ISSN 21774013 MOTRICIDADE FINA E AUTOCUIDADO

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ISSN 21774013 MOTRICIDADE FINA E AUTOCUIDADO
MOTRICIDADE FINA E AUTOCUIDADO EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO
DO ESPECTRO AUTISTA
Larissa Borba André
Mileide Cristina Stoco de Oliveira
Caroline Nunes Gonzaga
Katiane Mayara Guerrero
Alline Sayuri Tacaki Alves
Ana Paula Guirro Defende
Augusto Cesinando de Carvalho
Tânia Cristina Bofi
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista-UNESP
Eixo Temático: Estimulação precoce, reabilitação e inclusão
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista, Motricidade Fina, Autocuidados,
EDM, PEDI
1. Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio caracterizado por desencadear
alterações significativas nas áreas do desenvolvimento, apresentando principalmente déficits
nas interações sociais e comportamentais (ARAÚJO; SOUZA; MACHADO; 2014).
O diagnóstico de TEA deve-se atender alguns critérios de acordo com o Manual de
Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM V) como padrões restritos e
repetitivos de comportamento; déficits significativos e persistentes na comunicação
e
interações sociais; falta de reciprocidade social e incapacidade para desenvolver e manter
relacionamentos de amizade apropriados para o estágio de desenvolvimento (AUTISMO E
REALIDADE, 2013).
Todavia, sabe-se que os acometimentos podem ser expressos em algumas áreas
especificas, dando maior enfoque na motora devido ao atraso nas aquisições da motricidade
global e fina, desempenhando um papel importante no controle dos movimentos de todas as
partes do corpo promovendo de forma eficiente e precisa a execução principalmente dos
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pequenos músculos das mãos, estando associada diretamente ao processo de alfabetização
(SILVA; COSTA, 2008).
Diante disso, sabe-se que alterações no desenvolvimento estão diretamente
interligadas com as habilidades motoras e com o desempenho na aprendizagem escolar
(GONZAGA et al, 2015). Portanto é de suma importância avaliação desses fatores já que a
criança precisa desempenhar uma série de aptidões manipulativas, que somadas à reprodução
motora permitirá a execução das habilidades como a escrita ou pintar (SILVA; COSTA,
2008).
2. Objetivo
O objetivo do estudo foi avaliar a motricidade fina de crianças com Transtorno do
Espectro Autista (TEA), avaliada pela Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), utilizando o
domínio motricidade fina e o desempenho em autocuidado segundo o Inventário Pediátrico de
Avaliação de Incapacidade (PEDI).
3. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa com abordagem descritiva do tipo estudo
de caso. Participaram dessa pesquisa 5 crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
com idade média de 73,2±10,82 meses. Os pais e/ou responsáveis assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT-UNESP, Campus de Presidente Prudente/SP
(CAAE: 51011415.3.0000.5402 e protocolo 116755/2015).
Para avaliar a motricidade fina, foi utilizada a EDM, proposta por Rosa Neto (2002),
que por meio de uma bateria de testes específicos, avalia o desenvolvimento motor de
crianças dos 2 aos 11 anos. Foram realizadas provas diversificadas e de dificuldade graduada,
sendo possível avaliar o nível de desenvolvimento motor da criança de acordo com a Idade
Cronológica (IC), considerando êxitos e fracassos. Nessa escala há itens como a Idade Motora
(IM), que é a idade correspondente à prova realizada com sucesso pela criança e comparandose essa com a cronológica, podendo determinar o avanço ou o atraso motor da criança em
determinada habilidade. Os escores classificam o desenvolvimento motor nos seguintes
níveis: muito superior, superior, normal alto, normal médio, normal baixo, inferior e muito
inferior.
O desempenho em autocuidados foi avaliado pelo Inventário de Avaliação Pediátrica
de Incapacidade (PEDI) (MANCINI, 2005), que avalia a funcionalidade em crianças de 6
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meses a 7 anos e 6 meses, por meio de atividades de vida diária. É avaliado por 73 itens
relacionados a atividades de higiene pessoal, banho, vestuário, alimentação, uso do banheiro e
controle do esfíncter. Após a aplicação do questionário, foi realizada a somatória dos itens
pontuados pela criança, sendo obtido o escore bruto.
A partir desse escore e da idade cronológica das crianças, o valor bruto foi
transformado em escore normativo por meio de tabelas específicas, com valores fixos cedidos
pelo próprio instrumento. Esse escore informa sobre o desempenho esperado de crianças da
mesma faixa etária com o desenvolvimento típico, pois em cada grupo etário, o intervalo de
normalidade compreende valores entre 30 e 70, de maneira que escores inferiores a 30
representam atraso ou desenvolvimento inferior e escores superiores a 70, ilustram um
desempenho significantemente superior às crianças da mesma faixa etária.
As avaliações foram realizadas individualmente, num mesmo dia, sendo que a
testagem da EDM foi realizada diretamente com a criança, enquanto a do PEDI foi em forma
de entrevista com a mãe ou responsável. Nenhum dos procedimentos realizados nesta
pesquisa ofereceu riscos à saúde dos participantes.
3. Resultados
Foi possível observar através da avaliação da EDM, que 100% da amostra obteve
déficits na área da motricidade fina, pois apresentaram IM nessas áreas menor que a IC,
conforme a figura 1.
Figura 1: Comparação da idade cronológica com a motricidade fina em meses das
crianças avaliadas.
Já a avaliação com o PEDI mostrou 60% da amostra apresenta atraso no desempenho
em autocuidado, pois os resultados obtidos foram inferiores a 30,
conforme a tabela 1.
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Habilidade Funcionais
TEA
AC
C1
C2
C3
C4
C5
42±2,4
23,3±3
33,8±2,1
<10
19,5±3,5
Tabela 1: Distribuição das crianças e respectivos escores normativos nas áreas de
autocuidados (AC) da parte I – Habilidades Funcionais. (n=5)
4. Discussão
Analisando a motricidade fina por meio da EDM, foi possível observar que todas as
crianças apresentaram atraso, comparando a idade cronológica com a idade motora. Um
estudo avaliou 6 crianças com TEA por meio do mesmo instrumento de avaliação utilizado
neste estudo. Os resultados mostraram que todos os escolares apresentaram idade motora da
motricidade fina abaixo do esperado para a idade cronológica, evidenciando que o atraso no
desenvolvimento motor é uma característica do TEA (OKUDA; MISQUIATTI, CAPELLINI,
2010), dado que também foi encontrado em toda população nessa pesquisa.
Considerando que a criança com TEA apresenta atraso no desenvolvimento motor, outro
estudo relatou que esses atrasos são evidentes precocemente na vida dessas crianças, e que
estas possuem déficits tanto nas habilidades motoras grossas, como finas (MATSON et al
2010).
Quanto ao desempenho no autocuidado, 60% da amostra apresentou desenvolvimento
inferior ao esperado para sua faixa etária. Não foram encontrados na literatura estudos que
utilizem o PEDI para avaliar a funcionalidade em crianças com TEA.
É possível observar que há uma íntima relação entre o desenvolvimento das
habilidades finas das mãos com o desempenho nas atividades de autocuidado. Por ser a
motricidade uma condição de adaptação vital, justifica-se a importância do desenvolvimento
motor durante a infância. O acompanhamento da motricidade de crianças em idade escolar é
considerado como prevenção quanto à aprendizagem, uma vez que as capacidades motoras
são componentes básicos da leitura e escrita, assim como das simples tarefas do dia a dia
(Rosa Neto et. al 2013).
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5. Conclusões
Concluiu-se que, crianças com TEA apresentam déficits na motricidade fina e
autocuidados, áreas de extrema importância para o desenvolvimento escolar e independência.
Apesar do tamanho reduzido da amostra, o estudo evidenciou que os instrumentos utilizados
foram sensíveis permitindo identificar os déficits da população estudada e posteriormente
realizar uma intervenção para sanar os déficits encontrados.
6.Referências
ARAÚJO, F. C. C.; SOUZA, R.; MACHADO, D. S. Autismo infantil e a escola: inclusão X
garantia de acesso. E-scientia, 2014, [Online]. v. 1, n. 1, p. 27-34. Disponível em:
http://revistas.unibh.br/index.php/dcbas/article/view/1268. Acesso em: 03 abril 2016.
Autismo e realidade. Diagnóstico do autismo. Presidente Prudente, [Online], 2013.
Disponível em: http://autismoerealidade.org/informe-se/sobre-o-autismo/diagnosticos-doautismo/. Acesso em: 03 abril 2016.
GONZAGA, C. N. et al. Efeitos de uma intervenção psicomotora na cognição de crianças
diagnosticadas
com
transtorno
do
espectro
autista. 2015.
Disponível
em:
http://www.unoeste.br/site/UnoEventos/CongressoEducacao/2015/docs/UNICO.pdf?v=2.
Acesso em: 03 abr. 2016.
MANCINI, M. C. Inventário de avaliação pediátrica de incapacidade (PEDI): manual da
versão brasileira adaptada – UFMG, 2005.
MATSON, J. L.; MAHAN, S.; FODSTAD, J.C.; HESS, J. A.; NEAL, D. Motor skill abilities
in toddlers with autistic disorder, pervasive developmental disorder-not otherwise specified,
and atypical development. Res. Autism Spectrum Disorders, [Online]. v. 4, n. 3, p. 444-449,
2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.rasd.2009.10.018. Acesso em: 03 abr 2016.
OKUDA, P.; MISQUIATTI, A. R. N.; CAPELLINI, A. S. Caracterização do perfil motor de
escolares com transtorno autístico. Rev. Educ. Esp., [Online]. v. 23, n. 38, p. 443-454, 2010.
Disponível
em:
http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/educacaoespecial/article/view/1462. Acesso em: 03 abr 2016.
ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ROSA NETO, F.; AMARO, K. N.; SANTOS, A. P. M.; XAVIER, R. F. C.;
ECHEVRRIETA, J. C.; MEDEIROS, D. L.; GOMES, L. J. Efeitos da intervenção motora em
uma criança com transtorno do espectro do autismo. Rev. Temas Sobre Desenv., [Online]. v
19, n. 105, p. 110-114, 2013. Disponível em:
http://www.researchgate.net/publication/264543850_Efeitos_da_interveno_motora_em_uma_
criana_com_Transtorno_do_Espectro_do_Autismo. Acesso em: 03 abr 2016.
SILVA, G. B.; COSTA, S. T. G. Tic e Coordenação Motora, 2008. Disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/812_587.pdf. Acesso em: 03
abril 2016.
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