Revista Frutas e derivados - Edição 08

Transcrição

Revista Frutas e derivados - Edição 08
SUMÁRIO
CAPA
DEZEMBRO 2007
PRODUÇÃO
PerformanceCG
FOTOS
Banco de Imagens do Ibraf
26
07
14
33
ENTREVISTA
07
CONHECER PARA VALORIZAR
Presidente da Frente Parlamentar da Fruticultura,
Afonso Hamm, fala sobre políticas públicas para
auxiliar o setor.
FRUTAS FRESCAS
SEÇÕES
14
04
06
10
editorial
espaço do leitor
campo de notícias
12
no pomar
30
tecnologia
PASSEIO NO POMAR
Turismo rural é crescente no País e oferece oportunidades para aumento de renda ao fruticultor.
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.
VITIVINICULTURA
18
DA UVA AO VINHO
Brasil se destaca em qualidade, tecnologia, exportação
e, também, na produção do vinho.
36
FRUTAS NA PRATELEIRA
37
Investimentos e parcerias transformam frutas em
produtos diferenciados para indústria alimentícia e
construção.
38
Frutas nativas, muitas ainda desconhecidas como
a Platonia, compõem a riquíssima biodiversidade brasileira.
agenda
eventos
Frutal, Expofruit, Caravana das Frutas movimentam o setor
no País.
artigo técnico
Pesquisa constata benefícios da correção do solo
com calcário para o pomar.
MEIO AMBIENTE
AFINAL, O QUE É BIODIVERSIDADE?
opinião
Acontecimentos do trimestre.
41
33
Gotejamento reduz consumo de água e energia, evita
contaminação de mananciais e traz vantagens para a
produção.
.
Exportações de frutas frescas fecharão 2007 superavitárias,
apesar das dificuldades.
AGROINDÚSTRIA
26
Hora de cuidar de maçã, novas variedades de
citrus, nectarina e caju e tecnologia não tecidos.
44
45
46
campo & cultura
produtos e serviços
fruta na mesa
Manga, cheia de história.
editorial
DIRETOR PRESIDENTE
Moacyr Saraiva Fernandes
UVA, TURISMO E BIODIVERSIDADE
PRIMEIRO VICE PRESIDENTE
Aristeu Chaves Filho
A uva cultivada em terras gaúchas, paulistas e no Vale São Francisco é a
grande estrela do final de ano, nas mesas de brasileiros e estrangeiros.
Uvas e vinho estão na matéria de capa desta edição. A variedade sem
sementes é o maior destaque na mesa, mas a Niágara também tem seu
espaço garantido, enquanto diversas outras cultivares se destinam à
produção dos vinhos nacionais, com rótulos que se destacam
internacionalmente. A uva é também uma alternativa ao produtor que
se propõe abrir a propriedade e atuar no segmento do enoturismo,
uma das formas de turismo rural já consagrada no Vale dos Vinhedos,
referência turística nacional. O Circuito das Frutas, em São Paulo, também
tem na uva e no vinho, uma de suas ações para atrair o turista e agregar
renda à propriedade. Outro exemplo é o Projeto “Colha e Pague”, com
produção de caqui, onde os produtores abrem a propriedade para que
as próprias pessoas colham suas frutas e levem para casa.
Com pesquisa, parceria e investimentos, abacates, no Paraná, tornaramse óleos essenciais para culinária e cosmética, enquanto caquis, maracujás
e laranjas, no Estado de São Paulo, compõem novas versões de vinagres;
já as bananas tornaram-se base de farinhas, que levarão mais sabor à
alimentação das pessoas com restrição ao consumo de glúten. No Rio
de Janeiro, toneladas de cascas de coco verde deixaram de poluir e são
agora placas para construção de lajes ou revestem muros compondo
projetos paisagísticos criativos, entre outras utilidades. É a criatividade
do Projeto Coco Verde reduzindo lixo de aterros sanitários, preservando
recursos naturais. Por falar em recursos naturais, vale lembrar que nos
planos para o próximo ano, a proteção à biodiversidade precisa estar
em pauta – por conta do presente e do futuro, cuja conta a natureza
tem enviado em forma de mudanças climáticas sérias. Ao protegê-la, o
fruticultor estará garantindo o futuro de frutas nativas, como araçás, cereja
do rio grande, mangaba e pajurá, que poderão ser, além de tudo,
oportunidades para novos negócios.
Que as frutas sejam fonte de renda e de inspiração para um mundo
melhor em 2008!
Até lá, se Deus quiser.
Marlene Simarelli
Editora
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SEGUNDO VICE PRESIDENTE
Roland Brandes
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Rogério de Marchi (Diretor Agroindustrial)
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Luiz Borges Junior (Presidente)
André Luiz Grabois Gadelha (Primeiro Vice-Presidente)
Américo Tavares, Antônio Carlos Tadiotti, Dirceu Colares, Etélio de Carvalho
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Maldonado Barcelos, Roberto Frey e Sylvio Luiz Honório.
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Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José
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Frutas e Derivados é uma publicação trimestral do IBRAF - Instituto
Brasileiro de Frutas, distribuída a profissionais ligados ao setor.
Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do
Instituto. Para a reprodução do artigo técnico e do artigo opinião, é
necessário solicitar autorização dos autores.
A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida,
desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de
publicação.
ESPAÇO DO LEITOR
“Quero cumprimentá-los pela qualidade da publicação. Parabéns por
tudo: pela excelente profundidade dos
assuntos tratados, pela bela apresentação, etc. Lendo a edição 7, vi que
na página 37, o texto “Tecnologia e
Recuperação”, aliás, a primeira matéria que procurei ler, traz não propriamente erro, mas uma construção
menos feliz. Trata-se da afirmação,
ipsis literis: “O homem deve fazer o
manejo correto do solo para aumentar a fertilidade e ‘ter o mínimo de
condições’ para manter a recuperação
da vegetação”... Quanto á primeira parte da afirmativa, tudo ok, mas, quanto à parte final,
acredito que a melhor construção seria: (...) ‘ter, na pior das hipóteses, o mínimo de condições’
(...); ou ainda ‘ter, pelo menos, o mínimo de condições’ (...).”
6
Fabrício Ribeiro Andrade
Estudante de Agronomia
Universidade do Estado do Mato Grosso,
Nova Xavantina – MT
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“P arabenizo os editores pela qualidade do material. As matérias são de alta
qualidade e fácil entendimento. Gostei
muito das reportagens Frutas Frescas –
Primeiro Passo, Artigo Técnico – Controle de Contaminação por Fungos, Meio
Ambiente – Terra Seca, sendo que a última reportagem listada é um fator
muito importante para a produção de
frutas, bem como alimentos, pois sem
o correto uso da terra em poucos anos
ela se tornará improdutiva e os custos
para recuperação serão maiores do que
se houver um correto manejo.”
“T ive a oportunidade de ter em minhas
mãos um exemplar da Revista Frutas e
Derivados e observei a qualidade e
substância das matérias veiculadas. A
equipe que faz a revista está, sem dúvidas, de parabéns pelo conteúdo e atualidade das matérias.”
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Christian Reichmann Sassi
Engenheiro Agrônomo, Castro – PR
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“É muito bom contar com uma publicação como essa, permitindo assim
termos sempre uma visão atualizada
sobre o setor.”
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Breno Sardinha Wanderley
Palmas – TO
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“Tenho observado que o Instituto Brasileiro de Frutas, através da revista
Frutas e Derivados, vem contribuindo
a cada dia para o real desenvolvimento da fruticultura moderna por todo o
Brasil. Desenvolvo trabalhos na fruticultura no Tocantins e tenho a oportunidade de ler as matérias que são
escritas sobre o assunto em cada edição. Parabéns pelo trabalho.”
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Rui Lara de Assis
Engenheiro Agrônomo, Lagoa Santa – MG
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E-mail:
[email protected]
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Fax:
(11) 3223-8766
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Endereço:
Av. Ipiranga, 952 • 12º andar
CEP 01040-906 • São Paulo • SP
deste valioso material eclético sobre
fruticultura, editado pelo Ibraf, que
contribui de forma substancial com a
atualização eo aprimoramento dos
técnicos e profissionais que lidam com
as frutas brasileiras.”
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ESCREVA PARA
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Antonio Roberto Gonçalves
Técnico Agropecuário - EMATER,
Santa Isabel do Ivai – PR
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“Foi com imensa satisfação que recebi
o primeiro exemplar da revista, o qual
será de grande valia ao trabalho que
estou desenvolvendo na região.”
“Gostaria de agradecer o recebimento
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Léon Bonaventure
Fruticultor em Paraisópolis – MG
e Campos do Jordão – SP
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“É um prazer ler sua revista. Parabéns
aos jovens que a preparam. Uma sugestão: Por que não fazer um número
especial sobre a exportação de frutos
via aérea?”
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Alberto Prates dos Santos
Co-editor Revista Direito Imobiliário, São Paulo – SP
Walter Fonseca dos Santos
Técnico - CONAB
Brasília – DF
ARQUIVO PESSOAL
ENTREVISTA
AFONSO HAMM
CONHECER PARA
VALORIZAR
Marlene Simarelli
O futebol marcou o início da vida profissional
do deputado federal Afonso Hamm (PP/RS), 45
anos. Na década de 80, atuou no Grêmio Esportivo Bagé, time de sua cidade no Rio Grande do Sul;
no Brasil de Pelotas e também na seleção gaúcha
de juniores. Filho de descendentes alemães ligados
à terra, formou-se em Agronomia. Antes de ingressar na política, trabalhou na Cooperativa
Bageense Mista de Lã (Cobagelã) durante 15 anos.
Hamm iniciou sua trajetória na vida pública como
vereador e secretário da Agricultura de Bagé. Foi
presidente da Associação dos Arrozeiros de Bagé,
diretor técnico da Federarroz e do Clube do Plantio Direto. Sua luta pela fruticultura começou quando assumiu o cargo de assessor especial do ministro da Agricultura Pratini de Moraes e coordenou o
Programa Nacional de Fruticultura. Desde então,
foi presidente do Comitê de Fruticultura da Metade Sul do Rio Grande do Sul por nove anos - atualmente, é vice-presidente do Comitê; coordenador
Estadual do Profruta, RS, e diretor administrativo
da Emater, RS. Atualmente, Hamm é membro da
Comissão da Agricultura, Pecuária, Abastecimento,
Desenvolvimento Rural e Cooperativismo e também da Segurança Pública e Combate ao Crime
Organizado. Entre as diversas ações no Congresso
Nacional, está a liderança da Frente Parlamentar em
Defesa da Fruticultura Brasileira. A política, no entanto, não o afastou do campo. Ainda hoje Hamm produz, entre outros, uvas e pêssegos em sua terra natal.
Frutas e Derivados - É muito divulgado que o
Brasil consome poucas frutas. Como analisa a falta
de políticas públicas para incentivo ao consumo?
Afonso Hamm - Os governantes brasileiros ainda não entenderam a dimensão e a importância da
fruticultura brasileira. O Brasil é o terceiro maior
produtor de frutas do mundo e só recentemente
iniciou a constituir políticas públicas para o setor. As
empresas exportadoras e os fruticultores, até o
momento, vinham sustentando o segmento. Hoje,
7
ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO
AFONSO HAMM
contam com a Frente Parlamentar da Fruticultura
Brasileira, formada por mais de 200 deputados federais e 15 senadores. Com esta força política no
Congresso Nacional, conseguimos inserir a Fruticultura na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e também no Plano Plurianual 2008-2011, garantindo recursos orçamentários para uma política pública que
verdadeiramente impulsione a fruticultura brasileira.
“Um dos pontos fundamentais é
estabelecer política de sustentação e
competitividade da fruticultura”
Frutas e Derivados - Quais medidas podem ser
rapidamente aplicáveis para aumentar o consumo? E
verbas para implementar as medidas?
Afonso Hamm - Colocar em execução os programas de promoção e estímulo ao consumo certamente vai garantir o aumento de consumo de frutas no âmbito do mercado interno, melhorando a
condição nutricional e a qualidade de vida. No
âmbito externo de ação, promoção e marketing, é
importante a participação em feiras internacionais.
Busca e aproximação dos comércios internacionais
são políticas previstas e planejadas. Quanto às verbas, pretendemos implementar a partir dos recursos orçamentários 2008-2011.
Frutas e Derivados - O poder aquisitivo da população aumentou, aumentou o consumo de produtos alimentícios industrializados, mais caros do
que frutas. No entanto, o aumento do consumo de
frutas não ocorreu e elas continuam sendo consideradas caras. O que fazer para mudar este panorama
e este paradigma?
Afonso Hamm - O consumo brasileiro de frutas
está aumentado à medida que incrementam novos pólos de fruticultura no Brasil e também com o
uso mais aprimorado de tecnologia, garantindo frutas de melhor qualidade. O consumidor deve ser
estimulado a consumir frutas de época, em franca
colheita e produzidas na região. Estas, em função
da alta disponibilidade, normalmente se apresentam com preços mais acessíveis dentro da capacidade de compra da população. É preciso também
campanhas educacionais, mostrando propriedades
nutritivas; traçando um paralelo de qualidade de
saúde e de vida, como, por exemplo, a substitui8
ção de refrigerantes por sucos naturais, que propiciam a garantia da qualidade de vida e a longevidade.
Frutas e Derivados - Embora o setor tenha entrado na Lei das Diretrizes Orçamentárias, o governo
não contemplou recursos para a Fruticultura. Em sua
opinião, por quê?
Afonso Hamm - Recentemente, por meio da
força política da Frente Parlamentar da Fruticultura
Brasileira, sensibilizamos o governo, por intermédio dos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Indústria e Comércio Exterior, sobre a viabilidade e importância econômica e social
da cadeia frutícola. Atualmente, mais de cinco milhões de famílias no Brasil têm a fruticultura como
principal sustento. A proposta do governo no Plano Plurianual não contemplava o setor. No entanto, graças à ação política da Frente está sendo
reordenado de forma definitiva, priorizando a fruticultura como uma política econômica e social de
grande relevância para o País.
Frutas e Derivados - Emendas foram apresentadas nesse sentido. Como está o processo e quais as
possibilidades da Fruticultura receber as verbas?
Afonso Hamm - Como presidente da Frente Parlamentar de Fruticultura, estamos estimulando os
deputados e senadores a apresentarem emendas
para atender os produtores de seus Estados e principais pólos de fruticultura do País. No Rio Grande
do Sul, por exemplo, estamos consolidando emendas e recursos por meio da relatoria do PPA e da
Lei Orçamentária Anual (LOA 2008). Com a
conscientização da importância da fruticultura nacional, o setor conquistou espaço na Comissão da
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, onde indicamos emendas de prioridade de atendimento do setor frutícola.
Frutas e Derivados - O abono de 5% acordado
com o governo sobre o valor da parcela do Prodefruta
e outras dívidas da fruticultura não entraram no decreto presidencial 3496/2007. Quais as chances de
se corrigir este equívoco, visto que outros segmentos
foram contemplados?
Afonso Hamm - A carência de políticas públicas
para a fruticultura e a falta de interesse por parte
dos governantes ainda demonstram que existe falta
de reconhecimento da verdadeira importância da
fruticultura na concepção de políticas. Por meio da
Frente Parlamentar da Fruticultura, com mobilização
dos parlamentares, já pressionamos o Governo Federal, por intermédio dos ministérios da Agricultura e
ENTREVISTA
AFONSO HAMM
no Exterior devem ser o nosso cartão postal de apresentação das frutas brasileiras. O Brasil é conhecido
mundialmente pelo futebol e certamente terá reconhecimento pela excelência de suas frutas.
Planejamento com o propósito de reparar o equívoco e estender esse benefício ao produtor fruticultor,
desfazendo a discriminação por parte do governo.
Frutas e Derivados - Quais medidas estão previstas para desoneração tributária das frutas e seus
insumos? E os benefícios para o setor e a sociedade,
quais são?
Afonso Hamm - A gradativa evolução de
conscientização e sensibilização da importância das frutas certamente conduzirá a uma busca e conquista gradual de alguns redutores na carga tributária na cadeia
de insumos e serviços de forma direta nas frutas. Existe uma carência de legislação de incentivos nos âmbitos nacional e estadual. Até o momento, existe ausência de incentivos por parte do governo.
Frutas e Derivados - Os diversos setores se movimentam para o estabelecimento de marcos regulatórios
para a inserção em mercados estratégicos internacionais. O que está sendo feito, neste sentido, para a fruticultura brasileira tornar-se globalizada?
Afonso Hamm - O primeiro passo é a
conscientização dos tomadores de decisões no País.
Um dos pontos fundamentais é estabelecer política
de sustentação e competitividade da fruticultura brasileira, passando por ações estratégicas como defesa sanitária vegetal eficiente; ações de logística, passando por estradas, postos e aeroportos adequados e aprimorados para atender à demanda do setor. Assim como, intensificando e estimulando missões empresariais do setor na prospecção do fortalecimento e da ampliação de mercados conquistados e também a busca de novos mercados, a
exemplo do Japão, que importa manga brasileira.
Podemos ampliar de forma significativa os negócios
com os fruticultores brasileiros. As embaixadas do Brasil
Frutas e Derivados - Que outras políticas públicas podem colaborar para fortalecer e proteger o fruticultor? Entre elas, está o aumento da educação formal e da atualização profissional do fruticultor?
Afonso Hamm - A profissionalização da atividade frutícola está em franca evolução. O apelo de
competitividade, a exigência cada vez maior do consumidor brasileiro e das exigências de padrões internacionais está promovendo uma verdadeira revolução desde o processo produtivo com treinamento,
capacitação e qualificação técnica e mão-de-obra. Há,
ainda, o uso maior de tecnologias aprimoradas, como
a irrigação localizada e a fertirrigação, incluindo práticas de manejo ambiental sustentável, intensificando o
aprimoramento das pessoas envolvidas no processo.
As unidades de classificação, padronização e embalagens cada vez mais aprimoram os cuidados sociais,
valorizando seus quadros de pessoal.
Frutas e Derivados - Como avalia a situação do
dólar em constante queda e as perspectivas de exportação em função disso?
Afonso Hamm - O desequilíbrio cambial prejudica a rentabilidade dos negócios internacionais,
mas, por outro lado, aguça a capacidade de gestão
e a busca máxima de eficiência em todas as fases
do processo de produção à comercialização, associados ao incremento de comercialização, que compensam o exportador.
“O consumidor deve ser estimulado a
consumir frutas de época em franca
colheita e produzidas na região”
Frutas e Derivados - Quais são os projetos e as
perspectivas da Frente Parlamentar da Fruticultura
para 2008?
Afonso Hamm - O reconhecimento da importância da fruticultura brasileira começa a ter eco a
partir de grande convivência e uma mobilização
nacional, unindo produtores, empresários, fruticultores, comerciantes, exportadores e governo,
conscientizando assim, a relevância da atividade da
fruticultura para a nação brasileira.
9
CAMPO DE NOTÍCIAS
Luciana Pacheco
“Mais Frutas na Escola”
Colhe os Primeiros Frutos
“A maçã brasileira alimenta o corpo,
a escola alimenta a mente, e juntas
formam alunos saudáveis e inteligentes”. Foi com esta frase que a
aluna Letícia Gravana, da Escola
Estadual Cristo Rei, ganhou o
concurso promovido pelo projeto
Mais Frutas na Escola, organizado
pelo Governo do Estado de Santa
Catarina, com apoio da Associação
Brasileira de Produtores de Maçã
– ABPM, que em sua fase piloto
atingiu 275 escolas somando mais
de 130 mil alunos do estado.
Conforme pesquisa realizada nas
escolas, a aceitabilidade da maçã
entre os alunos foi de 93%, sendo
que os alunos que não degustaram
a fruta, afirmaram não gostar ou
não ter o hábito de consumo.
Quanto a qualidade, o produto foi
classificado como ótimo e bom em
95% das escolas.
A idéia do projeto surgiu quando
os produtores brasileiros de maçã
começaram a exportar sua fruta
para o projeto inglês “Frutas na
Escola”, onde surgiu a seguinte
reflexão: “por que não atender
também as crianças brasileiras
com ações semelhantes?” A partir
de então a associação reuniu
esforços com produtores e com a
Secretaria da Educação do Estado
de Santa Catarina para que o
projeto virasse realidade.
O projeto agora está sendo ampliado para 451 escolas, envolvendo cerca de 270 mil alunos do
estado de Santa Catarina.
Projeto Estimula Uso do
Pedúnculo do Caju em
Receitas
O “Projeto Caju”, promovido pela
Fundação Banco do Brasil (FBB) em
conjunto com o Serviço Social da
Indústria (Sesi), deve evitar que
10
mais de 350 mil toneladas de
pedúnculo de caju - a parte da
polpa - sejam jogadas fora, por ano,
na região Nordeste do País. A idéia
é eliminar o desperdício e estimular
o aproveitamento integral da fruta
por meio de ações de educação
alimentar que incluem palestra
e degustações.
O Estado do Ceará, principal produtor nacional de caju, foi o primeiro a iniciar as ações. O trabalho
está sendo realizado na Unidade
Regional do Sesi, CE, dentro do
“Projeto Cozinha Brasil”. Segundo a
assessoria de imprensa da FBB, quase
6,5 mil pessoas já participaram das
ações, que incluem coquetéis em
eventos, palestras, oficinas e
distribuição de receitas.
Os próximos Estados a se integrarem no projeto são o Piauí, o
Rio Grande do Norte e a Bahia.
Ao todo, estão previstas 193
ações educativas de massa, para
atender a 500 mil pessoas nos
quatro Estados.
O potencial de utilização do caju é
extenso. A fruta pode ser consumida
in natura ou servir de matéria-prima
para doces, sucos, refrigerantes, de
forma artesanal ou industrial.
Brasil Poderá Produzir
Bromelina do Abacaxi
Uma pesquisa para a extração e
purificação da bromelina - família
de enzimas presentes na polpa e
na casca do abacaxi - está sendo
realizada pela Universidade Estadual de Campinas, SP, (Unicamp).
O objetivo é desenvolver um
método de uso industrial para a
produção da bromelina pura,
utilizando como matéria-prima os
subprodutos do processamento da
polpa do abacaxi - a casca e o talo -,
já que o Brasil, apesar de ser um
dos maiores produtores de abacaxi
no mundo, importa a bromelina
empregada nas indústrias farma-
cêutica e alimentícia. O professor
da Faculdade de Engenharia
Industrial (FEI), Luiz Carlos
Bertevello, prevê a conclusão da
pesquisa em três anos. “Métodos
diferentes estão sendo testados
para obtenção da bromelina e um
meio para automação do processo
para ser usado na indústria está
sendo estudado pela equipe.
Precisa-se chegar em grau de
pureza farmacêutica para o uso
humano e a pesquisa ainda não
está nessa fase”, afirma Bertevello.
A bromelina é usada em vários
medicamentos, devido aos seus
efeitos digestivos, diuréticos,
laxantes e cicatrizantes e, também,
na indústria alimentícia, na
clarificação de cervejas ou como
amaciante de carnes.
Descoberto Poder
Nutricional do
Camu-Camu
O camu-camu, fruta pouco conhecida e originária da várzea
amazônica, tem despertado interesse de pesquisadores da
Unicamp por seu enorme potencial nutricional. Segundo os
especialistas, a fruta, de cor
arroxeada, possui em média o
dobro de vitamina C, se comparada, por exemplo, à concentração encontrada na acerola.
“Se houvesse incentivo à produção da fruta por parte das
autoridades, as exportações
seriam alavancadas. O Brasil
poderia ser o principal exportador de frutas tropicais do
mundo”, defende a engenheira de
alimentos Rosalinda Arévalo
Pinedo, que desenvolveu uma
pesquisa de doutorado sobre
manutenção dos atributos de
qualidade do camu-camu, na
Faculdade de Engenharia Química
(FEQ), orientada pelo professor
Theo Guenter Kieckbusch.
Campanha vai
Promover Mirtilo
Tornar mais conhecido o mirtilo,
também conhecido como
blueberry, é o foco da campanha
que está sendo promovida pela
Niceberry, empresa especializada
em frutas finas, em parceria com
seus distribuidores. A pequena
fruta azul-escura, com sabor
levemente agridoce, pode ser
consumida fresca ou em forma de
geléias, sucos, doces em pasta e
fermentados, além de congelada
e utilizada como polpa para a
produção de sorvetes, sucos,
iogurtes e tortas, sem perder suas
propriedades nutricionais. As
folhas também são usadas para
fazer chá, saladas e medicamentos.
O mirtilo possui propriedades
antioxidantes, que atuam na
prevenção ao câncer e retardam
o envelhecimento. O segredo está
nos pigmentos antocianos, que
agem de maneira benéfica no
organismo no combate aos
radicais livres; antiinflamatório,
melhora a circulação e reduz o
colesterol ruim. Pela ausência de
sódio e colesterol, o mirtilo é
considerado um alimento nutracêutico - alimentos funcionais que
além de nutritivos atuam como
medicamentos e previnem
doenças. A Niceberry cultiva
o mirtilo em Itá e Bom Retiro,
SC. Para informações adicionais
e receitas acesse o site:
www.niceberry.com.br
Lançada Frente
Parlamentar em Defesa
da Citricultura
Uma Frente Parlamentar em
Defesa da Citricultura foi lançada
na Assembléia Legislativa de São
Paulo, no final de outubro. A
Frente atuará em conjunto com a
Comissão de Agricultura da
Assembléia, que possui caráter
permanente na Casa, para discutir
e propor ações de fortalecimento
do setor. A Frente irá trabalhar
para solucionar os problemas dos
citricultores, principalmente de
pequeno e médio portes, os
mais afetados pelas constantes
crises da citricultura.
A principal reivindicação dos
produtores é a melhoria do preço
pago pela caixa de laranja, considerado muito abaixo do custo de
produção. O presidente da Associação dos Municípios Citrícolas
(Amcisp), Kal Machado, pediu uma
ação imediata da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento de
São Paulo, SP, no reajuste do preço
da caixa da laranja. “O produtor
está cansado de esperar. A
Secretaria tem instrumentos para
fazer com que os preços sejam
reajustados já.” A cartelização das
indústrias, o empobrecimento dos
municípios citrícolas, o combate
a pragas e doenças e os altos
custos de insumos e fertilizantes
foram assuntos abordados e
também serão encaminhados
pelos parlamentares.
Fruit Logistica 2008
A maior feira de frutas e hortaliças
do mundo oferece grandes oportunidades para os empresários do
setor. O evento, que ocorre de 7
a 9 de fevereiro de 2008 em
Berlim, na Alemanha, inclui, além
do mercado de frutas frescas e
secas, as hortaliças, nozes, produtos ecológicos, prestação de
serviços, transporte e técnicas de
armazenagem. Com apoio da
Câmara Brasil-Alemanha, o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) é
a entidade organizadora do
pavilhão brasileiro na feira alemã.
Os interessados em adquirir ingressos deverão contatar a Câma-
ra de Comércio e Indústria BrasilAlemanha, representante oficial
no País da Messe Berlin GmbH empresa responsável pela
realização de feiras na capital
alemã, pelo telefone: (55) 115187- 5214 ou pelo e-mail
[email protected]
Software Auxilia Uso
Correto de
Agroquímicos
O maior banco de dados sobre
pragas e doenças que ocorrem na
agricultura brasileira está reunido
no software Agrofit, lançado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). O Agrofit
está disponível na internet para
produtores e profissionais ligados
ao ensino e à extensão rural. O
programa traz todos os produtos
fitossanitários registrados no Brasil
e autorizados para uso nas
diferentes culturas. Um banco de
dados mostra as indicações de uso
em cada cultura, com formas de
tratamento para minimizar danos
ao meio ambiente e contaminações aos produtos agrícolas.
Traz ainda descrição técnica dos
agentes, com acesso a imagens e
explicações sobre tipos de danos
que causam. Produtos de uso na
agricultura orgânica também constam do Agrofit como produtos de
controle biológico, feromônios etc.
O serviço pretende reduzir o uso
inadequado e excessivo de agrotóxicos nos cultivos por conta dos
freqüentes erros na identificação dos
agentes causadores de pragas e
doenças, considerado um dos
maiores problemas agrícolas do País.
Para consultar o Agrofit, entre no
site: http://extranet.agricultura.
gov.br/agrofit_cons
Colaboração: Daniela Mattiaso
11
NO POMAR
NECTARINA IAC AUROJIMA
Produção de frutos com padrão de qualidade comercial,
necessidade de acúmulo de horas de frio com temperaturas
abaixo de 7,2o C menor que 50 horas, produtividade que pode
chegar a 30 toneladas por hectare e baixa porcentagem de frutos
rachados – fator limitante de cultivo – são as principais vantagens
da nova nectarina ‘IAC Aurojima’. Lançada pelo Instituto
Agronômico de Campinas, SP, em novembro, os frutos da
Aurojima podem atingir até 130g e têm formato globoso pouco
desuniforme, sem ápice, de base peduncular estreita e cavidade
rasa. Outras características são: pele de coloração de fundo
amarelo pouco esverdeado, com matiz vermelho intenso; polpa
com textura firme, de cor amarela, sucosa e auréola presente
ao redor do caroço solto. O sabor é doce acidulado, atingindo
teor de sólidos solúveis de 15ºbrix nos frutos maduros e acidez
pH 4,5, com marcante aroma. A Aurojima tem maturação de
precoce a mediana, com ciclo em torno de 110 dias. Edvan
Nova cultivar é mais resistente à rachadura de frutos
Alves Chagas, pesquisador que liderou as pesquisas com a nova
cultivar, observa que “a produção de pêssegos e nectarinas cresceu nos últimos anos, graças, sobretudo aos programas de melhoramento
genético existentes no Brasil, em especial, os que disponibilizam cultivares adaptados às diversas condições do País”. Chagas ressalta
que, “em função da adaptação climática, hoje, além de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, há cultivo no Espírito
Santo e Rio de Janeiro”. Maiores informações: Centro de Fruticultura/IAC, telefone (11) 4582-7284, email: [email protected]
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HORA DE CUIDAR DA MAÇÃ
De dezembro até abril, alguns cuidados com a maçã devem ser tomados para
que o produtor possa ter boa produtividade e uma fruta de qualidade, mantendose competitivo no mercado. Segundo o pesquisador da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), José Luiz Petri, os
produtores precisam ficar atentos ao controle de pragas e doenças, poda,
condução, raleio de frutos, polinização, controle de plantas daninhas, adubações
e, principalmente, a colheita.
Neste período, a recomendação, segundo Petri, é continuar os tratamentos
fitossanitários para controle de doenças de verão e monitoramento de pragas,
com especial atenção à mosca-das-frutas, Grafolita e o ácaro, sendo que quando
atingir o nível de dano deverá ser feito o controle. Além disso – orienta - os
tratamentos químicos devem ser feitos com fungicidas de contacto ou sistêmicos,
a cada 7 a 10 dias, dependendo das condições climáticas; já os inseticidas devem
Cuidados na colheita asseguram frutos
ser aplicados quando houver o ataque de alguma praga, além do uso de herbicidas.
melhores ao consumidor
Quanto ao raleio, “eventualmente se faz uma complementação de raleio manual,
feito com tesouras, em que se retiram os frutos em excesso, procurando deixar um ou dois frutos por inflorescência. Mesmo os
que fazem raleio químico precisam realizar um repasse de raleio manual para retirar os frutos que ficaram”, alerta. Petri observa
que “em alguns casos há necessidade de utilizar reguladores de crescimento para raleio químico, controle da queda de frutos na
pré-colheita ou para retardar a maturação”. O produtor ainda precisa ficar atento com a ocorrência de granizo, utilizando
cobertura com telas para o pomar e um seguro para se prevenir de prejuízos. Cuidados especiais devem ser tomados durante
a colheita, evitando retirar frutos fora do ponto e batidas durante o manejo. O transporte também precisa ser cuidadoso para
que as maçãs cheguem com qualidade ao consumidor.
ABPM
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IAC
PRODUZ MAIS COM MENOS FRIO
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ASSOCIAÇÃO PAULISTA DOS PRODUTORES DE CAQUI
NOVO CITRUS NO MERCADO
Um novo citrus sem semente e mais doce está sendo lançado no
mercado: o bigpon. A fruta, um híbrido de tangerina e laranja, foi
desenvolvida no Japão, em 1972, e introduzida há cerca de 20
anos no Brasil. O engenheiro agrônomo, Sérgio Ituo Masunaga, do
Departamento de Bigpon da Associação Paulista de Produtores de
Caqui (APPC), em Pilar do Sul, SP, conta que inicialmente a fruta ficou
conhecida como ‘tangerina azeda’, devido à sua forte acidez. “Isso já
foi mudado. Conseguimos desenvolver uma fruta menos ácida, com
sabor encorpado, aplicando técnicas apropriadas de irrigação, plantio,
poda, entre outras”. A marca comercial da nova fruta será Kinsei.
Segundo Masunaga, o cultivo é bastante complicado e as regiões de
clima mais ameno, com maior umidade, são as ideais. “A colheita atrasa
um pouco, mas a coloração chega a 100%, o que garante melhor
aceitação no mercado”, explica. Rico em vitamina C, sais minerais e
fibras, o bigpon auxilia na prevenção de câncer, gripe e arteriosclerose.
Informações com a APPC, telefone (15) 3278-3589.
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Bigpon pode ser consumido in natura e na forma de doces
LANÇADO CLONES DE
CAJUEIRO COMUM
Os primeiros clones de cajueiro híbrido para plantio comercial, gerados a partir do cruzamento do cajueiro comum com o
clone de um cajueiro anão-precoce, foram lançados pela Embrapa Agroindústria Tropical, em parceria com a Companhia de
Óleos do Nordeste (Cione). Os lançamentos buscam atender à demanda por castanhas de caju de tamanho maior, voltadas
para a exportação, e também, para a indústria de sucos. A avaliação dos clones foi feita em experimento instalado na Fazenda
Jacaju, em Beberibe, CE. Os novos cajueiros têm altura intermediária menor – 5,3 metros em média aos oito anos – comparada
à altura média estimada entre 8 e 15 metros do cajueiro comum. Os novos clones demandaram 14 anos de pesquisa de equipe
formada por profissionais das áreas de melhoramento genético, fitopatologia, entomologia e pós-colheita.
Mais informações via e-mail: [email protected] ou pelo Agroblog Tropical: http://blog.cnpat.embrapa.br - blog corporativo
da Embrapa Agroindústria Tropical.
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NÃO TECIDOS PROTEGEM FRUTAS
DIVULGAÇÃO
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As frutas nos pomares ficam expostas a muitas adversidades, como chuva, insetos,
geadas, calor intenso etc. Para evitar prejuízos, os fruticultores podem usar uma solução
de cultivo protegido: os saquinhos e mantas de nãotecidos, conhecidos como
agrotêxteis.
“Eles ajudam no controle das pragas e possibilitam redução no uso de agrotóxicos,
pois a manta protege as frutas por um período maior, o que as mantêm sadias”,
afirma David Levy, engenheiro agrônomo de uma empresa multinacional que cultiva
melão e melancia e utiliza os nãotecidos há três anos. Para ele, “é a única forma de ter
certeza que o ‘vírus amarelo do melão’, transmitido pela mosca branca, não vai interferir
na planta e nem reduzir a quantidade de açúcar da fruta”.
A Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (Abint)
assegura que o nãotecido desenvolvido para a agricultura tem uso simples, barato
Não tecidos permitem entrada de água,
e eficiente, além de possuir algumas características especiais: conserva a
luz e ar no cultivo do melão
permeabilidade - garantindo a passagem de ar, água e luz -, e é tratado contra a
ação de raios ultravioleta (UV). Outro aspecto importante, segundo a Abint, é que o nãotecido pode ser totalmente reciclável
após seu uso, pois é feito de polipropileno. Mais informações no site: www.abint.org.br
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RENAR MAÇÃS
PASSEIO NO
POMAR
O Turismo Rural pode ser alternativa de renda para o fruticultor e
excelente ferramenta de divulgação de seus produtos, mas é
preciso disposição para abrir a propriedade e gostar de receber
Samara Monteiro
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FRUTAS FRESCAS
OS SETE ANOS DO CIRCUITO
DAS FRUTAS EM SP
O Sebrae São Paulo desenvolve uma série de atividades com o intuito de contribuir para a formação e
orientação do produtor neste setor. Marcos Alexandre Barbosa Mange, Gestor de Projetos da instituição, explica que “as ações, que são desenvolvidas, consideram o território como um todo, além da fruticultura; iremos mapear o público-alvo para priorizarmos
os setores, visando o desenvolvimento deste território
através do eixo do turismo”.
O Pólo Turístico do Circuito das Frutas, um consórcio criado há 7 anos, formado por nove municípios paulistas das regiões de Campinas e Jundiaí, é um
exemplo bastante conhecido. O principal objetivo do
projeto é agregar valor ao pequeno produtor e incentivar o turismo e o desenvolvimento sustentável.
Mange observa que o Sebrae desenvolve desde o início ações pontuais na região, como o Projeto Uvas e
Vinhos, que se propõe a profissionalizar e incrementar
a vitinicultura regional. Realiza, também, atendimentos pontuais aos produtores do Circuito das Frutas por
meio do Sistema de Apoio a Agroindústria (SAI). “Hoje,
o Sebrae-SP está ampliando a linha de atuação junto
ao Circuito e trabalha para estruturar um projeto
maior. As primeiras atividades estão sendo conduzidas,
entre elas, a formação de um comitê gestor composto de líderes regionais, presidentes de associações,
secretarias municipais e empresários locais. A intenção de todo projeto desta dimensão é preparar um
ambiente favorável para que a governança local seja
o principal motivador no desenvolvimento de futuros
projetos para promover o desenvolvimento do território”, explica Mange. Segundo o presidente da Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas, José
Luiz Rizzato, “hoje é mais uma ferramenta de fomento de negócios turísticos para o produtor ou empreendedor rural. Mas estamos tentando resgatar a fruticultura como a base de nossos produtos”, enfatiza.
De acordo com ele, no ano passado cerca de 6
mil pessoas percorreram as 30 propriedades associa-
FOTOS SÍTIO SAKAGUTI
O turismo rural está em expansão no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Turismo Rural
(Abraturr) mostram que há cerca de 4.800 propriedades atuantes no segmento, 55% delas localizadas
no Sudeste. Deste total, 37% são produtoras de hortaliças, frutas e grãos. O crescimento se dá, principalmente, por duas razões: de um lado, a necessidade
do produtor rural de diversificar sua fonte de renda e
agregar valor aos produtos; do outro, a vontade dos
moradores das grandes cidades de reencontrar suas
origens. Neste cenário, o fruticultor encontra algumas possibilidades de atuação: pode ser a abertura
da fazenda para a colheita da fruta e aulas sobre o
processo de produção; ou, ainda, o enoturismo, uma
união de passeio pelos parreirais, com palestras sobre o processamento do vinho e degustação
da
bebida.
De acordo com a bacharel em turismo e assessora de imprensa da Abraturr, Rute Fogaça, “o turismo
rural é definido como um conjunto de atividades turísticas, desenvolvidas no meio rural, comprometidas
com a produção agropecuária, que agrega valores a
produtos e serviços oferecidos pelas propriedades
rurais, como também, resgata e promove o
patrimônio cultural e natural da propriedade”. Considerada recente, a atividade ganhou, em novembro,
uma linha de financiamento do Programa Nacional de
Apoio a Agricultura Familiar (Pronaf) e se destina aos
pequenos e médios produtores rurais interessados em
agregar valor à atividade agrícola por meio do turismo rural. De acordo com João Baptista Mattos
Pacheco Neto, presidente da Câmara Setorial de Lazer
e Turismo no Meio Rural, “esta linha de crédito vai
ajudar enormemente o produtor rural que necessita
adaptar parte da sua estrutura para receber o turista,
como por exemplo, reformando sanitários ou outras
instalações”. Segundo Pacheco, a linha de crédito só
foi possível devido à grande participação e colaboração da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Coordenadoria de Desenvolvimento dos
Agronegócios (Codeagro), Câmaras Setoriais e Pronaf.
Produtores Márcio e Fumiko Sakaguti gostaram dos resultados do “Colhe e Pague” na plantação deles de caqui
15
FRUTAS FRESCAS
ENOTURISMO: EFICIENTE
CANAL DE DISSEMINAÇÃO
DA PRODUÇÃO DO VINHO
O enoturismo brasileiro é jovem como a produção de vinho no País, mas já colhe bons frutos. O
Vale dos Vinhedos, no RS, por exemplo, é o roteiro
brasileiro preferido no segmento. E não é para menos, afinal, o pequeno vale gaúcho é referência na
produção nacional de vinhos, com 32 vinícolas e a
produção de alguns dos melhores rótulos nacionais,
como o Miolo Terroir, o Gran Reserva Valduga
Cabernet Sauvignon e o Cabernet Sauvignon Laurindo.
Tanta sofisticação, aliada à qualidade na produção do
vinho, fez com que a região se destacasse no setor
16
turístico, impulsionando ainda mais a produção de uva
e de vinho.
Para se ter uma idéia, a região conta com uma diversidade de passeios turísticos que remetem à disseminação do consumo do vinho. Um exemplo é o complexo
Villa Europa, com hotel e spa voltados exclusivamente
para o universo do vinho. Os cinco hectares do complexo foram transformados em área de cultivo para 7.500
mudas de uva Merlot importadas da França. Com isso,
foi iniciada a produção em pequena escala do VE, o vinho exclusivo do local, produzido pela Vinícola Miolo.
“Pensar na agregação de valor das vinícolas é considerar que o turismo rural pode ser impulsor para o
desenvolvimento das mesmas, pois a prática do
agroturismo, ao oferecer degustação e comercialização
dos produtos, torna possível refletir o planejamento de
roteiros pelas vinhas e cantinas onde a bebida é elaborada”, enfatiza Rute Fogaça, da Abraturr.
A Vinícola Dom Cândido se destaca no enoturismo
no Rio Grande do Sul. De acordo com seu enólogo e
técnico agrícola, Daniel De Paris, os ganhos com a
abertura para visitações nos vinhedos, na vinícola com
degustação de produtos são vários: “cria credibilidade,
conhecimento da marca e é uma forma de mostrar a
qualidade dos produtos aos consumidores”.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região do Brasil
a obter a Indicação de Procedência de seus vinhos
finos, exibindo o Selo de Controle em todos os seus
produtos. Desde que foi criada, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos ViCIRCUITO DAS FRUTAS
das, o que é ótimo para produtores como Antônio
Roberto Losque, que cultiva caqui, pêssego, uva, ameixa, amora e dekopon nos 11 hectares de terras da
sua Chácara São Vicente e Vale das Frutas, em Jundiaí,
SP, cidade integrante do Circuito. Losque participa do
turismo rural há 1 ano e conta que a atividade ajuda a
melhorar a rentabilidade, mas não a venda das frutas.
“Como já temos a estrutura pronta, abrir a propriedade para a visitação não custa muito, e o que ganho
contribui para pagar todos os gastos do sítio, incluindo
funcionários e despesas”. Em sua chácara, Roberto dá
aulas sobre a imigração italiana na cidade, história local e
fala sobre o cultivo da uva. Além disso, oferece passeio,
colheita e degustação de frutas e subprodutos.
Em março deste ano, a produtora Fumiko Sakaguti
e seu marido Marcio abriram, pela primeira vez aos
turistas, o Sítio Sakaguti, em Piedade, SP. Por meio do
“Colhe e Pague”, as pessoas conheceram e saborearam o caqui e aprenderam sobre a vida no campo.
Fumiko, que colhe anualmente 50 mil/kg da fruta, conta que gostou da experiência. “Vendemos toda a colheita e conseguimos pagar as despesas que tivemos.
No ano que vem vou fazer de novo”, ressalta ela.
Mas não é só no Sudeste que o turismo rural se
destaca. Algumas ações individuais em outros estados
também têm dado resultados. É o caso do programa
de visitas criado pela Renar Maçãs, em Fraiburgo, Santa
Catarina. O engenheiro agrônomo da empresa,
Luciano Roberto Mondin, conta que a produção de
maçãs da empresa está localizada numa área de mata
nativa, com 750 hectares, onde há Araucárias centenárias. “Na época da colheita, disponibilizamos jipes
antigos do exército aos turistas, que podem passear
pelos pomares e colher a fruta”, afirma Mondin.
Além do passeio pelo pomar, da colheita e de aulas sobre a produção da fruta, existem outras formas
de atrair o turista e incrementar o turismo rural. Entre elas estão a gastronomia típica, arquitetura histórica, folclore e música (talentos locais), lidas rurais, recreação e preservação da fauna e flora.
nhedos, a Aprovale, já surgiu com o propósito de
alcançar uma Denominação de Origem. “Para isso foi
necessário, no entanto, seguir os passos da experiência
e passar, primeiro, por uma Indicação de Procedência”,
conta o diretor executivo da associação, Jaime Milani.
A conquista da Indicação de Procedência Vale dos
Vinhedos tornou-se uma garantia de origem com qualidade da região, o que traz vantagens para o viticultor
e vinicultor, especialmente para os consumidores e visitantes do Vale, que encontram infra-estrutura de atendimento, respeito à natureza e as características dos valores sociais que determinam a essência do produto. “E o
mercado também ganha, pois recebe um produto de
maior valor agregado, gerando confiança ao consumidor que sabe que vai encontrar vinhos e espumantes de
qualidade com características regionais”, enfatiza Milani.
Nos parreirais e vinícolas do Vale do São Francisco, o enoturismo já começa a conquistar espaço. Jorge Garziera, enólogo e diretor da Vinícola Garziera,
afirma que investe no turismo em sua propriedade,
porque “é uma forma de conquistar e fidelizar nossos
clientes por meio do relacionamento direto e pela qualidade dos nossos produtos. Além de conhecer os
parreirais, a vinícola e degustar o vinho, os turistas ainda
conhecem a gastronomia típica da região”.
O QUE É PRECISO SABER
Crie um forma especial para receber as pessoas. Pode
ser contando a história do local e do cultivo da fruta,
por exemplo;
Faça vários tours para conhecer o que outros produtores desenvolvem e o que é tendência;
Procure cursos de capacitação em turismo rural. Formação e conhecimento são fundamentais;
Reflita se está disposto a receber pessoas na sua propriedade, pois, às vezes, elas podem quebrar alguma
coisa ou fazer “bagunça”;
É fundamental ter cestas para a colheita e balança para
a pesagem das frutas;
Infra-estrutura como banheiros, área para alimentação
e estacionamento são fundamentais.
Para conhecer mais sobre o assunto, saber sobre roteiros
de turismo rural nacionais e internacionais e as histórias
de sucesso na atividade, o produtor pode entrar em contato com a Câmara Setorial de Lazer e Turismo, pelos telefones (11) 5067-0324 e (11) 5067-0377; com a Associação Brasileira de Turismo Rural (Abraturr), (11) 38157688 - www.turismorural.org.br ou com o Circuito das
Frutas, (11) 4817-1618 - www.circuitodasfrutas.com.br
Colaboração: Daniela Mattiaso
Outro modelo de turismo dissemina consumo de frutas
Desde 2005, o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) em parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e apoio do Sebrae-SP, realiza o Turismo Saudável. O projeto visa fidelizar turistas estrangeiros ao
consumo de frutas brasileiras, com degustações nos principais hotéis e aeroportos do Brasil. Neste período, foram 55 mil
degustações em cafés da manhã de 45 hotéis, além de 3 salas de desembarque internacionais de aeroportos. E o resultado
atingiu as expectativas: “primeiro pela divulgação das frutas brasileiras demonstrando suas qualidade e variedades, bem
como dos sucos nacionais. Em segundo lugar porque conseguimos entender o perfil do consumidor estrangeiro”, explica
a gerente executiva do Instituto, Valeska Oliveira.
A última ação aconteceu durante o GP Brasil de Fórmula 1, nos hotéis oficiais do evento em São Paulo, em outubro, onde
houve a degustação de 7.600 cafés da manhã e contou com a participação de produtores do Fruta Paulista, projeto de
capacitação em Boas Práticas Agrícolas e marketing nacional e internacional da fruta de São Paulo. Abacaxi, banana,
melão, maçã, limão, manga, mamão, tangerina, uva, figo, goiaba, nêspera, pêssego e dekopon fizeram parte do café da
manhã de pilotos, equipes e turistas. No total, foram degustadas 1341 caixas de frutas de empresas exportadoras e de
produtores do Fruta Paulista. Pilotos, dirigentes das equipes e formadores de opinião também receberam arranjos de
frutas com um melão personalizado com a logo de cada equipe e folders com dicas de consumo, valor nutritivo e receitas.
Durante o café da manhã foram aplicados questionários para identificar o perfil dos turistas, seus hábitos de consumo de
frutas em viagens e no país de origem. O resultado demonstrou que a fruta é o alimento preferido no café da manhã de
85,9% dos turistas estrangeiros e as favoritas são abacaxi, melão, mamão e manga.
De acordo com Valeska Oliveira, projetos assim beneficiam o trabalho do fruticultor porque além de conhecer o consumidor estrangeiro, procura, ainda, saber como funciona o setor de alimentos e bebidas do setor hoteleiro, grande mercado
a ser explorado pelo produtor. E, também, os hotéis precisam enxergar no produtor um meio de obter uma fruta com
melhor qualidade. “Percebemos que mesmo em hotéis localizados nos pólos de produção, não são servidos produtos de
qualidade. Este é um trabalho que o setor hoteleiro, junto com o produtor, poderia desenvolver na busca pela fidelização
do consumidor, destacando a origem da fruta”, ressalta.
17
O Brasil se destaca quando o assunto é produção de uva. Afinal,
em várias regiões são encontradas videiras das mais diversas
variedades. Mas não é só o consumo da fruta in natura que
impulsiona a produção. O País já se destaca em qualidade, tecnologia,
exportação e, também, na produção da bebida dos deuses, o vinho
Samara Monteiro
18
VITIVINICULTURA
Sul, são: Bordo, Isabel, Niágara Branca e Rosa; e as
Européias Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Riesling,
Chardonnay e Moscato Giallo”, ressalta Watanabe.
O QUE ELA TEM QUE ENCANTA?
Há uma tradição de se comer uvas no Natal e
na passagem de ano, principalmente porque o consumo da fruta está ligado a alguns rituais. Quem
nunca deixou um pacotinho de sementes de uva na
carteira para atrair mais dinheiro? Segundo o engenheiro agrônomo do Centro de Qualidade em
Horticultura da Ceagesp, Gabriel Bitencourt, “nesta época do ano, o consumo da fruta aumenta em
100%, ou seja, dobra”. Além da tradição, outro motivo para a disputa pela fruta é que, em novembro, as
uvas brasileiras estão sozinhas no mercado internacional, em países como Estados Unidos e na Europa. Sem
contar a enorme safra de uvas rústicas, tipo Niágara,
na região de Jundiaí, SP, crescente no período.
O consultor Jean-Paul Gayet, presidente da
Associated Consultants in the Fruit Industry, explica
que neste período existe uma demanda em praticamente todo o mundo. “Isso é chamado de janela
e nesta época do ano dura, em média, de 4 a 7
semanas. Isso favorece o Brasil”, ressalta. Existe
outra janela entre os meses de maio e junho, porém menos remuneradora, com duração de 3 a 4
semanas. Há, ainda, as demandas de contra-estações,
supridas pelo Hemisfério Sul durante a entressafra do
Hemisfério Norte. É o caso, por exemplo, das exportações chilenas e da África do Sul, que suprem o Hemisfério Norte de dezembro a maio.
Mas, afinal, o que é que a uva tem que encanta
tanto os consumidores? “Sem dúvida nenhuma é o
sabor”, afirma Gabriel Bitencourt. Resultado de uma
mistura de açúcar das frutas e seu equilíbrio com a
acidez, é pelo paladar que a uva atrai. “Mas outros
fatores também contam, como os taninos, os aromas, a textura e a suculência da baga. Além de sua
Jean-Paul
Gayet:
país recebe
estrangeiros
em busca de
conhecimento
e ofertas para
transferência
de tecnologias
de produção
ARQUIVO PESSOAL
Outra vez é dezembro! O mês mais aguardado
do ano também é comemorado pelos fruticultores.
Afinal, é quando aumenta o consumo da fruta-símbolo das festas natalinas, a uva. Trazida ao Brasil pelos
portugueses na época da colonização, aproximadamente em 1535, essa frutinha delicada e de sabor
adocicado teve sua produção impulsionada pela
imigração italiana no final do século 19, iniciada,
principalmente, no Sul do País. Hoje, o cultivo da
videira se espalha pelas terras brasileiras, em regiões cujas características de clima e solo se diferem,
e o que se vê é uma produção intensa e o abastecimento quase diário do mercado.
Isso porque, mesmo sendo considerada uma
cultura de clima temperado, em razão de ocorrer
queda de folhas no outono, a videira apresenta fácil
adaptação climática e também se desenvolve muito
bem em regiões de clima mediterrâneo, ou seja, verões secos e quentes, e invernos frios e chuvosos. Por
isso, o cenário é o seguinte: o Rio Grande do Sul lidera a produção nacional de uva, com mais de 620 mil
toneladas/ano, onde se destaca o Vale dos Vinhedos,
formado pelas cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi
e Monte Belo do Sul. A região é conhecida, também,
pela produção de vinhos, e já se constitui como destino preferido dos enoturistas no Brasil.
Em segundo lugar está São Paulo, com uma produção anual de 195 mil toneladas, famoso pelo cultivo da uva de mesa nas cidades de Jundiaí,
Indaiatuba, Jales, São Roque, São Miguel Arcanjo,
Pilar do Sul e Dracena. Um outro ponto a favor do
Estado é que ele tem o maior mercado consumidor da fruta, seguido do Rio de Janeiro e Brasília.
Um pouco abaixo no ranking, mas com uma produção não menos importante, vem Pernambuco,
com 155 mil toneladas anuais. Como diz o gaúcho
Jorge Roberto Garziera, que deixou a terra dos
pampas e foi produzir uva e vinho no Vale do São
Francisco, o clima tropical da região é um presente
e garante produção constante. “Diariamente vemos
todas as fases do cultivo acontecerem. Enquanto
planto hoje num pedaço da terra, ainda hoje vou
colher em outra área”, ressalta ele em tom alegre.
No total, o País produz, aproximadamente, 1,3
milhão de toneladas por ano, das mais diversas variedades, conforme dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o
engenheiro agrônomo, Hélio Satoshi Watanabe, da
Ceagesp, “para o consumo in natura, as mais cultivadas são a Itália, Rubi, Brasil, Benitaka, Red Globe,
Centenial, Festival, Niágara, Morena, Linda, Clara,
Red Meire e Thompson Seedles”. Já, para a produção
de vinho, há as variedades Americanas para vinho de
mesa e Européias, voltadas para os vinhos finos. “As
mais produzidas, principalmente no Rio Grande do
19
VITIVINICULTURA
aparência, tamanho, uniformidade, formato do cacho
e o engaço túrgido e verde”, enfatiza o engenheiro.
E os gargalos? Ah, sim, pois eles também existem e estão atrelados à falta de confiança do consumidor em relação ao produto. Ninguém gosta de
comer uva azeda e, de acordo com o engenheiro
agrônomo Renato Faccioly de Aguiar, “é preciso
organizar o mercado interno e estabelecer regras
para as características de classificação e padronização das uvas. Esta medida é importante para diferenciar os bons dos maus produtores e evitar o
abastecimento do mercado com frutas de baixa
qualidade”. Aguiar faz consultoria para produtores
de uva, é viticultor no Vale do São Francisco e elabora projetos de investimento para o Banco do Nordeste e Banco do Brasil. Para ele, a solução, neste
caso, deve vir em forma de lei decretada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Outros fatores prejudiciais, segundo Gabriel
Bitencourt são: “distribuição ruim, cujo resultado é
a fruta de má qualidade na mesa do consumidor;
pouquíssimas ações de marketing e marcas confiáveis
no setor; e o custo do produto, item prejudicial,
mas que não é o mais preocupante”.
VOLUME DE EXPORTAÇÃO DA
FRUTA AUMENTA EM 2007
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o volume exportado de uva pelo
Brasil até outubro deste ano foi de 64 mil toneladas, um aumento de 52% em relação ao mesmo
período do ano passado, 42 mil toneladas. Em valor, o crescimento foi de 71%, representando US$
138 milhões contra US$ 81 milhões em 2006, o
que coloca a uva no primeiro lugar no ranking de
exportações. “O setor é um dos mais organizados
do País”, afirma o consultor Jean-Paul Gayet. Para
ele, “não há muito o que melhorar em termos de
tecnologias de produção, colheita e pós-colheita.
Neste sentido, hoje somos um benchmarking para
outros países. Por isso, recebemos muitas visitas de
estrangeiros em busca de conhecimento e, também,
ofertas formais de colaboração técnica para transferência de tecnologias de produção”.
Faz 25 anos que a uva brasileira de mesa é mandada para fora e o consumo concentra-se, principalmente, na América do Norte, Europa, Oriente Médio, Ásia, Federação Russa e outras ex-repúblicas soviéticas. Mas se antes a procura era pelas variedades
com sementes, principalmente a Itália e seus derivados, como a Rubi Vermelha e a Brasil Negra, agora a
preferência internacional é pelas uvas sem sementes, de cores branca, vermelha e negra. “Nas brancas, prevalece a procura pela Thompson, Sonaca e
20
Melissa, seguidas pela Festival. Na vermelha, o destaque fica por conta da Crimpson. No entanto, não
há ainda clareza quanto à preferência das variedades
negras, mas o consumo é maior da Midnight beauty,
Black beauty, Sable e Autumn Royal”, enfatiza Gayet.
Uma das fases mais importantes para o sucesso da
exportação, além do pós-colheita, é o pré-resfriamento
da fruta, cuja exportação é feita via mar e pode levar
de 9 a 11 dias para chegar aos Estados Unidos ou
Europa, e de 25 a 30 dias para o Oriente Médio e
Ásia. Acrescenta-se aí, mais três dias de espera no porto
de embarque, graças à burocracia governamental.
Mas o que enfraquece o setor, segundo o consultor, são os custos proibitivos de praticamente
tudo, “o famoso custo-Brasil, criado pelos impostos
monstruosos, pela burocracia recorde do governo,
que só aumenta, em vez de diminuir. Sem esquecer do câmbio totalmente irreal, que fez com que
as receitas diminuíssem 45% em três anos, enquanto
os custos com mão-de-obra e embalagens continuam subindo sem parar. E, ainda, a escolha do
Itamaraty de negociar em blocos, sem resultados
por falta de coesão no Mercosul, faz com que os
produtores brasileiros precisem pagar os impostos
de importação na União Européia, quando os outros países fornecedores estão isentos”, desabafa.
O resultado disso, no caso da uva, é que os excelentes preços conseguidos nas chamadas janelas
não dão mais lucro ao produtor, pois as margens
ficam todas para pagamento de impostos e taxas.
“Certa vez, ao voltar de uma viagem para o Chile,
um importante empresário brasileiro do setor de
uva resumiu suas impressões da viagem dizendo: o
que diferencia o Chile do Brasil, no caso das exportações, é que lá, os milhares de membros e funcionários do governo só têm um objetivo: fazer a fruta
chegar o melhor e mais rapidamente possível até o
porto da Filadélfia. Aqui é o contrário, quanto mais
empecilhos, melhor! ” - relembra Gayet.
Para exportar com sucesso contam, também, as
especificações técnicas dos produtos, de sua emba-
lagem, a certificação do uso das boas práticas agrícolas, sem o qual não
é possível exportar para a Europa, por exemplo. Atualmente, esse tipo
de certificação é privado, mas a tendência é a exigência de uma
certificação governamental. As negociações comerciais são complexas
e da condução delas depende o sucesso: negocia-se calendário de
embarques, quantidades a embarcar de cada tipo a cada semana e,
finalmente, os preços. Os pagamentos são feitos em parte com adiantamento sobre o embarque, mediante remessa dos documentos, parte
na boa chegada das frutas, e o saldo entre três a quatro semanas após
sua chegada.
DA UVA AO VINHO...
UM MERCADO EM EXPANSÃO
Anualmente, o Brasil produz cerca de 380 milhões de litros da ‘bebida dos deuses’. Mas apesar disso, consome 300 milhões de litros,
sendo 25 milhões/l das vinícolas brasileiras, que produzem vinhos finos. Destes, 45 milhões/l são importados e 230 milhões/l são produzidos com variedades não-viníferas. E para onde vai o vinho brasileiro?
“Principalmente para países como Japão, Suíça, Estados Unidos, Alemanha e França”, afirma o enólogo e técnico agrícola, Daniel De Paris,
da Vinícola Dom Cândido, localizada em Bento Gonçalves, RS, a capital brasileira da uva e do vinho.
O mercado mundial de vinhos vem passando por transformações,
pois os consumidores estão cada vez mais exigentes, gerando oportunidade de expansão para a produção de vinhos finos de melhor qualidade. “Como conseqüência, cresce a produção de uvas viníferas, que
estão roubando o espaço antes pertencente às frutas de mesa”, explica
Amélio Dezem, sócio-proprietário da Vinícola Dezem, de Toledo, PR.
Não é de se surpreender que o Rio Grande do Sul também seja o
maior produtor da bebida. Do Estado, cuja média anual da produção
fica em torno de 330 milhões de litros, saem 90% dos vinhos e derivados elaborados no País. Além disso, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a cadeia produtiva vitivinícola gaúcha envolve
620 estabelecimentos vinificadores e 12.829 unidades produtoras de
uva, estas ocupando uma área de 27.986,97 hectares.
Atualmente, registra-se um processo de crescimento da área de
cultivo de uva e vinho em diversos outros Estados, como Santa Catarina,
Paraná, São Paulo e Vale do São Francisco. Praticamente onde se vê
ARQUIVO PESSOAL
Daniel de
Paris:
mercado
brasileiro de
produção de
vinho está
crescendo,
mas ainda é
caro produzir
21
VINÍCOLA GÓES
uva, se vê vinho, bem como projetos de integração
entre as diferentes zonas produtoras. A criação da
Câmara Nacional da Viticultura, Vinhos e Derivados, que reúne entidades da cadeia produtiva de
todo o País, é reflexo desta expansão.
E a qualidade surpreende. “Os vinhos e espumantes das novas vinícolas são tão bons quanto às
das tradicionais, pois utilizam as uvas viníferas em
sua composição”, enfatiza Dezem. Atualmente, as
vinícolas brasileiras estão se dedicando a trabalhar
com variedades como a Cabernet e Cabernet Franc,
Sauvignon, Merlot, Tannat, Tempranilo, para os vinhos
tintos; e Chardonnay, Sauvignnon Blanc, Chenin Blanc
e Malvasia, para os vinhos brancos.
As exportações de vinhos brasileiros têm superado barreiras e conseguido consolidar sua presença em mercados mundialmente disputados, como
Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Inglaterra. Segundo o Ibravin, “o primeiro trimestre de 2007 reflete este desempenho, fechando com crescimento
de 120% em relação ao mesmo período de 2006,
ultrapassando os U$ 450 mil”.
Apesar da política de câmbio desfavorável, que
prejudica as exportações tanto da fruta quanto do
vinho brasileiros, o número de empresas exportadoras praticamente duplicou em relação ao ano passado, bem como o preço médio exportado por litro, que teve um aumento de 56%.
O Ibravin é responsável pelo projeto setorial
Wine From Brazil (Vinhos do Brasil) e desde 2002
apóia as vinícolas brasileiras na promoção de seus
vinhos no exterior. Por meio do apoio que o projeto recebe da Agência de Promoção de Exportação
e Investimentos (Apex-Brasil), o grupo realiza ações
de divulgação da bebida brasileira, como anúncios
nos principais veículos de comunicação estrangeiros e eventos de degustação.
COM A PALAVRA, OS
VITIVINICULTORES
Localizada na cidade de São Roque, interior de
São Paulo, a Vinícola Góes produz, anualmente, 9
milhões/l de vinho. Para a produção da bebida a
empresa mantém 15 hectares de plantação de videiras, de onde colhe 80 mil/t por ano. Além disso,
tem parceria com outros produtores da fruta, em
cujas propriedades coloca enólogos e engenheiros
agrônomos para um acompanhamento direto, oferecendo assistência. Cerca de 20 pessoas trabalham para
eles entre o cultivo da uva e a produção do vinho.
Segundo Fábio Henrique de Góes, enólogo da
vinícola, a principal dificuldade para os produtores
de vinho é “a falta de divulgação. Só agora é que o
País está começando a realizar campanhas de
22
Fábio Henrique
de Góes:
vinícola
participa do
projeto de
retomada
da produção
de vinhos em
São Paulo
marketing para a colocação de vinhos brancos, principalmente dos espumantes, no mercado nacional e internacional”. A Vinícola Góes ainda não exporta sua
produção, mas de acordo com Góes, está iniciando o
processo de negociação com Estados Unidos e Ásia.
A Vinícola Góes faz parte de um projeto de retomada da produção de vinho no Estado de São
Paulo, criado em fevereiro deste ano por meio de
uma parceria público-privada, o SP Vinho. Fazem parte os Sindicatos da Indústria do Vinho de São Roque e
Jundiaí, a Prefeitura de São Roque, a Secretaria de
Estado da Agricultura, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e diversas vinícolas da região.
Com o objetivo de transformar o vinho produzido no Estado, tradicionalmente artesanal, para um
produto de exportação, o SP Vinho prevê aumentar de cerca de 30 para mais de 100 o número de
produtores formais de vinhos no Estado, em um
prazo de dez anos. A iniciativa deve atingir toda a
cadeia produtiva, desde o plantio da uva ao engarrafamento. “São Paulo consome 64% do vinho no
País, mas, por ano, compra 75 milhões de litros de
vinho do Sul para ser engarrafado aqui. Com isso,
deixa de gerar emprego, imposto e fixação do homem no campo”, explica Góes.
Para Daniel De Paris, da Vinícola Dom Cândido, de Bento Gonçalves, RS, “o mercado brasileiro
de produção de vinho está crescendo. Mas nossa dificuldade maior ainda são os vinhos de baixo custo,
muito inferiores em termos de qualidade, que entram
no País para concorrer com o nosso, bem como os
impostos elevados sobre os produtos brasileiros, a burocracia para exportação, exigida pelos países exportadores, variação cambial e retorno financeiro lento”.
A Vinícola Dom Cândido produz, anualmente,
270 mil/l de vinhos. Esporadicamente, a empresa
aumenta sua produção para criar produtos diferenciados, como o Bag in Box, variedades novas, entre
elas a Marselan; e, ainda, realizar testes de campo,
como o que estão fazendo no momento com variedades de origem francesa. Para garantir a qualida-
de dos produtos, por meio de um controle maior,
a empresa optou por trabalhar apenas com sua própria produção de uva, 370 mil/kg por ano, localizada na região da Serra Gaúcha, nas cidades de
Veranópolis, com uma área de 50 hectares, e de
Bento Gonçalves, onde cultiva 12 hectares.
A uva é uma das culturas que mais expressa rendimento em produção e rentabilidade por hectare
no Vale dos Vinhedos. Hoje, produtores com pequenas áreas conseguem ter um bom nível de vida.
Mas para Daniel De Paris, ainda é muito caro produzir vinho no Brasil. “Os custos de produção da
uva com tratamentos fitossanitários e trabalhos de
manuseio das práticas culturais são altos. Sem contar os gastos com material de expediente, como
garrafas, rolhas e rótulos, e os terríveis impostos
sobre o produto final”, enfatiza.
Também no Rio Grande do Sul, em Nova Pádua,
localiza-se a Vinícola Boscato, cuja produção anual
gira em torno de 400 mil/l, variando um pouco, conforme a safra. De acordo com Roberta Boscato,
engenheira agrônoma, mestre em biotecnologia e
sommelier da empresa, “a produção da Boscato Vinhos Finos já foi maior, mas optamos por reduzir a
capacidade produtiva e, com isso, aumentar cada
vez mais a qualidade dos nossos produtos. Para isso,
investimos, também, em tecnologia nos vinhedos,
na elaboração, amadurecimento e envelhecimento
dos vinhos”. Atualmente, a vinícola exporta seus
produtos em pequena escala para a República Tcheca e os Estados Unidos.
A empresa produz uvas viníferas tintas, em sua
maior parte Cabernet Sauvignon e Merlot e, também, as brancas, como a Chardonnay. “Produzimos
45% de uvas necessárias para a nossa produção,
numa propriedade de 14 hectares”, afirma Roberta.
Dessas uvas são produzidos os vinhos das linhas
Gran Reserva e Reserva Boscato. Os vinhedos estão localizados numa microrregião favorável para a
viticultura. São áreas de encostas, com escarpas de
716 a 816 metros de altitude, situada na parte su-
BOSCATO
Roberta
Boscato:
empresa
investe em
tecnologia
desde os
vinhedos até o
envelhecimento
dos vinhos
VITIVINICULTURA
perior da região Nordeste do Estado, no alto do
Vale do Rio das Antas, Serra Gaúcha. Além disso, a
empresa conta com 19 parceiros, que seguem o
mesmo padrão de cultivo, de onde são retirados
55% das uvas necessárias para produção do vinho.
De Vale para Vale, é no Vale do São Francisco
que o gaúcho Jorge Roberto Garziera se realiza.
Com uma produção própria de 30 hectares de uvas
viníferas, a Vinícola Garziera colhe duas safras por
ano, aproximadamente 700 mil/kg no total, proporcionando 500 mil/l de vinho ao ano. A vantagem de
cultivar uva nesta região, segundo ele, é que “o clima
permite o cultivo durante todo o ano e, conseqüentemente, investimos apenas 50% do que é necessário
para produzir uva e vinho em outros Estados”.
Garziera explica, também, que desenvolver uma
política de aproveitamento da fruta é vantajoso para
o produtor, criando outros subprodutos e aderindo
ao enoturismo. “É preciso diversificar, pois o mercado está competitivo demais e ainda existem muitos tabus, como o bairrismo e o preconceito com
os vinhos nacionais”, ressalta.
Um pouco mais ao Sul está a Vinícola Dezem,
implantada no município de Toledo, PR, numa área
de 70 hectares, cujas atividades iniciaram em 2004,
com uma produção de 40 mil/l. Quase três anos depois, esse número subiu para 60 mil/l e a expectativa
é chegar a 100 mil/l em pouco tempo. No momento,
a empresa utiliza apenas 10 hectares de terras para o
cultivo da videira. Para Amélio Dezem, sócio-proprietário da vinícola, “ela sempre será uma empresa de
pequeno porte, a chamada vinícola boutique, pois a
meta é nos destacarmos pela qualidade”.
Além de suas próprias frutas, a vinícola tem parceria com um outro produtor, o agrônomo Marcos
Link, também consultor da empresa. “Primamos por
esta relação, porque ele está em contato direto com
nosso enólogo, e muita coisa é decidida em conjunto, a partir do vinhedo”, enfatiza Dezem. Trabalham, entre o cultivo e a fábrica de vinho, 12 pessoas.
Entretanto, na época da colheita outros profissionais são terceirizados.
Diariamente, a Vinícola Dezem recebe turistas e empresários para
visitação e degustação,
que são gratuitas. Neste
momento, é possível divulgar os processos,
como o cultivo da videira e todas as etapas dentro da vinícola; bem como
a recepção da fruta até o engarrafamento da bebida.
23
Retrospectiva e Tendências
Como foi 2007 para o setor e o que vem pela frente?
Renato Faccioly é engenheiro agrônomo e viticultor
no Vale do São Francisco e presta consultoria para
outros produtores. Além de vivenciar as vitórias e
os percalços da produção, ainda presta serviços para
empresas como a Companhia de Desenvolvimento
do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)
e elabora projetos de investimento para os bancos
do Nordeste e do Brasil.
Com um posicionamento positivo quanto à produção de uva no País, Faccioly fala como foi o ano
para os produtores da fruta e dá dicas de como se
preparar para 2008.
FD – É possível fazer um diagnóstico de como foi o
ano de 2007 para a produção de uva?
RF – Tivemos alguns percalços nos meses de julho
e agosto, até meados de setembro, devido ao excesso de oferta de uva com sementes no mercado
interno. Em função do câmbio, os grandes produtores deixaram de exportar e estocaram o produto.
O resultado é que com a chegada da safra da uva
sem sementes, eles precisaram desocupar as câmaras frias e colocar a uva de baixa qualidade no mercado. Isso aumentou a oferta da fruta e causou a
queda dos preços. Mas num balanço final, o ano
foi bom. No Vale do São Francisco, por exemplo, a
produção em 2006 foi de 210 mil/t, com a exportação de 58 mil/t exportadas. Este ano, estima-se
que a região tenha produzido 230 mil/t e exportou
70 mil/t.
FD – Além do câmbio, houve outras dificuldades?
RF – Precisamos nos acostumar com o câmbio e
trabalhar para nos destacar em qualidade e produtividade por hectare. Mas tivemos, sim, outras dificuldades como os custos com a mão-de-obra, que
absorve quase 50% do custo total da produção da
uva. Outras foram os preços de agrotóxicos e fertilizantes, que não acompanharam a queda da moeda norte-americana.
FD – Mas há o que comemorar, não é mesmo?
RF – Sim, claro. Nossas maiores conquistas foram
o ajuste no pacote tecnológico para a produção de
uva fina sem semente Thompson, muito valorizada
24
no mercado, e o desenvolvimento da uva Itália,
selecionada a partir de uma mutação ocorrida nos
parreirais da região daqui do Vale. É importante
salientar, ainda, a melhora na qualidade e no aumento da produção. Hoje, falamos de produções de
até 40 toneladas/hectare.
FD – Pode-se dizer que o ano teve adversidades quando o assunto é o clima. Como isso impactou a produtividade?
RF – No primeiro semestre, a chuva terminou cedo
e no segundo, não houve problemas com ela. Ressalto que a estratégia dos produtores de trabalhar
com consultorias especializadas e, por isso, antecipar a produção do segundo semestre, foi importante e diminuiu os riscos. Além disso, o forte verão e o calor na Grécia prejudicaram a qualidade da
fruta lá e nos ajudou, já que o país é nosso competidor direto.
FD – Há incentivos para a produção de uva no
Brasil?
RF – Nenhum. Não existe uma política agrícola definida para esta cultura. Os produtores usam apenas o crédito rural oficial, porém este não cobre
todos os custos de implantação que, em alguns
casos, chegam a R$ 50 mil/hectare.
FD – Quais são as previsões do setor para 2008 e
como o produtor pode se planejar?
RF – A expectativa dos produtores é ter um ano
tão bom como este. A minha sugestão é que eles
tentem minimizar os riscos existentes na atividade. Uma alternativa é escalonar a produção para
colher a fruta mensal ou quinzenalmente, regulando a oferta e garantindo um fluxo de caixa positivo durante todo o ano. Para o mercado externo, é
importante fazer análises de mercado periódicas
com a ajuda de consultorias especializadas, bem
como investir em câmaras frias e antecipar contratos de exportação. Vale, também, estudar maneiras
para reduzir o custo com a logística, como a exportação em navios refeers ao invés de conteineres. Para
os pequenos e médios produtores, sugiro se agruparem em associações e cooperativas.
PRODUÇÃO BRASILEIRA DE UVA POR ESTADO
ESTADOS
PRODUÇÃO (TON)
VALOR (MIL R$)
ÁREA (HA)
Rio Grande do Sul
623.878
560.997
44.298
São Paulo
195.357
265.742
10.414
Pernambuco
155.781
365.354
5.111
Bahia
117.111
255.005
3.938
Paraná
95.357
136.722
5.657
Santa Catarina
47.355
33.359
4.512
Minas Gerais
12.318
26.238
893
Goiás
2.398
2.772
84
Ceará
2.172
3.665
67
Paraíba
1.980
3.168
110
Mato Grosso
1.805
4.679
151
Espírito Santo
522
1.315
34
Mato Grosso do Sul
502
1.003
47
Rondônia
242
206
25
Distrito Federal
162
384
38
Tocantins
72
158
4
Piauí
52
78
2
TOTAL
1.257.064
1.660.845
75.385
Fonte: IBGE 2006
25
AGROINDÚSTRIA
FRUTAS
NA PRATELEIRA
Fruticultores e empresas trilham por novos mercados,
com muita pesquisa e dedicação, e apontam tendências e
oportunidades para a área
Layza Portes
Suas características adocicada, ora amarga e ácida, tão perceptível ao nosso paladar, aliada às suas
fortes propriedades, têm feito com que cada vez
mais o mercado de frutas ganhe, além da mesa, as
prateleiras dos supermercados, o olfato, a pele, ou
até mesmo, os jardins da casa do consumidor.
Frente aos novos desafios que surgem na fruticultura, o produtor se renova e mostra que é possível trilhar outros caminhos, embora, muitas vezes
longos e de extrema dedicação. Mais de uma década de pesquisas foi necessária para que o engenheiro
agrônomo Rosalino Miguel Piccin explorasse outras
alternativas para a
comercialização
do abacate.
No mergulho do
universo
dessa fruta
26
tão apreciada, Rosalino e o parceiro do projeto, Paulo Furusato, percorreram as principais capitais do
Sul e do Sudoeste, como Porto Alegre, São Paulo e
Curitiba, para encontrar informação técnica e um
profissional que conhecesse a fundo outras aplicações da fruta. Foi aí que encontraram o químico Nabi
Assad Filho.
Há dois anos, a extração do óleo da polpa da
fruta ganhou toda a força que necessitava e virou
um novo negócio para esses produtores da região
de Ubiratã, PR. “Queria fazer uma renda extra além
do meu trabalho como engenheiro agrônomo”, lembra Rosalino.
Com essa nova aplicação do abacate, o engenheiro agrônomo é fornecedor de óleo de abacate
para empresas de cosméticos e de alimentos: matéria-prima utilizada na composição de produtos de
higiene pessoal, como xampus e sabonetes, e azeite utilizado na culinária.
O método utilizado pelo grupo é um diferencial: enzimático, ou seja, sem o uso de solvente e
outros produtos químicos. “O nosso óleo é puro.
Praticamente orgânico”, destaca Rosalino.
Nesse segmento, há 114 anos a Dierberger atua
nos mercados nacional e internacional de óleos extraídos de frutas, de variedades, como a laranja
brigarade, o limão siciliano e o tahity. O grupo é
também um grande fornecedor para os mesmos
segmentos industriais, onde o óleo de Rosalino ga-
IND. ÔMEGA 3
AGROINDÚSTRIA
“Existe a barreira da concorrência e as dificuldades para promover esse produto. O fruticultor deve
pensar e analisar bem antes de entrar neste mercado”, recomenda Sérgio.
Rosalino M. Piccin: óleo de abacate segue para
indústria de cosméticos e alimentícia
nha força. A empresa atua no cultivo da própria produção e no refino do óleo com operações em Barra Bonita e Dois Córregos, SP. “Está em crescimento o cultivo das frutas orgânicas. Com isso, o produtor consegue agregar um valor maior ao seu
produto em relação a óleo convencional, extraído
de plantações que utilizam defensivos agrícolas”,
avalia Robson Luiz Fernandes, supervisor de Controle de Qualidade da Dierberger.
Em média, os produtores de Ubiratã têm extraído de 10 mil a 12 mil litros do óleo de abacate ao
ano. Para cada uma tonelada da fruta – com venda
do quilo a R$ 0,07 – é possível extrair cerca de 70
litros de óleo. Rosalino conta que o litro é vendido
entre R$ 16,00 e R$ 20,00. Com o nome Produção e Comércio de Óleos Vegetais Livres, a pequena empresa conta com uma equipe de oito profissionais. “O produtor pode fazer a sua renda extra
todo ano e colocar o fruto, dessa forma, no mercado”, recomenda Rosalino.
Foi com essa mesma idéia de explorar novas
oportunidades que um grupo de produtores de
caqui da região de Jundiaí, SP, somou forças e fundou, há três anos, a Cooperativa Nossa Senhora
das Vitórias. “Com a união, aumenta o volume para
a compra e venda”, defende Sérgio Tomazetto, produtor da fruta há quase 25 anos e vice-presidente
da associação, que conta, hoje, com 20 membros.
Mais tarde, os fruticultores tiveram a idéia de
produzir o vinagre de caqui. O investimento inicial
foi cerca de R$ 400 mil. Um dos fruticultores cedeu
um barracão para a fabricação do produto. Hoje,
eles contam com uma produção anual que varia de
70 mil a 80 mil litros e são fornecedores do produto para as cidades de Jundiaí e São Paulo. Agora,
estão com a possibilidade de levar o vinagre para
uma rede de supermercados.
Eles começam a ganhar as principais redes
de supermercados do País e se tornam fortes aliados da culinária e da boa saúde. Com fábrica em
Assis, SP, os vinagres Dom Spinosa dão um passo
importante para o alimento ao explorar novas frutas em sua composição. Tudo começou quando há
uma década a engenheira química Vilma Spinosa
concentrou seus estudos em fermentação acética
em seu doutorado pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e vislumbrou a oportunidade
de oferecer um produto diferenciado a partir da técnica que a família desenvolveu durante décadas.
Atendendo ao gosto de diferentes paladares,
hoje os vinagres Dom Spinosa chegam à mesa do
consumidor com sabores de laranja, maracujá, tangerina e cana-de-açúcar. Atualmente, a produção
da empresa é de 4 mil litros, cerca de 16 mil unidades ao mês. “O mais difícil é entrar no mercado
com o produto. O vinagre ainda é pouco consumido, mas este segmento está crescendo”, revela
Rosana de Luccas, engenheira de alimentos e sóciaproprietária da marca.
A empresa compra o suco da fruta já processado ou a própria
produção
do
agricultor. Rosana
revela que a empresa consegue
manter estoques
regulados de vários sabores ao
longo do ano.
Mediante a venda, eles não enfrentam dificuldades de atender
aos pedidos. A
logística do grupo
tem distribuição
para todo o País.
Três grandes
etapas marcam
a produção do
vinagre
Dom
Spinosa. Primeiro,
a fruta passa por
Vilma Spinosa: vinagres chegam
fermentação, asà mesa com sabores de laranja,
sim como o vinho.
maracujá, tangerina e cana-de-açúcar
DOM SPINOSA
PARA TODOS OS PALADARES
27
O segundo passo é a fermentação acética, do vinho
para o vinagre, fase onde atuam as bactérias. O terceiro e último é a filtragem.
“Nosso processo é praticamente semi-artesanal.
Trabalhamos com frutos orgânicos. Sem
conservantes, nossos vinagres guardam propriedades das frutas como anti-radicais livres e compostos
antioxidantes”, revela.
Atualmente, a Dom Spinosa integra um programa de empresas incubadoras do município de Assis, SP, onde recebe incentivo e apoio da Prefeitura
local e do Sebrae. Hoje, está instalada numa área
de 150 metros quadrados, mas com o crescimento
da empresa surge a necessidade de um espaço
maior. Dois funcionários integram a equipe de produção, mas quando a oferta de frutas é maior, outros colaboradores entram para reforçar o time.
PRONATU
NOVAS OPORTUNIDADES
28
Os novos rumos, que a fruticultura toma, surgem além das iniciativas vindas do campo e que,
indiretamente, também fomentam o trabalho dos
produtores. Em Pariquera-Açú, SP, o projeto de um
curso de pós-graduação se tornou um novo alimento. O então estudante José Conrado Alves patenteou a idéia e a empresa Pronatu – há mais de 25
anos no mercado de alimentos – criou a marca Dona
Mari, que paga pelo uso da fórmula da farinha de
frutas à base de banana e batata-doce.
“Estamos tendo boa aceitação no mercado. É
um produto muito procurado pelas pessoas que não
podem consumir glúten, os celíacos. Para 2008, as
novidades são as farinhas de casca de maracujá
e goiaba”, revela
Edson Skurczinski,
gerente administrativo da Pronatu.
As frutas para a composição
da farinha são
fornecidas pelos
produtores do
Vale do Ribeira,
SP. A produção
mensal da marca chega a duas
toneladas.
“Nossa grande dificuldade é
com o custo de
Frutas para a
fabricação do procomposição da farinha
duto. Não consesão fornecidas
guimos fazer ao
pelos produtores do
preço da farinha
Vale do Ribeira
Fonte: Edson Skurczinski
tradicional, como a de trigo, por exemplo. O processo exige mais tempo e o investimento é maior
para a quebra da fruta e, assim, para a transformação em farinha”, revela Edson.
Para se obter um quilo do produto, no sabor
banana verde, são necessários aproximadamente
cinco quilos da fruta. Já, para a mesma proporção
da farinha de banana madura, o processo exige de
sete a oito quilos do alimento.
Também na indústria alimentícia, a Gemacom,
com sede em Juiz de Fora, MG, há 17 anos é fornecedora de preparados, sendo 50% deles à base
de morangos. A outra parte é de frutas, como o
pêssego, coco, mamão, maçã e banana, utilizados na
fabricação de iogurtes, bebidas lácteas e refrescos.
O trabalho da Gemacom é bem próximo
ao fruticultor, orientando-o desde o início do processo, da limpeza, passando pelo manuseio, ao
armazenamento do fruto. Com 200 toneladas/mês
da matéria-prima, a empresa fornece para todo o
AGROINDÚSTRIA
Brasil, em especial, Centro e Leste do Estado de
Minas Gerais. “Temos um nicho interessante de mercado, onde agregamos valor ao produto final de nossos clientes”, comenta Henrique Neves, gerente industrial do grupo.
DO CERRADO PARA O BRASIL
Uma fruta muito conhecida da culinária regional
de Goiás, o pequi, tem conquistado cada vez mais
espaço na mesa do consumidor brasileiro. Atento a
esse novo paladar, desde 2000, a Cerrado Goiano
trabalha com o processamento da fruta e
a comercializa para rede de supermercados, como
azeite ou a fruta em conserva. O produto tem também atravessado fronteiras, sendo exportado para
Estados Unidos, Espanha e Alemanha.
“O mercado do pequi é bastante oscilante, porém, observamos um certo crescimento e
popularização do consumo. As desvantagens seriam a sazonalidade da fruta e a restrição de mercado pela peculiaridade culinária”, comenta Danilo de
Pinho, gerente comercial da empresa. No momento, o grupo está construindo novas instalações, onde
serão fabricados licores de frutos do Cerrado.
A relação da empresa é direta no campo com
os extrativistas. Em 2006, a Cerrado Goiano, também em parceria com o Sebrae, levou orientação
sobre a coleta do fruto para cerca de 1.000 deles.
“Os extrativistas são os mesmos em todos os anos,
pois nos preocupamos em fidelizar esta relação”,
explica o gerente comercial.
Após a extração do fruto, o processo de produção concentra-se na exaustão e na pasteurização
no alimento. Embalados em potes de vidro, todos
os meses a produção mensal gira em torno de três
toneladas, o equivalente a 2 mil caixas.
FOTOS PROJETO COCO VERDE
LIXO QUE VIRA LUXO
Projeto desenvolveu aplicações de coco verde revistindo muros com efeitos paisagisticos e na construção para preenchimento de lajes
O frescor do coco vai além do seu sabor. Sua fibra ganha a decoração de casas, jardins, empresas e áreas públicas.
Produtos reciclados à base da fibra da fruta chegam para dar um novo conceito para os segmentos de paisagismo,
aquarismo, jardinagem, ou ainda, como células vaporativas para as linhas de climatização térmica e acústica.
Philippe Mayer, gerente de Projetos da empresa Coco Verde, que recicla e utiliza a fibra no desenvolvimento de diversos
produtos, conta que no passado eles já foram um dos maiores distribuidores de coco do Rio de Janeiro. A partir de 2004,
toda a fibra da fruta passou a ser manufaturada. Assim, desenvolveram tecnologia própria e ganharam um novo mercado.
“Nessa procura de solução para o lixo, descobrimos uma nova fórmula”, comemora. Segundo ele, seus produtos e suas
aplicações estão sendo levados também para outras regiões do mundo, como Ásia e África. Mayer conta que a cada copo
de água de coco verde de 250 ml, mais de um quilo de lixo é gerado.
Caso o fruticultor tenha o interesse de mandar uma amostra de coco para o projeto e se tornar um possível fornecedor da
matéria-prima, basta entrar em contato com a empresa pelo telefone (21) 3346-1030.
29
TECNOLOGIA
GOTA
A GOTA
Uma opção econômica e produtiva de irrigação para o fruticultor que
quer colher frutas de alta qualidade, com redução de água e energia
F. R. DE MIRANDA/EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL
Daniela Mattiaso
FLÁVIO BLANCO/EMBRAPA MEIO NORTE
Gotejamento em melão assegura produtividade de 30 ton/ha
Com o avanço da tecnologia e os novos estudos na área
de fruticultura, pesquisadores e produtores observaram que
podem produzir mais e com melhor qualidade, de forma econômica e eficiente, por meio do sistema localizado de irrigação, conhecido como gotejamento. “É uma técnica que irriga
apenas a zona radicular da planta e não toda a sua superfície.
O gotejamento se adapta muito bem na fruticultura em geral,
mas também depende de condições locais apropriadas, como
solo, clima e cultura. Nos últimos anos, a técnica vem sendo
aplicada também em culturas anuais, como a cana-de-açúcar
e o café. Por meio dela, é possível a fertirrigação, um processo que permite a aplicação de adubos e fertilizantes junto com
a água da irrigação, com pronta disponibilidade para a planta,
já que é inserida de forma solúvel diretamente no solo”, explica o professor e chefe do Departamento de Fitossanidade,
Engenharia Rural e Solos na Área de Hidráulica e Irrigação, da
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS-Unesp),
Fernando Braz Tangerino Hernandez. Segundo ele, com
apenas 40% da zona radicular irrigada é possível suprir as
necessidades da planta de forma plena, obtendo a mesma
quantidade de fruta, porém com melhor qualidade. “Isso
faz parte do processo de modernização da agricultura”, afirma Hernandez.
VANTAGENS
Tecnologia mantém solo úmido, reduzindo estresse salino
30
São muitas as vantagens do sistema “gota a gota”. De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Norte, Flávio Blanco,
“por funcionar com baixa vazão e baixa pressão, quando comparado à irrigação por aspersão, o gotejamento proporciona
grande economia de energia elétrica, pois a pressão da água
ARTCOM ACL
Carlos Barth: sistema
elimina lixiviação de
produtos químicos para
lençóis freáticos
em sua tubulação é aproximadamente a metade.
O gotejador possui um mecanismo que faz com
que a água perca pressão e, com isso, saia da tubulação gotejando, sem espirrar, razão pela qual deu
origem ao nome do sistema. O gotejamento também
poupa a quantidade de água usada, já que ela é distribuída de forma racional e localizada na planta”.
A alta freqüência de irrigação e uniformidade,
superior a 90%, são outras grandes vantagens do
gotejamento, segundo Blanco. Para ele, “isso é particularmente vantajoso quando se utiliza a
fertirrigação, pois a quantidade de fertilizante necessária pode ser dividida em várias aplicações durante o ciclo, o que aumenta a eficiência dos fertilizantes nas plantas e reduz o risco de impacto
ambiental, pois não há excesso de nutrientes no
solo”. Ao irrigar e adubar diretamente e exclusivamente a zona radicular da planta, o sistema não
molha frutas e folhas, minimizando a incidência de
plantas daninhas, manchas e doenças, com melhor
distribuição da água e dos nutrientes, uniformizando os frutos. Além disso, não há interferência da
ação dos ventos, acelerando a evaporação ou arrastando a água fora da plantação.
“Outro benefício é a possibilidade da utilização
de água salina para irrigação, muito comum no
Nordeste. O gotejamento mantém o solo mais úmido, reduzindo o efeito do estresse salino. A distribuição de água no solo faz com que os sais sejam deslocados para as bordas do bulbo molhado, criando uma
condição mais favorável para o desenvolvimento das
raízes na região central do bulbo”, conta ele.
TECNOLOGIA
produtividade em até 30%, quando comparado ao sistema
por sulcos. A produtividade média alcançada nesses Estados
com o gotejamento do melão é de 30 toneladas por hectare,
enquanto a média nacional é de 22 toneladas por hectare. Já,
em relação à produtividade da melancia, estudos realizados
no Ceará mostraram que, com o gotejamento e um bom
manejo da fertirrigação, é possível obter produtividades de
50 a 70 toneladas por hectare, enquanto a produtividade
média alcançada neste Estado é de 35”, afirma ele.
O maracujá é outra fruta beneficiada pela prática, cada
vez mais crescente no cultivo em função dos bons resultados.
Flávio Blanco conta que “há 25 anos considerava-se alta uma
produtividade de 20 toneladas por hectare; hoje pode-se conseguir acima de 40 toneladas com o uso do gotejamento e
fertirrigação. Com relação à qualidade, foi notado aumento
no peso médio dos frutos de maracujá, com obtenção de
frutos maiores”, diz.
GOTEJAMENTO NO BRASIL
De acordo com Luiz Carlos Fernandes, engenheiro agrônomo e diretor da Irrigaplan, empresa de Leme, SP, atualmente, no Brasil, cerca de 300 mil hectares são irrigados ex-
FRUTAS GOTEJADAS
O gotejamento já vem sendo amplamente utilizado no cultivo de algumas frutas. Entre as principais estão morango, abacaxi, laranja, uva, melão,
melancia e maracujá. Segundo o pesquisador da
Embrapa Agroindústria Tropical, Fábio Rodrigues de
Miranda, as principais regiões produtoras de melão
do Ceará e Rio Grande do Norte, por exemplo,
há mais de 15 anos só utilizam a irrigação por
gotejamento. “Verificamos que esse método reduz em até 60% o gasto de água, diminui em cerca
de 80% os custos com mão-de-obra e aumenta a
31
ARQUIVO PESSOAL
TECNOLOGIA
clusivamente por gotejamento. “Certamente é o sistema
que mais cresce no País”, afirma. Segundo Carlos Barth,
especialista em irrigação, da empresa Netafim, de Ribeirão Preto, SP, o uso de gotejamento em fruticultura cresce de 20% a 50% ao ano, dependendo da fruta. “Isso
acontece, principalmente, porque ela aumenta a área
irrigada e pode substituir a aspersão. Quem não tem nenhum sistema, quando coloca, opta pelo gotejamento e
quem tem por aspersão, quando troca, coloca o
gotejamento. Barth explica que “a alta eficiência desse tipo
de irrigação resulta em economia de água, que é um bem
escasso nos dias de hoje, possibilitando também cultivar
e colher durante o ano todo. Por conta do controle perfeito do uso da água no sistema, não há lavagem ou
lixiviação de produtos químicos utilizados na produção, para
os lençóis freáticos. Além disso, gera um fruto com resistência pós-colheita, por se desenvolver de maneira sadia.” O
engenheiro agrônomo Rafael Regiani, da Regiani Bombas e
Irrigação, de Cariacica, ES, aponta outra razão que leva o
Luiz Carlos Fernandes:
certamente é o sistema
que mais cresce no País
produtor a preferir cada vez mais o sistema: o problema
da escassez de água decorrente da má distribuição das
chuvas ao longo do ano, que faz as culturas sofrerem com
estiagens e veranicos imprevisíveis. “É neste ponto que o
gotejamento entra com mais uma de suas vantagens, pois
garante o fornecimento de água às culturas, em quantidade
satisfatória, sem interferir no microclima do pomar ao longo
das estações do ano. Isso sem falar nos custos dos componentes que têm se tornado cada vez mais competitivos e
atraentes para o produtor”, diz ele.
DICAS E INFORMAÇÕES
Antes de adotar o gotejamento em sua fruticultura, fique atento para algumas dicas:
O preço dos equipamentos para um sistema completo de
irrigação por gotejamento varia conforme o local, a distância da plantação em relação ao manancial e o tipo de cultura. O orçamento acaba sendo diferenciado para cada projeto.
Além do sistema de irrigação por gotejamento, composto
de bomba hidráulica, filtros (de areia, tela ou disco), válvulas e registros, tubos, mangueiras e emissores
(gotejadores), entre outros, é necessária a instalação de
uma rede de energia elétrica e uma fonte de captação de
água, que pode ser de um rio, lago, represa, tanque ou poço.
Para o bom funcionamento do projeto são necessários também cálculos hidráulicos bem-feitos. A indicação é consultar
uma empresa especializada em gotejamento para construir
um sistema completo.
Apesar de o custo operacional ser inferior em relação aos
demais métodos de irrigação, com menor gasto de água e
cinco vezes menos energia, é preciso contratar mão-de-obra
qualificada para trabalhar com o sistema.
A presença de alta concentração de ferro (Fe) na água de
irrigação causa entupimento dos gotejadores. Para contornar
esse problema, existem tratamentos que podem ser feitos
na água.
É imprescindível fazer a análise da água utilizada em laboratório especializado. Disso depende a eficiência da
fertirrigação.
O sistema pode ser adotado em diferentes tipos de solo, exceto
os de textura muito arenosa, embora alguns ainda possam
ser contornados via projeto.
A filtragem da água é obrigatória no gotejamento para
evitar entupimentos dos gotejadores. O processo - mais
simples ou mais completo - varia de acordo com a qualidade da água.
O gotejamento é um sistema de irrigação fixo, que não precisa ser transportado de um local para outro.
É necessário monitorar constantemente a vazão da água.
O ideal é que a variação nunca passe de 10%, para que
haja perfeita distribuição do adubo.
Vale lembrar que o gotejamento não serve para todos os tipos de fruta e uma boa safra depende muito também do
manejo e dos bons tratos do fruticultor.
Não há limitação quanto à topografia do terreno.
Fontes: Embrapa Meio Norte, Embrapa Agroindústria Tropical, Faculdade de Engenharia
de Ilha Solteira (FEIS-Unesp), Irrigaplan, Netafim, Regiani Bombas e Irrigação
32
MEIO AMBIENTE
?
AFINAL, O QUE É
BIODIVERSIDADE
Frutas nativas compõem o acervo riquíssimo da biodiversidade
brasileira, que o fruticultor pode ajudar a preservar
Em tempos de mudanças climáticas e preocupações ambientais, o tema biodiversidade está em
evidência. “É preciso proteger a biodiversidade...”,
“A biodiversidade é importante para a agricultura”,
“O Brasil é um país rico em sua biodiversidade”.
Mas afinal, o que é biodiversidade? “O termo é
bastante amplo e abrange todas as formas de vida
do Planeta (animais, vegetais e microorganismos),
bem como os genes contidos em cada indivíduo e
as inter-relações entre os organismos e
ecossistemas”, define a pesquisadora da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, Milene da Silva Castellen,
doutora em Ecologia de Agroecossistemas. Seu
valor também é abrangente: ecológico, genético,
social, econômico, científico, educacional, cultural,
recreativo e estético. É também fonte de alimentos, medicamentos e matéria-prima industrial
consumida pelo ser humano. Amplamente divulgado, o Brasil, por sua localização geográfica e extensão territorial, abriga uma das maiores
biodiversidades do Planeta, com inúmeras espécies ainda desconhecidas. Mas qual a importância
desta riqueza para a fruticultura comercial nacional? O País possui inúmeras espécies nativas com
potencial muitas vezes subexplorado, observa a pesquisadora, e acrescenta: “As fruteiras nativas ocupam lugar de destaque nos ecossistemas naturais e
seus frutos já são comercializados em feiras e com
grande aceitação popular. Esses frutos apresentam
sabores sui generis e elevados teores de açúcares,
proteínas, vitaminas e sais minerais e podem ser
consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes e geléias, como o araticum, jenipapo,
EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA
Marlene Simarelli
Variabilidade de frutos observada no Banco de Germoplasma de Citros
da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
umbu-cajá, mangaba, araçá-boi. Só no Cerrado,
existem mais de 58 espécies de frutas nativas conhecidas e utilizadas pela população regional. Seu
consumo, há milênios consagrado pelos índios, foi
de suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e colonizadores da região.
Por meio da adaptação e do desenvolvimento de
técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem
elaborou verdadeiros tesouros culinários regionais,
tais como licores, doces, geléias, mingaus, bolos,
sucos, sorvetes e aperitivos.”
33
INSTITUTO PLANTARUM
MEIO AMBIENTE
RAZÕES PARA PRESERVAR
INSTITUTO PLANTARUM
Alguns tesouros contidos nos diversos
ecossistemas correm risco de desaparecer, mesmo
antes de serem conhecidos, principalmente, do Cerrado tanto matogrossense quanto paulista. Entre eles
estão diversas espécies frutíferas. “Muitas dessas
espécies só sobrevivem dentro do ecossistema natural em equilíbrio, sendo ainda de difícil cultivo.
Precisam de polinizadores e dispersores de sementes específicos para que continuem se reproduzindo e multiplicando”, alerta Giselda Durigan, pesquisadora e engenheira florestal da Estação Experimental de Assis, do Instituto Florestal de São Paulo.
A pesquisadora faz parte da equipe de 160 integrantes do Programa Biota/Fapesp, desenvolvido em
parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de São
Paulo, com o objetivo de inventariar e caracterizar
a biodiversidade, definindo mecanismos de conservação, potencial econômico e uso sustentável. O
programa é resultado de uma década de pesquisas
e apresenta o estado de riqueza ou de destruição
das matas e Cerrado paulistas, em mapas gerais e
temáticos, por grupos de animais e plantas. Entre
as plantas foram encontradas “muitas frutíferas, que
seria difícil listar, como, por exemplo, gabiroba,
pequi, bacupari, uvaia, pitanga, araçás, jabuticabas,
melãozinho do cerrado, abacaxi-do-cerrado, maracujás, etc”, comenta Giselda Durigan. Informações
completas sobre o programa podem ser acessadas
no site www.biota.org.br/info/wap2006 ou na
edição 140 da revista Fapesp.
Para Milene Castellen, da Embrapa Fruticultura,
a preservação dessas espécies representa oportunidades econômicas para o Brasil e principalmente
para o desenvolvimento sustentável de comunida-
Mangaba é uma entre diversas frutas do cerrado
bastante consumidas pela população local
34
Cultivada no Exterior, a goiaba-serrana
é pouco conhecida entre os brasileiros
des tradicionais e pequenos agricultores, além de
serem importantes para o funcionamento dos
ecossistemas, pois constituem um importante recurso alimentar para a fauna. “A biodiversidade é
vital para o futuro da agricultura. Hoje, muitos recursos naturais encontram-se ameaçados de extinção
ou podem ter sido perdidos para sempre, em função
da perda ou substituição de variedades locais, da exploração irracional dos recursos biológicos, das diversas formas de pressão do homem sobre os
ecossistemas naturais e políticas de desenvolvimento
que não levam em consideração possíveis impactos
ambientais, especialmente aqueles associados à perda
da diversidade biológica dos ecossistemas.”
FRUTICULTOR PODE
PRESERVAR E GANHAR
Entre as frutíferas mapeadas pelo programa
Biota, muitas podem vir a ser comercializadas, observa Giselda Durigan, do Instituto Florestal. “Muitas precisam apenas de domesticação, ou seja, de
desenvolvimento de técnicas de reprodução em viveiro e cultivo, para que possam ser cultivadas em
larga escala. Algumas precisariam de seleção e melhoramento genético para produzirem frutos mais
saborosos ou com mais polpa ou em maior quantidade. Há casos, também, em que as espécies poderiam ser utilizadas no melhoramento das frutas
que já cultivamos, para aumentar a resistência à seca,
a pragas e doenças, como os maracujás, abacaxis e
o melãozinho”. Giselda Durigan recomenda aos fruticultores, que têm essas frutas nativas em suas propriedades, que “tentem aprender a cultivá-las. É o
primeiro passo. Como não existem pesquisas já
concluídas sobre a maioria delas, toda tentativa será
pioneira e contribuirá para a diversificação da fruticultura com espécies nativas”.
A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
mantém um banco de germoplasma de fruteiras tropicais, voltado para a conservação de espécies pouco
difundidas. Interessados em ajudar, poderão enviar
um e-mail com o título “Recursos Genéticos” para
[email protected] ou telefonar para (75)
3621-8000, para obter instruções de como enviar
sementes ou estacas de fruteiras nativas para serem
estudadas e preservadas.
O Instituto Plantarum é
uma instituição privada
que estuda a flora brasileira, com 15 livros publicados sobre flores, árvores, palmeiras nacionais,
entre outros temas. Entre
eles, destaca-se o “Frutas
Brasileiras”, com apresentação de 312 espécies naCereja-do-Rio-Grande
tivas e outras 515 exóticas, entre elas, diversas,
que a maioria da população sequer imagina terem sido
introduzidas um dia – como a manga e o mamão, tão comuns
em nossa mesa. “Existem muito mais espécies introduzidas do
que brasileiras entre as frutas comerciais. As espécies brasileiras são mais conhecidas na região Norte do que no restante
do País”, observa Harry Lorenzi, autor do livro e pesquisador
do Instituto Plantarum. Caju, goiaba, coco, abacaxi, cacau e
agora cupuaçu, que está ficando mais conhecida, são frutas
essencialmente brasileiras. Lorenzi comenta que “Estados Unidos têm, entre frutas selecionadas, as nativas brasileiras
pitanga e Cereja-do-Rio-Grande. Algumas, como a goiaba serana, são mais conhecidas no Exterior do que aqui”. Entre as
frutas apresentadas em seu livro, há algumas com grande potencial comercial, como o Pajurá, fruta amazônica.
De acordo com Lorenzi, as frutas nativas foram perdendo o
interesse há cerca de 40 anos, à medida que houve a introdução, em escala comercial, de variedades selecionadas de espécies exóticas, com maior potencial produtivo, de maior inte-
resse para as empresas
que comercializam frutas.
“Falta incentivo e pesquisa para frutas nativas,
para que possam ser mais
conhecidas e cultivadas”,
observa Lorenzi. “Atualmente é mais fácil obter
licença para explorar uma
floresta do que para colePajurá
tar amostras e estudar novas espécies, dificultando
a identificação.” Ele alerta para a necessidade de proteção aos
ecossistemas nacionais que possuem uma flora rica e ainda não
totalmente conhecida. E recomenda aos proprietários, com trechos de matas em suas propriedades, que protejam e cuidem delas. “No Sudeste e Sul é mais difícil o corte de árvores, mas isto
não acontece no Cerrado, pois por ser plano e não ter uma
floresta exuberante, corre sérios riscos.”
Lorenzi explica que “demora-se pelo menos dez anos para que
uma nova fruta fique conhecida pelo consumidor, a não ser
quando há grande divulgação por parte da grande mídia, como
aconteceu com a acerola, divulgada como grande fonte de vitamina C. Já, o camu-camu, nativo, tem mais vitamina C e é
pouco conhecido”. Grupos de colecionadores, chacareiros e
viveiristas desempenham papel importante na divulgação das
frutas, bem como as publicações. “Após o lançamento do livro, muitas pessoas têm procurado pelas frutas brasileiras.” O
pesquisador acrescenta que já tem mais 100 espécies catalogadas, que devem ser publicadas em outra edição.
INSTITUTO PLANTARUM
INSTITUTO PLANTARUM
Em livro, Frutas Brasileiras
Saiba mais
Acca Sellowiana Coolidge
Nome popular: goiaba-serrana, araçá-do-Rio-Grande, goiaba-do-campo, goiaba silvestre, goiaba-crioula
Onde ocorre: Planalto Meridional, Mata dos Pinhais.
Período de frutificação: setembro a novembro
Descrição do fruto: possui polpa suculenta de sabor doce e
com muitas sementes moles
Couepia Bracteosa
Nome popular: pajurá, pajurá-de-racha, pajurá-verdadeiro
Onde ocorre: Região Norte do país - Amazônia
Período de frutificação: agosto a novembro
Descrição do fruto: Os frutos são drupas ovóides de semente
grande, com casca quebradiça, polpa espessa, carnosogranulosa, aromática e oleosa, de sabor doce e agradável. A
maturação ocorre de setembro a maio.
Eugenia Involucrata Gigante
Nome popular: cereja-do-Rio-Grande, cereja, cereja-do-mato
Onde ocorre: Regiões Sul e Sudeste
Período de frutificação: setembro a novembro
Descrição do fruto: Forma variável, glabros e brilhantes, coroados pelas sépalas indireitadas, com polpa espessa, carnososuculenta e doce ou acidulado. A maturação ocorre de novembro a janeiro.
Hancornia Speciosa
Nome popular: mangaba, mangaba-da-restinga
Onde ocorre: Norte do Espírito Santo até o Pará
Período de frutificação: agosto a novembro
Descrição do fruto: Os frutos são bagas amareladas com pontuações e manchas vermelhas, com polpa carnoso-viscosa de
sabor doce-acidulado. A maturação ocorre de outubro a março.
Platonia Insignis
Nome popular: Bacuri, bakuri, bacuri-açu, landirana
Onde ocorre: Floresta Pluvial Amazônica
Período de frutificação: junho a setembro
Descrição do fruto: Frutos grandes, do tipo baga, com 2-5
sementes envoltas por polpa fina, aromática, de sabor
doce-acidulado e muito agradavel. A maturação ocorre
durante o verão.
35
OPINIÃO
O ano chega ao final e as exportações brasileiras de frutas frescas são
superavitárias. Devemos fechar 2007
com um valor aproximado de US$ 630
milhões e mais de 910 mil toneladas,
caracterizando, assim, novo recorde
de exportação. A taxa de câmbio desfavorável, as barreiras fitossanitárias dos
países compradores, o custo Brasil, a
baixa remuneração dos produtores e
exportadores, o baixo preço praticado nos mercados finais, a falta de consumo nos mercados-alvo, o desconhecimento dos produtos tropicais, entre
outros, não afetariam as exportações
brasileiras neste ano?
2,15% do total produzido, que chega
a 42 milhões de toneladas. Esquecemos que deste volume 18 milhões de
toneladas são de laranja, das quais 80%
se destinam às indústrias e geram mais
de US$ 1,2 bilhão de exportação. Também esquecemos que 97% da produção de caju se destina ao beneficiamento para exportação de castanhas, com volumes exportados superiores a US$ 187 milhões. Ainda podemos mencionar os 80% dos cocos,
maracujás e pêssegos que são beneficiados; os 50% de goiabas e uvas e
também mais de 20% dos abacaxis,
que tem o mesmo destino, além das
de frutas no mercado interno, que é a
base de sustentação da cadeia. Para o
aumento do consumo é preciso que
os consumidores encontrem preços
atrativos e produtos de qualidade nas
gôndolas do varejo. Notamos nos últimos anos que todo esforço de uma
safra é perdido quando erramos: no
ponto da colheita e manuseios inadequados; no transporte, no armazenamento e na exposição dos produtos
Apesar das dificuldades, setor se supera e continuará buscando mercado externo
Embora muitos esperassem que
sim, notamos, mais uma vez, os produtores e exportadores brasileiros superarem as dificuldades e conquistarem
os exigentes mercados compradores
e – acima de tudo, apostarem no futuro –, pois sabemos o quão difícil foi
conquistá-los e como seria ainda pior
reconquistá-los, depois de perdidos.
Diante deste cenário, o setor se
profissionalizou, investindo em boas
práticas agrícolas, reduzindo custos,
buscando novas variedades, como o
caso das uvas sem sementes, dos melões nobres, das maçãs mais coloridas,
dos abacaxis, entre outras, procurando ofertar produtos que eram demandados e não mais tentar vender o
que estava sendo produzido. Mesmo
assim, ainda é cobrado pelo baixo volume exportado de frutas frescas: um
setor que, apesar das dificuldades,
triplicou suas exportações nos últimos
dez anos, saltando de 290 mil para 910
mil toneladas!
Um cálculo que costumamos fazer
é do volume exportado sobre o volume produzido, o que nos dá a falsa
impressão de exportarmos apenas
36
porcentagens menores de outras frutas para a indústria. Ou seja, mais de
50% da produção nacional de frutas
destina-se à indústria. Podemos, então,
concluir que dos 22 milhões de toneladas de frutas destinadas ao processamento, 12 milhões são exportadas,
ou seja, 55% da produção tem como
destino o mercado internacional.
As outras 20 milhões de toneladas
de frutas destinadas ao consumo in
natura são distribuídas entre os mercados interno e externo. Isto significa
que destinamos quase 5% deste volume para exportação e os outros 95%
para o mercado interno. Concluímos
que dos 42 milhões de toneladas produzidas, cerca de 30% destinam-se ao
mercado internacional. Mesmo assim,
o mercado interno deve ser considerado como principal mercado para o
produtor de fruta in natura, pois nele
encontramos o consumidor mais próximo do centro de produção, com
melhor conhecimento das frutas produzidas no Brasil e ainda um cliente que
conhecemos e vivenciamos seus hábitos de consumo. Outro fator decisivo
para o setor é o aumento de consumo
no ponto de venda. Isso tem afugentado o consumidor que, cada vez mais
distante da área de produção, conhece menos as características das frutas
que compra.
Por outro lado, estamos no caminho certo com mais investimentos em
modernas técnicas de produção, em
infra-estrutura nas áreas de produção
e nas rotas de escoamento das safras,
com meios mais eficientes e baratos de
transportes – fatores imprescindíveis
para melhor remuneração da cadeia.
Enfim, podemos esperar para o próximo ano uma continuidade do aumento dos volumes exportados, pois o exportador brasileiro deve continuar buscando o mercado internacional como
mais uma alternativa de escoamento da
produção, diminuindo os volumes colocados no mercado interno, principalmente durante os picos de safra.
Maurício de Sá Ferraz
Engenheiro Agrônomo, Presidente da
Câmara Setorial de Frutas do Estado de
São Paulo e Gerente da Central de Serviços
do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf).
AGENDA
02 a 04 • I SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE UMBU, CAJÁ E ESPÉCIES AFINS (SIBUC) (Embrapa/IPA)
Onda Mar Hotel (Recife/PE)
Info: Helena Barros (81) 2122-7203 e 2122-7202 • [email protected]
www.cpatc.embrapa.br/eventos/sibuc
fev
08
jan
08
18 a 27 • FRUTTI FEST (Associação Caminhos de Montanha)
Clube Rosário (Bento Gonçalves/RS)
Info: Rodrigo (54) 3454-7263 / (54) 9996.3874 (Ivan)
[email protected] • www.fruttifest.com.br
07 a 09 • FRUIT LOGISTICA (Ibraf)
Messe Berlin (Berlim/Alemanha)
Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766 • [email protected]
www.fruitlogistica.de
mar
08
dez
07
08 • CURSO DE HORTICULTURA E FRUTICULTURA ORGÂNICA
(Associação de Agricultura Orgânica - AAO)
Sítio Catavento (Indaiatuba/SP)
Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625
[email protected] • www.aao.org.br
abr
08
nacionais
14 e 15 • PLANT INTERNATIONAL MEETING (Angers Expo
Congress)
Angers Expo Congréss (Angers/França)
Info: Arnaud Deltour (33) 0 2 41 93 40 40
[email protected]
www.plant-international-meeting.com
17 a 19 • IFOWS - ÍNDIA INTERNATIONAL FOOD & WINE SHOW
(Lótus Exhibitions & Marketing Services)
InterContinental the Grand (Nova Delhi/Índia)
Info: Lótus Exhibitions & Marketing Services (91) 124 4031793
[email protected] • www.ifows.com
18 a 27 • SEMANA VERDE DE BERLIM - GRÜNE WOCHE
(Messe Berlin)
Messe Berlin (Berlim/Alemanha)
Info: MB Capital Services +49 (0)30 / 3069-6969
[email protected] • www.gruenewoche.de
10 a 14 • ALIMENTARIA BARCELONA (Read Exhibitions)
Pavilhões de Exposições de Montjuic (Barcelona/Espanha)
Info: Read Exhibitions 34 93 452-1800 • [email protected]
www.alimentaria.com
05 e 06 • EXPO ALIMENTOS (Tourism Events Unlimited)
Centro de Convenciones de Puerto Rico (San Juan/Porto Rico)
Info: Tourism Events Unlimited (787) 287-0140
[email protected] • www.expo-alimentos.com
17 a 19 • MACFRUT (Ibraf)
Centro de Exposições da Feira de Cesena (Cesena/Itália)
Info: Valeska Oliveira (11) 3223-8766 • [email protected]
www.macfrut.com
abr
08
jan
08
internacionais
24 a 27 • GULFOOD (Ibraf)
Dubai International Convention and Exhibition Centre
(Dubai/Emirados Árabes)
Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766 • [email protected]
www.gulfood.com
22 a 25 • FHA (Overseas Exhibition)
Singapure Expo (Singapura/Singapura)
Info: Cristopher McCuin (44) 0 207 840 2146
[email protected] • www.foodnhotelasia.com
23 a 25 • SIAL (Promosalons Brasil)
Palais des Congrès de Montreal (Montreal/Canadá)
Info: Marie-Ange Joarlette (11) 3168-1868
[email protected] • www.sialmontreal.com
37
EVENTOS
FRUTAS
NORDESTINAS
em destaque
Ceará e Rio Grande do Norte, grandes pólos de produção,
movimentaram a fruticultura nacional com a realização de duas
grandes feiras: Frutal e Expofruit
Fotos Ibraf
Projeto
Imagem
visitou,
entre
outros, a
empresa
Amêndoas
Brasil
Muitas horas de sol, modernas técnicas de irrigação, diferentes tipos de solos e a maior proximidade com os países do Hemisfério Norte vêm proporcionando à fruticultura nordestina
grande competitividade no mercado internacional. As frutas provenientes desta região representam mais de 50% na pauta de exportações brasileiras, segundo da38
dos da Secretaria de Comércio
Exterior (Secex). Os estados do
Ceará e Rio Grande do Norte fazem parte desta seara de
desenvol-vimento. Juntos, produzem 1,7 milhão de frutas frescas
(IBGE), principalmente de melão,
abacaxi, mamão, banana, coco e
melancia; e representam mais de
90% das exportações brasileiras
de melão e melancia, de acordo
com Secex. O Ceará é o principal estado exportador de amêndoa da castanha de caju, abrigando quase 90% da capacidade instalada do processamento nacional, conforme dados do Sindicaju.
Devido a grande importância
destes estados para a fruticultura
brasileira, duas grandes feiras são
realizadas na região, anualmente,
em setembro e outubro: a Frutal
e a Expofruit - a primeira em
Fortaleza,CE, e a segunda em
Mossoró, RN. Ambas, reúnem
em um só lugar fornecedores de
insumos, agentes de financiamento, rodadas de negócios, seminários e palestras técnicas, levando
informação e oportunidades de negócios para os produtores locais.
Para mostrar o potencial da
região ao mercado internacional,
o Instituto Brasileiro de Frutas
(Ibraf), em parceria com a Agência de Promoção de Exportação
e Investimentos (Apex-Brasil), levou para estes eventos os Projetos Comprador e Imagem. Sete
compradores internacionais da
Alemanha, Espanha, Inglaterra, Irlanda e Canadá participaram do
Projeto Comprador por meio
das rodadas de negócios promovidas na Expofruit pelo SebraeRN, gerando um volume de negócios na ordem de R$1,2 milhão. O Projeto Imagem levou ao
Rio Grande do Norte e Ceará
três jornalistas do Canadá,
Espanha e Chile, que tiveram a
oportunidade de conhecer a estrutura da produção por meio das
visitas técnicas promovidas pelo
Ibraf às empresas Da Fruta (sucos e concentrados), Fazenda
AGM (acerola), Agrícola Famosa
(melão, melancia e abacaxi),
Nolem (melão), Itaueira (melão)
e a indústria Amêndoas Brasil
(castanha de caju); em São Paulo, visitaram a empresa De Marchi
(polpas e concentrados de frutas)
e a Casa Santa Luzia, supermercado premium.
CEARÁ EXPORTADOR
NA FRUTAL
Com o tema “Agronegócio
e Responsabilidade Social”, a
14ª Semana Internacional de
Fruticultura, Floricultura e
Agroindústria - Frutal/Flor Brazil
2007 – recebeu cerca de 36
mil participantes de todo Brasil e
mais de 230 especialistas para a
programação técnica.
Segundo o Instituto Frutal,
organizador do evento, o Ceará
deve exportar US$ 54 milhões
em frutas frescas este ano. Se
considerar também as divisas geradas com a castanha de caju, o
segmento fruticultor vai gerar
US$ 154 milhões em divisas para
o Estado. “As vedetes da fruticultura cearense são abacaxi, melão,
banana, manga e mamão”, disse
Euvaldo Bringel, presidente do
Instituto Frutal.
O Estado tem grande potencial de crescimento, considerando que há cerca de 35 mil hectares de terras agricultáveis
desperdiçadas. Conforme o Instituto, nos quatro grandes perímetros de irrigação implantados
pelo Governo Federal no Estado
- Baixo Acaraú, Tabuleiro de Russas, Jaguaribe-Apodi e Araras
Norte - o índice de ocupação e
produção não chega a 20%.
39
EVENTOS
NOVA DATA PARA
EXPOFRUIT
Organizada pelo Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio
Grande do Norte (Coex), com
apoio do Sebrae-RN, a Feira Internacional de Fruticultura Tropical Irrigada - Expofruit, vem crescendo aproximadamente 30% ao
ano. O evento reúne na cidade
de Mossoró-RN - grande pólo
produtor de melão e melancia produtores, exportadores, fornecedores de produtos e importadores internacionais. A feira, que
tradicionalmente acontece no
mês de outubro, a partir de 2008,
será realizada nos dias 5, 6 e 7
de junho, para atender as necessidades dos produtores. De acordo
com o organizador da Expofruit e
presidente do Coex, Francisco
Cipriano de Paula Segundo, “há
tempo que os produtores e parceiros vêm solicitando esta mudança. O motivo é justamente em
virtude do fechamento dos negócios que normalmente acontecem
no primeiro semestre, isto é, antes do início do plantio do melão. Vimos neste período uma
boa forma de incrementarmos na
feira todas as negociações relacionadas a produção do melão”.
Durante a Expofruit foi apresentada a Produção Agroecológica Integrada Sustentável, PAIS,
uma nova tecnologia social voltada para agricultura familiar. “O
modelo busca, além de diversificar a produção e racionalizar os
recursos hídricos, reduzir a dependência de insumos vindos fora
da propriedade e alcançar a
sustentabilidade em pequenas
propriedades”, explicou Segundo.
O organizador da feira acrescenta “sentimos que era hora de integrarmos a agricultura familiar na
Expofruit e a forma encontrada foi
mostrar um sistema de plantio
todo voltado para agricultura familiar fazendo todas as clínicas
tecnológicas no próprio local”.
40
CARAVANA DA FRUTA
CONTINUA VIAGEM
A Caravana da Fruta continuou
sua viagem pelas regiões de
Araraquara, Campinas e Presidente Prudente, estado de São
Paulo, atingindo diretamente
260 produtores de limão Tahiti,
manga, goiaba, acerola e figo,
quando interagiram com pesquisadores, técnicos e consultores das áreas de irrigação, manejo, associativismo, agroindustrialização, mercado nacional e
internacional, logística e
agroquímicos.
Segundo os gestores regionais
do Sebrae-SP, a Caravana da Fruta teve grande aceitação pelos
produtores. A gestora dos projetos de fruticultura do escritório regional de Presidente Prudente, Fabíola Néias, acredita
que “a Caravana da Fruta está
conseguindo disponibilizar informações relevantes sobre mercado e tecnologia para os
produtores”. Ela acrescenta
que “sem a Caravana, fruto da
parceria Ibraf e Sebrae-SP, não
conseguiríamos trazer os pales-
Produtores participaram da
Caravana da Fruta, que visitou
mais três regiões paulistas
trantes para a região”. Marcos
Mange, gestor de projeto na região
Sudeste Paulista – base Campinas,
destaca que “a Caravana da Fruta
cumpre as expectativas dos próprios produtores, já que os assuntos
são propostos por eles mesmos”.
A consultora do Escritório Regional de Araraquara, Isley Gianetti
Napolitano, espera que “o produtor aplique esses conhecimentos no
campo melhorando a qualidade de
seu produto para a sua comercialização, tanto no mercado interno quanto no externo”.
ITÁLIA PROVA SABOR DAS
FRUTAS BRASILEIRAS
Ações de degustação para promover o melão brasileiro foram realizadas na Itália em 23 lojas das redes Auchan, Carrefour e Conad nas
cidades de Roma, Milão e Bologna
em novembro. Esta ação foi realizada pelo Comitê Executivo de
Fitossanidade (Coex) e empresários brasileiros de melão em parceria
com o Instituto Brasileiro de FruItalianos degustaram melão brasileiro
tas (Ibraf) e a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). A iniciativa é fruto
do programa de promoção das frutas brasileiras no Exterior, Brazilian
Fruit, que visa promover as frutas brasileiras e seus derivados por meio
de ações de degustação, participação em feiras internacionais, encontro
de negócios com importadores, entre outras.
ARTIGO TÉCNICO
RESPOSTA DA GOIABEIRA À
CALAGEM
Pesquisa conduzida durante sete anos aponta benefícios da
correção do solo com calcário na produtividade do pomar e na
qualidade dos frutos, propiciando menor perda de peso de
matéria fresca e maior firmeza das goiabas
Foto e texto: William Natale (Unesp)
O Brasil, comparativamente a outras regiões do
mundo, apresenta características de solo, clima, disponibilidade de água e diversidade de espécies frutíferas
que dotam o País de condições privilegiadas para se
tornar um pólo produtor e exportador de frutas de
grande potencialidade.
Desde há muito tempo, porém, há carência de informações sobre aspectos ligados ao manejo da fertilidade do solo, de insumos e da exigência nutricional
das plantas frutíferas, impedindo que o Brasil se destaque nessa área do agronegócio.
O aspecto nutricional é particularmente importante
para os frutos, visto a influência que os elementos minerais exercem sobre sua qualidade, requisito imprescindível à exportação. O consumo de frutas in natura e de
seus sucos naturais é uma tendência mundial crescente,
devendo ser aproveitada como incentivo para a produção de frutas de qualidade.
Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de frutas tropicais e subtropicais, o Brasil tem baixa
produtividade e suas exportações são pequenas, quando comparadas às de países nos quais a atividade tem
tradição. Dentre os vários fatores que contribuem para
esse quadro pode-se destacar o mau uso das técnicas
de manejo do solo, da planta e do ambiente.
A goiaba é a mais brasileira das frutas tropicais, apesar de não haver consenso entre os pesquisadores sobre a localização exata de seu centro de origem na
América Tropical. É apreciada pelo seu aroma e sabor
característicos, além do alto valor alimentício, sendo
uma das frutas mais consumidas no Brasil. A goiaba é
considerada uma das mais completas e equilibradas frutas no que diz respeito ao valor nutritivo, destacandose os teores de proteínas, fibras, açúcares totais, cál-
Calagem aumenta qualidade
das goiabas, aumentando
cio, fósforo e potássio, além das
durabilidade
pós-colheita
vitaminas A e C. Estudos mais recentes acrescentam um elemento
fundamental às propriedades nutricionais da goiaba vermelha: o licopeno, um carotenóide que confere a cor
vermelha à polpa, presente em elevados níveis na goiaba. Esse composto é um poderoso antioxidante que
mantém as células jovens por mais tempo, prevenindo
vários tipos de câncer e doenças degenerativas. Há até
pouco tempo, o alimento citado como fonte de licopeno
era o tomate, mas a goiaba vermelha oferece aproximadamente o dobro dos valores observados no tomate.
MOTIVOS PARA CUIDAR
DO SOLO
Dentre os aspectos que determinam o sucesso da
atividade na área de fruticultura estão as características
41
ARTIGO TÉCNICO
dos solos onde os pomares serão implantados. Os solos das regiões tropicais do mundo, incluindo aí a maior parte do Brasil, sofreram intenso desgaste durante
seu processo de formação, em virtude do intemperismo
a que foram submetidos. Assim, os solos brasileiros,
em geral, apresentam elevada acidez, altas concentrações de alumínio (tóxico), além de pequena disponibilidade de nutrientes, sendo considerados pobres quimicamente, ou seja, de baixa fertilidade. Estas são as
principais razões para que se faça calagem e adubação
dos pomares, visto que as frutíferas permanecem longos períodos explorando praticamente o mesmo volume de solo, motivo pelo qual o ambiente radicular, em
especial com respeito à acidez, merece a máxima atenção. Apesar dessa importância, existem poucas informações sobre a prática da calagem na fruticultura e, no
caso da goiabeira, não há experimentação, especialmente na fase de implantação dos pomares. Há consenso, porém, de que o momento do plantio é a melhor oportunidade de adequar o ambiente radicular para
as mudas que ali começarão a se desenvolver e que
seu pleno estabelecimento tem relação direta com as
condições iniciais do solo.
A agricultura moderna, produtiva, incluída aí a fruticultura, não pode prescindir de insumos, como calcário
e fertilizante, visto as grandes quantidades de nutrientes que são imobilizados pela parte vegetativa das plantas
ou exportados do pomar com a retirada dos frutos a
cada safra. Porém, antes de pensar em adubar, é preciso fazer calagem para diminuir os efeitos prejudiciais
da acidez do solo que inibe o crescimento das árvores.
sa agronômica é conciliar os interesses da produtividade agrícola, sem agredir o ambiente. Assim, doses, épocas e modos de aplicação de corretivos e fertilizantes
devem ser melhor estudados, tomando por base vários
aspectos, como a fertilidade do solo, as reais necessidades da planta e a cinética de absorção dos nutrientes.
Considerando os aspectos anteriormente abordados e a ausência de experimentação que demonstrasse
a resposta da goiabeira à calagem, realizou-se a pesquisa que passa a ser descrita.
RESULTADOS MENSURADOS
Utilizando doses crescentes de calcário na implantação de um pomar de goiabeiras com a cultivar Paluma,
conduziu-se pesquisa de campo entre 1999 e 2006 na
Unesp-Jaboticabal, financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os resultados indicaram alterações químicas favoráveis no
solo (Figura 1), com reflexos positivos na produção de
goiabas (Figura 2), em função da correção da acidez.
Em virtude do efeito residual, os benefícios da calagem
se mantiveram por até 3-4 anos. Por esse motivo, a
aplicação de calcário é considerada um investimento
agrícola, devendo ser amortizada a longo prazo. A pesquisa indicou, ainda, que a maior produtividade de frutos das goiabeiras esteve associada ao pH entre 5,0 e
5,5 (saturação por bases do solo de cerca de 50%60%) e a teores foliares de cálcio e magnésio de 8,9 e
2,5 g kg-1, respectivamente.
BENEFÍCIOS DA CALAGEM
A calagem, quando o pH do solo é baixo, é a prática agrícola que mais contribui para o rápido estabelecimento do pomar e para a precocidade da produção de
frutos. Isto porque as raízes não se desenvolvem adequadamente em solos muito ácidos, especialmente
devido à toxicidade de alumínio e à deficiência de cálcio e/ou magnésio. A prática da calagem aumenta a eficiência no aproveitamento dos nutrientes e tem como
conseqüência o uso racional de fertilizantes, melhorando a relação benefício/custo por meio do incremento
da produtividade. Devido ao baixo preço dos corretivos pode-se afirmar que, quando há necessidade, a
calagem é o investimento que maior retorno econômico dá ao produtor rural, quando comparada às outras
práticas agrícolas, como irrigação, controle de pragas e
doenças, aplicação de herbicidas e até mesmo adubação. Além disso, os benefícios da calagem perduram
para além de um ano ou de uma safra agrícola. Apesar
de compensar do ponto de vista econômico, a calagem
não é suficientemente utilizada pelos produtores.
Atualmente, um dos principais objetivos da pesqui42
Considerando os valores de pH e saturação por bases acima indicados como ideais para a goiabeira, verifica-se que a calagem realizada em 1999 foi capaz de
manter esses valores por 30 meses (na dose 5,56 t ha-1)
e 40 meses (na dose 7,41 t ha -1). Fica demonstrado,
desse modo, o efeito residual do calcário ao longo do
tempo, constatando-se que aplicações de doses mais
elevadas de corretivo podem estender os benefícios
ARTIGO TÉCNICO
da calagem por vários anos após a implantação dos
pomares de frutíferas.
Com relação à produtividade, observa-se que, independentemente da dose de calcário aplicada, há aumento da quantidade de frutos produzidos. Isso se deve,
em parte, ao desenvolvimento das plantas que, a partir
de sua instalação no campo (1999), ganharam corpo,
com aumento do diâmetro do tronco, altura, volume
da copa e, conseqüentemente, elevação de sua capacidade produtiva.
Além desse aspecto, fica evidente a contribuição das
diferentes doses de calcário para a elevação da produção de frutos, quando se observa a Figura 2, que mostra o efeito de cada dose de calcário nas diversas safras.
A pesquisa mostrou, ainda, que a calagem, além de
elevar os teores de cálcio no solo do pomar e nas plantas, afetou a qualidade dos frutos, propiciando menor
perda de peso de matéria fresca e maior firmeza das
goiabas. Assim, a nutrição adequada das goiabeiras em
cálcio (fornecido via calagem) melhorou a qualidade dos
frutos, com benefícios crescentes para a pós-colheita
ao longo do período de armazenamento das goiabas.
William Natale
Professor Adjunto do Departamento de Solos e Adubos
Universidade Estadual Paulista - Unesp – Campus Jaboticabal
E-mail: [email protected]
artigos técnicos podem ser enviados para [email protected]
43
CAMPO E CULTURA
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MANUAL
HORTIFRUTÍCOLA
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Visando conscientizar e uniformizar os critérios a serem seguidos na fabricação, controle
de qualidade e na utilização da
embalagem hortifrutícola, a
Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO) lançou o
Manual Hortifrutícola para
atender às necessidades do
mercado, oferecendo ao usuário uma embalagem
adequada para preservar a qualidade dos produtos
hortifrutícolas até o consumidor final.
O manual apresenta as exigências governamentais
quanto ao dimensionamento das embalagens e
informações sobre os produtos embalados, além de
padronizar as dimensões, visando à utilização do
palete 1000x1200 mm para o armazenamento e
transporte das embalagens.
○
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Editora: FNP
Páginas: 504
Preço: R$ 386,00 + frete
Onde Encontrar: www.fnp.com.br
Telefone: (11) 4504-1414
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O Agrianual 2008, além dos
artigos técnicos, traz planilhas
de custo de várias culturas,
bem como as estatísticas da
agricultura. O mercado de
terras também é analisado em
profundidade, com destaque
para as dez regiões de maior
potencial de valorização.
Os danos causados ao ambiente exigem a adoção de
conceitos antes vistos somente na chamada agricultura
alternativa. A sustentabilidade é um desses. O Agrianual
2008 traz um oportuno artigo sobre a análise
“energética”, cumprindo com o compromisso de oferecer
informações de mais um momento histórico do
agronegócio mundial.
A publicação é fonte de consulta para todos os
profissionais ligados ao campo, seja na agroindústria,
na logística, na pesquisa, na academia, no setor
financeiro ou no governo.
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AGRIANUAL
2008
Autores: Grupo de Trabalho (GT1) Normas técnicas
da ABPO
Editora: ABPO
Páginas: 24
Preço: R$ 20,00 (para não associados) + despesas
de envio
Onde encontrar: www.abpo.org.br
Telefone: (11) 3831-9844
MANUAL DE PROCESSAMENTO MÍNIMO
DE FRUTAS E HORTALIÇAS
Para os interessados em aprender mais sobre as tecnologias de processamento de frutas
e hortaliças, o livro “Manual de Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças” apresenta,
em três partes e 27 capítulos, as diferentes técnicas empregadas nesse tipo de produção.
Na publicação, lançada pela Embrapa e Sebrae, são detalhados aspectos relevantes,
como alterações metabólicas, uso adequado de embalagens, higiene e sanificação,
segurança do alimento, comercialização e projetos de agroindústrias de processamento
mínimo. O livro apresenta sete frutas e 12 hortaliças, das quais é possível conhecer a
fundo a técnica de processamento mínimo. Quarenta e dois autores, profissionais de
universidades e centros de pesquisa no Brasil, Canadá, da Espanha e dos Estados Unidos,
colaboraram para dar uma abordagem multidisciplinar ao tema. Além disso, a publicação vem encadernada com
capa dura e é ilustrada.
Autores: Vários
Editora: Embrapa e Sebrae
Páginas: 527
Preço: R$ 90,00 + despesas de envio
Contato: [email protected]
Telefone: (61) 3385-9082
44
PRODUTOS E SERVIÇOS
45
FRUTA NA MESA
Daniela Mattiaso
A manga é uma fruta cheia de história, desde
sua origem até sua introdução no Brasil. O pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Francisco Pinheiro
Lima Neto, conta que “a mangueira (Mangifera indica) é originária do Sudeste Asiático, especificamente da Índia, mas durante o processo de evolução da espécie, dois grandes grupos se constituíram: o grupo indiano, cujos frutos apresentam casca
colorida - matiz avermelhado - e as sementes apresentam apenas um embrião; e o grupo filipínico,
cujos frutos apresentam casca amarelada ou
esverdeada e as sementes apresentam mais de um
embrião. Outra peculiaridade é que se reproduz
predominantemente por polinização cruzada, proporcionando naturalmente a geração de novos exemplares”. Fato que explica as diferenças e variedades de
cor, tamanho, forma e polpa (fibrosas ou não).
Os portugueses introduziram a fruta no País, no
início da colonização, no Estado da Bahia. Época da
história em que surgiu a famosa lenda sobre ingerir
manga com leite. A superstição de que consumir
os dois alimentos juntos faria mal - e até mataria se difundiu tanto, que muita gente ainda hoje evita
o consumo, apesar de não ter nenhum
embasamento científico. Historiadores afirmam que
a crendice foi criada na época da escravidão, quando a última refeição dos escravos era apenas um
copo de leite e, para reforçar a alimentação, muitos pegavam manga para comer junto. Para não ter
prejuízos, os senhores de escravos espalharam o
boato pelas fazendas.
As principais áreas cultivadas no Brasil são o Vale
do São Francisco e Livramento de Nossa Senhora,
na Bahia, e a região dos municípios de Monte Alto
e Taquaritinga, em São Paulo. Segundo Lima Neto,
o País exporta mais de 110 mil toneladas, principalmente para Europa e Estados Unidos. A produção
nacional gira em torno de 1 milhão de toneladas
(IBGE/2005). “A manga apresenta elevado teor de
açúcares e baixo teor de acidez. Possui vitaminas A e
C, carotenóides, fibras e minerais como cálcio e potássio. Além das propriedades medicinais - laxativas,
diuréticas e revitalizantes”, afirma o pesquisador.
46
RECEITAS DO PRODUTOR
FRANKLIN CORREIA SOBRINHO
SALADA DE MANGA
Ingredientes: 1 manga quase madura, 1 tomate, 1
pepino, vinagre, cominho, pimenta do reino e sal.
Modo de preparo: Corte a manga em cubos,
acrescente o tomate e o pepino cortado em rodelas.
Tempere com vinagre, pimenta-do-reino, cominho e
sal a gosto.
MANGA SHAKE
Ingredientes: 2 bolas de sorvete de creme, 1 manga
média cortada em cubinhos, 200 ml de leite, 2 colheres (sopa) de granola, 2 colheres (sopa) de creme de
chantilly.
Modo de Preparo: Bata o sorvete, a manga e o leite
no liquidificador. Por cima, acrescente o chantilly e
polvilhe com a granola.
Dica do pr
odutor: Segundo Franklin, algumas
produtor:
variedades de manga “oxidam” e outras não. Para que o
milk shake não fique escuro, ele indica o uso das
variedades Keit e Bourbon na receita.
O produtor Franklin Correia Sobrinho, há 25 anos produz mangas
em sua propriedade, situada dentro do Projeto Senador Nilo Coelho,
em Petrolina, PE. São 31 hectares de manga irrigada, por micro
aspersão localizada, e quatro tipos cultivados: Tommy, Keit, Kent e
Palmer. Cerca de 80% da produção é exportada, apenas 20% ficam
para o mercado interno. Entre os países que importam sua fruta
estão Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Alemanha e outros
países da Europa. Ele acredita que a região Nordeste é a ideal para
a manga. “O sol garante uma fruta muito doce e colorida. Além
disso, o número de horas com luminosidade por dia e a alta
tecnologia facilitam o cultivo durante o ano todo. Quando há falta
nos demais países, sempre podemos fornecer.”