O Roller Derby deve realmente estar nas Olimpíadas de 2020?

Transcrição

O Roller Derby deve realmente estar nas Olimpíadas de 2020?
DESABAFO:
O Roller Derby deve realmente estar nas Olimpíadas de 2020?
Por Busta e Tara Armov
Post Original | Tradução por Ladies Of HellTown
Uma das constantes do roller derby moderno desde que eu fui sugada por ele por volta de 2004, é a sua busca por
reconhecimento como um esporte legítimo. Naquela época, nós tínhamos muitas suposições que não podiam estar
mais equivocadas: que o mundo estava esperando por uma versão legítima do roller derby, que empresas estariam
se matando para apoiar o roller derby, que uma liga com vários times era o modelo certo para um roller derby
legitimo, e que nós poderíamos apagar o que agora parece ser uma memória cultural do derby que era
“trabalhado” na melhor das hipóteses, e absurdamente programado na pior.
E nós achamos que o roller derby seria um destaque freqüente em canais esportivos a essa hora. Nós estávamos
tão profundamente enganados, não podemos lembrar-nos daquela época e pensar, “nós éramos ingênuos?”
Mesmo quando o derby “sério” entrou na era interliga em 2006, ele ainda não era coberto como um esporte
normal. Ele ainda não é. E enquanto colocamos nossos chapéus de pensar, nós continuamos tentando encontrar
razões porque a aceitação do público, reconhecimento e respeito nunca pareceram se ligar ao nosso esporte. Serão
os nomes falsos? Será as saias curtas e a meias arrastão? Serão as minors? Slow derby com mínimo contato físico?
Bom, honestamente, esse último não ajuda.
Porque o roller derby não consegue respeito como esporte?
Respeito, aceitação, reconhecimento
É daí que vem o desejo intenso de colocar o roller derby nas Olimpíadas. Se o roller derby estivesse nas Olimpíadas,
ele teria que ser respeitado. O jornalismo esportivo e comunidade televisiva não poderiam mais ignorá-lo. Ele
estaria no radar do público. E o roller derby Olímpico, se acontecer, será flat track. Ele tem que ser. Com certeza
seria menos chato do que a maioria das outras competições. Até homens se batendo na cara consegue ser chato
nas Olimpíadas.
Mas forçar a entrada do roller derby nas Olimpíadas de 2020 é uma má idéia. É muito cedo. Pode ser uma má idéia
por até mais tempo do que isso.
Não é como se entrar nas Olimpíadas fosse automaticamente conferir reconhecimento e respeito como atletas
pelo público geral ou imprensa esportiva. Nenhum dos dois leva ginástica rítmica, levantamento de peso feminino,
nado sincronizado ou muitos outros esportes que se vê nas Olimpíadas a sério. Nos EUA, nós não respeitamos nem
o futebol. Estar nas Olimpíadas ≠ respeito, e talvez estar nas Olimpíadas signifique apenas reconhecimento
monetário.
Apesar de o roller derby existir há 77 anos, o roller derby moderno não pode absorver essa história em seu
currículo. Estar associado a essa história é parte do que atrapalha o roller derby, e a contínua existência daqueles
antigos provedores do derby se impondo no presente através da OSDA e MADE não ajuda em nada. Falamos mais
sobre isso depois.
Porque essa história maravilhosa e colorida atrapalha o roller derby moderno? Porque ela estabeleceu uma
memória cultural indelével de brigas, cotovelos, gerentes brigando com juízes, patinadoras falando merda,
acrobacias absurdamente implausíveis sendo exibidas como jogadas e jogos arranjados. As pessoas não se
lembram daquelas antigas patinadoras como atletas e competidoras, eles se lembram delas como “luta livre
profissional sobre rodas”. Lembretes disso são passados em cada matéria sobre o derby moderno. Muitos no flat
track roller derby acham que eliminando a track, eles conseguiriam se distanciar dessa história. Mas não funciona.
Porque não conseguimos nos distanciar de nossa história suspeita? Porque na hora H, o roller derby modelado em
esportes colegiados só existe há 6 anos.
Nós dois achamos que a gente do derby devia se acalmar. A maior parte da “corrida rumo às Olimpíadas” vem de
um desejo das patinadoras atuais, que querem ser levadas “a sério”. Algumas gostariam de “fazer acontecer”
durante suas carreiras, que parece ser de menos de 10 anos para a maioria das patinadoras.
O roller derby precisa continuar a sua evolução sozinho primeiro
E também não é um roller derby que está completamente desenvolvido ainda. Apesar de sempre ter sido possível,
ninguém tinha pensado na destruição passiva da definição do Pack como uma tática até os últimos anos. Todo tipo
de problemas de desenvolvimento de jogo ainda existem. E ainda precisamos ver a influência que as patinadoras
mirins, criadas desde pequenas dentro do roller derby, terão quando assumirem o controle das ligas e da WFTDA.
Olhe para a maior parte dos esportes Olímpicos, e você verá que os atletas que treinam desde a infância dominam
seu esporte. Isso ainda não aconteceu.
Sem mencionar a influência que o derby masculino vai ter, e se criarmos algo bom, o banked track pode finalmente
influenciar o flat track. Muitas patinadoras e fãs acreditam que o equilíbrio estratégia/ação está errado no derby,
seja ele regido pela WFTDA, RDCL banked track ou MRDA (a versão masculina da WFTDA), e é difícil prever como a
influência desses eleitorados funcionará.
Um dos maiores bens que o roller derby tem tido, é uma resistência militante estridente a organizações
convencionais de esporte. Por mais inacabado que o roller derby esteja, existem pessoas que realmente querem
colocá-lo nas Olimpíadas de 2020. Mas muitas delas ainda são muito novas ao esporte para entender o quão
inacabado ele é nesse momento. Forçar a entrada dele nas Olimpíadas cedo demais vai cimentar o jogo, e fará com
que seus problemas evolucionários sejam muito mais difíceis de lidar.
Perder o controle do roller derby para a USARS
Mas colocar o derby nas Olimpíadas significa perder uma enorme parte do controle para o mesmo tipo de “old boy
network” contra a qual o roller derby sempre se rebelou. Eu não sei se a WFTDA realmente quer o roller derby nas
Olimpíadas (elas são espertas e provavelmente entendem as implicações muito bem), mas uma dessas “old boy
networks” já fez um ataque antecipado contra a WFTDA e a MRDA criando as suas próprias regras e campeonatos.
A USARS.
Nós pensamos como uma comunidade interconectada, que as tentativas da USARS de usurpar a autoridade de um
derby independente são risíveis. Quem está se juntando a eles? Suas regras são todas “old school” e ridículas para
competições interligas.
Elas parecem ser muito parecidas com as regras utilizadas pela OSDA e MADE, duas organizações dedicadas a
devolver o roller derby às suas raízes do século 20, apesar do fato de que roller derby do século 20 era um “esporte
falso”. Muitas patinadoras afirmam que não, mas é possível encontrar documentação de pessoas que sabiam, o
que coloca muitos furos nessas afirmações.
Então de alguma maneira, apesar de milhares de ligas usarem as regras da WFTDA, sejam elas membros ou não,
sejam elas femininas ou masculinas, e até o banked track é compatível no momento, a USARS adotou regras
apresentadas por provedores ou da OSDA ou da MADE, porque as similaridades entre as regras da USARS e as da
MADE/OSDA são inegáveis.
A USARS tem mais influência do que a WFTDA ou a MRDA
A realidade é que a USARS tem muito mais influências do que a WFTDA ou a MRDA. Eles têm a autoridade em
praticamente todo esporte amador existente, desde patinação de velocidade até o hockey. A autoridade
reconhecida por toda autoridade organizadora de todo esporte sobre patins. Sabe aquelas antigas e atuais
patinadoras de velocidade de Oly e Rocky que estiveram em campeonatos mundiais? Elas estavam naqueles
campeonatos quando eram crianças. Antes de o derby moderno ser imaginado. Aquelas jogadoras de hockey?
Mesma história. Todas competindo sob a bandeira da USARS.
Então quando o roller derby for oficialmente reconhecido pelas Olimpíadas, qual versão você acha que eles
escolherão? A operação não oficial da WFTDA (mulheres! Geralmente não levadas a sério por “old boy networks”)
e MRDA, dividindo os esportes de patins em três corpos governantes independentes? Ou a autoridade reconhecida
em esportes de patins nos EUA, que provavelmente vai influenciar a escolha de regras e organização em outros
países?
Este pode ser o começo de uma batalha épica
O que temos é o cenário de uma luta épica que pode culminar com a USARS cooperando com as autoridades de
roller derby já estabelecidas, com elas tomando o controle da administração do roller derby moderno, ou em uma
guerra declarada que acaba na mídia e nos tribunais. Os esportes para as Olimpíadas de 2020 serão escolhidos nos
próximos anos ou mais cedo, então o que quer que venha a acontecer, tem que acontecer logo.
Eu acho que é um tempo insuficiente para resolver o desafio da USARS para o benefício da nossa comunidade, e
apesar de sermos de uma comunidade de banked track, não queremos a USARS envolvida no nosso modelo de
esporte da mesma maneira que o flat track. Eu acredito que provavelmente vai levar muito tempo para atacar a
rota da Fédération Internationale de Roller Sports (FIRS) e cortar a USARS.
Por mais “old boy” que a FIRS seja, as versões americanas dos esportes tendem a perder para associações
internacionais com nomes em francês se houver uma alternativa. Como o roller derby europeu está em linha com a
WFTDA, existem muitas razões para pensar que a longo prazo e com um pouco de paciência, a FIRS adotará regras
da organização de base pela qual dezenas de milhares de pessoas patinam em muitos países. Eu ainda não consigo
enxergar como isto pode ser feito sem que as organizações de derby atuais percam o controle após o fato. O
banked track é sortudo pelo fato de não ter um cavalo nessa corrida e estar no seu próprio caminho de
desenvolvimento. Mas nós não estamos isolados dos efeitos de um aspecto do derby ser tomado pela USARS. Se a
USARS tomar o flat track, eles tentarão fazer o mesmo com o banked track.
Precisamos de mais tempo
Um a quatro anos também não é tempo suficiente para resolves os problemas nas nossas próprias regras e táticas
de jogo. Adicione a bagunça da USARS, e colocar o derby nas Olimpíadas de 2020 parece uma idéia cada vez pior.
Os bons tempos do derby do começo dos anos 2000 onde havia uma grande quantidade de mudança em um curto
período de tempo são típico em qualquer esporte/gênero de música/movimento artístico, etc. Mas aquele
momento antigo geralmente chega num platô. Ainda podemos estar nesse tempo de experimentação e mudança
para o derby moderno, então esperar que os problemas atuais que o derby moderno enfrenta se resolvam em
quatro anos pode ser absurdamente otimista. Com ênfase no absurdo.
Nada disso sequer entra na discussão de se o roller derby mundial chegará a alguma forma de paridade, para que
os EUA e a Inglaterra não tenham uma vantagem de mais de 400 pontos sobre todo mundo com quem jogarem.
Como é provável que o programa tenha que incluir uma divisão masculina, quão grande é o derby masculino no
estilo da MRDA pelo mundo? O derby masculino ainda não é tão grande nos EUA, como ele está indo em todos os
outros lugares? Existem tantos problemas, tantos caminhos, tantos afluentes nesse grande rio do roller derby. Nós
precisamos de mais tempo para descobrir exatamente o que é o roller derby.
Pensando em 2024 para frente
O que nós pensamos é que ao invés de 2020, façamos 2024 o alvo mais próximo, se ainda for uma boa idéia ter o
derby nas Olimpíadas em qualquer ano. Isso nos daria um pouco de tempo para definir mais claramente nossas
respectivas versões de roller derby, resolver a difusão organizacional, aumentar as platéias do nosso jeito de uma
maneira orgânica, ver como a história do derby masculino termina, ouvir as vozes daqueles que foram criados no
roller derby desde o berço, para quem o punk rock é uma memória ainda mais distante do que a música de big
bands foi quando o punk rock começou nos anos 70, e para apenas ver aonde as coisas vão parar por um tempinho.
Em 2024, o derby interligas moderno vai ter existido por 18 anos, uma geração inteira. Ainda é um alvo bem
ambicioso considerando quanto tempo levou para alguns esportes já estabelecidos. O basquete foi inventado em
1891, mas não foi jogado em Olimpíadas até 1936. O futebol foi inventado em 1863, mas não entrou nas
Olimpíadas até 1900 (claro que as primeiras Olimpíadas modernas foram em 1896). O Skate participa de
competições internacionais desde pelo menos 1965 (o campeonato de 65 foi televisionado) e ainda não está nas
Olimpíadas, apesar de pessoas como Shaun White estarem pressionando para que entre em 2016. Patinação de
velocidade em in-line tem sido praticada internacionalmente desde quando? Desde que os patins foram inventados
nos anos 70 ou 80? Ainda não está nas Olimpíadas.
E a patinação de velocidade em in-lines não é nem um esporte coletivo. Uma competição fácil de organizar para as
Olimpíadas, mas ainda não está lá? Vai, povo do derby, acorda pra realidade.
O roller derby é um desafio logístico enorme para as Olimpíadas, outros esportes de patins nem tanto
Tem ainda outro problema para o derby e as Olimpíadas além do tempo. Ele precisa acontecer em um ambiente
fechado, e até se mantermos apenas os 36 países, um jogo para cada time feminino e masculino de derby de cada
um desses países, são 36 jogos. Cada jogo dura em torno de 90 minutos. São 54 horas de jogos para começar.
Adicione quartas e semifinais e são em torno de 66 horas que uma instalação fechada deve ser dedicada apenas
para o roller derby. Quanto disso podemos realmente esperar que seja transmitido como parte do show principal
ao invés da várzea da mídia transmitida. Mesmo em 2020, eu suponho que as pessoas assistirão apenas as
transmissões principais.
Outros esportes de patins, que também não entraram nas Olimpíadas, têm muito mais chance. Quanto tempo
demora para fazer corridas de 1000 ou 5000 metros? Quantos países podem competir ao mesmo tempo? O roller
derby provavelmente será um desafio logístico maior para as Olimpíadas do que a patinação de velocidade, e o
eleitorado da patinação de velocidade é muito maior, e isto irá afetar a boa vontade das Olimpíadas de ter o derby.
O roller derby precisa encontrar sua alma antes
Eu acredito que o roller derby precise encontrar sua alma, sua real, alma atlética e competitiva antes de falhar por
algo que tira o controle da comunidade que o ressuscitou. Ele precisa estar mais completo antes de ser manejado
como qualquer outro esporte. E tem outra questão que o roller derby enfrenta antes que algo como as Olimpíadas
seja abordado: Nós realmente queremos que o roller derby seja como qualquer outro esporte, queremos ver seu
controle ser tomado da comunidade, ou queremos continuar mostrando como os esportes podem ser feitos de um
jeito diferente?

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