universidade federal da paraíba universidade federal rural de

Transcrição

universidade federal da paraíba universidade federal rural de
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
UTILIZAÇÃO DO FARELO DE MAMONA EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO
DE SOJA NA DIETA DE CABRAS LEITEIRAS
SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTRÃO
AREIA - PB
AGOSTO -2012
II
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
UTILIZAÇÃO DO FARELO DE MAMONA EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO
DE SOJA NA DIETA DE CABRAS LEITEIRAS
SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTÃO SANTA CRUZ
Licenciada em Ciências Agrárias
AREIA - PB
AGOSTO- 2012
III
SANDRA ELISABETH SANTIAGO BELTRÃO SANTA CRUZ
UTILIZAÇÃO DO FARELO DE MAMONA EM SUBSTITUIÇÃO AO
FARELO DE SOJA NA DIETA DE CABRAS LEITEIRAS
Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado
em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do
qual participam a Universidade Federal Rural de
Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Zootecnia.
Área de Concentração: Nutrição Animal
Comitê de Orientação:
Profª. Drª. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga
Prof. Dr. Roberto Germano Costa
Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros
AREIA - PB
AGOSTO - 2012
IV
Ficha catalográfica elaborada na seção de Processos Técnicos, da
Biblioteca Setorial de Areia, CCA/UFPB.
D 713 C Santa Cruz, Sandra Elizabeth Santiago Beltrão.
Consumo de matéria seca, parâmetros sanguíneos,
balanço de nitrogênio, produção de proteína microbiana,
produção, composição química, perfil sensorial e de lipídeos
do leite de cabras alimentadas com farelo de mamona em
substituição ao farelo de soja/Sandra Elizabeth Santiago
Beltrão Santa Cruz. – Areia-PB:CCA/UFPB, 2012.
90 F.
Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal
da Paraíba - Centro De Ciências Agrárias, Areia, 2012.
Bibliografia
Orientador: Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga
Co- Orientadores: Roberto Germano Costa, Ariosvaldo
Nunes De Medeiros.
1. Biodiesel 2. leite. 3. Produção de proteína microbiana
4. Farelo de mamona I. Queiroga, Rita de Cássia Ramos do
Egypto, (Orient.) Ii. Título.
Cdu:
V
VI
Aos meus pais, alicerces da minha vida, meu espelho.
Edvaldo Mesquita Beltrão e Annie Elisabeth Santiago Beltrão
As meus irmãos, com todo meu carinho.
Edvaldo Filho, Eduardo, Fabiana, Adriana, Annie Elise e Danilo.
As meus filhos, com todo meu amor.
Helvinho, Netinho e Leonardo.
Ao meu grande amor,
Helvio.
E a minha amada netinha, presente de Deus para
nossa Família
Maria Luiza
Dedico.
VII
AGRADECIMENTOS
Ao senhor de tudo, o Deus da vida e fonte da minha existência, pela companhia
constante e provas de fé, por me permitir crescer mais espiritualmente a cada batalha
vencida;
Ao programa de Doutorado Integrado em Zootecnia – PDIZ pela oportunidade de
capacitação;
Aos professores pelos ensinamentos e orientações nos momentos valiosos em sala
de aula;
À Graça, secretária do PDIZ, pela paciência, atenção e cordialidade dispensada;
Aos colegas do Doutorado e Mestrado pelos momentos de estudo;
Às amiga Alda, Darklê, Julicele, Gabriela, colegas do PDIZ, pela amizade e apoio
durante todo o doutorado;
A Josy Karla, Irineu, Danilo, Renata, Gabriela Mafra, Nataly, Leonardo, Helvio,
Taço, pelo apoio e horas de sono oferecidas, durante o experimento, nos momentos de
análise do comportamento ingestivo, nas madrugadas a fio;
Aos técnicos da UFPB: Gerônimo, José Alves, Elieidy e colaboradores, pela
amizade e auxílio durante as análises laboratoriais;
Aos funcionários Gerson, Antônio e Joca pelo apoio no laboratório de
Caprinocultura CCHSA/UFPB;
Ao CCHSA/ UFPB pela oportunidade de capacitação e disponibilidade dos
Laboratórios para desenvolvimento do experimento;
À minha Orientadora, Profa. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga pelos
ensinamentos, pelo apoio, pela amizade e orientação dispensada;
Ao Prof. Dr. Roberto Germano Costa, pelas cobranças, contribuindo para o meu
crescimento profissional;
Ao Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes Medeiros, pelos ensinamentos, pelo apoio, pela
amizade e orientações dispensadas durante toda a minha vida acadêmica;
Ao meu querido irmão Prof. Dr. Edvaldo Mesquita Beltrão Filho, pelos valiosos
ensinamentos, apoio, amizade dispensada durante toda a minha vida acadêmica;
Aos meus AMORES: Helvio e filhos Helvio Filho, Edvaldo Neto e Leonardo, pela
compreensão na minha ausência no lar durante todo o doutorado.
VIII
Biografia do Autor
Sandra Elisabeth Santiago Beltrão Santa Cruz – Filha de Edvaldo Mesquita
Beltrão e Annie Elisabeth Santiago Beltrão, nascida no dia 29 de março de 1970 na cidade
de Bananeiras, Estado da Paraíba, Brasil. Cursou o ensino médio no Colégio Pio X –
Marista localizado na cidade de João Pessoa – Paraíba. No ano de 2000 iniciou a
Licenciatura em Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba concluindo em
maio de 2003. Iniciando no mesmo ano o curso de Mestrado em Zootecnia no Centro de
Ciências Agrárias da citada instituição, concluindo em junho de 2005. Exerceu atividade
de Ensino Médio no período de 2001 a 2004 na Escola Normal Estadual “Pedro Augusto
de Almeida”, localizado na cidade de Bananeiras – Paraíba. No período de 2004 a 2009
exerceu atividade de ensino no Magistério Superior, lecionando as disciplinas de
Bovinocultura, Forragicultura e Caprinocultura no Centro de Ciências Humanas Sociais e
Agrárias, no Colégio Agrícola “Vidal de Negreiros”, quando em agosto de 2004 foi
classificada em concurso público tornando-se técnico de laboratório de nutrição animal da
citada instituição (UFPB) onde atua até a presente data. Leciona disciplinas de
agropecuária no programa do FDNE para jovens produtores rurais. Iniciou o curso de PósGraduação pelo Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia em setembro de 2008,
aonde vem realizando suas atividades até a presente data.
IX
SUMÁRIO
Página
Lista de Tabelas.................................................................................................................
X
Lista de Figuras..................................................................................................................
XII
Lista de abreviações
XIII
Resumo Geral.....................................................................................................................
XVII
Abstract..............................................................................................................................
XVIII
Considerações Iniciais........................................................................................................
01
Capítulo 1 Utilização do farelo de mamona em substituição do farelo de soja na dieta
de
cabras
leiteiras.............................................................................................
03
17
Referências Bibliográficas.................................................................................................
Capítulo 2 Consumo e digestibilidade de nutrientes e produção de leite de cabras
alimentadas com farelo de mamona em substituição ao farelo de
soja..................................................................................................................
24
Resumo...............................................................................................................................
25
Abstract..............................................................................................................................
26
Introdução...........................................................................................................................
27
Material e Métodos.............................................................................................................
29
Resultados e Discussão......................................................................................................
34
Conclusões..........................................................................................................................
41
Referências Bibliográficas.................................................................................................
42
Capítulo 3 Produção de proteína microbiana, balanço de nitrogênio e avaliação da
função hepática e renal de cabras alimentadas com farelo de
46
mamona.....................
47
Resumo...............................................................................................................................
48
Abstract..............................................................................................................................
49
Introdução...........................................................................................................................
51
X
Material e Métodos.............................................................................................................
56
Resultados e Discussão......................................................................................................
64
Conclusões..........................................................................................................................
65
Referências Bibliográficas.................................................................................................
Capítulo 4 Qualidade do leite de cabras alimentadas com farelo de mamona em
69
substituição ao farelo de soja........................................................................
70
Resumo...............................................................................................................................
71
Abstract..............................................................................................................................
72
Introdução...........................................................................................................................
74
Material e Métodos.............................................................................................................
82
Resultados e Discussão......................................................................................................
91
Conclusões..........................................................................................................................
92
Referências Bibliográficas.................................................................................................
98
Considerações Finais..........................................................................................................
XI
LISTA DE TABELAS
Tabela
Página
CAPÍTULO 2
1 - Composição químico-bromatológica dos ingredientes usados na alimentação das
cabras................................................................................................................................ 30
2 - Proporção dos ingredientes e composição físico-químicas das dietas
experimentais,
em
porcentagem
na
matéria 31
seca.......................................................................................
3 -Valores médios erro padrão, e analise de regressão do peso vivo das cabras,
consumo de matéria seca, nutrientes e de energia metabolizável das dietas contento 35
farelo
de
mamona
em
substituição
ao
farelo
de
soja........................................................................
4 -Valores médios dos coeficientes de digestibilidade dos nutrientes, em função de 36
níveis de substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta de cabras em
lactação............................................................................................................................. 39
5 -Valores médios da análise econômica da produção de leite das cabras alimentadas
com farelo de mamona em substituição do farelo de soja...............................................
CAPÍTULO 3
1 - Proporção dos ingredientes das dietas experimentais, em porcentagem na matéria
seca................................................................................................................................... 52
2 - Síntese de proteína microbiana em cabras alimentadas com farelo de mamona em
XII
substituição ao farelo de soja........................................................................................... 57
3 - Balanço de nitrogênio em cabras em lactação alimentadas com farelo de mamona
em substituição ao farelo de soja..................................................................................... 58
4 -Valores médios do eritrograma e proteína plasmática de cabras sobre o efeito da
substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta......................................... 60
5 - Valores médios do leucograma de cabras em lactação sobre o efeito da
substituição
do
farelo
de
soja
por
farelo
de
mamona
na 61
dieta...............................................................
6 - Valores médios dos metabólicos bioquímicos a respeito da lesão hepática e renal
de cabras leiteiras sobre o efeito da substituição do farelo de soja por farelo de 63
mamona
na
dieta
.............................................................................................................................
LISTA DE FIGURAS
Figura
Pagina
CAPÍTULO 1
1
Representação esquemática de uma molécula de ricina, evidenciando
as duas cadeias constituintes (A/B), assim como a ligação
dissulfeto....
CAPÍTULO 4
08
XIII
1
Ficha do perfil dos julgadores para análise descritiva quantitativa
(ADQ)
e
teste
de
79
(ADQ)
80
aceitação
81
aceitação....................................................................
2
Ficha
utilizada
para
análise
descritiva
quantitativa
...................
3
Ficha
utilizada
para
o
teste
de
global......................................
4
Atributos sensoriais do leite de cabras alimentadas com diferentes
níveis
de
substituição
mamona.......................
do
farelo
de
soja
pelo
de
88
XIV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
„
Minuto
''
Segundo
%
Percentagem
µL
Microlitro
µg
Micrograma
°C
Graus Celsius
ADQ
Análise descritiva quantitativa
ALA
Alantoína
ALT
Alanina aminotrasferase
ANOVA
Análise de variância
AOAC
Association of Official Analytical Chemists
AST
Aspartato aminotransferase
Bast
Bastonetes
BN
Balanço de nitrogênio
C
Carbono
C6:0
Ácido capróico
C8:0
Ácido caprílico
C10:0
Ácido cáprico
C11:0
Ácido n-undecílico ou undecanoíco
C12:0
Ácido láurico
C14:0
Ácido mirístico
C14:1
Ácido miristoléico
C15:0
Ácido pentadecílico
C16:0
Ácido palmítico
C16:1
Ácido palmitoleico
C17:0
Ácido margárico
C18:0
Ácido esteárico
C18:1 cis-9
Ácido oleico
XV
C18:1 cis9, 12OH
Ácido ricinoléico
C18:2 cis n6
Ácido linoleico
C18:2 cis9, cis12
Ácido linoleico
C18:3 n3
Ácido α-linolênico
C20:0
Ácido araquidônico
Ca(OH)2
Hidróxido de cálcio
CA
Custo da alimentação
CBA
Castor bean allergen
CCA
Centro de Ciências Agrárias
CEE
Consumo de extrato etéreo
CEM
Consumo de energia metabolizável
CD
Coeficiente de digestibilidade
CDEE
Coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo
CDCNF
Coeficiente de digestibilidade do carboidrato não fibroso
CDCT
Coeficiente de digestibilidade do carboidratos totais
CDFDN
Coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente neutro
CDMS
Coeficiente de digestibilidade da matéria seca
CDMO
Coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica
CDPB
Coeficiente de digestibilidade da proteína bruta
CFDN
Consumo de fibra em detergente neutro
CNF
Carboidrato Não Fibrosos
CHOT
Carboidratos Totais
CHCM
Concentração hemoglobínica corpuscular média
CMS
Consumo de matéria seca
CMO
Consumo de matéria orgânica
CT
Carboidratos Totais
D
Digestibilidade
DP
Derivados de Purina
dl
Decilitro
XVI
EA
Eficiência Alimentar
ED
Energia digestível
EDTA
Ácido etilenodiamino tetra-acético
EE
Extrato Etéreo
EFM
Eficiência Microbiana
EM
Energia Metabolizável
EN
Eficiência de utilização do Nitrogênio
FM
Farelo de mamona
FDNCP
Fibra em detergente neutro corrigido para proteína
FDA
Fibra em Detergente Ácido
FDN
Fibra em Detergente Neutro
FDNi
Indigestibilidade da fibra em detergente neutro
Hb
Hemoglobina
HCL
Ácido clorídrico
HCM
Hemoglobina corpuscular média
Hm
Hemácias
Ht
Hematócrito
IA
Índice de aterogenicidade
Ing
Ingestão
kDa
Quilodaltons
Kg
Quilograma
L
Litro
Leuc
Leucócitos
Linf
Linfócitos
m
metro
M
Molar
mg
amiligrama
Min
Minuto
mL
Mililitro
XVII
MBM
Margem bruta média
MM
Matéria Mineral
mm
milimetro
MO
Matéria Orgânica
Mon
monócitos
MS
Matéria Seca
N
Nitrogênio
NDT
Nutrientes Digestíveis Totais
NM
Fluxo de Nitrogênio Microbiano
NUL
Nitrogênio Uréico no Leite
NUU
Nitrogênio Uréico na urina
P
Probabilidade
PA
Purinas Absorvidas
PB
Proteína Bruta
PCF
Peso Corporal Final
PCI
Peso corporal Inicial
pH
Potencial de hidrogênio
PL
Produção de Leite
PLCG 4%
Produção de Leite Corrigida para 4 % de Gordura
PreL
Preço do leite
PV
Peso vivo
r2
Coeficiente de determinação
RCA I ou RCA 120 Hemaglutinina
RCA II ou RCA 60
Ricina
RNA
Ácido ribonucleico
RBM
Renta bruta média
RM
Rentabilidade média
SNG
Sólidos Não gordurosos
XVIII
SDS - PAGE
Eletroforese em gel
Seg
Segmentados
TNT
Tecido não tecido
UFPB
Universidade Federal da Paraíba
VCM
Volume Corpuscular Médio
XIX
RESUMO GERAL
Objetivou-se avaliar o consumo e digestibilidade da matéria seca e nutrientes,
produção de leite, análise econômica do custo das rações, produção de proteína
microbiana, balanço de nitrogênio, parâmetros sanguíneos, lesão hepática e renal,
composição química, perfil sensorial e de lipídeos do leite de cabras alimentadas com
farelo de em substituição ao farelo de soja. Foram utilizadas vinte e quatro cabras Alpinas
com peso vivo médio de 42 ± 7 kg, de 2ª e 3ª lactação, distribuídas em delineamento
inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (0, 33, 67 e 100% níveis de substituição
do farelo de soja por farelo de mamona) e seis repetições. Os primeiros 17 dias foram de
adaptação às dietas e os demais 45 dias de coletas de dados. A substituição do farelo de
mamona ao farelo de soja na dieta de cabras leiteiras aumentou coeficiente de
digestibilidade do extrato etéreo e carboidratos não fibrosos, o teor de lipídeos do leite, o
percentual de ácidos graxos poli-insaturados e diminuo o índice de aterogenicidade da
gordura do leite. Outros efeitos dessa substituição foram observados como decréscimo na
produção de leite, no nitrogênio retido, efeito nos parâmetros sanguíneos. A utilização do
farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio em substituição ao farelo de soja na
dieta de cabras alpinas em lactação não interfere no consumo de matéria seca, coeficiente
de digestibilidade dos nutrientes. Porém, afeta a rentabilidade média, a partir de 67% de
substituição do farelo. Portanto, pode ser usado na alimentação das cabras em lactação em
até 33%. Não foi observado lesão hepática e nem renal com o consumo do farelo de
mamona pelos animais, bem como não houve alteração na síntese de proteína microbiana
reduzindo apenas o nitrogênio retido. Entretanto, observou-se presença de um processo
inflamatório leve, com provável origem intestinal ou de outra parte do sistema digestivo e
ainda promove aumento no teor de lipídeos, modifica o perfil de ácidos graxos
evidenciando-se incremento nos ácidos poli-insaturados do leite de cabras, diminuindo o
índice de aterogenicidade da gordura do leite. Como também, exerce influência positiva no
perfil sensorial do leite promovendo maior aceitação global pelos provadores
Palavras chave: ácidos graxos, leite de cabras, balanço de nitrogênio, síntese de proteína,
ricina e lectina
XX
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the intake and digestibility of dry matter and nutrients, milk
production, economic analysis of the cost of feed, microbial protein synthesis, nitrogen
balance, blood parameters, liver and kidney damage the chemical composition and sensory
profile of lipids milk of goats fed bran instead of soybean meal. Twenty-four Alpine goats
with an average body weight of 42 ± 7 kg, 2nd and 3rd lactation were distributed in a
completely randomized design with four treatments (0, 33, 67 and 100 % replacement
levels of soybean meal were used by castor meal) and six replications. The first 17 days of
adaptation to the diets and the remaining 45 days of data collection. The replacement of
soybean meal by meal castor positively modified the coefficient of digestibility of ether
extract and non-fibrous carbohydrate diets, the lipid content of the milk, the percentage of
polyunsaturated fatty acids and the atherogenicity index of milk fat and interfered in milk
production, nitrogen balance, blood parameters. The use of castor bean meal treated with
calcium hydroxide to replace soybean meal in the diet of lactating Alpine goats does not
interfere in dry matter intake, digestibility of nutrients. However, affects the average yield
from 67% replacement of bran. Therefore, it can be used in the feeding of lactating goats
by 33%. No hepatic or renal injury and with the consumption of castor meal for animals
was observed and there was no change in microbial protein synthesis only reducing
nitrogen retained. However, we observed the presence of a mild inflammatory process,
with possible intestinal origin or another part of the digestive system and also promotes an
increase in lipid levels, modify the fatty acid profile of evidencing an increase in
polyunsaturated acids of milk goats, reducing the atherogenicity index of milk fat. As also
exerts a positive influence on the sensory profile of milk promotes greater global
acceptance by assessors
Keywords: fatty acids, milk goats, nitrogen balance, protein synthesis, and lectin ricin
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esta Tese aborda o tema relacionado à utilização do farelo de mamona em
substituição ao farelo de soja na dieta de cabras em lactação e sua influência na produção,
características físico-químicas e sensorial do leite, síntese de proteína microbiana, balanço
de nitrogênio e lesões hepática e renal.
Entre as diversas opções de oleaginosas disponíveis para a produção de biodiesel, a
cultura da mamona (Ricinnus communis) caracteriza-se pelo potencial de exploração em
regiões semiáridas e pela alta produtividade de óleo por unidade de superfície comparada
às oleaginosas de ciclo anual. No entanto, as informações sobre extração de óleo de
sementes e utilização na alimentação de cabras leiteiras ainda são escassas, o que impede,
até o momento, recomendações exatas para sua utilização.
O farelo de mamona apresenta-se como concentrado proteico alternativo para
alimentação de cabras leiteiras na região Nordeste do Brasil ou em outras regiões onde haja
a cultura da mamona, com perspectiva de produção, devido ao aumento da utilização do
biodiesel.
A tese é constituída de quatro capítulos, com seus respectivos artigos que terão sua
submissão em periódicos científicos para a publicação, conforme normas da Revista
Brasileira de Zootecnia.
O primeiro capítulo discute sobre a ricina, lectina presentes nas sementes de
mamona, sendo a ricina relatada como proteína de defesa do vegetal contra ataques de
insetos e fungos nas sementes. A revisão aborda as características da molécula, atividades
biológicas, inativação da molécula de ricina e seus efeitos em animais e perspectivas de
utilização na alimentação animal.
2
No capítulo dois avalia-se o efeito sobre o consumo, digestibilidade dos nutrientes e
produção de leite das cabras alimentadas com farelo de mamona em substituição ao farelo
de soja.
O terceiro capítulo trata da síntese de proteína microbiana, balanço de nitrogênio e
avaliação das funções hepática e renal das cabras alimentadas com farelo de mamona em
substituição ao farelo de soja.
E por fim, o quarto capítulo afere o efeito sobre as características da composição
físico-química, perfil lipídico e sensorial do leite das cabras alimentadas com farelo de
mamona em substituição ao farelo de soja.
3
Capítulo 1
Referencial Teórico
ASPECTOS RELACIONADOS AO USO DO FARELO DE MAMONA NA DIETA
DE CABRAS LEITEIRAS
4
ASPECTOS RELACIONADOS AO USO DO FARELO DE MAMONA NA DIETA
DE CABRAS LEITEIRAS
RESUMO
Lectinas são proteínas desprovidas de atividade enzimática, que se ligam de maneira
reversível e específica a carboidratos; distinguem-se das imunoglobulinas, que reconhecem
especificamente antígenos, eventualmente sacarídeos, seja estruturalmente, ou porque estas
últimas de pendem de estímulo antigênico para serem sintetizadas. As Lectinas, de modo
geral, apresentam especificidades diferentes para a ligação com monossacarídeos,
oligossacarídeos e glicopeptídeos. A lectina de Ricinus communis (R. communis), presente
no farelo de mamona, apresenta afinidade pelo dissacarídeo lactose, superior à da Dgalactose. Neste contexto, esta revisão objetiva compilar informações a respeito da
caracterização, classificação e atividade biológica das lectinas, inativação da lectina e os
efeitos do farelo de mamona na dieta de ruminantes. As lectinas, de modo geral, já fazem
parte da dieta do ruminantes pois encontram-se no farelo de soja, trigo e em outros grãos.
Porém, existem especificidades entre elas, a lectina presente no farelo de mamona foi
classificada deste 1888, deste então tornou-se alvo de muitos estudos na medicina como
também, nas formas de tratamento para inativar a molécula ricina. O farelo de mamona
tratado usado na alimentação de ruminantes tem efeitos desejáveis e indesejáveis,
dependendo da forma de tratamento pode haver interferência no consumo de matéria seca,
digestibilidade dos nutrientes e melhorar o perfil lipídico da gordura do leite. Interfere nos
parâmetros sanguíneos dos animais, no entanto, os sintomas clínicos não são observados.
Palavras chaves: lectina, leite, cabras
5
ASPECTS OF THE USE CASTOR MEAL AT GOATS MILK DIET
ABSTRACT
Lectins are proteins devoid of enzymatic activity, that bind reversibly to
carbohydrates and specific manner; be distinguished from immunoglobulin that
specifically recognize antigens possibly saccharide is structurally or because the latter
depend from the antigenic stimulus to be synthesized. Lectins, in general, have different
for binding to monosaccharides, oligosaccharides and glycopeptides specificities. The
lectin ricinus communis (R. communis), present in the bran castor, shows affinity for the
disaccharide lactose, higher than that of d-galactose. In this context, this review aims to
compile information regarding the characterization, classification and biological activity of
lectins, the lectin inactivation and effects of castor bean bran in the diet of ruminants.
Lectins, in general, as part of the diet of ruminants as are found in soybean, wheat and
other grains. However, there are specificities among them, present in castor bean bran
lectin was ranked this 1888, so this also became the target of many studies in medicine as
in treatment to inactivate ricin molecule. The bran treated castor bean used in ruminant
diets has desirable and undesirable effects, depending on the form of treatment may be
interference in dry matter intake, digestibility of nutrients and improve the lipid profile of
milk fat. Interfere with animal blood parameters, however, clinical symptoms are not
observed.
Key words: lectin, milk goats
6
INTRODUÇÃO
Na agroindústria de extração do óleo de mamona são originados resíduos que podem
ter diversas utilidades, como por exemplo, fonte de alimento para ruminantes e não
ruminantes, fonte de aminoácidos para os mais variados fins nutricionais (BOSE &
WANDERLEY, 1988). De acordo com Abdalla et al. (2008), o resíduo de mamona
apresenta elevado teor proteico que varia de 39 a 43% da matéria seca; a produção de
resíduo depende das condições do cultivo e das sementes. Há uma produção de 1,2
toneladas de resíduos para cada tonelada de óleo extraído.
O farelo de mamona é gerado quando a extração do óleo utiliza o emprego de
solvente. A principal diferença entre o farelo e a torta de mamona refere se ao teor de
extrato etéreo (CÂNDIDO et al., 2008). Outra diferença é o teor de proteína e fibra bruta,
podendo classificar o farelo de mamona como um alimento volumoso rico em proteína
(BOMFIM et al., 2007). Atualmente, o principal uso da torta de mamona tem sido como
adubo orgânico, que é um produto com baixo valor agregado se comparado à sua aplicação
como alimento animal. Na alimentação animal, o uso é limitado pela presença de ricina e
princípios alergênicos (Castor bean allergen – CBA), os quais podem passar ao leite em
bovinos alimentados com a torta de mamona (EVANGELISTA et al., 2007).
Das sementes de mamona (euforbiáceas) são isoladas a ricina (RCA60), proteína com
fraca atividade hemaglutinante, altamente citotóxica, com massa molecular de 60 a 65
kDa, composta por duas cadeias a banda A (32 kDa), e a banda B ou a ricina aglutinina
RCA120 (34 kDa), não citotóxica (FULTON et al., 1986; WU et al., 2006). Essas duas
cadeias polipeptídicas são interligadas por ponte de dissulfeto (OLSNES & PIHL, 1973;
OLIVEIRA et al., 2010a). A cadeia “A” é uma RNA-N-glicosidase capaz de inibir o
processo de síntese proteica em células de mamíferos, ao remover um resíduo de adenina
do RNA ribossomal. Já a cadeia “B” é uma lectina, que tem seletividade por β-d-
7
galactosídeos sendo responsável pelos processos de adesão celular da toxina e de sua
translocação citoplasmática até os ribossomos (OLSNES & PIHL, 1973).
As cadeias polipeptídicas de RCA60 e RCA120 são estruturalmente relacionadas,
apresentam 93% e 84% de homologia entre as sequências primárias das cadeias A e B,
respectivamente (AUDI et al., 2005). Neste contexto, esta revisão objetiva compilar
informações a respeito da caracterização, classificação e atividade biológica das lectinas,
inativação da lectina e os efeitos do farelo de mamona na dieta de ruminantes.
Caracterização
As lectinas, de modo geral, apresentam especificidades diferentes para a ligação com
monossacarídeos, oligossacarídeos e glicopeptídeos. A lectina de Ricinus communis (R.
communis) apresenta afinidade pelo dissacarídeo lactose, superior à da D-galactose
(TURTON et al., 2004).
Lectinas são proteínas desprovidas de atividade enzimática, que se ligam de maneira
reversível e específica a carboidratos; distinguem-se das imunoglobulinas, que reconhecem
especificamente antígenos, eventualmente sacarídeos, seja estruturalmente, ou porque estas
últimas dependem de estímulo antigênico para serem sintetizadas. Essa classe de proteínas
estruturalmente diversificada é amplamente distribuída na natureza. Em geral, está
relacionada a processos de reconhecimento celular mediado por suas interações com
carboidratos (LIENER et al., 1986; RÜDIGER, 2001; BLANCO, 2008). Por haver
interação com locais de ligação múltiplos de receptores glicoconjugados, específicos na
superfície da membrana celular de eritrócitos, uma característica das lectinas é de
promover hemaglutinação, por isso também conhecidas como aglutininas (SHARON,
1993; SILVA & SILVA, 2000; SANTANA et al., 2008; BLANCO, 2008).
As pesquisas de lectina originaram-se ao final do século XIX, com o isolamento da
ricina por Hemann Sttilmark em 1888. A ricina isolada de sementes de Ricinus communis,
8
tornou-se então a primeira lectina de origem vegetal a ser descoberta. Essa lectina é uma
proteína heterodimérica com dois monômeros não idênticos (Figura 1) com especificidade
de ligação para galactose e 2-N-acetil-galactosamina (LORD, 1994).
A
B
Figura 1- Representação esquemática de uma molécula de ricina, evidenciando as duas
cadeias constituintes (A e B), assim como a ligação dissulfeto (OLSNES &
KOZLOV, 2001)
No entanto, o interesse pelas lectinas tornou-se mais evidente na década de 1960,
período no qual os estudos das propriedades aglutinantes e ligantes dessas proteínas
começaram a chamar a atenção dos pesquisadores (SILVA & SILVA, 2000). Tais
propriedades tornaram as lectinas reagentes úteis para detecção, isolamento e
caracterização parcial de glicoproteínas, bem como possibilitar o estudo das mudanças dos
padrões glicídios. No final da década de 1980, início dos anos 90 (século XXI), os estudos
com lectinas foram intensificados devido ao fato dessas proteínas estarem envolvidas na
mediação do reconhecimento celular em muitos sistemas biológicos, o que é um fator
9
decisivo do trânsito dessas células nos sistemas vivos como também para sua atuação na
defesa contra os patógenos (SHARON, 1993).
Por essas particularidades, as lectinas podem ser aplicadas nos diversos campos de
interesse clínico e biotecnológico, tais como tipagem de eritrócitos, transporte de agentes
quimioterápicos, indução de mitose, marcação taxonômica de micro-organismos,
específicos (SANTANA et al., 2008).
Classificação
Segundo o mesmo autor, as lectinas podem ser classificadas de acordo com muitos
critérios; tais como similaridade na sequência de aminoácidos, especificidade glicídica e
conformação tridimensional. Com a finalidade de identificar e agrupar lectinas pela
compreensão dos mecanismos de reconhecimento lectina-carboidrato, torna-se conveniente
classificar essas proteínas de acordo com as características topológicas do sítio ligante
glicídico. Essa localização é extremamente importante, uma vez que a topologia define a
categoria de atividade da lectina, pois a acessibilidade do ligante ao sítio de
reconhecimento determina mecanismos de reconhecimento distintos. Sendo assim, tais
proteínas podem ser divididas em dois grupos principais: as do tipo I que são lectinas de
transporte; e as do tipo II que apresentam um sítio ligante glicídico mais externo e
topologicamente raso (ELGAVISH & SHAANAN, 1997; SANTANA et al. 2008).
As lectinas do tipo I compreendem proteínas que, necessitam de uma molécula para
se ligarem a parede celular permitindo tanto engolfamento quanto a entrada da molécula
citosol inibindo a síntese proteica (SANTANA, 2008). As lectinas do tipo II abrangem
proteínas que, basicamente, se ligam e reconhecem glicídios sem que haja qualquer
mudança química enzimática no ligante após a efetiva ligação. Essa ligação ocorre em um
sítio ligante topologicamente externo e superficial, não ocorrendo um “engolfamento” do
ligante, como ocorre nas lectinas do tipo I. As funções como também as atividades das
10
lectinas do tipo II são relacionadas ao reconhecimento e ligação ao seu carboidrato
específico (VASCONCELOS & OLIVEIRO, 2004).
As lectinas podem ser divididas em famílias, como a da família das leguminosas, a
exemplo da lectina da soja, que é uma glicoproteína tetramérica com peso molecular de
cerca de 120 kDa, possui afinidade pela n-acetilgalactosamina, pelos glicosídeos e pelos
oligossacarídeos, nos quais esses carboidratos se apresentam como uma unidade terminal
não reduzida (VASCONCELOS & OLIVEIRO, 2004; BRANCO, 2008).
Ao ligar-se à superfície epitelial do intestino delgado proximal, a lectina da soja
promove destruição, atrofia das microvilosidades e diminuição da viabilidade das células
epiteliais. Além disso, há hiperplasia das células da cripta de Lieberkühn. Nesse processo,
parece haver acúmulo de poliaminas, principalmente espermidina, estimulando a
proliferação celular (VASCONCELOS et al., 1994; VASCONCELOS et al., 2001;
VASCONCELOS & OLIVEIRA, 2004; SANTANA et al., 2008).
Parte da lectina ingerida é absorvida, chegando à circulação sanguínea e estimulando
a produção de anticorpos antilectina. Há aumento no tamanho do pâncreas, provavelmente
por acúmulo de espermidina. Outros efeitos incluem a redução nos níveis séricos de
insulina, inibição intestinal de dissacaridases e proteases, alterações degenerativas em
fígado e rins e interferência na absorção de ferro e lipídios dos alimentos.
(VASCONCELOS & OLIVEIRA, 2004; ASLANI et al., 2007; BLANCO, 2008).
Atividade biológica das lectinas
As lectinas ou hemaglutininas podem ser caracterizadas e detectadas por sua
habilidade em aglutinar eritrócitos, em certos casos com alta especificidade (LIS &
SHARON, 1972; ASKAR, 1986). Algumas lectinas são específicas em suas reações com
grupos sanguíneos humanos ABO e MN e sub tipo A1 e A2 (SHARON & LIS, 1972).
Todos esses efeitos são produzidos pela habilidade das lectinas de se ligarem a tipos
11
específicos de açúcares na superfície celular (DESHPANDE & DAMODARAN, 1990).
Além dessas propriedades, as lectinas podem promover estimulação mitogênica de
linfócitos como também aglutinação de células cancerosas (LIS & SHARON, 1972;
LIENER, 1981). Embora muitas lectinas reconheçam e se liguem a açúcares simples como
glicose, manose, galactose, N-acetilgalactosamina, N-acetilglucosamina ou fucose, a
afinidade é muito maior para com os constituintes de glicoproteínas: ácido siálico e Nacetilgalactosamina contendo cadeias de glicanos, encontrados em animais e seres
humanos (NICOLSON, 1974; PEUMANS & VAN DAMME, 1996).
A especificidade das lectinas com relação a diferentes carboidratos possibilita a sua
utilização em pesquisas na área biológica e médica. Como investigação da superfície de
células, caracterização de eritrócitos como agentes mitogênicos, caracterização de estádios
de desenvolvimento de micro-organismos diversos, purificação de glicoproteínas,
morfologia de neurônios além de identificação de conexões neurais no sistema nervoso
central (KENNEDY et al., 1995).
As lectinas são encontradas em uma ampla variedade de espécies de plantas e
animais, entretanto, estas substâncias estão presentes em maior quantidade em grãos de
leguminosas e gramíneas (MANCINI FILHO et al., 1979; PUSZTAI, 1979).
Martin-Cabrejas et al. (1995) encontraram quantidades consideráveis de inibidores
de tripsina/quimotripsina, α-amilase e elevada atividade de lectinas em cinco cultivares de
feijões (Phaseolus vulgaris) frescos e estocados por cinco anos. Muitas lectinas também já
foram isoladas e caracterizadas em diversas variedades de cogumelos (KAWAGISHI et al.,
1996).
O fato das lectinas terem larga distribuição em plantas sugere alguma importância
fisiológica para estas substâncias (LIENER, 1976; ETZLER, 1985). As funções das
lectinas podem ser variadas e parecem ter relação com os estádios de maturação,
12
germinação das sementes (HOWARD et al., 1972) e com variedades da espécie. Assim
como parecem ter relação com os mecanismos de defesa da planta contra o ataque de
fungos (LIENER, 1976).
A determinação dos níveis de lectina na soja pode ser realizada por meio de diversas
técnicas, sendo as principais a hemaglutinação, aglutinação em látex e ensaio imuno
enzimático ELISA (BLANCO, 2008).
Dentre as técnicas utilizadas para a identificação da ricina pode-se destacar os
métodos sorológicos, cromatográfricos e eletroforéticos (FURTADO et al., 2011).
Atualmente, a mais empregada é a eletroforese em gel poliacrilamida contendo dodecil
sulfato de sódio (SDS-PAGE) (ANANDAN et al., 2005; KIM et al., 2006). Este
procedimento apresenta a vantagem econômica e operacional frente aos outros métodos,
notadamente ELISA e HPLC, que exigem a utilização de padrões de ricina.
A eletroforese em gel (SDS-PAGE) consiste em ferramenta analítica amplamente
utilizada na separação e identificação de proteínas, devido à relativa simplicidade, rapidez
e alto valor informativo. O princípio da técnica consiste na separação de frações proteicas
de diferentes massas moleculares, previamente carregada negativamente, mediante
migração em campo elétrico desenvolvido em géis de poliacrilamida (MANDRINO &
ALMEIDA, 2004). A utilização do corante azul de Coomassie foi originalmente
introduzido para visualizar bandas de proteínas em 1963 (FERNADES, 2011). Hoje vem
sendo utilizado rotineiramente devido a sua reprodutibilidade e clareza no resultados
(WANG et al., 2007). No entanto, a coloração com nitrato de prata é mais precisa para a
verificação da presença de ricina em decorrência da maior sensibilidade (FERNADES,
2011). Sendo assim, a mais indicada para a identificação da ricina em alimentos para
animais e humanos. A quantificação de proteínas separadas por eletroforese pode ser
13
realizada mediante análise densitométrica das imagens do gel (SDS-PAGE) e dosagem de
proteína total (RETAMAL et al., 1999).
A ricina pode levar animais e seres humanos a óbito em pouco tempo após a sua
ingestão por ser uma proteína inativadora de ribossomos (RIPS) do tipo II, heterodimérica,
com a enzima inibidora de ribossomo com peso molecular de ~32 kDa, cadeia A ou RTA
ligada por ponte dissulfeto a uma lectina galactose com peso molecular de ~34 kDa, cadeia
B ou RTB (LORD et al., 1994; AUDI et al., 2005). As doses letais de ricina para animais
são em torno de 1 mg/kg ou 1 ppm (EIKLID et al., 1980). No intuito de garantir o uso
seguro do resíduo da extração do óleo de mamona como ração é recomendado análise de
amostras quanto a presença de ricina e ricinus aglutinina a cada processo de destoxificação.
Inativação da ricina
Os tratamentos testados para destoxificação da ricina incluem desnaturação térmica,
extrusão, efeitos do armazenamento e tratamentos químicos, biológicos e enzimáticos
(RIBEIRO & ÁVILA, 2006; MACHADO, 2008).
Avaliando a substituição de 100% do farelo de soja por farelo de mamona, tratados
com a cal (fonte de hidróxido de cálcio) e não tratados, Oliveira et al. (2010a) não
conseguiram a destoxificação ou inativação da ricina com 40 g/kg de farelo, utilizando a
recomendação de Anandan et al. (2005). Estes autores relataram que há variação na
quantidade de óxido de cálcio nos produtos disponíveis no comércio da construção civil;
isto impossibilitou a inativação com 40 g, o que ocorreu com eficácia com 60 g/ kg.
Fernandes (2011) avaliando o efeito da destoxificação com hidróxido de sódio na
proporção de 1:34:84 NaOH:farelo:água, verificou 100% de inativação da ricina. Outro
método de tratamento do farelo de mamona para destoxificação é através de
biodetoxificação utilizando fungos. O fungo Penicillium. simplicissimum foi testado para a
inativação da ricina e produção de lipase com sucesso. Este método foi testado pela
14
Universidade do Rio de Janeiro (GODOY et al., 2009). Uma maneira ainda mais eficaz de
eliminar a ricina da mamona ocorre por meio do melhoramento genético, selecionando
sementes com menor teor da toxina. Pode-se utilizar também o melhoramento tradicional
ou mesmo por transgenia. Entretanto, isto pode trazer problemas agronômicos à cultura,
como a possibilidade de maior susceptibilidade da planta ao fungo Fusarium e a certas
pragas comuns à cultura (FREIRE, 2001).
A eficácia da inativação da ricina pelo calor para prevenção de intoxicação pela
mamona (Ricinus communis) foi avaliada em ratos, com o objetivo de minimizar os
prejuízos causados por esta toxicose na produção animal, utilizou-se o tratamento térmico
da ricina por meio de autoclavagem (90 ºC) por duas horas, em que, Gonçalves et al.
(2009) relataram ter sido capazes de inativar completamente a ricina. Entretanto, a ricina
inativada pelo calor não produziu proteção aos ratos contra a intoxicação pela ricina,
quando utilizada como vacina. Além disto, a adição do adjuvante hidróxido de alumínio à
ricina inativada pelo calor também não produziu proteção aos ratos.
Camundongos, que receberam injeção de ricina desenvolveram as características de
síndrome hemolítico-urêmica, incluindo microangiopatia trombótica, anemia hemolítica,
trombocitopenia e insuficiência renal aguda. Análises de microarranjos demonstrou uma
resposta transcrição pró-inflamatórianos nos rins, coincidente com os sintomas da
síndrome hemolítico-urêmica. O tratamento terapêutico para a resposta inflamatória afetou
o resultado da intoxicação por ricina (KORCHEVA el at., 2005).
Utilização do farelo de mamona na alimentação de ruminantes
Ovinos intoxicados por sementes de mamona (ricina) apresentaram anorexia,
fraqueza muscular, salivação, diarreia, desidratação, midríase, hipotermia, recumbência,
elevação dos níveis séricos de nitrogênio-ureico, creatinina, creatina quinase e aspartato
15
aminotransferase em 24 a 30 horas após a ingestão e morte até 3 dias após a ingestão
(ARIMIÉN et al., 1996; ASLANI et al., 2007).
Ovinos alimentados com farelo e torta de mamona durante 21 dias apresentaram
variações para as enzimas hepáticas, cujos valores foram de 53,85 a 71,90 UI/L para AST e
de 27,25 a 31,43 UI/L para ALT (OLIVEIRA et al., 2010b). Não foram observados
sintomas clínicos de intoxicação nos animais e os níveis de ALT e AST apresentaram-se
dentro dos padrões normais para a espécie. Aslani et al. (2007) avaliando o efeito do
consumo de sementes mamona em ovinos relataram o aumento nas taxas de creatinina,
creatina quinase e aspartato aminotransferase, como também, gastroenterite severa,
alterações nos tecidos cardíacos e necroses no fígado e rins.
Já Vieira et al. (2010) avaliaram o efeito da inclusão de farelo de mamona
destoxificado nas rações de ovinos mestiços da raça Morada Nova sobre as características
de carcaça. Os animais mantidos confinados por 70 dias e ao final do experimento, não
foram observadas diferenças ente os tratamentos para as variáveis de peso vivo ao abate,
peso de carcaça quente e fria, comprimento de carcaça, e grau de conformação. Como
conclusão, os autores recomendaram a substituição de até 40% do farelo de soja por farelo
de mamona na dieta.
Costa (2010) avaliando o efeito da inclusão de farelo de mamona destoxificado,
segundo recomendações de Oliveira et al. (2010a) nas rações de vacas da raça Holandesa,
sobre consumo, digestibilidade, desempenho produtivo e metabolismo dos compostos
nitrogenados, não observou sintomas clínicos de intoxicações, porém evidenciou alterações
no consumo, digestibilidade de nutrientes, produção de leite e metabolismo dos compostos
nitrogenados. Ao termino das análises, o autor recomenda um substituição de até 5% da
dieta de vacas leiteiras com produção média diária de 25 Kg de leite.
16
CONCIDERAÇÕES FINAIS
Alimentos alternativos para substituírem principalmente os concentrados proteicos e
energéticos na produção animal são alvos de pesquisas para diminuírem os custos de
produção e competição por soja e milho. No entanto, a avaliação dos alimentos durante
muito tempo foi realizada apenas de forma insuficiente, pois apenas a análise
bromatológica dos alimentos e dietas para os animais. Deixou-se de analisar os
metabólicos secundários presentes em todos os vegetais, principalmente nas sementes, que
são os mais estudados por apresentarem maiores teores de proteína e energia.
Quanto aos resíduos da extração de óleo das sementes de mamona em larga escala, já
se sabe os métodos de tratamento para inativação da ricina, porém se faz necessárias novas
metodologias que estejam ao alcance dos pequenos produtores rurais e que sejam
eficientes. Outro ponto importante são metodologias mais simples para identificação da
presença de ricina no farelo ou torta tratada, já que alguns métodos não são eficientes ao
ponto de inativar 100% da ricina presente no farelo de mamona. A realização do teste de
eficiência do tratamento para inativação da ricina antes da utilização pelos animais é
importante devido a ausência de sintomas clínicos nos animais ruminantes alimentados
com farelo de mamona.
O efeito do farelo de manona nos metabólicos séricos, indicando ser necessário
novos estudos na área de nutrição animal. Sugere-se ainda uma avaliação em animais
jovens ruminantes quanto ao crescimento, ao efeito no ambiente ruminal, nos órgãos vitais
e na mucosa do intestino delgado. Considerando ser importante o uso dos resíduos da
extração do óleo das sementes de mamona na alimentação animal.
17
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24
Capítulo 2
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E PRODUÇÃO DE LEITE
DE CABRAS ALIMENTADAS COM FARELO DE MAMONA EM
SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA
25
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES E PRODUÇÃO DE LEITE
DE CABRAS ALIMENTADAS COM FARELO DE MAMONA EM
SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA
RESUMO
Objetivou-se, com este experimento, avaliar o consumo e a digestibilidade dos
nutrientes, análise econômica do custo das rações e produção de leite de cabras sobre o
efeito da substituição do farelo de soja por farelo de mamona. Foram utilizadas vinte e
quatro cabras Alpinas com peso médio de 42 ± 7 kg, de 2ª e 3ª lactação, distribuídas em
delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (0, 33, 67 e 100% níveis
de substituição do farelo de soja por farelo de mamona) e seis repetições. Os primeiros 17
dias foram de adaptação às dietas experimentais e às gaiolas e os demais 45 de coletas de
dados. A substituição do farelo de mamona por farelo de soja diminuiu o consumo de
proteína bruta e a produção de leite, aumentou o coeficiente de digestibilidade do extrato
etéreo e carboidratos não fibrosos. Para a análise econômica do custo da ração a
substituição do farelo de soja por farelo de mamona houve redução da receita média bruta
com a substituição do concentrado proteico. A utilização do farelo de mamona tratado com
hidróxido de cálcio em substituição ao farelo de soja na dieta de cabras alpinas em lactação
não interferiu negativamente no consumo de matéria seca, coeficiente de digestibilidade
dos nutrientes. Portanto, do ponto de vista econômico o farelo de mamona pode ser usado
na alimentação das cabras em lactação, principalmente, nos períodos que o farelo de soja
aumentar o valor no mercado.
Palavras chave: nutrição animal, resíduos, Ricinus Communis aglutinina - RCA120, lectina
26
INTAKE AND NUTRIENT DIGESTIBILITY AND MILK PRODUCTION OF
GOATS FED CASTOR MEAL INSTEAD OF SOYBEAN MEAL
ABSTRACT
The objective of this experiment was to evaluate the intake and nutrient
digestibility, blood parameters, economic analysis of the cost of feed and milk production
on the effect of replacing soybean meal by castor meal. Were used twenty-four alpine
goats with an average weight of 42 (± 7 kg), 2nd and 3rd lactation, distributed in a
completely randomized design with four treatments (0, 33, 67 and 100% replacement
levels of soybean meal by meal castor) and six replications. The first 17 days of the
experiment were adapted to diets and the other 45 days of data collection. The animals
were fed twice a day complete. The replacement of castor meal for soybean meal
decreased the crude protein intake and milk production, increased the digestibility of lipid
and non-fiber carbohydrates. For the economic analysis of the cost of feed replacement of
soy bean meal by castor was decreased with the replacement of protein concentrate. The
use of castor bean meal treated with calcium hydroxide to replace soy bean meal in the diet
of lactating alpine goats no negative effect on dry matter intake, digestibility of nutrients.
Therefore, it can be used in the feeding of lactating goats, according to economic analysis
in semi-arid regions, especially in the period in which the soy bean to increase the market
value.
Key words: animal feed, waste, ricinus communis agglutinin - RCA120, lectin
27
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos observou-se crescimento expressivo da agroindústria de extração
de óleo vegetal, o que tem possibilitado o incremento da participação do biodiesel na
matriz energética e a expectativa do aumento de co-produtos derivados dessa cadeia. A
geração de resíduos da extração do óleo das sementes de mamona no Brasil, em 2008, foi
estimada em 23.182 toneladas, com perspectivas crescentes (ABDALLA et al., 2008).
Com este crescimento, o farelo de mamona (FM) vem sendo acumulado nas
empresas de extração de óleo devido a demanda como fertilizante orgânico, que é baixa. A
presença de fatores antinutricionais como a lectina RCA120 ou Ricina dificulta seu uso
como ração animal. Esse empecilho foi estudado por Anandan et al. (2005) que
verificaram a inativação da molécula de ricina com tratamento químico e físico. Em
virtude dos estudos destes autores, várias pesquisas foram realizadas avaliando o efeito do
farelo, da torta e da casca de mamona na alimentação de ruminantes, demonstrando grande
potencial do farelo de mamona como ração animal.
A utilização do farelo de mamona como ração animal apresenta-se como alternativa
para baratear os custos da produção, principalmente na atividade leiteira em que o
concentrado proteico é responsável por maior parte dos gastos. Outro aspecto importante é
a possibilidade de utilizar este resíduo agroindustrial como fonte alimentar para os
pequenos ruminantes no período de escassez de forragem, contribuindo para a produção
animal, principalmente, em regiões semiáridas.
28
O consumo de alimentos é considerado o fator mais importante na determinação do
desempenho animal. A alta correlação existente entre produção animal e ingestão de
alimentos se deve ao fato de que a ingestão é o ponto determinante do acesso de nutrientes
necessários para o atendimento dos requisitos de mantença e produção pelos animais.
Segundo Mertens (1996), a ingestão de alimentos é regulada por mecanismos físicos,
fisiológicos e psicogênicos. Para esse autor, o mecanismo físico refere-se à distensão física
do rúmen-retículo; o fisiológico é regulado pelo balanço energético; a regulação
psicogênica envolve a resposta comportamental do animal, frente a fatores inibidores ou
estimuladores no alimento, ou no manejo alimentar, que não está relacionada ao valor
energético do alimento, nem ao efeito de enchimento.
Além do conhecimento do consumo e da composição bromatológica dos alimentos,
torna-se importante obter informações sobre a utilização dos nutrientes pelo animal, o que
é obtido por estudos de digestão. Desta forma, estudos que avaliem a utilização do farelo
de mamona contribuirá para elucidar os mecanismos de utilização da proteína na
alimentação de caprinos leiteiros, principalmente, a digestibilidade dos nutrientes, que são
úteis na qualificação dos alimentos quanto ao seu valor nutricional.
A digestão realizada pelos ruminantes é o resultado da fermentação ruminal obtida
pelo crescimento da microbiota ruminal, pela a hidrólise ácida, e digestão oriunda das
enzimas secretadas no abomaso e intestino delgado e a fermentação no intestino grosso.
Assim, como o farelo de mamona possui em sua composição alto teor de proteína bruta (30
a 42%), boa digestibilidade e preço inferior ao do farelo de soja, com baixa variação do
preço no período de escassez de alimento para a produção animal (ABDALLA et al., 2008)
além de ser produzido na região semiárido do Nordeste brasileiro com expectativas de
aumento de produção. Diferentemente, o farelo de soja apresenta preço mais alto com
grande variação no período de entressafra, especialmente por ser cotado em dólar no
29
mercado internacional, o que acarreta aumento do custo de produção. Desse modo,
avaliou-se o efeito da substituição do farelo de soja pelo farelo de mamona sobre o
consumo e digestibilidade dos nutrientes, produção de leite e análise econômica das rações
utilizadas na alimentação de cabras Alpinas em lactação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nas instalações do Laboratório de Caprinocultura do
Departamento de Agropecuária do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias da
Universidade Federal da Paraíba, CCHSA/UFPB, Campus III, Bananeiras-PB.
Foram utilizadas 24 cabras (2o e 3o parto) da raça Saanen com 75 ±10 dias de
lactação e peso vivo médio de 42 ±7 kg, distribuídas em delineamento inteiramente
casualizado. Os animais foram alojadas individualmente em gaiolas de madeira (1,26 m2)
em galpão coberto, providas de comedouros e bebedouros. Previamente os animais foram
identificados, pesados e tratados contra ecto e endoparasitas. O período experimental teve
duração de 62 dias: 17 para adaptação dos animais às rações e 45 para coleta de dados e
amostras.
As dietas experimentais foram formuladas com feno de capim Tifton 85 (Cynodon
dactylon, (L) Pers), como fonte de volumoso, numa proporção de volumoso:concentrado
de 50:50. As dietas foram calculadas para atender exigências de cabras em lactação com
produção de 2 kg/leite/dia (NRC, 2007).
O farelo de mamona utilizado nas rações foi obtido na agroindústria Bom – Óleos do
Brasil LTDA (Salvador- BA). A inativação da ricina foi utilizado solução de Ca(OH)2 (40
g por litro de água), na proporção de 1 litro de solução para 1 kg de farelo de mamona com
base na matéria natural, conforme recomendações de Anandan et al. (2005). Após a
mistura do farelo com a solução de Ca(OH)2 (pH 11), o material permaneceu por um
30
período de 12 horas, sendo seco ao sol. Utilizou-se como fonte de Ca(OH)2 cal hidratada
que é utilizada na construção civil. Os ingredientes que compuseram as dietas
experimentais foram coletados para posteriores análises.
As composições dos ingredientes e das dietas encontram-se nas Tabelas 1 e 2,
respectivamente.
Tabela 1- Composição química dos ingredientes das dietas experimentais com base na
matéria seca
Variáveis
Feno de
Tifton
Farelo de Soja
Milho Moído
Farelo de
Mamona
Matéria Seca (%)
87,72
85,00
86,15
85,82
Nutrientes digestíveis totais (%)
52,41
81,54
87,24
41,05
Proteína Bruta (%)
6,87
48,53
8,75
35,86
Extrato Etéreo (%)
1,17
1,60
5,30
1,31
Matéria mineral (%)
8,09
6,10
1,15
11,67
Fibra em Detergente Neutro (%)
78,90
14,06
9,00
43,89
Fibra em detergente ácido (%)
39,36
9,88
3,00
33,48
Cálcio (%)
0,49
0,41
0,02
0,71
Fósforo (%)
0,15
0,55
0,30
0,71
Na dieta sem substituição (dieta controle), a principal fonte de nitrogênio foi o farelo
de soja, o qual foi substituído parcialmente por farelo de mamona em níveis de 33, 67 e
100% para os outros tratamentos (Tabela 2). A alimentação das cabras foi fornecida à
vontade, na forma de mistura completa, duas vezes ao dia (7:00 e 15:00 h), permitindo-se
sobras de 20% da quantidade ofertada. Para o controle do consumo voluntário, diariamente
e antes do fornecimento matinal, as sobras foram recolhidas e pesadas. O consumo foi
determinado mediante diferença entre o ofertado e as sobras.
As amostras dos alimentos ofertados bem como, as sobras e fezes dos animais foram
coletadas nos últimos cinco dias do período experimental e armazenadas, sendo
posteriormente pré-secas e homogeneizadas para a obtenção de amostras compostas para
31
as análises de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato
etéreo (EE) e matéria mineral (MM), segundo SILVA & QUEIROZ (2002).
Tabela 2 - Composição percentual e química das dietas experimentais, com base na matéria
seca
Níveis de substituição (%)
Alimentos (kg)
0
33
67
100
Feno de tifton
51,40
50,29
50,26
50,57
Farelo de soja
15,96
10,48
5,13
0,00
Farelo de mamona
0,00
5,68
10,10
15,16
Grão de milho moído
31,14
31,96
32,87
32,56
Ureia
0,00
0,14
0,29
0,42
Suplemento mineral*
1,48
1,38
1,28
1,21
Total
99,98
99,93
99,93
99,92
Matéria Seca (%)
86,94
87,60
87,00
85,84
Nutrientes Digestíveis Totais (%)
67,12
65,12
63,35
61,13
Proteína Bruta (%)
14,00
13,78
13,26
12,58
Extrato Etéreo (%)
2,51
2,52
2,54
2,52
Fibra em Detergente Neutro (%)
45,60
46,52
47,77
49,48
Carboidratos Totais (%)
78,02
77,98
78,27
78,31
Carboidratos Não Fibrosos (%)
32,42
31,46
30,50
28,82
Energia Metabolizável Mcal/kg
1,82
1,83
1,81
1,84
Matéria Mineral (%)
5,48
5,74
5,94
6,24
Ca (%)
0,68
0,67
0,65
0,65
P (%)
0,36
0,37
0,36
0,37
Relação Ca/P
1,87
1,82
1,79
1,78
Composição das dietas
*Composição do suplemento mineral para caprinos (Vitamina A 135.000,00 UI; Vitamina D3 68.000,00 UI; Vitamina E 450,00 UI;
Cálcio 240,00g; fosforo 71,00g; Potássio 28,20 g; Enxofre 20,00g; Magnésio 20,00g; Cobre 400,00 mg; cobalto 30,00 mg; cromo 10,00
mg; ferro 250,00 mg; iodo 40,00 mg; manganês 1.350,00 mg; selênio 15,00 mg; zinco 1.700,00 mg; flúor 710,00 mg em cada kg de
suplemento).
Para as análises de cálcio e fósforo foram utilizados métodos por espectrofotômetro.
Para as análises de FDN utilizou-se a metodologia determinada pelo fabricante do aparelho
32
ANKON, da Ankon Tecnology® Corporation, com modificações relacionadas aos sacos
uma vez que foram utilizados sacos de TNT (tecido não tecido), gramatura 100 mm,
confeccionados no Laboratório de Nutrição Animal. As amostras de FDN foram corrigidas
para cinzas segundo Van Soest (1967).
Para estimativa dos carboidratos totais (CT) foi usada a equação proposta por Sniffen
et al. (1992): CT = 100 - (%PB + %EE + %MM) e para estimativa de carboidratos nãofibrosos (CNF), a equação preconizada por Weiss (1999); CNF = 100- (FDNCP + %PB +
%EE + %MM). Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados segundo Sniffen
et al. (1992) em que utilizaram a seguinte equação: NDT = PB x CD + 2,25 EE x CD + CT
x CD, em que: PB x CD = teor de proteína bruta da dieta multiplicado pelo coeficiente de
digestibilidade do nutriente; EE x CD = teor de EE da dieta multiplicado pelo coeficiente
de digestibilidade do nutriente, e CT x D = teor de carboidratos totais da dieta multiplicado
pelo coeficiente de digestibilidade do nutriente.
Para o cálculo da energia digestível, considerou-se a diferença entre o consumo de
energia bruta e a energia bruta das fezes, para a transformação em energia metabolizável
multiplicou-se o valor de ED por 0,82, que corresponde a eficiência de utilização da ED
(NRC, 2001).
Para a determinação dos coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB, EE, FDN,
CHOT e CNF, foi utilizada a seguinte equação: CD (%) = [((ingerido – excretado) /
nutriente consumido) * 100].
Para o ensaio de digestibilidade, as fezes das cabras foram coletadas diretamente na
ampola retal, durante os 5 dias, as 06:00, 10:00, 14:00 e as 18:00 h. Em seguida foram
pesadas e amostradas em 20% do total e as amostras acondicionadas em sacos plásticos
previamente identificados e armazenadas para congelamento a -15 ⁰C para posteriores
secagem e análises químicas.
33
Para a estimação da produção fecal foi utilizada como marcador interno a
concentração de fibra em detergente neutro indigestível (FNDi), obtida após incubação
ruminal dos alimentos, sobras e fezes in vitro por 240 h (CASALI et al., 2008) em sacos de
TNT.
Foi avaliado o custo da ração consumida pelas cabras de acordo com metodologia
descrita por Lana et al. (1999), realizada a partir das seguintes variáveis: Receita Bruta
média (RBM): considerando a produção de leite (PL) por dia versus o preço do kg leite
(PreL), definida por RBM = PL x PreL; Margem Bruta Média (MBM): obtida pela
diferença entre a receita bruta média e os gastos com alimentação das cabras: MBM =
RBM – CA; Rentabilidade Média (RM) considerando-se a margem bruta média dividida
pelo custo de alimentação e multiplicando-se por 100: RM = (MBM/CA)x100,
considerando que os preços dos ingredientes utilizados na formulação das rações foram de
R$ 0,60; R$ 0,45 ; R$ 0,26; R$ 1,00; R$ 0,13; R$ 2,00 e R$1,50 por kg para o farelo de
soja, farelo de mamona, milho, suplemento mineral, feno, ureia pecuária e leite produzido,
respectivamente.
Os dados de consumo e digestibilidade dos nutrientes, bioquímica do sangue,
produção de leite e custo da ração foram analisados por meio de análise de variância
(ANOVA) e análise de regressão. Os tratamentos foram desdobrados, onde a escolha dos
modelos linear ou quadrático baseou-se na significância dos respectivos coeficientes de
probabilidade (0,05%). Como ferramenta de auxílio às análises estatísticas, foram
utilizados os procedimentos GLM do programa estatístico SAS® (SAS INSTITUTE, 1996)
e o Microsoft® Office Excel® 2007.
34
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A substituição do farelo de soja por farelo mamona na dieta das cabras não interferiu
(P>0,05) em nenhuma das variáveis analisadas referentes ao consumo de matéria seca e
nutrientes (Tabela 3). Os animais apresentaram consumo médio de 2,30 kg de matéria seca,
que corresponde a 113,5 g por peso metabólico das cabras. O consumo de matéria seca por
pequenos ruminantes é influenciado pelas características físicas e químicas dos ingredientes
da dieta e suas interações (VAN SOEST, 1994).
De acordo com Silva et al. (2011), a ausência de efeito da inclusão do farelo de
mamona sobre o consumo de matéria seca justifica o uso potencial de farelo de mamona na
alimentação de pequenos ruminantes, e deve-se considerar o custo unitário do nutriente
proteína em relação às fontes proteicas convencionais disponíveis. Outro fato importante a
ser considerado é o tipo de tratamento empregado ao farelo de mamona, pois o tratamento
com hidróxido de sódio, não utilizado nesta pesquisa, interfere no consumo de matéria
seca, considerando que Fernandes (2011) observou aumento no consumo e digestibilidade
da matéria seca e nutrientes quando avaliou o farelo de mamona tratado com hidróxido de
sódio na dieta de cabras em lactação.
O consumo de proteína bruta foi alterado com a substituição do concentrado proteico na
dieta. De acordo com o NRC (2007), o consumo de proteína bruta para as cabras com peso
vivo médio de 40 kg e produção de 2 litros de leite é de 280 g/dia. Desta forma, o consumo de
35
proteína bruta verificado neste experimento atendeu as exigências das cabras para esse
nutriente, exceto nos tratamentos com 67 e 100 % de substituição, em que observou-se menor
consumo de proteína bruta na dieta com farelo de mamona.
Tabela 3- Valores médios, erro padrão, e análises de regressão do peso vivo das cabras,
consumo de matéria seca, nutrientes e de energia metabolizável das dietas
contendo farelo de mamona em substituição ao farelo de soja
Valor de P1
Níveis de Substituição (%)
Variáveis
Erro padrão
0
33
67
100
L
Q
PV(kg)
40,41
43,59
41,10
39,05
5,9674
0,5528
0,2957
CMS (kg/dia)
2,27
2,38
2,27
2,29
0,2613
0,9815
0,8305
(%/PV)
5,06
4,66
4,95
4,88
0,7255
0,5844
0,5175
115,00
110,67
116,33
113,83
7,1551
0,9440
0,8990
CMO (kg/dia)
2,16
2,23
2,14
2,16
0,4837
0,9232
0,8993
CPB (g/dia)
288
313
274
255
0,058
0,2174
0,3728
10,15
10,46
9,56
9,16
1,8579
0,2669
0,6417
CEE (g/dia)
60
63
60
57
0,0138
0,6498
0,5974
CFDN (g/dia)
803
877
873
937
0,2280
0,3541
0,9532
CFDN (%/PV)
1,98
2,03
2,14
2,39
0,4938
0,1540
0,6372
Consumo de CT (kg/dia)
1,574
1,634
1,577
1,575
0,3474
0,9319
0,8288
Consumo de CNF (kg/dia)
0,771
0,756
0,704
0,638
0,1336
0,0802
0,6448
CEM (Mcal/dia)
3,67
3,83
4,17
3,67
0,3689
0,8390
0,3771
(g/PV 0,75)
CPB (g/ PV 0,75)
PV = peso vivo, CMS = consumo de matéria seca, CMO = consumo de matéria orgânica, CPB = consumo de proteína bruta, CEE =
consumo de extrato etéreo, CFDN = consumo de fibra em detergente neutro, CT = carboidrato total, CNF = carboidrato não fibroso,
CEM = consumo de energia metabolizável.
1
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras
Os valores médios de FDN de 57,68% (Tabela 2), onde 40% do FDN foi proveniente do
volumoso (feno tifton) e CNF de 20,86% denotam adequação das dietas a uma boa
36
estabilidade das condições de fermentação no ambiente ruminal. O valor de FDN das dietas
experimentais podem ser considerados elevados, entretanto, estes não influenciaram os
parâmetros de consumo de MS e MO, considerados determinantes do desempenho animal.
O valor médio observado para a ingestão de FDN (2,13% do PV) encontraram-se acima
dos valores citados na literatura. No entanto, para caprinos estes valores não estão bem
definidos, face às diferenças no comportamento ingestivo e na capacidade de processamento
da fibra no trato gastrointestinal (CARVALHO et al., 2006; DIAS et al., 2010).
A substituição do concentrado proteico alterou o coeficiente de digestibilidade dos
carboidratos não fibrosos proporcionando efeito quadrático conforme equação: 2y= 45,25 +
0,176x – 0,002x2 (Tabela 4), apresentando maior coeficiente na dieta com 100% de
substituição.
Tabela 4-Valores médios dos coeficientes de digestibilidade dos nutrientes, em função de
níveis de substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta de cabras
em lactação
Valor de P1
Níveis de Substituição (%)
Varáveis
Erro padrão
0
33
67
100
L
Q
CDMS
56,64
54,92
58,19
58,12
11,24
0,8191
0,2124
CDMO
55,31
52,79
56,17
55,96
11,74
0,7198
0,1951
CDPB
59,27
61,26
59,32
63,72
8,394
0,9001
0,7284
CDFDN
41,04
45,09
45,00
44,07
5,597
0,2094
0,2878
CDCT
52,43
52,03
61,48
52,37
13,38
0,6976
0,1652
CDCNF
64,61
41,81
70,83
68,25
6,2057
0,0021
<0,0002
CDEE
69,33
68,06
71,97
84,10
11,28
0,02983
0,1612
CDMS=coeficiente de digestibilidade da MS, CDMO= coeficiente de digestibilidade da MO,
CDPB=coeficiente de digestibilidade da PB, CDFDN=coeficiente de digestibilidade da FDN,
CDCT=coeficiente de digestibilidade do CT, CDCNF=coeficiente de digestibilidade dos CNF e
CDEE=coeficiente de digestibilidade do EE.
1
2
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras
y= 45,25 + 0,176x – 0,002x2 (r2=0,79); 3 y=52,1959 + 0,023x (r2= 0,88)
37
Os carboidratos não fibrosos correspondem a fração rapidamente fermentável no
rúmen, representada principalmente pelos açúcares, amido e pectina. Os carboidratos não
fibrosos, principalmente os açúcares, são fermentados rápidos e completamente no rúmen
pelos micro-organismos, sendo convertidos em ácido graxos voláteis e, ocasionalmente, os
açucares em quantidades significativas de lactado. Porém, Os demais carboidratos são
convertidos principalmente em ácido graxo propionato, que são precursores da glicose.
Os ácidos graxos voláteis, de modo geral, são a maior fonte energia para os ruminantes
(BERGMAN, 1990; SUTTON et al., 2003).
O conteúdo carboidrato não fibroso é uma característica intrínseca do alimento que,
de acordo com Carrera et al. (2012), a composição em CNF do farelo de mamona é de
11,33% da MS em quanto que o do farelo de soja é de 27,88 % da MS e a composição em
amido é de 2,45 % da MS para o farelo de mamona e de 14,50 % da MS para o farelo de
soja e além das composições serem diferentes, a digestibilidade destes nutrientes são
diferentes entre os alimentes.
Na variável coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo observou-se incremento
apresentando maior valor na dieta com farelo de mamona. Esse fato pode ser explicado
provavelmente, pela composição do o óleo de mamona, que apresenta na composição dos
ácidos graxos insaturados maior percentual de ácidos graxos monoinsaturados com
percentual de 80%, deles representados pelo ácido graxo ricinoleino (C18:1). O mesmo é
específico das sementes de mamona, diferenciando do óleo de soja que apresenta maior
percentual de ácidos graxos polinsaturados do total de ácidos graxos insaturados do perfil
do extrato etéreo das dietas.
38
Os valores para o coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo relatados por Maia
et al. (2010), quando adicionaram óleo de mamona na dieta de cabras leiteiras, foram
similares aos observados neste experimento. De acordo com Oliveira et al. (2010b), o
maior CDEE das dietas com farelo de mamona em relação à dietas com farelo de soja
possivelmente, esteja relacionado à maior composição de ácidos graxos monoinsaturados
na mamona.
Considerando que a digestibilidade efetiva do alimento é determinada pelas
características do mesmo e pela capacidade de atuação dos sistemas enzimáticos
microbiano e animal (DETMANN et al., 2009). A diferença observada pode estar
relacionada com alterações nestes dois fatores, dependendo do nutriente específico.
Outra explicação para o aumento do coeficiente de digestibilidade do EE com a
utilização do farelo de mamona é o tratamento do mesmo com o hidróxido de cálcio,
podendo estar relacionado à formação de sabões de cálcio no rúmen, devido à grande
proporção de ácidos graxos insaturados no farelo de mamona.
Determinados ácidos graxos são tóxicos aos micro-organismos ruminais. Através da
biohidrogenação, estes micro-organismos convertem os ácidos graxos insaturados em
ácidos saturados, que consequentemente, são menos tóxicos. Porém, este mecanismo é
reduzido à metade quanto ocorre a formação de sabões de cálcio. Sendo assim, quando
estes sabões chegam ao intestino, devido ao baixo pH abomasal e duodenal (3-5), os
mesmos são dissociados e os ácidos graxos insaturados são liberados para serem
absorvidos. De acordo com Diniz et al. (2011), a formação de sabões de cálcio na dieta
com farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio aumentou a digestibilidade do
extrato etéreo em bovinos em relação aos animais alimentados com farelo de soja. Não se
observou efeito (P>0,05) para os coeficientes de digestibilidade aparente da CDMS,
CDMO, CDCT, CDPB E CDFDN.
39
Para a análise econômica, verificou-se variação para a produção de leite, custo da
ração, receita média bruta (Tabela 5). Já para a margem bruta média (MBM) e
rentabilidade média (RM) notou-se efeito da substituição do farelo de soja por farelo de
mamona, cujos valores decresceram de R$ 0,83 para R$ -0,17 e de 39,50 para 20,17
percentual da RM do leite produzido.
A avaliação de custo de alimentos fornecidos na pesquisa reforçou a importância
desta análise, visto que o preço do farelo de mamona é R$ 0,15 mais barato do que o farelo
soja. No entanto, houve redução na produção de leite (0,600 g/dia) entre os tratamentos
com soja e sem soja, que reduziu a MBM a RM do leite produzido. Neste sentido, pode-se
utilizar o farelo de mamona em nível de 33% na dieta de cabras em lactação, sem variação
na rentabilidade. Pode-se inferir que em momentos onde a soja apresente custos mais
elevados, nos momentos de entressafra, justifique seu uso na ração de caprinos em
lactação.
De acordo com Alcalde et al. (2005) ao estudarem a variação de custo de produção
de leite de cabras Saanen, os mesmos relataram que o preço dos alimentos possuem forte
impacto na margem do custo da ração (MCR) e obtiveram os valores entre R$ 0,97 a
R$1,78 por dia. Costa et al. (2011) avaliando a substituição do milho por palma forrageira
na dieta de cabras Saanen, relataram que a margem bruta média (MBM), variou de R$ 0,94
a R$ 2,16 por dia, confirmando o efeito do preço dos ingredientes na MBM. Neste
experimento, também, foi denominado de MBM, cujos valores diminuíram com a adição
do farelo de mamona, aumentando o gasto com ração em 17 centavos por kg ao dia.
Tabela 5 - Valores médios da análise econômica da produção de leite das cabras
alimentadas com farelo de mamona em substituição do farelo de soja
Varáveis
Níveis de Substituição (%)
Erro padrão
Valor de P1
40
0
33
67
100
Produção de leite (kg)
1,94ª
1,82a
1,35b
1,34b
0,4000
<0,0012
0,5119
Custo da ração (R$)
1,70
1,68
1,56
1,55
0,3579
0,4389
0,9806
Receita bruta média (R$)
2,90a
2,72a
2,03b
2,02b
0,60
<0,0013
0,5119
Margem bruta média (R$)
1,20a
1,05a
0,47b
0,47b
0,3949
<0,0014
<0,0014
Rentabilidade média (%)
69,93a
62,09a
34,12b
30,07b
21,93
<0,0015
0,01327
1
L
Q
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras
y= 1733,5 – 3,49x (r2 = 0,72); Receita Bruta Média (RBM) R$ = produção de leite diária versus o preço do kg de leite (R$ 1,50);
2
Margem Bruta Média R$ = RBM – custo com alimentação (CA); Rentabilidade Bruta Média (%) = (MBM/CA)*100; considerando que
os preços dos ingredientes utilizados na formulação das rações foram de R$ 0,60; R$ 0,45 ; R$ 0,26; R$ 1,00; R$ 0,13, R$ 2,00 e
R$1,50 por kg para o farelo de soja, farelo de mamona, milho, suplemento mineral, feno, ureia pecuária e leite, respectivamente.
A RM decresceu com a adição do farelo de mamona apresentando menor valor a
partir do nível de 67% de substituição do farelo de soja, devido ao decréscimo na produção
de leite das cabras que consumiram maior percentual de farelo de mamona, conforme
equação de regressão y= 1733,5 – 3,49x. Considerando a produção de leite, o farelo de
mamona em substituição ao farelo de soja deve ser utilizado no nível de até 33% no
período em que o farelo de soja estiver com preço de 60 centavos por kg. Considerando a
variação no valor do farelo de soja no período de estiagem na região Nordeste do Brasil,
podendo atingir valores superiores a um real onerando o custo de produção de leite. A soja
pode sofrer interferência do mercado internacional, como ocorreu em 2012 no Brasil, com
variação de preço de R$ 500,00 a R$ 1200,00 (quinhentos a um mil e duzentos reais) por
tonelada. Já o farelo de mamona permaneceu com valores estáveis, de R$ 450,00
(quatrocentos reais) a tonelada.
Os resultados positivos, de até 33% de farelo de mamona, que compõem os custos de
produção somados aos aspectos nutricionais do farelo de mamona ressaltam sua
importância na constituição de dietas para caprinos de leite, principalmente para as regiões
onde possuem agroindústria de extração de óleo mamona.
41
Notou-se que a produção de leite decresceu com o consumo de farelo de mamona.
Esse fato pode ser explicado devido a fatores antinutricionais do farelo, já que a presença
de lectina aglutinina (RCA120) não foi avaliado. Um dos sintomas da presença dessa
moléculas na dieta é a diminuição da absorção de nutrientes, principalmente o nitrogênio.
De acordo com Abdalla et al. (2008), as tortas e farelos oriundos da produção de biodiesel
apresentam características nutricionais adequadas para inclusão na dieta de ruminantes,
entretanto cuidados devem ser observados quanto a possíveis efeitos deletérios devido à
presença de metabólitos bioativos em alguns materiais. Recomenda-se estudos futuros para
a introdução segura destes subprodutos na cadeia produtiva.
CONCLUSÕES
A utilização do farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio em substituição ao
farelo de soja na dieta de cabras alpinas em lactação não interfere no consumo de matéria
seca e coeficiente de digestibilidade dos nutrientes. Porém, afeta a rentabilidade média, a
partir de 67% de substituição do farelo. Portanto, pode ser usado na alimentação das cabras
em lactação em até 33%.
42
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46
Capítulo 3
47
PRODUÇÃO DE PROTEÍNA MICROBIANA, BALANÇO DE NITROGÊNIO E
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA E RENAL DE CABRAS ALIMENTADAS
COM FARELO DE MAMONA
PRODUÇÃO DE PROTEÍNA MICROBIANA, BALANÇO DE NITROGÊNIO E
AVALIAÇÃO DE LESÃO HEPÁTICA E RENAL DE CABRAS ALIMENTADAS
COM FARELO DE MAMONA
RESUMO
Objetivou-se avaliar a interferência da substituição do farelo de soja por farelo de
mamona sobre a síntese de proteína microbiana, balanço de nitrogênio, lesão hepática e
renal em cabras leiteiras. Foram utilizadas vinte e quatro cabras Alpinas com peso médio
de 42 ± 7 kg, 2ª e 3ª lactação, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com
quatro tratamentos (0, 33, 67 e 100% níveis de substituição do farelo de soja por farelo de
mamona) e seis repetições. Os primeiros 17 dias foram de adaptação às dietas
experimentais e às gaiolas e os demais 45 dias de coletas de dados. A produção de proteína
microbiana não sofreu interferência das dietas experimentais. No balanço de nitrogênio
notou-se decréscimo no nitrogênio retido, porém não observou-se alteração nos demais
48
concentrações de nitrogênio. A lesão hepática e renal foi observado no hemograma
leucocitose, linfocitose e neutropenia, não havendo modificações nos demais itens do
hemograma. Na avaliação dos parâmetros bioquímicos observou-se interferência das dietas
na concentração de ureia, glicose, creatinina e na enzima aspartato aminotransferase. Não
foi observado lesão hepática e nem renal com o consumo do farelo de mamona pelos
animais, bem como não houve alteração na síntese de proteína microbiana, reduzindo
apenas o nitrogênio retido. Entretanto, observou-se presença de um processo inflamatório
leve, com provável origem intestinal ou de outra parte do sistema digestivo.
.
Palavras
chaves:
lectinas,
toxicologia,
aspartato
aminotransferase
e
alanina
aminotransferase
HAEMATOLOGICAL INVESTIGATIONS, EVALUATION OF LIVER AND
RENAL GOATS FUNCTION FED WITH CASTOR MEAL REPLACEMENT IN
THE SOYBEAN MEAL
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the effect of replacing soybean meal by meal castor on
microbial protein synthesis, nitrogen balance, liver and kidney damage in dairy goats.
Twenty-four alpine goats were used with an average weight of 42 ± 7 kg , 2nd and 3rd
lactation, distributed in a completely randomized design with four treatments ( 0 , 33 , 67
and 100 % replacement levels of soybean meal design bran castor ) and six replications .
The first 17 days of adaptation to the experimental diets and cages and the remaining 45
days of data collection. The microbial protein production was not affected in the
experimental diets. In nitrogen balance was noted decrease in nitrogen retention, but there
49
was no change in the other concentrations of nitrogen. Liver and kidney damage has been
observed in leukocytosis, lymphocytosis and neutropenia, with no changes in other items
of the. In the assessment of biochemical parameters was observed interference levels on
concentration of urea, glucose, creatinine and aspartate aminotransferase enzyme. No
hepatic or renal injury and with the consumption of castor meal for animals was observed
and there was no change in microbial protein synthesis only reducing nitrogen retained.
However, we observed the presence of a mild inflammatory process, with possible
intestinal origin or other part of the digestive system.
Key word: lectins, toxicological, aspartate aminotransferase and alanine aminotransferase
INTRODUÇÃO
O farelo de mamona apresenta se como concentrado proteico alternativo para
diminuir os custos de produção de leite de cabras na região Nordeste do Brasil. Alimentos
alternativos para baratear a produção de alimentos são sempre bem-vindos na
agropecuária. No entanto, estes concentrados geralmente, oriundos de sementes de
oleaginosas possuem em sua composição, mecanismos de defesa contra insetos e fungos,
nomeados como fatores antinutricionais.
Os fatores antinutricionais presentes em alimentos podem provocar efeitos
fisiológicos adversos ou diminuir a biodisponibilidade de nutrientes. A maior questão
sobre os riscos à saúde provocados por fatores antinutrientes é o desconhecimento dos
níveis de tolerância, do grau de variação do risco individual e da influência de fatores
50
ambientais sobre a capacidade de detoxificação do organismo animal. Dentre os fatores
antinutricionais os inibidores de proteases e as lectinas são considerados instáveis ao
tratamento térmico. A hipertrofia pancreática causada pelos inibidores de tripsina tem sido
relatada em alguns estudos com animais. As alterações da função fisiológica em animais
causadas por ação de lectinas no intestino parecem estar relacionadas à especificidade
destas substâncias com as células da mucosa intestinal.
A ricina, lectina presente no farelo de mamona, é uma potente proteína citotóxica
inibidora da síntese proteica. Sua inativação é fato comprovado com tratamentos químicos,
físicos e biológicos. No entanto, os efeitos no organismo animal após o tratamento é algo
ainda desconhecido, já que a mólecula da ricina após o tratamento torna-se uma lectina
aglutinativa pela capacidade de aglutinação com a mucosa do intestinos delgado.
A utilização do farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio em substituição ao
farelo de soja na alimentação de ruminantes foi avaliado sob o efeito no coeficiente de
digestibilidade dos nutrientes, consumo de matéria seca, desempenho animal e produção de
proteína microbiana por Barros et al. (2011), Diniz et al. (2011) em bovinos; Oliveira et al
(2010), Silva et al (2011) em ovinos, relataram que o farelo de mamona pode ser utilizado
na alimentação de ruminantes. Desta forma, avaliou-se o efeito da substituição do farelo de
soja pelo farelo de mamona sobre a produção de proteína microbiana, balanço de
nitrogênio e função hepática e renal de cabras Alpinas em lactação.
51
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Caprinocultura do Centro de
Ciências Humanas Sociais e Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, CCHSA/UFPB,
em Bananeiras, Paraíba, no período de maio a julho de 2009.
Foram utilizadas 24 cabras Alpinas das quais eram de segundo e terceiro parto, com
75 ±10 dias de lactação, com peso vivo de 42 ±7 kg. Os animais foram identificados,
pesados e tratados contra ecto e endoparasitas e alojados em galpão coberto em gaiolas
individuais (1,26 m2) com piso ripado de madeira, comedouros e bebedouros. As cabras
foram distribuídas em quatro tratamentos (0,0; 33,0; 67,0 e 100% de substituição do farelo
de soja por farelo de mamona) em um delineamento inteiramente casualizado (DIC), com
52
seis repetições. O período experimento foi de 17 dias de adaptação mais 45 dias de coleta
de dados.
As dietas foram formuladas com feno de capim tifton (Cynodon dactylon, (L) Pers),
como fonte de volumoso e farelo de soja, grãos de milho moídos, farelo de mamona com
proporção de volumoso:concentrado de 50:50. A dieta foi calculada segundo
recomendações do NRC (2007), para atender exigências de cabras em lactação com
produção de 2 kg/cabra/dia e 4% de gordura no leite.
A proporção e composição dos ingredientes das dietas experimentais, em porcentagem na
matéria seca como também a composição das dietas encontram-se na Tabela 1.
Para a inativação da ricina foi utilizado, uma solução de Ca(OH)2 (40 g por litro de
água), na proporção de 1 litro de solução para 1 kg de farelo de mamona com base na
matéria natural, conforme recomendações de Anandan et al. (2005). Após a mistura do
farelo com a solução de Ca(OH)2 (pH 11), o material permaneceu por um período de 12
horas em baldes no galpão, sendo seco ao sol. Utilizou-se como fonte de Ca(OH)2 cal
hidratada que é utilizada na construção civil. Os ingredientes que compuseram as dietas
experimentais foram coletados para posteriores análises.
Tabela 1- Proporção dos ingredientes das dietas experimentais, em porcentagem na matéria
seca
Níveis de substituição do farelo de soja por farelo de mamona (%)
Alimentos (kg)
0
33
67
100
Feno de tifton
44,66
44,06
43,73
43,41
Farelo de soja
13,87
9,18
4,47
0,00
Farelo de mamona
0,00
4,98
8,79
13,02
Grão de milho moído
27,06
28,00
28,60
27,95
Ureia
0,00
0,12
0,25
0,36
1,29
1,21
1,12
1,04
Suplemento mineral
*
Nutrientes
Composição das Dietas (%)
Matéria Seca (%)
86,94
87,60
87,00
85,84
Nutrientes Digestíveis Totais (%)
77,43
76,47
76,97
77,50
53
Proteína Bruta (%)
14,16
13,63
12,65
11,81
Extrato Etéreo (%)
1,61
1,64
1,63
1,62
Fibra em Detergente Neutro (%)
53,86
55,18
55,87
56,42
Fibra em Detergente Ácido (%)
31,14
32,59
33,55
34,64
Carboidratos Totais (%)
77,47
77,76
78,67
79,40
Carboidratos Não Fibrosos (%)
46,33
45,37
45,12
44,77
Energia Metabolizável Mcal/kg
3,51
3,50
3,47
3,40
Matéria Mineral (%)
6,76
6,97
7,04
7,17
Ca (mg/kg)
21,73
22,24
22,46
22,60
P (mg/kg)
1,12
1,05
0,97
0,92
Energia metabolizável (mcal/kg) – obtida a partir da energia digestível da dieta multiplicado pela eficiência de utilização (NRC, 2001)
0,82.
*Composição do suplemento mineral para caprinos (Vitamina A 135.000,00 UI; Vitamina D3 68.000,00 UI; Vitamina E 450,00 UI;
cálcio 240,00g; fosforo 71,00g; Potássio 28,20 g; Enxofre 20,00g; Magnésio 20,00g; Cobre 400,00 mg; cobalto 30,00 mg; cromo 10,00
mg; ferro 250,00 mg; iodo 40,00 mg; manganês 1.350,00 mg; selênio 15,00 mg; zinco 1.700,00 mg; flúor 710,00 mg em cada kg de
suplemento).
A alimentação foi fornecida na forma de mistura completa, sendo duas ofertas
diárias, às 7:00 e o restante às 15:00 h. Permitiu-se sobras de 20% do ofertado, sempre
calculando-se a partir do consumo do dia anterior.
As amostras de leite da 1ª e 2ª ordenhas de cada animal foram coletadas dois dias
consecutivos, sendo agrupadas em amostras compostas proporcionais à produção de cada
ordenha, a cada 15 dias (três coletas). Uma alíquota de 10 mL de cada amostra de leite foi
retida, misturada com 5 mL de ácido tricloroacético a 25%, filtrada em papel de filtro e
armazenada a -20 ºC para posteriores análises de alantoína e ureia.
As amostras de sangue dos animais foram realizadas após a ordenha da manhã com
os animais ainda em jejum, a cada quinze dias durante o período experimental, sendo
coletado na veia jugular 10 mL de sangue suficiente para dois tubos vacultainer,
identificados por cada animal.
Para as análises do hemograma completo foram coletados tubos com EDTA de cada
animal, e logo após a coleta de sangue foi feita a homogeneização as amostras de sangue
54
permaneceram em resfriamento durante o transporte até o laboratório Veterclin, Campina
Grande-PB, usando a metodologia descrita por Jain (1993).
Para as análises bioquímicas do soro: glicose, ureia, creatinina, aspartato
aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) e bilirubina total foram coletados
outros tubos de sangue sem anticoagulante, que após a coleta e coagulação, foram
colocados em centrifuga por 15 minutos para obtenção do soro sanguíneo. Alíquotas de
aproximadamente 2 mL foram colocadas em ependoff, e armazenadas a -20 ºC e enviados
para o Laboratório Tecnologia Farmacêutica (LTF/UFPB) – LABETOX, onde foram
realizadas as análises utilizando o equipamento Cobras Mira (Roche), pelo método de
espectrometria (RETMAN & FRANKEL, 1957), utilizando kits (Labtest) específicos para
cada metabólico.
Nos últimos três dias experimentais foram coletadas amostras spot de urina,
aproximadamente quatro horas após a alimentação, durante micção espontânea. Alíquotas
de 10 mL das amostras compostas foram diluídas em 40 mL de H2SO4 a 0,036N
(VALADARES et al. 1999). Estas amostras foram elaboradas com pH inferior a três para
evitar a destruição bacteriana dos derivados de purinas urinárias e a precipitação do ácido
úrico. Posteriormente, foram armazenadas a -20 ºC, sendo submetidas às análises de
alantoína, xantina e hipoxantina, ácido úrico, creatinina, ureia e proteína.
As análises de alantoína, ácido úrico, xantina e hipoxantina na urina e de alantoína
no leite foram realizadas pelo método colorimétrico, conforme Chen & Gomes (1992).
A excreção diária de creatinina, expressa em mg/kg de PV, foi de 26,05 (FONSECA
et al., 2006). O volume urinário usado para estimar a excreção diária de derivados de
purinas (DP) foi obtido, para cada animal, multiplicando-se o respectivo PV pela excreção
diária média de creatinina em mg/L (26,05 FONSECA et al., 2006) e dividindo-se esse
produto pela concentração de creatinina (mg/L) na amostra spot de urina.
55
A excreção total DP foi estimada pela soma das quantidades de hipoxantina, xantina,
ácido úrico, alantoína do leite e da urina.
A quantidade de purinas microbianas absorvidas (X, mmol/dia) foi estimada a partir
da excreção de derivados de purinas (Y,mmol/dia), dividido pela taxa de recuperação de
purinas (0,76), por meio da equação propostas Belenguer et al. (2002) para caprinos:
X=Y/0,76
Assumindo que 0,92 é a digestibilidade verdadeira das bases purinas no duodeno e
1,97 (mmol de bases purinas/ g N) a razão entre as bases purinas (164 mmol/g MS) e o
conteúdo de N (83,8 mg/g MS) na população microbiana extraída do rúmen de cabras,
Belenguer et al. (2002) propuseram a seguinte equação:
NM (g/d) = X/(0,92x1,97)
em que X corresponde às purinas microbianas absorvidas (mmol/d).
As concentrações de creatinina e ureia na urina e ureia no leite foram estimadas
utilizando-se kits comerciais (Labtest). A conversão dos valores de ureia em nitrogênio
ureico foi realizada pela multiplicação dos valores obtidos pelo fator 0,4667, sendo o teor
de nitrogênio total estimado pelo método de Kjeldhal (SILVA & QUEIROZ, 2002).
O balanço de nitrogênio (N-retido, g/dia) foi calculado com:
N-retido = N ingerido (g) – N nas fezes (g) – N na urina (g) – N no leite.
Os resultados foram avaliados por meio de análises de variância e de regressão,
utilizando-se o Sistema de Análises Estatística SAS 2007.
56
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As excreções de alantoína, ácido úrico, xantina, hipoxantina, purinas totais e
produção de purina absorvidas, nitrogênio, proteína e eficiência microbiana não foram
influenciados pelas dietas com níveis crescente de substituição do farelo de soja por farelo
de mamona (Tabela 2).
Na variável alantoína do leite de 0,0026 mmol/dia quando aumentou-se a
substituição do concentrado proteico notou-se queda linear, porém insignificante, a mesma
não modificou a produção de derivados de purina total nas cabras em lactação alimentadas
com farelo de mamona, uma vez que a excreção de alantoína no leite parecer não ser um
bom indicador na produção de proteína microbiana (FONSECA et al., 2006). Os valores
de alantoína observados estão próximo aos citados por Fonseca et al. (2006) e Argôlo et al.
57
(2010) para cabras leiteiras alimentadas com diferentes concentrados proteicos, relataram
variação entre 64,50 a 75,90%.
Os valores observados para ácido úrico, xantina e hipoxantina também estão
próximos aos relatados por Argôlo et al. (2010), com variação entre 22 a 34%. Porém,
estes valores são superiores aos encontrados por Molina-Alcaide et al. (2010) em cabras
em lactação, alimentadas com dois blocos alimentares diferindo na concentração de feno
de alfafa, cujos valores situaram-se entre 17 a 22%.
Tabela 2 - Síntese de proteína microbiana em cabras alimentadas com farelo de mamona
em substituição do farelo de soja na dieta
Níveis de Substituição do farelo de soja por
farelo de mamona (%)
Variáveis
0
33
EPM
67
R2
100
Valor de P1
L
Q
Excreções no leite (mmol/dia)
Alantoína
1,30
1,30
0,99
1,11
0,93
0,56
0,05392
0,8231
Excreções urinaria (mmol/dia)
Alantoína
4,33
7,50
4,17
4,67
2,44
-
0,7291
0,2414
Ác.Úr. + Xan+hipo
2,50
4,33
2,67
3,00
1,45
-
0,9278
0,3875
Purinas totais
10,83
15,33
9,83
11,17
4,14
-
0,5321
0,3426
5,44
-
0,5321
0,3426
Purinas microbianas (mmol/dia)
Absorvidas
14,33
20,33
13,00
14,67
Derivados de purinas (% das purinas totais)
Alantoína
77,00
73,33
74,33
74,17
4,63
-
0,4300
0,4149
Ác.Úr. + Xan+hipo
23,00
26,67
25,67
25,83
4,63
-
0,4300
0,4149
Produção de Microbiana (g/dia)
N microbiano
7,83
11,33
7,00
8,17
3,00
-
0,5321
0,3426
PB microbiana
48,94
70,81
45,50
51,06
30,00
-
0,5321
0,3426
58
Eficiência Microbiana
g PB/kg NDT
1
2
49,46
66,07
37,65
48,15
14,00
-
0,2105
0,5910
L,Q efeitos de ordem linear e quadrática relativas a dietas das cabras
y=1,30 – 0,0026X;
A produção de nitrogênio microbiano não foi influenciada pela substituição do farelo
de soja por farelo de mamona, apresentando valores entre 7,00 a 11,33 g/dia, valores
próximos aos encontrados por Felisberto et al. (2011), em cabras em lactação alimentadas
com diferentes concentrados proteicos. Porém, estes valores são inferiores aos valores
encontrados por Molina-Alcaide et al. (2010).
A eficiência microbiana por consumo de NDT não foi afetada pela substituição do
concentrado proteico, sendo observados valores de 37,65 a 66,07, inferiores aos
encontrados por Fonseca et al. (2006). Cabras em lactação alimentadas com quatro
concentrados proteicos diferentes não apresentaram alteração na produção e eficiência
microbiana, segundo Felisberto et al. (2011).
O crescimento microbiano, eficiência e síntese de proteína microbiana estão
associados principalmente com o tipo de substrato, da microbiota ruminal, taxa de
passagem e a quantidade de energia disponível (VAN SOEST et al., 1988). No entanto, o
fator mais importante é a taxa de passagem e energia disponível para a microbiota ruminal
(MIN et al., 2005).
No nitrogênio retido notou-se decréscimo à medida que aumentou-se a concentração
do farelo de mamona na dieta das cabras. A diminuição na concentração de proteína bruta
das dietas com maior percentual de farelo de mamona promoveu um menor consumo de
proteína bruta, diminuindo o nitrogênio retido (Tabela 3).
Tabela 3 – Balanço de nitrogênio em cabras em lactação alimentadas com farelo de
mamona em substituição ao farelo de soja
59
Níveis de Substituição do farelo de soja
Erro
por farelo de mamona (%)
Variáveis
padrão
0
33
67
100
N ingerido (g/dia)
46,00
48,67
40,33
35,67
8,65
N fecal (g/dia)
18,83
19,50
18,17
15,50
N urinário (g/dia)
1,17
1,00
0,83
N leite (g/dia)
8,49
7,78
6,54
N retido (g/dia)
R2
Valor de P1
L
Q
-
0,7707
0,3006
5,89
-
0,6583
0,4469
1,00
0,34
-
0,2567
0,3795
7,05
0,20
-
0,7450
0,9600
2
0,3827
8,50
20,39
14,79
12,12
5,52
0,75
0,0118
NUU (g/dia)
339,00
367,00
262,00
305,00
130,59
-
0,7081
0,8931
NUL (g/dia)
218,83
254,33
213,17
218,00
149,59
-
0,8480
0,8049
1
L,Q efeitos de ordem linear e quadrática relativas a dietas das cabras; NUU = nitrogênio ureico da urina; NUL = nitrogênio ureico do
leite.
2
y=25,24 – 0,09x;
O nitrogênio ingerido, fecal, urinário, do leite não foram afetados pela substituição
do farelo de soja por farelo de mamona (Tabela 3). Para Cordeiro et al. (2007) a eficiência
de utilização de nitrogênio pode estar associada ao perfil de aminoácidos requeridos para a
lactação, pois a partir do momento em que estes não satisfazem as exigências para
produção do leite, os aminoácidos fornecidos pela dieta e/ou pelos micro-organismos
ruminais são utilizados em outras rotas metabólicas.
Os valores de nitrogênio ingerido em g/dia foram próximos ao encontrados por
Souza (2012), onde o autor relatou que apesar dos resultados observados para N retido
terem sido negativos em cabras suplementadas com diferentes óleos vegetais (inclusive de
mamona) na dieta, os resultados observados para eficiência de nitrogênio foram positivos,
indicando que eficiência na utilização do nitrogênio para síntese de leite. Nesta pesquisa
não foi observado a eficiência de utilização do nitrogênio.
O eritrograma das cabras alimentadas com farelo de mamona em substituição ao
farelo de soja não foi alterado pela substituição do concentrado proteico (Tabela 4). Como
o farelo de mamona possui em sua composição a proteína citotóxica ricina, conhecida pela
60
sua potente inibição da síntese de proteína, notou-se (Tabela 4) que não houve alteração na
produção de proteína plasmática, nem na concentração de hemoglobina, indicando que a
síntese de proteína não foi atingida.
No leucograma das cabras alimentadas com farelo de mamona observou-se
incremento de forma linear nos leucócitos totais e linfócitos (Tabela 5), podendo significar
um indicativo de inflamação em alguma parte do animal (JAIN, 1993). O que pode
esclarecer estes resultados são inflamações no intestino delgado provocadas provavelmente
pela lectina RCA
120,
que possui a capacidade de aglutinação na mucosa da parede
intestinal, provocando inflamações (AUDI et al. 2005; ASLANI et al. 2007).
Essa hipótese é reforçada pela análise diferencial dos leucócitos, onde se observa
linfocitose, neutropenia e eosinopenia, indicando uma reposta imunológica humoral com
prioridade na produção de anticorpos. Além disso, o decréscimo nos níveis de segmentados
(neutropenia) e de eosinófilos (eosinofilia) de forma linear, pode indicar provável morte
dessas células frente ao processo inflamatório instalado.
Tabela 4 - Valores médios do eritrograma e proteína plasmática das cabras sobre o efeito
da substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta
Níveis substituição do farelo de soja por farelo de
mamona (%)
Variáveis
EPM
0
33
67
100
Hemácias (106/mm3)
8,04±1,00
8,25±0,72
8,95±1,46
9,05±0,92
Hemoglobina (g/dl)
7,08±0,69
6,83±0,79
7,08±0,99
Hematócrito (%)
21,42±1,79
20,75±1,92
VCM (fl)
24,58±1,07
CHCM (g/dl)
PP (g/dl)
Valor de P1
L
Q
1,82
0,1203
0,9193
7,33±0,61
0,97
0,3723
0,3788
22,92±2,61
22,00±1,66
2,24
0,3788
0,6117
25,08±0,91
24,75±1,35
24,50±0,79
1,66
0,6911
0,4749
32,17±1,11
32,33±1,12
32,33±1,24
32,92±1,06
1,50
0,3312
0,5092
7,92±0,25
7,58±0,45
7,67±0,30
8,00±0,35
0,45
0,3950
0,3044
VCM = Volume Corpuscular Médio
CHCM = Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
PP = proteína plásmatica
1
L,Q efeitos de ordem linear e quadrática relativas a dietas das cabras;
As médias dos metabólicos sanguíneos foram coletadas no inicio do experimento após o período de adaptação e a cada 15 dias até o final
do experimento.
61
Valores de referencia Jain, (1993), Hemácias de 8.000 000 a 18.000 000/mm3 , Hemoglobina de 8,0 a 12,0 g/dL, Hematócrito de 18 a 24
fL, VCM de 18 a 24 fl, CHCM 30 a 35 g/dL e Proteína plasmática de 6,7 a 8,0 g/dL.
Os teores de glicose (mg/dl) sanguínea, diminuíram (P<0,05) com a substituição do
farelo de soja por farelo de mamona. A glicose é um parâmetro sanguíneo que mais sofre
variação em 24 horas devido a alimentação (velocidade individual do animal de consumir)
e reações bioquímicas ocorridas no rúmen.
O metabolismo proteico (ureia) no ruminante envolve a participação do ciclo da
ureia entre o rúmen e o sangue. É sabido que animais alimentados com dieta de alto teor
proteico apresentam maior concentração sanguínea de ureia. Justamente o que aconteceu
com os animais do experimento, à medida que foi substituindo o farelo de soja por farelo
de mamona o teor de proteína bruta foi diminuindo. Então, os animais que apresentam
menor concentração de ureia sérica foram os animais que consumiram dieta com 100% de
substituição de farelo de soja por farelo de mamona com percentual de PB menor de
aproximadamente 12% em relação à dieta controle com farelo de soja (14%). Os valores
observados para ureia encontram se entre a normalidade (KANECO, 1996, RADOSTITS
et al., 2002; GARCIA-NAVARRO, 2005, PUGH, 2005). Porém, analisando o ponto de
máximo dos teores de glicose do sangue das cabras observamos o ponto ótimo encontra-se
entre o percentual de 33 a 67% de substituição para o teor de glicose sanguina.
Tabela 5 – Valores médios do leucograma de cabras em lactação sobre o efeito da
substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta
Níveis substituição do farelo de soja por farelo de mamona
3
(%)
Varaiável (/mm )
Leucócitos totais
Bastonetes
Segmentados
Linfócitos
2;
EPM
0
33
67
100
11,99
10,83
11,10
13,03
58,25
61,41
0,00
6610,37
5708,00
6125,37
4832,00
4654,33
5149,87
P1
L
Q
2,77
0,3505
0,05973
0,00
0,84
0,1778
0,7353
5705,00
10,23
0,00204
0,6640
10,21
5
0,5941
6969,83
0,0011
62
Eosinófilos
97,62
128,50
113,62
123,33
1,70
0,5221
0,6734
Monócitos
283,00
190,08
236,12
221,92
1,41
0,8556
0,8387
1
L,Q efeitos de ordem linear e quadrática relativas a dietas das cabras
2
Leucócitos (106 /mm3); 3 y=12008,95 – 0,70X (r2=0,19); 4 y=57,24 – 0,071X (r2=0,90); 5 y=39,25 +0,066X (r2=0,92).
Valores de referência Jain, (1993) para Leucócitos Totais de 4.000 a 13.000/ mm3 , Bastonetes de 0 – 299/mm3 , Segmentados 1.3000 –
13.000/mm3 , Linfócitos de 2.000 – 9.000/mm3 , Eosinófilos de 50 – 650/mm3 , Monócitos de 0 – 550/mm3
A glicose e a ureia sanguínea são utilizadas na nutrição animal para indicar a relação
entre nitrogênio e energia dietética, direcionando a utilização eficiente da dieta de animais
ruminantes. A variação desses metabólicos são provocadas principalmente pela
alimentação. Os valores encontrados observados para glicose (Tabela 6) estão abaixo da
normalidade, de acordo com descrição de Kaneco (1996), que é de 50,09 a 74,95 mg/dL
para glicose e de 28,26 a 49,88 mg/dL para a ureia. Os valores encontrados (33,80 a 56,16
mg/dL) para glicose pode ser explicado pelo horário de coleta de sangue, logo após a
ordenha. Porém, estes animais encontravam-se já com algumas horas sem consumir
alimentos devido ao manejo. Isto pode ter provocado a concentração abaixo da
normalidade para a espécie. No entanto, observou-se decréscimo linear com a substituição
do farelo de soja por farelo de mamona provocado pela dieta, já que a glicose sanguínea é
oriunda da fermentação ruminal dos carboidratos.
Para a avaliação da lesão hepática e renal observaram-se as concentrações das
enzimas ALT e AST e bilirrubina total, como também ureia e creatinina, respectivamente
(Tabela 6). Percebeu-se efeito linear e quadrático no teor de creatinina sérica. Esta
concentração em caprinos varia entre 1,0 a 1,8 mg/dL. Possíveis problemas na filtração
glomerular aumentará a concentração de creatinina na correte sanguínea. Para uma melhor
avaliação da lesão renal, é utilizada a concentração de ureia juntamente com creatinina,
isso porque a ureia, oriunda do metabolismo das proteínas, também é uma substância
tóxica ao organismo e, portanto, excretada pelos rins através da filtração glomerular. Sendo
63
assim, se sua excreção ocorre em baixos níveis, é sinal de que os rins não estão
desempenhando suas funções de forma adequada.
No entanto, os índices de creatinina são mais relevantes do que os de ureia, uma vez
que a segunda, pode ser alterada pela proteínas da alimentação ou disfunção hepática.
O efeito linear e quadrático na concentração da enzima AST, não indica problemas
hepáticos. Os níveis séricos de AST e ALT encontram-se dentro dos padrões normais para
a espécie (167 a 513 UI/L) para AST (KANECO, 1996) e de (22 a 28 UI/L) para ALT
(RADOSTITS et al., 2002; GARCIA-NAVARRO, 2005) e a relação AST/ALT não foi
modificada apresentando valor médio de 4,94 UI/L.
Os valores para ALT não foram modificados com o uso do farelo de mamona na
dieta das cabras em lactação. Os resultados encontrados, no presente trabalho, para as
enzimas ALT e AST estão condizentes com os observados por Mundim et al. (2007) para
cabras Saanen e indicam que não houve lesão hepática.
Tabela 6 - Valores médios dos metabólicos bioquímicos a respeito da lesão hepática e renal
de cabras leiteiras sobre o efeito da substituição do farelo de soja por farelo de
mamona na dieta.
Níveis substituição do farelo de soja por farelo de mamona
(%)
Variáveis
0
US(mg/dL)
52,03
33
48,55
EPM
67
58,82
100
45,33
Valor de P1
L
2,60
Q
0,0168
2
0,4515
3
0,4367
GS(mg/dL)
56,16
45,11
41,08
33,80
2,62
0,0000
CrS(mg/dL)
0,94
0,89
0,94
0,72
0,1689
0,02804
0,00205
BT (UI/L)
0,39
0,56
0,39
0,39
0,2568
0,9641
0,1819
6
0,00337
0,2496
AST (UI/L)
106,39
113,11
114,89
81,39
28,0200
0,0157
ALT (UI/L)
24,55
22,22
22,22
16,33
6,4950
0,9266
As médias dos metabólicos sanguíneos foram coletadas no início do experimento após o período de adaptação e a cada 15 dias até o final
do experimento; US = ureia sanguínea, GS = glicose sanguínea, CrS creatinina sanguínea, BT Bilirubina Total, AST= aspartato
aminotransferase, ALT alanina aminotransferase; EPM = erro padrão da média.
1
= L,Q efeitos de ordem linear e quadrática relativas a dietas das cabras
= y= 55,71 – 0,301X (r2=0,96); 3= y= 52,63 – 0,027X (r2= 0,05); 4 y=0,96 – 0,0018X (r=0,56) 6 y=104,88 – 0,2187X (r=0,37)
2
64
Assim, diante das avaliações realizadas para a observar as lesões hepáticas e renal
como também, a produção de proteína microbiana e balanço de nitrogênio em cabras
alimentadas com farelo de mamona pode-se considerar o farelo de mamona tratado com
hidróxido de cálcio como um alimento alternativo para substituição do farelo de soja.
CONCLUSÕES
Não foi observada lesão hepática e nem renal com o consumo do farelo de mamona
pelos animais, bem como não houve alteração na síntese de proteína microbiana, reduzindo
apenas o nitrogênio retido. Entretanto, observou-se presença de um processo inflamatório
leve, com provável origem intestinal ou de outra parte do sistema digestivo.
65
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69
Capítulo 4
70
QUALIDADE DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM FARELO DE
MAMONA EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA
QUALIDADE DO LEITE DE CABRAS ALIMENTADAS COM FARELO DE
MAMONA TRATADO COM HIDRÓXIDO DE CÁLCIO EM SUBSTITUIÇÃO AO
FARELO DE SOJA
RESUMO
Objetivou-se avaliar interferência da alimentação de cabras com farelo de mamona
sobre as características físico-químicas, perfil dos ácidos graxos e análise sensorial de seu
leite. Foram utilizadas vinte e quatro cabras Alpinas com peso vivo médio de 42 ± 7 kg,
nas 2ª e 3ª lactação, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos (0, 33, 67 e 100% níveis de substituição do farelo de soja por farelo de
mamona) e seis repetições. Os primeiros 17 dias foram de adaptação às dietas
experimentais e os demais 45 dias de coletas de dados, observou-se redução linear na
produção de leite e incremento no teor de lipídeos, e cálcio (P<0,05). Os demais
constituintes da composição química do leite mostraram-se semelhantes (P>0,05). No
perfil dos ácidos graxos os percentuais dos ácidos graxos C11, C18:1, C18:1OH, C18:3 e
71
C20 aumentaram de forma linear, enquanto que o ácido graxo C16 diminuiu, influenciando
na redução do índice de aterogenicidade da gordura do leite (P<0,05). Na análise sensorial
verificou-se efeito do farelo de mamona sobre o odor característico, que apresentou-se
entre levemente forte a moderadamente forte; o sabor mostrou-se moderadamente doce e a
aceitação global, ficou entre gostar levemente a moderadamente. O farelo de mamona
tratado com hidróxido de cálcio na dieta de cabras promoveu aumento no teor de lipídeos,
modificou o perfil de ácidos graxos, evidenciando-se incremento nos ácidos polinsaturados
do leite de cabras, diminuindo o índice de aterogenicidade da gordura do leite. Como
também, exerceu influência positiva no perfil sensorial do leite promovendo maior
aceitação global.
Palavras chave: ácidos graxos, resíduos, Ricinus communis, sabor
QUALITY MILK FROM GOATS FED WITH CASTOR MEAL TREATED WITH
CALCIUM HYDROXIDE TO REPLACE SOYBEAN MEAL
ABSTRACT
The objective of this research was to evaluate the physical and chemical
characteristics, fatty acid profile and sensory analysis of milk from goats fed castor meal.
Were used twenty-four alpine goats live weight of 42 (± 7 kg), 2nd and 3rd lactation,
distributed in a completely randomized design with four treatments (0, 33, 67 and 100%
replacement levels of soybean meal by castor meal) and six replications. The first 17 days
of adaptation to the experimental diets and the remaining 45 days of data collection. We
observed a linear decrease in milk yield (p <0.05) and an increase in lipid levels, and
calcium. While, the other constituents of the chemical composition of milk is not noticed
affect (p> 0.05). In the fatty acid profile was noted that the percentage of C11 fatty acids,
C18: 1, C18: 1OH, C18: 3 and C20 increased linearly while the decreased C16 fatty acid,
72
as well as the atherogenicity index fat of milk. In sensory analysis pointed to the effect of
castor meal in which panelists observed effect on attributes characteristic odor slightly
strong to moderately strong, for the flavor attribute reported moderately sweet taste is still
stressed global acceptance in which the tasters liked slightly moderately from the milk of
goats fed castor meal. The use of castor bean meal treated with calcium hydroxide
increases the lipid content and improves the fatty acid profile and sensory goats milk
decreasing atherogenicity index of milk fat.
Key words: fatty acids, milk, waste, Ricinus communis
INTRODUÇÃO
A alimentação das cabras tem influência na qualidade do leite, considerando que as
alterações não são apenas quantitativas, mas também, nas características qualitativas do
leite (MORAND-FEHR et al., 2007). O tipo de alimentação e o sistema de criação adotado
pelo produtor apresentam, particularmente, efeitos na composição e na qualidade do leite
de ruminantes, não sendo apontado apenas fatores nutricionais, mas as modificações a
partir dos aspectos fisiológicos e metabólicos do processo digestivo que podem auxiliar no
entendimento e na interpretação das modificações na qualidade do leite (CHILLIARD et
al., 2001; SCHMIDELY & SAUVANT, 2001).
73
Assim, pesquisadores em todo o mundo avaliam fontes alternativas de suplemento
principalmente, proteicos e energéticos para serem utilizados no período de escassez de
alimentos nas regiões semiáridas. Essas fontes alternativas de proteína para alimentação
aninal não devem interferir no desempenho animal, reduzir os custos de produção,
maximizar a produção e melhorar a qualidade do leite e seus derivados como também,
diminuir a utilização da soja na alimentação animal. Neste contexto o farelo de mamona é
um resíduo da extração do óleo das sementes de mamona produzido principalmente nas
regiões semiáridas, é rico em proteína bruta com teores entre 35 a 40% apresentando alto
coeficiente de digestibilidade em pequenos ruminantes (OLIVEIRA et al., 2010), maior
concentração de ácido graxos insaturados, comparado com o farelo de soja (SANTOS et
al., 2011).
Este produto possui preço de mercado com pouca variação durante o ano e alta
disponibilidade na região Nordeste do Brasil. As características do farelo de mamona
qualificam-no como uma boa fonte alternativa de concentrado proteico para a pecuária
leiteira, especialmente para a caprinocultura, em que a produção é em sua maioria
realizada pela agricultura familiar.
Os lipídeos presentes na casca da mamona utilizada na dieta de cabras em lactação
em substituição ao volumoso apresentaram efeito sob a produção de leite e consumo de
matéria seca. Este efeito foi correlacionado ao aumento na composição de ácidos graxos
insaturados na dieta com 100% de casca de mamona (SANTOS et al., 2011).
Queiroga et al. (2009) ressalvam que a alimentação é fator preponderante na
manipulação dos componentes do leite. Há um entendimento dominante de que o teor de
lipídeo é o componente do leite que mais sofre influência da alimentação. Essas alterações
não ocorrem somente com relação a sua concentração, mas também com a composição dos
ácidos graxos. O comprimento da cadeia carbônica (cadeia curta ou longa), grau de
74
saturação (saturado ou polinsaturados) e isomeria geométrica (cis ou trans) dos ácidos
graxos que exercem mudanças nas propriedades tecnológicas da gordura como textura e
flavour da manteiga e queijo, em razão dos diferentes pontos de fusão desses componentes
(COULON & PRIOLO, 2002).
Os principais fatores que modificam a composição da gordura são, a natureza da
fonte lipídica e a fonte de fibras das dietas (MORAND-FEHR et al., 2000). Neste contexto,
modificação na qualidade nutricional do leite de cabras com ênfase em insumos regionais
apresenta-se como alternativa para contribuição à caprinocultura leiteira nacional e o
fortalecimento desta cadeia produtiva (PEREIRA et al., 2010). Assim, objetivou-se avaliar
a qualidade do leite de cabras alimentadas com níveis crescentes de substituição do farelo
de soja por farelo de mamona.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido no Laboratório de Caprinocultura do Centro de Ciências
Humanas Sociais e Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, CCHSA/UFPB, em
Bananeiras, Paraíba, utilizando-se 24 cabras Alpinas de segundo e terceiro parto, com 75
(±10) dias de lactação, com peso vivo médio de 42 ±7 kg. Os animais foram identificados,
pesados e tratados contra ecto e endoparasitas e alojados em galpão coberto em gaiolas
individuais de madeira (1,26 m2) com acesso a comedouros e bebedouros. O período
experimental foi de 17 dias de adaptação às dietas e os demais para coleta de amostras de
leite a cada 15 dias.
75
As dietas foram formuladas com feno de capim tifton (Cynodon dactylon, (L) Pers),
como fonte de volumoso com relação volumoso:concentrado de 50:50, calculada segundo
recomendações do NRC (2007), para atender exigências de cabras em lactação com
produção de 2 kg/cabra/dia e 4% de gordura no leite. A composição das dietas encontra-se
na Tabela 1.
O feno foi triturado em máquina forrageira com peneira de crivo de 8 mm e
acondicionado em sacos de náilon (50 kg). O farelo de mamona foi obtido após a extração
do óleo das sementes utilizando–se solventes orgânicos. O farelo de mamona foi doado por
uma agroindústria localizada na região metropolitana de Salvador - Ba (BOM – óleos do
Brasil LTDA).
O tratamento para inativar a ricina do farelo de mamona foi realizado utilizando-se
solução de Ca(OH)2 (40 g por litro de água), na proporção de 1 litro de solução para 1 kg
de farelo de mamona, com base na matéria natural, conforme recomendações de Anandan
et al. (2005). Após a mistura do farelo com a solução de Ca(OH)2, o material permaneceu
por um período de 12 horas em baldes, sendo seco ao sol em temperatura ambiente de
aproximadamente 28 °C. Utilizou-se como fonte de Ca(OH)2 a cal hidratada, que é
utilizada na construção civil.
Tabela 1- Proporção dos ingredientes e composição bromatológica na base da matéria seca
das dietas experimentais
Níveis de substituição (%)
Alimentos (kg)
0
33
67
100
Feno de tifton
51,40
50,29
50,26
50,57
Farelo de soja
15,96
10,48
5,13
0,00
Farelo de mamona
0,00
5,68
10,10
15,16
Grão de milho moído
31,14
31,96
32,87
32,56
Ureia
0,00
0,14
0,29
0,42
Suplemento mineral*
1,48
1,38
1,28
1,21
Total
99,98
99,93
99,93
99,92
Composição das Dietas (%)
76
Matéria Seca (%)
86,94
87,60
87,00
85,84
Nutrientes Digestíveis Totais (%)
50,23
50,55
58,10
50,97
Proteína Bruta (%)
14,00
13,37
12,44
11,76
Extrato Etéreo (%)
1,58
1,59
1,58
1,57
Fibra em Detergente Neutro (%)
61,98
62,99
64,22
65,72
Carboidratos Totais (%)
79,69
80,01
80,73
81,09
Carboidratos Não Fibrosos (%)
17,71
17,02
16,51
15,37
Energia Metabolizável Mcal/kg
1,82
1,83
1,81
1,84
Matéria Mineral (%)
6,76
6,97
7,04
7,17
Ca (mg/kg)
21,73
22,24
22,46
22,60
P (mg/kg)
1,12
1,05
0,97
0,92
*Composição do suplemento mineral para caprinos (Vitamina A 135.000,00 UI; Vitamina D3 68.000,00 UI; Vitamina E 450,00 UI;
Cálcio 240,00g; fosforo 71,00g; Potássio 28,20 g; Enxofre 20,00g; Magnésio 20,00g; Cobre 400,00 mg; cobalto 30,00 mg; cromo 10,00
mg; ferro 250,00 mg; iodo 40,00 mg; manganês 1.350,00 mg; selênio 15,00 mg; zinco 1.700,00 mg; flúor 710,00 mg em cada kg de
suplemento).
A alimentação das cabras foi fornecida na forma de mistura completa, sendo duas
ofertas diárias, metade fornecida às 7:00 e o restante às 15:00 h em consumo a vontade,
permitindo-se sobras de 20% da quantidade ofertada. Para o controle do consumo
voluntário, diariamente e antes do fornecimento matinal, as sobras foram recolhidas e
pesadas. O consumo foi determinado mediante diferença entre o ofertado e as sobras.
A análise da composição centesimal do leite de cabras foi realizada no Laboratório
de Controle de Qualidade de Alimentos da UFPB, Campus de Bananeiras, Paraíba - Brasil.
Foram analisadas 72 amostras, provenientes dos quatro tratamentos, coletadas em três
períodos. As análises foram realizadas de acordo com as seguintes metodologias: o teor de
lipídios foi analisado utilizando-se Lactobutirômetro de Gerber; proteína, pelo método
Micro-Kjeldahl, multiplicando-se 6,28 pelo percentual de nitrogênio - método AOAC,
991.20 e 991.23 (AOAC, 2005). O percentual de lactose foi analisado segundo método de
redução de Fehling (IAL, 2005) e a análise de acidez foi realizada por titulação, sendo o
resultado expresso em °D – método AOAC 947.05 (AOAC, 1998). Sólidos totais, obtido
77
por secagem em estufa a 105 °C até obtenção de peso constante – método AOAC, 925.23
(AOAC, 2005). O extrato seco desengordurado foi determinado por subtração do teor de
lipídios do extrato seco total (IAL, 2005). A densidade foi determinada por leitura em
termolactodensímetro a 15 °C a partir da metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz
(2005). Já a análise da composição percentual de cinzas foi realizada em mufla a
temperatura de 550 a 570 °C a partir da metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz
(2005). O teor de cálcio do leite foi determinado por leitura em espectofotômetro de
absorção atômica conforme metodologia descrita por Sarruge & Haag (1979).
Para a quantificação dos ácidos graxos da gordura do leite de cabra, realizou-se a
extração de lipídios que se encontravam ligados às proteínas e carboidratos do leite.
Utilizou-se para este procedimento uma mistura de metanol e clorofórmio (FOLCH et al.,
1957). Os ésteres metílicos de ácidos graxos foram obtidos através da transesterificação
dos triacilgliceróis seguindo o procedimento preconizado por Hartman & Lago (1973).
Determinou-se o perfil dos ácidos graxos em cromatógrafo a gás modelo CG-Master,
no Laboratório de Cromatografia Instrumental do Departamento de Engenharia Química,
Universidade Federal de Pernambuco. Foi empregado o método de padronização externa,
mas, adotando para os componentes das amostras um mesmo fator de resposta (F = 1).
Utilizou-se um cromatógrafo com detector de ionização de chama, coluna com a fase
estacionária FI-547, comprimento de 25 m, diâmetro de 0,25 mm e com espessura do filme
de 0,5 μm. A programação de temperatura do forno de 120 ºC durante 5,5 min., seguida de
uma rampa de 20 ºC/min. até alcançar 200 ºC, permanecendo nesta temperatura até a
ebulição completa dos ésteres. A temperatura do detector de 240 ºC e a temperatura do
vaporizador de 220 ºC. A vazão da fase móvel (hidrogênio) de 1,7 mL/min. (com pressão
de 3 psi) e a razão de divisão de 1:30. O volume injetado no cromatógrafo foi de 1μL. A
78
aquisição de dados e quantificação dos ésteres foi realizada com auxílio do Software Peak
Simples II (SRI Instruments – USA).
O índice de aterogenicidade (IA) foi calculado de acordo com Ulbright & Southgate
(1991) a partir da soma das proporções dos ácidos láurico (C12:0), quatro vezes a
proporção do ácido mirístico (C14:0) e o palmítico (C16:0), divididos pelo somatório de
insaturados.
C12 + 4 C14 + C16
IA =
Σ insaturados
Na análise sensorial do leite das cabras foi utilizada a metodologia descrita por Stone
& Sidel (1993), em cabines individuais, em horários previamente estabelecidos,
considerando-se 2 horas após a última refeição dos provadores.
O painel sensorial foi formado por 12 provadores treinados, sendo 45% masculino e
55% feminino, com faixa etária entre 20 e 45 , em que cada provador preencheu uma ficha
do perfil dos julgadores (Figura 1), para aplicação do teste de Análise Descritiva
Quantitativa (ADQ) para os atributos de odor característico, sabor característico, sabor
adocicado e sabor rançoso, conforme metodologia descrita por Faria & Yotsuyanagi
(2002), utilizando-se escala de intensidade de 9 pontos, variando de extremamente fraco a
extremamente forte (Figura 2 e 3). Também foi realizado o teste de aceitação com 36
provadores, avaliando-se os atributos sabor e odor com escala de 9 pontos, variando de
desgostei muitíssimo a gostei muitíssimo (Figura 2). Cada julgador recebeu as amostras de
leite em copos de polietileno (50 mL) a 7 ºC, codificadas com três dígitos correspondentes
a cada tratamento experimental, de acordo com metodologia de Ferreira et al. (2000).
O delineamento experimental para a composição físico-química e perfil de ácidos
graxos foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (0%, 33%, 67% e 100%) e
79
seis repetições. Os dados foram compilados em planilhas eletrônicas e analisados no SAS,
versão 8.0 (2001) para análise de regressão. Para as análises sensoriais o modelo estatístico
usado foi o seguinte:
Yi = μ + Ti + ξij,
Onde: Yi= tratamento i;
μ = efeito geral da média;
Ti = efeito do tratamento i, sendo i = 1,2, 3, 4;
ξij= erro aleatório.
FICHA DOS JULGADORES
QUESTIORNÁRIO
Nome:....................................................................................................................................................................
Endereço:...............................................................................................................................................................
Telefone residencial:.................................Celular:.......................................Trabalho:.........................................
Profissão:....................................................E-mail:...............................................................................................
Sexo
Faixa etária
Escolaridade
( ) Masculino
( ) 15-20 anos
( ) 30-40 anos
Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Pós-graduação
(
(
(
(
(
(
(
) Feminino
) 20-30 anos
) 40-50 anos
) incompleto
) incompleto
) incompleto
) incompleto
(
(
(
(
(
) 50-60 anos
) completo
) completo
) completo
) completo
80

Existe algum dia ou horário durante o qual você não poderá participar das seções de degustação?

Indique o período em que você pretende tirar férias este ano.

Cite alimentos e ingredientes que você não pode comer ou beber por razões de saúde ou que não
tolera.

Você tem conhecimento de que seja alérgico a algum alimento? Qual?

Você usa prótese dentária (fixa ou móvel) ou aparelho ortodôntico?
Indique o quanto você
gosta de cada um desses
produtos:
Gosto muito
Gosto regular
Gosto ligeiramente
Nem gosto, nem desgosto
Desgosto ligeiramente
Desgosto regularmente
Desgosto muito

Leite bovino
(
(
(
(
(
(
(
Leite caprino
)
)
)
)
)
)
)
(
(
(
(
(
(
(
)
)
)
)
)
)
)
Com que frequência você consome leites?
( )menos de 1 vez
por mês
( ) 4 vezes ou mais
por semana
( )1 a 2 vezes por
mês
( ) Todos os dias
( ) 1 vez por semana
( ) 2 a 3 vezes por
semana
( ) nunca
Figura 1 – Ficha do perfil dos julgadores para Análise Descritiva Quantitativa (ADQ) e
Teste de aceitação
Análise Descritiva Quantitativa ADQ
Nome:________________________________________________________________________
Produto: ______________________________________________________Data____________
Você irá receber 4 amostras codificadas de leite de cabra para provar e deverá dar sua opinião,
usando a escala abaixo para descrever sua ideia a respeito do produto em análise. Tome um pouco
de água antes da 1ª amostra. Após provar a 1ª amostra como um pedaço do biscoito fornecido e
espere pela segunda amostra
Odor característico
9 – extremamente forte
8 – muito forte
7 – moderadamente forte
Odor estranho
9 – extremamente forte
8 – muito forte
7 – moderadamente forte
81
6 – levemente forte
6 – levemente forte
5 – indiferente
5 – indiferente
4 – levemente fraco
4 – levemente fraco
3 – moderadamente fraco
3 – moderadamente fraco
2 – muito fraco
2 – muito fraco
1 – extremamente fraco
1 – extremamente fraco
Amostras
Odor característico
Odor Estranho
_______
_______
_______
_______
Observações:
_______
_______
_______
_______
_______
_______
_______
_______
_______________________________________________________________________
Sabor característico
Amostras
____________
____________
____________
____________
Sabor estranho
Sabor adocicado
Sabor rançoso
9 – extremamente forte
8 – muito forte
7 – moderadamente forte
6 – levemente forte
5 – indiferente
4 – levemente fraco
3 – moderadamente fraco
2 – muito fraco
1 – extremamente fraco
Sabor característico
Sabor adocicado
____________
____________
____________
____________
____________
____________
____________
____________
Sabor rançoso
____________
____________
____________
____________
Observações__________________________________________________________________________
Muito Obrigado!
Figura 2. Ficha utilizada para Análise Descritiva Quantitativa (ADQ).
Teste de Aceitação Global
Nome:________________________________________________________________________
Produto: ______________________________________________________Data____________
Você irá receber 4 amostras codificadas de leite de cabra para provar e deverá dar sua opinião,
usando a escala abaixo para descrever sua ideia a respeito do produto em análise. Tome um pouco
de água antes da 1ª amostra. Após provar a 1ª amostra como um pedaço do biscoito fornecido e
espere pela segunda amostra
Aceitação Global
9 – gostei muitíssimo
Amostras
____________
Nota
____________
82
8 – gostei muito
7 – gostei moderadamente
6 – gostei levemente
5 – indiferente
4 – desgostei levemente
3 – desgostei moderadamente
2 – desgostei muito
1 – desgostei muitíssimo
____________
____________
____________
____________
____________
____________
Observações_____________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Muito Obrigado!
Figura 3 - Ficha utilizada para o Teste de aceitação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta de cabras leiteiras
apresentou efeito na produção de leite, teor de lipídeos e cálcio do leite (Tabela 2). A
produção de leite apresentou redução de forma linear à medida que aumentou o nível de
83
substituição do farelo de soja por farelo de mamona. Os teores de lipídeos e cálcio
mostraram incremento, à medida que aumentou o farelo de mamona na dieta das cabras.
Tabela 2- Produção e composição física e química do leite de cabras em função de níveis
de substituição do farelo de soja por farelo de mamona na dieta
Valor de P1
Níveis de Substituição (%)
Variáveis
Erro padrão
0,0
Produção de leite (g/dia)
1772,7
33
1625,2
67
1366,7
100
1471,2
L
396,0063
Q
<0,00012
0,5547
3
0,3947
Lipídios (%)
2,85
2,94
2,96
3,22
0,4073
0,0094
Proteína (%)
3,05
2,86
3,05
2,87
0,3219
0,2839
0,9480
Lactose (%)
4,22
3,93
4,11
3,85
0,5065
0,0828
0,8606
EST (%)
11,37
10,71
11,07
11,11
1,05
0,7119
0,1585
ESD (%)
8,52
7,77
8,10
7,87
0,9985
0,1286
0,2713
Cinzas (%)
0,65
0,59
0,66
0,66
0,1336
0,4451
0,3102
14,68
14,77
14,72
15,58
1,74
0,1502
0,3614
1,03
1,03
1,03
1,03
1,1515
0,2203
0,8278
0,0796
4
0,3703
Acidez ⁰D
Densidade(g/cm3)
Ca (mg/100g)
0,26
0,29
0,31
0,31
0,0309
EST = Extratos Sólidos Totais; ESD = Extrato Seco desengordurado; PL = Produção de leite; Ca = Cálcio; A densidade *1000.
1
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras
2
y=1733,5 – 3,49x (0,72); 3 y=2,82 + 0,003x (r2= 0,84); 4 y=0,27 + 0,0005x (r2= 0,86)
O incremento no teor de lipídeos do leite de cabras alimentadas com farelo de
mamona pode ser explicado pelo tipo de gordura presente no farelo de mamona, que é rico
em ácidos graxos monoinsaturados (QUEIROGA et al., 2010, SANTOS et al., 2011). O
tipo da gordura adicionada na dieta das cabras aumentou o teor de lipídeos do leite
(CHILLIARD et al., 2003). Outro fator importante na dieta das cabras com influência no
teor de lipídeos do leite são os carboidratos. A dieta contendo 100% de substituição de
farelo de soja por farelo de mamona apresentou maior digestibilidade dos carboidratos não
fibrosos, propiciando maior produção de ácidos graxos voláteis. O aumento de propionato
no fígado acrescenta a disponibilidade de glicose nos tecido da glândula mamaria, através
84
da gliconeogênese hepática e, assim, podendo incrementar o teor de lipídeos do leite das
cabras alimentadas com farelo de mamona.
O incremento do teor de cálcio no leite de cabras alimentadas com farelo de mamona
ocorreu provavelmente, devido ao tratamento feito no farelo de mamona com hidróxido de
cálcio, disponibilizando mais cálcio para a composição do leite, consequentemente,
alterando o teor de cálcio do leite.
A lactose é o nutriente mais estável na composição química do leite e está
diretamente relacionada à regulação da pressão osmótica, de modo que uma maior
produção de lactose determina maior produção de leite (QUEIROGA et al., 2007).
Entretanto, o teor de lactose pode ser influenciado pelos diferentes níveis de concentrado
da dieta, apresentando diferença ao longo da lactação em animais com parição tardia
(GOETSCH et al., 2001). De acordo com Costa et al. (2010), um aspecto a ser considerado
é o limite mínimo para o teor de lactose (4,0%) determinado pela legislação brasileira para
leite de cabras (BRASIL, 2000). Os valores encontrados para lactose encontram-se de
acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 2000).
Com relação à acidez do leite de cabras não se notou efeito (P>0,05) com a
substituição do farelo de soja por farelo de mamona, com valor médio de 14,95 º D. Os
resultados apresentados para acidez corroboram com os apresentados por Costa et al.
(2011), cujos valores apresentam-se dentro do limite na Instrução Normativa n° 37 da
legislação brasileira (BRASIL, 2000).
A produção de leite apresentou decréscimo de 335,34g quando substituiu 100% de
farelo de soja por farelo de mamona. A diminuição na produção pode ser explicada pela
presença de fatores antinutricionais na dieta que diminuem a absorção de nutrientes.
O efeito da substituição do farelo de soja por farelo de mamona sobre os ácidos
graxos do leite de cabra ocorreu através da biohidrogenação ruminal e a digestão no
85
intestino, que influencia a eficiência de transferência de ácidos graxos do alimento para o
leite. A gordura fluida do leite é afetada pela ação da dessaturase da glândula mamária.
A enzima estearoil-CoA ou ϐ9-dessaturase (que introduz dupla ligação na posição 9
da cadeia de carbono) dessatura grande quantidade de ácido esteárico (18:0) em ácido
oléico (cis-9 18:1), atingindo um índice ótimo entre o dois ácidos graxos nos traços físicoquímicos do leite. A enzima ϐ9-dessaturase age sobre outros substratos do mesmo modo,
como por exemplo, ácido mirístico (14:0), palmítico (16:0) e ácido vacênico (VA). Em
último caso, os isômeros cis-9, trans-11 do ácido linoleico conjugado (ácido rumênico) é
formado (MELE et al., 2005). Cerca de 60 a 95% do ácido rumenico encontrado na
gordura do leite origina-se dessa enzima (PALMQUIST & MATTOS, 2011).
O ácido palmítico geralmente sofre esterificação nas posições sn-1 e sn-2, cerca de
50% em cada uma delas, através da enzima estearoil-CoA dessaturasse, convertendo
principalmente a ácido graxo palmitoleico podendo ser convertido também a ácidos graxos
de cadeia menor. Os ácidos graxos insaturados de cadeia longa C16:1 e C18:2 cis9, cis12,
não sofreram alteração em suas concentrações, cujos valores médios foram de 1,14 e
2,18% da concentração da gordura do leite de cabras (Tabela 4).
86
Tabela 3 - Valores médios do perfil de ácidos graxos do leite de cabras em função de níveis de substituição do farelo de soja por farelo
de mamona na dieta
Níveis de substituição (%)
P1
Erro padrão
Ácidos graxos
0,0
33
66
100
L
Q
Ácido capróico (C6:0)
0,22
0,63
2,10
1,18
1,2136
0,2547
0,3604
Ácido caprílico (C8:0)
2,22
1,67
2,43
2,89
1,3558
0,3231
0,2667
Ácido cáprico (C10:0)
11,87
9,60
13,20
10,53
2,7895
0,9495
0,8913
2
0,8538
Ácido undecanóico (C11:0)
0,36
0,41
0,33
0,52
0,0865
0,0418
Ácido láurico (C12:0)
5,46
4,66
7,03
5,00
1,9770
0,8577
0,5939
Ácido mirístico (C14:0)
15,17
12,22
13,29
13,03
2,5490
0,4393
0,3848
Ácido miristoléico (C14:1)
0,15
0,36
0,32
0,42
0,1189
0,1079
0,2873
Ácido pentadecanóico (C15:0)
0,92
0,97
1,23
1,67
0,2221
0,1222
0,6592
3
0,8137
Ácido palmítico (C16:0)
33,24
35,41
24,19
24,50
5,81
0,0345
Ácido palmitoléico (C16:1)
1,17
1,43
1,61
1,67
0,2994
0,2176
0,7948
Ácido heptadecanóico (C17:0)
0,57
0,50
0,44
0,70
0,1772
0,2863
0,5631
Ácido esteárico (C18:0)
7,38
7,18
11,88
10,13
3,3479
0,1704
0,6830
6,1048
0,0236
4
0,9303
5
0,1034
Ácido oleico (C18:1 cis9)
18,66
22,36
26,96
31,42
Ácido ricinoléico (C18:1 cis9, 12OH)
0,00
0,09
0,25
0,86
0,2390
0,0016
Ácido linoleico (C18:2 cis9, cis12)
2,12
2,04
2,14
2,44
0,3735
0,3021
0,4009
0,1104
0,0117
6
0,2308
0,0149
7
0,7557
Ácido linolênico (C18:3 n3)
Ácido araquidônico (C20:0)
0,13
0,16
0,31
0,24
0,39
0,36
0,49
0,61
0,1285
1
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras
2
y=0,3602 + 0,0021x (r2 = 0,38); 3 y =34,5099 – 0,075x (r2 = 0,70); 4 y=18,606 + 0,1145x (r2 = 0,99); 5 y =0,1069 + 0,0082x (r2 = 0,83); 6 y=0,1698 + 0,0076x (r2 = 0,96); 7 y =0,2384 + 0,1122x (r2 = 0,93);
Os ácidos graxos de cadeia longa do leito são derivados da absorção de lipídeos
circulantes na corrente sanguínea oriundos da dieta, o que explica o incremento dos ácidos
graxos C18:1, cis9, C18:1 cis9, 12OH, C18:3 n3 o C20:0. Já que o farelo de mamona
possui em sua composição cerca de 3 a 4% de lipídeos com grande percentual de ácidos
graxos monoinsaturados de cadeia longa.
Tabela 4 - Valores médios dos perfis de grupamento dos ácidos graxos (% área) da gordura
do leite de cabras alpinas em função de níveis de substituição do farelo de soja
por farelo de mamona na dieta
Níveis de Substituição (%)
Ácidos Graxos (%)
0,0
33
67
Erro
padrão
100
P1
L
Q
Total de AGCC
20,14
16,10
26,07
20,12
6,3179
0,5633
0,7835
Total de AGCM
16,25
13,55
14,84
14,62
2,6416
0,6124
0,4384
Total de AGCL
63,45
69,00
67,26
72,05
9,0894
0,3313
0,9430
Total de AGS
77,60
72,62
76,13
70,26
5,5216
0,2252
Total de AGI
22,24
26,12
30,97
37,16
6,8437
0,8904
0,0204
2
0,7904
3
0,9895
Total de AGD
29,63
33,27
42,85
46,87
9,6375
0,0360
Total de AGM
19,99
28,19
26,10
33,60
7,2150
0,0505
Total de AGP
2,25
2,35
2,53
2,93
0,4914
0,1170
0,8439
0,6072
4
AGI/AGS
0,29
0,36
0,63
0,53
0,1528
0,0349
0,3350
AGP/AGS
0,03
0,03
0,03
0,04
0,0082
0,0908
0,5259
IA
4,62
3,41
3,08
2,20
1,0382
0,01995
0,7763
AGS=ácidos graxos saturados; AGI= ácidos graxos insaturados.
1
L,Q : efeitos de ordem linear e quadrática relativos à inclusão do farelo de mamona na dieta das cabras;
2
y =22,2523 + 0,1004x (r 2= 0,99); 3 y=29,0384 + 0,1806x (r 2 = 0,97); 4 y =20,4952 + 0,1641x (r 2 = 0,79);
5
y=4,5514 + 0,0306x (r 2 = 0,95); AGCC = ácidos graxos de cadeia curta; AGCM = ácidos graxos de cadeia média; AGCL = ácidos
graxos de cadeia longa; AGS= ácidos graxos saturados; AGI= ácidos graxos insaturados; AGD= ácidos graxos desejáveis; AGM=
ácidos graxos monossaturados; AGP=ácidos graxos polinsaturados IA= índice aterogenicidade;
88
O ácido graxo C20:0 juntamente com eicosapentaenóico (EPA) na corrente
sanguínea humana originam os eicosanóides, que diminuem o risco de doenças cardíacas e
processos inflamatórios. Os EPA‟s são formados a partir dos ácidos graxos da família dos
ômegas presentes na alimentação dos seres humanos. Então, a substituição do farelo de
soja por farelo de mamona proporcionou um incremento na concentração, juntamente do
ácido araquidônico e em alguns da família dos ômegas.
A substituição do concentrado proteico não alterou os grupamentos quanto ao
tamanho da cadeia (curta, média e longa) com valores médios de 20,60; 14,81 e 67,94%,
respectivamente. Na nutrição humana, ácidos graxos de cadeias curta e média, em relação
aos de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), possuem digestão mais rápida, pela maior
eficácia das lipases sobre as ligações ésteres dos triglicerídeos (JENNESS, 1980; PARK,
1994, 2007) e também são associados aos efeitos de diminuição nos níveis plasmáticos de
colesterol observados quando ocorre consumo de leite de cabra (LOPEZ-ALIAGA et al.,
2005).
A concentração do total de AGS e AGP cujos valores (Tabela 4) não apresentaram
efeito da substituição do farelo de soja por farelo de mamona. Já o índice de
aterogenicidade, total de AGI, AGD, AGM e as relações AGI/AGS e AGP/AGS foram
modificados com a substituição do suplemento proteico.
O índice de aterogenicidade (IA), indicador do risco dietético para doenças
cardiovasculares, (Tabela 4), foi encontrado o melhor índice no leite das cabras
alimentadas com 100% de farelo de mamona em substituição ao farelo de soja. Valores
mais baixos foram encontrados por Pereira et al. (2010) quando adicionaram óleo de
mamona na dieta de cabras leiteiras (1,54%). Costa et al. (2010), avaliando o perfil de
lipídios do leite de cabras alimentadas com níveis de substituição de milho por palma
forrageira encontraram variação no IA de 1,35 a 3,34%. Entretanto, foi possível observar
89
que a adição do farelo de mamona diminui o IA, corroborando com os resultados de
Pereira et al. (2010), quando adicionaram óleo de mamona na dieta das cabras, o que
favorece a saúde dos seres humanos ao consumirem este leite, com índice de
aterogenicidade mais baixo. De acordo com índices para a saúde humana o ideal são
valores próximo de 1% (RAMOS FILHO et al. 2008).
O total de ácido graxo insaturado aumentou. Este incremento favorece uma melhor
qualidade da gordura do leite de cabras como também, os ácidos graxos desejáveis tendo
sido observado efeito linear crescente com a adição do farelo de mamona.
A substituição do farelo de soja pelo de mamona na dieta dos animais interferiu
(P<0,05) nos atributos sabor característico e adocicado como também a aceitação global
proporcionando sabor característico entre levemente fraco e levemente forte (Figura 3),
com o leite das cabras alimentadas com 33% de substituição do farelo de soja pelo de
mamona, que foi semelhante ao leite das cabras alimentadas com farelo de soja, para o
sabor adocicado. Os escores ficaram na faixa de moderadamente fraco a levemente fraco
para todos os leites analisados.
A aceitação global obteve notas equivalentes a gostei levemente e gostei
moderadamente, verifica-se que o leite das cabras alimentadas com 100% de substituição
do farelo de soja por farelo de mamona obtiveram maior nota com percepção sensorial de
gostei moderadamente.
Figura 4 Atributos sensoriais do leite de cabras alimentadas com diferentes níveis
substituição do farelo de soja pelo de mamona
90
O escore para o atributo odor característico sofreu influência da substituição do
concentrado proteico na dieta das cabras variando de levemente forte para o leite com 67%
de farelo de mamona na dieta das cabras e moderadamente forte para os demais leites. Não
se observou diferença entre os tratamentos com substituição do farelo de soja por farelo de
mamona para os atributos odor estranho, sabor rançoso, em que os provadores atribuíram
os valores médios de 2,67 e 2,23, respectivamente, que representam percepção sensorial de
moderadamente fraco, devido a ausência deste atributo.
O flavour do leite é muito influenciado pelo perfil e concentração de ácidos graxos
livres (SORYAL et al., 2005) e muitos estudos têm sido realizados na tentativa de elucidar
esses efeitos, tanto no leite quanto no queijo caprino (ATTAIE & RICHTER, 1996;
SORYAL et al., 2003). Pesquisa realizada por Queiroga et al. (2010), utilizando óleo de
mamona e de licuri na alimentação de cabras revelou que não foi possível verificar offflavour ou rancidez por nenhum dos provadores, devido à dificuldade em identificar
diferenças claras.
Foi observado que o sabor do leite foi mais desejável (P<0,05) quando na presença
da adição do farelo de mamona, fato que pode ser associado pelo sabor adocicado mais
expressivo quando usado esse farelo. Jaubert et al. (1997), estudando características
químicas e sensoriais do leite caprino de quarenta rebanhos de Saanen, na França,
91
concluíram que a intensidade do sabor varia, significativamente no maior conteúdo de
gordura e elevado teor de ácidos graxos livres.
A aceitação global com percepção sensorial de gostei muito para o leite das cabras
que consumiram 100% de farelo de mamona em substituição ao farelo de soja devido
provavelmente, por apresentar maior percentual de lipídios no leite (Tabela 2) e
consequentemente, melhor sabor.
Para identificar os atributos sensoriais que mais contribuíram para descriminar as
diferenças entre as amostras do leite de cabras alimentadas com farelo de mamona em
substituição ao farelo de soja, foi realizada análise de componentes principais (ACP) sob
os dados das médias dos julgadores e repetições, usando a matriz e correlação.
Três componentes explicam 77,6% da variabilidade entre os escores da análise ADQ.
Foram avaliados 6 (seis) atributos sensoriais Tabela 5.
Tabela 5 - Análise dos componentes principais (CP) dos atributos sensoriais do leite de
cabras alimentadas com farelo de mamona em substituição ao farelo de soja
Componentes Principais
Atributos Sensoriais
TOTAL
CP1
CP3
CP6
Odor Característico
0,82
0,18
0,23
Odor Estranho
0,55
0,08
-0,74
Sabor Característico
0,65
-0,14
0,65
Sabor Adocicado
0,46
0,71
-0,13
Sabor Rançoso
- 0,34
-0,34
-0,13
Aceitação Global
-0,20
0,81
0,20
Variação Total Explicada %
36,66
22,38
18,62
77,6
A maior parte das variações que ocorreram entre as amostras de leite de cabras
alimentadas com níveis crescente de farelo de mamona foram explicada pelo componente
principal 1, mas quando avaliado associado com os componentes principais 3 e 6
92
observou-se que os três foram responsáveis por 77,6% das informações contidas nos
valores médios dos seis atributos sensoriais.
CONCLUSÕES
O farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio na dieta de cabras promove
aumento no teor de lipídeos, modifica o perfil de ácidos graxos evidenciando-se
incremento nos ácidos polinsaturados do leite de cabras, diminuindo o índice de
aterogenicidade da gordura do leite. Como também, exerce influência positiva no perfil
sensorial do leite, promovendo maior aceitação global pelos provadores.
93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhos que visem à utilização de fontes nutricionais alternativas para caprinos são
de grande importância para a melhoria do desempenho e da produção do rebanho, devendo
ser conduzidos dentro das condições ambientais onde os animais são explorados. Esta
pesquisa se propôs a avaliar o desempenho e a produção de leite oriundo de cabras Alpina
com importância econômica para a região Nordeste do Brasil por suas características
produtivas, utilizando níveis crescentes de farelo de mamona em substituição ao farelo de
soja na dieta. Essa alternativa surge como meio de incentivar os produtores da região
Nordeste do Brasil ou de outras regiões em que tenham cultivo de mamona a terem
alimentos alternativos em proteína para os animais, principalmente, na época de escassez
das chuvas. Este enfoque em se produzir leite de cabra, pode ser uma possibilidade de
melhorar a sustentabilidade dos pequenos agricultores com a exploração racional dos
100
recursos naturais do Semiárido Nordestino, devido este leite ser conhecidamente utilizado
como alternativa para a alimentação de crianças e adultos sensíveis ou alérgicos ao leite de
vaca. Todos estes aspectos são importantes e relevantes para regiões semiáridas do Brasil e
do mundo.
O farelo de mamona tratado com hidróxido de cálcio não tem efeito no consumo de
matéria seca, e de nutrientes, aumenta a digestibilidade do extrato etéreo e carboidratos não
fibrosos quando utilizado na alimentação de cabras leiteiras em lactação. Aumenta o teor
de gordura do leite e o percentual de ácidos graxos polinsaturados, diminui o índice de
aterogenicidade, melhorando a qualidade da gordura do leite. Como também, não interfere
na síntese de proteína microbiana, porém diminui o nitrogênio retido.
A formação de grupos de pesquisadores envolvendo a interação entre as mais
diversas áreas, como tecnologia de alimentos, veterinária, produção vegetal e nutrição
animal, deve ser estimulada para que avaliações mais completas sobre o uso dos
subprodutos das agroindústrias e sobre a toxicologia desses subprodutos.
A utilização do farelo de mamona na dieta das cabras promoveu escores maiores para
o sabor adocicado e característico no perfil sensorial do leite em relação ao leite das cabras
que consumiram farelo de soja, proporcionando um produto de maior aceitação global.

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