parentalidade - Editora Champagnat

Transcrição

parentalidade - Editora Champagnat
Planejamento da
PARENTALIDADE
no contexto da bioética
Busca de uma nova abordagem para pesquisa
Mário Antonio Sanches • Juares Celso Krum • Miguel Fernando Rigoni
Edésia de Sousa Sato • Renato Barbosa dos Santos
Planejamento da
PARENTALIDADE
no contexto da bioética
Busca de uma nova abordagem para pesquisa
Mário Antonio Sanches
Juares Celso Krum
Miguel Fernando Rigoni
Edésia de Sousa Sato
Renato Barbosa dos Santos
Curitiba
2015
© 2015, Mário Antonio Sanches e outros
2015, PUCPRess
Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por
qualquer meio sem autorização expressa por escrito do Editor.
Conselho Editorial
Alceu Souza, Eduardo Biacchi Gomes, Elisangela, Ferretti Manffra,
Elizabeth Carvalho Veiga, Lorete Maria da Silva Kotze, Lúcia Teresinha
Peixe Maziero, Mônica Panis Kaseker, Ruy Inacio Neiva de Carvalho,
Sergio Rogério Azevedo Junqueira
Editora Universitária Champagnat
Direção: Ana Maria de Barros
Editora-chefe: Rosane de Mello Santo Nicola
Editor de arte: Felipe Machado de Souza
Projeto gráfico: Janete Bomy Yun
Capa e diagramação: Guilherme Fontana Simões
Preparação de texto e revisão de normas: Debora Carvalho Capella
Avaliadores consultivos:
Prof. Dr. Francisco Javier de La Torre Díaz – U.P. Comillas/Madrid
Prof. Dr. Luiz Dietrich – PPGT/UCPR
Prof. Dr. Marcio Luiz Fernandes – PPGT/UCPR
Prof. Dr. Mário Antonio Sanches – PPGT/UCPR
Prof. Dr. Waldir Souza – PPGT/UCPR
Prof.ª Dr.ª Clélia Peretti – PPGT/UCPR
Prof.ª Dr.ª Maria Del Carmen Massé Garcia – U.P. Comillas/Madrid
Prof.ª Dr.ª Solena Ziemer Kuzma – Curso de Medicina – PUCPR
Editora Universitária Champagnat
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Câmpus Curitiba - CEP 80215-901 - Curitiba-PR
Tel. (41) 3271-1701
[email protected] | www.editorachampagnat.pucpr.br
P712
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética : busca
de uma nova abordagem para pesquisa / Mário Antonio
Sanches... [et al.]. – Curitiba : PUCPRess, 2015.
301 p. ; 21 cm.
Vários autores.
Inclui referências.
ISBN 978-85-68324-11-0
1. Bioética. 2. Análise fatorial. 3. Planejamento familiar.
I. Sanches, Mario Antonio. II. Título. CDD 174.9574
Lista de gráficos
Gráfico 1 - Instituição em que atua 117
Gráfico 2 - Áreas de formação acadêmica: graduação 117
Gráfico 3 - Áreas de formação acadêmica: pós-graduação 118
Gráfico 4 - Descritor 1 - Identificação de gênero
121
Gráfico 5 - Descritor 2 - Número de filhos
consanguíneos/adotivos/por reprodução
assistida/gravidezes múltiplas
122
Gráfico 6 - Descritor 3 - Religião: pertença/
grau de participação
124
Gráfico 7 - Descritor 4 - Estado civil na gravidez
do primeiro/último filho
125
Gráfico 8 - Descritor 5 - Escolaridade na gravidez
do primeiro/último filho 126
Gráfico 9 - Descritor 6 - Idade em que a pessoa
teve o primeiro/último filho 127
Gráfico 10 - Descritor 7 - Identificação da renda familiar
na gravidez do primeiro/último filho 129
Gráfico 11 - Descritor 8 - Identificação da situação de
emprego na gravidez do primeiro/
último filho 130
Gráfico 12 - Descritor 9 - A gravidez do primeiro/último
filho fora planejada – houve clara decisão
de ter o filho antes de engravidar 131
Gráfico 13 - Descritor 10 - Os riscos relacionados com
a maternidade foram avaliados antes da
gravidez do primeiro/ último filho 134
Gráfico 14 - Descritor 11 - As condições para cuidar dos
filhos foram avaliadas antes da gravidez do
primeiro/último filho
136
Gráfico 15 - Descritor 12 - O anúncio da gravidez se deu
num clima de aceitação e alegria na gravidez
do primeiro/último filho
137
Gráfico 16 - Descritor 13 - O(a) parceiro(a) acolheu a
criança na gravidez do primeiro/último filho 143
Gráfico 17 - Descritor 14 - O cuidado do primeiro/
último filho se tornou preocupação
144
Gráfico 18 - Descritor 15 - A possibilidade de um aborto
fora descartada na gravidez do primeiro/
último filho
146
Gráfico 19 - Descritor 16 - A gravidez do primeiro/último
filho foi mal acolhida, mas hoje o(a) parceiro(a)
acolhe a criança muito bem
147
Gráfico 20 - Descritor 17 - A gravidez do primeiro/último
filho foi bem recebida, mas o(a) parceiro(a)
não se preocupa mais com a criança
149
Gráfico 21 - Descritor 18 - Ocorrência de aborto no
núcleo familiar
150
Gráfico 22 - Descritor 19 - A decisão de engravidar do
primeiro/último filho foi compartilhada
pelo(a) parceiro(a)
152
Gráfico 23 - Descritor 20 - Ocorrência de ajuda profissional
para conseguir engravidar do primeiro/
último filho
153
Gráfico 24 - Descritor 21 - Com quem a pessoa morava
quando soube da gravidez do primeiro/
último filho
154
Gráfico 25 - Descritor 22 - Um dos parceiros não queria
o primeiro/último filho por já ter filho de
outro relacionamento
157
Gráfico 26 - Descritor 23 - A pessoa assumiu a gravidez
do primeiro/último filho sozinha
158
Gráfico 27 - Descritor 24 - Apoio da família do(a)
respondente à gravidez do primeiro/
último filho
159
Gráfico 28 - Descritor 25 - Influência da atividade
profissional da mulher na decisão de engravidar
mais tarde (adiar a primeira gravidez)
161
Gráfico 29 - Descritor 26 - Influências de terceiros
(familiares, religiosos, profissionais de
saúde) na decisão de ter filhos
162
Gráfico 30 - Descritor 27 - Participação da pessoa na
tomada de decisão na hora de conflito
(aborto, doenças, doar o filho)
167
Gráfico 31 - Descritor 28 - Cuidado pessoal com os filhos:
acompanhamento na escola/responsabilidade
financeira/tempo investido com os filhos/
acompanhamento religioso
168
Gráfico 32 - Descritor 29 - Decisão de a mulher engravidar
relacionada com sua idade (evitar gravidez
de risco)
169
Gráfico 33 - Descritor 30 - Uso de contraceptivo antes
da gravidez do primeiro/último filho
172
Gráfico 34 - Descritor 31 - Ocorrência de separação do
casal devido às dificuldades para ter filho
174
Gráfico 35 - Descritor 32 - Decisão de não ter filho
em virtude da possibilidade de ter um
filho doente
176
Gráfico 36 - Descritor 33 - Realização pessoal/ alegria
em ter o filho
177
Gráfico 37 - Descritor 34 - Vínculo afetivo materno/
paterno do entrevistado
Gráfico 38 - Descritor 35 - Onde recebeu informações
sobre sexualidade: família/escola/
comunidade religiosa
Gráfico 39 - Descritor 36 - Prática sexual influenciada/
adiada por possibilidade de engravidar
Gráfico 40 - Descritor 37 - Prática sexual influenciada/
adiada por possibilidade de adquirir doença
Gráfico 41 - Descritor 38 - Idade de início de sua
atividade sexual Gráfico 42 - Descritor 39 - Motivações para praticar o
ato sexual (realização pessoal/pertença
ao grupo/afirmação da identidade)
Gráfico 43 - Descritor 40 - Ocorrência de abusos
sexuais de criança na família
Gráfico 44 - Descritor 41 - Influência da religião na
escolha ou não de método contraceptivo
Gráfico 45 - Descritor 42 - Para o entrevistado,
a sexualidade está vinculada aos
seguintes pontos: naturalidade/
espiritualidade/promiscuidade
Gráfico 46 - Descritor 43 - Os filhos são compreendidos
como sinais da bênção de Deus
Gráfico 47 - Descritor 44 - Identificar se o uso de
preservativos induz à promiscuidade
Gráfico 48 - Descritor 45 - Filho como projeto do
casamento ou relacionamento
Gráfico 49 - Descritor 46 - Ausência de um dos pais na
vida do primeiro/último filho
Gráfico 50 - Descritor 47 - Participação da mulher em
algum serviço de saúde tido como de
planejamento familiar na gravidez do
primeiro/último filho
178
180
181
184
185
189
192
193
195
196
197
198
199
200
Gráfico 51 - Descritor 48 - Participação da mulher em
serviço pré-natal na gravidez do primeiro/
último filho
Gráfico 52 - Descritor 49 - Gravidez do primeiro/último
filho com o objetivo de melhorar o
relacionamento com o parceiro
Gráfico 53 - Descritor 50 - Gravidez do primeiro/
último filho com o objetivo de melhorar
a situação social ou econômica
Gráfico 54 - Descritor 51 - Separação do casal devido às
dificuldades em cuidar do filho
Gráfico 55 - Descritor 52 - Incentivo de acesso aos
serviços de saúde pela família/escola/
comunidade religiosa
Gráfico 56 - Descritor 53 - Ocorrência de violência
contra a criança Gráfico 57 - Descritor 54 - Filho considerado um peso/
uma sobrecarga Gráfico 58 - Descritor 55 - Morte na família relacionada
ao parto
Gráfico 59 - Descritor 56 - Morte de criança (antes
dos 5 anos) na família
Gráfico 60 - Descritor 57 - Dificuldade de a mulher
adquirir um emprego por ter filhos
Gráfico 61 - Descritor 58 - Identificação de quem
exerce a chefia da família
201
202
203
204
206
207
208
209
211
212
213
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Descritor 1 - Identificação de gênero
Tabela 2 - Descritor 2 - A - Número de filhos
Tabela 3 - Descritor 3 - Religião Tabela 4 - Descritor 4 - Participação religiosa
Tabela 5 - Descritor 5 - Estado civil na gravidez
do primeiro filho
Tabela 6 - Descritor 6 - Estado civil na gravidez
do último filho
Tabela 7 - Descritor 7 - Escolaridade na gravidez
do primeiro filho
Tabela 8 - Descritor 8 - Escolaridade na gravidez
do último filho
Tabela 9 - Descritor 9 - Com que idade você iniciou
um relacionamento sexual Tabela 10 - Descritor 10 - Idade em que você teve
a primeira gravidez/ou engravidou
alguém pela primeira vez
Tabela 11 - Descritor 11 - Sua situação na gravidez
do primeiro filho
Tabela 12 - Descritor 12 - Sua situação na gravidez
do último filho
Tabela 13 - Descritor 13 - Com quem você morava
quando soube da gravidez do primeiro filho?
219
219
221
222
223
223
225
225
227
228
230
230
232
Tabela 14 - Descritor 14 - Com quem você morava quando
soube da gravidez do último filho?
232
Tabela 15 - Descritor 15 - A influência mais significativa
na decisão de ter filhos foi
234
Tabela 16 - Descritor 15 - A influência mais significativa
na decisão de ter filhos foi
235
Tabela 17 - Descritor 17 - Quem exerce a chefia da
família em sua casa
237
Tabela 18 - Descritor 18 - Houve planejamento na
gravidez de seu primeiro filho
238
Tabela 19 - Descritor 19 - Houve planejamento na
gravidez de seu último filho
238
Tabela 20 - Descritor 20 - Os riscos relacionados à
maternidade/paternidade foram avaliados
antes da gravidez do primeiro filho
239
Tabela 21 - Descritor 21 - Os riscos relacionados à
maternidade/paternidade foram avaliados
antes da gravidez do último filho
240
Tabela 22 - Descritor 22 - As condições (econômicas...)
para cuidar do bebê foram avaliadas antes
da gravidez do primeiro filho
242
Tabela 23 - Descritor 23 - As condições (econômicas...)
para cuidar do bebê foram avaliadas antes
da gravidez do último filho
242
Tabela 24 - Descritor 24 - O anúncio da gravidez
de seu primeiro filho se deu num
clima de alegria
244
Tabela 25 - Descritor 25 - O anúncio da gravidez
do teu último filho se deu num clima
de alegria
244
Tabela 26 - Descritor 26 - Chegou-se a desejar, em
algum momento, o aborto do primeiro filho 246
Tabela 27 - Descritor 26 - Chegou-se a desejar, em
algum momento, o aborto do primeiro filho 246
Tabela 28 - Descritor 28 - A gravidez do primeiro filho
foi um projeto de casal. Decisão dos dois
Tabela 29 - Descritor 29 - A gravidez do último filho
foi um projeto de casal. Decisão dos dois
Tabela 30 - Descritor 30 - A família ajudou na decisão
de aceitar a gravidez do primeiro filho
Tabela 31 - Descritor 31 - A família ajudou na decisão
de aceitar a gravidez do último filho
Tabela 32 - Descritor 32 - A atividade profissional
da mulher influenciou na decisão de
engravidar mais tarde
Tabela 33 - Descritor 33 - A possibilidade de adquirir
doença alterou sua prática sexual
Tabela 34 - Descritor 34 - A religião lhe influenciou
na escolha do método contraceptivo
Tabela 35 - Descritor 35 - Você compreende os filhos
como sinais da bênção de Deus
Tabela 36 - Descritor 36 - O uso de preservativos lhe
incentivou a ter relacionamento sexual
com outra pessoa, além do parceiro
Tabela 37 - Descritor 37 - Para você, qual a relação
entre casamento e ter filhos?
Tabela 38 - Descritor 38 - Você teve o acesso desejado
ao serviço pré-natal na gravidez do
primeiro filho
Tabela 39 - Descritor 39 - Você teve o acesso desejado
ao serviço pré-natal na gravidez do
último filho
Tabela 40 - Descritor 40 - A gravidez do primeiro filho
ocorreu para melhorar o relacionamento
do casal
Tabela 41 - Descritor 41 - A gravidez do último filho
ocorreu para melhorar o relacionamento
do casal
247
248
249
249
251
252
253
254
255
256
256
257
258
259
Tabela 42 - Descritor 42 - A gravidez do primeiro filho
ocorreu para melhorar a situação econômica
Tabela 43 - Descritor 43 - A gravidez do último filho
ocorreu para melhorar a situação econômica
Tabela 44 - Descritor 44 - Ocorreu alguma dificuldade
para conseguir emprego por ter filho
Tabela 45 - Descritor 45 - Você participou de algum
serviço de planejamento familiar antes
de engravidar?
Tabela 46 - Descritor 46 - Um dos parceiros não
queria filho por já ter filho de outro
relacionamento?
Tabela 47 - Descritor 47 - Você já assumiu um
filho(a) sozinho(a)
Tabela 48 - Descritor 48 - Se a resposta da pergunta
47 for sim
Tabela 49 - Descritor 49 - Você já se separou em virtude
das dificuldades em ter filho?
Tabela 50 - Descritor 50 - Você já decidiu não ter filho
em virtude da possibilidade de ter um
filho doente?
Tabela 51 - Descritor 51 - Se a resposta da pergunta
50 for sim: Motivo:
Tabela 52 - Descritor 49 - Você já se separou em
virtude das dificuldades em ter filho?
Tabela 53 - Descritor 53 - Houve ocorrência de morte
de criança (antes de 5 anos) na família?
260
260
261
263
263
264
265
266
267
267
268
269
Sumário
PREFÁCIO 19
APRESENTAÇÃO 23
INTRODUÇÃO 25
PARTE I
Fatores que Impactam no Planejamento da Parentalidade 31
1 Parentalidade e modelos de família
1.1 Alterações no modelo de ser pai e ser mãe
1.2 Alterações no modelo de família
1.3 As famílias monoparentais
1.4 As famílias em segunda união
1.5 As famílias mosaico
33
34
44
49
51
52
2 Parentalidade e sexualidade
2.1 Sexualidade e reprodução
2.2 Tendências brasileiras na prática da sexualidade
2.3 Sexualidade integrada
55
56
59
61
3 Parentalidade e questões sociais
3.1 Saúde da mulher e gênero
3.2 Educação e cuidados em saúde
63
64
66
3.3 Parentalidade e violência
3.4 Contracepção e aborto
4 Parentalidade e religião
4.1 Parentalidade no Ocidente:
religião ou cultura?
4.2 Abraão, o pai
4.3 Judaísmo e parentalidade
4.4 Cristianismo e parentalidade
4.5 Islamismo e parentalidade
69
73
77
78
80
84
87
94
PARTE 2
Relatório de Validação de Instrumento de Pesquisa
99
5 Contexto do projeto de pesquisa
5.1 Aspectos históricos, processos e
atores da pesquisa
5.2 Contexto temático do projeto
5.3 Objetivos
5.4 Etapas da pesquisa realizada
101
6 Relatório da técnica de grupo nominal
113
7 Resultado da técnica de grupo nominal:
definição dos descritores
7.1 Descritores de identificação
7.2 Descritores sobre projeto de parentalidade
7.3 Descritores que indicam modelo de família
7.4 Descritores relacionados com a visão
de sexualidade
7.5 Descritores relacionados com religião
102
105
107
108
119
120
130
150
170
192
7.6 Descritores relacionados com
questão social
198
8 Projeto piloto
8.1 Aplicação do instrumento da pesquisa
8.2 Resultados do projeto piloto
215
215
217
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICE A - Instrumento de pesquisa validado
APÊNDICE B - Quadro sinótico da pesquisa realizada
SOBRE OS AUTORES
271
275
285
294
299
Prefácio
Durante os meses de março a junho de 2011, a Cátedra
de Bioética da Universidade Pontifícia Comillas de Madrid
foi honrada com a presença de Dr. Mario Antônio Sanches.
O objetivo fundamental de sua estadia em solo espanhol foi
a pesquisa e o estudo aprofundado de um tema que, desde
seu início até os dias atuais, tem preocupado nossa instituição: avaliação ética dos processos reprodutivos, desde a
reprodução assistida até o planejamento familiar.
O livro que temos o prazer de apresentar é o resultado de pesquisas, estudos e projetos que surgiram nos últimos três anos e que tivemos a oportunidade de ajudar a avaliar e aprimorar com nossa visita à Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR), em 2013. Nele, os autores e o
grupo de pesquisa envolvido realizaram ampla abordagem
das questões envolvidas no projeto de parentalidade dos casais, propondo novas pistas para reflexão. Temas como sexualidade, modelos de família, questões sociais e religião são
desenvolvidos considerando-se a compreensão interdisciplinar inerente à reprodução humana. Com base na complexa
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
realidade parental atual, os autores propõem um novo instrumento de pesquisa capaz de mapear o perfil de planejamento familiar nas populações a serem estudadas.
Desse modo, este estudo se situa no âmbito da bioética, que como disciplina surgida exatamente para avaliar o
impacto do avanço científico, particularmente no âmbito das
biociências, sobre a vida humana, tem desenvolvido reflexões
interessantes a respeito da reprodução. A bioética não endossa uma única posição sobre temas polêmicos, por causa
do necessário respeito à diversidade cultural e religiosa, mas
promove o debate e a análise crítica das posturas assumidas.
Não há dúvida de que o profissional de saúde, corretamente orientado pelo princípio da beneficência, busca o
bem-estar do casal ao lhe assistir, amparar e instrumentar
no sentido de viabilizar o desejo e a decisão de ter filho.
O planejamento familiar é mais um serviço de saúde, que
pode promover vida, realização humana e superação de limites biológicos.
Certamente o casal tem autonomia para tomar as
decisões que envolvem os diferentes aspectos de todo o
processo de busca ou não de serviços de planejamento familiar. Não podemos promover uma ditadura da tecnologia
que pressiona os casais a buscarem necessariamente as soluções que envolvem maior tecnologia reprodutiva ou de
contracepção, nem pressionar os casais a optarem por soluções que eles não desejam nem se sintam em condições
de assumir. Os casais precisam ser informados, científica,
20
Prefácio
técnica e eticamente, para que a decisão a ser tomada seja
a mais consciente possível. A fim de que tais orientações sejam efetivas e reflitam a realidade dos casais, é necessário o
conhecimento dessa realidade, elemento que a proposta de
pesquisa apresentada no livro poderá viabilizar.
Todos que se aproximam das conquistas realizadas
nesse campo ficam maravilhados com a insistência e a persistência de inúmeros pesquisadores, com a dedicação dos
profissionais, com a garra e a firmeza dos casais que buscam
tais serviços e, por fim, com o encanto dos resultados, como
o nascimento de bebês longamente esperados e profundamente desejados por pais e mães. Neste momento, uma boa
reflexão cristã nos diz que o ser humano cumpre de fato seu
papel de cocriador, missão recebida do Criador: continuar a
obra da criação e levá-la à plenitude.
Essa visão positiva e otimista dos recursos de saúde aplicados à reprodução humana não pode esconder ou
acobertar os problemas e dificuldades existentes. Não cabe
à bioética barrar o avanço da pesquisa, mas é necessário
indicar caminhos para que tais serviços de saúde sejam realizados dentro dos padrões éticos aceitáveis pelas pessoas envolvidas e por toda a sociedade. Este livro, portanto,
aponta para o desvendar dessa realidade nas comunidades
específicas a serem pesquisadas; os resultados a serem gerados podem interessar aos casais e a todos que estudam,
propõem políticas ou prestam serviços na área de planejamento familiar.
21
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Resta-nos apenas agradecer por participarmos deste
projeto e por termos sido convidados a dar nossa singela
contribuição.
Javier de La Torre Díaz1
Carmen Massé García2
1
Doutor em direito pela Universidade Complutense de Madri,
licenciado em Direito, Teologia e Filosofia. Diretor da Cátedra
de Bioética e do Master de Bioética da Universidade Pontifícia
Comillas, Madri.
2
Doutora em Teologia pela Universidade Pontifícia Comillas, mestre em Bioética e licenciada em medicina e teologia. Secretária da
Cátedra de Bioética da Universidade Pontifícia Comilllas, Madri.
22
Apresentação
Este livro é o resultado de um projeto de pesquisa
que contou com o apoio da Fundação Araucária, Paraná e
CNPq, assumido com afinco pelos autores, com rica contribuição dos colaboradores e dos avaliadores, com especial
participação dos pesquisadores da Cátedra de Bioética da
Universidade Pontifícia Comilllas (Madri, Espanha).
Pela natureza própria do projeto — que buscou validar um instrumento —, este livro é o primeiro resultado da
pesquisa e, principalmente, um marco referencial para as
pesquisas que se seguirão na aplicação do instrumento validado. Ele apresenta uma síntese teórica de quatro dissertações de mestrado, a metodologia do projeto, com ênfase no
uso da técnica de grupo nominal e projeto piloto e, por fim,
o instrumento validado. Como marco referencial na área de
Planejamento Familiar, este trabalho apresenta ferramentas para a pesquisa de campo que, neste momento, junho
de 2014, já estão sendo aplicadas por mestrandos em várias
localidades do Paraná, contando também com o apoio da
Fundação Araucária.
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Este trabalho se situa no contexto da bioética, com a
consciência dos desafios da pesquisa interdisciplinar, buscando atender às exigências práticas e teóricas dessa nova
realidade, conforme o documento da Área Interdisciplinar
da CAPES, na qual a Pós-Graduação em Bioética se situa e
é avaliada: “Entende-se por Interdisciplinaridade a convergência de duas ou mais áreas do conhecimento, não pertencentes à mesma classe, que contribua para o avanço das
fronteiras da ciência e tecnologia, transfira métodos de uma
área para outra, gerando novos conhecimentos ou disciplinas...”. Por isso, o trabalho reflete a busca de sistematização
e revisão teórica próprias das humanidades e a construção
de instrumento de pesquisa criteriosamente validado pelas
áreas de saúde. É nesse diálogo entre humanidades e saúde que este trabalho se compreende; no campo da bioética,
funciona como uma “ponte” que possa facilitar o intercâmbio
de conhecimentos e as práticas de uma área a outra.
24
Introdução
A possibilidade de pensar e planejar a própria reprodução humana surgiu no século XX e, na evolução dessa temática, houve alterações nos termos utilizados. A expressão
paternidade responsável foi primeiramente adotada englobando também os cuidados maternos — logo se percebeu
seu viés ideológico patriarcal. Alguns autores optaram por
conjugalidade responsável, que não foi muito aceito, pois parecia não expressar toda a complexidade das relações em
questão. Em nosso trabalho, adotamos o termo parentalidade,
usado pela primeira vez em 1961, por Paul-Claude Recamier,
psiquiatra e psicanalista francês; a partir da década de 1980,
passou a ser usado também no Brasil (FÉRES-CARNEIRO;
MAGALHÃES, 2011, p. 117). Parentalidade nos parece mais
apropriado para expressar os conceitos expressos em paternidade e maternidade. Assim, falamos de parentalidade responsável, e neste estudo insistiremos no uso da expressão
projeto de parentalidade.
É importante explicitar que quando discutimos planejamento da parentalidade, ou projeto de parentalidade,
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
situamo-nos no contexto do que usualmente se define como
planejamento familiar. No entanto, gostaríamos de ressaltar
que há uma diferença de ênfase e foco.
De modo geral, quando se fala sobre planejamento
familiar, enfatiza-se a instituição familiar, e o foco de ação
de quem planeja é o acesso ou não aos métodos de contracepção. Se o planejamento familiar acontece a partir de governantes, facilmente ele se torna sinônimo de controle de
natalidade, e o objetivo consiste no controle populacional.
A expressão projeto de parentalidade, por sua vez, se
distancia do controle de natalidade e não insiste na instituição família, nem nos métodos de concepção e contracepção, mas enfatiza a condição de ser pai e ser mãe. Pensar a
parentalidade é pensar a acolhida, o afeto e o cuidado dos
filhos, ou seja, a ênfase não está no método utilizado, mas
no desejo de ter filhos e em seu bem-estar. Uma sociedade
plural deseja que cada criança possa de fato ser acolhida
e cuidada, independentemente das definições de famílias
e suas configurações. Com isso, não desprezamos a família,
mas assumimos que ela se justifica à medida que se torna
espaço de acolhida, afeto e cuidado com seus membros e
com os filhos em particular. Desse modo, o exercício da parentalidade responsável torna-se elemento constitutivo da
família, pois a parentalidade nasce da família ou a constrói.
Há, atualmente, uma clara consciência da necessidade do planejamento familiar, no entanto a visão de parentalidade responsável e seus desdobramentos na qualidade
de acolhimento e vida de filhos planejados (ou não) é ainda
pequena. Parentalidade pode ser ainda um tema muito sensível, pois diz respeito ao modo como as pessoas vivem suas
26
Introdução
vidas e como os contextos sociais e comunitários representam essa realidade. Por isso, defendemos que, no âmbito da
reprodução humana, o projeto de ser pai ou mãe (projeto de
parentalidade) precisa ser situado nos contextos de projeto
de vida das pessoas envolvidas.
No contexto de uma sociedade secular, os projetos de
parentalidade podem ter diferentes conteúdos e métodos,
mas necessariamente demonstram um padrão ético diferenciado, pois exigem uma tomada de consciência dos processos
que envolvem a reprodução humana, o que significa a superação do “ter filhos sem pensar no assunto”. Assim, independentemente de seu conteúdo, estamos propondo que há um
grande avanço para a sociedade quando as pessoas passam a
explicitar a parentalidade como projeto, uma vez que a transmissão da vida requer uma decisão pessoal e responsável e
porque “cada menino ou menina tem o indiscutível direito de
ser desejado antes de ser concebido” (BEÑERAF, 2006, p. 58).
No estudo da reprodução humana em bioética, um
dos maiores conflitos surge quando nos deparamos com a situação de pessoas com filhos ou mulheres grávidas sem terem um “projeto de parentalidade” explícito ou implícito. Os
dados indicam que cerca de 30% dos partos são abortados
— esse talvez seja o resultado mais dramático para as mães
e as crianças de uma gravidez sem projeto. Mas, certamente,
o aborto não é a única consequência, e a gravidez é o centro
de situações com fortes implicações para a mãe, as crianças,
as famílias e os serviços de saúde. Consideramos que há projeto de parentalidade: a) quando a gravidez é planejada cuidadosamente; b) quando se avaliam também as questões de
riscos relacionados à maternidade; c) quando a decisão de
27
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
ter filhos é compartilhada pelos parceiros; d) quando as condições para cuidar dos filhos é avaliada; e) quando o anúncio
de uma gravidez se dá num clima de aceitação e alegria; f)
quando o parceiro acolhe a criança; g) quando o cuidado dos
filhos é preocupação constante; h) quando a possibilidade
de um aborto deliberado não é sequer considerado; i) quando a criança cresce sem violência.
Quando nos aproximamos do estudo das causas de
presença ou ausência de projeto de parentalidade, deparamo-nos com a falta de instrumentos adequados para uma
análise ampla destas relações, por causa da complexidade
das questões envolvidas. Estudos realizados no âmbito da
Teologia focam prioritariamente a defesa da vida e da dignidade da criança e, no âmbito da Saúde, a defesa da vida e
da dignidade da mulher. Um estudo no âmbito da Bioética
nos desafia a uma visão mais ampla que possa desvendar a
realidade a partir de perspectivas que permitam contemplar
os dois focos da questão: a dignidade da mãe e da criança.
Com base nessas considerações, o Grupo de Pesquisa
Teologia e Bioética planeja realizar uma pesquisa qualitativa, em diferentes contextos do Brasil. Portanto, este estudo é
apresentado em duas partes: a primeira faz uma revisão teórica de alguns temas que impactam a elaboração ou não de
projetos de parentalidade, enquanto a segunda explicita o
caminho metodológico percorrido pelos pesquisadores para
elaborar e validar o instrumento de pesquisa.
28
PARTE 1
FATORES QUE INFLUENCIAM A PARENTALIDADE
1
Parentalidade e
modelos de família3
Na investigação sobre a existência ou não de um
projeto de parentalidade, uma das maiores probabilidades
de encontrar as respostas seria num núcleo familiar que,
no Brasil, atinge um percentual de 87,7% das cerca de 57
milhões de unidades domésticas, de acordo com o Censo
Demográfico do IBGE de 2010.
Com base na pesquisa bibliográfica, pretende-se identificar se há impacto dos modelos de família no acolhimento
da gravidez, a relação desses modelos com a capacidade de se
assumir um projeto de parentalidade, a relação dos diferentes
arranjos familiares com o fato de a criança ter sido assumida por ambos os parceiros, a relação entre as configurações
familiares e a avaliação das condições para o cuidado dos
3
Uma abordagem mais completa da temática se encontra em:
KRUM, J. C. O impacto dos modelos de família sobre o projeto de
parentalidade. 2013. 128 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) –
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2013.
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
filhos. Busca-se verificar, ainda, se a decisão sobre a parentalidade é compartilhada pelo casal ou deixada apenas sob a
responsabilidade da mulher, e se a parentalidade é pensada
usualmente no contexto familiar. Apresentamos a seguir, duas
perspectivas: as alterações no modelo de ser pai e ser mãe e
as alterações no modelo de família.
1.1 Alterações no modelo de
ser pai e ser mãe
Ser pai e ser mãe é um processo em que mulheres e
homens se dispõem a viver a parentalidade. Para que isso
seja possível, deve haver uma relação de troca mútua envolvendo os pais e deles com a criança e o mundo.
Ser pai e ser mãe não é decorrência apenas do instinto, mas é uma altíssima vocação. Exige atitude coerente,
pois como afirma Teperman (2011, p. 159), comentando a
perspectiva de Lacan: “o nascimento de um filho não determina automaticamente a constituição das funções parentais, estas requerem um processo delicado de reordenamento simbólico”. É preciso um envolvimento pleno, com
clareza e comprometimento, pois “as funções parentais não
estão determinadas pelos aspectos biológicos daqueles que
constituem as figuras parentais” (TEPERMAN, 2011, p. 159).
A sociedade espera, portanto, que as pessoas exerçam uma
parentalidade responsável.
34
Parentalidade e modelos de família
1.1.1Parentalidade responsável
Na linguagem usual, os termos maternidade e paternidade significam, respectivamente, qualidade ou condição de
mãe e de pai e que aqui se denomina parentalidade. Já a palavra responsável traz o significado daquele (ou daquela) que
responde pelos próprios atos ou pelos de outrem, ou ainda
que responde legal ou moralmente pela vida, pelo bem-estar de alguém. A condição de ser mãe ou pai, e não apenas
genitora ou genitor, implica que a concepção de um filho
esteja inscrita no desejo, que ele se concretize numa gestação ou adoção, cujo produto seja reconhecido como filho e, a
partir de então, seja alvo do amor e do cuidado para sempre.
Quanto às condições físicas, econômicas, psicológicas
e sociais, vive-se a parentalidade responsável com a decisão
equilibrada e generosa de se ter uma família numerosa ou,
por motivos justos, e, considerando a lei moral, evitar temporariamente, ou por tempo indeterminado, um novo nascimento, ou ainda uma família mais reduzida, com um ou dois
filhos apenas.
Na Igreja Católica, a Constituição Pastoral Gaudium et
Spes (cf. n. 50 e 51) destaca que a prática responsável da parentalidade implica que os cônjuges reconheçam plenamente os próprios deveres para com Deus, para consigo mesmos,
para com a família e para com a sociedade, numa justa hierarquia de valores. Na missão de transmitir a vida, eles não têm
liberdade para fazer tudo por vontade própria, como se pudessem definir com absoluta autonomia os meios honestos a percorrer. Mas devem, sim, conciliar seu proceder com o propósito
35
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
criador de Deus, expresso na própria natureza do matrimônio
e de seus atos e manifestado pelo ensino da Igreja.
1.1.2As mudanças acontecem
Alguns elementos geoculturais fazem parte da estrutura dos sistemas familiares e podem ajudar a entender
as alterações e adaptações que acontecem, principalmente
quando são usados momentos e contextos de épocas diferentes. Menezes e Castro (2009, p. 29) afirmam que: “no protoindustrialismo, o patriarcalismo é fortalecido, a despeito
dos índices em contrário”. E que
situações como a do pai possuir filhos fora do casamento
e, em contrapartida, posições indicadoras de que a mulher decide ser mãe ou não oferecem uma amostragem
de como os arranjos novos entre gênero e gerações serão
tecidos no século XX (MENEZES; CASTRO, 2009, p. 29).
Therborn destaca que, na Europa, duas fontes foram
consideradas os desafios ideológicos ao patriarcado. “A primeira delas, o radicalismo protestante, cuja primeira grande manifestação foi o tratado de John Stuart Mill sobre A
Sujeição das Mulheres, [...]” (THERBORN, 2006, p. 45). O entendimento de Mill era de que um dos principais óbices para o
desenvolvimento humano seria a subordinação de gênero,
e que a maneira de pensar e agir seria fortalecida com a
igualdade de gênero, além da melhoria nas condições gerais de associação entre homens e mulheres. A segunda foi
36
Parentalidade e modelos de família
o socialismo ateu, que nos anos 30 e 40 do século XIX tinham uma orientação feminista. Contudo, foi August Bebe
quem estabeleceu a primeira conexão importante entre o
movimento trabalhista socialista e a causa das mulheres
(THERBORN, 2006, p. 45).
Pode-se dizer que uma das mudanças observadas foi
em relação à mulher, que passou a ter, senão de fato, pelo
menos de direito um aumento de poder, no século XIX com
reflexos nos próximos séculos. Ou seja, há um avanço, uma
caminhada que se fez em relação a essa situação, mas que
precisa ainda ir além, enfrentando as resistências e os resquícios de poder e de falta de visão por parte de alguns setores da sociedade. Esse empoderamento das mulheres também influiu nos papéis tradicionais do pai e da mãe.
Com o passar do tempo, a maneira como o casal vive
se modifica, deixando de lado os modelos presentes nos séculos XIX e XX. É cada vez menos frequente encontrar aquela
família constituída por um pai que trabalha — portanto, o
“provedor” — e uma mãe que fica em casa — a “rainha do lar”,
cuidando do marido e dos filhos, que poderia ser chamada
de “cuidadora”, algo que foi norma no século XIX, conforme
destaca Therborn (2006, p. 43): “O homem de família provedor, administrador de sua propriedade, tornou-se a norma do
século XIX. É bem verdade que ele era burguês, mas não era
ancien regime, nem de uma religião estranha ou de alguma
etnia exótica”. Ele era muito apoiado tanto pela lei religiosa
quanto pela opinião pública.
E se a lei religiosa apoiava esse procedimento naquele contexto, nos séculos XX e XXI a Igreja também percebe o que acontece nessa área do relacionamento e da
37
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
composição familiar. O Documento de Aparecida (CONSELHO
EPISCOPAL LATINO-AMERICANO, 2007, n. 49) destaca: “as
mudanças culturais modificaram os papéis tradicionais de
homens e mulheres, que procuram desenvolver novas atitudes e estilos de suas respectivas identidades, [...], na família e na sociedade, às vezes por vias equivocadas”.
Em outras palavras, aquele modelo de ser pai e de ser
mãe, apesar das dificuldades começa a mudar, influenciado
pelo meio cultural e pela busca de igualdade cada vez mais
forte. Isso resultou em alguns novos modelos para essas
duas figuras dentro da família, visto que ela também passou
a ter novos arranjos, completamente diversos e impensáveis
em outros tempos. “Desde a década de 1960 multiplicam-se
consideravelmente as investigações acerca das relações familiares, nem sempre considerando a família constituída de
pai, mãe e filhos” (PORRECA, 2012, p. 23).
O que se observa não são substituições completas no
jeito de ser das famílias, como se fossem à base de troca:
“Este modelo por aquele outro!”. Não. Entendemos sempre
como alterações, termo que remete à ideia de que algo do
modelo anterior permanece, junto com os novos elementos
das novas configurações. Houve uma retração do patriarcado e avanços aconteceram nas relações entre os membros
da família.
Essas novas formas de atuação de pais e de mães se
dão, às vezes, sem muitos percalços, e em outras com algum
sofrimento, principalmente em relação ao homem, que se
sente bastante inseguro quando precisa exercer tarefas domésticas às quais não estava acostumado.
38
Parentalidade e modelos de família
1.1.3O pai exercendo as tarefas domésticas
A participação da mulher no mundo do trabalho é
cada vez mais intensa e relevante, situação que obriga o homem a compartilhar a responsabilidade de cuidar dos filhos
com mais frequência de alguma forma. “A mulher conquistou
um novo espaço na sociedade, tem nova autocompreensão,
assumiu novos papéis. Essa nova posição da mulher traz
consequências diretas para o relacionamento com seu cônjuge” (BLANK, 2006, p. 34). Isso quando a perda do emprego,
por exemplo, não leva os papéis a se inverterem, fazendo
com que o homem permaneça em casa enquanto a mulher
trabalha. “A vida do casal e da família, que por definição é
relacional e dialética, é profundamente influenciada pelos
fatores que a cercam. Eis por que [sic] o Concílio a situa primeiro em seu meio sociológico” (BLANK, 2006, p. 60).
Verifica-se, porém, que mesmo numa situação externa
que pede uma mudança nos padrões de comportamento e
na divisão de tarefas mais justa, nem sempre isso acontece,
ou, às vezes, acontece de forma muito lenta. Uma das justificativas é que os homens continuam sendo criados por mulheres que entendem e ensinam que o papel masculino não
tem um envolvimento com tarefas domésticas. E mesmo as
jovens que se casam, na maioria das vezes, também de uma
forma geral, são pouco familiarizadas com os papéis femininos até então vividos.
Nessa condição de buscar ajustamento de sua estrutura, o que se observa é que para determinadas classes sociais, está se tornando bastante comum considerar os custos
39
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
de uma enfermeira ou uma babá no orçamento do recém-nascido, não somente para facilitar que a mãe continue trabalhando, mas também, e principalmente, como uma forma
de justificar por que as mães não querem abdicar da vida
que tinham antes de dar à luz.
Essa ausência da mãe nas atividades do lar junto aos
filhos, em vista de sua presença no local de trabalho ou de
estudo, faz com que alguém tenha que substituí-la, pelo
menos por um período, quando o pai também estiver trabalhando. Esse é um dos motivos para os casais levarem em
conta o planejamento da parentalidade. A exemplo do que
aconteceu ao longo da história, por motivos diversos — por
exemplo, depois da chegada dos portugueses ao Brasil em
1500, surgiu o costume de as mães ricas não amamentarem
seus filhos, fazendo com que amas de leite as substituíssem
—, também nesse novo contexto de mudanças faz-se necessária a presença dos substitutos da mãe.
1.1.4Os pais ou as mães responsáveis pela família
Nos meios economicamente menos favorecidos, os
substitutos dos pais podem ser os avós — mais especificamente a avó do recém-nascido —, uma tia ou a irmã da gestante, a creche etc. Isso faz com que também o pai se sinta
autorizado a manter sua vida normal, de certa forma parecida com aquela que tinha antes do filho nascer. Essa é uma
alteração importante no papel da mãe, com a consequente
mudança no papel do pai. Algo que não seria sequer cogitado em tempos não muito distantes no século XX, haja vista o
40
Parentalidade e modelos de família
enraizamento das atitudes patriarcais e suas consequências
naqueles tempos, cujos reflexos se fazem sentir ainda hoje
em nosso meio.
Não resta dúvida de que os bebês de hoje precisam
se acostumar mais cedo com a ausência física dos pais.
Uma das causas é a rotina de trabalho cada vez mais exigente. Por outro lado, isso não impede que o pai substitua
a mãe em determinadas tarefas e, portanto, seja visto como
um prolongamento dela. Os papéis masculino e feminino
tornaram-se menos delimitados e isso pode trazer consequências de relacionamento para a criança, da mesma forma que já traz para a manutenção do casamento. Portanto,
essas atitudes, assim como suas consequências, merecem
ser consideradas.
Blank (2006, p. 25) destaca: “João Carlos Petrini, teólogo e especialista em questões matrimoniais e familiares,
em seu livro Pós-modernidade e família, mostra-se preocupado com essa problemática”. O teólogo reflete a partir de
uma indagação sobre a moral vigente na sociedade atual,
considerando-a movida por uma razão instrumental, utilitarista, o que a impede de atender às necessidades complexas dos seres humanos. E prossegue: “para construir uma
sociedade que supere a visão restritiva de uma moral utilitarista e que respeite o ser humano em todas as suas dimensões, a modernidade tem de se reconciliar com o ‘senso
religioso’” (BLANK, 2006, p. 25). Para ele, senso religioso é um
“conjunto de exigências elementares de justiça, de verdade, de felicidade, que constituem o núcleo mais originário
do homem e que emerge existencialmente como desejo”
(BLANK, 2006, p. 26).
41
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Os substitutos são ainda necessários quando acontece uma situação mais difícil e perturbadora, que é das separações e do divórcio introduzindo mudanças no relacionamento entre pais e filhos, no ser pai e ser mãe.
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE, de 2000
a 2010, aumentou o número de famílias cuja responsável era
a mulher (de 22,2% para 37,3%), inclusive em presença de
cônjuge (de 19,5% para 46,4%), mas diminuiu de 77,8% para
62,7% os casos de famílias com o homem como responsável. Também houve queda no percentual de homens responsáveis em domicílios com presença de cônjuge — de 95,3%
para 92,2%. Os motivos podem ser creditados a uma mudança de valores relativos ao papel da mulher na sociedade e
a fatores como o ingresso maciço no mercado de trabalho e
o aumento da escolaridade em nível superior, combinados
com a redução da fecundidade.
Essa situação não é nova; ela já existia num percentual menor em 2000, e em 2010 teve um aumento considerável de 15,1% no caso da mulher como responsável e um
decréscimo na mesma proporção para o homem.
O aumento da configuração familiar monoparental feminina, aquela formada por mães com ou sem parentes, foi
mais uma mudança importante, tendo passado de 15,3% em
2000 para 16,2% em 2010. Já o modelo monoparental masculino, formado por homens com ou sem parentes, também
sofreu uma pequena alteração, passando de 1,9% em 2000
para 2,4% em 2010.
Merece destaque também a diferença entre a área rural e a área urbana, visto que nas áreas rurais, observa-se um
42
Parentalidade e modelos de família
porcentual consideravelmente inferior de famílias monoparentais femininas: 9,1% contra 17,4% nas áreas urbanas.
Há, também, lares em que a presença é duplicada, ou
seja, há duas mães ou dois pais das crianças. Mesmo numa
situação adversa em que não é possível ser pai e mãe biológicos, alguns dos casais homoafetivos sentem uma profunda
necessidade de serem pai ou mãe, de exercerem a paternidade ou a maternidade.
O Censo 2010 investigou algumas características das
uniões entre cônjuges do mesmo sexo. Em relação ao nível
educacional, 25,8% das pessoas envolvidas em uniões com
cônjuges do mesmo sexo declararam possuir superior completo. Em termos de opção religiosa, houve predominância
de pessoas católicas (47,4%), seguidas por pessoas sem religião (20,4%). O estado civil preponderante foi o de solteiros
(81,6%), e 99,6% viviam em união consensual. Mais da metade dessas uniões se encontrava na região Sudeste (52,6%).
Contudo, não aparece o porcentual dessas uniões com filhos.
Uma das justificativas possíveis é a dificuldade de adoção ou
a utilização de fertilização in vitro.
Independentemente e apesar dessas características, o
fato é que as famílias formadas por casais homoafetivos existem, e com tendência a se ampliar. Há quem defenda que é
melhor que a criança desamparada seja educada por casais
homoafetivos do que permaneça o resto da vida sem ninguém
para lhes dedicar atenção, carinho, educação, assistência. Por
outro lado, há uma corrente que insiste na ideia de que a adoção seja feita sempre por algum casal “tradicional”, aquele formado por cônjuges de sexos opostos e complementares.
43
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
1.2 Alterações no modelo de família
A seguir, uma visão da família, não apenas no sentido
de ser pai e mãe, mas também no contexto das alterações dos
modelos de família, com seus diferentes arranjos familiares,
começando com os conceitos, pois não existe apenas um.
1.2.1Resgatando os conceitos
Para que a investigação sobre os modelos de família
tenha êxito, faz-se necessário um entendimento sobre o que
significa o termo família. Para Danda Prado (1985, p. 7),
a palavra FAMÍLIA [sic], no sentido popular e nos dicionários, significa pessoas aparentadas que vivem em
geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os
filhos. Ou ainda, pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem, estirpe ou admitidos por adoção.
De acordo com a definição das Organizações das
Nações Unidas (ONU), uma família é formada, no mínimo, por
duas pessoas, e seus membros devem estar relacionados por
meio de relações de consanguinidade (parentesco), adoção
ou casamento (ALVES; CAVENAGHI, 2012).
Ao longo da história, o termo vem se modificando
e, atualmente, conforme definição encontrada no dicionário Ferreira (2004, p. 396), três são os conceitos, a saber: “1.
Pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa,
particularmente o pai, a mãe e os filhos; 2. Pessoas do mesmo
44
Parentalidade e modelos de família
sangue; 3. Origem, ascendência”. Já para Houaiss (2001), a família é um:
grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto (esp. o
pai, a mãe e os filhos); grupo de pessoas que têm uma
ancestralidade comum ou que provêm de um mesmo
tronco; pessoas ligadas entre si pelo casamento e pela
filiação ou, excepcionalmente, pela adoção.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 representou
uma inovação na forma de se entender uma configuração familiar, compreendendo: não necessariamente como resultado de um casamento formal, mas como fruto de uma “união
estável”, entre um homem e uma mulher, como entidade familiar protegida pelo Estado, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento (art. 226, § 3º). A Carta Magna também
menciona a possibilidade de a família ser constituída por
qualquer um dos pais e seus descendentes (art. 226, § 4º), reafirma a igualdade entre o homem e a mulher na sociedade
conjugal (art. 226, § 5º) e estabelece o tratamento igualitário
dos filhos, sem qualquer designação discriminatória.
Angela Ales Bello (2007, p. 98) caracteriza a “família
como uma particular forma associativa”. A autora apresenta
três maneiras de associação humana. Na primeira, os seres
humanos são uma integração de corpo, psique e espírito,
contudo, essa situação pode ser prejudicada quando eles se
submetem aos impulsos desordenados e também quando só
prevalecem seus interesses pessoais para fins egoístas.
A segunda maneira de organização humana é a sociedade, ordenada por meio de normas (direitos e deveres) que
45
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
a regem. Porém, não é o interesse de todos que prevalece; o
que conta são os interesses de grupos em que não existem
vínculos pessoais (ALES BELLO, 2007, p. 83).
Já a terceira maneira de associação humana, possivelmente caracterizada como família, é a comunidade. Nela as
ligações pessoais são de grande importância para o grupo,
cada membro é parte integrante e insubstituível da comunidade. No seio comunitário, a vida humana tem seu valor
preservado pelo fato de a pessoa humana estar integrada
na mesma comunidade de forma total. Eis alguns exemplos
de comunidade: a família (para Ales Bello, esta ocupa o primeiro lugar de grupo comunitário), a comunidade religiosa,
a comunidade eclesial etc. Ainda para a autora, a família é o
modelo completo de comunidade, pois nela existe a forma
mais completa de ligação humana (física, afetiva, emocional
e a vida em comum) (ALES BELLO, 2007, p. 98-99).
Verifica-se, assim, que há três formas de constituição
de família: formada pelo casamento, seja ele civil ou religioso com efeitos civis; família formada pela união estável, e a
família formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
Destaca-se que a instituição do casamento permanece sendo o meio básico de consolidar uma união familiar. Ele não
foi suprimido pelo reconhecimento constitucional da união
estável, visto que a própria Constituição Federal de 1988
prevê a facilitação de sua conversão em casamento.
46
Parentalidade e modelos de família
1.2.2Além da família nuclear
O modelo de família considerado “ideal”, ainda transmitido e predominante em nossa cultura, é a família nuclear,
mas é evidente que essa não é a única forma de organização
familiar existente nos dias de hoje. Teperman (2011, p. 157)
adverte que a configuração da família nuclear jamais teria
sido sinônimo de “normalidade”, apesar da idealização e da
sensação de segurança que ela traz, pois “não existe uma
forma de organização familiar ideal que poderia garantir as
condições necessárias para a constituição do sujeito”.
As famílias no contexto atual têm se configurado de
formas diversas e houve alterações significativas na família
nuclear, o que provoca profundos questionamentos à sua hegemonia. Como afirma Rios (1999, p. 545), “A recente história
da família foi escrita segundo uma visão evolucionista, tendo
como hipótese a seguinte: a família moderna é o resultado
da ‘família extensa e complexa’”. Ao que ele mesmo questiona, argumentando que isso seria uma tese falha, pois “a
família nuclear domina a partir da Idade Média em grande
parte da Europa”, e simultaneamente coexistem “modelos familiares que apresentam formas diferentes de organização e
distribuição da autoridade”.
Além disso, há visões diferenciadas em relação a esse
modelo de família, como é o caso, por exemplo, da afirmação
de Gaiarsa (1992, p. 8), considerando família, o pai, a mãe e
alguns filhos
convivendo, na mesma casa, durante quinze a trinta
anos; significa, a mais, certa atmosfera social constituída
47
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
por um número muito grande de frases e caras, todas
na linha do ‘A família é a célula da sociedade’, frases
como: ‘Mãe só existe uma’, O pai deve ser respeitado’,
‘Os filhos são crianças – isto é, ingênuos, bobos e ignorantes’, ‘Uma esposa deve...’, Um marido deve...’, ‘Os filhos
devem...’, etc.
Embora essa visão de família seja particular e peculiar, ela pode ser considerada uma forma de questionamento, para aprofundar a reflexão ou explorar como acontecem
os relacionamentos familiares independente do modelo em
que se vive. Para Vidal (2010, p. 144), neste início do século
XXI, do sentido claro do termo família, “passou-se para a expressão mais difusa de convivência familiar. Além do mais,
ao referir-se à instituição familiar como convivência familiar
tende a utilizar-se o plural: fala-se de formas de convivência
familiar” (VIDAL, 2010, p. 144). Há quem proponha um conceito de lar e “outros utilizam o conceito de núcleo familiar,
isto é, a realidade formada tanto por um casal (com ou sem
filhos) como por um pai ou uma mãe com filhos solteiros.
1.2.3Uma nova realidade familiar
O Censo Demográfico do IBGE de 2010 trouxe informações interessantes sobre a família. Houve algumas alterações, como a redução do arranjo majoritário formado por
casais (núcleo duplo) com filhos, que, em números aproximados, representava dois terços (66%) dos domicílios, em 1980
e, em 2010, caiu para algo próximo de 50%. Isso é resultado
48
Parentalidade e modelos de família
do menor número de filhos e da maior expectativa de vida,
fazendo com que os pais vivam mais tempo na fase do ‘ninho vazio’. No Brasil, o casamento é praticamente um evento
universal, considerando-se todos os tipos de matrimônio. Em
1980, 65% dos casamentos eram realizados no civil e no religioso, 14% somente no civil, 14% apenas no religioso e 7%
eram uniões consensuais. Em 2010, o casamento no civil e
no religioso teve uma queda para 43%, só no civil houve um
aumento de três pontos porcentuais, ficando em 17%, apenas
no religioso caiu para 3% e as uniões consensuais subiram 30
pontos porcentuais, indo para 37%.
Outra alteração foi com relação aos casais sem filhos.
Essa mudança, de acordo com o IBGE, aponta que houve um
aumento significativo nos casais sem filhos e sem outros parentes, que passou de 12% em 1980 para 15% em 2010.
Mais uma alteração apontada pelo IBGE foi referente
às pessoas morando sozinhas, com um acréscimo porcentual
bastante próximo entre homens e mulheres. O número de
mulheres morando sozinhas passou de 2,8% em 1980 para
6,2% em 2010 e o número de homens morando sozinhos, de
3% em 1980 para 6,5% em 2010.
O número de famílias compostas e extensas (casais,
filhos, parentes e agregados) teve uma redução de 4,8% em
1980 para 2,2% em 2010.
1.3 As famílias monoparentais
Quando se fala em monoparentalidade, deve-se entender não apenas um único modelo, mas famílias
49
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
monoparentais, cuja análise não pode se dar considerando-a
um universo próprio ou um grupo homogêneo.
Foi na metade dos anos 1970 que surgiu na França a
expressão famílias monoparentais, para designar as unidades
domésticas em que as pessoas vivem sem cônjuge, com um
ou vários filhos com menos de 25 anos e solteiros. No Brasil,
Barroso e Bruschini (1981, p. 40) destacam que, embora já
houvesse no país um contingente expressivo de famílias
chefiadas por mulheres, foi a partir dos anos 1970 que elas
passaram a ter visibilidade e conquistaram um lugar entre as
pesquisas sociológicas.
A Carta Magna brasileira de 1988, em seu artigo 226,
§ 4º reza que “entende-se, também, como entidade familiar a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Com isso, passa não só a reconhecer a existência das
famílias monoparentais, mas também a conferir-lhes a especial proteção do Estado. Porém, esse modelo de família não
possui definição integral, estruturação e limites por meio
de legislação infraconstitucional. Essa configuração familiar
é admitida como legítima pelo Direito Constitucional, sem
contudo existir para o Direito Social e, muito menos, para
o Direito Civil. O reconhecimento e a definição da família
monoparental como família natural também estão no dispositivo 25, da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990: “entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou
qualquer deles e seus descendentes”.
Eduardo de Oliveira Leite (2003, p. 22) entende que
“uma família é monoparental quando a pessoa considerada
(homem ou mulher) encontra-se sem cônjuge, ou companheiro, e vive com uma ou várias crianças”.
50
Parentalidade e modelos de família
A expressão famílias monoparentais é bastante ampla, pois pretende atingir as situações novas e as antigas ao
mesmo tempo. As primeiras, resultantes das rupturas voluntárias de casamentos e uniões, e as demais, motivadas por
falecimentos, abandono de um dos cônjuges, nascimentos
extramatrimoniais.
Nas últimas décadas, tem crescido, nessas famílias —
segundo o Censo Demográfico de 2010, correspondem a 8,1
milhões de famílias —, o número de mães que também são o
“pai” e chefe de família, saem de casa bem cedo para trabalhar e se afastam da vida cotidiana de seus filhos, retornando
para casa à noite.
1.4 As famílias em segunda união
Dentre as novas configurações familiares, a das famílias em segunda união é uma das mais presentes no meio
familiar. E tem tido avanço à medida que os anos passam.
“A família, tanto no plano da sociabilidade quanto no plano
normativo, deparou-se com alterações significativas, influenciadas por processos de mudanças sociais geradas na sociedade e no interior da vida doméstica” (PORRECA, 2012, p. 49).
Uma dessas alterações é a família em segunda união,
como evidencia Porreca (2012, p. 114-115): “dentre as ‘novas’
configurações familiares, evidencia-se a segunda união, que é
composta de casais em que um ou ambos os parceiros se separaram dos primeiros cônjuges e casaram-se novamente, no civil
ou não”. E pode acontecer que, em alguns casos, um ou ambos já
tenham filhos da união anterior, e filhos também da nova união.
51
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Isso traz consequências, que podem ser ruins ou não,
dependendo da recepção dos envolvidos, e com a busca de
uma nova união, mostrando que a família vai se adaptando e
descobrindo novas formas de ser: “Um exemplo atual e concreto da realidade da permanência e vitalidade da família
está na situação da separação/divórcio, que é considerada
transitória e não é significativa para que as pessoas não se
casem novamente” (PORRECA, 2012, p. 112). Isso porque os
envolvidos consideram que a relação não deu certo por causa de determinado parceiro ou parceira, e não exatamente
pelo casamento de uma forma geral. Sendo assim, na maioria das vezes voltam a se casar e a recomendar o casamento
a outras pessoas.
Antes, os descasados e novamente casados pela lei civil
eram discriminados, chamados de bígamos, infames, pecadores
públicos, indignos de sepultura eclesiástica e acusados de concubinato. Hoje, esse tipo de situação familiar já é visto de uma
maneira mais aceitável e sem tantas críticas e discriminações.
É importante destacar uma condição específica dos
casais em segunda união: as famílias-mosaico.
1.5 As famílias mosaico
Mesmo sendo parte da configuração de família reconstituída em segunda união, dedicamos um item específico a
essa modalidade, pois ela é de fato uma situação interessante.
Engloba casais em segunda união, ambos vindo de relacionamentos anteriores, cada um com filhos e, em alguns casos,
tendo outros filhos a partir do novo e atual relacionamento.
52
Parentalidade e modelos de família
Atualmente, cresce a quantidade de famílias em que
tanto o marido como a esposa trazem para a nova união os
filhos de casamentos anteriores, vindo a se juntar com novos filhos que surgem do novo relacionamento. Agrupam-se
filhos, enteados, irmãos, madrasta, padrasto, ex-esposo, ex-esposa e diversos avós.
Dessa forma, nem todos os membros da família mosaico são parentes entre si, mas todos têm um grau de parentesco com a prole resultante da união do casal reconstituído. A família-mosaico é apenas mais um tipo de arranjo
familiar possível, em uma sociedade cada vez mais marcada
pela pluralidade e por dinâmicas inovadoras, que vão além
do modelo padrão.
Considerando, pois, as famílias em segunda união e,
neste caso, as famílias-mosaico, não existem dados que possam afirmar se há ou não um projeto de parentalidade nesse
contexto. Pode-se deduzir, em alguns casos, que no último
enlace os parceiros decidem ter, pelo menos, mais um filho,
que seria o fruto de seu relacionamento, independente dos
filhos advindos dos relacionamentos anteriores.
53
2
Parentalidade e
sexualidade4
Inicialmente, diga-se que tanto contextualizar historicamente quanto conceituar sexualidade no ocidente não é
tarefa fácil, já que se trata, de certo modo, de uma abstração
de algo humano. Para alguns é preciso compreender que a
“a sexualidade é uma manifestação ontológica da condição
humana, isto é, a sexualidade faz parte da própria constituição intrínseca do que seja o ser humano” (NUNES; SILVA,
2000, p. 2). Por outro lado ela é historicamente situada como
afirma Figueiró (2006, p. 17): “a sexualidade é uma dimensão
humana que vai além de sua determinação biológica, pois é,
também, culturalmente determinada”.
Desse modo, a sexualidade humana pode ser entendida, num primeiro momento, como o conjunto dos fenômenos
4
Uma abordagem mais completa da temática se encontra em:
RIGONI, M. F. O impacto da visão de sexualidade sobre o planejamento da parentalidade. 2013. 143 f. Dissertação (Mestrado em Teologia)
– Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2013.
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
da vida sexual de cada indivíduo. Ela possui significativas ligações com inúmeros conceitos, tanto frontais e diretos quanto reflexos e oblíquos, tais como: corpo, saúde, emoções, amor,
família, planejamento familiar, escola, educação sexual, transcendência (religiões) e vida feliz etc. Ciente, portanto, da complexidade da questão, abordaremos apenas as questões da
sexualidade que tenham relações com a reprodução humana.
2.1 Sexualidade e reprodução
A relação entre sexualidade e reprodução humana
tem sido questionada nos últimos tempos. Alguns defendem uma radical separação entre essas duas realidades
humanas enquanto outros insistem num vínculo indispensável e necessário entre elas. Diante disso, gostaríamos de
apresentar alguns questionamentos sobre esse assunto tão
delicado: precisamos insistir no vínculo entre sexualidade
e reprodução o tempo todo? Não são legítimas as relações
sexuais que ocorrem à parte e fora da dimensão procriativa?
Abordar a questão da reprodução humana à parte da sexualidade não significaria, por outro ângulo, deixar de lado um
dos principais pontos para sua devida avaliação? Perder de
vista totalmente o vínculo entre sexualidade e reprodução
humana não pode ser muito arriscado e danoso? Não é a
sexualidade o pano de fundo no qual se dá a parentalidade
responsável? Sexualidade e reprodução não são dimensões
correlacionadas do amor humano?
A sexualidade, na reflexão atual, assume amplas dimensões. Algumas bastante desvinculadas da questão da
56
Parentalidade e sexualidade
reprodução, de modo que sexualidade e reprodução não estão necessariamente vinculadas (VALDIVIA, 2007, p. 90). A sexualidade assume outras perspectivas além de sua dimensão
procriativa e, com a reprodução assistida, a procriação nem
sempre está vinculada ao ato sexual. A separação dessas realidades humanas constitui, de fato, um dos principais desencadeadores de situações complexas que exigem uma avaliação
ética adequada no contexto do planejamento familiar, com
fortes implicações sociais, psíquicas, jurídicas e religiosas.
Enfim, temos visto estudiosos da sexualidade alegarem que ela pode ser compreendida e analisada em nossos
dias deixando a questão da reprodução em segundo lugar.
Entendemos que, para um estudo que foca a questão da sexualidade, tal realidade possa ser cabível nessa dimensão,
pois as relações sexuais — na maioria das vezes — situam-se
fora da dimensão procriativa.
No entanto, defendemos a posição de que, se a compreensão da sexualidade pode ser feita sem sua dimensão
reprodutiva, o contrário não ocorre, pois uma adequada compreensão da reprodução humana não se dá sem seu vínculo
com a sexualidade. E, num texto cujo objetivo é avaliar o
planejamento familiar, e a reprodução é o tema central, essa
discussão se torna necessária. Ou seja, se em algum contexto
é possível e aconselhável abordar a sexualidade separadamente, na dimensão do planejamento familiar, sexualidade e
reprodução precisam ser estudadas em suas inter-relações.
Podemos não querer tornar o vínculo entre sexualidade e reprodução excessivamente rígido, mas não podemos simplesmente ignorar essa relação e discutir reprodução humana
totalmente ao largo da sexualidade.
57
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
No contexto de bioética secular, insistir no vínculo entre sexualidade e reprodução o tempo todo pode ser inútil,
desnecessário e improdutivo, por mais relevante que seja no
âmbito religioso. Por outro lado, perder de vista totalmente
o vínculo entre sexualidade e reprodução humana pode ser
muito arriscado e danoso, pois ele permanece o pano de fundo em que se dá a parentalidade responsável, eis que a sexualidade e a reprodução são dimensões correlacionadas do
amor humano ou, como disse Anjos (1996, p. 136), “de repente
esquecemos que o berço da reprodução humana é o amor”.
Parece-nos, portanto, que a antropologia da sexualidade aponta para a função de gerar novas vidas, visto que
a sexualidade se integra também a outros níveis, como o
amor, a afetividade, o carinho e o cuidado parental. O filósofo
Giovanni Reale (2002, p. 7) destaca que os “males do homem
contemporâneo estão em livros, revistas, periódicos e jornais”, mas acredita “que poucas vezes se chega ao verdadeiro
núcleo dos problemas”.
Desvincular a reprodução humana da sexualidade
pode implicar no fortalecimento da tese que apregoa o niilismo do amor, sob o comando de Nietzsche, eis que para
“remediar o esquecimento niilista do amor, o homem de hoje
recorre ao sexo” (REALE, 2002, p. 150). Ato contínuo, sentencia: “O que mais impressiona não é a redução do amor à dimensão do eros físico, mas a perda do senso de medida”.
O imbróglio da transformação do sexo em mercadoria, numa
escalada de progressão geométrica, pode conduzir ao “homicídio do Eros” (REALE, 2002, p. 151). Enfim, um “Eros” que
pode ficar refém de padrões econômicos e financeiros, implicando na prevalência de uma sexualidade comercial, sendo
58
Parentalidade e sexualidade
plausível ter em linha de pensamento a necessidade de libertar “eros da prisão na dimensão do físico” (REALE, 2002,
p. 151), nos seguintes termos: “Para não cair nos excessos
opostos de um permissivismo que é fim em si mesmo ou de
um puritanismo exclusivamente reativo, seria preciso reencontrar entre os aspectos de Eros a luz do inteligível”.
2.2 Tendências brasileiras na
prática da sexualidade
Na busca de elementos para falar sobre a ética do
brasileiro, realizou-se uma pesquisa de opinião denominada
Pesquisa Social Brasileira (PESB), no período de 18 de julho
a 5 de outubro de 2002, com 2.363 entrevistas (ALMEIDA,
2007, p. 19). A sexualidade fez parte da amostra e pode ser
visualizada inicialmente no seguinte trecho:
Sabe-se que, no Brasil, a virgindade das meninas, por
exemplo, era um valor importante até, certamente,
os anos 1970. Hoje, acontece o inverso. A adolescente virgem tende a ser estigmatizada pelas colegas.
Modificou-se, de maneira muito veloz, um core value da
sociedade brasileira.
Em outra perspectiva, Almeida (2007, p. 152) constata
também que não há homogeneidade no pensamento brasileiro a respeito de sexualidade, pois “na verdade, vários abismos separam os brasileiros quanto a valores relacionados
59
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
ao sexo: idade, escolaridade, religião e religiosidade, só para
citar alguns”.
Por outro lado, a pesquisa nacional do Datafolha
(FOLHA, 2007, p. 3), que visitou 211 municípios brasileiros e
totalizou 2.093 entrevistados com idade a partir de 16 anos,
aponta, dentre diversos aspectos, para o fato de que existe
mais tolerância na sexualidade e menos no aborto, que a
família é a instituição mais valorizada e que a fidelidade é
a qualidade mais desejada no parceiro. O tema do aborto
apresentou aumento na taxa de rejeição, sendo a questão
comentada por especialistas:
Confrontados com a pergunta de que atitude tomariam
caso uma filha adolescente engravidasse, 82% responderam que forneceriam apoio para que ela tivesse o filho em qualquer situação. Mas quando a pergunta troca
de gênero e se refere a um filho que engravidasse uma
garota, o índice dos que apoiariam o nascimento em
qualquer situação cai para 71% (FOLHA, 2007, p. 24, 26).
Já o Censo Demográfico 2010 (IBGE), na categoria
Nupcialidade, Fecundidade e Migração, atestou que do montante das 83.223.618 mulheres brasileiras com 10 anos ou
mais de idade, 51.621.903 delas tiveram filhos. Das 71.691.617
mulheres que têm domicílio urbano, tem-se que 44.272.263
tiveram filhos nas cidades e, na área rural, 7.349.640 das
11.532.001 mulheres tiveram filhos. Em relação ao número
de filhos, os dados do último Censo Brasileiro registram que
51.621.903 mulheres tiveram 161.060.386 filhos, sendo que
154.101.639 nasceram vivos e 6.958.748 nasceram mortos.
60
Parentalidade e sexualidade
Somente na área urbana foram 131.214.409 filhos,
sendo 125.654.207 nascidos vivos e 5.560.202 nascidos
mortos. Quanto aos nascimentos da área rural, foram contabilizados 29.845.977, divididos entre 28.447.431 que nasceram vivos e 1.398.546 nascidos mortos.
Vidal (2002, p. 245), refletindo sobre a questão ética
da sexualidade, destaca o seguinte:
Um dos bens mais destacados do casamento é a possibilidade de originar uma família. A maioria dos casais
integram na relação interpessoal de amor heterossexual o desejo eficaz de culminar a conjugalidade no
exercício da maternidade/paternidade. O amor conjugal tem um dinamismo interno que o faz progredir
rumo à constituição de uma comunidade mais ampla
de pessoas (não só cônjuges, mas também pais e filhos).
Parece razoável inferir-se que existe relevância social
e ética significativa na busca de identificação da presença ou
ausência do projeto de parentalidade, por exemplo, nessas
51.621.903 mulheres brasileiras que tiveram 161.060.386 filhos, a fim de que a instituição e ou a autoridade competente
tenha subsídios para discernir quanto às formas adequadas de
intervenções sociais em níveis primário, secundário e terciário.
2.3 Sexualidade integrada
Na busca da compreensão da sexualidade humana, aponta-se para as diferenças em relação à sexualidade
61
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
animal, atribuindo-as à “não programação” e à possível “dissociação do prazer e função biológica” (SNOEK, 1982, p. 53).
Sem dúvida, a sexualidade humana não obedece às leis impulsivas da natureza simplesmente, pois a vontade e a opção
humana influenciam, e não está a serviço somente da função
biológica, pois também o prazer alcançado na entrega total
e amorosa entre homem e mulher é legítimo. No entanto, é
necessário um aprofundamento no sentido da sexualidade
humana e, para isso, busca-se ajuda de quem evidencia mais
claramente esse assunto do ponto de vista da reflexão teológica (KOSNIK, 1982).
Uma das questões levantadas hodiernamente refere-se à definição da sexualidade. Em tempos passados, considerava-se a sexualidade humana uma experiência própria
somente de pessoas casadas. Hoje, no entanto, entendemos
sexualidade como uma maneira de ser no mundo e de relacionar-se com ele, como pessoa masculina e feminina —
definição que amplia o sentido da sexualidade para além do
meramente genital e generativo.
Outra questão levantada é a da personalidade, isto é,
enquanto princípio de integração dos vários fins da sexualidade. A sexualidade é um fator que impregna e constitui a
estrutura da existência humana, isto é, somos corpo. O corpo
da pessoa humana precisa de outro para concretizar a capacidade de partilhar a subjetividade, que se corporifica ou num
corpo masculino ou feminino, derivando daí uma experiência
diferente do mundo. Na realidade, existe uma atmosfera sexual onde e quando quer que dois seres humanos se encontram.
62
3
Parentalidade e
questões sociais5
Estudar a relação entre as questões sociais e a parentalidade implica, por um lado, analisar o acesso à saúde
e à informação, relacionadas a fatores econômicos, educacionais, culturais, dentre outros e, por outro, compreender
o quanto a vivência da parentalidade tem impacto nessas
mesmas questões. Para Beñeraf, muitas chagas sociais estão relacionadas à parentalidade, pois “um filho desejado, ou
muito desejado, desejará sua própria vida e também a dos
outros que o rodeiam. Um filho não desejado não desejará
sua vida e muito menos a alheia, ali abundam os suicídios-homicídios” (BEÑERAF, 2006, p. 55). Desse modo, a abordagem da parentalidade não se restringe ao modo como se
planeja a família; inclui o estudo das consequências sociais
5
Uma abordagem mais completa da temática se encontra em:
SATO, E. de S. Questões socioeconômicas: o impacto sobre o planejamento da parentalidade. 2014. 137 f. Dissertação (Mestrado
em Teologia) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2014.
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
desse planejamento, desde o estudo das relações familiares
até a violência social e política.
Abre-se, assim, uma análise complexa de dupla via:
há impactos sociais no planejamento da parentalidade, o
modo como se vive a parentalidade é muito influenciado
pelas questões sociais. A dificuldade de acesso à educação
formal, por exemplo, causa menor acesso à saúde, e vice-versa. A violência sofrida pela mulher diminui sua capacidade de pensar a parentalidade e a parentalidade assumida
sem o necessário cuidado e planejamento gera aumento da
violência doméstica.
3.1 Saúde da mulher e gênero
Abordar a questão da parentalidade em nosso sistema
de saúde exige pensar a saúde da mulher e sua relação com a
questão de gênero. A perspectiva de gênero é uma exigência
de nossos dias e, embora não seja aceita por muitos, ela revela
situações de desigualdade antes camufladas. Tal perspectiva
nasce do fato de que, em diversas sociedades, encontramos a
definição do ser homem e do ser mulher colocada de maneira
diversa. Algumas sociedades trazem uma definição rígida dos
papéis, enquanto outras defendem uma flexibilidade nos papéis de ambos. O estudo de gênero aponta a imposição de papéis rígidos como ideologia, principalmente vinculada à ideologia da superioridade masculina. Assim, identificam-se os
mecanismos de determinação dos papéis sexuais por meio do
discurso competente do poder (CARRASCO, 2008, p. 132). Visto
que, em muitas sociedades, a responsabilidade sobre ter filhos
64
Parentalidade e questões sociais
e planejá-los está intrinsecamente vinculada ao papel social
da mulher, a perspectiva de gênero torna-se indispensável ao
estudo da parentalidade.
A hierarquia social pode ser, portanto, naturalizada a
partir da definição das relações de poder, e dessa forma, a
questão de gênero é definida como domínio do masculino
sobre o feminino, de modo que a violência de gênero, embora diga respeito às relações que envolvem homens e mulheres, “incide principalmente sobre as pessoas do sexo feminino e constitui uma questão de saúde pública” (MINAYO,
2010, p. 95).
Estudos realizados confirmam que a violência de gênero representa grave problema de saúde para a mulher.
Além disso, não é apenas uma anomalia na realidade brasileira. Em outros países, as mulheres não apenas sofrem
igual sorte, mas passam por situações ainda mais graves.
Essa tomada de consciência avança em ritmo mais lento do
que o desejado, como afirma Minayo (2010, p. 53): “o reconhecimento do problema da violência pela área da saúde no
Brasil vem se fazendo de forma fragmentada, lenta, intermitente, mas progressiva”.
Uma ação política organizada poderá, mesmo que aos
poucos, inserir a mulher no campo dos direitos econômicos
e da saúde. Essa tem sido a linha de ação:
a participação do movimento de mulheres brasileiras, na
introdução da violência de gênero na pauta do setor saúde
no Brasil, teve uma expressão fundamental na Construção
do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PAISM) promulgado em 1983 (MINAYO, 2010, p. 54).
65
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O acesso à saúde da mulher está relacionado à defesa
de sua dignidade, e a negação a esse acesso faz parte de um
amplo cenário de desigualdades sociais e econômicas. Essa
negação fere a dignidade da mulher e superá-la é tarefa de
todos, pois o “compromisso ético de garantir uma assistência
adequada e atenta às especificidades de nossa população
materno-infantil é um imperativo para todas as categorias
profissionais de saúde” (TELES; BORGES, 2005, p. 78).
3.2 Educação e cuidados em saúde
Constituem fatores de exclusão as questões étnicas,
educacionais e de gênero. A pouca atenção dada à tão importante questão social e humana tem nos levado a transformar em desigualdades o que é apenas uma diferença.
Segundo Martins (2006, p. 2474), “os dados evidenciam que
as mulheres negras vivem em piores condições de vida e
saúde. Vários autores afirmam que as mulheres negras têm
os piores níveis de renda e escolaridade no Brasil”.
A educação, ou a falta dela, é responsável direta pelo
sofrimento, pela dor e pela morte de muitas mulheres no
Brasil. Toma-se consciência de que a saúde é resultado de
múltiplos fatores, dentre eles o acesso à educação com qualidade. A questão da saúde relaciona-se à disponibilidade
de serviços de saúde, mas está também intrinsecamente
ligada à capacidade de autocuidado da população. Aqui se
evidencia a relação entre saúde e educação e, para nosso estudo, a relação entre escolaridade e saúde materno-infantil
(TREVISAN et al., 2002, p. 297).
66
Parentalidade e questões sociais
O nível de instrução, portanto, é muito relevante na
emancipação da mulher, necessária para que ela possa ser
parte ativa e consciente do planejamento e dos cuidados
necessários para a vivência da parentalidade. Trevisan et al.
(2002, p. 298) apontam para a falta de escolaridade e atividades educativas.
A constatação de que a baixa escolaridade estava significativamente associada à falta de qualidade da assistência
pré-natal é relevante, principalmente considerando-se a
baixa escolaridade das mulheres estudadas e a falta de
desenvolvimento de atividades educativas por parte das
equipes de saúde responsáveis pela atenção pré-natal.
Aqui nos deparamos com essa cadeia de questões
inter-relacionadas. A negligência no pré-natal não está apenas relacionada à morbidade e à mortalidade maternas, mas
também à mortalidade infantil. Crescem o índice de aborto
e a violência contra a família e a vida, situações cuja origem
está nas deficiências das políticas públicas e no baixo nível
de formação e informação das mulheres. O fato é que nos
parece que tudo está muito ligado: o nível de escolaridade feminina está diretamente atrelado à qualidade de vida
das mulheres e, consequentemente, de suas famílias. Desse
modo, para a mulher, a luta por emancipação passa pela luta
por sua saúde, ou seja, a luta para a superação da mortalidade e da morbidade maternas está inserida na luta pela
emancipação da mulher.
Reiteramos que, embora a educação como um todo seja
o caminho para as mudanças efetivas, para o planejamento
67
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
familiar é necessário especificamente o avanço na educação
sexual e na tomada de consciência dos chamados direitos
sexuais e reprodutivos. São variados os métodos e ainda escassas as orientações. Sem a cultura do planejamento familiar, resta evitar a gravidez, muitas vezes até sem acompanhamento clínico, sem orientação de profissional de saúde.
A combinação de práticas contraditórias de contracepção, assim como o uso indiscriminado de contraceptivos, são agentes silenciosos que, quando se manifestam, já é em forma de
doenças graves.
Por isso, o planejamento familiar deve ser realizado
com informação e conhecimento, a fim de escolher o momento pertinente para a concepção ou não. A decisão para
escolha do método contraceptivo deve ser avaliada pelo casal e pelo profissional de saúde, o que demonstra maturidade e responsabilidade, devendo-se levar em consideração a
idade, o nível socioeconômico, a paridade, o contexto social e
o religioso, o que melhora a qualidade de informações sobre
saúde reproduzida (CURITIBA, 2006).
A ineficiência e mesmo a ausência de políticas públicas de qualidade aparecem nas mutilações, nas situações
de morbidade materna e nos óbitos prematuros e causados
por doenças evitáveis passíveis de prevenção, mas que são
negligenciados. O planejamento familiar tem um impacto
positivo sobre o bem-estar de uma família, especialmente
na vida das mulheres e das crianças. Pode reduzir gravidez
de risco e a mortalidade materna.
68
Parentalidade e questões sociais
3.3 Parentalidade e violência
Outra questão social relacionada ao planejamento
familiar é a violência, especialmente a chamada violência
doméstica, que vitimiza principalmente crianças, mulheres
e idosos. “Em um mundo predominantemente povoado por
gravidezes se desejadas, por filhos se desejados, por partos
não traumáticos, por acolhimento pós-natais não traumáticos, senão acolhimentos cordiais, obteremos o alto grau de
paz política e social a que todos aspiramos” (BEÑERAF, 2006,
p. 58). De modo geral, um filho desejado e planejado com
responsabilidade tem maior possibilidade de ser acolhido
com alegria, criado com respeito e sem violência.
Estudos apontam que o âmbito familiar é o lócus
privilegiado da violência contra a criança e “assume formas
variadas, isto é, através de violência física, violência sexual,
violência psicológica, abandono intencional e negligência, ou
seja, por um conjunto de atos violentos denominados ‘maus-tratos’” (DESLANDES, 1994, p. 178). Por se tratar de uma realidade familiar, há, todavia, uma relação de cumplicidade entre
os adultos agressores, entre os que maltratam e os que acobertam ou ajudam a acobertar. A renda e o grande número de
filhos — elemento diretamente relacionado com planejamento familiar — são fatores agravantes dessa violência:
as condições econômicas das famílias atendidas neste
serviço apontam que a maioria absoluta (sempre acima
de 70,0%) percebe uma renda familiar variando entre
‘menos de um salário mínimo (SM)’ a ‘três salários mínimos’. Dessas famílias investigadas, cerca de 80,0% têm
69
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
dois ou mais filhos, agravando a situação de pobreza
constatada (DESLANDES, 1994, p. 179).
No âmbito de um estudo sobre planejamento da parentalidade, enfatizaremos a questão da violência contra a
mulher, especificamente nos aspectos relacionados com a
concepção, a gestação e a parto. A violência contra a mulher
apresenta-se como expressão cultural, tendo por consequência máxima a morbimortalidade materna. Porém, antes de
chegar à fase mais aguda, acontecem variadas formas de discriminação, preconceitos e opressões específicas e têm sua
origem e sua razão no fato de ser mulher.
Os dados sobre a morte materna no mundo são, sob
todos os aspectos, assustadores.
a cada minuto morre no mundo uma mulher em virtude de complicações da gravidez e do parto. Ao fim de
um ano, todas essas mortes somam 529 mil, a maioria
das quais ocorre em países em desenvolvimento e poderia ser evitada. Para cada mulher que morre, outras
trinta sofrem sequelas ou problemas crônicos de saúde
(MARTINS, 2006, p. 2473).
Chamam a atenção não somente os números, por si
só assustadores, mas a forma silenciosa como ocorrem essas
mortes. Novamente, a situação socioeconômica e a escolaridade aparecem como fatores que agravam os índices relacionados à mortalidade materna, como vemos no trabalho
de Martins (2006, p. 2474):
70
Parentalidade e questões sociais
é consenso que a mulheres acometidas pela morte materna são as de menor renda e escolaridade. O Comitê
Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna do
Paraná (CEPMM-PR) referiu, em 1997, que 52,5% dos
óbitos maternos ocorreram em mulheres com renda de
1 a 4 salários mínimos, 86,8% em mulheres com escolaridade de 1 a 4 anos e maior risco no grupo entre 35
a 39 anos. Outros estudos confirmam que as mulheres
mais pobres também apresentam em geral maior número de filhos e menor acesso à assistência.
Também em âmbito mundial os estudos reconhecem
que os dados sobre mortalidade materna são incertos e impactados por muitos fatores (MARSTON; CLELAND, 2004,
p. 8), mas os dados apresentados pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) indicam que o número de mortes por aborto inseguro permanece perto de 13% de toda mortalidade
materna. Estima-se que 21.6 milhões de abortos inseguros
ocorreram no mundo em 2008. A média de aborto inseguro permanece inalterada: perto de 14 abortos inseguros
por cada 1.000 mulheres com idade entre 15 e 44 anos.
“Possivelmente o número de abortos inseguros continuará
a aumentar ao menos que sejam implantando e fortalecidos
medidas para aborto seguro, contracepção e suporte para
empoderamento da mulher (incluindo liberdade de decidir
se e quando ter um filho)” (WORLD HEALTH ORGANIZATION WHO, 2011, p. 1), 2011, p. 1).
Do ponto de vista de saúde — estritamente biológica,
que mais pesa no sistema de saúde —, o aborto inseguro é
mais cruel, porém não podemos perder de vista que todo
71
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
aborto induzido (safe ou unsafe) é problemático. Essa ponderação não se reflete nos documentos da OMS, os quais
aparentemente apresentam a solução do problema apenas
com a implementação do aborto seguro. Desse modo, a preocupação com o aborto se mistura com a preocupação com
o aborto, que ocorre em condições inseguras. Relatórios mais
recentes apresentam números maiores.
Em cada ano, no mundo todo, aproximadamente 210
milhões de mulheres engravidam e mais de 135 milhões dão à luz bebês vivos. As outras 75 milhões de
gravidezes terminam em interrupção do parto, por
aborto espontâneo ou induzido. Estima-se que em
2003 aproximadamente 42 milhões de gravidezes foram terminadas voluntariamente: 22 milhões com segurança e 20 sem segurança (WHO, 2011, p. 2).
A OMS define aborto inseguro (unsafe) como um procedimento para dar fim a uma gravidez não desejada realizado por pessoas com falta de habilidades ou em ambiente
que não apresenta um mínimo padrão médico, ou ambos, e
estabelece uma relação forte entre aborto inseguro e mortalidade materna (WHO, 2011, p. 2).
A mortalidade materna é apresentada como a mais
grave consequência do aborto inseguro. Os dados estatísticos são complexos, mas mostram que a mortalidade materna
acontece de modo específico em diferentes partes do mundo, mais na África do que na América Latina, e muito menos
na Europa. Desse modo, uma gravidez na África tem 35 vezes
72
Parentalidade e questões sociais
mais probabilidade de matar uma mulher do que na Europa
(MARSTON; CLELAND, 2004, p. 7). O fato da mortalidade materna nos países ricos ser tão baixa implica que a maioria
das mortes maternas nos países pobres podem ser evitadas,
não apenas pelo aumento da riqueza mas principalmente
pela melhoria dos serviços pré-natal e de parto (MARSTON;
CLELAND, 2004, p. 7).
Mortalidade materna está claramente relacionada à
idade das mulheres quando estatística simples são examinadas: ela é relativamente alta em idade materna jovem, é
mais baixa na idade de 20 a 29 anos e aumenta à medida
que a idade materna aumenta, formando uma curva do tipo
J. Outros fatores são o número de partos e o espaçamento
entre os partos (MARSTON; CLELAND, 2004, p. 9). A relação
entre contracepção e mortalidade materna é óbvia, pois diminuindo a taxa de gravidez diminui também a taxa de mortalidade materna. Quando a gravidez é desejada, planejada,
tende a ocorrer num contexto de maiores condições de cuidados pré-natais, de parto e pós-parto.
3.4 Contracepção e aborto
Gravidezes não planejadas constituem uma séria responsabilidade de saúde pública, pois se percebe claramente
uma relação entre aborto e contracepção, sendo que em alguns momentos a contracepção diminui o aborto, conforme
indicam estudos da Organização Mundial da Saúde: “Um aumento no uso de contraceptivos e o uso de métodos efetivos
73
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
diminuem a taxa de aborto” (WHO, 2011, p. 10), visto que
“gravidezes não intencionais e abortos induzidos podem ser
prevenidos ao se expandir e melhorar os serviços de planejamento e escolha familiar” (WHO, 2011, p. 10).
Em outros momentos, percebe-se que a falha na contracepção leva ao aborto. Berer (2009, p. 1) aponta que, enquanto a fertilidade declinou para quase metade dos países
em desenvolvimento desde os anos de 1960, a motivação
para controlar e espaçar os nascimentos cresceu mais rápido
do que as taxas de uso de contraceptivos, pois as pessoas
que decidem que querem menos crianças utilizam-se de
uma combinação de métodos contraceptivos modernos e/
ou tradicionais e aborto. A extensão e a efetividade do uso
contraceptivo possuem influência nas taxas de aborto, mas
todos os métodos podem falhar, a despeito do bom uso e do
uso consistente.
Essa relação entre aborto e contracepção foi percebida em países asiáticos onde as taxas de aborto foram influenciadas por políticas populacionais nacionais. Na China,
após a introdução da política de um filho entrar em vigor,
houve um grande aumento no número de abortos. Também
no Vietnã, a contracepção influencia as taxas de aborto pela
política de dois filhos, o desejo de famílias menores e serviços contraceptivos inadequados (BERER, 2009, p. 1).
Mesmo em países onde a prevalência contraceptiva é
muito alta, ainda existem gravidezes não planejadas e abortos. A Holanda tem um programa amplo de educação sexual,
bons contraceptivos e serviços de contracepção de emergência: apenas 6% do primeiro nascimento não são planejados e a taxa de aborto é uma das mais baixas do mundo
74
Parentalidade e questões sociais
(6 por 1.000 em 1994, comparando 26 por 1.000 nos Estados
Unidos), mas o aborto continua uma parte necessária do controle de fertilidade (BERER, 2009, p. 1).
A relação entre aborto e contracepção é clara, visto
que “[...] apenas o uso de contraceptivos é incapaz de suprir
as demandas crescentes de regulação da fertilidade, principalmente nos estágios iniciais da transição de fertilidade.
Por volta de 1962 este padrão foi observado em Santiago,
Chile” (WHO, 2011, p. 10). Assim, a utilização de métodos contraceptivos menos eficazes significa maior taxa de aborto,
como mostrado no trecho do documento:
Gravidezes acidentais são mais comuns nos utilizadores dos méttodos tradicionais; substituindo métodos
tradicionais por métodos mais modernos é possível reduzir as falhas contraceptivas em 40%. Também, onde
métodos de planejamento familiares menos eficazes
são comumente utilizados, gravidezes não planejadas,
e consequentemente abortos, são mais prováveis de
acontecer (WHO, 2011, p. 11).
É importante destacar que a contribuição da contracepção para reduzir a mortalidade e a morbidade materna é
universalmente conhecida (MARSTON; CLELAND, 2004, p. 5)
e estima-se que “de quatro abortos inseguros três poderiam
ser eliminados se a necessidade de planejamento familiar
fosse totalmente entendida” (WHO, 2011, p. 10).
A reflexão sobre o aborto não pode se apresentar como
a única e determinante na defesa da vida, no entanto, é uma
reflexão necessária, em virtude do contexto sociocultural em
75
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
que vivemos. O aborto tem sido a causa de grandes transtornos para a sociedade, principalmente para as mulheres em
condições sociais fragilizadas e desfavoráveis, deixando-as
em estado de maior vulnerabilidade.
O aborto não pode ser simplesmente incluído no
campo das liberdades civis de fazê-lo ou não. As polêmicas
e os dados existentes sobre o aborto no Brasil o tornam um
problema ainda mais grave, já que temos apenas estimativas
que, muitas vezes, nos dão números assustadores. Entretanto,
ao mesmo tempo que nos causam espanto, também denunciam a distância das políticas públicas de saúde da realidade
da vida, de modo especial a vida das mulheres, e entre elas, a
das mulheres economicamente pobres: “uma das estimativas
de aborto induzido mais citadas para o Brasil — 1,4 milhão
de abortos induzidos ao ano teve como base informações
de profissionais de saúde e registros hospitalares” (OLINTO;
MOREIRA FILHO, 2004, p. 331). É um número expressivo, ainda mais quando sabemos que são estimativas, fruto de dados parciais, o que nos induz a pensar que o número pode
ser ainda maior tendo passado dez anos.
O aborto tem sido abordado por nós como um “pacote
de dor” para todos os envolvidos, e certamente o planejamento familiar poderá atuar em suas causas. Melhor acesso
a planejamento familiar significa menor incidência de gravidezes indesejadas.
76
4
Parentalidade e religião6
Dentro do grande projeto de pesquisa sobre o Projeto
de Parentalidade existe uma perspectiva que, a nosso ver, é
também significativa. Trata-se da perspectiva religiosa e sua
influência no planejamento da parentalidade. Como a temática é muito ampla, vamos nos ater mais às influências das
religiões marcadas pela Tradição Bíblica.
Para tanto, o fio condutor da pesquisa proposta será,
em primeiro lugar, a Bíblia, tanto no Novo quanto no Antigo
Testamento. É de extrema importância compreender que não
se trata de um trabalho de exegese, mas da busca de respostas às questões aqui propostas a partir da revelação divina, onde Deus se manifesta ao ser humano, como afirma a
Constituição Dogmática Dei Verbum (DV, n. 167). Outro texto
sagrado a ser estudado com o mesmo reconhecimento dos limites desta pesquisa é o Corão, fonte da fé Islâmica, por esta
6
Uma abordagem mais completa da temática se encontra em:
SANTOS, R. B. dos. Impacto da tradição bíblica no planejamento
da parentalidade. 2013. 122 f. Dissertação (Mestrado em Teologia)
– Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2013.
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
fazer parte das chamadas religiões do Livro (BORAU, 2008):
o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, colocados nessa
ordem em virtude da sequência histórica do surgimento de
cada uma. Tanto para o Cristianismo como para o Islamismo,
a Tanakh, texto sagrado do Judaísmo (BORAU, 2008, p. 23),
reconhecida pelos cristãos como Antigo Testamento, é que
dá as bases da fé monoteísta seguida por essas três grandes
religiões a serem estudadas aqui, com o intuito de verificar,
nelas, sua influência no planejamento da parentalidade.
4.1 Parentalidade no Ocidente:
religião ou cultura?
Quando estudamos a parentalidade no Ocidente, deparamo-nos constantemente com a influência das religiões.
Surge, então, a questão a respeito da cultura e da religião, no
sentido de poder perceber como se relacionam nesse contexto.
Primeiramente, faz-se necessário o reconhecimento do conceito
de cultura, para possibilitar a distinção de suas peculiaridades,
respeitando, assim, os limites entre cultura e religião.
Para Franz Boas (2010, p. 113), a cultura revela a totalidade das relações dos indivíduos de um determinado
grupo. Entretanto, para se falar de religião, é preciso perceber que há algo diferente entre relações culturais e relações religiosas. Nas relações culturais, os objetos podem
ser vistos e conhecidos em sua materialidade, além dos aspectos subjetivos que os envolvem. Na relação religiosa, o
fundamento é a fé que se manifesta na crença, como afirma
78
Parentalidade e religião
Sanches (2010, p. 155): “a crença é um elemento básico da
realidade cognitiva humana”.
Certamente, podemos afirmar que cada uma das grandes religiões surgiu num determinado contexto sócio-histórico-cultural. Sendo assim, é fundamental perceber que é
a partir da cultura que se formam os conceitos religiosos,
para que se reconheçam os efeitos dessa relação na maneira
como um povo que comunga da mesma fé enfrenta os desafios de seu contexto.
Como afirma Tillich (1988, p. 160), “cada religião é em
si mesma um fenômeno cultural”. Entretanto, é interessante perceber o quanto esse fenômeno abrange as culturas
humanas, e, segundo Hefner (2000, p. 91), “cultura é onde
a religião acontece; religião está localizada dentro da cultura”. Mas, é importante perceber que a cultura também
é marcada pela religião, pois, sabe-se que o ser humano,
desde seu aparecimento no palco da história, manifesta o
desenvolvimento de uma atividade religiosa, e que segundo
Rampazzo (1996, p. 52), “todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural, cultivaram alguma forma de
religião”, e que “todas as culturas são profundamente marcadas pela religião”. Por outro lado, segundo Geertz (1989,
p. 124-125), a afirmação de que todas as sociedades e todos
os homens são religiosos não tem confirmação científica,
por não existir um estudo antropológico a respeito desse
tema, especificamente elaborado. Contudo, Mondin (1983,
p. 219) discorda dessa opinião, pois afirma que a religião é
uma manifestação tipicamente humana.
Cada cultura vive sua religião e nela o ser humano se
projeta rumo a uma busca que deverá culminar no encontro
79
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
entre sua materialidade e sua transcendência. Nesse processo há toda uma gama de valores que colaboram na construção de normas éticas que conduzem um povo e isso é diretamente influenciado pela religião, que sendo um “sistema
organizado de símbolos, ligados à tradição, contribui para
que os indivíduos concretos adotem sua atitude religiosa
pessoal” (RAMPAZZO, 1996, p. 52).
A existência do ser humano é profundamente marcada pela religião, mesmo que de forma negativa. Entretanto,
quando bem situada ela possibilita uma existência mais
plena e comprometida com toda a criação. Como afirma
Rampazzo (1996, p. 54): “A religião faz parte do ser do homem: sem ela, o homem fica mutilado da dimensão fundamental da própria existência”. Percebe-se então que, inserido
em uma cultura, o sujeito pode viver sua transcendência.
Quanto a isso, Geertz (1989, p. 104) afirma que pela religião
a razão encontra razões para compreender de maneira mais
humana seu sentido existencial.
4.2 Abraão, o pai
Quando se fala das três religiões monoteístas, ou
Religiões Abraâmicas (BORAU, 2008, p. 10) — Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo —, fala-se dos descendentes de Abraão
que afirmam sua descendência como parte de sua confissão de
fé. Para os judeus, ele é seu pai na fé, para os cristãos e muçulmanos, é considerado o pai dos que creem (BORAU, 2008, p. 14).
Ao buscar os textos sagrados, observamos em seu contexto que a fertilidade é uma bênção divina. Por exemplo, no
80
Parentalidade e religião
caso de Abraão (Gn 21), um bem supremo e inigualável. Abraão
não se preocupava tanto com outras coisas quanto com a promessa por uma descendência vigorosa e incontável. Um filho
legítimo, nascido da união entre o esposo e a esposa, apesar
da possibilidade de uma escrava gerar filhos para o casal, é o
sinal legítimo da bênção de Deus e certeza da continuidade
da família e da permanência dos bens conquistados na família. Para Abraão, não há razão em receber muitas bênçãos de
Deus e não ter um herdeiro legítimo (Gn 15).
O filho desejado por Abraão é o único digno de desfrutar do resultado do esforço de toda uma vida. Esse filho
é querido e amado muito tempo antes de ser efetivamente
gerado. Potencialmente, ele já existia na vida de Abraão e
Sara, fazendo parte de seus mais remotos planos. Uma casa
de família repleta de filhos é sinal da bênção de Deus que
eterniza na descendência o amor do casal que os gera, ama
e educa. Tal é a importância dada à descendência na história
de Abraão, que toma os capítulos 15, 16, 17,18, 21 e 22 do
livro do Gênese.
Na história de Abraão, percebe-se nitidamente a herança da cultura anterior ao que se pode chamar de mundo
bíblico. Tanto no que se refere à própria cultura suméria e
babilônica, quanto ao contexto em que ele se insere quando
migra para o ocidente do Crescente Fértil, onde se depara
com novos povos e culturas.
O relato bíblico mostra Abraão como um homem que
viveu sua fé segundo seu contexto histórico e foi ao longo
de sua vida que ele percebeu a presença de Deus e passou
a se relacionar de maneira cada vez mais próxima com Ele.
Ansioso por ter um filho para dar sequência à sua família,
81
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Abraão oferece ao Senhor um sacrifício que se transforma em
aliança (Gn 15,18). Contudo, a aliança firmada aparentemente
não foi suficiente para que Abraão esperasse no Senhor.
Sendo originário da Mesopotâmia, Abraão seguia as
leis locais como qualquer cidadão de sua terra e de sua época, as quais previam soluções para problemas de seu contexto, dentre eles, a impossibilidade de gerar filhos. Para os
mesopotâmicos, um filho era uma propriedade muito valiosa,
pois podia gerar lucros a seu pai, além de pagar com seu
trabalho os custos de sua criação; o pai recebia os salários
referentes ao trabalho do filho que fora alugado a outra pessoa, e podia penhorá-lo ou vendê-lo para dar conta de uma
dívida (HAMURABI, 2005, p. 28).
Diante dessa realidade, Sarai (mais tarde, Sara), esposa de Abraão, preocupada com a situação de seu esposo,
lança mão de uma intervenção terrena na busca da solução
da sua infertilidade7: “sua mulher Sarai tomou Agar, a egípcia,
sua serva, e deu-a como mulher a seu marido, Abrão. Este
possuiu Agar, que ficou grávida” (Gn 16,3-4).
Olhando para o texto bíblico que descreve a vida de
Abraão, faz-se necessário buscar a legislação vigente no
período em que o texto se situa. Trata-se do Código do Rei
Hamurabi (1728-1686) (CHARPENTIER, 1980, p. 25), que regulava as ações da sociedade na Babilônia. Esse código foi
7
“Segundo o direito mesopotâmico, uma esposa estéril podia dar
a seu marido uma serva como mulher e reconhecer como seus
os filhos nascidos dessa união”. Nota de rodapé da Bíblia de
Jerusalém, p. 53.
82
Parentalidade e religião
colocado em praça pública para que todos pudessem conhecê-lo e cumpri-lo (HAMURABI, 2005, p. 9).
O relato bíblico diz que Sarai não hesita em fazer uso
desse direito conferido pela lei, pois o filho nascido dessa
relação seria reconhecido como seu. O plano de Sarai tem
êxito, e Agar, a escrava, engravida. Contudo, o texto mostra
que, ao se perceber grávida, Agar começa a tratar Sarai com
desprezo (Gn 16,4), o que imediatamente desencadeia uma
reação de sua senhora, que exige de Abrão uma atitude. Com
a autorização de seu esposo, “Sarai a maltratou de tal modo
que ela fugiu de sua presença” (Gn 16,6). Contudo, Agar retorna e permanece por um tempo na condição que lhe é imposta e, depois, acaba sendo expulsa com seu filho Ismael, a
pedido de Sara (Gn 21).
Os capítulos 17 e 18 do Gênese, contam a respeito da
gravidez de Sarai, que passa a se chamar Sara, assim como
Abrão passa a se chamar Abraão, pois se tornará “pai de uma
multidão de nações” (Gn 17,5). Esse relato desencadeia o que
se pode perceber como a primeira crise de Abraão como pai
não só no nome, mas efetivamente.
O capítulo 22 do Gênesis traz o relato do sacrifício de
Isaac, que tem sido utilizado para confirmar a fé de Abraão
e sua obediência incondicional a Deus, de maneira que sua
fidelidade possa ser compreendida “no sentido mais forte do
termo” (BRIEND, 1980, p. 38).
O centro dessa reflexão se dá no sentido de mostrar
Abraão como temente a Deus de maneira incondicional, “capaz
de sacrificar até mesmo o futuro da promessa e que abandona
o seu primogênito nas mãos de Deus” (BRIEND, 1980, p. 38), e
“se entrega totalmente a Deus quanto ao futuro desta promessa
83
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
feita no capítulo 15” (COLLIN, 1988, p. 42), quanto à herança a
ser recebida pelo filho de seu sangue (Gn 15,4).
Contudo, a manifestação de fé de Abraão se destaca em
Gn 22,8 (COLLIN, 1988, p. 42), quando responde a Isaac que lhe
pergunta sobre onde estaria o cordeiro para o holocausto (Gn
22,6-7), diz: “É Deus quem proverá o cordeiro para o holocausto, meu filho”. Tal afirmação de Abraão manifesta claramente
um rompimento com a cultura local no que diz respeito ao
sacrifício de crianças. O que Abraão oferece em sacrifício não
é seu filho, mas um cordeiro, mostrando que a fé do patriarca
rompe com os sacrifícios infanticidas de sua época. O Deus de
Abraão quer o ser humano vivo, e não a sua morte. Esse relato
mostra uma mudança de uma prática religiosa que ocorreu
perto do ano 700, quando Israel rompe com os sacrifícios de
crianças praticados no mundo urbano monárquico.
4.3 Judaísmo e parentalidade
Em 722 a.C., o reino do Norte cai diante do Império
assírio e, em 587, Nabucodonosor destrói o primeiro templo
de Jerusalém, exilando a população local na Babilônia até
que, em 530 a.C., Ciro, imperador persa, toma a Mesopotâmia
e favorece a volta do povo exilado a Jerusalém e colabora
com a reconstrução do Templo (BORAU, 2008, p. 32).
É no exílio que esse povo começa a se referir a seu
Deus como único que existe. Com “o Israel pós-exílico, começa
a história do Judaísmo” (TASSIN, 1988, p. 7). É a partir do exílio
que a identidade judaica se define por meio da reação que
ocorre por parte dos profetas e dos sacerdotes do exílio, que
84
Parentalidade e religião
perceberam a urgência de viver agora com fé no Deus único e
obediência à Lei. Afinal, a derrota para Babilônia tinha um sentido muito mais profundo do que uma mera disputa territorial.
Com o exílio, há uma releitura da história por parte
dos exilados, e seu retorno se dá em face da experiência dos
49 anos do exílio entre 587 e 538 a.C. (SAULNIER; ROLLAND,
1983, p. 44). O Judaísmo nasce de uma experiência purificadora, na qual tudo que fazia parte de sua identidade antes do
exílio ganha novo significado. As próprias consequências da
aceitação de Deus por parte de Israel sempre foram confusas,
pois “nunca as compreendia plenamente” (MCKENZIE, 1971,
p. 134). Não que isso sirva de justificativa para o que aconteceu na história desse povo, mas essa crise colaborou para
uma busca no sentido de reconhecer-se como povo de Deus,
de maneira muito mais comprometida. Por outro lado, o exílio
significou, também, uma diáspora (TASSIN, 1988, p. 14).
Além disso, o judeu contrasta do antigo Israel de muitas maneiras, pois após o exílio teve mudanças profundas em
seu modo de existir. A geografia e o regime político não serão
mais os mesmos, e cede sua importância ao “arcabouço religioso que lentamente vai se instalando” (TASSIN, 1988, p. 69).
Enquanto geograficamente o território judaico se reduz consideravelmente, é na diáspora que sua extensão ganha volume.
É a centralidade da Torá que manifesta a identidade do
Judaísmo que se levanta do exílio, apesar de não haver uniformidade na interpretação da lei. Contudo, o Templo de
Jerusalém mantém sua centralidade na devoção judaica e
continua sendo o lugar onde o povo se encontra com Deus.
A família na época patriarcal era numerosa, e trazia
consigo preocupações diferentes, pois sua realidade era
85
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
outra. Eram pastores nômades ou camponeses que necessitavam de um maior número de pessoas. Como não faziam
parte da população de uma cidade, não tinham exército
que os protegesse. Por isso, uma grande família significava também proteção aos seus membros. Em Gn 14,14, o relato mostra que Abraão reuniu 318 homens de sua família
para resgatar seu sobrinho “Ló das mãos dos reis invasores”
(ALEXANDER, 1987, p. 278).
Além da importância conferida à quantidade de filhos,
pois quanto maior “mais forte e rica será a família” (RAMOS,
1999, p. 26), os filhos representam uma prolongação dos pais
(Tb 9,6; Eclo 30,4-6), que, como é possível verificar em boa
parte do Antigo Testamento, não acreditavam em vida após
a morte (RAMOS, 1999, p. 27).
Em outras palavras, os filhos proporcionam a manutenção da vida de uma família. Não somente no sentido biológico, mas também no sentido em que levam à frente as
tradições familiares com seus valores e suas peculiaridades.
É um bem que projeta a família para o futuro, trazendo consigo as raízes que fundamentaram sua existência. Por outro
lado, a perda de um filho era uma chaga incurável.
Contudo, havia também a ideia de controle da natalidade. Segundo Angus Mclaren (1997, p. 68), “os rabinos judeus recomendavam igualmente a política de ‘malhar dentro
e joeirar fora’ enquanto uma mulher amamentasse”. Com relação ao aborto, atualmente, só é permitido no caso de risco
de morte para a mulher (SCHERER, 2005, p. 109).
Assim, diante dos fatos apresentados pela literatura
pesquisada a respeito do pensamento judaico no que se refere ao planejamento da parentalidade, conclui-se que ter filhos
86
Parentalidade e religião
é extremamente importante. Constituir família, gerar e educar
os filhos são fatos que em si revelam para a família judaica
uma manifestação clara da presença e da benção divina em
sua vida, e confirmam a aliança de Iahweh com seu povo.
4.4 Cristianismo e parentalidade
O cristianismo nasce “no seio do judaísmo” (WEBER,
1970, p. 206) e traz consigo toda a herança de onde nasceu.
Abraão é seu patriarca, o que se pode observar na genealogia de Jesus, iniciada na pessoa de Abraão, apresentada em
Mateus 1,1-17. Isso reflete na formação do pensamento cristão, que não se desliga de suas raízes, afirmadas por Paulo
em Gálatas 3,16: “Ora, as promessas foram asseguradas a
Abraão e à sua descendência. Não diz: ‘e aos descendentes’,
como referindo-se a muitos, mas como a um só: e à tua descendência, que é Cristo”. Para Paulo, Cristo é “O” descendente
de Abraão, e isso está claro para os cristãos que se situam
existencialmente na perspectiva da fé, desde os textos mais
antigos da Sagrada Escritura. Ou seja, para o cristianismo
que nasce no seio do judaísmo, tanto o Antigo quanto o
Novo Testamento são fontes que revelam a inspiração divina
a partir da realidade dos patriarcas que são, a exemplo dos
judeus, seus patriarcas.
Cabe aqui a clareza da adequada interpretação entre
o Jesus histórico e o Jesus mostrado a partir da fé de seus seguidores. Para uma visão baseada na fé, ele é o Filho de Deus
(Mc 1,1.15,39b), o Messias (Mt 5-7), o Senhor (Lc 7,13.19), o
87
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Salvador (Lc 2,11; At 5,31; 13, 23), o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo (Jo 1,29).
A atividade de Jesus pode ser situada a partir dos relatos evangélicos. Nos evangelhos de Lucas e Mateus (Lc 1,5;
Mt 2), sua atuação pública se dá a partir de seus 30 anos de
idade aproximadamente (Lc 3,23), ocorreu durante poucos
anos e em uma área restrita de sua região, mais precisamente na região da Palestina de população judia, principalmente
na Galileia. Em seu contexto, Jesus seguiu naturalmente as
tradições a que estava ligado. Sua vida era de um pobre trabalhador com poucos recursos e muitas dificuldades. A partir
do momento em que assume sua atividade de pregador do
reino de Deus, abandona sua atividade profissional e segue
seu caminho até o fim.
Jesus prega “um mundo novo mais justo e fraterno,
no qual Deus pudesse reinar como Pai de todos” (PAGOLA,
2011, p. 51), ou seja, o reino de Deus é onde Ele pode reinar como Pai de todos, e se pode é pela aceitação e pelo
envolvimento da humanidade nesse reino, onde ninguém é
coadjuvante, mas todos protagonizam sua materialização
no contexto humano. Para Jesus, Deus, que é Pai, quer estar
muito próximo da humanidade e de toda sua criação, manifestando seu amor e seu cuidado com todos. Isso se revela
por meio das atitudes do próprio Jesus, que se aproxima
de todos os excluídos em seu tempo, em virtude, principalmente, do rigor da Lei.
Essa percepção deu ao cristianismo seu caráter universal, concretizado pela atividade missionária da Igreja
nascente, principalmente por Paulo. No segundo século, já
se percebe um alcance da missão cristã a todos os povos
88
Parentalidade e religião
do espaço mediterrâneo. Irineu de Lião menciona em seus
escritos a existência de igrejas na Espanha, no Egito, entre os celtas, no leste, na Líbia e nas províncias germânicas
(LENZENWEGER et al., 2006, p. 15).
No que se refere à parentalidade, a história de Jesus
contada pelos evangelhos de Mateus e Lucas, encontram-se
relatos que vão diretamente ao centro da discussão a respeito da dignidade da vida desde a vida intrauterina.
No evangelho de Lucas, ocorre a narrativa do anúncio do nascimento de João Batista (1,5-25): “ficará pleno do
Espírito Santo ainda no seio de sua mãe (1,15). Em seguida,
ocorre o relato da anunciação do nascimento de Jesus (1,2638) por obra do Espírito Santo, e em Lc 1,39-41, está a visitação de Maria a Isabel. Esse encontro, marcado por forte emoção, revela que, quando Maria chega, “a criança lhe estremeceu
no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 1,41).
No evangelho de Mateus, não se encontram tantos
detalhes, a não ser com respeito ao cuidado de José em repudiar Maria secretamente, pois a denúncia por adultério e
fornicação resultaria na pena de lapidação, ou seja, Maria
seria apedrejada até a morte (Dt 22,22-29). Contudo, José é
alertado durante um sonho para que não temesse receber
Maria como sua esposa, pois a criança havia sido gerada pelo
Espírito Santo (Mt 1,20).
Em todos os relatos citados, observa-se o cuidado
para expressar o valor da vida dessas crianças já no útero de
suas mães de maneira muito especial.
O desenvolvimento cultural que ocorreu no cristianismo desde sua origem até a atualidade trouxe opiniões
e debates que se estenderam durante longos períodos. Com
89
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
respeito à parentalidade, surgiram dentro da história cristã
diversos pontos de vista.
As influências externas que permearam o contexto
histórico-cultural do cristianismo nascente, contribuíram para
formular um pensamento ético que serviu de referência para
o modo de ser naquele contexto. A opção pelo celibato que
Paulo expressa em 1 Cor 7,1b: “É bom ao homem não tocar
em mulher” é um exemplo claro da influência grega no pensamento cristão, que teve seu início num mundo helenizado.
Isso é uma novidade marcante num mundo ainda judeu, pois
para os judeus um homem que não se casava não era bem
visto por seu povo. Entretanto, isso se justifica pelo contexto
de perseguição e martírio que os primeiros cristãos viviam.
A herança grega que mais influenciou o cristianismo
foi o estoicismo. O ideal estoico é conduzido pela apatia, de
modo que se deve romper relações diretas com o tempo e
com o mundo, sendo que só assim seria possível ser feliz.
É fundamental no estoicismo mudar os desejos e não se preocupar com a ordem do mundo, pois se deve ter fé na providência divina. É essencial que se viva segundo a natureza
(CHÂTELET, 1973, p. 178), conduzindo a ação humana segundo
suas tendências naturais (CHÂTELET, 1973, p. 19). O pensamento estoico afirma que o ser humano deve viver sua plenitude buscando a naturalidade, ou seja, sua realização está
naquilo que naturalmente se manifesta em sua humanidade.
Há, contudo, um processo dialético no que diz respeito
ao conceito de parentalidade do cristianismo nascente. Como
reflexo da influência cultural contemporânea, começam a
surgir manifestações daqueles que são considerados os pais
da Igreja, a partir da cultura que os cercava, e revelavam ter
90
Parentalidade e religião
mais clareza a respeito dos problemas da procriação do que
seus contemporâneos pagãos. Sua forma de pensar essa
questão, de certa forma e não intencionalmente, acabou legitimando o uso de meios por parte das mulheres no sentido
de controlar os partos (MCLAREN, 1997, p. 86).
Clemente de Alexandria (150-215) acusava de blasfêmia aqueles que por sua continência iam contra a vontade
do Criador e pregavam a rejeição ao casamento e à geração
dos filhos. Apesar de sua simpatia com o casamento, pois
por ele se podia produzir filhos, afirmava que um casamento
casto era o ideal; verifica-se com clareza nessa afirmação
a influência estoica (MCLAREN, 1997, p. 91). Para Orígenes
(185-255), o casamento era tão pecaminoso a ponto de considerar que os casais não podiam rezar em sua cama, por ser
o lugar de seu pecado (MCLAREN, 1997, p. 90).
Uma das figuras mais marcantes do pensamento
cristão é Aurélio Agostinho, mais conhecido como Santo
Agostinho, que criou um paradigma de fortíssima influência no pensamento cristão por muito tempo, afirmando que
o casamento tem seu valor na progenitura, na fidelidade e
na continência. Não há nenhuma menção ao amor entre os
esposos, pois “o ‘amor’ era considerado pelos cristãos desse
contexto histórico, como o tinha sido pelos pagãos, uma paixão subversiva e destrutiva e, por conseguinte, perigosa no
casamento” (MCLAREN, 1997, p. 92). Apesar de seu respeito
pelo casamento, diante dos riscos que se corria ao se tornar
escravo da lascívia, Agostinho considerava mais adequado o
celibato, pois para ele o mal não estava na copulação, mas
no prazer que a acompanhava, e com isso, mais tarde as relações sexuais prazerosas foram consideradas pecado venial e
91
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
o próprio crescei e multiplicai foi interpretado no sentido da
razão e não da procriação (MCLAREN, 1997, p. 92-93).
Tertuliano (155-220) questionava a vontade de gerar
filhos por causa dos riscos que ofereciam à fé. Para Cesário
(503-543), Bispo de Arles, a maior parte dos filhos quando se
tornam adultos, desejam a morte dos pais (MCLAREN, 1997,
p. 94). Apesar de tudo isso, os cristãos faziam peregrinações
em que recorriam aos santos para vencer a esterilidade
(MCLAREN, 1997, p. 98).
Todas essas perspectivas foram, ao longo dos séculos,
sofrendo as influências culturais de cada época. Entretanto,
no século XIX, na linha das igrejas protestantes, a intervenção era cautelosa no que se referia a assuntos familiares;
preferencialmente, discussões a respeito das questões sexuais eram evitadas. As esposas protestantes defendiam a maternidade e preocupavam-se com os métodos masculinos de
contracepção, pois nesse contexto eram associados à prostituição. Além disso, o celibato já havia sido questionado por
Lutero em seu tratado De Votis Monasticis M. Lutrei Judicium,
publicado em fevereiro de 1522 (VALENÇA, 1974, p. 97).
A Igreja Católica, já no século XX, manifesta-se de maneira contundente a respeito do controle de natalidade, com
um documento polêmico e questionado até por alguns bispos. Trata-se da Encíclica Humanae Vitae, de Sua Santidade o
Papa Paulo VI, sobre a regulação da natalidade.
O tema da regulação da natalidade já vinha preocupando o Magistério da Igreja havia algum tempo. Em virtude
disso, o Papa João XXIII criou uma comissão pontifícia para o
92
Parentalidade e religião
estudo da população, da família e da natalidade, confirmada
pelo Papa Paulo VI, que, durante seu discurso aos cardeais
em 23 de junho de 1964, manifestou seu interesse em reservar para si as decisões a respeito da regulação da natalidade.
Quanto ao conteúdo da Humanae vitae (1968), podemos
destacar que ela inicia afirmando o que é o verdadeiro significado das duas realidades do matrimônio, ou seja, o amor conjugal e a paternidade responsável. Aponta que o amor conjugal tem como características: ser plenamente humano, fiel e
exclusivo, total e fecundo. Quanto à paternidade, insiste que
deve seguir a vontade de Deus, expressa na natureza dos atos
conjugais que têm sentido unitivo e procriador, deduzindo a
partir disso que “todo ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida” (MORA, 1999, p. 500).
A influência do pensamento cristão no que diz respeito ao planejamento da parentalidade é inquestionável. Na
atualidade, o debate cristão com as propostas e perspectivas
propostas pela contemporaneidade não flui com facilidade,
e não se espera que de fato haja um consenso, pois esse
debate entre fé, ciência e as tendências contemporâneas —
que têm relativizado o valor e a dignidade da vida desde o
momento de sua concepção — mostra-se longe de encontrar
uma solução que possa valorizar a diversidade das perspectivas, sem correr o risco de relativizar o valor da vida, que
para o cristianismo é inquestionável, conforme as palavras
do próprio Cristo em João 10,10.
93
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
4.5 Islamismo e parentalidade
O islamismo, depois do judaísmo e do cristianismo, “é
a terceira das grandes religiões reveladas” (SAMUEL, 1997,
p. 236). Contudo, ele se posiciona de forma a abrogar as
perspectivas judaica e cristã, com a intenção de aperfeiçoá-las com a justificativa da necessidade do retorno à religião
autêntica que, segundo o pensamento islâmico, foi distorcida pelo judaísmo e pelo cristianismo. Contudo, apesar da
existência de pontos comuns entre essas três religiões, paira
uma atmosfera de distanciamento irreversível, em virtude
das visões teológicas excludentes de cada uma delas.
Entretanto, na atualidade, por meio do macroecumenismo, há uma grande possibilidade de “um diálogo dinâmico
e fecundo” (SAMUEL, 1997, p. 236). O islamismo nasce na aridez do deserto, trazendo consigo as marcas desse contexto.
O fundador do islamismo foi Maomé, ou Mohamed,
que em árabe significa “muito louvado [...], nasceu no dia 9
do mês de Rabi-Awal, que corresponde ao dia 20 de abril do
ano 571 d.C.” (BORAU, 2008, p. 102). Descendente da tribo dos
Haxemitas, poderosos mercadores na região de Meca e em
outros lugares. Perdeu seu pai antes de nascer e sua mãe faleceu quando ele tinha cerca de 7 anos. Contudo, logo após
seu nascimento, sua mãe o entregara a Halima, uma ama de
leite beduína. Após a morte de sua mãe, Maomé ficou sob a
custódia de seu tio Abú Talib, que o tratou como um filho. Mais
tarde, durante suas atividades profissionais, conheceu Cadija,
viúva e rica que se apaixonou por Maomé e se casou com ele.
Nessa época, na cidade de Meca, a Kaaba era um centro religioso que guardava as representações das divindades
94
Parentalidade e religião
coraixitas que totalizavam um número de 360, sendo “uma para
cada dia do ano, e a famosa pedra negra” (BORAU, 2008, p. 103).
Sabe-se que, por volta de 600 d.C., durante várias viagens, Maomé pôde conhecer as religiões judaica e cristã, das
quais traz as influências que o ajudam a moldar o que seria
mais tarde o islamismo que hoje conhecemos. O livro sagrado do islamismo é o Corão, que, segundo Maomé, lhe foi ditado por Deus por meio do arcanjo Gabriel, nele “encontram-se
as revelações que Alá fez ao profeta Maomé e que foram
compiladas pelos seus seguidores” (BORAU, 2008, p. 111).
O termo islã por si só já traduz o modo de ser dos
islâmicos, pois significa submissão, o que se revela por uma
de suas fórmulas, que afirma: “Inch Allah! , Mektub!”, traduzido como “é a vontade de Deus, isto é, é o destino, contra o
qual nada se pode fazer” (SAMUEL, 1997, p. 237). Para Scherer
(2005, p. 15), islã significa entrega, reconciliação, e tem proximidade com o termo Salam, que significa paz, totalidade,
como no hebraico shalom.
A condição da família no islã difere do judaísmo e do
cristianismo, apesar de anteriormente existir a poligamia em
Israel e no cristianismo nascente. No islã, um homem pode
possuir “quatro esposas legítimas” (BORAU, 2008, p. 122).
A condição da mulher no islamismo, como no judaísmo e no
cristianismo nascente, é de inferioridade diante do homem.
Exemplo disso é que, se uma mulher for testemunhar em juízo, seu testemunho só terá metade do valor do testemunho
de um homem (SAMUEL, 1997, p. 261).
O islamismo atribui à vida um valor inestimável, sendo o seu núcleo fundamental a família, “o primeiro meio
de sociabilidade do ser humano, o local onde ele aprende
95
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
as primeiras normas, que o seguirão para o resto da vida”
(KHALIL; NASSER FILHO, 2003, p. 73). No Corão, a Súratu AlMái’Dah (A Sura da Mesa Provida) ayát (versículo) 32 mostra
com clareza que um inocente jamais poderá ser morto. Por
isso o aborto não é permitido, a menos “que a mãe esteja
em perigo, ou que a gravidez seja resultado de um estupro”
(SCHERER, 2005, p. 110). Fica claro que, quanto à dignidade
o embrião não é diferente de ninguém que já tenha nascido, pois se trata de uma vida e, por isso, deve ser defendida, a menos que incorra em risco de vida à sua mãe, pois a
vida é um dos direitos “inalienáveis da criança no Islão” (sic)
(ABDALATI, 1989, p. 185).
Como afirma Abdalati (1989, p. 185), “uma das ações
mais louváveis no Islão (sic) é o cuidado para com as crianças”.
Lembrando que essa dignidade é dada às crianças pelo Islã,
independentemente de seu período de vida. Parece naturalmente claro para os islâmicos que a vida humana não pode
ser relativizada em nenhum momento de sua existência.
É notável a importância dada no Corão à reprodução
humana. São várias Suras que revelam a importância da vida
desde o momento da fecundação, bem como de seu desenvolvimento. A vida humana é tratada desde sua fecundação
não como obra do acaso, mas como obra divina. É o que se
pode perceber na Sura do Espedaçar-se: “Ó ser humano!
O que te ilude quanto a teu senhor, O Generoso, que te criou
e te formou e te endireitou? Na forma que Ele quis, Ele te
compôs” (82:6-8). E ainda: “Enquanto, com efeito, Ele vos
criou por estágios?” (71:14). Como também em 16:4: “Ele
criou o ser humano de uma gota seminal”. O útero materno é
96
Parentalidade e religião
considerado pelo Corão como um lugar especial: “Em seguida, fizemo-lo gota seminal, em lugar estável, seguro” (23:13).
Ou seja, a vida é incontestavelmente um dom divino para o islamismo. O ser humano, criatura divina, colabora
com Deus no processo criativo, mas a vida do ser gerado não
pertence ao ser humano, e sim ao Criador.
A adoção é algo muito bem visto pelo islamismo, sendo considerada “uma maravilha, uma atitude nobre e preferível dentro do Islam” (KHALIL; NASSER FILHO, 2003, p. 92).
Contudo, a inseminação artificial só é possível se for feita
com a utilização do esperma do próprio esposo (KHALIL;
NASSER FILHO, 2003, p. 93). Quanto ao celibato, este é visto
negativamente pelo islamismo: “é visto como uma condição
malévola, carregada de efeitos nocivos” (AYYATULLAH, 2008,
p. 19), que critica a visão moralista de outras confissões religiosas a respeito da sexualidade.
É explícita a naturalidade com que o islamismo trata
a questão da parentalidade. A criança deve ser protegida e
amada desde sua concepção, não havendo espaço para qualquer relativização da vida, que, sendo dom divino, deve ser
respeitada e protegida. A sexualidade vista de maneira positiva, assim como o matrimônio, são os meios proporcionados
pelo Criador para favorecer um bom nascimento e, consequentemente, uma vida digna.
97
PARTE 2
RELATÓRIO DE VALIDAÇÃO DE
INSTRUMENTO DE PESQUISA
5
Contexto do projeto
de pesquisa
Neste capítulo situaremos o projeto, indicaremos seus
objetivos, suas etapas e o cronograma, mas antes é preciso
discorrer um pouco sobre sua história e os momentos vividos pelos membros do projeto.
É necessário destacar que o título do projeto inicial
(Elaboração e validação de instrumento para avaliar o planejamento da parentalidade no contexto da teologia) indica que
a pesquisa se deu no “âmbito da teologia”, por ser a área do
programa de pós-graduação de origem do pesquisador e dos
mestrandos envolvidos no projeto. No entanto, a pesquisa
é claramente interdisciplinar, ou seja, o processo ocorre na
perspectiva de uma teologia pública ou, mais claramente, no
contexto de uma teologia em diálogo com as outras áreas
do conhecimento, principalmente as áreas de saúde. Por isso
reiteramos constantemente que o projeto se dá no “âmbito da bioética” e passa a envolver alunos de pós-graduação
tanto da área de teologia como da bioética. Tal perspectiva
é possível principalmente porque o coordenador do projeto
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
é docente do Programa de Pós-Graduação de Teologia e
do Programa de Pós-Graduação em Bioética da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Vinculado a ambos
os programas, o coordenador é líder do Grupo de Pesquisa
CNPq Teologia e Bioética, credenciado pela PUCPR e registrado no CNPq em 2002.
O que será apresentado neste relatório é o processo
metodológico que culminou na validação do instrumento de
pesquisa Planejamento da parentalidade no contexto da bioética, excluindo toda fundamentação teórica e o debate ao
redor da temática abordada.
5.1 Aspectos históricos, processos
e atores da pesquisa
Nesta seção serão descritos o desenvolvimento do
projeto, seus desdobramentos e o envolvimento de alunos
de graduação e pós-graduação. O projeto teve início no
primeiro semestre de 2011, durante o período em que o
coordenador do projeto fez seu estágio de pós-doutorado
em Bioética na Pontifícia Universidade de Comillas (Madri,
Espanha), onde abordou o estudo da reprodução humana no
contexto da bioética, chegando a propor alguns tipos de projetos de parentalidade.
Em 2011, dois mestrandos do Programa de PósGraduação em Teologia aderiram ao projeto. Desse modo,
Miguel Fernando Rigoni (psicólogo) passou a pesquisar a
relação entre sexualidade e parentalidade, e Juares Celso
102
Contexto do projeto de pesquisa
Krum (teólogo) se dedicou a estudar a relação entre modelos de família e parentalidade. Também em 2011, o Projeto
Parentalidade acolheu três alunos de Iniciação Científica,
que investigaram a temática do aborto em diversos contextos: Alexandre Felício de Campos (aluno de Medicina) fez
levantamento da problemática do aborto nos documentos
de órgãos de saúde, Castorina Honorato Vidal Casagrande
estudou o aborto na pastoral familiar em Curitiba, e Eva
Maria Duarte Gomes (ambas alunas de Teologia) abordou a
temática do aborto na Pastoral da Criança.
Em 2012, no primeiro semestre, dois novos mestrandos aderiram ao Projeto Parentalidade: Edésia de Souza
Sato (assistente social), que focou no estudo da relação entre parentalidade e as questões sociais, e Renato Barbosa
dos Santos (teólogo), que abordou a relação entre parentalidade e religião. No primeiro semestre de 2012, os quatro
mestrandos cursaram a disciplina Leitura Supervisionada, do
Mestrado de Teologia, com temas específicos relacionados a
parentalidade. Nesse período, os membros do projeto fizeram a revisão teórica, continuada em encontros de estudos
semanais ao longo de todo o ano de 2012.
No segundo semestre de 2012, o coordenador do
projeto foi contemplado com uma Bolsa Produtividade
da Fundação Araucária. Nesse mesmo semestre, o Projeto
Parentalidade acolheu mais três alunos de Iniciação
Científica, os quais se envolveram no estudo das mesmas
temáticas abordadas pelos mestrandos: Luiz Felipe da Silva
(aluno de Teologia), estudando sexualidade e família, Cecília
Francisca dos Santos (aluna de Teologia), estudando o planejamento familiar e questões sociais, e Kelly Fabíola de
103
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Jesus (aluna de Filosofia), abordando o estudo dos modelos
de família.
Somando todos os integrantes, o grupo elaborou 58
descritores. A partir deste momento o Projeto contou com
a colaboração de Solena Ziemer Kuzma, doutora em Saúde
coletiva com tese de doutorado em validação de instrumento de pesquisa na área de odontologia. Com os descritores
definidos, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da
PUCPR e recebeu aprovação em novembro de 2012. Após
essa etapa, deu-se andamento à Técnica de Grupo Nominal,
cujo processo será explicado adiante.
Os resultados da técnica foram analisados conjuntamente pelos membros do projeto e, com base nessa análise,
foram validados os descritores para a fase seguinte do projeto — alguns foram retirados, e outros, modificados. Esse processo de validação de cada descritor se tornou parte importante da elaboração das dissertações dos quatro mestrandos
membros do Projeto Parentalidade, e a qualificação se deu
em maio de 2013, com a participação de dois avaliadores
internacionais, além dos docentes avaliadores locais. A partir
das qualificações, cada mestrando deu continuidade a seu
trabalho, com revisões e adequações dos textos conforme
solicitação das bancas examinadoras.
Todo o processo de qualificação e a defesa das dissertações também se tornaram momentos privilegiados de
validação dos descritores. A maioria fora validada, mas alguns foram novamente modificados ou retirados. Assim, dos
58 descritores inicialmente propostos, 36 foram validados e
se tornaram a base da elaboração do instrumento de pesquisa para o projeto piloto. A elaboração do instrumento se
104
Contexto do projeto de pesquisa
deu em partes distintas, ora solicitando dados de identificação, ora apresentando as questões para serem avaliadas por
escalas numéricas (de zero a quatro), ora apresentando as
questões para respostas sim ou não. Tendo em vista que muitos descritores se referiam a uma dupla realidade — primeiro
e último filho — os 36 descritores serviram como base para o
instrumento com 52 questões. Dessa maneira, chegou-se ao
instrumento de pesquisa aplicado em projeto piloto.
No projeto piloto, participaram 149 pessoas. Serão apresentados a seguir os resultados do projeto piloto com ênfase
para as sugestões de alteração do instrumento de pesquisa.
Assim, chegou-se ao instrumento validado que denominamos
de Planejamento da parentalidade no contexto da Bioética (anexo), que passa a ser usado nos projetos que se seguirão.
5.2 Contexto temático do projeto
No estudo da reprodução humana em bioética, um
dos maiores conflitos surge quando nos deparamos com a situação de pessoas com filhos ou mulheres grávidas sem terem um “projeto de parentalidade” explícito ou implícito. Os
dados indicam que cerca de 30% dos partos são abortados —
esse talvez seja o resultado mais dramático para as mães e
as crianças de uma gravidez sem projeto. Mas, certamente, o
aborto não é a única consequência, e a gravidez é o centro
de situações com fortes implicações para a mãe, as crianças,
as famílias e os serviços de saúde. Consideramos que há projeto de parentalidade: a) quando a gravidez é planejada cuidadosamente; b) quando se avaliam também as questões de
105
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
riscos relacionados à maternidade; c) quando a decisão de
ter filhos é compartilhada pelos parceiros; d) quando as condições para cuidar dos filhos é avaliada; e) quando o anúncio
de uma gravidez se dá num clima de aceitação e alegria; f)
quando o parceiro acolhe a criança; g) quando o cuidado dos
filhos é preocupação constante; h) quando a possibilidade
de um aborto deliberado não é sequer considerado; i) quando a criança cresce sem violência.
Quando nos aproximamos do estudo das causas de
presença ou ausência de projeto de parentalidade, deparamo-nos com a falta de instrumentos adequados para uma
análise ampla destas relações, por causa da complexidade
das questões envolvidas. Estudos realizados no âmbito da
Teologia focam prioritariamente a defesa da vida e da dignidade da criança e, no âmbito da Saúde, a defesa da vida e
da dignidade da mulher. Um estudo no âmbito da Bioética
nos desafia a uma visão mais ampla que possa desvendar a
realidade a partir de perspectivas que permitam contemplar
os dois focos da questão: a dignidade da mãe e da criança.
Com base nessas considerações, o Grupo de Pesquisa
Teologia e Bioética planeja realizar uma pesquisa qualitativa, em diferentes contextos do Brasil. O pressuposto para
que uma pesquisa desse tipo tenha sucesso e seja relevante é a existência de um instrumento de pesquisa adequado,
bem elaborado. Por isso, a proposta deste projeto foi elaborar e validar um instrumento que possa ser aplicado em
diferentes contextos e permita uma visão mais ampla das
questões que envolvem o planejamento da parentalidade.
O instrumento visa identificar as causas da ausência
ou da presença de projeto de parentalidade em pessoas que
106
Contexto do projeto de pesquisa
já tiveram filhos. As causas podem apontar para fatores diversos, por isso o projeto buscará investigar a questão relacionando-a com quatro itens: a) sexualidade; b) modelos de
família; c) questões sociais; d) religião, denominados neste
projeto de fatores analisados, para os quais foram elaborados
descritores específicos, além de descritores de identificação
e de parentalidade. Estamos cientes de que validar esse
instrumento é uma tarefa complexa, por isso cada descritor
precisou ser precedido de uma ampla fundamentação e, depois, ser testado, devidamente validado por especialistas de
diferentes áreas e aplicado — como projeto piloto — em determinadas populações. No item específico de metodologia,
explicar-se-á todas as etapas percorridas.
5.3 Objetivos
Objetivo geral: elaborar e validar um instrumento que
permita uma ampla análise das causas de presença ou ausência de projeto de parentalidade em pessoas que já tiveram filhos, ou seja, construir um instrumento que permita
identificar o impacto dos fatores analisados sobre o projeto
de parentalidade.
Objetivos específicos:
-- identificar os impactos dos fatores analisados sobre o
acolhimento da gravidez;
-- relacionar os fatores analisados a indícios de existência de aborto no núcleo familiar;
107
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
-- relacionar os fatores analisados à capacidade de se
assumir um projeto de parentalidade pós-fato;
-- relacionar os fatores analisados ao fato de a tomada
de decisão ser compartilhada ou não;
-- relacionar os fatores analisados ao fato de a criança
ter sido assumida por ambos os cônjuges;
-- relacionar os fatores analisados à avaliação das condições para cuidar ou não dos filhos.
5.4 Etapas da pesquisa realizada
Do ponto de vista organizacional, o projeto aconteceu
em duas etapas: da elaboração do projeto à técnica de grupo
nominal; e da aplicação do instrumento no projeto piloto à
apresentação final dos resultados.
Na primeira etapa, o projeto foi composto de quatro
subprojetos, cada um sob responsabilidade de um aluno do
Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCPR: Projeto
de parentalidade e sexualidade (mestrando Miguel Fernando
Rigoni, ingresso no PPGT em março de 2011); Projeto de
parentalidade e modelos de família (mestrando Juares Celso
Krum, ingresso no PPGT em agosto de 2011); Projeto de parentalidade e questões sociais (mestranda Edésia de Souza
Sato, ingressa no PPGT em março de 2012); Projeto de
parentalidade e religião (mestrando Renato Barbosa dos
Santos, ingresso no PPGT em março de 2012). De 2011 a
2013, seis planos de trabalho PIBIC também estavam relacionados ao projeto.
108
Contexto do projeto de pesquisa
Primeira etapa: da elaboração do projeto à técnica de
grupo nominal
-- Abordagem teórica do tema: uma revisão de dados da
literatura relacionada à pesquisa. Em virtude do caráter complexo do tema estudado, a revisão teórica se
dá em diversas áreas: teologia, bioética, saúde, psicologia, sociologia, dentre outras. A abordagem teórica
será aprofundada no item sobre revisão teórica.
-- Elaboração do instrumento da pesquisa: proposição
dos descritores feita a partir da revisão teórica.
-Aprovação do Projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa. A submissão do projeto ao CEP da PUCPR
ocorreu após a aprovação no Programa de PósGraduação em Teologia8.
-- Técnica do Grupo Nominal: técnica de pensamento
divergente/convergente para a produção individual
e silenciosa de ideias, para a discussão e o esclarecimento em grupo, bem como para a priorização das
ideias por meio de votação independente. Consiste
8
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCPR
no dia 7 de novembro de 2012 (CAAE: 02850212.1.0000.0020). Os
pesquisadores assumem o compromisso com as questões relacionadas com a ética em pesquisa no Brasil, como a aplicação do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do envolvimento de qualquer sujeito de pesquisa.
109
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
em reunir um grupo de especialistas em um assunto na busca de opiniões consolidadas, priorizando
o acordo com criatividade e síntese, numa atitude
geradora de ideias (JONES; HUNTER, 1995, p. 376s).
O modo como essa técnica ocorreu ainda será explicitado neste relatório.
-- Qualificação e defesa das dissertações de mestrado do
Programa de Pós-graduação em Teologia: a) Projeto de
parentalidade e sexualidade – Miguel Fernando Rigoni
(mestrado concluído em julho de 2013); b) Projeto de
parentalidade e modelos de família – Juares Celso Krum
(mestrado concluído em junho de 2013); c) Projeto de
parentalidade e questões sociais – Edésia de Souza
Sato (mestrado concluído em fevereiro de 2014); d)
Projeto de parentalidade e religião – Renato Barbosa
dos Santos (mestrado concluído em julho de 2013).
Segunda etapa: da aplicação do instrumento no projeto piloto à apresentação final dos resultados
-- Definição do instrumento de pesquisa: foi definido
como resultado de todas as etapas anteriores do projeto: revisão teórica, técnica do grupo nominal e críticas feitas ao longo do processo de qualificação e defesa dos projetos dos quatro mestrandos envolvidos.
-- Aplicação dos instrumentos em projeto piloto: projeto piloto aconteceu em quatro comunidades de
110
Contexto do projeto de pesquisa
diferentes regiões do Paraná: Vila Sabará (Curitiba),
Bocaiúva do Sul, Campo Mourão e Pinhais.
-- Análise dos dados quantitativos: software SPSS, criado
pela IBM, já disponível nos sistemas de pesquisa da
PUCPR, utilizado para análise de dados (estatística).
-- Validação estatística: análise realizada por meio do
Coeficiente Alpha de Crombach.
111
6
Relatório da técnica
de grupo nominal
O projeto previa ter a participação de ao menos 12 especialistas na Técnica de Grupo Nominal que atendiam aos
critérios definidos no projeto aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa, pessoas de áreas diferentes e de áreas relacionadas com o tema estudado. Após a aprovação pelo CEP/
PUCPR, 20 pessoas foram inicialmente contatadas e convidadas a participar da pesquisa. Depois do contato feito por
e-mail e uma explicação sobre a técnica que seria composta
de duas etapas (uma não presencial e outra presencial), um
membro da equipe de pesquisa manteve contato pessoal
com cada especialista, para explicar os objetivos e a metodologia da pesquisa. Aqueles que concordaram em participar
da pesquisa preencheram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido e receberam os descritores para avaliarem. Os
descritores foram apresentados no seguinte formato:
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
A adesão à pesquisa foi muito boa: dezesseis especialistas concordaram em participar da pesquisa e 15 cumpriram ambas as etapas da técnica. Na primeira (não presencial), os participantes fizeram a avaliação dos 58 descritores
apresentados. Os descritores avaliados foram recolhidos e
analisados por meio do programa SPSS, cujos resultados
serão apresentados a seguir. Já a segunda etapa da técnica
de grupo nominal9 foi realizada com a presença dos participantes e dos membros da pesquisa. Nela, foram reapresentados brevemente os objetivos da pesquisa, seguidos de
uma apresentação sistemática do resultado da avaliação de
cada descritor na etapa não presencial. Após a projeção de
cada descritor, abriu-se a discussão, com grande interesse e
envolvimento dos presentes. Nota-se que o contexto interdisciplinar propiciou manifestação de opiniões em alguns
momentos bastante discordantes, mas sempre num clima de
complementaridade e cordialidade.
A segunda etapa foi gravada, como previa o TCLE,
e os aspectos relevantes desse debate foram transcritos e
serão utilizados ao longo da pesquisa, principalmente na
exposição da avaliação dos descritores. As opiniões dos especialistas foram avaliadas e os pontos divergentes foram
destacados para o debate, sem enfatizar, nesse momento, o
perfil de cada um. Além disso, há o compromisso em manter
o sigilo, preservando a identidade do autor das falas usadas
neste trabalho; por esse motivo, optamos por identificar as
falas que serão usadas na pesquisa apenas com a sigla (GE),
9
O momento presencial ocorreu 1º de dezembro de 2012, nas dependências da PUCPR, Câmpus Curitiba.
114
Relatório da técnica de grupo nominal
indicando que é uma fala que surge do grupo de especialistas, sem referências aos sujeitos específicos. No decorrer
da pesquisa, os pesquisadores participaram ativamente do
debate, explicitando os objetivos e manifestando as razões
que levaram à formulação dos descritores tais como estão.
Por isso, no debate também aparecem transcrições de falas
dos pesquisadores que serão identificados apenas como GP
(grupo de pesquisadores).
Após a apresentação e a discussão de todos os descritores, os especialistas fizeram, individualmente, uma reavaliação dos descritores em relação à sua posição inicial,
manifestando novamente sua opinião e atribuindo notas.
A partir dessa segunda avaliação, os descritores foram reorganizados — isso será apresentado no capítulo 3.
O perfil dos 15 especialistas que participaram das
duas etapas da técnica de grupo nominal se configura a partir das seguintes variáveis: sexo; instituição onde atua; primeira graduação; área de pós-graduação; maior titulação; e
área de atuação.
Quanto ao sexo, cerca de 60% dos especialistas era do
sexo feminino, e 40%, masculino. Com relação à instituição
(Gráfico 1), pelo fato de a pesquisa ser realizada no Programa
de Pós-Graduação em Teologia da PUCPR, cuidou-se para
que a maioria dos participantes não fosse originária dessa mesma universidade, o que resultou numa participação
de diferentes instituições de Curitiba: Faculdades Pequeno
Príncipe (FPP), Universidade Tuiuti do Paraná, Universidade
Federal do Paraná (UFPR), Centro de Planejamento Natural
da Família (CENPLAFAM), Província Marista do Brasil CentroSul (PMBCS), Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba.
115
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Uma das características da técnica de grupo nominal
é a realização de uma avaliação dos descritores na perspectiva interdisciplinar, por isso a escolha dos especialistas foi
pautada também a partir desse fator. Buscou-se, assim, reunir pessoas com uma diversidade de formação acadêmica
dentro da área das Ciências Humanas e Sociais, mais afins
com a temática estudada. Os especialistas reunidos atuam
nas seguintes áreas (Gráfico 2):
O perfil dos especialistas quanto às áreas de pós-graduação apresentou o seguinte quadro, disposto no Gráfico 3.
O nível de estudos dos especialistas apresentou o seguinte quadro: 60% doutores, 13,3% mestres, 26,7% especialistas. Como 60% dos especialistas convidados são doutores,
isso revelou também que sua principal atividade profissional
é a docência (46,7%). À parte dos especialistas que foram
convidados por terem doutorado em áreas de interesse para
a pesquisa, os outros foram convidados por terem suas atividades profissionais vinculadas ao atendimento de famílias
(33,3%), seja em consultórios e clínicas ou em atividades voluntárias, como na pastoral familiar (20%).
116
Relatório da técnica de grupo nominal
Gráfico 1 - Instituição em que atua
Fonte: Dados da pesquisa.
Gráfico 2 - Áreas de formação acadêmica: graduação
Fonte: Dados da pesquisa.
117
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 3 - Áreas de formação acadêmica: pós-graduação
Fonte: Dados da pesquisa.
118
7
Resultado da técnica de
grupo nominal: definição
dos descritores
Dos 58 descritores avaliados pelos especialistas, oito
se relacionam à identificação dos sujeitos de pesquisa, e dez
indicam uma parte central da pesquisa, ou seja, apontam
para a questão da existência ou não de projetos de parentalidade. Os demais descritores indicam fatores analisados
que, como hipótese deste projeto, têm forte impacto na parentalidade: modelos de família (11 descritores); visão de
sexualidade (11); religião (5) e as questões sociais (13).
Para a avaliação dos descritores, utilizou-se a técnica
do grupo nominal, já descrita neste relatório. A avaliação se
deu em duas etapas distintas: etapa não presencial e etapa presencial. Após a realização das avaliações dos grupos
presencial e não presencial, os resultados foram comparados cuidadosamente, tendo por base os seguintes critérios:
manutenção do descritor sem alteração; manutenção do
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
descritor com alterações; exclusão do descritor das próximas
etapas da pesquisa.
Pelo fato de, na etapa presencial, os especialistas terem
mais explicações sobre os objetivos da pesquisa e trocarem
informações com os outros participantes, a metodologia adotada nos leva a concluir que a avaliação da etapa presencial
foi mais consciente. Desse modo uma melhor avaliação dessa
etapa servirá para definir a permanência, a alteração ou a exclusão de um descritor das etapas seguintes, que objetivam
validar o instrumento de pesquisa sobre parentalidade.
7.1Descritores de identificação
Os primeiros 8 descritores visam identificar os sujeitos
da pesquisa e poderão estar relacionados com outros grupos
de descritores. É interessante observar que, nesse grupo de descritores, todos foram mais bem avaliados na etapa presencial
do que na etapa não presencial. Sendo assim, essa avaliação
indicou a manutenção de todos os descritores de identificação.
O primeiro descritor que identifica o gênero dos sujeitos da pesquisa passa de uma indicação de 80% como indispensável na etapa não presencial para 93% na etapa presencial, e a nota máxima passa de 60% para 93%. O debate
realizado sobre esse descritor na etapa presencial apontou
para um cuidado especial para a questão de gênero. De acordo com os participantes, atualmente deve-se ter o cuidado
de não reduzir as respostas a apenas duas alternativas, como
tradicionalmente acontece: masculino e feminino. O Gráfico 4
120
Resultado da técnica de grupo nominal
indica as variações dos outros elementos de opinião e das
demais notas.
Gráfico 4 - Descritor 1 – Identificação de gênero
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 2 busca identificar um dado extremamente relevante para a questão da parentalidade: o número de
filhos. Atentos à problemática da realidade familiar atual,
121
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
esse descritor indaga também se os filhos são consanguíneos, adotivos ou frutos de reprodução assistida. O Gráfico 5
revela uma melhor avaliação do descritor na etapa presencial em relação à etapa não presencial.
Gráfico 5 - Descritor 2 - Número de filhos: consanguíneos/adotivos/
por reprodução assistida/gravidezes múltiplas
Fonte: Dados da pesquisa.
122
Resultado da técnica de grupo nominal
O descritor 3 indaga sobre a religião dos sujeitos da
pesquisa, elemento que permite um mapeamento das futuras
realidades a serem pesquisadas no tocante a esse aspecto,
considerado pelo projeto como um dos fatores de impacto na
parentalidade. É interessante observar que a avaliação desse
descritor sofreu considerável alteração de uma etapa para a
outra: na etapa não presencial, 53% dos especialistas indica o
descritor como indispensável, passando para 80% na etapa presencial; coerentemente, também na atribuição de notas, as alterações passaram de 40% para 80% de uma etapa para a outra.
Tendo em vista a realidade brasileira, é interessante
incluir nesse descritor sobre religião também a investigação
sobre o grau de participação religiosa, pois pretende-se avaliar se o impacto da religião na parentalidade pode variar,
não apenas pela adesão a uma determinada religião, mas
também pelo grau de envolvimento religioso. O Gráfico 6
demonstra o resultado das avaliações.
Com o próximo descritor, inicia-se uma abordagem
importante para a validação do instrumento da pesquisa, investigar duplamente a situação apontada por alguns descritores: em relação ao primeiro filho e em relação último filho.
Evidentemente, as situações das pessoas mudam ao longo
da vida e as condições de projeto de parentalidade podem
variar muito de um filho para outro. Mudanças em algumas
situações são mais claramente identificadas, como o estado
civil, a escolaridade, as condições econômicas etc. Em virtude
da dificuldade de se investigar as condições do projeto de
parentalidade para cada filho, optou-se por mapear as condições do planejamento da parentalidade no primeiro e no último filho, caso a pessoa entrevistada tenha mais de um filho.
123
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 6 - Descritor 3 - Religião: pertença/grau de participação
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 4 não foi muito bem avaliado pelos especialistas na etapa não presencial — apenas um terço indicou
que o descritor é indispensável. Na etapa presencial, houve
uma considerável melhora na avaliação do descritor: 47%
dos especialistas indicaram o descritor como indispensável,
e 40% atribuíram a nota 6 para o descritor. Em razão dessa
mudança da avaliação e também porque o descritor claramente possibilita identificar diferentes modelos de família e
124
Resultado da técnica de grupo nominal
possíveis alterações nesses modelos, os pesquisadores optaram pela manutenção do descritor.
O Gráfico 7 nos permite ver as alterações nas avaliações e o fato de que em nenhum momento o descritor
recebeu uma avaliação ótima da metade dos especialistas.
Por causa dessas dificuldades, os pesquisadores se manterão
atentos e abertos à possibilidade de alteração ou exclusão
desse descritor nas etapas que seguem a validação do instrumento, principalmente na aplicação do projeto piloto.
Gráfico 7- Descritor 4 - Estado civil na gravidez do primeiro/
último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
125
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 5, que aponta para a escolaridade das pessoas nas situações de gravidezes, também não foi muito bem
avaliado. Aparentemente, as avaliações não foram coerentes
na relação entre manifestar a opinião e expressar a nota, pois
apenas 47% dos especialistas indica o descritor como indispensável (em ambos os momentos de avaliação), ao passo que
60% atribuiu a nota 6, nota máxima para o descritor (Gráfico
8). Isso nos leva a manter o descritor neste momento da pesquisa. De qualquer modo, estabelecer a relação entre projeto
de parentalidade e escolaridade pode ser muito interessante.
Gráfico 8- Descritor 5 - Escolaridade na gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
126
Resultado da técnica de grupo nominal
O descritor 6 pretende relacionar o projeto de parentalidade com a idade das pessoas. Percebe-se claramente
uma melhor avaliação do descritor na etapa presencial, principalmente ao atribuir a nota: 80% dos especialistas atribuíram a nota 6. Também é notável a alteração de 13% para
zero no quesito considerar o descritor dispensável. O Gráfico
9 indica as outras alterações.
Gráfico 9- Descritor 6 - Idade em que a pessoa teve o primeiro/
último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
127
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 7, que busca identificar a renda familiar
e sua relação com o projeto de parentalidade, sofreu uma
grande alteração nas diferentes etapas da avaliação. É interessante perceber que a dinâmica ocorrida na etapa presencial mudou drasticamente a opinião dos especialistas em
relação a esse descritor, de modo que a porcentagem que
considera o descritor indispensável passou de 20% na etapa
não presencial, para 73% na etapa presencial. A dinâmica da
técnica aponta claramente para a manutenção do descritor.
Observe, no Gráfico 10, que também houve consideráveis alterações nas atribuições de notas. Na defesa da dissertação,
esse descritor foi excluído porque notou-se que seria difícil
as pessoas lembrarem de sua renda no período da gravidez.
O descritor 8 demonstrou apontar para uma realidade
complexa que precisa ser mais bem compreendida. Alguns
especialistas manifestaram dúvida se o descritor era relevante, visto que mapear a situação de emprego das pessoas
remete a uma grande diversidade de possibilidades. Após
o debate, os pesquisadores optaram por manter o descritor
com alteração e, ao invés de indagar sobre a situação de
emprego, passa-se a investigar a questão de ocupação, por
ser, a princípio, mais simples e poder ser reduzida a quatro
categorias: empregado, desempregado, autônomo e do lar.
De qualquer modo, o Gráfico 11 demonstra uma pequena
melhora na avaliação desse descritor na etapa presencial.
128
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 10 - Descritor 7 - Identificação da renda familiar na
gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
129
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 11- Descritor 8 - Identificação da situação de emprego na
gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
7.2Descritores sobre projeto
de parentalidade
Passamos agora a outro conjunto de descritores que
aponta para o centro do instrumento de pesquisa que pretende
identificar os tipos de projeto de parentalidade ou sua ausência.
130
Resultado da técnica de grupo nominal
Os descritores 9, 10 e 11 foram construídos com a
intenção de identificar se há “projeto de parentalidade explícito” em relação ao primeiro e ao último filho. O descritor
9 pretende medir se houve planejamento da gravidez claramente, e a avaliação desse descritor demonstra que os especialistas concordam fortemente (80% deles) que se trata de
um descritor necessário (Gráfico 12).
Gráfico 12 - Descritor 9 - A gravidez do primeiro/último filho
fora planejada – houve clara decisão de ter o filho
antes de engravidar
Fonte: Dados da pesquisa.
131
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 10 busca analisar se houve avaliação de
riscos relacionados com a maternidade. Compreende-se que,
se uma pessoa ou um casal avalia as situações de riscos da
gravidez, é porque o planejamento da parentalidade está
sendo explicitado. No entanto, esse descritor gerou bastante
debate e se revelou um ponto polêmico. Um dos especialistas assim se expressa: “a gente, quando viu esses descritores,
viu assim: riscos relacionados com a maternidade. Que riscos?
O risco econômico, o risco emocional, o risco da relação entre o
casal, quer dizer, ou o risco da própria gestação” (GE).
Iniciou-se um debate sobre a necessidade de alterar
o descritor a fim de possibilitar a identificação dos diversos riscos que impactam o planejamento da parentalidade.
A participação dos pesquisadores se deu visando explicitar
que a pesquisa seria muito ampliada e, talvez, perdesse seu
foco tentando identificar os riscos inerentes à questão. Assim
aparecem as justificativas dos pesquisadores:
porque a ideia é um pouco essa de que se em algum momento alguém decidiu planejar ou adiar uma gravidez, por
causa do risco materno, é um sinal que nós chamaríamos
de ótimo planejamento familiar (GP).
Nós não queremos levantar quais são os riscos... Essa pesquisa é menor. Não temos chance, com esse descritor, de
mapear quais os problemas. Nós temos nesse descritor a
preocupação simples: se você chegou a adiar, ou a ter ou
não ter filhos por causa dos riscos, é porque houve planejamento familiar (GP).
132
Resultado da técnica de grupo nominal
No entanto, a questão abriu-se para outro tema quando um especialista indica:
não, eu acho que poderia colocar os riscos, mas só os indícios, porque dependendo dos riscos você vai ter um projeto
de parentalidade. Quer dizer, um projeto você pode até ter,
mas pode adiar. Se o pai, por exemplo, é portador de HIVAIDS, vai ter um adiamento, porque, se ele quer ter um filho,
vai ter que fazer todo um tratamento e aí vai ter, sim, um
adiamento de projeto de parentalidade. Tem muitos casos
hoje nesse âmbito. Não é um caso só, são muitos (GE).
Com essa fala, apontou-se para o fato de que o descritor indicava apenas os riscos da maternidade, e o questionamento surge: “há o risco da maternidade. E o da paternidade?”
(GE). Outro indaga: “seria necessário ver os riscos da paternidade? Seria necessário um outro descritor?” (GE). Desse modo, o
debate passou a indicar a necessidade de alterar o descritor
incluindo a questão da paternidade. Houve consenso quanto
ao fato de que abrir para investigar os tipos de riscos seria
inadequado para uma pesquisa que pretende apenas estudar o planejamento da parentalidade. Assim, a sugestão da
alteração do descritor surgiu: “talvez a gente fizesse o descritor assim: ‘itens relacionados com a maternidade/ paternidade’.
Acho que aí você abre para as duas frentes, mas sem entrar em
quais riscos” (GE).
É curioso que, mesmo depois de muito debate, esse
descritor permaneceu quase que totalmente inalterado nas
duas avaliações a que foi submetido. O descritor foi mantido
133
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
com a alteração indicada, mas percebe-se que poderá ser
excluído nas etapas seguintes da pesquisa (Gráfico 13).
Gráfico 13 - Descritor 10 - Os riscos relacionados com a
maternidade foram avaliados antes da gravidez do
primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 11 alerta para vários aspectos, dentre eles,
sociais, econômicos e humanos, que deveriam estar presentes
134
Resultado da técnica de grupo nominal
num planejamento da parentalidade, voltados para avaliar as
condições de pessoas ou casais de cuidar do filho após seu
nascimento. A reflexão teórica aponta para o fato de que a parentalidade responsável implica — além da decisão da pessoa
ou do casal — o bem-estar dos filhos, e a sociedade atual já
não vê com bons olhos aqueles que colocam filhos no mundo
sem avaliar as condições de educá-los bem.
É interessante observar que esse descritor não foi
muito bem avaliado pelos especialistas na etapa não presencial, mas, após o debate e melhor compreensão do projeto, o descritor passou a receber avaliação melhor, de modo
que o índice alcançado na etapa presencial chegou a 73%,
com indicação de que o descritor é indispensável e 67% com
atribuição da nota máxima. Em virtude desse processo de
mudança na avaliação de uma etapa para a outra, o descritor
permanece claramente sem alteração. As alterações de avaliação de uma etapa para outra podem ser mais bem compreendidas no Gráfico 14.
Se os descritores 9, 10 e 11 foram construídos com a
intenção de identificar se há projeto de parentalidade explícito em relação ao primeiro e último filho, os descritores seguintes (12, 13 e 14) foram pensados para identificar se há o
que chamamos de projeto de parentalidade implícito, ou seja,
uma resposta positiva a esses descritores indicaria que ter
filhos é parte dos projetos de vida das pessoas envolvidas.
Em nossa avaliação, de todos os pesquisadores envolvidos no projeto, o descritor 12 é sintomático e nos permite
um primeiro diagnóstico da existência ou não de planejamento da parentalidade: o modo como se dá e é recebido
o anúncio da gravidez. Compreendemos que se a notícia da
135
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
gravidez é recebida e anunciada como uma boa notícia, indica que a parentalidade já era parte dos projetos de vida das
pessoas envolvidas.
Gráfico 14- Descritor 11 - As condições para cuidar dos filhos foram
avaliadas antes da gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
136
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 15 - Descritor 12 - O anúncio da gravidez se deu num
clima de aceitação e alegria na gravidez do
primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
137
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
No entanto, na etapa presencial da técnica de grupo
nominal, a questão se apresentou problemática e ocorreu
um debate a respeito. Primeiramente, os pesquisadores provocaram os especialistas, manifestando o descontentamento
com a avaliação recebida na etapa não presencial:
as nossas expectativas se frustram quando a gente vê a resposta indispensável (27%). Se alguém falasse assim: “estou
grávida!”, que beleza, que joia. Então um ótimo sintoma... (GP).
Então, se a pessoa é mais feliz ou menos feliz no anúncio, é
um sintoma para nós que o filho foi bem acolhido ou, “bah,
tchê” — vamos ter que lidar com isso! (GP).
Os especialistas se dividiram em relação a esse descritor.
Um grupo o considerava dispensável e apresentavam alguns
argumentos. A maior reação dos especialistas se deu indicando
que o descritor pode indicar algo difícil de mapear, por se tratar
de alegria, algo subjetivo, que não representa uma tomada de
decisão consciente de planejamento da parentalidade:
[...] eu coloquei aqui como dispensável, porque eu entendi
assim, que essa questão já está entrando no aspecto mais
subjetivo. E sobre o aspecto subjetivo, é preciso fazer uma
análise de levantamento quantitativo; se é uma coisa qualitativa, você abre um leque, aí já é outra interpretação.
Tem que ter cuidado com onde vocês vão colocar esses dados. De que forma isso vai ser levantado. Porque “alegria”,
“felicidade”, isso é outro componente. Já está entrando com
o aspecto subjetivo (GE).
138
Resultado da técnica de grupo nominal
Alguns especialistas reconhecem que a alegria pode
ser expressa, mas não indica realmente que haverá um compromisso da pessoa ou do casal com a criança que vai nascer:
E há também aquelas pessoas que vão ao estúdio de fotografia e fazem aquela foto, fazem aquele carnaval, vão à
internet. Mas é uma encenação de um momento que, da
verdade, não tem nem muito. Então eu acho que a falsa
alegria fere um pouco a lividez do sentido (GE).
Outros especialistas, com base em suas experiências
no acompanhamento de famílias, observam que esse descritor é realmente um diagnóstico da qualidade de gestação
que a pessoa terá.
No atendimento a gente vê quando vem o casal — hoje
mais jovem — fazer uma ecografia e, se diagnostica uma
gravidez, baixa um ar de tristeza e até de revolta, essa
gravidez está condenada (GE).
Por tudo isso, defende-se que a palavra alegria precisa
ser mantida, pois o aspecto subjetivo pode contribuir muito para
a percepção da existência ou não do planejamento familiar.
Exatamente. Eu acho que é importante manter a palavra
subjetiva “alegria” porque nas questões anteriores existem
dados muito objetivos e que se pode fazer esse cruzamento entre o emotivo/intuitivo com aquilo que na prática
acontece. Aí eu acho que tem um dado bem interessante
para ser cruzado. Justamente por isso a palavra “alegria”
139
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
deveria permanecer, porque isso lá na prática de fato
acontece. O primeiro impacto é emotivo e depois... lá na
prática, é salário-família, é emprego, a questão de risco da
mãe, do pai, tem todas as questões com as quais a gente
vai ver se a alegria permanece (GE).
Os pesquisadores argumentaram que o fato de se
identificar que o anúncio da gravidez se dera num clima de
alegria apenas indica que há abertura à gravidez, sem querer
definir já, só por esse descritor, como suficiente para qualificar que tipo de planejamento da parentalidade existe.
A questão depois vai entrar numa escala — de muita alegria até zero alegria. [...] se o cara colocou ali muita alegria, foi muito feliz nesse momento, nós vamos concluir
que há planejamento de parentalidade. Não significa que
há um planejamento explícito, vai ter que ver os outros
elementos para dizer se foi explícito. Mas ele já vai dizer
que houve planejamento. [...] esse seria um sintoma de
que há planejamento (GP).
Debateu-se também se aceitação não seria menos
subjetiva do que alegria, conforme apontou um especialista:
“Talvez o clima de ‘aceitação’ seja interessante. A alegria talvez
já deixe um pouco a desejar. A aceitação é similar a este fim”
(GE). Isso, no entanto, não foi acatado unanimemente: “E se
a gente for tomar pela questão da subjetividade, a ‘aceitação’
também é, porque eu posso aceitar e acolher ou eu posso me
resignar e, assim, aceitar numa condição...” (GE). Desse modo,
140
Resultado da técnica de grupo nominal
levantou-se a possibilidade de deixar o termo aceitação e
excluir alegria — não houve reação contrária.
Eu acho que tem que deixar os dois (termos), sim, porque
há um sinal de que essa criança foi planejada ou não. Eu
me lembro da minha gravidez. Então eu penso assim: é
um sintoma, como você está colocando, um sinal de que
isso foi planejado. Se não há alegria, e com vida, ou você
aceita mais resignadamente e não tem o que fazer, então
é um dado bastante representativo se foi ou não foi planejada. Então se a ideia é justamente pesquisar isso, então,
me parece que está correto indagar... (GE).
Esse descritor parece ter suscitado um debate mais
amplo, inerente à toda discussão do planejamento familiar e
o modo como a sociedade avalia e lida com isso. Alguns pontuam o fato de que a parentalidade pode significar coisas
muito diferentes nos diversos contextos sociais.
A gente trabalha com grupo em favelas, adolescentes em
situação social, a coisa que mais falam é no filho, ficou
com meu filho, a alegria do meu filho, e a gente sabe que
eles não estão muito com o filho, e onde é que estão?
Aquilo é uma mercadoria: filho (GE).
Essa questão é relevante e remete para a necessidade
de se aprofundar a noção de parentalidade nos diversos contextos. Certamente, esse é um dos limites desta pesquisa, pois os
descritores não foram pensados para avaliar as diversas noções
de parentalidade, apenas identificar se há ou não planejamento.
141
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Um dos elementos fundamentais deste trabalho é a
não pretensão de identificar o conteúdo do planejamento da
parentalidade, por mais relevante que isso possa ser. A pesquisa que se pretende fazer situa-se no contexto da bioética
e, por isso, tentou-se buscar alguns elementos fundamentais
que sejam razoáveis e com ampla possibilidade de diálogo
numa sociedade pluralista. Concretamente, estamos dizendo
que, independentemente do que significa planejamento da
parentalidade nos diversos contextos e em diversos grupos
sociais, há na sociedade brasileira um consenso de que ele
é importante. Por isso, identificar se filhos nascem planejadamente é relevante para qualquer que seja o grupo social,
religioso ou cultural em questão.
Apesar da avaliação negativa que esse descritor recebeu em ambas as etapas das avaliações, decidimos por sua
manutenção para a próxima etapa do processo de validação,
a saber, o projeto piloto. Talvez tenhamos que retirá-lo, mas
por hora ele será mantido com alteração, por ser compreendido como um descritor sintomático da ausência ou da
presença de projeto de parentalidade.
O descritor 13, que busca identificar se o parceiro
acolheu a criança na gravidez pode ser compreendido como
um desdobrar do descritor anterior, pois o anúncio da gravidez pode se dar num clima de alegria para um parceiro
e de tristeza para o outro. Para os pesquisadores, o acolhimento da criança pelo(a) parceiro(a) é também sintoma de
planejamento da parentalidade, ao menos implicitamente.
O descritor também não recebe uma avaliação muito boa
dos especialistas, como se vê no Gráfico 16.
142
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 16- Descritor 13 - O(a) parceiro(a) acolheu a criança na
gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 14, que indaga se o cuidado do filho se
torna preocupação constante, foi visto pelos especialistas
como um descritor relacionado à parentalidade ao longo da
vida da criança, mas irrelevante para indicar se houve planejamento da parentalidade.
143
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
A avaliação bastante negativa que esse descritor
recebeu em ambas as etapas da técnica de grupo nominal
indicou claramente que ele também deve ser retirado das
próximas etapas da validação do instrumento, o que de fato
será feito. Menos de 20% dos especialistas consideraram o
descritor indispensável, como se vê no Gráfico 17.
Gráfico 17- Descritor 14 - O cuidado do primeiro/último filho se
tornou preocupação
Fonte: Dados da pesquisa.
144
Resultado da técnica de grupo nominal
Os descritores seguintes (15 a 18) são pensados para
identificar se há o que definimos como planejamento da parentalidade pós-fato, ou seja, identificar as situações em que não
há planejamento da parentalidade, mas as pessoas envolvidas
abrem-se para a parentalidade após ocorrer uma gravidez.
O descritor 15 investiga se o aborto chegou a ser considerado durante a gravidez. Por mais difícil que seja colher
essa informação, compreendemos que ela é relevante, pois,
independentemente da avaliação moral sobre o aborto, ele
aponta, no mínimo, para uma ausência de planejamento familiar, pois usualmente não se abortaria um filho planejado.
Na etapa presencial, houve questionamentos de alguns
especialistas sobre o assunto. “Quando se fala em aborto aí, vocês tinham a intenção clara de falar de aborto provocado?” (GE).
Evidentemente, apenas o aborto provocado tem alguma relação com a presença ou ausência de planejamento familiar.
Por isso, é importante distinguir o moral do natural. Somente
o aborto provocado implica avaliação moral, pois é resultado
de planejamento e decisão humana. O aborto espontâneo, não
provocado, pode levar a pessoa a questionamentos existenciais por ser colocada em situação de vulnerabilidade humana, frente à fragilidade própria da condição humana, mas não
pode, a rigor, levantar questionamento moral.
Um dos especialistas aponta, corretamente a nosso
ver, que esse descritor aponta se “o aborto foi cogitado. Não
se está querendo dizer que a pessoa fez o aborto, apenas se
foi uma opção” (GE). Outro descritor vai buscar identificar se
houve ou não aborto no núcleo familiar. Fica claro que pensar em aborto tem relação com o planejamento familiar, e,
na ótica de um especialista, com um planejamento familiar
145
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
responsável. “É importante, porque a pessoa pode ter desistido,
mas chegou a pensar! [...] Havia um indicativo de que não havia nenhuma vontade! [...] Aí indica um índice de planejamento
responsável” (GE).
O Gráfico 18 mostra as avaliações que esse descritor
recebe. Houve uma melhor avaliação na etapa presencial, pois,
principalmente na nota máxima nota-se uma considerável diferença: passou de 27% para 47% de uma etapa para outra.
Gráfico 18- Descritor 15 - A possibilidade de um aborto fora
descartada na gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
146
Resultado da técnica de grupo nominal
O descritor 16 foi muito mal avaliado pelos especialistas em ambas as etapas da técnica de grupo nominal,
portanto será retirado das próximas etapas de avaliação.
A justificativa apresentada pelos especialistas é que esse
descritor não aponta exatamente para o planejamento da
parentalidade, mas para o exercício da parentalidade ao longo da vida do filho. Observa-se que apenas 27% dos especialistas consideraram esse descritor indispensável. Os demais
índices estão no Gráfico 19.
Gráfico 19- Descritor 16 - A gravidez do primeiro/último filho
foi mal acolhida, mas hoje o(a) parceiro(a) acolhe a
criança muito bem
Fonte: Dados da pesquisa.
147
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 17 também foi muito questionado pelos
especialistas, pois eles compreendem que o descritor aponta também para as relações de parentalidade, e não para
o planejamento da parentalidade. Esse descritor indaga se
o parceiro mantém o cuidado e a preocupação com o filho.
Houve amplo debate sobre o assunto, o qual basicamente
apontou para a dificuldade de se avaliar ou identificar um
projeto de parentalidade pós-fato. Embora o descritor tenha
obtido melhor avaliação depois da etapa presencial, passando de 13% para 53%, ele foi excluído por não indicar projeto
de parentalidade (Gráfico 20).
O descritor 18 voltava a indagar sobre o aborto.
Compreendemos que indagar sobre o aborto no contexto do
planejamento da parentalidade é relevante, no entanto, os
especialistas apontam para a dificuldade de se fazer isso.
Visto que já havia um descritor (n. 15) que abordava a questão, vários especialistas recomendavam não retornar a essa
questão delicada. Por fim, o descritor recebeu de fato uma
avaliação muito fraca, com apenas 27% dos especialistas
considerando-o indispensável; portanto, foi retirado do instrumento para as etapas seguintes da avaliação (Gráfico 21).
Este conjunto de descritores — do 9 ao 18 — aponta para o centro do instrumento de pesquisa, que pretende
identificar os tipos de projeto de parentalidade ou sua ausência. No projeto piloto, acontecerá a validação estatística
que poderá definir uma escala para medir e identificar os
diversos tipos de projeto de parentalidade.
148
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 20- Descritor 17 - A gravidez do primeiro/último filho foi
bem recebida, mas o(a) parceiro(a) não se preocupa
mais com a criança
Fonte: Dados da pesquisa.
149
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 21- Descritor 18 - Ocorrência de aborto no núcleo familiar
Fonte: Dados da pesquisa.
7.3Descritores que indicam
modelo de família
Os próximos 11 descritores (19 a 29) visam identificar
os modelos de família. Desse total, apenas dois descritores
150
Resultado da técnica de grupo nominal
suscitaram observações relevantes, em especial na etapa
presencial, justificando sua exclusão.
Nas duas etapas do grupo nominal, o descritor 19
apresentou um resultado bastante próximo, com o aumento percentual do item indispensável, que passou de 60% na
primeira etapa para 80% na segunda. Como consequência, a
indicação de necessário passou de 33% na primeira etapa
para 20% na segunda. Por sua vez, dispensável passou a ser
nulo na segunda etapa. As notas 6 e 5 foram exatamente
iguais nas duas etapas, indicando 60% para a nota 6 e 27%
para a nota 5 também em ambas as etapas, com um acréscimo de 6% na segunda etapa em relação à primeira (nota 4).
Os resultados expostos no Gráfico 22 ratificam a importância de se fazer a pesquisa sobre o compartilhamento dos parceiros quando decidem o momento da gravidez.
Portanto, esse descritor foi considerado indispensável.
O descritor 20, que indica a ajuda profissional para
que a gravidez tenha acontecido, aparentemente apresentou resultados não coerentes entre a expressão da opinião
dos especialistas e a aplicação da nota. Na primeira etapa,
apesar de somente 20% dos especialistas tê-lo considerado
indispensável, 27% desses especialistas atribuíram a nota
máxima. Na segunda etapa, houve uma equiparação entre
indispensável e nota 6, com 20%. Esse descritor, considerado
necessário, recebeu 73% na primeira etapa e as notas foram diversificadas: 33% nota 5; 27% nota 4 e 13% nota 3.
Na segunda etapa, houve uma melhora entre a relação da
opinião como necessário e notas, sendo atribuído 80% para
151
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
necessário e as notas: 5 com 60%, 4 com 13% e 3 com 7%
(Gráfico 23). Com essa avaliação, o descritor foi excluído.
Gráfico 22- Descritor 19 - A decisão de engravidar do primeiro/
último filho foi compartilhada pelo(a) parceiro(a)
Fonte: Dados da pesquisa.
152
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 23- Descritor 20 - Ocorrência de ajuda profissional para
conseguir engravidar do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 21 visa indicar o modelo de família a partir
da identificação de com quem a pessoa morava quando engravidou. Durante os debates e as análises dos especialistas
na etapa presencial, um dos pesquisadores assim se expressa:
153
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
nós entendemos assim: se eu moro com meu pai, está me
indicando um modelo de família; se eu moro com meu parceiro, está indicando um outro modelo de família. Porque a
gente entendeu que se pega o modelo de família por essa
pergunta. Onde você morava quando engravidou? Morava
numa república de estudantes. É outra situação (GP).
Gráfico 24- Descritor 21 - Com quem a pessoa morava quando
soube da gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
154
Resultado da técnica de grupo nominal
Com relação ao resultado, houve uma alteração importante relativa à etapa não presencial: 24% para indispensável
e 20% de nota 6. Esses percentuais passam para 33%, tanto
para indispensável como para a nota 6 na etapa presencial. Já
o item necessário, na primeira etapa, resultou em 56%, apresentou 33% de nota 5 e 40% de nota 4. Na segunda etapa,
esse item passa para 67%, a nota 5 para 53% e a nota 4 para
7%. O que chamou a atenção foi que o descritor estava sendo
considerado dispensável por 20% na primeira etapa e passou
a zero na segunda (Gráfico 24). Apesar das pequenas incongruências, optou-se pela permanência desse descritor.
O descritor 22 na etapa não presencial não apresentou
resultado satisfatório, pois apenas 40% dos especialistas consideraram o quesito indispensável e 47% atribuiu a nota 6. Nas
discussões para aprofundamento na etapa presencial, um dos
especialistas expressa um fato que acontece em nossos dias:
na nossa cultura, o que mais aparece é na segunda união
o homem exigir um filho para consolidar e legitimar a
relação. E, às vezes, há casos absurdos em que ela disse
que tinha feito laqueadura e escondeu isso dele e foi fazer
exame para ver se tinha permeabilidade tubária e queria
que no laudo não constasse isso porque ela prometeu a
ele que lhe daria um filho. Isso é muito complicado, mas o
que a gente mais vê é a exigência do homem ter um filho
para legitimar uma união (GE).
A partir dessa situação, um dos pesquisadores questiona sobre a necessidade de se elaborar outro descritor:
“seria necessário outro descritor para pegar esse inverso. Seria:
155
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
o que os parceiros decidem com isso? A gravidez ocorreu para
satisfazer os parceiros” (GP).
Porém, houve consenso de que não seria necessário elaborar outro descritor e os novos resultados da etapa presencial
comprovam essa posição, pois o item passa a ser considerado
indispensável por 53% dos especialistas e 47% o consideram
necessário, tal qual na primeira etapa e as notas ficam concentradas em 6 por 67% dos especialistas e 5 com 33%, o que na
primeira etapa estava mais diluído, com 47% na nota 6, 27% na
nota 5, 20% na nota 4 e 7% na nota 1 (Gráfico 25).
Esses resultados indicam claramente a importância
da permanência do descritor para a identificação do modelo
de família.
O descritor 23 apresenta resultados coerentes nas
duas etapas. No momento não presencial, os especialistas
atribuem 73% para o quesito indispensável, enquanto 40%
deles atribuem as notas 6 e 5, e 20% a nota 4. Esses percentuais passam para 80% como indispensável, 73% nota 6 e
27% nota 5 na etapa presencial (Gráfico 26). Esses resultados
nos levam à manutenção desse descritor, o que é reforçado
por não ter havido, na etapa presencial, nenhum comentário
adicional ou levantamento de questões.
O descritor 24, a exemplo do descritor 21, dá uma indicação direta sobre o modelo de família. Os resultados da
etapa não presencial deixam uma sensação de incoerência
ao apresentar que 40% e 47% dos especialistas apontam o
descritor como indispensável e necessário e 33% e 47% para
as notas 6 e 5, respectivamente.
Mesmo sem comentários a respeito do descritor,
o esclarecimento dos demais descritores analisados até o
156
Resultado da técnica de grupo nominal
momento fez com que os especialistas alterassem os resultados: de 53% como indispensável e 47% como necessário,
a nota 6 passa a ser de 53% e a nota 5 de 40% (Gráfico 27).
Houve, portanto, maior proximidade dos valores percentuais
entre as notas e as opiniões. Isso indica que esse descritor é
mantido da forma como está.
Gráfico 25- Descritor 22 - Um dos parceiros não queria o primeiro/
último filho por já ter filho de outro relacionamento
Fonte: Dados da pesquisa.
157
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 26- Descritor 23 - A pessoa assumiu a gravidez do
primeiro/último filho sozinha
Fonte: Dados da pesquisa.
158
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 27- Descritor 24 - Apoio da família do(a) respondente à
gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
159
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 25 traz resultados interessantes e curiosos
tanto para a opinião como para as notas. Nesse caso, houve
os dados coincidiram em ambas as etapas. Veja-se que, na
primeira etapa, o quesito indispensável está com 53%, o quesito necessário com 40% e o dispensável com 7%. As notas
da primeira etapa replicam esses percentuais para as notas
6, 5 e 4 respectivamente. Na segunda etapa, houve um incremento percentual no quesito indispensável, que passou a ser
considerado por 87% dos especialistas, e o necessário caiu
para 13%, enquanto as notas 6 e 5 também passaram a ter
esses percentuais, respectivamente (Gráfico 28).
Visto que não houve qualquer comentário a respeito e
dado o incremento que se observa, esse descritor será mantido.
Ao iniciar a análise do descritor número 26, um dos
especialistas levanta a questão: “Isso é um apontamento que
eu estou fazendo, mas é inevitável pensar como a pergunta será
feita” (GE). Ao que um dos pesquisadores esclarece: “Esta vai
ser feita exatamente assim: família, líderes religiosos e profissionais da saúde. Vamos investigar essas três áreas” (GP). Um
dos especialistas chega a comentar sobre a pressão vinda de
terceiros, citando: “Porque alguns dizem: ‘vocês ainda não têm
filhos?’” (GE).
O resultado da primeira etapa traz alguma preocupação, pois apenas 27% dos especialistas optaram pelo quesito
indispensável, 53% pelo necessário e 20% pelo dispensável.
Também as notas na primeira etapa diluíram-se: 27% para a
nota 6, 40% para a nota 5, 20% para a nota 4 e 7% para as
notas 3 e 1 (Gráfico 29).
A etapa presencial trouxe um resultado melhor, com o
quesito indispensável chegando aos 53% dos especialistas,
160
Resultado da técnica de grupo nominal
o necessário em 47%, e as notas se concentraram em 6, com
67%, e 5, com 33%. A melhora dos percentuais nessa segunda
etapa indica a permanência do descritor.
Gráfico 28- Descritor 25 - Influência da atividade profissional da
mulher na decisão de engravidar mais tarde (adiar a
primeira gravidez)
Fonte: Dados da pesquisa.
161
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 29 - Descritor 26 - Influências de terceiros (familiares, religiosos,
profissionais de saúde) na decisão de ter filhos
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 27 é questionado quanto à forma como
está elaborado. Tanto que um dos especialistas indaga:
“Quem é essa pessoa aí? Fiquei em dúvida” (GE). O esclarecimento foi apresentado por um dos pesquisadores:
É a própria pessoa que está respondendo. O entrevistado. Eu participei por minha decisão. Como é que eu estou
162
Resultado da técnica de grupo nominal
presente nesse momento de conflito? Sou eu que assumo
isso ou é o outro? Não, esse assunto quem decide em casa
é a minha mulher (GP).
Outra questão foi com relação ao tipo de conflito, visto que os exemplos foram apenas três: aborto, doenças e
doação do filho. Novamente, um dos especialistas observa:
Pois é, mas, vai ser colocado isso como exemplo para a
pessoa? Para dar um direcionamento. Porque, por exemplo, pode ter um conflito de separação, morte, ou outro
tipo. Então não sei se não teria que olhar isso aqui como
na questão anterior. Se você vai perguntar sobre três coisas, tem que olhar para isso (GE).
E outro especialista complementa: “Eu acho que a
questão da separação é mais presente. Mais frequente” (GE).
Diante das controvérsias e, com os resultados da etapa presencial ainda mais desfavoráveis e até certo ponto
confusos, tanto no que diz respeito à opinião quanto às notas — que, inclusive, atingiu 13% para a nota zero —, optou-se
pela exclusão desse descritor (Gráfico 30).
O descritor 28 também teve a forma de sua elaboração questionada. Um dos especialistas inquire: “Mas essa
pergunta aqui entra no depois?” (GE). Um dos pesquisadores
diz: “Aqui nós estamos querendo investigar que modelo de família ele tem. Se é o homem que faz, se é a mulher que faz, é
mais nesse sentido. Captar o modelo de família. Será que essa
pergunta ajuda a captar o modelo de família?” (GP). Outro
163
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
especialista afirma: “Eu acho que não” (GE). E um terceiro especialista opina:
Uma família patriarcal. Vamos pensar num modelo.
Família patriarcal, em que o homem não se envolve com a
mulher e com os filhos. Ele só se liga na questão financeira
e é ela que define tudo. Tem família hoje que a mulher
define tudo (GE).
As dúvidas continuam sendo levantadas com a participação de um quarto especialista: “Quem é o responsável?
Isso aqui talvez tenha um indicativo. Do jeito que ela está, se
parece muito com essa — todos os cuidados com o primeiro/
último filho. Se for com um foco mais...” (GE). Complementada
por mais um especialista: “Essa daí não é a pergunta. É só o
indicador para fazer a pergunta” (GE).
Um dos pesquisadores procura esclarecer mais uma
vez:
Mas esse indicador seria para captar esse aspecto. Se alguém perguntar se é algo que está respondendo, se é de
muito a zero, e ele responder: “Ah, eu tenho zero de participação, tenho zero de participação nisso, e só a mulher
tem participação” (GP).
A dúvida persiste e o foco passa a ser o modelo de
família.
A a ideia é mapear que modelo de família nós temos e
depois ver se nesse modelo existe mais planejamento ou
164
Resultado da técnica de grupo nominal
menos planejamento. Usar esses dados. A gente quer, com
essa pergunta, ver qual modelo de família as pessoas estão vivenciando. Aí você pode concluir que nessa família
tem mais planejamento, na outra, menos (GP).
A polêmica continua, com a indagação: “Deixe só eu
entender esse ponto. Esse instrumento é para pesquisar. Vamos
entrevistar as famílias e entender qual é o modelo de família do
grupo que entrevistamos” (GE). Um pesquisador tenta situar
melhor o tema:
Não, veja bem, nós estamos querendo saber se há planejamento de parentalidade. Quer dizer, se há planejamento
familiar ou não. Mas daí agora, nós estamos vendo se o
modelo de família propicia ou não o planejamento. Então
nós também queremos saber que modelo de família as
pessoas têm para relacionar isso com se há planejamento
ou não nesse ou naquele modelo. [...] A gente vai mapear
os entrevistados (GP).
Ao que é feita a réplica:
Tem-se em mente um modelo de família muito idealizado.
É isso que eu tenho medo. Você tem uma mãe que trabalha fora e ela pode ter mais culpa para responder do que
propriamente dar a informação, não é? Tem gente que está
feliz com o tempo que dá aos filhos! (GE)
Mais uma vez, a participação de um especialista, que
complementa com a seguinte visão:
165
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Mas eu insisto assim, se você tem um apontamento para
fazer na escola, a responsabilidade financeira, todos esses
critérios, o sujeito deve estar apontado porque ele configura a família. Aí eu pergunto: quem faz tal coisa nesse
núcleo aí? Tem que cuidar dos dados cruzados. Tudo isso
para definir um modelo de família (GE).
As dúvidas persistem e, ao observarmos o Gráfico 31,
pode-se ter uma ideia desse descritor. A opinião de indispensável — que, na etapa não presencial, quase atingiu 50% —,
após a intensa participação de todos na etapa presencial,
caiu dos 47% para 33%. A nota 6, apresentada com 53%
na primeira etapa, caiu 20 pontos percentuais, ficando nos
33% na segunda etapa.
Diante da polêmica, das controvérsias, da dificuldade em se estabelecer um parâmetro claro até mesmo para
os especialistas, há um indicativo muito forte de que para
os entrevistados poderia ser ainda mais complexo. Portanto,
esse descritor foi excluído.
O descritor 29, mesmo não tendo comentários na
etapa presencial, reflete o nível de entendimento a que se
chegou com o aprofundamento da análise dos descritores
anteriores, com o que está presente no Gráfico 32. Na primeira etapa, o quesito indispensável contava com 47% e passou
para 80% na etapa presencial. De forma semelhante, a nota
6 — que na primeira etapa teve como resultado 47% —, na
segunda etapa, chegou aos 73%. São dados bastante coerentes que justificariam a manutenção desse descritor, porém na
defesa o descritor foi excluído por sugestão da banca.
166
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 30- Descritor 27 - Participação da pessoa na tomada de
decisão na hora de conflito (aborto, doenças, doar o filho)
Fonte: Dados da pesquisa.
167
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 31- Descritor 28 - Cuidado pessoal com os filhos:
acompanhamento na escola/responsabilidade
financeira/tempo investido com os filhos/
acompanhamento religioso
Fonte: Dados da pesquisa.
168
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 32- Descritor 29 - Decisão de a mulher engravidar
relacionada com sua idade (evitar gravidez de risco)
Fonte: Dados da pesquisa.
169
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O resultado, especialmente da etapa presencial, fez
com que o descritor 27 “Participação da pessoa na tomada
de decisão na hora de conflito (aborto, doenças, doar o filho)” e o descritor 28 “Cuidado pessoal com os filhos: acompanhamento na escola/responsabilidade financeira/tempo
investido com os filhos/acompanhamento religioso” fossem
excluídos, pelas causas descritas anteriormente.
Restaram, portanto, nove descritores que indicam modelo de família para serem utilizados no projeto piloto: os
descritores de identificação, aqueles que indicam parentalidade e os que indicam modelo de família, bem como os
demais descritores que foram trabalhados por outros três
alunos mestrandos, conforme já descrito.
7.4Descritores relacionados com
a visão de sexualidade
Os descritores de números 30 a 40 visam identificar
a existência ou não de impacto da sexualidade na parentalidade. Desses 11 descritores, tendo em conta as observações
significativas do grupo de especialistas (GE) na etapa presencial, cinco foram excluídos: os descritores 33 (realização
pessoal/alegria em ter o filho), 36 (prática sexual influenciada/adiada por possibilidade de engravidar), 38 (idade de
início de sua atividade sexual), 39 (motivações para praticar
o ato sexual — realização pessoal/pertença ao grupo/afirmação da identidade) e 40 (ocorrência de abusos sexuais de
criança na família).
170
Resultado da técnica de grupo nominal
Entretanto, nos debates ocorridos com os examinadores durante a Banca de Qualificação, percebeu-se que o
descritor número 38 (idade de início de sua atividade sexual)
deveria avançar para a próxima fase, pois foi considerado
pertinente ao projeto de parentalidade.
Permaneceram ativos, portanto, sete descritores: 30,
31, 32, 34, 35, 37 e 38.
A seguir, faz-se a análise dos conteúdos dos 11 descritores, à esquerda, e suas respectivas notas, à direita, considerando-se as duas etapas de participação do grupo de especialistas
(GE) na técnica do Grupo Nominal, ou seja, primeiramente na
edição não presencial e, posteriormente, no encontro presencial, este, realizado na PUCPR no dia 1º de dezembro de 2012.
O descritor 30 obteve, na Etapa 1 (não presencial), o
percentual de 53% para a opção necessário e, também, outros 47% para indispensável. A alternativa dispensável permaneceu zerada. Já na rodada presencial (Etapa 2), a adesão dos especialistas elevou a alternativa indispensável
para o patamar de 87%, em detrimento dos anteriores 47%.
Ademais, o entendimento dos outros 13% de especialistas
foram classificados como necessários.
As notas lançadas para avaliar o descritor corroboram
com a moldura fática do julgamento de conteúdo, bem como
de sua pertinência ao objeto da pesquisa, eis que a nota máxima (6) foi assinalada por 60% dos especialistas, contra os
53% da primeira etapa.
A nota 5 foi a opção dos outros 40%, que antes fora
marcada por 27%, acrescida da nota 4 por mais 20%. As demais notas (3, 2, 1 e zero) não foram apontadas em nenhuma
das duas etapas da técnica metodológica utilizada.
171
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Nota-se que não foi lançado numeral algum na cota
do dispensável em nenhuma das edições desse trabalho,
bem como sequer houve algum comentário, seja por parte
dos pesquisadores ou dos especialistas, que justificaria de
forma inequívoca a permanência do referido descritor. No
entanto, na qualificação da dissertação, o descritor foi excluído (Gráfico 33).
Gráfico 33- Descritor 30 - Uso de contraceptivo antes da gravidez
do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
172
Resultado da técnica de grupo nominal
O descritor 31 chegou a ser questionado pelo grupo de especialistas (GE) quanto ao vocábulo dificuldades
nos seguintes termos: “Que tipo de dificuldades? Podem ser
econômicas”.
O esclarecimento prestado pelo grupo de pesquisadores (GP) foi no seguinte rumo: “Não, aí é no sentido de
engravidar mesmo. Não conseguir engravidar. Dificuldade para
ter filho. Não consegue engravidar? E se separa? Isso ocorre?
Gostaria de saber. É, gostaria de saber como, quando e o percentual disso”.
Na Etapa 1, 33% do GE assinalou indispensável, 53%
necessário e 13% dispensável. Já na Etapa 2, desapareceu
o crédito da cota dispensável e aumentaram significativamente as marcações máxima e intermediária (para 60% e
40%, respectivamente, indispensável e necessário), fechando
a questão.
Esse descritor foi bem avaliado na Etapa 2, pois 47%
do GE atribuiu-lhe nota 6 (antes 40%), somado à nota 5, com
40% de preferência (antes 27%) e acrescido da nota 4, com
7% de assinalamento. O restante coube ao registro mínimo
de nota 3.
Nada obstante o descritor não ter atingido unanimidade por parte do grupo de especialistas, sua pertinência
foi considerada adequada pelos especialistas e devidamente
justificada sua presença na investigação da parentalidade
(Gráfico 34).
173
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 34- Descritor 31 - Ocorrência de separação do casal
devido às dificuldades para ter filho
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 32 não recebeu do GE nenhum registro
de dispensável, em nenhuma das etapas. Também não teve
assinalamentos de notas 2, 1 ou zero.
A ponderação do GE ficou por conta da observação
no sentido de que “esse problema fica sério quando o primeiro
filho vem com problema”. O GP explicou:
174
Resultado da técnica de grupo nominal
se fosse acusado pelo segundo filho, poderia ser mais
relevante. Teria que colocar na hora de ter o segundo
filho, porque o primeiro é difícil de se avaliar. Como é
que se vai saber? Entre o primeiro e o segundo, você
tem dificuldade. Qual seria o mais relevante?
Na Etapa 2, o grau de importância ficou em 67% para
a opção necessário (antes 80%) e 33% para a alternativa indispensável (antes 20%). Quanto às notas, tem-se que 47%
dos especialistas atribuíram valor 6 em ambas as etapas,
40% nota 5 (antes 33%), 7% nota 4 (antes 20%) e, o restante,
nota 3. Nesse contexto, o descritor 32 foi considerado adequado e, por via de consequência, mantido (Gráfico 35).
Já o descritor 33 foi excluído, entendendo-se seu descabimento quando considerados os demais descritores já
analisados e justificados (Gráfico 36).
O descritor 34 ganhou na primeira etapa conceitos de
indispensável (40%), necessário (47%) e dispensável (13%).
As notas dessa etapa ficaram divididas em 6, 5 e 4 — respectivamente, 40%, 40% e 20%.
A Etapa 2 não registrou a ocorrência da opção dispensável. A opção necessário foi elevada para 67% pelo GE
(antes 47%) e a alternativa indispensável ficou com 33% da
preferência dos especialistas. Nessa etapa derradeira, a nota
6 subiu para 53% (antes 40%), a nota 5 ficou em 33% e, por
fim, a nota 4, com o percentual remanescente.
Dessa forma, o descritor foi considerado inapto a permanecer nos moldes que norteiam a pesquisa sobre planejamento da parentalidade (Gráfico 37).
175
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 35 - Descritor 32 - Decisão de não ter filho em virtude da
possibilidade de ter um filho doente
Fonte: Dados da pesquisa.
176
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 36- Descritor 33 - Realização pessoal/ alegria em ter o filho
Fonte: Dados da pesquisa.
177
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 37 - Descritor 34 - Vínculo afetivo materno/paterno do
entrevistado
Fonte: Dados da pesquisa.
O descritor 35, apresentado no Gráfico 38, obteve adesão do GE nas três alternativas possíveis durante a primeira
etapa, assim divididos: dispensável 7%, necessário 60% e indispensável 33%. Embora predomine a categoria necessário,
ressalta-se que, se ela for somada à opção indispensável, o
descritor totaliza 93% de conveniência e viabilidade de utilização na pesquisa.
178
Resultado da técnica de grupo nominal
A atribuição de notas nessa etapa inicial ficou entre
6 (60%), 5 (20%), 4 (13) e zero (7%). Assim, na contabilização
das três maiores notas, também se chega ao montante de
93% das escolhas por parte dos especialistas.
Durante os embates com os especialistas, o grupo de
pesquisadores esclareceu o objetivo em relação ao descritor
analisado: “vamos também pegar os três pontos só, não vamos
abrir muito: família, escola ou comunidade?”, para evitar desvios de rota na pesquisa.
A Etapa 2 expurgou a cota anterior da opção indispensável e fixou a escolha entre necessário (53%), e indispensável (47%). As notas foram distribuídas entre 6 (33%), 5 (47%),
4 (13%) e, finalmente, 3 (7%), fechando a grade avaliativa.
Com efeito, o descritor 35 também passou no teste e
está apto a ser regularmente utilizado nos objetivos propostos na de pesquisa (Gráfico 38).
O descritor 36 também foi excluído, entendendo-se
seu descabimento quando considerados os demais descritores já analisados e justificados (Gráfico 39).
O descritor 37 trouxe na primeira etapa tanto a avaliação de conteúdo quanto as notas aplicadas de forma
consistentes, recomendando desde o início a manutenção
desse descritor.
Na Etapa 1, a verificação do conteúdo e da pertinência
com o objeto da pesquisa ficou entre as demarcações necessário (53%) e indispensável (47%), fechando a preferência
de integrantes do grupo de especialistas. Quanto às notas,
nessa etapa, 40% atribuíram valor 6, e outros 40%, nota 5. Os
outros 20% ficaram divididos entre a nota 4 (13%) e a nota
3 (7%). Portanto, as notas 2, 1 e zero não foram assinaladas.
179
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 38 - Descritor 35 - Onde recebeu informações sobre
sexualidade: família/escola/comunidade religiosa
Fonte: Dados da pesquisa.
180
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 39- Descritor 36 - Prática sexual influenciada/adiada por
possibilidade de engravidar
Fonte: Dados da pesquisa.
181
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Os embates na Etapa 2 foram reduzidos no grupo de
especialistas. Entretanto, houve manifestação no sentido de
que o descritor seria “tão dispensável” (GE), ao que os pares
se pronunciaram em tom de defesa da maioria para argumentar que se “você trabalhar com pessoas com HIV-AIDS, você
vai ver que isso é um risco. É um grupo de risco, né. Então, isso
existe sim” (GE), bem como a constatação de que todas “as
DSTs podem interromper” (GE).
A posição minoritária, entretanto, continuou na exposição de seus argumentos, nos seguintes termos:
O que apresenta essa novidade, de como eu posso evitar,
né... Ele tem HIV, mas o parceiro que tem HIV não deixa de
ter relação sexual hoje em dia. Eu acho que entram mais
as doenças sexualmente transmissíveis, mas, que às vezes,
é tão difícil de identificar o parceiro que tenha para poder
ter o cuidado. O cuidado é o tempo inteiro. Não é o cuidado porque eu não conheço o outro. Tem que ser um cuidado permanente. A educação em saúde não pode ser um
cuidado esporádico. Por isso que na hora eu pensei, mas...
Os demais especialistas ainda sustentaram que se
trata de “um dado importante para a saúde pública, descobrir
que as pessoas não deixam de transar mesmo sabendo que podem pegar uma doença” (GE). Já o grupo de pesquisadores
observou que “se a resposta for totalmente negativa, não influencia em nada” (GP).
Na Etapa 2, o descritor 37 teve aumentado o percentual do conceito indispensável para 53% (antes 47%) e, por
consequência, ocorreu uma diminuição na opção necessário,
182
Resultado da técnica de grupo nominal
que ficou em 47% (antes 53%). A discussão, portanto, caminhou no sentido de firmar ainda mais a necessidade de se
manter o descritor na pesquisa de parentalidade.
A mesma linha de raciocínio pode ser visualizada na
alteração das notas, eis que o valor máximo de 6 subiu para
47% (antes 40%), permanecendo o mesmo percentual de preferência das notas 5 e 4, isto é, respectivamente, 40% e 13%
em ambas as etapas. Contudo, desaparece a cota da nota 3.
Tem-se, assim, plenamente justificada a consistência
do descritor 37, por se tratar de uma realidade presente e
próxima do tema investigado nessa pesquisa (Gráfico 40).
O descritor 38, disposto no Gráfico 41, inicialmente
foi excluído, entendendo-se seu descabimento pelo grupo
de especialistas (GE), quando considerados os demais descritores já analisados e justificados.
Em síntese, o descritor 38 apresentou uma rejeição de
53% por parte do GE na primeira etapa, sendo que 40% dos
especialistas classificaram a proposição como necessário e
13% optaram por dispensável. A opção indispensável recebeu, em ambas as etapas, a adesão de 47% do GE. Na Etapa
2, a opção dispensável baixou a rejeição de 13% para 7%
e, consequentemente, elevou-se a opção necessário de 40%
para 47%. As notas atribuídas na Etapa 1 somaram 60% da
preferência do GE entre os conceitos 5 (33%), 4 (13%), 1 (7%)
e zero (7%), e apenas 40% lançou a nota máxima. Na Etapa
2, a nota 6 caiu de 40% para 33%. Já a nota 5 aumentou o
percentual de 33% para 47%. Também ocorreu a redução da
nota 4: de 13% para 7%. As notas 3 e 1 dividiram o saldo.
Mas os examinadores da Banca de Qualificação chamaram a atenção para o fato de que o descritor tem conexão
183
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
direta com o projeto de parentalidade e, portanto, deveria
avançar para a fase seguinte da pesquisa, o que foi acatado
pelo grupo de pesquisadores (GP).
Gráfico 40 - Descritor 37 - Prática sexual influenciada/adiada por
possibilidade de adquirir doença
Fonte: Dados da pesquisa.
184
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 41 - Descritor 38 - Idade de início de sua atividade sexual
Fonte: Dados da pesquisa.
O Gráfico 42 apresenta o descritor 39, que dividiu significativamente a opinião do grupo de especialistas (GE) nas
duas rodadas de análise do tema. Na Etapa 1, apenas 27% do
GE entendeu que o descritor seria indispensável. Outros 40%
185
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
admitiram-no como necessário e, por fim, 33% consideraram
o quesito dispensável.
O caminho das notas também refletiu a manifestação
da opinião sobre os conteúdos, porque somente 13% atribuíram a nota máxima. Já a nota 5 obteve a preferência de 33%,
enquanto a nota 4 foi assinalada por 27%. Apareceram, ainda,
as notas 3 e 1, ambas com o mesmo índice percentual restante.
Durante os embates acadêmicos, a questão foi exposta pelo grupo de especialistas (GE) dentro dos seguintes
parâmetros:
Essa pra mim seria? Motivações pra praticar? A relação
direta entre uma coisa e outra, eu digo tem, mas assim...
Eu demorei pra entender. É (necessário) uma pergunta
muito limpa pra chegar a planejamento. Me causou um
certo, sei lá... Tanta pergunta talvez mais importante pra se
fazer quando se refere à parentalidade. É uma percepção
bem pessoal [mas eu concordo com você]. Tipo motivações.
Tanta motivação que possa ter na vida, que possa influenciar uma coisa e outra. É... Não rolou.
O grupo de pesquisadores (GP) apontou: “Ninguém defende o 39. Então, de repente, seja até questionável o descritor”.
Ato contínuo, surge nova manifestação indicando
mudança de opinião, a saber: “Eu tinha colocado que era importante, né. Agora, escutando ele, fico pensando que parece
dispensável” (GE).
O especialista que deu início à questão volta a insistir: “é uma pergunta muito primária ao meu ver, assim, muito
primeira” (GE).
186
Resultado da técnica de grupo nominal
Outra intervenção ocorreu (GE), agora ponderando a
possibilidade de se manter o descritor, senão vejamos:
Mas veja: a gente não está tentando levantar dados desse
projeto de parentalidade, sob a ótica da questão da sexualidade? Como eu vivo isso? Então, assim: qual significado
o ato sexual, a sexualidade, tem pra mim? Ah, pra mim, é
a realização da minha vida. Pra mim, é porque eu quero
estar bem no meu grupo; eu posso estar com meus pares.
Ou então: eu quero ser, aquela coisa assim, de firmação
da identidade: sou uma mulher desejada; sou um homem viril, né. Então, acho que isso pode ter alguma coisa
interessante.
A resposta do especialista foi de que pode ter alguma coisa interessante, eu não duvido. A questão que a coisa
interessante até o objeto de estudo eu achei muito distante.
Foi isso (GE). Outros especialistas acrescentaram: “Não leva,
necessariamente, à parentalidade e, também, indica a associação direta, né, entre sexo e gravidez. Sexo e reprodução” (GE).
Ocorreu uma nova intervenção do grupo de pesquisadores (GP): “É, ele não faz essa vinculação. Mas eu acho que o
objetivo é acatar um pouco do que a Márcia está colocando: que
visão a pessoa tem da sexualidade? Motivações?”.
Por fim, o GE ainda trouxe a seguinte ponderação:
Anos atrás, uma socióloga francesa apresentou aqui um
trabalho, uma pesquisa feita no Nordeste sobre as adolescentes grávidas. Então, para a sociedade, eram umas
garotas sem vergonha. E, no fundo, a pesquisa mostrou
187
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
que, com uma gestação, elas seriam notadas, que existem, enquanto mulher. Então, a motivação delas pra terem uma criança era uma ação de presença na sociedade.
[intervenção breve: caberia uma pergunta direta sobre
a motivação pra se ter um filho]. Sem vergonha era a
sociedade que as excluía.
Em resumo, na Etapa 2 foi notória a sinalização de exclusão desse descritor, visto que a opção dispensável foi apontada por 67% dos especialistas, que, se acrescido de outros
27%, advindos da categoria necessário, somam 94% e, portanto, apenas um percentual mínimo o considerou indispensável.
As notas atribuídas também desvelam um caminho
de obscuridade para a manutenção desse descritor. A nota 6
teve 20% de adesão (antes 13%) e a nota 5 ficou com 53%
das preferências (antes 33%). Já a nota 4 ficou com 7% (antes
27%), a nota 1 apareceu com 7% (antes 13%) e, por fim, a
nota zero registrou 13% (antes zero).
Diante do que se apresentou nas duas etapas de participação do grupo de especialistas (GE) e, ainda, após as
reflexões feitas pelo grupo de pesquisadores (GP), restou firmado o entendimento sobre o descabimento da manutenção
do descritor 39, também considerados de forma sistêmica os
demais descritores já analisados e justificados.
O descritor 40 recebeu, durante a Etapa 1, o maior percentual na opção necessário, com 53% das preferências dos especialistas. Outros 20% se posicionaram na categoria indispensável e, finalmente, 27% escolheram a categoria dispensável.
Nessa etapa inicial, apenas a nota zero não foi escolhida. A nota 6 foi alcançada por 27% das escolhas do grupo
188
Resultado da técnica de grupo nominal
de especialistas (GE), a nota 5 ficou com 33% das preferências, as notas 4, 3 e 2 com 7% cada uma, e o percentual restante, com a nota 1.
Gráfico 42- Descritor 39 - Motivações para praticar o ato sexual
(realização pessoal/pertença ao grupo/afirmação da
identidade)
Fonte: Dados da pesquisa.
189
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Na Etapa 2, foi possível perceber tanto certo temor
por parte do grupo de especialistas quanto a sinalização do
tamanho do desafio em relação ao tema contido no descritor.
A primeira questão a respeito do tema surgiu como
forma de indagação: como vai fazer esta pergunta? “É um
ponto muito ‘delicado’ e quem passou por isso acaba não falando. Essa é muito mais puxada” (GE).
O fato de que a pesquisa não poderia deixar a temática de lado foi apresentado nos seguintes termos:
A pesquisa não pode se eximir de fazer esse apontamento,
porque, sei lá, eu acho que você não pode perguntar se
você foi abusado ou você tem alguém na sua família que
foi. Mas se você sabe de casos ou conhece pessoas, não faz
diretamente. Porque o que acontece é que os dados sobre
abuso sexuais de crianças são os mais difíceis de se obter,
inclusive registros inclusive desses casos nas estatísticas
aí, né. [...] É uma informação num momento importante da
gente, inclusive, cumprir o papel social de levantar isso,
porque a sociedade esconde. A família esconde. E não dá
mais para esconder o que as crianças têm passado. (GE)
Outro especialista ponderou o seguinte: “também tenho dificuldade de fazer uma conexão com o objetivo da pesquisa” (GE). O grupo de especialistas também observou que
se a família, se a pessoa tem um olhar sobre isso, ela tem
190
Resultado da técnica de grupo nominal
um cuidado em sua organização familiar. Ressaltou, ainda, a
existência de um dado patológico nesses casos.
Por fim, o grupo de pesquisadores concluiu: “Vamos
ver como a gente faz. Depois a equipe ‘quebra a cabeça’. O assunto foi levantado. A relevância, entende?” (GP).
Quanto ao conteúdo do descritor, na Etapa 2, tivemos
mantido o percentual para a opção indispensável (20%).
A alternativa necessário ficou com 33% (antes 53%), e a categoria dispensável subiu nas preferências dos especialistas
para 47% (antes 27%).
Nesta etapa, comparativamente com a etapa anterior,
a nota teve um decréscimo, eis que ficou no patamar de 20%
(antes 27%), enquanto a nota 5 permaneceu no mesmo índice percentual da etapa inicial (33%).
Também a nota 4 aumentou, permanecendo em 20%
(antes 7%). Já a nota 3 permaneceu no percentual de 7%,
enquanto a nota 2 não foi assinalada pelos especialistas.
Entretanto, a nota 1 recebeu assinalamento de 7% dos experts, bem como a nota zero, anteriormente não anotada, que
agora ficou com 13% da preferência.
O descritor 40, diante do que se apresentou nas duas
Etapas de participação do grupo de especialistas (GE) e, ainda, após os questionamentos analisados pelo grupo de pesquisadores (GP), foi considerado inviável, igualmente considerados sistemicamente os demais descritores já analisados
e justificados (Gráfico 43).
191
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 43- Descritor 40 - Ocorrência de abusos sexuais de
criança na família
Fonte: Dados da pesquisa.
7.5Descritores relacionados com religião
Os próximos cinco descritores (n. 41 a 45) visam
identificar o impacto da tradição bíblica no planejamento
de parentalidade.
192
Resultado da técnica de grupo nominal
O Gráfico 44 mostra que, para o descritor 41, foi possível observar uma evolução no conceito, visto que na primeira
avaliação o descritor foi considerado indispensável por 67%
dos especialistas, e na segunda avaliação a porcentagem subiu para 80%. Consequentemente, há uma queda na avaliação: na primeira etapa, mostrava 27% considerando necessário, o que caiu para 13%. Contudo, o valor de dispensável
não se modificou.
Gráfico 44- Descritor 41 - Influência da religião na escolha ou
não de método contraceptivo
Fonte: Dados da pesquisa.
193
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 42 gerou debate entre os especialistas, que
questionaram a possibilidade de a sexualidade estar vinculada à promiscuidade. Segundo eles, o conceito de promiscuidade pode ser muito relativo, proporcionando um aumento
significativo na categoria necessário, que superou muito a
categoria indispensável. Entretanto, quanto a notas atribuídas
ao descritor, não houve mudanças, como pode ser observado
no Gráfico 45. Sendo assim, o descritor foi excluído.
O Gráfico 46 mostra que o descritor 43 teve uma
evolução tanto no valor indispensável como no necessário,
porém, com uma superação do necessário sobre o indispensável após a segunda avaliação dos especialistas. Quanto
à nota, houve um aumento de porcentagem na nota 5.
Aparentemente, é óbvia para os especialistas a clareza desse
descritor sobre a influência da religião na maneira como os
filhos são recebidos na vida do entrevistado.
O descritor 44 mostrou uma queda considerável em
sua avaliação, pois, na discussão do Gráfico 47, o tema da
promiscuidade foi relativizado pelos especialistas. Perceber
a atitude das pessoas poderá dar bases para uma melhor
análise dessa questão diante dos problemas que a atualidade revela nas mais diversas perspectivas que esse tema pode
oferecer. Considerado importante pela banca de qualificação,
o descritor será mantido com alterações.
O Gráfico 48 mostra que a evolução no descritor 45,
no critério indispensável e no necessário, é bastante significativa. Observa-se também um grande aumento na nota 6 e
na nota 4. Reconhecer se o filho é um projeto do casamento
ou relacionamento, que num primeiro momento não teve tão
194
Resultado da técnica de grupo nominal
boa avaliação, mostrou-se, após a segunda avaliação, uma
questão muito relevante para a pesquisa.
Gráfico 45- Descritor 42 - Para o entrevistado, a sexualidade
está vinculada aos seguintes pontos: naturalidade/
espiritualidade/promiscuidade
Fonte: Dados da pesquisa.
195
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 46- Descritor 43 - Os filhos são compreendidos como
sinais da bênção de Deus
Fonte: Dados da pesquisa.
196
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 47- Descritor 44 - Identificar se o uso de preservativos
induz à promiscuidade
Fonte: Dados da pesquisa.
197
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 48- Descritor 45 - Filho como projeto do casamento ou
relacionamento
Fonte: Dados da pesquisa.
7.6Descritores relacionados
com questão social
Passamos agora a analisar os descritores relacionados com a questão social. Quanto ao descritor 46, na avaliação não presencial, 40% dos especialistas o consideraram
198
Resultado da técnica de grupo nominal
indispensável e, na etapa presencial, houve uma diminuição
para 33% no mesmo índice. Em função dessa fraca avaliação,
o descritor será retirado das próximas etapas da pesquisa.
No Gráfico 49, podem ser visualizados os outros itens de
avaliação desse descritor.
Gráfico 49- Descritor 46 - Ausência de um dos pais na vida do
primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
199
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 47 apresenta, na etapa não presencial,
um percentual de 40% de que a pergunta é indispensável
para o desenvolvimento da pesquisa. Porém, na etapa presencial, 73% dos especialistas o consideraram indispensável.
Portanto, esse descritor melhorou na avaliação e será mantido sem alteração. No Gráfico 50, percebem-se as alterações
dos outros itens de avaliação.
Gráfico 50 - Descritor 47 - Participação da mulher em algum
serviço de saúde tido como de planejamento familiar
na gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
200
Resultado da técnica de grupo nominal
O Gráfico 51 mostra que 60% dos avaliadores consideraram o descritor 48 indispensável na primeira etapa. Já
na segunda, a avaliação foi melhor ainda: foi considerado
indispensável por 80% dos especialistas. Observe no gráfico
que o descritor foi melhor avaliado na segunda etapa do que
na primeira nos outros itens de avaliação.
Gráfico 51- Descritor 48 - Participação da mulher em serviço prénatal na gravidez do primeiro/último filho
Fonte: Dados da pesquisa.
201
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 49 (Gráfico 52) foi mantido sem alteração, pois na etapa não presencial ele recebeu uma avaliação
de indispensável de apenas 20%, mas passou para 73% na
etapa presencial. Essa melhora na avaliação também foi percebida nas notas 5 e 6 (100%). Diante disso, o descritor foi
mantido sem alteração.
Gráfico 52- Descritor 49 - Gravidez do primeiro/último filho com o
objetivo de melhorar o relacionamento com o parceiro
Fonte: Dados da pesquisa.
202
Resultado da técnica de grupo nominal
O Gráfico 53 retrata a avaliação do descritor 50 considerado dispensável na etapa não presencial, mas na etapa presencial, 67% o considera como indispensável, com percentual
de notas 5 e 6 de 100%. Desse modo, o descritor foi mantido.
Gráfico 53- Descritor 50 - Gravidez do primeiro/último filho com o
objetivo de melhorar a situação social ou econômica
Fonte: Dados da pesquisa.
203
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O descritor 51 (Gráfico 54) foi excluído da pesquisa,
pois tanto na etapa presencial como na não presencial, 53%
consideram-no necessário, com percentuais de notas 5 e 6
de 47% na etapa não presencial e de 94% na presencial.
Gráfico 54- Descritor 51 - Separação do casal devido às
dificuldades em cuidar do filho
Fonte: Dados da pesquisa.
Os especialistas afirmam ser importante mapear as
questões sociais que gerariam mais consequências na ausência e na presença de um projeto de parentalidade. Questionam
204
Resultado da técnica de grupo nominal
sobre as relações sociais da família, ressaltando que elas perpassam uma visão de gênero, não como a relação psicológica,
mas as relações das questões sociais. Salientam, ainda, que a
identificação de gênero e sexo é diferente, porque está falando
de parentalidade. Quando houvesse questionamentos ao colocar sexo da pessoa, dever-se-ia colocar masculino e feminino.
O Gráfico 55 apresenta que 67% consideram-no necessário, com 40% de notas 5 e 6 na etapa não presencial.
Já na etapa presencial, o percentual de opinião diminui para
53%, e o percentual de notas 5 e 6 passa para 94%, apenas
com a ressalva da troca da palavra acesso ou busca. Desse
modo, o descritor 52 foi excluído.
O fato de a ocorrência de violência contra a criança
decorrer de situações familiares, socioeconômicas e drogas é
uma temática importante na visão dos avaliadores, mas muito difícil de ser pesquisada. Por isso o descritor 53 teve uma
fraca avaliação: na etapa não presencial, 60% o considera
como necessário, com 47% de notas 5 e 6. Na etapa presencial, o percentual diminui para 53%, com percentual de notas
5 e 6 de 53% (Gráfico 56). Assim, o descritor 53 foi excluído.
O descritor 54 também fora excluído após a avaliação
dos especialistas, pois mesmo tendo uma avaliação razoável,
47% dos avaliadores considera o tema como indispensável
e, ou, necessário, com percentual de nota 6 de apenas 27%
na etapa presencial. O motivo da exclusão é a identificação
de outro descritor que já aborda o mesmo tema (Gráfico 57).
O questionamento sobre a ocorrência de morte na família relacionada ao parto foi muito frequente em ambas as
etapas de avaliação, de modo que o descritor 55 foi excluído.
Veja a avaliação no Gráfico 58.
205
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 55- Descritor 52 - Incentivo de acesso aos serviços de
saúde pela família/escola/comunidade religiosa
Fonte: Dados da pesquisa.
206
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 56- Descritor 53 - Ocorrência de violência contra a criança
Fonte: Dados da pesquisa.
207
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 57 - Descritor 54 - Filho considerado um peso/uma sobrecarga
Fonte: Dados da pesquisa.
208
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 58- Descritor 55 - Morte na família relacionada ao parto
Fonte: Dados da pesquisa.
209
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
O questionamento acerca da ocorrência de morte de
criança antes de 5 anos na família foi considerado, na etapa não presencial, por 80% dos avaliadores como necessário,
com o percentual das notas 5 e 6 totalizando 54%. Na etapa
presencial, o percentual relativo à opinião diminui um pouco,
ficando em 73%, com o percentual das notas de 5 e 6 subindo
para 67%. Apesar da fraca avaliação, o descritor 56 foi mantido para a próxima etapa com modificação por sugestão da
banca examinadora da dissertação, sugerindo especificar melhor de que família se trata: pequena ou extensa (Gráfico 59).
Destaque-se a menção feita pelos debatedores sobre
a questão do emprego, enfatizando precisamente o teor do
questionamento, ressaltando que, além de ter filhos, a mulher também sofre por ser casada. Há, assim, uma discriminação da sociedade e da empresa, por querer um empregado
que dê lucros. Houve também uma ressalva feita pelos avaliadores no sentido de que seria necessário contemplar o casal, visto que o filho pode atrapalhar, tanto o projeto pessoal
como o profissional.
O questionamento sobre a dificuldade de a mulher
adquirir um emprego por ter filhos foi do descritor 57, tido
como necessário para 67% dos avaliadores, tanto na etapa
presencial como na não presencial, com a soma do percentual de notas 6 e 5 de 73% na etapa não presencial e de 87%
na presencial (Gráfico 60).
O descritor 58, que apresenta o questionamento sobre quem exerce a chefia da família, foi analisado pelos
debatedores. Para eles, havia problema no termo chefia.
Dessa forma, os avaliadores compreenderam ser mais adequado substituí-lo por responsável. De todos os avaliadores,
210
Resultado da técnica de grupo nominal
na etapa não presencial, percebe-se que 80% consideram o
descritor indispensável, com a soma do percentual das notas
5 e 6 de 80%. Na etapa presencial, tanto o percentual de
opinião quanto o das notas 5 e 6 aumenta para 93%, o que
pode ser conferido no Gráfico 61.
Gráfico 59- Descritor 56 - Morte de criança (antes dos 5 anos) na
família
Fonte: Dados da pesquisa.
211
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Gráfico 60- Descritor 57 - Dificuldade de a mulher adquirir um
emprego por ter filhos
Fonte: Dados da pesquisa.
212
Resultado da técnica de grupo nominal
Gráfico 61- Descritor 58 - Identificação de quem exerce a chefia
da família
Fonte: Dados da pesquisa.
213
8
Projeto piloto
Na sequência, apresenta-se o projeto piloto e o resultado dessa etapa, que levou à validação final do instrumento
de pesquisa denominado Planejamento da parentalidade no
contexto da bioética.
8.1 Aplicação do instrumento da pesquisa
A escolha das localidades para aplicação do Projeto
Piloto se deu em função da disponibilidade dos membros da
pesquisa ou por meio da realização de missão de pesquisa
de campo. Tratando-se de um projeto piloto que visa validar
o instrumento, o foco não era uma necessária análise estatística da população pesquisada, mas buscar uma variedade
de contextos socioeconômicos e culturais para aplicação do
instrumento da pesquisa. Desse modo, as localidades onde
ocorreram as pesquisas de campo foram as seguintes:
-- Vila Sabará, comunidade localizada no Município
de Curitiba. Lá a pesquisa envolveu entrevistas em
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
20 residências, realizada por Cecília Francisca dos
Santos, aluna de Iniciação Científica vinculada ao
Projeto Parentalidade.
-- Bocaiúva do Sul, município da Região Metropolitana
de Curitiba. Nessa localidade, a pesquisa se deu por
meio de uma missão de pesquisa, com deslocamento
de seis membros da equipe de pesquisa, dentre eles
três mestrandos, dois alunos de Iniciação Científica
e o coordenador do projeto, para entrevistar 66 residências. Num segundo momento, o instrumento de
pesquisa foi aplicado pelo coordenador a um grupo
de pais de alunos que frequentam a catequese, o que
somou mais 27 pessoas entrevistadas.
-- Campo Mourão, cidade do interior do Paraná. Lá a
pesquisa foi realizada pelo mestrando Roberto Cesar
de Oliveira, que aplicou o questionário num evento
de um grupo de agentes da Pastoral Familiar, com 20
questionários preenchidos.
-- Pinhais, cidade da Região Metropolitana de Curitiba.
Nessa localidade, a pesquisa foi aplicada durante um
evento de uma Associação de Moradores do Jardim
Weissópolis, e realizada pelo coordenador do projeto,
com 16 questionários preenchidos.
Desse modo, no total, chegou-se a 149 questionários
preenchidos aplicados em quatro localidades diferentes.
216
Projeto piloto
Em geral, observou-se que, quando a técnica utilizada
para aplicar o questionário foi a pesquisa em residência,
a receptividade dos entrevistados foi muito boa e a principal dificuldade se deu em função do tempo gasto: cerca
de 20 minutos para cada questionário preenchido, além
do tempo de locomoção até as residências. Nesses casos,
chega-se a uma qualidade de dados recolhidos, pois o entrevistador, ao enunciar a questão, pode interagir com o
participante da pesquisa e explicar alguns termos. Quando
o instrumento foi aplicado em grupos, por ocasião de
eventos programados, isso ocorre mais rapidamente, mas
observa-se que a qualidade das respostas pode depender
bastante da habilidade de os entrevistados lerem e interpretarem o instrumento.
8.2 Resultados do projeto piloto
Após a pesquisa de campo os dados foram digitalizados para o SPSS - software utilizado para análise de dados –
e por meio deste programa gerou-se os quadros e gráficos
para análise. Os resultados do Projeto Piloto passam a ser
apresentados abaixo.
O primeiro resultado fora a validação da consistência
interna do Instrumento de Pesquisa – análise realizada por
meio do Coeficiente Alpha de Cronbach – chegando ao seguinte resultado:
217
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Quadro 1– Estatística de confiabilidade
Coeficiente Alpha de
Cronbach
Coeficiente Alpha de Cronbach
baseado em itens padronizados
Número de itens
0,745
0,743
54
Fonte: Dados da pesquisa.
Ao apresentar os resultados a seguir, precisamos destacar que eles não significam o mapeamento das localidades
estudadas, visto que não houve análise estatística da relação
entre população e amostra. Os dados podem apenas apontar
para a relevância ou não dos descritores que foram validados, por isso as análises dos descritores seguem com o objetivo de identificar se as questões apresentadas no instrumento de pesquisa foram mantidas, excluídas ou alteradas
na validação final.
A primeira questão não sofreu alteração, pois mesmo
que todos os participantes tenham indicado apenas “masculino” ou “feminino”, dado ao contexto atual de grande sensibilidade para a questão de gênero, é importante manter
aberta a possibilidade de uma terceira resposta. Percebeu-se
que mais de três quartos dos entrevistados eram do gênero
feminino. Segue abaixo o modo como a questão fora apresentada e o quadro com as percentagens de respostas:
Questão 1 - Gênero
( ) Feminino
218
( ) Masculino
( ) Outro Projeto piloto
Tabela 1- Descritor 1 - Identificação de gênero
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Feminino
117
78,5
78,5
78,5
Masculino
32
21,5
21,5
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Igualmente, a questão relacionada ao número de filhos se manteve inalterada. Vejamos abaixo como a questão
fora colocada e os resultados.
Questão 2 - Número de filhos
Consanguíneos
Adotivos
Por Reprodução
Assistida
( ) 0
( ) 3
( ) 0
( ) 3
( ) 0
( ) 3
( ) 1
( ) 4
( ) 1
( ) 4
( ) 1
( ) 4
( ) 2
( ) ≥ 5
( ) 2
( ) ≥ 5
( ) 2
( ) ≥ 5
( ) NR
Tabela 2- Descritor 2 - A - Número de filhos
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
5
3,4
3,4
3,4
1,00
29
19,5
19,5
22,8
219
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 2- Descritor 2 - A - Número de filhos
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
2,00
45
30,2
30,2
53,0
3,00
34
22,8
22,8
75,8
4,00
19
12,8
12,8
88,6
5,00
16
10,7
10,7
99,3
NR
1
0,7
0,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
No instrumento aplicado no projeto piloto, não havia uma questão indagando sobre a idade do entrevistado,
pois entendia-se que o importante era indagar a respeito
da idade da pessoa quando ela engravidou. No entanto, o
contato com os participantes da pesquisa nos fez perceber a
relevância de identificar sua idade atual, pois isso pode nos
levar a perceber variações nos projetos de parentalidade em
relação à idade das pessoas. Desse modo, foi inserida no instrumento final a questão:
Questão nova - Idade atual do entrevistado
( ) Entre 18 e
25 anos
( ) Entre 26 e
35 anos
( ) Entre 46 e 60 ( ) Acima de 60
220
( ) Entre 36 e
45 anos
Projeto piloto
A questão relacionada à religião também foi mantida, visto que não apresentou maior dificuldade nas respostas. Do mesmo modo, a questão da participação religiosa.
Seguem as duas questões e seus resultados:
Questão 3 - Religião
( ) Católica
( ) Evangélica
( ) Afro-brasileira
( ) Judaica
( ) Islâmica
( ) Oriental
( ) Espírita
( ) Sem religião
( ) Outra. Qual?
__________________
Tabela 3- Descritor 3 - Religião
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Católica
73
49,0
49,0
49,0
Evangélica
63
42,3
42,3
91,3
Islâmica
1
,7
,7
91,9
Espírita
4
2,7
2,7
94,6
Sem religião
3
2,0
2,0
96,6
Outra religião
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
221
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Questão 4 - (Se a pessoa tem religião) Na tua religião você é:
( ) Pouco participante
( ) Participante
( ) Ministro/Ministérios
( ) Agente/Obreiro
( ) Outro. Qual?
( ) NA – não se aplica
Tabela 4- Descritor 4 - Participação religiosa
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Pouco
participante
55
36,9
36,9
36,9
Participante
69
46,3
46,3
83,2
Ministro /
Ministérios
11
7,4
7,4
90,6
Agente /
Obreiro
4
2,7
2,7
93,3
Outro. Qual?
1
0,7
0,7
94,0
NR
9
6,0
6,0
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão que indaga sobre o estado civil na gravidez
foi mantida, pois ela permite mapear a diferença entre as condições da gravidez do primeiro filho e as da última gravidez.
Vejamos como a questão foi apresentada e seus resultados.
222
Projeto piloto
Questão 5 - Estado civil na gravidez do primeiro filho
( ) Solteiro ( ) Casado
( ) Divorciado
( ) Viúvo
( ) União Estável
( ) Separado Judicialmente
Tabela 5- Descritor 5 - Estado civil na gravidez do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Solteiro
36
24,2
24,2
24,2
Casado
90
60,4
60,4
84,6
União Estável
8
5,4
5,4
89,9
Separado
Judicialmente
13
8,7
8,7
98,7
NR
2
1,3
1,3
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 6- Descritor 6 - Estado civil na gravidez do último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Solteiro
16
10,7
10,7
10,7
Casado
87
58,4
58,4
69,1
Divorciado
4
2,7
2,7
71,8
223
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 6- Descritor 6 - Estado civil na gravidez do último filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Viúvo
2
1,3
1,3
73,2
União Estável
6
4,0
4,0
77,2
Separado
Judicialmente
9
6,0
6,0
83,2
Não se aplica
11
7,4
7,4
90,6
NR
14
9,4
9,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão sobre a escolaridade no período da gravidez foi alterada para se tornar mais clara, pois o modo como
as pessoas responderam, com anotação pessoal, gerou dúvidas na hora de catalogar os dados. Por exemplo, uma das entrevistadas havia indicado ter engravidado na primeira vez
como menos de 15 anos, mas ao mesmo tempo indicou ter
estudado por 14 anos. Por isso, seguem abaixo o modo como
a pergunta foi colocada, os resultados e a questão alterada.
Questão 6- Na gravidez do primeiro filho, quantos anos
você tinha estudado? ________________
224
Projeto piloto
Tabela 7- Descritor 7 - Escolaridade na gravidez do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Não estudou
20
13,4
13,4
13,4
Entre 1º
e 4º ano
30
20,1
20,1
33,6
Entre 5º
e 8º ano
53
35,6
35,6
69,1
Estava no
Ensino Médio
41
27,5
27,5
96,6
Estava na
Faculdade
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 8- Descritor 8 - Escolaridade na gravidez do último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Não estudou
16
10,7
10,7
10,7
Entre 1º
e 4º ano
24
16,1
16,1
26,8
Entre 5º
e 8º ano
37
24,8
24,8
51,7
Estava no
Ensino Médio
34
22,8
22,8
74,5
225
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 8- Descritor 8 - Escolaridade na gravidez do último filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Estava na
Faculdade
6
4,0
4,0
78,5
Havia
concluído
Curso Superior
8
5,4
5,4
83,9
Não se aplica
24
16,1
16,1
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Essas questões foram alteradas e passam a ser apresentadas do seguinte modo:
Questão alterada - Escolaridade na gravidez do primeiro/último filho:
( ) Não havia
estudado ( ) Estava nas séries
iniciais
( ) Havia concluído
a 4ª Série
( ) Estava entre a
5ª e a 8ª série
( ) Estava no Ensino
Médio
( ) Havia concluído
o Ensino Médio
( ) Estava na
Faculdade
( ) Já havia concluído
a Faculdade
As questões relacionadas à idade em que se deu o
primeiro relacionamento sexual e a primeira gravidez se
226
Projeto piloto
mostraram adequadas. São questões distintas, mas relacionadas, por isso apresentamos aqui lado a lado para melhor
compreensão. Vejamos as questões e os resultados, bem
como os gráficos comparativos que nos permitem relacionar
melhor ambas as questões:
Questão 7 - Com que idade você iniciou um relacionamento sexual?
( ) Menos de 15 anos
( ) Entre 15 e 18
( ) Entre 18 e 25
( ) Acima de 25
Tabela 9- Descritor 9 - Com que idade você iniciou um
relacionamento sexual
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Menos de 15
35
23,5
23,5
23,5
Entre 15
e 18 anos
60
40,3
40,3
63,8
Entre 18
e 25 anos
42
28,2
28,2
91,9
Acima de
25 anos
8
5,4
5,4
97,3
NR
4
2,7
2,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
227
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Questão 8 - Idade em que você teve a primeira gravidez/ou
engravidou alguém pela primeira vez
( ) Menos de 15 anos
( ) Entre 15 e 18
( ) Entre 18 e 30
( ) Acima de 30
Tabela 10 - Descritor 10 - Idade em que você teve a primeira
gravidez/ou engravidou alguém pela primeira vez
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Menos de 15
23
15,4
15,4
15,4
Entre 15 e
18 anos
35
23,5
23,5
38,9
Entre 18 e
30 anos
80
53,7
53,7
92,6
Acima de
30 anos
11
7,4
7,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Tendo em vista que essas questões são muito relevantes para o tema estudado o grupo de pesquisa decidiu aprimorar a questão apresentando um número maior de opções
de idade. Assim ficam as questões com as alterações:
228
Projeto piloto
Questão alterada - Com que idade você iniciou um relacionamento sexual?
( ) Menos de 15 anos
( ) Entre 15 e 18
( ) Entre 21 e 25
( ) Acima de 30
( ) Entre 18 e 21
Questão alterada - Idade em que você teve a primeira gravidez/
ou engravidou alguém pela primeira vez
( ) Menos de 15 anos
( ) Entre 15 e 18
( ) Entre 21 e 25
( ) Acima de 30
( ) Entre 18 e 21
As questões seguintes identificam as ocupações das
pessoas nas situações em que ocorreram as gravidezes. Uma
pequena alteração também foi sugerida para essas questões.
Vejamos como foram apresentadas e seus resultados.
Questão 9 - Sua situação na gravidez do primeiro filho
( ) Empregado(a)
( ) Desempregado(a)
( ) Autônomo(a)
( ) Do lar
Questão 10- Sua situação na gravidez do último filho
( ) Empregado(a)
( ) Desempregado(a)
( ) Autônomo(a)
( ) Do lar
229
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 11 - Descritor 11 - Sua situação na gravidez do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Empregado(a)
61
40,9
40,9
40,9
Desempregado(a)
42
28,2
28,2
69,1
Autônomo(a)
14
9,4
9,4
78,5
Do lar
30
20,1
20,1
98,7
NR
2
1,3
1,3
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 12 - Descritor 12 - Sua situação na gravidez do último filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Empregado(a)
51
34,2
34,2
34,2
Desempregado(a)
28
18,8
18,8
53,0
Autônomo(a)
9
6,0
6,0
59,1
Do lar
38
25,5
25,5
84,6
Não se aplica
22
14,8
14,8
99,3
Não respondeu
1
,7
,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
230
Projeto piloto
Com a pequena alteração, a questão fica assim:
Questão alterada - Sua situação de emprego na gravidez do
primeiro filho
( ) Empregado(a) ( ) Desempregado(a)
( ) Do lar
( ) Outro
( ) Autônomo(a) As questões 13 e 14 se mostraram também relevantes para auxiliar na identificação do contexto em que
ocorreu uma gravidez. Seguem as questões e as tabelas, que
deixam mais claras as alterações ocorridas nos contextos de
gravidezes do primeiro e do último filho:
Questão 11 - Com quem você morava quando soube da gravidez
do primeiro filho?
( ) Sozinha(o)
( ) Com amigos
( ) Com os pais ( ) Com o(a) parceiro(a) Questão 12 - Com quem você morava quando soube da gravidez
do último filho?
( ) Sozinha(o)
( ) Com amigos
( ) Com o(a) parceiro(a) ( ) NA
( ) Com os pais 231
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 13 - Descritor 13 - Com quem você morava quando
soube da gravidez do primeiro filho?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sozinha(o)
5
3,4
3,4
3,4
Com os amigos
4
2,7
2,7
6,0
Com os pais
37
24,8
24,8
30,9
Com o(a) parceiro(a)
100
67,1
67,1
98,0
3
2,0
2,0
100,0
149
100,0
100,0
NR
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 14 - Descritor 14 - Com quem você morava quando
soube da gravidez do último filho?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sozinha(o)
9
6,0
6,0
6,0
Com os pais
4
2,7
2,7
8,7
Com o(a) parceiro(a)
110
73,8
73,8
82,6
Não se aplica
26
17,4
17,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
232
Projeto piloto
As questões pareceram adequadas, mas percebe-se
que talvez alguém esteja morando em outros ambientes além
dos sugeridos, por isso a questão foi levemente alterada:
Questão alterada - Com quem você morava quando soube da
gravidez do primeiro filho?
( ) Sozinha(o)
( ) Com amigos
( ) Com o(a) parceiro(a)
( ) Outro
( ) Com os pais A questão 15, aplicada no projeto piloto, revelou uma
alta porcentagem de não respondentes, o que levou o grupo
de pesquisa a perceber que o modo como a questão estava
formulada não ajudava os entrevistados a respondê-la, nem
auxiliava os pesquisadores a identificar se houve pressão
externa para que a gravidez ocorresse. Sendo assim, a questão foi reformulada, tornando-se mais direta. Vejamos como
a questão fora apresentada e o quadro com as respostas:
Questão 13 - A influência mais significativa na decisão de ter
filhos foi:
( ) Do parceiro
( ) De familiares
( ) Da escola ( ) De religiosos
( ) De profissionais de saúde
( ) NA
233
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 15 - Descritor 15 - A influência mais significativa na
decisão de ter filhos foi
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Do parceiro
85
57,0
57,0
57,0
Familiares
14
9,4
9,4
66,4
Da escola
4
2,7
2,7
69,1
De religiosos
10
6,7
6,7
75,8
De profissionais
de saúde
2
1,3
1,3
77,2
Outros
9
6,0
6,0
83,2
NR
25
16,8
16,8
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Na reformulação da questão, houve um desdobramento, visto que esse elemento externo é compreendido como
relevante para indicar projeto de parentalidade. Segue então
o modo como a questão passa a ser formulada, transformada
em duas, no instrumento validado:
Questão alterada - Houve pressão externa para ter filhos:
( ) De familiares
( ) De amigos
( ) De outros ( ) Não houve
pressão externa 234
( ) Da escola
Projeto piloto
Questão nova - Se houve pressão externa – a importância
dessa pressão foi:
( ) Nula ( ) Fraca
( ) Regular
( ) Forte
( ) Muito forte
A questão 16 mostrou-se bastante relevante para
relacionar o projeto de parentalidade com o modo como
as pessoas têm acesso às informações sobre sexualidade.
Seguem a questão e o quadro com os resultados:
Questão 14 - De quem você recebeu as informações mais
significativas sobre sexualidade:
( ) Dos amigos
( ) De familiares
( ) Da escola
( ) De religiosos
( ) De profissionais de saúde
( ) Outros
Tabela 16 - Descritor 15 - A influência mais significativa na
decisão de ter filhos foi
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
De amigos
54
36,2
36,2
36,2
De familiares
38
25,5
25,5
61,7
Da escola
34
22,8
22,8
84,6
De religiosos
5
3,4
3,4
87,9
De profissionais
de saúde
3
2,0
2,0
89,9
235
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 16 - Descritor 15 - A influência mais significativa na
decisão de ter filhos foi
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Outros
4
2,7
2,7
92,6
NR
11
7,4
7,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
O índice de resposta “outros” e de não respondentes,
somando quase 10%, levou os pesquisadores a se indagarem
a respeito dos novos modos de comunicação — percebeu-se
que seria relevante inserir na questão a alternativa “internet”.
Desse modo, a questão será apresentada com tal alteração:
Questão alterada - De quem você recebeu mais informações
sobre sexualidade:
( ) Dos amigos
( ) De familiares
( ) Da escola
( ) De religiosos
( ) De profissionais de saúde
( ) Internet
( ) Outros A questão 17 pareceu-nos adequada e será mantida
sem alteração. Vejamos a questão e o resultado:
236
Projeto piloto
Questão 15 - Quem exerce a chefia da família em sua casa
( ) o homem
( ) a mulher
( ) o casal
( ) outro
Tabela 17 - Descritor 17 - Quem exerce a chefia da família em
sua casa
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
O homem
32
21,5
21,5
21,5
A mulher
36
24,2
24,2
45,6
O casal
80
53,7
53,7
99,3
NR
1
,7
,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
O instrumento utilizado no projeto piloto apresentou
um bom número de questões que pedia do respondente uma
avaliação entre zero e quatro. Boa parte dessas questões foi
alterada visando a uma formulação mais direta, com linguagem menos acadêmica.
Vejamos como as questões 18 e 19 foram formuladas,
os resultados em tabelas e as alterações:
237
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 18 - Descritor 18 - Houve planejamento na gravidez de
seu primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
71
47,7
47,7
47,7
1,00
3
2,0
2,0
49,7
2,00
7
4,7
4,7
54,4
3,00
20
13,4
13,4
67,8
4,00
44
29,5
29,5
97,3
NR
2
1,3
1,3
98,7
7,00
2
1,3
1,3
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 16 - Houve planejamento na gravidez de seu último filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 4
( ) NA
( ) 3
Tabela 19 - Descritor 19 - Houve planejamento na gravidez de
seu último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
42
28,2
28,2
28,2
1,00
11
7,4
7,4
35,6
2,00
2
1,3
1,3
36,9
3,00
14
9,4
9,4
46,3
238
Projeto piloto
Tabela 19 - Descritor 19 - Houve planejamento na gravidez de
seu último filho
(Conclusão)
4,00
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
57
38,3
38,3
84,6
100,0
NA
23
15,4
15,4
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você planejou a gravidez do teu primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Do mesmo modo, as questões 20 e 21 foram um pouco alteradas.
Questão 17 - Os riscos relacionados à maternidade/paternidade
foram avaliados antes da gravidez do primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Tabela 20- Descritor 20 - Os riscos relacionados à maternidade/
paternidade foram avaliados antes da gravidez do
primeiro filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
87
58,4
58,4
58,4
1,00
4
2,7
2,7
61,1
239
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 20- Descritor 20 - Os riscos relacionados à maternidade/
paternidade foram avaliados antes da gravidez do
primeiro filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
2,00
7
4,7
4,7
65,8
3,00
12
8,1
8,1
73,8
4,00
32
21,5
21,5
95,3
NR
7
4,7
4,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 19 - Os riscos relacionados à maternidade/paternidade
foram avaliados antes da gravidez do último filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 21 - Descritor 21 - Os riscos relacionados à maternidade/
paternidade foram avaliados antes da gravidez do
último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
66
44,3
44,3
44,3
1,00
5
3,4
3,4
47,7
2,00
6
4,0
4,0
51,7
3,00
14
9,4
9,4
61,1
4,00
36
24,2
24,2
85,2
NA
19
12,8
12,8
98,0
240
Projeto piloto
Tabela 21 - Descritor 21 - Os riscos relacionados à maternidade/
paternidade foram avaliados antes da gravidez do
último filho
(Conclusão)
NR
Total
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
3
2,0
2,0
100,0
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você pensou nos riscos de saúde relacionados a
ter filhos — antes da gravidez do primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
As questões 22 e 23 estão relacionadas às condições
econômicas, que também passam a ser apresentadas de forma mais direta. São questões relevantes para o projeto e revelam um quadro interessante.
Questão 20- As condições (econômicas...) para cuidar do bebê
foram avaliadas antes da gravidez do primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
241
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Questão 22 - As condições (econômicas...) para cuidar do bebê
foram avaliadas antes da gravidez do último filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 22 - Descritor 22 - As condições (econômicas...) para
cuidar do bebê foram avaliadas antes da gravidez
do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
86
57,7
57,7
57,7
1,00
5
3,4
3,4
61,1
2,00
14
9,4
9,4
70,5
3,00
9
6,0
6,0
76,5
4,00
31
20,8
20,8
97,3
NR
2
1,3
1,3
98,7
7,00
2
1,3
1,3
100,0
Total
149
100,0
100,0
zero
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 23- Descritor 23 - As condições (econômicas...) para cuidar do
bebê foram avaliadas antes da gravidez do último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
60
40,3
40,3
40,3
1,00
4
2,7
2,7
43,0
2,00
12
8,1
8,1
51,0
242
Projeto piloto
Tabela 23- Descritor 23 - As condições (econômicas...) para cuidar do
bebê foram avaliadas antes da gravidez do último filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
3,00
16
10,7
10,7
61,7
4,00
36
24,2
24,2
85,9
NA
21
14,1
14,1
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - As condições econômicas para cuidar do bebê
foram avaliadas antes da gravidez do primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
As questões 24 e 25 buscam identificar uma das
questões vistas, na técnica de grupo nominal, como de grande relevância para o projeto. O modo como a pergunta foi
formulada parece ter induzido o participante da pesquisa a
uma resposta politicamente correta, por isso a questão será
substancialmente alterada.
Questão 23 - O anúncio da gravidez de seu primeiro filho se
deu num clima de alegria
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
243
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 24 - Descritor 24 - O anúncio da gravidez de seu
primeiro filho se deu num clima de alegria
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
11
7,4
7,4
7,4
1,00
5
3,4
3,4
10,7
2,00
9
6,0
6,0
16,8
3,00
25
16,8
16,8
33,6
4,00
95
63,8
63,8
97,3
NR
4
2,7
2,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 24 - O anúncio da gravidez de seu último filho se deu
num clima de alegria
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 25- Descritor 25 - O anúncio da gravidez do teu último
filho se deu num clima de alegria
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
7
4,7
4,7
4,7
1,00
2
1,3
1,3
6,0
2,00
8
5,4
5,4
11,4
3,00
14
9,4
9,4
20,8
4,00
91
61,1
61,1
81,9
NA
27
18,1
18,1
100,0
244
Projeto piloto
Tabela 25- Descritor 25 - O anúncio da gravidez do teu último
filho se deu num clima de alegria
(Conclusão)
Total
Frequência
Percentual
Percentual
válido
149
100,0
100,0
Percentual
acumulado
Fonte: Dados da pesquisa.
Esta é uma questão que fora substancialmente alterada, após o projeto piloto. Vejamos:
Questão alterada - O anúncio da gravidez do teu primeiro filho
se deu num clima:
( ) de revolta
( ) de preocupação
( ) de aceitação
( ) de alegria
( ) de surpresa
As questões 26 e 27 abordam o aborto, um tema sensível, mas que pode revelar se a gravidez foi de algum modo
planejada, visto que dificilmente alguém abortaria um bebê
planejado. As questões se mostraram adequadas e foram
mantidas sem alterações.
Questão 25 - Chegou-se a desejar, em algum momento, o
aborto do primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
245
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 26 – Descritor 26 - Chegou-se a desejar, em algum
momento, o aborto do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
127
85,2
85,2
85,2
1,00
6
4,0
4,0
89,3
2,00
4
2,7
2,7
91,9
4,00
7
4,7
4,7
96,6
100,0
NR
Total
5
3,4
3,4
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 26 - Chegou-se a desejar, em algum momento, o
aborto do último filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Tabela 27 - Descritor 26 - Chegou-se a desejar, em algum
momento, o aborto do primeiro filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
114
76,5
76,5
76,5
1,00
1
0,7
0,7
77,2
2,00
3
2,0
2,0
79,2
4,00
5
3,4
3,4
82,6
100,0
NA
26
17,4
17,4
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
246
Projeto piloto
As questões 28 e 29 indagam abertamente se a gravidez era projeto do casal. Essas questões permitiram uma
variada gama de respostas e serão mantidas sem alterações.
Questão 27- A gravidez do primeiro filho foi um projeto de
casal. Decisão dos dois.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Tabela 28- Descritor 28 - A gravidez do primeiro filho foi um
projeto de casal. Decisão dos dois
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
55
36,9
36,9
36,9
1,00
2
1,3
1,3
38,3
2,00
9
6,0
6,0
44,3
3,00
9
6,0
6,0
50,3
4,00
65
43,6
43,6
94,0
NR
6
4,0
4,0
98,0
55,00
3
2,0
2,0
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 28 - A gravidez do último filho foi um projeto de casal.
Decisão dos dois.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
247
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 29- Descritor 29 - A gravidez do último filho foi um
projeto de casal. Decisão dos dois
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
25
16,8
16,8
16,8
1,00
4
2,7
2,7
19,5
2,00
10
6,7
6,7
26,2
3,00
12
8,1
8,1
34,2
4,00
70
47,0
47,0
81,2
NA
26
17,4
17,4
98,7
NR
2
1,3
1,3
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
As próximas questões visam identificar a ajuda da família na aceitação da gravidez, compreendidas como relevantes para um tipo de projeto de parentalidade estudado.
As questões estão mantidas com pequenas alterações.
Questão 29 - A família ajudou na decisão de aceitar a gravidez
do primeiro filho.
( ) zero
248
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Projeto piloto
Tabela 30- Descritor 30 - A família ajudou na decisão de
aceitar a gravidez do primeiro filho
zero
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
36
24,2
24,2
24,2
1,00
6
4,0
4,0
28,2
2,00
18
12,1
12,1
40,3
3,00
18
12,1
12,1
52,3
4,00
66
44,3
44,3
96,6
NR
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 30 - A família ajudou na decisão de aceitar a gravidez
do último filho.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 31 - Descritor 31 - A família ajudou na decisão de aceitar
a gravidez do último filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
38
25,5
25,5
25,5
1,00
3
2,0
2,0
27,5
2,00
10
6,7
6,7
34,2
zero
249
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 31 - Descritor 31 - A família ajudou na decisão de aceitar
a gravidez do último filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
3,00
14
9,4
9,4
43,6
4,00
60
40,3
40,3
83,9
NA
24
16,1
16,1
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - A família ajudou na aceitação da gravidez do
primeiro filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
A questão 32 aponta para a relação entre atividade
profissional da mulher e a gravidez. Embora o resultado
dessa questão no projeto piloto possa indicar ausência de
conflito, a equipe de pesquisadores compreende que, em
contexto diverso ao pesquisado, o tema pode se tornar relevante. Desse modo, a questão segue sem alteração.
Questão 31 - A atividade profissional da mulher influenciou na
decisão de engravidar mais tarde.
( ) zero
250
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Projeto piloto
Tabela 32- Descritor 32 - A atividade profissional da mulher
influenciou na decisão de engravidar mais tarde
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
116
77,9
77,9
77,9
1,00
3
2,0
2,0
79,9
2,00
5
3,4
3,4
83,2
3,00
4
2,7
2,7
85,9
4,00
7
4,7
4,7
90,6
NR
14
9,4
9,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão 33 aborda alterações na atividade sexual
devido às possibilidades de se adquirir doenças. A questão
será mantida sem alteração e é interessante observar que
12,2% dos entrevistados atribuiu nota máxima à questão.
Questão 32 - A possibilidade de adquirir doença alterou sua
prática sexual.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
251
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 33- Descritor 33 - A possibilidade de adquirir doença
alterou sua prática sexual
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
120
80,5
80,5
80,5
2,00
4
2,7
2,7
83,2
3,00
2
1,3
1,3
84,6
4,00
18
12,1
12,1
96,6
NR
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão 34 indaga a respeito da presença da religião no contexto de escolha do método contraceptivo. Essa
questão será mantida, pois um dos destaques do projeto é
identificar o impacto da religião na parentalidade.
Questão 33 - A religião lhe influenciou na escolha do método
contraceptivo.
( ) zero
252
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NR
Projeto piloto
Tabela 34 - Descritor 34 - A religião lhe influenciou na escolha
do método contraceptivo
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
118
79,2
79,2
79,2
2,00
4
2,7
2,7
81,9
3,00
11
7,4
7,4
89,3
4,00
12
8,1
8,1
97,3
NA
4
2,7
2,7
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão 35 indaga a respeito do modo como os pais
veem os filhos. Pareceu-nos que a maioria deu uma resposta
politicamente correta, o que fez com a equipe decidisse por
alterar a questão, apresentando-a de modo mais complexo.
Questão 34 - Você compreende os filhos como sinais da
bênção de Deus.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NR
253
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 35- Descritor 35 - Você compreende os filhos como
sinais da bênção de Deus
zero
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
12
8,1
8,1
8,1
3,00
6
4,0
4,0
12,1
4,00
131
87,9
87,9
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você compreende os filhos como:
( ) peso
( ) obstáculo
( ) um privilégio
( ) benção de Deus
( ) algo natural
A questão 36 também aborda um dos destaques do
projeto, que é a relação entre sexualidade e parentalidade,
pois isso indaga a respeito da influência dos preservativos
na prática sexual. A questão não sofreu alteração. Vejamos a
questão e os resultados.
Questão 36 - O uso de preservativos lhe incentivou a ter
relacionamento sexual com outra pessoa, além
do parceiro.
( ) zero
254
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NR
Projeto piloto
Tabela 36- Descritor 36 - O uso de preservativos lhe incentivou
a ter relacionamento sexual com outra pessoa, além
do parceiro
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
117
78,5
78,5
78,5
1,00
1
,7
,7
79,2
2,00
4
2,7
2,7
81,9
3,00
4
2,7
2,7
84,6
4,00
12
8,1
8,1
92,6
NR
11
7,4
7,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
A questão número 37 aponta para um dos tipos de
projeto de parentalidade (implícito) ao indagar a respeito da
relação entre casamento e ter filhos. A questão foi mantida
sem alteração.
Questão 37 - Para você, qual a relação entre casamento e ter filhos?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
255
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 37 - Descritor 37 - Para você, qual a relação entre
casamento e ter filhos?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
7
4,7
4,7
4,7
2,00
11
7,4
7,4
12,1
3,00
19
12,8
12,8
24,8
4,00
112
75,2
75,2
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
As questões 38 e 39 identificam o acesso aos serviços de pré-natal. Essas questões são mantidas, pois podem
apontar para a disponibilidade dos serviços de saúde.
Questão 38 - Você teve o acesso desejado ao serviço pré-natal na
gravidez do primeiro filho.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Tabela 38- Descritor 38 - Você teve o acesso desejado ao serviço
pré-natal na gravidez do primeiro filho
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
24
16,1
16,1
16,1
1,00
4
2,7
2,7
18,8
256
Projeto piloto
Tabela 38- Descritor 38 - Você teve o acesso desejado ao serviço
pré-natal na gravidez do primeiro filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
2,00
15
10,1
10,1
28,9
3,00
16
10,7
10,7
39,6
4,00
84
56,4
56,4
96,0
NR
4
2,7
2,7
98,7
100,0
7,00
2
1,3
1,3
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 39 - Você teve o acesso desejado ao serviço pré-natal
na gravidez do último filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 39- Descritor 39 - Você teve o acesso desejado ao
serviço pré-natal na gravidez do último filho
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
21
14,1
14,1
14,1
2,00
8
5,4
5,4
19,5
3,00
22
14,8
14,8
34,2
4,00
77
51,7
51,7
85,9
NA
21
14,1
14,1
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
257
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
As questões 40 e 41 pretendem identificar motivações
para a gravidez que estejam focadas em realidades sociais.
Elas sofreram algumas alterações em virtude da dificuldade
para sua compreensão.
Questão 40 - A gravidez do primeiro filho ocorreu para
melhorar o relacionamento do casal.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NR
Tabela 40- Descritor 40 - A gravidez do primeiro filho ocorreu
para melhorar o relacionamento do casal
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
84
56,4
56,4
56,4
1,00
3
2,0
2,0
58,4
2,00
8
5,4
5,4
63,8
3,00
8
5,4
5,4
69,1
4,00
41
27,5
27,5
96,6
NR
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 41 - A gravidez do último filho ocorreu para melhorar
o relacionamento do casal
( ) zero
258
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Projeto piloto
Tabela 41 - Descritor 41 - A gravidez do último filho ocorreu
para melhorar o relacionamento do casal
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
64
43,0
43,0
43,0
1,00
2
1,3
1,3
44,3
2,00
9
6,0
6,0
50,3
3,00
12
8,1
8,1
58,4
4,00
37
24,8
24,8
83,2
NA
23
15,4
15,4
98,7
100,0
NR
Total
2
1,3
1,3
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - A gravidez do primeiro filho ocorreu para
segurar um relacionamento.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
Igualmente, as questões 42 e 43 apontam para as motivações socioeconômicas da gravidez. Foram feitas alterações nas questões a fim de torná-las mais claras e diretas.
Questão 42 - A gravidez do primeiro filho ocorreu para
melhorar a situação econômica.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
259
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 42 - Descritor 42 - A gravidez do primeiro filho ocorreu
para melhorar a situação econômica
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
84
56,4
56,4
56,4
1,00
3
2,0
2,0
58,4
2,00
8
5,4
5,4
63,8
3,00
8
5,4
5,4
69,1
4,00
41
27,5
27,5
96,6
NR
5
3,4
3,4
100,0
149
100,0
100,0
Total
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 43 - A gravidez do último filho ocorreu para melhorar
a situação econômica.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NA
Tabela 43 - Descritor 43 - A gravidez do último filho ocorreu
para melhorar a situação econômica
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
zero
104
69,8
69,8
69,8
1,00
3
2,0
2,0
71,8
2,00
4
2,7
2,7
74,5
3,00
8
5,4
5,4
79,9
4,00
8
5,4
5,4
85,2
NA
20
13,4
13,4
98,7
260
Projeto piloto
Tabela 43 - Descritor 43 - A gravidez do último filho ocorreu
para melhorar a situação econômica
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
100,0
NR
2
1,3
1,3
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você engravidou do primeiro filho para
alcançar uma melhor situação econômica.
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
A questão número 44 foi mantida sem alteração ou questionamentos, pois revela um aspecto importante da pesquisa.
Questão 44 - Ocorreu alguma dificuldade para conseguir
emprego por ter filho
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
( ) NR
Tabela 44 - Descritor 44 - Ocorreu alguma dificuldade para
conseguir emprego por ter filho
(Continua)
zero
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
99
66,4
66,4
66,4
261
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 44 - Descritor 44 - Ocorreu alguma dificuldade para
conseguir emprego por ter filho
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
1,00
6
4,0
4,0
70,5
2,00
9
6,0
6,0
76,5
3,00
11
7,4
7,4
83,9
4,00
13
8,7
8,7
92,6
NR
11
7,4
7,4
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
As questões 45 e 46 exigiam respostas alternativas,
por se referirem às situações em que uma maior gradação
parece difícil. A número 45 investiga a participação em serviços de planejamento familiar. Houve dificuldade em aplicar
a questão, por isso ela foi alterada.
Questão 45 - Ocorreu alguma dificuldade para conseguir
emprego por ter filho
( ) Sim 262
( ) Não Projeto piloto
Tabela 45 - Descritor 45 - Você participou de algum serviço de
planejamento familiar antes de engravidar?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sim
24
16,1
16,1
16,1
Não
118
79,2
79,2
95,3
NR
7
4,7
4,7
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você buscou orientação antes de engravidar?
( ) Não buscou ( ) Não conseguiu ( ) Não aceitou
A questão 46 foi mantida sem alteração.
Questão 46 - Um dos parceiros não queria filho por já ter filho
de outro relacionamento?
( ) Sim ( ) Não ( ) NA ( ) NR
Tabela 46 - Descritor 46 - Um dos parceiros não queria filho
por já ter filho de outro relacionamento?
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sim
15
10,1
10,1
10,1
Não
114
76,5
76,5
86,6
263
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 46 - Descritor 46 - Um dos parceiros não queria filho
por já ter filho de outro relacionamento?
(Conclusão)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
NA
16
10,7
10,7
97,3
NR
4
2,7
2,7
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
As questões 47 e 48 estavam relacionadas, ou seja, a
48 estava condicionada à resposta positiva da 47. Houve um
pouco de dificuldade para sua compreensão, por isso elas
foram alteradas de modo a se fundirem.
Questão 47 - Você já assumiu um filho(a) sozinho(a)?
( ) Sim ( ) Não ( ) NR
Tabela 47 - Descritor 47 - Você já assumiu um filho(a) sozinho(a)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sim
37
24,8
24,8
24,8
Não
104
69,8
69,8
94,6
NR
4
2,7
2,7
97,3
7,00
4
2,7
2,7
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
264
Projeto piloto
Questão 48 - Se a resposta da pergunta 47 for sim:
( ) Por morte do
parceiro(a)
( ) Por separação
( ) Por opção ( ) Por abandono
da criança
( ) Por outra
situação
( ) NA
Tabela 48- Descritor 48 - Se a resposta da pergunta 47 for sim
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Por morte do
parceiro(a)
7
4,7
4,7
4,7
Por separação
24
16,1
16,1
20,8
Por opção
10
6,7
6,7
27,5
Por outra situação
7
4,7
4,7
32,2
NA
29
19,5
19,5
51,7
NR
72
48,3
48,3
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você já assumiu um filho(a) sozinho(a)
( ) Nunca ( ) Por morte do
parceiro(a) ( ) Por separação
( ) Por opção
( ) Por outra situação
( ) Não aceitou
A questão 49 aborda um aspecto cultural muito presente: a dificuldade de um casal estéril manter o relacionamento.
265
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Em algumas culturas, isso é muito forte, portanto investigar o
tema é interessante.
Questão 49 - Você já se separou em virtude das dificuldades
em ter filho?
( ) Sim ( ) Não ( ) NR
Tabela 49 - Descritor 49 - Você já se separou em virtude das
dificuldades em ter filho?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sim
5
3,4
3,4
3,4
Não
136
91,3
91,3
94,6
NR
5
3,4
3,4
98,0
7,00
3
2,0
2,0
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
As questões 50 e 51 estão também inter-relacionadas,
buscando mapear o impacto de se ter um docente na decisão
de ter um segundo filho. Buscando clareza, a questão foi reformulada, tornando-se uma só.
Questão 50 - Você já decidiu não ter filho em virtude da
possibilidade de ter um filho doente?
( ) Sim 266
( ) Não ( ) NR
Projeto piloto
Tabela 50- Descritor 50 - Você já decidiu não ter filho em
virtude da possibilidade de ter um filho doente?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Sim
4
2,7
2,7
2,7
Não
133
89,3
89,3
91,9
NR
10
6,7
6,7
98,7
100,0
7,00
2
1,3
1,3
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão 51 - Se a resposta da pergunta 50 for sim: Motivo ( ) Já teve um filho
doente
( ) Vive com HIV/
AIDS
( ) Consanguinidade
( ) NA
( ) Enfermidades
genética na família
Tabela 51 - Descritor 51 - Se a resposta da pergunta 50 for
sim: Motivo:
(Continua)
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Vive com HIV/AIDS
5
3,4
3,4
3,4
Enfermidades
genéticas na família
9
6,0
6,0
9,4
Consanguinidade
4
2,7
2,7
12,1
NA
102
68,5
68,5
80,5
NR
29
19,5
19,5
100,0
267
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Tabela 51 - Descritor 51 - Se a resposta da pergunta 50 for
sim: Motivo:
(Conclusão)
Total
Frequência
Percentual
Percentual
válido
149
100,0
100,0
Percentual
acumulado
Fonte: Dados da pesquisa.
Questão alterada - Você decidiu não ter mais filho:
( ) Já teve um
filho doente
( ) Vive com HIV/
AIDS
( ) Casamento
consanguíneo
( ) Não se aplica
( ) Há enfermidades
genéticas na família
A questão 52 se mostrou problemática. Aborda um
tema relevante, mas o termo família se tornou aqui bastante impreciso, de modo que os pesquisadores decidiram pela
exclusão da questão.
Questão excluída – 52 - Houve ocorrência de morte na família
relacionada a parto por falta de
acesso à saúde?
( ) Sim ( ) Não Tabela 52- Descritor 49 - Você já se separou em virtude das
dificuldades em ter filho?
(Continua)
Sim
268
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
5
3,4
3,4
3,4
Projeto piloto
Tabela 52- Descritor 49 - Você já se separou em virtude das
(Conclusão)
dificuldades em ter filho?
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
Não
136
91,3
91,3
94,6
NR
5
3,4
3,4
98,0
7,00
3
2,0
2,0
100,0
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
Também na questão 53 o termo família tornou a questão confusa. No entanto, ela foi reformulada de modo a identificar a esfera pessoal do entrevistado.
Questão 52 - Houve ocorrência de morte de criança (antes de
5 anos) na família?
( ) Sim ( ) Não ( ) NR
Tabela 53- Descritor 53 - Houve ocorrência de morte de criança
(antes de 5 anos) na família?
Sim
Frequência
Percentual
Percentual
válido
Percentual
acumulado
65
43,6
43,6
43,6
100,0
Não
84
56,4
56,4
Total
149
100,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.
269
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
A tendência foi priorizar questões mais simples, reformuladas de modo menos acadêmico, especialmente as que
suscitaram dupla interpretação. Outra alteração se deu com
relação a questões que se repetiam para as situações de gravidezes dos primeiros e dos últimos filhos. Observou-se que
todas as vezes que se comparavam as questões referentes a
essas situações, ocorria um resultado de um índice de “não
se aplica”, pois coerentemente a questão que indaga sobre o
“último filho” não se aplicava às pessoas que tinham apenas
um filho. Desse modo, para corrigir esse elemento que traz
distorções para a análise estatística dos dados, o instrumento de pesquisa final (Anexo F) apresentará uma seção aplicada apenas às pessoas com mais de um filho, indicando: “só
responde quem tem mais de um filho”.
270
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na investigação sobre os modelos de família, percebemos que há vários dados sobre as novas configurações, um
novo jeito de ser nos relacionamentos dos membros das famílias. Algumas pesquisas, além dessa, estão sendo elaboradas em outras universidades, como é o caso da Universidade
Católica de Salvador, para verificar a vivência da parentalidade. Porém, não foi possível identificar a existência de um
instrumento adequado, que permita uma análise mais ampla
considerando as características do projeto de parentalidade
no contexto do planejamento de parentalidade.
O estudo das configurações familiares sobre o planejamento de parentalidade mostrou-se insuficiente para indicar a existência ou não de um projeto de parentalidade desejado e aceito, não desejado e aceito, desejado e não aceito
ou não desejado e não aceito, pelas pessoas que já tiveram
filhos. Mesmo havendo legislação para o planejamento familiar na própria Constituição Federal, ou que a Igreja católica
procure incentivar por meio de encontros em preparação ao
matrimônio — conhecido ainda em alguns locais como curso de noivos —, o planejamento familiar, admitindo o uso de
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
métodos naturais, não foi possível identificar a existência ou
não do planejamento de parentalidade.
Percebemos que a Igreja católica acompanha as alterações nos arranjos familiares e tem uma visão própria
a respeito. Elabora suas orientações doutrinais e pastorais,
sem contudo, ser ‘favorável’ a todos os tipos ou modelos de
família. Aliás, em alguns casos, sequer aceita a designação
de família, como é o caso do arranjo homoafetivo, que não
se enquadra na lei natural, impossibilitando a geração da
prole por meio de um relacionamento sexual de forma natural. Para os casais em segunda união, há uma acolhida bem
maior, e a procura de uma reinserção na comunidade eclesial, quando se trata da Igreja católica no Brasil.
Por se tratar de uma característica humana, a influência da religião é visceral, e qualquer discussão que se
proponha a relativizar tal influência dificilmente logrará
êxito. Contudo, na proposta que cada religião tem de mostrar a face de Deus, vem sempre a expectativa de salvação
e libertação de todo o mal. Mas, que mal é esse que hoje
enfrentamos no que diz respeito ao cuidado com a vida?
E, como pode a ação divina nos livrar dele? Contudo, se
pensarmos no mal como resultado das ações humanas, que
é de fato o que materializa o mal, nossas preces carecem
de revisão.
É importante identificar o modelo tradicional, junto
aos novos arranjos familiares. Pois, nem tudo o que é tradicional é ruim. E nem tudo o que é novo, é melhor, necessariamente. É imprescindível que uma autocrítica seja feita, dentro mesmo das novas famílias — que, ao que parece,
vêm perdendo essa capacidade. Além disso, é necessário um
272
Parentalidade e modelos de família
caminho que ajude a entender para, em seguida, melhorar o
planejamento de parentalidade.
Das questões sociais que impactam na parentalidade, percebemos a interação de mútuos e múltiplos fatores.
O acesso à educação é necessário para o aprimoramento do
planejamento familiar que, por sua vez, se for feito a partir
de programas bem elaborados, pode se tornar um processo
educativo relevante. A questão de gênero estará sempre presente neste debate em virtude de fatores culturais e sociais
complexos: a atribuição tradicional da maternidade como
mais relacionada com a mulher; a persistente violência contra
a mulher; a existência de instituições e movimentos sociais
que nem sempre promovem uma agenda equilibrada sobre
planejamento familiar etc. Também o aborto é uma questão
central na pesquisa, pois sua ocorrência retrata uma ausência
de projeto de parentalidade e traz consequências indesejáveis
para todos. Vimos que os projetos de parentalidade ocorrem
quando os casais refletem, planejam e decidem ter ou não
filhos num determinado momento, não se podendo deixar de
considerar a necessidade de uma participação da sociedade
como um todo, governo, igrejas, escolas, imprensa, todos num
crescente incentivo ao planejamento familiar.
A aplicação do instrumento de pesquisa validado pela
revisão teórica e pela Técnica de Grupo Nominal possibilitou
uma ampla revisão das questões apresentadas. Percebeuse que em alguns momentos os entrevistados expressavam
mais o “politicamente correto” do que sua própria realidade.
Isso se dá por ser o tema do planejamento familiar altamente sensível à opinião pública. Portanto, algumas questões foram readequadas de modo a tornar a questão menos direta.
273
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
No instrumento final, buscou-se uma redação menos
acadêmica, mais clara, com alterações nas questões que
claramente possibilitavam uma resposta confusa. Também
foram alteradas aquelas que indicavam a possibilidade de
uma resposta “não se aplica”, em razão das dificuldades que
isso traz para a análise estatística, por meio do programa
SPSS. Assim, boa parte das questões que apontava para esta
indicação foi separada, colocada no final, como no caso que
se indagava sobre situações relacionadas ao último filho.
Apresentamos, assim, um instrumento de pesquisa
validado por todo esse processo, mas a equipe de pesquisadores estará atenta às possibilidades de alterações, principalmente no primeiro projeto em que o instrumento será
aplicado: Planejamento familiar no contexto intereclesial — já
encaminhado ao CEP-PUCPR. Esse projeto entrevistará aproximadamente 1.000 pessoas, o que possibilitará uma ampla
análise dos dados e, talvez, a construção de uma escala de
projeto de parentalidade.
274
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Parentalidade e modelos de família
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Isabel F. L. Ferreira. São Paulo: Paulinas, 1988.
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and associated mortality in 2008. 6th ed. Geneva: World Health
Organization, 2011.
283
APÊNDICE A
Instrumento de pesquisa validado
1 - Gênero
( ) 1 Feminino
( ) 2 Masculino
( ) 3 Outro
2 – Idade atual do entrevistado
( ) Entre
18 e 25
( ) Entre 26
e 35
( ) Entre
36 e 45
( ) Entre
46 e 60
( ) Acima
de 60
3 – Número de filhos
Consanguíneos
Por Reprodução
Assistida
Adotivos
( ) 1
( ) 2
( ) 1
( ) 2
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) ≥4
( ) 3
( ) ≥4
( ) 3
( ) ≥4
4 – Religião
( ) Católica
( ) Evangélica
( ) Afro-brasileira
( ) Judaica
( ) Islâmica
( ) Orientais
( ) Espírita
( ) Sem religião
( ) Outra. Qual?
______________
5 – Qual é o seu grau de sua participação na religião?
( ) Pouco
participante
( ) Participante
( ) Ministro / Ministérios
( ) Agente /
Obreiro
( ) Outro.
( ) Não se aplica
285
6 – Qual era seu estado civil na gravidez do primeiro filho?
( ) Solteiro ( ) Casado
( ) Divorciado
( ) Viúvo
( ) União Estável
( ) Separado Judicialmente
7 – Qual era seu grau de escolaridade na gravidez do primeiro filho?
( ) Não havia
estudado
( ) Estava nas séries
iniciais
( ) Havia concluído a
4ª série
( ) Estava entre a 5ª
e a 8ª série
( ) Estava no Ensino
Médio
( ) Havia concluído o
Ensino Médio
( ) Estava na
Faculdade
( ) Já havia
concluído a
Faculdade
8 – Em que idade você iniciou um relacionamento sexual?
( ) Menos de 15
anos
( ) Entre 16 e 18
anos
( ) Entre 22 e 25
anos
( ) Acima de 26 anos
( ) Entre 19 e 21
anos
9 – Em que idade você teve a primeira gravidez / ou engravidou
alguém pela primeira vez?
( ) Menos de 15
anos
( ) Entre 16 e 18
anos
( ) Entre 22 e 30
anos
( ) Acima de 31 anos
( ) Entre 19 e 21
anos
10 – Qual era a sua situação de emprego na gravidez do
primeiro filho?
( ) Empregado(a) ( ) Desempregado(a)
( ) Do lar
( ) Outro
286
( ) Autônomo(a) 11 – Com quem você morava quando soube da gravidez do
primeiro filho?
( ) Sozinha
( ) Com amigos
( ) Com o(a)
parceiro(a)
( ) Outro
( ) Com os pais
12 – Você sentiu pressão para ter filhos?
( ) De familiares
( ) De amigos
( ) Da escola
( ) De outros
( ) Não houve pressão externa
13 – Se houve pressão externa – a importância dessa pressão foi:
( ) Nula
( ) Fraca
( ) Forte
( ) Muito forte
( ) Regular
14 – De quem você recebe mais informações sobre sexualidade:
( ) Dos amigos
( ) De familiares
( ) Da escola
( ) De religiosos
( ) Da internet
( ) De profissionais de saúde
( ) Outros
15 – Qual foi a sua reação no anúncio da gravidez do primeiro
filho?
( ) Revolta
( ) Preocupação
( ) Aceitação
( ) Alegria
( ) Surpresa
16 – Você compreende os filhos como:
( ) Peso
( ) Obstáculo
( ) Um privilégio
( ) Bênção de Deus
( ) Algo natural
287
17 – Quem exerce a chefia da família em sua casa?
( ) o homem
( ) a mulher
( ) o casal ( ) outro:_____________
RESPONDA ÀS QUESTÕES ABAIXO COM
NOTAS DE ZERO A QUATRO
18 – Houve planejamento na gravidez do seu primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
19 – Você pensou nos riscos de saúde relacionados a ter
filhos – antes da gravidez do primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
20 – Você avaliou as condições econômicas para cuidar do
bebê – antes da gravidez do primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
21 – Você chegou a desejar, em algum momento, o aborto do
primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
22 – A gravidez do primeiro filho foi um projeto do casal?
Decisão dos dois?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
23 – A sua família ajudou na aceitação da gravidez do primeiro filho?
( ) zero
288
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
24 – A sua atividade profissional (ou de sua companheira)
influenciou na decisão de engravidar mais tarde?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
25 – A possibilidade de adquirir doença alterou a sua prática sexual?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
26 – A religião lhe influenciou na escolha do método contraceptivo?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
27 – O uso de preservativos lhe incentivou a ter relacionamento
sexual com outra pessoa, além do parceiro?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
28 – Para você qual a relação entre casamento e ter filhos?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
29 – Você teve acesso a serviços/orientações sobre planejamento
familiar na gravidez do primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
30 – Você teve o acesso desejado ao serviço pré-natal na
gravidez do primeiro filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
31 – A gravidez do seu primeiro filho ocorreu para segurar um
relacionamento?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
289
32 – Você engravidou do primeiro filho para alcançar uma
melhor situação econômica?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
33 – Ocorreu alguma dificuldade de se conseguir emprego por
ter filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
RESPONDA SIM OU NÃO
34 - Um dos parceiros não queria filho por já ter filho de outro
relacionamento?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não se aplica
35 – Você já assumiu um filho(a) sozinho(a)?
( ) Nunca
( ) Por separação
( ) Por morte do/a
parceiro/a
( ) Por outra situação
( ) Por opção
36 – Você já se separou devido às dificuldades em ter filho?
( ) Sim
( ) Não
37 – Se você decidiu não ter mais filho, qual o motivo?
( ) Opção pessoal
( ) Já teve um filho
doente
( ) Vive com HIV/
AIDS
( ) Há enfermidade
genética na família
( ) Casamento com
consanguinidade
( ) Não se aplica
290
38 – Você já se separou devido às dificuldades em ter filho?
( ) Sim
( ) Não
SÓ RESPONDE QUEM TEM MAIS DE UM FILHO (da 39 a 53)
39 – Qual seu estado civil na gravidez do último filho?
( ) Solteiro ( ) Casado
( ) Divorciado
( ) Viúvo
( ) União Estável
( ) Separado
Judicialmente
40 – Qual era seu grau de escolaridade na gravidez do último filho?
( ) Não havia
estudado
( ) Estava nas séries
iniciais
( ) Havia concluído
a 4ª série
( ) Estava entre a
5ª e 8ª série
( ) Estava no ensino
médio
( ) Havia concluído
o EM
( ) Estava na
Faculdade
( ) Já havia concluído a
Faculdade
41 – Qual era sua situação de emprego na gravidez do último filho?
( ) Empregado(a) ( ) Desempregado(a)
( ) Do lar
( ) Outro
( ) Autônomo(a) 42 – Com quem você morava quando soube da gravidez do último filho?
( ) Sozinha
( ) Com amigos
( ) Com o(a) parceiro(a)
( ) Outro
( ) Com os pais
43 – Qual foi sua reação no anúncio da gravidez do último filho?
( ) Revolta
( ) Preocupação
( ) Aceitação
( ) Alegria
( ) Surpresa
291
RESPONDA ÀS QUESTÕES ABAIXO COM
NOTAS DE ZERO A QUATRO
44 – Você planejou a gravidez do seu último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
45 – Você pensou nos riscos de saúde relacionados a ter
filhos – antes da gravidez do último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
46 – Você avaliou as condições econômicas para cuidar do
bebê – antes da gravidez do último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
47 – Você chegou a desejar, em algum momento, o aborto do
último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
48 – A gravidez do último filho foi um projeto do casal? Decisão
dos dois?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
49 – A sua família ajudou na aceitação da gravidez do último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
50 – Você teve acesso a serviços/orientações sobre planejamento
familiar na gravidez do último filho?
( ) zero
292
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
51 – Você teve o acesso desejado ao serviço pré-natal na gravidez
do último filho?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
52 – A gravidez do seu último filho ocorreu para segurar um
relacionamento?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
53 – Você engravidou do último filho para alcançar uma melhor
situação econômica?
( ) zero
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) 4
293
Orientandos /
pesquisadores
Edésia de Sousa Sato
Juares Celso Krum
Mário Antônio Sanches
Miguel Fernando
Rigoni
Renato Barbosa dos
Santos
Alexandre Felício de
Campos
Castorina H.V.
Casagrande
Cecília Francisca dos
Santos
Eva Maria Duarte
Gomes
Kelly Fabiola G.de
Jesus
Luiz Felipe da Silva
Mário Antônio Sanches
Atividade
realizada
Revisão
teórica
principal
Revisão de
apoio
Participantes
da pesquisa
294
6 trabalhos de
Iniciação Científica
4 dissertações de
mestrado
Resultados
Relatórios em
julho de 2012
e em julho de
2013
3 defesas até
julho de 2013
(Continua)
Cronograma
APÊNDICE B
Quadro sinótico da pesquisa realizada
295
Orientandos /
pesquisadores
Toda a equipe
Toda a equipe
Edésia de Sousa Sato
Juares Celso Krum
Mário Antônio Sanches
Miguel Fernando
Rigoni
Renato Barbosa dos
Santos
Atividade
realizada
Técnica
de Grupo
Nominal
– etapa a
distância
Técnica
de Grupo
Nominal
– etapa
presencial
Análise
dos dados
da TGN
15 especialistas
17 especialistas
Participantes
da pesquisa
Validação de 36
descritores
Avaliação de 58
descritores
Avaliação de 58
descritores
Resultados
Concluída
em março de
2013
Dezembro de
2012
Novembro de
2012
(Continua)
Cronograma
296
Orientandos /
pesquisadores
Cecília Francisca dos
Santos
Juares Celso Krum
Kelly Fabiola G.de
Jesus
Luiz Felipe da Silva
Mário Antônio Sanches
Renato Barbosa dos
Santos
Juares Celso Krum
Mário Antônio Sanches
Renato Barbosa dos
Santos
Mário Antônio Sanches
Juares Celso Krum
Renato Barbosa dos
Santos
Atividade
realizada
Projeto
Piloto
Análise
dos dados
do PP
Relatórios
Finais
149
entrevistados
Participantes
da pesquisa
Relatório elaborado
em 3 partes:
a) Método e
contexto,
b) Revisão teórica,
c) projeto piloto.
Definição do
Instrumento da
Pesquisa
Aplicação do
instrumento de
pesquisa
Resultados
Concluído em
setembro de
2013.
Concluída em
agosto de
2013
Realizada em
junho de 2013
(Conclusão)
Cronograma
Parentalidade e modelos de família
SOBRE OS AUTORES
Edesia Souza Sato
Assistente social, psicopedagoga e mestre em Teologia pela
PUCPR, membro efetivo da Comissão de Ética CRESS.
Contato: [email protected]
Juares Celso Krum
Diácono permanente, bacharel em Teologia e Mestre em
Teologia pela PUCPR. É assessor da Pastoral Familiar do
Regional Sul 2 da CNBB.
Contato: [email protected]
Mário Antônio Sanches
Doutor em Teologia pela EST/IEPG, RS, com pós-doutorado
em Bioética pela Pontifícia Universidade de Comillas
(Madrid). É professor titular da PUCPR, onde coordena o
Mestrado de Bioética.
Contato: [email protected]
Miguel Fernando Rigoni
Diácono, advogado, psicólogo, jornalista, mestre em Teologia
pela PUCPR, mestre em Educação pela Universidade Tuiuti.
Atua como juiz do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano e de
Apelação de Curitiba e professor da PUCPR.
Contato: [email protected]
299
Planejamento da parentalidade no contexto da bioética
Renato Barbosa dos Santos
Bacharel em Teologia e mestre em Teologia pela PUCPR.
Professor de Bioética no Grupo Rhema de Educação.
Contato: [email protected]
300
Parentalidade e modelos de família
COLABORADORES
Alunos PIBIC 2011-2012
Alexandre Felício de Campos
Castorina Honorato Vidal Casagrande
Eva Maria Duarte Gomes
Alunos PIBIC 2012-2013
Cecília Francisca dos Santos
Kelly Fabiola Galikoski de Jesus
Luiz Felipe da Silva
Alunos PIBIC – Junior 2012-2013
Elisa Casselato Bento,
Lucas Rafael de oliveira,
Alunos PIBIC 2013-2014
Kelly Fabiola Galikoski de Jesus,
Edilaine Cristiana Cervi
Valquíria Batista da Rocha
Mestrandos
Luiz Fernando de Lima
Shanny Mara Neves
Roberto Cesar de Oliveira
Cleusa Regina Ferreira da Luz
301
ISBN 9 7 8 - 8 5 - 6 8 3 2 4 - 1 1 - 0
9 788568 324110

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