Linha Direta | Julho 2008
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Linha Direta | Julho 2008 1 2 Linha Direta | Julho 2008 NEST NESTAA EDIÇÃO SÃO PAULO ::: JULHO 2008 ::: ANO II ::: 3ª EDIÇÃO Mercado de Trabalho Música 26 Osvaldo Pereira, o DJ mais antigo do Brasil, toca ao lado do famoso Fatboy Slim. 05 BEM-ESTAR Quiropraxia e osteopatia auxiliam o combate a doenças ocupacionais. Opiniăo Entrevista 06 Marcio Pochmann, presidente do IPEA, fala sobre as dificuldades de crescimento do país. 28 O assessor sindical João Guilherme fala sobre o fantasma do terceiro mandato. Capa 16 Sindicato cidadão - Sintetel recicla: saiba mais sobre o destino Panorama do setor correto do lixo. Filme Para ouvir 08 O que mudou após a privatização das telecomunicações no Brasil? vida dos trabalhadores, mas encontra resistência por parte das empresas. Cafundó é mais uma boa obra do cinema nacional. O longa é inspirado em João de Camargo, tropeiro e ex-escravo. PG 32 Roberta Sá aparece como uma das vozes mais marcantes da MPB. Após surgir no FAMA, a cantora apresenta seu segundo trabalho. PG 32 Mulher Fique por Dentro 21 24 Aconteceu como legítimo representante de telecentros e empresas de telecomunicações. "Amar demais" também é uma forma de dependência. nova droga da classe média alta. Aposentados Polęmica 22 Conheça a história do 25 Pirataria aparece como Linha Direta | Julho 2008 companheiro Sales, uma figurinha carimbada da nossa base. Cultura 32 Tropa de Elite vence Festival de Berlim. Passatempo Você sabe como funciona o Wi-Fi? Conheça a nova tecnologia. Jovem 14 Ecstasy desponta como a mundial de caratê, trabalha na Icatel da Baixada Santista. 30 Anexo II da NR17 melhora a 10 Conheça a regional do 13 Sintetel é reconhecido 29 Juliana Cambuí, campeã Saúde Subsede ABCDM e Alto Tietê, comandada pelo diretor Mauro Cava de Britto. Esporte grande vilã do mercado cinematográfico e fonográfico. 33 Divirta-se com os nossos caça-palavras, curiosidades e piadas. Olho da Rua 34 O escritor Paulo Rodrigues conta como Zanganor entrou para a política. 3 PALA VRA DO SINDICA ALAVRA SINDICATTO DESTAQUES DO SEMESTRE N os primeiros seis meses de 2008, apesar de algumas perdas e dissabores, o Sintetel teve motivos de sobra para comemorar. No mês de abril, os trabalhadores das empresas prestadoras de serviços em telecomunicações aprovaram, em todo o estado de São Paulo, a proposta para o Acordo Coletivo 2008/09. Além de conseguirmos zerar a inflação do período, conquistamos o Plano Médico Familiar que era uma antiga reivindicação da categoria. No entanto, o mês de abril também foi marcado por uma triste coincidência. Ao mesmo tempo em que o Sintetel completou 66 anos, faleceu com a mesma idade o nosso amigo, companheiro e mestre Geraldo de Vilhena Cardoso, ex-presidente do Sindicato. Para mim, uma perda inestimável, pois com ele o Sintetel começava, em 1985, a dar abertura à democracia, acolhendo algumas jovens lideranças que surgiram na primeira grande greve da categoria. Assim era criado o Grupo Unidade na Luta. Eu e outros diretores que hoje se encontram à frente do Sindicato fazíamos parte daquele grupo de jovens idealistas. Geraldo nos ensinou muito e somos gratos a ele onde estiver. As centrais sindicais promoveram também ações conjuntas no dia 28 de maio, Dia Nacional de Lutas e Mobilizações pela Redução da Jornada de Trabalho (sem corte nos salários). A pauta de reivindicações do movimento sindical incluiu ainda a defesa da ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT. Representantes das centrais sindicais entregaram ao presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia, no dia 3 de junho, o abaixo-assinado reivindicando a redução de jornada de trabalho. As centrais colheram mais de 1,5 milhão de assinaturas em todo o País desde o dia 11 de fevereiro, data do lançamento oficial da campanha. O Sintetel, que já conquistou este benefício para parte da sua categoria, pretende ampliá-lo para os demais trabalhadores. Prova disto foi a nossa participação ativa nesta luta pelo trabalhador brasileiro. Boa leitura! DIRETORIA DO SINTETEL Presidente: Almir Munhoz Vice-Presidente: José Carlos Guicho Diretoria Executiva: Gilber to Rodrigues Dourado, Alcides Marin Salles, Elísio Rodrigues de Souza, Mauro Cava de Britto e Joseval Barbosa da Silva. Diretores Secretários: Cenise Monteiro de Moraes, Reynaldo Cardarelli Filho, José Clarismunde de Oliveira Aguiar, Eudes José Marques, Amândio Bispo Cruz, Bráulio Moura da Silva e Germar Pereira da Silva. Diretores Regionais: Jorge Luiz Xavier, Welton José de Araújo, José Rober to da Silva, Ismar José Antonio e Genivaldo Aparecido Barrichello. Jurídico: Humberto Viviani [email protected] OSLT: Paulo Rodrigues [email protected] Recursos Humanos: Sergio Roberto [email protected] COORDENAÇÃO EDITORIAL Diretor Responsável: Almir Munhoz Jornalista Responsável: Marco Tirelli MTb 23.187 Repor tagem e Revisão: Amanda Santoro e Marco Tirelli Estagiários: Emilio Franco Jr. e Luciana Marillac Diagramação: Volpe Ar tes Fotos: J. Amaro e Rafael Rezende Colaboradores: João Guilherme Vargas Netto, Paulo Rodrigues, Renata Nogueira, Tatiana Carlotti e Theodora Venckus Impressão: Unisind Graf. Ltda. Distribuição: Sintetel Tiragem: 50.000 exemplares Periodicidade: Semestral Linha Direta em Revista é uma publicação do Sindicado dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo | Rua Bento Freitas, 64 | Vila Buarque | 01220-000 | São Paulo SP | 11 3351-8899 www.sintetel.org | [email protected] SUBSEDES ABC: 11 4123-8975 [email protected] Bauru: 14 3231-1616 [email protected] Campinas: 19 3236-1080 [email protected] R.Preto: 16 3610-3015 [email protected] Santos: 13 3225-2422 [email protected] S.J.Rio Preto: 17 3232-5560 [email protected] V. Paraíba: 12 3939-1620 [email protected] O Sintetel é filiado à Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações), à UNI (Rede Sindical Internacional) e à Força Sindical. Os artigos publicados nesta revista expressam exclusivamente a opinião de seus autores. ALMIR MUNHOZ é presidente do Sintetel 4 Linha Direta | Julho 2008 MEDICINA ALTERNATIVA: UMA NOVA OPÇÃO PARA O TRABALHADOR A ciência abre o leque para especialidades como a quiropraxia e a osteopatia LUCIANA MARILLAC D ores musculares, torções, desconjuntura óssea e inflamações nos tendões são algumas das patologias tratadas por fisioterapeutas e ortopedistas. No entanto, com a ramificação da medicina, novos profissionais têm sido indicados, principalmente aqueles que fazem das mãos suas ferramentas de trabalho. Dois segmentos se destacam quando o assunto é doença ocupacional: a quiropraxia e a osteopatia. O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) exige que seja feita uma perícia periódica nas empresas para identificar as moléstias incidentes no exercício do trabalho, independentemente da profissão. Em 2008, o Ministério da Previdência divulgou que o registro de doenças ocupacionais cresceu 134% em 12 meses. Uma das causas para essa alta é o novo procedimento adotado: o que antes era enfermidade comum, agora é doença ocupacional. As principais notificações da moléstia ocupacional acontecem no sistema osteomuscular, o que gera um aumento de especialistas neste segmento. "Em meu consultório atendo muitas pessoas com dores na lombar e cervical. Em seguida são as tendinites de ombro e cotovelo. As causas são várias: locais de trabalho insalubres, ergonomia inadequada, estresse, distúrbios emoLinha Direta | Julho 2008 cionais, sobrecarga de trabalho e acidentes no trabalho", comenta o osteopata Dr. Rodolfo Pasqualeto. principal função é descobrir soluções para minimizar os riscos existentes em cada ambiente de trabalho. Muitas empresas ignoram as doenças ocupacionais para prevenir possíveis aborrecimentos e gastos. Quando o empregado se afasta do serviço, a empresa fica obrigada a reco- Segundo a técnica de segurança e saúde do trabalho do Sintetel, Cássia Turquetto, os acidentes mais comuns registrados na área das telecomunicações são quedas e choques elétricos, "mas as doenças osteomusculares e o A doença ocupacional estresse estão crescendo asocorre no ambiente de sustadoramente, haja vista trabalho. Os movimentos que em pesquisa realizada e posições contínuas pocom 500 teleoperadores, 90% dem prejudicar a saúde apresentam sintomas". do indivíduo, reduzir o rendimento, interromUma dica para ter a estrutura ósper a carreira e até sea saudável é ter percepção e desestabilizar a vida. consciência do próprio corpo. O lher o FGTS (Fundo de Garantia do Dr. Pasqualeto alerta: "Ninguém tem Tempo de Serviço). Cada entidade uma postura 100% correta, mas um deve ter consciência e desenvolver local inadequado de trabalho - com ações que levem em conta a condipouca iluminação, barulho ou altura do ção de trabalho ideal para seus conassento e mesa errados - causa alguns tratados. Por isso é importante a prevícios. Técnicas de tratamento postural sença de técnicos de segurança e saúcomo RPG, Pilates e Isotretching são rede nas empresas. São eles que realicursos que ajudam a trabalhar a poszam projetos de prevenção e assetura, principalmente para quem já tem guram o direito do trabalhador. Sua tendência à tortuosidade vertebral". Você sabia que... - A quiropraxia e a osteopatia surgiram no final do século XIX, nos Estados Unidos. São conhecidas como "medicina dos ossos e juntas" e a nomenclatura é de origem grega: quiro - mãos; práxis - praticar; ostheos - ossos; pathos - doença. Numa junção literal das palavras, quiropraxia significa "prática com as mãos" e osteopatia forma "doenças nos ossos". 5 BEM-EST AR BEM-ESTAR POSTURA ENTREVIST ENTREVISTAA DESENVOLVIMENTO “A DIFICULDADE DE CRESCER É POLÍTICA” Linha Direta em Revista entrevista o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA MARCO TIRELLI M arcio Pochmann é mestre e doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi consultor de diversos órgãos, entre eles, a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Escreveu e organizou mais de 20 livros. Com “A Década dos Mitos”, foi vencedor do Prêmio Jabuti na área de Economia em 2002. A seguir, os principais trechos da entrevista. Linha Direta em Revista: O crescimento do Brasil é sustentável? Marcio Pochmann: Temos que diferenciar “sustentável” de “sustentado”. Sustentado é a expansão da economia acompanhada de investimento. Faz 41 meses que os investimentos crescem duas vezes mais que as produções no Brasil. A outra possibilidade é o sustentável do ponto de vista ambiental. Há anos se discute o impacto da expansão econômica sobre o meio ambiente. Os indicadores que existem são insuficientes para chegarmos a uma conclusão. No entanto, 6 notamos que o crescimento econômico está baseado em bens de consumo duráveis, com destaque ao automóvel. O desenvolvimento cria problemas sérios de mobili- “F az 41 meses que “Faz os investimentos crescem duas vezes mais que as produções no Br asil” dade, de emissão de CO2 e de impactos ambientais. LDR: O Brasil está preparado para enfrentar um colapso mundial desencadeado pelos EUA? MP: Essa crise atinge o núcleo da economia mundial, repercutindo de forma generalizada em vários países. Até agora ela está sob efeitos monetários e não atingiu a economia real. O Brasil está relativamente bem para conviver com a situação, dado as reser vas que temos e à expansão dos investimentos. No entanto, isso não é suficiente para enfrentar um colapso de longa duração. Isso pode levar mais tempo do que imaginamos. O Japão, por exemplo, viveu uma recessão por dez anos. LDR: O que acontece com a distribuição de renda? MP: É importante o crescimento do ponto de vista dos trabalhadores na disputa pelo aumento dos salários. Os dados do Dieese (Depar tamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos) ajudam a entender como os sindicatos vêm conquistando um melhor desempenho nas negociações coletivas. Por outro lado, isso não é suficiente para que haja melhor distribuição de renda. É necessário um conjunto de outras políticas. Ao analisarmos a renda dos trabalhadores, percebemos que há uma redução da desigualdade entre a clasLinha Direta | Julho 2008 garantir a infra-estrutura para aqueles que quiserem investir e aumentar a produção do país. Só que essas duas posturas não estão coordenadas com a posição do Banco Central, que muitas vezes toma decisões olhando apenas o seu foco de atuação, mas que comprometem o crescimento nacional. “O sindicalismo br asileir brasileir asileiroo tem que evitar a fr fraa gmentação” se média e a classe de baixa renda. O aumento do salário mínimo e os programas de distribuição de renda protegeram a base dessa pirâmide. No entanto, o ganho dos empresários cresce acima da renda dos trabalhadores e há o aumento dos ricos no Brasil. Percebemos a expansão nas obras de habitação como a construção de apartamentos com 1.700 m², que custam até R$ 7 milhões e são consumidos imediatamente. Isso é um sinal de que os ricos também cresceram no Brasil em termos de quantidade e a sua conseqüente participação na riqueza do país. LDR: Quais os gargalos que impedem que o Brasil cresça mais? MP: A dificuldade de crescer é política. Não temos uma maioria que defenda o desenvolvimento nacional. As principais forças políticas estão muito contaminadas pela lógica do curto prazo e pela defesa da instabilidade monetária. A meu ver, o governo Lula está conduzindo a sociedade para chegar a uma maioria que leve ao crescimento, mas isso ainda não é uma realidade. Se nós tivermos uma convergência política, as possibilidades de crescermos de forma sustentada são maiores do que quando não se tem uma expressão nesse sentido. Esse é um primeiro aspecto a ser considerado. O segundo é de natureza econômica. O que dá sustentação para uma expansão alta e continuada ao longo do tempo são os investimentos. O governo brasileiro tomou duas iniciativas muito impor tantes, mas que ainda são insuficientes. Nesse segundo mandato, o governo se comprometeu a crescer 5% ao ano. Isso é importante para que os empresários vejam o comprometimento do país. O segundo é o Plano de Aceleração do Crescimento [PAC] que procura SAIBA O QUE É O IPEA O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada é uma fundação pública federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento. O Ipea tem por finalidade realizar pesquisas e estudos sócio-econômicos, oferecer à sociedade elementos para o conhecimento e solução de problemas, além de dar apoio técnico e institucional ao Governo na avaliação, formulação e acompanhamento de políticas públicas, planos e programas de desenvolvimento. Linha Direta | Julho 2008 LDR: Em 1998 o setor de telecomunicações foi privatizado. Diante deste cenário, quais as recomendações para melhorar a atuação do nosso Sindicato? MP: O Sintetel foi inteligente ao ampliar sua atuação, não se detendo ao trabalhador diretamente contratado pela empresa. O sindicalismo brasileiro tem que evitar a fragmentação. Neste sentido, a direção do Sintetel tomou uma importante decisão. Estamos diante de uma realidade muito diferente daquela que produziu a ascensão dos sindicatos nos anos 70. Em primeiro lugar, lidamos com trabalhadores mais qualificados, jovens e, na maioria das vezes, mobilizados pela empresa. Por isso, precisamos revigorar a ação sindical no que diz respeito à formação e preparação dos dirigentes para enfrentar a nova realidade e compreender melhor o mundo. As greves e mobilizações continuarão impor tantes, mas não somente elas. É necessário que os sindicatos influenciem a opinião pública. A imprensa sindical é a maior do país. Se contabilizarmos a quantidade de jornalistas, publicações e tiragens, temos um número maior do que o apresentado na mídia tradicional. No entanto, ela não consegue a mesma repercussão. Uma gestão mais qualificada permitiria que os recursos em torno da imprensa sindical resultassem em melhores resultados, por exemplo. 7 ENTREVIST ENTREVISTAA DESENVOLVIMENTO PANORAMA DO SET OR SETOR QUEBRA DE MONOPÓLIO UMA DÉCADA DE PRIVATIZAÇÃO Como ficou o Brasil após a promulgação da Lei Geral das Telecomunicações? MARCO TIRELLI U ma categoria majoritariamente masculina, sem grande rotatividade e essencialmente preocupada com a telefonia. Até junho de 1998, o panorama das telecomunicações brasileiras era esse. No entanto, a história estava prestes a ser alterada: em julho do mesmo ano, com a promulgação da Lei Geral das Telecomunicações, mudou-se o regime de monopólio estatal, permitindo a privatização das empresas públicas e a venda de novas licenças para a prestação de serviços. Na época, a forte e estratégica área de telecomunicações foi palco de uma das maiores disputas do programa geral de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (1994-1998). Ao final do processo, o controle de quase todas as empresas do sistema Telebrás foi transferido para investidores estrangeiros por preços irrisórios (o investimento do gover- no nas estatais, entre 1993 e 1997, foi superior ao total arrecadado com a venda dos ativos e das licenças pela Anatel). “A recompra de ações pelo BNDES foi praticamente a regra nos leilões de privatização, quando deveria ter sido uma exceção. Um típico modelo de privatização à brasileira, em que os recursos públicos foram usados para financiar a compra de empresas públicas pela iniciativa privada ou estatal estrangeira”, comenta Marcelo Alencar, professor titular da Universidade Federal de Campina Grande, em artigo escrito para o Jornal do Comércio. A privatização da Telebrás foi conduzida pelo então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros. No leilão realizado no dia 29 de julho de 1998, a Telebrás e suas subsidiárias foram vendidas por R$ 22,26 bilhões, o que representava na época quase US$ 19 bilhões. Era a maior privatização da década no setor de telecomunicações da América Latina. Em 1997, Almir Munhoz (2º da esq. p/ dir.) debate na Comissão da Câmara Federal os motivos pelos quais o Sintetel se opunha à privatização do setor. Neste dia, Almir discursou para cerca de 300 deputados em Brasília. 8 SINTETEL CONTRA AS PRIVATIZAÇÕES Na ocasião, o Sindicato lutou para barrar o processo e propôs outra alternativa. “Alertamos toda a sociedade para as conseqüências negativas de uma privatização nessas proporções, como o aumento das doenças profissionais, da mão-deobra desqualificada e do desemprego”, afirma Almir Munhoz, presidente do Sindicato. Vale destacar dois indicadores que vieram após a privatização das telecomunicações no Brasil: o aumento físico e de densidade dos telefones fixos e móveis. Em julho de 1998 foram registrados 24,5 milhões de aparelhos, ao passo que hoje encontramos quase 170 milhões – o que representa um crescimento físico de 600%. A densidade pulou de 14 para 91 telefones a cada 100 habitantes. “É bom esclarecer que o Brasil tinha uma demanda reprimida, sobravam pedidos e faltavam telefones. A meu ver, foi uma estratégia dos governantes que eram a favor da quebra do monopólio. Primeiramente as empresas foram precarizadas para que depois se justificasse a privatização”, comenta Almir. O Sintetel teve participação ativa em todo o processo. Com a assessoria do especialista e professor da Linha Direta | Julho 2008 Unicamp Marcio Wohlers de Almeida, o Sindicato elaborou uma proposta de modelo alternativo de auto-gestão para a privatização do setor. Almir Munhoz, inclusive, foi à Brasília para expor a proposta do Sintetel às Comissões de Telecomunicações do Senado e da Câmara que estudavam o caso. A privatização veio acompanhada, posteriormente, pelo emprego de novas tecnologias, pelo redimensionamento das empresas, pela readequação do trabalho à lógica do mercado, além da terceirização e precarização dos serviços e salários. Esse cenário trouxe dilemas incomuns a todos os sindicatos de trabalhadores em telecomunicações do Brasil. A REALIDADE SINDICAL PÓSPRIVATIZAÇÃO EM SÃO PAULO Com relação à base de representados pelo Sintetel, observou-se um crescimento significativo no número de trabalhadores após a privatização das telecomunicações. “No intervalo de dez anos, baseado nos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), nota-se um crescimento de 37% no número de empregados representados pelo Sindicato. Vale considerar o caráter fluido da composição do setor, devido a ajustes às dinâmicas do mercado por parte das operadoras e às metas impostas pela Anatel”, explica Maurício Rombaldi, mestre e doutorando em Sociologia pela USP, cujo tema de sua dissertação abordou a trajetória do Sintetel no processo de privatização das telecomunicações. elaborado pela ABT (Associação Brasileira de Telesserviços), atualmente são estimados 615 mil trabalhadores na área. “O Sintetel representa 86 mil trabalhadores em empresas de teleatendimento. Neste caso, somados os trabalhadores, considera-se que o número de representados chegue a 150 mil”, completa Maurício Rombaldi. MULHERES E JOVENS PREDOMINAM NA CATEGORIA Com relação à proporção de mulheres e homens nas telecomunicações, observa-se certa estabilidade quando comparados os períodos anterior e posterior à privatização, sobretudo devido à permanência de técnicos do sexo masculino. A novidade pósprivatização reside no fato de que, após a reorganização das telecomunicações, o setor passa a incluir um número crescente de empregados de atendimento e comercialização. No caso dos telecentros, segundo relatório da ABT, as mulheres preenchem 76,2% das vagas no mercado de trabalho. Além disso, a categoria passou a ser composta por trabalhadores de perfil mais jovem. De um lado, o número de trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos aumentou de 14,2% Material distribuído pelo Sindicato na campanha contra a quebra do monopólio. (1996) para 20,3% (2005). Em contrapartida, os trabalhadores com idade entre 40 e 49 anos diminuíram: enquanto representavam 29,6% há dez anos, hoje são apenas 17,1%. “Embora o relatório da ABT não forneça dados sobre a faixa etária dos trabalhadores nos telecentros, estima-se que eles tenham um perfil jovem, semelhante àquele observado em diversos estudos referentes aos trabalhadores do setor bancário brasileiro na década de 1980. Supõe-se que isto poderia estar relacionado a uma maior adaptabilidade dos jovens à utilização de novas tecnologias, bem como a uma possível aceitação do recebimento de menores salários.”, finaliza Rombaldi. Cabe ressaltar que, apesar dos dados referentes aos telecentros (call centers) no Brasil ainda não constarem na RAIS, segundo relatório Linha Direta | Julho 2008 9 PANORAMA DO SET OR SETOR QUEBRA DE MONOPÓLIO SUBSEDES BERÇO DE LUTAS A TRADIÇÃO SINDICAL DO ABC Ao todo, a subsede do Sintetel abrange 18 municípios que compreendem as regiões do ABC e Alto Tietê As assembléias na região sempre têm expressiva participação dos trabalhadores. Na foto, companheiros da TIM ouvem atentamente proposta para Acordo Coletivo. MARCO TIRELLI N os limites da subsede do ABC está a nascente de um dos rios mais importantes do estado de São Paulo, o rio Tietê. Ele percorre o estado de leste a oeste. Nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, a 840 metros de altitude e não consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral. Por isso, ao contrário da maioria dos rios que correm para o mar, segue para o interior, atravessa a Região Metropolitana de São Paulo e percorre 1.100 quilômetros, até o município de Itapura, na divisa com o Mato Grosso do Sul. Em sua jornada banha 62 municípios e seis sub-bacias hidrográficas numa das regiões mais ricas do hemisfério sul. A subsede representa toda esta região, entretanto, sua estrutura operacional está cravada na cidade de São Bernardo do Campo. Este município é considerado o berço do sindicalismo brasileiro devido às grandes lutas dos trabalhadores ocorridas no final dos anos 70 e iniciadas a partir do ABC. Num terri- Representativo na região sudeste, o rio Tietê nasce em Salesópolis, percorre 1.100 quilômetros e desemboca no rio Paraná. 10 tório altamente industrial, a região abriga os pólos setoriais automotivo, químico, de máquinas e equipamentos, de plásticos e borracha, entre outros. O PIB industrial do Grande ABC - de cerca de 10 bilhões de dólares - corresponde a aproximadamente 14% do PIB industrial do estado de São Paulo e a aproximadamente 7% do PIB industrial brasileiro. A atividade da indústria é equivalente à do Rio Grande do Sul (quarto estado industrial brasileiro). Os sete municípios do ABC fazem parte da Região Metropoli- A UMC é uma das universidades da região. No Grande ABC, o menor índice de alfabetização é de 92% (Rio Gde. da Serra), enquanto S.Caetano do Sul anota 97%. Linha Direta | Julho 2008 QUEM É O RESPONSÁVEL PELA SUBSEDE? Mauro Cava de Britto foi metalúrgico na região do ABC e participou ativamente dos movimentos grevistas de 1978/79. Tornou-se diretor regional e assumiu a subsede em 1997. Atualmente é diretor Social, acumula a direção da regional, além de ser o responsável pelas colônias de férias. Mauro também é um dos membros da Comissão de Negociação do Sintetel e diretor da Força Sindical. tana de São Paulo e possuem 2,5 milhões de habitantes. A região ainda conta com a maior renda per capita do País e é o terceiro pólo consumidor no ranking nacional de potencial de consumo. A região também apresenta importantes universidades como a Metodista, a Universidade Federal do ABC, a Fundação Santo André, a Universidade de Mogi das CruzesUMC, a Brás Cubas, entre outras. SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES O Sintetel representa cerca de 20 mil trabalhadores na região. As principais empresas que estão na base territorial do Sintetel são: Telemax, Atento, TIM, Telefônica, Tivit, Vidax, Senarc, Daruma, Icatel, X-Tel e TGestiona. “O crescimento da subsede em número de trabalhadores foi expressivo, visto que antes da privatização o número era aproximadamente dois mil, em sua maioria, da Companhia Telefônica da Bor- da do Campo adquirida pela Telefônica durante o processo de venda das estatais”, conta o diretor social Mauro Cava de Britto. Há dois anos e meio a subsede foi transferida de Santo André para São Bernardo do Campo, pois além de concentrar aproximadamente dez mil trabalhadores, facilita o acesso às cidades do Grande ABC e à região do Alto Tietê através da rodovia Índio Tibiriçá. “O perfil do trabalhador da região é de alto grau de politização, reivindicador e extremamente profissional. Além dos trabalhadores da ativa, a subsede mantém com os aposentados do setor uma relação muito próxima e afetuosa”, destaca Mauro. A subsede mantém representativo relacionamento com as entidades sindicais e governamentais da região. Mauro Cava de Britto, diretor Social e da Força Sindical, também é membro da Comissão Municipal de Emprego de São Bernardo do Campo e integrante Visão social: consultório dentário atende associados do Sindicato a preços acessíveis. Linha Direta | Julho 2008 Subsede ABC Atendimento: das 8h às 17h Endereço: Rua Princesa Maria Amélia, 187 – Nova Petrópolis – São Bernardo do Campo Telefone: (11) 4123-8975 - email: [email protected] A regional abrange: • 18 municípios • 14 empresas • 20 mil trabalhadores do Conselho Sindical da Delegacia Regional do Trabalho de Santo André. A diretora Rosilene Dias Brandão é suplente nos cargos citados e compõe a direção estadual da Força Sindical. A AÇÃO SINDICAL É DIÁRIA A rotina na subsede começa às 8h. As atividades vão desde o atendimento aos associados, distribuição de comunicados, reuniões de esclarecimentos, visitas às bases, negociações com empresas, até mesmo o trabalho de conscientização e filiação dos trabalhadores. O Sintetel mantém nesta regional um consultório odontológico para o atendimento dos associados a preços acessíveis. Trabalham no suporte da subsede o diretor de aposentados Raimundo Francisco Alves, a diretora Rosilene Dias Brandão, quatro diretores de base, delegados sindicais e três funcionários. Equipe Sintetel: Eliana Figueiredo (secretária), Rosilene Dias Brandão (diretora), Luiz Antonio Cattaneo (dentista), Raimundo Francisco Alves (diretor de aposentados) e Mauro Cava de Britto (diretor regional). 11 SUBSEDES BERÇO DE LUTAS NO TÍCIAS NOTÍCIAS ACONTECEU RECORDE DE PÚBLICO Mais de 900 pessoas lotaram o Auditório da Força Sindical no dia 8 de março, em São Paulo. O evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher contou com a presença do presidente do Sintetel, Almir Munhoz, e do deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Os presentes assistiram às palestras da Profª. Drª. Sandra Dircinha, da assistente social Irotilde Gonçalves, e da policial Renata Camargo Barbosa. No encerramento, mais de 200 brindes foram sorteados para a platéia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Conselho de Representantes da Fenattel elegeu a nova diretoria com mandato de 2008 a 2012. Aprovado em Plenária Nacional, a solenidade de posse aconteceu no dia 26 de fevereiro, em São Paulo. Gilber to Dourado, que também é diretor de finanças do Sintetel, foi reeleito presidente. Alguns outros companheiros do Sintetel também compõem a diretoria da Federação. São eles: Almir Munhoz, José Carlos Guicho, Marcos Milanez, Eudes José Marques, Cristiane Nascimento, Luciana Silveira, José Lelis e Sérgio Vanzella. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ "O pessoal que critica a comemoração do Dia do Trabalho é de uma mentalidade medíocre e pobre, porque acha que o trabalhador tem que sofrer, chorar e só rezar... Rezar eu concordo, mas chorar e sofrer, não! A gente já sofre no dia-a-dia, com os maus tratos dos patrões, salários ruins, más condições de trabalho e transporte... O trabalhador também precisa de eventos como esse". NOVA DIRETORIA DA FENATTEL ○ ○ Almir Munhoz, presidente do Sintetel, na comemoração do dia 1º de Maio de 2008. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ NOITE SERTANEJA FECHA O ANO No dia 5 de dezembro de 2007, o Sindicato realizou uma festa sertaneja no tradicional Biroska Bar, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. A banda União Sertaneja marcou presença e animou a noite com música de qualidade. O companheiro Almir Soares, diretor do Sintetel na região de Ribeirão Preto, demonstrou seu talento vocal ao interpretar diversas canções com a sua banda. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Antigamente as mulheres morriam com 26 anos. Hoje, a expectativa de vida da mulher é de 77 anos, e do homem 68. No futuro, os homens viverão 150 anos, as mulheres não morrerão mais”. Deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, na comemoração do Dia Internacional da Mulher. 12 Linha Direta | Julho 2008 ○ ○ ○ “As empresas públicas são do povo brasileiro. As organizações sindicais estão representando a população nos assentos dos conselhos dessas empresas. Isso é bom para acompanhar, fiscalizar e democratizar esse processo”. Carlos Lupi, Ministro do Trabalho e Emprego. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ADEUS AMIGO Em abril faleceu o querido ex-presidente do Sintetel Geraldo de Vilhena Cardoso, que esteve no comando do Sindicato entre 1981 e 1987. Foi ele quem organizou a primeira greve geral dos telefônicos no Brasil, ocorrida em 1985. “Um honesto dirigente sindical, excelente marido e pai de família, sempre foi para nós o que se chama de ‘pau para toda obra’. Com ele, quando se tratava de amigos ou dos direitos dos trabalhadores, não tinha tempo ruim”, relembra o atual presidente do Sintetel, Almir Munhoz. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ SINDICATO FAZ 66 ANOS Fundado no dia 15 de abril de 1942, o Sintetel completa mais um ano de lutas e reivindicações. Entre as conquistas destacam-se o 13º salário e os 30 dias de férias. Hoje, com uma base de 150.000 trabalhadores, o Sintetel é considerado o maior sindicato de telecomunicações da América Latina. Linha Direta | Julho 2008 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Emídio de Souza, prefeito de Osasco, durante a comemoração ao Dia do Trabalho. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “No Brasil existem oito milhões de aposentados que ganham mais de um salário mínimo e que a cada ano compram menos. Os preços dos medicamentos e planos de saúde sobem e não temos como fugir disso”. Em maio, o Sintetel recebeu do governo federal a Cer tidão Sindical, documento que legitima o Sindicato como representante oficial dos trabalhadores em empresas de telecomunicações, operadores de mesas telefônicas do plano da CNTCP, e trabalhadores em “call centers” de empresas de telecomunicações ou em empresas por elas contratadas. ○ ○ “Osasco está acompanhando o ritmo brasileiro. O portal do trabalhador garantiu a colocação no mercado de quase 35 mil na região”. CERTIDÃO SINDICAL ○ ○ João Batista Inocentini, presidente do SINDINAP (Sindicato Nacional dos Aposentados). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ DIA DO TRABALHO No dia 1° de Maio, a Força Sindical realizou sua tradicional festa em comemoração ao Dia do Trabalho. Realizada na Praça Campo de Bagatelle, na zona nor te de São Paulo, o evento contou com 1,2 milhão de pessoas. O tema do encontro foi a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, além da concretização das convenções 151 e 158 da OIT. 13 NO TÍCIAS NOTÍCIAS ACONTECEU JO VENS JOVENS ECSTASY A DROGA DA ELITE Popular entre os jovens de classe média alta, o ecstasy combina com os valores da sociedade atual EMILIO FRANCO JR. E AMANDA SANTORO O aparecimento de novas drogas caminha lado a lado com as tendências da sociedade. Talvez seja por isso que o consumo de tóxicos é um dos temas preferidos para acalorados debates, seja pela discussão ininterrupta envolvendo a sua legalização ou pelos efeitos causados nas vidas dos usuários. Dentro desse cenário, o ecstasy vem ganhando cada vez mais destaque, principalmente após a popularização das raves e o reconhecimento de DJs como verdadeiros ídolos da música. A droga é bastante antiga, mas o seu consumo só se popularizou em grande escala recentemente, seguindo a tendência de refletir os costumes da sociedade. A maconha e o LSD combinavam com as atitudes dos hippies, que buscavam o afastamento da sociedade de consumo na década de 60. Devido à sensação de poder, a cocaína representava a filosofia dos yuppies na década de 80. O ecstasy corresponde a valores sociais modernos, pois promete prazer imediato, combina com a cultura da moda e, por ser um moderador de apetite, está de acordo com a ditadura da magreza. 14 HISTÓRICO EFEITOS Assim como o LSD (dietilamina de ácido lisérgico), o ecstasy foi descoberto por acaso: o composto de substâncias químicas MDMA (MetileneDioxoMetaAnfetamina), essencial na composição da droga, foi isolado acidentalmente por um laboratório alemão. Algumas décadas depois, nos anos 60, o MDMA passou a ser usado como complemento e elevador de ânimo em psicoterapias, e o seu comércio foi regularizado por mais de uma década. A droga popularizou-se na cultura “underground” e nas discotecas, o que ocasionou, nos anos 80, a sua proibição por conta do amplo consumo para fins não medicinais. As observações mais comuns após o seu consumo são: maior capacidade física e mental, maior interesse sexual, aumento do estado de alerta, afastamento da sensação de sono e cansaço, além de desinibir, aumentar a sociabilidade e deixar o usuário eufórico. “A primeira vez que tomei os comprimidos coloridos senti uma mágica extraordinária. Meu corpo ficou mil vezes mais sensível a estímulos e toques. Comparo a experiência com a primeira vez que fiz amor”, confidenciou o designer Vinicius Pereira, de 23 anos. O nome ecstasy foi atribuído à droga por seus vendedores como jogada de marketing, uma forma de fazer analogia com a palavra êxtase, cuja definição é o estado de elevação para fora de si e do mundo, por meio de intensa alegria, prazer e admiração. Justamente algumas das sensações provocadas pela droga. Porém, a sensação de prazer imediato é acompanhada por efeitos desagradáveis no futuro. O ecstasy provoca lesões celulares irreversíveis, pois faz com que os neurônios percam a capacidade de regeneração. Às vezes, os efeitos colaterais podem ocorrer logo após a ingestão da droga, com destaque para a contração da mandíbula, taquicardia, secura da boca, tremores, transpiração e dores musculares. Com mais raridade, podem ocorrer variações de humor nos dias seguintes ao uso, gerando quadro de depressão, e a Linha Direta | Julho 2008 O ecstasy cor r esponde a vvalor alor es alores omete sociais moder nos nos,, pois pr promete pr az er imedia to praz azer imediato to,, combina com a cultur culturaa da moda ee,, por ser um moder ador de aapetite petite moderador petite,, está de acor do com a ditadur acordo ditaduraa da ma maggr eza aparição de espinhas no rosto. TRÁFICO E USUÁRIOS Geralmente, os efeitos desaparecem de quatro a seis horas após o consumo, podendo haver reflexos nas 40 horas posteriores. Quanto maior o tempo de uso, mais comprometido fica o funcionamento cerebral do usuário. “O ecstasy acentua a síndrome do pânico e a depressão em pessoas predispostas a essas doenças. Causa também danos à memória e à atenção. Como se popularizou há apenas 20 anos, não se sabe os seus efeitos a longo prazo”, alertou o psicólogo da Unifesp Murilo Battisti, primeiro pesquisador da droga no Brasil. Também conhecida como droga de desenho ou de recreio, na maioria das vezes o ecstasy é consumido via oral, mas também pode ser injetado ou inalado. Custa entre R$ 25 e R$ 45, e é vendido em forma de comprimidos, cápsulas, pastilhas ou pó, apresentando tamanhos e cores distintos. Segundo Battisti, “as diferenças de coloração e formato indicam geralmente a marca do traficante. Entretanto, um comprimido de mesmo logotipo também pode ter composição química diferente”. Atualmente, o consumo de ecstasy está concentrado em boates, raves e lugares com música contínua. “Tem que ter um contexto. Você não toma ecstasy em casa ou na rua. Eu só uso a droga se estou em algum lugar afastado, com música bem alta e muitos amigos em volta”, afirmou o jornalista Luiz Ricardo, 25 anos, que experimentou ecstasy pela primeira vez em 2005. Ainda não foi comprovado se a droga provoca dependência física, mas ela já é apontada como causadora de dependência psicológica. O Dr. Edemur Ercílio Luchiari, delegado da Divisão de Prevenção e Educação da Polícia Civil (DIPE), descreve o perfil do consumidor de ecstasy. “O usuário costuma ter mais de 18 anos, pertence à classe média alta, e freqüenta as festas raves”. O delegado ressalta que, diferentemente do que costuma ser dito, a substância provoca dependência física. A família não deve ser negligente. O simples acompanhamento do compor tamento dos filhos e parentes na volta das baladas pode evitar problemas mais sérios no futuro. Linha Direta | Julho 2008 “Você não vê pobre usar ecstasy. Isso porque as festas de música eletrônica são geralmente afastadas das cidades e pagamos também o ingresso da rave, gasolina, estacionamento... No final das contas, não sai menos de R$ 100”, completou Luiz Ricardo. Segundo a Polícia Federal de São Paulo, 209.606 comprimidos de ecstasy foram tirados de circulação em 2007. A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) afirma que o aumento das apreensões deve-se à atuação intensa da PF, que percebeu que os traficantes usam o caminho duplo – levam cocaína para fora do país e trazem para cá drogas sintéticas. Estas últimas são, em sua maioria, provenientes de traficantes da Ásia e Europa, com destaque para as freqüentes apreensões de carregamentos holandeses. Nas raves, a droga costuma ser revendida por jovens com perfil semelhante ao dos consumidores. O vendedor também é de classe média, tem entre 20 e 27 anos, possui curso superior, não trabalha, é sustentado pela família e trafica para consumir as pílulas. O Sintetel é contra o uso do ecstasy e de qualquer outro tipo de droga. “Os entorpecentes são desagregadores sociais. Eles destroem a família, corrompem o indivíduo e desorganizam a sociedade”, conclui Almir Munhoz, presidente do Sindicato. O consumo de ecstasy é verificado, principalmente, em festas com música eletrônica. 15 JO VENS JOVENS ECSTASY CAP CAPAA SINDICATO CIDADÃO COLETA SELETIVA: UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE E AMOR AO PLANETA Trata-se de uma causa que toda população deveria assumir como prioridade. O Sintetel encampou mais esta luta e começa a fazer sua parte MARCO TIRELLI D ar um destino correto ao lixo gerado é uma questão de consciência ecológica, compromisso com o planeta e responsabilidade social. A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis previamente separados na fonte geradora. Esta separação evita a contaminação dos materiais reaproveitáveis, aumentando o seu valor agregado e diminuindo os custos de reciclagem. COMO ACONTECE A COLETA SELETIVA? Basicamente, o material é recolhido de quatro maneiras: Por ta a por ta Veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não coincidam com a coleta normal de lixo. Os moradores colocam os recicláveis nas calçadas ou acondicionados em recipientes distintos. 16 PEV (Postos de Entrega Voluntária) Utiliza contêineres ou pequenos depósitos, colocados em pontos das cidades, nos quais qualquer cidadão depositará o material reciclável. Postos de Troca Efetua-se a troca do material a ser reciclado por algum bem. PICS É outra forma de coletar os resíduos (PICS - Programa Interno de Coleta Seletiva). São realizadas em instituições públicas e privadas em parceria com associações de catadores. Esta é a modalidade que o Sintetel adotou. A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis previamente se par ados na ffonte onte separ parados g er ador adoraa EXEMPLIFICANDO A RECICLAGEM... Cada resíduo é encaminhado para um diferente processo de recuperação. O papel, por exemplo, nada mais é que um emaranhado de fibras vegetais. Ao transfor mar papel usado em novo, desfaz-se esta trama entrelaçando as fibras novamente. A par tir do papel ar tesanal, é possível confeccionar papéis de car ta, marcadores de livros, por ta-retratos, por ta-lápis, capas de cadernos, livros, envelopes, etc. Produzir papel a par tir de papel “velho” consome cerca de 50% menos energia em vez de fabricálo a partir de árvores, além disso, utiliza-se 50 vezes menos água e reduz-se a poluição do ar em 95%. Cada tonelada de papel reciclado representa três metros cúbicos de espaço disponível nos aterros sanitários (depósito de lixo fiscalizado e que segue cer tas normas técnicas para nivelar terrenos públicos). Linha Direta | Julho 2008 Cooperados realizam triagem do material a ser reciclado. Novos Saberes para viabilizar a implantação e condução do projeto. “A princípio, faremos apenas a coleta de papel e plástico. Após a consolidação da primeira etapa do projeto, daremos um passo adiante com o objetivo de ampliáPedro Soares, cooperado há 10 meses. "É muito lo e expandi-lo às nosmelhor trabalhar aqui do que ficar parado". sas subsedes. Queremos que todos se comprometam com a defesa do meio De todo papel que o Brasil proambiente”, acrescenta Almir. duz anualmente, apenas 30% é reciclado. Se o mundo reciclasse metade do papel que consome, 40 mil quilômetros quadrados de terras seriam liberados do cultivo de árvores para a indústria de papel e celulose. SINDICATO CIDADÃO SINTETEL RECICLA Com este slogan, o Sindicato implantou no mês de maio o seu projeto de coleta seletiva. “Trata-se de uma atitude pioneira no meio sindical uma vez que já começamos a incorporar o conceito do sindicalismo cidadão”, explica Almir Munhoz, presidente do Sintetel. A direção da entidade firmou parceria com o Instituto Linha Direta | Julho 2008 Todo material recolhido terá um destino cer to. “Pr etendemos destinar os resíduos recicláveis do Sintetel para centrais de catadores autorizadas pela prefeitura. A princípio, utilizaremos nossa antiga parceria com a Cooperativa de Reciclagem União – CoopUnião. A exceção é o papel branco que será destinado para a Usina de Papel Reciclado. Este também é um projeto do Novos Saberes que retorna à fonte geradora parte do material destinado para reciclagem e os transforma em produtos, como agenda, papel e bloco de notas”, explica André Luiz das Neves, diretor Executivo do Instituto Novos Saberes. Na sede do Sindicato a coleta já acontece. “Colocamos as caixinhas coletoras de papel em todas as salas, assim como os tubos para copos plásticos. No início, realizamos o ‘cata-tudo’ de papel que consistiu num recolhimento de todo o material que havia na sede e que representava lixo. Todos os funcionários par ticiparam de palestras para conhecer o projeto. Creio que estamos no caminho cer to”, conta Rosa Sayols, funcionária do Sintetel e integrante da equipe que gerencia o projeto Sindicato Cidadão. O QUE DIZ A LEI? Existem regulamentos que determinam questões sobre a coleta seletiva. Fique por dentro deles: • Lei Estadual N. 12.300 de 16 de março de 2006 - institui a política estadual de resíduos sólidos e define princípios e diretrizes. • Lei Federal N. 7.802 de 11 de julho de 1989 - dispõe sobre a pesquisa, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Além destas, existem ainda resoluções e decretos federais e estaduais que regulamentam a questão. 17 CAP CAPAA SINDICATO CIDADÃO CAP CAPAA SINDICATO CIDADÃO DO SINTETEL PARA A RECICLAGEM Dar o destino correto aos resíduos é a meta do projeto Sindicato Cidadão. Através do Instituto Novos Saberes, o Sintetel envia seu material reciclável à Cooperativa de Reciclagem União e à Usina de Papel Reciclado. A CoopUnião já existe há oito anos e está localizada no bairro de Itaquera, na capital. A cooperativa recebe diariamente cerca de 3.500 kg de material. Os cooperados realizam o processo de triagem, acondicionam o material e, em seguida, tudo é vendido para as empresas de reciclagem. Com o resultado das vendas, a cooperativa é mantida, além de pagar uma quantia mensal aos cooperados. “Hoje trabalhamos com 50 cooperados que são ex-catadores de lixo das ruas, além de contarmos com sete núcleos. Os núcleos representam uma extensão das cooperativas. Por exemplo, existem 256 tipos de plásticos. Aqui nós fazemos a triagem inicial, enquanto o núcleo separa este material e nos devolve beneficiado”, explica Pedro Gomes da Silva, presidente da CoopUnião. Pedro Gomes da Silva, presidente da CoopUnião. "A coleta seletiva é uma questão sócio-ambiental. As empresas deveriam ter como meta esta causa". 20 CONHEÇA O INSTITUTOS NOVOS SABERES O Instituto Novos Saberes é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) sediada na cidade de São Paulo e formada por profissionais, estudiosos e ambientalistas. São eles que discutem e implementam projetos, atividades e ações referentes às questões socioambientais, além de colaborarem para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável. O Instituto surgiu em 2001, após a união de educadores que trabalhavam com jovens e adultos na área de Educação Profissional e tinham experiência na luta por direitos sociais e ambientais. Em São Paulo existem 14 cooperativas. As empresas devem dar o destino correto ao seu lixo e isto está previsto em lei através de decretos. “As empresas de telecomunicações, por exemplo, geram muitos resíduos de fios, cabos e metal. Nós estamos prontos para firmar parcerias desta natureza”, acrescenta José Roberto, tesoureiro da Cooperativa de Reciclagem União. Sintetel instala coletores de papel e plástico em suas dependências. SERVIÇOS Instituto Novos Saberes: www.novossaberes.org e-mail: [email protected] – fones: 11- 8310-7960/6736-7015 CoopUnião: [email protected] – fone: 11- 6522-9158 Linha Direta | Julho 2008 AMOR ÀS AVESSAS Ao abandonar a auto-estima, mulheres tornam-se emocionalmente dependentes e descobrem o lado obscuro do sentimento AMANDA SANTORO Q uando o papo é relacionamento amoroso, o que mais se ouve são histórias de insensatez e impulsividade. Numa sociedade que já cunhou que para amar é preciso sofrer, as mulheres são as mais afetadas. Mas o que acontece quando um sentimento supostamente saudável transforma-se em obsessão? Muita gente não sabe, mas “amar demais” também é uma forma de dependência destrutiva. A terapeuta conjugal norte-americana Robin Norwood foi a primeira a constatar que o comportamento doentio de mulheres em relacionamentos amorosos era similar ao de viciados em drogas. “Amar demasiado não significa amar muitos homens, ou apaixonar-se com muita freqüência (...). Significa, na realidade, ficar obcecada por um homem e chamar isso de amor, permitindo que tal sentimento controle suas emoções e boa parte de seu comportamento”, afirmou em seu livro Mulheres que Amam Demais. O MADA Com base no livro de Norwood e inspirado no AA (Alcoólicos Anônimos), surLinha Direta | Julho 2008 ge o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas). No Brasil, o grupo anônimo – que propõe às dependentes discutirem os motivos que as impedem de largar seus parceiros – surgiu em 1994. No entanto, a explosão aconteceu somente em 2003, com a novela Mulheres Apaixonadas. O autor Manoel Carlos retratou esse universo através da personagem Heloísa, interpretada por Giulia Gam, que colocou em risco a sua vida e a do marido por causa do seu ciúme incontrolado. Após seis meses de novela no ar, os grupos do MADA pularam de 7 para 23. “As mulheres se identificavam e recebíamos muitas cartas e e-mails. Tivemos que lidar com esse aumento sem ter como controlá-lo”, afirmou uma das primeiras participantes do grupo. PROJEÇÃO E TERAPIA DE ESPELHOS Não é regra, mas grande parte das mulheres que sofre dependência afetiva passou a infância num lar desestruturado. “Isso se chama projeção. Quando somos crianças conhecemos o padrão dos nossos pais e, sem notar, reproduzimos quando adultos. A menina que teve um pai alcoólatra tem a tendência de procurar um parceiro igual. Ela não faz isso por von- tade própria, mas porque é o modelo a que ela está acostumada”, afirmou a psicóloga Lílian Loureiro. No MADA, o tratamento é feito por meio da “terapia de espelhos”, ou seja, além do alívio do desabafo, as mulheres enxergam os próprios erros nos relatos alheios. Conselhos, interpretações e julgamentos são proibidos nas reuniões. No grupo, cada participante é livre para escolher a sua atuação: pode falar o que sente ou apenas ouvir os depoimentos. FILOSOFIA Prega o anonimato das participantes e o lema de “viver um dia de cada vez”. O MADA não tem ligação com nenhuma religião e não cobra mensalidades ou honorários. Toda verba provém das contribuições voluntárias feitas pelas freqüentadoras. Quem se identificar com essa reportagem ou quiser saber mais sobre o tema deve acessar o site www.grupomada.com.br. Existem reuniões da organização em 12 estados brasileiros. O MADA está aberto para qualquer mulher que sinta a necessidade de sua ajuda. 21 MULHER RELACIONAMENTO APOSENT ADOS APOSENTADOS MINHA HISTÓRIA SINDICALISMO NAS VEIAS Da ditadura à democracia, a trajetória de lutas do companheiro Sales é contada em detalhes para o leitor de Linha Direta em Revista MARCO TIRELLI E AMANDA SANTORO I mpossível narrar as lutas travadas pelo Sintetel nos últimos 30 anos sem mencionar Benício Florêncio Sales. Ou simplesmente Sales, como é conhecido pela categoria. Popular, autêntico e divertido, o companheiro marcou presença em todos os acontecimentos das últimas três décadas. “Causos” e aventuras para contar não faltam, tanto no Brasil quanto no exterior. Dedicou grande parte da vida ao movimento sindical e hoje assessora a diretoria da entidade fazendo sindicalismo de base. to. “Eu nem sabia que a Constituição agia a meu favor. Por conta disso, uma amiga [Angélica] me apresentou o Sindicato dos Metalúrgicos”. fazermos nada errado, pois estávamos sob regime. Ele foi imposto pelo governo e tivemos que agüentar”, recorda. De 1966 a 1974, Sales trabalhou na Arno, uma antiga fábrica de eletrodomésticos. Foi nesse período que se tornou delegado sindical. O Brasil passava por tempos difíceis e era quase impossível fazer sindicalismo. “Não podia falar nada contra o governo, muito menos fazer greve. O Joaquinzão [Joaquim dos Santos Andrade, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo durante a ditadura], dizia para não NA TRINCHEIRA DA RESISTÊNCIA No ano seguinte, em 17 de maio de 1975, Sales começou na Telesp como operador de linha. Três anos depois, mediante experiência como militante metalúrgico, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). “Foi nessa época que conheci a turma toda, o Djalma Bom, Santo Dias, Lula, José Genoíno, José Dirceu, Eduardo e Mar ta Arquivo Sintetel O COMEÇO Nascido em Campo Formoso, no ano de 1939, o baiano Sales teve uma breve passagem pelo Paraná antes de vir para São Paulo. “Fui sozinho para lá plantar algodão. Eu tinha 19 anos e fui tentar a vida. Fiquei três anos e resolvi vir para São Paulo”, conta. Quando chegou à terra da garoa, o companheiro não tinha noção alguma do que era o movimento sindical. No entanto, em 1963, após ser demitido da metalúrgica em que trabalhava e não receber os direitos trabalhistas, ele tomou conhecimen- 22 Sales em assembléia na sede do Sintetel. Mobilização e união na conquista dos direitos. Linha Direta | Julho 2008 Segundo ele, os trabalhadores tinham medo de distribuir o material do Sindicato na Telesp. “Eu agitava, pendurava e dizia para todos serem sócios. Mas havia uns diretores militares na empresa e, certa vez, fiquei sob interrogatório de um coronel das 10h às 14h. Ele me perguntava ‘você sabe quem é Fidel Castro?’. Óbvio que eu conhecia, mas respondia que não”, lembra Sales. Foi em 1981 que o companheiro se tornou sócio do Sintetel. Como já se destacava no movimento, foi convidado pelo então presidente do Sindicato, Geraldo de Vilhena Cardoso, para ser membro da diretoria da Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações). Uma vez que o pessoal do PT fazia oposição à diretoria do Sintetel, Sales teve que optar entre continuar no partido ou entrar para a direção da entidade. “Escrevi uma carta e fui à reunião do Partido. Avisei que estava saindo do PT e todos ficaram doidos de raiva. Chamei os companheiros que tinha mais afinidade, como o José Genoíno, e pedi para lerem a minha carta. Fui defendido pela Marta Suplicy, que pediu para o pessoal respeitar a minha opinião”, recorda. diquei a implantação do tíquete e da insalubridade para os trabalhadores. Saímos vitoriosos. Todos aqueles que me crucificavam tiveram que me engolir”, comemora. Seis meses após o acontecimento, a Telesp já tinha concedido o benefício alimentício e 40% do salário mínimo de insalubridade. A luta seguinte foi pelo pagamento do adicional de periculosidade para quem trabalhava em áreas suscetíveis a choques elétricos. “O Gardel, ex-diretor do Sintetel, lutou comigo nesta causa. Fizemos um filme sobre a história verídica da mor te de um trabalhador. Ele havia acabado de almoçar e, sob pressão do chefe, voltou ao trabalho. Subiu no poste, tomou um choque e acabou morrendo. O filme deu o que falar no mundo inteiro e foi parar na OIT [Organização Internacional do Trabalho], em Genebra, na Suíça”, complementa. APOSENTADORIA E VOLTA À MILITÂNCIA Sales foi diretor do Sintetel até 1999. Aposentou-se e retornou para a Bahia. “Fiquei lá dois meses. Comprei uma casa, um jipe, mas não me acostumei. Voltei para São Paulo, e como ficar em casa é uma droga, eu vinha até o Sindicato ajudar. Hoje sou assessor da diretoria. Faço assembléia, distribuo jornais e boletins”, explica. “Devo muito à minha amiga Angélica, que me apresentou o Sindicato dos Metalúrgicos em 1963. Ela é uma mulher esclarecida e foi a partir daí que as portas do mundo sindical se abriram para mim”, finaliza o companheiro. Arquivo Sintetel RESULTADOS DA LUTA Como já foi comentado, o responsável pela entrada de Sales na categoria foi o ex-presidente do Sintetel Geraldo de Vilhena Cardoso, a quem o companheiro tem muita gratidão. “Muita gente sentiu ciúmes, dizia que eu não sabia ler, nem falar. Sabe como eu tapei a boca deles? Mostrando resultados”, destaca. “Nos anos 80, fui falar com Carlos de Paiva [presidente da Telesp na época]. ReivinLinha Direta | Julho 2008 Ao centro, Sales fala aos trabalhadores. Também na foto, os companheiros ex-diretores do Sindicato José Fernandes da Silva (Gigante) e Carlos Delfino da Silva (Gardel ), que sempre lutaram pela conquista do adicional de periculosidade. 23 APOSENT ADOS APOSENTADOS Suplicy, entre outros”, conta. FIQUE POR DENTRO MOBILIDADE WI-FI PERMITE ACESSO COLETIVO À INTERNET Tecnologia já é comum em aeroportos, restaurantes, cafeterias e livrarias EMILIO FRANCO JR. E LUCIANA MARILLAC V ocê já ouviu falar em Wi-Fi? Pois bem, o Wi-Fi, também conhecido por Wireless (sem fios), é um dispositivo que permite o acesso à Internet em lugares públicos. Com um computador portátil em mãos, basta sentar-se em uma mesa de bar, restaurante, universidade, aeroporto, entre outros lugares com grande circulação de pessoas, ligar a máquina e pronto: a conexão com a rede já está estabelecida. Freqüentadores desses ambientes precisam de um computador que possua o dispositivo necessário para estabelecer a comunicação sem fio, que acontece por transferência de dados via ondas de rádio ou por radiação infravermelha. Mas, não se preocupe. Atualmente, os computadores portáteis já saem das fábricas com os dispositivos necessários (a placa wireless vendida separadamente custa cerca de R$ 150). Mas o que quer dizer Wi-Fi? Algumas pessoas acreditam que o termo é uma abreviatura de Wireless Fidelity, mas a responsável pela tecnologia, a Wi-Fi Alliance, nega essa versão. O termo é, na verdade, uma brincadeira e trocadilho com o drinque Hi-Fi (vodka com suco de laranja). Apesar de a nova tecnologia facilitar o acesso à internet, é preciso ficar atento aos hackers. Por estar num ambiente público, o usuário fica mais visado e os “piratas da internet” podem invadir com mais facilidade a sua máquina, aumentando os casos de decodificação de informações, clonagem e roubo de senhas. O especialista em tecnologia Helton Posseti alerta para outros riscos: “É preciso lembrar que não é muito seguro andar por aí com um notebook, o risco de ser roubado em alguns locais é alto. Depois disso, creio que o preço não seja muito atraente”. Ele acrescenta que o Wi-Fi não cumpre o papel de levar a internet para um número maior de pessoas. 24 “Definitivamente não existe democratização do acesso à internet. No Brasil, isso passa por questões de caráter político e regulatório e não tecnológico. Mas, o governo federal anunciou recentemente o Programa Nacional de Banda Larga, através do qual as concessionárias se comprometeram a conectar todas as escolas públicas urbanas até 2018”. Entretanto, Posseti aponta os meios para a democratização do acesso. “Com a entrada das redes de terceira geração essa oferta vai aumentar muito e os preços diminuirão. Então, o cliente pode acabar optando pelo serviço das teles móveis que não tem a limitação de alcance de uma rede Wi-Fi, que é curto, em torno de 150 metros. Já em alguns países como a Inglaterra, há um movimento para que as pessoas que tenham uma rede Wi-Fi em casa a deixem aberta. Ou seja, não coloquem senha, assim qualquer um pode usar a conexão. A idéia é mesmo de democratizar o acesso. Isso é um pesadelo para as operadoras de telecomunicações que não querem que o cliente compartilhe o seu acesso com mais ninguém, o que desestimularia a entrada de novos usuários”. E ele deixa uma dica: “O que eu posso dizer é que a mobilidade é algo muito interessante. Quem puder pagar por um notebook, vale muito a pena gastar um pouquinho mais para comprar um acess point Wi-Fi e surfar na web até deitado na cama”. Linha Direta | Julho 2008 UM NEGÓCIO CHAMADO PIRATARIA EMILIO FRANCO JR. J á não é novidade que o preço elevado de cds e dvds originais contribui para o crescimento do mercado paralelo. Em média, um cd custa 25 reais, enquanto um dvd é comercializado por 40. Com a mesma quantia, em uma barraca de camelô, é possível comprar até dez vezes mais. Foto divulgação Globo Um caso recente foi a pirataria maciça de Tropa de Elite, do diretor José Padilha. O filme sobre o Bope, a tropa de elite da PM carioca, foi pirateado em larga escala e podia ser encontrado, facilmente, nas esquinas das principais cidades do país. Antes mesmo da estréia nos cinemas, antecipada em uma semana no Rio e em São Paulo devido ao ocorrido, o longa já havia sido visto por mais de três milhões de pessoas. Preço baixo é o principal aatr tr traa titivv o par paraa os consumidores Impossível saber se Tropa de Elite seria tão comentado nas ruas e pela imprensa, caso não houvesse o número exorbitante de cópias ilegais, disponíveis por preços convidativos em qualquer esquina. A estimativa atual é de que, somado o público do cinema com os espectadores piratas, o filme já tenha sido visto por mais de doze milhões de pessoas. Linha Direta | Julho 2008 No caso dos cds de músicas, os grandes prejudicados são os artistas e as gravadoras, que perdem milhões com o mercado ilegal. De acordo com dados do Ministério da Justiça, a pirataria impede a criação de dois milhões de empregos formais por ano. Isso gera um prejuízo de R$ 30 bilhões aos cofres públicos. Para o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, “não é exagero dizer que ao comprar um produto pirata, a pessoa pode estar provocando o desemprego de um familiar”. Mas os consumidores parecem não ligar para isso. A estudante Marcela Marques, de 20 anos, diz que mesmo sabendo que é errado, prefere comprar dvds e cds falsificados. Ela não vê vantagem em pagar mais pelo original porque considera a qualidade quase igual. “Compraria o original se fosse mais barato”, afirma. Na visão da estudante, o lado negativo é o prejuízo que esse mercado traz para o país, mas para ela, vender produtos piratas é uma das sa- ídas para driblar o desemprego. “Os maiores prejudicados são os que trabalham de forma legal”, conclui. Uma vendedora ambulante que atua em Higienópolis, em São Paulo, concorda que vender produtos ilegais é uma alternativa diante da falta de empregos. “Não vale muito a pena atuar nesse ramo, mas falta opção. É trabalhar nisso ou ficar desempregada”. Ela expõe que até mesmo o mercado pirata está enfrentando dificuldades. “O pessoal baixa tudo da internet. Eu até comecei a vender bijuterias junto com os dvds de filmes”. Na visão da vendedora, a pirataria não atrapalha o país. “Quem não compra produtos originais, não vai passar a comprar caso a pirataria acabe, vai baixar da internet”. Atualmente, a ambulante vende em média dez dvds por dia, o que garante uma arrecadação mensal de 600 reais. Talvez, a grande concorrência enfrentada hoje pelo mercado seja a internet. 25 POLÊMICA INFORMALIDADE MÚSICA PIONEIRISMO REI DOS TOCA-DISCOS E LP’S Ao som de Glenn Miller e Ray Conniff, Osvaldo Pereira é consagrado o primeiro disque-jóquei brasileiro AMANDA SANTORO F inal dos anos 50. Domingo às 17 horas. Osvaldo Pereira ajeita o terno e dá o nó na gravata. Seleciona cerca de 60 discos e, apesar das escolhas variarem de acordo com o local e público, Glenn Miller, Ray Conniff, Jamelão e Elza Soares têm presença garantida na caixa de LPs. São eles que animam o salão. Com ajuda de dois meninotes, o rapaz acomoda a aparelhagem no táxi e parte para o Club 220. Ao chegarem ao salão, os três instalam o som e procuram testá-lo. Osvaldo não usa caixas de retorno nem fones de ouvido. Os equipamentos são muito caros e inacessíveis. Quando o relógio marca 18 horas, tudo já está pronto. Osvaldo e sua “Orquestra Invisível” começam a embalar a moçada, que só vai embora quando a música acaba por volta da meia-noite. A DESCOBERTA Hoje, aos 74 anos, Osvaldo Pereira lembra com saudosismo daquele tempo. Nascido em Muzambinho, sul de Minas Gerais, ele é considerado o primeiro Disque-Jóquei do Brasil. No entanto, o pioneiro do som mecâ- 26 nico não tinha noção de seu ineditismo cinco décadas atrás. “Tudo começou em 2002, quando a repórter Patrícia Travassos me entrevistou para uma reportagem sobre samba-rock. Isso despertou o pessoal e logo a jornalista Cláudia Assef me procurou para fazer seu livro Todo Dj Já Sambou [2003]. Ela começou a pesquisa nos anos 90 e foi retrocedendo. Ao final, Cláudia constatou que em 1958 eu já estava na ativa e era, por isso, o primeiro DJ do Brasil”, afirma Osvaldo. em casa, ele podia namorar os aparelhos nos casarões das patroas da mãe Maria Luiza Pereira. Foi nessa época que despertou a inspiração para entrar no mundo da música. “Quando eu tinha uns seis anos, ia com mamãe nas casas dos ricos para entregar a roupa lavada. Eles tinham rádio e eu tentava entender como é que os aparelhos podiam falar, como cabia alguém dentro da caixa de som. Pensava que era um anãozinho”. Após o lançamento do livro, seu Osvaldo passou a dar entrevistas para diversas emissoras de televisão e até mesmo tocou ao lado de DJs renomados, como o brasileiro DJ Torrada e o inglês Fatboy Slim. Voltou a se apresentar no lançamento de Todo Dj Já Sambou e, em 2008, tocou numa comemoração feita pelo Sesc Ipiranga em homenagem aos 50 anos da discotecagem. Hoje, ao lado dos filhos que também trabalham como DJs, Osvaldo planeja um baile das antigas para reviver grandes clássicos da época. Em 1954, após completar o curso de Rádio e TV promovido pela National School dos Estados Unidos, o jovem Osvaldo arruma emprego na Elétro Fluorescentes Arparco Ltda. O dono da loja, um armênio chamado Sharom, queria entrar no mercado dos amplificadores de alta fidelidade e incumbiu o aprendiz de montar os equipamentos. Foi lá que adquiriu a experiência necessária para construir o seu próprio toca-discos movido à válvula. A PAIXÃO PELA MÚSICA Como todo bom mineiro, seu Osvaldo gostava de escutar música sertaneja quando pequeno. Sem rádio Já com o equipamento montado, o rapaz começou a controlar o som de casamentos e aniversários na região da Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. Em 1959, foi convidado para tocar em um piquenique na cidade de Itapevi. “Os piqueniques eram as raves da época. Eu montava uma barraca Linha Direta | Julho 2008 Depois disso, as oportunidades começaram a brotar. Consolidou-se como DJ oficial nas domingueiras do Club 220 – situado no edifício Martinelli, centro de São Paulo – e, aos sábados, passava o som no salão Ambassador, na Avenida Rio Branco. A carreira do primeiro DJ do Brasil durou uma década. Em 1968, Osvaldo Pereira passou a se dedicar exclusivamente à família e à Philco, empresa em que trabalhou durante 12 anos até se aposentar. “Tudo tem um tempo hábil na vida. Eu estava desmotivado e queria passar mais tempo com a minha esposa e filhos. Resolvi parar enquanto ainda tocava com gosto e alegria”, finalizou. isso que os comunicados da época, o que hoje chamamos de “flyers”, anunciavam que seu Osvaldo estaria acompanhado de sua Orquestra Invisível Let’s Dance. O primeiro Dj do Brasil relembra os velhos tempos em seu antigo equipamento. Naquela época não era comum a música ininterrupta, pois os cavalheiros usavam os intervalos para trocarem de damas. O DJ até construiu um mixer para emendar uma música na outra, mas a inovação não foi bem aceita. “Toquei assim uma só vez. O pessoal era sossegado e não gostou da idéia. O DJ deve ter sensibilidade para colocar a música que o pessoal quer na hora de dançar”, diverte-se. ORQUESTRA INVISÍVEL O ineditismo do simpático e cavalheiro seu Osvaldo é atribuído, na verdade, à utilização do som mecânico nas festas. Numa época em que a música vinha de big bands, a inserção do novo modelo começou a baratear os bailes. Para exemplificar isso, na época em que seu Osvaldo tocava no Club 220, havia no local apenas uma festa de big band chamada Bonequinha do Café, enquanto ele tocava todos os domingos. Como o público estava bastante ligado à idéia das orquestras, seu Osvaldo adotou uma estratégia: começava a tocar com as cortinas fechadas e, graças ao potente toca-discos à válvula, ninguém imaginava que ele produzia o som sozinho. Quando as cortinas se abriam, era um verdadeiro choque. Por Linha Direta | Julho 2008 HOMEM DE FAMÍLIA E FESTA DE RETOMADA Pai de sete filhos, cinco do primeiro casamento e dois do segundo, Osvaldo Pereira é um verdadeiro exemplo de vida para seus amigos e familiares. “Meu pai é meu ídolo e meu irmão mais velho [Tadeu Osvaldo Pereira] é meu mestre”, afirma o filho caçula Luiz Um dos bailes em que seu Osvaldo se apresentou com a Orquestra Invisível Let’s Dance. Cláudio Pereira, 35 anos, que também se apresenta como DJ e tem como inspiração seus mentores mais velhos. Luiz Cláudio, também conhecido como DJ Dinho, é funcionário da subsede do Sintetel, em São José dos Campos. Para a retomada das atividades, os filhos do primeiro DJ do Brasil prepararam um baile das antigas. Na ocasião, seu Osvaldo e outros disque-jóqueis reviveram o clima dos bailes dos anos 50 e 60. “Procuramos resgatar o romantismo das festas em salão. Antigamente, as brigas eram raras e o pessoal participava com a única finalidade de se divertir. Isso sem falar da elegância dos trajes”, completa Tadeu Osvaldo Oliveira, um dos organizadores do evento. Osvaldo Pereira, à esquerda, troca o LP e maneja o seu tocadiscos à válvula. 27 MÚSICA com os equipamentos e o pessoal dançava. Esses eventos aconteciam com mais freqüência no Guarujá, Santos e São Vicente”, completa. PIONEIRISMO OPINIÃO EM PAUTA TERCEIRO MANDATO Agitação sobre mais quatro anos de Governo Lula obscurece a necessidade da institucionalização das conquistas trabalhistas JOĂO GUILHERME * U m fantasma ronda a política brasileira, o fantasma de um terceiro mandato consecutivo para Lula. Identificar o papel desagregador deste fantasma e seu potencial de diversionismo é tarefa difícil e necessária. Difícil porque, em se tratando de fantasma, a proposta tem a configuração das nuvens; necessária, porque mesmo sem se materializar causa estragos. Quem inventou o fantasma de um terceiro mandato foi o ex-presidente Fer nando Henrique ernando Cardoso E que estragos? Desorganiza as forças progressistas porque lhes associa a intenção golpista; desorganiza as forças democráticas porque lhes instila o veneno do casuísmo; enfim, desorganiza a própria vontade política da nação porque lhe oferece uma alternativa falsa. Quem inventou o fantasma de um 28 terceiro mandato foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelas próprias palavras ou por palavras emprestadas a outros. Logo ele que modificou o pacto constitucional introduzindo a reeleição para cargos executivos que o povo traduziu como “mandatos de oito anos com cláusula de desempenho na metade” e aprovou. Todos reconhecem nos dias de hoje uma conjuntura sócio-econômica positiva. Há 25 trimestres seguidos que o PIB brasileiro cresce, com taxas aceleradas e sustentadas, com distribuição de renda e criação de empregos formais. A popularidade presidencial alcança níveis jamais atingidos (descontando-se as taxas do tempo ditatorial de Garrastazu Médici). E é exatamente estas duas ordens de fatores que devem nos recomendar, ao invés do fantasma de um terceiro mandato a tarefa concreta, exeqüível e desejável de institucionalizar as conquistas obtidas e melhorar o grau de representação política da sociedade. Institucionalizar as conquistas significa, por exemplo, obter a re- dução de jor nada de trabalho constitucional de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salários, como é a meta da grande campanha unitária do movimento sindical. Institucionalizar conquistas significa valorizar o caráter coligado da ação governamental com os objetivos duradouros que garantam o desenvolvimento e os projetos de interesse social. Estas institucionalizações de conquistas ser virão também par a aproximar a representação política dos anseios da população, organizando as disputas par tidárias legítimas e preparando a alternância de governo conjugada com a manutenção de projetos. Há 25 trimestres seguidos que o PIB br asileir brasileir asileiroo cresce, com taxas aceler adas e aceleradas sustentadas *João Guilher me Var gas Netto é assessor sindical do Sintetel e de outras entidades de trabalhadores. Linha Direta | Julho 2008 BOA DE BRIGA Aos 20 anos, Juliana Cambuí luta para conseguir reconhecimento e patrocínio no caratê AMANDA SANTORO V ocê sabia que entre as trabalhadoras da categoria existe uma campeã mundial de caratê? Juliana Cambuí, 20 anos, coleciona títulos em sua trajetória. No entanto, num país marcado pelo futebol, os atletas de esportes pouco divulgados encontram dificuldades de patrocínio. Para conseguir se sustentar, Juliana é auxiliar administrativa da Icatel, na Praia Grande. Em entrevista à Linha Direta em Revista, a atleta afirma o seu sonho de continuar lutando. Linha Direta em Revista: Quando você entrou para o caratê? Juliana Cambuí: Treino desde os seis anos de idade. Comecei por curiosidade, numa época em que meu pai também praticava. Fiz uma aula experimental e gostei. No final das contas, fui mais longe do que ele, Principais títulos conquistados • Campeã Mundial de Kata • Campeã Mundial de Kata por equipe • Vice-campeã Mundial de Kumitê • Campeã Mercosul de Kumitê • Tricampeã brasileira de Kumitê • Campeã brasileira de Kata individual • Heptacampeã paulista de Kumitê (atual campeã) Linha Direta | Julho 2008 que parou na faixa azul. LD: Qual é a freqüência dos treinamentos? JC: Costumava lutar somente aos finais de semana. Já cheguei a participar de competições sem nenhuma preparação. Passo as minhas manhãs e tardes no serviço e faço faculdade de Educação Física no período noturno. Não sobra muito tempo. LD: Como você conseguia ganhar os campeonatos sem treinar? JC: Sinceramente não sei. Mesmo sem praticar, você não perde o jeito. Antes de cursar faculdade, eu conseguia treinar três ou quatro vezes por semana. Agora só quando tem uma brecha. E ainda tenho que pagar a academia para utilizá-la. LD: Você tem patrocínio? JC: Não, talvez eu consiga ganhar a bolsa-atleta. O presidente da Federação, graças aos meus últimos resultados, indicou-me para receber essa ajuda de custo do Governo. En- Você sa bia? sabia? trarei com o processo, mas só saberei se eles aceitarão depois de julho. LD: O Brasil apóia os seus caratecas? JC: Nos outros países o apoio ao esporte é muito maior. Eu vejo que as meninas de outras delegações têm passagem e alimentação pagas, enquanto nós viajamos com o nosso próprio dinheiro. Não basta ser bom. No Brasil, só compete quem tem condição financeira. LD: Sua família apóia a decisão de continuar no caratê? JC: Meus familiares me ajudam sempre que podem. Eles fazem “vaquinha” para que eu pague as taxas de inscrição e passagens. O Mundial da Espanha custou R$ 4.200 e eu só consegui participar porque minha família se solidarizou e arrecadou o dinheiro para mim. ? • Kata é uma espécie de luta contra um inimigo imaginário expressa em seqüências fixas de movimentos. • Kumitê é a luta propriamente dita, podendo ser o combate livre ou com regras. A forma desportiva (com regras) é conhecida como Shiai-kumite. 29 ESPORTES GOLPE CERTO SAÚDE TELECENTRO NOVA LEI GARANTE MELHORIAS AO TELEOPERADOR Desde que entrou em vigor, em setembro do ano passado, o Anexo II da NR 17 encontra resistência por parte das empresas RENATA NOGUEIRA O Anexo II da Norma Regulamentadora 17 foi publicado no Diário Oficial da União em 30 de março de 2007. A lei entrou em vigor no mesmo ano e representa uma grande vitória para os trabalhadores. Decorrido um ano após a sua implantação, as empresas de call center ainda não se adaptaram corretamente e de forma completa. Segundo Cássia Maria Kohler Turquetto, técnica em segurança do trabalho do Sintetel, as empresas tem a intenção de seguir o novo documento, mas apenas alguns pontos foram implantados e com problemas. O principal refere-se à pausa para descanso. De acordo com a Norma, o trabalhador tem direito a 30 O que é o Anexo II da NR 17? O Anexo II da Norma Regulamentadora 17 é uma lei que estabelece parâmetros mínimos para o trabalho em atividades de teleatendimento, de modo a proporcionar máximo conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente do trabalhador da categoria. O documento regulamenta as pausas, as condições ambientais de trabalho, os equipamentos, a capacitação dos trabalhadores, as condições sanitárias, o mobiliário do posto de trabalho, entre outros. Também foram incluídas questões posturais e de assédio moral, além das regulamentações sobre pessoas com deficiência. Entretanto, para que o Anexo II seja realmente respeitado não basta esperar pela boa vontade das empresas. É preciso conhecer o documento e denunciar ao sindicato, se for o caso. Só assim será possível garantir efetivamente a implementação desta grande conquista para os trabalhadores. Aconselha-se a todo trabalhador que procure o Sindicato caso a empresa não esteja cumprindo as normas. É preciso fiscalizar, cobrar o cumprimento e denunciar o desrespeito. Linha Direta | Julho 2008 duas paradas de dez minutos cada. Porém, muitas empresas têm usado esse intervalo para o empregado ir ao banheiro sem precisar interromper a jornada para necessidades fisiológicas. Pela lei, a empresa não pode estabelecer um horário para que o teleatendente vá ao banheiro. O item 5.7 do Anexo II deixa claro: “Com o fim de permitir a satisfação das necessidades fisiológicas, as empresas devem permitir que os operadores saiam de seus postos de trabalho a qualquer momento da jornada, sem repercussões sobre suas avaliações e remunerações”. Ou seja, as pausas determinadas são para relaxamento e recuperação muscular. Segundo Cássia, falta muito para que o Anexo II seja implantado por completo e ainda não foi possível sentir que houve melhora real nas condições dos trabalhadores da categoria. Cássia também afirma que não há grandes dificuldades na implantação da nova Norma, mas falta boa vontade por parte das empresas. “Os itens que demandam tempo já têm prazo determinado, mas o restante ainda não foi realizado por criação de dificuldade das empresas”, afirma. Após quase um ano, teleoperadores ainda se queixam de problemas dentro das empresas. “Há alguns casos, principalmente de pessoas que passam mal por causa da temperatura do ambiente”, relata Especialista defende NR 17 Maria Maeno, médica e pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), revela em entrevista exclusiva ao Sintetel as dificuldades da implantação da Norma. Qual é a maior causa de doenças nos telecentros? R.: Os teleoperadores funcionam como pára-choques de reclamações sem ter conhecimento e autonomia para dar respostas objetivas. Trabalham sob pressão e exigência de concentração com a obrigação de responder com rapidez e eficiência. O tempo é cronometrado, as ligações não têm intervalo, enquanto a digitação e a procura em tela de computador – em posição sentada e continuada – sobrecarregam diversos grupos musculares. Finalmente, o uso da voz, com a modulação exigida pela empresa, é fator de alteração orgânica e funcional das cordas vocais. Cássia. De acordo com algumas das reclamações recebidas, quando o ar condicionado quebra, por exemplo, a empresa não desocupa a sala para que o aparelho seja consertado. Os trabalhadores do local têm que cumprir a jornada num ambiente quente e abafado. Além disso, Cássia diz que muitos ainda protestam contra problemas nos banheiros e de pressões diversas por conta das interrupções. Resultado parcial de uma pesquisa na área da saúde que o Sintetel realiza nos telecentros aponta que 38% dos tr es da traabalhador balhadores ca te am per da de audição e 98% cate teggoria já titivver eram perda gostariam de ter outr of issão outraa pr prof ofissão Linha Direta | Julho 2008 Qual a sua visão sobre a implantação do Anexo II? R.: Minha experiência ensinou que não basta criar uma norma ou uma lei. É preciso que haja transparência nas relações de trabalho, negociações locais e atuação do Estado para que se cumpra o estipulado. Como as empresas estão encarando a nova lei? R.: Apesar de ter sido objeto de acordo no qual tivemos a participação do setor patronal, algumas empresas têm contestado e resistido a implantar mudanças preconizadas no Anexo II, sobretudo às que dizem respeito às pausas durante a jornada de trabalho. PESQUISA TRAÇARÁ PERFIL DA SAÚDE DO TRABALHADOR Resultado parcial de uma pesquisa realizada pelo Sintetel nos telecentros aponta que 38% dos trabalhadores da categoria já tiveram perda de audição e 98% gostariam de ter outra profissão. Muitos também reclamam que os benefícios concedidos poderiam melhorar. Embora as dificuldades existam, os trabalhadores de telecentro estão mais interessados em conhecer seus direitos. “Eles estão cobrando mais da empresa e do Sindicato”, afirma Almir Munhoz, presidente do Sindicato. Para ele, não há estimativa de melhora nas condições de saúde dos teleoperadores em curto prazo. 31 SAÚDE TELECENTRO CUL TURA CULTURA LAZER TROPA DE ELITE VENCE FESTIVAL DE BERLIM Filme brasileiro recebe o Urso de Ouro de melhor filme EMILIO FRANCO JR. O diretor José Padilha não tem do que reclamar. Mesmo com a forte incidência de pirataria sobre o seu filme, Tropa de Elite foi sucesso de bilheterias, conquistou a maior parte da crítica nacional, e, em fevereiro, sagrou-se vencedor de um dos festivais de cinema de maior prestígio do mundo, o Festival de Berlim. O resultado foi considerado surpreendente pela imprensa especializada. O crítico Sérgio Rizzo recebeu com surpresa a notícia da vitória de Tropa de Elite. “Como sempre ocorre em festivais, o noticiário se concentrou na reação - negativa - da imprensa, e não na reação do júri que concede o prêmio”. Para Rizzo, um fator determinante para o filme concorrer ao próximo Oscar será a recepção à obra no lançamento norte-americano. “A vitória em festivais não é fator determinante. O vencedor de Cannes 2007, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, Sérgio Rizzo, crítico de cinema. por exemplo, não foi nem mesmo pré-selecionado ao Oscar de filme estrangeiro deste ano”, acrescenta. Essa é segunda vez que um longametragem nacional vence o prêmio máximo em Berlim, a primeira vez foi com Central do Brasil, de Walter Salles, em 1998. FILME Muitos ainda depreciam o cinema brasileiro, um erro, vide as produções recentes que cada vez mais conquistam o nosso público. Cafundó é um bom exemplo. Inspirado na vida do preto velho João de Camargo, tropeiro e ex-escravo, o filme é muito mais do que entretenimento. Nele, está o nosso Brasil, gigante nas telas do cinema nacional, formado pelo seu povo sofrido, submetido às profundas transformações e à junção de tantas culturas. Testemunho da fé, do amor, da luta e da sobrevivência em um país em constante transformação, merece ser prestigiado. LITERATURA Será o consumo a condição humana da atualidade? Estamos condenados às compras? Consumir traz felicidade? Estas questões fazem parte do livro A Felicidade Paradoxal, do filósofo francês Gilles Lipovetsky, que com muita habilidade, dedica-se às questões do mundo contemporâneo de forma didática e acessível. Ao analisar a geração do hiperconsumo, principalmente, após a década de 80, Lipovetsky tece um testemunho das angústias do homem moderno. Um livro instigante para avaliarmos a nossa relação com o dinheiro e com os objetos que acumulamos. MÚSICA Pouco conhecida pelo público, mas muito respeitada no meio musical, Roberta Sá começa a conquistar o reconhecimento por aqueles que descobrem suas canções. Para quem não se lembra, a cantora surgiu no programa FAMA, da Rede Globo. Hoje, aos 27 anos, Roberta Sá é considerada pelos críticos uma das vozes mais marcantes da MPB. Seu segundo e mais recente álbum, “Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria”, é composto por sambas de autoria própria e regravações de clássicos da MPB. Atualmente, a cantora está em turnê de divulgação de seu novo álbum. 32 Linha Direta | Julho 2008 O chiclete foi invenção copiada dos índios da Guatemala A invenção do chiclete (ou goma de mascar) é atribuída aos norte-americanos devido à grande popularização nos Estados Unidos. Porém, foi copiado dos índios da Guatemala, que mascavam a resina extraída de uma árvore, o chicle, para estimular a produção de saliva e evitar que a boca ficasse seca durante longas caminhadas. Palavras cruzadas foram supostamente inventadas por presidiário As palavras cruzadas, passatempo praticado por milhões de pessoas no mundo todo, apareceu pela primeira vez em 21 de dezembro de 1913, no jornal norte-americano The New York World’s. Dizem que foram inventadas por um presidiário que passava o tempo desenhando as grades da cela em pedaços de papel. O Destino da Estrada O caipira está andando pela estrada, quando de repente pára um carro ao lado dele. O motorista abre o vidro e pergunta: - Por favor, amigo... Esta estrada vai para São Paulo? - Sei não, Dotô... Mais si ela fô vai fazê uma falta danada pra nóis! Linha Direta | Julho 2008 33 PASSA TEMPO ASSATEMPO DIVERSÃO OLHO DDAA RRUUA ELEIÇÕES VOX VOX VOX POPULI POPULI PAULO RODRIGUES* POPULI R eza o ditado que a voz do povo é a voz de Deus. Pois ouvindo a voz do nosso povo é que eu vou perdendo a fé. Basta ver as escolhas políticas que essa gente tem feito. Isso me parece mais um pacto com o demônio, parceirinho!” – Não faz muito tempo, ouvi esta frase do meu amigo Zanganor. “ carro, assessoria?... Zanganor nunca foi de jogar palavras ao vento. Ele costuma refletir bastante ao emitir a mais modesta opinião. Vem daí a minha estupefação quando dia destes ele me contou que está se candidatando à vereança pelo PO, Partido Oportunista. - Qual nada, meu amigo. Essas coisas eles só dão aos medalhões. Já para os pés-de-chinelo como eu... olha o meu pisante! – levantou o pé para me mostrar o tênis de marca. - E então, Zanga, como é que você explica essa candidatura estapafúrdia? Abandonou as convicções, adotou a lei do “junte-se a eles”, ou quê? - Nada disso, meu amigo; como costumam dizer os mais antigos, o sapo salta por necessidade, não por boniteza. Deu-se que eu estava como sempre na pindaíba, e com uma cabeleira de três meses, quando um capa-preta do tal partido me achou parecido com um dos nossos maiores ídolos. Pagou o corte, mas instruiu o barbeiro para me deixar uma ponta no topete. Não é que eu tenho mesmo certa semelhança com o figurão? Você notou? Com esse topete e um belo uniforme – ele me disse – você já está eleito. - E você acreditou? - Claro que não! Não sou tão ingênuo quanto pareço. O capa é menos ainda. Ele deve ter feito contas: com minha popularidade, e agora com a semelhança com o homem, garanto por volta de mil votos. Com isso não chego nem perto de me eleger, mas contribuo com a legenda. Imagine dez, vinte, cem otários como eu... - Mas, se você não tem chance, o que ganha em contribuir com gente desse naipe? Verba para a campanha, 34 - Não é bem melhor que o meu sapato de sola furada? Tenho direito a três destes até o final da campanha; fora os agasalhos de primeira, as cestas básicas e os vales refeição. Além disso, tenho uma diária. Sei que somando tudo dá bem mais do que carregar placa de propaganda no centro da cidade, e que a molecada lá de casa, ao menos por uns tempos, passará a dormir de barriga cheia. - Vai que a zebra resolve se manifestar e você se elege. – tentei levantar seu astral. - Se isso viesse a acontecer, juro que não tomaria posse. Não tenho meios de barrar outros incompetentes, mas ao menos posso barrar a mim mesmo. Toma, leva mais um santinho pra família! Se eu chegar perto dos mil votos, tenho trabalho garantido na próxima eleição. E isso já é uma grande conquista, parceirinho! - Gritou já quase dobrando a esquina. Esse é o meu amigo Zanganor. De minha parte, seguindo à risca seu próprio raciocínio, me abstenho de sufragar o nome dele na urna. *Paulo Rodrigues é escritor e assessor do Sintetel. Autor do livro À margem da Linha que ganhou prêmio da APCA. Linha Direta | Julho 2008 Linha Direta | Julho 2008 35
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