escola superior aberta do brasil – esab curso de pós

Transcrição

escola superior aberta do brasil – esab curso de pós
ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL – ESAB
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO
INFANTIL
GABRIELA MARINHO SANT’ANNA
A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
VILA VELHA/ES
2010
Eu, Gabriela Marinho Sant’Anna, autorizo a disponibilização e
publicação, gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, de
acordo com a Lei N
o
9610/98, do trabalho monográfico por mim
elaborado, em meio eletrônico (na Internet), para fins de leitura,
impressão e/ou download, a título de divulgação de produção científica
brasileira.
Gabriela Marinho Sant’Anna
VILA VELHA - ES
2010
ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL – ESAB
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO
INFANTIL
GABRIELA MARINHO SANT’ANNA
A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
VILA VELHA/ES
2010
GABRIELA MARINHO SANT’ANNA
A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
Monografia apresentada ao Curso
de Pós Graduação em Educação Infantil
da Escola Superior Aberta do Brasil
como requisito para obtenção do título de
Especialista em Educação Infantil, sob
orientação da Profª Ms. Patricia Ebani
Peixoto.
VILA VELHA/ES
2010
GABRIELA MARINHO SANT’ANNA
A EDUCAÇÃO INFANTIL: ETAPA FUNDAMENTAL PARA O
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
Monografia aprovada em .... de .......de 2010
Banca Examinadora
____________________________
____________________________
________________________
VILA VELHA/ES
2010
Aos meus pais por sempre terem me
incentivado a percorrer o caminho da
educação e a estudar esta ciência tão
fundamental na vida de cada ser humano.
A
toda
a
minha
família
por
compreenderem a minha dedicação e
ausência em prol do conhecimento.
AGRADECIMENTOS
À Deus por me dar força e sabedoria para concluir esta jornada.
Aos meus pais por incitarem em mim o desejo de adquirir o conhecimento.
“Não acredites nos que sabem tudo. Os
que muito sabem, sabem que têm muito a
aprender. A educação é do tamanho da
vida. Não há começo. Não há fim. Só
travessia”.
(Rubens Alves)
RESUMO
Educação Infantil – Desenvolvimento Cognitivo – Qualidade da Educação Infantil
O presente trabalho teve como objetivo analisar a Educação Infantil como etapa
fundamental da Educação Básica. Para tanto foi realizada uma pesquisa
bibliográfica e uma pesquisa de campo sobre a importância da Educação Infantil.
Foram obtidas consideráveis informações pertinentes ao assunto que possibilitaram
compreender a história da pré-escola, o processo de desenvolvimento cognitivo da
criança, e a qualidade da educação infantil. Verificou-se que apesar da pré-escola
ter surgido como essencialmente assistencialista esta realidade foi superada e as
creches e pré-escolas hoje podem exercer a sua função de educar independente da
dicotomia entre educar-cuidar, pois esta dicotomia já foi superada. Verificou-se
também que freqüentar a pré-escola favorece o desenvolvimento da criança e neste
sentido afirma-se a importância da educação infantil. Dessa forma verificou-se que o
Governo busca juntamente com o Ministério da Educação e da Cultura primar pelos
parâmetros de qualidade desta primeira etapa da educação básica, já que é tão
importante para o desenvolvimento da criança e conseqüente desenvolvimento do
país. Conclui-se apresentando sugestões para que as pré-escolas trabalhem
intensamente com a participação dos pais que são agentes fundamentais para o
desenvolvimento integral de seus filhos e assim, vise melhorar a formação dos
futuros cidadãos.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Art: Artigo
CEMEI: Centros Municipais de Educação Infantil
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº8.069/1990
LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/1996
ONG: Organização Não Governamental
RCNEI: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
CAPÍTULO I – Creche e pré-escola: depósito de crianças? ...............................13
I.1 O SURGIMENTO DO SENTIMENTO DE INFÂNCIA ...........................................14
II.2 O SURGIMENTO DA PRÉ-ESCOLA NO BRASIL...............................................18
CAPÍTULO II – Etapas do desenvolvimento humano e cognitivo na primeira
infância ................................................................................................................... 22
II. 1 AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA...................................................................... 26
II. 2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO................................................................ .30
CAPÍTULO III – Educação infantil: direito de todos, dever da
sociedade................................................................................................................. 37
CAPÍTULO IV - RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO ................................ 42
CONCLUSÃO......................................................................................................... 46
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 49
ANEXOS.................................................................................................................. 51
9
INTRODUÇÃO
Esta monografia apresenta o resultado de uma
pesquisa de nível exploratório,
sendo a mesma desenvolvida a partir da pesquisa
campo. Essa pesquisa foi
bibliográfica e pesquisa de
realizada entre junho e agosto de 2010 e analisa a
Educação Infantil como etapa de fundamental importância para o desenvolvimento
cognitivo, social e cultural da criança.
Ao conversar com uma professora de Educação Infantil sobre o meu estudo, ela
relatou que sua turma de Pré-I era muito interessada, mas que seu maior problema
era com os pais de alunos. Relatou que a maioria deles tinha a escola apenas como
“depósito de crianças”, que não valorizavam a instituição enquanto ambiente
educacional para seus filhos.
Então, diante do meu estudo sobre a fundamental importância da Educação Infantil
para o desenvolvimento cognitivo da criança, restou-me a dúvida: Por que estas
escolas são vistas pela maioria das famílias como “depósito de crianças”?
A Educação Infantil é um direito dos cidadãos exposto na Constituição Federal
(BRASIL, 1988), em seu artigo 227 diz:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1998, p.96)
Dessa forma é assegurado por lei o direito a Educação. Não é simplesmente uma
“escolinha”, mas um direito conquistado pelo povo de manter seus filhos em escolas
de qualidade e gratuitas, enquanto estão trabalhando, contribuindo para a economia
do país.
A Educação Infantil é reconhecida pelos educadores, pelos governantes e pela
sociedade científica como etapa de primordial importância para o desenvolvimento
da criança, visto que é nesta fase que a criança aprende como viver, como fazer. É
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na fase infantil que o ser humano adquire conhecimento com maior facilidade e
eficácia, nesta fase é possível desenvolver inúmeras habilidades e aprender a se
socializar. Nesta fase a criança aprende a aprender e a gostar do ambiente escolar.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 4º, dispõe:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990, p.5)
Sendo assim, as famílias e os responsáveis pela educação das crianças precisam
valorizar esse direito, este bem oferecido pelo governo.
O fato de a Educação Infantil ter sido reconhecida como primeira etapa da Educação
Básica, através da sanção da LDB 9394, de Dezembro de 1996, Art. 4º O dever do
Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:[...] IV atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de
idade (BRASIL, 1996, p.7)
É um grande avanço para o país e um motivo para que os pais passem a se
preocupar mais com a educação de seus filhos. Um avanço para o país porque ter
cidadãos educados desde o início da vida reforça a certeza de que no futuro serão
bons cidadãos. Assim como a base de uma casa, a educação deve ser a base da
vida. É preciso que os pais reconheçam que tanto a LDB, como a ECA, estão
apoiando a família no âmbito educacional e que a educação pode lhes proporcionar
qualidade de vida.
Numa época em que a UNESCO revela que o Brasil está em 88º lugar no Índice de
Desenvolvimento Educacional - segundo pesquisa realizada neste ano de 2010,
entre 123 países. Esta pesquisa UNESCO, 2010 vem elucidar e reafirmar como é
que se deve proceder para que tenhamos no futuro resultados mais animadores. Eu
vejo que a Educação Infantil pode ser a saída para este problema de baixa
educacional. Ainda mais, quero mostrar com esta pesquisa, o quanto estes pais
estão perdendo por não valorizar a educação infantil.
11
Analisar a Educação Infantil como etapa fundamental para o desenvolvimento
cognitivo da criança e conseqüente desenvolvimento em âmbito cultural, intelectual
e econômico da sociedade é objetivo desta pesquisa. E diante desta verdade tentei
entender porque os pais de alunos de pré-escolas de comunidades carentes, como
é o caso do CEMEI “Maria Gama dos Santos”, não vêem na escola pública a
oportunidade de uma formação de qualidade para seus filhos.
Ao investigar e expor as etapas do desenvolvimento cognitivo e humano, que
acontecem na primeira infância, portanto, vi a oportunidade de apontar
o quão
importante é que os pais mantenham os filhos na escola e os acompanhem em seu
desenvolvimento.
Este
estudo
pretende
confirmar
para
a
sociedade
de
pesquisadores e interessados em políticas públicas e educacionais os principais
fatores para uma Educação Infantil de qualidade e sua
importância para o
desenvolvimento da sociedade num âmbito cultural, intelectual e econômico. Pois
para que realmente haja qualidade na educação é necessário que toda a sociedade
esteja envolvida.
Neste trabalho, com o objetivo de demonstrar a importância da educação infantil
como etapa fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança e
conseqüente desenvolvimento em âmbito cultural, intelectual e econômico da
sociedade, abordei aspectos do desenvolvimento cognitivo do ser humano,
revelando que o mesmo acontece na primeira infância. O fiz através de pesquisa
bibliográfica e exploratória, e pesquisa em loco com a classe de Pré I do CEMEI
“Maria Gama dos Santos”, no intuito de saber a opinião e participação dos pais na
educação de seus filhos.
Iniciei com pesquisa bibliográfica em sites da
internet sobre a importância da
educação infantil, para saber que autores falam sobre este assunto, o que falam e
como falam. Segui pesquisando autores que desenvolveram pesquisas sobre a
história da educação, desenvolvimento cognitivo, e qualidade na educação infantil.
Além de ler também sobre as leis educacionais que vigoram em nosso país.
12
Como havia conversado com uma professora de pré-escola sobre o assunto e a
mesma relatou sua dificuldade com os pais de alunos, a procurei para realizar uma
pequena pesquisa com estes pais e abordar o assunto.
Todos os resultados estão nesta monografia que muito contribuiu para minha
formação e conhecimento, pois a dúvida é sempre o início do saber. A dúvida é o
principal ingrediente para a aquisição de conhecimento.
13
CAPÍTULO I – CRECHE E PRÉ-ESCOLA: DEPÓSITO DE CRIANÇAS?
Por que a maioria dos pais de alunos não reconhece o devido valor que a educação
infantil tem no contexto atual? Talvez seja porque não conhecem a história deste
seguimento. Talvez porque não saibam que a educação infantil é uma conquista da
sociedade brasileira. Quando não se conhece algo, quando não se sabe de onde
vem e por quais caminhos passou, realmente é difícil dispensar o valor e o devido
reconhecimento. Como um imigrante que de repente chega na cidade em que você
nasceu. A maioria dos imigrantes de toda a história são destratados e discriminados
simplesmente por terem se aventurado e ter ocupado outras terras. Mas os nativos
não refletem a causa de sua viagem e de sua mudança. É preciso mudar para
sobreviver. Se como e onde se encontra não está bom, não atende as perspectivas,
então a solução é mudar.
Assim os pais de alunos, que tem educação infantil gratuita garantido por lei, devem
saber o que é, de onde e como surgiu e porque hoje se apresenta neste formato,
sendo assim ofertada a sua família.
Valorizar algo é conhecer e saber como surgiu e de onde veio. Por isso, este
capítulo pretende conceituar a educação infantil do ponto de vista histórico,
mostrando como surgiu o sentimento de infância no mundo e a educação infantil no
Brasil, como o intuito de entender porque não há tanta valorização deste período tão
importante da educação básica.
A pré-escola não é depósito de crianças, mas ambiente socializador em que se
oferece a oportunidade de amadurecer com qualidade. Não respeitar esta etapa de
educação infantil é não compreender a importância e a identidade da criança na
sociedade. A criança por muitos anos foi considerada como ser sem importância na
sociedade, porém, atualmente, é vista como indivíduo de direitos, identidade pessoal
e histórica e tem todas as suas especificidades respeitadas. Autores como Philippe
Áries e Sonia Kramer descrevem esta evolução da visão da criança pela sociedade.
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I.1. O SURGIMENTO DO SENTIMENTO DE INFÂNCIA
Para conceituar a infância é necessário voltar no tempo e explicitar o seu
surgimento. Philippe Áries (1981) em seu estudo da História Social da Criança e da
Família, utiliza imagens e documentos históricos
para entender a história do
surgimento do sentimento e significado da criança ao longo da civilização. Em seu
prefácio, com o intuito de expor o pressuposto de sua interpretação diz:
A história das mentalidades é sempre, quer o admita ou não, uma história
comparativa e regressiva. Partimos necessariamente do que sabemos
sobre o comportamento do homem de hoje, como de um modelo ao qual
comparamos os dados do passado - com a condição de, a seguir,
considerar o modelo novo, construído com o auxilio de dados do passado,
como uma segunda origem, e descer novamente até o presente,
modificando a imagem ingênua que tínhamos no inicio (p.17)
Assim, afirma que buscar o passado para entender a atualidade é confrontar os
novos conceitos com o que já se conhece. Conhecer a origem é imaginar como se
atingiu a forma atual. Assim deve ser com o conceito de pré-escola. Entender como
ela surgiu e qual a sua importância para valorizar e perceber sua relevância.
A cultura da função educacional
ser exercida pelas mães data da pré-história,
porém ÁRIÉS (1981), ao analisar as construções históricas, aponta a arquitetura
italiana como sendo um ambiente precursor e propicio para a iniciação de um
sentimento e atenção a crianças. Daí a essência do maternal. Culturalmente as
crianças estão sempre muito próximas às mães e a este fato se atribui a elas a
função de criar, educar, alimentar os filhos:
É normal que num espaço tão privatizado tenha surgido um sentimento
novo entre os membros da família, e mais particularmente entre a mãe e a
criança: o sentimento de família, “essa cultura”, diz R. Goldthwaite,
“centraliza-se nas mulheres e nas crianças com um interesse renovado pela
educação das crianças e uma notável elevação do estatuto da mulher...
(ÁRIES, 1981, p. 18)
Kramer (1995, p. 17) explica o conceito do sentimento de infância:
Sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças;
corresponde, na verdade, à consciência da particularidade infantil, ou seja,
aquilo que distingue a criança do adulto e faz com que a criança seja
considerada como um adulto em potencial, dotada de capacidade de
desenvolvimento.
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Através do estudo de Áries é possível entender como surgiu o conceito de infância.
ÁRIÉS (1981) analisa a iconografia e, ao descrever as pinturas durante os séculos,
enfatiza os desenhos de Maria e do menino Jesus, assim ele relata que estes
documentos ilustram o cotidiano da infância:
Salientemos aqui apenas o fato de que a criança se tornou uma das
personagens mais freqüentes dessas pinturas anedóticas: a criança com
sua família, a criança com seus companheiros de jogos, muitas vezes
adultos; a criança na multidão, mas ressaltada no colo de sua mãe ou
segurada pela mão, ou brincando, ou ainda urinando; a criança no meio do
povo assistindo aos milagres ou aos martírios, ouvindo prédicas,
acompanhando os ritos litúrgicos, as apresentações ou as circuncisões, a
criança aprendiz de um ourives, de um pintor etc., ou a criança na escola,
um tema freqüente e antigo, que remontava ao século XIV e que não mais
deixaria de inspirar as cenas de gênero até o século XIX (ÁRIES,1981,
p.53)
A mortalidade infantil inexiste na atualidade, porém ÁRIES (1981) explica o
sentimento de perda da criança diante desta realidade na idade média. Ele faz um
paralelo entre o medo atual da perda e o comum abandono que os romanos e
chineses praticavam diante das crianças recém-nascidas que não lhes pareciam
perfeitas física ou mentalmente, portanto aquelas que não teriam nenhuma utilidade
na sociedade. Compara a pequena distância que há entre essa realidade e a
precocidade
do
surgimento
do
sentimento
de
infância.
Essa
conclusão,
essencialmente obtida através da análise dos retratos e pinturas da época, mostra o
nascimento do reconhecimento da fragilidade da criança, ainda que fossem tidas
como pequenos seres divertidos, aos quais não se conotavam qualquer tipo de
definição sobre a sua personalidade e papel na sociedade. Assim, O gosto novo
pelo retrato indicava que as crianças começavam a sair do anonimato em que sua
pouca possibilidade de sobreviver as mantinha.
Independente do alto nível de mortalidade, Áries (1981) percebe que começa a
surgir uma preocupação com as crianças, no sentido de preveni-las de doenças e
prolongar suas vidas. Segundo ele, esse interesse pela criança e importância dada à
sua personalidade se dá devido à consciência cristã. Essa consciência faz com que
as pessoas tenham certa preocupação com a saúde das crianças e passem a
vaciná-las contra a varíola, doença que dizimava na época. Estes zelos e
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precauções culminaram na diminuição da mortalidade infantil e conseqüente
controle de natalidade.
Continuando seu estudo, Áries (1981, p 73 e 74) afirma que em algumas pinturas
ilustravam as brincadeiras das crianças, revelando então a essência da infância, que
é o ato de brincar. Dessa forma, seu estudo permite afirmar que as crianças sempre
procuraram se espelhar nos adultos, visto que seus brinquedos se apresentavam em
miniaturas ou cópias dos elementos e objetos relevantes para a sociedade. Assim
como atualmente existes telefones celulares e computadores de brinquedo, sempre
se reproduziu este universo para brincar, e assim desenvolver a inteligência e
habilidade para se transformar em adulto.
Áries (1981), ainda analisando a visão da infância, discorre sobre o nascimento da
preocupação com a instrução às crianças, antes do século XX. Diz que a sociedade
passa a
se preocupar mais com a instrução moral e o interesse psicológico das
crianças. Em textos estudados por ele, percebe descrições da personalidade dos
jovens e crianças, todas com caráter negativo. Porém, na visão de Áries, estes
textos, mesmo com ênfase negativa, já são o início de uma análise dos educadores
da época, que a partir destes relatos, objetivam conhecer os jovens e crianças para
saber como lidar com eles. Pois as crianças eram vistas pela maioria como seres
inocentes, e por isso muito protegidas. Porém, a necessidade de educar esta além
de considerá-las indivíduos inocentes e imagem de cristo, mas assim como cristo,
mostrar-lhes o caminho da educação e desenvolver-lhes um caráter racional e
cristão.
Kramer (1995, p. 19) conceitua o sentimento de infância:
O sentimento de infância resulta, pois numa dupla atitude com relação à
criança: preservá-la da corrupção do meio, mantendo sua inocência, e
fortalecê-la, desenvolvendo seu caráter e sua razão.
Áries (1981, p 139), fala sobre os dois sentimentos de infância:
17
O primeiro sentimento de infância – caracterizado pela “paparicação” –
surgiu no meio familiar, na companhia das criancinhas pequenas. O
segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos
eclesiásticos ou dos homens da lei[...]
Os estudos de Philippe Áries foram muito importantes para que toda a sociedade
pudesse compreender através de fatos históricos o pensamento das sociedades
diante do sentimento de infância. Cada qual no seu contexto e numa gradativa
evolução.
Sonia Kramer (1995, p.19), concordando com os estudos de Philippe Ariés, sobre o
surgimento da infância, afirma que o que o determina, nada mais é, do que a história
e suas várias modificações nas formas de organização social. Dessa forma, assim
como no período feudal exercia papel produtivo direto, participando da produção, do
plantio e colheita nos campos feudais, na sociedade capitalista, urbano-industrial,
em que a mão de obra é basicamente intelectual ou mecanicista, as crianças
passam a ser cuidadas e educadas para exercerem outro papel social, o de adultos
capazes de se organizarem em fábricas e indústrias, enfim, modelos puramente
capitalistas de organização social.
Ambos, ao analisarem a história do sentimento de criança, concordam com o fato de
que a crianças é o reflexo da sociedade, é ela quem determina o papel que a criança
representa no contexto social e de família, e qual o seu significado e idéia. Como o
adulto vê a criança? Kramer (1995) diz que o adulto vê a criança como um ser
dependente tanto natural como social. No entanto, a dependência social, imposta
por sua autoridade, é o fato que determina esta relação e sentimento que o adulto
tem sobre a criança. O vê como um ser que não desempenha papel na sociedade,
que está sempre às margens, por não participar da produção dos bens materiais e
nem das decisões que precisam ser tomadas em sociedade, dentro do âmbito
familiar.
Depois de compreender como a sociedade percebe a criança, vamos entender a
história da pré-escola no Brasil.
18
II.2 O SURGIMENTO DA PRÉ-ESCOLA NO BRASIL
Trata-se de uma educação para crianças que surge na Europa, inicialmente como
compensatória. Segundo Kramer (1981) este modelo originou-se no pensamento de
Pestalozzi e Froebel e foi expandido por Montessori e McMillan. A educação
compensatória é aquela que supre principalmente as necessidades básicas das
crianças, é aquela que supre a miséria, a pobreza e a negligência das famílias.
Sendo assim:
Cinco conjuntos são, em geral, apresentados como responsáveis pela
expansão da pré-escola nos últimos anos, bem como por seu caráter de
educação compensatória: os de ordem sanitária e alimentar; os que dizem
respeito à assistência social; os relacionados com as novas teorias
psicológicas e sua divulgação ou renascimento; os referentes às diferentes
culturais e os fatores propriamente educacionais. (KRAMER 1981, p.26)
Segundo Kramer (1981) durante a Segunda Guerra Mundial, a pré-escola se
fortaleceu e virou sinônimo de assistencialismo social, já que maioria das mães
trabalhava em indústrias bélicas e muitos de seus pais haviam sido convocados para
a guerra. Kramer (1981, p. 27) relata ainda que “A atenção de professores se voltava
para as necessidades afetivas da criança e para o papel que o professor deveria
assumir, dos pontos de vista clínico e educacional.”
Segundo Duarte (1993), a educação compensatória é definida como aquela que visa
compensar as necessidades afetivas, intelectuais e escolares das crianças que
pertencem às classes sociais marginalizadas, objetivando a preparação para um
futuro com equivalência de oportunidades às demais classes da sociedade.
Oliveira (2002) relata como surgiu a educação compensatória. Afirma que com a
“Revolução Industrial, a sociedade agrário-mercantil transforma-se em urbanomanufatureira”. Com esta transformação as crianças se tornam vítimas de abandono
e maus-tratos. A partir de então, e com o objetivo de mudar esta situação, surgem
instituições para atender e suprir as necessidades destas crianças.
19
Sendo assim, Kramer (1981, p. 29) diz que a “pré-escola era apontada como
solução para os problemas da escola elementar: fatores médico-nutricionais,
assistenciais, psicológicos, culturais e educacionais.”
Relatando a história do atendimento à criança no Brasil, é possível compreender
porque é vista como assistencial até os dias atuais. Segundo Kramer (1995), a
educação compensatória também ocorre no Brasil, até 1889. Diz que existiam
projetos elaborados por médicos, que tratavam especificamente das necessidades
médicas. Como estes projetos não se concretizaram, progrediram os projetos no
âmbito da higiene infantil, médica e escolar.
No final do século XIX, com o ideário liberal, inicia-se um projeto de construção de
uma nação moderna. A elite do país assimila os preceitos educacionais do
Movimento das Escolas Novas, elaboradas nos centros de transformações sociais
ocorridas na Europa e trazidas ao Brasil pela influência americana e européia.
Surge no Brasil a idéia de “jardim-de-infância” que foi recebida com muito
entusiasmo por alguns setores sociais, mas gerou muito discussão, pois a elite não
queria que o poder público não se responsabilizasse pelo atendimento às crianças
carentes. Com toda polêmica, em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo,
eram criados os primeiros jardins-de-infância, de caráter privado, direcionados para
crianças da classe alta, e desenvolviam uma programação pedagógica inspirada em
Froebel (OLIVEIRA, 2002).
Kramer (1971) relata a história da educação pré-escolar no Brasil. Enfatizo o
atendimento público:
[...] Coordenação de Educação Pré-Escolar (COEPRE), DO Ministério da
Educação e Cultura, de caráter público federal, tendo, pois, influencia direta
na determinação das diretrizes do atendimento ao pré-escolar desenvolvido
a nível das Secretarias Estaduais.
Sendo assim, Kramer (1995) expõe que, no início de 1975, houve uma mobilidade
do governo, representado pelo Ministério da Educação, no sentido de atender às
crianças de zero a seis anos. Isto ocorre após o Presidente da República defender a
20
importância dos primeiros anos de vida e solicitar providencia ao Ministério. Este
Ministério empenhou-se neste sentido e, após relatar as conseqüências irreversíveis
que as carências nutricionais acarretam no desenvolvimento físico e mental das
crianças, desenvolveu pesquisas em todo o país com o objetivo de compor um plano
de educação pré-escolar.
Vale ressaltar que desde o inicio o sistema governamental se mostra conhecedor da
importância da educação infantil para o desenvolvimento da criança e a necessidade
de sua implantação pelo poder público.
Segundo Kramer (apud CAMPOS, 1979, p. 53):
De esquecido e ignorado, o pré-escolar foi repentinamente colocado sob os
holofotes de educadores, sanitaristas, assistentes sociais, jornalistas e
autoridades. No inicio de forma discreta, e depois cada vez mais
insistentemente, ele tem-se tornado o alvo de inúmeros programas
governamentais, projetos de pesquisa, reivindicações de grupos privados”
É fato que a educação infantil nasceu na forma de uma educação pré-escolar
puramente compensatória. Para Kramer, a difusão das pré-escolas emerge da
necessidade de compensar as deficiências da sociedade e não de formar e preparar
as crianças para o ensino regular. Nesse sentido, os poderes públicos estaduais e
municipais, bem como entidades empresárias e comunitárias, se emprenharam em
desenvolver programas de educação compensatória. (PARECER CFE nº 2,018 apud
KRAMER)
Como visto, pode-se concluir que a educação infantil surge numa sociedade que
relutou em reconhecer a criança como ser pensante e sujeito de direitos, e dessa
forma, reluta até os dias atuais para reconhecer a transformação garantida que a
primeira etapa da educação básica promove na vida das crianças. O fato de a préescola ser vista pela maioria dos pais de alunos de comunidades carentes como
simples local seguro onde depositar os filhos enquanto vão ao trabalho, é algo
histórico visivelmente explícito por Sonia Kramer quando esta expõe a história da
educação infantil e sua política intrinsecamente compensatória. É cultural pensar na
creche e pré-escola como ambiente puramente dedicado ao cuidar e não ao educar.
21
Neste trabalho, o objetivo é transformar este pensamento afirmando que a educação
infantil é a base e sendo assim, é tão importante quanto as demais etapas da
educação.
22
CAPÍTULO II – ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E
COGNITIVO NA PRIMEIRA INFANCIA
A escola de Educação Infantil surgiu com a função de educação compensatória
como foi descrito no capítulo anterior, e esta idéia persiste no conceito da sociedade,
quando notamos nos pais a intenção de enviar os filhos para a pré-escola sem uma
consciência de que aquele é um ambiente educacional. O que se pretende, portanto,
é reafirmar que esta etapa educacional é de grande importância para o
desenvolvimento da criança. Pois este é o período em que ela está completamente
disposta a absorver conhecimentos, e por ser a pré-escola o ambiente propício a
fornecer uma gama de estímulos e propor estes conhecimentos e experiências.
Conforme o RCNEI (1998, p.17):
Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar
para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve,
principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever
concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as
responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças
pequenas.
E assumir as especificidades da educação infantil significar que a classe docente
precisa pesquisar e aprofundar o conhecimento acerca de tudo o que implica educar
crianças em idade pré-escolar. Significa que o órgão governamental responsável
pelo financiamento da educação infantil, neste caso os municípios, promova um
ambiente educacional de qualidade, no que diz respeito à estrutura das escolas,
materiais de uso e consumo etc.
A especificidade da educação também está ligada à formação dos professores e à
consciência da comunidade. Rever concepções sobre a infância significa
conscientizar a comunidade de que a educação infantil é mais do que mera façanha
assistencialista do governo, de que a criança merece e necessitada de assistência
não somente à saúde, mas principalmente à educação.
23
Dessa forma, este capítulo, ao tratar das fases do desenvolvimento cognitivo da
criança, bem como a relação da afetividade com o surgimento da inteligência,
procura afirmar que a infância é o período ideal para se educar. A infância sendo a
primeira etapa da vida do individuo, requer atenção e uma preparação de qualidade
para ser realmente base da educação, fundamento. Assim como uma casa que
precisa de uma base sólida, a criança também precisa de uma boa iniciação
educacional. A criança precisa viver em um ambiente saudável,
ter atenção e
carinho para se desenvolver. E para tanto há de ser de qualidade e há de ser
devidamente apoiada pelos pais e bem realizada pelos educadores.
A escola de educação infantil atualmente não deve ser vista como instituição que
agregue subsídios como saúde, alimentação e o cuidar, pelo fato de o governo atual
prover esses bens básicos à população através de programas como o Bolsa
Família1, campanhas de vacinação dentre outros programas bem executados pelo
governo atual. Assim, a educação infantil tem condição de alcançar o seu objetivo
que é o de educar as crianças em idade pré-escolar. Salvo de promover a
compensação das dificuldades básicas da sociedade, as creches e pré-escolas tem
a oportunidade de realmente cumprir o seu papel de ambiente facilitador da
aprendizagem com foco educacional e preparatório para o Ensino Fundamental.
Para consolidar este pensamento, Saltini defende a mudança do enfoque
educacional atual, com o objetivo de alertar a sociedade quanto ao novo olhar do
sistema educacional (1998, p. 94)
Diante de toda esta mudança também não devemos esquecer que a relação
com os pais dos alunos deve ter outro enfoque. Enquanto se criava uma
escola para satisfação dos pais, hoje cria-se uma escola para o
“desenvolvimento do pensar da criança”. Para isso passa-se a mostrar aos
pais os objetivos e metas da educação, o que nunca fora feito
anteriormente.
A escola de educação infantil de hoje é livre para cumprir o seu dever de educar.
Pois a sociedade também está livre do pensamento de educação compensatória.
1
O Bolsa Família atende mais de 12 milhões de famílias em todo território nacional. O 4° Relatório
Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio aponta queda da
pobreza extrema de 12% em 2003 para 4,8% em 2008.
24
Hoje, a escola defende o “desenvolvimento do pensar da criança”. Porém, ainda
precisa entender o que é educação infantil. Precisa entender por que as crianças
vão à escola. Precisam entender o que é educar, o que significa educar.
Para elucidar esta idéia, Saltini (1998) conceitua o significado de educar. Para ele
“educar significa ajudar a acordar, ajudar a encontrar no próprio ser o ímpeto, a
saudade, a vontade de agir, buscar e descobrir, de crescer e de progredir”. Além
disso, defende que educar é ajudar a criança a assumir a vida, a perceber o mundo
em sua volta, as possibilidades que a vida pode oferecer e que, todo este processo
deve ser realizado com todo empenho e amor, verdadeira doação por parte dos
educadores, sejam eles pais, professores ou tutores. Dessa forma, o grande objetivo
da educação seria a de ensinar a aprender, para que elas próprias aprendam a
pensar e criar. Além disso, que aprendam a conhecer a si próprios e saberem quem
elas são, pois o ser é mais importante do que o ter, pois é a personalidade que se
carrega por toda a vida e não os bens matérias. São as idéias e a possibilidade de
criar e inventar a partir das oportunidades do momento.
Além do conceito de educação e dos seus objetivos, é importante saber quem é esta
criança, como se desenvolve e como é o processo de aprendizagem, de onde ela
vem, como é o seu cotidiano, em que meio cultural está inserida. Esta é uma
análise que deve ser feita por todo educador. Pois o ponto inicial para ensinar e
educar uma criança, saber quem ela é e como aprende. Neste sentido, Freire (apud
SALTINI, 1967) acrescenta que para ser válida a educação tem que ser bem
direcionada, tendo como base a vida concreta daquele que se vai ajudar a educar; é
necessário refletir sobre a vida real do educando para que se crie uma consciência e
conhecimentos a partir do que ele vive, da cultura em que ele está inserido e de
todas as suas necessidade. Isso para que não se corra o risco de podar as idéias e
a essência do homem, do ser a que se deseja ajudar a educar.
Por que educar? Por que a criança deve freqüentar a escola? Explica Saltini (1998,
p. 58)
Nós buscamos o equilíbrio em tudo o que fazemos e a criança também
assim o faz, somente que de uma maneira mais eficiente para ela e rápida.
25
Ela vai à escola para buscar o equilíbrio e devemos fornecer-lhe a
possibilidade de autoequilibrar-se e de autoperceber-se percebendo o
outro.
Cientes de que a realidade educacional atual sugere a necessidade de rever o
conceito de infância, cientes da necessidade de educar a criança e que ela própria
busca o equilíbrio e sua auto-percepção; surge a necessidade de explicar sobre
como ocorre o desenvolvimento da criança, para que a partir deste conhecimento
sejam formulados os planejamentos curriculares e formas de comunicação para
promover gradativamente os estímulos necessários para seu desenvolvimento. Um
dos principais fatores para que haja a efetivação desse desenvolvimento é a relação
com o meio e tudo que o compõe, isto é, as pessoas e o ambiente.
Nesse sentido, Saltini (1998) relata sobre o fundamento da aquisição de
conhecimentos na criança, isto é, explica sobre a interação entre o meio e o sujeito,
e a conseqüente aquisição de conhecimento. Ele enfatiza a teoria piagetiana com a
idéia de que o sujeito transforma o objeto e o objeto transforma o sujeito, levando
em conta também a afetividade e sua real condição de influenciar esta
transformação, e promover a abstração empírica, que é a capacidade de abstrair
informações dos objetos, a medida em que o sujeito lida com este objeto.
Se o desenvolvimento cognitivo da criança está ligado ao modo como esta se
relaciona com o meio, então se conclui que o ideal para que o desenvolvimento seja
efetivo e de qualidade é enriquecer o ambiente da criança, multiplicar os estímulos e
cercá-las destas possibilidades de se envolver e ter acesso a uma gama de objetos
e pessoas capazes de proporcionar estes estímulos. Ora, não há, portanto local
mais adequado do que a escola para ser este ambiente facilitador de estímulos e
propulsor de conhecimentos. Ainda que sejam crianças pequenas, é realmente a
elas que devem ser ofertadas todas essas possibilidades e toda essa riqueza de
experiências. Neste contexto, a escola representa um ambiente ideal para
desenvolver o conhecimento, valores, atitudes e atributos favoráveis ao meio (DIAS,
1998; SILVA; LYRA; ALMEIDA-CORTEZ, 2003) A família também faz parte da
classe de agentes educadores que farão este papel, ambos com o devido carinho,
atenção e conhecimento.
26
Portanto, definindo a educação como ato de ajudar um ser a se educar, levando em
conta as peculiaridades de sua comunidade e cultura; e, acima de tudo ressaltando
a importância deste ato ser iniciado desde os primeiros anos de vida. A afetividade,
citado por Piaget como fator imprescindível neste processo, o próximo texto analisa
esta relação fundamental entre a afetividade e o desenvolvimento da inteligência.
II. 1 AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA
Mas quem é esta criança a quem se deve educar? Como ela pensa? Como
aprende? De que forma se dá o seu o seu desenvolvimento cognitivo? Por que
freqüentar a escola de educação infantil pode auxiliar no desenvolvimento físico,
social e cognitivo da criança? O desenvolvimento da criança, em todos estes
aspectos, tem uma relação com a afetividade. Leva-se em conta a questão afetiva
na função educativa, como acrescenta Piaget ( apud LA TAILLE,1992, p65):
O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação
possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou
situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico
permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a
Razão está a seu serviço. P. 65
Como explica Gonçalves (2003) desde o nascimento o indivíduo recorre a
afetividade como forma de comunicação, já que sua linguagem ainda não está
desenvolvida. Ela desenvolve o senso perceptivo e assim vai construindo a sua
inteligência. Os movimentos e expressões que inicialmente são involuntários, aos
poucos se tornam um meio de comunicação pois adquirem um significado. Como
estes movimentos são respondidos pelos adultos com o afeto e estes atendem os
seus anseios, as crianças passam a utilizar estas expressões, tais como o choro, a
manhã, etc. como formas de se comunicar e alcançarem os seus objetivos.
Para Rego (1995) a afetividade transforma o indivíduo e é a forma de comunicação
que proporciona o seu desenvolvimento tanto físico, quanto cognitivo. Diz que a raça
humana, diferente das demais espécies de animais, quando bebê é indefeso e
despreparado e precisa contar com o auxilio dos adultos de sua espécie. Essa
27
relação de afeto e atendimento de suas necessidades básicas é mais longa do que a
das outras espécies de animais, pois o ser humano tem o desenvolvimento motor
mais lento.
Complementando este pensamento, Segal ( apud SALTINI, 1982, p.56) diz que:
Os primeiros interesses e impulsos da criança se dirigem para os corpos de
seus pais e para o seu próprio; e são estes objetos e impulsos existindo no
inconsciente que fazem surgir todos os outros interesses pela via da
simbolização.
Winnicott (1990, p.66) afirma que
“Não há possibilidade nenhuma de um bebê
progredir do princípio do prazer para o princípio da realidade ou neste mesmo
sentido, sem que haja uma mãe suficientemente boa”. Saltini (1998, p.113) explica,
complementando, que o papel fundamental da mãe “suficientemente boa” é o de
“suprir quase todas as necessidades e expectativas do seu bebê, contendo suas
ansiedades, evitando frustrações”. Dessa forma, o desenvolvimento do bebê prova
estar intrinsecamente ligado à afetividade. Pois o bebê, assim que tiver passado
plenamente por este processo de desenvolvimento em que a afetividade tenha sido
bem trabalhada, passa a mecanizar a inteligência e criar o abstrato.
La Taille (1992) cita Piaget neste pensamento, mostrando que a afetividade e a
razão estão relacionadas, sendo que a afetividade é o que impulsiona a razão, e
esta por sua vez capacita o desenvolvimento da consciência Piaget (apud
LA
TAILLE 1992, p.65):
[...]a afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a Razão
seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos
variados, e obter êxito nas ações.
A afetividade está ligada ao desenvolvimento da inteligência. Segundo Saltini (1998)
a presença e a ausência da mãe promovem a inteligência. Ele, ao analisar
antropologicamente a essência do ser humano, sua necessidade de, enquanto bebê,
estar sempre amparado por um adulto e receber afeto, talvez pelo fato de ter sido
separado da Mãe-Terra, e por isso ter a necessidade de estar agregado a alguém ou
a alguma coisa enquanto ainda não se constitui a idéia de abstração dos objetos e a
consolidação do raciocínio. Dessa forma, relata que a presença da mãe, que nesse
28
caso é quem vai suprir as necessidades do ser humano enquanto bebê, projeta
quem este ser se transformará, se for um bebê que recebe afeto e cuidados se
sentirá bem e refletirá isso futuramente; senão esta ausência frustrada refletirá em
maus sentimentos. Daí a importância do afeto e do cuidado no processo do
desenvolvimento dos bebês.
Para Wallon (apud PEREIRA, 1995) a afetividade nada mais é que a ação da
emoção, e essa atividade promove o surgimento da consciência. Ele especifica que
essa atitude unifica os indivíduos desencadeando a tomada de consciência do
indiíduo.
La Taille aponta o pensamento de Vygotsky que concorda com Piaget ao afirmar
que o afeto promove o desenvolvimento da inteligência, e estas estão interrelacionadas.
Para
Vygotsky
(apud
LA
TAILLE
1992)
“
a
organização
dinâmica da consciência aplica-se ao afeto e ao intelecto”. Esse processo
denominado interfuncionalidade, por compreender que a consciência surge das
inter-relações e influências mútuas, nada está separado (afeto, meio, sujeito) mas
são ingredientes do processo e se desenvolvem inteiramente enraizados.
Para Wallon (apud PEREIRA, 1995) a afetividade permite o desenvolvimento da
inteligência, pois “entre a emoção e a atividade intelectual emergem uma “intuição
prática” que precede de longe o poder de discriminação e de comparação, tarefas da
inteligência”.
Segundo Wallon (1995, apud PEREIRA,) “A inteligência é o conjunto de funções,
atitudes, atividades ou operações gerais e específicas que permitem interação do
indivíduo com o meio em diferentes domínios e direções”, estas funções dependerão
dos estímulos e interações entre o sujeito e o ambiente.
Para Vygotsky (apud LA TAILLE, 1992) a psicologia tradicional comete equívoco
quando determina o estudo dissociado da inteligência e do afeto, quando “apresenta
o processo do pensamento como um fluxo autônomo de pensamento que pensa por
si próprios”.
29
Wallon (apud LA TAILLE, 1992) descreve o afeto como impulso-emocional. Em sua
teoria, a afetividade é o centro do estudo. Ele afirma que a afetividade impulsiona o
ser e promove tanto a aquisição do conhecimento quanto a formação do ser. Sendo
assim, ele considera a afetividade como o ponto de partida do psiquismo, por ser ela
uma fase do desenvolvimento, que inclina para a inteligência.
Para Saltini (1998) os educadores e pais devem se atentar para a importância do
investimento afetivo. Deve ser primordial nas relações educacionais, sejam elas
entre pais e filhos, professores e alunos, mães e bebês, pois é capaz de
fundamentar o processo físico e intelectual. Diz que o processo educacional deve
estar além das disciplinas e promover a vida que é feita de laços e relacionamentos.
Vygotsky (2003) reafirma a importância da afetividade na escola, nas aulas e
defende que o sentimento e a emoção devem constituir o fundamento do processo
educativo. Para ele o educando, mais que aprender determinadas matérias, precisa
sentir a influência delas em sua vida, assim a compreensão é mais efetiva.
Diante desta idéia, Saltini (2003) reafirma essa relação entre afetividade e
inteligência e explica que, assim como os bebês desenvolvem com os pais laços de
afetividade que tornam possível a tomada de consciência e o desenvolvimento
físico, social e mental, ao ingressar nas creches e pré-escolas esta relação continua
com o professor. O educador se põe na posição de ancora emocional-afetiva e se
torna a base para a criança continuar o seu processo de desenvolvimento. É dessa
forma que a criança visualiza o educador, como uma extensão dos seus pais.
Nesse sentido, acrescenta Vygotsky (2003, p. 117 – 118):
Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o
pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente
estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato
impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um
feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu
sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o
pensamento.
30
Dessa forma, ao longo do desenvolvimento o objetivo do homem é o de se integrar,
de se unir tanto dentro quanto fora de si. E para isso a presença da família e da
escola é de suma importância. A família por que é a primeira instituição que
promove a educação, e estabelece o primeiro laço afeto/inteligência. E a escola por
ser a segunda família, neste contexto, a que integra com a família o ato educativo,
numa versão pedagógica e por isso também considerando o afeto tendo como
agentes os educadores. A afetividade, que é parte integrante do sistema de
desenvolvimento da criança também necessidade da participação dos pais na esfera
educacional, como defende Saltini (1998, p. 90):
Promover a participação dos pais na escola e até na sala de aula. O
educador poderá pedir aos pais que venham falar do que sabem e do que
fazem em sua profissão, na medida do interesse das crianças por um
determinado tema, fazendo as devidas ligações das declarações dos pais
com os fatos evidenciados pelas próprias crianças.
Nesse sentido, defende-se o ato educativo ressaltando a importância da afetividade.
É dessa forma que ocorrerá o processo de desenvolvimento cognitivo, enfatizando o
afeto e promovendo neste fundamento uma educação de qualidade.
II – 2 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Investigar como ocorre o desenvolvimento cognitivo das crianças é o objetivo de
pesquiadores e estudiosos da psique e da educação, como Piaget, Wallon, Freinet e
Vygotsky, Bock, dentre outros. Segundo Bock (2002) “O desenvolvimento humano
refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico”.
Conforme se verificou até aqui, é fato que há uma relação intrínseca entre a
inteligência e a afetividade, promovendo o desenvolvimento cognitivo da criança.
Mas como ocorre este desenvolvimento? Qual a sua importância para o
desenvolvimento da criança? Quais os fatores responsáveis por este processo?
No campo da psicologia existem três importantes teorias que explicam como ocorre
este desenvolvimento. São o inatismo, o empirismo e interacionismo.
31
Rogers (1977) defende a teoria inatista. De acordo com esta teoria, a criança já
nasce com o conhecimento pré-formado, assim as forças externas não teria
nenhuma influencia sobre o seu desenvolvimento. Ele explica:
A psicoterapia não se substitui às motivações para esse desenvolvimento
ou crescimento pessoal. Este parece ser inerente ao organismo, tal como
encontramos uma tendência semelhante no animal humano para se
desenvolver e atingir a maturidade fisicamente, processo em que se exigem
um mínimo de condições favoráveis. (ROGERS, 1977, P. 63)
Já na teoria empirista, acredita-se que a criança adquire e constrói o cognitivo a
partir de experiências sensoriais. Dessa forma, a mente da criança é considerada
vazia e ela se coloca na posição passiva, recebendo o conhecimento transmitido
pelo professor. Esta teoria é defendida por Watson (1930, p.6):
Nós podemos observar o comportamento – o que o organismo diz ou faz.
E vamos deixar claro de uma vez que falar é fazer – isto é, comportamento.
Falar abertamente ou para nós mesmos (pensar) é um tipo de
comportamento tão objetivo como o baseball. [...]qualquer objeto no
ambiente geral ou qualquer mudanças no organismo devido a condições
fisiológicas [...]qualquer coisa que o indivíduo faz.
Da teoria empirista deriva o Behaviorismo. Também defendido por Watson. Para Del
Ré (2006) o Behaviorismo é baseado numa proposta empirista cujo conhecimento
humano se deriva da experiência, das “associações entre estímulos ou entre
estímulos e respostas”.
Há também a teoria que afirma ser a relação entre o sujeito e o objeto a responsável
por desenvolver a inteligência e aprendizagem da criança. Esta teoria é a
interacionisma defendida por Jean Piaget e por Levi Vygotsky.
O interacionismo é o fundamento da corrente teórica denominada construtivista que
explica como a inteligência humana se desenvolve a partir do estudo de Piaget. Ele
defende a corrente construtivista. Para Célia (2003, p.68):
O construtivismo é um grande paradigma teórico que concebe o
desenvolvimento assentado em quatro grandes princípios (Dornelles, 1999):
é interacionista, ou seja, nos remete para o fato de que o conhecimento é
construído em interação – com o mundo dos objetos, dos fenômenos e com
32
os outros seres humanos – opondo-se assim às concepções behavioristas e
inatistas; é genético, o que quer dizer que há uma gênese e um
desenvolvimento em todos os processos da construção; é dialético, o que
supõe um movimento e um dinamismo contínuo da criança com o mundo
que a cerca e é estruturalista, pois se apóia em estruturas e formas de de
organização da atividade mental que vão se diferenciando e se integrando
às estruturas anteriores no decorrer do desenvolvimento.
Dentre as três teorias citadas acima, este trabalho se atem à teoria interacionista,
por acreditar serem as relações entre os indivíduos e os objetos as responsáveis por
desenvolver os aspectos cognitivos, sociais, físicos e emocionais das crianças.
Além da afetividade, nota-se que o meio em que a criança está inserida também faz
parte do processo de desenvolvimento, por serem estas estruturas externas
(pessoas, ambientes, objetos) os agentes que o propiciarão. O desenvolvimento,
segundo Piaget, Wallon e Vygotky, se dá por etapas, nas quais vão se aprimorando
gradativamente. Para Wallon (apud GALVÃO, 1995, p.27) as crianças se
desenvolvem sob etapas claramente diferenciadas que obedecem uma ordem
necessária com dinâmica de determinações recíprocas, a partir da cultura e do
contexto no qual estão inseridas, retirando deste contexto os recursos para o seu
desenvolvimento que vão se transformando juntamente com a criança. Assim, “o
desenvolvimento tem uma dinâmica e um ritmo próprios, resultantes da atuação de
princípios funcionais que agem como uma espécie de leis constantes”.
Estudos sobre o desenvolvimento da criança permitem compreender as principais
etapas e fases em que as crianças passam nos anos iniciais de sua vida, os de
maior importância para o indivíduo, pois nestes anos é que se concretizam traços da
personalidade, nestes primeiros anos é que ficam marcadas as experiências em
todos os aspectos. Segundo Wallon (1995 apud Galvão) “[...]sobretudo no que tange
à exigência de a escola encarar a criança como ser total, concreto e ativo e de
manter-se em contato com o meio social”. O desenvolvimento humano consiste no
desenvolvimento
mental e
orgânico. É importante que as
etapas
deste
desenvolvimento sejam conhecidas pelos educadores e pelos pais, pois assim é
possível conhecer as características de cada faixa etária e compreender o processo
de aprendizagem.
33
De acordo com Dante (1996) “Ao contrário do que muitos pensam a criança não é
um adulto em miniatura. É um ser em formação.” A escola, considerada
continuidade da família, é uma instituição social que tem por objetivo propiciar o
desenvolvimento físico, social e cognitivo das crianças. Dessa forma, os integrantes
desta instituição, assim como os pais destes alunos, precisam estar cientes de como
educar, precisam estar ciente de quem são as crianças, como são, como pensam,
como aprendem.
Compreender
o desenvolvimento da criança, quais são as fases deste
desenvolvimento e o que ocorre em cada uma delas, é importante para o educador e
para os pais, no sentido de verificar se a criança está atingindo o desenvolvimento
necessário para a sua faixa etária. Também é importante para dirigir o planejamento
curricular e estimular a criança conforme a etapa em que se encontra, para assim
alcançar a etapa seguinte. Para Wallon (apud GALVÃO, 1995) o estuda da criança
contextualizada permite que se perceba as peculiaridades das interações entre o
sujeito e o objeto, e dessa forma, compreender que se desenvolvem a partir do
contexto cultural na qual estão inseridas.
Segundo Wallon (1995, apud GALVÃO) há que se observar também a qualidade do
estímulo e do ambiente em que esta criança irá se desenvolver. Pois cada uma está
inserida em uma realidade e cultura diferente, cada uma recebe estímulos diferentes
e isso faz com que nem todas atinjam determinada tarefa própria do
desenvolvimento e da faixa etária em que se encontra.
Piaget, assim como Wallon, defende estes fatores orgânicos e do meio social em
que estão inseridas as crianças. São fatores indissociados que influenciam o
desenvolvimento humano:Hereditariedade: a carga genética estabelece o potencial
do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. A inteligência pode desenvolver-se
de acordo com as condições do meio em que se encontra.
Pikunas (1979) explica que a hereditariedade é fator importante, pois continuam a
predispor e a estimular os indivíduos por toda a vida. “A hereditariedade é um
processo, do decurso de cujo desenvolvimento emergem os traços genéticos”.
34
Para Pikunas (1979) as características do meio em que a criança está inserida
influenciam o seu desenvolvimento. Sendo assim, afirma que a criança carece de
um ambiente e estímulos favoráveis.
Segundo Galvão (1995) além da inegável relação entre o meio e o desenvolvimento
da criança, ele nota que “o desenvolvimento tem uma dinâmica e um ritmo próprios,
resultantes da atuação de princípios funcionais que agem como uma espécie de leis
constantes”, portanto o meio por si só, não imprime a totalidade da personalidade da
criança, mas é fator relevante neste processo.
Segundo Piaget (1982), para este desenvolvimento há que se observarem os
seguintes aspectos:
 Aspecto físico- motor - refere-se ao crescimento orgânico, à maturação
neurofisiológica;
 Aspecto intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio;
 Aspecto afetivo-emocional – é o modo particular de o indivíduo integrar as
suas experiências. A sexualidade faz parte desse aspecto;
 Aspecto social - é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que
envolvem outras pessoas.
Piaget (1982, apud BELLO) observou e descreveu as etapas do desenvolvimento da
criança e sua relação com o mundo que a cerca, dividindo-o em fases distintas a
saber: período sensório motor, que se estende do nascimento até os dois anos de
idade, em que, percebe-se a ausência de função semiótica, incorporando as
percepções e as ações voltadas para satisfazer seus desejos imediatos fisiológicos
e alimentares.
Já no período simbólico, dos dois aos quatro anos, agora voltados para a sua
realidade de vida, em que tudo a sua volta lhe pertence. A criança, nesta etapa, já
constrói e imagina utilizando-se da linguagem e simbolismo para formatar o que lhe
interessa e interagir com a sociedade. O período intuitivo, dos quatro aos sete anos,
caracteriza-se pela não aceitação dos fatos que lhe são apresentados (Papai Noel,
35
Cegonha) e começa o tempo da argumentação, dúvidas e questionamentos. É dos
sete aos onze anos, a fase de fixação da personalidade.
O período operatório concreto proporciona à criança o direito de escolha de seu
lugar no contexto social pois já tem noção de formalizar sua opinião pela avaliação
das proporções podendo tomar decisões. Por fim, dos onze anos em diante,
chamado período operatório abstrato, aflora a inteligência na sua forma hipotéticodedutivo, na qual já totalmente incluído em um grupo social se auto afirma pela
possibilidade de projetar, deduzir, alterar e constituir sua visão de futuro.
Já para Wallon a seqüência de estágios proposta é a seguinte:
 Impulso emocional (0 a 1 ano)
 Sensório Motor e Projetivo (1 a 3anos)
 Personalismo (3 a 6 anos)
 Categorial (6 a 11 anos)
 Puberdade e adolescência (11 anos em diante)
Wallon (1995, apud GALVÃO) descreve os períodos de desenvolvimento da criança.
O primeiro ano de vida, marcado pela predominância do afeto e da emoção, é
chamado de estágio impulsivo emocional. Já até os três anos, é denominado de
estágio sensório-motor, por enfatizar a exploração sensório-motora, além de ser a
fase do desenvolvimento da função simbólica e da linguagem, predominando a
inteligência prática e simbólica. Na faixa dos três aos seis anos, o estágio do
personalismo, através da socialização se consolidam relações e interesse das
crianças por pessoas. Progride nesta fase também, o intelecto e o interesse por
coisas, pelo conhecimento e conquista do mundo exterior.
A partir destes conhecimentos é que os professores planejarão atividades
adequadas ao desenvolvimento de cada estágio.
36
É importante perceber como ocorre o desenvolvimento da criança, porém ainda mais
importante é ter a consciência de que a aquisição da inteligência, as estruturas
cognitivas, o desenvolvimento físico, social e psíquico ocorrem na primeira infância.
Por isso, a educação infantil é uma fase importante, Este é o momento crucial para
aprender como fazer, para prender a se socializar e aprender o gosto de aprender.
Segundo Wallon (1995, apud GALVÃO) “o desenvolvimento infantil é um processo
pontuado por conflitos” Conflitos de origem exógena e endógena. Os conflitos de
origem exógenos são aqueles que as crianças mantêm com os adultos e a cultura e
contexto na qual estão inseridas. E os de natureza endógena estão relacionados
com efeitos da maturação nervosa. Estes conflitos acabam por provocar desordem
nas formas de conduta já estabelecidas na relação com o meio.
A função da educação seria a de atenuar estes conflitos e guiar a criança, auxiliá-la
na descoberta dos conceitos e experiências que permeiam o mundo que esta
prestes a descobrir. O educador é o agente educativo que proporcionará o
desenvolvimento a partir de seus conhecimentos a cerca do desenvolvimento da
criança e de técnicas educacionais pertinentes.
Sobre estas técnicas, Wallon (1975) estudou e determinou um conceito denominado
Zona de Desenvolvimento Proximal, no qual explica que a criança, por ser um ser
afetivo e desenvolver-se com o auxílio de um adulto, aprende e acordo com o
estímulo oferecido. Este estudo permite ao educador entender como o aluno
aprende e também ajuda a avaliar o grau de desenvolvimento.
A partir da compreensão do processo de desenvolvimento infantil, é possível
entender o fundamento da educação. Compreender que a escola é o ambiente ideal
para propiciar este desenvolvimento é o fundamento para compreender que a
creche e a pré-escola têm sua função educativa e não são apenas espaços para
“deixar” as crianças. As creches e pré-escolas são locais próprios para estimular a
inteligência através de experiências sociais, físicas, emocionais e cognitivas.
Portanto, defender a permanecia das crianças na Educação Infantil é defender o
futuro de uma nação mais consciente, mais cidadã e melhor desenvolvida social,
cultural e cognitivamente.
37
CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO INFANTIL: DIREITO DE TODOS, DEVER
DA SOCIEDADE
A educação é um direito da sociedade garantida na Constituição Federal de 1988. E
a partir da interpretação desta lei, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de 1996 estabeleceu a Educação Infantil como parte da Educação Básica e de
responsabilidade dos municípios. A sociedade tem o direito de educação gratuita
para seus filhos de zero a seis anos, determinada pela Constituição Federal e
estabelecida pela Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996
(LDB) com a principal finalidade de promover o desenvolvimento integral da criança:
Art. 29º - A educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade,
em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.
Assim como a LDB, o Estatuto da Criança e do Adolescente, normatizado pela Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990, também garante o direito à educação a todas as
crianças e adolescentes:
Art. 3° - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de Ihes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Todas estas leis estabelecem o direito das crianças à educação, após anos de
discussão em torno da necessidade de educar crianças nesta faixa etária. Infância é
um período especial do desenvolvimento, por isso a etapa da educação infantil é de
grande importância para o desenvolvimento da criança até os seis anos de idade.
(SABINI,1993),
A educação é a única ação que proporciona o desenvolvimento do indivíduo
preparando-o para ser um cidadão pleno de seus direitos e deveres. Além de ser
direito de toda a sociedade, das crianças e dos pais, a educação infantil também é
um dever. É dever da sociedade promover educação e manter os filhos na escola,
38
instituição gratuita. Sendo gratuita, a educação torna-se um bem comum e por isso
obrigatório. Conforme a nova LDB:
Art 2º – A educação dever da família e do estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
O ECA concorda com o princípio de que a educação é dever da sociedade:
Art. 4° - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.
A educação infantil é direito de toda a sociedade. Todo direito implica um dever.
Dessa forma é dever da sociedade manter os filhos nas escolas, garantindo-lhes
condições de freqüentar e participar das ações educativas. É dever também da
sociedade promover atos educativos, lembrando que a educação não existe
somente dentro dos muros das escolas, mas a educação compõe todos os atos ou
atividades que promovem mudança de comportamento a partir de informação e
formação. Vale ressaltar as ONG’s e sistemas públicos que promovem cultura,
teatro, aulas de dança, canto dentre outras atividades de formação e cultura.
O objetivo do Estado é o de desenvolver indivíduos aptos para exercer a cidadania.
Cidadãos que componham o mercado de trabalho. Esta é a preocupação do país. E
para isso garantem a educação básica. Mas esta educação deve começar cedo,
para que o indivíduo tenha uma base sólida, para que desde muito pequeno adquira
valores pátrios, adquira conhecimento e formação capaz de inseri-lo na sociedade e
contribuir com seus valores culturais, sociais e intelectuais.
Esta é a linha de pensamento dos países desenvolvidos. Se o país é formado por
pessoas, que sejam pessoas de qualidade. E pessoas de qualidade são aqueles
cidadãos comuns que contribuem com seu trabalho, seu conhecimento, sua vida em
prol de uma sociedade melhor. Pessoas que tiveram a oportunidade de serem bem
educadas, que tiveram acesso à cultura e ao conhecimento.
39
A educação possibilita o desenvolvimento desta idéia, de que o indivíduo deve
contribuir para a sociedade, criando qualidade de vida para si e para o próximo. A
educação é que tem o objetivo de proporcionar todo este acesso à cultura e à
formação destes indivíduos.
O ECA pontua esta verdade:
Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Il - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo
único - É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Partindo deste pressuposto, a LDB seguindo o que foi proposto pela Constituição
Federal de 1988, defende o atendimento gratuito às crianças de zero a seis anos de
idade em creches e pré-escolas:
Art 4º IV: atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de
zero a seis anos de idade.
Neste mesmo sentido, o ECA discorre:
Art. 54 IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
anos de idade.
Ambas leis seguem em conformidade com a Constituição Federal.
É importante ressaltar que a educação infantil passou a fazer parte da Educação
Básica em 1996 com a LDB. Esse ato potencializou a educação infantil, conforme
trecho da carta redigida pelo então Ministro da Educação e do Desporto, Paulo
Renato Souza, inserida no documento RCNEI – Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil. Neste trecho ele ressalta a importância do currículo como
documento que direciona os educadores e os alerta de que são educadores de
crianças e estas apresentam suas peculiaridades, estes educadores, portanto
devem apresentar a postura de profissionais que atendem a crianças, e por isso
40
incorporem às atividades educativas os cuidados essenciais das crianças e suas
brincadeiras.(RCNEI, 1998)
O RCNEI é o documento que defende a qualidade da educação infantil a partir do
momento em que organiza o currículo levando em conta as peculiaridades do
desenvolvimento da criança tais como as dimensões afetivas, emocionais, sociais e
cognitivas. Dessa forma, o RCNEI (1998, P.13) enumera os princípios que devem
nortear o currículo do sistema de educação infantil:
Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e
cognitivas das crianças de zero a seis anos, a qualidade das experiências
oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania devem estar
embasadas nos seguintes princípios:
• o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas
diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas
etc.;
• o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão,
pensamento, interação e comunicação infantil;
• o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o
desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à
interação social, ao pensamento, à ética e à estética;
• a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas
mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma;
• o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao
desenvolvimento de sua identidade.
As especificidades descritas neste parágrafo são de fundamental importância para
contribuir para o desenvolvimento da criança em sua totalidade. Ainda há de
enfatizar a importância de dispor de profissionais qualificados para exercer a função
de educadores destas crianças. O RCNEI aborda a questão da dicotomia entre
educar e cuidar como já superada e a coloca como parte do educar, pois ambas são
formas intrínsecas do ato de educar. Isto é, educar é cuidar e cuidar é educar.
Com o intuito de garantir a qualidade da educação básica, a LDB, em seu artigo 87,
define:
[...] a União, no prazo de um ano a partir da publicação desta lei,
encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com
diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a
Declaração Mundial de Educação para Todos.
Saviani (2001, p.3) completa:
41
[...] É, pois, de fundamental importância que se retome a perspectiva aberta
por ocasião do Primeiro Congresso Nacional de Educação realizado em
Belo Horizonte entre 31 de julho e 03 de agosto de 1996, cujo objetivo
central foi à reunião de subsídios para elaboração do Plano Nacional de
Educação.
A partir de então cria-se um plano que tem como principal objetivo garantir além do
direito à educação, a qualidade da mesma. E garantir que esta qualidade saia do
papel, que ele seja efetivada em todas as esferas da rede pública de ensino. Dessa
forma, Saviani (2000) defende o Plano Nacional de Educação, por concluir que este
documento aponta definições e metas para que o poder público atenda à sociedade
com boas escolas que proporcionem e projetem todos os itens e fatores necessários
para oferecer uma educação de qualidade.
Segundo Saviani (2000) o Plano Nacional de Educação definiu metas a serem
estabelecidas no prazo máximo de 10 anos a contar de 2001. Para o sistema de
educação infantil foram estabelecidas metas que pudessem garantir a qualidade do
ambiente destinado às creches e pré-escolas, a qualidade do currículo, e a
qualidade dos profissionais engajados na educação destas crianças.
Portanto, leis existem no sentido de garantir a educação e sua qualidade. Desse
modo, há de definir um perfil de sociedade que perceba não apenas as dificuldades
do sistema educacional. Mas que reconheça nestas leis o seu direito e diante disso
cumpra com o seu papel, que trate com o dever de manter os filhos nas creches e
pré-escolas, pois elas não são depósitos de criança, mas ambiente propício para a
sua formação educacional.
42
CAPÍTULO IV - RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Este capítulo tem por objetivo realizar uma análise comparativa dos resultados da
pesquisa de campo com o referencial bibliográfico estudado na pesquisa.
Com o intuito de conhecer a opinião dos pais e professores sobre a importância da
educação infantil, foi escolhida a turma de Pré I do CEMEI “Maria Gama Dos Santos”
localizado no bairro Aeroporto, como uma amostragem para ilustrar o problema que
é a falta de reconhecimento e de importância que alguns pais dispensam à
educação infantil.
Ao introduzir o assunto, tema e problema deste trabalho, foi relatado que
determinada professora da rede municipal de ensino de uma creche da cidade de
Guarapari, queixou-se da participação praticamente nula dos pais de alunos. Nesse
sentido, visitei esta professora e sua turma citada num dia de reunião de pais para
observar então como era esta participação. A turma contém 20 alunos matriculados,
dos quais somente 10 participavam da reunião.
Nesta oportunidade, conversei com a professora que permitiu que um questionário
fosse entregue a eles com o objetivo de responder às perguntas diretas e indiretas,
todas para pesquisar a opinião dos pais sobre a freqüência de seus filhos na escola
de educação infantil.
Dos 20 alunos que se encontram matriculados na turma, apenas 12 pais
participaram da entrevista devolvendo os questionários distribuídos. Assim já se
pode perceber que realmente a participação dos pais não é efetiva. Por tratar-se de
uma instituição pública localizada em bairro de periferia, define-se o comportamento
dos pais diante do reconhecimento da escola gratuita para seus filhos.
Há ainda aqueles pais que trabalham durante todo o dia e não disponibilizam de
tempo para acompanhar os estudos inicias de seus filhos. Existem também famílias
em que as crianças são tutoradas pelos avôs. Inclusive na dita reunião, havia a
presença de um deles.
43
Tanto a professora quanto os pais foram questionados. No questionário (em anexo)
da professora, que continha questões abertas, a primeira pergunta se referia à sua
formação profissional, ao qual de forma livre respondeu que sua formação era em
Pedagogia e pós-graduação em Orientação Educacional e Psicopedagogia.
A segunda pergunta era sobre o tempo de atuação em educação infantil. Esta
professora diz que atuou em 1994 e 1995 e em 2010 há 6 meses.
Quando perguntada sobre a sua opinião sobre os maiores desafios para os
educadores da etapa da educação infantil, ela responde que são “a infra-estrutura e
os salários”
A quarta pergunta questiona sobre como estes desafios podem ser superados. Em
sua opinião deve “lutar por uma educação de qualidade”.
Quando questionada sobre a sua postura quanto educador, a professora responde
que se considera “uma boa educadora, pois gosta do que faz e sempre está
inovando”.
A sexta pergunta é sobre como ela avalia a participação dos pais, ao qual responde
que “40% estão sempre presentes”.
A última questão indaga sua opinião sobre a importância da educação infantil. Para
ela a “Educação Infantil é um caminho para compreender o processo de
aprendizagem, além de desenvolver a criança nos aspectos físicos, cognitivo, motor,
emocional e social’.
O questionário distribuído aos pais (em anexo) aborda questões sobre a importância
da educação infantil.
Foram 17 questões que permeavam a importância da educação infantil para seus
filhos. A maioria dos entrevistados disse compreender a educação infantil como
etapa fundamental na vida de seus filhos. Porém, como a questão é a participação
44
destes, percebe-se que 40% dos pais não participaram da entrevista, mostrando,
portanto, que diante das questões que tratam da qualidade da educação de seus
filhos e da participação nesse processo, ainda há que melhorar.
A escola, ambiente exclusivamente educacional, compreende a participação dos
pais e de toda a sociedade. Nas reuniões de pais, e nos conselhos de escola, que
também contam com a sua participação, é o momento ideal de expor a importância
de sua participação no processo educacional de seus filhos, assim como a
importância desta etapa para o desenvolvimento de seus filhos.
Nesta pesquisa bibliográfica foi possível reunir as idéias dos autores mais influentes
na área pedagógica e compreender que a educação infantil é sim a etapa mais
importante do processo educacional. Com a análise das fases do desenvolvimento
da criança pode-se concluir que por ser a fase de desenvolvimento infantil o mais
propício para ensinar, é a fase em que a criança aprende com mais facilidade e é
possível criar a base educacional. Assim como uma planta que precisa ser regada
enquanto semente, a criança precisa ser bem estimulada na época de seu
desenvolvimento.
A história da educação infantil no Brasil revela um início de ensino não muito
preocupada na essência do ato pedagógico, como visto, era primordialmente
compensatório, alcançando somente a partir dos anos 80 o objetivo de educar e
ensinar já na pré-escola e preparar as crianças para o ensino regular.
O fato de a educação infantil ser encarada pela maioria dos pais de alunos e, por
que não dizer pela maioria da sociedade, como “depósito de crianças” se deve ao
fato de historicamente ela não ter sido iniciada com este propósito. É cultura de
nossa sociedade não se importar com a educação e, como inicialmente tinha caráter
compensatório, é vista até os dias atuais como apenas um direito garantido pela
Constituição, porém sem ser dispensada a devida importância.
Mas com a análise das leis e diretrizes que o governo de nosso país dispõe sobre a
educação infantil, principalmente nos últimos anos, conclui-se que a sociedade têm
atentado mais para este aspecto. O número de crianças matriculadas aumentou,
45
mas os pais têm entendido a pré-escola como período de fundamental importância
para o desenvolvimento dos seus filhos? Ainda que não seja a maioria o que vale é
iniciar este processo.
Com a análise dos documentos que garantem uma educação de qualidade e traçam
metas para atingi-la a curto
prazo, conclui-se que os órgãos responsáveis por
garantir a qualidade e o direito à educação Infantil têm cumprido a sua parte.
A partir dos anos 80, e agora com o Plano Nacional de educação, a sociedade
começa a colher os frutos da Educação Infantil.
Portanto, 30 anos de organização no setor da Educação Infantil já podem ser
percebidos na sociedade atual com adultos bem formados, que alcançam o nível de
Ensino Superior, e que prestam concursos, que se têm consciência de preservação
ambiental. São pessoas que passaram pela Educação Infantil e que agora podem
oferecer à sociedade os frutos de uma base educacional bem estabelecida.
46
CONCLUSÃO
Considerar a pré-escola como ambiente educacional e socializador e não apenas
como “depósito de crianças” foi o objetivo central deste trabalho. Com a intenção de
conscientizar tanto os pais quanto os educadores de que a pré-escola não é
“escolinha”, mas a etapa propícia para formar o indivíduo que se encontra em plena
fase de desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo. A educação infantil é
etapa fundamental da Educação Básica.
Neste sentido, o trabalho buscou entender o que é a pré-escola, como ela surgiu,
quem são e como se desenvolvem as crianças, que são os personagens principais
neste contexto. Também procurou pesquisar sobre a legislação pertinente e a
questão da qualidade desta etapa da Educação Básica. Foram abordadas questões
pertinentes ao assunto, tal como a história da pré-escola, o processo de
desenvolvimento infantil e as leis que direcionam e incentivam a sociedade a manter
seus filhos na Educação Infantil.
A partir da análise da história da pré-escola conclui-se que esta surgiu inicialmente
como assistencialista, mas que na atualidade já superou este caráter e definiu a
função de educar além de somente cuidar.
Ao expor as fases do desenvolvimento infantil, foi possível perceber que o
crescimento infantil é um processo lento e interligado, em que as fases vão se
completando e enriquecendo umas às outras, através das experiências e contato
com o meio e relações com as pessoas, vão se aprimorando e evoluindo
constantemente, até que se mantenha equilibrado.
Neste processo, é importante ressaltar a intervenção dos adultos. E esta
intervenção nada mais é do que o acompanhamento da família e os estímulos
propostos pelos educadores quando as crianças estão inseridas na pré-escola.
Dessa forma, faz-se necessária a intervenção da Educação Infantil como agente
orientador deste processo de desenvolvimento.
47
Conforme o documento redigido pelo MEC, em Junho de 2010, intitulado
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil, (p.27) a freqüência à
pré-escola [...] “favorece o desenvolvimento da criança, a duração da freqüência é
importante, e o início antes dos 3 anos de idade pode ser relacionado com maior
desenvolvimento intelectual”. E desenvolver intelectualmente é o objetivo da
educação infantil, que tem no lúdico a oportunidade de construir conhecimento.
Diante do que foi exposto, atenta-se para a qualidade desta educação oferecida pelo
poder público e também pela iniciativa privada, já que o Governo estabelece na
Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990 e
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a lei 9394/96 que deve ser
oferecida educação para as crianças de 0 a 6 anos de idade em creches e préescolas. Quanto à qualidade das práticas nas pré-escolas, foi evidenciado que está
diretamente relacionada a melhores resultados no desenvolvimento intelectual e
sócio-comportamental das crianças.
A qualidade da Educação Infantil depende do apoio e da organização financeira,
administrativa e pedagógica do poder público.
Também como fator de qualidade, é importante ressaltar a questão da disposição do
espaço no prédio escolar. Não se fala aqui de espaços gigantes, mas que
independente do tamanho que seja confortável e delicadamente preparado para
trabalhar e realizar tarefas em grupo, como dramatizações, atividades rítmicas e
todas aquelas que proporcionam movimento aos alunos.
Neste trabalho buscou-se entender por que motivo os pais não valorizam como
deveriam as creches e pré-escolas, mas a tratam apenas como depósitos de
crianças. E ao analisar a qualidade na educação infantil, verificou-se que implica
relacionar os agentes deste fator. Uma escola para oferecer qualidade deve atentar
para o espaço físico, para a formação dos profissionais e para a participação dos
pais. O espaço físico engloba não somente o espaço da escola, mas a proposta é
que este espaço possa abranger o lar e a família, proporcionando um ambiente
propicio para a educação, como uma continuidade da escola, assim como a escola é
48
considerada uma continuidade do lar. Que os pais participem do ambiente escolar
para compreendê-lo e estendê-lo ao seu lar.
Ora, se o meio é importante fator para o desenvolvimento pleno da criança, que nas
escolas haja espaço rico, amplo e bem utilizado, bem programado pelo professores
como recurso pedagógico.
Diante do que foi estudado, há que se observar que a escola para ser considerada
de qualidade, deve ser para a criança, porque precisa pertencer ao mundo da
criança, e por isso ser ornamentado para elas e conter os elementos necessários
para o seu desenvolvimento. A escola precisa ser rica em conhecimento e gerar
oportunidades de criação, deve promover o desenvolvimento lingüístico, motor,
musical e cientifico. Também é uma escola de qualidade aquela que caminha junto
com a comunidade e que permite a sua participação, justo pois está inserida na
comunidade e educa para a comunidade.
Pode-se concluir que a qualidade na Educação Infantil requer três finalidades
básicas. Observa-se que são as mesma que substanciam a finalidade deste
trabalho. Nada mais é do que reconhecer a criança como sujeito de direito e ser
altamente educável, e que, portanto ,necessita de ser educada; reconhecer a
necessidade de compreender como esta criança se desenvolve e por última, mas
não menos importante, a tão desejada participação de toda a comunidade, dos pais
de alunos.
Fomentar a participação dos pais é buscar reforços para educar, é entender que a
escola não educa sozinha. Ter a consciência de que os pais são importantes para a
escola é conscientizá-los de que a Educação Infantil é a etapa mais importante da
vida de seus filhos.
49
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ANEXOS
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Documentos relacionados