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ARTIGO ORIGINAL
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM
NEFROPATIA DIABÉTICA EM HEMODIÁLISE, EM IPATINGA-MG
CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF DIABETIC
NEPHROPATHY PATIENTS IN HEMODIALYSIS IN IPATINGA/MG
Matheus de Navarro Guimarães Godinho1, Eberaldo Severiano Domingos2
RESUMO
Introdução: A nefropatia diábetica é a principal
etiologia de insuficiência renal crônica em pacientes
iniciando tratamento em hemodiálise, nos países
desenvolvidos. Sua incidência vem aumentando
e o custo do tratamento é elevado, tornando-se um
problema de saúde pública. No Brasil, existe uma
carência de dados, em âmbito nacional, sobre essa
população e suas características. Objetivo: Avaliar
o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com
nefropatia diabética em hemodiálise, em um centro
de terapia renal substitutiva, em Ipatinga-MG/
Brasil. Métodos: Estudo descritivo, transversal e
quantitativo, com uma amostra de 86 pacientes com
nefropatia diabética em hemodiálise, no qual foram
avaliadas variáveis clínicas e sociodemográficas,
obtidas através de questionário elaborado pelos
autores. Resultados: A amostra foi constituída por
86 indivíduos diabéticos com insuficiência renal
crônica, em hemodiálise, dos quais 50 (58,1%) eram
1
2
ABSTRACT
Introduction: Diabetic nephropathy is the main
etiology of chronic renal failure in patients starting
hemodialysis treatment in developed countries. Its
incidence is expanding and the costs are increasing,
becoming a public health problem. In Brazil there
is a lack of information on this population and its
aspects in national level. Objective: To evaluate the
clinical and epidemiological profile of patients with
diabetic nephropathy in hemodialysis in a renal
replacement therapy center in Ipatinga/MG, Brazil.
Methods: Descriptive, transversal and quantitative
study with a sample of 86 patients with diabetic nephropathy in hemodialysis, evaluated by clinical and
socio-demographic variables obtained through a
survey form developed by the authors. Results: The
sample consisted of 86 diabetic patients with chronic
renal failure in hemodialysis, of which 50 (58.1%)
were men, 23 (26.7%) were over 60 years-old, 73
(84.9%) were retirees, 57 (66.3%) were diabetic and
Médico residente de clínica médica do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Nefrologista. Preceptor de clínica médica no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.
Autor Correspondente: Matheus de Navarro Guimarães Godinho
Hospital Márcio Cunha / Fundação São Francisco Xavier
Rua dos Caetés 320/406 - Ipatinga/MG - CEP: 35162-038. Telefone: (31)87759935. E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 30/03/2015
Aprovado para publicação em 19/02/2016
Revista Ciência e Saúde
46
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
homens, 23 (26,7%) acima de 60 anos, 73 (84,9%)
aposentados, 57 (66,3%) diabéticos e hipertensos, 64
(77,1%) apresentaram hipotensão durante sessão de
hemodiálise. Conclusão: Este estudo possibilita mais
conhecimento sobre o perfil dos pacientes portadores
de uma patologia relevante para a implementação de
políticas públicas no âmbito da saúde, bem como,
para os serviços de terapia renal substitutiva e equipes
multidisciplinares que prestam assistência ao portador
de doença renal crônica.
hypertensive patients, 64 (77.1%) had hypotension
during hemodialysis session. Conclusion: This study
enables a greater knowledge of the profile of patients
with relevant conditions for implementing public
health policies as well as for renal replacement therapy services and multidisciplinary teams qualified
to provide healthcare to patients with chronic kidney
disease.
Keywords: Diabetic nephropathy. Hemodialysis.
Chronic Renal Failure.
Palavras-chave: Nefropatia diabética. Hemodiálise.
Insuficiência renal crônica.
INTRODUÇÃO
A Nefropatia Diabética (ND) é a principal causa
de Insuficiência Renal Crônica (IRC) em pacientes
iniciando tratamento em Hemodiálise (HD), nos
países desenvolvidos, representando quase 50% dos
novos casos1,2 e grande responsável pelo crescente
número de pacientes nos países em desenvolvimento.3
Dados europeus e norte-americanos mostram que sua
incidência tem aumentado, progressivamente, ao
longo dos anos.2,4
A excreção urinária de albumina (EUA), aumentada
na ausência de outras doenças renais, é o que define
a ND e sua mensuração pode ser feita por um
exame urinário.5 O curso clínico apresenta-se em
três fases evolutivas, conforme a EUA e a função
renal.6 A patogênese da ND é complexa, envolvendo
a interação de múltiplos fatores relacionados ao
distúrbio metabólico e às variáveis genéticas.7
A IRC é uma enfermidade que interfere nas
condições psicológicas do paciente, além de gerar
consequências físicas, alterar seu cotidiano e interferir
no papel desse indivíduo na sociedade em que vive.8
Nos Estados Unidos e na grande São Paulo, a HD é a
forma de tratamento mais utilizada em pacientes com
Revista Ciência e Saúde
IRC terminal secundária à ND.9
No Brasil, o número estimado de pacientes em
diálise, em 2012, foi de 97.586 pacientes, cerca de
28,5% destes eram diabéticos.4 Considerando o
crescente aumento de indivíduos portadores de IRC, a
situação representa um problema de saúde pública,10
e é relevante para o planejamento desta, pois esses
pacientes necessitam de cuidados mais complexos,
gerando mais custo, além de apresentar mais
morbidade e mortalidade.11,12,13 Nos Estados Unidos,
os custos para o tratamento dos pacientes com doença
renal terminal por diabetes mellitus (DM) excede o
valor de 9 bilhões de dólares anuais.14
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é
caracterizar o perfil sociodemográfico do paciente com
nefropatia diabética, sob hemodiálise, em tratamento
no Centro de Terapia Renal Substitutiva do Hospital
Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, em
Ipatinga-MG/Brasil.
METODOLOGIA
Este foi um estudo descritivo, transversal e
quantitativo, com finalidade de caracterizar, por
meio de variáveis clínicas e sociodemográficas,
uma população de pacientes com insuficiência renal
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Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
crônica por nefropatia diabética, em tratamento
com hemodiálise, em um centro de terapia renal
substitutiva (CTRS), em Ipatinga-MG/Brasil.
O cálculo utilizado para determinação do tamanho
da amostra, com base na estimativa do total de
pacientes com nefropatia diabética inscritos em
tratamento hemodialítico no hospital, foi n= z².q.p.N/
e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um grau de confiança de
95%, erro máximo permitido de 5% e uma proporção
de interesse de 28,5%, sendo a última referenciada
em Censo dos Centros de Diálise do Brasil de 2012,15
para uma população de 118 pacientes diabéticos,
tendo como valor amostral 86.
Foram elegíveis pacientes com diagnóstico de
nefropatia diabética, com mais de 3 meses em
tratamento hemodialítico, visando excluir possíveis
casos de injúria renal aguda. Os pacientes eram
maiores de 18 anos, capazes de responder ao
questionário proposto, que aceitaram participar do
estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa,
os dados foram coletados a partir de um questionário
elaborado pelos próprios pesquisadores. A entrevista
foi agendada previamente, com participação do
nefrologista de plantão no dia da coleta dos dados, em
um local privado, não interferindo na rotina habitual
do paciente.
Procedimentos que assegurassem a confidencialidade
e privacidade dos pacientes citados nos questionários
foram adotados, garantindo a não utilização das
informações em prejuízo das pessoas, inclusive em
termos de autoestima, prestígio econômico e/ou
financeiro, respeitando a autonomia da instituição.
Os parâmetros analisados foram os sociodemográficos
– sexo, faixa etária, local da residência, estado civil,
escolaridade, ocupação atual, renda mensal, convênio
para tratamento, Sistema Único de Saúde (SUS) ou
Revista Ciência e Saúde
Plano de Saúde, interferência da hemodiálise nas
atividades profissionais, no lazer ou recreação, tipo de
moradia – e clínicos – fatores de risco, comorbidades
associadas, tempo entre diagnóstico e início diálise,
tempo de diálise, história familiar para diabetes
ou doença renal crônica, complicações durante e
frequência da hemodiálise.
Os dados foram analisados empregando-se
estatística descritiva. Para análise estatística,
utilizamos o software SPSS, versão 19.0. As variáveis
quantitativas foram descritas através de média e
desvio padrão, enquanto as qualitativas, através de
frequência absoluta e relativa.
RESULTADOS
No período do estudo, 290 pacientes renais crônicos
foram informados que estavam em tratamento
hemodialítico, no serviço de terapia renal substitutiva
do Hospital Márcio Cunha/FSFX, em Ipatinga-MG/
Brasil. Foram identificados 99 pacientes diabéticos,
uma prevalência de 34,1%.
Em relação aos dados sociodemográficos, dos 86
pacientes, 50 eram do sexo masculino (58,1%) e 36
eram do sexo feminino (41,9%), a média de idade
foi de 54,4 anos, 53 pacientes (61,6%) estavam na
faixa etária entre 41 e 60 anos, 23 (26,7%) acima
dos 60 anos e 5 (5,8%) entre 31 e 40 anos, o mesmo
número estava com idades entre 18 e 30 anos. A
maioria dos pacientes residia em Ipatinga-MG,
totalizando 68 (79,1%). A prevalência de casados foi
destaque, 72 (83,7%), junto com o expressivo número
de aposentados 73 (84,9%). O tipo de convênio
mais utilizado foi o SUS, 80 (93,0%). Analfabetos
somavam 34 (39,5%), e 60 (69,8%) das famílias
sobreviviam com renda mensal entre 1 a 2 saláriosmínimos. Esses dados estão apresentados na Tabela 1.
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Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
Tabela 1 – Variáveis sociodemográficas
Variáveis
n.
o
Conclusão
%
Gênero
Variáveis
n.o
%
Gênero
Masculino
50
58,1
Tipo de moradia
Feminino
36
41,9
Casa própria
76
88,4
Aluguel
10
11,6
Faixa etária
18 l---- 30 anos
05
26,7
Tipo de convênio utilizado
31 l---- 40 anos
05
5,80
Sistema Único de Saúde (SUS)
80
93,0
41 l---- 60 anos
53
61,6
Planos Privados de Saúde
06
7,00
60 ou mais anos
23
26,7
Interferência da hemodiálise na
atividade profissional
Ipatinga
68
79,1
Interferiu
00
0,00
Coronel Fabriciano
09
10,5
Não interferiu
86
100,0
Timóteo
05
5,80
Interferência da hemodiálise nas
atividades de lazer e recreação
Iapu
01
1,20
Interferiu
28
32,6
Mariélia
02
2,30
Não interferiu
58
67,4
Santana do Paraíso
01
1,20
Fonte: dados da pesquisa.
Casado
72
83,7
Solteiro
04
4,70
Viúvo
03
3,50
Separado
07
8,10
Analfabeto(a)
34
39,5
1º grau incompleto
09
10,5
1º grau completo
37
43,0
2º grau incompleto
00
0,00
2º grau completo
05
5,80
3º grau incompleto
00
0,00
3º grau completo
01
1,20
Atuando
00
0,00
Dependente de Terceiros
05
5,80
Aposentado
73
84,9
Licença Saúde
08
9,30
Município onde reside
Estado civil
Escolaridade
Profissão (ocupação)
Continua
Revista Ciência e Saúde
Analisando-se os parâmetros clínicos, é possível
notar que 23 (26,7%) apresentavam tabagismo como
fator de risco, seguido por história familiar de diabetes,
30 (34,8%), e de doença renal crônica, 10 (11,7%).
Somente 10 (11,7%) dos pacientes não indicaram
qualquer dos fatores perguntados. A prevalência
da associação entre diabetes mellitus e hipertensão
arterial sistêmica foi elevada, em 57 (66,3%) dos
participantes. O tempo médio entre a descoberta do
diagnóstico de diabetes e o início do tratamento na
hemodiálise foi de 7,4 anos. 58 (67,4%) dos pacientes
já faziam terapia de substituição renal entre 12 e 60
meses (1 a 5 anos). O tempo médio deste último foi
de 26 meses (quase 2 anos). Quase a totalidade dos
doentes, 85 (98,8%), tinham 3 sessões de terapia por
semana. Esses dados estão apresentados na Tabela 2.
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Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
Tabela 2 – Parâmetros clínicos
Variáveis
Fatores de risco para insuficiência
renal crônica
n.o
Sem fatores de risco
10
Tabagismo
%
Tabela 3 – Complicações apresentadas
durante a sessão hemodialítica
n.o
%
Sem complicações
03
3,50
11,7
Hipertensão arterial
06
7,22
23
26,7
Precordialgia
04
4,81
Etilismo
13
15,1
Vertigem
23
27,7
História familiar de diabetes
História familiar de doença renal
crônica
30
34,8
Hipotensão arterial
64
77,1
Dor abdominal
03
3,61
Cefaléia
12
14,4
Vômitos
07
8,43
03
3,61
10
11,7
Comorbidades Associadas
Hipertensão arterial
00
0,00
Câimbras
Diabetes mellitus
15
17,4
NOTA: Houve mais de uma resposta por entrevistado
Dislipidemia
00
0,00
Hipertensão arterial + diabetes mellitus
Hipertensão arterial + diabetes mellitus
+ dislipidemia
57
66,3
14
16,3
1 l---- 6 meses
10
11,6
6 l---- 12 meses
14
16,3
12 l---- 60 meses
58
67,4
60 ou mais meses
Número de sessões de hemodiálise
por semana
04
4,70
1 vez
00
0,00
2 vezes
01
1,20
3 vezes
85
98,8
4 vezes
00
0,00
Tempo de tratamento hemodialítico
Fonte: Dados da pesquisa.
As complicações durante a sessão de hemodiálise
são frequentes e poucos pacientes, 03 (3,50%),
informaram, durante a entrevista, não ter apresentado
nenhum tipo de sintoma. A queixa mais prevalente
foi hipotensão arterial, 64 (77,1%), seguido por
vertigem 23 (27,7%) e cefaleia 12 (14,4%). Deve-se
ter em consideração que foi permitido mais de uma
resposta ao tópico, por participante. Esses dados estão
apresentados na Tabela 3.
Revista Ciência e Saúde
DISCUSSÃO
A incidência e prevalência de pacientes com
insuficiência renal crônica iniciando tratamento de
hemodiálise vem crescendo progressivamente em
todo o mundo, principalmente na Europa e na região
Norte-Americana. Nessas ocorrências, a nefropatia
diabética tem um papel significativo.2 No presente
estudo, a prevalência de pacientes diabéticos em
terapia de substituição renal foi semelhante ao
encontrado na literatura. Fontes mostram que o
percentual chega próximo a 29% na região Sul do
Brasil.16 Nos Estados Unidos, em 1998, 40% dos
pacientes em diálise eram portadores de DM.17
A faixa etária teve como média 54,4 anos; mais
da metade, 53 (61,6%), encontrava-se com mais
de 40 anos. As pesquisas encontradas na literatura
verificaram que 53,1% dos nefropatas crônicos
estudados compreendiam a faixa etária de 36 a
55 anos,18 57,8% na faixa de 50 a 69 anos19 26,3%
estavam entre a faixa etária de 40 a 49 anos e a mesma
proporção entre 50 a 59 anos,20 49,0% encontravamse entre a faixa etária de 41 a 60 anos.21
Grande parte dos participantes, 68 (79,1%), reside no
município de Ipatinga ou em cidades satélites, como
50
Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG
Coronel Fabriciano, 9 (10,5%), e Timóteo, 5 (5,80%).
Em menor quantidade, temos doentes provenientes
de cidades mais distantes, 4 (4,7%), como Iapu,
Mariélia, Santana do Paraíso. Vale ressaltar que esses
pacientes que se deslocam dos municípios de origem
para a realização da hemodiálise tem aumentado o
tempo e o custo no tratamento, uma vez que, além
do período de permanência na clínica, gastam horas
do dia nas rodovias, sendo que muitos pacientes
necessitam, também, do transporte oferecido pela
rede pública. Um estudo para identificar empecilhos
na sequência do tratamento da hipertensão arterial de
doentes em atendimento ambulatorial mostrou que,
dos 41,2% doentes do ambulatório que consideraram
a distância do serviço de saúde como dificuldade para
continuar seu tratamento, 57,2% justificaram ser por
motivos relacionados ao número de conduções e o
tempo gasto nesse transporte.22
Quanto à variável profissão (ocupação), a
maioria, 81 (94,2%) dos entrevistados, encontravase aposentada ou com licença saúde. Essa é uma
realidade entre os portadores de insuficiência renal
crônica em tratamento hemodialítico, sendo que
a aposentadoria é considerada uma condição de
vida imposta pela doença. Nenhum participante
estava trabalhando, e 5 (5,80%) são dependentes
de terceiros, como familiares, para sobrevivência
financeira. Outras pesquisas, que também estudaram
as mesmas variáveis em pacientes renais crônicos em
hemodiálise, encontraram os mesmos resultados, ou
seja, mais ocorrência de pacientes aposentados, com
licença saúde, ou que não trabalhavam, mas todos
com valores inferiores aos citados acima: 67,5% 20
e 51,4%.21
Neste estudo, 76 (88,4%) doentes informaram ter
sua casa própria e apenas 10 (11,6%) moravam de
aluguel. Como muitos pacientes são impossibilitados
para o trabalho, pelas complicações da doença,
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diminuindo, dessa forma, a sua renda mensal, o fato
de grande parte dessa população não necessitar de
direcionar a sua renda para o pagamento de aluguel
é uma vantagem. Para o Ministério da Saúde, as
condições sociais de uma população têm peso
expressivo na determinação de seu perfil de saúde.23
O elevado número de pacientes que utiliza como
convênio o Sistema Único de Saúde (SUS), 80 (93,0%),
reflete o perfil dos pacientes que é mais encontrado
em todo o Brasil. Esse dado é destacado no Relatório
do Censo Brasileiro de Diálise Crônica 2012,15 em
que, das 255 unidades de hemodiálise participantes,
83,9% dos pacientes eram reembolsados pelo SUS.
Nenhum dos participantes alegou que a hemodiálise
interferiu em suas atividades profissionais.
Acreditamos que esse fato está relacionado, talvez,
com o início da hemodiálise, já durante o afastamento
do trabalho, seja por aposentadoria ou licença saúde.
Pode ter ocorrido por algum desvio de entendimento,
em relação à pergunta, pelos participantes. Um
pesquisador, em seu estudo, observou que 64,8%
dos pacientes mencionaram ter ocorrido alguma
interferência da doença crônica no trabalho e
atividades do lar.24
Os entrevistados, em sua maioria, 57 (66,3%),
apresentaram diabetes mellitus e hipertensão arterial
sistêmica. É importante destacar a associação entre as
duas, pois elas se interagem de forma íntima, podendo
uma ser causa ou consequência da outra. Um defeito
na função renal, quase certamente, está associado à
patogenia da HAS primária, enquanto que a IRC é a
causa mais comum de HAS secundária.25
Somente uma pequena minoria de pacientes não
relatou nenhuma complicação durante a sessão
de hemodiálise. O grande destaque fica com os
que apresentaram hipotensão arterial, 64 (77,1%).
Vertigem foi queixada por 23 (27,7%) e cefaleia
por 12 (14,4%). Autores defendem que as principais
51
Matheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos
complicações durante a realização da hemodiálise
são: hipotensão (20 a 30% das diálises), câimbras (5
a 20%), náuseas e vômitos (5 a 15%), cefaleia (5%),
dor no peito (2 a 5%), dor lombar (2 a 5%), prurido
(5%) e febre e calafrios (menos que 1%).26
CONCLUSÃO
Este estudo possibilita mais conhecimento acerca
do perfil dos pacientes portadores de uma patologia
relevante para a implementação de políticas públicas
no âmbito da saúde, assim como, para um melhor
planejamento do cuidado à saúde, contribuindo para
a melhoria das condições de vida desses pacientes.
Espera-se que as informações adquiridas a partir
dos resultados desta pesquisa sirvam como subsídio
para elaboração de estratégias e intervenções para o
controle das doenças-bases precursoras da IRC, bem
como, para os serviços de terapia renal substitutiva e
equipes multidisciplinares que prestam assistência ao
portador de doença renal crônica, no âmbito estadual.
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