“UM PISTOLEIRO CHAMADO PAPACO (1986)”
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“UM PISTOLEIRO CHAMADO PAPACO (1986)”
ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 H ISTÓ RIA E C INEMA: ALG UMAS Q UESTÕ ES RELAC IO NADAS AO FILME “UM PISTO LEIRO C HAMADO PAPACO (1986)” Anderson Neves1 Resumo O presente trabalho alm eja criar reflexões acerca do caráter m oral adotado por parte da crítica cinem atográfica no Brasil, atentando e avaliando os impactos criados por essas leituras que comumente tom aram fundamentos de um a moralidade (católica/cristã) como referência de avaliação no processo de urdidura de considerações fílmicas que necessariam ente deveriam dialogar com aspectos cênicos, estéticos, etc. Nesse ínterim nos valemos de um a obra de pornochanchada produzida na “boca do lixo” de São Paulo no ano de 1986, Um pistoleiro cham ado Papaco dirigido por Mario Vaz Filho.\O filme se apresenta com diversas sátiras de questões do cotidiano, roupagem de filme pornográfico e estética com um a filmes de western. Introdução: Para o “historiador de oficio” é necessário ressaltar que, ao olhar para o documento fílmico como um docum ento histórico, se faz necessário ir além do que é projetado na tela, e pensar a obra como algo que se deriva de um conjunto de particularidades, nas quais diversos embates caracterizam a dinâmica do processo. Vesentini aponta: (...) entender a história como uma memória e perceber a integração que ocorre entre herança recebida e projetada até nós, e a reflexão a debruçar-se sobre o passado, constitui-se em questão e pareceu-me relevante para a aproximação do que é tomado tão somente por historiografia. Esta poderia deixar o leitor menos avisado a percepção de que o objeto mesmo sobre o qual ele se debruça – temas, fatos, agentes aí alocados – tem existência objetiva independente do seu engendramento no processo de luta e da força da sua projeção e recuperação, como tema, em cada 2 momento especifico que o retoma e o refaz. Um estudo histórico que se propõe a dialogar com obras cinematográficas não pode se prender em preconceitos. Vale lem brar que, esteticam ente, os filmes de Rocha e os de Barreto 1 Mestrando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, integrante do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC) e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 2 VESENTINI, Carlos. A. A Teia do Fato. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 18. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 194 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 se aproximam em diversas ocasiões. Com esta pesquisa, pretendem os problem atizar questões m ateriais de construção, o ideário político dos autores e o momento histórico no qual cada obra é pensada. Sobre a relação do historiador de ofício com as fontes fílmicas no processo de construção do pensamento histórico, Rosenstone afirm a: (...) relação entre filme histórico, especialmente o filme histórico dramático, e a história escrita. E, como nós não conseguimos fazer com que isso funcione, ninguém mais consegue. Quando falo de percorrer o caminho de trás para frente, andar de lado ou estar desalinhado, quero dizer o seguinte: há 25 anos, ou desde que os historiadores começaram a pensar ou escrever sobre filmes históricos estamos essencialmente tentando fazer com que o longa-metragem dramático se adapte às convenções da história tradicional, encaixar à força o que vemos em um molde criado pelo discurso escrito para si mesmo. Uma abordagem desse tipo garante que a história nos filmes seja vista como uma maneira em grande parte corrompida e trivial de representar o passado. Aqueles dentre nós que desejaram se manifestar a favor dos filmes históricos muitas vezes se viram em uma posição defensiva, explicando os erros e invenções dos cineastas a colegas, jornalistas e estudantes céticos.3 (Grifo nosso). Neste trabalho, não buscam os e nem pretendem os encontrar a verdade histórica a partir das fontes que elencamos, mas sim refletir sobre sua historicidade, bem como sobre suas pretensões e possibilidades de abordagem, sem perder de vista os argum entos que utilizam e as suas possíveis conotações frente a um contexto particular. Desenvolvim ento Ao lançarmos olhares para a relação entre a história (ou a historiografia) e o cinem a, percebem os que, para além das obras fílm icas e os possíveis sentim entos e sensações geradas por elas, existem diversas outras nuances que perpassam desde a produção de cinema “enlatado” até a dita crítica especializada que tem o “poder” de ditar ou escolher o que é bom ou ruim e o que vale ser lem brado ou não, nosso interesse aqui é problematizar e tentar entender as relações que levam esses críticos a adotarem ou não certas perspectivas analíticas ignorando outras, e com o isso im pacta no trabalho do historiador que se debruça a referida relação. 3 ROSENSTONE, Robert. A. A História nos filmes, Os filmes na história. Trad. Marcello Lino. São Paulo: Paz e Terra, 2010, p. 61. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 195 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 No ínterim de tais postulados partimos para um a concepção de cinem a m ais ampla, que nos permite pensá-lo não somente com o uma produção ou reprodução fílmica, m as também como um a obra dotada de significação e interesses, seja para os indivíduos envolvidos com a produção cinem atográfica, seja para a audiência que a recepciona. Para o “historiador de oficio” é necessário ressaltar que, ao olhar para o documento fílm ico como um docum ento histórico, se faz necessário ir além do que é projetado na tela, e pensar a obra como algo que se deriva de um conjunto de particularidades, nas quais diversos embates caracterizam a dinâm ica do processo de percepção e significação. A fim de ampliar o leque que perpassa a questão da criação e fruição artística, no presente trabalho discutido em torno do cinem a, nos valem os das assertivas de Anatol Rosenfeld em suas reflexões sobre o cinem a enquanto arte e entretenimento. Pois a imagem móvel é, antes de tudo, um meio de comunicação e reprodução, como a impressão tipográfica ou o disco; e como tal, ela pode visar a divulgação de dados variados sem que a preocupação fundamental seja de ordem estética. Da mesma forma como o jornal ou o radio, o cinema pode difundir noticias, anúncios, propaganda e lições de divulgação cientifica; e na maioria dos casos, cuidará, como os bons jornais e boas estações de rádio, de uma correta redação e coordenação fluente das matérias divulgadas sem que, por isso, se possa falar em arte. Por mais duvidoso que seja o emprego de analogias, é óbvio que uma notícia de jornal, embora bem redigida e escrita em linguagem correta, não chega a ser arte, tampouco um jornal cinematográfico bem montado e composto de tomadas de boa qualidade. Semelhante, o livro pode servir de veiculo de comunicação à poesia de Rainer Maria Rilke, aos romances de Machado de Assis ou as novelas policiais de Edgar Wallace. As obras de Rilke e Machado de Assis são arte, mas ninguém pensaria em chamar assim as novelas de Edgar Wallace, embora muitas vezes sejam feitas com habilidade e mesmo com “ arte”. Fazer uma coisa com “arte” não significa criar uma obra de arte. Assim, também o filme pode servir de veiculo de comunicação a uma pequena jóia poética em forma de desenho, a uma epopéia como Ivã, o Terrível, de S.M. Eisenstein, ou aos inúmeros filmes policiais ou far west que povoam as telas do mundo. Ao passo que os primeiros são arte, estes últimos, mesmo feito com habilidade, geralmente nem sequer pretendem ser arte. Isso não exclui, evidentemente, que autores como Joseph Conrad ou Edgar Allan Poe tenham criado verdadeiras obras de arte no gênero policial ou de aventuras, e o mesmo se pode dizer de um ou outro filme de far west ou policial, dirigidos por John Ford, Fritz 4 Lang, Robert Siodmak e outros. Condenar industriais (da indústria do entretenimento) ou m ovimentos cinem atográficos que não atendem padrões e expectativas de grupos que se instalam em produções ou crítica alegando que os “não inseridos” não produzem arte ou banalizam a 4 ROSENFELD, Anatol. Cinema: Arte e Indústria. São Paulo: Editora Perspectiva. 2002. P.33-34. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 196 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 m esm a, é demasiadam ente um a atitude falaciosa, pois, entre os pressupostos básicos da criação cinem atográfica está a com unicação. Segundo Rosenfeld: (...) uma história do cinema deve tomar em consideração que seu objeto é, essencialmente, uma Industria de Entretenimento, que também faz uso de meios estéticos para obter determinados efeitos e para satisfazer um grande mercado de consumidores, sem visar, todavia, na maioria dos casos, à criação de obras de arte. Seria, portanto, absurdo e infantil condenar os industriais do cinema por criarem raramente uma obra de arte. Uma produção cinematográfica aproveitável de filmes de ficção é impossível sem organização industrial e sem o investimento de 5 consideráveis capitais. Em consonância com tais assertivas, buscam os avaliar as obras sem a pretensão classificatória tão comum a autores que se debruçam sobre a história do cinema nacional, m as sim, olhar para a obra enquanto potencialidade de despertar sensações e afeições. Pois, na construção de uma história do cinema brasileiro percebemos diversos núcleos de intelectuais e trabalhos que tendem a hierarquizar a mencionada história, pondo os filmes no cinem a novo no ápice e os demais movim entos, necessariam ente, abaixo e com isso constituem uma matriz interpretativa que se vale de valores e interesses que, no m ais das vezes, não consideram as percepções e afeições possíveis a partir da obra. 6 Com intuito de elucidar os problemas aqui m encionados, nos valemos de um a obra relegada a segundo plano na cinematografia brasileira, isso quando não desconsiderada ou desprezada enquanto obra de arte, Um pistoleiro chamado Papaco (1986) tam bém nomeada por Amores de um pistoleiro dirigido por Mario Vaz Filho, a obra traz no elenco atores com o: Fernando Benini (Papaco), Anão Chum binho (Big Boy), Márcia Ferro (Linda), Nikita (Jane), Agnaldo Costa (Sapato), Paco Sanchez (Pancho Favela), Satã (Sartana), Denise Clair (Prostituta 1), Angélica Dum ont (Prostituta 2), Camila Gordon (Prostituta 3), Priscila Presley (Prostituta 4). 7 Produzido na boca do lixo em São Paulo, o filme traz como enredo a história do pistoleiro, Papaco, que vaga pelo Oeste arrastando seu caixão recheado de m ercadorias 5 ROSENFELD, Anatol. Idem. P. 35. Para mais informações acerca das discussões atinentes ao regime estético das artes vide a obra de Jacques Rancière. 7 O Cinema Marginal tem a intenção de retratar a situação cultural e social do país, que estava sendo influenciado por histórias em quadrinhos, transmissão radiofônica, imprensa popular e o tropicalismo. Só que a ética e as formas lineares do Cinema Novo são deixadas de lado, para exaltar a forma tosca e debochada. O movimento denominado Cinema Marginal surgiu na década de 60 com uma corrente de cineastas jovens, que tinham como verdadeira preocupação contestar os costumes e a linguagem cinematográfica e não o processo político e social 6 www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 197 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 preciosas para negociar com um grupo de bandidos na cidade de Santa Cruz das Alm as. No caminho, após duelar e m atar seus quatro maridos, Papaco conhece Linda, que pede para acom panhá-lo para uma festinha. Chegando na cidade, várias gangues ligadas aos chefes locais do crim e, Jane e Sapato, tentam roubar a mercadoria no caixão e as prostitutas do Anão Chum binho. Após ser acolhido no bordel da cidade pelo papa-defunto, Papaco é rendido pelo anão Big Boy, m as finalmente consegue negociar a mercadoria. O filme apresenta cenas eróticas misturadas a trocadilhos com tem as políticos e com alguns dos principais clichês do “Western spaghetti”. Assim , é evidente (a quem quiser ver) que o film e se apresenta com diversas sátiras a questões do cotidiano, sendo roupagem de filme pornográfico do ponto de vista form al é comum a film es de western (o bangue-bangue dos Estados Unidos da Am érica que se estendeu e teve releituras por diversos países do globo). Entendendo que a arte cinem atográfica comporta elementos que estão além das tem áticas dos film es, pretendemos discutir o lugar conferido à referida obra, quando não totalmente desprezada pela crítica que ajudou a constituir a já m encionada verticalização da história do cinem a brasileiro. Se pensarmos as obras cinematográficas enquanto linguagem viva, que apresenta e pode significar muito mais que um a “m oral da história”, percebem os que a crítica cinem atográfica brasileira, se vale de pressupostos políticos ou valores morais para colocar obras como Um pistoleiro chamado Papaco abaixo das que são consideradas referencias do que é ou deveria ser o cinema brasileiro que, tem como representante m áximo o m ovimento do Cinem a Novo com seus intelectuais, partidários ou sim patizantes. O movim ento do cinem a novo foi, sem dúvida, im portantíssimo para a cinematografia nacional com o um todo, ora por apontar a possibilidade de um cinema genuinamente que atravessava o país. Também conhecido como Boca do Lixo e/ou underground, o Cinema Marginal desfrutava de toda a liberdade de seus criadores. Um bom exemplo desse movimento foram os filmes O Bandido da Luz Vermelha(1968), de Rogério Sganzerla; Matou a Família e Foi ao Cinema(1969) e O anjo Nasceu, de Júlio Bressane. Esses filmes rompiam com o intelectualismo do Cinema Novo e tentavam alcançar o público com suas obras experimentais que retratavam a verdadeira situação do país de maneira debochada. E faziam isso aproveitando a má fase que passava o cinema norte-americano. O Cinema Marginal tinha como base de linguagem o apelo. Esse movimento colocava de lado os valores éticos e os valores culturais para esbanjar o grotesco, o erotismo e a pornografia. Graças a isso, poucos desses filmes puderam ser assistidos na época, mas alguns deles, mesmo assim foram revelados: Bang Bang(1970), de Andrea Tonacci; Os Monstros de Babaloo(1970), de Eliseu Visconti; Viagem ao Fim do Mundo(1968), Fernando Coni Campos; Jardim de Espumas(1970), Luiz Rozemberg Filho. Vide em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezemb ro2002/unihoje_ju202pag12.ht ml. www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 198 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 brasileiro, ora pela análise e discussão de questões sociais acerca das relações no interior do Brasil. No entanto, é preocupante a relação que m uitos historiadores e críticos do cinema brasileiro estabelecem com o m ovimento, com o se tratasse de algo acima de tudo que já fora feito até então, com o uma vanguarda e resistência ao im perialismo e à influência estrangeira em nossa sétima arte. Não há, de nossa parte, interesse algum em diminuir o valor dado as obras produzidas dentro do m ovimento do Cinema Novo, posto que visualizam os obras cinem anovistas que apresentam qualidade inquestionável, nosso desejo é, tão somente, problematizar a já m encionada hierarquização da história do cinem a brasileiro, procurando entender as obras fílmicas em sua linguagem e potencialidades independentes de autores, contexto de produção, exibição ou moral da história. No caso da obra que lançamos à luz aqui no presente trabalho percebem os aproxim ações formais com obras absolutamente respeitadas (ou consideradas respeitáveis) pela critica cinematográfica, será então que um a obra com o Um pistoleiro cham ado Papaco torna-se um a obra desprezível por conter cenas de sexo? Mas o corpo nu projetado na tela define o caráter ou potencialidades de uma obra? Ou será que ao longo dos anos estamos reproduzindo um modelo analítico que, falido, não da conta de com preender a obra em sua potencialidade, limitando-se a engessa-la a partir de dois ou três pressupostos comparativos? E m ais, os idealizadores dessa matriz interpretativa, possivelm ente, estavam envolvidos politicam ente com projetos que não faz sentido quando lidam os com arte em nossos dias, reprodução essa que pode ser ingenuidade ou por ser m ais confortável a m anutenção do que a m udança no trato com as obras. Esquecem os a linguagem da obra para pensar, sobretudo, o que está fora dela. Sobre a linguagem comum ao cinem a, Rancière aponta: Aqui se toca não apenas do cerne da relação singular de Deleuze com o cinema, mas mais profundamente n cerne do problema que o cinema impõe ao pensamento em função do lugar muito particular que ocupa naquilo que se costuma chamar de Modernidade Artística – e que eu prefiro chamar de Regime estético da arte. O que opõe esse regime ao Regime Representativo Clássico é, com efeito, uma idéia diferente do pensamento sobre a obra na arte. No regime representativo, o trabalho da arte é pesado sobre o modelo da forma ativa que se impõe na matéria inerte para submetê-las aos fins da representação. No regime estético essa idéia de imposição voluntária de uma forma a uma identidade dos contrários: a identidade do ativo e do passivo, do internacional e do não-internacional. Eu evocaria mais claramente o projeto flaubertiano, que resume a idéia de modo mais abrupto. O romancista se propõe fazer uma obra que só repousa sobre ela mesmo, quer dizer , sobre o estilo do escritor, liderado a todo sujeito, de toda matéria , afirmando unicamente seu poder absolutizado . Mas o que devia produzir esse estilo soberano? Uma obra www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 199 ÁGORA Revista Eletrônica Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 194 – 201 liderada de todo traço da intervenção do escritor que tenha a diferença, a positividade absoluta das coisas, sem vontade sem significação. Não se trata simplesmente da expressão de uma ideologia do artista. É um regime de pensamento da arte que exprime também a idéia do pensamento. Não se trata da faculdade de imprimir sua vontade nos objetivos. Trata-se da faculdade de se igualar ao seu contrario. Essa igualdade de contrários era, na época de Hegel, a potencia apolínea da idéia que sai dela mesma para se tomar a luz do quadro ou o sorriso do deus da pedra. De Nietzsche a Deleuze, ela se torna, ao contrário , a potência dionisíaca pela qual o pensamento abdica dos atribuídos da vontade, perde-se na pedra, na cor ou na 8 língua e iguala sua manifestação ativa ao caos das coisas. Sendo assim , tem os pesquisadores adotando a perspectiva de um regime representativo das artes, analisando e classificando os film es a partir do quão os m esm os conseguem retratar ou representar um padrão de verdade que vão tirar de obras com o Papaco o estatuto de obra de arte e com isso nos saltou os olhos as possibilidades de leitura e apreciação da obra, livre de padrões interpretativos, estatuto de verdade, sendo assim Um pistoleiro cham ado Papaco está dentro do regim e estético das artes, onde, não necessariamente o a Cia. Cinematográfica, o ano de produção, o diretor e etc. definem se a obra é boa ou ruim, digna ou indigna de ser chamada de obra de arte. C onsiderações Embora sejam reflexões iniciais, a partir de um projeto que esbarrou com as questões que foram suscitadas a partir Amores de um pistoleiro, concluím os que ao retirarmos do autor e de sua biografia o estatuto de verdade sobre a obra, poderem os imergir na linguagem da m esm a, e aí sim, no regim e estético estabelecer as conexões que provavelm ente nos possibilitarão contribuir com as discussões acerca da história do cinem a brasileiro, e m ais, libertamos a obras dos modelos analíticos que comumente nos valemos, poderem os olha-la para além da moralidade, cristã, que adota um ponto para desmerecer ou desconsiderar o todo a partir de um recorte que não determina e nem poderia determ inar a potencialidade da linguagem artística presente na obra. Referências 8 RANCIÉRE, Jacques. De uma imagem á outra? Deleuze e as eras do cinema. Intermídias. Serras (ES), Ano 4, Ed. 8, 16-17, 2008 . Disponível em: HTTP://www.intermidias.co m/txt/ed8/De.pdf. 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