exibição Xpressions exposição

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exibição Xpressions exposição
PUBLICAÇÃO YEMNI – BRANDING, DESIGN & COMM SET . 2011 Nº 07 – ANO II
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Cine Tela
Marca de projeção
04 Marcas e patrocínio cultural // 10 Cartazes de cinema
12 Entrevista: Luiz Bolognesi // 14 Notas
# 07
ah!
Caro leitor,
A Buriti Filmes vem desenvolvendo um importante papel para a cultura brasileira. Por meio de seu projeto Cine Tela Brasil, a produtora cinematográfica tem exibido
filmes nacionais gratuitamente para centenas de milhares de pessoas de comunidades
carentes. Muitas delas sequer tinham entrado antes numa sala de cinema.
Isso nos toca diretamente. Primeiro, por vermos na prática um projeto cultural
com resultados muito concretos viabilizado por meio de patrocínio empresarial em
troca da valorização das marcas das empresas envolvidas.
Depois, porque a Yemni desenvolveu as marcas da Buriti e do Cine Tela no
momento em que intensificaram sua profissionalização. Por isso, escolhemos esse
tema para nossa matéria de capa e também como referência para outras seções
desta Yemni Magazine.
criador e gestor, junto com Laís Bodansky, da produtora e do projeto. E em yestrategy,
continuamos no tema, discutindo a relação entre patrocínio de projetos culturais e
suas consequências sobre o valor das marcas.
Para terminar, fizemos uma breve visita ao universo dos cartazes de cinema.
Outro motivo de satisfação para nós é o primeiro aniversário da Yemni Magazine. Pode parecer pouco, afinal foram apenas seis edições. Mas para nós significa
um marco importante.
É que, quando decidimos criar a “revista da Yemni”, como a chamávamos
em seu período de gestação, não podíamos imaginar que produzi-la seria tão
gratificante. Desde a primeira edição, o retorno de nossos leitores tem sido cada
vez mais frequente.
Isso quer dizer que nosso objetivo de compartilhar conteúdo de interesse comum
com nossos clientes e amigos está sendo alcançado.
Espero que aproveite!
Vitor Patoh
Publicação da Yemni – Branding, Design & Comm
Produção e Execução: Yemni – Branding, Design & Comm Diretor Executivo: Vitor Patoh Editor: Henrique
Ostronoff (Jornalista responsável - MTb. 14.856)
Redação: Priscila Silva
Designer: Pauliana Caetano
Revisora: Eleonora B. Rantigueri
Foto de Capa: Istockphoto
Impressão e Acabamento: Atrativa Gráfica
Tiragem: 1.000 exemplares
© 2011 Yemni – Branding, Design & Comm Todos os direitos reservados – www.yemni.com.br
Esta revista é impressa em papel. O papel é biodegradável, renovável e provém de florestas plantadas. Essas florestas são lavouras que dão emprego a
milhares de brasileiros e as árvores plantadas amenizam o efeito estufa, pois absorvem o gás carbônico durante seu crescimento. Imprimir é dar vida!
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magazine 03
Em yexpression, nossas páginas de entrevistas, conversamos com Luiz Bolognesi,
strategy
magazine 04
A marca
patrocinadora
POR Henrique Ostronoff
Apoio a projetos culturais agrega valor às empresas além do óbvio
A
ssociar marcas a projetos culturais é uma arma usada frequentemente pelas
empresas para obter exposição na mídia. Essa frase, que já pode ser considerada um
lugar-comum, é a primeira constatação de qualquer observador sobre a relação existente entre uma corporação e o projeto cultural sob seu patrocínio.
Afinal, ao se deparar com o material de divulgação de um evento, obra, produção
etc., o observador vai perceber, a marca da empresa patrocinadora.
Em termos de imagem, aliar o nome da Telefônica ao de Laís Bodanski e
Luiz Bolognesi é muito positivo. A reputação dos dois cineastas e o próprio
formato do projeto resultam em ótima visibilidade para nossa marca.”
É evidente que a exposição da marca da empresa, mes-
reflete o reconhecimento pelas empresas da necessidade
mo que apenas por seu logo, tem consequências positivas
de uma interface entre elas e a sociedade. “É algo mais
em relação tanto ao mercado quanto aos consumidores.
ou menos recente e é fruto da tendência contemporânea
No entanto, uma pesquisa realizada pelo Ministério
da decisão das empresas de estarem mais inseridas social-
da Cultura, por meio da Fundação João Pinheiro, em 2004,
mente”. Ainda segundo ele, essa é uma forma das corpora-
mostrou 80 de 123 empresas afirmando que o principal mo-
ções “não olharem apenas para o negócio”.
tivo do investimento em projetos culturais é o ganho para a
Responsável pela indicação de projetos patrociná-
imagem institucional. Esse conceito é bem mais amplo do
veis para mais de 30 empresas, Leiva afirma que inves-
que a simples exposição pública da marca.
timentos dessa natureza revertem em benefício para a
De acordo com Cândido José Mendes de Almeida
imagem da empresa. Mas, de qualquer forma, “o tipo
em seu livro Fundamentos do Marketing Cultural, “o
de retorno alcançado depende das necessidades especí-
projeto cultural tem a capacidade de transportar uma in-
ficas de cada uma”, diz.
formação de um universo, que é o público que consome
Leis de incentivo têm sido a opção mais comum
aquele produto cultural, para um outro universo, que é
entre as companhias quando decidem partir para o pa-
o público consumidor do produto ou serviço da empre-
trocínio. O caso da espanhola Telefônica ilustra essa re-
sa patrocinadora”. Já Eric Joachimsthaler e David AAker,
alidade. “Até hoje, temos utilizado a Lei Rouanet para
autores de Como Construir Marcas Líderes, “o patrocí-
patrocínios culturais, afirma a diretora de Programas da
nio pode ser muito eficaz para estender as marcas além
Fundação Telefônica, Gabriella Bighetti.
dos atributos tangíveis, porque desenvolve associações que
A Fundação Telefônica tem entre seu patrocina-
acrescentam profundidade, riqueza e um sentimento con-
dos o Cine Tela Brasil, projeto apoiado desde 2008 por
temporâneo em relação à marca e ao seu relacionamento
meio da lei de incentivo à cultura em nível federal.
com os clientes”.
“O fato de o projeto acontecer nas periferias foi
Economista com pós-graduação em cinema, João
um fator decisivo para nosso apoio, já que a atuação da
Leiva Júnior, diretor do escritório de consultoria J.Leiva
Fundação ocorre junto à população de baixa renda,”
Cultura & Esporte, garante que o patrocínio a projetos
afirma a diretora da Fundação. E, com relação ao re-
culturais — e também ambientais, esportivos e sociais —
torno resultante do patrocínio, acrescenta: “Em termos
agrega valor às marcas na medida em que “reflete o posi-
de imagem, aliar o nome da Telefônica com o de Laís
cionamento da empresa e sua visão de mercado”.
Bodanski e Luiz Bolognesi é muito positivo. A reputa-
Leiva chama a atenção para o crescimento constante
que as ações de patrocínio vêm experimentando, o que
ção dos dois cineastas e o próprio formato do projeto
resultam em ótima visibilidade para nossa marca”. •
magazine 05
Gabriela Bighetti, diretora de Programas da Fundação Telefônica
magazine 06
xperience
A força
do buriti
POR PRISCILA SILVA
E
m 1997, nascia a Buriti Filmes, com o objetivo de realizar o primeiro
longa-metragem dos cineastas Laís Bodanzky e Luís Bolognesi, Bicho de Sete
Cabeças. Mas montar uma produtora cinematográfica envolve muitas escolhas
que exigem atenção e cuidado, do nome fantasia ao tipo de filme a ser produzido.
“O nome é sempre difícil, precisa ter um significado”, comenta Laís.
Numa viagem pelo interior do País, a dupla surpreendeu-se com um buritizal. Laís explica o milagre de uma grande árvore no meio árido: “Uma palmeira
no sertão é a certeza de que tem água, sombra, animais. Onde tem buriti, tem
vida”. E a palmeira buriti tornou-se o nome e a marca da produtora.
Com o tempo, a profissionalização da empresa, necessária, inclusive, para
obtenção de patrocínio, exigiu mudanças. O logo original, com a imagem realista da palmeira, ficava perdido quando colocado lado a lado com outras marcas.
Diante disso, os gestores da Buriti concluíram a conveniência de reformulá-lo.
Uma palmeira no
grande sertão é
a certeza de que
tem água, sombra,
animais. Onde tem
buriti, tem vida.”
Laís Bodanzky, coordenadora dos
projetos Tela Brasil e cofundadora da Buriti Filmes
O logo teria de ser recriado com o objetivo de adquirir um design moderno e comunicativo. E assim foi feito. Ao desenho do buriti, foi sobreposta
a imagem de seu fruto. A composição deu forma a objetos relacionados à
produção e criação cinematográfica — um olho representando o olhar do
cineasta e as lentes de uma câmera. Estilizado e conceitual, pode-se dizer
que o logo da produtora adquiriu personalidade e alinhou-se ao mercado. A
palmeira passou a marcar presença entre os logos estampados em cartazes e
em outras peças de comunicação.
Com os anos, a Buriti deixou de ser apenas uma produtora dedicada aos
filmes pessoais da dupla, abrindo espaço para a criação do cinema »
magazine 07
A marca que viaja PELO BRASIL
xperience
Processo de redesenho da marca
magazine 08
08.
Ao desenho do buriti, foi sobreposta a imagem do fruto da palmeira. A composição
deu forma a objetos relacionados à produção e criação cinematográfica — um olho
representando o olhar do cineasta e as lentes de uma câmera.
É gratificante saber que
agregamos valor às marcas
através da cultura brasileira".
Vitor Patoh, sócio-diretor da Yemni
to, mas também a escolha da linguagem gráfica utilizada.
Começamos produzindo rascunhos tentando simplificar
ao máximo a imagem de uma entrada de cinema tradicional”. Quem observa o logo do Cine Tela Brasil, percebe a
palavra CINE formando um projetor.
A comunicação visual do projeto foi inspirada pelos
cinemas antigos e de cidades do interior que, geralmente,
ostentavam letreiros grandes e muitas luzes na fachada.
itinerante Cine Tela Brasil. O projeto foi desenvolvido
Na opinião de Marcio, a criação de pôsteres é um dos
por Luiz e Laís, com o objetivo de levar cinema às popu-
projetos mais empolgantes para a maioria dos designers grá-
lações carentes e pessoas que nunca tinham visto a filmes
ficos. Especialmente no caso de um pôster do Cine Tela,
em tela grande.
que tinha como objetivo anunciar a chegada do cinema na
Uma sala de exibição para 225 pessoas, com ar-condi-
cidade. “Criar um cartaz para uma iniciativa cultural como
cionado, projeção cinemascope 35 milímetros, som esté-
o Cine Tela Brasil era ainda mais gratificante, porque não
reo surround com leitor a laser e tela de 21 metros qua-
só anunciaria a chegada do Cine Tela às diferentes cidades
drados passou a ser transportada num caminhão. “A Buriti
como, ao mesmo tempo, mostraria um preview dos filmes
já estava estabelecida quando, em 2004, veio o Cine Tela.
que seriam exibidos. Ou seja, seriam dois cartazes dentro de
Hoje, as duas marcas estão muito ligadas”, conta Laís.
outro cartaz”, explica o designer.
Mesmo itinerante, um cinema precisa ter cara de ci-
Para chegar onde está, a dupla de cineastas colocou
nema. Por isso, era fundamental que a marca Cine Tela e
a mão na massa e o pé na estrada, literalmente. Criou
sua estrutura incorporassem o conceito e, principalmente,
a Buriti e o Cine Tela. Ganhou o público. Conquistou
apresentassem-no para a quem o visse pela primeira vez.
patrocínios e parcerias importantes para a continuação do
Marcio Gutheil, designer que, na época, integrava a
plano e, hoje, com apenas sete anos Brasil afora, reúne no
equipe de criação da Yemni, fala sobre o desenvolvimento
currículo mais de 4 mil sessões de filmes exibidos em 350
da marca do Cine Tela Brasil: “Nesse caso, o processo
cidades para cerca de 805 mil espectadores com uma taxa
criativo acabou influenciando não só o conceito do proje-
de ocupação de 88% — índice superior ao de qualquer sala
de exibição comercial. É importante ressaltar que, no Brasil,
87% dos cidadãos nunca foram ao cinema, algo compreensível
quando se sabe que, segundo os dados do IBGE, 92% dos municípios brasileiros não têm nenhuma sala.
Por oito anos, desde sua criação, o Cine Tela não teve
destaque por falta de patrocínio. Laís conta que não foi fácil
encontrar um patrocinador que entendesse a ideia do projeto. Com o primeiro patrocínio, houve a compra do primeiro
caminhão. Dois anos depois, o apoio de mais um patrocinador permitiu que, com a compra de mais um caminhão, a
estrutura fosse dobrada.
“O Cine Tela é, hoje, o Projeto Cine Tela Brasil, e, dentro
dele, temos outros projetos, como as Oficinas de Vídeo, que
viajam o Brasil com educadores, o portal na Internet e o mais
recente trabalho, o Educativo Tela Brasil, com workshops e debates para professores da rede pública, incentivando o trabalho
audiovisual na sala de aula”, conta a cineasta.
Laís e Luiz conseguiram alcançar o objetivo inicial. “É surpreendente encontrar alguém que nunca entrou num cinema.
O processo criativo acabou
influenciando não só o conceito
do projeto, mas também a escolha
da linguagem gráfica utilizada."
Marcio Gutheil, designer gráfico
O mais emocionante é ver a reação dessas pessoas”, revela Laís.
“Eu sabia que um dia isso ia acontecer. É tocante”.
Junto com o reconhecimento desse público em especial,
vem a sensação de estar no caminho certo. O Brasil precisa
difundir a própria cultura, e o Cine Tela é uma das opções. “É
gratificante saber que agregamos valor às marcas através da cultura brasileira", diz Vitor Patoh, sócio-diretor da Yemni. •
magazine 09
09.
O design da marca
faz alusão aos cinemas
de cidades do interior
xplore
O filme em cartaz
POR Henrique Ostronoff
magazine 10
desde seu nascimento, Não dá para
separar o cinema de seus pôsteres
É
praticamente impossível estabelecer a origem
do cartaz. Um impresso de apenas um lado destinado a
comunicar qualquer coisa pode ser definido como cartaz.
Mas foi a partir do século 19, pelo menos no mundo ocidental, que o pôster começou a ser produzido com
criatividade e a adquirir mesmo status de arte. A primeira
exposição dedicada ao cartaz foi organizada na França, em
1884, e reuniu artistas famosos na época, ou que viriam
a se tornar famosos. Foi o período em que as litografias
começavam a reproduzir cartazes em grande volume.
É dessa época o pintor francês Toulouse-Lautrec,
um dos mais conhecidos cartazistas de todos os tempos.
Suas peças anunciando as dançarinas do Moulin RouAlphonse Mucha
ge foram reproduzidas à exaustão. E de outros grandes
artistas, como o também francês Grasset, o belga PrivatLivemont e o checo Mucha, estes bastante dedicados aos
14 minutos dirigido pelo francês Georges Méliès, já
pôsteres de divulgação de produtos como bebidas, cho-
foi anunciado por um cartaz.
colates, cassinos e lojas de varejo.
O casamento entre filme e pôster nunca mais foi
Desses primeiros passos, surgiu uma infinidade de
desfeito e estimulou a produção de verdadeiras obras-
escolas de design de cartazes sob a influência de estilos
primas do design gráfico. Alguns cartazes tornaram-se
predominantes em épocas e países.
ícones e fazem parte da memória cultural do Ocidente.
Com os pôsteres de filmes, não foi diferente. No
Da época em que o cinema transformava-se em
começo do século 20, ir ao cinema tornou-se um diver-
grande business, principalmente nos Estados Unidos,
timento público. E foi nesse período que os cartazes
não se pode deixar de citar os de filmes de grande sucesso,
divulgando as exibições cinematográficas começaram
como The Kid (O Garoto), por Charles Chaplin (1921);
a ser produzidos. Viagem à Lua, de 1902, filme com
Metropolis, de Fritz Lang (1927) e The Jazz Singer (O
Cantor de Jazz), de Alan Crosland (1927). E
do período dos grandes clássicos dos anos 40,
os de filmes como Casablanca e Gilda.
A partir dos anos 50, os cartazes de filmes começaram a ganhar um design mais
elaborado, acompanhando a sofisticação
das produções. Um dos grandes designers
do período foi o norte-americano Sal Bass.
São dele os cartazes de filmes de Hitchcock,
como Vertigo (Um Corpo que Cai), assim
como o de Anatomy of a Murder (Anatomia
de um Crime), de Otto Preminger.
Na década de 60, a filosofia de paz e
amor influenciou o design gráfico. Por isso,
magazine 11
Yellow Submarine (Submarino Amarelo), dos
Beatles, é um marco. E também foram lançados os primeiros James Bond, cujos pôsteres
imortalizaram a marca 007. O belo cartaz de
Rosemary's Baby (O Bebê de Rosemary), revela o clima tenso do enredo. No Brasil, destaque para o de Deus e o Diabo na Terra do Sol,
de Glauber Rocha.
E, nos anos 70, surgiram grandes ícones
cinematográficos, identificados até hoje: The
Godfather (O Poderoso Chefão), Star Wars
(Guerra nas Estrelas) e Saturday Night Fever
(Os Embalos de Sábado à Noite).
A seguir, o design se aproximou das novas
tecnologias aplicadas ao cinema. O cartaz de
ET, de 1982, foi um dos mais emblemáticos,
assim como Matrix, de 1999. Mas destacam-se
também Platoon, de 1986, Pink Floyd – The
Wall, de 1982, e Silence of the Lambs (Silêncio dos Inocentes), de 1991.
O século 21 começa com as histórias
de Harry Porter. Kill Bill, assim como outros
filmes de Tarantino, também tiveram belos
cartazes. E antigas personagens e produções,
como Batman, Alice no País das Maravilhas,
Capitão América e Homem de Ferro, ganharam nova identidade •
Estilos, tendências e
tecnologias de cada época
influenciaram fortemente o
design dos cartazes de filme
xpression
Se quisermos um
país melhor, o
cinema precisa estar
ao alcance de todos.”
Realidade
magazine 12
paralela
PARA O CINEASTA LUIZ BOLOGNESI, POR MAIS QUE O CINEMA SEJA TRANSFORMADOR ,
O TALENTO ARTÍSTICO É UMA ILUSÃO. A ÚNICA GARANTIA QUE TEMOS É O TRABALHO.
POR PRISCILA SILVA
E
le começou pela linha do jornalismo – uma pitada de ficção da realidade – e
rumou para o cinema – a ficção em sua totalidade (e, às vezes, com uma pequena
dose de puro realismo). Esse mix poderia render um conjunto de realidade e sonhos.
E foi o que aconteceu. A realidade é um sonho alcançado.
Luiz Bolognesi é um dos responsáveis pela primeira sala de cinema itinerante do
Luiz Bolognesi, coordenador
dos projetos Tela Brasil e
cofundador da Buriti Filmes
País, o Cine Tela Brasil, que leva produções nacionais a localidades onde o cinema é
privilégio de poucos. Ou seja, se o público não vai ao cinema, o cinema vai até ele.
Mas Bolognesi foi ainda mais longe. Com uma câmera por perto, várias ideias na
cabeça e o apoio de Laís Bodanzky (veja na página 06), dirige filmes desde 1990, como
o curta “Pedro e o Senhor”, o documentário “Cine Mambembe, o cinema descobre o
Brasil” e a animação “Lutas, o filme”. Também escreveu e montou o roteiro dos longas
“Bicho de sete cabeças” (2001), “O mundo em duas voltas” (2006), “Chega de saudade” (2007), “Terra vermelha” (2008) e “As melhores coisas do mundo” (2010).
São diferentes atividades, mas o objetivo permanece o mesmo: interferir na sociedade
estimulando a educação e a produção audiovisual brasileira em regiões de baixa renda.
rantido é o trabalho. Todos nós, cidadãos do século 21,
levou você a fazer essa opção?
trabalhamos a maior parte do dia, da semana, dos anos
Luiz: Depois de trabalhar alguns anos na área, descobri
de nossas vidas. Por isso, o trabalho precisa fazer senti-
que jornalismo é um tipo de ficção. Uma construção da
do. Ou seremos tomados por frustração e melancolia.
realidade, geralmente conservadora. Acabei migrando
O core business da Buriti é cinema, e cinema é uma
para a ficção plena. Com mais possibilidades de trans-
ferramenta de poder e transformação. Não quero que
formar. Acho que o cinema tem essa vantagem.
ela fique nas mãos de poucos.
Além de fazer cinema, você exibe cinema por meio
Como é lidar com um projeto social junto à inicia-
do Cine Tela Brasil e ensina cinema nas Oficinas.
tiva privada?
Qual a relação entre essas atividades?
É sensacional por dois motivos. Primeiro, nós do ter-
O cinema foi transformador em várias fases de minha
ceiro setor temos muito a aprender com as empresas
vida: infância, adolescência, época da faculdade... E
sobre planejamento, organização, metas e aferimento
ainda hoje é assim. Se quisermos um país melhor, o
de resultados. Não precisamos apenas de patrocina-
cinema precisa estar ao alcance de todos. Por isso, me
dores, mas de parceiros realmente envolvidos com os
tornei um militante na área de cinema e educação.
objetivos culturais e sociais dos projetos. Em segun-
Precisamos de um cinema com sintaxe que exija for-
do lugar, o Estado sozinho não é capaz de realizar a
mas de pensamento e reflexão mais complexas que a
transformação que o País precisa. A iniciativa privada
telenovela. Isso é imprescindível para o País. Sem isso,
também deve assumir um papel diante do déficit so-
jamais seremos um país que agrega valor. Limitados ao
cial brasileiro.
pensamento raso da telenovela, nunca vamos deixar de
ser exportadores de matéria-prima. O trabalho de abertura e libertação começa na escola.
Quando vocês criaram a empresa Buriti, fazer, exibir e ensinar cinema faziam parte dos valores da
produtora?
Totalmente. A Buriti surgiu do desejo de fazer filmes
Trabalhamos a maior parte do
dia, da semana, dos anos de
nossas vidas. Por isso, o trabalho
precisa fazer sentido.”
com liberdade. Obras autorais que falassem com o
grande público. O nome Buriti surgiu quando projetávamos curtas para comunidades no cerrado do Piauí
e Maranhão, há quinze anos. Os buritizais enfeitavam
Como você alia os projetos pessoais com as necessi-
a paisagem e aprendemos com os moradores da região
dades dos patrocinadores?
que onde há buritizal existe uma nascente de água. Por
Ouvindo os patrocinadores. Temos de saber o que eles
isso, as civilizações indígenas da região viviam dos buri-
desejam e do que precisam e entender a cultura de
tizais. Daí nasceu a Buriti Filmes.
cada um para que possamos aliar às conquistas dos projetos a satisfação das empresas patrocinadoras. Caso
O que move pessoas com talento artístico a agregar
contrário, não haverá continuidade. É fundamental
projetos sociais como o Cine e o Oficinas Tela Brasil
que as empresas entendam e sintam-se motivadas a dar
a seu dia a dia profissional?
continuidade a seus projetos de qualidade, em vez de
O talento artístico é uma ilusão. O que nós temos ga-
trocá-los pela primeira novidade. •
magazine 13
: Você passou do jornalismo ao cinema. O que
tc...
O filme em cartaz
From Poland
Os amantes de pôsteres e cinema
Na Polônia, produzem-se muitos cartazes
encontram um bom lugar para se
de divulgação de filmes norte-americanos e
divertir em movieposter.com (www.
europeus. Os designers poloneses de pôsteres
movieposter.com). O site dessa loja
são herdeiros de uma tradição iniciada no
oferece um enorme acervo: mais de
começo do século XX e que teve seu período
18 mil cartazes de filmes. A maioria
áureo entre os anos 1940 e 1960.
é cópia, mas há exemplares originais,
Os cartazes são extremamente criativos.
inclusive raridades.
Muitos desses cartazes estão em A Gray
Quase todos são de produções norte-
Space Poster Gallery (www.agrayspace.com/
americanas, de filmes B a grandes
posters). Em Polish Poster Gallery (www.
sucessos, desde as primeiras décadas do
poster.com.pl/movie-us1.htm) também são
século passado. Existem coisas muito
vendidas cópias.
Pôster de Leszek Zebrowski para o
filme O Touro Indomável, de1980
magazine 14
interessantes para se observar, como
a mudança no design dos cartazes ao
longo do tempo — veja, por exemplo
os de War of the Worlds (A Guerra dos
Mundos) nas versões de 1953 e 2005. E
Receitas e mapas
as diversas versões do cartaz oficial de
Os irmãos designers Nate Padavick e Salli Swindell são donos do Studio
divulgação de um mesmo filme, como
SSS, localizado em Hudson, Ohio. Num dia de férias, Net estava na
2001, A Space Odissey (2001, Uma
cozinha preparando uma receita, quando Salli começou a desenhar um dos
Odisseia no Espaço).
ingredientes, no caso, figos. Então, pegaram gosto pela coisa e resolveram criar
Além dos cartazes há, entre outros itens,
um livro de culinária ilustrado para parentes e amigos.
fotos de cenas e de artistas, pôsteres
O livro não aconteceu, mas a ideia gerou o site They Draw & Cook (www.
de música, seriados de TV, turismo e
theydrawandcook.com), recheado de receitas ilustradas por artistas. E,
propaganda antiga.
percebendo que, como eles, o pessoal gosta de viajar, criaram também o They
Draw & Travel (www.theydrawandtravel.com), uma divertida coleção de mapas
turísticos produzidos por artistas de diversos cantos do planeta.
Sua marca não vai ficar
só na primeira impressão
Para a Yemni, a qualidade não termina na
prancheta. E, para que a qualidade esteja
presente do começo ao fim do processo,
criou sua própria unidade gráfica e uma
rede integrada de fornecedores
gabaritados, o que garante mais agilidade e
controle na produção com menores custos.
Assim, não importa o tamanho das peças
ou a quantidade a ser produzida, o padrão
de qualidade Yemni não vai ficar só na
primeira impressão.

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