Gestão da Cadeia de Suprimentos: contribuições para a construção
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Gestão da Cadeia de Suprimentos: contribuições para a construção
Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Gestão da Cadeia de Suprimentos: contribuições para a construção de um conceito Supply Chain Management: contributions to the construction of a concept Jaqueline de Fátima Cardoso ([email protected], Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IFSC, Santa Catarina, Brasil) R. Alba Dias Cunha, 190, AP. 301, Trindade, Florianópolis, SC - 88036-020, Brasil Nelson Casarotto Filho ([email protected], Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Santa Catarina, Brasil) Resumo: Esta pesquisa consiste em analisar conceitos de gestão da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management – SCM), demonstrando sua evolução e seus diferentes pontos de vista, de modo a contribuir para a construção de um conceito. Trata-se de um estudo teórico/conceitual o qual é focado em livros e trabalhos científicos envolvendo estudos teóricos e práticos. Os resultados demonstram a existência de diferentes conceitos de SCM e sua origem a partir da evolução da logística. A amplitude do conceito é vasta e, por isso, a SCM, na prática, não vem sendo aplicada por completo. Verificou-se que a implementação da SCM no Brasil ainda não foi alcançada em toda a sua complexidade, sendo o setor automobilístico o que demonstra maior evolução na aplicação do conceito. Observaram-se oportunidades de pesquisa a partir de modelos conceituais concebidos para estudos no campo da SCM. O tema estudado é bastante tratado na literatura, existem estudos preocupados em identificar e construir conceitos de SCM, esse trabalho caminhou nessa direção. Palavras-chave: Gestão da cadeia de suprimentos; Cadeia produtiva; Cadeia de valor; Cadeia de suprimento. Abstract: This research consists in analyzing the concepts of Supply Chain Management (SCM), showing their evolution and their different points of view, so as to contribute to the construction of a concept. It is a theoretical/conceptual study which is focused on books and scientific papers involving theoretical and practical studies. The results demonstrate the existence of different concepts of SCM and its origin from the evolution of logistics. The breadth of the concept is broad and, therefore, the SCM has not been fully applied in practice. It was found that the implementation of SCM has not yet been reached in all its complexity in Brazil, and the automotive sector is the one which shows further progress in implementing the concept. Research opportunities were observed from conceptual models designed for studies in the field of SCM. The topic studied in this paper is fairly approached in the literature. There are studies concerned with identifying and building concepts of SCM, and this work went towards this aspect. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 1 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Keywords: Supply chain management; Production chain; Value chain; Supply chain. 1. Introdução A Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management – SCM) é um termo amplamente utilizado tanto pelas empresas e instituições de ensino superior, quanto por pesquisadores. No entanto, esse termo encontra-se no contexto de outros, tais como: cadeia de suprimento, cadeia produtiva, cadeia de valor e logística. O que leva, muitas vezes, a uma confusão na demarcação de fronteiras conceituais, não se sabendo em que ponto termina uma definição e começa outra. Tendo em vista o aumento da complexidade das empresas – como, por exemplo, produzir e distribuir em diferentes países – a utilização da SCM é fator estratégico para as operações produtivas. Embora Correa (2010, p. 1) afirme que a SCM esteja hoje “no topo da agenda dos principais executivos da maioria das empresas...”, a SCM é ainda uma disciplina emergente, em fase de consolidação. Apenas recentemente os construtos mais relevantes foram identificados (MIGUEL; BRITO, 2010). Face ao exposto, o objetivo deste trabalho é levantar conceitos a cerca de SCM, demonstrando sua evolução e seus diferentes pontos de vista, de modo a contribuir para a construção de um conceito. O trabalho está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, o texto divide-se em procedimentos metodológicos; unidades de análise das empresas (cadeia produtiva, cadeia de valor, cadeia de suprimento e comparação entre essas unidades); gestão da cadeia de suprimentos (surgimento, conceitos e SCM no Brasil); oportunidades de pesquisa; e conclusões. 2. Procedimentos metodológicos O trabalho é classificado como teórico/conceitual, pois faz revisão da literatura, desenvolve conceitos e promove discussões teóricas (NAKANO, 2012). Compreende uma Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 2 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 pesquisa realizada em livros e trabalhos científicos que tratassem em alguma medida do conceito de SCM. A busca pelos artigos foi feita nas bases de dados Scopus, Web of Science, Science Direct e Scielo. Os termos utilizados na busca das bases de dados internacionais foram “Supply Chain Management” combinado com a palavra “conceito”, para isso utilizou-se o operador booleano “and”. Inicialmente foram encontrados 20 artigos na Scopus, 20 artigos na Web of Science e 97 na Science Direct. Após a exclusão das duplicidades restaram 132 artigos, foram lidos os resumos dos mesmos com a finalidade de identificar se efetivamente tratavam de estudos relacionados ao conceito de SCM e/ou aplicar esses conceitos em estudos empíricos. Os artigos selecionados resultantes desse processo fazem parte deste trabalho e constam nas referências. No que tange a SCM no Brasil, a busca concentrou-se na base de dados nacional Scielo, tendo como critério de seleção o artigo apresentar estudos teóricos abrangendo conceitos de SCM e/ou aplicar esses conceitos em estudos empíricos. Nessa base iniciou-se a busca pelo assunto, para isso foi empregado o termo tanto em inglês quanto em português, ou seja, “Supply Chain Management” e “Gestão de Cadeia de Suprimento”. Foram identificados 28 artigos dos quais, após a leitura dos resumos, selecionou-se 6 que compõem o Quadro 3. Inicialmente buscou-se fazer a diferenciação entre cadeia produtiva, cadeia de valor e cadeia de suprimento, tendo em vista que o foco do trabalho era na cadeia de suprimento. Ao analisar o referencial teórico foram identificados termos presentes nos conceitos a cerca de SCM, compreendendo: logística, fornecedores/compras, processo produtivo, canal de distribuição/distribuição, integração, relacionamento, consumidor final/clientes, informação e vantagem competitiva/valor. Cada conceito foi classificado de acordo com os termos que possuía de modo a verificar qual o conceito que mais abrangia tais termos. Por fim, foram encontrados estudos preocupados em criar ferramentas para viabilizar pesquisas empíricas, bem como construção teórica no campo da SCM, em decorrência disso foi criada a seção 5 com vistas a oportunidades de pesquisa relacionadas à SCM. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 3 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 3. Unidades de análise das empresas Na visão de Gasparetto (2003) as empresas são membros de arranjos nos quais se torna agente cuja competitividade depende do seu desempenho e do desempenho de todas as demais empresas envolvidas nas etapas necessárias para o fornecimento de um determinado produto aos clientes finais. Nesse sentido, uma empresa pode ser visualizada e analisada a partir de três unidades principais: como participante de um dos elos (indústria) de uma cadeia produtiva (filière), seja na cadeia principal ou auxiliar desta; de forma isolada, no contexto de sua cadeia de valor (value chain), em que as atividades executadas são analisadas com o objetivo de apontar potenciais de vantagem competitiva; como um dos membros de uma cadeia de suprimentos (supply chain), visualizada a partir de uma empresa, e englobando as empresas envolvidas a montante e a jusante desta, desde as fontes originais de matérias-primas, até os clientes finais. A seguir cada uma dessas unidades de análise será discutida. 3.1 Cadeia produtiva O surgimento dos termos “cadeia produtiva” e “análise da cadeia produtiva”, no Brasil, é associado ao desenvolvimento do conceito de filière e da analyse de filière na França e na Inglaterra, no decorrer da década de 1930. Na França e na Inglaterra, a analyse de filière foi um conceito desenvolvido em paralelo às discussões sobre a modelagem sistêmica como alternativa à modelagem reducionista, por isso, incorporava uma visão mais integrada e dinâmica dos fenômenos. Entretanto, a analyse de filière somente foi amplamente difundida na década de 1960 e direcionada para o setor agrícola. No Brasil, a visão de filière foi extrapolada para outros setores industriais, além do setor agrícola (LEITE, 2004). Nos trabalhos de Leite (2004) e Gasparetto (2003) os conceitos de cadeia produtiva e filière têm o mesmo significado. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 4 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 A cadeia produtiva é definida a partir da identificação de determinado produto final e o encadeamento das várias operações técnicas, comerciais e logísticas, de jusante a montante, necessárias à sua obtenção (BATALHA, 2007; PIRES, 2001). Gasparetto (2003) e Pires (2011) afirmam que uma cadeia produtiva pode ser descrita a partir de uma matéria-prima ou de um produto final, mas em ambos os casos ela é composta por dois níveis: a cadeia principal e as cadeias auxiliares. Na cadeia principal as atividades são diretas e vinculadas ao objetivo principal da cadeia. Já a cadeia auxiliar realiza atividades indiretas e de suporte ao objetivo principal, interagindo dinamicamente com a cadeia principal, a qual está subordinada, dando-lhe os meios de que ela necessita para a execução de suas atividades e oferecendo-lhe opções técnicas e comerciais. 3.2 Cadeia de valor Para Novaes (2007) e Porter (1990), num ambiente competitivo, valor é o montante que os compradores estão dispostos a pagar por um produto que uma empresa ou indivíduo oferece. Conforme ilustra a Figura 1, o valor de um determinado produto é composto pela margem e pelas atividades de valor. As atividades de valor são formadas por dois grupos. As atividades primárias compreendem os processos de: logística de entrada, operações, logística de saída, marketing e vendas, e serviço pós-venda. E o grupo das atividades de apoio compreendem os processos de aquisição de insumos e serviços, desenvolvimento da tecnologia, administração de recursos humanos e infra-estrutura da empresa. A execução dessas atividades compõe os elementos que geram vantagem competitiva às empresas, portanto, a cadeia de valor é um conjunto de atividades interdependentes (NOVAES, 2007). Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 5 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Figura 1 - Cadeia de valor Fonte: Porter (1990) Segundo Novaes (2007), o conceito de cadeia de valor, desenvolvido por Porter, é um dos pilares do moderno gerenciamento da cadeia de suprimentos. Para Novaes (2007), a cadeia de suprimentos é formada por uma sequência de cadeias de valor, cada uma correspondente a uma das empresas que formam o sistema. 3.3 Cadeia de suprimentos Ballou (2006a, p. 29) define cadeia de suprimentos como “um conjunto de atividades funcionais (transportes, controle de estoques, etc) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual matérias-primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais se agrega valor ao consumidor”. Na mesma linha Novaes (2007, p. 38) apresenta a cadeia de suprimentos como o “caminho que se estende desde as fontes de matéria-prima, passando pelas fábricas dos componentes, pela manufatura do produto, pelos distribuidores e chegando finalmente ao consumidor através do varejista”. E ainda, destacam Slack, Chambers e Johnston (2009, p. 145), Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 6 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 em um projeto de SCM “as operações são definidas no contexto de todas as operações com as quais interage”. Para Casarotto Filho (2010) a cadeia de suprimentos é uma rede comandada, via de regra, por uma empresa “mãe”, num processo top down, em que essa empresa “mãe” normalmente se responsabiliza pelos elos da cadeia que agregam maior valor, ou que estão mais aos extremos da cadeia de valor geral. A Figura 2 representa essa visão mostrando que partes da cadeia de valor geral são assumidas pela empresa “mãe” e pelos demais participantes. A marcação em cinza tem tendência de maior responsabilidade das atividades pela empresa “mãe”, já a branca tende a responsabilidades de atividades assumidas pelas demais empresas da rede. Figura 2 - Cadeia de valor geral e participação das empresas da rede Infraestrutu ra Tecnologia de gestão: recursos humanos, qualidade, planejamento, gestão financeira P e D: -Atualização setorial Operação -Desenvolvimento de produtos Logística de Aquisições: Produção: -Produção interna (montagem) -Compras Logística de Distribuição -Estocagem de produtos -Estocagem de materiais Marketing: -Atualização setorial -Marca -Redes de distribuição -Tecnologia de processos -Transporte de materiais -Produção externa -Transporte de produtos -Vendas atacado -Atendimento (responsividade ) -Assistência + - - + Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 7 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Tendência para a empresa mãe (Agregação de valor) Fonte: Casarotto Filho (2010) 3.4 Comparação entre as três unidades principais Leite (2004) apresenta uma comparação entre os conceitos de cadeia de valor, cadeia de suprimentos e cadeia produtiva (Quadro 1). Quadro 1 - Aspectos relevantes da cadeia de valor, de suprimentos e produtiva Cadeia de valor (value chain) Principal conceito: Porter (1989) Abrangência: análise de uma empresa e dos elos responsáveis pelo desempenho de sua competitividade Fatores de análise: - Classificação das atividades primárias e das atividades de apoio - Cada empresa possui sua própria cadeia de valor Cadeia de suprimentos (supply chain) Principal conceito: Lambert, Cooper e Pagh (1998); Slack (1993) Abrangência: análise da empresa em conjunto com sua rede de relações, a montante e a jusante da empresa focal, em todos os níveis Fatores de análise: - Empresa focal - Assume um formato diferente para cada empresa, mesmo que produza produtos iguais - Número de níveis envolvidos na análise - Pode fazer parte de uma ou de várias cadeias produtivas Cadeia produtiva (filière) Principal conceito: Labonne (1995) Abrangência: análise que abrange todo um setor, por exemplo, o automobilístico Fatores de análise: - Mesoanálise - Parte-se de uma matéria-prima ou de um produto final - Cadeia principal e auxiliar - Identificam-se as etapas diretas e indiretas envolvidas na transformação do produto Fonte: Leite (2004, p. 226) Na visão de Leite (2004), apesar dos avanços nas discussões acadêmicas e empresariais em decorrência do reconhecimento e da importância da gestão conjunta, para o ganho de competitividade no mercado, os conceitos de cadeia de valor, cadeia de suprimentos e cadeia produtiva ainda apresentam percepções diferentes e pouca homogeneidade nas interpretações. Isso confunde o entendimento dos limites de cada abordagem. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 8 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Gasparetto (2003) também analisa cada um dos três conceitos abordados - cadeia de valor, cadeia de suprimentos e cadeia produtiva. O conceito de cadeia de valor pode ser utilizado para análises no âmbito de uma empresa, analisando os elos responsáveis pela sua competitividade, enquanto o conceito de cadeia de suprimentos pode ser empregado para análises focando uma empresa e sua rede de relações, a montante e a jusante, em todos os níveis. A cadeia de suprimentos terá uma configuração diferente para cada uma das empresas de uma indústria, mesmo que elas produzam o mesmo produto. O conceito de cadeia produtiva pode ser utilizado para análises amplas, no nível da mesoanálise. Tomando por base, por exemplo, uma matériaprima ou um produto final, identifica-se todas as etapas envolvidas direta ou indiretamente na sua transformação, sendo que cada etapa engloba todas as empresas que a compreendem (GASPARETTO, 2003). A cadeia de suprimentos tem evoluído e a união dos participantes tem sido necessária para aumentar a competitividade das empresas, sendo assim, afirma Novaes (2007), os ganhos devem ser de todos os integrantes da cadeia e não de somente um em detrimento dos demais. Para se chegar ao estágio de integração plena com benefícios para todos os membros da cadeia, defende o autor, são necessários processos de modernização das empresas envolvendo a organização, os sistemas de informações e os sistemas de custos adequados aos objetivos pretendidos, permitindo transparência de informações entre os parceiros da cadeia. Ainda para Novaes (2007) essa forma da cadeia de suprimentos é fruto de uma operação logística integrada e moderna denominada de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, em inglês Supply Chain Management (SCM). Ballou (2006a) diz que SCM é uma evolução da logística empresarial, sendo que capta a essência da logística integrada e a ultrapassa. Casarotto Filho (2010) apresenta outro tipo de rede que forma uma cadeia, a rede flexível, que tem nos consórcios italianos seus maiores representantes. As empresas, normalmente de pequeno e médio porte, unem-se num processo cooperativo tipo botton up, criando uma espécie de “cabeça” virtual que se ocupa com as funções extremas da cadeia de valor (pesquisa e Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 9 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 desenvolvimento de um lado, distribuição internacional e marca regional do outro), ficando para as pequenas e médias empresas a produção. Mas esse tipo de rede não será objeto deste estudo. 4. Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management - SCM) Esta seção aborda o surgimento da SCM, os conceitos aplicados ao termo e a aplicação da SCM no Brasil. 4.1 Surgimento da SCM O período entre 1980 e 2000 foi marcado por transformações nos conceitos gerenciais, especialmente no que toca à função de operações. O movimento da qualidade total e o conceito de produção enxuta trouxeram consigo um conjunto de técnicas e procedimentos como o JIT, CEP, QFD, SMED, kanban e engenharia simultânea (FLEURY, 1999). No caminho dessas novas técnicas surgem dois outros conceitos: logística integrada e Supply Chain Management. A logística integrada surgiu no início da década de 1980 e já possui um arcabouço teórico e prática consolidados (FLEURY, 1999). Para o autor a SCM apareceu no início da década de 1990 e a base conceitual ainda encontra-se em construção. Na aplicação prática, mesmo no âmbito internacional, poucas empresas conseguiram implementá-la com sucesso (FLEURY, 1999). Mooler (1994) afirma que o foco da pesquisa em gestão de fornecedores é um sucessor direto da pesquisa em JIT (Just in Time), na década de 1980. Para o autor, SCM é um conceito próximo ao gerenciamento de fornecedores e focada no desenvolvimento da cadeia de suprimentos em redes. Porém, defende o autor, SCM é um conceito mais amplo do que a gestão de fornecedores, sendo esse conceito mais profundo e enraizado na pesquisa logística do que os conceitos anteriores. Os primeiros trabalhos de SCM surgiram na década de 1980 e entre eles estava uma dúzia de trabalhos idênticos dos consultores Booz, Allen & Hamilton Inc. (MOOLER, 1994). Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 10 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 No estudo de Ballou (2006b) intitulado “A evolução e o futuro da logística e do gerenciamento da cadeia de suprimentos”, o autor diz que o termo SCM surgiu como um novo nome, porém, sua origem parece um mistério e é exatamente o que a SCM é, em comparação com a distribuição física e logística. Ballou (2006b) destaca que alguns autores afirmam ser um cumprimento da promessa de integração das atividades implícitas nas definições iniciais de logística, enquanto outros pensam que é um conceito novo e ousado. A alegação é que a SCM não é nova e que certos autores reconhecem que os pioneiros de logística tinham muitas das ideias promovidas por entusiastas atuais da SCM (BALLOU, 2006b). O início da SCM pode ser traçado com o programa Quick Response na indústria têxtil e posteriormente com o ECR (Efficient Consumer Response) na indústria de gêneros alimentícios (LUMMUS; KRUMWIEDE; VOKURDA, 2001). 4.2 Conceito de SCM Ao analisar os conceitos de SCM apresentados na década de 1980, Moller (1994) comenta que a SCM é a perspectiva de um paradigma novo da logística, sendo que a logística tradicional é contestada nas seguintes áreas: a cadeia de suprimentos é percebida como uma entidade, em vez de atividades fragmentadas e dispersas ao longo do fluxo de material; a importância da SCM passa a ser estratégica; e os sistemas passam a ser integrados ao invés de possuir apenas interface. Para Fleury (1999) existem alguns profissionais que consideram a SCM como uma evolução do conceito de logística. Isso pode ser percebido em Ballou (2006a, p. 27), quando afirma que SCM “capta a essência da logística integrada e a ultrapassa”. No entanto, Fleury (1999) defende que a SCM é muito mais completa, compreendendo o desenvolvimento do produto, além de compras e desenvolvimento de fornecedores. O autor diz que para melhor entender o conceito de SCM é fundamental entender primeiro o conceito de canal de distribuição. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 11 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Instrumento fundamental para a eficiência do processo de comercialização e distribuição de bens e serviços, na visão de Fleury (1999) canal de distribuição pode ser definido como o conjunto de unidades organizacionais, instituições e agentes, internos e externos, que executam as funções que dão apoio ao marketing de produtos e serviços de uma determinada empresa. Dentre as funções de suporte ao marketing incluem-se compras, vendas, informações, transporte, armazenagem, estoque, programação da produção e financiamento. Qualquer unidade organizacional, instituição ou agente que execute uma ou mais funções de suporte ao marketing é considerado um membro do canal de distribuição. Os diversos membros participantes de um canal de distribuição podem ser classificados em membros primários e membros secundários FLEURY (1999). Membros primários são aqueles que participam diretamente, assumindo o risco pela posse do produto, incluem fabricantes, atacadistas, distribuidores e varejistas. Já os membros secundários são aqueles que participam indiretamente, basicamente através da prestação de serviços aos membros primários, não assumindo o risco da posse do produto. Na mesma linha, partindo do canal de distribuição para chegar ao conceito de SCM, Bowersox e Closs (2009, p. 89) afirmam que “um canal de distribuição é um grupo de entidades interessadas que assume a propriedade de produtos ou viabiliza sua troca durante o processo de comercialização, do fornecedor inicial até o comprador final”. Nesse caso, comentam os autores, forma-se a cadeia de suprimentos e em função da variedade das tarefas a serem realizadas por diversas empresas faz-se necessária a integração dessas atividades, o que é denominado de SCM. O aumento da competição e a maior instabilidade dos mercados levaram a uma crescente tendência à especialização, através da desverticalização/terceirização. Isso gera maior complexidade e menor controle sobre os integrantes da cadeia de suprimentos. A solução para esse problema passa pela busca de maior coordenação e sincronização, através de processo de cooperação e troca de informações. Esse esforço de coordenação nos canais de distribuição, através da integração de processos de negócios que interligam seus diversos participantes é chamada de SCM. A partir desse entendimento, Fleury (1999) conceitua SCM como “o esforço Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 12 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 de integração dos diversos participantes do canal de distribuição através da administração compartilhada de processos-chave de negócios que interligam as diversas unidades organizacionais e membros do canal, desde o consumidor final até o fornecedor inicial de matérias-primas”. Ganeshan e Harrison (2012) conceituam SCM como uma rede de serviços e opções de distribuição que desempenha as funções de aquisição de materiais, transformação desses materiais em produtos intermediários e acabados, bem como a distribuição desses produtos acabados para os clientes. As cadeias de suprimentos existem em organizações prestadoras de serviços e em organizações de manufatura, embora a complexidade da cadeia possa variar de setor para setor e de empresa para empresa. Para Dornier et al. (2000, p. 369) a “gestão da cadeia de suprimentos é a gestão de atividades que transformam as matérias-primas em produtos intermediários e produtos finais, e que entregam esses produtos finais aos clientes”. Para os autores, essas atividades envolvem compras, manufatura, logística, distribuição e transporte, até o marketing. E geralmente, diferentes empresas são proprietárias de diferentes conexões na cadeia de suprimentos. Novaes (2007, p. 40) apresenta a definição adotada pelo Fórum de SCM realizado na Ohio State University: “SCM é a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do consumidor final e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor para o cliente”. No estudo de Lummus; Krumwiede; Vokurda (2001), os autores realizaram uma pesquisa cujo objetivo foi de levantar junto a seis empresas de grande porte – 2 empresas de manufatura, 2 empresas varejistas e 2 empresas de fornecedoras de serviços logísticos – qual a aplicação dos termos logística e cadeia de suprimentos nessas empresas. As pessoas entrevistadas em cada empresa eram gestores seniores ou ocupavam cargos de gerente de suprimentos ou vicepresidente de SCM. Foram feitas as seguintes questões: como você define cadeia de suprimentos?; Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 13 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 como você define logística?; como essas áreas estão relacionadas? As respostas obtidas demonstraram que os conceitos de SCM e logística são frequentemente confundidos e vistos como sobrepostos, dependendo da definição utilizada na organização. A logística é vista como uma atividade interna da empresa, embora tenha sido apontada como gerenciadora de fluxos entre a empresa, seus fornecedores e clientes. Já a SCM inclui os fluxos logísticos, o gerenciamento dos pedidos dos clientes e processos produtivos e os fluxos de informação necessários para monitorar todas as atividades dos elos da cadeia de suprimentos. Aponta esse estudo que os diferentes entendimentos a cerca de SCM encontrados na literatura são reforçados na realidade das empresas. Os autores reforçam que é importante as empresas terem uma compreensão comum sobre esses conceitos tendo em vista a melhoria do desempenho global da SCM. Outro estudo que buscou a conceituação de SCM foi apresentado por Mentzer et al. (2001). Nesse trabalho os autores dizem que a construção da gestão não pode ser efetivamente feita por profissionais e pesquisadores sem um consenso sobre sua definição. Tal é o caso com o termo Supply Chain Management que possui muitas definições, havendo pouco consenso sobre o que significa. Assim, os autores examinam e pesquisam diferentes conceitos existentes. Várias definições de SCM e "supply chain" são analisadas, categorizadas e sintetizadas. Antecedentes e consequências da SCM são identificados, e os limites da SCM em termos de funções de negócios e organizações são propostos. Um modelo conceitual e uma definição unificada de SCM são apresentados pelos autores, conforme segue: A cadeia de suprimentos abrange todas as atividades relacionadas com o fluxo e transformações de produtos desde a matéria-prima até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informações. Tanto os materiais quanto as informações fluem em diversos sentidos (para baixo e para cima) na cadeia de suprimentos. A partir disso, Mentzer et al. (2001) definem SCM como a integração dessas diversas atividades, mediante Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 14 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 relacionamentos aperfeiçoados na cadeia de suprimentos, com a finalidade de conquistar uma vantagem competitiva sustentável. Mooler (1994) diz que há tendência da SCM ter significados diferentes nos EUA e na Europa. Nos EUA, o foco é sobre as relações com o cliente, atendimento ao cliente e os custos da cadeia total. Na Europa, o foco é sobre as parcerias entre diferentes empresas produtoras. Em ambos os casos a visibilidade da cadeia, o desenvolvimento de relações com confiança, a cooperação e as barreiras são as mesmas. Ballou (2006b) apresenta uma série de conclusões a partir da observação da evolução dos conceitos por ele estudados: Claramente, a emoção e o foco estão voltados para a SCM. Em primeiro lugar, pode-se dizer que a SCM está preocupada com a realização das oportunidades da gestão integrada de processos de fluxo de produto entre funções e entre membros do canal. Embora a ideia seja potente e os benefícios óbvios, a noção de redução de custos, incluindo mais de um sistema de tomada de decisão não é nova. Foi, pelo menos, incorporado nos sistemas de abordagem promovida por operações de pesquisadores entre 1940 e 1950. Em segundo, a logística está agora sendo vista como um subconjunto da gestão da cadeia de suprimento. Gestão interfuncional e interorganizacional parece ser da competência da gestão da cadeia de suprimentos, em vez de logística. Logística, como um nome de identificação, substitui distribuição física. A terceira observação diz que compras e produção estão agora incluídas no âmbito da SCM. Como resultado, SCM é responsável por 70 a 80% do custo de vendas para muitas empresas. Em quarto lugar, tantas áreas funcionais da empresa estão adotando a SCM que está em perigo de tornar-se tão ampla que perde a sua identidade e foco. Algumas limitações organizacionais e subdivisões podem ocorrer. Em quinto lugar, embora a SCM promova a coordenação, integração, construção de relacionamento e colaboração ao longo do canal de suprimentos, na realidade isso ocorre em um grau muito limitado. A SCM é praticada como logística e não alcança a definição teórica mais ampla prevista para ela. Talvez os gestores vão Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 15 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 começar a praticar SCM quando os seus benefícios forem melhores documentados e medidos, e as técnicas e ferramentas necessárias para alcançar os benefícios forem refinadas. Diante dos conceitos apresentados a cerca de SCM foi elaborada uma análise comparativa, conforme ilustra o Quadro 2. Quadro 2 - Análise comparativa de conceitos de SCM Fleury (1999) Autores Dornier et al. (2000) Lummus, Krumwie de, Vokurda (2001) X X Termos Logística Mentzer et al. (2001) Novaes (2007) Ballou, (2006b) Bowersox, Closs (2009) Ganeshan, Harrison (2012) X Fornecedores/ compras X X X X X X X X Processo produtivo X X X X X X X X Canal de distribuição/ distribuição X X X X X X Integração X X X X X X X X X X Relacionamento Consumidor final/clientes Informação Vantagem competitiva/valor X X X X X X X X X X X Fonte: Os autores (2013) No Quadro 2 os termos são aqueles encontrados nas definições, de modo que cada termo foi sendo marcado de acordo com a sua presença nas definições analisadas. Os termos fornecedores e processo produtivo aparecem em todas as definições. Na sequência vem consumidor final, seguido por canal de distribuição e integração. Os demais termos aparecem em Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 16 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 dois ou três dos oito conceitos apresentados. O termo que menos aparece é relacionamento, o que causa estranheza, pois esse é um dos princípios para implementação da SCM. O conceito que abrange mais termos é o proposto por Ballou (2006b), no entanto, o autor diz que a amplitude da definição não é alcançada na prática das empresas e que o mais comum é a integração limitada entre produtor e fornecedor. Por fim, é possível dizer que o conceito de SCM, para ser abrangente, deve incluir todos os termos destacados no Quadro 2, construindo-se o seguinte conceito: a SCM consiste na integração dos processos produtivos, envolvendo fornecimento e distribuição, a fim de atender às demandas dos clientes, tal integração deve ser permeada pelo relacionamento entre as partes envolvidas em cada processo, compartilhando informações de modo a construir vantagem competitiva para as organizações envolvidas. Entretanto, permanece a questão se esse conceito pode ser efetivamente viabilizado nas práticas empresariais. 4.3 SCM no Brasil No Brasil, a onda da SCM começou a se disseminar no final da década de 1990, impulsionada pelo movimento da logística integrada. Prova disso é o movimento Efficient Consumer Response (ECR) Brasil (2012) iniciado em meados de 1997 que apresentou resultados da fase de projetos-piloto, apontando para um grande potencial de redução de custos (FLEURY, 1999). O ECR Brasil é um movimento global no qual empresas industriais e comerciais, juntamente com os demais integrantes da cadeia de abastecimento (operadores logísticos, bancos, fabricantes de equipamentos e veículos, empresas de informática, etc.), trabalham em conjunto na busca de padrões comuns e processos eficientes que permitam reduzir os custos e melhorar a produtividade em suas relações. Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 17 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Para Miguel e Brito (2010) as principais dimensões da SCM são: confiança (credibilidade e benevolência), comprometimento, interdependência, compatibilidade organizacional, visão, liderança da cadeia e apoio da alta gerência. Na visão dos autores uma revisão extensa da literatura permite acrescentar a esses aspectos outras dimensões, como relacionamentos internos, foco no cliente, sistemas de tecnologia e compras estratégicas. Empiricamente, ainda para os autores, os estudos dos efeitos desses antecedentes sobre a SCM não podem ser considerados conclusivos, especialmente em função de amostras não probabilísticas, importantes diferenças no desenho de pesquisa e resultados conflitantes. Outro aspecto é a limitação geográfica das pesquisas empíricas, focadas em países americanos e europeus, não explorando mercados emergentes. Uma revisão das publicações nos principais periódicos de Administração nacionais – RAE-Revista de Administração de Empresas, Revista de Administração Contemporânea (RAC), Revista de Administração da USP (RAUSP) e Gestão e Produção – sugeriu que a maioria das pesquisas sobre a matéria tem caráter exploratório ou descritivo (MIGUEL; BRITO, 2010). Uma exceção é o trabalho de Cunha e Zwicker (2009) cujo foco foi avaliar o impacto da comunicação sobre o relacionamento entre comprador e fornecedor, representado pelo comprometimento entre empresas e desses dois construtos sobre o desempenho da empresa. A cultura brasileira apresenta particularidades que a diferenciam do perfil americano ou europeu, tais como concentração de poder, flexibilidade, paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, aversão ao conflito e alto índice de impunidade (TANURE, 2009), alterando os possíveis antecedentes da SCM. Diante disso, o autor realizou um trabalho cujo objetivo foi testar o impacto, previsto pela teoria, de três antecedentes (confiança, relacionamentos internos e apoio da alta administração) sobre a gestão da cadeia de suprimentos no Brasil. O modelo proposto foi desenvolvido fundamentado na revisão da literatura, principalmente a desenvolvida nos Estados Unidos e Europa. A SCM foi operacionalizada como um construto multidimensional cujas dimensões de primeira ordem são: comunicação, cooperação e integração logística. As hipóteses foram testadas usando um modelo de equações estruturais, com uma amostra de 112 empresas Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 18 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 com operações no Brasil. Os resultados permitiram avaliar as relações dos antecedentes mencionados com a SCM em uma economia emergente. Uma segunda contribuição dessa pesquisa foi o desenvolvimento e a validação dos modelos de medição dos antecedentes da SCM que podem ser usados em futuras pesquisas. Verificou-se que confiança e apoio da alta gerência promovem a SCM, mas relacionamentos internos não é seu antecedente. Essa comprovação empírica possui também relevância gerencial, identificando caminhos para o desenvolvimento da prática da SCM no ambiente (TANURE, 2009). Outras pesquisas que tratam do conceito de SCM no Brasil são apresentadas no Quadro 3. Quadro 3 - Pesquisas sobre SCM no Brasil Objetivo Principais resultados Autores Estudar novas formas de organização na cadeia da carne bovina do Rio Grande do Sul, analisando se a forma de relacionamento dos parceiros configura a estruturação de uma cadeia de suprimentos Em função do objetivo de obter um produto diferenciado - carne de novilho houve a necessidade de estabelecer relações de parceria entre os agentes da cadeia. No entanto, ainda prevalece o comportamento oportunista nas relações dos diversos elos, e considera-se uma maior estruturação conforme o conceito de Gerenciamento de Cadeia de Suprimento, muito difícil no curto prazo Ferreira, Padula (2002) São apresentados, inicialmente, os principais pressupostos da abordagem que ficou conhecida como Gestão da Cadeia de Suprimentos (GCS). Em seguida, procura-se ilustrar, a partir de uma revisão parcial de trabalhos realizados sobre a indústria automobilística, em que medida tais pressupostos podem, ou não, ser verificados Constatou-se que apenas em alguns casos o conjunto de pressupostos tende a se tornar realidade Alves Filho et al. (2004) Utilizar conceitos e modelos da literatura acadêmica de logística e gestão de operações para analisar três casos da indústria automobilística no A indústria automobilística seguiu a tendência de maior integração na gestão da cadeia de suprimentos. Os processos de negócios da cadeia de suprimentos são Di Serio, Sampaio, Pereira (2007) Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 19 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 Objetivo Principais resultados Autores Brasil, e traçar um paralelo entre os conceitos apresentados na literatura acadêmica e a realidade operacional de uma empresa ampliada, abordando a identificação dos processos relevantes na SCM e o papel da tecnologia da informação neste processo de integração da cadeia viabilizados pela tecnologia de informação amplamente utilizada nos três modelos produtivos apresentados, principalmente quanto aos processos de gestão da demanda e a sincronização do fluxo de informações Comparar os graus de autonomia tecnológica conquistados por três montadoras de motores instaladas no Brasil, bem como identificar as atividades de desenvolvimento de produtos que essas subsidiárias realizam em conjunto com os fornecedores Em geral, as estratégias de desenvolvimento de produtos dessas montadoras são muito semelhantes e orientadas para a competitividade local. As diferenças ocorrem em função das estruturas de suas cadeias de fornecedores e de suas políticas de suprimentos Cerra, Maia (2008) Apresentar como uma empresa montadora de motores diesel utiliza práticas logísticas e ferramentas da qualidade para a colaboração em um cenário industrial complexo - a indústria automobilística O presente caso ofereceu resultados objetivos, apontando melhorias alcançadas pela integração e pela colaboração entre a empresa focal e sua base de fornecimentos na troca de informações de planejamento, gestão, execução e medição de desempenho dos processos dos fornecedores Rodrigues, Sellitto (2008) Verificar o nível de formalização na logística de suprimentos das montadoras e fornecedores da indústria automotiva brasileira Das 23 montadoras e dos 50 fornecedores analisados, constatou-se que as práticas adotadas por ambos são convergentes, o que se constitui em aspecto essencial na implementação efetiva do conceito de GCS, no entanto ressalta-se que nas montadoras essas práticas estão mais desenvolvidas Guarnieri, Hatakeyama (2010) Fonte: Autores citados neste Quadro Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 20 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 A partir dos estudos contemplados no Quadro 3, acredita-se que a implementação de SCM no Brasil ainda não foi alcançada em toda a sua complexidade. O setor automobilístico é o que demonstra maior evolução na aplicação do conceito. Em outra direção, é possível verificar a existência de estudos preocupados em criar ferramentas para viabilizar pesquisas empíricas, bem como construção teórica no campo da SCM. 5. Oportunidades de pesquisa Na visão de Ketchen, Tomas e Hult (2011), nos últimos anos o campo da SCM tem colocado ênfase crescente sobre o uso de teorias para descrever, explicar e predizer relações entre conceitos importantes. Uma fonte da teoria dentro desse trabalho tem sido as ciências organizacionais - um grupo de áreas aliadas, incluindo gerenciamento, gestão estratégica, comportamento organizacional e teoria da organização global cujo objetivo é identificar formas de melhorar o funcionamento das organizações. Várias ferramentas para orientar o processo de construção de teoria - e para avaliar os esforços dos outros – têm sido desenvolvidas no âmbito das ciências organizacionais, entretanto, ainda não encontrou ampla aplicação no campo da gestão da cadeia de suprimentos. Diante disso, os autores elaboraram um estudo com o objetivo de descrever várias dessas ferramentas e explicar como tais ferramentas podem ser utilizadas para melhorar a construção de teorias no âmbito da SCM, podendo ser aplicadas em pesquisas de campo relacionadas à SCM. Na mesma direção, Laeequddin et al. (2012) desenvolveram um modelo de construção conceitual integrando confiança para as relações de parceiros da cadeia de suprimentos. Baseouse na literatura sobre modelos de construção de confiança de várias disciplinas. Foram selecionados cinco modelos de construção de confiança amplamente referenciados na literatura a fim de desenvolver um modelo conceitual integrado do ponto de vista das relações de parceiros da cadeia de suprimentos. O modelo conceitual proposto sugere que a confiança é uma soma de valiosas características de riscos dos membros da cadeia de suprimentos. Os resultados do estudo Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 21 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 sugerem que os membros da cadeia de suprimentos devem se esforçar para reduzir os níveis de risco a fim de construir a confiança. Enquanto os níveis de risco dos membros estão dentro de limites suportáveis, pode ser considerado como um mecanismo de enfrentamento ao risco quando os níveis de risco exceder seus limites suportáveis, o tema da confiança transforma-se em gestão de risco/gestão de segurança. O modelo desenvolvido pode ser aplicado em trabalhos de campo com objetivo de diagnosticar e aprimorar o nível confiança na SCM. Mahmoud e Jemni (2008) partem do pressuposto que a SCM é um grande problema em muitas indústrias, todavia, as empresas percebem a importância de criar uma relação de integração com seus fornecedores e clientes. O objetivo da SCM é atender às necessidades do consumidor final, fornecendo o produto certo no lugar certo no tempo e preço adequados. Para os autores, durante a década de 1990, o interesse em SCM no agronegócio cresceu na Europa e nos EUA. O conceito e sua aplicação tornaram-se uma das principais áreas de pesquisa e foco comercial do agronegócio na última década. Nos últimos anos, o interesse passou a incluir o potencial e as implicações do SCM em países em desenvolvimento. Face a essas questões, a pesquisa dos autores teve o objetivo de analisar as etapas na evolução da gestão logística para um Sistema de Gestão da Cadeia de Abastecimento Eletrônico (e-SCM). O trabalho tratou das práticas de logística em empresas do setor de lácteos da Tunísia e identificou se algumas delas estão implementando a SCM. Devido ao fato do Brasil ser um país em desenvolvimento esse estudo torna-se interessante para oportunizar pesquisas relacionas às práticas de SCM em diversos setores. 6. Considerações Finais O objetivo deste estudo foi levantar conceitos de SCM, demonstrando sua evolução e seus diferentes pontos de vista, de modo a contribuir para a construção de um conceito. Tal objetivo foi alcançado. Constatou-se que a definição de SCM envolve diversos termos, a saber: logística, fornecedores/compras, processo produtivo, canal de distribuição/distribuição, integração, relacionamento, consumidor final/clientes, informação, vantagem competitiva/valor. Tais termos Recebido 30/09/2013; Aceito 16/05/2014 22 Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 04, n. 01: p. 01-25, ano 2014 DOI: 10.14521/P2237-5163.2014.0005.0001 perpassam por distintas atividades relacionadas ao processo produtivo tanto dentro como fora da empresa, o que necessita integração e fluxo de informações entre todas as empresas envolvidas. Além disso, as relações entre empresas devem favorecer a todos os envolvidos e isso é um ponto relevante para a aplicação efetiva do conceito. Cabe destacar, que a evolução da logística parece ter levado ao termo SCM. O termo vem evoluindo e sendo ampliado o que pode envolver demasiadas variáveis, gerando conflitos de interesses e impedindo a execução efetiva do conceito na prática. Conclui-se que a amplitude do conceito é vasta e, por isso, a SCM na prática, não vem sendo aplicada por completo. Acredita-se que a efetivação da SCM no Brasil ainda não foi alcançada em toda a sua complexidade, sendo o setor automobilístico o que demonstra maior evolução na aplicação do conceito. Modelos conceituais são encontrados para viabilizar as pesquisas no campo da SCM, isso demonstra certo amadurecimento teórico sobre o assunto, não obstante, a diversidade conceitual ainda persiste. Os conceitos, as construções teóricas e os estudos de campo apresentados nesta pesquisa podem servir de base para futuros estudos sobre SCM. Observou-se que o tema estudado é bastante tratado na literatura, existem estudos preocupados em identificar e construir conceitos de SCM. Nesse sentido, este trabalho caminhou nessa direção, revisando a literatura, contribuindo para desenvolver conceitos e promovendo discussões teóricas no campo da SCM. Referências ALVES FILHO, A. G.; CERRA A. L.; MAIA J. L.; SACOMANO NETO M.; BONADIO, P. V. G. 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