Linha Direta | Julho 2008

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2
Linha Direta | Julho 2008
NEST
NESTAA EDIÇÃO
SÃO PAULO ::: JULHO 2008 ::: ANO II ::: 3ª EDIÇÃO
Mercado de
Trabalho
Música
26 Osvaldo Pereira, o DJ mais
antigo do Brasil, toca ao lado
do famoso Fatboy Slim.
05 BEM-ESTAR
Quiropraxia e osteopatia
auxiliam o combate a
doenças ocupacionais.
Opiniăo
Entrevista
06
Marcio Pochmann,
presidente do IPEA, fala
sobre as dificuldades de
crescimento do país.
28 O assessor sindical João
Guilherme fala sobre o
fantasma do terceiro
mandato.
Capa
16 Sindicato cidadão - Sintetel recicla: saiba mais sobre o destino
Panorama
do setor
correto do lixo.
Filme
Para ouvir
08 O que mudou após a
privatização das
telecomunicações no
Brasil?
vida dos trabalhadores,
mas encontra resistência
por parte das empresas.
Cafundó é mais uma boa obra
do cinema nacional. O longa é
inspirado em João de Camargo,
tropeiro e ex-escravo. PG 32
Roberta Sá aparece como uma
das vozes mais marcantes da
MPB. Após surgir no FAMA, a
cantora apresenta seu segundo
trabalho. PG 32
Mulher
Fique por Dentro
21
24
Aconteceu
como legítimo
representante de
telecentros e empresas de
telecomunicações.
"Amar demais" também é
uma forma de
dependência.
nova droga da classe média
alta.
Aposentados
Polęmica
22 Conheça a história do
25 Pirataria aparece como
Linha Direta | Julho 2008
companheiro Sales, uma
figurinha carimbada da
nossa base.
Cultura
32 Tropa de Elite vence Festival
de Berlim.
Passatempo
Você sabe como funciona o
Wi-Fi? Conheça a nova
tecnologia.
Jovem
14 Ecstasy desponta como a
mundial de caratê, trabalha
na Icatel da Baixada
Santista.
30 Anexo II da NR17 melhora a
10 Conheça a regional do
13 Sintetel é reconhecido
29 Juliana Cambuí, campeã
Saúde
Subsede
ABCDM e Alto Tietê,
comandada pelo diretor
Mauro Cava de Britto.
Esporte
grande vilã do mercado
cinematográfico e
fonográfico.
33 Divirta-se com os nossos
caça-palavras, curiosidades
e piadas.
Olho da Rua
34 O escritor Paulo Rodrigues
conta como Zanganor
entrou para a política.
3
PALA
VRA DO SINDICA
ALAVRA
SINDICATTO
DESTAQUES
DO SEMESTRE
N
os primeiros seis meses de
2008, apesar de algumas perdas e dissabores, o Sintetel teve motivos de
sobra para comemorar. No mês de
abril, os trabalhadores das empresas
prestadoras de serviços em telecomunicações aprovaram, em todo o estado de São Paulo, a proposta para o
Acordo Coletivo 2008/09. Além de conseguirmos zerar a inflação do período, conquistamos o Plano Médico Familiar
que era uma antiga reivindicação da categoria.
No entanto, o mês de abril também foi marcado por uma triste coincidência.
Ao mesmo tempo em que o Sintetel completou 66 anos, faleceu com a mesma idade o nosso amigo, companheiro e mestre Geraldo de Vilhena Cardoso,
ex-presidente do Sindicato.
Para mim, uma perda inestimável, pois com ele o Sintetel começava, em
1985, a dar abertura à democracia, acolhendo algumas jovens lideranças que
surgiram na primeira grande greve da categoria. Assim era criado o Grupo
Unidade na Luta.
Eu e outros diretores que hoje se encontram à frente do Sindicato fazíamos
parte daquele grupo de jovens idealistas. Geraldo nos ensinou muito e somos
gratos a ele onde estiver.
As centrais sindicais promoveram também ações conjuntas no dia 28 de
maio, Dia Nacional de Lutas e Mobilizações pela Redução da Jornada de Trabalho (sem corte nos salários). A pauta de reivindicações do movimento sindical incluiu ainda a defesa da ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT.
Representantes das centrais sindicais entregaram ao presidente da Câmara
dos Deputados Arlindo Chinaglia, no dia 3 de junho, o abaixo-assinado reivindicando a redução de jornada de trabalho.
As centrais colheram mais de 1,5 milhão de assinaturas em todo o País desde
o dia 11 de fevereiro, data do lançamento oficial da campanha. O Sintetel, que
já conquistou este benefício para parte da sua categoria, pretende ampliá-lo
para os demais trabalhadores. Prova disto foi a nossa participação ativa nesta
luta pelo trabalhador brasileiro. Boa leitura!
DIRETORIA DO SINTETEL
Presidente: Almir Munhoz
Vice-Presidente: José Carlos Guicho
Diretoria Executiva: Gilber to Rodrigues Dourado, Alcides Marin Salles, Elísio Rodrigues de Souza,
Mauro Cava de Britto e Joseval Barbosa da Silva.
Diretores Secretários: Cenise Monteiro de Moraes,
Reynaldo Cardarelli Filho, José Clarismunde de Oliveira
Aguiar, Eudes José Marques, Amândio Bispo Cruz,
Bráulio Moura da Silva e Germar Pereira da Silva.
Diretores Regionais: Jorge Luiz Xavier, Welton
José de Araújo, José Rober to da Silva, Ismar José
Antonio e Genivaldo Aparecido Barrichello.
Jurídico: Humberto Viviani [email protected]
OSLT: Paulo Rodrigues [email protected]
Recursos Humanos: Sergio Roberto [email protected]
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Diretor Responsável: Almir Munhoz
Jornalista Responsável: Marco Tirelli MTb 23.187
Repor tagem e Revisão: Amanda Santoro e
Marco Tirelli
Estagiários: Emilio Franco Jr. e Luciana Marillac
Diagramação: Volpe Ar tes
Fotos: J. Amaro e Rafael Rezende
Colaboradores: João Guilherme Vargas Netto,
Paulo Rodrigues, Renata Nogueira, Tatiana Carlotti
e Theodora Venckus
Impressão: Unisind Graf. Ltda.
Distribuição: Sintetel
Tiragem: 50.000 exemplares
Periodicidade: Semestral
Linha Direta em Revista é uma publicação do Sindicado
dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado
de São Paulo | Rua Bento Freitas, 64 | Vila Buarque
| 01220-000 | São Paulo SP | 11 3351-8899
www.sintetel.org | [email protected]
SUBSEDES
ABC: 11 4123-8975 [email protected]
Bauru: 14 3231-1616 [email protected]
Campinas: 19 3236-1080 [email protected]
R.Preto: 16 3610-3015 [email protected]
Santos: 13 3225-2422 [email protected]
S.J.Rio Preto: 17 3232-5560 [email protected]
V. Paraíba: 12 3939-1620 [email protected]
O Sintetel é filiado à Fenattel (Federação Nacional dos
Trabalhadores em Telecomunicações), à UNI (Rede Sindical Internacional) e à Força Sindical. Os artigos
publicados nesta revista expressam exclusivamente a
opinião de seus autores.
ALMIR MUNHOZ é presidente do Sintetel
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Linha Direta | Julho 2008
MEDICINA ALTERNATIVA: UMA NOVA
OPÇÃO PARA O TRABALHADOR
A ciência abre o leque para especialidades como a quiropraxia e a osteopatia
LUCIANA MARILLAC
D
ores musculares, torções,
desconjuntura óssea e inflamações nos tendões são algumas das
patologias tratadas por fisioterapeutas e ortopedistas. No entanto, com a
ramificação da medicina, novos profissionais têm sido indicados, principalmente aqueles que fazem
das mãos suas ferramentas de
trabalho. Dois segmentos se
destacam quando o assunto é
doença ocupacional: a
quiropraxia e a osteopatia.
O INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social) exige que seja
feita uma perícia periódica nas
empresas para identificar as
moléstias incidentes no exercício do
trabalho, independentemente da profissão. Em 2008, o Ministério da Previdência divulgou que o registro de doenças ocupacionais cresceu 134% em
12 meses. Uma das causas para essa
alta é o novo procedimento adotado:
o que antes era enfermidade comum,
agora é doença ocupacional.
As principais notificações da moléstia ocupacional acontecem no sistema osteomuscular, o que gera um
aumento de especialistas neste
segmento. "Em meu consultório
atendo muitas pessoas com dores
na lombar e cervical. Em seguida
são as tendinites de ombro e cotovelo. As causas são várias: locais de
trabalho insalubres, ergonomia inadequada, estresse, distúrbios emoLinha Direta | Julho 2008
cionais, sobrecarga de trabalho e
acidentes no trabalho", comenta o
osteopata Dr. Rodolfo Pasqualeto.
principal função é descobrir soluções
para minimizar os riscos existentes
em cada ambiente de trabalho.
Muitas empresas ignoram as doenças ocupacionais para prevenir possíveis aborrecimentos e gastos. Quando o empregado se afasta do serviço, a empresa fica obrigada a reco-
Segundo a técnica de segurança e
saúde do trabalho do Sintetel,
Cássia Turquetto, os acidentes mais
comuns registrados na área das telecomunicações são quedas e choques elétricos, "mas as doenças osteomusculares e o
A doença ocupacional
estresse estão crescendo asocorre no ambiente de
sustadoramente, haja vista
trabalho. Os movimentos
que em pesquisa realizada
e posições contínuas pocom 500 teleoperadores, 90%
dem prejudicar a saúde
apresentam sintomas".
do indivíduo, reduzir o
rendimento, interromUma dica para ter a estrutura ósper a carreira e até
sea saudável é ter percepção e
desestabilizar a vida.
consciência do próprio corpo. O
lher o FGTS (Fundo de Garantia do
Dr. Pasqualeto alerta: "Ninguém tem
Tempo de Serviço). Cada entidade
uma postura 100% correta, mas um
deve ter consciência e desenvolver
local inadequado de trabalho - com
ações que levem em conta a condipouca iluminação, barulho ou altura do
ção de trabalho ideal para seus conassento e mesa errados - causa alguns
tratados. Por isso é importante a prevícios. Técnicas de tratamento postural
sença de técnicos de segurança e saúcomo RPG, Pilates e Isotretching são rede nas empresas. São eles que realicursos que ajudam a trabalhar a poszam projetos de prevenção e assetura, principalmente para quem já tem
guram o direito do trabalhador. Sua
tendência à tortuosidade vertebral".
Você sabia que...
- A quiropraxia e a osteopatia surgiram no
final do século XIX, nos Estados Unidos. São
conhecidas como "medicina dos ossos e
juntas" e a nomenclatura é de origem grega: quiro - mãos; práxis - praticar; ostheos
- ossos; pathos - doença. Numa junção literal das palavras, quiropraxia significa
"prática com as mãos" e osteopatia forma
"doenças nos ossos".
5
BEM-EST
AR
BEM-ESTAR
POSTURA
ENTREVIST
ENTREVISTAA
DESENVOLVIMENTO
“A DIFICULDADE
DE CRESCER
É POLÍTICA”
Linha Direta em Revista entrevista o presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada – IPEA
MARCO TIRELLI
M
arcio Pochmann é mestre e
doutor em Economia pela
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Foi consultor de diversos
órgãos, entre eles, a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Escreveu e organizou mais de 20 livros. Com “A Década dos Mitos”, foi
vencedor do Prêmio Jabuti na área
de Economia em 2002. A seguir, os
principais trechos da entrevista.
Linha Direta em Revista: O crescimento do Brasil é sustentável?
Marcio Pochmann: Temos que diferenciar “sustentável” de “sustentado”. Sustentado é a expansão da
economia acompanhada de investimento. Faz 41 meses que os investimentos crescem duas vezes
mais que as produções no Brasil. A
outra possibilidade é o sustentável
do ponto de vista ambiental. Há
anos se discute o impacto da expansão econômica sobre o meio
ambiente. Os indicadores que existem são insuficientes para chegarmos a uma conclusão. No entanto,
6
notamos que o crescimento econômico está baseado em bens de
consumo duráveis, com destaque
ao automóvel. O desenvolvimento
cria problemas sérios de mobili-
“F
az 41 meses que
“Faz
os investimentos
crescem duas
vezes mais que as
produções no
Br asil”
dade, de emissão de CO2 e de impactos ambientais.
LDR: O Brasil está preparado para
enfrentar um colapso mundial desencadeado pelos EUA?
MP: Essa crise atinge o núcleo
da economia mundial, repercutindo de forma generalizada em
vários países. Até agora ela está
sob efeitos monetários e não
atingiu a economia real. O Brasil
está relativamente bem para conviver com a situação, dado as
reser vas que temos e à expansão dos investimentos. No entanto, isso não é suficiente para enfrentar um colapso de longa duração. Isso pode levar mais tempo do que imaginamos. O Japão,
por exemplo, viveu uma recessão
por dez anos.
LDR: O que acontece com a distribuição de renda?
MP: É importante o crescimento do
ponto de vista dos trabalhadores na
disputa pelo aumento dos salários. Os
dados do Dieese (Depar tamento
Intersindical de Estatística e Estudos
Sócioeconômicos) ajudam a entender
como os sindicatos vêm conquistando um melhor desempenho nas negociações coletivas. Por outro lado,
isso não é suficiente para que haja
melhor distribuição de renda. É necessário um conjunto de outras políticas. Ao analisarmos a renda dos trabalhadores, percebemos que há uma
redução da desigualdade entre a clasLinha Direta | Julho 2008
garantir a infra-estrutura para
aqueles que quiserem investir e aumentar a produção do país. Só que
essas duas posturas não estão coordenadas com a posição do Banco Central, que muitas vezes toma
decisões olhando apenas o seu foco
de atuação, mas que comprometem o crescimento nacional.
“O sindicalismo
br
asileir
brasileir
asileiroo tem
que evitar a
fr
fraa gmentação”
se média e a classe de baixa renda.
O aumento do salário mínimo e os
programas de distribuição de renda
protegeram a base dessa pirâmide.
No entanto, o ganho dos empresários cresce acima da renda dos trabalhadores e há o aumento dos ricos
no Brasil. Percebemos a expansão
nas obras de habitação como a construção de apartamentos com 1.700
m², que custam até R$ 7 milhões e
são consumidos imediatamente. Isso
é um sinal de que os ricos também
cresceram no Brasil em termos de
quantidade e a sua conseqüente participação na riqueza do país.
LDR: Quais os gargalos que impedem que o Brasil cresça mais?
MP: A dificuldade de crescer é política. Não temos uma maioria que
defenda o desenvolvimento nacional. As principais forças políticas
estão muito contaminadas pela lógica do curto prazo e pela defesa
da instabilidade monetária. A meu
ver, o governo Lula está conduzindo a sociedade para chegar a uma
maioria que leve ao crescimento,
mas isso ainda não é uma realidade. Se nós tivermos uma convergência política, as possibilidades de
crescermos de forma sustentada
são maiores do que quando não se
tem uma expressão nesse sentido.
Esse é um primeiro aspecto a ser
considerado. O segundo é de natureza econômica. O que dá sustentação para uma expansão alta e
continuada ao longo do tempo são
os investimentos. O governo brasileiro tomou duas iniciativas muito
impor tantes, mas que ainda são
insuficientes. Nesse segundo mandato, o governo se comprometeu a
crescer 5% ao ano. Isso é importante para que os empresários vejam o comprometimento do país. O
segundo é o Plano de Aceleração
do Crescimento [PAC] que procura
SAIBA O QUE É O IPEA
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada é uma fundação pública
federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República. Suas atividades de pesquisa fornecem suporte técnico
e institucional às ações governamentais para a formulação e
reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento.
O Ipea tem por finalidade realizar pesquisas e estudos sócio-econômicos, oferecer à sociedade elementos para o conhecimento e solução de problemas, além de dar apoio técnico e institucional ao Governo na avaliação, formulação e acompanhamento de políticas públicas,
planos e programas de desenvolvimento.
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LDR: Em 1998 o setor de telecomunicações foi privatizado. Diante
deste cenário, quais as recomendações para melhorar a atuação do
nosso Sindicato?
MP: O Sintetel foi inteligente ao
ampliar sua atuação, não se detendo ao trabalhador diretamente
contratado pela empresa. O
sindicalismo brasileiro tem que evitar a fragmentação. Neste sentido,
a direção do Sintetel tomou uma
importante decisão. Estamos diante de uma realidade muito diferente daquela que produziu a ascensão dos sindicatos nos anos 70. Em
primeiro lugar, lidamos com trabalhadores mais qualificados, jovens e, na maioria das vezes, mobilizados pela empresa. Por isso,
precisamos revigorar a ação sindical no que diz respeito à formação e preparação dos dirigentes
para enfrentar a nova realidade e
compreender melhor o mundo. As
greves e mobilizações continuarão
impor tantes, mas não somente
elas. É necessário que os sindicatos influenciem a opinião pública.
A imprensa sindical é a maior do
país. Se contabilizarmos a quantidade de jornalistas, publicações e
tiragens, temos um número maior
do que o apresentado na mídia tradicional. No entanto, ela não consegue a mesma repercussão. Uma gestão mais qualificada permitiria que
os recursos em torno da imprensa
sindical resultassem em melhores
resultados, por exemplo.
7
ENTREVIST
ENTREVISTAA
DESENVOLVIMENTO
PANORAMA DO SET
OR
SETOR
QUEBRA DE MONOPÓLIO
UMA DÉCADA DE
PRIVATIZAÇÃO
Como ficou o Brasil após a promulgação da Lei Geral das Telecomunicações?
MARCO TIRELLI
U
ma categoria majoritariamente masculina, sem grande
rotatividade e essencialmente preocupada com a telefonia. Até junho de
1998, o panorama das telecomunicações brasileiras era esse. No entanto, a história estava prestes a ser
alterada: em julho do mesmo ano,
com a promulgação da Lei Geral das
Telecomunicações, mudou-se o regime de monopólio estatal, permitindo
a privatização das empresas públicas
e a venda de novas licenças para a
prestação de serviços. Na época, a
forte e estratégica área de telecomunicações foi palco de uma das maiores disputas do programa geral de
privatizações do governo Fernando
Henrique Cardoso (1994-1998).
Ao final do processo, o controle de
quase todas as empresas do sistema Telebrás foi transferido para investidores estrangeiros por preços
irrisórios (o investimento do gover-
no nas estatais, entre 1993 e 1997,
foi superior ao total arrecadado com
a venda dos ativos e das licenças pela
Anatel). “A recompra de ações pelo
BNDES foi praticamente a regra nos
leilões de privatização, quando deveria ter sido uma exceção. Um típico modelo de privatização à brasileira, em que os recursos públicos
foram usados para financiar a compra de empresas públicas pela iniciativa privada ou estatal estrangeira”,
comenta Marcelo Alencar, professor
titular da Universidade Federal de
Campina Grande, em artigo escrito
para o Jornal do Comércio.
A privatização da Telebrás foi conduzida
pelo então ministro das Comunicações
Luiz Carlos Mendonça de Barros. No
leilão realizado no dia 29 de julho de
1998, a Telebrás e suas subsidiárias
foram vendidas por R$ 22,26 bilhões, o
que representava na época quase US$
19 bilhões. Era a maior privatização da
década no setor de telecomunicações
da América Latina.
Em 1997, Almir Munhoz
(2º da esq. p/ dir.) debate
na Comissão da Câmara
Federal os motivos pelos
quais o Sintetel se opunha
à privatização do setor.
Neste dia, Almir discursou
para cerca de 300
deputados em Brasília.
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SINTETEL CONTRA AS
PRIVATIZAÇÕES
Na ocasião, o Sindicato lutou para
barrar o processo e propôs outra
alternativa. “Alertamos toda a sociedade para as conseqüências negativas de uma privatização nessas
proporções, como o aumento das
doenças profissionais, da mão-deobra desqualificada e do desemprego”, afirma Almir Munhoz, presidente do Sindicato.
Vale destacar dois indicadores que vieram após a privatização das telecomunicações no Brasil: o aumento físico e de densidade dos telefones fixos
e móveis. Em julho de 1998 foram
registrados 24,5 milhões de aparelhos,
ao passo que hoje encontramos quase 170 milhões – o que representa
um crescimento físico de 600%. A densidade pulou de 14 para 91 telefones
a cada 100 habitantes. “É bom esclarecer que o Brasil tinha uma demanda reprimida, sobravam pedidos e faltavam telefones. A meu ver, foi uma
estratégia dos governantes que eram
a favor da quebra do monopólio. Primeiramente as empresas foram
precarizadas para que depois se justificasse a privatização”, comenta Almir.
O Sintetel teve participação ativa em
todo o processo. Com a assessoria
do especialista e professor da
Linha Direta | Julho 2008
Unicamp Marcio Wohlers de Almeida,
o Sindicato elaborou uma proposta de
modelo alternativo de auto-gestão
para a privatização do setor. Almir
Munhoz, inclusive, foi à Brasília para
expor a proposta do Sintetel às Comissões de Telecomunicações do Senado e da Câmara que estudavam o
caso.
A privatização veio acompanhada, posteriormente, pelo emprego de novas
tecnologias, pelo redimensionamento
das empresas, pela readequação do
trabalho à lógica do mercado, além
da terceirização e precarização dos
serviços e salários. Esse cenário trouxe dilemas incomuns a todos os sindicatos de trabalhadores em telecomunicações do Brasil.
A REALIDADE SINDICAL PÓSPRIVATIZAÇÃO EM SÃO PAULO
Com relação à base de representados pelo Sintetel, observou-se um
crescimento significativo no número de trabalhadores após a
privatização das telecomunicações.
“No intervalo de dez anos, baseado nos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), nota-se
um crescimento de 37% no número de empregados representados
pelo Sindicato. Vale considerar o caráter fluido da composição do setor, devido a ajustes às dinâmicas
do mercado por parte das operadoras e às metas impostas pela
Anatel”, explica Maurício Rombaldi,
mestre e doutorando em Sociologia pela USP, cujo tema de sua dissertação abordou a trajetória do
Sintetel no processo de privatização
das telecomunicações.
elaborado pela ABT (Associação
Brasileira de Telesserviços), atualmente são estimados 615 mil trabalhadores na área. “O Sintetel representa 86 mil trabalhadores em
empresas de teleatendimento. Neste
caso, somados os trabalhadores,
considera-se que o número de representados chegue a 150 mil”,
completa Maurício Rombaldi.
MULHERES E JOVENS
PREDOMINAM NA CATEGORIA
Com relação à proporção de mulheres e homens nas telecomunicações, observa-se certa estabilidade quando comparados os períodos anterior e posterior à
privatização, sobretudo devido à
permanência de técnicos do sexo
masculino. A novidade pósprivatização reside no fato de que,
após a reorganização das telecomunicações, o setor passa a incluir
um número crescente de empregados de atendimento e
comercialização. No caso dos
telecentros, segundo relatório da
ABT, as mulheres preenchem 76,2%
das vagas no mercado de trabalho.
Além disso, a categoria passou a ser
composta por trabalhadores de perfil
mais jovem. De um lado, o número
de trabalhadores com idade entre
18 e 24 anos aumentou de 14,2%
Material distribuído pelo
Sindicato na campanha contra a
quebra do monopólio.
(1996) para 20,3% (2005). Em
contrapartida, os trabalhadores com
idade entre 40 e 49 anos diminuíram: enquanto representavam 29,6%
há dez anos, hoje são apenas 17,1%.
“Embora o relatório da ABT não forneça dados sobre a faixa etária dos
trabalhadores nos telecentros, estima-se que eles tenham um perfil jovem, semelhante àquele observado
em diversos estudos referentes aos
trabalhadores do setor bancário brasileiro na década de 1980. Supõe-se
que isto poderia estar relacionado a
uma maior adaptabilidade dos jovens
à utilização de novas tecnologias, bem
como a uma possível aceitação do recebimento de menores salários.”, finaliza Rombaldi.
Cabe ressaltar que, apesar dos dados referentes aos telecentros (call
centers) no Brasil ainda não constarem na RAIS, segundo relatório
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PANORAMA DO SET
OR
SETOR
QUEBRA DE MONOPÓLIO
SUBSEDES
BERÇO DE LUTAS
A TRADIÇÃO SINDICAL DO ABC
Ao todo, a subsede do Sintetel abrange 18 municípios
que compreendem as regiões do ABC e Alto Tietê
As assembléias na região sempre têm expressiva participação dos trabalhadores. Na foto, companheiros da TIM
ouvem atentamente proposta para Acordo Coletivo.
MARCO TIRELLI
N
os limites da subsede do
ABC está a nascente de um dos
rios mais importantes do estado de
São Paulo, o rio Tietê. Ele percorre o
estado de leste a oeste. Nasce em
Salesópolis, na Serra do Mar, a 840
metros de altitude e não consegue
vencer os picos rochosos rumo ao
litoral. Por isso, ao contrário da maioria dos rios que correm para o mar,
segue para o interior, atravessa a Região Metropolitana de São Paulo e
percorre 1.100 quilômetros, até o
município de Itapura, na divisa com o
Mato Grosso do Sul. Em sua jornada
banha 62 municípios e seis sub-bacias hidrográficas numa das regiões
mais ricas do hemisfério sul.
A subsede representa toda esta região, entretanto, sua estrutura
operacional está cravada na cidade de São Bernardo do Campo. Este
município é considerado o berço do
sindicalismo brasileiro devido às
grandes lutas dos trabalhadores
ocorridas no final dos anos 70 e iniciadas a partir do ABC. Num terri-
Representativo na região sudeste, o rio Tietê nasce em
Salesópolis, percorre 1.100 quilômetros e desemboca
no rio Paraná.
10
tório altamente industrial, a região
abriga os pólos setoriais
automotivo, químico, de máquinas
e equipamentos, de plásticos e borracha, entre outros. O PIB industrial do Grande ABC - de cerca de 10
bilhões de dólares - corresponde a
aproximadamente 14% do PIB industrial do estado de São Paulo e a
aproximadamente 7% do PIB industrial brasileiro. A atividade da indústria é equivalente à do Rio Grande
do Sul (quarto estado industrial brasileiro). Os sete municípios do ABC
fazem parte da Região Metropoli-
A UMC é uma das universidades da região. No Grande
ABC, o menor índice de alfabetização é de 92% (Rio
Gde. da Serra), enquanto S.Caetano do Sul anota 97%.
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QUEM É O RESPONSÁVEL
PELA SUBSEDE?
Mauro Cava de Britto foi metalúrgico na região
do ABC e participou ativamente dos movimentos grevistas de 1978/79. Tornou-se diretor regional e assumiu a subsede em 1997. Atualmente é diretor Social, acumula a direção da
regional, além de ser o responsável pelas colônias de férias. Mauro também é um
dos membros da Comissão de Negociação do Sintetel e diretor da Força Sindical.
tana de São Paulo e possuem 2,5
milhões de habitantes. A região ainda conta com a maior renda per
capita do País e é o terceiro pólo
consumidor no ranking nacional de
potencial de consumo.
A região também apresenta importantes universidades como a
Metodista, a Universidade Federal
do ABC, a Fundação Santo André, a
Universidade de Mogi das CruzesUMC, a Brás Cubas, entre outras.
SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
O Sintetel representa cerca de 20 mil
trabalhadores na região. As principais
empresas que estão na base territorial
do Sintetel são: Telemax, Atento, TIM,
Telefônica, Tivit, Vidax, Senarc, Daruma,
Icatel, X-Tel e TGestiona. “O crescimento da subsede em número de trabalhadores foi expressivo, visto que antes da privatização o número era aproximadamente dois mil, em sua maioria, da Companhia Telefônica da Bor-
da do Campo adquirida pela Telefônica durante o processo de venda das
estatais”, conta o diretor social Mauro
Cava de Britto.
Há dois anos e meio a subsede foi
transferida de Santo André para São
Bernardo do Campo, pois além de concentrar aproximadamente dez mil trabalhadores, facilita o acesso às cidades do Grande ABC e à região do Alto
Tietê através da rodovia Índio Tibiriçá.
“O perfil do trabalhador da região é de
alto grau de politização, reivindicador
e extremamente profissional. Além dos
trabalhadores da ativa, a subsede
mantém com os aposentados do setor uma relação muito próxima e afetuosa”, destaca Mauro.
A subsede mantém representativo relacionamento com as entidades sindicais e governamentais da região.
Mauro Cava de Britto, diretor Social e
da Força Sindical, também é membro
da Comissão Municipal de Emprego de
São Bernardo do Campo e integrante
Visão social: consultório dentário atende
associados do Sindicato a preços acessíveis.
Linha Direta | Julho 2008
Subsede ABC
Atendimento: das 8h às 17h
Endereço: Rua Princesa Maria
Amélia, 187 – Nova Petrópolis –
São Bernardo do Campo
Telefone: (11) 4123-8975 - email: [email protected]
A regional abrange:
• 18 municípios • 14 empresas
• 20 mil trabalhadores
do Conselho Sindical da Delegacia Regional do Trabalho de Santo André. A
diretora Rosilene Dias Brandão é suplente nos cargos citados e compõe
a direção estadual da Força Sindical.
A AÇÃO SINDICAL É DIÁRIA
A rotina na subsede começa às
8h. As atividades vão desde o
atendimento aos associados,
distribuição de comunicados,
reuniões de esclarecimentos, visitas às bases, negociações com
empresas, até mesmo o trabalho de conscientização e filiação
dos trabalhadores.
O Sintetel mantém nesta regional
um consultório odontológico para o
atendimento dos associados a preços acessíveis. Trabalham no suporte da subsede o diretor de aposentados Raimundo Francisco Alves, a
diretora Rosilene Dias Brandão,
quatro diretores de base, delegados sindicais e três funcionários.
Equipe Sintetel: Eliana Figueiredo (secretária), Rosilene
Dias Brandão (diretora), Luiz Antonio Cattaneo (dentista),
Raimundo Francisco Alves (diretor de aposentados) e
Mauro Cava de Britto (diretor regional).
11
SUBSEDES
BERÇO DE LUTAS
NO
TÍCIAS
NOTÍCIAS
ACONTECEU
RECORDE DE PÚBLICO
Mais de 900 pessoas lotaram o Auditório da Força Sindical no dia
8 de março, em São Paulo. O evento em comemoração ao Dia
Internacional da Mulher contou com a presença do presidente do
Sintetel, Almir Munhoz, e do deputado federal e presidente da
Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Os presentes assistiram às
palestras da Profª. Drª. Sandra Dircinha, da assistente social Irotilde
Gonçalves, e da policial Renata Camargo Barbosa. No encerramento, mais de 200 brindes foram sorteados para a platéia.
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O Conselho de Representantes da Fenattel elegeu
a nova diretoria com
mandato de 2008 a
2012. Aprovado em Plenária Nacional, a solenidade de posse aconteceu no dia 26 de fevereiro, em São Paulo. Gilber to Dourado, que também é diretor de finanças do Sintetel, foi reeleito presidente. Alguns outros companheiros do Sintetel também compõem a diretoria da Federação. São eles:
Almir Munhoz, José Carlos Guicho, Marcos Milanez,
Eudes José Marques, Cristiane Nascimento, Luciana
Silveira, José Lelis e Sérgio Vanzella.
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"O pessoal que
critica a
comemoração do
Dia do Trabalho
é de uma
mentalidade
medíocre e pobre, porque acha que
o trabalhador tem que sofrer, chorar
e só rezar... Rezar eu concordo, mas
chorar e sofrer, não! A gente já sofre
no dia-a-dia, com os maus tratos
dos patrões, salários ruins, más
condições de trabalho e transporte...
O trabalhador também precisa de
eventos como esse".
NOVA DIRETORIA
DA FENATTEL
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Almir Munhoz, presidente do Sintetel, na
comemoração do dia 1º de Maio de 2008.
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NOITE SERTANEJA FECHA O ANO
No dia 5 de dezembro de 2007, o Sindicato realizou uma festa sertaneja
no tradicional Biroska Bar, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. A
banda União Sertaneja marcou presença e animou a noite com música
de qualidade. O companheiro Almir Soares, diretor do Sintetel na região
de Ribeirão Preto, demonstrou seu talento vocal ao interpretar diversas
canções com a sua banda.
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“Antigamente as mulheres morriam com 26 anos. Hoje,
a expectativa de vida da mulher é de 77 anos, e do homem
68. No futuro, os homens viverão 150 anos,
as mulheres não morrerão mais”.
Deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, na comemoração do
Dia Internacional da Mulher.
12
Linha Direta | Julho 2008
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“As empresas públicas são do povo brasileiro. As
organizações sindicais estão representando a
população nos assentos dos conselhos
dessas empresas. Isso é bom para acompanhar,
fiscalizar e democratizar esse processo”.
Carlos Lupi, Ministro do Trabalho e Emprego.
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ADEUS AMIGO
Em abril faleceu o querido ex-presidente do Sintetel Geraldo de
Vilhena Cardoso, que esteve no
comando do Sindicato entre 1981
e 1987. Foi ele quem organizou a
primeira greve geral dos telefônicos no Brasil, ocorrida em 1985.
“Um honesto dirigente sindical, excelente marido e pai de
família, sempre foi para nós o que se chama de ‘pau para
toda obra’. Com ele, quando se tratava de amigos ou dos
direitos dos trabalhadores, não tinha tempo ruim”,
relembra o atual presidente do Sintetel, Almir Munhoz.
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SINDICATO FAZ 66 ANOS
Fundado no dia 15 de abril de
1942, o Sintetel completa mais
um ano de lutas e reivindicações. Entre as conquistas destacam-se o 13º salário e os 30
dias de férias. Hoje, com uma
base de 150.000 trabalhadores,
o Sintetel é considerado o maior sindicato de telecomunicações da América Latina.
Linha Direta | Julho 2008
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Emídio de Souza, prefeito de Osasco, durante
a comemoração ao Dia do Trabalho.
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“No Brasil existem oito milhões
de aposentados que ganham
mais de um salário mínimo e que
a cada ano compram menos. Os
preços dos medicamentos e
planos de saúde sobem e não
temos como fugir disso”.
Em maio, o Sintetel recebeu do governo federal a
Cer tidão Sindical, documento que legitima o Sindicato como representante oficial dos trabalhadores em empresas de telecomunicações, operadores de
mesas telefônicas do plano da CNTCP, e trabalhadores
em “call centers” de empresas de telecomunicações ou
em empresas por elas contratadas.
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“Osasco está
acompanhando
o ritmo
brasileiro. O
portal do
trabalhador
garantiu a
colocação no mercado de quase
35 mil na região”.
CERTIDÃO SINDICAL
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João Batista Inocentini, presidente do SINDINAP
(Sindicato Nacional dos Aposentados).
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DIA DO TRABALHO
No dia 1° de Maio, a Força Sindical realizou sua tradicional
festa em comemoração ao Dia
do Trabalho. Realizada na Praça Campo de Bagatelle, na
zona nor te de São Paulo, o
evento contou com 1,2 milhão
de pessoas. O tema do encontro foi a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, além da
concretização das convenções 151 e 158 da OIT.
13
NO
TÍCIAS
NOTÍCIAS
ACONTECEU
JO
VENS
JOVENS
ECSTASY
A DROGA DA ELITE
Popular entre os jovens de classe média alta, o ecstasy combina
com os valores da sociedade atual
EMILIO FRANCO JR. E
AMANDA SANTORO
O
aparecimento de novas drogas caminha lado a lado com
as tendências da sociedade. Talvez
seja por isso que o consumo de tóxicos é um dos temas preferidos para
acalorados debates, seja pela discussão ininterrupta envolvendo a sua legalização ou pelos efeitos causados
nas vidas dos usuários. Dentro desse
cenário, o ecstasy vem ganhando cada
vez mais destaque, principalmente após
a popularização das raves e o reconhecimento de DJs como verdadeiros
ídolos da música.
A droga é bastante antiga, mas o seu
consumo só se popularizou em grande
escala recentemente, seguindo a tendência de refletir os costumes da sociedade. A maconha e o LSD combinavam com as atitudes dos hippies, que
buscavam o afastamento da sociedade
de consumo na década de 60. Devido à
sensação de poder, a cocaína representava a filosofia dos yuppies na década de 80. O ecstasy corresponde a valores sociais modernos, pois promete
prazer imediato, combina com a cultura da moda e, por ser um moderador
de apetite, está de acordo com a ditadura da magreza.
14
HISTÓRICO
EFEITOS
Assim como o LSD (dietilamina de
ácido lisérgico), o ecstasy foi descoberto por acaso: o composto de
substâncias químicas MDMA
(MetileneDioxoMetaAnfetamina),
essencial na composição da droga, foi isolado acidentalmente por
um laboratório alemão. Algumas
décadas depois, nos anos 60, o
MDMA passou a ser usado como
complemento e elevador de ânimo em psicoterapias, e o seu comércio foi regularizado por mais
de uma década. A droga popularizou-se na cultura “underground”
e nas discotecas, o que ocasionou, nos anos 80, a sua proibição
por conta do amplo consumo para
fins não medicinais.
As observações mais comuns após
o seu consumo são: maior capacidade física e mental, maior interesse sexual, aumento do estado de
alerta, afastamento da sensação de
sono e cansaço, além de desinibir,
aumentar a sociabilidade e deixar o
usuário eufórico. “A primeira vez que
tomei os comprimidos coloridos senti
uma mágica extraordinária. Meu corpo ficou mil vezes mais sensível a
estímulos e toques. Comparo a experiência com a primeira vez que fiz
amor”, confidenciou o designer
Vinicius Pereira, de 23 anos.
O nome ecstasy foi atribuído à droga por seus vendedores como jogada de marketing, uma forma de
fazer analogia com a palavra êxtase, cuja definição é o estado de
elevação para fora de si e do mundo, por meio de intensa alegria,
prazer e admiração. Justamente
algumas
das
sensações
provocadas pela droga.
Porém, a sensação de prazer imediato é acompanhada por efeitos desagradáveis no futuro. O ecstasy provoca lesões celulares irreversíveis,
pois faz com que os neurônios percam a capacidade de regeneração.
Às vezes, os efeitos colaterais podem
ocorrer logo após a ingestão da droga, com destaque para a contração
da mandíbula, taquicardia, secura da
boca, tremores, transpiração e dores musculares. Com mais raridade, podem ocorrer variações de
humor nos dias seguintes ao uso,
gerando quadro de depressão, e a
Linha Direta | Julho 2008
O ecstasy cor r esponde a vvalor
alor
es
alores
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sociais moder nos
nos,, pois pr
promete
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imediato
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a cultur
culturaa da moda ee,, por ser um
moder
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petite
moderador
petite,, está de
acor
do com a ditadur
acordo
ditaduraa da ma
maggr eza
aparição de espinhas no rosto.
TRÁFICO E USUÁRIOS
Geralmente, os efeitos desaparecem
de quatro a seis horas após o consumo, podendo haver reflexos nas 40
horas posteriores. Quanto maior o
tempo de uso, mais comprometido fica
o funcionamento cerebral do usuário.
“O ecstasy acentua a síndrome do
pânico e a depressão em pessoas
predispostas a essas doenças. Causa
também danos à memória e à atenção. Como se popularizou há apenas
20 anos, não se sabe os seus efeitos
a longo prazo”, alertou o psicólogo
da Unifesp Murilo Battisti, primeiro
pesquisador da droga no Brasil.
Também conhecida como droga de
desenho ou de recreio, na maioria
das vezes o ecstasy é consumido
via oral, mas também pode ser injetado ou inalado. Custa entre R$
25 e R$ 45, e é vendido em forma
de comprimidos, cápsulas, pastilhas ou pó, apresentando tamanhos e cores distintos. Segundo
Battisti, “as diferenças de coloração e formato indicam geralmente a marca do traficante. Entretanto, um comprimido de mesmo
logotipo também pode ter composição química diferente”.
Atualmente, o consumo de ecstasy
está concentrado em boates, raves
e lugares com música contínua. “Tem
que ter um contexto. Você não toma
ecstasy em casa ou na rua. Eu só
uso a droga se estou em algum lugar afastado, com música bem alta
e muitos amigos em volta”, afirmou
o jornalista Luiz Ricardo, 25 anos,
que experimentou ecstasy pela primeira vez em 2005. Ainda não foi
comprovado se a droga provoca dependência física, mas ela já é apontada como causadora de dependência psicológica.
O Dr. Edemur Ercílio Luchiari, delegado da Divisão de Prevenção e Educação da Polícia Civil (DIPE), descreve o perfil do consumidor de
ecstasy. “O usuário costuma ter
mais de 18 anos, pertence à classe
média alta, e freqüenta as festas
raves”. O delegado ressalta que, diferentemente do que costuma ser
dito, a substância provoca dependência física.
A família não deve ser negligente. O simples acompanhamento
do compor tamento dos filhos e
parentes na volta das baladas
pode evitar problemas mais sérios no futuro.
Linha Direta | Julho 2008
“Você não vê pobre usar ecstasy. Isso
porque as festas de música eletrônica
são geralmente afastadas das cidades
e pagamos também o ingresso da rave,
gasolina, estacionamento... No final das
contas, não sai menos de R$ 100”,
completou Luiz Ricardo.
Segundo a Polícia Federal de São
Paulo, 209.606 comprimidos de
ecstasy foram tirados de circulação
em 2007. A Delegacia de Repressão
a Entorpecentes (DRE) afirma que o
aumento das apreensões deve-se à
atuação intensa da PF, que percebeu que os traficantes usam o caminho duplo – levam cocaína para
fora do país e trazem para cá drogas sintéticas. Estas últimas são, em
sua maioria, provenientes de traficantes da Ásia e Europa, com destaque para as freqüentes apreensões
de carregamentos holandeses.
Nas raves, a droga costuma ser revendida por jovens com perfil semelhante
ao dos consumidores. O vendedor também é de classe média, tem entre 20 e
27 anos, possui curso superior, não trabalha, é sustentado pela família e trafica para consumir as pílulas.
O Sintetel é contra o uso do ecstasy e
de qualquer outro tipo de droga. “Os
entorpecentes são desagregadores
sociais. Eles destroem a família, corrompem o indivíduo e desorganizam
a sociedade”, conclui Almir Munhoz,
presidente do Sindicato.
O consumo de ecstasy é verificado, principalmente, em festas com música
eletrônica.
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JO
VENS
JOVENS
ECSTASY
CAP
CAPAA
SINDICATO CIDADÃO
COLETA SELETIVA:
UMA QUESTÃO DE
RESPONSABILIDADE E
AMOR AO PLANETA
Trata-se de uma causa que toda população deveria
assumir como prioridade. O Sintetel encampou
mais esta luta e começa a fazer sua parte
MARCO TIRELLI
D
ar um destino correto ao
lixo gerado é uma questão
de consciência ecológica, compromisso com o planeta e responsabilidade social. A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis
previamente separados na fonte
geradora. Esta separação evita a
contaminação dos materiais
reaproveitáveis, aumentando o
seu valor agregado e diminuindo
os custos de reciclagem.
COMO ACONTECE A
COLETA SELETIVA?
Basicamente, o material é recolhido de quatro maneiras:
Por ta a por ta
Veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não coincidam com
a coleta normal de lixo. Os moradores colocam os recicláveis nas
calçadas ou acondicionados em recipientes distintos.
16
PEV (Postos de Entrega
Voluntária)
Utiliza contêineres ou pequenos depósitos, colocados em pontos das
cidades, nos quais qualquer cidadão depositará o material reciclável.
Postos de Troca
Efetua-se a troca do material a ser
reciclado por algum bem.
PICS
É outra forma de coletar os resíduos (PICS - Programa Interno de Coleta Seletiva). São realizadas em instituições públicas e privadas em parceria com associações de
catadores. Esta é a modalidade que
o Sintetel adotou.
A coleta seletiva é
um sistema de
recolhimento de
materiais
recicláveis
previamente
se
par
ados na ffonte
onte
separ
parados
g er ador
adoraa
EXEMPLIFICANDO
A RECICLAGEM...
Cada resíduo é encaminhado para
um diferente processo de recuperação. O papel, por exemplo,
nada mais é que um emaranhado de fibras vegetais. Ao transfor mar papel usado em novo,
desfaz-se esta trama entrelaçando as fibras novamente. A par tir
do papel ar tesanal, é possível
confeccionar papéis de car ta,
marcadores de livros, por ta-retratos, por ta-lápis, capas de cadernos, livros, envelopes, etc.
Produzir papel a par tir de papel
“velho” consome cerca de 50%
menos energia em vez de fabricálo a partir de árvores, além disso,
utiliza-se 50 vezes menos água e
reduz-se a poluição do ar em 95%.
Cada tonelada de papel reciclado
representa três metros cúbicos
de espaço disponível nos aterros
sanitários (depósito de lixo fiscalizado e que segue cer tas normas técnicas para nivelar terrenos públicos).
Linha Direta | Julho 2008
Cooperados realizam triagem do material a ser reciclado.
Novos Saberes para
viabilizar a implantação e condução do
projeto. “A princípio,
faremos apenas a coleta de papel e plástico. Após a consolidação da primeira etapa
do projeto, daremos
um passo adiante com
o objetivo de ampliáPedro Soares, cooperado há 10 meses. "É muito lo e expandi-lo às nosmelhor trabalhar aqui do que ficar parado".
sas subsedes. Queremos que todos se comprometam com a defesa do meio
De todo papel que o Brasil proambiente”, acrescenta Almir.
duz anualmente, apenas 30% é
reciclado. Se o mundo reciclasse
metade do papel que consome,
40 mil quilômetros quadrados de
terras seriam liberados do cultivo de árvores para a indústria de
papel e celulose.
SINDICATO CIDADÃO
SINTETEL RECICLA
Com este slogan, o Sindicato implantou no mês de maio o seu
projeto de coleta seletiva. “Trata-se de uma atitude pioneira no
meio sindical uma vez que já começamos a incorporar o conceito do sindicalismo cidadão”, explica Almir Munhoz, presidente do
Sintetel. A direção da entidade
firmou parceria com o Instituto
Linha Direta | Julho 2008
Todo material recolhido terá um
destino cer to. “Pr etendemos
destinar os resíduos recicláveis
do Sintetel para centrais de
catadores autorizadas pela prefeitura. A princípio, utilizaremos
nossa antiga parceria com a Cooperativa de Reciclagem União –
CoopUnião. A exceção é o papel
branco que será destinado para
a Usina de Papel Reciclado. Este
também é um projeto do Novos
Saberes que retorna à fonte geradora parte do material destinado para reciclagem e os transforma em produtos, como agenda,
papel e bloco de notas”, explica
André Luiz das Neves, diretor Executivo do Instituto Novos Saberes.
Na sede do Sindicato a coleta já
acontece. “Colocamos as caixinhas coletoras de papel em todas as salas, assim como os tubos para copos plásticos. No início, realizamos o ‘cata-tudo’ de
papel que consistiu num recolhimento de todo o material que
havia na sede e que representava
lixo. Todos os funcionários par ticiparam de palestras para conhecer o projeto. Creio que estamos
no caminho cer to”, conta Rosa
Sayols, funcionária do Sintetel e
integrante da equipe que gerencia
o projeto Sindicato Cidadão.
O QUE DIZ A LEI?
Existem regulamentos que determinam questões sobre a coleta seletiva. Fique por dentro deles:
• Lei Estadual N. 12.300 de 16 de março de 2006 - institui a política
estadual de resíduos sólidos e define princípios e diretrizes.
• Lei Federal N. 7.802 de 11 de julho de 1989 - dispõe sobre a pesquisa, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação,
controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e
afins, e dá outras providências.
Além destas, existem ainda resoluções e decretos federais e estaduais que regulamentam a questão.
17
CAP
CAPAA
SINDICATO CIDADÃO
CAP
CAPAA
SINDICATO CIDADÃO
DO SINTETEL
PARA A RECICLAGEM
Dar o destino correto aos resíduos é a
meta do projeto Sindicato Cidadão.
Através do Instituto Novos Saberes, o
Sintetel envia seu material reciclável à
Cooperativa de Reciclagem União e à
Usina de Papel Reciclado.
A CoopUnião já existe há oito anos e
está localizada no bairro de Itaquera,
na capital. A cooperativa recebe diariamente cerca de 3.500 kg de material. Os cooperados realizam o processo de triagem, acondicionam o material e, em seguida, tudo é vendido para
as empresas de reciclagem. Com o resultado das vendas, a cooperativa é
mantida, além de pagar uma quantia
mensal aos cooperados. “Hoje trabalhamos com 50 cooperados que são
ex-catadores de lixo das ruas, além
de contarmos com sete núcleos. Os
núcleos representam uma extensão
das cooperativas. Por exemplo, existem 256 tipos de plásticos. Aqui nós
fazemos a triagem inicial, enquanto o
núcleo separa este material e nos devolve beneficiado”, explica Pedro Gomes da Silva, presidente da CoopUnião.
Pedro Gomes da Silva, presidente
da CoopUnião. "A coleta seletiva
é uma questão sócio-ambiental.
As empresas deveriam ter como
meta esta causa".
20
CONHEÇA O INSTITUTOS NOVOS SABERES
O Instituto Novos Saberes é uma OSCIP (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público) sediada na cidade de São Paulo e formada
por profissionais, estudiosos e ambientalistas. São eles que discutem
e implementam projetos, atividades e ações referentes às questões
socioambientais, além de colaborarem para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável.
O Instituto surgiu em 2001, após a união de educadores que trabalhavam com jovens e adultos na área de Educação Profissional e tinham
experiência na luta por direitos sociais e ambientais.
Em São Paulo existem 14 cooperativas. As empresas devem dar o destino correto ao seu lixo e isto está
previsto em lei através de decretos.
“As empresas de telecomunicações,
por exemplo, geram muitos resíduos de fios, cabos e metal. Nós
estamos prontos para firmar parcerias desta natureza”, acrescenta
José Roberto, tesoureiro da Cooperativa de Reciclagem União.
Sintetel instala coletores de papel e
plástico em suas dependências.
SERVIÇOS
Instituto Novos Saberes: www.novossaberes.org
e-mail: [email protected] – fones: 11- 8310-7960/6736-7015
CoopUnião: [email protected] – fone: 11- 6522-9158
Linha Direta | Julho 2008
AMOR
ÀS AVESSAS
Ao abandonar a auto-estima, mulheres tornam-se emocionalmente
dependentes e descobrem o lado obscuro do sentimento
AMANDA SANTORO
Q
uando o papo é relacionamento amoroso, o que mais
se ouve são histórias de insensatez e
impulsividade. Numa sociedade que
já cunhou que para amar é preciso
sofrer, as mulheres são as mais afetadas. Mas o que acontece quando
um sentimento supostamente saudável transforma-se em obsessão?
Muita gente não sabe, mas “amar demais” também é uma forma de dependência destrutiva. A terapeuta conjugal norte-americana Robin Norwood
foi a primeira a constatar que o comportamento doentio de mulheres em
relacionamentos amorosos era similar ao de viciados em drogas. “Amar
demasiado não significa amar muitos homens, ou apaixonar-se com
muita freqüência (...). Significa, na realidade, ficar obcecada por um homem e chamar isso de amor, permitindo que tal sentimento controle suas
emoções e boa parte de seu comportamento”, afirmou em seu livro
Mulheres que Amam Demais.
O MADA
Com base no livro de Norwood e inspirado no AA (Alcoólicos Anônimos), surLinha Direta | Julho 2008
ge o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas). No Brasil, o grupo
anônimo – que propõe às dependentes discutirem os motivos que as impedem de largar seus parceiros – surgiu em 1994. No entanto, a explosão
aconteceu somente em 2003, com a
novela Mulheres Apaixonadas. O autor
Manoel Carlos retratou esse universo
através da personagem Heloísa, interpretada por Giulia Gam, que colocou
em risco a sua vida e a do marido por
causa do seu ciúme incontrolado. Após
seis meses de novela no ar, os grupos
do MADA pularam de 7 para 23. “As
mulheres se identificavam e recebíamos muitas cartas e e-mails. Tivemos
que lidar com esse aumento sem ter
como controlá-lo”, afirmou uma das
primeiras participantes do grupo.
PROJEÇÃO E TERAPIA
DE ESPELHOS
Não é regra, mas grande parte das
mulheres que sofre dependência afetiva
passou a infância num lar
desestruturado. “Isso se chama projeção. Quando somos crianças conhecemos o padrão dos nossos pais e,
sem notar, reproduzimos quando adultos. A menina que teve um pai alcoólatra tem a tendência de procurar um
parceiro igual. Ela não faz isso por von-
tade própria, mas porque é o modelo
a que ela está acostumada”, afirmou
a psicóloga Lílian Loureiro.
No MADA, o tratamento é feito por meio
da “terapia de espelhos”, ou seja,
além do alívio do desabafo, as mulheres enxergam os próprios erros
nos relatos alheios. Conselhos, interpretações e julgamentos são proibidos nas reuniões. No grupo, cada
participante é livre para escolher a
sua atuação: pode falar o que sente
ou apenas ouvir os depoimentos.
FILOSOFIA
Prega o anonimato das participantes e o lema de “viver um dia de
cada vez”. O MADA não tem ligação
com nenhuma religião e não cobra
mensalidades ou honorários. Toda
verba provém das contribuições voluntárias feitas pelas freqüentadoras.
Quem se identificar com essa reportagem ou quiser saber mais sobre o
tema deve acessar o site
www.grupomada.com.br. Existem reuniões da organização em 12 estados brasileiros. O MADA está aberto
para qualquer mulher que sinta a necessidade de sua ajuda.
21
MULHER
RELACIONAMENTO
APOSENT
ADOS
APOSENTADOS
MINHA HISTÓRIA
SINDICALISMO
NAS VEIAS
Da ditadura à democracia, a trajetória de lutas do companheiro Sales é
contada em detalhes para o leitor de Linha Direta em Revista
MARCO TIRELLI E
AMANDA SANTORO
I
mpossível narrar as lutas travadas pelo Sintetel nos últimos 30
anos sem mencionar Benício
Florêncio Sales. Ou simplesmente
Sales, como é conhecido pela categoria. Popular, autêntico e divertido, o companheiro marcou presença em todos os acontecimentos das
últimas três décadas. “Causos” e
aventuras para contar não faltam,
tanto no Brasil quanto no exterior.
Dedicou grande parte da vida ao
movimento sindical e hoje assessora
a diretoria da entidade fazendo
sindicalismo de base.
to. “Eu nem sabia que a Constituição
agia a meu favor. Por conta disso,
uma amiga [Angélica] me apresentou o Sindicato dos Metalúrgicos”.
fazermos nada errado, pois estávamos sob regime. Ele foi imposto pelo governo e tivemos que
agüentar”, recorda.
De 1966 a 1974, Sales trabalhou
na Arno, uma antiga fábrica de
eletrodomésticos. Foi nesse período que se tornou delegado sindical. O Brasil passava por tempos difíceis e era quase impossível fazer sindicalismo. “Não podia
falar nada contra o governo, muito menos fazer greve. O
Joaquinzão [Joaquim dos Santos
Andrade, presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Paulo durante a ditadura], dizia para não
NA TRINCHEIRA DA
RESISTÊNCIA
No ano seguinte, em 17 de maio de
1975, Sales começou na Telesp
como operador de linha. Três anos
depois, mediante experiência como
militante metalúrgico, participou da
fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). “Foi nessa época que
conheci a turma toda, o Djalma
Bom, Santo Dias, Lula, José Genoíno,
José Dirceu, Eduardo e Mar ta
Arquivo Sintetel
O COMEÇO
Nascido em Campo Formoso, no
ano de 1939, o baiano Sales teve
uma breve passagem pelo Paraná
antes de vir para São Paulo. “Fui
sozinho para lá plantar algodão. Eu
tinha 19 anos e fui tentar a vida.
Fiquei três anos e resolvi vir para
São Paulo”, conta.
Quando chegou à terra da garoa, o
companheiro não tinha noção alguma do que era o movimento sindical. No entanto, em 1963, após ser
demitido da metalúrgica em que trabalhava e não receber os direitos
trabalhistas, ele tomou conhecimen-
22
Sales em assembléia na sede do Sintetel. Mobilização
e união na conquista dos direitos.
Linha Direta | Julho 2008
Segundo ele, os trabalhadores tinham
medo de distribuir o material do Sindicato na Telesp. “Eu agitava, pendurava
e dizia para todos serem sócios. Mas
havia uns diretores militares na empresa e, certa vez, fiquei sob interrogatório de um coronel das 10h às 14h.
Ele me perguntava ‘você sabe quem é
Fidel Castro?’. Óbvio que eu conhecia,
mas respondia que não”, lembra Sales.
Foi em 1981 que o companheiro se
tornou sócio do Sintetel. Como já
se destacava no movimento, foi convidado pelo então presidente do Sindicato, Geraldo de Vilhena Cardoso,
para ser membro da diretoria da
Fenattel (Federação Nacional dos
Trabalhadores em Telecomunicações). Uma vez que o pessoal do
PT fazia oposição à diretoria do
Sintetel, Sales teve que optar entre
continuar no partido ou entrar para
a direção da entidade. “Escrevi uma
carta e fui à reunião do Partido. Avisei que estava saindo do PT e todos ficaram doidos de raiva. Chamei os companheiros que tinha mais
afinidade, como o José Genoíno, e
pedi para lerem a minha carta. Fui
defendido pela Marta Suplicy, que
pediu para o pessoal respeitar a
minha opinião”, recorda.
diquei a implantação do tíquete e
da insalubridade para os trabalhadores. Saímos vitoriosos. Todos
aqueles que me crucificavam tiveram que me engolir”, comemora.
Seis meses após o acontecimento, a Telesp já tinha concedido o
benefício alimentício e 40% do salário mínimo de insalubridade.
A luta seguinte foi pelo pagamento do adicional de periculosidade
para quem trabalhava em áreas
suscetíveis a choques elétricos.
“O Gardel, ex-diretor do Sintetel,
lutou comigo nesta causa. Fizemos um filme sobre a história
verídica da mor te de um trabalhador. Ele havia acabado de almoçar e, sob pressão do chefe,
voltou ao trabalho. Subiu no poste, tomou um choque e acabou
morrendo. O filme deu o que falar no mundo inteiro e foi parar
na OIT [Organização Internacional do Trabalho], em Genebra, na
Suíça”, complementa.
APOSENTADORIA E
VOLTA À MILITÂNCIA
Sales foi diretor do Sintetel até 1999.
Aposentou-se e retornou para a Bahia.
“Fiquei lá dois meses. Comprei uma
casa, um jipe, mas não me acostumei.
Voltei para São Paulo, e como ficar em
casa é uma droga, eu vinha até o Sindicato ajudar. Hoje sou assessor da diretoria. Faço assembléia, distribuo jornais e boletins”, explica.
“Devo muito à minha amiga Angélica, que me apresentou o Sindicato
dos Metalúrgicos em 1963. Ela é
uma mulher esclarecida e foi a partir daí que as portas do mundo sindical se abriram para mim”, finaliza o companheiro.
Arquivo Sintetel
RESULTADOS DA LUTA
Como já foi comentado, o responsável pela entrada de Sales na categoria foi o ex-presidente do
Sintetel Geraldo de Vilhena Cardoso, a quem o companheiro tem
muita gratidão. “Muita gente sentiu ciúmes, dizia que eu não sabia
ler, nem falar. Sabe como eu tapei
a boca deles? Mostrando resultados”, destaca. “Nos anos 80, fui
falar com Carlos de Paiva [presidente da Telesp na época]. ReivinLinha Direta | Julho 2008
Ao centro, Sales fala aos trabalhadores. Também na foto, os companheiros ex-diretores do
Sindicato José Fernandes da Silva (Gigante) e Carlos Delfino da Silva (Gardel ),
que sempre lutaram pela conquista do adicional de periculosidade.
23
APOSENT
ADOS
APOSENTADOS
Suplicy, entre outros”, conta.
FIQUE POR DENTRO
MOBILIDADE
WI-FI PERMITE ACESSO
COLETIVO À INTERNET
Tecnologia já é comum em aeroportos,
restaurantes, cafeterias e livrarias
EMILIO FRANCO JR. E LUCIANA MARILLAC
V
ocê já ouviu falar em Wi-Fi? Pois bem, o Wi-Fi,
também conhecido por Wireless (sem fios), é um dispositivo que permite o acesso à Internet em lugares
públicos. Com um computador portátil em mãos, basta
sentar-se em uma mesa de bar, restaurante, universidade, aeroporto, entre outros lugares com grande circulação de pessoas, ligar a máquina e pronto: a conexão com a rede já está estabelecida. Freqüentadores
desses ambientes precisam de um computador que
possua o dispositivo necessário para estabelecer a comunicação sem fio, que acontece por transferência de
dados via ondas de rádio ou por radiação infravermelha.
Mas, não se preocupe. Atualmente, os computadores
portáteis já saem das fábricas com os dispositivos necessários (a placa wireless vendida separadamente
custa cerca de R$ 150).
Mas o que quer dizer Wi-Fi? Algumas pessoas acreditam
que o termo é uma abreviatura de Wireless Fidelity, mas
a responsável pela tecnologia, a Wi-Fi Alliance, nega essa
versão. O termo é, na verdade, uma brincadeira e trocadilho com o drinque Hi-Fi (vodka com suco de laranja).
Apesar de a nova tecnologia facilitar o acesso à internet,
é preciso ficar atento aos hackers. Por estar num ambiente público, o usuário fica mais visado e os “piratas
da internet” podem invadir com mais facilidade a sua
máquina, aumentando os casos de decodificação de
informações, clonagem e roubo de senhas. O especialista em tecnologia Helton Posseti alerta para outros
riscos: “É preciso lembrar que não é muito seguro andar por aí com um notebook, o risco de ser roubado
em alguns locais é alto. Depois disso, creio
que o preço não seja muito atraente”.
Ele acrescenta que o Wi-Fi não
cumpre o papel de levar a internet
para um número maior de pessoas.
24
“Definitivamente não existe democratização do acesso
à internet. No Brasil, isso passa por questões de caráter político e regulatório e não tecnológico. Mas, o governo federal anunciou recentemente o Programa
Nacional de Banda Larga, através do qual as concessionárias se comprometeram a conectar todas as escolas públicas urbanas até 2018”.
Entretanto, Posseti aponta os meios para a democratização do acesso. “Com a entrada das redes de terceira
geração essa oferta vai aumentar muito e os preços
diminuirão. Então, o cliente pode acabar optando
pelo serviço das teles móveis que não tem a limitação
de alcance de uma rede Wi-Fi, que é curto, em torno
de 150 metros. Já em alguns países como a Inglaterra,
há um movimento para que as pessoas que tenham
uma rede Wi-Fi em casa a deixem aberta. Ou seja, não
coloquem senha, assim qualquer um pode usar a conexão. A idéia é mesmo de democratizar o acesso. Isso
é um pesadelo para as operadoras de telecomunicações que não querem que o cliente compartilhe o seu
acesso com mais ninguém, o que desestimularia a entrada de novos usuários”.
E ele deixa uma dica: “O que eu posso dizer é que a
mobilidade é algo muito interessante. Quem puder pagar por um notebook, vale muito a pena gastar um
pouquinho mais para comprar um acess point Wi-Fi e
surfar na web até deitado na cama”.
Linha Direta | Julho 2008
UM NEGÓCIO CHAMADO
PIRATARIA
EMILIO FRANCO JR.
J
á não é novidade que o preço elevado de cds e dvds originais contribui para o crescimento do mercado
paralelo. Em média, um cd custa 25
reais, enquanto um dvd é
comercializado por 40. Com a mesma
quantia, em uma barraca de camelô,
é possível comprar até dez vezes mais.
Foto divulgação Globo
Um caso recente foi a pirataria maciça de Tropa de Elite, do diretor José
Padilha. O filme sobre o Bope, a tropa de elite da PM carioca, foi
pirateado em larga escala e podia
ser encontrado, facilmente, nas esquinas das principais cidades do país.
Antes mesmo da estréia nos cinemas,
antecipada em uma semana no Rio
e em São Paulo devido ao ocorrido,
o longa já havia sido visto por mais
de três milhões de pessoas.
Preço baixo é o
principal aatr
tr
traa titivv o
par
paraa os
consumidores
Impossível saber se Tropa de Elite
seria tão comentado nas ruas e
pela imprensa, caso não houvesse
o número exorbitante de cópias ilegais, disponíveis por preços convidativos em qualquer esquina. A
estimativa atual é de que, somado
o público do cinema com os espectadores piratas, o filme já tenha sido visto por mais de doze
milhões de pessoas.
Linha Direta | Julho 2008
No caso dos cds de músicas, os
grandes prejudicados são os artistas e as gravadoras, que perdem
milhões com o mercado ilegal. De
acordo com dados do Ministério da
Justiça, a pirataria impede a criação de dois milhões de empregos
formais por ano. Isso gera um prejuízo de R$ 30 bilhões aos cofres
públicos. Para o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz
Paulo Barreto, “não é exagero dizer que ao comprar um produto pirata, a pessoa pode estar provocando o desemprego de um familiar”.
Mas os consumidores parecem não
ligar para isso. A estudante Marcela
Marques, de 20 anos, diz que mesmo sabendo que é errado, prefere
comprar dvds e cds falsificados. Ela
não vê vantagem em pagar mais pelo
original porque considera a qualidade quase igual. “Compraria o original se fosse mais barato”, afirma.
Na visão da estudante, o lado negativo é o prejuízo que esse mercado
traz para o país, mas para ela, vender produtos piratas é uma das sa-
ídas para driblar o desemprego. “Os
maiores prejudicados são os que
trabalham de forma legal”, conclui.
Uma vendedora ambulante que atua
em Higienópolis, em São Paulo, concorda que vender produtos ilegais
é uma alternativa diante da falta de
empregos. “Não vale muito a pena
atuar nesse ramo, mas falta opção.
É trabalhar nisso ou ficar desempregada”. Ela expõe que até mesmo o mercado pirata está enfrentando dificuldades. “O pessoal baixa tudo da internet. Eu até comecei a vender bijuterias junto com os
dvds de filmes”. Na visão da
vendedora, a pirataria não atrapalha o país. “Quem não compra produtos originais, não vai passar a
comprar caso a pirataria acabe, vai
baixar da internet”. Atualmente, a
ambulante vende em média dez
dvds por dia, o que garante uma
arrecadação mensal de 600 reais.
Talvez, a grande concorrência enfrentada hoje pelo mercado seja
a internet.
25
POLÊMICA
INFORMALIDADE
MÚSICA
PIONEIRISMO
REI DOS
TOCA-DISCOS
E LP’S
Ao som de Glenn Miller e Ray Conniff, Osvaldo Pereira é consagrado o
primeiro disque-jóquei brasileiro
AMANDA SANTORO
F
inal dos anos 50. Domingo
às 17 horas. Osvaldo Pereira
ajeita o terno e dá o nó na gravata.
Seleciona cerca de 60 discos e, apesar das escolhas variarem de acordo
com o local e público, Glenn Miller, Ray
Conniff, Jamelão e Elza Soares têm presença garantida na caixa de LPs. São
eles que animam o salão.
Com ajuda de dois meninotes, o rapaz acomoda a aparelhagem no táxi
e parte para o Club 220. Ao chegarem ao salão, os três instalam o som
e procuram testá-lo. Osvaldo não usa
caixas de retorno nem fones de ouvido. Os equipamentos são muito caros
e inacessíveis. Quando o relógio marca 18 horas, tudo já está pronto. Osvaldo e sua “Orquestra Invisível” começam a embalar a moçada, que só
vai embora quando a música acaba
por volta da meia-noite.
A DESCOBERTA
Hoje, aos 74 anos, Osvaldo Pereira lembra
com saudosismo daquele tempo. Nascido em Muzambinho,
sul de Minas Gerais, ele
é considerado o primeiro Disque-Jóquei do Brasil.
No entanto, o pioneiro do som mecâ-
26
nico não tinha noção de seu ineditismo
cinco décadas atrás. “Tudo começou
em 2002, quando a repórter Patrícia
Travassos me entrevistou para uma reportagem sobre samba-rock. Isso despertou o pessoal e logo a jornalista
Cláudia Assef me procurou para fazer
seu livro Todo Dj Já Sambou [2003].
Ela começou a pesquisa nos anos 90 e
foi retrocedendo. Ao final, Cláudia constatou que em 1958 eu já estava na ativa e era, por isso, o primeiro DJ do Brasil”, afirma Osvaldo.
em casa, ele podia namorar os aparelhos nos casarões das patroas da
mãe Maria Luiza Pereira. Foi nessa
época que despertou a inspiração
para entrar no mundo da música.
“Quando eu tinha uns seis anos, ia
com mamãe nas casas dos ricos
para entregar a roupa lavada. Eles
tinham rádio e eu tentava entender como é que os aparelhos podiam falar, como cabia alguém dentro da caixa de som. Pensava que
era um anãozinho”.
Após o lançamento do livro, seu Osvaldo passou a dar entrevistas para
diversas emissoras de televisão e
até mesmo tocou ao lado de DJs
renomados, como o brasileiro DJ
Torrada e o inglês Fatboy Slim. Voltou a se apresentar no lançamento
de Todo Dj Já Sambou e, em 2008,
tocou numa comemoração feita pelo
Sesc Ipiranga em homenagem aos
50 anos da discotecagem. Hoje, ao
lado dos filhos que também trabalham como DJs, Osvaldo planeja um
baile das antigas para reviver grandes clássicos da época.
Em 1954, após completar o curso de
Rádio e TV promovido pela National
School dos Estados Unidos, o jovem
Osvaldo arruma emprego na Elétro
Fluorescentes Arparco Ltda. O dono da
loja, um armênio chamado Sharom,
queria entrar no mercado dos amplificadores de alta fidelidade e incumbiu
o aprendiz de montar os equipamentos. Foi lá que adquiriu a experiência
necessária para construir o seu próprio toca-discos movido à válvula.
A PAIXÃO PELA MÚSICA
Como todo bom mineiro, seu Osvaldo gostava de escutar música sertaneja quando pequeno. Sem rádio
Já com o equipamento montado, o rapaz começou a controlar o som de
casamentos e aniversários na região
da Vila Guilherme, zona norte de São
Paulo. Em 1959, foi convidado para tocar em um piquenique na cidade de
Itapevi. “Os piqueniques eram as raves
da época. Eu montava uma barraca
Linha Direta | Julho 2008
Depois disso, as oportunidades começaram a brotar. Consolidou-se como
DJ oficial nas domingueiras do Club 220
– situado no edifício Martinelli, centro
de São Paulo – e, aos sábados, passava o som no salão Ambassador, na
Avenida Rio Branco.
A carreira do primeiro DJ do Brasil durou uma década. Em 1968,
Osvaldo Pereira passou a se dedicar exclusivamente à família e
à Philco, empresa em que trabalhou durante 12 anos até se aposentar. “Tudo tem um tempo hábil na vida. Eu estava desmotivado
e queria passar mais tempo com
a minha esposa e filhos. Resolvi
parar enquanto ainda tocava com
gosto e alegria”, finalizou.
isso que os
comunicados
da época, o
que hoje chamamos de
“flyers”,
anunciavam
que seu Osvaldo
estaria
acompanhado de
sua Orquestra Invisível Let’s Dance.
O primeiro Dj do Brasil relembra os velhos tempos
em seu antigo equipamento.
Naquela época não era
comum a música ininterrupta,
pois os cavalheiros usavam os intervalos para trocarem de damas.
O DJ até construiu um mixer para
emendar uma música na outra,
mas a inovação não foi bem aceita. “Toquei assim uma só vez. O
pessoal era sossegado e não gostou da idéia. O DJ deve ter sensibilidade para colocar a música que
o pessoal quer na hora de dançar”, diverte-se.
ORQUESTRA INVISÍVEL
O ineditismo do simpático e cavalheiro seu Osvaldo é atribuído, na
verdade, à utilização do som mecânico nas festas. Numa época em
que a música vinha de big bands,
a inserção do novo modelo começou a baratear os bailes. Para
exemplificar isso, na época em
que seu Osvaldo tocava no Club
220, havia no local apenas uma
festa de big band chamada Bonequinha do Café, enquanto ele
tocava todos os domingos.
Como o público estava bastante ligado
à idéia das orquestras, seu Osvaldo
adotou uma estratégia: começava a tocar com as cortinas fechadas e, graças ao potente toca-discos à válvula,
ninguém imaginava que ele produzia
o som sozinho. Quando as cortinas se
abriam, era um verdadeiro choque. Por
Linha Direta | Julho 2008
HOMEM DE FAMÍLIA E FESTA
DE RETOMADA
Pai de sete filhos, cinco do primeiro casamento e dois do segundo,
Osvaldo Pereira é um verdadeiro
exemplo de vida para seus amigos e familiares. “Meu pai é meu
ídolo e meu irmão mais velho [Tadeu Osvaldo Pereira] é meu mestre”, afirma o filho caçula Luiz
Um dos bailes em que seu Osvaldo
se apresentou com a Orquestra
Invisível Let’s Dance.
Cláudio Pereira, 35 anos, que também se apresenta como DJ e tem
como inspiração seus mentores
mais velhos. Luiz Cláudio, também
conhecido como DJ Dinho, é funcionário da subsede do Sintetel, em
São José dos Campos.
Para a retomada das atividades,
os filhos do primeiro DJ do Brasil
prepararam um baile das antigas.
Na ocasião, seu Osvaldo e outros
disque-jóqueis reviveram o clima
dos bailes dos anos 50 e 60. “Procuramos resgatar o romantismo
das festas em salão. Antigamente,
as brigas eram raras e o pessoal
participava com a única finalidade
de se divertir. Isso sem falar da elegância dos trajes”, completa Tadeu Osvaldo Oliveira, um dos
organizadores do evento.
Osvaldo Pereira, à esquerda,
troca o LP e maneja o seu tocadiscos à válvula.
27
MÚSICA
com os equipamentos e o pessoal dançava. Esses eventos aconteciam com
mais freqüência no Guarujá, Santos e
São Vicente”, completa.
PIONEIRISMO
OPINIÃO
EM PAUTA
TERCEIRO
MANDATO
Agitação sobre mais quatro anos de Governo Lula
obscurece a necessidade da institucionalização das
conquistas trabalhistas
JOĂO GUILHERME *
U
m fantasma ronda a política
brasileira, o fantasma de um
terceiro mandato consecutivo
para Lula.
Identificar o papel desagregador
deste fantasma e seu potencial de
diversionismo é tarefa difícil e necessária. Difícil porque, em se tratando de fantasma, a proposta tem
a configuração das nuvens; necessária, porque mesmo sem se materializar causa estragos.
Quem inventou o
fantasma de um
terceiro mandato
foi o ex-presidente
Fer
nando Henrique
ernando
Cardoso
E que estragos? Desorganiza as
forças progressistas porque lhes
associa a intenção golpista; desorganiza as forças democráticas porque lhes instila o veneno
do casuísmo; enfim, desorganiza
a própria vontade política da nação porque lhe oferece uma alternativa falsa.
Quem inventou o fantasma de um
28
terceiro mandato foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
pelas próprias palavras ou por palavras emprestadas a outros. Logo
ele que modificou o pacto constitucional introduzindo a reeleição
para cargos executivos que o povo
traduziu como “mandatos de oito
anos com cláusula de desempenho
na metade” e aprovou.
Todos reconhecem nos dias de hoje
uma conjuntura sócio-econômica
positiva. Há 25 trimestres seguidos
que o PIB brasileiro cresce, com
taxas aceleradas e sustentadas,
com distribuição de renda e criação de empregos formais. A popularidade presidencial alcança níveis jamais atingidos (descontando-se as taxas do tempo ditatorial
de Garrastazu Médici).
E é exatamente estas duas ordens de fatores que devem nos
recomendar, ao invés do fantasma de um terceiro mandato a
tarefa concreta, exeqüível e desejável de institucionalizar as
conquistas obtidas e melhorar o
grau de representação política
da sociedade.
Institucionalizar as conquistas
significa, por exemplo, obter a re-
dução de jor nada de trabalho
constitucional de 44 para 40 horas semanais, sem redução de
salários, como é a meta da grande campanha unitária do movimento sindical. Institucionalizar
conquistas significa valorizar o
caráter coligado da ação governamental com os objetivos duradouros que garantam o desenvolvimento e os projetos de interesse social.
Estas institucionalizações de conquistas ser virão também par a
aproximar a representação política dos anseios da população, organizando as disputas par tidárias legítimas e preparando a
alternância de governo conjugada
com a manutenção de projetos.
Há 25 trimestres
seguidos que o
PIB br
asileir
brasileir
asileiroo
cresce, com taxas
aceler
adas e
aceleradas
sustentadas
*João Guilher me Var gas
Netto é assessor sindical do Sintetel
e de outras entidades de trabalhadores.
Linha Direta | Julho 2008
BOA DE BRIGA
Aos 20 anos, Juliana Cambuí luta para conseguir
reconhecimento e patrocínio no caratê
AMANDA SANTORO
V
ocê sabia que entre as trabalhadoras da categoria existe
uma campeã mundial de caratê?
Juliana Cambuí, 20 anos, coleciona
títulos em sua trajetória. No entanto, num país marcado pelo futebol,
os atletas de esportes pouco divulgados encontram dificuldades de
patrocínio. Para conseguir se sustentar, Juliana é auxiliar administrativa da Icatel, na Praia Grande. Em
entrevista à Linha Direta em Revista, a atleta afirma o seu sonho de
continuar lutando.
Linha Direta em Revista: Quando você entrou para o caratê?
Juliana Cambuí: Treino desde os
seis anos de idade. Comecei por curiosidade, numa época em que meu
pai também praticava. Fiz uma aula
experimental e gostei. No final das
contas, fui mais longe do que ele,
Principais títulos
conquistados
• Campeã Mundial de Kata
• Campeã Mundial de Kata por
equipe
• Vice-campeã Mundial de
Kumitê
• Campeã Mercosul de Kumitê
• Tricampeã brasileira de
Kumitê
• Campeã brasileira de Kata
individual
• Heptacampeã paulista de
Kumitê (atual campeã)
Linha Direta | Julho 2008
que parou na faixa azul.
LD: Qual é a freqüência dos treinamentos?
JC: Costumava lutar somente aos finais de semana. Já cheguei a participar de competições sem nenhuma
preparação. Passo as minhas manhãs
e tardes no serviço e faço faculdade
de Educação Física no período noturno. Não sobra muito tempo.
LD: Como você conseguia ganhar
os campeonatos sem treinar?
JC: Sinceramente não sei. Mesmo
sem praticar, você não perde o jeito.
Antes de cursar faculdade, eu conseguia treinar três ou quatro vezes
por semana. Agora só quando tem
uma brecha. E ainda tenho que pagar a academia para utilizá-la.
LD: Você tem patrocínio?
JC: Não, talvez eu consiga ganhar a
bolsa-atleta. O presidente da Federação, graças aos meus últimos resultados, indicou-me para receber
essa ajuda de custo do Governo. En-
Você sa
bia?
sabia?
trarei com o processo, mas só saberei se eles aceitarão depois de julho.
LD: O Brasil apóia os seus caratecas?
JC: Nos outros países o apoio ao
esporte é muito maior. Eu vejo que
as meninas de outras delegações
têm passagem e alimentação pagas, enquanto nós viajamos com o
nosso próprio dinheiro. Não basta
ser bom. No Brasil, só compete
quem tem condição financeira.
LD: Sua família apóia a decisão de
continuar no caratê?
JC: Meus familiares me ajudam sempre que podem. Eles fazem “vaquinha”
para que eu pague as taxas de inscrição e passagens. O Mundial da Espanha
custou R$ 4.200 e eu só consegui participar porque minha família se solidarizou e arrecadou o dinheiro para mim.
?
• Kata é uma espécie de luta contra um inimigo imaginário expressa
em seqüências fixas de movimentos.
• Kumitê é a luta propriamente dita, podendo ser o combate livre ou
com regras. A forma desportiva (com regras) é conhecida como
Shiai-kumite.
29
ESPORTES
GOLPE CERTO
SAÚDE
TELECENTRO
NOVA LEI GARANTE MELHORIAS AO
TELEOPERADOR
Desde que entrou em vigor, em setembro do ano passado, o Anexo II da NR 17
encontra resistência por parte das empresas
RENATA NOGUEIRA
O
Anexo II da Norma
Regulamentadora 17 foi publicado no
Diário Oficial da União em 30 de março de 2007. A lei entrou em vigor no
mesmo ano e representa uma grande vitória para os trabalhadores. Decorrido um ano após a sua implantação, as empresas de call center
ainda não se adaptaram corretamente e de forma completa.
Segundo Cássia Maria Kohler
Turquetto, técnica em segurança do
trabalho do Sintetel, as empresas
tem a intenção de seguir o novo documento, mas apenas alguns pontos foram implantados e com problemas. O principal refere-se à pausa para descanso. De acordo com a
Norma, o trabalhador tem direito a
30
O que é o Anexo II da NR 17?
O Anexo II da Norma Regulamentadora 17 é uma lei que estabelece
parâmetros mínimos para o trabalho em atividades de teleatendimento, de
modo a proporcionar máximo conforto, segurança, saúde e desempenho
eficiente do trabalhador da categoria. O documento regulamenta as pausas,
as condições ambientais de trabalho, os equipamentos, a capacitação dos
trabalhadores, as condições sanitárias, o mobiliário do posto de trabalho,
entre outros. Também foram incluídas questões posturais e de assédio moral,
além das regulamentações sobre pessoas com deficiência.
Entretanto, para que o Anexo II seja realmente respeitado não basta
esperar pela boa vontade das empresas. É preciso conhecer o documento e denunciar ao sindicato, se for o caso. Só assim será possível
garantir efetivamente a implementação desta grande conquista para os
trabalhadores. Aconselha-se a todo trabalhador que procure o Sindicato caso a empresa não esteja cumprindo as normas. É preciso fiscalizar, cobrar o cumprimento e denunciar o desrespeito.
Linha Direta | Julho 2008
duas paradas de dez minutos cada.
Porém, muitas empresas têm usado esse intervalo para o empregado ir ao banheiro sem precisar interromper a jornada para necessidades fisiológicas. Pela lei, a empresa não pode estabelecer um horário para que o teleatendente vá ao
banheiro. O item 5.7 do Anexo II deixa claro: “Com o fim de permitir a
satisfação das necessidades fisiológicas, as empresas devem permitir
que os operadores saiam de seus
postos de trabalho a qualquer momento da jornada, sem repercussões sobre suas avaliações e remunerações”. Ou seja, as pausas determinadas são para relaxamento e
recuperação muscular. Segundo
Cássia, falta muito para que o Anexo
II seja implantado por completo e
ainda não foi possível sentir que houve melhora real nas condições dos
trabalhadores da categoria.
Cássia também afirma que não há
grandes dificuldades na implantação
da nova Norma, mas falta boa vontade por parte das empresas. “Os itens
que demandam tempo já têm prazo
determinado, mas o restante ainda
não foi realizado por criação de dificuldade das empresas”, afirma.
Após quase um ano, teleoperadores
ainda se queixam de problemas
dentro das empresas. “Há alguns
casos, principalmente de pessoas
que passam mal por causa da temperatura do ambiente”, relata
Especialista defende NR 17
Maria Maeno, médica e pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança e Medicina do Trabalho), revela em entrevista exclusiva ao Sintetel as dificuldades
da implantação da Norma.
Qual é a maior causa de doenças nos telecentros?
R.: Os teleoperadores funcionam
como pára-choques de reclamações sem ter conhecimento e autonomia para dar respostas objetivas. Trabalham sob pressão e exigência de concentração com a obrigação de responder com rapidez e
eficiência. O tempo é cronometrado,
as ligações não têm intervalo, enquanto a digitação e a procura em
tela de computador – em posição
sentada e continuada – sobrecarregam diversos grupos musculares.
Finalmente, o uso da voz, com a modulação exigida pela empresa, é
fator de alteração orgânica e funcional das cordas vocais.
Cássia. De acordo com algumas das
reclamações recebidas, quando o ar
condicionado quebra, por exemplo, a
empresa não desocupa a sala para
que o aparelho seja consertado. Os
trabalhadores do local têm que cumprir a jornada num ambiente quente
e abafado. Além disso, Cássia diz que
muitos ainda protestam contra problemas nos banheiros e de pressões
diversas por conta das interrupções.
Resultado parcial de uma pesquisa na área da
saúde que o Sintetel realiza nos telecentros
aponta que 38% dos tr
es da
traabalhador
balhadores
ca
te
am per
da de audição e 98%
cate
teggoria já titivver
eram
perda
gostariam de ter outr
of
issão
outraa pr
prof
ofissão
Linha Direta | Julho 2008
Qual a sua visão sobre a implantação do Anexo II?
R.: Minha experiência ensinou que
não basta criar uma norma ou uma
lei. É preciso que haja transparência nas relações de trabalho, negociações locais e atuação do Estado
para que se cumpra o estipulado.
Como as empresas estão encarando a nova lei?
R.: Apesar de ter sido objeto de
acordo no qual tivemos a participação do setor patronal, algumas
empresas têm contestado e resistido a implantar mudanças preconizadas no Anexo II, sobretudo
às que dizem respeito às pausas
durante a jornada de trabalho.
PESQUISA TRAÇARÁ PERFIL DA
SAÚDE DO TRABALHADOR
Resultado parcial de uma pesquisa
realizada pelo Sintetel nos
telecentros aponta que 38% dos trabalhadores da categoria já tiveram
perda de audição e 98% gostariam
de ter outra profissão. Muitos também reclamam que os benefícios
concedidos poderiam melhorar.
Embora as dificuldades existam, os
trabalhadores de telecentro estão
mais interessados em conhecer seus
direitos. “Eles estão cobrando mais
da empresa e do Sindicato”, afirma
Almir Munhoz, presidente do Sindicato. Para ele, não há estimativa de
melhora nas condições de saúde dos
teleoperadores em curto prazo.
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SAÚDE
TELECENTRO
CUL
TURA
CULTURA
LAZER
TROPA DE ELITE VENCE
FESTIVAL DE BERLIM
Filme brasileiro recebe o Urso de Ouro
de melhor filme
EMILIO FRANCO JR.
O
diretor José Padilha não tem
do que reclamar. Mesmo com
a forte incidência de pirataria sobre
o seu filme, Tropa de Elite foi sucesso
de bilheterias, conquistou a maior
parte da crítica nacional, e, em fevereiro, sagrou-se vencedor de um dos
festivais de cinema de maior prestígio do mundo, o Festival de Berlim.
O resultado foi considerado surpreendente pela imprensa especializada. O crítico Sérgio Rizzo recebeu com
surpresa a notícia da vitória de Tropa
de Elite. “Como sempre ocorre em festivais, o noticiário se concentrou na reação - negativa - da imprensa, e não
na reação do júri que concede o prêmio”. Para Rizzo, um fator
determinante para o filme concorrer
ao próximo Oscar será a recepção à
obra no lançamento norte-americano. “A vitória em festivais não é fator
determinante. O vencedor de Cannes
2007, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias,
Sérgio Rizzo, crítico de cinema.
por exemplo, não foi nem mesmo
pré-selecionado ao Oscar de filme estrangeiro deste ano”, acrescenta.
Essa é segunda vez que um longametragem nacional vence o prêmio
máximo em Berlim, a primeira vez
foi com Central do Brasil, de Walter
Salles, em 1998.
FILME
Muitos ainda depreciam o cinema brasileiro, um erro, vide as produções recentes que cada vez
mais conquistam o nosso público. Cafundó é um bom exemplo. Inspirado na vida do preto velho
João de Camargo, tropeiro e ex-escravo, o filme é muito mais do que entretenimento. Nele, está
o nosso Brasil, gigante nas telas do cinema nacional, formado pelo seu povo sofrido, submetido
às profundas transformações e à junção de tantas culturas. Testemunho da fé, do amor, da luta
e da sobrevivência em um país em constante transformação, merece ser prestigiado.
LITERATURA
Será o consumo a condição humana da atualidade? Estamos condenados às compras? Consumir
traz felicidade? Estas questões fazem parte do livro A Felicidade Paradoxal, do filósofo francês
Gilles Lipovetsky, que com muita habilidade, dedica-se às questões do mundo contemporâneo de
forma didática e acessível. Ao analisar a geração do hiperconsumo, principalmente, após a década de 80, Lipovetsky tece um testemunho das angústias do homem moderno. Um livro instigante
para avaliarmos a nossa relação com o dinheiro e com os objetos que acumulamos.
MÚSICA
Pouco conhecida pelo público, mas muito respeitada no meio musical, Roberta Sá começa a
conquistar o reconhecimento por aqueles que descobrem suas canções. Para quem não se lembra, a cantora surgiu no programa FAMA, da Rede Globo. Hoje, aos 27 anos, Roberta Sá é considerada pelos críticos uma das vozes mais marcantes da MPB. Seu segundo e mais recente álbum,
“Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria”, é composto por sambas de autoria própria e regravações
de clássicos da MPB. Atualmente, a cantora está em turnê de divulgação de seu novo álbum.
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Linha Direta | Julho 2008
O chiclete foi invenção
copiada dos índios
da Guatemala
A invenção do chiclete (ou
goma de mascar) é atribuída aos norte-americanos devido à grande
popularização nos Estados Unidos. Porém, foi copiado dos índios da
Guatemala, que mascavam a resina extraída de
uma árvore, o chicle, para
estimular a produção de
saliva e evitar que a boca
ficasse seca durante
longas caminhadas.
Palavras
cruzadas
foram supostamente
inventadas por
presidiário
As palavras cruzadas, passatempo praticado por
milhões de pessoas no
mundo todo, apareceu
pela primeira vez em 21
de dezembro de 1913, no
jornal norte-americano
The New York World’s. Dizem que foram inventadas
por um presidiário que
passava o tempo desenhando as grades da cela
em pedaços de papel.
O Destino da Estrada
O caipira está andando
pela estrada, quando de
repente pára um carro
ao lado dele. O motorista
abre o vidro e pergunta:
- Por favor, amigo... Esta estrada vai para São Paulo?
- Sei não, Dotô... Mais si
ela fô vai fazê uma falta
danada pra nóis!
Linha Direta | Julho 2008
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PASSA
TEMPO
ASSATEMPO
DIVERSÃO
OLHO DDAA RRUUA
ELEIÇÕES
VOX
VOX VOX
POPULI POPULI
PAULO RODRIGUES*
POPULI
R
eza o ditado que a voz do povo é a voz de
Deus. Pois ouvindo a voz do nosso povo é que
eu vou perdendo a fé. Basta ver as escolhas políticas
que essa gente tem feito. Isso me parece mais um pacto com o demônio, parceirinho!” – Não faz muito tempo, ouvi esta frase do meu amigo Zanganor.
“
carro, assessoria?...
Zanganor nunca foi de jogar palavras ao vento. Ele costuma refletir bastante ao emitir a mais modesta opinião. Vem daí a minha estupefação quando dia destes
ele me contou que está se candidatando à vereança
pelo PO, Partido Oportunista.
- Qual nada, meu
amigo. Essas coisas
eles só dão aos
medalhões. Já para
os pés-de-chinelo
como eu... olha o
meu pisante! – levantou o pé para
me mostrar o tênis
de marca.
- E então, Zanga, como é que você explica essa candidatura estapafúrdia? Abandonou as convicções, adotou
a lei do “junte-se a eles”, ou quê?
- Nada disso, meu amigo; como costumam dizer os mais
antigos, o sapo salta por necessidade, não por boniteza.
Deu-se que eu estava como sempre na pindaíba, e com
uma cabeleira de três meses, quando um capa-preta do tal
partido me achou parecido com um dos nossos maiores
ídolos. Pagou o corte, mas instruiu o barbeiro para me deixar uma ponta no topete. Não é que eu tenho mesmo certa
semelhança com o figurão? Você notou? Com esse topete e
um belo uniforme – ele me disse – você já está eleito.
- E você acreditou?
- Claro que não! Não sou tão ingênuo quanto pareço. O
capa é menos ainda. Ele deve ter feito contas: com minha popularidade, e agora com a semelhança com o
homem, garanto por volta de mil votos. Com isso não
chego nem perto de me eleger, mas contribuo com a
legenda. Imagine dez, vinte, cem otários como eu...
- Mas, se você não tem chance, o que ganha em contribuir com gente desse naipe? Verba para a campanha,
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- Não é bem melhor que o meu sapato de sola furada?
Tenho direito a três destes até o final da campanha;
fora os agasalhos de primeira, as cestas básicas e os
vales refeição. Além disso, tenho uma diária. Sei que
somando tudo dá bem mais do que carregar placa de
propaganda no centro da cidade, e que a molecada lá
de casa, ao menos por uns tempos, passará a dormir
de barriga cheia.
- Vai que a zebra resolve se manifestar e você se elege.
– tentei levantar seu astral.
- Se isso viesse a acontecer, juro que não tomaria posse. Não tenho meios de barrar outros incompetentes,
mas ao menos posso barrar a mim mesmo. Toma, leva
mais um santinho pra família! Se eu chegar perto dos
mil votos, tenho trabalho garantido na próxima eleição.
E isso já é uma grande conquista, parceirinho! - Gritou
já quase dobrando a esquina.
Esse é o meu amigo Zanganor. De minha parte, seguindo à risca seu próprio raciocínio, me abstenho de
sufragar o nome dele na urna.
*Paulo Rodrigues é escritor e assessor do Sintetel.
Autor do livro À margem da Linha que ganhou prêmio da APCA.
Linha Direta | Julho 2008
Linha Direta | Julho 2008
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