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A Importância do Transve - celiagrodriguez.xpg.com.br
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANATOMIA HUMANA E BIOMECÂNICA
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME
NAS ALGIAS LOMBARES
Célia Garrido Rodriguez
Rio de Janeiro, out. 2008.
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
Aluna do Curso de Pós-graduação em Anatomia Humana e Biomecânica da
Universidade Castelo Branco
Matrícula 2006101492
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME
NAS ALGIAS LOMBARES
Trabalho monográfico em cumprimento
à exigência para conclusão do Curso de
Pós-graduação em Anatomia Humana e
Biomecânica da Universidade Castelo
Branco.
Rio de Janeiro, out. 2008.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
Dedico este trabalho a toda minha família
em especial aos meus filhos Juan,
Francisco e Juliana e ao mau marido
Francisco pelo carinho e apoio recebido.
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
AGRADECIMENTOS
A DEUS, por graças recebidas em minha vida, e a intercessão da
Virgem Maria pela conclusão de mais um trabalho.
Aos meus pais, JESUS GARRIDO RODRIGUEZ e MARIA DE LOS
MILAGROS RODRIGUEZ GARRIDO, aos quais devo tudo o que
faço e tudo o que sou, por seus exemplos de trabalho e de amor.
Ao
meu
esposo,
FRANCISCO
JOSÉ
TAVARES
DO
NASCIMENTO, por seu amor, estímulo e compreensão
Aos
meus
filhos
JUAN
ACÁCIO
GARRIDO
TAVARES,
FRANCISCO JOSÉ GARRIDO TAVARES e JULIANA CARRERA
MAIMONE razões pelas quais levanto todos os dias e que fazem
sentido ao meu viver.
À minha sogra, MARIA MAXIMINA DE JESUS TAVARES, sempre
amiga e companheira nas horas difíceis.
Ao PROF. DR. PAULO ALBERTO PORTO DA SILVA por me
orientar na realização deste trabalho e permitir a finalização da
mesma.
À minha amiga FABIANA CAIAFA COSENDEY por estar sempre
me ajudando durante 15 anos de convivência.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
RESUMO
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME
NAS ALGIAS LOMBARES
Por
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ORIENTADOR: Prof. Dr Paulo Alberto Porto da Silva
No. de palavras: 81
A dor na região lombar é um mal que afeta uma grande parte da população
mundial, e atualmente existem vários técnicas que direta ou indiretamente
trabalham a musculatura abdominal, com a proposta de dar maior estabilidade à
região lombar. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo promover uma
discussão atualizada da importância dos músculos abdominais, em especial o
transverso do abdome, na prevenção da lombalgia, realizada por meio de um
levantamento bibliográfico nos banco de dados, livros e revistas científicas
especializadas.
Palavras chaves: Estabilização lombar. Musculatura abdominal. Lombalgia.
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
ABSTRACT
THE IMPORTANCE OF TRANSVERSUS ABDOMINIS
IN THE LOW BACK PAIN
by
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ADVISOR: Prof. Dc. Paulo Alberto Porto da Silva
Number of Words: 79
The pain in the lumbar region is an problem that affects a large part of the
world population, and currently there are several techniques that directly or
indirectly exercises the abdominal muscle, with the proposal of bringing greater
stability to the lumbar region. Therefore, this study aimed at promoting an updated
discussion of the importance of the abdominal muscles, especially the transversus
abdominis, in preventing low back pain, performed through a bibliographic review
in databases, specialized books and journals.
Key words: Lumbar spine stabilization. Abdominal muscles. Low back pain.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
“A amizade
é como a idade
cresce, cresce
e a gente não esquece.
Quando olho a paisagem
me vem a saudade
da amizade
que amo de verdade.”
(Meu filho Francisco José Garrido
Tavares – 8 anos).
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
SUMÁRIO
CONTEUDO
PÁGINA
Resumo
.................................................................................................
vi
Abstract
.................................................................................................
vii
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
................................................................................
1
..............................................................................
3
METODOLOGIA
CAPÍTULO II
BASES MORFOFUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL
2. Anatomia e biomecânica
..................................................................
2.1. Anatomia da coluna vertebral
4
4
...................................................
2.1.1. Constituição anatômica da coluna vertebral
4
.....................
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
2.1.2. As curvaturas da coluna
7
...................................................
2.1.3. Os movimentos da coluna
8
................................................
2.2. Biomecânica da coluna vertebral
13
.............................................
2.2.1. Biomecânica da coluna da região lombar
15
........................
2.2.2. Movimentação funcional da coluna lombar
16
........................
2.2.2.1 Movimento de flexão e extensão
16
...................................
2.2.2.2 Movimento de flexão lateral e rotação
17
..........................
2.3. Apresentação anatômica da musculatura abdominal
18
................
2.3.1. Transverso do abdome
19
.....................................................
2.3.2. Oblíquo interno do abdome
20
.............................................
2.3.3 Oblíquo externo do abdome
21
.............................................
2.3.4. Reto abdominal
23
................................................................
2.3.5. Piramidal
25
...........................................................................
2.3.6 Fáscia superficial da parede abdominal
25
.............................
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
2.4 Importância biomecânica dos músculos abdominais
26
..................
CAPÍTULO III
DISCUSSÃO
28
...................................................................................
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
32
..................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
33
.....................................................
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
A dor na região lombar (parte baixa das costas), denominada de lombalgia,
afeta uma grande parte da população, segundo Dreyer (1996) aproximadamente
80 a 85% da população apresentou ou apresentará lombalgia em algum momento
de sua vida. É a segunda causa mais comum para a procura de cuidados
médicos, chegando a 30% das consultas ortopédicas e a 50% dos pacientes
atendidos em clínicas de fisioterapia (INDAHL, 1995). O mesmo autor comenta
também que a influência sócio-econômica da lombalgia é vasta, sendo uma das
maiores causas de absenteísmo ao trabalho levando, inclusive, a aposentadoria
precoce.
A lombalgia pode ser devido a vários fatores podendo ser dividido em dois
grandes grupos: os fatores mecânicos posturais, devido aos maus hábitos
posturais que provocam microlesões, compensações e adaptações não
adequadas para o bom funcionamento da coluna vertebral; e as doenças
degenerativas que correspondem às artroses, artrites, tumores e etc.
Muitas são as técnicas que se propõe a tratar da lombalgia e várias delas,
se não todas, trabalham de forma direta ou indireta os músculos abdominais.
Shecon (1989) escreve que 30 a 50% das pressões exercidas sobre o disco
lombares e torácicos poderiam ser diminuídas pelo enrijecimento dos músculos
abdominais e torácicos. Os músculos abdominais diminuem a tensão de rotação e
inclinação e de cisalhamento da coluna lombar.
Kapandji (p. 106, 1987) relata que o papel mais importante na correção da
hiperlordose lombar é devido aos músculos do abdome e em especial aos
grandes retos que agem, por intermédio dos dois grandes braços de alavanca.
Lemos e Feijó (2005) escreve que o enfraquecimento do músculo
transverso abdominal pode levar a protusão abdominal e aumento da lordose
lombar. Sua ação estabilizadora da coluna lombar permite melhor realização dos
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movimentos de membros superiores e inferiores, e previne acometimentos nessa
região.
Antigamente acreditava-se que uma grande parte das lombalgias era
devido ao fortalecimento dos músculos paravertebrais e o enfraquecimento dos
músculos abdominais. Hoje em dia sabe-se que não é bem assim, o
encurtamento dos músculos da região lombar não indica que estes sejam fortes,
muito pelo contrário, Mooney et all (1997) relata que em portadores de lombalgia
os músculos extensores lombares habitualmente são mais fracos que os
músculos flexores lombares, pois estudo eletromiográfico demonstrou atividade
reduzida nos músculos extensores paravertebrais quando comparados com
outros grupos musculares nas pessoas com dor muscular crônica.
Segundo o mesmo autor a lesão das origens e inserções musculares pode
resultar em dor e cicatrização demorada, levando a inflamação crônica
(miofascite). Os ligamentos musculares, fragilizados com a lesão, liberam
estímulos não adequados quando solicitados. A dor resultante inibe a atividade
muscular. Existe evidência da relação direta entre a quantidade de estímulos não
adequados inibitórios e a força muscular disponível. Uma vez que a dor é
bloqueada a força muscular fica disponível. Exercícios adequados podem
estimular o restabelecimento, que irá diminuir a inibição muscular e aumentar a
força do músculo.
Salmela et all (2004) em sua revisão sobre os mecanismos de
estabilização da região lombar escreve sobre a importância do controle neural, da
contração simultânea e antecipada dos músculos do tronco e da parede
abdominal para a sustentação de cargas, dos músculos locais e globais para a
movimentação adequada da região lombar. E escreve sobre alguns estudos que
demonstra que os músculos multífidos, transverso abdominal e o oblíquo interno
possuem um importante papel de estabilização da região lombar agindo em cocontração principalmente na antecipação de cargas aplicadas.
Desta forma, o objetivo deste estudo é, por meio de uma revisão
bibliográfica, descrever a importância da musculatura abdominal, em especial do
transverso abdominal, na prevenção da lombalgia, visto que uma grande
variedade de terapias fortalece, ou melhor, “acordam” estes músculos, dando-lhes
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uma conscientização de sua importância para a “saúde” da região lombar. Não
desmerecendo ou dizendo que estes são mais importantes que os outros
músculos que estabilização e que agem sobre a região lombar, mas
simplesmente dando-lhes maior enfoque.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi revisão de literatura e consulta nas bases de
dados MEDILINE e LILACS. Buscou-se os termos: abdominal muscles, stability,
transversus abdominis associate the low back pain, músculos abdominais,
estabilidade transverso abdominal associado a lombalgia como palavras –chaves
e foram utilizadas 10 referências das encontrada. Priorizaram-se artigos e livros
publicados que apresentaram dados sobre o estudo em questão.
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CAPÍTULO II
BASES MORFOFUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL
2. Anatomia e biomecânica
2.2. Anatomia da coluna vertebral
A coluna vertebral forma o pilar central do tronco e corresponde a uma
estrutura com certo grau de complexidade, pois, ao mesmo tempo que tem que
ser suficientemente resistente para suportar as cargas a ela transmitida, tem que
ser também, suficientemente flexível para realizar os movimentos inerentes ao ser
humano. Isto só é possível graças a uma coluna multi-articulada que apresenta
articulações flexíveis e um poderoso sistema muscular, que permite estabilidade
extrínseca e ligamentar, oferecendo suporte intrínseco.
A coluna vertebral, de acordo com Fraccaroli (1981), apresenta três
funções distintas, uma dinâmica (de movimentação) e duas estáticas (de proteção
e de apoio).
2.1.1. Constituição anatômica da coluna vertebral
A coluna vertebral é composta por 33 vértebras, dispostas umas sobre as
outras; são contadas de acordo com a região que ocupam e a curvatura que
formam, desta maneira temos: 7 vértebras cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5
sacrais e 3 ou 4 coccígeas.
As vértebras apresentam diferenciações de acordo com a região que
ocupam, e se tornam mais robustas à medida que se dirige para a região caudal
na proporção que as cargas aumentam, e dos momentos que elas devem
suportar.
De forma geral, a vértebra é composta pelo corpo vertebral (bloco ósseo
anterior) e pelo arco vertebral (formação posterior). O corpo vertebral une-se ao
arco vertebral através dos pedículos, formando o forame vertebral, por onde
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passa a medula espinhal. As vértebras sacrais e coccígeas são fundidas
formando dois ossos distintos o sacro e o cóccix.
A unidade funcional da coluna, ou segmento motor, é formada por duas
vértebras interpostas por tecidos moles.
A porção anterior do segmento é
composta por dois corpos vertebrais adjacentes, o disco intervertebral e os
ligamentos longitudinais foram a porção hidráulica amortecedora de choques e
sustentadora de peso. Já a porção posterior é formada pelos arcos vertebrais
correspondentes, as articulações intervertebrais formadas pelas facetas, os
processos transversos e espinhosos e vários ligamentos, cujas orientações
facetárias indicam a direção do movimento, que será explicado com maiores
detalhes mais adiante.
De cada seguimento motor saem os nervos espinhais provenientes da
medula espinhal, que passam pelos forames de conjugação, orifício formado pela
incisura vertebral superior e inferior das vértebras, quando encaixada uma sobre a
outra.
Entre dois corpos vertebrais, tem-se o disco intervertebral, que, de acordo
com Williams et. al. (1995), é composto por duas partes: uma parte periférica (o
ânulo fibroso) formado por anéis interligados de forma concêntrica, mais fibroso
do que cartilagíneo; e uma parte central (o núcleo pulposo) com características
mais cartilaginosas do que fibrosas, sendo bastante elástico.
O disco intervertebral é um componente vital para o ótimo e eficiente
funcionamento da coluna vertebral. Ele distribui as cargas, age como um plug
flexível entre as vértebras rígidas e permite um movimento adequado de
pequenas cargas, enquanto provê estabilidade em cargas maiores. Desta forma,
uma das principais funções do núcleo pulposo é atuar como amortecedor dos
choques e permitir um deslocamento do núcleo conforme a ação de forças
compressivas sobre as vértebras. De acordo com Lindh (1980), o núcleo pulposo
aloja-se no centro de todos os discos, exceto nos segmentos lombares, onde ele
tem uma posição ligeiramente posterior.
Couto (1995) relata que o núcleo pulposo contem aproximadamente 80%
de água até o início da adolescência, depois, com o envelhecimento, e com os
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traumatismos (batidas diretas ou erros posturais), essa porcentagem vai
diminuindo, predispondo ao surgimento de hérnias de disco.
Os ligamentos são estruturas que fixam e enfileiram as vértebras
apresentando uma variedade de funções: minimiza a força muscular necessária
para o movimento coordenado; restringe os movimentos dentro de limites
definidos; e promove o suporte adicional para a coluna vertebral sob condições
traumáticas.
Os principais ligamentos são: ligamento longitudinal anterior e posterior,
ligamentos flavos, ligamentos interespinhais, ligamento supraspinhal, ligamento
nucal, ligamento amarelo e ligamentos capsulares.
Os ligamentos só podem resistir às forças de tensão aplicadas ao longo de
seus eixos. Sua resposta à carga depende das proporções relativas do colágeno,
da elastina e da substância fundamental presente no tecido, sendo o colágeno
mais rijo em sua resposta à carga que a elastina. Por exemplo, o ligamento
amarelo contém mais fibras de elastina que qualquer outro ligamento humano,
apresentando grande deformação por um pequeno aumento de carga.
Certo grau de tensão é mantido nos ligamentos, sob as melhores condições
fisiológicas, a fim de que não se tornem frouxos ou curvo. Este fator é
particularmente importante no ligamento amarelo, uma vez que ele assegura um
alinhamento suave e contínuo dentro da metade posterior do canal espinhal
(WILLIAMS et. al.,1995).
A quantidade de tensão nos ligamentos difere com o tipo de movimento da
coluna. Durante a flexão lateral os ligamentos transversos contralaterais
sustentam imensa tensão, seguido pelo ligamento amarelo e os ligamentos
capsulares. Os ligamentos capsulares suportam a maioria da tensão durante a
rotação (LINDH, 1980).
Outra estrutura que também limita, mas ao mesmo tempo realiza os
movimentos e mantém a postura são os músculos. De acordo com Knoplich
(1982), os músculos do tronco constituem provavelmente as maiores massas
musculares do organismo humano. Segundo o mesmo autor o equilíbrio da força
muscular é responsável pela postura corporal do homem numa posição
adequada.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
2.1.2. As curvaturas da coluna
A coluna em um plano frontal deve ser retilínea, mas em uma vista lateral
apresenta uma série de curvas graduais. Magee (2002) explica que antes de
nascer, o feto apresenta em sua coluna vertebral somente uma curvatura
denominada curvatura fetal primária ou curva primária, cuja concavidade se
encontra anteriormente. Depois de nascer, à medida que a criança começa
levantar e movimentar a cabeça em posição de decúbito ventral inicia-se a
formação da primeira curvatura secundária, na região cervical (lordose cervical –
fisiológica), cuja concavidade passa a ser posterior. O mesmo ocorre com a
região lombar, quando a criança passa a ficar de pé e andar, através da
adaptação das cargas e forças para a locomoção, surge a segunda curvatura
secundária a lordose lombar (fisiológica). As regiões torácica e sacro-coccígea
mantêm as curvaturas primárias denominadas cifoses (fisiológicas).
As curvaturas podem apresentar padrões anormais, como o aumento das
curvaturas secundárias (regiões cervical e lombar) denominadas hiperlordoses e
da curvatura primária (região torácica) denominada de hipercifose. Pode ocorrer
também a diminuição das curvaturas, denominada de retificação. Na vista anteroposterior a coluna não apresenta curvaturas e quando surge uma é anormal
denominada de escoliose. As alterações das curvaturas normais prejudicam a boa
postura (SANTOS, 2001).
Norkin e Levangie (2001) quando relatam sobre o momento gravitacional
da coluna vertebral citam Cailliet (1981) e Kendall (1983), onde escrevem que
Cailliet considera a linha de gravidade passando posterior as eixos de rotação das
vértebras cervicais e lombares, anterior às vértebras torácicas e através do corpo
da quinta vértebra lombar. Desta forma, o momento gravitacional tenderia a
aumentar as curvas naturais nas regiões lombar, torácica e cervical. Já Kendall
acreditava que a linha de gravidade passava através dos corpos vertebrais da
região lombar e cervical e anterior às vértebras torácicas, em uma postura ótima.
Neste caso, o estresse sobre as estruturas de suporte seriam maiores na área
torácica, devido a linha de gravidade ficar mais distante das vértebras. Na região
lombar e cervical, o estresse seria menor devido a linha de gravidade cair próximo
ou sobre os eixos articulares dessas regiões.
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Ainda de acordo com os mesmos autores em estudos eletromiográficos
mostram atividade elétrica intermitente do longo dorsal, rotadores, eretores da
coluna e extensores do pescoço em uma postura de pé normal, sugerindo que as
estruturas ligamentares sozinhas são incapazes de prover força suficiente para se
opor a qualquer momento gravitacional agindo em torno dos eixos articulares da
coluna vertebral.
2.1.3. Os movimentos da coluna
A movimentação da coluna se dá através da somação de pequenos
movimentos entre uma vértebra e outra resultando em ampla extensão de
mobilidade.
De acordo com Lindh (1680), a vértebra tem seis graus de liberdade:
rotação e translação sobre os eixos transversos, sagital e longitudinal. O
movimento produzido durante a flexão, extensão, flexão lateral e rotação axial da
coluna vertebral é um complexo movimento combinado, resultado de uma rotação
e translação simultânea.
A inclinação e direção das facetas articulares indicam a orientação dos
movimentos do segmento motor (figura 1). A combinação dos movimentos de
cada segmento motor resulta em um movimento amplo da coluna vertebral.
A orientação das facetas das articulações intervertebrais determina o tipo
de movimento possível a qualquer nível da coluna intervertebral, e essa
orientação muda em cada região da coluna.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
Figura 1: Orientação das facetas articulares. A) região cervical, B) região torácica,
C) região lombar. (Lindh,1980)
Neste item será dado maior ênfase na região lombar, apesar de ser
explanado sobre as regiões cervicais e torácica rapidamente.
Sendo assim, segundo Williams (1995), na região cervical as facetas estão
geralmente no plano frontal, com alguma inclinação oblíqua no sentido do plano
transverso, permitindo a flexão e a extensão. Da segunda vértebra cervical para a
terceira torácica, freqüentemente a inclinação para o lado e a rotação ocorre
juntas e para o mesmo lado.
Na região torácica superior, as facetas estão no plano frontal com leve angulação
no sentido do plano sagital. Na região torácica inferior, elas estão num plano mais
sagital. A rotação e inclinação para o lado e para frente são permitidas por vários
graus pelas facetas, mas restringidas pelas costelas. As facetas restringem
acentuadamente a inclinação para trás ao longo dos processos espinhosos.
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Partindo da posição ereta, a inclinação para o lado resulta em rotação vertical na
direção oposta para as vértebras abaixo do nível da terceira vértebra torácica.
Na região lombar as vértebras apresentam corpos vertebrais mais extenso
em largura que no sentido antero-posterior, e é também mais largo do que alto.
As apófises transversas dirigem-se para trás e para fora onde se observa os
processos mamilares e acessórios (figura 2).
As facetas articulares superiores elevam-se no bordo superior da lâmina e
seu plano é vertical olhando para dentro e para trás. Já as facetas articulares
inferiores orientam-se para fora e para frente.
Figura 2: Vértebra lombar típica e a orientação das suas facetas articulares
(Kapandji p. 77 - 1987),
No movimento de flexão, os corpos vertebrais inclinam e deslizam
ligeiramente para frente, o que faz diminuir a espessura do disco na sua parte
anterior e aumentar na sua parte posterior, com isso o núcleo pulposo é
deslocado para trás. As facetas deslizam para cima parecendo que vão perder
seus limites ósseos, mas os ligamentos que se encontram na parte posterior,
como os interespinhosos, ligamento amarelo e o ligamento longitudinal posterior,
assim como a cápsula articular limitam o movimento de flexão.
No movimento de extensão ocorre o deslizamento dos corpos vertebrais
para trás e o núcleo pulposo é deslocado para frente. As facetas articulares
deslizam para baixo e o movimento é limitado pelas estruturas ósseas do
processo espinhoso e pelo próprio limite das facetas articulares (figura 3).
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
Figura 3: Deslocamento do núcleo pulposo no movimento de flexão e
extensão da coluna na região lombar (Kapandji p. 81 - 1987)
No movimento de inclinação o corpo vertebral para um dos lados, há um
deslizamento para cima das superfícies articulares do lado da convexidade, para
onde o disco se desloca, e um deslizamento para baixo das facetas articulares do
lado da concavidade (figura 4). O limite é dado pela tensão dos ligamentos
intertransversário, ligamento amarelo e cápsula articular do lado da convexidade.
Figura 4: Deslocamento do núcleo pulposo no movimento de inclinação
lateral da coluna na região lombar. (Kapandji p. 81- 1987)
Devido à orientação das facetas articulares da região lombar o centro do
movimento de rotação não está sobre o corpo vertebral, como ocorre nas outras
regiões. O centro de rotação encontra-se por de trás dos corpos vertebrais. Desta
forma, o disco intervertebral não é solicitado em rotação axial, mas sim em um
movimento dito em “tesoura” (figura 5).
O movimento de rotação seria amplo, de acordo com escrito no parágrafo
anterior, mas as facetas estão dispostas verticalmente impedindo um movimento
grande de rotação. De acordo com Kapandji (1987), a rotação total entre L1 e S1
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é de aproximadamente 10º, equivalendo a 2º por andar, ou seja, 1º de cada lado
para cada nível.
Figura 5: Movimento de rotação com centro do movimento fora do corpo
vertebral (Kapandji p. 83 – 1987)
Observa-se que a mobilidade da coluna se dá através da somação de
pequenos movimentos entre uma vértebra e outra resultando em ampla extensão
de mobilidade.
Segundo Chaitow (2001), o processo de degeneração ocorre principalmente nos
segmentos de maior mobilidade e de transição, desta forma os mesmos são: C5 –
C6 – C7 e L4 – L5 – S1. A região torácica, por causa das costelas, tem pouca
mobilidade.
Os principais desvios posturais da coluna, abdome e tórax, segundo Kendall
(1987) encontrados em uma avaliação postural são:
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
hiperlordose lombar ou cervical - representa o aumento da curvatura
-
lordotica fisiológica encontrada na região cervical e lombar;
hipercifose - corresponde ao aumento da curvatura cifótica fisiológica
-
encontrada na região torácica;
retificação - que pode ocorrer em qualquer região da coluna vertebral e
-
corresponde a diminuição das curvas fisiológicas;
escoliose – curvatura lateral da coluna que pode ser um único sentido
-
(curvatura em C) ou em ambos os sentidos (curvatura em S);
-
abdome protuso - protusão de todo abdome ou da porção inferior;
-
Tórax escavado – depressão do tórax;
-
Tórax de pombo – externo elevado produzindo um arqueamento das
costelas;
Costelas mais proeminentes de um lado do que do outro.
-
2.2. Biomecânica da coluna vertebral
Primeiramente será realizada uma breve explanação do que é biomecânica e
depois será descrita a biomecânica da coluna vertebral em especial da região
lombar.
O movimento é essencial para a vida. Não são apenas os processos vitais,
tipo circulação sangüínea, respiração e contração muscular, que necessitam de
movimento, outras atividades como inclinar-se para pegar um objeto, caminhar,
correr são inerentes do movimento humano.
No movimento limitado, como ocorre com uma pessoa acamada ou quando
uma pessoa escolhe o estilo de vida mais sedentário, pode contribuir para efeitos
nocivos à saúde, tais como doenças cardíacas, diabetes, hipercolesterolemia, e
pré-dispõe a lesões do sistema musculoesquelético.
Segundo Enoka (2000), biomecânica é definida como “a aplicação dos
princípios da mecânica ao estudo dos problemas biológicos”. A biomecânica tem
como objetivo estudar o movimento humano tomando como base os princípios da
física mecânica.
Em termos mecânicos existem duas formas básicas de movimento: a)
movimento linear, no qual o corpo se movimenta ao longo de uma linha reta
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(movimento retilíneo) ou de uma linha curva (movimento curvilíneo) e b)
movimento angular ou rotacional, no qual o corpo roda ao redor de uma linha fixa
(eixo de rotação).
Muitos dos movimentos realizados pelo corpo humano são combinações de
movimentos tanto lineares quanto angulares. Tomado como exemplo o
movimento da coxa de uma pessoa durante a marcha, existe o movimento linear
da coxa interira em uma direção combinado com o movimento angular da coxa no
momento em que roda ao redor do eixo da articulação do quadril em fases
alternantes de flexão e extensão.
O movimento do ser humano pode ser visto de várias formas. Uma dessas
formas considera se os fatores mecânicos que produzem e controlam o
movimento provem de dentro do corpo (mecânica interna), como por exemplo as
forças produzidas pela ação muscular e a estabilidade proveniente dos
ligamentos que estão em volta de uma articulação; ou afetam o corpo a partir de
fora (mecânica externa) como a gravidade que incide sobre os corpos.
Outra forma importante de estudar o movimento está relacionada com a
diferença entre a descrição do movimento em si e a identificação das forças
envolvidas na produção ou controle do movimento.
Desta forma, se tem a cinemática que estuda o movimento em si, sem
considerar as forças envolvidas para a produção do movimento levando em
consideração
as
características
temporais,
a
posição
ou
localização,
deslocamento, velocidade e aceleração. A descrição é a primeira etapa
importante na análise de qualquer movimento, entretanto, as análises cinemáticas
se limitam a descrever a geometria espacial do movimento. O estudo das forças
envolvidas no movimento chama-se de cinética e leva em consideração conceitos
de massa, inércia, centro de massa, centro de gravidade, troque e outros.
2.2.1. Biomecânica da coluna da região lombar
O tronco é a estrutura central do corpo e estende-se da base do pescoço até
a cintura pélvica. No tronco estão localizados várias estruturas vitais como o
coração, a medula, o fígado, os rins entre outros órgãos. A musculatura do tronco
desempenha função tanto de movimentação como de proteção.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
Na execução de um movimento, muitas seqüências diferentes de ativação e
combinação de músculos podem ser utilizadas, isto devido à complexidade tanto
das interações entre os centros supra-segmentares como da organização do
sistema musculoesquelético.
Sabe-se há algum tempo que a execução do movimento é acompanhada da
necessidade de se manter a estabilidade postural. Martin (1977) relata “a postura
acompanha o movimento como uma sombra”, isto devido à estrutura de elos
rígidos do sistema musculoesquelético. Todos os movimentos envolvem
atividades posturais que são planejadas para assegurar a execução harmoniosa
do movimento.
Enoka (2000) relata que o mais importante segmento para a estabilidade
total do corpo provavelmente é o tronco. Como muitos movimentos requerem a
ativação postural dos músculos do tronco, ele é freqüentemente usado em
excesso e sofre lesões por mau uso. Tarefas repetitivas podem colocar uma
sobrecarga indevida sobre as estruturar do sistema musculoesquelético do tronco,
especialmente na coluna vertebral.
A alta incidência da dor lombar que leva à incapacidade tem atraído a
atenção de muitos para a questão da estabilidade da coluna lombar e da atividade
postural dos músculos do tronco. Para estudar esse sistema, o tronco pode ser
modelado como dois corpos rígidos, tendo na parte superior a caixa torácica, e na
inferior, a pelve, conectados pelas vértebras lombares (Souchard, 2003) A
estabilidade da coluna vertebral é controlada pela globalidade dos músculos que
conectam os dois corpos rígidos (caixa torácica e pelve) e pelos músculos locais e
ligamentos que se prendem às vertebrais lombares. Os músculos globais (caixa
torácica e pelve), entretanto, parecem muito importantes na distribuição das
cargas externas suportadas pelo tronco.
2.2.2. Movimentação funcional da coluna lombar
O movimento na coluna é produzido pela ação coordenada dos sistemas
nervoso e muscular. Os músculos agonistas (motores primários) iniciam e
continuam o movimento, e os músculos antagonistas muitas vezes o controlam e
modificam. A amplitude do movimento difere nos vários níveis da coluna e
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
depende da orintação das facetas articulares intervertebrais (já visto). O
movimento entre duas vértebras é pequeno e não ocorre independentemente,
todos os movimentos da coluna envolvem a ação combinada da vários segmentos
motores. As estruturas do esqueleto influenciam o movimento da coluna são as
costelas, que limitam o movimento do tórax, e a pelve, que aumenta o movimento
do tronco pela inclinação.
A coluna vertebral tem seis graus de liberdade: rotação e translação sobre
os eixos transverso, sagital e longitudinal. O movimento produzido durante a
flexão, extensão, flexão lateral e rotação axial da coluna é um complexo
movimento combinado, resultado de uma rotação e translação simultânea.
2.2.2.1 Movimento de flexão e extensão
A flexão é iniciada pelos músculos abdominais e pela porção vertebral do
músculo psoas. O Peso da parte superior do tronco produz maior flexão, que é
controlada pela atividade gradualmente aumentada dos músculos eretores da
coluna. Os músculos posteriores do quadril estão ativos no controle da inclinação
anterior da pelve, quando a coluna é fletida.
Em flexão total, os músculos eretores da coluna se tornam inativos e ficam
totalmente estendidos nesta posição, o momento de inclinação anterior pode estar
contrabalançado passivamente por estes músculos e também pelos ligamentos
posteriores que estão inicialmente frouxo, mas se torna tensos neste ponto,
devido a coluna ter total alongamento.
Segundo Nordin e Frankel (1980) os primeiros 50o à 60o de flexão da coluna
ocorrem na coluna lombar, principalmente nos segmentos motores baixos.
Inclinando a pelve à frente, ocorre maior flexão.
Alguns estudos têm mostrado que o trabalho concêntrico realizado pelos
músculos envolvidos no levantamento do tronco é maior do que o trabalho
excêntrico realizado pelos músculos envolvidos no abaixamento do tronco.
2.2.2.2 Movimento de flexão lateral e rotação
Durante a flexão lateral do tronco, o movimento pode predominar, tanto na
coluna torácica, quanto na coluna lombar. Na lombar, os espaços em forma de
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
cunha entre as superfícies articulares intervertebrais mostram variações durante o
movimento. Os sistemas espinotransversal e transversoespinhal dos músculos
eretores da coluna e dos músculos abdominais estão ativados durante a flexão
lateral; contrações homolaterais destes músculos iniciam o movimento e
contrações contralaterais o modificam.
Significante rotação axial ocorre nos níveis torácico e lombosacral, mas é
bem limitado a outros níveis da coluna lombar, ficando restrito pela orientação
vertical das facetas.
A união da rotação e flexão lateral também possui lugar na coluna lombar,
com rotação dos corpos vertebrais na direção da convexidade da curva. Durante
rotação axial, os músculos eretores da coluna e os abdominais estão ativos nos
dois lados da coluna, ou seja, os músculos homolaterais e contralaterais
cooperando para produzir o movimento.
Movimentos funcionais do tronco não envolvem apenas movimento
combinado de diferentes partes da coluna, mas também requer a cooperação da
pelve, visto que o movimento da pelve é essencial para o aumento da amplitude
do movimento funcional do tronco.
O relacionamento entre os movimentos pélvicos e o movimento da coluna é
geralmente analisado em termos do movimento das articulações lombosacrais,
articulação do quadril, ou ambos. A função das articulações sacroilíacas ainda
está em discussão. Considera-se que estas articulações produzem clinicamente
mínimo movimento significativo, porque elas são envolvidas por uma estrutura
ligamentar densa e suas superfícies articulares são irregulares. Análises
biomecânicas das articulações sacroilíacas sugerem que estas funcionem
principalmente como amortecedores do choque e são importantes na proteção
das articulações intervertebrais.
2.3. Apresentação anatômica da musculatura abdominal
A musculatura que compõe a região abdominal não está localizada somente
na parte anterior do abdome, mas também na região lateral e posterior formando
uma grande cinta e cuja organização as fibras musculares permite uma maior
estabilização para essa região (figura 6).
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
Desta forma, a parede abdominal é limitada crânialmente pelo ângulo infraesternal e costelas, e caudalmente pela crista ilíaca, sulco inguinal e sulco púbico.
Abaixo da pele localiza-se a fáscia superficial da parede abdominal que
superiormente é uma única lâmina que contem gordura variável, e inferiormente,
particularmente no obeso, essa única lâmina se diferencia em duas que, além da
gordura, encontram-se vasos superficiais, nervos e linfonodos.
Abaixo da fascia abdominal surge um grupo de quatro grandes lâminas
musculares achatadas que formam a parede abdominal que são oblíquo externo e
interno, transverso e reto do abdome e existe um músculo menor na região
inferior denominado piramidal.
Figura 6: Visualização da cinta abdominal formada pela oritenação das fibras
musculares que compõe o abdome (Kapandji p. 101 -1987)
O grupo muscular do abdome se apresenta em forma de camadas, que de
uma vista mais interna para uma mais externa, esses músculos estão dispostos
da seguinte forma: transverso do abdome que atravessa o abdome como uma
grande facha se fixando em uma região mais posterior; oblíquo interno e oblíquo
externo, localizados mais lateralmente; mais medialmente encontra-se o reto
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
abdominal e a fáscia superficial; e mais inferiormente, mas também medialmente
o piramidal.
2.3.1. Transverso do abdome (transversus abdominis) – Forma a camada
mais profunda dos músculos ântero-laterais da parede abdominal. Este músculo,
de acordo com Calais-Germain (2002), atua como uma cinta que achata a parede
abdominal e comprimir as vísceras abdominais se o ponto fixo for as vértebras,
mas se considerar como ponto fixo a aponeurose anterior o transverso aumentará
a lordose lombar. Além disso, a porção superior ajuda a diminuir o ângulo infraesternal das costelas, durante a expiração.
Suas fibras são horizontais somente na porção média do músculo, na porção
superior suas fibras são oblíquas para cima e para dentro, e a porção inferior são
obliquas para baixo e para dentro, as fibras mais baixas terminam sobre o bordo
inferior da sínfise púbica e do púbis que juntamente com o oblíquo interno forma o
tendão conjunto.
De acordo com Williams et. All. (1995), o transverso do abdome encontra-se
fixado no terço lateral do ligamento inguinal, nos dois terços anteriores do lábio
interno do segmento ventral da crista ilíaca, na fáscia toracolombar, entre a crista
ilíaca e a décima segunda costela, e nas faces internas das seis cartilagens
costais inferiores, onde o transverso se interdigita com o diafragma. Suas fibras
correm transversalmente o abdômen até chegar a uma linha côncava em sentido
medial, denominada linha semilunar. Nesta linha inicia-se a aponeurose que
cranialmente à linha ou área arqueada, colabora na formação da lâmina posterior
da bainha do reto. Caudalmente à área arqueada, a aponeurose forma apenas a
lâmina anterior da bainha do reto. Por intermédio de sua aponeurose, o músculo
transverso do abdome participa da formação da linha Alba. De sua aponeurose
parte para a borda lateral da inserção do músculo reto abdominal, uma faixa
côncava lateralmente, a foice inguinal (tendão conjuntivo).
Sua inervação provem dos nervos intercostais (T7 a T12) e ilio-hipogátrico e
ilioinguinal (L1).
As variações relatadas por Kahle et. All. (2000) é que o músculo transverso
pode se fundir com o músculo oblíquo interno na sua parte mais caudal, sendo
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então nesta região denominado de músculo complexo. O autor relata que na
literatura, verifica-se que ele pode estar completamente ausente. E o número de
digitações em sua origem pode variar para mais ou para menos.
2.3.2. Oblíquo interno do abdome (obliquus internus abdominis) – Este
músculo está entre o transverso e o oblíquo externo do abdome, suas fibras tem
um trajeto ascendente em forma de leque correndo na mesma direção que as
fibras dos músculos intercostais, isto é, em sentido ínfero-superior e pósteroanterior. Sua atuação, de acordo com Calais-Germain (2002), dependerá se só
um lado for recrutado ou se os dois lados forem recrutados simultaneamente. Se
somente um dos lados for recrutado produzirá uma inclinação do tronco para o
mesmo lado; se a pelve for o ponto fixo provocará um abaixamento das costelas
desse lado; se as costelas for o ponto fixo a pelve é que se inclinará para esse
lado. Sendo os dois lados recrutados simultaneamente a distância entre as
costelas e a pelve diminuirá; se a pelve é o ponto fixo ocorrerá uma flexão do
tronco em direção a pelve; e se tanto a pelve como as vértebras forem o ponto
fixo provocará um abaixamento das costelas em sentido posterior sendo assim
um músculo expiratório.
De acordo com Kahle et. All. (2000), o músculo oblíquo interno tem origem
na linha intermédia da crista ilíaca, na lâmina profunda da fáscia toracolombar e
na espinha ilíaca anterior superior e algumas fibras podem ter origem também no
ligamento inguinal. Sua inserção pode ser diferenciada em três partes: 1ª) a parte
cranial se insere nas bordas inferiores das três últimas costelas; 2ª) a parte
intermédia prolonga-se medialmente na aponeurose, que se divide em duas
lâminas uma anterior e outra posterior, estas lâminas participam da formação da
bainha do músculo reto do abdome e se unem na linha Alba. A lâmina anterior
reveste completamente o músculo reto abdominal, enquanto que a lâmina
posterior termina a uns 5 cm abaixo do umbigo numa linha convexa para cima, a
linha arqueada. Como normalmente esta borda não é nitidamente delimitada o
autor chama de área arqueada; 3ª) a parte caudal do oblíquo interno no homem
prolonga-se no cordão espermático denominado de músculo cremaster.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
É inervado pelos nervos intercostais T10 a T12 e o músculo cremaster pelo
ramo genital do nervo genitofemoral (L1 e L2).
As variações mais observadas são o número de digitações nas costelas que
pose ser para mais ou para menos assim como o número de intrsecções
tendíneas.
2.3.3 Oblíquo externo do abdome (obliquus externus abdominis) – É o maior
e mais superficial músculo ântero-lateraldo abdome e possui oito digitações
inseridas nas faces externas e nas bordas inferiores das oito costelas inferiores,
alternando-se com as digitações do serrátil anterior e latíssimo do dorso, ao longo
de uma linha oblíqua que se estende para baixo e para trás. De acordo com
Williams et. All. (1995), as digitações superiores estão inseridas próximo das
cartilagens costais, as mais inferiores no ápice da décima segunda cartilagem, as
digitações médias nas costelas a uma certa distância de suas cartilagens. As
fibras divergem ínfero-medialmente, com as fibras posteriores sendo quase
verticais e inserem-se no lábio externo da metade anterior do segmento ventral da
crista ilíaca; as fibras médias e superiores são progressivamente menos oblíquas
e terminam em uma aponeurose, ao longo de uma linha da nona cartilagem costal
até um pouco abaixo do umbigo e depois curva-se lateralmente em direção à
espinha ilíaca ântero-posterior.
O obliquo externo do abdome atua da mesma forma do oblíquo interno, se
houver uma solicitação do músculo somente de um lado o tronco se inclinará para
aquele lado e dependendo do ponto fixo o tronco irá de encontro com o quadril
(ponto fixo será o quadril) ou o quadril irá de encontro as costela (ponto fixo as
costelas). Se os dois lados do músculo for recrutado ao mesmo tempo a distância
entre as costelas e apêndice xifóide e o púbis diminuirá, e dependendo do ponto
fixo as costelas irão ao encontro da pente (ponto fixo a pelve) ou a pelve irá ao
encontro das costelas (ponto fixo as costelas) e existe uma compressão anterolateral das vísceras.
Os oblíquos externo e interno do abdome atuam, de acordo com CalaisGermain (2002), em sinergia nos movimentos de rotação em espiral do tronco,
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
por exemplo, uma rotação do tronco para a direita (com flexão) realizar-se-á pela
contração simultânea do oblíquo interno direito e do oblíquo externo esquerdo.
O oblíquo externo apresenta inervação do nervo intercostais (TVII a TXII) e
o ílio-hipogástrico e ilioinguinal (LI).
De acordo com Kahle et. All. (2000), o músculo oblíquo externo pode ter
maior ou menor número de digitações, assim como, tendões intermediários e
intersecções tendíneas podem ser observadas. Já foram constadas também
interligações com os músculos visinhos, isto é, com o músculo grande dorsal e o
músculo serrátil anterior.
2.3.4. Reto abdominal (rectus abdominis) – apresenta-se como uma longa
faixa muscular que desce por toda a parede abdominal, a partir da parte ventral
inferior do tórax até o osso púbis e se separa do seu homônimo pela linha branca.
Williams et. All. (1995) descreve que este músculo é mais estreito e mais espesso
na parte de abaixo e que se origina por dois tendões: um tendão lateral mais largo
que está fixado na crista púbica e no tubérculo púbico e, algumas vezes, estendese além do tubérculo até a linha pectínea do púbis; e em um tendão medial,
entrelaçando-se com o seu homônimo, funde-se com os ligamentos anteriores à
sínfise púbica e aos corpos do púbis. Algumas fibras podem originar-se da parte
inferior da linha branca. O músculo está fixado acima por três fascículos
direrentes na quinta, sexta e sétima cartilagens costais; as fibras mais laterais
geralmente estão fixadas na extremidade ventral da quinta costela; este fascículo
pode estar ausente, mas , por outro lado, o músculo também pode alcançar até
mesmo a quarta e a terceira costelas; as fibras mais mediais estão
ocasionalmente inseridas nos ligamentos costoxifóides e no seu lado do processo
xifóide.
O reto do abdome é interrompido por três intersecções tendíneas: uma
geralmente próximo ao nível do umbigo, uma outra próximo do ápice do processo
xifóide e uma terceira aproximadamente do meio entre as duas primeiras. Essas
intersecções tendíneas são transversais ou obliquas em ziguezague, vistas pela
face ventral, elas raramente se estende em toda a extensão do músculo.
O reto do abdome situa-se numa bainha denominada de bainha do músculo
reto do abdome. Está é formada pela aponeurose dos três músculos abdominais
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
laterais, o transverso do abdome, o oblíquo interno e externo do abdome de tal
maneira que, acima da linha arqueada, a aponeurose do músculo oblíquo interno
se divide em uma lâmina anterior e uma lâmina posterior, a aponeurose do
oblíquo externo forma a lâmina anterior, e a aponeurose do transverso do abdome
reforça a lâmina posterior dessa bainha (figura 7). Na região da linha alba ocorre
um entrelaçamento parcial das fibras.
Entre as fibras aponeuróticas, de acordo com Kahle et. All. (2000), há
deposição de gordura. A linha alba estende-se até a sínfise e forma um reforço na
borda superior da bacia. Abaixo da linha arqueada, a bainha do reto está
incompleta, pois as aponeuroses de todos os músculos do abdomem passam
anteriormente aos músculos retos e estes são revestidos posteriormente apenas
pela fáscia da parede abdominal, fáscia transversal e o peritônio. Na região de
origem do músculo reto a sua bainha é uma formação em fáscia delgada, que é
um prolongamento da fáscia peotoral.
Figura7: A, B secção transversais da parede abdominal anterior: (A)
imediatamente acima do umbigo; (B) abaixo da linha arqueada. Disposição das
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aponeuroses dos músculos abdominais (transverso, oblíquo interno e externo) na
formação da bainha do reto (Williams et. all. P. 561 – 1995)
A ação do músculo reto do abdome aproxima o púbis do esterno podendo
levar a pelve em retroversão. E sua inervação é dada pelos quatro últimos nervos
intercostais (T IX a TXII), também pelo ílio-hipogástrico e ilioinginal (LI).
2.3.5. Piramidal – é um pequeno músculo triangular situado numa posição
mais caudal do reto do abdome dentro da aponeurose dos três músculos
abdominais laterais, igual ao reto abdominal e está ausente em 16 – 25% dos
indivíduos segundo Kahle et. All. (2000). Origina-se no púbis e se irradia na linha
alba. Sua ação limita-se à tensão da linha alba e é inervado pelos ramos de T12 a
L1.
Figura 8: Vista anterior da região abdominal e torácica
(www.nutrifranca.vilabol.uol.com.br/abd.html acessando 02/07/2008 )
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
2.3.6 Fáscia superficial da parede abdominal – é uma única lâmina que
contém gordura variável e inferiormente, em especial no obeso, se diferencia em
duas lâminas, entre as lâminas passam vasos superficiais, nervos e linfonodos.
A lâmina superficial é espessa, areolar e contém gordura variável. Passa
sobre os ligamentos inguinais para a fáscia superficial correspondente das coxas.
A lâmina profunda (ou lâminas) é a mais membranosa, contém fibras
elásticas e está frouxamente unida por tecido areolar às aponeuroses oblíquas
externas.
É contínua com a fáscia torácica superficial e, sobre os ligamentos inguinais, com
uma lâmina membranosa superficial na parte proximal da coxa, fundindo-se com
a fáscia lata subjacente nas profundezas das flexuras inguinais.
2.4 Importância biomecânica dos músculos abdominais
De acordo com Correia & Pascoal (1994) os músculos da pararede
abdominal antero-lateral encontra-se envolvidos em um amplo leque de funções
que, genericamente, pode ser considerado em dois grupos : por um lado funções
relacionadas com o bem estar e o funcionamento orgânico geral (funções gerais);
e por outro, a intervenção nos movimentos do tronco e pelve (participação nos
movimentos)
Entre as funções gerais destacam-se as funções de: proteção, controle da
pressão intrabdominal, postura, inspiração e expiração.
Sendo assim, a função de proteção se dá através de uma forte cinta elástica
onde se encontram fibras orientadas em várias direções, constituem o
revestimento antero-lateral da cavidade abdominal, protegendo os órgãos aí
contidos.
A função de controle tônico determina uma pressão adequada no interior da
cavidade abdominal. Pressão essa fundamental na manutenção da correta
posição dos órgãos intrabdominais (fígado, rins, estômago, intestinos, bexiga,
baço, etc), contrariando o efeito da força da gravidade.
Ângela Santos (2001) descreve que quase todas as vísceras abdominais
estão envoltas pelo peritônio e quando um indivíduo se inclina para frente
contraindo seus abdominais de forma correta (soltando o ar e abaixando as
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
costelas, acionando os músculos abdominais), há um aumento da pressão no
interior do peritônio, que por sua vez vai ser empurrado contra a coluna lombar.
Se essa pressão for mantida durante a inclinação do corpo para frente permitirá
um ponto de apoio às vértebras lombares, não permitindo a projeção exagerada
dos discos intervertebrais para frente, proporcionando uma melhor distribuição
das cargas de força.
Em relação à postura, a boa tonicidade dos abdominais contribui para a
manutenção de uma posição correta da pelve e, conseqüentemente, da coluna
lombar, contrariando a anteversão da pelve e o acentuar da lordose lombar. Além
disso, como vimos no parágrafo anterior, uma boa tonicidade implica em uma
adequada pressão intrabdominal que permite manter as vísceras nas suas
posições, mesmo quando serve de apoio ao tórax, através do diafragma. O
enfraquecimento dos músculos abdominais leva ao abatimento do tórax e ao
acentuar da cifose dorsal, expondo a coluna a uma sobrecarga nociva.
Na inspiração, a contração da porção muscular do diafragma e a
conseqüente descida do centro frênico, provoca o deslocamento para baixo e
para frente das vísceras abdominais. No sentido de contrariar este movimento das
vísceras, os músculos do abdome contraem-se, proporcionando um ponto fixo ao
centro frênico. Utilizando esse ponto de fixação os músculos inspiratórios podem
atuar em toda a sua amplitude produzindo o aumento do diâmetro de toda a caixa
torácica.
No mecanismo da expiração forçada, como ocorre na tosse, no espirro, no
grito, no canto, ou quando queremos soltar todo o ar, a contração dos músculos
abdominais é essencial pois, produzem um aumento da pressão intrabdominal
empurrando as vísceras para cima e para trás, em conseqüência desse
movimento o centro frênico é empurrado para cima, diminuindo o diâmetro vertical
do tórax e expulsando, de forma brusca e potente, o ar contido nos pulmões.
Os músculos abdominais participam na realização dos movimentos de duas
formas, uma produzindo o movimento do tronco e a outra estabilizando o tronco
para a realização dos movimentos de cabeça e dos membros superiores e
inferiores.
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
Desta forma, todos os movimentos do tronco como flexão, rotação, e flexão
lateral do tronco há o acionamento dos músculos abdominais, assim como para
todos os movimentos amplos e potentes de cabeça, membros superiores e
membros inferiores necessitam da fixação do gradil costal e/ou da pelve, fixação
esta, para a qual a contração dos músculos abdominais é determinante. Só deste
modo, se torna possível a intervenção de outros grupos musculares que,
utilizando a pelve e/ou o gradil costal como pontos fixos.
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
CAPÍTULO III
DISCUSSÃO
Antigamente quando se tinha dor na região lombar vinha logo ao
pensamento a ação de alongar os músculos da região lombar e fortalecer os
músculos abdominais, pois se tinha a idéia de que os músculos lombares
estariam fortes demais em relação aos músculos da região abdominal que
estariam fracos, e quando se realizava o procedimento de alongar e fortalecer, de
uma certa forma, se tinha um melhora do quadro álgico, mas o pensamento para
essa explicação não está correto.
As pesquisas atualmente demonstram que existe na realidade mais do que
um
jogo
de
forças
entre
músculos,
ou
de
simples
fortalecimento
e
enfraquecimento entre músculos que deveriam estar trabalhando de forma
harmoniosa.
Kapankji (1987) descreve que o papel mais importante na correção da
hiperlordose lombar é realizado pelos músculos do abdome e em especial aos
grandes retos que se encontram situados no lado da convexidade da curvatura
lombar e que agem por intermédio dos dois grandes braços de alavanca.
A pressão aumentada no disco, segundo Coury (1995), ocorre de forma
assimétrica e que todas as vezes que o tronco se inclina para frente, a parte
anterior do disco se apresenta sob pressão e a parte posterior, ponto crítico, se
apresenta sob tensão, forçando o núcleo pulposo para trás e favorecendo a
patologias discais.
Segundo o mesmo autor existe uma relação de causa-efeito intuitiva entre
contração dos músculos do abdome, compressão do conteúdo abdominal e
elevação da pressão intra-abdominal. Quanto maior a pressão intra-abdominal e
mais rígido o cilindro tóraco-abdominal, maior a fração de carga vertebral
compartilhada e maior a redução das cargas vertebrais.
Ikedo e Trevisan (2007) escrevem que existem dúvidas quanto à
participação da musculatura lombar como causa primária da lombalgia, pois já se
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
observou que a incisão cirúrgica sobre os músculos é indolor quando a fáscia e a
pele são anestesiadas. De acordo com estes autores os músculos lombares
podem estar acometidos de duas formas, forma reativa ou secundária, como no
espasmo muscular. E escreve ainda, que o enrijecimento dos músculos
abdominais diminuem a tensão de rotação e inclinação e de cisalhamento na
coluna lombar, protegendo a medula espinhal lombar.
Prentice e Veight (2003) descrevem os estudos de O´Sullivan e relatam que
existe uma resposta neuromotora anormal dos estabilizadores do tronco que
acompanha o movimento dos membros, pois todos os movimentos de membros
superiores e inferiores são precedidos por uma contração principalmente do
transverso abdominal que tem com principal objetivo a estabilização da região
lombar.
De acordo com Fornari et. all (2003), a coordenação dos músculos
abdominais em especial o transverso abdominal e os músculos espinhais
associados à movimentos do membro inferior em indivíduos com e sem lombalgia
demonstraram que o início da contração do músculo transverso abdominal se
encontrava atrasado em indivíduos com lombalgia.
Panjabi (1992) subdividiu o sistema de estabilização da coluna em três
sistemas que são: 1) subsistema musculoesquelético passivo que corresponde:
as vértebras, ligamentos, discos intervertebrais, facetas e cápsulas articulares,
assim com as propriedades mecânicas passivas dos músculos; 2) subsistema
musculoesquelético ativo onde estão incluídos músculos e tendões que estão
inseridas na coluna; 3) subsistema neural e de feedback que são os receptores
dos ligamentos, tendões e músculos além do centro de controle neural.
Já Bergmark (1989) dividiu em dois sistemas musculares que mantêm a
estabilidade da coluna: um sistema muscular global, que corresponde aos
músculos mais superficiais, como o reto abdominal e o oblíquo interno e externo,
cujas inserções estão no tórax e pélvis, responsáveis pela estabilização geral da
coluna, e por sua orientação e ação contra os distúrbios externos; e um sistema
muscular local, músculos diretamente inseridos nas vértebras lombares,
responsáveis pela estabilização segmentar e controle direto do segmento lombar.
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
Lemos e Feijó (2005) descreve que o transverso do abdome pode ser
considerado como um estabilizador local, pois a contração de suas fibras
horizontais exercem uma tensão na fáscia tóraco-lombar, criando uma maior
rigidez da coluna lombar, isto devido ao aumento da pressão intra abdominal, que
gera uma pressão visceral na face anterior da coluna, que é contrária á lordose
lombar.
Em uma revisão de literatura realizada por Teixeira-Salmela et. al. (2004)
verificou que a estabilidade mecânica da coluna é proporcionada por diferentes
estratégias, e comenta sobre o aumento da pressão intra-abdominal e a cocontração da musculatura do tronco. Descrevendo que a contração dos músculos
abdominais, principalmente o transverso do abdome que aumenta a pressão intraabdominal,
reduzindo
as
forças
compressivas
e
de
cisalhamento
em
levantamento de carga ocorre por um tempo reduzido, pois esse aumento da
pressão provoca também um aumento da pressão sistólica da aorta o que altera o
suprimento sangüíneo para as vísceras e membros inferiores. Entra então em
ação a co-contração dos músculos do tronco para manter a estabilidade e ao
mesmo tempo prover a mobilidade do tronco. Quando a rigidez passiva do
segmento é reduzida devido à fadiga aumenta-se a instabilidade e com isso
favorece a um aumento da vulnerabilidade, como resultado da perda do controle
motor e, conseqüentemente, um estresse aumentado dos ligamentos, cápsulas e
discos intervertebrais.
Bisschop (2003) descreve a estabilidade da região lombar dependente de
elementos estáticos e dinâmicos, sendo os elementos estáticos os corpos
vertebrais, facetas e cápsulas articulares, discos intervertebrais e os ligamentos
espinhais responsável pela tensão inicial que ocorre no início do movimento
denominado de zona neutra do movimento. A partir daí, ocorrendo o movimento,
é necessário a ativação dos elementos dinâmicos para prevenir a instabilidade
que corresponde aos sistemas miotendineos espinhais e a fáscia tóraco-lombar. A
estabilidade mecânica, tanto estática quanto dinâmica, é fundamental para a
realização de atividades funcionais.
Lemos e Feijó (2005) descreve os resultados de Hodges e relata que a
lombalgia afeta diretamente a ativação do transverso do abdome, comparando,
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
através de eletromiografia, a ação dos músculos abdominais em pessoas com e
sem lombalgia durante movimentos no membro superior, obtiveram como
resultado uma diminuição acentuada da ativação do transverso do abdome em
comparação aos outros músculos estabilizadores, pois sua contração encontra-se
atrasada para exercer adequadamente a ação de estabilização da coluna lombar
no grupo de pessoas com dor lombar, estando expostos a mais dor resultante de
um ciclo vicioso.
Segundo o mesmo autor não se sabe como a dor poderia alterar a via
nervosa responsável pela ativação do transverso abdominal. Sabe-se contudo,
que esse músculo possui condução nervosa diferente dos outros músculos
abdominais, sendo necessário um programa de exercícios específicos para ele.
O transverso do abdome deve ser treinado separadamente dos outros
músculos pelo fato de ser o principal músculo afetado na dor lombar por meio da
perda de sua função tônica estabilizadora (TEIXEIRA-SALMELA et. all. - 2004)
CÉLIA GARRIDO RODRIGUEZ
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico
demonstrando a importância da musculatura abdominal na estabilização da região
lombar e conseqüentemente a sua importância na prevenção de lombalgia.
No decorrer da investigação observou-se que os músculos abdominais
apresentam múltiplas funções (proteção, controle da pressão intrabdominal,
postura, inspiração e expiração), denominadas de funções gerais. E na função de
realização dos movimentos, que pode ser considerada de duas formas: uma
produzindo os movimentos do tronco e a outra estabilizando os segmentos
medulares para a realização harmoniosa dos movimentos do corpo.
O transverso do abdome de acordo com o que foi exposto neste estudo é de
fundamental importância para a estabilização e prevenção da dor na região
lombar. Pois o que ficou bem marcado é que por algum motivo, ainda
desconhecido, quando ocorre algum problema onde apareça dor lombar, o
transverso do abdome é o mais afetado devido ao seu tempo de reação, para a
promoção da estabilidade da região lombar, fica atrasado provocando maior
instabilidade e conseqüentemente maior dor tornando-se um ciclo vicioso.
Desta forma, as terapias para a prevenção e cura da dor na região lombar
devem apresentar uma atenção maior para os músculos estabilizadores
coluna em especial o transverso do abdome.
da
A IMPORTÂNCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME NAS ALGIAS LOMBARES
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