oclusão do forame oval patente por via percutânea
Transcrição
oclusão do forame oval patente por via percutânea
UNIMED-BH – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO LTDA GRUPO DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE - GATS OCLUSÃO DO FORAME OVAL PATENTE POR VIA PERCUTÂNEA (PRÓTESE DE AMPLATZER®) 05/2008 Belo Horizonte Março 2008 Autoras: Dra. Sandra de Oliveira Sapori Avelar Dra. Christiane Guilherme Bretas Dra. Izabel Cristina Alves Mendonça Dra. Lélia Maria de Almeida Carvalho Dra. Silvana Márcia Bruschi Kelles Bibliotecária: Mariza Cristina Torres Talim Instituições: Associação Brasileira de Medicina de Grupo – ABRAMGE Associação dos Hospitais de Minas Gerais - AHMG Associação Médica de Minas Gerais – AMMG Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil – CASSI Federação Minas Federação Nacional das Cooperativas Médicas - FENCOM Contato: [email protected] RESUMO Cerca de 30 a 35% dos acidentes vasculares cerebrais isquêmicos são considerados criptogênicos. A prevalência aumentada de forame oval patente entre as vítimas de eventos isquêmicos cerebrais de origem não definida levou à hipótese de que a embolia paradoxal seja a causa de parte destes eventos. O diagnóstico da embolia paradoxal exige a demonstração de um trombo transpondo o forame oval ou outro defeito intracardíaco, o que já foi demonstrado através da ecocardiografia.1 Entretanto, a relação causal entre a presença de forame oval patente, tromboembolismo venoso e um evento de isquemia cerebral é sempre presuntiva. O objetivo deste estudo é avaliar a literatura disponível sobre este assunto, analisar o grau de confiabilidade das evidências que indicam o forame oval patente como um fator de risco para acidentes vasculares cerebrais e saber se a oclusão do mesmo tem impacto maior que o tratamento clínico, com antiplaquetários ou anticoagulante, sobre a recorrência de eventos isquêmicos cerebrais. Foi realizada uma busca no Medline, via PubMed, de estudos sobre este assunto publicados nos últimos vinte anos, assim como de documentos de revisão na Cochrane e em agências de avaliação de tecnologias como NICE, CADHT e INAHTA. Não foram encontrados ensaios clínicos randomizados que comparassem a oclusão percutânea com o tratamento clínico. A maioria dos estudos são séries de casos, com falhas metodológicas que comprometem os resultados e limitam sua aplicabilidade clínica. Estudos populacionais, avaliando a prevalência do forame oval patente em grupos não selecionados, demonstraram que os portadores de forame oval patente não têm maior risco de eventos isquêmicos cerebrais que os não portadores. As evidências disponíveis não são suficientemente robustas para sustentar a indicação de oclusão percutânea do forame oval patente como tratamento mais eficaz e seguro que o uso de anticoagulante ou de antiplaquetários, na prevenção de recorrência de eventos isquêmicos cerebrais. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 5 1.1 Questão clínica................................................................................................. 5 1.2 Aspectos epidemiológicos................................................................................ 5 1.3 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas..................... 6 2 MÉTODO.......................................................................................................... 7 2.1 Bases de dados e estratégia de busca............................................................. 7 3 RESULTADOS................................................................................................. 9 4 RECOMENDAÇÕES....................................................................................... 15 REFERÊNCIAS............................................................................................... 16 ANEXOS.......................................................................................................... 18 5 1 INTRODUÇÃO 1.1 Questão clínica a) O forame oval patente é causa de AVC criptogênico? b) Em portadores de forame oval patente (FOP), que tenham sido vítimas de acidente vascular cerebral de causa desconhecida (criptogênico), o fechamento via percutânea do forame oval patente é eficaz para a prevenção de novos eventos, comparado ao tratamento clínico? 1.2 Aspectos epidemiológicos e clínicos: Aproximadamente um terço dos 600.000 acidentes vasculares cerebrais isquêmicos que ocorrem anualmente nos Estados Unidos são considerados criptogênicos, isto é, não têm uma causa conhecida.2 Em 1988, Lechat3 e logo em seguida Webster4 publicaram estudos demonstrando uma prevalência aumentada de forame oval patente entre vítimas de eventos isquêmicos cerebrais, com menos de 55 anos de idade, quando comparados com um grupo de não portadores desta condição. Desde então, vários relatos têm demonstrado que a prevalência de forame oval patente é de aproximadamente 30 a 40% entre as vítimas de acidentes vasculares cerebrais sem causa definida, comparada com uma prevalência de cerca de 25% na população geral2. Esta prevalência aumentada de forame oval patente, em pacientes com acidentes vasculares cerebrais criptogênicos, levou à suspeita de que estes eventos nestes pacientes sejam provocados por episódios de embolia paradoxal, ou seja, um trombo de origem venosa transpõe o forame oval, atinge a circulação sistêmica e emboliza-se para a circulação cerebral. Desta forma, o forame oval patente constitui o componente anatômico essencial que permite que um trombo, proveniente da circulação venosa, alcance a circulação sistêmica e provoque isquemia no território vascular cerebral. O mecanismo da embolia paradoxal pressupõe também uma situação facilitadora da formação de trombos venosos, de caráter adquirido ou congênito, permanente ou transitória. 6 A aceitação de que os acidentes vasculares cerebrais criptogênicos, nos pacientes com forame oval patente, são devidos a embolismo paradoxal, levou ao surgimento de técnicas de oclusão do forame oval patente como forma de prevenção de eventos isquêmicos recorrentes. Inicialmente foi empregado o fechamento cirúrgico, posteriormente substituído pelas técnicas bem menos invasivas de oclusão percutânea com utilização de próteses. Vários relatos de série de casos têm tentado demonstrar a eficácia deste procedimento na prevenção secundária de eventos isquêmicos cerebrais. A maioria destes estudos, entretanto, apresenta falhas metodológicas que fragilizam as evidências de eficácia desta abordagem terapêutica. Tanto as próteses quanto o procedimento de implante das mesmas têm custos elevados. Nos Estados Unidos estima-se em 10 mil dólares por paciente.2 O assunto é complexo, principalmente se considerar que a embolia paradoxal pode não ser a causa da isquemia cerebral, mesmo quando houver um forame oval patente, sobretudo quando outros fatores, sabidamente de risco para eventos isquêmicos cerebrais, estiverem presentes (hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, hipercolesterolemia). Por outro lado, a oclusão do forame oval patente representa a abordagem do facilitador anatômico da embolização. A formação de trombos/êmbolos, entretanto, envolve uma situação de trombofilia, não necessariamente permanente. Esses êmbolos podem atingir a circulação cerebral ou outros leitos vasculares, como o pulmonar, com alta morbi-mortalidade. Sendo assim, a oclusão do forame oval isoladamente seria insuficiente no tratamento destes pacientes e poderia não ter impacto sobre a mortalidade. A revisão de literatura que se segue visa conhecer a relevância do forame oval patente como fator de risco para eventos isquêmicos cerebrais em primeira instância e, a partir daí, saber se sua oclusão tem impactos positivos na prevenção de eventos isquêmicos cerebrais. 1.3 Descrição do produto e alternativas terapêuticas O Oclusor Septal Amplatzer® é uma prótese auto-expansível construída pelo entrelaçamento de fios de arame de níquel e de titânio (Nitinol).5 É levado ao coração através de cateter, introduzido por via percutânea, utilizando a veia femural. Uma vez posicionado dentro do átrio direito, com ajuda da fluoroscopia e da 7 ecocardiografia, será liberado no septo interatrial, promovendo a oclusão da comunicação entre os dois átrios. O fechamento do forame oval patente, bem como de qualquer defeito do septo interatrial, pode ser feito através de cirurgia aberta, por esternotomia, com utilização de circulação extra-corpórea. Além disto, na abordagem das vítimas de acidente vascular cerebral isquêmico criptogênico está indicado o uso de anticoagulante oral e/ou de agente antiplaquetário. Há trabalhos mostrando igualdade de resultados com qualquer um destes agentes medicamentosos no que se refere a mortalidade e recidiva de eventos isquêmicos cerebrais. Entretanto, não se dispõe de estudos que comparem as duas modalidades terapêuticas, ou seja, o tratamento medicamento com o tratamento intervencionista com oclusão percutânea do forame oval. Anexo 1: Registro na Anvisa do Amplatzer® 2 MÉTODO 2.1 Base de dados e estratégia de busca Inicialmente foi conduzida busca de avaliações e recomendações referentes à oclusão do forame oval patente, na prevenção secundária de eventos cerebrais isquêmicos, elaborados por entidades internacionais reconhecidas: CADTH - Canadian Agency for Drugs abd Technologies in Health http://www.cadth.ca INAHTA - International Network of Agencies for Health Technology Assessment http://inahta.org NICE - National Institute for Health and Clinical Excelence http://www.nice.org.nk 8 Posteriormente procedeu-se a busca no Medline, via PubMed. O quadro abaixo mostra o resultado das buscas. Bases Termos Resultados Estudos Selecionados BIREME http://www.bireme.br/ LILACS Biblioteca Cochrane MEDLINE (via PubMed) www.ncbi.nlm.nih.gov Palavras-chave: occlusion percutaneous patent foramen ovale Limits: Humans Referências relacionadas ---- 44 07 ----- 06 Agências de Tecnologias 01(NICE) 3 RESULTADOS Apresentação dos resultados dos estudos selecionados: Estudos Petty et al.6, 2006 Tipo de Estudo População Caso-Controle (populacional) Desfechos Determinar se o forame oval patente é fator de risco para eventos isquêmicos Grupo 1: 519 controles aleatoriamente escolhidos, cerebrovasculares sem evento isquêmico cerebral Grupo 2: 262 controles “referidos”. Eco TE indicado p/ causa nãocardíaca Grupo 3: 158 casos AVC causa conhecida Grupo 4: 133 casos AVC causa desconhecida Resultados Incidência de forame oval patente grande: Grupo 1: 108 pacientes (20,8%) Grupo2: 22 pacientes (8,4%) Grupo 3: 17 pacientes (10,8%) Grupo 4: 22 pacientes (16,5%) Comparações: Grupo 1 X Grupo 2: OR 0,47 (IC 0,26 – 0,87) Grupo 1 X Grupo 3: OR 0,69 (IC 0,37 – 1,29) Grupo 1 X Grupo 4: OR 1,1 (IC 0,63 – 1,9) O FOP não é fator de risco para eventos isquêmicos cerebrais Comentários do autor: Estudo tipo caso-controle, com base populacional. Desenho adequado ao objetivo do estudo, porque minorizou a possibilidade de viés de seleção, que geralmente acontece nos trabalhos, cuja amostra é retirada de centros de referência. Os resultados são consistentes com 7,8 os de outros estudos com desenho semelhante publicados em 1994 e 1997. Limitação: faixa etária predominantemente acima de 60 anos. No pequeno grupo de pacientes com menos de 55 anos, a prevalência de forame oval patente apresentou valor estatisticamente significante como fator de risco para AVC, mas o intervalo de confiança amplo encontrado, não permite conclusões seguras (OR = 2,98 IC95% 0,89 – 9,94) 9 Estudos 9 Meissner et al. , 2006 Tipo de Estudo População Desfechos Resultados Estudo de Coorte (populacional) Desfecho: Incidência de eventos cerebrovasculares, transitórios ou definitivos fatais ou não-fatais A presença de forame oval patente não se mostrou um fator independente de risco para eventos cerebrovasculares, mesmo após ajuste para idade, sexo e múltiplos fatores de risco, inclusive ocorrência prévia de tromboembolismo venoso. Sobrevida livre de eventos cerebrovasculares em 5 anos: - 91% p/ portadores de FOP - 93% p/ os nãoportadores de FOP (p não significativo) 585 participantes (SPARC: The Stroke Prevention: Assessment of Risk in a Comunity ) Seguimento médio de 5 anos Aferição: ecocardiograma transesofágico (TEE) Comentários do autor: Outro estudo populacional, cuja amostra foi retirada do SPARC (The Stroke Prevention Assessment of Risk in a Comunity) estudo de coorte que visa conhecer os fatores de risco para acidentes vasculares cerebrais na população geral. Período de seguimento longo. Uso de método de aferição sensível, sem viés de seleção, conferindo aos resultados, características de evidências robustas e confiáveis. Estudos 10 Di Tullio et al. , 2007 Tipo de Estudo População Estudo de Coorte (populacional) 1100 participantes: grupo multiétnico do norte de Manhattan, sem qualquer precedente de evento isquêmico cerebral. Idade acima de 39 anos. Seguimento médio de sete anos. Aferição: ecocardiograma transtorácico, usando contraste com bolhas. Desfechos Resultados Desfecho: AVC fatal ou AVC entre indivíduos não fatal no grupo com e com forame oval patente: sem forame oval patente 12,2 por 1000 pessoas/ano AVC entre indivíduos sem forame oval patente: 8,9 por 1000 pessoas/ano (p = 0,5) HR = 1,64 (IC95% 0,87 a 3,09) Comentários do autor: Outro estudo populacional, com desenho metodológico e qualidade semelhantes aos dois outros anteriores, realizado numa população multiétnica, com período de seguimento ainda maior. A consistência dos resultados destes três estudos, indicando que o forame oval patente não pode ser considerado como fator de risco isolado para eventos isquêmicos cerebrais é relevante. Os autores consideram que, como houve maior incidência de eventos isquêmicos entre os portadores de forame oval patente, ainda que não significante do ponto de vista estatístico, é possível que condições específicas associadas ao forame oval, como estados de hipercoagulabilidade, presença de TVP, anomalias atriais possam conferir maior risco de AVC. 10 Estudos Overell, et al.16, 2000 Tipo de Estudo População Desfechos Metanálise de estudos de casos-controle 03 tipos de comparações: - prevalência de FOP e ASA* em vítimas de AVCi** ou AIT*** e grupo controle sem AVC ou AIT ( subgrupo A) Prevalência: - prevalência de FOP e ASA em vítimas de AVCi ou AIT criptogênico e naqueles com AVCi ou AIT causa determinada (subgrupo B) associação de defeitos do septo interatrial e episódios isquêmicos cerebrais Forame oval patente isolado e associado a aneurisma de septo interatrial Resultados Pacientes < 55 anos: associação significante entre a presença de FOP e/ou ASA e AVC Prevalência de FOP Subgrupo A: <55anos :OR 3,10 (IC 95% 2,29 – 4,21) >55 anos:OR 1,60 (IC 95% 0,63 - 4,06) Subgrupo B: <55 anos: OR 6,00 (IC 95% 3,72 – 9,68) >55 anos: OR 2,26 (IC 95% 0,96 - 5,31) - prevalência de FOP e ASA em vítimas AVCi e AIT criptogênicos e grupo controle sem estas condições (subgrupo C) * ASA= Aneurisma do Septo interatrial. ** AVCi = Acidente Vascular Cerebral isquêmico *** AIT = Ataque Isquêmico Transitório Comentários do autor: Esta metanálise mostra uma prevalência maior de forame oval patente e aneurisma do septo interatrial entre as vítimas de eventos isquêmicos cerebrais com menos de 55 anos, tanto no grupo total quanto naqueles que especificamente foram vítimas de eventos sem causa determinada. Os estudos de caso-controle incluídos nesta metanálise apresentam frequentemente vieses de seleção e utilizaram diferentes critérios diagnósticos de forame oval patente e aneurisma de septo interatrial. Estas limitações dos estudos individuais contaminam também a metanálise, de forma que as conclusões deste estudo têm relevância questionável. Estudos 11 Martin et al. , 2002 Tipo de Estudo População Série de casos 110 vítimas de eventos embólicos paradoxicais e forame oval patente (único centro) Fechamento percutâneo FOP Follow up: 2,3 +/- 1,7 anos Desfechos - Morte - Recorrência de eventos embólicos cerebrais ou periféricos - Necessidade de reintervenção Resultados 3 mortes 2 eventos embólicos 4 reintervenções Risco eventos embólicos = 2,1% em 5 anos Ausência combinada de eventos embólicos e de reintervenção = 96% em 1 ano e 90% em 5 anos Comentários do autor: Série de casos de pacientes selecionados, considerados de alto risco devido a ocorrência de múltiplos eventos isquêmicos em 25% dos casos, concomitância de aneurisma do septo interatrial em 14% e existência de estado de hipercoagulabilidade em 11% dos casos. A queda de 96% para 90% na incidência combinada de eventos embólicos e de reintervenção em um ano e em 5 anos respectivamente sugere dimunuição dos resultados com o passar do tempo, ao contrário do que se espera, com a epitelização da prótese, sobretudo nesta faixa etária. A conduta nos casos de hipercoagulabilidade não foi mencionada nem sua relação com a ocorrência dos desfechos de morte e recidiva de eventos embólicos. 11 Estudos Tipo de Estudo População Desfechos Resultados Homma et al.17 2002 Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, multicêntrico - Morte - AVC isquêmico AVC ou morte no grupo total com FOP = 14,8% e sem FOP = 15,4% HR = 0,96 IC 95% 0,62-1,48 p= 0,84 (não significativo) Amostra: Participantes do (PICSS& – PFO estudo WARSS* classificados in Cryptogenic como vítimas de AVC Stroke Studdy) criptogênico + outros participantes submetidos ao Eco transesofágico por outros motivos Total = 630 pacientes, todos submetidos ao Eco transesofágico 312 pacientes : warfarin 318 pacientes: aspirina 601 com eco disponível: 203 com PFO 398 sem PFO Em pacientes vítimas de AVC prévio Considerou-se o grupo total com e sem forame oval patente. Análise de subgrupo com AVC criptogênico Follow up: 2 anos AVC ou morte no grupo criptogênico com FOP = 14,3% e sem FOP= 12,7% HR = 1,17 IC 95% 0,60-2,37 p= 0,65 (não significativo) Aspirina X Warfarin: incidência de morte ou AVC foi semelhante com os dois tratamentos, tanto nos portadores quanto nos não portadores de FOP Comentários do autor: *WARSS: Warfarin, Aspirin Recorrent Stroke Study. Ensaio clínico randomizado, duplo cego, multicêntrico, comparando o uso de warfarin com o de aspirina, na prevenção secundária de eventos cerebrais. O estudo PICCS retirou parte de sua amostra dentre os pacientes incluídos neste estudo. & PICCS: Patent Foramen Ovale in Cryptogenic Stroke Study. Ensaio clínico randomizado comparando duas modalidades terapêuticas na prevenção secundária de eventos cerebrais em vítimas de AVC criptogênico. Estudo de boa qualidade metodológica que aponta eficácia semelhante dos dois regimes medicamentosos (aspirina e anticoagulante oral) nos casos de AVC criptogênico, tanto entre os portadores de forame oval patente, quanto entre os não-portadores. Este estudo mostra que o tratamento medicamentoso tem eficácia na prevenção de novos eventos cerebrais e de morte em torno de 85%, em dois anos. A importância deste dado é que o mesmo deverá ser considerado em estudos futuros que comparem o tratamento farmacológico com a oclusão do forame oval patente na prevenção secundária de eventos cerebrais isquêmicos e de morte, entre as vítimas de AVC portadoras de FOP. 12 Estudos 15 Khairy et al. , 2003 Tipo de Estudo População Revisão sistemática: análise de estudos que utilizam como forma de prevenção secundária o fechamento percutâneo de forame oval patente ou o tratamento medicamentoso, em vítimas de AVC criptogênico Desfechos - Objetivo: analisar a qualidade da literatura disponível sobre este assunto 10 estudos de oclusão percutânea: 1355 pacientes Resultados Limitações dos estudos: Tratamento clínico: pacientes + velhos/maior incidência de fatores de risco para aterosclerose Maioria dos estudos não avalia aderência ao tratamento Não há randomização na escolha de antiplaquetário ou anticoagulante. Ambos os grupos: falta de randomização 06 estudos de tratamento medicamentoso (AAS ou ACO): 895 pacientes Eventos isquêmicos recorrentes: - Trat. Medicamentoso: 3,8% a 12% - Oclusão por cateter FOP: 0% a 4,9% (evidências frágeis) Os estudos incluídos tinham no mínimo 10 pacientes e follow up mínimo de 1 ano Comentários do autor: Sem incluir ensaios controlados, que não foram encontrados na busca extensa nas bases de dados, esta revisão sistemática mostra que a suposta superioridade do fechamento percutâneo do forame oval patente sobre o tratamento medicamentoso, entre as vítimas de eventos isquêmicos cerebrais portadoras de FOP, se baseia em evidências frágeis. Entre os estudos incluídos nesta revisão, naqueles em que se avaliou o tratamento medicamentoso os pacientes eram mais velhos e com incidência significativamente maior de fatores de risco para aterosclerose, como diabetes e tabagismo. Há também, heterogeneidade de desfechos avaliados entre os estudos incluídos. A aderência ao tratamento clínico não foi avaliada. O RNI-alvo para os casos tratados com anticoagulante oral variou muito entre os estudos, alguns com níveis questionáveis como índice terapêutico. Tudo isto torna os resultados favoráveis ao tratamento intervencionista em relação a um tratamento clínico bastante questionáveis e indica a necessidade de estudos randomizados para se conhecer a melhor modalidade terapêutica. Estudos Tipo de Estudo População Desfechos Resultados Windecker et al.12, 2004 Ensaio Clínico nãorandomizado 308 portadores de FOP, vítimas de AVCi ou AIT 158 : tratamento clínico 150 : oclusão percutânea FO - Morte - AVC ou AIT recorrente - Embolia periférica Desfecho combinado ( Morte, AVC,AIT ou embolia periférica) Tratamento clínico = 24,3% Fechamento FO = 8,5% p= 0,05 RR = 0,48 IC 95% 0,23 a 1,01 (Sem significado estatístico) (Follow up 2,3 +/- 1,7 anos) Comentários do autor: Trabalho cuja principal limitação é a falta de randomização dos pacientes para as duas modalidades terapêuticas. Os resultados favoráveis à oclusão percutânea não alcançaram significado estatístico, além disto foi avaliado resultado combinado, o que confunde desfechos de diferentes relevância clínica. 13 Estudos Harms et al.13, 2007 Tipo de Estudo População Série de casos (único centro) 237 pacientes vítimas de AVC ou AIT portadores de FOP Desfechos - Morte - AVC isquêmico - Embolia periférica - Explantação cirúrgica da prótese - Grau de oclusão Follow up: 6 meses / 2,5 anos Resultados 07 mortes (3%) : apenas 01 provocada por evento neurológico 08 recidivas de AVC ou AIT (3,4%): >55 anos = 6,6% <55 anos = 1,4% Embolia periférica: 0% 03 explantes : 1,3% Oclusão completa ou shunt residual mínimo: 140 pacientes (66%) Fechamento incompleto: 42 pacientes (20%) Ou seja, em 34% dos pacientes persistiu um grau considerável de shunt da direita para a esquerda Comentários do autor: Estudo que incluiu vítimas de AVC, sem especificar a proporção de casos de AVC criptogênico. A idade foi a única variável que influenciou de forma significativa a ocorrência dos desfechos indicativos de isquemia cerebral. Uma inconsistência é o alto índice de sucesso alcançado na prevenção de eventos isquêmicos cerebrais mesmo com um índice alto de shunt residual significativo do átrio direito para o átrio esquerdo (34% dos casos). Todos os pacientes usavam antiplaquetários (aspirina isoladamente ou associado a clopidogrel) o que pode representar um fator de confusão. Estudos 14 Slavin et al. , 2007 Tipo de Estudo População Desfechos Resultados Série de casos retrospectiva - Múltiplos desfechos Recidiva de AVC: 0% Sem análise comparativa Mortalidade: 3,8% Amostra total = 252 pacientes -Perda de 20% da amostra Oclusão percutânea do FOP: 131 pacientes (grupo com diferentes diagnósticos) Follow up:30+/- 16 meses Comentários do autor: Estudo com amostra heterogênea, incluindo pacientes em que a presença de forame oval patente esteve relacionada não só a eventos isquêmicos cerebrais, mas também à síndrome de desaturação arterial e a enxaqueca. Amostra selecionada em centro de referência. Estudo retrospectivo, com múltiplos desfechos, sem definir critérios de inclusão e de exclusão para o fechamento percutâneo do forame oval patente e com perda de 20% de pacientes durante o seguimento. 14 4 RECOMENDAÇÕES O levantamento bibliográfico não identificou qualquer ensaio clínico randomizado, comparando a oclusão percutânea do forame oval patente na prevenção de eventos isquêmicos cerebrais recorrentes com o tratamento clínico. Os estudos populacionais.6,9,10 com desenho e metodologia adequados, que tentaram eliminar os vieses de seleção, não demonstram risco significativamente maior de acidente vascular cerebral entre os portadores de forame oval patente, quando comparados com os não-portadores, na população geral. A consistência destes resultados, que se repetiram em diferentes populações, ao se empregar métodos de pesquisa adequados, têm grande força e relevância clínica. Os dados encontrados permitem supor que em algumas situações o forame oval possa ser relevante do ponto de vista fisiopatológico, mas outros estudos são necessários para se determinar quais seriam estas situações específicas 6,10. Os estudos em que se avaliou a eficácia da oclusão do forame oval patente na prevenção de eventos isquêmicos cerebrais têm limitações metodológicas graves, que comprometem a credibilidade dos resultados demonstrados. Exemplos disto são: as amostras de pacientes retiradas de centros de referência, implicando em viés de seleção, a falta de randomização, a não utilização de grupos controles ou a comparação entre grupos com características muito diferentes, sem controle adequado de outras variáveis, criando assim, confusão, o que contamina os resultados.11,12,13,14 Estas fragilidades ficaram bem demonstradas na revisão sistemática realizada por Khairy e colaboradores15 em 2003 e não puderam ser eliminadas na metanálise de estudos de casos-controle realizada por Overrel.16 Por outro lado o ensaio clínico randomizado publicado em 2002 por Homma17 e colaboradores mostrou que o tratamento clínico, com anticoagulante oral ou com antiplaquetário, em portadores de forame oval patente vítimas de AVC não mostrou resultados piores do que naqueles não-portadores deste defeito do septo atrial isolado ou em associação com o aneurisma do septo atrial em dois anos de seguimento. Os regimes terapêuticos, com aspirina ou cumarínico, mostraram resultados semelhantes com relação aos desfechos de morte ou recorrência de AVC. As evidências disponíveis na literatura não permitem concluir que a oclusão 15 percutânea do forame oval patente seja mais eficaz e segura que o tratamento clínico na prevenção de novos eventos isquêmicos, entre as vítimas de acidente vascular cerebral isquêmico, sem causa definida (criptogênico). A melhor forma de tratamento destes casos ainda não foi definida, segundo a maioria dos autores. Há referências na literatura de que ensaios clínicos randomizados estejam em andamento, visando o esclarecimento das dúvidas quanto a eficácia e segurança deste método terapêutico. Sugere-se aguardar a publicação destes estudos. REFERÊNCIAS 1. Maier LS, Teucher N, Dörge H, Konstantinides S. Large emboli on their way through the heart – fisrt live demonstration of large paradoxical embolisms through a patent foramen ovale. Eur J Echocardiogr 2007;8(2): 158-60. 2. Dalen JE. Are patients with a patent foramen ovale at increased risk of stroke? A billion dollar question. Am J Med 2007; 120 (6): 472- 4. 3. Lechat PH, Mas JL, Lascault G, Loron, PH, Theard M, Klimczac M, et al. Prevalence of patent foramen ovale in patients with stroke. N Eng J Med 1988; 318(18): 1148-52. 4. Webster MW, Smith HJ, Sharpe DN, Chancellor AM, Swift DL, Bass NM. Patent foramen ovale in young stroke patients. Lancet 1988;2(8610): 11-2. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instruções de uso: ! "# $ http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/REL/REL[20603-12].DOC 6. Petty GW, Khandheria BK, Meissner I, Whisnant JP, Rocca WA, Christianson TJ, et al. Populacion-based study of the relationship between patent foramen ovale and cerebrovascular ischemic events. Mayo Clin Proc 2006;81(5): 602-8. 7. Jones EF, Calafiore P, Donnan GA, Tonkin AM. Evidence that patent foramen ovale is not a risk factor for cerebral ischemia in the elderly. Am J Cardiol 1994:74(6): 596-9. 8. Roijer A, Lindgren A, Algotsson L, Norrving B, Olsson B, Eskilsson J. Cardiac changes in stroke patient and controls evaluated with transesophageal echocardiography. Scand Cardiovasc J 1997;31(6): 329-37. 9. Meissner I, Khandheria BK, Heit JA, Petty GW, Sheps SG, Schwartz GL, et al. Patent foramen ovale: innocent or guilty? Evidence from a prospective population-based study.J Am Coll Cardiol 2006;47(2): 440-5. 16 10. DiTullio MR, Sacco RL, Sciacca RR, Jin Z, Homma S. Patent foramen ovale and the risk of ischemic stroke in a multiethnic population. J Am Coll Cardiol 2007; 49(7): 797- 802. 11. Martin F, Sánchez PL, Doherty E, Colon-Hernandez PJ, Delgado G, Inglessis I et al. Percutaneous transcatheter closure of patent foramen ovale in patients with paradoxical embolism. Circulation 2002;106(9): 1121-6. 12. Windecker S, Wahl A, Nedeltchev K, Arnold M, Schwerzmann M, Seiler C, et al. Comparison of medical treatment with percutaneous closure of patent foramen ovale in patients with cryptogenic stroke. J Am Coll Cardiol 2004;44(4): 750-8. 13. Harms V, Reisman M, Fuller CJ, Spencer MP, Olsen JV, Krabill KA, et al. Outcomes after transcatheter closure of patent foramen ovale in patients with paradoxical embolism. Am J Cardiol 2007;99(9): 1312-5. 14. Slavin L, Tobis JM, Rangarajan K, Dao C, Krivokapich J, Liebeskind DS. Fiveyear experience with percutaneous closure of patent foramen ovale. Am J Cardiol 2007; 99(9): 1316-20. 15. Khairy P, O'Donnell CP, Landzberg MJ. Transcatheter closure versus medical therapy of patent foramen ovale and presumed paradoxical thromboemboli: a systematic review. Ann Intern Med 2003;139(9): 753-60. 16. Overell JR, Bone I, Lees KR. Interatrial septal abnormalities and stroke. a metaanalysis of case-control studies. Neurology 2000;55(8): 1172-9. 17. Homma S, Sacco RL, Di Tullio MR, Sciacca RR, Mohr JP; PFO in Cryptogenic Stroke Study (PICSS) Investigators. Effect of medical treatment in stroke patients with patent foramen ovale: patent foramen ovale in Cryptogenic Stroke Study. Circulation 2002;105(22): 2625-31. 17 ANEXO 1 Registro na Anvisa da prótese de Amplatzer® para forame oval: Nome da Empresa: BIOASSIST COMERCIAL LTDA CNPJ: 40.334.484/0001-20 Produto: PFO OCLUSOR AMPLATZER Registro: 10210410047 Processo: 25351.092273/2004-55 Origem do Produto: FABRICANTE : AGA Medical Corporation - ESTADOS UNIDOS Vencimento do Registro: 28/02/2010 Autorização: 1021041
Documentos relacionados
Opções de dispositivos para fechamento de FO patente
Técnica de fechamento • A prótese, enroscada no cabo de entrega, é tracionada para dentro do carregador próprio, de onde é transferida através da bainha longa por dentro do defeito, até o átrio es...
Leia mais