baixar revista - Conselho Regional de Psicologia do Paraná

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baixar revista - Conselho Regional de Psicologia do Paraná
Ano 17 • Edição 100 • Julho/Agosto 2015 • Conselho Regional de Psicologia do Paraná
+
Psicologia Anomalística
As experiências anômalas
à luz da Psicologia
29 de abril
Como a Psicologia pode
ajudar os professores
Polícia
Conheça o trabalho da
Psicologia com os policiais
S U M Á R I O
Conselho Regional de Psicologia
8ª Região (CRP-PR)
Diretoria
04
E D I TO R I A L
05
CO L U N A P OT
A Psicologia e a(o) profissional Psicóloga(o)
nas organizações de trabalho
Conselheira Presidente
Cleia Oliveira Cunha (CRP-08/00477)
Conselheiro Vice-presidente
Guilherme Bertassoni da Silva (CRP-08/10536)
Conselheiro Tesoureiro
Bruno Jardini Mäder (CRP-08/13323)
07
Os aspectos éticos envolvidos
na Avaliação Psicológica
Conselheira Secretária
Anita Castro Menezes Xavier (CRP-08/12770)
Foto: Everson Bressan / SMCS / Fotos Públicas
Produção
Contato: Informativo Bimestral do Conselho
Regional de Psicologia 8ª Região (ISSN - 1808-2645)
Site: www.crppr.org.br • Avenida São José, 699
CEP 80050-350 • Cristo Rei • Curitiba/PR
Fone/Fax: (41) 3013-5766 •
E-mail: [email protected]
Tiragem: 15.000 exemplares
Impressão: Primagraf Indústria Gráfica.
Jornalista responsável: Ellen Nemitz (17.589/RS)
Comissão de Comunicação Social do CRP-PR:
Bruno Jardini Mäder • Revisão: Bruno Jardini Mäder,
Elaine Bernert, Célia Mazza de Souza, Angelo Horst
e Ellen Nemitz
Projeto gráfico: Agência Cupola
Rua Celestino Jr, 333 • CEP 80510-100
São Francisco • Curitiba/PR
Fone: (41) 3079-6981 • Site: www.cupola.com.br
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Preço da assinatura anual (6 edições): R$ 30,00
Nós não
esqueceremos.
Os artigos são de responsabilidade de seus autores não
expressando necessariamente a opinião do CRP-PR.
Conselheiras e conselheiros
Ana Lígia Bragueto, André Luis Cyrillo, André Luiz Vendel,
Anita de Castro Menezes Xavier, Bruno Jardini Mäder,
Cleia Oliveira Cunha, Denise Ribas Jamus, Fernanda
Rossetto Prizibela, Guilherme Bertassoni da Silva,
Juliano Del Gobo, Luciana de Almeida Moraes, Luiz
Antônio Mariotto Neto, Luiz Henrique Birck, Maria Stella
Aguiar Ribeiro, Mariana Daros de Amorim, Nayanne
Costa Freire, Paula Matoski Butture, Renata Campos
Mendoça, Rodrigo David Alves de Medeiros, Rodrigo
Soares Santos, Rosangela Maria Martins, Sandra Mara
Passarelli Flores, Solange Maria Rodrigues Leite,
Vanessa Cristina Bonatto.
CO L U N A AVA L I AÇ ÃO PS I CO LÓ G I C A
11
CO F O R I E N TA
Psicologia e Administração:
atividades de interface
13
CO L U N A É T I C A ( CO E )
Denúncias: relações entre o CRP-PR,
a categoria e a sociedade
17
E N T R E V I STA
A Psicologia vai à escola
20
M AT É R I A
O policial no divã
22
E S P E C I A L 100ª E D I Ç ÃO
A comunicação do CRP-PR faz história
2 6 A Revista Contato vista pelas
jornalistas do CRP-PR
2 8 A Revista Contato pela ótica de quem lê
30
A RT I G O
Foto: Orlando Kissner/ Fotos Públicas
Ressurge a Psicologia Anomalística
E D I T O R I A L
COLUNA POT
A Psicologia e a(o) profissional Psicóloga(o)
nas organizações de trabalho
Editorial
Curitiba, 29 de abril
Em fevereiro, estávamos em frente à Assembleia
de manga comprida e tampas de panelas. Fomos
Legislativa do Paraná, onde deputados estaduais
feridos. Duas horas se passaram e os estrondos
votariam o Pacotaço, composto pelo Projeto de Lei
continuavam, estávamos recuados e acuados.
Complementar nº 6/2015 e pelo Projeto de Lei nº
Parece que um tabuleiro foi montado e nós éra-
60/2015, que autorizavam mudanças na previ-
mos as peças de um jogo perverso.
dência e na carreira de servidores estaduais. Não
A votação não foi suspensa e o Pacotaço foi
à toa, ganhou o apelido de “Pacote de Maldades”.
aprovado por 31 votos, sancionado logo depois
Num puxa daqui, cobre de lá, o governo que-
pelo governador. A culpa foi imputada a poucos,
ria impor um teto de aposentadoria para novos
mas sabemos que a lista é muito maior. O Paraná
servidores – bem abaixo do salário correspon-
tem gravado na sua história um dos episódios
dente aos últimos níveis da carreira – e, ainda,
mais terríveis já vivenciados no Brasil, quase ina-
gerar insegurança nos já empossados, sem ga-
creditável nos dias de hoje.
rantias de que a contribuição descontada de cada
salário seria restituída.
Quem saiu ferido neste episódio? A democracia. A democracia não é apenas uma forma de or-
Vimos a que ponto chegamos quando não há
ganizar o Estado. Ela é vivida em conjunto com a
espaço para o diálogo: deputados no camburão,
sensação de liberdade e confiança no futuro. A de-
serrando grades, depredando o patrimônio público.
mocracia pode não ser perfeita, mas permite que
Naquele dia nós ganhamos, ainda que tenha-
se diga “eu não concordo”. Ao convivermos com a
mos perdido com o aprofundamento da cisão nós
ameaça de uso da força bruta numa manifestação
e eles, povo e política. Algum espaço de discus-
legítima, nossa perspectiva de futuro fica sombria.
são foi conquistado à força, mas nada mudou. Em
Para afastar esta sombra, é preciso que o dia 29 de
abril o Pacotaço voltou, e voltou munido.
abril seja falado, escrito, filmado, postado, tuitado
As tropas começaram a chegar no dia 27.
para que não seja esquecido ou encoberto.
Policiais foram recrutados para proteger parla-
Neste contexto, ao proporcionar formas de
mentares e o patrimônio público, “ameaçados”
compreender os sentimentos e representações
por professores, agentes penitenciários, servido-
causados neste dia, a Psicologia deve ser vista
res do Judiciário e da Saúde. No dia 29, os cida-
como uma ferramenta da democracia, oferecendo
dãos estavam descrentes de que a Assembleia pu-
luz e voz a sociedade.
Helicóptero, atiradores em cima de prédios públicos, cachorros, PM, Tropa de Choque,
bomba de efeito moral e gás lacrimogêneo.
O que houve não foi confronto, foi massacre.
Tentávamos nos proteger com vinagre, blusas
As reuniões da Comissão de Psicologia
acompanhar as novas demandas. No meio
Organizacional e do Trabalho (POT) fazem
corporativo, houve a necessidade de fortes
surgir muitas indagações: o que compete à
mudanças estratégicas e o ser humano tor-
Psicologia na área do trabalho e das orga-
nou-se o diferencial para o sucesso. A Gestão
nizações? Quando assumimos funções como
de Pessoas passou ser predominante nas or-
analista, gestor, consultor de RH, deixamos
ganizações. Cargos foram redesenhados e as
de ser Psicólogas(os)? Por quê?
funções tornaram-se generalistas, isto é, não
Através das trocas de experiências, lei-
específicas a um campo do saber. Somente
turas e observações no mercado de trabalho,
o recrutamento e seleção, com uso de testes
sentimos a necessidade de dialogarmos sobre
psicológicos, prevaleceu como atividade ex-
a identidade da Psicologia e da práxis da(o)
clusiva da Psicologia.
Psicóloga(o) nesse contexto. Talvez nossas
Tendo como base científica a análise dos
inquietações traduzam algo muito singular
fenômenos sociais e as relações humanas, a
e não nos representem enquanto categoria.
aplicabilidade da Psicologia neste novo cená-
Precisamos, portanto, dividi-las.
rio dimensionou seu espaço, impulsionando a
A terminologia referente à Psicologia
quebra de paradigmas pautadas na represen-
no contexto das organizações e do traba-
tação social da POT vinculada ao uso de instru-
lho passou por inúmeras modificações, pois
mentos. As intervenções focaram-se no plano
acompanhou as transformações, o desen-
técnico, estratégico e político e incorporou-se
volvimento de um determinado local, de
o dinâmico movimento estratégico dos RH´s.
uma época e de uma sociedade. A Psicologia
Quando se assumiu este novo referencial,
Industrial reinou a partir do fenômeno da
parece que as práticas emergentes se distan-
industrialização. Os procedimentos e instru-
ciaram cada vez mais da escuta do subjetivo
mentos aplicados contribuíram muito para
no âmbito do trabalho. Será isto uma consta-
que a Psicologia tivesse o reconhecimento
tação? Sim, pois o trabalho é uma das formas
social no final do século XIX.
da representação do sujeito no discurso social
Com a passagem do tempo até o sécu-
e a organização é o espaço onde a relação se
lo vigente, outros fenômenos acarretaram
estabelece. Nesta, são presenciados sintomas
transformações não só no campo das rela-
que transcendem as análises objetivas. Será
ções de trabalho, mas em toda forma de re-
que se deve desenvolver mais projetos nas
Na edição 99 da revista Contato, houve um erro da edi-
lação e comunicação. Dentre as transforma-
áreas de saúde e qualidade de vida? Existe es-
ção e a palavra Orientação foi trocada por Condição.
ções que ocorreram, uma das mais intensas
paço para isto?
Com isso, houve uma alteração de significado em diver-
foi a globalização.
desse concordar com aquelas medidas ou que o
governo pudesse atirar.
COMISSÃO DE
PSICOLOGIA
ORGANIZACIONAL
E DO TRABALHO
Errata
sos textos. Informamos que o arquivo digital da revista,
disponível em nosso site, será alterado.
A contribuição de Schein (1982) diz que
As(os) profissionais da Psicologia in-
a Psicologia Organizacional pode ser re-
vestiram em pesquisas, experiências, apri-
conhecida como um campo de atuação in-
moramentos
terdisciplinar que procura compreender os
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
técnicos
e
científicos
para
5
COLUNA POT
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
fenômenos organizacionais que se desenvolvem em tor-
é a formação em Psicologia, que nos possibilita somar
no de um conjunto de questões referentes ao bem-estar
junto às equipes, pois buscamos uma compreensão sistê-
do indivíduo, já que, de acordo com o autor, as organi-
mica analisando as interações e interfaces do trabalhador
zações são sistemas sociais complexos.
com a organização e sociedade. A partir disto, estraté-
No Brasil, o Catálogo Brasileiro de Ocupações (CBO)
gias e procedimentos adotados com base em uma análise
vem trabalhando, desde 1992, com este novo perfil, re-
mais profunda podem promover, preservar e reestabele-
latando que a(o) Psicóloga(o) do Trabalho atua indivi-
cer a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos –
dualmente ou em equipe multidisciplinar, onde quer
há um movimento neste sentido devido ao aumento nos
que se dêem as relações de trabalho nas organizações
índices de afastamentos por doenças ocupacionais, assim
sociais (formais ou informais), visando a aplicação do
como o abstenseísmo e o turnover.
conhecimento da Psicologia para a compreensão, in-
Temos muito mais a falar dos possíveis campos vi-
tervenção e desenvolvimento das relações e dos pro-
tais de intervenções da POT, que não se limitarão a este
cessos intra e interpessoais, intra e intergrupais e suas
texto. Sentimos que precisamos nos aproximar mais da
articulações com as dimensões política e econômica.
sociedade, fortalecer a Psicologia nas funções que assu-
Perfil das(os) Psicólogas(os)
interpretação de informações a respeito dos
Conforme pontuado no Código de Ética
Profissional do Psicólogo (CEPP):
fenômenos psicológicos, que são resultantes
de cada indivíduo acerca da sua práxis,
a(o) Psicóloga(o) pode se deparar. A atitude
de modo a responsabilizá-lo, pessoal e
ética, que pressupõe não só o conhecimento
coletivamente, por ações e suas consequ-
de um código de ética, mas principalmente a
ências no exercício profissional. A missão
vivência dos pressupostos desse código, passa
primordial de um código de ética profis-
pelo crivo da moral, em que crenças e valo-
sional não é de normatizar a natureza
res pessoais dão forma a uma prática ética.
técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar,
Portanto, no processo de AP, entende-se que
dentro de valores relevantes para a so-
SCHEIN, E. H. (1982). Psicologia Organizacional.
Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil.
todas as etapas, que vão desde a identificação
ciedade e para as práticas desenvolvidas,
dos fenômenos psicológicos a serem inves-
um padrão de conduta que fortaleça o
Psicologia – Ciência e profissão – Diálogo – nº 5 –
Dezembro/2007 http://site.cfp.org.br/wp-content/
uploads/2011/01/RevistaDilogoN.5.pdf
tigados, a elaboração de hipóteses, a escolha
reconhecimento social daquela categoria.
Envie suas considerações pelo e-mail comissoes08@
crppr.org.br e participe das reuniões da CPOT.
sa revela que 16,5% das(os) profissionais atuam nesta
área, perdendo apenas para a Clínica. Dentre as atriREFERÊNCIAS:
BASTOS,A.M.B; GODIM,S.M.G e colaboradores.
O Trabalho do Psicólogo no Brasil.POA:Artemed,2010.
TEXTO AFINADO
cios, 48% trabalham assalariados e 61% recebem até
5 salários mínimos. Quanto à escolarização, 40% dos
revisão e produção de textos
Errata
Na coluna POT da edição 99, divulgamos que a experiência da
a atuação da(o) Psicóloga(o) é expressiva em equipes de
profissional Luciana Sikora é de oito anos. O correto, entre-
RH. Estamos cada vez mais presentes neste contexto!
tanto, são sete anos.
Vera Lucia Barbosa
Revisora e psicóloga - CRP 08/1358
Independente da nomenclatura do cargo, o nosso alicerce
55 41 9101-0353
6
reflexão ética.
complexidade e os diversos impasses com que
velou que a POT foi tida como 2º maior área de atua-
Através destes dados recentes podemos perceber que
nico-científico de coleta de dados, estudos e
devolutiva, estão permeadas pela contínua
procura fomentar a autorreflexão exigida
E você, o que pensa a respeito?
entrevistados são especialistas.
Quando falamos em Avaliação Psicológica
(AP), entendendo-a como “o processo téc-
categoria profissional e pela sociedade,
o livro O Trabalho do Psicólogo no Brasil (2010), re-
ticulares (5,5%). Na questão de vínculos empregatí-
posterior elaboração de um documento e a
LUÇÃO CFP N.º 007/2003) – fica evidente esta
nizações de trabalho.
das (23,4%), empresa pública (8,1%) e escritórios par-
estudado e do atendimento realizado.
– métodos, técnicas e instrumentos (RESO-
e Pós-Graduação em Psicologia) e que culminou com
Quanto aos locais, predominaram as empresas priva-
como o raciocínio clínico necessário para a
às práticas referendadas pela respectiva
pluralidade do universo corporativo e das demais orga-
e salários (12,5%), consultoria (45,3%), entre outros.
são inerentes à complexidade do fenômeno
de seus objetivos, de estratégias psicológicas
vinculados à ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa
desenvolvimento de grupos e equipes (15,8%), cargos
contexto, o levantamento de dados, bem
estabelecer padrões esperados quanto
buscando solidificar a importância do nosso papel na
tico organizacional (49%), cargo de gestão (23,4%),
dos instrumentos e técnicas apropriados ao
nuamente o trabalho da(o) Psicóloga(o) e
que o profissional se utilizará para o alcance
nossa formação, não desqualificando nossas conquis-
2006 sob a coordenação do Grupo de Trabalho da POT
cos (61,2%), avaliação de desempenho (52%), diagnós-
Reflexões sobre a ética permeiam conti-
Um Código de Ética profissional, ao
tas e nem os outros conhecimentos científicos, apenas
buições, destacaram-se aplicação de testes psicológi-
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA
da relação do indivíduo com a sociedade” e de
mimos. Legitimar outras atividades como próprias da
Uma das pesquisas mais recentes na área, realizada em
ção das(os) Psicólogas(os) autônomas(os). A pesqui-
Os aspectos éticos envolvidos
na Avaliação Psicológica
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
[email protected]
{
Revisora especialista em textos
acadêmicos / científicos de Psicologia
Artigos
Livros e textos em geral
Dissertações
Revisão ortográfica e gramatical
Teses
Copidesque
TCC
Tradução de/para espanhol e inglês
Aplicação das normas
7
ABNT, Vancouver e APA (American Psychological Association).
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Partindo deste princípio, muitas vezes consi-
relatado por Fernando Pessotto (2011). Segundo o
derada na formação da(o) Psicóloga(o) como uma
autor, a maioria das denúncias que ocorreram por
disciplina isolada, a Ética Profissional nem sempre
procedimentos que infringiam a ética encaminha-
é compreendida como permeando continuamente a
das ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) nos úl-
prática da(o) Psicóloga(o) em todas as suas deci-
timos anos se referem ao exercício da AP, como uso
sões e condutas. Ao se formar, frequentemente a(o)
inadequado de técnicas, encaminhamentos incoe-
profissional leva esta mesma visão para o início do
rentes e falta de respaldo teórico em laudos (Anache
exercício da profissão, não compreendendo a sua
& Reppold, 2010). Isto reforça novamente a falta de
responsabilidade ao atuar. Especificamente em AP,
preparo por parte das(os) profissionais e a neces-
sua responsabilidade na realização de diagnósticos
sidade de uma formação permanente tendo em vista
psicológicos que podem influenciar significativa-
os avanços teóricos. Além da formação profissional,
mente a vida de pessoas envolvidas neste processo.
a(o) Psicóloga(o) deve levar em consideração o con-
Em levantamento realizado pela Comissão de
texto da solicitação para poder realizar a interpreta-
Orientação e Ética (COE) deste regional, entre os anos
ção assertiva das informações levantadas. Ressalta
de 2012 e 2014 chegaram ao todo 100 denúncias ao
ainda que existem outros pontos práticos a serem
Conselho. No período em questão, a maioria das de-
observados num processo de AP, como informar ao
núncias referia-se ao trabalho da(o) Psicóloga(o) na
sujeito que será avaliado sobre o processo a que será
Clínica (59% em 2012, 49% em 2013 e 56% em 2014).
submetido, suas etapas, implicações, diagnóstico e
Na categorização de seu estudo, a COE definiu
sigilo profissional. Além da observância em relação
dentro da categoria “Clínica” serviços de Psicotera-
ao informe destas questões, deve-se atentar para a
pia, AP e outros atendimentos em ambiente clínico.
maneira como serão informadas, cuidando para que
Na tabela abaixo, é possível perceber mais clara-
a linguagem seja clara e compatível com a compre-
mente a distribuição das denúncias por cada motivo.
ensão do sujeito avaliado (Pessotto, 2011).
Ou seja, de 2012 a 2014, das 100 denúncias, 54
Observa-se na prática que grande parte dos
relataram fatos que aconteceram na Clínica, dos
processos éticos poderiam ser evitados partindo-
quais 16 envolveram o serviço de AP.
-se da realização de um contrato inicial por parte
A frequência elevada de denúncias envolvendo
das(os) Psicólogas(os). O contrato, além de escla-
AP também é observada na esfera federal, como
recer sobre os procedimentos realizados, garante
ANO
2012
2013
2014
8
TOTAL DE
DENÚNCIAS
29
37
34
DENÚNCIAS REFERENTES
À CLÍNICA
17
18
19
MOTIVO DA DENÚNCIA
6 – Avaliação Psicológica
11 – Demais serviços na clínica
(incluindo Psicoterapia)
3 – Avaliação Psicológica
15 – Demais serviços na clínica
7 – Avaliação Psicológica
12 – Demais serviços na clínica
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
à(o) profissional que aquilo que foi acordado com
Saber identificar qual o teste psicológico mais
o paciente/cliente ou responsável estará claro,
adequado ao seu objetivo compreende não só
o que evitará distorções ou má-fé e trará maior
o entendimento e uso correto das instruções
segurança a todos os envolvidos.
de aplicação, correção e interpretação, mas
Refletindo sobre os procedimentos em AP, re-
também a identificação do referencial teórico
força-se que esta tem caráter processual e por isso
do instrumento, sua validade, fidedignidade e
não pode restringir sua metodologia de avaliação ao
precisão e a significância da amostra em relação
uso de testes, devendo valer-se de entrevistas, ob-
ao constructo que o teste pretende avaliar.
servação técnica, bem como instrumentos e técnicas
Em relação à elaboração de documentos
complementares para investigação dos fenômenos
escritos pelas(os) Psicólogas(os), observa-se
psicológicos a serem avaliados.
ainda desconhecimento em relação à Resolução
A escolha da metodologia e dos recursos
CFP 007/2003 por grande parte das(os) profis-
complementares necessários para o alcance dos
sionais. Muitas(os) Psicólogas(os), diante da
objetivos do processo de AP é de responsabilidade
necessidade de escrever um documento, podem
da(o) profissional, que deverá avaliar constante-
se confundir alegando equivocadamente que
mente o caráter científico e ético destes proce-
não realizam AP, possivelmente por não com-
dimentos, bem como respaldar-se tecnicamente
preenderem seu conceito apropriadamente e
para a sua utilização.
a limitarem ao uso de testes psicológicos. Por
Ao se utilizar de testes psicológicos, vale res-
considerarem não ser um documento decorrente
saltar também a importância de que a(o) profis-
de AP, optam por não se embasar nesta reso-
sional esteja continuamente atenta(o) ao SATEPSI
lução. Constata-se também um grande número
(Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos),
de profissionais que, por considerarem que a
acompanhando os testes que estão validados e
referida resolução não está apropriada ao seu
apoiando-se em materiais atualizados que a(o) au-
contexto de atuação, ignoram-na em seus pre-
xiliam na investigação do constructo em questão.
ceitos éticos e técnicos. Ressalta-se, contudo,
Um fator fundamental em relação ao uso
que esta é a regulamentação que temos no mo-
dos testes psicológicos é o conhecimento por
mento, devendo ser seguida. Diante de qualquer
parte da(o) Psicóloga(o) do manual do teste.
dúvida, é importante que a(o) profissional procure
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9
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
COF ORIENTA
a Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) deste
e/ou experiência que lhe forneçam competência e
Conselho para receber orientações que a(o) auxiliem
segurança para o trabalho e pautando sua atuação
a esclarecer seus questionamentos. Ressalta-se
em reflexões éticas contínuas permeadas pelo
que a orientação deve prioritariamente preceder à
CEPP, a(o) profissional dificilmente incorrerá em
prática, sendo importante que as(os) profissionais
faltas éticas. Toda(o) profissional está sujeita(o) a
busquem o Conselho em caso de dúvidas o quanto
receber críticas acerca de seu trabalho, denúncias
antes de forma a auxiliá-las(os) na reflexão acerca
de insatisfação e, em alguns casos, sofrer um pro-
de faltas éticas e assim estejam respaldadas(os) para
cesso ético, pois são muitos os fatores que podem
a tomada de suas decisões. As orientações não têm
levar à abertura de um procedimento disciplinar.
como objetivo tirar da(o) profissional a liberdade e/
Ressalta-se, contudo, que mesmo que isto ocor-
ou a responsabilidade em relação às suas escolhas,
ra, se a(o) Psicóloga(o) nortear seu trabalho nos
A Comissão de Orientação e Fiscalização (COF)
Art. 1º - O registro de empresas e a anotação dos
mas auxiliá-la(o) em suas reflexões.
princípios citados acima estará amparada(o) por
tem recebido constantemente dúvidas relaciona-
profissionais legalmente habilitados, delas encar-
sua conduta, por seu Código de Ética e, conse-
das ao trabalho da(o) Psicóloga(o) que atua em
regados, serão obrigatórios nas entidades compe-
quentemente, por este conselho.
O CRP-PR, reconhecendo a urgência da revi-
Psicologia e Administração:
atividades de interface
Milena L. Poletto
Orientadora Fiscal
(CRP-08/13828)
sua própria empresa prestando serviços como re-
tentes para a fiscalização do exercício das diversas
discussão, pautando-a recorrentemente em seus
crutamento, seleção, treinamento e consultoria. O
profissões, em razão da atividade básica ou em re-
últimos eventos e criando um grupo de traba-
relato abaixo é um exemplo utilizado para expor
lação àquela pela qual prestem serviços a terceiros.
as orientações realizadas pela COF embasadas na
(Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
legislação profissional vigente.
ccivil_03/leis/L6839.htm)
são desta resolução, tem tomado a frente nesta
lho (em funcionamento desde 2014), que gerou
vários encaminhamentos e discussões com outros regionais e com o CFP. A comissão de AP
deste regional também está participando das
discussões com a Comissão Consultiva de AP do
CFP, que conta com a participação de diversos
especialistas na área para a elaboração de uma
resolução que atenda de forma mais apropriada
as necessidades das(os) Psicólogas(os) em diferentes contextos de atuação.
REFERÊNCIAS
Conselho Federal de Psicologia (2005). Código de
Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, DF. CFP.
Conselho Federal de Psicologia (2003). Resolução
nº 007/2003, de 14 de junho de 2003. Brasília, DF.
Conselho Federal de Psicologia (2010). Avaliação
Psicológica: diretrizes na regulamentação da
profissão. 1ª Ed. Brasília, DF. CFP.
Pessotto, F. (2011). Ética e Avaliação Psicológica.
Avaliação em Foco – News, 9 de novembro de 2011.
Com estas reflexões, espera-se alertar a(o)
Meu nome é Ricardo, sou Psicólogo
e tenho uma empresa de consultoria e
Recursos Humanos. Durante vistoria de
fiscalização do Conselho Regional de
Administração, a empresa foi multada
por exercício ilegal da profissão de
administrador. E agora, o que eu faço?
Inicialmente, é preciso esclarecer que a em-
profissional Psicóloga(o) de que a realização de
presa do Psicólogo Ricardo deve estar registra-
uma AP é algo complexo e que requisita para sua
realização atualizações e capacitação contínuas,
para que não incorra em faltas éticas por imperícia ou incapacidade técnica.
Cumprindo-se este princípio, não assumindo
para si demandas para as quais não tenha formação
Desta forma, quando uma empresa oferta atividades de treinamento, por exemplo, e estas atividades são realizadas por Psicólogas(os), entende-se que a atuação está baseada em métodos e
técnicas da Psicologia, necessitando, então, da inscrição de pessoa jurídica no CRP, conforme prevê a
citada Lei nº 6839 e a Resolução CFP nº 003/2007,
que institui a consolidação das Resoluções do
Conselho Federal de Psicologia (CFP):
da em algum conselho profissional. Se apenas
Art. 24 - A pessoa jurídica que presta serviços de
Psicólogas(os) atuam na empresa, esta deve ter
Psicologia a terceiros ou em razão de sua atividade
seu registro junto ao CRP. No entanto, se a em-
principal está obrigada a registrar-se no Conselho
presa possui funcionários administradores, a em-
Regional de Psicologia, em cuja jurisdição exerça
presa também poderá ser registrada no Conselho
suas atividades.
Regional de Administração (CRA). O registro de
Parágrafo único - O registro é obrigatório, inclusi-
empresas nas entidades fiscalizadoras do exercí-
ve para as associações, fundações de direito priva-
cio de profissões não é facultativo, mas sim obri-
do, cooperativas e entidades de caráter filantrópico.
gatório, conforme previsão legal:
(Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-con-
Lei nº 6839, que dispõe sobre o registro de em-
tent/uploads/2007/02/resolucao2007_3.pdf)
presas nas entidades fiscalizadoras do exercício de
profissões.
10
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
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COF ORIENTA
COLUNA ÉTICA
Nas situações de autuação de Psicólogas(os)
a) diagnóstico psicológico;
pelo CRA, este alega o exercício ilegal da pro-
b) orientação e seleção profissional;
fissão, questionando o desenvolvimento de de-
c) orientação psicopedagógica;
terminadas atividades consideradas privativas
d) solução de problemas de ajustamento.
do administrador. No entanto, a legislação em
§ 2º - É da competência do Psicólogo a colabo-
vigor não considera tais atividades como priva-
ração em assuntos psicológicos ligados a outras
tivas. Sobre a justificativa do CRA acerca das ati-
ciências.
vidades de sua competência é necessário verificar a legislação em vigor:
Lei no 4.769, de 9 de setembro de 1965, que dis-
Denúncias:
relações entre o CRP-PR,
a categoria e a sociedade
Conselheira
(CRP-08/14417)
Decreto nº 53.464 de 21 de janeiro de 1964 (regulamenta a Lei nº 4.119, de agosto de 1962, que dispõe sobre a Profissão de Psicólogo).
põe sobre o exercício da profissão de Técnico de
Art. 4º - São funções do psicólogo:
Administração, e dá outras providências.
1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com
Art 2º - A atividade profissional de Técnico de
o objetivo de:
Administração será exercida, como profissão li-
a) diagnóstico psicológico;
beral ou não, mediante:
b) orientação e seleção profissional;
pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitra-
c) orientação psicopedagógica;
gens, laudos, assessoria em geral, chefia inter-
d) solução de problemas de ajustamento
O CRP-PR tem, dentre seus deveres, a responsabili-
previstos no Código de Processamento Disciplinar
dade de acolher queixas feitas pela sociedade a res-
(CPD, Resolução CFP nº 006/2007).
peito da atuação profissional da(o) Psicóloga(o) pa-
Não raro, o CRP-PR recebe queixas sobre o
ranaense. Tal incumbência encontra-se descrita em
exercício profissional da Psicologia motivadas por
alguns dos marcos legais de nossa profissão, como
forte emoção da pessoa atendida ou de alguma
na Lei nº 5.766/1971, que criou os Conselhos Federal
forma envolvida na situação, algumas delas extra-
e Regionais de Psicologia.
polando as questões técnicas e éticas que de fato
contra
possam ser imputadas à(o) profissional. Há tam-
Analisando a legislação verifica-se que as
Psicólogas(os), apurar fatos e julgar os casos que
bém situações em que a denúncia formalizada no
atividades de orientação e seleção profissional
efetivamente se tornam Processos Disciplinares
Conselho profissional ocorre concomitantemente
são de interface entre a Psicologia e a adminis-
Éticos (PDE) configuram as funções não apenas da
a outros procedimentos de natureza administrati-
tração. Portanto, as empresas que atuam com
Comissão de Orientação e Ética (COE), mas tam-
va, algumas vezes com objetivos diversos aos pre-
tais atividades estão legalmente obrigadas a re-
bém de todo o Plenário, constituído por conse-
tendidos pelo PDE, qual seja, apurar indícios de
gistrar-se no CRA, no caso de atividades desen-
lheiras(os) eleitas(os) pela categoria por um perí-
infração ao Código de Ética.
volvidas por administradores, e no CRP, no caso
odo de três anos. O papel da COE é o de acolher a
O gráfico a seguir mostra o número de denún-
de atividades desenvolvidas por Psicólogas(os).
denúncia, orientar as partes e propor ao Plenário,
cias formalizadas no CRP-PR no período de 2000
Por fim, a COF orienta que as empresas de
através de um Relatório Preliminar, um encami-
a 2014. Vale ressaltar que denúncia e processo dis-
Psicologia que atuam em atividades de inter-
nhamento àquela denúncia – arquivamento ou
ciplinar ético não são a mesma coisa, sendo que
face com a administração insiram no contrato
instauração de PDE. O Plenário delibera pelo aco-
para uma denúncia se tornar um PDE, há uma ex-
Lei nº 4.119, que dispõe sobre os cursos de for-
social da empresa que as atividades são rea-
lhimento ou não do Relatório da COE.
tensa fase preliminar de apuração dos fatos1.
mação em Psicologia e regulamenta a profissão
lizadas “com base em métodos e técnicas da
Ainda que qualquer pessoa possa entrar em
Nos últimos 14 anos, pudemos observar um au-
de Psicólogo
Psicologia”. Além da alteração do contrato so-
contato com o CRP-PR e realizar uma queixa a
mento significativo de denúncias formalizadas no
Art.13 - Ao portador do diploma de psicólogo é
cial, é importante que as empresas que ainda
respeito do exercício profissional de alguma(al-
CRP-PR, especialmente a partir de 2010. Alguns fa-
conferido o direito de ensinar Psicologia nos vá-
não possuem o registro de pessoa jurídica no
gum) Psicóloga(o), a simples comunicação não se
tores para tal aumento, em especial o salto ocorri-
rios cursos de que trata esta lei, observadas as exi-
CRP solicitem o registro na secretaria, cum-
converte necessariamente em denúncia. Quando é
do de 2008 para 2011, são prontamente percebidos:
gências legais específicas, e a exercer a profissão
prindo, desta forma, a legislação vigente.
feito o primeiro contato, seja pessoalmente, por
a inserção expressiva da Psicologia nas políticas
É possível verificar a documentação neces-
e-mail ou telefone, a COF é acionada para realizar
públicas de Saúde, Assistência Social e nos órgãos
§ 1º - Constitui função privativa do Psicólogo a
sária para solicitação de registro de pessoa jurí-
as primeiras orientações e diligências cabíveis. A
vinculados ao Sistema de Justiça e a consequente
utilização de métodos e técnicas psicológicas com
dica acessando o link: http://www.crppr.org.br/
COE será comunicada oficialmente pela(o) presi-
os seguintes objetivos:
pagina/pessoa-juridica
dente do CRP-PR quando da formalização de de-
mediária, direção superior;
pesquisas, estudos, análise, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos da administração, como administração e seleção de pessoal,
organização e métodos, orçamentos, administração de material, administração financeira,
relações públicas, administração mercadológica, administração de produção, relações industriais, bem como outros campos em que esses se
desdobrem ou aos quais sejam conexos;
de Psicólogo.
As
tarefas
de
acolher
denúncias
núncia, a qual deverá observar diversos critérios
12
Luciana de Almeida Moraes
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
1. Código de Processamento Disciplinar, Resolução CFP nº
006/2007, Arts. 19 a 23.
13
COLUNA ÉTICA
COLUNA ÉTICA
Número de denúncias
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
da – este sentimento pode ser correlacionado à atua-
lação com a sociedade, uma vez que é interessante
ção profissional ou não. Consideramos uma conquista
que um procedimento disciplinar de natureza éti-
da categoria, em âmbito nacional, a criação do Sistema
ca sirva para promover uma reflexão sobre o fazer
Conselhos de Psicologia e a possibilidade de que estas
profissional e o papel da Psicologia nos diferentes
denúncias sejam apuradas por pares e não por leigos.
contextos, e que seu resultado tenha finalidade pe-
Entretanto, ainda que por pares, há um orde-
dagógica e não punitiva.
namento jurídico previsto para os CRP’s que está
A leitura do contexto no qual se está inserida(o)
alinhado ao Judiciário brasileiro, uma vez que o
é condição fundamental para o exercício profissio-
Conselho é uma autarquia, isto é, uma entida-
nal em Psicologia. Comumente estamos inseridos
aproximação da Psicologia à sociedade, tornando-a
tos e penalizações alheias à função do CRP-PR e da
de autônoma, auxiliar e descentralizada, da admi-
em campos de atuação que são atravessados por ou-
mais acessível aos diversos setores; a disseminação
COE, como anulação de documento produzido por
nistração pública. Por isso, apesar de formado por
tros saberes e, mesmo quando estamos no consul-
de práticas interdisciplinares e a constante convo-
Psicóloga(o) ou suspensão imediata da prestação de
Psicólogas(os), o Plenário há que se pautar em ritos
tório particular, temos sido demandados a dialogar
cação da Psicologia para proferir posicionamentos e
serviços psicológicos. Tais solicitações não se cons-
processuais definidos em nível federal e sujeitos à
ou a expor nossa prática, verbalmente ou por escrito.
descrever seu repertório teórico-metodológico; e o
tituem funções nem objetivos do CRP-PR, os quais
contestação na Justiça comum.
Muitas vezes não se trata apenas de aceitar ou não a
fenômeno da judicialização das relações sociais, ob-
visam essencialmente a uma reflexão aprofundada
servado não somente no campo da Psicologia.
acerca da prática profissional em Psicologia.
A crescente demanda contemporânea pela prio-
demanda, mas de como respondê-la.
rização de práticas alternativas de solução de confli-
À sociedade, o direito de questionar o serviço que
Em 2015, a gestão É Tempo de Diálogo editou a
Com isso, podemos observar o dever do Sistema
tos abre caminho também para o Sistema Conselhos
lhe foi prestado e o dever de realizar uma comuni-
Resolução CRP-08 nº 001/2015, que regulamenta o
Conselhos tanto para com as(os) profissionais
ressignificar seus modos de exercer as funções de
cação pertinente e qualificada; à(o) Psicóloga(o), o
fluxo de entrada e avaliação de elementos contidos
como com a sociedade, sendo a conjunção des-
orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da pro-
direito à orientação e à ampla defesa e o dever de
nas denúncias recebidas pelo CRP-PR. Considerou-
tes deveres compreendida como o compromisso do
fissão de Psicóloga(o) e zelar pela fiel observân-
observar o contido no Código de Ética Profissional
se, essencialmente, a necessidade de estabelecer a
CRP-PR de zelar pela Psicologia. Ao acolher uma
cia dos princípios de ética e disciplina da classe. O
do Psicólogo e demais Resoluções; ao CRP-PR, o de-
aceitabilidade da denúncia para a apuração dos fatos,
denúncia, o Conselho está dizendo que há indícios
CRP-PR está atuando diretamente para a efetivação
ver de zelar pelo exercício da Psicologia no estado
de acordo com o CPD. Para formalizar uma denúncia
de infração ética, quer dizer, há dúvida quanto à
desta transformação, que não só repercute na re-
do Paraná e o compromisso de cumprir suas funções
no Conselho, é necessário estarem descritos não ape-
observância, pela(o) profissional, ao disposto no
lação entre o Conselho e a categoria, como na re-
pautado na ORIENTAÇÃO e no DIÁLOGO.
nas dados pessoais do denunciante e da(o) profissio-
Código de Ética Profissional do Psicólogo. Até que
nal mencionada(o), como também dados que qualifi-
se conclua pela ocorrência de infração, há todo um
quem os fatos e a relação estabelecida entre as partes,
processo orientado juridicamente, o qual é sigi-
no sentido de descrever a conduta da(o) Psicóloga(o)
loso. As penalidades podem ser sigilosas ou não e
– que deve estar em seu exercício profissional.
podem suspender o exercício profissional ou não.
Verificamos rotineiramente a comunicação de
Nem sempre está claro para a sociedade a abor-
condutas que não se configuram como exercício
dagem teórica, as regulamentações da profissão ou o
profissional, mas comunicam desavenças pessoais
papel da(o) Psicóloga(o) naquele contexto. Qualquer
ou compreensões equivocadas a respeito da práti-
pessoa que recorre ou é submetida a alguma inter-
ca profissional da(o) Psicóloga(o). Ainda, não ra-
venção profissional tem o direito constitucional de
ramente recebemos solicitações de encaminhamen-
questionar ou pleitear reparações, caso se sinta lesa-
14
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ENTREVISTA
A Psicologia vai à escola
A luta por melhores condições de trabalho
aos professores passa pela Psicologia
PARTICIPARAM DA ENTREVISTA
AS PSICÓLOGAS
Alayde Digiovanni
(CRP-08/01490)
Andressa Sperancetta
(CRP-08/08868)
Kelly Helena Klein
(CRP-08/17175)
Márcia Dallagrana
(CRP-08/13797)
Maiara Martini Calomeno
(CRP-08/19291)
Mariita Bertassoni da Silva,
a coordenadora da comissão
(CRP-08/00101)
Melody Lynn Falco Falco
(CRP-08/12336)
Mônica Prado Braz Staut
(CRP-08/09767)
Queila Trojack
(CRP-08/20764)
O mundo parou, perplexo, para assistir às fotos e vídeos das manifestações de professores e demais servidores públicos em Curitiba no dia 29 de abril de 2015. A
cidade virou palco de um dos mais sangrentos ataques da polícia contra manifestantes. Para quem estava na praça Nossa Senhora de Salete naquele dia e sofreu na
pele a violência, as marcas que ficam não são apenas as de bala de borracha ou das
bombas. A lembrança ficará também na mente, e nem sempre estas pessoas conseguirão se recuperar plenamente.
A Contato conversou com membros da Comissão de Psicologia Escolar/
Educacional para saber quais as consequências de episódios como este e como a
Psicologia pode auxiliar na prevenção dos males que atingem os educadores.
“
Contato: O conflito do dia 29 de abril teve re-
A Psicologia pode
percussão mundial devido às cenas de violên-
favorecer a prevenção do
cia. Que danos psicológicos os professores que
desgaste emocional do
professor trabalhando
as questões subjetivas
e participando da
elaboração de planos
ligados à estruturação
de nosso sistema de
ensino.”
participaram do protesto podem ter sofrido?
Comissão: Medo, insegurança, sensação de desamparo e perplexidade frente à reação violenta
não esperada e descomedida por parte dos policiais, sob o comando do governo.
Como o grande estresse causado por uma carga
horária excessiva, pagamento de salário atrasado e os conflitos em sala de aula pode refletir
na vida profissional e até pessoal do docente?
Estes eventos provocam desmotivação frente à
tarefa docente, sensação de menos valia, exaustão mental e emocional, estresse, problemas de
saúde, perda de identidade profissional e podem
levar à depressão.
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ENTREVISTA
Foto: Agência Paraná / Fotos Públicas (29/04/2015)
ENTREVISTA
Muitos danos psicológicos sofridos pelos professo-
Há algum tipo de atendimento específico para
res são causados pelo mau comportamento dos alu-
professores da rede pública/privada de ensino
nos. Como a sociedade deve agir para minimizar
dentro das escolas?
esse problema? Os alunos têm consciência do dano
No que se refere ao apoio no contexto escolar,
que podem causar?
algumas poucas escolas particulares contam
O comportamento dos alunos é reflexo dos valores
com um serviço de assessoria psicopedagógica,
adquiridos na família e na sociedade, portanto faz-se
composta na maioria das vezes pelo pedagogo
mister desencadear uma conscientização geral sobre
e pelo Psicólogo e tem como finalidade aten-
o papel da educação formal em nosso modo de vida e
der a equipe da escola em suas dificuldades, in-
de como a parceria entre família e escola é essencial
cluindo os professores. Porém, na rede pública
Como a(o) Psicóloga(o) pode contribuir neste
Em outros países, em que a educação está mais avançada,
para uma educação integradora.
de ensino não existe o cargo de Psicólogo. Vale
contexto?
há registros deste atendimento aos professores? Se sim,
ressaltar que o trabalho dentro da escola não
O arcabouço teórico e técnico da Psicologia,
quais os benefícios que eles tiram para o seu dia-a-dia
tem caráter de psicoterapia, ou seja, o Psicólogo
quando incorporado às práticas do ensino e
profissional e pessoal?
não vai atender o professor nesse sentido, atu-
aprendizagem, podem proporcionar muitos be-
Sim. Em países como os Estados Unidos e a Finlândia,
ação essa que deve ser realizada em espaço
nefícios à educação. A Psicologia está em con-
onde a educação é considerada como um dos pontos
apropriado e diferenciado do contexto escolar,
dições de contribuir ativamente para a gestão
principais para o desenvolvimento do país e onde há a
conforme orientação.
dos recursos humanos na escola. O Psicólogo
valorização do trabalho do docente por parte da socieda-
escolar/educacional é de fundamental impor-
de, existem serviços de apoio em todas as escolas públi-
Há projetos em andamento para implantar?
tância na intermediação entre os atores en-
cas e na maioria das escolas privadas. Estes serviços pro-
Sim. No que se refere à atuação do Psicólogo na
volvidos, de tal forma que os mesmos deem
porcionam a colaboração entre os diferentes profissionais
educação, atualmente o CRP-PR, por meio de
novos significados para as relações que ali se
e desenvolvem o trabalho em equipe, apoiando o trabalho
sua Comissão de Psicologia Escolar/Educacional,
estabelecem. O Psicólogo pode, junto com a
do docente e auxiliando-o nas problemáticas enfrentadas
vem trabalhando com o PROPSIE, Projeto de
equipe técnico-pedagógica, propiciar situações
no contexto escolar.
Inserção do Psicólogo nas Escolas. Entende-se
que favoreçam a resolução dos problemas en-
que inúmeras questões que hoje assolam a esco-
frentados pelos educadores dentro do próprio
la e o sistema de ensino são decorrentes da fal-
contexto escolar, sem estigmatizações. Ainda,
ta de intervenção especializada que priorize as
o Psicólogo escolar/educacional, ao inserir-se
relações humanas e os processos psicológicos.
na equipe técnica, poderá ser o dinamizador do
O arcabouço teórico e
A grande maioria dos desafios da educação, tais
processo de formação dos educadores, profe-
técnico da Psicologia,
como inclusão, aceitação das diferenças, proces-
rindo e organizando palestras, encontros te-
quando incorporado
sos cognitivos/subjetivos da aprendizagem, de-
máticos, cursos, entre outros, que atendam às
senvolvimento do pensamento reflexivo/crítico,
demandas mais emergentes dos profissionais
medicalização da educação, bullying e muitos
que atuam na escola. Deve-se esclarecer que,
outros envolvem aspectos psicológicos. Tais as-
nestas situações de capacitação, o Psicólogo
pectos, ao serem de interesse tanto do campo da
escolar/educacional poderá trabalhar tanto os
educação como também de estudo e intervenção
aspectos relativos à atuação dos profissionais
da Psicologia Escolar/Educacional, evidenciam
que trabalham na escola como aspectos refe-
a afinidade e pertinência do Psicólogo escolar/
rentes aos vínculos que estes profissionais es-
da Silva (Coordenadora), Melody Lynn Falco Falco, Mônica Prado
educacional estar presente nas escolas.
tabelecem com seu próprio trabalho, como os
Braz Staut e Queila Trojack.
Pela ótica da Psicologia, como evitar o desgaste
emocional na profissão?
Mobilizando a reflexão sobre todos os fatores envolvidos no processo ensino-aprendizagem e qual
é o papel do professor dentro desse processo, assim
como analisando a motivação e o grau de envolvimento profissional que leva o docente a permanecer
ou não dentro da área. O professor deve ser valorizado em seu papel ativo e transformador no processo educativo, de modo a atuar de forma comprometida com o desenvolvimento do aluno. Portanto,
a Psicologia pode favorecer a prevenção do desgaste emocional do professor trabalhando as questões
subjetivas e participando da elaboração de planos
ligados à estruturação de nosso sistema de ensino.
“
às práticas do ensino e
aprendizagem, podem
proporcionar muitos
benefícios à educação.”
Depois de tantas lutas, dentro e fora da sala de aula, como
trazer motivação novamente ao professor? Qual o papel da
Psicologia neste caso?
Propiciar espaços de discussão que possibilitem aos docentes a expressão de seus sentimentos, a conscientização e a
análise objetiva da problemática, permitindo que essas experiências sejam transformadas em conteúdos e ações que
podem ser objeto de crescimento profissional e pessoal.
COMISSÃO DE PSICOLOGIA ESCOLAR/EDUCACIONAL
SEDE CURITIBA - CRP-08
Alayde Digiovanni, Andressa Sperancetta, Kelly Helena Klein,
Márcia Dallagrana, Maiara Martini Calomeno, Mariita Bertassoni
relativos ao estresse e à satisfação profissional.
18
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
19
MATÉRIA O POLICIAL NO DIVÃ
MATÉRIA O POLICIAL NO DIVÃ
O policial no divã
(17.589/RS)
manifestantes que insistiram em desrespeitar or-
exemplo”, explica Penkal. “Nem todos apresen-
dem judicial e tentavam turbar o funcionamento do
tam estas características, sendo que, nestes casos, o
poder legislativo”, diz o coronel Cesar. “Os policiais
candidato é considerado inapto. Claro que ele pode
agiram ‘sob ordens’ e utilizaram os equipamentos
tentar outra vez e o resultado ser diferente”.
que o Estado disponibilizou a eles. Porém, do ponto
“Mens sana in corpore sano” é uma expressão que vem
pesquisa, que foi realizada com 10.632 pessoas sob a
Todos estes cuidados visam a uma melhor adap-
de vista ético e moral, eles sofrem muito, pois são
do latim e significa “uma mente sã em um corpo são”.
supervisão de Luiz Renato Carazzai, mostrou ainda que
tação à pesada rotina de um policial. Mas, ainda que
irmãos, maridos e filhos de professores e são tam-
A combinação de bem-estar físico e mental é funda-
12% dos entrevistados já haviam usado algum tipo de
os testes busquem um perfil adequado, os proble-
bém servidores públicos. Naquele dia, faltou capa-
mental para que todo ser humano possa enfrentar sua
droga além do álcool e 1% ingeria bebida alcoólica ain-
mas podem aparecer em qualquer momento da vida
citação para atuarem em conjunto e informações
rotina diária de trabalho e afazeres pessoais, desde as
da pela manhã.
profissional na corporação. Nestes casos, o policial
precisas de quem seriam os ‘infiltrados’. Faltou
mais calmas às mais agitadas. Mas, nem sempre esta
Os dados indicam as consequências que a profis-
pode procurar ajuda. Só em 2014, quase 2000 aten-
também a participação da polícia judiciária na de-
é a realidade dos trabalhadores das mais diversas áreas
são pode causar nos policiais. O coronel cita o poeta
dimentos foram realizados por Psicólogas(os) em
tenção dos ‘black blocs’ e faltou equipamento sonoro
de atuação. A cobrança por resultados, os baixos salá-
Augusto dos Anjos (1884 – 1914) para se questionar:
todo o Estado que trabalham em unidades de aten-
de dispersão. Mas, principalmente, o que faltou foi
rios e a carga excessiva de trabalho são alguns fatores
“quem vive entre as feras, não sentiria necessidade
dimento às corporações. Além dos atendimentos
disposição do governo para o diálogo. Usar a força
que levam a problemas psicológicos como esgotamento
de também ser fera, ao ponto de sucumbir, arrear,
clínicos, há outras atividades voltadas aos membros
do Estado para substituir o diálogo político sempre
(também conhecido como burn out), depressão e outros.
vergar, ceder e perecer?”.
da polícia. “Temos programas voltados à diminui-
resulta em confronto”, conclui.
Agora, imagine se o trabalho em questão envolve
E as feras, na metáfora do coronel, estão no dia-
ção do estresse, como pinturas e argila, por exem-
porte de armas, enfrentamento à violência, crimes bru-
-a-dia do policial. Respeitando escalas do tipo 12 por
plo, além de atendimento psiquiátrico, psicopeda-
tais e uma expectativa por parte da sociedade de nun-
48 horas, ele vê desde uma briga de vizinhos até cha-
gógico e até a preparação para a aposentadoria”,
ca cometer erros? É o caso dos policiais, considerados,
cinas, sequestros, abuso sexual, etc. Situações como
enumera o responsável pela Psicologia.
em todo o mundo, como símbolos de proteção. Mas,
estas podem gerar um quadro grave de estresse, que
E, quando o policial passa por uma situação li-
quando as questões enfrentadas no seu dia-a-dia são
levam a afastamentos da função e até mesmo apo-
mite, em que se vê ligado a conflitos e enfrenta-
difíceis demais para que o policial supere sozinho, a
sentadorias precoces.
mentos como os que ocorreram no último dia 29
Psicologia precisa entrar em cena para ajudar.
Os dados são corroborados pelo site norte-ameri-
de abril em Curitiba, o atendimento passa a ser di-
O chefe do setor de ação social da Polícia Militar do
cano especializado em empregos CareerTask, o qual
ferenciado. “Quando acontece uma situação as-
Paraná (PMPR), 1º Tenente da PM e também Psicólogo
lista a profissão de policial como a quinta mais es-
sim, todos os policiais envolvidos são chamados
Rafael Penkal (CRP-08/16149) explica que há uma re-
tressante do mundo, perdendo apenas para bombeiro,
para uma conversa com o Psicólogo. Dependendo
lação próxima entre a Psicologia e a polícia. “Temos
militar, general e piloto de avião.
da avaliação feita acerca dos danos psicológicos,
uma estrutura voltada à prevenção e ao tratamento
ele pode ser encaminhado para um tratamento ou
dos policiais e familiares”, conta. “Todo policial que
Quero ser policial: e agora?
necessita de um atendimento, em qualquer momento,
A participação da Psicologia, no entanto, começa bem
sencial para evitar que possíveis danos psicológicos
pode nos procurar”.
antes de o policial chegar às ruas. Quando um jovem
tenham efeitos na futura saúde mental dos traba-
sonha em fazer parte da polícia, muitas vezes é mo-
lhadores. “Quando o policial utiliza da violência em
tivado por um desejo de proteger a sociedade e ajudar
uma manifestação, ele está sob forte pressão e es-
Segundo o Coronel da PM Cesar Alberto Souza,
a combater o crime. No entanto, ao se defrontar com
tresse. Atendê-lo em até 72 horas depois do ocorri-
Conselheiro do Fundo de Atendimento à Saúde dos
os conflitos diários da profissão, pode não se adaptar
do é fundamental para preservar a sua saúde mental
Militares Estaduais (FASPM), um estudo realizado no
e isto afeta diretamente a sua qualidade de vida. Por
e também a motivação para o trabalho”.
ano de 2000 no Paraná revelou que 15% dos bombeiros
isso, todos os aspirantes passam por uma avaliação
e policiais na ativa, praças e oficiais já pensaram em co-
psicológica, que tem por objetivo identificar carac-
O que aconteceu no dia 29 de abril?
meter suicídio. Além disso, 27% tinham algum proble-
terísticas importantes para a execução do trabalho.
Em relação ao episódio que chocou o mundo em
ma de saúde, 7% se consideravam pessoas depressivas,
“Procuramos observar se o sujeito é resiliente, se tem
abril deste ano, o coronel Cesar avalia a situação
12% eram ansiosos, 14% tinham humor oscilante e 19%
equilíbrio emocional, inclusive para saber usar uma
com cuidado. “Analisar esse episódio é muito di-
declararam apresentar alterações desproporcionais. A
arma no momento certo, se não é muito agressivo
fícil. A violência foi, sim, exagerada, mas envolveu
Profissão estressante
20
Ellen Nemitz
e se tem um nível adequado de sociabilidade, por
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
não”, explica o tenente Rafael. Este cuidado é es-
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
Atividades realizadas
O serviço de Psicologia ofertado aos policiais é bastante
amplo e envolve atividades que vão desde atendimento
clínico até arteterapia. Veja alguns destes programas:
• Avaliação Psicológica para seleção de aspirantes, para
realização de cursos internos, como gerenciamento de
conflitos, para porte de arma, etc;
• Avaliação Psicológica para cirurgia bariátrica;
• Avaliação de inteligência para crianças e adolescentes;
• Psicoterapia;
• Atendimento psicológico para crianças e adolescentes;
• Atendimento psicopedagógico;
• Atendimento psiquiátrico;
• Atendimentos social (visita domiciliar, empréstimo e
doação de materiais, transporte, etc);
• Preparação para a reserva (aposentadoria)
• Programa Recomeçar Nível I (policial na ativa);
• Programa Recomeçar Nível II (aguarda em
casa/programa online);
• Programa antiestresse;
• Programa argila;
• Programa terapêutico para crianças e adolescentes
(acantonamento, cinema, dança, parques);
• Programa de prevenção ao suicídio;
• Avaliação de clima organizacional;
• Palestras sobre depressão, ansiedade, alcoolismo, etc.
• Encontro de policiais femininas.
21
E S P E C I A L 1 0 0 ª E D I Ç Ã O A COMU N I C AÇ ÃO D O C R P-P R FA Z H I STÓ R I A
E S P E C I A L 1 0 0 ª E D I Ç Ã O A COMU N I C AÇ ÃO D O C R P-P R FA Z H I STÓ R I A
A comunicação do CRP-PR
faz história
Ellen Nemitz
(17.589/RS)
A revista Contato, que leva informação e conheci-
Após cinco anos sendo o principal meio
cliente e a exposição do menor abandonado na mídia.
tipo de papel e número de páginas, o editorial da
mento às(os) Psicólogas(os) e à sociedade, chega
de comunicação entre o Conselho e as(os)
Na edição de setembro/outubro de 1987, a capa traz
edição janeiro/fevereiro de 1999 explicava as mu-
neste mês à edição número 100. A capa da revista
Psicólogas(os), o Boletim é descontinuado para
a cobertura do I Encontro Paranaense de Psicologia
danças dizendo que
aponta que estamos no ano 17, mas a história da
dar lugar ao PSIcologia, o primeiro tabloide do
(EPP) – em 2015 chegamos ao XV EPP – exaltando que
comunicação do CRP-PR é bem mais antiga.
CRP-PR. O objetivo do jornal continuava a ser
o encontro havia superado as expectativas.
na sua forma anterior, de tabloide: informar e
Em 1980, Psicólogas e Psicólogos recebiam
o de levar informações essenciais ao dia-a-dia
em suas casas o Boletim do CRP-08, publica-
profissional, mas também entrava em cena
Novo jornal traz mais mudanças
ção bastante curta que se destinava apenas a in-
uma nova forma de diálogo: as discussões so-
O PSIcologia foi mantido como principal forma de co-
formações de cunho prático, como o reajuste da
bre temas importantes da Psicologia na forma
municação entre o Conselho e a categoria até o ano
anuidade (80% naquele ano, tendo em vista que
de matérias e artigos. Pelas mãos da jornalis-
de 1994, quando, então, passou a se chamar jornal
a inflação havia ultrapassado os 100%), o rela-
ta Ivanilde Maria Muxfeldt Klais, temas como a
Ideias. A transição não aconteceu apenas no nome.
tório de atividades de Comissão de Orientação e
nascente Psicologia Hospitalar ganharam espa-
É possível ver a mudança na apresentação visual – a
Fiscalização (COF), divulgações de cursos e even-
ço no jornal. Psicólogas(os) conquistaram tam-
capa ganhou cores – e na qualidade do papel.
tos e também pedidos nominais de atualização de
bém um lugar para escrever sobre seus traba-
Um ano depois, em 1995, mais mudanças. O nome
endereço. Para os mais jovens pode soar estra-
lhos e pesquisas por meio dos artigos – nesta
Contato é utilizado pela primeira vez, e o jornal pas-
A revista Contato foi, então, criando raízes e
nho, pois hoje este tipo de informação, na maior
edição de 1985, Silvia Maria Grassano (CRP-
sa a ser todo colorido. Um encarte especial chama-
chegou ao ano 2000 em sua primeira edição de n°
parte das vezes, chega pela internet. Mas, naque-
08/0405) escreveu sobre a reorganização fami-
do “Teoria na Prática” traz discussões aprofundadas
100. Sim, já houve outra edição de nº 100, há quinze
le tempo, há 35 anos atrás, o boletim era a úni-
liar provocada pela chegada de um filho.
sobre temas de interesse de todas as áreas da profis-
anos. O motivo que levou a descontinuar a numera-
são – como a Psicanálise nos hospitais gerais, a ado-
ção foi a conquista do ISSN em 2007 (o International
ção, a sexualidade do lesado medular, entre outros.
Standard Serial Number é um número padrão, aceito
ca forma de dialogar com as(os) profissionais e
lembrá-las(os) de fatos e dados importantes.
O jornal PSIcologia debateu ainda outros temas, como a relação entre a(o) Psicóloga(o) e o
Revista Contato
A revista da forma como conhecemos hoje entrou em
circulação em novembro de 1998. Com novo formato,
22
“o objetivo continua sendo o mesmo do Contato
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
discutir assuntos de interesse da categoria. Não
pretendemos fazer uma revista científica, para
concorrer com as editadas pelas diversas universidades, faculdades, sociedades e outras entidades formadoras de psicólogos. Apenas procuramos
utilizar um formato e uma feição gráfica que facilitem a leitura, para que possamos, de fato, estabelecer esse diálogo com você.”
internacionalmente, que identifica uma publicação
seriada de forma única). Neste momento, a publicação passou a ser numerada de forma diferente,
conforme explicava o editorial:
23
E S P E C I A L 1 0 0 ª E D I Ç Ã O A COMU N I C AÇ ÃO D O C R P-P R FA Z H I STÓ R I A
E S P E C I A L 1 0 0 ª E D I Ç Ã O A COMU N I C AÇ ÃO D O C R P-P R FA Z H I STÓ R I A
O número da revista passou a ser 51 e o ano 9.
Assim, saem de cena a lista de novas(os)
sobre procedimentos e orientam a atuação pro-
Caso fosse continuada a contagem realizada
Psicólogas(os), a agenda de eventos e os relató-
fissional. Atualmente outras duas comissões con-
anteriormente, a edição seria de número 143
rios de plenárias. Com isso, abre-se um espaço
tam com páginas fixas na revista: a de Psicologia
e o ano 27. Porém, 27 é a idade do CRP-08 e a
para a ampliação das discussões de temas impor-
Organizacional e do Trabalho e a de Avaliação
contagem das edições estava sendo feita des-
tantes. Além das matérias e artigos, as Comissões
Psicológica. E as mudanças não param: a Psicologia
de o primeiro informativo do Conselho, da-
de Orientação e Fiscalização e Orientação e Ética
muda e a revista evolui junto, agregando sugestões
tado de julho de 1980, quando este não tinha
ganharam colunas fixas, nas quais esclarecem
e melhorando sempre a qualidade.
um nome específico. Em 1985, surge outro informativo, com o nome de PSIcologia. Depois
veio o jornal Idéias e somente em novembro/dezembro de 1995 é lançado pela Gestão
Ágora o jornal Contato, que ao longo dos anos
foi se modificando e na edição de novembro/dezembro de 1998 muda para a Revista
Contato, quando um novo plenário da Gestão
Ágora assume o CRP-08. A publicação também passou por várias alterações, com a posse da gestão ConexãoPsi, em 2001, até chegar
no formato que possui hoje. Agora, sofre mais
uma modificação com a correção do número
da edição e do ano que serão contados a partir de novembro/dezembro de 1998, quando
nasceu a Revista Contato.
Ao longo de tantos anos, muitos assuntos impor-
construção de um mundo melhor e com mais direitos.
tantes mereceram destaque na capa da revista de
Outro tema bastante recorrente, e que ainda hoje
Psicologia. Políticas Públicas, controle social, adoção,
ocupa as páginas da Contato, é o tratamento dispen-
Psicologia do Esporte, desastres naturais e o papel
sado aos portadores de transtornos mentais. Não à
da(o) Psicóloga(o), homofobia, entre outros.
toa, entre 2010 e 2011 o CRP-PR criou uma série de
Mas, nesta matéria que fala sobre o aniversário da
reportagens sobre a reforma psiquiátrica, culminan-
revista, escolhemos dois temas para destacar: Direitos
do com uma reportagem que discutia o aniversário
Humanos e Saúde Mental.
de dez anos da lei nº 10.216/01 e o que havia mudado
Já na primeira edição na nascente revista Contato,
desde então – o reconhecimento da eficácia do trata-
em 1998, o instigante título “Direitos Humanos não
mento nos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) foi
são presente de Papai Noel” – fazendo referência à
tido como um grande avanço pela Comissão de Saúde
época do ano e ilustrada por uma imagem do bom ve-
à época. Agora, em 2015, voltamos ao tema falan-
Desde este ano, a revista Contato é distribuída
lhinho – trazia à tona uma discussão importante, que
do sobre o atendimento a situações de crise na saú-
bimestralmente e de forma ininterrupta, sendo
ainda hoje merece espaço nas páginas da publicação.
de mental e sobre redução de danos – nas edições 98
que chegamos, outra vez, à edição 100.
Não foram poucas as inserções, na forma de artigos,
e 99 da revista. O que percebemos ao comparar duas
colunas e reportagens.
épocas distintas é que o tempo de internação de fato
A tecnologia que gera mudanças
Algumas mudanças feitas na revista ao longo
destes 17 anos foram decorrentes do avanço na
utilização da internet. Isto porque, quando o site
foi criado, as notícias “quentes”, como são chamadas no jornalismo, passaram a ser divulgadas
na página da internet. Acontecimentos do dia-a-dia em que o Conselho participa já não demandavam as páginas da publicação impressa; melhor era deixar este espaço para discussões mais
ricas e atemporais, já que a revista é bimestral.
24
A Psicologia como norteadora de discussões
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
Mas, lá nos idos do ano 1998, o tema ainda era in-
diminuiu – como prega a lei de 2001 – e os hospitais
cipiente, tanto que a pergunta feita aos leitores era:
psiquiátricos passaram a ser integrantes de uma Rede
“será que estamos fazendo a nossa parte na conquista
de Atenção Psicossocial (RAPS), e não mais o eixo
dos Direitos Humanos?”. Mais de quinze anos depois,
central do tratamento. No que tange ao uso de dro-
a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Conselho
gas, há uma tendência em alguns locais de trabalhar
escreveu um artigo (edição novembro/dezembro de
mais a qualidade de vida do usuário do que com o ob-
2014) sobre as atividades que desenvolvem – eles de-
jetivo único de atingir a abstinência. Mas, como a luta
batem, entre outros temas, a violência contra o imi-
continua, o principal veículo de divulgação de ideias
grante, contra a mulher, sistemas prisionais, saú-
da Psicologia paranaense permanece com a missão de
de mental e criminalização dos movimentos sociais.
publicar novos conhecimentos e discussões referentes
Então, felizmente, o que a história vem nos mos-
a este e demais temas importantes para a categoria e,
trando é que sim, estamos fazendo o que nos cabe na
também, para a sociedade.
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
25
MATÉRIA A REVISTA CONTATO VISTA PELAS JORNALISTAS DO CRP-PR
MATÉRIA A REVISTA CONTATO VISTA PELAS JORNALISTAS DO CRP-PR
A Revista Contato vista pelas
jornalistas do CRP-PR
bra de algumas dificuldades. “No processo, às vezes
instituição foi um grande prazer. “Logo que eu en-
a comunicação se perdia entre as partes, por causa
trei tive a oportunidade de aprender mais sobre o
do fluxo interno. Além disso, também encontráva-
CRP, como era o funcionamento e a qual era a his-
mos muita dificuldade em dar espaço para o interior,
tória do Conselho”, lembra ela.
que não estava muito bem integrado à comunicação”.
Por uma revista sempre melhor
Ellen Nemitz
(17.589/RS)
balhou no CRP-PR, o projeto gráfico foi todo renovado e houve também alterações no projeto editorial,
Para melhorar a qualidade da revista, eram feitas
com a saída de editorias defasadas – como a Contato
atualizações gráficas periódicas, a fim de deixar a re-
Plenária – e a entrada de entrevistas e outras maté-
vista mais convidativa para as(os) Psicólogas(os) e
rias importantes. “Essas alterações vieram por conta
Por trás das matérias que fizeram história nestes
lorizou este meio de dialogar com a categoria, e
também mais moderna. “Quando entrei fiz algumas
da mudança de gestão e também dos novos membros
últimos 17 anos estavam as mãos das jornalistas.
disto eu tenho muito orgulho”.
adaptações junto à diretoria para otimizar melhor os
que passaram a fazer parte da comissão de comuni-
E para estas profissionais que colaboraram com
A Licemar Vieira Melo, que trabalhou no
espaços e agilizar a produção da revista. Uma delas
cação. Na minha opinião a revista ganhou muito com
a comunicação do CRP-PR o que não faltam são
Conselho de 2009 a 2011, também aguardava an-
foi a simplificação da editoria ‘plenária’ que era bem
essas mudanças”.
boas memórias! Fomos conversar com elas para
siosa pelo resultado do trabalho realizado. “Ficava
extensa e passou por uma reformulação para ficar
saber mais sobre o que ficou dos anos dedicados
curiosa para saber a reação das pessoas ao receber
mais dinâmica”, lembra.
à comunicação da Psicologia.
a revista”. Para ela, todas as edições eram gra-
Vivian destaca a importância que a comunicação tem
que trabalhei no CRP-PR foi de extrema importância
Para sua vida pessoal e profissional, trabalhar no
Conselho foi bastante produtivo. “Sem dúvida o tempo
“Trabalhar com a revista Contato foi um gran-
tificantes, mas uma série de reportagens ficou
para a categoria. “É importante que todos reconheçam
para mim. Ganhei amigos, além de muita experiên-
de prazer, algo de que me recordo com muito ca-
marcada com carinho na memória. “Escrevemos
o valor da comunicação para o CRP-PR. Muitas ações só
cia profissional. Deixou muita saudade. Com tudo que
rinho”, diz Patrícia Gianini, que cuidou da publi-
vários textos sobre saúde mental, e foi legal ter
são possíveis graças ao trabalho da comunicação e acho
vivi e aprendi durante o tempo que trabalhei no CRP-
cação de 2000 a 2005. Ao receber a nossa ligação
tido uma interação maior com os profissionais,
que é essencial existir esse reconhecimento”.
PR, tenho certeza que ganhei know how e desenvolvi o
para falar sobre o tempo que esteve no CRP-PR, ela
saber de suas conquistas e também dificuldades
E, se a comunicação é essencial para o CRP-PR, o
trato com pessoas e estruturas organizacionais, além
foi enfática: “fiz questão de arrumar um tempinho
diárias”, lembra, referindo-se às edições sobre a
Conselho também marcou a vida profissional desta jor-
de ter tido a oportunidade de entender melhor como
para esta entrevista, pois fico muito feliz em recor-
Reforma Psiquiátrica divulgadas entre 2010 e 2011.
nalista. “Esta foi uma das melhores experiências que
funciona a atuação de um conselho regional”.
Quem também fez parte desta história foi a
tive na minha vida. Eu tive o prazer de aprender e trocar
dar estes bons tempos da minha carreira”.
A jornalista lembra com carinho de alguns mo-
Vivian Fiorio. Ela trabalhou no Conselho de 2010
conhecimentos por dois anos com pessoas de altíssimo
mentos marcantes de sua estada na revista. “Como
a 2012. Ela também diz que a produção da re-
valor, além de ter feito alguns amigos também. Foi um
Gostou de conhecer um pouco mais sobre quem fez
o nosso orçamento era limitado, não tínhamos
vista demandava muito trabalho, mas que o im-
grande prazer ter feito parte dessa equipe linda”.
parte desta história? Então acompanhe nas próximas
condições de contratar um fotógrafo para fazer as
pacto das matérias era combustível para conti-
Já para Priscila Cesar, que cuidou da produção da
imagens. Então, viabilizamos uma parceria muito
nuar. “Procurávamos colocar em cada edição um
Contato de 2012 a 2014, escrever sobre a história da
legal com o cartunista Paixão, e ele fazia algumas
tema de alta relevância envolvendo o trabalho dos
ilustrações para a gente”, conta. “Eu me lembro de
Psicólogos e tudo era muito recompensador”, diz
esperar com ansiedade os envios, pois o trabalho
Vivian. “Lembro particularmente da matéria que
do Paixão era realmente muito bom”.
fiz sobre a internação compulsória, que me marcou
A Patricia contou que, às vezes, fechar uma
muito pela importância do tema. Outra reportagem
edição era uma verdadeira odisseia. “Nem sempre
que me marcou foi sobre adoção, em que falamos
havia conteúdo para publicar, então precisávamos
sobre os processos de destituição do poder familiar
‘correr atrás’ de artigos para não furar a edição”.
das crianças abrigadas, suas condições nos abrigos,
Mas, apesar de todas as dificuldades, ela elogia o
etc. Esse texto mexeu diretamente comigo, pois à
Conselho. “Nunca alguém da diretoria sequer pen-
época eu estava me habilitando para adotar minha
sou em descontinuar a revista, ou mesmo diminuir
primeira filha”, relembra.
o número de edições anuais. O CRP-PR sempre va-
26
Neste período de dois anos em que Priscila tra-
páginas o que têm a dizer as pessoas mais importantes
da revista...os leitores!
Como em qualquer atividade, a jornalista lem-
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MATÉRIA A REVISTA CONTATO PELA ÓTICA DE QUEM LÊ
A Revista Contato
pela ótica de quem lê
MATÉRIA A REVISTA CONTATO PELA ÓTICA DE QUEM LÊ
A revista Contato é uma excelente
fonte de estudos e notícias sobre
Ellen Nemitz
o comportamento humano e o que
(17.589/RS)
Eu acho que a revista melhorou muito, antes
não havia a diversidade que se tem hoje.
A revista Contato é feita pensando em
vocês, Psicólogas(os). Por isso, nada mais
justo que ouvir a sua opinião sobre ela!
Gostei muito de uma matéria que fizeram
sobre Avaliação Psicológica! Para melhorar
ainda mais, acho que deveria ter mais
matérias voltadas à área escolar e também
Gosto da revista e a considero muito útil.
na linha comportamental e psicanalítica.
Inclusive, a revista mudou e melhorou muito
Helena Akemi Yamada • (CRP-08/03353)
recentemente, está mais agradável de ler. Minha
Pérola
atenção é focada em matérias de Psicologia do
A revista Contato nos mantém atualizados.
Mesmo correndo atrás de informações, não é
fácil ficar a par de tudo o que ocorre no meio
da Psicologia, e a revista é útil neste sentido.
Além disso, contém alguns artigos com temas
acontece na sociedade. Sempre
com embasamento científico, pelos
profissionais que colaboram, com
artigos, entrevistas, matérias e afins.
Psicólogos, estudantes de Psicologia
e todas as pessoas interessadas nessa
área podem manter-se atualizadas
com leitura dinâmica e atual sobre
diversos assuntos. Parabéns à revista
Contato pela sua centésima edição.
Trânsito, mas, no geral, gosto de todas. Acho
Parabéns a equipe organizadora pelo
que seria legal a revista falar sobre o dia-a-
esforço e dedicação ao trabalho. Que
dia no local de trabalho das(os) Psicólogas(os)
venham muito mais anos de notícias
e mostrar mais detalhes da rotina das(os)
profissionais.
Hugo Nascimento Rezende • (CRP-08/08806)
São José dos Pinhais
Gosto da revista e a considero muito interessante.
Sempre deixo na recepção do consultório para
que as pessoas possam ler e conhecer mais sobre
o papel do Conselho. A revista levanta discussões
recentes e importantes na prática psicológica.
sobre Políticas Públicas e acho importante sempre
Francisco Purcotes Júnior • CRP-08/17155 • Curitiba
ressaltar a nova visão e o novo olhar dessa área.
com qualidade. Gratidão por fazer parte
da história da Psicologia do Paraná e
contribuir com nossa vida profissional.
Márcia Dallagrana • CRP-08/13797
Curitiba
Por agregar tanto, a revista poderia ser entregue
também em universidades para estudantes de
Leio a revista impressa com frequência
e gosto principalmente das matérias
de orientação da COF [Comissão de
Meu interesse na revista é relacionado
a matérias que falem sobre transtornos
mentais/autismo, porque é a minha área
de atuação. Acho que seria interessante se
fosse acrescentado na revista mais matérias
na área da Neurociência, Psicologia
Comportamental e Interdisciplinaridade.
Muitos profissionais vêm até mim
Orientação e Fiscalização]. As colunas
Isabel Cristina de Abreu Fochesato • CRP-08/12376
Curitiba
Acho que a revista poderia
descentralizar as informações
e dar mais atenção às outras
da COF poderiam ganhar um espaço
cidades, além da capital.
maior dentro da revista, porque trazem
João Paulo Martins • (CRP-08/18896)
assuntos importantes, principalmente
para as(os) Psicólogas(os) que atuam
na área de Psicologia Judiciária.
Rafaela Mayer de Moraes • CRP-08/14068
Curitiba
com dúvidas sobre problemas de seus
pacientes em que eles mesmos não
sabem identificar. Acredito que a revista
poderia ganhar um espaço que pudesse
esclarecer sobre áreas e problemas
Gosto bastante da revista. Ela é bem
mentais que não são tão comentados.
informativa e nos leva a conhecer outras
Amanda Bueno • CRP-08/17002 • Curitiba
Psicologia.
áreas da Psicologia.
Ana Carolina Abdala Goya • CRP-08/12740
Maringá
Maringá
A R T I G O RESSURGE A PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA
A R T I G O RESSURGE A PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA
Ressurge a Psicologia
Anomalística
A
Psicologia
Experiências
Anomalística
Anômalas
(PA)
(EAs),
estuda
descritas
Fabio Eduardo da Silva (CRP-08/13866)
é Psicólogo e atua no Inter Psi – Laboratório de
Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais da
Universidade de São Paulo e Instituto NeuroPsi, além
de ser colaborador da Comissão Científica do CRP-PR.
as
pela
e da superstição
Associação Americana de Psicologia (APA) e classi-
• A Psicologia das coincidências; alucinações
ficadas em duas categorias: incomuns e irregulares,
• Distúrbios relacionados ao sono, incluindo a pa-
como a sinestesia (modalidades sensoriais cruza-
ralisia do sono
das), e as relatadas por muitas pessoas, como as re-
• Experiências religiosas e crenças religiosas
lacionadas à psi (como a telepatia e a precognição).
• A avaliação crítica de determinadas alegações
Mas “anômalo” não é, necessariamente, disfunção ou patologia. EAs podem ocorrer sem psicopatologia e até indicarem saúde psicológica acima
da média. E estas experiências anômalas são muito
comuns. Cerca de 50% das populações no mundo já
relataram algum tipo de EA; no Brasil, este número
sobe para mais de 80%. Destacam-se experiências
fora-do-corpo, de quase morte, alucinatórias, sinestésicas, de sonhos lúcidos, relacionadas à psi (de
percepção extrassensorial e extramotoras), de abdução por alienígenas, de curas anômalas, místicas
ou espirituais. No entanto, são evasivas e desafiam
a compreensão da realidade humana, representando
lacunas no conhecimento científico.
Assim, o campo da Psicologia Anomalística estuda estas e outras EAs, sem considerar, a priori,
fenômenos anômalos causais relacionados a elas.
Estuda também:
• Vieses cognitivos relacionados às EAs
• Características de personalidade associados às
crenças nestas experiências
• Desenvolvimento, manutenção e função destas
crenças
• Estados alterados de consciência; estados
dissociativos
• Falsas memórias; a Psicologia da decepção e
autoengano
30
• Efeitos placebo; a Psicologia de leituras psíquicas
paranormais
Reconhecimento pela comunidade
científica psicológica
cruciais como objetos de estudo porque represen-
estudos experimentais. Para tanto, usa-se o mé-
tam a interpretação das pessoas, indicando que as
todo estatístico da metanálise, comum nas ciên-
EAs afetam sobremaneira as suas vidas. Em com-
cias sociais, do comportamento e médicas, am-
plemento a essa perspectiva fenomenológica, a PA
plamente aceito para avaliar a replicabilidade de
também se interessa em verificar se existem fenô-
experimentos. As metanálises em PA têm suge-
menos anômalos nas experiências percebidas como
rido que os fenômenos anômalos relacionados à
anômalas (abordagem ontológica). Seriam falhas
psi existem, gerando forte controvérsia científica.
perceptivas ou de memória, ou ainda atribuições de
Tais discussões têm também sido travadas em al-
causalidade equivocadas, ingênuas, baseadas nos
guns dos mais importantes periódicos profissio-
repertórios culturais das pessoas que as relatam?
nais da Psicologia, como o Psychological Bulletin e
A questão da existência ou não dos fenômenos
anômalos é considerada através da replicação de
o Journal of Personality and Social Psychology, ambos
publicados pela APA.
País
Universidade
Grupo de Pesquisa
EUA
Universidade de Virginia
Divisão de Estudos de Percepção
Suécia
West Georgia College
Departamentos de Psicologia
Universidade do Novo México
Departamentos de Psicologia
Cátedra de Estudos da Consciência
Alemanha
Universidade de Saybrook
A PA é apresentada em vários livros-texto de
Austrália
Universidade de Göteborg
Psicologia, como o Introduction to Psychology4, um
Itália
Universidade de Lund
Reino Unido
Unido, Psychology the Student’s Textbook, traz um
Instituto das Áreas Fronteiriças da Psicologia e da
Saúde Mental (IGPP, em Alemão) – Fundado pelo
Psicólogo e Médico Hans Bender (1907-1991)
capítulo de 38 páginas sobre a PA – a Assessment
Universidade de Friburgo (mantém relações com o IGPP)
Cátedra de Áreas Limítrofes da Psicologia
and Qualifications Alliance a adicionou ao currículo
Universidade Adelaide
Unidade de Pesquisa em PA
da Psicologia Nível-A (principal curso de qualifica-
Universidade de Padova
Unidade de Pesquisa em PA
ção pré-universitária do Reino Unido), permitindo
Universidade de York
Unidade de Pesquisa em PA
que cerca de 6.000 alunos por ano recebam forma-
Universidade de Londres
Centro de Estudos de Processos
Psicológicos Anômalos
Universidade de Northampton
Centro de Estudos de Processos
Psicológicos Anômalos
Universidade de Coventry
Núcleo de pesquisa em PA
traduzido para o português por Fátima Machado,
Universidade de Hertfordshire
Núcleo de pesquisa em PA
com revisão técnica de Wellington Zangari.
Universidade de Liverpool Hope
Núcleo de pesquisa em PA
Universidade de Liverpool John Moores
Núcleo de pesquisa em PA
to da PA é que ela considera os relatos subjetivos
Universidade de Nene
Núcleo de pesquisa em PA
de EAs como seus objetos de estudo. Machado fez
Universidade de Middlesex
Núcleo de pesquisa em PA
um levantamento com 306 participantes, dos quais
Universidade de Manchester
Núcleo de pesquisa em PA
82,7% indicaram ter vivido ao menos uma expe-
Universidade de Cambridge
Núcleo de pesquisa em PA
dos mais utilizados nas universidades norte-americanas e traduzido inclusive para o português. O
livro para estudantes pré-universitários do Reino
ção na área antes de entrar na universidade.
Outro marco do reconhecimento da PA é o livro Varieties of anomalous experience: examining the
scientific evidence publicado pela APA em 2000 e
Um importante aspecto do reconhecimen-
Centro para Pesquisa da Consciência
e Psicologia Anômala (coordenado por
Etzel Cardeña)
riência anômala relacionada à psi. Os relatos são
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31
A R T I G O RESSURGE A PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA
A R T I G O RESSURGE A PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA
No Brasil, há publicações em revistas profis-
tos relacionados às EAs em nível de pós-graduação,
Experiências Anômalas afetam processos
correlacionam dados com os polos Intuição-
sionais, como a Revista de Psiquiatria Clínica e o
além de implantar disciplinas ligadas PA. Em 2009,
clínicos ou psicoterapêuticos
Sentimento-Percepção no MBTI, instrumento ins-
Boletim da Academia Paulista de Psicologia, en-
Zangari cria o Inter Psi – Laboratório de Psicologia
Psicoterapeutas e psicanalistas publicaram estudos/
pirado na teoria Junguana de Tipos, sendo que o
tre outras, e também dissertações e teses – alguns
Anomalística e Processos Psicossociais na USP. Os
revisões com coleções de casos ou formulações teó-
próprio Jung viveu várias EAs, estudou-as e propôs
exemplos incluem Machado e Zangari.
trabalhos acadêmicos desenvolvidos pelos membros
ricas sobre interações anômalas no contexto e pro-
uma abordagem teórica integrativa para as mes-
do Inter Psi, atualmente em 15 pesquisadores, so-
cesso psicoterapêutico, estudos estes que parecem
mas, a Sincronicidade.
mavam 26 até o final de 2014, evidenciando surpre-
favorecer as EAs. Pesquisadores também avaliaram
endente desenvolvimento.
possíveis relações entre as EAs e aspectos psicopa-
Trabalhos científicos na área
da Psicologia Anomalística
É possível refletir sobre o reconhecimento da PA observando os centros de pesquisa em universidades,
viabilizando projetos de mestrado e doutorado.
Conforme observa-se na tabela, os estudos em
PA estão presentes em diversas universidades ao
redor do mundo. A forte concentração destes estudos no Reino Unido pode ser associada ao trabalho de Robert Morris (1942-2004), que em 19 anos
orientou 27 doutorados em PA no Departamento
de Psicologia da Universidade de Edinburgh, sendo
que 18 desses pesquisadores migraram para outras
universidades, nas quais ensinam e pesquisam PA.
A Psicologia Anomalística no Brasil
No Brasil, destaca-se a USP, que desde 1972 tem
oportunizado pesquisas de mestrado e doutorado nesta área. Recentemente, sob a orientação de
Geraldo Paiva e Esdras Vasconcellos, novas dissertações e teses foram conduzidas. Entre elas a tese
de Fátima Machado, que obteve a Menção Honrosa
no Prêmio da Academia Paulista de Psicologia, uma
das mais prestigiosas instituições psicológicas do
país, podendo indicar a “normalização” ou reconhecimento da PA no Brasil.
Em 2008, o Psicólogo Wellington Zangari, pesquisador com mestrado, doutorado e pós-doutorado
Outras instituições universitárias que também
tológicos, sugerindo que:
a) alguns tipos de EAs têm semelhanças com sin-
têm favorecido estudos das EAs incluem:
a) UNICAMP, com a tese de Konrad Lindmeier;
tomas psicóticos, podendo haver diagnósticos equi-
b)
vocados e intervenções inadequados/nocivos em
UFJF
com
Espiritualidade,
o
parte
Núcleo
do
de
Pesquisa
Programa
de
em
Pós-
Graduação em Saúde, coordenado por Alexander
ambos os casos;
b) parecem existir situações em que tanto os
sintomas psicóticos como EAs estão presentes;
Moreira de Almeida;
c) Curso de Psicologia da ULBRA, Torres, com o
c) algumas EAs podem desencadear sintomas
psicóticos;
Curso de Extensão em PA, e
d) UNESC, Criciúma, também com Curso de
Extensão em PA e ainda com a criação junto ao
CNPq de um grupo de pesquisa em PA.
Instituições não universitárias também têm
d) EAs podem também aparecer como consequência de problemas psicológicos e psiquiátricos;
e) parecem existir variáveis que induzem tanto a
EAs como transtornos mentais.
colaborado com o desenvolvimento dessa área.
Estudos desta área têm sido considerados
As Faculdades Integradas Espíritas (FIES), em
para a elaboração do DSM (Manual Diagnóstico
Curitiba, mantém cursos livres e de pós-graduação,
e Estatístico de Transtornos Mentais, na sigla
e entre 2002 e 2014 subsidiou o Centro Integrado de
em inglês). Etzel Cardeña, diretor do Centro de
Pesquisa Experimental, que fez e publicou estudos
Investigação da Consciência e PA na Universidade
em PA, além de promover sete edições do Encontro
de Lund, atuou como consultor do DSM-IV e do
Psi, evento científico internacional. As FIES oferece
DSM-V e vários artigos, inclusive no Brasil, enfa-
ainda um centro de orientação às pessoas que rela-
tizam a importância de um diagnóstico diferencial
tam EAs. Em Recife, há o Instituto Pernambucano
entre EAs e transtornos mentais.
de Pesquisas Psicobiofísicas, com cursos básicos e
de pós-graduação, pesquisas, orientação às pessoas com a EAs, congressos e simpósios.
EAs correlacionam-se com variáveis
psicológicas ou de personalidade
Crença em EAs, extroversão, estados modificados
de consciência, suscetibilidade hipnótica, propen-
EAs afetam a tomada de decisão e fazem as pessoas
mudarem atitudes, crenças e valores
Para certas pessoas, esta mudança ocorre de forma fundamental. Ainda, muitas pessoas que as
vivem as consideram conflitivas e traumáticas,
indutivas de estresse.
EAs estão usualmente relacionadas a
situações emocionalmente fortes
Ao acessarmos a informação reagimos ao seu conteúdo e a sua forma (anômala) e a processamos
cognitivamente. As reações podem incluir a negação, sensação de coincidência, naturalidade, a percepção do fato como um dom ou castigo divino e,
em casos extremos, a eclosão de um processo desruptivo, que pode incluir “medo, pavor, quebra ou
desestrutura da personalidade”.
Para auxiliar esses casos, abordagens psicoterapêuticas têm sido desenvolvidas, sugerindo
que a Psicologia Clínica deve incluir tais demandas. Um exemplo é encontrado no Instituto das
Áreas Fronteiriças da Psicologia e da Saúde Mental,
Alemanha.
Psicólogas(os) Sociais precisam conhecer as EAs
Isto porque crenças e práticas de grupos modulam o
comportamento e a interpretação dessas experiências, e elas podem também ser importantes na criação e manutenção de certos cultos e crenças.
em PA, ingressou como Professor no Departamento
Relevância deste tema para a categoria
de Psicologia Social e do Trabalho, do Instituto de
Podemos identificar a importância das experiências
para experiências, ansiedade, neuroticismo, auto-
PA fez três contribuições à pesquisa experimental:
Psicologia da USP, marcando a história da PA, visto
anômalas entre as(os) Psicólogas(os) em diversos
confiança, criatividade e espontaneidade são al-
As principais contribuições que esta área de pesqui-
que passa a desenvolver pesquisas e orientar proje-
aspectos.
gumas destas variáveis. Estudos experimentais
sa fez ao longo da história foram:
32
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
são para fantasia, absorção, dissociação, abertura
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
33
A R T I G O RESSURGE A PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA
a) Os métodos “cegos” (duplo ou triplo) foram
criados e aprimorados por pesquisadores de EAs no
século XVIII;
b) o uso da aleatorização é fruto da superação de
problemas metodológicos dessa área;
c) lidando com a replicabilidade experimental,
a PA contribuiu com os estudos de Metanálise, desenvolvidos por Rosental.
Ao considerar variáveis neuropsicológicas como
características ou medidas de EAs, a PA contribui para
a compreensão do funcionamento do cérebro em geral
e também em tópicos específicos de estudo, como por
exemplo, a tomada de decisão.
Nos seus primórdios, a Psicologia estudava EAs
e tais estudos foram decisivos para o desenvolvimento de conceitos de mentes subconscientes e de
dissociação. Em seu nascimento a PA chamava-se
Pesquisa Psíquica e estava ligada com a Psicologia.
Após longo período de dissociação, a PA ressurge,
resgatando este entrelaçamento histórico.
18MAIO:
de
Reflexões iniciais
As anomalias em foco na PA (que abrangem outras áreas do conhecimento) podem ser percebidas como incômodas, pois evidenciam vácuos
na nossa compreensão sobre o ser humano, seu
ambiente e as múltiplas interações entre eles. A
própria PA pode ser sentida como incômoda, por
sua “nomenclatura anômala”, por estudar experiências que despertam preconceito no meio
A cada ano, no dia 18 de Maio, o movimento social da
compreendendo seus pacientes e eles mesmos como
saúde mental renova seus compromissos com a defesa
trabalhadores com direitos à saúde, justiça e melhores
de um sistema de amparo, acolhida e promoção de
saúde para as pessoas com sofrimento mental.
condições de vida.
acadêmico, ou por estudá-las por meio de méqualitativo e o quantitativo, o fenomenológico e
o ontológico, o social e o (neuro)biológico.
rede de atenção psicossocial e dos avanços garantidos
sistema de saúde calcado em práticas antimanicomia-
pela Reforma Psiquiátrica.
is são muito parecidos com os daquele momento.
Ainda lutamos por uma jornada de trabalho de 30h,
Neste ano, o Sindicato dos Psicólogos do Paraná
condizente com a intensa e difícil prática de nossas
comemora o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
de uma outra forma: ressaltando o papel central das
trabalhadoras e trabalhadores na consolidação de
práticas humanizadas e que tragam dignidade aos
profissões. Ainda reivindicamos melhores salários,
investimentos estatais em nossos equipamentos e na
formação de nossas equipes. Resistimos à privatização
e à terceirização de nossos trabalhos e às pressões de
serviços prestados.
nossos empregadores para que tenhamos uma prática
Os psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermei-
operacional, meramente reprodutora de técnicas e
diagnósticos. Resistimos à mercantilização da doença
O movimento é essencial em nós, é condi-
ros, farmacêuticos, educadores físicos, ar te -
e à sucessivas tentativas de restrições à organização
ção de nosso crescimento e realização. A PA nos
educadores e tantos outros profissionais realmente
livre e independente dos trabalhadores.
convida a inovar, expandir, e perceber que o que
comprometidos com a promoção de saúde mental
sempre estiveram ao lado da população brasileira na
luta pela ampliação e garantia de serviços de qualida-
Neste 18 de Maio de 2015, fazemos um convite aos
psicólogos paranaenses: deixemos que as lutas de
Mas, como pensava William James, nenhuma Psicologia é abrangente se não incluir a variedade das experiências diferentes daquelas
ditas normais. A PA nos mobiliza para novos
estudos e métodos, para questionar conhecimentos prévios (nossas bases). Enfim, injeta
movimentos transformadores na Psicologia e
gra e modifica.
O GIEPA integrou 18 participantes de diferentes
áreas do conhecimento para encontros mensais,
hoje recebe o nome de anômalo, amanhã, talvez,
seja parte de nossas crenças e práticas.
Mas, estamos apenas iniciando... ou talvez,
ressurgindo.
em que busca explorar a literatura sobre a área,
com a leitura e síntese do livro Variedades da
Experiência Anômala. Também promoveu, em
28 de novembro de 2014, uma palestra aberta
com os professores da USP, Wellington Zangari e
Fátima Machado. Em 2015, além do estudo teó-
Referências
de. Não é a troco de nada que o próprio nascimento do
Movimento da Luta Antimanicomial se deu à partir da
Acesse
rico, buscará realizar mais pesquisas. Você pode
http://portal.crppr.org.br/editor/ArtigoPsicologiaAnomalistica.pdf
participar. Envie um e-mail para comissoes08@
para as referências deste artigo.
trabalhadores de todo o Brasil, em especial a dos
servidores públicos estaduais do Paraná, nos empolguem. Elevemos a potência da nossa prática profissio-
reunidos em Bauru-SP no II Congresso Nacional dos
nal! Um dos caminhos para a consolidação da luta
Trabalhadores de Saúde Mental, em 1987.
antimanicomial no Brasil é, sem sombra de dúvidas, a
Naquele cenário, os trabalhadores em saúde mental
consolidação dos nossos direitos como trabalhadores
da saúde mental.
o papel de agentes da exclusão e da violência institucional demarcando um compromisso claro com a defesa
da dignidade e dos direitos humanos. Assumiram uma
prática profissional politizada, reagindo aos mecanismos produtores de sofrimento mental e que também
se desdobravam em discriminação contra outros
segmentos da sociedade: às mulheres, aos negros e
negras, aos índios, às pessoas LGBT, aos encarcerados,
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 0
desafios colocados tanto para a consolidação de um
luta organizada de trabalhadores da saúde mental,
inauguraram um novo momento político na luta
contra a discriminação de seus pacientes. Recusaram
crppr.org.br e saiba mais!
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Hoje, em 2015, quase 30 anos depois do II Congresso
Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental, os
Há mais de 20 anos trabalhadores, usuários e familiares depositam energias na luta pela consolidação da
todos que integram o “ceticismo e a crença”, o
também em outras áreas, com as quais se inte-
Grupo Interdisciplinar de Estudos
em Psicologia Anomalística
(GIEPA) no CRP-PR
A luta antimanicomial
passa pela valorização
dos trabalhadores
aos pobres. Dedicaram-se à luta pela cidadania
Organize sua luta com o
Sindicato dos Psicólogos do Paraná!
Vamos juntos rumo à conquista de
nossos direitos!
R. Dr Muricy, 390 cj. 201, Curitiba/PR
(41) 3224-4658 | www.sindypsipr.com.br