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PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 1 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... Imprimir Reportagem de Capa / Edição 274 - Novembro/2011 Pense como empreendedor e você será um deles Conheça o estilo, as estratégias e a filosofia de negócios que caracterizam as iniciativas bem-sucedidas Por Márcio Ferrari e Thomaz Gomes Desde os 14 anos, valério dornelles pensava em ser empreendedor. Aos 19 abriu o primeiro negócio, uma distribuidora de roupas de surfe que durou três anos. Em 1988, fechou a empresa para se dedicar aos estudos de engenharia civil na Universidade Federal de Santa Maria (RS), mas nunca quis passar a vida toda como empregado. Dez anos depois, com uma boa experiência em pesquisa acadêmica, além de quatro anos desenvolvendo projetos numa construtora, Dornelles criou uma tecnologia de construção de paredes inspirada no brinquedo Lego, que viria a ser a especialidade de sua empresa, a Tecno Logys, com faturamento anual de R$ 25 milhões. A história de Dornelles, hoje com 45 anos, ilustra bem o modo de pensar e agir de um 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 2 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... empreendedor de sucesso, a começar pelo traço que faz a grande diferença: a inovação — tal como diagnosticou o economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1959), primeiro teórico a investigar a fundo o papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico. Segundo Schumpeter, o processo de inovação promove a “destruição criativa”, porque começa a tornar obsoletos produtos, modos de produção e modelos de negócios estabelecidos. O método que Dornelles desenvolveu reduz o tempo de levantamento de paredes pela metade, e seu sistema de vendas é igualmente inovador — feito por metro quadrado de construção. Não há dúvida de que essa é uma história de sucesso. Mas, antes de tentar entender como se chega lá, é preciso perguntar qual é a medida real do êxito de um empreendedor. Apenas o faturamento? “Para a maioria, o resultado financeiro é consequência”, diz Juliano Seabra, diretor de pesquisa e educação da Endeavor Brasil. “A motivação mais comum é transformar um sonho em realidade.” E esse sonho quase sempre vem da aliança entre a vontade de executar e o espírito questionador. “Todo empreendedor é um inconformado por natureza”, diz Marcos Hashimoto, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper, de São Paulo. As palavras de Dornelles podem ser tomadas como um mantra da mente empreendedora: “Toda vez que vejo um produto, penso em como poderia fazer algo melhor”. Além do inconformismo, outra característica-chave do empreendedor, segundo Hashimoto, é a visão de futuro. Isso não se traduz em tentativas infindáveis de prever os rumos da economia ou do comportamento do consumidor. Segundo Saras Sarasvathy, professora da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, e uma das principais referências atuais no estudo do empreendedorismo, os bem-sucedidos costumam relativizar a importância das pesquisas de mercado, preferindo confiar na própria percepção dos espaços a serem preenchidos. Seus objetivos são definidos de maneira ampla e eles têm capacidade aguçada de ajustá-los, às vezes radicalmente, conforme o negócio avança. Uma pesquisa recente da revista Inc., a mais importante do setor de empreendedorismo dos EUA, dá razão a Sarasvathy: entre os CEOs das 500 empresas de crescimento mais rápido do país, 60% começaram seus negócios sem escrever um plano de antemão, e só 12% promoveram pesquisas de mercado. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 3 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... QUAL É O SEU PERFIL? Pequenas Empresas & Grandes Negócios ouviu especialistas e chegou aos seis tipos mais comuns de empreendedor “Acho importante lidar com os problemas apenas na medida em que aparecem”, afirma Júlio Vasconcellos, 30 anos, um exemplo das conclusões de Sarasvathy. “Você para, respira, e monta um plano para tentar solucioná-los. Não tenho muita paciência para estratégias longas.” Em 2009, depois de um MBA e duas startups no campo de tecnologia nos Estados Unidos, Vasconcellos, percebendo o boom das compras coletivas acima do equador, decidiu trazer o modelo para o Brasil com o Peixe Urbano. Com pouco mais de um ano de operações, a empresa conta com cerca de 14 milhões de usuários aqui, na Argentina e no México. LIGANDO OS PONTOS > Quem imaginaria que as aulas de caligrafia de Steve Jobs poderiam inspirar o conjunto de fontes dos primeiros computadores Macintosh? Em seu famoso discurso para os alunos de Stanford, o fundador da Apple fala exatamente da importância de reunir todo tipo de referências ao longo de um processo criativo. Segundo Jobs, o segredo está na capacidade de ligar os pontos, ou seja, conectar os conhecimentos. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 4 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... O espírito inquieto e propenso a correr riscos é uma marca que Alexandre Costa, 40 anos, proprietário da Cacau Show, assume orgulhosamente. “O empreendedor não é cartesiano”, diz. “É anárquico, porque, se pensar muito, termina não empreendendo.” Seu impulso para começar o negócio contrariou o que muitos considerariam bom senso. Além de ter optado por investir no setor de alimentação, já um pouco congestionado e com razoável diversificação, ele insistiu em retomar uma iniciativa de sua mãe que não tinha dado certo, por problemas de produção e logística. Para Costa, o tal “sonho”, mencionado por muitos especialistas, falou mais alto: “Quero deixar a imagem de uma marca que sempre buscou crescer e melhorar”. A verdadeira visão de futuro, para Sarasvathy, é uma convicção íntima adquirida pelo autoconhecimento — num processo que sempre se aprimora. Era com isso que contava Laércio Cosentino quando, na virada dos anos 70 para os 80, abriu mão da diretoria de uma empresa de informática, área pela qual sempre foi apaixonado, recusou diversas propostas do mercado e decidiu apostar em seu lado empreendedor. “Foi uma decisão baseada no sentimento de que eu poderia fazer mais, pois tinha um conhecimento acumulado no setor”, diz. “Percebi que o momento era propício. O computador pessoal estava entrando no mercado, e desenvolver sistemas ainda era incomum.” Hoje, aos 51 anos, ele é presidente da Totvs, a sexta maior empresa do mundo em softwares aplicativos, com mais de 10 mil funcionários e receita líquida de R$ 1,1 bilhão. Cosentino tomou uma decisão ousada que, de início, provavelmente implicaria em redução de sua renda pessoal, mas achou que valia a pena. Sarasvathy chama isso de “perdas toleráveis”. “Quem arrisca mais é porque vê mais valor no erro, e assim adquire seu conheci¬mento específico”, diz Hashimoto. “O empreendedor pensa diferente, é só isso. Não é melhor que ninguém, mas não quer seguir caminhos já traçados”, diz Fernando Dolabela, professor da Fundação Dom Cabral. Para ele, qualquer pessoa pode ser empreendedora, desde que tenha suas emoções, mais do que a razão, corretamente desenvolvidas. A ideia é simples: a parte técnica se aprende com certa facilidade; difícil é saber lidar com o sonho e a paixão necessária para levá-lo em frente. “O empreendedor é um especialista no que não existe”, define Dolabela, referindo-se à vocação visionária. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 5 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... VALÉRIO DORNELLES, 45 anos Empresa: Tecno Logys Faturamento: R$ 25 milhões/ano “Sempre que vejo um produto, penso em como poderia fazer algo melhor. Eu não conseguiria entrar em um mercado onde não pudesse fazer diferença. Gosto de transitar entre o conhecimento e a aplicação. Empreendedor precisa ter isso, pensar para a frente. Embora o retorno financeiro seja o objetivo de qualquer negócio, se eu achasse que a empresa não tem mais para onde ir, mesmo dando lucro, venderia. O que me motiva é mirar o futuro e pensar em cada passo para chegar lá. Quero construir uma empresa que inspire as pessoas e deixe um legado de inovação.” Nem todos concordam com ele quanto à inexistência de traços inatos, nem sobre o predomínio da emoção na receita de empreendedorismo (leia nas páginas 62 e 63 alguns dos perfis mais comuns). Mas é virtualmente consensual entre os especialistas que a imagem do empreendedor como gênio solitário não faz sentido nos dias de hoje. “Infelizmente ainda restam esses mitos de 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 6 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... uma época em que o contexto era muito diferente do atual”, diz Rene Fernandes, coordenador de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas. Heróis da indústria, como Henry Ford e Thomas Edison, viveram em tempos em que a tecnologia e os sistemas produtivos eram rudimentares, e quase tudo estava para ser inventado. Hoje não é preciso ser um iluminado para empreender e inovar. “Um novo produto pode trazer sutis mudanças processuais ou incrementais, mas com impacto significativo em seu setor”, afirma Fernandes. QUEBRA DE TRADIÇÕES > Pensando no potencial global que a marca poderia atingir, em 1958, Akio Morita rompeu com as tradições japonesas e mudou o nome da Tokyo Tsushin Kyogu para Sony. Aliada à excelência na produção de eletrônicos, a estratégia de ocidentalização facilitou a entrada no mercado americano, dando início à consolidação da empresa como uma das líderes mundiais do setor. Se alguns mitos ainda persistem, pelo menos se dissipou a ideia de que o empreendedor é um aventureiro ou alguém movido pela urgência. “O empreendedorismo já é visto como uma disciplina, uma opção real de carreira aberta à maioria das pessoas”, diz Juliano Seabra, da Endeavor. Um sintoma disso é que a parcela de empreendedores motivados por oportunidades e não apenas por necessidade é cada vez maior no Brasil. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 7 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... JÚLIO VASCONCELOS, 30 anos Empresa: Peixe Urbano Faturamento: não divulgado “Desde pequeno eu queria ter um negócio próprio. Olhava aquela figura do empresário no cinema e na televisão, e isso me inspirava muito. Comecei cortando grama de vizinhos, com um serviço de jardinagem, aos 14 anos. Sempre gostei de liberdade e de autonomia. Não consigo separar a pessoa física da jurídica; quero ter apenas uma vida. Além disso, acho que a carreira de empreendedor oferece muitas opções para ser criativo. Sempre que fiz as coisas com essa convicção, deu bastante certo, o que aumentou mais ainda minha confiança nesse caminho”. Investir em formação é uma marca forte de Dornelles, da Tecno Logys, que tem mestrado em engenharia. “Pode parecer contraditório, mas para mim o mundo acadêmico sempre foi uma ferramenta para empreender”, diz ele. “Passei muito tempo desenvolvendo trabalhos de pesquisa. Tracei um plano a longo prazo para minha vida, mesmo que na época isso não me parecesse tão claro.” Pesquisa, embora num ambiente bem mais informal, também foi o princípio por trás do sucesso da rede Beleza Natural. Depois de dez anos experimentando, a 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 8 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... cabeleireira Heloísa Assis desenvolveu em 1993 uma fórmula especial para tratamento de cabelos crespos. Heloísa somou suas economias com as de Leila Vélez, amiga de seu irmão, e o marido dela, Jair Conde, e juntos abriram o primeiro salão do Instituto Beleza Natural, no Rio. “A alegria que a transformação nos cabelos gerava ia além da estética. Era como se pudéssemos ver a autoestima despertada nas pessoas”, diz Leila, de 37 anos. A repercussão do produto levou à expansão da empresa, e hoje suas onze unidades atendem cerca de 80 mil clientes em três estados. ATENÇÃO ÀS OPORTUNIDADES > Ao perceber a força do movimento punk nos anos 70, Richard Branson decidiu transformar o negócio de venda de discos pelo correio em uma gravadora. Seu primeiro contrato foi com o Sex Pistols (então uma banda rejeitada), que se revelou um dos maiores ícones musicais da época. Nos anos seguintes, esse mesmo senso de oportunidade levou à construção de um império que vai da aviação comercial às telecomunicações. Para Hashimoto, do Insper, a persistência é um traço de todo empreendedor, mas em alguns deles a qualidade se encontra especialmente exacerbada. Acima do conhecimento tecnológico e do talento inovador, foi a perseverança — aí incluídas a habilidade e a coragem de mudar — a razão do sucesso de Guilherme Cerqueira, de 30 anos. Sua empresa, a QuestManager, fabricante do software de gerenciamento de pesquisa de mesmo nome, é líder em seu segmento, com vendas de licenças que vão de R$ 55 mil a R$ 300 mil, clientes como Votorantim, Vale, BrasilPrev e Amil, e previsão de faturamento de R$ 20 milhões para este ano. A história de empreendedor de Cerqueira começou com uma antevisão das redes sociais. Em 2000, depois de uma viagem pelos EUA, trouxe na mochila o projeto da Universo Escola, sua primeira empresa de tecnologia, fundada junto com o irmão, Gustavo, e focada na criação de redes para instituições de ensino. Depois de quase quebrar, eles mudaram o nome da empresa para Universo Comunidade e passaram a apostar no e-learning. Apesar de parcerias com instituições como a universidade Gama Filho, o novo negócio também não decolou. Os primeiros resultados chegaram apenas com o Questmail, uma solução de pesquisa on-line, que atraiu os primeiros grandes clientes em 2002. Empolgados com o sucesso, os irmãos contrataram consultoria e funcionários, e expandiram o escritório. O resultado foi uma escala prematura, que resultou em R$ 100 mil de dívidas pessoais para cada sócio, a demissão de toda a equipe e o fechamento do escritório. A solução: voltar para uma estrutura pequena, dessa vez com um plano de negócios. Em 2004, criaram a nova versão do QuestManager, exclusivo para empresas de pesquisa. O tiro foi certeiro e possibilitou posteriormente uma ampliação da clientela sem sobressaltos. Guilherme e seu irmão aprenderam na prática que “pensar grande” nem sempre é a melhor solução, muito menos a única. O mesmo aconteceu com Caito Maia, 42 anos, da Chilli Beans. Ele começou, em 1995, com uma empresa que trazia óculos dos EUA e revendia para grandes varejistas. Depois de dois bons anos, o negócio faliu devido ao calote de um grande pedido. “Quando você quebra, vê que precisa ter uma base sólida para sustentar o crescimento”, diz. “A estrutura era bastante frágil na época. Levei esse aprendizado para sempre.” Ex-roqueiro, ele se manteve fiel aos óculos escuros, mas, na retomada do negócio, em 1998, voltou-se para o básico: quiosques (primeiro num mercado alternativo, depois num shopping) e uma loja numa galeria de São Paulo. “A experiência do tombo foi fundamental para crescer de forma sustentável. Eu soube manter a simplicidade.” Hoje, a Chilli Beans tem 355 pontos de venda, com saída de mais de 1,5 milhão de óculos por ano, e se expande para o exterior. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 9 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... ALEXANDRE COSTA, 40 anos Empresa: Cacau Show Faturamento: R$ 400 milhões/ano “Meu sonho é que a empresa transcenda minha figura por meio de uma marca que faça 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 10 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... parte do cotidiano das pessoas. Não se trata de deixar uma herança maior ou menor para meus filhos. Isso é decorrência. Empreendedor precisa gostar de gente, entender o que as pessoas querem, ter visão de longo prazo, equilibrar razão e emoção. Para quem quer seguir esse caminho, uma faculdade de psicologia talvez seja tão importante quanto a de administração. Claro que também é importante gostar de trabalhar muito. O trabalho nunca pode se transformar num fardo.” O ajuste radical feito por Maia em sua trajetória se encaixa num dos traços de excelência apontados pelo pesquisador americano Jim Collins, da Universidade de Stanford e autor dos best-sellers Empresas Feitas para Vencer e Como as Gigantes Caem, além do recém-lançado Great by Choice, ainda sem tradução em português. Para ele, a humildade é inerente aos grandes (e verdadeiros) líderes empresariais. Maia adotou o que Collins chama de “conceito do porco-espinho”. Uma fábula grega diz que a esperta raposa sabe muitas coisas e ataca por todos os lados, mas o modesto porco-espinho sabe apenas uma, só que muito bem: pode valer a pena agir por uma única via, com precisão e, mais importante, simplicidade. APOSTA EMBASADA > Fundadora de diversas empresas de mídia, entre elas a produtora Harpo e o canal de televisão a cabo Oxygen, Oprah Winfrey tem se revelado um grande nome do empreendedorismo nos últimos anos. Com negócios que faturaram R$ 535 milhões em 2010, a apresentadora costuma relacionar seu sucesso ao investimento em áreas nas quais já acumula conhecimento vasto e influência. Outro fator fundamental apontado por Collins, a implantação de uma cultura de disciplina dentro na empresa, é um princípio muito valorizado por Ivan Barchese, 37 anos, da Mextra Metal. “Quando a empresa começou a crescer, passei a me preocupar com gestão e governança”, diz ele. “Fiz um MBA e adotei a estratégia de contratar pessoas com habilidades complementares às minhas.” Isso porque nem o mais talentoso dos empreendedores reúne todas as habilidades necessárias para construir um bom negócio. Segundo Marcos Hashimoto, a figura clássica do empreendedor ousado cabe muito bem nos momentos iniciais, “quando se tem pouco a perder”. A coisa muda de figura numa segunda etapa, a de “pôr ordem na casa”, um momento que exige perfil planejador. É nessa hora que a empresa adquire estrutura e precisa ser sólida. “Por mais que um empreendedor tenha de vestir vários chapéus ao mesmo tempo, é preciso saber delegar e escolher bem as pessoas para cada função. A equipe de vendas pede gente mais expansiva, enquanto o departamento financeiro tem uma demanda por profissionais mais metódicos e detalhistas. Você vai traçando os perfis para cada posição”, diz Barchese. “É como um xadrez que nunca termina.” Saber jogar bem, segundo o empresário, evita a burocracia, a perda da agilidade e a dispersão da mentalidade inovadora. Faz todo o sentido preservar esse ambiente, porque inovar é o forte da empresa. A partir de um projeto desenvolvido ainda na faculdade de engenharia, Barchese passou a produzir um tipo de pastilha que torna o alumínio mais resistente. “É como um ‘sonrisal’ misturado ao alumínio líquido”, descreve. A invenção revolucionou a história do negócio que ele herdou do pai. Graças à novidade, o faturamento da Mextra cresceu dez vezes e chegou a R$ 90 milhões por ano. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 11 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... MARIÂNGELA BORDON, 53 anos Empresa: Eos Cosméticos Faturamento: não divulgado “Tenho uma formação familiar orientada pela lógica do comércio; portanto, a motivação para abrir a Ox foi totalmente racional. Enxerguei uma oportunidade nos cosméticos, um setor bem promissor. Foi uma empresa concebida desde o início para ser vendida — e foi. Acho que o sucesso se deve ao fato de eu ser persistente, obsessiva e detalhista, sempre focada no produto. A experiência se revelou satisfatória também do ponto de vista pessoal. Eu me apaixonei pelo mundo dos cosméticos, decidi aproveitar o conhecimento adquirido e criei a Eos.” Passado o período inicial, em que o empreendedor precisa de arrojo e intenção, principalmente para levantar recursos, a capacidade de realização terá de se desenvolver na forma de competências específicas. A melhor e mais segura maneira de fazer isso é pelo estudo. Ninguém nega, contudo, que certas habilidades podem se desenvolver em casa. Mariângela Bordon, de 53 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 12 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... anos, não fez carreira nas empresas do pai — mesmo assim absorveu seu estilo pragmático. LIDERANÇA COMPARTILHADA > Em 1998, quando fundaram o Google, Larry Page e Sergey Brin pretendiam manter a empresa sob as próprias rédeas. Passada a euforia inicial, a vontade de crescer falou mais alto que o apego: três anos mais tarde, a dupla contratou Eric Schmidt para ajudar a profissionalizar a gestão da empresa. Sob o comando de Schmidt, o Google se tornou a marca mais valiosa do mundo, cotada atualmente em US$ 48 bilhões. “Minha paixão é o design, mas tenho uma formação familiar orientada pela lógica do comércio”, diz. “Meu pai nunca quis que as mulheres da família trabalhassem, mas, quando viu que eu tinha essa vocação, me ajudou muito.” A ideia do negócio — planejado para aproveitar o boom do setor de cosméticos e ser vendido na hora adequada — originou-se dos bois da fazenda da família, proprietária dos frigoríficos Bordon. Utilizando o tutano residual do corte dos animais, Mariângela desenvolveu uma linha de produtos que agradou a familiares e amigos. Em 1995, lançou a Ox, que chegou a faturar R$ 5 milhões por mês, até ser vendida para o Grupo Bertin, em 2004. Mariângela voltou ao mercado em 2007, com o lançamento da Eos Cosméticos, com 50 mil artigos vendidos por ano. Sergio Arno, por sua vez, decidiu começar do zero, sozinho — e nunca mais sossegou, tornando-se empreendedor serial. É herdeiro da indústria de eletrodomésticos que leva seu sobrenome, mas sempre quis um negócio próprio. “A decisão de diversificar e expandir foi puramente comercial”, diz o empresário de 51 anos. “Esse mercado é volátil. Um restaurante dificilmente dura mais que oito anos. Não se pode ser muito apegado.” 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 13 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... SERGIO ARNO, 51 anos Empresa: La Pasta Gialla Faturamento: R$ 33 milhões/ano “Não consigo lembrar de uma memória afetiva que tenha influído nas minhas decisões de trabalhar com gastronomia e abrir um negócio próprio. Apesar de vir de uma família muito rica, desde cedo quis ser dono do meu nariz e fazer as coisas do meu jeito. Meu pai queria que eu fosse um executivo da Arno, mas sempre achei que seria mais feliz fazendo algo que tivesse a minha cara. Acho que teria seguido esse caminho independentemente da formação familiar. Sou muito instintivo, confio mais no meu feeling para tomar decisões do que em pesquisas.” A história empresarial de Arno começou com US$ 10 mil investidos num restaurante quase falido, em 1987. Revertida a situação com a criação do La Vecchia Cuccina — um dos restaurantes italianos mais famosos de São Paulo —, o chef abriu dez anos depois a rotisserie Alimentari Sergio Arno. Esta, por sua vez, originou a massaria La Pasta Gialla, para atender restaurantes, hoje uma franquia com 20 unidades e faturamento anual de R$ 33 milhões. A expansão continuou. Vários restaurantes, incluindo uma hamburgueria, vendida 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 14 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... posteriormente, foram abertos em três cidades, além da Agropecus, de criação de caprinos. Se para qualquer empreendimento é preciso paciência na espera dos melhores resultados, ela é ainda mais necessária quando o objetivo é expandir um negócio. Nesse aspecto, é exemplar a trajetória de Cláudio Miccieli, 56 anos, ex-funcionário público e hoje diretor-executivo e sócio da rede de lanchonetes Giraffas, composta por 350 unidades franqueadas pelo país e com previsão de faturamento de R$ 600 milhões neste ano. A relação de Miccieli com o negócio começou devagar, em Brasília, quando, depois do expediente, costumava frequentar uma das quatro lanchonetes de uma rede fundada seis anos antes pelo amigo de faculdade Carlos Guerra, com o sócio Ivan Aragão. Miccieli começou a participar co¬mo investidor. Atraído pelas possibilidades de lucro e pela vida de empresário, decidiu acompanhar as operações do Giraffas de perto, até ajudar a montar uma central de produção em 1992. “Só saí do meu emprego quando as coisas começaram realmente a engrenar”, lembra. “Não fazia sentido largar tudo por um negócio que ainda não dava sustento para todos nós.” Hoje ele mantém a racionalidade. “Nossa expansão está mais relacionada a oportunidades de negócios do que a uma necessidade de realização pessoal”, diz. Uma abordagem prudente como essa em geral faz o empreendimento ganhar consistência. “Ter muito dinheiro cedo demais torna menos provável que a pessoa venha a ser uma grande empreendedora”, diz o inglês Chris Robson, que acaba de ter seu livro A Mente de um Empreendedor lançado no Brasil. Pode parecer contraditório para quem foi o diretor mais jovem da agência de propaganda DMB&B (e hoje assessora corporações gigantescas como a Coca-Cola e a Daimler Chrysler). Mas Robson sabe reconhecer as virtudes da maturidade. “Quanto mais velho e sábio o empreendedor fica, mais se torna hábil em lidar com o risco. Por isso, concentra-se apenas naquilo que ele sabe ter capacidade de fazer.” O empreendedor persistente é forjado pelo autoconhecimento e pelo aprendizado que adquire com os desafios. A caminho do sucesso Dez dicas para começar um bom negócio e levá-lo em frente 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 15 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... TESTE > você tem perfil de empreendedor? Marque as respostas, calcule a pontuação e veja em que ponto você se encontra na escala do Center for Entrepreneurial Management de Nova York, preparada com base na experiência de seus membros que já administram os próprios negócios 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 16 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... 1. COMO ERA O EMPREGO DE SEUS PAIS? (A) Ambos trabalhavam e foram autônomos a maior parte de suas vidas. (B) Ambos trabalhavam e foram autônomos durante algum tempo de suas vidas. (C) Um deles foi autônomo durante a maior parte da vida. (D) Um deles foi autônomo durante certo momento da vida. (E) Nenhum deles já foi autônomo. 2. VOCÊ JÁ FOI DESPEDIDO ALGUMA VEZ DE UM EMPREGO? (A) Sim, mais de uma vez. (B) Sim, uma vez. (C) Não. 3. SUA CARREIRA COMEÇOU: (A) Numa pequena empresa (menos de 100 empregados). (B) Numa empresa média (entre 100 e 500 empregados). (C) Numa grande empresa (mais de 500 empregados). 4. VOCÊ FOI DONO DE ALGUM NEGÓCIO ANTES DOS 20 ANOS? (A) Muitos. (B) Poucos. (C) Nenhum. 5. QUANTOS ANOS VOCÊ TEM NO MOMENTO? (A) 16 – 30. (B) 31 – 40. (C) 41 – 50. (D) 51 ou mais. 6. VOCÊ É O FILHO: (A) Mais velho. (B) Do meio. (C) Mais novo. (D) Outro. 7. VOCÊ É: (A) Casado. (B) Divorciado. (C) Solteiro. 8. SEU NÍVEL DE INSTRUÇÃO É: (A) Segundo grau incompleto. (B) Segundo grau completo. (C) Superior incompleto. (D) Superior completo ou mestrado. (E) Doutorado. 9. QUAL É SUA MAIOR MOTIVAÇÃO PARA COMEÇAR UM NEGÓCIO? (A) Ganhar dinheiro. (B) Não gosto de trabalhar para outra pessoa. (C) Ser famoso. (D) Como uma solução para o excesso de energia. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 17 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... 10. SEU RELACIONAMENTO COM O RESPONSÁVEL PELA MAIOR PARTE DA RENDA FAMILIAR FOI: (A) Tenso. (B) Satisfatório. (C) De rivalidade. (D) Inexistente. 11. SE FOSSE POSSÍVEL ESCOLHER ENTRE TRABALHAR DURO E TRABALHAR COM ASTÚCIA, VOCÊ: (A) Trabalharia duro. (B) Trabalharia criativamente. (C) Ambos. 12. EM QUEM VOCÊ CONFIA PARA OBTER CONSELHOS CRÍTICOS DE GERENCIAMENTO? (A) Equipes internas de gerenciamento. (B) Profissionais externos de gerenciamento. (C) Profissionais financeiros externos. (D) Ninguém, exceto eu mesmo. 13. SE VOCÊ APOSTASSE EM CORRIDAS DE CAVALO, EM QUAL VOCÊ COLOCARIA DINHEIRO? (A) No azarão. (B) No mais famoso. (C) No que treina mais. (D) No que fez o melhor tempo no treinamento. 14. O ÚNICO INGREDIENTE AO MESMO TEMPO NECESSÁRIO E SUFICIENTE PARA INICIAR UM NEGÓCIO É: (A) Dinheiro. (B) Clientes. (C) Uma ideia ou produtos. (D) Motivação e trabalho rigoroso. 15. SE VOCÊ FOSSE UM JOGADOR PROFISSIONAL DE TÊNIS E TIVESSE UMA CHANCE DE JOGAR CONTRA UM CAMPEÃO: (A) Recusaria, porque ele poderia facilmente vencê-lo. (B) Aceitaria o desafio, mas não apostaria dinheiro. (C) Apostaria o salário de uma semana em sua vitória. (D) Aceitaria uma vantagem, apostaria uma fortuna e jogaria por um resultado inesperado. 16. VOCÊ TENDE A SE INTERESSAR COM MAIS INTENSIDADE POR: (A) Novas ideias de produtos. (B) Contratação de novos funcionários. (C) Novos planos financeiros. (D) Todos acima. 17. QUAL DOS SEGUINTES TIPOS DE PERSONALIDADE É O MAIS APROPRIADO PARA ALGUÉM SER O SEU BRAÇO DIREITO? (A) Brilhante e enérgico. (B) Brilhante e tranquilo. (C) Calmo, mas enérgico. 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 18 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... 18. VOCÊ EXECUTA MELHOR OS TRABALHOS PORQUE: (A) É sempre pontual. (B) É superorganizado. (C) Tem bom desempenho. 19. VOCÊ DETESTA DISCUTIR: (A) Problemas envolvendo funcionários. (B) Contas e despesas. (C) Novas práticas de gerenciamento. (D) O futuro da firma. 20. DIANTE DE UMA DECISÃO, VOCÊ PREFERIRIA: (A) Jogar um dado com uma chance em três de ganhar. (B) Trabalhar racionalmente sobre o problema com uma chance em três de resolvê-lo dentro do prazo fixado. 21. SE VOCÊ PUDESSE ESCOLHER ENTRE AS SEGUINTES PROFISSÕES, SERIA: (A) Esportista profissional. (B) Gerente de vendas. (C) Advogado especializado em aconselhamento pessoal. (D) Juiz. 22. SE VOCÊ TIVESSE DE ESCOLHER ENTRE TRABALHAR COM UM SÓCIO QUE É AMIGO ÍNTIMO OU TRABALHAR COM UM ESTRANHO QUE É ESPECIALISTA NA ÁREA, VOCÊ ESCOLHERIA: (A) O amigo íntimo. (B) O especialista. 23. VOCÊ GOSTA DE DESFRUTAR DA COMPANHIA DE PESSOAS: (A) Quando você e os demais têm algo de produtivo para fazer. (B) Para fazer algo de novo e diferente. (C) Sempre, mesmo quando não há nada planejado. 24. EM SITUAÇÕES DE NEGÓCIO QUE EXIGEM UMA AÇÃO IMEDIATA, É ADEQUADO DEIXAR CLARO QUEM TEM A PALAVRA FINAL. (A) Concordo. (B) Concordo, com ressalvas. (C) Discordo. 25. AO PARTICIPAR DE UMA COMPETIÇÃO ESPORTIVA, VOCÊ SE PREOCUPA COM: (A) A qualidade de seu desempenho. (B) Ganhar ou perder. (C) Tanto “a” quanto “b”. (D) Nem “a” nem “b”. PONTUAÇÃO 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 19 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... 1. A:10 B:5 C:5 D:2 E:0 2. A:10 B:7 C:0 3. A:10 B:5 C:0 4. A:10 B:7 C:0 5. A:8 B:10 C:5 D: 2 6. A:15 B:2 C:0 D:0 7. A:10 B:2 C:2 8. A:2 B:3 C:10 D:8 E:4 9. A:0 B:15 C:0 D:0 10. A:10 B:5 C:10 D:5 11. A:0 B:5 C:10 12. A:0 B:10 C:0 D:5 13. A:0 B:2 C:10 D:3 14. A:0 B:10 C:0 D:0 15. A:0 B:10 C:3 D:0 16. A:5 B:5 C:5 D:5 17. A:2 B:10 C:0 18. A:5 B:15 C:5 19. A:8 B:10 C:0 D:0 20. A:0 B:15 21. A:3 B:10 C:0 D:0 22. A:0 B:10 23. A:3 B:3 C:10 24. A:10 B:2 C:0 25. A:8 B:10 C:15 D:0 SEU PERFIL 235-280: Empreendedor de sucesso Suas características são típicas de um vencedor. Tendo uma boa ideia, está na hora de abrir a própria empresa (se é que já não o fez). 200-234: Empreendedor consolidado Tino para negócios e independência fazem parte de sua personalidade. Trabalhe aspectos como ousadia e criatividade. 185-199: Aspirante a empreendedor Embora a estabilidade possa atraí-lo, o espírito questionador e a autonomia falam mais alto. Comece por modelos de negócios mais seguros. 170-184: Empreendedor potencial Criativo, dinâmico e autoconfiante, você reúne traços essenciais para abrir um negócio, mas prefere dividir responsabilidades. 155-169: Semiempreendedor Embora possa ser um líder sensato, você não gosta de implantar projetos do zero. Tente ampliar sua autonomia e sua adaptabilidade. Até 154: Empreendedor acidental Você pode ser um empreendedor, mas precisa exercitar a liderança se realmente quer iniciar 8/11/2011 06:28 PEGN - EDT MATERIA IMPRIMIR - Pense como empreendedor... 20 de 20 http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT277689... um negócio. 8/11/2011 06:28