AVALIAÇÃO DO MATA-PASTO (Senna obtusifolia L. Irwin
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AVALIAÇÃO DO MATA-PASTO (Senna obtusifolia L. Irwin
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ AVALIAÇÃO DO MATA-PASTO (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) E (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) PARA ALIMENTAÇÃO DE CAPRINOS HELOISA MARIA HOLTZ SOUSA AREIA – PB Fevereiro – 2004 Ficha catalográfica elaborada na seção de processos da Biblioteca Setorial de Areia. CCA/UFPB: Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva: CRB-4/196 S 725a Sousa, Heloisa Maria Holtz Avaliação do mata-pasto (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) e (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) para a alimentação de caprinos/ Heloisa Maria Holtz Sousa – 2004. 55 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias – Universidade Federal da Paraíba. Areia. Bibliografia Orientadora: Ângela Maria Vieira Batista. 1. Caprinos – nutrição. 2. Caprinos – alimentação. I. Batista, Ângela Maria Vieira (orient.): II. Título. Palavras chave: forrageira nativa Semi-árido Valor nutritivo Fracionamento de proteína CDU: 636.39:636.084 HELOISA MARIA HOLTZ SOUSA AVALIAÇÃO DO MATA-PASTO (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) E (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) PARA ALIMENTAÇÃO DE CAPRINOS Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Zootecnia, Área de Concentração em Produção Animal. Orientadores: Profa. Dra. Angela Maria Vieira Batista Prof. Dr. Divan Soares da Silva Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho AREIA – PB Fevereiro – 2004 HELOISA MARIA HOLTZ SOUSA AVALIAÇÃO DO MATA-PASTO (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) E (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) PARA ALIMENTAÇÃO DE CAPRINOS Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Zootecnia, Área de Concentração em Produção Animal. APROVADA EM 17 DE FEVEREIRO DE 2004 BANCA EXAMINADORA ______________________________ Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros __________________________________ Dra. Patrícia Mendes Guimarães Beelen ________________________________ Dra. Mércia Virginia Ferreira Santos __________________________________ Dr. José Morais Pereira Filho _______________________________ Dra. Angela Maria Vieira Batista Orientadora ii AGRADECIMENTOS A todos que compõem o Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, pela oportunidade e confiança, em especial aos professores Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho, Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros e Dr. Divan Soares da Silva, pelos esforços para que o Programa tenha sucesso. À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela bolsa de estudo concedida. Ao professor Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho, pela importância que teve na minha escolha profissional e pessoal, desde o nosso primeiro contato até hoje. À professora Dra. Angela Maria Vieira Batista, pela orientação, exemplo, dedicação e amizade ao longo desta relação. Ao Professor Dr. Francisco Fernando Ramos de Carvalho, pelo carinho e credibilidade sempre presentes, além de me emprestar duas turmas muito especiais para estágio docência. Aos professores que compuseram minha banca de qualificação e tanto contribuíram para minha formação, Dra. Adriana Guim, Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, Dr. Divan Soares da Silva, Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho e Dra. Angela Maria Vieira Batista. Aos professores Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho, Dr. Divan Soares da Silva, Dr. Leonaldo Alves de Andrade, Dra. Silvia Helena Nogueira Turco, Ms. Edimar Mesquita de Oliveira, Dra. Maria Marly de Oliveira, Dra. Adriana Guim, Dr. Luiz Gonzaga da Paz, Dra. Antonia Sherlânea Chaves Veras, Dr. Marcelo de Andrade Ferreira e Dra. Maria Norma Ribeiro, pelos ensinamentos, durante as disciplinas que cursei. À professora Dra. Maria Eunice de Queiroz Vieira pela colaboração em várias etapas do trabalho. Ao professor Dr. Edvaldo Lopes de Almeida (do Departamento de Veterinária da UFRPE), pela preparação cirúrgica dos animais. Ao professor Dr. Walter Esfrain Pereira (do Departamento de Ciências Fundamentais da UFPB), pela colaboração nas análises estatísticas. iii À pesquisadora Dra. Maria do Perpétuo Socorro Cortez Bona do Nascimento pela atenção no envio de material bibliográfico solicitado. Ao empresário Rafael Bernardino de Sousa, pela oportunidade de atuar como técnica na FACCOP (Federação das Associações dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Paraíba), onde tive meus primeiros contatos com o semi-árido. Ao técnico da EMATER do município de Monteiro-PB, Francisco de Almeida Neto, pela sua dedicação ao me apresentar as forrageiras nativas da região. Ao produtor rural e mentor do princípio de “trabalhar com a seca e não contra a seca”, Manuel Dantas Vilar Filho, que me deu dicas preciosas sobre o mata-pasto. Ao pessoal de Surubim-PE, cedendo a casa da fazenda, local e máquinas, necessários à confecção do feno. Aos estagiários Sanharó, Tacila, Marcela, Luciana, Paula, Renata, Suellen, Alessandra e outros que colaboraram na fase de campo ou laboratório. Aos funcionários do capril, dos laboratórios, secretarias e bibliotecas (da UFPB e da UFRPE), que sempre foram tão solícitos. À minha “secretária” Michele, que cuidou de todos os afazeres domésticos enquanto estive ausente, inclusive cuidando do meu bebê recém-nascido. Aos colegas Marcílio, Edmar, Evaneusa, Ovídio, Carlos Wagner (Passarinho), Patrícia, Weds, Isabele, Socorro, Merilânia, Verônica, Gladston, Airon, Emerson, Fábio, Cláudia, Andréa e tantos outros que não lembro no momento, pela gostosa convivência. Ao colega, não de doutorado, mas de graduação e mestrado, Ramalho José Barbosa, que foi meu grande parceiro de estudo e um verdadeiro irmão. À colega Jacilene, por ter sido minha companheira em todas as etapas deste curso e por ter se tornado minha grande amiga e confidente. Ao colega, parceiro e marido Saulo, sem o qual nada neste curso seria possível. iv DEDICATÓRIA Dedico, Aos meus pais Lelo e There, meus maiores fãs e meus maiores investidores, aos quais sou imensamente grata. Ao meu marido Saulo, meu príncipe encantado que me fez feliz para sempre. Ao meu filho Arthur, que nasceu no meio deste curso e fez da minha vida um ato de amor. À minha filha Poema, que me deu de presente Saulo e Arthur. Aos meus irmãos, Helen, Helio e Heleni, seus pares (ou ex), Nicolas, Janete e Rogério e meus sobrinhos queridos, Paulinho, Daniel e Felipe, que compõem a minha deliciosa família. Aos meus avós paternos, Eurico Sousa e Eliziária, tios e primos, da mesma forma, aos avós maternos, Antônio Holtz e Cynira, tios e primos, sempre alegremente presentes. A minha “family in law” (D. Alba, M. Eunice, Benito, Coca, M. Amélia, Bel, Guga, Juninho, Melina, Heleninha, Samir, Coca, Juliana, Julinha, Joãozinho e Pedrinho), que me acolheu de tal forma que me sinto realmente parte dela (e uma parte muito querida... inclusive por seu Vivi). A todos meus grandes amigos e também aos conhecidos que torcem por mim. À Santa Rita, minha protetora. v SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... ii DEDICATÓRIA ............................................................................................................... v RESUMO.......................................................................................................................viii CONSIDERAÇÕES INICIAIS,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,1 Referências Bibliográficas................................................................................................ 5 CAPITULO I .................................................................................................................... 8 Efeito da Idade de Corte sobre as Características Morfológicas, Composição Química e Digestibilidade "in vitro" do mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia )................................ 8 Introdução ......................................................................................................................... 9 Material e Métodos ......................................................................................................... 12 Resultados e Discussão................................................................................................... 14 Conclusões ...................................................................................................................... 19 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 20 CAPITULO II ................................................................................................................. 22 Composição Química, Degradabilidade e Frações Protéicas do Feno de mata-pasto "liso" (Senna obtusifolia) e "peludo" (Senna uniflora)................................................... 22 Introdução ....................................................................................................................... 23 Material e Métodos ......................................................................................................... 26 Resultados e Discussão................................................................................................... 30 Conclusões ...................................................................................................................... 38 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 38 CAPITULO III................................................................................................................ 41 Consumo e Digestibilidade do Feno de mata-pasto "liso" (Senna obtusifolia) e "peludo" (Senna uniflora)por Caprinos em Crescimento .............................................................. 41 Introdução ....................................................................................................................... 42 Material e Métodos ......................................................................................................... 45 Resultados e Discussão................................................................................................... 47 Conclusões ...................................................................................................................... 52 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 53 vi LISTA DE TABELAS CAPÍTULO I Tabela 1. Altura da planta (AP), em cm, número de galhos (NG), produção de matéria natural (PMN) e produção de matéria seca (PMS), em g/m2, de mata-pasto, em função das diferentes idades de corte, e respectivas equações de regressão ........................................................................................................................ 15 Tabela 2. Percentual de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), matéria orgânica (MO) e digestibilidade "in vitro" da MS (DIVMS) de mata-pasto, em diferentes idades de corte (em semanas)......................................................... 17 Tabela 3. Equações de regressão ajustadas entre as variáveis estudadas da composição química e da digestibilidade "in vitro" em função das idades de corte .......... 17 CAPÍTULO II Tabela 1. Composição bromatológica dos fenos de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) ..................................................................... 31 Tabela 2. Valores médios para as frações protéicas (A, B1, B2, B3 e C) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) em porcentagem de matéria seca (%MS) e porcentagem de proteína bruta (%PB) ........................................................................................................................ 33 Tabela 3. Frações solúvel (a), potencialmente degradável (b), não degradável no rúmen (C), taxa de degradação da fração potencialmente degradável (c) e degradabilidade efetiva (DE) para a Matéria seca (MS) e Proteína bruta (PB) dos fenos de mata-pasto "liso" (FMPL) e de mata-pasto "peludo" (FMPP) para taxas de passagem de 2%/h e 5%/h......................................................... 36 CAPÍTULO III Tabela 1. Composição bromatológica do feno de mata-pasto "liso” (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP).......................................................................... 48 Tabela 2. Consumo voluntário de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), energia digestível (CED) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) ........................................................................................................... 49 Tabela 3. Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), matéria orgânica (CDMO), proteína (CDPB), fibra em detergente neutro (CDFDN), energia (CDE) e balanço de nitrogênio (BN) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) ....................................... 51 vii RESUMO Com a finalidade de avaliar o feno de mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) e do mata-pasto "peludo" (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby), foram conduzidos três experimentos. O primeiro consistiu na implantação de canteiros, onde o mata-pasto “liso” foi cultivado para estudo da produção de matéria natural e matéria seca, composição química, digestibilidade “in vitro” e características morfológicas em diferentes idades de corte. No segundo experimento foram utilizados oito cabritos em ensaio de digestibilidade convencional para obtenção do consumo e da digestibilidade dos nutrientes dos fenos de mata-pasto “liso e mata-pasto “peludo”. Já no terceiro experimento, estudou-se a composição química, a degradação da matéria seca e da proteína bruta destes fenos no rúmen de cabras fistuladas, através da técnica de degradação “in situ”, além disso foram determinadas as frações protéicas, segundo a metodologia do “Cornell Net Carbohydrate and Protein System” (CNCPS). A produção de matéria seca foi estimada em 8,35 t/ha, no último corte (14 semanas). Os teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, extrato etéreo e matéria orgânica apresentaram variação de 15,62 a 26,67 %; 17,33 a 6,99 %, 53,63 a 42,37 %, 29,32 a 40,26 %, 1,85 a 2,59 % e 85,72 a 90,69 %, respectivamente, entre a primeira (6 semanas) e a última idade de corte (14 semanas). Os valores encontrados para digestibilidade da matéria seca variaram de 94,99 % a 76,28 %, entre a 6a e a 14a semana. Com relação às características morfológicas, observou-se que a altura da planta obedeceu um comportamento linear, assim como, o número de galhos, com o avanço da idade. Não houve efeito da espécie de mata-pasto sobre os consumos de nutrientes, nem sobre os coeficientes de digestibilidade da matéria seca e da proteína, mas o feno de mata-pasto “peludo” apresentou melhores coeficientes de digestibilidade da matéria orgânica, da fibra em detergente neutro e da energia. Observou-se que a composição química dos fenos das duas espécies foi muito semelhante. As análises das frações protéicas dos fenos de mata-pasto avaliados neste estudo indicaram que estes apresentam maior proporção de proteína de degradação intermediária e também considerável fração de proteína de degradação lenta no rúmen, o que significa aporte de aminoácidos e peptídeos tanto no rúmen quanto no intestino delgado. Quanto à degradabilidade, observou-se elevado potencial de degradação (b) e viii elevada taxa de degradação (c), ao analisar as frações da matéria seca (MS) e proteína bruta (PB). As frações "a", “b”, "C" e “c” não diferiram entre o feno de mata-pasto “liso” e o feno de mata-pasto “peludo” para PB, nem para MS. Os valores de degradabilidade efetiva não diferiram estatisticamente entre os fenos e foram superiores aos encontrados para outras forrageiras nativas, tanto para a taxa de passagem 2 %/h quanto para a de 5 %/h. Se compararmos os resultados encontrados para a composição química do material proveniente dos canteiros com o material proveniente de sítios ecológicos, podemos notar grande diferença apenas com relação aos teores de proteína bruta, 7,00 % no último corte (14 semanas), nos canteiros, contra aproximadamente 12,00 % em plena floração, na natureza. Já se relacionarmos a alta digestibilidade da matéria seca encontrada nos canteiros para o mata-pasto “liso” (94,99 a 76,18 % entre a 6a e 14a semanas), observamos que está de acordo com aquelas encontradas no ensaio de degradabilidade ruminal para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente, de 76,16 e 74,37 % de degradabilidade potencial (a + b), porém um pouco acima da encontrada no ensaio de digestibilidade, de 57,73 e 53,04 %, para o mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente. Assim, conclui-se que o mata-pasto apresenta bom valor nutritivo, além de boa produção de matéria seca, consistindo a sua fenação em uma alternativa de alimentação para regiões onde há escassez de forragem, porém, fazem-se necessários estudos futuros que visem elucidar as melhores formas de arraçoamento, ou seja, em que proporção este material deve entrar na ração e quais os outros ingredientes mais indicados para compor estas rações. ix CONSIDERAÇÕES GERAIS Recentemente, a abertura de mercado e a estabilização monetária expuseram os produtos da pecuária da região semi-árida no Nordeste brasileiro a um padrão de concorrência que demanda um progressivo aumento da competitividade das cadeias produtivas. Assim, as melhores áreas das unidades de produção estão sendo velozmente degradadas em função de frustadas tentativas de implantação de forrageiras exóticas, além disso, o mercado está a cada dia sinalizando, de forma mais positiva, para os produtos de pequenos ruminantes, promovendo superpopulações pastoreando descontroladamente na caatinga, com aumento da participação de genótipos de animais mais produtivos e com maiores exigências nutricionais. Ao considerar que o extrativismo não é a melhor forma de utilização dos recursos naturais, conclui-se que o cultivo orientado das espécies que apresentam potencial forrageiro para produção de fenos, não apenas por pecuaristas na própria fazenda, mas também por quem se dedica a lavouras de risco, é uma excelente alternativa de agronegócio, pois o produto “feno” pode ser comercializado em um mercado em crescente expansão. Esta proposta é uma tentativa de empregar conhecimentos em prol da solução de um problema real: promover o desenvolvimento da região semi-árida às custas da utilização racional de sua biodiversidade, mantendo um padrão de alta sustentabilidade. O mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia L. Irvin & Barneby) e o mata-pasto "peludo" (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) foram as espécies escolhidas para objeto de estudo, não só pelo fato de se apresentarem como invasoras das pastagens, demonstrando ser espécies agressivas e adaptadas às condições da região, 1 mas também pelo potencial forrageiro, tanto nos aspectos quantitativos, como qualitativos, tendo boa perspectiva para a produção de feno. Essas plantas, enquanto verdes, são rejeitadas pelos animais, no entanto, são apreciadas quando fenadas, o que constitui uma ótima alternativa, inclusive porque não é necessário protegê-las do pastejo (NASCIMENTO et al., 1996a). O mata-pasto “liso” é tido na literatura como Casia tora L. (CESAR, 1998 a, b e c e MARTIUS, 1806), Cassia tora (EMBRAPA,1989), Sena spp., Sena obtusifoliae (BARROS et al., 1997) e finalmente como, Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby (NASCIMENTO et al., 1996 a e b, NASCIMENTO et al., 1993 a e b, NASCIMENTO et al., 2000, NASCIMENTO et al., 2001, ERASMO, 1995 e IRWIN e BARNEBY, 1982), que é o binômio atualmente aceito para esta espécie. Já para o mata-pasto “peludo” encontram-se Cassia sericeae. Swartz (SOUZA NETO et al., 1986, OLIVEIRA et al., 1986, EMBRAPA, 1989 e MARTIUS, 1806), Sena sericea (BARROS et al., 1997) e finalmente, Cassia uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby (BARBOSA, 1997 e IRWIN e BARNEBY, 1982). Assim, podemos inferir que onde estão escritos Cassia sericea, Senna sericea e Cassia uniflora, os autores se referem ao mata-pasto “peludo”, e, onde se registram Cassia tora, Cassia obtusifolia, Cassia spp, Senna sp e. Senna obtusifolia, os autores se referem ao mata-pasto “liso”. A espécie apresenta algumas diferenças morfológicas nas diversas regiões do mundo onde ocorre. No Brasil, o aspecto morfológico é mais ou menos constante, mas o porte é influenciado pelas condições ambientais, uma planta pode chegar a 2m de altura, como pode florescer com 15-20cm. As sementes são formadas em grande quantidade e apresentam alta viabilidade, geralmente acima de 90%. A emergência pode ocorrer de profundidades de até 15cm. A planta aceita diversas condições de solo, tolerando muito 2 bem solos ácidos e reage muito bem à adubação fosfatada (KISSMANN, 1992). COSTA et al. (2002) cita o mata-pasto “liso” como Senna obtusifolia e o descreve com uma erva ou subarbusto, com cerca de 1,5 a 2 metros de altura, de crescimento ereto, o caule sem espinhos e sua casca áspera. As folhas são paripinadas com 3 pares de folíolos, sem pêlos e não quebradiças. As flores são em cacho, com pétalas amarelas. As vagens são compridas, finas e curvas, possuem aproximadamente 10-12cm de comprimento. Suas sementes são pequenas e alongadas. A produção de sementes é elevada e as vagens quando “estalam”, espalham as sementes que germinam no início das chuvas. Segundo NASCIMENTO et al. (1996a), o mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia) é uma erva anual, com cerca de 1,5 m de altura, de crescimento ereto, tem flores amarelas e as vagens são aproximadamente cilíndricas, com cerca de 0,3 a 0,5 cm de diâmetro e 10 a 12 cm de comprimento. Habita em diferentes tipos de solo, sendo uma planta comum em pátios, áreas cultivadas, capoeiras, margem de estradas, proximidades de currais etc. A produção de sementes é elevada e as vagens, quando maduras “estalam”, espalhando as sementes que germinam ao início das chuvas. Dentre as leguminosas, essa é uma das poucas que não possuem as bactérias fixadoras de nitrogênio. BARBOSA (1997) descreve o mata-pasto “peludo” (Cassia uniflora), como arbusto revestido de pêlos sedosos, folhas compostas de 3-5 pares de folíolos obovados, flores pequenas, amarelo-ouro, com brácteas da mesma cor, dispostas em rasemos axilares, fruto vagem curta, linear, quase tetrágona, constritada entre sementes. As forrageiras nativas possuem mecanismos de defesa, assim, sintetizam compostos que são deletérios e os utilizam para proteção contra, bactérias, fungos, insetos e outros animais. Assim, alguns compostos apresentam reações violentas e imediatas, mas os efeitos subclinícos devido à ingestão prolongada não são notificados, 3 tais efeitos incluem redução no consumo de alimento, diminuição dos processos digestivos ou metabólicos culminando com inibição no crescimento. Diversos compostos inerente às plantas, como saponinas, taninos e proteínas solúveis, são de importância quando os animais ingerem forrageiras que os contêm (KUMAR e D’ MELLO, 1995). O mata-pasto é rejeitado pelos animais no campo porque possui sabor amargo e adstringente, o que provavelmente se deve a altos teores de tanino. Segundo VAN SOEST (1994) os taninos são compostos fenólicos pertencentes a dois grandes grupos, os taninos hidrolizáveis e os taninos condensados. Os taninos podem formar fortes complexos com proteínas e outras macromoléculas e podem exercer tanto efeitos benéficos quanto deletérios sobre as funções do rúmen, os benéficos incluem a proteção da proteína dietética no rúmen e a prevenção de timpanismo, enquanto o principal efeito deletério é a inibição da fermentação. É fato reconhecido que a secagem promove redução na concentração de compostos tóxicos, como glicosídeos cianogênicos, proteínas solúveis, substâncias estrogênicas e taninos (REIS et al., 1998). Portanto, a fenação do mata-pasto pode ser uma alternativa viável para contornar o problema de escassez de forragem que ocorre durante a maior parte do ano nas regiões semi-áridas, mediante o aproveitamento da produção desta invasora de pastagens durante o período de chuvas e até mesmo pelo cultivo de áreas específicas para o corte. Este trabalho foi desenvolvido em parceria com o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Areia-PB, e o Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife-PE, ao que se refere ao uso dos animais experimentais, instalações e laboratórios, com o objetivo de avaliar, em sistema de cultivo, a produção de matéria natural, matéria seca, a composição química, a digestibilidade "in vitro" e as características morfológicas do mata-pasto "liso" em 4 diferentes idades de corte, bem como, o consumo voluntário, os coeficientes de digestibilidade, a composição química, as frações protéicas e a degradabilidade ruminal da matéria seca e da proteína dos fenos de mata-pasto "liso" (Senna obtusifolia (L) H.S. Irwin & Barneby) e mata-pasto "peludo" (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby), produzidos a partir de material vegetal retirado da natureza. Referências Bibliográficas BARBOSA, H. P. 1997. Tabela de composição de alimentos do Estado da Paraíba “Setor Agropecuário”. João Pessoa:SEPLAN-FAPEP-UFPB. 165p. BARROS, N. N., SOUSA, F. B., ARRUDA, F. A. 1997. Utilização de forrageiras e resíduos agro-industriais por caprinos e ovinos. Sobral:EMBRAPA-CNPC. 28 p. CESAR, W. M., AZEVEDO, A . R., SALES, R. O . et al. Estudo da digestibilidade "in vitro" da matéria seca e da matéria orgânica da silagem de capim elefante (Penninsetum purpureum, SCHUM), com diferentes níveis de mata-pasto (Casia tora, L.). In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 1, 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SNPA, 1998a, p.45. CESAR, W. M., AZEVEDO, A. R., SALES, R. O . et al. Composição bromatológica da silagem de capim elefante (Penninsetum purpureum, SCHUM), com diferentes níveis de mata-pasto (Casia tora, L.) utilizando melaço como aditivo. In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 1, 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SNPA, 1998b, p.46. CESAR, W. M., AZEVEDO, A. R., SALES, R. O. et al. Avaliação das correlações estatísticas entre FDN, FDA, lignina e a digestibilidade "in vitro" da matéria seca (DIVMS) e da matéria orgânica (DIVMO) da silagem de capim elefante (Penninsetum purpureum, SCHUM), com diferentes níveis de mata-pasto (Casia tora, L.). In: In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 1, 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SNPA, 1998c, p.47. COSTA, J. A . S., NUNES, T. S., FERREIRA, A. P. L. et al. 2002. Leguminosas forrageiras da Caatinga; espécies importantes para as comunidades rurais do sertão da Bahia. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, SASOP. 132p. EMBRAPA. 1989. Avaliação do potencial produtivo, valor nutritivo e do consumo voluntário de forrageiras nativas do sertão pernambucano. Petrolina:EMBRAPACPATSA. 22p. (Relatório de Projeto). ERASMO, E. A. L. Crescimento, nutrição mineral e resposta a calagem em Senna obtusifolia. Jaboticabal, SP:UNESP, 1995, 88p. 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Nutrional ecology of the ruminant. 2o ed. New York:Cornell University Press, 476 p. 7 CAPITULO I Efeito da Idade de Corte sobre as Características Morfológicas, Composição Química e Digestibilidade "in vitro" do mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia ) RESUMO O mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) é uma leguminosa nativa do nordeste do Brasil. Ela apresenta várias características favoráveis à produção de feno e pode ser considerada uma alternativa para o período da seca. Neste trabalho avaliou-se a produção, a composição química, a digestibilidade "in vitro" e algumas características morfológicas do mata-pasto em diferentes idades de corte. A produção de matéria seca foi estimada em 8,35 t/ha, no último corte (14 semanas). Os teores de matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, extrato etéreo e matéria orgânica apresentaram variação de 15,62 a 26,67%; 17,33 a 6,99 %, 53,63 a 42,37 %, 29,32 a 40,26 %, 1,85 a 2,59 % e 85,72 a 90,69 %, respectivamente, entre a primeira (6 semanas) e a última idade de corte (14 semanas). Os valores encontrados para digestibilidade da matéria seca foram de 94,99 %, 90,85 %, 90,70 %, 86,40 %, 87,21 %, 79,71 %, 82,16 %, 83,16 %, 76,28 %, para as idades 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 semanas, respectivamente. Observa-se que, mesmo na idade mais avançada de corte, a digestibilidade se apresentou alta. Com relação aos aspectos morfológicos, observouse que a altura da planta obedeceu um comportamento linear, atingindo 100 cm, assim como o número de galhos ao avanço da idade, que alcançou a média de aproximadamente quatro galhos por planta, no último corte. Palavras-Chave: forrageira nativa, altura, plantio, número de galhos, cortes, matéria seca 8 ABSTRACT The mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) is a indigenous legume in the Northest of Brazil. The plant like a hay could be an alternative during the forage scarcity in the dry season. This paper aimed to determine the dry matter yields, the chemical composition, the “in vitro” digestibility of the dry matter and morphological indicators in different cutting frequencies of legume. The dry matter yields estimate in the last cutting was 8,35 t/ha (14 weeks). The dry matter, crude protein, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, ether extract and organic matter content ranged from 15.62 to 26.67 %; 17.33 to 6.99 % e 53.63 to 42.37 %; 29.32 to 40.26 %; 1.85 to 2.59 % and 85.72 to 90.69 %, respectively at the first (6 weeks) and the last (14 weeks) harvest. The values for the “in vitro” digestibility of the dry matter was: 94.99 %, 90.85 %, 90.70 %, 86.40 %, 87.21 %, 79.71 %, 82.16 %, 83.16 %, 76.28 %, for ages 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 weeks, respectively. In the higher cutting age the “in vitro” digestibility could be consider high in comparison as other tropical legumes. The behavior of morphological attributes was observed a linear increase of the plant’s height (100 cm at last cutting), as well as the number of stems per plant (about four stems as last cutting). Keywords: native legume, height, planting, number of stems, cutting, dry matter Introdução Sabe-se que a pecuária tem grande expressão econômica e social no Nordeste, incluindo-se entre algumas das poucas atividades com possibilidade de viabilização em sistemas de sequeiro na região. Não existem dúvidas de que um dos principais impedimentos à viabilização dos sistemas pecuários é a pequena disponibilidade de volumosos de qualidade e o manejo inadequado dos recursos forrageiros existentes. Com a baixa capacidade de suporte dos pastos nativos e a pequena área dos estabelecimentos rurais e das pastagens cultivadas, são limitadas as alternativas para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável, fora da produção intensiva de forragens e 9 da utilização de práticas de armazenamento. É importante considerar que em função da pequena existência das pastagens de gramíneas e leguminosas mais indicadas para produção de feno, no semi-árido, faz-se necessário o estudo da fenação de espécies forrageiras adaptadas à região, com alto potencial de produção de matéria seca, mesmo que estas não apresentem as características tradicionalmente mencionadas (muita folha, talos finos) (LIMA et al., 2002). A fenação pode ser uma alternativa viável para se contornar o problema da escassez de forragem de boa qualidade que ocorre durante parte do ano, mediante o aproveitamento do excesso da produção das pastagens no período de chuvas, ou pelo cultivo de áreas exclusivas para o corte. O processo de fenação consiste, basicamente, da sequência de operações com as quais se promove a remoção da umidade da forragem de valores próximos a 80 % para aqueles na faixa de 15 a 20 %, permitindo o armazenamento do feno com segurança e baixos níveis de perdas (REIS et al., 1998). O mata-pasto “liso” é uma planta invasora das pastagens, sendo normalmente retirada através do roço ou herbicidas, pois é desprezada pelos animais quando “in natura”, porém fenada pode se constituir em um alimento alternativo para caprinos e ovinos durante o período de escassez de forragem, na região semi-árida, pois apresenta boas características como forrageira. Na avaliação de uma forrageira deve-se considerar, dentre outras variáveis, os aspectos quantitativos e qualitativos. A produção de matéria seca (MS)/hectare é um dos aspectos relevantes a serem considerados na avaliação de uma planta com potencial forrageiro, pois muitas espécies nativas ou naturalizadas têm bom valor nutritivo, mas apresentam pouca produção de massa verde, consequentemente, de matéria seca. Como exemplo podemos citar: Camaratuba (Cratylia mollis), Mororó (Bauhinia cheilantha), Jureminha (Demanthus virgatus); Guandu (Cajanus cajan), Cunhã 10 (Clitoria ternatea), Orelha-de-onça (Macroptilium martii), Feijão-de-rola (Phaseolus longipedunculatus) e Leucena (Leucaena leucocephala), com produtividade média de 1.697; 3.182; 1.275; 2.395; 1.820; 2.930; 2.790 e 2.434 kg MS/ha/ano (OLIVEIRA e SILVA, 1988). A produção forrageira se baseia na transformação da energia solar em compostos orgânicos pela fotossíntese. As plantas forrageiras são extremamente responsivas às variações ambientais, componentes do clima, solo e do manejo a elas imposto. A produção fotossintética bruta dos vegetais depende de fatores externos como: concentração de CO2 e O2, disponibilidade de água e de nutrientes, temperatura e luz, e internos: dimensão, forma, disposição arquitetônica, idade e conteúdo de pigmentos das folhas e tipo de ciclo de fixação de CO2 (NASCIMENTO JUNIOR, 1998). Visto que o crescimento das plantas forrageiras decorre fundamentalmente da fixação do CO2, via fotossíntese, a obtenção de altos rendimentos forrageiros só é possível através do manejo que favoreça a obtenção e manutenção de área foliar capaz de interceptar a maior parte da luz incidente (GOMIDE, 1988). O estágio da planta apresenta ampla relação com a composição química e digestibilidade das forrageiras. Com o crescimento ocorrem aumento nos teores de carboidratos estruturais e lignina, e redução no conteúdo celular, o que invariavelmente proporcionará redução na digestibilidade. São alteradas as estruturas das plantas, com redução da relação folha/caule, onde as mais velhas apresentam maiores proporções de talos que de folhas, reduzindo o seu conteúdo em nutrientes potencialmente digestíveis (REIS et al., 1993). Assim, as características como altura da planta, relação folha:caule, número de galhos, diâmetro do caule, regime de corte, altura de corte, entre outras, apresentam relação direta com a produtividade e a qualidade. 11 Além disso, é fato reconhecido que existem diferenças na taxa de secagem de plantas forrageiras, mesmo quando fenadas em condições climáticas semelhantes, a taxa de secagem apresenta correlação com características morfológicas, principalmente a razão de peso de folha, a relação folha/caule, a espessura do caule, a espessura da cutícula e a densidade de estômatos (REIS et al., 1998). O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção, a composição química, a digestibilidade "in vitro" e as características morfológicas do mata-pasto "liso" em diferentes idades de corte. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), situado em Recife, PE, durante o período de 06/12/2002 a 22/03/2003. Foram instalados três canteiros medindo 2 m x 5 m, cada, e 2 m entre canteiros, perfazendo uma área total de 10 m x 5 m, as plantas foram distribuídas em fileiras de 7 plantas, cada duas fileiras (14 plantas), provenientes de cada canteiro (repetições), correspondiam a uma idade de corte, em semanas, totalizando 9 idades de corte, e a ordem em que as fileiras foram cortadas foi obtida mediante sorteio. As plantas das extremidades foram descartadas, para eliminar o efeito de bordadura. O plantio foi feito por sementes, sem tratamento, utilizando-se cinco sementes por cova, com espaçamento entre plantas de 25 cm. Após a germinação, foi feito desbaste, deixando-se apenas uma planta por cova. 12 As sementes foram colhidas em agosto de 2001, tratadas com inseticida e armazenadas até a ocasião do experimento. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, com nove idades de corte e três repetições. O primeiro corte foi efetuado na 6a semana após a germinação, seguindo semanalmente, até a 14a semana. Foi realizada análise de solo na área e, com base nos resultados da análise, foram aplicados 100 kg de uma fórmula comercial (N, P, K) 20-10-20/hectare e 1 tonelada de esterco curtido/hectare uma semana antes do plantio. Procedeu-se irrigação da área experimental até o estabelecimento das plantas. A análise de solo foi realizada no Laboratório de Fertilidade do Solo da UFRPE, tendo-se encontrado os seguintes resultados: pH (água –1:2,5) 5,60; 73,00 mg/dm3 de P; 0,18; 0,04; 8,25; 8,00 e 0,20 cmolc/dm3 de K+, Na+,Ca2+ + Mg2+, Ca2+ e Al3+, respectivamente. As avaliações agronômicas consistiram na mensuração da altura das plantas (o corte foi efetuado a 6 cm de altura, em média, em relação ao solo até a última folha) e número de galhos. Após o corte, o material foi identificado e pesado, para determinação da produção de matéria natural, seco em estufa a 40o C por 72 horas e moído em moinho com peneira de 1 mm, para posterior determinação de matéria seca (MS) (em estufa a 105o C), proteína bruta (PB) (em aparelho semimicro Kjeldahl), extrato etéreo (EE) (em aparelho soxhlet), cinzas (incineração em mufla a 600o C) e fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) (pelo método de Van Soest (1965) (SILVA e QUEIROZ, 2002). As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Recife-PE, no período de 25/01/2002 a 28/04/2002. 13 Os dados de produção de matéria natural e de matéria seca, de composição química bromatológica, digestibilidade e características morfológicas foram submetidos a análises de regressão. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se o programa SAS (1996), de acordo com o seguinte modelo: Yij = μ + Ti +bj +eij em que Yij = valor observado na parcela que recebeu o tratamento i e se encontra no bloco j; μ = média geral; Ti = efeito do tratamento i aplicado na parcela; Bj = efeito do bloco j, em que se encontra a parcela; eij = efeito dos fatores não controlados na parcela; Resultados e Discussão Como era de se esperar, a idade ao corte afetou linearmente a altura das plantas (P<0,05), tendo-se obtido altura máxima média de 1,0 m, com 98 dias (Tabela 1). NASCIMENTO e NASCIMENTO (1993) constataram a altura máxima para a espécie em 1,5m aos 165 dias, em plena fase reprodutiva, o estudo seguiu até os 195 dias, ou seja, houve um momento em que a altura se estabilizou e a relação deixou de ser linear. Pode-se, portanto, inferir que, no presente trabalho, se as mensurações tivessem prosseguido, provavelmente ter-se-ia obtido estabilização da altura das plantas. 14 Tabela 1. Altura da planta (AP), em cm, número de galhos (NG), produção de matéria natural (PMN) e produção de matéria seca (PMS), em g/m2, de mata-pasto, em função das diferentes idades de corte, e respectivas equações de regressão Idade AP NG PMN 6 semanas 34,20 0,95 725,30 7 semanas 38,40 906,25 8 semanas 50,60 1.278,57 9 semanas 60,60 1,98 1.657,14 10 semanas 69,80 2,21 2.226,79 11 semanas 84,00 3,00 2.430,36 12 semanas 89,90 3,62 3.023,81 13 semanas 93,90 3,60 2.588,99 14 semanas 100,0 3,86 3.122,62 Y= -19,56 + 8,86x -1,43 + 0,39x -1154,66 + 315,02x 2 r 0,98 0,96 0,86 CV 14,55 75,29 15,73 Significativo ao nível de 5 % de probabilidade pelo teste F PMS 114,58 182,31 270,22 323,79 460,19 564,71 735,34 648,53 835,18 -449,28 +90,87x 0,88 19,93 Como se pode observar na Tabela 1, o número de galhos aumentou linearmente (P<0,05) com o avanço da idade da planta. Segundo VAN SOEST (1994), as forrageiras geralmente apresentam um aumento na proporção de caules com a idade, o que pode responder ao comportamento aqui encontrado. COSSA et al. (1997) estudando reguladores vegetais na produção de alfafa (Medicago sativa), citam que a formação de caules é regulada por processos fisiológicos e pelos reguladores vegetais com função de diminuir a dominância apical, que induziria ao desenvolvimento de brotações, os autores encontraram que a utilização de auxina induziu a redução do número de caules por planta e aumento de altura das plantas. A produção de matéria natural variou de 725,30 a 3.122,62 g/m2 e a produção de matéria seca de 114,58 a 835,18 g/m2 entre a primeira e a última idade de corte (Tabela 1), tendo a idade do corte afetado linearmente (P<0,05) as produções de matéria natural e de matéria seca (MS). 15 Considerando-se o espaçamento entre plantas utilizado neste trabalho (25 cm), estimam-se 25 plantas em 1 m2 e 250.000 em 1 hectare. A partir da produção média por planta, na 14a semana (98 dias) de idade, que foi 33,41 g de MS, pode-se estimar a produção de MS/ha como sendo de 8,35 t. Essa produção é inferior àquela obtida em condições naturais para Senna obtusifolia (NASCIMENTO e NASCIMENTO, 1993), de 13,6 t de MS/ha, na 11a quinzena de idade (165 dias), com plantas medindo 1,5m de altura. É possível que a diferença na produção deva-se à diferente densidade populacional, pois, embora alta densidade reduza a produtividade, devido a maior competição entre plantas por luz e nutrientes, baixa densidade produz o mesmo efeito pelo menor número de plantas por área. Deve-se considerar também que a produção relatada por NASCIMENTO e NASCIMENTO (1993) foi obtida com plantas 67 dias mais velhas, o que, certamente, contribuiu para a maior produção de MS naquele trabalho. Outro aspecto a ser considerado na produtividade é a capacidade de rebrote, pois várias espécies conseguem atingir altas produções em função de serem submetidas a diferentes cortes. No caso do mata-pasto, foi observado rebrote, porém a produção de MS não foi determinada num segundo momento, nem a possibilidade de outro rebrote, após o primeiro. O que sugere que sua produção pode ser ainda maior. A composição química do mata-pasto e a digestibilidade “in vitro” da MS encontram-se na Tabela 2 e as respectivas equações de regressão estão na Tabela 3. Os percentuais de MS e de matéria orgânica (MO) aumentaram linearmente (P<0,05) com a idade de corte (Tabela 2), cujos valores variaram de 15,6 a 26,7 % e 85,72 a 90,69 %, para MS e MO, respectivamente. BARBOSA (1997), que não identificou a idade ou estado fenológico, aponta o valor de 15,2 % de MS para matapasto. 16 Tabela 2. Percentual de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), matéria orgânica (MO) e digestibilidade "in vitro" da MS (DIVMS) de mata-pasto, em diferentes idades de corte (em semanas) Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 MS 15,62 20,13 21,12 19,48 20,57 23,13 24,24 25,02 26,67 PB 17,33 12,29 9,59 9,03 9,46 7,76 7,85 7,06 6,99 FDN 53,64 52,44 45,35 42,37 48,23 44,12 50,12 49,96 50,68 FDA 32,42 31,22 30,52 29,32 33,58 33,48 39,11 37,80 40,26 EE 2,50 2,22 2,59 1,94 2,09 2,17 1,92 1,85 1,93 MO 85,72 88,30 89,50 88,32 88,51 88,02 90,10 88,85 90,69 DIVMS 94,99 90,85 90,70 86,40 87,21 79,71 82,16 83,16 76,18 Tabela 3. Equações de regressão ajustadas entre as variáveis estudadas da composição química e da digestibilidade "in vitro" em função das idades de corte Variáveis Equações R2 CV Matéria seca (%) Y= 10,32 + 1,15x 0,87 4,57 Proteína bruta (%) Y= 40,41 – 5,40x + 0,22x2 0,90 9,04 Fibra em detergente neutro (%) Y= 94,21 – 9,63x + 0,48 x2 0,60 6,76 Fibra em detergente ácido (%) Y= 44,52 –3,59x +0,24 x2 0,85 5,93 Extrato etéreo (%) Y= 2,89 – 0,08x 0,61 15,27 Matéria orgânica (%) Y= 84,94 + 0,37x 0,52 1,27 Digestibilidade in vitro (DIG) (%) Y= 105,98 –2,03x 0,87 3,52 Significativo ao nível de 5 % de probabilidade pelo teste F O avanço da idade da planta reduziu quadraticamente (P<0,05) o teor de proteína bruta (PB) (Tabela 2). NASCIMENTO et al. (2000), trabalhando com diferentes idades de corte, em condições naturais, verificaram redução no teor de PB, dos 15 aos 195 dias de idade, com valores variando de 26,9 a 3,8 %. Também trabalhando com mata-pasto em condições naturais, BARBOSA (1997) encontrou 24,7 % de PB, entretanto, o autor não relata a idade ou estado fenológico da planta. 17 O baixo teor de proteína bruta encontrado nas plantas 6,99 % de PB com 98 dias de idade (NASCIMENTO et al., 2000, encontrou 18,10 % aos 120 dias) pode ter ocorrido em função do solo não conter nitrogênio suficiente para as plantas, pois apesar da área ter sido adubada, o solo era raso e pedregoso, além disso, o período experimental coincidiu com um período de muitas chuvas, ou seja, os nutrientes podem ter sido lixiviados. Deve-se considerar ainda que, segundo NASCIMENTO et al. (1996a), o mata-pasto, dentre as leguminosas, é uma das poucas que não possuem as bactérias fixadoras de nitrogênio. Além disso, as perdas de nutrientes se iniciam imediatamente após o corte, e algumas interações bioquímicas, como a respiração e a oxidação, são inevitáveis durante a secagem. Durante esse período podem ocorrer pequenas perdas de compostos nitrogenados pela conversão da proteína em formas mais simples de nitrogênio não protéico. Assim, o desdobramento da proteína na presença de umidade é muito rápido e a extensão da degradação é influenciada pelo tempo de secagem (REES, 1982). A variação para fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foi de 53,63 a 42,37 % e 29,32 a 40,26 %, respectivamente, para as idades de 6 e 14 semanas, os quais sofreram efeito quadrático da idade ao corte (P<0,05). Não foram encontrados na literatura dados de FDN e FDA para material “in natura”. Os valores encontrados para extrato etéreo (EE) variaram de 2,50 a 1,93 %, entre a 6a e a 14a semana, outros autores citam, também, pequena variação nos percentuais de extrato etéreo, de 2,0 a 2,28 % (BARBOSA, 1997; NASCIMENTO et al., 1996 a e b e NASCIMENTO et al., 2000). Os valores encontrados para digestibilidade da matéria seca variaram de 94,99 a 76,28 % para as idades 6 a 14 semanas, respectivamente. Esses valores são mais altos 18 do que a digestibilidade determinada por BARBOSA (1997), de 59,81 % que não cita idade ou estado fenológico. Embora tenha havido redução linear (P<0,05) da digestibilidade da matéria seca, em função do aumento da idade da planta ao corte, mesmo na idade mais avançada, a digestibilidade foi alta. A maturidade é o principal determinante da morfologia da planta e da qualidade da forragem. A queda na qualidade da forragem com a idade resulta, principalmente, da redução da relação folha/caule (UGHERUGHE, 1986) e da redução da qualidade dos constituintes do caule (NELSON e MOSER, 1994), sendo a lignificação o maior responsável pela resistência estrutural do caule e o principal limitante de sua digestão no rúmen (AKIN et al, 1990). Portanto, é provável que as mudanças na morfologia e na composição química das plantas no período avaliado (14 semanas) não foram suficientes para provocar queda considerável da digestibilidade, embora NASCIMENTO (1996) afirme que, em mata-pasto, o processo de lignificação se inicie aos 60 dias de idade, aumentando rapidamente a partir daí. Deve-se ressaltar que na 14ª semana (último corte) as plantas não haviam iniciado a floração, e o caule encontrava-se ainda relativamente tenro, indicando, provavelmente, que o processo de lignificação não havia ainda se intensificado. Conclusões O mata-pasto “liso”, sendo uma leguminosa nativa e anual, apresenta alta produção de matéria seca; além disso, apresenta boa composição química e alta digestibilidade, consistindo seu cultivo ou aproveitamento para a produção de feno em uma alternativa para o semi-árido. 19 Aspectos morfológicos como diâmetro do caule e relação caule/folha, bem como, aumento no período de estudo, de maneira a cobrir o ciclo completo do mata-pasto devem ser considerados em estudos futuros. Referências Bibliográficas AKIN, D. E., RIGSBY, L. L., LYON, C. E., et al. 1990. Relationship of tissue digestion to textural strength in bermudagrass and alfafa stems. Crop Scienc. (30):990-993. ARAÚJO FILHO, J. A., CARVALHO, F. C. 1997. Desenvolvimento sustentado da caatinga. Sobral:EMBRAPA-CNPC. 19 p. (Circular Técnica). BARBOSA, H. P. 1997. Tabela de composição de alimentos do Estado da Paraíba “Setor Agropecuário”. João Pessoa:SEPLAN-FAPEP-UFPB. 165p. COSSA, A. C., PEDRAS, J. F. 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Os valores encontrados para matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, extrato etéreo, energia bruta e lignina foram respectivamente: 88,22 e 88,59 %; 92,95 e 91,32 %; 10,70 e 11,95 %; 43,02 e 41,95 %; 34,18 e 34,0 %; 1,41 e 1,31 %; 4,29 e 4,24 Mcal/kg de MS e 5,95 e 7,13 %, para os fenos de mata-pasto “liso” e mata-pasto “peludo”. Ambos os fenos apresentaram alta degradabilidade ruminal. A fração solúvel (a), potencialmente degradável (b), não degradável (C) e taxa de degradação por hora para a fração “b” no tempo “t” (c) não foram diferentes para ambos os fenos, tanto para proteína bruta quanto para matéria seca. A degradabilidade efetiva não mostrou efeitos sobre os diferentes fenos. As frações protéicas, expressas em porcentagem de proteína bruta, foram: 15,58 e 12,26 % para a fração A; 5,28 e 8,41 % para a fração B1; 47,90 e 45,90 % para a fração B2; 24,67 e 22,86 % para a fração B3 e 6,48 e 10,58 % para a fração C, para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente. Não foram encontradas diferenças significativas entre as frações protéicas, com exceção da fração C que diferiu (P<0,05) entre os fenos. Palavras-Chave: forrageira nativa, fracionamento, proteína, semi-árido, ruminantes 22 ABSTRACT This experiment was conducted to estimate the chemical composition, the protein fractions and the ruminal degradability of dry matter and crude protein by the nylon bag technique of the native forages crop “mata-pasto liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) and “mata-pasto peludo” (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) hays. There was no substantial difference (P>0,05) between hay species by chemical analyses. The results of the chemical analyses of the hays were respectively: dry matter, organic matter, crude protein, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, ether extract, crude energy and lignin: 88.22 and 88.59 %; 92.95 and 91.32 %; 10.70 and 11.95 %; 43.02 and 41.95 %; 34.18 and 34.0 %; 1.41 and 1.31 %; 4.29 and 4.24 Mcal/kg DM and 5.95 and 7.13 % for the “mata-pasto liso” and “mata-pasto peludo”, respectively. Both hays had hight percentage of degradability and are more intensely degraded in the rumen. The fractions soluble (a), potentially degradable (b), undegradable (C), degradatin rate per hour of the fraction “B” with time “t” (c) were not different for both hays for crude protein and dry matter. The effective degradability did not show any effects on the different hays. The fractions, expressed as percentage of crude protein, were 15.58 and 12.26 % for fraction A, 5.28 e 8.41 % for fraction B1, 47.90 e 45.90 % for fraction B2, 24.67 e 22.86 % for fraction B3 e 6.48 e 10.58 % for fraction C, for the “mata-pasto liso” and “mata-pasto peludo” hays, respectively. Were not observed different for the protein fractions, excet for fraction C (P< 0,05). Keywords: native legume, fractionation, protein, semi-arid, ruminant Introdução A disponibilidade de forragem ao longo do ano ainda é o principal problema tecnológico relacionado com a produção de ruminantes no semi-árido nordestino, principalmente quando se tem um período de seca mais prolongado. Portanto, o cultivo 23 orientado de espécies que apresentem potencial forrageiro para produção de fenos ou silagens deve ser avaliado. O mata-pasto “liso” e o mata-pasto "peludo" foram as espécies escolhidas para objeto de estudo, por serem invasoras das pastagens, demonstrando com isso agressividade e adaptação às condições da região, bem como, pelo potencial forrageiro, tanto nos aspectos quantitativos, como qualitativos, tendo boa perspectiva para a produção de feno. O mata-pasto é uma leguminosa de larga ocorrência natural no Nordeste do Brasil e apesar de não apreciada pelos ruminantes quando verde, é muito consumida quando naturalmente seca (NASCIMENTO et al., 2001). Segundo VAN SOEST (1994), as variações na composição química entre as espécies são resultantes da diversidade genética das plantas. As leguminosas tropicais apresentam-se mais ricas em proteína, cálcio e fósforo do que as gramíneas. Porém, a presença de taninos em leguminosas reduz a degradação ruminal das proteínas, aumentando a quantidade de aminoácidos absorvidos no intestino. Por outro lado, altos níveis de tanino podem reduzir o consumo voluntário e consequentemente deprimir a produção animal. As exigências de proteína dos ruminantes são atendidas pelos aminoácidos absorvidos no intestino delgado, sendo estes provenientes principalmente da proteína microbiana e da proteína dietética não degradada no rúmen. Tanto o sistema americano (NRC) como o britânico (AFRC) calcula as exigências protéicas em termos de proteína metabolizável, ou seja, aminoácidos absorvidos no intestino delgado. Consequentemente, para ambos os sistemas o conhecimento da degradabilidade ruminal e da digestibilidade da proteína bruta no intestino delgado é fundamental para expressar as exigências nutricionais. Para calcular a degradabilidade ruminal da proteína, os 24 sistemas americano (NRC, 1985), britânico (AFRC, 1993) e o de Cornell, CNPS, descrito por SNIFFEN et al. (1992), consideram diferentes frações protéicas (VALADARES FILHO, 1995). O ARC (1984) utiliza as frações: “a” definida como aquela que é degradada muito rapidamente ou pode ser considerada a fração já degradada ao tempo zero, enquanto que o AFRC (1993) define “a” como a fração solúvel em água. A fração “b” é potencialmente degradável e “c” é definida como a taxa de digestão da fração “b”. A degradabilidade efetiva da proteína bruta é calculada por: a = bc/c = k, sendo “k” a taxa de passagem da fração “b”. Já a proteína não degradada no rúmen pode ser calculada por 1- (a + bc/c + k) ou por bk/c + k [1-(a + b)]. Além disso, o AFRC (1993) considera a proteína não degradada no rúmen e indigestível é equivalente ao teor de nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). O “Cornell Net Carbohydrate and Protein System” (CNCPS), descrito por SNIFEEN et al. (1992), é um sistema dinâmico que tem por objetivo adequar a digestão ruminal de proteínas e carboidratos, visando obter o máximo desempenho das comunidades microbianas ruminais, redução das perdas de nitrogênio pelo animal e estimativa do escape ruminal de nutrientes. O sistema considera que os alimentos utilizados na alimentação de ruminantes devem ser fracionados para sua adequada caracterização. Neste sistema os compostos nitrogenados dos alimentos são divididos em três distintas frações: nitrogênio não protéico (NNP), nitrogênio protéico verdadeiro e nitrogênio indisponível. Estas frações foram descritas como frações A, B e C. Além disso, o sistema considera que a proteína verdadeira pode ser dividida em três frações: B1, B2 e B3, com base nas suas taxas de degradação ruminal ou de acordo com a redução gradativa da sua solubilidade. Desta forma, a proteína bruta pode ser subdividida na fração A, basicamente constituída de compostos nitrogenados não 25 protéicos, na fração B1, composta de proteínas solúveis e rapidamente degradáveis no rúmen, nas frações B2 e B3, constituídas de proteínas insolúveis com taxas de degradação intermediária e lenta, respectivamente, e ainda na fração C, que consiste em proteínas insolúveis e não digeríveis no rúmen e nos intestinos. Na literatura são escassos os dados sobre composição química e degradabilidade de forrageiras nativas e quase inexistentes informações sobre as suas frações protéicas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição química, as frações protéicas e a degradabilidade ruminal da matéria seca e da proteína do feno de mata-pasto "liso" e do feno de mata-pasto "peludo". Material e Métodos Os fenos foram confeccionados em setembro de 2001, com material proveniente de vários sítios ecológicos, situados no município de Surubim-PE, em estágio de floração/frutificação. Após o corte, o material foi triturado e espalhado sobre lonas plásticas, para desidratação e então armazenado em sacos de ráfia. Para determinação da composição química e fracionamento da proteína foram colhidas três amostras, aleatoriamente, de cada um dos dois fenos, imediatamente após sua confecção, sendo elas moídas em moinho com peneira de 1 mm e armazenadas a – 20o C, até a ocasião das analises, quando foram determinadas matéria seca (MS), proteína bruta (PB) (determinação de N pelo método Kjeldahl), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM) e fibra em detergente ácido (FDA), de acordo com metodologia descrita por SILVA e QUEIROZ (2002). A fibra em detergente neutro foi determinada segundo de Van Soest (1965), sem sulfito de sódio e a lignina foi determinada através 26 do tratamento do resíduo de FDA com solução de ácido sulfúrico a 72 % (SILVA e QUEIROZ, 2002). As determinações das frações protéicas foram feitas conforme procedimento descrito por LICITRA et al. (1996), ou seja, a determinação do nitrogênio não protéico (NNP) (fração A) inicia-se com a precipitação da fração protéica, com posterior filtração e determinação do teor de N no resíduo da amostra. O teor de NNP foi obtido pela diferença entre o percentual do nitrogênio total e o valor do N contido no resíduo, após incubação com ácido tricloacético. A fração nitrogenada solúvel dos alimentos inclui os compostos nitrogenados não protéicos e a fração contendo aminoácidos, peptídeos e proteínas. Para determinação dos compostos nitrogenados solúveis (fração B1) utilizou--se uma solução tampão à base de fosfato de sódio monobásico, tetraborato de sódio e álcool bitílico terciário que serviu como agente umectante (tampão borato-fosfato). Após três horas de incubação, a amostra foi filtrada em papel de filtro e determinou-se o N residual insolúvel no tampão. A fração contendo as proteínas com taxas de degradação intermediária no rúmen (fração B2), foi determinada pela diferença entre a fração insolúvel em tampão boratofosfato e a fração de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN). Mediante a diferença entre os teores de NIDN e os de NIDA (nitrogênio insolúvel em detergente ácido) determinou-se a fração B3. A fração C corresponde ao próprio NIDA. As determinações de NIDN e NIDA seguem os mesmos protocolos para a obtenção da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), sendo que após a determinação do FDN ou FDA, o resíduo é transferido para o aparelho Kjedahl, seguindo os passos para determinação do nitrogênio total, segundo SILVA e QUEIROZ (2002). 27 As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Recife-PE, no período de 12/01/2002 a 28/04/2002 para composição química e 05/09/2002 a 15/09/2002 para o fracionamento de proteína. A degradabilidade foi determinada em uma amostra composta, de cada feno, que foi colhida no início do experimento para avaliação da digestibilidade in vivo, após homogeneização de todo o feno produzido. Foram utilizadas duas cabras mestiças da raça Anglo-nubiana fistuladas no rúmen, com peso vivo médio de 30 kg. Os animais recebiam, diariamente, 300 g de um concentrado comercial e volumoso à vontade, que era composto por 75 % de feno de capim tifton e 25 % de feno de mata-pasto. A dieta foi fornecida duas vezes ao dia, possibilitando sobra de 10 % do total oferecido. Água e suplemento mineral estavam à disposição dos animais durante todo o período experimental. Antes de iniciar o experimento, os animais foram vermifugados. O ensaio teve duração de 18 dias, sendo 14 dias de adaptação e 4 dias para avaliação da degradabilidade. O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no período de 02/09/2002 a 20/09/2002. A incubação ruminal foi feita em sacos de náilon medindo 5 cm x 8 cm, com abertura de malha de 50μm, tendo sido utilizadas duas repetições por animal. Os sacos, previamente pesados e identificados, receberam 1 g de MS, cada, e em seguida foram colocados em uma bolsa de poliéster medindo 15 cm x 15 cm, que continha um peso de aproximadamente 200 g, e era fixada a um fio de náilon amarrado à tampa da cânula. A incubação foi feita por 0, 3, 6, 12, 24, 48, 72 e 96 horas. Após serem removidos do rúmen, os sacos foram imersos em água fria, e em seguida lavados em lavadora automática e secos em estufa à 55o C, com ventilação forçada por 72 horas, e pesados à 28 quente. As amostras correspondentes ao tempo 0 não foram incubadas no rúmen, mas foram lavadas juntamente com os outros sacos, como descrito anteriormente. As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba-PB, durante o período de 14/10/2002 a 17/12/2002. O desaparecimento ruminal da MS e da PB foi calculado pela concentração destes na amostra original e no resíduo após incubação no rúmen e foi, então, usado para estimar os parâmetros da cinética ruminal de acordo com a equação proposta por de ORSKOV e Mc DONALD (1979): p = a + b (1 – e –ct), em que: p = degradação potencial após um tempo”t”; a = fração solúvel em água; b = fração potencialmente degradável no rúmen; c = taxa de digestão da fração b; t = tempo de incubação. A degradabilidade efetiva ou real, ou seja, a degradação ajustada à taxa de passagem, foi calculada com a seguinte equação: P = a + (bc/c + k), em que: P = degradação real; a, b e c = constantes do modelo anterior; k = taxa de passagem Os dados foram submetidas à análise de variância e as variáveis tiveram suas médias comparadas pelo teste de F a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se o programa SAS (1996). 29 Resultados e Discussão Os resultados referentes à composição química dos fenos de mata-pasto são apresentados na Tabela 1. As análises químicas mostraram que o feno das duas espécies de mata-pasto, “liso” e “peludo”, respectivamente são semelhantes, apresentando diferenças significativas (P<0,05) apenas com relação à matéria seca (MS), matéria orgânica (MO) e cinzas. Os valores encontrados de MS para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo” foram inferiores (88,21 e 88,70 %, respectivamente) que os citados em revisão por BARROS et al. (1997) para feno de mata-pasto que variaram de 90,90 a 91,00 %. Os teores de proteína bruta (PB) estão altamente relacionados com a época do corte, na literatura são relatados os valores de 12,90 e 13,30 % para o início da floração (EMBRAPA, 1989) e 7,00 e 7,60 % quando o corte foi efetuado com as plantas já maduras (BARROS et al., 1992 e BARROS et al., 1991). No presente trabalho foram encontrados 12,51 e 12,64 % de PB para as espécies “liso” e “peludo”, respectivamente, os quais foram confeccionados com plantas colhidas no estádio de floração/frutificação, corroborando os dados da literatura (EMBRAPA, 1989). Essa parece, portanto, ser a época ideal de corte, quando se verifica uma relação desejável entre proteína e fibra, bem como, valor nutritivo e rendimento forrageiro. Os fenos apresentaram razoável teor protéico na forma absoluta (12,51 e 12,64 % de PB, para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente), uma vez que está bem acima do nível crítico de 7,00 % de PB, citado por VAN SOEST (1994) como comprometedor da eficiência ruminal, portanto, do desempenho do animal. 30 Tabela 1. Composição bromatológica dos fenos de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) Composição (%) FMPL FMPP CV Matéria seca 88,21 b 88,70 a 0,23 Proteína bruta 12,51 a 12,64 a 2,55 Fibra em detergente neutro 48,90 a 51,11 a 2,95 Fibra em detergente ácido 33,75 a 35,15 a 7,99 Cinzas 6,75 b 8,12 a 1,69 Matéria orgânica 93,25 a 91,88 b 0,14 Extrato etéreo 1,60 a 1,48 a 9,45 Lignina 5,95 a 7,13 a 18,02 N-FDN 7,92 a 8,44 a 5,91 N-FDA 2,48 a 3,63 a 16,32 As médias seguidas de letras diferentes diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância Os valores citados em revisão, para MO, de 90,60 a 99,80 % (BARROS et al., 1997) não diferem dos encontrados neste trabalho de 93,25 e 91,88 % para feno de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente. No caso da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) os valores encontrados foram de 48,90 e 51,11 % e 33,75 e 35,15 %, para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente. Não foram encontrados resultados em FDN e FDA na literatura consultada, pois os resultados de fibra, quando presentes, estavam em fibra bruta. Com relação ao extrato etéreo (EE) também não foram encontrados dados na literatura, para o feno, mas para o material “in natura” foi constatada pequena variação nos percentuais, de 2,0 a 2,28 % (BARBOSA, 1997; NASCIMENTO et al., 1996 a e b e NASCIMENTO et al., 2000). Assim, neste trabalho, os valores encontrados para o EE nos fenos foram mais baixos que os valores encontrados para o material “in natura” (1,60 e 1,48 % para o feno de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente). 31 Para lignina foram encontrados os valores de 5,95 e 7,13 % para o feno de matapasto “liso” e “peludo”, respectivamente. As forrageiras arbóreas e arbustivas geralmente apresentam coeficientes de digestibilidade inferiores que os encontrados para herbáceas e gramíneas, isto se deve às mais elevadas concentrações de lignina contidas nestas categorias, segundo revisão realizada por BARROS et al. (1997), as concentrações em lignina nas forrageiras herbáceas (categoria que inclui o mata-pasto) variaram de 7,80 a 11,10 %, já para as forrageiras arbóreas e arbustivas a variação foi de 14,20 a 17,10 % na MS. Os resultados demonstram que o caule do mata-pasto é tenro, o que explica a alta digestibilidade encontrada no capítulo II desta tese, mesmo na idade mais avançada de corte. Pois, segundo VAN SOEST (1994), os caules geralmente possuem mais baixa qualidade do que as folhas, em plantas maduras, porém há exceções. Em geral, o declínio do valor nutritivo com o avançar do desenvolvimento é mais drástico em gramíneas que em leguminosas, mesmo crescendo sob condições semelhantes. Na Tabela 2 constam as frações protéicas dos fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, os valores encontrados para as frações, em % da PB, foram A: 15,58 e 12,26 %; B1 5,28 e 8,41 %; B2 47,90 e 45,90 %; B3 24,67 e 22,86 % e C 6,48 e 10,58 %, respectivamente para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”. Como se pode observar, não houve diferença entre os fenos, com relação à solubilidade das frações protéicas, com exceção da fração C (P<0,05), ou seja, o feno de mata-pasto “peludo” apresenta uma fração maior que não será digerida no trato gastrointestinal. PEREIRA et al. (2000), fracionando a proteína da cama de frango, encontraram valores para PB, 19,60 % e para as frações A, 13,72 %, B1, 6,80 %, B2, 45,80 %, B3, 23,57 % e C, 10,11 % (em % da PB). Curiosamente, os resultados encontrados para cama de frango se parecem muito com os encontrados para os fenos de mata-pasto, para 32 todas as frações (A, B1, B2, B3 e C). Verifica-se que estes alimentos apresentam maior proporção de proteína de degradação intermediária no rúmen e também considerável fração de proteína de degradação lenta no rúmen. A fração B2 serve como fonte de aminoácidos e peptídeos tanto no rúmen como no intestino delgado. A fração B3 tende a escapar do rúmen e fornecer aminoácidos no intestino, pois está associada à parede celular vegetal, representando a maior parte das proteínas digestíveis que irão atingir o intestino delgado sem serem degradadas no rúmen. Tabela 2. Valores médios para as frações protéicas (A, B1, B2, B3 e C) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) em porcentagem de matéria seca (%MS) e porcentagem de proteína bruta (%PB) Frações FMPL FMPP CV Fração protéica (% MS) A 1,97 a 1,55 a 23,38 B1 0,65 a 1,07 a 57,06 B2 5,99 a 5,80 a 7,50 B3 3,08 a 2,89 a 9,82 C 0,81 b 1,34 a 18,57 Fração protéica (% PB) A 15,58 a 12,26 a 23,38 B1 5,28 a 8,41 a 57,08 B2 47,90 a 45,90 a 7,12 B3 24,67 a 22,86 a 10,14 C 6,48 b 10,58 a 16,96 Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância Os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo” apresentaram 80 % da proteína na forma das frações B2, B3 e C. Segundo MALAFAIA et al. (1997), o feno de braquiária decumbens apresentou 2,5 vezes menos PB que a planta cortada aos 60 dias, além disso as frações C e B3 do feno de braquiária foram aproximadamente o dobro e a fração B2 foi quase 6,5 vezes menor que aquela encontrada na planta com 60 dias, indicando que houve conversão do nitrogênio solúvel para as formas insolúveis (C) e associadas à 33 parede celular vegetal (B3), à medida que a planta cresceu. Assim, pode-se inferir que o mesmo tenha ocorrido com o mata-pasto, pois as plantas foram cortadas em plena floração e início de frutificação. CABRAL et al. (2000) também verificaram que, em capim Tifton-85, o avanço da maturidade resultou em redução de 32 % na PB e de 56; 20 e 16 % nas frações B1, B2 e B3, respectivamente, reduzindo a disponibilidade de aminoácidos e peptídeos no rúmen, para os microrganismos que fermentam carboidratos não estruturais e proteína dietética potencialmente digerível no intestino delgado. Entretanto, houve aumento da fração A em 54 %, o que implica em aumento do suprimento de nitrogênio não protéico para microrganismos que fermentam carboidratos estruturais. VIEIRA et al. (2000), estudando o fracionamento dos compostos nitrogenados em extrusa de bovinos sob pastejo, em dois períodos, na estação chuvosa e na estação seca, observaram valores para PB de 8,90 e 8,00 % para os dois períodos da estação chuvosa e 4,30 e 5,40 % para os dois períodos da estação seca e redução nas frações B2 e B3, isto em virtude do aumento da fração C. A fração C é constituída por proteína associada à lignina, tanino e produtos de Maillard, que são resistentes às enzimas microbianas e do hospedeiro. Os valores encontrados para o período dois da estação seca são os que mais se assemelham aos encontrados para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, com exceção da fração B2, que nos fenos de mata-pasto foram praticamente o dobro, e da fração C, cujos valores foram até 5 vezes menores. A fração C é indigerível, portanto, indesejável numa forrageira, porém, é estranho que os fenos de mata-pasto tenham apresentado tão baixos valores para esta fração, uma vez que o caule desta planta é bastante lignificado, além disso, suspeita-se que a planta contenha altas concentrações de tanino. Segundo KUMAR e D’MELLO (1995) taninos ligados com 34 proteínas e fibras podem ser indigeríveis. Os taninos livres podem formar complexos com proteínas dietéticas, bem como, com proteínas endógenas, inclusive enzimas. Estes valores também se assemelham aos encontrados por RIBEIRO et al. (2001) que, trabalhando com feno de Tifton-85 em diferentes idades de rebrota, encontraram para as frações C (em % de PB), 5,75; 6,25; 6,76 e 6,44 %, para 28, 35, 42 e 56 dias. Ainda analisando os dados obtidos por MALAFAIA et al. (1997) e comparandoos com os obtidos para os fenos de mata-pasto, verifica-se que há alguma similaridade ao capim gordura, com relação às frações A, B1 e B2 e com capim elefante, com relação às frações A, B2 e B3. Quanto a isso, os autores comentam que ruminantes ingerindo volumosos tropicais, cujas frações protéicas se apresentam nas formas das frações A, B1 e B2 em porcentagens maiores que 50 %, poderão favorecer o escape de nitrogênio amoniacal pelo epitélio do rúmen e sugere que em tais situações a adição de fontes energéticas de rápida degradação pode reduzir as perdas de nitrogênio e melhorar o desempenho animal através da síntese de proteína microbiana no rúmen. Assim, o uso de melaço que por ser uma fonte de energia prontamente solúvel e também palatabilizante pode ser sugerido. Embora a elevada porcentagem de fração B2 (de degradação intermediária) indique a necessidade de uma fonte energética com menor solubilidade, ou seja, com velocidade de degradação mais compatível, como por exemplo a do fubá de milho, cuja a fração B2 foi de 75,45 % (MALAFAIA et al., 1997) e de 72,13 % (CABRAL et al., 2000) ou do farelo de trigo, de 35,66 % (MALAFAIA et al., 1997) e de 54,32 % (CABRAL et al., 2000). Dos alimentos estudados por CABRAL et al. (2000), o que mais se assemelhou aos encontrados para os fenos de mata-pasto, foi o feno de alfafa, com exceção da fração A, que é o dobro nesta forragem. Altos valores da fração A podem resultar em perdas de nitrogênio no rúmen, principalmente, se na dieta não houver adequado 35 suprimento de carboidratos prontamente solúveis. Ao contrário, quando se utilizam alimentos com pequena porcentagem de fração A, é interessante que se forneça uréia, promovendo com isto, alto suprimento de compostos nitrogenados não protéicos para microrganismos que fermentam carboidratos estruturais e, consequentemente, maior disponibilidade protéica ao longo do trato gastrointestinal. O feno de alfafa também apresentou quase a metade da proteína de degradação lenta no rúmen (fração B3) que aquela encontrada nos fenos de mata-pasto, o que pode significar menor aporte de nitrogênio nos intestinos. Com relação a degradabilidade dos fenos, os valores das frações "a", "b", “C” e "c" e as degradabilidades efetivas (DE) da MS e PB para as taxas de passagem de 0,02 e 0,05 encontram-se na Tabela 3. Tabela 3. Frações solúvel (a), potencialmente degradável (b), não degradável no rúmen (C), taxa de degradação da fração potencialmente degradável (c) e degradabilidade efetiva (DE) para a Matéria seca (MS) e Proteína bruta (PB) dos fenos de mata-pasto "liso" (FMPL) e de mata-pasto "peludo" (FMPP) para taxas de passagem de 2%/h e 5%/h Variáveis a b C c DE1 2%/h DE1 5%/h Para MS FMPL 25,98 a 50,18 a 23,84 a 7,9 a 65,65 a 56,28 a FMPP 26,75 a 47,62 a 25,63 a 7,1 a 63,89 a 54,69 a Para PB FMPL 22,09 a 66,45 a 11,46 a 7,4 a 73,55 a 60,79 a FMPP 26,29 a 61,41 a 12,30 a 7,6 a 74,59 a 62,95 a Letras distintas entre linhas diferem estatisticamente ao nível de 5% pelo teste F 1 Degradabilidade efetiva calculada através das taxas de passagem adotadas pelo ARC (1984) para animais alimentados ao nível de mantença (0,02) e de baixa produção (0,05). Analisando as frações da MS e PB de ambos os fenos, observou-se elevado potencial de degradação (b) e elevada taxa de degradação (c) quando comparamos com outras forrageiras nativas do nordeste brasileiro como Sabiá, Jurema preta e Catingueira, que apresentaram 23,48; 32,95 e 40,25 % para MS a uma taxa de 36 degradação de 3,30; 3,50 e 3,60 %/h e para PB de 21,46; 24,84 e 67,49 % a uma taxa de degradação de 3,30; 3,60 e 3,40 %/h, com exceção da fração "B" da catingueira (VASCONCELOS, 1997). As frações "a", “b” “C” e "c" não diferiram entre o feno do mata-pasto “liso” e o feno de mata-pasto “peludo” para PB, nem para MS. A fração solúvel (a) não diferiu entre os fenos para MS nem para PB e esta quando comparada às forrageiras nativas acima citadas apresentam valores semelhantes para MS e maiores para PB (Sabiá, Jurema preta e Catingueira, apresentaram 24,61; 21,22 e 28,71 % para MS e 13,12; 15,80 e 16,59 % para PB). Como era de se esperar, a fração não degradável no rúmen (C) foi menor tanto para MS quanto para PB do que aquelas encontradas pela autora acima citada, pois as forrageiras arbóreas e arbustivas geralmente apresentam coeficientes de digestibilidade inferiores aos encontrados para herbáceas e gramíneas. Isto se deve, provavelmente, às mais elevadas concentrações de lignina contidas nestas categorias. VASCONCELOS (1999), avaliando a degradabilidade do feno de maniçoba (Manihot epruinosa), encontrou resultados mais próximos daqueles encontrados para os fenos de mata-pasto, principalmente em relação à proteína. Para MS, os valores foram 33,35 % para fração a, 35,95 % para a fração b, 30,95 % para a fração C, 11,00 %/h para a taxa de degradação da fração b e DE de 62,35 e 55,50 % considerando-se taxas de degradação de 2 %/h e 5 %/h, respectivamente. Para PB foram encontrados 26,65 % para fração a, 58,35 % para a fração b, 15,0 % para a fração C, 11,65 %/h para a taxa de degradação da fração b e DE de 75,40 e 65,40 % considerando-se taxas de degradação de 2%/h e 5%/h, respectivamente Os valores de DE não diferiram estatisticamente entre os fenos e foram superiores aos encontrados por VASCONCELOS (1997), tanto para a taxa de passagem 0,02 quanto para a de 0,05. Este mesmo autor, considerando taxa de passagem de 2 %/h 37 encontrou os valores de 39,20; 42,10 e 54,60 % para MS e de 26,50; 31,40 e 59,10 % para PB, já quando considerou taxa de passagem de 5 %/h os valores encontrados foram 33,90; 34,70 e 45,60 % para MS e 21,50; 28,40 e 43,90 % para PB. Neste trabalho os valores encontrados para os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, respectivamente, foram 65,65 e 63,89 % para taxa de passagem de 2 %/h e 56,28 e 54,69 % para taxa de passagem de 5 %/h para MS e 73,55 e 74,59 % para taxa de passagem de 2 %/h e 60,79 e 62,95 % para taxa de passagem de 5 %/h para PB. Conclusões Os fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”, avaliados neste estudo, têm composição química semelhantes, exceto pela fração protéica indigestível, maior no feno de matapasto “peludo”. Estes fenos apresentaram maior proporção de proteína de degradação intermediária e considerável fração de degradação lenta no rúmen, o que significa aporte de aminoácidos e peptídeos tanto no rúmen quanto no intestino delgado. O fracionamento possibilita a manipulação da dieta e a introdução de alimentos com velocidade de degradação compatíveis, disponibilizando assim, maior aporte de nutrientes para o animal. 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O consumo de matéria seca para o feno de mata-pasto “liso” foi 63,52 g/kg0,75 ou 2,71 % do peso vivo e 81,75 g/kg0,75 ou 3,46 % do peso vivo para o feno de mata-pasto “peludo”. Os coeficientes de digestibilidade foram: 57,73 e 53,04 % para matéria seca; 63,68 e 56,85 % para matéria orgânica, 47,00 e 45,19 % para proteína bruta, 54,21 e 38,64 % para fibra em detergente neutro e 61,96 e 55,60 % para energia para o feno de mata-pasto "liso" e o feno de mata-pasto "peludo", respectivamente. O consumo não foi influenciado pelos tratamentos (P<0,05), nem os coeficientes de digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta, mas o feno de mata-pasto “ peludo” apresentou melhores coeficientes de digestibilidade da matéria orgânica, da fibra em detergente neutro e da energia. Palavras-Chave: leguminosa nativa, valor nutritivo, balanço de nitrogênio, estação seca ABSTRACT The conventional methodology of total excreta collection was employed. This work was carried out to evaluate the voluntary intake and the apparent digestibility of the native forage crop “mata-pasto liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby) and “mata-pasto peludo” (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) hays by kid goats in the growth phase. The hays were made in flower and fruit fase. The dry matter intakes were 63.52 g/ kg0,75 or 2.71 % of liveweight to “mata-pasto liso” hay and 81.75 g/ kg0,75 or 3.46 % 41 of liveweight to “mata-pasto peludo” hay. The apparent digestibility to dry matter, organic matter, crude protein, neutral detergent fiber and energy were in order of 57.73 and 53.04 %, 63.68 and 56.85 %, 47.00 and 45.19 %, 54.21 and 38.64 %, 61.96 and 55.60 % for “mata-pasto liso” and “mata-pasto peludo”, respectively. The voluntary intake was not influenced (P<0.05) by the trataments as well as the apparent digestibility to dry matter and the crude protein, but the apparent digestibility to organic matter neutral detergent fiber and energy were increased to the native forage crop “mata-pasto peludo” hay. Keywords: native legume, nutritive value, nitrogen balance, dry season Introdução A pecuária de ruminantes se constituiu ao longo do último século no principal alicerce que garantiu a sobrevivência da maior parte das unidades de produção em considerável área da região semi-árida do Nordeste do Brasil, em circunstâncias que, na maioria dos casos, baseava-se na produção do tipo extrativista. As mais recentes estratégias utilizadas para atender as demandas tecnológicas relacionadas com a produção e armazenamento de forragens nativas já procuraram corrigir a forma extrativista. Ultimamente, o que se tem observado é o uso de práticas de fenação ou ensilagem de algumas forrageiras nativas em considerável parcela de unidades de produção, com razoável sucesso mesmo sem que ainda tenha havido o suficiente aporte do conhecimento científico. O mata-pasto foi a forrageira escolhida para o estudo por apresentar várias características favoráveis à produção de feno, entre outras, bom valor nutritivo e grande produção de massa verde. Há duas espécies de mata-pasto: uma espécie cujas folhas tem pêlos sedosos, o 42 mata-pasto “peludo” (Senna uniflora (P. Miller) Irwin & Barneby) e são algumas vezes consumidos pelos animais, em estado natural, e outra espécie, o mata-pasto “liso” (Senna obtusifolia L. Irwin & Barneby), cujas folhas são lisas e altamente rejeitadas pelos animais no campo, no entanto, ambas, quando fenadas, são consumidas. Há uma certa confusão na literatura com relação ao nome científico do matapasto, mas podemos inferir que onde estão escritos Cassia sericea, Senna sericea e Cassia uniflora, os autores se referem ao mata-pasto “peludo”, e, onde se registram Cassia tora, Cassia obtusifolia, Cassia spp, Senna sp e. Senna obtusifolia, os autores se referem ao mata-pasto “liso”. BARROS et al. (1991 e 1992) comentam que o mata-pasto é resultante do uso e manejo inadequado da pastagem, principalmente do superpastejo. Na literatura, os poucos relatos sobre consumo voluntário de feno de mata-pasto por caprinos revelam baixo consumo. Fatores ligados ao ambiente como elevadas temperaturas e umidade relativa do ar também podem limitar o consumo de alimentos pelos animais, embora, outros fatores possam limitar mais fortemente o consumo em ruminantes, como os requerimentos nutricionais, os processos metabólicos e fisiológicos, como, dieta deficiente, enchimento do rúmen, densidade calórica da dieta, composição da forragem e conteúdo de parede celular (BARROS et al., 1997). Além disso, as forrageiras nativa são dotadas de fatores anti-nutricionais e embora, alguns destes compostos apresentam reações violentas e imediatas, a maioria dos efeitos ocorre muito tempo após a ingestão, incluem, redução no consumo de alimento, redução da digestibilidade de nutrientes, efeito no metabolismo ruminal e até danos em órgãos vitais (KUMAR e D’MELLO, 1995). A rejeição do mata-pasto por parte dos animais é muitas vezes atribuída ao sabor 43 amargo e adstringente, provavelmente devido a altos teores de tanino. Segundo VAN SOEST (1994) a característica principal da presença de taninos nos alimentos é a adstringência provocada pela precipitação de proteínas salivares. A polimerização oxidativa dos taninos hidrolizáveis resulta em estruturas condensadas quimicamente diferentes dos taninos condensados. Os taninos hidrolizáveis são menos danosos, pois os complexos formados com proteínas e outras substâncias são liberados nas condições ácidas do abomaso. As unidades fenólicas absorvidas geralmente são excretadas na urina. Os ruminantes de regiões áridas estão adaptados à ingestão de plantas taniferosas e apresentam mecanismos de detoxificação como as proteínas salivares e a reciclagem de nitrogênio não protéico. Os taninos são recuperados como lignina bruta nas análises laboratoriais de rotina. O consumo de alimentos é fundamental para a nutrição, ele determina o nível de nutrientes ingeridos e portanto a resposta animal. A digestibilidade é a utilização dos nutrientes e fornece uma noção qualitativa da quantidade ingerida. O método convencional de determinação de digestibilidade total consiste na quantificação dos nutrientes ingeridos e os nutrientes recuperados nas fezes, calculando-se a digestibilidade por diferença (TEIXEIRA, 1997). Já o balanço nutricional consiste em se determinar a ingestão de um certo elemento e todas as excreções e perdas deste elemento pelo corpo. Ele é útil na determinação do ganho ou perda do elemento pelo organismo. Constitui um método de avaliação dos alimentos e do estado de nutrição do corpo animal (COELHO DA SILVA e LEÃO, 1979). O objetivo deste trabalho foi avaliar o consumo voluntário e a digestibilidade aparente do feno de mata-pasto "liso" e o feno de mata-pasto "peludo". 44 Material e Métodos O experimento foi conduzido no setor de caprinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, situado em Recife, PE, durante o período de 13/08/2002 a 03/09/2002. O experimento teve duração de 21 dias, sendo 14 dias de adaptação e 7 dias para coleta total de fezes e urina. Foram utilizados 8 cabritos Saanen, machos, castrados, com idade aproximada de dez meses e peso vivo médio de 30 kg, para avaliar o consumo e a digestibilidade dos fenos de mata-pasto “liso” e “peludo”. Durante o período experimental, os animais foram alojados em gaiolas metabólicas e, antes do inicio do experimento, todos os animais foram pesados e vermifugados. Os fenos foram confeccionados em setembro de 2001, com material proveniente de vários sítios ecológicos, situados no município de Surubim-PE, em estágio de floração/frutificação. Após o corte, o material foi triturado e espalhado sobre lonas plásticas, para desidratação e então armazenado em sacos de ráfia, até a ocasião do experimento. O feno foi fornecido duas vezes ao dia, possibilitando sobra de 20 % do total oferecido. Água e suplemento mineral estavam à disposição dos animais. O consumo de matéria seca foi determinado pelo controle diário do alimento fornecido e do material rejeitado. A coleta de fezes e urina foi realizada diariamente. Foram colocados 20 mL de ácido clorídrico a 50 %, no balde receptor da urina, para evitar perda de nitrogênio. Após a homogeneização do material, foi retirada uma alíquota de 10 % para confecção 45 da amostra composta por animal. As amostras de fezes foram colocadas em sacos plásticos e as de urina em vidro escuro, sendo armazenadas em congelador –5o C e em geladeira, respectivamente. Ao término do experimento, as amostras de fezes foram secas em estufa com circulação forçada de ar a 50oC, por 72 horas. Nas amostras de feno, sobras e fezes foram determinadas proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), cinzas, matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) e energia, de acordo com (SILVA e QUEIROZ, 2002). As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba - PB, durante o período de 14/10/2002 a 17/12/2002. Foram determinados os consumos de MS, MO, PB, FDN e energia digestível, bem como, os coeficientes de digestibilidade de MS, MO, PB, FDN e energia e o balanço de nitrogênio dos animais. Os coeficientes de digestibilidade foram calculados pela diferença entre o ingerido e o excretado nas fezes, com base na matéria seca. O balanço de nitrogênio (BN) foi calculado pela fórmula: BN= (Nofertado – Nsobras) – (Nfecal + Nurinário) Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com dois tratamentos e quatro repetições, considerando-se cada animal como uma unidade experimental. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se o programa SAS (1996), de acordo com o seguinte modelo: Yij = μ + Ti +eij em que Yij = valor observado na parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; μ = média geral; 46 Ti = efeito do tratamento i aplicado na parcela; eij = efeito dos fatores não controlados na parcela; Os dados foram submetidas à análise de variância e as variáveis relativas a consumo e coeficientes de digestibilidade tiveram suas médias comparadas pelo teste de F a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão A composição química dos fenos de mata-pasto “liso” e “peludo” encontra-se na tabela1. As análises químicas mostraram que o feno das duas espécies de mata-pasto, “liso” e “peludo”, respectivamente, são semelhantes aos encontrados no capítulo V, pois o material é o mesmo, tendo sofrido apenas, a ação do tempo, entre a confecção e utilização. Foram analisadas neste material, após um ano de armazenamento, as percentagens dos minerais cálcio (Ca) e fósforo (P), encontrando-se os valores de 1,75 e 2,29% para Ca e 0,12 e 0,22% para P, para os fenos de “mata-pasto liso” e “mata-pasto peludo”, respectivamente. NASCIMENTO et al. (2001), encontraram no material “in natura” variação, de acordo com a idade de corte, de 1,20 a 0,67 % de Ca e 0,25 a 0,14 % de P, na planta inteira e de 1,33 a 3,07% de Ca e 0,16 a 0,28% de P, analisando somente as folhas. Estes resultados estão de acordo com a afirmação de VAN SOEST (1994) de que as leguminosas tropicais apresentam-se mais ricas em proteína, cálcio e fósforo do que as gramíneas. Com relação aos demais minerais não foram encontrados dados na literatura consultada. 47 Tabela 1. Composição bromatológica do feno de mata-pasto "liso” (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) Composição Matéria seca (%) Proteína bruta (%) Fibra em detergente neutro (%) Fibra em detergente ácido (%) Energia (kcal/kg) Matéria orgânica (%) Matéria mineral (%) Ca (%) P (%) K% Na % Mg % S% Fe mg/kg Cu mg/kg Mn mg/kg Zn mg/kg B mg/kg FMPL 88,22 10,70 43,02 34,00 4,29 92,95 7,05 1,75 0,12 1,36 0,02 0,22 0,33 210,00 6,00 36,00 21,00 15,00 FMPP 88,59 11,95 41,95 34,18 4,24 91,32 8,68 2,29 0,22 1,47 0,02 0,34 0,25 160,00 6,00 25,00 30,00 17,00 Não houve efeito (P>0,05) da espécie de mata-pasto sobre o consumo de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e de energia digestível (ED), em % do peso vivo (PV), peso metabólico (g/kg/0,75) ou em g/dia. Porém, houve uma tendência de maior consumo do mata-pasto “peludo” pelos animais para alguns nutrientes, como se pode observar pelos níveis de significância apresentados na Tabela 2, pouco acima de 5%, principalmente quando se avaliam os consumos em g/dia. Os baixos consumos de MS dos fenos de mata-pasto “liso” e “peludo” apresentados pelos animais são insuficientes para proporcionar ganhos de peso em caprinos em crescimento, pois, segundo o NRC (1981), caprinos de 30 kg de peso vivo devem ingerir 3,87 % do peso vivo em matéria seca para ganho diário de 50 g (4,47 % e 5,07% do peso vivo para ganhos de 100 e 150 g/dia, respectivamente). 48 Tabela 2. Consumo voluntário de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), energia digestível (CED) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) Variáveis FMPL FMPP CV P>F CMS (%PV) 2,71 a 3,46 a 21,12 0,1573 0,75 CMS (g/PV ) 63,52 a 81,75 a 20,85 0,1395 CMS (g/dia) 815,39 a 1082,30 a 20,18 0,0962 CMO (%PV) 2,53 a 3,18 a 21,04 0,1798 0,75 CMO (g/PV ) 59,30 a 75,14 a 20,76 0,1597 CMO (g/dia) 761,27 a 994,69 a 20,07 0,1102 CPB (%PV) 0,28 a 0,40 a 24,27 0,0881 0,75 CPB (g/PV ) 6,50 a 9,35 a 24,08 0,0794 CPB (g/dia) 83,40 a 123,85 a 23,66 0,0584 CFDN (%PV) 1,15 a 1,42 a 20,27 0,1812 0,75 CFDN (g/PV ) 26,83 a 33,68 a 20,00 0,1605 CFDN (g/dia) 344,48 a 445,95 a 19,35 0,1097 CED (%PV) 7,30 a 8,21 a 21,50 0,4683 0,75 CED (g/PV ) 170,89 a 194,17 a 21,27 0,4288 CED (g/dia) 2194,19 a 2571,69 a 20,70 0,3207 As médias seguidas de letras diferentes diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância A rejeição por parte dos animais é atribuída ao sabor amargo, provavelmente devido a altos teores de tanino. Segundo KUMAR e D’ MELLO (1995) , a função dos taninos em reduzir a ingestão voluntária de alimentos não está claramente compreendida. Contudo, altos níveis de tanino podem deprimir a ingestão de alimentos de duas maneiras. Primeiramente, eles podem atuar nos sinais de “feedback”, no controle da ingestão de alimentos. Secundariamente, a depressão da ingestão de alimentos pode ocorrer devido à baixa palatabilidade, eles podem precipitar proteínas salivares, causando um sabor adstringente não palatável na boca. 49 Consumos de MS mais baixos ainda foram detectados em pesquisa realizada na EMBRAPA (1989), com caprinos, de 3,80 e 4,80 g/kg/0,75, para mata-pasto “liso” e mata-pasto “peludo”, observa-se que o feno de mata-pasto “peludo” foi mais consumido que o “liso”, assim como neste trabalho. BARROS et al. (1991), trabalhando com feno de mata-pasto “liso”, encontraram maior consumo de MS por ovinos (48,70 g/kg0,75 ou 2,00 % do PV), que por caprinos (10,10 g/kg/0,75 ou 0,46 % do PV), ainda assim, os consumos de matéria seca foram mais baixos que os encontrados neste estudo. Já o consumo de PB do feno de mata-pasto "liso" foi 6,50 g/kg0,75 ou 0,28 % do PV, respectivamente, enquanto que do feno de mata-pasto "peludo" foi 9,35 g/kg0,75 ou 0,40 % do PV, respectivamente (Tabela 2). BARROS et al. (1991), estudando o feno de mata-pasto ‘liso”, encontraram consumo de PB de 0,40 g/kg0,75 para caprinos e 3,40 g/kg0,75 para ovinos, o baixo consumo de PB relatado pelos autores deve ser relacionado ao teor protéico do feno utilizado, de 7,60 % de PB, enquanto que neste trabalho encontramos 10,70 e 11,95 % de PB para as espécies “liso” e “peludo”, respectivamente. Segundo OLIVEIRA et. al. (1986) o feno de mata-pasto não apresentou potencial forrageiro quando usado como único alimento, contudo, pode ser utilizado em substituição da torta de algodão em níveis de até 50% em rações para borregos em confinamento. O que nos indica a possibilidade de uso destes fenos, porém, como parte da dieta. Os resultados encontrados para digestibilidade do feno de mata-pasto "liso" e do feno de mata-pasto "peludo" encontram-se na Tabela 3. Os resultados encontrados na pesquisa da EMBRAPA (1989) foram 59,40 e 53,00 % para MS, 60,40 e 58,80 % para MO e 72,40 e 65,80 % para PB, para o feno de mata- 50 pasto “liso” e para o feno de mata-pasto “peludo”, respectivamente. Nota-se que são muito próximos aos encontrados nesta pesquisa, havendo maior disparidade apenas para o coeficiente de digestibilidade da PB. Tabela 3. Coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), matéria orgânica (CDMO), proteína (CDPB), fibra em detergente neutro (CDFDN), energia (CDE) e balanço de nitrogênio (BN) do feno de mata-pasto "liso" (FMPL) e do feno de mata-pasto "peludo" (FMPP) Variáveis FMPL FMPP CV P>F CDMS 57,73 a 53,04 a 5,04 0,0549 CDMO 63,68 a 56,85 b 3,34 0,0030 CDPB 47,00 a 45,19 a 8,00 0,5139 CDFDN 54,21 a 38,64 b 6,75 0,0004 CDE 61,96 a 55,60 b 3,18 0,0030 BN -3,98 a 7,74 a 614,65 0,2018 As médias seguidas de letras diferentes diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância Não foram encontradas diferenças significativas (P>0,05) entre os coeficientes de digestibilidade da MS e da PB para os fenos de mata-pasto, também não foram encontradas diferenças para a degradabilidade da MS e da PB entre os fenos de matapasto “liso” e “peludo”, estudada no capítulo III desta tese. Porém foram encontradas diferenças (P<0,05) para a digestibilidade da MO, FDN e energia. A digestibilidade da MO é outro fator que apresenta relação com o consumo voluntário, pois facilita o processo de degradação e passagem da forragem pelo trato disgestivo. Baixa digestibilidade implica em maior tempo de retenção da forragem no rúmen, promovendo limitações de consumo de ordem física (REIS, 1993). Com relação ao balanço de nitrogênio, BARROS et al. (1991), trabalhando com caprinos e ovinos alimentados com feno de mata-pasto “liso”, encontraram os valores de –2,30 e 0,25, para caprinos e ovinos, respectivamente. 51 Não houve diferença significativa (P>0,05) para o balanço de nitrogênio, entre os animais que consumiram o feno de mata-pasto "liso" e o feno de mata-pasto "peludo (3,98 e 7,74), o que pode ser explicado pelo alto coeficiente de variação apresentado na Tabela 3. É interessante considerar que os animais que consumiram o feno de matapasto “liso” apresentaram fezes e urina escuras (de cor preta), bebiam mais água e urinavam mais que os animais que consumiram o feno de mata-pasto “peludo”, o que pode estar associado a algum tipo de tanino contido nesta leguminosa. Pois os taninos podem formar complexos com proteínas e outros nutrientes, bem como, provocar intoxicação nos animais. Conclusões A espécie de mata-pasto não foi determinante no consumo de nutrientes dos fenos, também não afetou os coeficientes de digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta. O baixo consumo dos fenos de mata-pasto liso” e “peludo”, insuficiente para proporcionar ganhos de peso para caprinos em crescimento, aponta a necessidade de verificação do nível ideal de participação do feno numa dieta. O balanço de nitrogênio apontou grande variação nos resultados e nos indicou a necessidade de estudos futuros que quantifiquem e qualifiquem os taninos contidos nesta leguminosa nativa. Estudos que visem elucidar a toxidez do mata-pasto para ruminantes devem ser conduzidos, de modo a definir se é necessário algum tratamento para sua utilização como forrageira. 52 Referências Bibliográficas BARROS, N. N., KAWAS, J. R., LOPES, E. A. et al. 1992. Estudo comparativo da digestibilidade de leguminosa nativa com caprinos e ovinos no semi-árido do estado do Ceará: II. Digestibilidade in vivo da silagem de Mata-pasto (Cássia ssp). Pesq. Agropec. Bras. 27(11):1551-1555. BARROS, N. N., FREIRE, L. C. L., LOPES, E. A. et al. 1991. Estudo comparativo da digestibilidade de leguminosa nativa com caprinos e ovinos do sertão cearense: II. Digestibilidade in vivo do feno de Mata-pasto. Pesq. Agropec. Bras. 26(8):12151218. BARROS, N. N., SOUSA, F. B., ARRUDA, F. A. 1997. Utilização de forrageiras e resíduos agro-industriais por caprinos e ovinos. Sobral:EMBRAPA-CNPC. 28 p. COELHO DA SILVA, J. F., LEÃO, M. I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. Piracicaba. Ed. Livroceres, 1979, p. 384. EMBRAPA. 1989. Avaliação do potencial produtivo, valor nutritivo e do consumo voluntário de forrageiras nativas do sertão pernambucano. Petrolina:EMBRAPACPATSA. 22p. (Relatório de Projeto). KUMAR, R., D’MELLO, J. P. F. 1995. Anti-nutritional factors in forage legumes. In: D’MELLO, J.P.F., DEVENDRA, C. Tropical Legumes in Animal Nutrition. CAB International:Wallingford, 338p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. 1981. Nutrient requirement of domestics animals: nutrient requirement of goats. Washington, 91 p. OLIVEIRA, E. R., BARROS, N. N., ROBB, T. W. et al. 1986. Substituição da torta de algodão por feno de leguminosas. Pesq. Agropec. Bras. 5(21):555-564. REIS, R.A., RODRIGUES, L. R. A. Valor nutritivo de plantas forrageiras. Jaboticabal, 1993, 26p. SAS® 1996. User’s Guide: Statistics, Version 6.12. SAS Inst., Inc., Cary, NC. SILVA, D. J., QUEIROZ, A. C. 2002. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3o ed. Viçosa, MG:UFV, Imprensa Universitária. 235p. TEIXEIRA, J. C. Introdução aos métodos de determinação de digestibilidade em ruminantes. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DIGESTIBILIDADE EM RUMINANTES. Lavras:UFLA – FAEPE, 1997. 327 p. VIEIRA, M. E. Q. Produção de matéria seca, composição bromatológica, teores de saponinas e taninos de vinte e oito cultivares de alfafa (Medicago sativa L.). Botucatu, SP:UNESP, 2000. 55 p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Estadual Paulista, 2000. VAN SOEST, P. J. 1994. Nutrional ecology of the ruminant. 2o ed. New York:Cornell University Press. 476p. 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS A fenação do mata-pasto pode ser mais uma estratégia viável para contornar o problema de escassez de forragem que ocorre na região semi-árida do Nordeste, mediante aproveitamento da produção desta invasora de pastagens ou mesmo pelo cultivo orientado de áreas específicas para o corte. É interessante que outros estudos sejam conduzidos para melhor avaliar o comportamento da planta sob cultivo, que considerem diferentes espaçamentos, níveis de adubação, idades de corte e intensidades de irrigação, bem como, maior detalhamento de suas características morfofisiológicas, pois podem apontar melhores resultados de produção e qualidade da forrageira. Os fenos das espécies de mata-pasto “liso” e “peludo” apresentaram composição química semelhantes e alta digestibilidade, destacando-se os altos teores de proteína bruta e cálcio. Quando se analisa os alimentos sob o aspecto estático (teor de proteína bruta) e sob o aspecto dinâmico (fracionamento da proteína), percebe-se grande diferença no aproveitamento desses alimentos no trato gastrointestinal, desta maneira, o fracionamento possibilita a manipulação da dieta e a introdução de alimentos com velocidade de degradação compatíveis, disponibilizando assim, maior aporte de nutrientes para o animal. O fracionamento da proteína apontou, para ambas as espécies, maior fração protéica de degradação intermediária e lenta, o que pode estar associado à suspeita de 54 que estas plantas contenham altos teores de tanino. Estes compostos formariam complexos com as proteínas, liberando-as no final do trato gastrointestinal. Além disso, há suspeitas de que estas plantas causam intoxicações nos animais que as consomem, portanto seria de grande validade a avaliação não só da proporção adequada a ser utilizada na dieta e o tempo de utilização possível, como o uso de estratégias alimentares capazes de aumentar a capacidade dos animais em detoxicar taninos, como a inoculação de bactérias adaptadas ou a utilização de produtos como a uréia, o carvão ativado ou o polietilenoglicol. Estudos futuros que visem quantificar e qualificar os taninos presentes nas espécies de mata-pasto “liso” e “peludo” são de extrema importância para sua utilização na alimentação animal. 55