Uso de Veículos Aéreos Não Tripulados no Sistema

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Uso de Veículos Aéreos Não Tripulados no Sistema
Uso de Veículos Aéreos Não Tripulados no
Sistema Tático de Guerra Eletrônica (SITAGE)
Major QEM Marcelo NOGUEIRA de Sousa, Membro, IEEE
Resumo— O presente artigo apresenta as possibilidades de uso de plataformas não tripuladas (VANT) para dar suporte às ações de
Guerra Eletrônica no nível tático. Inicialmente, é feita uma análise da evolução tecnológica das comunicações táticas no campo de
batalha, avaliando o impacto na eficácia dos sistemas de GE tradicionais. Em seguida, o ambiente operacional de um VANT com
aplicações de GE é simulado, a fim de definir as principais características que a plataforma deve ter para fazer face aos sistemas de
comunicações táticas atuais. O artigo se encerra levantando vários questionamentos que devem ser feitos, a fim de produzir um
conceito operacional do uso de VANT no Sistema Tático de Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro.
Palavras-chave — Veículo Aéreo Não Tripulado, Comunicações Táticas, Sistema Tático de Guerra Eletrônica.
I.
INTRODUÇÃO
A
nalisando a evolução da arte da guerra, percebe-se que, de tempos em tempos, a tecnologia impulsiona uma série de
mudanças na forma de conduzir as ações de combate [1]. Uma das ferramentas tecnológicas que tem aumentado a eficácia
das operações militares é o Veiculo Aéreo Não Tripulado (VANT). Dentre todas as tecnologias empregadas nos conflitos
recentes; incluindo Bálcãs, Afeganistão e Iraque; a que mais revolucionou o campo de batalha foram os Veículos Aéreos Não
Tripulados (VANT) [2]. A capacidade destas plataformas de fornecer informações de combate surpreendeu e fez com que os
projetos de pesquisa sobre VANT em andamento nos centros de pesquisa militares ao redor do mundo fossem acelerados [2]. Os
VANTs suprem a crescente demanda por informações de combate mais ágeis e confiáveis para que o comandante possa atuar de
forma efetiva nos sistemas de comando e controle inimigos. O uso dos VANTs trouxe uma melhora significativa na eficácia dos
sistemas de Guerra Eletrônica (GE), principalmente no nível tático, fornecendo informações sobre o oponente [3].
A Guerra Eletrônica (GE) pode ser definida como o conjunto de ações que se utilizem da energia eletromagnética para
neutralizar a capacidade de comando e controle do oponente; que tirem proveito do uso do espectro eletromagnético pelo
oponente; que assegurem o emprego eficiente das emissões eletromagnéticas das forcas amigas. Dentre os vários conceitos da
GE, descritos em [4], dois são importantes para a plena compreensão dos argumentos a serem apresentados neste artigo, são eles:
as Medidas de Apoio de Guerra Eletrônica (MAGE) e as Medidas de Ataque Eletrônico (MAE). As MAGE objetivam a
obtenção de dados e informações a partir das emissões eletromagnéticas de interesse utilizadas pelo oponente. As MAE
envolvem as ações para impedir ou reduzir o uso efetivo do espectro eletromagnético pelo oponente, bem como destruir,
neutralizar ou degradar sua capacidade de combate usando energia eletromagnética ou armamento que empregue a emissão
intencional do alvo para seu guiamento [5].
O presente artigo analisa os impactos do uso de VANT para as ações de MAE e de MAGE conduzidas no nível tático, com o
objetivo de apontar algumas condicionantes operacionais para a adoção destas plataformas pelo sistema Tático de Guerra
Eletrônica (SITAGE).
Este artigo está dividido em cinco partes: A Seção II descreve o cenário atual presente no nível tático do conflito, ressaltando
as novas tecnologias disponíveis no campo de batalha; A Seção III analisa o impacto da evolução tecnológica do cenário no
desempenho dos sistemas convencionais de GE; A Seção IV analisa o emprego de VANT para GE no nível tático, levantando os
requisitos técnicos da plataforma e da carga paga (“payload”) de GE, simulando o desempenho dessas plataformas no cenário
tático atual; A seção V encerra o presente artigo através de uma seqüência de considerações finais que apontam para as
perspectivas de prosseguimento do presente assunto, levantando alguns questionamentos necessários para a adoção do VANT
pelo Sistema Tático de GE do Exército Brasileiro.
II.
COMUNICAÇÕES TÁTICAS: UM NOVO CENÁRIO
Para analisar o emprego do VANT em proveito das ações de GE no nível tático, é necessário estudar o cenário atual das
tecnologias envolvidas nas Redes de Comunicações de Combate (“Combate Network Radio - CNR”). Os sistemas atuais
empregam, de forma crescente, técnicas de processamento de sinais (DSP), esta evolução tecnológica tem dificultado a eficácia
dos sistemas de GE convencionais. Por isso, decodificar e monitorar as comunicações de nível tático empregadas em combate
.
tem se tornado muito difícil se não impossível. Estes sistemas dispõem de técnicas elaboradas para evitarem a interferência
intencional; além disso, os DSP atuais podem gerar formas de modulação mais elaboradas, servir como processadores de direção
em antenas inteligentes e sintetizarem códigos de controle de erro. Como exemplo de material de ponta, atualmente distribuído e
em uso no Exército Brasileiro, são os rádios de comunicações táticas PRC-910 e M3TR, apresentados na Figura 1.
Figura 1 Rádios PRC910 (Tadiran) e Multibanda M3TR. (Fonte: Rohde & Schwarz).
A. Evolução Tecnológica dos Equipamentos
O Comando e Controle tático usa sistemas de comunicações digitais, que empregam técnicas de criptografia elaborada, o que
tem tornado a interceptação das mensagens inimigas uma tarefa extremamente difícil. Outra técnica muito usada nos sistemas
CNR atuais é o salto de freqüência (“Frequency hopping- FH”), essa é uma técnica que usa a agilidade de freqüência para
espalhar os dados. Essa “agilidade” pode ser entendida como a mudança repentina da freqüência de transmissão dentro da faixa
de RF utilizável. A portadora muda a freqüência de acordo com uma seqüência pseudo-randômica. Essa seqüência nada mais é
do que uma lista de freqüências que a portadora irá saltar em intervalos de tempo específicos. O transmissor usa essa seqüência
para selecionar suas freqüências de transmissão. A portadora permanece em uma freqüência por um determinado período de
tempo e depois salta para a próxima. Quando a lista de freqüências chega ao final, o transmissor repete a seqüência [6]. A Figura
2 ilustra um sistema de salto de freqüência usando uma seqüência de quatro freqüências.
A característica técnica mais importante do salto de freqüência é o chamado Ganho de Processamento (Gp) [5][6], que fornece
uma melhora significativa na recepção do sinal e dificulta o bloqueio e a interceptação do mesmo por elementos que não
possuam a seqüência de salto. O ganho de processamento é calculado com a seguinte fórmula [1].
‫ = ݌ܩ‬10݈‫ ݃݋‬ቀ
஻ௐ௦௔௟௧௢
஻ௐ௖௔௡௔௟
ቁ ݀‫( ܤ‬1)
Figura 2 Salto de Freqüência no Tempo. (Fonte: Própria).
A Tabela I apresenta o ganho de processamento baseado nos dados técnicos dos equipamentos em uso no Exército Brasileiro.
TABELA I
GANHO DE PROCESSAMENTO
Características
M3TR
PRC910
Faixa de
Frequencia
20-60 MHz
30-88 MHz
Largura de
Banda do Canal
25 KHz
25 KHz
Modulação
FM/MFSK
FM
Potência de
Saída
30 W
5W
Sensibilidade
-116 dBm
-110 dBm
Ganho de
Processamento
32,04 dB
33,65 dB
B. Cenário de Emprego
Para poder estimar os parâmetros técnicos necessários para uma plataforma não tripulada em proveito da Guerra Eletrônica
Tática é necessário definir um cenário de emprego. Este cenário foi feito com o auxilio da equipe de planejamento das operações
de GE da 1ª Cia GE, usando uma situação tática real de preparo e emprego. O ambiente operacional foi inicialmente montado
tomando por base a região de Lorena-SP, onde três Batalhões de Infantaria e um Comando de Brigada foram desdobrados no
terreno. Foi estabelecida uma rede do Comandante, operando na faixa de VHF (30-88 MHz), utilizando os equipamentos M3TR
e com a PRC910 da Tadiran. O cenário de simulação está esquematizado na Figura 3.
LP/LC
Figura 3 Cenário de Simulação. (Fonte: Sec Planejamento 1ª Cia GE).
As distâncias das unidades são as previstas na doutrina do Exército Brasileiro, o curso d’água que segue no sentido SudoesteNordeste constitui a Linha de Partida/Linha de Contato, uma estação de Interferência ([4]) é posicionada na primeira linha de
elevações do terreno a fim de localizar e bloquear as comunicações inimigas. A distância entre a estação e a rede inimiga é de
cerca de 10 km.
III.
IMPACTO DA EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NA GE TÁTICA
Os sistemas de Guerra Eletrônica (GE) utilizados atualmente pelo Exército Brasileiro são compostos de estações terrestres
determinadoras de direção (“Direction Finding” – DF) e sistemas interferidores instalados em cabines (“shelters”). A Figura 4
apresenta um exemplo de cabine de COMINT desdobrada no terreno, o custo de cada uma destas cabines é de aproximadamente
um milhão de dólares.
Figura 4 Cabine de GE Tática. (Fonte [7]).
Os sistemas convencionais operam tentando localizar e bloquear as comunicações táticas inimigas. Tal abordagem têm-se
tornado cada vez mais ineficiente devido ao avanço tecnológico presente nos sistemas de comunicações táticas, que usam salto
de freqüência (“frequency hopping”) e criptografia. Além disso, a altura da antena de um sistema terrestre é de, no máximo, sete
metros, pois depende da capacidade de elevação do mastro telescópico. A precisão típica dos sistemas veiculares é de 5° rms
para a faixa de VHF, um sistema de COMINT necessita de, no mínimo, três estações para fornecer a localização eletrônica do
alvo. O tempo para o desdobramento de um posto destes é de, no mínimo, uma hora, ou seja, a mudança de posição da cabine
não é feita de forma imediata.
Em relação aos sistemas de interferência, existem vários fatores limitantes. Em primeiro lugar, as antenas dos rádios militares
modernos possuem tecnologia de “nulo dirigido” (“null beam stearing”) que colocam a região de menor ganho na direção da
fonte interferidora, reduzindo a eficácia do bloqueio eletrônico. Um segundo aspecto, é a interferência causada nos sistemas das
tropas amigas que se desdobram em primeiro escalão, pois ao colocar um interferidor de alta potência, o chamado “efeito de
captura de FM” afeta as redes usadas pelas forças amigas na proximidade do equipamento. Finalmente, o uso de antenas
altamente diretivas do interferidor, praticamente limita a eficácia do bloqueio à apenas um alvo da rede inimiga, gerando a
necessidade de alterar o azimute da antena.
Um sistema de GE convencional deve ter no mínimo três estações de COMINT e uma de interferência [4] e o custo desta
solução pode passar dos 5 (cinco) milhões de dólares.
Uma das figuras de mérito que avalia a eficácia de um interferidor em um sistema de comunicações tática é a relação Sinal
Interferente/Sinal de rádio recebido da fonte original (“Jammer-to-sinal ratio – JSR”), que em média deve ser superior a 10 dB
para o bloqueio ser efetivo. Segundo apresentado em [5], [6] e [8], a JSR pode ser calculada pela seguinte expressão:
௉௝×ீ௝௧×ீ௝௧
‫ = ܴܵܬ‬௉௧×ீ௧௥×ீ௥௧ × ቀ
ு௝௥ ଶ
஽௧௥ ସ
ቁ × ቀ஽௝௥ቁ (2)
ு௧௥
A Equação utiliza o “modelo de dois raios” (“Two way Rays”), apresentado em [3], para calcular a propagação tanto do sinal
interferente como do sinal transmitido. Este modelo só pode ser aplicado para altura na faixa de 2m < h < 700 m, e para
freqüências na faixa; 20 MHz < fj < 20 GHz.
Na Equação 2, Pj é a potência do sinal interferidor, Pt é a potência do transmissor, Gjt é o ganho da antena do transmissor em
relação ao interferidor, Gjt é o ganho da antena do interferidor em relação ao transmissor, Gtr é o ganho da antena do receptor em
relação ao transmissor, Grt é o ganho da antena do transmissor em relação ao receptor, Hjr é a altura do interferidor em relação
ao receptor, Htr é a altura do transmissor, Dtr é a distância do transmissor ao receptor a e Djr é a distância do interferidor ao
receptor.
A análise da Equação 2 demonstra que os dois fatores mais importantes são a altura do interferidor e a distância do interferidor
ao alvo, a altura do interferidor é elevada a quarta potência e a distância é elevada ao quadrado [8]. Nestes dois quesitos, o
VANT leva uma enorme vantagem em relação aos sistemas convencionais, pois a antena do VANT pode ser elevada a uma
altura de 200 metros que é bem maior do que a altura alcançada pelos mastros telescópicos das estações terrenas, além disso, o
VANT leva vantagem no quesito distância, pois é possível aproximar a plataforma do alvo de forma mais segura.
IV.
O VANT DE GE NO CENÁRIO TÁTICO ATUAL
Analisando o cenário tático atual, percebe-se que existe uma clara necessidade de aproximar os equipamentos determinadores
de direção (“direction finding - DF”) e os equipamentos de ataque eletrônico [4] dos alvos de interesse; além disso, é necessário
aumentar a atura das antenas de recepção e de bloqueio de sinais. O VANT é uma plataforma que pode suprir facilmente estas
necessidades, pois é possível montar um sistema para interceptar, localizar e bloquear as comunicações táticas usando dois
VANTs, uma estação terrestre [1] e [6]. A Figura 5 apresenta um diagrama esquemático da solução integrada.
Este sistema pode ser integrado no SITAGE a fim de fornecer, em tempo real, a localização dos emissores, com precisão
superior aos sistemas de triangulação convencionais. Esta solução apresenta menor custo, maior eficiência, maior rapidez de
operação e maior facilidade de utilização para as ações de MAGE e de MAE [4].
Figura 5 Sistema de GE integrando VANT e Plataformas Terrestres. (Fonte: Projeto TSM-RFCOM-FINEP).
Pode-se, dentro do SITAGE, integrar um subsistema composto por 1 cabine de C2, 1 cabine de MAE e VANT MAGE e um
VANT MAE. O sistema de guerra eletrônica integrando um VANT para DF, um VANT para interferir e um veículo com as
funções de DF e de Interferência consegue ser mais eficiente, mais barato e mais rápido para acionar do que a solução
tradicional.
LP/LC
Figura 6 VANT no Cenário Tático. (Fonte: Sec Planejamento 1ª. Cia GE).
O VANT, no cenário tático, está apresentado na Figura 6,, é interessante observar que é possível usar uma antena
omnidirecional no VANT, que permite interferir em toda a rede inimiga, o que gera
geralmente
lmente não pode ser feito com a solução
veicular. Além disso,, o sistema integrado consegue fornecer a localização eletrônica, usando a combinação das diferentes
direções obtidas pelo veículo não-tripulado
tripulado com as direções da plataforma base, possibilitando a localização do emissor com
maior rapidez, precisão e eficiência. A facilidade de deslocamento do VANT faz com que o levantamento da posição das
unidades inimigas seja feita de forma mais rápida, como o VANT consegue obter várias marcações
marcações,, a precisão da localização
eletrônica é maior do que os sistemas de GE convencionais.
Figura 7 Sistema de GE Integrado VANT
VANT-Veicular. (Fonte: Própria).
A Figura 7 apresenta um esquema de funcionamento do sistema integrado. Inicialmente o VANT DF realiza um vôo sobre o
cenário tático e obtém os DF dos emissores. Dependendo dos parâmetros da missão, a in
interferência
terferência pode ser feita por outro
VANT ou pela combinação do VANT com a plataforma terrestre.
Figura 8 VANT Asa Fixa com Equipamento de interferência Instalado. (Fonte: www.aerosonde.com).
A.Características Técnicas do VANT
A plataforma para emprego de GE no nível tático deve ser de tamanho reduzido, com auto
autonomia
mia superior a 2 horas e com
alcance de controle operacional de até 50 Km. A princípio, existem dois tipos de plataforma que atende aos requisitos: as de asas
fixas e as de asas rotativas.
Tendo em vista as diversas atividades que o operador de Guerra Eletrônica tem que desempenhar, o VANT deve ser
controlado de forma autônoma, ou seja, o operador apenas coloca o parâmetro geral de vôo e se preocupa com as ações de
Localização Eletrônica e de Bloqueio. A Figura 9 apresenta uma tela de controle do VANT com as opções de configuração de
missão para automatizar o vôo da plataforma.
ma.
Figura 9 Tela de Comando e Controle do VANT (Fonte: www.tag.com).
Figura 8 apresenta um exemplo de plataforma fixa chamada de Aeross
Aerossonde,
onde, produzida na Austrália. O grande aspecto positivo
desta plataforma é a autonomia, que pode ultrapassar 5 horas de vôo, entretanto esta solução exige uma pista de decolagem de
100 metros de comprimento, ou de plataformas de lançamento.
Figura 10 VANT de Asa Rotativa com Equipamento de Interferência Instalado. (Fonte: www.darpa.mil).
Figura 11 VANT de Asa Rotativa com Equipamento de DF Instalado. (Fonte: www.darpa.mil).
Mantendo o foco nas aplicações para a Força Terrestre, as plataformas de asas rotativas apresentam diversas vantagens em
relação às de asa fixa, a Figura 10 apresenta a solução de asa rotativa com um interferidor instalado e a Figura 11 apresenta a
solução de asa rotativa com o equipamento de DF instalado. Apesar de possuir uma autonomia menor, os helicópteros podem
fazer o vôo pairado sobre o alvo, aumentando a eficácia da interferência e a precisão do DF. Além disso, a possibilidade de
decolagem e de pouso vertical facilita o emprego e a recuperação da aeronave.
Os VANT disponíveis no mercado têm quase o mesmo custo que os da carga paga, sendo que muitas vezes, os equipamentos
de GE chegam a ser mais caros que o VANT. Por isso, a recuperação segura da plataforma é um item importante na
característica técnica da aeronave e neste aspecto a plataforma de asa rotativa é bem superior a de asa fixa.
B.Características Técnicas da Carga Paga (“Payload”).
A carga paga, ou seja, o equipamento de GE para fazer as atividades de DF e de Interferência, é constituída de: antenas,
processadores, cabos e fonte de alimentação que pesam em média 30 Kg. A fonte de alimentação deve suportar pelo menos 3
horas de operação contínua.
Figura 12 Carga Paga (“Payload”) para o Interferidor VANT. (Fonte: www.zaomtk.com).
O conjunto de antenas, cabos, processadores e fonte de alimentação devem ser adaptados na plataforma, a fim de receber os
dados do subsistema de comando e controle e de repassar os resultados para a estação terrena. As freqüências usadas no controle
da plataforma devem ser eletromagneticamente compatíveis com as operações de interferência.
A potência de saída do sinal interferente deve ser de no mínimo 100 W, em toda a faixa de interferência, e a melhor técnica de
bloqueio é a de barragem [4] usando um ruído aditivo gaussiano branco (“Adittive White Gaussian Noise-AWGN”). Um
exemplo de “payload” para o interferidor está apresentado na Figura 12.
C. Simulação do VANT no Cenário Tático
De posse do cenário tático e das características técnicas do VANT com carga paga de GE, diversas simulações foram
realizadas a fim de comparar a solução de GE com VANT com a solução tradicional usando cabines.
O VANT Interferidor foi simulado com as seguintes características:
• Potência de saída: 100 W.
• Ganho da Antena: 3.2 dBi (omnidirecional).
• Freqüência: 30-88 MHz.
• Altura da plataforma: 200 metros.
O Interferidor Veicular simulado possuía as seguintes características:
• Potência de saída: 1000 W.
• Ganho da Antena: 17 dBi (omnidirecional).
• Freqüência: 30-88 MHz.
• Altura da plataforma: 5 metros.
A simulação foi feita usando o software de predição de propagação “Radio Mobile” [9] O resultado da simulação está
apresentado na Figura 13 e na Figura 14.
Figura 13 Simulação do Interferidor Veicular. (Fonte: Sec Planejamento 1ª. Cia GE).
Figura 14 Simulação do VANT Interferidor (Fonte: Sec Planejamento 1ª. Cia GE).
Figura 15 Perfil do terreno para o Interferidor Veicular. (Fonte: Própria)
Figura 16 Perfil do Terreno para o VANT Interferidor. (Fonte: Própria).
A simulação pode ser interpretada da seguinte forma: a área vermelha, nas Figuras 13 e 14, é a região do terreno onde o
interferidor apresenta potência suficiente para bloquear as comunicações, mesmo que elas usem salto de freqüência; a área azul
representa a região onde a interferência não é eficaz.
Figura 17 Nível de Sinal do Interferidor Recebido pelo Alvo. (Fonte: Própria).
A simulação mostra que a plataforma VANT com 100 W de potência é mais eficiente do que o interferidor veicular com 1kw
de potência de saída, pois a Figura 13 mostra claramente que o PC da Bda não é interferido pelo equipamento veicular, enquanto
a solução do VANT, apresentada na Figura 14, bloqueia toda a área de interesse. A Figura 15 apresenta o perfil do terreno
encontrado pelo Interferidor Veicular, onde se pode constatar a existência de dois obstáculos entre o equipamento e o alvo. A
Figura 16 apresenta o perfil do VANT interferidor, onde se pode constatar o caminho direto do equipamento ao alvo, o que
aumenta a eficácia da interferência.
A Figura 17 mostra que o sinal do sistema interferidor chega 57,38 dB acima do nível do sinal do sistema transmissor,
conforme apresentado na Tabela I. O M3TR foi colocado no cenário tático e possui ganho de processamento de 32,04 dB. Por
isso, fica claro que pela simulação realizada, o sistema VANT interferidor é eficiente neste cenário tático.
Vale ressaltar que a solução veicular custa em torno de U$ 1.200.000,00 enquanto a solução com VANT fica em em torno de
500 mil dólares.
V.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seqüência de argumentos apresentados neste artigo comprova que o VANT é uma ferramenta imprescindível para o
desempenho das atividades de GE no nível tático. O VANT pode operar em alturas muito mais apropriadas tanto para a
localização eletrônica como para as ações de interferência. A baixa observabilidade dos VANT permite que o equipamento possa
ser empregado em distancias muito mais próximas do alvo do que as plataformas convencionais. Entretanto percebe-se que a
doutrina de GE deve ser adaptada para tirar o máximo proveito desta ferramenta, ou seja, deve-se criar um conceito operacional
“autóctone” que coloque o VANT de GE dentro da realidade de emprego do Exército Brasileiro.
Outro conceito operacional a ser desenvolvido com o uso da plataforma não-tripulada na Guerra Eletrônica pode envolver as
ações de preparação para um ataque, onde um VANT poderia de média distância mapear a ordem de batalha inimiga com um
vôo de penetração nas defesas inimigas. Dentro deste enfoque, as ações de supressão da defesa aérea (“SEAD”) poderiam
também ser conduzidas pela Forca Terrestre, que atuaria interferindo nos sistemas de controle de fogo ou mesmo nos sistemas de
radares de vigilância terrestre e de busca de alvos.
Ao contrário dos sistemas convencionais, o abate ou a perda de UAV não causa tantos desgastes políticos como a perda de
vidas humanas das plataformas tradicionais. Os UAVs são menores e, portanto, podem ser dotados de tecnologia “stealth” mais
facilmente do que as plataformas tripuladas. Além disso, os UAV levam uma vantagem importante sobre os satélites de
reconhecimento, por serem mais baratos e pela facilidade de reconfiguração de missão em vôo que é muito mais dispendioso em
um satélite.
Entretanto, diversos questionamentos têm que ser respondidos para criar um conceito operacional de utilização do VANT para
a GE. Entre eles destacam-se:
• Quanto tempo é necessário executar o bloqueio de comunicações?
• Quais são as faixas de freqüências prioritárias para realizar as ações de MAGE?
Qual é a distância de controle necessária para o VANT?
Qual deve ser a disponibilidade de um VANT em termos de MTBF (“Mean Time Between Fail”) e MTTR (“Mean
Time To Repair”)?
• Qual é a melhor plataforma? de Asa Fixa ou de Asa Rotativa?
Estes são apenas alguns dos questionamentos que podem balizar a adoção dos VANT pelo SITAGE, entretanto seria
extremamente útil para o braço tático da Guerra Eletrônica, traduzido pela 1ª. Cia GE adquirir uma plataforma VANT de GE
para a formulação da doutrina e para orientar o desenvolvimento e a nacionalização desta plataforma.
•
•
AGRADECIMENTOS
O autor gostaria de agradecer a seção de Planejamento de Guerra Eletrônica da 1ª. Cia GE pela ajuda na formulação do
cenário de emprego e ao Chefe da Seção de Estudos Prospectivos do Centro de Estudos e Coordenação de Guerra Eletrônica do
CIGE pela crítica e revisão do texto.
REFERÊNCIAS
[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7]
[8]
[9]
D. Curtis Scchlecher, “Electronic Warfare in the Information Age”, Artech House, 1999.
Anthony H. Cordesman, “Lessons of Afghanistan: War Fighting, Intelligence, and Force Transformation”.
Report of Defense Science Board Summer Study Task Force on “Information Architeture for the Batlefield”, Oct., 1994.
Manual de Campanha, C34-1 Emprego da GE.
Sclecher, D. C., “Introduction to Electronic Warfare”, Norwood, MA, Artech House, 1986.
Sundaram, G., “New Concepts in the Battlefield communications, Part 2 slow/medium Frequency Hopping”, International Defense Review, May 1982.
Site da internet, “http://www.armada.ch/08-3/content.cfm”, acessado em 12/07/2008.
“The future of Communication Jamming”, International Defense Review, May 1983.
Site da internet, “http://www.radiomobile.k6.com.br”, acessado em 12/07/2008.
M. N. de Sousa. Nascido no Rio de Janeiro, o Major Nogueira é oriundo da Arma de Comunicações da turma de 1993 da AMAN, e concluiu o Curso de
Graduação em Engenharia de Comunicações no IME em 1999, o Mestrado em Engenharia Elétrica em 2002 na Universidade de Brasília, o Mestrado em
Engenharia de Microondas na Universidade de Tecnologia de Munique e o Curso Básico de Guerra Eletrônica no CIGE em 2007. Atualmente chefia a Seção de
Estudos Técnicos do CECAGE no CIGE, onde trabalha em proveito da Seção de Estudos Prospectivos e de Planejamento e Orçamentos, especificando,
concebendo e testando materiais de emprego da Guerra Eletrônica, tanto no nível Tático como no Estratégico.

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