3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2

Transcrição

3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
MARIA DE LOURDES LABUTO
ADENIR FERREIRA DA SILVA
ARMINDA GREGÓRIO DOS SANTOS
3ª IDADE E DIABETES MELLITUS TIPO 2:
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
1998
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
MARIA DE LOURDES LABUTO
ADENIR FERREIRA DA SILVA
ARMINDA GREGÓRIO DOS SANTOS
3ª IDADE E DIABETES MELLITUS TIPO 2:
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Trabalho de conclusão de curso, apresentado
ao Departamento de Serviço
Social
da
Universidade Federal do Espírito Santo, como
Parte dos requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social, realizado sob a
orientação da professora Cenira de Oliveira
Andrade.
VITÓRIA - ES
1998
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Professora Cenira de Oliveira Andrade
Graduada em Serviço Social/ Mestre em Psicologia Social - UFES
(Orientadora)
________________________________
Maria das Graças Cunha Gomes
Graduada em Serviço Social/ Mestre em Educação - UFES
________________________________
Sheilla Diniz Silveira Bicudo
Graduada em Enfermagem/Educadora em Diabetes
Mestre em Psicologia Social - UFES
Doutoranda em Enfermagem – EEAN/UFRJ
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
AGRADECIMENTOS GERAIS
À nossa professora orientadora CENIRA DE OLIVEIRA ANDRADE,
pela sua inesgotável paciência e incansável dedicação à realização da
nossa pesquisa
À ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos), em especial, pela
colaboração na realização do nosso trabalho
À SHEILLA DINIZ SILVEIRA BICUDO, pelo fornecimento de material
teórico para a realização de nossa pesquisa
À LUIS AUGUSTO LABUTO, pela sua prestimosa colaboração fazendo a
correção ortográfica e realização do ABSTRACT da nossa pesquisa
Aos NOSSOS ENTREVISTADOS, que se dispuseram a responder às
nossas perguntas, dando contextualização a nossa pesquisa
À TODOS que de forma direta ou indiretamente, contribuíram para a
elaboração deste trabalho
MARIA DE LOURDES, ADENIR, ARMINDA
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
AGRADECIMENTOS PESSOAIS
Agradeço primeiramente à DEUS, fonte de inspiração e sabedoria, que me
deu força e proteção para enfrentar e vencer os obstáculos surgidos no
decorrer deste trabalho.
Agradeço aos meus pais (in memorium) que me ensinaram a ter amor pelos
estudos;
Agradeço às minhas três filhas, Miriã de Lourdes, Geórgia Christina e
Elizabeth Rachel por me acompanharem durante este estudo com estímulo,
paciência e carinho; Agradeço também ao meu genro Vinícius e aos
namorados de minhas filhas, em especial ao Leonardo pela assessoria
técnica do meu computador para que a impressão desse TCC saísse o mais
perfeita possível.
Agradeço aos meus irmãos e amigos, pelo incentivo que me deram nessa
jornada.
MARIA DE LOURDES
Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir; inclina para mim os teus
ouvidos, e escuta as minhas palavras
(SALMOS 17.6.)
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
AGRADECIMENTOS PESSOAIS
Agradeço em primeiro lugar a DEUS, fonte de sabedoria e amor, por ter me
proporcionado todas as condições necessárias para superar os obstáculos e
vencer mais esta caminhada.
Agradeço ao meu pai, à minha mãe (in memorium), e a todos os meus
familiares por terem me conduzido por caminhos que me possibilitasse
chegar até aqui;
Agradeço, especialmente ao meu esposo que entendeu as minhas ausências
e me apoiou e incentivou-me nos momentos em que tive dificuldades para dar
continuidade a essa caminhada.
Agradeço aos meus amigos e a todas pessoas que de alguma forma tenham
contribuído para que eu pudesse realizar esse sonho tão difícil, à princípio.
ADENIR
Disse Jesus: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome;
e quem crê em mim nunca terá sede.
(JOÃO 6.35)
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
AGRADECIMENTOS PESSOAIS
Agradeço a Deus que em todos os momentos da minha vida sempre esteve
presente dando força, vida e luz e me ensinou que só a fé rompe barreiras.
A minha mãe, pelo carinho e incentivo permanente neste processo de
formação pessoal e profissional;
Ao meu pai (in memorium) que sempre me incentivou nos momentos mais
difícil da minha vida;
Aos meus irmãos que sempre me apoiaram na minha caminhada até aqui;
Ao meu companheiro, pela compreensão nos momentos da minha ausência
e pelo estímulo constante nessa jornada.
ARMINDA
Disse Jesus: Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo
(JOÃO 16. 33)
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
RESUMO:
3ª
Idade
e
Diabetes
Mellitus
Tipo
2:
Estratégias
de
Enfrentamento.
[INTRODUÇÃO] Analisou-se as estratégias utilizadas por sujeitos de 3ª idade
para enfrentarem o Diabetes Mellitus Tipo 2.[METODOLOGIA] Pesquisa
realizada com 8 sujeitos, sócios da ACAD (Associação Capixaba de
Diabéticos), escolhidos aleatoriamente, sendo 4 homens e 4 mulheres, na faixa
etária de 50 a 70 anos. Para coleta dos dados foram utilizadas entrevistas com
roteiro semi-estruturado com 10 perguntas fechadas e 15 abertas, que foram
gravadas, e após transcritas na íntegra, deram suporte para a análise de
conteúdo, partindo de temas que enfocavam a problemática, agrupados em
categorias.
[RESULTADOS]
Apesar
de
saberem
da
necessidade
da
manutenção da dieta, constatamos que metade dos sujeitos não cumpre com a
mesma, não resistindo ao alimento prejudicial a sua saúde;
uns sujeitos
admitem serem moderados na alimentação, independente da dieta; outros
utilizam da fuga, saindo de perto do alimento prejudicial para não comerem; e,
já outros, ao sentirem vontade de comer algum alimento não aconselhável,
resistem a essa vontade; apenas um sujeito não come por ter consciência de
que terá uma melhor qualidade de vida, seguindo corretamente a terapêutica
apropriada para a sua enfermidade. Para resistir às situações estressantes
decorrentes da doença, a maioria dos sujeitos busca reforço psicológico na
família e na religião, sendo o lazer, pouco utilizado, muitas vezes por motivos
econômicos.
Todos
possuem
preocupação
com
as
conseqüências
provenientes da doença. No entanto, se consideram com saúde ao
compararem-se com pessoas com enfermidades mais graves. A maioria não
considerou o fator idade como complicador.[CONCLUSÃO] Campanhas de
prevenção específicas, direcionadas para Educação em Diabetes, poderão
conscientizar os sujeitos da necessidade de manutenção da terapêutica
recomendada para a doença, isto é, da dieta específica, dos exercícios físicos
recomendados pelos médicos, além do uso da medicação correta. No entanto,
foi constatado que a atual conjuntura política do governo neo-liberalista, afeta
bastante as condições financeiras dos sujeitos, prejudicando a aquisição de
medicamentos, a manutenção da dieta e o acesso ao tratamento médico.
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
ABSTRACT: 3rd Age Bearer of the Diabetes Mellitos Type 2
Facing Strategies
[INTRODUCTION] The strategies used by bearers 3rd age were analysed how
they face the Diabetes Mellitos Type 2.[METHODOLOGY] The research was
accomplished with 8 individuals, partners of ACAD (Association Capixaba of
Diabetics), State of Espírito Santo, chosen by chance, beeing 4 men and 4
women, in the age group of 50 to 70 years old. For collection of the data,
interviews were used with a route semi-structured with 10 shut questions and
14 open ones, that were recorded, and after being transcribed in the entire,
they gave support for the content analysis, based on the themes that focused
the problem, contained in categories. [RESULTS] In spite of knowing about
the necessity of the maintenance of the diet, we verified that half of the
individuals don’t execute it, not resisting to the harmful food on their health;
some individuals admit to be moderate in their feeding, independent of the
diet; others are used to other diets, when they feel desire of eating some nonadvisable food, they try to resist to that wish; only an individual doesn’t just
eat for having the conscience that he will have a better life quality, following
the therapeutics adapted for his illness correctly. To resist the stressing
situations of the disease in the daily life, the individuals search psychological
reinforcement in the family and in the religion, being the leisure not very used,
many of a time for economic reasons. Everybody is concerned with the
coming consequences of the disease. However, they consider themselves
with health comparing with people with more serious illnesses. Most of them
don’t consider the factor age as complicating. [CONCLUSION] Specific
prevention Campaigns addressed for Education in Diabetes can make the
individuals aware of the need of maintenance of the therapeutics
recommended for the disease, that is, of the specific diet, of the physical
exercises recommended by the doctors, besides the use of the correct
medication. However, it was verified that the current political conjuncture of the
government neo-liberalist, affects plenty the financial conditions of the
individuals, harming the acquisition of medications, the maintenance of the
diet and the access to the medical treatment.
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
PRIMEIRA CORÍNTIOS 13, HOJE:
Se eu aprender inglês, francês, espanhol,
alemão e chinês e dezenas de outros idiomas,
mas não souber me comunicar como pessoa,
de nada valem todas as minhas palavras.
Se eu concluir um curso superior, andar de anel no dedo
e freqüentar cursos e mais cursos de atualização,
mas viver distante dos problemas do povo,
minha cultura não passa de uma inútil erudição.
Se eu morar numa cidade do interior
mas desconhecer os sofrimentos da minha região,
e fugir para as férias na América ou até na Europa
e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão.
Se eu possuir a melhor casa de minha rua,
a roupa mais avançada do momento e o sapato da onda,
e não me lembrar que sou responsável por aqueles
que moram na minha cidade,
andam de pé no chão e se cobrem de sujos e de mulambo,
sou apenas um manequim colorido.
Se eu passar os fins de semana em festas,
boates, farras e programas,
sem escutar o grito abafado do povo que se arrasta
à margem da história, não sirvo para nada.
O cristão não foge dos desafios de sua época.
Não fica de braços cruzados, de boca fechada, de cabeça vazia.
Não tolera a injustiça nem as desigualdades gritantes do nosso mundo.
Luta pela verdade e pela justiça com as armas do amor.
O cristão não desanima, nem desespera diante
das derrotas e das dificuldades,
porque sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isso é o AMOR.
(autor desconhecido)
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
SUMÁRIO
Considerações Iniciais ................................................................................12
Capítulo I : Caracterização da instituição pesquisada (ACAD) .............15
1.1: Histórico ..................................................................................15
1.2: Localização .............................................................................18
1.3: Formas de funcionamento .....................................................18
1.4: Clientela atendida ....................................................................18
Capítulo II : A Doença e a 3ª Idade .............................................................21
Capítulo III: Considerações a cerca do Diabetes Mellitus Tipo 2 ........... 28
Capítulo IV: Procedimentos Metodológicos ..............................................36
Capítulo V : Apresentação e Análise dos Dados ......................................43
5.1 : Formas de Aceitação e Não-aceitação da Doença ..............47
5.1.1: Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença ... .60
5.1.2: Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença..78
5.2: Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito ....................91
5.2.1: Apoio dos Familiares............................................................. 93
5.2.2: Apoio da religião ..................................................................
96
5.2.3: A Importância do Lazer na Vida do Sujeito .......................101
5.3: Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o
Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2 ....................108
5.3.1: Acesso ao Tratamento Médico ...........................................115
5.3.2: Aquisição de Medicamentos ...............................................117
5.3.3: Fator Idade ......................................................................... 119
5.3.4: Manutenção da Dieta ..........................................................122
Considerações Finais ....... .........................................................................125
Bibliografia...................................................................................................131
Anexos I: Roteiro de Entrevistas ..............................................................136
Anexos II: Entrevistas Gravadas ...............................................................139
Anexos III:Projeto Diabetes Sem Mistério ................................................166
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
“Tudo se encontra no estado mental, porque muitas corridas têm-se
perdido, antes sequer de haver ocorrido;
E muitos covardes têm fracassado, antes de ter seu trabalho começado.
Pensa grande e teus feitos crescerão; pensa pequeno e ficarás atrás;
pensa que podes e poderás;
Tudo está no estado mental”
Claude Bernard
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Considerações Iniciais
Esta pesquisa tem como objetivo identificar estratégias de enfrentamento,
utilizadas pelos sujeitos da 3ª Idade portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2.
Por termos conhecimento que o diabetes é uma doença crônica, provocadora
de alterações na vida das pessoas portadoras dessa enfermidade, certamente
seria necessário que os sujeitos precisassem utilizar de estratégias para
conviver com a enfermidade, principalmente em se tratando de pessoas de 3ª
idade, que entendemos serem possuidoras de hábitos sociais e alimentares
bastante sólidos, às vezes não muito sadios, como é o caso do uso e abuso de
bebidas alcóolicas, de doces, de guloseimas diversas, acrescido da vida
sedentária levada pelo cidadão urbano.
Poder-se-ia perguntar a esses indivíduos como eles se sentiram ao se
depararem com o diagnóstico do Diabetes Mellitus? Ou, quais estratégias que
utilizavam para enfrentar essa doença, devido à necessidade de serem feitas
readaptações em suas vidas em função da doença? Seriam essas estratégias
tarefas bastante difíceis, ou seriam de fácil superação? E essas estratégias
utilizadas como suporte para manter o controle da doença, demandariam dos
sujeitos um domínio físico e psíquico de si mesmos?
Se o cidadão diabético, se conscientizasse de que o tratamento de controle do
Diabetes não é algo aterrador, melhoraria a sua convivência com a doença?
Sabemos que o Diabetes Mellitus é um dos mais graves problemas de saúde
da
atualidade,
tanto
em
termos
do
número
de
pessoas
afetadas,
incapacitações, mortalidade prematura, como dos custos envolvidos no seu
controle e no tratamento de suas complicações. No Brasil são 9 milhões de
diabéticos e metade destes indivíduos desconhece o diagnóstico. Sendo que
desse total, 90% são diabéticos Tipo 2.
A maioria das pessoas considera o diabetes uma doença simples, um
probleminha banal de “açúcar alto no sangue”. Na verdade, infelizmente, não é
bem assim. O diabetes é uma doença que, se não tratada e bem controlada,
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
acaba produzindo, com o passar do tempo, lesões graves e potencialmente
fatais como o infarto do miocárdio, derrame cerebral, cegueira, impotência,
nefropatia, úlceras nas pernas e até amputações de membros. Por outro lado,
quando bem tratado e bem controlado, todas essas complicações crônicas
podem ser, na maioria das vezes, evitadas e o paciente pode ter uma vida
perfeitamente normal.
Qual seria o melhor caminho para esses sujeitos evitarem as complicações do
Diabetes Mellitus? Com esse estudo, gostaríamos de conhecer as estratégias
utilizadas para enfrentarem essa enfermidade, de modo que, as conclusões
aqui obtidas, possam subsidiar diversas áreas que atuam de forma direta ou
indireta com essa problemática, no sentido de possibilitar intervenções mais
eficazes, bem como, estar contribuindo para que os sujeitos possam alcançar
uma melhoria em sua qualidade de vida e que meios poderiam ser utilizados
para que se conscientizassem da necessidade de seguirem as orientações
terapêuticas necessárias para manter o controle da doença.
Após selecionarmos, aleatoriamente, oito sujeitos associados da ACAD
(Associação Capixaba de Diabéticos), aplicamos o Roteiro Semi- Estruturado
de Entrevista, e, através de estudo bibliográfico específico, construímos os
Capítulos II e III, o que nos deu embasamento teórico para o Capítulo V,
composto pelos itens As Formas de Aceitação e Não Aceitação da Doença,
Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito e Barreiras Sócio-Econômicas
que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2.
Dessa forma, tentamos obter uma resposta para a temática que nos propomos
estudar.
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO I
CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA
ACAD
ASSOCIAÇÃO CAPIXABA DE DIABÉTICOS
“Quando se sonha sozinho é um sonho,
Quando sonhamos juntos começamos uma nova realidade”
Dom Helder Câmara
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO
I:
CARACTERIZAÇÃO
DA
INSTITUIÇÃO
PESQUISADA (ACAD)
A ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) é uma instituição sem fins
lucrativos, voltada para a problemática do Diabetes, desenvolvendo um
trabalho preventivo e educativo, para que o portador do Diabetes Mellitus tenha
melhor qualidade de vida.
1.1 Histórico
Na década de 80, as associações de diabéticos começaram a ganhar espaço e
força para trabalhar com os princípios do diabetes: orientação sobre a
utilização correta dos medicamentos (hipoglicemiantes orais), e sobre a
insulina, seu uso e aplicação correta, sempre respeitando, à priori, a prescrição
e orientação dada pelo médico ao associado; aconselhamentos sobre a dieta
específica
para
o
diabético;
orientação
sobre
exercícios
físicos;
e,
principalmente, campanhas e palestras relacionadas ao tema “Educação em
Diabetes”.
Segundo OLIVEIRA (1992), a educação é a mais importante forma de
tratamento para o diabético, porque, através dela, o paciente aprende a
necessidade de modificar seu comportamento, frente à doença, de forma a
obter uma resposta positiva no enfrentamento do diabetes.
E, ainda para OLIVEIRA (1992), “ Urge que se unam os diabéticos em
associações que cresçam em número e em poder político, e que incentivem as
associações já existentes, exigindo das companhias seguradoras (...) que
paguem cursos educativos.” ( p.23)
Ao incentivar a educação para o diabetes, as associações estariam
contribuindo para que ocorresse um número menor de complicações na saúde
do diabético, o que implicaria numa provável redução dos gastos públicos,
proporcionando, talvez, o implemento de políticas sociais que visassem o
fornecimento de medicação gratuita para as pessoas de baixa renda. Por outro
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
lado, através da administração de cursos e palestras educativas, as
associações de diabéticos estariam proporcionando uma maior redução no
número de manifestação da doença nos indivíduos geneticamente propensos à
mesma, reduzindo as conseqüências provenientes do diabetes, evitando o
aumento de aposentadorias precoces por invalidez.
Anteriormente, a não existência de associações de diabéticos dificultava a
execução de campanhas preventivas da doença, o que poderia ser uma das
causas do significativo aumento de pessoas portadoras de diabetes. Essa
crescente demanda, mobilizou entre 1986 e 1987, um grupo de pessoas que se
interessou pela formação de uma associação, afim de proporcionar maiores
informações a cerca da doença, tanto para os diabéticos como para a
sociedade em geral. Assim surgiu a ACAD e, em 1988, após a realização de
algumas reuniões, foi dado início à elaboração do estatuto da associação. Em
22 de abril de 1989, foi realizada no Hospital Universitário Cassiano Antônio de
Moraes (HUCAM) a primeira assembléia que culminou com a aprovação do
estatuto e em junho de 1992 a associação foi reconhecida como entidade de
utilidade pública municipal pelo decreto lei n° 76l-23.
Em 27 de setembro de 1996, a ACAD apoiou e orientou a campanha de
prevenção “Diabetes Sem Mistério”, realizada na Caixa Econômica Federal do
Espírito Santo, no prédio do Ed. Castelo Branco e patrocinada pela APACEFES
(Associação de Pessoas Portadoras de Deficiência da CEF/ES), através de
projeto elaborado pela estagiária do Serviço Social da UFES, Maria de Lourdes
Labuto, durante Estágio Supervisionado realizado na APACEFES. Segundo
depoimento da presidente da ACAD, Regina Márcia Gonring, essa foi a
primeira vez que uma entidade realizou uma campanha de prevenção da
doença no Espírito Santo: “Desde a fundação da ACAD, é a primeira vez que
uma entidade nos procura com interesse pela causa. Esperamos que outras
associações e empresas sigam o exemplo. Todas serão bem vindas.” (Jornal
Sorria Com Doçura/ set/1996).
Esse evento, apesar de ter sido direcionado apenas aos funcionários da
CEF/ES e seus familiares, teve participação de membros da sociedade em
geral, abrindo precedente para um futuro projeto de campanhas de prevenção
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
do diabetes nas várias agências da Caixa Econômica Federal do Espírito
Santo. Para a comunidade em geral foi realizada a distribuição de cartazes
educativos que foram colocados em vários consultórios médicos e postos de
saúde da Grande Vitória.
Mesmo sem possuir sede própria, a ACAD sempre desempenhou significativo
papel na educação para o diabetes, através de palestras médicas realizadas
trimestralmente no Auditório da Rede Gazeta de Comunicações.
Atualmente, após 6 meses de sucessivas reuniões (04/03/97, 26/05/97,
30/06/97 e 11/08/97), realizadas no Gabinete do atual Prefeito Luiz Paulo
Velloso Lucas, com a participação decisiva do vereador José Esmeraldo, da
presidente da ACAD, dos membros da diretoria da associação, de médicos da
Secretaria Municipal de Saúde, do Secretário Municipal de Saúde (Dr. Anselmo
Tose), do Presidente do IPAMV (Sr. Hélio Santiago) e do Desembargador
Álvaro M. R. Bourguignon, foi elaborado um convênio entre a associação e a
PMV (Prefeitura Municipal de Vitória), no qual o Executivo se comprometeu,
cedendo à Associação Capixaba de Diabéticos, duas salas conjugadas, com
banheiro e cozinha, totalmente isentas de aluguel e de taxas de condomínio,
energia e água, e com uma linha telefônica, dotada de extensão. Este convênio
foi assinado em audiência pública no dia 22/08/97, às 10:00 horas, na presença
de várias autoridades, e, tendo a duração de dois anos, podendo ser
prorrogado.
É intenção da ACAD realizar em sua sede atual, reuniões com seus associados
para projeção de vídeos educativos sobre o diabetes, além de organizar uma
biblioteca de literatura específica sobre a doença.
A atual Diretoria se compõe de:
Presidente: Regina Marcia Gonring
Vice-presidente:
Lauro
Carlos
Borges
Secretário: Francisco Braz Dal Col
Tesoureiro: Zelusko Ferreira Rocha
Diretor Social: Sirlene A Fiorotti
Conselho Deliberativo e Fiscal: Ana Maria da Silva, Sandra Silva Tagarro,
Catarina F. Prado, Rosana Binda Folador, Tarcízio Gomes de Souza, Paulo
R.G. Lepore, Renata Rasseli Zanete.
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
A Associação possui um informativo, fundado em março de 1996, editado
trimestralmente e de distribuição gratuita, cujo nome é “Sorria Com Doçura”.
Através dele os associados e a sociedade tomam conhecimento dos vários
eventos interrelacionados com o diabetes.
1.2 Localização
A ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) está situada à Rua do Rosário,
n.º 244, Sobreloja 2, salas 309 e 310, Edifício Vitória Central. Caixa Postal
010200 – Centro, Vitória - ES – CEP 29010-970 - Telefone: (027) 233-1290
1.3 Formas de Funcionamento.
A ACAD efetiva o seu trabalho junto aos associados através de palestras
educativas. Desde sua fundação, vários temas já foram abordados. Dentre
eles: retinopatia (complicações na visão), nefropatia (complicações renais),
neuropatia (complicações nos nervos), angiologia (problemas de circulação que
provocam complicações graves nos pés do diabético), higiene bucal, exercícios
físicos, gravidez, impotência sexual, terceira idade e educação em diabetes.
Essas palestras, abrangendo o universo do diabetes, tem sido, até o presente
momento, realizadas no Auditório da Rede Gazeta de Comunicações, numa
especial deferência desta rede em prol da prevenção da doença Diabetes
Mellitus, e, tem por meta, conscientizar o diabético sobre os cuidados que
precisa ter para poder usufruir de melhor qualidade de vida, diminuindo ou até
mesmo eliminando os problemas provocados pela doença. A média de
freqüência por palestra é de duzentas pessoas.
1.4 Clientela Atendida
A ACAD acolhe diabéticos de qualquer classe social, cor e credo, possuindo
um número aproximado de novecentos associados, sendo a maioria do sexo
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
feminino, e, tanto a filiação, como a permanência no quadro de sócios, é
gratuita.
Com relação à idade, a associação possui um maior número de sócios com
idade acima de 50 anos. Isso talvez ocorra devido ao índice elevado de
incidência da doença acima dessa faixa etária.
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO II
A DOENÇA E A TERCEIRA IDADE
“A batalha da vida, nem sempre a ganha o homem mais forte ou o mais
ligeiro;
Porque, cedo ou tarde, o homem que ganha é aquele que acredita poder
fazê-lo”
Claude Bernard
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Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO II: A DOENÇA E A 3ª IDADE
O conceito de doença está historicamente interrelacionado com a gênese da
humanidade e sofre variações etnológicas, sociais, políticas, religiosas e
culturais.
Para GIOVANNI (1988):
“Desde as civilizações primitivas os
homens se interrogam sobre este
conceito. No início parecia claro que as
doenças fossem devido à ausência, ou à
supressão de algum princípio vital; outras
vezes a uma presença estranha e nociva:
corpúsculos de uma matéria ‘peccans’,
matéria impura, demônios ou animais
perversos.
Diríamos hoje: presença de substâncias
tóxicas,
forças
auto-destrutivas,
comportamentos insalubres, micróbios e
parasitas.” (p. 12)
A literatura nos mostra que, ao serem realizados estudos sobre os temas que
envolvem saúde e/ou doença é constante uma relação mística entre a doença
e o sagrado, a medicina e a religião, a saúde e a salvação. Desde a
Antigüidade, a crença da doença como punição ou castigo proporcionava a
busca de curas milagrosas através do misticismo religioso. Isso persiste até a
atualidade, principalmente nos países subdesenvolvidos onde o senso-comum
exerce uma certa predominância em relação a conhecimentos científicos. No
entanto, o avanço tecnológico e científico tem contribuído muito para que a
medicina progrida cada vez mais na cura das doenças, ajudando a mudar a
visão da sociedade.
Ainda para GIOVANNI (1988),
“Desde o final do século XIX, com o
aperfeiçoamento de uma série de
instrumentos,
em
particular
do
22
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
microscópio, um grande número de
cientistas, médicos e estudiosos, de
Robert Koch (1842-1910) a Louis Pasteur
(1822 – 1895), individualizaram as
causas, os mecanismos de transmissão,
as medidas preventivas e higiênicas
(profilaxia)
para
muitas
doenças
infecciosas, da peste à varíola, da
tuberculose à malária, contribuindo para
reduzir, e em alguns casos eliminar,
flagelos seculares.” (p. 15)
Segundo ABREU e WAGNER (1989) ao falarmos em doença, devemos nos
questionar sobre que doença se trata: se possui efeitos passageiros, se
reversíveis, se são permanentes, se progressivos, se levam à dependência ou
mesmo à incapacitações.
Ao considerarmos ser a doença uma ação alteradora do organismo, provocada
por agentes físicos, psíquicos ou sociais, não podemos pensá-la como uma
entidade abstrata. Independente da idade do indivíduo, a doença em si, é um
fator preocupante, tanto pelo desconforto, quanto pela ameaça de morte que
ela pode causar.
As doenças crônicas, são aquelas que requerem, quase sempre, maiores
cuidados, além de um longo período de tratamento causando mudanças
variadas na vida das pessoas, como nos hábitos alimentares, culturais, sociais,
além do uso de medicação.
Ao passo que as doenças não crônicas são aquelas que possuem curto
período de duração, afetando menos o curso de vida do indivíduo.
Para CRAIG e EDWARDS (1983), “os indivíduos com doenças crônicas, bem
como suas famílias, necessitam se adaptar a mudanças como, por exemplo, às
perdas de ‘status’ no trabalho, na família e na sociedade, e também à sua nova
auto imagem” (In TRENTINI et all, 1990, p. 18)
Segundo LLEWELYN e FIEDING (1983), os indivíduos com doenças crônicas
enfrentam, muitas vezes, perdas no relacionamento social e nas atividades
físicas e de lazer. ( In TRENTINI et all, 1990). E, para WENGER et all (1984),
“a principal meta terapêutica da maioria dos indivíduos em condições crônicas
23
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
não é a cura, mas sim a redução da severidade da doença ou a detenção de
sua progressão.” (In TRENTINI, 1990, p. 18/19)
E, conforme MILLER (1983), esses indivíduos só poderão alcançar essa meta
se enfrentarem positivamente as condições próprias da doença crônica,
através
o
conhecimento
conseqüências,
da
mesma,
de
maneira
a
amenizar
suas
enfrentando as perdas, de modo a obter um melhor
relacionamento na sociedade, sem perder a esperança de adquirir melhores
condições
físicas,
proveniente
de
tratamento
médico
adequado.
(In
TRENTINI,1990)
Na atualidade, a política governamental brasileira vem implantando políticas
sociais de prevenção, no sentido de que, através desse método, a cura das
doenças se torne mais definida e menos onerosa para o sistema de saúde e
para o próprio indivíduo, pois, “ a prevenção, mais do que uma exigência moral,
é também uma necessidade econômica, senão os custos da assistência tornarse-iam insustentáveis e quem realmente tem necessidade não poderia mais ser
tratado.” (GIOVANNI, 1988, p. 72)
Por esse motivo, a medicina tem
promovido campanhas educativas e
informativas, além de estar chamando a atenção da sociedade, para o hábito
de fazer exames preventivos, mesmo quando o indivíduo não apresenta
nenhum sintoma considerado anormal, que poderia ser identificado como
doença.
A educação em saúde, de uma maneira genérica, vem sendo, na atualidade,
enfatizada como um dos mais eficazes meios de tratamento de doenças e
prevenção de suas complicações.
A Educação em Diabetes, além de ampliar a compreensão que o indivíduo tem
da doença, capacita-o para melhor assumir o seu tratamento, evitando
descompensações,
tornando-se,
portanto,
de
suma
importância
no
atendimento ao diabético.
A prevenção no mundo contemporâneo tem tido quase que o mesmo peso do
misticismo religioso no passado, porque antes, estar doente era sinônimo de
desobediência às leis divinas, e, hoje, estar doente quase sempre está
relacionado com a desobediência às leis naturais, sociais e, principalmente aos
24
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
preceitos médicos, tais como: fazer exames pré-natais, “check-up” regulares,
tomar as vacinas, evitar vícios como o fumo e a bebida alcóolica, não consumir
gorduras nem açúcares, praticar esportes, etc.
É do nosso conhecimento que a doença ocorre em qualquer idade, porém
sabemos que sua maior freqüência é entre as crianças e as pessoas idosas,
devido à pouca resistência e falta de imunidade do organismo. Na infância para
compensar a falta de imunidade, há necessidade de tomar todas as vacinas
como forma de prevenção das doenças, e, na velhice, devido as doenças se
manifestarem com grande freqüência pela degeneração que ocorre em todo
organismo humano, variando apenas a forma e intensidade em cada indivíduo,
há que se prevenir através da busca de fatores que melhorem a qualidade de
vida.
Segundo PEREIRA (1996), o ciclo de vida humano é acompanhado pelas
seguintes perdas fisiológicas:
Diminuição de água nas células, que causa a desidratação do idoso;
Musculatura atrofiada, podendo até ocorrer a diminuição de algumas fibras;
A pele aos poucos vai perdendo a elasticidade, somada à desidratação e
aos movimentos de expressão e à gravidade, dando origem às rugas;
Diminui a musculatura e com isso há perda da força, flexibilidade,
resistência e equilíbrio;
A massa óssea também diminui, e no caso dessa perda ultrapassar 30%, já
é osteosporose, não sendo mais fisiológico;
Ocorre endurecimento das artérias devido ao depósito de gordura e cálcio
ao longo da vida;
O coração, por ser um músculo, vai perdendo lentamente sua elasticidade,
comprometendo o débito cardíaco, com diminuição da reserva funcional;
Alvéolos e brônquios diminuem sua elasticidade, aumentando o ar residual
o que faz com que o idoso tenha mais problemas respiratórios;
O aparelho digestivo sofre uma certa atrofia da mucosa que diminui a
acidez gástrica e as atividades enzimáticas, ocorrendo alteração na
absorção de algumas substâncias;
25
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
E o aparelho geniturinário, compromete a unidade funcional do rim,
diminuindo a filtração, reabsorção e eliminação facilitando a ocorrência de
infecções. Nas mulheres há uma queda de estrogênio na menopausa
provocando atrofia vaginal. Nos homens ocorre um aumento da próstata
podendo causar retenção urinária e conseqüente infecção;
No sistema nervoso diminui o número de neurônios, ocorrendo após os 40
anos uma perda de 200.000 dessas células por dia.
Para ABREU e WAGNER (1989):
“A doença é sempre uma ameaça, de dor,
de desconforto, de perdas e até mesmo
de morte. Como será para uma pessoa
que já conta em seu currículo com quatro
ou mais décadas de vida perceber em si
ou receber o diagnóstico de uma doença
que ela conhece como mais comum em
pessoas mais velhas?” ( p.129)
Além da desvantagem de estar mais propício à doença do que as pessoas de
outras
faixas
etárias,
à
exceção
das
crianças,
como
foi
lembrado
anteriormente, o idoso é o tipo de indivíduo que, pela lei natural e biológica está
com o organismo mais desgastado, o que faz com que a doença lhe seja mais
dolorosa ainda, pelo lado psicológico e pelo físico.
No entanto, devemos ressaltar que o envelhecimento em si não deve ser
considerado sinônimo de doença, como tem sido visto por uma parcela da
sociedade. Mas sim, como uma fase da vida onde o sujeito já acumulou muita
sabedoria e experiência, devido a conhecimentos e vivências adquiridas com o
acúmulo de anos vividos.
A velhice não precisa, necessariamente, estar acompanhada por enfermidade,
e, a forma de minimizar as tendências naturais da velhice, está interrelacionada
com a prevenção das doenças.
26
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
As normas de prevenção quando observadas desde a infância, refletem na vida
futura dos indivíduos, fazendo com que, através destas variáveis, tenham uma
vida mais saudável.
Para NERI (1995),
“pode-se dizer que um envelhecimento
bem-sucedido depende de um conjunto
de elementos. O principal sem dúvida é
de ordem econômica, fundamental à
promoção de boa saúde física e à
educação ao longo do curso de vida.
Outro é a adoção de providências reais
no
sentido
de
potencializar
o
desenvolvimento e a adaptação da
pessoa
humana,
educando-a
continuamente
e
realizando
as
adaptações sociais necessárias à sua
melhor qualidade de vida. O terceiro é o
estímulo à flexibilidade individual e social
em relação às questões da velhice.”(p.38)
No Brasil, mesmo com a atual política social, não tem sido dada, ainda, a
necessária atenção à questão da saúde, principalmente nas camadas menos
favorecidas da população, carente de condições primárias de vida, tais como:
alimentação, educação, saúde, moradia, saneamento básico, etc, fazendo com
que seja de grande importância um maior incentivo ao trabalho de campanhas
preventivas, para esclarecer cada vez mais, reduzindo, consequentemente, o
número de doenças e de mortalidade, garantindo, por outro lado, melhor
qualidade de vida, com maior economia.
27
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO Ill
CONSIDERAÇÕES A CERCA DO DIABETES MELLITUS TIPO 2
“É natural confiar nos sinais de trânsito, no coração a bater, nos
pulmões a respirar, no aparecimento do dia e da noite e em muitas
outras coisas. Por que, então, não confiar em si e fazer logo os planos
para o amanhã? Por que não firmar agora as bases de trabalho,
perseverança e otimismo, sem temer problemas? Confie no seu poder
de realizar pela ação, pensamento, diálogo, inteligência e vontade e dê
uma demonstração de confiança nas qualidades, tomando o destino nas
mãos. Use a força de vontade. A pedra volta, mas a vontade, arremetida
para cima, continua subindo”
Lourival Lopes
28
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO DIABETES
MELLITUS
Segundo PIEPER (1997), a palavra diabetes é de origem grega e significa
“correr através de alguma coisa” e a palavra mellitus vem do latim, cujo
significado é “adoçado como mel”. Por isso os antigos ao suspeitarem a
presença da doença provavam a urina para ver se estava adocicada.
No entanto, apesar dessa doença ser tão antiga quanto a humanidade, e da
ciência sustentar que não é uma doença contagiosa, os cientistas ainda não
descobriram, exatamente, porque ficamos diabéticos. As pessoas ficam
diabéticas e dentre as causas apontadas, destacam-se as genéticas, isto é, os
indivíduos possuem uma predisposição hereditária, podendo a doença passar
de geração para geração. Quanto mais diabéticos na família, mais chances de
se contrair o diabetes.
Além disso, outros fatores são considerados como causas da doença, dentre
os quais, os fatores do meio ambiente e os psicológicos, gerados pelo
estresse; doenças do pâncreas (pancreatite, devido ao álcool ou cirurgias
pancreáticas); gestação; ou mesmo alguns vírus comuns da infância como
caxumba, coxsa-ckie
e que podem atacar por engano a célula beta; a
obesidade (em forma de maçã, na cintura)¹; e o sedentarismo, facilitam o
aparecimento do Diabetes Mellitus, doença de ocorrência mundial, que atinge
cerca de 6 a 7 pessoas em cada cem, 2 sendo que, só no Brasil, o número de
diabéticos é estimado em 9 milhões. Desse total, 50% não sabem que estão
doentes e 23% não fazem nenhum tratamento, de modo que o país perde 24
mil vidas por ano devido a esse mal.³ Segundo a Federação Nacional de
Associações de Diabéticos e o Ministério da Saúde, o diabetes é uma doença
¹PIEPER , Claudia, Folheto Equipe D em ação, 1997
² Fonte utilizada: Revista BIOBRAS, informativo sobre diabetes.
³ Fonte Federação Nacional de Associações de Diabéticos e Ministério da
Saúde, Revista VEJA, 22/07/98.
29
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
que está assumindo proporções epidêmicas e, a Organização Mundial da
Saúde afirma que em 1990 o número de doentes somava 80 milhões de
pessoas no mundo e hoje já é de 135 milhões, sendo previsto para o ano 2000
um total de 160 milhões de diabéticos no mundo.¹
E como ficamos diabéticos? Fica-se diabético quando não existe ou quando é
pouca a quantidade de insulina no organismo.
A insulina é um hormônio
fabricado por uma glândula chamada pâncreas, localizada atrás do estômago.
No organismo saudável, todos os alimentos que comemos transformam-se em
glicose (açúcar) mesmo os que não são doces. A glicose é o principal alimento
da célula. Sem glicose e sem insulina não conseguimos viver. A insulina é a
principal responsável pela entrada da glicose na célula. A sua falta faz com que
o açúcar se acumule no sangue, não se transformando em energia, já que a
célula não foi alimentada. A glicose, sendo alimento da célula, chega até ela
através da insulina. O diabetes ocorre pela falta total ou parcial de insulina no
organismo e com isso podemos dividir os diabéticos em dois grupos principais:
Tipo I, ou insulino-dependente, cujo organismo possui uma falta total de
insulina e o Tipo II, ou não-insulino-dependente, que possui uma falta parcial
de insulina.
De acordo com a nova nomenclatura médica passou-se a denominar de Tipo 1
e Tipo 2 o diabetes de Tipo I ou insulino-dependente e o diabetes de Tipo II ou
não-insulino-dependente, respectivamente.
O diagnóstico do diabetes é obtido ao ser constatado alteração da quantidade
de açúcar (glicose) no sangue e Diabetes Mellitus é o nome dado ao conjunto
das situações resultantes dessa incapacidade do organismo em manter a
glicemia, isto é, o nível de glicose no sangue, dentro dos limites considerados
normais e, quando a doença não é tratada, estes níveis de glicose atingem
valores excessivos, causando graves problemas à saúde do indivíduo.
A glicose é um tipo de açúcar proveniente da alimentação e que ao ser
absorvido pelo intestino, é levado para o sangue e usado pelas células do
¹ Revista VEJA, 22/07/98.
30
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
organismo na produção de energia. A glicose é de grande importância para as
células nervosas. Os níveis de açúcar no sangue, são mantidos pela liberação
da glicose armazenada no fígado e esses depósitos são refeitos através da
glicose proveniente dos alimentos ingeridos pelo indivíduo.
A substância de maior importância para o controle da glicemia no organismo é
a insulina. Pode ocorrer a perda total da capacidade do organismo de produzir
insulina, mas isso é relativamente incomum e a terapêutica utilizada é o uso de
injeções de insulina. No entanto, na maioria dos casos, os organismos dos
diabéticos produzem alguma insulina. Nesses casos, os pacientes são tratados
com antidiabéticos orais (medicamentos que aumentam a eficiência da
produção de insulina pelo organismo), e por dieta adequada, de acordo com
orientação médica. Daí a importância do diabético educar-se de modo a
controlar melhor a produção de insulina no seu organismo.
A insulina tem a responsabilidade de manter a utilização adequada dos
nutrientes, isto é, dos alimentos, entre os quais a glicose, que é a mais simples
das substâncias chamadas carboidratos ou açúcares.
Qualquer carboidrato ingerido, (por exemplo, o amido encontrado nos cereais e
nas raízes, como a batata), para ser absorvido no intestino, tem de ser
quebrado na sua forma mais simples: sacarose (açúcar de mesa) e glicose
(açúcar cristalino, incolor, encontrado no sangue e em várias plantas)¹.
Uma vez absorvida a glicose, para que a mesma possa ser utilizada pelo
organismo, tem de entrar nas células e é a insulina que torna esse processo
possível ou mais fácil.
Se uma pessoa não tem insulina, ou se sua ação está diminuída, o primeiro
resultado é fácil de se imaginar: a glicose, não podendo entrar na célula e ser
consumida, acumula-se no sangue, provocando a hiperglicemia, isto é,
provocando o excesso de glicose no sangue. E esse excesso de glicose tem de
ser eliminado do sangue e o caminho mais fácil é através da urina. A esse
processo da eliminação da glicose excedente no sangue através a urina,
¹ Fonte Mini-dicionário Aurélio, 1977
31
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
denomina-se glicosúria. Para que a glicose saia na urina, ocorre a necessidade
da existência de água. Essa água retirada do organismo incorpora-se à glicose
tornando-a habilitada para ser expelida pela urina. Ao processo de
incorporação de água à glicose dá-se o nome de poliúra. A pessoa acometida
de hiperglicemia, necessita de eliminar muita glicose (acrescida de água,
naturalmente) através da urina. Isso faz com que a pessoa se desidrate, tendo,
consequentemente, muita sede e passando a beber água exageradamente. A
esse estágio denomina-se polidipsia.
E se a célula não recebe a glicose, além de outros nutrientes também
controlados pela insulina, tais como as proteínas e as gorduras, o cérebro
“pensa” que está faltando alimento (energia) ao corpo e ativa o mecanismo de
emergência do corpo para que o indivíduo encontre o alimento, e isso se
apresenta através da fome.¹
No caso do diabético a fome excessiva é um sintoma característico da doença.
Para evitar que o diabético alimente-se compulsivamente, faz-se necessária a
Educação para o Diabetes, a fim de evitar problemas de obesidade. O que nos
faz ponderar que, ao receber uma orientação adequada, o paciente diabético
poderá se conscientizar da necessidade de manter sua alimentação em
horários regulares, para que não ocorra uma diminuição brusca da quantidade
de calorias ingeridas, o que provocaria uma baixa acentuada dos níveis de
glicose no sangue (hipoglicemia). No caso de ocorrer a hipoglicemia, se o
indivíduo não for socorrido em tempo, pode entrar em coma hipoglicêmico.
Quando ocorre a reação hipoglicêmica, o paciente deve ser socorrido com a
administração urgente de glicose por via oral (quando o mesmo estiver
consciente), ou por injeções de glicose endovenosa, ou por injeção subcutânea
de Glucanon, medicamento específico para o diabetes. No caso do indivíduo
estar ainda consciente,
embora
pareça
contraditório,
a
ingestão de
alguns copos de suco de laranja, balas, chocolates ou mesmo a dextrose em
pó ou em comprimidos, no início dos sintomas de reação hipoglicêmica, podem
¹ Fonte BIOBRAS, Informativo sobre Diabetes Mellitus
32
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
se constituir em medidas milagrosas, capazes de reverter o quadro clínico.¹
Os sintomas característicos da hipoglicemia, são: sensação de fraqueza ou
fome; tonturas; tremores, palpitação; sudorese (excesso de suor), pele fria;
convulsões; perda de consciência; e, se o caso clínico agravar, pode ocorrer a
morte.
O mecanismo que desencadeia a fome no indivíduo, procede da seguinte
maneira: inicialmente o fígado se encarrega de produzir a glicose e mandá-la
para o sangue e o tecido gorduroso é obrigado a queimar suas reservas para
produzir energia necessária para movimentar o corpo do indivíduo. Com isso, a
glicose vai subir mais ainda e o paciente vai começar a emagrecer e a sentir
fraqueza
provocada
pela
suposta
falta
de
energia
no
organismo,
desencadeando a polifagia, que é a sensação constante de fome no diabético.
Daí por diante, em reação de cadeia, o nível da glicose no sangue aumenta
ainda mais. Ao queimar as gorduras do corpo, o organismo gera subprodutos
denominados de cetonas e que são eliminados pela respiração, dando o hálito
característico do diabético, com cheiro adocicado, o chamado hálito cetônico.
Outro veio de eliminação das cetonas, é através a urina que adquire, também,
odor característico e esse fenômeno é denominado de cetonúria.²
E, como sabemos se estamos ou não diabéticos? O diabetes pode surgir de
forma brusca ou de forma insidiosa. Cinco são os sintomas e sinais principais:
urinar muito, cansaço fácil, muita fome, sede excessiva, emagrecimento. A
esses sintomas juntam-se, com freqüência: visão turva, nervosismo, infecções
cutâneas, dormências ou dores vagas, especialmente nas pernas, coceiras no
corpo, especialmente nos órgãos genitais. Ao fazer o diagnóstico, o médico
pode verificar a dosagem de glicose no sangue, se estiver acima do normal
¹ Fonte Asta Médica, Revista Convivendo com o Diabetes
² Fonte BIOBRAS, Informativo sobre Diabetes Mellitus
33
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
(acima de 126 mg/dl) em jejum, é diabetes mellitus. Caso apareça glicose na
urina, também é sinal do diabetes.
Como tratar o Diabetes Mellitus? Há três medidas principais, as quais são a
base do tratamento bem sucedido: dieta, exercícios e medicamentos. A dieta é
fundamental em todos os tipos de diabetes. Muitas vezes é o principal
tratamento, como nos pacientes de intolerância glicídica (tolerância diminuída à
glicose). Nestes casos quando a pessoa ingere muitos carboidratos (massas,
biscoitos e até doces) os níveis de glicose se elevam. A dieta deve ser
equilibrada, balanciada, e oferecer todos os nutrientes, divididos em 5 ou 6
refeições por dia. Ela deve conter vegetais (verduras e legumes), proteínas
(carne de boi, peixe, frango, leite e derivados), carboidratos (arroz, batatas,
pães e biscoitos).O diabético jamais deve fumar ou tomar bebida alcóolica.
Com relação aos exercícios físicos, eles são benéficos para todas as pessoas,
e, especialmente para os diabéticos, mas devem ser praticados com
moderação e pelo menos 3 a 4 vezes por semana, com orientação médica.
O indivíduo com Diabetes Mellitus Tipo 1, além da dieta e dos exercícios,
necessitam de insulina para manter os níveis de glicose no sangue, dentro ou
próximo ao normal. O mesmo ocorre com o diabetes gestacional, onde a
glicemia aumenta durante a gravidez e logo volta ao normal, após o
nascimento do bebê. Já o Diabetes Mellitus Tipo 2, ocorre geralmente em
pessoas com mais de 40 anos que podem ser obesos ou não e é comum
nesses indivíduos, ocorrer o aumento nos níveis de triglicerídeos e colesterol
no sangue, além de hipertensão arterial. Este grupo pode ser beneficiado com
o uso dos antidiabéticos orais (comprimidos) como a Metformina, que equilibra
tanto a glicemia (açúcar no sangue) como todos fatores já citados. Existem
outros antidiabéticos orais como as Sulfoniluréias e os inibidores da enzima
alfa, Glicosidase.¹
Quanto às complicações, o controle dos níveis de glicose no sangue (glicemia),
como já foi relatado, pode ser alcançado com a dieta, exercícios físicos e
¹ Fonte Revista BIOBRAS, informativo sobre Diabetes Mellitus
34
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
medicamentos indicados (insulina e/ou antidiabéticos orais). Este controle
permite que o diabético viva de “bem com a vida” sem impedimentos. Porém se
os níveis de glicose são mantidos elevados por um tempo prolongado, podem
ocorrer complicações como:
Retinopatia: alteração nos vasos da retina, levando à diminuição da visão e
até a cegueira;
Nefropatia: alteração nos vasos dos rins, levando à diminuição da função
renal;
Neuropatia: alteração nos nervos periféricos das extremidades (pés) e
nos nervos autônomos, levando, se não tratado em tempo, até a perda dos
membros inferiores;
Cardiopatia: problemas cardiovasculares, hipertensão arterial, arteriosclerose
e infarto. ¹
¹ PIEPER, Dra. Claudia, Informativo Equipe D em Ação, Merck S. A . Indústrias
Químicas.
35
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO IV
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
“É preciso livrar-se do compromisso com o êxito para poder criar. O
êxito como objetivo é castrador da criatividade e pode até significar
concessão à mediocridade”
(autor ignorado)
36
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO IV: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização dessa pesquisa, utilizamos de procedimentos exploratórios
que, segundo SELTIZ et all:
“Enfatiza a descoberta de idéias e
discernimentos”. (In MARCONI et all, 1995,p.19). A utilização desse
procedimento torna-se necessária, devido o tempo disponível ser pequeno, não
permitindo maior aprofundamento no tema enfocado.
Entendemos que, para realizarmos uma pesquisa, após formularmos
hipóteses, faz-se necessário fundamentarmos os estudos exploratórios em
base teórica.
Portanto, após a delimitação do objeto, iniciamos a pesquisa bibliográfica para
obtermos maiores informações sobre o assunto a ser pesquisado levando em
consideração que:
“ A pesquisa bibliográfica é um apanhado
geral sobre os principais trabalhos já
realizados, revestidos de importância, por
serem capazes de fornecer dados atuais e
relevantes relacionados com o tema. O
estudo da literatura pertinente pode ajudar
a planificação do trabalho, evitar
duplicações e certos erros, e, representa
uma fonte indispensável de informações,
podendo até orientar as indagações.”
(MARCONI, LAKATOS, 1995,p.24)
Usamos critérios de qualidade na seleção dos textos e dos autores escolhidos,
afim de obtermos suporte realmente eficaz para realização do trabalho, antes
de iniciarmos a pesquisa de campo.
Elegemos a ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) para obtermos a
amostra da nossa pesquisa por ser uma instituição voltada exclusivamente
para o diabético.
Visando caracterizar detalhadamente a instituição pesquisada, entrevistamos a
presidente da ACAD, Sra. Regina Gonhring. A maior parte da entrevista foi
gravada e transcrita posteriormente, de modo a satisfazer o Capítulo I desta
pesquisa.
37
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Para efetuarmos a pesquisa de campo, formulamos um roteiro de entrevista
semi-estruturado com o qual realizamos o pré-teste com um dos associados da
ACAD, em domicílio do mesmo, e que possibilitou-nos testar a validade do
instrumento no que se refere à coleta dos dados, bem como quanto à clareza
da linguagem utilizada nas perguntas.
O
pré-teste
possibilitou-nos
constatar
necessidade
de
reajustes
no
questionário, bem como a influência de problemas técnicos e ambientais, tais
como ruídos relacionados ao uso do gravador, além de interferências de
terceiros durante a entrevista.
Refizemos o instrumento, elaborando, então, um roteiro de entrevista do tipo
semi-estruturado com 10 questões fechadas e 15 questões abertas.
Para as questões fechadas não utilizamos o gravador, sendo essa técnica
utilizada apenas para as questões abertas considerando a necessidade de
obtermos informações mais precisas sobre os sujeitos, pois como relata
QUEIROZ (1987):
“O gravador (...) é um meio milagroso de
conservar à narração uma vivacidade de
que o simples registro no papel as
despojava, uma vez que a voz do
entrevistado, suas entonações, suas
pausas, seu vai-e-vem no que contava
constituíam outros tantos dados precisos
para estudo.” ( p.273)
Por se tratar de uma pesquisa social, envolvendo, portanto, o ser humano,
elemento passível de emoções e divagações, o gravador torna-se o
instrumento mais capacitado para registrar com maior fidelidade, o relato dos
entrevistados.
Quanto à escolha dos sujeitos, utilizamos uma amostra intencional equiparada
sexualmente. Essa amostra não representa o universo da ACAD devido a
maioria dos sócios da instituição, ser do sexo feminino.
Foi selecionada entre associados que freqüentavam a instituição por mais de
um ano, portadores do Diabetes Mellitus Tipo 2 e com idade igual ou superior a
50 anos.
38
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Segundo ÂNGULO (1979), a Organização Mundial de Saúde reputa como
limite inicial, caracterizador da velhice, a idade de 65 anos. Essa afirmativa,
embora simplista, vem sendo utilizada pelos estatísticos que documentam a
geriatria, estabelecendo um mero valor cronológico, o qual, na maioria das
vezes, não corresponde à idade fisiológica.
Para AIDA (1983):
“Existem algumas controvérsias no
enquadramento de uma pessoa na
categoria de velho ou não. Algumas
pessoas, aos 60 anos, já se sentem muito
mais velhas que as outras com 70 e 80
anos. Dizer que alguns com 50, 60 ou 70
anos sejam velhos é muito relativo. A
OMS criou uma nomenclatura, em 1963,
para definir faixas etárias, ou períodos
que variam de 45 a 90 anos:
45 aos 59 anos – idade média ou
mediana;
60 aos 74 anos – idoso;
75 a 90 anos – ancião;
90 anos em diante – velhice extrema.”
(p.7)
O fato de não termos conhecimento da existência de uma literatura que
determine a idade limite para início da velhice, permitiu-nos estabelecer como
sendo 50 anos a idade inicial para o sujeito de terceira idade, pertinente à
nossa pesquisa.
Segundo DEBERT (1998), em entrevista concedida ao Jornal A Folha de São
Paulo, a velhice não é um período naturalmente determinado na existência de
um indivíduo, mas sim uma categoria produzida pela sociedade e que varia de
acordo com os diferentes contextos histórico-culturais.
E, com relação à expressão “terceira idade”, o artigo Linha da Vida, do Jornal A
Folha de São Paulo, menciona que:
“A expressão terceira idade, por exemplo,
teria se originado na França, com a
implantação, nos anos 70, das Universités
de Troisième Age (Universidades da
Terceira Idade).
O uso da expressão é explicado como
uma forma de tratamento não-depreciativo
39
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
para pessoas mais velhas, sem uma
idade cronológica precisa.
Da mesma forma como a velhice, outras
etapas
da
vida
como
infância,
adolescência e juventude são produtos
sociais.
De acordo com Debert, em todas as
sociedades é possível observar a
presença de ‘grades de idades’ – e cada
cultura tende a elaborar ‘grades
específicas.” (02/05/1998, p.8)
.
Outro fator que influenciou-nos na escolha do sujeito de nossa pesquisa a partir
de 50 anos de idade, foi por ser a faixa etária de 50 a 59 anos a de maior
incidência do diabetes, atingindo um percentual de aumento maior, de 7,14 %,
em relação a outras faixas de idade, de acordo com fonte obtida via Internet, na
Home Page from Diabetes Mellitus:
“Prevalência de diabetes mellitus, por grupo etário, na população brasileira de
30 a 69 anos:
30 – 39 anos:
40 – 49 anos:
50 – 59 anos:
60 – 69 anos:
2,7%
5, 52%
12, 66%
17,43%”
Selecionamos a amostra desta pesquisa, durante a reunião trimestral da
ACAD, realizada em março/1998 e utilizamos uma ficha de inscrição que nos
permitiu obter dados pessoais dos indivíduos, facilitando assim a realização
das entrevistas, que foram em domicílio dos sujeitos, após prévio acordo com
os mesmos. Essa opção se deu pelo fato da Associação não estar, ainda, de
posse definitiva de sua sede na época das entrevistas. A duração das
entrevistas variou de 30 a 40 minutos.
Ao concluirmos a pesquisa de campo, mantivemos acompanhamento
constante de pesquisa bibliográfica, afim de obtermos embasamento para a
pesquisa exploratória e, após a organização dos dados coletados pelas
perguntas abertas, iniciamos a redação do texto da nossa pesquisa, de acordo
com SEVERINO (1996), que diz:
40
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“ A
fase de redação consiste na
expressão
literária
do
raciocínio
desenvolvido no trabalho. Guiando-se
pelas exigências próprias da construção
lógica, o autor redige o texto,
confrontando as fichas de documentação,
criando o texto redacional em que vão
inserir-se. Uma vez de posse do
encadeamento lógico do pensamento,
esse trabalho é apenas uma questão de
comunicação literária.” (p. 83)
E, ainda, segundo orientação bibliográfica de SEVERINO (1996), buscando
utilizar de um estilo sóbrio e preciso, de modo a facilitar o entendimento do
nosso raciocínio pelo leitor, iniciamos a análise dos dados nos vários itens
pesquisados em que se situa o nosso trabalho.
Selecionamos os dados coletados nas perguntas abertas, formando categorias
que foram agrupadas de acordo com a similaridade das respostas dos sujeitos,
constituindo-se no Capítulo V, composto dos seguintes itens e sub-itens, de
modo a facilitar a análise de conteúdo dos mesmos:
5.1
Formas de Aceitação e Não-aceitação da Doença
5.1.1 Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença
5.1.2 Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença
5.2
Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito
5.2.1 Apoio dos Familiares
5.2.2 Apoio da Religião
5.2.3 A Importância do Lazer na Vida do Sujeito
5.3
Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença
Diabetes Mellitus Tipo 2
5.3.1 Acesso ao Tratamento Médico
5.3.2 Aquisição de Medicamentos
5.3.3 Fator Idade
5.3.4 Manutenção da Dieta
41
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
No item Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença
Diabetes Mellitus Tipo 2, para compreendermos melhor as estratégias de
enfrentamento utilizadas pelos sujeitos, reforçamos a análise dos dados
através de respostas obtidas nas perguntas fechadas e interrelacionadas com
as barreiras sócio-econômicas que dificultam ao indivíduo, o controle da
doença.
42
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO V
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
“Visão sem ação não passa de um sonho.
Ação sem visão é só um passatempo.
Visão com ação pode mudar o mundo”
Joel Arthur Barker
43
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
A metodologia adotada para a análise dos dados, consistiu na Análise de
Conteúdo.
Segundo DIÁZ (1992), FRANCO (1986) e TRIVINOS (1987) (In CADE, 1996,
p. 43), a análise de conteúdo pode ser compreendida como um método usado
com o intuito de desvendar a mensagem contida nas comunicações, na
expressão dos sujeitos. E, para BARDIN (1994), a intenção da análise de
conteúdo é compreender o sentido da comunicação, desviando o olhar para
uma outra significação de natureza psicológica, sociológica, política e
histórica.(In CADE, 1996)
Para realizar a análise de conteúdo, utilizamos categorias de modo que nos
possibilitasse decodificar as falas dos sujeitos, isolando temas principais dos
secundários, de modo a facilitar a compreensão do caminho traçado.
As respostas das 15 questões abertas foram agrupadas em três itens, seguidos
de sub-itens: Formas de Aceitação e Não Aceitação da Doença, Estratégias de
Apoio no Cotidiano do Sujeito e Barreiras Sócio-econômicas que Dificultam o
Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2. Como suporte para a análise de
conteúdo, utilizamos dos dados contidos nas perguntas fechadas referentes ao
sexo, idade, situação econômica, escolaridade, religião e lazer.
À medida que se fazia necessário, era realizado um retorno ao texto de origem
para constatarmos o sentido verdadeiro das falas dos sujeitos.
Durante a análise, observamos que o universo das respostas ultrapassou em
alguns casos o número de sujeitos devido a algumas perguntas darem margem
a mais de uma resposta.
A partir do momento que os dados foram trabalhados à luz de embasamento
teórico específico
para cada item e sub-item, apresentamos recortes das
respostas dos sujeitos, expondo as nossas considerações sobre 3ª Idade e
Diabetes Mellitus Tipo 2: Estratégias de Enfrentamento.
44
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Caracterização Geral dos Sujeitos
A
amostra
dos
sujeitos
pesquisados,
foi
equiparada
e
selecionada
intencionalmente e coletada entre associados da ACAD, inscritos há mais de
um ano na instituição, sendo quatro do sexo masculino e quatro do sexo
feminino.
Os sujeitos do sexo masculino possuem idade entre 56 e 69 anos e os do sexo
feminino, idade entre 50 e 62 anos.
O estado civil predominante entre os sujeitos dos sexo masculino é o de
casado, pois, dos quatro sujeitos, três são casados e apenas um é desquitado.
Essa predominância não foi observada entre os sujeitos do sexo feminino: dois
são solteiros, um viúvo e um casado.
Entre os homens, dois residem com esposa e filha. Os outros dois, um reside
com esposa e duas filhas e o outro com a companheira.
Entre as mulheres, duas residem sozinhas, uma mora com quatro filhas e a
outra com esposo, filha, genro e três netos.
A religião predominante entre os homens é a católica, sendo que apenas um
sujeito é católico praticante e, outros dois são católicos não praticantes; apenas
um é presbiteriano.
Entre as mulheres também predominou a religião católica: duas são católicas
praticantes, uma é católica não praticante e uma é evangélica.
Quanto à situação profissional, três dos homens, são aposentados e um
encontra-se afastado do trabalho devido à doença. Entre as mulheres duas são
aposentadas, uma é pensionista e outra é doméstica.
A renda dos sujeitos do sexo masculino é bastante variável: um recebe mais ou
menos 3 SM, outro mais ou menos 20 SM, o Sujeito 3 recebe 12 SM e o
Sujeito 4 mais ou menos 2 SM.
A renda dos sujeitos do sexo feminino também varia bastante: o Sujeito 5
recebe mais ou menos 3 ½ SM, o Sujeito 6 mais ou menos 4 SM, o Sujeito 7,
5 SM e o Sujeito 8 apenas um SM.
45
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Tabela de Caracterização Geral dos Sujeitos:
Sujeito
1
Sexo
M
Idade
Estado
Com
Religião Situação Renda
Civil
quem
Profis-
mora
sional
62 anos Casado
Esposa/ Católico Afasta1 filho
não
do
Familiar
+/-3
do Salário-
pratican- trabalho Mínimo
te
2
M
56 anos Casado
Esposa/ Católica Aposen- +/- 20 ½
1 filha
3
M
65 anos Casado
M
69 anos Desquitado
S.M.
Esposa/ Presbite Aposen- 12 S.M.
2 filhas
4
tado
riana
tado
Compa- Católica Aposen- +/-2S.M.
nheira
não
tado
praticante
5
F
62 anos Solteira
Sozinha Católica Aposen- +/-3½
não
tada
S. M.
praticante
6
F
56 anos Viúva
4 filhas
Católica Pensionista
7
F
50 anos Casada
+/-4½
S. M.
Esposo, Católica Domés- 5 S. M.
1
filha,
tica
genro, 3
netos
8
F
58 anos Solteira
Sozinha Evangé- Aposen- 1 S. M.
lica
tada
M = Masculino; F= Feminino; S.M.= Salário Mínimo
46
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.1
FORMAS DE ACEITAÇÃO E NÃO ACEITAÇÃO DA
DOENÇA
“Se pensas que estás vencido, estás; Se pensas que não te atreves, não
o farás; Se pensas que te agradaria ganhar, mas que não podes, não o
realizarás; Se pensas que perderás, já perdeste; Porque no mundo
descobrirás que o sucesso começa com a vontade do homem”
Claude Bernard
47
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.1
FORMAS DE ACEITAÇÃO E NÃO ACEITAÇÃO DA
DOENÇA
Ao entrevistarmos os sujeitos, buscamos detectar se os mesmos aceitavam a
doença ou se não a aceitavam. E, pela análise dos dados coletados nas
entrevistas, observamos que, apesar da doença incomodar em qualquer idade,
independentemente dos sintomas ou de sua intensidade, a forma de aceitação
variava
de
indivíduo
para
indivíduo,
talvez
pela
multiplicidade
de
enfrentamentos de cada sujeito em particular, tais como, fatores econômicos,
sociais, políticos, grau de instrução dos mesmos e o conhecimento que cada
um possuía sobre a doença. De fato, segundo DALLARI (1987), a saúde de um
povo depende do seu nível de vida, sofrendo influências diretas dos fatores
sócio-econômicos e culturais que qualificam o seu desenvolvimento, sendo
que, o nível de instrução da população pode até refletir nas atividades que
envolvem educação sanitária, o que é base fundamental para uma boa saúde.
Com a finalidade de observarmos o nível de conhecimento e de aceitação da
doença, fizemos a seguinte pergunta:
O que é o diabetes para você?
Dentre os oito sujeitos entrevistados, apenas um respondeu que considerava a
doença como algo normal; dois sujeitos, apesar de dizerem inicialmente que
consideravam o diabetes, também como algo normal, no decorrer das
entrevistas, disseram sentir alguns sintomas que denunciavam a presença da
doença, tais como, tonteiras e embaçamento nas vistas, além de admitirem a
utilização de medicamentos. E, cinco sujeitos consideraram o diabetes como
uma doença que exige controle alimentar e acompanhamento médico.
Realmente, é muito importante o acompanhamento médico, bem como uma
dieta específica para o controle da doença Diabetes Mellitus, logicamente que
acompanhado de exercícios físicos adequados e de medicação para o controle
da produção de insulina pelo organismo do indivíduo. Já, dois sujeitos
demonstraram conhecimentos da hereditariedade da doença:
“Prá mim é uma coisa comum, sim? Que eu já tenho a minha mãe que é
diabética e eu já venho enfrentando isso há muito tempo.” (S 6)
48
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“Que eu já perdi na família, né?Já que é uma coisa hereditária, eu sei disso, eu
tenho consciência disso, que é hereditário (...) meu pai morreu com problema
de diabetes, meu irmão morreu cego.” (S 5)
Para BARRETO (1997)
“Diabetes mellitus não dependente de
insulina
natureza
é uma
doença
hereditária,
que
primária
se
de
instala
gradativamente durante a vida adulta. A
predisposição está ligada à resistência
insulínica no tecido muscular, que é
determinada por dificuldades na via não
oxidativa, isto é, a via de síntese do
glicogênio. Esta característica, que parece
decorrer
de
mutação
genética
e
polimorfismo, compromete, numa primeira
instância, a utilização corporal da glicose,
já que o tecido muscular capta cerca de
40% da glicose pós-prandial para sua
transformação em glicogênio por ação da
insulina.
Reforçando
a
hipótese
de
predisposição hereditária, estudos em
parentes
de
diabéticos
do
Tipo
2
demonstraram a presença de resistência
insulínica em tecido muscular, mesmo
quando apresentaram tolerância normal à
glicose.” (p. 66)
Um dos sujeitos considerou o Diabetes Mellitus uma doença horrível:
“(...) eu acho que é uma doença horrível. (...) eu sei que ela é perigosa. (...) A
pessoa sofre muito.” (S 5)
Já é sabido que as doenças são causadoras ou de desconforto ou de
perturbações ou de dor e por isso são sempre relacionadas ao sofrimento.
49
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Conforme GIOVANNI (1988), o sofrimento nem sempre tem a dor como
elemento preponderante. O diabetes, por exemplo, apesar das limitações
impostas ao indivíduo e das obrigações terapêuticas decorrentes da doença,
não é doloroso. No caso do indivíduo diabético, a sintomatologia característica
da doença reflete no emocional como algo horrível, de intenso sofrimento.
Observemos o número de respostas no gráfico e a tabela para uma melhor
avaliação:
Pergunta 1 - O que é diabetes para
você?
2
1
1
2
5
Normal
Normal mas acha que é doença
Doença que exige controle alimentar e
acompanhamento médico
Doença hereditária
Doença horrível
N.º de Respostas O que é o Diabetes para você?
1
Normal
2
Normal mas acha que é doença
5
Doença que exige controle alimentar e acompanhamento médico
2
Doença hereditária
1
Doença horrível
Obs.: As perguntas abertas propiciaram aos sujeitos darem mais de uma
resposta para uma mesma pergunta.
50
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Ao perguntarmos aos sujeitos como se sentiram ao saberem ser portadores da
doença, o Sujeito 1 respondeu que se sentia normal, embora com
preocupações financeiras em relação ao custo da alimentação adequada para
sua dieta, pois nem sempre tinha dinheiro para alimentar-se de acordo com o
recomendado pelo médico.
Devido à atual conjuntura econômica do nosso país, a dificuldade financeira
tem sido o maior empecilho para que os cidadãos possam viver dignamente.
No caso dos diabéticos, pela necessidade de uma dieta alimentar específica e
pelo constante uso de medicamentos, a ausência de recursos financeiros
prejudica muito o tratamento. Vejamos o gráfico e a tabela correspondente,
Pergunta 2 - Como você se sentiu quando
soube que era portador do diabetes?
1
1
1
5
2
Normal embora com preocupação finaceira em
relação à dieta
Preocupação com a doença
Aceitação após orientação médica
Dificuldade para controlar a dieta
Tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer,
sentimento de que o mundo tinha acabado
N.º Respostas
Como você se sentiu quando soube que era portador de diabetes?
1
Achou normal, embora com preocupação financeira em relação à dieta
1
Sentiu preocupação com a doença
1
Aceitou a doença após receber orientação médica
2
Achou difícil controlar a dieta
5
Sentiram tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sentimento de que
o mundo tinha se acabado
51
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Conforme estudo conduzido por TRENTINI et all (1989), sobre a aderência ao
regime terapêutico de pacientes crônicos, foi observado que o poder aquisitivo
dos mesmos poderia ter influência no estado físico dos indivíduos “que não
seguiam o tratamento como deveria ser porque não tinham condições
financeiras suficientes, principalmente para adquirir medicamentos e seguir o
regime alimentar.” (In TRENTINI, 1990, p.25). Por outro lado, constatamos que
hábitos alimentares não indicados para o diabético e contraídos anteriormente
à doença tem sido uma das dificuldades encontradas pelos sujeitos para a
manutenção da dieta recomendada e necessária para o controle da doença.
Dois sujeitos admitiram ter essa dificuldade. Na entrevista com o Sujeito 3, por
exemplo, podemos observar esse fato:
“(...) aí eu soube que eu tinha que parar de bebidas e tinha que comer menos
que eu comia demais (...) comia uma panela (...) agora só como um pratinho.”
Sabemos que uma dieta balanceada, através de orientação médica, é ponto
vital para o controle do Diabetes Mellitus no indivíduo portador da doença. No
entanto, desde a infância, o indivíduo é incentivado à gula. GIOVANNI (1988),
relata isso com bastante precisão:
“ Quantas crianças comem bem e
crescem muito bem, mas são levadas ao
pediatra porque os pais e avós gostariam
que comessem mais? (...) Por qual motivo
os pais querem dar aos filhos aquele
‘mais’ do que não necessitam? São os
modelos consumistas propostos pela
propaganda, ou complexos de culpa
maternos ou paternos, por que a criança
foi sacrificada em detrimento do trabalho,
ou outros mecanismos psicológicos que
os atingem profundamente? Queremos
superalimentar o corpo de nosso filho, a
quem damos menos no plano espiritual?”
(p.52)
A dieta alimentar prescrita ao diabético parece ser uma das principais causas
que dificultam a aceitação ou não da doença pelo sujeito portador de Diabetes
Mellitus, principalmente o Tipo 2, que atraído pelo fetichismo da comida, tornase presa fácil dos vícios de uma alimentação prejudicial a manutenção de sua
52
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
saúde. Observamos que a maioria dos sujeitos tem dificuldade de manter a
dieta devido à quase incontrolável vontade de comer, demonstrando acentuada
compulsão perante o alimento. Sabemos que nada mais prazeroso do que
matar a fome. No entanto para o diabético, isso constitui um grave problema,
caso não seja obedecida a limitação dietética. No entanto, a mídia bombardeia
constantemente a sociedade com sugestões de comida. Há programas de
televisão que, quase em sua totalidade, possuem programação voltada para a
confecção das mais variadas guloseimas. “Basta dar uma olhada ao redor e
não vai ser difícil descobrir um papel de bala, um outdoor com o último
lançamento de um bombom recheado ou mesmo o som longínquo de um bife
na chapa trazido pela TV.” ( PEREIRA,1997, p.7)
Para se capacitar de metas motivadoras de controle, o diabético tem que
exercitar a valoração da sua identidade, do seu auto-conceito, buscando, na
sua emoção, no seu bem-estar e no coping, fontes de resistência para as
condições impostas pela doença, como a obrigatoriedade de dieta específica.
Segundo GOLDSTEIN (Apud NERI, 1995), ao obter recursos de fortalecimento
psicológico, auxiliares na superação do stress, o indivíduo se capacita para
lidar com os eventos do seu curso de vida e com as demandas do seu dia-adia.
Nós notamos que cinco dos sujeitos entrevistados, demonstraram sentir
tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sentimento de que o mundo
tinha se acabado, quando souberam ser portadores de diabetes. Isso pode ser
observado de forma expressiva na entrevista com o Sujeito 7:
“(...) No outro dia parecia que eu ia amanhecer morta. (...) Ah! Graças a Deus,
hoje eu
passei um dia, quer dizer que Deus me deu vida, agora, não sei,
amanhã é certo que eu tô debaixo do chão.”
O depoimento desse sujeito parece reforçar o que já havíamos observado,
através da literatura, de que a doença afeta a qualidade de vida dos indivíduos,
alterando seu emocional, devido as limitações e restrições próprias da
enfermidade, provocando sentimentos de tristeza, muitas vezes acompanhados
pelo medo da morte, pois, de acordo com WENGER et all (1984),
53
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“ O estado emocional do indivíduo está
altamente associado à sua qualidade de
vida. O indivíduo pode mostrar mudanças
no seu modo de ser, geralmente
provocado por algum acontecimento que
causa impacto a ele. Quando acontece
algo desagradável, como por exemplo
uma doença, o indivíduo pode mostrar
sentimentos de raiva, culpa, hostilidade,
depressão,
abandono,
medo
e
preocupação com o futuro e sentimentos
de perda de controle e instabilidade. Esse
conjunto de emoções tem a ver com a
qualidade de vida dos indivíduos quanto
ao estado de saúde e satisfação com a
vida.
A qualidade de vida de um indivíduo pode
estar influenciada pela percepção que ele
tem do seu estado de saúde.
A qualidade de vida pode ser alterada
pela severidade dos sintomas da doença
crônica e por intercorrências clínicas ou
complicações paralelas...” (In TRENTINI
et all, 1990, p. 21)
OLIVEIRA (1992), escritor médico e diabético, comenta que a sua vida sempre
foi muito agitada devido ao medo do inusitado com relação à doença, medo do
estigma e das complicações decorrentes da mesma, principalmente a invalidez:
“Esse medo de doenças incapacitantes
marcou profundamente a minha vida, e
acredito que a vida de quase todos nós.
Além do medo de doenças e das
complicações incapacitantes, eu também
tinha medo da miséria e das dificuldades
financeiras, bem como da crítica e da nãoaceitação das pessoas do meu círculo
profissional”
Para observarmos se a vivência em sociedade afetava a vida dos sujeitos,
perguntamos se sofriam alguma discriminação social. Todos os entrevistados
responderam que não sofriam nenhum tipo de preconceito. No entanto,
esses depoimentos não parecem
condizer com a realidade observada no
cotidiano da sociedade. Observemos o gráfico e a tabela referentes à temática:
54
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Pergunta 3 - Você sofre preconceitos por
ser diabético?
100%
Não
N.º Sujeitos
8
Você sofre preconceitos por ser diabético?
Responderam que não sofrem preconceitos por serem diabéticos
De acordo com matéria publicada no jornal Sorria Com Doçura/setembro/1996,
no caso verdade intitulado “Até quando?”, consta o depoimento de um
diabético, com relação a sua experiência sobre discriminação no trabalho:
“ Quando ouvia alguém falar sobre
discriminação no mercado de trabalho,
não imaginava que um dia poderia passar
por uma experiência tão marcante. O
episódio aconteceu em 1993, quando me
inscrevi para uma vaga de auxiliar de
escritório numa empresa de porte
nacional, em atividade no Espírito Santo.
(...) preenchi uma ficha e fui entrevistado
por uma psicóloga a quem não omiti ser
diabético. (...) Compareci ao (...)
ambulatório da empresa acompanhado
pela psicóloga. De acordo com o médico
que me atendeu, (...) o diabetes me
impedia de ocupar a função, pois a
empresa não admitia pessoas com a
doença.” (COSTA, W.S.)
Além desse depoimento, a literatura tem nos mostrado que vivemos numa
sociedade preconceituosa. Segundo GIOVANNI (1988), a doença não é vista
apenas como diversidade mas, também, como uma anormalidade ou um
55
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
desvio de modo que o doente é considerado inferior em relação à média da
população.
Dando continuidade à nossa pesquisa, constatamos que apesar de terem
consciência de que o diabetes é uma doença crônica, os sujeitos entrevistados
julgaram-se pessoas saudáveis. Observemos o gráfico:
P e rg u n ta 1 5
- V o c ê s e c o n s id e r a u m a
pessoa com saúde ou
d o e n te ?
100%
C om saúde
N.º Sujeitos
8
Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente?
Com saúde
Observamos que alguns sujeitos buscavam reforço psicológico apoiando-se em
situações de indivíduos com enfermidades de sintomatologias piores que as
deles, conforme declaração dos Sujeitos 5 e 7, respectivamente:
“ Com saúde. Que olhando para trás você vê gente pior do que a gente.”(S 5)
“Eu não posso me considerar uma pessoa doente. Uma pessoa doente é
quando ela não agüenta fazer nada. Se joga em cima de uma cama e não faz
nada. Eu, Graças a Deus, dou a volta por cima.” (S 7)
De acordo com TRENTINI (1992),
“O processo cognitivo determina a
qualidade e intensidade das reações
emocionais e permeia as estratégias de
enfrentamento.
As
estratégias
de
enfrentamento podem reduzir a ameaça
do estressor e minimizar seu impacto
estressante. Esta maneira de enfrentar
não quer dizer que ela erradica o
problema mas ela pode modificar o
significado que o estressor tem para a
56
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
pessoa, assim seu efeito estressante é
aliviado.”(p.86)
O sujeito apesar de ter consciência de sua doença, tenta diminuir o seu
sofrimento, usando como estratégia comparar o seu problema com o de outras
pessoas em estado de saúde mais grave.
Segundo NERI (1993), os fatores estressores fazem com que muitos indivíduos
encontrem na Fé apoio para enfrentar as doenças, numa reação característica
de coping paliativo. Para NERI (1993), “o uso da religião como coping pode
significar apenas que, quando em dificuldades, a pessoa se volta para a
religião como ajuda e presta pouca atenção ao assunto quando não está
enfrentando situações difíceis.”
Ao analisarmos depoimentos de alguns dos sujeitos, observamos essa
estratégia de enfrentamento utilizada por eles. Era o refugiar-se na fé,
demonstrando resignação, entregando o próprio destino à Deus:
“Eu sempre me considerei bem de saúde e sempre agradeci a Deus pela
saúde que eu sempre tive. Essa diabetes pra mim, ela praticamente não
resolve nada. Eu sou muito mais com fé em Deus e a minha vida nessa
situação.”(S 4);
“Diabetes é uma doença, né? Mas eu me considero com saúde, Graças a
Deus! Que Deus está me guiando. E, eu estou aqui até o dia que Ele quiser me
chamar.” (S 3)
Essa concepção de religiosidade frente à doença é histórica e a busca de apoio
na fé
talvez seja o móbile que influencie o indivíduo, mesmo doente, a
considerar-se com saúde. É natural do ser humano, ao enfrentar situações de
dificuldade na vida, entre elas, as de doenças, voltar-se para a religião, na
busca de conforto para seus males. Ao depararmos no cotidiano com pessoas
em situações semelhantes às citadas anteriormente, é comum ouvirmos das
mesmas expressões como:
Se Deus quiser, vou melhorar!
Se for a vontade de Deus, vou me curar!
57
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Ao concluirmos essa análise das formas de aceitação e não aceitação da
doença, constatamos que os sujeitos buscam apoio na fé como uma estratégia
de fortalecimento para enfrentar o Diabetes Mellitus. Essa estratégia é uma
forma utilizada pela maioria das pessoas na tentativa de superar os problemas
e as dificuldades do cotidiano de suas vidas. Talvez na ansiedade de se
sentirem protegidas por um Ser Superior, as pessoas voltam-se para a religião
e através da fé, tentam adquirir forças para lutar contra os obstáculos que
prejudicam seu devir, encontrando em Deus o apoio para enfrentar as várias
vicissitudes provocadas por doenças e pelas dificuldades financeiras comuns
numa sociedade onde predomina o capital, e onde o cidadão que necessita de
políticas sociais para o seu bem-estar, vivencia o não poder estar doente. Esse
fenômeno é histórico e GIOVANNI (1988) vai buscar referências desse fato, em
Sócrates, ao citar a história do lenhador que ao adoecer, recebeu
aconselhamento
médico para cumprir com determinada dieta alimentar. O
lenhador respondeu que não podia ocupar-se com um longo tratamento de
regimes, pois para isso precisaria de tempo e ele não tinha tempo para perder
com tratamentos de saúde, necessitava de um remédio que lhe proporcionasse
a cura imediata, caso contrário correria o risco de perder o emprego. A doença
tem que ser negada até o limite do possível porque o mercado de trabalho
assim o exige e o capital não pode ser dilapidado com quem não dispõe de
meios de concessão de sua mais-valia.
A educação para o diabetes poderia ser elemento essencial para o sujeito
diabético, tornando-o mais hábil para enfrentar o mundo do capital. Pois,
através de controle adequado, o indivíduo poderia obter melhor qualidade de
vida de modo a poder permanecer integrado no mercado de trabalho,
assumindo a sua posição de cidadão na sociedade a qual pertence.
Entendemos que as campanhas de prevenção são alguns dos meios capazes
de auxiliar na educação para o diabetes, pois, segundo GIOVANNI (1988), a
prevenção é um dos meios mais práticos para a contenção das doenças,
possibilitando um menor custo nas despesas decorrentes da falta de saúde da
população, proporcionando ao indivíduo um meio de obter melhor qualidade de
vida, mormente numa sociedade onde predominam as políticas neo-liberais e
58
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
onde a saúde é deixada à revelia pelo número escasso de programas de saúde
e pela conjuntura sócio-econômica do cidadão trabalhador.
59
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.1.1: Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença
Segundo GOLDSTEIN (In NERI, 1995), as pessoas não mantêm padrões de
comportamento estático por toda a sua existência, mudando de comportamento
para fazer frente às demandas da vida que se alteram ao longo do seu curso
de vida. As maneiras como as pessoas enfrentam essas demandas ou essas
mudanças, e os efeitos desse enfrentamento, tem a ver com os mecanismos
de auto-regulação da personalidade, decorrentes do contexto das experiências
estressantes do cotidiano e das formas de coping adotadas pelos indivíduos.
Nessa pesquisa chamamos de enfrentamento a forma utilizada pelo sujeito
para enfrentar a doença, aceitando as limitações próprias da mesma,
cumprindo a dieta e praticando os exercícios físicos prescritos pelo médico e,
de fuga, as estratégias de enfrentamento utilizadas pelo sujeito ao fugir das
situações que o colocam em risco do não cumprimento das determinações
médicas, de modo que, tanto a fuga quanto o enfrentamento, foram
considerados por nós, enquanto pesquisadoras, como estratégias de
enfrentamento do sujeito frente à doença.
Ao analisarmos os sujeitos, observamos que eles utilizam de várias estratégias
de
enfrentamento,
dentre
elas
a
fuga,
como
forma
de
minimizar
psicologicamente o desconforto proveniente das restrições que lhes são
impostas pela doença.
Sendo o diabetes uma doença difícil de se conviver, tanto pela sua
característica crônica, como por ser uma doença que exige educação alimentar
por parte do indivíduo, o mesmo encontra-se em situações que variam do
enfrentamento à fuga, principalmente pelo rigor das restrições dietéticas do
tratamento. Para BARRETO (1997),
“Sendo uma doença crônica que exige
cuidados diários e permanentes, diabetes
é sempre uma doença que desperta
restrições à vida de relação. O papel do
médico é fundamental na adesão do
paciente ao tratamento. Isto exige dele
ser capaz de educar seu paciente. Para
isto precisa conhecer bem a doença e
saber explicá-la de modo a estabelecer
uma lógica para o seguimento das
60
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
recomendações. Sem atemorizar o
paciente, mas também sem passar a idéia
de que diabetes no idoso é uma doença
sem importância, o médico precisa de
bom senso, paciência e dedicação para
tolerar as falhas do seu paciente, sem ser
conivente com ele. É discutível se um
médico
que
não
tenha
estas
características deva tratar diabéticos. Se
não, o acompanhamento em equipe é
sempre recomendado, incluindo-se um
assistente”(p. 68)
É
tão
importante a
conscientização
do
sujeito
diabético perante
o
enfrentamento da doença que, além do médico, outros profissionais estão
sendo envolvidos no trabalho de educação para o diabetes.
De acordo com BARRETO (1997),
“Nos Estados Unidos, já é rotina haver um
técnico em diabetes acompanhando os
pacientes com os médicos. Geralmente é
um enfermeiro ou uma assistente social
quem faz este papel, mas precisam estar
treinados para isto através de um curso, o
qual já vem sendo difundido no Brasil
através dos Laboratórios Lilly em
convênio com a clínica americana Joslin,
que é especializada em diabetes.” (p.68)
É de nosso conhecimento que esse trabalho interdisciplinar na área da saúde
com os portadores de Diabetes Mellitus, já vem ocorrendo em vários hospitais
e em alguns postos de saúde do Brasil, pois, a educação em diabetes é uma
realidade vital para o controle da doença, isso porque, talvez nenhuma outra
doença requeira do paciente tanto conhecimento e empenho pessoal para seu
controle, pois o diabético precisa entender os mecanismos da doença e as
condições que provocam alteração da
glicemia, seguindo corretamente as
orientações dietéticas sobre o que e quanto comer, bem como conhecer os
perfis de ação terapêutica da medicação utilizada.
A história de vida pessoal de cada sujeito diabético influi no seu modo de agir
perante o enfrentamento ou fuga da realidade. E, de acordo com TAJFEL
(1982),
61
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“A experiência social de um indivíduo
modificará suas atitudes, bem como, suas
atitudes modificarão suas percepções
sociais. Sendo assim, as atitudes podem
mudar ou serem mudadas de diferentes
maneiras, dependendo da informação e
experiência que uma pessoa adquire,
bem como da possibilidade de mudança
em seu grupo de pertença.
Vivemos em um meio social em
permanente mudança. Muito do que
acontece tem a ver com as atitudes dos
grupos a que pertencemos ou não, e a
mudança das relações entre grupos exige
reajustamentos permanentes da nossa
compreensão dos acontecimentos e
constantes atribuições causais sobre o
porque e o como das condições de
mudança da nossa vida”(In BAIÔCO,
1995, p.9)
O Ser Humano por ser um Ser passível de mudança, pode ser influenciado
pela sociedade a qual pertence, de forma a modificar suas atitudes, bem como
transformar o meio em que vive. Dessa maneira, a Educação para o Diabetes
pode mudar as atitudes do indivíduo de modo que ele possa conviver melhor
com a sua doença. Isto é, sabemos que o Diabetes Mellitus Tipo 2 é genético.
No entanto é muitas vezes agravado por costumes alimentares adquiridos
durante o curso de vida do indivíduo, que ao se conscientizar da necessidade
de cumprir com a dieta alimentar e com a realização de exercícios físicos,
estará se habilitando a ter melhor qualidade de vida.
Ao perguntarmos aos sujeitos quais eram as estratégias utilizadas por eles no
dia-a-dia para enfrentar o diabetes, mais da metade dos sujeitos respondeu
que utilizava o medicamento como forma de enfrentar a doença:
“Ah! Eu só tomo os remédios que o médico passa para mim.” (S 6 )
“Eu procuro controlar, né, tomando meus remédios.” (S 3)
“Não uso nada, mais é o remédio...” (S 1)
62
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Observemos a tabela e o gráfico correspondentes, de acordo com as respostas
dadas pelos sujeitos à pergunta aberta n.º 8:
Nº
Quais são as estratégias que você utiliza no dia a dia para enfrentar o diabetes?
Respostas
5
Respostas informaram a utilização de medicamentos
1
Resposta informou que o sujeito evitava pensar na doença
4
Respostas atestavam o uso da dieta
1
Resposta informou que o sujeito praticava exercícios físicos
3
Respostas informavam que os sujeitos não utilizavam de nenhuma estratégia
Pergunta 8 - Quais são as estratégias
que você utiliza no dia a dia para
enfrentar o diabetes?
3
5
1
4
1
Medicamentos
Não pensa na doença
Dieta
Exercícios físicos
Não utiliza de nenhuma estratégia
O tratamento medicamentoso é essencial no Diabetes Mellitus Tipo 1 e no
Diabetes Mellitus Tipo 2 pode ter seu início adiado quando há um bom controle
com dieta acrescido da realização de atividade física e tem como objetivo
melhorar a qualidade de vida do indivíduo, aliviando os sintomas da doença e
reduzindo a mortalidade através da prevenção de complicações crônicas e do
tratamento das doenças provenientes do diabetes, dentre elas, a Retinopatia, a
Nefropatia, a Neuropatia e a Cardiopatia.
Um dos sujeitos, apesar de utilizar medicamentos próprios para a doença, evita
pensar na mesma:
“...Eu não penso na doença, eu só penso no futuro que pode vir.” (S 1)
63
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Essa estratégia do sujeito ao enfrentar a doença, pode ser um bloqueio
psicológico utilizado pelo mesmo na tentativa de não admitir a existência da
mesma. Para HECKHAUSEN ( In NERI, 1995),
“ As estratégias de controle secundário
podem ser orientadas a três aspectos de
ação: a expectativa de alcance da meta
(isto é, otimismo ou pessimismo
estratégico, ajustamento do nível de
aspiração), o valor associado à meta (isto
é, as uvas estão verdes, afastamento) e
a atribuição causal do resultado da ação
(isto é, atribuição personalista).”
O sujeito ao não pensar na doença e só pensar no futuro, está utilizando de
uma estratégia de afastamento da doença, similarmente à raposa, na fábula,
que por não poder alcançar as uvas de uma determinada videira, olhou para as
mesmas e, desdenhosamente, virou as costas, declarando que as mesmas
estavam verdes, portanto, não lhe interessavam. Segundo HECKHAUSEN (In
NERI, 1995), é uma estratégia de controle ilusório e de valor funcional pela
desvalorização de metas inatingíveis, e ao mesmo tempo disfuncional por
exagerar o valor das metas inatingíveis. Ao negar a existência da doença pode
estar relacionado com a visão negativa característica de pacientes com doença
crônica. De acordo com BURISH, BRADLEY (1983),
“Essa visão negativa dos pacientes com
doença crônica pode talvez ser explicado
pelo fato de que a própria doença crônica
e especialmente a cardíaca e a diabete
constituem um stress por serem doenças
potencialmente incontroláveis provocando
medo e insegurança.”
Talvez esse medo e insegurança provocados pelo diabetes no sujeito, seja
uma das causas do mesmo não querer admitir a existência da doença,
utilizando-se da fuga como estratégia para enfrentar a mesma. Por outro lado,
observamos que a conscientização de educar-se para enfrentar a doença
parece já estar presente nos indivíduos, pois constatamos que metade dos
sujeitos admitiu utilizar da dieta como principal estratégia para enfrentar o
Diabetes Mellitus:
64
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“... a parte mais essencial é a alimentação.” (S 2)
“... estou comendo muito pouco. Eu vou comer, tomo um cafezinho de manhã
com torrada e vou controlando desse jeito, assim...” (S 3)
Sabemos que a dieta é o item mais importante para o tratamento do Diabetes
Mellitus e constitui-se, basicamente, em retirar ou diminuir o sal, o açúcar e a
gordura da alimentação. No entanto é imprescindível o uso de medicação e de
exercícios físicos, concomitantemente.
De acordo com PIEPER (1998),
“ A dieta é fundamental em todos os tipos
de diabetes. Muitas vezes é o principal
tratamento, como nos pacientes de
intolerância glicídica (tolerância diminuída
à glicose). Nestes casos quando a pessoa
ingere muitos carboidratos (massas,
biscoitos e até doces) os níveis de glicose
elevam. A dieta deve ser equilibrada e
oferecer todos os nutrientes, divididos em
5 ou 6 refeições por dia (balanceada), ela
deve conter:
Vegetais: verduras e legumes;
Proteínas: de boi, peixe, frango, leite e
seus derivados;
Carboidratos: arroz, batatas, pães e
biscoitos.
O diabético jamais deve fumar ou tomar
bebida alcóolica.” (Informativo Equipe D
em Ação)
Apesar de saber ser a dieta a parte mais essencial para o tratamento, o Sujeito
2 utiliza, também, da pratica de exercícios físicos como meio de minorar as
conseqüências da doença. Com relação a isso, disse:
“É...eu...a parte mais essencial é a alimentação. Seguida de outras partes
médicas que orienta a parte de exercícios.”
Conforme BARRETO (1997),
“A dieta e o exercício ainda são
insubstituíveis em seus objetivos diretos
de normalizar o peso e melhorar a
utilização
corporal
da
glicose,
aumentando o gasto metabólico. No
65
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
entanto, é impraticável que os exercícios
isoladamente contribuam eficientemente
para o controle da glicemia, já que seria
necessário ser realizado por longos
períodos e de modo intenso, na maioria
das vezes incompatíveis com o modo de
vida das pessoas mais velhas. Eles
devem objetivar exclusivamente um
programa de aumento da resistência e
recuperação trófica da musculatura.
Caminhadas diárias de uma hora e
ginástica para a terceira idade duas vezes
por semana devem fazer parte da rotina
de um diabético idoso”. (p. 68/69)
Por outro lado, desde a Antigüidade, a experiência humana acumulada mostra
que os exercícios físicos são essenciais para a manutenção do bem estar e da
saúde das pessoas. Os exercícios físicos não influenciam apenas no estado
físico do indivíduo, mas também são importantes para os aspectos mental e
social do mesmo. Os exercícios físicos oferecem vantagens para quase todas
as pessoas, sejam velhas ou jovens, sadias ou doentes, desde que feitos com
orientação médica. Para o diabético os exercícios físicos são mais do que um
simples diletantismo em busca do bem-estar e da beleza, pois ajudam a
controlar o seu diabetes e a prevenir suas complicações, fazendo parte
integrante do seu tratamento, junto com os medicamentos, a dieta e os demais
cuidados. A utilidade dos exercícios físicos para o portador do Diabetes Mellitus
se deve a vários fatores:
Incrementam a ação da insulina;
Tornam mais eficiente o trabalho do coração e dos pulmões;
Diminuem as gorduras do sangue;
Ajudam a manter ou diminuir o peso corporal.
Voltando ao item da dieta, que é considerada o ponto básico para o tratamento
do diabetes, constatamos que três sujeitos não fazem uso da mesma. Citamos
como exemplo, o Sujeito 4:
“ Olha eu não tenho nada anormal. Não viu? Eu trabalho e...e... evito muita
coisa viu? O que eu ganho é pra comer, porque prá que, não, né? Entendeu?
Agora quando me dá
vontade de tomar uma cervejinha, tomo um copo de
cerveja , não esqueço, não. Tomo uma pinga amarga, viu? Me deu vontade eu
66
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
faço, entendeu? Como um doce quando dá vontade eu faço, mas, não é
rotineira, não é normalmente, né?”
Ao
não
cumprir
a
dieta,
deixando,
por
conseguinte
de
seguir
as
recomendações médicas, talvez seja, também, uma forma encontrada pelo
sujeito para não pensar na doença, ou, então, pode ser uma espécie de fuga
frente aos sintomas e restrições causadas por esta enfermidade, que por ser
uma
doença
crônica,
exige
do
paciente
uma
maior
aderência
e
responsabilidade com o tratamento. Confirmando isso, BURISH e BRADLEY
(1982),
“expressam que a maioria dos pacientes
com doença crônica não seguem o regime
de tratamento recomendado, apesar de
estarem satisfeitos com a assistência de
saúde recebida. Semelhante afirmação foi
feita por MATHEUS e HINGSON (1977) e
FALEIROS (1982) quando constataram
uma relação inversa entre aderência ao
regime e a duração do tratamento.
Quanto maior o período de tratamento,
menor era a aderência” (In TRENTINI,
1990, p.55)
Conforme já relatamos acima, a não aderência de alguns sujeitos à dieta, vem
confirmar a pouca adesão do paciente diabético à terapêutica recomendada
para a doença. E, para que o tratamento seja bem sucedido, depende muito
mais do paciente do que do médico. O não cumprimento da dieta por parte do
indivíduo pode estar relacionado com
“As perdas, que, de acordo com SILVA
(1990), englobam as situações em que o
indivíduo deixou de desfrutar ou de
possuir algo que fazia parte de sua vida
antes de estar em condição crônica. As
perdas foram referidas em diferentes
aspectos do processo de viver dos
indivíduos entrevistados: perdas na
capacidade física, perdas financeiras, no
lazer, nos relacionamentos sociais, no
67
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
prazer de fumar, de beber ou de comer o
que gosta e perdas nas funções sexuais e
outras. Estas limitações representam uma
fonte de estresse para a maioria dos
pacientes.” ( In TRENTINI, 1992, p.80)
Ao perguntarmos sobre o que sentiam ao ver algum alimento que não podiam
comer, metade dos sujeitos respondeu que ao sentir vontade de comer,
comiam, mesmo sabendo que o alimento não recomendado poderia fazer mal.
“É engano seu, porque... dificuldade nenhuma que...quando eu num vejo nem
que vá lá biliscar, eu lá bilisco, né?” (S 1)
“Sinto vontade de comer... às vezes a gente vê, come um pedacinho,
uma biliscada...” (S 3)
“Agora eu sinto às vezes vontade de comer e como” (S 8)
Observemos a seguir, os gráficos e as tabelas referentes ao assunto:
P e rg u n ta 1 2 - O q u e v o c ê s e n te a o v e r
a lg u m a l im e n t o q u e v o c ê n ã o p o d e
c o m e r?
1
1
4
1
1
1
S e n te v o n ta d e d e c o m e r e c o m e
N ã o c o m e p o r t e r c o n s c iê n c i a d e q u e o a li m e n t o
v a i fa ze r m a l à sa ú d e
In d ife re n ç a
S e n te v o n ta d e d e c o m e r e n ã o c o m e
N ã o s e n te v o n ta d e d e c o m e r
À s v e z e s s a i d e p e r t o d o a li m e n t o p a r a n ã o c o m e r
68
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
N.º
O que você sente ao ver algum alimento que não pode comer?
Respostas
4
Responderam que sentem vontade de comer e comem
1
Respondeu que não come por ter consciência de que o alimento vai fazer mal à sua saúde
1
Considera com indiferença a presença do alimento não permitido, pois a educação informal
não lhe permite o abuso à mesa
1
Sente vontade de comer o alimento, mas não come
1
Não sente vontade de comer o alimento não permitido
1
Às vezes sai de perto do alimento para não comê-lo
Busca apoio na fé
Ev ita fazer alim ento que não pode com er
Sai de perto do alim ento
T em v ontade de com er e com e
Não sai de perto e não com e
T em consciência de que precisa m anter o controle
Com e em pequena quantidade
1
1
2
1
1
1
2
enfrentar esta situação?
Perg un ta 13 - O que v ocê faz para
N.º Respostas
2
O que você faz para enfrentar essa situação?
Responderam que limitam-se a comer pequena quantidade do alimento não
permitido
1
Respondeu que ao ver o alimento, resiste e não come
1
Respondeu que ao ter vontade de comer o alimento não permitido, come-o
2
Respondeu que saem de perto do alimento não permitido para não comê-lo
1
Respondeu que evita fazer esse tipo de alimento para não ser tentado à comê-lo
1
Respondeu que busca apoio na fé para resistir à vontade de comer
1
Respondeu que tem consciência de que precisa manter o controle da dieta
Segundo a literatura, de tudo, o que o diabético menos gosta de fazer é a dieta
e ele necessita aprender a gostar dela, porque, sem a mesma, é quase
impossível manter um bom controle do diabetes. Ela não precisa ser especial,
a não ser com determinada restrição à alguns alimentos, sendo tão equilibrada
e saudável que o seu uso seria adequado não só para os diabéticos, e sim,
para todas as pessoas.
69
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Para SASSO (1997),
“Algumas situações emocionais, como a
depressão, os desajustes sexuais, as
carências de afeto, as tensões, a
frustração e a ansiedade podem
representar a causa que leva uma pessoa
a comer demais, como que em busca do
consolo no alimento e, como é de se
esperar, cria-se com isto um processo
evolutivo onde o excesso do peso piora o
estado emocional, gerando um círculo
vicioso.” (p.30)
Conforme SASSO (1997), muitas pessoas transferem seus problemas para o
próprio organismo, adquirindo ou agravando várias doenças, dentre as quais,
gastrite e o diabetes mellitus, respectivamente. “Esta transferência para a
comida dos problemas emocionais é sempre observada em situações de
dificuldade ou conflito, como crises no trabalho, na família e no convívio social.
(p.30). E ainda de acordo com SASSO (1997), “quando a fome é emocional,
são os corações que necessitam de nutrição e não os corpos. É preciso estar
ciente que por mais que se coma, esta comida não estará satisfazendo a fome
emocional, é apenas uma ilusão acreditar que a comida vá suprir nossas
carências emocionais”(p. 31)
Os sujeitos de nossa pesquisa são afetados duplamente no seu emocional.
Além de serem pessoas pertencentes à faixa etária situada entre 50 e 70 anos,
limiar que marca a chamada 3ª
idade, são atingidos pela complexidade
proveniente de uma doença crônica que requer uma mudança radical de
hábitos adquiridos desde a infância. Segundo SASSO (1997), o vício de comer
é proveniente do hábito de comer compulsivamente, e, muitas vezes, o
comedor
compulsivo usa o alimento como ponto de apoio para os seus
problemas, que são, na maioria das vezes, de origem psicológica, e, não para
saciar a fome. E, ainda conforme SASSO (1997),
“Comer compulsivamente é sintoma de
algum problema e não o problema em si.
Além do mais, o tempo gasto pelo vício do
comer deixa menos tempo para analisar
os problemas que ocasionam ansiedade e
tensão, não sanando a causa desta
70
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
ansiedade e gerando problemas sem
solução. Além dos fatores psicológicos há
também fatores químicos na gênese do
comer compulsivamente, como a cafeína,
o chocolate, o açúcar, dentre outros.”
(p.33)
A indústria dos alimentos utiliza, muitas vezes da mídia, num processo
ideológico de convencimento do indivíduo ao consumismo, com o objetivo de
aumentar o seu capital pelo lucro obtido através do consumidor. Um dos
veículos mais utilizados pela mídia tem sido a televisão, talvez pela sua
facilidade de comunicação e poder de persuasão nas atitudes dos indivíduos.
De acordo com SCHIAVO (1995),
“A TV apresenta ao telespectador
estereótipos do que é bom e belo, e do
que é ruim e feio, representa uma imagem
de como a vida é, e implicitamente, de
como a vida deva ser para os indivíduos.
Ao representar esses estereótipos, a
mídia intrusiva passa a ser a própria
droga, um elemento de alienação e torpor
social,
aprisionando
importantes
seguimentos da população numa cadeia
de dependência, tornando assim, os
indivíduos incapazes de terem suas
próprias opiniões, de decidirem por si só.”
(In BAIÔCO, p.9)
Analisando por essa conjuntura, o indivíduo diabético e idoso, duplamente
fragilizado no seu emocional, torna-se vulnerável aos constantes bombardeios
de consumo impostos pela mídia, quer no que se relaciona ao alimento, como
também, no que se relaciona ao consumo de bebidas alcóolicas e ao fumo, tão
prejudiciais à sua saúde.
No decorrer de nossa pesquisa, observamos que apenas um sujeito não come
o alimento não recomendado para sua dieta, por ter consciência de que, ao
ingerir esse alimento, o mesmo irá fazer mal à sua saúde.
“Ah! Isso aí depende da consciência, que não interessa fazer alimentação de
um determinado produto e não fazer bem à saúde. Conseqüência que vai
trazer é desconforto...” (S 2)
71
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Vale ressaltar que esse sujeito possui escolaridade de nível médio e que
participa ativamente das reuniões e das palestras da ACAD, o que vem reforçar
o conceito de que Educação para o Diabetes é de grande importância na
mudança de comportamento do indivíduo frente ao enfrentamento da doença.
Em sua obra literária, OLIVEIRA (1992), afirma que não só a educação é
importante para o diabético, mas, também a conscientização do mesmo para o
enfrentamento da doença.
Vejamos:
“ A educação é uma das mais importantes
formas de tratamento para o diabético,
mas a educação é meio: o fim é a
modificação do comportamento do
paciente, bem como a aquisição de uma
atitude positiva em relação ao diabetes. O
médico, no curto período do atendimento,
quer ambulatorial, quer de consultório,
não consegue transmitir todos os seus
conhecimentos nem tirar todas as
ansiedades.
Ainda
mais,
se
considerarmos que no decorrer da
consulta há os momentos de o médico
refletir, ponderar, avaliar, de aprender,
enfim. Muitas vezes dizemos coisas
importantes, e o paciente e seus
familiares não estão nem aí, não prestam
a mínima atenção. Por isso, em
programas educacionais para pacientes,
há necessidade de repetir e aferir o que
foi aprendido, e complementar conforme
os resultados práticos.” (p.22)
Apesar de muitos diabéticos possuírem hábitos alimentares inadequados,
como por exemplo, alimentação em excesso, um sujeito demonstrou
indiferença ao ver o alimento.
Vejamos:
“...Prá mim é uma coisa natural. Pode ser na minha casa, na casa dos outros.
Primeiramente eu nunca fui de comer muito. Eu sempre comi no limite,
entendeu? Então o que eu posso comer hoje e o que eu não posso, prá
mim é a mesma coisa.” (S4)
72
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
A atitude desse sujeito pareceu-nos estar baseada, provavelmente, na
educação convencional recebida no seu curso de vida. A Educação para o
Diabetes,
talvez encontre reforço na educação informal, que prima pelos
chamados bons princípios. O indivíduo ao ser comedido no seu procedimento
frente à sociedade, evita proceder de maneira a compensar suas ansiedades
na gula, mantendo um comportamento mais reservado perante os hábitos
alimentares. A educação convencional, aliada à educação para o diabetes,
talvez seja o reforço utilizado como estratégia de enfrentamento por mais dois
sujeitos. Um deles, sente vontade de comer o alimento mas resiste e não
come, e, o outro, mesmo tendo proximidade do alimento não permitido na sua
dieta, evita comer.
Observemos:
“Ah! Fico aguando de vontade de comer mas... tenho que resistir, né?” (S 6)
“Eu já acostumei. Então eu faço bolo, eu faço doce... as coisas Prá eles aí
dentro de casa... e não sinto vontade de comer aquilo, não”. (S 7)
Outra espécie de enfrentamento que observamos em um dos sujeitos,
entendemos ser o que denominamos, também, em nosso trabalho, de fuga,
pois o sujeito para resistir à vontade de comer, sai de perto do alimento, o que
pode ser observado no depoimento do mesmo:
“Já aconteceu. Me deu uma vontade danada de comer... e se não posso em
hipótese nenhuma nem pensar... então tenho que sair fora, que senão...” (S 8)
Observamos nesse sujeito que paralelamente à tentativa de fuga da presença
do alimento proibido, existe, também presente, uma firme vontade de se
construir, fazendo-se não consumidor desse alimento, tornando-se, dessa
forma, um indivíduo cumpridor das recomendações relacionadas com a
doença, assumindo, assim, a sua identidade de diabético.
De acordo com OLIVEIRA (1995), constatamos que:
“Sob o ponto de vista psicossocial,
podemos dizer que ao atribuir uma
identidade a um indivíduo, isto é, ao se
categorizar um indivíduo e lhe conferir
73
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
atributos de valor, a relação interpessoal
se estabelece com base em suposições a
respeito do indivíduo. Passa-se a tratá-lo
como se ele fosse aquilo que se supõe:
seus comportamentos passam a ser
decodificados como reafirmações de
suposta identidade que lhe foi, a priori,
atribuída. Por sua vez, o indivíduo passa
a se comportar de acordo com as
expectativas que os outros tem dele e
com suas próprias expectativas, as quais
são influenciadas pelas dos outros.” (p.22)
Já o sujeito 6, utiliza como estratégia de enfrentamento da doença, evitar fazer
o alimento que não pode comer:
Vejamos:
“Às vezes não faço Prá eles não comer Prá mim também não comer... é assim
que eu faço.”
Identificamos no depoimento desse sujeito, uma presença maior da estratégia
de fuga do alimento proibido, numa assimilação popular de:
O que os olhos não vêem, o coração não sente.
Segundo ROLLO MAY (1980), fugir à própria ansiedade ou racionalizar a fuga
enfraquece a pessoa. Ao deixar de preparar o alimento proibido para não sofrer
a tentação de consumi-lo, não proporciona ao sujeito estratégia que o capacite
para enfrentamento das limitações que a doença provoca e sim, um
afastamento temporário do perigo iminente que, se próximo, faria do indivíduo
presa fácil de consumo do mesmo.
Dentre os sujeitos que apoiavam-se na fé como estratégia para enfrentamento
das limitações próprias da doença, destacamos o seguinte depoimento:
“É muita força que Deus me dá. Muita força, mesmo. Se a gente for pensar um
pouquinho, sem ter força de Deus, a gente não consegue, não. É ter muita
força mesmo, que Deus dá à gente... Pedir muita força.” (S 7)
Ao observarmos a resposta desse sujeito, devemos lembrar que nossa
pesquisa é inerente ao sujeito da faixa etária entre 50 e 70 anos e que
74
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
algumas pesquisas apontam para a relação de aproximação existente entre
velhice e religião. Os sujeitos de nossa pesquisa possuem como estressor
além da idade, a doença crônica, necessitando de reforço psicológico que
diminua os fatores estressores da sobrecarga advinda com o rigor próprio da
terapêutica da doença, e, muitas vezes, a religião pode oferecer esse reforço
psicológico de que tanto necessitam para o enfrentamento das conseqüências
decorrentes da enfermidade.
Para analisarmos com mais profundidade as estratégias de enfrentamento ou
fuga do sujeito frente à doença, utilizamos a pergunta 15:
Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente?
Observemos o gráfico e a tabela correspondente a essa pergunta:
Pergunta 15 - Você se considera uma
pessoa com saúde ou uma pessoa
doente?
100%
Com saúde
N.º
Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente?
Sujeitos
8
Todos
sujeitos
Com saúde
afirmaram
considerarem-se
com
saúde.
No
entanto,
observamos que um dos sujeitos relacionou a saúde à juventude,
demonstrando considerar que a pessoa jovem tem maior resistência para o
enfrentamento da doença:
“Ah!... Eu tenho espírito de um jovem, só vontade de viver e querer progredir e
não ter dificuldade financeira.” (S 1)
75
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Outro sujeito, apesar de considerar-se com saúde, admitiu que a doença
provocava restrições na sua vida, mas que essas restrições não atrapalhavam
o enfrentamento da mesma. Vejamos:
“Eu me considero com saúde porque o diabetes em si tem algumas restrições
mas na maioria da parte da vida é normal.” (S 2)
Alguns sujeitos admitiram ter saúde ao compararem-se com outras pessoas
com doenças consideradas por eles como mais sérias que o diabetes,
conformando-se com o seu cotidiano, ao responderem, por exemplo:
“Com saúde. Que olhando para trás, você vê gente pior do que a gente,
entendeu?
Então... por isso, eu me considero... uma pessoa...normal, sabe?
Não me considero doente. E procuro sempre assim, né? A enfrentar o dia-a-dia
da vida da gente porque a vida é isso mesmo, né?” (S 5)
De acordo com LANE (1981)
“A reflexão sobre a própria existência está
vinculada à existência do outro, uma vez
que, eu só sou na relação com o outro no
mundo. O viver em grupos permite o
confronto entre as pessoas e cada um vai
construindo o seu ‘eu’ neste processo de
interação, através da constatação de
diferenças e semelhanças entre nós e os
outros.” (In OLIVEIRA, 1995)
Muitas vezes na tentativa de reforçar a nossa auto-estima e a nossa autoimagem, supervalorizamos os nossos aspectos positivos e superinferiorizamos
os aspectos negativos do outro. Assim, o sujeito diabético no esforço de
mostrar-se saudável, compara-se com outros indivíduos com doenças mais
graves do que o Diabetes Mellitus. Observemos:
“ Ah! Sim... Não, eu não posso considerar eu ser uma pessoa doente. Uma
pessoa doente é quando ela não agüenta fazer nada, né? Se joga em cima de
uma cama e não faz nada... Eu, Graças a Deus, eu dou a volta por cima. Faço
tudo que... quando eu estou agüentando, eu estou fazendo as coisas. Estou
sentindo dor, estou continuando fazer as coisas. Eu não paro, não. Não paro
de jeito nenhum. Então tudo eu dou a volta por cima e vou em frente, enquanto
eu estiver agüentando” ( S 7)
76
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Apesar
do
diabetes
ser
uma
doença
crônica
que
necessita
de
acompanhamento constante do médico e de terapêutica rigorosa que embute a
dieta, os exercícios físicos e medicação adequada e, de metade dos sujeitos
admitirem cumprir com a dieta prescrita, nota-se que a estratégia de fuga para
o enfrentamento da doença é utilizada por quase todos, mormente quando a
totalidade dos sujeitos admitiu serem pessoas saudáveis, comparando-se com
indivíduos possuidores de enfermidades mais graves. Outra faceta da
estratégia de fuga, constatada com freqüência é quando o indivíduo foge da
presença do alimento na tentativa de manter a dieta, tantas vezes prejudicada
pelo meio sócio-econômico em que vive, ou dificultada pela ideologia do bom e
do belo repassada através da
mídia. Outrossim, constatamos que muitos
sujeitos utilizam da fé como reforço psicológico para enfrentar os elementos
estressores conseqüentes das limitações provenientes da doença.
77
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.1.2: Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença
Na atual conjuntura mundial, onde o capital reina absoluto e a mais-valia é
cada vez mais usurpada do indivíduo, o mesmo sente pesar sobre sua
identidade uma cobrança constante de produção da sua energia, quer física,
quer mental.
Para Salgado (1990), “A perda da juventude é um dos principais estigmas com
que se avalia a velhice. Na atualidade, é comum uma grande valorização da
juventude, sempre tomada como sinônimo de força, competência e
produtividade.” (p.158)
Isso nos faz pensar que ao atingir a 3ª idade, o indivíduo vê, quase sempre,
ameaçada a sua cidadania, tornando-se alvo de discriminação econômica e
social. Por outro lado, sabemos que o Diabetes Mellitus Tipo 2 é uma doença
que ocorre com maior freqüência após os 45 anos de idade, e, quando esse
diagnóstico é feito, muitas vezes o indivíduo já é possuidor da doença há pelo
menos 10 anos, o que pode provocar maior incidência de complicações
crônicas. São essas complicações crônicas que mais preocupam os diabéticos,
pois podem provocar conseqüências capazes de bani-los do cotidiano de uma
sociedade capitalista, porque ser doente no mundo do capital é ser
considerado incapacitado para o trabalho, sendo motivo de marginalização e
desemprego, o que torna mais justificável a preocupação dos sujeitos com
relação às conseqüências provenientes da doença.
E, apesar da maioria dos sujeitos não considerarem a idade como agravante
influenciável na sua vivência com o diabetes, sabemos que, quando o indivíduo
não trata adequadamente a sua saúde, torna-se mais vulnerável às
conseqüências provenientes da doença, em decorrência do avanço de sua
idade. Por esse motivo, cabe ao indivíduo portador de diabetes, prover sua vida
de hábitos saudáveis para evitar quaisquer distúrbios maiores. Para isso, é
necessário que o sujeito reforce a sua auto-estima, conscientizando-se que é
merecedor de uma vida plena no exercício de suas funções vitais, sejam elas
relacionadas com o trabalho ou na sua vida em sociedade, bem como em sua
vida íntima, em total sintonia com a sua sexualidade.
78
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Para confirmar o que constatamos sobre as preocupações do sujeito diabético
com relação à doença, utilizamos as seguintes perguntas:
Quais as preocupações que o diabetes lhe traz?
O que você faz quando o seu diabetes está descontrolado?
O que você considera que prejudica o controle do seu diabetes?
O diabetes mudou a sua vida sexual?
Vejamos o gráfico e a tabela correspondente: à pergunta n.º 4
Pergunta 4 - Quais as preocupações que
o diabetes lhe trás?
12,50%
37,50%
50%
Medo de ficar deficiente, de sofrer as
consequências das doenças
Medo de ter a vida limitada, controlada e com
dieta
Preocupação com o atendimento médico
N.º
Quais as preocupações que o diabetes lhe trás?
Sujeitos
4
Responderam que tem medo de ficar deficiente, de sofrer as
conseqüências decorrentes da doença
3
Acham ruim a vida limitada, controlada e com obrigatoriedade de
dieta
1
Tem preocupação com a falta de atendimento médico
79
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
A seguir, vejamos o gráfico e a tabela referentes à pergunta N.º 5:
O que você faz quando o seu Diabetes fica descontrolado?
Pergunta 5 - O que você faz quando seu
diabetes está descontrolado?
1
1
4
2
3
Faz dieta
Procura médico/usa medicamentos
Controla o sistema nervoso
Faz oração
Nunca descontrolou
O que você faz quando o seu diabetes está descontrolado?
N.º
Respostas
4
Responderam que fazem a dieta recomendada pelos médicos
3
Responderam que procuram o médico e usam medicamentos
2
Responderam que controlam o sistema nervoso
1
Respondeu que faz oração
1
Respondeu que nunca descontrolou o diabetes
80
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
E, os gráficos e tabelas referentes às perguntas n.º 6 e n.º 7:
Pergunta 6 - O que você considera que
prejudica o controle do seu diabetes?
3
5
1
1
Não manter a dieta
Atual conjuntura do país
Desconhece o que descontrola o seu diabetes
porque isso nunca ocorreu
Alteração do sistema nervoso
N.º
O que você considera que prejudica o controle do seu
Respostas
diabetes?
5
Respondera que consideram prejudicial não manter a
dieta
1
Respondeu que considera prejudicial ao diabético a atual
conjuntura política do país
1
Respondeu que desconhece o que descontrola seu
diabetes porque isso nunca ocorreu
3
Responderam que consideram prejudicial a alteração do
sistema nervoso
81
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Pergunta 7 - O diabetes mudou sua vida
sexual?
12,50%
50,00%
37,50%
Mudou
Não
Não pratica sexo
N.º
O diabetes mudou sua vida sexual?
Sujeitos
4
Responderam que mudou
3
Disseram que não mudou
1
Respondeu que não pratica sexo
Continuando o relato da nossa pesquisa, confirmamos através das respostas
obtidas, que metade dos sujeitos sentia medo perante o sofrimento provocado
pelas conseqüências da doença, tais como a cegueira e a perda de membros
inferiores. Vejamos alguns desses depoimentos:
“Medo de ficar cego ou aleijado, como já vi vizinhos meus cortarem as duas
pernas.” (S 1)
“É o que eu já falei, né, anteriormente. É de ficar sofrendo...” (S 5)
“A única preocupação é quando cai a taxa, ou, então, um ferimento. É isso que
temos que ter muito cuidado mesmo é com a parte dentária, né?” (S 8)
De fato, a literatura médica refere-se ao diabetes como uma das principais
doenças que podem afetar a visão, levando o indivíduo à cegueira, na maioria
82
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
das vezes irreversível. Por outro lado, o alto nível de açúcar no sangue pode
afetar os nervos dos pés, provocando problemas de circulação do sangue,
causando até mesmo a necessidade de amputações. Além do mais, a
neuropatia pode provocar a perda da sensibilidade dos pés, de forma que o
sujeito diabético pode deixar de sentir, até mesmo, a temperatura de uma água
fervente ou a sensação de um machucado provocado por um calçado. Se
ocorrer uma lesão, ou, um ferimento qualquer nos pés do diabético, e se não
for curado imediatamente, pode causar infecção, que, se agravada pode
provocar gangrena e, consequentemente, a amputação do membro afetado.
Todo esse quadro clínico é agravado nos sujeitos de nossa pesquisa, devido
ao fator idade, pois o indivíduo a partir da 3ª idade torna-se mais vulnerável à
outras doenças que venham a agravar o quadro clínico próprio do diabetes, tais
como a osteosporose, as doenças provocadas pela carência de vitaminas
(como a vitamina A que é necessária para a visão e a C que tem sua função
preventiva nas infecções), além da natural dificuldade de locomoção que torna
a pessoa idosa mais propícia à quedas que podem provocar fraturas e
ferimentos. Ao mesmo tempo, o indivíduo idoso é mais propício a ser atingido
pela depressão, o que é agravado no diabético, devido ao medo da ameaça de
ser atingido em sua integridade corpórea, tornando-se um deficiente físico, por
ser vulnerável às conseqüências da doença.
As limitações que a doença provoca na vida dos diabéticos são motivos de
preocupações para eles, porque além de não poderem praticar esportes
livremente, têm a obrigatoriedade de fazerem uma dieta restrita, sem, no
entanto, permitirem-se alterar o seu sistema nervoso. Vejamos:
“... a gente fica com a vida um pouquinho limitada, né? Por exemplo, a gente
não pode praticar muito esporte... Mas nós temos outras partes da vida, que é
uma vida normal.” (S 2)
“O diabetes me trás preocupações porque a gente tem que viver muito
controlado, né? Controlar na alimentação... controlar no nervosismo, né?
Porque com o nervosismo, se a gente não tiver controlado, a diabete só tem
tendência a subir, né?” (S 7)
83
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
É natural que essa vulnerabilidade decorrente da doença, provoque no
diabético preocupações pela falta de atendimento médico. Observemos o
depoimento do Sujeito 6:
“A preocupação que eu tenho é porque eu tinha um plano de saúde e agora
não tenho mais, né? É a dificuldade que eu tenho. Ir procurar médico, que um
dia está de greve, outro dia, não.”
De acordo com LAURELL (1983),
“Desde o final dos anos sessenta,
intensificou-se a polêmica sobre o caráter
da doença. Discute-se se a doença é
essencialmente biológica ou, ao contrário,
social. (...) O auge desta polêmica, (...)
encontra explicação fora da medicina, na
crescente crise política e social que
acompanha a crise econômica e com ela
se entrelaça.” (p. 135)
O exercício da medicina, enquanto mercadoria do mundo do capital, está
interrelacionado com a problemática econômica e política da sociedade,
enquanto sociedade produtora e consumidora dessa mercadoria.
E esse fato, na atual conjuntura capitalista, onde predomina a ética protestante,
uma das bases do neo-liberalismo, procura-se atender ao doente de modo a
não sofrer prejuízos, porquanto o lucro é o que movimenta a economia e, como
tal, deve atestar a sua existência.
É bastante conhecido o modo como funcionam os planos de saúde no Brasil.
Há quem os considere uma verdadeira máfia. No entanto, há de se convir: ruim
com eles, pior sem eles.
No entanto, sabemos ser um preceito constitucional de que a saúde é um
direito do cidadão e um dever do Estado, com garantia de acesso universal e
igualitário para todos. (art. 196 CF)
Por outro lado, à título de democracia, as greves ocorrem com freqüência tal,
que os cidadãos, no exercício de suas cidadanias, quer como pacientes
necessitando de médico, quer como médicos requisitando melhores salários,
tornam-se, ambos, vítimas da conjuntura político-social de governos que tem
84
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
como norma de execução da economia, apenas o corte de gastos
considerados, sejam quais forem, como supérfluos. É aí que observamos o
quanto a saúde está decadente. O que resta para o pobre, que nada mais é do
que a classe trabalhadora que sustenta a mão de obra do país: de um lado,
planos de saúde caríssimos e do outro, postos de saúde fechados com
médicos em greve.
A falta de um atendimento permanente pelos profissionais da saúde, torna-se
em grande preocupação para o diabético, que necessita de acompanhamento
médico constante.
Devido a essa conjuntura, perguntamos quais providências tomavam quando
ocorria descontrole do diabetes. Metade dos sujeitos admitiu realizar o controle
através da dieta específica para o diabetes. Vejamos os depoimentos dos
Sujeitos 1 e 2:
“Aí eu paro a minha boca, né? Paro a boca e sempre usando os remédios que
os médicos passam, também.” ( S 1)
“ No meu caso, o diabetes provoca mais a hipoglicemia que a hiperglicemia.
Porque a hiperglicemia eu controlo pela dieta alimentar. Já para controlar a
hipoglicemia, a primeira providência é alimentar-se nos horários certos, afim de
evitar problemas. Mas como sempre pode haver um imprevisto, tenho sempre
comigo uma bala, caso o nível de glicose caia muito e examino a taxa de
glicose do sangue diariamente para controlá-la.” (S 2)
Mesmo já tendo mencionado no início dessa pesquisa, vale ressaltar, aqui,
mais uma vez, devido a grande importância do fato, que, apesar de parecer
contraditório, o indivíduo diabético deve sempre ter consigo um suprimento de
alimentos contendo açúcar : passas de uva, torrões de açúcar, chocolate,
balas, etc. Isso pode, às vezes, salvar a vida do diabético, quando o nível de
açúcar no sangue for demasiadamente baixo. Os sintomas de baixo nível de
açúcar no sangue são: tremor, tontura, irritabilidade, fome, sonolência,
sudorese e cansaço. Se o indivíduo diabético, apresentar alguns desses
sintomas, é necessário comer ou beber imediatamente algum alimento doce.
No entanto, o indivíduo deve buscar orientação médica o mais rápido possível.
85
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Isso é o que ocorre com três sujeitos que procuram o médico, quando há
descontrole no seu diabetes, seguindo a orientação dada pelo mesmo.
Vejamos alguns desses depoimentos:
“Aí eu vou ao médico. Procuro a Dra. Sheila e o Dr. Carlos, lá em Jardim
Camburi e a Dra. Rosana.” (S 3)
“Bom. Eu procuro o médico e faço exame de sangue, né? Prá mim ir
caminhando como eles mandam, né? (S 4)
Infelizmente os planos de saúde são privilégio de uma minoria. No entanto,
encontramos na Grande Vitória, Postos de Saúde capacitados para o
atendimento ao diabético, o que vem melhorar bastante a qualidade de vida do
doente que possui dificuldades financeiras.
Outra estratégia utilizada por dois sujeitos afim de evitar as reações
características provocadas pelo diabetes, é o controle do sistema nervoso.
Vejamos o depoimento do Sujeito 7:
“Aí eu procuro mais me controlar, porque o meu mesmo sobe porque eu sou
muito tensa, sabe? Sou muito nervosa, por dentro de mim, eu fico corroendo as
coisas que me preocupam.”
É do nosso conhecimento que o sistema nervoso alterado prejudica todo o
metabolismo de um indivíduo. No caso do diabético provoca toda uma
disfunção glicêmica prejudicial ao doente. É, também, devido a isso que são
recomendados os exercícios físicos paralelamente à dieta alimentar.
O lazer também é de grande utilidade para o enfrentamento da doença, pois
através dele o indivíduo descontrai-se, amenizando as reações de um sistema
nervoso alterado.
Observamos, no entanto, que alguns sujeitos usam da fé, através da oração,
para a normalização do diabetes descontrolado, como o Sujeito 8 que pede ao
pastor para orar:
“... Peço oração, eu peço, o pastor ora... aí... fico calma, bem tranqüila...”
86
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Constatamos por esse depoimento que o comportamento religioso da oração
proporciona ao sujeito um reforço psico-social capaz de, através da fé, obter
senão a cura de seus males, ao menos um alívio, devido, talvez, à calma
trazida pelo recolhimento interior necessário à realização da prece.
Ainda com relação às preocupações próprias do sujeito, no que se refere à
doença, constatamos que cinco consideraram que a não manutenção da dieta
é o que mais prejudica o controle do diabetes. Vejamos alguns desses
depoimentos:
“É comer fora do normal ou aquilo que é proibido comer, eu comer.” ( S 1)
“O descontrole aparece quando eu como muito. (...) Ou às vezes aqui em
casa tem doces. Eu vou comendo doces, pudim, docinho de coco.” ( S 3)
“Ah! Só quando como alguma coisa que não posso comer, aí isso me
prejudica” (S 6)
Através desses depoimentos, nota-se que já é assimilado por mais da metade
dos sujeitos, a necessidade de uma alimentação mais saudável para diminuir
as complicações decorrentes da disfunção do organismo nutrido por uma
alimentação inadequada.
Um dos sujeitos considerou ser a atual conjuntura política do país uma das
causas que provocam alterações no seu diabetes. Para ele, a situação políticoeconômica que ocorre na sociedade atualmente, traz modificações na vida do
indivíduo, capazes de conseqüências indesejáveis. Sendo o diabético
vulnerável às alterações no seu metabolismo, a preocupação decorrente da
instabilidade política do momento, ocasiona maiores oscilações na saúde do
indivíduo doente:
“ Isso aí é realmente a vida que a gente vive no país, né? Vive-se cheio de
alterações e o diabético, é uma pessoa... que... é uma doença que...não pode
trazer preocupações e com isso, há muitas oscilações na própria saúde que
atinge essas pessoas.” ( S 2)
Buscando, ainda, analisar sobre as alterações provocadas no controle do
diabetes, comparamos a resposta dada pelo Sujeito 7 com a do Sujeito 8 e
87
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
percebemos que ambos consideram o sistema nervoso tão prejudicial quanto a
alimentação inadequada para o controle da doença:
“Eu considero? É mesmo o nervosismo. Que é o que mais me prejudica é o
nervosismo.” (S 7)
“ É mais ou menos quando eu... a gente faz uma artezinha, né. Escapole
alguma coisa, faz uma artezinha... aí ... descontrola... Então, aborrecimento. O
principal que é o aborrecimento, esse que é o principal, é o aborrecimento,
como já surgiu, né? Aborrecimento, descontrolou...aí...bastou, comecei a me
sentir mal.” (S 8)
Finalmente perguntamos aos sujeitos se o diabetes havia mudado a vida
sexual deles. Metade dos sujeitos admitiu que sim, que o diabetes havia
mudado a sua vida sexual; três sujeitos responderam que não houve nenhuma
mudança provocada pelo diabetes na vida sexual deles; e, um sujeito
respondeu que não praticava sexo.
O diabetes pode afetar o tecido nervoso do indivíduo, produzindo alterações
como a impotência no homem, além de problemas nas funções da bexiga e do
intestino. Mas, seguindo corretamente o tratamento, o diabético não precisa
temer eventuais ocorrências. É lógico que os sujeitos podem até sentir, sobre
os ombros, o peso dos tabus relacionados com a sexualidade na velhice. No
entanto, com os avanços da ciência, dia após dia, o ser humano vem
adquirindo uma maior longevidade. O surgimento de novos medicamentos,
como o Viagra, e, a utilização de novas estratégias de tratamentos médicos,
vêm revolucionar o conceito popular tido até então, sobre a sexualidade na
velhice.
Para LOPES e MAIA (1993),
“A
longevidade
é
um
aspecto
relativamente novo na história da
humanidade e ainda desconhecemos
muito sobre a dinâmica entre a pessoa
idosa e o seu meio ambiente, em
particular no que diz respeito às questões
relativas à sexualidade. Em geral, o jovem
se propõe a ajudar o idoso e, além de ter
dificuldades para entrar no referencial do
88
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
velho, é portador dos preconceitos sociais
e sexuais da nossa cultura. É natural,
portanto, que, ao lidar com o sexo na
velhice, sejamos capazes de assimilar,
entender e responder às pessoas dessa
faixa etária. (p. 14)
Alguns teóricos consideram que o processo de envelhecimento fisiológico tem
inicio no nascimento do embrião e, quando houver conscientização de que é
um fato irreversível para a humanidade, a velhice será considerada como fase
natural do ‘devir’ de cada um e de todos.
Dentre os sujeitos da nossa pesquisa, apenas três demonstraram capacidade
de enfrentamento da doença com relação à sua sexualidade.
De acordo com RIBEIRO (1995):
“Nossa sexualidade é modulada por
fatores diversos: hormonais, sociais e
culturais e é algo extremamente pessoal.
Cada um vivencia a sexualidade à sua
maneira e o passar dos anos não altera
drasticamente
a
maneira
como
intimamente lidamos com ela. Quem é
muito ligado no assunto estará sempre
ligado.”
Ao mesmo tempo que RIBEIRO (1995) considera
não ser a idade o fator
básico de diminuição na sexualidade do indivíduo, a opinião de COMFORT
(1979), vem corroborar a afirmação de RIBEIRO, ao atestar que
“Na ausência de dois fatores nocivos –
doenças
e
o
preconceito
da
assexualidade senil – o impulso e a
capacidade
sexuais
permanecem
inalterados durante toda a existência do
ser humano. Mesmo nos casos em que o
relacionamento carnal é prejudicado por
más condições físicas, ainda permanecem
outros impulsos, como o desejo de
contato, a sensualidade e a necessidade
de reconhecimento das virtudes tanto
varonis como feminis.” (p.202)
89
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Uma grande parcela dos indivíduos, principalmente nos países do Terceiro
Mundo, tem embutida na sua concepção de velhice, conceitos discriminatórios
que nada tem a ver com a realidade do idoso. Segundo SALGADO, (1992), é
costume da sociedade ressaltar apenas as perdas no velho e nunca enaltecer
as
conquistas,
sobretudo
as
de
ordem
psico-emocional
e
cultural,
características da maturidade adquiridas através da história de vida do
indivíduo. No entanto, uma nova concepção de velhice surge na atualidade,
desmistificando todo conceito tido até então a respeito do idoso. Estudiosos do
assunto, como LOPES e MAIA (1994), vem oferecer, através a literatura, a sua
contribuição para uma nova visão da realidade do idoso: “Não há por que
temer a idade como fator de diminuição do prazer sexual. A idade não
dessexualiza o indivíduo, a sociedade sim.”(p.15)
O que constatamos, através dos depoimentos dos sujeitos, é que apesar das
preocupações próprias decorrentes da doença, se houvesse uma maior
divulgação à respeito da necessidade do uso de uma dieta adequada ao
diabetes, acompanhada de exercícios físicos específicos, eles poderiam ter
uma vida melhor e mais proveitosa de modo a satisfazê-los na suas vivências
cotidianas com a doença, bem como a auxiliá-los na busca de soluções de
ocorrências que pudessem vir a afetar as peculiaridades emocionais de cada
um.
90
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.2 ESTRATÉGIAS DE APOIO NO COTIDIANO DO SUJEITO
5 .2.1. APOIO DOS FAMILIARES
Há momentos em que a gente só precisa de uma luz que penetre em
nossa escuridão e ilumine o nosso caminho;
Há momentos em que a alegria silencia dentro de nós, e a gente só
precisa de uma canção que acaricie a nossa voz e os nossos lábios e
nos anime;
Há momentos em que a gente só precisa de uma palavra que toque o
nosso coração, e, qual mão generosa, nos conduza ao longo do dia;
Há momentos em que a gente precisa de você.
(autor ignorado)
91
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.2: Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito
Ao analisarmos as estratégias de enfrentamento no cotidiano do sujeito,
elaboramos perguntas que pudessem detectar se o mesmo recebia ou não
apoio em sua vivência no contexto familiar e religioso, bem como, durante os
seus momentos de lazer que pudesse lhe dar suporte no enfrentamento da
doença. Segundo TRENTINI
e SILVA (1992), o cotidiano das pessoas é
repleto de experiências estressantes e entre os estressores mais temidos está
a doença. O recebimento do diagnóstico médico, é sempre motivo de grande
ansiedade, de medo, de incerteza e de insegurança pois o indivíduo vê
ameaçados os seus planos de futuro. No caso da doença crônica, condição já
estressante por si mesma, vem, na maioria das vezes, acompanhada de outros
estressores, dentre os quais o regime alimentar, o tratamento, mudanças
ocorridas no estilo de vida, perda de energia física do paciente e mudanças na
aparência pessoal do indivíduo. De acordo com TRENTINI E SILVA (1992),
“Todo esse processo de enfrentamento
ocorre sob influência da visão de mundo
herdada na experiência de vida dos
envolvidos. Cada indivíduo tem sua
experiência e história de vida única e
cada um carrega consigo um conjunto de
valores, crenças e predisposições. Deste
modo, cada um avaliará a situação de
maneira própria.” (p.85)
Para enfrentar esses estressores, o sujeito diabético necessita do apoio da sua
família.
92
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.2.1 Apoio dos Familiares
Para FRANKEL & KOMBLIT ( 1989), “família é um grupo de pessoas que
convivem na mesma residência, parentes ou não e que desempenham funções
econômicas, sociais, biológicas e/ou reprodutivas.” (In BICUDO, 1997).
Segundo FIGUEROA et all (1993), as reações da família ante a presença da
doença dependem de vários fatores: do tipo de família, da cultura e da
educação de cada membro e das atitudes dos parentes acerca da dor, da
invalidez, dos regimens terapêuticos de uma enfermidade como o diabetes,
podendo influenciar no estabelecimento da reação do paciente perante os
sintomas ou complicações da doença. Um indivíduo com diabetes se encontra
todos os dias frente às suas próprias necessidades, precisando, quase sempre,
da sua família para auxiliá-lo a solucionar seus problemas de saúde. A maneira
como a família procede, influirá positiva ou negativamente sobre sua conduta
terapêutica e portanto, no controle do seu diabetes. (tradução nossa)
Nesta pesquisa, observamos que 6 sujeitos recebem apoio dos familiares
através de várias atitudes dos mesmos: visitas, atenção à pessoa, alimentação
e aconselhamento sobre o comportamento perante a doença.
São demonstrações de:
Carinho: “Ah! Meus filhos vem aqui me visitar e mais é a ‘coroa’ aqui, que ela
tem muito cuidado comigo.” (S 1)
De ordem financeira: “Ah! Dá bastante. Porque é ajuda na minha parte de
alimentação...” (S 2)
De reforço para a manutenção da dieta: “Dá... porque eles falam mesmo
muito comigo, né? Não estar comendo tanto assim... Às vezes até a menina
reclama mesmo quando estou bebendo.” (S 3)
De aconselhamento: “Oh, não! Eles fazem tudo por mim, o que for
necessário, entendeu? Eu tenho uma irmã que eu me entendo bem... ‘cuidado
o mé mata, o mé cega’.” (S 4)
De compreensão: “Meu esposo dá demais (falou com ternura)... Meu esposo
é o que...se não fosse por ele, acho que eu não vivia... (risos de
contentamento). Porque Graças à Deus, ele é uma pessoa muito compreensiva
comigo. Por tudo.”(S 7)
93
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Já dois sujeitos admitiram não receberem apoio dos familiares, sendo que, um
deles disse que não recebe apoio familiar devido à estarem acostumados à
doença, pela ocorrência de outros casos de diabetes na família. Vejamos:
“A família nem liga, entendeu? Porque já estão tão acostumados com os
parentes anteriores que já passaram, eles acham que diabetes para eles é
normal.” (S 5)
Vejamos o gráfico e a tabela referentes à temática:
Pergunta 9 - A família lhe dá alguma
espécie de apoio?
25%
75%
Sim
Não
N.º Sujeito A família lhe dá alguma espécie de apoio?
6
Disseram que sim (visitas, atenção, alimentação, aconselhamento)
2
Não recebem apoio da família (um deles porque a doença já é comum
na família e o outro porque não possui família)
Segundo FRANKEL e KOMBLT (1987), o desligamento afetivo da família,
manifestado através de condutas evitativas com respeito ao cuidado do
enfermo, pode ser um fator responsável pelo fracasso da utilização de
estratégias de enfrentamento da doença. Um sujeito admitiu não receber apoio
familiar por não possuir parentes e residir sozinho. Considerando que o Ser
Humano é um ser iminentemente grupal, possuidor da necessidade de estar
sempre rodeado por outras pessoas, para trocar vivências, observa-se quando
o indivíduo é idoso e tendo que conviver com uma enfermidade, ao esbarrar
com a falta do apoio familiar, o seu enfrentamento com a doença torna-se
94
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
muito mais difícil. Para MILLER, (1983), "manter a esperança na vida está
associado a ter algo ou alguém por quem viver ou seja, um relacionamento
bom com familiares e amigos leva o paciente a manter a esperança e enfrentar
melhor os desafios provocados pela doença.” (In TRENTINI et all, 1990, p.23)
E, também, segundo FRANKEL y KOMBLT (1989), outro fator que influi nas
estratégias de enfrentamento psico-social do diabético, é a capacidade da
família do doente de agir perante uma situação imprevista de urgência, porque,
caso não ocorra a intervenção rápida e segura por parte dos familiares, poderá
ser fatal para o indivíduo. Daí a necessidade de participação da família para
uma melhor qualidade de vida do diabético.
95
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.2.2: Apoio da Religião
Segundo LAPLATINE (1991), ao serem realizados estudos sobre temas que
envolviam saúde e/ou doença, demonstrou ser constante a relação mística
entre a “doença e o sagrado, a medicina e a religião, a saúde e a salvação.” O
progresso da genética tem revolucionado a ciência numa busca contínua de
tentar proporcionar a saúde absoluta aos indivíduos, através da realização,
talvez utópica, da eliminação de todas doenças da humanidade. Enfim, há um
envolvimento de uma mensagem messiânica, proveniente da crença de um
verdadeiro paraíso terrestre obtido através da medicina, isto porque, “a
medicina contemporânea é tão religiosa quanto as grandes religiões que se
apresentam como tais: ela não se contenta em anunciar a salvação após a
morte, mas afirma que esta pode ser realizada em vida.” O discurso médico da
atualidade, embasado no incessante progresso da ciência, fala de um “estado
de completo bem-estar físico, mental e social”, isto é, “de juventude, beleza,
força, serenidade, felicidade e paz, em suma, de promessas de salvação
comuns a todas as grandes religiões.” A luta entre o Bem e o Mal, entre a
Saúde e a Doença, fazem visualizar, no indivíduo religioso, uma comparação
similar do Médico com o Padre, na luta contra a Doença ou o Demônio.
Para analisarmos o apoio obtido através da religião, perguntamos aos sujeitos
se o fato de ter uma religião ajudava a enfrentar o diabetes e como era
realizada essa ajuda. Cinco sujeitos admitiram que a religião oferecia apoio às
estratégias usadas por eles para o enfrentamento da doença. Vejamos os
seguintes depoimentos:
“Ajuda. Principalmente todas as últimas segundas-feiras do mês tem as missas
dos doentes e eu participo. O pessoal da igreja vem aqui freqüentemente me
visitar ou fazer alguma oração e vê as necessidades da gente para ajudar a
gente.” ( S 1)
“Desses três anos para cá que eu me tornei crente, a gente conversando muito
com o pessoal da igreja... eles falando mesmo para a gente não beber
mesmo.” (S 3)
“Ajuda. Ajuda porque é uma coisa que, às vezes, a gente tá num desespero
danado, a gente pede por quem? Por Deus, né, por Jesus Cristo prá dar força
à gente, então Ele dá.” (S 7)
96
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“ A religião, né? Ajuda tudo na vida da gente, né? Quando você sabe que tem
uma doença que não tem cura, né? O diabetes não tem cura, né? Isso aí, a
gente tem que ter Fé em Deus. Tem que se apegar com Ele, porque só Ele
mesmo, né?” ( S 8)
De acordo com TRENTINI et all (1992):
“...se a condição crônica significa, para
alguém,
um
castigo
de
Deus,
provavelmente, segundo sua apreciação,
tem pecados a expiar e decidirá por
estratégias de enfrentamento adequadas,
para pagar os pecados segundo ele
acredita. Dependendo de sua orientação
de vida, o significado pode ter muita ou
pouca importância para ele, podendo
provocar emoções negativas como medo,
vergonha, revolta ou emoções positivas
como gratidão, alegria.” (1992, p. 83)
Observemos os gráficos e as tabelas correspondentes ao assunto:
P e rg u n ta 1 0 O fa t o d e t e r u m a r e li g i ã o a ju d a a e n fr e n t a r o
d ia b e t e s ?
1 2 ,5 0
1 2 ,5 0 %
1 2 ,5 0
%
6 2 ,5 0
S im
Não
N ã o é e s s e n c ia l
I n d if e r e n t e
%
97
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
N.º Sujeitos O fato de ter uma religião ajuda a enfrentar o diabetes?
5
Responderam que sim
1
Respondeu que não
1
Respondeu que não é essencial a ajuda da religião
1
Considerou com indiferença a ajuda religiosa
Pergunta 10 (a)- Como?
1
4
3
1
Pela fé
Aconselhamento
Não ajuda
Ajuda assistencialista
N.º Respostas Como?
4
Disseram que a religião ajuda através da fé
1
Considerou a ajuda religiosa obtida através do aconselhamento
3
Responderam que a religião não ajuda
1
Respondeu
que
a
ajuda
religiosa
vem
através
do
assistencialismo
Em suma, podemos notar que quando os sujeitos se vêem diante de alguma
situação
que
não
podem
mudar,
eles,
delegam
uma
parcela
de
responsabilidade dos seus problemas à algo superior e divino. Ao estarem
buscando apoio na fé,
talvez seja uma forma de estarem fugindo ao
98
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
enfrentamento da realidade estressante, provocada pelas limitações da
doença.
Dois sujeitos responderam que não buscam apoio na religião para
enfrentamento da doença, embora um deles tenha admitido utilizar da oração
como reforço psicológico para enfrentar as diversas problemáticas decorrentes
do diabetes. Vejamos o seguinte depoimento:
“Ninguém precisa que um pastor ali da igreja... eu acho que eles não precisam
ficar sabendo, porque se possível acontecer ou a taxa cair, eu sento, peço uma
oração ou então vou na cantina, como um salgado ou então um refrigerante
que é prá poder ela voltar normalmente.” ( S 8)
Quatro sujeitos responderam que o apoio dado pela religião depende da fé.
Segundo LAPLATINE (1991), a religião é um elemento totalizante porquanto
engloba o social, o individual e o universal, como um todo único do indivíduo
social. A conseqüência evidente disso é a constante relação mantida pelo
homem em relação ao tríduo doença x saúde x salvação.
A afirmação do Sujeito 2, “...toda pessoa que tem uma religião tem fé e por isso
tem uma perspectiva de melhor enfrentar as coisas na vida” , vem reforçar os
ditos populares, tais como,
a fé remove montanhas!
Ou, quem sabe, inspirar compositores de músicas populares, como Gilberto Gil
“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar...”
O Sujeito 3 acha que o apoio da religião provém, também, do aconselhamento:
“A religião eles não ajudam. Eles dão conselho, né? Converso como estou...
Converso com os presbíteros da igreja... meus amigos. E aí eles explicam e
falam que eu, né, como devo seguir...”
Analisando os indivíduos, grosso modo, observamos que todos temos uma
realidade dominante ou verdadeira e outra realidade que divaga quando nos
distraímos com alguma coisa, ou quando nos dedicamos ao estudo e/ou leitura,
ao canto, quando dançamos, quando passeamos ou viajamos, quando
conversamos sobre banalidades ou não, quando vemos televisão ou assistimos
a um jogo de futebol. Segundo LUCKMANN e BERGER ( 3ª ed.), a nossa
consciência vagueia por mundos diferentes do cotidiano aqui e agora mas
99
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
sempre retorna à realidade dominante das nossas vidas, semelhantemente a
uma peça teatral, quando a transição entre as realidades é marcada pelo
levantamento e pela descida do pano. Ao iniciar a encenação, o espectador é
‘transportado para um outro mundo’, com seus próprios significados e uma
ordem que pode ter ou não relação com a vida cotidiana. Quando termina a
encenação, o espectador ‘retorna à realidade’, ou seja, retorna à realidade
predominante do seu cotidiano, “em comparação com a qual a realidade
apresentada no palco aparece agora tênue e efêmera, por mais vivida que
tenha sido a representação alguns poucos momentos antes”. Transições
similares podem ocorrer através a experiência religiosa de um indivíduo, pois
ao voltar-se para a religião poderá ser uma forma de esquecimento dos
desconfortos causados pela enfermidade. Essa busca no apoio religioso pelos
sujeitos, ao enfrentarem situações aparentemente estressantes, como o seu
estado de idoso e a doença crônica Diabetes Mellitus, poderá proporcionar
algum beneficio aos mesmos.
100
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.2.3: A Importância do Lazer na Vida do Sujeito
A utilização do lúdico pode ser também uma maneira de amenizar a realidade
estressante do cotidiano do indivíduo diabético. E, de acordo com LUCKESI
(1994),
“O lúdico é o modo de ser do homem no
transcurso da vida; o mágico, o sagrado,
o artístico, o científico, o filosófico, o
jurídico são expressões da experiência
lúdica constitutiva da vida. O lúdico
significa a experiência de ‘ir e voltar’,
‘entrar e sair’, ‘expandir e contrair,
‘contratar e romper contratos’; o lúdico
significa a construção criativa da vida
enquanto ela é vivida. O lúdico é um ‘fazer
o caminho enquanto se caminha’; nem se
espera que ele esteja pronto, nem se
considera que ele ficou pronto; este
caminho criativo foi feito (está sendo feito)
com a vida no seu ‘ir e vir’, no seu
avançar e recuar. Mais: não há como
pisar nas pegadas já feitas, pois que cada
caminhante faz e fará novas pegadas. O
lúdico é a vida se construindo no seu
movimento.” ( p. 51)
Observemos os gráficos e tabelas referentes à temática do lazer:
Pergunta 11 - Quais são suas opções de
distração?
1
1
2
5
Jogos
Televisão
Sair
Apreciar a casa
101
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
N.º Respostas Quais são suas opções de distração?
1
Responderam que para distraírem-se, saem de casa
(viagem, ir à praia, à praça, à igreja, passear, dançar,
estudar, forró, cantar, assistir futebol)
Se distrai com jogos (ex.: dominó)
2
Se distraem assistindo televisão
1
Se distrai curtindo a própria casa
5
Pergunta 11(a) - Acha suficiente?
12,50%
50,00%
37,50%
Não acha suficiente
Acha suficiente
Indeciso
N.º
Acha suficiente?
Sujeitos
4
Responderam que não acham suficiente as suas opções de
distração
3
Responderam que acham suficiente as opções que tem para
se distraírem
1
Permaneceu indeciso
102
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Pergunta 11 (b) - O que mais você
gostaria de fazer para se divertir?
1
1
1
3
1
2
Passear
Gostaria de fazer várias coisas mas o orçamento
familiar não permite
Conversar
Ser mais jovem para namorar
Não gostaria de fazer mais nada
Participar de grupos de idosos
N.º Respostas O que mais gostaria de fazer para se divertir?
1
Respondeu que gostaria de passear
1
Respondeu que gostaria de fazer várias coisas, mas o orçamento
familiar não permite
2
Respondera que gostariam de conversar
1
Respondeu que gostaria de ser mais jovem para namorar
3
Responderam que não gostariam de fazer mais nada além do que já
fazem
1
Respondeu que gostaria de participar de grupos de idosos
Segundo LUCKESI (1994), é através do lúdico que a vida é construída
alegremente, sem rigidez, no trânsito do mundo subjetivo do indivíduo para o
103
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
seu mundo objetivo, isto é, entre o mundo interior e o mundo exterior do sujeito,
permitindo ao ser humano viver alegre e feliz, ao mesmo tempo que constrói a
sua personalidade. E, conforme DEPS (1993, In NERI, 1993), nos últimos anos
o estudo do envelhecimento bem sucedido tem chamado a atenção dos
gerontólogos, definido por alguns estudiosos, dentre eles, WONG (1989, In
NERI, 1993), como “um nível relativamente alto de saúde física, bem-estar
psicológico e competência em adaptação”. Segundo LEE e ISHI-KUNTZ (1988,
In NERI, 1993), bem-estar psicológico é o mesmo que bem-estar emocional e
refere-se ao estado da mente, incluindo os sentimentos de felicidade,
contentamento e satisfação com a própria vida.
No caso dos sujeitos pesquisados, o lúdico poderia ser essa fonte
proporcionadora de bem-estar psicológico, o que seria de grande valia para
melhor qualidade de vida do diabético. E para detectarmos estratégias de
enfrentamento psico-social no cotidiano do sujeito, analisamos o lúdico através
a categoria ‘lazer’ na sua vida, direcionando perguntas que pudessem
satisfazer a nossa pesquisa, na tentativa de visualizar as estratégias de
enfrentamento utilizadas no seu cotidiano. O Sujeito 1 disse utilizar o jogo de
bisca e dominó para distrair-se no seu dia-a-dia. Vejamos:
“Aqui parece uns parceiros que vem jogar um dominó, um baralho... O próprio
vizinho meu aqui mesmo, faz muito disso...jogamos uma “bisca”, um dominó.”
Dois sujeitos alegaram usar a televisão para entretenimento das suas horas de
lazer e cinco sujeitos distraem-se utilizando atividades que envolvam ‘sair de
casa’, tais como viajar, ir à praia, ir à praça, passear, ir à igreja, dançar,
estudar, ir ao forró, cantar, assistir futebol. Observamos, no entanto, que um
sujeito vem procedendo de modo inverso aos demais. Tem como lazer a
permanência no lar, talvez por falta de opção para realizar outra atividade:
“Distração? Você sabe que eu não tenho quase opção? Minha opção? Eu
adoro ficar em casa, eu adoro cuidar, eu adoro ver minhas coisas limpas, eu
adoro, sabe? Curtir minha casa.” (S 7)
Ao perguntarmos se gostaria de fazer mais alguma coisa para se divertir,
demonstrou vontade de participar de grupos de idosos:
104
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“Prá me divertir? Deixa eu ver... Sair, conversar... e, assim, se eu tivesse um
pouquinho de estudo, eu tinha vontade de sair, ir... fazer assim: não tem esses
encontros de idosos? Eu tinha vontade de participar...”
Percebemos que os grupos de idosos poderiam fazer muito bem para o Sujeito
7, pois nesses grupos os idosos se reúnem para trocar informações, além do
que, valorizam os indivíduos, estimulando-os à criatividade através de diversas
atividades culturais, artísticas e de lazer, que além de elevar a auto-estima do
idoso, ajudam a ressocializá-lo na comunidade.
Quando perguntamos aos demais sujeitos se achavam suficientes as opções
de lazer que possuíam, metade deles respondeu negativamente, três
consideraram o lazer por eles praticado, satisfatório, e apenas um sujeito
demonstrou indecisão, na resposta dada:
“Ah, nem sei...Eu nem sei, sabe? Acho que eu vivi tanto quando era jovem que
hoje eu já nem ligo muito mais, não. ” (S 5)
Perguntamos, então, o que mais gostariam de fazer para se divertir. O Sujeito 1
falou que gostaria de passear para recordar o lugar onde nasceu:
“Passeio...para ir num lugar, né, recordar o lugar que a gente foi nascido e
criado.”
Um sujeito falou que gostaria de fazer várias coisas, mas, que o orçamento
familiar não permitia, dois sujeitos gostariam de ter alguém com quem
pudessem conversar, e um sujeito desejou ser mais jovem para poder namorar:
“Divertir? Se eu gostasse era ser mais novo. Tivesse os meus trinta anos,
ainda namorava.” (S 3)
Três sujeitos demonstraram conformação com o lazer que tinham e afirmaram
que não gostariam de fazer mais nada além do que faziam:
“Olha, eu acho que não tenho nenhuma opção, viu. Eu acho que tudo que tinha
de fazer na minha vida, eu já fiz. Me...conformo com o que já fiz, né?” ( S 4)
105
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
“É eu ter com quem conversar...Ter alguém... assim que fique comigo porque,
às vezes, eu posso passar mal à noite, por exemplo, à noite assim, sozinha
aqui dentro, não tem ninguém Prá ficar comigo...Aí como é que eu fico se
precisar de ir à noite pro médico? Não tem... já aconteceu, sozinha, aqui,
passando mal. Sozinha e Deus... eu não dormi. Sentei. Eu mesma dei
massagem nos pulsos, fiquei quietinha... tomei uma água adocicada... agora,
só cochilei, mas, dormi, não...Agora o negócio é esse: é falta de pessoa para
ter diálogo com a gente, entendeu? É o diálogo com a gente, é o diálogo.”(S 8)
Aqui vale falar um pouco sobre as condições de vida desse sujeito. Ele reside
num cômodo de um metro e meio por dois metros, praticamente ocupado por
engradados de garrafas de bebidas vazias. Não há mobília. Sentamo-nos em
alguns desses engradados. Há um outro cômodo anexo, isolado por um portão
de ferro, onde não penetramos. Soubemos pelo entrevistado que ali continha
um cano, onde saía água para que tomasse banho. No cômodo que
permanecemos, o espaço era compartilhado por um cão, preso numa corda, e,
um gato. O sujeito não possui sequer uma pia para lavar uma louça, nem um
fogão, nem geladeira. Faz suas refeições fora, apesar de receber apenas 1
Salário Mínimo. No entanto, seu vestuário era bastante limpo e possuía ânimo
para ir estudar todas as tardes, apesar de ser portador de uma deficiência
física que faz com que necessite de aparelho especial para se locomover. Mora
sozinho. Respondeu às nossas perguntas com bastante clareza, apesar de
intimidado com o local onde estava nos recebendo. Demonstrava alguma
alegria, embora, muitas vezes, notássemos um traço de tristeza no seu olhar e
voz, principalmente quando se referia à sua solidão.
A solidão e o medo da solidão do Sujeito 8 é visível pelo seu depoimento,
acima citado. O que nos faz pensar no que diz MAY(1980), quando comenta
sobre a solidão do homem moderno, “no reverso da solidão do homem
moderno está seu grande temor de ficar só.”
No caso dos sujeitos pesquisados, não nos parece aconselhável a vivência
solitária, pois a problemática que envolve os portadores de Diabetes Mellitus,
os torna vulneráveis à situações limites, de conseqüências as mais diversas,
caso o indivíduo não seja socorrido em tempo, além do acometimento muitas
vezes de depressão, provocada pelo viver solitário. Concordamos com MAY
(1980), quando diz que “é aceitável ficar só temporariamente, para desligar-se
de tudo”, e, concordamos mais ainda, quando o referido autor comenta que o
106
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
permanecer só, não é recomendável para as pessoas de um modo geral, pois,
o indivíduo pode se sentir como retratou o poeta:
“Eu e minha sombra
Ninguém a quem contar nossas penas...
Só eu e minha sombra
Tão tristes e sozinhos.”¹
Segundo MAY (1980), o medo da solidão espreita por detrás de uma enorme
necessidade de receber convites, ou de ver os seus convites aceitos e a
pressão para manter-se socialmente ativo vai muito além da realidade, vai em
busca do prazer obtido pela companhia alheia e pelo enriquecimento das
idéias.
Pela resposta do Sujeito 8, observamos o quanto o mesmo anseia pela
alteridade, por ter alguém com quem conversar. Talvez seja por isso que, na
idade que possui, enfrentando o diabetes e a deficiência física, saia em busca
do enriquecimento de idéias, obtido através dos estudos.
Concluindo sobre as estratégias de enfrentamento da doença utilizada pelos
sujeitos no seu cotidiano, observamos que são, em sua maioria, reforçadas
pelo apoio dos seus familiares, pela fé, expressada algumas vezes através da
religião propriamente dita, e, muitas vezes, pela certeza da presença divina. O
lazer, embora bastante precário, pareceu-nos ser de grande valia, podendo se
tornar em forte aliado nas estratégias utilizadas para enfrentamento da doença.
Notamos, também, ser a família o reforço psicológico mais importante, seguido
de perto pela fé. O lazer tenta abrir espaço com dificuldades devido a
conjuntura econômica do país, onde é tido como algo supérfluo e, como tal,
relegado à segundo plano.
¹ Verso de “Eu e Minha Sombra”, de Billy Rose (In MAY, 1980, p.25)
107
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3: BARREIRAS SÓCIO-ECONÔMICAS QUE DIFICULTAM O
CONTROLE DA DOENÇA
COMIDA
Bebida é água.
Comida é pasto.
VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ?
VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ?
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
A gente não quer só comida,
A gente não quer só comer,
a gente quer comida, diversão
a gente quer comer e quer fazer
e arte.
A gente não quer só comida,
a gente quer saída para
qualquer parte.
amor.
A gente não quer só comer,
a gente quer prazer prá aliviar a
dor.
A gente não quer só comida,
A gente não quer só dinheiro,
a gente quer bebida, diversão,
a gente quer dinheiro e
balé.
felicidade.
A gente não quer só comida,
A gente não quer só dinheiro,
a gente quer a vida como a
a gente quer inteiro e não pela
vida quer.
metade.
Bebida é água.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Comida é pasto.
VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ?
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
(Arnaldo Antunes/
Marcelo Fromer/ Sérgio Britto)
108
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3: BARREIRAS SÓCIO-ECONÔMICAS QUE DIFICULTAM O
CONTROLE DA DOENÇA
Num sentido amplo, estamos chamando de barreiras sócio-econômicas todos
os obstáculos de ordem
social e econômica, de caráter permanente ou
transitório, que dificultam ou impedem ao indivíduo o controle da sua doença.
De acordo com FRANKEL e KOMBLT (1989),
ao ser realizado estudos
enfocando o nível social do indivíduo, ficou constatado que, o que mais afeta a
sociedade em geral, tornando-a vulnerável às enfermidades, são os problemas
de ordem sócio-econômicas, de habitação, de instrução, de estabilidade no
emprego, etc. (tradução nossa). E essas barreiras sócio econômicas, segundo
VIEIRA (1996), são criadas pelo ser humano e é ele quem deve aboli-las. As
barreiras de ordem social desestruturam o indivíduo pelas suas próprias
diferenças em relação à universalidade, afetando-o física, psíquica e
emocionalmente.
Notamos que os sujeitos enfrentam duas barreiras de ordem social, ou seja, a
de ser idoso e a de ser portador de uma doença crônica. Para VIEIRA (1996),
“É muito comum o idoso sentir-se uma
‘pessoa marginal’ à sociedade que,
geralmente está voltada para interesses
diferentes do seu. A dificuldade de
inserção grupal, leva o idoso a se fechar
em seus pares ou isolar-se socialmente
evitando os conflitos que possam surgir
desta diversidade de interesses e hábitos
entre ele e as gerações mais novas.” (p.
152)
Atualmente, esta visão da sociedade de estar excluindo o idoso, está se
modificando,
talvez devido ao crescente aumento da população idosa no
mundo, e, também, pelo reconhecimento que os idosos tem adquirido na busca
dos seus direitos de cidadãos. No Brasil já existem grupos de idosos em várias
cidades. Os grupos do município de Vitória, no Espírito Santo, tem sido
destaque no Estado devido à repercussão que esse trabalho tem tido na vida
dos idosos, que, segundo afirma Vieira (1996), já estavam excluídos do
mercado de trabalho e consequentemente da sociedade. É muito comum em
109
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
nossa sociedade a não valorização do idoso, ao encerrar sua vida “produtiva”
no mercado de trabalho. Passa a ser visto de forma ignorada até mesmo pela
própria família, o que faz com que o idoso se sinta excluído por não exercer
mais a atividade que exercia, passando, quase sempre, a ter uma vida
sedentária, o que pode lhe causar, entre outros problemas, o estresse, devido
a falta de atividade, fazendo-se necessário que haja algum local que integre
este idoso sem nenhuma discriminação, onde ele possa se sentir importante.
Um dos lugares em que isso vem ocorrendo com freqüência, tem sido os
grupos de 3ª idade, onde os idosos se reúnem para troca de informações, além
de desenvolverem atividades culturais, artísticas e de lazer, possibilitando a
sua re-inserção social de modo tão relevante que eles não mais se acostumam
à vida de isolamento, delegada aos mesmos, anteriormente.
Entre as barreiras identificadas nessa pesquisa, notamos que a de ordem
social é uma das que mais afeta os sujeitos. Alguns deles demonstraram
tristeza por não poderem mais freqüentar as tradicionais festinhas familiares de
aniversário, devido não encontrar nas mesmas, alimentos próprios da sua dieta
alimentar:
“Deixei de ir em aniversário... Tem tanto aniversário aqui, que me convidam...
eu não vou mais, porque sei que chegando lá, tanta coisa... não posso.” ( S 3)
De fato, é freqüente em reuniões sociais não preservar-se a alteridade. E isso
afeta o psíquico e o emocional do indivíduo diabético, fazendo com que, muitas
vezes, para não ‘ficar de fora’, deixe de cumprir sua dieta, o que pode trazer
conseqüências senão dramáticas, pelo menos preocupantes com relação à sua
saúde.
Para NERI (1995), “dentre as condições apontadas como facilitadoras do
coping, uma que parece ser de grande importância é o suporte social, que
adquire um valor peculiar na idade madura, quando as pessoas estão
geralmente mais expostas a perdas e pressões de várias naturezas. ( p.158)
Observemos o depoimento do Sujeito 3:
“Aos domingos eu sento e tomo uma cervejinha. Dia de semana não bebo
mais”
110
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
É muito comum na cultura brasileira, o uso de bebidas alcóolicas nos finais de
semana, entre elas, a cerveja. Talvez devido ao clima tropical e ao grande
número de praias existentes no país, a cerveja está presente em quase todas
as comemorações no Brasil. E esta pode ser uma dificuldade encontrada por
alguns sujeitos, em cujo depoimento demonstraram não resistir a uma
cervejinha. Por se tratar de pessoas de terceira idade, supõe-se que já
possuem o hábito de ingerir bebidas alcóolicas, provavelmente adquirido há
vários anos, e, ao se acharem diabéticos, parecem encontrar dificuldades em
se adaptarem ao meio social, constantemente freqüentado por pessoas que,
normalmente, já possuem o hábito de beber. Sendo grande o número de
pessoas que bebem, o diabético nem sempre é lembrado no momento da
preparação da festa, o que faz com que o mesmo sinta-se deslocado por não
poder comer ou beber quase nada do que normalmente é servido nas
recepções sociais. Devido a isso, muitas vezes, o diabético se retrai, evitando o
meio social, deixando de ir a festas para evitar ser tentado a consumir produtos
que lhe são prejudiciais.
O medo de perder o seu lugar no grupo de pertença familiar ou social faz com
que o indivíduo idoso portador de Diabetes Mellitus Tipo 2, enfrente barreiras
perigosas à sua qualidade de vida. Conforme FRANKEL e KOMBLT (1989), o
indivíduo sente-se afetado no seu estado bio-psico-social quando vê
ameaçadas suas condições de vida no aspecto orgânico, através de
enfermidades crônicas ou letais, ou no seu aspecto psicológico, ao contrair
enfermidades que dificultam a integração individual e no seu aspecto social,
quando sofre ações que tendem a produzir a dissolução do seu grupo de
pertença, como, por exemplo, as restrições dietéticas provenientes do Diabetes
Mellitus. (tradução nossa)
O indivíduo sadio necessita de políticas sociais que envolvam não só a saúde,
mas também o lazer, enquanto elemento de reforço psicológico do self. O
indivíduo doente também necessita do lazer para o fortalecimento do seu self,
de modo a minorar os elementos estressantes causados pela doença e suas
conseqüências. Essa necessidade se torna muito maior no caso de indivíduos
com doença crônica como no caso do Diabetes Mellitus.
111
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Por outro lado, o lazer no Brasil não é cultuado como elemento catalizador de
um curso de vida saudável e, a perspectiva de haver uma mudança nisso,
torna-se utópica num país cujo modelo econômico está interrelacionado com
uma política de cunho neo-liberalista.
Para o indivíduo saudável e/ou de posses financeiras acima da média do
trabalhador brasileiro, esse fato pode ser razoavelmente superado. Já para o
indivíduo idoso, muitas vezes aposentado e portador de doença crônica que
traz embutida em sua historicidade a deficiência física, possuir um lazer
adequado, é bastante difícil, mormente numa sociedade preconceituosa.
Um sujeito demonstrou sentir isso no seu cotidiano. Analisemos o seu
depoimento:
“ Seria interessante, né? ... nós somos diabéticos e somos deficientes.
Deveríamos ter alguém que nos ajudasse a ter uns eventos Prá gente... Uma
pintura... Ter esses eventos... Lá no Shopping Vitória, por exemplo, que todo
ano tem, então eu vou muito ali, olho e fico assim maravilhada. Que... é ... faz
uma coisa, ou faz uma pintura, ou então faz um... ou inventa sempre alguma
coisa prá fazer ... a gente, né, nós nunca temos esse privilégio.” ( S 8)
Para VIEIRA (1996),
“...alguns
aspectos
da
diversidade
humana agem como obstáculos à
socialização, criando barreiras à interação
social e carências psico-afetivas. Fazem
parte deste elenco de antagonismos à
socialização: as discriminações arbitrárias
e tradicionalistas, a imputação de
superioridade diante os semelhantes e a
percepção de diferenças de hábitos, de
crenças, de aparência e de sentimentos
em relação aos fatos e às pessoas.”
(p. 152)
Outra barreira preconceituosa que a sociedade impõe ao doente crônico é a
discriminação com a sua atividade no mundo do capital. O progresso
tecnológico traz no seu arcabouço a caixa de ferramentas da Qualidade Total e
a ênfase aos paradigmas do capital pós-modernidade, através da exaltação de
modelos intrínsecos à era da moderna automação e da robótica. Numa
conjuntura social assim, mal há lugar para o cidadão saudável. O cidadão
112
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
portador de doença crônica tem aí uma barreira que afeta tanto o psicossocial
do indivíduo, como também, o econômico.
E, para que o cidadão portador de diabetes tenha melhor qualidade de vida,
tanto social como economicamente falando, é fundamental que a sociedade
perceba que o maior problema não está no indivíduo idoso e diabético, pois
envelhecer faz parte da evolução natural do ser e adoecer é ponto certo que
pode ocorrer com qualquer um e em qualquer época da vida do indivíduo. O
problema está verdadeiramente na não compreensão social e legal de que
‘todos são iguais perante a lei’.
Apesar da Constituição Federal defender a garantia dos direitos de igualdade,
nem todos cidadãos recebem um tratamento igualitário em nossa sociedade,
talvez porque a mesma aprendeu a valorizar as pessoas mais pelo lado
material do que pelo lado humano, próprio de cada um. Se olharmos por esse
ângulo, as chamadas “minorias” , que muitas vezes, na realidade, são
“maiorias”, tais como as crianças, os pobres, os idosos, as mulheres, etc., vem
recebendo, muitas vezes, um tratamento diferenciado ou até mesmo,
preconceituoso.
Na tentativa de diminuir as desigualdades direcionadas aos diabéticos, o poder
político, através do médico e vereador do município de Vitoria, Luciano
Rezende,
em
sessão
ordinária,
realizada
no
dia
18/02/97,
fez um
pronunciamento sobre o projeto de lei que garante a admissão de diabéticos no
serviço publico municipal, argumentando que, “diabetes não é uma doença
infecciosa, não é contagiosa como todos (...)sabem. Portanto não há nenhum
tipo de contra indicação em se permitir o livre acesso de um diabético a
qualquer profissão, como resguarda este projeto.”
O preconceito em relação ao exercício de atividade profissional é uma barreira
social que afeta muito o indivíduo diabético e, a fala do Sujeito 1 demonstra o
seu ressentimento por isso. Vejamos:
“... me sinto triste...é eu não poder ir ao trabalho.” (afastado do serviço há 4
anos, por estar com Diabetes Mellitus)
113
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Muitos sujeitos de nossa pesquisa são aposentados e a maioria tem uma
situação financeira que varia de 1 à 5 Salários Mínimos. Apenas dois sujeitos
possuem renda acima desses valores.
Sabemos o quanto os aposentados estão sendo massacrados pelo sistema de
governo neo-liberalista. Um ato que afetou bastante os aposentados foi a não
autorização do repasse do aumento do salário mínimo para os salários dos
aposentados. O maior agravante não está no não recebimento do aumento
concedido aos assalariados, mas sim na descaracterização do salário do
aposentado, pois, se o aumento não for repassado, o aposentado que recebia
1 Salário Mínimo, passa a receber um salário menor. Recebe um valor
qualquer, não configurado como 1 Salário Mínimo, que, com o passar do
tempo, caso isso não seja revisto, tenderá, provavelmente, cada vez mais a
tornar-se em um salário menor que o Salário Mínimo.
A barreira econômica é, indubitavelmente, de grande negatividade financeira e
psicológica para o indivíduo idoso e portador de doença crônica, conforme
observamos nos depoimentos dos sujeitos de nossa pesquisa.
114
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3.1 Acesso ao Tratamento Médico
Conforme alguns pesquisadores, a saúde biológica é um dos mais poderosos
prognósticos do bem-estar na velhice. É de nosso conhecimento que o idoso
diabético não possui saúde biológica satisfatória. E, quando o indivíduo
pertence às classes mais carentes da população, a precariedade, ou, até
mesmo, a falta de atendimento médico são barreiras a serem enfrentadas no
seu cotidiano. Caberia aos governos fornecerem meios que possibilitassem ao
cidadão a superação das barreiras econômicas, que tanto afetam socialmente
o indivíduo, alterando o seu controle psíquico, provocando situações de grande
estresse, pelo medo da falta de atendimento médico e das possíveis
conseqüências decorrentes disso. No entanto, o orçamento para a saúde no
Brasil é um dos mais baixos do governo. Para alguns críticos de política
econômica, os fundos de pensão poderiam ser o caminho para melhores
condições de saúde no país. REIS (Revista FENAE-AGORA, 1998), assim se
expressa à respeito disso:
“A experiência dos fundos de pensão no
Brasil, notadamente os fundos sem fins
lucrativos, de adesão voluntária, não pode
jamais
ser desprezada.
Sem se
deslumbrar com exemplos de outros
países, mas também sem desprezá-los, o
governo deve buscar um caminho próprio
e
duradouro
para
a
previdência
complementar no Brasil, combinando
harmonicamente distribuição de renda
com desenvolvimento econômico” (p.12)
Sem políticas sociais direcionadas para a saúde e sem o apoio da previdência
privada, a saúde para o brasileiro torna-se um verdadeiro caos, gerando
sensação de insegurança para todos e mais ainda para o idoso portador de
doença crônica. No caso do idoso, NERI (1995) diz que:
“A velhice é uma fase da vida na qual os
recursos
financeiros
geralmente
diminuem, pois além de a aposentadoria
115
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
diminuir consideravelmente a renda do
indivíduo, os gastos com saúde tendem a
aumentar, já que as doenças crônicas
tornam-se
mais
comuns,
exigindo
medicamentos de uso contínuo; o preço
dos seguros de saúde também aumenta
com a idade. Esses e outros problemas
fazem com que a falta desse recurso
transforme-se em uma fonte adicional de
stress.” (p. 156/157)
De fato, constatamos o quanto é preocupante para o sujeito a falta de planos
de saúde adequados, afetando o seu self, de modo a provocar graves
alterações no seu metabolismo, através do medo e insegurança decorrentes da
possibilidade de ausência de tratamento médico, tão necessário a sua
problemática. O Sujeito 6, assim se expressa à respeito:
“ A preocupação que eu tenho é porque eu tinha um plano de saúde e agora
não tenho mais, né? E é a dificuldade... só essa dificuldade que eu tenho, ir
procurar médico, que um dia está de greve, outro dia, não.”
Ao analisarmos o depoimento desse sujeito, constatamos ser essa, uma
barreira bastante difícil de ser transposta pelo indivíduo idoso e portador de
doença crônica.
116
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3.2 Aquisição de Medicamentos
Em nosso país, os baixos salários associados à deficiência das políticas sociais
e aos altos custos das medicações, podem ser um dos fatores que dificultam
ao idoso a aquisição de medicamentos e consequentemente a manutenção de
um tratamento médico adequado. Já que muitos indivíduos não dispõem de
recursos suficientes para se manterem dignamente, eles se vêem quase
sempre obrigados a buscarem ajuda na assistência para suprirem suas
necessidades, e muitas vezes para adquirirem essa ajuda são obrigados a
provarem sua necessidade financeira, além de se submeterem à longas filas à
espera do benefício. Porém, nem sempre esses indivíduos dispõem de tempo
para essa espera, como é o caso de pessoas que aguardam aquisição de
medicamentos, normalmente para o controle de doenças crônicas que exigem
um tratamento constante.
De acordo com STRAUSS, GLASER (1975),
“Embora as doenças crônicas tenham um
caráter de permanência, nem todas são
fatais ou desencadeadoras de maiores
males (quando devidamente controladas).
No entanto, se os indivíduos em
condições crônicas, por qualquer razão,
negligenciarem os cuidados necessários,
podem provocar um episódio agudo, o
que, na maioria das vezes, leva o
indivíduo à internação hospitalar.” (In
TRENTINI et all, 1990, p.18)
A falta de recursos financeiros para a aquisição de medicamentos é outra
barreira dificílima para o idoso diabético. Não podendo adquirir o medicamento,
o sujeito muitas vezes apela para a medicina caseira, na ânsia de conseguir
uma melhora dos sintomas de sua doença.
Mais uma vez resta-nos lamentar a inexistência de políticas sociais e
econômicas que viabilizem uma melhor qualidade de vida para o cidadão. Na
falta de medicação, o indivíduo, provavelmente, apelará para o uso de
medicação alternativa, praticada através dos célebres conselhos de “comadres”
e, muitas vezes, de conseqüências
imprevisíveis para a saúde do
idoso
117
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
portador de Diabetes Mellitus. Para o Sujeito 7, a dificuldade financeira para
aquisição de medicamentos é algo que afeta muito o enfrentamento da sua
doença:
“ Eu acho que a gente passa momentos difíceis, né, sobre o remédio, sobre a
alimentação... A gente não tem um salário, né, que dá para cobrir tudo isso
porque é... custa muito caro, né? Igual eu que meus remédios são muito, muito
caro mesmo... e a alimentação, né? Que é tudo mais difícil Prá gente... que a
gente que luta o dia-a-dia igual eu, só tenho o meu marido que trabalha, né?
Só ele que trabalha prá pagar água, pagar luz e pro remédio. Tem mês dele
comprar mais de duzentos reais de remédio prá mim... só em cada receita...
São tudo remédios muito caros.”
E o Sujeito 4, utiliza de medicação caseira para auxiliar o controle da doença.
Vejamos:
“ Então eu realmente fiz o que eles mandaram, inclusive o chá e aí vou levando
a vida assim.” ( S 4)
Sabemos que o medicamento, auxiliado pela dieta e pelos exercícios físicos, é
um fator muito importante para o controle do diabetes. Porém percebemos que,
apesar da importância da medicação, alguns sujeitos não possuem facilidade
para adquiri-la, devido ao custo dos remédios nem sempre ser compatível com
a renda que algumas pessoas possuem para a sua manutenção.
118
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3.3. Fator Idade
Algumas vezes a sociedade trata a velhice como se fosse algo que destituísse
os indivíduos de sua subjetividade, considerando-os desprovidos de interesses,
habilidades ou opinião própria. Na nossa pesquisa cinco sujeitos responderam
que o fator idade não é um elemento propiciador de barreiras na sua
convivência com o diabetes, havendo inclusive, quem demonstrasse não ter
sequer percebido sua própria idade:
“Prá mim nada me atrapalha. Eu só tenho vontade é de viver.
Ah!... Eu tenho espírito de um jovem...” ( S 1)
Para NERI (1995),
“ O grau de plasticidade é contingente à
capacidade de reserva do indivíduo, a
qual é constituída pelos seus recursos
internos (por exemplo, a capacidade
cognitiva e a saúde física) e pelos
recursos externos (por exemplo, a rede
social, o status econômico) disponíveis
num dado momento. (p.196/197)
Vejamos
o
gráfico
e
a
tabela
correspondentes
ao
fator
idade:
Pergunta 14 - O Fator idade influencia a
sua vivência com o diabetes?
37,50%
62,50%
Não
Sim
Nº Sujeitos O fator idade influencia a sua viv ência com o diabetes?
5
Responderam que não afeta em nada
3
Responderam que sim , que o fator idade afeta a sua vivência
com o diabetes
119
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Conforme NERI (1995), o conceito de plasticidade fornece uma indicação da
capacidade de mudança do indivíduo e de sua flexibilidade e resistência para
lidar com desafios e exigências. Quando o idoso apresenta plasticidade no
âmbito das relações sociais, poderá estar criando importantes redes de
solidariedade, que poderão, num futuro, ser excelentes fontes de apoio para o
enfrentamento da sua doença. E, quanto maior a capacidade de reserva do
indivíduo, maior será o seu potencial para a plasticidade. Em todos os períodos
do curso de vida ocorrem crescimento, estabilidade e declínio, o que faz com
que concordemos que “velhice não é sinônimo de declínio pura e simples”,
embora que não exista um equilíbrio perfeito entre ganhos e perdas nessa fase
do curso de vida. A capacidade de reserva do indivíduo permite que o mesmo
possa manipular as perdas provocadas pelo declínio no seu desempenho.
Alguns sujeitos responderam que a idade é uma barreira à mais a ser
enfrentada pelo indivíduo portador da doença. Vejamos:
“Ah! Eu acho que sim, né? Porque quando a gente está mais nova... Que eu já
agüentei muito, mesmo, trabalhar, né? Enfrentar a vida junto com meu marido,
mas... agora de uns cinco anos Prá cá, eu já não agüentei mais trabalhar, nem
fora. Mal agüento cuidar da minha casinha... Não tenho mais aquela força, né?
As forças da gente acabam... tudo.” (S 7)
“ A idade acarreta o controle na parte de oftalmologia e dos pés que exigem
que o diabético tenha um controle mais ativo para evitar algumas complicações
nessas duas áreas onde mais se concentra o problema no diabético.” ( S 2)
“ Já estou de idade, não sou mais criança e o diabetes também é uma coisa
que acompanha a gente, né? Então tenho que me controlar, como que eu sou,
como que eu faço, e tudo bem.” ( S 4)
Apesar de entendermos que velhice não é sinônimo de doença e que não
ocorre da mesma forma com todas as pessoas, devemos levar em
consideração que o processo de envelhecimento aliado à fatores políticos,
sociais, econômicos e culturais, pode causar no indivíduo algumas debilitações
capazes de modificar seu aspecto físico, mesmo quando o indivíduo não
enfrenta nenhum problema de saúde. Mas quando o indivíduo idoso é
acometido por alguma enfermidade, esse quadro costuma agravar-se,
120
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
prejudicando sua condição física para desenvolver todas atividades que
desenvolvia quando mais jovem e sem enfermidades.
Observamos que alguns sujeitos não se deixam intimidar pelo fator idade, ao
passo que outros sentem a idade como uma barreira no enfrentamento da
doença. Muitas vezes, a maneira como aceitamos as dificuldades da vida é que
vai fazer com que o problema enfrentado se transforme em algo estressante ou
não. Por exemplo, ao deixarmos que uma determinada situação faça com que
nos sintamos derrotados, o nosso corpo também se sentirá assim. No caso
dessa pesquisa, se os sujeitos aceitarem como uma derrota o fator idade e/ou
a doença crônica, os mesmos poderão
se sentir fracassados, provocando
conseqüências, muitas vezes, drásticas. E, segundo RIBEIRO (1995), e a
própria literatura médica afirma, quando o indivíduo permite que a reação
citada acima se desencadeie no seu organismo, ocorrem à princípio, crises de
hiperglicemia, aumento de trigliceridios, de colesterol, da pressão e dos
batimentos do coração. Esses fenômenos desencadeados, cedem se o motivo
causador de stress desaparece, graças às reservas de defesa próprias do
organismo. No entanto, com o passar do tempo, o organismo vai perdendo a
sua capacidade de reservas, ou seja, vai “perdendo o seu jogo-de-cintura, e
entra em pane, perdendo o controle da situação.” Tudo que for estressante
começa a provocar reações que, a princípio são esporádicas mas, que, com o
passar do tempo vão se tornando freqüentes. Isso ocorre quando o organismo
esgotou sua capacidade de defesa da qual lançava mão nos momentos de
crise, tornando-se vulnerável à situações estressantes e, consequentemente,
mais propensos ainda, às situações de doença.
O que nos faz insistir mais uma vez sobre a necessidade de fortalecimento
psíquico, para que o indivíduo idoso e diabético possa capacitar-se na
eliminação
de
barreiras
que
impossibilitem
ou
que
prejudiquem
o
enfrentamento da sua doença.
121
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
5.3.4 Manutenção da Dieta
Dentre as barreiras enfrentadas pelos sujeitos, não poderíamos deixar de
considerar a dieta por ser essa a parte mais difícil no tratamento do diabético.
Os hábitos alimentares estão entre as primeiras coisas que aprendemos e
desenvolvemos
em
nossas
vidas.
No
entanto,
nem
sempre
somos
acostumados ao uso de hábitos adequados, isto é, que não sejam prejudiciais
a nossa saúde. Desde a infância somos incentivados a consumir alimentos que
contém açúcares, gorduras, substâncias químicas (tais como corantes, etc.).
No entanto, quando nos deparamos com o diagnóstico de alguma doença que
tem a dieta sadia embutida na sua terapêutica, só temos dois caminhos a
seguir: ou mudar os hábitos alimentares e conviver com a enfermidade sem
maiores complicações ou permanecer com a alimentação inadequada e
assumir a responsabilidade pelas futuras conseqüências decorrentes da
ausência da dieta recomendada.
Os sujeitos, apesar de possuírem conhecimento da importância da dieta,
admitiram encontrar dificuldades para mantê-la. Pelos seus depoimentos,
constatamos realmente ser essa a maior barreira a ser ultrapassada pelo
indivíduo diabético. A manutenção da dieta constitui-se grande obstáculo para
eles. São declarações assim:
“Não é todo momento que eu tenho dinheiro Prá comer conforme eles querem.”
(S 1)
“ Eu comia demais, também, chegava em casa e o tanto que tinha Prá mim, eu
comia. Comia uma panela...” ( S 3)
E ainda o Sujeito 3:
“Eu como muito. Às vezes aqui em casa tem doces. Eu vou comendo doces...
É que aqui é um tal de filha querer fazer doce... pudim... é um docinho de coco
que fazem.”
122
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
O mesmo verificamos com relação à bebida, outro ponto que deve ser
rigorosamente respeitado na educação alimentar do diabético. Vejamos o
depoimento do Sujeito 4:
“ Agora quando me dá vontade de tomar uma cervejinha, tomo um copo de
cerveja... tomo uma pinga amarga, viu, me deu vontade, eu faço.”
É sabido que todas barreiras já mencionadas, influenciam negativamente no
comportamento do indivíduo em relação ao controle da sua dieta,
principalmente as de ordem financeira e as que envolvem carência de
Educação para o Diabetes.
Segundo SASSO (1997), quando uma desordem psicológica acomete um
indivíduo, pode provocar uma alteração no seu comportamento alimentar. É a
chamada “fome emocional” que faz com que o indivíduo possua a ilusão de
que a ingestão de alimentos irá suprir as suas carências emocionais. As
desculpas utilizadas pela pessoa acometida de “fome emocional”, denotam
fuga dos problemas que a afligem. Esse procedimento ao invés de solucionar
os estressores, criam no indivíduo outros tipos de problemas, que no caso do
sujeito diabético, vão fomentar situações que variam de uma “inocente”
obesidade, passando por possibilidades de ter, como conseqüência, alguma
deficiência, podendo atingir até mesmo ao coma diabético.
Por outro lado, quando o sujeito cumpre a dieta rigorosamente, pode ocorrer
um outro tipo de barreira, ou seja, devido às restrições alimentares, ele poderá
encontrar dificuldade de adaptação social, pois não encontrará com facilidade o
alimento próprio para o seu consumo dietético nos locais freqüentados
comumente pela sociedade em geral.
O acesso ao tratamento médico também tem sido uma barreira para os
diabéticos por dependerem de acompanhamento constante, o que muitas
vezes é dificultado pela forma como está sendo administrada a política de
saúde no país, não conseguindo oferecer atendimento de boa qualidade à
população. Sem tratamento médico adequado e com dificuldades financeiras
que não lhes permitem adquirir o medicamento necessário para o controle da
doença, os sujeitos vêem-se, muitas vezes, obrigados a se privarem de outras
necessidades para adquirirem sua medicação que é de uso diário.
123
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
Quanto ao fator idade, apesar de não ser uma barreira para todos, percebemos
que para alguns, a idade é vista como tal, devido às debilitações que provocam
na vida do sujeito. Talvez não se constitua numa barreira para todos, porque a
forma de envelhecer varia de indivíduo para indivíduo, já que o envelhecimento
não é proveniente apenas da idade, mas, é influenciado também, por fatores
sociais, político, culturais, econômicos, etc.
124
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Educação” é a base do tratamento do Diabetes Mellitus e os profissionais de
saúde que participam do atendimento ao diabético, tais como o nutricionista, o
médico, o enfermeiro, o assistente social, o psicólogo, o odontólogo e outros,
devem atuar como “Educadores em Diabetes.”
Sheila Diniz Silveira Bicudo
125
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo abordar as estratégias de enfrentamento
utilizadas pelos sujeitos de 3ª Idade, portadores do Diabetes Mellitus Tipo 2.
Pesquisamos sobre as formas de aceitação e não-aceitação da doença, o que
nos fez concluir que, apesar de serem todos portadores da mesma
enfermidade, as formas de aceitar ou de não aceitar a doença, variam de
sujeito para sujeito e são influenciadas por fatores que vão desde os de ordem
econômica até os de ordem política, social, cultural, grau de instrução e
conhecimento da doença e de suas conseqüências.
Ao enfrentar o diabetes, os sujeitos pesquisados demonstraram, em sua
maioria, sentir tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sensação de
que o mundo ia se acabar, sentimentos provocados pela alteração emocional
devido às limitações e restrições provenientes da mudança profunda que a
doença provoca na vida do indivíduo. E, conforme supomos à princípio,
constatamos que são várias as estratégias utilizadas para o enfrentamento da
doença. Alguns utilizam a fuga, evitando o contato com produtos não
aconselháveis para a sua dieta, deixando inclusive de freqüentar reuniões
sociais, tais como festinhas familiares, restaurantes, etc, podendo com essa
atitude, afetar, até mesmo, a sua convivência com a família e na sociedade, o
que vem se constituir numa barreira social, trazendo como conseqüências o
isolamento e a solidão, o que não é nada recomendável para ninguém, muito
menos para uma pessoa com carências emocionais provocadas pela própria
doença. Já outros, agem de forma contrária, ingerindo o alimento, mesmo
sabendo ser prejudicial a sua saúde. Por outro lado, outros, enfrentam a
doença, ou utilizando de forma correta a dieta, ou praticando exercícios físicos,
demonstrando ter conhecimento da enfermidade que possuem e de suas
conseqüências. No entanto, dentre esses sujeitos, apenas um cumpre
rigorosamente todas as recomendações terapêuticas, fazendo, inclusive o uso
correto da medicação. Observamos que esse sujeito é freqüentador assíduo
das palestras preventivas realizadas pela ACAD, o que nos faz acreditar ser de
grande importância a Educação para o Diabetes, pois possibilita a
conscientização da necessidade do cumprimento das orientações a cerca da
126
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
doença, para que o sujeito tenha melhor qualidade de vida. Identificamos,
também, outras estratégias de fuga utilizadas pelos sujeitos para o
enfrentamento da doença: ao considerarem-se saudáveis, comparando-se com
pessoas com doenças mais graves, ou, ao não assumirem a doença,
considerando-se sadios. Talvez essas sejam as formas encontradas pelos
sujeitos para tentar minimizar, psicologicamente, o desconforto proveniente das
restrições que lhes são impostas pelo diabetes. Constatamos que as
estratégias utilizadas são muitas vezes minoradas pelo apoio familiar que
exerce importante suporte para o controle da doença, quer provendo, quer
executando a dieta, além de ser fonte de fortalecimento psico-social para o
sujeito. Outra forma de enfrentamento que identificamos ser utilizada pela
maioria, é a obtida através do apoio da fé religiosa, provavelmente por se tratar
de forte eliminador dos estressores decorrentes da sua condição de idosos e
diabéticos. Quanto ao lazer, apesar de entendermos ser bastante útil como
apoio para o enfrentamento da doença, enquanto elemento redutor de stress,
notamos que é pouco praticado pelos sujeitos, muitas vezes devido às
dificuldades financeiras dos mesmos. Aliás a atual situação econômica da
nação, atua com barreiras que dificultam o enfrentamento dos sujeitos, tanto
social como financeiramente. Dentre essas barreiras, detectamos a dificuldade
de acesso ao tratamento médico, devido ao atual sistema de saúde não
conseguir atender de forma satisfatória toda
população
e nem todas as
pessoas possuírem recursos para manter um plano de saúde; a dificuldade
para aquisição de medicamentos que atua como empecilho para a manutenção
do tratamento de alguns sujeitos que não dispõem de recursos financeiros
suficientes para a sua sobrevivência; a dificuldade para a manutenção da dieta
necessária ao controle da doença, tanto devido ao fator econômico que
impossibilita o indivíduo de adquirir os alimentos adequados, como pelos
hábitos alimentares adquiridos ao longo do curso de vida dos sujeitos e, muitas
vezes, influenciados pela mídia que incentiva o consumismo através da
manipulação do paladar do indivíduo com imagens sedutoras de alimentos
que, para o diabético, são prejudiciais.
Dentre as barreiras que considerávamos ser provocadoras de dificuldades para
o enfrentamento da doença, constava a hipótese de ser o fator idade um
127
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
grande empecilho para o enfrentamento do diabetes. Porém, constatamos, no
decorrer da pesquisa, que, apesar de ser muito comum a associação de idade
com doença, os sujeitos pesquisados não percebem a mesma como algo que
afete a sua convivência com a enfermidade. No entanto, o fator idade não deve
ser desprezado no âmbito da Educação para o Diabetes, pois é de nosso
conhecimento que o Diabetes Mellitus Tipo 2 ocorre mais freqüentemente em
pessoas com idade acima de 45 anos. Por outro lado, as pesquisas mais
atualizadas tem fornecido dados estatísticos revelando o aumento significativo
de idosos no mundo, sendo que no Brasil, esses dados tem demonstrado que
no ano 2025 estaremos com uma população de 34 milhões de idosos, o que
poderá nos colocar entre os seis países com maior número de pessoas idosas
do planeta¹. Considerando esses dados, entendemos o quanto é necessário o
desenvolvimento de um trabalho no sentido de estar reeducando essas
pessoas para manterem um melhor controle da doença, obtendo condições
para uma vida mais saudável. Isso nos faz repensar na necessidade da
prevenção, que além de ser um meio mais barato e uma tentativa de evitar que
o número de diabéticos no futuro, seja tão grande quanto o número de idosos
que teremos no mundo, é a forma mais eficiente para evitar as complicações
de doenças crônicas como o Diabetes Mellitus. A prevenção é uma prática
embasada por uma política de assistência social “lato sensu” e, segundo
Pereira (1996), para que o Assistente Social possa, de fato, cumprir com o seu
papel de executor de políticas sociais, ele também tem de se antepor ao
surgimento dos problemas que poderão aprofundar ainda mais o apartheid das
classes e de grupos diferenciados. Políticas de prevenção de doenças, como o
Diabetes Mellitus, proporcionadoras de forte discriminação no
âmbito
da
sociedade, possuem um caráter “ex-ante”, isto é, um caráter preventivo da
ação assistencial, desmistificando a ação “ex-post”. Por outro lado, a luta
pela obtenção da informação é uma conquista da cidadania do Indivíduo
que transcende, historicamente, aos primórdios das sociedades primitivas,
onde o saber era negado ao povo. O Serviço Social, profissão legitimada
socialmente pela prestação de serviços historicamente destinados
aos
¹Fonte Projeto de 3ª Idade, SEMAS, PMV, 1998
128
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
excluídos, encontra no âmbito de
domínio da prevenção e da educação
para o exercício de estratégias de enfrentamento do Diabetes Mellitus Tipo 2,
possibilidades para a sua intervenção profissional.
No caso do diabetes, a prevenção se dá pela conscientização obtida através da
educação, que é a forma mais moderna utilizada pelos profissionais que
trabalham na área da saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos e,
também, os assistentes sociais, que por serem profissionais especializados
em lidar com pessoas, encontram uma certa facilidade para conscientizá-las da
necessidade de se educar para prevenir ou controlar a doença. Conforme
citamos em nossa pesquisa, no Capítulo 5, item 5.1, sub-item 5.1.1, nos USA,
a atuação destes profissionais tem sido reconhecidamente importante para os
trabalhos ambulatoriais com indivíduos portadores de Diabetes Mellitus, e no
Brasil, a presença dos assistentes sociais tem sido também, requisitada para
essa finalidade, em algumas instituições de saúde. A prevenção além de ser
uma exigência é, também, uma necessidade econômica, porque através dela,
os custos da assistência tornam-se menores, proporcionando assim, àqueles
que realmente possuem dificuldades financeiras, um tratamento adequado e
consequentemente, melhor qualidade de vida. A divulgação sobre hábitos
saudáveis de alimentação e prática de exercícios, além do uso correto da
medicação, podem evitar ou pelo menos retardar a doença. Sendo que,
quando o indivíduo possui casos de Diabetes Mellitus Tipo 2 na família, por ser
a mesma genética, quanto mais cedo for diagnosticada a doença, haverá mais
probabilidades de controlá-la, evitando maiores complicações.
Possuir hábitos alimentares saudáveis e praticar exercícios físicos, é
importante para todas as pessoas. No caso do diabético Tipo 2, isso torna-se
ainda mais necessário, devido a doença aparecer mais freqüentemente em
pessoas de meia-idade, já acostumadas à hábitos alimentares inadequados e,
muitas vezes, ao sedentarismo, fazendo-se necessária a conscientização de
que uma dieta sem açúcar e gorduras, e, regulada pelo médico ou pelo
nutricionista, pode amenizar as complicações decorrentes da doença.
Concordamos com BICUDO (1997), quando diz que, somente através da
Educação em Diabetes, o indivíduo encontrará o caminho para uma melhor
qualidade de vida, pelo conhecimento e compreensão dos fatores que
129
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
interferem no controle da sua doença, prevenindo as complicações agudas
e/ou crônicas, diminuindo o número de internações e o alto custo do
tratamento. A Educação em Diabetes promove a mudança de comportamentos
errôneos do indivíduo, através da aquisição de hábitos e atitudes adequadas à
sua condição de diabético.
Concluímos, então, a nossa pesquisa, com o entendimento que para os
sujeitos idosos possuírem estratégias que os capacitem para enfrentar o
Diabetes Mellitus Tipo 2, faz-se necessário a conscientização dos mesmos,
através a Educação para o Diabetes. O tema aqui enfocado, interrelaciona na
contemporaneidade a educação com a prevenção da doença como uma das
metas básicas. Embora, a temática pesquisada sobre 3ª Idade e Diabetes
Mellitus Tipo 2 - Estratégias de Enfrentamento, seja pioneira no universo de
trabalho de conclusão de curso (TCC), do Departamento de Serviço Social da
Universidade Federal do Espírito Santo, o assunto não se esgota, e sim,
aponta para a necessidade de maior exploração do tema, abrindo campo para
novas pesquisas.
130
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social
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