Centro de Estudos de Geogratia e Ordenamento do Territorio
Transcrição
Centro de Estudos de Geogratia e Ordenamento do Territorio
Geogrotlo e Ordenomento do Terri/orio, Revisto Electronico Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Territorio http;//cegot.org CEGOT ISSN 2182-1267 Centro de Estudos de Geogratia e Ordenamento do Territorio Territorios e paisagens culturais na emigra~ao lusa Paisagens culturais, turismo e desenvolvimento Referenda: (a Preencher pelo editor) Resumo: A emigrac;ao portuguesa e a constitui~ao de comunidades lusas nos cinco continentes refletem processos de construc;ao territorial diversificados. Partindo do exemplo de implanta~ao de duas comunidades, uma em solo americano na regiao de Toronto no Canada e outra em solo europeu em varias regi5es de Fran~a, embora com principal destaque para a regiao de Lyon, procuramos analisar 0 processo de fixa~ao destas comunidades nos respetivos territorios de acolhimento. 0 desenvolvimento de inumeras atividades etnicas de todo 0 tipo com base numa matriz cultural lusa comum permitiu a construc;ao de paisagens culturais diversificadas e diferenciadas nas sociedades de acolhimento. Palavras-Chave: Emigrac;ao, territorio, territorialidade, paisagem cultural, etnico. Abstract: The Portuguese emigration and the building of Portuguese communities in the five continents reflect diversified processes of territorial construction. Starting from the example of the implantation of two communities, one in American soil in the region of Toronto, Canada, and the other in European soil in various regions of France, though highlighting the region of Lyon, we tried to analyse the setting process of these communities in the respective host territories. Among various conclusions, we draw attention to the fact that the development of ethnic activities based upon a common Portuguese cultural identity has been allowing the making of diverse and distinct cultural landscapes in the host societies. Keywords: Emigration, territory, territoriality, cultural landscape, ethnic. 1. Introdu~ao AS territorios e as regi5es nas suas mais diversas escalas encontram-se influenciados pelos fenomenos migratorios. A Geografia investiga os fenomenos migratorios a partir de uma serie de variaveis ao nivel economico, politico, cultural ou social que, com transformandp e cruzando. ~k 'Y\vr\.'\ ''\'VI m8''iot"em~~5', territorios as fenomenos 0 migratorios passar do tempo, se vao implicam por defini<;ao e a Geogra f'la permite ana I'Isar a mo bid i i ad e d e popula<;5es, os ~circula<;ao, as trocas permanentes e, nao menos importante a (re) constru<;ao de territorios e paisagens culturaisj a.~Jk~ Para Guy di Meo (1998), 0 c:0. ~, territorio significa ter em conta um lugar de todos os registos da vida humana e social. Ao conceito de territorio tambem associamos os conceitos de identidade e de memoria sendo que 0 mesmo toma 0 sentido daqueles que se apropriam dele. Para Paul Claval (1995), 0 mentor da Geografia Cultural em Fran<;a, so e posslvel definir um grupo e perten<;a quando no espa<;o sao combinados a lingua, a moral, a religiao e os costumes. as territorios da emigra<;ao sao simultaneamente funcionais e altamente simbolicos, as emigrantes movem-se assim em contexto de multi-territorialidade. Trata ,kJ se de uma multi-territorialidade vivida em varios espa<;os providos de uma essencia . #//v/ cultural propria que contribuem para uma afirma<;ao identitaria individual e colectiva .. r Nos territorios da ~'V'VV\t ?? ~ ~~s 'lc,c~is et~i~~s constituem bons exemplos de ~-......e /apropria<;ao destes espa<;os que carregados de um forte significado cultural e identitario. A concentra<;ao de imigrantes numa mesma cidade favorece ~,'7" reconstitui<;ao ~O local torna-se entao comunit.r;as sobre 0 0 0 processo de lugar de produ<;ao de identidades modelo das que prevaleciam no pais de origem, apoiando-se em institui<;5es ou praticas que asseguram a pertinencia actual dos quadros de ontem na forma da area de acolhimento e se posslvel que transcenda para la das gera<;5es (Dufoix, 2002:82). Com base nos poucos estudos teoricos e emplricos da geografia nesta tematica, optamos por tra<;ar alguns processos de implanta<;ao territorial e de desenvolvimento de I? [ paisagens culturais na emigrar;ao portuguesa em duas regi6es do globo. A primeira concerne a America do Norte, nomeadamente a regiao de Toronto no Canada, e a segunda na Europa, em Franr;a, em que destacamos particularmente a regiao de Lyon. Estas duas comunidades apresentam processos semelhantes mas tambem manifestam diferenr;as em termos de fixar;ao e de desenvolvimento de paisagens culturais nos <1 IJ . ('.t. ) respetivos territorios de acolhimento. 1111'ftA tIDi ..(?!~' n 1.1. Dos territorios as territorialidades na emigra~ao portuguesa a geografo Rogerio Haesbaert (2004:3) considera que a nor;ao de territorialidade e mais ampla do que a de territorio: a todo 0 territorio corresponde uma territorialidade, erritorio t?:(!""",&evti erritorialidade pode ser a pt1;,;;"":c;/,(efJ mas nem toda a territorialidade implica a existencia de urn territorio, ja necessita de uma base material, concreta, enquanto. que dimensao simbolica, um referencial territorial (simbolico} territorio que nao exige obrigatoriamente uma forma )'q-~ ~~ '3 p~ra a. co~st~~r;ao de u.": t:'1)~: concreta(~-h <f&..vc> / e1tv~ . fJ. tlf & O~I "M-':v"""' Em contexto emigratorio portugues em Franr;a, Albano Cordeiro (1999:3) evoca a ::.::-- criar;ao de urn terceiro territorio que se situa algures entre a sociedade local francesa e a \) I ) aldeia de origem. Trata-se de um espar;o eminentemente economico, social mas tambem cultural, ja que prolonga as ligar;6es estabelecidas entre as famflias, ao criar espar;os associativos proprios, ao prestar apoio na procura de urn emprego e ao apoiar nas diferentes tarefas relacionadas com a educar;ao dos filhos. Do ponto vista cultural, .) trata-se eminentemente de urn territorio com grande vocar;ao para ~' . lazer e , , rr ~v? (J-e". fJ ~ iiI ~ 1"la:J c-1.f1 A territorialidade em contexto migratorio reenvia-no's, de facto, para 0 ~d~ da ' i · " ' ~. divertimento. ~ ~)A.,t4f .1l~J,f}1(ah ~i..JMl~~ 0 J I '. I" !Uf/1 implantac,:ao territorial dos imigrantes nas areas de chegada, das suas condir;6es de habitar;ao, dos espar;os econ6micos, sociais J culturais~tnicos que frequentam e que permitem criar e manter uma identidade cultural propria. Eimportante destacar que os territorios da emigrar;ao sao simultaneamente funcionais e altamente simbolicos. a processo de globalizac,:ao e uma maior mobilidade geogratica a ele associado permite vivencias multiterritoriais reais e simb6licas. e... Na America do norte e principalmente no Canada, Pierre George (1976:138) a proposito da implantac;:ao territorial dos portugueses, referira seguinte: em 1970, 0 Toronto registava aproximadamente 70000 portugueses. A comunidade judaica, a mais velha comunidade estrongeira lacal que acupou em primeiro uma parte do centro da cidade na zana do actual edificio da camara municipal e da cidade chinesa, transferiu-se depais para Kensington Market. Ela emigrou depois nos anos 1930 seguindo um processa de pramo~oo ecan6mica e social para um bairra mais canfort6vel, Farest Hill Village, abandonando assim a antiga bairro da sinagoga a volta de ~nSington aos mediterranicos e em particular aos portugueses. Estes reocuparam 0 Market antigo bairro judaico. Em cada caso, lojas, letreiros, posters, lembrom a tonalidade dominante do povo do bairro. 0 ambiente eo mesma que nos poises de origem e noo deixa de surpreender em terros americanas. Tambem 0' geografo Carlos Teixeira (2009) refere que f no Canada, apos 0 , reagrupamento familiar do fim dos anos 1950, as comunidades portuguesas comec;:am a estruturar-se no princlpio dos anos 1960, e em meados da decada ja ha comercio, agendas de viagens, mercearias; emerge 0 ndeleo de igrejas que difunde a sua mensagem em lingua portuguesa; surgem os primeiros c1ubes e associac;:oes, e assim se da inkio a uma comunidade. Formam-se comunidades portuguesas muito bem organizadas onde todos os dias se ouve portugues, se recria Portugal atraves dos Little Portugal, puseram de pe muitas igrejas e c1ubesjassociac;:oes, comercios dos mais variados, jornais, estaJoes de radio nao se sentindo diferenc;:as entre a Little Portugal \ Toronto ou em Montreal. Se atendermos .~Jtft:,: ---~ a perspectiva deste geografo, a genese da comunidade portuguesa no Canada so aconteceu quando, na pratica, se desenvolveu um conjunto de iniciativas que perpetuam as tradic;:oes culturais do pars de origem. Na regiao de Montreal, Gilles Lavigne (1995) descreve que a ocupac;:ao territorial pelos imigrantes portugueses do bairro Saint Louis, que estava em vias de ser abandonado nos anos 60vornou no Little Portugal f) a medida que. os portugueses se concentraram, sedentarizaram e lanc;:aram bases comunitarias. Segundo estudos ! efectuados por este autor, e alguns em colaborac;:ao com Carlos Tfixeira, pode-se aferir que, nas primeiras tres decadas da sua implantac;:ao no Canada, a comunidade portuguesa sofreu um processo de concentrac;:ao residencial seguida de um fen6meno , r) ..J-. .,."..AA.y1 'f U1t~~' ll. c\l ~rll1L~~) f de desconcentra<;ao em que a mJlIidade residencial da munidade portuguesa nesta regiao se tornou mals facilitaes redes comunitarias de familiare~ e de amigos bem como pelas agencias imobiliarias etnicas (Teixeira, 2006:129). Carlos Teixeira demonstrou como as rela<;oes etnicas ajudam na procura de emprego ou de casa nas regioes de Montreal ou de Mississauga em Toronto. Em 2007, este investigador conclui que, nos ultimos anos, bairro portugues de Toronto tinha passado por um processo de 0 a transi<;ao que se devia principal mente a tres tendencias; a primeira corresponde movimenta<;ao de muitos portugueses do centro da cidade para os suburbios onde encontram casas mais amplas, mais baratas e mais espa<;os verdes; a segunda tem aver com a rede de profissionais que procura casas velhas proximas do nucleo centrale a terceira prende-se com a chegada de imigrantes e refugiados da diaspora portuguesa (inclui tambem brasileiros e pessoas das antigas colonias portuguesas). Trata-se de urn exemplo de apropria<;ao espacial em contexto migratorio em que em fun<;ao das caracterfsticas culturais do grupo etnico que que 0 0 0 espa<;o e moldado ocupa. Teixeira percebe bairro portugues de Toronto e um espa<;o em transi<;ao, muitos portugueses vao para os suburbios e 0 seu lugar nos bairros centrais e substituido por outras comunidades portadoras de novas dinamicas. Tambem aqui e visivel, tal como sucede na Europa, 0 fenomeno de concentra<;ao e de desconcentra<;ao residencial dos imigrantes lusos nas areas urbanas. ----tJ A f] I ,_. jr~~ c:fA)/~7 Q.A) - J? ') !?D-~. /I ~ # Na Europa e particularmente em Fran<;a alguns estudos do dominio da geografia analisaram a implanta<;ao territorial dos portugueses no meio rural e em areas urbanas. o geografo Michel Drain (1968:96-97) refere que a habita<;ao dos trabalhadores portugueses e espanhois e frequentemente relacionada com 0 seu trabalho. OS trabalhadores da constru<;ao civil vivem preferencialmente em barraca~ ~emP~arias q~e acompanham os locals das obras. ( .£.U.Vt c1 ~~ &tNf J) tot . ~)11 )(---'~~'o habita<;oes precarias ou nos bairros de lata em detrimento dos foyers (centro de e marcado pela visibilidade dos bairros de lata onde chegaram a viver cerca de 15000 portugueses nos arredores de Paris em Champigny. Todavia, estes bairros nunca constitulram .' ~ro <h~ tUij'4 J7ij " Na decada de 60 do seculo XX, os trabalhadores portugueseeferia~Viver em acolhimento para imigrantes). 0 perlodo de 1962 a 1966 X' 0 tipo de residencia predominante dos imigrantes lusos durante os anos sessenta e setenta (menDs de 20% dos portugueses chegaram a viver nestes espa<;os). A partir de 1975 assiste-se a uma . , 77 1 • concentra~ao magrebina nos bairro@ simultaneamente a comunidade portuguesa conhece uma maior difusao em termos residenciais em velhos ediffcios, em vivendas renovadas ou em apartamentos como porteiros em Paris e noutras cidades do pais. Em Franc;a, 0 soci610go Jacques Barou (2000) descreve-nos um dos numerosos exemplos de processo de implantac;ao dos portugueses em meio rural nas varias aldeias vinfcolas, que contribuiram para a revitalizac;ao de espac;os rurais prometidos, em certos casos, a um despovoamento anunciado ou entao orienti3veis para um processo de estandardizac;ao urbana como nos arredores de Clermont-Ferrand. Na periferia desta cidade, que parecia na decada 60 votada a uma urbanizac;ao estandardizada de tipo 01 l. loteamento e assim perder a sua identidade rural, uma populac;ao migrante fez deste ~ 10(411 0 seu enraizamento na sociedade francesa e a principal referencia memorial de I' comprar as casas do centro das aldeias e restauraram-nas sem todavia transferirem um . if ~J ij.~ (s"' ~ r/# (,~ma aventura comec;ada 40 anos antes. Os portugueses comec;aram por alugar ou v. I' tV ~o.'1. V v ,rlf)I2QJft\_ ~ ;~,}~ modo de vida dei.ado em Portugal ou leva rem uma vida comunit'ria fechada sobre si pr6pria. As famllias reencontraram aqui uma realidade rural que tinham deixado, fazendo dessa localidade 0 seu patrim6nio reapropriado nas dimens6es tanto material como simb61ica (Barou, 2000:141). Tambem na regiao de Lyon, Poinard (1972:52-57) tinha descrito um processo semelhante de implantac;ao dos portugueses. Este investigador constatara uma dupla orientac;ao na implantac;ao progressiva dos portugueses neste territ6rio; por um lade substituem os imigrantes antigos nos bairros centrais mais degradados e, por outro lado, sob 0 efeito da pressao demografica e da remodelac;ao urbana que expu{sa os pobres, os mesmos se instalam nos bairros peri-urbanos e nas freguesias rurais. Os portugueses adaptam-se bem a estes espac;os perifericos porque tiram proveito de condic;6es mais favoraveis, como acontece com espac;os libertados pelo exodo rural e antigos edificios industriais desafectados, e assim disp6em de alojamentos mais amp los do que na cidade sendo eles pr6prios capazes de efetuar as transformac;6es necessarias. Todavia, em Franc;a, a implantac;ao da comunidade imigrante portuguesa em meio rural concerne apenas uma infima parte d comuiiidad~ que, maioritariamente, passou a viver em meio urbano. Muitas das freguesias urais das grandes CidadeStde a comunidade se implantara passaram progres?vamente por um processo de rur anizac;ao caracterfstico das ultimas decadas. _"' ~ )'J I. q fA\;t!J.U1 'fflIJ ",. . V ' -/Ufi7t::::? 'J I ? < Nos ultimos anos, a promo~ao socioeconomica dos Figrantes, 0 apoio das redes familiares e comunitarias, 0 recurso a autoconstru~ao e as praticas transnacionais de materiais e equipamentos para a habita~ao tern explicado urn movimento centrifugo de dispersao territorial na periferia das grandes cidades bern como 0 acesso individual (Figura 1). a habita~ao (NeE:. ~ ~-{. £:, 1>v~'f' Q feJ,,.,.., J.r,. ~ V'N\~ \A-J <f-~ &.. £Ml{;"MJ) , ? Figura 1: Implantac;ao territorial dos portugueses na area metropolitana de Lyon (Franc;a). Legenda: • Implantac;ao nas freguesias rurais ou semi-rurais (decada de 1960-1970). Implantac;ao proviso ria em bairros centrais degradados (decada de 1960-1970). Implantac;ao nas freguesias centrais e perifericas (decada de 1970 aos nossos dias). . );. 'j''I 1Mj)\))~ ' ~"-._--..." Recentes tendencias centrffugas para areas mais valorizadas (habitac;ao unifamiliar). ~) Fonte: fundo Google Earth, tratamento do autor. (!; r \\ j" \)>fe0t!j , i , 1.2. Paisagens culturais Como vimos, os processos de implanta~ao territorial dos emigrantes lusos nestes dois palses efetuou-se espacialmente, numa primeira fase, por movimentos do tipo centrlpeto e posteriormente centrlfugo. A escolha do local de implanta~ao bern como a implanta~ao tambem refletem op~6es culturais. Nesse sentido foi posslvel observar a apropria~ao espacial dos portugueses eJTl meio rural, Portugal e a reapropria~ao 0 reencontro com a ruralidade que tin ham deixado em de urn patrimonio com as suas dimensoes material e simb6lica. Outros investigadores como Rocha Trindade tambem estudaram, a partir de varios exemplos migratorios, as rela~6es existentes entre as areas de partida e as areas de acolhimento dos emigrantes. Rocha Trindade (1976:996) assinala que ha uma especie de limiar crftico, a partir do qual se criam condi~oes para a forma~ao de um grupo - uma subcomunidade - que se estrutura socialmente com base no modelo cultural de origem. Procura-se continuar a respirar l r J~ 0 ambiente portugues e, por isso, tenta-se prolongar 0 ·')~pals atraves da transplanta~ao de tra~os culturais de natureza m~e.4al e espiritual. -:: ' & ~\tt~(J 'j. f V1 \ ~ 'J! t Podemos prolongar Portugal e respirar ~ r da saudad~;l:Ie inumeras formas. Uma delas consiste em procurar pontos de nomeadamente nos aspetos identifica~ao nas areas de acolhimento, arquitetonico e paisagfstico assemelham com a terra de origem para af nos fixarmos. -t;> que lembram ou se ..t~ ~ \ \NloU.PiE'v.· thQ.. ~ ~v:,kt;~ VV\M...-h \It . ' ) -;:y'\lpVJ V\.\ }o. Neste sentido aponta a investiga~ao que tinha iniciado em implanta~ao da comunidade 00 sobre a ;vt ..(..e~(;,~ lusa na regiao de lyon) sen do que um tecnico consular nos relatara analogias paisagfsticas entre a regiao de partida e a regiao de chegada em ~ U,Jp,d ~rJ~ r>. Fran~a dos imigrantes lusos: A comunidade portuguesa chegou ca, adaptou-se ao meio It v~ C1 ambiente, meio social e ate mesmo ao meio fisico, geograjico [...] escolhe locais que mais se assemelham com 0 seu ponto de origem [...] existe aqui muito perto uma 1'11II/IlRI' grande comunidade da regiiio de Leiria que escolheu uma lona que e muito semelhante as pradarias, chamamos-Ihe assim, daquela regiiio de Leiria e que corresponde a lona de 1 C. Ferreira in H. Diogo (2001) A comunidade portuguesa na regiao Rhone-Alpes numa perspectiva geografica, economica e sociocultural, Disserta~ao de Mestrado em At ~t,~eA Rela~6es Interculturais, U. Aberta, Porto. que D. Dinis conquistou aos Mouros em Leiria. Port to, a eomunidade proeura loeais mais ou menos semelhantes aos de origem e adapta-se. Algumas investigar;oes demonstraram as dificuldades em enco tf~ estilo arquitet6nico de influencia lusa reproduzido no territ6rio de acolhimento em F~ - Segundo Castro (2001) os constrangimentos legislativos franceses funcionam como um freio na intervenr;ao exterior das habitar;oes, levando a que as intervenr;oes dos imigrantes em Franr;a seAentrrm sobretudo na esfera interior e privada. Se efetivamenteI e~diffcil termos uma percer;ao da existencia de influencias culturais lusas nas fachadas das habitar;oes, os estudos que realizamos nos finais de 2 2010 na regiao de Lyon, demonstram, no entanto, a existencia inequlvoca de praticas transnacionais de materiais da construr;ao civil como rochas ornamentais granlticas, marmores, azulejos e caixilharia, entre muitos outros. Os imigrantes proprietarios ou mesmo locatarios procedem do mesmo modo para mobilar a sua habitar;ao (m6veis de casa de banho, cozinha, sala e quartos por exemplo). A compra destes materiais obedece a varios criterios: um criterio cui integrar a arquitetura econ6mico porque " obtidos a menor \;1, '~'( .€ 17 custo e um criterio ostentac;ao/distinc;ao. 0 inquerito permitiu constatar que cerca de de :fW- ~ .il<. tendo por isso algum valor afetivo; urn criterio sao &_ [} 0...{"IeVv a enals continuam a J£Ut<.I·j'1~~""'i> d ? posslvel t@U&' 1/5 dos inquiridos ja .£fJAI .) rnv--1r"lJC'.lJ.r/l{;. trouxe materia is de Portugal para a sua habitac;ao em Franc;a. Os numeros sao ainda rna;s expressivos quando se trata de irnigrantes que sao propriet.rios da sua habita~ao(~) (71,2%) e que vivem maioritariamente numa vivenda (61,8%). Os materiais trazidos de rftl.frpfa:;5e', Portugal sao diversos, mas destacam-se para 0 apetrechamento da habitac;ao os m6veis r de sala (16%), de quarto (14%) de cozinha (12%) e como materiais da construc;ao civil, . I . d . granltos, azu eJos e rna elras. ,Q.f. construc;ao da territorialidade imigrante lusa neste paiS, embora 0 contributo para a construc;ao de paisagens culturais nao se resuma apenas ao setor da habitac;ao, sendo, Ver resultados do questionario (pp. 306-309] e entrevistas (pp. 184-185) in H. Diogo (2012) Multiculturalismo: identidade e territorialidade na comunidade portuguesa de lyon (Fran~a), Tese de Doutoramento, U. Porto. ~ e,(JJA,Cb l~: () ffti> ." Estes resultados confirmam 0 papel das influencias culturais no processo de 2 478 tl,; ,iJi;1.Ct( c..., 11 ~ tef . til ) .I' ~/; It ,,{tiwrfl?Zl/:~ i t1 /I! ~ por isso, impreScind~Uirmos , (' {);ff~ #J1~u-£gp.1 ty11at3 &tif-.,W1.ld ' r;rcMI : J2F~ fr"" . d3 ' na sua analise outros referenciais territoriais que incluem as atividades etnicas do foro economico ou cultural. Na Europa, como ja foi sublinhado, nao se vislumbra mesmo grau de 0 concentrac;:ao de atividades etnicas lusas como sucede por exemplo na America do norte (Figura 2). Elas aparecem por vezes em pequenos nucleos nos centros das grandes metropoles mas na sua maioria encontram-se dissemi~a paisagem urbana. Esta distribuic;:ao permite uma multipolarizac;:ao do es contribuem para um maior equilibrio espacia em termosde distribuic;:ao das, difere~tes 0 atividades. £::J~~ p\ru~'~k Figura 2: Implanta~ao geogrMica das associa<;:6es lusas na area de Toronto (Canada), '~~', legenda: _ Associa<;:6es lusas Fonte: fundo Google Earth, The Portuguese Canadiary Clubs and Societies Page, tratamento do autor. DV\w,,~e!~ As associac;:6es culturais lusas em Franc;:a acompanharam a evoluc;:ao do proprio fenomeno imigratorio luso no paiS passando de algumas dezenas no inlcio da decada de 1970 a cerca de 1000 em 2011 (DGACCP). Constituem bons exemplos de territorialidade '. onde se respira Portugal com toda a simbologia cultural que elas apresentam ao desenvolver no seu seio atividades recreativas, desportivas, educativas e culturais de todo 0 genero. III ,", Na area de Lyon registam-se aproximadamente 40 associat;oes culturais e desportivas lusas. Nas ultimas duas decadas assistimos a uma redut;ao do numero de ,--.. associat;oes nas zonas centrais e a uma prevalencia das mesmas nas zonas perifericas mais pr6ximas bem como em nucleos urbanos circundantes de menor dimensao on de existem importantes comunidades lusas (Figura 3). Figura 2: Implantac;:ao geogratica das associac;:6es lusas na area de Lyon (Franc;:a). Legenda: _ Associac;:6es lusas Fonte: fundo Google Earth, Federac;:ao das Associac;:6es Portuguesas de Rhone-Alpes, tratamento do autor. ~ \it 3. Algumas Conclus6es I Como vimos existem semelhan<;as e diferen<;a nos processos de fixa<;ao territorial da comunidade lusa nos dois lados do Atlantico. No Canada a implanta<;ao dos portugueses jm Toronto e em Montreal permitiu uma redinamiza<;ao dos nucleos centrais on de s1 desenvolveram bairros como Little Portugal com forte concentra<;ao de atividades etnicas que sao autentica@culturais. Na Europa, e particularmente em Fran<;a a i plantac;ao dos portugueses permitiu sobretudo uma redinamiza<;ao das vilas e das al eias em meio rural ou semirrural pr6ximas dos grandes nucleos urbanos onde se ins alaram. as portugueses ocuparam diferentemente 0 espa<;o em bairros de lata na regi 0 parisiense ou ainda em bairros degradados eentrais como em Lyon de modo pr\iSOriO porque as mesmos se ~ encontravam em processo de renova<;ao urbana. Quer no Canada, quer em Fran<;a a melhoria socioe on6mica dos imigrantes lusos ao longo das ultimas decadas, 0 apoio de redes familia res e comunitarias tem permitido uma mobilidade residencial para areas mais valorizadas da A investiga<;ao empirica na area de Lyon pJ~eria das cidades. demon~rou que as praticas transnacionais de materiais da constru<;ao civil e de materiais div sos para a habita<;ao tem uma influencia cultural na constru<;ao da habita<;ao dos imigra tes lusos embora mais restringida ao espa<;o interior das habita<;5es. Neste pais, ", s atividades etni9s a ~ mais semelhan<;a do padrao de distribui<;ao populacional, encontram- homogeneamente dispersas pelo territorio. A dispersao das associa<;5es lusas na paisagem assemelha-se mais a ilheus culturais na sociedade autoctone. Embora com modelos distintos de implanta<;ao nos dois continentes, a territorialidade das comunidades lusas tem-se construido com base em reJa<;5es_ culturais mantidas com 0pais de origem. ( <]'VU7.'1 \ ,~t' ~ ~+v--~lfA. (fl;,~~l ) J.! '7 <7 }fto ~\ J,~q M ~ )""~J':.ef' ~ *_ ~(i: 7) 0lt¥1 cJ Vv1 vt'-'\ 'il1 C'(.AA c "WA - . r,