o discurso do humor nos processos de enunciação

Transcrição

o discurso do humor nos processos de enunciação
O DISCURSO DO HUMOR NOS PROCESSOS
DE ENUNCIAÇÃO DIGITAL
Emanuel Angelo Nascimento
UNICAMP
APRESENTAÇÃO
Este trabalho busca, inicialmente, discutir a questão do discurso do
humor, especialmente, nos processos de enunciação digital. Uma das
observações iniciais que levantamos é a de que, geralmente, as
piadas, no suporte digital, são construídas sob uma tessitura enunciativa
própria da materialidade hipertextual e hipermidiática possibilitada
pelas tecnologias.
Desse modo, verificamos a afirmação de Possenti (2010, p. 180) de que
“o humor não muda quando circula em novos suportes (hipertexto)”.
Nesse sentido, procuramos investigar se os processos de enunciação
digital exercem ou não influência na articulação do humor, e, se
exercem, procuramos investigar como essa influência digital se
materializa em termos enunciativos e discursivos.
OBJETIVOS
Gerais e específicos
O objetivo geral deste trabalho é analisar o discurso do humor e o
seu funcionamento, a partir de piadas que circulam na internet.
Mais especificamente, buscamos investigar como os suportes do
hipertexto e da hipermídia, em alguns sites de humor, contribuem
para a construção dos efeitos de sentido pretendidos e de que
forma os mecanismos enunciativos são articulados digitalmente
nesses processos.
QUADRO TEÓRICO E METODOLÓGICO
O quadro teórico adotado é o da Análise do Discurso (AD) de
linha francesa. Buscando estabelecer um diálogo entre duas
diferentes perspectivas da AD, a saber, a do materialismo histórico e
a perspectiv a enunciativ a, lev amos, por exemplo, em conta os
conceitos de discurso eletrônico de Orlandi (2013), de cenografia
enunciativ a, a partir de Maingueneau (2008). Para tratar,
respec
espectiv
tiv amente, dos es
esttereó
ereótipos
tipos e dos clichês
clichês,, do riso e dos
mecanismos semânticos do humor, nas teorias clássicas do riso e
nos humores da língua, partimos dos estudos de Bergson (2007
[1899]), Raskin (1985), Skinner (2002) e Possenti (1998, 2010) e
para analisar, mais precisamente, a constituição dos modos de
enunciação digital, consideramos aqui os trabalhos de Xavier (2002)
sobre os gêneros digitais e sobre o hipertexto.
CORPUS
O corpus que constitui esse trabalho é formado por duas
amostras de piada (uma de caipira e um meme), dentro de
um conjunto de piadas publicadas em sites de humor na
internet, tais como o portal Humortardela e os sites
Animatunes.com.br e Piadascurtas.com.br. Sublinhamos, ao
selecionar esse material, um espaço propício para analisar a
circulação de estereótipos, bem como as condições de
produção do discurso humorístico no espaço digital.
ANÁLISE DO CORPUS
Discurso eletrônico e humor
Nas trilhas da enunciação digital, o
discurso do humor é atravessado pelo
simbólico e pelo eletrônico, que oferecem
suporte para que o humor seja postado,
compartilhado e comentado nas redes
também pelo hiperleitor. Como afirma
Bergson (2007 [1899], p. 4), o riso é
algo compartilhado socialmente, uma vez
que “nosso riso é sempre o riso de
um grupo”. Além disso, em muitos casos,
as piadas na internet (a exemplo dos
memes) passam, ainda, por processos de
entextualização discursiva – em que os
textos das piadas são retirados de seu
contexto original e colocados em outro(s)
contexto(s), geralmente associados por
meio de fotos, figuras e imagens.
Figura 1. Piada 1. Fonte: Humortadela
ANÁLISE DO CORPUS
Figura 2. Piada 2. Fonte: Animatunes, piada de nº 72 no site
Nesse sentido, além das piadas
mais lidas pelos hiperleitores
nas páginas principais desses
sites de humor, ao lado de
comentário e classificação das
melhores piadas, é importante
notar como a materialidade,
hipertextual e hipermidiática
se organiza, no caso, por meio
de menus que redirecionam
para páginas contendo charges
animadas, memes, vídeos
engraçados, entre outros, a
exemplo dos diversos gêneros
disponibilizados por sites como
o Animatunes.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da análise dos dados levam-nos a refletir que, se por um lado, é
preciso levar em conta uma importante atribuição de sentidos produzidos no
espaço digital, no caso dos sites de piadas na internet, por outro, é preciso
observar como esses textos materializam o discurso humorístico. Nesse caso, as
páginas de piadas online permitem que o hiperleitor seja interpelado na
construção de sentidos em torno do humor nos processos de enunciação digital,
de modo participativo e colaborativo. Tais elementos, bem como
destaca Maingueneau (2015), têm influenciado sobremaneira as relações
entre tempo, espaço, sujeito, discurso e sociadade. Além disso, a circulação
do humor na internet, por meio do discurso eletrônico e do trabalho
com o simbólico, segundo Orlandi (2009, p. 63), “reorganiza a vida
intelectual, redistribui os lugares de interpretação, desloca o funcionamento da
autoria e a própria concepção de texto”. As condições de produção de sentido
possibilitadas pelo uso das tecnologias, instaura, assim, a urgência do dizer
por meio de reformulações da noção de sociedade e de espaços de enunciação.

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