variação nunca passe de 10%, para que haja perfeita distribuição do adubo. Vale lembrar que o gotejamento não serve para todos os tipos de fruta e uma boa safra depende muito também do manejo e dos bons tratos do fruticultor. Não há limitação quanto à topografia do terreno. Fontes: Embrapa Meio Norte, Embrapa Agroindústria Tropical, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS-Unesp), Irrigaplan, Netafim, Regiani Bombas e Irrigação 32 MEIO AMBIENTE ? AFINAL, O QUE É BIODIVERSIDADE Frutas nativas compõem o acervo riquíssimo da biodiversidade brasileira, que o fruticultor pode ajudar a preservar Em tempos de mudanças climáticas e preocupações ambientais, o tema biodiversidade está em evidência. “É preciso proteger a biodiversidade...”, “A biodiversidade é importante para a agricultura”, “O Brasil é um país rico em sua biodiversidade”. Mas afinal, o que é biodiversidade? “O termo é bastante amplo e abrange todas as formas de vida do Planeta (animais, vegetais e microorganismos), bem como os genes contidos em cada indivíduo e as inter-relações entre os organismos e ecossistemas”, define a pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Milene da Silva Castellen, doutora em Ecologia de Agroecossistemas. Seu valor também é abrangente: ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético. É também fonte de alimentos, medicamentos e matéria-prima industrial consumida pelo ser humano. Amplamente divulgado, o Brasil, por sua localização geográfica e extensão territorial, abriga uma das maiores biodiversidades do Planeta, com inúmeras espécies ainda desconhecidas. Mas qual a importância desta riqueza para a fruticultura comercial nacional? O País possui inúmeras espécies nativas com potencial muitas vezes subexplorado, observa a pesquisadora, e acrescenta: “As fruteiras nativas ocupam lugar de destaque nos ecossistemas naturais e seus frutos já são comercializados em feiras e com grande aceitação popular. Esses frutos apresentam sabores sui generis e elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais e podem ser consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes e geléias, como o araticum, jenipapo, EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA Marlene Simarelli Variabilidade de frutos observada no Banco de Germoplasma de Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical umbu-cajá, mangaba, araçá-boi. Só no Cerrado, existem mais de 58 espécies de frutas nativas conhecidas e utilizadas pela população regional. Seu consumo, há milênios consagrado pelos índios, foi de suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e colonizadores da região. Por meio da adaptação e do desenvolvimento de técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem elaborou verdadeiros tesouros culinários regionais, tais como licores, doces, geléias, mingaus, bolos, sucos, sorvetes e aperitivos.” 33 INSTITUTO PLANTARUM MEIO AMBIENTE RAZÕES PARA PRESERVAR INSTITUTO PLANTARUM Alguns tesouros contidos nos diversos ecossistemas correm risco de desaparecer, mesmo antes de serem conhecidos, principalmente, do Cerrado tanto matogrossense quanto paulista. Entre eles estão diversas espécies frutíferas. “Muitas dessas espécies só sobrevivem dentro do ecossistema natural em equilíbrio, sendo ainda de difícil cultivo. Precisam de polinizadores e dispersores de sementes específicos para que continuem se reproduzindo e multiplicando”, alerta Giselda Durigan, pesquisadora e engenheira florestal da Estação Experimental de Assis, do Instituto Florestal de São Paulo. A pesquisadora faz parte da equipe de 160 integrantes do Programa Biota/Fapesp, desenvolvido em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, com o objetivo de inventariar e caracterizar a biodiversidade, definindo mecanismos de conservação, potencial econômico e uso sustentável. O programa é resultado de uma década de pesquisas e apresenta o estado de riqueza ou de destruição das matas e Cerrado paulistas, em mapas gerais e temáticos, por grupos de animais e plantas. Entre as plantas foram encontradas “muitas frutíferas, que seria difícil listar, como, por exemplo, gabiroba, pequi, bacupari, uvaia, pitanga, araçás, jabuticabas, melãozinho do cerrado, abacaxi-do-cerrado, maracujás, etc”, comenta Giselda Durigan. Informações completas sobre o programa podem ser acessadas no site www.biota.org.br/info/wap2006 ou na edição 140 da revista Fapesp. Para Milene Castellen, da Embrapa Fruticultura, a preservação dessas espécies representa oportunidades econômicas para o Brasil e principalmente para o desenvolvimento sustentável de comunida- Mangaba é uma entre diversas frutas do cerrado bastante consumidas pela população local 34 Cultivada no Exterior, a goiaba-serrana é pouco conhecida entre os brasileiros des tradicionais e pequenos agricultores, além de serem importantes para o funcionamento dos ecossistemas, pois constituem um importante recurso alimentar para a fauna. “A biodiversidade é vital para o futuro da agricultura. Hoje, muitos recursos naturais encontram-se ameaçados de extinção ou podem ter sido perdidos para sempre, em função da perda ou substituição de variedades locais, da exploração irracional dos recursos biológicos, das diversas formas de pressão do homem sobre os ecossistemas naturais e políticas de desenvolvimento que não levam em consideração possíveis impactos ambientais, especialmente aqueles associados à perda da diversidade biológica dos ecossistemas.” FRUTICULTOR PODE PRESERVAR E GANHAR Entre as frutíferas mapeadas pelo programa Biota, muitas podem vir a ser comercializadas, observa Giselda Durigan, do Instituto Florestal. “Muitas precisam apenas de domesticação, ou seja, de desenvolvimento de técnicas de reprodução em viveiro e cultivo, para que possam ser cultivadas em larga escala. Algumas precisariam de seleção e melhoramento genético para produzirem frutos mais saborosos ou com mais polpa ou em maior quantidade. Há casos, também, em que as espécies poderiam ser utilizadas no melhoramento das frutas que já cultivamos, para aumentar a resistência à seca, a pragas e doenças, como os maracujás, abacaxis e o melãozinho”. Giselda Durigan recomenda aos fruticultores, que têm essas frutas nativas em suas propriedades, que “tentem aprender a cultivá-las. É o primeiro passo. Como não existem pesquisas já concluídas sobre a maioria delas, toda tentativa será pioneira e contribuirá para a diversificação da fruticultura com espécies nativas”. A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical mantém um banco de germoplasma de fruteiras tropicais, voltado para a conservação de espécies pouco difundidas. Interessados em ajudar, poderão enviar um e-mail com o título “Recursos Genéticos” para [email protected] ou telefonar para (75) 3621-8000, para obter instruções de como enviar sementes ou estacas de fruteiras nativas para serem estudadas e preservadas. O Instituto Plantarum é uma instituição privada que estuda a flora brasileira, com 15 livros publicados sobre flores, árvores, palmeiras nacionais, entre outros temas. Entre eles, destaca-se o “Frutas Brasileiras”, com apresentação de 312 espécies naCereja-do-Rio-Grande tivas e outras 515 exóticas, entre elas, diversas, que a maioria da população sequer imagina terem sido introduzidas um dia – como a manga e o mamão, tão comuns em nossa mesa. “Existem muito mais espécies introduzidas do que brasileiras entre as frutas comerciais. As espécies brasileiras são mais conhecidas na região Norte do que no restante do País”, observa Harry Lorenzi, autor do livro e pesquisador do Instituto Plantarum. Caju, goiaba, coco, abacaxi, cacau e agora cupuaçu, que está ficando mais conhecida, são frutas essencialmente brasileiras. Lorenzi comenta que “Estados Unidos têm, entre frutas selecionadas, as nativas brasileiras pitanga e Cereja-do-Rio-Grande. Algumas, como a goiaba serana, são mais conhecidas no Exterior do que aqui”. Entre as frutas apresentadas em seu livro, há algumas com grande potencial comercial, como o Pajurá, fruta amazônica. De acordo com Lorenzi, as frutas nativas foram perdendo o interesse há cerca de 40 anos, à medida que houve a introdução, em escala comercial, de variedades selecionadas de espécies exóticas, com maior potencial produtivo, de maior inte- resse para as empresas que comercializam frutas. “Falta incentivo e pesquisa para frutas nativas, para que possam ser mais conhecidas e cultivadas”, observa Lorenzi. “Atualmente é mais fácil obter licença para explorar uma floresta do que para colePajurá tar amostras e estudar novas espécies, dificultando a identificação.” Ele alerta para a necessidade de proteção aos ecossistemas nacionais que possuem uma flora rica e ainda não totalmente conhecida. E recomenda aos proprietários, com trechos de matas em suas propriedades, que protejam e cuidem delas. “No Sudeste e Sul é mais difícil o corte de árvores, mas isto não acontece no Cerrado, pois por ser plano e não ter uma floresta exuberante, corre sérios riscos.” Lorenzi explica que “demora-se pelo menos dez anos para que uma nova fruta fique conhecida pelo consumidor, a não ser quando há grande divulgação por parte da grande mídia, como aconteceu com a acerola, divulgada como grande fonte de vitamina C. Já, o camu-camu, nativo, tem mais vitamina C e é pouco conhecido”. Grupos de colecionadores, chacareiros e viveiristas desempenham papel importante na divulgação das frutas, bem como as publicações. “Após o lançamento do livro, muitas pessoas têm procurado pelas frutas brasileiras.” O pesquisador acrescenta que já tem mais 100 espécies catalogadas, que devem ser publicadas em outra edição. INSTITUTO PLANTARUM INSTITUTO PLANTARUM Em livro, Frutas Brasileiras Saiba mais Acca Sellowiana Coolidge Nome popular: goiaba-serrana, araçá-do-Rio-Grande, goiaba-do-campo, goiaba silvestre, goiaba-crioula Onde ocorre: Planalto Meridional, Mata dos Pinhais. Período de frutificação: setembro a novembro Descrição do fruto: possui polpa suculenta de sabor doce e com muitas sementes moles Couepia Bracteosa Nome popular: pajurá, pajurá-de-racha, pajurá-verdadeiro Onde ocorre: Região Norte do país - Amazônia Período de frutificação: agosto a novembro Descrição do fruto: Os frutos são drupas ovóides de semente grande, com casca quebradiça, polpa espessa, carnosogranulosa, aromática e oleosa, de sabor doce e agradável. A maturação ocorre de setembro a maio. Eugenia Involucrata Gigante Nome popular: cereja-do-Rio-Grande, cereja, cereja-do-mato Onde ocorre: Regiões Sul e Sudeste Período de frutificação: setembro a novembro Descrição do fruto: Forma variável, glabros e brilhantes, coroados pelas sépalas indireitadas, com polpa espessa, carnososuculenta e doce ou acidulado. A maturação ocorre de novembro a janeiro. Hancornia Speciosa Nome popular: mangaba, mangaba-da-restinga Onde ocorre: Norte do Espírito Santo até o Pará Período de frutificação: agosto a novembro Descrição do fruto: Os frutos são bagas amareladas com pontuações e manchas vermelhas, com polpa carnoso-viscosa de sabor doce-acidulado. A maturação ocorre de outubro a março. Platonia Insignis Nome popular: Bacuri, bakuri, bacuri-açu, landirana Onde ocorre: Floresta Pluvial Amazônica Período de frutificação: junho a setembro Descrição do fruto: Frutos grandes, do tipo baga, com 2-5 sementes envoltas por polpa fina, aromática, de sabor doce-acidulado e muito agradavel. A maturação ocorre durante o verão. 35 OPINIÃO O ano chega ao final e as exportações brasileiras de frutas frescas são superavitárias. Devemos fechar 2007 com um valor aproximado de US$ 630 milhões e mais de 910 mil toneladas, caracterizando, assim, novo recorde de exportação. A taxa de câmbio desfavorável, as barreiras fitossanitárias dos países compradores, o custo Brasil, a baixa remuneração dos produtores e exportadores, o baixo preço praticado nos mercados finais, a falta de consumo nos mercados-alvo, o desconhecimento dos produtos tropicais, entre outros, não afetariam as exportações brasileiras neste ano? 2,15% do total produzido, que chega a 42 milhões de toneladas. Esquecemos que deste volume 18 milhões de toneladas são de laranja, das quais 80% se destinam às indústrias e geram mais de US$ 1,2 bilhão de exportação. Também esquecemos que 97% da produção de caju se destina ao beneficiamento para exportação de castanhas, com volumes exportados superiores a US$ 187 milhões. Ainda podemos mencionar os 80% dos cocos, maracujás e pêssegos que são beneficiados; os 50% de goiabas e uvas e também mais de 20% dos abacaxis, que tem o mesmo destino, além das de frutas no mercado interno, que é a base de sustentação da cadeia. Para o aumento do consumo é preciso que os consumidores encontrem preços atrativos e produtos de qualidade nas gôndolas do varejo. Notamos nos últimos anos que todo esforço de uma safra é perdido quando erramos: no ponto da colheita e manuseios inadequados; no transporte, no armazenamento e na exposição dos produtos Apesar das dificuldades, setor se supera e continuará buscando mercado externo Embora muitos esperassem que sim, notamos, mais uma vez, os produtores e exportadores brasileiros superarem as dificuldades e conquistarem os exigentes mercados compradores e – acima de tudo, apostarem no futuro –, pois sabemos o quão difícil foi conquistá-los e como seria ainda pior reconquistá-los, depois de perdidos. Diante deste cenário, o setor se profissionalizou, investindo em boas práticas agrícolas, reduzindo custos, buscando novas variedades, como o caso das uvas sem sementes, dos melões nobres, das maçãs mais coloridas, dos abacaxis, entre outras, procurando ofertar produtos que eram demandados e não mais tentar vender o que estava sendo produzido. Mesmo assim, ainda é cobrado pelo baixo volume exportado de frutas frescas: um setor que, apesar das dificuldades, triplicou suas exportações nos últimos dez anos, saltando de 290 mil para 910 mil toneladas! Um cálculo que costumamos fazer é do volume exportado sobre o volume produzido, o que nos dá a falsa impressão de exportarmos apenas 36 porcentagens menores de outras frutas para a indústria. Ou seja, mais de 50% da produção nacional de frutas destina-se à indústria. Podemos, então, concluir que dos 22 milhões de toneladas de frutas destinadas ao processamento, 12 milhões são exportadas, ou seja, 55% da produção tem como destino o mercado internacional. As outras 20 milhões de toneladas de frutas destinadas ao consumo in natura são distribuídas entre os mercados interno e externo. Isto significa que destinamos quase 5% deste volume para exportação e os outros 95% para o mercado interno. Concluímos que dos 42 milhões de toneladas produzidas, cerca de 30% destinam-se ao mercado internacional. Mesmo assim, o mercado interno deve ser considerado como principal mercado para o produtor de fruta in natura, pois nele encontramos o consumidor mais próximo do centro de produção, com melhor conhecimento das frutas produzidas no Brasil e ainda um cliente que conhecemos e vivenciamos seus hábitos de consumo. Outro fator decisivo para o setor é o aumento de consumo no ponto de venda. Isso tem afugentado o consumidor que, cada vez mais distante da área de produção, conhece menos as características das frutas que compra. Por outro lado, estamos no caminho certo com mais investimentos em modernas técnicas de produção, em infra-estrutura nas áreas de produção e nas rotas de escoamento das safras, com meios mais eficientes e baratos de transportes – fatores imprescindíveis para melhor remuneração da cadeia. Enfim, podemos esperar para o próximo ano uma continuidade do aumento dos volumes exportados, pois o exportador brasileiro deve continuar buscando o mercado internacional como mais uma alternativa de escoamento da produção, diminuindo os volumes colocados no mercado interno, principalmente durante os picos de safra. Maurício de Sá Ferraz Engenheiro Agrônomo, Presidente da Câmara Setorial de Frutas do Estado de São Paulo e Gerente da Central de Serviços do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). AGENDA 02 a 04 • I SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE UMBU, CAJÁ E ESPÉCIES AFINS (SIBUC) (Embrapa/IPA) Onda Mar Hotel (Recife/PE) Info: Helena Barros (81) 2122-7203 e 2122-7202 • [email protected] www.cpatc.embrapa.br/eventos/sibuc fev 08 jan 08 18 a 27 • FRUTTI FEST (Associação Caminhos de Montanha) Clube Rosário (Bento Gonçalves/RS) Info: Rodrigo (54) 3454-7263 / (54) 9996.3874 (Ivan) [email protected] • www.fruttifest.com.br 07 a 09 • FRUIT LOGISTICA (Ibraf) Messe Berlin (Berlim/Alemanha) Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766 • [email protected] www.fruitlogistica.de mar 08 dez 07 08 • CURSO DE HORTICULTURA E FRUTICULTURA ORGÂNICA (Associação de Agricultura Orgânica - AAO) Sítio Catavento (Indaiatuba/SP) Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625 [email protected] • www.aao.org.br abr 08 nacionais 14 e 15 • PLANT INTERNATIONAL MEETING (Angers Expo Congress) Angers Expo Congréss (Angers/França) Info: Arnaud Deltour (33) 0 2 41 93 40 40 [email protected] www.plant-international-meeting.com 17 a 19 • IFOWS - ÍNDIA INTERNATIONAL FOOD & WINE SHOW (Lótus Exhibitions & Marketing Services) InterContinental the Grand (Nova Delhi/Índia) Info: Lótus Exhibitions & Marketing Services (91) 124 4031793 [email protected] • www.ifows.com 18 a 27 • SEMANA VERDE DE BERLIM - GRÜNE WOCHE (Messe Berlin) Messe Berlin (Berlim/Alemanha) Info: MB Capital Services +49 (0)30 / 3069-6969 [email protected] • www.gruenewoche.de 10 a 14 • ALIMENTARIA BARCELONA (Read Exhibitions) Pavilhões de Exposições de Montjuic (Barcelona/Espanha) Info: Read Exhibitions 34 93 452-1800 • [email protected] www.alimentaria.com 05 e 06 • EXPO ALIMENTOS (Tourism Events Unlimited) Centro de Convenciones de Puerto Rico (San Juan/Porto Rico) Info: Tourism Events Unlimited (787) 287-0140 [email protected] • www.expo-alimentos.com 17 a 19 • MACFRUT (Ibraf) Centro de Exposições da Feira de Cesena (Cesena/Itália) Info: Valeska Oliveira (11) 3223-8766 • [email protected] www.macfrut.com abr 08 jan 08 internacionais 24 a 27 • GULFOOD (Ibraf) Dubai International Convention and Exhibition Centre (Dubai/Emirados Árabes) Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766 • [email protected] www.gulfood.com 22 a 25 • FHA (Overseas Exhibition) Singapure Expo (Singapura/Singapura) Info: Cristopher McCuin (44) 0 207 840 2146 [email protected] • www.foodnhotelasia.com 23 a 25 • SIAL (Promosalons Brasil) Palais des Congrès de Montreal (Montreal/Canadá) Info: Marie-Ange Joarlette (11) 3168-1868 [email protected] • www.sialmontreal.com 37 EVENTOS FRUTAS NORDESTINAS em destaque Ceará e Rio Grande do Norte, grandes pólos de produção, movimentaram a fruticultura nacional com a realização de duas grandes feiras: Frutal e Expofruit Fotos Ibraf Projeto Imagem visitou, entre outros, a empresa Amêndoas Brasil Muitas horas de sol, modernas técnicas de irrigação, diferentes tipos de solos e a maior proximidade com os países do Hemisfério Norte vêm proporcionando à fruticultura nordestina grande competitividade no mercado internacional. As frutas provenientes desta região representam mais de 50% na pauta de exportações brasileiras, segundo da38 dos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os estados do Ceará e Rio Grande do Norte fazem parte desta seara de desenvol-vimento. Juntos, produzem 1,7 milhão de frutas frescas (IBGE), principalmente de melão, abacaxi, mamão, banana, coco e melancia; e representam mais de 90% das exportações brasileiras de melão e melancia, de acordo com Secex. O Ceará é o principal estado exportador de amêndoa da castanha de caju, abrigando quase 90% da capacidade instalada do processamento nacional, conforme dados do Sindicaju. Devido a grande importância destes estados para a fruticultura brasileira, duas grandes feiras são realizadas na região, anualmente, em setembro e outubro: a Frutal e a Expofruit - a primeira em Fortaleza,CE, e a segunda em Mossoró, RN. Ambas, reúnem em um só lugar fornecedores de insumos, agentes de financiamento, rodadas de negócios, seminários e palestras técnicas, levando informação e oportunidades de negócios para os produtores locais. Para mostrar o potencial da região ao mercado internacional, o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em parceria com a Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), levou para estes eventos os Projetos Comprador e Imagem. Sete compradores internacionais da Alemanha, Espanha, Inglaterra, Irlanda e Canadá participaram do Projeto Comprador por meio das rodadas de negócios promovidas na Expofruit pelo SebraeRN, gerando um volume de negócios na ordem de R$1,2 milhão. O Projeto Imagem levou ao Rio Grande do Norte e Ceará três jornalistas do Canadá, Espanha e Chile, que tiveram a oportunidade de conhecer a estrutura da produção por meio das visitas técnicas promovidas pelo Ibraf às empresas Da Fruta (sucos e concentrados), Fazenda AGM (acerola), Agrícola Famosa (melão, melancia e abacaxi), Nolem (melão), Itaueira (melão) e a indústria Amêndoas Brasil (castanha de caju); em São Paulo, visitaram a empresa De Marchi (polpas e concentrados de frutas) e a Casa Santa Luzia, supermercado premium. CEARÁ EXPORTADOR NA FRUTAL Com o tema “Agronegócio e Responsabilidade Social”, a 14ª Semana Internacional de Fruticultura, Floricultura e Agroindústria - Frutal/Flor Brazil 2007 – recebeu cerca de 36 mil participantes de todo Brasil e mais de 230 especialistas para a programação técnica. Segundo o Instituto Frutal, organizador do evento, o Ceará deve exportar US$ 54 milhões em frutas frescas este ano. Se considerar também as divisas geradas com a castanha de caju, o segmento fruticultor vai gerar US$ 154 milhões em divisas para o Estado. “As vedetes da fruticultura cearense são abacaxi, melão, banana, manga e mamão”, disse Euvaldo Bringel, presidente do Instituto Frutal. O Estado tem grande potencial de crescimento, considerando que há cerca de 35 mil hectares de terras agricultáveis desperdiçadas. Conforme o Instituto, nos quatro grandes perímetros de irrigação implantados pelo Governo Federal no Estado - Baixo Acaraú, Tabuleiro de Russas, Jaguaribe-Apodi e Araras Norte - o índice de ocupação e produção não chega a 20%. 39 EVENTOS NOVA DATA PARA EXPOFRUIT Organizada pelo Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte (Coex), com apoio do Sebrae-RN, a Feira Internacional de Fruticultura Tropical Irrigada - Expofruit, vem crescendo aproximadamente 30% ao ano. O evento reúne na cidade de Mossoró-RN - grande pólo produtor de melão e melancia produtores, exportadores, fornecedores de produtos e importadores internacionais. A feira, que tradicionalmente acontece no mês de outubro, a partir de 2008, será realizada nos dias 5, 6 e 7 de junho, para atender as necessidades dos produtores. De acordo com o organizador da Expofruit e presidente do Coex, Francisco Cipriano de Paula Segundo, “há tempo que os produtores e parceiros vêm solicitando esta mudança. O motivo é justamente em virtude do fechamento dos negócios que normalmente acontecem no primeiro semestre, isto é, antes do início do plantio do melão. Vimos neste período uma boa forma de incrementarmos na feira todas as negociações relacionadas a produção do melão”. Durante a Expofruit foi apresentada a Produção Agroecológica Integrada Sustentável, PAIS, uma nova tecnologia social voltada para agricultura familiar. “O modelo busca, além de diversificar a produção e racionalizar os recursos hídricos, reduzir a dependência de insumos vindos fora da propriedade e alcançar a sustentabilidade em pequenas propriedades”, explicou Segundo. O organizador da feira acrescenta “sentimos que era hora de integrarmos a agricultura familiar na Expofruit e a forma encontrada foi mostrar um sistema de plantio todo voltado para agricultura familiar fazendo todas as clínicas tecnológicas no próprio local”. 40 CARAVANA DA FRUTA CONTINUA VIAGEM A Caravana da Fruta continuou sua viagem pelas regiões de Araraquara, Campinas e Presidente Prudente, estado de São Paulo, atingindo diretamente 260 produtores de limão Tahiti, manga, goiaba, acerola e figo, quando interagiram com pesquisadores, técnicos e consultores das áreas de irrigação, manejo, associativismo, agroindustrialização, mercado nacional e internacional, logística e agroquímicos. Segundo os gestores regionais do Sebrae-SP, a Caravana da Fruta teve grande aceitação pelos produtores. A gestora dos projetos de fruticultura do escritório regional de Presidente Prudente, Fabíola Néias, acredita que “a Caravana da Fruta está conseguindo disponibilizar informações relevantes sobre mercado e tecnologia para os produtores”. Ela acrescenta que “sem a Caravana, fruto da parceria Ibraf e Sebrae-SP, não conseguiríamos trazer os pales- Produtores participaram da Caravana da Fruta, que visitou mais três regiões paulistas trantes para a região”. Marcos Mange, gestor de projeto na região Sudeste Paulista – base Campinas, destaca que “a Caravana da Fruta cumpre as expectativas dos próprios produtores, já que os assuntos são propostos por eles mesmos”. A consultora do Escritório Regional de Araraquara, Isley Gianetti Napolitano, espera que “o produtor aplique esses conhecimentos no campo melhorando a qualidade de seu produto para a sua comercialização, tanto no mercado interno quanto no externo”. ITÁLIA PROVA SABOR DAS FRUTAS BRASILEIRAS Ações de degustação para promover o melão brasileiro foram realizadas na Itália em 23 lojas das redes Auchan, Carrefour e Conad nas cidades de Roma, Milão e Bologna em novembro. Esta ação foi realizada pelo Comitê Executivo de Fitossanidade (Coex) e empresários brasileiros de melão em parceria com o Instituto Brasileiro de FruItalianos degustaram melão brasileiro tas (Ibraf) e a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). A iniciativa é fruto do programa de promoção das frutas brasileiras no Exterior, Brazilian Fruit, que visa promover as frutas brasileiras e seus derivados por meio de ações de degustação, participação em feiras internacionais, encontro de negócios com importadores, entre outras. ARTIGO TÉCNICO RESPOSTA DA GOIABEIRA À CALAGEM Pesquisa conduzida durante sete anos aponta benefícios da correção do solo com calcário na produtividade do pomar e na qualidade dos frutos, propiciando menor perda de peso de matéria fresca e maior firmeza das goiabas Foto e texto: William Natale (Unesp) O Brasil, comparativamente a outras regiões do mundo, apresenta características de solo, clima, disponibilidade de água e diversidade de espécies frutíferas que dotam o País de condições privilegiadas para se tornar um pólo produtor e exportador de frutas de grande potencialidade. Desde há muito tempo, porém, há carência de informações sobre aspectos ligados ao manejo da fertilidade do solo, de insumos e da exigência nutricional das plantas frutíferas, impedindo que o Brasil se destaque nessa área do agronegócio. O aspecto nutricional é particularmente importante para os frutos, visto a influência que os elementos minerais exercem sobre sua qualidade, requisito imprescindível à exportação. O consumo de frutas in natura e de seus sucos naturais é uma tendência mundial crescente, devendo ser aproveitada como incentivo para a produção de frutas de qualidade. Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de frutas tropicais e subtropicais, o Brasil tem baixa produtividade e suas exportações são pequenas, quando comparadas às de países nos quais a atividade tem tradição. Dentre os vários fatores que contribuem para esse quadro pode-se destacar o mau uso das técnicas de manejo do solo, da planta e do ambiente. A goiaba é a mais brasileira das frutas tropicais, apesar de não haver consenso entre os pesquisadores sobre a localização exata de seu centro de origem na América Tropical. É apreciada pelo seu aroma e sabor característicos, além do alto valor alimentício, sendo uma das frutas mais consumidas no Brasil. A goiaba é considerada uma das mais completas e equilibradas frutas no que diz respeito ao valor nutritivo, destacandose os teores de proteínas, fibras, açúcares totais, cál- Calagem aumenta qualidade das goiabas, aumentando cio, fósforo e potássio, além das durabilidade pós-colheita vitaminas A e C. Estudos mais recentes acrescentam um elemento fundamental às propriedades nutricionais da goiaba vermelha: o licopeno, um carotenóide que confere a cor vermelha à polpa, presente em elevados níveis na goiaba. Esse composto é um poderoso antioxidante que mantém as células jovens por mais tempo, prevenindo vários tipos de câncer e doenças degenerativas. Há até pouco tempo, o alimento citado como fonte de licopeno era o tomate, mas a goiaba vermelha oferece aproximadamente o dobro dos valores observados no tomate. MOTIVOS PARA CUIDAR DO SOLO Dentre os aspectos que determinam o sucesso da atividade na área de fruticultura estão as características 41 ARTIGO TÉCNICO dos solos onde os pomares serão implantados. Os solos das regiões tropicais do mundo, incluindo aí a maior parte do Brasil, sofreram intenso desgaste durante seu processo de formação, em virtude do intemperismo a que foram submetidos. Assim, os solos brasileiros, em geral, apresentam elevada acidez, altas concentrações de alumínio (tóxico), além de pequena disponibilidade de nutrientes, sendo considerados pobres quimicamente, ou seja, de baixa fertilidade. Estas são as principais razões para que se faça calagem e adubação dos pomares, visto que as frutíferas permanecem longos períodos explorando praticamente o mesmo volume de solo, motivo pelo qual o ambiente radicular, em especial com respeito à acidez, merece a máxima atenção. Apesar dessa importância, existem poucas informações sobre a prática da calagem na fruticultura e, no caso da goiabeira, não há experimentação, especialmente na fase de implantação dos pomares. Há consenso, porém, de que o momento do plantio é a melhor oportunidade de adequar o ambiente radicular para as mudas que ali começarão a se desenvolver e que seu pleno estabelecimento tem relação direta com as condições iniciais do solo. A agricultura moderna, produtiva, incluída aí a fruticultura, não pode prescindir de insumos, como calcário e fertilizante, visto as grandes quantidades de nutrientes que são imobilizados pela parte vegetativa das plantas ou exportados do pomar com a retirada dos frutos a cada safra. Porém, antes de pensar em adubar, é preciso fazer calagem para diminuir os efeitos prejudiciais da acidez do solo que inibe o crescimento das árvores. sa agronômica é conciliar os interesses da produtividade agrícola, sem agredir o ambiente. Assim, doses, épocas e modos de aplicação de corretivos e fertilizantes devem ser melhor estudados, tomando por base vários aspectos, como a fertilidade do solo, as reais necessidades da planta e a cinética de absorção dos nutrientes. Considerando os aspectos anteriormente abordados e a ausência de experimentação que demonstrasse a resposta da goiabeira à calagem, realizou-se a pesquisa que passa a ser descrita. RESULTADOS MENSURADOS Utilizando doses crescentes de calcário na implantação de um pomar de goiabeiras com a cultivar Paluma, conduziu-se pesquisa de campo entre 1999 e 2006 na Unesp-Jaboticabal, financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os resultados indicaram alterações químicas favoráveis no solo (Figura 1), com reflexos positivos na produção de goiabas (Figura 2), em função da correção da acidez. Em virtude do efeito residual, os benefícios da calagem se mantiveram por até 3-4 anos. Por esse motivo, a aplicação de calcário é considerada um investimento agrícola, devendo ser amortizada a longo prazo. A pesquisa indicou, ainda, que a maior produtividade de frutos das goiabeiras esteve associada ao pH entre 5,0 e 5,5 (saturação por bases do solo de cerca de 50%60%) e a teores foliares de cálcio e magnésio de 8,9 e 2,5 g kg-1, respectivamente. BENEFÍCIOS DA CALAGEM A calagem, quando o pH do solo é baixo, é a prática agrícola que mais contribui para o rápido estabelecimento do pomar e para a precocidade da produção de frutos. Isto porque as raízes não se desenvolvem adequadamente em solos muito ácidos, especialmente devido à toxicidade de alumínio e à deficiência de cálcio e/ou magnésio. A prática da calagem aumenta a eficiência no aproveitamento dos nutrientes e tem como conseqüência o uso racional de fertilizantes, melhorando a relação benefício/custo por meio do incremento da produtividade. Devido ao baixo preço dos corretivos pode-se afirmar que, quando há necessidade, a calagem é o investimento que maior retorno econômico dá ao produtor rural, quando comparada às outras práticas agrícolas, como irrigação, controle de pragas e doenças, aplicação de herbicidas e até mesmo adubação. Além disso, os benefícios da calagem perduram para além de um ano ou de uma safra agrícola. Apesar de compensar do ponto de vista econômico, a calagem não é suficientemente utilizada pelos produtores. Atualmente, um dos principais objetivos da pesqui42 Considerando os valores de pH e saturação por bases acima indicados como ideais para a goiabeira, verifica-se que a calagem realizada em 1999 foi capaz de manter esses valores por 30 meses (na dose 5,56 t ha-1) e 40 meses (na dose 7,41 t ha -1). Fica demonstrado, desse modo, o efeito residual do calcário ao longo do tempo, constatando-se que aplicações de doses mais elevadas de corretivo podem estender os benefícios ARTIGO TÉCNICO da calagem por vários anos após a implantação dos pomares de frutíferas. Com relação à produtividade, observa-se que, independentemente da dose de calcário aplicada, há aumento da quantidade de frutos produzidos. Isso se deve, em parte, ao desenvolvimento das plantas que, a partir de sua instalação no campo (1999), ganharam corpo, com aumento do diâmetro do tronco, altura, volume da copa e, conseqüentemente, elevação de sua capacidade produtiva. Além desse aspecto, fica evidente a contribuição das diferentes doses de calcário para a elevação da produção de frutos, quando se observa a Figura 2, que mostra o efeito de cada dose de calcário nas diversas safras. A pesquisa mostrou, ainda, que a calagem, além de elevar os teores de cálcio no solo do pomar e nas plantas, afetou a qualidade dos frutos, propiciando menor perda de peso de matéria fresca e maior firmeza das goiabas. Assim, a nutrição adequada das goiabeiras em cálcio (fornecido via calagem) melhorou a qualidade dos frutos, com benefícios crescentes para a pós-colheita ao longo do período de armazenamento das goiabas. William Natale Professor Adjunto do Departamento de Solos e Adubos Universidade Estadual Paulista - Unesp – Campus Jaboticabal E-mail: [email protected] artigos técnicos podem ser enviados para [email protected] 43 CAMPO E CULTURA ○ ○ ○ ○ MANUAL HORTIFRUTÍCOLA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Visando conscientizar e uniformizar os critérios a serem seguidos na fabricação, controle de qualidade e na utilização da embalagem hortifrutícola, a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO) lançou o Manual Hortifrutícola para atender às necessidades do mercado, oferecendo ao usuário uma embalagem adequada para preservar a qualidade dos produtos hortifrutícolas até o consumidor final. O manual apresenta as exigências governamentais quanto ao dimensionamento das embalagens e informações sobre os produtos embalados, além de padronizar as dimensões, visando à utilização do palete 1000x1200 mm para o armazenamento e transporte das embalagens. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Editora: FNP Páginas: 504 Preço: R$ 386,00 + frete Onde Encontrar: www.fnp.com.br Telefone: (11) 4504-1414 ○ ○ ○ O Agrianual 2008, além dos artigos técnicos, traz planilhas de custo de várias culturas, bem como as estatísticas da agricultura. O mercado de terras também é analisado em profundidade, com destaque para as dez regiões de maior potencial de valorização. Os danos causados ao ambiente exigem a adoção de conceitos antes vistos somente na chamada agricultura alternativa. A sustentabilidade é um desses. O Agrianual 2008 traz um oportuno artigo sobre a análise “energética”, cumprindo com o compromisso de oferecer informações de mais um momento histórico do agronegócio mundial. A publicação é fonte de consulta para todos os profissionais ligados ao campo, seja na agroindústria, na logística, na pesquisa, na academia, no setor financeiro ou no governo. ○ ○ ○ AGRIANUAL 2008 Autores: Grupo de Trabalho (GT1) Normas técnicas da ABPO Editora: ABPO Páginas: 24 Preço: R$ 20,00 (para não associados) + despesas de envio Onde encontrar: www.abpo.org.br Telefone: (11) 3831-9844 MANUAL DE PROCESSAMENTO MÍNIMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS Para os interessados em aprender mais sobre as tecnologias de processamento de frutas e hortaliças, o livro “Manual de Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças” apresenta, em três partes e 27 capítulos, as diferentes técnicas empregadas nesse tipo de produção. Na publicação, lançada pela Embrapa e Sebrae, são detalhados aspectos relevantes, como alterações metabólicas, uso adequado de embalagens, higiene e sanificação, segurança do alimento, comercialização e projetos de agroindústrias de processamento mínimo. O livro apresenta sete frutas e 12 hortaliças, das quais é possível conhecer a fundo a técnica de processamento mínimo. Quarenta e dois autores, profissionais de universidades e centros de pesquisa no Brasil, Canadá, da Espanha e dos Estados Unidos, colaboraram para dar uma abordagem multidisciplinar ao tema. Além disso, a publicação vem encadernada com capa dura e é ilustrada. Autores: Vários Editora: Embrapa e Sebrae Páginas: 527 Preço: R$ 90,00 + despesas de envio Contato: [email protected] Telefone: (61) 3385-9082 44 PRODUTOS E SERVIÇOS 45 FRUTA NA MESA Daniela Mattiaso A manga é uma fruta cheia de história, desde sua origem até sua introdução no Brasil. O pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Francisco Pinheiro Lima Neto, conta que “a mangueira (Mangifera indica) é originária do Sudeste Asiático, especificamente da Índia, mas durante o processo de evolução da espécie, dois grandes grupos se constituíram: o grupo indiano, cujos frutos apresentam casca colorida - matiz avermelhado - e as sementes apresentam apenas um embrião; e o grupo filipínico, cujos frutos apresentam casca amarelada ou esverdeada e as sementes apresentam mais de um embrião. Outra peculiaridade é que se reproduz predominantemente por polinização cruzada, proporcionando naturalmente a geração de novos exemplares”. Fato que explica as diferenças e variedades de cor, tamanho, forma e polpa (fibrosas ou não). Os portugueses introduziram a fruta no País, no início da colonização, no Estado da Bahia. Época da história em que surgiu a famosa lenda sobre ingerir manga com leite. A superstição de que consumir os dois alimentos juntos faria mal - e até mataria se difundiu tanto, que muita gente ainda hoje evita o consumo, apesar de não ter nenhum embasamento científico. Historiadores afirmam que a crendice foi criada na época da escravidão, quando a última refeição dos escravos era apenas um copo de leite e, para reforçar a alimentação, muitos pegavam manga para comer junto. Para não ter prejuízos, os senhores de escravos espalharam o boato pelas fazendas. As principais áreas cultivadas no Brasil são o Vale do São Francisco e Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, e a região dos municípios de Monte Alto e Taquaritinga, em São Paulo. Segundo Lima Neto, o País exporta mais de 110 mil toneladas, principalmente para Europa e Estados Unidos. A produção nacional gira em torno de 1 milhão de toneladas (IBGE/2005). “A manga apresenta elevado teor de açúcares e baixo teor de acidez. Possui vitaminas A e C, carotenóides, fibras e minerais como cálcio e potássio. Além das propriedades medicinais - laxativas, diuréticas e revitalizantes”, afirma o pesquisador. 46 RECEITAS DO PRODUTOR FRANKLIN CORREIA SOBRINHO SALADA DE MANGA Ingredientes: 1 manga quase madura, 1 tomate, 1 pepino, vinagre, cominho, pimenta do reino e sal. Modo de preparo: Corte a manga em cubos, acrescente o tomate e o pepino cortado em rodelas. Tempere com vinagre, pimenta-do-reino, cominho e sal a gosto. MANGA SHAKE Ingredientes: 2 bolas de sorvete de creme, 1 manga média cortada em cubinhos, 200 ml de leite, 2 colheres (sopa) de granola, 2 colheres (sopa) de creme de chantilly. Modo de Preparo: Bata o sorvete, a manga e o leite no liquidificador. Por cima, acrescente o chantilly e polvilhe com a granola. Dica do pr odutor: Segundo Franklin, algumas produtor: variedades de manga “oxidam” e outras não. Para que o milk shake não fique escuro, ele indica o uso das variedades Keit e Bourbon na receita. O produtor Franklin Correia Sobrinho, há 25 anos produz mangas em sua propriedade, situada dentro do Projeto Senador Nilo Coelho, em Petrolina, PE. São 31 hectares de manga irrigada, por micro aspersão localizada, e quatro tipos cultivados: Tommy, Keit, Kent e Palmer. Cerca de 80% da produção é exportada, apenas 20% ficam para o mercado interno. Entre os países que importam sua fruta estão Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Alemanha e outros países da Europa. Ele acredita que a região Nordeste é a ideal para a manga. “O sol garante uma fruta muito doce e colorida. Além disso, o número de horas com luminosidade por dia e a alta tecnologia facilitam o cultivo durante o ano todo. Quando há falta nos demais países, sempre podemos fornecer.”