3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2
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3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2
Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social MARIA DE LOURDES LABUTO ADENIR FERREIRA DA SILVA ARMINDA GREGÓRIO DOS SANTOS 3ª IDADE E DIABETES MELLITUS TIPO 2: ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 1998 1 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social MARIA DE LOURDES LABUTO ADENIR FERREIRA DA SILVA ARMINDA GREGÓRIO DOS SANTOS 3ª IDADE E DIABETES MELLITUS TIPO 2: ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo, como Parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, realizado sob a orientação da professora Cenira de Oliveira Andrade. VITÓRIA - ES 1998 2 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Professora Cenira de Oliveira Andrade Graduada em Serviço Social/ Mestre em Psicologia Social - UFES (Orientadora) ________________________________ Maria das Graças Cunha Gomes Graduada em Serviço Social/ Mestre em Educação - UFES ________________________________ Sheilla Diniz Silveira Bicudo Graduada em Enfermagem/Educadora em Diabetes Mestre em Psicologia Social - UFES Doutoranda em Enfermagem – EEAN/UFRJ 3 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social AGRADECIMENTOS GERAIS À nossa professora orientadora CENIRA DE OLIVEIRA ANDRADE, pela sua inesgotável paciência e incansável dedicação à realização da nossa pesquisa À ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos), em especial, pela colaboração na realização do nosso trabalho À SHEILLA DINIZ SILVEIRA BICUDO, pelo fornecimento de material teórico para a realização de nossa pesquisa À LUIS AUGUSTO LABUTO, pela sua prestimosa colaboração fazendo a correção ortográfica e realização do ABSTRACT da nossa pesquisa Aos NOSSOS ENTREVISTADOS, que se dispuseram a responder às nossas perguntas, dando contextualização a nossa pesquisa À TODOS que de forma direta ou indiretamente, contribuíram para a elaboração deste trabalho MARIA DE LOURDES, ADENIR, ARMINDA 4 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social AGRADECIMENTOS PESSOAIS Agradeço primeiramente à DEUS, fonte de inspiração e sabedoria, que me deu força e proteção para enfrentar e vencer os obstáculos surgidos no decorrer deste trabalho. Agradeço aos meus pais (in memorium) que me ensinaram a ter amor pelos estudos; Agradeço às minhas três filhas, Miriã de Lourdes, Geórgia Christina e Elizabeth Rachel por me acompanharem durante este estudo com estímulo, paciência e carinho; Agradeço também ao meu genro Vinícius e aos namorados de minhas filhas, em especial ao Leonardo pela assessoria técnica do meu computador para que a impressão desse TCC saísse o mais perfeita possível. Agradeço aos meus irmãos e amigos, pelo incentivo que me deram nessa jornada. MARIA DE LOURDES Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir; inclina para mim os teus ouvidos, e escuta as minhas palavras (SALMOS 17.6.) 5 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social AGRADECIMENTOS PESSOAIS Agradeço em primeiro lugar a DEUS, fonte de sabedoria e amor, por ter me proporcionado todas as condições necessárias para superar os obstáculos e vencer mais esta caminhada. Agradeço ao meu pai, à minha mãe (in memorium), e a todos os meus familiares por terem me conduzido por caminhos que me possibilitasse chegar até aqui; Agradeço, especialmente ao meu esposo que entendeu as minhas ausências e me apoiou e incentivou-me nos momentos em que tive dificuldades para dar continuidade a essa caminhada. Agradeço aos meus amigos e a todas pessoas que de alguma forma tenham contribuído para que eu pudesse realizar esse sonho tão difícil, à princípio. ADENIR Disse Jesus: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede. (JOÃO 6.35) 6 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social AGRADECIMENTOS PESSOAIS Agradeço a Deus que em todos os momentos da minha vida sempre esteve presente dando força, vida e luz e me ensinou que só a fé rompe barreiras. A minha mãe, pelo carinho e incentivo permanente neste processo de formação pessoal e profissional; Ao meu pai (in memorium) que sempre me incentivou nos momentos mais difícil da minha vida; Aos meus irmãos que sempre me apoiaram na minha caminhada até aqui; Ao meu companheiro, pela compreensão nos momentos da minha ausência e pelo estímulo constante nessa jornada. ARMINDA Disse Jesus: Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (JOÃO 16. 33) 7 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social RESUMO: 3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2: Estratégias de Enfrentamento. [INTRODUÇÃO] Analisou-se as estratégias utilizadas por sujeitos de 3ª idade para enfrentarem o Diabetes Mellitus Tipo 2.[METODOLOGIA] Pesquisa realizada com 8 sujeitos, sócios da ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos), escolhidos aleatoriamente, sendo 4 homens e 4 mulheres, na faixa etária de 50 a 70 anos. Para coleta dos dados foram utilizadas entrevistas com roteiro semi-estruturado com 10 perguntas fechadas e 15 abertas, que foram gravadas, e após transcritas na íntegra, deram suporte para a análise de conteúdo, partindo de temas que enfocavam a problemática, agrupados em categorias. [RESULTADOS] Apesar de saberem da necessidade da manutenção da dieta, constatamos que metade dos sujeitos não cumpre com a mesma, não resistindo ao alimento prejudicial a sua saúde; uns sujeitos admitem serem moderados na alimentação, independente da dieta; outros utilizam da fuga, saindo de perto do alimento prejudicial para não comerem; e, já outros, ao sentirem vontade de comer algum alimento não aconselhável, resistem a essa vontade; apenas um sujeito não come por ter consciência de que terá uma melhor qualidade de vida, seguindo corretamente a terapêutica apropriada para a sua enfermidade. Para resistir às situações estressantes decorrentes da doença, a maioria dos sujeitos busca reforço psicológico na família e na religião, sendo o lazer, pouco utilizado, muitas vezes por motivos econômicos. Todos possuem preocupação com as conseqüências provenientes da doença. No entanto, se consideram com saúde ao compararem-se com pessoas com enfermidades mais graves. A maioria não considerou o fator idade como complicador.[CONCLUSÃO] Campanhas de prevenção específicas, direcionadas para Educação em Diabetes, poderão conscientizar os sujeitos da necessidade de manutenção da terapêutica recomendada para a doença, isto é, da dieta específica, dos exercícios físicos recomendados pelos médicos, além do uso da medicação correta. No entanto, foi constatado que a atual conjuntura política do governo neo-liberalista, afeta bastante as condições financeiras dos sujeitos, prejudicando a aquisição de medicamentos, a manutenção da dieta e o acesso ao tratamento médico. 8 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social ABSTRACT: 3rd Age Bearer of the Diabetes Mellitos Type 2 Facing Strategies [INTRODUCTION] The strategies used by bearers 3rd age were analysed how they face the Diabetes Mellitos Type 2.[METHODOLOGY] The research was accomplished with 8 individuals, partners of ACAD (Association Capixaba of Diabetics), State of Espírito Santo, chosen by chance, beeing 4 men and 4 women, in the age group of 50 to 70 years old. For collection of the data, interviews were used with a route semi-structured with 10 shut questions and 14 open ones, that were recorded, and after being transcribed in the entire, they gave support for the content analysis, based on the themes that focused the problem, contained in categories. [RESULTS] In spite of knowing about the necessity of the maintenance of the diet, we verified that half of the individuals don’t execute it, not resisting to the harmful food on their health; some individuals admit to be moderate in their feeding, independent of the diet; others are used to other diets, when they feel desire of eating some nonadvisable food, they try to resist to that wish; only an individual doesn’t just eat for having the conscience that he will have a better life quality, following the therapeutics adapted for his illness correctly. To resist the stressing situations of the disease in the daily life, the individuals search psychological reinforcement in the family and in the religion, being the leisure not very used, many of a time for economic reasons. Everybody is concerned with the coming consequences of the disease. However, they consider themselves with health comparing with people with more serious illnesses. Most of them don’t consider the factor age as complicating. [CONCLUSION] Specific prevention Campaigns addressed for Education in Diabetes can make the individuals aware of the need of maintenance of the therapeutics recommended for the disease, that is, of the specific diet, of the physical exercises recommended by the doctors, besides the use of the correct medication. However, it was verified that the current political conjuncture of the government neo-liberalist, affects plenty the financial conditions of the individuals, harming the acquisition of medications, the maintenance of the diet and the access to the medical treatment. 9 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social PRIMEIRA CORÍNTIOS 13, HOJE: Se eu aprender inglês, francês, espanhol, alemão e chinês e dezenas de outros idiomas, mas não souber me comunicar como pessoa, de nada valem todas as minhas palavras. Se eu concluir um curso superior, andar de anel no dedo e freqüentar cursos e mais cursos de atualização, mas viver distante dos problemas do povo, minha cultura não passa de uma inútil erudição. Se eu morar numa cidade do interior mas desconhecer os sofrimentos da minha região, e fugir para as férias na América ou até na Europa e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão. Se eu possuir a melhor casa de minha rua, a roupa mais avançada do momento e o sapato da onda, e não me lembrar que sou responsável por aqueles que moram na minha cidade, andam de pé no chão e se cobrem de sujos e de mulambo, sou apenas um manequim colorido. Se eu passar os fins de semana em festas, boates, farras e programas, sem escutar o grito abafado do povo que se arrasta à margem da história, não sirvo para nada. O cristão não foge dos desafios de sua época. Não fica de braços cruzados, de boca fechada, de cabeça vazia. Não tolera a injustiça nem as desigualdades gritantes do nosso mundo. Luta pela verdade e pela justiça com as armas do amor. O cristão não desanima, nem desespera diante das derrotas e das dificuldades, porque sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isso é o AMOR. (autor desconhecido) 10 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social SUMÁRIO Considerações Iniciais ................................................................................12 Capítulo I : Caracterização da instituição pesquisada (ACAD) .............15 1.1: Histórico ..................................................................................15 1.2: Localização .............................................................................18 1.3: Formas de funcionamento .....................................................18 1.4: Clientela atendida ....................................................................18 Capítulo II : A Doença e a 3ª Idade .............................................................21 Capítulo III: Considerações a cerca do Diabetes Mellitus Tipo 2 ........... 28 Capítulo IV: Procedimentos Metodológicos ..............................................36 Capítulo V : Apresentação e Análise dos Dados ......................................43 5.1 : Formas de Aceitação e Não-aceitação da Doença ..............47 5.1.1: Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença ... .60 5.1.2: Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença..78 5.2: Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito ....................91 5.2.1: Apoio dos Familiares............................................................. 93 5.2.2: Apoio da religião .................................................................. 96 5.2.3: A Importância do Lazer na Vida do Sujeito .......................101 5.3: Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2 ....................108 5.3.1: Acesso ao Tratamento Médico ...........................................115 5.3.2: Aquisição de Medicamentos ...............................................117 5.3.3: Fator Idade ......................................................................... 119 5.3.4: Manutenção da Dieta ..........................................................122 Considerações Finais ....... .........................................................................125 Bibliografia...................................................................................................131 Anexos I: Roteiro de Entrevistas ..............................................................136 Anexos II: Entrevistas Gravadas ...............................................................139 Anexos III:Projeto Diabetes Sem Mistério ................................................166 11 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CONSIDERAÇÕES INICIAIS “Tudo se encontra no estado mental, porque muitas corridas têm-se perdido, antes sequer de haver ocorrido; E muitos covardes têm fracassado, antes de ter seu trabalho começado. Pensa grande e teus feitos crescerão; pensa pequeno e ficarás atrás; pensa que podes e poderás; Tudo está no estado mental” Claude Bernard 12 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Considerações Iniciais Esta pesquisa tem como objetivo identificar estratégias de enfrentamento, utilizadas pelos sujeitos da 3ª Idade portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2. Por termos conhecimento que o diabetes é uma doença crônica, provocadora de alterações na vida das pessoas portadoras dessa enfermidade, certamente seria necessário que os sujeitos precisassem utilizar de estratégias para conviver com a enfermidade, principalmente em se tratando de pessoas de 3ª idade, que entendemos serem possuidoras de hábitos sociais e alimentares bastante sólidos, às vezes não muito sadios, como é o caso do uso e abuso de bebidas alcóolicas, de doces, de guloseimas diversas, acrescido da vida sedentária levada pelo cidadão urbano. Poder-se-ia perguntar a esses indivíduos como eles se sentiram ao se depararem com o diagnóstico do Diabetes Mellitus? Ou, quais estratégias que utilizavam para enfrentar essa doença, devido à necessidade de serem feitas readaptações em suas vidas em função da doença? Seriam essas estratégias tarefas bastante difíceis, ou seriam de fácil superação? E essas estratégias utilizadas como suporte para manter o controle da doença, demandariam dos sujeitos um domínio físico e psíquico de si mesmos? Se o cidadão diabético, se conscientizasse de que o tratamento de controle do Diabetes não é algo aterrador, melhoraria a sua convivência com a doença? Sabemos que o Diabetes Mellitus é um dos mais graves problemas de saúde da atualidade, tanto em termos do número de pessoas afetadas, incapacitações, mortalidade prematura, como dos custos envolvidos no seu controle e no tratamento de suas complicações. No Brasil são 9 milhões de diabéticos e metade destes indivíduos desconhece o diagnóstico. Sendo que desse total, 90% são diabéticos Tipo 2. A maioria das pessoas considera o diabetes uma doença simples, um probleminha banal de “açúcar alto no sangue”. Na verdade, infelizmente, não é bem assim. O diabetes é uma doença que, se não tratada e bem controlada, 13 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social acaba produzindo, com o passar do tempo, lesões graves e potencialmente fatais como o infarto do miocárdio, derrame cerebral, cegueira, impotência, nefropatia, úlceras nas pernas e até amputações de membros. Por outro lado, quando bem tratado e bem controlado, todas essas complicações crônicas podem ser, na maioria das vezes, evitadas e o paciente pode ter uma vida perfeitamente normal. Qual seria o melhor caminho para esses sujeitos evitarem as complicações do Diabetes Mellitus? Com esse estudo, gostaríamos de conhecer as estratégias utilizadas para enfrentarem essa enfermidade, de modo que, as conclusões aqui obtidas, possam subsidiar diversas áreas que atuam de forma direta ou indireta com essa problemática, no sentido de possibilitar intervenções mais eficazes, bem como, estar contribuindo para que os sujeitos possam alcançar uma melhoria em sua qualidade de vida e que meios poderiam ser utilizados para que se conscientizassem da necessidade de seguirem as orientações terapêuticas necessárias para manter o controle da doença. Após selecionarmos, aleatoriamente, oito sujeitos associados da ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos), aplicamos o Roteiro Semi- Estruturado de Entrevista, e, através de estudo bibliográfico específico, construímos os Capítulos II e III, o que nos deu embasamento teórico para o Capítulo V, composto pelos itens As Formas de Aceitação e Não Aceitação da Doença, Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito e Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2. Dessa forma, tentamos obter uma resposta para a temática que nos propomos estudar. 14 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO I CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA ACAD ASSOCIAÇÃO CAPIXABA DE DIABÉTICOS “Quando se sonha sozinho é um sonho, Quando sonhamos juntos começamos uma nova realidade” Dom Helder Câmara 15 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO I: CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA (ACAD) A ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) é uma instituição sem fins lucrativos, voltada para a problemática do Diabetes, desenvolvendo um trabalho preventivo e educativo, para que o portador do Diabetes Mellitus tenha melhor qualidade de vida. 1.1 Histórico Na década de 80, as associações de diabéticos começaram a ganhar espaço e força para trabalhar com os princípios do diabetes: orientação sobre a utilização correta dos medicamentos (hipoglicemiantes orais), e sobre a insulina, seu uso e aplicação correta, sempre respeitando, à priori, a prescrição e orientação dada pelo médico ao associado; aconselhamentos sobre a dieta específica para o diabético; orientação sobre exercícios físicos; e, principalmente, campanhas e palestras relacionadas ao tema “Educação em Diabetes”. Segundo OLIVEIRA (1992), a educação é a mais importante forma de tratamento para o diabético, porque, através dela, o paciente aprende a necessidade de modificar seu comportamento, frente à doença, de forma a obter uma resposta positiva no enfrentamento do diabetes. E, ainda para OLIVEIRA (1992), “ Urge que se unam os diabéticos em associações que cresçam em número e em poder político, e que incentivem as associações já existentes, exigindo das companhias seguradoras (...) que paguem cursos educativos.” ( p.23) Ao incentivar a educação para o diabetes, as associações estariam contribuindo para que ocorresse um número menor de complicações na saúde do diabético, o que implicaria numa provável redução dos gastos públicos, proporcionando, talvez, o implemento de políticas sociais que visassem o fornecimento de medicação gratuita para as pessoas de baixa renda. Por outro 16 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social lado, através da administração de cursos e palestras educativas, as associações de diabéticos estariam proporcionando uma maior redução no número de manifestação da doença nos indivíduos geneticamente propensos à mesma, reduzindo as conseqüências provenientes do diabetes, evitando o aumento de aposentadorias precoces por invalidez. Anteriormente, a não existência de associações de diabéticos dificultava a execução de campanhas preventivas da doença, o que poderia ser uma das causas do significativo aumento de pessoas portadoras de diabetes. Essa crescente demanda, mobilizou entre 1986 e 1987, um grupo de pessoas que se interessou pela formação de uma associação, afim de proporcionar maiores informações a cerca da doença, tanto para os diabéticos como para a sociedade em geral. Assim surgiu a ACAD e, em 1988, após a realização de algumas reuniões, foi dado início à elaboração do estatuto da associação. Em 22 de abril de 1989, foi realizada no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM) a primeira assembléia que culminou com a aprovação do estatuto e em junho de 1992 a associação foi reconhecida como entidade de utilidade pública municipal pelo decreto lei n° 76l-23. Em 27 de setembro de 1996, a ACAD apoiou e orientou a campanha de prevenção “Diabetes Sem Mistério”, realizada na Caixa Econômica Federal do Espírito Santo, no prédio do Ed. Castelo Branco e patrocinada pela APACEFES (Associação de Pessoas Portadoras de Deficiência da CEF/ES), através de projeto elaborado pela estagiária do Serviço Social da UFES, Maria de Lourdes Labuto, durante Estágio Supervisionado realizado na APACEFES. Segundo depoimento da presidente da ACAD, Regina Márcia Gonring, essa foi a primeira vez que uma entidade realizou uma campanha de prevenção da doença no Espírito Santo: “Desde a fundação da ACAD, é a primeira vez que uma entidade nos procura com interesse pela causa. Esperamos que outras associações e empresas sigam o exemplo. Todas serão bem vindas.” (Jornal Sorria Com Doçura/ set/1996). Esse evento, apesar de ter sido direcionado apenas aos funcionários da CEF/ES e seus familiares, teve participação de membros da sociedade em geral, abrindo precedente para um futuro projeto de campanhas de prevenção 17 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social do diabetes nas várias agências da Caixa Econômica Federal do Espírito Santo. Para a comunidade em geral foi realizada a distribuição de cartazes educativos que foram colocados em vários consultórios médicos e postos de saúde da Grande Vitória. Mesmo sem possuir sede própria, a ACAD sempre desempenhou significativo papel na educação para o diabetes, através de palestras médicas realizadas trimestralmente no Auditório da Rede Gazeta de Comunicações. Atualmente, após 6 meses de sucessivas reuniões (04/03/97, 26/05/97, 30/06/97 e 11/08/97), realizadas no Gabinete do atual Prefeito Luiz Paulo Velloso Lucas, com a participação decisiva do vereador José Esmeraldo, da presidente da ACAD, dos membros da diretoria da associação, de médicos da Secretaria Municipal de Saúde, do Secretário Municipal de Saúde (Dr. Anselmo Tose), do Presidente do IPAMV (Sr. Hélio Santiago) e do Desembargador Álvaro M. R. Bourguignon, foi elaborado um convênio entre a associação e a PMV (Prefeitura Municipal de Vitória), no qual o Executivo se comprometeu, cedendo à Associação Capixaba de Diabéticos, duas salas conjugadas, com banheiro e cozinha, totalmente isentas de aluguel e de taxas de condomínio, energia e água, e com uma linha telefônica, dotada de extensão. Este convênio foi assinado em audiência pública no dia 22/08/97, às 10:00 horas, na presença de várias autoridades, e, tendo a duração de dois anos, podendo ser prorrogado. É intenção da ACAD realizar em sua sede atual, reuniões com seus associados para projeção de vídeos educativos sobre o diabetes, além de organizar uma biblioteca de literatura específica sobre a doença. A atual Diretoria se compõe de: Presidente: Regina Marcia Gonring Vice-presidente: Lauro Carlos Borges Secretário: Francisco Braz Dal Col Tesoureiro: Zelusko Ferreira Rocha Diretor Social: Sirlene A Fiorotti Conselho Deliberativo e Fiscal: Ana Maria da Silva, Sandra Silva Tagarro, Catarina F. Prado, Rosana Binda Folador, Tarcízio Gomes de Souza, Paulo R.G. Lepore, Renata Rasseli Zanete. 18 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social A Associação possui um informativo, fundado em março de 1996, editado trimestralmente e de distribuição gratuita, cujo nome é “Sorria Com Doçura”. Através dele os associados e a sociedade tomam conhecimento dos vários eventos interrelacionados com o diabetes. 1.2 Localização A ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) está situada à Rua do Rosário, n.º 244, Sobreloja 2, salas 309 e 310, Edifício Vitória Central. Caixa Postal 010200 – Centro, Vitória - ES – CEP 29010-970 - Telefone: (027) 233-1290 1.3 Formas de Funcionamento. A ACAD efetiva o seu trabalho junto aos associados através de palestras educativas. Desde sua fundação, vários temas já foram abordados. Dentre eles: retinopatia (complicações na visão), nefropatia (complicações renais), neuropatia (complicações nos nervos), angiologia (problemas de circulação que provocam complicações graves nos pés do diabético), higiene bucal, exercícios físicos, gravidez, impotência sexual, terceira idade e educação em diabetes. Essas palestras, abrangendo o universo do diabetes, tem sido, até o presente momento, realizadas no Auditório da Rede Gazeta de Comunicações, numa especial deferência desta rede em prol da prevenção da doença Diabetes Mellitus, e, tem por meta, conscientizar o diabético sobre os cuidados que precisa ter para poder usufruir de melhor qualidade de vida, diminuindo ou até mesmo eliminando os problemas provocados pela doença. A média de freqüência por palestra é de duzentas pessoas. 1.4 Clientela Atendida A ACAD acolhe diabéticos de qualquer classe social, cor e credo, possuindo um número aproximado de novecentos associados, sendo a maioria do sexo 19 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social feminino, e, tanto a filiação, como a permanência no quadro de sócios, é gratuita. Com relação à idade, a associação possui um maior número de sócios com idade acima de 50 anos. Isso talvez ocorra devido ao índice elevado de incidência da doença acima dessa faixa etária. 20 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO II A DOENÇA E A TERCEIRA IDADE “A batalha da vida, nem sempre a ganha o homem mais forte ou o mais ligeiro; Porque, cedo ou tarde, o homem que ganha é aquele que acredita poder fazê-lo” Claude Bernard 21 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO II: A DOENÇA E A 3ª IDADE O conceito de doença está historicamente interrelacionado com a gênese da humanidade e sofre variações etnológicas, sociais, políticas, religiosas e culturais. Para GIOVANNI (1988): “Desde as civilizações primitivas os homens se interrogam sobre este conceito. No início parecia claro que as doenças fossem devido à ausência, ou à supressão de algum princípio vital; outras vezes a uma presença estranha e nociva: corpúsculos de uma matéria ‘peccans’, matéria impura, demônios ou animais perversos. Diríamos hoje: presença de substâncias tóxicas, forças auto-destrutivas, comportamentos insalubres, micróbios e parasitas.” (p. 12) A literatura nos mostra que, ao serem realizados estudos sobre os temas que envolvem saúde e/ou doença é constante uma relação mística entre a doença e o sagrado, a medicina e a religião, a saúde e a salvação. Desde a Antigüidade, a crença da doença como punição ou castigo proporcionava a busca de curas milagrosas através do misticismo religioso. Isso persiste até a atualidade, principalmente nos países subdesenvolvidos onde o senso-comum exerce uma certa predominância em relação a conhecimentos científicos. No entanto, o avanço tecnológico e científico tem contribuído muito para que a medicina progrida cada vez mais na cura das doenças, ajudando a mudar a visão da sociedade. Ainda para GIOVANNI (1988), “Desde o final do século XIX, com o aperfeiçoamento de uma série de instrumentos, em particular do 22 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social microscópio, um grande número de cientistas, médicos e estudiosos, de Robert Koch (1842-1910) a Louis Pasteur (1822 – 1895), individualizaram as causas, os mecanismos de transmissão, as medidas preventivas e higiênicas (profilaxia) para muitas doenças infecciosas, da peste à varíola, da tuberculose à malária, contribuindo para reduzir, e em alguns casos eliminar, flagelos seculares.” (p. 15) Segundo ABREU e WAGNER (1989) ao falarmos em doença, devemos nos questionar sobre que doença se trata: se possui efeitos passageiros, se reversíveis, se são permanentes, se progressivos, se levam à dependência ou mesmo à incapacitações. Ao considerarmos ser a doença uma ação alteradora do organismo, provocada por agentes físicos, psíquicos ou sociais, não podemos pensá-la como uma entidade abstrata. Independente da idade do indivíduo, a doença em si, é um fator preocupante, tanto pelo desconforto, quanto pela ameaça de morte que ela pode causar. As doenças crônicas, são aquelas que requerem, quase sempre, maiores cuidados, além de um longo período de tratamento causando mudanças variadas na vida das pessoas, como nos hábitos alimentares, culturais, sociais, além do uso de medicação. Ao passo que as doenças não crônicas são aquelas que possuem curto período de duração, afetando menos o curso de vida do indivíduo. Para CRAIG e EDWARDS (1983), “os indivíduos com doenças crônicas, bem como suas famílias, necessitam se adaptar a mudanças como, por exemplo, às perdas de ‘status’ no trabalho, na família e na sociedade, e também à sua nova auto imagem” (In TRENTINI et all, 1990, p. 18) Segundo LLEWELYN e FIEDING (1983), os indivíduos com doenças crônicas enfrentam, muitas vezes, perdas no relacionamento social e nas atividades físicas e de lazer. ( In TRENTINI et all, 1990). E, para WENGER et all (1984), “a principal meta terapêutica da maioria dos indivíduos em condições crônicas 23 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social não é a cura, mas sim a redução da severidade da doença ou a detenção de sua progressão.” (In TRENTINI, 1990, p. 18/19) E, conforme MILLER (1983), esses indivíduos só poderão alcançar essa meta se enfrentarem positivamente as condições próprias da doença crônica, através o conhecimento conseqüências, da mesma, de maneira a amenizar suas enfrentando as perdas, de modo a obter um melhor relacionamento na sociedade, sem perder a esperança de adquirir melhores condições físicas, proveniente de tratamento médico adequado. (In TRENTINI,1990) Na atualidade, a política governamental brasileira vem implantando políticas sociais de prevenção, no sentido de que, através desse método, a cura das doenças se torne mais definida e menos onerosa para o sistema de saúde e para o próprio indivíduo, pois, “ a prevenção, mais do que uma exigência moral, é também uma necessidade econômica, senão os custos da assistência tornarse-iam insustentáveis e quem realmente tem necessidade não poderia mais ser tratado.” (GIOVANNI, 1988, p. 72) Por esse motivo, a medicina tem promovido campanhas educativas e informativas, além de estar chamando a atenção da sociedade, para o hábito de fazer exames preventivos, mesmo quando o indivíduo não apresenta nenhum sintoma considerado anormal, que poderia ser identificado como doença. A educação em saúde, de uma maneira genérica, vem sendo, na atualidade, enfatizada como um dos mais eficazes meios de tratamento de doenças e prevenção de suas complicações. A Educação em Diabetes, além de ampliar a compreensão que o indivíduo tem da doença, capacita-o para melhor assumir o seu tratamento, evitando descompensações, tornando-se, portanto, de suma importância no atendimento ao diabético. A prevenção no mundo contemporâneo tem tido quase que o mesmo peso do misticismo religioso no passado, porque antes, estar doente era sinônimo de desobediência às leis divinas, e, hoje, estar doente quase sempre está relacionado com a desobediência às leis naturais, sociais e, principalmente aos 24 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social preceitos médicos, tais como: fazer exames pré-natais, “check-up” regulares, tomar as vacinas, evitar vícios como o fumo e a bebida alcóolica, não consumir gorduras nem açúcares, praticar esportes, etc. É do nosso conhecimento que a doença ocorre em qualquer idade, porém sabemos que sua maior freqüência é entre as crianças e as pessoas idosas, devido à pouca resistência e falta de imunidade do organismo. Na infância para compensar a falta de imunidade, há necessidade de tomar todas as vacinas como forma de prevenção das doenças, e, na velhice, devido as doenças se manifestarem com grande freqüência pela degeneração que ocorre em todo organismo humano, variando apenas a forma e intensidade em cada indivíduo, há que se prevenir através da busca de fatores que melhorem a qualidade de vida. Segundo PEREIRA (1996), o ciclo de vida humano é acompanhado pelas seguintes perdas fisiológicas: Diminuição de água nas células, que causa a desidratação do idoso; Musculatura atrofiada, podendo até ocorrer a diminuição de algumas fibras; A pele aos poucos vai perdendo a elasticidade, somada à desidratação e aos movimentos de expressão e à gravidade, dando origem às rugas; Diminui a musculatura e com isso há perda da força, flexibilidade, resistência e equilíbrio; A massa óssea também diminui, e no caso dessa perda ultrapassar 30%, já é osteosporose, não sendo mais fisiológico; Ocorre endurecimento das artérias devido ao depósito de gordura e cálcio ao longo da vida; O coração, por ser um músculo, vai perdendo lentamente sua elasticidade, comprometendo o débito cardíaco, com diminuição da reserva funcional; Alvéolos e brônquios diminuem sua elasticidade, aumentando o ar residual o que faz com que o idoso tenha mais problemas respiratórios; O aparelho digestivo sofre uma certa atrofia da mucosa que diminui a acidez gástrica e as atividades enzimáticas, ocorrendo alteração na absorção de algumas substâncias; 25 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social E o aparelho geniturinário, compromete a unidade funcional do rim, diminuindo a filtração, reabsorção e eliminação facilitando a ocorrência de infecções. Nas mulheres há uma queda de estrogênio na menopausa provocando atrofia vaginal. Nos homens ocorre um aumento da próstata podendo causar retenção urinária e conseqüente infecção; No sistema nervoso diminui o número de neurônios, ocorrendo após os 40 anos uma perda de 200.000 dessas células por dia. Para ABREU e WAGNER (1989): “A doença é sempre uma ameaça, de dor, de desconforto, de perdas e até mesmo de morte. Como será para uma pessoa que já conta em seu currículo com quatro ou mais décadas de vida perceber em si ou receber o diagnóstico de uma doença que ela conhece como mais comum em pessoas mais velhas?” ( p.129) Além da desvantagem de estar mais propício à doença do que as pessoas de outras faixas etárias, à exceção das crianças, como foi lembrado anteriormente, o idoso é o tipo de indivíduo que, pela lei natural e biológica está com o organismo mais desgastado, o que faz com que a doença lhe seja mais dolorosa ainda, pelo lado psicológico e pelo físico. No entanto, devemos ressaltar que o envelhecimento em si não deve ser considerado sinônimo de doença, como tem sido visto por uma parcela da sociedade. Mas sim, como uma fase da vida onde o sujeito já acumulou muita sabedoria e experiência, devido a conhecimentos e vivências adquiridas com o acúmulo de anos vividos. A velhice não precisa, necessariamente, estar acompanhada por enfermidade, e, a forma de minimizar as tendências naturais da velhice, está interrelacionada com a prevenção das doenças. 26 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social As normas de prevenção quando observadas desde a infância, refletem na vida futura dos indivíduos, fazendo com que, através destas variáveis, tenham uma vida mais saudável. Para NERI (1995), “pode-se dizer que um envelhecimento bem-sucedido depende de um conjunto de elementos. O principal sem dúvida é de ordem econômica, fundamental à promoção de boa saúde física e à educação ao longo do curso de vida. Outro é a adoção de providências reais no sentido de potencializar o desenvolvimento e a adaptação da pessoa humana, educando-a continuamente e realizando as adaptações sociais necessárias à sua melhor qualidade de vida. O terceiro é o estímulo à flexibilidade individual e social em relação às questões da velhice.”(p.38) No Brasil, mesmo com a atual política social, não tem sido dada, ainda, a necessária atenção à questão da saúde, principalmente nas camadas menos favorecidas da população, carente de condições primárias de vida, tais como: alimentação, educação, saúde, moradia, saneamento básico, etc, fazendo com que seja de grande importância um maior incentivo ao trabalho de campanhas preventivas, para esclarecer cada vez mais, reduzindo, consequentemente, o número de doenças e de mortalidade, garantindo, por outro lado, melhor qualidade de vida, com maior economia. 27 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO Ill CONSIDERAÇÕES A CERCA DO DIABETES MELLITUS TIPO 2 “É natural confiar nos sinais de trânsito, no coração a bater, nos pulmões a respirar, no aparecimento do dia e da noite e em muitas outras coisas. Por que, então, não confiar em si e fazer logo os planos para o amanhã? Por que não firmar agora as bases de trabalho, perseverança e otimismo, sem temer problemas? Confie no seu poder de realizar pela ação, pensamento, diálogo, inteligência e vontade e dê uma demonstração de confiança nas qualidades, tomando o destino nas mãos. Use a força de vontade. A pedra volta, mas a vontade, arremetida para cima, continua subindo” Lourival Lopes 28 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO DIABETES MELLITUS Segundo PIEPER (1997), a palavra diabetes é de origem grega e significa “correr através de alguma coisa” e a palavra mellitus vem do latim, cujo significado é “adoçado como mel”. Por isso os antigos ao suspeitarem a presença da doença provavam a urina para ver se estava adocicada. No entanto, apesar dessa doença ser tão antiga quanto a humanidade, e da ciência sustentar que não é uma doença contagiosa, os cientistas ainda não descobriram, exatamente, porque ficamos diabéticos. As pessoas ficam diabéticas e dentre as causas apontadas, destacam-se as genéticas, isto é, os indivíduos possuem uma predisposição hereditária, podendo a doença passar de geração para geração. Quanto mais diabéticos na família, mais chances de se contrair o diabetes. Além disso, outros fatores são considerados como causas da doença, dentre os quais, os fatores do meio ambiente e os psicológicos, gerados pelo estresse; doenças do pâncreas (pancreatite, devido ao álcool ou cirurgias pancreáticas); gestação; ou mesmo alguns vírus comuns da infância como caxumba, coxsa-ckie e que podem atacar por engano a célula beta; a obesidade (em forma de maçã, na cintura)¹; e o sedentarismo, facilitam o aparecimento do Diabetes Mellitus, doença de ocorrência mundial, que atinge cerca de 6 a 7 pessoas em cada cem, 2 sendo que, só no Brasil, o número de diabéticos é estimado em 9 milhões. Desse total, 50% não sabem que estão doentes e 23% não fazem nenhum tratamento, de modo que o país perde 24 mil vidas por ano devido a esse mal.³ Segundo a Federação Nacional de Associações de Diabéticos e o Ministério da Saúde, o diabetes é uma doença ¹PIEPER , Claudia, Folheto Equipe D em ação, 1997 ² Fonte utilizada: Revista BIOBRAS, informativo sobre diabetes. ³ Fonte Federação Nacional de Associações de Diabéticos e Ministério da Saúde, Revista VEJA, 22/07/98. 29 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social que está assumindo proporções epidêmicas e, a Organização Mundial da Saúde afirma que em 1990 o número de doentes somava 80 milhões de pessoas no mundo e hoje já é de 135 milhões, sendo previsto para o ano 2000 um total de 160 milhões de diabéticos no mundo.¹ E como ficamos diabéticos? Fica-se diabético quando não existe ou quando é pouca a quantidade de insulina no organismo. A insulina é um hormônio fabricado por uma glândula chamada pâncreas, localizada atrás do estômago. No organismo saudável, todos os alimentos que comemos transformam-se em glicose (açúcar) mesmo os que não são doces. A glicose é o principal alimento da célula. Sem glicose e sem insulina não conseguimos viver. A insulina é a principal responsável pela entrada da glicose na célula. A sua falta faz com que o açúcar se acumule no sangue, não se transformando em energia, já que a célula não foi alimentada. A glicose, sendo alimento da célula, chega até ela através da insulina. O diabetes ocorre pela falta total ou parcial de insulina no organismo e com isso podemos dividir os diabéticos em dois grupos principais: Tipo I, ou insulino-dependente, cujo organismo possui uma falta total de insulina e o Tipo II, ou não-insulino-dependente, que possui uma falta parcial de insulina. De acordo com a nova nomenclatura médica passou-se a denominar de Tipo 1 e Tipo 2 o diabetes de Tipo I ou insulino-dependente e o diabetes de Tipo II ou não-insulino-dependente, respectivamente. O diagnóstico do diabetes é obtido ao ser constatado alteração da quantidade de açúcar (glicose) no sangue e Diabetes Mellitus é o nome dado ao conjunto das situações resultantes dessa incapacidade do organismo em manter a glicemia, isto é, o nível de glicose no sangue, dentro dos limites considerados normais e, quando a doença não é tratada, estes níveis de glicose atingem valores excessivos, causando graves problemas à saúde do indivíduo. A glicose é um tipo de açúcar proveniente da alimentação e que ao ser absorvido pelo intestino, é levado para o sangue e usado pelas células do ¹ Revista VEJA, 22/07/98. 30 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social organismo na produção de energia. A glicose é de grande importância para as células nervosas. Os níveis de açúcar no sangue, são mantidos pela liberação da glicose armazenada no fígado e esses depósitos são refeitos através da glicose proveniente dos alimentos ingeridos pelo indivíduo. A substância de maior importância para o controle da glicemia no organismo é a insulina. Pode ocorrer a perda total da capacidade do organismo de produzir insulina, mas isso é relativamente incomum e a terapêutica utilizada é o uso de injeções de insulina. No entanto, na maioria dos casos, os organismos dos diabéticos produzem alguma insulina. Nesses casos, os pacientes são tratados com antidiabéticos orais (medicamentos que aumentam a eficiência da produção de insulina pelo organismo), e por dieta adequada, de acordo com orientação médica. Daí a importância do diabético educar-se de modo a controlar melhor a produção de insulina no seu organismo. A insulina tem a responsabilidade de manter a utilização adequada dos nutrientes, isto é, dos alimentos, entre os quais a glicose, que é a mais simples das substâncias chamadas carboidratos ou açúcares. Qualquer carboidrato ingerido, (por exemplo, o amido encontrado nos cereais e nas raízes, como a batata), para ser absorvido no intestino, tem de ser quebrado na sua forma mais simples: sacarose (açúcar de mesa) e glicose (açúcar cristalino, incolor, encontrado no sangue e em várias plantas)¹. Uma vez absorvida a glicose, para que a mesma possa ser utilizada pelo organismo, tem de entrar nas células e é a insulina que torna esse processo possível ou mais fácil. Se uma pessoa não tem insulina, ou se sua ação está diminuída, o primeiro resultado é fácil de se imaginar: a glicose, não podendo entrar na célula e ser consumida, acumula-se no sangue, provocando a hiperglicemia, isto é, provocando o excesso de glicose no sangue. E esse excesso de glicose tem de ser eliminado do sangue e o caminho mais fácil é através da urina. A esse processo da eliminação da glicose excedente no sangue através a urina, ¹ Fonte Mini-dicionário Aurélio, 1977 31 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social denomina-se glicosúria. Para que a glicose saia na urina, ocorre a necessidade da existência de água. Essa água retirada do organismo incorpora-se à glicose tornando-a habilitada para ser expelida pela urina. Ao processo de incorporação de água à glicose dá-se o nome de poliúra. A pessoa acometida de hiperglicemia, necessita de eliminar muita glicose (acrescida de água, naturalmente) através da urina. Isso faz com que a pessoa se desidrate, tendo, consequentemente, muita sede e passando a beber água exageradamente. A esse estágio denomina-se polidipsia. E se a célula não recebe a glicose, além de outros nutrientes também controlados pela insulina, tais como as proteínas e as gorduras, o cérebro “pensa” que está faltando alimento (energia) ao corpo e ativa o mecanismo de emergência do corpo para que o indivíduo encontre o alimento, e isso se apresenta através da fome.¹ No caso do diabético a fome excessiva é um sintoma característico da doença. Para evitar que o diabético alimente-se compulsivamente, faz-se necessária a Educação para o Diabetes, a fim de evitar problemas de obesidade. O que nos faz ponderar que, ao receber uma orientação adequada, o paciente diabético poderá se conscientizar da necessidade de manter sua alimentação em horários regulares, para que não ocorra uma diminuição brusca da quantidade de calorias ingeridas, o que provocaria uma baixa acentuada dos níveis de glicose no sangue (hipoglicemia). No caso de ocorrer a hipoglicemia, se o indivíduo não for socorrido em tempo, pode entrar em coma hipoglicêmico. Quando ocorre a reação hipoglicêmica, o paciente deve ser socorrido com a administração urgente de glicose por via oral (quando o mesmo estiver consciente), ou por injeções de glicose endovenosa, ou por injeção subcutânea de Glucanon, medicamento específico para o diabetes. No caso do indivíduo estar ainda consciente, embora pareça contraditório, a ingestão de alguns copos de suco de laranja, balas, chocolates ou mesmo a dextrose em pó ou em comprimidos, no início dos sintomas de reação hipoglicêmica, podem ¹ Fonte BIOBRAS, Informativo sobre Diabetes Mellitus 32 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social se constituir em medidas milagrosas, capazes de reverter o quadro clínico.¹ Os sintomas característicos da hipoglicemia, são: sensação de fraqueza ou fome; tonturas; tremores, palpitação; sudorese (excesso de suor), pele fria; convulsões; perda de consciência; e, se o caso clínico agravar, pode ocorrer a morte. O mecanismo que desencadeia a fome no indivíduo, procede da seguinte maneira: inicialmente o fígado se encarrega de produzir a glicose e mandá-la para o sangue e o tecido gorduroso é obrigado a queimar suas reservas para produzir energia necessária para movimentar o corpo do indivíduo. Com isso, a glicose vai subir mais ainda e o paciente vai começar a emagrecer e a sentir fraqueza provocada pela suposta falta de energia no organismo, desencadeando a polifagia, que é a sensação constante de fome no diabético. Daí por diante, em reação de cadeia, o nível da glicose no sangue aumenta ainda mais. Ao queimar as gorduras do corpo, o organismo gera subprodutos denominados de cetonas e que são eliminados pela respiração, dando o hálito característico do diabético, com cheiro adocicado, o chamado hálito cetônico. Outro veio de eliminação das cetonas, é através a urina que adquire, também, odor característico e esse fenômeno é denominado de cetonúria.² E, como sabemos se estamos ou não diabéticos? O diabetes pode surgir de forma brusca ou de forma insidiosa. Cinco são os sintomas e sinais principais: urinar muito, cansaço fácil, muita fome, sede excessiva, emagrecimento. A esses sintomas juntam-se, com freqüência: visão turva, nervosismo, infecções cutâneas, dormências ou dores vagas, especialmente nas pernas, coceiras no corpo, especialmente nos órgãos genitais. Ao fazer o diagnóstico, o médico pode verificar a dosagem de glicose no sangue, se estiver acima do normal ¹ Fonte Asta Médica, Revista Convivendo com o Diabetes ² Fonte BIOBRAS, Informativo sobre Diabetes Mellitus 33 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social (acima de 126 mg/dl) em jejum, é diabetes mellitus. Caso apareça glicose na urina, também é sinal do diabetes. Como tratar o Diabetes Mellitus? Há três medidas principais, as quais são a base do tratamento bem sucedido: dieta, exercícios e medicamentos. A dieta é fundamental em todos os tipos de diabetes. Muitas vezes é o principal tratamento, como nos pacientes de intolerância glicídica (tolerância diminuída à glicose). Nestes casos quando a pessoa ingere muitos carboidratos (massas, biscoitos e até doces) os níveis de glicose se elevam. A dieta deve ser equilibrada, balanciada, e oferecer todos os nutrientes, divididos em 5 ou 6 refeições por dia. Ela deve conter vegetais (verduras e legumes), proteínas (carne de boi, peixe, frango, leite e derivados), carboidratos (arroz, batatas, pães e biscoitos).O diabético jamais deve fumar ou tomar bebida alcóolica. Com relação aos exercícios físicos, eles são benéficos para todas as pessoas, e, especialmente para os diabéticos, mas devem ser praticados com moderação e pelo menos 3 a 4 vezes por semana, com orientação médica. O indivíduo com Diabetes Mellitus Tipo 1, além da dieta e dos exercícios, necessitam de insulina para manter os níveis de glicose no sangue, dentro ou próximo ao normal. O mesmo ocorre com o diabetes gestacional, onde a glicemia aumenta durante a gravidez e logo volta ao normal, após o nascimento do bebê. Já o Diabetes Mellitus Tipo 2, ocorre geralmente em pessoas com mais de 40 anos que podem ser obesos ou não e é comum nesses indivíduos, ocorrer o aumento nos níveis de triglicerídeos e colesterol no sangue, além de hipertensão arterial. Este grupo pode ser beneficiado com o uso dos antidiabéticos orais (comprimidos) como a Metformina, que equilibra tanto a glicemia (açúcar no sangue) como todos fatores já citados. Existem outros antidiabéticos orais como as Sulfoniluréias e os inibidores da enzima alfa, Glicosidase.¹ Quanto às complicações, o controle dos níveis de glicose no sangue (glicemia), como já foi relatado, pode ser alcançado com a dieta, exercícios físicos e ¹ Fonte Revista BIOBRAS, informativo sobre Diabetes Mellitus 34 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social medicamentos indicados (insulina e/ou antidiabéticos orais). Este controle permite que o diabético viva de “bem com a vida” sem impedimentos. Porém se os níveis de glicose são mantidos elevados por um tempo prolongado, podem ocorrer complicações como: Retinopatia: alteração nos vasos da retina, levando à diminuição da visão e até a cegueira; Nefropatia: alteração nos vasos dos rins, levando à diminuição da função renal; Neuropatia: alteração nos nervos periféricos das extremidades (pés) e nos nervos autônomos, levando, se não tratado em tempo, até a perda dos membros inferiores; Cardiopatia: problemas cardiovasculares, hipertensão arterial, arteriosclerose e infarto. ¹ ¹ PIEPER, Dra. Claudia, Informativo Equipe D em Ação, Merck S. A . Indústrias Químicas. 35 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO IV PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS “É preciso livrar-se do compromisso com o êxito para poder criar. O êxito como objetivo é castrador da criatividade e pode até significar concessão à mediocridade” (autor ignorado) 36 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO IV: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para realização dessa pesquisa, utilizamos de procedimentos exploratórios que, segundo SELTIZ et all: “Enfatiza a descoberta de idéias e discernimentos”. (In MARCONI et all, 1995,p.19). A utilização desse procedimento torna-se necessária, devido o tempo disponível ser pequeno, não permitindo maior aprofundamento no tema enfocado. Entendemos que, para realizarmos uma pesquisa, após formularmos hipóteses, faz-se necessário fundamentarmos os estudos exploratórios em base teórica. Portanto, após a delimitação do objeto, iniciamos a pesquisa bibliográfica para obtermos maiores informações sobre o assunto a ser pesquisado levando em consideração que: “ A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar duplicações e certos erros, e, representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações.” (MARCONI, LAKATOS, 1995,p.24) Usamos critérios de qualidade na seleção dos textos e dos autores escolhidos, afim de obtermos suporte realmente eficaz para realização do trabalho, antes de iniciarmos a pesquisa de campo. Elegemos a ACAD (Associação Capixaba de Diabéticos) para obtermos a amostra da nossa pesquisa por ser uma instituição voltada exclusivamente para o diabético. Visando caracterizar detalhadamente a instituição pesquisada, entrevistamos a presidente da ACAD, Sra. Regina Gonhring. A maior parte da entrevista foi gravada e transcrita posteriormente, de modo a satisfazer o Capítulo I desta pesquisa. 37 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Para efetuarmos a pesquisa de campo, formulamos um roteiro de entrevista semi-estruturado com o qual realizamos o pré-teste com um dos associados da ACAD, em domicílio do mesmo, e que possibilitou-nos testar a validade do instrumento no que se refere à coleta dos dados, bem como quanto à clareza da linguagem utilizada nas perguntas. O pré-teste possibilitou-nos constatar necessidade de reajustes no questionário, bem como a influência de problemas técnicos e ambientais, tais como ruídos relacionados ao uso do gravador, além de interferências de terceiros durante a entrevista. Refizemos o instrumento, elaborando, então, um roteiro de entrevista do tipo semi-estruturado com 10 questões fechadas e 15 questões abertas. Para as questões fechadas não utilizamos o gravador, sendo essa técnica utilizada apenas para as questões abertas considerando a necessidade de obtermos informações mais precisas sobre os sujeitos, pois como relata QUEIROZ (1987): “O gravador (...) é um meio milagroso de conservar à narração uma vivacidade de que o simples registro no papel as despojava, uma vez que a voz do entrevistado, suas entonações, suas pausas, seu vai-e-vem no que contava constituíam outros tantos dados precisos para estudo.” ( p.273) Por se tratar de uma pesquisa social, envolvendo, portanto, o ser humano, elemento passível de emoções e divagações, o gravador torna-se o instrumento mais capacitado para registrar com maior fidelidade, o relato dos entrevistados. Quanto à escolha dos sujeitos, utilizamos uma amostra intencional equiparada sexualmente. Essa amostra não representa o universo da ACAD devido a maioria dos sócios da instituição, ser do sexo feminino. Foi selecionada entre associados que freqüentavam a instituição por mais de um ano, portadores do Diabetes Mellitus Tipo 2 e com idade igual ou superior a 50 anos. 38 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Segundo ÂNGULO (1979), a Organização Mundial de Saúde reputa como limite inicial, caracterizador da velhice, a idade de 65 anos. Essa afirmativa, embora simplista, vem sendo utilizada pelos estatísticos que documentam a geriatria, estabelecendo um mero valor cronológico, o qual, na maioria das vezes, não corresponde à idade fisiológica. Para AIDA (1983): “Existem algumas controvérsias no enquadramento de uma pessoa na categoria de velho ou não. Algumas pessoas, aos 60 anos, já se sentem muito mais velhas que as outras com 70 e 80 anos. Dizer que alguns com 50, 60 ou 70 anos sejam velhos é muito relativo. A OMS criou uma nomenclatura, em 1963, para definir faixas etárias, ou períodos que variam de 45 a 90 anos: 45 aos 59 anos – idade média ou mediana; 60 aos 74 anos – idoso; 75 a 90 anos – ancião; 90 anos em diante – velhice extrema.” (p.7) O fato de não termos conhecimento da existência de uma literatura que determine a idade limite para início da velhice, permitiu-nos estabelecer como sendo 50 anos a idade inicial para o sujeito de terceira idade, pertinente à nossa pesquisa. Segundo DEBERT (1998), em entrevista concedida ao Jornal A Folha de São Paulo, a velhice não é um período naturalmente determinado na existência de um indivíduo, mas sim uma categoria produzida pela sociedade e que varia de acordo com os diferentes contextos histórico-culturais. E, com relação à expressão “terceira idade”, o artigo Linha da Vida, do Jornal A Folha de São Paulo, menciona que: “A expressão terceira idade, por exemplo, teria se originado na França, com a implantação, nos anos 70, das Universités de Troisième Age (Universidades da Terceira Idade). O uso da expressão é explicado como uma forma de tratamento não-depreciativo 39 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social para pessoas mais velhas, sem uma idade cronológica precisa. Da mesma forma como a velhice, outras etapas da vida como infância, adolescência e juventude são produtos sociais. De acordo com Debert, em todas as sociedades é possível observar a presença de ‘grades de idades’ – e cada cultura tende a elaborar ‘grades específicas.” (02/05/1998, p.8) . Outro fator que influenciou-nos na escolha do sujeito de nossa pesquisa a partir de 50 anos de idade, foi por ser a faixa etária de 50 a 59 anos a de maior incidência do diabetes, atingindo um percentual de aumento maior, de 7,14 %, em relação a outras faixas de idade, de acordo com fonte obtida via Internet, na Home Page from Diabetes Mellitus: “Prevalência de diabetes mellitus, por grupo etário, na população brasileira de 30 a 69 anos: 30 – 39 anos: 40 – 49 anos: 50 – 59 anos: 60 – 69 anos: 2,7% 5, 52% 12, 66% 17,43%” Selecionamos a amostra desta pesquisa, durante a reunião trimestral da ACAD, realizada em março/1998 e utilizamos uma ficha de inscrição que nos permitiu obter dados pessoais dos indivíduos, facilitando assim a realização das entrevistas, que foram em domicílio dos sujeitos, após prévio acordo com os mesmos. Essa opção se deu pelo fato da Associação não estar, ainda, de posse definitiva de sua sede na época das entrevistas. A duração das entrevistas variou de 30 a 40 minutos. Ao concluirmos a pesquisa de campo, mantivemos acompanhamento constante de pesquisa bibliográfica, afim de obtermos embasamento para a pesquisa exploratória e, após a organização dos dados coletados pelas perguntas abertas, iniciamos a redação do texto da nossa pesquisa, de acordo com SEVERINO (1996), que diz: 40 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “ A fase de redação consiste na expressão literária do raciocínio desenvolvido no trabalho. Guiando-se pelas exigências próprias da construção lógica, o autor redige o texto, confrontando as fichas de documentação, criando o texto redacional em que vão inserir-se. Uma vez de posse do encadeamento lógico do pensamento, esse trabalho é apenas uma questão de comunicação literária.” (p. 83) E, ainda, segundo orientação bibliográfica de SEVERINO (1996), buscando utilizar de um estilo sóbrio e preciso, de modo a facilitar o entendimento do nosso raciocínio pelo leitor, iniciamos a análise dos dados nos vários itens pesquisados em que se situa o nosso trabalho. Selecionamos os dados coletados nas perguntas abertas, formando categorias que foram agrupadas de acordo com a similaridade das respostas dos sujeitos, constituindo-se no Capítulo V, composto dos seguintes itens e sub-itens, de modo a facilitar a análise de conteúdo dos mesmos: 5.1 Formas de Aceitação e Não-aceitação da Doença 5.1.1 Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença 5.1.2 Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença 5.2 Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito 5.2.1 Apoio dos Familiares 5.2.2 Apoio da Religião 5.2.3 A Importância do Lazer na Vida do Sujeito 5.3 Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2 5.3.1 Acesso ao Tratamento Médico 5.3.2 Aquisição de Medicamentos 5.3.3 Fator Idade 5.3.4 Manutenção da Dieta 41 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social No item Barreiras Sócio-Econômicas que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2, para compreendermos melhor as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos sujeitos, reforçamos a análise dos dados através de respostas obtidas nas perguntas fechadas e interrelacionadas com as barreiras sócio-econômicas que dificultam ao indivíduo, o controle da doença. 42 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO V APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS “Visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Visão com ação pode mudar o mundo” Joel Arthur Barker 43 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A metodologia adotada para a análise dos dados, consistiu na Análise de Conteúdo. Segundo DIÁZ (1992), FRANCO (1986) e TRIVINOS (1987) (In CADE, 1996, p. 43), a análise de conteúdo pode ser compreendida como um método usado com o intuito de desvendar a mensagem contida nas comunicações, na expressão dos sujeitos. E, para BARDIN (1994), a intenção da análise de conteúdo é compreender o sentido da comunicação, desviando o olhar para uma outra significação de natureza psicológica, sociológica, política e histórica.(In CADE, 1996) Para realizar a análise de conteúdo, utilizamos categorias de modo que nos possibilitasse decodificar as falas dos sujeitos, isolando temas principais dos secundários, de modo a facilitar a compreensão do caminho traçado. As respostas das 15 questões abertas foram agrupadas em três itens, seguidos de sub-itens: Formas de Aceitação e Não Aceitação da Doença, Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito e Barreiras Sócio-econômicas que Dificultam o Controle da Doença Diabetes Mellitus Tipo 2. Como suporte para a análise de conteúdo, utilizamos dos dados contidos nas perguntas fechadas referentes ao sexo, idade, situação econômica, escolaridade, religião e lazer. À medida que se fazia necessário, era realizado um retorno ao texto de origem para constatarmos o sentido verdadeiro das falas dos sujeitos. Durante a análise, observamos que o universo das respostas ultrapassou em alguns casos o número de sujeitos devido a algumas perguntas darem margem a mais de uma resposta. A partir do momento que os dados foram trabalhados à luz de embasamento teórico específico para cada item e sub-item, apresentamos recortes das respostas dos sujeitos, expondo as nossas considerações sobre 3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2: Estratégias de Enfrentamento. 44 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Caracterização Geral dos Sujeitos A amostra dos sujeitos pesquisados, foi equiparada e selecionada intencionalmente e coletada entre associados da ACAD, inscritos há mais de um ano na instituição, sendo quatro do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Os sujeitos do sexo masculino possuem idade entre 56 e 69 anos e os do sexo feminino, idade entre 50 e 62 anos. O estado civil predominante entre os sujeitos dos sexo masculino é o de casado, pois, dos quatro sujeitos, três são casados e apenas um é desquitado. Essa predominância não foi observada entre os sujeitos do sexo feminino: dois são solteiros, um viúvo e um casado. Entre os homens, dois residem com esposa e filha. Os outros dois, um reside com esposa e duas filhas e o outro com a companheira. Entre as mulheres, duas residem sozinhas, uma mora com quatro filhas e a outra com esposo, filha, genro e três netos. A religião predominante entre os homens é a católica, sendo que apenas um sujeito é católico praticante e, outros dois são católicos não praticantes; apenas um é presbiteriano. Entre as mulheres também predominou a religião católica: duas são católicas praticantes, uma é católica não praticante e uma é evangélica. Quanto à situação profissional, três dos homens, são aposentados e um encontra-se afastado do trabalho devido à doença. Entre as mulheres duas são aposentadas, uma é pensionista e outra é doméstica. A renda dos sujeitos do sexo masculino é bastante variável: um recebe mais ou menos 3 SM, outro mais ou menos 20 SM, o Sujeito 3 recebe 12 SM e o Sujeito 4 mais ou menos 2 SM. A renda dos sujeitos do sexo feminino também varia bastante: o Sujeito 5 recebe mais ou menos 3 ½ SM, o Sujeito 6 mais ou menos 4 SM, o Sujeito 7, 5 SM e o Sujeito 8 apenas um SM. 45 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Tabela de Caracterização Geral dos Sujeitos: Sujeito 1 Sexo M Idade Estado Com Religião Situação Renda Civil quem Profis- mora sional 62 anos Casado Esposa/ Católico Afasta1 filho não do Familiar +/-3 do Salário- pratican- trabalho Mínimo te 2 M 56 anos Casado Esposa/ Católica Aposen- +/- 20 ½ 1 filha 3 M 65 anos Casado M 69 anos Desquitado S.M. Esposa/ Presbite Aposen- 12 S.M. 2 filhas 4 tado riana tado Compa- Católica Aposen- +/-2S.M. nheira não tado praticante 5 F 62 anos Solteira Sozinha Católica Aposen- +/-3½ não tada S. M. praticante 6 F 56 anos Viúva 4 filhas Católica Pensionista 7 F 50 anos Casada +/-4½ S. M. Esposo, Católica Domés- 5 S. M. 1 filha, tica genro, 3 netos 8 F 58 anos Solteira Sozinha Evangé- Aposen- 1 S. M. lica tada M = Masculino; F= Feminino; S.M.= Salário Mínimo 46 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.1 FORMAS DE ACEITAÇÃO E NÃO ACEITAÇÃO DA DOENÇA “Se pensas que estás vencido, estás; Se pensas que não te atreves, não o farás; Se pensas que te agradaria ganhar, mas que não podes, não o realizarás; Se pensas que perderás, já perdeste; Porque no mundo descobrirás que o sucesso começa com a vontade do homem” Claude Bernard 47 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.1 FORMAS DE ACEITAÇÃO E NÃO ACEITAÇÃO DA DOENÇA Ao entrevistarmos os sujeitos, buscamos detectar se os mesmos aceitavam a doença ou se não a aceitavam. E, pela análise dos dados coletados nas entrevistas, observamos que, apesar da doença incomodar em qualquer idade, independentemente dos sintomas ou de sua intensidade, a forma de aceitação variava de indivíduo para indivíduo, talvez pela multiplicidade de enfrentamentos de cada sujeito em particular, tais como, fatores econômicos, sociais, políticos, grau de instrução dos mesmos e o conhecimento que cada um possuía sobre a doença. De fato, segundo DALLARI (1987), a saúde de um povo depende do seu nível de vida, sofrendo influências diretas dos fatores sócio-econômicos e culturais que qualificam o seu desenvolvimento, sendo que, o nível de instrução da população pode até refletir nas atividades que envolvem educação sanitária, o que é base fundamental para uma boa saúde. Com a finalidade de observarmos o nível de conhecimento e de aceitação da doença, fizemos a seguinte pergunta: O que é o diabetes para você? Dentre os oito sujeitos entrevistados, apenas um respondeu que considerava a doença como algo normal; dois sujeitos, apesar de dizerem inicialmente que consideravam o diabetes, também como algo normal, no decorrer das entrevistas, disseram sentir alguns sintomas que denunciavam a presença da doença, tais como, tonteiras e embaçamento nas vistas, além de admitirem a utilização de medicamentos. E, cinco sujeitos consideraram o diabetes como uma doença que exige controle alimentar e acompanhamento médico. Realmente, é muito importante o acompanhamento médico, bem como uma dieta específica para o controle da doença Diabetes Mellitus, logicamente que acompanhado de exercícios físicos adequados e de medicação para o controle da produção de insulina pelo organismo do indivíduo. Já, dois sujeitos demonstraram conhecimentos da hereditariedade da doença: “Prá mim é uma coisa comum, sim? Que eu já tenho a minha mãe que é diabética e eu já venho enfrentando isso há muito tempo.” (S 6) 48 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “Que eu já perdi na família, né?Já que é uma coisa hereditária, eu sei disso, eu tenho consciência disso, que é hereditário (...) meu pai morreu com problema de diabetes, meu irmão morreu cego.” (S 5) Para BARRETO (1997) “Diabetes mellitus não dependente de insulina natureza é uma doença hereditária, que primária se de instala gradativamente durante a vida adulta. A predisposição está ligada à resistência insulínica no tecido muscular, que é determinada por dificuldades na via não oxidativa, isto é, a via de síntese do glicogênio. Esta característica, que parece decorrer de mutação genética e polimorfismo, compromete, numa primeira instância, a utilização corporal da glicose, já que o tecido muscular capta cerca de 40% da glicose pós-prandial para sua transformação em glicogênio por ação da insulina. Reforçando a hipótese de predisposição hereditária, estudos em parentes de diabéticos do Tipo 2 demonstraram a presença de resistência insulínica em tecido muscular, mesmo quando apresentaram tolerância normal à glicose.” (p. 66) Um dos sujeitos considerou o Diabetes Mellitus uma doença horrível: “(...) eu acho que é uma doença horrível. (...) eu sei que ela é perigosa. (...) A pessoa sofre muito.” (S 5) Já é sabido que as doenças são causadoras ou de desconforto ou de perturbações ou de dor e por isso são sempre relacionadas ao sofrimento. 49 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Conforme GIOVANNI (1988), o sofrimento nem sempre tem a dor como elemento preponderante. O diabetes, por exemplo, apesar das limitações impostas ao indivíduo e das obrigações terapêuticas decorrentes da doença, não é doloroso. No caso do indivíduo diabético, a sintomatologia característica da doença reflete no emocional como algo horrível, de intenso sofrimento. Observemos o número de respostas no gráfico e a tabela para uma melhor avaliação: Pergunta 1 - O que é diabetes para você? 2 1 1 2 5 Normal Normal mas acha que é doença Doença que exige controle alimentar e acompanhamento médico Doença hereditária Doença horrível N.º de Respostas O que é o Diabetes para você? 1 Normal 2 Normal mas acha que é doença 5 Doença que exige controle alimentar e acompanhamento médico 2 Doença hereditária 1 Doença horrível Obs.: As perguntas abertas propiciaram aos sujeitos darem mais de uma resposta para uma mesma pergunta. 50 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Ao perguntarmos aos sujeitos como se sentiram ao saberem ser portadores da doença, o Sujeito 1 respondeu que se sentia normal, embora com preocupações financeiras em relação ao custo da alimentação adequada para sua dieta, pois nem sempre tinha dinheiro para alimentar-se de acordo com o recomendado pelo médico. Devido à atual conjuntura econômica do nosso país, a dificuldade financeira tem sido o maior empecilho para que os cidadãos possam viver dignamente. No caso dos diabéticos, pela necessidade de uma dieta alimentar específica e pelo constante uso de medicamentos, a ausência de recursos financeiros prejudica muito o tratamento. Vejamos o gráfico e a tabela correspondente, Pergunta 2 - Como você se sentiu quando soube que era portador do diabetes? 1 1 1 5 2 Normal embora com preocupação finaceira em relação à dieta Preocupação com a doença Aceitação após orientação médica Dificuldade para controlar a dieta Tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sentimento de que o mundo tinha acabado N.º Respostas Como você se sentiu quando soube que era portador de diabetes? 1 Achou normal, embora com preocupação financeira em relação à dieta 1 Sentiu preocupação com a doença 1 Aceitou a doença após receber orientação médica 2 Achou difícil controlar a dieta 5 Sentiram tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sentimento de que o mundo tinha se acabado 51 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Conforme estudo conduzido por TRENTINI et all (1989), sobre a aderência ao regime terapêutico de pacientes crônicos, foi observado que o poder aquisitivo dos mesmos poderia ter influência no estado físico dos indivíduos “que não seguiam o tratamento como deveria ser porque não tinham condições financeiras suficientes, principalmente para adquirir medicamentos e seguir o regime alimentar.” (In TRENTINI, 1990, p.25). Por outro lado, constatamos que hábitos alimentares não indicados para o diabético e contraídos anteriormente à doença tem sido uma das dificuldades encontradas pelos sujeitos para a manutenção da dieta recomendada e necessária para o controle da doença. Dois sujeitos admitiram ter essa dificuldade. Na entrevista com o Sujeito 3, por exemplo, podemos observar esse fato: “(...) aí eu soube que eu tinha que parar de bebidas e tinha que comer menos que eu comia demais (...) comia uma panela (...) agora só como um pratinho.” Sabemos que uma dieta balanceada, através de orientação médica, é ponto vital para o controle do Diabetes Mellitus no indivíduo portador da doença. No entanto, desde a infância, o indivíduo é incentivado à gula. GIOVANNI (1988), relata isso com bastante precisão: “ Quantas crianças comem bem e crescem muito bem, mas são levadas ao pediatra porque os pais e avós gostariam que comessem mais? (...) Por qual motivo os pais querem dar aos filhos aquele ‘mais’ do que não necessitam? São os modelos consumistas propostos pela propaganda, ou complexos de culpa maternos ou paternos, por que a criança foi sacrificada em detrimento do trabalho, ou outros mecanismos psicológicos que os atingem profundamente? Queremos superalimentar o corpo de nosso filho, a quem damos menos no plano espiritual?” (p.52) A dieta alimentar prescrita ao diabético parece ser uma das principais causas que dificultam a aceitação ou não da doença pelo sujeito portador de Diabetes Mellitus, principalmente o Tipo 2, que atraído pelo fetichismo da comida, tornase presa fácil dos vícios de uma alimentação prejudicial a manutenção de sua 52 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social saúde. Observamos que a maioria dos sujeitos tem dificuldade de manter a dieta devido à quase incontrolável vontade de comer, demonstrando acentuada compulsão perante o alimento. Sabemos que nada mais prazeroso do que matar a fome. No entanto para o diabético, isso constitui um grave problema, caso não seja obedecida a limitação dietética. No entanto, a mídia bombardeia constantemente a sociedade com sugestões de comida. Há programas de televisão que, quase em sua totalidade, possuem programação voltada para a confecção das mais variadas guloseimas. “Basta dar uma olhada ao redor e não vai ser difícil descobrir um papel de bala, um outdoor com o último lançamento de um bombom recheado ou mesmo o som longínquo de um bife na chapa trazido pela TV.” ( PEREIRA,1997, p.7) Para se capacitar de metas motivadoras de controle, o diabético tem que exercitar a valoração da sua identidade, do seu auto-conceito, buscando, na sua emoção, no seu bem-estar e no coping, fontes de resistência para as condições impostas pela doença, como a obrigatoriedade de dieta específica. Segundo GOLDSTEIN (Apud NERI, 1995), ao obter recursos de fortalecimento psicológico, auxiliares na superação do stress, o indivíduo se capacita para lidar com os eventos do seu curso de vida e com as demandas do seu dia-adia. Nós notamos que cinco dos sujeitos entrevistados, demonstraram sentir tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sentimento de que o mundo tinha se acabado, quando souberam ser portadores de diabetes. Isso pode ser observado de forma expressiva na entrevista com o Sujeito 7: “(...) No outro dia parecia que eu ia amanhecer morta. (...) Ah! Graças a Deus, hoje eu passei um dia, quer dizer que Deus me deu vida, agora, não sei, amanhã é certo que eu tô debaixo do chão.” O depoimento desse sujeito parece reforçar o que já havíamos observado, através da literatura, de que a doença afeta a qualidade de vida dos indivíduos, alterando seu emocional, devido as limitações e restrições próprias da enfermidade, provocando sentimentos de tristeza, muitas vezes acompanhados pelo medo da morte, pois, de acordo com WENGER et all (1984), 53 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “ O estado emocional do indivíduo está altamente associado à sua qualidade de vida. O indivíduo pode mostrar mudanças no seu modo de ser, geralmente provocado por algum acontecimento que causa impacto a ele. Quando acontece algo desagradável, como por exemplo uma doença, o indivíduo pode mostrar sentimentos de raiva, culpa, hostilidade, depressão, abandono, medo e preocupação com o futuro e sentimentos de perda de controle e instabilidade. Esse conjunto de emoções tem a ver com a qualidade de vida dos indivíduos quanto ao estado de saúde e satisfação com a vida. A qualidade de vida de um indivíduo pode estar influenciada pela percepção que ele tem do seu estado de saúde. A qualidade de vida pode ser alterada pela severidade dos sintomas da doença crônica e por intercorrências clínicas ou complicações paralelas...” (In TRENTINI et all, 1990, p. 21) OLIVEIRA (1992), escritor médico e diabético, comenta que a sua vida sempre foi muito agitada devido ao medo do inusitado com relação à doença, medo do estigma e das complicações decorrentes da mesma, principalmente a invalidez: “Esse medo de doenças incapacitantes marcou profundamente a minha vida, e acredito que a vida de quase todos nós. Além do medo de doenças e das complicações incapacitantes, eu também tinha medo da miséria e das dificuldades financeiras, bem como da crítica e da nãoaceitação das pessoas do meu círculo profissional” Para observarmos se a vivência em sociedade afetava a vida dos sujeitos, perguntamos se sofriam alguma discriminação social. Todos os entrevistados responderam que não sofriam nenhum tipo de preconceito. No entanto, esses depoimentos não parecem condizer com a realidade observada no cotidiano da sociedade. Observemos o gráfico e a tabela referentes à temática: 54 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Pergunta 3 - Você sofre preconceitos por ser diabético? 100% Não N.º Sujeitos 8 Você sofre preconceitos por ser diabético? Responderam que não sofrem preconceitos por serem diabéticos De acordo com matéria publicada no jornal Sorria Com Doçura/setembro/1996, no caso verdade intitulado “Até quando?”, consta o depoimento de um diabético, com relação a sua experiência sobre discriminação no trabalho: “ Quando ouvia alguém falar sobre discriminação no mercado de trabalho, não imaginava que um dia poderia passar por uma experiência tão marcante. O episódio aconteceu em 1993, quando me inscrevi para uma vaga de auxiliar de escritório numa empresa de porte nacional, em atividade no Espírito Santo. (...) preenchi uma ficha e fui entrevistado por uma psicóloga a quem não omiti ser diabético. (...) Compareci ao (...) ambulatório da empresa acompanhado pela psicóloga. De acordo com o médico que me atendeu, (...) o diabetes me impedia de ocupar a função, pois a empresa não admitia pessoas com a doença.” (COSTA, W.S.) Além desse depoimento, a literatura tem nos mostrado que vivemos numa sociedade preconceituosa. Segundo GIOVANNI (1988), a doença não é vista apenas como diversidade mas, também, como uma anormalidade ou um 55 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social desvio de modo que o doente é considerado inferior em relação à média da população. Dando continuidade à nossa pesquisa, constatamos que apesar de terem consciência de que o diabetes é uma doença crônica, os sujeitos entrevistados julgaram-se pessoas saudáveis. Observemos o gráfico: P e rg u n ta 1 5 - V o c ê s e c o n s id e r a u m a pessoa com saúde ou d o e n te ? 100% C om saúde N.º Sujeitos 8 Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente? Com saúde Observamos que alguns sujeitos buscavam reforço psicológico apoiando-se em situações de indivíduos com enfermidades de sintomatologias piores que as deles, conforme declaração dos Sujeitos 5 e 7, respectivamente: “ Com saúde. Que olhando para trás você vê gente pior do que a gente.”(S 5) “Eu não posso me considerar uma pessoa doente. Uma pessoa doente é quando ela não agüenta fazer nada. Se joga em cima de uma cama e não faz nada. Eu, Graças a Deus, dou a volta por cima.” (S 7) De acordo com TRENTINI (1992), “O processo cognitivo determina a qualidade e intensidade das reações emocionais e permeia as estratégias de enfrentamento. As estratégias de enfrentamento podem reduzir a ameaça do estressor e minimizar seu impacto estressante. Esta maneira de enfrentar não quer dizer que ela erradica o problema mas ela pode modificar o significado que o estressor tem para a 56 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social pessoa, assim seu efeito estressante é aliviado.”(p.86) O sujeito apesar de ter consciência de sua doença, tenta diminuir o seu sofrimento, usando como estratégia comparar o seu problema com o de outras pessoas em estado de saúde mais grave. Segundo NERI (1993), os fatores estressores fazem com que muitos indivíduos encontrem na Fé apoio para enfrentar as doenças, numa reação característica de coping paliativo. Para NERI (1993), “o uso da religião como coping pode significar apenas que, quando em dificuldades, a pessoa se volta para a religião como ajuda e presta pouca atenção ao assunto quando não está enfrentando situações difíceis.” Ao analisarmos depoimentos de alguns dos sujeitos, observamos essa estratégia de enfrentamento utilizada por eles. Era o refugiar-se na fé, demonstrando resignação, entregando o próprio destino à Deus: “Eu sempre me considerei bem de saúde e sempre agradeci a Deus pela saúde que eu sempre tive. Essa diabetes pra mim, ela praticamente não resolve nada. Eu sou muito mais com fé em Deus e a minha vida nessa situação.”(S 4); “Diabetes é uma doença, né? Mas eu me considero com saúde, Graças a Deus! Que Deus está me guiando. E, eu estou aqui até o dia que Ele quiser me chamar.” (S 3) Essa concepção de religiosidade frente à doença é histórica e a busca de apoio na fé talvez seja o móbile que influencie o indivíduo, mesmo doente, a considerar-se com saúde. É natural do ser humano, ao enfrentar situações de dificuldade na vida, entre elas, as de doenças, voltar-se para a religião, na busca de conforto para seus males. Ao depararmos no cotidiano com pessoas em situações semelhantes às citadas anteriormente, é comum ouvirmos das mesmas expressões como: Se Deus quiser, vou melhorar! Se for a vontade de Deus, vou me curar! 57 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Ao concluirmos essa análise das formas de aceitação e não aceitação da doença, constatamos que os sujeitos buscam apoio na fé como uma estratégia de fortalecimento para enfrentar o Diabetes Mellitus. Essa estratégia é uma forma utilizada pela maioria das pessoas na tentativa de superar os problemas e as dificuldades do cotidiano de suas vidas. Talvez na ansiedade de se sentirem protegidas por um Ser Superior, as pessoas voltam-se para a religião e através da fé, tentam adquirir forças para lutar contra os obstáculos que prejudicam seu devir, encontrando em Deus o apoio para enfrentar as várias vicissitudes provocadas por doenças e pelas dificuldades financeiras comuns numa sociedade onde predomina o capital, e onde o cidadão que necessita de políticas sociais para o seu bem-estar, vivencia o não poder estar doente. Esse fenômeno é histórico e GIOVANNI (1988) vai buscar referências desse fato, em Sócrates, ao citar a história do lenhador que ao adoecer, recebeu aconselhamento médico para cumprir com determinada dieta alimentar. O lenhador respondeu que não podia ocupar-se com um longo tratamento de regimes, pois para isso precisaria de tempo e ele não tinha tempo para perder com tratamentos de saúde, necessitava de um remédio que lhe proporcionasse a cura imediata, caso contrário correria o risco de perder o emprego. A doença tem que ser negada até o limite do possível porque o mercado de trabalho assim o exige e o capital não pode ser dilapidado com quem não dispõe de meios de concessão de sua mais-valia. A educação para o diabetes poderia ser elemento essencial para o sujeito diabético, tornando-o mais hábil para enfrentar o mundo do capital. Pois, através de controle adequado, o indivíduo poderia obter melhor qualidade de vida de modo a poder permanecer integrado no mercado de trabalho, assumindo a sua posição de cidadão na sociedade a qual pertence. Entendemos que as campanhas de prevenção são alguns dos meios capazes de auxiliar na educação para o diabetes, pois, segundo GIOVANNI (1988), a prevenção é um dos meios mais práticos para a contenção das doenças, possibilitando um menor custo nas despesas decorrentes da falta de saúde da população, proporcionando ao indivíduo um meio de obter melhor qualidade de vida, mormente numa sociedade onde predominam as políticas neo-liberais e 58 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social onde a saúde é deixada à revelia pelo número escasso de programas de saúde e pela conjuntura sócio-econômica do cidadão trabalhador. 59 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.1.1: Enfrentamento (ou Fuga?) do Sujeito Frente à Doença Segundo GOLDSTEIN (In NERI, 1995), as pessoas não mantêm padrões de comportamento estático por toda a sua existência, mudando de comportamento para fazer frente às demandas da vida que se alteram ao longo do seu curso de vida. As maneiras como as pessoas enfrentam essas demandas ou essas mudanças, e os efeitos desse enfrentamento, tem a ver com os mecanismos de auto-regulação da personalidade, decorrentes do contexto das experiências estressantes do cotidiano e das formas de coping adotadas pelos indivíduos. Nessa pesquisa chamamos de enfrentamento a forma utilizada pelo sujeito para enfrentar a doença, aceitando as limitações próprias da mesma, cumprindo a dieta e praticando os exercícios físicos prescritos pelo médico e, de fuga, as estratégias de enfrentamento utilizadas pelo sujeito ao fugir das situações que o colocam em risco do não cumprimento das determinações médicas, de modo que, tanto a fuga quanto o enfrentamento, foram considerados por nós, enquanto pesquisadoras, como estratégias de enfrentamento do sujeito frente à doença. Ao analisarmos os sujeitos, observamos que eles utilizam de várias estratégias de enfrentamento, dentre elas a fuga, como forma de minimizar psicologicamente o desconforto proveniente das restrições que lhes são impostas pela doença. Sendo o diabetes uma doença difícil de se conviver, tanto pela sua característica crônica, como por ser uma doença que exige educação alimentar por parte do indivíduo, o mesmo encontra-se em situações que variam do enfrentamento à fuga, principalmente pelo rigor das restrições dietéticas do tratamento. Para BARRETO (1997), “Sendo uma doença crônica que exige cuidados diários e permanentes, diabetes é sempre uma doença que desperta restrições à vida de relação. O papel do médico é fundamental na adesão do paciente ao tratamento. Isto exige dele ser capaz de educar seu paciente. Para isto precisa conhecer bem a doença e saber explicá-la de modo a estabelecer uma lógica para o seguimento das 60 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social recomendações. Sem atemorizar o paciente, mas também sem passar a idéia de que diabetes no idoso é uma doença sem importância, o médico precisa de bom senso, paciência e dedicação para tolerar as falhas do seu paciente, sem ser conivente com ele. É discutível se um médico que não tenha estas características deva tratar diabéticos. Se não, o acompanhamento em equipe é sempre recomendado, incluindo-se um assistente”(p. 68) É tão importante a conscientização do sujeito diabético perante o enfrentamento da doença que, além do médico, outros profissionais estão sendo envolvidos no trabalho de educação para o diabetes. De acordo com BARRETO (1997), “Nos Estados Unidos, já é rotina haver um técnico em diabetes acompanhando os pacientes com os médicos. Geralmente é um enfermeiro ou uma assistente social quem faz este papel, mas precisam estar treinados para isto através de um curso, o qual já vem sendo difundido no Brasil através dos Laboratórios Lilly em convênio com a clínica americana Joslin, que é especializada em diabetes.” (p.68) É de nosso conhecimento que esse trabalho interdisciplinar na área da saúde com os portadores de Diabetes Mellitus, já vem ocorrendo em vários hospitais e em alguns postos de saúde do Brasil, pois, a educação em diabetes é uma realidade vital para o controle da doença, isso porque, talvez nenhuma outra doença requeira do paciente tanto conhecimento e empenho pessoal para seu controle, pois o diabético precisa entender os mecanismos da doença e as condições que provocam alteração da glicemia, seguindo corretamente as orientações dietéticas sobre o que e quanto comer, bem como conhecer os perfis de ação terapêutica da medicação utilizada. A história de vida pessoal de cada sujeito diabético influi no seu modo de agir perante o enfrentamento ou fuga da realidade. E, de acordo com TAJFEL (1982), 61 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “A experiência social de um indivíduo modificará suas atitudes, bem como, suas atitudes modificarão suas percepções sociais. Sendo assim, as atitudes podem mudar ou serem mudadas de diferentes maneiras, dependendo da informação e experiência que uma pessoa adquire, bem como da possibilidade de mudança em seu grupo de pertença. Vivemos em um meio social em permanente mudança. Muito do que acontece tem a ver com as atitudes dos grupos a que pertencemos ou não, e a mudança das relações entre grupos exige reajustamentos permanentes da nossa compreensão dos acontecimentos e constantes atribuições causais sobre o porque e o como das condições de mudança da nossa vida”(In BAIÔCO, 1995, p.9) O Ser Humano por ser um Ser passível de mudança, pode ser influenciado pela sociedade a qual pertence, de forma a modificar suas atitudes, bem como transformar o meio em que vive. Dessa maneira, a Educação para o Diabetes pode mudar as atitudes do indivíduo de modo que ele possa conviver melhor com a sua doença. Isto é, sabemos que o Diabetes Mellitus Tipo 2 é genético. No entanto é muitas vezes agravado por costumes alimentares adquiridos durante o curso de vida do indivíduo, que ao se conscientizar da necessidade de cumprir com a dieta alimentar e com a realização de exercícios físicos, estará se habilitando a ter melhor qualidade de vida. Ao perguntarmos aos sujeitos quais eram as estratégias utilizadas por eles no dia-a-dia para enfrentar o diabetes, mais da metade dos sujeitos respondeu que utilizava o medicamento como forma de enfrentar a doença: “Ah! Eu só tomo os remédios que o médico passa para mim.” (S 6 ) “Eu procuro controlar, né, tomando meus remédios.” (S 3) “Não uso nada, mais é o remédio...” (S 1) 62 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Observemos a tabela e o gráfico correspondentes, de acordo com as respostas dadas pelos sujeitos à pergunta aberta n.º 8: Nº Quais são as estratégias que você utiliza no dia a dia para enfrentar o diabetes? Respostas 5 Respostas informaram a utilização de medicamentos 1 Resposta informou que o sujeito evitava pensar na doença 4 Respostas atestavam o uso da dieta 1 Resposta informou que o sujeito praticava exercícios físicos 3 Respostas informavam que os sujeitos não utilizavam de nenhuma estratégia Pergunta 8 - Quais são as estratégias que você utiliza no dia a dia para enfrentar o diabetes? 3 5 1 4 1 Medicamentos Não pensa na doença Dieta Exercícios físicos Não utiliza de nenhuma estratégia O tratamento medicamentoso é essencial no Diabetes Mellitus Tipo 1 e no Diabetes Mellitus Tipo 2 pode ter seu início adiado quando há um bom controle com dieta acrescido da realização de atividade física e tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do indivíduo, aliviando os sintomas da doença e reduzindo a mortalidade através da prevenção de complicações crônicas e do tratamento das doenças provenientes do diabetes, dentre elas, a Retinopatia, a Nefropatia, a Neuropatia e a Cardiopatia. Um dos sujeitos, apesar de utilizar medicamentos próprios para a doença, evita pensar na mesma: “...Eu não penso na doença, eu só penso no futuro que pode vir.” (S 1) 63 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Essa estratégia do sujeito ao enfrentar a doença, pode ser um bloqueio psicológico utilizado pelo mesmo na tentativa de não admitir a existência da mesma. Para HECKHAUSEN ( In NERI, 1995), “ As estratégias de controle secundário podem ser orientadas a três aspectos de ação: a expectativa de alcance da meta (isto é, otimismo ou pessimismo estratégico, ajustamento do nível de aspiração), o valor associado à meta (isto é, as uvas estão verdes, afastamento) e a atribuição causal do resultado da ação (isto é, atribuição personalista).” O sujeito ao não pensar na doença e só pensar no futuro, está utilizando de uma estratégia de afastamento da doença, similarmente à raposa, na fábula, que por não poder alcançar as uvas de uma determinada videira, olhou para as mesmas e, desdenhosamente, virou as costas, declarando que as mesmas estavam verdes, portanto, não lhe interessavam. Segundo HECKHAUSEN (In NERI, 1995), é uma estratégia de controle ilusório e de valor funcional pela desvalorização de metas inatingíveis, e ao mesmo tempo disfuncional por exagerar o valor das metas inatingíveis. Ao negar a existência da doença pode estar relacionado com a visão negativa característica de pacientes com doença crônica. De acordo com BURISH, BRADLEY (1983), “Essa visão negativa dos pacientes com doença crônica pode talvez ser explicado pelo fato de que a própria doença crônica e especialmente a cardíaca e a diabete constituem um stress por serem doenças potencialmente incontroláveis provocando medo e insegurança.” Talvez esse medo e insegurança provocados pelo diabetes no sujeito, seja uma das causas do mesmo não querer admitir a existência da doença, utilizando-se da fuga como estratégia para enfrentar a mesma. Por outro lado, observamos que a conscientização de educar-se para enfrentar a doença parece já estar presente nos indivíduos, pois constatamos que metade dos sujeitos admitiu utilizar da dieta como principal estratégia para enfrentar o Diabetes Mellitus: 64 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “... a parte mais essencial é a alimentação.” (S 2) “... estou comendo muito pouco. Eu vou comer, tomo um cafezinho de manhã com torrada e vou controlando desse jeito, assim...” (S 3) Sabemos que a dieta é o item mais importante para o tratamento do Diabetes Mellitus e constitui-se, basicamente, em retirar ou diminuir o sal, o açúcar e a gordura da alimentação. No entanto é imprescindível o uso de medicação e de exercícios físicos, concomitantemente. De acordo com PIEPER (1998), “ A dieta é fundamental em todos os tipos de diabetes. Muitas vezes é o principal tratamento, como nos pacientes de intolerância glicídica (tolerância diminuída à glicose). Nestes casos quando a pessoa ingere muitos carboidratos (massas, biscoitos e até doces) os níveis de glicose elevam. A dieta deve ser equilibrada e oferecer todos os nutrientes, divididos em 5 ou 6 refeições por dia (balanceada), ela deve conter: Vegetais: verduras e legumes; Proteínas: de boi, peixe, frango, leite e seus derivados; Carboidratos: arroz, batatas, pães e biscoitos. O diabético jamais deve fumar ou tomar bebida alcóolica.” (Informativo Equipe D em Ação) Apesar de saber ser a dieta a parte mais essencial para o tratamento, o Sujeito 2 utiliza, também, da pratica de exercícios físicos como meio de minorar as conseqüências da doença. Com relação a isso, disse: “É...eu...a parte mais essencial é a alimentação. Seguida de outras partes médicas que orienta a parte de exercícios.” Conforme BARRETO (1997), “A dieta e o exercício ainda são insubstituíveis em seus objetivos diretos de normalizar o peso e melhorar a utilização corporal da glicose, aumentando o gasto metabólico. No 65 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social entanto, é impraticável que os exercícios isoladamente contribuam eficientemente para o controle da glicemia, já que seria necessário ser realizado por longos períodos e de modo intenso, na maioria das vezes incompatíveis com o modo de vida das pessoas mais velhas. Eles devem objetivar exclusivamente um programa de aumento da resistência e recuperação trófica da musculatura. Caminhadas diárias de uma hora e ginástica para a terceira idade duas vezes por semana devem fazer parte da rotina de um diabético idoso”. (p. 68/69) Por outro lado, desde a Antigüidade, a experiência humana acumulada mostra que os exercícios físicos são essenciais para a manutenção do bem estar e da saúde das pessoas. Os exercícios físicos não influenciam apenas no estado físico do indivíduo, mas também são importantes para os aspectos mental e social do mesmo. Os exercícios físicos oferecem vantagens para quase todas as pessoas, sejam velhas ou jovens, sadias ou doentes, desde que feitos com orientação médica. Para o diabético os exercícios físicos são mais do que um simples diletantismo em busca do bem-estar e da beleza, pois ajudam a controlar o seu diabetes e a prevenir suas complicações, fazendo parte integrante do seu tratamento, junto com os medicamentos, a dieta e os demais cuidados. A utilidade dos exercícios físicos para o portador do Diabetes Mellitus se deve a vários fatores: Incrementam a ação da insulina; Tornam mais eficiente o trabalho do coração e dos pulmões; Diminuem as gorduras do sangue; Ajudam a manter ou diminuir o peso corporal. Voltando ao item da dieta, que é considerada o ponto básico para o tratamento do diabetes, constatamos que três sujeitos não fazem uso da mesma. Citamos como exemplo, o Sujeito 4: “ Olha eu não tenho nada anormal. Não viu? Eu trabalho e...e... evito muita coisa viu? O que eu ganho é pra comer, porque prá que, não, né? Entendeu? Agora quando me dá vontade de tomar uma cervejinha, tomo um copo de cerveja , não esqueço, não. Tomo uma pinga amarga, viu? Me deu vontade eu 66 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social faço, entendeu? Como um doce quando dá vontade eu faço, mas, não é rotineira, não é normalmente, né?” Ao não cumprir a dieta, deixando, por conseguinte de seguir as recomendações médicas, talvez seja, também, uma forma encontrada pelo sujeito para não pensar na doença, ou, então, pode ser uma espécie de fuga frente aos sintomas e restrições causadas por esta enfermidade, que por ser uma doença crônica, exige do paciente uma maior aderência e responsabilidade com o tratamento. Confirmando isso, BURISH e BRADLEY (1982), “expressam que a maioria dos pacientes com doença crônica não seguem o regime de tratamento recomendado, apesar de estarem satisfeitos com a assistência de saúde recebida. Semelhante afirmação foi feita por MATHEUS e HINGSON (1977) e FALEIROS (1982) quando constataram uma relação inversa entre aderência ao regime e a duração do tratamento. Quanto maior o período de tratamento, menor era a aderência” (In TRENTINI, 1990, p.55) Conforme já relatamos acima, a não aderência de alguns sujeitos à dieta, vem confirmar a pouca adesão do paciente diabético à terapêutica recomendada para a doença. E, para que o tratamento seja bem sucedido, depende muito mais do paciente do que do médico. O não cumprimento da dieta por parte do indivíduo pode estar relacionado com “As perdas, que, de acordo com SILVA (1990), englobam as situações em que o indivíduo deixou de desfrutar ou de possuir algo que fazia parte de sua vida antes de estar em condição crônica. As perdas foram referidas em diferentes aspectos do processo de viver dos indivíduos entrevistados: perdas na capacidade física, perdas financeiras, no lazer, nos relacionamentos sociais, no 67 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social prazer de fumar, de beber ou de comer o que gosta e perdas nas funções sexuais e outras. Estas limitações representam uma fonte de estresse para a maioria dos pacientes.” ( In TRENTINI, 1992, p.80) Ao perguntarmos sobre o que sentiam ao ver algum alimento que não podiam comer, metade dos sujeitos respondeu que ao sentir vontade de comer, comiam, mesmo sabendo que o alimento não recomendado poderia fazer mal. “É engano seu, porque... dificuldade nenhuma que...quando eu num vejo nem que vá lá biliscar, eu lá bilisco, né?” (S 1) “Sinto vontade de comer... às vezes a gente vê, come um pedacinho, uma biliscada...” (S 3) “Agora eu sinto às vezes vontade de comer e como” (S 8) Observemos a seguir, os gráficos e as tabelas referentes ao assunto: P e rg u n ta 1 2 - O q u e v o c ê s e n te a o v e r a lg u m a l im e n t o q u e v o c ê n ã o p o d e c o m e r? 1 1 4 1 1 1 S e n te v o n ta d e d e c o m e r e c o m e N ã o c o m e p o r t e r c o n s c iê n c i a d e q u e o a li m e n t o v a i fa ze r m a l à sa ú d e In d ife re n ç a S e n te v o n ta d e d e c o m e r e n ã o c o m e N ã o s e n te v o n ta d e d e c o m e r À s v e z e s s a i d e p e r t o d o a li m e n t o p a r a n ã o c o m e r 68 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social N.º O que você sente ao ver algum alimento que não pode comer? Respostas 4 Responderam que sentem vontade de comer e comem 1 Respondeu que não come por ter consciência de que o alimento vai fazer mal à sua saúde 1 Considera com indiferença a presença do alimento não permitido, pois a educação informal não lhe permite o abuso à mesa 1 Sente vontade de comer o alimento, mas não come 1 Não sente vontade de comer o alimento não permitido 1 Às vezes sai de perto do alimento para não comê-lo Busca apoio na fé Ev ita fazer alim ento que não pode com er Sai de perto do alim ento T em v ontade de com er e com e Não sai de perto e não com e T em consciência de que precisa m anter o controle Com e em pequena quantidade 1 1 2 1 1 1 2 enfrentar esta situação? Perg un ta 13 - O que v ocê faz para N.º Respostas 2 O que você faz para enfrentar essa situação? Responderam que limitam-se a comer pequena quantidade do alimento não permitido 1 Respondeu que ao ver o alimento, resiste e não come 1 Respondeu que ao ter vontade de comer o alimento não permitido, come-o 2 Respondeu que saem de perto do alimento não permitido para não comê-lo 1 Respondeu que evita fazer esse tipo de alimento para não ser tentado à comê-lo 1 Respondeu que busca apoio na fé para resistir à vontade de comer 1 Respondeu que tem consciência de que precisa manter o controle da dieta Segundo a literatura, de tudo, o que o diabético menos gosta de fazer é a dieta e ele necessita aprender a gostar dela, porque, sem a mesma, é quase impossível manter um bom controle do diabetes. Ela não precisa ser especial, a não ser com determinada restrição à alguns alimentos, sendo tão equilibrada e saudável que o seu uso seria adequado não só para os diabéticos, e sim, para todas as pessoas. 69 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Para SASSO (1997), “Algumas situações emocionais, como a depressão, os desajustes sexuais, as carências de afeto, as tensões, a frustração e a ansiedade podem representar a causa que leva uma pessoa a comer demais, como que em busca do consolo no alimento e, como é de se esperar, cria-se com isto um processo evolutivo onde o excesso do peso piora o estado emocional, gerando um círculo vicioso.” (p.30) Conforme SASSO (1997), muitas pessoas transferem seus problemas para o próprio organismo, adquirindo ou agravando várias doenças, dentre as quais, gastrite e o diabetes mellitus, respectivamente. “Esta transferência para a comida dos problemas emocionais é sempre observada em situações de dificuldade ou conflito, como crises no trabalho, na família e no convívio social. (p.30). E ainda de acordo com SASSO (1997), “quando a fome é emocional, são os corações que necessitam de nutrição e não os corpos. É preciso estar ciente que por mais que se coma, esta comida não estará satisfazendo a fome emocional, é apenas uma ilusão acreditar que a comida vá suprir nossas carências emocionais”(p. 31) Os sujeitos de nossa pesquisa são afetados duplamente no seu emocional. Além de serem pessoas pertencentes à faixa etária situada entre 50 e 70 anos, limiar que marca a chamada 3ª idade, são atingidos pela complexidade proveniente de uma doença crônica que requer uma mudança radical de hábitos adquiridos desde a infância. Segundo SASSO (1997), o vício de comer é proveniente do hábito de comer compulsivamente, e, muitas vezes, o comedor compulsivo usa o alimento como ponto de apoio para os seus problemas, que são, na maioria das vezes, de origem psicológica, e, não para saciar a fome. E, ainda conforme SASSO (1997), “Comer compulsivamente é sintoma de algum problema e não o problema em si. Além do mais, o tempo gasto pelo vício do comer deixa menos tempo para analisar os problemas que ocasionam ansiedade e tensão, não sanando a causa desta 70 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social ansiedade e gerando problemas sem solução. Além dos fatores psicológicos há também fatores químicos na gênese do comer compulsivamente, como a cafeína, o chocolate, o açúcar, dentre outros.” (p.33) A indústria dos alimentos utiliza, muitas vezes da mídia, num processo ideológico de convencimento do indivíduo ao consumismo, com o objetivo de aumentar o seu capital pelo lucro obtido através do consumidor. Um dos veículos mais utilizados pela mídia tem sido a televisão, talvez pela sua facilidade de comunicação e poder de persuasão nas atitudes dos indivíduos. De acordo com SCHIAVO (1995), “A TV apresenta ao telespectador estereótipos do que é bom e belo, e do que é ruim e feio, representa uma imagem de como a vida é, e implicitamente, de como a vida deva ser para os indivíduos. Ao representar esses estereótipos, a mídia intrusiva passa a ser a própria droga, um elemento de alienação e torpor social, aprisionando importantes seguimentos da população numa cadeia de dependência, tornando assim, os indivíduos incapazes de terem suas próprias opiniões, de decidirem por si só.” (In BAIÔCO, p.9) Analisando por essa conjuntura, o indivíduo diabético e idoso, duplamente fragilizado no seu emocional, torna-se vulnerável aos constantes bombardeios de consumo impostos pela mídia, quer no que se relaciona ao alimento, como também, no que se relaciona ao consumo de bebidas alcóolicas e ao fumo, tão prejudiciais à sua saúde. No decorrer de nossa pesquisa, observamos que apenas um sujeito não come o alimento não recomendado para sua dieta, por ter consciência de que, ao ingerir esse alimento, o mesmo irá fazer mal à sua saúde. “Ah! Isso aí depende da consciência, que não interessa fazer alimentação de um determinado produto e não fazer bem à saúde. Conseqüência que vai trazer é desconforto...” (S 2) 71 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Vale ressaltar que esse sujeito possui escolaridade de nível médio e que participa ativamente das reuniões e das palestras da ACAD, o que vem reforçar o conceito de que Educação para o Diabetes é de grande importância na mudança de comportamento do indivíduo frente ao enfrentamento da doença. Em sua obra literária, OLIVEIRA (1992), afirma que não só a educação é importante para o diabético, mas, também a conscientização do mesmo para o enfrentamento da doença. Vejamos: “ A educação é uma das mais importantes formas de tratamento para o diabético, mas a educação é meio: o fim é a modificação do comportamento do paciente, bem como a aquisição de uma atitude positiva em relação ao diabetes. O médico, no curto período do atendimento, quer ambulatorial, quer de consultório, não consegue transmitir todos os seus conhecimentos nem tirar todas as ansiedades. Ainda mais, se considerarmos que no decorrer da consulta há os momentos de o médico refletir, ponderar, avaliar, de aprender, enfim. Muitas vezes dizemos coisas importantes, e o paciente e seus familiares não estão nem aí, não prestam a mínima atenção. Por isso, em programas educacionais para pacientes, há necessidade de repetir e aferir o que foi aprendido, e complementar conforme os resultados práticos.” (p.22) Apesar de muitos diabéticos possuírem hábitos alimentares inadequados, como por exemplo, alimentação em excesso, um sujeito demonstrou indiferença ao ver o alimento. Vejamos: “...Prá mim é uma coisa natural. Pode ser na minha casa, na casa dos outros. Primeiramente eu nunca fui de comer muito. Eu sempre comi no limite, entendeu? Então o que eu posso comer hoje e o que eu não posso, prá mim é a mesma coisa.” (S4) 72 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social A atitude desse sujeito pareceu-nos estar baseada, provavelmente, na educação convencional recebida no seu curso de vida. A Educação para o Diabetes, talvez encontre reforço na educação informal, que prima pelos chamados bons princípios. O indivíduo ao ser comedido no seu procedimento frente à sociedade, evita proceder de maneira a compensar suas ansiedades na gula, mantendo um comportamento mais reservado perante os hábitos alimentares. A educação convencional, aliada à educação para o diabetes, talvez seja o reforço utilizado como estratégia de enfrentamento por mais dois sujeitos. Um deles, sente vontade de comer o alimento mas resiste e não come, e, o outro, mesmo tendo proximidade do alimento não permitido na sua dieta, evita comer. Observemos: “Ah! Fico aguando de vontade de comer mas... tenho que resistir, né?” (S 6) “Eu já acostumei. Então eu faço bolo, eu faço doce... as coisas Prá eles aí dentro de casa... e não sinto vontade de comer aquilo, não”. (S 7) Outra espécie de enfrentamento que observamos em um dos sujeitos, entendemos ser o que denominamos, também, em nosso trabalho, de fuga, pois o sujeito para resistir à vontade de comer, sai de perto do alimento, o que pode ser observado no depoimento do mesmo: “Já aconteceu. Me deu uma vontade danada de comer... e se não posso em hipótese nenhuma nem pensar... então tenho que sair fora, que senão...” (S 8) Observamos nesse sujeito que paralelamente à tentativa de fuga da presença do alimento proibido, existe, também presente, uma firme vontade de se construir, fazendo-se não consumidor desse alimento, tornando-se, dessa forma, um indivíduo cumpridor das recomendações relacionadas com a doença, assumindo, assim, a sua identidade de diabético. De acordo com OLIVEIRA (1995), constatamos que: “Sob o ponto de vista psicossocial, podemos dizer que ao atribuir uma identidade a um indivíduo, isto é, ao se categorizar um indivíduo e lhe conferir 73 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social atributos de valor, a relação interpessoal se estabelece com base em suposições a respeito do indivíduo. Passa-se a tratá-lo como se ele fosse aquilo que se supõe: seus comportamentos passam a ser decodificados como reafirmações de suposta identidade que lhe foi, a priori, atribuída. Por sua vez, o indivíduo passa a se comportar de acordo com as expectativas que os outros tem dele e com suas próprias expectativas, as quais são influenciadas pelas dos outros.” (p.22) Já o sujeito 6, utiliza como estratégia de enfrentamento da doença, evitar fazer o alimento que não pode comer: Vejamos: “Às vezes não faço Prá eles não comer Prá mim também não comer... é assim que eu faço.” Identificamos no depoimento desse sujeito, uma presença maior da estratégia de fuga do alimento proibido, numa assimilação popular de: O que os olhos não vêem, o coração não sente. Segundo ROLLO MAY (1980), fugir à própria ansiedade ou racionalizar a fuga enfraquece a pessoa. Ao deixar de preparar o alimento proibido para não sofrer a tentação de consumi-lo, não proporciona ao sujeito estratégia que o capacite para enfrentamento das limitações que a doença provoca e sim, um afastamento temporário do perigo iminente que, se próximo, faria do indivíduo presa fácil de consumo do mesmo. Dentre os sujeitos que apoiavam-se na fé como estratégia para enfrentamento das limitações próprias da doença, destacamos o seguinte depoimento: “É muita força que Deus me dá. Muita força, mesmo. Se a gente for pensar um pouquinho, sem ter força de Deus, a gente não consegue, não. É ter muita força mesmo, que Deus dá à gente... Pedir muita força.” (S 7) Ao observarmos a resposta desse sujeito, devemos lembrar que nossa pesquisa é inerente ao sujeito da faixa etária entre 50 e 70 anos e que 74 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social algumas pesquisas apontam para a relação de aproximação existente entre velhice e religião. Os sujeitos de nossa pesquisa possuem como estressor além da idade, a doença crônica, necessitando de reforço psicológico que diminua os fatores estressores da sobrecarga advinda com o rigor próprio da terapêutica da doença, e, muitas vezes, a religião pode oferecer esse reforço psicológico de que tanto necessitam para o enfrentamento das conseqüências decorrentes da enfermidade. Para analisarmos com mais profundidade as estratégias de enfrentamento ou fuga do sujeito frente à doença, utilizamos a pergunta 15: Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente? Observemos o gráfico e a tabela correspondente a essa pergunta: Pergunta 15 - Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente? 100% Com saúde N.º Você se considera uma pessoa com saúde ou uma pessoa doente? Sujeitos 8 Todos sujeitos Com saúde afirmaram considerarem-se com saúde. No entanto, observamos que um dos sujeitos relacionou a saúde à juventude, demonstrando considerar que a pessoa jovem tem maior resistência para o enfrentamento da doença: “Ah!... Eu tenho espírito de um jovem, só vontade de viver e querer progredir e não ter dificuldade financeira.” (S 1) 75 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Outro sujeito, apesar de considerar-se com saúde, admitiu que a doença provocava restrições na sua vida, mas que essas restrições não atrapalhavam o enfrentamento da mesma. Vejamos: “Eu me considero com saúde porque o diabetes em si tem algumas restrições mas na maioria da parte da vida é normal.” (S 2) Alguns sujeitos admitiram ter saúde ao compararem-se com outras pessoas com doenças consideradas por eles como mais sérias que o diabetes, conformando-se com o seu cotidiano, ao responderem, por exemplo: “Com saúde. Que olhando para trás, você vê gente pior do que a gente, entendeu? Então... por isso, eu me considero... uma pessoa...normal, sabe? Não me considero doente. E procuro sempre assim, né? A enfrentar o dia-a-dia da vida da gente porque a vida é isso mesmo, né?” (S 5) De acordo com LANE (1981) “A reflexão sobre a própria existência está vinculada à existência do outro, uma vez que, eu só sou na relação com o outro no mundo. O viver em grupos permite o confronto entre as pessoas e cada um vai construindo o seu ‘eu’ neste processo de interação, através da constatação de diferenças e semelhanças entre nós e os outros.” (In OLIVEIRA, 1995) Muitas vezes na tentativa de reforçar a nossa auto-estima e a nossa autoimagem, supervalorizamos os nossos aspectos positivos e superinferiorizamos os aspectos negativos do outro. Assim, o sujeito diabético no esforço de mostrar-se saudável, compara-se com outros indivíduos com doenças mais graves do que o Diabetes Mellitus. Observemos: “ Ah! Sim... Não, eu não posso considerar eu ser uma pessoa doente. Uma pessoa doente é quando ela não agüenta fazer nada, né? Se joga em cima de uma cama e não faz nada... Eu, Graças a Deus, eu dou a volta por cima. Faço tudo que... quando eu estou agüentando, eu estou fazendo as coisas. Estou sentindo dor, estou continuando fazer as coisas. Eu não paro, não. Não paro de jeito nenhum. Então tudo eu dou a volta por cima e vou em frente, enquanto eu estiver agüentando” ( S 7) 76 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Apesar do diabetes ser uma doença crônica que necessita de acompanhamento constante do médico e de terapêutica rigorosa que embute a dieta, os exercícios físicos e medicação adequada e, de metade dos sujeitos admitirem cumprir com a dieta prescrita, nota-se que a estratégia de fuga para o enfrentamento da doença é utilizada por quase todos, mormente quando a totalidade dos sujeitos admitiu serem pessoas saudáveis, comparando-se com indivíduos possuidores de enfermidades mais graves. Outra faceta da estratégia de fuga, constatada com freqüência é quando o indivíduo foge da presença do alimento na tentativa de manter a dieta, tantas vezes prejudicada pelo meio sócio-econômico em que vive, ou dificultada pela ideologia do bom e do belo repassada através da mídia. Outrossim, constatamos que muitos sujeitos utilizam da fé como reforço psicológico para enfrentar os elementos estressores conseqüentes das limitações provenientes da doença. 77 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.1.2: Preocupações Próprias do Sujeito em Relação à Doença Na atual conjuntura mundial, onde o capital reina absoluto e a mais-valia é cada vez mais usurpada do indivíduo, o mesmo sente pesar sobre sua identidade uma cobrança constante de produção da sua energia, quer física, quer mental. Para Salgado (1990), “A perda da juventude é um dos principais estigmas com que se avalia a velhice. Na atualidade, é comum uma grande valorização da juventude, sempre tomada como sinônimo de força, competência e produtividade.” (p.158) Isso nos faz pensar que ao atingir a 3ª idade, o indivíduo vê, quase sempre, ameaçada a sua cidadania, tornando-se alvo de discriminação econômica e social. Por outro lado, sabemos que o Diabetes Mellitus Tipo 2 é uma doença que ocorre com maior freqüência após os 45 anos de idade, e, quando esse diagnóstico é feito, muitas vezes o indivíduo já é possuidor da doença há pelo menos 10 anos, o que pode provocar maior incidência de complicações crônicas. São essas complicações crônicas que mais preocupam os diabéticos, pois podem provocar conseqüências capazes de bani-los do cotidiano de uma sociedade capitalista, porque ser doente no mundo do capital é ser considerado incapacitado para o trabalho, sendo motivo de marginalização e desemprego, o que torna mais justificável a preocupação dos sujeitos com relação às conseqüências provenientes da doença. E, apesar da maioria dos sujeitos não considerarem a idade como agravante influenciável na sua vivência com o diabetes, sabemos que, quando o indivíduo não trata adequadamente a sua saúde, torna-se mais vulnerável às conseqüências provenientes da doença, em decorrência do avanço de sua idade. Por esse motivo, cabe ao indivíduo portador de diabetes, prover sua vida de hábitos saudáveis para evitar quaisquer distúrbios maiores. Para isso, é necessário que o sujeito reforce a sua auto-estima, conscientizando-se que é merecedor de uma vida plena no exercício de suas funções vitais, sejam elas relacionadas com o trabalho ou na sua vida em sociedade, bem como em sua vida íntima, em total sintonia com a sua sexualidade. 78 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Para confirmar o que constatamos sobre as preocupações do sujeito diabético com relação à doença, utilizamos as seguintes perguntas: Quais as preocupações que o diabetes lhe traz? O que você faz quando o seu diabetes está descontrolado? O que você considera que prejudica o controle do seu diabetes? O diabetes mudou a sua vida sexual? Vejamos o gráfico e a tabela correspondente: à pergunta n.º 4 Pergunta 4 - Quais as preocupações que o diabetes lhe trás? 12,50% 37,50% 50% Medo de ficar deficiente, de sofrer as consequências das doenças Medo de ter a vida limitada, controlada e com dieta Preocupação com o atendimento médico N.º Quais as preocupações que o diabetes lhe trás? Sujeitos 4 Responderam que tem medo de ficar deficiente, de sofrer as conseqüências decorrentes da doença 3 Acham ruim a vida limitada, controlada e com obrigatoriedade de dieta 1 Tem preocupação com a falta de atendimento médico 79 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social A seguir, vejamos o gráfico e a tabela referentes à pergunta N.º 5: O que você faz quando o seu Diabetes fica descontrolado? Pergunta 5 - O que você faz quando seu diabetes está descontrolado? 1 1 4 2 3 Faz dieta Procura médico/usa medicamentos Controla o sistema nervoso Faz oração Nunca descontrolou O que você faz quando o seu diabetes está descontrolado? N.º Respostas 4 Responderam que fazem a dieta recomendada pelos médicos 3 Responderam que procuram o médico e usam medicamentos 2 Responderam que controlam o sistema nervoso 1 Respondeu que faz oração 1 Respondeu que nunca descontrolou o diabetes 80 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social E, os gráficos e tabelas referentes às perguntas n.º 6 e n.º 7: Pergunta 6 - O que você considera que prejudica o controle do seu diabetes? 3 5 1 1 Não manter a dieta Atual conjuntura do país Desconhece o que descontrola o seu diabetes porque isso nunca ocorreu Alteração do sistema nervoso N.º O que você considera que prejudica o controle do seu Respostas diabetes? 5 Respondera que consideram prejudicial não manter a dieta 1 Respondeu que considera prejudicial ao diabético a atual conjuntura política do país 1 Respondeu que desconhece o que descontrola seu diabetes porque isso nunca ocorreu 3 Responderam que consideram prejudicial a alteração do sistema nervoso 81 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Pergunta 7 - O diabetes mudou sua vida sexual? 12,50% 50,00% 37,50% Mudou Não Não pratica sexo N.º O diabetes mudou sua vida sexual? Sujeitos 4 Responderam que mudou 3 Disseram que não mudou 1 Respondeu que não pratica sexo Continuando o relato da nossa pesquisa, confirmamos através das respostas obtidas, que metade dos sujeitos sentia medo perante o sofrimento provocado pelas conseqüências da doença, tais como a cegueira e a perda de membros inferiores. Vejamos alguns desses depoimentos: “Medo de ficar cego ou aleijado, como já vi vizinhos meus cortarem as duas pernas.” (S 1) “É o que eu já falei, né, anteriormente. É de ficar sofrendo...” (S 5) “A única preocupação é quando cai a taxa, ou, então, um ferimento. É isso que temos que ter muito cuidado mesmo é com a parte dentária, né?” (S 8) De fato, a literatura médica refere-se ao diabetes como uma das principais doenças que podem afetar a visão, levando o indivíduo à cegueira, na maioria 82 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social das vezes irreversível. Por outro lado, o alto nível de açúcar no sangue pode afetar os nervos dos pés, provocando problemas de circulação do sangue, causando até mesmo a necessidade de amputações. Além do mais, a neuropatia pode provocar a perda da sensibilidade dos pés, de forma que o sujeito diabético pode deixar de sentir, até mesmo, a temperatura de uma água fervente ou a sensação de um machucado provocado por um calçado. Se ocorrer uma lesão, ou, um ferimento qualquer nos pés do diabético, e se não for curado imediatamente, pode causar infecção, que, se agravada pode provocar gangrena e, consequentemente, a amputação do membro afetado. Todo esse quadro clínico é agravado nos sujeitos de nossa pesquisa, devido ao fator idade, pois o indivíduo a partir da 3ª idade torna-se mais vulnerável à outras doenças que venham a agravar o quadro clínico próprio do diabetes, tais como a osteosporose, as doenças provocadas pela carência de vitaminas (como a vitamina A que é necessária para a visão e a C que tem sua função preventiva nas infecções), além da natural dificuldade de locomoção que torna a pessoa idosa mais propícia à quedas que podem provocar fraturas e ferimentos. Ao mesmo tempo, o indivíduo idoso é mais propício a ser atingido pela depressão, o que é agravado no diabético, devido ao medo da ameaça de ser atingido em sua integridade corpórea, tornando-se um deficiente físico, por ser vulnerável às conseqüências da doença. As limitações que a doença provoca na vida dos diabéticos são motivos de preocupações para eles, porque além de não poderem praticar esportes livremente, têm a obrigatoriedade de fazerem uma dieta restrita, sem, no entanto, permitirem-se alterar o seu sistema nervoso. Vejamos: “... a gente fica com a vida um pouquinho limitada, né? Por exemplo, a gente não pode praticar muito esporte... Mas nós temos outras partes da vida, que é uma vida normal.” (S 2) “O diabetes me trás preocupações porque a gente tem que viver muito controlado, né? Controlar na alimentação... controlar no nervosismo, né? Porque com o nervosismo, se a gente não tiver controlado, a diabete só tem tendência a subir, né?” (S 7) 83 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social É natural que essa vulnerabilidade decorrente da doença, provoque no diabético preocupações pela falta de atendimento médico. Observemos o depoimento do Sujeito 6: “A preocupação que eu tenho é porque eu tinha um plano de saúde e agora não tenho mais, né? É a dificuldade que eu tenho. Ir procurar médico, que um dia está de greve, outro dia, não.” De acordo com LAURELL (1983), “Desde o final dos anos sessenta, intensificou-se a polêmica sobre o caráter da doença. Discute-se se a doença é essencialmente biológica ou, ao contrário, social. (...) O auge desta polêmica, (...) encontra explicação fora da medicina, na crescente crise política e social que acompanha a crise econômica e com ela se entrelaça.” (p. 135) O exercício da medicina, enquanto mercadoria do mundo do capital, está interrelacionado com a problemática econômica e política da sociedade, enquanto sociedade produtora e consumidora dessa mercadoria. E esse fato, na atual conjuntura capitalista, onde predomina a ética protestante, uma das bases do neo-liberalismo, procura-se atender ao doente de modo a não sofrer prejuízos, porquanto o lucro é o que movimenta a economia e, como tal, deve atestar a sua existência. É bastante conhecido o modo como funcionam os planos de saúde no Brasil. Há quem os considere uma verdadeira máfia. No entanto, há de se convir: ruim com eles, pior sem eles. No entanto, sabemos ser um preceito constitucional de que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado, com garantia de acesso universal e igualitário para todos. (art. 196 CF) Por outro lado, à título de democracia, as greves ocorrem com freqüência tal, que os cidadãos, no exercício de suas cidadanias, quer como pacientes necessitando de médico, quer como médicos requisitando melhores salários, tornam-se, ambos, vítimas da conjuntura político-social de governos que tem 84 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social como norma de execução da economia, apenas o corte de gastos considerados, sejam quais forem, como supérfluos. É aí que observamos o quanto a saúde está decadente. O que resta para o pobre, que nada mais é do que a classe trabalhadora que sustenta a mão de obra do país: de um lado, planos de saúde caríssimos e do outro, postos de saúde fechados com médicos em greve. A falta de um atendimento permanente pelos profissionais da saúde, torna-se em grande preocupação para o diabético, que necessita de acompanhamento médico constante. Devido a essa conjuntura, perguntamos quais providências tomavam quando ocorria descontrole do diabetes. Metade dos sujeitos admitiu realizar o controle através da dieta específica para o diabetes. Vejamos os depoimentos dos Sujeitos 1 e 2: “Aí eu paro a minha boca, né? Paro a boca e sempre usando os remédios que os médicos passam, também.” ( S 1) “ No meu caso, o diabetes provoca mais a hipoglicemia que a hiperglicemia. Porque a hiperglicemia eu controlo pela dieta alimentar. Já para controlar a hipoglicemia, a primeira providência é alimentar-se nos horários certos, afim de evitar problemas. Mas como sempre pode haver um imprevisto, tenho sempre comigo uma bala, caso o nível de glicose caia muito e examino a taxa de glicose do sangue diariamente para controlá-la.” (S 2) Mesmo já tendo mencionado no início dessa pesquisa, vale ressaltar, aqui, mais uma vez, devido a grande importância do fato, que, apesar de parecer contraditório, o indivíduo diabético deve sempre ter consigo um suprimento de alimentos contendo açúcar : passas de uva, torrões de açúcar, chocolate, balas, etc. Isso pode, às vezes, salvar a vida do diabético, quando o nível de açúcar no sangue for demasiadamente baixo. Os sintomas de baixo nível de açúcar no sangue são: tremor, tontura, irritabilidade, fome, sonolência, sudorese e cansaço. Se o indivíduo diabético, apresentar alguns desses sintomas, é necessário comer ou beber imediatamente algum alimento doce. No entanto, o indivíduo deve buscar orientação médica o mais rápido possível. 85 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Isso é o que ocorre com três sujeitos que procuram o médico, quando há descontrole no seu diabetes, seguindo a orientação dada pelo mesmo. Vejamos alguns desses depoimentos: “Aí eu vou ao médico. Procuro a Dra. Sheila e o Dr. Carlos, lá em Jardim Camburi e a Dra. Rosana.” (S 3) “Bom. Eu procuro o médico e faço exame de sangue, né? Prá mim ir caminhando como eles mandam, né? (S 4) Infelizmente os planos de saúde são privilégio de uma minoria. No entanto, encontramos na Grande Vitória, Postos de Saúde capacitados para o atendimento ao diabético, o que vem melhorar bastante a qualidade de vida do doente que possui dificuldades financeiras. Outra estratégia utilizada por dois sujeitos afim de evitar as reações características provocadas pelo diabetes, é o controle do sistema nervoso. Vejamos o depoimento do Sujeito 7: “Aí eu procuro mais me controlar, porque o meu mesmo sobe porque eu sou muito tensa, sabe? Sou muito nervosa, por dentro de mim, eu fico corroendo as coisas que me preocupam.” É do nosso conhecimento que o sistema nervoso alterado prejudica todo o metabolismo de um indivíduo. No caso do diabético provoca toda uma disfunção glicêmica prejudicial ao doente. É, também, devido a isso que são recomendados os exercícios físicos paralelamente à dieta alimentar. O lazer também é de grande utilidade para o enfrentamento da doença, pois através dele o indivíduo descontrai-se, amenizando as reações de um sistema nervoso alterado. Observamos, no entanto, que alguns sujeitos usam da fé, através da oração, para a normalização do diabetes descontrolado, como o Sujeito 8 que pede ao pastor para orar: “... Peço oração, eu peço, o pastor ora... aí... fico calma, bem tranqüila...” 86 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Constatamos por esse depoimento que o comportamento religioso da oração proporciona ao sujeito um reforço psico-social capaz de, através da fé, obter senão a cura de seus males, ao menos um alívio, devido, talvez, à calma trazida pelo recolhimento interior necessário à realização da prece. Ainda com relação às preocupações próprias do sujeito, no que se refere à doença, constatamos que cinco consideraram que a não manutenção da dieta é o que mais prejudica o controle do diabetes. Vejamos alguns desses depoimentos: “É comer fora do normal ou aquilo que é proibido comer, eu comer.” ( S 1) “O descontrole aparece quando eu como muito. (...) Ou às vezes aqui em casa tem doces. Eu vou comendo doces, pudim, docinho de coco.” ( S 3) “Ah! Só quando como alguma coisa que não posso comer, aí isso me prejudica” (S 6) Através desses depoimentos, nota-se que já é assimilado por mais da metade dos sujeitos, a necessidade de uma alimentação mais saudável para diminuir as complicações decorrentes da disfunção do organismo nutrido por uma alimentação inadequada. Um dos sujeitos considerou ser a atual conjuntura política do país uma das causas que provocam alterações no seu diabetes. Para ele, a situação políticoeconômica que ocorre na sociedade atualmente, traz modificações na vida do indivíduo, capazes de conseqüências indesejáveis. Sendo o diabético vulnerável às alterações no seu metabolismo, a preocupação decorrente da instabilidade política do momento, ocasiona maiores oscilações na saúde do indivíduo doente: “ Isso aí é realmente a vida que a gente vive no país, né? Vive-se cheio de alterações e o diabético, é uma pessoa... que... é uma doença que...não pode trazer preocupações e com isso, há muitas oscilações na própria saúde que atinge essas pessoas.” ( S 2) Buscando, ainda, analisar sobre as alterações provocadas no controle do diabetes, comparamos a resposta dada pelo Sujeito 7 com a do Sujeito 8 e 87 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social percebemos que ambos consideram o sistema nervoso tão prejudicial quanto a alimentação inadequada para o controle da doença: “Eu considero? É mesmo o nervosismo. Que é o que mais me prejudica é o nervosismo.” (S 7) “ É mais ou menos quando eu... a gente faz uma artezinha, né. Escapole alguma coisa, faz uma artezinha... aí ... descontrola... Então, aborrecimento. O principal que é o aborrecimento, esse que é o principal, é o aborrecimento, como já surgiu, né? Aborrecimento, descontrolou...aí...bastou, comecei a me sentir mal.” (S 8) Finalmente perguntamos aos sujeitos se o diabetes havia mudado a vida sexual deles. Metade dos sujeitos admitiu que sim, que o diabetes havia mudado a sua vida sexual; três sujeitos responderam que não houve nenhuma mudança provocada pelo diabetes na vida sexual deles; e, um sujeito respondeu que não praticava sexo. O diabetes pode afetar o tecido nervoso do indivíduo, produzindo alterações como a impotência no homem, além de problemas nas funções da bexiga e do intestino. Mas, seguindo corretamente o tratamento, o diabético não precisa temer eventuais ocorrências. É lógico que os sujeitos podem até sentir, sobre os ombros, o peso dos tabus relacionados com a sexualidade na velhice. No entanto, com os avanços da ciência, dia após dia, o ser humano vem adquirindo uma maior longevidade. O surgimento de novos medicamentos, como o Viagra, e, a utilização de novas estratégias de tratamentos médicos, vêm revolucionar o conceito popular tido até então, sobre a sexualidade na velhice. Para LOPES e MAIA (1993), “A longevidade é um aspecto relativamente novo na história da humanidade e ainda desconhecemos muito sobre a dinâmica entre a pessoa idosa e o seu meio ambiente, em particular no que diz respeito às questões relativas à sexualidade. Em geral, o jovem se propõe a ajudar o idoso e, além de ter dificuldades para entrar no referencial do 88 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social velho, é portador dos preconceitos sociais e sexuais da nossa cultura. É natural, portanto, que, ao lidar com o sexo na velhice, sejamos capazes de assimilar, entender e responder às pessoas dessa faixa etária. (p. 14) Alguns teóricos consideram que o processo de envelhecimento fisiológico tem inicio no nascimento do embrião e, quando houver conscientização de que é um fato irreversível para a humanidade, a velhice será considerada como fase natural do ‘devir’ de cada um e de todos. Dentre os sujeitos da nossa pesquisa, apenas três demonstraram capacidade de enfrentamento da doença com relação à sua sexualidade. De acordo com RIBEIRO (1995): “Nossa sexualidade é modulada por fatores diversos: hormonais, sociais e culturais e é algo extremamente pessoal. Cada um vivencia a sexualidade à sua maneira e o passar dos anos não altera drasticamente a maneira como intimamente lidamos com ela. Quem é muito ligado no assunto estará sempre ligado.” Ao mesmo tempo que RIBEIRO (1995) considera não ser a idade o fator básico de diminuição na sexualidade do indivíduo, a opinião de COMFORT (1979), vem corroborar a afirmação de RIBEIRO, ao atestar que “Na ausência de dois fatores nocivos – doenças e o preconceito da assexualidade senil – o impulso e a capacidade sexuais permanecem inalterados durante toda a existência do ser humano. Mesmo nos casos em que o relacionamento carnal é prejudicado por más condições físicas, ainda permanecem outros impulsos, como o desejo de contato, a sensualidade e a necessidade de reconhecimento das virtudes tanto varonis como feminis.” (p.202) 89 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Uma grande parcela dos indivíduos, principalmente nos países do Terceiro Mundo, tem embutida na sua concepção de velhice, conceitos discriminatórios que nada tem a ver com a realidade do idoso. Segundo SALGADO, (1992), é costume da sociedade ressaltar apenas as perdas no velho e nunca enaltecer as conquistas, sobretudo as de ordem psico-emocional e cultural, características da maturidade adquiridas através da história de vida do indivíduo. No entanto, uma nova concepção de velhice surge na atualidade, desmistificando todo conceito tido até então a respeito do idoso. Estudiosos do assunto, como LOPES e MAIA (1994), vem oferecer, através a literatura, a sua contribuição para uma nova visão da realidade do idoso: “Não há por que temer a idade como fator de diminuição do prazer sexual. A idade não dessexualiza o indivíduo, a sociedade sim.”(p.15) O que constatamos, através dos depoimentos dos sujeitos, é que apesar das preocupações próprias decorrentes da doença, se houvesse uma maior divulgação à respeito da necessidade do uso de uma dieta adequada ao diabetes, acompanhada de exercícios físicos específicos, eles poderiam ter uma vida melhor e mais proveitosa de modo a satisfazê-los na suas vivências cotidianas com a doença, bem como a auxiliá-los na busca de soluções de ocorrências que pudessem vir a afetar as peculiaridades emocionais de cada um. 90 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.2 ESTRATÉGIAS DE APOIO NO COTIDIANO DO SUJEITO 5 .2.1. APOIO DOS FAMILIARES Há momentos em que a gente só precisa de uma luz que penetre em nossa escuridão e ilumine o nosso caminho; Há momentos em que a alegria silencia dentro de nós, e a gente só precisa de uma canção que acaricie a nossa voz e os nossos lábios e nos anime; Há momentos em que a gente só precisa de uma palavra que toque o nosso coração, e, qual mão generosa, nos conduza ao longo do dia; Há momentos em que a gente precisa de você. (autor ignorado) 91 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.2: Estratégias de Apoio no Cotidiano do Sujeito Ao analisarmos as estratégias de enfrentamento no cotidiano do sujeito, elaboramos perguntas que pudessem detectar se o mesmo recebia ou não apoio em sua vivência no contexto familiar e religioso, bem como, durante os seus momentos de lazer que pudesse lhe dar suporte no enfrentamento da doença. Segundo TRENTINI e SILVA (1992), o cotidiano das pessoas é repleto de experiências estressantes e entre os estressores mais temidos está a doença. O recebimento do diagnóstico médico, é sempre motivo de grande ansiedade, de medo, de incerteza e de insegurança pois o indivíduo vê ameaçados os seus planos de futuro. No caso da doença crônica, condição já estressante por si mesma, vem, na maioria das vezes, acompanhada de outros estressores, dentre os quais o regime alimentar, o tratamento, mudanças ocorridas no estilo de vida, perda de energia física do paciente e mudanças na aparência pessoal do indivíduo. De acordo com TRENTINI E SILVA (1992), “Todo esse processo de enfrentamento ocorre sob influência da visão de mundo herdada na experiência de vida dos envolvidos. Cada indivíduo tem sua experiência e história de vida única e cada um carrega consigo um conjunto de valores, crenças e predisposições. Deste modo, cada um avaliará a situação de maneira própria.” (p.85) Para enfrentar esses estressores, o sujeito diabético necessita do apoio da sua família. 92 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.2.1 Apoio dos Familiares Para FRANKEL & KOMBLIT ( 1989), “família é um grupo de pessoas que convivem na mesma residência, parentes ou não e que desempenham funções econômicas, sociais, biológicas e/ou reprodutivas.” (In BICUDO, 1997). Segundo FIGUEROA et all (1993), as reações da família ante a presença da doença dependem de vários fatores: do tipo de família, da cultura e da educação de cada membro e das atitudes dos parentes acerca da dor, da invalidez, dos regimens terapêuticos de uma enfermidade como o diabetes, podendo influenciar no estabelecimento da reação do paciente perante os sintomas ou complicações da doença. Um indivíduo com diabetes se encontra todos os dias frente às suas próprias necessidades, precisando, quase sempre, da sua família para auxiliá-lo a solucionar seus problemas de saúde. A maneira como a família procede, influirá positiva ou negativamente sobre sua conduta terapêutica e portanto, no controle do seu diabetes. (tradução nossa) Nesta pesquisa, observamos que 6 sujeitos recebem apoio dos familiares através de várias atitudes dos mesmos: visitas, atenção à pessoa, alimentação e aconselhamento sobre o comportamento perante a doença. São demonstrações de: Carinho: “Ah! Meus filhos vem aqui me visitar e mais é a ‘coroa’ aqui, que ela tem muito cuidado comigo.” (S 1) De ordem financeira: “Ah! Dá bastante. Porque é ajuda na minha parte de alimentação...” (S 2) De reforço para a manutenção da dieta: “Dá... porque eles falam mesmo muito comigo, né? Não estar comendo tanto assim... Às vezes até a menina reclama mesmo quando estou bebendo.” (S 3) De aconselhamento: “Oh, não! Eles fazem tudo por mim, o que for necessário, entendeu? Eu tenho uma irmã que eu me entendo bem... ‘cuidado o mé mata, o mé cega’.” (S 4) De compreensão: “Meu esposo dá demais (falou com ternura)... Meu esposo é o que...se não fosse por ele, acho que eu não vivia... (risos de contentamento). Porque Graças à Deus, ele é uma pessoa muito compreensiva comigo. Por tudo.”(S 7) 93 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Já dois sujeitos admitiram não receberem apoio dos familiares, sendo que, um deles disse que não recebe apoio familiar devido à estarem acostumados à doença, pela ocorrência de outros casos de diabetes na família. Vejamos: “A família nem liga, entendeu? Porque já estão tão acostumados com os parentes anteriores que já passaram, eles acham que diabetes para eles é normal.” (S 5) Vejamos o gráfico e a tabela referentes à temática: Pergunta 9 - A família lhe dá alguma espécie de apoio? 25% 75% Sim Não N.º Sujeito A família lhe dá alguma espécie de apoio? 6 Disseram que sim (visitas, atenção, alimentação, aconselhamento) 2 Não recebem apoio da família (um deles porque a doença já é comum na família e o outro porque não possui família) Segundo FRANKEL e KOMBLT (1987), o desligamento afetivo da família, manifestado através de condutas evitativas com respeito ao cuidado do enfermo, pode ser um fator responsável pelo fracasso da utilização de estratégias de enfrentamento da doença. Um sujeito admitiu não receber apoio familiar por não possuir parentes e residir sozinho. Considerando que o Ser Humano é um ser iminentemente grupal, possuidor da necessidade de estar sempre rodeado por outras pessoas, para trocar vivências, observa-se quando o indivíduo é idoso e tendo que conviver com uma enfermidade, ao esbarrar com a falta do apoio familiar, o seu enfrentamento com a doença torna-se 94 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social muito mais difícil. Para MILLER, (1983), "manter a esperança na vida está associado a ter algo ou alguém por quem viver ou seja, um relacionamento bom com familiares e amigos leva o paciente a manter a esperança e enfrentar melhor os desafios provocados pela doença.” (In TRENTINI et all, 1990, p.23) E, também, segundo FRANKEL y KOMBLT (1989), outro fator que influi nas estratégias de enfrentamento psico-social do diabético, é a capacidade da família do doente de agir perante uma situação imprevista de urgência, porque, caso não ocorra a intervenção rápida e segura por parte dos familiares, poderá ser fatal para o indivíduo. Daí a necessidade de participação da família para uma melhor qualidade de vida do diabético. 95 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.2.2: Apoio da Religião Segundo LAPLATINE (1991), ao serem realizados estudos sobre temas que envolviam saúde e/ou doença, demonstrou ser constante a relação mística entre a “doença e o sagrado, a medicina e a religião, a saúde e a salvação.” O progresso da genética tem revolucionado a ciência numa busca contínua de tentar proporcionar a saúde absoluta aos indivíduos, através da realização, talvez utópica, da eliminação de todas doenças da humanidade. Enfim, há um envolvimento de uma mensagem messiânica, proveniente da crença de um verdadeiro paraíso terrestre obtido através da medicina, isto porque, “a medicina contemporânea é tão religiosa quanto as grandes religiões que se apresentam como tais: ela não se contenta em anunciar a salvação após a morte, mas afirma que esta pode ser realizada em vida.” O discurso médico da atualidade, embasado no incessante progresso da ciência, fala de um “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, isto é, “de juventude, beleza, força, serenidade, felicidade e paz, em suma, de promessas de salvação comuns a todas as grandes religiões.” A luta entre o Bem e o Mal, entre a Saúde e a Doença, fazem visualizar, no indivíduo religioso, uma comparação similar do Médico com o Padre, na luta contra a Doença ou o Demônio. Para analisarmos o apoio obtido através da religião, perguntamos aos sujeitos se o fato de ter uma religião ajudava a enfrentar o diabetes e como era realizada essa ajuda. Cinco sujeitos admitiram que a religião oferecia apoio às estratégias usadas por eles para o enfrentamento da doença. Vejamos os seguintes depoimentos: “Ajuda. Principalmente todas as últimas segundas-feiras do mês tem as missas dos doentes e eu participo. O pessoal da igreja vem aqui freqüentemente me visitar ou fazer alguma oração e vê as necessidades da gente para ajudar a gente.” ( S 1) “Desses três anos para cá que eu me tornei crente, a gente conversando muito com o pessoal da igreja... eles falando mesmo para a gente não beber mesmo.” (S 3) “Ajuda. Ajuda porque é uma coisa que, às vezes, a gente tá num desespero danado, a gente pede por quem? Por Deus, né, por Jesus Cristo prá dar força à gente, então Ele dá.” (S 7) 96 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “ A religião, né? Ajuda tudo na vida da gente, né? Quando você sabe que tem uma doença que não tem cura, né? O diabetes não tem cura, né? Isso aí, a gente tem que ter Fé em Deus. Tem que se apegar com Ele, porque só Ele mesmo, né?” ( S 8) De acordo com TRENTINI et all (1992): “...se a condição crônica significa, para alguém, um castigo de Deus, provavelmente, segundo sua apreciação, tem pecados a expiar e decidirá por estratégias de enfrentamento adequadas, para pagar os pecados segundo ele acredita. Dependendo de sua orientação de vida, o significado pode ter muita ou pouca importância para ele, podendo provocar emoções negativas como medo, vergonha, revolta ou emoções positivas como gratidão, alegria.” (1992, p. 83) Observemos os gráficos e as tabelas correspondentes ao assunto: P e rg u n ta 1 0 O fa t o d e t e r u m a r e li g i ã o a ju d a a e n fr e n t a r o d ia b e t e s ? 1 2 ,5 0 1 2 ,5 0 % 1 2 ,5 0 % 6 2 ,5 0 S im Não N ã o é e s s e n c ia l I n d if e r e n t e % 97 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social N.º Sujeitos O fato de ter uma religião ajuda a enfrentar o diabetes? 5 Responderam que sim 1 Respondeu que não 1 Respondeu que não é essencial a ajuda da religião 1 Considerou com indiferença a ajuda religiosa Pergunta 10 (a)- Como? 1 4 3 1 Pela fé Aconselhamento Não ajuda Ajuda assistencialista N.º Respostas Como? 4 Disseram que a religião ajuda através da fé 1 Considerou a ajuda religiosa obtida através do aconselhamento 3 Responderam que a religião não ajuda 1 Respondeu que a ajuda religiosa vem através do assistencialismo Em suma, podemos notar que quando os sujeitos se vêem diante de alguma situação que não podem mudar, eles, delegam uma parcela de responsabilidade dos seus problemas à algo superior e divino. Ao estarem buscando apoio na fé, talvez seja uma forma de estarem fugindo ao 98 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social enfrentamento da realidade estressante, provocada pelas limitações da doença. Dois sujeitos responderam que não buscam apoio na religião para enfrentamento da doença, embora um deles tenha admitido utilizar da oração como reforço psicológico para enfrentar as diversas problemáticas decorrentes do diabetes. Vejamos o seguinte depoimento: “Ninguém precisa que um pastor ali da igreja... eu acho que eles não precisam ficar sabendo, porque se possível acontecer ou a taxa cair, eu sento, peço uma oração ou então vou na cantina, como um salgado ou então um refrigerante que é prá poder ela voltar normalmente.” ( S 8) Quatro sujeitos responderam que o apoio dado pela religião depende da fé. Segundo LAPLATINE (1991), a religião é um elemento totalizante porquanto engloba o social, o individual e o universal, como um todo único do indivíduo social. A conseqüência evidente disso é a constante relação mantida pelo homem em relação ao tríduo doença x saúde x salvação. A afirmação do Sujeito 2, “...toda pessoa que tem uma religião tem fé e por isso tem uma perspectiva de melhor enfrentar as coisas na vida” , vem reforçar os ditos populares, tais como, a fé remove montanhas! Ou, quem sabe, inspirar compositores de músicas populares, como Gilberto Gil “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar...” O Sujeito 3 acha que o apoio da religião provém, também, do aconselhamento: “A religião eles não ajudam. Eles dão conselho, né? Converso como estou... Converso com os presbíteros da igreja... meus amigos. E aí eles explicam e falam que eu, né, como devo seguir...” Analisando os indivíduos, grosso modo, observamos que todos temos uma realidade dominante ou verdadeira e outra realidade que divaga quando nos distraímos com alguma coisa, ou quando nos dedicamos ao estudo e/ou leitura, ao canto, quando dançamos, quando passeamos ou viajamos, quando conversamos sobre banalidades ou não, quando vemos televisão ou assistimos a um jogo de futebol. Segundo LUCKMANN e BERGER ( 3ª ed.), a nossa consciência vagueia por mundos diferentes do cotidiano aqui e agora mas 99 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social sempre retorna à realidade dominante das nossas vidas, semelhantemente a uma peça teatral, quando a transição entre as realidades é marcada pelo levantamento e pela descida do pano. Ao iniciar a encenação, o espectador é ‘transportado para um outro mundo’, com seus próprios significados e uma ordem que pode ter ou não relação com a vida cotidiana. Quando termina a encenação, o espectador ‘retorna à realidade’, ou seja, retorna à realidade predominante do seu cotidiano, “em comparação com a qual a realidade apresentada no palco aparece agora tênue e efêmera, por mais vivida que tenha sido a representação alguns poucos momentos antes”. Transições similares podem ocorrer através a experiência religiosa de um indivíduo, pois ao voltar-se para a religião poderá ser uma forma de esquecimento dos desconfortos causados pela enfermidade. Essa busca no apoio religioso pelos sujeitos, ao enfrentarem situações aparentemente estressantes, como o seu estado de idoso e a doença crônica Diabetes Mellitus, poderá proporcionar algum beneficio aos mesmos. 100 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.2.3: A Importância do Lazer na Vida do Sujeito A utilização do lúdico pode ser também uma maneira de amenizar a realidade estressante do cotidiano do indivíduo diabético. E, de acordo com LUCKESI (1994), “O lúdico é o modo de ser do homem no transcurso da vida; o mágico, o sagrado, o artístico, o científico, o filosófico, o jurídico são expressões da experiência lúdica constitutiva da vida. O lúdico significa a experiência de ‘ir e voltar’, ‘entrar e sair’, ‘expandir e contrair, ‘contratar e romper contratos’; o lúdico significa a construção criativa da vida enquanto ela é vivida. O lúdico é um ‘fazer o caminho enquanto se caminha’; nem se espera que ele esteja pronto, nem se considera que ele ficou pronto; este caminho criativo foi feito (está sendo feito) com a vida no seu ‘ir e vir’, no seu avançar e recuar. Mais: não há como pisar nas pegadas já feitas, pois que cada caminhante faz e fará novas pegadas. O lúdico é a vida se construindo no seu movimento.” ( p. 51) Observemos os gráficos e tabelas referentes à temática do lazer: Pergunta 11 - Quais são suas opções de distração? 1 1 2 5 Jogos Televisão Sair Apreciar a casa 101 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social N.º Respostas Quais são suas opções de distração? 1 Responderam que para distraírem-se, saem de casa (viagem, ir à praia, à praça, à igreja, passear, dançar, estudar, forró, cantar, assistir futebol) Se distrai com jogos (ex.: dominó) 2 Se distraem assistindo televisão 1 Se distrai curtindo a própria casa 5 Pergunta 11(a) - Acha suficiente? 12,50% 50,00% 37,50% Não acha suficiente Acha suficiente Indeciso N.º Acha suficiente? Sujeitos 4 Responderam que não acham suficiente as suas opções de distração 3 Responderam que acham suficiente as opções que tem para se distraírem 1 Permaneceu indeciso 102 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Pergunta 11 (b) - O que mais você gostaria de fazer para se divertir? 1 1 1 3 1 2 Passear Gostaria de fazer várias coisas mas o orçamento familiar não permite Conversar Ser mais jovem para namorar Não gostaria de fazer mais nada Participar de grupos de idosos N.º Respostas O que mais gostaria de fazer para se divertir? 1 Respondeu que gostaria de passear 1 Respondeu que gostaria de fazer várias coisas, mas o orçamento familiar não permite 2 Respondera que gostariam de conversar 1 Respondeu que gostaria de ser mais jovem para namorar 3 Responderam que não gostariam de fazer mais nada além do que já fazem 1 Respondeu que gostaria de participar de grupos de idosos Segundo LUCKESI (1994), é através do lúdico que a vida é construída alegremente, sem rigidez, no trânsito do mundo subjetivo do indivíduo para o 103 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social seu mundo objetivo, isto é, entre o mundo interior e o mundo exterior do sujeito, permitindo ao ser humano viver alegre e feliz, ao mesmo tempo que constrói a sua personalidade. E, conforme DEPS (1993, In NERI, 1993), nos últimos anos o estudo do envelhecimento bem sucedido tem chamado a atenção dos gerontólogos, definido por alguns estudiosos, dentre eles, WONG (1989, In NERI, 1993), como “um nível relativamente alto de saúde física, bem-estar psicológico e competência em adaptação”. Segundo LEE e ISHI-KUNTZ (1988, In NERI, 1993), bem-estar psicológico é o mesmo que bem-estar emocional e refere-se ao estado da mente, incluindo os sentimentos de felicidade, contentamento e satisfação com a própria vida. No caso dos sujeitos pesquisados, o lúdico poderia ser essa fonte proporcionadora de bem-estar psicológico, o que seria de grande valia para melhor qualidade de vida do diabético. E para detectarmos estratégias de enfrentamento psico-social no cotidiano do sujeito, analisamos o lúdico através a categoria ‘lazer’ na sua vida, direcionando perguntas que pudessem satisfazer a nossa pesquisa, na tentativa de visualizar as estratégias de enfrentamento utilizadas no seu cotidiano. O Sujeito 1 disse utilizar o jogo de bisca e dominó para distrair-se no seu dia-a-dia. Vejamos: “Aqui parece uns parceiros que vem jogar um dominó, um baralho... O próprio vizinho meu aqui mesmo, faz muito disso...jogamos uma “bisca”, um dominó.” Dois sujeitos alegaram usar a televisão para entretenimento das suas horas de lazer e cinco sujeitos distraem-se utilizando atividades que envolvam ‘sair de casa’, tais como viajar, ir à praia, ir à praça, passear, ir à igreja, dançar, estudar, ir ao forró, cantar, assistir futebol. Observamos, no entanto, que um sujeito vem procedendo de modo inverso aos demais. Tem como lazer a permanência no lar, talvez por falta de opção para realizar outra atividade: “Distração? Você sabe que eu não tenho quase opção? Minha opção? Eu adoro ficar em casa, eu adoro cuidar, eu adoro ver minhas coisas limpas, eu adoro, sabe? Curtir minha casa.” (S 7) Ao perguntarmos se gostaria de fazer mais alguma coisa para se divertir, demonstrou vontade de participar de grupos de idosos: 104 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “Prá me divertir? Deixa eu ver... Sair, conversar... e, assim, se eu tivesse um pouquinho de estudo, eu tinha vontade de sair, ir... fazer assim: não tem esses encontros de idosos? Eu tinha vontade de participar...” Percebemos que os grupos de idosos poderiam fazer muito bem para o Sujeito 7, pois nesses grupos os idosos se reúnem para trocar informações, além do que, valorizam os indivíduos, estimulando-os à criatividade através de diversas atividades culturais, artísticas e de lazer, que além de elevar a auto-estima do idoso, ajudam a ressocializá-lo na comunidade. Quando perguntamos aos demais sujeitos se achavam suficientes as opções de lazer que possuíam, metade deles respondeu negativamente, três consideraram o lazer por eles praticado, satisfatório, e apenas um sujeito demonstrou indecisão, na resposta dada: “Ah, nem sei...Eu nem sei, sabe? Acho que eu vivi tanto quando era jovem que hoje eu já nem ligo muito mais, não. ” (S 5) Perguntamos, então, o que mais gostariam de fazer para se divertir. O Sujeito 1 falou que gostaria de passear para recordar o lugar onde nasceu: “Passeio...para ir num lugar, né, recordar o lugar que a gente foi nascido e criado.” Um sujeito falou que gostaria de fazer várias coisas, mas, que o orçamento familiar não permitia, dois sujeitos gostariam de ter alguém com quem pudessem conversar, e um sujeito desejou ser mais jovem para poder namorar: “Divertir? Se eu gostasse era ser mais novo. Tivesse os meus trinta anos, ainda namorava.” (S 3) Três sujeitos demonstraram conformação com o lazer que tinham e afirmaram que não gostariam de fazer mais nada além do que faziam: “Olha, eu acho que não tenho nenhuma opção, viu. Eu acho que tudo que tinha de fazer na minha vida, eu já fiz. Me...conformo com o que já fiz, né?” ( S 4) 105 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social “É eu ter com quem conversar...Ter alguém... assim que fique comigo porque, às vezes, eu posso passar mal à noite, por exemplo, à noite assim, sozinha aqui dentro, não tem ninguém Prá ficar comigo...Aí como é que eu fico se precisar de ir à noite pro médico? Não tem... já aconteceu, sozinha, aqui, passando mal. Sozinha e Deus... eu não dormi. Sentei. Eu mesma dei massagem nos pulsos, fiquei quietinha... tomei uma água adocicada... agora, só cochilei, mas, dormi, não...Agora o negócio é esse: é falta de pessoa para ter diálogo com a gente, entendeu? É o diálogo com a gente, é o diálogo.”(S 8) Aqui vale falar um pouco sobre as condições de vida desse sujeito. Ele reside num cômodo de um metro e meio por dois metros, praticamente ocupado por engradados de garrafas de bebidas vazias. Não há mobília. Sentamo-nos em alguns desses engradados. Há um outro cômodo anexo, isolado por um portão de ferro, onde não penetramos. Soubemos pelo entrevistado que ali continha um cano, onde saía água para que tomasse banho. No cômodo que permanecemos, o espaço era compartilhado por um cão, preso numa corda, e, um gato. O sujeito não possui sequer uma pia para lavar uma louça, nem um fogão, nem geladeira. Faz suas refeições fora, apesar de receber apenas 1 Salário Mínimo. No entanto, seu vestuário era bastante limpo e possuía ânimo para ir estudar todas as tardes, apesar de ser portador de uma deficiência física que faz com que necessite de aparelho especial para se locomover. Mora sozinho. Respondeu às nossas perguntas com bastante clareza, apesar de intimidado com o local onde estava nos recebendo. Demonstrava alguma alegria, embora, muitas vezes, notássemos um traço de tristeza no seu olhar e voz, principalmente quando se referia à sua solidão. A solidão e o medo da solidão do Sujeito 8 é visível pelo seu depoimento, acima citado. O que nos faz pensar no que diz MAY(1980), quando comenta sobre a solidão do homem moderno, “no reverso da solidão do homem moderno está seu grande temor de ficar só.” No caso dos sujeitos pesquisados, não nos parece aconselhável a vivência solitária, pois a problemática que envolve os portadores de Diabetes Mellitus, os torna vulneráveis à situações limites, de conseqüências as mais diversas, caso o indivíduo não seja socorrido em tempo, além do acometimento muitas vezes de depressão, provocada pelo viver solitário. Concordamos com MAY (1980), quando diz que “é aceitável ficar só temporariamente, para desligar-se de tudo”, e, concordamos mais ainda, quando o referido autor comenta que o 106 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social permanecer só, não é recomendável para as pessoas de um modo geral, pois, o indivíduo pode se sentir como retratou o poeta: “Eu e minha sombra Ninguém a quem contar nossas penas... Só eu e minha sombra Tão tristes e sozinhos.”¹ Segundo MAY (1980), o medo da solidão espreita por detrás de uma enorme necessidade de receber convites, ou de ver os seus convites aceitos e a pressão para manter-se socialmente ativo vai muito além da realidade, vai em busca do prazer obtido pela companhia alheia e pelo enriquecimento das idéias. Pela resposta do Sujeito 8, observamos o quanto o mesmo anseia pela alteridade, por ter alguém com quem conversar. Talvez seja por isso que, na idade que possui, enfrentando o diabetes e a deficiência física, saia em busca do enriquecimento de idéias, obtido através dos estudos. Concluindo sobre as estratégias de enfrentamento da doença utilizada pelos sujeitos no seu cotidiano, observamos que são, em sua maioria, reforçadas pelo apoio dos seus familiares, pela fé, expressada algumas vezes através da religião propriamente dita, e, muitas vezes, pela certeza da presença divina. O lazer, embora bastante precário, pareceu-nos ser de grande valia, podendo se tornar em forte aliado nas estratégias utilizadas para enfrentamento da doença. Notamos, também, ser a família o reforço psicológico mais importante, seguido de perto pela fé. O lazer tenta abrir espaço com dificuldades devido a conjuntura econômica do país, onde é tido como algo supérfluo e, como tal, relegado à segundo plano. ¹ Verso de “Eu e Minha Sombra”, de Billy Rose (In MAY, 1980, p.25) 107 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3: BARREIRAS SÓCIO-ECONÔMICAS QUE DIFICULTAM O CONTROLE DA DOENÇA COMIDA Bebida é água. Comida é pasto. VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ? VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? A gente não quer só comida, A gente não quer só comer, a gente quer comida, diversão a gente quer comer e quer fazer e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. amor. A gente não quer só comer, a gente quer prazer prá aliviar a dor. A gente não quer só comida, A gente não quer só dinheiro, a gente quer bebida, diversão, a gente quer dinheiro e balé. felicidade. A gente não quer só comida, A gente não quer só dinheiro, a gente quer a vida como a a gente quer inteiro e não pela vida quer. metade. Bebida é água. Bebida é água. Comida é pasto. Comida é pasto. VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? (Arnaldo Antunes/ Marcelo Fromer/ Sérgio Britto) 108 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3: BARREIRAS SÓCIO-ECONÔMICAS QUE DIFICULTAM O CONTROLE DA DOENÇA Num sentido amplo, estamos chamando de barreiras sócio-econômicas todos os obstáculos de ordem social e econômica, de caráter permanente ou transitório, que dificultam ou impedem ao indivíduo o controle da sua doença. De acordo com FRANKEL e KOMBLT (1989), ao ser realizado estudos enfocando o nível social do indivíduo, ficou constatado que, o que mais afeta a sociedade em geral, tornando-a vulnerável às enfermidades, são os problemas de ordem sócio-econômicas, de habitação, de instrução, de estabilidade no emprego, etc. (tradução nossa). E essas barreiras sócio econômicas, segundo VIEIRA (1996), são criadas pelo ser humano e é ele quem deve aboli-las. As barreiras de ordem social desestruturam o indivíduo pelas suas próprias diferenças em relação à universalidade, afetando-o física, psíquica e emocionalmente. Notamos que os sujeitos enfrentam duas barreiras de ordem social, ou seja, a de ser idoso e a de ser portador de uma doença crônica. Para VIEIRA (1996), “É muito comum o idoso sentir-se uma ‘pessoa marginal’ à sociedade que, geralmente está voltada para interesses diferentes do seu. A dificuldade de inserção grupal, leva o idoso a se fechar em seus pares ou isolar-se socialmente evitando os conflitos que possam surgir desta diversidade de interesses e hábitos entre ele e as gerações mais novas.” (p. 152) Atualmente, esta visão da sociedade de estar excluindo o idoso, está se modificando, talvez devido ao crescente aumento da população idosa no mundo, e, também, pelo reconhecimento que os idosos tem adquirido na busca dos seus direitos de cidadãos. No Brasil já existem grupos de idosos em várias cidades. Os grupos do município de Vitória, no Espírito Santo, tem sido destaque no Estado devido à repercussão que esse trabalho tem tido na vida dos idosos, que, segundo afirma Vieira (1996), já estavam excluídos do mercado de trabalho e consequentemente da sociedade. É muito comum em 109 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social nossa sociedade a não valorização do idoso, ao encerrar sua vida “produtiva” no mercado de trabalho. Passa a ser visto de forma ignorada até mesmo pela própria família, o que faz com que o idoso se sinta excluído por não exercer mais a atividade que exercia, passando, quase sempre, a ter uma vida sedentária, o que pode lhe causar, entre outros problemas, o estresse, devido a falta de atividade, fazendo-se necessário que haja algum local que integre este idoso sem nenhuma discriminação, onde ele possa se sentir importante. Um dos lugares em que isso vem ocorrendo com freqüência, tem sido os grupos de 3ª idade, onde os idosos se reúnem para troca de informações, além de desenvolverem atividades culturais, artísticas e de lazer, possibilitando a sua re-inserção social de modo tão relevante que eles não mais se acostumam à vida de isolamento, delegada aos mesmos, anteriormente. Entre as barreiras identificadas nessa pesquisa, notamos que a de ordem social é uma das que mais afeta os sujeitos. Alguns deles demonstraram tristeza por não poderem mais freqüentar as tradicionais festinhas familiares de aniversário, devido não encontrar nas mesmas, alimentos próprios da sua dieta alimentar: “Deixei de ir em aniversário... Tem tanto aniversário aqui, que me convidam... eu não vou mais, porque sei que chegando lá, tanta coisa... não posso.” ( S 3) De fato, é freqüente em reuniões sociais não preservar-se a alteridade. E isso afeta o psíquico e o emocional do indivíduo diabético, fazendo com que, muitas vezes, para não ‘ficar de fora’, deixe de cumprir sua dieta, o que pode trazer conseqüências senão dramáticas, pelo menos preocupantes com relação à sua saúde. Para NERI (1995), “dentre as condições apontadas como facilitadoras do coping, uma que parece ser de grande importância é o suporte social, que adquire um valor peculiar na idade madura, quando as pessoas estão geralmente mais expostas a perdas e pressões de várias naturezas. ( p.158) Observemos o depoimento do Sujeito 3: “Aos domingos eu sento e tomo uma cervejinha. Dia de semana não bebo mais” 110 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social É muito comum na cultura brasileira, o uso de bebidas alcóolicas nos finais de semana, entre elas, a cerveja. Talvez devido ao clima tropical e ao grande número de praias existentes no país, a cerveja está presente em quase todas as comemorações no Brasil. E esta pode ser uma dificuldade encontrada por alguns sujeitos, em cujo depoimento demonstraram não resistir a uma cervejinha. Por se tratar de pessoas de terceira idade, supõe-se que já possuem o hábito de ingerir bebidas alcóolicas, provavelmente adquirido há vários anos, e, ao se acharem diabéticos, parecem encontrar dificuldades em se adaptarem ao meio social, constantemente freqüentado por pessoas que, normalmente, já possuem o hábito de beber. Sendo grande o número de pessoas que bebem, o diabético nem sempre é lembrado no momento da preparação da festa, o que faz com que o mesmo sinta-se deslocado por não poder comer ou beber quase nada do que normalmente é servido nas recepções sociais. Devido a isso, muitas vezes, o diabético se retrai, evitando o meio social, deixando de ir a festas para evitar ser tentado a consumir produtos que lhe são prejudiciais. O medo de perder o seu lugar no grupo de pertença familiar ou social faz com que o indivíduo idoso portador de Diabetes Mellitus Tipo 2, enfrente barreiras perigosas à sua qualidade de vida. Conforme FRANKEL e KOMBLT (1989), o indivíduo sente-se afetado no seu estado bio-psico-social quando vê ameaçadas suas condições de vida no aspecto orgânico, através de enfermidades crônicas ou letais, ou no seu aspecto psicológico, ao contrair enfermidades que dificultam a integração individual e no seu aspecto social, quando sofre ações que tendem a produzir a dissolução do seu grupo de pertença, como, por exemplo, as restrições dietéticas provenientes do Diabetes Mellitus. (tradução nossa) O indivíduo sadio necessita de políticas sociais que envolvam não só a saúde, mas também o lazer, enquanto elemento de reforço psicológico do self. O indivíduo doente também necessita do lazer para o fortalecimento do seu self, de modo a minorar os elementos estressantes causados pela doença e suas conseqüências. Essa necessidade se torna muito maior no caso de indivíduos com doença crônica como no caso do Diabetes Mellitus. 111 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Por outro lado, o lazer no Brasil não é cultuado como elemento catalizador de um curso de vida saudável e, a perspectiva de haver uma mudança nisso, torna-se utópica num país cujo modelo econômico está interrelacionado com uma política de cunho neo-liberalista. Para o indivíduo saudável e/ou de posses financeiras acima da média do trabalhador brasileiro, esse fato pode ser razoavelmente superado. Já para o indivíduo idoso, muitas vezes aposentado e portador de doença crônica que traz embutida em sua historicidade a deficiência física, possuir um lazer adequado, é bastante difícil, mormente numa sociedade preconceituosa. Um sujeito demonstrou sentir isso no seu cotidiano. Analisemos o seu depoimento: “ Seria interessante, né? ... nós somos diabéticos e somos deficientes. Deveríamos ter alguém que nos ajudasse a ter uns eventos Prá gente... Uma pintura... Ter esses eventos... Lá no Shopping Vitória, por exemplo, que todo ano tem, então eu vou muito ali, olho e fico assim maravilhada. Que... é ... faz uma coisa, ou faz uma pintura, ou então faz um... ou inventa sempre alguma coisa prá fazer ... a gente, né, nós nunca temos esse privilégio.” ( S 8) Para VIEIRA (1996), “...alguns aspectos da diversidade humana agem como obstáculos à socialização, criando barreiras à interação social e carências psico-afetivas. Fazem parte deste elenco de antagonismos à socialização: as discriminações arbitrárias e tradicionalistas, a imputação de superioridade diante os semelhantes e a percepção de diferenças de hábitos, de crenças, de aparência e de sentimentos em relação aos fatos e às pessoas.” (p. 152) Outra barreira preconceituosa que a sociedade impõe ao doente crônico é a discriminação com a sua atividade no mundo do capital. O progresso tecnológico traz no seu arcabouço a caixa de ferramentas da Qualidade Total e a ênfase aos paradigmas do capital pós-modernidade, através da exaltação de modelos intrínsecos à era da moderna automação e da robótica. Numa conjuntura social assim, mal há lugar para o cidadão saudável. O cidadão 112 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social portador de doença crônica tem aí uma barreira que afeta tanto o psicossocial do indivíduo, como também, o econômico. E, para que o cidadão portador de diabetes tenha melhor qualidade de vida, tanto social como economicamente falando, é fundamental que a sociedade perceba que o maior problema não está no indivíduo idoso e diabético, pois envelhecer faz parte da evolução natural do ser e adoecer é ponto certo que pode ocorrer com qualquer um e em qualquer época da vida do indivíduo. O problema está verdadeiramente na não compreensão social e legal de que ‘todos são iguais perante a lei’. Apesar da Constituição Federal defender a garantia dos direitos de igualdade, nem todos cidadãos recebem um tratamento igualitário em nossa sociedade, talvez porque a mesma aprendeu a valorizar as pessoas mais pelo lado material do que pelo lado humano, próprio de cada um. Se olharmos por esse ângulo, as chamadas “minorias” , que muitas vezes, na realidade, são “maiorias”, tais como as crianças, os pobres, os idosos, as mulheres, etc., vem recebendo, muitas vezes, um tratamento diferenciado ou até mesmo, preconceituoso. Na tentativa de diminuir as desigualdades direcionadas aos diabéticos, o poder político, através do médico e vereador do município de Vitoria, Luciano Rezende, em sessão ordinária, realizada no dia 18/02/97, fez um pronunciamento sobre o projeto de lei que garante a admissão de diabéticos no serviço publico municipal, argumentando que, “diabetes não é uma doença infecciosa, não é contagiosa como todos (...)sabem. Portanto não há nenhum tipo de contra indicação em se permitir o livre acesso de um diabético a qualquer profissão, como resguarda este projeto.” O preconceito em relação ao exercício de atividade profissional é uma barreira social que afeta muito o indivíduo diabético e, a fala do Sujeito 1 demonstra o seu ressentimento por isso. Vejamos: “... me sinto triste...é eu não poder ir ao trabalho.” (afastado do serviço há 4 anos, por estar com Diabetes Mellitus) 113 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Muitos sujeitos de nossa pesquisa são aposentados e a maioria tem uma situação financeira que varia de 1 à 5 Salários Mínimos. Apenas dois sujeitos possuem renda acima desses valores. Sabemos o quanto os aposentados estão sendo massacrados pelo sistema de governo neo-liberalista. Um ato que afetou bastante os aposentados foi a não autorização do repasse do aumento do salário mínimo para os salários dos aposentados. O maior agravante não está no não recebimento do aumento concedido aos assalariados, mas sim na descaracterização do salário do aposentado, pois, se o aumento não for repassado, o aposentado que recebia 1 Salário Mínimo, passa a receber um salário menor. Recebe um valor qualquer, não configurado como 1 Salário Mínimo, que, com o passar do tempo, caso isso não seja revisto, tenderá, provavelmente, cada vez mais a tornar-se em um salário menor que o Salário Mínimo. A barreira econômica é, indubitavelmente, de grande negatividade financeira e psicológica para o indivíduo idoso e portador de doença crônica, conforme observamos nos depoimentos dos sujeitos de nossa pesquisa. 114 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3.1 Acesso ao Tratamento Médico Conforme alguns pesquisadores, a saúde biológica é um dos mais poderosos prognósticos do bem-estar na velhice. É de nosso conhecimento que o idoso diabético não possui saúde biológica satisfatória. E, quando o indivíduo pertence às classes mais carentes da população, a precariedade, ou, até mesmo, a falta de atendimento médico são barreiras a serem enfrentadas no seu cotidiano. Caberia aos governos fornecerem meios que possibilitassem ao cidadão a superação das barreiras econômicas, que tanto afetam socialmente o indivíduo, alterando o seu controle psíquico, provocando situações de grande estresse, pelo medo da falta de atendimento médico e das possíveis conseqüências decorrentes disso. No entanto, o orçamento para a saúde no Brasil é um dos mais baixos do governo. Para alguns críticos de política econômica, os fundos de pensão poderiam ser o caminho para melhores condições de saúde no país. REIS (Revista FENAE-AGORA, 1998), assim se expressa à respeito disso: “A experiência dos fundos de pensão no Brasil, notadamente os fundos sem fins lucrativos, de adesão voluntária, não pode jamais ser desprezada. Sem se deslumbrar com exemplos de outros países, mas também sem desprezá-los, o governo deve buscar um caminho próprio e duradouro para a previdência complementar no Brasil, combinando harmonicamente distribuição de renda com desenvolvimento econômico” (p.12) Sem políticas sociais direcionadas para a saúde e sem o apoio da previdência privada, a saúde para o brasileiro torna-se um verdadeiro caos, gerando sensação de insegurança para todos e mais ainda para o idoso portador de doença crônica. No caso do idoso, NERI (1995) diz que: “A velhice é uma fase da vida na qual os recursos financeiros geralmente diminuem, pois além de a aposentadoria 115 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social diminuir consideravelmente a renda do indivíduo, os gastos com saúde tendem a aumentar, já que as doenças crônicas tornam-se mais comuns, exigindo medicamentos de uso contínuo; o preço dos seguros de saúde também aumenta com a idade. Esses e outros problemas fazem com que a falta desse recurso transforme-se em uma fonte adicional de stress.” (p. 156/157) De fato, constatamos o quanto é preocupante para o sujeito a falta de planos de saúde adequados, afetando o seu self, de modo a provocar graves alterações no seu metabolismo, através do medo e insegurança decorrentes da possibilidade de ausência de tratamento médico, tão necessário a sua problemática. O Sujeito 6, assim se expressa à respeito: “ A preocupação que eu tenho é porque eu tinha um plano de saúde e agora não tenho mais, né? E é a dificuldade... só essa dificuldade que eu tenho, ir procurar médico, que um dia está de greve, outro dia, não.” Ao analisarmos o depoimento desse sujeito, constatamos ser essa, uma barreira bastante difícil de ser transposta pelo indivíduo idoso e portador de doença crônica. 116 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3.2 Aquisição de Medicamentos Em nosso país, os baixos salários associados à deficiência das políticas sociais e aos altos custos das medicações, podem ser um dos fatores que dificultam ao idoso a aquisição de medicamentos e consequentemente a manutenção de um tratamento médico adequado. Já que muitos indivíduos não dispõem de recursos suficientes para se manterem dignamente, eles se vêem quase sempre obrigados a buscarem ajuda na assistência para suprirem suas necessidades, e muitas vezes para adquirirem essa ajuda são obrigados a provarem sua necessidade financeira, além de se submeterem à longas filas à espera do benefício. Porém, nem sempre esses indivíduos dispõem de tempo para essa espera, como é o caso de pessoas que aguardam aquisição de medicamentos, normalmente para o controle de doenças crônicas que exigem um tratamento constante. De acordo com STRAUSS, GLASER (1975), “Embora as doenças crônicas tenham um caráter de permanência, nem todas são fatais ou desencadeadoras de maiores males (quando devidamente controladas). No entanto, se os indivíduos em condições crônicas, por qualquer razão, negligenciarem os cuidados necessários, podem provocar um episódio agudo, o que, na maioria das vezes, leva o indivíduo à internação hospitalar.” (In TRENTINI et all, 1990, p.18) A falta de recursos financeiros para a aquisição de medicamentos é outra barreira dificílima para o idoso diabético. Não podendo adquirir o medicamento, o sujeito muitas vezes apela para a medicina caseira, na ânsia de conseguir uma melhora dos sintomas de sua doença. Mais uma vez resta-nos lamentar a inexistência de políticas sociais e econômicas que viabilizem uma melhor qualidade de vida para o cidadão. Na falta de medicação, o indivíduo, provavelmente, apelará para o uso de medicação alternativa, praticada através dos célebres conselhos de “comadres” e, muitas vezes, de conseqüências imprevisíveis para a saúde do idoso 117 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social portador de Diabetes Mellitus. Para o Sujeito 7, a dificuldade financeira para aquisição de medicamentos é algo que afeta muito o enfrentamento da sua doença: “ Eu acho que a gente passa momentos difíceis, né, sobre o remédio, sobre a alimentação... A gente não tem um salário, né, que dá para cobrir tudo isso porque é... custa muito caro, né? Igual eu que meus remédios são muito, muito caro mesmo... e a alimentação, né? Que é tudo mais difícil Prá gente... que a gente que luta o dia-a-dia igual eu, só tenho o meu marido que trabalha, né? Só ele que trabalha prá pagar água, pagar luz e pro remédio. Tem mês dele comprar mais de duzentos reais de remédio prá mim... só em cada receita... São tudo remédios muito caros.” E o Sujeito 4, utiliza de medicação caseira para auxiliar o controle da doença. Vejamos: “ Então eu realmente fiz o que eles mandaram, inclusive o chá e aí vou levando a vida assim.” ( S 4) Sabemos que o medicamento, auxiliado pela dieta e pelos exercícios físicos, é um fator muito importante para o controle do diabetes. Porém percebemos que, apesar da importância da medicação, alguns sujeitos não possuem facilidade para adquiri-la, devido ao custo dos remédios nem sempre ser compatível com a renda que algumas pessoas possuem para a sua manutenção. 118 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3.3. Fator Idade Algumas vezes a sociedade trata a velhice como se fosse algo que destituísse os indivíduos de sua subjetividade, considerando-os desprovidos de interesses, habilidades ou opinião própria. Na nossa pesquisa cinco sujeitos responderam que o fator idade não é um elemento propiciador de barreiras na sua convivência com o diabetes, havendo inclusive, quem demonstrasse não ter sequer percebido sua própria idade: “Prá mim nada me atrapalha. Eu só tenho vontade é de viver. Ah!... Eu tenho espírito de um jovem...” ( S 1) Para NERI (1995), “ O grau de plasticidade é contingente à capacidade de reserva do indivíduo, a qual é constituída pelos seus recursos internos (por exemplo, a capacidade cognitiva e a saúde física) e pelos recursos externos (por exemplo, a rede social, o status econômico) disponíveis num dado momento. (p.196/197) Vejamos o gráfico e a tabela correspondentes ao fator idade: Pergunta 14 - O Fator idade influencia a sua vivência com o diabetes? 37,50% 62,50% Não Sim Nº Sujeitos O fator idade influencia a sua viv ência com o diabetes? 5 Responderam que não afeta em nada 3 Responderam que sim , que o fator idade afeta a sua vivência com o diabetes 119 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Conforme NERI (1995), o conceito de plasticidade fornece uma indicação da capacidade de mudança do indivíduo e de sua flexibilidade e resistência para lidar com desafios e exigências. Quando o idoso apresenta plasticidade no âmbito das relações sociais, poderá estar criando importantes redes de solidariedade, que poderão, num futuro, ser excelentes fontes de apoio para o enfrentamento da sua doença. E, quanto maior a capacidade de reserva do indivíduo, maior será o seu potencial para a plasticidade. Em todos os períodos do curso de vida ocorrem crescimento, estabilidade e declínio, o que faz com que concordemos que “velhice não é sinônimo de declínio pura e simples”, embora que não exista um equilíbrio perfeito entre ganhos e perdas nessa fase do curso de vida. A capacidade de reserva do indivíduo permite que o mesmo possa manipular as perdas provocadas pelo declínio no seu desempenho. Alguns sujeitos responderam que a idade é uma barreira à mais a ser enfrentada pelo indivíduo portador da doença. Vejamos: “Ah! Eu acho que sim, né? Porque quando a gente está mais nova... Que eu já agüentei muito, mesmo, trabalhar, né? Enfrentar a vida junto com meu marido, mas... agora de uns cinco anos Prá cá, eu já não agüentei mais trabalhar, nem fora. Mal agüento cuidar da minha casinha... Não tenho mais aquela força, né? As forças da gente acabam... tudo.” (S 7) “ A idade acarreta o controle na parte de oftalmologia e dos pés que exigem que o diabético tenha um controle mais ativo para evitar algumas complicações nessas duas áreas onde mais se concentra o problema no diabético.” ( S 2) “ Já estou de idade, não sou mais criança e o diabetes também é uma coisa que acompanha a gente, né? Então tenho que me controlar, como que eu sou, como que eu faço, e tudo bem.” ( S 4) Apesar de entendermos que velhice não é sinônimo de doença e que não ocorre da mesma forma com todas as pessoas, devemos levar em consideração que o processo de envelhecimento aliado à fatores políticos, sociais, econômicos e culturais, pode causar no indivíduo algumas debilitações capazes de modificar seu aspecto físico, mesmo quando o indivíduo não enfrenta nenhum problema de saúde. Mas quando o indivíduo idoso é acometido por alguma enfermidade, esse quadro costuma agravar-se, 120 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social prejudicando sua condição física para desenvolver todas atividades que desenvolvia quando mais jovem e sem enfermidades. Observamos que alguns sujeitos não se deixam intimidar pelo fator idade, ao passo que outros sentem a idade como uma barreira no enfrentamento da doença. Muitas vezes, a maneira como aceitamos as dificuldades da vida é que vai fazer com que o problema enfrentado se transforme em algo estressante ou não. Por exemplo, ao deixarmos que uma determinada situação faça com que nos sintamos derrotados, o nosso corpo também se sentirá assim. No caso dessa pesquisa, se os sujeitos aceitarem como uma derrota o fator idade e/ou a doença crônica, os mesmos poderão se sentir fracassados, provocando conseqüências, muitas vezes, drásticas. E, segundo RIBEIRO (1995), e a própria literatura médica afirma, quando o indivíduo permite que a reação citada acima se desencadeie no seu organismo, ocorrem à princípio, crises de hiperglicemia, aumento de trigliceridios, de colesterol, da pressão e dos batimentos do coração. Esses fenômenos desencadeados, cedem se o motivo causador de stress desaparece, graças às reservas de defesa próprias do organismo. No entanto, com o passar do tempo, o organismo vai perdendo a sua capacidade de reservas, ou seja, vai “perdendo o seu jogo-de-cintura, e entra em pane, perdendo o controle da situação.” Tudo que for estressante começa a provocar reações que, a princípio são esporádicas mas, que, com o passar do tempo vão se tornando freqüentes. Isso ocorre quando o organismo esgotou sua capacidade de defesa da qual lançava mão nos momentos de crise, tornando-se vulnerável à situações estressantes e, consequentemente, mais propensos ainda, às situações de doença. O que nos faz insistir mais uma vez sobre a necessidade de fortalecimento psíquico, para que o indivíduo idoso e diabético possa capacitar-se na eliminação de barreiras que impossibilitem ou que prejudiquem o enfrentamento da sua doença. 121 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social 5.3.4 Manutenção da Dieta Dentre as barreiras enfrentadas pelos sujeitos, não poderíamos deixar de considerar a dieta por ser essa a parte mais difícil no tratamento do diabético. Os hábitos alimentares estão entre as primeiras coisas que aprendemos e desenvolvemos em nossas vidas. No entanto, nem sempre somos acostumados ao uso de hábitos adequados, isto é, que não sejam prejudiciais a nossa saúde. Desde a infância somos incentivados a consumir alimentos que contém açúcares, gorduras, substâncias químicas (tais como corantes, etc.). No entanto, quando nos deparamos com o diagnóstico de alguma doença que tem a dieta sadia embutida na sua terapêutica, só temos dois caminhos a seguir: ou mudar os hábitos alimentares e conviver com a enfermidade sem maiores complicações ou permanecer com a alimentação inadequada e assumir a responsabilidade pelas futuras conseqüências decorrentes da ausência da dieta recomendada. Os sujeitos, apesar de possuírem conhecimento da importância da dieta, admitiram encontrar dificuldades para mantê-la. Pelos seus depoimentos, constatamos realmente ser essa a maior barreira a ser ultrapassada pelo indivíduo diabético. A manutenção da dieta constitui-se grande obstáculo para eles. São declarações assim: “Não é todo momento que eu tenho dinheiro Prá comer conforme eles querem.” (S 1) “ Eu comia demais, também, chegava em casa e o tanto que tinha Prá mim, eu comia. Comia uma panela...” ( S 3) E ainda o Sujeito 3: “Eu como muito. Às vezes aqui em casa tem doces. Eu vou comendo doces... É que aqui é um tal de filha querer fazer doce... pudim... é um docinho de coco que fazem.” 122 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social O mesmo verificamos com relação à bebida, outro ponto que deve ser rigorosamente respeitado na educação alimentar do diabético. Vejamos o depoimento do Sujeito 4: “ Agora quando me dá vontade de tomar uma cervejinha, tomo um copo de cerveja... tomo uma pinga amarga, viu, me deu vontade, eu faço.” É sabido que todas barreiras já mencionadas, influenciam negativamente no comportamento do indivíduo em relação ao controle da sua dieta, principalmente as de ordem financeira e as que envolvem carência de Educação para o Diabetes. Segundo SASSO (1997), quando uma desordem psicológica acomete um indivíduo, pode provocar uma alteração no seu comportamento alimentar. É a chamada “fome emocional” que faz com que o indivíduo possua a ilusão de que a ingestão de alimentos irá suprir as suas carências emocionais. As desculpas utilizadas pela pessoa acometida de “fome emocional”, denotam fuga dos problemas que a afligem. Esse procedimento ao invés de solucionar os estressores, criam no indivíduo outros tipos de problemas, que no caso do sujeito diabético, vão fomentar situações que variam de uma “inocente” obesidade, passando por possibilidades de ter, como conseqüência, alguma deficiência, podendo atingir até mesmo ao coma diabético. Por outro lado, quando o sujeito cumpre a dieta rigorosamente, pode ocorrer um outro tipo de barreira, ou seja, devido às restrições alimentares, ele poderá encontrar dificuldade de adaptação social, pois não encontrará com facilidade o alimento próprio para o seu consumo dietético nos locais freqüentados comumente pela sociedade em geral. O acesso ao tratamento médico também tem sido uma barreira para os diabéticos por dependerem de acompanhamento constante, o que muitas vezes é dificultado pela forma como está sendo administrada a política de saúde no país, não conseguindo oferecer atendimento de boa qualidade à população. Sem tratamento médico adequado e com dificuldades financeiras que não lhes permitem adquirir o medicamento necessário para o controle da doença, os sujeitos vêem-se, muitas vezes, obrigados a se privarem de outras necessidades para adquirirem sua medicação que é de uso diário. 123 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social Quanto ao fator idade, apesar de não ser uma barreira para todos, percebemos que para alguns, a idade é vista como tal, devido às debilitações que provocam na vida do sujeito. Talvez não se constitua numa barreira para todos, porque a forma de envelhecer varia de indivíduo para indivíduo, já que o envelhecimento não é proveniente apenas da idade, mas, é influenciado também, por fatores sociais, político, culturais, econômicos, etc. 124 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CONSIDERAÇÕES FINAIS “Educação” é a base do tratamento do Diabetes Mellitus e os profissionais de saúde que participam do atendimento ao diabético, tais como o nutricionista, o médico, o enfermeiro, o assistente social, o psicólogo, o odontólogo e outros, devem atuar como “Educadores em Diabetes.” Sheila Diniz Silveira Bicudo 125 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo abordar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos sujeitos de 3ª Idade, portadores do Diabetes Mellitus Tipo 2. Pesquisamos sobre as formas de aceitação e não-aceitação da doença, o que nos fez concluir que, apesar de serem todos portadores da mesma enfermidade, as formas de aceitar ou de não aceitar a doença, variam de sujeito para sujeito e são influenciadas por fatores que vão desde os de ordem econômica até os de ordem política, social, cultural, grau de instrução e conhecimento da doença e de suas conseqüências. Ao enfrentar o diabetes, os sujeitos pesquisados demonstraram, em sua maioria, sentir tristeza, decepção, estranheza, medo de morrer, sensação de que o mundo ia se acabar, sentimentos provocados pela alteração emocional devido às limitações e restrições provenientes da mudança profunda que a doença provoca na vida do indivíduo. E, conforme supomos à princípio, constatamos que são várias as estratégias utilizadas para o enfrentamento da doença. Alguns utilizam a fuga, evitando o contato com produtos não aconselháveis para a sua dieta, deixando inclusive de freqüentar reuniões sociais, tais como festinhas familiares, restaurantes, etc, podendo com essa atitude, afetar, até mesmo, a sua convivência com a família e na sociedade, o que vem se constituir numa barreira social, trazendo como conseqüências o isolamento e a solidão, o que não é nada recomendável para ninguém, muito menos para uma pessoa com carências emocionais provocadas pela própria doença. Já outros, agem de forma contrária, ingerindo o alimento, mesmo sabendo ser prejudicial a sua saúde. Por outro lado, outros, enfrentam a doença, ou utilizando de forma correta a dieta, ou praticando exercícios físicos, demonstrando ter conhecimento da enfermidade que possuem e de suas conseqüências. No entanto, dentre esses sujeitos, apenas um cumpre rigorosamente todas as recomendações terapêuticas, fazendo, inclusive o uso correto da medicação. Observamos que esse sujeito é freqüentador assíduo das palestras preventivas realizadas pela ACAD, o que nos faz acreditar ser de grande importância a Educação para o Diabetes, pois possibilita a conscientização da necessidade do cumprimento das orientações a cerca da 126 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social doença, para que o sujeito tenha melhor qualidade de vida. Identificamos, também, outras estratégias de fuga utilizadas pelos sujeitos para o enfrentamento da doença: ao considerarem-se saudáveis, comparando-se com pessoas com doenças mais graves, ou, ao não assumirem a doença, considerando-se sadios. Talvez essas sejam as formas encontradas pelos sujeitos para tentar minimizar, psicologicamente, o desconforto proveniente das restrições que lhes são impostas pelo diabetes. Constatamos que as estratégias utilizadas são muitas vezes minoradas pelo apoio familiar que exerce importante suporte para o controle da doença, quer provendo, quer executando a dieta, além de ser fonte de fortalecimento psico-social para o sujeito. Outra forma de enfrentamento que identificamos ser utilizada pela maioria, é a obtida através do apoio da fé religiosa, provavelmente por se tratar de forte eliminador dos estressores decorrentes da sua condição de idosos e diabéticos. Quanto ao lazer, apesar de entendermos ser bastante útil como apoio para o enfrentamento da doença, enquanto elemento redutor de stress, notamos que é pouco praticado pelos sujeitos, muitas vezes devido às dificuldades financeiras dos mesmos. Aliás a atual situação econômica da nação, atua com barreiras que dificultam o enfrentamento dos sujeitos, tanto social como financeiramente. Dentre essas barreiras, detectamos a dificuldade de acesso ao tratamento médico, devido ao atual sistema de saúde não conseguir atender de forma satisfatória toda população e nem todas as pessoas possuírem recursos para manter um plano de saúde; a dificuldade para aquisição de medicamentos que atua como empecilho para a manutenção do tratamento de alguns sujeitos que não dispõem de recursos financeiros suficientes para a sua sobrevivência; a dificuldade para a manutenção da dieta necessária ao controle da doença, tanto devido ao fator econômico que impossibilita o indivíduo de adquirir os alimentos adequados, como pelos hábitos alimentares adquiridos ao longo do curso de vida dos sujeitos e, muitas vezes, influenciados pela mídia que incentiva o consumismo através da manipulação do paladar do indivíduo com imagens sedutoras de alimentos que, para o diabético, são prejudiciais. Dentre as barreiras que considerávamos ser provocadoras de dificuldades para o enfrentamento da doença, constava a hipótese de ser o fator idade um 127 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social grande empecilho para o enfrentamento do diabetes. Porém, constatamos, no decorrer da pesquisa, que, apesar de ser muito comum a associação de idade com doença, os sujeitos pesquisados não percebem a mesma como algo que afete a sua convivência com a enfermidade. No entanto, o fator idade não deve ser desprezado no âmbito da Educação para o Diabetes, pois é de nosso conhecimento que o Diabetes Mellitus Tipo 2 ocorre mais freqüentemente em pessoas com idade acima de 45 anos. Por outro lado, as pesquisas mais atualizadas tem fornecido dados estatísticos revelando o aumento significativo de idosos no mundo, sendo que no Brasil, esses dados tem demonstrado que no ano 2025 estaremos com uma população de 34 milhões de idosos, o que poderá nos colocar entre os seis países com maior número de pessoas idosas do planeta¹. Considerando esses dados, entendemos o quanto é necessário o desenvolvimento de um trabalho no sentido de estar reeducando essas pessoas para manterem um melhor controle da doença, obtendo condições para uma vida mais saudável. Isso nos faz repensar na necessidade da prevenção, que além de ser um meio mais barato e uma tentativa de evitar que o número de diabéticos no futuro, seja tão grande quanto o número de idosos que teremos no mundo, é a forma mais eficiente para evitar as complicações de doenças crônicas como o Diabetes Mellitus. A prevenção é uma prática embasada por uma política de assistência social “lato sensu” e, segundo Pereira (1996), para que o Assistente Social possa, de fato, cumprir com o seu papel de executor de políticas sociais, ele também tem de se antepor ao surgimento dos problemas que poderão aprofundar ainda mais o apartheid das classes e de grupos diferenciados. Políticas de prevenção de doenças, como o Diabetes Mellitus, proporcionadoras de forte discriminação no âmbito da sociedade, possuem um caráter “ex-ante”, isto é, um caráter preventivo da ação assistencial, desmistificando a ação “ex-post”. Por outro lado, a luta pela obtenção da informação é uma conquista da cidadania do Indivíduo que transcende, historicamente, aos primórdios das sociedades primitivas, onde o saber era negado ao povo. O Serviço Social, profissão legitimada socialmente pela prestação de serviços historicamente destinados aos ¹Fonte Projeto de 3ª Idade, SEMAS, PMV, 1998 128 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social excluídos, encontra no âmbito de domínio da prevenção e da educação para o exercício de estratégias de enfrentamento do Diabetes Mellitus Tipo 2, possibilidades para a sua intervenção profissional. No caso do diabetes, a prevenção se dá pela conscientização obtida através da educação, que é a forma mais moderna utilizada pelos profissionais que trabalham na área da saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos e, também, os assistentes sociais, que por serem profissionais especializados em lidar com pessoas, encontram uma certa facilidade para conscientizá-las da necessidade de se educar para prevenir ou controlar a doença. Conforme citamos em nossa pesquisa, no Capítulo 5, item 5.1, sub-item 5.1.1, nos USA, a atuação destes profissionais tem sido reconhecidamente importante para os trabalhos ambulatoriais com indivíduos portadores de Diabetes Mellitus, e no Brasil, a presença dos assistentes sociais tem sido também, requisitada para essa finalidade, em algumas instituições de saúde. A prevenção além de ser uma exigência é, também, uma necessidade econômica, porque através dela, os custos da assistência tornam-se menores, proporcionando assim, àqueles que realmente possuem dificuldades financeiras, um tratamento adequado e consequentemente, melhor qualidade de vida. A divulgação sobre hábitos saudáveis de alimentação e prática de exercícios, além do uso correto da medicação, podem evitar ou pelo menos retardar a doença. Sendo que, quando o indivíduo possui casos de Diabetes Mellitus Tipo 2 na família, por ser a mesma genética, quanto mais cedo for diagnosticada a doença, haverá mais probabilidades de controlá-la, evitando maiores complicações. Possuir hábitos alimentares saudáveis e praticar exercícios físicos, é importante para todas as pessoas. No caso do diabético Tipo 2, isso torna-se ainda mais necessário, devido a doença aparecer mais freqüentemente em pessoas de meia-idade, já acostumadas à hábitos alimentares inadequados e, muitas vezes, ao sedentarismo, fazendo-se necessária a conscientização de que uma dieta sem açúcar e gorduras, e, regulada pelo médico ou pelo nutricionista, pode amenizar as complicações decorrentes da doença. Concordamos com BICUDO (1997), quando diz que, somente através da Educação em Diabetes, o indivíduo encontrará o caminho para uma melhor qualidade de vida, pelo conhecimento e compreensão dos fatores que 129 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social interferem no controle da sua doença, prevenindo as complicações agudas e/ou crônicas, diminuindo o número de internações e o alto custo do tratamento. A Educação em Diabetes promove a mudança de comportamentos errôneos do indivíduo, através da aquisição de hábitos e atitudes adequadas à sua condição de diabético. Concluímos, então, a nossa pesquisa, com o entendimento que para os sujeitos idosos possuírem estratégias que os capacitem para enfrentar o Diabetes Mellitus Tipo 2, faz-se necessário a conscientização dos mesmos, através a Educação para o Diabetes. O tema aqui enfocado, interrelaciona na contemporaneidade a educação com a prevenção da doença como uma das metas básicas. Embora, a temática pesquisada sobre 3ª Idade e Diabetes Mellitus Tipo 2 - Estratégias de Enfrentamento, seja pioneira no universo de trabalho de conclusão de curso (TCC), do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo, o assunto não se esgota, e sim, aponta para a necessidade de maior exploração do tema, abrindo campo para novas pesquisas. 130 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ÂNGULO, Marcos Smith, Cadernos da 3ª Idade n.º 4, S.P., 1979; ABREU, Elvira C.e WAGNER, Mello, Viver a Doença e a Proximidade da Morte no Envelhecimento, 1985; AIDA, Etsuko, Cadernos da 3ª Idade, n.º 11, SP, 1983; ASTA MÉDICA, Revista Convivendo com o Diabetes, SP,1996; BARRETO, Ney Dilson Magalhães, Diabetes Mellitus na Pessoa Idosa, Arquivos de Geriatria e Gerontologia, 1997; BICUDO, S.D.S., Diabetes Mellitus Tipo II e Suporte Social Familiar: implicações no Controle da doença, tese mestrado UFES, 1998; BIOBRAS, Informativo Sobre Diabetes Mellitus, BH; BAIÔCO, Michela, Vício ou Doença: A difícil arte de não saber o que fazer com um alcoolista, tese mestrado UFES, 1995; CADE, Nágela Valadão, Aspectos Psicossociais no Cotidiano dos Hipertensos, tese mestrado UFES, 1995; CARTER, B e MC GOLDRICK, M, As mudanças no ciclo de vida familiar, Artes Médicas, Porto Alegre, 1995; COMFORT, Alex, A Boa Idade, Difel, RJ, 1979; CONSTITUIÇÃO REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Capítulo I, Art. 5º, Brasília, Centro Gráfico do Senado Federal, 1988; COUTINHO, Análise de Conteúdo, p. 173/198; DALLARI, Sueli Gandolfi, A Saúde do Brasileiro, Moderna, 1987; DEBERT, Guita Grin, Folha de São Paulo, Caderno Especial, Folha Trainee, SP, 1998; FEHLBERG, Maria da Penha Almeida et all, Projeto 3ª Idade, SEMAS, PMV, 1998; FENAE AGORA, Revista da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal, Publicação da FENAE, Edição 4, ano 1, n.º 4, maio/1998; FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Mini-Dicionário, Nova Fronteira, RJ,1977; 131 Trabalho de Conclusão de Curso - Serviço Social FIGUEIREDO, Ana Maria, et all, Os Idosos Num País de Jovens, IDAC, Ruas em Paz do Ministério da Justiça; FIGUEROA, Valadez et all, Influencia de la Familia en el Control Metabólico del Paciente Diabético Tipo II, México, Salud Pública del México, 1993; FOLHA DE SÃO PAULO, Folha Trainee Especial, SP, 02/05/1998; FRANKEL, M. 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