RESUMO EXECUTIVO E RECOMENDAÇÕES
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RESUMO EXECUTIVO E RECOMENDAÇÕES
RESUMO EXECUTIVO E RECOMENDAÇÕES O problema dos emigrantes sem documentação (ESD) na União Europeia tem atraído atenção crescente. Com população estimada entre 1,9 e 3,8 milhões de pessoas na UE em 2008 (7 a 13% da população estrangeira), representa um grupo vulnerável, exposto a altos índices de riscos à saúde. Embora todos os estados-membros da União Europeia tenham ratificado o direito humano à saúde, as políticas de saúde nacionais são heterogêneas e promoveram estruturas diferentes para a provisão do serviço de saúde, o que, em muitos casos, seriamente restringe os direitos de acesso dos ESD ao serviço de saúde. Da mesma maneira, a prática que determina como garantir o direito humano à saúde segue lógicas diferentes. O projeto europeu intitulado Health Care in NowHereland produziu a primeira compilação de políticas e regulamentações em vigor nos 27 países da União Europeia1. É um banco de dados que oferece exemplos das práticas de 11 países da União Europeia e da Suíça, juntamente com uma avaliação detalhada dos modelos dessas práticas, oferecendo insights sobre o “dia-a-dia” dos ESD e suas lutas para ter acesso aos serviços de saúde. 1 Além desses documentos, dados sobre políticas e regulamentações da Noruega e da Suíça foram compilados e estão disponíveis em http://www. nowhereland.info/?i_ca_id=151 POLÍTICAS E REGULAMENTAÇÕES EM VIGOR NOS 27 PAÍSES DA UE Um cenário das políticas europeias foi criado a partir de duas perspectivas: • Segundo o Artigo 13.2 da Resolução do Conselho Europeu 1509, em que o atendimento de emergência é definido como a provisão mínima para respeitar o direito humano à saúde, juntamente com o comentário geral número 14 do Comitê das Nações Unidas sobre Direitos Culturais, Sociais e Econômicos (CESCR 2000, Artigo 12b), os países são agrupados de acordo com os que concedem direitos, direitos mínimos ou sem direito de acesso ao serviço de saúde. Neste caso, cinco países (ES, FR, IT, NL, PT) concedem direitos, 13 países (AT, BE, CY, DE, DK, EE, EL, HU, LT, PL, SK, SI, UK) concedem direitos mínimos (o que, na maioria dos casos, se limita ao atendimento de emergência) e nove países (BG, CZ, FI, IE, LU, LV, MT, RO, SE) não concedem direitos, significando que o direito de acesso à saúde é tão restrito que até o atendimento de emergência se torna inacessível. • A perspectiva da saúde pública parte do princípio de que somente o atendimento de emergência não é um meio suficiente de oferecer serviço de saúde, gerando altos custos, 2 resultados ruins e aumento dos riscos de saúde pública, devido a doenças infecciosas descontroladas. Por conseguinte, somente o atendimento de emergência não é definido como acesso ao serviço de saúde. Segundo esta perspectiva, o cenário se altera nos países que oferecem acesso integral, acesso parcial e nenhum acesso, incluindo os países que oferecem somente atendimento de emergência dentro do grupo „sem acesso“. Com base nessa definição, quatro países (ES, FR, NL, PT) concedem acesso integral, três países (BE, IT, UK) concedem acesso parcial e 20 países (AT, BG, CY, CZ, DE, DK, EE, EL, FI, HU, IE, LT, LU, LV, MT, PL, RO, SE, SK, SI) não concedem nenhum tipo de acesso. PRÁTICAS A obtenção de dados sobre os sistemas de saúde foi um desafio. Em diversos casos, os prestadores de serviço de saúde tendem a ficar tão invisíveis quanto seus clientes. Às vezes, os prestadores já atendem muitas pessoas e atuam praticamente na sua capacidade máxima de recurso e espaço, e, além disso, como o grupo alvo oficial é diferente (por exemplo: moradores de rua, indivíduos sem segurosaúde etc), esses prestadores temem perder suas verbas de financiamento, caso digam abertamente que prestam serviços aos ESD. O resultado de um ano de pesquisa intensiva, empregando diversos canais, como especialistas internacionais, hospitais e redes de ONGs, resultou na compilação de 71 modelos de práticas de 12 países (AT, BE, FR, DE, EL, HU, IT, NL, PT, ES, SE e CH) , que representam a lógica dos parâmetros „sem acesso“, “acesso parcial” e “acesso integral”, em relação ao direito de acesso ao sistema de saúde, incluindo 24 organizações governamentais (OGs) e 47 organizações não-governamentais (ONGs). DOCUMENTOS NECESSÁRIOS OGs (n=24) ONGs (n=45) 33% 2% 4% 13% 62% 87% 38% 25% 38% NENHUM DOCUMENTO 87% 25% CARTÃO DE SAÚDE 2% 33% OUTROS 9% 4% CARTÃO DE SAÚDE E OUTROS 2% 9% 2% SERVIÇOS FORNECIDOS OGs (n=24) (aceitando mais de uma resposta) ONGs (n=47) SERVIÇOS DE FACILITAÇÃO OGs (n=24) 67% 66% ONGs (n=47) (aceitando mais de uma resposta) 63% 92% 70% 79% 83% 72% 71% 55% 79% 54% 53% 60% 54% 45% 42% 34% 30% 38% 26% 13% Atendimento AtendimenMédico to de Saúde Mental Medicina Preventiva Promoção da Saúde Assistência Social A análise comparativa dessas práticas demonstra que: • Os provedores de serviços de saúde, governamentais ou não-governamentais, acreditam que a saúde mental e o tratamento de doenças infecciosas são os problemas de saúde mais comuns dos clientes ESD. Um terceiro problema é a saúde sexual, sendo que os órgãos governamentais se concentram nas doenças sexualmente transmissíveis e HIV, enquanto as ONGs alertam para a necessidade de oferecer planejamento familiar e dar atenção aos problemas relacionados à saúde no trabalho. • Os principais serviços de saúde oferecidos por organizações governamentais e não governamentais são: o atendimento geral, os serviços de diagnóstico e o atendimento de emergência pelas OGs, e atendimento às mulheres e às crianças pelas ONGs. A saúde mental, incluindo o atendimento psiquiátrico e o psicológico, é oferecida por três quartos dessas organizações, tanto governamentais quanto não-governamentais. • 50% das organizações governamentais comunicaram o aumento no número de clientes ESD, em 30% delas o número de clientes permaneceu estável e em 13% houve redução no número de clientes. 71% das ONGs comunicaram um aumento no número de clientes ESD, em 29% o número permaneceu estável e 0% comunicou a redução no número de clientes. Esta diferença entre OGs e ONGs talvez seja explicada pela facilitação do acesso por parte das ONGs: apenas 13% delas solicitam documentos dos clientes, em comparação a 62% das OGs. • No que tange ao suporte oferecido pelos prestadores de serviços de saúde, as OGs oferecem melhor estrutura para que a comunicação seja facilitada. Embora informações traduzidas estejam disponíveis em OGs e ONGs (respectivamente 67% e 66%), as OGs fornecem um melhor nível de serviços de interpretação e de mediação cultural do que as ONGs. Interpreta- Mediação Material ção Cultural Traduzido Serviços Horário de Treinade Ação Atendimen- mento de Social to Flexível Funcionários PESSOAS: O “DIA-A-DIA” DOS ESD E SUAS LUTAS PARA ACESSAR OS SERVIÇOS DE SAÚDE Na sua maioria, os ESD vivem em condições extremamente difíceis. A saúde não é a preocupação principal dos ESD, pois estão ocupados, usando todas as suas energias basicamente para sobreviver. Por outro lado, a boa saúde é o principal recurso de sobrevivência dos ESD. Eles precisam mantê-la para conseguir trabalhar e encontrar um lugar para dormir (uma vez que o sono é geralmente compartilhado, um sistema imunológico comprometido prejudica as chances de compartilhar esses espaços). Mesmo nos países que concedem acesso aos serviços de saúde, que vão além do atendimento de emergência e de urgência, os ESD geralmente procuram os serviços de saúde quando já estão gravemente doentes, pois têm medo que descubram sua situação irregular e que sejam deportados. Há falta de informações sobre os direitos de acesso ao sistema de saúde, e eles têm dificuldade de entender como funciona esse sistema e de atender aos requisitos administrativos necessários para ter acesso a ele. Os ESD são um grupo heterogêneo. Este fator torna-se evidente quando examinamos de perto os modelos das práticas nas avaliações detalhadas realizadas na Áustria, na Alemanha, na Itália, nos Países Baixos e na Espanha. Por exemplo, o modelo italiano apresenta grandes diferenças entre os três principais grupos de clientes ESD: da China, do Leste Europeu (Geórgia, Moldávia e Ucrânia) e da África (Egito, Marrocos, Nigéria e Tunísia) em relação aos conceitos de saúde, de doença e às situações de moradia. 3 RECOMENDAÇÕES Com base nas evidências coletadas e na experiência de pesquisa dentro da estrutura de trabalho do projeto NowHereland, a recomendações preliminares foram formuladas com base nas estruturas de trabalho das políticas e na própria prática da provisão de serviços de saúde, fazendo recomendações de pesquisa futura. As recomendações são: 0,882 0,6 5 AT AT No Access Minimum Rights BG G CH No Access Acces No Rights Full Access BE Partial Access Minimum Rights 1,26 CY No Access Minimum Rights Right 0,02 EE No Access Minimum Rights Right FR FR Full Access Rights 0,6 8 No Access No Rights 0,800 0,8 0,5 ,5 0 LT LT No Access Access Minimum Rights LU No Access Acces No Rights 1,889 1,226 8 0,3 IT Partial Pa rtial Access Rights IE HU HU No Access Acces Minimum Rights Right 0,10 0,1 0,110 7 0,4 EL No Access Access Minimum Rights 0,110 00,63 3 FI No Access No Rights 0,775 DK 1 ES 1,86 1,5 3 No Access Acces Minimum Rights 0,28 0,78 0,62 2 DE No Access Minimum Rights 0,15 0,1 3 0,22 Full Access Rights R ights 7 0,3 0, 50 CZZ C No Access No Rights 0,09 0,55 6 0,96 0,24 0, 50 0,116 1,44 • A criação de parcerias entre os serviços de saúde pública e os serviços prestados pelas ONGs provou ser um fator de sucesso prático. As OGs e ONGS devem discutir e criar estruturas para oferecer serviços em conjunto. 1,89 1,8 0,05 1,30 1,04 • O debate sobre a garantia do direito humano à saúde é indubitavelmente relevante. Além disso, é necessário considerar os fatores econômicos, que talvez mostrem que o custo da exclusão dos ESD do sistema de saúde até o atendimento em caráter de emergência supera consideravelmente o custo da autorização de acesso parcial (pelo menos) ao sistema de saúde geral. 0,03 0,22 0,2 1,224 • Os ESD são a força de trabalho mais flexível e mais explorável, sendo que a migração sem documentação está fortemente ligada às demandas do mercado de trabalho informal. As políticas que determinam os mercados de trabalho devem incluir discussões sobre os problemas dos ESD. • Na sua maioria, os ESD deixam seus países de origem porque não conseguem ter uma vida „humana” nesses locais. Eles estão dispostos a trabalhar, a cuidar das suas famílias e de si mesmos para ter sucesso na vida, e sobrevivem enfrentando dificuldades extremas. Eles também podem ser vistos como um recurso para a Europa e não uma ameaça. Talvez essa mudança de perspectiva possa abrir novas frentes de discussão. 0,77 • É necessário elevar o grau de conscientização sobre o problema da migração sem documentação, de forma que as políticas sejam mais baseadas em evidências e menos em mitos e emoções. É necessário um uso mais sistemático da experiência obtida em vários projetos e iniciativas, tanto em nível prático quando em pesquisa. L LV No Access No Rights MT No Access Acces No Rights 0,03 IMPRESSÃO © 2010 Ursula Karl-Trummer, Sonja Novak-Zezula NO PL Partial artial Access No Access Minimum Rights 0,75 0,94 0,05 0,79 79 0,6 7 0,880 NL Full Access Rights PT Full Access Rights R ights RO No Access Acces No Rights 0,09 ,100 0,1 0,28 SE No Access Acces No Rights SI No Access Access Minimum Rights 0,668 8 7 0,37 0,5 ,5 0 0,13 NowHereland at the Center for Health and Migration/DUK SK S K No Access Acces Minimum Rights Right UK Partial Access Minimum Rights A responsabilidade integral é dos autores do documento. A Agência Europeia não se responsabiliza pelo uso destas informações. PROJETO PATROCINADO POR DG Sanco 13 0,13 0,222 8 0,3 1,441 • Os ESD são um grupo heterogêneo e há grandes diferenças entre e dentro das comunidades de ESD. As diferenças estão relacionadas às situações de trabalho, de moradia e às redes sociais. Na prática, isso significa que não há uma solução padronizada que „sirva para todos”. O trabalho prático e de pesquisa deve estar ciente do perigo da estereotipagem. Fonds Gesundes Österreich Austrian Federal Ministry of Science and Research Para obter mais informações consulte: http://www.nowhereland.info