Boletim Contextual - SPAECE

Transcrição

Boletim Contextual - SPAECE
ISSN 1982-7644
Boletim Contextual
Ensino Fundamental e Ensino Médio
Língua Portuguesa e Matemática
VOLUME 4
Ficha Catalográfica
CEARÁ. Secretaria da Educação. Boletim do Sistema de Avaliação.
SPAECE – 2010 / Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, CAEd.
v. 4 (jan/dez. 2010), Juiz de Fora, 2010 – Anual
BROOKE, Daniel Aguiar de Leighton; REZENDE, Wagner Silveira; CANDIAN, Juliana Frizzoni.
ISSN 1982-7644
CDU 373.3+373.5:371.26(05)
Governador
Cid Ferreira Gomes
vice-Governador do estado
Domingos Gomes de Aguiar Filho
SeCRetARIA dA edUCAçãO
Secretária da educação
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho
Secretário Adjunto
Mauricio Holanda Maia
Secretário executivo
Antonio Idilvan de Lima Alencar
Assessora Institucional do Gabinete
Cristiane Holanda
Coordenador de Avaliação e Acompanhamento da educação
Francisco Kennedy Silva dos Santos
Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da
Universidade Federal de Juiz de Fora
Coordenação Geral
Lina Kátia Mesquita Oliveira
Coordenação Técnica
Manuel Fernando Palácios da Cunha e Melo
Coordenação de Pesquisa
Tufi Machado Soares
Coordenação de Análise e Divulgação de Resultados
Anderson Córdova Pena
Coordenação de Instrumentos de Avaliação
Verônica Mendes Vieira
Equipe de Matemática
Bruno Rinco Dutra Pereira
Denise Mansoldo Salazar
Mariângela de Assumpção de Castro
Pablo Rafael de Oliveira Carlos
Tatiane Gonçalves de Moraes (Coord.)
Equipe de Editoração
Bruno Carnaúba
Clarissa Aguiar
Eduardo Castro
Henrique Bedetti
Marcela Zaguetto
Raul Furiatti Moreira
Vinícius Peixoto
Coordenação de Medidas Estatísticas
Wellington Silva
Coordenação de Produção Visual
Hamilton Ferreira
Equipe de Medidas Estatísticas
Ailton Fonseca Galvão
Clayton Valle
Priscila Gregório Bernardo
Roberta de Oliveira Fávero
Roberta Fernandes Vieira
Equipe de Análise e Divulgação de Resultados
Andreza Cristina Moreira da Silva Basso
Astrid Sarmento Cosac
Camila Fonseca de Oliveira
Carolina de Lima Gouvêa
Carolina Ferreira Rodrigues
Daniel Aguiar de Leighton Brooke
Daniel Araújo Vignoli
João Paulo Costa Vasconcelos
Juliana Frizzoni Candian
Leonardo Augusto Campos
Luís Antônio Fajardo Pontes
Michelle Sobreiro Pires
Rodrigo Coutinho Corrêa
Rogério Amorim Gomes
Tatiana Casali Ribeiro
Wagner Silveira Rezende
Equipe de Instrumentos de Avaliação
Cristiano Lopes da Silva
Janine Reis Ferreira
Mayra da Silva Moreira
Equipe de Língua Portuguesa
Hilda Aparecida Linhares da Silva Micarello (Coord.)
Josiane Toledo Ferreira Silva (Coord.)
Adriana de Lourdes Ferreira de Andrade
Ana Letícia Duin Tavares
Déa Lucia Campos Pernambuco
Edmon Neto de Oliveira
Maika Som Machado
Rachel Garcia Finamore
Célula de Avaliação do Desempenho Acadêmico da
Secretaria da Educação
Assessora Técnica
Maria Gorete de Gois
Maria Iaci Cavalcante pequeno
Assistente Técnica
Maria Noraelena Rabelo Melo
Rosângela teixeira de Sousa
Técnicas
Francisca eliane dias de Carvalho
Geanny de holanda Oliveira
luzia de Queiroz hippolyto
tereza Márcia Almeida da Silveira
Informática
philipe Azevedo de Araújo
Estagiárias
Iasmin da Costa Marinho
vanessa lima Cunha
S
UMÁRIO
Caro educador
7
Introdução
8
Seção 1: Avaliação contextual: o que avaliar e por quê?
10
1.1. Os questionários contextuais
10
1.2. O que estamos medindo?
12
Seção 2: Os resultados do SPAECE 2010 – impacto dos fatores extra e intraescolares
13
2.1. Fatores associados ao desempenho escolar
13
2.2. Fatores extraescolares
16
2.2.1. Condição socioeconômica
16
2.2.2. Raça e sexo
17
2.3. Fatores intraescolares
20
2.3.1. A organização e a gestão da escola
20
2.3.2. A infraestrutura da escola
21
2.3.3. O clima acadêmico
21
2.3.4. Qualificação e motivação do corpo docente
23
2.3.5. Ênfase pedagógica e defasagem idade-série
23
Anexo: os resultados de sua escola
27
7
c
ARO edUCAdOR,
Você encontra os resultados da Edição do SPAECE 2010 em uma coleção de quatro
volumes que apresenta informações fundamentais para a consolidação de uma escola
capaz de fazer a diferença na vida de seus alunos.
A Coleção SPAECE 2010
1
Volume 1 – SPAECE: Boletim
do Sistema de Avaliação
Apresenta o SpAeCe, sua abrangência, as Matrizes
de Referência, a composição dos testes e sua
metodologia de análise.
2
Volume 2 – Resultados Gerais
do SPAECE
Oferece informações gerais da participação dos
alunos na avaliação e os resultados de proficiência
alcançados pelos alunos no âmbito do estado,
regionais, municípios e escolas.
3
Volume 3 – Boletim
Resultados da Escola
de
Informa a proficiência média alcançada pela escola,
tendo por foco a análise pedagógica e qualitativa
dos resultados dos alunos na área de conhecimento
avaliada. destaca-se a interpretação da escala de
proficiência, que apresenta as competências e
habilidades desenvolvidas pelos alunos situados em
cada nível de proficiência e padrões de desempenho.
4
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Volume 4 - Boletim
Contextual: fatores
associados ao desempenho
Analisa os fatores intra e extraescolares que
interferem no desempenho dos alunos com base
nos dados coletados pelos questionários aplicados
aos próprios alunos, professores e diretores.
O objetivo maior com o trabalho de divulgação e apropriação dos resultados, iniciado
com a Coleção SPAECE 2010, é possibilitar a discussão dos resultados alcançados, tanto
pelos gestores dos sistemas públicos quanto pelos profissionais das escolas, com a
finalidade de contribuir para elaboração de políticas públicas e de práticas pedagógicas
mais eficazes.
8
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
I
ntrodução
Esta é a quarta publicação referente ao Sistema Permanente de Avaliação da Educação
Básica do Ceará (SPAECE) de 2010, que trata de seus resultados gerais e por escola e,
ao mesmo tempo, oferece uma série de discussões que auxiliarão na interpretação e na
compreensão dos dados obtidos a partir das avaliações.
Como mencionado em volumes anteriores,
participaram da edição 2010 do SPAECE alunos do
5º ano e 9º ano do Ensino Fundamental das redes
Estadual e Municipais, e 1ª série, 2ª série e 3ª
série do Ensino Médio da Rede Estadual. Assim, a
análise aqui realizada, contempla todas as séries e
anos avaliados.
Nesse sentido, este boletim se estrutura em
duas seções e um anexo. Na primeira seção,
apresentamos a avaliação contextual, informando
sobre seu conteúdo, suas características, seus
objetivos e sua importância. Trazemos também uma
discussão mais precisa sobre a eficácia escolar,
seu conceito e suas características; além disso,
apresentamos os fatores intra e extraescolares que
afetam o desempenho dos estudantes, bem como
a relação existente entre eles. Na segunda seção,
apresentamos os resultados do SPAECE 2010,
trazendo a exposição dos dados, assim como sua
interpretação, analisando os efeitos de cada fator
intra e extraescolar em sua especificidade.
Por fim, no anexo, apresentamos os resultados por
escola, discutindo a proficiência média de cada
instituição escolar, assim como a apresentação
dos índices de cada escola comparados com a
média do estado.
A análise, aqui realizada, levou em consideração
cerca de 545.000 alunos e distribuídos em 5.352
escolas, por todo o estado. Para fins de análise,
não foram consideradas as escolas com menos de
10 alunos. Esses números não invalidam os totais
(de alunos, professores e gestores) divulgados nos
boletins anteriores, e sua diferença em relação aos
valores apresentados nesses boletins se deve a
problemas de cunho logístico e metodológico, tais
como a ausência de respostas aos questionários
contextuais e a não devolução, por parte das escolas,
dos instrumentos de pesquisa.
9
Tabela 1 - Abrangência da avaliação do SPAECE 2010
Número de alunos e escolas
Testes
Questionários contextuais
Escolas
6.126
5.352
Alunos
797.509
545.203
vale ressaltar, neste ponto, a diferença entre os
os resultados dos testes de proficiência para, a partir
números dos testes e dos questionários contextuais
respondidos. A diferença é de mais de 250.000
disso, compreender melhor o que pode ser feito na
tentativa de melhorar o desempenho dos estudantes.
respondentes. Ou seja, um número significativo
de alunos que realizaram os testes não respondeu
ao questionário contextual. Como veremos mais
à frente, os questionários contextuais colhem
informações importantíssimas sobre os fatores
Nesse sentido, e diante dos números apresentados
pela tabela 1, é relevante que os respondentes dos
testes sejam incentivados a responder também aos
questionários contextuais. Assim, nossas análises
sobre os resultados se tornam mais substanciosas,
que estão associados ao desempenho dos alunos,
sejam eles internos ou externos à escola. São essas
informações que nos permitem interpretar melhor
o que beneficia, por sua vez, a apropriação dos
resultados pelas escolas.
10
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
1
Avaliação contextual:
o que avaliar e por quê?
O objetivo: discutir a complexidade dos processos de avaliação, explicando por que é
importante levar em consideração fatores outros, além daqueles relacionados ao processo
de ensino-aprendizagem em sala de aula, o conceito, as características e a importância da
eficácia escolar, ou efeito escola, apontando para a superação da falta de expectativa em
relação à escola, quando diante de indicadores sociais desfavoráveis.
1.1. Os questionários contextuais
Os questionários contextuais objetivam produzir uma
compreensão mais ampla do processo educacional.
No intuito de investigar a fundo todos os fatores
que podem influenciar o desempenho dos alunos,
esses questionários avaliam aspectos mais amplos
do desempenho, para além da mensuração das
habilidades cognitivas. Eles buscam compreender de
que forma fatores como a condição socioeconômica
do aluno, o nível de escolaridade dos pais, a atuação
do professor em sala de aula, o empenho do diretor e
uma série de outras questões afetam o desempenho
do aluno, medido pelos testes.
A relação entre os questionários contextuais e os
testes é de complementaridade. As informações
obtidas através dos testes nos fornecem um
panorama do desenvolvimento do aluno que, a
partir do acréscimo das informações obtidas com
os questionários contextuais, possibilita-nos uma
compreensão mais substancial. Nesse sentido,
através dos questionários contextuais, é possível
coletar dados que auxiliem os profissionais da
educação a selecionar prioridades relativas à
implementação de ações de intervenção escolar.
Os questionários contextuais, portanto, adquirem
importância na medida em que são instrumentos
que fornecem informações muito valiosas para a
interpretação dos dados obtidos através dos testes e
para o entendimento dos fatores que influenciam o
desempenho do aluno e a medida da eficácia da escola.
Em sua ausência, a precisão da análise sobre estes
aspectos, desempenho e eficácia, fica comprometida, pois
somente o resultado dos testes, e seu enquadramento
em escalas de proficiência, não é suficiente para uma
compreensão mais ampla do fenômeno escolar.
De maneira geral, os questionários contextuais
abarcam três grandes atores envolvidos no
processo educacional no interior da escola (sem
desconsiderar, entretanto, a existência de outros): o
aluno, o professor e o diretor. Para cada um desses
atores sociais, foi desenvolvido um questionário
próprio, que busca identificar as características
econômicas, sociais, culturais e de atuação na
vida escolar cotidiana, a fim de se compreender,
substancialmente, o perfil de cada um deles.
Seguem as principais questões tratadas em cada
um dos questionários:
11
9 Questionário do Aluno: com este questionário buscamos colher informações sobre o perfil social
e econômico dos estudantes, assim como sobre seus hábitos de estudo e suas atitudes em relação
às disciplinas, à escola, aos professores e aos diretores. desse modo, avaliamos, por exemplo,
a distorção idade-série, com que frequência os professores passam tarefas de casa com que e
frequência os alunos participam de atividades de reforço.
9 Questionário do Professor: nele, colhemos informações sobre o perfil social e econômico
dos professores, bem como sobre questões referentes à sua experiência profissional, práticas
e atitudes relacionadas ao ambiente escolar e aos alunos. para tanto, procuramos averiguar,
por exemplo, com que frequência o professor utiliza recursos pedagógicos, como computador,
internet, livros e boletins, em seu cotidiano escolar.
9 Questionário do Diretor: através dele, buscamos obter informações sobre o perfil social e
econômico do diretor, sua experiência profissional, práticas e atitudes relacionadas ao ambiente
escolar, à comunidade e aos alunos. para tanto, procuramos averiguar, por exemplo, se o diretor
se candidataria novamente ao cargo que ocupa; além disso, podemos obter também informações
que têm a escola como unidade de análise, como o fato de a escola contar ou não com parceiros
externos, como ONGs, empresas, associações, etc.
12
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
1.2. O que estamos medindo?
O que buscamos analisar com a conjugação entre
os resultados obtidos pelos alunos nos testes e as
informações colhidas a partir dos questionários
contextuais é a eficácia escolar, ou o efeito escola.
Mas, o que é isso, afinal?
Um dos possíveis – e dos mais empregados – sentidos
de eficácia escolar corresponde ao impacto que a
escola, pelas suas próprias características, exerce
sobre o desempenho de seus alunos. Dessa forma,
a eficácia escolar relaciona-se à capacidade que a
escola tem de contrabalançar os efeitos negativos
das características que o aluno possui, antes
mesmo de entrar para essa instituição, por meio de
ações que envolvem uma série de elementos, tanto
administrativos quanto pedagógicos. Em outras
palavras, a eficácia escolar é fruto da redução dos
impactos negativos, para o desempenho escolar, dos
fatores extraescolares (portanto, não controlados
pelas instituições escolares), a partir da incidência dos
efeitos positivos gerados por fatores intraescolares
(esses ao alcance da intervenção da escola).
Ao mensurarem a influência que a escola tem
sobre o desempenho dos estudantes, os índices
de eficácia escolar nos ajudam a rechaçar uma
interpretação derrotista da realidade escolar, qual
seja, a de que estudantes oriundos de classes
sociais menos favorecidas têm um destino social
traçado de antemão pela sua origem, fazendo com
que a escola possa fazer muito pouco no que tange
às possibilidades escolares e profissionais de seus
discentes.
É preciso ressaltar que os fatores extra e
intraescolares não têm, em absoluto, efeitos
positivos ou negativos sobre o desempenho. Isso
quer dizer que tais fatores, dependendo de uma
série de circunstâncias, podem ter efeito no sentido
de aumentar ou diminuir o desempenho, ou seja,
os fatores extraescolares nem sempre exercem um
efeito negativo sobre o desempenho, assim como não
é sempre que os fatores intraescolares exercem um
efeito positivo. É nesse ponto que o entendimento
da eficácia escolar se torna tão importante. Quando
o efeito positivo dos fatores intraescolares supera o
efeito negativo exercido pelos fatores extraescolares,
estamos diante de um quadro de eficácia escolar.
Quais são, então, os fatores intraescolares
associados à eficácia escolar? Podemos destacar
cinco grandes categorias desses fatores associados:
a organização e a gestão da escola, a infraestrutura,
o clima acadêmico no interior da escola, a formação
e a motivação do corpo docente e o enfoque
pedagógico adotado pela escola.
Embora a mensuração da eficácia escolar seja
um procedimento técnico-científico que exija
um elevado nível de elaboração conceitual e
metodológica, as complexidades a isso inerentes
não podem obstaculizar sua pesquisa, seu estudo e
seu entendimento. A eficácia escolar merece uma
compreensão substantiva, pois reforça a ideia de que
a escola pode fazer a diferença na trajetória de seus
alunos, escapando a um trágico determinismo social.
A seguir, trataremos de cada um dos dois tipos de
fatores aqui tematizados (intra e extraescolares),
apresentando e analisando os resultados da
avaliação para cada um deles. Comecemos pelos
resultados relacionados aos fatores extraescolares.
13
2
OS RESULTADOS DO SPAECE 2010 – IMPACTO
DOS FATORES EXTRA E INTRAESCOLARES
O objetivo: que os profissionais tenham em mãos os resultados do SPAECE 2010
acompanhados de sua explicação. Assim, tais resultados podem sair da mera descrição
para servir de orientação para a efetivação de práticas pedagógicas e administrativas que
possam aumentar a eficácia escolar.
2.1. Fatores associados ao desempenho escolar
Como dissemos, existe uma série de fatores
e situações que impactam o aprendizado do
aluno. Muitos desses fatores não são possíveis de
serem medidos diretamente e, para captá- los,
procuramos, através de alguns indicadores, criar
medidas que possam expressá-los. Esta seção é
uma apresentação conceitual e metodológica dos
fatores que são importantes para a compreensão
do desempenho escolar dos alunos, através de
uma descrição simples de como os índices que
expressam alguns desses fatores foram construídos
a partir das informações disponíveis.
uma característica do aluno e, portanto, deve estar
no nível da escola, permitindo verificar seu efeito na
proficiência da escola).
Os resultados estão apresentados ao fim da
descrição de cada fator considerado. Nos quadros
abaixo, apresentamos quais os fatores, dentre os
considerados na análise, impactam no desempenho
dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática,
e qual o tipo de impacto exercido, se positivo ou
negativo. Além das disciplinas, os quadros trazem
referências a cada um dos anos e das séries
avaliadas. Para facilitar a compreensão sobre o
Além disso, apresentaremos, da forma mais clara
possível, os resultados da metodologia usada para
impacto exercido, utilizamos setas e asteriscos.
As setas em verde indicam que o fator em questão
compreender a relação entre os fatores intra e
extraescolares e o desempenho dos alunos do estado
do Ceará, metodologia essa comum na análise desse
impacta positivamente no desempenho avaliado.
Ao contrário, as setas em vermelho impactam
negativamente. Os asteriscos, por sua vez, indicam
tipo de dados (sobre alunos alocados em escolas):
a estimação de um modelo multinível, que permite
que o fator em questão não afetou significativamente
o desempenho, seja positiva ou negativamente, de
considerar adequadamente a influência de diversos
fatores sobre o desempenho, respeitando os níveis
modo que não se usam setas nesse caso.
a que eles pertencem (por exemplo, a atuação do
diretor é uma característica da escola como um
todo, que afeta o desempenho do aluno, mas não é
Para a construção dos quadros, optamos por não
apresentar os valores específicos do impacto de
cada um dos fatores levados em consideração. Essa
decisão foi tomada em função de dois aspectos
14
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
principais. O primeiro deles diz respeito ao modelo
utilizado para a realização das análises estatísticas.
pelo fator sobre o desempenho, se positivo ou
negativo, atinge os objetivos que pretendemos com
Se outro modelo, que não aquele do qual nos valemos,
fosse utilizado para gerar os resultados, pequenas
a construção dessa tabela, ou seja, que ela seja um
instrumento didático capaz de apresentar quais os
variações poderiam ocorrer entre os valores. Além
disso, acreditamos que a indicação do efeito gerado
fatores que impactam sobre o desempenho, e quais
o fazem positiva ou negativamente.
Quadro 1 – Alguns fatores contextuais e desempenho em Língua Portuguesa
Língua Portuguesa
Ensino Fundamental
Intercepto1
Nível
do
Aluno
Nível
da
Escola
Ensino Médio
5º ano
9º ano
1ª série
2ª série
3ª série
177,46
224,18
247,46
253,40
264,51
Índice socioeconômico





Defasagem





Índice de dedicação do professor opinão do aluno





Índice de disciplina em sala de aula opinão do aluno



*

Sexo (referência: feminino)





Cor/raça (referência: não branco)





Índice de problemas com o corpo docente

*



Índice de atuação do diretor opinião do professor


*
*
*
Índice socioeconômico (média da escola)





Reuniões do conselho escolar (referência:
não ter conselho ou ter e não reunir)

*
*
*
*
1 Intercepto é o valor médio esperado para a proficiência, quando todas as variáveis envolvidas no modelo estimado forem zero. Como
não existem valores reais iguais a zero para a maior parte das variáveis utilizadas nos modelos apresentados nos quadros 1 e 2, os
valores do intercepto não têm interpretação substantiva, apenas estatística.
15
Quadro 2 – Alguns fatores contextuais e desempenho em Matemática
Matemática
Ensino Fundamental
Intercepto
Nível
do
Aluno
Nível
da
escola
Ensino Médio
5º ano
9º ano
1ª série
2ª série
3ª série
194,33
243,06
260,80
267,39
275,78
Índice socioeconômico





defasagem










Índice de disciplina em sala de aula opinão do aluno





Sexo (referência: feminino)





Cor/raça (referência: não branco)

*



Índice de problemas com o corpo docente





Índice de atuação do diretor opinião do professor


*
*
*
Índice socioeconômico (média da escola)





Reuniões do conselho escolar (referência:
não ter conselho ou ter e não reunir)

*
*
*
*
Índice de dedicação do professor opinão do aluno
16
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
2.2. Fatores extraescolares
Quais são, então, os principais fatores externos à
instituição escolar, mas que influenciam os alunos
em seu desempenho? Aqui, trataremos de três fatores
extraescolares em específico, não por serem os
únicos, e, sim, pelo grande impacto que exercem sobre
o desempenho dos alunos: a condição socioeconômica
das famílias, a raça e o sexo dos alunos.
2.2.1. Condição socioeconômica
A condição socioeconômica é composta por uma
série de elementos que influenciam na vida social
e escolar do aluno. Ela é indicada através do índice
socioeconômico (ISE), que é construído a partir da
escolaridade dos pais dos estudantes e da posse
de bens materiais específicos. O ISE fornece
informações fundamentais para a compreensão do
desempenho do aluno e também da escola (vale
notar que o índice socioeconômico foi calculado no
nível dos alunos, e seus efeitos investigados no nível
do aluno e da escola).
A escolaridade dos pais é um fator muito influente
na medida do desempenho, relacionando-se com
as atitudes por eles tomadas e influenciando o
desenvolvimento de comportamentos e atitudes dos
filhos. A escolaridade dos pais se vincula ao consumo
cultural que os filhos podem desenvolver, ao hábito de
leitura, à disciplina e ao comportamento dentro e fora
de sala de aula, ao contato recente com tecnologias
e recursos educacionais diferenciados, entre outros
fatores. Além disso, tal escolaridade vincula-se
também ao comportamento dos pais diante da
escolaridade dos filhos, como a exigência de dedicação
e o comprometimento com a escola, o incentivo à
leitura, o acompanhamento dos deveres de casa, a
auxílio com as dúvidas que os estudantes possam
Outro elemento componente do ISE é a posse de
determinados bens materiais. Esses são tratados
como indicativos de situações e condições sociais
específicas que, por sua vez, têm impacto no
desempenho dos estudantes. A posse de bens,
como aparelhos de televisão, geladeira, automóvel,
e a presença, em casa, de banheiro, indicativo de
acesso a uma forma mínina de saneamento, são
elementos que podem se associar, e de modo geral
se associam, ao desempenho dos alunos. A presença
desses bens, como se pode imaginar, não interfere
diretamente no desempenho do aluno em sala de
aula, ou seja, o fato de o aluno ter geladeira em
casa não significa que ele, por conta disso, terá um
desempenho melhor em matemática, por exemplo,
ou que aprenda melhor do que aqueles que não têm.
No entanto, a presença desses fatores é indicativa
da condição social e econômica do aluno e de sua
família. E a condição social, indicada pela posse
de tais bens, cria uma série de situações, como a
estabilidade familiar, o desenvolvimento de um
ambiente em casa que favoreça a aprendizagem, a
dedicação de tempo para estudo e para lazer, além
de outros elementos que estarão, sim, relacionados
ao desempenho do aluno.
Para a interpretação dos resultados relativos ao
índice socioeconômico nos dados do SPAECE 2010,
foi construída uma escala, cujos valores variam de
1 a 10, sendo que a média foi 5,68. Observamos que
o impacto que a condição socioeconômica pode
ter sobre o desempenho médio das escolas varia
de acordo com a etapa de escolaridade e com a
disciplina avaliada. Sendo assim, no que tange à
Língua Portuguesa, o aluno que, hipoteticamente,
ocupa a posição máxima da escala, representada
pelo valor 10, teria até 40 pontos a mais na escala
ter com as lições, entre outros elementos. Assim, em
de proficiência, para os anos avaliados do Ensino
Fundamental, e até 46 pontos a mais, para as
séries do Ensino Médio avaliadas. Em relação à
teoria, o aumento da escolaridade dos pais tende a se
refletir na melhoria do desempenho de seus filhos.
Matemática, nos anos do Ensino Fundamental aqui
considerados, esse valor pode chegar a 40 pontos
17
a mais na escala de proficiência, ao passo que, nas
séries do Ensino Médio, o valor pode atingir até 37
pontos a mais.
O índice socioeconômico, como uma medida
indicadora das condições de origem familiar dos
alunos, é, portanto, uma variável fora do controle
da escola e que possui uma associação com o
desempenho. Por sua vez, isso significa que alunos
concentram alunos em melhores condições sociais
tendem a ter maiores desempenhos médios do
que aquelas onde se concentram alunos em piores
condições. Em geral, a escola não escolhe a origem
social de seu público, por isso é fundamental que
a escola se preocupe em mobilizar sua capacidade
de fazer com que essas condições não sejam
prejudiciais aos alunos.
em piores condições sociais e econômicas têm um
desempenho esperado menor que os alunos em
melhores condições. O mesmo se aplica ao índice
socioeconômico médio da escola: as escolas que
2.2.2. Raça e sexo
O gráfico, a seguir, revela que a maioria (69,9%) dos alunos respondentes se declara parda ou negra (não
branca), ao passo que 20,7% se declaram brancos.
Gráfico 1 – Distribuição dos alunos por raça no SPAECE 2010
6,0%
3,4%
20,7%
Branco
14,3%
Pardo
Negro
Amarelo
Indígena
55,6%
Vale notar que, embora o gráfico 1 traga informações
sobre diversas classificações de raça ou cor da pele,
em nossa análise, utilizamos tão somente uma
distinção entre brancos e não brancos leva em
consideração sua relevância sociológica. Do ponto
de vista sociológico, as diferenças entre brancos
distinção entre brancos e não brancos. Apesar dessa
distinção não estar expressamente representada
pelo gráfico, sua leitura pode ser inferida a partir
e não brancos (incluindo aqui pardos e negros)
são mais acentuadas do que as distinções entre,
dele. A razão de ser do estabelecimento dessa
por exemplo, índios e brancos. Isso não significa
também que não existam distinções entre pardos e
18
bOletIM CONteXtUAl: FAtOReS ASSOCIAdOS AO deSeMpeNhO | SpAeCe
negros. elas existem, de fato, mas são menores do
que as distinções que existem entre os brancos e
O gráfico 2, a seguir, informa sobre a distribuição
por sexo dos estudantes envolvidos com o SpAeCe
esses dois grupos tomados em conjunto. Segundo
vasta e consagrada teoria sociológica, o fosso
2010, mostrando que a maioria deles é formada por
integrantes do sexo feminino (52,4%).
social entre brancos e não brancos é maior do que
qualquer outra distinção de cunho racial. A presente
avaliação comprova essa concepção teórica, o que
justifica nosso posicionamento em desenvolver a
análise baseada na referida distinção.
Gráfico 2 – Distribuição dos alunos por sexo no SPAECE 2010
60%
50%
40%
52,4%
47,6%
30%
20%
10%
0%
Masculino
Feminino
A mesma distribuição ocorre quando consideramos cada etapa avaliada, exceto para o 5º ano, no qual a
maioria dos alunos considerados é do sexo masculino.
19
Gráfico 3 - Distribuição dos alunos por sexo em cada etapa avaliada no SPAECE 2010
60%
50%
51,9%
40%
48,1%
48,6%
51,4%
47,3%
56,8%
55,0%
52,7%
45,0%
43,2%
30%
20%
10%
0%
5º ano EF
9º ano EF
1ª série EM
Masculino
As análises que realizamos detectaram associações
significativas entre o desempenho escolar e estas
variáveis: a raça (neste caso, autodeclarada) e o
sexo do aluno. Nesse caso específico, constatou-se
que os alunos que se declaram não brancos têm,
em média, um desempenho menor do que os alunos
que se declaram brancos, ainda que se controle a
análise pelas demais variáveis de interesse, como o
ISE e o sexo. De maneira análoga, o sexo apresenta
também uma associação significativa com o
desempenho do aluno, que varia de acordo com a
disciplina considerada. Sendo assim, há diferença de
desempenho entre integrantes do sexo feminino e do
masculino em Língua Portuguesa e em Matemática.
Em Língua Portuguesa, o desempenho médio obtido
pelas alunas é significativamente mais alto do que
o obtido pelos alunos. Sendo assim, as alunas têm
até 8 pontos a mais na escala de proficiência, para
os anos avaliados do Ensino Fundamental, e até
6,9 pontos a mais, para as séries do Ensino Médio
avaliadas, do que os alunos. Quanto ao desempenho
experimentado pelos estudantes nos testes de
Matemática, o que se observa é um fenômeno
contrário ao observado em Língua Portuguesa.
Naquela
disciplina,
o
desempenho
médio
2ª série EM
3ª série EM
Feminino
apresentado pelas alunas é significativamente mais
baixo do que aquele apresentado pelos alunos.
Assim, os alunos têm até 12 pontos a mais na escala
de proficiência, para os anos avaliados do Ensino
Fundamental, e até 19,5 pontos a mais, para as
séries do Ensino Médio avaliadas, do que as alunas.
É muito importante ressaltar, quando se trata de
avaliar os impactos que fatores como raça e sexo
exercem sobre o desempenho escolar, que, na
verdade, essa análise precisa ser vista em termos de
associação, e não necessariamente de causalidade.
Por exemplo, um aluno não tem o desempenho maior
por ser branco, em virtude desse fato, tomado em
si. A questão gira em torno dos efeitos sociológicos
que a raça, historicamente, exerce sobre uma
ampla gama de outros aspectos sociais, como o
desempenho, a inserção no mercado de trabalho,
e as relações sociais de maneira geral. O mesmo
pode ser aplicado ao sexo. As mulheres não têm
menor capacidade de compreensão das habilidades
exigidas pela matemática do que os homens, só pelo
fato de serem mulheres. A explicação para essa
diferença, mais uma vez, está em outros fatores
sociológicos, que não o sexo em si.
20
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
2.3. Fatores intraescolares
Quais são os fatores que podem fazer com que
uma escola seja avaliada como eficaz? Em outras
palavras, em quais fatores a escola deve se
situação socioeconômica dos alunos? Considerando
a eficácia escolar, trataremos aqui, respectivamente,
de cinco grandes conjuntos de fatores intraescolares
concentrar a fim de produzir efeitos que sejam
capazes de fazer frente às influências oriundas da
mencionados anteriormente.
2.3.1. A organização e a gestão da escola
Dos diretores envolvidos com o SPAECE 2010,
74,5% dos entrevistados possuem nível superior
de escolaridade na área de Educação (Pedagogia,
Licenciatura, ou Normal Superior), ao passo que
os outros 25,5% declaram possuir outro tipo de
formação, seja superior ou não.
Em média, a formação superior do gestor impacta
positiva e significativamente no desempenho médio
da escola, variando de acordo com a série e com
a disciplina. A organização e a gestão da escola
exercem uma influência considerável no poder da
escola de afetar o desempenho de seus estudantes.
A dedicação que os profissionais da escola têm no
efetivo cumprimento de suas funções é um fator
preponderante para o bom desempenho educacional.
Nessa categoria de fatores, é importante destacar
o papel do diretor. A eficácia escolar se vincula
ao comportamento do diretor no exercício de sua
função. Um diretor reconhecido como líder, por parte
No que tange à atuação do diretor, na opinião dos
professores, o índice que a mede em diversas áreas
da vida escolar reúne as seguintes variáveis:
O diretor desta escola:
99 mostra-se comprometido com a melhoria
da escola;
99 estimula o desenvolvimento de atividades
inovadoras;
99 respeita os professores;
99 motiva os professores para o trabalho em
sala de aula;
99 destina
mais atenção a questões
relacionadas à aprendizagem dos alunos;
99 tem confiança na qualificação dos
professores;
99 estabelece altos padrões de ensino;
dos professores que compõem o quadro docente da
escola, assim como pelos funcionários da escola,
exerce uma influência positiva e mais acentuada no
99 motiva os professores a implementarem
desempenho de seus estudantes.
99 monitora ativamente a qualidade do
Da mesma maneira, quanto ao tipo de liderança
administrativa exercida, escolas que apresentam
diretores que exercem uma gestão mais democrática,
aberta à participação de outros atores envolvidos no
processo educacional e escolar, como os próprios
professores e funcionários, os estudantes e a
comunidade em que se insere a escola, são capazes
de reduzir o impacto que a condição socioeconômica
do estudante exerce sobre o seu desempenho.
o que eles aprenderam em cursos de
desenvolvimento profissional;
ensino nesta escola.
Para cada item do questionário, as variáveis foram
categorizadas em:
99 Discordo.
99 Concordo.
99 Concordo totalmente.
21
Diante disso, quanto maior a concordância com
as afirmações a respeito da atuação do diretor em
Para facilitar a interpretação do índice de avaliação
da atuação do gestor por parte do corpo docente,
determinado aspecto, maior o valor do índice. No
entanto, para os dados do SPAECE 2010, o impacto
é significativo, e positivo, somente nos anos do
Ensino Fundamental, para as duas disciplinas. No
criou-se uma escala com valores de 1 a 10. Para
o SPAECE 2010, a média foi 8,58, ou seja, os
professores, em geral, avaliam positivamente a
atuação dos gestores no estado.
Ensino Médio, a atuação do diretor, na opinião dos
professores, não tem impactos significativos sobre o
desempenho dos alunos.
2.3.2. A infraestrutura da escola
A infraestrutura é outro elemento fundamental
para que a escola seja eficaz no cumprimento de
suas funções. A conservação da estrutura física
da escola, o saneamento, a limpeza dos espaços
escolares, a disponibilidade de equipamentos são
fatores importantes para a manutenção de um
ambiente escolar propício à aprendizagem, como
veremos a seguir. Além disso, a disponibilidade
de equipamentos e serviços, como computadores,
televisores, aparelhos de DVD, acesso à internet,
acesso a uma biblioteca, acesso a filmes educativos,
acesso à material didático e escolar, favorece
as possibilidades de diversificação do ensino e
contribue para o desenvolvimento de um processo
educativo mais completo. A infraestrutura escolar,
portanto, tem um efeito positivo sobre o desempenho
dos estudantes. Contudo, é preciso ressaltar que a
mera existência de uma estrutura predial adequada,
assim como a mera disponibilidade de recursos e
equipamentos não têm, por si só, nenhum efeito
sobre o desempenho estudantil. É preciso, pois, que
tais recursos sejam, de fato, utilizados para que suas
possibilidades sejam efetivadas. Caso contrário,
serão apenas objetos destituídos de qualquer efeito
pedagógico.
2.3.3. O clima acadêmico
O clima acadêmico na escola envolve uma série
de fatores, atitudes, ações e comportamentos dos
professores, dos gestores e dos próprios estudantes
que estão associados ao desempenho escolar:
o comportamento do professor em sala de aula,
sua forma de conduzir a aula, de dar espaço à
participação dos alunos, a maneira como exige
disciplina, sua presença, a exigência com os deveres
de casa e sua correção em sala de aula.
Nesse sentido, analisamos a percepção sobre
a dedicação do professor e o nível de disciplina
exigido por ele, na concepção de seus alunos, e
consideramos também os problemas com o corpo
docente, no nível da escola. O índice de ausência
de problemas com o corpo docente diz respeito ao
clima vivido na escola, e as variáveis consideradas
na sua construção foram:
Neste ano, ocorreu nesta escola:
99 inexistência de professores para algumas
disciplinas ou séries?
99 frequente falta dos professores?
99 falta de empenho dos professores?
99 alta rotatividade do corpo docente?
22
boletim CONTEXTUAL: fatores associados ao desempenho | SPAECE
As categorias de respostas eram:
As variáveis foram categorizadas pela escala:
99 Ocorreu e foi um problema grave.
99 Frequentemente.
99 Ocorreu, mas não foi um problema grave.
99 Às vezes.
99 Não ocorreu.
99 Raramente.
As categorias foram codificadas, de forma que
quanto maior o valor do índice, menor o nível de
problema com o corpo docente. Esse índice teve
uma associação significativamente positiva com
o desempenho médio da escola, ou seja, quanto
menos problemas identificados pelo diretor com
o corpo docente, maior o desempenho médio
da escola, e os resultados só não se mostraram
significativos em Língua Portuguesa no 9º ano.
Uma escala com valores de 1 a 10 foi criada para fins
interpretativos no que tange ao índice de percepção
da ausência de problemas com o corpo docente,
por parte dos gestores. A média obtida foi 8,31, o
que quer dizer que, de modo geral, para o estado do
Ceará, os gestores não enfrentam constantemente
problemas que considerem graves em relação ao
professorado.
O índice que mensura como os alunos percebem
a disciplina na sala de aula foi composto pela
associação entre as seguintes variáveis:
Com que frequência:
99 o(a) seu(sua) professor(a) precisa esperar
muito tempo até que os alunos façam
silêncio?
99 há barulho e desordem na aula?
99 os alunos saem da aula antes do término?
99 Nunca.
A disposição da escala foi orientada de modo que
quanto maior o valor do índice, maior a percepção de
um clima disciplinado em sala de aula por parte do
aluno. Esse índice também é um fator intraescolar
que exerce um efeito positivo sobre o desempenho:
quanto maior a percepção de disciplina, melhor
tende a ser, em média, o desempenho dos alunos.
Os resultados das análises demonstram que essa
variável é mais importante para o desempenho
em Matemática do que em Língua Portuguesa.
O ambiente disciplinado tem um efeito positivo
para o desempenho médio de todas as turmas
consideradas em Matemática, enquanto que, para
Língua Portuguesa, o efeito não é significativo para a
2ª série do Ensino Médio e pouco significativo para a
3ª série do Ensino Médio.
Para fins didáticos e interpretativos, a partir do
índice destinado à percepção da disciplina existente
em sala de aula por parte dos alunos, foi elaborada
uma escala, com seus valores variando entre 1 e 10.
A média referente a esse fator, no SPAECE 2010, foi
4,6, ou seja, de modo geral e com alguma frequência,
os alunos percebem problemas de disciplina em
sala de aula.
23
2.3.4. Qualificação e motivação do corpo docente
Um corpo docente qualificado e motivado também
exerce influência sobre o desempenho dos alunos,
Vale ressaltar que, para construção deste boletim,
não incluímos nenhuma análise acerca da
constituindo-se como um fator a ser considerado
para a eficácia escolar. Em teoria, o efeito desse
fator é significativo quanto à eficácia. A qualificação
qualificação e motivação do corpo docente por
questões de cunho metodológico, pelo enfoque que
profissional sugere um maior preparo do professor
para o exercício de suas funções.
foi dado neste boletim e por ausência de literaturas
consolidadas sobre o tema.
2.3.5. Ênfase pedagógica e defasagem idade-série
A ênfase pedagógica é outro fator que exerce
influência sobre a eficácia escolar. O tipo de
metodologia utilizada pelo professor, sua
abordagem em sala de aula, a forma como encara
o estudante, a maneira de conduzir o processo de
ensino e aprendizagem, as concepções de ensino
que ele sustenta e aplica, entre outros, são fatores
que estão vinculados à variação no desempenho dos
estudantes. Entretanto, é importante enfatizar que,
ao se investigar a influência da ênfase pedagógica
na eficácia escolar, não se quer julgar como mais
ou menos eficiente qualquer concepção pedagógica
de ensino e aprendizagem que o professor adote. A
escolha de qual concepção aplicar varia de acordo
com uma série de aspectos, tais como o perfil dos
estudantes reunidos em uma mesma sala de aula,
a proposta e os objetivos da escola, bem como as
Além disso, aspectos como a política que a escola
adota, e também o professor, no que tange a seus
critérios de reprovação, são fatores que podem
influenciar no desempenho dos alunos. Nesse
ponto, merece destaque a questão da defasagem
idade-série por parte do aluno. Em tese, quanto
mais defasado o aluno se encontra em relação à
série que condiz com a sua idade, menor será o seu
desempenho escolar. As análises dos resultados das
escolas que participaram do SPAECE 2010 mostram
que os alunos em defasagem (não levamos em
consideração qual seria o total do atraso, apenas se
ele existia ou não) têm menor desempenho médio que
os alunos que não sofreram atraso. Isso se deveria
não só às reprovações dentro do sistema escolar,
mas também à entrada tardia na escola. E os efeitos
dessa defasagem são tão mais negativos quanto
mais avançada é a série considerada, chegando a
próprias concepções educacionais do professor.
Assim, tal escolha pode ser mais ou menos
adequada, levando-se em consideração esses dados
mais de 24 pontos a menos na proficiência em Língua
Portuguesa, e a mais de 23 pontos em Matemática,
circunstanciais.
na 3ª série do Ensino Médio, por exemplo.
24
bOletIM CONteXtUAl: FAtOReS ASSOCIAdOS AO deSeMpeNhO | SpAeCe
O gráfico, a seguir, detalha as taxas de defasagem idade-série de acordo com as séries consideradas.
Gráfico 4 – Defasagem idade/série –SPAECE 2010
90%
80%
85,7%
70%
73,8%
71,9%
71,1%
60%
71,2%
50%
40%
30%
10%
28,9%
26,2%
20%
28,8%
28,1%
14,3%
0%
5º ano EF
9º ano EF
1ª série EM
Sem atraso
O que se nota, a partir do gráfico, é que a distribuição
dos alunos, quando se considera o atraso, é
semelhante, apesar da variação da série. Quanto
ao 5º ano do ensino Fundamental, 85,7% dos
alunos se encontram sem atraso. esse percentual
aumenta ao longo das séries e é de 73,8% para o 9º
ano do ensino Fundamental, 71,1% para a 1ª série
do ensino Médio, 71,9% para a 2ª série do ensino
Médio e 71,2% para a 3ª série do ensino Médio.
O índice do envolvimento do professor nas atividades
em sala de aula e no dia a dia escolar, na visão dos
alunos, foi criado a partir de suas respostas às
seguintes questões:
Com que frequência o(a) professor(a):
9 exige que os alunos estudem e prestem
9
atenção nas aulas?
mostra interesse no aprendizado de todos
9
os alunos?
está disponível para esclarecer as dúvidas
9
dos outros alunos?
dá as notas de maneira justa?
2ª série EM
3ª série EM
Em situação de atraso
As alternativas de resposta a esses itens compunham
uma escala de quatro pontos:
9 Frequentemente.
9 Às vezes.
9 Raramente.
9 Nunca.
Quanto maior o valor do índice, mais os alunos
percebem o professor como positivamente envolvido
e dedicado à boa prática das atividades escolares.
esse índice de dedicação do professor é um importante
fator intraescolar que tem uma associação positiva
com o desempenho: quanto mais o aluno percebe o
envolvimento e a preocupação do professor com o
seu aprendizado, melhor o desempenho esperado.
Nas análises levadas a cabo para esse conjunto de
dados, o envolvimento do professor se mostrou uma
condição importante para o melhor desempenho
dos alunos. em todas as séries avaliadas e nos dois
conteúdos considerados, quanto mais os alunos
percebem o envolvimento do professor, melhor é o seu
25
desempenho médio. vale observar que isso é ainda
mais importante nos anos iniciais da trajetória escolar.
para facilitar a interpretação dos dados, esses foram
transpostos para uma escala, que varia de 1 a 10,
representativa da opinião que os alunos têm sobre
a dedicação e o envolvimento do professor. A média
para o SpAeCe 2010 foi 8,4, o que indica que, em
geral, os professores têm sido bem avaliados pelos
alunos no que tange à sua dedicação.
27
A
NeXOS: OS ReSUltAdOS de
SUA eSCOlA
Até aqui, discutimos os fatores extra e intraescolares que influenciam o desempenho dos estudantes. Além
disso, fornecemos definições desses fatores e esclarecimentos sobre o que estamos procurando mensurar
com o SpAeCe 2010. Contudo, por se tratar de um boletim dedicado a cada escola em específico, é necessário
apresentarmos os resultados de sua escola, no que diz respeito aos fatores anteriormente considerados.
para realizar essa importante função, qual seja, a divulgação dos resultados de cada escola, organizamos
a presente seção, apresentando os resultados para cada fator considerado e sua comparação com a média
obtida pelo programa SpAeCe em todo o estado. Com isso, reforçamos que nosso objetivo não é o de criar
um ranqueamento das escolas envolvidas com o projeto, mas tão-somente o de tratar os dados de forma
comparativa, no intuito de fornecer uma leitura ampla sobre cada escola, de acordo com o desempenho nas
disciplinas avaliadas e também com suas características escolares e socioeconômicas.

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