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ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% PB 100% ESCALACOR Produto: CADERNO_2 - BR - 6 - 10/12/06 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR 80% D6-BR/SP - 85% 90% 95% 98% 100% Cyan Magenta Amarelo Preto %HermesFileInfo:D-6:20061210: D6 CULTURA DOMINGO, 10 DE DEZEMBRO DE 2006 O ESTADO DE S.PAULO Literatura Novela: + 9 Uma história de mistério Antes injustiçada, A Senhoria, intrigante obra de Dostoievski, é reeditada com tradução de Fátima Bianchi A escritora Clarice Lispector REPRODUÇÃO narrado alucinadamente, num jorro contínuo. A trama frenética passa a concentrar-se na pessoa de Múrin,masatéofinalomistérionãosedesvendacompletamente. Sabe-se que vinha da região do Volga e que está sempre lendo livros antigos, inclusive livros manuscritos, daseitadosvelhoscrentes,isto é, da população que não aceitavaasinovaçõesnaliturgia introduzidas no século 17 pelopatriarcaNícon.Aomesmo tempo, era considerado um feiticeiro, lidava também com livros de magia negra e prediziaofuturodaspessoas. O linguajar de Múrin está marcado também por essa procedência, e é sempre Boris Schnaiderman ESPECIAL PARA O ESTADO A novela de Dostoievski, A Senhoria, publicada recentemente pela Editora 34, em tradução de Fátima Bianchi, a partir do texto russo, é um exemplo típicodeobramalrecebidapelacrítica,mascujaimportânciaparece crescer com o tempo. Atacada violentamente por Bielínski, o crítico russo de maior prestígio na época, ela realmente não se enquadrava na “escola natural” russa, que se caracterizava pela descrição, com toques de protesto social, da vida das pessoas pobres, apesar das limitações impostas pela censura. EmA Senhoria, os ambientes são realmente miseráveis, mas o personagem central, Ordinov, é um indivíduo da nobreza, um intelectual, que obteve recentemente seu primeiro título universitário, e que vive em verdadeira indigência, completamente entregue aos estudos e a devaneios de solitário. Aliás, é somente no final da novela que o leitor fica sabendo: ele estava preparando uma vasta obra sobre a história da Igreja. Habita a periferia da capital, onde as ruas são sujas e mal conservadas e já se sente a proximidade do meio rural. Pouco antes da publicação da história, em 1847, Bielínski havia escrito: “Na arte não deve haver nada de obscuro e incompreensível;suasobrasestãoacima dos assim chamados ‘acontecimentos reais’ justamente porque o poeta ilumina com a chama de sua fantasia todos os RITMO CADENCIADO DA NARRATIVA SE APROXIMA DE TEXTO EM VERSOS O CRÍTICO RUSSO BIELÍNSKI ATACOU O TRABALHO SEM DÓ NEM PIEDADE meandros íntimos de seus heróis, todas as motivações ocultas de seus atos, retira do acontecimento por ele narrado tudo o que é obra do acaso, apresentando aos nossos olhos apenas o essencial, como resultado inevitável da causa eficiente.” Ora, a trama de A Senhoria parece justamente um desmentido a esta afirmação. Ordinov entra numa igreja do bairro e ali fica impressionado com a figura de uma jovem bela e pensativa, acompanhada de um ancião magro e pálido. Logo depois, surge-lhe a necessidade de alugar um quarto e ele acaba indo morar num cubículo, separado do senhorio por umtabique.Eosenhorioerajustamente o estranho par que encontrara na igreja. Tendo adoecido, foi tratado por sua bela vizinha e inicia-se assim, com rapidez incrível, uma intriga amorosa. “Meu irmão”, “irmãzinha”, é como eles se tratam, mas acabam abraçando-se e beijando-se na cama O AUTOR – Graça e encanto da narrativa tem muito a ver com a indefinição, com seu tom vago e ambíguo do cubículo. Há então referências a uma antiga tradição russa, bratânie, isto é, confraternização, segundo a qual um guerreiro se declarava irmão de um companheiro de armas, e eles celebravam o ato bebendo vinho de uma mesma taça que se chamava bratina (de brat, irmão). Há referências seguidas a outros fatos da tradição russa,inclusivetransposiçãodeantigas lendas. O próprio ritmo da narrativa, aos poucos, se torna cadenciado, aproximando-se de um texto em versos. Em plena fase de exaltação amorosa, Ordinov espia por uma fresta do tabique e vê o ancião pálido estendido na cama e Katierina deitada num banco ao lado, abraçando-lhe o peito, reclinada sobre ele. O mistério se mantém. Era sua filha? Esposa? E o velho, quem era? Depois de assistir àquela cena, Ordinov irrompe no compartimento do senhorio, e o velho, enfurecido, atira nele com uma carabina, mas erra o disparo e acaba caindo ao solo, numa crise epiléptica. Depois, numa hora de arrebatamento, Katierina relata a Ordinov os acontecimentos de uma noite horrível: sua mãe, muito doente, quase moribunda, a amaldiçoa e lhe atira ao rosto que ela é bastarda, filha de Múrin; há um incêndio que seiniciadepoisqueesteseintroduz no quarto de Katierina; seguem-se a morte do dono da casa e a fuga de Katierina, levada por ele em seu cavalo. Tudo isto com carinho especial que ele se refere ao grande rio, a “mãezinha Volga” (em russo, rieká, rio, é feminino). Em toda a extensão da novela mantém-se o mistério em torno de sua pessoa. A própria relação entre ele e Katierina aparece de modo não muito explícito: o leitor é levado a concluir tratar-se de incesto, na base de falas entrecortadas da mãe, tudo num clima de pesadelo. História quase fáustica, que termina de modo estranho. Ordinov muda de residência e fica sabendo, pelo seu amigo Iarosláv Ilitch, que a polícia descobriu no prédio em que Múrin morava com Katierina uma quadrilha de ladrões, dos quais ele era o chefe. Mas, em seguida, o amigo se desdiz: “Múrin não pode ser um deles. Há exatamente três semanas voltou com a mulher para casa, para a sua pátria...” E a graça e encanto desta narrativa tem muito a ver com a indefinição, com seu tom vago e ambíguo. Nas abordagens historicistas da crítica, houve muita especulação sobre a sua relação com o romantismo, com Gogol, com Hoffmann e outros. Sem que se negue a relevância de tudo isso, parece mais importante, porém, pensar em como ela se relaciona com a obra ulterior de Dostoievski, com Memórias do Subsolo e Os Irmãos Karamazov, entre outros. O posfácio de Fátima Bianchi, a tradutora, é uma reflexão aguda neste sentido, amparada em sólida pesquisa bibliográfica. ● Boris Schnaiderman é tradutor, escritor e crítico literário revista das revistas Das idéias de Espinosa à irreverência de Capote Edição especial de A Hora da Estrela ●●● Hoje, às 17 h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon (Rua Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205) será o lançamento da edição especial de A Hora daEstrela, de Clarice Lispector, com leitura de trechos do livro pelo ator Pedro Paulo Rangel e bate-papo com as pesquisadoras Licia Manzo e Tereza Montero, estudiosas da obra da escritora. O evento, gratuito e aberto ao público, é uma homenagem à eterna dama da literatura brasileira, no dia em que completaria 86 anos. O livro ganha uma edição especial pela editora Rocco, com direito a novo projeto gráfico e dois CDs contendo o texto integral do romance, na voz de Pedro Paulo Rangel e participação especial da cantora Maria Bethânia. Música erudita em destaque O Sesc São Paulo e o Goethe Institut – em parceria com o Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe (ZKM), a Bienal de Munique (Festival Internacional de Ópera Contemporânea) e a Petrobrás – dão início neste ano um projeto de ópera multimídia sobre a Amazônia, com estréia prevista para 2010 na BienaldeMunique.Hoje éoúltimo dia para conferir o Seminário Ensaios Amazônicos, no SescAvenida Paulista, com inscrições gratuitas. Mais informações pelo tel. 3179-3700. A série Concertos Internacionais – GrandesObras encerraa temporada 2006 na terça, às 21 h, no Teatro São Bento (Lgo. São Bento, s/nº, tel. 3328-8793)com a apresentação do quinteto de cordas suíço Ensemble Astor. ●●● Arnaldo Antunes, música e livros Muitos livros e autógrafos ●● Amanhã a psicanalista Sonia Azambuja autografa o livro Presenças e Ausências (HePsykhe, 216 págs., R$ 40) na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, tel. 3814-5811) das 18h30 às 21h30. O livro trata não apenas de psicanálise – a autora discute cultura e o processo da simbolização como um todo. Sonia é membro do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Na mesmo local e horário, Arnaldo Antunes lança, na quarta-feira, o livro Como É Que Chama o Nome Disso (Publifolha, 392 págs., R$ 59). Na obra estão reunidos poemas, ensaios e letras de música, além de um ensaio introdutório do professor Antonio Medina Rodrigues. Apoio à arte e à tecnologia ●●● O núcleo de Arte e Tecnolo- Cult reúne ensaios filosóficos e reflexivos, além de resgatar a figura do escritor norte-americano DIVULGAÇÃO Karla Dunder Considerado o filósofo dos filósofos, Baruch de Espinosa é o assunto de um dossiê publicado pela revista Cult deste mês. Os filósofos Marilena Chauí, José Eduardo Marques Baioni e HomeroSantiagodedicam-seàleiturareflexivadaobradeEspinosa, levando em conta, principalmente,seusaspectosrevolucionários. A edição também está recheada com uma entrevista com Gerald Clarke, biógrafo do escritor norte-americano TrumanCapote,quecedeuumacarta inédita do extravagante autor de A Sangue-Frio endereçada à estilista Gloria Vanderbilt. Espinosa foi excomungado pela assembléia dos anciãos que dirigia a comunidade judai- ca de Amsterdã aos 24 anos. O Tratado Teológico-Político, uma obra destinada à defesa da liberdade de expressão, foi considerado pelo sínodo calvinista como pernicioso e abominável para a verdadeira religião. Após sua morte, em 1678, o governo holandês proibiu a divulgação do conjunto da obra do filósofo. Por que Espinosa causa tanta polêmica? De acordo com Marilena Chauí “a filosofia espinosiana é a demolição do edifíciofilosófico-políticoerguidosobreofundamentodatranscendência de Deus, da Natureza e da Razão, voltando-se tambémcontraovoluntarismofinalista que sustenta o imaginário da contingência nas ações divinas, naturais e humanas”. JoséEduardoMarquesBaio- CAPOTE – Obra ganha destaque ni destaca que Espinosa voltou à cena filosófica nas três últimas décadas do século 18. “Ser pró ou contra Espinosa – passará a significar, precisamen- te, escolhas ou opções teóricas características, com conseqüências em todas as esferas da vida intelectual.” Por fim, Homero Santiago traça um paralelo entre o pensamento de René Descartes e Espinosa. Anos após o lançamento do A Sangue Frio, este é o ano que Truman Capote volta aos holofotes. O sucesso do filme Capote é somado ao lançamento dos livros Travessia de Verão editado pela Objetiva e pela coletânea 20 Contos de Truman Capote, pela editora Companhia das Letras. Parece que a obra do escritor começa a se sobressair no País. A personalidade exuberante de Capote muitas vezes se sobrepõe ao trabalho do escritor.Como destacaobiógrafo Gerald Clarke, em entre- vista a Cult, “as pessoas tendem a confundir o escritor com sua obra, e a personalidade espalhafatosa de Capote, muitas vezes, obscurece as suas qualidades como autor. Hoje, 20 anos após sua morte, os jovens leitores, que não se recordam de Capote como personalidade, é que descobrem sua obra”. Vale a pena ler a entrevista com o professor e diretor do Centro de Pesquisas Históricas na École dês Hautes Etudes, na França, Roger Chartier. O pesquisador discute as mudanças no objeto livro diante dos avanços da informática, ao mesmo tempo que destaca a facilidade de acesso a bibliotecas antes restritas a poucos. ● gia do Itaú Cultural (telefone 2168-1776) prorrogou o prazo dasinscrições parao Programa Rumos Arte Cibernética 2006 para até quinta-feira. A seleção dos projetos será feita por uma comissãoautônoma deespecialistas em duas carteiras: Apoio à Produção de Obra em Arte e Tecnologia e Apoio à Pesquisa Acadêmica. No dia 18 de março de 2007 serão divulgados os resultados. Os contemplados receberão um comunicado por e-mail ou poderão conferir pela internet:www.itaucultural.org. br/rumos2006.OprogramaRumos tem como objetivo mapear, apoiar e difundir a produção desse segmento no País. Correspondência para o Cultura: Av. Engenheiro Caetano Álvares, 55, CEP 02598-900; fax. (0--11) 3856-2935; e-mail: [email protected]