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Colóquios Garcia de Orta, Volume 2, 2015: 2 Página 1 de 5 ARTIGO ORIGINAL Diminuição da dose de radiação ionizante com o aumento da carga Reducing the risk of occupational exposure to ionizing radiation increasing electrical potential 1 Rui Cabral , António Salreta 2 1. Serviço de Imagiologia, Hospital Garcia de Orta, Almada 2. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Campus da Caparica, Portugal Recebido 15.09.2014; Aceite 17.12.2014; Publicado 03.02.2015. Resumo Abstract A necessidade de diminuir o risco profissional da exposição à radiação ionizante leva à análise da prática que refere que a carga (mAs) deve ser mantida tão baixa quanto possível, e o valor da tensão (kV) tão alta quanto praticável para manter a dose no mínimo possível, de forma a obter uma imagem clinicamente adequada. A metodologia utilizada foi experimental e permitiu registar valores de dose para factores de exposição. As exposições foram realizadas com duas ampolas de raio-x diferentes e os valores de dose registados com dois dosímetros termo luminescentes. Para o C-arm Plus com o dosímetro Operador, a média do valor de dose para 60 kV.6 mAs é 0,0057 mSv, para 70 kV.5 mAs é 0,0086 mSv e para 80kV.4mAs é 0,011 mSv. O desvio padrão de cada valor de média é respectivamente 0,0057; 0,00092; 0,00077. Os resultados registados são valores de dose de radiação mais elevados para factores de exposição com kV mais elevados e mAs inferiores. Os valores são corroborados pelos dados registados no dosímetro ajudante e para o C-arm Elite. A conclusão principal regista a não concordância com a prática que afirma que os mAs devem ser mantidos tão baixos quanto possível, e o valor da kV tão alto quanto praticável para manter a dose no mínimo possível, de forma a obter uma imagem clinicamente adequada. Os técnicos de radiologia com experiencia em radiologia de intervenção devem utilizar esta informação e modificar padrões de trabalho com o interesse de diminuírem a dose de radiação a que estão expostos e que expõe os profissionais nas diferentes técnicas de intervenção. The need to reduce the risk of occupational exposure to ionizing radiation take to the analysis of the paradigm that states that the current (mAs) should be kept as low as possible , and the value of electrical potential( kV ) as high as practicable to maintain the dose to a minimum in order to obtain a clinically appropriate picture. The methodology used was experimental and noted dose values for exposure factors. Exposures were carried out with two different ampoules of different x-ray dose and the values recorded with two luminescent dosimeters. For C-arm Plus, the average dose value gathered by one of the dosimeters for 60kV.6 mAs is 0,0057 mSv, for 70 kV.5 mAs is 0,0086 mSv and for 80 kV.4 mAs is 0,011. Standard deviation for the same doses are 0,0057; 0,00092 and 0,00077 respectively. The results are higher radiation dose values to exposure factors with higher kV and lower mAs. The main conclusion is the nonagreement with the paradigm that says the mAs should be kept as low as possible, and the value of kV as high as practicable to keep the dose as low as possible, in order to obtain a clinically appropriate image. Radiology profissionals with interventional radiology experience should use this information and modify work patterns with the interest of decreasing the dose of radiation they are exposed and that exposes professionals in different interventional techniques. Palavras chave: Radiação Ionizante; Radiologia de Intervenção; Dosímetro; Baixa Dose Index terms: Ionizing Dosimeter; Low Dose http://www.hgo.pt/revista/index.php/coloquiosgo/article/view/70 Radiation; Intervention Radiology; Colóquios Garcia de Orta, Volume 2, 2015: 2 Página 2 de 5 INTRODUÇÃO Existe a necessidade de optimizar sempre os processos quando nos expomos profissionalmente à radiação. O objectivo da investigação experimental é abordar a prática de baixa dose, que se foca ao nível do paciente mas que não corresponde à diminuição de dose para o profissional quando este está exposto e próximo da fonte de radiação. Com o crescimento da imagem de intervenção radiológica, é importante aferir a radiação à qual os profissionais estão expostos. A prática que refere que os mAs devem ser mantidos tão baixos quanto possível e o valor da kV tão alto quanto praticável, para manter a dose no mínimo possível e obter 1 uma imagem clinicamente adequada , é analisada de forma experimental. MÉTODOS O estudo experimental aplicado permitiu medir a dose de radiação a 60 centímetros (cm) de distância do isocentro do aparelho para três diferenças de potencial (ddp) diferentes, 60 kV/6 mAs; 70 kV/5 mAs; 80 kV/4 mAs. Os resultados permitiram aferir a prática de baixa dose apresentada para o profissional. O registo de dose a 60 cm pretendeu representar a posição normal do cirurgião durante a exposição de radiação no decorrer de uma intervenção cirúrgica com apoio radioscópico. Foram utilizados dois equipamentos emissores de raio-x, sendo estes C-arm OEC Plus e C-arm OEC Elite da GE (Quadro I). A utilização de dois emissores diferentes permite obter dados distintos e sem a presença de erro sistemático possível de existir em ampolas de raio-x com rendimentos próprios. O fantoma utilizado foi um cilindro de material visco elástico (pmma), foram medidos peso e volume para determinar a sua densidade, de forma a relacionar com a densidade humana. Materiais que tenham números atómicos efectivos e densidades próximas mostram comportamentos semelhantes, 2 quando submetidos a um feixe de fotões, (Figura 1). O peso foi obtido com uma balança digital com sensibilidade de 1 g, para o volume foi utilizado o método de Arquimedes. O erro associado à medição do volume é de 1 cl. A experiência foi realizada directamente numa sala de bloco operatório. O fantoma foi exposto a diferentes diferenças de potencial, com dois dosímetros registaram-se valores de dose Hp10 (Quadro II), foi definido o dosímetro 1 como Operador e o dosímetro 2 como Ajudante. O dosímetro foi colocado a uma distância constante de 60 cm do isocentro do aparelho, que coincide com o centro de massa do fantoma Este valor de distância representa a distância à qual o cirurgião está do isocentro. Numa primeira parte experimental efectuaram-se exposições para registar a relação da dose com a tensão e carga. A carga do tubo é mantida à tensão constante de 70 kV variando para 2.0, 3.0, 4.0 e 5.0 mAs. Mantendo a carga a 4.0 mAs aplicaram valores de kV variados, 50, 60, 70, 80 e 90 kV, tempos constantes de dez segundos de exposição para todas as exposições. Foram aplicadas diferenças de potencial e de carga. A 60 kV para 6.0 mAs, 70kV para 5.0mAs e 80kV para 4.0mAs. Os valores escolhidos não representam valores de exposição utilizados numa cirurgia concreta, no entanto as alterações de tensão e carga têm relação directa com a qualidade de imagem, contraste e brilho. O incremento dos valores foi concluído após várias experimentações e de forma a ser registado um valor de dose mensurável. Todas as exposições foram repetidas dez vezes e aplicadas nos dois equipamentos. Quadro I. Especificações de OEC C-arm ELITE e PLUS3,4 ESPECIFICAÇÕES C-ARM ELITE GERADOR • 60kHz frequência máxima • 15kW de potência • Máximo de 120kVp •Exposição de filme radioFigura até 75mA • Nível alto e contínuo de fluor (HLF) até 20mA AMPOLA FLUORO MODE Correspondência: Rui Cabral, Hospital Garcia de Orta, Av. Prof. Professor Torrado da Silva, [email protected] 2801-951 Almada, Portugal, • Ânodo rotativo • Pontos de foco de 0.3 mm e 0.6 mm • Capacidade térmica: 76,000HU • Taxa de arrefecimento: 37,000HU/min • kVp: 40 -120 • mA: 0.2 - 10 normal mode 1.0 - 20 HLF (high level fluoro) • Pulse rate: 1, 2, 4, 8 • Pulse width: 25 or 50ms C-ARM PLUS • 40kHz de frequência máxima • 2.2kW monoblock •Capacidade de aquecimento: 900,000HU •Fluxo de arrefecimento: 12,500HU/min • Máximo de 110kVp • Nível contínuo de fluor (HLF) até 12mA • Ânodo estacionário • Pontos de foco de 0.6mm e 1.4mm • Capacidade térmica: 76,000HU • Taxa de arrefecimento: 37,000HU/min • kVp: 40 -120 • mA: 0.1 - 4 normal mode 1.0 - 12 HLF (high level fluoro) • Pulse rate: 1, 2, 4, 8 Colóquios Garcia de Orta, Volume 2, 2015: 2 Página 3 de 5 ————————————————————————————————————– Figura 2. Variação de radiação com tensão constante Figura 1. Interacção de fotões com a matéria. Comportamento dos coeficientes de atenuação linear versus energia efectiva Quadro II. Marca Thermo. Electron Coorporation, UK Especificações detalhadas 5 Especificações do dosímetro Hp(10) 137Cs ±10%; Hp(0.07) 90Sr/90Y ±20% 0 até ≥1600 rem Dose 0 até ≥ 400 rem/h Intervalo de Dose 1 µSv a ≥ 10 mSv Resolução Precisão RESULTADOS Os resultados obtidos das exposições com carga constante para tensão variável e tensão constante para carga variável, mostram que o aumento da carga e o aumento da tensão resulta no aumento linear de dose de radiação, a 60cm. Com 70 kV a dose de radiação média para 2 mAs é 0,002 mSv para 3 mAs é 0,005 mSv, para 4 mAs é 0,007 mSv e para 5 mAs é 0,009 mSv, (Figura 2). Valores médios para o dosimetro ajudante foram corroborados pelos valores obtidos pelo dosímetro operador. Ao aplicar-se a carga constante de 4 mAs o valor de dose média para 50 kV é 0,002 mSv, para 60 kV é 0,005 mSv, para 70 kV é 0,007 mSv, para 80 kV é 0,011 mSv e para 90 kV é 0,016 mSv, (Figura 3). Valores médios para o dosímetro ajudante foram corroborados pelos valores obtidos pelo dosímetro operador. Os resultados supra descritos permitem afirmar que tanto o aumento da carga como o aumento da tensão resultam no aumento da dose de exposição. De forma a obter resultados que se relacionem com a prática que afirma, que a carga (mAs) deve ser mantida tão baixo quanto possível e o valor da kV tão alta quanto praticável para manter a dose no mínimo possível para obter 2 uma imagem clinicamente adequada , foram aplicadas diferenças de potencial e de carga. Figura 3. Variação de radiação com carga constante O Quadro III mostra os valores da dose de radiação com a subida de tensão e redução de carga em ambos os equipamentos e em ambos os dosímetros. Quadro III. Média de dose de radiação para o profissional, (O – dosímetro Operador; A – dosímetro Ajudante) Equip Tensão (kV) Carga (mA.s) Média O mSv Média A mSv Média mGy.m2 60 6.0 0.0057 0.0046 0.1 Plus 70 80 60 5.0 4.0 6.0 0.0086 0.0110 0.0038 0.0068 0.0096 0.0030 0.1 0.1 2 Elite 70 80 5.0 4.0 0.0057 0.0067 0.0045 0.0060 1.6 2 Página 4 de 5 Colóquios Garcia de Orta, Volume 2, 2015: 2 ————————————————————————————————————– Para o C-arm Plus com o dosímetro Operador, a média do valor de dose para 60 kV/6 mAs é 0,0057 mSv, para 70 kV/5 mAs é 0,086 mSv e para 80kV.4mAs é 0,011 mSv (Figura 4). O desvio padrão de cada valor de média é respectivamente 0,0057; 0,00091; 0,00077. kV/5 mAs é 0,0045 mSv e para 80 kV/4 mAs é 0,006 mSv (Figura 7). O desvio padrão de cada valor de média é respectivamente 4,3368E-19; 0,0005; 8,6736E-19. C-arm ELITE - D. Operador 0,012 0,01 0,008 C-arm PLUS - D. Operador 0,011 0,012 0,0086 0,01 0,008 0,006 0,0057 0,006 0,004 0,002 0 média da dose (mSv) 0,004 0,002 0 média da dose (mSv) D. Operador D. Operador D. Operador C-arm Plus C-arm Plus C-arm Plus 60kV.6mAs 70kV.5mAs 80kV.4mAs dosimetro/equipamento/condições Figura 4. Comparação da média da dose de radiação para 60kV.6mAs/70kv.5mAs/80kV.4mAs. C-arm Plus para Dosímetro Operador 0,0067 0,0057 0,0038 D. Operador D. Operador D. Operador C-arm Elite C-arm Elite C-arm Elite 60kV.6mAs 70kV.5mAs 80kV.4mAs dosimetro/equipamento/condições Figura 6. Comparação da média da dose de radiação para 60kV.6mAs/70kv.5mAs/80kV.4mAs. C-arm ELITE para dosímetro Operador C-arm ELITE - D. Ajudante Para o C-arm Plus com o dosímetro Ajudante, a média do valor de dose para 60 kV/6 mAs é 0,0046 mSv, para 70 kV/5 mAs é 0,0068 mSv e para 80 kV/4 mAs é 0,0096 mSv (Figura 5). O desvio padrão de cada valor de média é respectivamente 0,00066; 0,00231; 0,00048. 0,012 0,01 0,008 0,006 0,004 0,006 0,0045 0,003 0,002 0 Media da dose (mSv) C-arm PLUS - D. Ajudante 0,012 0,0096 0,01 0,0068 0,008 0,006 0,004 D. Ajudante D. Ajudante C-arm Elite C-arm Elite C-arm Elite 60kV.6mAs 70kV.5mAs 80kV.4mAs dosimetro/equipamento/condições 0,0046 Figura 7. Comparação da média da dose de radiação para 60kV.6mAs/70kv.5mAs/80kV.4mAs. C-arm ELITE para dosímetro Ajudante. 0,002 0 média da dose (mSv) D. Ajudante D. Ajudante D. Ajudante D. Ajudante C-arm Plus C-arm Plus C-arm Plus 60kV.6mAs 70kV.5mAs 80kV.4mAs dosimetro/equipamento/condições Figura 5. Comparação da média da dose de radiação para 60kV.6mAs/70kv.5mAs/80kV.4mAs. C-arm Plus para dosímetro Ajudante Para o C-arm Elite com o dosímetro Operador, a média do valor de dose para 60 kV/6 mAs é 0,0038 mSv, para 70 kV/5 mAs é 0,0057 mSv e para 8. kV/4 mAs é 0,067 mSv (Figura 6). O desvio padrão de cada valor de média é respectivamente 0,0004; 0,00045; 0,00045. Para o C-arm Elite com o dosímetro Ajudante, a média do valor de dose para 60 kV/6 mAs é 0,003 mSv, para 70 DISCUSSÃO Com os resultados apresentados no Quadro III, os objectivos propostos foram atingidos. A prática que afirma que carga (mAs) deve ser mantida tão baixo quanto possível, e o valor da (kV) tão alta quanto praticável para manter a dose no mínimo possível, de forma a obter uma imagem clinicamente adequada não tem aplicação generalizada. No caso abordado, a 60 cm não se verifica. A dose aumenta com um aumento de tensão (kV) mesmo que este seja acompanhado com uma redução de carga (mAs). Este resultado apresenta outra perspectiva da prática da baixa dose. A análise do registo da dose produto área, e apesar da discrepância evidente entre os dois equipamentos, mostra Colóquios Garcia de Orta, Volume 2, 2015: 2 Página 5 de 5 ————————————————————————————————————– que as diferenças de dose de radiação a que o paciente está exposto não têm relevância e sendo estas diferenças tão baixas fica por concluir qual a dose real a que o paciente fica exposto com a alteração da prática de baixa dose, a certeza matemática é de que o aumento da carga mAs expõe o paciente a mais fotões, não sendo no entanto o foco do estudo dos autores fica a sugestão de estudo adicional para a aferição da dose de radiação real a que o paciente está exposto. CONCLUSÃO Sugere-se a modificação de atitude dos técnicos de Radiologia no manuseio das condições técnicas de exposição, em ambiente de Radiologia de Intervenção. A exposição profissional a baixas doses de radiação tem um critério probabilístico de risco biológico e a OPTIMIZAÇÃO da exposição deve ser alargada à protecção dos profissionais. É importante usar as conclusões do presente estudo e extrapolar de forma representativa para as Técnicas de Intervenção. Na prática, utilizar condições de exposição de menor tensão, de menor penetração, de valores de kV mais baixos, diminui a dose a que os profissionais estão expostos. Deve este ser o ponto de partida para novos estudos, avaliações e conceitos. Conflito de interesses: Nada a declarar REFERÊNCIAS 1. Número Atômico Efetivo de Materiais (Tecido Equivalente): Método Comparativo G. S. De Arruda, D. M. M. De Oliveira, P. C. D. Petchevist e A. De Almeida 2. Técnicas de diagnóstico e raios x. Aspectos Físicos e Biofísicos. – João José Pedroso de Lima. Imprensa da Universidade. Coimbra 3. GEHC-Brochure-OEC-Brivo-Plus-C-Arm_Technical data sheet 4. OEC® 9900 Elite Premium Digital Mobile C-arm Technical Data 5. EPD® Mk2 Electronic Personal Dosimeter specifications