SAFs nos corredores ecologicos do Espirito Santo

Transcrição

SAFs nos corredores ecologicos do Espirito Santo
Projeto Corredores Ecológicos/ CCMA
Cooperação Financeira Alemanha / Brasil
BMZ / 2001.65.092
GAIA
RELATÓRIO FINAL
Diagnóstico de Experiências de Sistemas Agroflorestais e
Recomendações de Estratégias e Políticas Públicas para
sua Implementação e Difusão no Estado do Espírito Santo
Verônica Rocha Bonfim
(Engª Florestal)
Rio de Janeiro, Julho de 2009
RELATÓRIO FINAL
Diagnóstico de Experiências de Sistemas Agroflorestais e
Recomendações de Estratégias e Políticas Públicas para
sua Implementação e Difusão no Estado do Espírito Santo
FICHA TÉCNICA
Coordenação:
Hans Christian Schmidt - Consultoria permanente GFA
Penha Padovan – INCAPER
Consultora do diagnóstico e elaboração do relatório:
Verônica Rocha Bonfim – Consultoria de projetos na área sócio-ambiental.
Revisão:
Hans Christian Schmidt - Consultoria permanente GFA
Coleta dos dados:
Verônica Rocha Bonfim e Rogério da Silva Fernandes (Biólogo)
Fotos:
Verônica R. Bonfim, Rogério S. Fernandes, Demétrius Silva, Isaías Bregonci,
Jarbas Teixeira e Rita Zanúncio.
2
LISTA DE SIGLAS
APA
Área de Proteção Ambiental
APP
Área de Preservação Permanente
APTA
Associação de Programas em Tecnologias Alternativas
ATEFAMA
Projeto de Assistência Técnica aos Agricultores Familiares da Mata Atlântica no
Estado do Espírito Santo
ATER
Assistência Técnica e Extensão Rural
RL
Reserva Legal
BASA
Banco da Amazônia
BNB
Banco do Nordeste do Brasil
BNDES
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CCA
Corredor Central da Amazônia
CCA
Centro de Ciências Agrárias
CCD
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
CCMA
Corredor Central da Mata Atlântica
CEDAGRO
Centro de Desenvolvimento do Agronegócio
CEPLAC
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CIER
Centro Integrado de Ensino Rural
CMDRS
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável
CPDA
Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
CTA-ZM
Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata
CTC
Capacidade de Troca Catiônica
DAP
Diâmetro à Altura do Peito
DDAS
Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
DEPFLOR
Departamento de Florestas
ES
Estado do Espírito Santo
GLASOD
Global Assessment of Soil Degradation
IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ICHS
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
IDAF
Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal
3
IEMA
Instituto Estadual de Meio Ambiente (ES)
INCAPER
Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (ES)
INCRA
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPEMA
Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica
KfW
KfW Bankengruppe
MEPES
Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo
MMA
Ministério do Meio Ambiente
ONG’s
Organizações Não-Governamentais
PCE
Projeto Corredores Ecológicos
PD/A
Projetos Demonstrativos
PEDEAG
Plano Estratégico de Desenvolvimento Agropecuário (ES)
PENSAF
Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais
PNF
Programa Nacional de Florestas
POA
Plano Operacional Anual
PPG7
Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
PRONAF
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SAF’s
Sistemas Agroflorestais
SBF
Secretaria de Biodiversidade e Florestas
SEAG
Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca
SEAMA
Secretária Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (ES)
SNUC
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
STR
Sindicato dos Trabalhadores Rurais
SUDENE
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
TDR
Termo de Referência
UC’s
Unidades de Conservação
UCE
Unidade de Coordenação Estadual
UFES
Universidade Federal do Espírito Santo
UFRRJ
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
VALE
Companhia Vale do Rio Doce
4
SUMÁRIO
Página
LISTA DE SIGLAS
CAPÍTULO I – METODOLOGIA………………………………………………………...
03
07
09
1. Objetivo Geral…………………………………………………………………………..
09
1.1 Objetivos Específicos…………………………………………………………………
09
2. Metodologia utilizada…………………………………………………………………..
09
3. Plano de Trabalho………………………………………………………………………
10
CAPÍTULO II – RESULTADOS E DISCUSSÃO………………………………………
11
1. Introdução……………………………………………………………………………….
11
2. Panorama das experiências…………………………………………………………..
13
2.1 Momentos Coletivos…………………………………………………………………..
17
3. Conclusões do diagnóstico……………………………………………………………
17
3.1 Histórico das Áreas.............................................................................................
17
3.2 Desenho e Manejo dos SAF’s……………………………………………………….
19
3.3 Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos……………………………………….
20
3.3.1 Flora.................................................................................................................
20
3.3.2 Solo..................................................................................................................
23
3.3.3 Água.................................................................................................................
25
3.3.4 Fauna...............................................................................................................
26
3.3.5. Serviços Ambientais........................................................................................
26
3.3.6 Organização social, capacitação e assistência técnica...................................
27
3.4 Aspectos Econômicos.........................................................................................
29
4. Principais aprendizados........................................................................................
34
4.1 Aprendizados citados por agricultores da Região Sul........................................
35
4.2 Aprendizados citados por agricultores na Região Central/Serrana....................
376
4.3 Aprendizados citados por agricultores na Região Norte.....................................
40
CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................
42
1. Potencialidades e Limites para os SAF’s no Espírito Santo.................................
42
2. SAF’s e Agroecologia............................................................................................
44
3. SAF’s e Articulação Interinstitucional....................................................................
45
4. ATER, Capacitação e Organização......................................................................
45
5. SAF’s e Mercado...................................................................................................
46
6. Quintais Agroflorestais, Aspecto de Gênero e Participação da Família...............
47
APRESENTAÇÃO………………………………………………………………………...
5
CAPÍTULO IV – RECOMENDAÇÕES DE ESTRATÉGIAS E POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO E DIFUSÃO DOS SAF’S NO
ESPÍRITO SANTO
49
1. Políticas Públicas e Aspectos Legais....................................................................
49
2. Articulação Interinstitucional e Parcerias..............................................................
51
3. SAF’s Integrados e Agroecológicos......................................................................
51
4. Mercado................................................................................................................
51
5. Pesquisas..............................................................................................................
52
6. Organização, Capacitação e Difusão....................................................................
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................
54
AGRADECIMENTOS................................................................................................
55
ANEXO......................................................................................................................
57
1. Formulário encaminhado aos técnicos do INCAPER no Estado..........................
57
2. Roteiro de entrevista para técnicos.......................................................................
57
3. Roteiro de entrevista para produtores...................................................................
58
4. Roteiro de entrevistas institucionais......................................................................
58
5. Sistematização das experiências por região.........................................................
59
6. Lista das pessoas contactadas e propriedades visitadas durante o diagnóstico..
137
166
6
APRESENTAÇÃO
O Projeto Corredores Ecológicos (PCE) é uma parceria do governo com a sociedade civil
que tem como objetivo contribuir para a reversão do processo de fragmentação da Mata
Atlântica, conservando a biodiversidade e promovendo o desenvolvimento sustentável
(PCE, 2005). Em processo de implantação de sua Fase II, o PCE busca potencializar e
disseminar práticas produtivas de impacto reduzido que possam conciliar a conservação e a
melhoria da qualidade de vida, como estratégia para manutenção da conectividade existente
e a recuperação de ambientes degradados pela ocupação urbana, a mineração e a
monocultura (TDR 01/2008).
Nesse contexto, os Sistemas Agroflorestais (SAF’s), apresentam-se como uma das
estratégias de manejo com potencial produtivo e de conservação do ambiente, possíveis de
serem implementadas e/ou potencializadas. Os SAF's constituem-se, de modo geral, numa
forma alternativa e sustentável de manejo e uso múltiplo da terra, compatibilizando a
produtividade agrícola, florestal e animal e tendo em vista sustentabilidade dos
agroecossistemas. Estes sistemas, associados à outras práticas agroecológicas, podem
ainda contribuir com a implementação dos corredores ecológicos e promover a
sustentabilidade sócio-ambiental desses locais.
No Espírito Santo têm sido implementadas, desde meados dos anos 80, diversas
experiências de SAF’s por parte de ONG’s (APTA, Grupo KAPIXAWA, etc.) organizações de
pesquisa e extensão (INCAPER, CEPLAC), escolas agrícolas (CIER e MEPES) e iniciativa
privada (VALE). Porém, poucas destas experiências foram monitoradas e avaliadas quanto
à sua adequação técnica: espaçamentos, arquitetura, mix de espécies, manejo de
condução, etc.; viabilidade econômica: produtividade, demanda de mão-de-obra, etc. e
benefícios sócio-ambientais: infiltração de água e recarga de aqüíferos, diminuição da
erosão, aumento da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, biodiversidade, melhoria do
micro-clima, etc.. Além do que a difusão desses sistemas ainda é muito restrita e enfrentam
alguma resistência por parte de técnicos extensionistas e dos próprios produtores (TDR
01/2008).
Em abril de 2008, a Unidade de Coordenação Estadual do Projeto Corredores Ecológicos
(UCE/PCE) no Espírito Santo, em parceria com diversas organizações parceiras iniciou um
processo de elaboração de diagnóstico das principais experiências com SAF’s no Estado.
Esse processo foi apoiado com recursos da consultoria permanente GFA/GAIA, proveniente
de recursos da cooperação financeira alemã (KfW). O principal objetivo é reunir dados,
conhecimentos técnicos, científicos e vivências experimentadas pelos atores sociais e
institucionais envolvidos, de modo que esse conjunto de informações e trocas de
experiências possam resultar em recomendações de estratégias e políticas públicas
voltadas para o desenvolvimento agrícola e florestal de forma sustentável.
O presente relatório tem como objetivo apresentar os resultados desse estudo intitulado:
‘Diagnóstico de Experiências de Sistemas Agroflorestais e Recomendações de Estratégias e
Políticas Públicas para sua Implementação e Difusão no Estado do Espírito Santo’. O
Capítulo I descreve a metodologia utilizada para o diagnóstico; O Capítulo II apresenta os
resultados e conclusões do diagnóstico e o Capítulo III apresenta as considerações finais e
o Capítulo IV finaliza o documento com as recomendações de estratégias e políticas
públicas para a implementação e difusão dos SAF’s no Espírito Santo.
Esse diagnóstico apresenta uma modesta contribuição às muitas leituras que se pode fazer
a partir de um rico conjunto de experiências que, de modo geral, não possuem
acompanhamento técnico sistemático nem apresentam monitoramento ou dados
sistematizados. Deve-se considerar que o diagnóstico não abordou a totalidade de
experiências no estado, mas que trabalhou com uma amostragem representativa. Buscouse dar uma descrição do ¨estado da arte¨ deste setor no estado, ciente que nesse período
7
seria impossível aprofundar a coleta de dados, que foram complementados com
informações secundárias existentes. Desse modo, espera-se que este documento possa
contribuir com as iniciativas e os processos já existentes e dar impulsos para a promoção e
difusão dos SAF’s no Espírito Santo.
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CAPÍTULO I – METODOLOGIA
1. Objetivo Geral
Realização de um diagnóstico, acerca das experiências de Sistemas Agroflorestais (SAF’s)
desenvolvidas no Espírito Santo, identificando aquelas mais relevantes em termos de
aprendizados e resultados significativos e propor recomendações de estratégias e políticas
públicas para a implementação e difusão do SAF’s no Estado.
1.1 Objetivos Específicos
1. Resgatar e reordenar as informações sobre as experiências desenvolvidas com SAF’s
no ES, através de dados primários (entrevistas, reuniões e encontros) e secundários
(arquivos, documentos e relatórios);
2. Articular encontros e reuniões com alguns dos principais atores envolvidos nas
experiências para coleta de dados;
3. Realizar visitas de campo nos locais para coleta de dados e visualização das áreas de
SAF’s;
4. Organizar e realizar seminários que promovam a discussão, socialização dos dados e a
troca de experiências entre os envolvidos, como forma de subsidiar a proposição de
estratégias e políticas públicas de forma participativa;
5. Elaborar apresentação e documento final contendo as informações levantadas e as
proposições e recomendações necessárias.
2. Metodologia utilizada
A área de abrangência do estudo foi definida por amostras representativas nas regiões Sul,
Central/Serrana e Norte do Estado. Nessas regiões, foram identificadas experiências com
SAF’s que possuem aspectos relevantes em termos de aprendizados e também de
resultados significativos nas áreas sócio-econômica e ambiental.
Foram realizadas reuniões com a técnicos/as da UCE e do Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER para apresentação da proposta
metodológica e plano de trabalho, definição de orientações gerais sobre o diagnóstico e
entrega de material auxiliar (documentos, arquivos etc.).
Para auxiliar o trabalho de campo, foi elaborado um formulário (Anexo 1), encaminhado aos
escritórios locais do INCAPER, um dos parceiros do PCE, em todo o Estado. Este formulário
foi elaborado com o objetivo de obter algumas informações preliminares. A partir das
mesmas foram traçados os roteiros de visitas de campo àquelas experiências mais
relevantes, em termos de resultados e/ou aprendizados, sendo estas exitosas ou não.
Foram elaborados também, um roteiro semi-estruturado para as entrevistas com técnicos
que acompanham as experiências em diferentes locais (Anexo 2), um outro distinto para
entrevista com os produtores durante as visitas de campo (Anexo 3) e um específico para as
entrevistas institucionais (Anexo 4).
As visitas de campo bem como as demais atividades do diagnóstico, foram registradas com
câmera fotográfica. Um arquivo de imagens está registrado em cd, como parte da
documentação do diagnóstico.
Foram realizados 2 seminários, sendo um interno para a equipe do PCE e parceiros e outro
regional reunindo além desses, produtores e técnicos envolvidos com algumas das
experiências visitadas. Estes seminários possibilitaram uma dinâmica de socialização dos
dados levantados, coleta de novas informações, discussão entre grupos com interesses e
afinidades comuns e a troca de experiência entre os mesmos.
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O diagnóstico foi orientado por informações gerais sobre o que existe de SAF no Estado e
como são/estão esses sistemas. Foram identificadas, de acordo com a disponibilidade,
informações sobre:
1. Histórico das áreas: coleta de informações sobre o histórico da implantação do sistema,
como, quando e com qual objetivo.
2. Desenho e manejo dos SAF’s: identificação dos arranjos, tratos culturais, espécies
utilizadas, critérios, localização na paisagem, insolação.
3. Aspectos sócio-ambientais e organizativos: verificação de dados relativos aos serviços
ambientais, práticas agroecológicas, quintais agroflorestais, gênero, capacitação,
assistência técnica e organização.
4. Aspectos econômicos: coleta de dados relacionados aos custos do sistema, diversificação
da produção, renda, financiamento, créditos, produto advindos dos SAF’s e mercado.
5. Principais Aprendizados.
3. Plano de Trabalho
No Quadro 1 segue o plano de trabalho com as atividades realizadas durante o período do
diagnóstico.
Quadro 1 – Plano de trabalho com as atividades realizadas durante o período
MESES/ANO
ATIVIDADES REALIZADAS
- Recebimento e leitura de documentos;
Elaboração e apresentação do plano de
trabalho e metodologia.
- Mapeamento das principais experiências
e atores no Estado; Articulação com os
envolvidos, contatos preliminares e coleta
e organização de dados secundários.
- Visitas de campo para coleta de dados
primários e secundários; Sistematização
dos dados.
- Entrega do Relatório Intermediário com
resultados parciais das sistematizações
de experiências e realização de 01
seminário interno de socialização com
organizações parceiras.
Mai/08
Jun/08
Jul/08
Ago/08
Set/08
X
X
X
X
X
X
X
Out/08
Nov/08
Dez/08
Mar/09
X
X
- Realização de 01 Seminário Regional
para socialização dos dados, discussão e
contribuição dos atores.
X
- Confecção do relatório final com a
contribuição dos resultados dos
seminários.
X
X
- Entrega do relatório final e
apresentação.
X
10
CAPÍTULO II – RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Introdução
Os corredores ecológicos ou corredores de biodiversidade representam uma estratégia para
promover a conservação da diversidade biológica in situ, configurados de forma a favorecer
a manutenção dos processos ecossistêmicos fundamentais para a sustentação da
biodiversidade, como: ciclagem de carbono e nutrientes, ciclo hidrológico,
polinização/dispersão de sementes e intercâmbio genético dos componentes da flora e
fauna. Para tal, os fragmentos de remanescentes florestais devem se conectar com áreas
maiores, a fim de manter a heterogeneidade da matriz de habitats e proporcionar refúgio
para as espécies (BRASIL, 2006a apud COSTA-ALVES e MAY, 2007).
O corredor ecológico tem como objetivo geral contribuir para a efetiva conservação da
diversidade biológica. Numa perspectiva de desenvolvimento local/regional e de
sustentabilidade, esta visão conservacionista acerca dos corredores vem dando lugar a um
conceito mais sistêmico e abrangente. Nesse âmbito, o foco passa a ser a conservação da
sócio-biodiversidade, na qual a conectividade de áreas é importante não apenas para
garantir o aumento/manutenção do fluxo genético entre populações de espécies da fauna e
flora, mas também a conservação da diversidade cultural como elemento importante e
indissociável das estratégias de conservação.
Para Brasil (2006a) os termos “corredor ecológico” e “corredor de biodiversidade” muitas
vezes são usados para designar estratégias distintas. Alguns pesquisadores e
conservacionistas utilizam o termo “corredor ecológico” referindo-se especificamente a
trechos delimitados de vegetação nativa que conectam fragmentos. Os termos “corredor
ecológico”, usado pelo Ministério do Meio Ambiente, e “corredor de biodiversidade”, usado
pela Aliança para Conservação da Mata Atlântica, referem-se à mesma estratégia de gestão
da paisagem. Nessa concepção, os corredores englobam as unidades de conservação e as
áreas com diferentes usos da terra. Os cordões de vegetação nativa que conectam
fragmentos são um dos componentes dos corredores, mas não o único.
Dentro de uma perspectiva territorial, os corredores também podem inserir as áreas
protegidas e suas inter-relações. De acordo com AYRES et al. (2005) apud COSTA-ALVES
e MAY (2007) os corredores são entendidos também, como grandes áreas compostas por
uma rede de Unidades de Conservação (UC’s) entremeadas por áreas com variados graus
de ocupação humana e diferentes formas de uso da terra, baseando-se no uso sustentável
dos recursos naturais com manejo integrado, a fim de garantir a sobrevivência das espécies,
a manutenção de processos ecológico-evolutivos e o desenvolvimento de uma economia
regional forte.
A Lei 9.985 (SNUC), em seu artigo 2º, inciso XIX, define corredor ecológico como porções
de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando Unidades de Conservação (UC’s), que
possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de
espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações
que demandam, para sua sobrevivência, áreas de extensão maior do que aquelas das
unidades individuais (SEMA, 2008).
O Corredor Central da Mata Atlântica possui 83 unidades de conservação. As unidades
estaduais abrangem 53% de toda a superfície protegida e possuem, em média, 10.118
hectares. As 16 unidades de conservação federais totalizam 245.036 hectares, e as
reservas privadas, 11.145 hectares. Esses espaços protegidos são locais privilegiados para
o estabelecimento de estratégias e políticas públicas que visem ao restabelecimento e à
manutenção da conectividade biológica (BRASIL, 2006a).
Ainda sob essa perspectiva, além do aspecto ecológico, as estratégias dos corredores
devem inserir em sua abordagem os componentes político, social, cultural e econômico,
11
utilizando para tanto, técnicas da biologia da conservação; estratégias que promovam a
participação de atores relevantes ao processo; ações que possibilitem a conexão entre
fragmentos florestais e de áreas protegidas e seu entorno; o planejamento e gestão sócioambiental; articulação interinstitucional e políticas públicas que contribuam para promover o
desenvolvimento sustentável.
O maior desafio por parte do estado e da sociedade civil é identificar uma equação
ponderada de investimentos para ampliação de áreas protegidas – sejam estas de uso
indireto ou direto, públicas ou privadas – no sentido de encontrar uma fórmula equilibrada
composta não apenas de áreas de Proteção Integral, mas principalmente integrá-las a
outras áreas protegidas de Uso Sustentável. Portanto, para que se dê a implantação dos
corredores, são necessárias ações coordenadas que objetivem o fortalecimento, a expansão
e a conexão do sistema de áreas protegidas e que incentivem as formas de uso da terra de
baixo impacto, a exemplo dos Sistemas Agroflorestais (SAF’s) (BRASIL, 2006a apud
COSTA-ALVES e MAY, 2007).
O Projeto Corredores Ecológicos (PCE) atua, desde 2002, em dois dos sete corredores
propostos, sendo um na Amazônia Central (Corredor Central da Amazônia – CCA) e outro
na Mata Atlântica (Corredor Central da Mata Atlântica – CCMA) (SEMA, 2008). O Corredor
Central da Mata Atlântica tem mais de 8,5 milhões de hectares e estende-se por todo o
estado do Espírito Santo e pela porção sul da Bahia, sendo que no Espírito Santo foram
definidos 10 corredores ecológicos como prioritários, abrangendo tanto as áreas
montanhosas quanto as litorâneas (Figura 1).
Figura 1 – Mapa ilustrando os 10 corredores prioritários do Projeto Corredores Ecológicos
no Espírito Santo. (TURBAY, 2007).
12
2. Panorama das experiências
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) constituem alternativas de uso da terra, consorciando
culturas agrícolas e/ou criações animais com espécies florestais e podem se integrar como
sistemas importantes nas estratégias dos corredores ecológicos por agregarem não só o
componente ecológico, mas também, os componentes social, produtivo, econômico, político,
cultural e ambiental.
No estado do Espírito Santo, um dos principais entraves apontados pelos proprietários
rurais, é de que o alto custo de implantação de projetos para a recuperação de fragmentos e
de matas ciliares é um obstáculo à sua realização, e passa por estímulo a novas alternativas
de modelos agrícolas e/ou agroflorestais sustentáveis, e não apenas à recuperação de
áreas com essências nativas. Os SAF′s, nesse contexto, apresentam grande potencial para
a implementação de estratégias voltadas para um desenvolvimento sustentável, pela
conservação do solo e da água, pela redução e até mesmo, eliminação do uso de
fertilizantes e defensivos agrícolas, pela adequação á pequena produção, conservação da
biodiversidade e a recuperação de fragmentos florestais e matas ciliares (SILVA, 2008).
Foram visitadas diferentes experiências distribuídas nas regiões Sul, Central/Serrana e
Norte do Espírito Santo, durante o período de julho a setembro de 2008. Observou-se que
as mesmas possuem diferentes arranjos que vão desde consórcios mais simplificados até
sistemas mais diversificados.
O presente estudo não tem o intuito, nem a pretensão de aprofundar o conceito de SAF, sua
classificação e caracterização. Não foi objetivo do diagnóstico avaliar as experiências
visitadas em relação ao que se considera como sendo SAF ou não, dentro das diferentes
visões acerca do tema. Entretanto, é importante salientar que o parâmetro utilizado para
localizar as experiências, tomou como base, dentre os vários conceitos que existem, a
definição de Sommariba (1992) citado por Carvalho et al. (2005), que define SAF como
sendo uma forma de cultivo múltiplo onde pelo menos duas espécies de plantas interagem
biologicamente, pelo menos uma espécie é arbórea e pelo menos uma espécie é manejada
para produção agrícola ou pecuária. Desse modo, as visitas de campo foram orientadas no
sentido de conhecer experiências que tivessem desde SAF’s simplificados/consórcios, entre
2-3 espécies (elemento arbóreo + cultivo agrícola ou pastagem) até SAF’s mais complexos
com 4 ou mais espécies (elementos arbóreos diversificados + cultivo agrícola ou pastagem).
Todos denominados genericamente de SAF’s, para efeitos deste estudo.
O objetivo do diagnóstico também não foi avaliar as experiências ou aprofundar estudos em
cada uma delas, mas sim, verificar onde as mesmas estão localizadas e identificar como
estão sendo conduzidas, quais as limitações e potencialidades de cada uma e perceber os
aprendizados. A partir desse conhecimento, reunir informações que pudessem orientar a
proposição de recomendações para a formulação de políticas públicas relativas à questão
agroflorestal no Estado.
O diagnóstico resultou entre outros, num panorama das experiências de SAF’s no Estado do
Espírito Santo. Ainda que essas experiências componham um universo amostral e, portanto,
algumas outras tenham ficado de fora, elas são mais do que representativas para a
proposição de políticas públicas orientadas a este fim. São experiências que necessitam de
maior aprofundamento e que compõem um quadro relevante em termos de desenhos,
arranjos, manejo e aprendizados sobre os diferentes sistemas/consórcios que estão sendo
desenvolvidos, com acompanhamento ou não, nos diferentes municípios.
Foram visitadas experiências em 16 municípios, distribuídos nas 3 regiões do Estado
(Figura 2). O Quadro 2 ilustra alguns dados quantitativos acerca dos resultados do
diagnóstico. A sistematização das informações de cada experiência por região, encontra-se
no Anexo 5.
13
Figura 2 – Mapa dos municípios visitados durante o diagnóstico no Estado do Espírito Santo
(adaptado por Hans C. Schmidt em 2008, comunicação pessoal).
14
Quadro 2 – Dados quantitativos acerca dos resultados do diagnóstico.
ÁREA DE
ABRANGÊNCIA
Foram
visitadas
experiências de SAF’S
nas 3 regiões do
Estado:
- Sul;
- Central/Serrana;
- Norte.
MUNICÍPIOS
ENVOLVIDOS
16 municípios
envolvidos:
Águia Branca, Alegre,
Apiacá, Cachoeiro de
Itapemirim, Castelo,
Domingos Martins, Mimoso
do Sul, Iconha, Itaguaçú,
Jaguaré, Linhares,
Guarapari, São Gabriel da
Palha, São Mateus,
Sooretama, Venda Nova
do Imigrante.
EXPERIÊNCIAS
VISITADAS
Foram visitadas ao
todo, 51 experiências
de diferentes tipos de
arranjos e desenhos
de SAF’s.
PÚBLICO DO
DIAGNÓSTICO
Foram 51 produtores/
famílias e 24 técnicos
entrevistados no
decorrer do
diagnóstico.
Aproximadamente 84 % das experiências são de agricultores familiares 1 e o café é a cultura
presente em aproximadamente 80% das experiências, respondendo como principal fonte de
renda da família. Outros sistemas presentes foram: sistema silvipastoril; nativas com
palmáceas; seringueiras; cedro; cacau; pimenta-do-reino e frutíferas. O perfil dos SAF’s
visitados podem ser visualizados na Figura 3.
Agricultores Familiares
90%
80%
70%
60%
Outros (grandes produtores e
atividades não-agrícolas)
50%
40%
SAF's com Café
30%
20%
10%
0%
Outros (sistema silvipastoril;
nativas com palmáceas;
seringueiras; cedro; cacau;
pimenta-do-reino e frutíferas)
Figura 3 – Perfil das experiências de SAF’s no Estado.
As espécies utilizadas nos SAF’s constam na sistematização das experiências no Anexo 5.
Não foi possível aprofundar os critérios escolhidos pelos produtores para a escolha das
espécies, uma vez que os SAF’s foram iniciados sem um planejamento prévio e as espécies
foram inseridas de modo aleatório na maior parte dos casos. Entretanto, em estudo
realizado por Sales e Araújo (s/d) no Estado, os resultados sugerem que a escolha das
espécies plantadas nas lavouras de café prioriza em sua maioria o uso múltiplo, a
necessidade de sombra ao cafeeiro, a obtenção de frutos e látex, e que as espécies
introduzidas tenham crescimento rápido, conforme mostra a Tabela 1.
Durante a realização deste estudo, várias organizações e produtores foram contactados
(uma lista das pessoas entrevistadas e propriedades visitadas durante o diagnóstico
1
Agricultores familiares: não foi realizado estudo sócio-econômico de cada família, logo foram
considerados nesta categoria agricultores cujas propriedades não ultrapassam 100 ha de área e a
mão-de-obra é basicamente familiar.
15
encontra-se no Anexo 6) a fim de informá-los sobre o diagnóstico e também de obter
informações sobre as experiências. Essa articulação proporcionou, entre outros, uma
análise acerca dos objetivos do PCE no que tange aos SAF’s e os objetivos institucionais de
cada organização, de modo que as recomendações venham sugerir ações e estratégias que
possam convergir em algum momento.
Tabela 1 – Levantamento das áreas de café arábica (a) e café conilon (c) consorciadas com
árvores no estado do Espírito Santo, em relação aos usos: sombreamento (S), madeira
comercial (MC), madeira para a propriedade (MP), lenha (L) e outros usos (O - produção de
frutos-PF, produção de látex-PL e quebra-vento QV); Compatível com o cafeeiro sim (S) ou
não (N) e quanto ao desenvolvimento: rápido (R), médio (M) e lento (L).
Nome comum
Municípios
Café
Área
(ha)
Usos
Espaçamento (m)
Com.
S N
Desenv.
R M L
M
a
3
S,O (QV) - 20 X 3 m
x
1
Cajueiro
VP
c
5
S,O (PF) - 10 X 12 m
x
1
Coqueiro
SGP
c
4,5
S,O (PF) - 9 X 8 m
x
1
Cedro
Australiano
JM, Ibi, Ib, S
ca
55,8
L, MC - 3 X 3 m a 15 x 9 m
x
Grevilha
ST e VP
ca
25,2
S,O (QV) - 3 x 6 m e
aleatório
x
Ingá
Ir, Ic, SDN
ca
1,4
S, L - 9 x 6 m e 11 x 10 m
x
Lichia
Ib
a
0,3
O (PF) - 6 X 6 m
x
1
Macadâmia
C
a
1
O (PF) - 10 x 10m
x
1
c
1
S–6X6m
x
c
1,5
MC – aleatório
x
VV, DRP,
SGP
ca
25,2
S,O (PL) - 3 x 10 m a 10 x
10, f. duplas18 m x 4 m x 3
m
x
S
c
MC - 8 x 8 m
x
Acácia
Mangium
Nim Indiano
Peroba
Seringueira
Teca
VV
A
30
x
8
2
3
1
1
6
1
SGP
c
4
S,L,O (PF, QV) – 6 x 3 m
x
1
Urucum
SGP, VNI,
Frutíferas,
S,MC,O (PF, PL) - aleatório
MF, NV, SDN, c a
83,8
x
12 2
madeiráveis e
e de 2 X 2 m a 12 X 10 m
RB
seringueira
241,7
41 1 25 14 3
TOTAL
Municípios: Alegre (A), Castelo (C), Dores do Rio Preto (DRP), Ibatiba (Ib), Ibitirama Ibi), Iconha (Ic),
Irupi (Ir), Jerônimo Monteiro (JM), Mantenópolis (M), Marechal Floriano (MF), Nova Venécia (NV), Rio
Bananal (RB), Santa Tereza (ST), São Domingos do Norte (SDN), São Gabriel da Palha (SGP),
Sooretama (S) Venda Nova do Imigrante (VNI), Vila Pavão (VP) e Vila Valério (VV).
Fonte: SALES e ARAUJO (s/d).
16
2.1 Momentos Coletivos
Como parte da metodologia do diagnóstico, foram realizados 3 seminários com o objetivo de
socialização dos dados coletados, checagem das informações obtidas, troca de
experiências entre os participantes e coleta de novas contribuições destes.
O Seminário 1 foi interno para entrega e apresentação do relatório intermediário à
coordenação do PCE e alguns parceiros e discussão. O objetivo do relatório e da
apresentação foi dar ciência sobre as áreas visitadas até o período, socializar os dados
levantados e provocar uma reflexão sobre alguns pontos importantes para a análise. Este
seminário também teve o intuito de coletar contribuições dos participantes nesse sentido. O
seminário 2 e 3 foram realizados dentro de eventos regional sobre SAF, organizado pelo
INCAPER, o qual possibilitou a apresentação e socialização dos dados para parceiros,
técnicos e produtores da região Serrana/Central e Sul e do Norte/Nordeste, além de troca de
experiência entre os participantes.
Está previsto ainda, um terceiro seminário a nível estadual para apresentação dos
resultados do diagnóstico e encerramento do estudo.
3. Conclusões do diagnóstico
De acordo com as informações coletadas em campo, através de entrevistas, documentos e
estudo de referencial teórico sobre o tema, foi possível elaborar algumas conclusões acerca
da situação dos SAF’s no Espírito Santo.
As conclusões que se seguem são fruto, portanto, das observações e/ou percepções
geradas pelas visitas de campo, complementadas por dados secundários para gerar
reflexões que possam subsidiar a análise final. Essa primeira sistematização dos dados tem
como objetivo subsidiar a proposição das recomendações do estudo, tendo em vista a
contribuição às políticas públicas relativas aos SAF’s no Estado.
Como forma de facilitar a compreensão, as conclusões foram organizadas dentro de 5
aspectos principais relativos ao estudo, quais sejam:
a) Histórico das áreas;
b) Desenho e manejo dos SAF’s;
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos e
d) Aspectos econômicos, descritos a seguir.
3.1 Histórico das Áreas
A prática de poli-cultivo remonta à antiguidade e desde a época do Brasil colônia, os índios
já utilizavam esses sistemas para suprir suas demandas. No Espírito Santo, vários
produtores experimentam este tipo de cultivo há muitos anos. Entretanto, as primeiras
experiências de SAF’s divulgadas e que tiveram um caráter experimental, com
acompanhamento técnico, surgiram na década de 80.
O histórico dessas experiências confunde-se com a história de algumas organizações, como
o Centro Integrado Rural de Boa Esperança (CIER-BE) e a Associação de Programas em
Tecnologias Alternativas (APTA). De acordo com NOWOTNY (1997) o CIR-BE já realizava
desde 1983 experiências pioneiras no Estado, com a utilização de árvores como quebraventos e sombreamento de culturas olerícolas e, a partir de 1989, no sombreamento do
café.
17
A organização não governamental Associação de Programas em Tecnologias Alternativas –
APTA, por sua vez, desde 1985 vinha fazendo discussões internas sobre a concepção dos
sistemas produtivos, a partir da valorização e incorporação do componente arbóreo como
integrantes de sistemas orgânicos de produção (NOWOTNY, 1997). Em 1992 a APTA
iniciou a experimentação de SAF’s a partir do Programa de Agrossilvicultura. Outras
organizações vinculadas à Rede – PTA em outros estados, também passaram a incorporar
o tema em suas estratégias e ações.
O Estado do Espírito Santo caracteriza-se por apresentar um quadro natural diversificado,
permitindo a sua estratificação em três grandes regiões: região litorânea, ocupando cerca de
5% da área estadual, região de tabuleiros, com aproximadamente 25% da área e região
elevada de interior, ocupando cerca de 70% da área estadual. Nesta última região,
concentram-se as pequenas propriedades rurais, situados em sua maioria, em relevo
acidentado, com problemas mais graves de degradação dos recursos naturais (DADALTO e
CHAMON, s/d).
O Espírito Santo tem um histórico de degradação que é semelhante à muitas outras regiões
do Brasil, onde a intensa exploração dos recursos naturais vem levando, gradativamente, ao
seu esgotamento. As reservas florestais no Estado foram dando lugar a pequenos
fragmentos de remanescentes isolados e grandes maciços florestais homogêneos,
principalmente com o monocultivo de eucalipto para abastecer a indústria de papel e
celulose. Hans C. Schmidt (comunicação pessoal, 2009) ressalta que, especialmente na
região Norte/Noroeste, houve um processo intenso de desmatamento com ocupação da
produção agropecuária pautada em bases não-sustentáveis, tais como: a monocultura, a
dependência de insumos externos e químicos e com impactos negativos sobre os recursos
naturais.
Schmidt (2008) caracteriza a situação ambiental no meio rural no Espírito Santo atentando
para alguns aspectos importantes, tais como:
•
Há um alto nível de fragmentação dos remanescentes da Mata Atlântica no estado;
•
95% dos fragmentos se localizam em propriedades rurais;
•
No Espírito Santo são estimados, que em torno de 800.000 hectares dos 2.869.000
hectares cultivados encontram-se degradados;
•
As perdas de solo por erosão atingem 25 toneladas/ano por hectare;
•
Em torno de 28,5 % das áreas agropecuárias, agrícolas e florestais no Estado
encontram-se em Área de Proteção Permanente – APP;
•
As vazões mínimas anuais de boa parte dos rios do Estado estão decrescendo com
assoreamento dos corpos d’água e contaminação por lixiviação com fertilizantes
químicos e agrotóxicos;
•
A irrigação consome cerca 70% de água utilizada por todos os outros setores e o
Espírito Santo possui o maior percentual de área irrigada do Brasil (cerca de 20%
das lavouras), com demanda crescente;
•
Há um predomínio de monocultura e cerca de 83% da área cultivada no Estado está
ocupada por apenas duas atividades agrícolas, pastagem (63%) e café (20%). O
eucalipto ocupa 8%.
18
Segundo Dadalto e Chamon (s/d) a ocupação do solo para o desenvolvimento de atividades
agrícolas, ocorreu, historicamente, de forma predatória, em relação aos recursos naturais,
através do desmatamento indiscriminado das áreas, sem o planejamento correto do uso do
solo e sem a utilização de práticas conservacionistas adequadas. Estes fatos têm trazido
uma série de conseqüências econômicas e sociais ao produtor rural, ao setor público e a
toda sociedade capixaba, como redução da área cultivada e da capacidade produtiva do
solo, escassez de madeira, assoreamento de cursos d'água, enchentes, irregularidade no
fluxo d'água, poluição física d'água, destruição de estradas e outros bens públicos, entre
outros.
Seguem as conclusões acerca do histórico das áreas, contempladas no diagnóstico:
ƒ
Existem em todo o Estado diferentes arranjos para o que se chama de SAF. Foram
observados e inseridos no estudo desde consórcios mais simplificados com 2-3
espécies, sendo uma arbustiva (principalmente café) e uma arbórea (madeireira
geralmente), até sistemas mais diversificados em termos de espécies, manejo e estratos
arbóreos.
ƒ
O SAF/consórcio, quando existe, é iniciativa do produtor na maior parte dos casos
visitados e, de modo geral, implantado com fins econômicos. Neste caso, destaca-se o
cedro australiano. Esses sistemas, de modo geral, não possuem planejamento,
monitoramento ou acompanhamento sistemático;
ƒ
As propriedades possuem em geral, culturas de ciclo curto (principalmente olericulturas),
ciclo médio (destaque para o café) e longo (destaque para cedro nas regiões Central e
Sul e a seringueira e cacau ao Norte). Estas vão garantindo a renda da família durante o
ano;
ƒ
Muitas destas propriedades estão localizadas em áreas protegidas, tais como: o entorno
de UC’s e APP’s. Em um dos casos, a área de SAF estava inserida em uma unidade de
conservação de uso sustentável (Área de Proteção Ambiental – APA).. Este dado é
extremamente relevante para a proposta dos corredores ecológicos e demais estratégias
de conservação no Estado, aliada ao desenvolvimento sustentável dessas populações.
ƒ
As propriedades possuem, de modo geral, diferentes subsistemas, mas estes não
possuem uma interligação direta entre si. Os produtores e técnicos não têm trabalhado a
percepção sobre a propriedade de modo sistêmico e integrado.
3.2 Desenho e Manejo dos SAF’s
O desenho e manejo são critérios fundamentais que definem planejamento (escolha das
espécies, espaçamento, estrutura, custos etc.), objetivos e finalidades dos SAF’s, além de
refletirem economia de mão-de-obra e recursos e potencialização do sistema, quando bem
definidos.
O manejo tem como objetivo recuperar, manter ou aumentar o nível de produtividade do
sistema e favorecer a conservação dos recursos disponíveis. Desse modo, as técnicas de
manejo visam manter a capacidade produtiva do sistema, o balanço de nutrientes e o
suprimento de água aos componentes (AMBIENTE BRASIL, 2009).
O mesmo autor ressalta que na escolha das espécies, são considerados os aspectos
inerentes a cada uma delas (biologia, ecologia e fenologia), às condições ambientais, ao
desenho do SAF, aos de ordem cultural (hábitos alimentares, materiais e crendices) e aos
de ordem econômica (mercado - comercialização e preço). As informações sobre biologia e
ecologia das espécies indicam as necessidades nutricionais, de temperatura, luz e água,
dando uma idéia da densidade de plantio e das associações possíveis.
19
De acordo com Lunz e Franke (1998) o arranjo ou desenho de um SAF consiste na
distribuição dos componentes no tempo e no espaço, ou sejam na densidade (nº de
plantas/área) e disposição (horizontal e vertical) das plantas na área e em uma seqüência
temporal (distribuição através do tempo).
O arranjo espacial num SAF depende de vários aspectos, tais como espécies associadas,
função de cada componente no sistema, características dos produtos a serem obtidos, ciclo
desejado de cada componente, tratamentos culturais previstos, tipo de tecnologia
empregada e colheita da produção de cada componente. O desenho depende de dois
elementos fundamentais: a) arquitetura da parte aérea (altura e diâmetro de copa) e
subterrânea (raízes) da planta; b) ecofisiologia das espécies (necessidade de água, luz,
nutrientes, época de produção etc.) (LUNZ e FRANKE, 1998).
Diferentes desenhos e formas de manejo dos SAF’s foram observados durante o
diagnóstico (ver sistematização de cada experiência no Anexo 5). Cerca de 80 % das
experiências que constam neste estudo possuem o café como a cultura principal, sendo que
os sistemas foram estabelecidos em função da mesma, porém sem nenhum critério ou
planejamento prévio, de modo geral, com exceção de algumas experiências em Venda Nova
do Imigrante acompanhadas pelo INCAPER e em São Mateus, acompanhadas pela APTA.
O café ocupa um importante papel na agricultura e economia nacional e o Brasil se destaca
como um dos principais produtores e exportadores mundiais. Contudo, é um produto muito
vulnerável às oscilações do preço do mercado e de custos de produção devido a alta
demanda de insumos, portanto, a diversificação da produção pode ser uma importante
estratégia para manter o equilíbrio econômico da propriedade (LUNZ et al., 2004).
Na Zona da Mata de Minas Gerais, estudos vêm demonstrando a eficiência de SAF’s com
café, com resultados positivos para os aspectos ambientais (CARDOSO et al., 2001),
especialmente na recuperação e conservação dos solos, recursos hídricos e aumento da
biodiversidade. Muitas das experiências visitadas no Espírito Santo apresentam
semelhanças com esta realidade mineira em termos de paisagem, uso e ocupação do solo.
Souza (2006) relatando as lições aprendidas por agricultores da Zona da Mata mineira, cita,
dentre outros, que: a) SAF’s são eficientes para aumentar a biodiversidade e melhorar a
qualidade dos solos e águas, que devem ser melhor levantados e analisados em quantidade
e qualidade; b) espécies, desenhos e o manejo dos SAF’s variam nas diferentes formas, não
havendo recomendação específica; critérios e indicadores estabelecidos pelos produtores
para a seleção das espécies arbóreas (compatibilidade, produção de biomassa, redução de
mão-de-obra e diversificação) são válidos e devem ser aproveitados.
O grande desafio ainda continua sendo os aspectos produtivos e econômicos, embora
muitos ganhos deste sistema se tornam invisíveis por não se configurarem ganhos
monetários. Um exemplo claro é a contribuição dos quintais e os próprios produtos dos
SAF’s utilizados para o consumo e que acabam por diversificar a renda familiar e garantem
economia, na medida em que a família deixa de comprar muitos destes produtos.
Segundo Sales e Araújo (s/d) o café constitui um produto de grande importância social e
econômica, responsável pela geração expressiva de emprego e renda para o estado do
Espírito Santo. Contudo essa atividade resulta numa forte pressão sobre os recursos
naturais, principalmente devido ao monocultivo e empobrecimento da biodiversidade, uso de
agrotóxicos e fertilizantes químicos poluidores e degradação do solo.
Os municípios do estado têm experimentado ciclos de desenvolvimento, alternados com
crises locais. Essas crises se devem principalmente aos problemas enfrentados como: a
variação no regime pluviométrico, as quedas na produção, as oscilações de preço do café, o
êxodo rural e os fluxos migratórios (SALES e ARAUJO, s/d).
20
O componente arbóreo compõe um papel fundamental no que tange os aspectos ecológico,
social e econômico nos SAF’s. Estudos realizados por Sales e Araújo em experiências de
SAF’s no Espírito Santo, sugerem que a escolha das espécies plantadas nas lavouras de
café prioriza em sua maioria o uso múltiplo, a necessidade de sombra ao cafeeiro, a
obtenção de frutos e látex, e que as espécies introduzidas tenham crescimento rápido.
Seguem as conclusões referentes ao desenho e manejo dos SAF’s nas experiências
visitadas:
ƒ
Os desenhos bem como o manejo das áreas são aleatórios e sem planejamento
prévio. De modo geral, a condução é do próprio produtor, sem assistência técnica
específica ou outro tipo de orientação mais sistemática e planejada. Os
espaçamentos são diversos, sempre em função da cultura principal;
ƒ
Basicamente os SAF’s/consórcios possuem o café como cultura principal; cedro
como espécie arbórea comercial madeireira, palmito e frutíferas. O eucalipto, de
modo geral, é produzido em sistema de monocultivo, utilizado principalmente para
consumo doméstico;
ƒ
O uso de defensivos agrícolas, adubação química e fertilizantes é muito presente,
sendo muitas vezes usada de forma inapropriada e pouco eficiente. Não há uma
cultura agroecológica presente e não foi observado o uso de práticas alternativas ou
boas práticas agrícolas, com exceção de algumas poucas experiências;
ƒ
Há um desconhecimento grande sobre espécies arbóreas ecológica e
economicamente interessantes ao sistema (aspectos fisiológicos, nutricionais).
Espécies espontâneas herbáceas são muito presentes, mas são desconsideradas
pelo produtor. A adubação verde, utilizando espécies como, feijão guandu, lab-lab,
feijão-de-porco, mucuna preta e outras, não é uma prática difundida ou comum na
maior parte das experiências visitadas bem como o manejo do mato (roçada) para
cobertura e disponibilidade de biomassa que poderia ser mais explorado.
ƒ
Os quintais agroflorestais são presentes e conferem um importante papel na
composição da renda familiar, na medida em que a família retira desse subsistema,
parte do seu sustento. As mulheres possuem um papel importante nesse aspecto,
pois são, de modo geral, responsáveis por estas áreas. É como se o quintal fosse a
extensão dos cuidados com a casa. De modo geral, o quintal agroflorestal é
composto basicamente de criação de pequenos animais (porco, pato, galinha),
hortaliças, frutíferas e ervas medicinais.
3.3 Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos 2
3.3.1 Flora
A Mata Atlântica foi o ponto de chegada dos primeiros colonizadores e o pau-brasil foi o
principal recurso explorado naquela ocasião, especialmente para atender ao mercado
renascentista de tecido europeu. O processo de ocupação desordenada das terras e a
exploração indevida de seus recursos naturais, nos vários ciclos econômicos que se
sucederam, levaram a uma drástica redução da cobertura vegetal original do Bioma, hoje
esparsamente distribuído no interior das regiões sul e sudeste e ao longo da costa brasileira.
Este processo de degradação colocou em risco não apenas o patrimônio natural, como
2
No que tange aos aspectos ecológicos, como: solo, água, fauna e flora é importante salientar que as conclusões são
baseadas nas informações coletadas e estas, por sua vez, são fruto das observações dos produtores em campo. Estudos
científicos devem ser realizados e confrontados com as mesmas, pois muitas variáveis interferem na composição desses
dados, especialmente no que diz respeito à contribuição do diagnóstico à análise sobre serviços ambientais.
21
também um valioso legado histórico, onde diversas comunidades tradicionais que
constituem parte importante da identidade cultural do país convivem com os maiores pólos
industriais e silviculturais do Brasil (Costa, 1999 citado por IPEMA, 2005).
Neste período a agricultura capixaba baseava-se no cultivo de cana-de-açúcar e de
mandioca e lavouras de subsistência. A introdução da cafeicultura no século XIX levou à
abertura de extensas áreas virgens no Sul e Centro do Estado, configurando-se como a
cultura principal por longo período. Posteriormente a cultura do cacau foi introduzida na
região norte, no município de Linhares, durante o governo de Bernadino Monteiro (1918 –
1922) devido às semelhanças da região com municípios do Sul da Bahia (SEMA, 2008).
O Estado do Espírito Santo possuía quase 90% de sua superfície coberta por Mata
Atlântica, sendo o restante ocupado por ecossistemas associados, como brejos, restingas,
mangues, campos de altitude e campos rupestres (Fundação SOS Mata Atlântica et al.,
1993 citado por IPEMA, 2005). O processo histórico de degradação transformou o bioma em
fragmentos isolados. Nesse contexto, os SAF’s podem constituir sistemas estratégicos na
recomposição e possível conexão entre esses fragmentos, aliados à uma perspectiva
produtiva e econômica.
As experiências visitadas estão inseridas em um dos corredores prioritários para o PCE, o
corredor da Mata Atlântica. Este bioma tem sido historicamente explorado de forma
predatória pelo ser humano. Segundo SEMA (2008) os primeiros sinais de exploração da
vegetação durante o período colonial no Estado foram para fins madeireiros, de construção
de habitações, lenha e energia, posteriormente os cultivos agrícolas e as pastagens foram
responsáveis pelo quadro de destruição gradativa da flora regional. De acordo com este
autor as pastagens não são naturais, pois havia o domínio quase absoluto da Mata
Atlântica, o que inibiu a pecuária extensiva no Estado.
Grande parte das famílias envolvidas no diagnóstico possui área de plantio de eucalipto em
monocultivo, utilizado principalmente para o autoconsumo (construção, lenha, cercamento
etc.) e eventual comercialização. Algumas estão inseridas em programas de fomento
florestal desenvolvidos por empresas reflorestadoras da região.
Segundo SEMA (2008) a silvicultura avançou, posteriormente, para a agricultura familiar,
com a introdução da seringueira e dos plantios florestais, com os programas “Extensão
Florestal”, com participação do Estado e, mais tarde, com o “Fomento Florestal”, com
empresas reflorestadoras.
O aspecto legal é um importante fator a ser considerado, pois muitos agricultores,
localizados na área de abrangência deste estudo desconhecem a legislação ambiental
federal e estadual. Muitos podem estar em situação de irregularidade no que diz respeito à
documentação da área, às exigências para o cumprimento da Reserva Legal – RL (20%) e
critérios relacionados às Áreas de Preservação Permanente (APP’s).
Em relação do uso e exploração de SAF em áreas protegidas houve um avanço nos últimos
anos, fruto de muito diálogo entre governo sociedade civil organizada. A Resolução
CONAMA n. 369/2006, como ressalta Schmidt (2008), passa a considerar que na
recuperação de APP em pequenas propriedades rurais podem ser utilizados Sistemas
Agroflorestais devidamente manejados de acordo com regulamentação (50 ha na Mata
Atlântica o que representa 80,95% das propriedades no ES). O mesmo autor ressalta que
uma das estratégias de formação de corredores é a recuperação da mata ciliar, nascentes e
suas áreas de recarga hídrica e os topos de morros – APP.
Ainda no âmbito federal a Lei 11.428/2006 dispõe sobre a utilização e proteção da
vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, com atenção para a RL. Em ambos os casos,
tanto para as APP’s, quanto as RL’s a legislação federal avançou no que tange a utilização
22
do recurso florestal de forma sustentável, incluindo o uso de SAF como estratégia de aliar a
conservação ao desenvolvimento das famílias que residem nessas áreas.
Na esfera estadual, de acordo com IDAF (2008), citando a Proposta de Alteração da Lei
5.361/1996, que dispõe sobre a Política Florestal do Estado do Espírito Santo e dá outras
providências:
Art. 5° - Fica acrescido o parágrafo 3º no art. 14 da Lei n° 5.316, de 30 de dezembro de
1996, com a seguinte redação: (Uso das APPs)
“Parágrafo 3º - Fica permitida, através de prévia autorização do órgão Estadual competente,
a exploração das atividades agroflorestais efetuados nas áreas de preservação ambiental
situados nas propriedades rurais com até 50 ha (cinqüenta hectares), exploradas pelos
pequenos produtores rurais conforme definição prevista na Lei Federal n° 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; e para as demais propriedades a exploração das atividades
agroflorestais nas áreas de preservação ambiental, se restringe para as áreas localizadas as
margens do espelho d’água dos reservatórios artificiais”.
Também na esfera estadual foi aprovado, recentemente, o Decreto Nº 2.271-R, de 05 de
junho de 2009, que dispõe sobre a manutenção, recomposição e compensação da área de
Reserva Legal dos imóveis rurais no Estado e dá providências (CONTADEZ, 2009):
Art. 8º O proprietário ou possuidor de imóvel rural, com área de floresta nativa, em extensão
inferior ao estabelecido no artigo 2º deste Decreto 3 , deverá adotar as seguintes alternativas,
isoladas ou conjuntamente:
a) recompor a Reserva Legal mediante o plantio da área total necessária àsua
complementação com espécies nativas de ocorrência regional, de acordo com critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
b) conduzir a regeneração natural da Reserva Legal;
c) compensar a Reserva Legal por outra área equivalente em importância ecológica e
extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma bacia
hidrográfica.
...
§ 2º Para o pequeno produtor rural, com área não superior a 50 hectares, nos termos
definidos pela Lei Federal nº 11.428 de 22 de dezembro de 2006, admitir-se-á a
recomposição de área de Reserva Legal com base nos critérios e condicionantes
mencionados no parágrafo anterior, com as seguintes diferenciações:
...
b) será admitida a formação de sistemas agroflorestais, com a introdução na área de
reserva legal de culturas tradicionais de cada região, em associação com espécies
florestais nativas e exóticas, desde que fique caracterizada a predominância da
cobertura florestal nativa e a alta diversidade de espécies responsáveis pela função
ecológica da área.
3
Art. 2º Em cada imóvel rural deverá ser reservada área, de no mínimo, 20% (vinte por cento) da propriedade ou posse,
destinada à manutenção ou recomposição da reserva legal, ressalvadas as situadas em áreas de preservação permanente.
23
O histórico de uso e ocupação do solo nestes locais é complexo e muito similar à outras
regiões do Brasil. As famílias de agricultores, menos capitalizados foram ocupando áreas
mais restritas em termos legais. Estas áreas muito pequenas são divididas por herança
entre os familiares ao longo dos anos, dificultando o cumprimento da legislação ambiental
nas esferas Estadual e Federal. Portanto, este é um aspecto relevante na análise, pois ao
mesmo tempo em que houve avanços, ainda há muitas limitações para que a legislação seja
efetivamente cumprida.
O Espírito Santo sofre ainda com um processo evolutivo de desertificação, que de acordo
com a CCD – Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação nos Países
Afetados por Seca Grave e/ou Desertificação apud Antongiovanni e Coelho (2005) é a
degradação de terras que pode ser provocada tanto pela ação humana quanto por
fenômenos naturais. Para estes autores o modelo de desenvolvimento adotado tem
contribuído para a aceleração dos processos de desertificação marcados por uma
distribuição fundiária inadequada; uma expansão urbana desordenada; destruição da
cobertura vegetal; manejo inadequado dos recursos naturais; práticas agrícolas e pecuárias
inadequadas associadas aos efeitos da variabilidade climática.
Segue as conclusões acerca da flora observadas no diagnóstico:
ƒ
Flora: a flora é bastante diversificada nessas áreas, embora muitos produtores
encontram-se em situação irregular quanto ao cumprimento da legislação ambiental
no que diz respeito à Reserva Legal (RL) e Área de Preservação Permanente (APP).
ƒ
Todos possuem uma área de reserva na propriedade, mas não foi possível levantar
dados sobre documentação e cumprimento dos 20%, exigidos por lei, para a RL. Em
muitos casos, a minifundização e o histórico de uso e ocupação do solo na região
favorecem essa situação de irregularidade;
3.3.2 Solo
Do ponto de vista geológico, Amorim (1984) citado por IPEMA (2005) considera que o
Espírito Santo pode ser dividido em duas zonas principais: zona dos tabuleiros e zona
serrana. A zona dos tabuleiros compreende o terraço litorâneo, plano ou levemente
ondulado, de altitude média em torno de 50 m. A floresta de tabuleiros caracteriza-se por
uma vegetação densa, com exemplares de altura média acima de 30 m. As árvores são
espaçadas, o sub-bosque é pouco denso e apresentam-se poucas epífitas. A zona serrana,
localizada mais ao interior, é formada por vales profundos e escavados, nos prolongamentos
da Serra da Mantiqueira, caracterizada pela Floresta Atlântica, de altitude, densa, com o
interior fechado, vegetação rasteira e arbustiva abundantes, com altura média de 25 m. De
300 a 800 m de altitude forma-se a Floresta de Encosta, mais úmida. Acima de 1.200 m
assume características de Floresta Montana, com árvores um pouco mais baixas e espécies
típicas. Acima de 2.000 m aparece a vegetação de campos.
O solo do Espírito Santo é bastante diversificado, variando em termos de profundidade,
envelhecimento ou pobreza de nutrientes, cor, relevo, inundação e permeabilidade. A
maioria dos solos capixabas são pobres e acidentados, não sendo favoráveis à agricultura
(SEMA, 2008). Os solos predominantes são classificados como Latossolo Vermelho
Amarelo Distrófico, cuja fertilidade varia de média a baixa e o pH é em torno de 5,0 (IPEMA,
2005).
Segundo SEMA (2008) os solos do Estado, de modo geral, não são apropriados à
mecanização intensa, apesar de serem, em boa parte, planos e sem pedregosidade ou
rochosidade. Isso está ligado à propensão desses solos de se compactarem naturalmente, o
que seria agravado pela mecanização.
24
A degradação do solo nas áreas agrícolas no Estado concentra-se nas atividades de
pastagens e de café, especialmente na região Noroeste devido à fragilidade dos solos,
elevada erosividade das chuvas e a pouca cobertura vegetal nas áreas durante o ano
(DADALTO e CHAMON, s/d).
De acordo com este autor nas lavouras de café, os principais problemas ocorrem devido à
erosão causada principalmente pelo uso de áreas excessivamente íngremes, excesso de
capinas, plantios antigos com baixa densidade e baixo uso de práticas conservacionistas
eficientes. Nas áreas de pastagens, a degradação do solo ocorre principalmente em função
da compactação do solo provocada pela implantação incorreta da pastagem plantada (uso
de forrageiras inadequadas, baixo uso de corretivos, plantio morro abaixo, etc), ausência de
correção do solo na pastagens naturais e do manejo inadequado relativo à alta taxa de
lotação, havendo excessivo pastejo e pisoteio pelo gado bovino. Destaca-se também a
intensa erosão que ocorre durante o processo de formação ou renovação da pastagem,
quando o preparo do solo é feito no sentido do declive (“morro abaixo”).
Segundo a “Global Assessment of Soil Degradation” – GLASOD (2005) apud GFA, (s/d), em
todo o planeta de um total de 2 bilhões de ha degradados cerca de 679.000.000 ha (35%)
referem-se a superpastejo, 579.000.000 ha (30%) a desmatamento, 522.000.000 ha (28%) a
atividades agrícolas, 133.000.000 ha (6%) a exploração doméstica e 23.000.000 ha (1%) a
atividades industriais como mostra a Figura 4.
Porcentagem de Contribuição das Atividades na Degradação dos Solos
40
35
30
%
25
20
15
10
industriais
Atividades
doméstica
Exploração
agrícolas
Atividades
Desmatamento
0
Superpastejo
5
Figura 4: Contribuição (%) das atividades na degradação dos solos.
Fonte: GLASOD (2005) apud GFA (s/d).
Um SAF, por constituir um ambiente diversificado produz uma quantidade de serrapilheira
(deposição de material orgânico diverso) que tem um papel fundamental no fluxo
biogeoquímico. O retorno desse material orgânico por meio da sua deposição no solo,
estabelece um fluxo de nutrientes no sistema solo-planta-solo (CALDEIRA et al., 1999 apud
SOUZA et al. 2004).
Em um SAF o componente arbóreo é responsável por grande parte da serrapilheira
depositada, contribuindo dessa forma para a liberação de nutrientes no solo que irá
beneficiar tanto as próprias árvores, como a cultura agrícola em questão. Assim, o material
orgânico gerado pelas árvores atua como um adubo para todos os componentes no sistema.
Além disso, fornece ao solo substâncias agregantes, tornando-o grumoso e estável à ação
das chuvas, aumento de CTC (Capacidade de Troca Catiônica), redução do crescimento de
plantas espontâneas, estabilização da temperatura e retenção de uma grande quantidade
de água no solo, diminuindo o escoamento e reduzindo a erosão (PRIMAVESI, 2002;
KKARA e RATNAYAKE, 1992 apud SOUZA et al., 2004).
25
Seguem as conclusões acerca do solo, observadas no diagnóstico:
ƒ
Observou-se que não há uma recuperação gradativa do solo antes de implantar o
sistema. O próprio SAF/consórcio não é pensado para cumprir, também, esta função.
Entretanto, os produtores utilizam diversas espécies arbóreas que acabam por
contribuir com uma melhor qualidade do solo;
ƒ
Embora não quantificado, observou-se em todas as áreas a contribuição do sistema
para a cobertura, manutenção da umidade, disponibilidade de matéria orgânica,
agregação do solo e ciclagem de nutrientes. Os produtores visitados têm consciência
da contribuição do componente arbóreo no sistema em diferentes aspectos,
percepção esta, fruto das observações e vivências em campo.
3.3.3 Água
A água é um recurso natural cada vez mais escasso. Grande parte do território do Estado do
Espírito Santo sofreu com processos contínuos de desmatamento afetando dentre outros, as
bacias hidrográficas. Em decorrência da degradação destas áreas, há exposição do solo,
redução da infiltração e, conseqüentemente, muita água se perde pela enxurrada, reduzindo
a vazão dos cursos d’água (SEMA, 2008). O Estado possui uma demanda de água grande e
em contrapartida suas bacias hidrográficas possuem pouca disponibilidade deste recurso. O
Espírito Santo está inserido em área da SUDENE por apresentar graves problemas de
déficit hídrico.
De acordo com documento sobre adequação ambiental e uso sustentável dos recursos
naturais do Estado (material em via digital s/d), o Espírito Santo possui cerca de 8% de sua
área com déficit hídrico anual superior a 400 mm e 60% entre 200 a 400 mm. Estes valores
o tornam inapto e restrito, sob o ponto de vista hídrico, para a cultura do café conilon,
espécie vegetal tradicionalmente tida como de elevada intolerância à seca. Este fato
evidencia a grande limitação de alternativas de uso agrícola dessas áreas, nas condições
naturais, que se concentram nas mesorregiões Noroeste e Litoral Norte, onde predomina
relevo suave, com possibilidade de moto-mecanização.
Dadalto e Chamon (s/d) afirmam que estudos demonstram que a seca no Estado ocorre de
forma cíclica, isto é, acontece aleatoriamente ao longo de uma série histórica. Demonstram
também que os totais anuais de chuva não têm diminuído nos últimos anos. As informações
históricas evidenciam que a alteração de vegetação ocorrida ao longo do tempo teve pouca
influência na redução dos totais anuais de precipitação pluviométrica – seca atmosférica –
que, no Estado, está em função principalmente de fenômenos globais determinados por
massas de ar originadas fora do espaço estadual e influenciadas internamente pela situação
orográfica. No entanto, a degradação dos recursos naturais ocorrida no Estado tornou o
ambiente mais sensível às adversidades climáticas – seca pedológica. Desse modo, para o
autor o desmatamento indiscriminado com posterior uso do solo, sem alocação adequada
dos cultivos e sem a utilização de práticas conservacionistas eficientes, tem causado
degradação dos solos, refletindo negativamente na quantidade e qualidade da água.
Há que se considerar ainda, uma mudança no aumento de períodos de estiagem e
concentração de chuvas com maior volume, o que impacta na conservação do solo e
retenção de água. Essas variáveis também interferem no aumento da lixiviação,
assoreamento dentre outros impactos negativos ao solo (Hans Schmidt, comunicação
pessoal, 2009).
CASTRO (1997) apud FRANCO (2000) relata que quando a floresta é removida e
substituída por pastagens e culturas agrícolas, sem nenhuma preocupação com a
conservação do solo (fato muito comum), o uso subseqüente da terra resulta em uma
redução drástica na capacidade de infiltração, principalmente em regiões de clima úmido,
26
onde o pastoreio intensivo leva a uma alta compactação do solo. O mesmo autor concluiu
que o manejo da cobertura florestal está na dependência das relações entre
evapotranspiração e infiltração e fez as seguintes considerações: a) se a evapotranspiração
for reduzida a uma taxa maior que a da infiltração, o efeito do corte florestal aumentará o
fluxo das nascentes; e b) se a infiltração for reduzida a uma taxa maior que a da
evapotranspiração, então o fluxo das nascentes poderá diminuir. Portanto, não é a
eliminação da floresta que irá secar as nascentes, mas sim a posterior diminuição da
infiltração, por meio das más práticas de conservação do solo.
Os SAF’s, nesse aspecto, são sistemas compatíveis que conferem uma contribuição
importante em diferentes aspectos, incluindo uma maior capacidade de infiltração e
armazenamento de água no solo. No entanto, segundo CASTRO (1998) apud FRANCO
(2000), tudo vai depender do clima, da quantidade de chuva, da evaporação, da
transpiração da vegetação, do tipo e da profundidade do lençol, da instabilidade das
vertentes e, principalmente, da localização da floresta nessas áreas.
Em estudo realizado por Carvalho et al. (2005), com SAF’s na Zona da Mata de Minas
Gerais, identificou-se que as espécies arbóreas nos sistemas contribuíram, dentre outros
para o aumento de água na propriedade, além da redução na ocorrência de pragas e
doenças, o aumento da biodiversidade, a diversificação da produção, a cobertura do solo e
produção de lenha, reduzindo a pressão sobre os remanescentes de mata.
Segue a conclusão geral acerca da água, observada no diagnóstico:
ƒ
Foi observado, porém não quantificado que, de modo geral, há uma contribuição
clara desses sistemas à conservação das nascentes e córregos existentes na área
de abrangência dos mesmos. Onde havia cobertura florestal havia, também, maior
retenção de umidade no solo e maior proteção e conservação da água disponível.
3.3.4 Fauna
A fauna capixaba está diretamente associada à Mata Atlântica e seus ambientes
diversificados. Com a intensa exploração madeireira, expansão pecuária e cultivo de
monoculturas o pouco que restou do bioma foi pulverizado em pequenos fragmentos. Ainda
assim, o Estado abriga uma diversificada fauna aquática e terrestre, composta por espécies
raras, endêmicas e ameaçadas de extinção (SEMA, 2008).
O Espírito Santo figura entre os estados mais ricos em avifauna de toda a Mata Atlântica. A
caça e destruição dos habitats são as principais ameaças à fauna local/regional de modo
geral (SEMA, 2008).
Segue a conclusão geral acerca da fauna, observada no diagnóstico:
Não é possível afirmar o quanto esses sistemas têm contribuído para a manutenção da
fauna local/regional. Entretanto, é clara a contribuição para o ressurgimento de alguns
animais silvestres que são observados com freqüência nessas áreas. O componente
arbóreo contribui com o aumento da freqüência desses animais nessas áreas ao
disponibilizar abrigo, sombra, alimento e esconderijo.
3.3.5. Serviços Ambientais
- Este tópico foi objeto de um estudo complementar do diagnóstico, realizado pelo
pesquisador Peter Herman May, professor do Curso em Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(CPDA/DDAS/ICHS/UFRRJ). Para isso foi elaborado texto específico e não será comentado
neste item. Seguem apenas algumas conclusões e recomendações do estudo:
27
•
Os SAFs preenchem funções complementares às matas nativas (conservação da
cobertura do solo, da infiltração e do fluxo de água e à provisão de habitat) e deveria
ser considerado para PSA através do FUNDÁGUA;
•
Outros programas estaduais ou municipais que poderiam fomentar SAFs / PSA como
o ICMS-Ecológico, e recursos oriundos do Fundo Amazônia Sustentável (que possui
10% de recursos potencialmente destinados para apoiar iniciativas fora do bioma
amazônica);
•
Para seqüestro de carbono a implementação de SAF em pastagens e áreas
degradadas tem maior potencial para atrair recursos do mercado de carbono em
função da adicionalidade de biomassa no sistema (incremento da linha de base);
•
A implementação de SAF deve ser vista como uma estratégia de diversificação da
produção e a partir da visão da propriedade como um todo e dentro do planejamento
e gestão da paisagem de um território (bacia hidrográfica, corredor, etc.);
•
O pagamento por serviços ambientais não pode ser considerados como a “salvação
da lavoura”, podendo compor apenas um mix de estratégias de promoção da
adequação ambiental e produção sustentável;
•
Precisa haver maiores informações e análise referente a questões econômicas e
técnicas, bem como a valoração de sua contribuição sócio-ambiental – que
constituem amplos temas para pesquisa e acompanhamento de resultados;
3.3.6 Organização social, capacitação e assistência técnica
Vários fatores histórico-sociais devem ser analisados antes de inferir sobre qualquer tipo de
análise a respeito da organização dos agricultores inseridos no diagnóstico. Entretanto, este
não foi o objetivo do mesmo. A contribuição neste documento no que tange este aspecto
específico é no sentido de levantar alguns fatores importantes a serem considerados na
análise.
A evolução histórica da agricultura familiar capixaba é caracterizada pela colonização
européia. A ocupação do solo capixaba, dinamizada com a imigração desses povos,
principalmente italianos e alemães, se viabilizou com a distribuição das colônias (áreas de
25 ha), no território estadual, onde o café foi a principal atividade econômica indutora desse
processo. Escravos abolidos e colonos europeus, enfrentando o clima tropical, as florestas,
as montanhas e as epidemias, construíram, em solo capixaba, a base da estrutura agrária e
do modo de produção existente. Constituíram, anonimamente, o grande capital social – a
agricultura familiar (PEDEAG, 2003).
O fim da escravatura levou à substituição da mão-de-obra pelos colonos parceiros e os
movimentos cíclicos dos preços do café induziram o parcelamento das grandes
propriedades cafeeiras do sul do Espírito Santo, fortalecendo a característica, até hoje
dominante, da produção cafeeira capixaba em unidades familiares. (SEAG, 2008).
A partir dos anos 60 a redução da produtividade cafeeira em solos já depauperados ou
degradados, as tecnologias insuficientes ao controle da broca-do-café, promovendo perdas
substantivas em qualidade e o acúmulo de excedentes de oferta levou a agricultura
capixaba a uma situação de crise com alguns fatores, tais como: pobreza rural intensa; forte
migração rural-urbana; ausência de alternativas econômicas de substituição do café; solos
degradados nas áreas liberadas com a erradicação do café; estagnação econômica
estadual e grave crise nas finanças públicas do Estado (SEAG, 2008).
No documento do PEDEAG (2003) que trata especificamente da área temática Agricultura
Familiar, são citados vários fatores limitadores para o estabelecimento da agricultura familiar
28
no Estado. Dentre esses, destacam-se fatores relacionados à organização social,
capacitação de modo geral e assistência técnica e extensão rural (ATER), tais como:
- o baixo nível de organização local dos próprios agricultores;
- a falta de canais apropriados de comercialização;
- falta de difusão e/ou ausência de tecnologias ajustadas aos seus procedimentos e
propósitos;
- o difícil acesso ao crédito, (pouca flexibilidade na sua operacionalização,
principalmente para investimento);
- infra-estrutura de estradas municipais deficiente (para maior dinamização do agroturismo);
- falta de uma postura mais pró-ativa, articuladora, dos agentes financeiros de crédito
rural (Banco do Brasil tem de deixar de ser apenas uma instituição burocrática e
repassadora de recursos);
- falta de legislação previdenciária, sanitária, ambiental e tributária adequadas às
características dos pequenos agronegócios;
- falta de mecanismos institucionais de regulação do mercado de terras que favoreçam
a aquisição das propriedades por agricultores familiares da região, de preferência os
mais jovens (O Banco da Terra não tem funcionado com o objetivo para o qual foi
criado, isto é, como uma organização de ordenamento agrário, devido às limitações
inerentes ao próprio governo);
- pouca assistência técnica, capacitação e pesquisa voltadas para a agricultura
familiar;
- poucos técnicos/extensionistas rurais nos quadros funcionais do INCAPER e outros
órgãos oficiais;
- dificuldade de armazenamento comunitário;
- pouca agregação de valor aos produtos.
O NOVO PEDEAG 2007-2025 (SEAG, 2008) aponta alguns avanços obtidos no âmbito da
agricultura no Estado, mas o diagnóstico gerou algumas conclusões que apontam as
limitações dos agricultores inseridos nos SAF’s. É possível perceber que as mesmas ainda
persistem em quase todos os aspectos citados.
Em todas as propriedades de agricultores familiares estudadas o quintal agroflorestal era
presente, configurando-se como um sistema voltado para abastecimento da família. A
responsabilidade pelos quintais agroflorestais fica à cargo das mulheres, principalmente.
Segundo Macedo (2000) apud Constantin e Vieira (2004) os quintais agroflorestais são tipos
de sistemas agroflorestais geralmente localizados perto da casa, onde são cultivadas
misturas de espécies agrícolas e florestais, envolvendo também a criação de pequenos
animais domésticos ou domesticados, manejados pelos membros da família. É uma forma
de arranjo eficiente de uso da terra, tradicionalmente encontrada nas regiões de clima
tropical e com configurações formadas por diversos extratos.
Vivan (2003) apud Constantin e Vieira (2004) define como palavra-chave para os quintais
agroflorestais a segurança alimentar, devido à diversidade de produtos oferecidos por estes
durante todo o ano.
Seguem as conclusões gerais acerca dos aspectos organizativos, observados no
diagnóstico:
29
ƒ
A organização social nas áreas é incipiente. Com algumas exceções não há, de
modo geral, uma cultura de participação das famílias em organizações sociais como
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR’s), associações comunitárias, conselhos
gestores ou conselhos municipais. A abordagem de gênero também é um aspecto a
ser trabalhado nesse contexto;
ƒ
A assistência técnica e extensão rural (ATER), de modo geral, é muito limitada e
não-sistemática em todos os locais visitados. Quando existe, o órgão responsável e
atuante é o INCAPER e em alguns casos, o INCRA e serviços particulares. A ATER
no Estado está mais voltada para a agricultura e pecuária, com incentivo ao uso de
adubos químicos e defensivos. Na área florestal é mais específica ao cultivo de
eucalipto; Na região norte tem uma atuação expressiva da organização APTA junto a
agricultores familiares com assessoria e construção coletiva de processos
agroecológicos de desenvolvimento local/regional e territorial que pode ser inserido
nessa discussão, embora sua atuação seja mais ampla.
ƒ
Observou-se que, de maneira geral, há um distanciamento dos órgãos (de ATER,
ambientais e de pesquisa) dessas experiências. Os produtores encontram-se
bastante isolados tanto nesse aspecto, relacionado à ATER, quanto na relação de
troca de experiência com os vizinhos, pois em praticamente todas as áreas, estes
não possuem SAF. Também não há intercâmbio entre estes produtores com
experiências de SAF’s em outros locais, o que poderia ser estratégia de
sensibilização, motivação e capacitação dos mesmos.
ƒ
Em todas as propriedades de agricultores familiares estudadas o quintal agroflorestal
era presente, configurando-se como um sistema voltado para abastecimento da
família, cuja responsabilidade fica à cargo das mulheres principalmente. O aspecto
de gênero bem como de geração, não é trabalhado no âmbito das organizações que
acompanham as famílias, necessitando de estratégias e metodologias específicas.
3.4 Aspectos Econômicos
O diagnóstico não teve como objetivo aprofundar dados relativos à economia regional ou do
sistema de produção dentro do universo amostral do mesmo, visto que para isso também
seria necessário o levantamento de dados ao longo de um período maior, contabilizando
investimento, gastos e receitas. A contribuição do estudo sugere o levantamento de alguns
aspectos, a serem aprofundados em outro momento, relativos aos produtos dos SAF’s que
tanto servem para abastecer consumo da família (autoconsumo) como para a sua
comercialização, garantindo a diversificação e aumento de renda para a mesma.
O Estado do Espírito Santo apresenta, em harmonia com a sua grande diversidade
ambiental, uma multiplicidade de atividades econômicas regionais. A região litorânea, o
Terciário (região de tabuleiro) e a região serrana, nas suas várias tipificações, servem de
base a essas atividades (SEMA, 2008).
Segundo este mesmo autor, atualmente a região costeira é mais expressiva em termos
econômicos, devido a metropolização intensa; atividade portuária e turística únicas; forma o
eixo de comunicação tanto por terra (BR 101) como por mar; as atividades industriais e
comerciais mais expressivas que nas outras regiões e, mais recentemente, a descoberta e
exploração de petróleo e gás. Porém mesmo com o decréscimo da contribuição do setor
agropecuário na economia capixaba nas últimas décadas, este setor ainda tem grande
importância sócio-econômica, pois é o maior gerador de emprego e trabalho e é o setor
propulsor da maioria dos municípios capixabas.
30
O diagnóstico indica que 84% das experiências são de agricultores familiares, sendo que o
perfil da estrutura agrária do Estado evidencia que 92% dos estabelecimentos encontram-se
na faixa de 100 ha. Esta produção familiar, segundo SEAG (2008) tem papel relevante na
agricultura capixaba, devido fatores tais como:
- Abrange 77% do total de produtores;
- Ocupa 220 mil agricultores;
- Abrange 40% da área rural;
- Gera 36% do valor da produção agropecuária;
- Responde por 61% da produção de olerícolas;
- Produz 56% da produção de cereais;
- É responsável por 43% da produção de frutas;
- Produz 42% da produção de leite;
- É responsável por 42% da produção cafeeira.
Esta agricultura familiar, embora contribua significativamente com a economia do Estado,
ainda demanda uma série de investimentos, ações e estratégias de médio e longo prazo
para enfrentar os diversos desafios que estão colocados.
Em experiências semelhantes, conduzidas com a assessoria da organização nãogovernamental Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM) em Minas
Gerais, agricultores afirmam que a partir dos SAF’s, o manejo de suas propriedades foi
alterado, ocorrendo uma maior diversificação e integração entre os agro-ecossistemas,
aumentando a relação custo/benefício da produção de café, com reflexos no orçamento
familiar. Nessas áreas verificou-se que, embora a produção de café seja menor na
agrofloresta, o retorno econômico é maior devido ao menor custo de produção e a maior
oferta de produtos (SOUZA, 2006; CARVALHO et al., 2005). Uma demonstração
simplificada, realizada por Alvori Cristo dos Santos (comunicação pessoal, 2004) da
produção de café num sistema convencional e num sistema agroflorestal pode ser verificada
na Tabela 2. A população descrita na tabela inclui pequenas, médias e grandes árvores que
podem no futuro ser diferentes populações.
Este ensaio foi realizado comparando alguns sistemas convencionais e SAF’s em três
propriedades de agricultores familiares em Minas Gerais e indica, dentre outros, o potencial
de um sistema diversificado e a importância de aprofundar estudos nesta direção e
monitorar economicamente os sistemas, como forma de analisar sua capacidade produtiva e
sua sustentabilidade econômica.
Além dos aspectos econômicos estes sistemas diversificados têm contribuído com: a
manutenção da fauna local/regional; a redução dos riscos impostos pelas oscilações do
mercado; uma menor dependência de insumos externos; para a conservação dos recursos
naturais (solo, água, floresta) e uma melhor qualidade de vida no campo, refletida numa
alimentação mais diversificada e saudável (quando agroecológica); menos desgaste no
trabalho, devido a sombra disponibilizada pelas árvores, dentre outros. É um processo de
transição possível e desejável para projetos de conservação em propriedades rurais e seu
entorno que pode ter reflexos, ainda, na discussão sobre agroecologia, pagamento por
serviços ambientais, o acesso à crédito e a certificação de produtos com valor ecológico
agregado.
31
Tabela 2 – Comparação entre sistemas de produção de café em monocultura e café
agroflorestal na Zona da Mata/MG.
Indicadores
Unidades Convencional Agrofloresta
População de café
Pés/ha
2.650
2.050
Produtividade
Kg/pé
0,19
0,62
Produtividade
Sacos/ha
34,9
21,2
Preço
R$/saco
120
120
Valor Bruto
R$/ha
4.187,00
2.542,00
Custos
R$/ha
2.300,00
750,00
Sobra do café
R$/ha
1.887,00
1.792,001
Custos/Valor Bruto
%
54,93
29,50
População da grofloresta
R$
R$
Mamão
150 (pés)
Banana
40 (pés)
Graviola, carambola, urucum
15 (pés)
Copaíba, caramué, jambo
24 (pés)
Caqui, noz-pecam, fruta-do-conde
27 (pés)
Galego, Taiti, mexerica, laranja
123 (pés)
110,00
Manga, abacate, goiaba, jaca
51 (pés)
135,00
Jaboticaba, pitanga, acerola
21 (pés)
Palmito, figo, ameixa
162 (pés)
144,00
Boldo-chileno, uva, pêssego
27 (pés)
Pau-brasil, ipê-roxo, uva-do-japão, canela, ingá, cedro
51 (pés)
Sub-total
701,502
Saldo do sistema
R$/ha
1.887,00
2.493,50 (1+2)
Fonte: Alvori C. dos Santos (comunicação pessoal, 2004) apud SOUZA (2006; CARVALHO et al.,
2005).
O acesso ao crédito é um aspecto importante a ser considerado bem como as
possibilidades existentes de acordo com cada realidade, o tempo de crescimento e resposta
do SAF para cumprir as exigências, as questões legais e as restrições para a exploração
das áreas, dentre outros.
Atualmente existem algumas linhas de crédito/financiamento disponibilizadas pelo Governo
Federal através do Departamento de Florestas, órgão ligado à Secretaria de Biodiversidade
e Florestas (SBF) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) (Quadro 3).
Os SAF’s visitados no Espírito Santo, durante o diagnóstico, bem como em várias outras
regiões do país, foram iniciados com o objetivo de contribuir com a base da economia
familiar, através de ações que gerassem a auto-sustentação em termos de produtos e
insumos nas propriedades. Em que medida isto está se concretizando é a questão a ser
respondida, uma vez que os desafios em termos de planejamento, manejo, investimentos,
monitoramento, assistência técnica, dentre outros, ainda são grandes, nessas diferentes
realidades. São áreas pequenas, em sua grande maioria, que necessitam de um
planejamento voltado para a sustentabilidade em todos os sentidos, em consonância com a
legislação ambiental.
32
Quadro 3 – Possibilidades de financiamento para projetos florestais disponibilizadas pelo
Governo Federal.
PROPFLORA
PRONAF
FLORESTAL
Agricultores familiares
enquadrados nos
grupos A, a/c,
“B”, “C” e “D” do
PRONAF*.
FNO/FCO/FNE
Produtores rurais
(pessoas
físicas ou jurídicas),
associações e
cooperativas.
Manejo florestal;
plantios
florestais;
agroflorestas;
adequação ambiental;
aquisição
de máquinas e
equipamentos;
projetos integrados rural e
industrial; promoção de
mercado.
Beneficiário
Produtores rurais
(pessoas
físicas ou jurídicas),
associações e
cooperativas.
Finalidade
Implantação e
manutenção de
florestas comerciais;
recomposição e
adequação
ambiental (APPs e
RL).
Projetos de
investimento em
silvicultura, sistemas
agroflorestais e
extrativista
sustentável.
Teto por Beneficiário
R$ 150 mil
R$ 1; 4 e 6mil
Até R$ 12 mil
Taxa de Juros
8,75% a.a
2% a.a
6% a.a.(mini) 10,75%
a.a
(grande). Bônus 15%
Carência
Até 8 anos
Até 8 anos
Até 10 anos
Prazos de Pagamento
Até 12 anos
Até 12 anos
Até 20 anos
Assistência Técnica
Instituições Públicas,
Privadas e ONGs.
Abrangência
Todo o território
nacional
Agente e Financeiro
Banco do Brasil e
demais Bancos
credenciados pelo
BNDES.
Financiada: até 2% do
valor
do Projeto ou via
Instituições.
Todo o território
nacional
Banco do Brasil, Banco
da Amazônia (BASA),
Banco do Nordeste do
Brasil (BNB) e demais
Bancos do Sistema
Nacional de Créditos
Rural.
Financiada ou
proporcionada
via Instituições.
Região NO/CO/NE
Banco da Amazônia
(BASA) - FNO
Banco do Brasil - FCE
Banco do Nordeste do
Brasil (BNB) - FNE
Fonte: DEPFLOR (2009); PNF (2009).
Seguem as conclusões gerais acerca dos aspectos econômicos, observados no diagnóstico:
ƒ
Não existem estratégias e ações voltadas para a comercialização desses produtos
advindos dos SAF’s, pois não tem nem mesmo uma estratégia clara e definida para
os SAF’s. É algo ainda a ser trabalhado;
ƒ
Em termos de infra-estrutura as estradas e rodovias são favoráveis ao escoamento
da produção em alguns locais e deficientes em outros. Este é um indicador que deve
ser analisado, em termos de estratégias de mercado e comercialização de produtos
dos SAF’s. Nesse aspecto são necessários estudos aprofundados de mercado, a
partir das demandas locais/regionais, bem como dos produtos que os agricultores
vêm produzindo em suas áreas.
33
ƒ
A mão-de-obra é basicamente familiar em aproximadamente 90% das experiências.
Isso é favorável ao refletir uma economia na contratação de mão-de-obra, mas por
outro lado, dificulta o aproveitamento do potencial da propriedade em escala
comercial. Há uma carência de trabalhadores nas áreas e também de capacitação e
qualificação;
ƒ
Em algumas propriedades foi possível identificar um potencial muito grande em
termos produtivos e de diversificação para a produção. Em alguns locais foi possível
observar um aproveitamento para além do consumo familiar (Figura 4). Entretanto,
verificou-se que muitos sistemas estão subaproveitados, inclusive com desperdício
de produtos nas áreas (Figura 5). Não foi possível coletar dados mais apurados que
pudessem contribuir com uma análise econômica, portanto as figuras apenas
ilustram uma idéia do que existe nessas áreas. Ambos necessitam de monitoramento
e estudos mais aprofundados.
ƒ
Os SAFs permitem o aproveitamento econômico de áreas que estão limitadas
quanto ao seu uso (APP e RL) no caso de propriedades menores de 50 há.
ƒ
O SAF possibilita diversificação de renda e diminuição da taxa de risco mediante
oscilações de preços de mercado e crises cíclicas, melhorando a resiliência,
autonomia e estabilidade do sistema de produção.
Figura 4 – Fluxograma simplificado ilustrando os itens de gastos e de produção de um
sistema, cuja família comercializa o café, produtos da feira, mel e polpas de fruta,
obtendo uma renda constante durante todo o ano com a diversificação da
produção, a partir do SAF.
Transporte dos
produtos da feira =
R$ 30,00/viagem e
energia elétrica da
mini-agroindústria de
polpa.
Mão-de-obra
familiar
Adubação (2x/ano)
= R$1.450,00
Análise de solo
(1x/ano = R$7,00
SAF
(12 ha)
Café: ~ 70 sacas
* R$204,00 =
R$14.280,00/ano
Feira: banana prata (20
dz/semana), limão
galego e taiti (100 dz na
época), tangerina,
laranja, mexerica,
hortaliças, côco,
palmito doce
Polpa de fruta – miniagroindústria: sachês
de 100g = R$ 0,60 ou
R$6,00/kg
Eucalipto para
uso doméstico e
comercial, se
necessário
Quintal: galinha,
porco, ambos
para o consumo
e os ovos
vendem na feira.
Mel (10 caixas):
50kg/ano * R$
15,00/kg =
R$750,00/ano
Î o que entra ou gastos no sistema
Í o que sai ou é produzido no sistema
34
Figura 5 – Fluxograma simplificado ilustrando os itens de gastos e de produção de um
sistema, cuja família comercializa apenas o café, sendo que o SAF produz uma
série de outros produtos que não são comercializados, mas sim doados ou
voltam para o sistema em forma de matéria orgânica no solo.
Mão-de-obra
familiar
Café: ~ 50 sacas
* R$204,00 =
R$10.200,00/ano
SAF
(9,7 ha)
Quintal: galinha, ervas
medicinais como boldo,
saião, camomila, tem
gengibre, açafrão, taioba
branca, louro, quiabonativo, tilápia, fruta-pão,
jaca, cravo, alecrim
(produz desinfetante do
cravo e do alecrim)...
Frutas: cupuaçu, romã,
caqui, carambola,
sapoti, cacau, abiu,
laranja, cajá, jambo,
banana (várias
qualidades), limão,
tangerina, côco...
Palmito (açaí, pupunha,
jussara, pati-amargoso),
babaçu, guaraná, cravoda-índia, pimenta (do
reino, dedo-de-moça,
malagueta), canela...
300 árvores de
Eucalipto (20
anos de idade e
DAP ~ 1m)
Î o que entra ou gastos no sistema
Í o que sai ou é produzido no sistema
4. Principais aprendizados
Nas entrevistas foi possível identificar alguns dos principais aprendizados acumulados pelos
produtores desde a implantação do SAF. O resgate desses aprendizados é importante, pois
servem para reorientar o processo e também de recomendação para outros produtores e
técnicos que estão vivenciando processos semelhantes.
É importante atentar para o fato de que cada realidade é única e não deve ser copiada. As
recomendações devem ser adaptadas, revistas e testadas, pois não são receitas prontas,
pacotes ou transferência de saberes. Muitas variáveis interferem, tais como: localização na
paisagem, clima, topografia, disponibilidade hídrica, características do solo, escolha das
espécies, espaçamento, planejamento, disponibilidade de mão-de-obra, tempo de
observação e dedicação, monitoramento, dentre outras.
Estas recomendações estão mais relacionadas ao desenho e manejo dos SAF’s pela prática
de campo dos produtores e não têm caráter técnico-científico, pois ainda não foram
aprofundadas em pesquisas. Entretanto, são vivências de famílias que, por conta própria em
sua maioria, iniciaram seus sistemas e aprenderam muito entre erros e acertos. São
produtores que, acima de tudo, ainda estão buscando respostas para as muitas dúvidas e
limitações que encontram no caminho.
Durante o diagnóstico o resgate dos principais aprendizados foi muito oportuno para gerar
uma reflexão entre os produtores e técnicos sobre suas vivências e o que aprenderam ao
longo de todo o processo de implantação e condução dos SAF’s/consórcios.
35
Cada região tem as suas peculiaridades e características e é possível encontrar realidades
muito distintas num mesmo município. Segue a sistematização dos principais aprendizados
citados pelos produtores em cada região visitada.
4.1 Aprendizados citados por agricultores da Região Sul
- Em SAF que tem o cedro australiano como cultura madeireira comercial é importante que o
primeiro corte não seja raso, mas sim, feito um desbaste deixando matrizes, exemplares
mais saudáveis e robustos para germinação e manutenção da qualidade.
- Espécies madeireiras como o cedro e a teca podem ser plantadas cercando a área do
café, pois não ocupam área produtiva, é esteticamente interessante e conferem retorno
econômico com a comercialização da madeira;
- O aprendizado ou a vontade de implantar um SAF surge a partir de algum vizinho ou
amigo que já está fazendo em algum local e também de uma relação mais próxima com a
natureza.
- A gliricídia é vista como uma espécie potencial por agregar diferentes vantagens, tais
como: produção de nitrogênio (N); aceita bem poda drástica e tem boa capacidade de
rebrota; é caducifólia, fornecendo muita matéria orgânica; e na época de chuva é importante
porque protege o café.
- O café fica muito prejudicado exposto ao sol durante todo o dia, por isso a importância de
consorciá-lo com espécies arbóreas.
- É importante ter autonomia dentro do SAF, especialmente implantar o próprio viveiro para
produção de mudas visando economia e não criar dependência de terceiros.
- A pimenta-do-reino não é tolerante à muita água.
- O componente arbóreo é um importante fornecedor de matéria orgânica ao sistema,
especialmente em lavouras de café. É importante atentar para as espécies que são
compatíveis no sistema.
- O sistema silvipastoril consorciando gado de corte e eucalipto é viável e um desenho
recomendável para este tipo de consórcio é aquele que integra pequenos fragmentos de
eucalipto na área, para o gado descansar (sombra) com área para pastar, pois embaixo do
eucalipto não cresce capim. É importante atentar para as espécies mais desejáveis: o E.
grandis com 1 ano já tem condições de inserir o gado, já o E. citriodora só com 2-3 anos.
Este demora mais para crescer e adensa mais.
- A recomendação do INCAPER é a formação de pequenos bosques de 100 m2 próximos
aos currais ou linhas de eucalipto para o gado. Em linhas, a insolação também favorece o
sombreamento natural e também a entrada de sol. Eucalipto em pequenos bosques é
garantia de renda e economia de lenha e madeira para consumo interno dos produtores.
- A manutenção de um sistema agroecológico pode gerar renda mantendo a qualidade de
vida e a preservação do meio ambiente, sem a aplicação de produtos químicos.
4.2 Aprendizados citados por agricultores na Região Central/Serrana
- Para consórcios com café e pupunha é importante atentar para o perfilamento desta, pois
prejudica o café, por isso é recomendável o plantio cercando a lavoura e não na linha do
café. A pupunha é uma espécie compatível com o café, pois não competem entre si, fornece
36
matéria orgânica para o café, o corte é relativamente rápido (com 3 anos) e é
comercialmente interessante.
- Espécies citadas como compatíveis ou companheiras do café, principalmente por fatores
como: a facilidade de manejo, disponibilidade de matéria orgânica, sombreamento e não
competição por água e nutrientes:
- ingá
- quaresmeira
- mamona
- mamão
- laranja
- camboatá
- cedro
- palmito, no ponto de corte (cerca de 3 anos) fornece cobertura para o solo e água para
o café;
- banana, disponibiliza matéria orgânica depois que são cortadas e deixadas no meio da
lavoura e ajuda manter a umidade do solo.
- abiu, fornece sombra alta e mantém a umidade, mas deve-se ter cuidado para não
deixar o galho em cima do café.
- Espécies citadas como não-compatíveis com o café:
- cubi-de-serra, leguminosa da família do angico é uma espécie não recomendável para
SAF’s com café, pois compete por água e nutrientes;
- margaridão, pois é muito agressiva, reprodução por estaca, vira touceira e o café não
sai;
- embaúba prateada, pois a folha é muito grande, fica em cima do café matando-o;
- abacate, pois gera muita folha e mata o café;
- A área destinada ao SAF tem que ser propícia para o objetivo proposto ou para o que se
quer com o sistema. Deve-se ter capricho e dedicação também.
- O SAF é o futuro da região, agricultura convencional por si só não se sustenta.
- Em SAF’s com palmito é importante não roçar a área para não tirar as mudas e plantas
menores até que ele cresça. O problema é o sapé que encobre o palmito, portanto, a mãode-obra deve ser qualificada para este tipo de manejo.
- Em consórcios ou SAF’s que envolvem café com frutíferas é importante atentar para as
oscilações do mercado e a manutenção da qualidade e uniformidade. Plantar diferentes
qualidades é interessante pela variedade na comercialização, mas o período de maturação
é distinto, os preços variam, dentre outros. É importante ter condições de prever e reverter
possíveis dificuldades.
- A idade de corte do palmito é a partir de 6 anos. Este é um parâmetro usado para espécies
em floresta nativa sem condução ou adubação. Com 6 anos a planta já está adulta,
frutificando e com sementes para germinar novas espécies.
37
- O palmito deve ser plantado com um espaçamento razoável, que facilite sua localização,
de forma a encontrá-lo com facilidade em sistemas mais adensados e também no período
de corte. É uma espécie com madeira boa para ripa e que não tem limite de profundidade
para plantio, necessita de umidade e se jogado sobre o solo não vinga tanto quanto em
covas, pois não tem sustentação. Para o plantio do palmito recomenda-se de 4-5
mudas/cova, para que pelo menos uma vingue e não ter o trabalho perdido e para que a
mais forte possa sobressair. Se for produzir em viveiro é recomendável de 4-5 mudas/sacola
e fazer o desbaste da muda que mais se desenvolve para que as outras vinguem.
- A produção de palmito amargoso com café conilon é possível, porém não é indicado o
plantio do palmito muito próximo ao café, pois é uma espécie que o necessita de muita água
e muito próximo do café pode competir com este matando-o e provocando muita sombra. É
fundamental observar o espaçamento e o período de corte.
- O feijão guandu plantado nas linhas de café como adubação verde é importante, mas
deve-se ter cuidado para sua raiz não competir com o café. Deve-se manejar cortando com
cerca de 5 meses e deixando o material orgânico sobre o solo.
- Para implantação de SAF com finalidade madeireira a recomendação é deixar crescer a
nativa e depois ir raleando, manejando a vegetação ali existente, de acordo com seus
objetivos: se madeira, manejo conduzindo a copa; se orgânico, poda, ciclagem. O SAF é
conduzido de acordo com que a natureza produziu e introduziu.
- No sistema de café com árvores a mão de obra é maior por causa do manejo das árvores,
mas o custo com a adubação seria maior se não fosse a contribuição destas. O componente
arbóreo com suas várias contribuições ao sistema elimina o custo com o café.
- O SAF não resulta numa produção elevada de café, comparada ao monocultivo, mas têm
uma constância e economia no manejo, adubação e diversificação (renda extra e mais
rápida).
- Para a implantação de um SAF com café deve-se:
1º) Saber qual o objetivo e o que se quer antes de implantar um sistema;
2º) Iniciar com recursos próprios, sem empréstimos ou créditos;
3º) Fortalecer o solo se estiver fraco, utilizando um composto orgânico.
4º) Plantar primeiro o café, depois deve-se pensar em produtos para uma feira e para o
sustento da casa. A partir daí planta-se um pouco de tudo: jiló, mandioca, tomate e
outros, até dar tempo do café crescer;
3º) Inserir outras plantas que não matem o café e que ajudem a fortalecer a terra,
manejando-as. Com 7 meses não precisa preocupar com adubo e o importante é
conduzir o sistema para não dar muita sombra.
- É importante nunca fazer nada duvidoso que coloque em risco o pouco que se tem,
quando se trata de agricultura familiar. Portanto, recomenda-se destinar, inicialmente, uma
área pequena para o consórcio para não colocar em risco a produção da cultura principal e
a renda da família, caso não funcione.
- Uma das vantagens do SAF é que ele gera muito adubo, o que reflete em economia e a
diversificação é importante para a renda da família.
- O eucalipto em sistema de monocultura seca tudo, mas distribuído de forma equilibrada no
meio do café não prejudica, pelo contrário, ajuda com cobertura.
38
- Para se implantar um SAF tem que ter planejamento, organização e dedicação. Deve-se
buscar aperfeiçoar sempre e verificar mão-de-obra disponível para o que se almeja para não
ter prejuízos futuros.
- Para desenvolver um SAF não pode pensar muito no lucro imediato, mas sim no sustento
da família em primeiro lugar.
- O café na pode ser consorciado com espécies de copa baixa, pois dá muita sombra, ele
viça muito e não frutifica. É importante atentar para a quantidade de sombra e de insolação
que o café precisa, pois a sombra das árvores ajuda a manter a saúde do café.
- A pimenta-do-reino é plantada sozinha e também em árvores que servem como tutoresvivos, nesse caso, a espécie mais compatível é a canjiquinha e as espécies que não são
compatíveis são a jaqueira, por dar muita sombra e a goiabeira por ter tronco liso.
- A recuperação da área antes de implantar o sistema é essencial para o bom
desenvolvimento do sistema.
- É recomendável não retirar toda a mata da área que se deseja fazer um cultivo.
- Em experimentos comparativos numa mesma propriedade foi constatado que o bom
desenvolvimento do café, ou seja, o amadurecimento por igual, em área de SAF foi em
virtude do consórcio com o cedro australiano. Isso foi constatado em relação às outras áreas
que não estavam consorciadas.
- O consórcio de café conilon com côco e palmito pupunha é um arranjo que dá certo, não
requer muita mão-de-obra e gera uma boa renda. É importante atentar para o espaçamento,
pois não é recomendável consorciá-los muito próximos.
- O cultivo de café conilon com cupuaçu é recomendável, pois são compatíveis, sem
nenhum custo adicional, além das possibilidades comerciais do cupuaçu. Entretanto, não é
recomendável o cultivo deste sem um mercado ou compradores já definidos, pois os frutos
se perdem desperdiçando seu potencial. O cupuaçu é uma espécie que desenvolve bem em
áreas que não têm grande disponibilidade de água.
- A diversificação que o SAF proporciona é fundamental para a sustentação da família
durante todo o ano, especialmente em períodos de entressafra e oscilações de preço ou
desvalorização de alguns produtos que são a base de sustento da família.
- O cultivo de seringueira e cacau em consórcio é excelente, devido a redução dos custos
com mão-de-obra (manual), produção rápida e alta rentabilidade. A seringueira produz em
média com 6 anos, e após a primeira safra, o produtor consegue produzir todos os dias e
não precisa de muita mão-de-obra, basta deixar que a natureza cuida. Entretanto, o plantio
do cacau tem que ser após três anos o plantio da seringueira, por que se ocorre ao mesmo
tempo, o cacau não vinga e sua produção do cacau é mais lenta.
- Não se recomenda o plantio de café conilon entre a seringueira, porque esta provoca muita
sombra e impede o desenvolvimento do café.
- No plantio de cupuaçu com seringueira é importante ter cuidado, pois pode não ser tão
vantajoso, porque o cupuaçu precisa de muita luz. Outra observação importante está
relacionada aos custos de colheita e beneficiamento, pois sem maquinário disponível, o
preço de comercialização não compensa em virtude da mão-de-obra.
39
4.3 Aprendizados citados por agricultores na Região Norte
- Cedro é muito bom com o café, mas dependendo da situação tem que ter cuidado.
Sistema radicular superficial, demanda solo fértil e acima de 1000 mm de precipitação. É
uma espécie madeireira de alto valor comercial e, portanto, economicamente viável para o
SAF.
- É importante o produtor colocar em prática tudo o que for aprendendo e seguir adaptando,
testando e utilizando o que for melhor.
- O agricultor familiar quando sozinho não consegue produzir de forma orgânica, pois a
cultura do convencional é muito forte e em termos de comercialização não produz volume
suficiente que compense o trabalho. “Uma andorinha só não faz verão”.
- Em termos de espaçamento a recomendação para o SAF dar certo é não adensar o
sistema, as espécies precisam “respirar, pegar sol e vento”;
- É importante conduzir o SAF numa perspectiva de futuro e com planejamento cuidadoso
para não dar errado.
- Em sistema com jaqueira, com objetivo comercial madeireiro, a poda deve ser realizada
com o corte dos brotos e manejo dos galhos, uma poda de condução para engrossar o
tronco. Corta-se a ponteira para que a árvore cresça em diâmetro, pois assim ela perde
força no sentido vertical. Se fosse com objetivo de colher o fruto teria que deixar a copa
frondosa e não cortar os galhos.
- Num sistema com café e com uma grande variedade de espécies a produção de café não
é grande, por isso tem que ter uma lavoura grande para compensar. Entretanto, há a
diversificação da renda e a redução de custos de adubação e mão-de-obra.
- As espécies espontâneas indicam a fertilidade do solo. Mesmo as que indicam solo fraco
são importantes, pois também melhoram a terra, vão crescendo, depois morrem e deixam
matéria orgânica.
- A adubação verde é recomendada em substituição ao adubo químico, para terra deficiente
de fósforo (P). Dentre as espécies utilizadas o lab-lab produz pouca massa.
- O cultivo de cacau é uma atividade muito lucrativa, porém, os custos com adubação e
principalmente com irrigação, são muito elevados em relação à produção na fase inicial.
- Em consórcio de cacau com seringueira a excelente produção do primeiro deve-se ao
sombreamento proporcionado pela seringueira.
- A utilização do solo para cultivo de vegetais sem a utilização de agrotóxicos é uma
alternativa viável e saudável, de forma que o ser humano pode obter lucro com a terra sem
utilizá-la demasiadamente, aprendendo trabalhar de acordo com o seu limite. Isso é garantir
qualidade de vida e comida para as próximas gerações.
- Irrigação e adubação são os maiores limitantes para o SAF nesta região.
- É importante observar as demandas de mercado antes de pensar o SAF, pois produtos
sem saída ou que têm altos custos de investimento acabam desperdiçados na propriedade.
É preciso também atentar para as oscilações de preço.
- O cultivo de cacau em consórcio com café conilon é uma alternativa viável, mesmo
necessitando de irrigação diária.
40
- O cultivo de cupuaçu e de côco anão não são tão vantajosos, devido o baixo preço de
comercialização do côco e da falta de maquinário para despolpar o cupuaçu, que demanda
muita mão-de-obra.
- O consórcio de seringueira com cacau é recomendado por que os dois são viáveis
comercialmente e a seringa mantém o solo em boa qualidade, sem exigir adubação
freqüente.
- Não é recomendável o consórcio de côco anão com café e nem com cacau, porque ele
possui muita raiz e absorve muita água, danificando o café e o cacau.
41
CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Seguem algumas considerações finais sobre aspectos importantes apontados no
diagnóstico. Aspectos estes, que são mais visíveis numa primeira análise, mas que estão
longe de serem aprofundados ou mesmo esgotados neste documento, pois refletem apenas
um olhar sobre as experiências de SAF’s no Espírito Santo nos dias atuais.
Para facilitar a compreensão, os aspectos foram distribuídos em 6 áreas temáticas mais
evidenciadas no estudo e que se inter-relacionam, quais sejam:
1. Potencialidades e Limites para os SAF’s no Espírito Santo
2. SAF’s e Agroecologia
3. SAF’s e Articulação Interinstitucional
4. ATER, Capacitação e Organização
5. SAF’s e Mercado
6. Quintais Agroflorestais, Aspecto de Gênero e Participação da Família
É importante ressaltar que o diagnóstico aponta para a necessidade de aprofundar todos os
elementos levantados pelo mesmo e para a realização de pesquisas, junto às experiências
de SAF’s visitadas no Estado, em diferentes áreas:
- aspectos produtivos / econômicos;
- aspectos sociais e organizativos;
- aspectos ecológicos, tais como: solo e nutrição de planta; espécies arbóreas, serviços
ambientais etc..
Há uma carência muito grande de informações, respaldadas cientificamente, para que sejam
somadas com os conhecimentos e vivência dos produtores, de modo à contribuir com o
desenvolvimento desses sistemas e de outros que podem vir a se estabelecer.
1. Potencialidades e Limites para os SAF’s no Espírito Santo
- O café, principal produto comercial em 80% dos sistemas e/ou consórcios visitados
durante o diagnóstico, coloca os produtores atrelados à uma estrutura de mercado que se
configura como um limite estrutural externo, uma vez que esse sofre constantemente com
as oscilações de preço, condições de venda, altos custos de produção e condições similares
para agricultores familiares e grandes produtores. Nesse contexto, de acordo com Muschler
e Bonneman (1997) apud Jaramillo-Botero et al. (2004), os SAF’s configuram-se como
sistemas produtivos que, por agregarem diversos produtos, são uma opção para o produtor
frente às crises cíclicas do café convencional, além de contribuírem com a conservação dos
recursos naturais.
- São vários os fatores potenciais para o estabelecimento dos SAF’s no Espírito Santo,
identificados a partir do diagnóstico e que não se esgotam aqui, dentre eles:
ƒ
produção diversificada;
ƒ
mão-de-obra familiar, refletindo na redução de custos, agregação da família e
manutenção do agricultor no campo;
ƒ
interesse da maior parte dos produtores envolvidos;
42
ƒ
instituições de ensino, pesquisa e extensão atuando na área de abrangência,
que contribuem ou podem vir à contribuir com o processo;
ƒ
organizações governamentais e não-governamentais com algum acúmulo de
experiência em SAF’s, atuando na área de abrangência e que contribuem ou
podem vir à contribuir com o processo;
ƒ
características ambientais favoráveis a sistemas diversificados e menos
impactantes sobre os recursos naturais, devido à limitação ao uso de
mecanização agrícola e os altos custos de insumos e adubos;
ƒ
conhecimento acumulado de alguns produtores mais experientes que podem
servir de agentes multiplicadores, através de intercâmbios e troca de
experiências/vivências;
ƒ
pesquisas diversas realizadas e, principalmente a demanda de novos estudos
a serem realizados na área de abrangência do diagnóstico, que podem servir
de parâmetro para todo o Estado.
- O diagnóstico também identificou alguns dos principais fatores limitantes para o
estabelecimento dos SAF’s no Espírito Santo, mas estes também não se esgotam aqui,
dentre eles:
ƒ
legislação florestal desconhecida por grande parte dos produtores. A
legislação ambiental brasileira é uma das mais eficientes do mundo, mas os
instrumentos que atuam em consonância com a mesma são tão deficientes e
a diversidade de realidades nos meios rural e urbano é tão grande, que esta
passa a ser, em muitos casos, um fator limitante ao estabelecimento dos
SAF’s.
ƒ
regularização fundiária e aspectos legais relacionados às RL’s, APP’s e
exploração comercial de espécies nativas constituem-se fatores limitantes à
implementação da proposta. Os produtores possuem, em sua maioria, um
passivo ambiental muito grande em relação às RL’s, e como as áreas são
pequenas os SAF’s acabariam por suprir esse passivo sem a garantia de
exploração futura.
ƒ
infra-estrutura como estradas e transporte deficiente em algumas áreas, o
que implica, dentre outros, na inviabilização da comercialização dos produtos
advindos dos SAF’s e/ou no aumento dos custos de escoamento nesses
locais;
ƒ
falta de estudos de mercado e planejamento em escala local/regional para os
produtos advindos dos SAF’s a partir das demandas e potencialidades de
cada local;
ƒ
manutenção do padrão de qualidade, quantidade e disponibilidade dos
produtos para a comercialização;
ƒ
a organização social é muito incipiente nas áreas estudadas, o que dificulta
qualquer iniciativa ou ação específica com este grupo. Outro fator agravante é
que, de modo geral, as famílias visitadas não possuem uma cultura de
participação. Os produtores estão isolados dentro da proposta dos SAF’s. A
organização para a produção também demanda sensibilização e capacitação
de produtores e técnicos.
43
ƒ
ATER deficitária voltada para as demandas dos SAF’s;
ƒ
não existem parcerias ou uma articulação interinstitucional formalizada e
voltada para a proposta dos SAF’s no Estado. As organizações, com algumas
exceções, ainda não estão sensibilizadas para o SAF, o que existe são
alguns técnicos e produtores isolados nesse sentido.
ƒ
aspectos ambientais críticos como o déficit hídrico em várias regiões do
Estado, o que implicaria limitações num primeiro estágio (fase de
implantação), dependendo do desenho e arranjo proposto.
2. SAF’s e Agroecologia
- O Espírito Santo bem como várias outras realidades do país, ainda vivenciam alguns
resquícios da “Revolução Verde”. O uso de defensivos agrícolas e adubos químicos, com
intensa exploração dos recursos naturais (solo, água, florestas...), pastagens degradadas e
avanço da monocultura (principalmente fruticultura, café e eucalipto) caracterizam o uso e
ocupação do solo no Estado. Isso é contraditório tanto para a proposta de corredores
ecológicos, quanto para os SAF’s e a sensibilização se faz necessária nesse sentido.
- A região visitada durante o diagnóstico não tem uma cultura agroecológica, o que vem
sendo construída no Estado, de modo recente, através de estratégias e ações do Governo e
outras organizações que já atuam nessa perspectiva de sustentabilidade há alguns anos.
Exemplos claros são o da APTA na região norte, INCAPER na região serrana, algumas
experiências em assentamentos do INCRA na região central, processo de capacitação em
agroecologia de técnicos do INCAPER, dentre outros. Percebe-se que há um longo
caminho, mas a agroecologia deve de modo gradativo, se incorporar de fato às ações
efetivas, aproveitando as experiências de organizações (governamentais e nãogovernamentais) e produtores que já atuam nessa área. O Estado tem se mostrado
receptivo nesse aspecto e isso deve ser aproveitado como um processo de transição tanto
no campo ideológico, quanto produtivo.
- De modo geral, as propriedades possuem diferentes subsistemas que não estão
integrados/interligados e mesmo as áreas consorciadas são isoladas do conjunto da
propriedade. Os SAF’s ou consórcios mais simplificados devem ser pensados numa
estratégia de planejamento da propriedade, integrados com outros subsistemas da família e
não como sistemas isolados. Do mesmo modo, devem integrar toda a família e numa
perspectiva de equidade social, buscar beneficiar toda a comunidade envolvida. É
importante nesse aspecto, uma maior conscientização em relação ao uso e à
proteção/conservação dos recursos naturais, que podem ser pensados de forma sistêmica
em nível de propriedade e também numa esfera regional/territorial. Desse modo, essas
áreas poderiam compor futuramente, as estratégias de um desenvolvimento local/territorial
sustentável, contribuindo para a formação de corredores ecológicos, integração com as
UC’s existentes, conservação/recuperação de bacias hidrográficas, conservação da sóciobiodiversidade, dentre outros.
- Existe um processo de evasão, no qual muitos agricultores estão saindo do campo para
trabalhar em empresas instaladas na região. Isso pode gerar conflitos potenciais e impactos
sócio-ambientais em médio e longo prazo. A agricultura no Estado deve se fortalecer a partir
dos produtores no campo para não gerar conseqüências negativas, tais como: o inchaço
dos centros urbanos; aumento da violência no campo e na cidade; esgotamento dos
recursos naturais; desemprego após a saída das empresas desses locais; falta de alimentos
pela escassez de mão-de-obra no campo; dentre outros.
44
- O programa de adequação ambiental do Estado, cujo principal objetivo é o
desenvolvimento sustentável da pequena e média propriedade rural, buscando estimular um
conjunto de ações integradas voltadas para a recuperação e adequação ambiental e para a
otimização e renovação de suas áreas de produção agrícola e florestal (SEAG, 2009), deve
ser conduzido de forma à se integrar e atender as diferentes demandas e realidades rurais
existentes. É um programa piloto, ainda em fase inicial, que pode vir a ser uma estratégia
das mais importantes para a sensibilização e implementação dos SAF’s no Estado, de
acordo com o que se propõe.
3. SAF’s e Articulação Interinstitucional
- O estabelecimento dos SAF’s demanda articulação de parceiros e organizações de
interesse, que venham contribuir com as suas diferentes capacidades. Algumas
organizações, tais como: a APTA, que já tem um histórico e pioneirismo nesse sentido,
organizações governamentais como IEMA, INCAPER, IDAF e INCRA, que demonstram
estar mais sensibilizadas e com ações encaminhadas e outras, podem agir como
articuladoras iniciando uma rede de atores (sociais e institucionais) que pode fortalecer a
proposta de implantação dos SAF’s no Estado. É preciso construir um processo de modo
gradativo, iniciando na base para que seja reconhecida como uma demanda de dentro para
fora e não o inverso.
- As organizações, de modo geral, devem estar atentas e abertas à proposta para que ela
seja incorporada na instituição e não só por técnicos pertencentes ao seu quadro, de forma
isolada. Isso é importante para que os atores possam ter autonomia e poder de decisão.
Para tanto, envolve capacitação, através de cursos, intercâmbios e vivências; elaboração de
estratégias e ações de fortalecimento das organizações e experiências em curso;
desenvolvimento de metodologias específicas; aprofundamento de pesquisas e estudos nas
áreas visitadas para que sirvam de referência; elaboração de planos de comercialização
para os produtos dos SAF’s; dentre outros.
- Existem muitos produtores que estão cercados por grandes proprietários de terra que não
mantém qualquer relação de equidade com as comunidades. Grandes empresas instaladas
na região que não compactuam com a proposta de diversificação também precisam ser
sensibilizadas dentro das propostas de ação do PCE.
4. ATER, Capacitação e Organização
- Observa-se uma necessidade de formação contínua e capacitação do público que está
desenvolvendo os SAF’s, a partir da troca de saberes em diferentes níveis: a) agricultores
dos SAF’s; b) agricultores dos SAF’s e agricultores convencionais de uma mesma
comunidade; c) agricultores dos SAF’s e agricultores de outros locais e d) agricultores dos
SAF’s e técnicos envolvidos. Esse processo de capacitação pode ser realizado através de
intercâmbios, troca de experiências e divulgação destas, aproveitando o potencial de
algumas delas e do conhecimento acumulado desses produtores e técnicos.
- As organizações de ATER não estão suficientemente sensibilizadas para os SAF’s ou não
incorporaram de modo concreto estratégias, ações e metodologias voltadas para o
desenvolvimento da proposta. O que existe são técnicos atuando de forma isolada nesse
sentido, o que é um limitante para o desenvolvimento dos SAF’s no Estado, pois falta-lhes,
de modo geral, capacitação e orientação institucional que subsidie e respalde suas ações,
dentre outros.
45
- A maior parte dos produtores iniciou as experiências com recursos próprios e/ou com
auxílio de algum tipo de linha de crédito, especialmente o PRONAF. O subsídio financeiro se
configura, em determinadas situações, como um elemento importante para que as famílias
possam investir no SAF, observando-se as condições e realidade de cada família. O SAF é
visto pelos produtores como uma experiência inovadora e de risco, portanto, mecanismos de
incentivo financeiro sejam através do PRONAF ou com o apoio de organizações
governamentais, não-governamentais e privadas, podem ser motivadores até que o sistema
responda de modo positivo em termos econômicos, na renda familiar. Um exemplo positivo
encontra-se na Zona da Mata/MG, onde após um processo de complexificação do sistema,
agricultores perderam a produção de café (cultura principal) e a organização de assessoria
CTA-ZM, através de recursos do PD/A (Projetos Demonstrativos do Programa Piloto para a
Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7), possibilitou a re-orientação e
continuidade das experiências de SAF’s, sem implicações na subsistência das famílias. Para
tanto, critérios para o acesso ao recurso foram estabelecidos junto com os agricultores
experimentadores, de modo que as experiências tiveram continuidade mesmo após o
término do incentivo e muitas delas são, atualmente, referências na área.
- A organização social é um aspecto fundamental para o desenvolvimento do SAF numa
perspectiva de desenvolvimento local sustentável. A partir do fortalecimento dessa base
pode-se avançar para uma organização produtiva, tendo em vista novas possibilidades de
produção, beneficiamento e comercialização que possibilitem, inclusive, o acesso a
mercados diferenciados (Ex: Fair Trade, mercado de produtos orgânicos e/ou
agroecológicos etc.)
- As estratégias para os SAF’s no Espírito Santo devem estar conectadas com as políticas
mais macro que estão em curso para que estas possam se beneficiar mutuamente. O Plano
Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais – PENSAF é um
exemplo e se caracteriza como um instrumento político importante. Este plano, de acordo
com MMA et al. (2009), tem por objetivo criar condições favoráveis à utilização de espécies
florestais nativas e sistemas agroflorestais, com fins de produção comercial que proporcione
aumento da disponibilidade de seus produtos e resulte em significativos benefícios sociais,
econômicos e ambientais. O PENSAF atua em consonância com o Programa Nacional
Florestal – PNF e tem como principais diretrizes:
•
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•
•
•
•
Estruturar um sistema de informações silviculturais e agroflorestais;
Gerar, validar e disponibilizar tecnologias e processos;
Prestar serviços de assistência técnica e extensão rural;
Definir e ampliar o número de espécies prioritárias e a oferta de sementes e mudas;
Aproveitar a diversidade de produtos e serviços de espécies florestais nativas;
Estabelecer e aperfeiçoar mecanismos de financiamento;
Valorizar ambientalmente e economicamente os serviços ambientais;
Adequar e harmonizar as legislações federais e estaduais;
Estruturar um sistema de educação sobre espécies nativas e sistemas agroflorestais.
Tais diretrizes incluem uma série de ações que podem impactar positivamente as
experiências em nível local. Outro exemplo é a Política Nacional de Ater que, segundo o
mesmo autor, pretende contribuir para uma ação institucional capaz de implantar e
consolidar estratégias de desenvolvimento rural sustentável, estimulando a geração de
renda e de novos postos de trabalho. Entre os pilares fundamentais que a sustentam,
destaca-se o respeito à pluralidade e às diversidades sociais, econômicas, étnicas, culturais
e ambientais do país, o que implica na necessidade de incluir enfoques de gênero, de
geração, de raça e de etnia nas orientações de projetos e programas. Esta política está
orientada para a inclusão social da população rural brasileira mais pobre como elemento
central de todas as ações.
46
5. SAF’s e Mercado
- De modo geral, os produtos excedentes dos SAF’s são subaproveitados, enquanto podiam
gerar além do autosustento, renda extra às famílias através da comercialização. Ex: polpa
de frutas, fabricação de sucos, doces, bombons, óleos essenciais etc.. Nesse aspecto
existem alguns fatores limitantes, tais como: a situação fundiária irregular de algumas
propriedades; custos de transporte, beneficiamento e maquinário; falta de capacitação dos
produtores e técnicos, planejamento e acompanhamento das áreas, dentre outros.
- Uma outra questão ser colocada é: “Qual o potencial/vocação de mercado para os
produtos dos SAF’s no município/região?” Isso poderia indicar ou determinar o desenho dos
SAF’s em cada região e propriedade, de acordo com as diferentes demandas,
potencialidades e limitações. Ex: Domingos Martins e Venda Nova aliando SAF e
Agroturismo.
- É importante a realização de um estudo de mercado para os produtos dos SAF’s que
integre um plano estratégico de comercialização dos mesmos, pois isto poderá definir o
futuro dos SAF’s nessas experiências, no âmbito da sustentabilidade e replicabilidade das
mesmas. Hans C. Schmidt (comunicação pessoal, 2009) complementa que há
potencialidade de integrar os produtos advindos do SAF com o turismo rural e turismo
ecológico (inclusive produtos não-madereiros), bem como com o mercado para produtos
sócio-ambientais certificados ou não. O consultor atenta, ainda, para as questões legais de
padronização e qualidade do produto, marketing e gestão de propriedade e organizações
como elementos de extrema importância para viabilizar o acesso ao mercado. Para isso,
existe uma demanda de qualificação profissional de técnicos e lideranças. Políticas públicas
direcionadas a esse conjunto de ações se fazem necessárias.
6. Quintais Agroflorestais, Aspecto de Gênero e Participação da Família
- Os quintais agroflorestais têm uma contribuição significativa na propriedade e é preciso
aprofundar esse aspecto nas áreas estudadas, pois os mesmos possuem um papel
relevante no auto-sustento e na diversificação da renda familiar. Os quintais suprem a
alimentação básica da família, abastecem a feira, garantem uma ‘farmácia caseira’ e a
segurança alimentar quando são manejados de forma agroecológica e orgânica.
- Percebe-se que, embora a participação de algumas mulheres nos SAF’s estudados esteja
atrelada aos quintais agroflorestais, a abordagem de gênero deve ser mais ampla e
aprofundada para além desses sistemas. O quintal agroflorestal é visto como a extensão da
casa e, portanto, sob responsabilidade da mulher. Entretanto, este tipo de tarefa bem como
os afazeres domésticos, ainda que tenham uma contribuição fundamental na sustentação da
casa, ainda são ‘invisíveis’ por não se configurarem lucro direto no orçamento familiar.
- O aspecto de gênero bem como de geração que é outra questão não muito debatida, não
tem sido trabalhado no âmbito das organizações que acompanham as famílias,
necessitando de estratégias e metodologias específicas. Uma exceção foi constatada em
Alegre onde o INCAPER local iniciou um processo com as mulheres que precisa ser
estudado e valorizado para ter continuidade. A família pode ter um papel fundamental na
concepção dos arranjos, desenho e manejo dos SAF’s. Se as mulheres e os jovens
participam, a diversificação de produtos e serviços tende a ser maior, não se limitando
apenas ao componente agrícola. Isso pode variar de acordo com as diferentes capacidades
dos membros da família e disponibilidade de produtos advindos dos SAF’s. Ex: confecção
de artesanato, fabricação de doces, produção de polpas de frutas etc.
47
- A participação dos jovens é fundamental nesse sentido por refletir na continuidade do
processo e uma possibilidade de sanar a escassez de mão-de-obra e evasão no meio rural.
A manutenção dos jovens no meio rural depende, também, de perspectivas de trabalho no
campo.
48
CAPÍTULO IV – RECOMENDAÇÕES DE ESTRATÉGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA
A IMPLEMENTAÇÃO E DIFUSÃO DOS SAF’S NO ESPÍRITO SANTO
Finalizando este documento seguem as recomendações de estratégias e políticas públicas
para a implementação e difusão dos SAF’s no Estado, objeto deste diagnóstico. Tais
recomendações serão socializadas e complementadas a partir das reflexões e contribuições
individuais e coletivas resultantes do encontro final. São recomendações inseridas em temas
específicos, destinadas a contribuir, dentre outros com o debate sobre o estado da arte dos
SAF’s no Espírito Santo num nível mais macro.
1. Políticas Públicas e Aspectos Legais:
i. O modelo agrícola e florestal vigente no Estado é um limite estrutural ao estabelecimento
do SAF, pois é pautado no agronegócio, no monocultivo de espécies madeireiras de rápido
crescimento e frutíferas, no uso intensivo de adubos, insumos, agrotóxicos, irrigação
intensiva e na exploração contínua e irrestrita dos recursos naturais. O NOVO PEDEAG
2007-2025 é sucinto nas estratégias que incluem as propostas agroecológicas e os SAF’s.
Dados de 2007 apontam, por exemplo, que existem cerca de 490 propriedades em processo
de transição agroecológica, ou seja, diversificada, sem uso de agrotóxicos, com proteção do
solo, das nascentes, reserva legal, consorciamento, práticas e tecnologias agroecológicas
de produção e manejo etc. (boas práticas agrícolas). A meta do governo é ampliar este
número para 1.500 propriedades até o ano de 2010 e 6.800 propriedades até o ano de
2025. Prevê ainda, 8.386 ha de SAF’s em pequenas propriedades (até 50 ha) até o ano de
2010 e um aumento para 31.847 ha até o ano de 2025. São metas difíceis de serem
cumpridas, considerando as limitações citadas anteriormente. O aspecto positivo é que o
documento também destaca os desafios a serem superados para que o plano estratégico
possa ser cumprido. Desse modo, recomenda-se que o Estado operacionalize tais metas,
partindo de ações concretas do nível local ao regional, buscando a sustentabilidade em
médio e longo prazo.
ii. SAF como estratégia de política pública não será viável se o governo e as organizações
sociais e institucionais não estiverem sensibilizados para isso. É preciso construir um
processo de modo gradativo, iniciando na base para que seja reconhecida como uma
demanda de dentro para fora e de baixo para cima e não o inverso. A orientação nesse
sentido é que o Governo do Estado amplie o debate, criando/fortalecendo parcerias,
chamando para as discussões as organizações que já possuem um histórico na área, e
incentivando a participação social nas definições de ações e tomadas de decisões, para
que, a partir da sensibilização do público, a proposta possa ir se fortalecendo. Isso pode ser
alcançado, de modo gradativo, através de seminários regionais, divulgação de pesquisas e
experiências exitosas, cursos de capacitação e intercâmbios entre técnicos e produtores,
dentre outros.
iii. O programa de adequação ambiental do Estado deve buscar atender a capacidade de
execução e realidade do agricultor familiar, sem comprometer os aspectos legais. Todas as
estratégias voltadas para a conservação ambiental no Estado devem considerar as
diferentes realidades, os diferentes públicos e contextos, pois as demandas de um agricultor
familiar dificilmente serão as mesmas de um grande produtor, bem como as demandas de
um agricultor do sul do estado pode ser distinta de outro localizado ao norte.
49
iv. A legislação florestal nos âmbitos Federal e Estadual deve ser amplamente debatida e os
mecanismos disponíveis ao seu cumprimento revistos, de modo à compatibilizar as
estratégias de conservação a partir dos sistemas produtivos diversificados como os SAF’s
com a exploração econômica, especialmente com nativas. Um exemplo comum em várias
visitas está relacionado ao palmito existente nos SAF’s, uma espécie ameaçada que está
sendo cultivada nesses sistemas com possibilidade de geração de renda. Entretanto, sua
exploração é dificultada, especialmente para o agricultor familiar, devido às exigências
legais (Portaria nº 02 de 09 de janeiro de 1992) relacionadas: registro, plano de manejo etc.
Muitos produtores desconhecem ou não tem assessoria técnica para cumpri-las. Outra
questão importante está relacionada à qualidade e registro dos produtos. A recomendação é
a criação de um grupo de trabalho legitimado e representativo para dialogar nos espaços
políticos, de modo a buscar soluções concretas para os principais desafios relacionados ao
tema.
v. A legislação não deve ser um fator limitante no desafio de aliar a conservação ambiental
com a produção econômica. Os avanços obtidos em relação à exploração dos SAF’s em
RL’s e APP’s para pequenos agricultores devem ser explorados positivamente, mas é
preciso debater estratégias e nivelar conceitos juntos aos órgãos ambientais responsáveis.
vi. O IEMA e o IDAF devem atuar compactuando com a proposta de desenvolvimento do
SAF, com definições claras para reduzir a burocracia e flexibilizar a exploração comercial de
espécies produtivas nos sistemas. Não foi possível identificar ações concretas voltadas para
os SAF’s e nem articulação entre estes órgãos nesse sentido e é preciso criar condições
para que isso aconteça.
vii. As organizações de ATER devem incorporar o SAF nas suas metas, estratégias e ações
prevendo processos de capacitação do corpo técnico e definindo claramente conceitos,
objetivos e demandas para o desenvolvimento dos SAF’s no Estado.
viii. É importante que o Estado viabilize os SAF’s para a agricultura familiar em três
dimensões fundamentais: facilidade de acesso ao crédito, legislação e assistência técnica
disponível e de qualidade. O acesso ao crédito ou algum tipo de subsídio financeiro deve ser
um elemento prioritário nas estratégias das organizações para famílias que querem
diversificar sua produção a partir do SAF. Deve se observar as diferentes condições e
buscar facilitar o acesso para que o SAF seja um motivador e não um limitante,
especialmente por ser um sistema de retorno econômico de médio e longo prazo. Critérios
devem ser discutidos e criados de forma coletiva para que o acesso ao recurso resulte de
fato no objetivo desejado. Para MMA et al. (2009) as alternativas de crédito existentes
atualmente (Pronaf florestal, Propflora, FCO, FNO e FNE), para sua utilização em atividades
florestais com espécies nativas e sistemas agroflorestais, necessitam de ajustes e
modificações em suas regras que possibilitem o atendimento das particularidades de prazo
e rentabilidade específicas a estas atividades. O diagnóstico também apontou para a
necessidade desses ajustes, os quais estão relacionados, principalmente, às taxas de juros
que são elevadas para algumas realidades rurais; carência e prazo de pagamento que não
são compatíveis com o período de crescimento, exploração e comercialização de muitas
espécies nativas para que possam ser cumpridos.
xi. Os SAF’s, enquanto estratégia de conservação sócio-produtiva no âmbito do Governo do
Estado (PCE e PEDEAG), devem ser planejados dentro de um contexto territorial que
integre uma dinâmica social que envolve: municípios, comitês de bacias, conselhos
gestores, áreas protegidas e unidades de conservação do Estado, organizações sociais e
institucionais e famílias de produtores. Essa dinâmica social presente está diretamente
relacionada ao contexto político, cultural, econômico e ambiental, portanto, são elementos
indissociáveis das estratégias e políticas públicas para a difusão e implantação dos SAF’s
no Estado.
50
2. Articulação Interinstitucional e Parcerias:
i Sendo de interesse do PCE agregar parcerias para o desenvolvimento da proposta e
fortalecer as já existentes, é pertinente que as principais organizações (sociais e
institucionais) estejam envolvidas desde a concepção da proposta para conciliar os
interesses, as demandas, agendas e, principalmente, esforços comuns.
ii É fundamental criar um espaço de debate que pode ser um fórum permanente de
discussão sobre SAF no Espírito Santo. Este deve ser representativo, democrático e
legitimado agregando técnicos, produtores, pesquisadores, extensionistas, organizações do
governo e organizações não-governamentais, movimentos sociais e outros grupos de
interesse. Este fórum teria o objetivo comum de ser um espaço de reflexão e definição de
estratégias e ações para o desenvolvimento dos SAF’s no Estado, com cronogramas,
público e agendas bem definidas entre os participantes. Outra alternativa é a criação de um
grupo de articulação e discussão que pudesse, através de representantes, ocupar espaços
já existentes para inserir as demandas relacionadas aos SAF’s (Ex: Conselhos Gestores de
UC’s, Comitês de Bacias, Conselhos Territoriais, Conselhos de Desevolvimento Rural
Sustentável, etc.). Este grupo também deve ser o mais representativo possível para agregar
os diferentes interesses e somar forças.
3. SAF’s Integrados e Agroecológicos
i. O SAF deve ser pensado dentro de uma perspectiva agroecológica que agregue dentre
outros, atributos tais como: autonomia, produtividade, flexibilidade, equidade,
estabilidade/resiliência que, conforme Altiere (2002) apud Souza (2006), traduzem o alcance
da sustentabilidade. A diversidade de espécies contribui para uma capacidade de
resistência e recuperação dos agroecossistemas às perturbações externas, dentre outros.
i. Os sistemas/consórcios devem ser planejados como unidades produtivas integradas,
diversificadas e numa perspectiva gradativa, avançar para sistemas agroecológicos
(transição agroecológica), especialmente por se tratar de propriedades inseridas em área de
abrangência dos corredores ecológicos.
iii. Os SAF’s devem ser trabalhados de forma integrada com as outras atividades da família
para não se configurar uma demanda extra no conjunto da atividades, integrar a mulher e os
filhos, economizar mão-de-obra e potencializar os recursos disponíveis.
iv Recomenda-se integrar as estratégias voltadas para a implantação dos SAF’s com os
processos de desenvolvimento local/territorial em curso, de modo que estas áreas possam
cumprir um papel para além da propriedade. Os SAF’s podem futuramente garantir a
conservação num nível mais amplo, através da conectividade entre fragmentos, geração e
diversificação da renda familiar, conservação da sócio-biodiversidade, serviços ambientais,
dentre outros.
4. Mercado
i. Recomenda-se a realização de um estudo de mercado para os produtos dos SAF’s por
região, seguidos de um plano estratégico para a comercialização dos mesmos. Este estudo
deve contemplar um diagnóstico amplo do potencial produtivo de cada região e do que já
tem de produção sendo desenvolvida, a situação da malha rodoviária disponível, acesso à
recursos, custos de transporte e beneficiamento para cada produto, vocação produtiva etc.
51
5. Pesquisas
i. É fundamental aproveitar pesquisas existentes no Estado e, principalmente, realizar novos
estudos com base científica em parceria com organizações e instituições de ensino e
pesquisas. As demandas estão relacionadas principalmente ao aspecto sócio-ambiental
(organização, relação solo/planta, água, biomassa, serviços ambientais etc.) e produtivo dos
SAF’s (análise econômica, mercado etc.). Estes estudos somados ao aprendizado
acumulado dos produtores seriam de extrema importância para responder às muitas
demandas dos sistemas em condução. Uma recomendação importante nesse sentido é
elaborar um banco de dados das pesquisas existentes, junto às instituições de ensino,
pesquisa e extensão do Estado, como ação preliminar.
ii. O maior desafio colocado para o SAF até os dias atuais é comprovar sua viabilidade
econômica. Isso só será possível se estudos forem realizados com acompanhamento e
monitoramento econômico das áreas, pois o diagnóstico apontou não só para esta
demanda, como para a existência de experiências exitosas e positivas nesse sentido. Tais
experiências merecem ser aprofundadas e divulgadas visando a sua replicabilidade no
Estado, observando-se as diferentes realidades encontradas.
iii. Se faz necessário a realização de um estudo de impacto econômico em alguns sistemas
contemplados no diagnóstico, considerando-se não só os aspectos financeiros e
monetários, mas também os ganhos não monetários e benefícios sócio-ambientais que os
sistemas geram. Em muitos casos, os produtores e técnicos não têm essa percepção sobre
o quanto o sistema contribui com a renda da família e com a conservação ambiental por não
visualizarem os ganhos de forma concreta.
iv. É fundamental a realização de um estudo sobre os serviços ambientais (definição de
critérios, mensuração, valor etc.) em algumas experiências visitadas no diagnóstico. Este
estudo pode corroborar dados apontados pelos produtores, fruto de suas observações e
vivências no campo, gerando parâmetros, critérios e ações para a definição de uma política
de serviços ambientais no Espírito Santo.
v. Recomenda-se a criação de um grupo de pesquisa permanente a partir das demandas
dos produtores de SAF’s, integrando estes, técnicos, professores, pesquisadores e
estudantes. Essas pesquisas seriam desenvolvidas nas propriedades numa troca entre
produtor-pesquisador e socializadas nas suas comunidades, como estratégia de difusão
local.
6. Organização, Capacitação e Difusão
i. Nenhuma estratégia inovadora terá êxito se não houver um processo de sensibilização e
organização social prévia e fortalecida. É extremamente importante que as organizações
estabeleçam metas nesse sentido, promovendo processos de formação e capacitação
contínuos; criando espaços para a participação da população envolvida de forma ativa e
qualificada; fortalecendo os grupos já existentes através de assessorias específicas, dentre
outros.
ii. Deve-se promover processos de formação e capacitação entre os produtores dos SAF’s,
através de intercâmbios, troca de experiências, dias de campo, criação de grupos de
agentes multiplicadores nas suas comunidades e troca de saberes entre produtores e
técnicos. Para tanto, é importante pensar metodologias, material didático e público
envolvido.
52
iii. A difusão dos SAF’s no Estado pode acontecer a partir das experiências existentes, com
auxílio de material áudio-visual, cartilhas, dias de campo etc. e com a participação ativa dos
atores do processo, ou seja, os produtores rurais que estão acumulando experiência em
campo. Para tanto, se faz necessário, aprofundar estudos nessas áreas, realizar o
monitoramento das mesmas, divulgá-las entre a comunidade local, comunidade científica e
os técnicos envolvidos e capacitar os produtores para que estes possam atuar como sujeitos
desse processo.
iv. Recomenda-se um estudo mais criterioso em algumas propriedades, cujos SAF’s estão
bem desenvolvidos e com respostas ambientais e econômicas passíveis de serem
monitoradas.
a) Região Sul:
- Propriedade do Sr. Giovanni Fusi – Sítio Vida/Comunidade Campinho/Iconha
(Anexo 5). Enfoque: SAF agroecológico, complexo e diversificado; comercialização
em parceria com o governo municipal;
b) Região Serrana/Central:
- Propriedade do Sr. Cláudio Huver – Domingos Martins (Anexo 5). Enfoque: SAF
em área de turismo rural;
- Propriedade do Sr. Plínio Brioschi – Venda Nova do Imigrante (Anexo 5). Boa
produção de café em área de SAF agroecológico e produção de palmito para fins de
exploração.
- Propriedade do Sr. Jorge Abreu da Silva – Comunidade Feliz Lembrança/ Alegre.
Enfoque: Mini-agroindústria de polpa de fruta e feira livre com produtos dos SAF’s.
- Propriedade do Sr. Valdeci Canova – Comunidade Varjão da Aurora/Alegre (Anexo
5). Enfoque: SAF agroecológico, complexo e diversificado;
c) Região Norte:
- Propriedade do Sr. Luiz Gonzaga Mantegazim Filho (Neném) – Comunidade Santo
Antônio/São Mateus. Enfoque: Histórico, pioneirismo no Estado, processo.
Estas propriedades estão localizadas em regiões distintas, possuem históricos, desenhos e
arranjos diferenciados, mas vivenciam processos semelhantes em termos de respostas
ambientais e econômicas dos SAF’s em diferentes níveis. São áreas muito interessantes
para visitas de intercâmbio e capacitação a partir do aprendizado acumulado pelas famílias
e técnicos que acompanham.
v. Recomenda-se a elaboração de um plano de difusão de subprodutos a partir deste
documento bruto com as informações do diagnóstico. Este plano poderá subsidiar a
produção de materiais diversos voltados para diferentes públicos (Ex: cartilhas para
agricultores; boletins ou revista voltados para técnicos etc.). O plano de difusão é
extremamente importante para que as informações contidas no presente documento
possam ser socializadas num espectro mais amplo, contribuindo ainda com a divulgação
das experiências em curso.
53
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55
SILVA, V.J.M.DA Uso de Sistemas Agroflorestais Como Viabilizadores de Corredores
Ecológicos. 2008. 69f. Monografia (Pós-Graduação Lato sensu em Gestão e Manejo
Ambiental em Sistemas Agrícolas – MAA) Universidade Federal de Lavras, MG, 2008.
SOUZA, H.N.. Sistematização da experiência participativa com sistemas
agroflorestais: rumo à sustentabilidade da agricultura familiar na Zona da Mata mineira.
2006. 127f. Tese (Mestrado em Solos e Nutrição de plantas). Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, MG, 2006.
SOUZA, V.V. de, PINHO, R.C. de, JUCKSCH, I. Produção e Composição de Serrapilheira
em um Sistema Agroflorestal com Café (Coffea arabica) em Viçosa – MG. In: Congresso
Brasileiro de Sistemas Agrolforestais (5: 2004) Anais... Curitiba, PR: Embrapa Florestas.
2004. p. 166 – 168.
TDR – Termo de Referência 01/2008 – Elaboração de Diagnóstico de Experiências de
Sistemas Agroflorestais e Recomendações de Estratégias e Políticas Públicas para
sua Implementação e Difusão no Estado do Espírito Santo. Projeto Corredores
Ecológico, Vitória, ES: IEMA. 2008. 4p.
TURBAY, E.M. Implantação de Projetos de Silvicultura e os Corredores Ecológicos.
Seminário apresentado em Marechal Floriano, ES em 06 de dezembro de 2007. [Seminário
em power point].
AGRADECIMENTOS
A todos os atores desse processo: coordenadores; organizações executoras; parceiros;
apoiadores; colaboradores; consultores (as), técnicos (as); produtores (as) e suas famílias e
demais participantes pelas informações prestadas, disponibilidade e apoio.
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ANEXO
1. Formulário encaminhado aos técnicos do INCAPER em todo o Estado.
NOME DO TÉCNICO/CONTATO (e-mail e telefone): _________________________________
________________________________ MUNICÍPIO: _________________________________
DATA: ____/____/_______ .
1. Existem Sistemas Agroflorestais (SAF’s) 4 : no município?
a) SIM ( )
b) NÃO (
2. Se sim, por favor, preencha as informações abaixo:
)
2.1 Estimativa do número total de produtores com algum tipo SAF _________
2.2 Desse total, quantas experiências são realmente relevantes, em termos de aprendizados e
impactos, para que possam ser visitadas? _________ .
(Obs.: SAF’s que não foram exitosos ou abandonados podem ter importância para análise de lições
aprendidas)
2.3 Quais as principais espécies/culturas que predominam nesses SAF’s mais relevantes?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
______________________________________________________
3. Observações ou comentários:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2. Roteiro de entrevista para técnicos.
a) Há quanto tempo acompanha os produtores nessa região e como é o seu trabalho junto
aos produtores do município?
b) Informações gerais sobre os SAF’s selecionados:
PRODUTOR
ÁREA (ha)
ESPÉCIES NO
SISTEMA
ASPECTOS
RELEVANTES
PRINCIPAIS
DEMANDAS
c) Quais as organizações envolvidas com os SAF’s no município e qual o papel de cada
uma? (Identificar parceiros atuais e potenciais).
4
Para efeitos deste estudo, consideram-se dois tipos de SAF’s: 1) SAF’s simplificados/consórcios,
com 2-3 espécies (elemento arbóreo + cultivo agrícola ou pastagem) e 2) SAF’s mais complexos com
4 ou mais espécies (elementos arbóreos diversificados + cultivo agrícola ou pastagem).
57
3. Roteiro de entrevista para produtores.
a) Qual o histórico do SAF (tipologia, como começou, quando e por que)?
b) Identificar o manejo e desenho dos SAF’s e aspectos sócio-ambientais relacionados:
DESENHO E MANEJO
- Espécies presentes/quantidade:
Critérios
espaçamento:
- Espécies retiradas:
Critérios
espaçamento:
- Tratos culturais (quais e como):
Periodicidade:
e
ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS
- Solo:
e
- Água:
- Observações gerais sobre a área (tamanho, localização
na paisagem, insolação e outros):
- Fauna:
- Flora:
- Observações gerais sobre organização
social, ATER e capacitação:
c) Quais os principais custos e rendimentos do sistema produtivo?
ƒ
Custos:
Item
ƒ
Quantidade
Total Gasto
Produção
Preço/venda
Rendimentos:
Produtos
Total
d). Identificar a existência de quintais agroflorestais e sua importância na renda familiar e na
participação das mulheres.
e) Verificar a interligação dos SAF’s com outros subsistemas na propriedade.
f) Quais os principais aprendizados com os SAF’s ( o que recomendaria por ter sido positivo
e o que não recomendaria por ter sido negativo)?
4. Roteiro de entrevistas institucionais
a) Nome/instituição.
b) Há quanto tempo está na instituição.
c) Conhecimento sobre o PCE.
d) Percepção sobre as experiências de SAF’s no estado e atuação institucional nessa área.
e) Sobre a viabilidade dos SAF’s dentro da proposta dos corredores ecológicos (opinião
institucional e recomendações).
f) Posicionamento institucional: qual o nível de comprometimento e parceria.
58
5. Sistematização das experiências por região
REGIÃO SUL
1. MUNICÍPIOS E INFORMAÇÕES GERAIS
- Os municípios visitados nesta região foram Mimoso do Sul, Apiacá, localizados no
extremo-sul do Estado e Iconha ao sudeste.
- O técnico local em Mimoso do Sul é Biólogo, atua na região há 4 anos e pelo fato de
também ter área de SAF, demonstra ter uma percepção maior sobre a proposta e ser um
incentivador da mesma na região. O seu trabalho consiste no acompanhamento no
escritório e em campo; assistência técnica e orientações gerais. O escritório local tem sede
própria e conta com 5 técnicos (1 biólogo, 1 agrônomo, 1 economista doméstica e 2 técnicos
agrícolas) que atendem, de modo limitado, toda da região (Mimoso do Sul tem cerca de
2.300 produtores rurais).
- Em Apiacá o técnico local é Agrônomo e atua há 22 anos na região. O acompanhamento
vai de acordo com a demanda e sua área é mais voltada para a pecuária. O município tem
aproximadamente 1200 produtores e o INCAPER atende cerca de 600. O escritório local
conta com sede própria e tem 3 técnicos, sendo 1 da Prefeitura e 2 do INCAPER. A
assistência é realizada em grupos de produtores para potencializar as visitas.
- Em Iconha os técnicos do INCAPER atuam em conjunto com a Secretaria de Agricultura,
único parceiro. Existe uma demanda de produtores organizados em uma associação, em
relação aos produtos orgânicos que são vendidos na feira livre no município.
- Nos municípios visitados não existe uma articulação interinstitucional em torno dos SAF’s,
pois não existe uma estratégia consolidada por parte de nenhuma organização acerca do
mesmo. O INCAPER é o único que acompanha as áreas, ainda assim, de modo não
sistemático, sem orientação específica para a proposta de SAF’s e, de modo geral, conta
com a parceria da Prefeitura Municipal. No município de Apiacá a Cooperativa de Leite Cavil
(Cooperativa Agrária Vale do Itabapoana Ltda.) foi citada como parceira do INCAPER. Em
Iconha na dec. 80 alguns agricultores na região uniram-se e formaram a associação
Verossapor para produzir produtos orgânicos. Essa associação atualmente apresenta mais
de cinco associados e semanalmente realiza reuniões, onde os técnicos do INCAPER
participam e recebem as solicitações de assistências dos proprietários.
- As iniciativas existentes de SAF’s na região sul são isoladas por parte dos produtores. O
projeto ATEFAMA – Projeto de Assistência Técnica aos Agricultores Familiares da Mata
Atlântica no Estado do Espírito Santo, foi citado como um motivador em alguns locais. Este
projeto tem como objetivo conciliar o aumento da renda familiar com a conservação dos
recursos naturais por meio da implantação de projetos de silvicultura, sistemas
agroflorestais e adequação ambiental das propriedades (conservação e recuperação de
remanescentes, nascentes, RL’s e APP’s), iniciado em 2004. Nos municípios existe o
Instituto de Desenvolvimento Agrário e Florestal – IDAF, mas as ações são restritas à
fiscalização, controle sanitário na agropecuária, ações burocráticas relativas à área de
eucalipto e controle de doença.
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2. ÁREAS VISITADAS
2.1 Colombo Cristóvão – Comunidade Ponte do Itabapoana/Mimoso do Sul
a) Histórico
- Área da propriedade ~ 68 ha 5 .
- Área de SAF com eucalipto citriodora + cupuaçu + café conilon (Figura 1).
- Iniciou o sistema há 20 anos com 20.000 árvores de Eucalipto citriodora e no meio foi
plantando um pouco de tudo. Trouxe o fruto do Cupuaçu após visita à Amazônia e resolveu
experimentar plantando no meio do eucalipto.
- O produtor estava ausente por motivo de saúde, impossibilitando uma coleta mais
aprofundada dos dados. Os mesmos foram fornecidos pelo técnico que é amigo da família e
faz o acompanhamento da área.
Figura 1 – Área de SAF com cupuaçu, eucalipto e café conilon na propriedade do Sr. Colombo
Cristóvão (Foto: Verônica Bonfim)
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: açaí plantado na várzea numa grota mais úmida; Eucalipto citriodora +
cupuaçu e Café conilon na encosta; numa outra área tem eucalipto + café; no topo e em
volta de toda a área tem café solteiro; coco cercando toda a área de café solteiro.
- Tratos culturais: adubação química e demais tratos usuais no café. Para combater cupim e
formiga uso de formicida, recomendado pelo INCAPER.
- Insolação: na parte da manhã, sol na encosta. Tem área significativa de mata na parte
mais alta sombreando parte do café com cupuaçu. Onde o café está totalmente exposto à
insolação total, aspecto sanitário ruim (foi observada a ocorrência de ferrugem e olho de
pombo).
- Toda a área é diversificada e estão interligadas.
5
As áreas foram convertidas de alqueire para hectare, sendo que 1 alq de terra no ES equivale à 4,84 ha, segundo técnico do
INCAPER.
60
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: apresenta significativa cobertura de biomassa acumulada e bastante umidade
mantida pelo dossel das árvores já bem desenvolvidas.
- Água: foi citado pelo técnico que a vazão de água aumentou após a implantação do
sistema.
- Fauna: há ocorrência de macaco, maritaca e diversos pássaros da fauna local.
- Quintal agroflorestal: a esposa D. Idalina com o auxílio de uma funcionária produzem polpa
de fruta e bombons de cupuaçu. Conta com uma ajudante e a despolpa das frutas é
realizada por 2 funcionários da propriedade. O quintal é diversificado com muitas frutas e um
açude para peixes que abastece a propriedade.
d) Aspectos Econômicos
- Custos: não foram informados dados relativos aos gastos com o sistema. A propriedade
possui 3 funcionários fixos.
- Produção (dados do técnico local):
Produtos
Cupuaçu
Produção
2 ton/ano
Açaí
não informado
Preço/venda
R$
7,00/kg – polpa/R$
– bombom
R$
7,00/kg – polpa
Peixe
Eucalipto
30kg de peixe/ano
5.000 árvores
R$ 250,00/m3
Total
1,00/ud
- O cupuaçu é comercializado no mercado local, através de polpa de fruta e bombons, além
de doces para consumo da família.
- O açaí não foi mencionada a produção, mas é também fonte de renda da família.
- O peixe não é comercializado, é apenas para o consumo da família.
e) Principais aprendizados
- Sem informações disponíveis.
61
2.2.Júlio César Paiva – Comunidade D. América/Mimoso do Sul
a) Histórico
- A área da propriedade ~ 60 ha.
- Área de SAF com cedro australiano + banana + café conilon + cultivos agrícolas (madioca,
gengibre, pimenta) (Figura 2).
- Iniciou o sistema há 14 anos numa área de pasto, plantando inicialmente pimenta do reino
e café. Tem gado de corte na propriedade, criado solto. O objetivo foi comercial, tendo no
cedro uma cultura que pudesse garantir uma poupança para a família. O retorno comercial
com o cedro no primeiro corte superou as expectativas e a partir de então passou a
diversificar com outras espécies. Plantou um cinturão de eucalipto por questões também
econômicas e para controlar o avanço da mata no topo.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café com cedro australiano e banana na linha de várzea da
propriedade, com algumas culturas agrícolas. O cedro foi plantado no meio de um bananal.
O angico é espontâneo e tem algumas árvores de paraju junto com o cedro e também pauferro. O café conilon é sombreado naturalmente na encosta por um remanescente no topo.
Tem uma outra área de café próxima, plantado em monocultivo. O espaçamento é irregular,
sem maiores critérios. O cedro está num espaçamento 4x4.
- Tratos culturais: limpeza da área, abertura de clareira deixando os exemplares de cedro de
interesse comercial. O corte do cedro é mais aleatório, deixa as matrizes e quer plantar
gliricídia no meio do cedro para fornecimento de nitrogênio. O café não é adubado desde
2006. A adubação é química à base de NPK 20–00–20 e supersimples. Fazem roçada e às
vezes usam Roundup na braquiária que invade o palmital.
- A área de café está numa encosta com insolação razoável o dia todo e a área de cedro
está numa área um pouco mais baixa e sombreada.
- A propriedade tem vários subsistemas: remanescente de mata no topo, café conilon
solteiro na encosta, café conilon-vitória na baixada, palmital, quintal, frutíferas, espécies
comerciais madeireiras como cedro e eucalipto e uma área de SAF de café, banana e cedro.
Todas as áreas estão interligadas de alguma maneira. O eucaliptal no topo e a mata criam
um microclima na área do café com sombreamento natural. A área de SAF tem o cedro
sombreando o café e a banana mantendo a umidade do sistema e fornecendo matéria
orgânica. Dentro da área de café com cedro ainda tem espécies agrícolas como mandioca,
açafrão, gengibre e outras.
62
Figura 2 – Área de SAF com cedro australiano, banana e Café conilon na propriedade do Sr. Júlio
César (Foto: Verônica Bonfim).
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: é considerado bom, com cobertura significativa de matéria orgânica advinda do
próprio sistema. O componente herbáceo também é bastante presente.
- Água: foi citado que a nascente na propriedade secava constantemente e depois que
implantou o sistema houve um aumento. Foi observado que existe um córrego próximo ao
palmital e o uso do Roundup nesta área.
- Fauna: é observado com freqüência tucanos e pássaros diversos.
- Flora: tem um fragmento considerável no topo do morro e na área existem espécies como:
castanha, sapoti, mangustão, nim, cajá-manga, caqui, eucalipto, cedro, palmito, gliricídio
usado como cerca-viva, dentre outras.
- Observações sobre ATER/capacitação/organização: o produtor faz parte de uma
cooperativa em Muqui, a CAFESUL, na qual os produtores da região comercializam o café.
- Quintal: é bem diversificado, com galinha, pupunha, araribá, jequitibá, jambo, côco, cedro
australiano, canela, gliricídia, banana, limão, jatobá, acerola, cupuaçu, mandioca, cravo,
canela, gengibre, açafrão, pau-ferro, angico (espontânea), peixes num açude próximo à
casa, mamão, lima, taioba, acerola, caju, araçá-boi. Tem cerca de 27 espécies frutíferas
distintas no quintal. A renda da família não depende do quintal ou do SAF, pois ele é técnico
do INCAPER e a esposa é médica, embora os mesmos complementem a renda e lhes
forneça muitos itens dos quais não precisam comprar.
d) Aspectos Econômicos
- Custos:
- 80g supersimples/15.000pés de café;
- 300g de 20-00-20/15.000pés de café;
- 30g de FTE/15.000pés de café;
- 4 homens fixos/dia.
- Produção:
Produtos
Café 2006
(adubado)
Café 2007 (não
adubado)
Palmito
Madeira
Produção
250 sacas
Preço/venda
R$200,00
Total
R$ 50.000,00
60 sacas
R$200,00
R$ 12.000,00
10.000/ano
1.000m3
R$4,00/peça
R$ 250,00/ m3
R$ 40.000,00
R$ 250.000,00
- O café é vendido através da CAFESUL, cooperativa de Muqui. A renda do café também é
base de sustentação da família e o palmito na entressafra do café. O palmito é vendido em
Muqui, Mimoso e Cachoeiro de Itapemirim. Também tem uma renda do limão que é
comercializado quando está com preço bom. A madeira é eucalipto e cedro.
63
e) Principais aprendizados
- No primeiro corte do cedro tirou os exemplares mais saudáveis e robustos, não deixou
matrizes. Hoje acredita que não deve cortar tudo e sim deixar alguns exemplares melhores
para germinação. Copa pesada e haste fina, a árvore começou a perder qualidade.
- Alguns vizinhos passaram à copiá-lo, outros não. Ele inseriu o cupuaçu depois que
conheceu o sistema do Sr. Colombo Cristóvão.
- Tentou sombrear o café com banana da terra e não deu certo. Acredita que foi devido a
qualidade da banana (terra).
- Quer plantar gliricídia, por que, segundo pesquisas prórpias é uma espécies que tem
várias vantangens: 1) produz cerca de 330 kg de N/ha/ano num espaçamento de 10 x 10m
em linha única de 3 em 3m; 2) aceita bem poda drástica que rebrota em seguida; 3) é
caducifólia, fornece muita matéria orgânica (13 ton.M.O./ha/ano) e na época de chuva é
importante porque protege o café. Não sabe se compete com o café por água e não sabe se
o cedro pode ser melhor.
- A pimenta-do-reino não gosta de muita água.
64
2.3 Jarilson e Cristiane Mota – Comunidade Abril/Mimoso do Sul.
a) Histórico
- Área da propriedade = 29 ha.
- Não tem um SAF propriamente, tem uma propriedade diversificada e uma área de café que
será enriquecida com mudas, que ele mesmo vem produzindo, como: cedro australiano,
palmáceas, pau-brasil, araçá-boi e pupunha.
- O produtor trabalha na área do pai e sempre tiveram uma preocupação com a exploração
de espécies nativas como a peroba-rosa, a braúna etc. Começaram a plantar árvores a
partir da peroba-rosa porque foi a espécie mais explorada na região. Hoje têm uma área de
mata regenerada naturalmente e enriquecida com o plantio dessas espécies. O café (cerca
de 6.000 pés) é a base de sustentação da família. Vão renovando a área de café à medida
que a produção vai caindo. O eucalipto foi plantado para fins domésticos (madeira e lenha) e
por ser fácil de explorar em termos legais.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Ainda não tem a área de SAF em formação.
- Tratos culturais na propriedade: adubação química 800g NPK 20-00-20/planta +
micronutrientes (adubação foliar + 30g/planta adubação solo MIB, FTE-BR12, 5 ton de
calcário. Usam Roundup na área e costumam fazer roçada. A formiga é o principal problema
e quando tem cedro e outras ela ataca. É combatida com veneno e água. O cupim alimenta
os peixes e a galinha. O veneno e usado muito raramente, pois demanda serviço extra,
terceirizado.
- A área do futuro SAF está numa encosta com insolação direta durante o dia todo.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Água: tem fonte na propriedade. A área de mata no topo pode ser um indicador da
conservação da mesma.
- Fauna: jacaré criado no açude, macacos, paca, gambá, tatu, muita cobra (jibóia, cobra
d’água, jararaca), gato-do-mato, tamanduá. Como do outro lado da propriedade é pasto, os
animais vêm se alimentar na propriedade.
- Flora: eucalipto, cedro, peroba-rosa, cerejeira, pupunha, jatobá, sapucaia, bananeira, côco,
limão, ingá, goiaba, jabuticaba, tamarindo, palmito jussara, mamão, laranja, araçá-boi,
sapucaia, pau-brasil, dentre outras.
- Observações sobre ATER/capacitação/organização: participou de vários eventos de
capacitação à convite do INCAPER e por conta própria, é muito interessado. A comunidade
tem infra-estrutura como luz elétrica, eles têm celular e o transporte escolar é feito pela
prefeitura.
- O quintal tem horta, galinhas, 18 caixas de abelha na propriedade que colhe entre ago-set
(chegou a ter 46, mas o preço caiu muito), porco e várias espécies de frutas, açude com um
casal de jacarés, banana, côco, limão, tamarindo, ingá, mamão, laranja, palmito jussara,
goiaba etc. Trabalha junto com a esposa que ajuda tanto no quintal, quanto no café.
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d) Aspectos Econômicos
- Custos:
- adubação foliar – R$ 460,00
- Produção:
Produtos
Pupunha
Mel
Produção
não informada
200L/ano
Preço/venda
R$ 1,00/ud
R$ 20,00/L
Café
100 sacas (pilado)
R$ 210, 00/saca
Total
R$ 4.000,00
Total
R$21.000,00
R$ 25.000,00
e) Principais aprendizados
- Na lavoura nova de café querem plantar algumas árvores, pois o café fica muito
prejudicado exposto ao sol durante todo o dia.
- Apesar da queda no preço do café, ainda é a melhor renda, mas tem que ter variedades
produtivas, um aproveitamento melhor da lavoura, investimento e trabalhar muito.
- Ter o próprio viveiro para produção de mudas e não ter que comprar de terceiros. Vai
selecionando as mudas melhores e descartando as piores.
- Investe na própria lavoura tudo o que sobra.
66
2.4 Alcidemar Polatte – Comunidade Abril/Mimoso do Sul
a) Histórico
- Área da propriedade = 6 ha.
- Área de SAF com Eucalipto + Café em 3 ha.
- Era uma área de pasto. Plantou eucalipto no meio do café para substituir a lavoura velha,
depois que viu alguns produtores fazendo. Reuniu com um amigo, comprando uma área
abandonada por este e iniciou o sistema. O café é a principal fonte de renda. Mantém uma
área de café solteiro, pois o sistema está abandonado, o cafezal bem velho sem produção
ou tratos culturais e o eucalipto ainda não foi comercializado. Tem uma área para formar um
novo SAF. Produz mudas de seringueira para plantar no meio do café.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: eucalipto está no meio do café, numa área de encosta. Tem produção
de mudas de seringueira no viveiro para plantar no meio do café solteiro em outra área de
encosta. O objetivo é comercial com a eliminação do café após o crescimento das árvores
de seringueira.
- Tratos culturais: adubação com NPK 20-00-20 – 4 adubações de 150g depois da colheita
até o momento. Não capina, usa Roundup, pois rende mais, já que e só ele e a esposa.
- Foi observado que o café solteiro está com ferrugem, folhas amareladas, exposto ao sol e
queimado. O café solteiro está em área de baixada com insolação o dia inteiro e é irrigado
por gotejamento. Os cafés clonados vieram com problemas, não vieram selecionados.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: áreas com muitos afloramentos rochosos. Nunca fizeram análise de solo.
- Água: é de nascente da propriedade.
- Observações sobre ATER/capacitação/organização: não tem assistência. Em relação ao
eucalipto o INCAPER ainda dá certa orientação. A liberação para eucalipto é mais fácil com
o IDAF, para nativas a lei é rígida.
- Quintal: laranja, côco, acerola, banana, goiaba, manga, acerola, jambo, galinha, ganso.
Tudo para o consumo.
d) Aspectos Econômicos
- Custos: sem dados disponíveis.
- Produção:
Produtos
Café (3ha)
Seringueira
Produção
60 sacas
não informada
Preço/venda
R$200,00/saca
R$4,00/muda
Total
R$12.000,00
e) Principais aprendizados
- Considera que o espaçamento do eucalipto foi ruim, muito adensado (2,5 x 3m em 3 ha),
só serviu para estacas. Próximo plantio quer fazer com espécies clonadas em espaçamento
maior (5 x 3m), para ter mais uniformidade.
- Algumas nativas em espaçamento 1 x 1 m também não foi positivo. Acha que o café
sozinho é melhor e que está bem, árvore empata.
67
2.5 Isaías de Oliveira – Comunidade Pratinha/Apiacá
a) Histórico
- Área da propriedade = 169,4 ha.
- Área de SAF com Eucalipto + Café arábica = 2 ha.
- Área de SAF com Cedro australiano + Café arábica (Figura 3)
- Iniciou o sistema há 3 anos numa lavoura velha de café, com bastante problema de erosão
de solo. Resolveu plantar eucalipto onde não tinha café e um sistema de cedro com café. A
área onde está o SAF era uma capoeira há 13 anos.
Figura 3– Área de SAF cedro australiano café arábica e eucaliptal ao fundo na propriedade do Sr.
Isaías de Oliveira (Foto: Verônica Bonfim).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café com cedro, cerca de 1000 árvores de cedro em 2 ha. Eucalipto
com café em espaçamento 3 x 2m. Cedro com café: 4 x 2m em 2 ha.
- Os sistemas são bem próximos, localizados em área alta, de encosta: a) eucalipto com
café na parte mais alta; b) café com cedro logo abaixo. O eucalipto está com 5-6 anos e
será comercializado.
- Tratos culturais: adubação NPK 20-00-20 apenas no solo mais fraco, erodido. Tem tentado
evitar a erosão roçando o solo e evitando a capina. Na área de eucalipto com café não tem
trato algum. Usa Roundup e Fortex (isca para formiga). Corrige a acidez do solo com
calcário.
- O SAF está localizado em região mais fria, face exposta ao sol e encosta. Eucalipto com
café a área é bem sombreada, pequena, na encosta, pouca insolação numa pequena parte
do dia e o solo é bastante fraco. Café com cedro com muitos problemas: ferrugem, formiga
na raiz e cochonilha.
- Mão-de-obra é familiar. Tem 5 colonos que trabalham como meeiros. Estes trabalham na
área e recebem carreto, adubo, casa e terra pra plantar. Entregam o café seco na tulha e
dão 60% do lucro.
68
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: no sistema com o cedro o solo é fraco, bastante erodido e exposto. No sistema com
eucalipto presença de componente herbáceo.
- Flora: o produtor tem 14,5 ha de mata nativa na propriedade que manteve desde que
comprou a área.
- Observações gerais sobre organização social, ATER e capacitação: não tem assistência
técnica. O café é vendido para uma cooperativa de Muqui, mas é difícil, às vezes não dá
bebida e a mão-de-obra é grande. Não trabalha com café de qualidade porque a despesa
com atravessador e falta de conhecimento de mercado. Acessa recursos do Pronaf. As
mudas de eucalipto híbrido foram compradas, outras doadas pelo INCAPER. O IPEF e a
Acesita tiveram papel importante nas mudas que vieram para a região.
- Quintal agroflorestal: o quintal é diversificado com espécies frutíferas e criação de
pequenos animais, cujos produtos são para o consumo da família e dos colonos. Tem
laranja, abacate, mamão, nêspera, hora, galinhas, produz mel, queijo, banana. O mel não
tem compensado muito, pois o preço está baixo e o trabalho é muito grande e não tem uma
constância na venda, o que faz perder a qualidade, pois açucara. Só tem demanda de
comprador de 6 em 6 meses. Concorrem com mel de qualidade inferior. O queijo é
produzido pela D. Terezinha, a esposa e é vendido no comércio local.
d) Aspectos Econômicos
- Custos: não informado.
- Produção:
Produtos
Café (2ha)
Mel (15 cxs)
Produção
12 sacas
100L/ano
Preço/venda
R$200,00/saca
R$10,00/L
Queijo
não informada
R$4,00/ud
Total
R$2.400,00
R$1.000,00
Total
R$ 3.400,00
- Eucalipto urograndis e citriodora: Ainda não sabem quanto vão explorar e por quanto vão
vender e pra quem. Tem uma serraria em Vargem Alta que compra à R$60,00/m3. O
comprador avalia a área e o volume e negocia de duas formas: corta, tora e transporta da
propriedade ou o produtor leva a madeira e negocia na serraria. Os valores são negociados
dependendo da situação. Segundo o produtor o eucalipto citriodora não tem muita saída na
região, a madeira resulta num pesado e as indústrias demandam móveis mais leves. Usos
menos nobres como lenha, mourão e estacas. Não tem mercado para óleos ou produtos de
limpeza, é uso doméstico, movelaria ou construção.
e) Principais aprendizados
- No futuro pretende tirar todo o café e deixar apenas o cedro. Acha que o café estaria
melhor sozinho. A idéia é ir cuidando do café, depois ir acabando com a lavoura e deixar o
plantio de cedro para fins comerciais.
69
2.6 Marcos Pastor – Comunidade Jacutinga/Distrito de Conceição/Apiacá
a) Histórico
- Área da propriedade ~ 58 ha.
- Área de SAF com cedro australiano + café
- Iniciou há 4 anos, por iniciativa própria e por dois motivos: estético, com o cedro
circundando a lavoura de café e pela questão econômica. Comprou inicialmente 700 mudas
de cedro e plantou junto com o cafezal. Optou pelo cedro como madeira comercial no lugar
do eucalipto, que segundo ele, prejudica a lavoura, cresce muito e tem a questão da água
que poderia causar certo dano. Afirmou não acreditar muito que o eucalipto seca o solo,
mas na área escolhida poderia causar algum dano. Há 2 anos iniciou a segunda plantação
do cedro com 1500 mudas.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: cedro com café. Espaçamento do Cedro: 4 x 4m na borda da área,
beirando o cafezal e espaçamento do café: 20.000 pés a 2,5 x 2m e 20.000 a 2,5 x 1m.
- Tratos culturais: adubação do café é aproveitada pelo cedro. Adubação em área para
40.000 pés de café usa: 3 adubações de 150g/planta ou 450g/planta; 2 pulverizações
foliares + fungicidas (Impact ou Ópera) para ferrugem. No verão costuma roçar e aplicar
Roundup. Tem um depósito para embalagens de defensivos.
- Insolação constante e o sistema está localizado em área de encosta. A área de reserva
está no topo do morro em área mais distante, a casa e o quintal na baixada e do outro lado
da mata na encosta está o cafezal com o cedro cercando a lavoura. Não há uma interligação
direta entre o quintal e a lavoura ou a mata e a lavoura e não há aproveitamento de esterco
de galinha. O fato de ter mata preservada em área próxima pode oferecer vantagens
ambientais indiretas que não puderam ser mensuradas.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: costuma fazer análise de solo. O cedro gera cobertura morta a partir da queda das
folhas.
- Fauna: são observados com freqüência animais como, quati, jacu, paca, gato-do-mato,
guaxinim, gambá, mão-pelada, sussuarana, juriti, sanhaço, tico-tico. Macacos não são vistos
e trinca-ferro está em extinção de tanto que exploraram comercialmente. Diz que onde tem
mata tem caçador e é difícil controlar. A família não come carne de caça e não gosta.
- Flora: a família tem 40% da área preservada em reserva de mata nativa.
- Organização social/ATER/Capacitação: Há 5 anos acessaram recurso do Pronaf – D (hoje
eles se enquadram na E) e dizem que ajudou muito. O investimento foi na lavoura. Vendem
o café em Venda Nova pela Pronova (Cooperativas de Cafeicultores das Montanhas do
Espírito Santo). Não tem assistência técnica constante, mas o INCAPER é quem
acompanha. Troca experiência e tecnologia com produtores em Venda Nova onde tem
relações comerciais. Os filhos são bastante participativos, participam de reuniões, tem um
nível de conscientização maior e dão continuidade. A família sabe da existência do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais (STR) no município, mas não participam das atividades,
alegando, principalmente, falta de tempo.
- Quintal: horta, porco, galinhas, vaca leiteira, flores ornamentais, ervas medicinais e
algumas frutas. Quem cuida é a esposa D. Geraldina, e é basicamente para o consumo da
família.
70
d) Aspectos Econômicos
- Tem café arábica de qualidade, mas não é em toda a área e nele conseguem um preço
diferenciado. O café é a principal fonte de renda. Já venderam banana, mas pararam, pois
na época fria a procura é grande, mas a produção é baixa, depois na primavera, outono e
verão inverte, a procura é baixa e o preço mais ainda, substituíram pelo café.
- Dados não informados sobre produção e custos com o sistema.
e) Principais aprendizados
- Vantagem do cedro cercando o café: beira da estrada, não ocupa área produtiva e ainda te
dá retorno;
- A adubação do café aduba o cedro e as folhas do cedro fornecem matéria orgânica para o
café.
- O café despolpado, peneirado e secado em estufa tem um ganho comercial no valor total
de cerca de R$70,00, mas no fim não compensa, pois os custos com os tratos são grandes.
O produtor está aguardando um aumento do preço para negociar, pois já tem toda a
estrutura. A estratégia dele é deixar de fornecer de tempos em tempos, esperando melhorar
o preço, mas com isso há também o risco de sair do mercado e perder os clientes.
71
2.7 Roberto Coelho – Comunidade São Manoel/Apiacá
a) Histórico
- Área da propriedade: 968 ha.
- Área de SAF de Eucalipto citriodora + Pastagem (Gado de corte) = 20 ha (Figura 4).
- Há 22 anos a área já tinha eucalipto, foram introduzindo o gado posteriormente. Eucalipto
usado para haste, mourão. O sistema está velho, vão plantar um novo com finalidade
doméstica e comercial. Roberto é Engenheiro Agrônomo e grande proprietário, reside no
município vizinho Bom Jesus. Qquem forneceu algumas informações foi o gerente
administrativo da propriedade.
Figura 4 – Sistema silvipastoril com eucalipto e pastagem na propriedade do Sr. Roberto Coelho
(Foto: Jarbas Teixeira).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: sistema silvipastoril de Eucalipto citriodora com pastagem.
- Tratos culturais: sem trato cultural, área apenas para sombra para o gado e madeira.
- A área do SAF é de 20 há e está interligado com área de 80 ha de pastagem para gado de
leite.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Água: a vazão é normal, inclusive em área de eucalipto. Chuva na região: 1.400m/ano,
porém concentrada.
- Fauna: são observados animais como, lagarto, gambá, tatu, ouriço-caixeiro, jacaré, etc.
- Quintal agroflorestal: quem cuida é a esposa do gerente administrativo. Tem laranja, limão,
cebola, couve, mostrada, salsinha, côco, cana, maracujá, ganso, pato, galinha, galinha
dangola, porco, alface, plantas medicinais e usam boldo. A infra-estrutura local é boa. Tem
carro da prefeitura para buscar as crianças da comunidade. 6 famílias residem na
comunidade e dentro da propriedade tem funcionários. O hospital mais próximo é em
Apiacá.
72
- O gerente da propriedade é presidente da associação de moradores e é responsável pela
propriedade há 10 anos. No município tem 8 associações de produtores e 3 associações de
moradores. O pessoal participa pouco, não dão continuidade e vão saindo. A organização
social é um desafio. O STR tem 600 associados composto em sua maioria de aposentados.
É atuante, estão se mobilizando para se regularizar. O presidente não tem remuneração
nem carta sindical ainda. A prefeitura tem apoiado (água, luz, telefone, internet e prédio).
d) Aspectos Econômicos
- Custos:
- R$2.000,00 de despesas (mão-de-obra, medicamento, suplemento mineral). Tem 1
funcionário/ha (20%).
- Produção:
- Na área do SAF (20 ha) – 20 cabeças de gado. Nessa área não tem gado de leite, este
fica em outra área. Produção aproximada de 5 arrobas/ha/ano. O sistema rende cerca
de R$ 5.000,00 líq/ano
e) Principais aprendizados
- O ideal neste tipo de sistema é ter uma área para o gado descansar (sombra) + área para
pastar. Embaixo do eucalipto não cresce capim. Bom para o gado, então quando fizer o
corte do eucalipto deixar algumas para sombrear o gado.
- Eucalipto grandis com 1 ano já dá para colocar o gado ,o citriodora só com 2-3 anos.
Demora mais para crescer e adensa mais.
- Pequenos bosques de 100 m2 é o que se tem recomendado próximos aos currais. Ou
linhas de eucalipto para o gado. Em linhas, a insolação também favorece o sombreamento
natural e o sol também. Eucalipto em pequenos bosques é garantia de renda e economia de
lenha e madeira para consumo interno dos produtores.
73
2.8 Giovanni Fusi – Sítio Vida – Comunidade Campinho/Iconha
a) Histórico
- Área da propriedade = 22 ha (Figura 5).
- Área de SAF’s com nativas + cupuaçu + pupunha + cedros + banana + maracujá doce +
outras = 1,0 ha.
- Área de SAF’s com abacaxi + arroz + milho + feijão + vagem + pimenta + capim limão +
banana + coco + manga + cacau + café conilon + café arábica + goiaba + acerola + pitanga
+ jaboticaba + mamão + açaí + glicidia = 2,0 ha.
- A área adquirida era uma grande pasto na década de 80. O proprietário resolveu dar
continuidade e investir em pecuária leiteira. Juntou com alguns agricultores da região,
formou a Associação Apacato, que recebeu incentivo da prefeitura local e do INCAPER para
plantar capineira e cultivá-la com adubo. A produção leiteira não deu o retorno financeiro
esperado e o proprietário iniciou a implantação de um projeto de reflorestamento de sua
propriedade, principalmente, das nascentes, para impedir a falta de água na região. O
projeto foi aceito pelo Ministério Público, SEAG, IDAF e INCAPER, recebendo deste e da
prefeitura local as mudas para o plantio. A partir do reflorestamento foi implantado um
sistema agrícola na forma de consórcio, baseado na vivência dos índios, sem a utilização de
agrotóxicos e no interior da mata em consonância com a natureza.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: durante a implantação do projeto de reflorestamento das nascentes
dentro da propriedade, foram usadas mais de 40 espécies vegetais nativas, entre elas,
boleiro, farinha seca, ipê amarelo, branco, rosa, felpudo, escova de macaco, louro, palmito
pupunha, palmito jussara, Ingá, pindaíba, abiu-roxo,angico, pau-brasil, peroba-do-campo,
aroeira, cupuaçu, etc.. No sistema agrícola que foi implantado dentro da propriedade, entre
as espécies nativas arbóreas, estão abacaxis, cacau, arroz, vagem, capim-limão, feijão,
milho, acerola, banana, coco, café conilon, café arábico, pitanga, jabuticaba, mamão, açaí,
cacau, cupuaçu e gliricídia.
Figura 5 – Imagem de uma parte da propriedade que foi reflorestada com espécies nativas na
propriedade do Sr. Giovanni Fusi (Foto: Rogério Fernandes).
- Espaçamento: entre estas espécies somente a gliricídia, o cupuaçu, maracujá-doce, o
cacau, café conilon e café arábico foram plantados com um espaçamento determinado. O
cacau com 5m x 5m, o cupuaçu com 5m x 5m, a gliricídia com 5m x 3m e 2,5m x 5,0m, café
conilon e café arábica com 1m x 1,5m.
74
- Tratos Culturais: não é utilizado nenhum cuidado especial com a área de SAF’s, o próprio
sistema já responde em termos de ciclagem de nutrientes. Apenas realiza o plantio e poda
de gliricídia, para disponibilização de nitrogênio, em toda área distribuindo o material
orgânico sobre o solo ou mesmo enterrando-os.
- A propriedade encontra-se em uma depressão rochosa, na forma de vale, há alguns
metros acima do nível do mar, formando uma área de captação de água que cai da chuva
sobre as encostas dos morros, o que contribui para o surgimento de diversas nascentes na
região. A área de SAF’s recebe insolação com maior intensidade no período da tarde. A
propriedade está inserida em região montanhosa de vale, cercada por algumas áreas de
pastagem e culturas de café (monocultura).
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: o sistema é auto-sustentável em termos de ciclagem e disponibilização de matéria
orgânica proveniente de folhas e galhos que caem das árvores.
- Água: nunca houve redução de água em sua residência em virtude das nascentes que há
na propriedade. Após o reflorestamento das nascentes, o volume de água duplicou na
propriedade. O proprietário construiu uma piscina de água natural e um reservatório para
criação de peixes.
- Fauna: é observado com freqüência muitas espécies de animais em sua propriedade,
como cobras, tamanduá, tatu e aves (diversas), muitas se alimentam dos frutos do açaí.
- Flora: após o reflorestamento da propriedade, muitas espécies que estavam presentes no
projeto se desenvolveram muito bem na região e espalharam-se rapidamente, como o açaí
e o palmito pupunha. A área era uma grande pastagem na década de 80 e hoje é totalmente
coberta com espécies da Mata Atlântica regeneradas naturalmente ou enriquecidas com
plantio pelo proprietário.
- Organização social/ATER/Capacitação: o proprietário faz parte de uma associação de
produtores que comercializam produtos orgânicos e artesanais, como doces, bolos, pães e
artesanatos, que são comercializados em feiras livres que ocorrem semanalmente nas
cidades de Iconha, Vitória e Vila Velha. A associação se reúne 1 vez/semana e possui 8
mulheres e 7 homens, onde discutem sobre problemas que possam ocorrem em seus
SAF´s, das parcerias firmadas para exposição de seus produtos em feiras livres, do sistema
de produção de seus produtos orgânicos e das solicitações de assistências técnicas. Os
produtos são certificados pela organização Chão Vivo. Os clientes das feiras têm a
oportunidade de visitar as propriedades certificadas e conhecer o sistema de produção de
cada uma (plantio, colheita, armazenamento, etc.). As mulheres têm uma participação ativa,
participam da associação e possuem uma cooperativa que trabalha com produtos
artesanais, como bolos, doces, polpas de frutas e sorvetes, que são comercializados nas
feiras.
- Quintal agroflorestal: toda a alimentação da família é proveniente do SAF, como verduras,
arroz, feijão, frutos, peixes, leite, ovos, carnes, legumes, vagem, couve e temperos. O
quintal é bem diversificado, tem uma granja, lago com criação de peixes e uma horta, além
de outros produtos já mencionados.
d) Aspectos Econômicos
- Não há uma sistematização dos lucros gerados por todos os produtos oriundos do SAF’s,
apenas de alguns, como o cupuaçu, vendido a R$ 3,00/fruto e o café conilon, vendido a R$
200,00/saca. A renda da propriedade provém além da venda dos produtos nas feiras,
caminhadas ecológicas e a hospedagem e alimentação de veranistas, visitantes e grupos de
estudos que vão realizar pesquisas na propriedade.
75
e) Principais aprendizados
- A manutenção de um sistema agrícola com uma infra-estrutura voltada para a agroecolgia
pode gerar renda mantendo a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente, sem a
aplicação de produtos químicos.
76
REGIÃO SERRANA/CENTRAL
1. MUNICÍPIOS E INFORMAÇÕES GERAIS
- Nesta região foram visitados os municípios de Domingos Martins, Venda Nova do
Imigrante, Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Itaguaçu e Guarapari (este mais ao Sul
do Estado).
- O técnico de Domingos Martins é Agrônomo e está há 3 anos no município. A sua atuação
consiste num planejamento interno semanal, estabelecimento de uma programação e
geralmente agenda para fazer um conjunto de visitas numa mesma região, ou ainda,
atendimento ao produtor no próprio escritório. O escritório local do Incaper tem sede própria
com boa infra-estrutura e uma equipe com 2 agrônomos e 1 economista doméstica. Em
2006 foram 600 produtores cadastrados no Projeto Atefama e destes, 491 receberam
mudas de palmáceas (pupunha, jussara e palmeira real), cedro e eucalipto. O Incaper
também faz análises de solo, atende produtores que foram multados, orientam, doam
mudas, fazem o projeto de recomposição da área, descriminando pioneiras e secundárias.
- Em Venda Nova do Imigrante quem acompanhou as visitas foi um Agrônomo, que também
é técnico do INCAPER, em licença para o doutorado no momento. Atuou no Centro
Integrado de Ensino Rural – CIER, foi membro-fundador da Associação de Programas em
Tecnologias Alternativas – APTA, uma das organizações precursoras dos SAF’s no Estado.
- Em Alegre acompanharam os trabalhos 2 técnicos locais (1 Agrônomo e 1 Técnico
Agrícola). O planejamento de trabalho deles tem 2 vertentes: a) planejamento anual para
atendimento às comunidades e b) demanda a partir dos agricultores exclusivamente
familiares que agendam previamente. A demanda é maior entre agricultores familiares. O
corpo técnico é composto de 5 profissionais: 1 economista doméstica, 2 agrônomos e 1
técnico agrícola e 1 sócio-economista que assistem cerca de 650 produtores/ano num total
de aproximadamente 2.000 agricultores existentes no município.
- Em Cachoeiro de Itapemirim o técnico local acompanha os produtores há 15 anos. As
visitas são esporádicas, mais voltadas para a pecuária leiteira e o cultivo do eucalipto, sem
nenhum roteiro pré-estabelecido ou quando são feitas solicitações pelos produtores. Muitos
produtores da região receberam da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim na dec. 80,
mudas de café, de eucalipto da Aracruz e mudas de espécies nativas do Projeto Programa
Florestal Fazenda Rio Doce, financiado pela Companhia Vale do Rio Doce. Com o passar
dos anos, a grande maioria dos produtores beneficiados por estas instituições abandonaram
suas propriedades ou venderam, em virtude dos custos de manutenção e falta de
assistência técnica.
- Em Castelo o técnico do INCAPER estava ausente do município no dia. O técnico local
que acompanhou o trabalho de campo é vinculado à Secta de Agricultura/Prefeitura
Municipal e afirmou não ter conhecimento acerca das experiências/áreas visitadas. Ele
informou que os SAF´s nestas áreas começaram por iniciativa própria dos proprietários ao
receberem algumas mudas e em uma delas, por orientação do IDAF, com objetivo de obter
renda extra, em virtude do baixo preço do café no mercado.
- No município de Itaguaçu tem três técnicos responsáveis pela assistência técnica aos
produtores rurais do Município. Estes três técnicos se dividem por áreas, mas nenhum tem
no seu roteiro de assistência aos SAF’s, inclusive desconhecendo as mesmas, por não estar
inserido na pauta de prioridades da instituição.
- Em Guarapari (mais ao Sul em região litorânea do Estado), as experiências com SAF’s na
região são recentes ao conhecimento do INCAPER, mesmo estando na pauta de
assistências. A assistência aos proprietários não ocorrem com freqüência ou em conjunto
com outras instituições. A maioria das assistências são realizadas mediante as solicitações
77
feitas pelos produtores. As iniciativas são dos produtores, que com recursos próprios e
embasamento técnico em virtude de suas formações na área agrícola, resolveram implantar
os sistemas sem assistência técnica dos órgãos locais e estão cada vez mais investindo em
técnicas de manejo para obterem maiores rendimentos em seus consórcios. O técnico local
afirmou ainda, que a região apresenta “muito modismo”, ou seja, o cultivo que dá certo para
um produtor, é reproduzido rapidamente por outros, independente das exigências do cultivo,
o que causa em alguns proprietários desânimo, abandono ou mesmo venda de suas
propriedades, quando o cultivo não dá certo, em virtude das características da região.
- Assim como na região Sul, não existe uma proposta de SAF para esta região e, portanto,
não tem uma articulação interinstitucional em torno do mesmo. O INCAPER atua de modo
limitado, devido a fatores citados, tais como: acúmulo de demanda, não há uma
determinação de prioridades, há falta de continuidade nas ações, atropelo muito grande,
pouco tempo para tanta demanda. O principal parceiro do órgão é a Prefeitura Municipal,
que de modo geral, disponibiliza 1 técnico para auxiliar nas ações. O IDAF foi citado como
um opositor ao processo por um dos técnicos entrevistados, devido o fato de mais
atrapalhar do que contribuir com as ações, não terem abertura, nem darem assistência
técnica florestal. Apesar da UFES está próxima fisicamente dessas experiências e ter
condições de contribuir com as mesmas com suporte à pesquisa e extensão, não tem
atuado junto aos produtores e organizações dos municípios nesse aspecto. O Grupo
Capixawa, estudantes que estão vinculado ao Centro de Ciências Agrárias da UFES, foi
citado como atuante no histórico das experiências de SAF’s na região.
- Em Alegre foram citados como parceiros, além do Grupo Capixawa, o Centro de Ciências
Agrárias (CCA/UFES), o CMDRS (Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável), associações locais de produtores, a cooperativa de leite Selita e a cooperativa
de café COOPARAISO. Em Cachoeiro de Itapemirim a empresa Selita também foi citada
como parceira dos produtores na comercialização do leite, assistência veterinária e venda
de ração a custo baixo.
Observação:
Foram visitadas ainda, de modo informal, 3 áreas sob responsabilidade do INCRA no
Fundão, município de Serra-ES. Os assentados estão experimentando café com cacau,
seringueira, graviola, cupuaçu, gliricídia entre outras. Dois destes sistemas são
agroecológicos.
78
2 ÁREAS VISITADAS
2.1 Itamar Endlich/Domingos Martins
a) Histórico
- A área total tem 40 ha.
- Café + cedro + palmáceas + frutíferas (Figura 6).
- Iniciou há cerca de 4 anos, objetivo comercial em relação ao cedro.
Figura 6– Área de SAF com café, cedro, palmáceas e frutíferas na propriedade do Sr. Itamar Endisch
(Foto: Verônica Bonfim).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: tem 3 sistemas distintos.
-Café + cedro + palmáceas +abacate + limão;
- Café + pupunha + banana;
- Palmeira Real + café
- Café + cedro em área de 1,3 ha, em espaçamento: café 2 x 1,5m e cedro 3 x 3m. Pupunha
cercando o cafezal em espaçamento de 1m. Não planta na linha, devido o perfilamento.
Palmeira real + café em 1,2 ha, em espaçamento de 3 x 2m do café e a palmeira na linha do
café em espaçamento 3 x 1.
- Tratos culturais: tem ferrugem na lavoura, mas não usa nada, o café está muito saudável
de modo geral e a produção é boa. Usa 20-00-20, palha de café por recomendação do
INCAPER após análise de solo. Usa Mirex para formiga. Desbaste do cedro com 6m.
- O café está em área de encosta, com insolação razoável, devido a localização e as
espécies arbóreas presentes.
- As áreas estão próximas criando alguns subsistemas que apesar de não estarem
diretamente interligados, fazem da propriedade um grande SAF com vários subsistemas
diferenciados. A banana tem sido comercializada.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Flora: tem 10 ha de RL. Área com grande remanescente florestal. Tem um eucaliptal no
topo.
- Fauna: bastante presente, especialmente pássaros, devido a quantidade de frutíferas
presentes.
79
- Observações gerais sobre organização social, ATER e capacitação: INCAPER dá
assistência e tem acompanhado o sistema monitorando os dados e registrando com fotos.
Acessou recurso do Pronaf Florestal.
- A propriedade tem muitas frutas utilizadas para consumo, mas há uma perda muito grande,
sub-aproveitamento, não fazem doces, compotas, sabão etc. Perdem mamão, abacate,
nêspera etc. Deixam as frutíferas para os pássaros.
d) Aspectos Econômicos
- Custos: dados não disponibilizados
- Produção:
Produtos
Eucalipto
Café
Produção
não informada
20-30 sacas
Preço/venda
R$50,00/m3 st
R$ 200,00
Banana
18ton/ha
R$12,00 a 25,00/cx
Total
R$4.000,00 a R$6.000,00
e) Principais aprendizados
- O perfilamento da pupunha prejudica o café, por isso o plantio cercando a lavoura e não na
linha. O corte com 3 anos.
80
2.2. - Cláudio e Verônica Huver/Domingos Martins
a) Histórico
- Área da propriedade = 20 ha.
- Café + Milho + Cedro + frutíferas (banana, citrus) + palmáceas
- A propriedade é bastante diversificada. Tem 18.000 pés de café e a família tem atividades
relacionadas ao agro-turismo (pousada, chalés, piscicultura, restaurante etc.) e área de
SAF. Começaram a diversificação por causa do agro-turismo que é a atividade principal,
junto com a piscicultura. A região é propícia e tem tradição no turismo rural. 80% do trabalho
da família é dedicado ao turismo e 20% à agricultura. Iniciaram a partir do peixe, vendendo
por kg e com pesque e pague. Com a demanda do peixe, iniciaram no turismo, construindo
uma pousada, um restaurante e depois alguns chalés. A diversificação da área surgiu da
necessidade de terem diferentes elementos para o turista visitar e de onde pudessem tirar
produtos para abastecer a pousada e a família.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: Café + banana + milho + citrus (lima, limão, tangerina, laranja) +
abacate + graviola + cana + cedro na borda (quebra-vento e objetivo econômico) + palmeira
real numa linha + ingá. Tem uma área com Café catuaí, 5.000pés em esp. 2,5 x 1,3m.
- Tratos culturais: adubação 2 x/ano de NPK 20-00-20 + mic total, cama de frango na cova
do café e da banana (1-3 kg). Usa Roundup, roçada somente não dá conta.
- Encosta com remanescente florestal no topo. Insolação numa parte do dia.
- O SAF está interligado com tudo na propriedade e abastece a família e a pousada.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: todo coberto em toda a propriedade. A diversificação é em toda a área e o consórcio
de milho, mandioca, café e espécies arbóreas permitem a cobertura do solo e a ciclagem.
- Água: a propriedade tem água farta.
- Fauna: muitos animais na propriedade: quati, mão-pelada, veado, tucano, jacu etc.
- Flora: remanescente florestal grande na parte de cima da propriedade. Área de pasto do
outro lado da propriedade que deixaram regenerar para formar um micro-corredor com outro
remanescente de área do vizinho. Não sabe se será do interesse do mesmo. Eucalipto em
área isolada próximo ao remanescente.
- Observações gerais sobre organização social, ATER e capacitação: o INCAPER dá
assistência e tem acompanhado o sistema monitorando os dados e registrando com fotos.
Acessou recurso do Pronaf Mulher para construção dos chalés.
- A família trabalha unida o tempo todo, na reforma da casa, na construção da pousada, nos
chalés, etc. Não tem um quintal específico, mas sim uma diversificação em toda a
propriedade que abastece a família e a atividade turística. Tem galinha caipira, peixe,
(tilápia), banana, limão, tangerina, laranja, graviola, faz geléia para o café da manhã.
Futuramente querem fazer doces para vender na pousada. A demanda do turismo é o ano
inteiro. Eles se dividem com a esposa ficando responsável pela parte do turismo e ele na
roça.
81
d) Aspectos Econômicos
- Custos: com o café (2 ha) cerca de R$20.000,00/3anos com custeio, plantio, mudas etc.)
- Produção:
Produtos
Aipim (8.000 pés)
Café (em
5.000pés
do
catuaí, depois da
2ª colheita na
recepa)
Produção
1kg/pé = 8-10 ton
50 sacas
R$10,00
R$ 200,00
Preço/venda
Milho
Peixe
3 ton/ano
10.000 peixes/ano
R$10,00/cx
R$6,00 – 14,00/kg
Total
R$ 10.000,00
Outros dados: de produção:
- Turismo (renda principal): não disponibilizou dados.
- Banana: não soube informar o rendimento anual, mas este paga os custos do café quando
o preço está bom.
e) Principais aprendizados
- Ingá e quaresmeira são boas companheiras do café.
- Espécies retiradas: cubi-de-serra, leguminosa da família do angico, seca o solo e compete
com o café.
- Cubi-de-serra, leguminosa da família do angico, seca o solo e compete com o café.
- O problema é encontrar mão-de-obra, os jovens vão embora estudar e não voltam. No
restaurante o problema é mão-de-obra qualificada.
82
2.3 Plínio Brioschi/Venda Nova do Imigrante
a) Histórico
- Área da propriedade ~ 44 ha
- Café catuaí + cedro australiano+ Palmito jussara + Pupunha + taioba (Figura 7).
- Café bourbon + palmito + cedro
- Eucalipto + palmito
- Área total de 9 alq e com palmito tem 5 alq. O objetivo da área é o cedro para madeira
comercial e o palmito.
- Começou o SAF há 3 anos, por ver um cedro se desenvolvendo bem numa determinada
área da propriedade, resolveu investir a partir daí. Foi observando o que dava na área e
replantando. A pupunha já planta há 20 anos. O maior motivo foi a idade e ver que os filhos
não dariam continuidade, logo resolveu investir em uma atividade madeireira onde a
demanda de mão-de-obra é menor, não tem que contratar, nem reocupar com questões
administrativas como na lavoura de café. Os motivos foram ecológicos e econômicos em
relação ao palmito e cedro e para deixar algo que os filhos conseguissem administrar, visto
que área agrícola é mais difícil e exige maior dedicação. O abacate foi inserido na região
devido a facilidade e foi muito promissor até certo momento, investindo em enxertia. Na área
dele não tem abacate, segundo ele devido um resíduo de fungo que danifica as outras
espécies. A área tem 10 anos sem adubação química. O SAF é tão fácil, tão barato, custo
zero que não justifica não fazer.
Figura 7– Área de SAF com café catuaí, cedro australiano, palmito jussara, pupunha e taioba em
propriedade do Sr Plínio Brioschi (Foto: Arquivo Rita Zanúncio).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Componente herbáceo muito presente, beijinho, amora-do-mato etc.
- Eucalipto + palmito plantados em espaçamento 1 x 1m. Cedro plantado em espaçamento
de 2 x 2m e Palmito na linha do cedro 2 x 1m
- Tratos culturais: 1 roçada/ano. O cedro não desbasta nem desrama (para a qualidade da
madeira deveria fazer desrama, mas o palmito precisa de sombra). Replantio de mudas de
palmito em outras áreas da propriedade, no caso do palmito, à custo zero.
- Tem o café com cedro e palmito na encosta e na grota. Palmito é plantado em 4-5
mudas/cova para realização do desbaste posteriormente.
83
- A área está a 740m de altitude em local frio e úmido com insolação intermediária. A área
está bem sombreada, mas o café está saudável e produzindo bem. Na área onde o sol
incide na parte da manhã o café está melhor, mas tem produzido bem em todas as áreas da
propriedade, inclusive na baixada mais úmida.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: massapé (solo argiloso e bastante úmido). Solo de grota, mais escuro.
- Água: 40-50 anos atrás era uma área de cultura de feijão e milho e a água quase secou.
Hoje recuperou a nascente, tem água em quantidade e qualidade na área.
- Fauna: muito rica com veado, tucano, jacu, juriti, muitos pássaros diversos. A região
explorou demais, tem muito caçador. A caça é algo constante e difícil de combater, inclusive
por ser praticada, também, por pessoas que deveriam garantir a lei e a segurança do
município.
d) Aspectos Econômicos
- Palmito: 120.000 covas, é vendido à R$7,00/kg. A previsão é de tirar cerca de
R$20.000,00/ano (ciclo de 6 anos, 1.500 pés/mês – 1ud/cova)
- Não forneceu dados de produção. O suco do palmito ainda não é explorado na região
como o do açaí, ou seja, o mercado de consumo e as possibilidades são diversas.
- Plantou o cedro no meio do café pensando em madeira sem pensar na produção do café e
ele acabou produzindo.
- Já tem mercado garantido para o palmito pupunha. O palmito jussara quer processar para
vender em conserva e exportar, montar uma fábrica de venda na pousada das filhas.
Marketing: sem agrotóxico e de agrofloresta. O turismo é um motivador: venda de produtos
e áreas diversificadas para visitação.
e) Principais aprendizados
- A área tem que ser propícia para o que se quer e deve ter capricho e dedicação.
- Esse tipo de sistema é o futuro da região, agricultura convencional por si só não se
sustenta;
- O café deve ser plantado junto ao cedro e não tão adensado;
- Não roçar a área de palmito para não tirar as mudas e plantinhas menores até que ele
cresça. O problema é o sapé que encobre o palmito.
- Mão-de-obra para esse tipo de sistema deve ser qualificada.
- Experiência com abacate e café não deu certo, foi perdendo espaço no mercado pela falta
de uniformidade. Plantaram diferentes qualidades e cada uma madurava num período.
- Corte do palmito a partir de 6 anos, um parâmetro para espécies em floresta nativa sem
condução ou adubação. Com 6 anos a planta já está adulta, frutificando e com sementes
para germinar novas espécies.
- Palmito espaçado de forma a encontrá-lo no meio do mato e também no corte. Não tem
limite de profundidade para plantio do palmito, ele quer umidade, solto no solo ele não vinga
tanto quanto na enxada, semeado ele não tem sustentação.
- Palmito planta-se 4-5 mudas/cova, para que elas tenham segmento “quanto mais melhor”.
Antes plantava 1 e se não vingava perdia o trabalho. Hoje, por segurança e também porque
a mais forte sempre se sobressai.
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2.4.Fazenda Camocinho – Distrito de Aracê/Venda Nova do Imigrante
a) Histórico
- Área total da fazenda: 148 ha.
- Araucária, eucalipto, pinus, café, área de descanso, cedro australiano, pomar,
reflorestamento a serem feitos (econômicos), APP e Palmeira real.
- Há 10 anos o proprietário procurou apoio de João (técnico que acompanhou a visita)
querendo implantar o SAF. Em 1999 iniciou os SAF’s. O primeiro plantio não era
agroflorestal. Em 2000 perderam tudo, a temperatura foi abaixo de zero e depois reiniciaram
o sistema. Atualmente tem produção de café especial em área de SAF bem diversificado,
ocupando 21 ha de café todo em SAF. É um grande produtor de cafés especiais tipo
exportação.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Altitude: mais ou menos 1100 m.
- Espécies presentes: café em área de SAF com Assa-Peixe, Papagaio, Capoeira Branca,
Quaresmeira, Papagaio Abacate, Curindiva, Cedro australiano, Ingá e outras. No início:
quaresmeira, pedregoso, embaúba prateada deixadas para embelezar o café, depois ir
deixando crescer tudo e ir desbastando.
- Espaçamento do café: 1- 2 x 0,7 em áreas mais novas e 3 x 0,5 localizados em áreas
menos inclinadas, mais ensolaradas. Espaçamento de 12x12 m para árvores que foram
plantadas para enriquecer o SAF (cedro e jequitibá).
- Espécies retiradas: eliminam o jacaré. As outras vão bem, ingá maravilha, rebrotagem dá
muita semente. Só numa área de café tem 700 Jequitibás.
- Tratos culturais: adubação com esterco de boi e de galinha e preparado biodinâmico. O
café tem certificação pelo IBD. Não usam composto orgânico, segundo eles teriam que ter
uma produção muito grande para compensar a adubação. Mão de obra cara, vai só roçar.
Dificuldade de manejar a copa, vão só diminuir o adensamento das árvores. Tirar algumas e
deixar as que são companheiras (quase todas). Conduzindo o sistema com caráter
paisagístico, embelezamento da paisagem, espécies nativas, exóticas para madeira.
- Cedro: ataques de fungo (fulmagina) e cerrador. Nas árvores mais antigas, erva de
passarinho.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Tem assistência técnica do IBD e avulso (contratação particular).
- > 30% da área nativa, todas as nascentes preservadas.
- A área da propriedade tem vários subsistemas e áreas de preservação:
- ARAUCÁRIA: cerca de 82.000m2
- PINUS: 134.000 m2
- MATA: 120.000 m2
- EUCALIPTO: 382.000 m2
- CEDRO: 9.000 m2
- LAGOS: 9.000 m2
- POMAR: 4.000 m2
- PRES. PERM: 144.000 m2
- PALM. REAL: 6.000 m2
85
d) Aspectos Econômicos
- Eles usam atualmente 310 ton de adubo em 170.000 pés de café – mais ou menos 20
toneladas/ha. Há um custo total de 0,12/kg com adubação, transporte e manipulação.
Quando houve adubação, a produção foi maior em cerca de 30 sacas/há, para esse padrão
de adubação. A média da Agricultura Familiar é de 12 sacas/há.
- Produção: dados não diponibilizados.
- Mão de obra/funcionários: duas administradoras que ficam nessa área de produção e outra
na de beneficiamento. Nesta área tem quatro funcionários: manutenção, replantio, remanejo.
Os custos de manutenção, mão-de-obra etc. não foram disponibilizados.
e) Principais aprendizados
- No início plantaram feijão guandu no meio, mas a raiz dele competia com o café. É
preferível com 5 meses cortar. O manejo foi inadequado na época.
- Margaridão: virando praga, reprodução por estaca, vira touceira e o café não sai. Foi
problemático.
- Mamona boa, fácil de manejar.
- Feijão de porco não desenvolveu, experiência não foi boa;
- Gosta do SAF, só não gosta da embaúba prateada, pois a folha é muito grande, fica em
cima do café e mata ele.
- Orientação: deixar crescer a nativa e depois ir raleando, manejando a vegetação nativa.
Utilidade como madeira, manejo, conduzindo a copa. Utilidade orgânica, poda, ciclagem
(Assa-Peixe). O SAF é conduzido de acordo com que a natureza produziu e introduziu com
finalidade madeireira.
- O Café Arábica: poda 2 vezes/ano.
- Conduzindo o sistema com caráter paisagístico, embelezamento da paisagem, espécies
nativas, exóticas para madeira.
- Café com árvores: mão de obra maior por causa do manejo das árvores, mas o custo com
a adubação seria maior. O custo operacional da árvore elimina o do café.
86
2.5 Jorge Abreu da Silva – Comunidade Feliz Lembrança/Alegre
a) Histórico
- Área total = 12 ha.
- Café + palmáceas + frutíferas diversas + camboatá (Figura 8).
- No início era somente o café que até hoje é a principal cultura, depois passaram a
misturar. Não tinham escola, nem estrada, nenhuma estrutura no início. Quando casou há
22 anos, o produtor comprou ½ alq de terra e tinha uma vontade muito grande de plantar.
Racionavam o que podiam, comiam angu com taioba para juntar dinheiro. Acharam pouco
só o café e começaram a misturar tudo, laranja, côco e outras. Hoje tem 6 áreas onde cria
todos os filhos e colhe os resultados desse trabalho. O SAF começou há quase 30 anos,
fruto de muito trabalho, da curiosidade, vontade de diversificar a renda, observação e prática
no campo. A area do SAF abastece a família e gera renda através da feira local e de uma
mini-agroindústria de polpa de frutas que montaram com recursos próprios e do Pronaf –
Mulher.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: palmito (pupunha, umburi, palmito jussara, palmito pati-amargoso),
banana, laranja, côco, café conilon, eucalipto, camboatá, mamão, jambo, cedro, açaí, jaca,
manga. As sementes/mudas, o INCAPER fornece algumas outras eles conseguem
sozinhos.
- Manejo: espaçamento do café 3 x 2m. Em cada linha do café, palmito em espaçamento 4 x
4m. O Cedro está isolado, uns 300 pés em espaçamento 5 x 5m e alguns no meio do café
em espaçamento 10 x 10m. O cedro ele plantou porque refresca o terreno e para madeira
comercial.
- Tratos culturais: adubação NPK 20-00-20 e fazem análise de solo com a UFES. Utilizam
esterco do próprio sistema (vantagem), adubação foliar, formicida, Roundup muito pouco
para a braquiária. No sistema cresce pouco mato.
- A área possui 4.500 pés de café ao todo. Insolação direta o dia todo na área, mas esta é
razoavelmente sombreada pelas árvores presentes. É uma área mais quente de 1.280m de
altitude. Tem uma área de eucalipto no alto da propriedade.
Figura 8– Mini-agroindústria de polpa de frutas com produtos do SAF na propriedade da família
Abreu (Foto: Verônica Bonfim).
87
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Água: quando comprou a área, o alto da serra foi desmatado e lá tinha nascente que era
bem pouca. Depois que desmatou a água aumentou na baixada, nasceram 4 olhos d’água.
para ele a mata beirando fica bebendo tudo. depois que desmataram e queimaram passou à
minar água e esta abastece 4 casas na comunidade.
- Flora: poucos fragmentos na região. 20% de RL não é respeitado e nem as APP’s. As
áreas são muito pequenas.
- Fauna: gambá, ouriço-cacheiro, gato-do-mato, tatu, cachorro-do-mato, muito pássaro,
siriema.
- Quintal: galinha, porco, ambos para o consumo e os ovos vendem na feira. Todos cuidam
do quintal. As mulheres da família (D. Sônia e duas filhas) têm uma participação pro-ativa na
mini-agroindústria de polpa.
- Observações sobre ATER/capcacitação: a Mini-agroindústria surgiu a partir do filho, por
dois motivos: não queriam sair da roça e tiveram a idéia de aproveitar as frutas, obtendo
uma renda a mais para a família. Tiveram apoio do pessoal do INCAPER. O início do
trabalho tinha um grupo novo no Incaper (diangóstico inicial apontando demandas das
comunidades; capacitação, embalagens, aspectos sanitários, rótulo). O filho participa de
cursos de capacitação e da Juventude Rural. Conseguiram recurso do Pronaf Mulher
(R$18.000,00 – 5 anos de carência 2% de juros/a.a). Optaram por não pegar carência e
cobrir com recurso próprio. Compraram máquinas, freezers construíram a sede. Produzem
polpa de manga, abacaxi (compram de fora), acerola, morango (compram de fora), graviola.
A marca é Frumel e o que falta eles compram de fora como o abacaxi e o morango,
inclusive dos vizinhos . Os vizinhos têm copiado o sistema deles plantando palmito no meio
do café.
- A comunidade conta com infra-estrutura como telefone, estrada, escola, conseguiram por
meio da associação.
d) Aspectos Econômicos
- Custos: 70% dos gastos é com adubação, mão-de-obra, combustível e 30% é lucro de
modo geral.
- Produção: 60-90 sacas nesse sistema. A lavoura já chegou a ficar 3 anos sem adubar.
Café solteiro em outra área está sob sol direto, aspecto sanitário negativo, com folhas
amareladas e presença de ferrugem.
- Produção x Custos:
Gastos:
- 4.500 pés de café – manejo: adubação 20-00-20 – 2x/ano = R$ 1.450,00.
- Análise de solo através da associação R$ 7,00 – 1x/ano.
- Feira; gasto com transporte próprio – R$30,00 de gasolina por viagem;
- Mão-de-obra familiar: poda – desbrota – colheita – aplicação de adubo - desbaste das
árvores (uma diária de um produtor rural custa em média R$25,00).
Produção:
- Renda: 60-70 sacas em 2007. Esse ano a produção pode cair um pouco porque a seca
coincidiu com a floração.
88
Produtos
Café
Feira
Banana prata
Limão
Palmito doce (limpo e embalado)
Hortaliças (couve, cebolinha,
taioba, almeirão, salsa, coentro –
produção o ano todo, exceto no
verão, pois queima muito)
Mel (10 caixas)
Produção
40-90 sacas/ano
Preço/venda
R$ 204,00/saca
Total
R$ 9.600,00 –
18.360,00
20 dzs/semana
100dzs na época
não informada
-
R$ 1,00/dz
R$ 1,00/dz
R$ 5,00/peça
R$ 0,25 a 0,50/ud
R$ 20,00/semana
R$ 100,00
-
50kg/ano
R$ 15,00/kg
R$ 750,00
- Outros produtos:
- Eucalipto é mais para o consumo, está em local muito alto e seco, pensam em vender
também.
- Frutas: a prioridade é a agroindústria e o que não vende na feira é aproveitado para
produção de polpa
- Laranja, mexirica, tangerina R$ 1,00 - 1,50/dz ou R$8,00/centro. O que não vende na
feira vai para a agroindústria.
- Côco verde e seco R$ 0,50/ud/R$1,00/kg. Produção o ano inteiro, não tem perda.
-Polpas: sachês de 100g – R$ 0,60 ou R$6,00/kg. Gastos com luz, transporte e mão-deobra.
e) Principais aprendizados
- Saldo: não têm uma produção elevada comparada a outros sistemas solteiros, mas têm
uma constância e economia no manejo e diversificação (renda extra e mais rápida).
- Dificuldades: o governo precisa cadastrar os pequenos agricultores, estão muitos na
mesma situação, sem registro, o INCRA tem que atuar aqui. Plantam de tudo que uma
família precisa para viver, mas só tem ITR com > 26L de terra. Situação como a deles com
situação fundiária irregular e abaixo desse limite não é incluída. Não têm como vender
mercadoria, pois exigem recibo e certificado de tudo, não têm como acessar crédito do
Pronaf, não têm cartão do produtor, isso tudo vai desanimando o mesmo.
- 1º) fazer por conta própria, não tem ajuda de banco, nada;
- 2º) planta o café primeiro, depois pensa numa feira e daí planta um pouco de tudo: jiló,
mandioca, tomate etc. até dar tempo do café crescer;
- 3º) pensa outras plantas que não matam o café e que ajudam a fortalecer a terra, ex. o
palmito mata o café no início, pois puxa muita água, mas depois disponibiliza água para o
café, o ideal é tirar o palmito quando tiver já um pouco mais crescido, com 1,5 m. O
eucalipto consome muita água.
- 4º) companheiras do café: banana, mamão, laranja, palmito (3 anos) para corte – cobertura
e água, camboatá, cedro, abiu – fornece sombra alta e mantém a umidade, só não pode
deixar o galho em cima do café.
- 5º) abacate não e companheira, pois dá muita folha e mata o café; 5º) nunca fazer nada
duvidoso, pois como têm muito pouco, se fizerem bobagem perdem o pouco que têm;
- 6º) uma vantagem do sistema é que ele gera muito esterco e isso é economia de adubo.
89
2.6 Hélio Antônio de Azevedo – Comunidade Feliz Lembrança/Alegre
a) Histórico
- Área da propriedade = 1 ha.
- Área do SAF com Café + côco + frutíferas.
- Há 10 anos a área era um pasto. O pai já plantava um pouco de palmito no meio do café,
depois eles foram ficando velhos e os filhos continuaram cuidando. A feira foi o principal
motivador para o SAF, pois a necessidade de diversificar fez com que eles começassem a
consorciar e a área por ser pequena, ajudou a tornar mais produtiva. Café, palmito pati que
deixou uns bem desenvolvidos para semente. Plantou umas 10.000 mudas no meio das
bananeiras. Côco, laranja e limão nas falhas do café. Abiu e jabuticaba também no meio do
café. Palmito quando está novo é positivo, mas é muito agressivo, desenvolve muito. Tem
beribá, jambo, cajá etc. No café novo plantaram mandioca.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café com côco, camboatá, pega semente e vai produzindo muda,
acerola. Tem plantio de cedro e eucalipto sozinhos. O cedro deu um fungo que prejudicou.
O eucalipto está em solo duro e bem adensado finalidade comercial, escora. Manga
coquinho plantada para consumo e para abastecer a feira. Plantou 100 pés de côco da
Bahia que é companheira do café, apesar da produção ser baixa. Banana prata tem cerca
de 1.000 covas. Tem alguns pés de abacate, fazem sabão.
- Espécies retiradas: Cana caiana exige muito adubo e é permanente, tem que replantar de
2 em 2 anos, não compensava. Mal do Panamá acabou com a plantação de banana maçã.
Graviola perdeu tudo por causa da broca.
- Espaçamento: 4.000 pés de café em espaçamento 2,5 x 1,5m; camboatá avulso, frutas nas
falhas do café, pupunha acerola no meio do café; pupunha intercalado nas grotas e café.
- Tratos culturais: adubo químico + palha de café. Usa formicida e Roundup no capim
colonião. Faz desrama no café.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: tem muitos afloramentos de rocha, terra rica em nutrientes.
- Água: no alto tinha secado e voltou. Na propriedade está como no início do sistema.
- Fauna: tinha trinca-ferro, macaco, paca...Hoje acabou tudo, mas ainda tem ouriço, tatu,
cachorro-do-mato.
- Observações sobre ATER/Capacitação: INCAPER é responsável pela assistência e o IDAF
pela fiscalização. Ele visitou muitas experiências onde o pessoal consorciava banana no
meio do mato e diversificavam numa área mínima. A mão-de-obra é familiar, ele e os pais
que ajudam na feira. São cooperados na COOPARAÍSO (café). O STR é muito fraco na
opinião dele, mas faz parte e acha que é um desafio. O coronelismo é muito grande no STR,
as comunidades não se organizam. Agora estão buscando essa organização e tem dado
certo. A igreja católica tem ajudado. Ele faz parte do grupo de jovens da comunidade. O
grupo faz reuniões para discutir os problemas da comunidade, educação ambiental. O
Incaper tentou articular um grupo de mulheres, mas não foi à frente, pois muitas trabalham,
não tinham tempo. Hoje assessora quando precisam.
90
d) Aspectos Econômicos
- Gastos:
- adubação química, 2x/ano.
- Café (10 sacas): R$2.000,00 adubação +
R$ 1.500,00 mão-de-obra (1 ajudante) +
R$150,00 pilado +
R$300,00 transporte.
Outros produtos: o gasto é zero, pois aproveita a mão-de-obra e a poda do café para podar
as outras e o adubo do café aduba o resto. Banana tem gasto com mão-de-obra (colheita,
desbrota e roçada) de R$25,00/dia – gasto de 96 dias/ano ou 2 dias/semana.
- Produção:
- Renda: café e banana garantem a renda da família. O café rendeu 35 sacas em 2007 e 50
em 2008. Vendeu a R$ 203,00/saca. A banana rende 120kg/semana e é vendida a
R$1,30/kg. A banana o rendimento é semanal e produz cerca de 50 sacas. A banana
garante a sustentabilidade, maior equilíbrio na renda e atende as necessidades da família
mais diretamente. Tem 6 caixas de abelhas (européia e africana), começaram com 40, mas
passou a dar prejuízo com roubos, transporte ficou inviável, as caixas ficam muito longe.
Assa-peixe foi praticamente todo roçado, sobrou muito pouco.
e) Principais aprendizados
- A diversificação é importante para a renda.
- Ou faz algo organizado ou não faz.
91
2.7 Valdeci Canova – Comunidade Varjão da Aurora/Alegre
a) Histórico
- A área total = 9,7 ha.
- Área de SAF bastante diversificada com espécies comerciais madeireiras, como cedro e
eucalipto, espécies agrícolas comerciais como café e diversas frutíferas (Figura 9).
- O produtor tem uma relação forte com a natureza já desde cedo. Foi colocando,
experimentando espécies arbóreas no sistema e observando se dava certo. No início, há 50
anos era lavoura de café bourbon e mata. Tem um SAF bastante diversificado fruto de muito
trabalho dele e do filho e de muita observação e prática no campo. É um produtor curioso e
apaixonado pela natureza e pela área. O objetivo do SAF é preservação da área e consumo
da família. Apesar de ser altamente produtivo é uma área subaproveitada do ponto de vista
comercial. Nem mesmo o INCAPER tinha conhecimento da importância da experiência da
família. Alunos da UFES e até de outros municípios já visitaram a experiência que é uma
referência em termos de SAF’s. O produtor costuma anotar as visitas realizadas na área e
se sente satisfeito com a demanda dos pesquisadores e alunos visitando a propriedade.
Figura 9– Área de SAF complexificado na propriedade da família Canova (Foto: Isaías Bregonci).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- A mão-de-obra é familiar, basicamente ele e o filho.
- Espaçamento: café em espaçamento 4 x 4m, produz mais em espaçamento maior. Na
primeira colheita e desbrota é melhor plantar junto. Na área dele o café já é bem velho,
então estão replantando mais espaçado.
- Espécies presentes: muita fruta, como cupuaçu, romã, caqui, carambola, sapoti, cacau,
abiu, laranja, cajá, jambo, banana (várias qualidades), limão, tangerina, côco. Palmito (açaí,
pupunha, jussara, pati-amargoso), babaçu, guaraná, cravo-da-índia, pimenta (do reino,
dedo-de-moça, malagueta), canela, eucalipto – 300 árvores com idade de 20 anos, com
cerca de 1m de DAP, mas ele tem pena de cortar para vender. Mandioca, banana e cana
que não atrapalha o café. Tem seringueiras, embaúba, jatobá, jequitibá, ipê (amarelo,
tabaco, roxo), palmitos pati e jussara, banana prata e nanica...
- Espécies retiradas: tinha muito sapé na área e ele matava tudo, mas o eucalipto acabou
eliminando-o naturalmente.
92
- Tratos culturais: usava Roundup e formicida, mas faz tempo que não utiliza o Roundup.
Não usa adubo químico. A adubação é orgânica do próprio sistema. Palmito e banana em
beira de córrego, café mais isolado, só podam e enleiram as cepas no meio da lavoura.
Procuraram saber na região a respeito de café orgânico, mas não tem. Feijão-guandu,
mucuna-preta para cobertura e adubação. Açafrão serve como adubo e cobertura, após o
corte da touceira.
- Insolação o dia todo controlada pela sombra das árvores. O SAF está numa área não
muito declivosa, nem encosta, nem baixada.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Água: era mais abundante no passado e foi diminuindo com o tempo.
- Solo: muitos afloramentos rochosos, solo úmido e com bastante serrapilheira, sendo que
não chovia há 15 dias quando foi realizada a visita.
- Fauna: maracanã, jacu, araçari, ouriço, juriti, rolinha, bem-te-vi, tucano, sabiá. O maracanã
é reposnável por semear o açaí, segundo o produtor.
- Quintal: a propriedade é toda integrada, criam galinha, tem ervas medicinais como boldo,
saião, camomila, tem gengibre, açafrão, taioba branca, louro, quiabo-nativo, tilápia, frutapão, jaca, cravo, alecrim... Estes dois últimos eles fervem as folhas para fazer desinfetante.
Pegam mudas de ornamentais no mato e plantam nas árvores em volta da casa.
- Observações sobre ATER/Capacitação: nunca pegaram crédito. Não têm nenhum tipo de
assistência, aprendeu tudo sozinho observando a natureza e na prática. Observava como as
espécies gostam de viver, ex. o palmito perto de água. Ouvia muito rádio e tinha muita
informação por meio deste. A experiência dele tem sido modelo e serve de referência para
muitas visitas técnicas, aulas (UFES) etc. Atualmente eles anotam as visitas num livro.
Gostam de receber as pessoas na área.
d) Aspectos Econômicos
- Renda: produção do café conilon – 50 sacas/ano. Ele produz bem no meio das árvores.
Pimenta – R$6,00/kg. Ovo de galinha R$2,50/dz. Mão-de-obra da família (ele e os dois
filhos). Fizeram um viveiro com mudas adquiridas com terceiros.
- Gastos: o custo do sistema é zero. Se fizesse por lucro a renda seria muito alta. A
comercialização dos produtos café, eucalipto, frutas é difícil pelo transporte. Eles doam para
hospitais, asilo, cadeia. A fiscalização e o transporte são os limitantes para a
comercialização das frutas. A fiscalização só vistoria no mínimo de 200 pés e cobram
R$2,00/pé.
e) Principais aprendizados
- O eucalipto sozinho seca tudo, mas no meio do café algumas espécies não prejudica, pelo
contrário ele ajuda com cobertura e se integra com as outras.
- Dificuldades: déficit hídrico de 8 meses de seca na região.
- Plantaram muita coisa em local impróprio, sem planejamento, hoje estão planejando mais.
- O palmito e açaí em local mais baixo e úmido, já o Jussara sai em qualquer lugar. Todos
em geral gostam de local mais fresco. O côco catarro sai em qualquer lugar e é nativo daqui.
- O café reclama muito se colocado junto com árvore de sombra baixa, mas se for alta ele
vai bem. Muita sombra ele viça muito e não frutifica.
- As bananeiras cortam e deixam no meio da lavoura – matéria orgânica e água.
- Para fazer tudo isso não pode pensar muito no lucro imediato. Sempre fez pensando na
família, nunca no lucro.
- Busca aperfeiçoar sempre.
93
- A sombra das árvores ajuda a manter a saúde do café, pois o sol judia muito.
- A pimenta-do-reino é plantada sozinha e nas árvores que servem como tutores-vivos,
nesse caso ela gosta mais de canjiquinha e menos da jaqueira por dar muita sombra e
goiabeira por ter tronco liso. Jussara e pati só dão 1 árvore, logo cortou acabou, Plantam de
4-5 mudas, a que desenvolve mais ele corta para que as outras vinguem, ou seja, deixar
oxigênio para as outras. O palmito também produz madeira boa para ripa.
94
2.8 Antônio Lopes – Fazenda São José do Frade/Cachoeiro de Itapemirim
a) Histórico
- Área da propriedade = 17 ha dividida entre a família.
- Na dec. 80 iniciou o plantio de eucalipto, com mudas doadas pela Aracruz, próximo ao
café, que já existia em sua propriedade e era a base de sustento da família. Posteriormente
resolveu acabar com a plantação de eucalipto, em virtude do tempo gasto para produzir
madeira para comercialização e porque achava desnecessário para ele ter eucalipto em sua
propriedade. Depois, por meio da Prefeitura, do INCAPER e do Projeto Fazenda do Rio
Doce, recebeu diversas mudas de espécies nativas, para recuperação da área desmatada,
ampliando assim a sua área de floresta dentro de sua propriedade. Atualmente, devido a
idade, a falta de interesse do filho e dos netos, falta de incentivo e altos preços dos
fertilizantes a produção de café está um pouco abandonada. Parte de sua propriedade, 7 ha.
foi cedida a um dos filhos que transformou em pastagem e tem uma criação de gado para
corte e leitero que sustenta a família, enquanto uma outra parte da propriedade, 6 ha é de
mata nativa.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Área de produção de café conilon = 500 m2, em espaçamento 2m x 3m e 3m x 1,5m,
enquanto a banana e mandioca consorciados com o café, não apresentam nenhum
espaçamento.
- Área de pastagem = 3 ha
- Área consorciada com espécies nativas = 200 m2
- Espécies presentes: farinha seca, jequitibá, angico, palmito, boleiro, acácia, ipê, peroba,
cedro, coco, manga e cacau.
- Espécies retiradas: eucalipto cortado para a comercialização há 10 anos atrás. Segundo o
proprietário, a retirada do eucalipto foi porque o tempo de corte da madeira era muito longo
e onde dava eucalipto, não crescia nenhuma outra árvore. O proprietário não conseguiu
lembrar do espaçamento do eucalipto.
- O cultivo de café sempre foi consorciado com banana ou com mandioca. A banana para
comercialização e a mandioca, para consumo.
- Tratos culturais: quando o preço do fertilizante era baixo, o proprietário manejava o café
com fertilizante e após o encarecimento do fertilizante, o proprietário reduziu a quantidade
de fertilizante e introduziu esterco de boi. A adubação com esterco e fertilizante era feita
duas vezes ao ano, atualmente, apenas uma vez ao ano (fertilizante). Costuma roçar e
podar.
- Os subsistemas estão separados por cerca e gado circula entre as áreas de floresta nativa
e reflorestada livremente, enquanto que a de café fica totalmente protegida do gado. Todas
essas áreas estão bem próximas uma das outras.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Área de mata nativa em sua propriedade = 6 ha
- Área de nascente com barragem = 200 m2
- Água: com o passar dos anos, na área que havia sido replantada com espécies nativas o
proprietário observou o surgimento de uma nascente, que segundo ele apareceu em virtude
da mata que se desenvolveu. Ao longo dos anos, a floresta foi ampliando-se, sem nenhum
manejo ou influência do proprietário e o aqüífero foi se expandindo cada vez mais. Com
isso, o proprietário fez uma pequena barragem ao redor da nascente e atualmente o
proprietário cria Tilápias e Acarás para consumo, retira água para consumo, fornece água
95
para a propriedade do filho e para o gado que circula na área de mata reflorestada e da
barragem. Além disso, o proprietário cultiva ao redor da sua barragem árvores frutíferas,
como banana, açaí, manga, cacau e pimenta para consumo próprio. Segundo o proprietário
o bom desenvolvimento de seu cafezal se deve a proliferação do aqüífero.
- Solo: na área de cultivo de café com banana e café com mandioca, foi feita uma análise de
solo pelo INCAPER há 5 anos atrás, seguida da aplicação de fertilizante que foi substituído
por esterco de boi em baixa concentração. A área de cultivo possui uma camada de
serrapilheira de aproximadamente 3 cm com folhas de café, banana e mandioca recobrindo
o solo e mesmo com o período de seca, o solo apresenta-se bem estruturado e com pouca
exposição ao sol.
- Fauna: antes do desenvolvimento da área reflorestada, não observava visitas em sua
residência de animais silvestres, costumava ver os animais somente na área de mata nativa.
Após o desenvolvimento da mata e a construção da represa no entorno da mata, passou a
receber visitas de pacas, tatus, lagartos, capivaras, aves de diversas espécies, como sabiá,
tucanos, aparecimento de cobras e gambás. Inclusive, em virtude do aparecimento destes
animais nas proximidades de sua residência que fica ao lado da área reflorestada, foi
impossível a criação de animais, como galinhas, patos e codornas que foram
desaparecendo, segundo o proprietário, comidas pelos animais.
- Flora: algumas espécies vegetais que antes só estavam presentes na área de mata nativa
e que não foram plantadas por ele, começaram aparecer na área reflorestada nas
mediações da barragem e já se espalham sobre a área de pastagem (ex. Acácia).
- As áreas de pastagem, de reflorestamento e de cultivo de café coniló ficam na parte do
terreno com declividade, em uma encosta, enquanto a área de mata nativa fica em uma
área plana logo acima de declive do terreno. Está área de declive do cultivo de café recebe
sol durante todo o período do dia.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: não há nenhuma outra
instituição ou órgão que forneça assistência técnica ao produtor, além do INCAPER, na área
de agricultura, enquanto que na parte de pecuária, a Selita fornece assistência técnica ao
filho do proprietário, que trabalha com gado de corte e leiteiro.
- Quintal: devido o desenvolvimento da mata reflorestada nas proximidades de sua
residência, a criação de pequenos animais foi inviabilizada. A criação de galinhas, patos e
codornas complementavam sua alimentação, nada era comercializado. Atualmente, a
criação de Tilápias e Acarás também é para o consumo e sua retirada da barragem é feita
irregularmente. Ao redor de sua propriedade, no entorno da barragem o proprietário cultiva
algumas espécies vegetais, de onde retira frutas como manga, abacate, mamão, jabuticaba,
palmito pupunha, algumas hortaliças, plantas ornamentais e medicinais, como, boldos,
quebra-pedra, aroeira, capim-limão e erva-cidreira.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: 1 saco de fertilizante/3 - 4 sacas de café
- Produção: dados do sistema não disponibilizados
Produtos
Café
Leite
Produção
500 sacas
200 L/dia
Preço/venda
R$ 200,00
R$ 0,69/L
Total
R$ 100.000,00/ano
R$ 138,00/dia
Total
138.000,00
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e) Principais aprendizados
- A recuperação da área desmatada que anteriormente tinha cultivo de eucalipto, foi
essencial para o desenvolvimento do seu café. Se hoje tivesse condições, reflorestava uma
boa parte da área de pastagem do filho.
- Não retirar a mata totalmente da área que se deseja fazer um cultivo.
- A legislação e a burocracia tem sido um fator limitante para o corte, para uso doméstico
(lenha) ou para comercialização, de madeiras de lei e de alto valor comercial reflorestadas
na propriedade.
97
2.9 José Caligano – Fazenda Mutum/Cachoeiro de Itapemirim
a) Histórico
- Área da propriedade = 5 ha.
- Não tem área de SAF formado/em formação. Entretanto, a propriedade está em processo
de criação de uma área de corredor ecológico.
- A propriedade iniciou sua atividade agrícola na década de 80 com a produção de café e
mais tarde, com a agropecuária e o cultivo de cana-de-açúcar. Há 15 anos, devido a queda
do preço do café e o aumento no preço dos fertilizantes, o proprietário resolveu dar inicio à
criação de gado (na época, vários produtores receberam incentivos do governo), reduzindo
a sua área de cultivo de café e ampliando a área de pastagem. Há 8 anos, o proprietário
iniciou o cultivo de cana-de-açúcar com o objetivo de produzir cachaça e com recursos
próprios montou um alambique dentro de sua propriedade, realizando a moenda da cana,
destilação e engarrafamento do produto. Atualmente, o proprietário é um grande fornecedor
de cachaça (Cachaça Marca Moça) para a cidade de Cachoeiro de Itapemirim. Do cultivo da
cana-de-açúcar, o proprietário retira sua renda com a venda da cachaça, produz melaço e
rapadura para consumo próprio. No processo de fabricação da cachaça, há a eliminação de
um produto chamado Vinhoto, que depois de ser separado da cachaça é fornecido ao gado
como complemento alimentar.
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
Área de produção de café não consorciado = 500 m2
Área de produção de cana-de-açúcar = 500 m2
Área de pastagem = 1,5 ha.
Área disponibilizada dentro da propriedade para implantação de corredor ecológico = 1 ha.
- A propriedade apresenta as áreas de cultivo de café e cana-de-açúcar bem delimitados e
separados por cercas, das áreas de pastagem, sem a circulação do gado por elas. Assim
como a área disponibilizada para a criação do corredor ecológico.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Flora: nas proximidades da propriedade há uma área de reserva florestal chamada de
Floresta Nacional Pacotuba (ou Banana do Norte) sob a administração do IBAMA. Em um
projeto acordado entre o Proprietário, IBAMA e INCAPER, o proprietário cedeu uma área de
sua propriedade (1ha) para a implantação de um corredor ecológico, permitindo a conexão
de uma área de mata nativa fora da administração do IBAMA e dentro de uma propriedade
privada, com a Floresta de Pacotuba, passando dentro de sua propriedade. O projeto tem
aproximadamente 1,5 anos e as mudas nativas plantadas na área cedida para criação do
corredor ecológico, foram cedidas pelo INCAPER, que auxiliou o proprietário no plantio.
98
2.10 Lorival e Joseli Tomazini Sítio Tomazini/Castelo
a) Histórico
- Área da Propriedade = 14 ha.
- Área de Mata Nativa = 3 ha
- Área do SAF’s com Café arábica + Cedro Australiano = 1 ha (Figura 10).
- A iniciativa foi em 2005, através de um dos filhos, técnico agrícola e aluno da Escola
Técnica Família Agrícola. Este escolheu uma parte da propriedade, com tradição no cultivo
de café arábica, para o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa da escola técnica,
onde o mesmo teria que cultivar café arábico consorciado com uma espécie arbórea. Dentro
deste trabalho, foi plantado café e cedro australiano, com mudas cedidas pela Escola
Agrícola. Na área de SAF’s, antes da implantação do consórcio (café/cedro) já existiam
alguns pés de banana, laranja e abacate que não foram plantados com a finalidade de
consórcio, porém, segundo a proprietária estava ajudando no sombreamento do café.
Figura 10– Imagem da área do consórcio de café arábica com cedro australiano,no Sítio Tomazini
(Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café com cedro australiano em espaçamento de 2,5m x 1,2m (1.500
covas), enquanto que, o cedro australiano, com espaçamento de 4m x 3,0m. As bananas e
os abacateiros já estavam na área do SAF`s, portanto não havia nenhum espaçamento
entre eles.
- Espécies retiradas: antes da implantação do consórcio foram retirados todos os pés de
café arábica (velhos) que haviam na área e replantou novas mudas junto com as mudas de
cedro australiano por orientação da escola técnica para que o consórcio começasse do zero
e todas as mudas plantadas ao mesmo tempo.
- Tratos culturais: podas no café e no cedro, principalmente no cedro, de forma que não
sombreasse demais o café. Adubação com calcário agrícola dolomítico para corrigir a acidez
do solo (3 vezes), adubo orgânico (esterco), roçada e cobertura com folhas provenientes do
café e do cedro mantidas sobre o solo. Na área do consórcio, o proprietário observou que o
amadurecimento do café foi todo por igual, enquanto que na área sem consórcio, não foi
observado o mesmo.
- Quintal: agroflorestal, com a criação de galinhas, porcos, patos, canário-belga, trinca-ferro,
cultivo de hortaliças, inhame, batata, laranja, além do cultivo de plantas ornamentais como
bromélias entre outras. Os produtos da granja e da chácara são utilizados para consumo
próprio, como ovos, aves, porcos e hortaliças, como alface, chicória, inhame, laranja, batata
e temperos. Enquanto que, a produção de pássaros, como canários e trinca-ferro (em
99
extinção) eram para a comercialização, principalmente os canários, que tinham destino certo
no comércio da cidade e no Rio de Janeiro.
- Dentro da propriedade, a área de consórcio de café com cedro australiano estava ao lado
da área de mata nativa, inclusive algumas espécies vegetais como o palmito pupunha que
estavam se desenvolvendo dentro da área do consórcio estava presente em grande
quantidade na área de mata nativa.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: foi realizada análise de solo pela escola agrícola e INCAPER, após a retirada dos
pés de café velho que se encontravam na área de consórcio. Apresenta grande
concentração de serrapilheira sobre o solo ao redor da cova do café, o que permite grande
concentração de matéria orgânica e mantém a umidade.
- A área do consórcio está situada em um terreno com declividade acentuada e recebe sol
durante toda aparte da manhã.
- Fauna: após a implantação do consórcio muitas aves passaram a freqüentar a área, como
Jacu, sabiá e tucanos. Isso ocorreu em virtude de alguns pés de açaí que apareceram na
área do consórcio sem que fossem plantados pelo proprietário. As aves também são
responsáveis pela dispersão das sementes e propagação das espécies na área.
- Flora: tem mata nativa no topo, bem preservada.
- A área está à 600m de altitude. As áreas de cultivo de café e café consorciado estão em
terreno com declividade onde o sol incide com maior intensidade na parte da manhã. A área
do consórcio possui nas suas proximidades a floresta nativa, que em determinada parte do
dia projeta sombra sobre o cafezal.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: além do filho técnico da
escola, tem assistência técnica do INCAPER e da Secretaria de Agricultura, que
regularmente visitam a propriedade.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: calcário, sacos de 50kg, enquanto que a roçada, a poda e colheita do café é feita
pela própria família.
- Atualmente a principal fonte de renda da família (4 pessoas) é com a comercialização o
café.
- Produção:
- Café sem consórcio: produção de 300 sacas/pilado, vendido à R$ 200,00/saca =
R$ 60.000,00.
- Café em consórcio: produção de 15 sacas/pilado * R$ 200,00/saca = R$ 3.000,00.
e) Principais aprendizados
- O bom desenvolvimento do café, ou seja, o amadurecimento por igual, que estava na área
de SAF’s foi em virtude do consórcio com o cedro australiano. Isso foi constatado em
relação às outras áreas que não estavam consorciadas.
- Apesar do ceticismo que se tinha em relação ao não desenvolvimento do café em
consórcio com o cedro, o proprietário comprovou os benefícios do cedro ao seu café e está
planejando produzir mudas de cedro para ampliar o consórcio.
- Área pequena para o consórcio para não colocar em risco a produção da cultura principal
(café no caso) e a renda da família, caso não funcione.
- Não sabe se vai poder cortar o cedro e comercializa-lo após o seu desenvolvimento.
100
2.11 Vanildo Scoforo – Comunidade do Cedro/Castelo
a) Histórico
- Área da Propriedade = 9,68 ha.
- Área de SAF com café conilon + cedro (Figura 11)
O sistema foi implantado há aproximadamente 8 anos, após conseguir algumas mudas de
cedro australiano e resolveu plantar junto com o café, em virtude da grande exposição do
café ao sol, ou seja, para fazer sombra ao café. A partir daí, no inicio da implantação do
consórcio, solicitou assistência técnica ao INCAPER e à Secta de Agricultura e após alguns
anos, em virtude de outros compromissos e por obter renda de outras fontes, deixou a
propriedade em que estava o consórcio abandonada. Tem uma nova área
(aproximadamente 1,0 ha) de cultivo em consórcio sendo desenvolvida pelo proprietário
com café conilon, cedro australiano e feijão, plantados há seis meses.
Figura 11 – Imagem das áreas de consórcio com café conilon, cedro australiano e feijão (à frente) e
café conilon com cedro australiano e pastagem (ao fundo), na Comunidade do Cedro
(Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Tratos culturais: a área é irrigada e o proprietário utilizou adubo (fertilizante) e calcário na
área o consórcio, apenas no café e, durante algum tempo realizou a poda e roçou a área.
Fez ainda, análise de solo e depois disso, deixou por conta da natureza. Hoje, pelas
condições do café, a área do consórcio poderia estar produzindo muito mais se estivesse
recebendo a assistência adequada e se fosse de interesse do proprietário.
- Espécies presentes: café conilon, plantado com espaçamento de 3m x 1m, e cedro
australiano, plantado com espaçamento de 4m x 4m. Enquanto que, na área do cultivo novo
de café consorciado com cedro australiano e feijão, o café apresentava espaçamento de
2,0m x 2,5 m, o cedro com espaçamento de 4,0 m x 4,0 m, e o feijão, foi plantado nas linhas
entre café e o cedro.
- A área de consórcio está na parte alta da propriedade, estando exposta à insolação
durante todo o período do dia.
- A área de pasto é separada das áreas de consórcio por cercas, não havendo circulação do
gado entre os SAF’s. A área do consórcio fica ao lado da Propriedade do Cedro, que cultiva
café conilon, côco bahia e palmito pupunha, estando as duas propriedades envolta de um
aqüífero, com áreas alagadas.
101
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: fez análise de solo no início da implantação do consórcio apenas. Porém, foi
observado que mesmo sem os tratos necessários que o técnico havia citado, o solo
apresentava alta concentração de serrapilheira constituída de folhas de café e cedro mortas,
que recobriam o solo.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: O consórcio não é a
principal fonte de renda do proprietário da Comunidade do Cedro, sua renda provém de
outras atividades desenvolvidas na cidade (comerciante). Segundo o técnico, um dos
grandes problemas da região é a disponibilidade de mão-de-obra no período da safra do
café, tornando-se difícil a colheita. Em virtude desse fator e a falta de assistência técnica, o
proprietário encontra-se desestimulado.
d) Aspectos Econômicos
Sem dados disponíveis pela ausência do produtor
e) Principais aprendizados
Sem dados disponíveis pela ausência do produtor
102
2.12 Leila Venturini – Propriedade do Cedro/Castelo
a) Histórico
- Área da propriedade = 6 alqueires
- Café + Côco anão + Palmito Pupunha em 2 ha (Figura 12).
- O cultivo em consórcio na propriedade iniciou-se na dec. 90. Primeiro introduziram o café
conilon e com o passar dos anos, em virtude do rendimento do côco na região, da
disponibilidade de água na propriedade e tendo observado em outras propriedades o plantio
do café em consórcio com o côco anão, resolveram produzir mudas deste e consorciar com
café. Após o plantio das mudas de côco anão, compraram algumas mudas de palmito
pupunha e resolveu plantar nas margens da área alagadiça que rodeava o café, ou seja, em
torno do brejo. Mais recentemente introduziram gado leiteiro em consórcio com a Selita.
Figura 12 – Imagem do consórcio de café conilon com coco anão na Propriedade do Cedro (foto:
Rogério Fernandes)
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café conilon, côco e palmito pupunha. O café com espaçamento de
2,5m x 1,5 m, o côco anão foi plantado entre o café, sem um espaçamento determinado e, o
palmito pupunha em carreira. Resolveu plantar o café ao redor da área alagada, fazendo em
seguida o consórcio do café com coco anão e palmito pupunha, inclusive plantando o coco
as margens do brejo de inicio e depois, plantando o coco entre os pés de café.
- Tratos culturais: adubação intensa no café e roçada. Segundo ele, o consórcio produzia
muito bem, porém, necessitava de muito adubo (fertilizante).
- A propriedade do Cedro está ao lado da propriedade Comunidade do Cedro, estando à
área de consórcio em um terreno inclinado e exposto à luz do sol durante todo o período do
dia.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: análise de solo diversas vezes e aplicação de calcário nas covas do café.
- Água: área de brejo dentro da propriedade e observou-se depois de algum tempo que
havia uma nascente no local alagado.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: o manejo era realizado
pelo proprietário antigo que não recebia nenhuma assistência técnica. Atualmente não foi
possível obter informações sobre esse aspecto, mas sabe-se que a Selita fornece
assistência a proprietária na área de pecuária.
103
d) Aspectos Econômicos
- O custo maior da área do consórcio era com adubação, fertilizante.
- A produção era de 200 sacas de café pilado, sendo que na maioria das vezes essa
produção era consumida ou doada e raramente vendida. A proprietária atual não estava
presente e não foi poss;ivel obter dados atualizados sobre a produção.
e) Principais aprendizados
- A adubação com fertilizantes e a disponibilidade de tempo para cuidar do consórcio são
fundamentais, porque o consórcio de café conilon com coco e palmito pupunha dá certo,
não requer muita mão-de-obra e gera uma boa renda.
- Não deixar de cuidar do consórcio.
104
2.13 Pedro Paulo Venturini – Córrego Bom Jardim/Castelo
a) Histórico
- Área da propriedade = 2,5 alqueires
- Área de SAF com café + côco anão em 1 ha (Figura 13).
- Na déc. 90 o proprietário em virtude da desvalorização do café e da região de sua
propriedade ser muito seca, resolveu plantar junto ao café conilon, coco anão a fim de
produzir sombra para o café e obter renda extra.
Figura 13 – Área de consorcio de café conilon com coco anão (ao fundo) e graviola (à frente) na
propriedade do Córrego Bom Jardim (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café conilon (10.000 pés) e o côco anão. Em algumas partes da área
do consórcio o proprietário plantou graviola e laranja, com a finalidade de comercialização.
No entanto, a graviola e a laranja não se desenvolveram bem devido ao calor na região. O
café foi plantado com um espaçamento de 3 m x 2 m e o coco com espaçamento de 10 m x
10 m.
- Tratos culturais: na implantação do consórcio o proprietário realizou análise de solo e
atualmente, é realizada a adubação com fertilizante sobre o café. Além disso, são realizadas
as podas do côco e do café e a roçada, deixando-se as folhas de coco e de café sobre o
solo, permitindo uma espessa camada de serrapilheira.
- A área do terreno onde está o consórcio apresenta uma grande declividade, recebendo luz
durante todo o período do dia. Ao redor da propriedade, encontra-se uma grande área de
pastagem, que fica fora da propriedade.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: além da análise de solo foi aplicado fertilizante. Apesar de algumas áreas terem o
solo totalmente exposto, em outras, a cobertura morta impede a exposição do solo,
mantendo a umidade.
- Água: a propriedade possui uma área de barragem, um açude (500m2), que é utilizada
para irrigação do consórcio de café com côco. Além da irrigação, o açude é utilizado para a
criação de peixes, como Tilápias, Carpas e Traíras, para consumo próprio.
- Fauna: é observada com freqüência a presença de aves e pequenos mamíferos, como
gambá e cutia.
105
- Quintal: o meeiro possuía dentro da propriedade um quintal agroflorestal, com criação de
galinhas e patos, pomar (maçãs e laranjas) e hortaliças, tudo produzido para consumo
próprio, assim como a criação de peixes no açude.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: a propriedade não
recebe assistência técnica de nenhum órgão, a não ser quando o proprietário realiza uma
solicitação a Secta de Agricultura ou ao INCAPER.
d) Aspectos Econômicos
- A experiência foi exitosa e o proprietário passou a ter um boa renda com o côco que
durante o verão é vendido a R$ 0,50 a unidade.
- Custos:
- 30 sacas (50 kg) de fertilizante (preço não informado);
- Produção:
- A produção antes do consórcio era de aproximadamente 250 sacas de café pilado, porém
o preço do café era baixo no mercado. Hoje com o consórcio, o proprietário produz em torno
de 170 sacas de café pilado mais a produção mensal de 1.200 garrafas de água de coco de
300ml e côco em fruta.
Produtos
Café conilon
Água de côco
Produção
170 sacas/ano
1.200 garrafas/300 ml
Preço/venda
R$ 200,00/saca
R$ 0,50/unidade
Coco/fruto
não foi informada
R$ 0,50/unidade
Total
R$ 34.000,00
R$ 600,00
Total
R$ 34.600,00
e) Principais aprendizados
- O proprietário estava ausente durante a visita.
106
2.14 Antônio Hilário – Comunidade Pedra do Sombrero/Itaguaçu
a) Histórico
- Área da propriedade = 54 ha
- Área de SAF´s (diversas espécies) = 54 ha(Figura 14).
- A propriedade atual estava abandonada em posse do meeiro que vinha derrubando a área
de floresta dentro da propriedade com a finalidade de ampliar o pasto. A família, em virtude
da situação arrendou a propriedade e resolveu acabar com o gado e replantar toda a área
de pasto. Em 1997 solicitou a um amigo agricultor da Bahia que lhe conseguisse sementes
de diversas espécies para plantar em sua propriedade. O amigo enviou-lhe várias sacas
com diversas espécies nativas que foram plantadas em sua propriedade. Todo o processo
de desenvolvimento do SAF’s foi realizado com o consentimento do IBAMA. A renda
principal vem da aposentadoria, mas o proprietário pensa em comercializar polpa de fruta,
com sua própria marca, futuramente.
Figura 14 – Área do SAF´s, com pau-brasil, cacau, palmito pupunha e açaí, na propriedade
Montanha Sagrada (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Observações sobre ATER/Capacitação: em virtude da posse da propriedade e o
reflorestamento da área, o produtor realizou um curso técnico em agricultura em Vitória e
começou a dedicar-se a sua propriedade, desenvolvendo um grande consórcio de espécies
nativas com café conilon e produção de café orgânico para comercialização.
- Todas as espécies nativas presentes em sua propriedade foram plantadas por ele e hoje,
reproduz diversas mudas dessas espécies nativas, muitas são doadas a amigos, enquanto
outras são replantadas em sua propriedade. Para qualquer tipo manejo ou atividade
exercida pelo proprietário dentro de sua propriedade é feito um registro em um diário, desde
1997.
- Tratos culturais: como manejo do SAF’s, o proprietário realiza apenas o roçar e podas,
nunca utilizou fertilizantes, nem no período de produção de café.
- A propriedade está localizada no entorno da Pedra do Sombrero há aproximadamente 300
m de altitude, com seus 54 ha ocupados por vegetação, com espécies nativas e algumas
espécies exóticas. A propriedade hoje integra parte da APP da Pedra do Sombrero e está
sobre um terreno rochoso de difícil acesso cercado de encostas e vales. A propriedade está
em uma área que recebe insolação durante todo o período do dia.
107
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: na dec. 90 foi feita análise de solo (uma única vez), para identificar quais as espécies
vegetais poderiam ser plantadas em sua propriedade de acordo com as características do
solo.
- Água: a propriedade possui uma barragem para captação de água da chuva, que serve
para abastecimento da residência do proprietário e criação de peixes, como Lambari,
Carpas, Tucunaré e Tilápias, que são retiradas apenas para consumo próprio. A área do
SAF não é irrigada.
- Fauna: há ocorrência de muitos animais silvestres, principalmente aves, que segundo o
proprietário encarregaram-se de disseminar muitas espécies arbóreas em locais de difícil
acesso de sua propriedade. Os exemplares de fauna mais freqüentes são: sabiás, canárioda-terra, jacus, tucanos, trinca-ferro, papagaios, ararinhas, siriema, saracura, gaviões,
araponga, lagartos, macaco-prego, bugiu, gambá, cobras, paca, tatu, bicho-preguiça e
esquilos.
- Flora: há locais de difícil acesso em sua propriedade em que diversas espécies vegetais
que ele havia plantado em outros locais, ocuparam estas áreas, além do surgimento em sua
propriedade de outras espécies desconhecidas, como uma espécie vegetal arbórea não
descrita, que foi descoberta em sua propriedade recentemente e está sendo estudada por
um grupo de pesquisadores da UFRRJ.
- Quintais: granja, com a criação de aves, como peru, patos e galinhas (caipira e d’angola),
além da criação de peixes, como carpas, tilápias e tucunaré, todos para consumo próprio.
Em relação à criação de peixes, o proprietário estava realizando um experimento com a
alimentação, substituindo a ração dos peixes por farelo de cascas de frutas passadas no
triturador. Segundo o proprietário, os peixes estavam tendo um desenvolvimento muito mais
rápido e saudável, comparado com a alimentação à base de ração, que representava um
custo adicional ao proprietário.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: não recebem assistência
técnica de nenhum órgão e tudo na propriedade é realizado pelo produtor em companhia de
seu funcionário. Informou também, que até as solicitações feitas ao IBAMA para a poda de
algumas árvores, ficaram sem resposta.
d) Aspectos Econômicos
- Atualmente o produtor está aposentado, com quase 80 anos de idade e sobrevive de sua
aposentadoria. Porém, está com planos futuros de montar em sua propriedade um
“laboratório” para realizar a coleta de polpa de frutas, com despolpador e freezeres para
armazenamento e envasamento com selo próprio, para comercialização.
- Dificuldades para o processamento das polpas, necessitando de um despolpador que é
vendido somente para grandes produtores (60 t). Além desse investimento que está sendo
feito na propriedade, o proprietário informou que não tem custos com o consórcio e que
ainda não obteve nenhum lucro com a venda de polpas e que a maior parte da produção
anterior foi doada a amigos e a família.
- O café orgânico que era produzido anteriormente, não era comercializado e sim consumido
ou doado. Atualmente, a produção de café está muito reduzida e os gastos com fertilizantes
para manter a produção de café são muitos, não sendo compensador a sua produção.
- Além do projeto de comercialização de polpas, o proprietário está investindo na reprodução
de mudas de Aroeira em algumas áreas de sua propriedade. Segundo ele, as sementes de
Aroeira possuem ativos medicinais e algumas empresas japonesas no estado do Espírito
Santo estão comprando a saca de sementes de Aroeira em média por R$ 3,50, admitindo
ser de fácil cultivo, não apresentar custos, está se desenvolvendo bem em sua propriedade
e conseguir colher até duas vezes por ano.
108
e) Principais aprendizados
- As espécies vegetais plantadas pelo produtor em sua propriedade, convivem muito bem
em consórcio, inclusive espécies frutíferas, como o cacau, cupuaçu, côco, palmito pupunha
e açaí. Mesmo, com toda mão-de-obra que ele possui com as podas e o roçar, em virtude
de sua idade, ele afirma que o cultivo em consórcio pode ser muito rentável, inclusive de
espécies nativas e frutíferas.
- Reclamou das dificuldades que encontra com o IBAMA, como na solicitação de podas e
retiradas de algumas espécies que estão se tornando pragas, como a acácia. Além das
dificuldades que encontra para instalação de seu comércio de polpas, na aquisição de
maquinário (despolpador).
109
2.15 Silvio Elias Alberti - Sitio Monte Belo/Itaguaçu
a) Histórico
- Área da propriedade = 14 ha
- Área de SAF com café conilon + cupuaçu + banana + mandioca = 1,0 ha (Figura 15).
- No ano de 2000 iniciou o consórcio, através de mudas de cupuaçu trazidas de Rondônia.
Resolveu plantar o cupuaçu após assistir em programa de TV que o cupuaçu era uma
espécie que gerava um boa renda através da comercialização. Pediu assistência ao
INCAPER que não dispunha de informações a respeito. O objetivo era ampliar a sua renda,
em virtude do baixo preço do café e subida do preço do fertilizante. Passou a cultivar em
uma pequena área de sua propriedade, às margens do córrego que passava dentro da
propriedade que tinha café consorciado com mandioca e banana (para consumo próprio).
Após a primeira colheita de cupuaçu, o proprietário retirou as polpas, armazenou em freezer
e distribuiu gratuitamente ao comércio local (lojas de doces e sorveterias), a fim de ver a
aceitação do produto, o preço de comercialização e um futuro fornecimento aos mesmos
estabelecimentos. O resultado foi positivo, em princípio, e o comércio absorveu
rapidamente. Posteriormente o produtor passou a comercializar, mas os comerciantes
acharam o preço muito alto, alguns exigindo o fornecimento gratuito, enquanto que outros a
redução do preço de R$ 7,00 para R$ 2,00/kg. Com isso o proprietário se viu desestimulado
e abandonou a produção, voltando a dar prioridade ao café. Hoje, alguns frutos do cupuaçu
são doados para amigos ou a sua esposa prepara bombons, sorvetes ou suco para a
família, enquanto que a maioria está estragando sobre o solo.
Figura 15 – Área de SAF com café conilon, cupuaçu, mandioca e banana (ao fundo) e do proprietário
com frutos de cupuaçu na propriedade Sitio Monte Belo (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: atividade agrícola voltada para o cultivo de café conilon; pequena
parcela do sitio (200 m2) consorciado com banana e mandioca, produzidos para consumo
próprio; cupuaçu plantado dentro da área do consórcio em 1 ha. O espaçamento do café é
3m x 2m e o cupuaçu, em espaços entre o café, às margens do córrego, com
aproximadamente 1m x 1m de espaçamento, enquanto que a banana e a mandioca foram
plantadas irregularmente.
- Tratos culturais: utiliza pelo menos duas vezes por ano, fertilizantes sobre o café e realiza
podas e o roçada para ambos, café e cupuaçu.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: não recebe assistência
técnica e algumas solicitações de assistências feitas ao INCAPER e IDAF para a outorga de
água, não foram feitas. Toda e qualquer medida de manejo realizada na lavoura é realizada
110
pelo próprio proprietário sem assistência, inclusive, o mesmo alega que se tivesse uma
assistência técnica adequada, daria mais atenção ao cultivo de cupuaçu.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: foi realizada análise de solo no início do consórcio e depois fez a aplicação de
calcário para correção do ph do solo. Atualmente realiza apenas podas e deixa o material
orgânico sobre o solo, afirmando que estas protegem o mesmo. O solo apresentava-se bem
sombreado e coberto com uma camada espessa de serrapileira, com folhas de banana,
café, cupuaçu e frutos de cupuaçu em decomposição, concentrando matéria orgânica e
permitindo boa umidade.
- Água: tem um pequeno córrego na propriedade, que é utilizado para abastecimento da
residência e para irrigação da lavoura. No início do plantio do cupuaçu em consórcio com o
café conilon, as mudas foram plantadas as margens deste córrego, alegando o proprietário
ter visto na matéria na TV que o cupuaçu necessitava de muita água.
- Fauna: é observada com freqüência a presença de aves, como jacus e sabiás na área do
consórcio.
- Flora: a dispersão do cupuaçu sobre outras áreas sem sua influência foi grande,
provavelmente pela ação dos animais.
- Dentro dos 14 ha da área do Sitio Monte Belo, há 5 ha com o cultivo de café conilon
(monocultura) e 1,0 ha em consórcio, com café conilon, cupuaçu, banana e mandioca. Toda
a área da propriedade apresenta-se em declividade, semelhante a uma região de vale,
recebendo insolação durante todo o período do dia.
- Quintal: criação de galinhas e patos, onde retira ovos e carne para consumo próprio,
informando que sua esposa às vezes retira alguns frutos de cupuaçu para fazer suco,
sorvete e bombons.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: compra de fertilizantes para o café (duas vezes por ano) e com o cupuaçu, não há
nenhum. A sua renda provém apenas do cultivo de café conilon.
- Produção:
- Café conilon (última safra): produziu 120 sacas de café pilado e comercializou com
preço de R$ 200,00 = R$ 24.000,00.
- Cupuaçu: média de 22kg/pé. Não houve comercialização, devido o baixo preço (R$
3,00) e à grande mão-de-obra.
e) Principais aprendizados
- É possível o cultivo de café conilon com cupuaçu, sem nenhum dano ao café e custo
adicional, em especial com cupuaçu.
- O cupuaçu se desenvolve bem em áreas que não tenham grande disponibilidade de água,
como as áreas afastadas do leito do córrego em que houve desenvolvimento do cupuaçu.
- Não indica o cultivo de cupuaçu sem que hajam compradores certos para a produção,
porque acha um desperdício ver os frutos apodrecerem em sua propriedade por falta de
comprador, sabendo do potencial do fruto na produção de sorvetes e bombons. Acredita que
se houvesse uma melhor assistência técnica dos órgãos em parceria com uma cooperativa
de produtores, a produção de cupuaçu daria bons rendimentos.
111
2.16 Fazenda Boa Sorte/Itaguaçú
a) Histórico
- Área de SAF com café conilon + palmito amargoso patioba + banana (Figura 16).
- A propriedade era tradicional no cultivo de café conilon com banana e em uma
determinada área o proprietário resolveu plantar palmito amargoso patioba, uma espécie
nativa da região, que acabou dando certo junto com o café e a banana.
- O proprietário estava ausente e não foi possível fazer a coleta dos dados.
Figura 16 – Área com cultivo de café conilon, palmito amargoso patioba e banana na propriedade da
Fazenda Boa Sorte (Foto: Rogério Fernandes).
112
2.17 José Bartolino – Córrego Barreiro/Itaguaçú
a) Histórico
- Área da propriedade = 3 ha
- Área de SAF com cacau + côco bahia + açaí + dendê + banana em área de 1,0 ha (Figura
17).
- A produção agrícola na propriedade sempre foi de café conilon, inclusive a propriedade é
uma grande comunidade de pequenos produtores de café conilon. Em 1990 o proprietário
trouxe do Estado do Pará mudas de côco - bahia, dendê e cacau e resolveu plantar em uma
área de sua propriedade (1 ha) que já possuía alguns pés de açaí e banana. A partir daí o
proprietário resolveu realizar uma experiência e plantou todos na mesma área, a fim de
verificar se o cacau dava certo com este tipo de cultivo em consórcio.
Figura 17 – Área de SAF com banana, coco bahia, açaí, cacau e dendê na propriedade Córrego
Barreiro (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- O sistema foi implantado por conta própria, utilizando adubo orgânico (palha de café) sobre
o cacau, sem análise de solo e um espaçamento ao acaso. O proprietário não realiza mais
nenhuma espécie de manejo na área, abandonando-a devido à falta de tempo e mão-deobra para o cultivo, ficando a cargo da natureza.
- Espécies presentes: na área do consórcio de 1 ha, as espécies que já se encontravam no
inicio da implantação do mesmo, eram bananas e açaí, todas plantadas ao acaso, sem
nenhum espaçamento. Atualmente, nesta área há açaí, cacau, coco bahia, banana, dendê e
alguns pés de embaúbas que apareceram depois.
- Tratos culturais: foi utilizado adubo orgânico (palha de café) apenas no início da
implantação do cacau e depois realizou a poda no mesmo, com supervisão do INCAPER e
roçada.
- O sistema está em área de baixada, sob plantação de café conilon (monocultura),
concentrando grande umidade e sombreamento e o sistema recebendo maior influencia da
luz do sol no período da tarde,
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: nunca realizou análise de solo na área do consórcio, apenas roçada na área e
algumas podas, conservando as folhas sobre o solo, que apresentava uma espessa camada
de serrapilheira e matéria orgânica, permitindo uma cobertura protetora do solo e impedindo
a sua exposição.
113
- Água: dentro da propriedade existe um córrego que é utilizado no abastecimento da
lavoura de café e nas residências. O proprietário informou que nunca irrigou a área do
consórcio, em virtude da proximidade da área com o córrego e da grande umidade.
- Fauna: na área do SAF há ocorrência de muitas aves, que se alimentam dos frutos do
açaí, como papagaios, maritacas, jacus e tucanos, além de esquilos que também se
alimentam destes frutos.
- Flora: em algumas áreas fora do consórcio, o açaí espalhou-se sozinho e teve o
surgimento de embaúbas dentro da área do consórcio.
- Quintal: galinhas e patos, onde utiliza os ovos e carne para consumo próprio.
- Observações sobre ATER/Capacitação: não tem assistência técnica alguma.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: o único custo foi com a utilização de adubo orgânico, o qual é produzido na própria
comunidade do Córrego Barreiro.
- Em virtude de o consórcio ser novo, o proprietário ainda não havia feito nenhuma grande
colheita e muito menos comercializado, apenas consumindo alguns frutos de açaí e cacau.
O cacau vai render boa produção na próxima safra.
e) Principais aprendizados
- O proprietário ficou surpreso com o desenvolvimento do cacau entre as outras espécies e
confessou que ficou empolgado observando a facilidade do cultivo que não exigia gastos
com fertilizantes. Porém, em virtude da idade, da falta de tempo disponível e desinteresse
dos filhos, teve que abandonar a área, voltando sua atenção para o plantio de café conilon,
o que lhe dá mais lucro.
- Apesar do sistema dar certo, exige tempo para cuidados.
114
2.18 Dionísio Zanoti – Propriedade Zanot/Itaguaçú
a) Histórico
- Área da propriedade = 3 ha.
- Café conilon + palmito amargoso em 1,5 ha (Figura 18)
- Palmito amargoso em pastagem.
- O objetivo foi implantar uma outra espécie vegetal que pudesse sombrear o café, em
virtude das condições do terreno com muita insolação durante todo o dia e obter uma renda
extra. A partir de observações feitas na mata nativa e em outras propriedades a respeito do
palmito amargoso, verificou-se que a espécie se adequava muito bem naquele tipo de
ambiente, porém havia muita insegurança e medo de prejudicar o café. Resolveu plantar
algumas mudas de palmito em uma pequena parte da propriedade, junto como o café,
realizando uma experiência. Após o primeiro ano do plantio de palmito, foi observado que o
café ainda continuava bem, sem nenhum problema. A partir do ano de 2000, inseriu mais
mudas de palmito amargoso na mata e ampliou o seu plantio dentro do cafezal em uma área
de aproximadamente 1,0 ha e em área de pastagem. Hoje a propriedade apresenta 3 ha
nesse sistema.
Figura 18 – Área do SAF com o cafezal e o palmito amargoso na propriedade Zanoti (Foto: Rogério
Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Palmito foi plantado esporadicamente entre os pés de café, sendo o café plantado com
espaçamento de 1,5m x 3,0m.
- Tratos culturais: não houve adubação no palmito, enquanto que o café recebe fertilizante,
em média duas vezes por ano. Além disso, é realizada poda no café e costumam roçar a
lavoura.
- Toda a área da lavoura está situada em um terreno com declividade, que recebe insolação
durante todo o dia. A área da lavoura de café, assim como a do consórcio, é isolada por
cercas da área de pastagem que fica dentro da propriedade. Não há circulação do gado
dentro da lavoura, apenas dentro da área de pastagem, onde o proprietário durante a
criação do pasto, deixou alguns exemplares de palmito amargoso que havia dentro da área,
em virtude da legislação.
115
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: foi realizada análise de solo há muitos anos, antes mesmo do plantio do palmito, para
plantio de café conilon.
- Água: a propriedade utiliza o sistema de irrigação da lavoura de café em todo a área, até
mesmo na área do consórcio.
- Flora: o palmito rapidamente alastrou-se em outra área da propriedade sem necessidade
de plantio (por dispersão).
- Observações sobre ATER/Capacitação: nunca receberam assistência, tudo foi realizado
por conta própria.
d) Aspectos Econômicos
- O proprietário tem outras fontes de renda, sendo que a produção do café é utilizada para
pagar mão-de-obra.
- Os gastos são com mão-de-obra e fertilizantes.
- Não soube informar dados relativos à produção em sacas do café na ultima colheita e nem
o preço de venda.
- O palmito é retirado apenas para consumo próprio, devido à legislação não pode
comercializar.
e) Principais aprendizados
- A produção de palmito amargoso com café conilon é possível, porém não indica o plantio
do palmito muito próximo ao café. Segundo ele, o palmito necessita de muita água e muito
próximo do café, pode chupar toda a água do café e provocar muita sombra.
116
2.19 Nelson Meregueli Simões – Córrego Anchieta/Guaraparí
a) Histórico
- Área da propriedade = 2,5 ha.
- Área de SAF com laranja + banana + café conilon + côco anão em = 1,0 ha (Figura 19).
- Em 1972 o proprietário iniciou o cultivo de laranja bahia em uma parte de sua propriedade
(1,0 ha), com o objetivo de obter renda, em virtude do alto preço da laranja no mercado.
Com o passar dos anos, a laranja ficou desvalorizada, devido a concorrência com outras
qualidades de laranjas de baixo custo na região. Após oito anos, o proprietário resolveu
plantar café e banana junto com a laranja, a fim de compensar os baixos rendimentos. Dois
anos depois o proprietário inseriu o côco, devido a valorização na região. Com o passar dos
anos, a idade avançada do proprietário, falta de assistência técnica e o desinteresse dos
filhos, a área do consórcio foi sendo abandonada. A agricultura não é responsável pela
renda da família. O proprietário investiu muito dinheiro no consórcio anos atrás e realizou
todo o cultivo sozinho, não recebendo nenhuma assistência técnica na época.
Figura 19 – Área de consórcio de banana, café conilon, coco e laranja anão em estado de abandono
na propriedade Recanto Feliz (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Tratos culturais: utilizava-se esterco e uréia no café conilon, pelo menos duas vezes por
ano, além das podas e roçada. Nunca realizou análise de solo ou mesmo utilizou
fertilizantes industriais, realizando somente as podas e deixando as folhas sobre o solo.
- A área de consórcio apresenta 1,0 ha e encontra-se em uma região de baixada que recebe
maior incidência dos raios solares no período da tarde. A área do consórcio apresenta-se
rodeada por uma área de pastagem que pertence a outro proprietário vizinho.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: onde o solo apresenta-se coberto por palha de côco, folhas de café e banana,
reduzindo a exposição do solo e concentrando grande quantidade de matéria orgânica
sobre.
- Água: a propriedade apresenta uma nascente dentro da área do consórcio, onde o
proprietário abriu alguns córregos para abastecer a lavoura. Porém nunca realizou a
irrigação na lavoura com a água da nascente. Apesar do período de seca na região, o solo
estava em bom estado de conservação, com alta concentração de matéria orgânica e boa
umidade, mesmo em áreas distantes dos córregos.
117
- Fauna: é comum a presença de pássaros (diversas espécies), gambás, ouriço-do-mato e
lagartos (teiú).
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: em virtude das
dificuldades que teve com assistência técnica no passado, desistiu de procurar assistência
nos dias de hoje. Atualmente não recebe assistência técnica de nenhuma instituição, porém,
comentou que o INCAPER chegou a oferecer assistência algumas vezes e que, em virtude
da falta de tempo, cansaço e falta de mão-de-obra, não aceitou, informando que sua
propriedade estava meio abandonada, pensando em vendê-la.
- Quintal: criação de galinhas, utilizando ovos e carne para consumo próprio. A esposa,
também aposentada ajuda na lavoura nos períodos de colheita do café, devido a falta de
dinheiro para pagar mão-de-obra.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: não possui nenhum custo com sua área de consórcio, inclusive com a adubação
do café que é feita com esterco e uréia de boi.
- Produção:
Produtos
Café conilon
Banana
Produção
40 sacas pilado
3 caixas de 22 kg/mês
Preço/venda
R$ 200,00
R$ 5,00/cx
Côco verde
2.000 cocos verdes
R$ 0,30 a unidade
Total
R$ 8.000,00
R$ 75,00/mês
Total
R$ 6.000,00
R$ 14.075,00
e) Principais aprendizados
- O cultivo de café, côco e banana em consórcio com a laranja, no período de
desvalorização da laranja foi essencial para o proprietário, que conseguiu se manter.
- Hoje, devido à falta de tempo e desinteresse dos filhos com agricultura na propriedade,
está desanimado e pensa em vender a propriedade. No entanto, afirmou que se tivesse
condições de reiniciar um novo consórcio, derrubaria toda a sua área de SAF´s, compraria
um trator de esteira e plantaria milho, feijão e arroz, em um primeiro momento, porque
sustenta a casa e sempre tem preço de venda, dando oportunidade de recuperar o prejuízo
investido. Enquanto que, depois, plantaria coisas para o futuro, que também lhe desse um
bom rendimento, como seringueira, eucalipto e inhame. Este último item está relacionado ao
potencial produtivo na região, conhecida pela sua produção de inhames.
- Apesar de, o consórcio ter dado certo, afirmou que os rendimentos que obteve com as
espécies que plantou foram muito baixos, indicando o plantio de outros tipos de plantas que
poderiam lhe dar mais dinheiro, como o palmito amargoso, que apesar de ter alto valor
comercial tem a limitação da legislação por ser uma espécie nativa.
118
2.20 Joelso Pereira Coutinho – Distrito de Duas Barras/Guaraparí
a) Histórico
- Área da propriedade ~ 17 ha.
- Área do SAF com café conilon + côco anão = 14,52 ha (Figura 20).
- A renda da família sempre foi obtida com a criação de gado leiteiro e de corte, com 90% de
sua propriedade utilizada para pastagem e apenas 10% para cultivo de café conilon. Com o
passar dos anos e as dificuldades financeiras para manter a criação de gado, o proprietário
foi reduzindo a área de pastagem e ampliando a lavoura de café, até que em um momento
de alta no preço do café, o fez substituir a pecuária e investir de vez no café. Com o passar
dos anos, o cultivo de café estava se tornando difícil, devido à alta do preço do fertilizante e
queda no preço da saca de café. Isso impulsionou o proprietário a implantar no ano de 2000
o cultivo de côco anão em consórcio com o café, em virtude da experiência que ele havia
acumulado em outra propriedade. Segundo ele, a escolha do côco foi porque necessitava de
pouca mão-de-obra, não necessitava de fertilizante, produzia o ano inteiro e nos meses de
calor obtinha bom preço de comercialização. Atualmente, o proprietário retira todo o
sustento de sua família do consórcio de café e côco, desistindo do totalmente da pecuária.
Além disso, o mesmo está iniciando o cultivo de cupuaçu em sua área de consórcio, como
experimento, para avaliar o desenvolvimento desta espécie junto com as outras. A escolha
do cupuaçu está relacionada com a procura por polpas na região, apresentando excelente
preço de comercialização (cerca de R$ 7,00/kg de polpa).
Figura 20 – Imagem de uma parte da área de consórcio de café coniló com coco anão, no Sitio Já
que Sabe (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café conilon (aproximadamente 3.000 pés) consorciado com côco
anão (250 pés) e frutíferas espalhadas na área como, jabuticaba, fruta do conde, cupuaçu,
manga e laranja. Na área do consórcio, o espaçamento do café é de 1,8m x 2,20m,
enquanto que o do coco anão é de 7m x 10m, com 5 pés de café entre o coco, em média.
As outras espécies vegetais, com exceção do cupuaçu que tem 10 pés ao todo espalhados
pela propriedade, estão dispostas ao redor da casa, em seu quintal agroflorestal, sendo
utilizadas para consumo próprio.
- Espécies retiradas: teve um período em que iniciou o cultivo de mandioca junto com o café
e o coco, porém a mandioca dificultou o desenvolvimento do café, sendo retirada.
- Tratos culturais: adubação com fertilizantes (20418 e 25520) em ambos. Podas no café e
aplicação de calcário para reduzir o ph.
119
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: foi realizada análise de solo com a Secta de Agricultura nos dois momentos, no início
do cultivo de café e no cultivo de café com côco. Hoje é orientado a deixar sobre o solo as
folhas do café após as podas junto com as palhas de côco. O que reduzia a exposição do
solo e concentrava grande quantidade de matéria orgânica e umidade nas áreas
sombreadas.
- Água: não realiza a irrigação da lavoura, devido a falta de um córrego próximo e dinheiro
para o maquinário.
- Fauna: observação com freqüência de algumas aves.
Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: recebe mensalmente a
visita da técnica do INCAPER e às vezes, da Secta de Agricultura. No inicio da implantação
do café, o proprietário recebeu suporte técnico da INCAPER (análise do solo, doação de
mudas e orientação sobre as podas).
- Quintal: quintal agroflorestal, com horta, árvores frutíferas (manga, jabuticaba, laranja, fruta
do conde, acerola, jambo,goiaba e banana) e galinhas para produção de ovos pra consumo
próprio.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos:com a compra de fertilizantes e calcário (não informou as quantidades) e da
contratação de mão-de-obra no período de colheita do café, porque durante a colheita do
côco, o próprio comprador da safra envia funcionários para realizar esse trabalho.
- Produção:
Produtos
Café (3.000 pés)
Côco (250 pés)
Produção
51 sacas piladas
20 côcos/pé
Preço/venda
R$200,00
R$ 0,25 - 0,50
Total
R$ 10.200,00
R$ 2.500,00
Total
R$ 12.700,00
e) Principais aprendizados
- O café com côco dá certo e rendem muito bem sem grande utilização de mão-de-obra e
custos, mas mesmo estando satisfeito com seu consórcio, se fosse possível reduziria o
número de pés de café e côco na propriedade, cultivando com mais tecnologia, qualidade,
pulverização, mudas especializadas e irrigação.
- Indica não plantar café muito próximo do côco, porque o café não cresce bem e, também
não plantar mandioca junto com o café, que dificulta a sua produção do café.
120
2.21 Jaílson Miguel – Comunidade Buenos Aires/Guaraparí
a) Histórico
- Área da propriedade = 20,5 ha.
- Área de SAF com seringueira + cacau + açaí + banana + café conilon + palmito pupunha +
laranja seleta = 20,0 ha (Figura 21).
- Na dec.70 o proprietário comprou a área e iniciou o cultivo de banana prata. Após um certo
tempo a banana passou por um período de desvalorização por causa de pragas. Em 1976
solicitou assistência do INCAPER para iniciar o consórcio de café com a banana, por que o
primeiro estava em alta no mercado, mas a resposta foi negativa para o tipo de consórcio.
Um ano depois, junto ao próprio INCAPER foi desenvolvido um projeto para o proprietário,
financiado pela Petrobrás, que permitiu ao produtor iniciar seu consórcio de café conilon
com banana prata. O consórcio funcionou e o proprietário conseguiu aumentar sua renda.
Na dec. 80 a região recebeu grande incentivo para o plantio de seringueiras recebendo
algumas mudas da prefeitura local. Posteriormente, durante uma viagem a Linhares (norte
do Estado), o surgiu o interesse pelo plantio de cacau, porque na época estava dando bons
rendimentos. Consultou novamente o INCAPER que desenvolveu novo projeto com
financiamento da Petrobrás. Retirou o café que estava consorciado com banana em uma
área de 3ha, plantando o cacau junto com a banana, porém esta não desenvolveu bem.
Depois, com o desenvolvimento da seringueira, o proprietário ampliou o cultivo do cacau,
plantando-o entre as seringueiras e experimentou plantar laranja seleta junto como cacau na
área em que a banana havia sido prejudicada, dando certo ambos os consórcios. Há três
anos atrás, em virtude do desenvolvimento dos consórcios, o proprietário plantou palmito
pupunha e açaí em algumas áreas entre banana e seringueira. Hoje o proprietário é um dos
grandes produtores de cacau da região e está implantando um novo consórcio de feijão,
milho e seringueira numa área de 200 m2.
Figura 21 – Imagem de uma parte do consórcio com cacau parazinho e seringueira no Sitio Boa
Sorte (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: banana prata, café conilon, cacau parazinho, seringueira, palmito
pupunha, laranja seleta, feijão, milho e açaí. O proprietário não informou os espaçamentos
das espécies presentes no consórcio e nem a quantidade de cada uma delas.
- Tratos culturais: foi realizada análise de solo no início do consórcio, utilizou adubo orgânico
em todas as espécies e depois chegou a utilizar Roundap em algumas áreas do consórcio
anos atrás, porém em virtude do surgimento de uma nascente no terreno, desistiu de usar.
Além disso, realiza apenas podas na seringueira, cacau e no café.
121
- A propriedade está a 310 m de altitude, em uma região de vale, na baixada, recebendo
maior insolação no período da tarde. A propriedade está nas proximidades de uma mata
nativa.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: além da análise de solo, o proprietário usou Roundap e fertilizantes há muitos anos
atrás.
- Água: após o desenvolvimento da seringueira junto com a banana em uma das áreas do
consórcio, surgiu uma nascente em sua propriedade, que o produtor aproveitou para criar
um córrego dentro da área do consórcio. Hoje a água proveniente da nascente é utilizada no
consumo de sua propriedade, devido a sua qualidade e não é utilizada para irrigação.
- Fauna: aves como, jacus e tucanos; pequenos mamíferos, como pacas, gambá, macacobugiu, macaco-prego e mico-estrela; tatus, lagartos e iraras é freqüente em sua propriedade,
sendo os macacos alimentando-se de bananas e cacau, enquanto as aves, do açaí.
- Flora: surgimento de algumas espécies nativas que se encontram também na mata nas
proximidades de sua propriedade.
- Quintal: uma horta com cultivos de ervas e hortaliças.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: atualmente recebe
assistência técnica do INCAPER, da Secta de Agricultura. Acessou recursos do Pronaf.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: no consórcio é zero. Os custos são relativos à mão-de-obra no período da colheita
da borracha, do café e do cacau.
- Produção:
Produtos
Café no SAF
Cacau parazinho
Produção
15 sacas pilado
80 sacas
Preço/venda
R$ 200,00/saca
R$ 270,00/saca
Total
R$ 3.000,00
R$ 21.600,00
Banana prata
Seringa
100 cxs/mês
1.000 kg/mês
R$ 5,00/cx de 22 kg
R$ 2,50/kg
R$ 500,00
R$ 2.500,00
R$ 27.600,00
Total
e) Principais aprendizados
- O cultivo de seringueira e cacau em consórcio é excelente, devido a redução dos custos
com mão-de-obra (manual), produção rápida e alta rentabilidade. Porém, o plantio do cacau
tem que ser após três anos o plantio da seringueira, por que se ocorre ao mesmo tempo, o
cacau não dá certo.
- Um grande erro que cometeu, foi ter desmatado uma área de mata nativa, onde realizou
um cultivo de cacau em consórcio e, depois não conseguiu mão-de-obra para realizar a
colheita, vendo o apodrecimento do cacau na lavoura.
122
2.22 Edival de Freitas Monteiro –- Sítio Córrego Jacarandá/Guaraparí
a) Histórico
- Área da propriedade = 34 ha.
- Área do SAF com seringueira + cacau em 9,7 ha (Figura 22).
- Quando a propriedade foi comprada em 2003, já possuía o consórcio de seringueira com
cacau parazinho.
Figura 22 – Consórcio de seringueira com cacau parazinho em área de baixada no Sitio Córrego
Jacarandá (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo e desenho dos SAF’s
- Espécies presentes: a seringueira foi plantada com espaçamento de 7m x 3m, enquanto o
cacau, com espaçamento de 4m x 3,5m. Não informou a quantidade.
- Tratos culturais: podas nas seringueiras e no cacau e aplicação de fungicida para
cicatrização das seringueiras (Belati com xadrez) após a retirada da borracha, somente.
c) Aspectos Sócio-ambientais e Organizativos
- Solo: observou-se que todo o solo estava coberto por um tipo de leguminosa,
concentrando uma grande quantidade de matéria orgânica e reduzindo a sua exposição.
- Fauna: é observada com freqüência a visita de pássaros e lagartos na área do consórcio.
- A área da propriedade encontra-se em uma região de baixada, ao lado da encosta de um
morro e de uma pastagem, recebendo insolação com maior intensidade, apenas na parte da
tarde.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: o proprietário não recebe
nenhum tipo de assistência técnica.
- Quintal: tem uma granja, com galinhas e uma horta, onde retira alimentos para consumo
próprio.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: fungicida e a contratação de mão-de-obra para a colheita da seringa.
- Produção:
- Seringa: 2.500 kg/mês, sendo comercializada por R$ 2,48/kg = R$ 6.200,00
- Cacau: por ser novo, ainda não produziu.
123
e) Principais aprendizados
- O plantio da seringueira é muito lucrativo, produzindo em média com 6 anos, e após a
primeira safra, o produtor consegue produzir todos os dias e não precisa de muita mão-deobra, basta deixar que a natureza cuida. Enquanto que a produção do cacau é mais lenta.
124
2.23 Domingo José de Almeida Castro – Fazenda Âncora/Guaraparí
a) Histórico
- Área da propriedade = 97 ha.
- Área de SAF com Seringueira + Cupuaçu = 28 ha (Figura 23).
- O proprietário é Engenheiro Agrônomo e iniciou o cultivo com seringueira na dec. 80,
quando a região recebeu grande investimento para a implantação desta cultura. Recebeu
muitas mudas da Prefeitura e do INCAPER, criando o viveiro do Jacu. Na déc. 90 o
proprietário resolveu ampliar sua renda e tentou cultivar cupuaçu junto com a seringueira,
indo ao Banco do Brasil solicitar um empréstimo que não foi concedido, devido o tipo de
atividade. Em 2003 o proprietário tentou novamente e conseguiu um empréstimo no mesmo
banco, alegando que a atividade não era vinculada à agricultura. Iniciou então o cultivo de
cupuaçu em consórcio com seringueira. Com os resultados e rendimentos com a produção
do cupuaçu o proprietário conseguiu uma linha de crédito específica para investir na área. O
cupuaçu foi trazido (em fruto) da Bahia e foram produzidas mudas. Antes do plantio do
cupuaçu em consórcio com seringueira, o proprietário plantou café conilon, mas não deu
certo em virtude do sombreamento da seringueira sobre o café.
Figura 23 – Imagem de uma parte da área do consórcio mostrando a distribuição do cupuaçu em
relação à seringueira, na Fazenda Âncora (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e Manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: a seringueira foi plantada com espaçamento de 3m x 7m, enquanto o
cupuaçu, com espaçamento de 6m x 3m, totalizando aproximadamente 10.528 pés de
cupuaçu.
- Espécies retiradas: em um determinado período, o proprietário plantou café conilon em
consórcio com a seringueira, porém, devido ao sombreamento da seringueira, o café não se
desenvolveu bem, sendo retirado totalmente do consórcio.
- Tratos culturais: aplicação de fertilizante para ambas as espécies, realização de podas,
análise de solo, pelo menos uma vez ao ano, aplicação de fungicida para cicatrização da
seringueira após a retirada da seiva e realiza irrigação.
- A propriedade está sob um terreno de baixada, cercada por uma área de mata nativa e
recebe maior insolação no período da manhã.
125
c) Aspectos Sócio-ambientais e organizativos
- Solo: análise de solo, ao menos duas vezes por ano e mantém um sistema de irrigação da
lavoura. A proximidade das seringueiras cria um dossel que impede a exposição do solo,
projetando sombra durante todo o período do dia.
- Água: a propriedade tem um pequeno rio, de onde o proprietário retira água para a
irrigação da lavoura. Além disso, a propriedade encontra-se em uma área de baixada, de
várzea, concentrado grande umidade durante todo o período da tarde.
- Fauna: é observado muitas aves, lagartos (teiú), cobras (jararaca) e siriemas.
- Quintal: a propriedade tem em uma pequena área o plantio de feijão e milho que são
utilizados para consumo próprio, e recentemente, o proprietário plantou açaí e palmito
pupunha nas margens do rio com o objetivo de protegê-lo. A área do meeiro tem criação de
galinhas e patos, duas vacas para retirada de leite, uma horta e árvores frutíferas em seu
quintal, como manga, goiaba, laranja e acerola, tudo para seu próprio consumo.
- Observações gerais sobre organização social/ATER/capacitação: atualmente a única
instituição que fornece assistência técnica à propriedade é a Cooperativa da Borracha,
enquanto que o cupuaçu, o próprio proprietário realiza os tratos culturais, como podas e
aplicação de fertilizantes. O Banco do Brasil participa somente na parte financeira, durante o
período de safra do cupuaçu e comercialização. A seringa é vendida para a fábrica da
Michellin em São Mateus.
d) Aspectos Econômicos
- Gastos: adubo (fertilizantes), fungicida e com a mão-de-obra durante a colheita da seringa
e do cupuaçu. O sangrador recebe por safra da seringueira 30% da produção, enquanto que
o cupuaçu, o meeiro não soube informar o valor pago.
- Produção:
Produtos
Seringa
Cupuaçu
Produção
10.000 kg/mês
800 kg de polpa
Preço/venda
R$ 2,48/kg
R$ 3,00-8,00/kg
Total
R$ 24.800,00/mês
R$ 2.400,00 – 6.400,00
e) Principais aprendizados
- Não indica o plantio de café conilon entre a seringa, porque esta provoca muita sombra e
impede o desenvolvimento do café.
- O plantio de cupuaçu com seringueira não é tão vantajoso, porque o cupuaçu precisa de
muita água e luz, alem do preço de comercialização não compensar em virtude da mão-deobra que se tem para a colheita, e retirada da polpa que é feita manualmente. Segundo ele,
o despolpador é vendido apenas para agricultores que produzem acima de 60 t de polpa.
126
REGIÃO NORTE
1. MUNICÍPIOS E INFORMAÇÕES GERAIS
- Nesta região foram visitados os municípios de Sooretama, São Mateus, Linhares, Jaguaré,
Águia Branca e São Gabriel da Palha.
- Em Sooretama o técnico local do INCAPER tem formação de Técnico Agrícola e está na
instituição há 8 meses especialmente para trabalhar a questão da adequação ambiental nas
propriedades rurais. Trabalha na região desde 2000. A área de atuação é mais voltada para
a fruticultura que é a demanda da região (mamão, banana). Há um incentivo do Estado ao
plantio de Seringueira, devido a crescente demanda. Em Sooretama tem uma fábrica de
beneficiamento de borracha da Michellin. Há um êxodo rural muito grande, os jovens não
ficam mais na roça e isso agrava a questão da mão-de-obra escassa e o uso de veneno,
pois o agricultor reclama do excesso de trabalho. 90% dos produtores da região usam
veneno. O escritório do INCAPER é na sede da prefeitura e a equipe conta com 1
Engenheiro Agrônomo. O desafio de desenvolver produção agroecológica na região foi
citado como um aspecto importante a ser trabalhado pela instituição.
- Em São Mateus as visitas foram articuladas por um técnico da ONG APTA (Associação de
Programas em Tecnologias Alternativas). Esta organização teve um papel fundamental na
implantação das primeiras experiências de SAF’s no Estado. A organização tem como
perspectivas para as ações relacionadas aos SAF’s a abertura de novas áreas a serem
implantadas, focando um novo público, os jovens e quilombolas que já têm práticas próprias
de cultivo. Apesar da organização não ter dado continuidade às atividades relativas aos
SAF’s, alguns agricultores continuaram fazendo ao seu modo. Dentro das estratégias
futuras estão focando os quintais agroflorestais, por serem espaços de diversificação para o
consumo e para a feira e por ser um incentivo à aceitação dos SAF’s.
- Em Linhares, as áreas visitadas são acompanhadas pelo INCAPER em parceria com a
CEPLAC. O INCAPER local identificou as propriedades que possuíam algum tipo cultivo em
consórcio, mediante um levantamento feito por solicitação da CEPLAC, para a verificação
da existência de vassoura de bruxa no município de Linhares. A partir deste levantamento,
foram constatadas mais de 300 propriedades que apresentavam cultivo de cacau em
consórcio, a grande maioria formada por grandes propriedades com alto investimento
agrícola. Diante disso, a técnica do INCAPER que acompanhou as visitas informou que a
assistência aos SAF’s está mais focada nos grandes produtores de cacau no município, não
havendo um plano de assistência técnica voltado para as pequenas propriedades. O
município possui cerca de 300 propriedades de cacau em mata de cabruca, sendo mais da
metade das propriedades localizadas na bacia do Rio Doce, áreas de difícil acesso, que em
períodos de cheia do rio ou mesmo de chuvas fortes, torna-se inviável a visitação.
- Em Jaguaré o técnico local informou que as propriedades visitadas iniciaram seus cultivos
em consórcio por conta própria e sem assistência técnica ou mesmo conhecimento do
escritório local do INCAPER. Muitas propriedades iniciaram o consórcio com a produção de
seringa por meio de incentivo do Estado na dec. 80 e, depois, com o cultivo do cacau, com a
chegada da CEPLAC em Linhares, que forneceu diversas mudas clonais aos proprietários.
Para os produtores de seringa, há uma cooperativa chamada Quirino, que assiste os
produtores de borracha na região, fornecendo mudas, ajudando nas podas, pulverização de
painéis, colheita e na compra da produção de borracha dos proprietários. Enquanto que,
para o cacau, a CEPLAC fornece assistência técnica aos produtores, na realização de
podas, pulverização e adubação, por meio de um técnico que visita periodicamente as
propriedades no município, realizando também assistência sanitária à lavoura e preventiva
ao ataque de vassoura-de-bruxa.
127
- Em São Gabriel da Palha as experiências com SAF’s são de conhecimento do INCAPER,
embora as idéias e iniciativas de implantação dos sistemas consorciados, tenham sido
realizadas pelos próprios proprietários, sem consulta aos órgãos locais e sem investimento
externo. As assistências são realizadas mediantes as solicitações dos proprietários e não há
um programa de assistência técnica específico para os SAF’s no município. Como em
Jaguaré, os produtores são assistidos pelo INCAPER e também pela Cooperativa Quirino,
que além de comprar a produção de borracha de alguns proprietários, fornece assistência
nas podas, pulverizações e nos dias de colheitas.
128
2 ÁREAS VISITADAS
2.1 Isaías Braga e Maria da Penha Braga – Comunidade Calçado/Sooretama
a) Histórico
- Área da propriedade: 3,2 ha (Figura 24).
- Área do SAF em área de reserva (APP) com Cacau + açaí + cupuaçu + seringueira ~
1000m2.
Figura 24 – Fauna presente na área de SAF na propriedade da família Braga em Sooretama (Foto:
Verônica Bonfim)
- O produtor Inseriu as 3 espécies dentro da reserva há 2 anos, depois de acessar um
recurso do Pronaf Mulher (cerca de R$ 2.000,00). Investiu na área e na compra de
carneiros, mas devido à seca acabou com a criação dos animais, pois não tinha capim para
alimentá-los. A cabra também demandava muito tempo, segundo o produtor. A área, que
tem um córrego que passa dentro dela, já foi uma lavoura de café. Depois deixou regenerar
e plantou cacau, açaí e cupuaçu a partir de sementes que coletava ou conseguia trocando
com vizinhos.
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: cacau, açaí, cupuaçu e seringueira dentro da área de mata em
espaçamento 3 x 3m para cada. O açaí está próximo ao córrego. A seringueira está na beira
da estrada cercando a parte de cima da área. O cacau e cupuaçu distribuídos dentro da
área de forma aleatória e muitas mudas surgiram posteriormente ao plantio por dispersão
natural ou animal das sementes.
- Espécies retiradas: retirou algumas espécies para entrada de luz no sistema. Não
especificou as espécies.
- Tratos culturais: não aduba a área e nem usa veneno. A área só foi adubada com produto
químico 1 vez. Usava urina de carneiro, supersimples no plantio e agrosilício (corretivo).
Desbaste para entrada de luz no sistema. O próprio sistema se encarrega de fazer a
cilclagem, gerar matéria orgânica.
- A propriedade tem a reserva, numa área declivosa de aproximadamente 1.000m2, onde ele
inseriu as espécies. Outros subsistemas são: área de pasto abandonada na parte mais alta
e plana, área com culturas agrícolas acima do pasto e o quintal. Estas áreas não têm uma
interligação direta. Na área acima do pasto tem feijão, milho, quiabo, amendoim, cana e
abacaxi.
129
- O SAF está em área declivosa e com insolação regular, pois devido a mata presente e por
ser um talude na baixada, o sol não incide diretamente.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: muito fértil em área de reserva, próximo a um curso d’água e com significativa
camada de matéria orgânica.
- Água: tem um pequeno córrego que passa dentro da área e que abastece a propriedade.
Se não fosse pela mata já teria secado, segundo o produtor.
- Flora: o SAF está inserido numa reserva com espécies nativas próxima ao córrego, ou seja
em área e APP. Muitas espécies presentes em toda a área (reserva e quintal), tais como,
palmeira tucum, mamica-de-porca, embaúba, mululo, beriba, jibatão, pau-pombo (muito
atrativo para abelha), ingá, côco, abacaxi, acássia etc. Muitas foram dispersas pelo vento ou
animais.
- Fauna: tem um bando de macaco sagüi (aproximadamente uns 10) que vive na área e que
é bastante dócil, segundo o produtor. Sabiá, teço-teco, alaçari, lagarto, tucano branco e
gambá também são observados com freqüência.
- Quintal: tem um quintal que está bem próximo do sistema. No quintal tem uma área com
abacaxi, galinhas, açaí, cacau, 10 caixas de abelha, hortaliças, verduras, frutas (nêspera,
manga, jabuticaba, goiaba), cana, ervas medicinais (cidreira, erva-doce, aroeira). Tudo é
utilizado para o consumo dele e da esposa.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: o INCAPER é quem acompanha de
forma não sistemática. Tem assistência particular de empresas que vendem produtos aos
agricultores.
d) Aspectos econômicos
- A renda dos dois é proveniente de aposentadoria. Os dois trabalham juntos na área. O
café rende muito pouco, vendem o que sobra, tudo é para o consumo, pois os filhos já
saíram de casa e não têm mão-de-obra disponível.
e) Principais aprendizados
- Não foram mencionados.
130
2.2 Wanderlei Morgan – Córrego Chumbado
a) Histórico
- Área da propriedade: 250 ha.
- Área de SAF de café conilon + cedro em área = 19 ha (Figura 25).
- Área de SAF de cedro + cacau em área = 1 ha.
Figura 25 – Área de SAF com café e cedro na propriedade do Sr. Wandelei Morgan em Sooretama
(Foto: Verônica Bonfim).
- O produtor iniciou o sistema há 4 anos, como uma experiência para ver se o cedro seria
compatível com o café. Observou que algumas plantas vinham se desenvolvendo bem com
o café e resolveu testar, pois o cedro tem um apelo comercial forte. A madeira dele é usada
para alguns fins específicos, sendo que outras não serviriam tão bem. A primeira idéia de
inserir árvores no sistema foi após a lavoura sofrer um ataque de mandruvá. Resolveu
inserir o componente arbóreo para que este pudesse servir de abrigo de pássaros, inimigos
naturais da lagarta.
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café com cedro em espaçamento de 3,2 x 1,8m e 15 x 7m,
respectivamente. Onde o cedro está mais espaçado está melhor, com tronco mais robusto e
maior DAP. Quando fez desrama o cedro parou de crescer, agora deixa com os galhos e
copa maior. O cacau com cedro está em espaçamento 3 x 5m. Tem sapucaia, jequitibá e
macanaúba em uma das áreas de cedro com café.
- Tratos culturais: adubação química e orgânica (esterco de galinha e palha de café).
Cobertura morta na área em volta do café.
- O consórcio está em área plana e com insolação direta.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: arenoso e bastante seco pelo déficit hídrico. Em toda a área, incluindo os consórcios,
significativa camada de matéria orgânica com manutenção da umidade.
131
- Água: a região tem uma característica de platôs e formação de bacias ou depressões que
retém a água da chuva, formando pequenos lagos que funcionam como reserva. A seca é
um fator limitante para a produção agrícola na região.
- Flora: Tem algumas nativas misturadas no consórcio e área de mata bem preservada.
Segundo o produtor, o município tem serca de 40% de área preservada.
- Fauna: variedade de pássaros (sabiá da praia, anum, gavião etc.); biodiversidade
associada (vários ninhos nos cedros).
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: o fato de ser Engenheiro agrônomo
dispensa assistência externa. O produtor é responsável pelo manejo da área, pela
fabricação do composto orgânico, pela formulação para a adubação química, escolha das
mudas de cedro e de café (ambas clonadas).
d) Aspectos econômicos
- Gatos: adubação química, defensivos (fungicida, herbicidas e inseticidas), mão de obra
(colheita, secagem) e implantação da lavoura, gasta cerca de R$110,00 – 140,00/saca de
café na lavoura implantada, fora custos de investimento inicial.
- Produção:
- não informou detalhes sobre os rendimentos.
- a saca de café é vendida a R$ 200,00 na região. No consórcio de cacau com cedro, onde o
primeiro tem competido por água e está bem enfraquecido, colheu 120 sacas/ha Já está na
quarta colheita. Se não fosse pela seca colheria mais. É uma propriedade muito grande
(250ha) com muitos funcionários, cuja renda principal é o café. Vai comercializar o cedro
quando estiver no ponto de corte, mas ainda não sabe para quem e por quanto.
e) Principais aprendizados
- É importante observar as diferentes variáveis (solo, clima etc.);
- Cedro é muito bom com o café, mas dependendo da situação tem que ter cuidado.
Sistema radicular superficial, demanda solo fértil e acima de 1000mm de precipitação.
- Valor do cedro R$3.000,00/m3 /st e R$ 700,00/m3 em 2006, isso é um motivador, pois é
uma espécie economicamente viável para o SAF.
132
2.3. Luiz Gonzaga Mantegazim Filho (Sr. Neném) – Comunidade Santo Antônio/São
Mateus.
a) Histórico
- Área da propriedade: 12 ha.
- Área de mata nativa = 4,48 ha.
- Área do SAF com café conilon + jaca + pimenta-do-reino + teca + palmeira real + caju +
sapucaia + jamelão + jenipapo + ipê + louro da costa rica = 0,5 ha (Figura 26).
Figura 26 – Área de SAF com café, jaca, palmeira real, pimenta-do-reino, caju e outras, na
propriedade do Sr. Neném em São Mateus (Foto: Demétrius Silva).
- Começou o sistema há 15 anos participando das reuniões e encontros da APTA. Foi um
dos primeiros experimentadores. No início a APTA começou incentivando o plantio de café
com árvore (ingá e acácia), mas não funcionou muito, pois o café ficava bonito, mas não
produzia. Nessa época era tudo orgânico, os técnicos tinham uma ação mais voltada para
plantação e adubação etc. Depois a APTA incentivou o plantio de caju e ele resolveu
experimentar, se não desse certo tiraria, mas foi a espécie mais compatível com o café.
Depois, já com uma visão mais agroflorestal na linha de Ernst Göest, veio a questão da
complexificação e do fortalecimento da terra para o plantio. Atualmente tem um sistema
menos complexificado, iniciado em 1992. Depois os companheiros que participavam foram
desanimando e saindo. O produtor comentou que a APTA tinha uma atuação mais forte
nessa época.
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: jaca, caju, sapucaia, jamelão, café, teca (6 anos), pimenta-do-reino,
ipê, louro da costa rica, jenipapo, palmeira real. O espaçamento do caju: 10 em 10m; para
cada linha de pimenta-do-reino, plantado de 5 em 5m uma linha de café no meio plantado
em espaçamento 1,5 x 2,0m. A teca está cercando a área na beira da estrada em
espaçamento de 4 x 4m. As outras estão dispostas de forma aleatória.
- Espécies retiradas; foi desbastando o sistema à medida que viu que estava muito
sombreado. O ingá foi o primeiro a ser eliminado por não ter sido compatível com o café e
por não ter cloreto de potássio que induz maior carga ao café, segundo o produtor. O critério
para retirar também foi em função de espécies que poderiam causar transtorno com o
IBAMA na época de corte, como calabura, ipê (nativo), jamelão. Deixou as frutíferas.
- Tratos culturais; poda de condução na jaqueira desde jovem. Tira os galhos, deixa a gema
apical. A jaca é conduzida para fins madeireiros; poda do café e do caju que não necessita
muito; usa adubação química 2 x/ano NPK 19-05-19; cobertura do solo com galhos e folhas
para matéria orgânica. Usa Roundup na lavoura de vez em quando. Tem vizinhos que usam
133
muito veneno pesado em área próxima à dele. Já usou caldas, urina de vaca e faz
adubação verde em outra área. A adubação verde na área de cultivo agrícola é usada para
substituir o químico, devido o alto preço do fertilizante.
- A propriedade tem a área de mata, um brejo, o SAF, cultivo agrícola com café clonal, milho
e feijão e o quintal. Acima da área de mata tem outra área plana com produção de café,
milho e feijão. A propriedade possui diferentes subsistemas que não possuem uma
interligação direta, embora pela proximidade da mata, espécies novas estão surgindo no
sistema em função da dispersão de sementes (vento e animais). A mata também possibilita
um ambiente mais ameno dentro da propriedade e a conservação do solo, água, fauna e
flora.
- O SAF está em área com leve declive e com insolação o dia todo.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: solo arenoso, onde está exposto apresenta-se ressecado e compactado. Onde está
coberto com palha de milho, café e restos de poda das lavouras, está úmido, com boa
retenção de água e poroso. O SAF foi implantado em solo fraco e o sistema foi responsável
por recuperá-lo ao longo dos anos. Tem plantado feijão-de-porco, lab-lab e feijão guandu
como adubação verde em outra área de café, milho e feijão para recuperar o solo. Presença
de espontâneas como caruru, segundo o próprio produtor, indicadora de fertilidade e picão.
- Água: já foi farta, mas com as lavouras de mamão e a barragem em área acima, além da
estiagem, reduziu muito. Na propriedade eles têm água disponível e usam sistema de
irrigação.
- Flora: tem uma área de reserva de 4,84 ha ao lado do sistema e na parte mais alta. No
sistema ele foi enriquecendo a partir da reprodução das mudas que recebia da APTA. A
semente de teca deixava na água por uma noite para quebra de dormência, secava em
sacos e plantava em sacolas.
- Fauna: tinha muita paca, hoje não mais. O produtor alegou que tem muita caça na região.
São observados com freqüência, animais como gambá, tatu, juriti, lagarto, pássaros
diversos, coelho, cobras (jibóia, cobra verde, coral). A jibóia o produtor mata porque,
segundo ele, dá prejuízo, pois estava comendo os pintinhos.
- Quintal: tem um quintal que está bem próximo do sistema. No quintal tem uma área com
abacaxi, galinhas, porco, isolados com cerca elétrica, manga, mandioca, ervas medicinais,
côco, urucum, maxixe, tomate, produtos para a despesa da família. A mulher trabalha na
lavoura também e na colheita de pimenta-do-reino em outras áreas. Os produtos advindos
do quintal são para o consumo da família.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: o produtor participou de muitos
encontros, visitas de intercâmbio e reuniões com a APTA que era quem dava assistência na
época. Hoje conduz tudo sozinho. A mão-de-obra é familiar, mas encontra muita resistência
aos SAF’s, especialmente do filho, apesar de ter uma experiência com muitos resultados
visíveis. Está isolado com a experiência, nenhum vizinho deu continuidade. Não participa de
STR ou associação.
d) Aspectos econômicos
- No início era tudo orgânico, mas depois foi desanimando, pois o trabalho era grande e o
café que tinha uma produção menor, mas era bom, tinha o mesmo preço dos outros.
- Gastos: adubação foliar apenas. Gasta bem menos no SAF que nas outras áreas. Utiliza
200L e aplica 2 x/ano. Aplica o equivalente a 10 bombas (20L cada) e gasta 700g/bomba. O
Kg custa R$40,00.
- Produção em 0,5 ha de 40 sacas de café * R$200,00 = R$ 8.000,00.
134
e) Principais aprendizados
- Utilizou o que aprendeu e foi adaptando, testando o que era melhor.
- Dificuldade: se tivessem mais famílias unidas no SAF ele teria mantido orgânico até hoje,
pois teriam como vender coletivamente. A cultura do convencional é muito forte.
- Segredo para dar certo é não adensar o sistema, as espécies têm que “respirar, pegar sol
e vento”, especialmente o caju;
- Importante antes de implantar um sistema saber qual o objetivo e o que se quer plantar e
primeiro fortalecer o solo se estiver fraco utilizando um composto orgânico. Depois faz o
coveamento (1,2 x 2,5m e 0,4 cm de profundidade), insere o café e a pimenta intercalados,
no caso de um sistema como o dele. Depois planta o caju e vai manejando e inserindo
outras espécies. Com 7 meses não precisa preocupar com adubo nesse sistema. O
importante é conduzir o sistema para não dar muita sombra.
- Se não tivesse desbastado já tinham perdido tudo em termos de produção e se tivessem a
mata fechada o IBAMA impediria o corte no futuro;
- Tem que trabalhar o SAF pensando em colher no futuro e fazer planejando bem para não
dar errado.
- Poda da jaca com o corte dos brotos e manejo dos galhos, poda de condução para
engrossar o tronco com objetivo madeireiro. Corta a ponteira para que a árvore cresça em
diâmetro, pois assim ela perde força no sentido vertical. Se fosse com objetivo de colher o
fruto teria que deixar a copa frondosa e não cortar os galhos.
- Num sistema como esse que a produção não é grande, tem que ter uma lavoura grande
para compensar.
- “Uma andorinha só não faz verão”.
- Espontâneas; tem mato de terra boa, que indica solo fértil (caruru) e mato de terra ruim,
mas este também melhora a terra, vai crescendo, depois morre e deixa matéria orgânica.
- Adubação verde: usa em substituição ao adubo químico, para terra deficiente de ‘P’. Não
gosta muito do feijão guandu e o lab-lab produz pouca massa. Quer testar a mucuna anã.
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2.4. Ítala Pestana Durão – Fazenda Lagoa do Durão II/Linhares.
a) Histórico
- Área da propriedade = 200 ha.
- Área com cultivo de seringueira = 12 ha.
- Área de SAF’s - cacau e seringueira = 1,5 ha (Figura 27).
- Na dec. 80 quando foi criada a Superintendência da Borracha, o Município de Linhares
recebeu grande investimento e incentivo para o plantio de seringueira. A proprietária
resolveu investir a partir daí, substituindo área dedicada ao cultivo de cana-de-açúcar por
seringueira (200 ha), dando inicio a produção de borracha na propriedade. Há 5 anos, em
virtude da grande produção de cacau no município, a proprietária resolveu plantar cacau em
consórcio com a seringueira, com a intenção de aproveitamento de espaço, redução da
queda de seringueira por vendavais, comercialização e porque o cacau adaptava-se bem a
áreas sombreadas.
Figura 27 – Imagem de uma parte do consórcio de seringueira com cacau, na Fazenda Lagoa Durão
II (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: seringueira consorciada com cacau. A seringueira foi plantada há
mais de 20 anos, enquanto que o cacau há 5 anos. Em toda área do seringal há
aproximadamente 10.000 pés de seringa e 5.400 pés de cacau clonado (CCN51, PH16 e
TSH1188) dentro de 1,5 ha de consórcio. A seringa foi plantada com espaçamento de 7m x
3m, enquanto que o cacau foi plantado entre a seringa com espaçamento de 4m x 3m. Além
do consórcio de cacau com seringa há alguns pés de banana-prata plantados de maneira
desordenada entre o consórcio e o seringal.
- Espécies retiradas: no histórico da propriedade não houve retirada de espécies, somente
algumas seringueiras que foram derrubadas pelo vento e alguns clones de cacau que não
se adaptaram, devido a pouca luminosidade no local, segundo o técnico da CEPLAC que
acompanha a área.
- Tratos culturais: análise de solo, adubação de solo com fertilizantes, supersimples (à
lanço), Nitrogênio e Potássio (via irrigação) e pulverização no cacau. Além disso, o
proprietário realiza a poda uma vez por ano, nos meses de agosto e setembro, deixando o
material foliar originado das podas sobre o solo. Todo o cultivo é irrigado diariamente por
bombeamento.
- O consórcio está localizado em uma área de tabuleiro que recebe apenas 40% de
luminosidade, segundo o técnico da CEPLAC. A área de consórcio está dentro de um
136
seringal de 200 ha, que está conectada com uma área de mata nativa com nascentes em
seu interior. A área de consórcio (1,5 ha) está dentro de um seringal de 200 ha, que está
conectado com uma área de mata nativa de 5,0 ha, com nascentes em seu interior.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: no início do plantio do cacau foram realizadas análises de solo e depois, durante o
primeiro ano do plantio, foram aplicados fertilizantes orgânicos, supersimples (220g) e
calcário (80g) em covas de 50 x 50 cm. O solo apresenta uma espessa camada de matéria
orgânica e mantinha-se com boa umidade, com uma exposição em torno de 40% de
luminosidade.
- Água: A propriedade possui uma área de nascente com barragem = 200 m2. Nunca foi
observado redução do nível de água na propriedade e acredita-se que o sistema vem
contribuindo nesse sentido.
- Flora: a propriedade tem duas áreas de mata nativa de 5 ha cada. Foi observado por um
dos meeiros que algumas espécies de árvores (não informou as espécies) que antes
estavam presentes apenas dentro da área da mata nativa, começaram a aparecer dentro da
área do seringal e algumas mudas de seringa começaram a brotar dentro da área da mata.
- Fauna: uma parte da área do seringal se conecta com uma área de mata nativa de
aproximadamente 200 ha, atrás do consórcio, e constantemente os funcionários da
propriedade observam na propriedade animais como, cobras (jaracaras), papagaios,
maritacas, catitu, paca, macaco-sauí, macaco-barbado, quati, gambá, caticoco e ouriçopreto.
- Quintal: dentro da propriedade os meeiros cultivam hortaliças, árvores frutíferas e criam
galinhas para o consumo próprio.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: a propriedade possui convênio com a
CEPLAC, que cuida da parte de assistência técnica do cacau, como podas, enxertia,
pulverização, adubação e direcionamento da produção. O escritório local do INCAPER
selecionou um técnico para trabalhar em conjunto com a CEPLAC, para fazer o
monitoramento das propriedades em relação aos problemas de pragas e podas ao cultivo de
cacau na região.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- gastos não disponibilizados com fertilizantes para adubação e pesticida para
pulverização;
- gasto mensal de aproximadamente R$ 500,00 com energia elétrica para irrigação
do cacau.
- dois meieiros que recebem mensalmente um salário de R$ 430,00 para cuidar da
propriedade e para colher o cacau. Além dessas funções, os meeiros também participam na
sangria da borracha, recebendo 5% da produção da seringa.
- Produção:
- a produção média é de 25 sacas de cacau/ha, que é comercializada a R$ 300,00 a
saca, enquanto que a seringa, produz em média 2.200 kg, aproximadamente o que significa
5,0 kg/árvore, comercializada a R$ 2,48/kg.
e) Principais aprendizados
- Segundo o técnico da CEPLAC que acompanha o sistema, o ideal para aquela área da
propriedade, seria plantar o cacau e a seringa com outros espaçamentos para aumentar a
produção e reduzir os custos. Orienta o plantio de seringa com espaçamento de 3m x 3m,
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distanciando 14m entre fileiras e com cacau entre as fileiras com espaçamento de 3m, para
aumentar a área de insolação do cacau. Além disso, informou que o cultivo de cacau sem
irrigação se torna impossível nesta região.
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2.5. Matuzalém Raymundo Dazzi – Fazenda Jest/Jaguaré
a) Histórico
- Área da propriedade = 484 ha.
- Área de café arábica = 150 ha.
- Área de SAF com cacau clonal + nativas = 10 ha (Figura 28).
- A área inicialmente com 100 alqueires, comprada na dec.70, era composta em sua maior
parte por mata nativa. O objetivo principal do proprietário era a extração de madeira para
comercialização. Após o inicio da extração de madeira na propriedade, o proprietário utilizou
uma área 150 ha para o plantio de café arábica. A área está localizada às margens do Rio
Barra Seca, ao lado da Reserva Nacional de Sooretama e por possuir algumas nascentes, o
IBAMA impediu a retirada de parte da mata nativa dentro da propriedade para o plantio de
cacau. Com essa situação, o proprietário deu início a um projeto para se enquadrar dentro
das exigências legais e junto ao IBAMA, SEAMA, CEPLAC, INCAPER e a Polícia Ambiental
da região, implantaram o cultivo de cacau clonal consorciado com espécies nativas em 10
ha da propriedade na década de 90. O objetivo do proprietário era de ampliar a renda
familiar e o maior aproveitamento produtivo de área de mata.
Figura 28 – Imagem da distribuição do cacau em relação as espécies nativas dentro da área de
consórcio na Fazenda Jest (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: na área do consórcio tem quatro variedades de cacau clonal, CCN10,
CCN51, PH15 e PH16 (todos plantados com mudas clonais de enxertia para maior
resistência a vassoura-de-bruxa), consorciados com diversas espécies nativas, que foram
mantidas por exigência do Ibama e, com eucalipto cloeziana, indicado pela CEPLAC, com
objetivo de reduzir a ação do vento. O cacau foi plantado no inicio do ano 2005, com
espaçamento de 3m x 3m entre as nativas.
- Espécies retiradas: a única espécie que o proprietário tem conhecimento que foi retirada foi
a boleiro, espécie que necessita de muita água, o que prejudicava o cacau.
- Tratos culturais: o eucalipto foi plantado ao redor da área do consórcio para impedir a ação
do vento e por acreditar que o eucalipto absorve muita água o proprietário retirou os pés de
cacau que estavam mais próximos desse. Realiza com freqüência podas nas espécies
nativas, com a finalidade de reduzir o sombreamento sobre o cacau, enquanto que, no
cacau realiza podas, adubação com palha de café e esterco de galinha, roçada e capina a
área do café.
- A área está localizada na região mais alta do município de Jaguaré, a 150 m do nível do
mar, segundo o técnico da INCAPER. A propriedade encontra-se nas proximidades da
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Reserva Nacional de Sooretama, margeada pelo Rio Barra Seca. A área do consórcio
recebe insolação durante todo o período do dia, porém é uma área que apresenta-se
bastante sombreada e com alta umidade. No sentido Oeste, a propriedade é cercada de
morros cobertos por mata nativa.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: em conjunto com a CEPLAC, IDAF e INCAPER, foram realizadas algumas análises
de solo na região, a fim de identificar as características do solo para plantar os exemplares
de clones mais adaptados às condições locais. Além disso, o solo recebe em média até
duas adubações por ano de fertilizantes industriais misturados com esterco de galinha e
palha de café, diretamente sobre o cacau ou via gotejamento ou fertirrigação.
- Água: mesmo com o período de seca na região, a propriedade sempre teve disponibilidade
de água, em virtude do Rio Barra Seca à margem da propriedade. Atualmente o proprietário
cria peixes nesta barragem (tucunaré, piau, tamabaqui, tamabacú, acará, carpa, tilápia e
jacaré).
- Flora: a propriedade possui aproximadamente 363 ha de mata nativa, sendo 170 de
Reserva Legal. Na área do consórcio constantemente surgem espécies vegetais
provenientes da mata nativa.
- Fauna: há ocorrência freqüente de lagartos teiú, cobras (jararacas, sucuris), raposas,
quatis, macacos (sauí, bugiu, prego, micos), tatu, perdiz, tucano, araçari, papagaios e
jacarés provenientes do Rio Barra Seca. A ocorrência se deve ao fato de ter áreas
preservadas na propriedade e também pela proximidade da Reserva de Sooretama.
- Quintal: dentro da propriedade, além da criação de peixes que não é utilizada para
consumo e nem para a comercialização, há apenas a criação de galinhas (granja). Fora do
consórcio, nas margens da barragem existem alguns pés de palmito pupunha, para o
consumo.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: além da assistência técnica fornecida
pela CEPLAC em convênio com o INCAPER, a propriedade recebe assistência técnica da
Associação de Produtores de Cacau de Linhares, uma iniciativa privada formada por
agrônomos e engenheiros.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- compra das mudas no início do projeto, sendo R$ 3,50 cada. Atualmente, os
principais custos do proprietário são com fertilizantes e com a energia elétrica utilizada na
irrigação da lavoura de cacau.
- Produção:
- Na ultima safra foram produzidas 20 sacas de cacau que foram comercializadas a
R$ 300,00 cada.
e) Principais aprendizados
- Para o proprietário o cultivo de cacau é uma atividade muito lucrativa, porém, os custos
com adubação e principalmente com irrigação, são muito elevados em relação à produção
na fase inicial.
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2.6. Braz Henrique Fiorotti & Associados – Fazenda Goreti/Jaguaré
a) Histórico
- Área da propriedade = 48,4 ha.
- Área de Sistema Silvipastoril – eucalipto + pastagem = 5 ha (Figura 29).
Figura 29 – Imagem parcial da área de eucalipto e pastagem (a frente) e eucalipto (ao fundo) na
Fazenda Goreti (Rogério Fernandes).
- O proprietário não estava presente em sua residência, impossibilitando o levantamento das
informações necessárias ao diagnóstico. Segundo o técnico da INCAPER, o proprietário é
um grande empresário da região e possui diversas propriedades em sociedade com outros
empresários, a maioria possui eucalipto com pastagem.
- A propriedade visitada apresentava aproximadamente 10 ha de eucalipto em sistema de
monocultivo e eucalipto com pastagem. Na área de eucalipto com pastagem, o eucalipto foi
plantado em fileiras duplas de 3m x 1m distantes 10m uma das outras.
141
2.7. Carlos Alberto Sartori – Fazenda São Carlos /Jaguaré
a) Histórico
- Área da propriedade = 20 ha.
- Área de consórcio com cacau clonal + seringueira = 15 ha (Figura 30).
- Na dec. 80 com o incentivo a produção de seringueira no Estado do Espírito Santo, o
proprietário comprou algumas mudas de seringa de um viveiro local e plantou 15.000 mudas
em uma área de 15 ha dentro de sua propriedade. O plantio foi assistido pelo IDAF e uma
associação local de produtores de seringa. Em 2003, iniciou o plantio com 10.000 mudas,
após realizar uma visita à CEPLAC no município de Linhares, devido à boa adaptação da
cultura ao sombreamento junto à seringueira. O objetivo era o aproveitamento de área e
geração de renda complementar.
Figura 30 – Distribuição do cacau em relação ao seringal na Fazenda São Carlos (Foto Rogério
Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: consórcio de cacau com seringueira tem aproximadamente 15 ha e
15.000 pés de seringa e 10.000 pés de cacau clonal. A seringa foi plantada com
espaçamento de 7m x 3m. Enquanto que, o cacau foi plantado entre as seringas, com um
espaçamento de 3m x 5m. Foram plantadas algumas mudas de banana prata no meio do
consórcio, sendo retirada apenas para consumo próprio, podendo ser comercializada no
futuro.
- Espécies retiradas: foram retirados alguns exemplares de clones que não se
desenvolveram bem no consórcio, substituindo-os por mudas produzidas a partir de
sementes de outros clones.
- Tratos culturais: realiza podas regularmente no cacau, deixando o material proveniente da
poda sobre o solo; pulverização no cacau uma vez por ano e no painel da seringueira, após
a sangria; fertilização no cacau com adubo químico (NPK), utilizando de 3 a 40 sacas por
ano; e irrigação diária sobre o cacau, na forma de gotejamento por mangueiras que passam
sobre cada pé de cacau.
- A propriedade apresenta aproximadamente 20 ha, sendo que a área de consórcio
compreende apenas 15 ha, com o restante da propriedade cultivada com eucalipto
(monocultura) e uma pequena área de barragem. Toda a propriedade está situada em um
terreno acidentado e inclinado, a aproximadamente 100m do nível do mar. A área do
consórcio recebe insolação durante todo o período do dia, porém o seringal impede que o
solo e a lavoura de cacau fiquem diretamente expostos aos raios solares, criando um micro
clima dentro da propriedade. A área do consórcio está próxima á área de um seringal da
propriedade vizinha, também próxima da área de plantação de eucalipto.
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c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: foram realizadas algumas análises de solo para subsidiar o plantio e a correção da
acidez. A irrigação é diária e o material vegetal proveniente das podas do cacau bem como
folhas que caem das seringueiras, são deixados sobre o solo.
- Água: houve uma redução do nível da água na barragem que ele criou para abastecimento
da lavoura, mas segundo o proprietário, em virtude da seca na região.
- Fauna: observa-se com freqüência na área de consórcio animais como gambás e sagüis.
- Flora: sem informação disponível.
- Quintal: não tem quintal agroflorestal.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: a assistência técnica é realizada pela
Cooperativa de Borracha Quirino, que dá assistência durante as podas, orientação na
pulverização dos painéis das seringueiras e compra da produção de borracha. O proprietário
quando tem alguma dúvida ou observa algo diferente em seu consórcio busca informações
com outros amigos produtores.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- adubação anual, 3 a 40 sacas/ano;
- energia elétrica para irrigação do cacau, em média R$ 400,00/mês;
- catadores (4 em média), que recebem um salário mínimo de R$ 450,00/cada; e
30% do valor total da venda da borracha para sangradores (2 mulheres).
- Produção:
- última safra rendeu 13 sacas, com preço de venda de R$ 330,00/cada e, 5.000 kg
de borracha/mês, vendidos a R$ 2,50/kg.
e) Principais aprendizados
- a excelente produção de cacau em sua propriedade se deve ao sombreamento da
seringueira, segundo o proprietário.
- os custos com custos com adubação e irrigação sobre o cacau são muito elevados,
principalmente em um período de seca, o qual a região está passando.
- acredita que deve modificar o espaçamento, mesmo reconhecendo que o sistema tem
produzido bem e que se plantar seringueiras mais espaçada o retorno poderia produzir
muito mais cacau, de forma que aumentaria o espaçamento do cacau.
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2.8. Djalma Natal Damiane/ Fazenda Damiane/Jaguaré
a) Histórico
- Área da propriedade = 250 ha.
- Área de consórcio com cacau + seringueira = 5 ha.
- Área de consórcio com seringueira + coco anão + café conilon e outras = 1ha (Figura 31).
- O proprietário tinha uma experiência anterior com plantio consorciado de cacau com outras
espécies na Bahia. Na década de 80 com o incentivo ao plantio de seringueiras pelo
governo resolveu implantar em sua propriedade o cultivo de seringa, comprando mudas de
um viveiro local. Na década de 90 passou a consorciar cacau com seringueira com os
objetivos de ampliar a sua renda e fazer um melhor aproveitamento de área.
Figura 31 – Imagem de uma área do consorcio com seringa, café conilon, banana, coco-anão e
cacau parazinho, na Fazenda Damiane (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: seringueira, cacau, coco-anão, café conilon, banana e laranja. Ao todo
são 15.000 pés de seringueira, plantados em espaçamento de 7m x 3m e 4m x 3m; 25.000
pés de cacau parazinho, em espaçamento de 3m x 3m; 1.000 pés de café conilon, sem
espaçamento ordenado; aproximadamente 300 pés de coco-anão, sem espaçamento;
alguns pés de banana e laranja espalhados entre as lavouras, sem espaçamento ordenado.
- Espécies retiradas: em virtude da falta de tempo para cuidar da propriedade, resolveu
reduzir a lavoura de café conilon, plantando mais cacau, onde havia café conilon.
- Tratos culturais: é realizada adubação, mas não com freqüência, assim como podas na
cultura de cacau e café conilon. Enquanto que para a cultura de seringueira, a cooperativa
que compra a produção de borracha, dá assistência nas podas, adubação e aplicação de
fungicida.
- O sistema encontra-se em uma área de declividade, cercada por fazendas de gado, uma
área que recebe insolação durante todo o período do dia e possui nas proximidades alguns
córregos de rios. A fazenda é dividida em área de seringal (monocultura), seringal
consorciado com cacau, coco-anão, café conilon, laranjas e bananas, além de uma área de
viveiro de mudas.
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c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: foi realizada análise de solo uma única vez no início do plantio do cacau. Não tem
nenhum tipo de trato específico, apenas restos culturais são deixados para cobertura, como
cascas de cacau trituradas com palha de café. Dentro da área do consórcio foi observado
que a exposição do solo a luz solar é bem reduzida, mantendo-se bem sombreado durante o
período da tarde, em virtude do dossel formado pelas seringueiras. O solo apresentava
umidade razoável e com uma grande quantidade de matéria orgânica, com material foliar
proveniente das seringueiras.
- Água: foi observado redução no período da seca apenas.
- Flora: sem informações disponíveis.
- Fauna: é observado com freqüência em sua propriedade, micos, quatis, papagaios e aves
(diversas).
- Quintal: a propriedade não possui quintal agroflorestal. Os proprietários não residem no
local.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: quem presta assistência técnica é a
Cooperativa de Borracha Quirino, que auxilia durante as podas, orientação na pulverização
dos painéis das seringueiras e compra da produção de borracha. O proprietário quando tem
alguma dúvida ou observa algo diferente em seu consorcio busca informações com outros
amigos produtores.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- os maiores custos eram com a adubação do café e do cacau há anos atrás.
Atualmente, o custo que o proprietário possui com sua lavoura é com o pagamento de
funcionários para a colheita de cacau e do sangrador da seringa. Para a colheita do cacau,
há dois funcionários responsáveis pela colheita e descaroçamento dos frutos, recebendo
cada, um salário mínimo, enquanto que, para a seringa, o sangrador, recebe 30% da
produção.
- Produção:
Produtos
Cacau
Seringa
Produção
10.000 kg
5.000 kg/mês
Preço/venda
R$ 320,00/saca
R$ 2,50/kg
Total
R$ 12.500,00
Café conilon
6 a 8 sacas piladas
R$ 200,00/saca
R$ 1.200 – 1.600,00
- o côco anão, a produção é vendida raramente, sendo comercializada o fruto verde, em
média R$ 0,45/cada.
e) Principais aprendizados
- O proprietário informou que no inicio da produção de seringueira o café conilon que já
havia na propriedade produzia muito bem, porém com o crescimento das seringueiras o café
foi deixando de produzir, em virtude do sombreamento.
- A produção de cacau sem a adição de fertilizantes químicos e sem irrigação é muito difícil.
O proprietário afirma que se fosse possível realizar apenas a irrigação, seria possível ter
uma produção maior de seu consórcio, especialmente o cacau.
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2.9 Edmilson Fiorotti – Fazenda São José/Jaguaré
a) Histórico
- Área da propriedade = 200 ha.
- Área com cultivo de seringueira = 18 ha.
- Área de consórcio com seringa + café conilon + feijão = 20 ha (Figura 32).
Na dec. 80 com incentivo do governo, o proprietário adquiriu algumas mudas da prefeitura
local e resolveu iniciar o cultivo de seringa dentro de sua propriedade que já possuía café
conilon. Iniciou o plantio de seringueira em consórcio com café conilon e feijão, em uma
área de 20 ha ao lado do seringal por influência do filho que estudou em escola agrícola e
observava experiências em outras propriedades. O objetivo do consórcio era proteger o
café, dando-lhe sombra, além de gerar renda e ocupação de área. Enquanto que o plantio
de feijão no interior do consórcio foi com o intuito de fornecer nitrogênio ao solo e para o
consumo da família.
Figura 32 – Imagem da área do consórcio de seringa com cacau parazinho dentro dos espaçamentos
indicados, na Fazenda Damiane (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: 18 ha com cultivo de seringueira (monocultura); 20 ha de cultivo em
consórcio, com café conilon, seringa e feijão. Dentro do seringal (monocultura) são 9.500
pés de seringas que foram plantadas com espaçamento de 7m x 3m, enquanto que na área
do consorcio, as seringas foram plantadas em fileiras duplas 2,0m x 2,5m com 10m de
distância entre fileiras. Entre as fileiras de seringueiras estão o café conilon, com
espaçamento de 3m x 1,20m e o feijão, plantado entre as fileiras de café. Na área de
consorcio são 17 carreiras de café conilon com aproximadamente 22.000 pés e 36 fileiras de
seringas, com 4.000 pés.
- Tratos culturais: utiliza fertilizantes químicos (uma vez ao ano), xorume de curral tanto na
lavoura de café conilon (monocultura) quanto na área do consórcio, fungicida nas
seringueiras no período de queda de folhas e irrigação por aspersão na área do consórcio.
Realiza ainda, podas no café e nas seringueiras do consórcio e segue com rigor os períodos
de colheita da seringa para evitar desperdícios e garantir a qualidade do látex vendido a
cooperativo Quirino.
- A propriedade encontra-se em uma área de baixada que recebe insolação durante todo o
dia. Dentro da propriedade existem áreas de lavoura de café conilon (monocultura), seringal
(monocultura), consórcio de seringa com café conilon e feijão (20 ha) e uma mata nativa
com nascentes. Além disso, uma parte da propriedade está dividida por uma rodovia.
146
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: realiza análise de solo pelo menos uma vez ao ano e mensalmente faz adubação
química no solo, utiliza xorume de curral e fertilizante industrial.
- Água: a água utilizada na irrigação da lavoura é proveniente das nascentes da
propriedade. Foi relatado que, devido a seca este ano, o nível das nascentes reduziu.
- Flora: a propriedade possui 5 ha de mata nativa.
- Fauna: a área do seringal está conectada à área de mata nativa, onde tem árvores
frutíferas e nascentes e por estes motivos observam com freqüência animais como, raposas,
cachorro-do-mato, mutum, capivaras,quati,lagartos, cobras, ouriços, bicho-preguiça,
macaco-bugiu, jacu, tucanos, macú, araponga, papagaios, maritacas, canários e sagüis.
- Quintal: a propriedade não tem quintal agroflorestal. Tem área de pastagem com um curral
de onde retira esterco e uma pequena granja para produção de aves e ovos.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: todo processo de assistência da
lavoura é realizado pelo filho do proprietário, técnico formado pela Escola Agrícola da
região. A Cooperativa Quirino, compradora da seringa produzida na área, também orienta o
proprietário quanto às podas, colheita, adubação e pulverização das seringueiras.
d) Aspectos econômicos
A área do consorcio ainda não está produzindo por ter sido plantada recentemente há 2,5
anos.
- Custos:
- contratação de funcionários para a colheita do café e sangramento das seringas;
Os funcionários que são responsáveis pela colheita do café recebem um salário mínimo,
enquanto que o sangrador recebe 25% do lucro obtido com a venda da produção do látex;
- irrigação da área do consórcio e do cafezal;
- aplicação de fertilizantes e adubos industriais (R$ 80,00/saca) uma vez por ano;
- Produção:
- produção de 3.500 kg de seringa/mês, em média, vendida a R$ 2,50/kg para a
Cooperativa Quirino = R$8.750,00/mês;
- A ultima produção de café foi de 50 sacas, mas em média a propriedade produz até
100 sacas, com venda da saca de café pilado a R$ 200,00/saca.
e) Principais aprendizados
- O sistema é satisfatório, embora o filho do proprietário afirme que, se fosse possível e se
seu pai permitisse, ele implantaria outro sistema de consórcio com seringueiras e café
conilon, mas alterando os espaçamentos das seringas e se possível plantaria cacau.
- O cafezal, que se encontra entre o seringal e a área de floresta nativa, apresenta uma
produção muito melhor do que o que está localizado em outra área onde há apenas café.
147
2.10 Durval Francisco Colli - Sitio Pedro Luiz Colli/Águia Branca
a) Histórico
- Área da propriedade = 8 ha.
- Área de SAF com seringueira + caju + café conilon + coco anão = 5 ha.
- Área de SAF com seringueira + cacau + urucum + palmito pupunha + feijão + milho, arroz
+ coco-anão + urucum = 1,5 ha (Figura 33).
- O consórcio iniciou após incentivo da prefeitura para o plantio de seringueira em sua
propriedade, onde já produziam café conilon. Plantou algumas mudas conseguidas com o
INCAPER, junto ao café e também algumas mudas de caju. O objetivo inicial era realizar um
cultivo orgânico em sua propriedade sem a utilização de agrotóxicos, permitindo a garantia
de qualidade de suas terras para seus filhos no futuro. Na dec. 90, inseriu mudas clonais de
cacau por iniciativa do filho, Engenheiro Agrônomo e funcionário da CEPLAC, porque o
cultivo de cacau com seringueira era viável e lucrativo na época. Com o tempo foram
formando novas áreas e inserindo outras espécies agrícolas e florestais como, urucum,
mandioca palmito pupunha, milho, feijão, mandioca, arroz, cedro australiano e coco-anão.
Figura 33 – Imagem de parte do SAF com palmito pupunha, palmito amargoso (ao fundo) e urucum
(à frente) no Sitio Pedro Luiz Colli (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: a propriedade é dividida em duas áreas, uma no Município de Águia
Branca, de 1,5 ha e a outra localizada no Município de São Gabriel da Palha, com 5,0 ha.
Na primeira área foram plantados 1.000 pés de urucum, com espaçamento de 6m x 3m; 200
pés de palmito pupunha, com espaçamento de 3m x 3m; 1.000 pés de seringueira, com
espaçamento de 7m x 3m; 400 pés de cacau clonal, com espaçamento de 6m x 3m; 300 pés
de coco anão, com espaçamento de 6m x 6m; e feijão guano, milho, banana, pinheiro,
cedro e arroz, todos plantados entre cacau e coco-anão, sem espaçamento. Na segunda
área foram plantados 3.000 pés de café conilon, com espaçamentos de 3m x 1m; 1.800 pés
de café conilon orgânico, com espaçamento de 3m x 1m; 1.000 pés de seringueiras, com
espaçamento de 7m x 3m; 400 pés de caju, com espaçamento de 10m x 10m; e 300 pés de
cacau clonal, com espaçamento de 6m x 3m (dados fornecidos pelo escritório do
INCAPER).
- Espécies retiradas: alguns exemplares de Acácia de dentro da área do consórcio, por ser
uma espécie que cai facilmente com o vendo e prolifera muita erva-de-passarinho, segundo
o produtor.
- Tratos culturais: como a produção é orgânica, as lavouras são tratadas com urina de vaca,
enxofre, palha de cana-de-açúcar, esterco de galinha e de porco. O proprietário não utiliza
irrigação em nenhuma de suas propriedades de SAF’s, tudo é conduzido pela natureza, de
148
acordo com a sua capacidade de suporte. Realizam podas e mantém um sistema de
irrigação artesanal criado com desvio de água do rio que passa dentro de sua propriedade,
para abastecer a área onde estão os cultivos de urucum, palmito pupunha, arroz, milho e
feijão.
- A área da propriedade que fica no município de São Gabriel da Palha possui
aproximadamente 5,0 ha e está situada em um terreno com declividade a 280m do nível do
mar, em topo de morro, recebendo sol durante todo o período do dia. Enquanto que, a área
localizada no Município de Águia Branca possui aproximadamente 1,5 ha e está situada em
uma terreno de baixada às margens de um rio, uma área que recebe luz durante o período
da tarde.
- As áreas estão interligadas através de seus diferentes subsistemas. Como o cultivo é
orgânico há um aproveitamento do esterco do gado, do frango, cultivos agrícolas servem de
alimento para a família e também para a criação animal (gado, galinha, porco e peixe). Os
restos de material vegetal retornam para a lavoura como adubo.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: o cultivo é todo realizado em sistema orgânico e é coberto com restos de poda das
seringueiras, palha de cana-de-açúcar. Utilizam adubação verde, com o plantio de feijão, em
toda a área do consórcio a fim de gerar alimento par a família e fornecer nitrogênio ao solo.
- Água: a área localizada no município de Águia Branca é cortada por um rio, o qual o
proprietário montou uma pequena barragem para abastecimento da propriedade.
- Flora: a propriedade possui 1 ha de mata nativa.
- Fauna: além das espécies nativas de peixes que aparecem dentro da sua área de
barragem, o proprietário observa com freqüência em sua propriedade capivaras, aves, como
tucanos, papagaio, sabiá, jacús, beija-flor, cobras, tatu, tamanduás e lontras.
- Quintal: o quintal agroflorestal é bem diversificado com criação de porcos, frangos, árvores
frutíferas (manga, caju), hortaliças (coentro, alface, couve, couve-flor, tomate), pimenta,
cultivo de milho, feijão, palmito, farinha de mandioca e arroz, além da criação de peixes,
tudo utilizado para consumo da família. A alimentação dos animais (porcos, frangos, vacas)
e dos peixes é realizada com ração a base de mandioca produzida no SAF.
- Observações sobre organização/ATER/capacitação: a assistência técnica é feita pela
CEPLAC de Linhares, pelo filho que é Engenheiro Agrônomo e técnicos do INCAPER de
São Gabriel e de Águia Branca. A Cooperativa Quirino também assiste e orienta no manejo
e comercialização.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- não há gastos com o sistema, pois a adubação é toda orgânica e subsidiada pelo
outros subsistemas da propriedade.
- o único custo é com a contratação de um funcionário que auxilia nas lavouras, na
colheita de mandioca, sangramento das seringas e na produção de farinha de mandioca.
- Produção:
- a renda da família é proveniente de aposentadoria e da comercialização de urucum,
mandioca e farinha de mandioca, venda da seringa (látex), frutos de coco verde, venda de
cachaça, feijão guandu, milho, caju, cacau e café conilon.
149
Produtos
Café conilon
Coco anão
Produção
95 sacas
5.000 frutos/ano
Preço/venda
R$ 200,00/saca pilado
R$ 0,45/fruto
Total
R$ 19.000,00
R$ 2.250,00
Seringa
Urucum
Pupunha
Caju
Cacau
Feijão
Aguardente
300 kg/mês
1.200 kg/ano
5 sacas
80 kg
5.000 litros/ano
R$ 2,50/kg
R$ 2,50/kg
R$ 300,00/saca
R$ 1,50/litro
R$ 750,00
R$ 3.000,00
R$ 1.500,00
R$ 7.500,00
R$ 34.000,00
Total
e) Principais aprendizados
- Segundo o proprietário, a utilização do solo para cultivo de vegetais sem a utilização de
agrotóxicos é uma alternativa viável e saudável, de forma que o ser humano pode obter
lucro com a terra sem utilizá-la demasiadamente, aprendendo trabalhar de acordo com o
seu limite. Isso é garantir qualidade de vida e comida para as próximas gerações.
150
2.11 José Jorge Viana - Sitio Santa Cruz/ Águia Branca
a) Histórico
- Área da propriedade ~ 184 ha.
- Área de SAF com côco-anão + café conilon + cacau + cupuaçu + mamão + feijão = 14,5 ha
(Figura 34).
- A área do SAF era uma pastagem no passado. Entretanto, como a propriedade possuía
muitas nascentes, o proprietário reflorestou todas estas e no restante da propriedade
plantou café conilon para gerar renda, em virtude do preço de comercialização. Depois
inseriu côco anão na área do cafezal, também com fins comerciais, para gerar renda extra.
O cacau foi cultivado para consumo próprio e posterior comercialização. Outras espécies
também foram sendo cultivadas dentro do SAF, como cupuaçu, feijão, mamão, banana e
pimenta para consumo próprio.
Figura 34 – Imagem das espécies vegetais presentes na área do consorcio (café conilon, cupuaçu,
coco anão e cacau) no Sitio Santa Cruz (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café conilon, coco anão, cacau, cupuaçu, feijão, pimenta, banana e
mamão. Dentro da área do consorcio há aproximadamente 10.000 pés de café, com
espaçamento de 3m x 3m; 2.000 pés de coco anão, com espaçamento de 8m x 8m; 300 pés
de cacau, com espaçamento de 3m x 2,5m; 200 pés de cupuaçu, plantados entre o café e o
coco anão; e o feijão, a pimenta e o mamão, sem espaçamentos específicos.
- Tratos culturais: adubação química duas vezes por ano no cacau e no café conilon;
aplicação de calcário para correção do ph do solo, uma vez ao ano e, irrigação diária na
lavoura. O proprietário informou que não realiza podas e não roça a lavoura, deixando o
material foliar que cai da vegetação se acumular sobre o solo.
- A área está em uma região de aclive sob terreno rochoso, recebendo insolação durante
todo o período do dia. A propriedade tem 3 nascentes, todas com suas margens
reflorestadas pelo proprietário. Do lado oeste da propriedade há uma área de mata nativa
que se conecta com a área reflorestada das nascentes.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: o solo é bastante arenoso. O proprietário realiza adubação, aplicação de calcário e
costuma deixar o material foliar como cobertura. Ainda assim, o solo apresenta-se com
grande exposição à luz solar, com pouco sombreamento dos coqueiros.
151
- Água: a área possui uma barragem própria que irriga a lavoura. A seca na região foi citada
como um fator problemático.
- Flora: sem informações disponíveis.
- Fauna: observa-se com freqüência, na área do SAF, jacus, micos, macaco-prego, micoestrela, sauá, sanhaços, sabias, tatu, cutias, gambás, seriemas, quatis e sabiás.
- Quintal agroflorestal: a propriedade tem uma área com plantação de eucalipto para retirada
de madeira e lenha para consumo da família. O quintal é composto de criação de aves,
como perus, pavões, e patos, canteiro de hortaliças, de onde retira temperos, tomate,
couves, além da roça de feijão consorciada com mamão e pimenta, de onde retira frutos e
feijão para consumo. Dos frutos de cacau e cupuaçu são preparados sucos e doces para
consumo. A barragem criada pelo proprietário para abastecimento da lavoura também serve
como criadouro de peixes, como tilápias, caras, carpas, tambaquis e tucunarés, para
consumo próprio.
- Organização social/ATER/Capacitação: a área não recebe nenhum tipo de assistência
técnica. As informações e dúvidas são trocadas com os vizinhos.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- o produtor tem em média um custo de R$ 2.000,00 por mês com a irrigação da
lavoura, além da contratação de mão de obra para a colheita do café nos períodos de safra
e com adubação da lavoura, realizada em média duas vezes ao ano.
- Produção:
Produtos
Café conilon
Côco verde
Produção
1.000 sacas
30.000
Preço/venda
R$ 205,00
R$ 0,09/ud
Total
R$ 205.000,00
R$ 2.700,00
Cupuaçu
Cacau
200 frutos
3 sacas
R$ 1,50
R$ 290,00/saca
R$ 300,00
R$ 870,00
R$ 208.870,00
Total
e) Principais aprendizados
- O sistema é produtivo, mas necessita de assistência. Atualmente a renda da família é
proveniente do sistema e o café é o principal produto, pois o mercado consumidor já está
estabelecido. Os fatores limitantes para os demais produtos, como cupuaçu, cacau e côco,
especialmente o cacau são a água e adubação, segundo o produtor.
- A despolpa do cacau e cupuaçu demanda muito trabalho por não ter despolpador e a
renda não é satisfatória, tendo em vista os custos com irrigação.
- O proprietário informou que para a manutenção de um consórcio como o dele é preciso
realizar investimentos altos, como adubação e pulverização, além da irrigação que requer
um alto custo de energia. Segundo ele, se tivesse que implantar uma lavoura, cultivaria
somente produtos que tivessem boa saída de mercado, para evitar o que aconteceu com
sua lavoura de côco, que em virtude do baixo preço de comercialização está abandonada e
destruída aos poucos por pragas.
152
2.12 Elias Quiriri – Sitio Córrego do Ouro/Águia Branca
a) Histórico
- Área da propriedade = 10 ha.
- Área de SAF’s com coco-anão + café conilon + cacau + cedro branco + cedro rosa + ipê +
manga = 5,0 ha (Figura 35).
- Área de lavoura de café conilon = 3,0 ha.
- A família tem uma tradição no cultivo de café conilon. O produtor cultivava tudo o que o
mercado demandava no momento e experimentou diversos cultivos em consórcio em sua
propriedade, sempre em função da cultura principal, o café. Durante 35 anos plantou
acerola, banana prata, limão, côco anão, feijão, todos consorciados com o café conilon. A
oscilação de mercado para os produtos foi citada como um fator desestimulador para maior
investimento da área. O cupuaçu e o cacau foram implantados na propriedade em virtude de
uma experiência observada pelo proprietário em programa de TV no Estado da Bahia, onde
mostrava a produção de cacau consorciado com cupuaçu e coco anão com bons resultados.
Figura 35 –Imagem do consorcio de café conilon, cacau e côco anão interligado com o cafezal (ao
fundo) na propriedade Córrego do Ouro (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: coco-anão, café conilon, cacau, cedro branco, cedro rosa, ipê, manga
em área de 5,0 ha.
- Espécies retiradas: acerola, o feijão, o arroz e limão, todos retirados em virtude dos baixos
preços de comercialização.
- Tratos culturais: adubação química, uma vez por ano com fertilizantes e orgânica,
composta de uréia de boi. Realiza podas no cacau e no café conilon.
- O sistema encontra-se em um terreno inclinado dentro de uma vale, à 100m acima do nível
do mar, recebendo insolação durante todo o período do dia. A área do consórcio está
próxima ao cafezal (monocultura).
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: realiza adubação, mantém o material foliar gerado pelas podas sobre o solo,
mantendo uma grande concentração de matéria orgânica.
- Água: a seca foi citada como responsável por reduzir o volume de água no córrego. Além
da parte da lavoura que fica as margens do córrego, como o cacau, toda a área recebe
irrigação diária.
153
- Flora: sem informações disponíveis.
- Fauna: é observado com freqüência na área muitos pássaros, porco-do-mato, lagarto, tatu,
jacu, taquara, tucano e juruti.
- Quintal agroflorestal: a propriedade apresenta quintal com criação de porcos, galinhas,
apresenta árvores frutíferas, como mamão, manga, acerola, laranja e goiaba e, há uma
horta de onde o proprietário retira hortaliças, tomates e temperos.
- Organização social/ATER/Capacitação: o proprietário recebe assistência técnica da
CEPLAC para manejo do cacau.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- o custo com adubação é baixo em relação ao da irrigação, porque realiza adubação
em média uma vez ao ano. Para irrigação, o custo mensal é de aproximadamente R$
350,00.
- Produção:
Produtos
Café conilon
Cupuaçu
Produção
200 sacas
50 kg de polpa
Preço/venda
R$ 200,00
R$ 4,00/kg
Total
R$ 40.000,00
R$ 200,00
Cacau
Côco anão
6 sacas
4.000 frutos
R$ 280,00/saca
R$ 0,10/fruto verde
R$ 1.680,00
R$ 400,00
R$ 42.280,00
Total
- Banana: é utilizada para consumo e despesas da propriedade.
e) Principais aprendizados
- O cultivo de cacau em consorcio com café conilon é uma alternativa viável, mesmo
necessitando de irrigação diária. Porém, o cultivo de cupuaçu e de côco anão, não são tão
vantajosos devido ao baixo preço de comercialização do côco e da falta de maquinário para
despolpar o cupuaçu, que demanda muita mão-de-obra.
- O proprietário aconselha não cometer os mesmos erros, de plantar determinados cultivos
em virtude do preço de mercado, porque o mesmo oscila muito, não sendo compensador
em virtude do investimento feito.
154
2.13 Valdeci José Cassaro – Sitio São Sebastião/Águia Branca
a) Histórico
Área da Propriedade = informação não disponível.
Área de SAF’s com café conilon + côco anão + mexerica + laranja = informação não
disponível (Figura 36).
- Segundo o técnico da Secretaria de Agricultura, o proprietário é um grande empresário e
administrador de diversas propriedades agrícolas na região de Águia Branca. Em virtude de
outros compromissos, o proprietário não se encontrava em sua residência, estando apenas
sua esposa, a qual não teve condição de contribuir com informações a respeito do
consórcio.
Figura 36 – Imagem da área de consorcio da propriedade Sitio São Sebastião (Foto: Rogério
Fernandes).
155
2.14 Valviti de Andrade – Sitio Valviti/Águia Branca
a) Histórico
- Área da propriedade – 3,0 ha.
- Área de SAF’s com coco-anão + café conilon + cacau = 1,0 ha.
- O produtor não se encontrava na área e não foi possível coletar informações.
156
2.15 Abimael Correa do Nascimento – Sitio Renascer/São Gabriel da Palha
a) Histórico
- Área da propriedade = 42 ha.
- Área de SAF’s com seringueira + café conilon + coco anão + cacau = 40 ha (Figura 37).
- O proprietário não estava presente em sua residência, portanto as informações coletadas
foram fornecidas pelo técnico do INCAPER. O proprietário possuía em sua propriedade
apenas café conilon. Na década de 80, por meio do incentivo da prefeitura com a chegada
da seringa no Estado do Espírito Santo e a criação da Associação de Seringalistas de São
Gabriel da Palha, o proprietário com orientação do INCAPER e IDAF iniciou o plantio de
seringueira consorciada com café. O objetivo do consórcio foi a obtenção de renda extra
com a diversificação de sua produção agrícola. Depois o produtor inseriu outros cultivos no
sistema, com espécies como, cacau, côco anão, palmito pupunha e pimenta.
Figura 37 – Imagem de uma parte do consórcio de seringueira com café conilon e coco anão no Sitio
Renascer (Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: café conilon, seringueira, cacau (cultivo recente, com 3 anos), palmito
pupunha, coco anão e pimenta. O sistema é composto por 10.000 pés de seringas,
plantadas em fileiras duplas de 4m x 2,5m, distando 18m uma das outras e entre as fileiras,
café conilon, pimenta, coco anão, cacau e palmito pupunha. O café conilon não possui
espaçamento definido, enquanto que o cacau está plantado com espaçamento de 5m x 4m,
com 500 pés; o coco anão, também sem espaçamento certodefinido com 130 pés; enquanto
que, o palmito pupunha e a pimenta estão plantados entre as seringueira (dados fornecidos
pelo INCAPER local).
- Tratos culturais: sem informações disponíveis.
- A propriedade apresenta 42 ha de área e está em uma região quente, terreno de topografia
acidentada.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: solo fértil, latossolo vermelho, amarelo distrófico, que recebe insolação durante todo
o período do dia (dados disponibilizados pelo INCAPER local).
- Água: sem informações disponíveis.
- Flora: sem informações disponíveis.
- Fauna: sem informações disponíveis.
157
- Quintal agroflorestal: sem informações disponíveis.
- Organização social/ATER/Capacitação: A assistência técnica é fornecida pelo INCAPER e
pela Cooperativa Quirino, que além de comprar a produção de látex, também fornece
orientação nas podas, adubação, pulverização e na colheita.
d) Aspectos econômicos
- Os custos não foram informados.
- Produção (dados fornecidos pelo ICAPER local):
- Em media, a propriedade produz cerca de 500 sacas piladas de café conilon;
- 7.800 frutos de côco verde/ano;
- 1.800 kg de seringa/ha/ano.
- Não foram informadas as produções de cacau, palmito pupunha e pimentas.
e) Principais aprendizados
- Sem informações disponíveis.
158
2.16 Antonio Denadai – Sitio Denadai/São Gabriel da Palha
a) Histórico
- Área da propriedade = 15 ha.
- Área de SAF’s com café conilon + cacau + coco anão = 1,0 ha (Figura 38).
- O proprietário sempre cultivou côco anão, mas com a desvalorização do produto em
contraponto ao alto do preço do café, resolveu iniciar o cultivo de café conilon para obter
uma renda extra. Posteriormente, com o mesmo objetivo e devido à boa adaptação do
cacau em consórcio com outras espécies, como havia observado em outras propriedades,
implantou cacau em seu sistema. Atualmente o proprietário é funcionário público e se diz
desestimulado e sem tempo para investir na lavoura por causa dos altos preços do adubo e
do gasto com irrigação.
Figura 38 – Imagem da área do consorcio com coco anão, café conilon e cacau no Sitio Denadai
(Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: na propriedade tem duas áreas de lavoura, uma de café conilon
(monocultura) e a outra de consórcio de café conilon, coco anão, cacau e banana. Na área
do consórcio, o côco anão foi plantado com espaçamento de 6m x 6m, o café conilon, com
2m x 1,5m e, o cacau, com 3m x 3m.
- Tratos culturais: adubação com zinco e bório e fertilizantes 2004 e 2018, uma vez ao ano,
irrigação diária por aspersão e podas no côco e no cacau, deixando o material foliar
resultante da poda sobre o solo, com a finalidade de protegê-lo e fornecer nutrientes.
- A propriedade apresenta uma área de 15 ha e está em uma região quente de terreno
rochoso com declividade.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: adubação do solo com zinco e bório e cobertura com material foliar proveniente das
podas, concentrando uma grande quantidade de matéria orgânica proveniente das folhas.
- Água: foi mencionada a redução do nível da água em seu açude por causa da seca. O
produtor construiu o açude na área do consorcio para irrigação das lavouras e para a
criação de peixes para consumo da família.
159
- Flora: é observado com freqüência em sua propriedade e principalmente na área do
consórcio animais como, gambás, capivara, tatu, lagarto e aves (diversas).
- Fauna: sem informações disponíveis.
- Quintal agroflorestal: o quintal é composto por criação de galinhas, porcos e um açude com
criação de peixes, como tilápias, carpas, tamabaqui e piau.
- Organização social/ATER/Capacitação: A assistência técnica é fornecida pelo INCAPER.
d) Aspectos econômicos
- Custos:
- adubação, contratação de mão-de-obra, meieiro (equivalente a R$ 1.000/ano) para
colheita do café e do cacau e com irrigação (em média R$ 250,00).
- Produção:
Produtos
Café
(monocultura)
Café (consórcio)*
Produção
50 sacas (pilado)
Preço/venda
R$ 200,00
Total
R$ 10.000,00
10 sacas (pilado)
R$ 200,00/saca
R$ 2.000,00
Côco anão
Cacau
10.000 frutos/ano
10 sacas
R$ 0,25/cada
R$ 280,00/saca
R$ 2.500,00
R$ 2.800,00
R$ 17.300,00
Total
* o café no consórcio rendeu menos que no monocultivo, entretanto, o custo de produção
neste sistema é zero.
e) Principais aprendizados
- O proprietário informou que se pudesse implantar outro consórcio, seria de seringueira
com cacau por que os dois são viáveis comercialmente e a seringa mantém o solo em boa
qualidade, sem exigir adubação freqüente.
- Não plantaria côco anão com café e nem com cacau, porque ele possui muita raiz e
absorve muita água, danificando o café e o cacau.
160
2.17 Pedro Marcos Coqueto – Sitio Coqueto/São Gabriel da Palha
a) Histórico
- Área da propriedade = 2 ha.
- Área de SAF com côco anão + cacau = 1,5 ha (Figura 39).
- O proprietário não estava em sua residência e as informações presentes foram fornecidas
pelo técnico da INCAPER.
Figura 39 – Imagem da organização das espécies vegetais dentro do consorcio no Sitio Coqueto
(Foto: Rogério Fernandes).
b) Desenho e manejo dos SAF’s
- Espécies presentes: cacau com côco anão e alguns pés de banana. O côco anão foi
plantado com espaçamento de 7m x 3m, enquanto que, o cacau, com 3m x 3m, num total de
150 pés.
- Tratos culturais: sem informações disponíveis.
- A propriedade fica em uma região de vales, circundada por morros e terrenos rochosos. A
área do consórcio recebe insolação maior na parte da tarde.
c) Aspectos sócio-ambientais e organizativos
- Solo: foi observada uma grande concentração de matéria orgânica sobre o solo,
proveniente de folhas caídas de coco anão e de cacau.
- Água: foi observado na propriedade sistema de irrigação entre as carreiras de côco anão e
cacau, utilizadas para abastecer a área do consorcio.
- Flora: sem informações disponíveis.
- Fauna: sem informações disponíveis.
- Quintal agroflorestal: o quintal é diversificado com criação de galinhas, porcos, cultivo de
pimenta-do-reino, laranja e horta com produção de hortaliças, tomate e temperos. A esposa
do proprietário faz parte de uma associação de produtoras de bolos e doces na região e
utiliza o cacau produzido em sua propriedade para a preparação de doces.
- Organização social/ATER/Capacitação: sem informações disponíveis.
161
d) Aspectos econômicos
- Sem informações disponíveis.
e) Principais aprendizados
- Sem informações disponíveis.
162
6. Lista de pessoas contactadas e propriedades visitadas durante o diagnóstico.
REGIÃO NORTE
NOME
ORGANIZAÇÃO/COMUNIDADE
MUNICÍPIO
1. Antonio Carlos Torezani
INCAPER
Águia Branca
2. Valviti de Andrade
Sitio Valviti
Águia Branca
Sitio Pedro Luiz Colli
Águia Branca
Secretaria de Agricultura
Águia Branca
Sitio Santa Cruz
Águia Branca
Sitio Córrego do Ouro
Águia Branca
Sitio São Sebastião
Águia Branca
INCAPER
Jaguaré
Fazenda Goreti
Jaguaré
10. Carlos Alberto Sartori
Fazenda São Carlos
Jaguaré
11. Djalma Natal Damiane
Fazenda Damiane
Jaguaré
12. Edmilson Fiorotti
Fazenda São José
Jaguaré
13. Fabrizio Fiorotti
Fazenda São José
Jaguaré
14. Matuzalém Raymundo Dazzi
Fazenda Jest
Jaguaré
15. Rodrigo Calmoni Dazzi
Fazenda Jest
Jaguaré
INCAPER
Linhares
Fazenda Lagoa do Durão II
Linhares
INCAPER
Linhares
19. Abimael C. do Nascimento
Sitio Renascer
São Gabriel da Palha
20. Antonio Denadai
Sitio Denadai
São Gabriel da Palha
INCAPER
São Gabriel da Palha
Sitio Coqueto
São Gabriel da Palha
APTA
São Mateus
Comunidade Santo Antônio
São Mateus.
INCAPER
Sooretama
Comunidade Calçado
Sooretama
Córrego Chumbado
Sooretama
Comunidade Calçado
Sooretama
3. Durval Francisco Colli
4. Genésio
5. José Jorge Viana
6. Elias Quiriri
7. Valdeci José Cassaro
8. Valchirio José Martins da Silva
9. Braz H. Fiorotti & Associados
16. Denerval Carvalhães Junior
17. Ítala Pestana Durão
18. Renata Lourenço
21. Carlos Lobo Teixeira
22. Pedro Marcos Coqueto
23. Demétrius de Oliveira Silva
24. Luiz G. Mantegazim Filho (Sr.
Neném)
25. Carlos
Cândido
Roberto
26. Isaías Braga
27. Wanderlei Morgan
28. Maria da Penha Braga
Gomes
163
REGIÃO SERRANA / CENTRAL
NOME
ORGANIZAÇÃO/COMUNIDADE
MUNICÍPIO
29. Hélio Antônio de Azevedo
Comunidade Feliz Lembrança
Alegre
30. Fábio Silva
Comunidade Feliz Lembrança
Alegre
31. D. Nelci Canova
Comunidade Varjão da Aurora
Alegre
32. D. Sônia Maria de Souza Silva
Comunidade Feliz Lembrança
Alegre
INCAPER
Alegre
34. Santos José Canova
Comunidade Varjão da Aurora
Alegre
35. Sr. Valdeci Isidoro Canova
Comunidade Varjão da Aurora
Alegre
36. Sr. Jorge Abreu da Silva
Comunidade Feliz Lembrança
Alegre
37. Wanderley de S. Silva
Comunidade Feliz Lembrança
Alegre
Fazenda São José do Frade
Cach. de Itapemirim
39. José Caligano
Fazenda Mutum
Cach. de Itapemirim
40. Paulo Shalders
INCAPER
Cach.de Itapemirim
41. D. Joselí Tomazini
Comunidade Cedro
Castelo
42. Leila Venturini
Propriedade Cedro
Castelo
Sítio Tomazini
Castelo
Córrego Bom Jardim
Castelo
Secretária de Agricultura
Castelo
Comunidade Cedro
Castelo
47. Cláudio Huver
-
Domingos Martins
48. Verônica Huver
-
Domingos Martins
49. Itamar Endlich
-
Domingos Martins
INCAPER
Domingos Martins
51. Domingo J. de Almeida Castro
Fazenda Âncora
Guarapari
52. Nelson Meregueli Simões
Córrego Anchieta
Guarapari
53. Edival de Freitas Monteiro
Sítio Córrego Jacarandá
Guarapari
Comunidade Buenos Aires
Guarapari
Distrito de Duas Barras
Guarapari
INCAPER
Guarapari
Sitio Monte Belo
Itaguaçu
Fazenda Boa Sorte
Itaguaçu
Córrego Barreiro
Itaguaçu
INCAPER
Itaguaçu
61. Antônio Hilário
Pedra do Sombrero
Itaguaçu
62. Dionísio Zanoti
Propriedade Zanoti
Itaguaçu
33. Izaías Santos Bregonci
38. Antônio Lopes (Sr. Dino)
43. Lorival Tomazini
44. Pedro Paulo Venturini
45. Sérgio Meneguelli de Souza
46. Vanildo Scoforo
50. João Miranda dos Santos
54. Jailson Miguel
55. Joelso Pereira Coutinho
56. José Antônio
57. Silvio Elias Alberti
58. Sr. José
59. José Bartolino
60. Antônio Magevski
164
63. Sr. Plínio Brioschi
-
Venda N. do Imigrante
64. João Araújo
INCAPER
Venda N. do Imigrante
65. Rita Zanúncio
INCAPER
Venda N. do Imigrante
66. Valdir Fulgulin
Fazenda Camocinho
Venda N. do Imigrante
67. Silvia Helena Dezan
FETAES
Vitória
68. Edgar Formentini
INCAPER
Vitória
INCRA
Vitória
70. Guilherme
IEMA/PCE
Vitória
71. Hans Christian Schmidt
GFA/PCE
Vitória
72. Jeane Albani Trevisan
FETAES
Vitória
73. Maria da Penha Padovan
INCAPER
Vitória
74. Miguel Aguiar
INCAPER
Vitória
75. Roberto Keffer
FETAES
Vitória
SEAG
Vitória
69. George Staudoar Jr.
76. Wolmar Loss
165
REGIÃO SUL
NOME
ORGANIZAÇÃO/COMUNIDADE
MUNICÍPIO
Comunidade Jacutinga
Apiacá
Comunidade Ponte do Itabapoana
Apiacá
79. Isaías de Oliveira
Comunidade Pratinha
Apiacá
80. D. Georgina Pastor
Comunidade Jacutinga
Apiacá
81. Jarbas Teixeira
INCAPER
Apiacá
82. Roberto Coelho
Comunidade São Manoel
Apiacá
83. Sebastião Alves de Oliveira
Comunidade São Manoel
Apiacá
84. Giovanni Fusi
Sítio Vida
Iconha
85. Maria Jose Bonadiman
Sítio Vida
Iconha
86. Ronaldo Alemães Stephanato
INCAPER
Iconha
87. Jarilson Mota
Comunidade Abril
Mimoso do Sul
88. Alcidemar Polatte
Comunidade Abril
Mimoso do Sul
INCAPER
Mimoso do Sul
Comunidade Abril
Mimoso do Sul
77. Marcos Pastor
78. Colombo Cristóvão
89. Júlio César de Almeida Paiva
90. Cristiane Mota
166

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