boletín - Red Sudamericana de Atención Farmacéutica

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boletín - Red Sudamericana de Atención Farmacéutica
BOLETÍN
Red Sudamericana de Atención Farmacéutica
Boletín (Red Sudam. Aten. Farm.)
Colaborando con la investigación, investigando para salvar vidas
Volumen 5, Nº 1
Edición: 2011
Artículos recibidos
Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção
farmacêutica: Um ensaio reflexivo
www.redsaf.org
Djenane Ramalho de Oliveira
Farmacéutica de la Universidad Federal de Minas Gerais
Doctora en Social & Administrative Pharmacy - Universidad de Minnesota
Resumo
Boletín
(Red Sudam. Aten. Farm.)
ISSN 1998-0426
Artículos recibidos
1–9
REDSAF BLOG
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Considerando que a escola é uma instituição que influencia ou instrumentaliza diversas
interpretações do mundo, enquanto educadores nos perguntamos: como estamos
influenciando ou modulando as experiências acadêmicas dos nossos estudantes?
Inspirado principalmente no trabalho de Paulo Freire, este ensaio constrói uma crítica sobre
a formação do farmacêutico, convidando o leitor a pensar numa educação profissional
engajada com o mundo e voltada para transformar o mundo. Me posiciono como educadora,
portanto política, que tem o propósito de trabalhar com estudantes a fim de ajudálos a
superar a posição da adequação ao mundo e a assumir uma posição de inserção/
intervenção no mundo. Numa formação crítica devemos nos perguntar qual conhecimento é
considerado legítimo e o porque desta legitimação. Por exemplo, na indústria da saúde, e
conseqüentemente na Farmácia, existe um enfoque excessivo na racionalidade técnica conhecimento objetivo, linear e mensurável - enquanto outros tipos de conhecimentos são
deixados em segundo plano. Assim, na formação de um futuro cuidador, como é o caso do
profissional da atenção farmacêutica, precisamos criar experiências que facilitem a
aproximação do estudante às experiências das pessoas doentes, enfatizando outro tipo de
conhecimento - o conhecimento da pessoa. Vivemos um momento de transição do
profissional focado no produto para o profissional focado na pessoa, e neste contexto,
entendemos que existe um choque entre valores emergentes, em busca de afirmação, e os
valores do “ontem”, em busca de preservação. Portanto, é importante que estudantes
tenham a consciência da autoria humana na construção do mundo social, e se posicionem
como agentes da história. Para que conteúdos e posicionamentos críticos penetrem os
espaços de formação do farmacêutico, precisamos avançar na utilização de metodologias de
ensino que fomentem a dialogicidade e a construção de uma cultura educacional onde o
estudante possa vivenciar de forma visceral esses valores. Precisamos criar uma contracultura.
Palavras-chave: educação crítica; atenção farmacêutica; construção social da realidade;
medicalização.
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Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção farmacêutica:
Um ensaio reflexivo
Introdução
Hoje, enquanto preparava o café da manhã, ouvia meu programa de rádio preferido, um programa de entrevistas
que discute temas atuais e usualmente polêmicos. A entrevistada de hoje foi Randi, mulher educadora e escritora
que recentemente publicou um livro, “The boy who loves tornados”, onde ela relata sua experiência como mãe de
um filho autista que desenvolveu comportamento psicótico em torno dos 15 anos de idade. Foi uma entrevista difícil
de escutar, uma vez que motivou sentimentos de tristeza, e muitas vezes de revolta. Ela relatava sua trajetória no
sistema de saúde, seus inúmeros contatos com diferentes profissionais, e sua busca por entendimentos sobre o que
estava acontecendo com o seu filho. Ela precisava de um diagnóstico, de um rótulo para a condição do seu filho,
para poder se comunicar mais facilmente com as diversas pessoas e organizações da indústria da saúde. Durante a
entrevista ela narrava o impacto que a doença do seu filho tem em sua família, sua filha, seu ex-marido, e na sua
própria vida. Ela discutiu o problema do estigma, ainda tão prevalente nas nossas sociedades com relação as
pessoas com sofrimento mental. Randi disse que é como se a sua família vivesse numa caixa de vidro, e
freqüentemente eles se chocam com as paredes dessa caixa, o que representa, na sua perspectiva, os limites
impostos pela sociedade às pessoas consideradas “anormais”. “Isso não é um estudo clínico, isso é a vida do meu
filho, é a minha vida, é a vida da minha família...”, disse ela a entrevistadora em um certo ponto da conversa.
Essa história me tocou profundamente enquanto eu tentava me colocar no lugar daquela mulher. Como deve ser ter
um filho com sofrimento mental? Claro que é impossível para mim me colocar no lugar daquela mulher! Porém, após
ouvir aquela entrevista me sinto mais sensível a esse tipo de experiência. Já compreendo um pouco mais o
significado de ter um membro da família com sofrimento mental. A minha experiência de ouvir essa história, e de em
algum momento imaginar que aquela mulher poderia ser eu (afinal nós duas somos mulheres e professoras
universitárias!), me transformou. Como diz o educador Paulo Freire, “so é possível dar nome depois de fazer as
coisas, quando digo ‘darás nomes às coisas’, eu digo ‘transformarás o mundo’”1. Ou seja, o mundo, ou minhas
experiências com o mundo, por exemplo a experiência de ouvir uma entrevista como a de Randi, vem antes da
palavra, ou do nome que dou àquela experiência. E quando eu nomeio essa experiência eu já estou me inserindo no
mundo, já estou transformando o mundo. Porém, existem várias formas de interpretar o mundo, como diz o próprio
Freire, e portanto existem várias formas de dar nomes às coisas. E a escola, ou a universidade, é uma instituição
que influencia ou instrumentaliza interpretações do mundo, ou de experiências. Aí surgem os questionamentos que
tentarei abordar no decorrer deste ensaio: Enquanto educadores, como estamos ajudando nossos estudantes a
interpretar as suas próprias experiências com o mundo? Quais interpretações do mundo estamos compartilhando
com os nossos estudantes? Como estamos influenciando ou modulando as experiências acadêmicas dos nossos
estudantes?
Posicionamento da educadora: Formas de Ser e de Saber
Sempre recomendo aos meus estudantes que sejam abertos e explícitos no momento de apresentar suas idéias e
de construir seus argumentos, por exemplo, explicitando os motivos que os levaram a fazer essa pergunta e não
aquela outra pergunta. Como seres humanos, sempre nos engajamos em qualquer empreendimento carregados de
suposições sobre o mundo e sobre como as coisas funcionam. Assim, antes de discorrer em defesa de uma
formação específica para o profissional farmacêutico, considero oportuno explicitar minhas motivações teóricas e
minhas suposicões. Posiciono-me como uma educadora que deseja participar de um processo de formação
profissional crítico, preparando um profissional que, utilizando Paulo Freire como inspiração, se insira no mundo ao
invés de um profissional que se adeque ao mundo. Freire discute brilhantemente a diferença entre adaptação e
inserção no mundo. Na adaptação ao mundo há uma adequação, há um ajuste do corpo às condições materiais,
sociais, econômicas e históricas do mundo, enquanto na inserção no mundo há uma tomada de decisão no sentido
da intervenção no mundo.
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Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção farmacêutica:
Um ensaio reflexivo
Ele diz “recuso como falsa, como ideológica, essa afirmação que diz que a realidade é isso mesmo. Nenhuma
realidade é isso mesmo, toda realidade esta aí, submetida a possibilidade de nossa intervenção nela.” Faço destas
palavras as minhas próprias.
Assim, como educadora também sou política, e meu propósito é trabalhar com estudantes a fim de ajudá-los a
superar a posição da adequação ao mundo. Para tanto, procuro formas diversas e pouco usuais de apresentar o
mundo para estudantes de Farmácia, expondo-os a experiências que sejam capazes de estimular o surgimento de
palavras que atuam, que transformam. Paulo Freire dizia que “falar a palavra que atua, que transforma, já é começar
a transformar”. Acredito na palavra, e no seu poder de conformar ou de transgredir. Além disso, entendo que o ser
político do educador está na sua forma de se posicionar no mundo, o que influencia sua forma de ensinar e de se
relacionar com o estudante. Assim como na política, não creio na neutralidade do educador, ou no educador
“emcima do muro”. O educador neutro já se posicionou. Ela acredita que o papel do educador é simplesmente
relatar os fatos, que fatos são verdadeiros, independentemente das intenções e do sistema de crenças do
observador, e que não é papel da escola formar a pessoa, mas somente preparar um profissional competente.
Competência neste caso se refere a competência técnica que suprime uma visão total do ser humano. Embutida
nesse posicionamento está a crença que o profissional está acima do mundo, desenraizado do lugar onde as coisas
acontecem, desconectado das experiências humanas e da sua própria existência. Ele ou ela é simplesmente um
profissional, como se não estivesse inserido em um contexto que o influencia e muitas vezes determina o que pensa
e o que faz. Também está implícito aí a crença que o profissional deve se adequar ao invés de transformar a
realidade. Neste caso, o mercado, a indústria da saúde, da forma como está concebida, e o ‘status quo’ são os
referenciais que devem reger a formação profissional. Em contrapartida, acredito em uma educação politizada, que
contribua para o questionamento e intervenção na realidade. A educação deve ser dialógica, ou entre eu e tu, onde
ambos têm o que aprender e o que ensinar. Acredito em uma educação para a decisão, para a responsabilidade
social e política, que vai além do aspecto técnico do profissional. Ademais, acredito numa educação humanizada,
em que a existência e experiências humanas emergem como fatos a serem debatidos e valorizados. Portanto, a
seguir tecerei minha argumentação sobre as formas em que podemos ajudar nossos estudantes a interpretar o
mundo, a nomear suas experiências e, conseqüentemente, a atuar no mundo de forma livre, consciente e
humanizada.
Sobre a validade de OUTROS tipos de conhecimentos relevantes para uma prática farmacêutica centrada na
pessoa
A história de Randi e o seu livro, por exemplo, podem criar uma experiência interessante e importante para um
profissional da saúde, entre eles o farmacêutico. Usualmente, o paciente é apresentado ao estudante da área de
saúde com um quadro clínico de diabetes, de hipertensão arterial ou de esquizofrenia. Sabemos dos valores de
glicemia e de pressão arterial que objetivamos para aquele paciente, dependendo dos seus fatores de risco.
Também sabemos de todas as recomendações que devemos dar a estes pacientes com relação à sua dieta, às
atividades físicas, aos seus níveis de estresse e outros tantos hábitos de vida. Mas, usualmente nos esquecemos de
refletir sobre o ser humano por trás do paciente, do significado de viver com diabetes para ele ou ela, ou de ter um
familiar que vive com sofrimento mental. Como discutido recentemente num artigo sobre a experiência subjetiva com
medicamentos2, na indústria da saúde existe um enfoque excessivo na medicina baseada em evidência e no uso
racional de medicamentos, o que denominei de racionalidade técnico-objetiva, e um descaso aos conhecimentos
relacionados à pessoa, que são únicos e subjetivos. A prática clínica diária não é um estudo clínico, como disse
Randi na sua entrevista. No dia-a-dia o profissional da saúde se depara com pacientes que não aceitam seu
diagnóstico, que não compreendem porque aquilo “aconteceu” com eles, porquê têm diabetes, que não desejam
utilizar múltiplos medicamentos, que têm medo de se submeter a certos procedimentos diagnósticos, e com famílias
destroçadas devido aos problemas de saúde vividos por seus entes queridos2,3,4,5.
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Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção farmacêutica:
Um ensaio reflexivo
Essa é a realidade clínica que a medicina baseada em evidência sozinha não dá conta de acomodar, uma realidade
multifatorial, não linear, e muitas vezes confusa. Como afirmei anteriormente, “...não queremos, de forma alguma,
minimizar a significância da pesquisa científica tradicional no cuidado à saúde das pessoas, mas queremos iluminar
suas limitações e ressaltar a necessidade de superarmos um diálogo estreito que considera somente a racionalidade
técnico-objetiva como real e verdadeira”2. Sabemos que a doença altera o estar-no-mundo das pessoas, uma vez
que transforma a maneira da pessoa interagir com o mundo e com aqueles à sua volta3. Essa experiência, muitas
vezes uma vivência com implicações existenciais, deve ser compreendida pelo cuidador, se quisermos trabalhar
COM as pessoas, ao invés de trabalhar PARA as pessoas4,5,6,7. Da mesma forma, o medicamento não é somente
um objeto que consertará um problema no corpo do paciente, mas possui representações diversas para o paciente,
de acordo com a sua experiência passada e presente3,5,8. Essas experiências vividas com enfermidades ou
medicamentos influenciarão as atitudes e comportamentos do paciente, e conseqüentemente seus resultados em
saúde.
Essas experiências representam um tipo de conhecimento distinto daquele advindo dos ensaios clínicos controlados,
como preconizados pela medicina baseada em evidência ou racionalidade biomédica. Essas experiências refletem
conhecimentos da pessoa, do indivíduo como um sujeito que tem uma biografia pessoal, que ocupa um certo espaço
social e que age de acordo com seus próprios desejos por razões que fazem sentido para ele ou para ela3,9. Este
conhecimento da pessoa deve ser essencial numa prática profissional que proclama ser centrada na pessoa. Com
relação a educação do farmacêutico, precisamos criar experiências que facilitem a aproximação do estudante às
experiências das pessoas doentes e das pessoas possuidoras de diagnósticos médicos. O futuro cuidador deve
aprender a ter curiosidade e a se interessar pelo OUTRO que está doente, e encontrar espaços onde possa dialogar
com essas pessoas para atingir uma maior compreensão das suas experiências. O acesso ao conhecimento da
pessoa se dá pelo contato direto com o indivíduo, preferencialmente durante períodos de tempo mais prolongados, a
fim de conhecer sua trajetória vivida com uma – ou várias – enfermidade(s). Outra forma também bastante efetiva de
acessar indiretamente esse tipo de conhecimento é por meio de leituras de livros biográficos ou de histórias sobre
experiências de pacientes com certas condições clínicas, sobre suas próprias perspectivas. Na minha experiência,
essa tem sido uma prática educacional valorosa para a sensibilização do estudante de Farmácia às experiências
alheias. Nós não precisamos ter vivido diretamente uma experiência para sermos capazes de desenvolver empatia
pela vivência do OUTRO, mas nós precisamos ser capazes de imaginar como deve ser vivenciar aquela experiência
Assim, o educador tem o importante papel de instigar e provocar a imaginação do educando.
Conhecimentos de ontem, ou hegemônicos, e conhecimentos emergentes na profissão de Farmácia
É importante observar que apesar da atenção farmacêutica representar um avanço no processo de
profissionalização da Farmácia – se afastando um pouco do objeto-produto medicamento e permitindo uma maior
aproximação do ser humano – corremos o risco de reafirmar o poder hegemônico da racionalidade médica, ou
racionalidade técnico-objetiva, devido ao nosso desejo de alcançar legitimação dentro do sistema de saúde, e nas
nossas relações com outros profissionais, principalmente o médico. Adicionalmente, dentro da própria profissão
farmacêutica e das suas instituições educacionais, alguns tipos de conhecimentos são considerados mais
“verdadeiros” ou legítimos que outros, como discutiremos a seguir. Aqui se faz necessária uma maior criticidade,
uma vez que podemos observar que normalmente o que é legitimado como conhecimento válido dentro de uma
profissão está governado e limitado por interesses diversos, e frequentemente escusos. A realidade é que diferentes
grupos lutam e competem para impor as suas próprias definições do que é verdade, do que é científico e do que é
legítimo. E enquanto educadores e estudantes, devemos estar conscientes desse tipo de lutas de saberes, ou lutas
epistemólogicas.
Em artigo publicado anteriormente, eu discuto a possibilidade da atenção farmacêutica representar uma
contra-cultura na profissão de Farmácia:
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Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção farmacêutica:
Um ensaio reflexivo
“À primeira vista, esta prática vem preencher uma lacuna de uma profissão há muito deficiente de uma identidade
profissional e, por isso, foi considerada por muitos a nova “razão de ser” ou missão da profissão de Farmácia.
Porém, vista talvez numa perspectiva mais pragmática, essa nova prática também representa uma forma negativa
de cultura, que vem para combater os valores culturais vigentes na profissão. Uma contracultura. Dessa forma, a
atenção farmacêutica apareceria no cenário da Farmácia mundial para contrapor os valores atuais, por
considerá-los ultrapassados. É importante salientar que isso pode ainda representar uma revolução profissional
silenciosa, posicionando os grupos atualmente privilegiados da profissão numa situação de maior vulnerabilidade”10.
Sabemos que as áreas de conhecimento e disciplinas dos currículos de Farmácia que estão relacionadas com as
ciências naturais, como a química, a física e a biologia, detêm poder expressivo dentro das escolas de Farmácia, e
fora delas (por exemplo, nos órgaos de financiamento de pesquisa). Dessa forma, o aparecimento de outros
discursos, como o do cuidado do paciente e a maior ênfase em outros tipos de conhecimentos, mais voltados para
as ciências sociais e humanas, podem representar uma ameaca àqueles que estão no poder.
Wellington Barros da Silva faz uma discussão muito pertinente e rica sobre os coletivos e estilos de pensamento na
profissão de Farmácia e suas trajetórias iniciando com o boticário, passando pelo período pós-indústria
farmacêutica, pela farmácia clínica, até chegar à atenção farmacêutica11. Silva utiliza a teoria de Ludwik Fleck, um
biólogo e médico polonês que viveu na primeira metade do século XX, para analisar a Farmácia historicamente.
Fleck analisa a determinação histórico-social e a influência do grupo social, o que ele chama de coletivo de
pensamento, no processo de produção de conhecimento12. No caso da Farmácia, esses coletivos de pensamentos
são as comunidades de pesquisadores e/ou educadores que são responsáveis pela divulgação de um estilo de
pensamento, compreendido como um conjunto de normas, saberes e práticas que são compartilhados pelos
indivíduos do coletivo de pensamento11. Fleck discute o poder coercitivo do estilo de pensamento prevalente dentro
dos coletivos de pensamento, ou das comunidades. Esta coerção é suave, mas constante e não percebida pelo
grupo social e impede, muitas vezes, formas de ver, pensar e agir diferentes. Saberes e métodos que diferem do
estilo hegemônico de pensamento são inicialmente rechaçados e considerados ilegítimos12. Como esperado, as
transições de um estilo de pensamento para outro, por exemplo da Farmácia focada no produto para a Farmácia
focada no paciente, não se dão de forma tranquila e sem lutas de poder. Toda transição ou mudança é conflituosa,
uma vez que ameaça o “status quo” ou os grupos que estão no poder. Utilizando as interpretações de Paulo Freire
sobre a necessidade de uma educação mais crítica e dialógica no Brasil13, nesses momentos de transição existe um
choque entre valores emergentes, em busca de afirmação, e os valores do “ontem”, em busca de preservação.
Porém, problemas e complicações encontrados dentro do estilo de pensamento prevalente podem levar a uma maior
flexibilização e permeabilidade no interior do coletivo de pensamento, uma vez que este não consegue mais
responder de forma satisfatória às lacunas encontradas no seu contexto. Dessa forma, com o passar do tempo, o
coletivo de pensamento prevalente passa a considerar a possibilidade de validação de outro estilo de pensamento.
De acordo com Silva11, cujas idéias corroboro, a profissão de Farmácia está vivendo esse processo de transição. Os
estilos de pensamentos que levam à pesquisa e ensino nas áreas da produção industrial de medicamentos, da
dispensação farmacêutica, das análises clínicas e até mesmo da farmácia clínica não deram conta de resolver a
crise identitária da profissão, que ainda não tinha um projeto e ideologia profissional que pudesse atender a
demandas sociais específicas. Interessante observar que esta mesma análise que aponta para uma transição
histórica do tipo de conhecimento que é considerado “científico”, “verdadeiro”, ou “falso” dentro de um grupo social é
tambem oferecida por Thomas Kuhn em sua teoria de mudança paradigmática14 e por Michael Foucaut em sua
teoria de épistémè15.
Silva considera que o surgimento da atenção farmacêutica “possibilita pela primeira vez na história da profissão um
deslocamento do seu objeto de conhecimento”, uma vez que o foco do farmacêutico deverá estar centrado na
pessoa11.
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Suponho que podemos harmonizar essas diferenças epistemológicas e, enquanto educadores, devemos encorajar
uma maior diversidade de vozes e celebrar diferenças epistemológicas dentro dos currículos de Farmácia. Acredito
ser essencial compartilhar com estudantes de Farmácia como se deu e como está se dando o desenvolvimento
histórico da profissão. Numa formação crítica e dialógica, todo conhecimento deve ser posicionado historicamente
com o objetivo de ressaltar a construção social do conhecimento e, conseqüentemente, das profissões, evitando
fatalismos do tipo “não tem jeito” , “a realidade é essa mesma”, ou “as coisas sempre foram e continuarão sendo
assim”. Neste sentido, entendemos que a realidade é uma construção humana. Ou seja, os fatos sociais e as
instituições (por exemplo, as profissões) são criados por grupos sociais específicos dentro de um certo contexto.
Estamos nos referindo a consciência da nossa própria autoria do mundo social. Claro que nascemos num mundo
criado por aqueles que vieram antes de nós e por isso temos a tendência de reificar a realidade, ou de
apreendermos os fenômenos humanos como se fossem coisas, quer dizer, como se fossem fenômenos
não-humanos. “Reificação é a apreensão dos produtos da atividade humana como se eles fossem alguma coisa
além de produtos humanos, como fatos da natureza, resultados de leis cósmicas, ou manifestações da vontade
divina”16. Ou seja, somos capazes de esquecer que criamos a realidade, e a interlocução entre o ser humano,
produtor, e os seus produtos é perdida. Neste caso, a mundo reificado é um mundo desumanizado. Quando nos
tornarmos conscientes desse fenômeno, dessa nossa tendência a reificar, compreendemos que o mundo social foi
feito por mulheres e homens, e portanto podemos refazê-lo. Como estudante, educador ou pesquisador na profissão
de farmácia, eu posso me posicionar como um sujeito ou agente da história, capaz de me inserir e transformá-la, ou
reificar minha realidade, desumanizando o mundo social, e assim seguir o curso criado e tomado por colegas que
vieram antes de mim. A pergunta decisiva é se eu quero construir um novo caminho ou se quero reforçar e repetir
um caminho antigo.
A atenção farmacêutica e a medicalização do paciente: Que papel desempenhamos?
Na atenção farmacêutica o profissional cuida e acompanha o paciente a fim de prevenir e resolver problemas
relacionados ao uso de medicamentos (PRM). Neste cenário, a farmacêutica utiliza um processo lógico de tomada
de decisão para identificar possíveis problemas (avaliando inicialmente a indicação dos medicamentos utilizados
pelo paciente, seguido pela avaliação da sua efetividade e segurança, e finalizando com a avaliação da comodidade
dos tratamentos para o paciente ou da possibilidade de adesão), e em seguida ela trabalha com o paciente e outros
membros da equipe para criar um plano de ação específico para esse paciente a fim de garantir que o mesmo
alcance os melhores resultados possíveis em saúde17. É interessante observar que, assim como observa Silva11, o
processo lógico e racional de tomada de decisão em farmacoterapia proposto pelo modelo de prática da atenção
farmacêutica reflete os pressupostos da racionalidade médica, que visa classificar e categorizar a doença, além de
simplificar, sistematizar e generalizar os problemas dos pacientes. No caso da atenção farmacêutica, o profissional
classifica e categoriza os PRM. Por um lado, essa categorização dos problemas é importante e útil, uma vez que
facilita a tomada de decisão do profissional e torna o seu trabalho mais eficiente e reproduzível. Por outro lado, essa
classificação ou categorização nunca é totalmente abrangente, tendendo a ignorar os problemas que não estão
contemplados nas categorias originalmente propostas. O risco que corremos aqui é de uma simplificação dos
problemas apresentados pelo paciente, uma valorização excessiva da técnica e uma subestimação do problema
experienciado pelo paciente.
Michael Foucault em “O nascimento da clínica” discute o que ele denominou “clinical gaze”, ou o olhar clínico do
medico18. De acordo com Foucalt, o olhar clínico do médico foi uma criação discursiva da profissão médica para
aumentar o poder do médico. De acordo com a instituição da medicina, o “clinical gaze” permite ao médico ver o
paciente, ver “a verdade” através do paciente. Este “olhar” foi classificado como o conhecimento prático adquirido
pelo médico na observação do paciente. Em sua análise histórica da profissão médica, Foucault propõe que este
conhecimento prático que permite o desenvolvimento do “clinical gaze” foi uma artimanha linguística criada pela
medicina para legitimar suas práticas de identificação e descrição das doenças, e conseqüentemente o seu poder
sobre os corpos humanos.
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O prestígio deste “olhar” foi aumentado ainda mais com a invenção da classificação das doenças, e posteriormente
glorificado com o surgimento de testes que permitiam ao médico ver através do corpo desnudo19. Nossa
preocupação com a atenção farmacêutica é repetirmos os erros da racionalidade médica e do “clinical gaze”, como
enfatizado e criticado no trabalho de Foucalt. Corremos o risco de encontrarmos PRMs onde estes não existem, e
ignorarmos problemas reais vividos pelo paciente porque não possuímos a categoria apropriada para classificar o
problema. Este seria o “gaze” do profissional da atenção farmacêutica, que poderia então medicalizar o paciente.
Assim como o corpo analisado para identificar órgãos e tecidos é um corpo constituído de órgãos e tecidos, ou
assim como o corpo analisado para identificar problemas psicosociais é um corpo constituído de problemas
psicosociais, como sugere Armstrong20, o corpo analizado para identificar a presenca de PRMs seria um corpo
constituido de PRMs?
Ademais, considero pertinente ressaltar que vários estudos que descrevem os resultados da atenção farmacêutica
demonstram que, em geral, esse serviço tende a incrementar o uso de medicamentos pelos pacientes21,22,23,24,25,26,
uma vez que os problemas de maior prevalência sao os relacionados a utilização de doses baixas de medicamentos
e ao fato do paciente necessitar de medicamento adicional21,24, 26. Portanto, é fundamental que utilizemos nossa
criticidade para uma auto-reflexão sobre quais são os fatores que podem influenciar nossas decisões e
recomendações com relação a farmacoterapia do paciente. Por exemplor, é hora de nos perguntarmos qual seria o
papel da propaganda de medicamentos nas nossas práticas junto ao paciente e junto aos profissionais prescritores.
Ainda com relação à possibilidade de medicalização do paciente, o farmacêutico também corre o risco de estimular a
dependência do paciente com relação ao médico ou ao próprio farmacêutico, privando o paciente da sua autonomia
e liberdade para se engajar no auto-cuidado. Nesse caso, corremos o risco de ‘colonizar’ a prática de auto-cuidado
do paciente. Este é um aspecto que sempre me preocupou na atenção farmacêutica, uma vez que essa prática se
insere muito fortemente no contexto das práticas tanto de automedicação quanto de auto-cuidado das pessoas.
Entendo a ‘colonização’ da prática de autocuidado do paciente como uma certa apropriação do “ser-no-mundo” do
OUTRO se considerarmos que o profissional de saúde, seja médico ou farmacêutico, tem o poder de intervir na
trajetória da enfermidade do paciente sem considerar sua história biográfica, seus conhecimentos (principalmente
aqueles que diferem do conhecimento científico ou da racionalidade médica) adquiridos durante toda sua vida, e sua
capacidade de decisão. Neste sentido, o “ser-no-mundo” do paciente estaria subjugado pelas determinações,
decisões e “prescrições” profissionais. Espero que o profissional da atenção farmacêutica se insira na trajetória do
paciente com a atitude de quem possui conhecimentos especializados para ajudar o paciente a tomar as melhores
decisões possíveis sobre sua saúde, considerando suas experiências, conhecimentos, valores, e desejos. Concordo
que esse provavelmente não seja o caminho mais fácil para o profissional, mas certamente é o caminho em direção
à preservação da autonomia do paciente e da minimização das relações hierárquicas na indústria da saúde.
Rumo a educação humanística e crítica do profissional farmacêutico
Se considerarmos tudo o que foi discutido até aqui, como podemos construir um ambiente apropriado para que
esses assuntos sejam discutidos e criticados por estudantes de Farmácia? Queremos ainda mais, desejamos
testemunhar os nossos estudantes e os futuros farmacêuticos vivenciando estes valores no seu dia-a-dia no mundo.
Por isso, não podemos discutir somente os conteúdos que precisamos ensinar, mas devemos avançar na utilização
de metodologias de ensino que fomentem a criticidade e a dialogicidade, e, muitíssimo importante, que sejam parte
da construção de uma cultura educacional onde o estudante possa viver esses valores. Precisamos criar uma contra
-cultura!
Se quisermos preparar estudantes críticos, teremos que ser críticos como educadores. Se quisermos profissionais
que respeitem o conhecimento e a autonomia dos pacientes, teremos que abrir mão das relações hierárquicas que
usualmente construímos nas salas de aula. Teremos que começar a dizer “não sei”.
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Por uma formação crítico-humanista do profissional da atenção farmacêutica:
Um ensaio reflexivo
Rumo a educação humanística e crítica do profissional farmacêutico
Se considerarmos tudo o que foi discutido até aqui, como podemos construir um ambiente apropriado para que
esses assuntos sejam discutidos e criticados por estudantes de Farmácia? Queremos ainda mais, desejamos
testemunhar os nossos estudantes e os futuros farmacêuticos vivenciando estes valores no seu dia-a-dia no mundo.
Por isso, não podemos discutir somente os conteúdos que precisamos ensinar, mas devemos avançar na utilização
de metodologias de ensino que fomentem a criticidade e a dialogicidade, e, muitíssimo importante, que sejam parte
da construção de uma cultura educacional onde o estudante possa viver esses valores. Precisamos criar uma contra
-cultura!
Se quisermos preparar estudantes críticos, teremos que ser críticos como educadores. Se quisermos profissionais
que respeitem o conhecimento e a autonomia dos pacientes, teremos que abrir mão das relações hierárquicas que
usualmente construímos nas salas de aula. Teremos que começar a dizer “não sei”. Como sugerido por DasGupta et
al27, a criação de um ambiente de ensino não hierárquico onde estudantes são estimulados a criticar, questionar e
desafiar as práticas do professor contribuirá para que os futuros profissionais criem ambientes clínicos semelhantes,
onde pacientes sao encourajados a perguntar, questionar e falar abertamente sobre as suas preocupações e
necessidades.
Não há como ensinar sobre as características do diálogo sem construir uma cultura de dialogicidade em sala de
aula. É com muito desapontamento que afirmo que durante os vários anos que venho ensinando, em diferentes
contextos e países, e trabalhando com estudantes das mais diversas origens e nacionalidades, raramente encontrei
estudantes de Farmácia que possuíam experiências com metodologias não tradicionais de ensino e aprendizagem.
Confesso que isso ainda hoje me surpreende... Mesmo depois de falarmos infinitamente sobre o papel das ciências
humanas e sociais na formação do novo farmacêutico, centrado na pessoa, continuamos ensinando de forma
centrada no professor, com relações hierárquicas que calam o estudante e descontam seu conhecimento. Outro
aspecto digno de nota (e devo dizer que esse me apavora!) é a formação profissional desvinculada da realidade
histórica, social e econômica onde estamos inseridos. Como mencionei antes, ensinamos como se o profissional
estivesse flutuando, descolado do mundo, como se ele não tivesse que viver e atuar profissionalmente no mundo,
como se a realidade não fosse impactar sua vida profissional. Ensinamos como se problemas como inequidade,
racismo, sexismo, discriminação, e injustiça social não existissem, e pior ainda, como se o profissional não tivesse
nada a ver com isso.
Ensinamos para a reificação da realidade ao invés de convidarmos nossos estudantes para se assumirem enquanto
seres pensantes criativos, críticos, sociais, históricos, e transformadores. Uma prática educacional realmente crítica
cria condições para que estudantes sejam sonhadores de possíveis utopias e sintam-se empoderados a contruílas.
Defendo aqui um modelo de ensino em que os diversos conteúdos, por mais “duros” que sejam, sejam ensinados de
forma que ajude o estudante a pensar de forma contextualizada, desde o macrocosmo social com suas inúmeras
construções humanas de formas institucionais até as experiências únicas do indivíduo. O estudante deveria estar
enraizado no mundo, ao invés de suspenso no ar. Este enraizamento proporcionará ao estudante uma maior
conexão com a vida e com o mundo, estimulando-o a se co-responsabilizar pela criação desse mundo. Isso nos
remete à diferenca entre adaptação ao mundo e inserção no mundo apresentada por Paulo Freire. Queremos
preparar profissionais que se insiram, atuem e transformem o mundo.
“Como educador eu posso contribuir para uma assunção crítica da possiblidade da passividade, para irmos além da
passividade, no que eu chamo de posturas rebeldes, e de posturas criticamente transformadoras do mundo.”
Paulo Freire (última entrevista, 1997)
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Referências
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Medical Humanities 2006; 27:245-251.
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REDSAF BLOG
Cuidado de pacientes en entornos virtuales
Los servicios dirigidos hacia los pacientes tienen diversos matices y uno de ellos es
que requiere de una inversión de tiempo, tanto por parte del Paciente para acudir al
sitio de atención como de los Farmacéuticos para tomar el tiempo exclusivo para
ese paciente. En ese sentido, cada vez se hace más imperioso el trabajo con los
pacientes usando los entornos virtuales.
Más información en http://redsaf.org/blog/?p=406
Desarrollo de capacidades para brindar cuidado farmacéutico
Desde hace mucho propugnando que los farmacéuticos tenemos que desarrollar
servicios dirigidos a los pacientes, enfocados en los medicamentos.
¿La educación farmacéutica del pregrado es suficiente para lograr tener las
capacidades para brindar servicios a los pacientes?
Más información en http://redsaf.org/blog/?p=418
Universidades: ¿Preparando farmacéuticos con experiencias
prácticas
La universidad debe estar muy relacionada con la realidad . Sin ello, las enseñanzas
en las aulas quedan de manera referencial y pone a los nuevos profesionales en
dificultades para cubrir las necesidades de los pacientes relacionadas con los
medicamentos de los pacientes.
Más información en http://redsaf.org/blog/?p=422
Boletín (Red Sudam. Aten. Farm.)
ISSN 1998-0426
Directores: Aldo Alvarez Risco, Cristiane Fátima Guarido
Comité de redacción: Kade Birkeland (EEUU), Nery Lara (México), Rodrigo Alvarez Cavero
(Perú), Alina Martinez (Cuba), José Juarez Eyzaguirre (Perú)
Visítanos: http://www.redsaf.org
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