Policultivo de tilápias e camarão de água doce

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Policultivo de tilápias e camarão de água doce
POLICULTIVO DE TILÁPIAS E CAMARÃO DE ÁGUA DOCE
Marcel José Martins dos Santos
O sistema de policultivo diferencia-se do consorciamento, por consistir na
criação de uma ou mais espécies aquáticas em um mesmo viveiro, enquanto o
consorciamento implica na criação integrada de espécies aquáticas com espécies
terrestres ou semi terrestres.
O policultivo otimiza o aproveitamento das instalações físicas dos viveiros,
melhora o aproveitamento dos nutrientes oriundos da alimentação e do ambiente por
ocupar diferentes nichos ecológicos, permite uma melhoria na qualidade da água dos
viveiros e dos efluentes, sendo mais compatível com o sistema semi intensivo de
produção.
É um sistema que atende aos preceitos da aqüicultura moderna, voltada para a
sustentabilidade do ambiente produtivo, pois permite a lucratividade do
empreendimento, sendo mais compatível com um meio ambiente sadio, além de
adaptar-se bem a sistemas familiares de produção, viabilizando economicamente
pequenos projetos.
Observa-se no policultivo um elevado nível de integração entre as espécies, onde
indivíduos que ocupam diferentes níveis tróficos beneficiam-se desde a melhoria na
qualidade da água até no aproveitamento de dejetos que servirão de insumo para outras
espécies. Dentre as espécies mais utilizadas para o policultivo encontram-se as várias
espécies de carpa, com os mais diferentes hábitos alimentares, tilápias, alguns bagres e
os camarões de água doce.
As interações entre as espécies irão depender do tamanho e da densidade de
estocagem, deve-se evitar a sobreposição de nichos ecológicos, sendo este um aspecto
bastante importante para o sucesso do cultivo.
No policultivo de tilápias e camarões de água doce o manejo alimentar
normalmente é realizado enfocando os peixes, pois os camarões conseguem aproveitar
muito bem os restos alimentares, as fezes e os nutrientes depositados no fundo dos
viveiros.
O povoamento deve ser iniciado com a introdução das pós-larvas ou juvenis de
camarões, sendo que no dia seguinte já podem ser estocados os juvenis de tilápia
(peixes maiores que 10 g). Este manejo visa evitar a possível predação dos camarões
pelos peixes. Uma vez introduzidas duas ou mais espécies em policultivo deve-se
proceder a despesca simultaneamente, não sendo saudável retirar uma espécie antes da
outra, pois a espécie remanescente poderá ser prejudicada, principalmente no caso dos
camarões.
A despesca no sistema de policultivo é uma das fases onde o produtor deverá
estar melhor preparado, pois o tratamento pós colheita dos camarões envolve uma série
de etapas. Deverão ser formadas duas equipes, uma responsável pela retirada dos peixes
e outra voltada apenas para a coleta e abate dos camarões. Após a passagem da rede,
esta deverá ser ensacolada e estaqueada dentro do viveiro permitindo que os peixes
sejam retirados primeiro. Os camarões deverão ficar retidos na rede e, na ausência dos
peixes, eles serão mais facilmente capturados, evitando-se desta forma a perda de
camarões por esmagamento. Após serem capturados e transferidos para caixas plásticas
vazadas, os camarões receberão o tratamento pós despesca, que se trata de uma pré
lavagem em água limpa, seguida do abate, por choque térmico, em caixas de isopor com
gelo e água clorada. Após o choque térmico os camarões abatidos deverão ser
acondicionados em caixas de isopor com gelo moído, formando camadas alternadas de
camarões e gelo. Todo este manejo deverá ser realizado nas proximidades dos viveiros
de cultivo, para que não seja necessário o transporte dos camarões a grandes distâncias,
o que poderia causar elevado estresse e provocar a perda de textura e qualidade da carne
dos animais.
O aumento dos custos de produção no policultivo, quando comparados aos do
monocultivo de tilápias, refere-se à mão de obra no momento da despesca e ao custo de
aquisição das pós larvas. Considerando-se apenas o custo de aquisição das pós larvas,
na densidade de 2 a 4 indivíduos/m2, pode-se afirmar que o aumento no custo de
produção varia entre R$ 600 e R$ 1.200 /ha, seguido de uma receita adicional, com a
venda dos crustáceos, de pelo menos quatro vezes o valor investido na aquisição dos
pós-larvas.
Estudos realizados no Setor de Carcinicultura do CAUNESP, para o policultivo
de tilápia e camarão, nas densidades de 1 peixe/m2 e 2, 4 e 6 camarões /m2, focando
dois mercados de venda, atacado e varejo, demostraram que os preços praticados no
atacado inviabilizaram o monocultivo de tilápias na densidade considerada e o
policultivo em densidades superiores a 6 camarões/m2. No entanto, o policultivo nas
densidades 2 e 4 camarões/m2 apresentaram Taxa Interna de Retorno (TIR) atrativas. Os
preços pagos pelo mercado varejista inviabilizaram o monocultivo de tilápias, mas
condicionaram indicadores de rentabilidade econômica altamente atrativos para o
policultivo. Ressalta-se que os pesos médios dos camarões variaram conforme sua
densidade de estocagem e consequentemente os valores pagos pelo camarão, tanto no
atacado quanto no varejo, também variaram conforme o peso médio final. As projeções
das receitas brutas obtidas para cada tratamento, assim como os indicadores de
rentabilidade econômica podem ser visualizados nas tabelas 1 e 2 respectivamente.
Tabela 1 – Produção e receitas.
Tratamentos
Produção kg/ha/ciclo
Camarões/m2
Peixes
Camarões
0
3445,00
2
3671,27
643,60
4
3857,95
884,14
6
3721,96
791,53
Receita bruta R$/ha/ciclo (Indústria) Receita Bruta R$/ha/ciclo (Pesqueiro)
Peixes
Camarões
Peixes
Camarões
3858,40
6201,00
4111,82
9390,12
6608,26
12324,94
4320,90
9734,38
6944,31
13783,74
4168,59
6245,17
6699,52
9332,13
Tabela 2 - Indicadores de rentabilidade econômica.
Tratamentos
Preços pagos pela indústria
Camarões/m2
TIR (%) PRC (anos) RBC (R$)
0
<0
> 10
<1
2
14
6,10
1,33
4
14
6,06
1,33
6
<0
> 10
0,30
TIR = Taxa Interna de Retorno
Preços pagos pelos pesqueiros
TIR (%)
PRC (anos)
RBC (R$)
<0
> 10
0,26
41
2,54
3,82
46
2,31
4,44
26
3,10
2,23
PRC = Período de Retorno do Capital
RBC = Relação Benefício Custo
Desta forma, evidencia-se que o policultivo apresenta-se com uma alternativa
interessante para produtores que trabalham no sistema semi-intensivo de produção, pois
propicia a produção de uma espécie de interesse secundário, com os resíduos gerados
por uma espécie de interesse principal; eleva a rentabilidade do cultivo, por se tratar de
uma espécie de crustáceo com elevado valor comercial; e apresenta-se como uma forma
de aqüicultura moderna, afinada com os preceitos de sustentabilidade do sistema
produtivo.

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