Dissertação - Institutos Lactec

Transcrição

Dissertação - Institutos Lactec
INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO
(LACTEC)
INSTITUTO DE ENGENHARIA DO PARANÁ (IEP)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO DE
TECNOLOGIA (PRODETEC)
CARLOS ADEMAR PURIM
DESENVOLVIMENTO DE UM COLETOR SOLAR PARA
ILUMINAÇÃO DIRETA COM FIBRA ÓPTICA
CURITIBA
2008
Purim, Carlos Ademar
Desenvolvimento de um coletor solar para iluminação direta com
fibra óptica. / Carlos Ademar Purim. Curitiba, 2008.
84 f. : figs,, fotgs.
Orientador: Dr. Prof. Rogers Demonti
Dissertação (Mestrado) – Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento – LACTEC, Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento de Tecnologias – PRODETEC.
1. Energia solar. 2. Fibra óptica. 3. Coletor Solar. 4. Luz natural.
5. Iluminação I. Demonti, Rogers. II. Título. III. Instituto de Tecnologia
para o Desenvolvimento – LACTEC.
CDD 621.47
CARLOS ADEMAR PURIM
DESENVOLVIMENTO DE UM COLETOR SOLAR PARA
ILUMINAÇÃO DIRETA COM FIBRA ÓPTICA
Dissertação
apresentada
como
requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre, no Mestrado
Profissional do Programa de PósGraduação em Desenvolvimento de
Tecnologia (PRODETEC), realizado
pelo Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento
(LACTEC)
em
parceria
com
o
Instituto
de
Engenharia do Paraná (IEP).
Orientador: Dr. Rogers Demonti
Co-orientador: Walter Antônio Kapp
CURITIBA
2008
À Kátia Sheylla, Laila Thais,
Mirela Thaise e Andreis Gustavo,
conquistas maiores da minha
vida.
ii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente devo agradecer ao Lactec - Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento - pela oportunidade em proporcionar uma bolsa que cobriu os
custos deste curso de mestrado.
Agradeço de forma destacada ao orientador, Dr. Rogers Demonti e ao coorientador Walter Antônio Kapp pelas horas que dispensaram neste trabalho de
orientação.
Aos colegas do Lactec que se prontificaram a me apoiar, contribuir com
sugestões, auxiliar em testes e dar um significativo incentivo para a conclusão deste
trabalho: João Adalberto Pereira, Giordano Bruno Wolaniuk, Rafael Martins e aos
estagiários Deivid Ribeiro e André Dall Santos.
Ao Prof. Luiz Antônio Florenzano, hoje aposentado das lides educacionais, mas
incansável na sua missão de trazer à realidade as ideias que são colocadas no
papel, trabalhando num aparentemente desorganizado atelier nos fundos da sua
casa, onde ainda se respira o agradável aroma das antigas tornearias mecânicas.
Sobretudo, agradeço a Deus pela saúde e pela paz que tenho desfrutado.
iii
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo sobre a potencialidade e viabilidade da utilização
de coletores para o aproveitamento da luz solar, visando a iluminação interna de
edificações, com a aplicação de fibra óptica como meio de canalização da luz para
dentro dos ambientes. Seu principal objetivo é a economia de energia elétrica no
período diurno, mas aborda também os benefícios proporcionados pela luz natural
na saúde das pessoas, cuja ação atinge aspectos psicológicos e comportamentais.
Faz uma sucinta descrição dos desenvolvimentos similares com esta tecnologia em
outros países e, finalmente, descreve o projeto, a construção e os testes de um
modelo reduzido de coletor solar de baixo custo com transmissão por fibra óptica.
Palavras-chave: Energia Solar, Fibra Óptica, Coletor Solar, Luz Natural, Iluminação.
iv
ABSTRACT
This work presents a study on the potential and feasibility of the use of sunlight
collectors to light interior of buildings, with the application of fiber optics as a mean of
channeling light into the rooms. Its main goal is the economy of electric energy during
the daytime, but also addresses the benefits provided by natural light on people‟s
health, whose action affects psychological and behavioral aspects. It makes a brief
description of similar developments with this technology in other countries and,
finally, describes the design, construction and testing of a reduced low-cost model of
solar collector with transmission through optical fiber.
Key words: Solar Energy, Optic Fiber, Day Lighting, Hybrid Solar Lighting.
v
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – GRÁFICO ILUSTRATIVO DO APROVEITAMENTO DA
LUMINOSIDADE A PARTIR DA JANELA ................................................................... 2
FIGURA 2 – ESQUEMÁTICO REPRESENTATIVO DA CANALIZAÇÃO DA LUZ
SOLAR PARA DENTRO DO AMBIENTE UTILIZANDO COLETOR E FIBRA ÓPTICA
.................................................................................................................................... 3
FIGURA 3 – DISTRIBUIÇÃO ESPECTRAL DA RADIAÇÃO SOLAR ......................... 5
FIGURA 4 - CURVAS DA EFICÁCIA LUMINOSA ESPECTRAL. V() CURVA
FOTÓPICA – VISÃO DIURNA E V‟() CURVA ESCOTÓPICA – VISÃO NOTURNA.. 6
FIGURA 5 – DISTRIBUIÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA EM AMBIENTES
RESIDENCIAIS NOS ESTADOS UNIDOS ................................................................. 9
FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA EM EDIFICAÇÕES
COMERCIAIS NOS ESTADOS UNIDOS .................................................................... 9
FIGURA 7 – MÉDIA DE CARGA DE ILUMINAÇÃO EM RELAÇÃO À DEMANDA
MÁXIMA DAS INSTALAÇÕES .................................................................................. 10
FIGURA 8 - COMPARAÇÃO ENTRE A EFICIÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DIRETA DA
ILUMINAÇÃO E A UTILIZAÇÃO DA CONVERSÃO PRELIMINAR EM
ELETRICIDADE ........................................................................................................ 12
FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DO CICLO CIRCADIANO .................................... 14
FIGURA 10 – O MAIOR (198 LENTES) E O MENOR SISTEMA HIMAWARI (6
LENTES) ................................................................................................................... 15
FIGURA 11 – (A) PAINEL COLETOR SOLAR SP2 DA PARANS (B) DETALHE DOS
MOVIMENTOS DE CADA LENTE FRESNEL ........................................................... 16
FIGURA 12 - ATENUAÇÃO DA LUMINOSIDADE EM FUNÇÃO DO COMPRIMENTO
DO CABO .................................................................................................................. 17
FIGURA 13 – (A) PAINEL SUNLIGHT-DIRECT INSTALADO NO PRÉDIO DA SAN
DIEGO UTILITY DISTRICT (B) DETALHE DA MONTAGEM DOS CABOS DE FIBRA
NA EXTREMIDADE DA CAPTAÇÃO ........................................................................ 18
FIGURA 14 – PRINCÍPIO DA LENTE DE FRESNEL................................................ 20
FIGURA 15 – PROPAGAÇÃO DA LUZ ATRAVÉS DA FIBRA ÓPTICA ................... 22
FIGURA 16 – CARACTERÍSTICA DA FIBRA MULTIMODO ÍNDICE DEGRAU ....... 23
FIGURA 17 – CARACTERÍSTICA DA FIBRA MULTIMODO ÍNDICE GRADUAL ..... 23
FIGURA 18 - DIAGRAMA DE BLOCOS DO SISTEMA ELETRÔNICO .................... 25
FIGURA 19 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DO CIRCUITO INTEGRADO L298 ........ 27
FIGURA 20 – FUNCIONAMENTO BÁSICO DO CIRCUITO PONTE – MOTOR
GIRANDO EM UM DOS SENTIDOS......................................................................... 27
FIGURA 21 – FUNCIONAMENTO BÁSICO DO CIRCUITO PONTE – MOTOR
GIRANDO NO SENTIDO REVERSO ........................................................................ 28
vi
FIGURA 22 – DIAGRAMA DE BLOCOS FUNCIONAL DO MICROPROCESSADOR
ADUC812 .................................................................................................................. 28
FIGURA 23 – EXEMPLOS DE OPERAÇÃO DO ADM809 ........................................ 29
FIGURA 24 – DESENHO EM PERSPECTIVA DO PROTÓTIPO MONTADO .......... 31
FIGURA 25 – SIMULAÇÃO DO MOVIMENTO DA LENTE ENTRE O AMANHECER
E O ANOITECER (LONGITUDE) .............................................................................. 32
FIGURA 26 – SIMULAÇÃO DO MOVIMENTO DA LENTE COM RELAÇÃO ÀS
ESTAÇÕES DO ANO (LATITUDE) ........................................................................... 33
FIGURA 27 – DETALHE DOS MECANISMOS DE REDUÇÃO PARA
MOVIMENTAÇÃO DA LENTE .................................................................................. 37
FIGURA 28 – DETALHE DA MONTAGEM DAS MICROCHAVES DE FIM-DECURSO ..................................................................................................................... 37
FIGURA 29 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA PLACA DE CONTROLE ................ 39
FIGURA 30 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA PLACA DRIVER DOS MOTORES 40
FIGURA 31 – DIAGRAMA GERAL DA MALHA DE CONTROLE.............................. 42
FIGURA 32 – DETALHE DA MONTAGEM DOS SENSORES EXTERNOS ............. 43
FIGURA 33 – CIRCUITO ELÉTRICO DA INTERFACE SERIAL ............................... 44
FIGURA 34 – FONTE DE ALIMENTAÇÃO DA PLACA DE CONTROLE .................. 45
FIGURA 35 – FLUXOGRAMA DA ROTINA PRINCIPAL DO SOFTWARE ............... 47
FIGURA 36 – GERAÇÃO DO SINAL PWM............................................................... 48
FIGURA 37 – PROTÓTIPO DO COLETOR SOLAR MONTADO .............................. 50
FIGURA 38 – DETALHE DO ACABAMENTO DA EXTREMIDADE DA FIBRA
ÓPTICA PLÁSTICA ................................................................................................... 51
FIGURA 39 – MONTAGENS DOS ENSAIOS DE PERDA DA FIBRA ÓPTICA ........ 53
FIGURA 40 – REALIZAÇÃO DO ENSAIO DAS PERDAS DA FIBRA PLÁSTICA..... 53
FIGURA 41 – DETALHE DA EXTREMIDADE DO CABO MOSTRANDO OS
FILAMENTOS DE PMMA .......................................................................................... 54
FIGURA 42 - CABEÇOTE PARA FIBRA ÓPTICA COM DISSIPADOR ................... 55
FIGURA 43 – CABEÇOTE COM DISSIPAÇÃO ........................................................ 56
FIGURA 44 – DISPOSIÇÃO DOS PARES DE SENSORES INTERNOS E
EXTERNOS APÓS OS TESTES INICIAIS ................................................................ 57
FIGURA 45 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO SOBRE O MOTOR 2 COM
MOVIMENTO SENTIDO LESTE (PWM = 17%) ........................................................ 58
FIGURA 46 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO NO MOTOR 1 COM MOVIMENTO
PARA O NORTE (PWM = 13%) ................................................................................ 58
FIGURA 47 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO NO MOTOR 1 NO SENTIDO SUL
(PWM = 57%) ............................................................................................................ 59
FIGURA 48 - FORMA DE ONDA DE CORRENTE NO MOTOR1 COM MOVIMENTO
NO SENTIDO SUL (PWM = 57%) ............................................................................. 59
vii
FIGURA 49 - MONTAGEM PARA A MEDIÇÃO DA INTENSIDADE LUMINOSA NA
EXTREMIDADE DA FIBRA ÓPTICA......................................................................... 60
FIGURA 50 – MEDIÇÃO DA INTENSIDADE LUMINOSA: (A) MEDIÇÃO NA
SUPERFÍCIE DA LENTE, (B) MEDIÇÃO NA SAÍDA DA CÂMARA ESCURA, (C) E
(D) DETALHE DA EXTREMIDADE DA FIBRA ÓPTICA ILUMINADA ....................... 61
FIGURA 51 – MEDIÇÃO DO FLUXO LUMINOSO COM A UTILIZAÇÃO DA ESFERA
INTEGRADORA ........................................................................................................ 62
FIGURA 52 – FLUXO LUMINOSO RESULTANTE EM FUNÇÃO DO
ILUMINAMENTO DA LUZ SOLAR PARA O PROTÓTIPO DESENVOLVIDO .......... 63
viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADC
Analog to Digital Converter
AI
Analog Input
CA
Corrente Alternada
CC
Corrente Contínua
CMOS
Complementary Metal–Oxide Semiconductor
CPU
Central Processing Unit
DAC
Digital to Analog Converter
DC
Direct Current
DI
Digital Input
F.C.
Fim-de-Curso
GND
Ground
GPS
Global Positioning System
IGBT
Insulated-Gate Bipolar Transistor
LDR
Light Dependent Resistor
MOSFET
Metal–Oxide–Semiconductor Field-Effect Transistor
MUX
Multiplex
OSC
Oscilador
PMMA
Polymethylmethacrylate
PWM
Pulse-Width Modulation
rpm
Rotações por minuto
RxD
Via de Recepção
SAD
Seasonal Affetive Disturbe
TTL
Transistor-Transistor Logic
TxD
Via de Transmissão
UART
Universal Asynchronous Receiver/Transmitter
US
United States
Vref
Tensão de referência
XTAL
Cristal Oscilador
ix
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
1.1 MOTIVAÇÃO ....................................................................................................... 1
1.2 OBJETIVOS......................................................................................................... 3
1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ...................................................................... 4
2
UMA VISÃO GERAL SOBRE O TEMA ............................................................... 5
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE LUZ, ILUMINAÇÃO E SUAS GRANDEZAS .......... 5
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA EM ILUMINAÇÃO .... 8
2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EFICIÊNCIA DA SOLUÇÃO COM FIBRA
ÓPTICA ............................................................................................................ 11
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS BENEFÍCIOS DA LUZ NATURAL .................. 12
2.4.1 Com relação às plantas ................................................................................... 12
2.4.2 Com relação ao corpo humano ........................................................................ 13
2.5 REVISÃO EM DISPOSITIVOS DE COLETORES COM FIBRA ÓPTICA PARA
APROVEITAMENTO DA LUZ NATURAL ......................................................... 14
2.5.1 O sistema Himawari ......................................................................................... 15
2.5.2 O sistema Parans ............................................................................................ 16
2.5.3 O sistema Sunlight Direct................................................................................. 17
2.6 RESUMO DO CAPÍTULO .................................................................................. 19
3
DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES UTILIZADOS .................... 20
3.1 LENTE CONCENTRADORA ............................................................................. 20
3.2 FIBRAS ÓPTICAS ............................................................................................. 21
3.3 COMPONENTES ELETRÔNICOS .................................................................... 24
3.3.1 Sensores ópticos ............................................................................................. 26
3.3.2 Motores de corrente contínua .......................................................................... 26
3.3.3 L298 - Dual full-bridge driver ............................................................................ 26
3.3.4 Microprocessador AduC812............................................................................. 28
3.3.5 ADM809 Microprocessor supervisory circuit .................................................... 29
3.3.6 78L05 Regulador de tensão ............................................................................. 29
4
PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO ...................................................................... 30
4.1 MECÂNICA ........................................................................................................ 30
4.1.1 Projeto dos mecanismos de redução ............................................................... 33
4.1.2 Construção do mecanismo .............................................................................. 36
x
4.2 ELETRÔNICA .................................................................................................... 37
4.2.1 Descrição geral dos circuitos e da malha de controle ...................................... 37
4.2.2 Sensores de rastreamento da posição do sol .................................................. 43
4.2.3 Interface serial para transferência do programa e monitoração do
microprocessador ...................................................................................................... 44
4.2.4 Fonte de alimentação....................................................................................... 44
4.2.5 Comandos de movimentação manual e calibração ......................................... 45
4.2.6 Software ........................................................................................................... 45
4.2.7 Geração dos pulsos PWM para o controle da velocidade dos motores ........... 48
5
RESULTADOS EXPERIMENTAIS .................................................................... 50
5.1 ENSAIOS COM A FIBRA PLÁSTICA ................................................................ 51
5.2 SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO AQUECIMENTO ............................................ 54
5.3 ENSAIOS PRÁTICOS DE RASTREAMENTO DO SOL .................................... 57
5.3.1 Medição da tensão de offset dos motores ....................................................... 57
5.3.2 Formas de onda do sinal PWM sobre os motores ........................................... 58
5.4 ENSAIOS LUMINOTÉCNICOS ......................................................................... 59
5.4.1 Medição da Intensidade Luminosa (cd) ........................................................... 60
5.4.2 Medição do fluxo luminoso (lm) ....................................................................... 61
5.4.3 Análise dos resultados ..................................................................................... 62
6
CONCLUSÕES .................................................................................................. 65
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 65
6.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS .................................................................. 66
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67
xi
1
INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO
Calcula-se que a Terra recebe mais de 1.500 quatrilhões (1,5x10 18) de
quilowatts-hora de energia por ano, energia que é equivalente a cerca de 10.000
vezes a energia consumida por toda a população [1]. O território brasileiro, pela sua
posição geográfica entre a linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, recebe uma
incidência solar muito favorável. A média anual de energia incidente na maior parte
do Brasil varia entre 4,5 kWh/m² e 5,5 kWh/m² [2].
Já tem sido bastante explorado o tema da energia solar como fonte alternativa
na matriz energética. No entanto, a maior parte dos trabalhos foca a conversão da
energia solar em energia elétrica através de painéis fotovoltaicos e seu
armazenamento em baterias ou a utilização do calor gerado pelo sol para a
utilização em sistemas de aquecimento de água.
Uma lacuna ainda não preenchida nestes estudos é o melhor aproveitamento
direto da luz solar em iluminação. Esta afirmação pode parecer, num primeiro
momento, um contrassenso uma vez que todas as construções possuem janelas e
outras aberturas para a entrada de luz. Mas basta uma observação mais atenta para
verificar que a maioria dos locais de trabalho – escritórios e fábricas – permanece
com suas luzes acesas durante o dia.
Pela arquitetura tradicional só existem duas formas de aproveitamento da luz
natural para iluminação de ambientes: aberturas verticais - através das janelas, e
entradas de luz pelo teto - através de claraboias e tetos solares. Estas aberturas
nem sempre são possíveis devido às características arquitetônicas ou intensa
densidade de construções urbanas. Por isso, também em plantas residenciais são
frequentemente encontrados ambientes com deficiência de iluminação. Edifícios com
grandes áreas e com divisões internas possibilitam uma iluminação adequada nas
partes periféricas, mas não atende a iluminação das áreas centrais. Tem-se como
regra de projeto, o aproveitamento da luz natural até a distância de 1,5 a 2,5 vezes a
altura da janela, conforme mostra a Figura 1 [3].
As aberturas para a entrada de luz natural em uma edificação, assim como um
bom projeto de iluminação elétrica, precisam receber um tratamento adequado na
sua concepção para não introduzir outros agravantes.
2
FIGURA 1 – GRÁFICO ILUSTRATIVO DO APROVEITAMENTO DA LUMINOSIDADE A PARTIR DA
JANELA
A diferença de contraste entre a iluminação exterior, na ordem de 100000 lx em
um dia claro, e a iluminação do ambiente interno – na faixa de 300 a 1000 lx –
podem provocar ofuscamentos desconfortáveis. Além disso, a entrada de calor pelas
janelas pode exigir um maior consumo dos equipamentos de ar condicionado,
anulando assim o ganho obtido com a economia de energia pela iluminação natural.
Um bom projeto de uso da luz natural, portanto, deve atender a todos estes
aspectos [4].
O intenso uso de computadores nos escritórios é outro fator que implica
cuidados no uso da iluminação natural através de janelas. Para um conforto na
visualização da tela, a iluminação não pode ser, nem frontal, pois a iliuminação da
janela pode ofuscar a visão do tela, nem de retaguarda, uma vez que nesta situação
há grande chance de reflexos. Percebe-se que, para o trabalho com computadores,
a iluminação vinda do teto é a mais adequada justamente a disponível com a
iluminação elétrica. Esta é a razão de que muitos edifícios envidraçados ficam a
maior parte do tempo com persianas e cortinas fechadas.
Um dispositivo que pudesse coletar e „canalizar‟ a luz solar para dentro do
ambiente sem necessidade de aberturas e nem de alterações estruturais e
arquitetônicas das construções existentes pode ser de grande utilidade (Figura 2).
Um trabalho publicado por Ghisi e Tinker em 2004 (5) mostra que o potencial de
economia de energia em iluminação utilizando fibras ópticas variou de 19,8% a
79,4% para sete cidades no Brasil e de 56,0% a 89,2% para a cidade no Reino
Unido. No estudo realizado no Reino Unido, mostrou-se também que poderia ocorrer
3
uma redução na emissão de dióxido de carbono de 138 kg/m2 por ano caso
houvesse integração da iluminação artificial com a natural suprida por fibras ópticas.
É com este objetivo que este trabalho apresenta uma solução de utilização de
de fibra óptica como elemento de transporte da luz. Pelas suas características de
maleabilidade, pode ser tratada similarmente a um ponto de iluminação elétrica,
levando-se a iluminação natural para locais não atingidos pelas aberturas
disponíveis na construção, ou aumentando o conforto do ambiente pela
disponibilização da luz natural pelo teto (ou outro arranjo) e ainda tendo-se o
benefício da economia da energia elétrica.
FIGURA 2 – ESQUEMÁTICO REPRESENTATIVO DA CANALIZAÇÃO DA LUZ SOLAR PARA
DENTRO DO AMBIENTE UTILIZANDO COLETOR E FIBRA ÓPTICA
1.2 OBJETIVOS
A presente dissertação visa descrever o desenvolvimento de modelo reduzido
de um dispositivo óptico-eletromecânico que aproveite a iluminação solar incidente
sobre uma superfície, sendo esta luminosidade concentrada e transportada
diretamente para dentro do ambiente através de feixes de fibras ópticas. A este
dispositivo denominou-se de Coletor Solar de Iluminação Direta com Fibra Óptica. O
trabalho teve também como foco a obtenção de um protótipo de baixo custo
utilizando-se de componentes de fácil aquisição no mercado.
Os objetivos específicos englobam:
4

Selecionar uma lente para concentrar a luminosidade incidente na sua
superfície e cujo foco será a extremidade de um cabo de fibras ópticas;

Projetar e construir um dispositivo mecânico para movimentar esta lente
de acordo com o movimento aparente do sol, visando manter sempre o
foco sobre a extremidade da fibra;

Desenvolver um circuito eletrônico que faça o acionamento dos motores
do dispositivo mecânico a partir da leitura dos sinais de sensores
fotoelétricos posicionados na estrutura mecânica;

Realizar ensaios para levantar a eficiência do cabo de fibras ópticas
para este tipo de aplicação;

Realizar testes de campo comprovando a eficiência do mecanismo
quanto à rastreabilidade do movimento aparente do sol.
1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Neste capítulo já foi exposta a principal motivação para a realização do
trabalho, bem como seu caráter prático e utilitário. O capítulo 2 apresenta uma
revisão sobre os temas: iluminação, consumo de energia em iluminação, benefícios
da luz natural, além de apresentar um descritivo de soluções similares que tem sido
desenvolvidas em outras partes do mundo.
O capítulo 3 descreve os principais componentes utilizados na montagem do
protótipo descrevendo algumas características importantes e, quando for o caso, a
justificação da escolha do componente ou material.
O capítulo 4 apresenta um detalhamento do projeto e a descrição da
construção das diversas partes, tanto no que se refere à mecânica quanto aos
circuitos eletrônicos.
O capítulo 5 apresenta os resultados experimentais do funcionamento do
protótipo, modificações que foram introduzidas no projeto para atender o objetivo
geral, bem como, uma análise dos resultados obtidos com os testes.
Finalmente, o capítulo 6 faz uma avaliação da aplicabilidade do equipamento e
uma conclusão do trabalho, apresentando também algumas sugestões de
aperfeiçoamentos futuros.
5
2
UMA VISÃO GERAL SOBRE O TEMA
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE LUZ, ILUMINAÇÃO E SUAS GRANDEZAS
Em 1860, na publicação da teoria matemática do eletromagnetismo, Maxwell
sugeriu que a luz fosse uma onda eletromagnética [6]. Esta energia radiante que nos
chega à retina dos olhos nada mais é do que variação de intensidade e comprimento
de onda formando imagens no nosso cérebro.
Dentro do espectro das ondas eletromagnéticas, a luz visível ocupa uma
pequena faixa entre os comprimentos de onda de 400 nm e 700 nm. Abaixo dos 400
nm está a faixa dos raios ultravioletas e, acima dos 700 nm, a faixa do
infravermelho [7].
O sol emite um largo espectro de radiações, sendo que boa parte não é de luz
visível. A Figura 1 apresenta o espectro solar sendo que a linha azul refere-se ao
níveis observados na superfície do mar(*).
FIGURA 3 – DISTRIBUIÇÃO ESPECTRAL DA RADIAÇÃO SOLAR
A intensidade da luz como o olho humano a percebe depende do ambiente que
lhe cerca. Se o olho é mantido num ambiente escuro por algum tempo,
(*)
Fonte: http://www.learn.londonmet.ac.uk/packages/clear/visual/daylight/sun_sky/sun.html - acesso
em 30/8/2007
6
automaticamente se tornará mais sensível pela abertura da íris. Se a intensidade
aumentar bruscamente, o olho terá uma sensação de brilho maior do que
normalmente seria, uma vez que há um tempo de acomodação a esta nova situação.
Desta forma, este conceito vago de „brilho da luz‟ precisa ser definido através
de uma padronização da medição da intensidade luminosa. A sensibilidade da vista
segue uma curva em forma de sino em relação aos comprimentos de onda da
radiação, ou seja, a sensibilidade do olho varia não apenas com a potência
luminosa, mas também com o comprimento de onda da radiação. Um comprimento
de onda de 554 nm produz a máxima excitação da retina. Mais tarde, constatou-se
também uma variação da sensibilidade para um deslocamento desta curva em
baixas luminosidades, cuja sensibilidade máxima ocorre em 507 nm [8].
A primeira curva foi denominada Curva Fotópica V(γ) para visão diurna; a
segunda, para visão noturna, foi denominada Curva Escotópica V‟(γ). Estas curvas
estão apresentadas na Figura 2.
FIGURA 4 - CURVAS DA EFICÁCIA LUMINOSA ESPECTRAL. V() CURVA FOTÓPICA –
VISÃO DIURNA E V‟() CURVA ESCOTÓPICA – VISÃO NOTURNA
O Sistema Internacional (SI) define algumas grandezas e unidades utilizadas
em Luminotécnica, das quais extraímos algumas que são importantes neste
trabalho:
7
Grandeza:
INTENSIDADE LUMINOSA
Unidade:
candela
Símbolo:
cd
Definição:
Intensidade luminosa, numa direção dada, de uma fonte que emite
uma radiação monocromática de freqüência 540.10 12 Hertz e cuja
intensidade
energética
naquela
direção
é
1/683
watt
por
esterradiano(). Esta unidade de base foi ratificada em 1979 pela 16ª
CGPM (Conférence Générale des Poids et Mesures).
Grandeza:
FLUXO LUMINOSO
Unidade:
lúmen
Símbolo:
lm
Definição:
Fluxo luminoso emitido por uma fonte puntiforme e invariável de 1
candela, de mesmo valor em todas as direções, no interior de um
ângulo sólido de 1 esterradiano.
Grandeza:
ILUMINAMENTO
Unidade:
lux
Símbolo:
lx
Definição:
Iluminamento de uma superfície plana de um metro quadrado de
área, sobre a qual incide perpendicularmente um fluxo luminoso de 1
lúmen, uniformemente distribuído.
Grandeza:
EXITÂNCIA LUMINOSA
Unidade:
lumen por metro quadrado
Símbolo:
lm/m2
Definição:
Exitância luminosa de uma superfície plana de um metro quadrado de
área, que emite uniformemente um fluxo luminoso de 1 lúmen.
Grandeza:
EFICIÊNCIA LUMINOSA
Unidade:
lúmen por watt
Símbolo:
lm/W
Definição:
Relação entre o fluxo luminoso emitido em lúmens e a potência
consumida pela lâmpada em watts
() esterradiano ou esferorradiano (símbolo sr) é definido como o ângulo sólido que, tendo o vértice
2
no centro de uma esfera, leva a um corte em sua superfície com área igual a r . Dado que a área da
superfície da esfera é 4r², a definição implica que o ângulo sólido de uma esfera completa mede
4 sr.
8
Na ciência da luminotécnica foram definidas algumas leis fotométricas.
Destacamos uma delas que é conhecida como Lei do Inverso do Quadrado das
Distâncias. Esta lei estabelece que o iluminamento em um ponto perpendicular à
linha que une o ponto e a fonte puntiforme é igual à intensidade luminosa desta
fonte, na direção desse ponto, dividida pelo quadrado da distância entre a fonte e o
ponto. Isto significa que, se a distância entre a fonte e o objeto a ser iluminado for
duplicada, a luminosidade diminui quatro vezes. Isto explica a forte atenuação do
iluminamento de uma superfície à medida que a fonte de luz se distância.
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA EM ILUMINAÇÃO
Por longo período da história, o sol e a lua eram as fontes de luz que o homem
dispunha para enxergar o mundo e os objetos. Ao controlar o fogo, iniciou a
utilização para seu próprio aquecimento, preparação de alimentos e como fonte de
luz.
Apesar do aperfeiçoamento dos candelabros e lamparinas, o fogo foi a única
fonte de luz artificial até o final do século XIX quando Thomas Alva Edison inventou
a lâmpada elétrica em 1879, utilizando um filamento de carbono operando em
ambiente de vácuo num bulbo de vidro. Pode-se dizer que a geração e distribuição
da energia elétrica, como conhecemos hoje, foi devido ao grande impacto que esta
inovação trouxe à humanidade. O vínculo entre energia elétrica e iluminação é tão
forte que o termo „conta de luz‟ é frequentemente utilizado no meio popular para se
referir ao faturamento da energia elétrica.
Neste panorama, a iluminação dos ambientes internos durante o dia, até o
início do século XX, era focado na utilização da luz natural. No entanto, o custo e o
desempenho das lâmpadas elétricas foram melhorando e gradativamente foram
influenciando a arquitetura das construções, em especial os edifícios comerciais,
ficando minimamente dependente da luz natural. Como resultado, as lâmpadas
elétricas representam grande parcela do consumo de eletricidade nas construções
comerciais. Como já foi mencionado, isto se deve a massificação do uso de
computadores, cujas telas são prejudicadas por iluminação inadequada, e pelo
conforto térmico e acústico, uma vez que pelas janelas também entra calor, frio e
ruídos.
9
Este comportamento faz com que os gastos com energia elétrica no item
iluminação sejam significativos. Nos Estados Unidos, a iluminação representa 24%
do total do consumo de energia nos prédios comerciais e 12% nos edifícios
residenciais[8,9]. A Figura 3 mostra a distribuição dos consumos de energia elétrica
nas suas várias aplicações em ambientes residências [9] e a Figura 4 apresenta os
mesmos dados para edificações comerciais [10].
Aquecimento do ambiente
31%
Ajuste do SEDS
5%
Outros
4%
Culinária
5%
Aquecimento
de água 13%
Desumidificadores
5%
Eletrônicos
5%
Refrigeração
8%
Resfriamento do
ambiente
11%
Iluminação
12%
Consumo Total de Energia: 21,07 Quatrilhões de BTU
FIGURA 5 – DISTRIBUIÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA EM AMBIENTES RESIDENCIAIS NOS
ESTADOS UNIDOS
Ajuste para SEDS
13%
Iluminação
24%
Outros
10%
Culinária
2%
Aquecimento
do ambiente
13%
Eletrônicos
6%
Ventilação
6%
Aquecimento
de água 11%
Refrigeração
6%
Resfriamento do
ambiente
11%
Consumo Total de Energia: 17,40 Quatrilhões de BTU
Excluindo-se consumo de energia do setor industrial
FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA EM EDIFICAÇÕES COMERCIAIS NOS
ESTADOS UNIDOS
10
O governo americano está investindo pesadamente na redução do consumo de
energia das fontes convencionais e, através do Energy Policy Act of 2005 [11],
estabeleceu a meta de 3% do uso de energias renováveis no período 2007-2009,
5% no período 2010-2012 e 7,5% a partir de 2013. Recursos estão sendo
direcionados na utilização da luz natural dentro de programas do Federal Energy
Management Program [12].
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Posses e Hábitos – Ano Base 2005
realizado pelo Procel da Eletrobrás [13], o consumo residencial em iluminação não é
tão alto, ficando no patamar de 14%. Os levantamentos mostram um desnível
significativo entre a região sudeste, que utiliza 19% da energia doméstica em
iluminação, e a região sul, que apresenta um percentual de 8% para esta mesma
aplicação.
Em consumidores comerciais ligados em alta tensão, a iluminação representa,
no global, um percentual de 17% em relação à demanda máxima das instalações,
havendo significativo desnível entre o setor de entretenimentos (41%) e o setor de
lojas de atacado (5%) [14]. A Figura 7 apresenta a média de carga de iluminação em
relação à demanda máxima das instalações para cada um dos setores pesquisados.
Ainda, segundo Magalhães [15], 24% da energia consumida em prédios públicos é
utilizada em iluminação.
FIGURA 7 – MÉDIA DE CARGA DE ILUMINAÇÃO EM RELAÇÃO À DEMANDA MÁXIMA DAS
INSTALAÇÕES
11
Pode-se constatar, assim, que o consumo de energia elétrica para iluminação, tanto
residencial, quanto comercial, representa um percentual significativo, e que ações
visando a sua redução será benéfico para a sociedade.
2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EFICIÊNCIA DA SOLUÇÃO COM FIBRA
ÓPTICA
Segundo Muhs [16], o sol emite uma potência de 970 W/m2 em todo o seu
espectro, sendo que praticamente a metade está na faixa do infravermelho. Se
filtrarmos esta região, cujos comprimentos de onda estão acima de 700 nm, e os
comprimentos de onda abaixo de 400 nm, resulta em que o espectro visível
apresenta uma potência de 490 W/m2. Como a intensidade luminosa incidente na
superfície da terra ultrapassa os 100000 lx [3], ou seja, 100000 lm/m2, a eficiência
teórica é ligeiramente acima de 200 lm/W. Mesmo considerando-se uma perda de
70% na coleta e transporte da luz através de um sistema de fibra óptica, é possível a
obtenção de uma eficiência de 60 lm/W (eficiência de 30%). Há que se considerar
ainda, numa análise mais detalhada, a contribuição do aquecimento do ambiente
pelos reatores e as próprias lâmpadas e que certamente vai exigir mais energia do
sistema de ar condicionado, enquanto que um sistema de iluminação por fibra óptica
elimina este inconveniente.
Pode-se fazer uma comparação com o rendimento da iluminação elétrica.
Lâmpadas fluorescentes tradicionais de 20 W emitem um fluxo luminoso de 1.060 lm
conforme dados dos fabricantes. Isto corresponde a uma eficiência elétrica de
53 lm/W. Lâmpadas incandescentes têm rendimento muito inferior, na faixa de 9 a
16 lm/W. As novas famílias de lâmpadas fluorescentes tubulares chegam a um fluxo
luminoso de 1.350 lm com 14 W, resultando em uma eficiência elétrica de 96 lm/W.
Se compararmos com uma solução de conversão fotovoltaica o desnível fica
muito evidente. A eficiência no processo de conversão está chegando a cerca de
10%. Somando-se perdas com armazenamento, transporte, conversão de corrente
contínua para corrente alternada e mais a contribuição da própria lâmpada na
conversão para energia luminosa, o rendimento do sistema resulta entre 1 a 5%[17].
A Figura 6 apresenta um comparativo entre estas tecnologias.
A grande limitação da iluminação direta é a impossibilidade do armazenamento
da energia em forma de luz. Desta forma, sua aplicação restringe-se ao período
diurno e na presença do sol. Esta limitação é contornada pelos diversos sistemas
12
utilizando-se de luminárias híbridas, isto é, com lâmpadas convencionais associadas
às fibras ópticas que chegam do coletor externo. Um sensor de luminosidade
controla o nível do brilho das lâmpadas para complementar a luminosidade sempre
que a iluminação solar não é suficiente.
Painel
Baterias
Coleta e Distribuição
Conversor
DC - AC
Uso Final
Luz Natural
Eficiência: 20 - 30%
Uso Final
Luz Elétrica
1 - 5%
FIGURA 8 - COMPARAÇÃO ENTRE A EFICIÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DIRETA DA ILUMINAÇÃO E A
UTILIZAÇÃO DA CONVERSÃO PRELIMINAR EM ELETRICIDADE
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS BENEFÍCIOS DA LUZ NATURAL
2.4.1 Com relação às plantas
A importância da luz no processo de crescimento das plantas denominado de
fotossíntese é bem conhecida. Todos os organismos necessitam de energia para
suas reações químicas. Estas reações são necessárias para a reprodução,
crescimento, ou outras atividades. Organismos fotossintéticos, como as plantas
usam a energia da luz para produzir glicose (carboidrato). A glicose é usada para
satisfazer as necessidades energéticas da célula. A fotossíntese é, portanto, um
13
processo no qual a energia solar é transformada e armazenada em glicose para uso
posterior [18].
Um dos fatores estimulantes a uma boa fotossíntese é a qualidade espectral,
ou seja, uma luz que contenha todos os comprimentos de onda do espectro[19].
Muitas plantas não se adaptam às condições de iluminação artificial, justamente
porque esta irradia apenas parte do espectro da luz natural.
2.4.2 Com relação ao corpo humano
Mesmo quando os projetos arquitetônicos levam em consideração o
aproveitamento da luz natural, seus objetivos se restringem ao aproveitamento da
luz natural para mitigar o uso de energia elétrica, ou por aspectos meramente
estéticos. No projeto e construção de novas edificações ainda não é levado em
consideração fatores biológicos e psicológicos que a luz natural tem sobre o ser
humano. Está se descobrindo que os efeitos da luz natural sobre o humor e o
comportamento das pessoas tem sido tão benéficos quanto a economia de energia.
A luz natural resulta em maior produtividade, menor absenteísmo, menor índice de
erros no trabalho, estimulando atitudes positivas, reduzindo a fadiga e diminuindo
problemas de visão [20].
O corpo humano usa a luz como um nutriente para os processos metabólicos
similarmente à água ou alimentos. A luz natural estimula as funções biológicas no
cérebro. Em dias nublados ou em condições de pouca luminosidade, a dificuldade
de perceber as cores pode afetar o humor e os níveis de energia[21]. Pelo menos 11
expressivos estudos foram realizados comprovando a eficácia da luz natural na
redução da depressão em pacientes com transtorno bipolar (bipolar disorder) e
distúrbio afetivo sazonal (seasonal affective disturb – SAD) [22].
Para se compreender melhor como e porque nosso corpo reage à luz natural
faz-se necessário um breve foco num tema denominado ritmo circadiano. O papel do
sistema circadiano é estabelecer uma representação interna do dia e da noite. Esta
representação interna não é uma resposta passiva das condições externas, mas um
elemento preditivo das condições que ainda estão por vir. O sistema circadiano
humano envolve três componentes: um oscilador interno (endógeno), localizado no
núcleo supraquiasmático; um número de osciladores externos (exógenos) que tem a
função de sincronizar o oscilador interno, e a melatonina, um hormônio que opera
como um mensageiro transportando a informação do tempo para todas as partes do
14
corpo através da corrente sanguínea. Na ausência da luz, e de outros marcos
externos, o oscilador interno continua a operar, mas com um período mais longo que
24 horas do dia. Estímulos externos são necessários para sincronizar o oscilador
interno no período de 24 horas, bem como o ajuste das estações do ano. A
alternância claro-escuro entre o dia e a noite é um dos mais importantes estímulos
externos usados para a sincronia [23].
A razão de a luz natural ser mais conveniente para o ritmo circadiano é que ela
é mais intensa e o espectro de cores mais abrangente. A sensibilidade do corpo
humano é mais acentuada com o comprimento de onda de 465 nm [24].
Foi somente em 2002 que o pesquisador David Berson da Brown University
descobriu uma nova célula na retina operando como um fotorreceptor e que age
como cadenciador do ritmo do corpo. Esta célula é também conhecida como terceiro
receptor, uma vez que eram conhecidos dois fotorreceptores, um para a
identificação das cores e o outro para o reconhecimento do contraste,
respectivamente conhecidos como cone e bastonete [25].
A Figura 7 apresenta esquematicamente as oscilações de elementos do ritmo
CICLO CIRCADIANO
circadiano durante um período de 24 horas [26].
Cortisol
Melatonina
Estado de alerta
Temperatura do corpo
TEMPO
6
12
18
24
6
12
18
24
6
FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DO CICLO CIRCADIANO
2.5 REVISÃO EM DISPOSITIVOS DE COLETORES COM FIBRA ÓPTICA PARA
APROVEITAMENTO DA LUZ NATURAL
Embora existam inúmeros trabalhos descrevendo o aproveitamento da luz
natural utilizando-se de canalizações da luz por meio de tubulações, espelhos e
outros dispositivos, o foco desta revisão é apresentar o estado da arte no
desenvolvimento de coletores que concentram a luz e a transmitem através de fibras
ópticas para dentro do ambiente.
Estes coletores têm em comum os seguintes pontos: a) os raios luminosos são
concentrados, b) transportados através de um feixe de fibras ópticas sem conversão
15
para energia elétrica e c) a luz transportada pela fibra é aplicada em luminária
apropriada para dispersar a luz no ambiente.
Para esta revisão do estado da arte foram selecionados três sistemas, cujo
avanço tecnológico alcançado já permitiu sua disponibilidade no mercado.
2.5.1 O sistema Himawari
Este sistema baseia-se na concentração da luz solar por lentes Fresnel e a
transmissão da luz por fibras ópticas de vidro. O início do seu desenvolvimento se
deu na década de 70 pelo professor Kei Mori e uma versão monolente foi
apresentada em 1979. A denominação Himawari se deu em referência a palavra
japonesa que significa girassol [27].
Atualmente é produzido pela empresa japonesa La Forêt Engineering Co. [28]
e dispõe de diversas versões comerciais, começando com um sistema com seis
lentes totalizando 425 cm2 de área coletora até um potente sistema com 198 lentes
totalizando 14.035 cm2. As lentes Fresnel têm formato hexagonal formando uma
colméia, e este conjunto move-se na direção do sol por meio do acionamento de
motores controlados por circuitos sensores e relógio interno. Ao anoitecer o conjunto
é girado para a posição do sol no amanhecer.
FIGURA 10 – O MAIOR (198 LENTES) E O MENOR SISTEMA HIMAWARI (6 LENTES)
Cada uma das lentes foca uma terminação de fibra óptica com diâmetro de
1 mm. Seis fibras formam um cabo, permitindo assim a modularidade de sistemas
com 6, 12, 36, 90 e 198 lentes. Cada fibra permite a transmissão de um fluxo
luminoso de 1.920 lm a uma distância de 15 m. O ângulo de dispersão da luz na
terminação da fibra é de 58º. Sendo instalada a uma altura de 2,5 m, vai iluminar
uma área circular no piso de 2,77 m de diâmetro com 445 lx no centro do círculo e
318 lx de iluminação média – dados obtidos na página da internet do fabricante.
16
2.5.2 O sistema Parans
Desenvolvido na Suécia pela empresa Parans [29] que produz e comercializa
um único modelo de coletor, o SP2. Este coletor, de praticamente um metro
quadrado de área, (mede 980 mm por 980 mm e 180 mm de espessura) pode ser
instalado tanto sobre o telhado quanto na lateral de paredes. No painel existem 64
pequenas lentes Fresnel, com possibilidade de movimento individual em torno do
seu eixo para melhor captação da luz. Um circuito eletrônico microprocessado
aciona os motores a partir de informações de fotossensor.
Segundo as informações obtidas na página da internet, o painel não exige
critérios rígidos para sua instalação. Depois de instalado, o sensor faz uma
varredura do céu para detectar a posição do sol acionando o movimento para
colocar todas as lentes em posição perpendicular aos raios do sol. A luz concentrada
em cada lente é direcionada para uma fibra de 0,75 mm. O painel pode coletar a luz
solar com um ângulo incidente de 60º da direção do sol, formando, portanto, um
cone ativo de 120º. Isto representa uma média de 8 horas diárias de luz. Como fluxo
luminoso de saída, o SP2 fornece 14.000 lm com a iluminância normal de
100.000 lx. O painel é ligado a uma rede de 220 V e consome 2 W de potência. A
Figura 9 mostra detalhes deste tipo de painel.
(A)
(B)
FIGURA 11 – (A) PAINEL COLETOR SOLAR SP2 DA PARANS (B) DETALHE DOS
MOVIMENTOS DE CADA LENTE FRESNEL
Em cada painel são conectados quatro cabos de fibras plásticas tipo PMMA –
Polimetilmetacrilato de 6 mm de diâmetro e 20 m de comprimento. A transmissão de
luz é de 96,5% por metro, ou seja, a atenuação é de 3,5% por metro linear de cabo.
A Figura 10 apresenta o gráfico da atenuação em função do comprimento do cabo
de fibra óptica.
17
FIGURA 12 - ATENUAÇÃO DA LUMINOSIDADE EM FUNÇÃO DO COMPRIMENTO DO CABO
A empresa produz também as luminárias apropriadas para a aplicação com o
coletor, algumas delas equipadas com lâmpadas fluorescentes para complementar a
iluminação automaticamente e na proporção do nível pré-determinado para o
ambiente. As informações foram obtidas na página da internet do fabricante.
2.5.3 O sistema Sunlight Direct
Este projeto foi desenvolvido por um consórcio de 28 instituições, dentre
universidades, laboratórios e empresas privadas, dentre elas a 3M, Sandias National
Laboratories e Oak Ridge National Laboratory e apoiado pelo programa de energias
renováveis do governo americano denominado EERE – Energy Effciency and
Renewable Energy do Departamento de Energia US DOE – U.S. Departament of
Energy.
O sistema baseia-se num coletor parabólico espelhado de cerca de 1,3 m de
diâmetro. No foco deste espelho parabólico fica instalado um espelho secundário
que retorna o feixe concentrado para o centro do espelho principal e onde estão
instalados oito cabos de fibras ópticas plásticas. Este espelho secundário tem
adicionalmente a função de filtrar a porção visível do espectro solar eliminando
assim o espectro dos raios ultravioletas e infravermelhos. Um pequeno painel
fotovoltaico, especialmente desenvolvido para este coletor, aproveita a energia do
espectro infravermelho filtrado pelo espelho secundário para gerar a energia
18
necessária à operação do mesmo. A Figura 11(A) apresenta a foto de um painel já
instalado em San Diego, CA, e a Figura 11(B) o detalhe da montagem dos cabos de
fibra na extremidade de captação.
(A)
(B)
FIGURA 13 – (A) PAINEL SUNLIGHT-DIRECT INSTALADO NO PRÉDIO DA SAN DIEGO
UTILITY DISTRICT (B) DETALHE DA MONTAGEM DOS CABOS DE FIBRA NA
EXTREMIDADE DA CAPTAÇÃO
O circuito eletrônico deste projeto não baseia a posição do sol em sensores
como é o caso dos sistemas descritos anteriormente. Um receptor GPS (Global
Positioning System) localiza a posição da latitude e longitude de onde está instalado
o coletor e, um software processa uma equação da posição astronômica do sol
desenvolvido pela US Naval Observatory, com precisão de 1/60º para os próximos
300 anos, em relação à posição do coletor. Com estas informações, o rastreamento
do sol pode ser obtido com resolução de 0,1º. O controlador atualiza a posição do
coletor a cada intervalo de um segundo.
Como nos outros sistemas, foram projetadas luminárias apropriadas para a
aplicação com este coletor, tendo-se lâmpadas fluorescentes com controle de
luminosidade para complementar a iluminação necessária no ambiente na ausência
ou redução da luminosidade natural.
Uma empresa foi licenciada para a exploração comercial deste produto
denominada Sunlight-Direct e, pelo cronograma do projeto, em Março de 2007 teria
sido concluída a produção de 50 unidades para instalação em diversos pontos do
território americano como teste de campo, incluindo os participantes do consórcio.
Cada unidade deste lote piloto vai custar cerca de US$ 24.000,00 incluindo todas as
despesas de manutenção por um ano. A expectativa dos participantes do consórcio
19
é atingir a meta de custo na faixa de US$ 3.000,00 quando produzido em escala
comercial.
As
informações
foram
obtidas
nas
páginas
WEB
da
Oak
Ridge
Laboratories [30] e do portal da empresa Sunlight Direct [31].
2.6 RESUMO DO CAPÍTULO
O Quadro 1 procura resumir as principais características entre a iluminação
natural e a iluminação elétrica fazendo um contraponto com a iluminação por fibra
óptica. Através deste quadro pode-se fazer um comparativo das vantagens e
desvantagens de cada uma delas.
LUZ NATURAL
ILUMINAÇÃO ELÉTRICA
Não é disponível a noite
Independe da hora
O fluxo luminoso é afetado pelas
condições atmosféricas (nuvens)
O fluxo luminoso não é afetado
O local a ser iluminado depende
da disponibilidade de aberturas
para o exterior
Ponto de luz (janela) de difícil
reposicionamento no ambiente
Normalmente a luz não vem do
teto
Difícil direcionalidade
Boa definição de cores
A luz natural apresenta
vantagens psico-biológicas
As aberturas impactam na
temperatura do ambiente
Custo zero da energia
ILUMINAÇÃO POR FIBRA
ÓPTICA
Não é disponível à noite
O fluxo luminoso é afetado
pelas condições atmosféricas
(nuvens)
Não depende
Não depende
Fácil reposicionamento do ponto
de luz no ambiente
Fácil reposicionamento do ponto
de luz no ambiente
Normalmente a luz vem do teto
Normalmente a luz vem do teto
Ampla gama de opções de
lâmpadas e refletores para
melhorar a direcionalidade
Distorce cores
O espectro da luz artificial é
estreito e não proporciona o
mesmo conforto
Os pontos de iluminação
apresentam geração de calor
não desprezível
A energia tem custo
Facho direcional por natureza
Boa definição de cores
As mesmas vantagens da luz
natural
Excelente isolação térmica
Custo zero para a energia
QUADRO 1 - COMPARATIVO ENTRE A ILUMINAÇÃO NATURAL, ELÉTRICA E ATRAVÉS DA
FIBRA ÓPTICA
20
3
DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES UTILIZADOS
Neste capítulo discorre-se sobre os principais elementos que compõe o coletor
de luz solar, objeto deste trabalho, procurando, sempre que necessário, justificar as
razões das escolhas realizadas. Há de se considerar também nestas escolhas, as
limitações econômicas por se tratar de um projeto acadêmico.
3.1 LENTE CONCENTRADORA
A opção utilizada para a construção deste dispositivo coletor de luz solar foi a
de utilizar uma lente concentradora do tipo Fresnel. Lentes esféricas poderiam ser
utilizadas para a montagem do coletor solar, mas a Lente de Fresnel apresenta a
vantagem de ser mais leve.
A lente de Fresnel baseia-se na segmentação de uma lente esférica, onde as
angulações são mantidas em cada segmento, sem, no entanto, utilizar a mesma
quantidade de material. Pela Figura 12 pode-se perceber o princípio da Lente de
Fresnel e a comparação da diferença de cada uma delas.
FIGURA 14 – PRINCÍPIO DA LENTE DE FRESNEL
Em 1748, o Conde de Buffon (George Louis Leclerc, 1707 - 1788), escritor e
naturalista francês, sugeriu que as lentes poderiam ter seu peso sensivelmente
diminuído se a sua superfície esférica, em vez de contínua, fosse dividida num
21
conjunto de anéis circulares concêntricos sucessivos. Montados adequadamente,
formariam uma lente esférica numa superfície plana. A idéia foi realizada pelo físico
francês Augustin Fresnel (1788 - 1827), em 1820, na construção da lente de um farol
que, por causa do seu diâmetro, seria muito grossa e pesada na forma
convencional[32].
Para o protótipo foi aplicada uma lente de Fresnel de 280 mm x 280 mm, a
mesma utilizada em retroprojetores de transparências, fabricado com material
polimérico o que deixa seu peso ainda mais reduzido. O foco desta lente fica a cerca
de 100 mm da superfície.
Considerando que o sol produz um ilumina mento na faixa de 32.000 lx a
100000 lx na superfície da terra, e que a área da lente utilizada é de 0,0728 m2,
pode-se calcular que a superfície da lente receba entre um iluminamento entre
2.509 lm e 7.840 lm.
Se considerarmos que a superfície da lente, ao mesmo tempo que recebe um
iluminamento por uma de suas faces e emite um fluxo luminoso na outra face,
podemos dizer que a exitância luminosa da superfície oposta da lente é também
varia entre 2.509 lm e 7.840 lm, fluxo este que será concentrado na extremidade da
fibra óptica.
3.2 FIBRAS ÓPTICAS
Fibra óptica é um filamento de vidro ou de material polimérico, suficientemente
transparente, de forma que um feixe de luz incidente na sua extremidade possa ser
guiado através deste filamento até a outra extremidade. Estes filamentos têm
diâmetros variáveis, dependendo da aplicação, indo desde diâmetros ínfimos, da
ordem de micra até vários milímetros.
A fibra possui no mínimo duas camadas: o núcleo e o revestimento, ou casca,
definidos em materiais e espessuras de forma que apresentem índices de refração
que possibilitem a reflexão interna da luz (Figura 15). Para que ocorra a máxima
reflexão interna, o índice de refração do núcleo deve ser maior do que o índice de
refração da casca. Materiais dielétricos distintos são utilizados para se obter esta
diferença de refração, como sílica-plástico, diferentes tipos de pástico, ou ainda
dopagens convenientes de materiais semicondutores (por exemplo, GeO2, P2O5,
B2O3, etc.) na sílica (SiO2) [33].
22
Núcleo – Polímero com alto grau de refração
Raio de luz
Revestimento – Polímero com alto índice de reflexão
FIGURA 15 – PROPAGAÇÃO DA LUZ ATRAVÉS DA FIBRA ÓPTICA
Existem três diferentes tipos de fibras ópticas quando se leva em consideração
o modo de propagação da luz através da mesma. Pela teoria ondulatória, a luz é
regida pelas equações de Maxwell e, desta forma, a fibra óptica pode ser
considerada como uma guia de onda. Dessa maneira, a luz que percorre a fibra
óptica não se propaga aleatoriamente, mas é canalizada em certos modos.
Smiderle e Boff [34] definem o modo de propagação como uma onda com
determinada distribuição de campo eletromagnético que satisfaz as equações de
Maxwell e que transporta uma parcela individual (mas não igual) da energia
luminosa total transmitida. Esses modos podem ser entendidos e representados
como sendo os possíveis caminhos que a luz pode ter no interior do núcleo.
Comercialmente, as fibras ópticas são fabricadas em duas categorias:
Multímodo e Monomodo. A classificação multímodo ainda pode ser subdividida em
duas: Multímodo Índice Degrau e Multímodo Índice Gradual. A aplicação das fibras
ópticas em telecomunicações de impulso ao seu aperfeiçoamento e esta
classificação está muito relacionada com a evolução e exigências desta aplicação
em termos de atenuação e banda passante.
Multimodo Índice Degrau: Foram as primeiras a surgir e constitui-se
basicamente num único tipo de vidro no seu núcleo, apresentando assim um índice
de refração constante em toda a região do núcleo. São fabricadas em vidro e em
plástico permitindo grande flexibilidade e baixos custos, tanto da própria fibra quanto
das conexões. Comparadas com as fibras ópticas desenvolvidas posteriormente
visando a aplicação em telecomunicações, este modo apresenta limitações na
aplicação na taxas de transmissão e com relação as distâncias atingidas.
23
FIGURA 16 – CARACTERÍSTICA DA FIBRA MULTIMODO ÍNDICE DEGRAU
Multímodo Índice Gradual: Como evolução da fibra multimodo para
aplicação em telecomunicações, o núcleo da fibra multimodo de índice gradual
apresenta um índice de refração que varia gradualmente em relação ao centro. Isto
permite diminuir as diferenças de tempos de propagação da luz no núcleo, devido
aos vários caminhos possíveis que a luz pode tomar no interior da fibra. Esta
característica melhora significativamente a banda passante em sistemas de
transmissão de dados.
FIGURA 17 – CARACTERÍSTICA DA FIBRA MULTIMODO ÍNDICE GRADUAL
Fibra Monomodo: Esta fibra, ao contrário das anteriores, e construída de tal
forma que apenas o modo fundamental de distribuição eletromagnética (raio axial) é
guiado, evitando assim os vários caminhos de propagação da luz dentro do núcleo,
conseqüentemente diminuindo a dispersão do impulso luminoso.
Para que isso ocorra, é necessário que o diâmetro do núcleo seja poucas
vezes maior que o comprimento de onda da luz utilizado para a transmissão. As
dimensões típicas são 2 a 10 µm para o núcleo e 80 a 125 µm para a casca,
dimensões muito pequenas, que dificultam, portanto, a conectividade. Caracteriza-
24
se, entretanto, por uma capacidade de transmissão bastante superior às fibras do
tipo multimodo. Os materiais utilizados para a sua fabricação são sílica e sílica
dopada [30].
Tendo em vista sua aplicação no campo das telecomunicações, a fibra
monomodo é fabricada para comprimentos de onda na faixa de 1300 a 1500 nm, o
que impede sua utilização na faixa da luz visível.
A partir desta classificação, pode-se concluir que as fibras utilizadas em
aplicações de iluminação são as de multimodo índice degrau, tanto pelas suas
dimensões maiores quanto pela possibilidade da sua fabricação em plástico. A boa
flexibilidade e facilidade nas conexões, aliadas a um baixo custo, fazem da fibra
plástica a melhor alternativa hoje disponível para canalização da luz no expectro
visível.
Fibras
plásticas
são
fabricadas
de
Polimetilmetacrilato
-
PMMA
(Polymethylmethacrylate) e, como ponto negativo, não suportam temperaturas acima
de 135ºC [35]. A vida útil destes cabos é de cerca de 15 anos [36].
Os cabos de fibra multimodo podem ainda ser maciças ou agrupadas em feixes
(cabos multifibras) para aumentar a área de captação da luz.
O fato de que a fibra óptica plástica não transmite bem os comprimentos de
onda fora da faixa do espectro visível, atenuando os comprimentos de onda do
infravermelho e do ultravioleta, é benéfico, uma vez que permite a canalização com
luz natural sem o inconveniente da elevação da temperatura no ambiente. A
literatura médica também alerta para os efeitos dos raios ultravioletas na pele [37].
No protótipo deste trabalho foi utilizada um cabo de 4 m de comprimento tipo
endlight encapado modelo FOC.080 fabricado pela Fasa Fibra Ótica, cujo diâmetro
útil é de 80 mm contendo 75 fibras de 0,75 mm de diâmetro.
3.3 COMPONENTES ELETRÔNICOS
O diagrama de blocos do sistema eletrônico está apresentado na Figura 14,
onde se pode observar a divisão dos circuitos em duas placas: a placa de controle e
a placa driver dos motores.
Os sensores são ligados na placa de controle que tem como função processar
os sinais de cada um destes sensores fazendo inicialmente a conversão do sinal
analógico da tensão para um valor digital. Estes valores são processados no
25
microprocessador em função da comparação entre os níveis entre si, tomando-se os
pares NORTE-SUL e LESTE-OESTE.
A placa de driver tem a função de fornecer aos motores os níveis adequados
de tensão e corrente para sua movimentação.
FONTE
REDE
9V
SENSORES
EXTERNOS
NORTE
GND
OESTE
SUL
M1
Vdc (5V)
LESTE
NORTE
SENSORES
INTERNOS
Vdc Motor (9V)
SUL
PLACA
DE
CONTROLE
Enable A
Oeste
Leste
PLACA
DRIVER DOS
MOTORES
Enable B
LESTE
Norte
OESTE
Sul
MOTOR
MOVIMENTO
LONGITUDE
M2
MOTOR
MOVIMENTO
LATITUDE
Fim-de-curso Norte
Fim-de-curso Sul
Fim-de-curso Leste
Fim-de-curso Oeste
FIGURA 18 - DIAGRAMA DE BLOCOS DO SISTEMA ELETRÔNICO
No mecanismo foram instalados quatro interruptores de fim-de-curso para
interromper a movimentação a partir de certo ponto próximo ao limite de segurança
de operação. Cada uma destas micro-chaves fica posicionada para serem ativadas
quando a extremidades das respectivas rodas dentadas estiver próximo ao seu
curso máximo. Esta segurança protege os motores do aquecimento excessivo e o
mecanismo de sobrecargas que poderiam danificá-los definitivamente.
Uma descrição mais detalhada dos principais componentes eletrônicos que
foram utilizados neste trabalho é apresentada a seguir:
26
3.3.1 Sensores ópticos
O sensor de luminosidade que apresentou melhor sensibilidade foi o tipo
fotorresistor ou mais comumente denominado LDR – Light Dependent Resistor. São
construídos a partir de sulfeto de cádmio ou sulfeto de chumbo. Sua resistência varia
com a intensidade de luz incidente, obedecendo à equação R = C.k1.k2, onde L é a
luminosidade em lx, k1 e k2 são constantes dependentes do processo de fabricação
e do material utilizado. Quando o fóton tem energia suficiente para quebrar a ligação
elétron-lacuna (0,2 a 3 eV - comprimento de onda de 400 a 600 nm), um elétron
torna-se livre, podendo fluir pelo circuito. A energia luminosa desloca elétrons da
camada de valência para a de condução (mais longe do núcleo), aumentando o
número destes, o que faz aumentar a condutividade [38].
3.3.2 Motores de corrente contínua
Neste protótipo foram utilizados dois motores de corrente contínua modelo
MR102-35ML-Z fabricados pela Action Technology. Este modelo já vem com um
redutor incorporado e opera na faixa de 6 a 24 Vcc. Na sua tensão nominal de 12 V,
a velocidade angular é 36 rpm. O motor de corrente contínua é bastante adequado
para controle de velocidade, uma vez que este controle pode ser facilmente
implementado pela variação da tensão de alimentação [39].
3.3.3 L298 - Dual full-bridge driver
O L298 é um circuito integrado de 15 pinos com encapsula mento tipo SO20
próprio para acionamento de cargas indutivas como reles, solenóides, motores de
corrente contínua e motores de passo. É constituído de dois circuitos tipo ponte
completa independentes entre si. Aceita tensão de alimentação até 46 V e pode
drenar
uma
corrente
até
4 A.
Possui
ainda
proteção
interna
contra
sobretemperaturas desligando automaticamente a saída, caso a temperatura
ultrapasse o limite crítico. Para o comando, o L298 aceita níveis TTL, ou seja, o
controle é feito com tensões digitais de 5 V com boa imunidade de ruídos (1,5V). No
caso de acionamento de motores de corrente contínua é possível, com apenas um
circuito integrado, acionar dois motores independentemente. A Figura 15 apresenta
o diagrama interno deste componente [40].
27
FIGURA 19 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DO CIRCUITO INTEGRADO L298
Na Figura 16 e Figura 17 é apresentado o princípio de operação deste circuito
em ponte fazendo a reversão do motor. Considere-se inicialmente a entrada de
HABILITAÇÃO sempre ativada (nível 1) para ambos os casos. Com este pino
desabilitado (nível 0) o motor pára, pois em nenhum sentido vai haver circulação de
corrente.
Com o pino IN 1 ativado (nível 1) e a entrada IN 2 desativada (nível 0) o motor
vai girar em um sentido. Invertendo-se os níveis destas entradas entre si, o motor
passa a girar em sentido contrário.
+V
IN 1
IN 2
HAB
“1”
M1
“0”
“1”
FIGURA 20 – FUNCIONAMENTO BÁSICO DO CIRCUITO PONTE – MOTOR GIRANDO EM UM
DOS SENTIDOS
28
+V
IN 1
IN 2
HAB
“0”
M1
“1”
“1”
FIGURA 21 – FUNCIONAMENTO BÁSICO DO CIRCUITO PONTE – MOTOR GIRANDO NO
SENTIDO REVERSO
3.3.4 Microprocessador AduC812
A placa de controle possui como seu principal elemento o microprocessador
AduC812 fabricado pela Analog Devices. Opera com clock na freqüência de 12 MHz,
este componente é uma das evoluções do muito conhecido microprocessador 8051
e mantém com este a compatibilidade com o conjunto de instruções de
programação. A principal diferença com o antigo processador é a incorporação, no
mesmo chip, de 8 entradas analógicas com resolução de 12 bits, além de ter
recebido outras características inexistentes no 8051. A Figura 18 mostra o diagrama
de blocos funcional deste microprocessador [41].
FIGURA 22 – DIAGRAMA DE BLOCOS FUNCIONAL DO MICROPROCESSADOR ADUC812
29
3.3.5 ADM809 Microprocessor supervisory circuit
O circuito ADM809 é um circuito integrado com apenas três terminais – dois
para a alimentação (Vcc e GND) e uma saída denominada RESET (reset barrado)
que vai interligado ao pino de reset do microprocessador AduC812. Tem como
função supervisionar a alimentação do microprocessador quando o circuito é ligado
e desligado. Cada vez que o circuito é energizado provê um pulso de reset do
microprocessador durante um período de 240 ms, tempo suficiente para garantir a
estabilidade da fonte, evitando assim o início do processamento sem as condições
mínimas de estabilidade. Na desenergização, provê um pulso de reset tão logo a
tensão de alimentação passe para níveis inferiores à tensão de referência. Desta
forma, na ocorrência de espúrios na linha de alimentação, este circuito não permite
que o microprocessador opere com tensões inadequadas, provocando eventuais
erros no processamento. Tem baixo consumo, em torno de 17 A. A Figura 19
mostra a operação do componente em diversas situações de alimentação (Vcc) [42.
VCC
RESET
VREF
VREF
t1
VREF
VREF
t1
t1 = RESET TIM E = 240ms TYP
VREF = RESET VOLTAGE THRESHOLD
FIGURA 23 – EXEMPLOS DE OPERAÇÃO DO ADM809
3.3.6 78L05 Regulador de tensão
Como a Placa de Controle é internamente alimentada por uma tensão de 5 V,
um dispositivo de três terminais faz o rebaixamento da tensão de 9 V proveniente da
fonte de alimentação. Este componente denominado 78L05 é um regulador de
tensão, mantendo assim a estabilidade necessária em toda a linha de alimentação.
Consegue fornecer uma corrente de até 100 mA e apresenta ainda função de
proteção contra curto-circuito na saída e sobretemperatura [43].
30
4
PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO
4.1 MECÂNICA
Para manter o foco da lente sobre a extremidade da fibra óptica foi necessário
desenvolver um mecanismo de movimentação da lente tanto para movimentação na
direção leste-oeste - considerando-se a movimentação aparente do sol na trajetória
diária, quanto na movimentação na direção norte-sul, quando a lente precisa
encontrar a melhor perpendicularidade em relação ao movimento do sol durante a
mudança das estações do ano.
Estes movimentos são baseados em dois motores; um deles para movimentar
a lente buscando acompanhar a trajetória aparente do sol durante o dia; o outro no
acompanhamento do movimento do sol na trajetória das estações do ano.
A Figura 20 apresenta um desenho em perspectiva do conjunto que foi
montado como protótipo para o desenvolvimento deste trabalho. A partir deste
desenho pode-se fazer uma descrição mais detalhada das diversas partes que
formam o conjunto.
Por esta figura pode-se observar que o quadro com a Lente de Fresnel está
mecanicamente acoplada diretamente ao conjunto motor-redutor que faz a
movimentação no sentido longitudinal. Este conjunto, por sua vez, fica acoplado
mecanicamente ao conjunto motor-redutor do movimento no sentido da latitude.
Uma haste de sustentação interligada à base do mecanismo sustenta todo o
conjunto. Esta base possui furação para fixação no local onde o coletor solar for
utilizado
31
FIGURA 24 – DESENHO EM PERSPECTIVA DO PROTÓTIPO MONTADO
A Lente de Fresnel foi montada em um quadro construído com cantoneiras e
onde também são fixadas três hastes que vão suportar o cabeçote onde está
conectada a extremidade da fibra óptica.
Como referência da posição do sol num determinado instante, foram instalados
oito sensores fotoelétricos assim distribuídos em relação a lente concentradora: dois
sensores posicionados no perímetro externo da lente na direção leste-oeste, cada
um deles em lados opostos, ou seja, um deles voltado para o leste e o outro voltado
ao oeste. Dois sensores posicionados no perímetro externo da lente na direção
32
norte-sul, cada um deles em lados opostos, ou seja, um deles voltado para o norte e
o outro voltado para o sul. Estes quatro sensores são denominados sensores
externos e têm como função uma primeira aproximação do movimento do coletor
solar.
No cabeçote, onde fica fixada a extremidade da fibra óptica que vai receber os
raios luminosos, estão instalados outros quatro sensores obedecendo a mesma
lógica de posicionamento leste-oeste e norte-sul e denominados sensores internos.
Os sensores externos terão a função de fornecer um sinal diferencial para uma
primeira aproximação do foco da lente no cabeçote onde fica a extremidade da fibra
óptica. Um circuito eletrônico detecta a diferença de luminosidade entre o par de dois
sensores – leste-oeste e norte-sul e movimenta o motor que faz o giro na direção
correspondente. Quando o foco se aproxima do cabeçote, os dois sensores internos
são ativados, ao mesmo tempo em que os externos são desativados, permitindo
assim uma aproximação mais precisa do foco.
Para um adequado controle da movimentação foi desenvolvido um circuito
eletrônico para detecção dos níveis de luminosidade e a movimentação com
velocidade variável para a obtenção do foco. À medida que o foco da lente se
aproxima da extremidade da fibra, a velocidade do motor é reduzida até estacionar
exatamente sobre o foco. As Figuras 21 e 22 apresentam uma simulação em
desenho do movimento do mecanismo.
FIGURA 25 – SIMULAÇÃO DO MOVIMENTO DA LENTE ENTRE O AMANHECER E O
ANOITECER (LONGITUDE)
33
FIGURA 26 – SIMULAÇÃO DO MOVIMENTO DA LENTE COM RELAÇÃO ÀS ESTAÇÕES DO
ANO (LATITUDE)
4.1.1 Projeto dos mecanismos de redução
Como já foi apresentado anteriormente, o motor selecionado foi o tipo MR10235ML-Z fabricados pela Action Technology que já vem com redução incorporada e
gira a uma velocidade de 36 rpm quando em alimentação nominal segundo a folha
de características do fabricante. O modelo escolhido foi devido ao fato de apresentar
a menor velocidade nominal na saída do redutor incorporado ao motor. Mesmo
assim será necessário um mecanismo redutor adicional conforme comprovado a
seguir.
Considerado um período de aproveitamento da luz solar entre 7 horas (hmin) da
manhã até às 17 horas (hmax), o ângulo do movimento diário da lente (fh) perfaz um
período de 10 horas. A faixa do ângulo (f) pode ser calculada como:
f 
fh
.2 onde fh  hmax  hmin  fh  17  7 = 10
24
(1)
20
 f  2,618rd  f  1500
24
(2)
f 
A velocidade angular do mecanismo diário (d) é de:
d 
o
f 150

 wd  15  0,25o min  0,7.10 3 rpm
h
10
fh
(3)
Como já foi apresentado anteriormente, o motor já vem com uma redução
incorporada. O eixo do conjunto gira a uma velocidade de 36 rpm quando o motor é
34
alimentado com tensão nominal. Isto representa 9000º/min. A partir desta velocidade
e da velocidade angular diária, o mecanismo de redução adicional deveria ter uma
relação teórica de:
rel 
9000
 36000
0,25
(4)
Esta relação pressupõe que o mecanismo, na sua velocidade nominal, estaria
perfeitamente sincronizado com o movimento do sol durante toda a trajetória diária.
Isto exigiria uma mecânica com precisão bastante acurada e a velocidade do motor
teria que ser muito estável, mesmo com variações de tensão, temperatura e outros
fatores físicos, como os atritos e esforços mecânicos.
A solução para uma boa rastreabilidade do sol é incorporar sensores e circuitos
eletrônicos que ajustem a velocidade do motor de forma a não depender de uma
velocidade fixa do mecanismo. Como o motor de corrente contínua permite diminuir
a velocidade, diminuindo-se a tensão de alimentação, é preferível operar com uma
relação de redução mecânica menor, e deixar por conta do circuito eletrônico e dos
sensores o ajuste fino da velocidade, mantendo-se assim o sincronismo com o
movimento do sol. Como já foi mencionado, o motor de corrente contínua com imã
permanente é perfeitamente adequado.
Uma primeira hipótese, antes de partir para a implementação de um redutor
adicional, seria deixar o controle da velocidade do motor-redutor totalmente para o
circuito eletrônico, fazendo com que o eixo do motor fosse acoplado diretamente ao
conjunto da lente. Esta hipótese teria que responder à duas premissas: 1) que o
torque do eixo do motor (neste caso, motor redutor acoplado) seria suficiente para a
movimentação, e 2) que a resolução do controle PWM , ou seja, a aplicação de um
único pulso do PWM (descrição mais adiante) não resultaria numa velocidade acima
da velocidade angular diária d (3).
A velocidade mínima do motor é calculada com base na mínima tensão que
pode ser aplicada ao motor sob o controle PWM, ou seja, a tensão aplicada ao motor
considerando-se o PWM entregando apenas um pulso por ciclo.
Resolução do controle: (Res) = 1024 para um processador com saída
analógica de resolução de 10 bits().
() Quando da implementação do circuito eletrônico foi selecionado outro microprocessador e outra
técnica de geração do PWM permitindo uma resolução maior (4096 bits), mas o mecanismo redutor já
havia sido confeccionado.
35
Velocidade angular do motor com redutor incorporado: NMOT = 36 rpm = 3,8
rad/s;
Tensão nominal do motor: VNMOT = 12 V;
Velocidade angular do mecanismo diário: d = 0,7.10-3 rpm (já calculado
anteriormente em (3);
Tensão de pico do PWM: VPWM = 4,75 V (alimentação em 5V e descontando-se
as perdas de comutação);
Calculando-se a mínima tensão aplicada, isto é, 1/1024 da tensão disponível,
obtém-se a sensibilidade da tensão de controle do motor SV MOT (5) e,
consequentemente, a rotação mínima sustentável MIN (6) ().
SVMOT 
 MIN  SVMOT
N MOT
VN MOT
VPWM 4,75

 4,6mV
Re s 1024
 4,6.10 3
3,8
 1,457.10 3 rad / s
12
(5)
(6)
 MIN  0,014rpm
Pode-se constatar que esta velocidade angular mínima do motor-redutor ainda
é maior do que a velocidade diária do mecanismo (d).
Foi, então, definida a redução adicional como uma relação entre a rotação
mínima sustentável MIN e a velocidade diária do mecanismo d, obtendo-se assim a
relação de transmissão teórica para o movimento diário (Rtd):
Rt d 
 MIN 14.10 3

 20
d
0,7.10 3
(7)
Foi estabelecida a construção das engrenagens na modalidade coroa-pinhão,
com dentes retos e com um módulo (md) de 0,5 mm e 12 dentes no pinhão (zp p =
12).
Cálculo do diâmetro primitivo do pinhão:
p p  md .zp p  05.12  6mm
(8)
Número de dentes da coroa:
zpc  zp p .Rt d  12.20  240
Diâmetro primitivo da coroa:
() Neste cálculo não foi considerado o atrito.
(9)
36
pc  zpc .md  240.0,5  120mm
(10)
Para o cálculo da relação de redução para o mecanismo de movimentação no
sentido da latitude (Rta) foi considerado que esta redução é multiplicada por 365 que
corresponde a um ciclo do movimento solar nesta trajetória (um ano).
Rt a  Rt d .365  20.365  7240
(11)
Como esta relação exigiria um mecanismo de redução bastante grande, optouse por uma solução de rosca-sem-fim utilizando uma coroa com o mesmo numero
de dentes do mecanismo anteriormente apresentado e pressupondo que, após o
ajuste da lente no foco sobre a extremidade da fibra, o motor pare até um próximo
deslocamento significativo.
Na solução rosca-sem-fim cada volta da rosca provoca o deslocamento de um
dente na coroa(*). Como foi utilizada a mesma coroa do mecanismo de longitude
(240 dentes), a relação de redução, neste caso, é de 240:1.
4.1.2 Construção do mecanismo
Como se pode observar na Figura 23, o motor da movimentação da latitude foi
fixado na haste de sustentação do mecanismo. O eixo da coroa do redutor tipo
rosca-sem-fim está apoiado nesta mesma haste de sustentação. Sobre este eixo do
movimento norte-sul, foi montado todo o mecanismo de movimentação no sentido
longitudinal, ou seja, este segundo mecanismo não fica solidário com a haste de
sustentação do mecanismo. O movimento no sentido da latitude carrega junto o
mecanismo no sentido da longitude, e com isso obtém-se os graus de liberdade
necessários à todos os movimentos. A Figura 24 mostra a montagem de duas
chaves de fim-de-curso no mecanismo de movimentação no sentido da latitude
(*)
Considerando rosca-sem-fim com uma entrada
37
REDUÇÃO TIPO COROA-PINHÃO
MECANISMO LONGITUDE
MOTORES COM
REDUTOR INCORPORADO
REDUÇÃO TIPO ROSCA-SEMFIM - MECANISMO LATITUDE
FIGURA 27 – DETALHE DOS MECANISMOS DE REDUÇÃO PARA MOVIMENTAÇÃO DA LENTE
BATENTES
MICRO-CHAVES
FIGURA 28 – DETALHE DA MONTAGEM DAS MICROCHAVES DE FIM-DE-CURSO
4.2 ELETRÔNICA
4.2.1 Descrição geral dos circuitos e da malha de controle
A função do circuito eletrônico é detectar a posição relativa do sol e enviar um
comando para a movimentação dos motores com o objetivo de posicionar o foco da
lente na extremidade da fibra óptica. Como já foi mencionado anteriormente, a
implementação do circuito se deu em duas placas – placa de controle (Figura 25) e
placa driver dos motores (Figura 26).
38
O principal componente da placa de controle é o microprocessador ADuC812.
Este componente recebe os níveis dos sensores proporcionais à luminosidade,
processa estas informações e entrega um sinal para a placa driver dos motores com
a direção de giro e tensão proporcional à velocidade.
Cada LDR faz parte de um divisor resistivo e o nível de tensão deste divisor é
aplicada diretamente na respectiva entrada analógica do ADuC812. Internamente
este microprocessador já incorpora um conversor Analógico-Digital permitindo ao
software o processamento dos níveis dos sinais dos LDR‟s como grandezas
numéricas digitais.
Algumas entradas digitais deste mesmo microprocessador foram utilizadas
para os sensores de fim-de-curso e para botões de comando manual da
movimentação do mecanismo quando se faz necessário algum ajuste ou calibração.
A interligação com a placa driver dos motores é feita através dos conectores
J1, J2 e J3. O circuito integrado L298, principal componente desta placa, incorpora
dentro dele dois circuitos em ponte completa. Sendo assim, com apenas um circuito
integrado é possível o controle dos dois motores – sentido norte-sul e sentido lesteoeste.
RESET
MANUAL
NORTE
R13
GND
Vcc
SUL
R14
RESET
ADM809
R9
LESTE
R15
P2.0
P2.1
P2.3
P2.4
PSEN
XTAL2 (OUT)
Q1
R10
LIB. CALIB. P3.2/INT 0
OESTE
DVDD
LIMPA MEMORIA (*)
C24
R16
R25
C23
XTAL1 (IN)
LESTE
INT
LDR2
RESET
OESTE
EXT
A/D 0
LDR1
LESTE
EXT
LDR3
FIGURA 29 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA PLACA DE CONTROLE
C22
C21
C20
OESTE
INT
C7
RXD
C11
TXD
C2
C1
SUL
INT
LDR5
C12
SUL
EXT
LDR6
C13
R6
ADuC812
R5
GND
R2OUT
T2IN
C1+
C1C2+
C2-
AVDD
VDD
VCC
R2IN
MAX232
VEE
C3
DVDD
RxD
SERIAL PORT
TxD
P2.4
P2.5
P2.6
P2.7
P0.4
P0.5
P0.6
P0.7
GRUPO DE
SENSORES LATITUDE
C6
R8
NORTE
INT
LDR8
T2OUT
C16
C15
NORTE
EXT
LDR7
C14
R7
R20
C5
R17
R18
R19
9V EXT.
R24
R23
R21
BAT
9V
D3
D2
F.C. NORTE
F.C. SUL
F.C. LESTE
F.C. OESTE
R22
FIGURA 25 - DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA PLACA DE CONTROLE
DVDD
R4
LDR4
A/D 2
GRUPO DE
SENSORES LONGITUDE
A/D 1
DVDD1
DVDD2
DVDD3
C8
A/D 3
DGND1
DGND2
DGND3
DGND4
R3
A/D 4
C9
A/D 5
R2
A/D 6
AVDD1
AVDD2
C10
A/D 7
AGND1
AGND2
AGND3
R1
DVDD
C17
Vi
DVDD
GND
Vo
78L05
C18
D1
R11
DVDD
L1
ENB
R9
3
2
1
J1
3
2
1
J3
3
2
1
J2
C19
AVDD
5V
GND
Vdc MOT
SUL
NORTE
ENB
LESTE
OESTE
39
1
2
3
J3
1
2
3
J2
ENB
NORTE
SUL
ENB
OESTE
LESTE
VDC MOTOR
1
GND
2
5V
3
J1
FIGURA 30 – DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA PLACA DRIVER DOS MOTORES
D10
D9
GND
IsenB
IsenA
Out4
IN4
Out3
Out1
Out2
IN3
EN B
Vs
IN2
EN A
Vss
IN1
L298N
R10
R9
R8
R7
FIGURA 26 - DIAGRAMA ELÉTRICO DA PLACA DRIVER DOS MOTORES
R6
R5
R4
R3
R2
R1
C1
C2
D7
D5
D3
D1
D8
D6
D4
D2
C4
C3
M2
M1
NORTE-SUL
LESTE-OESTE
40
41
A Figura 27 apresenta o diagrama geral da malha de controle onde é possível
se ter uma visão global do sistema. Esta malha de controle foi implantada no
software do ADuC812. No caso foi representada a malha de controle do movimento
leste-oeste, mas este mesmo diagrama se aplica ao movimento norte-sul.
Fazendo-se uma análise desta representação, pode-se verificar que, após a
conversão dos níveis dos sensores, é feita uma equalização das sensibilidades dos
sensores para um mesmo nível de intensidade luminosa com o somador na saída de
dois dos sinais digitais. Esta constante é previamente determinada através de um
processo de calibração.
Um desnível de tensão, entre os sensores externos, menor que V rgi faz com
que a seleção de leitura passe para os sensores internos onde se pode obter melhor
sensibilidade na determinação do foco da lente sobre a extremidade da fibra óptica.
A diferença de valores entre os sensores de mesmo par de LDR‟‟s (sinal X e
Y), que significa o erro de posicionamento da lente em relação ao sol, será aplicado
no controle do sinal PWM para a movimentação dos motores. Antes do controle de
geração do sinal de PWM, é inserido um ganho e somado um valor de offset. O
ganho serve para amplificar o erro tornando o sistema mais ou menos sensível ao
erro detectado. O valor de offset tem a função de compensar os atritos inerciais
mecânicos. A própria movimentação do conjunto realimenta o sistema, pois os
sensores estão fixados solidariamente ao mecanismo.
SENSORES
INTERNOS
SENSORES
EXTERNOS
LESTE
OESTE
LESTE
OESTE
ADC
ADC
ADC
ADC
FIGURA 31 – DIAGRAMA GERAL DA MALHA DE CONTROLE
Y
X
Erro
Ganho
Offset
Velocid.
FIGURA 27 - DIAGRAMA GERAL DA MALHA DE CONTROLE
Calibração
Calibração
<Vgri
PWM
M
Mecanismo
de Redução
42
43
4.2.2 Sensores de rastreamento da posição do sol
Como já apresentado nos diagramas esquemáticos e no diagrama da malha de
controle, foram instalados dois conjuntos de sensores – internos e externos para
cada movimento do mecanismo com o objetivo de fazer o rastreamento da posição
relativa do sol.
A premissa foi colocar quatro LDR‟s instalados próximos à extremidade da fibra
óptica. Como a fibra seria fixada em um cabeçote apropriado, foram previstos quatro
orifícios neste cabeçote onde seriam instalados os quatro sensores, sendo dois para
detecção do movimento no sentido da longitude e dois para detecção do movimento
no sentido da latitude. Este conjunto foi denominado de sensores internos.
Foram também instalados mais quatro LDRs nas bordas do quadro que
sustenta a lente de Fresnel com a função de fazer uma primeira detecção da posição
do sol e foram montados em suporte comerciais de leds. Este conjunto foi
denominado de sensores externos. Percebe-se, pela Figura 28, que esta montagem
é presa no quadro da lente apontando para um ângulo de cerca de 45º para fora.
FIGURA 32 – DETALHE DA MONTAGEM DOS SENSORES EXTERNOS
Do ponto de vista elétrico, o objetivo é provocar o rotacionamento da lente até
que ambos os sensores (numa certa direção – leste-oeste ou norte-sul) estejam
recebendo a mesma quantidade de luz. Desta forma, pressupõe-se que esteja
havendo perpendicularidade da lente em relação ao raios de sol. O mesmo
pressuposto serve para os sensores internos. Quando o nível de tensão dos quatro
sensores externos estiver equilibrado (diferença entre eles menor que V gri), o circuito
eletrônico passa a monitorar os sensores próximos à extremidade da fibra. Desta
forma, obteve-se um ajuste mais preciso do foco.
44
4.2.3 Interface serial para transferência do programa e monitoração do
microprocessador
Os microprocessadores, de maneira geral, possuem interface serial disponível
para comunicação com computadores e outros dispositivos. No entanto, como a
alimentação destes componentes é feita em níveis de 3 a 5 V, não ficam compatíveis
com o padrão RS-232 (padrão EIA/TIA-232E ou o padrão V.28/V.24) cujas tensões
normatizadas são de 12 V, dando assim maior imunidade à ruídos. Como em
muitos casos não se tem disponível estas tensões, um recurso é a utilização de um
circuito integrado denominado MAX232 fabricado pela Maxim [44] que incorpora
internamente os circuitos para gerar estas tensões. Assim, a conversão dos níveis
de tensão das linhas de transmissão (TxD) e de recepção (RxD) são feitas a partir
da tensão de 5 V disponível no circuito geral.
Esta interface é utilizada, na Placa de Controle, para carregamento do
programa compilado e a possibilidade de monitorar em tempo real a execução do
software para depurar o programa (debug). A Figura 29 apresenta o circuito elétrico
desta interface.
FIGURA 33 – CIRCUITO ELÉTRICO DA INTERFACE SERIAL
4.2.4 Fonte de alimentação
Como se pode observar pela Figura 30, o esquema elétrico da Fonte de
Alimentação não apresenta nenhuma dificuldade no seu entendimento uma vez que
45
é baseada no 78L05, componente largamente usado neste tipo de aplicação. A sua
entrada recebe tensão em 9 V, já retificada, e esta tensão é aplicada ao 78L05 via o
diodo D2. Antes de passar por D2, esta tensão de 9V também é interligada ao pino 1
do conector J1 para alimentação da Placa Driver. Uma bateria de 9 V ligada ao
78L05 via D3 permite que o circuito de controle continue a operar na falta de energia
da rede elétrica. Os componentes L1, R12 e C19 formam um filtro entre a linha que
alimenta os circuitos digitais (DVDD) e a linha que alimenta os circuitos analógicos
(AVDD).
J1
Vdc MOT
GND
5V
D2
9V EXT.
DVDD
1N4001
D3
1 Vi
1N4001
BAT
9V
78L05
Vo
GND
C17
10 F
2
C18
R11
560
10 F
D1
3
AVDD
L1
3
1
2
R9
C19
10 F
FIGURA 34 – FONTE DE ALIMENTAÇÃO DA PLACA DE CONTROLE
4.2.5 Comandos de movimentação manual e calibração
Com foi explanado em 4.2.2, há necessidade de compatibilizar os níveis de
tensão entre os diversos sensores LDR‟s quando estão recebendo o mesmo nível de
iluminação. Esta operação é realizada através de comandos manuais para
movimentação do mecanismo da lente. Inicialmente aperta-se o botão de Inicia
Calibração fazendo com que o programa entre na rotina de calibração e liberando a
funcionalidade dos botões de movimento manual. Após a movimentação dos
motores para que a extremidade da fibra óptica esteja no foco da lente, pressiona-se
simultaneamente os botões de movimento norte e sul ficando gravadas as
referências e o programa sai da rotina de calibração. Pelo esquema elétrico (Figura
25) vê-se que estes botões estão ligados nos ports 2.0, 2.1, 2.2, 2,3, 2.4 e P3.2.
4.2.6 Software
A Figura 32 apresenta o fluxograma do programa principal que roda no
microprocessador ADuC812. Este programa chama outras sub-rotinas que executam
46
tarefas específicas. Esta divisão em sub-rotinas visa uma melhor organização do
programa.
Logo depois de chamar a sub-rotina de configurações iniciais, o programa lê o
valor do contador do temporizador que gera o ciclo do Timer 2. Este contador varia
de 0 a 4.096 e foi denominado “rampa‟ e sempre que o ciclo do PWM começa
(contagem = 0), os motores são energizados.
A rotina de geração da variável RAMPA e o acionamento dos motores com
controle PWM será descrita no item 4.2.7.
A leitura dos valores dos sensores fotoelétricos é feita a cada 100 ms quando
também é feita a seleção do grupo de sensores que vão atuar - internos ou externos.
Finalmente, um temporizador cíclico aciona a porta serial para enviar dados
previamente configurados. Esta facilidade foi importante durante a realização dos
testes para extrair várias informações do funcionamento interno e valores
armazenados durante o processamento do programa.
47
Início
Chama sub-rotina de configurações
Inicias
(Apêndice D2)
Rampa = contador do Timer 2
Acionamento do Motor 1 – sentido Norte-Sul
Acionamento do Motor 2 - sentido Leste-Oeste
Se Flag100ms =
TRUE
N
S
Flag100ms = FALSE
Lê dados do A/D
Rotina Seleção do Grupo de Sensores
Timer10s = Timer10s + 1
Se Timer10s=100
N
S
Envia dados para serial
Timer10seg = 0
FIGURA 35 – FLUXOGRAMA DA ROTINA PRINCIPAL DO SOFTWARE
48
4.2.7 Geração dos pulsos PWM para o controle da velocidade dos motores
A geração do sinal de PWM é feita pelo microprocessador AduC812 através de
uma rotina específica no programa aplicativo, tendo-se as seguintes bases:
Valor máximo do erro entre os dois sensores (variável ERRO): 4.096 (que é a
própria resolução do contador do módulo PWM, supondo-se que um sensor esteja
recebendo sinal máximo e o outro zero);
Através de divisões internas, o clock de 11,0592 MHz do cristal, foi
-
obtida uma freqüência de 921.600 Hz que corresponde a um período de
1,085s. Com esta base de tempo criou-se uma variável RAMPA que
conta 4.096, sendo que, ao final do 4.095º pulso, a contagem é zerada
(RAMPA = 0) e a contagem reiniciada;
Cada vez que o valor de RAMPA é reiniciado, o pulso PWM inicia ligado
-
(ON) e permanece até que atinja o valor do ERRO().
A Figura 31 mostra na escala de tempo este processo de geração do sinal
considerando diferentes desníveis de luminosidade entre o par de sensores.
Valor de
RAMPA
4096
ERRO 3
ERRO 2
ERRO 1
Valor de
RAMPA
Valor de
RAMPA
Valor de
RAMPA
4096
4096
4096
ERRO3
ERRO3
ERRO3
ERRO2
ERRO2
ERRO2
ERRO1
ERRO1
ERRO1
FIGURA 36 – GERAÇÃO DO SINAL PWM
Fisicamente, a geração do PWM no microprocessador é disponibilizada através
das seguintes saídas (ports):
P0.4 (pino 52) - Ativação do motor movimento latitude sentido sul

Na realidade, o valor ERRO ainda é multiplicado pelo GANHO e somado o OFFSET
49
P0.5 (pino 53) - Ativação do motor movimento latitude sentido norte
P0.6 (pino 54) – Ativação do motor movimento longitude sentido leste
P0.7 (pino 55) – Ativação do motor movimento longitude sentido oeste
Estes pinos estão diretamente ligados aos conectores CN1 e CN2 da Placa de
Controle. Estes conectores permitem a interligação com a Placa Driver dos Motores.
50
5
RESULTADOS EXPERIMENTAIS
Após a fabricação das peças mecânicas, montagem do circuito eletrônico e
montagem do conjunto foram iniciados os testes e os ensaios. Uma fotografia do
protótipo montado pode ser vista na Figura 33.
FIGURA 37 – PROTÓTIPO DO COLETOR SOLAR MONTADO
Numa primeira fase foi utilizada uma fibra óptica de quartzo com 6 mm de
diâmetro e 1 m de comprimento, cedida temporariamente pelo Laboratório de
Metrologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Como se tratava de material
importado e de aplicação científica, seu custo não era compatível com os propósitos
do presente projeto, ou seja, a montagem de um modelo reduzido que tivesse
perspectiva de viabilidade econômica. O trabalho passou então a focar a aplicação
de fibra plástica de PMMA.
Foi adquirido um cabo de fibra óptica plástica, tipo endlight, encapado, modelo
FOC.080, com diâmetro útil de 8 mm, contendo 75 fibras de PMMA de 0,75 mm de
diâmetro cada. O comprimento total do cabo era de 4 m e o fabricante fornece com o
acabamento nas extremidades, conforme pode ser visto na Figura 34. Este cabo é
51
fabricado pela Fasa Fibra Ótica(*) que comercializa para aplicações em iluminação
decorativa e projetos especiais de iluminação como museus e obras de arte.
FIGURA 38 – DETALHE DO ACABAMENTO DA EXTREMIDADE DA FIBRA ÓPTICA PLÁSTICA
5.1 ENSAIOS COM A FIBRA PLÁSTICA
Como não havia dados técnicos das perdas deste cabo, e não havendo normas
técnicas disponíveis para estes levantamento, foi desenvolvido um procedimento
junto com o pessoal técnico do Laboratório de Luminotécnica do Lactec(**) para
medição destas perdas.
Pode-se dividir as perdas em três categorias: perdas de entrada, quando
ocorre a mudança do meio de propagação da luz, perdas de transmissão ao longo
da trajetória do cabo, e as perdas de saída quando novamente muda o meio de
propagação [45]. Como o laboratório não dispunha de instrumentos, nem
metodologia para uma medição destas perdas individualizadas, partiu-se para uma
medição da perda total. A idéia foi utilizar uma lâmpada como fonte de luz e um
luxímetro na outra extremidade para medir o iluminamento, aplicando-se a seguinte
metodologia:
1.
Medir o iluminamento, aplicando-se uma fonte de luz diretamente no
sensor do instrumento, numa área circular equivalente à área da fibra
óptica. Este valor seria a referência para medição da perda da fibra
óptica.
(*)
(**)
www.fibraotica.com.br
Lactec – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, sediado em Curitiba, estado do Paraná.
52
2.
Inserir a fibra óptica entre a fonte de luz e o sensor do instrumento e
obter a nova medição do iluminamento. A relação entre a diferença
entre as duas medições e a medição inicial equivaleria a perda total da
fibra óptica. Como fonte de luz foi utilizada uma lâmpada dicróica de 12
V – 50W modelo D0501 da marca Empalux.
Foi necessário, inicialmente, se desenvolver um dispositivo que acomodasse
as extremidades do cabo para uma boa medição. Foram então construídas duas
peças, uma para acomodar uma lâmpada dicróica e a outra para o sensor do
instrumento, ambas em forma de funil para receber a extremidade do cabo de fibra
(Figura 37).
No primeiro ensaio estas duas peças foram acopladas por um tubo de alumínio
simulando as duas extremidades da fibra (Figura 35 - Montagem 1). Com este
arranjo, mediu-se a intensidade luminosa para servir de referência em relação ao
cabo de fibra.
Na segunda medição (Figura 35 - Montagem 2), inseriu-se cada uma das
extremidades da fibra nos respectivos dispositivos (retirando-se o tubo de alumínio)
e repetiu-se a medição. A Figura 36 mostra o ensaio sendo realizado.
Os resultados das medidas obtidas e a perda estão apresentados no Quadro 2.
A perda foi calculada como um percentual, tendo-se como referência a Montagem 1.
Como se pode constatar, a atenuação total resultante da fibra óptica foi de 70% para
o comprimento de 4 m.
Se houvesse disponibilidade de cabos com diferentes comprimentos, teria sido
possível, ao menos, fazer a distinção estimativa(*) entre as perdas de transmissão
das perdas de interface (entrada e saída).
(*)
Estimativa porque teria que se pressupor que as perdas de entrada e de saída dos diversos cabos
em teste apresentassem os mesmos valores.
53
LÂMPADA
LÂMPADA
FIBRA
ÓPTICA
TUBO DE
ALUMÍNIO
SENSOR
MONTAGEM 1
SENSOR
MONTAGEM 2
FIGURA 39 – MONTAGENS DOS ENSAIOS DE PERDA DA FIBRA ÓPTICA
FIGURA 40 – REALIZAÇÃO DO ENSAIO DAS PERDAS DA FIBRA PLÁSTICA
54
Montagem 1
Montagem 2 (cabo com 4 m)
Perda
23.610 lx
7.020 lx
70%
QUADRO 2 – RESULTADOS DAS MEDIÇÕES
O fabricante do cabo informou os seguintes dados de referência: 5% de perdas
na entrada, ou seja, na mudança de um meio para outro, 2 a 3% de atenuação por
metro na transmissão e 5% perda na saída. Com estes valores, a perda em 4 m de
cabo não poderia ultrapassar aos 22%. Estes valores, no entanto, referem-se ao
filamento de PMMA isolado. Ao se verificar a extremidade da fibra percebe-se
nitidamente áreas comparativamente grandes entre os filamentos, como mostra a
Figura 37, razão desta perda maior.
FIGURA 41 – DETALHE DA EXTREMIDADE DO CABO MOSTRANDO OS FILAMENTOS DE PMMA
5.2 SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO AQUECIMENTO
Outro problema enfrentado no experimento com o coletor solar foi a
temperatura na extremidade da fibra onde o foco da lente concentra a luz. O
fabricante da fibra não recomenda temperaturas acima de 75º C e a temperatura
neste ponto passava facilmente dos 100º C.
Pelo menos duas razões podem ser imputadas como responsáveis por este
aquecimento: a) o foco da lente de Fresnel utilizada não conseguia efetivamente
focar uma área pequena. O mínimo círculo obtido era de cerca de 15 mm de
diâmetro, provocando assim o aquecimento de uma área maior do cabeçote em
torno da extremidade da fibra, e b) o mesmo problema das áreas entre os
filamentos, pois estas áreas apenas absorvem o calor.
Foi então projetado um cabeçote de alumínio com várias aletas para melhorar
a dissipação e uma espécie de reservatório com tampa de vidro onde foi colocada
certa quantidade de água para refrieração. Este arranjo vidro-água certamente
55
aumenta as perdas na coleta da luz, mas permitiu a utilização da fibra plástica neste
experimento.
O projeto deste novo cabeçote levou em consideração os aspectos da
estanqueidade para não haver riscos de vazamentos da água de refrigeração. A
Figura 38 apresenta o desenho em corte do cabeçote montado e a Figura 39 o
cabeçote já montado no coletor solar. Como se pode observar no Quadro 3, as
temperaturas ficaram em níveis perfeitamente aceitáveis. A título de comparação, foi
anotada a temperatura da estrutura metálica em local onde não incidia o foco da
lente.
FIGURA 42 - CABEÇOTE PARA FIBRA ÓPTICA COM DISSIPADOR
56
FIGURA 43 – CABEÇOTE COM DISSIPAÇÃO
Local da medição
Temperatura (ºC)
Carcaça de Alumínio
46
Base da fibra
42
Estrutura metálica do coletor
34
QUADRO 3– MEDIÇÕES DAS TEMPERATURAS UTILIZANDO-SE O CABEÇOTE COM
DISSIPAÇÃO
Para se obter a perda inserida no coletor com este novo cabeçote, foi
necessário um novo ensaio no Laboratório de Luminotécnica. O resultado está
apresentado no Quadro 4. Saliente-se que foi utilizado um vidro comum de 4 mm de
espessura. Em relação ao ensaio anterior, percebe-se um acréscimo de 15% na
perda total considerando o cabo com 4 m.
ARRANJO
Medição (lx)
Perda
Dicróica (iluminação direta)
23.610
Referência
Dicróica + vidro
20.400
14%
Dicróica + fibra óptica
7.020
70%
Dicróica + vidro + fibra óptica
5.950
75%
Dicróica + vidro + fibra óptica + água
3.600
85%
QUADRO 4 – MEDIÇÕES REALIZADAS COM A UTILIZAÇÃO DO CABEÇOTE COM DISSIPADOR
57
5.3 ENSAIOS PRÁTICOS DE RASTREAMENTO DO SOL
Logo nos primeiros ensaios foi constatada a necessidade de um novo rearranjo
dos pares de sensores de luminosidade internos e externos. Pela Figura 40 é
possível esclarecer melhor o problema. Nesta figura estão apresentados apenas os
pares de sensores do movimento leste-oeste. Do grupo de sensores externos, o
sensor da direita é o detector da luz vinda do leste e o da esquerda, o da luz vinda
do oeste. Acontece que no grupo de sensores internos, o da esquerda fica
recebendo mais luz vinda do leste do que do oeste Isto é devido ao afunilamento do
cabeçote e devido ao efeito da lente que projeta um halo de luz mais para o sensor
da esquerda quando o sol vem pela direita e vice-versa.
FIGURA 44 – DISPOSIÇÃO DOS PARES DE SENSORES INTERNOS E EXTERNOS APÓS
OS TESTES INICIAIS
5.3.1 Medição da tensão de offset dos motores
Sabe-se que para vencer o atrito estático de um corpo parado exige-se mais
energia do que para mantê-lo em movimento. Visando um movimento mais suave
possível, o software fica permanentemente fornecendo ao motor uma tensão
mantendo-o no limiar da rotação e que foi denominada tensão de offset. Como a
tensão fornecida é pulsada foi necessário se fazer uma medição do percentual em
relação ao ciclo de PWM para então programar esta constante no software. Nas
58
medições foi constatado um valor de 700 pulsos, dos 4.096 do ciclo de PWM, como
valor do PWM de offset para ambos os motores, o que dá um percentual de 17%.
5.3.2 Formas de onda do sinal PWM sobre os motores
Foram registradas as formas de onda de tensão e corrente para diferentes
percentuais de PWM tanto no motor longitude quanto no motor latitude.
FIGURA 45 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO SOBRE O MOTOR 2 COM MOVIMENTO
SENTIDO LESTE (PWM = 17%)
FIGURA 46 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO NO MOTOR 1 COM MOVIMENTO PARA O
NORTE (PWM = 13%)
59
FIGURA 47 – FORMA DE ONDA DE TENSÃO NO MOTOR 1 NO SENTIDO SUL (PWM = 57%)
FIGURA 48 - FORMA DE ONDA DE CORRENTE NO MOTOR1 COM MOVIMENTO NO
SENTIDO SUL (PWM = 57%)
5.4 ENSAIOS LUMINOTÉCNICOS
Estes ensaios foram realizados no Laboratório de Luminotécnica para se medir
intensidade luminosa na extremidade da fibra e fluxo luminosos quando o coletor
estivesse simulando uma operação em um dia ensolarado.
60
5.4.1 Medição da Intensidade Luminosa (cd)
A Figura 45 mostra o esquema da montagem do teste. O coletor solar foi
posicionado na parte externa do laboratório e o cabo de fibra foi passado por uma
janela até uma câmara escura apropriada para este tipo de teste. Na entrada da
câmara escura foi feito um orifício onde foi posicionada a extremidade da fibra
óptica. Do outro lado da câmara existe outro orifício apropriado para o sensor do
luxímetro.
FIGURA 49 - MONTAGEM PARA A MEDIÇÃO DA INTENSIDADE LUMINOSA NA
EXTREMIDADE DA FIBRA ÓPTICA
Foram obtidas as seguintes medições:
 Iluminamento na superfície da lente de Fresnel: 105.400 lx
 Iluminamento no sensor posicionado na extremidade da câmera: 62 lx
Com estes valores foi possível deduzir que a intensidade luminosa na
extremidade da fibra óptica através da seguinte equação, baseada na lei do inverso
dos quadrados das distâncias:
I  E.d 2  62.1,552  149cd [16]
A Figura 46 mostra o ensaio sendo realizado.
61
(A)
(B)
(C)
(D)
FIGURA 50 – MEDIÇÃO DA INTENSIDADE LUMINOSA: (A) MEDIÇÃO NA SUPERFÍCIE DA
LENTE, (B) MEDIÇÃO NA SAÍDA DA CÂMARA ESCURA, (C) E (D) DETALHE DA
EXTREMIDADE DA FIBRA ÓPTICA ILUMINADA
5.4.2 Medição do fluxo luminoso (lm)
Este ensaio foi realizado na esfera integradora e para a medição foi necessário
abrir os filamentos do cabo de fibra óptica para distribuir a iluminação simulando o
mais próximo de uma fonte que emite fluxo em todas as direções. A Figura 47
mostra câmara integradora e detalhe dos filamentos iluminados.
Foram realizados dois ensaios em dias diferentes, uma vez que na primeira
tentativa o céu estava com relativa névoa fazendo com que o iluminamento medido
na superfície da lente não chegou a ultrapassar o valor de 27000 lx. Neste primeiro
teste foi obtido o valor de 60 lm dentro da esfera integradora.
Convém ainda salientar que, no período do ano que foi realizado este ensaio
(junho/julho), o sol só estava disponível no local dos testes entre as 7:30h às 9:00h
quando o sol não apresenta sua luminosidade máxima(*).
(*)
Devido a outros edifícios próximos ao Laboratório de Luminotécnica.
62
O segundo ensaio foi realizado em melhores condições obtendo-se um
iluminamento na superfície da lente de 66.000 lx. O resultado na esfera integradora
foi de 160 lm.
FIGURA 51 – MEDIÇÃO DO FLUXO LUMINOSO COM A UTILIZAÇÃO DA ESFERA
INTEGRADORA
5.4.3 Análise dos resultados
Como a exitância de uma superfície é função da sua área, e no caso da lente
de Fresnel utilizada é de 0,0728 m2 (0,28 x 0,28 m), temos que a exitância da
superfície da lente, quando o iluminamento é de 27.000 lx, é de 2.116,8 lm, pois:
M  27000.0,0728  2116,8
(17)
Considerando que a medição do fluxo luminoso na esfera foi de 62 lm, o
sistema de captação (lente + cabeçote) e o sistema de transporte (cabo de fibra de
4 m) apresentou uma eficácia de 2,9%.
Eficácia 
62
.100  2,9
2116,8
(18)
Na segunda medição, quando o valor do iluminamento do sol era de 66.000 lx,
o valor do fluxo luminoso medido na esfera foi de 160 lm. Neste caso,
M  66000.0,0728  5174,4lm
(19)
160
.100  3,1%
5174,4
(20)
A eficácia fica sendo:
Eficácia 
Se for considerado um iluminamento do sol na faixa dos 100.000 lx (dia
ensolarado), pode-se inferir que pode se obter uma emitância luminosa de 7.840 lm,
pois:
63
M  10000.0,0728  7840lm
(21)
Considerando-se a eficácia de 3%, poderia se obter 235 lm.
  7840.0,03  235
(22)
A Figura 48 apresenta um gráfico do fluxo luminoso em função do
iluminamento da superfície da lente pelo sol, onde estão plotados os dois pontos do
ensaio.
Lúmens
FLUXO LUMINOSO
250
200
150
100
50
20k
100k
60k
40k
80k
ILUMINAMENTO DO SOL
120k
Lux
FIGURA 52 – FLUXO LUMINOSO RESULTANTE EM FUNÇÃO DO ILUMINAMENTO DA
LUZ SOLAR PARA O PROTÓTIPO DESENVOLVIDO
O fluxo luminoso resultante quando o sol produz um iluminamento de
100.000 lx fica muito próximo de uma lâmpada incandescente de 25 W, pois esta
fornece um fluxo luminoso de 230 lm, segundo dados do fabricante [46].
Um dos objetivos, se não o principal, da utilização de um sistema de iluminação
natural é proporcionar redução do consumo de energia elétrica em iluminação.
Portanto, é importante conhecer o consumo de energia do circuito eletrônico para
uma comparação da sua eficiência energética.
Nos testes, com o movimento de rastreamento do sol, a corrente consumida da
fonte de 9 V foi de cerca de 90 mA, o que corresponde a uma potência de 0,8 W.
Quando há uma solicitação de movimento rápido dos motores a corrente sobe para
290 mA, mas por curtos períodos, quando alguma nuvem encobre o sol
temporariamente.
Considerando-se um rendimento da conversão AC-DC de 70% e um consumo
de 1 W como média estimada, pode-se calcular a eficiência luminosa do sistema
como sendo:
64
  235.(1/ 0,7)  164lm / W
(23)
Pode-se comparar com a mesma lâmpada incandescente de 25 W, cuja
eficiência luminosa é calculada como:
  230 / 25  9,2lm / W
(24)
Fica bastante evidente, por estes valores, o ganho de eficiência luminosa em
função do consumo de energia elétrica.
65
6
CONCLUSÕES
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
presente
trabalho
apresentou
um
projeto
tecnicamente
viável
de
aproveitamento da luz solar durante o dia para iluminação tanto para ambientes
residenciais quanto para ambientes profissionais, especialmente onde não existem
janelas
ou
elas
são
insuficientes
para
uma
iluminação
adequada.
Aplica-se também em ambientes onde as janelas, mesmo adequadas em tamanho,
não proporcionam o conforto desejado para a uma boa iluminação.
Como um dos objetivos do trabalho era de desenvolver um equipamento de
baixo custo, é importante que se apresente um levantamento dos custos para o
desenvolvimento do protótipo. Obviamente, numa produção industrial estes valores
podem mudar drasticamente, em função não só da escala, mas de aquisição dos
componentes diretamente na fonte, bem como, de outras negociações.
Outra consideração a ser feita é que as peças mecânicas foram
confeccionadas de forma artesanal, havendo necessidade de vários protótipos até
chegar a versão final. Um exemplo é o cabeçote de fixação da fibra, como exposto
anteriormente, onde foi necessário um novo projeto para adequar aos níveis de
temperatura. No caso da mecânica, o valor se refere a uma estimativa se as peças
fossem confeccionadas sem a necessidade de retrabalho. Desta forma os custos se
resumem aos seguintes itens:
Componente
Quantidade Preço Unit.
Totais
Cabo de fibra óptica plástica com 75
filamentos e comprimento de 4 m
1
R$ 400,00
R$ 400,00
Lente de Fresnel adquirida em oficina de
conserto de retroprojetores
1
R$ 90,00
R$ 90,00
Motores de corrente contínua
2
R$ 120,00
R$ 240,00
Peças mecânicas
1
R$ 380,00
R$ 380,00
Conjunto de componentes eletrônicos
1
R$ 150,00
R$ 150,00
TOTAL GERAL
R$#1260,00
Foram solicitados dois pedidos de patentes das inovações deste projeto, um
deles, registrado sob o n° PI 0701047-8 refere-se à solução do mecanismo como um
66
todo. O outro pedido, sob o protocolo n° 0150800020-87 refere-se ao cabeçote com
dissipador.
Um trabalho foi enviado para o II Congresso Brasileiro de Energia Solar e III
Conferência Latino Americana de Energia Solar a ser realizado em Florianópolis no
mês de novembro, aguardando análise da comissão.
6.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Por se tratar de um trabalho acadêmico, com escassos recursos, não houve
possibilidade de se fazer experimentos com outros materiais, diferentes soluções de
controle e outras soluções de mecanismo e nem mesmo aprofundar as questões
econômicas.
Em termos práticos, as seguintes questões precisam ser melhor estudadas:
 Definir, técnica e economicamente, a viabilidade de fabricação de lentes de
Fresnel no Brasil, e em quais dimensões seria mais adequada a fabricação
(painéis de grande porte versus painéis modulares);
 Pesquisar a possibilidade de diminuir as perdas no cabo de fibra plástica
utilizada neste protótipo ou pesquisar outras;
 Dotar o circuito de um relógio interno (Real Time Clock) para, , posicionar o
mecanismo mais próximo possível da posição real quando o sol estiver
encoberto.
 Aperfeiçoar o cabeçote de fixação da fibra óptica também visando reduzir as
perdas neste componente do sistema;
 Desenvolver uma luminária apropriada para receber a terminação da fibra
óptica, em conjunto com lâmpadas elétricas e que faça a compensação
automática mantendo o nível de iluminação constante no ambiente;
 Desenvolver uma fonte com pequeno painel solar para alimentar o circuito
eletrônico tornando o coletor autônomo.
 Aperfeiçoar o mecanismo e a eletrônica para tornar um equipamento mais
robusto e confiável.
67
REFERÊNCIAS
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http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./energia/index.html&
conteudo=./energia/solar.html#ambiente. Acesso em: 10/06/2007.
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http://www.newbuildings.org. Acesso em 05/05/200832
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http://www.wbdg.org/ccb/DOD/UFC/ufc_3_530_01.pdf. Acesso em
05/05/2008.
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http://www.seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/article/view/3560/1960
acesso em 20/6/2008.
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2000. v.1.
7. PORTAL DA UNIVESIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – OEI
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http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/espectro.htm. Acesso em 20/6/2008.
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9. U. S. DEPARTAMENT OF ENERGY. U.S. Residential Buildings Primary
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10. U. S. DEPARTAMENT OF ENERGY, U.S. Comercial Buildings Primary
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11. U. S. DEPARTMENT OF ENERGY. Energy Policy Act of 2005. Disponível
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– Classe Residencial, Relatório Brasil, PROCEL – Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica, Eletrobrás, 2007.
14. ELETROBRÁS. Pesquisa de Posse de Equipamentos e Hábitos de Uso Classe Comercial - At – Ano Base 2005, Relatório Brasil Completo,
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