Edição Comemorativa - nº 50 - Maio 2010
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Edição Comemorativa - nº 50 - Maio 2010
Nº 50 - Abril / Maio / Junho Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa 10 Agentes da Governança participam de visita de estudos na Europa organizada pelo IBGC Delegação de 52 jornadeiros imerge por duas semanas em atividades, palestras e congresso sobre Governança Corporativa em Londres e Paris, trazendo ao Brasil uma bagagem de novas abordagens e caminhos possíveis 03 05 Informes IBGC - Cursos de especialização em Governança - Lançamento cursos E-Learning - Palestras Novos Associados Novo Conselho do IBGC é eleito com votação de 33% dos associados Em Assembleia Geral Ordinária, associados elegem novo colegiado do IBGC com índice de renovação semelhante ao ano anterior, de 44%. Conselheiros falam ao IBGC em Foco sobre suas expectativas para o período 2010-2012 e sobre o atual estágio do Instituto 08 IBGC recepciona 1ª reunião de revisão do Training of Trainers IBGC recepciona reunião internacional para melhorias no material de aprendizado do Trainers of Training, contando com a participação de representantes de seis institutos de governança estrangeiros 13 IBGC atua como multiplicador da boa Governança na África Em sintonia com sua missão, IBGC realiza curso in company no exterior e congrega 48 participantes, cujos costumes e experiências no tema foram compartilhados com as instrutoras brasileiras 15 O outro lado da função de conselheiro Os dilemas e preocupações vivenciados pelos profissionais em seu cotidiano de conselheiros são expostos em fórum de debate 16 Setor público frente ao privado Em palestra realizada após AGO de março, Pedro Parente reflete sobre a gestão do serviço público e, mesmo reconhecendo recentes melhorias, indica pontos de atenção 18 Três instituições-chave dos mercados financeiro e de capitais criam associação pensando no País como pólo regional A função da Brain será a de gerenciar todo esse processo, tendo foco na América Latina e projeção e conexões globais 19 O Brasil nos curto, médio e longo prazos Palestrante de março, Bernard Appy, traça o cenário econômico do País no contexto mundial, apresentando três agendas para o Brasil 02 Editorial Novos ciclos se anunciam O Instituto programou para este ano uma série de ações para comemorar seu marco de 15 anos pela disseminação das boas práticas de Governança Corporativa. O anúncio oficial deu-se na Assembleia Geral Ordinária de março pelo então presidente do Conselho de Administração, Mauro Rodrigues da Cunha, evento em que o novo colegiado foi eleito. A eleição será matéria desta edição, também comemorativa, pois chegamos a de número 50! Os leitores puderam acompanhar a evolução no formato e no conteúdo do IBGC em Foco, iniciada com a publicação de matérias veiculadas pela grande imprensa, passando paulatinamente à geração do próprio conteúdo. Editorias foram criadas e ajustes à publicação, realizadas ao longo de suas edições trimestrais, tendo em novembro de 2008, adotado novo projeto gráfico. O resultado foi evidenciado pelo incremento de imagens, cores e pela ampliação na quantidade de páginas. O processo de melhorias continuou. Mantido o objetivo principal de cobrir as atividades do IBGC, a publicação mostra-se atenta aos temas discutidos globalmente. Nesta edição o leitor acompanhará o que de mais importante foi discutido em fóruns da Europa, com a cobertura da Jornada Técnica, além de matéria sobre a realização do primeiro curso in company fora do Brasil. Por sua vez, as deliberações do Conselho e as ações dos Capítulos também conquistaram seu espaço, recebendo qualidade de editoria independente e perene. E para selar esta nova fase, o Instituto integra o IBGC em Foco, a partir desta edição, à sua nova identidade visual. A reformulação abraça as demais peças de comunicação do IBGC: de convites e folders de cursos e eventos, boletim informativo à logomarca do Instituto. O alinhamento e a harmonização buscam reforçar com seus públicos de interesse o reconhecimento da autenticidade e do comprometimento do IBGC pelas melhores práticas de Governança. Bem-vindos à edição 50! Deliberações do Conselho Março Fevereiro • Aprovação da proposta de nova identidade visual do IBGC, com a transição anunciada na abertura da comemoração dos 15 anos, realizada na Assembleia Geral Ordinária (AGO) de 30 de março. • Apresentado relatório de atividades do IBGC em 2009, resultado da pesquisa de clima organizacional, plano de remuneração variável e avaliação do Conselho (conteúdo disponível como anexo à ata de fevereiro, disponível no site do IBGC). • Informados sobre o propósito da visita de representantes do Global Corporate Governance Forum (GCGF) ao Brasil. A última reunião do Conselho na composição eleita em 2009 encerrou-se com o registro de agradecimento mútuo de seus integrantes e, em especial, ao então presidente do Conselho, Mauro Rodrigues da Cunha. • Eleito novo Conselho em AGO (veja matéria na pág. 5). • Definida composição dos Comitês de Auditoria - Carlos Biedermann, Alberto Whitaker e Leonardo Viegas - e de Admissão - Alberto Whitaker, Carlos Lessa Brandão e Cecília Rossi. • Aprovada a troca da denominação do cargo de secretária geral para superintendente geral e a indicação de Guilherme Peres Potenza para a função de Secretário do Conselho. Abril • Sob nova dinâmica de reuniões, Conselho recém-eleito debateu sobre organograma e atribuições dos comitês e comissões, além de reforçar a utilização da Agenda Temática 2010 - Globalização, Convergência de Práticas de Governança e Mudanças Regulatórias - como assunto-matriz nas discussões ocorridas nos comitês, comissões e eventos. em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 03 • Eleita nova Diretoria, composta por Matheus Rossi, Sidney Ito e Ricardo Veirano. • Aprovados a proposta de elaboração de regimento das comissões/comitês e de regimento interno do Conselho, e o tema da 3ª Carta Diretriz: Laudo de Avaliação. • Apresentado planejamento do Congresso de 2010. • Informados sobre (i) a escolha do IBGC como Centro de Excelência em Governança Corporativa para a América Latina pelo GCGF e (ii) os convites do ICGN e da ABRAPP para, respectivamente, organização da conferência anual do ICGN em 2012 no Brasil e participação na certificação de Administrador Estatutário Tecnicamente Qualificado (AETQ). Os detalhes das deliberações podem ser obtidos na ata de cada reunião, disponível no site do Instituto, seção IBGC – Governança no IBGC – Conselho de Administração. Capítulos Em dia com os acontecimentos nos Capítulos Criados com o objetivo de disseminar localmente as boas práticas de Governança Corporativa em diferentes Estados brasileiros, os Capítulos do IBGC – Sul (fundado em 2002), Rio (em 2004), Paraná (em 2005) e MG (em junho de 2009) – têm uma programação independente de eventos. O IBGC em Foco reserva este espaço para trazer as últimas e as futuras realizações dos Capítulos, referentes aos meses de maio a agosto deste ano. Capítulo MG Entre 13 e 14 de maio, o Capítulo realizou a 2ª edição do Curso de Melhores Práticas de Governança Corporativa. Capítulo Paraná Para agosto, estão previstos o Curso de Governança Corporativa em Empresas Familiares, entre os dias 17 e 19, e palestra, no dia 25. Capítulo Rio Neste mês, dia 27, em parceria com a Pinheiro Neto Advogados, o Capítulo promove debate sobre Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos Empresariais e nos Negócios. Os convidados serão o economista Marco Antonio Sampaio Moreira Leite e o advogado Willie Cunha Mendes Tavares. No mês de junho serão os cursos a ênfase do Capítulo: nos dias 7 e 8 realizará o Curso de Melhores Práticas de Governança Corporativa, e dias 16 e 17, a segunda edição do Curso de Conselho Fiscal – Teoria e Prática. Capítulo Sul De junho a agosto, o Capítulo prevê novas edições da série Talk Hour, criada em agosto de 2008 com o objetivo de refletir sobre o tema Governança. Também em agosto haverá nova edição do “Tá na Mesa”, uma parceria entre o IBGC e a Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul). Informes IBGC Cursos de especialização em Governança O IBGC, por meio de parcerias com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), concretiza neste ano a realização de dois cursos de especialização em Governança. Fechada em 20 alunos, a primeira turma do MBA em Governança Corporativa com Fipecafi teve início em março e se estenderá por três semestres letivos, num total de 18 disciplinas. A carga horária é de 120 horas-aula por semestre, sempre às sextas-feiras. A formação www.ibgc.org.br 04 de novas turmas é programada para ocorrer nos meses de março e agosto de cada ano. Já o curso de especialização Governança Corporativa e Gestão de Riscos com PUCRS tem o início marcado para este mês de maio, contando inicialmente com 19 inscritos confirmados, além dos em fase de entrevista. Com carga horária total de 360 horas, o curso ocorre às terças e quintas-feiras, no Campus Central da PUCRS. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected]. E para o MBA, entrar em contato com: [email protected] Ambos estão centrados no desenvolvimento e aprimoramento do profissional para a temática da Governança Corporativa, apresentando de forma teórica e prática os diferentes aspectos do tema, dentre eles gestão de riscos e controles internos, legislação, estrutura societária, estratégia e sustentabilidade. IBGC promove seu primeiro curso e-learning Em abril, IBGC lançou nova modalidade de capacitação: os cursos à distância, em tecnologia web-based. “Os cursos e-learning permitirão ao Instituto ampliar a disseminação das boas práticas de Governança Corporativa a públicos de todo o território nacional”, avalia a superintendente-geral do Instituto, Heloisa Bedicks. As Melhores Práticas de Governança Corporativa é o curso a inaugurar esta nova modalidade, cujos módulos, num total de 7, contemplarão cada principal item do Código do IBGC: Propriedade (sócios), Conselho de Administração, Gestão, Auditoria Independente, Conselho Fiscal, Conduta e Conflitos de Interesses. O aluno terá o prazo de dois meses para o término do curso, podendo nesse período parar e continuar ao tempo desejado. O certificado de conclusão de curso será emitido com o crédito de quatro horas, sendo necessário o acerto mínimo de 80% das questões da Avaliação. Caso a porcentagem mínima exigida não seja atingida pela segunda vez, o aluno deverá iniciar o processo desde o início. Mais informações pelo endereço www.ibgc.org.br. Novos Associados em destaque Com o registro de 473 novos associados em 2009, crescimento de 11,3% comparado ao ano anterior, o IBGC inaugurou em 2010 evento destinado aos recém-associados ao Instituto. As palestras Novos Associados foram discutidas no âmbito da Comissão de Capacitação e já percorreram Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo o coordenador da Comissão, Edy Kogut, o objetivo é apresentar a estrutura e gestão do Instituto, as atividades e projetos desenvolvidos e os em andamento pelo IBGC e suas comissões de trabalhos. “Nossa expectativa com essas palestras é aproximar o Instituto de seus associados, apresentando ao novo integrante projetos que possam participar e se engajar, sendo este mais um meio de interação com o público recémchegado”, explicou a superintendente-geral do Instituto, Heloisa Bedicks. Congresso Internacional de Governança Corporativa º 11 Internacionalização, Convergência das Práticas de Governança e Mudanças Regulatórias 25 e 26 de Outubro - Rio de Janeiro - Hotel Sheraton Rio Informações tel.: 11 3043 7008 - fax: 11 3043 7005 www.ibgc.org.br - e-mail: [email protected] Já confirmado Keynote Speaker: Ira Millstein em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 05 Novo Conselho do IBGC é eleito com votação de 33% dos associados Mesclando novos membros com a experiência dos reeleitos, Conselho afirma estar pronto para enfrentar antigos e novos desafios, dentre eles uma maior aproximação com os associados O interesse dos associados pelo IBGC foi evidente na eleição do Conselho de Administração deste ano. Houve recorde de participação, superando em quase 80% a do ano passado. Desta vez, foram 501 votantes, contra 280 em 2009. Outra demonstração de interesse pelo Instituto foi a presença dos associados na Assembleia Geral Ordinária, com aumento de 12,7% na participação comparada a 2009. Realizada em 30 de março, a AGO obteve como resultado a aprovação das demonstrações financeiras de 2009, do orçamento de 2010 e a eleição dos nove membros do Conselho, os quais, com a mudança do Estatuto do IBGC em 2009, passaram a ter mandato de dois anos. Entretanto, o principal canal de votação utilizado não foi o voto presencial, representando apenas 3,4% dos votos, e sim o meio eletrônico, com 82,4% da preferência, sendo seguido pelo uso do fax (14,2%). A composição do Conselho repetiu o índice de renovação do ano passado (44%), com três novos integrantes e um que já havia integrado o Conselho anteriormente, além de cinco conselheiros reeleitos. Gilberto Mifano foi eleito presidente do Conselho de Administração do IBGC e Alberto Whitaker e João Nogueira Batista, vice-presidentes. Completam o quadro Carlos Biedermann, Carlos Eduardo Lessa Brandão, João Laudo de Camargo, Leonardo Viegas, Maria Cecília Rossi e Plínio Musetti. Heloisa Bedicks permanece à frente da Superintendência Geral e Guilherme Potenza foi eleito Secretário do Conselho. A nova Diretoria é formada por Matheus Rossi, Sidney Ito e Ricardo Veirano. A auditoria de todo o processo, realizada pro bono, ficou sob a responsabilidade da BDO Auditores Independentes. Na ocasião, o então presidente do Conselho de Administração do IBGC, Mauro Rodrigues da Cunha, destacou “o esforço do presente Conselho e dos anteriores para que o IBGC prossiga como exemplo de adoção de boas práticas de Governança Corporativa”. Segundo ele, “isso faz com que o Instituto queira sempre evoluir e, para isso, propõe-se a ouvir ideias e sugestões de seus associados”. Ação Participativa Em entrevista à reportagem do IBGC em Foco, o presidente eleito Gilberto Mifano diz estar entre os seus planos manter acesa a discussão dos conceitos e princípios de Governança, estimulando o debate e a criação de conhecimento. “É este o papel do IBGC, e o Conselho é peça-chave nesse processo.” Ele define seu estilo de gestão como participativo e em equipe. “Comigo, os conselheiros, de um lado, vão ter espaço para se manifestar e, por outro, serão observados quanto a sua participação.” Seguindo a mesma linha de pensamento citada por seu antecessor, Mifano antecipa que as mudanças previstas no seu mandato referem-se a uma maior aproximação com os associados por meio das atividades das comissões, dos eventos e das publicações do Instituto. Outra meta citada por ele, e que também foi objetivo do mandato anterior, é a de intensificar esforços para uma maior aproximação com as companhias não-listadas, no sentido do auxiliá-las a entender e a utilizar os instrumentos da Governança. Referindo-se à nova composição do Conselho, disse: “Não é um conselho de novatos, mas teve uma boa oxigenação”. www.ibgc.org.br 06 “O IBGC colhe hoje os frutos de um trabalho árduo e sério feito nesses 15 anos. O grande desafio será manter e aumentar ainda mais o prestígio e a posição central do Instituto nas discussões de Governança, levando-a para todos os lugares onde seja efetivamente útil” Gilberto Mifano, presidente do Conselho de Administração Conselheiro desde 2006, com mandato de vice-presidente de 2007 a 2009 Visão dos Conselheiros Alberto Emmanuel Whitaker (vice-presidente) Conselheiro desde 2008, sendo este o 1º mandato como vice-presidente • O que Planeja: Continuar contribuindo para o desenvolvimento do Programa de Certificação. Em 2009, foram cerca de 210 pessoas certificadas, para este ano, a previsão é de 500. • O atual momento do IBGC: O Instituto completa 15 anos e, efetivamente, foram 15 anos de sucesso e bom exemplo. • O novo Conselho: Ao participar da primeira reunião em 13 de abril, entusiasmou-me ver a positiva diversidade dos seus membros. Todos estão alinhados para o crescimento e aperfeiçoamento constantes do IBGC. João Nogueira Batista (vice-presidente) Conselheiro desde 2007, sendo este o 3º mandato como vice-presidente • O que Planeja: Participar das discussões que envolvem o atual momento do IBGC e da sua definição estratégica. • O atual momento do IBGC: O IBGC se consolidou como líder na questão de Governança Corporativa. O grande desafio agora é como evoluir. Acredito que o IBGC tem de avaliar como, e se vale a pena, passar da divulgação das boas práticas para a sua implantação, sem, contudo, perder sua independência. • O novo Conselho: Composição sadia - essa mescla de continuidade e renovação é sempre importante. Carlos Biedermann (conselheiro) Conselheiro desde 2009 • O que Planeja: Apoiar e estimular o desenvolvimento do IBGC na direção de um salto de qualidade na multiplicação do conhecimento. • O atual momento do IBGC: Com a obtenção do reconhecimento público em termos de Governança, o IBGC passa agora à etapa seguinte, tão difícil quanto a primeira, de disseminação desse conhecimento para outros públicos, entre eles as estatais e autarquias. Outro ponto importante de atuação é a redução da lacuna existente nas empresas brasileiras entre as boas práticas de Governança e a sua aplicabilidade. • O novo Conselho: A atual composição permite ao IBGC tanto manter o conhecimento quanto incluir questionamentos e conceitos novos. Carlos Eduardo Lessa Brandão (conselheiro) Participa pela primeira vez do Conselho • O que Planeja: O conselho é um colegiado; portanto, as decisões são do grupo. Colaborar com o enriquecimento da diversidade do Conselho, por meio da experiência na academia, no mercado de capitais e no terceiro setor. • O atual momento do IBGC: Para se manter como a principal referência da boa Governança no Brasil, é necessário preservar os avanços, atingir um público maior e se preparar para em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 07 novos desafios. Sem perder de vista a Governança nas empresas abertas, deverá investir mais nas fechadas. Outro desafio é a crescente demanda da sociedade por maior responsabilidade por parte das empresas. O IBGC tem de estar preparado para lidar com isso. • O novo Conselho: A renovação parcial permite certa continuidade e a entrada de novas pessoas, o que pode ser interessante. Pela primeira vez, o Conselho tem mandato de 2 anos, com um horizonte maior para trabalhar. João Laudo de Camargo (conselheiro) Participou do Conselho em 1999, 2005 e 2006 • O que Planeja: Colaborar para que o IBGC mantenha-se à frente face aos novos desafios. • O atual momento do IBGC: Internamente, há um cenário interessante, do qual destaco a maior adesão ao processo de certificação, diversas produções em desenvolvimento e a realizar, e os cursos, carro-chefe do Instituto. Externamente, diversas situações exigem desafios e trazem um novo contexto de mercado: um movimento de abertura de capital de empresas no Brasil, a finalização da revisão das regras do Novo Mercado, a adesão às normas do International Financial Reporting Standards (IFRS) e o sistema de procuração regulado pela Comissão de Valores Mobiliários. • O novo Conselho: São pessoas que têm identificação e compromisso com as regras do IBGC. E isso inclui os novos. Leonardo Viegas (conselheiro) Participou do Conselho de 1999 a 2001 e em 2009 • O que Planeja: Atuar junto ao grupo na preservação dos princípios e valores do IBGC, para cada vez mais fazer dele uma organização capaz de atrair voluntariado. • O atual momento do IBGC: No ano passado, o IBGC teve uma produção extraordinária. Acredito ser importante usar mais e melhor as comissões para satisfazer essa demanda. Para isso, temos de preservar os valores que permitiram até agora tanta dedicação. • O novo Conselho: Ao elegerem o Conselho este ano, os associados se fizeram ouvir e deram preferência a quem tem um histórico de trabalho e dedicação ao Instituto. Maria Cecília Rossi (conselheira) Participa pela primeira vez do Conselho • O que Planeja: Contribuir com a diversidade do Conselho por meio da minha formação e experiência profissional, centradas em regulação e autorregulação. • O atual momento do IBGC: O processo de evolução das empresas brasileiras com a crise abre oportunidade para o IBGC se posicionar de forma relevante como um agente de debate e de reflexão, buscando alternativas para o mercado lidar com conflitos e novos desafios. Também, é um bom momento para analisar sua própria forma de trabalho diante das novas necessidades e das movimentações do mercado. • O novo Conselho: Apresenta grande complementaridade de competências: desde o equilíbrio trazido pelos membros reeleitos, ou que já tinham sido conselheiros, como os questionamentos dos novos. Plínio Musetti (conselheiro) Participa pela primeira vez do Conselho • O que Planeja: Trazer um enfoque prático. Nesse aspecto, desejo complementar o Conselho com a experiência de uma carreira bastante diversificada como executivo e conselheiro durante 30 anos em diferentes empresas. • O atual momento do IBGC: O Instituto está crescendo muito em termos de representatividade e abrangência, inclusive com parcerias e projetos internacionais. Isso não quer dizer que não tenha desafios pela frente. Um deles é conciliar a conscientização de que Governança agrega valor com a prática, propondo instrumentos que permitam perceber que um adequado sistema de Governança Corporativa agrega valor para os acionistas. • O novo Conselho: Ao mesmo tempo em que traz ‘sangue novo’ - e isso significa novas ideias -, mantém a sequência de desenvolvimento do Instituto por meio dos membros reeleitos. www.ibgc.org.br 08 IBGC recepciona 1ª reunião de revisão do Training of Trainers Encontro proporciona troca de experiências e integração entre institutos internacionais de governança Em evento de três dias, o IBGC recepcionou, no final de fevereiro, a primeira reunião internacional de revisão das técnicas e dos instrumentos disseminados no Training of Trainers (ToT) – treinamentos direcionados a instrutores de Governança, desenvolvido pelo Fórum Global de Governança Corporativa (GCGF, em inglês). Organizado pelo Fórum e nomeado International Review, o encontro reuniu participantes de países em diferentes estágios de adoção das boas práticas de Governança Corporativa. Estiveram presentes representantes de institutos de Blangadesh, Egito, Eslovênia, Finlândia, Indonésia e Quênia, além de instrutores brasileiros do ToT e de representantes do GCGF. selecionados. De acordo com o diretorpresidente do GCGF, Philip Armstrong, o motivo deveu-se à preocupação do Fórum em assegurar a utilização adequada do material. O retorno solicitado aos institutos foi de fornecer relatórios que sumarizassem as métricas qualitativas e quantitativas de um de seus programas de treinamento e assim poder aprimorar a qualidade do toolkit. Giuseppe Pimentel A intenção de o Fórum compartilhar com os demais institutos a evolução obtida pelos instrutores brasileiros resultou no convite ao IBGC para sediar esta primeira reunião, explicou a coordenadora do Centro de Conhecimento do IBGC, Adriane de Almeida. Com o objetivo de conhecer a efetividade da estratégia global de treinamento transmitida no ToT e de compartilhar experiências, o Fórum Global promoveu o encontro em nove sessões. Dentre elas, destacam-se a exposição dos instrutores nacionais e estrangeiros, a reflexão sobre a estratégia de disseminação do material e os próximos passos. Segundo o secretário-geral da Associação de Conselheiros de Administração da Finlândia, Olli V. Virtanen, o encontro permitiu o conhecimento da diversidade de realidades e a interação beneficiada pelos “vários cérebros pensando juntos”. Opinião corroborada pelo diretor-executivo do Instituto Egípcio de Conselheiros, Ashraf Gamal El-Din, que acrescentou como pontos fortes a interação como forma de viabilizar a criação de parcerias internacionais e o aprendizado em como potencializar o uso do material elaborado pelo Fórum, o Corporate Governance Board Leadership Training Resources Kit. A sua distribuição e a promoção do treinamento internacional ocorreu de forma restrita a alguns institutos de Governança e profissionais Phillip Armstrong e representantes de institutos de Governança durante encontro de três dias no IBGC Realidades locais Enquanto em países como Egito, o material foi utilizado no idioma original, no Brasil, os instrutores nacionais optaram pela tradução de partes de seu conteúdo. “A aplicação aconteceu por módulos e, principalmente, houve conversão de um modo mais expositivo para uma metodologia mais participativa”, apontou Leonardo Viegas, conselheiro do IBGC e um dos instrutores participantes. Posicionamento reforçado por Almeida: “O Instituto se destacou na utilização das ferramentas, que mudaram o grau de interatividade de nossos cursos”. A transposição das necessidades e situações de cada país à proposta de treinamento global mostrou-se um dos desafios do treinamento apontado pelos participantes. Conforme expôs o presidente do Conselho de Administração do Instituto Indonésio de Conselho de Administração, Sidharta Utama, os países asiáticos aprenderam sobre a importância da boa Governança Corporativa em 1998, quando severa crise atingiu os ‘tigres asiáticos’. Naquele momento observouse, por parte do governo local, afirmou Utama, a revisão das leis para as companhias e ampliação das exigências por mais transparência. “Em termos em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 09 de regulação foram vários os avanços, porém, em termos de práticas, as regras existem, mas são aplicadas apenas algumas delas.” Ações recentes pela adoção das melhores práticas podem ser verificadas também no Quênia, as quais são observadas de perto pelo Centro para Governança Corporativa e pelas autoridades do mercado de capital quenianos. Iniciadas em 2001, e com novas regulações, as recomendações foram revisadas para as companhias listadas. “Um bom número de empresas adotaram nossas recomendações pelas melhores práticas de Governança, incluindo as não-listadas”, relatou o diretor-executivo do Centro, Joshua A. Okumbe. O governo queniano, por meio de suas estatais, também se movimenta favoravelmente à adoção nos últimos cinco anos. Prática a ser aprimorada no Egito, exemplificada por El-Din, é a divulgação de informações nãofinanceiras. “Se se trabalha sozinho em seu país não há benchmarking para avaliar exatamente o quão bom é ou o quanto se precisa evoluir, nem possui parceiros para discutir sobre as ações. E o encontro proporcionou a exata imagem do que se está fazendo, como está sendo feito e como os instrutores estão lidando com a adoção do toolkit”, refletiu a diretora-executiva da Associação Eslovena de Conselheiros, Irena Prijovic. O encontro proporcionou o desvelar de práticas em comum, como a do IBGC e dos institutos do Egito e da Indonésia, os quais avaliam o desempenho de suas empresas, por meio de informações públicas. As três primeiras colocadas no país asiático recebem premiação, cuja atual pontuação está em 65%. Por sua vez, o instituto egípcio está desenvolvendo novo índice na bolsa de valores que demonstra os acertos e os erros das companhias em Governança. Em andamento pelo instituto esloveno, destacam-se seus programas de capacitação e de certificação, esta última ação iniciada pelo IBGC no ano passado. A partir deste encontro, Okumbe evidenciou um consenso formado entre os participantes: “concordamos com o que fazer – queremos empurrar a agenda para frente, internacionalmente”. Comitê Diretivo do Fórum Global se reunirá no Brasil em junho O Instituto recepcionará nos dias 8 a 10 de junho comitiva das nações doadoras do GCGF para a promoção da boa Governança As diversas atividades em andamento pelo IBGC demonstram seu aprofundamento como referência internacional na temática Governança Corporativa. A reunião do International Review, os programas Training of Trainers e as participações do Instituto em eventos no Panamá e Europa são alguns dos exemplos claros da internacionalização do IBGC. Assim pontua a superintendente-geral do Instituto, Heloisa Bedicks. A sede do IBGC será palco do encontro de representantes dos sete doadores do Fórum Global de Governança Corporativa (GCGF, em inglês). São eles: Agência Francesa de Desenvolvimento, Ministério das Finanças de Luxemburgo, Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos da Suíça (SECO), Ministério Real dos Negócios Estrangeiros da Noruega, Banco de Desenvolvimento da Áustria, Países Baixos e International Finance Corporation, somado aos fundadores do Fórum: Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Comitê Diretivo do GCGF, atualmente presidido pelo chefe da Divisão de Promoção de Investimentos da SECO, Thierry Buchs, entre outras atribuições, decide sobre o andamento das ações do Fórum. Os participantes da reunião serão recepcionados pelo IBGC, cujo papel será o de proporcionar a logística e os encontros com empresas nacionais, além de expor sobre sua própria estrutura e seus principais programas de desenvolvimento e de educação. “É a primeira vez que a reunião acontece além da Europa-EUA. É um prestígio muito grande ao IBGC. Essa ação transcende nossa prática usual por entrar na esfera de encontro de governos”, avaliou Leonardo Viegas, conselheiro do IBGC e coordenador da Comissão Internacional do Instituto. www.ibgc.org.br 10 Agentes da Governança participam de visita de estudos na Europa organizada pelo IBGC O instituto inglês de conselheiros IOD, o fundo norte-americano de investimentos Hermes, com investimento em 80 empresas brasileiras, e as bolsas de valores LSE e NYSE-Euronext foram alguns dos locais incluídos no programa Com adesão quase 85% maior, quando comparada à 1ª Jornada Técnica, a 2ª Jornada organizada pela Comissão Internacional do IBGC aconteceu em Londres e Paris, entre os dias 27 de abril e 5 de maio, com um total de 52 participantes. “Um grupo com interessante diversidade e importante conhecimento prévio sobre Governança Corporativa”, segundo a superintendente-geral do IBGC, Heloisa Bedicks. Leonardo Viegas, coordenador das Jornadas Técnicas, ficou convencido de que “o objetivo de expandir o conhecimento internacional dos agentes de Governança brasileiros sobre as principais instituições de Governança Corporativa na Europa e os seus temas de interesse - e preocupação - foi amplamente atingido”. Semelhante à 1ª Jornada, realizada em 2008, quando a crise financeira global serviu de pano de fundo para as discussões, nesta o tema crise foi recorrente, principalmente após o anúncio de déficit fiscal da Grécia. Na Convenção Anual do Institute of Directors (IOD), em Londres, por exemplo, “falou-se muito de como sair da crise”, comentou Adriane de Almeida, coordenadora do Centro de Conhecimento do IBGC. Por outro lado, os palestrantes do IOD citaram o Brasil por sete vezes, mesmo sem saber da existência de uma delegação brasileira entre os dois mil participantes da Convenção. “Ficou evidente nesse e em outros momentos que o Brasil hoje é foco de atenção na Europa”, afirmou Bedicks. “Os investidores têm grandes expectativas com relação ao País, devido às oportunidades de negócio advindas da Copa e da Olimpíada.” Temas em destaque Entre os principais assuntos discutidos em Londres e Paris, Bedicks destaca a avaliação e remuneração de conselheiros, gerenciamento de risco, comitê de auditoria e transparência - todos presentes no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC. O único tema fortemente debatido na Europa e que não consta do Código do IBGC, segundo ela, foi o comply or explain [pratique ou explique]. “Essa é uma discussão em que o Instituto pretende aprofundar-se”, adianta Bedicks. Viegas acrescenta entre os temas discutidos o papel do comitê de nomeação de conselheiros e Almeida, a tendência da regulamentação do mercado europeu. De acordo com ela, os europeus mostraram preocupação com a regulamentação, principalmente no setor financeiro. Em seus discursos na Convenção do IOD, os políticos ressaltaram que os bancos devem focar-se em financiar a economia e principalmente as pequenas e médias empresas. A palavra dos jornadeiros O IBGC em Foco dispõe a seguir, a partir do depoimento dos entrevistados, os principais tópicos e fatos debatidos nos quase dez dias de imersão da delegação brasileira na Europa. Comply or explain/Takeover Panel Gustavo Grebler, sócio da Grebler Advogados Em Londres, onde o comply or explain é uma prática usual, foram citadas as vantagens de sua adoção. Ao contrário da norma geral a ser cumprida, o comply or explain permite às empresas em certas situações não se enquadrarem em determinado perfil, justificando por que, embora normalmente ajam dentro dos princípios da Governança Corporativa. A primeira dessas vantagens, afirmada durante a Convenção do IOD, é contribuir para a transparência na companhia, demonstrando suas especificidades para seus stakeholders. A segunda é permitir uma evolução das regras de Governança. E a terceira, contribuir para a eficiência do mercado: forçar as companhias a exercitar o diálogo com seus acionistas faz com que o mercado incorpore essas informações ao preço das ações. em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 11 O Takeover Panel é visto como muito importante no Reino Unido para assegurar o princípio de que são os acionistas que devem decidir num processo de transferência de controle. Foram citados somente os seus aspectos positivos, tais como imprimir clareza nas operações de transferência de controle, diminuindo os riscos e permitindo que essas transações aconteçam de maneira mais eficiente, e assegurar uma conduta equitativa entre os acionistas. O outro lado de sua adoção, e que os ingleses não mencionaram, referem-se ao custo para montá-lo e mantê-lo, ao fato de fazer as normas, interpretá-las e funcionar como o seu principal julgador, de propiciar relacionamentos tipo interlocking e de se pautar em números desvinculados da realidade econômica. variável, enquanto no Brasil, devido a um recente decréscimo na taxa de juros, a tendência é que esses fundos passem a aumentar seus investimentos em renda variável, particularmente em ações na carteira de longo prazo. Bolsa de Valores Maria Cecilia Rossi, conselheira do IBGC e diretora da Interlink Consultoria Nenhuma das duas bolsas visitadas - London Stock Exchange (LSE) e Nyse-Euronext - exige das companhias a adoção de padrões superiores de Governança, como ocorre no mercado brasileiro por parte da BM&FBovespa para as estreantes. A nossa estratégia mostrou-se vencedora, mas nosso contexto é ainda de um mercado distante da maturidade. Após a crise de 2008, houve grande decepção quanto à eficácia da autorregulação e à capacidade dos investidores, em especial os institucionais, em separar o joio do trigo. Tanto que se acirrou o movimento em favor de mais ativismo e mais responsabilidade por parte dos que administram recursos de terceiros. Divulgação IBGC Delegação de jornadeiros em frente à OCDE, em Paris, durante o ciclo de palestras Papel dos Investidores no novo cenário de Governança Alcinei Cardoso Rodrigues – conselheiro da Petros Na Europa de hoje, ficou evidente uma preocupação em se ter um maior controle nas empresas investidas e, portanto, um maior ativismo dos investidores. Ao contrário do Brasil, em que os fundos de pensão, particularmente os maiores, são mais ativistas – o que muitas vezes é facilitado pelo mecanismo de acordo de acionistas, não existente na Europa -, lá tais fundos não têm um papel ativo. Os motivos citados para isso, tanto em Londres quanto em Paris, são a dispersão do capital e o interesse dos investidores em manter certa distância. Há, no entanto, outros tipos de fundos em que se pratica o ativismo. Outra forma de ativismo no Brasil, e que não acontece na Europa, refere-se aos investimentos dos fundos de pensão como cotistas em private equity, com monitoramento enquanto acionistas. Por outro lado, como na Europa a taxa de juros é menor, os fundos de pensão têm uma representativa alocação em renda No período pós-crise, houve um clamor dos investidores por informações de melhor qualidade por parte dos emissores e por mais regulação. Porém, na Comunidade Europeia, foi reportada uma dificuldade adicional de transformar as próprias diretivas em normas aplicáveis aos países membros. Do ponto de vista das bolsas como empresas, após a crise, buscou-se aperfeiçoar controles internos, aprimorar gerenciamento de riscos e obter maior eficácia dos conselhos (mudança de foco da composição do conselho para o comportamento dos conselheiros). Desempenho e funções da Secretaria do Conselho Gisélia Silva, assessora do Conselho de Administração da CPFL A delegação brasileira teve um encontro com representantes do Institute of Chartered Secretaries and Administrators (ICSA), de Londres. Criado em 1891, e hoje com 44 mil membros de 70 países, este instituto de secretários de conselho dedica-se a divulgar as melhores práticas dessa profissão e a certificar esses profissionais. Portanto, a profissão no Reino Unido é antiga e está muito bem organizada. A maioria das empresas do Reino Unido tem secretários de conselho, sendo uma função reconhecida pelo seu código de Governança (Combined Code). www.ibgc.org.br 12 Lá o secretário do conselho é um executivo de primeiro escalão, e apoia todas as atividades do conselho de administração. Entre as funções exercidas pelo secretário no Reino Unido, e que não corresponde ao que se faz aqui, está a de revisar e confirmar a precisão de todas as declarações significativas da companhia antes de sua publicação. No Brasil a profissão não está organizada: existem poucas empresas que a adotam, e aquelas que o fazem organizam a função de forma empírica, sendo moldada no dia a dia. Sustentabilidade Agostinho Faria Cardoso, superintendente de Relações com Investidores da Cemig, e Carlos Eduardo Lessa Brandão, conselheiro do IBGC “Apesar dos fundos específicos, do tipo SRI (Social Responsible Investment), ainda representarem uma pequena parcela do total mundial, é crescente o volume em investimentos socialmente responsáveis na Europa, com destaque para Reino Unido, onde o volume de SRI é de 988 bilhões de euros, segundo o Social Investment Fund”, destaca Cardoso. Para ele, “ficou clara, nessa Jornada, a conexão entre Sustentabilidade e Governança Corporativa, pois preservar os valores ambientais e sociais, em conjunto com os dos acionistas, leva à perenidade das companhias, com inserção equilibrada em seu ambiente de atuação”. Lessa Brandão destaca três momentos em que o tema esteve em foco: o primeiro aconteceu na Convenção do IOD, quando o presidente do Conselho de Administração do Banco HSBC, Stephen Green, disse que o foco dos negócios está mudando de maximizar o valor para o acionista em troca de fazer o negócio bem feito, isto é, considerando os aspectos ambiental, social e de Governança. No segundo momento, Eddy Wymeersch, presidente do Conselho do Committee of European Securities Regulators, disse que a crise de 2008 deixou claro que os acionistas não são os únicos tomadores de risco residual. Quem têm pagado a conta são os contribuintes dos diversos países e a sociedade como um todo - reconhecendo os impactos sociais. Por último, foi a citação de Jean-Nicolas Caprasse, do RiskMetrics Group: “Nos últimos anos, a demanda por informações ESG – Environment, Social and Governance [ambiental, social e de Governança] cresceu drasticamente, e isso está se tornando a forma usual de fazer negócio”. Avaliação do Conselho de Administração Sandra Papaiz, membro do Conselho de Administração do Grupo Papaiz Ficou claro na Jornada que a crise financeira mundial de 2008, sentida com muita força em toda a Europa, trouxe à baila vários questionamentos. Onde estavam os conselhos de administração e cada um de seus membros? Os conselhos desconheciam a real situação, principalmente no setor bancário? Os conselheiros estavam preparados? Obviamente, a resposta é uma completa falha do sistema de Governança. A partir desse momento, surge uma maior preocupação com a escolha dos conselheiros, com o trabalho do comitê de nomeação, com a adequação à estratégia de médio e longo prazo das empresas e com o conhecimento técnico do conselheiro para atuar com firmeza. Neste momento, a avaliação do conselho como um todo e de seus membros individualmente surge como solução. Analisar o andamento do conselho é essencial para a melhoria da performance da empresa como um todo. Esse é um tema importante na Inglaterra, embora a tendência lá seja a de não interferir em demasia. Limites dos instrumentos de Governança Corporativa Carlos Rocha Velloso, gerente de Governança Societária da Petrobras A palestra do prof. Simon Wong, realizada em Londres, foi uma das mais interessantes. Isso porque, enquanto em diversos países a principal discussão se concentra nas diferentes formas de implantação das melhores práticas de Governança Corporativa, o prof. Wong apresenta uma reflexão sobre se as ferramentas que vêm sendo aplicadas e disseminadas pelo mundo são realmente efetivas e as melhores a serem utilizadas para se atingir os objetivos e obter os benefícios desejados de melhoria na Governança. Dessa forma, ele questiona, por exemplo, o aprimoramento da transparência por meio de maior disclosure em temas como as contas anuais, a remuneração dos executivos e os conflitos de interesse. Embora a internet tenha facilitado o acesso a informações disponibilizadas pelas empresas, a transparência, segundo ele, nem sempre alcança os objetivos desejados, e é, muitas vezes, mal aplicada, não levando ao conhecimento público uma qualidade adequada de disclosure de informações críticas das empresas. *Mais informações poderão ser obtidas no site do IBGC em Jornada Técnica 2010. em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 13 IBGC atua como multiplicador da boa Governança na África Parceria selada em 2008, no 9º Congresso Anual do IBGC, entre o próprio Instituto e o Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE), de Moçambique, rendeu seus primeiros frutos neste ano. A assinatura do acordo, que inclui, entre outras ações, o intercâmbio permanente de informações relativas à Governança Corporativa, resultou na confecção de um programa de capacitação para o IGEPE (veja quadro ao lado), com quatro módulos, num total de 104 horas. O curso objetivou proporcionar aos conselheiros, diretores-presidentes e diretores de empresas públicas daquele país conhecimento sobre as boas práticas de Governança. O primeiro módulo – Introdução à Governança Corporativa – ocorreu entre os dias 2 a 4 de março, sendo ministrado pela coordenadorageral do Capítulo Rio, Eliane Lustosa, e pela superintendente-geral do IBGC, Heloisa Bedicks. A responsável pela área de Projetos Especiais e pela logística deste curso, Vânia Campion, também esteve presente. Do total de 48 participantes - em sua grande maioria provenientes de empresas estatais de infraestrutura, entre elas de saneamento básico, energia elétrica, rodoviárias, aeroportuárias e aviação -, 12 eram presidentes de conselhos, 19 conselheiros, 4 conselheiros independentes, 10 diretores, 1 consultor jurídico e 2 secretários de conselhos. Retrato moçambicano Com um passado político e econômico marcado por conflitos - de 1964 a 1975 esteve em guerra com Portugal, pela sua independência, e, nos anos de 1980, em guerra civil, situação modificada em outubro de 1992 com a assinatura de um acordo de paz –, Moçambique vem tentando superar esses entraves. Entre 1996 e 2004, cresceu a taxas comparáveis às da China e Índia, em média 8,5% ao ano, segundo informações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Divulgação IBGC Em março, instrutores do Instituto viajaram a Maputo, capital de Moçambique, para ministrar o primeiro curso in company fora do País Participantes moçambicanos durante curso de Governança ministrado pelo IBGC Sobre o IGEPE Criado em 2001, por meio de um decreto do Conselho de Ministros de Moçambique, o IGEPE é o organismo que representa o Estado em suas empresas controladas. O instituto moçambicano tem como missão “gerir as participações do Estado de acordo com os princípios de boa governação [governança, no termo brasileiro], e catalisar novas iniciativas de investimento publico e privado”. O código de melhores práticas de governança lançado pelo IGEPE apresenta diferenças significativas em relação ao Código do IBGC, porém, os princípios básicos são semelhantes em ambos. “O que impressiona é que eles saíram há pouco tempo de graves questões políticas e já estão discutindo assuntos tão complexos como a Governança Corporativa, o que normalmente os países deixam para o seu último estágio de desenvolvimento”, analisou Lustosa. Em entrevista para o IBGC em Foco, um dos participantes do curso, Custódio Aurélio Simbine, diretor de Administração e Finanças da Petróleos de Moçambique (Petromoc), justificou: “A Governança começa a ganhar espaço nas instituições públicas e empresas estatais do país, visando a obtenção de resultados mais satisfatórios e a melhoria de sua imagem com a adesão de práticas internacionalmente adotadas”. www.ibgc.org.br 14 Também participante do curso, o consultor jurídico Assma Omar Nordine, da Sal & Caldeira Advogados e Consultores, destacou o papel do IGEPE na conscientização dessas instituições e empresas, tendo, entre outras iniciativas, lançado no ano passado um guia de melhores práticas de Governança, também intitulado “guião”. De acordo com Nordine, “espera-se que reformas legais e a uniformização da forma de gerir essas entidades possam resultar no amadurecimento dessa temática”. Quanto às empresas privadas, Nordine comentou que “a relevância da Governança começa a ser sentida, ainda que de forma tênue e limitada às grandes empresas”. No que se refere às pequenas e médias, a grande maioria no país, foi cético: “Parece-me que ainda carecerá de muito tempo para se alcançar a boa Governança”. Já nas estatais, entre os principais problemas de Governança encontrados, segundo Bedicks, está o fato de que ”o diretor-presidente e sua diretoria participam sempre das reuniões do Conselho, enquanto as boas práticas recomendam sua participação somente para discutir assuntos relacionados às suas áreas”. Se de um lado há muito ainda para se fazer em infraestrutura e na aplicação da Governança no país, apesar do crescimento nos últimos anos em 2009, Moçambique estava na 172ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto o Brasil ocupava a 75ª -, por outro, existem investimentos importantes acontecendo no país. Tendo em mente esses fatos, Lustosa disse: “Saí de Moçambique bem impressionada e otimista em relação às suas perspectivas”. E acrescentou: ”Acredito que os recentes investimentos no país deverão ter impacto positivo no seu PIB.” Conhecimento em movimento Segundo Campion, “esse é um projeto com demandas bem diferentes, e que tem requerido dos instrutores um estudo sobre a atual necessidade moçambicana para se alcançar uma boa Governança, pois ainda estão no início do processo”. Bedicks credita aos recentes problemas mundiais – os escândalos de 2002 e 2003 e a crise de 2008 – a tomada de contato pelas empresas de Moçambique com o tema Governança Corporativa. “Não que eles se preocupassem em fazer algo nesse sentido, o que só veio a ser feito recentemente por meio do IGEPE.” Segundo Bedicks, eles estão atravessando a etapa iniciada no Brasil há 15 anos, quando começaram por aqui os primeiros debates sobre o assunto. “O IBGC está plantando as primeiras sementes da Governança nas empresas daquele país”, refletiu ela. Entre 7 e 10 de junho, haverá o segundo módulo - Curso Avançado em Governança Corporativa para Conselheiros - com a eventual participação dos presentes no primeiro módulo e de outros interessados. Simbine, do Petromoc, já garantiu sua presença, enquanto o consultor jurídico Nordine demonstrou interesse e sugeriu aos instrutores trazerem cases sobre empresas de Moçambique. Bedicks adiantou que o IBGC está pesquisando o mercado moçambicano, tendo programado para junho a viagem de dois consultores para fazer levantamento de casos. “Acredito que tudo isso irá se consolidar em um trabalho maior, de longo prazo, igual ao realizado aqui no Brasil.” A experiência de se ministrar um curso em outro país, de acordo com Bedicks, ”vai ao encontro da principal missão do IBGC de disseminar as boas práticas de Governança”. “Quando é que nós, que estamos há tanto tempo no IBGC, poderíamos imaginar a realização de um curso na África?”, disse Bedicks, e acrescentou: “Isso é um motivo de satisfação para o Instituto, pois estamos vendo nossa missão ser cumprida, não só no Brasil mas também fora dele.” As avaliações finais desse primeiro módulo feitas pelos participantes foram positivas, com índice de satisfação de 90,8%. Os próximos módulos, além do segundo agendado para junho, serão Gestão de Riscos nas Empresas, programado para agosto, e Boas Práticas de Governança Corporativa nas Empresas do Estado, para setembro. A Governança levada às empresas Os cursos In Company organizados pelo IBGC vêm tendo ano a ano maior adesão por parte das empresas. De 2008 a 2009, houve um crescimento de 37,5% nesses cursos e, até abril deste ano, já foram realizados seis novos cursos. Isso perfaz um total de 497 profissionais, de 2008 a abril deste ano, sensibilizados às boas práticas de Governança Corporativa por meio dos cursos in company do IBGC. em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 15 O outro lado da função de conselheiro Profissionais enfrentam dilemas e sentem em sua exposição constante e no próprio bolso o peso de seus cargos Embora ainda pouco exteriorizado pelos conselheiros de administração, o tema Dilemas do Conselheiro, discutido no Fórum de Debates de março, ronda diariamente a vida desses profissionais. Com a vivência de ter participado de 38 conselhos, o ex-presidente do Conselho do IBGC e um dos debatedores do Fórum, Paulo Diederichsen Villares, foi categórico: “Ser conselheiro é enfrentar quase que um dilema constante.” O outro palestrante, o advogado José Luís de Salles Freire, que além de sua atuação na área jurídica também exerceu o cargo de conselheiro na então Bovespa, foi ainda mais contundente: ”Ao final deste Fórum, talvez todas as pessoas aqui presentes nunca mais queiram ser conselheiros.” Como moderador, o evento contou ainda com a participação de Paulo Conte Vasconcellos, coordenador desses fóruns no IBGC. Os motivos expostos pelos debatedores para toda essa preocupação não foram poucos. Em contrapartida, surgiram dessa discussão algumas medidas que os conselheiros devem tomar para que se sintam mais seguros ao realizar seu trabalho (veja quadro abaixo). Medidas a serem tomadas pelos conselheiros Por Paulo Villares • Antes de aceitar o cargo, o convidado deve verificar os termos em que a empresa trabalha. • Como conselheiro, deverá manter-se bem informado sobre a empresa. O dever de informar não é só da empresa, cabendo também ao conselheiro buscar informações. Para isso, necessita de tempo para estudar o material recebido, fazer visitas e conversar com pessoas. • O conselheiro tem de sentir que existe na empresa liberdade para solicitar a informação de que ele precisa, na hora em que ele precisa e a quem melhor lhe puder prestar essa informação. • O conselheiro deve sempre perguntar-se se está cumprindo com sua principal missão: agregar valor à empresa. Situações de Dilemas “Quando atuava como conselheiro de uma empresa nos Estados Unidos, percebi, num determinado momento, que mais recebia do que contribuía para o conselho, e passei a entrar num constante conflito. Como posso contribuir mais?, eu me perguntava”, expôs Villares. Segundo ele, não se sentir bem informado é outra situação que pode levar o conselheiro a dilemas, a um potencial atrito e até a renúncia. No caso de possíveis embates, disse Villares, uma das soluções é não transmitir à pessoa a quem se pede a informação a ideia de que ela está fazendo algo errado. “Porque aí o conflito surge na hora”. Também afirmou ser frequente a situação em que o conselheiro não consegue ser transparente. “Ao sentir-se assim, o melhor a fazer é sair.” Os conselheiros têm ainda de aprender a lidar com situações de mudança no controle da companhia ou a entrada de novos acionistas. Há casos também, segundo Villares, em que se é convidado para um conselho a fim de introduzir boas práticas de Governança. E, para exemplificar, citou sua experiência: “Primeiro, pedi para conhecer melhor a empresa, participando de reuniões sem ser ainda conselheiro. Depois, sugeri para mudarem as práticas, pois sem isso a empresa não poderia crescer. Como não houve mudança, simplesmente não aceitei o convite.” Villares, entretanto, acredita que esse tenha sido um caso específico, e que existe, sim, a possibilidade de www.ibgc.org.br 16 o conselheiro contribuir para a adoção da boa Governança Corporativa na empresa. Outra situação levantada por ele é a questão do risco. “Eu passei por um dilema complicado na Parmalat. Durante sua recuperação judicial, fui convidado pelo juiz a participar do Conselho. Como a empresa não tinha comitê de análise de risco, nem condições de contratar um especialista, deixei claro que o risco era grande demais. Depois de seis meses, renunciei.” Visão Jurídica De acordo com o advogado Salles Freire, face às recentes ocorrências de elevados prejuízos envolvendo derivativos no País, “ficou mais claro para as pessoas ser função do conselheiro também a de fiscalizar”. “Nas empresas de controle disperso, o conselheiro de administração é o seu verdadeiro controlador.” Entretanto, segundo ele, “no Brasil, o conselheiro ainda não está preparado para exercer essa função”. Ao traçar um paralelo com os conselheiros dos EUA, Freire afirmou que os do Brasil não possuem o suporte observado lá, onde contam com diversos comitês, advogados, auditores e consultores especificamente para auxiliá-los. Isso se agrava, conforme frisou, porque aqui, além dos dilemas pessoais, surgem outros em função dos deveres e das responsabilidades impostas pela lei. “Eu fico e assumo a responsabilidade legal com impactos pessoais muito grandes ou deixo a empresa?” Esse é o dilema em que muitos conselheiros se colocam, disse. Segundo ele, se de um lado, pela Lei Societária, a responsabilidade do administrador é para com a empresa e não para com um acionista em particular, por outro, com o advento da Lei 10.303, artigo 118, o voto do conselheiro está vinculado à decisão tomada na reunião prévia de acionistas. Como conciliar a alteração na Lei com a regra geral em que o conselheiro tem de votar no interesse da companhia? Para Freire, “essa situação é complexa, e faz com que os conselheiros tenham de decidir como agir em casos concretos”. Na tentativa de solucionar esse conflito o IBGC recomenda, em sua primeira carta diretriz, de março de 2008, que “o conselheiro deve tomar a orientação de voto recebida pelo bloco de controle como mera recomendação de conduta”. O documento, nomeado “Independência dos Conselheiros de Administração”, discute a vinculação dos conselheiros de administração a acordos de acionistas e propõe alteração na redação dos parágrafos 8º e 9º do artigo 118 na Lei das S.A. Além da responsabilidade societária, quando o seguro pode ser uma possível solução, Freire citou a existência também da responsabilidade trabalhista e/ou tributária. “Foi lembrando das responsabilidades nos campos tributário, trabalhista e, eventualmente, até no campo penal que eu disse no início de minha exposição quão dificilmente alguém aceitaria ser conselheiro.” Setor público frente ao privado Executivo com vasta experiência na esfera pública faz reflexão sobre as deficiências do setor e aponta caminhos Com 32 anos como executivo do setor público e sete no privado, quando exerceu o cargo de conselheiro em diversas empresas, Pedro Parente foi o palestrante do IBGC logo após os associados elegerem o Novo Conselho, no dia 30 de março (veja matéria na pág. 5). Atualmente, é presidente da Bunge Brasil. O tema em pauta foi Governança Corporativa – Diferenças e Similaridades entre os Setores Público e Privado. Durante a palestra, entretanto, afloraram muito mais diferenças do que semelhanças entre os dois setores. Parente iniciou a exposição ressaltando sua preocupação, como brasileiro, em relação à gestão do serviço público. No final, porém, admitiu: “Devemos reconhecer – e eu reconheço – que ultimamente tal gestão tem melhorado”. Entre as similaridades, citou o fato de tanto a gestão privada quanto a pública precisarem maximizar a relação custo/benefício, o que no setor público significa dar o melhor pelo que é arrecadado do contribuinte. A partir de então, começaram a surgir as diferenças. em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição Giuseppe Pimentel 17 “Temos visto alguns casos de gestão pela qualidade no setor público que funcionam, porém, para isso eles tiveram de quebrar alguns tabus” alinhamento de todos. Isso significa, afirmou, que “só se pode delegar quando todos entendem aonde a empresa quer chegar”. Ao se referir à execução no setor público, Parente atribuiu ao gestor público o medo de tomar decisões, o que torna o processo decisório “absolutamente diluído e com responsabilidades pouco definidas”. Segundo ele, “quando se tem um problema, não se consegue saber de quem é a culpa”. Processo versus resultado Para Parente, mais sério ainda quanto à gestão nas empresas públicas é a propensão à inatividade. “Não há nenhum estímulo à tomada de riscos: é muito melhor não fazer, porque, se fizer, assumem-se riscos e, se não fizer, nada muda na vida do gestor público.” Pedro Parente Um tópico que ele atribuiu como “importantíssimo” é o chamado Princípio Jurídico Fundamental. No setor privado, diz-se: Tudo pode ser feito, desde que não seja proibido por lei. O que significa, segundo Parente: “A liberdade é ampla e absoluta, desde que não haja uma vedação expressa em lei”. Já no setor público, diz-se: Nada pode ser feito que não seja previamente autorizado por lei. O que Parente traduziu como: “Atenção gestor do setor público! Se não tiver pensado previamente naquilo que está querendo fazer, não poderá fazer, porque não está autorizado previamente em lei”. Esse elemento é, portanto, na visão de Parente, um grande impedimento à inovação e à criatividade no setor público. “Como é que alguém pode ser criativo ou inovador se aquilo que pretende fazer tem de estar previamente previsto em lei?” Planejamento, estratégia e execução Quando o planejamento não é feito com o objetivo formal de atender o que dispõe a Constituição ou as leis, como o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias, pode-se incorrer em “uma grande descontinuidade”. Em contrapartida, na gestão privada, um bom planejamento, uma gestão estratégica, a condição de trabalhar com metodologias para a qualidade total, a adequada transmissão da formulação estratégica por toda a organização permite, segundo ele, a aderência e o Com isso, explicou: “Observa-se uma enorme lentidão no setor público, enquanto no privado há metodologias modernas de gestão, um processo decisório bem definido e responsabilidades claramente distribuídas”. Isso acontece, segundo Parente, porque na gestão privada “a ênfase do controle é no resultado, ao passo que na pública existe o ‘império do processo’, isto é, seguir as etapas de tudo aquilo que está previsto no Governo é um fim em si mesmo”. Como melhorar a gestão pública? Apesar de se declarar um pessimista, Parente acredita que algumas coisas podem ser feitas para melhorar a gestão pública. “Temos de lutar para que exista continuidade, não continuísmo.” Nesse sentido, citou os exemplos do Japão e da Coréia que “conseguiram seus objetivos na área de educação devido a uma política coerente, persistente e consistente por vários anos”. A segunda medida que pode ser aplicada para melhorar a gestão pública, segundo ele, é também ter um olhar para os resultados, e não só para o processo. De acordo com Parente, há certas coisas que não se consegue eliminar no setor público por serem uma exigência constitucional, como a isonomia e a estabilidade. Mas, ter o foco também em resultados é possível. “Temos visto alguns casos de gestão pela qualidade no setor público que funcionam. Porém, para isso eles tiveram de quebrar alguns tabus, e isso é difícil.” www.ibgc.org.br 18 Três instituições-chave dos mercados financeiro e de capitais criam associação pensando no País como pólo regional Lançada em 25 de março, a nova associação de mercado nasce com uma estrutura de Governança definida, e prevê a realização de estudo para fomentar as boas práticas nesse novo universo A Brain - Brasil Investimentos & Negócios foi a pauta da palestra do mês de abril, entre outras razões por estar em sintonia com a agenda temática do IBGC para este ano: Globalização, Internacionalização e Convergência de Novas Práticas de Governança. A ideia inicial das instituições que criaram a Brain - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), BM&FBovespa e Federação Brasileira de Bancos (Febraban) - era entender o que faltava para que o Brasil se tornasse um centro financeiro relevante no mundo. Estava claro para essas entidades que “o investidor estrangeiro já tomou a decisão de investir no Brasil, cabendo agora melhorar o ambiente de negócios para que sua experiência seja bemsucedida”, explicou o diretor-geral da Brain, Paulo Oliveira. Cientes desse desafio, as entidades “entenderam que seria necessário transformar o Brasil em um pólo regional de negócios, com foco na América Latina e projeção e conexões globais, e criaram a Brain para gerenciar esse processo”. “O Brasil se posiciona hoje como um pólo local, mas tem a grande e efetiva condição de se transformar num pólo regional com destaque internacional”, frisou Oliveira. Entre os dados apresentados por ele, e que viabilizam essa ideia, está o fato de o País ser hoje “responsável na América Latina por 80% do mercado de capitais e 90% do mercado de derivativos”. Entretanto, para Oliveira, dizer que 90% dos derivativos estão em São Paulo, não significa dizer que o potencial da América Latina seja somente de 10%. “Claramente, não existem na América Latina negócios com derivativos no volume e no tamanho que as economias já demandam. Então, é preciso desenvolver o mercado local.” Segundo ele, existe, por exemplo, uma forte indústria de fundo de pensão no Chile, Colômbia e também no Peru, onde há mais dinheiro a ser investido do que ativos. “Eles estão à procura de oportunidades para colocar esse dinheiro. Daí, a necessidade dessa rede.” Para Oliveira, essa realidade faz com que o Brasil seja naturalmente uma espécie de ligação com resto do mundo. “Integrando a América Latina, também a expomos ao mundo.” “A quantidade de investidores que quer entender e vir para o Brasil e não consegue por questões de legislação, fuso horário e integração é notável”, salientou. “O Brasil, ao assumir o papel de um pólo regional, com certeza levará o mercado local a um maior desenvolvimento”, prevê Oliveira. E acrescentou: “Isso refletirá na situação das empresas do País e, no final, resultará na necessidade de se ter uma boa Governança”. “Integrando a América Latina, também a expomos ao mundo” Paulo Oliveira Governança na Brain A administração da Brain será realizada por meio de um comitê executivo e de um conselho estratégico. Foram criadas três categorias de associação: A, B e C. (Os integrantes da primeira contribuem com o maior valor - R$ 1 milhão por ano, durante três anos.) De acordo com Oliveira, o Comitê Executivo cuida do dia a dia em FOCO Publicação Trimestral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - 50ª edição 19 da entidade, e é formado pelas três instituições fundadoras e por quatro associados da categoria A. Já o Conselho Estratégico, ainda em formação, irá se voltar para o planejamento de ações no longo prazo, e será composto por representantes de 30 entidades: 15 do governo e 15 associados. Embora se trate de iniciativa recente, Oliveira comentou que as instituições fundadoras da Brain indagaram sobre o papel da Governança neste universo que transformará o Brasil num pólo regional. “A decisão já tomada é de que sejam viabilizados estudos na área de Governança, parcerias com as universidades, criação de prêmios, assim como tornar transparentes os valores nacionais e mostrar qual a forma brasileira de se fazer bem as coisas relacionadas à Governança.” O Brasil nos curto, médio e longo prazos Economista com atuação na área pública tece panorama da economia do País O cenário econômico do Brasil no contexto mundial foi retratado na palestra do IBGC, do dia 12 de março, por Bernard Appy, diretor de Pesquisa e Projetos de Negócios da BM&FBovespa. Appy atuou durante sete anos em cargos de direção no Ministério da Fazenda (de 2003 até o ano passado), sendo o responsável por conduzir o projeto de reforma tributária no País, que acabou não se concretizando. Isso, segundo ele, evidencia que esse país tem “uma Governança que deixa muito a desejar”. Por outro lado, disse: “A Grécia não tem a desvalorização do câmbio como uma opção de política econômica [ao fazer parte da União Européia e adotar o euro como moeda, os países são obrigados a respeitar todas as restrições fiscais e monetárias da moeda única] e isso faz com que o seu ajuste fiscal tenha de ser mais forte.” A perspectiva de crescimento para os países desenvolvidos não é das mais otimistas, segundo Appy, “em função do forte ajuste fiscal que a grande maioria desses países terá de fazer após os pacotes de incentivo fiscal adotados durante a crise de 2008/2009”. Segundo análise do executivo, “no geral, os países em desenvolvimento foram menos afetados pela crise e tiveram no ano passado um desempenho bem melhor do que os desenvolvidos, apesar das exceções como a Rússia e o México”. Há casos de crescimento bastante robustos em 2009: China e Índia. “A China está assumindo cada vez mais a função de motor do mundo”, frisou. “Se olharmos esse desafio - ajuste fiscal numa perspectiva de baixo crescimento -, é de se imaginar que surjam algumas tensões na gestão desses países ao longo dos próximos anos, tanto do ponto de vista econômico quanto político”, previu Appy. Agora, a opção de não fazer tal ajuste “é a pior para esses países: tende a levá-los, aí sim, a ajustes traumáticos”. Para exemplificar, Appy cita os EUA: “Se os Estados Unidos voltarem para o modelo de crescimento baseado em baixa poupança, muito crédito e uma forte expansão do consumo com desequilíbrio macroeconômico, inevitavelmente, em algum momento, isso acabará levando a uma crise e a mais um ajuste extremamente doloroso para o país.” Outro país citado por Appy, e que vem tendo relevante espaço na mídia por ter sido revelado que o seu déficit fiscal é muito maior do que aquele que estava sendo anunciado, é a Grécia. Impactos para o Brasil Em função dessa realidade, os riscos para o crescimento do Brasil são bastante pequenos no curto prazo (neste ano e no próximo), na visão de Appy. Além disso, o País encontra-se num ambiente “extremamente positivo”: fez um grande ajuste macroeconômico ao longo da última década, tem uma democracia madura e ainda será reforçado por iniciativas como o Pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Mas, no médio e longo prazos, a situação, segundo ele, será outra. “O crescimento do Brasil nos próximos anos, num cenário de baixo crescimento das nações desenvolvidas, resultará numa piora das contas externas do País.” www.ibgc.org.br Anos Disseminando as Melhores Práticas Também, de acordo com Appy, existe outro componente nessa questão: a China. “Se os países desenvolvidos crescerem pouco e a China continuar a forçar o crescimento para fora, isso reforçará a piora das nossas contas externas.” Appy explica que uma mudança no modelo chinês de crescimento, direcionando-o mais para seu consumo doméstico, resultará num processo mais tranquilo de recuperação da economia global nos próximos anos, o que inclui o Brasil. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa Av. das Nações Unidas, 12551 World Trade Center Tower - 25º andar - cj. 2508 CEP 04578-903 - São Paulo/SP tel.: 55 11 3043 7008 e-mail: [email protected] www.ibgc.org.br Capítulo Paraná Para Appy, entretanto, as oportunidades de crescimento do País são grandes, se for levada em conta, além dos fatores já citados, a alta de preço das commodities. “O que não podemos é deixar de considerar os riscos”, frisou. “Uma gestão com boa Governança certamente ajudaria a reduzir custo do capital nas empresas” Bernard Appy Av. Sete de Setembro, 5.011 - cj. 901 - Curitiba/PR tel.: (41) 3022 5035 - [email protected] Capítulo Sul Av. Carlos Gomes, 328 - 4º andar - cj. 404 - Porto Alegre/RS tel.: (51) 3328 2552 - [email protected] Capítulo Rio - [email protected] Capítulo MG - [email protected] Conselho Presidente: Gilberto Mifano Vice-Presidentes: Alberto Whitaker e João Pinheiro N. Batista Conselheiros: Carlos Biedermann, Carlos Eduardo Lessa Brandão, João Laudo de Camargo, Leonardo Viegas, Maria Cecilia Rossi e Plínio Musetti Diretoria Matheus Rossi, Sidney Ito e Ricardo Veirano O que fazer? Nessa situação, Appy aponta três agendas para o Brasil: competitividade, gestão da política fiscal e ampliação da poupança doméstica. Quanto à primeira, disse que dentre os pontos em que o País é deficiente em relação a seus competidores está o custo do capital, pois é alto em relação ao de outros países. “Uma gestão com boa Governança certamente ajudaria a reduzir tal custo nas empresas”, esclareceu. Superintendente Geral Heloísa Belotti Bedicks Produção e Coordenação da Newsletter Jornalista responsável - IBGC: Maíra Sardão (MTB 42968) Intertexto - Textos On-line (Cristina Ramalho) [email protected] Projeto Gráfico e Diagramação ATELIER DE CRIAÇÃO [email protected] Reprodução No que se refere à segunda agenda, afirmou: “Se o País não fizer nada e só crescer nos próximos anos, posso garantir que a carga tributária vai crescer em proporção ao PIB.” E no que isso resultará para o Brasil? “Se o País entrar nessa trajetória, não haverá liberdade da gestão de política econômica, e se em algum momento vier uma crise não terá instrumentos para combatê-la.” A terceira agenda refere-se ao fato do Brasil ter baixa taxa de poupança e de investimento. “Se estimularmos a participação da população no capital das empresas, isso resultará num mecanismo inteligente de motivação à poupança das famílias.” De acordo com Appy, para estimular essa participação é fundamental uma boa Governança. “As pessoas não podem ser enganadas: têm de saber como são de fato essas empresas.” É vedada a reprodução de textos e imagens desta publicação sem autorização prévia, mediante consulta formal e citação de fonte. 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