Monografia_LÍVIA VERONI_REV 07

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Monografia_LÍVIA VERONI_REV 07
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Lívia Veroni Miranda Custódio
CENTRO DE VIVÊNCIA ESTUDANTIL PARA A CIDADE DE SÃO PAULO:
UMA PROPOSTA PARA O ACOLHIMENTO HABITACIONAL DO
ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO DE BAIXA RENDA
SÃO PAULO
2014
Lívia Veroni Miranda Custódio
CENTRO DE VIVÊNCIA ESTUDANTIL PARA A CIDADE DE SÃO PAULO:
UMA PROPOSTA PARA O ACOLHIMENTO HABITACIONAL DO
ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO DE BAIXA RENDA
Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do
título de Arquiteta Urbanista, sob a Orientação da Profa.
Dra. Ana Gabriela Godinho Lima
São Paulo - SP
Maio - 2014
Agradecimentos:
Aos meus pais e irmã que, com muito carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu concluísse esta difícil
etapa.
Às grandes amigas que fiz na faculdade pelo constante
apoio e incentivo durante esses cinco anos.
SUMÁRIO
1.
APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................................................5
2.
INTRODUÇÃO TEÓRICA ..............................................................................................................................8
3.
REFERÊNCIAS PROJETUAIS. .................................................................................................................. 18
4.
5.
3.1.
MORADIA ESTUDANTIL DA UNICAMP ................................................................................................. 18
3.2.
CONJUNTO RESIDENCIAL DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (CRUSP) ................................ 23
BAKER HOUSE................................................................................................................................................. 31
4.1.
O ARQUITETO ............................................................................................................................................... 31
4.2.
HISTÓRIA DO PROJETO .............................................................................................................................. 34
4.3.
ANÁLISE DA OBRA ...................................................................................................................................... 45
ATIVIDADE PROJETUAL........................................................................................................................... 47
5.1.
6.
CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDO. ........................................................................................... 47
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO - EXPERIMENTAÇÕES............................................... 51
6.1.
PROJETO FINAL............................................................................................................................................. 58
7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 64
8.
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................ 65
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1.
APRESENTAÇÃO
O principal fator que se despertou interesse ao longo do curso, é o de sempre estar
atento em adquirir conhecimentos, dos mais diversos sobre arquitetura, que sejam capazes de
atender as necessidades do século XXI, uma vez que esta é uma das exigências necessárias para
se entrar no meio profissional após a formação acadêmica.
Entre os livros lidos mais marcantes até o momento no curso, se destacam: A
Linguagem clássica da arquitetura, de John Summerson. Martins Fontes, 1999; A Concepção
Estrutural e a Arquitetura de Yopanan Rebello. Zigurate, 2003; As cidades invisíveis de Ítalo
Calvino. Companhia das letras; 2000; A cidade genérica extraído do livro “S, M, L, XL” de
Bruce Mau e Kem koolhaas. Monacelli press, 1996; Arquitetura da cidade de Aldo Rossi.
Martins Fontes, 1996; O prazer da arquitetura de Bernard Tschumi. Nesbitt, 2006; Saber ver a
arquitetura de Bruno Zevi. Martins Fontes, 2002; entre outros.
Professores e orientadores também tiveram grande importância na formação
acadêmica. Cada um foi essencial para o desenvolvimento e aprendizado de suas respectivas
atividades, a qual pode ser desfrutada uma parcela de seus conhecimentos. São eles: Profa.
Lizete Maria Rubano (projeto, 8° semestre), Prof. Lauresto Couto Esher (projeto, 3°semestre),
Prof. Bruno Ribeiro (resistência dos materiais, 5° semestre), Prof. Renato Carrieri Júnior
(sistemas construtivos, 7°semestre), Prof. Joan Villà Martinez (projeto, 5°semestre), Prof.
Eduardo Nardelli (projeto, 6°semestre), Prof. Abilio da Silva Guerra Neto (Arquitetura no Brasil,
6°semestre) e Prof. Francisco Lúcio Petracco (projeto, 9° e 10° semestre).
Dentre os trabalhos realizados até o presente momento, tiveram alguns de maior
destaque, que de fato acrescentaram positivamente à formação acadêmica. De início, no
1°semestre, teve-se que projetar um “casulo”, se tratava de um objeto feito na escala 1:1, com
uma determinada estrutura definida pelo aluno, assim como o material, que tivesse a função de
abrigar uma pessoa em seu interior. Esse trabalho foi muito significativo, visto que foi o primeiro
contato com um objeto projetual.
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Já no 2° semestre a tarefa foi de projetar um atelier, e posteriormente uma casa anexa
a ele. Foi nesse período, por meio de pesquisas e referências, que surgiu o real encantamento
pela arquitetura, na descoberta das formas, no modo de construção dos elementos, na estética
visual do projeto, nos materiais usados, e na disposição dos espaços. Tratava-se obviamente de
um trabalho em fase muito preliminar – sem estrutura, por exemplo - mas que foi o primeiro a ter
maior proximidade com arquitetura. No 6°semestre, foi projetado um complexo multifuncional,
um trabalho extremamente árduo e exaustante, mas que proporcionou grandes aprendizados,
tanto acadêmico quando gráfico.
No 7°semestre surge uma disciplina nova, chamada Interiores. O trabalho era
projetar uma loja situada dentro de um shopping em São Paulo. Foi uma experiência prazerosa,
até então completamente nova, que felizmente culminou em um ótimo resultado. Por fim, o
trabalho que proporcionou maior aprendizado e maturidade, foi na disciplina de projeto no 8º
semestre, que pela primeira vez, foi um projeto livre, no qual o aluno escolhia o terreno e o
programa a realizar. A professora Lizete Maria Rubano foi a orientadora dessa atividade, e pôde
ensinar conceitos jamais obtidos em semestres anteriores.
A princípio havia muitas dúvidas a respeito da escolha do tema de tfg. Para defini-la,
foi necessário estabelecer um foco nos assuntos de maior interesse. Percebeu-se que habitação
sempre foi um tema de atração para se estudar. Ter um lugar onde morar, para onde voltar, que o
individuo seja proprietário, é uma relação que todo ser humano busca ao longo da vida. A ideia
de fazer um centro de habitação estudantil para estudantes de baixa renda surgiu das observações
feitas, como estudante, no meio atual de convívio. Estudantes que moram afastados da região
central de SP, que se desdobram para estudar e trabalhar utilizam-se na maioria dos casos do
transporte público, que como é sabido, se encontra com inúmeras deficiências, que acabam por
dificultar ainda mais sua locomoção. Existem alguns estudantes, que também moram afastados
ou que vieram de outra cidade, mas que possuem condições de alugar um apartamento nas ruas
próximas à faculdade, no entanto são estes a minoria.
A intenção do projeto final de graduação é justamente atender ao público de baixa
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renda, a fim de proporcionar a eles espaços habitacionais e melhores condições de aprendizado,
para facilitar sua entrada no meio acadêmico e profissional, assim como proporcionar a
integração acadêmica e sócia cultural entre os estudantes.
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2.
INTRODUÇÃO TEÓRICA
A pesquisa empreendida aqui desenvolveu-se no contexto do projeto de pesquisa
PRÁTICAS DE PROJETO DE ARQUITETAS, ARQUITETOS E DESIGNERS – ANÁLISE
DOS INSTRUMENTOS DE PRÁTICA PROJETUAL E POSSÍVEIS EMPREGOS, DE
FORMA DIRETA OU NÃO – NA PESQUISA ACADÊMICA STRICTO SENSU, coordenado
pela Profa. Dra. Ana Gabriela Godinho Lima e financiado pelo Fundo Mackenzie de Pesquisa Mackpesquisa (2013/2014).
Tendo definido o tema de estudo, se iniciaram os levantamentos bibliográficos.
Diferentes métodos de pesquisas foram utilizados. Primeiramente foi usado um site de pesquisa
chamado JSTOR (acrônimo para Journal Storage). É um sistema online que possibilita arquivar
periódicos acadêmicos. As pesquisas realizadas no site, tiveram início a partir do mês de agosto
do ano de 2013 até fevereiro de 2014. Nele encontrou-se um texto chamado: “Health activities in
colleges and universities. A discussion of the aims, organization, activies and problems or a
students health service”. Autoria de John Sudwall. Deste artigo pode-se extrair algumas citações
consideradas relevantes para estudo.
”Quando os alunos são obrigados a viver em quartos promiscuamente concedidos pelos
proprietários, cujo único interesse é o aluguel mensal, o ambiente, na maioria das vezes
é insatisfatório. A maioria dos estudantes são obrigados a viver o mais barato possível,
e normalmente pouca atenção é dada ao aluno em relação às suas condições sanitárias.
Aquecimento inadequado, ventilação insuficiente, superlotação, falta de iluminação e
de limpeza, são condições lamentáveis existentes em muitos dormitórios estudantis.”
(SUNDWALL, 1919, pág. 12)
“Regulamentos nos dormitórios:
Calor – Todos os quartos devem ter uma temperatura de aproximadamente 20° graus,
quando estiverem ocupados. Esforços também devem ser feitos a fim de manter uma
umidade necessária.
Ventilação – Medidas devem ser tomadas para que todos os quartos tenham janelas, de
modo a promover uma ventilação adequada suficiente. Os dormitórios devem ter no
mínimo uma janela para o exterior.
Luz – Instrumentos que propiciem sombra devem ser previstos.
Limpeza – Quartos devem receber cuidados diariamente, e serem limpos no mínimo
uma vez por semana. Colchões devem ser bem arejados, pelo menos uma vez por
semana, e devem ser cuidadosamente limpos e tomarem sol pelo menos uma vez por
ano, principalmente na mudança de inquilinos. Banheiros devem ser mantidos em
condições limpas. Encanamento deve ser adequado.
Equipamentos: Uma cama de solteiro por estudante é o recomendado, e se possível
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uma cama para cada quarto, a não ser que se tenham varandas. Se duas camas
estiverem em um mesmo quarto, devem ser mantidas a uma distancia de 1,5 metros.
Para cada dormitório com até dois estudantes devem ser previstos: uma mesa de
estudo, duas poltronas, penteadeiras, cômodas, closet ou guarda-roupas.” –
(SUNDWALL, John. pág. 13)
Outro meio de pesquisa foi aquele realizado em livros. Esta foi de fato a que obteve
melhores resultados, em termos de informações sobre o tema de estudo. As pesquisas feitas em
revistas (AU, SUMA, PROJETO) já não foram tão satisfatórias assim para o colhimento de
dados na monografia, no entanto, contribuiu significamente em termos de projeto, uma vez que
foi possível encontrar nelas inúmeras obras referênciais.
Por fim, foi selecionado um livro, que se trata de uma dissertação de mestrado,
extremante relacionada ao tema de estudo: “O projeto de arquitetura para moradias
universitárias: contributos para a verificação da qualidade espacial, Rafael de Oliveira Scoaris,
São Paulo, 2012”.
A tese consultada foi analisada e sintetizada a fim de utilizar e aprofundar somente os
aspectos relevantes que possam ser inseridos no tema.
O artigo trata de uma dissertação de mestrado, chamada “O projeto de arquitetura
para moradias universitárias”, escrita por Rafael de Oliveira Scoaris. Nela, Scoaris (2012) propõe
um estudo sobre a arquitetura das residências universitárias, mais precisamente sobre a questão
de como é tratado espacialmente os ambientes dessas edificações.
O autor discorre sobre três importantes tópicos. No 1° ele define o conceito de
qualidade espacial, e suas implicações no âmbito do projeto de arquitetura. Já no 2° apresenta os
requisitos necessários em um projeto de arquitetura, que contribuem para a qualificação dos
espaços nas residências universitárias. Por fim, no 3° tópico o autor descreve concretamente,
através de experiências reais, projetadas e/ou construídas, os meios pelos quais a qualidade
espacial, poderia ser aferida.
Algumas das imagens apresentadas a seguir foram aquelas apontadas pelo próprio
autor, sendo utilizadas assim as mesmas fontes.
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No primeiro argumento, a fim de estabelecer a definição de qualidade espacial em
um projeto de arquitetura, Scoaris (2012) faz uma breve retomada sobre os conceitos do
movimento modernista. Após a 1°Guerra Mundial, o território europeu encontrava-se destruído,
a carência habitacional se mostrava socialmente insustentável e economicamente prejudicada. É
nesse momento que o movimento moderno, o qual começava a se estruturar, assume a
responsabilidade pela produção industrializada e estandardizada da habitação. Como exemplo,
pode-se citar a proposta apresentada por Le Corbusier em 1925 para a cidade de Paris, chamada
Plan Voisin, que tinha como objetivo produzir uma cidade que representasse o “espírito da
época” e respondesse aos anseios do homem da nova era que se iniciava.
Figura 1 -Plan Voisin - Proposta de Le Corbusier.
A organização espacial nessa época visava apenas as funções estabelecidas pelo
programa de habitação, e a área mínima necessária para o seu desenvolvimento. A qualidade
espacial do projeto de arquitetura era atrelada somente a ideia de função.
Na década de 60, esse discurso funcionalista começa a ser questionado quanto a sua
utilidade, visto que, tais habitações não possuíam nenhum tipo de ligação com seu entorno
imediato e alargado, e sim apenas com o edifício habitacional propriamente dito. Para
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exemplificar esse ideal, o autor cita o episódio da implosão do conjunto habitacional Pruitt-Igoe
em 1972 em St. Louis, EUA. O projeto tinha como objetivo, substituir as áreas degradadas e em
processo de favelização. No entanto, após sua edificação e ocupação em 1954, notou-se um alto
índice de criminalidade e degradação nas áreas comuns dos edifícios. Este fato se deu pela
deficiência do projeto arquitetônico que visou exclusivamente os parâmetros funcionais da
construção, esquecendo-se da relação cotidiano x usuário x moradia.
Figura 2 - Conjunto habitacional Pruitt-Ioge, em St. Louis, EUA
No fim da década de 60 e início da década de 70, começa a se estruturar um novo
campo teórico, o qual se torna necessário que a habitação responda aos requisitos de ordem
simbólica e representativa, ao contrário do funcionalismo pragmático que especificava as
funções humanas básicas e lhe atribuía suporte espacial.
Numa tentativa de desestabilizar o discurso moderno, surge o arquiteto norteamericano Robert Venturi com a publicação de seu livro, Complexidade e Contradição em
Arquitetura, publicado em 1996. O arquiteto propõe o exercício da inclusão, que conduz a uma
ampla interpretação, com elementos de dupla função, reforçando sua teoria de que mais não é
menos. Sua teoria é afirmada pelos princípios da semiótica, pelo valor poético que a
ambiguidade atinge, e por meio do significado da arquitetura pautada na história da disciplina.
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Segundo a autora Silvana Barbosa Rubino, em seu artigo “Quando o pós
modernismo era uma provocação” (2003), Venturi, com seu Complexidade e contradição em
arquitetura, chegou como representante de uma nova geração, para somar em um debate que
vinha amadurecendo. O livro argumentava que a complexidade da vida contemporânea não
admitia projetos simplificados e que os arquitetos precisavam voltar-se para projetos
multifuncionais.
De acordo com Rubino (2003), o centro de seu argumento, era baseado na afirmação
de que a arquitetura deveria transmitir significado. Em relação a esse aspecto, seus exemplos de
arquitetura expressiva vinham em sua maioria da Itália entre 1400 e 1750, estendidos à França e
Inglaterra do século XVIII, cercado pelos primeiros projetos de Le Corbusier, outros do nórdico
Alvar Aalto, além de Kahn.
Para o autor Roberto Ghione, em “Contrariedade e complicação” (2013), Robert
Venturi, assumiu em seu livro, Complexidade e contradição em arquitetura, uma crítica ao
idealismo purista do Movimento Moderno e reivindicava o complexo e contraditório leque de
circunstâncias que determina a decisão de um projeto de arquitetura no contexto da cultura de
massas, do surgimento das megacidades e das demandas programáticas. Venturi clamava pelo
“mais não é menos”, em forma de manifesto, em oposição ao “menos é mais”, em aberta
confrontação contra os cânones que regiam, naquele momento, a produção da arquitetura e da
cidade, promovendo a pluralidade funcional e a ambiguidade de significados.
Essa “nova maneira de fazer arquitetura” produzida por um grupo de arquitetos que
compartilhavam dos mesmos ideais trouxe grandes avanços no que diz respeito à resolução de
problemas até então presentes na arquitetura. Um nome de grande destaque dessa época é o
arquiteto português Álvaro Siza.
Siza realiza um projeto habitacional no bairro Quinta da Malagueira, em Évora, cuja
maior preocupação foi a inserção do novo bairro entre duas comunidade já existentes, a fim de
manter uma relação entre eles. Nota-se que o projeto possui caráter personalizado para cada
morador, visto que as habitações foram pensadas de forma que pudessem ser ampliadas na
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medida em que o proprietário julgasse necessário.
Figura 3 - Habitação do bairro Quinta da Malangueira. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-49523/classicosda-arquitetura-quinta-da-malagueira-alvaro-siza
Foi um projeto que o arquiteto estabeleceu um processo de projeto conjunto com a
comunidade local, que é a parte que vai usufruir do empreendimento, por isso a mais interessada.
Analisando todos esses diferentes aspectos, Scoaris (2012) define o conceito de qualidade
espacial como sendo: “a resposta positiva a um conjunto de solicitações programáticas, de ordem
simbólica, comportamental ou relacionadas à função prática”.
O próximo tópico importante abordado pelo autor, trata dos requisitos necessários em
um projeto de arquitetura, que contribuem para a qualificação dos espaços nas residências
universitárias. Esse tópico encontra-se atrelado ao terceiro, já que para um melhor entendimento,
o autor acrescenta a cada item, uma experiência concreta de projeto que exemplifique sua idéia.
Nessa etapa o texto se divide em quatro eixos de análises, sendo estes:
- Caráter Institucional: aborda os aspectos de projeto de arquitetura que concorrem para a
percepção institucionalizada dos edifícios residências estudantis. Uma das principais
características dessas residências é a falta de vinculo que o morador tem com o ambiente
ocupado. A ideia de casa como manifestação do habitar, demanda características que
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proporcionam o reconhecimento e significado do espaço habitado. No projeto Hassayampa
Academic Village na Universidade Estadual do Arizona, EUA, os arquitetos procuraram deixar
as áreas comuns com características semelhantes àquelas encontradas em habitações não
institucionais, através do uso do mobiliário e das cores contrastantes.
Figura
4
-
Hassayampa
Academic
Village
–
Sala
de
convívio.
Fonte:
http://www.architecture-
page.com/go/projects/hassayampa-academic-village-phase-1__all
Outro fator que determina o caráter institucional ou não do projeto, são as formas de
acesso e circulações das moradias. Nesse aspecto, o autor pôde analisar que os edifícios em que a
matriz modernista era evidenciada enquanto forma arquitetônica (edifícios lâminas, com
extensos corredores cercados por dormitórios em ambos os lados) foram aqueles que
apresentaram uma série de características físicas consideradas negativas do ponto de vista de
qualificação especial.
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Figura 5 - Alojamento Estudantil da UnB – Planta.
- Potencial de Sociabilidade: Mostra que as configurações espaciais modernistas, novamente
figuram entre as mais penalizadas. Sua conformação física gera ambientes de lazer e encontro
pré-determinados pelo projeto, e não pela ausência de espaços para que a tal interatividade
pudesse ocorrer de maneira espontânea, como de fato acontece na prática cotidiana dos
moradores.
A residência Universitária da Universidade do Alveiro (UA), Brasil, apresenta um
partido projetual com essa intenção. Os dois edifícios que compõem o complexo conformam em
um pátio central.
Figura
6
-
Residência
Universitária
da
UA
–
Pátio
central.
Fonte:
https://www.ua.pt/sas/PageText.aspx?id=15723&ref=ID0EJCA/ID0EEJCA/ID0EGEJCA
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Segundo
o
autor,
os
espaços
comuns
das
residências
universitárias,
preferencialmente aqueles que se encontram entre o acesso ao edifício e o interior do dormitório,
podem ter seu uso potencializado por estratégias projetuais no sentido de criar ou conformar tais
espaços como pontos “acidentais” de convívio. Pode-se observar tal acontecimento no projeto da
residência estudantil Barry Street, em Melbourne, Austrália. O hall de acesso do edifício foi
transformado em um dos principais pontos de encontro. Isso ocorreu devido à transformação de
uma mureta localizada próxima à porta de elevador, cuja função inicial era delimitar o percurso
até o elevador, em um grande banco vermelho.
Figura 7 - Barry Sreet – Hall de acesso.
- Suporte Funcional: Este item tem como função discutir o suporte funcional concedido a
algumas solicitações de uso consideradas fundamentais a todos os estudantes universitários.
Segundo Scoaris (2012), o mobiliário, á área de projeto assim como o programa de cada moradia
podem ser sensivelmente diferentes, variando em função da localização, das mensalidades
cobradas e também do perfil dos estudantes alojados.
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- Espaços envolventes: O 4º e último eixo de análise, trata da importância dos arredores nas
edificações como vetores no processo de qualificação espacial. Lugares frequentados a qualquer
horário do dia, onde tenha intenso fluxo de pessoas transitando nos espaços externos aos
edifícios ou pelas ruas próximas, são considerados mais seguros e agradáveis. E uma maneira de
potencializar a utilização das ruas, é locar nas proximidades do alojamento universitário, lojas,
bares ou restaurantes em decorrência de sua atividade noturna.
Em síntese, os três tópicos aqui apresentados sugerem uma estruturação das
informações coletadas e apresentadas pelo autor, que dessa forma apresentou ao longo do texto
um vasto panorama do projeto de arquitetura para moradias universitárias, de modo que se pôde
verificar não apenas a qualidade espacial, mas questionar também a qualidade construtiva ou a
qualidade do sistema de gestão.
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3.
REFERÊNCIAS PROJETUAIS.
Como referências para o projeto, foram selecionadas e analisadas algumas das
seguintes habitações estudantis:
3.1.
MORADIA ESTUDANTIL DA UNICAMP
Local: Campinas, SP – 1989-1991
Arquiteto: Joan Villà
Construído entre 1989 e 1991, o projeto situa-se em Barão Geraldo, distrito da
Grande Campinas onde se encontra a Universidade de Campinas, Unicamp. O conjunto com 253
unidades habitacionais oferece moradia para aproximadamente 1.000 estudantes de graduação e
pós-graduação da Universidade. É formado por unidades autônomas de 63m², organizadas em
grupos de três, formando alas a cada 27 moradias. As unidades são interligadas por jardins
internos e cada ala possui sala de estudos e centro de convivência.
Figura 8 - Implantação e amostra de casas. Foto retirada do artigo: Aplicação da avaliação pós-ocupação: moradia
dos estudantes da Unicamp. Pág. 21
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Figura 9 – Implantação de uma Asa. Foto retirada do artigo: Aplicação da avaliação pós-ocupação: moradia dos
estudantes da Unicamp. Pág. 21
A moradia estudantil foi construída em um terreno com leve inclinação e grandes
possibilidades ambientais. De acordo com Montaner (1992), durante o desenvolvimento do
projeto, o arquiteto contou com a participação dos estudantes da Unicamp, que no início dos
anos 80, haviam ocupado a Universidade a fim de reforçar seus protestos. Villà pôde desta
forma, satisfazer os desejos dos estudantes que ali iriam habitar, e impor seus anseios em criar
uma comunidade ao ar livre.
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Figura 10 - Detalhe de uma célula. Foto retirada do artigo: Aplicação da avaliação pós-ocupação: moradia dos
estudantes da Unicamp. Pag.22
De acordo com Souza (1993), as casas apresentam-se em unidades térreas e
sobrados. Casas “padrão”, com 64m², constituem-se de sala, quarto e cozinha. Casas “Studio”,
representando 10% (dez por cento) do total, constituem-se apenas de sala e cozinha em seus
48m². (Figura 11)
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Figura 11 – Casa Stúdio. Foto retirada do artigo: Aplicação da avaliação pós-ocupação: moradia dos estudantes da
Unicamp. Pág. 22
Figura 12 – Casa Padrão. Foto retirada do artigo: Aplicação da avaliação pós-ocupação: moradia dos estudantes da
Unicamp. Pág 23.
21
O sistema modular e escalonado do projeto permitiu a criação de pequenos pátios,
que por sua vez, são compartilhados por residências de dois e/ou três cômodos, que abrigam de
duas a quatro pessoas (Figuras 9 e 12).
Essa solução adotada na implantação do projeto, organizou o espaço de modo que ele
originou grandes parques, ruas para os pedestres, pequenos espaços arborizados destinados aos
estudantes para estudar ou comer, terraços em cada unidade e pátios comunitários.
A solução construtiva adotada no projeto baseia-se no uso de painéis estruturais prémoldados in loco de tijolos cerâmicos, mas conhecido como tijolo baiano. Tal sistema permite
grande rapidez de execução e redução de custos.
Segundo Souza (1993), a inovação da obra se dá também no resultado formal final
do conjunto, resultante de uma implantação urbana diferenciada e da linguagem arquitetônica
das casas. Assim como para Montaner (1992), a qualidade do novo sistema construtivo modular
une-se à qualidade do espaço aberto, e da composição modular escalonada, que mesmo sendo
uma arquitetura moderna, recorda a harmonia do renascimento e das composições clássicas.
Em visitas de campo a obra, Souza (1993) fez um levantamento a fim de adquirir o
maior número de informações possíveis a respeito do projeto, sob o qual verificou o estado geral
de conservação das casas, o sistema construtivo, alterações construtivas e espaciais,
funcionamento das instalações, apropriação dos espaços pelos usuários, etc.
O resultado da pesquisa teve em sua maioria uma análise satisfatória dos itens
citados acima. Percebeu-se avaliações bastante positivas em alguns itens, mais diretamente
ligados ao projeto urbanístico e arquitetônico, como: a localização das unidades habitacionais no
conjunto, o aspecto visual da casa e do conjunto como um todo e a planta das unidades (tamanho
dos ambientes). Notou-se grande predominância de avaliações nos conceitos centrais
(“satisfatório e “pouco satisfatório”). Apenas um item foi apontado nitidamente como
desfavorável, foi ele o conforto acústico, que apresentou conceito final “ruim”.
22
Como pontos positivos de inovação do projeto, destacaram-se a implantação
urbanística, o dimensionamento dos espaços das casas, a tipologia construtiva e a linguagem
arquitetônica. Segundo o autor, tais fatores contribuem decisivamente para a nítida diferenciação
que esta obra apresenta em relação à grande maioria dos conjuntos habitacionais brasileiros.
3.2.
CONJUNTO RESIDENCIAL DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (CRUSP)
Local: São Paulo, SP
Arquiteto: Eduardo Kneese de Mello, Joel Ramalho Jr., Sidney de Oliveira, arquitetos –
1961.
As considerações a seguir foram feitas a partir da análise da seguinte tese: Pré fabricação no conjunto residencial da universidade de São Paulo (CRUSP). São Paulo, 1975.
Construído no ano de 1961, o CRUSP foi um dos primeiros projetos que Eduardo
realizou em parceria com esses jovens arquitetos, e talvez o mais conhecido. De acordo com
Franco e outros (1975), a proposta insere-se no ideário da arquitetura moderna. Assim como a
residência de professores projetada em 1962 por João Filgueiras Lima (Lelé), para a UnB, foi um
projeto destacado por sua inovação na utilização de elementos pré-fabricados em grande escala
no país.
Sem uma cobertura jardim, o projeto apresenta térreo livre, janelas contínuas, e uma
organização funcional. A intenção era construir um conjunto de blocos interligados por uma
passarela coberta central, que ligaria também as duas grandes avenidas, sendo que entre eles
fariam espaços verdes de uso comum, e um pequeno restaurante (Figura 13).
23
Figura 13 – Implantação. Foto retirada do texto: Pré-fabricação no conjunto residencial da universidade de São
Paulo (CRUSP) pág. 5
No projeto foram concebidos doze edifícios, todos iguais (um dos motivos da escolha
da pré-fabricação, em vista da repetitividade), com capacidade para alojar de 2000 a 2500
alunos, totalizando 45.000m². Estão estes situados entre o Centro Esportivo e um Centro Social
que constava no projeto global da Cidade Universitária.
No projeto se teria acesso ao Conjunto Residencial em dois extremos (as duas
grandes avenidas), com abrigos para a espera de transporte e serviço de café, engraxate, venda de
jornais, etc. Desse modo o espaço interno ficaria totalmente reservado aos pedestres (passeio
coberto, jardins).
“Tivemos... a preocupação de ligar todos os apartamentos, entre si e ao centro social,
aos restaurantes e às escadas, por caminhos cobertos, livres de cruzamento com
veículos.” (KNEESE DE MELLO, 1975)
“Tiveram os arquitetos a preocupação de oferecer aos estudantes a possibilidade de se
locomoverem, a pé, protegidos contra o sol e a chuva e sem cruzarem com veículos, em
24
toda a área do setor residencial.” (ACRÓPOLE, nº. 303 pág. 95, 1964).
O espaço entre os prédios seria destinado a áreas verdes de uso comum, comportando
um pequeno restaurante. A solução da estrutura, com os edifícios sobre pilotis liberava o térreo
como área livre sombreada destinada ao lazer e ao uso dos equipamentos esportivos, em
seguimento com os jardins entre os blocos (Figura 14).
A intenção do projeto era propiciar espaços de uso integrado, que estabelecesse uma
continuidade física e visual entre os espaços arborizados e as áreas abertas cobertas, que fossem
palcos de interações sociais.
“Aqui deveria haver bancos lugar para estar. Um jogo de voleibol, por exemplo,
caberia perfeitamente aqui, jogos pequenos, de modo que o estudante vivesse isto aqui, e os
outros seus colegas, das suas janelas, dos seus balcões, pudessem assistir tudo isso. (...). A nossa
idéia de desencontrar os prédios (...), é de criar um ambiente maior, livre aqui, uma área de
estar, de lazer, de descanso dos estudantes.” (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. Em:
REGINO, 2006).
Os doze edifícios foram construídos com seis andares de apartamentos, em cada
pavimento foram previstos dez apartamentos, além de uma área de estar comum às dez unidades,
que reduz a quantidade de usuários e permite que, a cada pavimento, os usuários se conheçam
melhor. Estas salas, embora com possibilidade de uso coletivo, convertem-se também em
espaços de caráter mais privado dos indivíduos. Esta tipologia de planta é um recurso de projeto,
que proporciona aos estudantes maior privacidade no interior das células e controle sobre suas
relações sociais. Cada pavimento conta também com uma enfermaria, rouparia e copa.
25
Figura 14: Térreo do edifício. Foto retirada do texto: Pré-fabricação no conjunto residencial da universidade de São
Paulo (CRUSP) pág. 6
Figura 15: Planta baixa pavimento tipo. Em azul a área de uso comum, em verde a célula residencial autônoma. A
linha vermelha indica o plano de contato com a área verde. Fonte: REGINO, 2006.
Cada apartamento tem capacidade em alojar três estudantes, tendo três camas e os
respectivos armários embutidos, sala de estudo, com estantes de livros, mesas e sanitários.
(Figuras 16 e 17)
26
Figura 16: detalhe apartamento tipo. Foto retirada do texto: Pré-fabricação no conjunto residencial da universidade
de São Paulo (CRUSP) pág. 6
Figura 17: ampliação banheiro. Foto retirada do texto: Pré-fabricação no conjunto residencial da universidade de
São Paulo (CRUSP) pág. 7
A disposição existente nos sanitários foi projetada de forma inteligente, uma vez que,
os lavatórios, a ducha, e os assentos, se encontram separados uns dos outros, tornando possível
que três pessoas façam uso do sanitário ao mesmo tempo. (Figura 17).
27
A fim de tornar o lugar mais agradável estimulando a permanência, o projeto faz o
uso de materiais mais acolhedores em sua arquitetura interna. Segundo Franco e outros (1975), a
madeira, detalhada de forma precisa, voltada à produção industrial, é empregada de forma
engenhosa, pois serve de acordo com a necessidade do indivíduo, como mobiliário e/ou divisória
entre os cômodos. (Figura 16).
A ideia de se ter um terraço compartilhado por duas unidades e o uso do vidro nas
áreas de estudo, permite a vista constante para a área verde projetada no intervalo dos blocos de
habitação. (Figuras 16 e 19).
Figura 18: dormitório para três pessoas, interior da célula. Fonte: ACRÓPOLE, 1964, pág. 99.
28
Figura 19: Área de estudo e copa, interior da célula. À esquerda, vista para a área verde. Fonte: ACRÓPOLE. 1964,
pág. 99.
Cada prédio é servido por dois elevadores, que param nos patamares das escadas,
entre dois pisos, permitindo menor número de paradas do elevador por pavimento. Descendo do
elevador, a pessoa sobe ou desce para seu andar, sendo que em frente à escada localiza-se a sala
de estar. (figura 20)
Figura 20: Escada intermediária. Figura 2 – Térreo do edifício. Foto retirada do texto: Pré-fabricação no conjunto
residencial da universidade de São Paulo (CRUSP) pag. 12
29
Por fim, argumenta Franco (1975), que um fator importante no projeto, se deu na
implantação dos edifícios, segundo a orientação solar. Desse modo os dormitórios e as salas de
estudos são orientados para o sol nascente, e os corredores de circulação orientam-se para a face
sudoeste com a devida proteção solar.
30
4.
BAKER HOUSE
4.1.
O ARQUITETO
Nascido no dia 3 de Fevereiro de 1898 no sul da Bótnia Oriental, Hugo Alvar Henrik
Aalto filho de engenheiro topógrafo, se mostrou talentoso ao desenhar desde criança, relata a
autora Louna Lahti em: Alvar Aalto 1898-1976: paraíso para gente comum.
Sempre foi muito criativo, se interessava por cinema e teatro, leitura e musica.
Segundo Lahti (2005), um de seus passatempos preferidos era ler livros em voz alta com a
família.
Alvar adquiriu uma educação clássica e espírito humanista quando foi para o Liceu.
Em 1916 passou nos exames finais do Liceu apesar das suas dificuldades em literatura e
ortografia. Posteriormente foi admitido como assistente do arquiteto Salervo, que por sua vez
não apostava nas habilidades de Alvar como arquiteto. A fim de provar o contrário ao arquiteto,
após o Liceu, foi tirar o curso no Instituto Superior Técnico em Helsínquia.
Seu primeiro projeto realizado foi quando recebeu a tarefa de desenhar os planos da
remodelação de uma casa em Alajarci comprada por seu pai, conhecida como Igreja de
Muurame.
O ano de 1925 foi de muitas realizações para Aalto, conta Lahti (2005). Sua filha
nasceu e em menos de quatro anos 14 de seus 36 projetos foram realizados.
“Antes da imprensa, o povo precisava de edifícios grandes e sobretudo bonitos como
símbolos das suas ideias espirituais, para satisfazer o seu anseio de beleza. Templos,
catedrais, praças publicas, teatros e palácios contavam a História de modo mais nítido e
com mais sensibilidade do que velhos rolos de pergaminho. No mundo, existia apenas
uma arte, a arquitetura, e nela influíam harmoniosamente a pintura e a escultura em
todas as suas formas; mesmo a música era como que parte integrante da construção de
um arco abobadado de uma catedral gótica.”(Alvar Aalto. Em FRAMPTON, 2008)
31
Durante a década de 30, Aalto teve seu grande momento na arquitetura finlandesa.
De acordo com Montaner (2013), mesmo que o arquiteto ainda não tivesse se consagrado de fato
com alguma obra reconhecida, ainda assim exerceu grande influência em arquitetos nomeados,
como Le Corbusier e Jörn Utzon. A fim de refinar, e desenvolver mais a fundo seus projetos,
Aalto, assim como muitos arquitetos escandinavos, buscou referências no classicismo e nos
métodos artesanais sobre uma base na modernidade, lhe conferindo um caráter progressivo e
humanista.
Em 1935, Aalto, junto de Marie Gullichsen e Nils Gustav Hahl, fundaram a empresa
de construção de móveis Artek. O principal objetivo da empresa relata Lahti (2005), era
comercializar os artigos do casal Aalto. Seu mobiliário era caracterizado pelo uso das formas
curvas e de materiais como a madeira, tecido e ferro.
Figura
21-
Cadeira
Paimio.
Desenhada
em
1931
por
Aalto
para
o
Sanatório
Paimio.
Fonte:
http://www.archiproducts.com/pt/produtos/31989/poltrona-de-madeira-com-bracos-41-paimio-artek.html
Segundo o autor William J. R. Curtis (2008), após o fim da 2° Guerra Mundial, Aalto
que estava com 47 anos de idade, apenas sobreviveu às condições financeiras estagnadas na
Finlândia, através de suas audaciosas viagens ao outro lado do Atlântico, onde havia sido
convidado para lecionar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambrigde, EUA.
Nessa ocasião, recebeu a encomenda para projetar o lar estudantil para o MIT, a Casa Baker
(1947 – 1948).
32
No entanto, o estilo de vida americano não agradava Aalto que o considerava
superficial. Sendo assim ele retornou em 1948 à Finlândia.
No período pós – guerra, a Finlândia rapidamente se reconstruiu e urbanizou-se, após
vilas e municípios serem destruídos durante a guerra. Curtis (2008) relata que Aalto desejava
mesclar através de duas edificações a vida humana à paisagem natural do local, dessa maneira
ele buscava combinar, e assim integrar, a arquitetura moderna com a topografia das áreas rurais.
Nas décadas de 1950 e 60, o atelier de Alto viveu um tempo febril. A produtividade
de Aalto cresceu consideravelmente, tanto na qualidade quanto na quantidade, que segundo
Aalto era a única medida para a arte. Dentre essas produções, incluem-se edifícios culturais na
Europa, casas de amigos, igrejas, projetos para universidades, edifícios residenciais, centros de
cidade e urbanísticos.
Aalto sempre buscou em seus projetos, conciliar o intelectual e o sensorial. Para
Montaner (2013), a preocupação do arquiteto com a locação do edifício, sua situação perante o
entorno, e a maneira como os diferentes volumes se relacionariam, mostrava a sintonia da
expressão do arquiteto, com muitas correções formais que grande parte da arquitetura tentou
introduzir a partir da década de 50.
Segundo Frampton (2008, p. 244):
Ao longo de toda sua vida, a tentativa de Aalto de satisfazer critérios sociais e
psicológicos distanciou-o dos funcionalistas mais dogmáticos dos anos 1920, cujas
carreiras já estavam estabelecidas quando ele projetou suas primeiras obras
significativas. Apesar de sua reação inicial às formas dinâmicas do Construtivismo
russo, Aalto sempre concentrou sua atenção na criação de ambientes que levassem o
homem a uma situação de bem-estar. Mesmo suas obras mais funcionalistas, como seu
edifício Turun - Sanomat de 1928, refletem sua perene sensibilidade à luz,
constantemente enriquecendo uma estrutura que, de outro modo, seria extremamente
dogmática e austera.
Alvar Aalto morreu em Helsínquia, no ano de 1976 . Segundo Lahti (2005), antes de
sua morte, ele recebeu a notícia de que iria ser construída uma igreja na Itália, baseada em seus
desenhos.
33
Após seu falecimento, Alvar Aalto recebeu diversas homenagens. Teve seu nome
atribuído à chamada medalha Alvar Aalto, considerado um dos prêmios mais prestigiados da
arquitetura no mundo. Também estampou a nota de 50 da ultima série da moeda corrente
finlandesa, antes de sua conversão para o euro em 2002.
Em 1976, ano de sua morte, Aalto foi honrado ao ter sua imagem impressa em um
selo postal finlandês.
Figura 22 - Alvar Aalto representado no selo finlandês. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alvar_Aalto
Em 2010 foi criada a Aalto University, uma nova universidade finlandesa, originada
a partir da fusão da Helsinki University of Technology , da Escola de Economia de Helsínquia, e
da Universidade de Arte e Design de Helsínquia. A Universidade tem esse nome em homenagem
a Alvar Aalto, que foi ex-aluno da antiga Universidade de Tecnologia de Helsinki, e que também
projetou uma grande parte do campus da Universidade em Otaniemi, distrito de Espoo na
Finlândia.
4.2.
HISTÓRIA DO PROJETO
As considerações a diante, foram feitas a partir da leitura e consequente análise dos
seguintes textos: Baker House at 50: renewing the commitement; Happy Aniversary, Baker
34
House: Aalto´s MIT dormitory is 25 years old, de Stanley Abercrombie (1973).
Em 1946, Alvar Aalto projetou a moradia estudantil Baker House, localizada no
campus do MIT (Massachusetts Institute of Technology) em Massachusetts, EUA. Na época
Aalto era um dos professores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e foi convidado pelo
reitor da escola, William Wilson Wuster, junto de James Killian (presidente do MIT algum
tempo depois) para realizar o projeto da moradia estudantil. Outros três jovens arquitetos foram
trazidos da Finlândia para auxiliar Aalto. A construção da obra se deu três anos depois, em 1949.
Aalto enfrentou dificuldades na época em que foi convidado a projetar a moradia
estudantil. Sua primeira mulher e também parceira de trabalho estava doente na Finlândia
(falecendo em 1949); teve que atender aos requisitos de Cambridge, que julgava a flexibilidade
dos dormitórios, de acordo com o código de construção de Massachusetts, além das dificuldades
de lidar com o cliente, MIT, que exigiam por mais quartos e menos despesas.
Em 1950, a habitação estudantil recebeu o nome de Baker House, devido a uma
homenagem ao Decano de alunos do MIT, Everett Moore Baker, que morreu em um acidente de
avião naquele ano.
O dormitório tem uma forma curva, que se assemelha muito ao formato de um “S”,
como se deslizasse ao longo do lado norte do rio Charles. Tal forma não foi um mero capricho de
Aalto, muito das características desse projeto, refletem as idéias do arquiteto em relação à
estratégia formal.
35
Figura 23 - Vista da Baker House por satélite. Fonte: http://histarq.wordpress.com/2012/11/20/aula-6-alvar-aaltoate-1976/
Figura 24 - Croqui de Aalto, mostrando a fachada sul. Fonte: http://studiointernational.com/index.php/aalto-andamerica
Aalto o fez dessa forma, pois desejava maximizar a vista do rio para todos os alunos,
36
assim cada um deles teria uma vista privilegiada, já que a curva possibilitou aumentar a
densidade do edifício. Tal fato acarretou em uma variedade considerável nas tipologias dos
dormitórios, que permitiu a alguns aposentos vistas diagonais das partes altas e baixas do rio. No
entanto em um primeiro momento, durante o desenvolvimento do projeto, o MIT exigia a adição
de várias salas sem vista para o rio, com fachadas para o leste e oeste (e não para o norte, onde
cada sala teria luz do sol em pelo menos um momento do dia). A segunda demanda que ia contra
as ideais originais de Aalto foi sobre a fachada sul, que seria parcialmente revestida com grandes
treliças metálicas, ao invés de tijolos.
O programa foi dividido por Aalto em dois elementos, o comunitário e o privativo. O
primeiro abrigava os dormitórios estudantis, e foi destinado a ele a estrutura com a tal forma
sinuosa. Tal parte comunitária foi anexada às formas retangulares alojadas no eixo diagonal do
pavimento térreo.
Figura
25
–
Bloco
retangular
contrastando
com
a
forma
em
“S”.
Fonte:
http://forums.filmnoirbuff.com/viewtopic.php?pid=210822
De acordo com Curtis (2008), esse contraste na geometria do projeto, entre as formas
37
regulares e sinuosas, era reforçado pelo contraste entre as texturas utilizadas no edifício, em que
as coberturas horizontais flutuantes de concreto e revestidas em pedra da área de estar/jantar,
confrontam com as texturas ásperas da parede em forma curva, perfurada pelas janelas dos
cômodos.
Figura 26 - Baker House em 1950. Foto retirada do livro: “Baker House at 50: renewing the commitment.”
A construção teve inicio em 1947, e basicamente foi concluída em 1948, pelo preço de
$4500,00 por cama, mais ou menos $12,00 por metro quadrado. Foi habitada pelos alunos em
1949, e em 1950, como já dito anteriormente, recebeu o nome de Baker House.
Na abertura oficial da nova moradia, em 11 de junho de 1949, Aalto foi extremante
elogiado pelos administradores do MIT, que caracterizaram o projeto como "estimulante e pouco
convencional" que permite "um ambiente incomum para uma verdadeira vida em comunidade".
A peculiar forma de serpente não só "torna possível o maior número de quartos com orientação
ensolarada com vista para o rio Charles River", como também configura os quartos em ângulos
oblíquos, que suavizam o impacto sobre os moradores do tráfego existente ao longo da Avenida
Memorial Drive.
O uso de tijolos vermelhos como revestimento da fachada, e a sequência de divisões
sinuosas e curvas, teve uma provável influência na tradição das casas existentes em Boston,
afirma Curtis (2008). No entanto, o autor crê também que o pensamento do arquiteto por trás da
38
edificação e de suas formas estava fundamentado em suas explorações do pós-guerra.
A inspiração no uso das curvas estava baseada nas formas antropomórficas e nas
formas inspiradas em fenômenos naturais, assim como na paisagem finlandesa. A fachada de
tijolos revela uma impressão de uma construção já antiga, em que os efeitos de desgaste que o
tijolo proporciona, pareciam ser previstos, desejados e bem acolhidos.
A Baker House tem capacidade para abrigar 350 pessoas, levando em conta que há
uma mudança de moradores duas vezes ao ano, significa que 17.000 estudantes já moraram por
lá. Aalto também previu no projeto um bicicletário, localizado perto da entrada.
No pavimento dos dormitórios, encontram-se algumas salas de estar, que são
ambientes que além de serem comuns a todos os estudantes, fornecem luz e ventilação natural ao
corredor. Aalto projetou três tipos diferentes de quartos individuais, devido a mudança na
geometria do edifício que a curva provoca. Os estudantes apelidaram esses dormitórios de
“caixões”, “tortas”, “sofás”, entre outros nomes, por suas formas serem tão únicas.
Figura 27 - Planta primeiro pavimento. Foto retirada do livro: “Baker House at 50: renewing the commitment.”
Dan Crews, um ex-professor de pós-graduação residente, analisa a espacialidade do
edifício de forma positiva, ele observa que "todas as atividades e eventos são, em grande parte
possível, devido à estrutura da Baker House. As grandes áreas comuns se prestam às festas e
eventos sociais; as salas de lazer, aos grupos de estudo, jogos de cartas e as conversas
39
informais; e os dormitórios, à privacidade”.
Pelo fato das suítes estarem concentradas de um lado do corredor, com pequenas
salas de estar ao longo do pavimento, faz com que a Baker House se diferencie das demais
moradias estudantis da época, que eram caracterizadas por um corredor duplo com idênticos
dormitórios e banheiros comunitários em cada andar, onde não há interação entre os moradores.
Figura 28 - Estudantes na sala de estar, 1949. Foto retirada do livro: “Baker House at 50: renewing the
commitment.”
Figura 29 - Sala de estar, anos 90. Fonte: https://www.flickr.com/photos/abthomas/4583873355/
40
Na ala oeste estão localizados a maioria dos dormitórios de casal, que originalmente
tinham suas divisórias de madeira. A disposição dos quartos é feita através de uma seleção anual,
em que os alunos mais quietos tendem a ir para os quartos de solteiros na ala leste, enquanto os
estudantes mais extrovertidos, vão para o oeste, onde se localizam as maiores salas de estar.
Para Abercrombie (1973), Aalto foi extremamente cuidadoso e inovador ao projetar
os móveis existentes no interior dos dormitórios, junto de sua mulher Aino. Nos quartos havia
uma cama, um armário grande para pendurar e guardar as roupas, e uma pequena cômoda. Estes
móveis ao passar dos anos foram apelidados pelos estudantes de “elefantes” - armários em
madeira com portas de correr, “girafas” – estante em madeira que ia do chão ao teto,” jacaré” gavetas em madeira embaixo da cama, etc.
Figura 30 - Quarto de solteiro, 1960. Fonte: http://forums.filmnoirbuff.com/viewtopic.php?pid=210822
41
Figura 31 - Quarto de solteiro, 2002. Fonte: http://campics.herokuapp.com/#mit2
Figura 32 - Quarto de três pessoas, com os móveis originais, 1949. Foto retirada do livro: “Baker House at 50:
renewing the commitment.”
Todos os móveis foram feitos de madeira natural, e todos eles ainda permanecem
intactos na Baker House, com exceção das cadeiras, a qual a maioria foi trocada visto seu mau
estado de conservação.
42
Figura 33 - Pavilhão de jantar, 2000. Fonte: http://perrydean.squarespace.com/pdrnews/2011/4/8/baker-housedormitory-article-on-archdaily.html
Todos os estudantes que já residiram na Baker House, tiveram e ainda têm muita
afeição pelo lugar, é uma conexão tão forte que alguns deles acabam voltando para visitar o
antigo “lar” e participar dos eventos lá promovidos.
Passados meio século de uso, o estado de conservação do edifício começava a
mostrar deficiências, ele não atendia mais ás exigências do código de construção. A parte
elétrica, mecânica e o sistema de canalização chegaram ao fim de sua vida útil. Portanto, em
1996, o MIT tomou a decisão de que seria necessária alguns reformas na Baker House.
A empresa responsável pela reforma realizou um estudo, de um ano de viabilidade,
que de acordo com o reitor, Dean Mitchell “foi um esforço acadêmico extremamente cuidadoso
ao olhar para as intenções originais de Aalto e conseguir separar as questões filosóficas
problemáticas envolvidas, da decisão de qual estágio deveria ser restaurado o edifício”.
Como parte da pesquisa, a empresa organizou uma série de workshops interativos,
com os principais administradores do MIT e com os moradores atuais e antigos, que, em parte,
43
haviam solicitado um estudo, com os seus comentários sobre o estado do edifício. A conclusão
foi de que seria necessário não só um novo plano para substituir os principais sistemas, mas
também para restaurar os recursos primários, tais como: o pavilhão de jantar, o lobby, as salas de
estar, a inclusão de novos banheiros, reforma nas cozinhas, etc.
Todos os alunos passariam a ter em seus dormitórios, equipamentos eletrônicos,
como computadores, adequando-se ás exigências do presente momento. Na parte exterior do
edifício, foram feitos reparos nos fechamentos de tijolos dos muros, e também na fachada Norte.
Em 1970, as janelas de alumínio foram substituídas por novas janelas, projetadas com a intenção
de combinar com as unidades originais feitas em madeira.
Novos quartos foram inseridos no quarto, quinto e sexto pavimento, tais dormitórios
não tiveram a vista privilegiada para o rio como os demais.
Figura 34 - Térreo e 6° pavimento depois da reforma. Foto retirada do livro: “Baker House at 50: renewing the
commitment.”
44
Instalações mecânicas também foram feitas, como a acomodação de novos ares
condicionados nas salas de uso comum, escondidos entre ripas de madeira natural, que estavam
inclusas no projeto original de Aalto. A lareira existente na sala de estar recebeu reproduções
originais do mobiliário de Aalto, assim como aproximadamente outras 1.500 peças, devido um
contrato que a MIT fez com uma empresa de madeira. O trabalho se concretizou por inteiro
apenas em 1999, totalizando um custo de um milhão de dólares.
A restauração se deu por mais ou menos dois anos, no qual todo seu processo foi
feito cuidadosamente pela MIT. Em nenhum momento o interesse foi superficial, de apenas
ajustar as necessidades aos novos padrões, mas sim de promover uma restauração de forma
inteligente, sensível e dedicada.
Por fim, o texto conclui que a Baker House, com sua forma ondulada tão única, se
tornou um marco ao longo do Rio Charles. É um dos edifícios modernos essenciais existentes na
América do Norte, e uma das duas estruturas permanentes projetadas por Aalto nos Estados
Unidos. Também é um prédio extremamente significante na história do MIT, uma vez que marca
o início de um programa de transformação, de um instituto de uma grande escola periférica, para
uma Universidade residencial.
4.3.
ANÁLISE DA OBRA
Após a análise da obra foi possível concluir algumas questões consideradas
relevantes sobre a pesquisa.
O arquiteto é caracterizado pela busca da humanização das formas e de técnicas
industrializadas que rompem com a rigidez das soluções ortogonais, atribuindo a seus projetos a
relação e preocupação com o meio ambiente. Verifica-se da análise de sua obra que a maioria de
seus edifícios está intimamente ligada ao lugar que se encontra, avaliando sempre o entorno.
A relação entre arquitetura e natureza, tecnologia e o homem são bases dos conceitos
45
de Aalto. Suas obras se inserem numa linha entre o funcionalismo ortodoxo e a arquitetura
vernacular, com uma visão pessoal. Rompe, portanto, com o rigor quando necessário, perdendo a
natureza estática de funcionalidade, mas respondendo a lógica e adquirindo “calor e
cordialidade”.
A obra leva a característica orgânica dos projetos de Aalto. A linha sinuosa que
define a parte frontal do campus se contrapõe à linha ondulada que distingue a frente dos quartos
voltados para o rio. A expressividade da obra também é acentuada pela escolha dos materiais.
São utilizados revestimento de tijolos refratários do corpo alto, e placas de mármore cinza do
volume baixo, onde se encontra o restaurante.
Pode-se afirmar que a Baker House se tornou a maior referência de habitação
estudantil no Mundo. Alvar Aalto, projetou um lugar para que os estudantes se sentissem em
“casa”. Aqueles que viveram na Baker House sabiam que algo de especial havia sobre a
arquitetura do lugar.
46
5.
ATIVIDADE PROJETUAL
5.1.
CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDO.
O projeto está situado na região central da cidade de São Paulo, localizado próximo
de Universidades de maior prestígio acadêmico que estejam, elas mesmas, próximas entre si.
Tendo em vista tais aspectos, o terreno escolhido encontra-se no bairro Vila Buarque, localizado
parte no distrito da República, parte no distrito da consolação na região central da capital paulista
e é administrado pela Subprefeitura da Sé.
O terreno atualmente é composto por um grande Supermercado chamado Futurama, e
um estacionamento pertencente ao estabelecimento (ambos com frente para a Rua General
Jardim). Outros dois estacionamentos também foram utilizados como área projetual, um deles
com acesso pela Rua Marquês de Itu, e o outro pela rua Dr. Cesário Mota Júnior, permitindo
assim uma maior permeabilidade na quadra. Visto também a existência de duas oficias
encontradas em mau estado de conservação na Rua Amaral Gurgel, foi proposto a demolição das
mesmas, na intenção de estabelecer mais um acesso a quadra. Totalizando assim quatro acessos.
47
Figura 35 – Área de inserção do projeto. Base: Google
A área do terreno está no perímetro da operação Urbana Centro. A lei estabelece
incentivos à produção imobiliária na forma da concessão de exceções à Luos-Legislação de uso e
ocupação do solo. Na área da Operação Urbana Centro também vigoram disposições específicas
que se sobrepõem às disposições do zoneamento. A utilização dos benefícios que tais disposições
facultam é livre de ônus e a aprovação dos projetos elaborados com base nelas é feita
diretamente na SEHAB ou na Subprefeitura.
As disposições específicas dão incentivos:
(i) Para o remembramento de lotes, para o uso residencial, para hotéis, para as
atividades culturais, de entretenimento e educação, não condicionadas ao pagamento
de contrapartida;
(ii) Para a conservação do imóvel de interesse histórico, fixando para esse imóvel um
montante de potencial construtivo transferível, calculado em função da área
edificada, que pode ser vendido pelo proprietário.
48
(iii) Para a reconstrução ou reforma de edifícios a fim de adequá-los a novos usos.
O último item é o que melhor se adéqua as necessidades construtivas do projeto, uma
vez que será necessária a demolição de pequenas casas comerciais, encontradas em péssimo
estado de conservação, a fim de propiciar uma maior permeabilidade na quadra em que o terreno
se encontra, propondo a esses comércios novos usos que melhor se adéquam nas necessidades
atuais da região.
O terreno de estudo é caracterizado como sendo de uso privado. No projeto estão
previstos três acessos além do principal – que se dá pela Rua General Jardim- cada um deles se
dá em uma rua diferente, com a intenção de se obter um espraiamento no terreno. Sendo assim,
nota-se a necessidade da implantação de espaços públicos, como uma grande praça, por exemplo,
um espaço que seja tanto de circulação, como de permanência.
Devido a isso, será proposta uma praça, que melhor integre os usuários (estudantes
da habitação estudantil) aos frequentadores do bairro.
Em termos educacionais é possível afirmar que na região encontram-se diversas
Universidades, sendo este o principal motivo pela escolha do terreno. Outro item que se encaixa
no aspecto social, é questão do lazer e segurança. Há uma deficiência de áreas de lazer na
quadra, onde apenas uma praça chamada Rotary se destaca mais, por abrigar nela a biblioteca
Monteiro Lobato. A praça encontra-se em estado de conservação razoável, e ainda bem
frequentada pelos moradores do bairro.
Em relação a segurança, a região está comprometida durante a parte da noite,
principalmente devido a existência do Elevado Presidente Costa e Silva, popularmente conhecido
por Minhocão. Sob o viaduto formaram-se lugares ociosos, “moradias” para os sem-teto, ponto
de consumo de crack e prostituição. No entanto, durantes os finais de semana o Minhocão é
fechado para o transito de veículos, tornado-se um local de lazer, em que as pessoas andam de
49
bicicleta e skate, passeiam com seus cachorros, tiram fotos, enfim, um ambiente completamente
oposto do que é durante a semana.
50
6.
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO - EXPERIMENTAÇÕES
Por se tratar de um edifício habitacional estudantil, chegou-se à conclusão, através de
estudos sobre o tema, de que um edifício em formato de lâmina, ou em H (com extensos
corredores e dormitórios nos extremos), foram aqueles que apresentaram mais características
físicas negativas do ponto de vista de qualificação espacial, uma vez que não propiciam nenhuma
iniciativa positiva relacionada à promoção de integração entre os estudantes.
Tendo em vista tal aspecto, a tarefa foi estudar como implantar o edifício, a fim de não deixá-lo
com tais características. Para definir qual seria a alternativa mais adequada, também foi levada
em consideração a questão da orientação solar e da permeabilidade da quadra.

EDIFÍCIO EM FORMATO DE “H”.
Primeiramente foram feitos estudos através da maquete, com o edifício em formato
de “H”.
Figura 36 - Edifícios posicionados de forma “H”
Utilizando a maquete feita no inicio do semestre – e que seria a base para os estudos
de atividade 4 – foram feitos dois blocos de papel triplex revestido de preto (para diferenciá-los
51
dos edifícios do entorno), com o intuito de simular os dois edifícios habitacionais. O bloco
amarelo, feito de lego, mostra a circulação (com 03 elevadores e caixa de escada). O
posicionamento dos edifícios dessa maneira, ou seja, em forma de “H”, demonstram uma
dificuldade posterior de implantação do programa completo, uma vez que ocupa grande área do
terreno.
Figura 37 - Corredores estreitos se formaram nos lados
Foi possível analisar também que, ao dispor os blocos dessa maneira, dois corredores
estreitos se formariam ao lado dos edifícios (a maquete, por estar em escala, permite extrair
conclusões embasadas), os quais prejudicariam o fluxo e a tão desejada permeabilidade na
quadra.
Os apartamentos, por sua vez, teriam insolação para as faces leste e oeste, orientação
esta considerada boa. Porém como os resultados apresentados anteriormente foram negativos,
além do que, o partido do projeto não condizia com um edifico em H, a ideia foi descartada.

EDIFÍCIO POSICIONADO PARALELAMENTE À RUA GENERAL JARDIM.
O próximo passo foi posicionar o edifício em paralelo à Rua General Jardim. Muito
embora fosse sabido que o edifício ficaria com a forma de lâmina, a alternativa a não poderia ser
desprezada.
52
Figura 38- Edifício posicionado paralelamente à Rua General Jardim
O posicionamento do edifício dessa maneira possibilitou a percepção de que haveria
um aumento de área no terreno, ou seja, houve uma menor ocupação da área livre construída –
ao contrário do posicionamento em “H” – o que possibilitaria a intensificação do fluxo de
circulação da área, tendo em vista que o edifício estaria sobre pilotis.
Outra vantagem dessa implantação é que a disposição do edifício paralelamente à
Rua General Jardim possibilitaria que todos os apartamentos tivessem insolação voltada para a
face Norte. Tal fato também representa vantagem significativa à primeira opção apresentada.
Em que pese a relativa vantajosidade apresentada em relação à disposição em
formato de “H”, continuaria presente o problema da edificação se dar em formato de lâmina, a
qual nunca foi a intenção original do projeto. Contudo, ao longo do desenvolvimento do trabalho
e dos experimentos nele desenvolvidos, verificou-se que um edifício nessa configuração não se
tornaria, necessariamente, uma lâmina convencional.
A partir da análise do modelo de lâmina convencional (figura 38) foram sendo
buscadas alterativas que permitissem o desenvolvimento da edificação em lâmina, mas não o
modelo convencional.
53
Figura 39 - Modelo em 3D feito no software SketchUp
Sendo assim, o primeiro passo foi realizar um modelo em três dimensões (3D) do
edifício. Em seguida, desenhou-se por cima desse modelo. Essa solução contribuiu para que as
ideias fossem mais facilmente expressadas. O experimento visava sobressaltar alguns dos blocos
de apartamentos, criando uma dinâmica na fachada, se distanciando cada vez mais do conceito
de lâmina convencional.
Figura 40 - Desenho feito tendo como base o modelo em 3D.
54
Figura 41 - Edifício Dorrego 1711, projetado por Dieguez Fridman
A partir da referencia utilizada a cima surgiu a ideia de fazer os blocos de
apartamentos modulados, com a intenção de, posteriormente, intercalar tais modulações. Para
concretizar esse experimento foram feitos módulos de massa de modelar (os quais simbolizam os
apartamentos). o que facilitou a montagem e visualização destes.
Figura 42 - Edifício feito em módulos de massa de modelar.
Tal estudo, por meio de uma análise prática, trouxe ótimas conclusões para o
trabalho, pois foi comprovada que a lâmina original havia se transformado em um bloco nada
convencional. Foram feitos também alguns desenhos a mão livre com o propósito de analisar
como ficaria o edifício por inteiro já com as novas mudanças (Figura 43).
55
Para ajustar e aperfeiçoar algumas das irregularidades que o estudo feito com a
massa de modelar e o desenho continha, foi feito outro modelo em 3D do projeto (Figura 44).
Figura 43 - Desenho feito à mão livre.
Figura 44 - Modelo 3D realizado no software SketchUp .
56
No novo modelo feito em três dimensões foram encaixados os módulos e também
adicionados os blocos representados em vermelho na figura 44, devido à necessidade em
aumentar a área de algumas das tipologias dos apartamentos.
Foi possível perceber por meio de tais experimentos que o posicionamento do
edifício dessa forma foi a melhor solução de se resolver a questão da implantação. O maior
receio projetual era de que ele se tornasse uma lâmina convencional, que, como já dito
anteriormente, seria prejudicial à espacialidade do projeto. No entanto, através desses diversos
testes, foi possível chegar a um resultado satisfatório e condizente ao projeto proposto.
Figura 45 - Perspectiva eletrônica da alternativa escolhida.
57
6.1.
PROJETO FINAL
IMPLANTAÇÃO C/ TÉRREO
58
SUBSOLO
59
1° E 2° PAVIMENTO
60
PAVIMENTO TIPO
61
CORTES A e B
62
PERSPECTIVAS FINAIS
63
7.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A monografia se inicia com uma breve apresentação sobre o desenvolvimento do
aluno ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo. Foram destacados livros marcantes durante
o curso, assim como os professores considerados de grande importância para a formação
acadêmica. Naquele capítulo, também foram apontados os trabalhos de maior destaque e que
acrescentaram conhecimentos e aprendizado à formação e uma sucinta introdução sobre o tema
de estudo.
O segundo capítulo descreveu quais foram os métodos de estudo utilizados durante a
pesquisa, com maior enfoque no resumo feito sobre a tese de mestrado, “O projeto de arquitetura
para moradias universitárias”, escrita por Rafael de Oliveira Scoaris e escolhida como referência
devido a sua grande relevância para o tema de estudo.
O capitulo seguinte trouxe referências projetuais selecionas para estudo, quais sejam:
(i) Moradia Estudantil da Unicamp; e (ii) Conjunto Residencial da cidade de São Paulo
(CRUSP). No entanto, a referência utilizada com maior detaque e aprofundamento de dados foi a
moradia estudantil Baker House, a qual foi devidamente referenciada em capítulo próprio.
O quinto capítulo tratou especificamente das atividades projetuais por meio de
análise das caracteristicas da área de estudo (informações sobre o bairro e terreno em que o
projeto foi implantado). Posteriormente foi relatado o desenvolvimento do projeto por meio de
descrição de experimentações e estudos sobre a área. A partir de tal experiência prática foi
possível tirar conclusões significativas para atingir resultado final satisfatório.
Após o desenvolvimento do trabalho foi possível obter um aprendizado sobre o modo
de como as moradias estudantis se comportam no meio que estão inseridas, tanto no seu aspecto
físico quanto social. No caso, foram analizadas moradias situadas no Brasil e nos Estados
Unidos, ambas demonstrando caracteristicas que fazem esse tipo de habitação ser considerada
um projeto de destaque que pode estabelecer uma conexão entre o ambiente e os moradores
(estudantes), que o veem como seu “lar”.
64
8.
BIBLIOGRAFIA
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organization, actives and problems or students health service. Public Health Reports (18961970), Vol. 34, No. 45 (Nov. 7, 1919), pp. 2489-2518
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Vol. 21, No. 548 (Jun. 30, 1905), pp. 969-984
- MENDES, Fernando Fairbanks Coelho. Habitação coletiva urbana de baixo custo e a
construção industrializada. São Paulo, 1975
- SCOARIS, Rafael de Oliveira. O projeto de arquitetura para moradias universitárias:
contributos para a verificação da qualidade espacial. São Paulo, 2012.
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1975.
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contribuição à habitação coletiva em São Paulo. São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado).
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Unicamp. São Paulo, 1993
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years old. MIT, 1973
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metade do século XX. São Paulo: Gustavo Gili, 2013
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construções para a sociedade. Campinas, 1992. Em:
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