O Movimento Depois de HPB - III

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O Movimento Depois de HPB - III
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O Movimento Depois de HPB - III
Informe Especial Sobre uma
História de Traição e Lealdade no
Movimento Teosófico, em Três Partes
Um Estudante de Teosofia
PARTE TRÊS – FINAL
DOCUMENTOS CINCO e SEIS
Comentário Preliminar:
Esta é a parte três e final do Informe Especial sobre o Movimento Teosófico Depois de
Helena P. Blavatsky.
A função do Informe Especial é contribuir para que os estudantes, conhecendo a realidade,
tomem decisões corretas em relação ao caminho espiritual. A história de lealdade ou traição a
ideais elevados se desenrola em cada alma humana, como bem mostra, simbolicamente, a
obra dramática de William Shakespeare. Vistas em seu aspecto essencial, as experiências
históricas do movimento teosófico são uma fonte de lições para todo indivíduo que trabalha
por uma causa nobre.
A memória histórica é indispensável para que não se repitam, indefinidamente, os erros do
passado. Dois enganos, especialmente, devem ser evitados: A) a credulidade, e B) a
promoção e a proteção bem intencionada de mentiras em nome de um belo ideal. A teosofia
não faz pacto com a falsidade. As seguintes palavras de Mahatma Gandhi, o líder da
independência indiana, contêm uma lição valiosa para os teosofistas sinceros de Adyar:
“Eu não penso que a sra. [Annie] Besant seja uma hipócrita; ela é crédula e está sendo
enganada por [Charles] Leadbeater. Quando um inglês sugeriu que eu lesse ‘A Vida
Após a Morte’, de Leadbeater, eu disse imediatamente que não, porque já havia
suspeitado dele ao ler seus outros escritos. Quanto à fraude feita por ele, soube dela mais
tarde.” [1]
Esta advertência de Gandhi ajuda a explicar os fatos descritos nos dois artigos que se seguem.
Depois deles, este Informe termina com uma Conclusão: a Perspectiva do Futuro Saudável.
(Os Editores)
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NOTA:
[1] Mahama Gandhi, em “Collected Works of Mahatma Gandhi”, vol. X, Carta para Dr.
Pranjivan Mehta, datada de 8 de maio de 1911. O trecho é citado por Gregory Tillett em sua
obra “The Elder Brother”, Routledge & Kegan Paul, London, 1982, ver p.7.
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DOCUMENTO CINCO
De O TEOSOFISTA, Dezembro de 2008
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Uma Oportunidade Histórica: a S.T. de
Adyar Pode Rejeitar Idéias Anti-Teosóficas
Terá C.W. Leadbeater Matado
Índigenas e Negros no Brasil?
A recente eleição de um líder político mestiço para o cargo de presidente dos Estados Unidos
constitui em si mesma uma vitória. A escolha de Barack Obama não é só um avanço da causa
democrática e humanista em geral, mas traduz uma vitória específica do movimento teosófico
e esotérico. O primeiro objetivo do movimento fundado em 1875 por Helena Blavatsky é a
vivência da fraternidade universal, independentemente de raça, classe, sexo, casta ou religião.
Marcada para janeiro de 2009, a posse de Barack Obama no cargo eletivo mais importante do
mundo terá um profundo significado simbólico para os teosofistas. Mas o fato também traz
um desafio e uma oportunidade. Embora o ensinamento original e os setores autênticos do
movimento teosófico sejam claramente anti-racistas, existe um profundo desrespeito em
relação a negros e índios em alguns “best-sellers” de Charles Leadbeater, aquele que é o autor
mais importante na pseudo-teosofia da Sociedade de Adyar.
É de esperar-se que a partir da eleição de Obama os teosofistas de Adyar possam afastar-se
definitivamente das idéias racistas defendidas por seus líderes históricos. Isso é
particularmente significativo para o Brasil, um país multi-cultural e multi-racial e que define
racismo como crime. Em sua edição de dezembro de 2007, “O Teosofista” mostrou que C.W.
Leadbeater e Annie Besant expressaram em seus livros a ilusão de que os brancos são
superiores aos negros e aos indígenas. Vejamos agora, mais especificamente, o que
Leadbeater afirmou em relação ao povo brasileiro.
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No prefácio da sua obra “The Perfume of Egypt” [1] , ele escreve que “as histórias contadas
neste livro são verdadeiras”. O conto mais longo da obra descreve, sob o título “Salvo Por
Um Espírito”, as supostas experiências de C.W. Leadbeater no Brasil em torno de 1860.
Cabe, porém, perguntar: quem afirma que se trata de fato do Brasil? No texto, C.W.L. só
menciona “América do Sul”. É C. Jinarajadasa, protagonista da história e suposto irmão de
C.W. Leadbeater, quem escreve que os acontecimentos ocorreram no Brasil. Jinarajadasa
afirma:
“A história da minha prévia (e gloriosa) morte no Brasil está narrada no capítulo “Salvo Por
Um Espírito”, da obra ‘The Perfume of Egypt’, de C.W. Leadbeater.” [2].
No Brasil, a obra de Leadbeater foi publicada com o título geral de “Salvo Por um Espírito”.
Jinarajadasa acrescenta que, pouco depois de morrer como irmão biológico mais moço de
C.W.Leadbeater, ele nasceu de novo no Sri Lanka. Alguns anos mais tarde Leadbeater foi ao
Sri Lanka e o teria “reconhecido” como seu irmão em seu novo corpo.
A obra “A Gnose Cristã”, de Leadbeater, inclui uma pequena biografia do autor. Em uma
nota de pé de página para a edição brasileira da Ed. Teosófica de Adyar [3], há a afirmação,
com base em “The Theosophical Yearbook of 1937”, p. 219, de que Leadbeater veio ao
Brasil quando tinha 13 anos de idade, junto com seu pai e seu irmão Gerald. A nota
acrescenta que os acontecimentos narrados em “Salvo Por Um Espírito” ocorreram na Bahia.
A narrativa de “Salvo Por Um Espírito” é surpreendente em vários sentidos. O autor descreve
da seguinte maneira o povo brasileiro, à página 109 da edição da Ed. Pensamento:
“Primeiro, vêm os descendentes dos conquistadores espanhóis e portugueses – raça orgulhosa,
indolente, elegante e hospitaleira, de forma alguma destituída de boas qualidades, mas, ainda
assim, tendo como sua mais forte característica um imensurável desprezo (ou afetação disso)
por todas as outras raças, fossem elas quais fossem.”
Há muitos erros nestas poucas linhas. Em primeiro lugar, os espanhóis nunca foram
“conquistadores” do Brasil. Por outro lado, os povos português e espanhol não podem ser
descritos como uma “raça”. Muito menos como uma “raça indolente”. Em terceiro lugar, os
portugueses não demonstravam de modo algum “imensurável desprezo” por outras “raças”.
Mas, no parágrafo seguinte, Leadbeater fica ainda mais longe da realidade: “Depois, vinham
os índios vermelhos”, diz ele. Como se sabe, nunca houve “índios vermelhos” no Brasil,
embora o termo “índios peles-vermelhas” seja comum nas histórias de bangue-bangue do
faroeste norte-americano. C.W.L. continua:
“Dessas tribos, muitas tinham adotado um tipo de esquálida semicivilização, mas muitas
outras ainda eram selvagens, indomadas e indomáveis – homens que viam o trabalho, fosse de
que espécie fosse, como a mais profunda degradação, e que odiavam o homem branco com
um ódio tradicional, inflexível, e que (estranho como possa parecer) iam ainda além da
reciprocidade do infinito desprezo dos fidalgos espanhóis de sangue azul. Será, sem dúvida,
incompreensível para muitos de nós que um selvagem seminu possa manter qualquer outro
sentimento que não seja o da inveja pela nossa civilização superior, por muito que não gostem
de nós, mas só posso dizer que o mais autêntico e natural sentimento do Índio Vermelho para
com o homem branco é puro e implacável desprezo.” [“Salvo Por Um Espírito”, p. 109.]
O ódio racial brilha tanto quanto a ignorância, nesta passagem infeliz. Novamente temos aqui
os “fidalgos espanhóis”, que parecem estar governando o Brasil, um país independente de
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Portugal desde 1822, e que nunca teve uma classe dominante “espanhola”. Por outro lado,
vemos aqui mais uma vez os “Índios Vermelhos”. Finalmente, a verdade é que os povos
indígenas no Brasil não tinham mais ódio que amizade pelas pessoas brancas. Assim, esses
parágrafos não são de modo algum verdadeiros em relação ao Brasil, ou ao estado da Bahia.
Mas Charles W. Leadbeater prossegue:
“Em terceiro lugar vinha a raça negra – parte não pequena da população, em sua maioria em
estado de escravidão, embora o governo estivesse fazendo tudo quanto podia para afastar
aquela maldição de seus territórios. Por fim, vem o pior, os chamados mestiços, meio sangue
– raça mesclada que parecia, como às vezes acontece com esse tipo de raça, combinar todas as
piores qualidades das raças de ambos os progenitores. Os índios, os espanhóis, os negros,
todos eles os desprezavam, e eles, por sua vez, olhavam todos os outros com virulento
rancor.” [ “Salvo Por Um Espírito”, metade superior da p. 110 ]
O trecho faz uma defesa nada sutil do racismo. Ainda que a narrativa não se referisse ao
Brasil, e mesmo que ela possa ser vista como uma mera ficção de péssima qualidade, o tom
racista presente no texto é enfático, inegável e inaceitável. Estas idéias são radicalmente
opostas à filosofia teosófica, e antecipam a ideologia nazista da “raça superior”. Vejamos,
para assinalar a posição da teosofia autêntica, a carta de um Mahatma escrita no início dos
anos 1880, em que o Iogue relata a posição tomada pelo Mestre dos Mestres, o Chohan:
“Para alcançar o objetivo proposto [para o movimento teosófico], foi determinado que
houvesse uma convivência maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente, do superior
com o inferior, do Alfa e do Ômega da sociedade. A raça branca deve ser a primeira a
estender a mão da fraternidade aos povos de cor escura e a chamar de irmão o pobre ‘negro’
desprezado. Esta perspectiva pode não agradar a todos, mas não é teosofista aquele que se
opõe a este princípio.”[4]
E H.P. Blavatsky escreveu em “A Doutrina Secreta”, referindo-se a um cientista de nome
Agassiz:
“A unidade da espécie humana foi aceita pelo professor de Cambridge do mesmo modo como
ela é aceita pelos ocultistas, ou seja, no sentido da homogeneidade essencial e original, com
sua origem vindo da mesma fonte: − isto é, negros, arianos, mongóis, etc., todos surgiram da
mesma maneira e dos mesmos ancestrais. Estes últimos eram todos da mesma essência,
embora diferenciados porque pertenciam a sete planos, que diferiam em grau, mas não em
espécie. ” [5]
A descrição feita por Leadbeater de relações inter-raciais baseadas em ódio seria motivo de
riso, se não fosse tão ofensiva. A frase em que afirma que “por fim vem o pior, os mestiços”,
assegurando que “os mestiços combinavam todas as piores qualidades das raças de ambos os
progenitores”, é digna de especial atenção por seu tom antecipador do fascismo. Desde uma
perspectiva teosófica, muito pelo contrário, misturar culturas e povos de cores de pele
diferentes é parte essencial da preparação para a futura humanidade. O primeiro objetivo do
movimento teosófico – a constituição de um núcleo da fraternidade universal sem distinção de
raça, entre outros itens − não deixa dúvidas em relação a este ponto.
A história de Leadbeater descreve uma suposta revolta organizada por “índios ferozes” contra
a construção de uma estrada de ferro, realizada pelos ingleses. Ele afirma, comentando o
momento em que a revolta imaginária estalou:
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“Eu passei a mão no meu rifle também – porque eu também tinha um. Naquela região
selvagem nem mesmo o pequeno Gerald jamais saiu sem seu minúsculo revólver metido no
cinto, e eu, habitualmente, levava um par de Colts, e carregava um rifle comigo, sempre que
saía para uma caminhada. E essas precauções não eram de forma alguma desnecessárias...”
É estranho pensar que crianças usassem “minúsculos revólveres” para defender-se, ou que um
garoto de 13 anos de idade carregasse “dois Colts e um rifle” cada vez que saía para dar uma
caminhada, conforme aparece na página 117 do livro, na edição brasileira. Seja como for,
Leadbeater escreve a situação em meio aos violentos combates imaginários:
“Até aquele momento havíamos escapado ilesos, enquanto um número bastante grande de
cadáveres jazia em torno da cabana, porque até Gerald havia, valentemente, tomado parte na
luta, e abatera pelo menos dois selvagens, além de ferir mais um outro. Do meu lado, um tipo
de aspecto feroz havia introduzido a boca do seu rifle através de uma das fendas. Saltei para
um lado, agarrei a arma exatamente quando ele a descarregava e disparei meu revólver em
cima dele, diretamente para seu rosto. Ele caiu de costas com um gemido, deixando o rifle
metido através da fenda.” (página 118, na edição da ed. Pensamento)
Na p. 120, o “bispo” C.W. Leadbeater afirma que, depois de uma pausa, aproveitou a
oportunidade para matar outros indígenas:
“... O silêncio transformou-se num pandemônio de sons, os selvagens correndo aos urros em
direção à nossa cabana, mais uma vez, disparando louca e incessantemente seus rifles. Eu já
havia dado conta de vários dos meus agressores quando meu pai gritou para mim, do outro
lado: ‘Aqui, deste lado! Aponte apenas para aqueles homens que trazem o tronco.’ Vi, então,
que seis ou oito dos índios estavam carregando um pesado tronco, que contavam usar, era
evidente, para derrubar a nossa porta. (...) Concentramos o fogo dos nossos revólveres sobre
os que carregavam o tronco; assim, quando chegaram a meia distância a metade deles já
estava no chão, e os que ficaram viram que o peso era demasiado para eles. Outros saltaram
para a frente, bravamente, a fim de tomar o lugar dos caídos, mas chegaram tarde demais para
segurar o tronco que tombava, e desde que ele foi parar no chão, cada homem que se
aproximava encontrou a morte.”
No trecho acima, o criador da “Igreja Católica teosófica” confessa que atirava com armas de
fogo contra homens desarmados (já que tinham os braços ocupados em carregar o tronco).
Atirava, pois, a sangue frio.
Para comprovar a falsidade da narrativa, um teosofista brasileiro solicitou a ajuda de Edivaldo
Batista de Souza, que em 1999 presidia a loja teosófica da cidade de Salvador, Bahia. Assim,
foi obtido o testemunho de um historiador local. O sr. Desiderio Bispo de Melo, historiador da
Universidade da cidade de Salvador, teve a assistência de Mônica Cristina da Fonseca, uma
estudante do quinto semestre do curso de História.
O parecer de Desiderio Bispo de Melo diz que uma estrada de ferro estava de fato sendo
construída na Bahia em 1860-1862; e que havia ingleses envolvidos. Mas não houve qualquer
revolta com as características pintadas por Leadbeater e, na verdade, não houve qualquer
revolta. O historiador destaca o fato bem conhecido de que o Brasil, como nação, já possuía
na época um aparelho de estado bem organizado. A Bahia era uma das províncias mais
importantes do império, e o eventual assassinato de um cidadão inglês teria atraído atenção
internacional.[6] Fica estabelecido, deste modo, que nada há de documental na fantástica e
desastrada narrativa do “bispo” Leadbeater. Na época, um destacado líder da Sociedade
Teosófica de Adyar no Brasil, seguidor radical de Annie Besant, tentou argumentar:
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“Bem, o parecer do historiador mostra que os fatos não ocorreram na Bahia. Eles podem ter
ocorrido em algum outro estado...”.
A idéia não faz sentido. Não há registros de revoltas importantes de índios brasileiros contra
as autoridades do país, e muito menos na segunda metade do século 19. Os índios brasileiros
não usavam armas de fogo. Eles eram vítimas do alcoolismo, e morriam de gripe, de doenças
venéreas, de fome, subnutrição, mas não ofereciam resistência à destruição da sua cultura.
Mesmo hoje, mais de 500 anos depois da chegada dos homens brancos em nosso litoral, há
casos em que os indígenas do estado do Mato Grosso se inclinam para o suicídio, mas não
para matar quaisquer cidadãos de cor branca. E isso ocorre porque os nossos índios são mais
pacíficos que os “Índios Vermelhos” que eram mortos – não sem resistência – na América do
Norte. Mais pacíficos, e também menos desenvolvidos que eles.
O que a narrativa de Leadbeater mostra é apenas o racismo do autor, o seu desprezo pela vida
humana e a fantasia irresponsável de que negros e indígenas são moralmente inferiores aos
brancos. Errar é humano, mas corrigir os erros também é humano. A grande oportunidade
histórica que está hoje diante dos responsáveis pela Sociedade de Adyar é a de abandonar
pública e honestamente a pseudo-filosofia de Annie Besant e Charles Leadbeater, e adotar a
filosofia da fraternidade universal ensinada por Helena P. Blavatsky, Damodar Mavalankar,
William Q. Judge, Robert Crosbie − e centenas de pensadores de todos os povos e de todos os
tempos.
NOTAS:
[1] “The Perfume of Egypt”, na edição em inglês. A edição brasileira deste livro de C.W. Leadbeater
saiu pela Editora Pensamento, SP, sob o título de “Salvo Por Um Espírito”.
[2] “Os Sete Véus Sobre a Consciência”, de C. Jinarajadasa, livro de 77 pp. editado pela Sociedade
Teosófica no Brasil na década de 1960, em SP. Veja, ali, na p. 67, a nota de pé de página escrita por
C. Jinarajadasa.
[3] “A Gnose Cristã”, CW Leadbeater, Ed. Teosófica, Brasília, 552 pp. A nota citada está na p. 15.
[4] Carta 1, “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília.
Veja a metade inferior da p. 18.
[5 “The Secret Doctrine”, Helena Blavatsky, Vol II, p. 607, Theosophy Co., 1982. Veja “A Doutrina
Secreta”, Ed. Pensamento, SP, vol. IV, p. 176, nota de rodapé.
[6] Uma cópia xerox da íntegra do documento do historiador baiano pode ser obtida entrando em
contato com os editores de “O Teosofista”.
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DOCUMENTO SEIS
Do Website www.filosofiaesoterica.com
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Fabricando um Avatar
Como a Sociedade de Adyar Organizou a ‘Volta do Cristo’
Carlos Cardoso Aveline
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O artigo “Fabricando um Avatar” foi publicado pela primeira
vez na revista teosófica Fohat, do Canadá, nas páginas 64 a
68 da edição de outono de 2007 (primavera de 2007 no Brasil).
O título original é “The Making of an Avatar - examining
Adyar’s attempt to fabricate the return of Christ.”
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“Ante-ontem à noite foi-me dada uma
visão geral das sociedades teosóficas.
Eu vi alguns poucos teosofistas
confiáveis, em uma luta mortal
com o mundo em geral e com outros
teosofistas, que eram nominalmente
teosofistas, mas ambiciosos.”
[ H. P. Blavatsky, em uma carta para William Judge.
Ver “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie,
Theosophy Co., Los Angeles, 1945, página 389.]
Um axioma místico afirma que “o erro está condenado a imitar a verdade”.
Em
consequência desta lei oculta, cada aprendiz deve enfrentar e vencer por mérito próprio um
número quase infindável de testes e provações que se alimentam de aparências enganosas.
Pelo mesmo motivo, a verdadeira Teosofia tem sido sempre rodeada por várias formas
brilhantes, quando não espetaculares, de pseudo-teosofia. Um exemplo marcante desta
tendência histórica ocorreu no século vinte com a criação de um culto teosófico em torno do
“avatar” Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Mesmo agora o culto krishnamurtiano ainda
existe, embora atue de modo discreto ; e a sra. Radha Burnier – presidente da Sociedade
Teosófica de Adyar desde 1980 – está entre os seus principais líderes.
Krishnamurti tinha 14 anos de idade quando foi localizado em Adyar por um clarividente de
sidhis inferiores, C. W. Leadbeater. Naquela época, Annie Besant e Leadbeater costumavam
manter longas conversas imaginárias com algo a que chamavam de “Senhor Cristo”. Pouco
depois da “descoberta” de Krishnamurti, o garoto foi oficialmente apresentado ao mundo
como sendo alto Iniciado e um futuro avatar – o veículo ou instrumento para a volta do
Messias.
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Em relação à expectativa sobre uma volta de Cristo, H.P. Blavatsky escreveu no século 19
palavras bastante claras:
“Duas coisas ficam evidentes para todos (....): (a) a ‘vinda de Cristo’ significa a presença de
CHRISTOS em um mundo regenerado, e não, de modo algum, a vinda literal e corporal de
Jesus ‘Cristo’ ; e (b) este Cristo não deve ser buscado nos desertos, nem ‘nas câmaras
interiores’, nem no santuário de qualquer templo ou igreja construída pelo homem; porque o
Cristo ― o verdadeiro SALVADOR esotérico ― não é homem algum, mas o PRINCÍPIO
DIVINO em cada ser humano. Aquele que tenta fazer a ressurreição do Espírito crucificado
em si mesmo por suas paixões terrestres, e enterrado profundamente no ‘sepulcro’ da sua
carne pecaminosa; aquele que tem força suficiente para fazer rolar de volta a pedra da
materialidade para longe da porta do seu próprio santuário interior, este conseguiu despertar
Cristo em si mesmo. (‘Pois vocês são o templo do Deus vivo’― II Cor., 6: 16 )” [1]
A abordagem de H.P.B. sobre as expectativas messiânicas é simples e profunda. É o princípio
crístico da sabedoria divina que deve renascer, e não um Messias de carne e osso. Mas o pior
cego é aquele que não deseja ver. Os líderes da Sociedade Teosófica de Adyar estavam tão
ocupados com a fabricação de um Avatar que não tinham tempo para levar em conta o que
dizia a Teosofia autêntica.
Foi organizada, portanto, uma “Igreja Católica Liberal” que deveria servir como instrumento
para Krishnamurti, o Cristo. Ao lado dela, Ordem da Estrela seria a principal organização do
Messias. A Sociedade Teosófica e a Escola Esotérica de Adyar foram transformadas em
instrumentos auxiliares do Advento. O catecismo do novo Mestre deveria ser o pequeno
livro “Aos Pés do Mestre”, escrito por Leadbeater, mas apresentado ao público em 1910
como sendo resultado das instruções dadas por um Mestre de Sabedoria ao seu discípulo
Krishnamurti. Supostamente, o garoto teria feito anotações dos ensinamentos do Mestre.
Mary Lutyens, íntima amiga de Jiddu Krishnamurti e autora das suas principais biografias,
relata que as supostas anotações feitas por Krishnamurti “desapareceram”. O detalhe
significativo é que os únicos originais disponíveis eram os datilografados por C. W.
Leadbeater. [2]
Krishnamurti esperou demasiado tempo para romper com a farsa. Ele finalmente negou-se
a continuar fazendo o papel de Cristo e afastou-se da Sociedade de Annie Besant no final da
década de 1920, quando já tinha mais de 30 anos de idade. Ele negou que fosse a autor de
“Aos Pés do Mestre” e o livreto foi retirado da lista das suas obras. As atuais Fundações
Krishnamurti não o vendem. Mesmo assim, sua autoria ainda é atribuída a Krishnamurti
pelas editoras vinculadas à Sociedade de Adyar.
A verdade é que a pequena obra não só está escrita no estilo de redação de Leadbeater, mas
também repete um a um os seus graves erros conceituais sobre a filosofia teosófica. Desde a
sua primeira edição, o livreto foi colocado em um lugar muito especial na chamada literatura
promovida por Adyar. Milhares de leitores ainda acreditam na autenticidade do livro. Poucos
conhecem o testemunho do ex-secretário particular de C. W. Leadbeater e ex-secretário
internacional da Sociedade de Adyar, Ernest Wood. Em sua autobiografia, Wood conta a
história de Subrahmanyam, um jovem teosofista que morou na sede internacional da
Sociedade, na Índia. Subrahmanyam era um jovem líder influente, até que em 1910-1911
foi testemunha de uma conversa que mudou completamente o seu destino. Ele ouviu um
diálogo muito direto entre Jiddu Krishnamurti e o seu pai. Quando perguntado sobre quem
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era o autor de “Aos Pés do Mestre”, Krishnamurti, então com 15 anos, respondeu no idioma
Telugu:
“O livro não é meu. Eles é que jogaram sobre mim a paternidade da obra.”
Subrahmanyam ficou profundamente surpreso. Ele logo relatou o diálogo a Ernest Wood, de
quem era amigo pessoal. Notícias ruins andam rápido, e assim que a presidente mundial
Annie Besant foi informada do assunto ela convocou o jovem Subrahmanyam a seu gabinete.
Besant afirmou a Subrahmanyam que era impossível que Krishnamurti tivesse dito uma tal
coisa, e colocou-o diante de uma alternativa radical: ou ele faria um desmentido imediato
da conversa entre Krishnamurti e seu pai, ou seria sumariamente expulso da sede
internacional da Sociedade, em Adyar, onde morava.
Subrahmanyam não era hipócrita. Não estava disposto a viver em um mundo de falsidades.
Resistindo à pressão, ele não se retratou e foi obrigado a deixar Adyar. Ele retornou à sua
cidade natal, e Ernest Wood conta que “morreu lá pouco tempo depois, ainda pouco mais que
uma criança.” [3]
Desde o seu lançamento, o famoso livreto “Aos Pés do Mestre” vinha sendo um best-seller, e
também era visto como um fato espetacular em si mesmo. O seu sucesso deu impulso ao
surgimento da organização messiânica “Ordem da Estrela no Oriente”. Do ponto de vista da
sra. Besant, a criação de um novo Messias não poderia ser perturbada por fatos como o
diálogo testemunhado por Subrahmanyam. A própria idéia de que um garoto de 14 ou 15
anos houvesse escrito um texto como aquele era descrito como um fenômeno extraordinário.
Parecia a muitos uma evidência concreta de que Cristo havia, de fato, decidido voltar. Tudo o
que as pessoas deviam fazer era acreditar na exibição brilhante de maravilhas imaginárias.
Às custas da vitalidade do movimento teosófico e graças ao estímulo da expectativa
messiânica, a “Ordem da Estrela” crescia com rapidez no mundo todo. Ernest Wood escreve:
“Milhares de membros da Sociedade Teosófica se apressavam a entrar no novo movimento.
Alguns, entre os quais eu, ficavam à parte. Alguns poucos criticavam o movimento, com
vários argumentos. Um ou dois diziam que Krishnamurti não tinha conhecimento suficiente
de inglês para escrever as frases do livro. Eu concordava completamente com eles, mas
explicava a mim mesmo esta dificuldade dizendo que o prólogo anunciava que Krishnamurti
não havia escrito ele próprio a obra – as palavras eram do Mestre. Havia ainda a dificuldade
de que Krishnamurti não teria sabido montar as frases nem feito uma pontuação tão boa. Ele
tampouco teria sabido fazer aquele prólogo, em minha opinião. Eu deixava estes problemas
em suspenso. Nós podíamos muito bem esperar e ver se o Mestre viria.” [4]
Ernest Wood percebeu que o livro tinha um conteúdo demasiado simples e demasiado
limitado para ser motivo de tanto destaque e propaganda. Ele narra uma conversa que teve
com C. W. Leadbeater:
“Expressei minha opinião. Era um livrinho agradável, mas muito simples. Seriam as
instruções contidas nele suficientes para levar alguém até o ‘Caminho propriamente dito’, até
a Primeira Iniciação que a sra. Annie Besant havia descrito no livro dela? Sim, disse o sr.
Leadbeater, e ainda mais, se aquelas instruções fossem completamente postas em prática, elas
levariam a pessoa até o próprio Adeptado.”
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Leadbeater falava a Wood como se fosse um grande sábio. Vale a pena mencionar que as
fantasias de auto-importância eram tão fortes em Adyar naquela fase da história que alguns
anos mais tarde, em 1925, Annie Besant anunciaria de modo solene um fato
extraordinariamente absurdo: C. W. Leadbeater, J. Krishnamurti, George Arundale, ela
própria e alguns outros haviam alcançado todos o Adeptado e eram agora “Mestres e
Iniciados do quinto círculo”. É verdade que, devido ao seu caráter evidentemente fantasioso,
nem todos levaram o anúncio a sério e a pretensão caiu no esquecimento. [5]
Ernest Wood prossegue a narrativa da sua conversa sobre “Aos Pés do Mestre” com Charles
Leadbeater:
Eu disse que havia duas ou três coisas curiosas em relação ao manuscrito. O texto estava
muito escrito no estilo do próprio sr. Leadbeater, e até havia algumas frases exatamente iguais
ao livro dele que já havíamos preparado para a gráfica. Ele me disse que teria sido capaz,
realmente, de escrever ele mesmo aquele livro. Quanto às frases que mencionei, ele disse
que ele normalmente estava presente quando Krishnamurti recebia as lições do Mestre no
plano astral; ele lembrava daqueles pontos...” [6]
Leadbeater apresentou desculpas e explicações para cada indício de que o verdadeiro autor do
livrinho era ele mesmo. Quanto a Annie Besant, ela certamente acompanhava o processo de
perto, porque Ernest Wood informa que foi ela própria quem decidiu pelo título “Aos Pés
do Mestre”. Naturalmente, àquela idade, Krishnamurti não estava muito interessado em
livros ou em escrever. Tudo o que se esperava dele era que cumprisse o papel aparente de um
jovem Iniciado e futuro Messias. A sra. Jean Overton Fuller, teosofista inglesa e autora de
uma biografia sobre Krishnamurti, relatou uma conversa que teve com Mary Lutyens:
“Falei com Mary Lutyens sobre isto. Ela tinha uma tendência a pensar que o texto havia sido
escrito, em uma parcela muito grande, por Leadbeater.” [7]
Algumas das principais evidências sobre a autoria do livrinho estão no seu conteúdo. A
palavra “Deus”, por exemplo, é usada grande número de vezes no texto. “Pois Deus tem um
plano”, diz o livreto. “Se [alguém] está ao lado de Deus, é um dos nossos”, insiste. [8] O
livreto também afirma: “Pois tu és Deus, e tu queres somente o que Deus quer”. [9]
No prólogo, que supostamente teria sido escrito por Krishnamurti, há esta frase:
“Estas palavras não são minhas; são do Mestre que me ensinou.”
Vale a pena, então, examinar o que este mesmo Mestre de Sabedoria, que segundo
Leadbeater ditou o livreto a Krishnamurti, ensinou de fato sobre Deus, em sua famosa Carta
88 de “Cartas dos Mahatmas”.
O verdadeiro Mahatma escreveu:
“Nem a nossa filosofia, nem nós próprios, acreditamos em um Deus, e muito menos em um
Deus cujo pronome necessita de uma inicial maiúscula.” [10] “O Deus dos teólogos é
simplesmente um poder imaginário, un loup garou [um bicho-papão] ( ...). Nossa principal
meta é libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a virtude pelo bem da virtude,
e ensiná-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invés de depender de uma muleta
teológica que por eras incontáveis foi a causa direta de quase toda a miséria humana.” [11]
O texto do livreto, supostamente ditado por um Mestre, afirma:
111
“Deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Sua voz,
que é a tua voz.” (p. 20)
Por outro lado, o verdadeiro Mestre ensina, em uma das suas Cartas:
“Um sentimento constante de dependência abjeta de uma Divindade vista como a única fonte
de poder faz com que um homem perca toda autoconfiança e o impulso para a atividade e a
iniciativa. Tendo começado por criar um pai e um guia para si, ele se torna como um menino
e permanece assim até a idade avançada, esperando ser conduzido pela mão tanto nos
pequenos como nos grandes acontecimentos da vida.” [12]
“Aos Pés do Mestre” afirma:
“Deus tanto é Sabedoria como Amor; e quanto mais sabedoria tiveres mais Ele poderá se
manifestar por teu intermédio.” ( p.30)
Enquanto isso, na famosa Carta de Prayag, documento número 30 em “Cartas dos
Mahatmas”, vemos as seguintes palavras de um dos dois Mestres de Sabedoria que inspiraram
diretamente a criação do movimento teosófico:
“A fé em Deuses ou em Deus e outras superstições atraem milhões de influências alheias,
entidades vivas e poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veríamos obrigados a usar
algo mais do que o exercício comum de poder para afastá-los. Nós decidimos não fazê-lo.
Não consideramos necessário nem proveitoso perder o nosso tempo travando uma guerra
com [ espíritos - N.Trad.] planetários atrasados que se deliciam personificando deuses...”
[13]
O Mestre explica, assim, que os Adeptos dificilmente podem chegar perto de pessoas que
acreditam em superstições como “Deuses e Deus”. Como se explica um contraste tão
profundo entre os dois pontos de vista?
Na verdade, C. W. Leadbeater – o mestre de Krishnamurti e verdadeiro autor do livreto –
havia fracassado em seu discipulado pouco depois de ser colocado em provação, nos anos
1880. Como consequência disso, ele nunca foi admitido à Escola Esotérica de H. P.
Blavatsky, enquanto ela viveu.
De fato, quando Leadbeater foi morar novamente em Londres depois de vários anos na Ásia,
H.P.B. também vivia em Londres. Porém, ao invés ter acesso à Escola Esotérica dirigida por
H.P.B., Leadbeater ingressou no “grupo interno” do sr. Alfred Sinnett, conforme Sinnett
revela em sua Autobiografia.[14]
Naquele momento, as Cartas vindas dos Mestres haviam cessado. Como tantos outros, Alfred
Sinnett falhara. Naquele momento, o grupo de Sinnett já era um duro adversário do trabalho
desenvolvido por H. P. Blavatsky. E foi no grupo de Sinnett que Leadbeater desenvolveu
seus siddhis inferiores, durante sessões mesméricas e mediúnicas nas quais eles falavam com
falsos Mestres. Três anos depois da morte de H.P.B., Annie Besant juntou-se em 1894
àquele mesmo grupo de pessoas iludidas. Talvez não seja por coincidência que, no mesmo
ano, começou a perseguição política contra William Judge, que era leal à proposta original de
trabalho de HPB.
112
É neste contexto de abandono das suas fontes originais e autênticas que a Sociedade
Teosófica de Adyar adota, com Annie Besant, um discurso teológico semelhante ao dos
jesuítas e do Vaticano. A crença ou não em Deus está ligada a uma questão técnica e prática
de grande importância para a filosofia esotérica. A crença em um Deus todo-poderoso –
assim como a adoração emocional de Mestres imaginários mas “de poder ilimitado” – é um
ponto essencial na versão falsificada de discipulado que Annie Besant e Charles Leadbeater
criaram durante a sua tentativa messiânica. Segundo eles, a autonomia individual deve ser
deixada de lado “por devoção”. Nisso, como em outros aspectos, eles pensavam como
qualquer sacerdote cristão.
Ponto por ponto, “Aos Pés do Mestre” contradiz a verdadeira Teosofia. O livreto afirma, por
exemplo, que uma extrema limpeza física é de grande importância para o aprendizado
espiritual. Besant e Leadbeater eram quase obsessivos em relação a isso. “Aos Pés do
Mestre” faz a seguinte recomendação para todos os aspirantes ao discipulado:
“O corpo é teu animal – o cavalo sobre o qual montas. Portanto deves (.....) alimentá-lo
corretamente, só com bebidas e alimentos puros, e mantê-lo sempre minuciosamente limpo,
sem o menor resquício de impureza. Pois sem um corpo perfeitamente limpo e saudável, não
podes realizar a árdua tarefa de preparação, nem podes suportar o seu incessante esforço.”
(pp. 22-23)
Lembremos bem da recomendação de “Aos Pés do Mestre” em relação ao corpo físico –
“mantê-lo sempre minuciosamente limpo” – enquanto examinamos o que os próprios Mestres
escrevem a respeito da higiene no plano físico. Nas “Cartas dos Mahatmas”, um Adepto
explica ao sr. Sinnett:
“Os nossos melhores adeptos, os mais eruditos e os mais santos são das raças dos ‘tibetanos
sebentos’ e dos Singhs do Punjab – você sabe que o leão é proverbialmente uma fera suja e
agressiva, a despeito da sua força e coragem.” [15]
A palavra “Singh” usada neste parágrafo é um nome místico e simbólico usado pelo mesmo
Mahatma que escreve a carta. A identidade metafórica entre o Mestre e os leões vem do fato
de que, em sânscrito, a palavra “Singh” significa “leão”.
A partir disso podemos concluir com segurança que os Mestres dos Himalaias são com
frequência fisicamente “sebentos” e “sujos”. Os discípulos regulares deles às vezes até se
recusam a usar roupas limpas, segundo o Mestre menciona na mesma carta. De fato, um dos
seus discípulos recusou-se terminantemente a entregar uma mensagem para Alfred Sinnett. A
razão foi que H.P.B havia pedido a ele que se apresentasse “com uma aparência pessoal mais
limpa”, para não ofender os preconceitos ocidentais de Sinnett contra “pessoas sujas”. O
Mestre explica a Sinnett que o jovem discípulo não aceitava a idéia de atuar como os
discípulos de seitas ilegítimas e rivais, que realmente recomendam uma grande higiene física.
(pp. 58-59)
O episódio mostra que tanto os Mahatmas como os seus discípulos dão escassa atenção à
limpeza ou sujeira física. Ele também demonstra que um verdadeiro Mestre preserva
inteiramente a autonomia de um discípulo, que é portanto autorizado a manter seus próprios
preconceitos contra a higiene. Na mesma carta, além de admitir o erro do seu chela, o Mestre
também oferece um exemplo ocidental da “santa resistência” contra a limpeza:
“Novamente preconceitos e letra morta. Durante mais de mil anos – diz Michelet – os santos
cristãos nunca se lavaram!” (p. 59)
113
Qual é então a verdadeira razão – alguém pode perguntar – para que Leadbeater recomende
tamanha “fobia mística” contra qualquer sujeira corporal? Em seu ensaio “Totem e Tabu”,
Sigmund Freud nos oferece uma explicação psiquiátrica. Esta fobia, diz o fundador da
psicanálise, está ligada à neurose compulsiva: “O mais comum destes atos obsessivos é lavar
com água (obsessão com água).” [16]
Na realidade, o discipulado ou a aprendizagem esotérica é um processo interno que não só
preserva mas aumenta a autonomia do aprendiz. E isso é exatamente o oposto do que se pode
encontrar em “Aos Pés do Mestre” e em outros tantos livros do período de Annie Besant
(1895-1933). O problema estaria limitado ao passado, se as ilusões de Besant e Leadbeater já
tivessem sido devidamente eslarecidas e descartadas.
De acordo com a maior parte dos autores da Sociedade de Adyar, o candidato a discípulo
deve desenvolver uma obediência automática em relação ao suposto Mestre. Isso, dizem
eles, deve ser feito por um sentimento de devoção. Na verdade, este é apenas o princípio da
obediência cega que manda “fazer tudo o que o Mestre quer”. A idéia tem sido muito
conveniente para os líderes de Adyar, que se colocam como “intermediários” entre os seus
Mestres imaginários e o resto do movimento, e assim concentram todo o poder em suas
próprias mãos.
Até o começo da década de 1950, “ordens diretas” de supostos Mestres eram recebidas
através dos líderes da Sociedade de Adyar e da sua escola esotérica. O sistema operou até o
final da época de C. Jinarajadasa. Formalmente, estas “ordens” cessaram a partir do começo
da liderança de N. Sri Ram em 1953. Mesmo assim, o poder continuou concentrado até hoje
nas mãos dos sucessivos presidentes internacionais e dirigentes da escola esotérica, os quais,
segundo o costume iniciado por Besant, devem ser tratados como Papas pelo resto dos
membros da Sociedade de Adyar, e se comportam como se fossem “representantes dos
Mestres”.
Em “Aos Pés do Mestre”, como em outras obras que seguem a mesma linha de pensamento,
pode-se ver uma recomendação direta de automática obediência devocional e de renúncia ao
pensamento próprio:
“Quando te tornares um discípulo do Mestre, poderás sempre pôr a prova a verdade de teu
pensamento colocando-o ao lado do Seu. Pois o discípulo é uno com o seu Mestre, e necessita
somente voltar seu pensamento para o do Mestre para ver imediatamente se ambos estão de
acordo. Se assim não for, o pensamento do discípulo está errado, e ele deve modificá-lo
instantaneamente, pois o pensamento do Mestre é perfeito, porque Ele sabe tudo. Aqueles que
ainda não foram aceitos por ele não podem fazer isso perfeitamente; mas eles podem ajudar
grandemente a si mesmos parando para pensar: ‘O que pensaria o Mestre a este respeito? O
que diria ou faria o Mestre nestas circunstâncias?” Pois nunca deves fazer, dizer ou pensar o
que não possas imaginar o Mestre fazendo, dizendo ou pensando.” (pp. 35-37)
As várias premissas falsas presentes no trecho acima merecem um exame atento.
* Primeiro, o texto supõe que um discípulo é capaz de entender plenamente a consciência e os
pensamentos do seu Mestre. Para que isso fosse verdade, seria preciso que não houvesse
diferença – nem em amplitude de horizonte mental, nem em carma – entre um Mahatma e o
pobre discípulo ignorante que está sendo treinado por ele.
114
* Segundo, o texto supõe que um discípulo deve imitar mecanicamente seu Mestre, tratando
de copiar seus pensamentos, suas palavras e suas ações. Na realidade, devido ao fato de que o
Mestre e o discípulo são dois seres diferentes, que possuem quantidades radicalmente
diferentes de sabedoria e vivem em situações cármicas muito distantes uma da outra, os dois
devem inevitavelmente pensar, falar, e agir de modos muito diversos.
* Em terceiro lugar, este suposto discípulo desiste totalmente de pensar por si mesmo, ou de
ser responsável por sua própria vida e suas ações. Ele se esconde atrás do que imagina que
seriam os pensamentos do seu Mestre. Naturalmente, para tornar o “discipulado” mais fácil,
tais “pensamentos dos Mestres” serão transmitidos ao aprendiz pelas autoridades de Adyar.
Aqui temos a manipulação de poder.
Na realidade, o aprendizado esotérico autêntico ocorre em um nível muito mais profundo e é
muito mais democrático, também.
É verdade que os estudantes não podem comparar os seus pensamentos individuais com os
pensamentos individuais de qualquer Mahatma. Por outro lado, eles podem facilmente
comparar a sua visão do discipulado com os ensinamentos gerais dos Mestres sobre o mesmo
tema, tal como eles estão corretamente registrados nas “Cartas dos Mahatmas”, nas “Cartas
dos Mestres de Sabedoria” e em outras obras.
Este estudo comparativo é uma experiência reveladora, se não for revolucionária. O que os
Mestres ensinaram de fato sobre discipulado é absolutamente o oposto do que se afirma na
obra “Aos Pés do Mestre” e em muitos outros livros mais recentes da literatura “esotérica” em
geral. Já em 1882, os Mestres estavam combatendo diretamente a “heresia da obediência
cega”, que também pode ser chamada de “princípio da preguiça mental”, algo que se alimenta
da submissão mecânica, se não mediúnica, a um Mestre imaginário. Um Adepto dos
Himalaias escreveu:
“... Você tem uma carta minha em que explico por que nós nunca guiamos nossos chelas
(mesmo os mais avançados; nem os avisamos antecipadamente, mas deixamos que os efeitos
produzidos pelas causas criadas por eles ensinem-lhes uma melhor experiência. Por favor,
leve em conta aquela carta em especial. Antes que o ciclo termine, cada concepção errônea
deveria ser eliminada. Eu confio e dependo de você para esclarecê-las inteiramente nas
mentes dos membros de Prayag.” [17]
Este princípio pedagógico central, o princípio da autonomia do aprendiz, é ensinado e
mencionado por toda parte nos escritos de H.P.B. e dos Mestres. No volume “Cartas dos
Mestres de Sabedoria”, por exemplo, podemos ler este apelo, feito por um Mahatma a uma
certa senhora de intenções altruístas:
“Você está pronta para fazer sua parte no grande trabalho de filantropia? Você ofereceu-se
para a Cruz Vermelha; mas, Irmã, existem doenças e feridas da alma que não podem ser
curadas pela arte de nenhum cirurgião. Irá auxiliar-nos a ensinar à humanidade que os
doentes-da-alma devem curar a si próprios? Sua ação será a resposta.” [18]
A responsabilidade consciente do indivíduo diante da Vida é a condição básica e fundamental
para qualquer estudante de Teosofia, se ele quiser obter uma quantidade razoável de êxito em
seus esforços. O mesmo se aplica aos discípulos leigos e aos aspirantes ao discipulado leigo.
Embora a tentativa messiânica do século vinte promovida por Adyar tenha falhado como
projeto, as suas falsas noções e o seu apego a ilusões confortáveis ainda intoxicam mentes e
115
corações de teosofistas em todo o mundo. As tendências mayávicas que resultam daquele
momento histórico também influenciam a muitos que não pertencem à Sociedade de Adyar.
Mesmo agora, mais da metade das pessoas que se consideram teosofistas aceita indiretamente
as mesmas ilusões “avatáricas” e “clarividentes” criadas nas primeiras três décadas do século
21. Isso não é algo de importância secundária para o movimento esotérico. O perigo de ser
iludido é uma das razões pelas quais o lema de todo verdadeiro teosofista deve ser, como
H.P.B. escreve em “Ísis Sem Véu” ―
“Eu não aceito de modo automático o ponto de vista de homem algum, esteja ele vivo ou
morto!” [19]
De algum modo, o movimento deve renovar amplamente a si mesmo para tomar os passos
necessários e avançar em direção ao ano, aparentemente distante, de 2075.
Felizmente, podemos confiar no fato de que os meios para esta auto-renovação surgirão no
tempo correto e da maneira adequada ― talvez invisíveis, quase desapercebidos e pouco a
pouco; mas ainda assim tão inevitavelmente quanto a chegada de um novo dia.
NOTAS:
[1] “The Esoteric Character of the Gospels”, H.P.Blavatsky, em “The Collected Writings of
Helena P. Blavatsky”, TPH, Adyar, volume VIII, p. 173.
[2] “Vida e Morte de Krishnamurti”, Mary Lutyens, Ed. Teosófica, Brasília, 1996, 296 pp., ver p. 34, nota de
rodapé.
[3] “Is This Theosophy?”, livro autobiográfico de Ernest Wood, Londres, Rider & Co., 1936,
Paternost House, E.C., reimpresso em edição facsimilar por Kessinger Publishing, LLC, MT,
USA, 319 pp., ver p. 163.
[4] “Is This Theosophy?”, página 162.
[5] “Vida e Morte de Krishnamurti”, Mary Lutyens, Ed. Teosófica, Brasília, 1996, ver pp. 85
a 88.
[6] “Is This Theosophy?”, Ernest Wood, p. 161.
[7] “Krishnamurti and the Wind”, de Jean Overton Fuller, The Theosophical Publishing
House, London, 2003, 300 pp., ver p. 23.
[8] “Aos Pés do Mestre”, Ed. Teosófica, Brasília, edição de bolso, 148 pp., 1999, pp. 16 e 17.
[9] “Aos Pés do Mestre”, p. 20.
[10] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, dois volumes,
2001, ver volume II, Carta 88, pp. 53-54.
[11] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Carta 88, p. 55.
[12] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília,
1996, ver a Carta 43 da primeira série, pp. 103-104.
[13] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, volume I, Carta 30, p. 166.
116
[14] “Autobiography of Alfred Sinnett”, Theosophical History Centre, London, 1986, 65 pp.
[15] “Cartas dos Mahatmas”, volume I, Carta 5, p. 57.
[16] “Totem and Taboo - Resemblances Between the Psychic Lives of Savages and
Neurotics”, de Sigmund Freud, Dover Thrift Editions, Dover Publications, Inc., Mineola,
New York, USA, 1998, 138 pp., ver p. 25.
[17] “Cartas dos Mahatmas”, Carta 95, volume II, p. 151.
[18] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília,
1996, ver a Carta 72 da segunda série, p. 248. A edição brasileira comete um erro, corrigido
aqui. A palavra certa é “Irmã”, e não “Filha”. O mestre chama de irmã a pessoa a quem a
carta é dirigida.
[19] “Isis Unveiled”, H. P. Blavatsky, Theosophy Company, Los Angeles, vol. I, p. X.
000000000000000000000000000000
Para saber mais sobre a revista canadense “Fohat”, visite www.theosophycanada.com .
000000000000000000000000000000000000000000000
Conclusão: a Perspectiva do Futuro Saudável
A Unidade do Movimento é Dinâmica
O Informe Especial que concluimos agora é feito a partir de uma perspectiva realista, mas
construtiva. O futuro do movimento teosófico é excelente. O instrumento para construir o
bom futuro é o diálogo, e não a supressão da verdade. A unidade do movimento teosófico
não se dá através da obediência cega. Ela não se sustenta no medo da verdade. Nem pode
estar alicerçada sobre a fraude. A unidade não é uniformidade. Não deve ser entendida como
algo corporativo, nem pode ser “controlada” por esta ou aquela instituição.
A unidade entre os teosofistas só pode ter como base a franqueza, o diálogo aberto, a lealdade
e a liberdade de pensamento. Ela ocorre a partir do respeito pela diversidade, e do exame livre
dos erros do movimento teosófico. Ela é dinâmica e opera a partir do sentido de justiça.
Pretender calar os teosofistas com o argumento da “defesa da unidade” − como se o fato de
examinar honestamente os erros do passado e deles tirar lições fosse “perigoso” − é fazer uso
do medo supersticioso como mecanismo de poder político. Este recurso astucioso pode
funcionar durante algum tempo, mas não pode funcionar eternamente.
Está ocorrendo nesta primeira parte do século 21 um fato promissor, não só para o futuro da
Sociedade de Adyar mas para o futuro do movimento teosófico como um todo. Cada vez
mais membros desta Sociedade afastam-se da pseudo-teosofia de Annie Besant. Tal fato não é
uma vitória ou derrota desta ou daquela escola de pensamento. A verdade não tem
proprietários. Todos merecem saber dos fatos que deram lugar à atual estrutura de poder
117
na Sociedade de Adyar, cujo funcionamento imita o papado católico, segundo previu,
profeticamente, a Carta de 1900 em seu texto integral.
Os dirigentes de Adyar são pessoas em geral sinceras e idealistas. O bom senso e o respeito
pelos fatos manda que isso seja reconhecido. Tais dirigentes têm hoje uma oportunidade
única: a possibilidade de avaliar com clareza nesta primeira parte do século 21 o que é
teosofia e o que é pseudo-teosofia, e optar pela primeira. As acusações recíprocas de fraude
eleitoral, trocadas publicamente nas eleições internacionais de 2008, assim como a crise
institucional que se prolonga em Adyar, estão ampliando a dimensão desta oportunidade
histórica. As longas cartas abertas sobre a crise de poder, publicadas em inglês em 2008 pelo
ex-secretário internacional de Adyar, o brasileiro Pedro Oliveira, não deixam dúvida sobre
isso. É surpreendente que tal material não tenha sido traduzido e divulgado no Brasil.
A Sociedade de Adyar não tem apenas um passado. Ela tem também um futuro, e a chave
para um futuro saudável está no despertar dos seus membros para a verdadeira teosofia.
Vejamos agora duas das principais possibilidades históricas para o século 21.
No cenário mais otimista, ao longo dos próximos anos e décadas um número crescente de
teosofistas conscientes levará a Sociedade de Adyar a identificar e corrigir os erros do
passado. Então ela se unirá mais profundamente aos setores autênticos do movimento
teosófico. Ela resgatará, como eles, o espírito vivo da busca da sabedoria. Ao reaproximar-se
da teosofia original, Adyar abandonará as ideias criadas com base em siddhis inferiores, subclarividência, “canalizações” e conversas imaginárias com Mestres. Ela superará o problema
do apego aos cargos, e a busca do poder efêmero dos dirigentes burocráticos. Ela abandonará
a paródia de “igreja católica” que abriga ainda hoje em seus prédios. Ela compreenderá o
significado da Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas”, e do texto integral da “Carta de 1900”.
Assim, a ST de Adyar passará a ajudar de fato o processo da transição mundial em direção a
uma civilização eticamente correta.
No cenário menos otimista, os outros setores do movimento teosófico terão um fardo mais
pesado a carregar. Neste caso haverá uma compensação parcial pela perda. Os setores
autênticos do movimento serão reforçados, em alguma medida – como já vem ocorrendo –
por uma pequena corrente de êxodo. À medida que percebem a realidade e ao verem que
não há outra alternativa, mais teosofistas de Adyar irão abandonando a Sociedade de Besant
para dar seu apoio aos setores do movimento que preservaram, desde o início, o ensinamento
e a proposta de ação de H.P. Blavatsky; e que atuam livres da prisão burocrática e ritualista.
A Sociedade de Adyar tem ideais nobres e merece o respeito de todos. Depois do seu período
histórico mais infeliz − entre os anos de 1894 e de 1934 − Adyar deu algumas contribuições
positivas inegáveis ao movimento. Também devemos lembrar que, no plano oculto, não há
divisões ou separações no movimento teosófico. Erros e acertos não são exclusivos desta ou
daquela corrente de pensamento. As divisões são burocráticas, a unidade é interior.
Porém, a unidade é dinâmica; e ela ocorre em torno da Verdade, que é permanente, e não do
erro, que passa. Os velhos erros podem e devem ser deixados de lado.
O site www.filosofiaesoterica.com permanece à disposição de todos os estudantes de mente
aberta. Agradecemos a amizade e o apoio dos teosofistas de Adyar que já percebem a
realidade e optam pela independência, ou começam a preparar-se para isso.
(Os Editores.)
118
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Visite a seção “Movimento Teosófico” do site www.filosofiaesoterica.com .
Para ter acesso a um estudo regular da teosofia original, escreva pra [email protected] e
pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
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