natural medicine - Instituto Português de Naturologia

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natural medicine - Instituto Português de Naturologia
SCIENTIFIC JOURNAL OF
NATURAL
MEDICINE
Vol. nr.: III | Semestral | DEZEMBRO/2014
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Instituto Português de Naturologia
Índice
SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Notas Prévias
Diretor:
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Editorial
Rui Miguel Freitas Gonçalves
Identificação de Padrões
Segundo os seis niveis energéticos
3
4
5
O Papel da Fáscia na Medicina Chinesa
31
Parte 2
Provérbios, Expressões idiomáticas e a
Medicina Tradicional Chinesa - O Uso do
Conhecimento no Sucesso Terapêutico
45
Possíveis Aplicações Terapêuticas
futuras de Canabinóides
50
Membros do Conselho Científico
Conselho Científico:
Professora Doutora Ana Cláudia Barreira Nunes
Professora Doutora Ana Cristina Esteves
Professora Doutora Ana Cristina Estrela de O. C. Cordeiro
Professor Doutor António José Afonso Marcos
Professor Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa
Professor Doutor Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso
Professor Doutor João Paulo Ferreira Leal
Doutor José Maria Robles Robles
Professor Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Professora Doutora Maria Isabel do Amaral A.V. P. de Leão
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Professor Doutor Miguel Tato Diogo
Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Editor:
Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Depósito legal:
Os artigos são da responsabilidade dos seus autores, sendo
que todos os direitos legais estão reservados ao IPN.
Toda a reprodução, desta revista, seja qual for o meio, sem
prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade civil
e criminal.
Dezembro/2014
Publicação Semestral
(Resumo Curricular)
68
Edições: Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia
Normas para Publicação
71
E-mail: [email protected]
Parceiros e Projetos:
2 e-medico+
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
notas prévias
A
cabam de ser publicados, em setembro e outubro do corrente ano de 2014, em Portugal, os
diplomas normativos que regulamentam algumas das áreas da Medicina Natural designadas,
pelo legislador português, como Terapêuticas não Convencionais (TNC) .
Estas terapêuticas, consagradas na Lei nº 71/2013, de 2 de setembro, como Medicina Tradicional
Chinesa, Acupuntura, Naturopatia, Fitoterapia, Homeopatia, Osteopatia e Quiropráxia, foram, agora,
regulamentadas em matéria de conteúdo funcional, requisitos para atribuição da carteira profissional,
seguro profissional e requisitos mínimos das instalações para o exercício da atividade das TNC.
Na Portaria nº 181/2014, de 12 de setembro, reguladora dos critérios de atribuição da Carteira Profissional, vem já reconhecido, como critério suplementar de apreciação curricular, a publicação em
revista ou livro indexado. Trata-se, na verdade, de um reconhecimento legal da importância do estudo
sistematizado, organizado e desenvolvido das matérias de medicina natural, como condição de atribuição de competências e, inevitavelmente, de desenvolvimento do conhecimento .
É com enorme satisfação que publicamos, no âmbito do Centro de Investigação em Medicina Natural, o terceiro número da Revista Científica de Medicina Natural. O esforço, o empenho associado a um trabalho de equipa em muito têm vindo a dignificar o conhecimento da medicina natural.
Temos como certo, por isso, que este número da revista contribui, mais uma vez, para a consolidação
dos conhecimentos e um novo desafio para o desenvolvimento da investigação, em Medicina Natural.
A Diretora
Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 3
editorial
“An
investment in knowledge
pays the best interest.”
(Benjamin Franklin)
U
m bom investimento hoje, prepara as bases sólidas para um amanhã com qualidade. Assim
pretendemos com mais um número da Scientific Journal of Natural Medicine continuar o
nosso investimento conjunto na melhoria do conhecimento científico em Medicina Natural.
Neste número apresentamos a continuação de trabalhos de investigação de alta qualidade prévios e
abrimos a porta na área da utilização e fitoterápicos como fonte para desenho de fármacos.
Aproveitamos para anunciar a presença da SJNM nas Ias Jornadas Nacionais de Investigação do Centro
de Investigação em Medicina Natural a realizar no próximo mês de maio. Está em preparação um número especial da SJNM subordinado ao tema deste encontro científico.
É com entusiasmo que acolhemos trabalhos originais que visem elucidar os profissionais de saúde, a
comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da
Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e formal
é de suma importância.
Aguardamos a sua contribuição,
O Editor
Rui M. Gonçalves, PhD
4 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES
SEGUNDO OS SEIS NÍVEIS ENERGÉTICOS
Diana Isabel Jesus Serrador Moreira Pinho*
[email protected]
Resumo:
A construção da sinergia positiva entre a Medicina Ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
é indissociável do desenvolvimento de estudos baseados em evidências científicas. Conhecer a teoria
pode ser o primeiro passo para avançar com dados clínicos estatísticos e com a criação de hipóteses
que comprovem ou se opõem à base teórica.
A Diferenciação de Síndromes de Doenças Contraídas Exteriormente, apesar de ser um tema milenar, ainda despoleta dúvidas nos alunos e terapeutas de MTC, uma vez que a pouca informação
documentada é confusa e pouco aprofundada cientificamente.
Por outro lado, a contemporaneidade e a frequência das enfermidades motivadas pela Invasão de Xiè
Qi conduz à necessidade de uma constante atualização em relação à caracterização e tratamento das
Síndromes associadas, o que poderá proporcionar aos profissionais maior qualidade de resposta a
possíveis dificuldades que possam surgir.
Assim, constituiu-se o objetivo de realizar um estudo retrospetivo da teoria de Shang Han Lun (Tratado das Doenças Febris por Frio Perverso) que assenta sobre um pilar constituído por 6 níveis
energéticos, que compreendem uma séria de padrões que mapeiam o curso das doenças causadas por
Frio Perverso, evidenciando um sistema de evolução das enfermidades.
Após a abordagem pormenorizada de cada um dos seis estágios, verificou-se que esta teoria é bem
mais complexa do que aparentemente possa parecer e que a dificuldade dos textos antigos chineses
cria lacunas nas traduções e interpretações realizadas.
* Síntese curricular:
Licenciada em Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica (APCT) desde 2006, Pós-Graduada em
Gestão da Qualidade e Auditoria em Saúde desde 2007 e Diplomada em Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) desde 2014. Técnica de Biologia Molecular no Laboratório de Genética e Diagnóstico Pré-Natal
(GDPN) desde 2010; Terapeuta de MTC e Formadora em Farmacopeia Chinesa no Instituto Português
de Naturologia desde 2014. Em 2005 integrou o Programa Erasmus no âmbito do Curso Superior de
APCT com a oportunidade de realizar Estágio Curricular pela Università degli Studi di Firenze, em
Florença, Itália. Em 2007 realizou uma Auditoria Interna a uma Clínica Médica Privada no âmbito da
Pós-Graduação anteriormente referida. Em 2012/2013 cumpriu o Programa de Estágio de Práticas
Clínicas em MTC realizado na Clínica Foz Vital, no Porto.
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██Introdução
A Identificação de Padrões segundo os Seis Níveis Energéticos atinge relevo com a publicação de um dos
livros clássicos da MTC, o “Tratado das Doenças Febris por Frio Perverso”, da autoria de Zhang Zhong
Jing, escrito durante a dinastia de Han do Leste (séc. III, entre 200 - 220 d.C.). A sua obra foi baseada no
capítulo 31 do volume do Su Wen do Livro do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing). Conhecida originalmente como “Tratado das Doenças Febris” (Shang Han Za Bing Lun) foi dividida mais tarde, no século
XI, em dois volumes: Jin Kui Yao Fang Lun (Resumo das Prescrições do Cofre Dourado) e Shang Han Lun
(Tratado das Doenças Febris por Frio Perverso), tendo sido este concebido especificamente para diferenciar
doenças exógenas devido a ataques de Frio (Shang Han = ataque por Frio). Desde então, tem-se revelado a
sua utilidade (Cesar, s.d.).
É considerado um dos marcos milenários, sendo também o primeiro livro clínico que incluiu conjuntamente
o mecanismo/causa, métodos terapêuticos, prescrição e fármacos (Chen, 2009).
A linha base desta teoria assenta sobre seis estágios que compreendem uma séria de padrões que mapeiam o
curso das doenças causadas por invasão de Vento-Frio, que penetra no corpo, causa febre e que estabelece a
progressão natural da doença do Yang para Yin, do exterior para o interior, da superfície para a profundidade,
do campo energético para o campo físico (Gonçalves, 2013).
A cada estágio estão associados sintomas e sinais clínicos muito específicos; a cada estágio estão associados
dois determinados meridianos energéticos, um da mão (Shou) e outro do pé (Zu), que se agrupam consoante
os parâmetros superlativos e comparativos de Yin/Yang e Interior/Exterior. Este foi o ímpeto que levou
Zhang Ji a desenvolver este método (Liu, 2009).
No entanto, foram surgindo temporalmente 2 teorias distintas relativamente à ordenação dos níveis energéticos (figura 1): uma fundamentada nos meridianos e profundidade energética (a) e outra baseada não só na
progressão mais frequente da doença, bem como na gravidade dos sintomas (b).
a)
Figura 1 - Seis Níveis Energéticos – 2 Teorias
6 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
b)
Figura 1 - Seis Níveis Energéticos - 2 Teorias
Esta teoria não sugere obrigatoriamente que as enfermidades atinjam o primeiro estágio e prossigam gradualmente até ao sexto – transmissão sucessiva (a).
Uma doença pode penetrar diretamente para qualquer nível, “saltar” estágios na sua progressão – transmissão irregular (b) - passar entre níveis diretamente relacionados (p.e. Tai Yang - Shao Yin) – transmissão direta
(c) – ou até encontrar-se em vários níveis simultaneamente ou mesmo mover-se no sentido inverso (figura
2) (Fialho, 2008).
Figura 2 - Formas de Progressão da Doença
Os três estágios Yang encontram-se localizados nas áreas energéticas mais externas do corpo. O Frio é Yin
e tende a agredir e a lesar o Yang. Os três estágios Yang correspondem às Síndromes das Vísceras (Fu) e
normalmente são Síndromes de Excesso. Se a Xiè Qi atingir as camadas mais profundas (estágios Yin), manifestar-se-ão as Síndromes dos Órgãos (Zang), sendo estas normalmente Síndromes de Vazio. Quanto mais
interiormente a energia perversa progredir, maior o esgotamento do Qi e maior a severidade dos danos a
nível dos órgãos (Cesar, s.d. & Nong, 2005). A maior ou menor gravidade de lesão pelo Frio depende da força
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da Xiè Qi (fator patogénico) e da sustentabilidade das Substâncias Vitais – Qi, Xue e Wei Qi – do indivíduo.
Os seis estágios serão seguidamente analisados, tendo como base o autor original através de algumas compilações e traduções de outros autores, que foram realizadas posteriormente.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa da literatura publicada, uma pesquisa nas bases de dados eletrónicas (Ebscohost,
Pubmed, Scielo, Journal of the Association of Tradicional Chinese Medicine (UK) e Chinese Medical Journal) e uma pesquisa da informação cibernética disponível (fontes secundárias).
Segundo Fortin (2003), quanto ao tipo de questão de investigação, este estudo insere-se na classificação de
nível I, exploratório-descritivo, uma vez que se pretende descobrir e descrever factos que possuem escassa
base bibliográfica e não apresentam estudos prévios. Quanto ao método de obtenção e recolha de dados e
ao quadro de referência utilizado, este estudo possui características paradigmáticas do método qualitativo,
uma vez que visa a compreensão absoluta e ampla do fenómeno em estudo, procura observar, descrever e
interpretar os factos tais como se apresentam, sem controlá-los.
██6 NÍVEIS ENERGÉTICOS/ESTÁGIOS:
██ANÁLISE SEMIOLÓGICA E TRATAMENTO
1º Estágio – Tai Yang (Grande Yang)
TAI YANG – o Grande Yang – corresponde ao primeiro estágio Yang, o mais superficial. Este nível inclui
o meridiano da Bexiga do pé (Zu Tai Yang Pang Guang Jing) e o meridiano do Intestino Delgado da mão
(Shou Tai Yang Xiao Chang Jing). Energeticamente cobre a área das costas, a parte posterior dos membros
inferiores e a área mais externa do lado Yang dos membros superiores (figura 3) (Hai, 2005). A principal
função deste nível é governar a superfície corporal, dominar Wei Qi e o Ying Qi e ser a barreira de proteção
dos restantes níveis, tendo por isso a missão de impedir a invasão de energias perversas (Hai, 2005).
Assim, quando o Vento-Frio ataca, o primeiro nível a ser afetado
é exatamente o Tai Yang. A este nível a Xiè Qi encontra-se no
exterior e apenas a parte do Qi defensivo do Pulmão está afetada
(função). A força dispersante e descendente do Qi do Pulmão
encontra-se enfraquecida e o Vento externo aloja-se nos espaços
entre a pele e os músculos, prejudicando a circulação do Wei Qi
(Maciocia, 2000). Por sua vez, o Zheng Qi, “sobe” à superfície
para tentar expulsar a Xiè Qi. Esta batalha entre o Qi Verdadeiro
e o fator patogénico dá origem às manifestações sintomáticas
das Síndromes do nível Tai Yang (Liu, 2009).
As desordens do nível Tai Yang estão divididas em duas principais categorias: a categoria Tai Yang Meridian (Padrões do
Meridiano), a mais comum, e a categoria Tai Yang fu-organ
(Padrões do Órgão) (Liu, 2009).
Fig. 3 - Áreas Energéticas: vista posterior
8 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Tai Yang Meridian: Análise de Sinais e Sintomas
Os principais sintomas associados a distúrbios desta categoria encontram-se seguidamente descritos
(Hai, 2005):
Aversão ao Frio ou ao Vento - “tremer de frio” ou arrepio na pele (estágios iniciais de uma constipação ou gripe); excesso de fator patogénico (Frio e/ou Vento) no corpo sinal que o fator patogénico se
encontra no exterior
Rigidez no pescoço (occipital) - obstrução da circulação do Wei Qi e do Ying Qi nos meridianos da
Bexiga e Intestino Delgado, que fluem nesta área.
Cefaleia – parte mais Yang do corpo afetada
Dores musculares generalizadas - quando o Wei Qi (yang) ascende para combater o Xiè Qi, os músculos perdem a capacidade de movimento (perdem yang)
Pulso flutuante - reflete a subida do Wei Qi/Zheng Qi à superfície para combater o fator patogénico;
síndrome de exterior (figura 4).
Nota: Se o Wei Qi for suficiente, apenas este subirá à superfície para combater a Xiè Qi; porém se este
não for satisfatório, outras formas de Zheng Qi ascenderão para apoiar a Energia Defensiva (Gonçalves,
2013).
Língua rosada com saburra branca e fina - A cor do corpo da língua não sofre alterações porque a
patologia não afeta mais do que a superfície. Normalmente, a capa fina observada é mais evidente na
parte anterior da língua e nos bordos (Jiao Superior). A cor branca da saburra reflete a natureza fria do
fator patogénico (Ferreira, 2013).
Quadro 1 - Sintomas gerais do estágio
Figura 4 - Camadas energéticas e subida do Wei Qi à superfície
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Além destes sintomas cardiais existem muitos outros (como rinorreia, espirros, tosse, garganta inflamada,
etc…) que se podem manifestar devido ao comprometimento da circulação dispersante e descendente da
Energia do Pulmão (Maciocia, 2000).
De acordo com a maior prevalência de Vento ou de Frio, com a virulência do fator patogénico e da própria
constituição do paciente, é possível diferenciar o Padrão do Meridiano de Tai Yang em duas principais síndromes distintas: Zhongfeng e Shanghan (Hai, 2005).
ZHONGFENG – ataque de Vento-Frio com prevalência de Vento na superfície do corpo. Trata-se de uma
síndrome de Deficiência, uma vez que o Wei Qi já se encontra numa condição enfraquecida e é facilmente vencido pelo Vento. Esta síndrome é caracterizada por uma desarmonia entre o Ying Qi e o Wei Qi e
apresenta para além dos sintomas acima mencionados que são comuns a ambas as síndromes, as seguintes
características (Hai, 2005):
Maior aversão ao Vento do que ao Frio - excesso de Vento na superfície do corpo
Febre branda - resulta da tentativa do Qi Defensivo expulsar o fator patogénico
Pulso fraco Yin - pulso torna-se mais fraco na posição chi ao anoitecer
Pulso regular ou uniforme – porque o desequilíbrio só se encontra a nível do Meridiano
Sudorese ligeira – sintoma crucial na distinção destas duas categorias.
Wei Qi não é forte o suficiente para controlar a abertura e fecho dos poros, o que dá origem ao extravasamento da Ying Yin Qi (energia nutritiva) que não consegue ser sustentada/protegida pela Wei Qi
enfraquecida
Quadro 2 - Sintomas da Síndrome de Zhongfeng
10 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
SHANGHAN – indivíduos energeticamente equilibrados a nível da pele e músculos têm maior tendência
perante um ataque forte de Vento-Frio padecerem com prevalência de Frio na superfície do corpo. Trata-se
de uma síndrome de Plenitude caracterizada pelo excesso de Frio no corpo que “congela” a ligação ao exterior e bloqueia a parte Yang da Energia Defensiva. Os sintomas específicos desta síndrome são (Hai, 2005):
Maior aversão ao Frio do que ao Vento - excesso de Frio na superfície do corpo
Febre com calafrios:
Febre - resulta da tentativa do Qi Defensivo expulsar o fator patogénico, mas uma vez que os poros se
encontram fechados (Frio + Wei Qi forte) o calor não é libertado no exterior (febre mais alta do que na
síndrome anterior)
Calafrios – formação de uma camada de frio debaixo da pele que impede o Wei Qi chegar à superfície e
de aquecer a pele
Ausência de sudorese – os poros ficam fechados pelo Frio resultando na estagnação do Wei Qi e do
Ying Qi
Dor de cabeça e dores musculares intensas (pantalgia) – o Qi não flui
Pulso flutuante e apertado – o pulso apertado é devido ao Frio que promove a vasoconstrição dos
vasos sanguíneos na tentativa de preservar o calor que resta
Ligeira dispneia e tosse, secreção nasal branca – Frio bloqueia da energia descendente e dispersante
do Pulmão, causando inversão e desregulação na circulação do Qi
Quadro 3 - Sintomas da Síndrome de Shanghan
Tai Yang fu-organ: Padrões do Orgão – breve abordagem…
Os Padrões do Órgão tratam-se de influências patogénicas derivadas ao estado de desordem do Padrão Tai
Yang Meridian. Quando o fator patogénico não é expelido na superfície, este transforma-se em Calor e pode
progredir pelos Meridianos Tai Yang (principalmente o Meridiano da Bexiga) até atingir a Víscera. Assim,
pode-se afirmar que estes padrões são Síndromes de Vento-Frio do Meridiano Tai Yang remanescente com
retenção de Calor na Bexiga (Liu, 2009).
Clinicamente existem dois padrões: Acúmulo de água no Tai Yang e Acúmulo de sangue no Tai Yang.
Acúmulo de água no Tai Yang
A patogénese deste padrão está relacionado com a penetração da Xiè Qi no sistema urinário (Bexiga), comprometendo a função de transformação e transporte de água, tornando o Qi incapaz de transformar os
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fluidos e gerando estagnação no ciclo da água
com acumulação de água nos músculos e na pele.
Sintomaticamente manifestam-se sinais clínicos
de disfunção do trato urinário como retenção urinária, disúria, distensão e plenitude abdominal e
tensão pélvica dolorosa (ocidentalmente pode-se
comparar com uma cistite) (Liu, 2009). O desequilíbrio no ciclo da água origina sede e em casos
mais severos podem provocar náuseas e vómitos
logo após ingestão de líquidos, uma vez que estes
não “descem” ao Rim e tendem a exteriorizar (inversão). Manifestações como febre branda, aversão ao Vento e ao Frio, transpiração, língua com
saburra branca e pulso flutuante são indicativas
que o fator patogénico ainda se encontra presente. O pulso rápido é sintoma de Calor no Interior
(Hai, 2005).
Acúmulo de sangue no Tai Yang
À semelhança do padrão anterior, esta Síndrome
surge como resultado da transformação do fator
patogénico da superfície (Vento-Frio) em Calor e
evolução do mesmo pelo meridiano Tai Yang até
Bexiga. O Calor seca/evapora os líquidos, afetando o Sangue, gerando a sua retenção e aglutinação (hemoconcentração). A Estase de Sangue e
Calor acumulam-se a nível do Jiao Inferior (Bexiga,
Intestinos, útero). Sintomaticamente manifestam-se sinais clínicos de tensão pélvica dolorosa, forte
distensão e plenitude abdominal (por vezes com
formação de massas), micção dolorosa, urgência
e incontinência urinária, hematúria, alterações
intestinais. O Calor patogénico provoca a coagulação do Sangue, não permitindo que este flua
livremente, agitando a Mente, sendo por vezes
observados sinais de perturbação mental. Ainda
poderá ocorrer espasmos uma vez que os músculos se encontram em deficiência porque não são
adequadamente nutridos pelo Sangue e pelo Fígado (Hai, 2005).
Por vezes o sistema genital pode ser afetado, com
manifestações de dismenorreia ou infeção vaginal,
uma vez que o Sangue do Fígado também está estagnado (Hai, 2005).
A língua vermelha escura com pontos violáceos
e o pulso rápido característicos desta síndrome
são sintomas de Calor no Interior e de Estase de
Sangue. O pulso profundo rugoso deve-se à forma irregular a que o Qi e o Sangue circulam (Hai,
2005).
2º Estágio – Yang Ming
(Yang Brilhante)
O nível Yang Ming inclui o meridiano do Estômago do pé (Zu Yang Ming Wei Jing) e o meridiano
do Intestino Grosso da mão (Shou Yang Ming Da
Chang Jing). Energeticamente cobre o lado mais
interno da área Yang dos membros superiores e
inferiores (rever figura 3 pag.8 e figura 5) (Hai,
2005).
Figura 5 - Áreas Energéticas vista anterior
12 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Quando atinge este estágio significa que o fator patogénico conseguiu penetrar no interior (Síndrome Interna) e a luta entre o Zheng Qi e a Xiè Qi ocorre entre a camada do Qi e do Ying Qi, i.e. próximo aos meridianos principais/energia nutritiva (sistema digestivo). Ao penetrar no Interior, o Frio transforma-se em Calor
nocivo, esgotando os líquidos orgânicos e manifestando-se sinais de secura (Mitchell & Wiseman, 1999).
Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Yang Ming:
1. Por administração de terapêutica inadequada ou insuficiente, o fator patogénico Vento-Frio não é detido
no nível Tai Yang ou no nível Shao Yang, progredindo para o nível Yang Ming. Nota: uso de diaforéticos,
purgativos ou diuréticos desadequadamente e em excesso pode esgotar os líquidos e levar à secura do
Estômago e Intestinos proporcionando a passagem do fator patogénico para o nível Yang Ming.
2. Condição constitucional de insuficiência de líquidos orgânicos, podendo propiciar um ataque direto da
Xiè Qi a este estágio.
3. Recuperação do Yang do Baço no nível Tai Yin com retorno ao nível Yang Ming (Hai, 2005).
À semelhança do que foi descrito no nível anterior, as Síndromes Yang Ming podem ser divididas em diferentes esferas consoante a condição de excesso ou de deficiência (Hai, 2005).
Nas Síndromes de Excesso existe uma exuberância do fator patogénico nos canais energéticos Yang Ming ou
nos orgãos deste mesmo estágio (Estômago/Intestino Grosso), dando origem deste modo a duas categorias
distintas: categoria Yang Ming Meridian (Padrões do Meridiano) e Yang Ming fu-organ (Padrões do Órgão)
(Hai, 2005).
Os principais sintomas comuns a ambas as Síndromes de Excesso encontram-se seguidamente descritos:
Febre Alta – reflexo da luta entre o Zheng Qi e a Xiè Qi
Ambas as energias neste momento são bastante fortes: a Xiè Qi porque conseguiu penetrar vencendo
a Wei Qi tornando-se mais resistente; e a Zheng Qi porque existe agora em maior quantidade na camada
onde decorre esta luta. Este acréscimo de energia, faz aumentar ainda mais o Calor interno. As febres
neste nível são mais severas do que no nível Tai Yang
Aversão ao Calor – excesso de Calor interno
Não aversão ao Frio – indica que o fator patogénico não se encontra no Exterior
Pulso amplo e forte – traduz a força da luta entre as energias e a sua quantidade (Ferreira, 2013)
Quadro 4 - Sintomas gerais do estágio Yang Ming
Normalmente a Síndrome do Meridiano antecede o padrão do Órgão, embora ambas possam ocorrer simultaneamente (Hai, 2005). No primeiro ainda subsiste líquidos embora se encontrem a esgotar, enquanto
no segundo impera a secura completa dos Jin Ye a nível dos órgãos do sistema digestivo (Gonçalves, 2013).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 13
Yang Ming Meridian: Análise de Sinais e Sintomas
No Padrão do Meridiano, o Calor é abundante no sistema digestivo numa altura em que o quimo (bolo alimentar) ainda não foi totalmente transformado em fezes (Liu, 2009).
Para além dos sintomas acima mencionados este Padrão é ainda caracterizado pelos seguintes:
Transpiração profusa – Calor abre os poros da pele e dispersa os líquidos para o exterior; Calor faz
subir e evaporar os líquidos na superfície
Polidipsia – a diminuição de líquidos orgânicos, provoca uma polidispsia de substituição
Quanto mais água ingere, mais transpira, porque o Pulmão tenta constantemente humedecer a superfície
mas infrutuosamente uma vez que o Calor impera e mantêm-se a consumir/dispersar os líquidos
Nota: preferência por bebidas frias: Calor interno
Dispneia – O Pulmão entra em hiperfunção no mecanismo de compensação de dispersão dos líquidos,
ficando em Vazio e tornando a respiração difícil e áspera
Garganta seca – excesso de Calor e insuficiência de fluidos
Face vermelha – Calor tende a subir e a manifestar-se na face
Gosto amargo na boca (halitose) ou falta de paladar – Calor no Estômago
Sensação de peso no corpo – O Calor bloqueia a circulação de Qi
Agitação com delírio – Calor pode perturbar o Shen
Língua vermelha – sinal de Calor
Saburra amarela, espessa e seca - a saburra traduz os líquidos/Yin do Estômago:
Se é espessa é indicativa de condição de Excesso; amarela é sinal de Calor e seca significa que o Calor
esgotou os líquidos no Estômago
Pulso flutuante e rápido – tentativa do corpo colocar o Xiè Qi à superfície para expulsar o fator patogénico; rápido – o Calor acelera a circulação de sangue nos vasos sanguíneos
Quadro 5 - Sintomas gerais do estágio Yang Ming Meridian
Os sinais nesta etapa são caracterizados por os “quatro grandes”: grande febre, grande sede, grande
transpiração, grande pulso (Ferreira & Gonçalves, 2013).
14 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Yang Ming fu-organ: Análise de Sinais e Sintomas
O Padrão do Órgão reflete também a progressão do Calor perverso para o Interior, atingindo não só o meridiano como também a víscera (Estômago e o Intestino Grosso), interferindo com o quimo e ressequindo
completamente os líquidos nas mesmas, provocando uma estagnação por secura, resultando principalmente
em obstipação e ausência de vómitos (Liu, 2009)
O Padrão do Órgão pode ser dividido em 3 graus de gravidade: ligeira, moderada e severa. Alguns dos
sintomas são comuns a todas as subcategorias embora os de maior gravidade tendem a aparecem na forma
mais severa e de prognóstico mais reservado. O quadro 13 engloba os diferentes sinais/sintomas bem
como a(s) subcategoria(s) mais frequentemente associada(s)) (Hai, 2005).
Febre:
•com transpiração profusa - evaporação dos líquidos orgânicos pelo Calor excessivo, causando secura
no Estômago e no Intestino (ligeira e moderada)
•diária recorrente mais pronunciada pela tarde – o Qi dos meridianos Yang Ming é mais abundante
pela tarde entre a 15h-17h pelo que a febre causada por Calor neste estágio tende a ocorrer durante
estas horas (moderada e grave)
•ligeira com transpiração nas palmas das mãos e plantas dos pés – a condição de ligeira significa que
o Calor se encontra profundamente no interior; vazio de Yin provoca o Calor nos 5 palmos (grave)
Fezes:
•secas e ligeira obstipação - Calor perverso esgotou os líquidos, causando secura e estagnação de Qi
no Intestino (ligeira + moderada)
•com alimentos mal digeridos + obstipação - excesso de Calor no Estômago, acelera o metabolismo:
recebe os alimentos e envia de imediato para os intestinos. Baço não tem tempo para digerir os alimentos; secura e estagnação de Qi no IG (moderada)
•obstipação severa (estercoroma) – aglomerado/retenção de massas secas/resíduos fecais no intestino; total ausência de água nas fezes (grave)
Dor abdominal:
•dor exacerbada pela palpação (ausência de distensão) – síndrome de Excesso no Jiao Médio e Intestinos com estagnação de Qi (ligeira)
•dor exacerbada pela palpação + distensão abdominal – estagnação e bloqueio da circulação de Qi
no Intestino Grosso com aumento de volume intra-abdominal, devido à perda de líquidos orgânicos
(moderada)
•distensão dura e dor no abdómen (mesmo com ausência de pressão) (grave)
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Mente:
•irritabilidade e inquietude - Calor perturba a mente e provoca alteração no fluxo de Qi; (ligeira)
•confusão mental - Calor Interno obstrui a Mente; (moderada e grave)
•coma ou delírio/agitação mental “olhar firme com ansiedade e temor, remexendo na roupa e nos
lençóis” – discurso de delírio, Shen perde a sua morada (Liu, 2009) (grave)
Língua:
•vermelha com saburra amarela, espessa e seca – língua idêntica à Síndrome do Meridiano, mas a
espessura da saburra é ainda mais pronunciada, uma vez que a condição de Excesso nesta Síndrome
é superior à anterior (ligeira, moderada e grave)
Pupilas dilatadas e falta de reação à luz (grave)
Dispneia – invasão do fator patogénico no Pulmão através do Intestino Grosso (Zang acoplado) (grave)
Pulso:
•rápido – o Calor acelera a circulação de sangue nos vasos sanguíneos (ligeira, moderada e grave)
•escorregadio – Fogo no Estômago: aumenta o yang, impulsiona o Qi e o sangue, fluindo fácil e
suavemente pelos vasos (Jiang, 2004) (ligeira, moderada)
•profundo – retenção interna do fator patogénico (ligeira, moderada e grave)
•apertado – superabundância de Calor patogénico com consumo dos Jin Ye (grave)
Nota: pulso hesitante – sinal de prognóstico muito reservado (grave)
Quadro 6 - Sintomas da Síndrome Yang Ming fu-organ
Yang Ming: Síndromes Degenerativos – breve abordagem…
Síndrome de Icterícia no Yang Ming (Tipo Yang)
O Calor patogénico ao atingir o Jiao Médio (Baço e Estômago), induz a estagnação e o enfraquecimento do
sistema digestivo prejudicando a função de transformação e transporte das Essências Alimentares, dando
origem a Humidade e Fleuma. A progressão dessa estagnação bloqueia o suave fluxo de Qi do Fígado e da
Vesícula Biliar, influenciando o fluxo da bílis pelo sistema de excreção biliar, o que origina icterícia. Esta surge
como resultado da vaporização da Humidade-Calor (Icterícia Yang), forçando a bilirrubina a sair pela pele.
No entanto, o factor patogénico Calor é demasiado profundo e interior para poder ser expulso por sudorese,
pelo que o paciente não apresenta neste quadro sinais de transpiração, à excepção do pescoço, não sendo
porém suficiente para eliminar o factor patogénico. Se o fluxo da bílis for descendente a urina terá uma coloração muito amarela; se ascender a esclerótida ocular tornar-se-à amarelada. Deste modo, o Calor Interior
persiste provocando por um lado febre e sede, e por outro inquietude da Mente, causando irritação e agitação. Pode surgir também disúria e distensão abdominal, indicativos de retenção de Humidade no Interior. A
língua normalmente apresenta-se vermelha-escura como sinal de estagnação e com saburra amarela e pegajosa típica do Calor com retenção de Humidade. O pulso é escorregadio, rápido e tenso. Ocidentalmente, esta
Síndrome pode ser comparada com um Síndrome de Gilbert ou, em casos mais graves, uma hepatite (Hai, 2005).
16 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Os dois restantes padrões degenerativos Acúmulo de Calor no Yang Ming e Acúmulo de Sangue no Yang Ming tratam-se de uma evolução
dentro do próprio estágio Yang Ming, da camada
Qi para a camada Ying e Xue, respetivamente, embora não haja relevância bibliográfica ou conteúdos suficientemente documentados para abordar
profundamente os mesmos.
3º Estágio – Shao Yang (Yang Menor)
O Shao Yang é o nível intermédio entre os níveis
Yang (Meio Externo-Meio Interno), e inclui o meridiano da Vesícula Biliar do pé (Zu Shao Yang
Dan Jing) e o meridiano do San Jiao da mão (Shou
Shao Yang San Jiao Jing). Energeticamente cobre
a área intermédia do lado Yang dos membros superiores e dos membros inferiores e área lateral da
cabeça (parietal/temporal) (Hai, 2005).
O factor patogénico neste estágio localiza-se a nível intermédio e a luta entre o Zheng Qi e a Xiè
Qi ocorre entre o meio externo (Biao) e o meio
interno (Li) (Gonçalves, 2013).
O bloqueio de Qi a nível do Shao Yang traduz-se
num bloqueio do fluxo de Qi da Vesícula Biliar não permitindo que este se mova suavemente - e
consequentemente num bloqueio do fluxo de Qi
do Fígado uma vez que a Vesícula Biliar é responsável também pelo seu bom funcionamento (Liu,
2209).
Considera-se 2 possíveis causas mais comuns de
progressão para o nível Shao Yang:
1. Invasão direta da Xiè Qi a este estágio.
2. O factor patogénico Vento-Frio não é detido
no nível Tai Yang ou Yang Ming, progredindo
para o nível Shao Yang.
A etiopatogenia deste estágio, contrariamente ao
que tem sido descrito, não se divide entre Síndromes do Meridiano e Síndromes do Órgão. Neste estágio, existe apenas dois padrões gerais, que
poderão ser interpretados de acordo com a causa
de progressão da doença, acima indicada, embora não seja tão linear. A primeira tende a causar
sintomas relacionados com a Ascensão do Fogo
da Vesícula Biliar enquanto a segunda reflete a
progressão do fator patogénico e a sua luta com
o Zheng Qi, localizado em Biao-Li gerando Alternância entre os Calafrios e a Febre (Hai, 2005
& Liu, 2009).
Estes dois padrões são diferenciados de acordo
com os principais sintomas apresentados.
Shao Yang: Análise de Sinais e Sintomas
Ascensão de Fogo da Vesícula Biliar pelo Meridiano Shao Yang
Este padrão é caracterizado principalmente pelo
sabor amargo na boca, garganta seca e visão turva
(Liu, 2009). Todos estes sintomas relacionam-se
com a vaporização do Calor da Vesícula Biliar pelo
canal Shao Yang. O amargo reflete o sabor Fogo
(Calor). A garganta seca reflete a exaustão dos
fluidos causada pelo Fogo ascendente da Vesícula,
enquanto a visão turva é causada pela presença do
factor patogénico no trajeto do meridiano e pela
relação da Vesícula Biliar com o Fígado, uma vez
que este rege os olhos (Gonçalves, 2013).
Uma vez que o trajeto do canal Shao Yang passa
pelo peito, olhos e ouvidos, a presença de Calor
perverso no meridiano pode causar outros sintomas como alterações visuais e auditivas como
conjuntivites, surdez, tinidos, e opressão na região
torácica e intercostal e ainda palpitações e tosse
(Hai, 2005)
Alternância entre os Calafrios e a Febre
Este segundo padrão é caracterizado pela alternância entre calafrios e febre, que reflete, como
já referido, a luta entre o Zheng Qi e o fator patogénico entre o meio externo e o meio interno.
O Calor perverso não foi eliminado nos níveis
anteriores e o Wei Qi encontra-se fraco. A Xiè Qi
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 17
tende a estagnar em Biao-Li, gerando uma reação de Vento Interno que alterna entre períodos de Vazio com
períodos de Plenitude. Quando tende a superficializar origina os Calafrios, quando tende a interiorizar tende
a gerar Febre (figura 6) (Hai, 2005).
Por vezes, o agente patogénico fica retido na camada intermédia, em equilíbrio com o Zheng Qi (sem prevalência de nenhum dos dois tipos de Qi), não havendo manifestações sintomáticas. No entanto, a Xiè Qi,
não é eliminada, ficando assim incubada. À comparência de uma debilidade do nosso Wei Qi, esse agente
adormecido manifestar-se-à (Braga, 2011).
Figura 6 - “Li” - Meio-Externo e “Biao” – Meio-Interno
Para além deste sinal, é possível observar também sintomas de plenitude nos hipocôndrios/flancos, cefaleia
temporal, humor deprimido, disforia e irritabilidade proveniente da estagnação do Qi da Vesícula Biliar que
controla o suave fluxo de Qi do Fígado. Uma vez que esta função se encontra comprometida, o suave fluxo
de Qi dificilmente controlará as emoções e tenderá a acumular e a estagnar no trajeto do meridiano (Ferreira,
2013).
Ainda é possível apresentar sintomas de perda de apetite e dor abdominal que refletem a ação do Fígado
sobre o Baço, impedindo a sua função e vómitos relacionados com o Fogo da Vesícula Biliar que tende a
ascender e a prejudicar a direção descendente do Qi do Estômago, causando a sua inversão. Na óptica da
Teoria dos 5 Movimentos, estes sintomas espelham o excesso do elemento Madeira afetando o elemento
Terra (Mitchell & Wiseman, 1999).
Qualquer que seja o padrão, o pulso revela-se firme ou em corda, o que indica a estagnação do Qi da Vesícula
Biliar e do Fígado. A língua apresenta saburra branca, escorregadia e fina, unilateral especialmente do lado
direito que manifesta a localização do fator perverso (Frio) (Ferreira & Gonçalves, 2013).
4º Estágio – Tai Yin (Yin Maior)
TAI YIN – o Yin Maior – corresponde ao mais superficial estágio dos três Yin.
O nível Tai Yin inclui o meridiano Baço/Pâncreas do pé (Zu Tai Yin Pi Jing) e o meridiano Pulmão da mão
(Shou Tai Yin Fei Jing) e energeticamente cobre a área mais externa do lado Yin dos membros superiores e
inferiores (Hai, 2005).
Dado que, o Pulmão já se encontra afetado energeticamente nos níveis anteriores, os sinais deste nível refletem a influência sobre o Sistema Digestivo/Jiao Médio i.e. o Baço e o Estômago (Gonçalves, 2013).
Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Tai Yin:
1. Tratamento inapropriado ocorrendo progressão progressiva da Xiè Qi pelas camadas Yang.
18 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
2. Condição constitucional de Deficiência de Yang de Baço propicia um ataque direto da Xiè Qi –
principalmente de Humidade-Frio – ao Jiao Médio.
3. Transmissão direta entre os níveis Yang Ming e Tai Yin. Ambas as Síndromes estão relacionadas com Jiao
Médio, podendo existir sintomas em comum (p.e. dor abdominal, icterícia), embora sejam diferenciadas
facilmente pela Identificação de Padrões segundo os Oito Príncipios: Yang-Plenitude-Calor: nível Yang
Ming e Yin-Vazio-Frio: nível Tai Yin.
A penetração da Xiè Qi até ao Tai Yin pressupõe a pré-existência de deficiência do Yang do Baço, podendo
este ser constitucional, como p.e. no caso da doença celíaca, ou ser devido à luta prolongada entre a energia
defensiva e o fator patogénico (figura 7).
Figura 7 - Influência entre os Zhang-Fu em Tai Yin
O desgaste contínuo de Wei Qi e Zheng Qi (1) leva a uma tentativa compensatória de produção destas mesmas energias pelo Baço e pelo Pulmão (2) para que o organismo possa combater o fator patogénico, o que
faz com que estes órgãos entrem facilmente em desgaste energético e se manifestem sinais de Vazio de Yang
de Baço. Por outro lado, a necessidade constante de nutrir o Yang do Baço conduz também a um desgaste do
Yang de Rim (3) - base de todo o Yang (4) – o que consecutivamente se refletirá também em Vazio de Yang
de Coração (5) (Gonçalves, 2013).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 19
Tai Yin: Análise de Sinais e Sintomas
Como acima referido, o principal Síndrome presente neste nível é o Vazio de Qi e de Yang de Baço com
retenção de Frio-Humidade, uma vez que não existe Yang que possa transformar ou mover a Humidade
(Hai, 2005).
Deste modo, a presença de fator patogénico neste estágio, é caracterizado, para além da sensação de Frio
Interno, pelos seguintes sintomas (quadro 22):
Distensão abdominal – perda das funções de transporte e transformação dos Jin Ye pelo Baço, com
acumulação dos fluidos sob o Jiao Médio, dando origem a Humidade.
Vómitos – presença de Humidade no epigastro, que impede a circulação descendente o Qi do Estômago, causando a sua inversão.
Disfagia – perda das funções de transporte e transformação das Essências Alimentares por deficiência
de Baço, interferindo na digestão e no apetite. Uma vez que o Baço não cumpre as suas funções, diminui
a sensação de apetite como mecanismo de defesa, para que o mesmo não tenha que “trabalhar”
Diarreia ou fezes com alimentos mal digeridos – o Baço não tem capacidade para digerir e transformar os alimentos e os fluidos, enviando os mesmos não processados para os intestinos
Dor abdominal ocasional e espasmódica – estagnação dos alimentos no Jiao Médio, por incapacidade
de ação do Baço e do Estômago e deficiência de Yang (dor do tipo Vazio que melhora com pressão e
com o Calor)
Ausência de sede – deficiência de Yang no organismo, traduz-se em frio e acumulação de líquidos.
Excesso de Jin Ye no organismo diminui a necessidade da sua ingestão
Lassitude:
•mental – o Baço abriga o pensamento; quando este Zang se encontra debilitado enfraquece a capacidade de pensar, estudar, concentrar, determinar e memorizar
•física – o Qi refinado dos alimentos não são corretamente distribuídos pelos músculos, ficando
estes subnutridos e o seu Qi estagnado e debilitado
Língua pálida, com saburra branca e escorregadia – reflete não só a presença do Frio, como a deficiência de Yang e a presença de Humidade no organismo
Pulso:
•regular – uma vez que o fluxo de Qi de Fígado não se encontra afetado
•fraco – porque estamos perante uma deficiência de Yang e de Qi, não havendo energia suficiente
para preencher os meridianos na totalidade
•lento - o pulso lento é devido ao Vazio de Yang Qi que leva à lentidão do Zong Qi e ao acúmulo/
estagnação de fluidos tornando os processos orgânicos lentos
Quadro 7 - Sintomas da Síndrome Tai Yin
20 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Síndrome de Icterícia no Tai Yin – breve abordagem…
Esta Síndrome surge, não de uma causa externa, mas sobretudo por um Vazio Interno de Qi e Yang de Baço,
com acumulação de Frio-Humidade no Jiao Médio, no seguimento de um tratamento ineficaz ou desadequado em Tai Yin. O Frio e a Humidade interna bloqueiam o fluxo de Qi do Fígado e da Vesícula Biliar, impedindo a excreção natural da bílis, causando o seu extravasamento no interior - icterícia. Além deste sintoma,
outros referidos e explicados no ponto anterior como laxitude, anorexia, diarreia, aversão ao Frio e distensão
abdominal, poderão estar presentes nesta síndrome, uma vez que deriva da Síndrome Tai Yin. Nestes casos,
a língua apresenta-se pálida com saburra pegajosa e pulso profundo e fraco, como visto anteriormente, mas
retardado, uma vez que a função dos órgãos do elemento Madeira, que controlam o suave fluxo de Qi – Fígado e Vesícula Biliar – se encontram condicionados (Hai, 2005).
5º Estágio – Shao Yin (Yin Menor)
SHAO YIN – o Yin Menor – corresponde ao estágio intermédio dos três Yin.
O nível Shao Yin inclui o meridiano do Rim do pé (Zu Shao Yin Shen Jing) e o meridiano do Coração da
mão (Shou Shao Yin Xin Jing) que são a raiz do nosso corpo, compõem o eixo Shaolin ou Shenjing (relação
entre corpo-mente/espírito) e governam a Água e o Fogo. Energeticamente cobrem a área mais interna do
lado Yin dos membros superiores e dos membros inferiores (Hai, 2005).
Quando a Xiè Qi atinge este estágio, é a nível da Mente e da Essência, que se manifestam os sinais e sintomas
de desarmonia (Gonçalves, 2013).
Em condições fisiológicas normais, o Fogo (Yang) do Coração desce ao Rim e junta-se ao Rim-yang, para
aquecer o Rim-yin, ajudando na transformação e fluidez dos Fluidos Corpóreos (Jin Ye) e a impulsionar a
fonte de Fogo de todos os sistemas internos – Mingmen. Por outro lado, a Água (Yin) sobe ao Coração para
nutrir o seu yang e impedi-lo de tornar-se hiperativo (figura 8). Quando a Água e o Fogo estão em harmonia,
um equilíbrio relativo entre o yang e o yin é mantida garantindo a condição sã (Marques, 2009).
Figura 8 - Coordenação entre o Coração e o Rim e suas principais funções
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 21
A doença em Shao Yin é caracterizada por fraqueza geral, derivada de um Síndrome de Vazio no Eixo Shaolin (Coração e/ou Rim) e a depleção, isto é, a diminuição drástica, do equilíbrio Yin-Yang, aliado a um pulso
filiforme e débil, que traduz o estado de deficiência interna e gravidade do quadro (Hai, 2005).
As desordens do nível Shao Yin estão divididas em duas principais categorias que surgem de acordo com a
constituição do paciente e que serão seguidamente abordados:
•Transformação em Frio
•Transformação em Calor
Shao Yin - Transformação em Frio: Análise de Sinais e Sintomas
O tipo de Transformação em Frio é a doença Shao Yin mais comum. Esta Síndrome deriva do Vazio de Yang
de Coração e Rim, permitindo que a Xiè Qi invada as camadas profundas e se transforme em Frio Interno, sob a
influência do Yin, esgotando o conjunto de funções Yang como o aquecimento, a transformação dos alimentos e o
metabolismo dos líquidos, prejudicando outros Zangs diretamente relacionados como o Baço (Hai, 2005).
Os principais sintomas associados a esta categoria encontram-se seguidamente descritos:
Aversão ao Frio/Calafrios – sinal de Frio Interno por deficiência do Fogo de Mingmen, que falha por
sua vez no aquecimento de todo o organismo
Membros frios – insuficiência de Yang de Rim que não apresenta Qi suficiente para fortalecer os ossos,
causando frio e debilidade nos joelhos. O Baço também não terá a capacidade de nutrir os 4 membros
Poliúria clara – falha no controlo da circulação dos Jin Ye acelerando a sua excreção e sem tempo para
se concentrar em produtos de excreção, originando a cor clara
Sede com preferência por bebidas quentes – perda constante de líquidos com a necessidade de os
repor. Preferência por bebidas quentes para aquecer.
Diarreia com alimentos não digeridos – ausência de nutrição do Baço pelo Rim, ficando sem capacidade para cumprir a sua função de digerir e transformar os alimentos e os fluidos, enviando-os não
processados para os intestinos
Impotência sexual – falha no aquecimento da Essência por parte de Mingmen; energia sexual privada
da nutrição da Essência e do Yang
Palpitações – falta de força Yang do Coração para regular o batimento cardíaco
Sonolência e postura fetal – deficiência do Yang do Coração, que não é capaz de albergar a Mente
resultando na fadiga mental e sonolência; a posição de encolhimento para aquecer e conservar o pouco
Yang existente
Língua:
•Pálida: o Yang insuficiente (principalmente do Coração) não consegue transportar o Xue para a língua
•Saburra branca: excesso de Yin no Estômago
•Saburra húmida: o Yang insuficiente não permite a transformação dos Fluidos, os quais se vão
acumulando
Quadro 8 - Sintomas da Síndrome de Transformação em Frio no estágio Shao Yin
22 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Shao Yin - Transformação em Calor: Análise de Sinais e Sintomas
Nesta categoria, considera-se 2 possíveis causas de progressão para o nível Shao Yin: os fatores perversos
externos transformam-se em Calor, sob a influência do Yang Interno, penetrando pelo Interior e prejudicando o Yin verdadeiro; a Deficiência constitucional do Yin (principalmente do Yin do Rim) permitindo o
ataque direto ao estágio Shao Yin. Qualquer um dos casos, trata-se de um declive/deficiência de Yin com
hiperatividade do Yang (Hai, 2005).
Deste modo, como referido anteriormente, a deficiência de Yin do Rim impede o fluxo ascendente do
mesmo e consequentemente a completa nutrição do Yin de Coração que acaba por se tornar igualmente
deficiente, conduzindo à perda de controlo do seu Yang e à ascendência hiperativa do Fogo por Vazio do Coração, afetando a Mente. A Água não flui em ascendência para nutrir e resfriar/controlar o Fogo do Coração,
surgindo sinais de Deficiência da Água e superabundância de Fogo (Mitchell & Wiseman, 1999).
Os principais sintomas associados a distúrbios desta categoria são:
Agitação – deficiência de Yin do Rim não nutre o Coração e a desarmonia entre a Água e o Fogo leva a
hiperatividade do Fogo do Coração
Insónia – deficiência de Yin do Rim conduz à deficiência de Yin do Coração, perturbando a morada do
Shen, permitindo que este não se enraíze e vagueia à noite
Boca e garganta seca e inflamada – não só devido à escassez dos fluidos como à ascendência do
Fogo por Vazio do Coração
Sabor amargo/queimado na boca todo o dia - ascendência do Fogo do Coração à boca. O sabor
amargo é o sabor do Fogo
Urina escassa e concentrada – deficiência de Yin de Rim provoca a escassez dos Fluídos Corpóreos
(Jin Ye), conduzindo à sua secura. Devido a esta falta de líquidos, a relação produtos de excreção da
urina versus água eliminada é demasiado baixa, tornando a urina concentrada
Língua:
•Ponta vermelha: a ponta reflete a condição do Coração. Vermelha reflete o Calor por Vazio no órgão
•Sem saburra: deficiência de Yin de Rim, interferindo na escassez de líquidos de todo o organismo,
como do Estômago, refletindo na saburra lingual
Pulso rápido e fino: reflete Calor (acelera o batimento cardíaco) mas por deficiência (falta de Qi para
preencher os meridianos)
Quadro 9 - Sintomas da Síndrome de Transformação em Calor no estágio Shao Yin
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 23
6º Estágio – Jue Yin (Yin Terminal)
JUE YIN – o Yin Terminal – corresponde ao último estágio, o mais profundo dos três Yin, e ao ponto
extremo do Yin. Jue Yin é uma fase relativamente tardia da progressão da doença com perda completa de
equilíbrio entre o Yin e o Yang, mas também o início do ponto de transformação. Quando o fator patogénico
atinge a sua energia máxima, a doença atinge o seu limite e inicia-se o seu próprio declínio.
As Síndromes deste capítulo são mais complexas e mais graves do que as dos restantes estágios. São Síndromes que apresentam alterações patológicas de Frio ou Calor extremo ou até mistas i.e. em simultâneo (Hai,
2005).
O nível Jue Yin inclui o meridiano do Fígado do pé (Zu Jue Yin Gan Jing) e o meridiano do Pericárdio/
Mestre-Coração da mão (Shou Jue Yin Xin Bao Jing). Energeticamente cobrem a área intermédia do lado Yin
dos membros superiores e dos membros inferiores. Uma vez que o meridiano do Fígado está intimamente
ligado ao da Vesícula Biliar e por sua vez ambos têm enorme influência sobre o Estômago, as Síndromes de
Jue Yin, apresentam-se frequentemente como uma doença destes três Zang-Fu (Hai, 2005).
Considera-se 3 possíveis causas mais comuns de progressão para o nível Jue Yin:
1. Transmissão direta entre o nível Shao Yang e Jue Yin.
2. Tratamento inapropriado ocorrendo progressão sucessiva da doença da camada anterior – Shao Yin para o nível terminal – Jue Yin.
3. Condição constitucional de Deficiência propicia um ataque direto da Xiè Qi ao nível Jue Yin (Hai, 2005).
As desordens do nível Jue Yin encontram-se divididas em diversas categorias complexas, embora a principal
e que terá maior significado académico e de interesse para o presente estudo, traduza-se na Síndrome de
Yang-Superior Yin-Inferior cuja principal característica é a preponderância mesclada entre o Frio e o Calor.
Jue Yin – Yang-Superior Yin-Inferior: Análise de Sinais e Sintomas
Como referido, perante o limite do Yin Qi, o Yang Qi tenta reaparecer e recuperar alguma força. Este Yang
Qi pertence ao domínio do Shao Yang, o que justifica a relação direta entre estes dois estágios (Hai, 2005).
Os sintomas do nível Jue Yin são influenciados pela força de recuperação do Yang Qi. Se este aparecer forte
é provável encontrar um padrão com predominância de sintomas de Calor. Por outro lado, se o Yang Qi não
possuir energia suficiente para recuperar, o Frio Interno prolongará a sua força, podendo chegar a um estado
irreversível causando a destruição total do Yang cujo prognóstico é a morte (Du-Zhou, 2012).
Com o Fígado particularmente afetado, faz com que as funções de drenagem e dispersão e o livre fluxo de
Qi estejam perturbados. A função de subida e descida do Qi encontra-se desregulada, e o Fogo e a Água não
fluem. Deste modo, os sintomas de Yang aparecem na parte superior do corpo, enquanto os sintomas de Yin
se apresentam na parte inferior (Du-Zhou, 2012).
Assim, os sintomas de Calor são derivados da recuperação e ascensão do Shao Yang Qi e do Fogo Ministerial
do Fígado. Por outro lado, os sintomas de Frio são reflexo de Deficiência de Yang e do Excesso de Frio que
atinge Jiao Médio (Baço e Estômago) e Intestinos (Hai, 2005).
24 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Os principais sintomas associados a distúrbios desta categoria encontram-se seguidamente descritos no quadro 30:
Períodos de febre alternados com períodos de frio – excesso de Yin (frio) com tentativas de recuperação do Yang (febre)
SINTOMAS DE CALOR:
Sede intensa e persistente – calor do Fígado consome os fluidos orgânicos; a sede representa a necessidade de repor os mesmos
Sensação de energia que ascende ao peito – refluxo/ascensão do Yang Qi que estava a tal ponto
reprimido, que entrou em erupção ascendente
Dor, ardor e sensação de calor na região cardíaca – Fogo Ministerial do Fígado ascende para o Coração; com a Energia do Mestre-Coração igualmente condicionada não consegue proteger o Coração
Dificuldade em tomar decisões – Vesícula Biliar desequilibrada
Cefaleia no vértice – Ascensão de Yang de Fígado; está relacionado com o ramo interno/colateral do
meridiano do Fígado que termina precisamente no topo da cabeça, no Baihui (VG20), na reunião de
todo o Yang
SINTOMAS DE FRIO:
Extremidades frias – exaustão do Yang com excesso do Yin
Diarreia intratável – A Deficiência de Yang conduz à incapacidade do Baço digerir e transformar os
alimentos e os fluidos, enviando-os de imediato para os intestinos
Sensação de fome mas sem vontade de comer – necessário repor a Essência Alimentar/Gu Qi, mas
o excesso de Frio retira o apetite
Vómitos pós-prandial (por vezes com ascarídeos/lombrigas) – reflete não só o Frio nos Intestinos
conjugado com desbiose, mas também reflete o forçar a ingestão de alimentos
Língua:
•Pontos vermelhos: ascensão de Yang de Fígado ou Calor na Vesícula Biliar
•Saburra branca e gordurosa: predominância do Yin (Frio) no Estômago
Pulso:
•Profundo: a doença se encontra no Interior; diagnostico diferencial entre a recuperação ou não do
Yang Qi (pulso flutuante)
•Escorregadio: excesso de Jin Ye
•Em corda: suave fluxo de Qi comprometido; Qi de Fígado afetado
Quadro 10 - Sintomas da Síndrome de Yang-Superior Yin-Inferior no estágio Jue Yin
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 25
Ondas de calor, hipertensão, taquicardia, transtornos circulatórios, opressão diafragmática e torácica e
distúrbios emocionais são sintomas que também poderão estar presentes nesta síndrome, uma vez que o
Mestre-Coração encontra-se igualmente afetado (Hai, 2005).
A alternância entre os períodos de febre e calafrios, permitem compreender a progressão e o prognóstico
da doença no nível Jue Yin.
FEBRE = CALAFRIOS – indica um equilíbrio entre o Yin e o Yang, “a doença é curável”;
FEBRE < CALAFRIOS – indica uma recidiva e agravamento da doença, “o Yang recua” Prognóstico
reservado;
FEBRE > CALAFRIOS – indica uma recuperação excessiva do Yang, conduzindo a sintomas de
desequilíbrio e excesso de Yang: “transpiração, garganta obstruída, fezes com sangue e pus”. No entanto,
o prognóstico é ligeiramente melhor do que na situação anterior.
Quadro 11 - Preponderância entre o Calor e o Frio no nível Jue Yin
██DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Em MTC acredita-se que as Patologias Febris Agudas (ou Doenças Contraídas Exteriormente) são fruto de
invasões de agentes patogénicos exógenos (Xié Qi) e que seguem variados caminhos quando penetram no
organismo.
A Diferenciação de Síndromes de Doenças Contraídas Exteriormente, apesar de ser um tema milenar, ainda
despoleta dúvidas nos alunos e terapeutas de Medicina Tradicional Chinesa, uma vez que a pouca informação
documentada é confusa, complexa e pouco aprofundada cientificamente.
Por outro lado, a contemporaneidade e a frequência das enfermidades motivadas pela Invasão de Xiè Qi
conduz à necessidade de uma constante actualização em relação à caracterização e tratamento das Síndromes
associadas, o que poderá proporcionar aos profissionais maior qualidade de resposta a possíveis obstáculos
que possam surgir.
A MTC oferece excelentes resultados no tratamentos destas patologias, desde que se efetue um diagnóstico
preciso com consequente indicação correta dos princípios terapêuticos.
Apesar de se constar que Zhang Zhong Jing era discípulo de Huang Di - O Imperador Amarelo - a ausência
de referências alusivas à Teoria dos Cinco Elementos e à Numerologia em Shang Han Lun, leva a colocação
desta questão em causa. Por outro lado existem algumas evidências temporais que sugerem que parte da
informação de Shang Han Lun foi adicionada posteriormente por Wang Shu-he - o primeiro editor do livro
- um século após a morte de Zhang Ji (Chen, 2009).
26 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
O desenvolvimento de estudos científicos dão
maior credibilidade à teoria e futuros estudos
apoiados em evidências científicas devem ser realizados no intuito de apoiar a teoria de Shang Han
Lun apresentada neste trabalho, para além do que
esta também deverá ser revista pelas Escolas de
Educação de Medicina Tradicional Chinesa com
referências a dados estatísticos baseados em prática clínica.
Limitações do Estudo
Aponta-se como limitação deste estudo o facto do
mesmo apresentar um carácter exploratório, traduzindo a pouca informação existente e a ausência de estudos anteriores que permitiriam investigar e explorar este tema com níveis de evidência
científica mais elevada.
De referir também, a complexidade dos textos
antigos chineses que levaram a traduções e interpretações ligeiramente díspares entre os autores.
É importante ainda ter em conta que alguns investigadores de Shang Han Lun referem a ausência de
um conjunto de sintomas como tão linearmente
se apresenta na teoria e ainda a falta de clareza e
brevidade de descrições da própria obra original.
Por fim, de salientar que o tema, aparentemente
simples, revelou-se com o decorrer e aprofundamento do seu estudo, extremamente complexo,
com imensas Síndromes associadas em cada nível
e variações de tratamento de acordo com pequenas allterações semiológicas. Por este motivo, este
estudo limitou-se a mencionar as Síndromes mais
frequentes e que os autores dão maior relevância.
PALAVRAS-CHAVE:
Shang Han Lun, Frio, 6 níveis energéticos, Diferenciação de Síndromes, MTC
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 27
║║
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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30 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
O PAPEL DA FÁSCIA
na Medicina Chinesa
Parte 2
Paola Augusta Kemenes*
[email protected]
Resumo:
No segundo número da Revista Científica de Medicina Natural, foi publicada a primeira parte desta
revisão sobre o papel da fáscia na Medicina Chinesa. Nesta primeira parte descreveu-se em detalhe
os aspectos do tecido conjuntivo, e seu papel na transmissão do sinal de acupunctura (DeQi) assim
como sua importância na localização dos pontos de acupunctura.
Esta segunda parte mostra o papel da fáscia nos meridianos de acupunctura, especialmente quanto
ao trajecto destes meridianos pelo corpo. A revisão é baseada especialmente no trabalho de dois
autores: Thomas Myers, que estudou os trilhos miofasciais através das relações diretas e indiretas
entre músculos e movimentos, e Phillip Beach, que relaciona as posturas corporais com os pontos
de acupunctura através da sua teoria de campos contráteis, onde descreve que como cada célula está
envolvida pela fáscia, tudo no corpo, até a pressão sanguínea, afecta os padrões de movimento e a
forma do corpo.
██Introdução
Uma das bases fundamentais da Medicina Chinesa é a teoria dos meridianos. Os meridianos,
canais por onde a energia circula, são distribuidos por todo o corpo humano, ligando os órgãos
internos zang-fu aos vários tecidos e órgãos da
porção superficial do corpo para fazer do corpo
uma integridade orgânica. Na rede de meridianos
e colaterais, os meridianos são os troncos principais (Jing) ao passo que os colaterais (Luo) são
suas ramificações menores ditribuidas por todo o
corpo. (Maike, 1995)
Na Medicina Chinesa, a referência mais antiga a
teoria dos meridianos de acupunctura aparece no
livro Hwang Ti Nei Jing, com descrições precisas
sobre estes canais, suas funções e principios. Desconhece-se porém, a forma usada pelos antigos
* Síntese curricular:
Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizona. Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa
pelo Instituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 31
para a definição desta rede de canais que percorre
todo o corpo, sendo a observação o método mais
provável.
O facto é que ao estimular certos pontos de acupunctura constata-se que a sensação de calor e
parestesias segue direções predeterminadas e,
mesmo em outras práticas como o Qi-Kung, os
antigos já mencionavam uma sensação de calor
que percorria certas vias do corpo durante a prática. Constatou-se também que numa doença os
sintomas podem manifestar-se em outros lugares,
seguindo uma via precisa de interrelacionamento.
É possível portanto que a teoria dos meridianos
tenha sido formulada a partir das observações
acima, sendo esta teoria fruto da experiência e da
observação feita desde os primórdios da Medicina
Chinesa. (Wen, 1985)
Durante décadas, pesquisadores no Ocidente
tentaram sem sucesso encontrar referências anatómicas que correspondessem ao trajecto dos meridianos. Ao contrário dos pontos de acupunctura,
que parecem ser regiões de grande concentração
de plexos nervosos e terminações neurais, o trajecto dos meridianos parece não obedecer a qualquer estrutura anatómica visível. (Jayasurya, 1995;
Lewith, 1985).
Um dos primeiros autores a relacionar o trajecto
dos meridianos ao tecido conjuntivo foi Phillip
Beach, um Osteopata australiano que na década
de 80 começou a estudar Medicina Tradicional
Chinesa e desenvolveu alguns conceitos interessantes sobre os meridianos da acupunctura. Em
seu livro “Muscles an Meridians – The Manipulation of Shape”, Beach diz que os meridianos são
linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura
anatómica, alguns seguem em linha reta, outros
em zigue-zague. Nesta altura este autor já sugeria que os meridianos deveriam seguir as linhas na
qual o tecido conjuntivo ou fáscia de alguma forma adquiria alguma diferenciação. (Beach, 2010)
Passados cerca de 10 anos, na década de 90, esta
suposta diferenciação do tecido conjuntivo em li-
32 nhas, começa a ser esclarecida por Thomas Myers,
terapeuta e professor de Anatomia Miofascial no
Instituto Rolf. Myers, nunca se conformou com a
descrição individual dos músculos, tendo sempre
tentado mostrar a seus alunos uma visão holística
e integrada de toda cadeia muscular. Através de
um estudo exaustivo, Myers desenha linhas longitudinais sobre o corpo por onde são distribuidas
trações, tensões, fixações, compensações e a maioria dos movimentos do corpo. Ao todo Myers descreve 12 linhas tensionais que chama de “Trilhos
Miofasciais ou Meridianos Miofasciais” que se
interconectam e dão sustentação biomecanica a
todo corpo 1(Myers, 2009).
██O Conceito de
██Tensegridade
Para compreender as relações da fáscia e integridade funcional do corpo, convém compreender o
conceito de tensegridade.
O termo tensegridade, ou integridade de tensão,
foi utilizado pela primeira vez pelo designer R. Buckminster Fuller. O termo refere-se a estruturas
que mantém sua integridade estrutural através de
um equilíbrio de forças contínuas de tensão que
percorrem a estrutura, em oposição a forças compressivas que a apoiam. No conceito de tensegridade, toda a estrutura é estável fechada nela mesma, e qualquer alteração de forças é compensada
pela própria estrutura (Fuller, 1975). Uma teia de
aranha é um exemplo de uma estrutura que apesar
de ser geometricamente perfeita, não possui tensegridade. Basta um fio romper-se para danificar
toda a estrutura, já que a mesma não tem capacidade de compensar a alteração de forças.
A tensegridade, um conceito aplicado a qualquer
estrutura, seja ela orgânica ou não (o conceito
surgiu inicialmente na área de design e arquite1 Para evitar equivocos, uma vez que Myers chama suas linhas de meridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome
de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os meridianos da Medicina Chinesa
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
tura), é de certa forma um conceito holístico, já
que descreve que qualquer força aplicada em uma
área da estrutura irá se refletir por todo o sistema.
Nestas estruturas, o aumento na tensão global é
contrabalanceado por um aumento localizado e
descontínuo de compressão. Forças de tensão são
transmitidas naturalmente por distâncias curtas
entre dois pontos, de modo que os componentes
da estrutura estão precisamente posicionados para
melhor suportar o stress. Este princípio estrutural
abrange desde os átomos de carbono, as moléculas de água, as células do corpo humano e o próprio organismo vivo (Ingber, 1997).
No corpo, o tecido miofascial proporciona uma
contínua rede de tensão e de restrição ajustável
tensionando para dentro ao redor de ossos, cartilagens e órgãos. Estes empurram-se contra esta
membrana elástica oferecendo compressão para
fora. Esta tracção e compressão contínuas que refletem o conceito de tensegridade, são essenciais
para a estabilidade e mobilidade do corpo (Mendes, 2012).
Sem a tensegridade, explicar o movimento, a interconexão e a capacidade de resposta do corpo seria
incompleto e frustrante. Ao conhecer o princípio
de tensegridade do corpo humano, reafirmamos
e confirmamos o conceito de globalidade, onde
o paciente deve ser visto de forma holistica como
um todo e não como uma dor localizada.
Este equilibrio de forças explica porque o corpo
quando submetido a tensão muscular constante,
devido por exemplo a má postura, obriga a musculatura a estar estirada e cria pontos gatilho para
compensar a mudança de forças de tensão e compressão. Estes pontos gatilho ou pontos de tensão,
são locais onde o potencial elétrico está alterado,
e este estímulo pode se propagar por toda a fáscia
devido a sua capacidade de tensegridade, causando problemas não só locais, mas também distantes
do ponto de origem. (Myers, 2009).
██Os Trilhos Miofasciais
██de Thomas Myers
██(Myers, 2009)
Praticamente qualquer pessoa ligada de alguma
forma a Medicina Chinesa e a acupunctura, ao
olhar a figura abaixo (Figura 1), acreditaria estar
perante uma representação dos meridianos de
acupunctura, e não perante uma representação
dos trilhos miofasciais de Thomas Myers.
Figura 1: Um mapa geral dos Trilhos Miofasciais
colocado sobre a superfície da figura de Albinus
(Saunders JB, O´Malley C. The Illustration from
the Works of Andreas Vesalius of Brussels. Dover
Publications, 1973) (Myers, 2009).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 33
A base do trabalho de Myers, resume-se na sua
concepção de que além de tudo o que os músculos
podem fazer individualmente, eles ainda influenciam funcionalmente todo o corpo através da característica de continuidade da fáscia. As lâminas
do tecido fascial seguem a direcção das fibras e a
trama do tecido conjuntivo no corpo, formando
“trilhos” de miofáscia, sendo que a estabilidade,
tensão, resistência e compensação postural, estão
distribuidos ao longo destas linhas.
A definição dos Trilhos Miofasciais evoluiu somente dentro das noções de anatomia Ocidental,
porém o próprio autor afirma que não há como
negar o resultado final, e sua similaridade com os
meridianos da Medicina Chinesa. Na verdade muitos dos conceitos adotados e referidos por Myers,
fazem relação com conceitos de Medicina Chinesa. A transmissão da tensão dentro de cada Trilho
Miofascial pode ser entendida como transmissão
do Qi pelos meridianos, e justifica a utilização do
conceito da Medicina Chinesa em utilizar pontos
não só locais, mas também distais nos tratamentos.
Na segunda edição de seu livro, o autor inclui
um capítulo relacionando suas descobertas com
algumas técnicas Orientais, entre elas a Medicina
Chinesa e mais especificamente seu conceito de
meridianos.
É importante notar que nem todos os meridianos
principais estão aqui colocados em correlação
com os trilhos miofasciais e nem se pretende observar uma correspondência completa. Segundo o
próprio autor dos trilhos miofasciais, muitos outros caminhos da fáscia estão ainda por descrever.
Figura 2: Comparação entre a Linha Superficial
Posterior e o Meridiano da Bexiga. (Myers, 2009
usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)
A Linha Superficial Posterior (LSP) conecta e protege toda a superfície posterior do corpo como
uma carapaça, indo dos pés à cabeça e dividindo-se em duas partes: dos pés aos joelhos e dos joelhos a testa. Quando os joelhos estão estendidos
como na postura em pé, a LSP funciona como
uma linha contínua integrando a miofáscia.
A função postural da LSP é apoiar o corpo na
extensão vertical total, para evitar a tendência em
flexicionar e enrolar o corpo exemplificado pela
posição fetal. Esta função postural durante todo
o dia exige uma alta proporção de contração lenta
das fibras, e por isso esta linha fascial tem fibras
musculares de grande resistência.
1. Linha Superficial Posterior (LSP)
2. Linha Superficial Frontal (LSF)
Este primeiro trilho miofascial tem grande correspondência com o Meridiano da Bexiga como
pode ser visto na Figura 2.
Este trilho miofascial tem grande correspondência com o Meridiano do Estômago como pode ser
visto na Figura 3.
34 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
3. Linha Lateral (LL)
Este trilho miofascial tem grande correspondência com o meridiano da Vesícula Biliar como pode
ser visto na Figura 4.
Figura 3: Comparação entre a Linha Superficial
Frontal e o Meridiano do Estômago. (Myers, 2009
usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)
A Linha Superficial Frontal (LSF) conecta toda a
superfície anterior do corpo, do dorso dos pés até
a lateral do crânio, dividindo-se em duas partes:
dos dedos dos pés a pélvis e da pélvis a cabeça, de
forma que quando o quadril está estendido como
na posição em pé, funciona como uma linha contínua conectando a miofáscia.
A função postural da LSF é equilibrar a Linha Superficial Posterior e fornecer suporte de tracção a
partir do topo do corpo para elevar as partes do
esqueleto que se estendem para a frente do centro
de gravidade do corpo: púbis, costelas e face. Esta
linha também mantém a extensão dos joelhos e
seus músculos estão prontos para defender as partes macias e sensíveis da parte frontal do corpo e
proteger a cavidade visceral.
Figura 4: Comparação entre a Linha Lateral e o
Meridiano da Vesícula Biliar. (Myers, 2009 usado
com permissão do Dr. Peter Dorsher)
A Linha Lateral (LL) envolve cada um dos lados
do corpo do ponto médio da lateral do pé, passando pela lateral do tornozelo, perna e coxa, indo en
zigue zague pelo tronco, passando por baixo do
ombro e indo ao crânio ao redor da orelha.
A função postural da LL é equilibrar a parte posterior do corpo e em termos de bilateralidade,
equilibrar direita e esquerda. Esta linha também
faz uma mediação entre as forças de outras linhas
superficiais, LSF, LSP, todas as linhas do braço e
a linha espiral. A LL fixa o tronco e as pernas de
forma coordenada a fim de prevenir a torção da
estrutura durante qualquer actividade com os braços. A LL participa na criação de uma curvatura
lateral no corpo, flexão lateral do tronco, abdução
no quadril e eversão no pé, mas também funciona
como travão ajustável para movimentos laterais e
de rotação do tronco.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 35
4. Linha Frontal Profunda (LFP)
Este trilho miofascial tem grande correspondência com o meridiano do Fígado como pode ser
visto na Figura 5.
respiratório do diafragma, porém esta linha está
envolvida por outras estruturas fasciais e tem importante papel na estabilidade do centro do corpo.
5. Linha Profunda Frontal do Braço (LPFB)
Esta linha começa na musculatura peitoral ou mais
propriamente na fáscia clavipeitoral passando pelo
bíceps braquial e coracobraquial, sendo que esta
linha mostra uma continuidade clara entre a musculatura peitoral e os dois últimos músculos.
A LPFB tem grande correspondência com o meridiano do Pulmão como pode ser visto na Figura 6.
Figura 5: Comparação entre a Linha Frontal Profunda e o Meridiano do Fígado. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter Dorsher)
A Linha Frontal Profunda (LFP) mais do que as
anteriores, ocupa um espaço tridimensional no
corpo, ocupando mais espaço que as demais. Nas
pernas a LFP inclui a maior parte dos músculos
profundos, na pélvis esta linha tem uma relação
estreita com a articulação da anca e por isso com o
caminhar assim como com o ritmo da respiração
através do diafragma.
No tronco a LFP está entre o sistema de controlo
neuromotor e os órgãos da cavidade abdominal,
no pescoço ela fornece equilíbrio entre as linhas
superficiais posterior e anterior.
Na verdade os únicos movimentos associados a
esta linha são a adução da anca e o movimento
36 Figura 6: Comparação entre a Linha Profunda Frontal do Braço e o Meridiano do Pulmão.
(Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter
Dorsher)
A LPFB é principalmente uma linha de estabilização (comparável a Linha Frontal Profunda na
perna), a partir do polegar em direcção ao peito.
Esta linha controla ainda o movimento de pinça
do polegar, tão importante na evolução humana.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
6. Linha Superficial Frontal do Braço (LSFB)
A LSFB recobre a Linha Profunda Frontal do
Braço e envolve um grande conjunto de músculos
importantes como o peitoral maior, os músculos
do ombro, a superficie anterior do úmero entre
outros.
A LSFB tem grande correspondência com o meridiano do Pericárdio como pode ser visto na Figura 7.
gumas conexões interessantes; as fibras torácicas
do trapézio conectam-se com as fibras posteriores
do deltóide; as fibras cervicais do trapézio conectam-se com a porção média do deltóide e as fibras
occipitais do trapézio conectam-se com a porção
anterior do deltóide. Esta combinação emaranhada de fibras, é um dos motivos pelo qual o ombro
está muito frequentemente fora do seu ponto de
equilibrio.
A LSPB tem grande correspondência com o meridiano do Triplo Aquecedor como pode ser visto
na Figura 8.
Figura 7: Comparação entre a Linha Superficial
Frontal do Braço e o Meridiano do Pericárdio.
(Myers, 2009 usado com permissão do Dr. Peter
Dorsher)
Figura 8: Comparação entre a Linha Superficial
Posterior do Braço e o Meridiano do Triplo Aquecedor. (Myers, 2009 usado com permissão do Dr.
Peter Dorsher)
A LSFB tem grande importância no controle dos
movimentos do braço para a frente e para os lados
como na adução e extensão do braço, e também
em movimentos no pulso e dedos como num
aperto de mãos.
A LSPB forma uma única unidade fascial das costas até o dorso dos dedos das mãos. Esta linha
controla os movimentos que fazemos com os braços para trás da linha média. Também controla a
abdução do ombro e braço.
7. Linha Superficial Posterior do Braço
(LSPB)
8. Linha Profunda Posterior do Braço
(LPPB)
A LSPB começa no trapézio, converge em direcção à espinha da omoplata, acrômio, terço lateral
da clavícula e occipital. De facto aqui existem al-
A LPPB começa no processo espinhoso da 7ª
vértebra cervical, indo para baixo em direcção aos
rombóides e à borda medial da omoplata, vai à
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 37
coifa dos rotadores e parte posterior do úmero,
tríceps, continuando até o dedo pequeno da mão.
A LPPB tem grande correspondência com o meridiano do Intestino Delgado como pode ser visto
na Figura 9.
Figura 9: Comparação entre a Linha Profunda
Posterior do Braço e o Meridiano do Intestino
Delgado. (Myers, 2009 usado com permissão do
Dr. Peter Dorsher)
A linha profunda trabalha em conjunto com a linha superficial para ajustar o movimento do cotovelo, para limitar ou permitir o movimento da
parte superior do corpo de um lado para o outro e
para fornecer estabilidade do lado na parte lateral
e posterior do ombro.
██Os camposContrácteis
██de Phillip Beach
██(Beach, 2010)
Campos contráteis é o nome escolhido pelo autor,
para definir as áreas responsáveis por determinados movimentos básicos do corpo que geram
o que ele chama de um recuo coordenado em
resposta a um estímulo nocivo. Os movimentos
38 propagam-se através da fáscia, e muitas vezes
acontecem antes mesmo que a mensagem chegue
ao cérebro, isso devido a origem embrionária dos
tecidos. Neste modelo, Phillip Beach envolve não
só a biomecânica da musculatura, mas sim de todo
o corpo, mostrando que cada célula individual ao
estar envolvida pela fáscia possui elementos contrácteis, e desta forma desde a pressão sanguínea
até a função dos rins, tudo afecta os padrões de
movimento e a forma do corpo.
A fáscia, assim como a musculatura são originárias
da mesoderme, que é também a origem dos rins
e do sangue.
Neste trabalho Beach mostra como a puntura de
determinados pontos altera a posição subtil do
corpo, mostrando que a escolha dos pontos de
acupunctura é uma maneira de manipular a forma
do corpo e assim equilibrar as funções do mesmo.
Recomenda-se a leitura do livro Muscles and
Meridians the Manipulation of Shape, para compreender melhor a teoria dos campos contrácteis.
Nesta revisão apenas os pontos relevantes a Medicina Chinesa serão abordados.
██Linhas de Controle
Durante o desenvolvimento embrionário, formam-se linhas pelo corpo do animal em desenvolvimento, como forma de controlar o crescimento
e a migração dos tecidos. Inicialmente forma-se o
axis (centro) e as demais linhas vão se formando
ao lado do axis. São estas linhas que darão origem
as linhas de controlo dos movimentos coordenados de um animal maduro, sendo que a perfeita
coordenação destas linhas com o sistema nervoso
central acontece por volta dos 6 anos de idade no
ser humano.
Estas linhas de origem embrionária foram descritas em 1980 por Nabil Rizk que faz então uma
descrição da musculatura abdominal sem precedentes. Ele identifica sete linhas verticais onde a
musculatura da parede abdominal se cruza e for-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
ma as lâminas fasciais do recto abdominal. Dois
mil anos antes os Chineses desenharam sete linhas
na área abdominal nos mesmos locais: uma linha
média, duas linhas no meio do recto abdominal,
duas linhas no bordo lateral do recto abdominal e
duas linhas que dividem cada metade (Rizk, 1980).
Estas são as linhas essenciais para controlar a biodinamica do abdômen por isso Beach define os
meridianos como “linhas superficiais de controlo
dos movimentos do corpo”.
Ao exercer estímulos sobre estas linhas do corpo,
com um objecto pontiagudo, o corpo naturalmente executa movimentos de recuo, uma vez que o
estímulo aplicado é doloroso.
A teoria de Beach é de que os meridianos de acupunctura e os pontos de acupunctura foram definidos a milhares de anos, com base na observação
meticulosa dos médicos da altura a estes estímulos
e aos movimentos que os mesmos geravam, uma
vez que estes seriam os movimentos naturais do
corpo a uma tentativa de reajuste de um desequilibrio causado pelo estímulo. Segundo Beach os
meridianos são linhas de controlo destes campos
contrácteis. São estas linhas de controlo que determinam os movimentos, especialmente quando
há intersecção de campos, como ocorre com a
puntura simultanea em uma linha de controlo de
flexão/extenção e em uma linha de controlo de
movimento lateral, gerando um movimento helicoidal.
██Pontos Fronteira
A observação criteriosa da reação do corpo ao
estímulo ao longo destas linhas faz-nos observar
que em alguns pontos há uma mudança radical no
sentido do movimento do corpo, ou seja, o mesmo estímulo separado por centímetros, gera um
movimento totalmente diferente. Estes pontos
são chamados pelo autor de pontos fronteira.
Se uma pessoa em pé numa piscina dentro da água
leva uma picada de um objecto pontiagudo na
barriga, acima do umbigo, seu corpo flexiona para
trás num movimento de recuo ao estímulo nocivo
coordenado pela músculatura abdominal. Se entretanto o mesmo estímulo acontecer na altura de
Ren 6 (Qihai), o corpo terá tendência a estender a
pélvis para fugir ao estímulo, sendo que na altura
de Ren 4 (Guanyuan) esta alteração do movimento fica ainda mais nítida, com uma clara extensão
da pélvis e não uma flexão da coluna para trás.
Esta alteração de movimento acontece devido a
curvatura lombar e a migração embrionária dos
músculos caudais do sacro para o assoalho pélvico.
Há milhares de anos atrás e muito antes dos estudos de desenvolvimento embrionário surgirem,
os Chineses deram grande importância para as
áreas do corpo onde o movimento dos campos
contráteis muda de caracteristicas. O ponto BP
21 (Dabao), um ponto de acupuntura que foi historicamente importante (Lu e Needham 1980), é
mais um desses locais de inversão de movimento.
Este ponto de acupunctura é encontrado na linha
axilar média, entre o sexto ou sétimo espaço intercostal. Um estímulo nocivo abaixo deste ponto
criará um reflexo de flexão ipsilateral e um estímulo nocivo acima deste ponto cria uma flexão
contra lateral. Assim BP 21 foi provavelmente
reconhecido como importante porque representa
uma região de fronteira na lateral do corpo entre
a parede dorsal e ventral, e para a flexão esquerda
ou direita.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 39
Outro exemplo interessante, é o ponto Du 26
(Renzhong). Se uma pessoa leva uma picada no
nariz, o reflexo de fuga será recuar a cabeça para
trás, entretanto se a picada for em Renzhong,
ocorre uma extensão do pescoço e consequentemente de toda a coluna como reflexo de recuo
ao estímulo nocivo. Há milhares de anos os Chineses utilizavam já este ponto para tratar dores
lombares, provavelmente tendo percebido esta
subtil mudança de posição do corpo em resposta
a punctura.
Linhas de Controle e Meridianos do Tronco
A coluna é a linha central do tronco, e no ser humano, pela sua postura bípede, a musculatura lateral da coluna torna-se de suma importância para
controlar e protejer esta linha central, permitindo
movimentos de flexão e extensão coordenados.
Ao mesmo tempo o corpo tem uma nítida linha
lateral, que vai do períneo, passando pela lateral do
tronco, até a região sub-occipital na face posterior
e região lateral dos olhos na face anterior.
O controlo da linha média e da linha lateral, é feito
por linhas paralelas a estas que irão corresponder
aos meridianos da Bexiga, Vesícula Biliar, Estômago, Fígado, Rins e Baço-Pâncreas, sendo que a
linha média corresponde aos meridianos Ren Mai
e Du Mai.
Apesar de todos os pontos de controlo do corpo, a
flexão/extensão, flexão lateral e torção, poderiam
ser movimentos exagerados e danificar a coluna
vertebral. A postura bípede também exigiu um
reforço do assoalho pélvico, aliado a um mecanismo de sustentação visceral. O corpo possui então
uma linha de controlo horizontal situada abaixo
do umbigo, que circunda o corpo como um cinto.
Este campo radial tem um poderoso efeito compressivo no baixo abdômen e o recto abdominal
segue a fáscia profunda dos músculos obliquos e
transversos do abdomen. Para a anatomia Ocidental, esta linha é representada pelo diafragma pél-
40 vico, enquanto na Medicina Chinesa corresponde
ao Dai Mai. Metade do corpo está acima e metade
abaixo desta linha do Meridiano Dai Mai, e esta
região tem um papel essencial nos padrões de movimento tanto externos como internos. A tradição
diz que este meridiano encontra os 12 meridianos
principais e ainda Du Mai e Ren Mai.
Linhas de Controle e Meridianos dos Membros
Os membros dos vertebrados em termos embrionários derivam das barbatanas, e são descritos com
o formato de um remo. Este membro embrionário tem um bordo pré-axial (lado do polegar) e um
bordo pós-axial (lado do dedo pequeno), sendo
que as linhas ventral e dorsal marcam o axis ou
centro do membro.
São necessárias 6 linhas de controlo para os membros: duas linhas para controle do bordo pré-axial
(Pulmão e Intestino Grosso; Baço-Pâncreas e
Estómago); duas linhas para controle do bordo
pós-axial (Coração e Intestino Delgado; Rins e
Bexiga) e duas linhas para marcar a face ventral
e dorsal do membro (Pericárdio e Sanjiao; Fígado
e Vesícula Biliar). Estas 6 linhas durante o crescimento embrionário controlam a forma do membro, e mais tarde irão controlar os movimentos do
corpo.
Os Chineses devem ter analisado de forma meticulosa como iriam mapear braços e pernas com
base em suas similaridades e diferenças.
Embriologicamente, o membro inferior tem um
longo axis que faz uma rotação, o que não ocorre no membro superior. Devido a esta rotação do
axis do membro inferior, o quadriceps na perna
é similar ao tríceps no braço, entretanto há uma
migração da musculatura dorsal para o aspecto
ventral da perna no embrião por volta da 8ª semana de desenvolvimento. Note como os Chineses representaram o meridiano do Estómago: um
meridiano Yang, na superfície ventral da perna e
do tronco. O cruzamento dos meridianos Yin da
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
perna em BP-6 (Taiyin), o cruzamento do meridiano da Bexiga na fossa poplítea em B-40 (Weizhong) e o
cruzamento do meridiano do Estómago na articulação da anca, tudo sugere a torção do longo eixo central
da perna. (Figura 10)
Os meridianos do braço entretanto são paralelos, não se cruzam, refletindo uma menor complexidade embriológica à torção, já que o axis do membro superior não faz uma rotação.
Figura 10: Rotação do membro inferior entre os 50 e os 60
dias de desenvolvimento do embrião. (Beach, 2010)
Pontos de Acupunctura e Forma do Corpo
Os meridianos ou as linhas de controlo do corpo, permitem que a forma do mesmo se mantenha estável. Estas linhas formadas desde o desenvolvimento embrionário, deixam de ser nítidas, mas não se tornam menos
importantes, já que a forma do corpo é extremamente importante para as funções fisiológicas do mesmo.
Imagine a mudança de forma em uma válvula cardíaca e o efeito disso em sua função, ou uma pequena alteração na forma do globo ocular e seu efeito sobre a visão. Sabe-se que mesmo uma alteração na curvatura da
coluna tem seus efeitos sobre os órgãos internos.
Deste ponto de vista onde forma e função estão plenamente conectados, a combinação dos pontos de acupuntura para tratar problemas clínicos é uma maneira de manipular a forma tridimensional do corpo para
melhorar as funções do mesmo. A puntura irá portanto produzir alterações da forma que começam pela
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 41
fáscia, e se propagam de acordo com as linhas de
controlo utilizadas.
A deficiência de Qi do Pulmão por exemplo manifesta-se com sintomas como respiração curta, voz
fraca e uma compleição pálida. Uma combinação
clássica de pontos para esta síndrome é: Ren-17
(Shanzhong), P-1 (Zhongfu) , B-13 (Feishu), Ren6 (Qihai)e E-36 (Zusanli), mas outras combinações de pontos podem ser utilizadas. Aqui tem-se
como exemplo a função de alguns pontos nesta
síndrome:
•Embriologicamente os pulmões iniciaram
seu desenvolvimento como um broto na região do tubo digestivo. Este broto bifurca-se
e gradualmente dirige-se a volta da parede
do peito para encontrar a linha média ventral
•Ren-17 (Shanzhong) é o primeiro ponto
punturado e irá funcionar como pivô dos
outros movimentos.
•P-1 (Zhongfu) tenderá a levar os ombros
para trás porque na profundidade deste ponto fica o plexo braquial.
•P-7 (Lieque) e P-9 (Taiyuan) vão rodar externamente o membro superior, levantando
a parede do peito devido a um efeito de alavanca e fazendo com que os pulmões subam.
•Se forem utilizados ainda Du-12 (Shenzhu)
e B-13 (Feishu), que irão promover um empurrar por trás, o efeito sobre a parte superior do tronco é mais localizado e a parte
superior da coluna extende-se ainda mais.
•O objectivo até aqui foi expandir a parte
superior do corpo e rodá-la externamente,
abrindo espaço para os pulmões que se expandem em conjunto.
██Conclusão
Os médicos da antiga China, não pareciam conhecer a estrutura da fáscia, porém aparentemente e
possivelmente por observação dos movimentos
do corpo, áreas de concentração de dor e tensão,
relações entre sintomas e sinais, descreveram uma
rede de meridianos e acupontos com grande correspondência aos trilhos miofasciais.
Segundo Kaptchuk, os meridianos formam uma
rede através do corpo que conecta os tecidos periféricos entre si e estes às vísceras e órgãos profundos (Kaptchuk, 2000). Milhares de anos depois,
define-se que o tecido conjuntivo promove união
entre todo o corpo, tanto no aspecto físico como
energético quando se compreende que a transmissão da informação pelo corpo implica na transmissão de energia. A fáscia parece ser a base do trajecto dos meridianos, e a origem destas linhas remonta o desenvolvimento embriológico do ser humano.
Partindo-se do princípio que mesmo uma energia subtil precisa de um meio físico para fluir e
se manifestar, e baseado nos estudos que foram
apresentados nesta revisão, pode-se definir que a
fáscia é a base física por onde o Qi circula.
•E-36 (Zusanli), promove uma rotação das
pernas internamente, e Ren-6 promove um
apertar no centro do corpo, sendo que estes 2 movimentos combinados permitem a
parte superior do corpo expandir-se e rodar
externamente com apoio inferior.
42 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
A Tabela 1 mostra um modelo que explica os conceitos da Medicina Chinesa de acordo com as descobertas
dos estudos científicos da última década:
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
ANATOMIA E FISIOLOGIA OCIDENTAL
Meridianos de Acupunctura
Planos e trilhos fasciais
Pontos de Acupunctura
Convergência de planos fasciais
Qi
Fenómenos corporais energéticos (como o metabolismo, o movimento, a transmissão de um sinal)
Fluxo de Qi pelo meridiano
Transmissão de sinal biomecânico pela fáscia
Estagnação de Qi
Alteração da composição da fáscia criando alteração do
envio do sinal biomecãnico
De Qi
Enrolar das fibras de colágeno na agulha de acupunctura
Tabela 1: Correlação dos conceitos da Medicina Tradicional Chinesa com a Anatomia e Fisiologia
Ocidental (Langevin e Yandow 2002).
Considerando-se como os estudos mostram que a fáscia é a estrutura física por onde o Qi circula, e suas
fibras são essenciais para a transmissão do sinal de acupunctura tanto em termos locais como à distância,
podemos dizer que a condição da fáscia será essencial para um bom fluxo de Qi no organismo. Em termos
funcionais, a fascia molda e dá forma ao corpo e assim afecta as suas funções. Uma pessoa com o Qi muito
debilitado, tem também pouca energia e poucos reflexos de recuo aos estímulos, tendo mais dificuldade em
responder a acupunctura.
A capacidade do organismo em movimentar-se adequadamente, e de propagar o sinal de acupunctura ao longo das linhas fasciais irá afectar o resultado do tratamento. Desta forma, os problemas crônicos, mais antigos,
que implicam em maior dano aos tecidos, bloqueios, edemas, e tudo mais que pode afectar a transmissão do
sinal e a movimentação das lâminas fasciais, irão demorar mais tempo a ser tratados.
Além da acupunctura, outras técnicas milenares como o Tai Chi e o Qicong auxiliam no reequilibrio do corpo
actuando também sobre a fáscia, sobre as linhas de controlo de movimento do corpo e consequentemente
sobre a circulação de Qi. Roger Jahnke diz que quando colocamos nossa postura mais erecta e relaxada, realizamos movimentos de forma mais suave e aprofundamos a respiração, fazemos com que a água interna, dentro dos grandes rios e oceanos formados pela fáscia seja impulsionada e circule livremente, nutrindo todos
os tecidos (Jahnke, 2005). James Oschman vai além e afirma que a fáscia é capaz de gerar energia. Segundo
o autor cada movimento e cada compressão do corpo faz com que a grade cristalina do tecido conjuntivo
gere sinais bioelétricos, assim literalmente qualquer movimento produz e faz circular energia e informação
na matriz do Qi (Oschman, 2000).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 43
PALAVRAS-CHAVE:
Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.
║║
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•Beach, Phillipe Muscles and Meridians, the manipulation of shape. Elsevier Healthy Scienses, 2010
•Fuller B. Synergetics. Macmillan New York 1975.
•Ingber Donald. The architecture of life. Scientific American, janeiro 1998 p. 48-57.
•Jahnke, Roger A Promessa de Cura do Qi – Criando um bem-estar extraordinário com o qigong
e o tai chi. 1ª ed. São Paulo, Edições Cultrix, 2005.
•Jayasurya, Anton (1995) As Bases Científicas da Acupuntura. Rio de Janeiro, Sohaku Edições.
•Kaptchuk, Ted. The Web That Has No Weaver : Understanding Chinese Medicine. Contemporary Books, New York, 2000.
•Langevin, H.M. e Yandow, J.A. “Relationship of Acupuncture Points and Meridians to Connective Tissue Planes.” The Anatomical Record (New Anat.) 269: 257–265, 2002.
•Lewith, George “Acupuncture: Its Place in Western Medical Science.” Thorsons Publishers,
Nova York, 1985.
•Lu Gwei-Djen e Needham J. Celestial lancets; a history and rationale of acupuncture and moxa.
Cambridge, Cambridge University Press, 1980.
•Maike, Sonia R.l. Fundamentos Essenciais da Acupunctura Chinesa, Icone Editora, São Paulo,
1995
•Mendes, Sandra Texto de Apoio ao Curso de Indução Miofascial, Instituto Português de Naturologia, Porto, 2012.
•Myers, Thomas “Anatomy Trains – Myofascial Meridians for Manual and Movement Therapist”.
2a edição, Churchill Livingstone, Londres, 2009.
•Oschman, James “Energy Medicine – The Scientific Basis.” Churchill Linvingstone, Londres,
2000.
•Rizk Nabil A new description of the anterior abdominal wall in man and mammals. Journal of
Anatomy. Vol. 131, p.373-385, 1980.
•Wen, Tom Sintan. Acupuntura Clássica Chinesa. Editora Cultrix Lda. São Paulo 1985.
44 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Provérbios, Expressões
idiomáticas e a Medicina
Tradicional Chinesa
O Uso do Conhecimento no Sucesso Terapêutico
Aurélio Marques*
[email protected]
Resumo:
O provérbio diz que "De médico e de louco todos temos um pouco".
Mas que significa curar? Que processos visíveis e impalpáveis tomam parte no processo de cura?
Até que ponto o acto mecânico de espetar agulhas em pontos específicos ou receitar medicamentos
com determinados princípios activos pode ser enormemente potenciado por outros factores é algo
que por vezes esquecemos ou negligenciamos.
Para encararmos esta possibilidade temos que equacionar outras perspectivas que nos abrem a novos
paradigmas. E talvez para nosso espanto, já a nossa sabedoria popular e o conhecimento empírico
das tribos indígenas nos alertava para isso. É assim que nos deparamos com a força da intenção e
com o Amor incondicional.
* Síntese curricular:
Licenciado em Medicina Tradicional Chinesa pelo Instituto Português de Medicina Tradicional. Chinesa. Estágio de
MTC no Hospital Wu Yi de Jiang Men, Guang Dong. Pós-graduação em Bei Jing pela Associação Médica Chinesa.
Autor do livro Sabedoria Milenar a Sério e a Brincar, Chiado Editora. Fundador e Director da Academia de Wing Chun
Kung Fu - CRCA Portugal. Licenciado em Inglês-Alemão pela Universidade do Minho. Professor de Inglês-Alemão
no ensino secundário. Formador de MTC nas áreas de Fitoterapia, Acupunctura, Meridianos e Pontos de acupunctura,
Patologias, Especialidades e Tratamentos e Teoria Básica. Curso de Instrutor de Kung Fu de Grau I pela FPAMC Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas. Instrutor de Wing Chun Kung Fu na Academia CRCA Portugal.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 45
██Os mitos e os ritos
Um olhar sobre a antropologia revela-nos a necessidade intrínseca milenar do Homem materializar
as suas crenças e os seus valores. É assim que o
Mito se faz Rito e é por isso que se pode afirmar
que o Rito é o Mito em ação. E desta forma o
Homem devolve à natureza e ao mundo tudo o
que dele recebe.
Os rituais xamânicos de há milhares de anos atrás
na China representavam já um entendimento do
mundo. Eram feitos por alguns membros de clãs
que se especializaram em técnicas curativas. Estes xamãs (wu) associavam a medicina à magia e
evidenciavam nos seus tratamentos uma tentativa
do Homem poder interferir na realidade usando
essa ligação interna e intensa com a natureza para
alterar a realidade de um enfermo.
À crença de que as forças do cosmos se conjugavam para alterar a sintomatologia de um ser juntava-se a convicção de que era igualmente possível
alterar essa situação pela comunhão com o todo
interferindo depois nesse aglomerado energético.
Este arquétipo de que somos parte do todo e de
que simultaneamente podemos intervir e alterá-lo
pode ser encontrado em todas as culturas, desde a
dança da chuva nos índios americanos, as dádivas
de alimentos em altares, até aos sacrifícios de animais e pessoas em muitas tribos.
Embora possamos classificar este tipo de manifestações como arcaicas, relacionadas com o passado,
com a falta de conhecimento científico e por isso
em desuso, muitas continuam até aos nossos dias
e provavelmente não são assim tão desprovidas de
sentido.
46 ██A compilação do
██conhecimento
E foi desta necessidade de compreensão do mundo para melhor interagir com ele que surgiu a necessidade de agregar informação resultante desse
conhecimento empírico. Os Shang, um povo que
viveu nas margens do Rio Amarelo há cerca de
5000 anos atrás começou por estabelecer paralelismos entre o corpo humano e a natureza. Associavam por exemplo a pele do nosso corpo à crosta
terrestre e já estabeleciam ligações entre cada órgão e uma parte específica do corpo.
E começou assim uma maior compreensão do
universo através de paralelismos que veio mais
tarde a dar origem à teoria dos Cinco Movimentos
(wu xing), muito usada na Medicina Tradicional
Chinesa e no Feng Shui.
E quanto mais conhecimento se reunia mais se
compreendia a realidade e mais consciente era a
interação com o meio.
Um aspecto a considerar é o facto de culturas
diferentes em vários pontos do globo terem chegado a conclusões semelhantes sensivelmente ao
mesmo tempo.
Quando por volta do séc III a.C. na China se
compilava toda a informação sobre a Medicina no
livro Huang Di Nei Jing, O Livro do Imperador
Amarelo, ao mesmo tempo no ocidente Hipócrates elencava as suas teorias sobre a medicina.
██A tradição oral
O mesmo acontece com a génese de muitos provérbios e expressões idiomáticas. O provérbio
"Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer" tem leituras semelhantes em vários países.
Em Inglaterra, por exemplo, diz-se "Early to bed
and early to rise makes a man healthy wealthy and
wise". Um variado número de expressões idiomáticas seguem o mesmo caminho. É o caso de
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
"Saber de cor". Estamos a relacionar a memória
com o coração (Cor em latim). Esta relação, ainda
que estranha para a nossa cultura encaixa perfeitamente na noção de Coração na Medicina Chinesa,
um Zang (Órgão) intimamente relacionado com
a Mente e com a Memória. E nós Portugueses de
alguma forma chegámos a essa conclusão ao longo dos séculos muito embora não pensemos nisso
quando proferimos esta expressão.
E uma vez mais encontramos a supracitada expressão idiomática em várias culturas. Na França
diz-se "Savoir par couer" e os Ingleses dizem literalmente "To know by heart".
Ademais, por vezes a mesma cultura apresenta
vários provérbios ou expressões que apontam no
mesmo sentido corroborando uma mesma ideia.
Neste caso, os Portugueses têm outra expressão
que associa ainda o Coração à língua, especialmente à sua ponta. Trata-se da expressão "Ter tudo na
ponta da língua". Esta relação está mais uma vez
em consonância com a ideia da Medicina Tradicional Chinesa das somatopuncturas, isto é, a concepção de que o corpo está representado de várias
formas em cada uma das suas partes. Neste caso,
a Medicina Tradicional Chinesa associa o Coração
à fala, à língua e especialmente à sua ponta. Uma
fissura ou uma alteração da cor na ponta da mesma pode indicar informação sobre o estado energético do mesmo ou a propensão para patologias
desse foro.
Outro provérbio que diz "Quem muito ama não
esquece" relaciona a memória ao coração.
A criação de vários provérbios e expressões idiomáticas que sugerem uma mesma ideia é muito
comum. A expressão "Dormir sobre o assunto"
aponta para a ideia de que dormir ajuda na resolução de problemas difíceis. Se acharmos que talvez
este provérbio não faça muito sentido, que esteja
mesmo errado ou seja resultante de uma concep-
ção distorcida da realidade convém lembrar que
existem outros que apontam no mesmo sentido.
Quando ouvimos dizer "Não faças nada sem antes
consultares a almofada" ou "A noite é boa conselheira" parece ficar claro que algo acontece durante a noite no sentido de auxiliar a nossa percepção
da realidade, das nossas escolhas e do nosso discernimento.
A Medicina Tradicional Chinesa associa este aspecto ao hun que é considerado a Entidade Visceral associada ao Zang Fígado. Significa isto que
todos os órgãos, além de terem uma correspondência com uma zona no corpo, um órgão sensorial como vimos antes ou um aspecto emocional
eles representam também uma vertente do nosso
espírito. E o hun é a parte mais Yang do espírito.
É a vertente de nós que já existia antes desta encarnação e é a que vai continuar a existir depois de
deixarmos este corpo e voltarmos a reencarnar. É
muitas vezes apelidado de "Alma Etérea" e representa o que realmente somos a nível intemporal.
É a nossa Essência, o nosso verdadeiro Eu. É esse
ser com um projecto de vida e um rumo ou então
a ausência dele.
E acreditavam os Chineses que durante a noite o
hun sai do corpo durante o sono para se ligar ao
todo. Segundo teorias Jungianas e budistas, o hun
é o elo que faz a ligação entre a Mente Individual
e a Mente Universal, também chamada de Inconsciente Colectivo. É desta ligação com o todo que
surgem respostas para as questões do dia-a-dia,
para a escolha de caminhos a seguir, ou até mesmo a intuição para a construção de obras de arte.
E este hun, sendo de natureza Yang (entenda-se
neste caso por muito imaterial) necessita de um
enraizamento no Yin do Fígado. Daí que surjam
problemas como falta de rumo na vida e o sujeito torna-se muito aéreo e sonhador por falta de
enraizamento desta Entidade Visceral. E por isso
se diz em várias línguas que se vai "dormir sobre
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 47
o assunto", da mesma que na nossa temos vários
outros provérbios a apontar para o mesmo. Lembra outro provérbio que diz "Voz do Povo, voz
de Deus".
██A canonização do
██conhecimento
Podemos constatar que o conhecimento foi alcançado de igual forma no ocidente e no oriente.
Por vezes foi compilado outras vezes manteve-se
por via oral de geração em geração. Umas vezes
foi usado de forma mais intuitiva e imbuído de
crenças e rituais. Outras vezes deu-se mais valor à
sua vertente mais cartesiana e "científica". E frequentemente esse conhecimento foi brotando no
discurso quotidiano dos povos de todo o mundo
sem que eles frequentemente dessem por isso.
A mente tendencialmente maniqueísta ocidental (e não só) tende a preterir algumas formas de
uso do conhecimento em relação a outras, talvez
menos "científicas". Acreditam por isso que fazer
rituais para alcançar um propósito terapêutico
é algo desprovido de sentido e por conseguinte
inconsequente e arcaico. Confiam, por exemplo,
apenas nas virtudes específicas de uma planta consoante os seus compostos químicos.
Mas desconsideram todo um mundo paralelo
energético que entra em jogo e pode fazer toda
a diferença. Refiro-me ao facto de um tratamento
feito de forma idêntica em duas pessoas com o
mesmo problema ter efeitos diferentes em cada
uma. É certo que este facto pode ter variadíssimas
causas já que muitas variantes entram no processo da cura. Mas uma delas é a energia que o terapeuta coloca no tratamento e essa é proporcional
à intenção de cura do mesmo. O antropólogo e
etnólogo Bertrand Hell refere em vários dos seus
livros a diferença terapêutica entre aplicar um tratamento fitoterápico com ou sem um ritual em
concomitância.
48 A minha intenção neste artigo não é sugerir que
se façam rituais tribais a cada sessão de Medicina
Tradicional Chinesa, mas contribuir para a tomada
de consciência de que há mais factores que determinam o sucesso terapêutico do que apenas a
virtude específica de um composto químico, uma
enzima ou de um ponto de acupunctura. A realidade é bem mais complexa e compreende outros
factores como a relação que se estabelece com
o paciente, a empatia que se cria e a intenção de
cura, além do conhecimento específico da técnica que estamos a executar. Da mesma forma que
não será obrigatório recitar um mantra específico
antes de picar um ponto de acupunctura, também
não será producente inserir agulhas enquanto se
pensa em assuntos alheios ao paciente e que nada
têm a ver com a sua situação específica.
E a concentração no ponto de acupunctura que estamos a
puncturar, no seu efeito energético tendo em conta o desequilíbrio do paciente, considerando e visualizando o trajecto do
meridiano é de fulcral importância. Como diz o velho aforismo muito usado no Qi Gong, "O Qi vai onde a Mente vai".
Por que razão uma mãe faz o "toque mágico" no
local onde o filho se magoa? Porque ela sabe que
ambos se vão concentrar no local e visualizar o
desaparecimento da dor. E como todos sabemos,
funciona. Não é magia, nem superstição. É antes
um acto de Amor, e isso sim, é altamente curativo.
E é isto que deve ser antes de tudo a terapia.
Compreender isto é não desperdiçar conhecimento. É usar os vários paradigmas vivenciando
o termo "holístico" em toda a sua plenitude para
alcançar mais sucesso terapêutico.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
PALAVRAS-CHAVE:
Sabedoria, Provérbios, Terapia, Acupunctura , Xamanismo
║║
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•Hell, Bertrand Soigner les âmes. L'invisible dans la psychothérapie et la cure chamanique, (avec E.
Collot), Paris, Dunod, 2011
•Costa Silva Fernando. Acupunctura e Moxibustão – Princípios, técnicas, aplicações. Serviços de
Saúde de Macau, 1997
•Yamamura Ysao. Acupunctura – Um texto compreensível. Editora Roca 1996
•Maciocia Giovanni. Os Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. Editora Roca 1996
•Lio Monk. Sabedoria Milenar, a Sério e a Brincar. Chiado Editora, 2010
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 49
Possíveis aplicações
terapêuticas futuras
de canabinóides
Eduardo A. C. Carvalho*
[email protected]
Resumo:
Os canabinóides são hoje reconhecidos como sendo novos e importantes reguladores do metabolismo energético e da homeostasia em geral. Em anos recentes, foram identificados canabinóides
endógenos (e derivados do seu metabolismo), em células humanas de tecido adiposo. O sistema
endocanabinóide é constituído principalmente por dois receptores, canabinóides (CB1 e CB2), pelos seus ligandos endógenos denominados endocanabinóides, e pelas enzimas responsáveis pela sua
biossíntese e degradação. Os endocanabinóides 2-araquidinoglicerol e a anandamida aumentam o
apetite, promovem ganho de peso em animais, e exercem uma série de efeitos farmacológicos inigualáveis. O desregulamento deste sistema, ou o comprometimento do seu funcionamento poderá
estar na origem de muitas enfermidades que ainda hoje tentamos conhecer melhor. A aplicação de
compostos desta natureza em medicina é limitado, ou na maioria dos países inexistente. Contudo, vão
sendo dados os primeiros passos no sentido de incorporá-los em contexto terapêutico.
* Síntese curricular:
Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Docente das disciplinas de:
Análises Clínicas, Fisiologia, Fisiopatologia e Fitoterapia no Instituto Português de Naturologia. Participação em congressos como orador na área da Fitoterapia.
50 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
██Introdução
A Cannabis assume uma importância significativa
a nível medicinal e social há milénios. Os canabinóides são obtidos através da Cannabis sativa, sendo que o seu nome, reflecte o uso ancestral que
tem - Cannabis representa uma oferenda, muitas
vezes referida no Velho Testamento e em escrituras hebraicas como “a cana das fragrâncias”; ao
passo que sativa provém do Latim, que significa
“cultivado”.
O conhecido botânico inglês Nicholas Culpeper
(1616-1654) escreveu no seu livro “O médico
inglês” que o extracto de cânhamo “alivia as dores de cabeça, ajuda nas dores da Gota, em problemas de articulações, nas dores nos tendões
e na anca”. (Culpeper 1652). A preparação de
Culpeper provavelmente teria pouca acção psicoactiva, uma vez que a Cannabis cultivada em
latitudes nortenhas apresenta um teor de THC
mais baixo. (Booth 2003). O médico irlandês Sir
William O'Shaughnessy (1809-1889) efectuou
o primeiro estudo à planta, enquanto trabalhava
em Calcutá, acabando por popularizar o seu uso.
(O'Shaughnessy 1843). A imperadora da Índia
(Rainha Vitória) terá inclusivamente usado Cannabis para aliviar o desconforto menstrual (Iversen
2000). A tintura de Cannabis BPC (British Pharmaceutical Codex) permaneceu disponível no Reino Unido mediante prescrição médica até 1971
(Royal Pharmaceutical Society of Great Britain
1998). Ironicamente, a sua retirada do mercado
coincidiu com o ressurgimento do interesse na
farmacologia canabinóide, após a descrição dos
primeiros receptores (CBs).
Constatações evidenciadas pela Royal Pharmaceutical Society e apresentadas a inquérito na “House
of Lords” em 1998 encorajavam pesquisa futura
no que respeita ao modo de funcionamento dos
receptores canabinóides na Esclerose Múltipla, e
outras patologias, incluindo a dor crónica (Royal
Pharmaceutical Society of Great Britain 1998;
House of Lords - Science and Technology Commitee 1998) . Desde o início do novo milénio,
muitos têm sido os estudos apresentados no sentido de provar a correlação entre canabinóides e
surgimento de certas patologias. O presente trabalho decorre justamente do facto de haver nos
dias de hoje, um renovado interesse pela Cannabis
e pelos seus canabinóides; advindo do facto de
haver tamanha bipolarização de opiniões quanto
a esta matéria, de país para país, de profissional
de saúde para profissional de saúde… a problemática tem-se tornado crescentemente apelativa,
no sentido de melhor conhecer o balanço risco/
benefício que uma reintrodução dos canabinóides
na sociedade poderia representar, no âmbito da
apresentação de tratamentos complementares em
patologias reconhecidas, e do seu pleno impacto
em termos de Saúde Pública.
██Sistema
██Endocanabinóide
Os canabinóides exercem a sua acção farmacológica, mediante a sua interacção com os receptores
específicos: CB1 e CB2, cuja descrição foi apresentada no final dos anos 80, tendo estes receptores sido posteriormente clonados (Matsuda et al.
1990; Munro et al. 1993) . Os receptores CB1 encontram-se distribuídos principalmente pelo cérebro (Herkenham et al. 1990) e pelo tecido adiposo
(Bensaid et al. 2003) embora também possam ser
encontrados no miocárdio (Bonz et al. 2003), endotélio vascular (Liu et al. 2000), e nos terminais
de nervos “simpáticos” (Ishac et al. 1996). Os
receptores CB2 estão principalmente localizados
no tecido linfático e em macrófagos periféricos.
(Hanus et al. 1999) Ambos os receptores actuam
enquanto proteínas-G trasmembranares. A existência de receptores CB3 já foi provada, (Fride
et al. 2003) mas o receptor em si ainda não foi
clonado. Os receptores canabinóides apresentam
grande afinidade para, pelo menos, dois ligandos
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 51
endógenos: pequenas moléculas lipídicas, como a
anadamida, e o 2 – araquidinoglicerol ou 2-AG.
Em condições normais, o sistema endocanabinóide não se encontra “tonicamente” activo. Ao invés
disso, os endocanabinóides são produzidos por
demanda, actuam localmente e são rapidamente
inactivados quer por uptake na via celular, quer por
hidrólise enzimática. (Giuffrida et al. 2001)
Efeitos cardiovasculares
Em modelos de ratinhos anestesiados, a anandamida administrada intravenosamente, produz
uma resposta hemodinâmica trifásica (Verga et
al. 1995) ou seja, provoca um breve período de
bradicardia e hipotensão, seguido de uma reacção
de transição, culminando numa resposta vasodepressora relativamente prolongada. Este último
efeito é o dominante da anandamida, em modelos animais, e resulta de inibição (mediada pelos
receptores CB1) da libertação de norepinefrina
de terminais nervosos pré-sinápticos (Niederhoffer et al. 2003). Em humanos, a administração
de canabinóides de forma aguda resulta numa vasodilatação e numa taquicardia, traduzidas numa
variação da pressão sanguínea, a nível sistémico
(Huestis et a.l 1992). No entanto, o uso crónico
de THC, origina uma hipotensão e uma bradicardia, mediadas igualmente pelos receptores CB1.
(Benowitz-Jones 1975 ; Lake et al. 1997)
Investigações mais recentes, demonstram que o
sistema endocanabinóide também assume um
papel na hemodinâmica de estados de choque.
De forma efectiva, em condições experimentais
de hemorragia (Wagner et al. 1997), enfarte do
miocárdio, (Wagner et al. 2001) ou endotoxemia
(Varga et al. 1998; Godlewski et al. 2004) os macrófagos e trombócitos circulantes sintetizam
anandamida, que contribui para o surgimento da
hipotensão e choque. Com o bloqueio destes receptores CB1 estes mesmos efeitos são atenuados.
52 Efeitos metabólicos
Ambos os receptores canabinóides e os seus ligandos encontram-se em todos os tecidos que
desempenham um papel importante na regulação
da fome. Os níveis de endocanabinóides no hipotálamo descem após a administração de leptina - hormona da "saciedade" que regula os níveis
de energia presentes sob a forma de gordura no
corpo (Di Marzo et al. 2001). Os agonistas CB1
são potentes indutores, (dependentes da dose) de
hiperfagia em modelos experimentais, (Williams-Kirkham 1999; Jamshidi-Taylor 2001; Kirkham
et al. 2002) ao passo que o antagonismo de receptores CB1 previne a hiperfagia nos mesmos
modelos (Ravinet et al. 2004). No fígado, os endocanabinóides actuam com o intuito de promover
a lipogénese e estimular a síntese de novo de ácidos
gordos. (Osei-Hyiaman et al. 2005)
██Canabinóides e
██Dependência
As regiões do cérebro que se pensa estarem envolvidas na obtenção de prazer contêm níveis
elevados de receptores CB1 (Herkenham et al.
1996), e novas descobertas têm sido feitas, que sugerem um papel para o sistema endocanabinóide
na formação e desenvolvimento de dependência a
substâncias psicotrópicas. Especificamente, os endocanabinóides modulam a reactividade e condicionam-na após abstinência prolongada da substância (De Vries et al. 2005). Estes efeitos foram
já demonstrados para uma série de substâncias,
incluindo a cocaína (De Vries et al. 2001), heroína
(Fattore et al. 2003), anfetaminas (Anggadiredja et
al. 2004), e álcool (Gallate et al. 1999). Existem
também estudos que comprovam que o sistema
endocanabinóide assume um papel importante na
modulação da dependência à nicotina. De facto,
os efeitos agradáveis da nicotina desapareceram
em ratinhos carenciados de receptores CB1 (Cas-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
tane et al. 2002), enquanto que a administração
de antagonistas selectivos CB1, como o rimonabanto, diminui a intensidade do comportamento
envolvido na procura da nicotina (Balerio et al.
2004). De forma interessante, o envolvimento endocanabinóide no desenvolvimento da dependência de nicotina, parece estar limitado aos aspectos
psicológicos da dependência, uma vez que os efeitos da abstinência de nicotina, em termos físicos,
não foram atenuados em ratinhos deficientes de
receptores CB1. (Ramirez et al. 2005)
News 1998). A manipulação da via canabinóide
oferece uma aproximação farmacológica para o
tratamento da doença de Alzheimer, que poderá
vir a ser mais eficaz que muitos regimes actuais
(Campbell and Gowran 2007). É reportado que a
administração diária de 2,5 mg de THC sintético
por um período de tempo de duas semanas, reduz
a actividade motora nocturna e a agitação, em doentes com Alzheimer. (Walther et al. 2008)
Canabinóides e Doença
de Alzheimer
Os estudos que têm sido desenvolvidos nesta área
apontam para que o uso de Cannabis seja comum
em grupos de pacientes que sofrem de dor neuropática (Cone et al. 2008), e vários ensaios clínicos
recentes indicam que a inalação de marijuana pode
aliviar significativamente esta condição. Um punhado de ensaios recentes demonstra que o fumar
Cannabis, reduz a dor neuropática em pacientes
com HIV, em cerca de 30%, quando comparados
com o placebo (Abrams et al. 2007; Ellis et al.
2008). No ano de 2008, os investigadores da Universidade da Califórnia averiguaram a eficácia de
Cannabis inalada na intensidade da dor em 38 pacientes com dor neuropática central ou periférica;
cruzando posteriormente os seus resultados com
a aplicação de um placebo. A conclusão final: “A
Cannabis reduz a intensidade da dor e o mau-estar
associado a ela. Assim, tal como com os opióides,
a Cannabis não se fundamenta no relaxamento ou
no efeito tranquilizante, mas antes, na redução tanto da componente essencial da nocicepção, como
no aspecto emocional da experienciação de dor,
em igual grau” (Wilsey et al. 2008). Já em 2009,
uma equipa de investigadores reafirmou estes
achados pré-clínicos num estudo científico de pacientes com cancro terminal. Assim, concluíram:
“...o extracto contendo THC/CBD demonstrou
apresentar um maior perfil promissor em termos
de eficácia, que o extracto contendo somente o
THC. A conclusão é reafirmada pela evidência de
Investigadores da Universidade de Madrid e do
Instituto Cajal de Espanha, reportam que a administração intracérebroventricular de canabinóides
reduz a neurotoxicidade em ratinhos injectados
com o péptido amilóide-beta. Outros canabinóides revelaram igualmente uma capacidade de
redução da inflamação associada à doença de Alzheimer, no cérebro humano. “Os nossos resultados indicam que os canabinóides têm sucesso
na prevenção do processo neurodegenerativo que
ocorre na doença”, concluíram os investigadores (Ramirez et al. 2005). Em 2006, verificou-se
que o THC inibia uma enzima responsável pela
agregação da placa amilóide – o principal marcador da doença de Alzheimer – de uma forma
“consideravelmente superior” a muitos medicamentos
disponíveis. “O THC e os seus análogos poderão representar uma opção terapêutica mais sofisticada para a
doença de Alzheimer, ao tratar simultaneamente os sintomas da doença e a progressão da mesma” (Eubanks et
al. 2006). Estudos pré-clínicos anteriores haviam
demonstrado que os canabinóides podiam prevenir a morte celular por anti-oxidação (Hampson
et al. 1998). Alguns especialistas acreditam que as
propriedades neuroprotectoras dos canabinóides,
podem também assumir um papel importante
na moderação da doença de Alzheimer (Science
Canabinóides e Dor
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 53
sinergia adicional entre o THC e o CBD. "Estes
resultados são bastante encorajadores, e merecem
estudo futuro.” (Johnson et al. 2009).
Canabinóides e
Esclerose múltipla
São vários os artigos contendo evidências da capacidade dos canabinóides reduzirem sintomas
relacionados com a doença como: a dor, a espasticidade, depressão, fadiga, e incontinência (Chong
et al. 2006; Rog et al. 2005). – tal facto tem levado
muitas organizações de pacientes sofredores de
Esclerose Múltipla, como as Sociedades Britânica
e Canadiense de Esclerose Múltipla, a assumirem
posições no sentido de favorecer a prescrição da
substância para uso individual (Wade et al. 2004).
Os pacientes sofredores de Esclerose Múltipla
muitas vezes associam a sua terapia ao consumo
de Cannabis (Brady et al. 2004), com um estudo
inclusivamente indicando que um em cada dois
pacientes, usa a Cannabis, terapeuticamente (Vaney
et al. 2004). Ensaios clínicos e pré-clínicos sugerem também que os canabinóides poderão inibir
a progressão desta doença. Um artigo publicado em 2003 na revista Brain por investigadores
da University College of London's Institute of
Neurology, afirma: “Os resultados deste estudo
são importantes, na medida em que sugerem que,
para além do controlo sintomático da doença, a
Cannabis pode também desacelerar o processo
neurodegenerativo, que em última instância levará à paralização total, ou provavelmente a outra
doença” (Pryce et al. 2003). Os investigadores da
Universidade Médica Holandesa de Vrije, afirmaram, pela primeira vez em 2003, que a administração oral de THC, pode promover um melhor
funcionamento do sistema imune, em pacientes
com Esclerose Múltipla. Concluíram: “Estes resultados sugerem que os canabinóides apresentam
um potencial anti-inflamatório na Esclerose Múltipla" (Killestein et al. 2003). Em um outro estudo
54 realizado em 2006, em 167 sujeitos sofredores da
doença, foi concluído que o uso do extracto da
Cannabis aliviou os sintomas de dor, espasticidade
e incontinência urinária, durante um período de
tratamento em média de 434 dias (sem submeter
os pacientes a aumentos de dosagem) (Wade et
al. 2006). Por outro lado, um outro estudo realizado em 2007 concluiu que a administração de
extractos de Cannabis, encontrava-se associada a
reduções a longo prazo na dor neuropática, em
pacientes seleccionados, com Esclerose Múltipla.
Em média, os pacientes em estudo requeriam doses tendencialmente mais baixas, ao longo do tempo, enquanto simultaneamente reportavam uma
diminuição substancial da dor (Rog et al. 2007).
A Health Canada, aprovou recentemente o uso de
extractos de Cannabis mediante prescrição médica,
para doentes que padecem de dor neuropática, em
função da doença a que esta se encontra associada.
(Canada News Wire 2005).
Canabinóides e Hipertensão
A investigação emergente indica que o sistema
endocanabinóide assume um papel na regulação
da pressão arterial, embora o seu mecanismo de
acção não seja ainda muito bem conhecido (Franjo 2006). Estudos em animais demonstram que a
anandamida e outros endocanabinóides suprimem
profundamente a contractilidade cardíaca na hipertensão, podendo ainda normalizar a pressão sanguínea (Baktai et al. 2004; Pacher et al. 2005), o que
leva alguns peritos a especular que a manipulação
do sistema endocanabinóide “poderá oferecer uma
nova aproximação terapêutica para uma variedade
enorme de doenças cardiovasculares” (Pacher et
al. 2005). Em modelos animais, a administração de
canabinóides encontra-se associada, normalmente,
a uma vasodilatação, a uma bradicardia e a hipotensão (Resse Jones 2002), assim como a uma inibição da progressão da aterosclerose (espessamento
das artérias) (Steffens and Mach - "Nature" 2006;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
Steffens et al. 2005; Steffens and Mach 2006). A
administração de canabinóides sintéticos, provoca
igualmente uma diminuição na pressão arterial em
animais, e não foi até hoje associada a qualquer
tipo de toxicidade em humanos. (Steven Karch
2006; François Mach 2006).
Canabinóides e Doenças
Gastro-intestinais
Estudos pré-clínicos demonstram que a activação
dos receptores canabinóides CB1 e CB2 exerce funções biológicas no tracto gastro-intestinal
(Pertwee 2001). Os efeitos da sua activação em
animais, inclui a supressão da motilidade gastro-intestinal (Pertwee 2001), inibição da secreção
intestinal (Di Carlo 2003), diminuição do refluxo
ácido (Lehmann et al. 2002) e protecção de inflamações (Massa et al. 2005) assim como promover
o tratamento de lesões epiteliais em tecido humano (Wright et al. 2005). Como resultado, muitos
especialistas agora crêem que os canabinóides e/
ou a modulação do sistema endógeno canabinóide
representa um novo modelo terapêutico no que
concerne ao tratamento de uma série de condições gastro-intestinais – incluindo as doenças
irritativas do cólon, doenças relacionadas com o
funcionamento intestinal, condições que apresentem refluxo gastro-esofágico ou emese, diarreia
abundante, úlceras gástricas, e cancro do cólon.
(Massa-Monory 2005; Wright et al. 2005)
Canabinóides e Artrite
Reumatóide (AR)
Um estudo realizado em Inglaterra, constatou que
mais de 20% dos inquiridos afirmaram usarem a
planta para tratamento dos sintomas (Ware et al.
2005). Em Janeiro de 2006, os investigadores do
British Royal National Hospital for Rheumatic Disease concluíram que os canabinóides poderiam
ser utilizados com sucesso no tratamento da do-
ença, naquele que foi o primeiro estudo científico com o intuito de aceder à eficácia da Cannabis,
enquanto planta, no tratamento da AR (Blake et
al. 2006). Os investigadores admitiram que a administração de extracto de Cannabis por um período de mais de cinco semanas, produziu melhorias
significativas na intensidade da dor de locomoção,
dor estacionária, qualidade do sono, inflamação, e
intensidade da dor geral quando comparado com
o placebo. Não foram reportados efeitos adversos.
Resultados similares haviam já sido apresentados
em ensaios de menor dimensão, de Fase II, investigando o uso de extractos naturais de Cannabis no
alívio de sintomas da Artrite Reumatóide (Drugs
in Research and Development 2003). Num artigo
publicado em 2000 no Journal of the Proceedings of the National Academy of Sciences, os investigadores do London’s Kennedy Institute for
Rheumatology constataram que a administração
de canabidiol (CBD) suprime a progressão da
AR in vitro, e em modelos animais (Malfait et al.
2000). O uso do Canabidiol, após o surgimento
dos sintomas clínicos, protegeu os ligamentos
contra “danos severos”, “bloqueando de forma
efectiva a progressão da doença”. Em Setembro
de 2005, num artigo do Journal of Neuroimmunology, os investigadores do Instituto Nacional de
Neurociência, em Tóquio, concluíram: “A terapia
canabinóide no tratamento da Artrite Reumatóide
poderá representar um alívio da dor sintomática a
nível dos ligamentos, assim como poderá ajudar a
suprimir a destruição dos mesmos e a progressão
da doença em si.” (Croxford-Yamamura 2005)
Canabinóides e Osteoporose
As referências iniciais ao potencial uso de canabinóides contra o surgimento de osteoporose
encontram-se disponíveis na literatura científica
desde o início dos anos 90 (Schrieber 1995). Publicado em 2006 no Proceedings of the National Academy of Sciences, os investigadores do
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 55
laboratório de Bone da Universidade Hebraica
de Jerusalém afirmaram que a administração de
agonistas canabinóides sintéticos como o HU-308
atrasou o desenvolvimento da osteoporose, estimulando a reparação óssea e reduzindo a perda
de material ósseo em animais (Ofek et al. 2006).
No seguimento desta investigação, um artigo publicado no Annals of the New York Academy of
Sciences em 2007 afirma que a activação do receptor canabinóide CB2 reduz, experimentalmente, a
indução da perda de massa óssea, estimulando a
regeneração tissular (Itai 2007). Previamente, os
investigadores haviam reportado que os ratinhos
deficientes em receptor canabinóide CB2, experienciaram perda de massa óssea considerável,
reminiscente da osteoporose humana (Ofek et al.
2006). Embora o papel do sistema endocanabinóide na regulação de massa óssea não esteja ainda
bem compreendido (Idris et al. 2005), os peritos
estão esperançosos que os canabinóides e o sistema receptor sejam “um novo e promissor alvo
para o desenvolvimento de medicação anti-osteoporática.” (Itai 2007)
Canabinóides e Fibromialgia
A Fibromialgia muito raramente é controlável
através da medicação prescrita. Os doentes com
Fibromialgia frequentemente admitem o uso de
Cannabis, terapeuticamente, para tratar os sintomas da doença (Swift et al. 2005; Ware et al. 2005),
e os médicos – legalmente ou não – recomendam,
frequentemente a utilização da planta para tratar
problemas músculo-esqueléticos (Gieringer 2001;
Gorter et al. 2005). Até à data, no entanto, somente um ensaio clínico foi feito, (e que se encontra
disponível em literatura científica) a respeito do
uso de canabinóides para tratar objectivamente
esta doença. Publicado em 2006, na revista Current Medical Research and Opinion, um artigo
dos investigadores da Universidade Alemã de
Heidelberg avaliou os efeitos analgésicos da ad-
56 ministração oral de THC em 9 pacientes com Fibromialgia, por um período de 3 meses. De entre
os participantes que finalizaram o mesmo, todos
revelaram uma redução significativa no registo
diário de dor e na dor induzida electronicamente
(Schley et al. 2006). Outros ensaios pré-clínicos e
clínicos demonstraram que tanto os canabinóides
que ocorrem naturalmente no nosso corpo, como
os exocanabinóides, apresentam propriedades
analgésicas semelhantes (Burns-Ineck 2006; Secko
2005; Wallace et al. 2007; Cox et al. 2007), particularmente no tratamento da dor associada ao cancro (Radbruch-Elsner 2005), e na dor neuropática
(Notcutt et al. 2004; Abrams et al. 2007; Rog et
al. 2007), sendo que ambas são insuficientemente
tratadas com os opióides convencionais, hipotetizando até que a doença esteja talvez associada a
uma deficiência clínica latente no sistema endocanabinóide. (Russo 2004)
Canabinóides e HIV
Censos recentemente efectuados indicam que a
Cannabis é usada por um em cada três Norte-Americanos afligidos com a doença, quer para tratarem
os sintomas desta, quer para evitarem os efeitos
adversos de muitos medicamentos anti-retrovirais
(Woolridge et al. 2005; Prentiss et al. 2004; Braitstein et al. 2001; Ware et al. 2003); sendo que um
estudo recente sustenta que mais de 60% dos pacientes com HIV/SIDA se auto-intitula um “utilizador de Cannabis medicinal” (Belle-Isle 2007). Os
ensaios clínicos indicam que a Cannabis por si só,
não tem um impacto adverso nas células T-CD4
e T-CD8, no que respeita à sua expressividade
(Chao et al. 2008). Poderá inclusivamente melhorar o desempenho do sistema imunológico (Abrams et al. 2003; Fogarty et al. 2007). Em 2007, os
investigadores da Universidade da Columbia concluíram que “a Marijuana fumada apresenta um
claro benefício médico para sujeitos infectados
com o vírus do HIV” (Haney et al. 2007). Nesse
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
mesmo ano, os investigadores do San Francisco
General Hospital e da University of California's
Pain Clinical Research Center reportaram no jornal Neurology que a inalação de Cannabis (se cerca
de três vezes ao dia) pode reduzir a dor do paciente
em cerca de 34%. Assim, concluíram: “A Cannabis
fumada foi bem tolerada e aliviou de forma eficaz
a dor neuropática associada à neuropatia do HIV,
de forma semelhante a medicações orais usadas
para o tratamento da dor neuropática” (Abrams et
al. 2007). Em 2008, investigadores da Universidade da Califórnia, em San Diego publicaram no seu
artigo, no jornal Neuropsychopharmacology, que;
“A Cannabis fumada reduz significativamente a intensidade da dor neuropática associada ao HIV…
a polineuropatia quando comparada com o placebo, adicionada de analgésicos concomitantes
estáveis… melhora a estabilização de humor, auxilia na incapacitação física e qualidade de vida…
que, para os doentes, melhorou significativamente
durante o tratamento do estudo… "Os nossos
achados sugerem que a terapia canabinóide poderá ser uma opção eficaz para alívio em pacientes
de dor dificilmente tratável devido ao HIV" (Ellis
et al. 2008). Como resultado, muitos peritos agora
crêem que a “marijuana representa uma opção de
tratamento na manutenção da saúde do paciente
seropositivo”. (Fogarty et al. 2007)
Canabinóides e Cancro
Em Setembro de 1998 numa edição do jornal
FEBS Letters, os investigadores da Univerdade
Complutense de Madrid, mais concretamente da
Escola de Biologia, reportaram inicialmente que
o delta-9-THC induzia a apoptose (morte celular
programada) em culturas de células de Glioma
(Guzman et al. 1998). Os investigadores confirmaram novamente, em 2003, a possibilidade dos
canabinóides inibirem o crescimento de tumores
animais (Guzman et al. 2003). No mesmo ano,
cientistas italianos da Universidade de Milão, do
Departamento de Farmacologia, Quimioterapia
e Toxicologia, comprovaram que o canabinóide
não-psicoactivo, o canabidiol, inibe o crescimento de várias linhas celulares humanas de Gliomas,
tanto in vitro como in vivo (de forma dependente
da dose). Publicado em Novembro de 2003, num
artigo do Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics Fast Forward, os investigadores constataram “uma actividade anti-tumoral
significativa tanto in vivo como in vitro do Canabidiol, sugerindo assim uma possível aplicação
deste composto como um agente anti-neoplásico”
(Massi et al. 2004). Em Agosto de 2004, um artigo
publicado na revista Cancer Research, conclui que
“os achados clínicos presentes em ambiente laboratorial representam um novo alvo farmacológico
para terapias baseadas no uso de canabinóides”
(Guzman et al. 2004). Os investigadores também
notaram que o THC seleccionava as células cancerosas, ignorando as saudáveis de forma muito
mais profunda, do que o alternativo sintético
(Allister et al. 2005). A relativa segurança do THC,
conjuntamente com a sua acção anti-proliferativa
em tumores pode conter a base para ensaios futuros, almejando avaliar o potencial anti-tumoral
decorrente da actividade canabinóide” (Guzman
et al. 2006). Para além da capacidade que os canabinóides possuem na moderação de células de
Glioma, estudos paralelos demonstram que os
canabinóides e os endocanabinóides podem também inibir a proliferação de várias linhas celulares,
incluindo as do cancro mamário (Cafferal et al.
2006; Di Marzo et al. 2006; De Petrocellis et al.
1998; McAllister et al. 2007), cancro da próstata
(Sarfaraz et al. 2005; Mimeault et al. 2003; Ruiz et
al. 1999), carcinoma colorectal (Pastos et al. 2005),
adenocarcinoma gástrico (Di Marzo et al. 2006),
cancro da pele (Casanova et al. 2003), células de
linhas leucémicas (Powles et al. 2005; Jia et al.
2006), neuroblastoma (Guzman 2003), cancro do
pulmão (Preet et al. 2008), cancro do colo do útero (Guzman 2003), epitelioma da tiróide (Baek et
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 57
al. 1998) adenocarcinoma pancreático (Carracedo
et al. 2006; Michalski et al. 2007) carcinoma cervical (Ramer-Hinza 2008) e linfoma (Gustafsson
et al. 2006; Gustafsson et al. 2008). Consequentemente, muitos peritos hoje concordam que os canabinóides “podem representar uma nova classe
de medicamentos anti-tumorais, que retardam o
crescimento celular anormal, inibindo a angiogénese e a metastização das células cancerígenas”
(Kogan 2005; Sarafaraz et al. 2009).
██CONCLUSÃO
Sobressaem, sem dúvida nenhuma, perspectivas
interessantes e estimulantes quanto a um possível uso de Cannabis (enquanto planta) e/ou dos
canabinóides que directa ou indirectamente de si
advêm, no tratamento de doenças muitas vezes
incapacitantes e incuráveis. Nem que não represente directamente a cura para estas patologias,
confere certamente uma alternativa terapêutica,
ou pelo menos uma complementaridade sinérgica
ao tradicional tratamento empregue. Em muitos
casos, verifica-se que melhora a sintomatologia
nos pacientes, arrastando consigo uma melhora
na qualidade de vida, ânimo e alívio rápido (se
não instantâneo) de muitas condições comuns a
diversas patologias, como: dor, depressão, perda
de apetite, etc.
Há muito que são conhecidas algumas das facetas que ajudam a tornar a Cannabis “a droga mais
popular do mundo”. As inigualáveis propriedades
que possui, e o vastíssimo conhecimento que dela
se poderá adquirir para a área científica, fazem
com que a necessidade de se investigar e aprofundar mais a temática, se torne imperativa. O desconhecimento e a campanha de desinformação em
torno da “eminente perigosidade” que acarreta
deve ser um aviso para a comunidade científica,
no sentido de procurar esclarecer e informar devidamente a comunidade e a população em geral.
Perante os mais variados factos apresentados, jul-
58 go que não se poderá descartar de forma leviana
a possibilidade de fomentar investigações futuras
(pois as existentes, apesar de tudo, são ainda escassas). A existência recentemente comprovada
de um sistema endocanabinóide poderá, portanto, conter a chave para um melhor entendimento
relativamente ao funcionamento do organismo
animal, e humano em particular. Deve ser levantada a hipótese de, com um maior e melhor entendimento das propriedades dos canabinóides,
mas, sobretudo, da forma com que actuam nos
inúmeros receptores canabinóides, poder com
isso contribuir - embora que modestamente, mas
de forma singular - para um avanço do conhecimento científico e da educação do público-alvo. A
terapêutica canabinóide apresenta uma futura relevância, sobretudo para o caso de doentes terminais, que são os que mais lamentam o tratamento a
que são submetidos; com os efeitos adversos com
que muitas vezes têm de acatar. Acima de tudo,
parece ser unânime que a utilização de Cannabis
e/ou canabinóides como anti-eméticos em pós-quimioterapia, deve ser equacionada.
Não se deverá também, levianamente, ignorar a
existência de medicação muito bem tolerada para
algumas das patologias apresentadas, (sobretudo no que respeita a estados eméticos) embora
também não deixe de ser verdade que muito dificilmente se consegue satisfazer com um dado
regime terápico, 100% dos pacientes. Assim sendo, a obrigação de um profissional de saúde será
também lutar para que a maioria dos afligidos seja
“satisfeita”, e nesse fio de pensamento alguns países iniciaram já o fornecimento de Cannabis medicinal para os seus doentes, e mediante prescrição
médica, na medida em que entendem que a utilização de outras substâncias (como por exemplo)
as usadas em ambulatório, pode apresentar efeitos
indesejáveis e dificilmente tratáveis, levando por
vezes à dependência.
Muitas outras condições poderiam ter sido tam-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
bém abordadas neste contexto como o Glaucoma,
a Asma, a Depressão, etc. No fundo, doenças em
que comprovadamente o tratamento com canabinóides é tudo menos irresponsável. Sem dúvida
que o status legal da substância obriga muitas vezes os subsidiários de muitos estudos a assumir
alguma relutância, mas é sobretudo a ideia de que
nada de bom poderá alguma vez provir de algo
que já foi patenteado como sendo “um veneno”
que torna toda esta situação complicada. Embora a ideia de tornar uma parte da Natureza ilegal
pareça um tanto ou quanto paranóica no entender
de alguns, é acima de tudo incompreensível o receio de se poder conter numa simples planta uma
alternativa terapêutica mais bem tolerada com
menos efeitos secundários, e quem sabe, conter
até uma possível resolução para um vasto leque de
enfermidades agudas e crónicas que nos afligem.
Torna-se fácil compreender os motivos pelos
quais a Cannabis é tão mal compreendida. Por uns
é exageradamente louvada, por outros é exageradamente diabolizada. Talvez um pouco por todos,
seja altamente incompreendida. Uma questão deverá ser colocada: “se nem dentro da comunidade
científica se consegue consensualizar uma opinião
em relação a uma substância natural, como poderemos tentar encontrar um consenso para a enorme variedade de sintéticos que já existem, e para
todos aqueles que virão no futuro?”
PALAVRAS-CHAVE:
Canabinóides; Fitoterapia; Aplicações e Efeitos da Cannabis; Terapêuticas Não-Convencionais (TNC)
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 59
║║
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membros do conselho científico (resumo curricular)
Ana Cláudia Barreira Nunes
Farmacêutica, licenciada em Ciências Farmacêuticas pela FFUP e doutorada em Química pela
FCUP. Curso de Plantas em Fitoterapia creditado pela Ordem dos Farmacêuticos e SPFiTo;
Coordenadora do Curso de Farmácia, na Escola Superior de Saúde Jean Piaget de V.N.Gaia,
onde é regente das Unidades Curriculares de
Dermofarmácia e Cosmética e Tecnologia de
Produção em Farmácia. Organiza, regularmente
Workshops na área da Dermocosmética e participa como palestrante em diversos eventos da
área. Realiza investigação científica na área da
Dermocosmética, estudos de eficácia, em parceria com Laboratórios Farmacêuticos.
Ana Cristina Esteves
Licenciada e Biologia na Universidade de Aveiro
(UA) em 1996 e doutorada em Biologia pela UA
em colaboração com com o Centro de Neurociência e Biologia da Célula, da Universidade de
Coimbra, em 2002. Professora Convidada do
Departamento de Biologia da Universidade de
Aveiro, bem como investigadora do CESAM-UA (Centre of Environmental and Marine
Studies). A investigação é centrada na relação
da interação dos micro organismos com outros
organismos e a sua resposta às alterações do ambiente.
Ana Cristina Estrela de Oliveira C. Cordeiro
Bolseira de pós-doutoramento da FCT . Ligação
à FMUP e ao IBMC. A área de investigação é
a dor visceral crónica, à qual se encontram associadas patologias como o síndrome de cólon
irritável, a cistite intersticial, entre outras doenças.
Estudo sobre os mecanismos pato-fisiológicos
destas doenças, bem como arranjar novos tratamentos e ferramentas de diagnóstico. Percurso
escolar na Escola Superior de Biotecnologia da
Universidade Católica Portuguesa para obtenção
da licenciatura em Microbiologia. Passagem pelo
68 IPATIMUP. Grau de mestre em Toxicologia pela
Universidade de Aveiro. Grau de doutor em Biologia Humana, pela Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto.
António José Afonso Marcos
Professor Universitário. Mestre em Medicina
Natural e Especialista em Dietética e Nutrição pela Faculdade de Medicina da USC. Pós-graduado em Acupunctura e Moxibustão pela
Associação Médica Chinesa. Diplomado em
Acupunctura e em Naturopatia pela ESTP. Presidente do Instituto Português de Naturologia.
Membro consultor em Comissões de elaboração
de diplomas legais. Membro do Conselho Científico de várias revistas científicas. Diretor do
CTEC e Presidente do Conselho Científico da
Universidade.
Arménio Jorge Moura Barbosa
Licenciado em Bioquímica pela Universidade do
Porto em 2006 tendo participado no programa
Erasmus na Universidade de Modena e Reggio
Emilia (Italia). Doutorado em 2010 pela Universidade de Modena e Reggio Emilia (Itália) em
química computacional, sobre a interação de
ligandos com o recetor de serotonina 5-HT3.
Em 2010 iniciou o Pos-doutoramento na área da
descoberta e desenvolvimento de fármacos anti-cancro, utilizando bases de dados de moléculas
orgânicas de origem sintética e natural. Participa
anualmente
em congressos internacionais apresentando
resultados para targets: epigeneticos, recetores
GPCR, complexos proteína-RNA, recetores nucleares. Colabora com vários grupos de investigação nacionais e internacionais e tem varias
publicações em revistas cientificas.
Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso
Licenciatura em Medicina e Cirurgia, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Título de Especialista em Psiquiatria pela Ordem
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
membros do conselho científico (resumo curricular)
dos Médicos. Bolseiro da Direcção Geral de Cuidados de Saúde Primários para efectuar um estágio em Trieste (Itália) no Hospital de S. Giovani
(1985). Grau de Mestre em Psicopatologia pela
Universidade do Porto (Dissertação: A Clínica
Psiquiátrica de Urgência – 13 anos de experiência). Grau de doutor em Psicologia pela Universidade do Porto (Dissertação: Os Caminhos da
Esquizofrenia).Director do Hospital do Conde
de Ferreira e Presidente do Conselho de Gerência, por vários mandatos. Director do Centro
de Saúde Mental do Norte. Membro eleito do
Colégio Português de Psiquiatria da Ordem dos
Médicos. Coordenador da Ordem dos Médicos
para o Serviço Nacional de Saúde. Mandato no
Colégio de psiquiatria da Ordem dos Médicos.
Nomeado pelo Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade do Porto como
docente convidado da Escola Superior de Criminologia. Foi-lhe atribuído o título académico de
“Professor Afiliado”. Participação em diversos
trabalhos de investigação e autor de várias publicações e artigos da especialidade.
Jose Maria Robles Robles
Licenciado em Fisioterapia pela Universidade Europeia
de Madrid. Diplomado em Ciências da Saúde, Fisioterapia, da Universidade Alfonso X el Sabio, Madrid.
Doutorado em Acupuntura pelo Comitê Internacional
de Exames República Popular da China, pertencente
ao Ministério da Saúde Pública. Formação em Terapias
Alternativas: Acupuntura, Naturopatia, Osteopatia,
Massagem. Formação em Medicinas Tradicionais pelas
Universidades da China, Tailândia. Diretor da Academia de Ciências da Saúde, em Barcelona.
João Paulo Ferreira Leal
Consultor científico independente, tendo desempenhado funções docentes ao longo de duas
décadas em instituições portuguesas de ensino
superior nas áreas letivas de Antropologia, Bioética, Ética, Deontologia Profissional, e Política.
É licenciado em Antropologia, pós-graduado e
mestre em Relações Internacionais (Ética em
RI), DEA em Antropologia Social e doutorado
em Psicologia (Psicologia de Desenvolvimento
Moral). Realizou pós-doutoramento em Antropologia Médica, com relatório de pesquisa orientado para os temas da Antropologia do Corpo,
da Doença e da Saúde.
Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Editor-in-Chief da “Iberian Journal of Clinical
& Forensic Neuroscience” (ISSN - 2182 - 0290)
.Cédula Profissional da Ordem dos Psicólogos,
n.º 102. Professor Auxiliar - Beira Interior University. Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL
- Spain). Neuroscientist, MsC (Medicine School
of Lisbon - Portugal). Medico Legal Perit (Medicine Institute Abel Salazar - Oporto, Portugal). Graduation in Clinical Neuropsychology
(USAL Spain). Graduation in Investigative Proficiency on Psychobiology (USAL-Spain).Clinical Psychologist (Minho University - Portugal).
Associated Editor of “Revista Psicologia e Educação” UBI. Integrated Researcher in CIDESD
- Center for Investigation in Sports, Education
and Health- UBI Portugal.
Maria Isabel do Amaral A. Vaz Ponce de
Leão
Licenciatura em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. 3.º Ciclo de Estudos em
Teoria da Literatura e Literatura Comparada
pela Faculdade de Filoloxia da Universidade de
Santiago de Compostela. Doutoramento em Literaturas Hispânicas pela mesma Universidade
(reconhecido pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal, com o n.º 1/98,
com publicação no Diário da República n.º 188
de 17.08.98). Agregação em 2009. Estatuto de
formadora na área e domínio C046 Português
/ Língua Portuguesa, concedido pelo Conselho
Científico-Pedagógico da Formação Contínua,
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 69
membros do conselho científico (resumo curricular)
conforme registo CCPFC/RFO-02956/97. Professora Catedrática da Universidade Fernando
Pessoa. Membro integrado do CLEPUL a cuja
direcção pertence, e colaboradora do CIEC. Sócia fundadora e elemento da direcção do Circulo
Literário Agustina Bessa-Luís. Coordenadora do
projecto e-médico+. Áreas de Investigação: Literatura Portuguesa Contemporânea, Literatura
/ artes / ciências. Discurso de Imprensa. Autora
de vários livros e artigos que incidem nas áreas
acima referidas.
Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva
Licenciatura em Direito. 3.º Ciclo de Estudos
Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Santiago de Compostela. Bolseira de
Investigação da JNICT durante 4 anos, com
estatuto de Investigadora. Doutoramento Europeu em Direito, pela Faculdade de Direito da
Universidade de Santiago de Compostela, reconhecido pela Faculdade de Direito de Coimbra
e publicado em Diário da República. Mestre
em Medicina Natural e Aplicação em Atenção
Primária, pela Faculdade de Medicina da Universidade Santiago Compostela. Pós-graduação
em Acupunctura e Moxibustão pela Associação
Médica Chinesa, Beijing, China. Diretora Geral
do Instituto Português de Naturologia. Professora Universitária. Exercício de vários
cargos de direção e reitoria em instituições de ensino superior. Presidente do Conselho Científico
de uma das universidades. Membro integrado
do CLEPUL. Membro consultor em Comissões
de elaboração de diplomas legais. Membro de
Conselho Científico de várias revistas científicas.
Presidente da APSANA - Associação Europeia
de Profissionais de Saúde Natural. Membro fundador de Centros de Investigação e membro atual de alguns
Centros de Investigação. Autora de várias publicações.
70 Miguel F. Tato Diogo
Licenciado em Engenharia de Minas pela Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto e Doutorado
em Gestão de Recursos Naturais com apoio em Sistemas de Informação Geográfica pela Universidade de
Vigo, Espanha. Professor da Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto. Membro (Investigador) do
CIGAR – Centro de Investigação em Geo-Ambiente
e Recursos e do CERENA – Centro de Recuros Naturais e Ambiente. Membro da Comissão Científica do
Programa de Formação Contínua da FEUP. Membro
(Vogal) da Comissão Diretiva do Centro de Competências em Envelhecimento Ativo e Saudável (UPorto
Ageing Network) da Universidade do Porto, no grupo
de trabalho, “Fostering Innovation for Age-friendly
Buildings, Cities & Environments.
Rui Miguel Freitas Gonçalves
Licenciado em Bioquímica com especialização
em Indústrias Alimentares pela Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto. Mestre em
Tecnologia Ciência e Segurança Alimentar pela
Escola de Engenharia da Universidade do Minho
e pela Faculdade de Ciências da Universidade do
Porto. Doutor em Química pela Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto. Bolseiro do
Instituto de Bebidas e Saúde – Unicer. Vencedor
do Prémio de Excelência em Investigação Científica pelo Instituto de Bebidas e Saúde. Investigador na área da Química de Compostos Fenólicos
e seu efeito nutricional com várias publicações
em revistas internacionais e apresentações em
congressos nacionais e internacionais. Licenciado em Ciências Básicas da Medicina pela Escola
de Ciências da Saúde da Universidade do Minho.
Diplomado em Medicina Chinesa pelo Instituto
Português de Naturologia. Formação complementar em Shiatsu Namikoshi. Formador na área
da Medicina Chinesa.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3
normas para publicação
1. A Scientific Journal of Natural Medicine, pretende ser um espaço de reflexão e trabalho no
âmbito da saúde e, em especial, na Medicina Natural, fundada na ética e no rigor científico.
2. Os autores interessados em submeter artigos para a publicação poderão contribuir com artigos de
investigação, recensões, ou outro material de natureza e relevância científica.
3. Os interessados poderão, ainda, participar com trabalhos apresentados em encontros científicos,
congressos, comentários, reflexões e outras actividades de relevância. É um espaço de divulgação
científica para profissionais de saúde, terapeutas e cientistas com o objetivo de avaliar, validar,
desenvolver e integrar as diversas áreas da Medicina Natural na sua vertente clínica e de
conhecimento fundamental.
4. A revista apresenta investigação original com impacto direto nas terapias, protocolos terapêuticos,
abordagem aos doentes, estratégias de ensino e de trabalho com o objetivo último de melhorar a
qualidade do processo terapêutico.
5. O âmbito da Revista de Medicina Natural inclui:
•Botânica Médica
•Fitoterapia
•Farmacologia e metodologia analítica
•Naturopatia
•Homeopatia
•Nutrição e suplementação alimentar
•Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa
•Ayurveda
•Yoga
•Tai Chi
•Qi Gong
•Osteopatia
•Massagem
•Medicina Holística
•Filosofia Médica
•Ética Médica
6. As secções tipologias dos trabalhos na Revista de Medicina Natural são:
•Trabalhos originais de Investigação Fundamental Clássica
•Trabalhos originais de Investigação Fundamental Moderna
•Trabalhos originais de Patologia e Metodologia Terapêutica
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 3 71
normas para publicação
7. Os textos propostos devem ser enviados para o e-mail para [email protected].
8. Os artigos são da responsabilidade dos respectivos autores e não serão devolvidos, independentemente
da sua publicação.
9. A seleção dos artigos de investigação, para publicação, será realizada por revisão anónima por pares,
preferencialmente por três membros do Conselho Científico da revista. Os direitos autoriais são
propriedade da revista.
10. Cada autor poderá submeter, como autor principal, um artigo por cada edição da revista.
11. Os trabalhos a publicar deverão:
•Ser originais. A submissão de trabalhos à implica que o trabalho não tenha sido previamente publicado com exceção de comunicação oral ou poster em congresso, tese académica ou aula e que não
se encontra de momento sob apreciação em nenhuma outra publicação.
•Ser escritos em Português e/ou Inglês. A aceitação de outra língua estará sujeita a aprovação do
editor. Não excedendo as 7000 palavras;
•Conter um resumo em português e inglês, com cerca de 80 a 120 palavras (abstract);
•Conter cinco palavras chave devidamente identificadas pelos autores, para fins de indexação;
•Ser encabeçados pelo título, nome do autor, categoria profissional, instituição e contacto eletrónico,
breve resumo curricular com máximo de 5 linhas;
•Os artigos deverão ser divididos em secções claramente identificadas com conteúdo e sequência
coerente;
•Respeitar as regras da metodologia do trabalho científico, concernentes às formas de citar, organizar
a bibliografia.
12. A publicação do trabalho é aprovada por todos os autores e, de forma tácita ou explícita pela
autoridades ou instituições em que o trabalho foi realizado e não será publicada nesta, ou noutra
forma, em qualquer idioma, sem o consentimento do editor da revista.
13. A submissão de material assume a ausência de qualquer tipo de conflito de interesse entre todos os
autores e o trabalho realizado. Na sua presença, esta deverá ser declarada e caracterizada aquando da
submissão inicial do trabalho e estará presente no final do manuscrito aquando da publicação. A título
informativo: um conflito de interesse em trabalho científico existe quando um participante no processo
de produção, revisão ou publicação (autor, revisor e/ou editor) tem ligações a atividade que poderiam,
de forma inadequada, influenciar o seu julgamento, independentemente desse julgamento ser de facto
afetado. As relações financeiras com a indústria (emprego, consultadoria, participação em sociedades
financeiras, etc.) são consideradas as mais relevantes mas não devem ser excluídos o financiamento do
trabalho de investigação as ligações pessoais e as de competição académica.
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SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTIFICA DE MEDICINA NATURAL
Dezembro 2014
[email protected]
www.cimnatural.com

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