1. Aprendendo a ciência da alma

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1. Aprendendo a ciência da alma
1. Aprendendo a ciência da alma
Considerando o objetivo da vida humana
Quem é você? Acaso você é seu corpo? Ou sua mente? Ou será você algo superior? Você sabe quem é você, ou você
apenas acha que sabe? E isso é realmente importante? Nossa sociedade materialista, com sua liderança obscura,
tem transformado em verdadeiro tabu a indagação acerca de nosso eu verdadeiro, superior. Ao invés, nós usamos
nosso tempo valioso, mantendo, decorando e saciando o corpo para seu próprio benefício. Acaso há uma
alternativa?
Este importantíssimo movimento para a consciência de KŠa destina-se a salvar a sociedade humana da morte
espiritual. Atualmente, a sociedade humana está sendo desencaminhada por líderes cegos, pois eles não conhecem a
meta e objetivo da vida humana, que é a auto-realização e o restabelecimento de nossa relação perdida com a Suprema
Personalidade de Deus. É isto que está faltando. O movimento para a consciência de KŠa está tentando esclarecer a
sociedade humana sobre este importante assunto.
Segundo a civilização védica, a perfeição da vida é compreendermos nosso relacionamento com KŠa, ou Deus. No
Bhagavad-g…t€, que é aceito por todas as autoridades em ciência transcendental como a base de todo o conhecimento
védico, aprendemos que não só os seres humanos mas também todas as entidades vivas são partes integrantes de Deus. A
função das partes é servir ao todo, assim como as pernas, mãos, dedos e ouvidos destinam-se a servir ao corpo inteiro. Nós,
entidades vivas, sendo partes integrantes de Deus, temos a obrigação de servi-lo.
Na verdade, nossa posição é que sempre estamos prestando serviço a alguém, seja nossa família, país ou sociedade. Se
não temos ninguém a quem servir, às vezes chamamos um cão ou gato de estimação e prestamo-lhes serviço. Todos estes
fatores provam que estamos constitucionalmente destinados a prestar serviço; porém, apesar de servirmos da melhor
forma possível, não ficamos satisfeitos. Tampouco a pessoa a quem prestamos o serviço fica satisfeita. Na plataforma
material, todos estão frustrados. O motivo disso é que o serviço que está sendo prestado não está corretamente orientado.
Por exemplo, se quisermos servir a uma árvore, teremos que molhar-lhe a raiz. Se nós molharmos as folhas, ramos e
galhos, ela não vai aproveitar muito. Se a Suprema Personalidade de Deus é servida, todas as outras partes integrantes
ficarão automaticamente satisfeitas. Conseqüentemente, todas as atividades beneficentes, bem como o serviço à
sociedade, à família e à nação são realizados quando servimos à Suprema Personalidade de Deus.
É dever de todo ser humano entender sua posição constitucional em relação com Deus e agir de acordo com essa
posição. Logo que isto for possível, nossas vidas vão ser bem sucedidas. Às vezes, entretanto, manifestamos um espírito
desafiador e dizemos: “Deus não existe”, ou “Eu sou Deus”, ou mesmo “Não me importo com Deus”. Mas o fato é que este
espírito desafiador não nos salvará. Deus existe e podemos vê-lO a cada momento. Se nos negarmos a ver Deus durante
nossa vida, então Ele Se apresentará ante nós como a morte cruel. Se optamos por não vê-lO sob um aspecto, vê-lO-emos
sob outro aspecto. Há diferentes aspectos da Suprema Personalidade de Deus porque Ele é a raiz original de toda a
manifestação cósmica. Neste sentido, não é possível escaparmos dEle.
Este movimento para a consciência de KŠa não é um movimento de cego fanatismo religioso, nem é um movimento
de revoltados criado por algum novo-rico atual; muito pelo contrário, é um movimento que aborda autorizada e
cientificamente a questão de nossa necessidade eterna em relação com a Personalidade de Deus Absoluta, o Desfrutador
Supremo. A consciência de KŠa trata simplesmente de nosso relacionamento eterno com Ele e do processo de cumprir
nossos deveres relativos a Ele. Deste modo, a consciência de KŠa capacita-nos a atingir a perfeição máxima da vida,
obtenível na atual forma de existência humana.
Devemo-nos lembrar sempre de que esta forma particular de vida humana é alcançada após uma evolução de muitos
milhões de anos no ciclo transmigratório da alma espiritual. Nesta forma de vida em particular, a questão econômica é mais
facilmente resolvida do que nas formas animais inferiores. Há suínos, cães, camelos, asnos e assim por diante, cujas
necessidades econômicas são tão importantes quanto as nossas, mas os problemas econômicos desses animais e outros
são resolvidos sob condições primitivas, ao passo que o ser humano recebe das leis da natureza todas as oportunidades
para levar uma vida confortável.
Por que o homem recebe melhores oportunidades para viver do que os suínos ou outros animais? Por que um alto
funcionário do governo recebe melhores facilidades para uma vida confortável do que um funcionário comum? A resposta
é muito simples: o funcionário importante tem de cumprir deveres de maior responsabilidade do que o funcionário
comum. De modo semelhante, o ser humano tem de cumprir deveres superiores aos dos animais, que estão sempre
atarefados enchendo seus estômagos famintos. Mas, devido às leis da natureza, o moderno padrão animalesco de
civilização tem apenas aumentado os problemas de encher o estômago. Quando não aproximamos de algum desses
animais polidos propondo-lhes a vida espiritual, eles dizem que só querem trabalhar para a satisfação de seus estômagos e
que não há necessidade de indagar sobre o Supremo. Não obstante, a despeito de sua avidez de trabalhar arduamente, há
sempre o problema do desemprego e tantas outras contrariedades infligidas pelas leis da natureza. Apesar disso, eles
ainda rejeitam a necessidade de reconhecer o Supremo.
Recebemos esta forma humana de vida não apenas para trabalhar arduamente como o suíno ou o cão, mas também
para alcançar a perfeição máxima da vida. Se não quisermos esta perfeição, teremos que trabalhar arduamente, pois
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A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
seremos forçados a isso pelas leis da natureza. Nos últimos dias de Kali-yuga (esta era atual) os homens terão de
trabalhar arduamente como asnos em troca de uma mísera migalha de pão. Este processo já começou, e a cada ano a
necessidade de trabalhar mais arduamente em troca de remunerações sempre menores aumentará. Contudo, os seres
humanos não estão destinados a trabalhar arduamente como animais, e, se um homem deixa de cumprir seus deveres
como ser humano, ele é forçado a transmigrar para as espécies inferiores de vida pelas leis da natureza. O Bhagavadg…t€ descreve mui vividamente como a alma espiritual, de acordo com as leis da natureza, nasce e obtém um corpo e
órgãos sensoriais adequados para desfrutar da matéria no mundo material.
No Bhagavad-g…t€ também se afirma que aqueles que começam mas não prosseguem no caminho de aproximar-se
de Deus — em outras palavras, aqueles que não conseguem atingir o sucesso completo na consciência de KŠa —
recebem a oportunidade de aparecer em famílias dos espiritualmente avançados ou em famílias de comerciantes
financeiramente prósperos. Se aos malsucedidos aspirantes espirituais são oferecidas tais oportunidades de
parentesco nobre, o que dizer daqueles que tenham realmente alcançado o sucesso esperado? Portanto, uma tentativa
de voltar ao Supremo, mesmo que inacabada, garante um bom nascimento na próxima vida. Tanto a família espiritual
quanto a financeiramente próspera são benéficas para o avanço espiritual, porque em ambas dessas famílias pode-se
obter uma boa oportunidade de progredir mais do ponto onde se parou em nascimento anterior. Na realização
espiritual, a atmosfera gerada por uma boa família é favorável para o cultivo de conhecimento espiritual. O Bhagavadg…t€ lembra a tais pessoas afortunadas, nascidas em boas famílias, que sua boa sorte é devida a suas atividades
devocionais passadas. Infelizmente, os filhos dessas famílias não consultam o Bhagavad-g…t€, sendo
desencaminhados por m€y€ (ilusão).
O nascimento em uma família próspera resolve o problema de ter alimentação suficiente desde o começo da vida,
e, posteriormente, pode-se ter um modo de vida relativamente mais fácil e mais confortável. Estando nessa situação,
uma pessoa tem uma boa oportunidade de avançar no caminho da realização espiritual, mas por uma questão de má
sorte, devido influência da atual era de ferro (que é cheia de máquinas e pessoas mecânicas) os filhos dos abastados
são desencaminhados para o desfrute dos sentidos, e se esquecem da boa oportunidade que têm para a iluminação
espiritual. Portanto, a natureza, através de suas leis, está deitando fogo a tais lares de ouro. Assim aconteceu à dourada
cidade de La‰k€, sob o regime do demoníaco R€vaŠa, que foi reduzida a cinzas. Esta é a lei da natureza.
O Bhagavad-g…t€ é o estudo preliminar da transcendental ciência da consciência de KŠa, e é dever de todos os
chefes de estado responsáveis planejar seus projetos econômicos e outros projetos, recorrendo ao Bhagavad-g…t€.
Não estamos destinados a resolver apenas os problemas econômicos da vida, equilibrando-nos em uma plataforma
vacilante; ao contrário, nosso objetivo é resolver os problemas fundamentais da vida que surgem devido às leis da
natureza. A civilização permanece estática a menos que haja movimento espiritual. A alma movimenta o corpo, e o
corpo vivo movimenta o mundo. Estamos preocupados com o corpo, mas não temos conhecimento do espírito que
está movimentando esse corpo. Sem o espírito, o corpo permanece móvel, ou morto.
O corpo humano é um excelente veículo através do qual podemos alcançar a vida eterna. É um barco raro e muito
importante para atravessar o oceano da ignorância que é a existência material. Neste barco, há o serviço a um hábil
barqueiro, o mestre espiritual. Pela divina graça, o barco singra o oceano com vento favorável. Com todos esses fatores
auspiciosos, quem não aproveitaria a oportunidade para atravessar o oceano da ignorância? Se uma pessoa
negligencia esta boa oportunidade, pode-se considerá-la como alguém que está simplesmente cometendo suicídio.
Há sem dúvida bastante conforto no vagão de primeira classe de um trem, mas se o trem não anda em direção a seu
destino, qual a vantagem de se ter um compartimento com ar condicionado? A civilização contemporânea está
demasiadamente interessada em dar conforto ao corpo material, mas ninguém tem informação do verdadeiro destino
da vida, que é voltar ao Supremo. Não devemos ficar apenas sentados em um compartimento confortável; devemos
examinar se nosso veículo está indo ou não para o seu verdadeiro destino. Não há vantagem alguma em dar conforto
ao corpo material às custas do esquecimento da principal necessidade da vida, que é recuperar nossa identidade
espiritual perdida. O barco da vida humana é construído de tal maneira que deve dirigir-se a um destino espiritual.
Infelizmente, este corpo está ancorado na consciência mundana através de cinco fortes correntes, que são: (1) apego
ao corpo material devido à ignorância de fatos espirituais, (2) apego a parentes devido a relações corpóreas, (3) apego
à terra natal e a posses materiais tais como casa, móveis, bens, propriedades, documentos, etc. (4) apego a ciência
material que sempre permanece obscura por falta de luz espiritual e (5) apego às normas religiosas e rituais sagrados
sem conhecimento da Personalidade de Deus ou Seus devotos, que os tornam sagrados. Esses apegos, que ancoram o
barco do corpo humano, são explicados detalhadamente no Décimo Quinto Capítulo do Bhagavad-g…t€. Eles são
comparados a uma figueira-de-bengala de raízes profundas que está constantemente aumentando sua aderência à
terra. É muito difícil desenraizar essa forte figueira-de-bengala, mas o Senhor recomenda o seguinte processo: “A
forma real desta arvore não pode ser percebida neste mundo. Ninguém pode entender onde ela termina, onde começa
ou onde está sua base. Porém, com determinação, deve-se cortar esta árvore com a arma do desapego. Fazendo isto,
deve-se buscar aquele local do qual, uma vez lá chegando, nunca se retorna, e ali render-se àquela Suprema
Personalidade de Deus de quem tudo começou e em quem tudo está apoiado desde tempos imemoriais” (Bg. 15.3-4).
Até agora, nem os cientistas nem os filósofos especulativos chegaram a conclusão alguma relativa à situação
cósmica. Tudo o que eles têm feito é apresentar diferentes teorias sobre a situação cósmica. Alguns deles dizem que o
mundo material é real. Outros dizem que é um sonho, e há outros ainda que dizem que ele existe eternamente. Dessa
maneira, os eruditos mundanos mantém diferentes pontos de vista, mas o fato é que nenhum cientista mundano ou
filósofo especulativo conseguiu jamais descobrir o começo do cosmos ou seus limites. Ninguém pode dizer quando
ele começou, ou como ele flutua no espaço. Eles teoricamente propõem algumas leis, como a lei da gravitação, mas na
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verdade eles não podem pôr esta lei em prática. Por falta de conhecimento real da verdade, todos estão ansiosos em
promover sua própria teoria para conseguir alguma fama, mas o fato verdadeiro é que este mundo material é cheio de
misérias e que ninguém pode superá-las simplesmente por promover algumas teorias sobre o assunto. A
Personalidade de Deus, que é plenamente conhecedora de tudo em Sua criação, informa-nos que é para nosso próprio
benefício que desejemos livrar-nos desta existência miserável. Para fazermos o melhor uso de um mau negócio, nossa
existência material deve ser cem por cento espiritualizada. O ferro não é fogo, mas pode ser convertido em fogo pelo
contato constante com o fogo. Analogamente, o desapego das atividades materiais pode ser efetuado através de
atividades espirituais, e não pela inércia material. A inércia material é o lado negativo da ação material, mas a atividade
espiritual é não apenas a negação da ação material, como também a ativação de nossa vida verdadeira. Devemos estar
ansiosos por buscar a vida eterna, ou a existência espiritual em Brahman, o Absoluto. O reino eterno de Brahman é
descrito no Bhagavad-g…t€ como aquele lugar eterno do qual não se regressa. Este é o reino de Deus.
Não é possível remontarmos ao começo de nossa atual vida material, nem é necessário que saibamos como nos
tornamos condicionados na existência material. Temos que nos satisfazer com o entendimento de que, de alguma
forma, esta vida material tem acontecido desde tempos imemoriais e agora nosso dever é render-nos ao Senhor
Supremo, que é a causa original de todas as causas. A qualificação preliminar para se voltar ao Supremo é dada no
Bhagavad-g…t€ (15.5): “Aquele que é livre da ilusão, do falso prestígio e da falsa associação, que entende o eterno, que
acabou com a luxúria material e está livre da dualidade de felicidade e tristeza, e que sabe como se render à Pessoa
Suprema atinge esse reino eterno”.
Aquele que está convencido de sua identidade espiritual e está livre da concepção material de existência, que está
livre da ilusão e é transcendental aos modos da natureza material, que se ocupa constantemente em entender o
conhecimento espiritual e que se afastou completamente do gozo dos sentidos, pode voltar ao Supremo. Uma pessoa
assim chama-se am™ha, em contraposição com o m™ha, ou o tolo e ignorante, pois ela está livre da dualidade de
felicidade e tristeza.
E qual é a natureza do reino de Deus? Ele é descrito no Bhagavad-g…t€ (15.6) da seguinte maneira: “Essa Minha
morada não é iluminada pelo sol ou pela lua, nem por eletricidade. Aquele que a alcança jamais retorna a este mundo
material”.
Embora todos os locais na criação estejam dentro do reino de Deus, porque o Senhor é o proprietário supremo de
todos os planetas, há ainda a morada pessoal do Senhor, que é completamente diferente do universo em que estamos
vivendo agora. E essa morada chama-se paramam, ou a morada suprema. Mesmo na Terra há países onde o padrão de
vida é elevado e países onde o padrão de vida é baixo. Além da Terra, há inumeráveis outros planetas distribuídos por
todo o universo, e alguns são considerados locais superiores, e outros, locais inferiores. De qualquer maneira, todos os
planetas dentro da jurisdição da energia externa, natureza material, precisa dos raios de um sol ou da luz do fogo para
manter sua existência, porque o universo material é uma região de escuridão. Além dessa região, contudo, está o reino
espiritual, que, como se descreve, funciona sob a natureza superior de Deus. Esse reino é descrito nos Upaniads desse
modo: “Lá não há necessidade de sol, lua ou estrelas, nem essa morada é iluminada pela eletricidade ou qualquer
forma de fogo. Todos esses universos materiais são iluminados por um reflexo dessa luz espiritual, e, porque essa
natureza superior é sempre autoluminosa, podemos experimentar um brilho de luz, mesmo na mais densa escuridão
da noite”. No Hari-vaˆa, a natureza espiritual é explicada pelo próprio Senhor Supremo da seguinte maneira: “A
resplandecente refulgência do Brahman impessoal [o Absoluto impessoal] ilumina todas as existências, tanto materiais
quanto espirituais. Mas, ó Bh€rata, deves entender que esta iluminação Brahman é a refulgência de Meu corpo”. No
Brahma-saˆhit€ também se confirma esta conclusão. Não devemos pensar que podemos atingir essa morada por
algum meio material, como naves espaciais, por exemplo, mas devemos ter a certeza de que aquele que pode atingir
essa morada espiritual de KŠa pode desfrutar de bem-aventurança espiritual, eterna, e sem interrupção. Como
entidades vivas falíveis, temos duas fases de existência: uma é chamada existência material, que é repleta das misérias
de nascimento, morte, velhice e doença, e a outra é chamada existência espiritual, em que há uma incessante vida
espiritual de eternidade, bem-aventurança e conhecimento. Na existência material, somos governados pela
concepção material do corpo e da mente, mas, na existência espiritual podemos sempre saborear o contato feliz e
transcendental com a Personalidade de Deus. Na existência espiritual, nunca nos perdemos do Senhor.
O movimento para a consciência de KŠa está tentando trazer essa existência espiritual para a humanidade em
geral. Em nossa atual consciência material, estamos apegados à concepção material sensorial de vida, mas esta
concepção pode ser eliminada imediatamente através do serviço devocional a KŠa, ou consciência de KŠa. Se
adotarmos os princípios do serviço devocional, poderemos nos tornar transcendentais às concepções materiais de
vida e nos libertarmos dos modos de bondade, paixão e ignorância, mesmo em meio a várias ocupações materiais.
Todos que estão ocupados em afazeres materiais podem obter o mais elevado benefício das páginas da revista De
Volta ao Supremo e das outras obras deste movimento para a consciência de KŠa. Essas obras ajudarão a todas as
pessoas a cortarem as raízes da infatigável figueira-de-bengala da existência material. Essas obras são autorizadas para
nos treinar a renunciar a tudo que esteja relacionado com a concepção material de vida e a saborear néctar espiritual
em todos os objetos. Este estágio só pode ser obtido através do serviço devocional, e nada mais. Prestando tal serviço,
pode-se imediatamente obter liberação (mukti) mesmo durante a vida atual. A maioria dos esforços espirituais são
matizados com as cores do materialismo, mas o serviço devocional puro é transcendental a toda contaminação
material. Aqueles que desejam voltar ao Supremo necessitam apenas adotar os princípios deste movimento para a
consciência de KŠa e simplesmente voltar sua consciência para os pés de lótus do Senhor Supremo, a Personalidade
de Deus, KŠa.
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“Sua consciência original
é a consciência de KŠa”
A seguinte entrevista com a repórter free-lance Sandy Nixon ocorreu em julho de 1975, nos aposentos de ®r…la
Prabhup€da no centro da ISKCON de Filadélfia. Esta discussão serve como magnífica introdução à
consciência de KŠa e cobre temas básicos, tais como: o mantra Hare KŠa, a relação entre o mestre
espiritual e Deus, a diferença entre gurus genuínos e farsantes, o papel da mulher na consciência de KŠa, o
sistema de castas indiano e a relação entre consciência de Cristo e consciência de KŠa.
Srta. Nixon: Minha primeira pergunta é muito básica. Que é a consciência de KŠa?
®r…la Prabhup€da: KŠa significa Deus. Todos nós estamos intimamente relacionados com Ele porque Ele é nosso pai
original. Mas nos esquecemos dessa ligação. Quando nos interessamos em saber: “Qual é minha relação com Deus?
Qual é o objetivo da vida?”, então podemos ser chamados de conscientes de KŠa.
Srta. Nixon: Como a consciência de KŠa se desenvolve no praticante?
®r…la Prabhup€da: A consciência de KŠa já existe no âmago do coração de todos. Mas, por causa de nossa vida
materialmente condicionada, esquecemo-nos dela. O processo de cantar o mah€-mantra Hare KŠa — Hare
KŠa, Hare KŠa, KŠa KŠa, Hare Hare / Hare R€ma, Hare R€ma, R€ma R€ma, Hare Hare — revive a consciência
de KŠa que nós já temos. Por exemplo, há alguns meses esses rapazes e moças americanos e europeus não
conheciam KŠa, mas ontem mesmo nós os vimos cantando Hare KŠa e dançando em êxtase durante toda a
procissão Ratha-y€tr€, um festival anual patrocinado pelo movimento para a consciência de KŠa em cidades de
todo o mundo. Você acha que aquilo foi artificial? Não. Artificialmente, ninguém pode cantar e dançar por horas a fio.
Eles realmente despertaram sua consciência de KŠa por terem seguido um processo genuíno. Isto é explicado no
Caitanya-carit€mta (Madhya-lila 22. 107):
nitya-siddha kŠa-prema ‘s€dhya’ kabhu naya
ravaŠ€di-uddha-citte karaye udaya
A consciência de KŠa está adormecida no coração de todos, e, quando uma pessoa entra em contato com
devotos, ela é desperta. A consciência de KŠa não é algo artificial. Assim como um rapaz desperta sua atração
natural por uma moça na companhia dela, de modo semelhante, se alguém ouve a respeito de KŠa na companhia
de devotos, ele desperta sua consciência de KŠa adormecida.
Srta. Nixon: Qual é a diferença entre consciência de KŠa e consciência de Cristo?
®r…la Prabhup€da: Consciência de Cristo também é consciência de KŠa, mas, porque atualmente as pessoas não
seguem as regras e regulações do cristianismo — os mandamentos de Jesus Cristo — elas não chegam ao padrão de
consciência de Deus.
Srta. Nixon: O que é comum sobre o tema consciência de KŠa entre todas as religiões?
®r…la Prabhup€da: Primeiramente, religião significa conhecer Deus e amá-lO. Isto é religião. Hoje em dia, por falta de
treinamento, ninguém conhece Deus, isto para não falar de amá-lO. As pessoas se contentam apenas com ir à igreja e
orar: “Ó Deus! Dai-nos o pão de cada dia”. No ®r…mad-Bh€gavatam isto se chama religião enganadora, porque o
objetivo não é conhecer e amar a Deus, mas sim obter alguma vantagem pessoal. Em outras palavras, se eu ingresso
nalguma religião, mas não sei quem é Deus nem como amá-lO, estou praticando uma religião enganadora. Quanto à
religião cristã, ela concede boa oportunidade de conhecer Deus, mas ninguém está tirando proveito dessa
oportunidade. Por exemplo, a Bíblia contém o mandamento “Não matarás”, mas os cristãos têm construído os
melhores matadouros do mundo. Como eles podem se tornar conscientes de Deus se desobedecem aos
mandamentos do Senhor Jesus Cristo? E isto está acontecendo não só na religião cristã, mas também em todas as
religiões. O título “hindu”, “muçulmano” ou “cristão” é um mero rótulo. Nenhum deles sabe quem é Deus e como
amá-lO.
Srta. Nixon: Como podemos diferenciar um mestre espiritual fidedigno de um mestre trapaceiro?
®r…la Prabhup€da: Quem quer que ensine como conhecer Deus e como amá-lo é um mestre espiritual. Às vezes patifes
falsos desencaminham o povo. “Eu sou Deus”, afirmam eles, e as pessoas que não sabem o que é Deus acreditam
neles. Você tem que estudar seriamente para entender quem é Deus e como amá-lO. Caso contrário, vai
simplesmente perder seu tempo. Então, a diferença entre os outros e nós é que somos o único movimento que pode
realmente ensinar como conhecer Deus e como amá-lO. Estamos apresentando a ciência de como uma pessoa pode
conhecer KŠa, a Suprema Personalidade de Deus, praticando os ensinamentos do Bhagavad-g…t€ e do ®r…madBh€gavatam. Esses livros nos ensinam que nosso único dever é amar a Deus. Nossa missão não é pedir nossas
provisões a Deus. Deus dá recursos a todos — mesmo a quem não tenha religião. Por exemplo, os cães e gatos não
têm religião, todavia KŠa lhes fornece os recursos da vida. Por que, então, molestaríamos KŠa com pedidos do
pão nosso de cada dia? Ele já o está fornecendo. Verdadeira religião significa aprender como amá-lO. A religião de
primeira classe ensina-nos como amar a Deus sem nenhum interesse. Se eu sirvo a Deus em troca de algum lucro, isto
é comércio — e não amor. O verdadeiro amor a Deus é ahaituky apratihata; não pode ser impedido por nenhuma
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causa material. É incondicional. Para aquele que quer realmente amar a Deus não há obstáculos. Podemos amá-lO,
quer sejamos pobres ou ricos, jovens ou idosos, negros ou brancos.
Srta. Nixon: Todos os caminhos levam ao mesmo fim?
®r…la Prabhup€da: Não. Há quatro tipos de homens — os karm…s, os jñ€n…s, os yog…s, e os bhaktas — e cada um deles
atinge uma meta diferente. Os karm…s trabalham em troca de algum lucro material. Por exemplo, na cidade, muitas
pessoas trabalham arduamente dia e noite com o objetivo de obter algum dinheiro. Deste modo, eles são
trabalhadores fruitivos, ou karm…s. O jñ€n… é a pessoa que pensa: “Por que estou trabalhando tão arduamente? As
aves, as abelhas, elefantes e outras criaturas não têm profissão, porém também estão comendo. Por que, então,
deveria eu desnecessariamente trabalhar dessa maneira? Deixe-me, antes, tentar resolver os problemas da vida —
nascimento, morte, velhice e doença”. Os jñ€n…s tentam tornar-se imortais. Eles pensam que se submergirem na
existência de Deus, então tornar-se-ão imunes ao nascimento, morte, velhice e doença. E os yog…s tentam adquirir
algum poder místico para exibir um show maravilhoso. Por exemplo, um yog… pode tornar-se muito pequeno; se
você o coloca em um cômodo fechado, ele pode sair por algum espaço minúsculo. Demonstrando este tipo de
mágica, o yog… é imediatamente aceito como um homem muito admirável. Evidentemente, os yog…s modernos
mostram simplesmente algumas ginásticas — poder mesmo eles não têm. O yog… verdadeiro tem poder, porém este
não é espiritual, mas material. De modo que o yog… busca poder místico, o jñ€n… busca salvação das misérias da vida
e o karm… busca lucro material. Mas o bhakta — o devoto — não busca nada para si mesmo. Ele apenas quer servir a
Deus por amor, assim como a mãe serve ao filho. Está fora de cogitação o lucro no serviço que a mãe presta ao filho.
Por puro afeição e amor, é que ela cuida dele. Quando você chega ao estágio de amor a Deus, você chega à
perfeição. Nem o karm…, nem o jñ€n…, nem o yog… podem conhecer a Deus — somente o bhakta. Como KŠa diz no
Bhagavad-g…t€ (18.55), bhaktya mam abhijanati: “Somente através do processo de bhakti pode alguém entender
Deus”. KŠa nunca diz que alguém pode entendê-LO mediante outros processos. Não. Somente através de bhakti.
Se você está interessada em conhecer Deus e amá-lO, então tem de aceitar o processo devocional. Nenhum outro
processo vai ajudá-la.
Srta. Nixon: A que transformação temos que nos submeter no caminho...
®r…la Prabhup€da: Nenhuma transformação – sua consciência original é a consciência de KŠa. Agora sua consciência
está coberta com muitas imundícies. Você tem de limpá-la, e surgirá a consciência de KŠa. Nossa consciência é
como a água. A água é por natureza clara e transparente, mas, às vezes, ela se torna lamacenta. Se você filtra toda a
lama da água, ela volta outra vez a seu estado original, claro e transparente.
Srta. Nixon: Uma pessoa pode servir melhor à sociedade tornando-se consciente de KŠa?
®r…la Prabhup€da: Sim, você pode ver que meus discípulos não são beberrões nem comedores de carne, e do ponto de
vista fisiológico eles são muito limpos — eles nunca serão atacados por doenças sérias. Na verdade, abandonar o
comer de carne não é uma questão de consciência de KŠa, mas sim de vida humana civilizada. Deus deu à
sociedade humana muitas coisas para comer — boas frutas, legumes, cereais e o leite de primeira classe. Com o leite,
pode-se preparar centenas de alimentos nutritivos, mas ninguém conhece essa arte. Ao invés disso, as pessoas
mantêm grandes matadouros e comem carne. Elas não são nem sequer civilizadas. Quando o homem é incivilizado,
ele mata os pobres animais e os come.
Os homens civilizados conhecem a arte de preparar alimentos nutritivos com o leite. Por exemplo, em nossa
fazenda New Vnd€vana na Virgínia Ocidental, fazemos centenas de preparações de primeira classe com o leite.
Sempre que vêm visitantes, eles ficam admirados de que todos esses alimentos podem ser preparados com o leite. O
sangue da vaca é muito nutritivo, mas os homens civilizados utilizam-no sob a forma de leite. O leite nada mais é do
que o sangue da vaca transformado. Você pode transformar o leite em muitas coisas — iogurte, coalhada, gh…
(manteiga clarificada) e assim por diante — e, combinando esses produtos lácteos com cereais, frutas e vegetais,
você pode fazer centenas de preparações. Isto é vida civilizada — não diretamente matar um animal e comer sua
carne. A vaca inocente está simplesmente comendo o capim dado por Deus e fornecendo o leite, com o qual você
pode manter-se. Você acha que cortar a garganta da vaca e comer sua carne é civilizado?
Srta. Nixon: Não, eu concordo com o senhor cem por cento. Uma coisa que me desperta muita curiosidade: os Vedas
podem ser interpretados simbolicamente, bem como literariamente?
®r…la Prabhup€da: Não. Eles devem ser considerados tais como são, e não simbolicamente. É por isso que estamos
apresentando o Bhagavad-g…t€ Como Ele É.
Srta. Nixon: O senhor está tentando reviver o antigo sistema de castas indiano no Ocidente? O G…t€ menciona o sistema
de castas...
®r…la Prabhup€da: Em que parte do Bhagavad-g…t€ se menciona o sistema de castas? KŠa diz: catur-varŠyaˆ m€y€
s˜am guŠa-karma-vibh€gaaƒ: “Eu criei quatro divisões de homens de acordo com sua qualidade e trabalho” (Bg.
4.13). Por exemplo, você pode entender que há engenheiros, como também há médicos na sociedade. Você diz que
eles pertencem a diferentes castas — que um é da casta dos engenheiros e o outro é da casta dos médicos? Não. Se um
homem se qualifica na escola de medicina, você o aceita como médico: e se outro homem tem um diploma de
engenharia, você o aceita como engenheiro. Analogamente, o Bhagavad-g…t€ define quatro classes de homens na
sociedade: uma classe de homens altamente inteligentes, uma classe de administradores, uma classe de produtores e
os trabalhadores comuns. Essas divisões são naturais. Por exemplo, uma classe de homens é muito inteligente. Mas,
para realmente preenchermos requisitos de homens da primeira classe, como se descreve no Bhagavad-g…t€, eles
precisam ser treinados, assim como um rapaz inteligente precisa ser treinado em uma faculdade para tornar-se um
médico qualificado. Da mesma forma, no movimento para a consciência de KŠa estamos treinando os homens
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inteligentes como devem controlar suas mentes, como controlar seus sentidos, como tornar-se verazes, como tornarse limpos interna e externamente, como tornar-se sábios, como aplicar seu conhecimento na vida prática e como
tornar-se conscientes de Deus. Todos esses rapazes (aponta para os discípulos presentes) têm inteligência de
primeira classe, e agora nós os estamos treinando em usá-la adequadamente.
Não estamos introduzindo o sistema de castas, em que qualquer patife nascido em família de br€hmaŠas é
automaticamente um br€hmaŠa. Ele pode ter os hábitos de um homem de quinta classe, mas é aceito como um de
primeira classe por causa de seu nascimento em família de br€hmaŠas. Nós não aceitamos isto. Reconhecemos que
um homem é de primeira classe se ele é treinado como um br€hmaŠa. Não importa que ele seja indiano, europeu ou
americano; de nascimento humilde ou de nascimento nobre — isto não importa. Qualquer homem inteligente pode
ser treinado na aquisição de hábitos de primeira classe. Queremos refutar a idéia disparatada de que estamos
impondo o sistema de castas indiano a nossos discípulos. Estamos simplesmente recrutando homens com
inteligência de primeira classe e treinando-os na arte de serem de primeira classe sob todos os aspectos.
Srta. Nixon: O que o senhor pensa sobre a liberação feminina?
®r…la Prabhup€da: Os ditos direitos de igualdade para as mulheres significam que os homens enganam as mulheres.
Suponha que um homem e uma mulher se encontram, tornam-se amantes, fazem sexo, a mulher fica grávida e o
homem vai embora. A mulher tem que cuidar do filho e pedir esmolas ao governo, ou então ela mata a criança
fazendo aborto. Esta é a independência da mulher. Na Índia, mesmo que uma mulher seja muito pobre, ela se
mantém sob os cuidados do esposo, e ele se responsabiliza por ela. Quando ela fica grávida, ela não é forçada a
matar a criança ou mantê-la pedindo esmolas. Então, qual é a verdadeira independência — permanecer sob os
cuidados do esposo ou ser desfrutada por todos?
Srta. Nixon: E quanto à vida espiritual — as mulheres também podem ter sucesso na consciência de KŠa?
®r…la Prabhup€da: Não fazemos distinção quanto ao sexo. Damos a consciência de KŠa tanto aos homens quanto às
mulheres, igualmente. Damos nossas boas-vindas às mulheres, aos homens, aos pobres, aos ricos — a todos. KŠa
diz no Bhagavad-g…t€ (5.18): “O sábio humilde, em virtude do conhecimento verdadeiro, considera em pé de
igualdade um br€hmaŠa erudito e nobre, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorro”.
Srta. Nixon: O senhor poderia explicar o significado do mantra Hare KŠa?
®r…la Prabhup€da: É muito simples. Hare significa “ó energia do Senhor”, e KŠa significa “ó Senhor KŠa”. Assim
como há machos e fêmeas no mundo material, de modo semelhante, Deus é o macho original (purua). E Sua
energia (prakti) é a fêmea original. Assim, quando cantamos Hare KŠa, estamos dizendo: ”Ó Senhor KŠa, ó
energia de KŠa, por favor, ocupai-me em Vosso serviço”.
Srta. Nixon: O senhor poderia me falar um pouco sobre sua vida e como o senhor soube que era o mestre espiritual do
movimento para a consciência de KŠa?
®r…la Prabhup€da: Minha vida é simples. Eu era pai de família com esposa e filhos — agora tenho netos — quando meu
mestre espiritual mandou que eu viesse aos países ocidentais e pregasse o culto da consciência de KŠa. Então, eu
deixei tudo por ordem de meu mestre espiritual, e agora estou tentando executar suas ordens e as ordens de KŠa.
Srta. Nixon: Quantos anos o senhor tinha quando ele lhe disse que viesse para o Ocidente?.
®r…la Prabhup€da: Em nosso primeiro encontro, ele mandou que eu pregasse a consciência de KŠa no Ocidente.
Naquela época eu tinha vinte e cinco anos, era casado e tinha dois filhos. Tentei o melhor que pude executar suas
ordens e comecei a publicar a revista De Volta ao Supremo em 1944, quando ainda era casado. Comecei a escrever
livros em 1959 após retirar-me da vida familiar, e em 1965 vim para os Estados Unidos.
Srta. Nixon: O senhor disse que não é Deus, e mesmo assim a mim me parece, como uma leiga, que seus devotos o
tratam como se o senhor fosse Deus.
®r…la Prabhup€da: Sim, este é o dever deles. Porque o mestre espiritual está executando a ordem de Deus, ele deve ser
respeitado tanto quanto Deus, assim como um funcionário do governo deve ser respeitado tanto quanto o governo
porque ele executa a ordem do governo. Mesmo um policial comum, você tem que respeitá-lo porque ele é um
homem do governo. Mas isto não quer dizer que ele é o governo. S€k€d-dharitvena samasta-€strair / uktas tath€
bh€vyata eva sadbhiƒ: “O mestre espiritual deve ser honrado tanto quanto o Senhor Supremo porque ele é o servo
mais confidencial do Senhor. Isto é reconhecido em todas as escrituras reveladas e seguido por todas as
autoridades”.
Srta. Nixon: Também me pergunto sobre as muitas e belas coisas materiais que os devotos lhe trazem. Por exemplo, o
senhor saiu do aeroporto em um belo carro último tipo. Eu me pergunto sobre isso porque...
®r…la Prabhup€da: Isso ensina os discípulos a como considerar o mestre espiritual no mesmo nível que Deus. Se você
respeita o representante do governo tanto quanto respeita o governo, então você tem que tratá-lo opulentamente. Se
você respeita o mestre espiritual tanto quanto Deus, então você tem que lhe oferecer as mesmas facilidades que
ofereceria a Deus. Deus viaja em um carro de ouro. Se os discípulos oferecem um carro comum ao mestre espiritual,
isto não seria suficiente porque o mestre espiritual tem que ser tratado como Deus. Se Deus viesse a sua casa, você O
traria em um carro comum — ou providenciaria um carro de ouro?
Srta. Nixon: Um dos aspectos mais difíceis da consciência de KŠa para um leigo aceitar é a Deidade no templo—
como ela representa KŠa. O senhor poderia falar um pouco sobre isso?
®r…la Prabhup€da: Sim. Atualmente, porque você não está treinada para ver KŠa, Ele bondosamente aparece perante
você para que você possa vê-lO. Você pode ver madeira e pedra, mas não pode ver o que é espiritual. Suponha que
seu pai está no hospital e morre. Você fica chorando no leito de morte: “Ah! meu pai se foi!” Mas por que você diz que
ele se foi? Que coisa é essa que se foi?
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Srta. Nixon: Bem, seu espírito foi embora.
®r…la Prabhup€da: E você viu o espírito?
Srta. Nixon: Não.
®r…la Prabhup€da: Então, você não pode ver o espírito, e Deus é o Espírito Supremo. Na realidade, Ele é tudo — espírito
e matéria — mas você não pode vê-lO em Sua identidade espiritual. Por isso, para mostrar bondade para com você,
Ele aparece por Sua ilimitada misericórdia sob a forma de uma Deidade de madeira ou de pedra para que você possa
vê-lO.
Srta. Nixon: Muito obrigado.
®r…la Prabhup€da: Hare KŠa!
“Avanço verdadeiro
significa conhecer a Deus”
Os conceitos sobre Deus do homem moderno são muitos e variados. As crianças têm a tendência a imaginar
que Deus é um velhinho de barbas brancas. Muitos adultos consideram Deus uma força invisível, um conceito
mental, ou toda a humanidade, ou o universo, ou eles mesmos. Nesta palestra, ®r…la Prabhup€da descreve em
detalhes o conceito consciência de KŠa — uma visão surpreendentemente íntima de Deus
Senhoras e senhores, agradeço a todos por estarem gentilmente participando deste movimento para a consciência
de KŠa. Quando esta sociedade foi registrada em Nova Iorque no ano de 1966, um amigo sugeriu que eu a chamasse
de Sociedade para a consciência de Deus. Ele achava que o nome KŠa era sectário. O dicionário também diz que
KŠa é o nome de um deus hindu. Mas, se podemos atribuir algum nome a Deus, este nome é KŠa.
Na verdade, Deus não tem um nome particular. Ao dizermos que Ele não tem nome, queremos dizer que ninguém
sabe quantos nomes Ele tem. Uma vez que Deus é ilimitado, Seus nomes também têm de ser ilimitados. Portanto, não
podemos nos basear em um único nome. Por exemplo, KŠa às vezes é chamado de Yaod€-nandana, o filho de mãe
Yaod€; ou Devak…-nandana, o filho de Devak…; ou Vasudeva-nandana, o filho de Vasudeva; ou Nanda-nandana, o filho
de Nanda. Às vezes, Ele é chamado de P€rtha-s€rathi, indicando que Ele agiu como o quadrigário de Arjuna, o qual às
vezes é chamado de P€rtha, o filho de Pth€.
Deus tem muitos entretenimentos com Seus muitos devotos, e, de acordo com esses entretenimentos, Ele é
chamado por determinados nomes. Uma vez que Ele tem inumeráveis devotos e inumeráveis relações com eles, Ele
também tem nomes inumeráveis. Não podemos considerar apenas um nome. Mas o nome KŠa significa todoatrativo. Deus atrai a todos: esta é a definição de Deus. Temos visto muitos quadros de KŠa, e percebemos que Ele
atrai as vacas, os bezerros, as aves, as bestas, as árvores, as plantas e, até mesmo, a água de Vnd€vana. Ele é atrativo
para os vaqueirinhos, para as gop…s, para Nanda Mah€r€ja, para os P€Šavas e para toda a sociedade humana. Por isso,
se algum nome particular pode ser dado a Deus, esse nome é “KŠa”.
Bhagav€n, a Suprema Personalidade de Deus, é assim definido por Par€ara Muni, um grande sábio e o pai de
Vy€sadeva, como aquele que é pleno de seis opulências — que tem toda a força, toda a fama, toda a riqueza, todo o
conhecimento, toda a beleza e toda a renúncia.
Bhagav€n, a Suprema Personalidade de Deus, é o proprietário de todas as riquezas. Há muitos homens ricos no
mundo, mas ninguém pode afirmar que possui toda a riqueza. Tampouco pode alguém afirmar que ninguém é mais
rico que ele. Aprendemos no ®r…mad-Bh€gavatam, entretanto, que quando KŠa esteve presente na Terra Ele teve
16.108 esposas, e cada esposa vivia em um palácio feito de mármore e ornado com jóias. Os cômodos eram cheios de
móveis feitos de marfim e ouro, e havia grande opulência em toda a parte. Essas descrições são dadas vividamente no
®r…mad-Bh€gavatam. Na história da sociedade humana não podemos encontrar ninguém que tivesse dezesseis mil
esposas — dezesseis mil palácios. Tampouco KŠa passava um dia com uma esposa e outro dia com outra. Não, Ele
estava pessoalmente presente em todos os palácios ao mesmo tempo. Isso significa que Ele Se expandiu em 16.108
formas. Isso é impossível para um homem comum, mas não é muito difícil para Deus. Se Deus é ilimitado, Ele pode Se
expandir em formas ilimitadas, senão o termo “ilimitado” não teria sentido. Deus é onipotente; Ele pode manter não
somente dezesseis mil esposas, mas toda a manifestação cósmica. Quão belo Ele deve ser — Ele que criou toda a
beleza.
Todos esses aspectos são atrativos. Concordamos que, neste mundo material, se um homem é muito rico, ele é
atrativo. Nos Estados Unidos, por exemplo, Rockfeller e Ford são muito atrativos por causa de suas riquezas. Eles são
atrativos apesar de não possuírem toda a riqueza do mundo. Quão mais atrativo, então, é Deus, que possui todas as
riquezas.
De modo semelhante, KŠa tem força ilimitada. Sua força se manifestou desde o momento de Seu nascimento.
Quando KŠa tinha apenas três meses de idade, a demônia Putana tentou matá-lO, mas, em vez disso, ela foi morta
por KŠa. Isso é Deus. Deus é Deus desde o começo. Ele não Se torna Deus mediante alguma meditação ou poder
místico. KŠa não é esse tipo de Deus. KŠa foi Deus desde o próprio começo de Seu aparecimento.
KŠa também tem fama ilimitada. Evidentemente, nós somos devotos de KŠa e O conhecemos e O glorificamos,
mas, além de nós, muitos milhões de pessoas no mundo conhecem a fama do Bhagavad-g…t€. Em todos os países, em
todo o mundo o Bhagavad-g…t€ é lido por filósofos, psicólogos e religiosos. Nós também estamos encontrando um
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bom mercado para nosso Bhagavad-g…t€ Como Ele É. Isto porque a mercadoria é ouro puro. Há muitas edições do
Bhagavad-g…t€, mas elas não são puras. A nossa está vendendo mais porque estamos apresentando o Bhagavad-g…t€
como ele é. A fama do Bhagavad-g…t€ é a fama de KŠa,
Beleza, outra opulência — KŠa a possui ilimitadamente. O próprio KŠa é muito bonito, assim como todos os
Seus companheiros. Aqueles que foram piedosos numa vida anterior recebem uma oportunidade neste mundo
material de nascerem em boas famílias e boas nações. O povo americano é muito rico e belo, e essas opulências são
resultados de atividades piedosas. Em todo o mundo as pessoas são atraídas pelos americanos porque eles são
avançados em conhecimento científico, riquezas, beleza e assim por diante. Este planeta é um planeta insignificante
dentro do universo, porém, dentro deste planeta, um país — Estados Unidos — tem muitos aspectos atrativos.
Podemos apenas imaginar, então, quantos aspectos atrativos deve possuir Deus, que é o criador de tudo.
Uma pessoa é atrativa não apenas por causa de sua beleza, mas também por causa de seu conhecimento. Um
cientista ou filósofo podem ser atrativos por causa de seu conhecimento, mas que conhecimento é mais sublime que
aquele dado por KŠa no Bhagavad-g…t€? Não há comparação no mundo para tal conhecimento. Ao mesmo tempo,
KŠa possui total renúncia (vair€gya). Muitas coisas funcionam sob a direção de KŠa neste mundo material, mas na
verdade KŠa não está presente aqui. Uma grande fábrica pode continuar funcionando, mesmo que o seu
proprietário não esteja presente. Analogamente, as potências de KŠa continuam funcionando sob a direção de Seus
assistentes, os semideuses. Deste modo, o próprio KŠa está à parte do mundo material. Tudo isto é descrito nas
escrituras reveladas.
Deus, portanto, tem muitos nomes de acordo com Suas atividades, mas, porque Ele possui tantas opulências e
porque com essas opulências Ele atrai a todos, Ele é chamado de KŠa. A literatura védica afirma que Deus tem muitos
nomes, mas “KŠa” é o nome principal.
O objetivo deste movimento para a consciência de KŠa é propagar o nome de Deus, as glórias de Deus, as
atividades de Deus, a beleza de Deus e o amor de Deus. Há muitas coisas dentro deste mundo material, e todas elas
estão dentro de KŠa. O aspecto mais proeminente deste mundo material é o sexo, e o sexo também está presente em
KŠa. Nós adoramos R€dh€ e KŠa, e existe atração entre eles, mas a atração material e a atração espiritual não são a
mesma coisa. Em KŠa, o sexo é real, mas aqui no mundo material o sexo é irreal. Tudo com que lidamos aqui está
presente no mundo espiritual, mas aqui nada tem valor real. Tudo é apenas um reflexo. Nas vitrines vemos muitos
manequins, mas ninguém liga para eles porque sabe que eles são falsos. Pode ser que um manequim seja muito belo,
mas ainda assim é falso. Quando as pessoas vêem uma mulher bonita, entretanto, elas se sentem atraídas porque
pensam que ela é real. Na verdade, os ditos vivos também estão mortos porque este corpo não passa de um pedaço de
matéria; assim que a alma deixar o corpo, ninguém vai se interessar em ver o assim chamado belo corpo da mulher. O
fator real, a verdadeira força de atração, é a alma espiritual.
No mundo material tudo é feito de matéria morta; portanto, não passa de mera imitação. A realidade das coisas
existe no mundo espiritual. Aqueles que têm lido o Bhagavad-g…t€ podem entender como é o mundo espiritual, pois
ali se descreve: “Contudo, existe outra natureza, que é eterna e transcendental a esta matéria manifesta e imanifesta.
Ela é suprema e nunca é aniquilada. Quando tudo neste mundo é aniquilado, aquela parte permanece tal como é”
(Bhagavad-g…t€ 8.20).
Os cientistas estão tentando calcular as dimensões deste mundo material, mas eles nem conseguem começar. Eles
levariam milhares de anos simplesmente para viajar até a estrela mais próxima. E o que dizer do mundo espiritual? Uma
vez que não podemos conhecer o mundo material, como poderemos conhecer o que está além dele? A idéia é que
devemos tomar conhecimento dessas coisas através de fontes autorizadas.
A fonte mais autorizada é KŠa, pois Ele é o reservatório de todo o conhecimento. Ninguém é mais sábio ou mais
erudito que KŠa. KŠa nos informa que além deste mundo material está o céu espiritual, que é cheio de inumeráveis
planetas. Esse céu é muitíssimo maior do que o espaço material, que constitui apenas uma quarta parte de toda a
criação. De modo semelhante, as entidades vivas dentro do mundo material são apenas uma pequena porção das
entidades vivas em toda a criação. Este mundo material é comparado a uma prisão, e assim como os prisioneiros
representam apenas uma pequena percentagem da população total, da mesma forma as entidades vivas dentro do
mundo material constituem apenas uma porção fragmentária de todas as entidades vivas.
Aqueles que se revoltaram contra Deus — que são criminosos — são colocados neste mundo material. Às vezes os
criminosos dizem que não se importam com o governo, mas, não obstante, eles são presos e castigados.
Analogamente, as entidades vivas que declaram sua desobediência a Deus são colocadas no mundo material.
Originalmente, todas as entidades vivas são partes integrantes de Deus e se relacionam com Ele assim como os
filhos se relacionam com o pai. Os cristãos também consideram Deus como o pai supremo. Os cristãos vão à igreja e
rezam: “Pai nosso que estais no céu”. O conceito de Deus como pai também se encontra no Bhagavad-g…t€ (14.4):
“Deve-se entender que todas as espécies de vida, ó filho de Kunti, são possibilitadas pelo nascimento nesta natureza
material, e que Eu sou o pai que dá a semente”.
Existem 8.400.000 espécies de vida incluindo os seres aquáticos, as plantas, as aves, as bestas, os insetos e os seres
humanos. Das espécies humanas, a maior parte são incivilizadas, e das poucas espécies civilizadas apenas um
pequeno número de seres humanos adota a vida religiosa. Dentre muitos ditos religiosos, a maior parte identificam-se
por designações, afirmando: “eu sou hindu”, “eu sou muçulmano”, “eu sou cristão”, e assim por diante. Alguns
dedicam-se à filantropia, outros dão caridade aos pobres, abrem escolas e hospitais. Este processo altruísta chama-se
karma-k€Ša. Dentre milhões desses karma-k€Šd…s, pode ser que haja um jñ€n… (“aquele que conhece”). Dentre
milhões de jñ€n…s, pode ser que um seja liberado, e dentre bilhões de almas liberadas, pode ser que uma seja capaz de
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entender KŠa. Esta é, então, a posição de KŠa. Como o próprio KŠa diz no Bhagavad-g…t€ (7.3): “Dentre muitos
milhares de homens, pode ser que um se esforce por alcançar a perfeição, e daqueles que alcançam a perfeição,
dificilmente um Me conhece realmente”.
De maneira que entender KŠa é muito difícil. Mas, embora o entendimento de Deus seja um assunto difícil, Deus
Se revela no Bhagavad-g…t€. Ele diz: “Eu sou isso e Eu sou aquilo. A natureza material é desse jeito e a natureza
espiritual é daquele jeito. As entidades vivas são assim e a Alma Suprema é assim”. Desta maneira, tudo é
completamente descrito no Bhagavad-g…t€. Embora entender Deus seja muito difícil, isto não é difícil quando o
próprio Deus nos dá o Seu próprio conhecimento. Na realidade, este é o único processo pelo qual podemos entender
Deus. Entendermos Deus através de nossa própria especulação não é possível, pois Deus é ilimitado, e nós somos
limitados. Se tanto o nosso conhecimento quanto nossa percepção são muito limitados, como poderemos entender o
ilimitado? Se simplesmente aceitarmos a versão do ilimitado, poderemos chegar a entendê-lO. Esse entendimento é a
nossa perfeição.
O conhecimento especulativo de Deus não nos levará a parte alguma. Se um menino quer saber quem é seu pai, o
processo simples é perguntar a sua mãe. A mãe então dirá: “Este é seu pai”. Essa é a forma de adquirir conhecimento
perfeito. Evidentemente, uma pessoa poderá especular sobre quem é seu pai, investigando se é este homem ou aquele
homem, ou poderá errar por toda a cidade, perguntando: “O senhor é meu pai? O senhor é meu pai?” O conhecimento
obtido através de tal processo, entretanto, permanecerá sempre imperfeito. Uma pessoa nunca encontrará seu pai
dessa maneira. O processo simples é aceitar o conhecimento de uma autoridade — neste caso, a mãe. Ela
simplesmente dirá: “Meu caro filho, eis aqui o seu pai”. Deste modo nosso conhecimento é perfeito. O conhecimento
transcendental é semelhante. Há alguns momentos eu falava de um mundo espiritual. Este mundo espiritual não está
sujeito a nossa especulação. Deus diz: “Há um mundo espiritual, e lá é Minha sede”. Dessa maneira, recebemos
conhecimento de KŠa, a melhor autoridade. Talvez não sejamos perfeitos, mas nosso conhecimento é perfeito
porque é recebido da fonte perfeita.
O movimento para a consciência de KŠa destina-se a dar conhecimento perfeito à sociedade humana. Através
desse conhecimento, podemos entender quem nós somos, quem é Deus, o que é o mundo material, por que viemos
parar aqui, por que temos de nos submeter a tanta tribulação e miséria e por que temos de morrer. Evidentemente,
ninguém quer morrer, mas a morte virá. Ninguém quer envelhecer, mas mesmo assim a velhice vem. Ninguém quer
padecer de doenças, mas com toda a certeza a doença vem. Estes são os verdadeiros problemas da vida humana, e
ainda estão para ser resolvidos. A civilização tenta aprimorar o comer, o dormir, o acasalar-se e o defender-se, mas
esses não são os verdadeiros problemas. O homem dorme, mas o cão também dorme. O homem não é mais avançado
simplesmente porque tem um bom apartamento. Em ambos os casos, a função é a mesma — dormir. O homem tem
descoberto armas atômicas para a defesa, mas o cão também tem dentes e patas e também pode se defender. Em
ambos os casos, há a defesa. O homem não pode dizer que, por ter a bomba atômica, ele poderá conquistar o mundo
inteiro ou o universo inteiro. Isso não é possível. Pode ser que o homem possua um método elaborado para defesa, ou
um requintado método para comer, dormir e acasalar-se, mas isso não o faz avançado. Podemos chamar seu avanço de
animalismo polido, e isso é tudo.
Verdadeiro avanço significa conhecer a Deus. Se não temos conhecimento de Deus, não somos realmente
avançados. Muitos patifes negam a existência de Deus, porque, não havendo Deus, eles podem continuar suas
atividades pecaminosas. Talvez para eles seja muito bom pensar que Deus não existe, mas Deus não morre
simplesmente porque O negamos. Deus existe, e Sua administração existe. Por Suas ordens, o sol está nascendo, a lua
está nascendo, a água corre e o oceano mantém-se fiel à maré. Assim tudo funciona sob Sua ordem. Uma vez que tudo
está acontecendo tão harmoniosamente, como pode alguém objetivamente pensar que Deus está morto? Quando há
má administração, podemos dizer que não há governo, mas, sob uma boa administração, como poderemos dizer que
não há governo? Apenas porque as pessoas não conhecem a Deus, elas dizem que Deus está morto, que Deus não
existe, ou que Deus não tem forma. Mas nós estamos firmemente convencidos de que Deus existe e que KŠa é Deus.
Por isso, O adoramos. Este é o processo da consciência de KŠa. Tentem entendê-lo. Muito obrigado.
Reencarnação e além
Em agosto de 1976, ®r…la Prabhup€da passou algumas semanas na Bhaktived€nta Manor, vinte quilômetros
ao norte de Londres. Durante essa época, Mike Robinson, da London Broadcasting Company, entrevistou-o em
seus aposentos. Em sua conversa, que foi difundida na Inglaterra algum tempo depois, ®r…la Prabhup€da
revelou que a consciência de KŠa não é uma cerimônia ritualística de “eu creio, você crê” mas um sistema
filosófico profundo em que a ciência da reencarnação é explicada nítida e concisamente.
Mike Robinson: O senhor pode me dizer qual é sua crença — qual vem a ser a filosofia do movimento Hare KŠa?
®r…la Prabhup€da: Sim. A consciência de KŠa não é uma questão de crença; é uma ciência. Em primeiro lugar,
devemos saber qual é a diferença entre um corpo vivo e um corpo morto. Qual é a diferença? A diferença é que
quando alguém morre, a alma espiritual, ou a força viva, abandona o corpo. Aí, portanto, o corpo é considerado
“morto”. Logo, há duas coisas; uma: este corpo; e a outra: a força viva dentro do corpo. Referimo-nos à força viva que
existe dentro do corpo. Esta é a diferença entre a ciência da consciência de KŠa, que é espiritual, e a ciência material
comum. Como tal, no começo é muito, muito difícil que um homem comum aprecie nosso movimento. A pessoa
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deve compreender primeiro que é uma alma, ou algo diferente do corpo.
Mike Robinson: E quando compreenderemos isto?
®r…la Prabhup€da: Você pode compreender dum momento para outro, mas isto requer um pouco de inteligência. À
medida que uma criança cresce, por exemplo, ela se torna um adolescente, o adolescente se torna um moço, o moço
se torna adulto e o adulto envelhece. Por todo esse tempo, apesar de seu corpo ter passado por transformações,
desde a infância até a velhice, você ainda sente que é o mesmo, com a mesma identidade. Veja bem: o corpo está
mudando, mas o ocupante do corpo, a alma, permanece a mesma. Portanto, devemos concluir logicamente que
quando nosso presente corpo morre, obtemos outro corpo. Isto se chama transmigração da alma.
Mike Robinson: Então quando se morre é apenas o corpo físico que morre?
®r…la Prabhup€da: Sim. Isto está explicado de forma bastante elaborada no Bhagavad-g…t€ (2.20).
Mike Robinson: Vocês citam textos com frequência?
®r…la Prabhup€da: Sim, citamos muitos textos. A consciência de KŠa é uma educação séria, não é uma religião
comum. (Para um devoto): Encontre este verso no Bhagavad-g…t€.
Discípulo: “Para a alma, nunca há nascimento nem morte, nem, uma vez que exista, ela vai deixar de existir. Ela é não
nascida, eterna, sempre existente, imortal e primordial. Ela não morre quando o corpo morre”.
Mike Robinson: Muito obrigado por tê-lo lido. Agora, o senhor pode me explicar um pouco mais? Se a alma é
imperecível, isto quer dizer que a alma de todos irá ter com Deus após a morte?
®r…la Prabhup€da: Não necessariamente. Se a pessoa é qualificada — se ela se prepara nesta vida para voltar ao lar,
voltar ao Supremo — então ela pode ir. Se ela não se prepara, então obtém outro corpo material. E existem 8.400.000
formas corpóreas diferentes. De acordo com os desejos e o karma da pessoa, as leis da natureza dão-lhe um corpo
apropriado. Tome a analogia de um homem que contrai uma doença e esta nele se desenvolve. É difícil
compreender isto?
Mike Robinson: Isso tudo é muito difícil de compreender.
®r…la Prabhup€da: Suponha que alguém tenha contraído varíola. Assim, após sete dias ele desenvolve os sintomas da
doença. Como se chama este período de sete dias?
Mike Robinson: Incubação?
®r…la Prabhup€da: Incubação. Portanto você não pode evitar este período. Se você contraiu uma doença, ela se
desenvolverá com a sanção da lei da natureza. De maneira semelhante, durante esta vida você se associa com vários
modos da natureza material, e esta associação determinará que tipo de corpo você obterá na próxima vida. Isto está
estritamente sob o controle das leis da natureza. Todos são controlados pelas leis da natureza — todos são
completamente dependentes — mas por ignorância as pessoas pensam que são livres. Elas não são livres; estão
apenas imaginando que são livres, visto que estão completamente sob o controle das leis da natureza. Portanto, seu
próximo nascimento será determinado de acordo com suas atividades — pecaminosas ou piedosas, conforme o
caso.
Mike Robinson: Sua Graça, o senhor poderia explicar isto de novo? O senhor disse que ninguém é livre. O senhor quer
dizer que se vivemos uma vida virtuosa, determinamos de algum modo um bom futuro para nós mesmos?
®r…la Prabhup€da: Sim
Mike Robinson: Então temos liberdade para escolher o que cremos seja importante? A religião é importante, porque se
acreditarmos em Deus e vivermos honestamente...
®r…la Prabhup€da: Não é uma questão de crença. Não levante esta questão de crença. Isto é lei. Considere, por
exemplo, um governo. Você pode acreditar ou não, porém se você transgredir a lei, será punido pelo governo.
Semelhantemente, existe um Deus, quer você creia, quer não. Se você não crê em Deus, e independentemente faz o
que bem entende, então você será punido pelas leis da natureza.
Mike Robinson: Compreendo. A religião em que se crê faz alguma diferença? Faria alguma diferença se a pessoa fosse
um devoto de KŠa?
®r…la Prabhup€da: Não é uma questão de religião. É uma questão de ciência. Embora você seja um ser espiritual, você
está condicionado materialmente; por isso, você está sob o controle das leis da natureza material. Assim, pode ser
que você creia na religião cristã e que eu creia na religião hindu, mas isso não quer dizer que você vai envelhecer e eu
não. Referimo-nos à ciência do envelhecer. Esta é uma lei natural. Não é que pelo fato de ser cristão você está
envelhecendo, ou que pelo fato de ser hindu eu não estou. Todos estão envelhecendo. Por conseguinte, de modo
semelhante, todas as leis da natureza aplicam-se a todos. Quer você creia nesta religião, quer naquela, isto não faz
diferença.
Mike Robinson: Então, o senhor diz que só há um Deus controlando todos?
®r…la Prabhup€da: Há um Deus e uma lei da natureza, e estamos todos sob o controle desta lei da natureza. Somos
controlados pelo Supremo. Portanto, se pensamos que estamos livres ou que podemos fazer o que quisermos, é
tolice nossa.
Mike Robinson: Compreendo. O senhor pode me explicar que diferença há em ser um membro do movimento Hare
KŠa?
®r…la Prabhup€da: O movimento Hare KŠa destina-se àqueles que levam a sério a compreensão desta ciência. Nosso
grupo não é de forma alguma sectário. Não. Qualquer pessoa pode tornar-se membro do movimento Hare KŠa. Os
estudantes universitários, por exemplo, também podem ser aceitos como membros. Não importa que você seja um
cristão, um hindu ou um muçulmano. O movimento para a consciência de KŠa admite qualquer pessoa que queira
compreender a ciência de Deus.
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Mike Robinson: E que diferença faria para uma pessoa que aprendesse a ser uma pessoa Hare KŠa?
®r…la Prabhup€da: Sua educação verdadeira começaria. Antes de mais nada, devemos compreender que somos almas
espirituais. E como somos almas espirituais, estamos mudando de corpo. Este é o bê-a-bá da compreensão espiritual.
Portanto, quando o seu corpo está liquidado, aniquilado, você não está liquidado. Você obtém outro corpo, do
mesmo modo como pode trocar de paletó ou de camisa. Se amanhã você vier me ver usando uma camisa e um paletó
diferentes, acaso isso significa que você é uma pessoa diferente? Não. Semelhantemente, você muda de corpo cada
vez que morre; mas você, a alma espiritual situada dentro do corpo, permanece o mesmo. É preciso compreender
este ponto para que então se possa progredir mais na ciência da consciência de KŠa.
Mike Robinson: Sim, acho que agora compreendi. Se pudermos prosseguir deste ponto, o senhor dizia que o modo
como vivemos faz uma diferença na nossa vida após a morte, que há leis naturais que determinam nossa próxima
vida. Como funciona o processo de transmigração?
®r…la Prabhup€da: O processo é muito sutil. A alma espiritual é invisível aos nossos olhos materiais. Ela é atômica em
tamanho. Depois da destruição do corpo grosseiro (que se constitui dos sentidos, de sangue, de ossos, de gordura e
assim por diante), o corpo sutil, que consiste na mente, na inteligência e no ego, continua funcionando. Assim, no
momento da morte este corpo sutil leva a pequena alma espiritual para outro corpo grosseiro. Este processo é
semelhante ao processo do ar conduzindo a fragrância de uma rosa. Ninguém pode ver de onde vem esta fragrância,
mas sabemos que ela está sendo levada pelo ar. Embora não se possa ver, isto acontece. De modo semelhante, o
processo de transmigração da alma é muito sutil. De acordo com a condição da mente no momento da morte, a alma
espiritual entra no ventre de uma determinada mãe através do sêmen de um pai, e daí a alma desenvolve um tipo de
corpo particular dado pela mãe, que pode ser um corpo de ser humano, de gato, de cachorro ou qualquer coisa.
Mike Robinson: O senhor quer dizer então que antes desta vida nós já fomos outra coisa?
®r…la Prabhup€da: Sim.
Mike Robinson: Então nós continuamos voltando como outra coisa nas próximas vezes?
®r…la Prabhup€da: Sim, porque você é eterno. Você esta simplesmente trocando de corpo de acordo com seu trabalho.
Portanto, você precisa saber como parar com isso, como pode se manifestar em seu corpo espiritual original.
Consciência de KŠa é isto.
Mike Robinson: Compreendo. Portanto se eu me tornasse consciente de KŠa, não correria o risco de voltar como um
cachorro?
®r…la Prabhup€da: Não. (Para um devoto:) Encontre este verso: janma karma ca me divyam...
Discípulo: “Ó Arjuna, aquele que conhece a natureza transcendental de Meu aparecimento e atividades, ao deixar o
corpo, não nasce outra vez neste mundo material, mas alcança Minha morada eterna” (Bg. 4.9).
®r…la Prabhup€da: Deus está dizendo: “Qualquer pessoa que Me compreenda está livre do nascimento e da morte”.
Porém, não se pode compreender Deus por intermédio da especulação materialista. Isto não é possível. Em primeiro
lugar, deve-se chegar à plataforma espiritual. Daí obtém-se a inteligência necessária para se compreender Deus. E
quando compreendemos Deus, já não obtemos corpos materiais: voltamos ao lar, voltamos ao Supremo. Vivemos
eternamente; já não precisamos mais trocar de corpo.
Mike Robinson: Compreendo agora. Outra coisa que eu gostaria de saber. O senhor já citou duas passagens de suas
escrituras. De onde vêm essas escrituras? O senhor pode explicar isto brevemente?
®r…la Prabhup€da: Nossas escrituras vêm da literatura védica, que tem existido desde o começo da criação. Sempre que
há alguma nova criação material — como, por exemplo, este microfone — há também uma literatura para explicar
como lidar com ela. Não é assim?
Mike Robinson: Sim, realmente.
®r…la Prabhup€da: E esta literatura aparece com a criação do microfone.
Mike Robinson: É isso mesmo.
®r…la Prabhup€da: Assim, semelhantemente, a literatura védica aparece com a criação cósmica, para explicar como
lidar com ela.
Mike Robinson: Compreendo. Portanto, essas escrituras têm existido desde o começo da criação. Agora, eu gostaria de
mudar o assunto para algo a respeito do quê, segundo creio, o senhor tem firmes convicções. Qual é a principal
diferença entre a consciência de KŠa e as outras disciplinas orientais que ensinam no Ocidente?
®r…la Prabhup€da: A diferença é que nós seguimos a literatura original, ao passo que eles manufaturam sua própria
literatura. Esta é a diferença. Quando se trata de assuntos espirituais, temos que consultar a literatura original, e não
uma literatura qualquer, publicada por um falsificador.
Mike Robinson: E quanto ao cantar de Hare KŠa, Hare KŠa...?
®r…la Prabhup€da: Cantar Hare KŠa é o processo mais fácil para uma pessoa se purificar, especialmente nesta era, em
que as pessoas são tão estúpidas que não são capazes de compreender o conhecimento espiritual com facilidade. Se
uma pessoa canta Hare KŠa, sua inteligência se purifica, e então ela pode compreender as coisas do espírito.
Mike Robinson: O senhor poderia me dizer como vocês se orientam no que fazem?
®r…la Prabhup€da: Nós nos orientamos pela literatura védica.
Mike Robinson: Pelas escrituras que o senhor citou?
®r…la Prabhup€da: Sim, tudo está na literatura. Nós a estamos explicando em inglês e em outras línguas também. Mas
não estamos manufaturando nada. Se tivéssemos que manufaturar conhecimento, então tudo estaria arruinado. A
literatura védica é assim como a literatura que explica como instalar este microfone. Ela diz: “Faça assim: coloque
alguns dos parafusos deste lado, em torno do metal”. Você não pode alterar nada porque senão estraga tudo.
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Semelhantemente, como não estamos manufaturando nada, é preciso simplesmente que se leia um de nossos livros
para se receber o verdadeiro conhecimento espiritual.
Mike Robinson: Como pode a filosofia da consciência de KŠa influir na maneira de viver das pessoas?
®r…la Prabhup€da: Ela pode aliviar o sofrimento das pessoas. As pessoas sofrem porque estão equivocadas pensando
que são o corpo. Se você pensasse que é seu paletó e sua camisa e lavasse o paletó e a camisa com cuidado, mas se
esquecesse de comer, você seria feliz?
Mike Robinson: Não, não seria.
®r…la Prabhup€da: De modo semelhante, todos estão simplesmente lavando o “paletó e a camisa” do corpo e se
esquecendo da alma que se encontra dentro do corpo. Eles não têm informação acerca do que há dentro do “paletó e
camisa” do corpo. Pergunte a qualquer pessoa o que ela é, e ela dirá: ”eu sou inglês”, ou “eu sou indiano”. E se
dissermos: “posso perceber que você possui um corpo inglês ou um corpo indiano, mas o que é você?” — isso ela
não será capaz de dizer.
Mike Robinson: Compreendo.
®r…la Prabhup€da: Toda a civilização moderna funciona sob o equívoco de que o corpo é o eu (deh€tma-buddhi). Esta
é a mentalidade dos gatos e cachorros. Suponha que eu estou tentando entrar na Inglaterra e você me faz parar na
fronteira: “eu sou inglês” diz você, “mas você é um indiano. O que você veio fazer aqui?” E o cachorro, por sua vez,
late: “au, au, o que você está fazendo aqui?” Portanto, qual é a diferença na mentalidade? O cachorro está pensando
que é um cachorro e que eu sou um estranho, ao passo que você está pensando que é inglês e que eu sou um
indiano. Na mentalidade não há diferença. Portanto, se você deixa que as pessoas fiquem na escuridão de minha
mentalidade de cachorro e declara que está avançando na civilização, você está muito mal orientado.
Mike Robinson: Agora, passando para outro assunto, deduzo que o movimento Hare KŠa mostra algum interesse nas
áreas do mundo onde há sofrimento.
®r…la Prabhup€da: Sim, nós somos os únicos interessados. Outras pessoas estão simplesmente evitando os problemas
principais: nascimento, velhice, doença e morte. Os outros não encontram solução para estes problemas; estão
simplesmente falando disparates de toda a espécie. Estão desencaminhando as pessoas. Elas mesmas estão se
mantendo na escuridão. Mas nós devemos começar a dar-lhes alguma luz
Mike Robinson: Sim, mas além de dar iluminação espiritual, vocês também estão interessados no bem-estar físico das
pessoas?
®r…la Prabhup€da: O bem-estar físico acompanha automaticamente o bem-estar espiritual.
Mike Robinson: E como é que isso funciona?
®r…la Prabhup€da: Suponha que você possui um carro. Assim, você naturalmente cuida do carro como também de si
mesmo. Mas você não se identifica com o carro. Você não diz: “eu sou este carro”. Isto é absurdo. Mas isto é o que as
pessoas estão fazendo. Elas estão cuidando demasiadamente do “carro” corpóreo, pensando que o “carro” é o eu.
Elas se esquecem de que são diferentes do “carro”, de que são almas espirituais e têm uma função diferente. Assim
como ninguém pode ficar satisfeito bebendo gasolina, do mesmo modo ninguém pode ficar satisfeito com
atividades corpóreas. É preciso descobrir o alimento adequado para a alma. Se uma pessoa pensa: “eu sou um carro e
preciso beber esta gasolina”, ela é considerada insana. Semelhantemente, uma pessoa que julga ser este corpo e
tenta ser feliz com prazeres corpóreos, também é insana.
Mike Robinson: Há uma citação aqui a respeito da qual eu gostaria que o senhor comentasse. Alguém de seu
movimento deu-me este folheto antes desse nosso encontro, e uma das coisas que o senhor diz aqui é que: “A
religião não passa de sentimentalismo se não tem uma base racional”. O senhor poderia explicar isso?
®r…la Prabhup€da: A maioria das pessoas religiosas dizem: “Nós cremos..”. Mas qual é o valor desta crença? Pode ser
que você creia em algo que não seja realmente correto. Alguns cristãos, por exemplo, dizem: “Nós cremos que os
animais não têm alma” Isto não é correto. Eles crêem que os animais não têm alma porque querem comer os animais,
mas na realidade os animais têm alma.
Mike Robinson: Como o senhor sabe que o animal tem uma alma?
®r…la Prabhup€da: Você também pode saber. Aqui está a prova científica: o animal come, você come; o animal dorme,
você dorme; o animal faz sexo, você faz sexo; o animal se defende, você também se defende. Então qual é a
diferença entre você e o animal? Como você pode dizer que tem uma alma e que o animal não tem?
Mike Robinson: Posso compreender isso perfeitamente. Mas as escrituras cristãs dizem...
®r…la Prabhup€da: Não venha com escrituras; este é um tópico de senso comum. Tente compreender. O animal come,
você come; o animal dorme, você dorme; o animal se defende, você se defende; o animal faz sexo, você faz sexo; os
animais têm filhos, você tem filhos; eles têm um lugar para viver, você tem um lugar para viver. Quando o corpo do
animal se fere, sai sangue; quando seu corpo se fere, sai sangue. Assim, encontramos todas estas semelhanças.
Agora, por que você só nega esta semelhança para a presença da alma? Isto não é lógico. Você já estudou lógica? Em
lógica há uma coisa chamada analogia. Analogia significa tirar uma conclusão a partir da descoberta de muitos
pontos em comum. Se há tantos pontos em comum entre os seres humanos e os animais, por que negar uma outra
semelhança? Isto não é lógica. Isto não é ciência.
Mike Robinson: Mas se o senhor pega este argumento e o usa de outro modo...
®r…la Prabhup€da: Não há outro modo. Se você não argumenta baseando-se na lógica, você não está sendo racional.
Mike Robinson: Sim, está certo, mas vamos partir de uma outra hipótese. Suponhamos que a presunção de que o ser
humano não tem alma...
®r…la Prabhup€da: Então você tem de explicar qual é a diferença entre um corpo vivo e um corpo morto. Eu expliquei
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isto no início. Logo que a força viva, a alma, vai-se embora do corpo, até mesmo o mais belo corpo perde seu valor.
Ele é jogado fora e ninguém liga para ele. Mas se eu puxar seu cabelo agora, você vai querer brigar comigo. Esta é a
distinção entre um corpo vivo e um corpo morto. No corpo vivo existe a alma, mas no corpo morto não. Logo que a
alma deixa o corpo, o corpo perde seu valor, perde sua utilidade. É muito simples compreender isto, mas até mesmo
os maiores dentre os assim chamados cientistas e filósofos são demasiado estúpidos para compreender isso. A
sociedade moderna está numa situação muito abominável. Não há ninguém que seja realmente inteligente.
Mike Robinson: O senhor está se referindo a todos os cientistas que não conseguem perceber a dimensão espiritual da
vida?
®r…la Prabhup€da: Sim. Ciência verdadeira significa conhecimento de todas as coisas materiais e espirituais.
Mike Robinson: Mas o Senhor foi um químico na vida civil, não foi?
®r…la Prabhup€da: Sim, anteriormente fui um químico, mas não é preciso ter muita inteligência para se tornar um
químico. Qualquer homem de bom senso pode fazê-lo.
Mike Robinson: Mas presumivelmente o senhor acha que a ciência material também é importante, mesmo que os
cientistas de hoje sejam estúpidos?
®r…la Prabhup€da: A ciência material só é importante até certo ponto. Não é sumamente importante.
Mike Robinson: Compreendo. Permita-me voltar a uma pergunta que eu tinha feito antes. Quando estávamos
discordando há alguns minutos atrás, o senhor dizia: “Não venha com escrituras; este é um tópico de senso comum”.
Mas que papel representam as escrituras em sua religião? Quão importantes são elas?
®r…la Prabhup€da: Nossa religião é uma ciência. Quando dizemos que uma criança cresce, transformando-se em
adolescente, isso é ciência. Não é religião. Toda criança cresce, transformando-se em adolescente. Onde entra a
questão da religião aí? Todo homem morre. Onde entra a questão da religião aí? E quando um homem morre, o corpo
torna-se inútil. Onde entra a questão da religião aí? Isso é ciência. Quer você seja cristão, hindu ou muçulmano,
quando você morre seu corpo toma-se inútil. Isto é ciência. Quando seu parente morrer, você não poderá dizer: “Nós
somos cristãos; cremos que ele não morreu”. Não, ele morreu. Quer seja ele cristão, hindu ou muçulmano, ele
morreu. Então quando falamos, falamos baseando-nos neste princípio: que o corpo só é importante enquanto a alma
está no corpo. Quando a alma não está presente no corpo, este é inútil. Esta ciência é aplicável a todos, e nós estamos
tentando educar as pessoas baseados nisto.
Mike Robinson: Mas se eu o compreendo corretamente, parece que o senhor está educando as pessoas baseado em
princípios puramente científicos. Onde entra a religião nisso tudo?
®r…la Prabhup€da: Religião também significa ciência. As pessoas erroneamente consideram que religião significa fé —
“eu creio”. (Voltando-se para um devoto:) Procure a palavra religião no dicionário.
Discípulo: Em religião o dicionário diz: reconhecimento de controle ou poder sobre-humano, e especialmente de um
Deus pessoal que tem direito à obediência, e efetuando tal reconhecimento com a atitude mental correta”.
®r…la Prabhup€da: Sim. Religião significa aprender a como obedecer ao controlador supremo. Assim, você pode ser
cristão e eu hindu; isso não importa. Tanto eu quanto você temos de aceitar que há um controlador supremo. Todos
têm de aceitar isso; isto é religião verdadeira. E não isto: “Nós cremos que os animais não têm alma”. Isso não é
religião. Isso é totalmente científico. Religião significa compreensão científica do controlador supremo:
compreender o controlador supremo é obedecê-lO, isso é tudo. No estado, o bom cidadão é aquele que
compreende o governo e obedece às leis do governo, e o mau cidadão é aquele que não liga para o governo. Então,
se você se torna um mau cidadão por ignorar o governo de Deus, você é irreligioso. E se você é um bom cidadão,
você é religioso.
Mike Robinson: Compreendo. O senhor pode me dizer qual o senhor crê que seja o sentido da vida? Em primeiro lugar,
por que existimos?
®r…la Prabhup€da: O sentido da vida é gozar. Porém, atualmente você está numa plataforma falsa de vida, e por isso está
sofrendo ao invés de gozar. Em toda a parte vemos a luta pela vida. Todos estão lutando, mas qual é o prazer deles no
final de contas? Eles estão simplesmente sofrendo e morrendo. Por isso, embora vida signifique gozo, no momento
atual você não está gozando a vida. Mas se você alcançar a verdadeira plataforma espiritual da vida, então você
gozará.
Mike Robinson: Para finalizar, o senhor pode me explicar algumas das fases pelas quais se passa na vida espiritual?
Quais são as fases espirituais pelas quais passa um novo devoto de KŠa?
®r…la Prabhup€da: Na primeira fase você é curioso. “Então”, você diz, “o que é este movimento da consciência de KŠa?
Deixe-me estudá-lo”. Isto se chama raddh€, ou fé. Assim é o começo. Em seguida, se você é sério, você se associa
com aqueles que estão cultivando este conhecimento. Você tenta compreender o que eles estão sentindo. Então
você sentirá: “Por que não me tornar um deles?” E quando você se torna um deles, logo todos os seus receios
desaparecem. Você se torna mais fiel, e então começa a apreciar realmente a consciência de KŠa. Por que estes
rapazes não vão ao cinema? Por que não comem carne, nem vão a boates? Porque o gosto deles mudou. Agora eles
odeiam todas estas coisas. Dessa maneira, você faz progresso. Em primeiro lugar, fé; depois, associação com os
devotos; depois, eliminação de todos os receios; depois, fé firme; depois, gosto; depois. realização de Deus; e depois
a perfeição, o amor a KŠa. Esta é a religião de primeira classe. Não uma simples cerimônia ritualística de “eu creio,
você crê”. Isto não é religião. Isto é vigarice. Religião verdadeira significa desenvolver seu amor por Deus. Esta é a
perfeição da religião.
Mike Robinson: Muito obrigado por ter conversado comigo. Foi um prazer conversar com o senhor.
®r…la Prabhup€da: Hare KŠa!
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Verdade e beleza
®r…la Prabhup€da publicou este ensaio primeiramente na Índia, na antiga versão em tablóide de sua revista
quinzenal “De Volta ao Supremo” (20 de novembro de 1958). Ele contém a inesquecível história da “beleza
líquida”, em que ®r…la Prabhup€da dramaticamente expõe o princípio fundamental da sexualidade
humana. Esta exposição esclarecedora da natureza da verdade e da beleza é intemporal e
surpreendentemente relevante para aqueles que buscam o “eu interno”.
Pode ser, às vezes, que se argumente sobre se “verdade” e “beleza” são termos compatíveis. Alguém de bom grado
concordaria em dizer a verdade, por assim dizer, mas, uma vez que a verdade nem sempre é bela — de fato, ela é
frequentemente um tanto assustadora e desagradável — como poderia alguém expressar verdade e beleza ao mesmo
tempo?
Em resposta, poderíamos informar a todos os interessados que “verdade” e “beleza” são termos compatíveis. De
fato, podemos afirmar enfaticamente que a verdade real, que é absoluta, é sempre bela. A verdade é tão bela que atrai a
todos, inclusive à própria verdade. A verdade é tão bela que muitos sábios, santos e devotos têm deixado tudo pela
causa da verdade. Mah€tma Gandhi, um ídolo do mundo moderno, dedicou sua vida a fazer experiências com a
verdade, e todas as suas atividades objetivavam apenas a verdade.
Por que somente Mah€tma Gandhi? Cada um de nós tem o desejo intenso de se buscar a verdade, pois a verdade é
não somente bela, mas também todo-poderosa, plena de todos os recursos, todo-famosa, todo-renunciada e plena de
todo o conhecimento.
Infelizmente, as pessoas não têm informação da verdade real. De fato, noventa e nove por cento dos homens em
todas as esferas da vida andam apenas atrás da inverdade, em nome da verdade. Sentimo-nos realmente atraídos pela
beleza da verdade, mas desde tempos imemoriais temos estado acostumados ao amor da inverdade que aparenta ser
verdade. Portanto, para o mundano “verdade” e “beleza” são termos incompatíveis. A verdade e beleza mundanas
podem ser explicadas da seguinte maneira.
Certa feita, um homem que era muito poderoso e de forte constituição física, mas cujo caráter era muito duvidoso,
apaixonou-se por uma bela moça. A moça era não apenas bonita na aparência, como também santa no caráter, e,
sendo assim, ela não gostou dos seus desejos luxuriosos, e por isso a moça pediu-lhe que esperasse apenas sete dias, e
ela determinou o dia em que ele poderia encontrar-se com ela novamente. O homem concordou, e, com grande
expectativa, ficou esperando pelo dia marcado.
A santa moça, contudo, a fim de manifestar a verdadeira beleza da verdade absoluta, adotou um método muito
instrutivo. Ela tomou doses muito fortes de laxativos e purgantes, e por sete dias seguidos teve diarréia e vomitou tudo
que havia comido. Além disso, ela armazenou todas as fezes e os vômitos em recipientes adequados. Como resultado
dos purgantes, a dita bela moça tornou-se descarnada e magra como um esqueleto, sua tez tornou-se escurecida e seus
belos olhos afundaram nas órbitas de seu crânio. Assim, na hora marcada, ela esperou ansiosamente para receber o
ávido rapaz.
O homem apareceu em cena bem vestido e bem comportado, e perguntou à feia moça que o esperava ali a respeito
da bela moça com a qual queria encontrar-se. Ele não pôde reconhecer naquela moça a mesma beldade que ele
procurava; de fato, embora ela repetidamente afirmasse sua identidade, por causa de sua deplorável condição, ele não
era capaz de reconhecê-la.
Por fim, a moça disse ao poderoso rapaz que ela havia reservado os ingredientes de sua beleza, armazenando-os
em recipientes. Disse-lhe também que ele poderia desfrutar desses sucos de beleza. Quando o poético homem
mundano pediu para ver esses sucos de beleza, ele foi posto na presença do depósito de fezes soltas e vômitos
líquidos, que emanavam um odor insuportável. Assim toda a história da beleza líquida foi-lhe revelada. Finalmente,
pela graça da santa moça, este homem de mau caráter pôde ter um vislumbre do que é a sombra e a substância, e desse
modo voltou a si.
A posição desse rapaz é semelhante à posição de cada um de nós; que nos sentimos atraídos pela falsa beleza
material. A moça acima mencionada tinha um corpo material belamente desenvolvido de acordo com os desejos de
sua mente, mas, de fato, ela estava a parte desse corpo e mente materiais temporários. Na verdade, ela era uma
centelha espiritual, e o amante que estava atraído por sua falsa pele também o era.
Os intelectuais mundanos, contudo, são iludidos pela beleza e atração externas da verdade relativa e não têm
conhecimento da centelha espiritual, que é verdade e beleza ao mesmo tempo. A centelha espiritual é tão bela que,
quando deixa o dito belo corpo, que de fato é cheio de fezes e vômito, ninguém quer tocar-lo, mesmo que ele esteja
decorado com roupas caras.
Estamos todos buscando uma verdade falsa e relativa, que é incompatível com a verdade real. A verdade real,
entretanto, é permanentemente bela, retendo o mesmo padrão de beleza por inumeráveis anos. Essa centelha
espiritual é indestrutível. A beleza da pele externa pode ser destruída em uma questão de horas mediante uma dose de
purgantes fortes, mas a beleza da verdade é indestrutível e sempre a mesma. Infelizmente, os artistas e intelectuais
mundanos ignoram esta bela centelha de espírito. Eles também ignoram o fogo total que é a fonte dessas centelhas
espirituais, e ignoram os relacionamentos entre as centelhas e o fogo, que assumem a forma de passatempos
transcendentais. Quando esses passatempos são revelados aqui pela graça do Todo-poderoso, os tolos que não
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podem perceber além de seus sentidos confundem esses passatempos de verdade e beleza com as manifestações de
fezes soltas e vômitos acima descritas. Assim, em desespero, eles perguntam como é possível conciliar a verdade com a
beleza.
Os mundanos não sabem que a entidade espiritual total é a pessoa bela que atrai tudo. Eles não sabem que Ele é a
substância primordial, a fonte primordial e o manancial de tudo que existe. As infinitésimas centelhas espirituais,
sendo partes integrantes desse espírito total, são qualitativamente iguais em beleza e eternidade. A única diferença é
que o todo é eternamente o todo e as partes são eternamente as partes. Tanto o todo quanto as partes, entretanto,
constituem a verdade última, a beleza última, o conhecimento último, a energia última, a renúncia última e a opulência
última.
Embora escrita pelo maior dos poetas ou intelectuais mundanos, qualquer literatura que não descreva a verdade e
beleza últimas é apenas um estoque de fezes e vômitos da verdade relativa. Verdadeira literatura é aquela que descreve
a verdade e beleza últimas do Absoluto.
Perguntas relevantes
Embora a imprensa esteja geralmente obcecada pela violência e a morte, nossa percepção da morte e do mortal
é superficial. ®r…la Prabhup€da observa: “Enquanto o homem está em pleno vigor da vida, ele se esquece da
verdade crua da morte, a qual ele terá que enfrentar”. Como podemos eficientemente lidar com nossa própria
morte? Neste ensaio (que apareceu pela primeira vez no antigo formato em tablóide de ”De Volta ao Supremo”,
em 20 de abril de 1960) ®r…la Prabhup€da explica como os antigos ensinamentos do ®r…mad-Bh€gavatam dão
uma resposta prática.
Uma criança caminhando com seu pai faz perguntas constantemente. Ela pergunta muitas coisas estranhas a seu
pai, e o pai tem de satisfazê-la com respostas apropriadas. Quando eu era um pai jovem, em minha vida de casado, eu
era inundado com centenas de perguntas feitas por meu segundo filho, que era meu companheiro constante. Certo dia
sucedeu de um cortejo de casamento passar por nosso ônibus, e, como de costume, o menino de quatro anos
perguntou-me o que era aquela grande procissão. Eu lhe dei todas as respostas possíveis às suas mil e uma perguntas
relativas ao cortejo de casamento, e finalmente ele perguntou se o seu próprio pai era casado. Esta pergunta provocou
altas gargalhadas entre todos os cavalheiros adultos presentes, embora o menino ficasse perplexo, sem entender por
que eles gargalhavam. De qualquer modo, o menino ficou de algum modo satisfeito com seu pai casado.
A moral deste incidente é que uma vez que o ser humano é um animal racional, ele nasce para fazer perguntas.
Quanto maior o número de perguntas, maior o avanço de conhecimento e ciência. Toda a civilização material baseiase neste volume originalmente extenso de perguntas, feitas por jovens a seus semelhantes mais velhos. Quando as
pessoas mais velhas dão as respostas adequadas às perguntas dos jovens, a civilização faz progresso, um passo após
outro. O homem mais inteligente, contudo, indaga a respeito do que acontece após a morte. Os menos inteligentes
fazem perguntas de menor relevância, mas as perguntas daqueles que são mais inteligentes são cada vez mais
relevantes.
Entre os homens mais inteligentes estava Mah€r€ja Par…kit, o grande rei do mundo inteiro, que foi acidentalmente
amaldiçoado por um br€hmaŠa a ser morto pela mordida de uma serpente dentro de sete dias. O br€hmaŠa que o
amaldiçoou não passava de um menino, porém era muito poderoso, e, porque não conhecia a importância do grande
rei, ele tolamente o amaldiçoou. Mais tarde isto foi motivo de lamentação para o pai do menino, a quem o rei havia
ofendido. Quando o rei foi informado da desventurada maldição, ele imediatamente deixou seu lar palaciano e dirigiuse às margens do Ganges, que ficava próximo a sua capital, a fim de preparar-se para sua morte iminente. Por ser um
grande rei, quase todos os grandes sábios e acadêmicos eruditos reuniram-se no local onde o rei estava jejuando antes
de deixar seu corpo mortal. Por fim, ®ukadeva Gosv€m…, o mais jovem e santo contemporâneo do rei, também chegou
ali, e foi unanimemente aceito para presidir o encontro, embora seu grande pai também estivesse presente. O rei
respeitosamente ofereceu a ®ukadeva Gosv€m… o assento de honra principal e fez-lhe perguntas relevantes, relativas a
seu desaparecimento do mundo mortal, que ocorreria ao final de sete dias. O grande rei, sendo um digno descendente
dos P€Šavas, que eram todos grandes devotos, fez as seguintes perguntas relevantes ao grande sábio ®ukadeva: “Meu
caro senhor, és o maior dos grandes transcendentalistas, e por isso submissamente peço para perguntar-te acerca de
minhas dúvidas neste momento. Estou justamente à beira da morte. Portanto, que devo eu fazer neste momento
crítico? Por favor, dizei-me, meu senhor — que devo ouvir, que devo adorar ou de quem devo lembrar-me agora? Um
grande sábio como tu não fica na casa de um chefe de família mais do que o necessário, e por isso para minha boa sorte
bondosamente apareceste aqui no momento de minha morte. Por favor, portanto, dá-me tuas orientações nesta hora
crítica”.
Ao ser assim amavelmente solicitado pelo rei, o grande sábio respondeu a suas perguntas com autoridade, pois o
sábio era grande erudito transcendental e era igualmente bem equipado de qualidades divinas, visto ser ele o digno
filho de B€dar€yaŠa, ou Vy€sadeva, o compilador original da literatura védica. ®ukadeva Gosv€m… disse: “Meu caro rei,
tua pergunta é muitíssimo relevante, e é, também, benéfica para todas as pessoas em todos os tempos. Tais perguntas,
que são as mais elevadas de todas, são relevantes porque são confirmadas pelos ensinamentos do ved€nta-darana, a
conclusão do conhecimento védico, e são €tmavit-sammat€ƒ; em outras palavras, as almas liberadas, que têm
conhecimento pleno de sua identidade espiritual, apresentam essas perguntas relevantes a fim de obter informações
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mais detalhadas sobre a Transcendência”.
O ®r…mad-Bh€gavatam é o comentário natural aos grandes Ved€nta (ou ®ar…raka) s™tras, que foram compilados
por ®r…la Vy€sadeva. Os Ved€nta-s™tras são a mais elevada literatura védica, e contêm o núcleo de perguntas básicas
sobre o tema transcendental do conhecimento espiritual. Contudo, embora ®r…la Vy€sadeva compilasse esse grande
tratado, sua mente não ficou satisfeita. Então aconteceu dele encontrar ®r… Narada, seu mestre espiritual, que o
aconselhou a descrever a identidade da Personalidade de Deus. Ao receber este conselho, Vy€sadeva meditou sobre o
princípio da bhakti-yoga, que lhe mostrou distintamente o que é o Absoluto e o que é a relatividade, ou m€y€. Tendo
atingido perfeita realização desses fatos, ele compilou a grande narração do ®r…mad-Bh€gavatam, ou belo
Bh€gavatan, que começa com fatos históricos verdadeiros, relativos à vida de Mah€r€ja Par…kit.
O Ved€nta-s™tra começa com a indagação chave sobre a Transcendência, ath€to brahma-jijñ€s€: “Agora deve-se
indagar acerca de Brahman, ou a Transcendência”.
Enquanto um homem está em pleno vigor da vida, ele se esquece da crua verdade da morte, que ele terá de
enfrentar. Assim, um homem tolo não faz indagações relevantes sobre os verdadeiros problemas da vida. Todos
pensam que jamais morrerão, embora vejam evidências da morte diante de seus olhos a cada segundo. Eis aqui a
distinção entre animalismo e humanidade. Um animal como a cabra não percebe sua morte iminente. Embora sua irmã
cabra esteja sendo sacrificada, a cabra, estando iludida pelo capim verde que se lhe oferece, permanecerá
pacificamente esperando para ser sacrificada em seguida. Por outro lado, se um ser humano vê seu semelhante sendo
morto por um inimigo, ele ou luta para salvar seu irmão ou se afasta, se possível, para salvar sua própria vida. Esta é a
diferença entre o homem e a cabra.
O homem inteligente sabe que a morte nasce juntamente com seu próprio nascimento. Ele sabe que está morrendo
a cada segundo e que o toque final será dado tão logo seu período de vida termine. Por isso, ele se prepara para a
próxima vida ou para a liberação da doença de repetidos nascimentos e mortes.
O tolo, contudo, não sabe que esta forma humana de vida é obtida após uma série de nascimentos e mortes
impostos no passado pelas leis da natureza. Ele não sabe que a entidade viva é um ser eterno, que não tem nascimento
nem morte. Nascimento, morte, velhice e doença são imposições externas exercidas sobre a entidade viva e devem-se
a seu contato com a natureza material e a seu esquecimento de sua natureza divina e eterna e unicidade qualitativa com
o Todo-Absoluto.
A vida humana provê a oportunidade de conhecer este fato, ou verdade, eterno. Assim, o próprio começo do
Ved€nta-s™tra aconselha que, por termos esta valiosa forma de vida humana, é nosso dever — agora — indagar: Que é
Brahman, a Verdade Absoluta?
Um homem que não é inteligente o bastante não indaga acerca desta vida transcendental; ao invés, ele indaga sobre
muitos assuntos irrelevantes que não se relacionam a sua existência eterna. Desde o começo de sua vida, ele indaga a
sua mãe, pai, mestres, professores, livros e tantas outras fontes, mas não obtém o tipo correto de informação sobre sua
vida real.
Como mencionamos anteriormente, Par…kit Mah€r€ja recebeu o aviso de que morreria dentro de sete dias, e
imediatamente deixou seu palácio a fim de preparar-se para o próximo estágio de vida. O rei tinha pelo menos sete
dias à sua disposição, durante os quais poderia se preparar para a morte, mas, quanto a nós, apesar de sabermos sem
dúvida que nossa morte é certa, não temos informação da data determinada para sua ocorrência. Eu não sei se vou
encontrar a morte no próximo instante. Mesmo um homem tão grandioso como Mah€tma Gandhi não conseguiu
calcular que encontraria sua morte dentro de breves cinco minutos, nem puderam os seus grandes companheiros
adivinhar sua morte iminente. Não obstante, todos esses cavalheiros apresentavam-se como grandes líderes do povo.
É a ignorância da morte e da vida que distingue o animal do homem. Um homem, no verdadeiro sentido do termo,
indaga acerca dele mesmo e do que ele é. De onde ele veio para esta vida, e para onde ele vai após a morte? Por que ele
é colocado sob as tribulações das três espécies de misérias apesar de não as querer? Começando da infância, uma
pessoa indaga sobre tantas coisas em sua vida, mas nunca indaga sobre a real essência da vida. Isso é animalismo. Não
há diferença entre um homem e um animal no que diz respeito aos quatro princípios da vida animal, pois todo ser vivo
existe comendo, dormindo, temendo e acasalando-se. Mas, apenas a vida humana destina-se a indagações relevantes
acerca de fatos sobre a vida eterna e a Transcendência. A vida humana destina-se, portanto, à busca da vida eterna, e o
Ved€nta-s™tra nos aconselha a conduzir essa busca agora, ou nunca. Se deixamos de investigar agora esses relevantes
assuntos sobre a vida, certamente voltaremos novamente ao reino animal através das leis da natureza. Portanto,
mesmo que um homem tolo pareça avançado em ciência material — isto é, em comer, dormir, temer, acasalar-se e
assim por diante — ele não pode livrar-se das mãos cruéis da morte através das leis da natureza. A lei da natureza
funciona sob três modos — bondade, paixão e ignorância. Aqueles que vivem sob condições de bondade são
promovidos às posições espirituais superiores de vida, e aqueles que vivem sob condições de paixão permanecem
estacionados no mesmo lugar no mundo material onde estão agora, mas aqueles que vivem sob condições de
ignorância são certamente degradados às espécies inferiores.
A situação moderna da civilização humana é precária porque não oferece educação sobre pesquisas relevantes dos
princípios essenciais da vida. Como animais, as pessoas não sabem que vão ser sacrificadas pelas leis da natureza. Elas
se satisfazem com um punhado de capim verde, ou uma assim chamada vida alegre, como a cabra esperando no
matadouro. Considerando a condição a que chegou a vida humana, estamos apenas tentando humildemente salvar o
ser humano através da mensagem de “De Volta ao Supremo”. Este método não é fictício. Se realmente tiver que haver
uma era de realidade, esta mensagem de “De Volta ao Supremo” é o começo dessa era.
Segundo ®r… ®ukadeva Gosv€m…, o fato real é que um ghamedh…, ou uma pessoa que se atou, como a cabra
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destinada ao matadouro, ao negócio de família, sociedade, comunidade, nação ou humanidade em geral, no que diz
respeito aos problemas e necessidades da vida animal — a saber, comer, dormir, temer e acasalar-se — e que não tenha
conhecimento da Transcendência não passa de um animal. Ele pode ter indagado sobre assuntos físicos, políticos,
econômicos, culturais, educacionais, ou outros assuntos semelhantes de interesse material e temporário, mas se ele
não tiver indagado sobre os princípios da vida transcendental, deve ser considerado um cego impelido por sentidos
descontrolados e prestes a cair em uma vala. Essa é a descrição do ghamedh….
O oposto do ghamedh…, contudo, é o ghastha. O ghastha-€rama, ou o abrigo da vida familiar espiritual, é como
a vida de um sanny€s…, um membro da ordem renunciada. Não importando que a pessoa seja um chefe de família ou
um renunciante, o ponto importante é o das perguntas relevantes. Um sanny€s… é falso se não se interessa por
perguntas relevantes, e um ghastha, ou chefe de família, é fidedigno se sente inclinação a fazer tais perguntas. O
ghamedh…, entretanto, está simplesmente interessado nas necessidades animais da vida. Pelas leis da natureza, a vida
do ghamedh… é cheia de calamidades, ao passo que a vida do ghastha é cheia de felicidade. Mas, na civilização
humana moderna, os ghamedh…s estão se fazendo passar por ghasthas. Devemos, portanto, saber quem é o quê. A
vida do ghamedh… é cheia de vícios porque ele não sabe como levar uma vida familiar. Ele não sabe que além de seu
controle está um poder que supervisiona e controla suas atividades, e ele não tem concepção de sua vida futura. O
ghamedh… é cego para o futuro e não tem capacidade de fazer perguntas relevantes. Sua única qualificação é que ele
está atado pelos grilhões do apego às coisas falsas com que se entretém em sua existência temporária.
À noite, tais ghamedh…s desperdiçam seu tempo valioso, dormindo ou satisfazendo suas diferentes variedades de
impulsos sexuais frequentando exibições de cinema, clubes e casas de jogo, onde se entregam a mulheres e
bebedeiras desbragadamente. E durante o dia, eles desperdiçam sua vida valiosa, acumulando dinheiro ou, se têm
dinheiro suficiente para gastar, proporcionando conforto para os membros de suas famílias. Seu padrão de vida e suas
necessidades pessoais aumentam com o crescimento de sua renda monetária. Assim, não há limites para seus gastos, e
eles nunca estão saciados. Conseqüentemente, há competição ilimitada no campo do desenvolvimento econômico, e
por isso não há paz em nenhuma sociedade do mundo humano.
Todos se envolvem com os mesmos problemas de ganhos e gastos, mas, em última análise, têm de depender da
misericórdia da mãe natureza. Quando há escassez na produção ou há distúrbios causados pela providência, o pobre
político fazedor de planos culpa a natureza cruel, mas cuidadosamente evita examinar como e por quem as leis da
natureza são controladas. O Bhagavad-g…t€, contudo, explica que as leis da natureza são controladas pela
Personalidade de Deus Absoluta. Só Deus é o controlador da natureza e das leis naturais. Às vezes ambiciosos
materialistas examinam um fragmento da lei da natureza, mas nunca se importam em conhecer aquele que fez essas
leis. A maioria deles não crê na existência de uma pessoa absoluta, ou Deus, que controla as leis da natureza. Pelo
contrário, eles simplesmente se preocupam com os princípios pelos quais diferentes elementos interagem, mas não
fazem referência à direção última que possibilita tais interações. Eles não têm perguntas ou respostas relevantes a este
respeito. O segundo dos Ved€nta-s™tras, entretanto, responde à pergunta essencial sobre o Brahman, afirmando que
o Brahman Supremo, a Transcendência Suprema, é aquele de quem tudo é gerado. Em última análise, Ele é a Pessoa
Suprema.
O tolo ghamedh… não só ignora a natureza temporária da espécie particular de corpo por ele obtido, mas ele
também está cego para a verdadeira natureza do que está acontecendo diante dele nos afazeres diários de sua vida. Ele
pode ver seu pai morrer, sua mãe morrer, ou um parente ou vizinho morrer, porém ele não faz perguntas relevantes
sobre se os outros membros existentes de sua família morrerão ou não. Às vezes ele pensa e sabe que todos os
membros de sua família morrerão hoje ou amanhã, e que ele também morrerá. Ele pode saber que todo o show de
família — ou, quanto a isso, todo o show de comunidade, sociedade, nação e todas essas coisas — é apenas uma bolha
temporária no ar, que não tem valor algum. Contudo, ele anda louco atrás desses arranjos temporários e não se
interessa por nenhuma pergunta relevante. Ele não tem conhecimento de para onde vai após a morte. Ele trabalha
arduamente fazendo arranjos temporários para sua família, sociedade ou nação, mas nunca faz nenhum arranjo futuro,
nem para si mesmo, nem para os demais que desaparecerão desta atual fase de vida.
Em um veículo público como um vagão de trem, encontramos e sentamo-nos juntos com alguns amigos
desconhecidos e nos tornamos membros do mesmo veículo por pouco tempo, mas, no devido tempo, nos separamos,
e nunca mais nos encontramos. Analogamente, em uma extensa jornada de vida, obtemos um assento temporário em
uma assim chamada família, país ou sociedade, mas quando se esgota o tempo, somos separados uns dos outros contra
nossa vontade, para nunca mais nos encontrarmos. Há muitas perguntas relevantes acerca de nossos arranjos
temporários na vida e de nossos amigos nesses arranjos temporários, mas um homem que é ghamedh… nunca indaga
sobre coisas de natureza permanente. Todos nós estamos atarefados, fazendo planos permanentes em vários graus de
liderança, sem conhecer a natureza permanente das coisas tais como elas são. ®r…pada Sankar€c€rya, que
especialmente se esforçou para eliminar esta ignorância da sociedade e que advogou o culto do conhecimento
espiritual em relação com o onipenetrante Brahman impessoal, disse em desespero: “As crianças estão ocupadas com
brincadeiras, os rapazes estão ocupados com ditos casos amorosos com as moças, e os velhos estão seriamente
meditando sobre como ajustar uma vida frustrada de lutas. Mas, ai de mim, ninguém está preparado para indagar
relevantemente sobre a ciência de Brahman, a Verdade Absoluta”.
®r… ®ukadeva Gosv€m…, a quem Mah€r€ja Par…kit pediu orientação, respondeu às relevantes perguntas do rei,
aconselhando-o da seguinte maneira: “Ó descendente de Bh€rata, é dever dos homens mortais indagar sobre a
Personalidade de Deus, ouvir sobre Ele, glorificá-lO e meditar nEle, que é a pessoa mais atrativa por causa da plenitude
de Sua opulência. Ele é chamado Hari porque só Ele pode desfazer a existência condicionada de um ser vivo. Se
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queremos realmente nos livrar da existência condicionada, devemos fazer perguntas relevantes sobre a Verdade
Absoluta para que Ele Se sinta inclinado a conceder-nos a libertação perfeita na vida” (®r…mad-Bh€gavatam 2.1.5).
®r… ®ukadeva Gosv€m… usa particularmente quatro palavras em relação com a Personalidade de Deus Absoluta.
Essas palavras distinguem a Pessoa Absoluta, ou Para-brahman, de outras pessoas, que são qualitativamente iguais a
Ele. A Personalidade de Deus Absoluta é chamada de sarv€tma, ou onipenetrante, porque ninguém está à parte dEle,
embora ninguém tenha essa compreensão. A Personalidade de Deus, através de Sua representação plenária, reside no
coração de todos como Param€tm€, a Superalma, juntamente com cada alma individual. Portanto, toda alma individual
tem um relacionamento íntimo com Ele. O esquecimento deste íntimo relacionamento que existe eternamente com
Ele é a causa da vida condicionada desde tempos imemoriais. Mas, por Ele ser Bhagav€n, ou a Personalidade Suprema,
Ele pode imediatamente reciprocar ao chamamento de um devoto. Além disso, por Ele ser a pessoa perfeita, Sua
beleza, opulência, fama, força, conhecimento e renúncia são todos fontes ilimitadas de bem-aventurança
transcendental para a alma individual. A alma individual torna-se atraída por todas essas diferentes opulências quando
elas são imperfeitamente representadas por outras almas condicionadas, mas a alma individual não se satisfaz com
essas representações imperfeitas, e por isso perpetuamente busca o perfeito. A beleza da Personalidade de Deus não
tem comparação, tampouco Seu conhecimento e renúncia. Mas, acima de tudo, Ele é …vara, ou o controlador
supremo. No momento estamos sendo controlados pela ação policial desse grande rei. Este controle policial é imposto
sobre nós por causa de nossa desobediência à lei. Mas, porque o Senhor é Hari, Ele é capaz de fazer desaparecer a
nossa vida condicionada, dando-nos total liberdade na existência espiritual. Portanto, é dever de todo homem fazer
perguntas relevantes sobre Ele e, desse modo, voltar ao Supremo.
Investigação da alma
Há alguns anos, um distinto grupo de profissionais se reunia em Ontário (Canadá), para discutir “os
problemas associados aos intentos de definir o momento exato da morte”. Entre os membros do grupo se
encontravam o Dr. Wilfred G. Bigelow, cardiólogo mundialmente famoso, o senhor magistrado Edson L. Hines,
da Corte Supremo de Ontário, e J. Francis Leddy, presidente da Universidade de Windsor. O Dr. Bigelow susteve
a existência da alma, e solicitou uma investigação sistemática para determinar o que é a alma e de onde ela
vem. Os comentários do Dr. Bigelow e dos outros membros do grupo foram logo publicados na Montreal
Gazette. Quando ®r…la Prabhup€da leu o artigo, ele escreveu uma carta ao Dr. Bigelow, na qual apresentou
conhecimento védico substancial acerca da ciência da alma, e sugeriu um método prático para entendê-la
cientificamente. Em continuação reproduzimos o artigo da Gazette e a resposta de ®r…la Prabhup€da.
Título da Gazette: “Cirurgião cardiólogo quer saber o que é uma alma”
WINDSOR — Um cirurgião cardiólogo do Canadá mundialmente famoso diz acreditar que o corpo tem uma alma
que vai-se embora à hora da morte e sobre a qual os teólogos deviam tentar descobrir mais coisas.
Dr. Wilfred G. Bigelow, chefe da unidade de cirurgia cardiovascular no Hospital Geral de Toronto, disse que “sendo
uma pessoa que crê na existência de uma alma”, ele achava que era chegado o momento de “desvendar o mistério
dessa alma e descobrir o que ela é”.
Bigelow foi membro de um júri convocado perante a Sociedade Médico-legal do Condado de Essex para discutir
problemas ligados as tentativas de definir o momento exato da morte. A questão tem se tornado vital na era dos
transplantes de corações e outros órgãos, cedidos por doadores sujeitos a morrer inevitavelmente.
A Associação Médica Canadense produziu uma definição amplamente aceita de morte: momento em que o
paciente entra em coma, não responde a estímulos de espécie alguma e as ondas cerebrais registradas em uma
máquina são horizontais.
Os outros membros do júri foram o Sr. Justice Edson L. Hianes da Corte Suprema de Ontário e J. Francis Leddy.
presidente da Universidade de Windsor.
Bigelow, elaborando os pontos que levantou durante a discussão, disse em uma entrevista posterior que seus trinta
e dois anos como cirurgião não lhe deixavam dúvida alguma sobre a existência da alma.
“Há determinados casos em que acontece a gente estar presente no momento em que as pessoas passam do estado
de vida ao da morte, e algumas transformações misteriosas acontecem”.
“Uma das mais notáveis é a repentina falta de vida ou brilho nos olhos. Eles se tornam opacos e literalmente sem
vida”.
“Isto é apenas para testemunhar o que temos observado. De fato, não creio que isso possa ser bem documentado”.
Bigelow, que se tornou mundialmente renomado por seu trabalho pioneiro na técnica cirúrgica do “congelamento
profundo” conhecida como hipotermia e por sua cirurgia da válvula do coração, disse que a investigação da “alma”
deveria ser feita pela teologia e disciplinas aliadas dentro da universidade.
Durante essa discussão, Leddy disse que “se existe uma alma, você não vai vê-la. Você não vai encontrá-la”.
“Se há um princípio vital ou vida, que principio é este?” O problema é que “a alma não existe em nenhuma parte
específica, geograficamente. Ela está em toda a parte e, todavia, não está em parte alguma do corpo”.
Seria “bom começar experimentando, mas eu não sei como o senhor vai poder penetrar nessas coisas,” disse
Leddy. Ele disse que a discussão o lembrava do cosmonauta soviético que regressou do espaço para informar que
Deus não existia, porque não O vira lá em cima.
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Talvez seja assim, disse Bigelow, mas, na medicina moderna, quando se encontrava algo que não podia ser
explicado, “a senha é descobrir a resposta, levar o caso ao laboratório, levá-lo a algum lugar onde se possa descobrir a
verdade”.
A questão central, disse Bigelow, seria “onde está a alma e de onde ela vem?”
®r…la Prabhup€da dá as evidências védicas
Meu caro Dr. Bigelow:
Saudações. Recentemente li um artigo na Gazette por Rae Corelli, intitulado “Cirurgião cardiólogo quer saber o que
é uma alma”, que me despertou muito interesse. Seus comentários mostram uma compreensão profunda, e por isso eu
pensei em escrever-lhe sobre este assunto. Talvez o senhor saiba que eu sou o fundador-€c€rya da Sociedade
Internacional para a Consciência de Krishna. Tenho vários templos no Canadá — Montreal, Toronto, Vancouver e
Hamilton. Este movimento para consciência de KŠa destina-se especificamente a ensinar a todas as almas sua
posição espiritual original.
Indubitavelmente, a alma está presente no coração da entidade viva, e é a fonte de todas as energias para a
manutenção do corpo. A energia da alma se espalha por todo o corpo, e isso se chama consciência. Uma vez que essa
consciência espalha a energia da alma por todo o corpo, podemos sentir dores e prazeres em qualquer parte do corpo.
A alma é individual, e transmigra de um corpo a outro, assim como uma pessoa transmigra da primeira infância à
segunda infância, da segunda infância à adolescência, da adolescência à juventude, e depois à velhice avançada.
Então, a mudança chamada morte ocorre quando mudamos para um novo corpo, assim como trocamos uma roupa
velha por outra nova. Isso se chama transmigração da alma.
Quando a alma quer desfrutar deste mundo material, esquecida de seu verdadeiro lar no mundo espiritual, ela
aceita essa vida de árdua luta pela sobrevivência. Esta vida inatural de repetidos nascimento, morte, velhice e doença
pode ser parada quando sua consciência é encaixada na consciência suprema de Deus. Esse é o princípio básico de
nosso movimento para consciência de KŠa.
Quanto ao transplante de coração, não há possibilidade de sucesso a menos que a alma esteja no coração. De modo
que a presença da alma tem de ser aceita. No intercurso sexual, se não há alma, não há concepção, nem gravidez. Os
anticoncepcionais deterioram o ventre para que este não seja mais um bom lugar para a alma. Isso vai de encontro à lei
de Deus. Pela ordem de Deus, a alma é enviada a um ventre particular, mas através desses métodos anticoncepcionais
aquele ventre é-lhe negado e ela tem de ser colocada em outro ventre. Isso é desobediência ao Supremo. Por exemplo,
tomemos um homem que vive num apartamento particular. Se a situação ali é tão conturbada que ele não pode sequer
entrar no apartamento, então ele leva uma grande desvantagem. Isso é interferência ilegal e é passível de punição.
A aceitação da “investigação sobre a alma” marcaria certamente um avanço da ciência. Mas o avanço da ciência não
será capaz de encontrar a alma. A presença da alma pode simplesmente ser aceita com base em um entendimento
circunstancial. O senhor encontrará na literatura védica que a dimensão da alma é de uma décima milésima parte do
tamanho de um ponto. O cientista material não pode medir as dimensões de um ponto. Portanto, não é possível que o
cientista material apreenda a alma. Podemos simplesmente aceitar a existência da alma, baseando-nos na autoridade.
O que os maiores cientistas tentam descobrir nós já ensinamos há muito tempo.
Tão logo se entenda a existência da alma, pode-se imediatamente entender a existência de Deus. A diferença entre
Deus e a alma é que Deus é uma alma muito grande, e a entidade viva é uma alma muito pequena; mas,
qualitativamente, eles são iguais. Portanto, Deus é onipenetrante e a entidade viva é localizada. Mas a natureza e
qualidade são as mesmas.
A questão central, diz o senhor, é: “Onde está alma e de onde ela vem?” Isso não é difícil de entender. Já discutimos
que a alma reside no coração da entidade viva e que ela se refugia em outro corpo após a morte. Originalmente, a alma
vem de Deus. Assim como uma centelha vem do fogo, e ao cair parece extinguir-se, a centelha-alma originalmente
vem do mundo espiritual para o mundo material. No mundo material, ela cai sob três condições diferentes, que são
chamadas os modos da natureza. Quando uma centelha de fogo cai sobre a grama seca, a qualidade ígnea continua;
quando cai no solo, ela não pode revelar sua manifestação ígnea a menos que o solo esteja em situação favorável; e
quando cai na água, ela se extingue. Sendo assim, encontramos três tipos de condições de vida. Uma entidade viva está
completamente esquecida de sua natureza espiritual; outra está quase esquecida mas ainda tem um instinto da
natureza espiritual; enfim, outra está completamente em busca da perfeição espiritual. Há um método genuíno para a
centelha espiritual alcançar a perfeição espiritual, e se ela é devidamente orientada, é facilmente encaminhada de volta
ao lar, de volta ao Supremo, de onde ela caiu originalmente.
Será uma grande contribuição para a sociedade humana se esta informação autorizada da literatura védica for
apresentada ao mundo moderno com base no entendimento científico moderno. O fato já existe. Resta ser
apresentado para o entendimento geral.
Atenciosamente,
A.C. Bhaktived€nta Swami
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