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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)
CARACTERIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES AVÍCOLAS EM DIVERSOS
MUNICÍPIOS DO ESTADO DE RONDÔNIA
Osvaldo Resende
Jessé Alves Batista
Silvestre Rodrigues
Resumo: O objetivo no presente trabalho foi avaliar as características tipológicas dos aviários
destinados à criação de frangos de corte nos municípios de Cacoal, Pimenta Bueno, Espigão
D’oeste e Rolim de Moura, localizados no estado de Rondônia. Os aviários da região
pesquisada podem ser caracterizados como de avicultura moderna, pois foram
predominantemente concebidos em grandes dimensões e trabalham com alta densidade de
alojamento. A avicultura nessa região apresenta bom nível tecnológico devido aos sistemas de
acondicionamento térmico relatados em todas as granjas visitadas, com uso de ventiladores,
nebulizadores, aquecedores e a presença de telas e cortinas. Apenas em alguns quesitos, podese dizer que os aviários não estão em total acordo com as exigências técnicas recomendadas
na literatura, tais como: altura de mureta, distância entre galpões, paisagismo circundante,
pilares intermediários, presença de oitões fora dos padrões e ausência de lanternins. Uma
pequena parte dos galpões apresentou cobertura com telha de fibrocimento e a principal fonte
de abastecimento de água é o poço semi-artesiano.
Palavras-chave: Técnicas construtivas, avicultura, conforto animal.
Abstract: The arm of this study is to evaluate the typological characteristics of aviaries for
creation of hens in the Cacoal, Pimenta Bueno, Espigão D’oeste and Rolim de Moura cities,
which are located in Rondônia state. The aviaries of the researched region can be
characterized as modern poultry, because they were predominantly conceived in big
dimensions and they work with high density of housing. The poultry in this region presents
good technological level determined by the thermal packing presented in all visited poultry
farms that
use fans, nebulizers, heaters, steel fence and curtains. The aviaries don't
accomplish the technical demands recommended by literature in aspects like height of wall,
distance between sheds, surrounding landscape, intermediate pillars, end gable walls out of
pattern and lack of skylights. A small part of the sheds presented asbestos cement tile and the
main water source is semi-artesian well.
Key-words: Building techniques, poultry, animal comfort.
1. Introdução
As instalações para aves diferem das destinadas a outros animais, não só sob o ponto
de vista higiênico, como também no manejo da criação. O criador irá dispor de área
relativamente pequena para maior número de animais. Os projetos devem prescrever e
preencher as condições que permitam o seu bom funcionamento, ressaltando-se também a
parte econômica da construção. Deve ser simples, permitindo menor tempo na sua execução e
a utilização de materiais acessíveis (PEREIRA, 1986).
Recebido em 11/12/2009 e aprovado em 14/05/2009.
Gl. Sci. Technol., v. 01, n. 09, p.71 - 81, dez/mar. 2008.
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O. Resende et al.
A avicultura brasileira é hoje a
atividade agropecuária que abrange um dos
maiores acervos tecnológicos. Entretanto até
pouco tempo atrás pouca atenção era dada às
técnicas de alojamento e, efetivamente, ao
ambiente de criação das aves (FURTADO et
al., 2005).
A produção de aves em alta densidade
passou a ser imperativa e, dessa forma, a
exigência de conforto térmico ambiental, que
já havia se desenvolvido com o aumento da
precocidade das aves, tornou-se ainda maior
como conseqüência da elevação da densidade
de alojamento. Assim, para se manter
competitiva, a indústria avícola brasileira está
tendo de evoluir, rapidamente, de uma
situação de quase indiferença aos princípios
do acondicionamento térmico ambiente, para
uma situação em que cada empresa ou
integração deve tomar decisões relativas à
adoção de concepções arquitetônicas e
manejos inovadores, associados aos sistemas
de acondicionamento térmicos naturais e
artificiais compatíveis com a sua realidade
(TINOCO, 2001).
Nos últimos anos, as instalações
destinadas à produção avícola no Brasil
destacaram-se pelo aumento da densidade de
criação que visa à otimização de mão-deobra, equipamentos, transporte, assistência
técnica e, sobretudo, instalações (FURTADO
et al., 2005).
Segundo (ZANOLLA et al., 1999)
com
o
aumento
das
fronteiras
mercadológicas, do consumo per capita e da
demanda
de
exportação,
torna-se
imprescindível que a indústria avícola
brasileira busque alternativas para manter-se
competitiva. Uma solução que vem sendo
adotada consiste no aumento da densidade de
alojamento, o que representa maior produção
de aves por área de galpão considerando-se,
como alta densidade, de acordo com diversos
autores, produções acima de 30 kg carne de
ave por m2 o que corresponde de 10 a 12 aves
por m2.
Adequar a edificação avícola ao clima
de um determinado local e a uma
determinada exploração significa criar e
construir espaços, tanto interiores quanto
exteriores, ajustados às necessidades dos
indivíduos que a ocupam e que possibilitem
aos mesmos condições favoráveis de
conforto. O projeto deve amenizar as
sensações de desconforto impostas por climas
rígidos, tais como excessivo calor, frio ou
vento, como também propiciar ambientes que
sejam, no mínimo, confortáveis, como os
espaços ao ar livre em climas amenos, para
que altos índices de produtividade sejam
atingidos (TINOCO, 2001).
A orientação leste-oeste em galpões
para confinamento de animais é recomendada
universalmente, a fim de minimizar a
incidência direta do sol sobre os animais
através das laterais da instalação, já que,
nesse caso, o sol percorre ao longo do dia
sobre a cumeeira da instalação.
A distância entre galpões é um fator
que deve ser levado em consideração, pois
ela pode diminuir a possibilidade de
disseminação de doenças. Segundo Albanez
(2000), a distância mínima entre os galpões
deve ser de 30 metros, e em casos de lotes
com aves de diferentes idades por galpão,
essa distância deve ser, no mínimo, de 50
metros.
Pereira (1986) afirma que, para a
execução das fundações, devem-se utilizar
blocos de concreto simples para a fixação dos
esteios e pequenos alicerces contínuos que
podem ser de alvenaria de pedra ou de tijolos
para as muretas. O piso mais utilizado,
segundo o autor, é o concreto simples, traço
1:3:5 (cimento, areia e brita), na espessura de
0,06 m. Sobre o piso, coloca-se um
revestimento de cimento e areia, traço 1:4
alisado com desempenadeira. Em todo o
perímetro da construção, como proteção
contra a umidade, deve-se construir uma
calçada com 0,50m de largura.
As muretas podem ser construídas de
alvenaria de tijolos. Na face superior,
deixam-se, espaçadas de 0,50m, pontas
salientes de arame grosso que servirão,
depois de dobradas, para a fixação da tela.
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Caracterização de instalações...
Para Baêta (1995), citado por Furtado et al.
(2005), a largura do galpão tem grande
influência no condicionamento térmico
interior e em seu custo, existindo tendência
mundial de se projetarem galpões com 12 m
de largura por 125 m de comprimento, com
vistas a otimizar o uso de equipamentos
modernos. Por outro lado, Abreu (2003)
recomenda a largura máxima de 10 metros
para galpões situados em regiões de clima
quente e úmido, como é o caso da região
norte.
Segundo Abreu (2003), para regiões
de clima quente, recomenda-se que o oitão ou
paredes das extremidades sejam de telas
como nas laterais e providos de cortina. Caso
haja indisponibilidade desse material, o
mesmo pode ser substituído por madeira,
nesse caso faz-se necessário o uso de abertura
para ventilação. Recomenda-se, também, que
essas paredes sejam pintadas em cores claras.
Furtado et al. (2003) sugerem que a
cobertura do galpão seja realizada em duas
águas, devido à facilidade de execução e por
proporcionar
melhor
acondicionamento
térmico. Quanto ao tipo de telha, o autor
afirma que em regiões de clima quente, a
utilização de telha de barro cerâmica
apresenta
melhores
valores
de
acondicionamento térmico para a criação de
frangos de corte quando comparadas com
telhas de outros materiais, tais como a telha
de cimento-amianto. O autor menciona ainda
que,
para
melhores
resultados
de
acondicionamento interno do galpão, além da
telha de barro cerâmica, deve-se providenciar
a utilização de nebulizadores e ventilação
artificial.
A inclinação do telhado afeta o
condicionamento térmico ambiental no
interior do aviário. Quanto maior a inclinação
do telhado, maior será a ventilação natural
devido ao termossifão. Inclinações entre 20 e
30º têm sido consideradas adequadas para
atender as condições estruturais e térmicas
(ABREU, 2003).
O lanternim, abertura na parte
superior do telhado, é indispensável para se
conseguir adequada ventilação, pois permite
a renovação contínua do ar pelo processo de
termossifão, resultando em ambiente
confortável.
O lanternim
deve
ser
confeccionado em duas águas, disposto
longitudinalmente na cobertura e possuir um
sistema que permita fácil fechamento com
tela de arame nas aberturas para evitar a
entrada de pássaros (ABREU, 2003).
O comprimento do beiral tem grande
relevância na construção de um moderno
aviário, uma vez que este detalhe construtivo
opera sobre um dos temas mais discutidos na
avicultura, a insolação no interior do galpão,
o que afeta diretamente no acondicionamento
térmico interior do galpão. Para regiões de
clima quente, ele se torna ainda mais
importante, pois a temperatura influencia
diretamente na produtividade das aves. Nesse
sentido, os beirais devem estar de acordo com
o que indica o cálculo de inclinação solar
para cada região.
A mureta deve ter a menor altura
possível, aproximadamente 0,2 m, permitindo
a entrada do ar no nível das aves, evitando a
entrada de água de chuva e que a cama seja
arremessada para fora do aviário (ABREU,
2003).
Entre a borda da mureta e o telhado,
deve ser colocada uma tela de arame à prova
de pássaros e insetos, como também a
instalação de cortinas para evitar penetração
de sol e chuva e controlar a ventilação no
interior do aviário (TEIXEIRA, 1997).
O pé direito do aviário pode ser
estabelecido em função da largura adotada,
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O. Resende et al.
de forma que os dois parâmetros em conjunto
favoreçam a ventilação natural no interior do
aviário com acondicionamento térmico
natural. Quanto mais largo for o aviário,
maior será a sua altura, como representado na
Tabela 1. O pé direito é elemento importante
para favorecer a ventilação e reduzir a
quantidade de energia radiante vinda da
cobertura sobre as aves. Estando as aves mais
distantes da superfície inferior do material de
cobertura, receberão menor quantidade de
energia radiante, por unidade de superfície do
corpo, sob condições normais de radiação.
De acordo com Tinoco (1995) citado por
Abreu (2003), quanto maior o pé-direito da
instalação, menor é a carga térmica recebida
pelas aves.
Tabela 1. Determinação do pé-direito em função da largura do aviário.
Largura do aviário (m)
Até 8 metros
8 a 9 metros
9 a 10
10 a 12
12 a 14
Fonte: Tinoco (1995) citado por Abreu (2003).
Pé-direito mínimo em climas quentes (m)
2,80
3,15
3,50
4,20
4,90
De uma maneira geral, recomenda-se
a construção de galpões sem a presença de
pilares intermediários, uma vez que este tipo
de estrutura irá dificultar a circulação do ar
dentro do galpão e atrapalhar no manejo
diário das aves, além de dificultar o trânsito
de veículos no interior do galpão
(FURTADO et al., 2005).
Da mesma forma, podem ser
utilizados os comedouros automáticos e
mecanizados. O conjunto consiste, em um
depósito metálico para a ração com
capacidade de 500 kg de onde saem os
comedouros que são fabricados de calhas de
chapas galvanizadas. A ração é transportada
por meio de correntes ou espirais formando
um circuito fechado. O comprimento da linha
é variável conforme o número de aves e todo
o conjunto é regulável de modo a permitir sua
plena utilização de acordo com a idade da
criação (PEREIRA, 1986).
Segundo Klosowski et al. (2004),
existem disponíveis no mercado, diversos
modelos e capacidades de bebedouros,
confeccionados em diferentes materiais,
destacando-se o tipo “nipple” e o tipo calha.
O “nipple” possui válvula de metal que,
quando acionada pela ave por meio do bico,
libera água automaticamente por pressão, não
requerendo higienização constante ou
abastecimento. É indicado para todas as
fases, porém com custo de implantação
elevado. O bebedouro calha pode ser com
válvula ou bóia automática, confeccionado
em metal com custo relativamente baixo,
porém com maior possibilidade de
contaminação da água. Segundo Mazzuco et
al. (1997), há também o tipo calha com água
corrente, que oferece água fresca, porém
exige maior fluxo de água no sistema. Para
Teixeira (1997), no tipo calha, existe a
indicação de um centímetro por ave e, para o
tipo “nipple”, é indicado um bico para dez a
quinze aves.
Entre os sistemas tradicionais de
bebedouros para frangos de corte, incluem o
sistema pendular. Nestes, a água desce pela
base, cai direto na bacia, ficando armazenada
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Caracterização de instalações...
e à disposição das aves com volume
constante, sendo liberada à medida do se
consumo e exposta às condições ambientais
em contato com poeira, restos de ração e
elevadas temperaturas, que podem levar à
contaminação por microrganismos. Devido a
esses fatores, os bebedouros do tipo “nipple”
apresentam vantagens sobre os bebedouros
pendulares, melhorando a qualidade da cama,
reduzindo mão-de-obra, além de ser um
sistema fechado capaz de assegurar a boa
qualidade da água e reduzir os riscos de
contaminação (VALIAS & SILVA, 2001).
Em pesquisa realizada por Valias &
Silva (2001), a água fornecida às aves usando
o sistema de bebedouro pendular apresentou
altos índices de contaminação microbiológica
em todas as idades avaliadas (1, 14, 28 e 42
dias), mesmo usando cloração contínua com
1 e 2 mg/L de cloro residual livre. No sistema
de bebedouro “nipple”, os índices de
contaminação da água foram inferiores aos
apresentados pelo bebedouro pendular.
Mesmo assim, foram enquadrados fora dos
padrões para água potável.
Santos et al. (2000) afirmam que os
materiais utilizados como cama de aviário
(cepilho de madeira, casca de arroz, casca de
café e sabugo de milho triturado) não
apresentam efeito no desempenho das aves. A
granulometria mais fina dos materiais de
cama testados melhorou a conversão
alimentar, o peso vivo e o fator de produção
das aves aos 42 dias de idade.
Diante do exposto, objetivou-se, com
o presente trabalho, realizar um levantamento
sobre as principais características tipológicas
dos aviários para a criação de frangos de
corte, existentes em diversos municípios do
estado de Rondônia.
Cacoal, com latitude de 11º 26' 19" S e
Longitude de 61º 26' 50" W, e também nos
municípios do Cone Sul do estado, Espigão
D’Oeste, com Latitude de 11º 31' 29" S e
Longitude de 61º 00' 46" W, Pimenta Bueno,
com Latitude de 11º 40' 21" S e Longitude de
61º 11' 37" W, estando esses municípios
localizados na porção ocidental da região
norte do Brasil.
Para execução do trabalho, foram
visitadas dezenove instalações existentes
nessas regiões e observadas as tipologias ou
principais características dos aviários para
frangos de corte, durante o período de julho a
novembro de 2007.
Para a coleta de dados, foi utilizado
questionário de acordo com a metodologia
descrita por Furtado et al. (2005), contendo
os seguintes itens a serem avaliados: número
de galpões por granja; capacidade de
alojamento por granja; capacidade e
densidade de alojamento por galpão; direção
dos galpões e a distância entre si;
comprimento e largura dos galpões;
paisagismo circundante; paredes laterais;
cobertura, estruturas de sustentação e
lanternins; beiral e pé-direito; pilares,
muretas, cortinas e telas; tipo de piso e cama;
sistemas de aquecimento; fontes de
abastecimento de água; tipos de comedouros
e bebedouros; ventiladores, nebulizadores e
aspersores sobre a cobertura. Para a análise
da tipologia dos aviários, utilizou-se da
estatística descritiva.
2. Material e métodos
O presente trabalho foi realizado nas
granjas de criação de frangos para corte,
localizadas nos municípios de Rolim de
Moura, parte leste da região da zona da mata
do estado de Rondônia, com Latitude de 11º
48' 13" S e Longitude de 61º 48' 12" W e 3. Resultados e discussões
Gl. Sci. Technol., v. 01, n. 09, p.71 - 81, dez/mar. 2008.
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O. Resende et al.
A região estudada abrange uma área
Na Tabela 2, estão apresentados o
de 19.855,3 km², representando 8,32% do número de galpões por granja, o alojamento
estado de Rondônia, sendo responsável por de aves por galpão e o número de aves por
aproximadamente 45% do total do efetivo do granja.
rebanho de do estado (IBGE, 2005).
Tabela 2. Número de galpões por granja (unidade, %), alojamento de aves por galpão
(unidade, %) e alojamento de aves por granja (unidade, %).
Número de galpões por granja
Alojamento por galpão
Alojamento por granja
Unidade (U)
%
Unidade (U)
%
Unidade (U)
%
U≤1
31,5
U < 17.000
15,7
U < 50.000
52,6
2≤U≤4
63,1
17.000 ≤ U ≤ 23.000
47,3
50.000 ≤ U<100.000
42,1
U>4
5,2
U > 23.000
36,8
U ≥ 100.000
5,2
Com relação ao número de galpões
por granja, observa-se, na Tabela 2, que a
maioria das instalações possuía de 2 a 4
galpões (63,1%), seguida de uma parcela que
apresentava um galpão (31,5%), assim como
apenas uma granja obteve mais de 4 galpões
(5,2%). Em relação à capacidade de
alojamento dos galpões, verificou-se que uma
grande proporção (47,3%) apresentou
capacidade ideal, conforme sugerido por
Tinoco (2001) citado por Furtado et al.
(2005), entre 17 mil e 23 mil aves; seguida de
36,8% das granjas que apresentaram
capacidade superior a 23 mil aves, e, por fim,
uma pequena parcela de granjas (15,7%) que
possuía capacidade inferior a 17 mil aves. Em
se tratando da produção por granja, nota-se,
ainda na Tabela 2, que apenas uma instalação
possuía capacidade comparativa aos padrões
atuais sugeridos por Tinoco (2001) citado por
Furtado et al. (2005), que recomenda
capacidade acima de 100 mil aves por granja.
Esta constatação pode ser explicada pelo fato
da grande maioria das granjas apresentarem
pequeno número de galpões. Em relação às
demais instalações, oito granjas (42,1%)
apresentaram capacidade entre 50 e 100 mil
aves, e dez granjas (52,6%) apresentaram
capacidade inferior a 50 mil frangos.
Quanto à densidade de alojamento,
verificou-se que 43,9% dos galpões
trabalhavam com valores superiores aos
padrões recomendados por Zanolla et al.
(1999) que sugere no máximo 12 aves por m2
para regiões de clima tropical; vinte galpões
apresentavam densidade entre 11 e 12 aves
por m2, o que é considerado ideal por este
pesquisador, e três galpões possuíam
capacidade inferior a 11 aves por m2,
evidenciando que a avicultura da região
analisada busca adequar esta característica ao
recomendado para moderna avicultura. Essa
alta densidade de alojamento pode ser
explicada pelos fatores climáticos e também
pelo fato de que grande parte das granjas
visitadas trabalhe em sistema de integração
com a Globoaves. Nesse sistema, existe uma
relação de fidelidade entre o proprietário da
granja e a empresa, que garante todas as
condições necessárias para o criador realizar
um bom manejo das aves lhe fornecendo
desde os pintinhos até a ração. Em
contrapartida, exige do proprietário a
adequação e a manutenção das estruturas em
conformidade
com
suas
exigências,
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Caracterização de instalações...
garantindo ao criador a compra do lote
fechado de animais e tendo o proprietário a
obrigação contratual de exclusividade de
compra pela empresa parceira ou investidora.
Em relação ao posicionamento dos
galpões, observou-se que as dezenove granjas
visitadas estavam orientadas corretamente na
direção leste-oeste, ou seja, de acordo com as
exigências estabelecidas por Moura (2001)
para regiões de clima quente.
Na Tabela 3, estão apresentadas as
dimensões, comprimento e largura dos
galpões, bem como a distância entre eles.
Observa-se que a maioria das granjas
visitadas e que possuía mais de um galpão
(75%) não mantinham uma distância mínima
entre galpões de 30 metros, portanto, não se
enquadraram às recomendações técnicas
sugeridas por Albanez (2000). Em relação à
largura e comprimento dos galpões, observase que a maior parte das granjas visitadas
apresentava as dimensões de acordo com a
descrição de Furtado et al. (2005), galpões
entre 10 e 17 m de largura e comprimento de
100 a 125 m. Este dado é relevante, pois
indica a elevada capacidade de alojamento
por galpão da maioria das granjas visitadas.
Tabela 3. Distância entre os galpões (m), comprimento (m) e largura dos galpões (m).
Distância entre os galpões
Comprimento dos galpões
Largura dos galpões
D – metro
%
C – metro
%
L – metro
%
D < 30
75,0
C < 100
4,8
L < 10
0,0
D ≥ 30
25,0
68,3
10 ≤ L ≤ 17
95,1
26,8
L > 17
4,9
100 ≤ C ≤ 125
C > 125
Na Tabela 4, estão apresentadas as
condições de paisagismo ao redor dos
galpões e as espécies utilizadas. Verifica-se
que a maior parte das granjas visitadas
apresentava algum tipo de paisagismo ao
redor dos galpões, estando essas granjas de
acordo com as recomendações técnicas
propostas por Abreu (2003), que sugere a
existência de paisagismo ao redor dos
galpões. Observa-se, ainda na Tabela 4, que
as espécies utilizadas foram eucalipto
(35,7%), fícus (20,2%), teça (14,7%),
bananeira (14,7%) e bambu (14,7%).
Tabela 4. Paisagismo ao redor dos galpões (%) e espécies utilizadas (%).
Paisagismo
%
Espécies utilizadas
%
Com paisagismo
79,0
Eucalipto
35,7
Sem paisagismo
21,0
Fícus
20,2
Teca
14,7
Bananeira
14,7
Bambú
14,7
Gl. Sci. Technol., v. 01, n. 09, p.71 - 81, dez/mar. 2008.
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O. Resende et al.
Verificou-se que a maioria dos
galpões, 56%, apresentaram oitões ou paredes
das extremidades construídos apenas em
madeira do tipo convencional sem abertura
para ventilação, seguidos por 14,6% dos
galpões que apresentavam persiana em
madeira sem cortinas, 12,1% do tipo persiana
em madeira mais cortina, 12,1% construídos
apenas em cortinas e telas, 2,4% em concreto
com cortina e ainda 2,4% apenas com
cortinas. O fato de mais da metade dos
galpões apresentarem essas paredes em
madeira sem abertura para ventilação, aliado
ao fato de que 30% desses galpões não
apresentavam essas estruturas pintadas com
cores claras, demonstra que as granjas
visitadas não estão de acordo com as
recomendações técnicas sugeridas por Abreu
(2003).
As dezenove instalações analisadas
apresentaram cobertura em duas águas, fato
justificado pela menor mão-de-obra na
construção desse tipo de telhado. Sobre a
telha utilizada nos galpões, 76% era de telha
cerâmica e 24% de telha de fibrocimento.
Estando, portanto, a maioria das granjas
atendendo as recomendações técnicas
sugeridas por Pereira (1986) e Furtado et al.
(2003), que ressaltam o melhor conforto
térmico nas instalações construídas com
telhas cerâmicas.
Observou-se que todas as granjas
apresentavam a inclinação do telhado ideal
ou próxima às recomendadas por Abreu
(2003), que sugere valores entre 20° e 30°.
Nos galpões com cobertura de telha de barro
cerâmica,
a
inclinação
era
maior
comparativamente
aos
galpões
que
utilizavam cobertura com telhas de
fibrocimento.
Verificou-se, também, que nenhuma
das granjas visitadas apresentava lanternins,
esse fato pode ser justificado pela falta de
conhecimento por parte dos criadores da
importância desse elemento construtivo em
regiões de clima quente. A inexistência de
lanternins impede que o ar quente seja
expelido para fora da construção e também
diminui as correntes de convecção natural
causando a redução da movimentação de ar e
prejudicando o conforto térmico dos animais
no interior das instalações.
A estrutura dos telhados de todas as
granjas visitadas foi confeccionada em
madeira, possivelmente pela facilidade de
aquisição desse material na região, e também
pela facilidade de construção e baixo custo
comparativamente à estrutura metálica.
Assim, todas as granjas visitadas estão de
acordo com as recomendações técnicas
mencionadas por Pereira (1986).
Na Tabela 5, estão apresentados os
materiais utilizados para a execução dos
pilares, altura do pé-direito e comprimento
dos beirais dos galpões.
Tabela 5. Material dos pilares, altura do pé-direito (m) e comprimento do beiral (m).
Material dos pilares
Altura do pé-direito (H)
Comprimento do beiral (B)
%
H – metro
%
B – metro
%
Madeira
69,3
H = 3,0
80,6
B ≥ 1,0
26,8
Concreto
22,7
H < 3,0
11,3
0,80 ≤ B < 1,0
53,6
Madeira e concreto
8,0
H > 3,0
8,1
B < 0,80
19,5
Observa-se, na Tabela 5, a predominância de seguidos de 22,7% de galpões que
galpões com pilares de madeira (69,3%), apresentaram pilares de concreto, e uma
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Caracterização de instalações...
menor parte dos galpões com pilares externos
em concreto e os internos em madeira (8,0%).
A maioria dos galpões (67,4%) apresentava o
vão intermediário livre para o trânsito de
caminhões e o restante (32,6%) possuía
pilares intermediários, sendo esta situação
desaconselhada para modernas construções
de aviários para não prejudicar a circulação
de ar e facilitar o manejo no interior das
instalações (FURTADO et al., 2005).
Ainda na Tabela 5, verifica-se que a
maioria das granjas (80,6%) apresentaram
galpões com pé-direito igual a 3,0 m, sendo
que apenas uma pequena percentagem de
galpões (11,3%) apresentou altura inferior a
este valor, e uma parcela ainda menor (8,1%)
apresentou pé-direito superior a esta
magnitude. Os resultados demonstram que a
maioria das granjas está em acordo com os
padrões mencionados por Moura (2001).
Correlacionando a altura do pé-direito com a
largura do galpão, conforme recomendação
de Abreu (2003), verifica-se que nenhuma
das granjas visitadas apresentou galpões com
altura ideal de pé-direito.
Em relação ao comprimento do beiral,
neste trabalho foi utilizado o cálculo de
inclinação solar para avaliação deste
parâmetro. Nesse caso, considera-se a altura
média das muretas de todos os galpões, assim
como a altura média do pé-direito dos
mesmos. Esses valores obtidos são
relacionados com o período de maior
inclinação solar do ano e a latitude da região
abrangida. O resultado do cálculo apontou
para uma recomendação de comprimento de
beiral igual a 1,70 m. Verifica-se, na Tabela
5, que os galpões apresentaram comprimento
de beiral inferior ao recomendado pelo
cálculo de inclinação solar e evidencia, ainda,
que a maioria dos galpões (73,1%)
apresentou beirais com comprimentos
inferiores a 1,0 m. Dessa forma, verifica-se o
desconhecimento, por parte dos avicultores
da região, sobre a importância de detalhes
construtivos de uma granja, uma vez que o
beiral interfere de maneira significativa no
acondicionamento térmico no interior do
galpão, atuando na incidência de radiação
solar e também na entrada de água da chuva.
De acordo com os resultados, os
dezenove aviários avaliados possuem cortinas
e telas nas paredes laterais em perfeitas
condições de uso e cobrindo toda a extensão
das laterais dos galpões.
Em relação às muretas, verificou-se
que 29,3% dos galpões apresentaram altura
de 0,2 m, estando, portanto, de acordo com as
recomendações técnicas prescritas por Abreu
(2003), porém 70,7% dos galpões
apresentaram
valores
superiores
aos
mencionados por este autor, distribuídos da
seguinte forma: 24,4% dos galpões possuem
muretas com altura entre 0,2 e 0,4 m, outros
24,4% com muretas de altura igual a 0,4 m, e
por fim 21,9% dos galpões com muretas
acima de 0,4 m. Destaca-se, portanto, que a
grande maioria dos galpões não se enquadra
nas recomendações técnicas descritas por
Furtado et al. (2005).
Os aviários visitados apresentaram
piso em chão batido, o que pode ser
explicado pela simplicidade e menor custo na
execução deste tipo de pavimento e, também,
pelo fato de que os avicultores entrevistados
desconhecem a importância da utilização do
piso em concreto, que proporciona melhor
conforto as aves e melhora a sanidade da
cama (PEREIRA, 1986).
Em relação à cama, observou-se uma
pequena variabilidade de material, sendo que
a maravalha mista, 81,5%, é a mais utilizada,
seguida de palha de café, 18,5%. Fato este,
possivelmente, pode ser justificado pela
facilidade de aquisição desses materiais,
principalmente em se tratando da maravalha,
além de ser um dos materiais mais
recomendados pela literatura para esta
finalidade.
Sobre o acondicionamento térmico
para as aves, a pesquisa demonstrou que
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O. Resende et al.
100% das granjas visitadas possuem
aquecedores, sendo que as campânulas a gás
estão sendo substituídas por aquecedores à
lenha, que já atendem 52,6% das granjas
visitadas. Em todos os aviários pesquisados,
verificou-se a presença de ventiladores e
nebulizadores, que são responsáveis pelo
resfriamento dos galpões. Dessa forma, as
granjas estão seguindo as recomendações
técnicas relatadas por Furtado et al. (2003).
Os principais tipos de comedouros
utilizados são os manuais (57,8%) e os
automáticos (42,2%) e, em 36,3% das granjas
visitadas, notou-se a utilização de
comedouros
infantis
associados
a
comedouros adultos. Os comedouros
manuais, além de ocuparem maior espaço,
exigem limpeza mais freqüente e podem
causar estresse nas aves (FURTADO et al.,
2005).
Em relação aos bebedouros, verificouse que 100% dos aviários apresentavam
bebedouros do tipo “niplle” e, em alguns
casos (21%), esses bebedouros apresentavam
a bandeja para diminuição de desperdício.
Sendo assim, as granjas estão atendendo às
recomendações técnicas sugeridas por Valias
& Silva (2001).
Na Tabela 6, estão relacionados os
tipos de abastecimento de água presentes nas
granjas visitadas, onde se observa a
predominância de poços semi-artesianos
(42,1%), seguidos pelo abastecimento por
meio de barragem (26,3%), nascente própria
(21%) e poço comum (10,5%).
Tabela 6. Principais sistemas de abastecimento de água das granjas visitadas.
Sistemas de abastecimento de água
%
Poço semi-artesiano
42,1
Barragem
26,3
Nascente própria
21,0
Poço comum
10,5
4. Conclusões
Os
aviários
pesquisados
nos
municípios de Cacoal, Espigão D’Oeste,
Pimenta Bueno e Rolim de Moura, situados
no estado de Rondônia, podem ser
caracterizados como de avicultura moderna,
pois foram predominantemente concebidos
em grandes dimensões e trabalham com alta
densidade de alojamento. A avicultura nessa
região apresenta bom nível tecnológico
devido aos sistemas de acondicionamento
térmico relatado em todas as granjas
visitadas, com uso de ventiladores,
nebulizadores, aquecedores e a presença de
telas e cortinas. Apenas em alguns quesitos,
pode-se dizer que os aviários não estão em
total acordo com as exigências técnicas
recomendadas na literatura, tais como: altura
de mureta, distância entre galpões,
paisagismo
circundante,
pilares
intermediários, presença de oitões fora dos
padrões e ausência de lanternins. Uma
pequena parte dos galpões apresentou
cobertura com telha de fibrocimento. A
principal fonte de abastecimento de água é o
poço semi-artesiano.
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Caracterização de instalações...
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