Nota Introdutória - Escola Secundária de Camões
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Nota Introdutória - Escola Secundária de Camões
Ficha técnica Organização Lídia Teixeira Teresa Saborida Autoria Duarte Bénard da Costa – 11º L; Joana Rato – 11º L; Adriana Jorge – 12º E; Catarina Letria – 12º L; Maria Beatriz Viana – 12º L; Cláudia Cerqueira – 11º A; Joana Carvalhinho – 12º L; Joana Rocha – 10º B; João Ferreira – 12º J; Luís Tojo – 10º L; Nuno Martim Gonçalves – 12º L; Samuel Duarte – 12º L; Tiago Farinha – 10º C Edição Escola Secundária de Camões 10ª edição abril 2015 Disponível em http://www.escamoes.pt/ebook/#%21/page_SOLUTIONS Copyright Escola Secundária de Camões Capa Lino Neves i Índice Ficha técnica ....................................................................................................... i Índice ................................................................................................................... ii Índice de Autores ............................................................................................... iii Nota Introdutória ................................................................................................. 1 1º Prémio ............................................................................................................ 2 2º Prémio ............................................................................................................ 4 3º Prémio ............................................................................................................ 6 Menção Honrosa ................................................................................................ 7 Menção Honrosa ................................................................................................ 8 Oh, Divinas Senhoras......................................................................................... 9 Pelo Tejo vai-se para o mundo ......................................................................... 10 O rio que vive ................................................................................................... 11 Acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo… ................................................. 13 Procuro-te no Tejo ............................................................................................ 14 Tejo, leva-me contigo ....................................................................................... 16 Incertezas ......................................................................................................... 18 Neste rio de lágrimas........................................................................................ 20 Pelo Tejo vai-se para o mundo ......................................................................... 21 Abraço o todo sem querer ................................................................................ 22 Manhã no Teu Negro Mar de A(s)trofios .......................................................... 23 Elogio ............................................................................................................... 27 Uma praia à beira do rio Tejo ........................................................................... 28 À entrada do cabo ............................................................................................ 30 Cais Gás(*) ....................................................................................................... 32 Outro dia se estende no horizonte ................................................................... 34 Dizem que de lá se vai para o mundo .............................................................. 36 Vejo-o quando amanhece ................................................................................ 37 ii Índice de Autores Duarte Bénard da Costa - 11º L ......................................................................... 2 Joana Rato - 11º L.............................................................................................. 4 Adriana Jorge - 12º E ......................................................................................... 6 Catarina Letria - 12º L ........................................................................................ 7 Maria Beatriz Viana - 12º L ................................................................................. 8 Adriana Jorge - 12º E ......................................................................................... 9 Catarina Letria – 12º L...................................................................................... 10 Cláudia Cerqueira - 11º A................................................................................. 11 Duarte Bénard da Costa - 11º L ....................................................................... 13 Joana Carvalhinho – 12º L ............................................................................... 14 Joana Carvalhinho – 12º L ............................................................................... 16 Joana Rato - 11º L............................................................................................ 18 Joana Rocha - 10º B ........................................................................................ 20 Joana Rocha - 10º B ........................................................................................ 21 João Ferreira – 12º J ........................................................................................ 22 Luís Tojo – 10º L .............................................................................................. 23 Maria Beatriz Viana – 12º L .............................................................................. 27 Matilde Sousa de Fonseca – 11º C .................................................................. 28 Nuno Martim Gonçalves – 12º L ....................................................................... 30 Pedro Freire de Castro – 11º J ......................................................................... 32 Samuel Duarte – 12º L ..................................................................................... 34 Tiago Farinha – 10º C ...................................................................................... 36 Tiago Farinha – 10º C ...................................................................................... 37 iii Nota Introdutória Esta 10ª edição do Concurso Literário Camões vem mais uma vez provar que a escola tem cumprido um dos seus objetivos, o de estimular, junto dos alunos, as capacidades criativas de leitura e de escrita. Nesta edição, regista-se uma participação assídua e empenhada dos alunos que responderam ao desafio lançado. Acresce o facto de, este ano, o número de textos a concurso ter aumentado em relação a edições anteriores, provando que, como nos diz o poeta, tem valido a pena, porque a “alma” dos alunos tem correspondido. A todos os seus autores, por igual, a nossa gratidão. Sentimento que tornamos extensivo a quantos, formal ou informalmente, colaboraram e tornaram possível esta iniciativa. Lídia Teixeira Teresa Saborida A comissão organizadora (abril 2015) _______________________________ Nesta coletânea são reproduzidos todos os textos apresentados a concurso e considerados válidos pelos júris – em primeiro lugar, os textos premiados e, em seguida, os restantes, ordenados por ordem alfabética do nome dos seus autores. 1 1º Prémio Duarte Bénard da Costa - 11º L levados numa barcaça rio acima com silêncio olhávamos o crepitar da cidade não era precisa a luz das tochas já tão alto acordavam as chamas iluminavam a nossa subida já tão altas o barqueiro insistia contra o curso das águas o tejo precipitava-se em auxílio à cidade na tentativa de extinguir o fogo e se aquecer as ondas abatiam-se sobre as labaredas como os ramos de um chorão se inclinam à fogueira e estremecem saudávamos os murmúrios do rio conscientes que corriam à fonte da nossa fuga 2 a barcaça atracou e deixámos o barqueiro que roubara as nossas moedas ao fogo e no-las cobrara súbito descemos pelo solo a uma estrada acampados vimos o barqueiro voltar ir e voltar sempre continuámos a pé na margem percorremos o bulício do rio que cantava o calor das chamas deitámo-nos os rumores subiam o rio amanhecia e subiam ainda contando o reconforto a extinção das labaredas e da cidade pensámo-nos um chorão de ramagens inclinadas sobre a fogueira tacteantes pelo alívio das chamas 3 2º Prémio Quo vadis? Joana Rato - 11º L por vezes atravesso o rio sem olhar para trás. é um remorso constante abandonar a pátria sem sequer agradecer aos solos que outrora fecundaram partir, escrava do esquecimento, (o absurdo olvidar de uma manhã em que o Céu me foge) o ritmo compassado das marés e os rumos incertos, sempre incertos. sôfrega vivo eu! o Tejo é meu pai e minha musa, desejo outra vez abúlico, agora perene; Eu sou a chuva. não olho para trás; 4 sei da bonança que me espera não hesito nunca! decerto novos rostos se afigurarão no meu regaço e quando chegar, venturosa, sedenta, - porque um só rio não embala a sede incerta – será o dilúvio! Venham marés, torpedos, ergam-se as montanhas! esconda-se o sol! brilhem os espelhos! e que todo o mundo me cante, num coro infame, sempre submisso, e me coroe rei dos Rios e das Mulheres! 5 3º Prémio Adriana Jorge - 12º E E olho Mergulho Mais fundo Abismo E olho E sonho Mais alto Sorriso E olho Viajo Mais longe Saudade E olho E crio Meu mundo Loucura E olho Navego Meu rio Verdade E olho Meu Tejo Meu sangue Vontade 6 Menção Honrosa Catarina Letria - 12º L [Exemplo de Littérature Définitionnelle, segundo OuLiPo] Pelo Tejo vai-se para o Mundo Pelo Tejo é-se levado para o conjunto de espaço corpos seres que a vista pode abranger Pelo Tejo é-se arrastado para a reunião das partes que constituem um todo de extensão indefinida porções distintas de matéria aquilo ou aqueles que são e que o órgão visual tem a faculdade de abraçar 7 Menção Honrosa Maria Beatriz Viana - 12º L « [...]as pontes semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, cintilantes ao sol com um fulgor de facas[...] » (Marinetti) Para que um dia sejas pleno: um Rio fluente e capaz de conduzir o que não quer guia, Põe as pontes resplandecentes que te trespassam como facas em terra e Transborda de Esperança as almas inquietas. Sê, Tejo, como o Mississippi um misi-ziibi. E leva para o kósmos aqueles que em ti depositam seu entusiasmo. 8 Oh, Divinas Senhoras Adriana Jorge - 12º E Oh, Divinas Senhoras! Tantos antes de mim Vos pediram inspiração, Mas a vós apelo agora Para minha salvação. Oh, Belas Tágides! A vós imploro, suplico. Tanta dor, tanta desgraça Ajudai-me nesta loucura Que me toma, que me abraça. Oh, Ninfas do meu rio! Rogo-vos, levai-me convosco. Foi tudo o que sempre quis, Encontrar outro lugar Onde pudesse ser feliz. Oh, Deusas deste Tejo! Deixai meu corpo afundar, Mas salvai minha alma Ao ritmo das marés, Eternamente, a navegar. 9 Pelo Tejo vai-se para o mundo Catarina Letria – 12º L Pelo Tejo vai-se para o Mundo Pelo Tejo se vai para o Mundo Pelo Tejo para o Mundo se vai Se vai para o Mundo pelo Tejo Se vai pelo Tejo para o Mundo Para o Mundo se vai pelo Tejo Tejo pelo Mundo para o se vai Poema mais subordinado não podia ser. 10 O rio que vive Cláudia Cerqueira - 11º A O Tejo vai correndo E os navios vão flutuando As gaivotas vão voando E os carros atravessando (a ponte) Um Rio pode levar-te a muitos lugares Mas o Tejo é especial… Desce um pouco, estás em África, encontras ouro, és português Continuas a viagem para o lado, chegas à Índia, encontras especiarias, és português Sobes um pouco, chegas à China, encontras pérolas, és português Viajas para oeste, encontras a América, os diamantes, és português Vais para o mundo, és português… O Tejo é um mar de possibilidades Nele, podes encontrar um mundo submarino A escuridão eterna Ou, mesmo, o infinito. É inspiração para poetas É nostalgia para depressivos É romântico para apaixonados É solidão para solitários As águas cristalinas do Rio Refletem a beleza do céu Refletem a pureza do Sol Refletem a sombra dos grandiosos navios E refletem a beleza do teu mundo,,, 11 O rio Tejo é o espelho da alme de Lisboa Ouve o fado Saboreia o vinho E observa o Castelo no seu trono altivo, Depois, à noite, no final do seu percurso Observa as luzes dos anjos Vê as luzes humanas E adormece, para nunca mais correr… 12 Acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo… Duarte Bénard da Costa - 11º L acordei e vivia no banco ainda junto ao tejo. enquanto o dia era eu ia com as marés do rio e vinha depois descia às águas contemplava. à noite fazia por suar num gesto de purificação do homem durante uns momentos o tejo viveu à minha beira eu tive morada no banco junto ao rio e muita gente passou por porque as pessoas passavam de dia para dia mergulhava-me no cerne do rio abeirado à noite era ininterrupto o olhar. atravessava oceanos ocupava uma parte imóvel do rio e reconhecia-me tépido madrugada falam-me uns. levam-me para um. quarto com cama sem rio. rebolei e morri-me até que me reencontraram não-vivo para me lançarem ao rio éramos ainda amigos mas perdera o banco. e as noites de viagem os longos bafos de nevoeiro a madrugada no regresso de todos os dias. o rio cessara-me o seu curso (...) águas movediças (...) deixava boiar-me olhava o banco ia pela corrente. fui-me em viagem ao serágua. segui as veredas do rio até ao profundo e diminui até ser tejo e recuperar-me o curso e as noites 13 Procuro-te no Tejo Joana Carvalhinho – 12º L Quando era criança, sempre me foi dito: Tudo o que o vento leva, com o seu sopro volve. Tudo o que o Tejo leva, com as suas ondas volve. Assim, sempre que algo perdia, Sentava-me junto ao Tejo, esperando que me devolvesse Quanto me tinha roubado. Também a ti te procurei de volta no Tejo. Talvez as ondas te devolvessem, E tu viesses ao encontro de mim. A felicidade é uma estrela inatingível. Até lá me conduziste tu, de mãos dadas. Hoje, sem ti e sem ninguém, Retorno eu, de mãos vazias. Quantas coisas belas me disseste! Quando as recordo, esboço um enorme sorriso. E é nesse sorriso que cabe toda a minha infelicidade. Talvez um dia voltes, O nosso amor era eterno, Mas a esperança é eterna no seu vício. 14 E então, quando a Terra for consumida em chamas, Quando a Terra for engolida pelo mar, O nosso amor será eterno? 15 Tejo, leva-me contigo Joana Carvalhinho – 12º L Tu, que viajas pelo Mundo! Oh Tejo, leva-me contigo! Tento enlaçar as minhas mãos nas tuas ondas Mas a água escorre-me pela palma da mão. Sacia-me esta sede... Esta sede de Liberdade! Poder beber a tua água, Viajar nas tuas ondas! Quero ver aquilo que contemplas, Sentir esses odores que desconheço, Quero unir-me a ti E sentir que somos um só. Mas As tuas ondas vão, partem, E eu aqui me conservo, expectante, Esperando o teu regresso, Aguardando notícias tuas. Não somos idênticos. Somos substâncias diferentes, 16 Compostos de uma matéria Que não é igual. Tu vais, eu fico. Eu fico, tu vais. Por onde andas? Não fujas de mim assim. Oh, como és livre, Tejo! Leva-me contigo, Vamos passear. 17 Incertezas Joana Rato - 11º L Ao anoitecer gelado um impulso de ti o Tejo corre à minha frente sem fim estou incerta do seu rumo; tudo o que sei é que o Tejo corre e apanha o ritmo das marés (esta única certeza possui-me) os barcos percorrem o rio percorrem o Tejo as janelas abrem-se o sol acorda o mundo desperta! os barcos! os barcos! os barcos! para quê para que terra vamos nós estou em mim onde a frescura sempre aquece 18 e o vento sempre mente, baixinho.... o Céu foge-me das mãos porque esverdeia consomem-me as certezas e as incertezas de um mundo infeliz. 19 Neste rio de lágrimas Joana Rocha - 10º B Este Tejo de arrependimentos No qual as minhas palavras se afundam Deixo as minhas preces de amarguras A cargo dos meus pobres versos. Sítio mais belo Onde todos os corações desesperam Já por aqui passaram todos os grandes Que nesta História permaneceram. Minhas palavras desvaneceram, E esse rio mais puro se tornou Não quero mais nenhum lugar Senão aquele porto que lá ficou. Naquela maré Toda a minha vida se contou Já não há mais poeta Nesta alma de tanta dor. 20 Pelo Tejo vai-se para o mundo Joana Rocha - 10º B Neste mundo perdido Corre um rio que já encantou, Corre um rio que já maravilhou, Corre a alma de cem esperanças Escondidas nessas águas de boas aventuranças. Neste Tejo tão só Contam-se mil histórias, Que mais tarde Vingaram mil vitórias! Neste rei emproado De tantas ousadias, Há um mundo atordoado Que procura viver as suas fantasias. Há ainda quem ache Que Pelo Tejo vai-se para o mundo Mas na realidade já ninguém vive Nesse sonho profundo! 21 Abraço o todo sem querer João Ferreira – 12º J Abraço o todo sem querer Avanço e recuo no espaçamento rugoso Que é o tempo, a dançar, Estrangulo o fraco e tímido nodoso, Impossível não, é só o desaguar. Vera Cruz passou. Disse-te adeus, Continuo ali, sentado ao lado Das duas colunas indicadas a Deus. Desejo a tua felicidade, de como és beijado! Oh! Do Reino Ibérico fazes plebeus! Na tua frente estão unidos, sem medo. Os escravos estendidos e os senhores – Das colónias tudo trazem – tristeza cedo. Diamante bruto, água pura sem horrores. Amigo nada efémero de choro ledo… O infante está no cimo perante o ouro. Rio abençoado pelos braços da paz, Da fábrica da luz, no escoadouro. Pontes e fragatas contemplam-te, rapaz! Tu, camarote do mundo de eterno namoro. 22 Manhã no Teu Negro Mar de A(s)trofios Luís Tojo – 10º L A Introdução Nunca sei por onde começar… E perco-me muitas vezes nas conclusões A que acabo por chegar. São demasiadas linhas de pensamento, Sou um novelo enrolado para dentro E escrever, para mim, É um bocado como tricotar. É estar com o meu gato a brincar. Nem que sejam só estas rimas tolas que aqui estão Para rimar, por rimar. É confundir o pensar de quem tenta decifrar O que escrever é realmente para mim. Mas quem é que quer ou precisa de saber? Isto está escrito só porque sim, E até que me dá prazer… E esta merda toda está escrita só para mim! É a minha diarreia mental, emocional, psicológica, Do Bem, do Mal, ilógica, Racional, lógica, sensacional (irracional), Fundamentada, fumada, fundamental, Do Tudo, do Nada, Criativa, e como a maioria dos objetos, Pouco objetiva, sem sentido, Como está a minha vida, que vou retratando nestes Dejetos de poesia sentida, fruto da minha imaginação. 23 Simbiose O teu olhar pérfido e perturbador, És um reflexo, um fantasma, é tua, a minha dor. Foram aos Cabos das Tormentas Foram aos Cabos das Tormentas E tiraram-lhes o Cobre, Por eu ainda (me) Ser, És horrível, mas nobre. Não é misericórdia; não deixas de ser perigoso; Oh! Tu que és vários e tantos, és todos os outros! Oprimido pelo teu escárnio e perseguição, A minha Natureza, a tua maldição, Paranóia em pânico, minha própria inquisição, Toda na teoria, Sobre grande conspiração que alimentas freneticamente; Oh! O teu olhar pérfido, o teu traço demente… O meu Ser sufocado, o meu Ser consciente… Os teus mecanismos, como te estimas, Como (me) controlas, Como rimas, A tristeza com que sentes! Os teus olhos fundos … Nunca justos ou clementes. Apêndice da Simbiose Condenado a vaguear pelas marés vastas, Nefastas, Dos fios de esparguete, neste Mar de Solidão, Vejo-vos todos a desvanecer Com uma efervescência subjetiva, axiológica, Nem todos em vão; Um a um, no lento desaparecer De uma ideia ilógica, 24 Reflexo da minha, da tua maldição “Bendita” pelo seu motivo, O pensar, emotivo, De uma firme e sádica aparição. A Sombra que me persegue para onde navego, Assombra-me e esconde-me o Para onde quero ir; Desmotivado, Pelo Tudo, pelo Nada, A vontade (in)cessante de partir. Português e Café (II) O pacote de açúcar inteiro… Um cigarro e dois dedos de conversa. Nesta mesa não há cinzeiro, E pouco ou nada me interessa. Só o Tejo Faz a minha manhã parecer menos Submersa. Português e Café (I) “ Os putos querem carne e Coca-cola! “ As Águas que Não Voltam Como desaparecem os pontos negros, Das faces brancas do meu quarto? Deformo feições com mil e um golpes, 25 Arrastas-me pelos teus salões, Atrelado. Ensinas-me a observar, atentamente, Realmente cruel, Transversal ao meu Ser, ao meu Estar, Desnecessariamente fiel. Não me levas de volta …? Para onde e quando a minha pessoa, A sítio algum pertencia… Para a minha inocente mentalidade sandia, Repetidamente, corrigida, repetidamente; A Besta dormia. Nada era só, Tudo era somente. Pedras ao Rio Almôndegas, caneca, putas, cães, meio-cheio, ração, Síndrome, pernas, curtas, pães, atordoado, sem razão, Interações, iogurte, mão para cima, meio-vazio, transcrição, Bilhete, desodorizante, mancha, pêndulo, no chão, Há flores, tudo brilha, fedor nojento, pacote de sumo, travessão Pedra, pedregulho, abananado, Parvo, pardo, não estou sóbrio ou pedrado, Minimamente regado, Tudo é confuso, Tudo é gado! 26 Elogio Maria Beatriz Viana – 12º L Ergam-se! Deixem o ar percorrer os vossos troncos, E a brisa fazer surgir as vossas pétalas. Deixem a chuva para trás, já que ela não pode fazer nada, mesmo que o inverno persista. Afastem as nuvens: deixem avançar o Sol e deixem-se arrebatar pela sua luz, sejam dignos de tal fulgor. Deixem-se entusiasmar com este clamor que surge do horizonte. E deixem a fonte do mais belo rio correr. Deixem que ele vos inunde de clareza, de frescura, de luz. Deixem que ele inunde tudo. Deixem que o seu curso seja o vosso caminho, permitam que ele vos conduza. Deixem que ele seja o vosso alicerce e deixem que ele vos arraste para a vida. Deixem que a sua água passe a ser apenas vossa, ou então deixem-se confundir para serem apenas um; para que juntos sejam um rio. 27 Uma praia à beira do rio Tejo Matilde Sousa de Fonseca – 11º C Uma praia à beira do rio Tejo A luz da sua lua nas águas vejo. A areia virgem, nua e despida Dançando com a brisa de verão. Bela paisagem, parece ter vida Confidente desta minha paixão. Pouco antes nas águas me banhara E a minha pele ainda não secara. As gotas escorriam do cabelo Ao longo da curvatura das costas Do incompleto nu este apelo Chamando a figura sua oposta. E ele chega caminhando, ligeiro, Sobre a areia. Um sorriso matreiro O seu rosto sensual ilumina. Como eu amo o homem que tenho em frente O brilho dos seus olhos me fascina Nossos lábios se unem num beijo ardente. Envolve-me nos seus fortes braços Movemo-nos em breves compassos Sentimos o corpo contra o corpo 28 Sentimos a pele contra a pele, Seus fortes braços que dão conforto E me puxam devagar p’ra ele. Os nossos músculos contraem E em seguida descontraem Ele lambe-me o seio cálido, O meu corpo acariciando. Num ritmo cada vez mais rápido Enquanto me vai penetrando. Ondas de prazer intensas Inexprimíveis, imensas Num frémito que se funde E se espalha p’lo meu ser Um ardor que se difunde Até tudo exceder. 29 À entrada do cabo Nuno Martim Gonçalves – 12º L À entrada do cabo, Abrem-se as portas do novo flúmen navegado. Aqueles recantos que poucos veem, Margens tão belas e tão claras, Traçadas pelo definido sol quente de inverno. As asas das aves pairam nas correntes, Os barcos levam-se na maré… Recordo assim os meus tempos de passagem naquelas beiras, Onde os barcos de madeira, Atravessavam sem pé. As águas rasas e transparentes, Enchem-se de peixes voadores da imaginação. Todo o mundo via! Todo o mundo notava! Proliferando-se em agitação! Os ares... Os ares… Sempre tão puros de si próprios... Tempos esses foram outros, Livres do fumo das fabricas, Da tristeza dos escoamentos. E assim do Tejo partiu a liberdade, A vontade do homem de se querer na aventura. 30 Em busca do novo mundo, Em busca do seu direito, Em busca da sua cultura. 31 Cais Gás(*) Pedro Freire de Castro – 11º J Adjacente ao Cais do Sodré, Entre armazéns e cafés, Olhos tristes fitavam o chão. Vi Caeiro no chão gravado, Sobre o belo, ali ao lado, Tejo, o rio português. Repousei na orla de pez. Escutei a mudez do rio. Ao rio lancei a esperança, Ao rio lancei os sonhos, Ao rio lancei esta alma, Guardando só em mim a calma Que, num tom escuro de vingança, Ao atirar esta lança Ela não irá regressar, Se perca no mundo e no mar, Pelo Tejo vá para o Mundo, Mergulhe num sonho profundo, Se afogue em nada pensar. Esperança, sonhos e alma 32 Entre os dedos e a palma Lancei, não os querendo salvar. (*) Cais onde, no chão, se encontra inscrito o poema “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia” de Alberto Caeiro. 33 Outro dia se estende no horizonte Samuel Duarte – 12º L Outro dia se estende no horizonte. Alguma criação humana será comparável Ao som desta melodiosa água Que levemente se debruça neste cais, Avançando em vagas, interminável. Suspiro de contentamento. Os gritos de gaivotas, presentes no ar, Indicam que temporal há de vir, Mas de aqui não me moverei, Deste meu Tejo, que me faz suspirar. Vejo ao longe uma velha barcaça. Em criança lembro-me de navegar numa, Com meu irmão e minha irmã, Navegavamos um mar de fantasia Com piratas e tesouros e risos, olvidando-nos Que a vida era como nós: Uma criança. Saboreio nos lábios a brisa marítima. Zéfiro brinca com meus poucos e alvos cabelos. Ah, Zéfiro… Continuas imutável, Sempre com gozos e brincadeiras, 34 Perdoa-me velho companheiro, Pois agora sou do tempo uma vítima. E tu, Tejo, que lentamente passas. Viste-me crescer, comigo brincaste, Nas tuas águas banhaste, No teu íntimo me fizeste acreditar, Durante a vida me acompanhaste, E agora, num último suspiro, Me vês partir. 35 Dizem que de lá se vai para o mundo Tiago Farinha – 10º C Dizem que de lá se vai pró mundo, Mas será que devo acreditar? Sempre aqui no meu cantinho, Sem me aventurar. Sempre lá quis velejar, Sem ter de me preocupar, Andar pelo mundo fora, Sim! Está na hora. Olhava pela janela, E só pensava nela, Naquela paisagem de encantar. Falo do Tejo, Onde agora velejo, Pois finalmente tive a coragem de por lá passar. 36 Vejo-o quando amanhece Tiago Farinha – 10º C Vejo-o quando amanhece, Esse rio magnífico. Vejo-o quando anoitece, O Tejo, pacífico. Lá ao fundo, vejo a foz, E não é que oiço uma voz? É a minha amada, que me chama, A dizer que me ama, E que encontrou a terra de Oz. Dizem que pelo Tejo se vai pró mundo, Por isso olhei bem fundo, Sem nada encontrar, A não ser uma terra de embasbacar. Aqui decidimos assentar, viver e perecer, Neste mundo desconhecido, Onde havemos de ter o descanso merecido. 37