arco esporte e lazer

Transcrição

arco esporte e lazer
Presidência da República
Secretaria - Geral
Secretaria Nacional de Juventude
Coordenação Nacional do ProJovem
Arco Ocupacional
Esporte e Lazer
Coleção ProJovem
Guia de Estudo
Programa Nacional de Inclusão de Jovens
2006
PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS (ProJovem)
Esporte e Lazer : guia de estudo / coordenação, Laboratório Trabalho &
Formação / COPPE - UFRJ / elaboração, grupo de pesquisa anima : lazer,
animação cultural e estudos culturais / UFRJ.
Brasília : Ministério do Trabalho e Emprego, 2006.
162p.:il. — (Coleção ProJovem – Arco Ocupacional)
ISBN 85-285-0078-0
1. Ensino de tecnologia. 2. Reconversão do trabalho. 3. Capacitação para
o trabalho. I. Ministério do Trabalho e Emprego. II . Série.
CDD - 607
T675
Ficha Catalográfica
Presidência da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Secretaria Geral da Presidência da República
Ministro Chefe - Luiz Soares Dulci
Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Patrus Ananias
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Ministro do Trabalho e Emprego
Luiz Marinho
Secretaria-Geral da Presidência da República
Ministro Chefe - Luiz Soares Dulci
Secretaria Executiva
Secretária Executiva - Iraneth Monteiro
Secretaria Nacional da Juventude
Secretário - Luiz Roberto de Souza Cury
Secretaria Nacional Adjunta
Regina Célia Reyes Novaes
Coordenação Nacional do Programa Nacional
de Inclusão de Jovens - ProJovem
Coordenadora Nacional
Maria José Vieira Féres
Assessoria do ProJovem
Articulação com os Municípios
Gilva Alves Guimarães
Administração e Planejamento
Maurício Dutra Garcia
Gestão da Informação
Rosângela Rita Guimarães Dias Vieira
Gestão Orçamentária Financeira
Sérgio Jamal Gotti
Gestão Pedagógica
Renata Maria Braga Santos
Márcia Seroa Motta Brandão
Supervisão e Avaliação
Tereza Cristina Silva Cotta
Comitê Gestor do ProJovem
Comissão Técnica Interministerial
Coordenadora
Coordenadora
Iraneth Monteiro
Maria José Vieira Féres
Integrantes
Integrantes
Luiz Roberto de Souza Cury – SNJ
Maria José Vieira Féres – CNProJovem
Jairo Jorge da Silva – MEC
Ricardo Manuel dos Santos Henriques – MEC
Márcia Helena Carvalho Lopes – MDS
Osvaldo Russo de Azevedo – MDS
Marco Antonio Oliveira – MTE
Antônio Almerico Biondi Lima – MTE
Renata Maria Braga Santos – CNProJovem
Aidê Cançado Almeida – MDS
José Eduardo de Andrade – MDS
Timothy Ireland – MEC
Ivone Maria Elias Moreyra – MEC
Antonio Almerico Biondi Lima – MTE
Ricardo André Cifuentes Silva – MTE
ESPECIALISTAS DO PROJOVEM
Juventude
Regina Célia Reyes Novaes
Educação Básica
Vera Maria Massagão Ribeiro
Ação Comunitária
Renata Junqueira Ayres Villas-Bôas
Coordenadora Pedagógica
Maria Umbelina Caiafa Salgado
Equipe Pedagógica
Ana Lúcia Amaral
Maria Regina Durães de Godoy Almeida
Equipe do Ministério do Trabalho e Emprego
Antônio Almerico Biondi Lima
Misael Goyos de Oliveira
Francisco de Assis Póvoas Pereira
Marcelo Silva Leite
Revisores de Conteúdo / Pedagogia
Leila Cristini Ribeiro Cavalcanti (Coppetec)
Marilene Xavier dos Santos (Coppetec)
Arco Ocupacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia - COPPE
Programa de Engenharia de Produção - PEP
Laboratório Trabalho & Formação - LT&F
Grupo de Pesquisa Anima: lazer, animação cultural e estudos culturais /UFRJ
Coordenação dos Arcos Ocupacionais
Fabio Luiz Zamberlan
Sandro Rogério do Nascimento
AUTORES
Elaboração
Grupo de Pesquisa Anima: lazer, animação cultural e estudos culturais /UFRJ
Coordenação e Elaboração
Prof. Dr. Victor Andrade de Melo
Pesquisa e Elaboração
Prof. Dr. Victor Andrade de Melo
Prof. Ms. Alex Pina
Profa. Ms. Angela Brêtas
Prof. Ms. Coriolano Pereira da Rocha Junior
Prof. Ms. Fabio de Faria Peres
Produtora Cultural Luciana Dantas
Profa. Ms. Maria Inês Galvão Souza
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica (miolo/capa)
Lúcia Lopes
Ilustração
Fernanda Fiani
Montagem Fotos Capa
Eduardo Gregório
Eduardo Ribeiro Lopes
Caros participantes do ProJovem!
Chegamos ao fim da primeira etapa deste processo de Qualificação para o
Trabalho. Nos meses passados, vocês tomaram conhecimento e debateram aspectos
do trabalho que estão presentes em quase todas as ocupações, dentro da Formação
Técnica Geral (FTG). Estudaram conceitos, conteúdos e técnicas relacionadas aos
temas: Mobilidade e Trabalho; Atividades Econômicas na Cidade; Organização
do Trabalho, Comunicação, Tecnologia e Trabalho; Gestão e Planejamento;
Organização da Produção; Outras Possibilidades de Trabalho.
Enfatizamos sua participação em muitas atividades, na escola e fora dela.
Vocês não só resolveram as coisas no papel, mas também exercitaram os
conhecimentos, movimentaram-se na cidade, buscaram informações, fizeram
contatos e conversaram sobre o que estudaram. Teoria e prática andaram juntas.
Parabéns pelos estudos que concluíram!
Após terem feito essa travessia, é chegada a hora de acrescentarmos
conhecimentos que os fortaleçam na formação para o mundo do trabalho. Agora
tem início uma nova fase da Qualificação para o Trabalho, na qual serão tratados os
temas específicos dos Arcos Ocupacionais.
Cada Arco Ocupacional é composto por quatro ocupações e foi construído
com conteúdos que possibilitarão a vocês diversificada iniciação profissional,
abrindo espaço de atuação nessas ocupações. Esta formação
não os tornarão um especialista em cada uma delas, mas vocês
conhecerão muito mais amplamente o trabalho desenvolvido
no conjunto das ocupações.
Por exemplo, você escolheu Esporte e Lazer, vai
iniciar-se em Recreador, Agente Comunitário de Esporte e
Lazer, Monitor de Esportes e Lazer e Animador de Eventos.
Essa variedade de ocupações certamente aumentará as
possibilidades de obtenção de trabalho e emprego.
Desejamos a vocês bom trabalho nesta fase de seus
estudos. Abraços e boa sorte a todos!
Anita
Sumário
INTRODUÇÃO ......................................................................... 9
RECREADOR ................................................................ 13
1
1 - O que chamamos de recreação ...................................... 15
2 - Os diversos tipos de atividades de recreação .............. 21
3 - Como trabalhar com jogos ............................................. 32
4 - Caracterização da ocupação ........................................... 46
5 - Onde trabalha o recreador ............................................. 48
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE
E LAZER ........................................................................ 55
2
1 - O que chamamos de lazer ................................................57
2 - A animação cultural ..........................................................62
3 - Pensando a ação comunitária ..........................................67
4 - Caracterização da ocupação ............................................72
5 - Onde trabalha o agente comunitário
de esporte e lazer...............................................................75
MONITOR DE ESPORTES E LAZER ............................. 79
3
1 - O que chamamos de esporte ...........................................81
2 - Alguns princípios básicos para quem trabalha
com esporte .......................................................................86
3 - Aspectos pedagógicos do trabalho com esportes
e com regras .................................................................... 106
4 - Organização de torneios e campeonatos .................... 119
5 - Caracterização da ocupação ......................................... 135
6 - Onde trabalha o monitor de esportes e lazer ............. 137
ANIMADOR DE EVENTOS ........................................ 139
4
1 - O que chamamos de evento.......................................... 141
2 - Todas as fases de organização de um evento ............. 144
3 - Animando o evento ....................................................... 155
4 - Caracterização da ocupação ......................................... 157
5 - Onde trabalha o animador de eventos ........................ 159
BIBLIOGRAFIA BÁSICA ...................................................... 161
Introdução
Cara aluna, caro aluno
Os temas “esporte” e “lazer” durante muitos anos foram vistos como
assuntos menores, entendidos como “pura diversão”, algo sem maiores conseqüências para a vida das pessoas. Por trás desse pensamento encontramos a
supervalorização do trabalho e da produção econômica, comuns em uma sociedade capitalista como a nossa, onde, em muitos períodos da história e lamentavelmente até os dias de hoje, a qualidade de vida foi algo abandonado
em nome do lucro financeiro de poucos.
Felizmente as coisas estão mudando, ainda que um pouco menos rápido
do que desejamos. Aos poucos, vemos aumentar o grau de importância concedido a esses temas de estudo e assim também fica ressaltada a necessidade
de formar com qualidade o profissional que vai atuar nesses campos.
É fato concreto que nas áreas de esporte e lazer crescem visivelmente os
postos de trabalho e as oportunidades de atuação. Governos e empresas em
geral (e aqui também falamos das Organizações Não Governamentais, conhecidas como Ongs) começam cada vez mais a perceber e entender a verdadeira
importância social desse profissional.
Mas não comemoremos muito. Ainda existem muitos preconceitos, muitas imprecisões e muitos equívocos a serem superados em nossas áreas de
atuação. Além de tudo, se o nosso campo de atuação se amplia, isso também
ocorre porque muitos o encaram como simples possibilidade de ganhar dinheiro, o que diminui as contribuições para a educação dos cidadãos e para a
construção de uma nova realidade social, mais digna e mais justa, que ofereça
possibilidades similares a todos.
Foi considerando tais reflexões iniciais que preparamos este curso para
você. Desde logo queremos agradecê-lo por ter escolhido o arco ocupacional
“Esporte e Lazer” e convocá-lo a dar prosseguimento junto conosco às muitas conquistas que ainda temos pela frente. Não pense que é fácil atuar em
nossa área! Os desafios são diversos, a necessidade de dedicação e envolvimento é constante, as dificuldades não são poucas. Mas as possibilidades de
gratificação também são fantásticas e no decorrer do tempo você verá o quanto
é fascinante e multifacetado o nosso exercício profissional. Estamos certos de
que você será mais um parceiro(a) nessa longa jornada que trilharemos juntos.
No material que você agora tem em mãos é possível encontrar as informações básicas para entender um pouco das peculiaridades de algumas ocupações relacionadas à área de esporte e lazer. As quatro ocupações por nós
escolhidas (“Recreador”, “Agente Comunitário de Esporte e Lazer”, “Monitor de Esporte e Lazer” e “Animador de Eventos”) oferecem possibilidades
concretas de inserção profissional. Além de tudo, em tal escolha, tivemos que
considerar o atual estágio de sua formação, sua escolaridade, bem como as
restrições legais existentes.
Temos certeza que você pode conseguir trabalhar em nosso campo,
seja como contratado de alguém ou, ainda mais desejável, criando cooperativas para uma atuação em conjunto. No decorrer de seu curso vá vendo entre
seus colegas aqueles que podem compor contigo uma equipe de trabalho,
aqueles com os quais você tem mais afinidades e confiança, aqueles que
realmente topariam e se interessariam em fazer tal investimento.
Você perceberá nesse material, cuidadosamente organizado para ajudar
a enriquecer e dinamizar sua formação profissional, que algumas informações
podem estar aproximadamente repetidas em diversas ocupações. Isso tem um
motivo claro. Por mais que existam diferenças entre elas, todas compõem o
grande quadro de “profissionais de esporte e lazer”, por isso há reflexões em
comum que permeiam suas formações específicas. Quer uma dica? Não se
limite a buscar somente informações sobre a ocupação de sua preferência.
Leia todo o livro e adquira conhecimento sobre todas elas. Isso certamente
aumentará sua possibilidade de adquirir maior qualidade profissional e ampliará suas oportunidades de atuação.
Obviamente que este curso é só o início de uma longa trajetória. Se ele é
suficiente para te dar uma capacitação inicial, não substitui outros níveis de
formação, nem tampouco o seu empenho diário e cotidiano para ampliar sua
capacitação. Não se contente com este curso inicial! Busque ampliar seus conhecimentos, pense em dar prosseguimento a seus estudos, seja curioso e
inquieto, deseje sempre ser o melhor profissional possível. Certamente seu
professor poderá lhe dar algumas dicas e sugestões. Aproveite ao máximo essa
e outras oportunidades que surgirão em sua vida! Aliás, mais ainda, corra atrás
dessas oportunidades.
Ao final do livro apresentamos uma lista de referências bibliográficas
imprescindíveis à sua capacitação, para que você pesquise e se informe mais
sobre o assunto. Ela pode até não parecer obrigatória, mas acredite, é de grande importância. Quanto mais informações gerais e específicas você buscar
sobre o assunto, mais estará ampliando seus conhecimentos sobre a sua área
de atuação e mais estará enriquecendo a qualidade de sua capacitação profissional!
No mais, desejamos que você tenha um grande curso e que esse seja
realmente útil e prazeroso. Esteja certo que, dentro dos limites de um
curso como esse, organizamos este material com muito carinho e empenho,
com o desejo profundo e sincero de contribuir contigo, na esperança de
que ele possa de alguma maneira colaborar tanto para o seu sucesso profissional quanto para a construção de uma nova realidade, uma nova sociedade, um novo mundo.
Bem, agora é contigo! Mãos à obra e um bom trabalho! Mantenhamos a
esperança viva, nos empenhemos e vamos em frente!
Um abraço e nossos desejos de sucesso,
Victor, Alex, Angela, Coriolano, Fabio, Luciana e Inês
autores do livro
O que chamamos de recreação
INTRODUÇÃO
Mas vamos com calma, pois as coisas não
são tão simples assim. Inicialmente podemos dizer que, por incrível que pareça, algumas pessoas
tendem a não querer ou não valorizar as atividades de recreação. Quais as razões disso? Em nosso mundo há uma supervalorização simbólica do
trabalho e muita gente, influenciada por esse pensamento, acaba deixando de lado seus momentos
de diversão. Algo realmente lamentável e que
deve ser motivo de nossa preocupação e atenção.
RELAÇÕES
RECREADOR
As discussões sobre o conceito de “recreação” têm uma longa trajetória
em nosso país e certamente, nos dias de hoje, se perguntarmos a qualquer
pessoa o seu significado, uma posição ou sugestão será dada sobre o assunto.
Podemos pensar de início que todos indivíduos de alguma forma devem sentir a
necessidade de se “recrear”, o que normalmente é relacionado a algo prazeroso,
divertido e cada vez mais entendido como necessário em nossa vida.
COM O TRABALHO
Vocês já devem ter ouvido a frase “o trabalho enobrece o homem”, mas
provavelmente nunca ouviram “a diversão enobrece o homem”. Não se trata de
dizer que o trabalho é algo menos importante, pois lógico que é uma das dimensões fundamentais para os seres humanos, não só por causa dos aspectos financeiros ligados à possibilidade de se construir uma vida com qualidade, como também
porque deveria ser uma fonte de realização e prazer. Apenas estamos dizendo que
o trabalho não é a coisa mais importante da vida; as atividades de não-trabalho,
entre as quais as de diversão, são tão importantes quanto nossas tarefas funcionais.
Na verdade, já que estamos falando das relações com o trabalho, há um problema ainda maior. Como a maioria da população vive em uma situação financeira
de grande dificuldade, conseqüência de um modelo econômico injusto e cruel, não
são poucos aqueles que acabam ocupando a maior parte do tempo de suas vidas
com tarefas profissionais, trabalham em vários lugares, fazem todo o possível para
ter um padrão de vida um pouco melhor. Há verdadeiramente uma grande exploração de nossa mão-de-obra: trabalhamos muito e ganhamos pouco.
Além disso, aumenta o tempo que dedicamos a outras tarefas decorrentes ou
relacionadas a nosso exercício profissional. Por exemplo, nas grandes cidades a
população menos favorecida normalmente mora nas periferias, longe do centro,
lugar onde habitualmente se encontra o maior número de postos de trabalho. Assim, desperdiçamos um tempo enorme nos locomovendo de nossos lares até a
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empresa, algo que é ainda mais desgastante já que nosso sistema urbano de transporte apresenta grandes deficiências. Parem para pensar e verifiquem quantas
horas por dia algumas pessoas passam dentro de ônibus ou trens no caminho de
casa para o trabalho e vice-versa.
ESPORTE E LAZER
Outro exemplo: cada vez mais levamos “tarefas para casa”, deixamos
para fazer em nossas residências o que não deu tempo para fazer na hora do
trabalho. Isso, além de ser uma injustiça, já que não ganhamos para trabalhar
em casa, reduz ainda mais nosso tempo livre. Que tempo resta para nos divertirmos?
Em decorrência dos problemas econômicos, há ainda outro problema.
Para grande parte da população sobra pouco dinheiro para as atividades de
diversão. Lembremos que muitos mal têm possibilidades de prover com qualidade as suas necessidades básicas, como as de comer, morar, estudar, entre
outras. Nem sempre se divertir é barato em um mundo em que as atividades de
lazer estão inseridas no que chamamos de “sociedade do consumo”.
Isto é, um contexto social onde somos estimulados a consumir a todo instante, em que muitas vezes se valoriza
mais o “ter alguma coisa” do que “ser alguém digno”, em
que alguns poucos podem ter muito e exibir altos padrões
de luxo e conforto, enquanto para a grande maioria isso
não é possível.
O
PROBLEMA DO ACESSO
Acabaram os problemas? Não, ainda há dois que precisam ser
reconhecidos. Um deles é o fato de haver uma concentração de certos “equipamentos culturais” nas áreas “mais nobres” das cidades, aquelas mais próximo do centro ou aquelas onde mora
a população mais rica. Chamamos de “equipamentos culturais” a toda estrutura urbana que pode ser utilizada em
nossos momentos de diversão, isto é, parques públicos,
campos de futebol, áreas livres, cinemas, museus, centros
culturais, teatros, bibliotecas etc.
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Para e pense na sua cidade. Onde estão concentrados os cinemas? Aliás, devemos lembrar que em alguns municípios eles sequer existem! Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) demonstram que somente 7% das cidades do Brasil possuem
este equipamento cultural. E normalmente, onde há, estão localizados longe da
periferia. Quando existem na periferia, comumente a programação é de qualida-
de menor, não há tantas possibilidades de escolha. Isso também pode ser observado com museus, teatros, parques públicos, bibliotecas etc.
Primeiro é bom dizer que logicamente isso nunca vai acontecer por mágica, mas só será possível com luta e reivindicação, quando a população entender
que sua diversão é um direito social como outro qualquer e que deve ser motivo
de sua solicitação freqüente, afinal é tão importante quanto qualquer outra coisa
de sua vida. Segundo, mesmo que isso ocorresse esbarraríamos com outra questão: se não somos educados em nossa vida para conhecer outras formas de diversão, como vamos espontaneamente procurá-las? Não tenderíamos a reproduzir
as coisas que já fazemos usualmente? É provável que sim.
RECREADOR
Bem, abordemos então o último problema. Imaginemos que a partir de
amanhã, como em um passe de mágica, surgissem equipamentos culturais distribuídos por toda a cidade, que todos tivessem remuneração justa e que tivéssemos um tempo livre maior. Será que buscaríamos acessar todo o potencial de
atividades de diversão oferecido?
ATIVIDADE 1
Vamos agora, sob orientação do professor, fazer as seguintes atividades:
a) Levantar as possibilidades de diversão
existentes em seu bairro;
b) Construção de um mural comparativo
das atividades de seu bairro e de outros
bairros de sua cidade.
Cidade de Porto Velho - Rondônia
A
QUESTÃO DA EDUCAÇÃO
Chegamos então a um ponto fundamental de nossa discussão. No decorrer de nossa vida, na escola, na igreja, em nossa família, nossa educação é
em grande parte direcionada para o mundo do trabalho, somos disciplinados
a seguir normas que facilitam nossa inserção profissional. E ainda assim com
deficiências sérias, o que faz com que o trabalho seja também um problema
enorme para muitas pessoas, até porque cada vez menos há trabalho digno
para todos. No fundo, somos educados a aceitar ordens, para sermos mandados, para sermos passivos perante as injustiças, ainda que muitos de nós estabeleçamos resistências no decorrer de nossas vidas.
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Já para aproveitar os nossos momentos de diversão, somos pouco ou quase nada educados. Aprendemos, por exemplo, pouco de música, de artes plásticas, de cinema, de teatro e mesmo de esporte (está aí uma das explicações para
entender em nosso país a “monocultura do futebol”, isto é, a supervalorização
desse esporte e o pouco conhecimento de outras formas de atividade física, que
podem ser tão prazerosas e agradáveis quanto o futebol).
ESPORTE E LAZER
Acaba que quem nos “educa” primordialmente são os meios de comunicação, notadamente a televisão, uma das principais formas de diversão da maioria
do povo brasileiro. Acredite, em nosso país já há um número maior de televisões
do que de geladeiras! Um determinado canal emite sua programação para 98%
das cidades! Já pararam para imaginar o seu poder de influência?
Observem a grade de “atrações” de nossas emissoras e
pensem: ela é de qualidade? Está preocupada em educar
o povo? Está preocupada em desenvolver um senso crítico perante a realidade? Se não, estamos falando de algo
bastante perigoso: não há grandes possibilidades de diversão para a maioria da população e a principal dessas formas
de alguma maneira pode ser, em certo sentido, prejudicial, ou melhor,
atender aos interesses daqueles que já detêm o poder.
ATIVIDADE 2
Selecione pessoas de sua comunidade, de sexo e faixas etárias diferentes, e
pergunte a elas:
Quanto tempo gastam diariamente para ir ao trabalho?
Quanto tempo gastariam para buscar outras opções de diversão em outros
bairros?
Quanto gastariam em transporte?
OS
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DESAFIOS PROFISSIONAIS
Bem, ao apresentar tantos problemas não queremos parecer pessimistas.
Não, de forma alguma! Apenas desejamos desde o início deixar claro o enorme
desafio para quem pretende atuar como recreador a partir de uma perspectiva
diferenciada, bem como apresentar os principais parâmetros que definem a nossa característica de atuação profissional. Acreditamos que nós, juntos, a partir de
nossa postura enquanto cidadãos e profissionais, podemos sim dar grandes contribuições não só para tornar melhor a vida dos indivíduos, como também para a
superação desse modelo atual de sociedade, para a construção de uma sociedade
mais justa, com maior respeito aos direitos sociais, com mais igualdade.
Durante muitos anos o recreador foi considerado como alguém responsável por simplesmente oferecer, de forma pouco conseqüente, uma série de jogos,
por passar o tempo das pessoas, por oferecer um prazer provisório, sem conceber nenhuma articulação com o contexto social em que trabalha.
Vejamos então que estamos dizendo que o recreador (e na verdade todo
profissional de esporte e lazer) deve ter em vista duas funções pedagógicas. Em
uma dessas, ele educaria pelas próprias atividades de recreação, aproveitaria o
potencial de cada jogo, de cada brincadeira, para estimular seu público a pensar
sobre a sua realidade, sobre a sociedade, sobre sua vida, contribuindo para a
formação de indivíduos mais críticos. Uma atividade deve ser pensada como
uma estratégia para alcançar objetivos maiores, ainda que em si ela deva ter o
potencial de divertir, algo que não pode ser abandonado.
RECREADOR
Assim, vários equívocos podem ser observados. Além do já apontado de
oferecer a “atividade pela atividade”, sem a entender a partir de outros potenciais, havia (e muitas vezes lamentavelmente ainda há) a compreensão de que bastava conhecer uma série de “brincadeiras”, que seriam aplicadas a qualquer grupo,
desconsiderando as peculiaridades de cada local, de cada público, a especificidade de cada situação.
Um segundo aspecto importante é que ele pode, ao diversificar seu programa de atividades, ao incluir novas atividades, também contribuir para que os
indivíduos conheçam outras possibilidades de diversão, ampliando o leque de
conhecimento de opções possíveis de serem buscadas nos momentos de lazer.
Reconhecendo o que já dissemos antes, que não somos educados cotidianamente
para nos divertir, o recreador deve também cumprir essa função.
Isso tem, na verdade, vários intuitos. Um deles é
contribuir para que o público entenda que os momentos
de diversão constituem-se em direitos sociais e devem ser
motivos de reivindicação, tendo articulação com todas outras dimensões da vida, direito à moradia, à educação, à
saúde, a transporte de qualidade, a uma vida digna. O segundo é que contribuí para contestar a supervalorização do
trabalho, comum em nossa sociedade capitalista, conforme
já discutimos.
Outro intuito é contribuir para contrapor o enorme poder da televisão e
dos meios de comunicação. Se o indivíduo conhecer e for educado para buscar
outras atividades de diversão, ele pode se tornar mais crítico perante ao que é
veiculado pelas emissoras, e isso o ajuda a se tornar mais atento à luta política
social. Portanto, também acreditamos que buscar alternativas de diversão contribui para ampliar a visão do indivíduo sobre a sociedade, já que ele vai ter acesso
a novas formas de ver a realidade.
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Por fim, lembremos sempre: a diversidade de atividades de recreação não
pode ser privilégio de uma minoria. Cada cidadão deve compreender que pode
desfrutar de tudo o que uma cidade oferece. E se isso não é possível, por motivos diversos, ele deve lutar para que seja respeitado nesse direito.
ESPORTE E LAZER
ATIVIDADE 3
Em um intervalo de tempo determinado pelo professor, cada trio irá listar:
os esportes que conhece; os gêneros
musicais que conhece ou que já ouviu
falar (música erudita, bossa nova,
samba, bolero, blues, jazz, forró,
tango, rumba, salsa, hip hop etc);
pintores (famosos ou não);
peças de teatro a que assistiu; grandes
atores do teatro brasileiro;
filmes a que assistiu, indicando país
de origem e gênero (comédia, drama,
romance, policial etc) e
exposições que visitou.
Parque do Ibirapuera - São Paulo
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Os diversos tipos de atividades
de recreação (Os interesses culturais)
INTRODUÇÃO
RECREADOR
Quais são as características das atividades recreativas? Conhecer todas as
possibilidades e potencialidades é algo fundamental para o recreador, para que
ele não pense que sua tarefa se resume a somente trabalhar com jogos e brincadeiras, as facetas mais conhecidas desse exercício profissional. De início podemos dizer que as atividades recreativas são sempre “culturais”.
ATIVIDADE 4
Vamos juntos ler todas as informações desse item. A turma será dividida
em grupos de três pessoas. Cada grupo formulará 3 perguntas relacionadas com as informações lidas. O professor sorteará uma das questões para
que a turma responda.
21
CULTURA
ESPORTE E LAZER
Na verdade, há alguns equívocos acerca do que seja cultura. Nós recreadores
precisamos conhecê-los e contribuir para desfazer tais apreensões. Primeiramente
devemos entender que não é somente coisa para os mais inteligentes ou mais ricos,
nem tampouco atividades chatas e complicadas de entender, exibidas em locais
refinados. Todos nós temos a capacidade de ir ao cinema, ao teatro, a espetáculos
de música e deles extrair prazer e lições para nossa vida, desde que sejamos educados para tal, que sejamos preparados para entender um pouco da lógica desses
espaços específicos. E aí está, como já vimos, uma de nossas tarefas.
Outra coisa que temos que fazer é não concordar com a idéia de que existe
uma “alta cultura” e uma “baixa cultura”. Assim, é um equívoco dizer que quem
vai a espetáculos de música clássica é culto, enquanto quem vai a um baile funk ou
vai a uma roda de samba não o é. Aliás, a princípio, nada impede de que alguém goste
de ópera e também goste de forró. A dança que praticamos nas festas em que vamos
é tão importante quanto o balé clássico; e por certo as bailarinas podem sentir prazer
quando praticam outras danças em outros espaços de lazer.
Mas isso significa que todas as manifestações culturais têm a mesma qualidade? Por certo que não! E aqui entra o que discutimos no item anterior. Como
as pessoas podem melhor escolher que atividades vão usufruir nos seus momentos de diversão se somos cotidianamente pouco educados para tal? Assim sendo,
ao desconhecermos outras possibilidades, nos limitamos a um tipo de produto
emitido prioritariamente pelos meios de comunicação. A questão passa a ser então, sem preconceito, contribuir para educar e ampliar o leque de opções dos
indivíduos, deixando que eles, agora com mais condições, possam escolher aquilo que dá prazer.
Na verdade, devemos mesmo é entender que não se trata a cultura de simplesmente uma série de atividades. Cinema, teatro, música são manifestações culturais, mas somente uma parte do que mais amplamente chamamos de cultura.
Para além da arte, todas as atividades humanas são culturais, inclusive os jogos, as
brincadeiras, o esporte. Os cantos, folguedos e festas populares também o são.
Assim como nossa forma de se vestir, de comer, de namorar, de trabalhar. Pense
na roupa de alguém que mora na Arábia, não é diferente da nossa? Sim, pois é
típica da cultura deles. Não é melhor nem pior do que a nossa, é só diferente.
Assim, quando falamos de cultura, estamos nos referindo a um conjunto de
valores, normas, hábitos que regem a vida humana em sociedade. A cultura é típica
dos seres humanos, que organizados em comunidades cada vez mais complexas
necessitam estabelecer princípios para que possam viver com alguma harmonia.
Obviamente que esse não é um processo simples, por abarcar os diversos desejos
humanos, bastante diferenciados. Sendo assim, falamos de algo tenso, construído a
partir do diálogo e do conflito, a partir de trocas, manipulações, embates.
22
É importante notarmos que quando falamos de cultura, estamos na ver-
Boi-bumbá - Pernambuco
Danças tradicionais gaúchas.
RECREADOR
dade nos referindo a “culturas”. Todos nós,
de alguma forma, fazemos parte e estamos
fora de um ou outro contexto cultural. Existe
uma cultura brasileira que nos aproxima, mas
cada região do país tem certas peculiaridades
de vida. E em cada Estado, em cada cidade,
vemos diferentes sotaques, hábitos alimentares, formas de se comportar, maneiras de viver, formas de se divertir.
Folia de Reis - Rio de Janeiro
CULTURA
E EDUCAÇÃO
Assim, uma das funções do recreador é ser um educador no âmbito da cultura. O que fazemos na verdade é contribuir para que os indivíduos se tornem mais
críticos perante a essa nossa cultura atual, que não é espontânea, isso é, não surge do
nada, mas é fruto das disputas econômicas, políticas e sociais existentes em qualquer sociedade. A grande questão é contribuir para que o nosso público-alvo possa
se perguntar e refletir se essas dimensões culturais que norteiam a sua vida são
realmente interessantes ou se são frutos de uma certa manipulação para garantir os
interesses de um pequeno número de poderosos.
23
De qualquer forma, quando prepara sua atuação, o recreador faz uso das
linguagens/manifestações culturais para compor seu programa. Seria interessante então que pudéssemos compreender um panorama geral de tais possibilidades
de intervenção. Nesse sentido, um quadro classificatório seria muito útil como
auxiliar em nossa tarefa de programação.
ESPORTE E LAZER
Uma classificação das atividades de recreação nos é apresentada por um
sociólogo chamado Joffre Dumazedier. Este autor procura dividir cada uma
dessas atividades de acordo com o interesse central desencadeado, aquele que
motiva o indivíduo a buscar a atividade. O recreador pode compor seu programa tendo em vista as diversas possibilidades de mobilizar diferentes sensibilidades, movimentar diferentes interesses, ampliando o alcance de sua atuação.
24
Mesmo sendo de grande utilidade e interesse, não devemos considerar tal
classificação de forma extremamente rígida, até mesmo porque os interesses
humanos não se encontram estaticamente divididos. O indivíduo pode procurar uma determinada atividade com os mais diversos desejos conjugados, além
do que não necessariamente o faz com plena consciência de tal procura.
A classificação proposta por Dumazedier não é perfeita, nem pretende
ser. Deve ser considerada antes como um guia para o recreador, que sempre
deve ter em vista as possibilidades de cruzamentos complexos que podem se
estabelecer entre os diversos interesses. Não devemos considerar os limites
da classificação como falhas, mas como ocorrências possíveis e como aliados
e nosso trabalho de programação, que, aliás, não deve se restringir à mera
seleção de uma série de atividades soltas, mas estar ligado a um intuito maior,
onde estão contemplados nossos objetivos educacionais, nossa visão de mundo, nossa vontade de intervir na sociedade.
ATIVIDADE 5
Vamos, em grupos, pesquisar aspectos característicos de várias culturas
diferentes. Vamos debater as peculiaridades de cada uma dessas culturas.
OS
Os interesses físicos
O primeiro tipo de atividade é aquele que contempla os “interesses físicos”. As atividades físicas, entre os quais os esportes, estão entre as manifestações culturais mais procuradas e difundidas pelos meios de comunicação, estando mesmo diretamente ligadas a diversos estilos de vida. É
comum ao redor dessas práticas a existência de uma série de procedimentos, posturas e produtos (roupas, músicas, alimentos) que identificam entre si os praticantes e os diferenciam de outros grupos.
RECREADOR
INTERESSES CULTURAIS
Entre essas práticas, podemos encontrar diferenças claras que estimulam
sua busca por parte dos indivíduos. Vejamos alguns exemplos. Existem
as atividades de aventura, também conhecidas como esportes radicais,
que colocam os praticantes em uma situação de risco controlado, podendo ser realizadas na natureza (rafting, escalada) ou em ambientes construídos (skate). Entre os interessados por atividades realizadas em contato direto com a natureza, existem ainda aqueles que as procuram como
forma de espiritualização e fuga do estresse cotidiano (caminhadas).
De outro lado, algumas pessoas preferem atividades mais intensas, encontradas nas academias (musculação, diversos tipos de ginástica) ou praticadas fazendo uso de diversos equipamentos urbanos (corredores, triatletas). Existem os que preferem os diversos tipos de esportes, sejam os
coletivos (futebol, voleibol), os individuais (natação), as diferentes lutas
(judô, karatê, capoeira, jiu-jitsu) e mesmo alguns ainda mais restritos aos
que possuem maior poderio econômico, sendo mesmo símbolo de diferenciação social (hipismo, golfe).
Em comum entre os diversos grupos, podemos situar uma busca de bemestar por meio da movimentação corpórea, embora o grau de movimentação seja bastante diferenciado entre as atividades, e um certo discurso
de preocupação com a saúde, mesmo que muitas vezes isto seja mais
observável no discurso do que na prática, uma vez que a compreensão
de saúde é bastante difusa e até mesmo superficial.
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ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
Trata-se então de uma dupla possibilidade de intervenção para o profissional de recreação. Deve-se sim pensar na introdução de atividades físicas nos programas de atividades, tentando sensibilizar o grupo para as
possibilidades de prazer possíveis com tais práticas. Logicamente, devemos tomar cuidado com o grau de movimentação exigida, respeitandose tanto os limites físicos do grupo, quanto os desejos de cada indivíduo
nesse processo. Nem todos gostarão de se sentir exaustos ao final da
atividade, assim como para algumas pessoas determinados exercícios
são “muito fáceis”, o que pode vir a desestimular a prática.
Porém mais do que simplesmente estimular as pessoas a praticarem tais
atividades, é importante que nesse processo possamos também falar sobre as suas diversas peculiaridades e sobre os sentidos e significados destas na ordem social contemporânea. É importante que as pessoas aprendam a desvendar de forma crítica os discursos correntes ao redor da
prática de atividades físicas; difundidos com constância pelos meios de
comunicação. Perceber-se-á como tais discursos carregam determinados
valores e/ou mitos.
Por exemplo, percebam como a prática de de atividades físicas divulga um
tipo de corpo considerado belo. Você acha que a beleza se confunde
necessariamente com esse tipo de corpo? Ou será que isso nos estimula a
comprar determinados produtos?
Outro exemplo: será que ter saúde é ser muito forte? Será que na verdade
isso é um mito? Temos sempre que estar atentos a todas essas dimensões.
É preciso esclarecer tais dimensões para nosso público-alvo, bem como
explicitar como a prática de atividades físicas hoje se constitui em um
poderoso mecanismo para venda de produtos. É preciso descortinar os
princípios básicos que regem o “sistema esportivo”, que de aparentemente ingênuo, nada de ingenuidade tem na verdade.
Nesse sentido, é importante lembrar como é forte a influência do chamado “esporte de alto nível” na prática de esportes no momento de diversão, fazendo com que outros setores do campo esportivo, não ligados a
federações, reproduzam de forma perniciosa esses modelos de prática,
onde são comumente exaltadas a competição exacerbada e a vitória a
todo custo. Devemos lembrar que devem ser desenvolvidos modelos de
prática esportiva próprios e adequados às peculiaridades dos momentos
de recreação, sendo um equívoco reproduzir e estimular modelos já préconfigurados.
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Temos que tomar cuidado para não reproduzir os mesmos modelos que
estimulam a vitória a qualquer custo! O mais importante é que todos
possam participar e se divertir.
Teatro da Paz - Belém
RECREADOR
Para relembrar, chamamos de atividades de interesse físico: esportes diversos,
caminhadas, diferentes tipos de jogos, gincanas, ginástica, dança, entre outras.
Os interesses artísticos
Passemos para outro grupo de interesses, os “artísticos”. Afinal, o que é
arte? A resposta a essa pergunta exigiria vários livros inteiros e ainda
assim algo ficaria de fora, ainda mais no contexto atual, quando as fronteiras da arte ficaram menos definidas.
A arte estaria nos museus, bibliotecas, cinemas, teatros, centros culturais?
Sem sombra de dúvida, mas não somente, estando também na cultura
popular, nas quadras de escolas de samba e nas tradições folclóricas, na
qual nosso país se destaca. A arte seria produzida por artistas notáveis
com trabalhos magníficos? Com certeza, mas também está dentro de
cada um de nós, podendo ser estimulada se nossa sensibilidade for educada para tal.
Mesmo que a experiência estética não seja exclusiva da manifestação artística (estando presente em relação a vários outros objetos, como no
esporte e até nos produtos industriais que consumimos diariamente),
podemos dizer que é por excelência o que impulsiona a busca da arte, o
prazer que as diversas linguagens ocasionam nos indivíduos. Obviamente que não estamos falando da arte pela arte, nem do prazer pelo prazer,
mas argumentando que desenvolver novas sensibilidades, e nesse processo ter acesso a novos valores ou ao questionamento dos valores vigentes, é uma dimensão fundamental a ser provocada pelo contato com
esta(s) poderosa(s) linguagem (ns).
O recreador não pode deixar de contemplar os interesses artísticos em
seu programa, a partir de uma dupla dimensão. Deve contribuir para
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educar a sensibilidade de seu público-alvo, apresentando novas linguagens, fundamentalmente possibilitando a vivência de novas experiências
artísticas e a partir disso discutir e apresentar as peculiaridades de cada
manifestação em sua diversidade de correntes e propostas. Nesse processo, não pode ter preconceito, apresentando tanto as manifestações da
chamada cultura erudita quanto da cultura popular.
ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
Mas não se trata de somente incorporar esses interesses na perspectiva
da contemplação. Podemos (e devemos) também contribuir para despertar nos indivíduos seu senso de produção artística. Isso não significa
estritamente contribuir para a formação de renomados artistas plásticos,
músicos, escritores etc, e sim levar cada um a perceber que pode extrair
prazer ao pintar, cantar, tocar, representar, escrever.
Para resumir, são atividades artísticas: a pintura, o cinema, a música, a dança
(que também pode ser uma atividade física), o teatro, a literatura, entre outras.
Jardim Botânico no Rio de Janeiro - Um exemplo de trabalho em jardinagem
Os interesses manuais
Um terceiro grupo é o dos “interesses manuais”, aqueles cujo prazer se
encontra fundamentalmente na manipulação de objetos e produtos, sendo
bastante confundidos com os hobbies, embora entre esses sejam também
encontradas atividades relacionadas a atividades não necessariamente manuais. Entre as atividades de interesse manual podemos encontrar a jardinagem, a carpintaria, a marcenaria, a costura, a culinária.
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Algumas vezes as atividades manuais também se misturam com as artísticas, na medida que a questão estética também fica destacada. Um indivíduo que tem como hobby a marcenaria, vai se preocupar em produzir
móveis bonitos, de bom gosto. Até que ponto uma prática de modelagem
não é também de escultura, do ato de esculpir? Como dissemos, há limites
na classificação, que deve ser encarada mais como um guia do que como um
receituário.
De qualquer forma, podemos sim incorporar tais atividades em nossos programas, somente tomando cuidado para não as encararmos como preparação para o trabalho. O programa de recreação não se justifica por sua ligação com o trabalho e o fim que se espera das atividades é o prazer ocasionado pela atividade em si. Se depois os indivíduos vão dar significados diferentes ao que foi abordado nos programas, isso é um direito deles, mas
enquanto recreadores nossa preocupação básica não é de performance ou
de formação para o mundo do trabalho.
Os interesses intelectuais
Falemos agora dos “interesses intelectuais”. Se existe um
interesse específico para o intelecto, significa então que
nos outros não há ação intelectual? Claro que não, em
todos os momentos da vida estamos com nosso interesse intelectual funcionando. O que ocorre é que nesse grupo de atividades a ênfase central e a busca de prazer estão
mais diretamente ligadas a atividades de raciocínio.
RECREADOR
Logo, as atividades manuais são: corte e colagem, carpintaria, jardinagem,
culinária, artesanato, hobbies diversos como colecionar coisas, entre outras.
Certamente é mais um caso em que se misturam campos
de interesse. Como dizer que algumas pessoas ou que algumas vezes não vamos ao cinema ou ao teatro tendo em vista as reflexões
que os filmes e as peças podem ocasionar em nossas vidas? Aqui não é o
caso de definir categoricamente as diferenças, pois, como temos dito, o que
importa é considerar esta classificação como um guia auxiliar a nossa programação.
Nesse grupo de atividades estão enquadrados, por exemplo, todos os jogos conhecidos como intelectuais: xadrez, dama, etc. Também incluímos a
busca de palestras e cursos, desde que esses não estejam sendo procurados
motivados pelas necessidades do trabalho.
O profissional deve estar atento às expectativas do grupo e inserir esse
conjunto de interesses em seu programa, até mesmo como forma de potencializar o alcance de outros interesses. É o caso já citado do trabalho
com interesses artísticos. Se estivermos trabalhando com uma determinada
manifestação/linguagem, podemos organizar palestras sobre ela, potencializando a compreensão e as possibilidades de prazer de nosso grupo.
Resumindo, são atividades “intelectuais”: cursos, palestras, jogos de raciocínio, filmes utilizados para refletir sobre a realidade, entre outras.
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ESPORTE
Festa Junina - Pernambuco
Os interesses sociais
Por fim, falemos dos “interesses sociais”. A princípio, todas as atividades de recreação tendem (e deveríamos sempre investir nessa idéia) a
envolver grupos e desenvolver a sociabilidade, mas nesse âmbito de
interesses destacamos aquelas na qual o elemento motivador é exatamente o fato de promover de forma pronunciada tais encontros, como
festas, freqüência em bares/restaurantes e saídas noturnas, e notadamente
os passeios e atividades turísticas em geral.
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Lembramos que a promoção de encontros e a organização de grupos
não são objetivos menores, ainda mais se levarmos em conta que existe
um processo claro de fragmentação e individualização excessiva no âmbito de nossa sociedade atual, notadamente em algumas faixas etárias
(caso dos idosos, que vão perdendo as referências e se sentindo solitários com o decorrer do tempo) e em algumas metrópoles, fruto dos problemas urbanos (como o medo da violência, que acaba estimulando as
pessoas a se esconderem dentro de seus lares).
Quando falamos de turismo, devemos estar atentos que estamos nos referindo a um dos campos de atuação que mais cresce recentemente, em função mesmo do significado econômico que o setor vem adquirindo.
Nesse ponto em especial, um papel importante que o recreador pode
ocupar é o de apresentar a cidade a seu público-alvo. Lamentavelmente,
em função da concentração de equipamentos culturais nas áreas “mais
nobres” da cidade grande, parte da população sequer conhece as belezas
e potencialidades de seu município. É importante para o recreador incluir
atividades que, ao apresentá-las a seu público, também estabeleça uma
discussão acerca da estrutura urbana. Por que alguns têm acesso a tudo
enquanto outros não? Por que algumas partes da cidade são mais organi-
Bem, de posse desse conhecimento, agora você já pode preparar sua programação considerando melhor a grande diversidade de opções com as quais conta o recreador. Um lembrete: não se
trata de programar as atividades de forma ocasional. Você deve fazê-lo a partir do contato com
seu público-alvo, considerando suas possibilidades (que equipe possui, com quais recursos
materiais pode contar, seu orçamento) e nunca esquecer que devem estar inseridas em objetivos mais amplos; essas atividades são as estratégias que você vai usar para promover seu
processo de intervenção pedagógica.
RECREADOR
zadas, enquanto outras abandonadas? Não deveríamos reivindicar uma
cidade mais justa para todos, independente do local de moradia e do
padrão sócio-econômico? Todas essas questões podem ser desencadeadas ao utilizarmos tal tipo de atividade.
Então, passeios/excursões e festas diversas são as principais atividades sociais.
ATIVIDADE 6
Vamos agora listar atividades relacionadas a cada um dos interesses
culturais. Depois disso, vamos fazer a experiência de elaborar programações que considerem essas diferentes atividades listadas.
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Como trabalhar com jogos
ESPORTE E LAZER
INTRODUÇÃO
32
Nessa ocupação nos dedicaremos a discutir mais profundamente a questão
da aplicação de jogos, por ser uma das ferramentas mais utilizadas pelo recreador em sua atuação. Ressaltamos, contudo, que: a) lembre-se que o programa de
recreação não se resume a isso, como vimos no item anterior; b) em outras partes
deste livro você pode encontrar mais opções para ampliar suas alternativas de
trabalho.
Antes de começarmos a conversar sobre a aplicação dos jogos propriamente ditos, é interessante fazer uma consideração teórica que nos ajudará a compreendê-los um pouco melhor. A primeira, e talvez mais importante, é que os
jogos, bem como suas possíveis explicações, são construções históricas e culturais, o que significa que precisamos estar atentos com relação ao tempo e o lugar
nos quais foram criados. É a partir desta perspectiva que poderemos compreender o desaparecimento de alguns jogos, o surgimento de outros, a incorporação
de tecnologias aos brinquedos, bem como as limitações, as inconsistências e os
possíveis erros das contribuições teóricas que buscam explicar os jogos e as brincadeiras.
HABILIDADES MOTORAS BÁSICAS E AS ESTRUTURAS
MOTORAS DE BASE
As Estruturas Motoras de Base são funções relacionadas aos aspectos cognitivos, emocionais e do movimento corporal; integradas favorecem o desenvolvimento harmonioso do sujeito. São elas: coordenação motora, equilíbrio,
lateralidade, organização espaço-temporal e esquema corporal.
Uma outra questão que pretendemos abordar está ligada às faixas etárias dos
indivíduos com quem iremos trabalhar. É fácil perceber que muitas das brincadeiras que agradam a crianças de seis anos, não agradam a crianças de nove ou a adolescentes. Apesar de acharmos que é muito interessante, principalmente para as
mais novas, que crianças de diferentes idades brinquem juntas, é prudente conhecer
um pouco das preferências infantis no que diz respeito às brincadeiras e aos jogos.
Importa também que se procure conhecer as preferências das crianças sobre as
atividades. Nada é mais desagradável e inadequado do que agir como se elas nada
soubessem, nada compreendessem ou nada pudessem fazer.
RECREADOR
As Habilidades Motoras Básicas, também chamadas de Movimentos Básicos
Fundamentais, formam a base de toda a movimentação corporal especificamente
humana: andar, correr, saltar - cair, saltitar, subir - descer, lançar – receber, quicar,
chutar. Quanto mais oportunidades a criança tiver de experimentar estes movimentos, maior será o domínio que terá sobre seu corpo, mais facilmente executará
movimentos e com mais segurança realizará tarefas motoras.
Outro aspecto a destacar é que as características que apresentaremos a seguir
correspondem ao que, de uma maneira geral, se espera de uma criança que tenha
chances de se movimentar livremente. É claro que poderão ser encontradas diferenças em relação às habilidades e às capacidades de movimento das crianças, pois
isso irá depender do modo como elas são criadas, se no local onde vivem há espaço
para que possam se movimentar, se isso lhes é permitido ou se têm sua movimentação tolhida pelo fato de terem que se manter sempre limpas, arrumadas ou quietas. Isto significa que, no trabalho com crianças, temos que considerá-las a partir do
que elas são e não daquilo que lhes falta, procurando não criar expectativas em
relação ao seu desempenho e às suas atitudes, pois o meio social no qual estão
inseridas influencia fortemente seu comportamento.
Nesta perspectiva vamos apresentar um quadro que deverá servir mais
como um apoio do que como uma informação imutável.
AS FAIXAS
ETÁRIAS
1) Faixa etária: 2 a 4 anos
Características: Inicialmente apresentam um pequeno controle sobre
seus próprios movimentos, mas vão se tornando mais seguras a partir
das experiências.
33
Considerações: As crianças devem se movimentar de diferentes formas para aumentar o controle corporal e ampliar seu repertório de
movimentos experimentando as Habilidades Motoras Básicas.
Sugestões de atividades: Utilizar todo o repertório das Habilidades
Motoras Básicas, isto é, andar, correr, saltar, subir-descer, lançar-receber, rastejar, quicar e chutar. Atividades com música: utilizar diferentes
ritmos e instrumentos musicais; fazer com que acompanhem o ritmo
batendo palmas, tocando as diferentes partes do corpo ou tocando instrumentos de percussão; brincar de roda, utilizar brinquedos cantados e
músicas do folclore local e regional; contar histórias; fornecer tecidos,
máscaras e maquiagem para que possam dramatizar histórias conhecidas e/ou criar outras. Apresentar materiais de diferentes formas, cores,
pesos e volumes e deixá-los manusear livremente. A partir dos três
anos, trabalhando junto com elas, pode ser viável criar histórias e confeccionar máscaras e fantoches para representá-las; confeccionar instrumentos de percussão usando sucata; cantar e dançar com estes instrumentos; utilizar atividades de recorte e colagem.
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2) Faixa etária: 4 a 6 anos
Características: Apresentam uma maior segurança na execução dos
movimentos.
Considerações: As crianças devem experimentar as Habilidades Motoras Básicas consideradas de um modo mais complexo.
Sugestões de atividades: Utilizar todo o repertório das Habilidades
Motoras Básicas, isto é, andar, correr, saltar, subir-descer, lançar-receber,
rastejar, quicar e chutar, apresentados em pequenos circuitos e em jogos
com regras bem simples. As experiências de contar, elaborar e representar
histórias, inclusive as do folclore local e regional, além da confecção do
material utilizado são recomendadas; conhecer, cantar e dançar músicas
folclóricas; confeccionar instrumentos de percussão com sucata; atividades de recorte e colagem; jogos com olhos vendados para perceber os
outros sentidos (tato, audição, olfato e paladar).
3) Faixa etária: 6 a 8 anos
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Características: São capazes de executar com domínio e segurança
uma boa parte dos movimentos desde que estimuladas e ensinadas.
Considerações: As crianças podem vivenciar as mais diversas combinações das Habilidades Motoras Básicas.
Sugestões de atividades: Utilizar combinadamente e com complexidade crescente as Habilidades Motoras Básicas, em circuitos, contestes
e pequenos jogos cujas regras também podem ir se tornando mais
complexas; lançar mão de atividades que privilegiem experiências com os
outros sentidos; o trabalho com o folclore pode incluir a confecção de
máscaras, roupas, cenários e instrumentos musicais. Utilizar materiais de
diferentes formas, cores, volumes e pesos, de maneira livre e orientada.
Características: Executam com domínio e segurança todas as Habilidades Motoras Básicas em suas variadas combinações.
Considerações: As crianças podem e devem experimentar combinações cada vez mais complexas das Habilidades Motoras Básicas.
Sugestões de atividades: Utilização das Habilidades Motoras Básicas
em situações nas quais as crianças se sintam desafiadas a resolver problemas tanto individual quanto coletivamente. É possível criar situações-problema nas quais seja necessário que se organizem, elaborando
táticas e estratégias, em grupos para resolvê-las.
5) Faixa etária: 10 a 12 anos
Características: Apreciam atividades competitivas e disputas entre
sexos; são capazes de negociar, organizar e criar situações de interação, e estão mais preocupados com a execução perfeita do movimento; são capazes de criar e discutir novas regras, espaços e número de
participantes de jogos.
Considerações: As crianças passam a utilizar as Habilidades Motoras Básicas em jogos pré-desportivos.
Sugestões de atividades: Aumentar a complexidade das regras dos
jogos; podem ser utilizados os jogos pré-desportivos e outras atividades competitivas nos quais possam se organizar, discutir e criar
novas regras.
RECREADOR
4) Faixa etária: 8 a 10 anos
6) Faixa etária: 12 a 14 anos
Características: Maior interesse pelo sexo oposto; gostam muito de
atividades competitivas; têm necessidade de pertencer a um grupo;
são bastante influenciáveis. São capazes de jogar com pleno conhecimento das regras, analisando-as e discutindo-as; são capazes de fazer
críticas elaboradas sobre fatos da realidade e também sobre questões
morais e éticas.
Sugestões de atividades: Preferem atividades nas quais sejam capazes de mostrar suas habilidades de movimento. Esportes radicais, gincanas, jogos pré-desportivos e desportivos são os mais indicados.
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7) Faixa etária: 14 a 18 anos
Características: Total interesse pelo sexo oposto; grande interesse
por atividades competitivas. São capazes de analisar e discutir tais diferenças; ampliam sua capacidade de analisar e discutir os fatos da
realidade.
Sugestões de atividades: Esportes radicais, jogos desportivos, gincanas, caça ao tesouro, acampamentos e acantonamentos, excursões
e atividades que desafiem suas habilidades e capacidades.
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8) Idosos:
As atividades destinadas a idosos devem considerar suas necessidades e
preferências. Atividades que privilegiem encontros e interações sociais
são adequadas, portanto, podem ser exibidos filmes, organizados passeios, torneios de jogos de salão, bailes e outras atividades de movimento de baixo impacto são indicados, isto é, atividades que apresentem
grande exigência de sobrecarga.
JOGOS
E
BRINCADEIRAS:
EXEMPLOS
Vamos apresentar a seguir alguns exemplos de jogos e brincadeiras sem a
preocupação de estabelecer rigidamente as faixas etárias para as quais poderiam
ser mais apropriados. Antes, porém, são necessárias algumas observações.
O recreador deverá observar o grupo com o qual irá trabalhar de modo a
sugerir as atividades mais adequadas às suas características e necessidades, sem tentar enquadrá-lo em um modelo pré-determinado. Importa que as crianças interajam ente si e com o profissional, que troquem informações e saberes e que se auxiliem mutuamente, porque acreditamos que assim
constroem conhecimentos e estabelecem vínculos fundamentais para sua formação.
Outro aspecto a ser destacado tem relação com a divisão da turma em grupos. É óbvio que as crianças gostam de se manter próximas de seus amigos em todas as ocasiões, inclusive nos jogos. Entretanto, o recreador deve estar atento
para possibilitar que novos grupos sejam formados, permitindo que as crianças tenham a chance de jogar com todos os colegas.
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Um modo interessante de fazer isso é intervir na divisão da turma,
separando-os em grupos de nascidos no primeiro e no segundo semestre; aqueles
que moram em ruas cujos nomes se iniciem com vogais ou com consoantes; aqueles cujo nome da mãe tem um número par ou ímpar de letras; aqueles que estão
com camisas de cor clara ou escura etc. Para identificar os grupos, podemos usar
camisas ou coletes, mas também, podemos usar pequenas tiras de papel crepom
colorido amarradas nos punhos dos participantes.
No que diz respeito à competição, pensamos que nosso adversário deve
ser visto como aquele que permitirá que possamos ter um melhor conhecimento sobre nós mesmos, isto é, sobre nossos limites e capacidades, e não aquele
que deve ser destruído ou humilhado. É preciso esclarecer que sem ele não
teríamos a chance de superar nossas próprias limitações cognitivas e corporais,
por isso devemos a ele todo o respeito e admiração.
Interessa que todos tenham a oportunidade de jogar, independente de
suas habilidades e o recreador deve estar atento de modo a não privilegiar apenas os mais hábeis, velozes ou fortes. Há que se pensar nos mais tímidos, fracos
ou menos habilidosos e, no jogo, deve haver espaço para todos. Não devemos
reforçar a exclusão ou a idéia de vencer a qualquer preço ou, ainda, de levar
vantagem em tudo. O profissional deverá estar atento para analisar, perceber e
introduzir valores que vão abrir espaços para interações saudáveis e para a vivência de relações mais solidárias e cooperativas.
RECREADOR
Com relação aos jogos, acreditamos que devem ser compreendidos nas
suas inúmeras possibilidades de serem jogados. Isto significa que podem ser vistos como um espaço para as recriações e para as mudanças, sejam elas das regras,
do número de participantes, do número de bolas em campo, da área a ser ocupada e do que for preciso modificar para que as pessoas se sintam à vontade para
participar. O jogo é o espaço da liberdade, da subversão e da imprevisibilidade,
por isso abre caminhos para novas relações dos sujeitos com eles mesmos e com
os outros.
Atividades com as Habilidades Motoras Básicas
Como vimos, o trabalho com estas atividades é indicado para crianças de
dois a dez anos. Vamos apresentar alguns exemplos que, como você poderá perceber, poderão ir se tornando cada vez mais complexos. Desta maneira, será
possível utilizá-los e/ou modificá-los de acordo com as necessidades e preferências de seu grupo de crianças.
Por exemplo:
Caminhar: livremente; ao sinal do recreador caminhar para frente, para
trás, para um lado, para o outro; na ponta dos pés; sobre figuras geométricas ou diferentes tipos de linhas no chão (retas, curvas e sinuosas); segurando diferentes partes do corpo – próprio ou do colega; batendo palmas; imitando robôs; imitando gigantes; imitando uma pessoa idosa; segurando em alguma parte do corpo do colega; no ritmo das palmas (ou
de qualquer outro instrumento de percussão) do recreador que deverá
variar do mais lento ao mais rápido.
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Brinquedos cantados
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Como vimos, crianças pequenas gostam muito de brincar de roda ou de
aliar música e dança. Com passos bem simples podemos ensinar a elas alguns
brinquedos cantados, desde os mais conhecidos e tradicionais até aqueles que
fazem parte do folclore de sua região. Dentre os primeiros temos: Atirei o pau
no gato; Pirulito que bate, bate; Cai, cai balão; A linda rosa juvenil; Rá, rá rá
minha machadinha; A canoa virou; Bão-ba-la-lão; Teresinha de Jesus; O pião; O
cravo e a rosa; Lá vem o Seu Noé; Se essa rua fosse minha; Ciranda, cirandinha;
Escravos de Jó e Capelinha de melão.
As crianças, muito provavelmente, conhecerão músicas cantadas por artistas de TV. Caberá ao recreador perceber que estas devem ser ponto de partida
para um trabalho com brinquedos cantados e, por isso, não devem ser descartadas, mas sim, consideradas como parte da cultura lúdica infantil da atualidade.
Crianças pequenas também gostam muito de cantar ou declamar versinhos
que são referidos a partes do corpo. Isto é, a letra da música os leva a tocar ou a
movimentar as diferentes partes do corpo. Como exemplo podemos citar a música “das palminhas”: (a melodia é a mesma da música “Ciranda, cirandinha”).
“Palminhas, palminhas
Nós vamos bater
Depois as mãozinhas
Pra trás esconder
Pro lado, pro outro (*)
Nós vamos bater
Depois as mãozinhas
Pra trás esconder”
(*) Pra cima, pra baixo / Pra frente, pra trás
Repare que nestas atividades estão presentes algumas Habilidades Motoras
Básicas, tais como andar, saltar e saltitar; e algumas Estruturas Motoras de Base,
tais como, coordenação motora ampla, coordenação visomotora, organização
espaço-temporal e equilíbrio.
Brincadeiras e jogos com regras simples
Brincadeiras de mímica e de adivinhação.
Exemplo:
Uma das crianças realiza movimentos que representem animais ou pessoas executando tarefas simples, tais
como: penteando o cabelo, escovando os dentes, lavando a louça, ninando um bebê, tocando um instrumento etc. As outras crianças deverão adivinhar e todos deverão passar pela experiência de
ser o mímico.
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Brincadeiras que utilizam os outros sentidos do corpo
Exemplo:
“Eu acho que ouvi um gatinho”
a) Formação: Crianças sentadas em círculo e ao centro uma outra sentada
de olhos vendados.
b) Desenvolvimento: Ao sinal do recreador, uma criança se aproxima do
que está com os olhos vendados e dá um miado. A criança terá que
adivinhar o nome de quem miou. Todos devem passar pela experiência de estar no centro.
Variação 2: ao invés de miar a criança pronuncia o nome de um colega
ou diz “Bom dia”.
Piques
a) Pique pega
RECREADOR
Variação 1: a criança que mia não sai do lugar;
Uma das crianças é escolhida para ser o pegador. Ao tocar em outra
criança, esta passará a ser o pegador.
b) Pique ajuda
Uma das crianças é escolhida para ser o pegador. Ao tocar em outra
criança, esta passará a ser mais um pegador. Cada vez que alguém for
pego, passará a ser pegador e a ajudar a pegar os demais.
c) Pique corrente
Uma das crianças é escolhida para ser o pegador. Ao tocar em outra
criança, esta lhe dará as mãos e as duas passarão a correr de mãos
dadas. Cada criança que for pega deverá unir-se às outras na corrente
e correr sem rompê-la.
d) Pique pega o rabinho
Todas as crianças recebem uma tirinha de papel (crepom ou de jornal) e a prendem na parte de trás da roupa como se fosse um rabinho.
Ganha o jogo a criança que conseguir proteger seu rabinho e, ao mesmo tempo, pegar uma maior quantidade de rabinhos dos colegas.
Jogos tradicionais com regras simples
Exemplo:
“Meus pintinhos venham cá”
a) Formação: Numa extremidade do espaço (salão, quadra ou campo) está
uma criança que será a “galinha”. Na outra extremidade, dispostos lado
a lado, estão as demais crianças que serão os “pintinhos”. Entre eles, na
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ESPORTE
lateral, está a criança que será a “raposa”.
b) Desenvolvimento:
A “galinha” fala para seus “pintinhos”:
—”Meus pintinhos venham cá!”.
Eles respondem:
— “Tenho medo da raposa!”
A galinha retruca:
— “A raposa não faz mal!”
E os “pintinhos”:
— “Faz sim!”
A “galinha”, então, pergunta se querem comer alguns alimentos (pão,
melão, feijão etc.) e eles sempre respondem em conjunto:
—”Não!”
Quando ela pergunta se querem milho, eles correm em sua direção.
Aquele que for pego vira “raposa” e vai ajudar a pegar os outros “pintinhos”.
Estes jogos que agradam muito as crianças pequenas são, basicamente, piques-pega com personagens, pois há corrida, perseguição e captura. Do ponto
de vista da aprendizagem e do desenvolvimento são excelentes, pois suas regras
são simples e de fácil entendimento. Além disso, envolvem Habilidades Motoras
Básicas, Estruturas Motoras de Base e Funções Psíquicas Superiores, tais como
memória, atenção e comportamento voluntariamente controlado. Com este mesmo tipo de organização podemos encontrar “Os lobos e os carneirinhos”, “A
bruxa e as fadas”, “A travessia da floresta”, “Os caçadores e as raposas” etc.
Jogos com bola e regras simples
Exemplo: Bola maluca
a) Formação: Crianças sentadas em círculo. Uma
delas segura uma bola.
b) Desenvolvimento: Ao sinal do recreador
(ou ao som de uma música) a bola vai sendo rapidamente passada, de um em um.
Quando a música pára, a criança que estiver
segurando a bola deve, também rapidamente,
passá-la na outra direção. O profissional deve variar o intervalo entre os sinais. Quem não mudar a direção
da bola deverá ficar em quatro apoios de modo que a bola
seja passada por baixo de seu corpo.
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Jogos sem material com regras simples
Exemplo:
“O gato e o rato”
a) Formação: Crianças de pé, com as pernas afastadas, de mãos dadas formando um círculo. No centro, uma criança é o “rato” e, outra, fora é o
“gato”.
Variação 1: O “rato” só pode passar por baixo dos braços dos colegas, e
o “gato”, só pode passar por baixo das pernas.
Variação 2: O “rato” tem passagem livre, mas o “gato” tem sua passagem
dificultada pelos outros participantes que não podem soltar as mãos.
Atividades com jornais
RECREADOR
b) Desenvolvimento: O “rato” deve fugir do “gato”. Ambos podem entrar
e sair do círculo por baixo das pernas dos colegas. Quando o rato for
pego substituem-se as crianças. Todos devem passar pela experiência
de ser “gato” e “rato”.
Correr com uma folha de jornal apoiada em diferentes partes do corpo
sem deixá-la cair no chão, por exemplo: na cabeça, na barriga, no braço,
em um dos pés, na coxa etc.;
a) Formação: Dispostas lado a lado, atrás de uma linha traçada no chão,
cada criança possui duas folhas de jornal.
b) Desenvolvimento: Ao sinal do recreador, deverão colocar uma folha no
chão, à sua frente e pisar sobre ela. O outro passo deverá ser sobre a
outra folha de jornal, e assim sucessivamente, até alcançarem a linha
de chegada.
O recreador pode elaborar junto com as crianças uma história cujos personagens deverão ser vestidos com roupas feitas de jornal. Os jornais
também podem ser usados na produção de máscaras e cenários.
Contestes
Exemplos:
a) Formação: Crianças de pé, com as pernas afastadas, dispostas em duas
colunas com número igual de participantes.
Material: Duas bolas.
Desenvolvimento: Ao sinal do recreador, a primeira criança de cada coluna passa a bola por entre as suas pernas para a que está atrás, e assim
sucessivamente, até que a bola chegue ao último da coluna. Este sairá
correndo e ocupará o primeiro lugar. Vence o grupo cuja criança que
iniciou o jogo voltar para sua posição original.
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Variação 1: A bola deverá ser passada por cima da cabeça.
Variação 2: O primeiro jogador passa a bola por entre as pernas, o segundo
por cima da cabeça, o terceiro por entre as pernas, o quarto por cima da
cabeça e, assim, sucessivamente.
b) Formação: Crianças de pé dispostas em duas colunas com número igual
de participantes.
ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
Material: Dois cones (ou duas garrafas pet) colocados a uma distância
de aproximadamente três metros à frente de cada coluna.
Desenvolvimento: Ao sinal do recreador, a primeira criança de cada coluna
sai correndo, dá uma volta ao redor do cone, retorna, bate na mão da
segunda criança e vai para o final da coluna. A segunda criança só poderá sair de seu lugar após o primeiro bater em sua mão. Vence o grupo
cuja criança que iniciou o jogo voltar para sua posição original.
Jogos com características cooperativas
Exemplos:
a) Queimado em “X”
Formação: A quadra é dividida em um “X” e a turma é dividida em quatro grupos identificados por quatro cores diferentes. Cada grupo ocupa
um espaço do “X”.
Material: Bolas de borracha
Desenvolvimento: Cada vez que uma criança é queimada, ela vai, levando a
bola, para o grupo da pessoa que a queimou, passando a fazer parte
deste novo grupo. Todos os grupos podem queimar os outros, o que
gera uma intensa movimentação e troca de lugares. Podem ser usadas
duas bolas.
b) Basquetebol por zona
Formação: A quadra é dividida em áreas retangulares e paralelas formando
as zonas de jogo – “a, b, c, d”. A turma é dividida em dois times.
Material: Bola de basquete
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Desenvolvimento: Em cada zona ficam de dois a três representantes dos dois
grupos. Se estipularmos a cesta “x” para o time Lua, as áreas “a” e “b”
serão suas zonas de defesa e as áreas “c” e “d” serão suas zonas de ataque.
Deste modo, a cesta “y” será do time Sol, suas zonas de ataque serão “a”
e “b” e suas zonas de defesa serão “c” e “d”.
O jogo começa com a bola no centro da quadra. A bola é disputada
zona a zona, pode ficar por poucos segundos em cada uma, deve ser
passada para a zona seguinte e não pode ser lançada deixando de passar por qualquer uma delas. Quando uma equipe marca ponto, os jogadores trocam de zona, fazendo um rodízio das posições. Todos deverão passar pela experiência de atacar e defender seu time.
RECREADOR
Variação 1: Dependendo das características do grupo, a cesta pode ser a
cesta de basquete, um gol, um arco, um balde ou outro objeto adequado.
O mesmo princípio pode ser empregado com bolas de handebol.
Cesta “x”
Zonas de defesa do time Lua
Zonas de ataque do time Sol
Cesta “y”
Zonas de defesa do time Sol
Zonas de ataque do time Lua
c) Futebol em duplas
Formação: Turma dividida em duas equipes. A mesma formação do futebol, apenas os participantes jogam em duplas ou em trios, de mãos dadas. Pode ou não haver goleiros.
Desenvolvimento: Os jogadores não podem soltar as mãos. A cada gol, são
formadas novas duplas entre os jogadores da mesma equipe.
Variação 1: A cada gol, o time ganha o ponto, mas a dupla que o marcou vai
para o outro time.
Variação 2: Podem ser usadas mais de uma bola ao mesmo tempo.
Matroginástica
A matroginástica é excelente oportunidade para aproximar membros da
mesma família. É uma atividade divertida que acontece ao som de músicas
animadas e reúne grande quantidade de pessoas, para executar movimentos
de baixo impacto, que possibilitam interações entre os participantes. Estes
movimentos podem ser realizados individualmente, em duplas e trios.
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É muito utilizada em festas de final de ano em empresas, escolas e clubes.
a) Material necessário: Palco, aparelhagem de som, alto-falantes e microfones;
jornais, bolas de gás, bastões, fitas coloridas, arcos e cordas.
b) Duração: Cerca de quarenta e cinco minutos.
ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
c) Atividades indicadas: As já conhecidas Habilidades Básicas: andar, correr,
saltar, saltitar, lançar-receber, subir-descer; dançar; brincar de roda, imitar os movimentos do companheiro; brincadeiras de fazer carrinho de
mão, cadeirinhas, cavalinho, passar por baixo das pernas do parceiro;
pular corda, fazer “cabo-de-guerra”, passar por baixo da corda em diferentes alturas, saltar por cima da corda de diferentes alturas, etc.
d) Desenvolvimento: A atividade inicia com uma música bem animada. O
recreador pode levar as pessoas a dançar, bater palmas e fazer diversos movimentos para desinibi-las. As atividades em duplas formadas
por pais/mães e filhos são indicadas. Com o passar do tempo podem
ser realizadas atividades que impliquem na participação de grupos
formados por mais de uma família e, ao final, é interessante fazer
uma grande roda que envolva a todos.
Gincanas
Existem vários tipos de gincanas (culturais, esportivas, beneficentes etc.), mas
de uma maneira geral, são atividades recreativas, de caráter competitivo, realizadas por grupos que se dispõem a cumprir tarefas (as provas) previamente
determinadas. O cumprimento destas tarefas resulta em pontos para o grupo
que, ao final, serão somados para que se conheça o vencedor.
As gincanas exigem um trabalho de organização que envolve a elaboração
do regulamento, a definição do espaço que será utilizado, o material disponível, o número de participantes, a seleção das provas e de seu valor, os
critérios de pontuação, e a escolha de árbitros.
As provas podem ser do tipo: trazer o objeto mais antigo; trazer a pessoa
mais idosa, trazer uma nota de dólar; trazer um representante do governo
municipal; fazer um levantamento dos grupos musicais e folclóricos do
bairro e divulgá-los nas casas comerciais; trazer um artesão do bairro e
divulgar seu trabalho; trazer um vestido de noiva; conseguir juntar cinqüenta quilos de alimentos; responder perguntas sobre assuntos diversos;
trazer um artista de sucesso etc.
De um modo geral, as gincanas iniciam com o sorteio das tarefas pela manhã e, ao final do dia, há a contagem dos pontos e a entrega dos prêmios.
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Finalizando este nosso item, é importante reforçar que estes são apenas alguns exemplos. Certamente você pode encontrar muitas outras possibilidades em
manuais de jogos, livros diversos, levantando junto às crianças e mesmo lembran-
do de sua tempo de infância. Uma possibilidade interessante é também inventar
seus jogos e/ou construir junto com as crianças novas brincadeiras.
Ainda falando de públicos específicos, não se esqueça dos jovens! Assim
como em outros casos, eles merecem um cuidado especial e uma programação
adequada aos seus interesses.
ATIVIDADE 7
RECREADOR
Aliás, apesar de termos nos prendido muito na faixa etária da infância, é
bom lembrar: adulto também joga e gosta de jogar. Obviamente você vai ter
sempre que utilizar jogos adequados a cada período da vida, considerando as
questões locais, culturais, econômicas etc. Uma brincadeira que dá certo em um
lugar, por vezes não funciona em outro. Algo que parece plenamente apropriado, nem sempre funciona como esperamos. Por isso devemos estar preparados para imprevistos e termos opções para mudar nossa programação inicial,
caso algo não surta o efeito que esperávamos.
Nesse momento, sob orientação do professor, vamos experimentar a
utilização de jogos com grupos diferenciados. Seu professor ajudará na
preparação das atividades, para o qual você deve considerar o conjunto
de informações já apresentadas.
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Caracterização da ocupação
ESPORTE E LAZER
Nesse item conversaremos sobre determinadas características sugeridas para
quem pretende trabalhar como Monitor de Recreação. De início podemos dizer
que um dos principais aspectos deste trabalho é que você terá que lidar com
muitas pessoas, algumas extremamente diferentes de você.
Um primeiro cuidado, portanto, é não se deixar levar por preconceitos e
antipatias gratuitas, afinal você será o responsável pelo desenvolvimento do
trabalho durante um determinado período. Você será a pessoa a quem todos
recorrerão caso haja algum problema ou aconteça algum imprevisto.
É claro que se você não apresentar todas as características aqui levantadas, isso não significa que tenha feito a opção errada ou que não terá sucesso
em sua atuação. O interessante de tudo isso é a possibilidade que você está
tendo de se conhecer melhor e, mais, a chance (que deve ser aproveitada) de se
aprimorar como ser humano, a partir do instante em que sentir a necessidade
de modificar um ou outro aspecto de seu comportamento. Lembre-se que tais
características não são “dons do destino”, podem ser treinadas e aprendidas,
basta atenção e empenho.
O recreador é alguém muito especial. Em sua área de atuação lida com as
pessoas em momentos de descontração, de festa, de alegria e de prazer, por
isso, não pode ser uma pessoa sisuda, de poucas palavras ou pouco comunicativa. Seu trabalho consiste em reunir pessoas, fazê-las estabelecer contatos entre si, brincar com elas, fazer com que brinquem, dancem, riam, divirtam-se.
Mas tudo isso deve ser feito sem perder de vista suas responsabilidades de
estimulá-las a pensar sobre sua realidade.
Como já foi dito, o recreador deve educar as pessoas para o divertimento,
por isso, não pode ser uma pessoa tímida, que tenha vergonha de se expor ou
de falar para um grupo. Como estará sempre se comunicando, é importante
que seja ouvido e bem compreendido. Logo, é aconselhável expressar-se com
clareza, articulando bem as palavras, emitindo-as em alto e bom som.
Os grupos com os quais você irá trabalhar poderão ser os mais diversificados, compostos por variados tipos de pessoas, de diferentes classes sociais e
faixas etárias. Você poderá atuar com crianças, adolescentes, adultos, idosos,
idosas, donas de casa, trabalhadores etc. Poderão (e deverão sempre que possível) ser incluídas pessoas portadoras de deficiência,. Não é aceitável qualquer
tipo de preconceito, para isso não há justificativa. Devemos estar prontos a não
permitir esses tipos de manifestações em nossas atividades, sejam motivadas
por questões raciais, econômicas, etárias, de gênero ou de orientação sexual.
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Por isso, é fundamental que você saiba ser firme sem ser agressivo ou
grosseiro, tenha habilidade para resolver conflitos, saiba respeitar as limitações, as habilidades e as capacidades individuais; seja criativo para lidar com
os problemas e imprevistos, saiba ouvir e respeitar aqueles que têm opiniões diferentes das suas, além de ter clareza sobre os valores éticos que devem nortear as relações sociais.
Muitas vezes você terá que recepcionar clientes, esclarecendo dúvidas,
orientando acerca de vestimentas, alimentação, higiene pessoal etc., por isso
terá que ser firme sem ser grosseiro, expressar-se bem, fazer-se ouvir e ser
tolerante.
Você poderá ser chamado para coordenar ou administrar um determinado Setor de Recreação, para isso terá que demonstrar organização, imparcialidade, capacidade de liderar equipe, capacidade de tratar bem os seus subordinados; terá que demonstrar condições de recrutá-los, capacitálos e avaliá-los; poderá ter que definir, comprar, organizar e supervisionar equipamentos bem como o uso de materiais e, para
isso, mais uma vez, são competências importantes a capacidade de organização, a responsabilidade, a tolerância, a capacidade de
análise de um fato ou de uma dada situação, a imparcialidade, a firmeza e a cordialidade.
RECREADOR
Você poderá ter que elaborar projetos de atividades recreativas, o que
requer, dentre outras atribuições, analisar espaços físicos e equipamentos disponíveis, agendar atividades, definir cronogramas, distribuir tarefas etc. Para
isso, terá que ter calma, organização e método; deverá conseguir delegar poderes, isto é, confiar que outras pessoas de sua equipe de trabalho terão capacidade de realizar as tarefas de maneira satisfatória e adequada.
Ser recreador é estar o tempo todo em contato com o público,
mas também estar o tempo todo em contato com você mesmo. É refletir
sobre suas atitudes, sobre sua personalidade e sobre seu comportamento, como
também sobre o alcance, as possibilidades e os limites de seu trabalho.
ATIVIDADE 8
Sob orientação do professor, vamos fazer uma dinâmica de grupo para
que possamos discutir nossa postura profissional.
47
Onde trabalha o recreador
ESPORTE E LAZER
O recreador pode desenvolver atividades nos mais diferentes espaços, sendo os mais comuns: festas, colônias de férias, manhãs recreativas, hotéis, casas de
festas infantis, clubes, empresas, associações comunitárias, igrejas, centros religiosos, hospitais, asilos e ônibus de turismo.
Cada um desses locais possui peculiaridades que você precisa conhecer para
melhor desenvolver seu trabalho. Vamos ver com maiores detalhes as festas, os
clubes, as empresas e os ônibus de turismo.
Festa da lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim - Salvador - Bahia
AS
FESTAS
Você pode ser chamado para animar festas de aniversário infantil; de confraternização de final de ano de alguma empresa; de uma casa geriátrica; para as
crianças da comunidade promovida pela associação de moradores, ou outros
tipos de festividades. Uma festa pode fazer parte de uma programação mais
ampla ou ser uma atividade mais pontual.
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Você, como recreador, pode ser convidado a participar da elaboração
de toda a programação ou para se ocupar apenas das crianças. Caso você
participe da equipe de organização, pode utilizar seus conhecimentos sobre
os interesses culturais (já vimos isso em um dos itens anteriores, lembra?) e,
tendo em mente a idéia de que deve contribuir para a ampliação do conhecimento acerca das possibilidades de diversão dos sujeitos, sugerir uma programação que envolva a exibição de filmes, passeios pelos equipamentos culturais da cidade, excursões, piqueniques, caminhadas pela própria comunidade
com temáticas bem humoradas sobre os problemas do bairro, palestras sobre
DST/AIDS e violência doméstica, apresentação de um grupo de pagode do
bairro, festival de pipas, torneio de futebol, de bola de gude, de vôlei e o que
mais a sua imaginação mandar, o restante da equipe concordar e a verba disponível ou o patrocínio permitir.
É possível que você também possa ser convidado a trabalhar com animação de festas infantis. Neste caso, você apenas pode ter alguma idéia acerca do
número de crianças e de sua faixa etária. Como crianças maiores não costumam
participar das atividades propostas, você pode supor que terá um grupo com
idade máxima de dez (10) anos (o que não significa que você não deve se empenhar em também envolver outras faixas etárias). Este tipo de atuação requer material específico e, para fugir da mesmice que normalmente impera nessa área, você
deve se preparar com um grande repertório de atividades atraentes.
RECREADOR
RECREADOR
É muito interessante ter, ao menos, uma noção do que as pessoas da
comunidade gostam e/ou costumam fazer em seus momentos de lazer e sempre que possível envolvê-los em todas as fases do evento (para mais informações sobre isso, dê uma olhada no item sobre a ação comunitária de lazer, na
ocupação “agente comunitário de esporte e lazer”). Esse pode ser o ponto de
partida ou de chegada da programação, por exemplo, se houver uma escola de
samba ou um bloco carnavalesco, ou ainda um grupo do folclore da região.
Eles podem se apresentar, iniciando ou encerrando a festa.
ÔNIBUS DE TURISMO
Digamos que você tenha decidido organizar um
passeio ou uma excursão para alguma cidade próxima. Tudo
acertado, todos os passageiros já estão acomodados, chegou a hora
da partida.
Durante o trajeto você pode desenvolver um trabalho dentro do
ônibus com o objetivo de estimular e integrar as pessoas. Este trabalho apresenta, pelo menos, três dificuldades: a primeira é que se deve evitar os deslocamentos dos passageiros, o ideal é que todos permaneçam em seus lugares, por questão de segurança. A segunda é a falta de espaço e a terceira é a instabilidade do
ônibus que gera uma instabilidade da
posição do recreador.
Entretanto, nada disso impede que
possam ser utilizadas cantorias e brincadeiras de adivinhação; competição entre os sentados na janela contra os sentados no corredor, ou dos sentados do
lado direito contra os do lado esquerdo; brincadeira do telefone; brincadeira
do “Qual é a música?”; concurso de pia-
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das; concursos culturais (com perguntas do tipo: “Qual é o nome do ministro da
Fazenda?”); e concursos de abobrinhas (com perguntas do tipo: “Quais são os
nomes das Meninas Super-Poderosas?”).
Mas atenção: cuidado para não ser inconveniente. Em alguns momentos,
em certas atividades ou com alguns públicos específicos, as pessoas querem
utilizar o momento do ônibus para descansar e não para mais brincadeiras.
EMPRESAS
ESPORTE E LAZER
O recreador pode também ser contratado para atuar em empresas, o que
requer atenção especial para, ao menos, quatro aspectos:
Com relação ao próprio recreador
Existem, no mínimo, duas possibilidades deste trabalho acontecer. O recreador pode ser contratado pela empresa para organizar/animar festas
em datas específicas (tais como Dia das Crianças, Dia das Mães, Dia dos
Pais, Festa de Natal etc.) ou pode ser contratado para desenvolver atividades ao longo de todo o ano. Em alguns casos, talvez seja difícil trabalhar sozinho, daí haver necessidade de conseguir alguns auxiliares, que
também podem ser contratados ou podem ser do corpo de funcionários
da própria empresa.
Com relação à empresa
Para qualquer uma das opções acima, o recreador deverá observar o espaço disponível na empresa, isto é, verificar se as festas e/ou atividades
podem ser realizadas no local de trabalho ou se haverá necessidade de
utilizar um outro local. Uma outra possibilidade é a empresa possuir uma
sede campestre e o profissional ser contratado para trabalhar apenas nos
finais de semana.
Com relação ao número de participantes
Esta é uma facilidade que pode existir quando se trata de empresas. O
recreador poderá obter dados um pouco mais seguros sobre o número
de funcionários e seus dependentes, sobre seus gostos pessoais, sobre sua
faixa etária e sobre quem pretende participar da programação.
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Com relação às atividades
É muito importante que o recreador, considerando os interesses culturais
e a idéia de que deve contribuir para a ampliação do conhecimento acerca
das possibilidades de diversão das pessoas, diversifique bastante a programação.
Esta programação pode incluir atividades infantis, infanto-juvenis e para
adultos e idosos de ambos os sexos; atividades que envolvam pais e filhos, somente pais e somente filhos. É interessante procurar atender às
diferentes necessidades dos indivíduos, pois há aqueles que gostam de
movimento e aqueles que preferem se divertir sem muita agitação. Por
exemplo, para os primeiros você pode pensar em uma sessão de matroginástica, em uma gincana, em torneios esportivos, bailes etc. Para o segundo grupo você pode planejar torneios de jogos de salão, torneios de jogos de baralho, bingos etc. O teatro e o cinema, geralmente, satisfazem a
todos, por isso é possível pensar em uma apresentação teatral e na exibição de um bom filme.
Também pode ser interessante lançar mão dos grupos artísticos que porventura existam na própria empresa. O recreador também pode (e deve) estimular a criação de grupos de teatro, de dança, de música etc.
Um pouco mais sobre empresa
Se o recreador for contratado para desenvolver o trabalho ao longo do
ano, poderá ter mais tranqüilidade para elaborar uma programação que
abarque todos os interesses culturais.
É interessante também pensar em montar um mural em algum lugar de
grande circulação da empresa de modo que seja possível divulgar o calendário cultural da cidade e a programação cultural elaborada. O recreador
poderá ainda organizar passeios pelos equipamentos culturais da cidade;
organizar caravanas para assistir as peças e os filmes em cartaz; levar grupos de funcionários e suas famílias para visitar os centros culturais e as
exposições; organizar palestras sobre os mais diversos assuntos etc. Pode
ainda tentar obter descontos em ingressos de modo a viabilizar uma maior participação. Também há a chance de estreitar a relação dos funcionários da empresa com o SESC ( Serviço social do comércio) ou o SESI (
Serviço social da indústria) que possuem ampla programação de lazer
destinada a trabalhadores.
RECREADOR
CLUBES
Os clubes podem ser agrupados em duas grandes categorias: os clubes de
bairro ou urbanos e os clubes campestres. Para atuar nesses espaços devemos
considerar:
Com relação às instalações
Os clubes urbanos variam bastante de tamanho. De uma maneira geral,
possuem grande área construída com a tendência ao aproveitamento de
todo o espaço. Naqueles que possuem instalações simples, a quadra de
futebol ou poli desportiva tem destaque e é acompanhada por vestiários,
banheiros e cantina. Vamos encontrar outros maiores, com mais de uma
piscina, quadras cobertas e descobertas, campos de futebol, salões de baile,
salas de ginástica, salas de balé e outras modalidades desportivas, teatro e
lojinhas.
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Os clubes campestres geralmente possuem amplas áreas ao ar livre, campos de futebol, quadras externas, piscinas, salão de baile, áreas para churrasco e piqueniques, bares ao ar livre, criação de pequenos animais etc.
Com relação às atividades desenvolvidas
ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
Normalmente nos clubes urbanos são desenvolvidas atividades durante
toda a semana. Eles podem oferecer diversas possibilidades para a prática de esportes ou para reuniões sociais.
O recreador pode ser funcionário do clube e participar da elaboração da
programação das atividades oferecidas ou pode ser contratado apenas
para atuar em eventos ou datas específicas, tais como Dia das Crianças,
Dia das Mães, Festa de São João, Festa de Natal etc. Em ambos os casos,
antes de montar a programação deve ter o cuidado de conhecer bem o
clube, examinando os locais que poderão ser utilizados e observar se sua
programação não irá interferir na rotina de utilização dos espaços. Caso
isso ocorra, é interessante confirmar o que pode ser modificado, se a programação ou se o espaço que seria utilizado. Deverá observar se irá trabalhar sozinho ou se poderá contar com o auxílio de outras pessoas. Um
detalhe importante é saber quem providenciará a contratação dos auxiliares, se o recreador principal ou o clube.
Em seguida deve partir para elaborar a programação. Deve ser previsto
o desenvolvimento de atividades que acontecerão ao mesmo tempo,
em lugares diversos, de modo a contemplar pessoas de diferentes faixas
etárias.
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RECREADOR
ATIVIDADE 9
O professor dinamizará e organizará uma visita dos alunos a clubes, empresas, associações de moradores, centros religiosos etc. O objetivo será
conhecer as instalações, identificar a existência ou não de projetos de recreação e mesmo verificar a possiblidade de implantação de um novo projeto.
Registre aqui suas observações.
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UM POUCO DE HISTÓRIA
A palavra lazer se incorporou de tal forma ao nosso cotidiano que pouco
nos perguntamos hoje quais são suas origens e porque estudiosos de diversas
áreas se preocupam tanto com esse fenômeno que nos parece tão simples. Vamos começar definindo o momento histórico do seu aparecimento para entendermos sua importância no momento atual.
No final do século XVIII, a Revolução Industrial, desencadeada inicialmente na Inglaterra, marcada entre outras coisas pela substituição das ferramentas manuais pelas máquinas à vapor e do modo de produção doméstico pelo
sistema fabril, acaba por promover uma série de mudanças na sociedade. Naquele momento histórico, com a implantação de um novo modelo de organização de
trabalho nas fábricas, as cidades começam a ter uma nova dinâmica.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
O que chamamos de lazer
Neste novo modelo de organização
social, o tempo de trabalho passa a ser
mais controlado, com horários de entrada, de almoço e de saída. Ou seja,
o tempo de trabalho (e todos ligados
a nossa vida) passa a ser regulado pelo
tempo de produção das máquinas.
Com a rigidez de horário imposta por
esse novo sistema, o momento de
não-trabalho começa também a ser mais regulado e da mesma forma controlado. É nesse
contexto que vemos surgir na história a definição do fenômeno do lazer, tal como entendemos hoje.
ATIVIDADE 10
Responda, em uma folha de papel, ás seguintes perguntas:
a) Para você, o que é lazer?
b) Como usar seu tempo de lazer?
A partir de suas respostas, o professor dinamizará um debate com a turma.
57
LAZER
NOS DIAS DE HOJE
ESPORTE E LAZER
Podemos perceber então que o lazer enquanto fenômeno moderno se desencadeou em meio a tensões e lutas por direitos das novas classes sociais que se
organizavam naquele momento. Daí a importância de o entendermos historicamente situado.
Assim, devemos ter em vista que se nos dias de hoje temos um maior tempo livre, se considerarmos os séculos passados, isso ainda não é uma conquista
completa. A maioria da população, por exemplo, nem sempre tem grande tempo livre, muitas vezes sequer tem emprego e comumente não tem a possibilidade
de usufruir qualitativa e eqüitativamente das manifestações e dos equipamentos
de lazer existentes.
Pense: como você ocupa o seu tempo livre. Você tem algum grupo que se reúne
para jogar bola, cartas, dançar em bailes, ir ao cinema ou papear na pracinha mais
próxima? Você gosta de ler ou prefere ver televisão nos dias de folga? Você já se
preocupou com o seu tempo de lazer? Você se organiza para diversificar suas atividades de lazer? Vai ao cinema, teatro, museus? Tem acesso a todas opções que
quer? É bem provável que não.
Na verdade, nos dias de hoje, com tantas preocupações relacionadas ao que é considerado
“básico” para a vida (como saúde, trabalho
e moradia), não paramos para pensar no nosso tempo de lazer. Com o aumento das desigualdades econômicas, as preocupações
financeiras se tornam freqüentes e muitos
problemas são deflagrados pela falta de recursos. Assim, a tendência é não pensarmos
na importância do lazer, pois ele supostamente não é elemento fundamental para a nossa
sobrevivência: um grave equívoco.
Não dando a devida atenção aos momentos de lazer,
abandonamos um espaço de conquista de qualidade de vida e de
possível reflexão sobre a realidade, inclusive de nos organizarmos
para juntos construirmos pautas comuns de reivindicação. Você
deve se lembrar daquela música do grupo Titãs: “Você tem sede de
que? / Você tem fome de que? / A gente não quer só comida, / A gente quer
comida, diversão e arte. / A gente não quer só comida, / A gente quer saída para
qualquer parte./ A gente não quer só comida, / A gente quer bebida, diversão,
balé. / A gente não quer só comida, / A gente quer a vida como a vida quer”.
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Voltemos um pouco ao passado para continuarmos a discutir os momentos de lazer. No final do século XIX começa a se configurar o que
chamamos de indústria do lazer e do entretenimento, que se expande consideravelmente no decorrer do século XX. No início, ela até contribuiu
O entretenimento se transformou em uma grande indústria muito bem articulada. Repleta de alternativas, seus produtos são criados para atender diferentes
camadas sociais, mas não com a mesma possibilidade de acesso: quem não pode
pagar para se divertir no cinema, pode assistir a programação de qualidade duvidosa das tardes de domingo nas redes de televisão. A cidade que deveria ser um
espaço de encontro dos cidadãos está sendo cada vez mais cercada para a realização de eventos privados de lazer, servindo aos privilegiados que têm dinheiro.
Assim, as elites continuam incorporando esses benefícios como capital cultural, o
que colabora para a construção e a manutenção das diferenças sociais. Soma-se a
tudo isso, portanto, o fato de que, com a expansão dos meios de comunicação,
tornou-se cada vez mais “cômodo” as práticas domésticas de lazer.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
para trazer as pessoas para o espaço público das cidades em crescimento,
mas o atual crescimento da pobreza e da violência acaba fazendo com que
os habitantes, principalmente dos grandes centros urbanos, reduzam sua
presença nestes locais, muitas vezes sem se dar conta disso. Até porque o
que a cidade apresenta como espaço alternativo de ocupação, não poucas
vezes está a serviço da alta circulação de capital. Se você quer se divertir com
supostas segurança e liberdade, você tem que pagar, e pagar caro.
Encontramos assim muitos motivos para a redução da ocupação dos espaços públicos: violência, falta de dinheiro, alternativas domésticas, e dessa forma
as pessoas vão se conformando e não percebem que perderam muitos momentos de encontros, festas públicas e outros espaços de divertimento.
Esse processo de privatização das vivências públicas substitui antigas experiências que tinham as ruas como espaço de lazer.
Meios como a televisão, o rádio e o computador podem criar uma espécie de fantasia e de
sonho sobre a vida, algo que não corresponde à realidade. Não estamos aqui querendo afirmar que os novos meios de comunicação são de todo ruins. Pelo contrário, existem sim programas nas emissoras
de rádio e TV de muita qualidade, que nos trazem
muitas informações sobre temas dos mais diversos. Somente
chamamos aqui a atenção para o fato de não experimentarmos outras formas de lazer.
LAZER
E
EDUCAÇÃO
E de que forma as atividades de lazer podem interferir nessas fortes estruturas? De início podemos dizer que nós, profissionais de lazer, podemos atuar objetivando a construção de uma cidade com opções de lazer mais acessíveis a todos.
Para isso, é fundamental possibilitar novas experiências, acesso as mais diferentes
manifestações culturais, entre as quais as artísticas, podendo gerar assim olhares
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mais sensíveis e atentos às necessárias transformações sociais.
ESPORTE E LAZER
É importante frisar que não adianta possibilitar acesso a bens artísticos e
culturais se os indivíduos não forem educados para entenderem e se interessarem por essas atividades de lazer. É necessária uma preparação, uma educação
para o desenvolvimento do interesse e do conhecimento das produções culturais, o que não acontece “naturalmente”.
Neste sentido, três dimensões devem ser consideradas de forma articulada quando tratamos da questão do acesso aos equipamentos de lazer: a sua
presença e existência, preferencialmente próximo à residência dos habitantes
(aspecto físico e geográfico), o valor cobrado e os gastos necessários para que
seja possível freqüentar o espaço (aspecto econômico) e a disposição e estímulo para que as pessoas procurem este espaço (aspecto cultural, aqui diretamente
relacionado à ação pedagógica).
Da mesma forma, não adianta a realização de programas esporádicos (atividades que ocorrem só de vez em quando, sem uma sequência) de oferecimento
de alguma atividade de lazer sem a construção de um projeto pedagógico claro e
contínuo. Os indivíduos podem passar a gostar de determinadas linguagens culturais porque tiveram oportunidades e foram informados sobre suas peculiaridades, especificidades, sobre as diversas dimensões dessas linguagens.
Uma questão também fundamental é percebermos se a distribuição dos
equipamentos de lazer está relacionada ao poder aquisitivo dos moradores da
nossa cidade. Muitas vezes, além da distância em que estão localizados os espaços de diversão, cobra-se um valor muito alto, impossível de ser pago pela
maioria da população. Vale lembrar que estamos chamando de equipamentos
de lazer os espaços naturais ou construídos, criados ou organizados para a realização de atividades de diversão, como teatros, museus, cinemas, centros culturais, campos de futebol, etc.
Os shoppings, os centros comunitários, as lojas são espaços de lazer. Os shoppings, hoje em dia muito procurados, estão se proliferando pelo nosso país e em
muitos municípios têm se tornado a principal opção de lazer. Não podemos
deixar de lembrar, contudo, que trata-se de um complexo de lojas, e que lojas são
feitas para que a gente compre. É claro que esses espaços também possuem salas
de cinema, parques e praças de alimentação, que muitas vezes apresentam shows
de música gratuitos. O que estamos reforçando aqui é que não podemos nos
esquecer que enquanto estamos nos divertindo nesses espaços, estamos também
sendo seduzidos ao máximo para consumirmos os produtos à venda.
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Caminhando para concluir este item, devemos então explicitar que o profissional de lazer não é o responsável por simplesmente oferecer atividades
para passar o tempo das pessoas, contribuindo com a idéia que se trata de um
momento de alienação dos problemas sociais, políticos e econômicos. A atuação dos profissionais de lazer é eminentemente política, pode estimular a população a se divertir sim, mas nesse processo compreender que deve reivindicar
Para concluir, definamos então que as atividades de lazer são: sempre
culturais; realizadas no tempo livre das obrigações de trabalho, religiosas, domésticas e necessidades diárias; são buscadas eminentemente pelo prazer (característica que não é exclusiva dessas atividades), o que não retira a possibilidade de que se estabeleçam como ferramentas de conscientização da realidade.
Há duas posturas possíveis nos momentos de lazer: assistir ou praticar. Podemos assistir um grupo de folclore ou fazer parte de um deles;
podemos comparecer a um espetáculo de música ou tocar em uma banda;
podemos pintar um quadro ou comparecer a uma exposição. Para nós, profissionais de lazer, o importante é buscar equilibrar as duas posturas em
nossos programas de atuação.
ATIVIDADE 11
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
políticas públicas que possam dar conta ou pelo menos minimizar progressivamente as desigualdades sociais e fazer com que cada cidadão se sinta mais “pertencente” em sua cidade.
Seu professor levará para a sala, revistas e jornais. Junto com seus colegas,
você fará cartazes para dinamizar uma discussão sobre os principais
problemas que cercam os momentos de lazer.
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A animação cultural
EDUCAÇÃO PARA E PELO LAZER
ESPORTE E LAZER
Estamos percebendo então que a atuação do profissional de lazer possui
uma via dupla de ação educativa: pelo lazer e para o lazer.
Quando aproveitamos as atividades de lazer como veículo da educação, estimulando a compreensão e transformação de valores e comportamentos, estamos
educando pelo lazer. Muitos trabalhos de artistas trazem reflexões que se desencadeiam a partir de imagens, letras de música, movimentos de dança, textos teatrais e
outras linguagens. O artista não necessariamente está preocupado com o alcance
de suas mensagens, mas cabe ao profissional de lazer encaminhar questões para que
os indivíduos reflitam sobre o que foi apresentado.
Nesse processo é fundamental que o educador não “imbecilize” os indivíduos, mas que saiba conduzi-lo instigando reflexões, discussões, contextualizando a
obra, criando relações com outras linguagens, instigando críticas e análises. Por
meio das diversas linguagens culturais podemos estimular nosso público-alvo a
buscar novas formas de ver o mundo.
Na aprendizagem de muitos conteúdos as atividades de lazer também
podem oferecer muitas contribuições. Você já pensou que poderíamos
aprender história através das artes plásticas (pinturas, esculturas), aprender matemática ou física através de atividades esportivas ou de aulas de
música, poderíamos entender melhor a língua portuguesa através da
leitura de peças teatrais ou aprender especificidades das regiões do
nosso país através das lendas e danças folclóricas? Pois veja só quantas
coisas poderíamos aprender utilizando o lazer como meio, ou seja,
aprenderíamos com muito mais prazer.
Por outro lado, a educação para o lazer também é fundamental, já que vivemos num grande caldeirão cultural onde muitos não conseguem ter acesso a determinadas produções por não se interessarem, reflexo da falta de informações, da
falta da educação para essas determinadas produções.
Vamos exemplificar para ficar mais claro.
Quando um professor entra numa comunidade da periferia do Rio de Janeiro para dar aulas de dança e coloca, na primeira aula, música clássica para os alunos
dançarem, é provável que seus alunos não gostem. É possível que por isso corra
até o risco de sua turma se reduzir nas aulas seguintes.
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Sabemos que em muitas comunidades da periferia do Rio de Janeiro, as pessoas têm o costume de ouvir funk. Como ouvem funk, gostam de dançar funk. Muitas
vezes as pessoas não gostam de outro estilo de música porque não estão acostuma-
Não estamos colocando aqui nenhum juízo de valor em relação ao funk ou a
música clássica. Estamos aqui colocando a necessidade de todos poderem conhecer diferentes tipos de linguagem para que assim possam escolher o que preferem,
para que decidam sobre seus desejos e prazeres, com base no conhecimento das
diversidades culturais. É preciso ampliar as possibilidades de intervenção para que
diferentes pessoas gostem do funk e da música clássica e para isso é necessário um
processo de educação para entender o funk e a música clássica.
CONCEITO
DE
ANIMAÇÃO CULTURAL
Todo esse processo de atuação denomina-se animação cultural. A primeira
palavra se origina do latim anima, que significa, na língua portuguesa, alma (ou
seja, aquilo que move ou dá movimento). Esse termo define com maior precisão
a atuação do profissional do lazer e ao mesmo tempo reforça a necessidade da
procura por parte dos animadores de um conhecimento mais amplo acerca das
produções culturais sejam elas no campo das artes, do esporte, da culinária, da
moda, enfim, de todas manifestações.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
das ou nunca foram apresentadas a outro estilo musical. As pessoas têm seus
sentidos apurados conforme o ambiente onde estão inseridas, conforme seu contexto cultural.
A animação cultural é um processo complexo que nunca se esgota, pois
não se trata de uma simples passagem e acúmulo de informações sobre diferentes linguagens culturais. A animação cultural é uma composição de redes, é
a possibilidade de construção de diferentes gostos a partir da aproximação de
um ambiente cultural múltiplo. A animação cultural é o estimulo para a busca
do conhecimento e a vivência da diversidade cultural, isto é, dos mais diferentes
tipos de atividades e não somente um conjunto restrito. Lembremos que só existe a liberdade de escolher quando se tem e se sabe sobre o que escolher.
Obviamente que existem tensões no âmbito cultural, relações de poder e
interesses de grupos. Devemos então ter bastante cuidado na realização de
programas de lazer para não agirmos sem deixar espaço para que os indivíduos
se posicionem e aprendam a escolher, reproduzindo da mesma forma relações
hierárquicas. Temos que contribuir para despertar o interesse pelas diferentes
formas de cultura, mas não devemos achar que a “melhor cultura” é aquela
difundida pelas elites.
Para entendermos melhor, vamos trabalhar alguns aspectos das linguagens
culturais que podem facilitar a elaboração de planos de ação para a animação cultural. Podemos distinguir três padrões de organização cultural, que não se constituem de forma isolada e fechada, mas criam tensões e trocas entre si. Na verdade,
assim o apresentamos somente por esforço didático, já que na prática há uma enorme mistura, os produtos culturais se interinfluenciam todo o tempo.
Os três padrões de organização cultural são:
63
Cultura erudita
ESPORTE E LAZER
São manifestações que geralmente se
organizam em “escolas”. Destacamse por construírem ao seu redor uma
idéia de prestígio e de poder de decisão, difundindo valores e padrões
estéticos que se perpetuam no tempo. São historicamente apreciadas
pelas elites.
Banda Sinfônica Jovem
Você já parou para pensar que manifestações fazem parte desse grupo?
Nas artes plásticas podemos exemplificar a cultura erudita através do romantismo, do impressionismo, do surrealismo, entre outros. Na dança, através do balé acadêmico, da dança moderna e da dança contemporânea.
No cinema, temos o exemplo do expressionismo alemão, do neo-realismo italiano, entre outros.
A primeira observação a ser feita é que não se gosta dessas manifestações por se possuir um dom natural, inato. O que acontece é que nas
escolas, em casa e em momentos de lazer, alguns poucos privilegiados
têm a oportunidade de aprender as especificidades dessas linguagens,
sendo estimulados a desenvolverem o gosto por elas. Enquanto isso,
muitos outros são privados desse direito e se quer têm consciência dele.
Na verdade todos os indivíduos dispõem de potencial para apreciar
esses tipos de manifestações, o que nem todos têm são as condições
concretas necessárias para tal. Nesse sentido é fundamental a criação de
projetos pedagógicos que
apresentem e esclareçam as
peculiaridades das linguagens e, ao mesmo tempo, apontem alternativas e soluções para a necessidade concreta de se
promover e incentivar a
criação de espaços (como
centros culturais, museus, teatros e cinemas) mais próximos das localidades onde vivem as populações de baixa renda, inclusive com preços mais acessíveis.
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Cultura de massas
Produzida pela grande indústria cultural, a cultura de massas, como o próprio nome diz, é destinada ao consumo em larga escala. Atende ao gosto
médio da população. Sendo assim, nesse processo nem sempre está preocupada com investimentos que elevem seu nível de qualidade. Seu maior
problema está nos interesses comerciais de grupos específicos. Logicamente não existem somente produtos de baixa qualidade, apesar de serem a
maioria. O investimento dessa indústria numa produção heterogênea deixa
muito claro o objetivo maior de ampliação do mercado.
Não estamos negando o prazer que as pessoas obtém com as atividades
da cultura de massas; muito pelo contrário, esse prazer deve ser considerado ao planejarmos os nossos programas de lazer. Acreditamos também que os indivíduos não recebem as manifestações de forma totalmente passiva. Há processos de resignificação, de reelaboração que devem
ser considerados pelos profissionais de lazer.
Pelos desníveis de acesso decorrentes das desigualdades sociais, as atividades da cultura de massas acabam sendo as mais, e muitas vezes únicas,
acessíveis para o grande conjunto da população. É muito mais fácil o
acesso a televisões e rádios do que teatros, museus e cinemas.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
Cultura popular
A cultura popular é geralmente relacionada à uma produção local. Com
menor poder de influência e decisão,
torna-se muitas vezes mais frágil perante a ação do mercado cultural.
Apesar de se relacionar bastante ao
conceito de tradição, é comumente
modificada também em função dos
encontros e diálogos culturais, bem como a
partir dos interesses da indústria cultural, que a transforma em produto de consumo mais vendável.
Enquanto profissionais de lazer, devemos estar atentos para a inclusão das manifestações populares em nossos programas e para a sua valorização, estimulando grupos produtores à manutenção de suas atividades.
Enfim, o que aqui procuramos ressaltar é a necessidade de pensarmos em
utilizar diferentes linguagens e manifestações culturais em nossos programas de
lazer, criando realmente a possibilidade de livre escolha dentre as diferentes formas de organização da cultura, por meio da educação pelo e para o lazer.
Se um número maior de pessoas experimentasse o prazer proporcionado por:
músicas clássicas, populares e eletrônicas; espetáculos de dança e teatro; poesias; ro-
65
ESPORTE E LAZER
Roda de capoeira - Salvador - Bahia
das de capoeira; exposições
de artesanatos e vídeo-instalações; filmes de arte e de
grande circuito; e muitas
outras atividades que poderiam ser aqui citadas, você
não concorda que poderíamos estar gerando focos de
reivindicação por uma cidade que melhor distribuísse os diferentes bens e
equipamentos culturais?
Obviamente que para inserir uma grande diversidade de atividades em nossos programas, precisamos pensar em um projeto estratégico progressivo. Temos que pensar num percurso que parta de experiências menos difíceis de serem
acessadas, ou até mesmo já vividas anteriormente, que possam fazer mediações
para a apresentação de novas possibilidades. Para dar seguimento a essa idéia, na
verdade temos também que ampliar nossa própria formação, desenvolvendo
novas competências, ampliando nossa possibilidade de trabalhar com diferentes
estratégias.
A animação cultural, enfim, é uma tecnologia educacional, é uma proposta de intervenção pedagógica baseada na idéia de mediação, que busca contribuir para um entendimento mais profundo dos diferentes sentidos e significados culturais. Nesse processo objetiva-se provocar questionamentos acerca
da ordem social estabelecida, contribuindo assim para a construção de uma
sociedade mais justa.
Acreditamos que o animador cultural pode contribuir para que os indivíduos se sintam estimulados a buscar e a acessar os mais variados bens culturais,
inclusive aqueles relacionados com a nossa tradição e nossa cultura popular, estimulando também a preservação da nossa memória social.
ATIVIDADE 12
Agora tente listar entre as manifestações que você conhece, aquelas ligadas à cultura erudita, popular e de massas. Tente, também, classificar
nessas categorias, os programas de televisão.
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A tarefa do profissional de lazer não é nada fácil, embora algumas vezes o
pareça. Além de ter que mediar atividades que respeitem o prazer e a escolha dos
participantes, ainda deve educá-los num momento em que eles não se colocam
explicitamente disponíveis para tal. A ação pedagógica do profissional deve se
caracterizar pelo talento e esforço para que exista uma “negociação” coerente, que
dê margens para o surgimento e discussão de idéias e propostas.
É muito importante a busca da participação ativa de todos na composição
do programa de lazer, e para tal é fundamental que o profissional estabeleça
estratégias de mediação, intervindo no processo, fazendo com que a administração do programa se dê em conjunto com a comunidade.
Para entendermos melhor essa possibilidade de atuação, vamos exemplificar a partir de uma proposta concreta elaborada e aplicada por um grupo de
professores e estagiários da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria
com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e 32 prefeituras de municípios do
Estado do Rio de Janeiro, nos anos de 2003 e 2004.
PROPOSTA
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
Pensando a ação comunitária
METODOLÓGICA PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE
LAZER A PARTIR DA IDÉIA DA AÇÃO COMUNITÁRIA DE LAZER
Inicialmente, a partir da elaboração de um manual para otimização de utilização de equipamentos de lazer, foi realizado um encontro para capacitação de representantes (um representante da comunidade local e um da prefeitura) de 32
municípios do Estado do Rio de Janeiro, na unidade do Sesc de Nogueira.
A idéia inicial era melhor aproveitar a utilização de quadras esportivas que
haviam sido construídas nesses municípios, estimulando as comunidades a ocuparem com qualidade esse equipamento, bem como se empenhando para que não
fossem destruídos em função da falta de utilização e do abandono.
Os passos e fases sugeridos na proposta metodológica a seguir, baseados nas
experiências do prof. Nélson Carvalho Marcellino (veja maiores informações na
bibliografia), podem e devem sofrer adaptações conforme a realidade da comunidade envolvida. Apontaremos a seguir as referências que foram utilizadas e também adaptadas para cada comunidade de cada município. É fundamental entendermos que não encontraremos nunca receitas prontas: é necessário um olhar sensível para cada situação.
1ª Fase
1o passo
Nesse primeiro passo o profissional de lazer busca conhecer a comunida-
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de em que vai se inserir. É fundamental:
* Compreender as características dos locais
Trata-se de tomar conhecimento tanto dos aspectos complicadores quanto das potencialidades do local: grupos artísticos já formados, times
esportivos, descobrir outros espaços de lazer, outras iniciativas já desenvolvidas em outros locais.
ESPORTE E LAZER
* Identificar as lideranças comunitárias
Trata-se de descobrir e contactar quem são as lideranças, tanto no nível
formal, como membros de associações de moradores, quanto informal,
isto é, aqueles indivíduos que de alguma maneira são reconhecidos e
respeitados no local.
* Convocar as lideranças para uma reunião ampliada
A reunião tem o objetivo de comunicar os intuitos de implantação de
um programa de lazer em conjunto com a comunidade, buscando apoio
das lideranças e identificando possíveis colaboradores para a operacionalização e organização da estrutura do programa (um marceneiro para
elaboração de barraquinhas ou palcos, um eletricista para instalar equipamentos de som ou luz, um animador de festas para conduzir o evento, uma pessoa que organize a parte de alimentação e exposições, e
todos que também queiram ajudar).
2o passo
A equipe realiza uma capacitação de animadores culturais para os indivíduos da própria comunidade. As discussões com as lideranças destacam a importância do lazer e suas possibilidades de atuação. Nesse momento, além de estarmos nos aproximando das comunidades, conhecendo algumas peculiaridades de cada uma, delineamos em conjunto
objetivos e estratégias para a realização do programa de lazer.
3o passo
O terceiro passo tem como meta organizar e realizar uma atividade de
impacto. Essa atividade tem o objetivo de marcar o início das atividades de lazer, chamando a atenção para os espaços das comunidades
que podem ser ocupados (quadras, ginásios, praças, parques), envolvendo o maior número possível de pessoas. A atividade de impacto
deve ser um grande evento que chame a atenção da comunidade para
o espaço utilizado e as atividades programadas, ou seja, voltar a atenção das pessoas para o potencial de sua comunidade com relação à
produção cultural, possíveis atividades de lazer, formas de encontrar
as pessoas do próprio bairro, espaços que podem ser ocupados. Para
esse evento, devemos tentar ampliar a equipe, a partir da identificação
e do envolvimento dos parceiros antes citados.
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Em todas as etapas do projeto não podemos deixar de envolver a comunidade. O profissional de lazer deve se empenhar para que a comunidade esteja ativa e participante.
É importante chamar a atenção para que esse evento seja apenas o estímulo para um envolvimento maior da população em relação ao seu bairro.
4o passo
O último passo da primeira fase é a avaliação do evento. O profissional
de lazer, junto às lideranças e aos novos integrantes da equipe (no dia
do primeiro evento sempre identificamos novos integrantes para a
equipe), avaliam o processo e os resultados do evento dando continuidade à coleta de informações para a continuidade do programa de lazer.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
O evento pode ser, por exemplo, a organização de um
grande “Dia de Lazer”, com atividades como campeonatos, apresentações de grupos de dança, bailes, apresentação de bandas locais, aulas para todos os públicos,
exposições de artistas locais, lanches.
Essa primeira fase do programa é caracterizada pela tentativa de sensibilização da comunidade, pela integração dos esforços do profissional
de lazer junto à comunidade.
2ª Fase
É um período em que identificamos além dos resultados que eram
esperados e foram decorrentes do evento, também os que não eram
esperados. Identificamos os novos movimentos na quadra esportiva
em função do evento; se estão sendo realizados jogos, aulas de dança,
etc. Enfim, novas discussões são estabelecidas com o objetivo de envolver mais pessoas que possam ocupar o espaço, desenvolvendo as
potencialidades da comunidade.
Nessa fase buscamos dar maior autonomia de organização à equipe comunitária, isto é, nosso intuito é que cada vez mais a comunidade se
envolva com a proposta. Descobrindo e revelando possíveis animadores culturais da própria comunidade, incentivamos a programação de
novos eventos e atividades que se realizem mais freqüentemente.
É importante identificar um grupo que se responsabilize por trazer propostas e as necessidades da comunidade, se envolvendo diretamente em
suas organizações.
3ª Fase
Atuando em conjunto, comunidade e profissional de lazer dão prosse-
69
ESPORTE E LAZER
guimento ao programa, planejando, implementando, avaliando e reorientando as atividades oferecidas. O objetivo central é sempre o de
buscar a autonomia da comunidade. A ação dos profissionais deve ser
fundamentalmente de acompanhamento, mediação, consultoria e organização conjunta. Essa é a natureza de sua intervenção.
Centro de Comunidade da Vila Floresta - Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Foto: Ivo Gonçalves / PMPA
Na nossa experiência, dentre os muitos desdobramentos que alcançamos
no final de nossa atuação junto às comunidades podemos citar os mais significativos: observamos um número maior de comunidades mobilizadas ao redor
da quadra esportiva; houve uma ampliação no número de pessoas envolvidas
na condução e organização de atividades de lazer, que também se ampliaram e
se diversificaram; em alguns municípios, espaços foram recuperados, pois a
prefeitura começou a olhar os espaços da comunidade com mais cuidado. Enfim, esses são apenas alguns desdobramentos relacionados à comunidade, pois
poderíamos escrever muitas páginas sobre os desdobramentos em relação à
própria equipe da UFRJ e do Sesc.
Enfim, para alcançarmos mudanças na comunidade em que atuamos, por
meio do desenvolvimento de um projeto no campo do esporte e lazer, é necessário num primeiro momento estabelecermos metas, para que as propostas
sejam lançadas de acordo com os objetivos que queremos alcançar.
70
Ao elaborarmos nossa programação em parceria com a comunidade, devemos estar atentos para a necessidade de diversificar as atividades, de forma
que os mais diversos interesses e gostos sejam contemplados e assim então todos
possam participar.
Assim devemos considerar:
* Faixa etária - crianças, adolescentes, adultos e idosos
* Portadores de deficiências
* Grau de preparação e de aptidão para a realização do que for oferecido
Devemos tentar possibilitar também, através de uma mesma atividade, a integração de públicos diferentes, promovendo assim a aproximação e a troca de
experiências e vivências que são próprias desses grupos. Para isso, o profissional
de lazer deve estar atento para não permitir qualquer manifestação de preconceito ou discriminação em relação às questões de faixa etária, raça, gênero, orientação sexual, deficiência física, enfim, todos devem ter o direito de participar seja da
preparação, da execução ou da avaliação do programa de lazer.
Quando desejamos realizar determinada atividade e não dispomos do material ou do espaço necessário para aquele grupo específico, devemos procurar
adaptar a situação, aproveitando outro tipo de material ou espaço. Por exemplo,
alguns locais têm escadas que dificultam a locomoção de pessoas mais velhas ou
portadores de deficiência. Nesse caso, poderíamos pensar na colocação de
rampas, que podem facilitar a mobilidade. Quando programamos jogos, podemos adaptar a altura de tabelas e bolas, se o público for de crianças. Enfim, a
equipe deve estar atenta e sensível para tentar solucionar possíveis problemas na
execução do programa.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
* Gênero - homens e mulheres
ATIVIDADE 13
Em grupos, vamos preparar uma simulação de projeto de ação comunitária de lazer. Tentemos seguir todos os passos descritos. Tal projeto será
discutido por todos, para que seja possível que todos deêm suas sugestões.
Outra questão fundamental é a segurança do público
na realização das atividades. Observar se os pisos são
escorregadios, se existem buracos e desníveis nos locais
onde serão realizadas as atividades práticas e, sempre que
possível, contar com algum tipo de equipe médica no
local. No mínimo, temos que dispor de um bom material
de primeiros socorros e ter próximo alguém capaz de
ministrar os primeiros cuidados em caso de algum acidente.
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Caracterização da ocupação
ESPORTE E LAZER
Bem, você que agora se inicia na profissão de agente comunitário pode estar se
perguntando: mas que habilidades devo desenvolver para ser um bom profissional?
Quais as características de um bom agente comunitário de esporte e lazer?
Obviamente não é possível traçar um “receituário” do que seja um profissional adequado. Cada agente comunitário terá determinadas características, algumas inclusive de personalidade, que podem ou não favorecer o seu exercício profissional. Além disso, há determinados traços que são comuns a qualquer profissão.
Por exemplo: responsabilidade, bom senso, ética, respeito às diferenças são coisas
que se esperam de qualquer um, em qualquer ocupação.
O que vamos apresentar aqui são algumas características básicas e específicas
para quem atua como agente comunitário, algo que deve ser sempre buscado por
esses profissionais, detalhes e informações que não devemos perder de vista se
desejamos ser ainda melhores profissionais.
Comecemos pela própria formação que você está recebendo nesse momento. Você a julga suficiente? Pois saiba que não é. Estas informações são apenas o
início. Se em todo campo profissional é necessário que o profissional busque manter atualização constante, para os profissionais de esporte e lazer essa necessidade
é ainda maior. E veja bem, quando falamos isso não estamos somente nos referindo à formação técnica, ou seja, teorias, novas referências, outras propostas, experiências recentes.
Como nós profissionais de lazer trabalhamos diretamente com as
manifestações culturais, é necessário que também estejamos atentos ao
que de novo surge nesse campo. Assim, o profissional de lazer precisa
também cuidar de sua formação cultural, ir ao cinema, ir ao teatro, ler
bastante, ouvir música etc.
Isso cria um ambiente de coerência (afinal, se acreditamos que a cultura tem
um poder de promover mudanças a partir de uma perspectiva crítica e educacional, nós também temos que nos submeter a esse processo) e nos apresenta diferentes estratégias para que possamos utilizar com nosso público-alvo. Quer uma dica?
Leia muito, participe do máximo que puder, não se deixe acomodar.
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Procure sempre entender as suas ferramentas de atuação, as manifestações
culturais, enquanto fenômenos sociais, que tem uma história, que estão relacionadas às tensões sociais e as contradições de nossa vida em sociedade. Amplie
seu conhecimento sobre elas, estude, seja curioso, prove na sua própria pele a
dificuldade de observar e apreciar novas possibilidades.
Bem, já que você terá contato constante com comunidades, com pessoas,
há duas outras habilidades que você deve buscar desenvolver: liderança e comunicação.
Liderar é conduzir equipes, coletivos, grupos, estimulando sua participação crítica e o desenvolvimento de seu potencial criativo. Liderar não é determinar que as pessoas façam exatamente o que você quer, mas através do diálogo constante saber o momento de respeitar os desejos de seu grupo, o momento de negociar algo diferente, bem como o momento em que você deve intervir
de forma mais direta, de forma a garantir um avanço na sua proposta e/ou
mesmo preservar os envolvidos de uma situação perigosa.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
Esta dica também tem relação com uma segunda necessidade: o profissional de esporte e lazer deve exercitar constantemente a sua criatividade. Isso ajuda
a tornar seus programas mais atrativos e a solucionar os problemas que por ventura podem surgir (e, acredite, surgirão) no contato que estabelecemos com a
comunidade. Exercite a capacidade de inovar, criar e recriar em suas propostas.
Pratique a capacidade de, ao dialogar com seu público, descobrir alternativas
para a composição de seu programa de intervenção.
O que desejamos é que nosso grupo desenvolva suas potencialidades,
logo não podemos ser autoritários e não deixar aberto os canais para uma ampla participação. Avaliar constantemente é uma
boa dica. Se auto-avalie a todo momento, desconfie, pense e convoque seu público a contigo perceber o que está bom, o que não está, o que precisa ser mantido, o que precisa ser alterado.
Tendo em vista essa necessidade, a questão
da comunicação passa a ser muito importante.
Você vai trabalhar com gente e isso requer paciência e disposição para contatos freqüentes. Você deverá exercitar a habilidade
de negociar e comunicar cuidadosamente as coisas que deseja.
Além disso você provavelmente vai trabalhar e lidar com profissionais de diferentes áreas, o que significa que os pontos de vista sempre serão
muito diversos. Saber como tratar tais diferenças no sentido de construir uma
proposta de qualidade é um enorme desafio do qual devemos ter clareza.
Certamente carisma, bom humor e bom-trato para com o outro não são
suficientes, pois de nada essas coisas valem se você não tiver claros os seus objetivos. Mas também não são características que devemos esquecer, afinal ninguém
espera ser recebido por um profissional de lazer mal humorado, chato, com pouca paciência, não é mesmo?
Percebeu que o tempo inteiro falamos de “grupos”. Pois bem, aí está outra
característica importante: o profissional de esporte e lazer deve aprender a trabalhar com um número ampliado de pessoas, deve entender os desafios de atuar
sempre em conjunto com outras pessoas. Deve portanto exercitar a capacidade
73
ESPORTE E LAZER
de saber se posicionar, mas também de ouvir o que o outro tem a dizer; de se
posicionar criticamente com respeito e também escutar atenciosamente o que o
outro tem a falar. Ouvir e falar são duas partes que compõem um diálogo; portanto, nenhuma das duas deve ser esquecida.
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A próxima dica vale para qualquer um: seja organizado. Estabeleça objetivos de curto, médio e longo prazo. Saiba onde quer chegar, mesmo que reconheça que pode demorar um bom tempo para alcançar o que desejas. Não deixe de
planejar nunca, ainda que saiba que muitas vezes seu planejamento não sairá exatamente da maneira esperada, o que é normal na nossa prática cotidiana. Não
vamos confundir “flexibilidade” (todos nós devemos ter isso em mente) com
desorganização e/ou abandono de seus objetivos maiores.
Lá vai outra dica então! Planeje, prepare-se o melhor possível para cada
atividade e nunca deixe de avaliar, pois só esse momento lhe permitirá entender
o que deu certo, o que não deu, o que precisa ser ajustado.
Por fim, não esqueça nunca que você é um educador e pode ocupar uma
importante função na comunidade em que está trabalhando. Lembre-se que as
atividades de lazer não são um mero passatempo ou uma coisa menos importante na vida das pessoas, mas para você é uma fértil possibilidade de promover
mudanças na vida de cada indivíduo, no cotidiano da comunidade em que estás
inserido.
Portanto, você precisará sempre exercitar seu senso crítico para com tudo
que o cerca: a situação social, o público-alvo, a equipe que está atuando junto
contigo e consigo mesmo. Repito para que fique claro: não somos profissionais
de lazer para simplesmente passar o tempo das pessoas. Devemos estar atentos a
tudo que nos cerca durante todos os momentos.
O campo de trabalho para o agente comunitário de esporte e lazer é cada vez
maior. Isso se deve ao fato de que, em função do lamentável avanço do número de
comunidades de baixa renda em situação de risco social, crescem também o número de “projetos sociais” que, supostamente, pretendem contribuir para a melhoria
da qualidade de vida da população.
Nesses projetos, muitas vezes o esporte e as manifestações culturais em geral são
utilizados como um dos principais atrativos, ferramentas principais para promoção da
intervenção. Mesmo que em muitos desses projetos se ofereça alguma forma de formação profissional, as atividades de lazer ocupam espaço de importância. Assim sendo, aí encontra espaço de trabalho o profissional de esporte e lazer.
Apesar de ser um excelente campo de trabalho, o agente comunitário de
esporte e lazer deve ter atenção às suas oportunidades profissionais. A verdade é
que são muito diferentes as instituições, normalmente Organizações Não-Governamentais (Ongs), que oferecem e organizam estes “projetos sociais”. Algumas
são bastante sérias e realmente demonstram preocupação denotada com a comunidade em que estão inseridas. Outras já não apresentam tanto cuidado e acabam investindo mais nas atividades de manutenção de seu funcionamento do que
na comunidade em si.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
Onde trabalha o agente
comunitário de esporte e lazer
Além disso, devemos lembrar que nunca somente boas intenções são suficientes para o desenvolvimento de boas propostas. Os projetos a serem desenvolvidos devem contemplar boa articulação entre teoria e prática, visão estratégica,
honestidade e um intuito político claro de não somente atenuar os problemas pelos quais passa momentânea e pontualmente a comunidade, mas sim dar contribuições para a construção de uma nova sociedade, ainda que se trate isso de um objetivo de longo prazo.
Assim sendo, o agente comunitário de esporte e lazer não pode perder de
vista seus objetivos. Mais do que ser mero profissional que segue as normas estabelecidas pela coordenação dos projetos, deve estar pronto a dar sua contribuição na
elaboração, reorientação e avaliação constante, a partir dos conhecimentos aqui
apresentados.
Obviamente que esse processo de interferências nos rumos dos projetos deve
ser encaminhado com cuidado. Caso nos sintamos incomodados com os rumos
do projeto em que estamos envolvidos, devemos com habilidade comunicar nossos desconfortos e ir aos poucos apresentando nossas sugestões para que ajustemos as propostas implementadas. Lembre-se: habilidade política e de negociação
é sempre algo esperado do agente comunitário de esporte e lazer.
Certamente, nos dias de hoje, são as ONGs as maiores empregadoras de
75
ESPORTE E LAZER
agentes comunitários de esporte e lazer, mas também cada vez mais organizações governamentais aumentam a contratação desses profissionais (falamos de
secretários de esporte e lazer dos municípios, estados e do âmbito federal). Isso
tem um motivo claro: finalmente percebe-se que a eficácia de um trabalho comunitário tem um de seus grandes trunfos na forma como se estabelece contato
com a população.
Aos poucos vemos ser abandonada uma perspectiva tradicional de ação
comunitária, quando quem vinha de fora oferecia o que pensava ser melhor
para a comunidade, sem que essa fosse consultada. Percebe-se que o sucesso
desses projetos está também em conseguir envolver a comunidade em todas as
fases, sabendo de seus desejos, suas expectativas, ao mesmo tempo em que se
busca problematizar tais pontos de vista. Assim sendo, cresce a consideração
do agente comunitário como profissional de importância para o sucesso das
propostas.
Então, o agente comunitário de esporte e lazer pode encontrar postos de
trabalho nesses projetos governamentais. E aí o profissional deve também estar
atento aos objetivos dos projetos. Assim como ocorre com as organizações nãogovernamentais, há órgãos públicos mais sérios e outros nem tanto. Algumas propostas estão efetivamente interessadas em beneficiar as comunidades; já outras são
puramente eleitoreiras, implementadas próximas de eleições ou simplesmente destinadas a captar a popularidade das atividades de esporte e lazer.
Há ainda uma terceira possibilidade. Vocês
que estão fazendo este curso podem formar equipes de trabalho e usar os conhecimentos obtidos para oferecer seus
serviços. Aproveitem essa formação
básica, juntem-se de forma a potencializar a característica de cada um, organizem uma proposta e apresentem
um projeto de intervenção, seja para organizações governamentais, seja para órgãos
públicos ou mesmo se transformem em grupo autônomo, que junto a outras instâncias da comunidade (como,
por exemplo, a associação de moradores) possam implementar seu trabalho.
76
Mesmo que as comunidades de baixa renda sejam as opções prioritárias de
trabalho deste profissional, ele não deve perder de vista outras possibilidades de
atuação. Com os conhecimentos que possui pode trabalhar também em condomínios, em clubes, em colônias de férias, em manhãs de lazer, em qualquer outro
lugar onde possa, de forma mais contínua, implementar sua atuação. Para tal,
pode também considerar as possibilidades que falamos anteriormente: ou ser
contratado ou organizar equipes para oferecer serviços.
O importante é que você não perca de vista seus objetivos educacionais e
políticos: esses sim devem nortear suas ações no decorrer do tempo, para o
qual você vai traçar suas metas de curto, médio e longo prazo.
AGENTE COMUNITÁRIO DE ESPORTE E LAZER
Obviamente que, nesses casos, nem sempre é possível seguir fielmente o
que discutimos nessa ocupação. Na verdade, na prática quase nunca isso é possível. O importante é você ter em vista essas informações como um modelo ideal,
algo que vai buscar se aproximar ao máximo, já sabendo que cada local de trabalho, cada espaço específico, vai exigir de você adaptações, muitas vezes certas
concessões e certamente bastante paciência.
Programa Ribeira Azul - Estimula a atuação comunitária, preparando líderes e a comunidade como um todo
para participar do planejamento comunitário - Salvador - Bahia
ATIVIDADE 14
Caminhe por sua localidade (bairro, região administrativa e se possível
cidade) e busque identificar onde você pode atuar como agente comunitário de esporte e lazer. Registre aqui suas impressões.
77
78
ESPORTE E LAZER
O que chamamos de esporte
POUCO DE HISTÓRIA
Na definição do surgimento do
esporte, pode-se situar duas grandes
tendências. Na primeira delas, acredita-se
que o esporte já existia na Antigüidade,
sendo identificado em jogos que eram
praticados por muitos povos. Assim, alguns estudiosos
dizem, por exemplo, que o futebol já era praticado por
egípcios, chineses e italianos na Idade Média.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
UM
Já na outra tendência, procura-se entendê-lo como um
fenômeno mais recente, que mesmo apresentando semelhanças técnicas com antigas práticas corporais, possui sentidos
e significados completamente diferenciados daqueles jogos
“pré-esportivos”. Nesse sentido, o esporte é uma manifestação que surgiu no
final do século XVIII, notadamente nas escolas inglesas, com o objetivo de manter
a disciplina entre os jovens, de preparar novos líderes e posteriormente como
uma eficaz maneira de obter lucros com a organização de eventos esportivos.
ATIVIDADE 15
Vamos usar o teatro para melhor entender a história do esporte?
Seu professor fará uma dinâmica bem divertida com a turma!
81
ESPORTE E LAZER
A despeito dessas diferenças de concepção, não há como negar que desde
aquele momento essa prática social apresenta características marcantes e observáveis até os dias de hoje:
a) uma organização em forma de clubes, federações, confederações e outras entidades; antes os jogos não seguiam essa forma de organização
mais estruturada;
b) possui um calendário próprio, já não mais sendo praticada estritamente
de acordo com outros tempos sociais; isto é, antigamente os jogos eram
praticados relacionados a datas festivas, a cerimônias religiosas; a determinadas épocas do ano; hoje, os calendários esportivos independem
disto e, ao contrário, em determinadas competições, como é o caso de
Copas do Mundo de Futebol, chegam a influenciar nos outros calendários (já perceberam que quando há jogos do Brasil, o expediente de trabalho acaba mais cedo?);
c) possui um corpo técnico especializado, cada vez maior, trabalhando em
seu interior; não havia antes a figura do treinador, nem tampouco do
atleta profissional; hoje além desses dois há um sem número de profissionais trabalhando no campo esportivo: psicólogos, preparadores físicos, nutricionistas, jornalistas especializados e até mesmo profissionais
que ensinam as práticas esportivas, como você, futuro monitor de esporte e lazer;
d) gera um enorme mercado ao seu redor, que extrapola até mesmo o que
a princípio poderia ser considerado específico da prática esportiva; já
percebeu quantos produtos são vendidos ao redor do esporte? Tênis,
camisas, bonés, bolas, entre muitas outras coisas.
ESPORTE,
JOGO E
ATIVIDADES FÍSICAS
É importante observar que no seu momento
inicial ainda não estava definitivamente estabelecida
uma relação entre o esporte e a atividade física. Não
por acaso, em muitos paíAtividade física regular
ses, inclusive no Brasil, o
turfe (corrida de cavalos) esteve entre os primeiros esportes a se organizarem.
82
O fortalecer da relação entre o esporte e o exercício físico se dá com o
aumento das preocupações com o saneamento das cidades e com a saúde da
população, que se desenvolveram em muitos países devido a desdobramentos
do avanço da industrialização e da rápida urbanização. Como as cidades cresceram muito rapidamente, os problemas de saúde tornaram-se cada vez mais co-
muns e isso interferia na produção e prejudicava os negócios.
O esporte passa então a também ser concebido como estratégia de formação corporal; uma boa ferramenta para a preparação de corpos musculosos (que
passaram a ser considerados como padrões de “saúde”), bem como para a difusão desse modelo, ao redor do qual seria gerado um verdadeiro estilo de vida.
Supostamente os que tivessem mais músculos estariam mais preparados para trabalhar, renderiam mais frutos para os donos das fábricas, inclusive porque se
esperava que ficassem menos adoentados.
No Brasil, o esporte exemplar dessa mudança é o remo. No remo, já não é
mais um animal que corre, mas sim um homem que conduz o barco com seus
próprios braços. No turfe, o jóquei era fraco e pequeno (isso garantiria que o
cavalo corresse mais rápido), enquanto no remo eram homens fortes e “saudáveis”, constantemente retratados em posições que valorizassem seu físico.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Assim, era necessário estabelecer novos parâmetros de convivência que permitissem as nações rumarem em “direção ao progresso”. Nesse sentido, cada vez
mais se fazem necessárias estratégias de controle corporal e de preparação de um
corpo saudável para a condução da nova perspectiva sócioeconômica.
A partir do remo, os esportes em geral foram aos poucos perdendo a característica de jogos de azar (uma influência do turfe) e ganhando cada vez mais
um caráter de escola de virtudes e caráter. Sim, é verdade, no início, ao redor das
práticas esportivas havia as apostas e essas eram a parte do espetáculo mais apreciada. Não havia prática esportiva em que elas não existiam.
Mas o contexto de moralização dos esportes e da sociedade como um todo
acabou por restringir esse costume. Além disso, algumas atividades populares passaram a ser proibidas em muitos países: não se podia mais, por exemplo, realizar brigas
de galo (ainda que ilegalmente, lamentavelmente essa prática cruel ainda persista). É
tão grande a mudança que muitos sequer consideram o turfe como um esporte, embora ele ainda hoje freqüente as páginas esportivas de jornais.
É importante perceber que desde o início da organização do “campo esportivo” (pois estamos falando não de uma prática que se encerra em si, mas que,
além de ter certa autonomia, tem influências para além de suas especificidades),
estavam concebidas e implementadas estratégias de negócios.
As elites, responsáveis pela condução das competições, obtinham lucros
com as vendas de ingressos, com as apostas e loterias, com a venda de cavalos.
Ao redor disso, ganhava-se dinheiro das mais diversas formas. Por exemplo, com
a venda de material para a prática do turfe.
A imprensa também lucrava, ao vender espaços para a propaganda dos
clubes e ao aumentar sua vendagem em dias próximos às competições. Com a
vinculação do esporte à “saúde” (uma relação equivocadamente direta que permanece até os dias de hoje), muitos outros produtos passam a ser vendidos:
tônicos, fortificantes, extratos.
83
ESPORTE,
SAÚDE, ESTILO DE VIDA, NEGÓCIOS
ESPORTE E LAZER
Depende de como o utilizamos em nossos programas. O grande problema
do esporte é que tendemos a copiar a mesma estrutura do chamado “alto nível”
(jogos olímpicos, competições internacionais, Copas do Mundo etc.) em outros
espaços. Veja, quando estamos trabalhando em comunidades, com crianças e
jovens, não é necessário que supervalorizemos os resultados.
A questão é ver o esporte como uma possibilidade para educar. Como ele
pode ser por nós utilizado para estimular as pessoas a melhor viver, a buscar uma
melhor qualidade de vida, a compreender as contradições de uma sociedade tão
injusta quanto a nossa. Esse é o grande desafio do monitor de esporte e lazer: não
reproduzir os métodos utilizados para grandes atletas, nem se limitar a somente
ensinar um conjunto de técnicas e táticas, mas sim usar essas estratégias com fins
políticos claros, de superação desse modelo de sociedade. Daí que acreditamos
na necessidade de uma boa formação para esse profissional.
Outra coisa que devemos entender é que cada vez mais o esporte é identificado como uma “forma de viver”, a qual os “modernos” adotam. No vestuário,
por exemplo, vemos surgir e se popularizar o paletó, o tênis, o short, todos produtos decorrentes da prática esportiva. O esporte lança moda e influência a vida
das pessoas por todo o mundo. O mercado ao redor do campo não só faz uso
das imagens esportivas para vender seus produtos, como também, nesse processo, ajuda a reforçar valores que nem sempre são os mais interessantes para o
grande conjunto da população.
Por certo, por tais características, o esporte também foi e continua sendo
utilizado diversas vezes por regimes políticos e administrações governamentais
como forma de investimento para encaminhar suas propostas de intervenção
social e fundamentalmente como forma de propaganda de uma suposta eficácia
administrativa.
É importante perceber que, devido ao seu valor econômico e a sua adequação aos novos valores culturais vigentes (dimensões que devem ser compreendidas
de forma articulada), o esporte passa paulatinamente a ser uma das práticas culturais mais difundidas no século XX. Sem sombra de dúvida, pode-se afirmar que é a
manifestação que maior número de pessoas consegue mobilizar ao seu redor, tendo grande interferência nos comportamentos, hábitos e costumes.
84
Não por acaso, ao final do século XX, o esporte é apontado pelos economistas como um dos maiores produtos de negócios e assisti-se a rápida profissionalização de sua administração. Percebe-se o auge de um longo processo. Para
se ter uma idéia de seu potencial, Rudolph Murdoch (e sua News Corp., empresa
do ramo do entretenimento) pagou US$ 4,4 bilhões para exibir os jogos da liga
de futebol americano, e US$ 750 milhões para exibir os jogos da liga de beisebol.
Além disso, tentou comprar o Machester United, tradicional clube de futebol
inglês, por US$ 1,03 bilhão, só não concretizando o negócio por intervenção
contrária do governo da Grã-Bretanha.
Enfim, o esporte não se trata, como nunca se tratou, de uma ingênua diversão, mas sim de uma prática social poderosa, influente, que envolve emocionalmente um grande número de pessoas, e que hoje se apresenta definitivamente como
uma eficaz forma de negócios, capaz de mexer com sonhos e difundir idéias, comportamentos, atitudes.
Em linhas gerais, chamamos de marketing, o processo de planejamento e
execução de um conceito sobre um produto, de forma a privilegiar sua
divulgação ou seu uso em estratégias de difusões, tendo ou não fins
comerciais.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
No Brasil, as indústrias de materiais esportivos movimentam, somente com
as vendas, mais de R$ 8 bilhões. Somente no país, US$ 237 milhões foram gastos
com o marketing esportivo, uma quantia aliás considerada muito pequena pelos
especialistas, principalmente se comparada a outros países como os Estados
Unidos, a Alemanha e o Japão.
Assim, você futuro monitor de esporte e lazer, deve estar atento as diversas
contradições que existem ao redor dessa fascinante prática cultural. Especialização
precoce (o equívoco de acelerar a formação de atletas e, busca de resultados entre indivíduos de faixas etárias mais novas), competitividade exacerbada (lembremos que os resultados não devem ser os principais motivos da
prática esportiva), usos políticos, violência, armações em resultados, desonestidade, tudo isso existe
no campo esportivo, juntamente com outras coisas boas: companheirismo, amizade, sentido de grupo e coletividade, solidariedade.
Nada é garantido a princípio. O que vai determinar se o esporte pode ou não
ser uma boa ferramenta educacional é a qualidade de trabalho do monitor de esporte
e lazer (na verdade, de qualquer profissional da área). É a sua forma de trabalho que
vai determinar o quanto o esporte pode ser útil para a vida de seu público-alvo, para
além de ser um simples entretenimento, um simples passatempo.
ATIVIDADE 16
Utilizando jornais e revistas, vamos fazer cartazes, para discutir os principais assuntos tratados, relativos ao esporte e a prática de atividades
físicas.
85
Alguns princípios básicos para
quem trabalha com esporte
ESPORTE E LAZER
INTRODUÇÃO
Agora que já sabealguns aspectos importanpo e o que acontece com ele
exercício ou alguma ativideremos, de maneira bascípios do treinamento es-
mos o que é esporte, veremos
tes a respeito do nosso corquando praticamos algum
dade física em geral. Aprentante resumida, alguns prinportivo, algumas proprieda-
des básicas de como funcicuidados a serem tomados
cios físicos de maneira saujogando futebol, nadando,
minhando, inúmeras alteraso corpo é submetido ao
ona o nosso corpo e alguns
para a realização de exercídável e segura. Afinal, seja
correndo ou até mesmo cações ocorrem quando o nosesforço.
Devemos ressaltar que as informações aqui apresentadas não são suficientes para você treinar fisicamente uma equipe ou preparar um programa de condicionamento físico, até porque este não é o intuito do monitor de esporte e lazer.
O que objetivamos é que você compreenda melhor alguns princípios para poder
gerenciar com segurança as atividades físicas, entre as quais as esportivas, que
você utilizará cotidianamente em seu exercício profissional.
BENEFÍCIOS
86
DA ATIVIDADE FÍSICA
Na realidade, muitos sistemas e órgãos corporais, senão quase todos, são colocados em situações diferentes das condições normais de repouso. Pulmões, rins, cérebro, glândulas, músculos e muitos outros órgãos passam a funcionar de maneira
bastante diferente para que o nosso corpo produza, entre outras coisas, mais energia
e, conseqüentemente, realize o esforço necessário para a atividade física que estamos
praticando. Nosso coração, por exemplo, pode bater duas ou até três vezes mais
rápido ao praticarmos um exercício de intensidade moderada a alta, enquanto que a
quantidade de ar que entra e sai dos nossos pulmões pode aumentar mais de 15 vezes.
Aliás, até mesmo antes de iniciarmos o exercício, nosso coração começa a bater mais
rápido já se preparando para o que será exigido dele.
São essas mudanças e adaptações no nosso corpo que fazem com que a
atividade física tenha inúmeros benefícios à saúde e à qualidade de vida. Quando adequadamente utilizados, os exercícios podem trazer benefícios ao sistema
respiratório, circulatório, imunológico, digestivo, metabólico entre outros.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Veja no quadro abaixo alguns exemplos de benefícios à saúde que a atividade física pode proporcionar:
Entretanto, é necessário que tenhamos uma série de cuidados para que a
prática regular de exercícios possa ser segura e proporcione todos os benefícios
para saúde que a atividade física pode trazer. Mas, ao contrário do que podemos imaginar, tais cuidados não se restringem somente ao momento da prática
em si, mas também ao momento anterior e até mesmo posterior ao exercício.
FASES
DE UMA SESSÃO DE ATIVIDADES FÍSICAS
Embora esta divisão seja meramente didática, ela nos ajudará a melhor
conceber e preparar um programa esportivo e de atividade física. A fase precedente ao exercício, por exemplo, é o momento no qual planejamos e organizamos a atividade (que pode também ser chamada de parte “teórica” do exercício).
Já a fase de execução é a etapa na qual o exercício é realizado, comumente
denominada de parte “prática”. É nesta fase que colocaremos em teste o que foi
concebido e planejado na fase precedente. Ao contrário do que pode parecer,
87
esta fase não se limita simplesmente à realização do esporte em si, como jogar
apenas futebol, por exemplo, mas pode englobar uma série de atividades complementares e até mais importantes do que o jogo em si, dependendo da ênfase
que queremos dar aos diversos componentes que influenciam o condicionamento físico e o desempenho desportivo.
ESPORTE EE LAZER
LAZER
ESPORTE
E por último, mas não menos importante, a fase de avaliação e recuperação
na qual re-avaliaremos a fase precedente confrontando-a com aquilo que aconteceu na fase de execução, a fim de identificar o que funcionou bem e o que deu
errado a partir do que foi planejado. Ou seja, fazemos uma “síntese” entre “teoria” (fase precedente) e “prática” (fase de execução). É nesta fase que recuperamos o nosso organismo e nos preparamos para uma nova sessão de exercícios.
Vamos então aprofundar mais um pouco o nosso conhecimento a respeito dos procedimentos, métodos e cuidados em cada fase. Afinal, o alcance de
nossos objetivos depende da compreensão e do entendimento de tais etapas e
da relação existente entre elas.
FASE PRECEDENTE
a) Princípios básicos do treinamento desportivo
Para melhor planejarmos as nossas atividades esportivas ou até mesmo
os exercícios físicos em geral é necessário conhecermos alguns princípios que se referem às mudanças e à capacidade de adaptação dos nossos
corpos. De certa forma, tais princípios se aplicam a diversos componentes do desempenho e do condicionamento físico, como força, resistência muscular, flexibilidade, resistência cardiorrespiratória, entre outros. Vejamos agora alguns destes princípios:
a.1) Princípio da Sobrecarga
88
Como o próprio nome já diz, o princípio da sobrecarga se refere ao
fato de que para que se tenha melhora do condicionamento físico é
A sobrecarga pode ser expressa em termos de volume, intensidade e
freqüência do treinamento. O volume, ou seja, a quantidade de trabalho realizado, pode ser descrito, por exemplo, em termos de duração,
distância, número de repetições e até em quantidade de quilocalorias
gastas no treinamento. A intensidade, por sua vez, pode ser caracterizada, entre outras coisas, pela velocidade média (ritmo) ou pela variação do peso levantado em uma mesma velocidade. Já a freqüência pode
englobar o número de sessões de treinamento por semana ou o número de sessões por dia.
Vejamos um exemplo: se você correr três vezes por semana a mesma
distância a 10km/h, o seu organismo vai se adaptar a esse esforço e o
que poderia ser difícil nas primeiras semanas se tornará bastante fácil
ao longo de dois meses. Isto não quer dizer que não houve benefícios,
mas se você permanecer realizando este mesmo exercício, você não
conseguirá melhorar ainda mais o seu desempenho e sua condição física. Deve-se, então, aumentar a “sobrecarga”, que pode ser expressa
pelo aumento da distância, da velocidade, da freqüência ou pelas diversas combinações possíveis entre estas variáveis.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
necessário que se aumente a “carga” a que o aluno está acostumado.
Em outras palavras, se realizarmos exercícios considerados “fáceis”,
aos quais o nosso corpo já está adaptado, estes exercícios não induzirão a uma adaptação adicional ao treinamento e, conseqüentemente,
não melhorarão nosso desempenho e condicionamento físico. Assim,
o efeito do treinamento só será alcançado se nos exercitarmos em um
nível acima do qual estamos acostumados.
Lembre-se que mudanças simples podem alterar a sobrecarga. Uma
leve inclinação, por exemplo, ou uma mudança na posição de um
peso, podem aumentar muito a intensidade do exercício.
Mas cuidado! O que pode ser considerado “fácil” para uma
pessoa, pode ser extremamente difícil para outra. Ao elaborar
um programa de exercícios, devemos levar em conta a idade,
sexo, nível de condicionamento físico, experiência esportiva,
objetivos pessoais (a curto, médio e longo prazo) entre outros
fatores, para que o programa seja compatível com a capacidade de cada aluno. Além disso, as adaptações não ocorrem
rapidamente, de uma hora para outra. Elas demandam tempo.
Existem limites para a capacidade adaptativa do corpo humano. Quando excedidos, tais limites podem representar não apenas uma estagnação ou piora da condição física, mas um risco para a saúde, sendo
mais perigosos do que um treinamento deficiente. Há, inclusive, um
89
ditado que diz que “fazer menos é melhor do que fazer demais”.
Assim, o aumento dos componentes da sobrecarga – volume, intensidade
e freqüência - deve ser gradual e lento, não sendo recomendável mudanças
muito altas em um curto espaço de tempo. Ao abordarmos a fase de
recuperação e avaliação falaremos um pouco mais a este respeito.
ESPORTE E LAZER
a.2) Princípio da Reversibilidade
Diretamente relacionado ao princípio da sobrecarga, o princípio da
reversibilidade indica que quando há interrupção parcial ou total da
atividade física os ganhos adquiridos com o treinamento são rapidamente perdidos. Ou seja, a melhoria do condicionamento físico conseguida ao longo dos treinos é transitória quando a sobrecarga é removida. Os benefícios adquiridos são, assim, reversíveis.
Neste sentido, se eu, por exemplo, estou acostumado a jogar basquete três vezes na semana e passo a praticá-lo uma vez por mês,
certamente haverá decréscimos em minhas habilidades motoras, em
minha resistência muscular e em outros fatores do meu condicionamento físico. A mesma coisa ocorre quando imobilizamos alguma
parte do nosso corpo por um longo período. Você já reparou a diferença entre os nossos braços ou dos nossos amigos quando, por exemplo, o gesso é removido? Então, isso acontece porque os músculos
não foram estimulados, perdendo massa muscular.
Não podemos esquecer, entretanto, que a sobrecarga do exercício depende do volume, da intensidade e da freqüência do exercício. Assim,
qualquer redução em uma dessas variáveis por um longo período de
tempo resultará em perdas no condicionamento físico. Por outro lado,
temos que ter cuidado com o treinamento excessivo (assunto que será
abordado com mais ênfase na fase de avaliação e recuperação).
a.3) Princípio da Especificidade
De maneira simples, podemos explicar o princípio da especificidade da
seguinte maneira: um exercício específico terá efeitos específicos em nosso
organismo. Isto significa que nosso corpo se adapta especificamente ao
que lhe é demandado.
90
Peguemos um exemplo: se um corredor deixa de treinar corrida e passa
a nadar apenas, seu rendimento na corrida, com o tempo, será reduzido.
Mesmo que a natação atue sobre a resistência cardiovascular, há inúmeros fatores diferentes, como os músculos trabalhados e a amplitude do
movimento, que impedem que haja transferência entre o desempenho
adquirido na natação e o desempenho na corrida. Assim, não há nada
que garanta que um bom esportista em uma determinada modalidade
seja bom em outra.
Neste sentido, pode-se, por exemplo, executar movimentos similares a
um chute ou a uma braçada na sala de musculação para que haja aumento do rendimento esportivo no campo e na piscina respectivamente. No
entanto, nada impede que haja combinações entre modalidades esportivas
e exercícios diferentes. Na verdade, a prática de outros esportes e de outros exercícios pode exercer influência positiva tanto na recuperação como
no estado emocional e psicológico do praticante.
b) Aspectos avaliativos e prescritivos gerais para o condicionamento físico
Para planejarmos a nossa sessão de treinamento, além de sabermos os
princípios do treinamento desportivo, é também necessário que saibamos avaliar o condicionamento físico dos nossos alunos e prescrever
o exercício adequado ao perfil, aos interesses e às necessidades deles.
De maneira geral, o condicionamento físico e o desempenho esportivo envolve diversos componentes, como por exemplo:
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
O princípio da especificidade indica, portanto, que o treino para um
determinado esporte – quando não envolve a prática em si da modalidade específica – deve se aproximar dos movimentos, habilidades e requisitos da própria modalidade.
* força e potência muscular;
* flexibilidade;
* resistência cardiorrespiratória;
* resistência muscular localizada, entre outros.
Dificilmente estes componentes aparecem isolados. Quando praticamos
um esporte ou uma atividade física tais componentes são integrados e
associados em graus variados, podendo haver predominância de um ou
mais destes componentes. Em provas olímpicas, por exemplo, uma corredora de 100m ou um nadador de 50m em estilo livre precisará muito
mais de força e potência muscular do que uma corredora de maratona
(42,195km) ou um nadador de 1500m. Já as atletas de ginástica olímpica
necessitam integrar flexibilidade, força, potência e resistência muscular e
outros componentes que afetam o desempenho, como a coordenação e
o equilíbrio.
Por outro lado, em um bom programa de exercícios relacionado à saúde e
à qualidade de vida é desejável que sejam trabalhados os diversos componentes do condicionamento, levando-se em consideração o perfil e os interesses de nossos alunos. Para os idosos, por exemplo, um programa adequado voltado para a saúde e para a qualidade de vida deverá ter como
objetivo a associação de diversos desses componentes, bem como atividades divertidas que favoreçam a formação de grupos sociais. Teremos
91
que propor, além disso, exercícios que se aproximem das necessidades
que os idosos possuem no seu dia-a-dia (lembrem-se do princípio da
especificidade). Um exemplo é a dificuldade que muitos idosos têm na
sua locomoção, como no caso de levantar, sentar e manter o equilíbrio.
A idéia é que o programa vise à melhora da autonomia e da qualidade de
vida do idoso.
ESPORTE E LAZER
Para cada variável do condicionamento físico e do desempenho esportivo, existe uma infinidade de métodos que podem ser utilizados como
instrumentos para avaliar a condição atual do nosso aluno. Apresentaremos a seguir alguns deles.
b.1) Anamnese e informações gerais
A anamnese é um método simples para conhecer um pouco melhor o
nosso aluno. Trata-se, na verdade, de um questionário, no qual traçamos um pequeno histórico do aluno. Perguntamos se ele já praticou
ou pratica algum esporte ou atividade física, a freqüência e a duração
dessa prática, seus hábitos e seu estilo de vida (se fuma ou usa bebidas
alcoólicas, por exemplo), qual a disponibilidade por semana para se
dedicar às atividades físicas e desportivas e se recebe ou já recebeu
algum cuidado médico especial (como por exemplo, se toma algum
medicamento, se possui dor de cabeça constante, pressão alta, dores
no peito, cãibras nas pernas, dor em alguma parte do corpo, articulações inchadas, dificuldade ao respirar, alergia, se já sofreu alguma cirurgia). Nesta etapa, deve-se avaliar os diversos fatores de riscos que o
aluno pode apresentar.
Um dos instrumentos para avaliar se a atividade física pode representar um risco (na verdade, sempre é bom a procura de aconselhamento
médico antes de praticar qualquer atividade), se chama PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnaire, ou traduzido, Questionário do
grau de preparação para a atividade física). Trata-se de um questionário bastante simples, desenvolvido pelo British Columbia Ministry of
Health, no qual basta responder sim ou não às perguntas enunciadas,
como mostrado no quadro a seguir. Aproveite e preencha você mesmo o PAR-Q.
92
Além disso, é fundamental que se identifique as necessidades e os objetivos que o aluno pretende alcançar. No entanto, estes devem ser realistas
e não ultrapassar a capacidade de realizá-los. O sucesso do programa
dependerá muito disso. Em muitos casos, há um exagero quando traçamos os objetivos ou as necessidades, não se adequando ao perfil ou ao
estilo de vida do aluno, o que o afasta do programa. Na verdade, tratase de um processo de “negociação” entre o aluno e o monitor. A relação
entre monitor e aluno deve ser de aprendizagem mútua, sempre respei-
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
QUESTIONÁRIO PAR-Q
tando o princípio norteador de qualquer programa de exercícios: não
ser prejudicial à saúde.
É necessário saber como, quando e por onde começar, de maneira a
estabelecerem juntos, monitor e aluno, os objetivos a curto, a médio e a
longo prazo. Pode-se perguntar: o que o aluno pretende com a prática
regular de exercícios? Por que ele pretende fazer isso? Para se sentir melhor? Para se apresentar melhor e ficar com uma aparência mais bonita?
Tornar-se mais saudável? Ou melhorar seu desempenho em uma atividade esportiva específica? Afinal, os objetivos e as necessidades do aluno, determinará o tipo de programa a ser planejado.
Basicamente, estes podem ser de dois tipos diferentes: programas de
treinamento e programas de condicionamento - cada um representando objetivos, métodos e exigências diferentes. Certamente, uma pessoa idosa que possui problemas de mobilidade e de excesso de tecido
adiposo (“gordura”) deve ter um programa bastante diferente de um
jovem corredor de 20 anos que quer correr uma milha (aproximadamente 1,6km) abaixo de 4 minutos.
No programa de exercício de treinamento, o objetivo principal está
relacionado à melhora do desempenho esportivo, enquanto que o treinamento para o condicionamento, os objetivos envolvem a melhora
da qualidade de vida e da saúde (como a perda de peso e uma maior
flexibilidade).
Mas como já dissemos, um bom programa de exercícios deve envol-
93
ESPORTE E LAZER
ver o condicionamento de diversas variáveis, ou seja, um condicionamento integral que inclua atividades que melhorem a flexibilidade, a
força e a resistência muscular, o sistema cardiorrespiratório, entre outros. Veja o esquema abaixo:
b.2) Frequência Cardíaca
Quando praticamos um esporte ou uma atividade física qualquer, nosso coração começa a bater mais rápido e mais forte. Isto acontece,
entre outras coisas, por causa do aumento da demanda de oxigênio
pelos nossos músculos. Ou seja, ao nos exercitarmos nossos músculos
necessitam de maiores quantidades de oxigênio para produzir mais
energia e, por conseguinte, realizar o exercício. Em função disto, esta
demanda por oxigênio pode aumentar cerca de 15 a 20 vezes em um
exercício intenso, fazendo com que cerca de 80% da quantidade de
sangue bombeada pelo nosso coração por minuto seja destinada aos
músculos em contração (normalmente em repouso, esse percentual
varia entre 15 a 20%).
Por sua vez, em exercícios muito intensos, a oferta de oxigênio pode
ser insuficiente o que diminuirá a nossa capacidade de manter o exercício por um tempo mais prolongado. Um lutador de judô, por exemplo, dificilmente conseguirá manter a mesma potência de seus golpes
durante muito tempo ininterruptamente, sem que haja interrupções
ou intervalos durante as lutas. A mesma coisa acontece com os corredores. Atualmente, um corredor de 100m de nível olímpico consegue manter uma velocidade média maior que 36km/h. Se o mesmo
atleta tentasse correr uma prova de 5000m, dificilmente ele conseguiria atingir uma velocidade média de 22km/h.
94
Neste sentido, uma das formas para verificarmos o esforço a que esta-
Um dos métodos para verificar a freqüência cardíaca consiste em apalpar manualmente (geralmente com os dedos indicador e médio) a artéria radial que se localiza no pulso ou a artéria carótida no pescoço.
Este é um método que requer bastante treino e sensibilidade. Lembrese que não é necessário apertar demasiadamente as artérias para sentir
a pulsação. Na verdade, basta com um leve toque para que você as
identifique. O mais difícil mesmo é identificá-las. Em algumas atividades, como lutas e esportes aquáticos, você terá maior dificuldade em
mensurar a FC.
Experimente verificar agora mesmo a sua pulsação. Conte quantas pulsações são realizadas em 60 segundos. Pronto! Você já saberá quantos
batimentos por minuto o seu coração está realizando. Para tornar este
procedimento mais rápido e simples, ao invés de contar as pulsações
durante 60 segundos, você poderá contar as pulsações em, por exemplo,
6, 10, 15, 20 ou 30, bastando multiplicá-las por 10, 6, 4, 2, respectivamente. A princípio, quanto maior o tempo de contagem, mais preciso é
a verificação (uma outra forma de verificar a FC é através de monitores
que, embora facilitem a verificação da FC e são mais precisos que a
verificação manual, são geralmente bastante caros). Experimente verificar de novo a sua FC, preenchendo o quadro abaixo:
Para medirmos nossa FC de repouso é recomendado que estejamos
deitados e bastante calmos e relaxados (normalmente, é indicado que
verifiquemos a nossa FC de repouso logo quando acordamos, antes de
levantar da cama). Em repouso, a FC na maior parte das pessoas varia
entre 60 e 80 bpm. Entretanto, as freqüências cardíacas variam muito
de pessoa para pessoa. Dependem de algumas variáveis como estado
emocional, altura, hábitos e estilo de vida, idade, sexo e condicionamento físico. Em muitos atletas, pode-se encontrar até mesmo a FC de
repouso de 30 bpm. A explicação para isso é que conforme melhoramos o nosso condicionamento físico, nosso coração fica mais forte e
precisa bater menos vezes para enviar a mesma quantidade de sangue
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
mos nos submetendo é através da freqüência cardíaca (FC), que é geralmente expressa em número de batimentos por minuto (bpm). Assim, a freqüência cardíaca “reflete” a intensidade do exercício, sendo
um indicador do trabalho que o nosso coração está exercendo.
95
ESPORTE E LAZER
para as diversas partes do nosso corpo. Ou seja, o nosso coração fica
mais eficiente! É por isso que acompanhar a FC de repouso ao longo
do treinamento é fundamental para avaliarmos o progresso do nosso
condicionamento físico. No entanto, não há uma regra muito clara que
estabeleça de quanto em quanto tempo é recomendado verificar a FC
de repouso, que pode variar entre 2 a 4 meses.
Como dissemos anteriormente, existe uma relação entre o aumento da
nossa freqüência cardíaca e a intensidade do exercício. Neste sentido, é
possível planejarmos o nosso treinamento a partir do estabelecimento
de um intervalo de FC (também chamado de “zona-alvo” ou “freqüência cardíaca alvo”) que indicará a intensidade necessária para alcançarmos os nossos objetivos com o exercício.
Para calcularmos a zona alvo de treinamento é necessário, antes de tudo,
calcularmos a nossa FC máxima (que é o número máximo de batimentos
que o nosso coração pode atingir). Embora exista uma grande variedade
de fórmulas e métodos para calcularmos a nossa FC máxima, uma bastante empregada (inclusive, recomendada pelo American College of Sports
Medicine; traduzindo Colégio Americano de Medicina Esportiva) e também de fácil utilização é expressa na seguinte fórmula:
Se você, por exemplo, tiver 20 anos, a sua FC máxima provável será
de 200 bpm. Ou seja, o número máximo de contrações por minuto
que o seu coração poderá atingir será de 200. Cuidado! Lembramos
que esta fórmula não deve ser utilizada com crianças e que pode
haver variações de até 12 bpm.
96
Com a FC máxima já calculada, vamos agora calcular as zonas-alvo
do nosso treinamento. Elas podem ser dividas em 5 zonas, cada uma
representando um grau diferente de intensidade: Zona de Atividade
Moderada, Zona de Controle de Peso, Zona Aeróbica, Zona do Limiar Anaeróbico e Zona de Esforço Máximo. Cada uma delas representa cinco níveis de intensidade que são determinados através de
um cálculo a partir da FC máxima. A zona de atividade moderada,
por exemplo, representa 50 a 60% da FC máxima. Para calcularmos
a zona-alvo de uma pessoa de 20 anos, como no exemplo utilizado
acima, basta multiplicarmos 200 por 0.5, que é igual a 100, e 200 por
0.6, que é igual a 120. Assim, a FC de uma pessoa de 20 anos deve
permanecer entre 100 e 120 bpm para que ela faça uma atividade de
intensidade moderada. Veja abaixo as diferentes zonas-alvo e os percentuais da FC Máxima que elas representam:
Agora calcule os diferentes limites de cada zona-alvo, multiplicando a
sua FC Máxima pelos diferentes percentuais:
Como dissemos, cada zona-alvo representa um nível de intensidade diferente e, conseqüentemente, as diferentes exigências do nosso corpo.
Lembre-se dos princípios do treinamento e dos cuidados necessários
para que a atividade física proporcione benefícios à saúde. Recomendase, por exemplo, que iniciantes e pessoas que estão sedentárias há muito
tempo comecem pela zona-alvo mais baixa. Além disso, a zona de esforço máximo só deve ser utilizada por atletas ou aqueles que estão em
ótimas condições físicas e, mesmo assim, devem ser sempre alternadas
com sessões e atividades leves. Por outro lado, pode-se combinar na
mesma sessão diferentes zonas-alvo. Posso, por exemplo, começar em
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Tente agora calcular as suas zonas-alvo. Primeiro, calcule a sua FC
Máxima:
97
uma zona de atividade moderada e depois variar entre duas outras zonas, uma mais intensa e outra menos.
ESPORTE E LAZER
Mas como começar? E quanto é necessário para obter algum benefício
para a saúde? Geralmente, recomenda-se a realização de exercícios por,
no mínimo, 30 minutos ao dia, de 3 a 5 vezes por semana, de atividade
moderada. No entanto, deve-se iniciar em um nível que seja confortável,
mesmo que este não alcance a zona de atividade moderada ou que não
atinja os 30 minutos recomendados ou que apenas consiga fazer 3 vezes
por semana. Neste caso, pode-se até dividir a sessão diária em 3 sessões
de 10 minutos. Gradualmente, aumente o tempo de duração e o número
de dias de exercícios. Um exercício relativamente seguro para a maior
parte das pessoas e de fácil acesso (já que quase nenhum requisito ou
equipamento é necessário) é a caminhada. Só posteriormente, quando
se consegue realizar a atividade confortavelmente durante um longo tempo, é que se deve pensar em exercícios com uma intensidade razoavelmente mais intensa.
Vamos passar agora para a próxima etapa da nossa sessão de exercícios.
ATIVIDADE 17
Seu professor realizará, com a turma, uma atividade para verificr se você
entendeu bem esse conteúdo. Aproveite para tirar todas as suas dúvidas.
FASE
DE
EXECUÇÃO
Antes de começar a fase de execução propriamente dita, alguns cuidados,
além daqueles apresentados nas fases anteriores, devem ser tomados para garantir uma prática segura, saudável e confortável. Veja aqui alguns exemplos:
98
Hidrate-se antes, durante e depois da atividade física. Beba água sempre
que possível, pois a taxa de transpiração aumenta com a intensidade do
exercício. Lembre-se de não se basear apenas na sensação de sede para
hidratar-se. A desidratação pode diminuir o volume de sangue ejetado
pelo coração, aumentando a freqüência cardíaca;
Ao praticar atividades em ambientes externos use protetor solar;
Use vestimentas de acordo com a atividade, com o ambiente e com o
meio escolhido. Em ambientes quentes e úmidos, por exemplo, use
roupas leves e claras e que não dificultem a evaporação do suor. Já algu-
Respeite os seus limites;
Não use equipamentos e acessórios novos. Teste-os e acostume seu corpo a eles. Tênis, shorts ou quimonos novos, por exemplo, podem causar
bolhas, assaduras entre outras coisas.
a) Aquecimento
Antes da atividade em si ou do exercício principal, um conjunto de exercícios preliminares de baixa intensidade e de alongamento - também
chamados de exercícios de aquecimento; são recomendados para melhorar a passagem do estado de repouso para o exercício ou desporto.
Um aquecimento adequado antes de qualquer atividade física é importante para garantir uma sessão de exercícios segura e efetiva. Busca-se ao
longo do aquecimento um aumento gradativo da atividade até que a
intensidade adequada seja alcançada. Afinal, o aquecimento é capaz,
entre outras coisas, de:
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
mas atividades, dependendo do solo, exigem calçados com uma maior
absorção de impacto;
* Aumentar a temperatura corporal
* Aumentar a capacidade de extensão muscular
* Reduzir a possibilidade de lesões;
* Aumentar o fluxo sanguíneo e, conseqüentemente, de disponibilidade
de oxigênio para os músculos;
* Aumentar as reações metabólicas, melhorando a eficiência energética
necessária à realização do exercício; e
* Melhorar o desempenho.
Normalmente, para um aquecimento adequado, sugere-se que sejam
feitas as seguintes etapas: (1) Aquecimento Geral; (2) Alongamento; e
(3) Aquecimento Específico.
a.1) Aquecimento Geral
Os exercícios de aquecimento devem começar com algumas atividades
de baixa a moderada intensidade. A idéia é que o aquecimento aumente
levemente a freqüência cardíaca. Pode-se, por exemplo, começar com
uma caminhada de 5 minutos ou até com alguns poucos movimentos
específicos da própria atividade, desde que estes não sejam intensos e
desgastantes.
a.2) Alongamento
Após os exercícios de aquecimento geral, recomenda-se a realização de
alguns exercícios de alongamento (embora, você possa realizá-los também em outros momentos fora da sessão de treinamento). Devem ser
alongados, não apenas os músculos específicos que serão usados na ati-
99
ESPORTE E LAZER
vidade ou esporte em si, mas também os grandes grupamentos musculares. Ou seja, se você corre, por exemplo, é indicado que você, não
alongue apenas as pernas e a região anterior e posterior da coxa, mas
também a musculatura das costas, dos braços e dos ombros entre outras. Em muitas atividades, sobretudo naquelas que envolvem força e
potência, é imprescindível que se tenha atenção redobrada com os exercícios de alongamento.
100
Lembre-se sempre que o alongamento deve ser realizado de forma lenta
e suave, sem dor. Evite realizá-lo apressadamente, ao chegar à posição,
mantenha-a por 20 a 30 segundos. Cada posição pode ser repetida 2 ou 3
vezes. É contra-indicada a realização de exercícios de alongamento de
forma balística, balançado o corpo com movimentos violentos e abruptos. Este tipo de alongamento tem um grande índice de lesão. Veja abaixo
alguns exemplos de exercícios de alongamento tanto para os membros
inferiores como superiores:
Músculos da Panturrilha
Músculos Anteriores da Coxa e do Quadril
Músculos Posteriores da Coxa
Músculos Posteriores do Braço e
do Ombro
Músculos da Virilha e Parte Interna da Coxa
Músculos Laterais do Tronco e
Musculatura do Antebraço
Músculos Posteriores do Ombro
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Músculos Peitorais e Anteriores
do Ombro
Músculos Posteriores da Coxa, Inferiores
das Costas e Glúteos
Músculos Laterais do Corpo
101
ESPORTE E LAZER
Músculos Laterais Pescoço
Músculos Extensores das Costas
a.3) Aquecimento Específico
Na fase final do aquecimento é indicada a realização de exercícios
específicos para a atividade ou esporte que será realizado, sempre de
forma gradual e lenta. O aquecimento específico pode levar de 5 a 10
minutos, mas se a atividade ou esporte for muito intenso, pode-se aumentar o tempo do aquecimento específico.
Se a atividade a ser realizada é corrida, deve-se começar com uma leve
corrida, aumentando-se a intensidade gradualmente. No caso do futebol de campo, pode-se realizar desde uma corrida, com alguns pequenos piques de 15 a 20 metros, até a realização de alguns fundamentos
básicos de futebol como chute, passe entre outros. A intenção é que o
seu corpo – após ser alongado e aquecido - esteja preparado suficientemente para a atividade ou esporte.
b) Atividade Física Formal ou Esporte
Estando devidamente aquecido e alongado, a atividade física ou o esporte já pode ser iniciado. Nesta etapa, será executado o que foi planejado na fase precedente. De acordo com os objetivos e, por conseguinte, com o tipo de programa escolhido (programa de treinamento
ou programa de condicionamento), pode-se dar ênfases diferentes aos
diversos componentes do condicionamento integral. Para cada um deles,
existe uma infinidade de tipos, métodos e sistemas de treinamento.
102
Pode-se, por exemplo, em sessões, cuja intenção é aumentar a eficiência
do sistema cardiorrespiratório em receber e transportar oxigênio para os
músculos ativos e a capacidade deles o utilizarem para produzir energia,
realizar treinos intervalados (que envolve períodos de exercícios com
intensidade razoável, intercalados por períodos de intensidade mais baixa), treinos contínuos com alta intensidade e treinos em ritmos lentos
com longas distâncias.
Trata-se, então, de uma etapa fundamental para todo o processo do programa, não apenas por conter a atividade formal, mas também por definir a continuidade e o desencadeamento da próxima fase.
c) Resfriamento ou “Volta à Calma”
Ao terminar o exercício, não se deve parar de fazê-lo simplesmente. O
resfriamento ou a “volta à calma” é tão importante quanto o aquecimento. Mas ao contrário deste, o resfriamento deve gradualmente diminuir a
intensidade da atividade, para que haja retorno gradativo da freqüência
cardíaca e da respiração a níveis próximos do de repouso.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Mas esta etapa não se resume a fazer exatamente o que foi planejado.
Afinal, é nesta fase que são obtidas as informações para a próxima fase
de reavaliação e recuperação. É necessário que o praticante “sinta” e
“escute” o seu corpo e o monitor esportivo tenha a sensibilidade necessária para perceber o que está funcionando bem e o que está funcionando mal. Caso seja necessário, os primeiros ajustes no que foi planejado já
devem ser realizados. Pode-se, por exemplo, aumentar ou diminuir a
duração, a distância ou a velocidade. E até mesmo, dependendo do caso,
mudar a modalidade da atividade ou suspendê-la.
Além disso, esta etapa é fundamental por ajudar a diminuir alguns produtos finais (como, o ácido lático) causadores da fadiga muscular, resultando
em uma recuperação mais rápida do que o repouso imediato após o exercício. Assim, permanecer ativo após o exercício é um importante componente do resfriamento, que deve durar de 5 a 10 minutos, sendo seguido
de uma nova etapa de exercícios de alongamento. Veremos agora a última
etapa da nossa sessão de exercício.
FASE
DE
AVALIAÇÃO
E
RECUPERAÇÃO
Como dissemos no início deste capítulo, esta fase envolve a avaliação entre o
que foi planejado na fase precedente com o que realmente aconteceu na fase de
execução. Analisamos o que funcionou ou não como esperávamos, o que deu certo
e o que deu errado, tentando identificar os elementos que dificultam ou prejudicam
e os elementos que potencializam o programa de atividade física e fazendo os ajustes necessários para a próxima sessão e, conseqüentemente, para o nosso planejamento do progresso do treinamento a curto, médio e a longo prazo. Devemos
lembrar que a interação aluno e monitor é fundamental também nesta fase.
Pode-se perceber, por exemplo, que a atividade planejada foi mais intensa para o aluno do que se esperava. Neste caso, deve-se investigar as suas causas
(como a motivação do aluno, a dificuldade de recuperação, alimentação e hidratação deficiente ou avaliação equivocada do condicionamento do aluno) e planejarmos melhor a próxima sessão (resolver as causas, além de elaborar uma
sessão de menor intensidade).
103
ESPORTE E LAZER
Alguns erros são bastantes comuns e merecem cuidados. Um deles é o excesso de treinamento que pode diminuir o desempenho e apresentar sérios riscos à saúde, como lesões musculares, redução da resistência e desgastes emocionais. O excesso de treinamento é mais freqüente
do que podemos imaginar. O melhor remédio
para o excesso de treinamento é a prevenção.
Neste caso, preste muita atenção na boa utilização do princípio da sobrecarga
e da progressão gradual do nosso corpo aos estímulos proporcionados pela
atividade física.
Isto nos leva a um outro erro bastante comum: a pouca atenção à recuperação. Em geral, imaginamos que o ciclo do treinamento se restringe à prática da
atividade em si. Então, nos exercitamos, mas não descansamos o suficiente. O
que pouca gente sabe é que a melhora no condicionamento e no desempenho se
dá principalmente pós-exercício, durante o período de descanso e recuperação
Esse período é, portanto, extremamente importante. É necessário, em vista disso, que as sessões sejam suficientemente espaçadas. Leve em conta também às
necessidades nutricionais e a adequada hidratação do aluno.
Um outro erro comum está relacionado ao princípio da especificidade. Ou
seja, quando planejamos apenas exercícios ou atividades que são incompatíveis
ou que tenham pouco a ver com os objetivos e as necessidades do aluno. Obviamente, tais exercícios podem fazer parte do programa, mas devem estar associados a outros exercícios que estejam de acordo com as necessidades e objetivos
definidos em conjunto com o aluno.
104
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
Nossa posição é que – desde que não seja prejudicial à saúde – a melhor
atividade é aquela que dá mais prazer e que o aluno gosta de realizar. Neste
sentido, se tiver que escolher entre diversas modalidades, escolha sempre aquela que seja mais divertida. Pode-se, inclusive, fazer amigos de treino, ouvir música, ver vídeos entre outros artifícios para tornar as atividades mais agradáveis
e prazerosas. Ou seja, torne o exercício divertido!
Entretanto, uma advertência: é necessário nos afastarmos dos nossos preconceitos a respeito das diversas atividades físicas e esportivas. Mais uma vez a
interação e o diálogo aluno e monitor são fundamentais. O monitor deve tentar
experimentar diversas manifestações esportivas com seu público-alvo, e não
ficar restrito ao futebol ou outras práticas mais populares.
A idéia é que o monitor tente educar e sensibilizar os seus alunos para as
diversas atividades físicas e esportivas. Assim, o aluno poderá escolher aquelas
atividades que lhe dão mais prazer a partir de um conhecimento mais amplo
sobre as diversas atividades físicas e esportivas.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Mas poderíamos nos perguntar: afinal, qual é a melhor atividade física ou
esportiva?
Depois de apresentar alguns princípios gerais da prática de atividade física
e esportiva, vamos ver agora alguns aspectos pedagógicos no trabalho
com esporte e com regras.
105
Aspectos pedagógicos do trabalho
com esportes e com regras
PLANEJAMENTO
Conhecendo a realidade
ESPORTE E LAZER
Antes de você colocar a mão na massa, é necessário conhecer as suas habilidades para lidar com a realidade com a qual vai trabalhar. A isso chamamos
sondagem, diagnóstico ou avaliação diagnóstica.
Fazer isto é importante para nos situarmos melhor em relação ao público, ao
local de trabalho e aos recursos disponíveis. Então ai vão alguns passos:
1) Questões pessoais a serem respondidas:
* O que eu gosto de fazer?
* Quais são minhas habilidades/competências?
* Quais meus objetivos?
2) Questões do grupo
* Com que grupo você vai trabalhar? Quais são suas principais
características?
* Que idade têm os envolvidos?
* Onde moram?
* Qual sua classe social?
* Estão ligados a algum grupo (musical, esportivo, religioso, folclórico etc)?
* O que eles gostam de fazer?
* Por que escolheram esta atividade?
3) Que espaço você vai ter para trabalhar? Onde se situa e quais as condições
físicas do equipamento (quadra, campo, praça, salão etc)?
4) Que material você vai ter para trabalhar? De que material esportivo
você dispõe (bolas, arcos, colchões, cordas, cones etc.)?
Você terá TV, vídeo e/ou DVD?
106
5) Que tipo de trabalho você terá que desenvolver?
Algumas atribuições do monitor de esporte: ensinar esportes; organizar
e participar de torneios, campeonatos e competições; organizar passeios
a instalações esportivas, a clubes de esportes, a eventos esportivos;
organizar olimpíadas, gincanas e festivais esportivos; promover rodas
de leitura, apreciação de filmes e espetáculos esportivos, entre outras.
O que é determinar objetivos? É a escolha dos resultados que você pretende alcançar com seu trabalho. Por exemplo: por que pintar a sua casa? Para
que ela fique mais bonita ou mais limpa. Então o objetivo é: quero colocar a minha casa mais bonita. Ação: Vou pintá-la. Para que organizar
um torneio de futebol entre os meus aprendizes? Para avaliar o nível do
aprendizado, para reunir o grupo, para motivar o grupo. Então o objetivo
é: motivar os alunos que praticam futebol. Ação: Vou organizar um
torneio. Toda vez que você se dispõe a realizar um trabalho, você tem um
objetivo em mente.
Quando você pretende ensinar um esporte a um grupo, esse é o seu grande
objetivo (chamado de objetivo geral). Mas só este não basta, é necessário
ter objetivos mais detalhados, tais como ensinar a chutar, ensinar a rolar,
ensinar a driblar, ensinar a saltar, estes são seus pequenos objetivos (chamados objetivos específicos). Mais ainda, aqui também você estabelece o que
pretende do ponto de vista educacional: desejo desenvolver senso crítico,
desejo fortalecer laços de solidariedade, entre outros.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Determinando os objetivos
Quando temos como tarefa ensinar alguma coisa a alguém, estabelecendo objetivos definimos o que pretendemos mudar no que se refere
a comportamentos, desenvolver habilidades e ampliar conhecimentos. Podemos estabelecer objetivos afetivos (comportamentos), psicomotores (habilidades corporais) e cognitivos (conhecimentos).
Na verdade, esta divisão é meramente didática, pois os três são indissociáveis. Quando você vai dar um saque, habilidade que você está
aprendendo, isto envolve emoção (afetivo), o trabalho é físico (psicomotor) e, para realizar uma tarefa, por mais simples que seja, você
precisa conhecê-la (cognitivo).
De qualquer forma, essa classificação nos ajuda a pensar em nosso trabalho de forma mais ampla e ordenada.
Conteúdos – informações para desenvolver o conhecimento
Os conteúdos estão relacionados diretamente aos objetivos, a como vou
alcançar minhas metas. Precisamos determinar o que utilizar para alcance
do que se deseja. Exemplo:
* Objetivo: ensinar a execução de rolamentos.
Um dos mais conhecidos rolamentos é a “cambalhota”, outro é o rolamento do judô; então o nosso conteúdo será rolar para frente, rolar para
trás, rolar para os lados, sempre no chão. As ações serão os conteúdos
aplicados para alcançar os objetivos. Estas ações deverão ser escolhidas
cuidadosamente para que o aluno desenvolva o conhecimento (de forma
cumulativa e permanente). O conteúdo deve ser organizado de maneira
107
que facilite sua apreensão pelos alunos.
ESPORTE E LAZER
O planejamento dessas ações é fundamental para que o monitor apresente
um conjunto de conhecimentos ordenados, de forma que o resultado final
possa ser observado por ele e percebido e vivenciado pelo aluno. Lembremos que o conteúdo é dinâmico, na medida em que o aluno deverá ter a
cada dia mais informações, aprendendo novas ações e as articulando com
as anteriores.
É importante que nos reportemos à sondagem (diagnóstico) que devemos
utilizar a cada nova ação: O que cada aluno sabe sobre aquele conteúdo? E
o que ele poderá vir a saber? É neste ponto que iremos atuar. O que ele sabe
servirá de base para que realize novas aprendizagens. Parece algo muito
complexo, mas podemos fazê-lo de forma simples e eficiente. Observem o
exemplo:
* Conteúdo: corrida.
Solicitamos que a turma corra o mais rápido possível uma determinada
distância; Depois que corram sem parar por um determinado tempo. Nestes dois exercícios podemos observar (avaliação diagnóstica):
- que alunos correm mais rápido;
- que alunos correm mais tempo, sem parar;
- que alunos dominam a técnica da corrida rápida;
- que alunos dominam a técnica da corrida longa (constante);
- que alunos dominam as duas técnicas;
- que alunos não dominam nenhuma das duas técnicas.
Com esta avaliação nas mãos, podemos determinar o nível
da turma em relação ao conteúdo a ser desenvolvido: quantos
alunos já conhecem as técnicas; que exercícios devemos enfatizar; que alunos precisam de maior atenção. Ou seja, coletamos
uma série de dados preciosos para que possamos planejar a nossa
aula despertando o máximo de interesse do grupo.
Isto nos remete a escolha das nossas ações e elas dependem:
- das vivências corporais que nossos alunos trazem;
- da forma como nós as apresentamos;
- da seqüência que propomos;
- do tempo e dos materiais que dispomos.
108
Logo, além da sondagem (diagnóstico), que deve estar prevista no nosso
Para isso necessitamos propor atividades que despertem o interesse dos
alunos. No caso dos esportes, atividades lúdicas (alegres, prazerosas). Por
exemplo: aprender a chutar procurando acertar um alvo (gol, arco, cone,
árvore) ou vencendo um obstáculo (goleiro, a distância, a precisão). Estes
desafios motivam o aluno a praticar o “conhecimento” (movimento) de
forma que ele realize a ação proposta, com prazer.
A organização do conteúdo deve ser dividida em aulas, com tempo definido e o material disponível. As aulas podem incorporar diferentes estratégias: as atividades físicas, a exibição de filmes sobre a temática, a leitura e
discussão de textos (notícias de jornal, por exemplo), visitas a instalações
esportivas, observação de jogos/exibições do esporte.
Avaliando o trabalho desenvolvido
Na medida em que avançamos no nosso trabalho, devemos nos perguntar
a todo instante se estamos no caminho certo. Da mesma forma que não
devemos nos contentar com a sondagem (avaliação diagnóstica) feita no
início do trabalho, é necessário que avaliemos o tempo inteiro, pois isso
nos ajudará a constatar se os objetivos foram alcançados e se os conteúdos
que selecionamos são os mais adequados.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
planejamento, precisamos organizar o conteúdo numa ordem tal que desafie
o aluno a que possa ir, passo a passo, aumentando seus conhecimentos e suas
habilidades, na medida em que a ação anterior já foi aprendida.
Uma maneira interessante de avaliar é, ao final de cada aula, conversar com
os alunos e, a partir do esclarecimento dos seus objetivos na aula daquele
dia, fazer perguntas do tipo: gostaram da aula? Qual a parte que mais gostou? O que não gostou? Por que?
Essas são formas de avaliar permanentemente o que está sendo ensinado e
de estimular os alunos a se empenharem nas atividades, pois sabem que o
professor está interessado no seu aprendizado.
Para que a avaliação seja ampla e de qualidade são necessários quatro ações
diárias:
1) apresentar e discutir os objetivos da aula;
2) adequar o planejamento, após a sondagem, às características do grupo;
3) trabalhar com pequenos grupos dentro da turma. A forma de divisão
destes grupos variará de acordo com os interesses. Podem ser homogêneos, de acordo com o conhecimento/habilidade; podem ser aleatórios, de acordo com a ordem alfabética; podem ser de livre escolha
dos alunos. É importante que as escolhas variem de tal modo que favoreçam os interesses da turma. A variação dos grupos tanto permite
que os alunos pratiquem suas escolhas, quanto facilita as necessidades
pedagógicas do professor;
109
4) avaliar teoricamente os conhecimentos adquiridos, solicitando ao aluno que escreva o que foi praticado, que explique verbalmente como
deve ser feito um exercício ou demonstre um movimento que aprendeu na aula.
ESPORTE E LAZER
Estas avaliações permanentes mantém o professor e os alunos informados
do nível de aprendizado, favorecendo as correções ao longo do curso. São
chamadas tecnicamente de Avaliações Formativas.
Também devem ser consideradas como avaliação as impressões dos alunos em relação a um passeio a um centro esportivo, a participação em um
torneio, a um filme assistido. O professor deve estimular estas discussões
após quaisquer eventos, pois isso leva os alunos a refletir sobre o que
viram e pode favorecer o desenvolvimento do seu senso crítico.
As avaliações podem ser mais formais, quando solicitamos aos alunos
que escrevam suas impressões sobre a atividade, ou mais informais, quando discutimos com eles acerca do que acharam da atividade.
Finalmente podemos utilizar a avaliação ao fim de um período de trabalho. São as chamadas “avaliações somativas”, de uma forma geral utilizadas para classificar os alunos de acordo com o rendimento apresentado
ao cabo de um tempo determinado.
CONHECIMENTOS
ESPECÍFICOS
Como ensinar esportes? É importante que
tenhamos claro o conhecimento que precisamos
dominar para que exerçamos nossa atividade.
Há aspectos específicos neste trabalho e para
conhecê-lo devemos levantar alguns questionamentos iniciais, tais como:
- Que habilidades devem ser desenvolvidas? Por quê?
- Quais são as principais características motoras e sociais do nosso
aprendiz?
- Como ensinar os fundamentos para o aprendizado do esporte?
- Além das habilidades motoras, que outras capacidades podemos desenvolver?
- Que atividades paralelas devem ser implementadas para ampliar o conhecimento sobre o universo de determinado esporte?
- Que equipamentos e materiais são necessários para a aplicação rotineira
da atividade?
110
O monitor de esporte deverá conhecer uma série de características relacionadas com os diversos grupos que irá dirigir. Para ordenarmos nosso
estudo de agora em diante, começaremos abordando as características
mais marcantes das diversas faixas etárias, estas influenciam e são influenciadas pelo esporte ensinado.
As habilidades motoras são em grande parte desenvolvidas dos dois aos
seis anos. Para que a criança amplie seu campo de atuação, aumente sua
segurança e conseqüentemente sua autonomia, será necessário que ela
domine a locomoção, a estabilidade e a manipulação, as chamadas Habilidades Motores Fundamentais.
As crianças dessa faixa aprendem com facilidade a rolar, a chutar e a se
equilibrar de diversas formas. Mas as atividades são essencialmente individuais. Na atividade coletiva, cada qual tem um papel e a criança, para
participar, precisará saber exatamente que movimento deverá executar.
As parcerias serão desenvolvidas mais tarde.
Atividades como correr, saltar, parar, arremessar, receber e passar, quicar,
chutar, rolar e suas infinitas combinações, são formas de desenvolver as
habilidades básicas para o aprendizado esportivo.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Habilidades motoras
A partir dos sete anos, ela começa a participar mais ativamente do jogo
coletivo, ainda exercendo um papel solo. É um período de conhecimento
das regras e do julgamento do que é certo e errado. Para ela, as regras são
rígidas, pois ainda não tem o poder de abstração que favorece a interpretação e a crítica.
O relacionamento em grupo desenvolve o entendimento da necessidade
das regras para que o jogo possa acontecer. É uma época de discussão
minuciosa de cada regra.
Entre os sete e os dez anos as Habilidades Motoras Fundamentais são
refinadas, combinadas e elaboradas para uso de exigências cada vez maiores. Até aos dez anos estas habilidades são ampliadas rapidamente, sendo
um período privilegiado para o aprendizado das técnicas esportivas.
As habilidades básicas aplicadas em situações concretas do esporte, como
na busca do gol ou da cesta, a corrida mais veloz ou o salto mais distante,
são chamadas de Habilidades Motoras Especializadas e resultam do
melhor controle motor, da capacidade de perceber qual o movimento
mais adequado a ser utilizado naquele momento e da grande satisfação
experimentada a cada nova descoberta.
A partir dos dez anos, as instruções até então transmitidas por alguém mais
experiente, dão lugar à criação dos seus próprios jogos e regras. Estes passam a ser adaptados às limitações de espaço, ao tempo, ao material (quer
alguns exemplos interessantes? O jogo de futebol com chapinha ou bola de
papel, praticado pelos meninos, ou o jogo de elástico, criado pelas meninas,
brincadeiras típicas da hora do recreio escolar.
111
ESPORTE E LAZER
As regras vão sendo testadas, discutidas e praticadas no dia a dia. Transgressões, reorganizações, propostas novas são comuns; a competição está presente em muitos momentos. Nesta fase o aluno sente grande atração pelo
jogo, sendo por isso um tempo privilegiado para desenvolver atividades
cooperativas visando à compreensão do esporte coletivo como o resultado
do esforço de diversas pessoas diferentes para um determinado fim.
Compreender o seu papel, o dos seus companheiros e o dos adversários
neste projeto coletivo, normalmente emocionante, que demanda esforço
físico acima do rotineiro e que, ganhando ou perdendo, nos dá uma satisfação enorme de ter participado, é uma forma de ampliar o autoconhecimento e o conhecimento do grupo. Auto-estima, auto-afirmação e autoconfiança dependem em grande parte da qualidade da participação do indivíduo no
grupo. O entendimento das relações estabelecidas por meio do jogo, as habilidades mais sofisticadas, a compreensão e a interpretação das regras com
maior segurança, faz com que o/a pré-adolescente privilegie os esportes coletivos. É importante frisar que existem pessoas que, apesar de participarem
destes, mantém características marcadamente individuais, como é o caso dos
goleiros no futebol. Muitos têm mesmo preferência por esportes individuais,
como o atletismo, o surfe ou a natação.
A partir dos onze/doze anos é a fase mais adequada para trabalhar táticas
e estratégias para os esportes e possíveis competições, pois o amadurecimento do raciocínio concreto e abstrato permite que ele(a) compreenda
as situações de jogo e faça sugestões que lhe pareçam pertinentes. O seu
poder de crítica começa a ser cada vez mais testado.
112
O crescimento corporal acelerado e as alterações sexuais podem influenciar nas habilidades motoras; a prática regular de esportes ajuda a estruturar sua coordenação motora.
É fundamental que o monitor de esporte conheça estas
questões para que esteja atento e possa intervir de forma
eficiente. Ele pode ajudar o (a) aprendiz a superar esta
fase levando-o (a) a conhecer suas limitações e possibilidades, tanto em
relação aos esportes coletivos, o que por vezes envolve negociações problemáticas, quanto nos esportes individuais, pelo confronto direto com as
habilidades dos demais participantes.
Nesta faixa etária o comportamento vai do agressivo ao passivo sem maiores explicações, o que requer do monitor de esportes um olhar diferenciado para cada aluno. Neste período de amadurecimento do grupo é importante organizar jogos, torneios e outros eventos esportivos que contem
com a participação efetiva dos seus alunos, de todos e não somente dos
mais hábeis.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Após os treze anos, o/a adolescente passa a evitar as atividades esportivas nas quais não tiver confiança. Por falta
de segurança nas suas habilidades e espírito crítico em
excesso, consigo e com os demais, muitas vezes abandona o esporte.
Você perceberá a capacidade de alguns, que não obrigatoriamente são os
mais habilidosos, para negociar os conflitos que surgem. A aceitação e a
inclusão no grupo são importantíssimas. Logo o monitor de esportes deve
proporcionar ao participante o maior número de vivências possíveis relacionadas ao esporte: ser capitão da equipe, arbitrar as práticas, ajudar a
selecionar, fiscalizar e transportar o material, dividir as equipes, ficar responsável pelo local da prática, ajudar na organização de eventos, e toda
sorte de atividades devem ser distribuídas pelos participantes para que todos se sintam parte do projeto coletivo.
Muitas vezes a habilidade de poucos é privilegiada em detrimento das
possibilidades de todos. No grupo é natural que o aluno escolha as atividades para obter satisfação e sucesso. Tome cuidado com isso! Lembrese que como educador você tem responsabilidades que estão para além
do jogo em si.
Após os catorze anos o/a adolescente , o/a adulto(a) ou o/a idoso(a), fazem uso permanente dos movimentos adquiridos. O diferencial entre as
habilidades motoras de duas pessoas pode ter sido a oportunidade de aprender e praticar os movimentos fundamentais e os especializados relacionados a um esporte. O aprendizado técnico e o treinamento físico favorecem
amplamente o desempenho motor.
É importante registrar que o adulto ou o idoso também aprendem independente de terem tido a oportunidade de desenvolver suas habilidades voltadas para o esporte na infância e na adolescência, embora
seja comum ouvirmos que é muito mais difícil o seu aprendizado. Não
se prenda a isso!
113
ESPORTE E LAZER
Adultos de diversas idades podem iniciar o aprendizado de esportes, atividades que certamente exigem habilidades bastante complexas envolvendo a combinação de equilíbrio, manipulação e locomoção. Apesar das dificuldades, a
possibilidade de êxito é bastante alta. Normalmente as desistências se devem
muito mais por problemas cotidianos, como dificuldades de organização do
tempo, do que por questões técnicas ou físicas.
Atenção: os portadores de necessidades especiais podem e devem participar de todas as atividades nas quais se sintam capazes de realizar, por isso
devem ser sempre integrados a turma, inclusive se isso exigir adaptações.
O monitor de esportes procurará adaptar os exercícios para que eles possam participar plenamente. Sensibilizar e contar com o apoio da turma é
essencial para o sucesso da integração e no final todos saem ganhando
com a experiência.
APLICAÇÃO
PRÁTICA
Após conhecermos os principais elementos do planejamento e dos variados aspectos pedagógicos visando a implantação, o aprendizado e o aperfeiçoamento dos esportes e das suas regras, vamos então iniciar as instruções para a
aplicação prática desses elementos com seu grupo de alunos.
Como iniciar o trabalho? Lembra da sondagem proposta para os primeiros contatos com o grupo ? Agora ela deve ser posta em prática. Atividades como andar e correr (em diversas direções), utilizando velocidades e ritmos variados, saltar de variadas formas, equilibrar-se (em posições diferentes)
são importantes tanto para conhecer e avaliar as capacidades psicomotoras
do/a aluno/a quanto como forma posterior de aprendizado e aperfeiçoamento do movimento esportivo.
Os primeiros movimentos propostos (locomover-se, manipular objetos e
equilibrar-se) são atividades individuais em que a qualidade da realização dos
exercícios não depende de outras pessoas (quer seja um parceiro como no voleibol ou no tênis, em dupla, ou muitos parceiros como nos diversos esportes coletivos), mas estes movimentos são a base
motora de qualquer esporte; quer seja ele individual, como o
atletismo, ou coletivo ,como o basquetebol.
Então vejamos algumas variações práticas desses exercícios que servem tanto para conhecer a coordenação motora
do seu aluno (sondagem) como para aplicação posterior no
aprendizado.
114
Caminhar – normal, rápido, devagar, de lado, de costas, de mãos dadas, de
braços dados, abraçados, na ponta dos pés, nos calcanhares, abaixados, com
o professor ditando o ritmo (ou com o aluno ditando o ritmo), no ritmo do
Correr – todas as variações do caminhar, levando-se em conta o cansaço em
função do esforço da corrida. As corridas envolvem uma coordenação que
não é usual no dia a dia, logo o ritmo, intenso ou lento, deverá ser regulado
pelo monitor, respeitando os limites do grupo. Nas corridas longas, (até todos os participantes conhecerem suas capacidades) a tendência é de imprimirem um ritmo muito forte no início, cansando rapidamente, principalmente
as crianças e os/as adolescentes. A coordenação do ritmo de corrida é uma
habilidade só apreendida após algum treinamento. Em função disso, a intervenção do monitor, ditando o ritmo, é muito importante, guiando o grupo e
demonstrando a velocidade sugerida;
Saltar – saltitos com as pernas unidas, separadas, afastando e unindo as
pernas, rodando, parado, com deslocamento, só numa perna, são algumas
variações desse trabalho. Saltar em distância para frente, para o lado e
para trás, com corrida ou parado, com as mãos junto ao corpo, fazendo
vários saltos seguidos, saltar um obstáculo (uma corda, um barbante, um
elástico), saltar para cima, saltar de cima de uma altura;
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
seu par. Todos estes exercícios podem ser feitos em duplas, em trincas e até
com toda a turma. Pode ser competindo, colaborando ou apenas procurando fazer o trabalho proposto da melhor forma possível;
Arremessar – deve ser utilizada a bola como objeto de preferência para
esta atividade. Arremesso com uma das mãos (variando sempre esquerda
e direita), com as duas mãos, por cima da cabeça, de baixo para cima, de
costas de lado, com salto, com corrida, como boliche, com giro, empurrando, forte fraco, longo, curto, com precisão; o número de variações é
muito grande;
É importante perceber que os exercícios sugeridos podem ser feitos por
crianças, adolescentes, adultos e idosos de ambos os sexos, mas devemos sempre considerar as características já apontadas para cada faixa etária.
Os exercícios, na sua maioria individuais, devem ser feitos também em grupos. Esses grupos são uma ótima oportunidade para reflexão sobre cooperação,
socialização, interação, e podem ser formados de diversas formas. Por exemplo, o
professor pede aos alunos que formem duplas. Eles se associam livremente, mas
o monitor poderia ter determinado a mesma altura ou mesmo peso, ou ainda
indicar com quem a pessoa formaria o par. A intervenção do monitor pode ser
mínima, como pode ser total, indicando os componentes de cada grupo.
Isto é, quando o monitor já conhecer as características de cada aluno e de
seu grupo como um todo, deve variar a sua intervenção na formação dos grupos, pois este é um momento muito rico como experiência pedagógica. Num
momento ele pede que os alunos formem os grupos de sua preferência, em outro
ele forma grupos, dando como referência a primeira letra do nome da mãe, e em
outro ainda forma os grupos de acordo com os seus interesses pedagógicos,
115
quer sejam motores - o grupo dos menos habilidosos, por exemplo; que sejam
sociais – o grupo dos mais falantes, por exemplo. Dessa forma, mesmo que não
anuncie as suas intenções, você pode ir aprofundando o seu conhecimento do
grupo em diversos aspectos.
ESPORTE E LAZER
Para que o diagnóstico do grupo seja mais preciso, os exercícios devem
variar entre individuais, cooperativos e competitivos. Atividades como jogar a
bola para o alto e pegá-la sem deixar cair ou jogar a bola na parede ou pegá-la
depois de dar um quique, são individuais e desafiam o aluno mantendo seu interesse em participar da aula.
116
Pequenas competições do tipo: quem chega mais rápido do outro lado do
campo, ou quem fica mais tempo correndo, são individuais e competitivas, favorecendo a observação das capacidades motoras do/a aluno/a, o que ajuda na
hora em que o monitor vai trabalhar com grupos mais homogêneos, em que
todos os componentes têm capacidades parecidas, ou com grupos heterogêneos,
formados por alunos com capacidades diferentes, para equilibrar competições
do tipo estafeta.
Aproveitando o exemplo das estafetas, podemos observar que este tipo
de competição tem um viés cooperativo, dentro do
grupo que está buscando o mesmo objetivo. Esta
forma de cooperação é idêntica ao que acontece nas
equipes de esportes coletivos. Neste sentido, o voleibol, por exemplo, é bem interessante pois, pela regra, toda vez que a bola cai na nossa quadra é computado um ponto para a equipe adversária. Então o
jogador tem que fazer o máximo de esforço para não
deixar a bola cair no seu campo, gerando um sentido
de cooperação muito grande.
Mas a cooperação vai mais além, podendo ser
observada, por exemplo, quando o instrutor propõe
a todos os alunos que andem no mesmo passo ou que
todos corram lado a lado no mesmo ritmo ou saltem
para frente ao mesmo tempo. Não há neste caso uma
disputa contra uma pessoa ou contra outra equipe,
a disputa é para que o desafio, proposto para todos
os participantes, seja realizado.
Os exercícios de cooperação devem sempre
fazer parte da aula, pois favorecem os avanços motores de todos os alunos (aumentando o estímulo para
o cumprimento da tarefa proposta) e a interação social, já que as atividades compartilhadas induzem à divisão do trabalho, diminuindo o esforço de todos e somando na produção, estimulando também a
separação de tarefas e o resultado coletivo.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Resultados como a organização espacial de uma equipe dentro de campo
ou a organização de uma competição são exemplos de cooperação mais sofisticados e desejáveis com o decorrer do trabalho.
Agora passemos aos movimentos estabilizadores, a última fase das Habilidades Motoras Fundamentais, que reúne uma série de tarefas que representam a luta do ser humano para dominar a força da gravidade, aumentando o
controle da musculatura para se manter em pé.
Os exercícios que favorecem o equilíbrio são: rolar (cambalhota), para frente, para trás, para os lados, desviar (rápidas alterações de direção) para a direita
para a esquerda, de frente, de costas; equilibrar em um pé só, com a perna para
frente, para trás (o “avião”) ou com a perna para o lado, com os braços abertos
ou fechados, com os olhos abertos ou fechados; caminhar ou correr sobre uma
superfície estreita, com os olhos abertos ou fechados, com os braços abertos ou
fechados; apoios invertidos incluem a cambalhota, o tripé (parada de três apoios
– a cabeça e as duas mãos ou os dois antebraços), plantar bananeira com dois
apoios (chamada de parada de mãos).
Vimos então diversos exemplos de Habilidades Motoras Fundamentais: envolvendo a locomoção, a manipulação e a estabilização. A ampliação do
conhecimento dos alunos sobre sua capacidade motora e sua coordenação deve
ser um objetivo perseguido cotidianamente pelo monitor.
A vivência ordenada dessas atividades favorece enormemente o desenvolvimento posterior de grande parte das habilidades dos alunos, importantes para
os esportes individuais e coletivos. Lembre-se, todo aprendizado de habilidades
motoras envolve uma seqüência hierárquica (do mais fácil para o mais difícil)
chamada progressão pedagógica. O aprendizado passa pelo estágio inicial (rudimentar), progride para o estágio intermediário (aperfeiçoamento) e vai até o
nível avançado (refinamento).
Assim chegamos ao estágio das Habilidades Motoras Especializadas
que nada mais são do que as Habilidades Motoras Fundamentais combinadas
e refinadas, usadas para o desenvolvimento dos gestos esportivos, quer sejam
individuais ou coletivos.
Vejamos alguns dos exercícios de Habilidades Motoras Especializadas
voltados para os tradicionais esportes coletivos:
- Passes: em movimento, com corridas, com saltos, com giros, para frente, para trás, com marcação, sem marcação, com os pés, com as mãos,
longos, curtos, para a esquerda e para a direita;
- Dribles: em movimento, com corridas, lentos, rápidos, para frente, para
trás, com os pés, com as mãos, longos, curtos, para a direita e para a esquerda;
- Chutes/arremessos: em movimento, com corridas, com saltos, com os
pés, com as mãos, com a direita, com a esquerda, com as duas mãos, com
giros, fortes, fracos, de perto e de longe;
- Toque, manchete, saque e cortada: com salto, com giro, para a esquerda, para a direita, em pé e com queda.
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As variações das Habilidades Motoras Especializadas são muito grandes, dependem de cada esporte, o que torna impossível descrever neste livro
todos os exercícios gerados pelos fundamentos combinados das diversas habilidades. De qualquer forma, devemos sempre lembrar que os esportes são atividades que exigem equilíbrio, deslocamento e a manipulação de técnicas que vão
desde algo bem simples como o passe no futebol ou no handebol, até coisas mais
complexas, como o arremesso do basquetebol ou o levantamento no voleibol.
ESPORTE E LAZER
ATIVIDADE 18
118
Agora, sob orientação do professor, realizaremos uma experiência
completa de ministrar uma aula: desde o planejamento, passando pelo
ministrar da aula em si, finalizando com a avaliação. Aproveite bastante
essa oportunidade.
Organização de torneios
e campeonatos
No mundo atual, muitas são as pessoas que se sentem envolvidas por eventos
cuja principal atração são os esportes. Sem dúvida, torneios e campeonatos são atividades que despertam o interesse de um público muito grande, justamente por oferecerem uma série de atrativos, o que faz com que indivíduos dos mais diferentes tipos
sejam seduzidos por várias razões, em vários sentidos e em qualquer lugar.
Reconhecidamente os esportes e suas competições possuem uma série de
fatores que consideramos positivos. Todavia, devemos dizer que muitas vezes estas atividades ficam marcadas por fatores negativos, como: corrupção, fraudes,
doping (uso de medicamentos proibidos), facilitação para
determinados concorrentes, violência e outros. Estes aspectos acontecem por ação de indivíduos ou de grupos de
pessoas, nas várias fases de organização de uma competição,
por interesses diversos: financeiros, políticos, emotivos.
Numa competição, a própria limitação do número de participantes acaba se tornando problema, já que assim poucos têm a chance de participar destes eventos.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
INTRODUÇÃO
Sabemos que os esportes e as competições são atividades humanas e que são realizadas
num mundo bastante injusto e desigual. Assim, também os torneios e campeonatos podem
ser desenvolvidos de uma maneira não muito justa, sendo influenciados por problemas
típicos da sociedade como um todo ou específicos de uma localidade. Com isto, ficam
sujeitos a críticas e dúvidas, chegando a ficar desacreditados e desrespeitados.
A própria lógica da competição tradicional pode originar problemas, pois o
excessivo valor dado a ela faz com que as pessoas e/ou grupos assumam comportamentos negativos, dando espaços para o aparecimento de muitos dos problemas
vistos anteriormente. Neste sentido, aquilo que é positivo no esporte e na competição acaba perdendo valor, sendo superado pelo que é negativo e isto afeta as
pessoas que atuam na sua organização.
Justamente por acreditar no que é positivo e em um possível potencial educativo da organização de torneios e campeonatos, é que mostraremos aqui algumas
possibilidades que tentam justamente superar estes problemas e limitações, na busca de um evento que possa ser o mais aberto e justo possível. Tais atividades não
devem ser o objetivo final de seu trabalho, mas um elemento motivador. Cuidado!
Quando nos envolvemos com um evento, seja participando ou assistindo,
devemos saber que sua realização só é possível por existir por detrás dele um
enorme trabalho de organização. Este trabalho deve seguir determinadas orientações para que tudo aconteça da melhor forma possível, desde antes do início
119
até após o encerramento das atividades, sempre com o desejo de que todas as
pessoas se sintam realizadas, sejam as que participam, as que assistem ou as que
trabalham. É justamente isto que abordaremos aqui.
ESPORTE E LAZER
Nesta parte do curso falaremos sobre a organização de torneios e campeonatos, mostrando os fatores que devem ser considerados para a realização
dessa tarefa, fatores necessários quando organizamos algum tipo de evento que
envolva práticas físicas e esportivas. Estes servem para dar maior qualidade a
todas as ações desenvolvidas no trabalho de organização, seja este desenvolvido por uma pessoa ou um grupo.
Apresentaremos alguns conceitos que vão servir para nos dar uma maior
clareza daquilo que é o alvo de nossas atividades e identificaremos alguns fundamentos que consideramos como primordiais neste tipo de tarefa. Isto serve
para orientar e guiar nossas atitudes, ainda que cada situação específica nos
exija sempre a capacidade de adaptação.
Ao tratarmos destes fundamentos, devemos considerar que representam
dados técnicos, aspectos que servem para melhor estruturar todo o trabalho de
organização e que nos dão as ferramentas para serem usadas visando o melhor
resultado de todas as etapas do trabalho da pessoa ou das pessoas envolvidas
que se propõem a trabalhar com organização.
Aqui também serão apresentados alguns exemplos de torneios e campeonatos que servirão para, de maneira mais clara e concreta, ilustrar tudo o que
é referente às atividades de organização. Estes mesmos casos nos servirão como
meios para melhor compreender as diferentes possibilidades, as diferentes realidades nas tarefas de organização.
Por último, vamos apresentar algumas sugestões possíveis para as pessoas que assumirem a tarefa de trabalhar com organização. Ao final, esperamos
que o monitor de esportes se sinta apto e capaz de ser o responsável e participar da organização de torneios e campeonatos, reconhecendo a dimensão de
todas as atividades necessárias a esta tarefa.
CONCEITOS
120
Quando nos propomos a realizar alguma
atividade, tanto melhor será se tivermos
claramente definido o que entendemos sobre a própria atividade e seus elementos
chaves. Assim, apresentamos alguns conceitos que podem contribuir com uma melhor compreensão do que pode ser fundamental em organização de
torneios e campeonatos. Estes conceitos podem ser vistos
como uma possibilidade de facilitar e mesmo ampliar aquilo
que podemos e devemos saber sobre este assunto.
Evento: podemos considerar como sendo um acontecimento que tem
finalidades diversas: apresentar, comemorar, registrar, celebrar algum
fato ou fenômeno; ou ainda é uma forma de promover uma competição entre indivíduos e/ou equipes. Um evento é organizado por uma
pessoa ou grupo de pessoas que especialmente se juntam para isto.
Pode ser realizado a partir de interesses pessoais, institucionais, profissionais, religiosos, artísticos, esportivos, entre outros. Pode ter várias
dimensões, desde aqueles menores, por exemplo uma gincana estudantil, até os que são gigantescos, como uma copa do mundo de futebol. Para nós interessa aqui, nesta parte de nosso curso, os eventos que
chamamos de físico-esportivos, notadamente torneios e campeonatos.
Na ocupação “Animador de Eventos” você poderá encontrar maiores
informações sobre outros tipos de eventos.
Organização: refere-se à possibilidade de melhor estruturar nossas ações,
quaisquer que sejam estas. A organização tem por finalidade dar melhor
sentido possível as atividades que realizamos, justo para que estas possam ter melhor resultado ao final. A organização deve se dar em todas as
atividades da vida diária e pode significar uma maior capacidade de realização daquilo que nos propomos fazer, desde as menores e mais simples ações até aquelas de maior tamanho e dificuldade; quanto maior for
o grau de organização, maior será a chance de executarmos corretamente qualquer atividade. A organização pode ser uma ação de uma só pessoa ou de um conjunto de pessoas. Uma organização ideal nada mais é
do que a previsão de todas as coisas que podem acontecer durante a
realização de nossa atividade e serve justamente para que possamos
melhor estruturar cada passo a ser dado nesta, devendo estruturar todas
as partes que tem ação sobre aquilo que nos propomos realizar.
Competição: acontece quando duas ou mais pessoas e ou grupos estabelecem alguma forma de disputa. Ela se dá sempre que há concorrência
por algo, quando se objetiva identificar e ou julgar capacidades daqueles que estão envolvidos na competição ou mesmo definir quem é
melhor ou mais capaz, mesmo momentaneamente, na realização de
uma atividade. A competição simboliza a disputa por alguma coisa
entre pessoas que num mesmo momento apresentam os mesmo interesses. Falando especificamente dos interesses físico-esportivos, pode
estar presente numa simples disputa de corrida entre amigos, ou em
algo bem maior como, por exemplo, nos Jogos Olímpicos, em que
atletas e países lutam por medalhas, prêmios e uma melhor colocação.
A competição pode se dar de maneira sistematizada, quando há organização prévia, árbitros para acompanhar as atividades, premiação, um
conjunto de regras definidas a cumprir; ou pode acontecer de maneira
mais simples, quando é espontânea e portanto não possui nenhum
tipo de organização anterior mais estruturada, quando pessoas ou gru-
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
121
ESPORTE E LAZER
pos se auto-organizam da melhor forma possível, como por exemplo num
jogo de futebol de rua feito entre amigos. A competição pode ser considerada natural na vida humana, todavia, deve ser sempre regulada por fatores
que servem para que esta aconteça da maneira mais justa e correta para
todos os que estão nela envolvidos. Nos esportes a competição pode se
organizar de duas maneiras, como torneio ou como campeonato.
Torneio: é um evento esportivo que se caracteriza por ter curta duração,
podendo acontecer em breves períodos de tempo, um dia por exemplo. Um torneio normalmente se organiza pelo processo de eliminatórias: só permanecem na competição aqueles que vencem, já os que não
conseguem a vitória são eliminados. Ou seja, as chances de participação ficam restritas aos vitoriosos, diminuindo as possibilidades de uma
participação mais ampla.
Campeonato: ao contrário do torneio, se caracteriza por ser mais longo,
dependendo de mais tempo para sua organização. Num campeonato
todos os envolvidos competem entre si por pelo menos uma vez, fazendo com que a seqüência de disputas seja mais demorada. Isto aumenta as possibilidades de participação, dando maiores chances às
pessoas e ou equipes inscritas de participarem por mais tempo no evento
e mesmo se recuperarem de uma possível derrota na competição. O
campeonato normalmente se organiza sob a forma de pontuação, sendo vencedora aquela pessoa e ou equipe que acumular maior número
de pontos. Sua forma mais simples de organização é o rodízio.
ASPECTOS
EDUCATIVOS
Queremos retornar a uma discussão anterior por considerá-la
de grande relevância. De nada vale saber todos os conceitos e
todas possibilidades de organizar torneios e campeonatos se não
assumirmos o desafio de conceber um tipo de evento que supere
os problemas que já foram mostrados, que valorize a participação,
que seja aberta a quem por ela se interessar (e não só os atletas e/ou
mais capazes), que possa ser experimentada por todo tipo de pessoa
que se mostrar interessada.
Sabemos que os modelos mais usados pelas competições tradicionais foram pensados para o que chamamos de esporte de alto nível, ou seja, aquele que
envolve atletas profissionais em qualquer prática esportiva e, com isto, prioriza
os que são mais fortes, mais ágeis, mais velozes ou que simplesmente têm mais
chances em sua vida de se envolver com os esportes.
122
Estes modelos distanciam as pessoas da prática esportiva, pois são pensados para poucos, existindo apenas para premiar aqueles que demonstram uma
maior competitividade e rendimento.
A grande questão para a mudança deste perfil está no planejamento de
uma competição, na definição de seus objetivos e interesses. Assim, sua estrutura técnica será montada de forma tal que privilegie outros valores que não a
competição excessiva e exclusiva, ou seja, a técnica está serviço dos objetivos.
Neste sentido, entendemos que a organização de torneios e campeonatos
deve prever em sua estrutura modelos e formas de abertura e inclusão. Assim,
apontamos e lembramos que é justamente na composição de seu planejamento
e na indicação de seus objetivos que isto pode se dar. Também se reconhece
que a própria organização abre espaço para isto, desde que esta seja realizada de
forma democrática, dando aos interessados a chance de participar do evento,
não só competindo, mas também organizando.
Vamos indicar alguns exemplos que podem contribuir com a mudança
das formas de participação, entendendo que estes exemplos sempre devem se
ajustar aos objetivos e as realidades.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
É necessário pensarmos na possibilidade de que todas pessoas e/ou grupos tenham interesse por esportes e suas competições, daí devemos também
pensar em formas de permitir que estes participem e usufruir tudo o que é
positivo na prática esportiva.
Os exemplos são: Modificação das regras (aumento do número de substituições; mudança da divisão dos jogos de tempos para quartos; pontuação de
todos os participantes; permissão para um maior número de pedidos de tempos técnicos; diminuição da exigência quanto aos uniformes, locais e materiais
de jogos; permissão para que as equipes misturem mulheres e homens; alteração de medidas e pesos de quadras e bolas); inclusão de atividades não esportivas (jogos populares, jogos de salão, gincanas, atividades artísticas); ampliação
da premiação a todos os participantes; menores taxas para inscrição e participação; uso de arbitragem didática (que possa durante os jogos não apenas punir,
mas mostrar e explicar aos participantes todas as exigências das regras); construção coletiva das regras; atenção às diferenças quanto ao gênero, a idade e as
experiências esportivas anteriores.
123
FUNDAMENTOS
TÉCNICOS
ESPORTE E LAZER
Como já foi dito, os trabalhos relativos à organização de torneios e campeonatos são um conjunto de orientações que se seguidas podem contribuir para que
os resultados sejam sempre os melhores, ou seja, oferecem às pessoas envolvidas
em todas as tarefas da organização condições de melhor executar cada parte de seu
trabalho.
Ao trabalhar com organização de torneios e campeonatos devemos sempre
ter em mente que esta atividade envolve uma série de ações prevendo tudo o que
está envolvido numa competição. Mais ainda, devemos saber que um trabalho como
este não acontece somente durante a sua realização, mas também antes e após o
próprio evento.
Deve-se pensar não apenas na realização dos jogos em si, como também em
tudo o que envolve esta prática, desde a determinação de que forma será realizado
o evento até a posterior avaliação de tudo o que foi feito. Tentaremos agora apontar alguns destes fundamentos que orientam os trabalhos de organização. Para tal,
os dividiremos em três fases: planejamento, execução e avaliação.
a) Planejamento: Fase inicial na realização da competição, quanto melhor
e mais completo for o planejamento, maior será a possibilidade de sucesso na realização daquilo que nos propomos fazer. O planejamento
nada mais é do que uma forma de pensar em tudo o que é necessário
para se realizar o evento, daí que ele deve ser feito de maneira cuidadosa
e detalhada e com a devida antecedência. O planejamento ideal é aquele
que pensa em cada detalhe, em cada elemento necessário à organização
de torneios e campeonatos e o ideal é que seja feito por escrito, com a
participação de todas as pessoas envolvidas com o trabalho. O projeto
é o documento que regula e controla a realização do evento e nele devemos apontar aspectos como:
* objetivos do evento: devemos descrever qual a intenção que se tem nesta
organização, o que se pretende alcançar, o que se deseja realizar;
* justificativa: é onde se deve dizer para que serve este evento, qual o seu
valor, em que ele irá contribuir para a vida das pessoas que estão
com ele envolvidas, seja participando, assistindo ou trabalhando;
* tipo de evento: aqui é onde se define qual o modelo estabelecido para a
realização do evento esportivo, se na forma de torneio ou na forma
de campeonato. Para tanto, devemos levar em conta aquilo que foi
pensado como objetivo e justificativa, o tempo e o espaço disponível para a atividade, o número de pessoas que podem atuar na organização, os recursos financeiros de que podemos dispor e a própria
capacidade e interesse das pessoas que trabalharão na organização.
124
* montagem de comissões: para que todas as tarefas necessárias na organização de um torneio ou de um campeonato aconteçam de maneira
- coordenação geral: montada com um representante de cada comissão e é a
que responde pelo evento como um todo; é talvez a comissão mais
importante; deve-se eleger um coordenador geral;
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
satisfatória, é aconselhável que se distribua a equipe envolvida em comissões. São muitas e muito diferentes entre si as atividades de organização. Desta forma, a distribuição entre as pessoas que trabalham acaba sendo um fator importante. Estas comissões devem ser pensadas
de maneira a envolver todas as atividades que devem acontecer e são
imprescindíveis quando se quer um evento de boa qualidade. O ideal é
que as pessoas sejam divididas entre as comissões de acordo com seus
interesses e suas capacidades, devendo ainda cada comissão ter uma
pessoa que seja a responsável por ela. Assim, entendemos que todas as
pessoas são divididas em comissões, que assumem tarefas diferentes,
tendo cada comissão um responsável, e este conjunto de pessoas que
respondem por cada comissão representam a comissão geral. O resultado na realização do evento dependerá da forma como cada comissão
agir. Podemos aqui indicar algumas comissões, como exemplo, mas na
verdade as comissões que serão montadas sempre dependem das realidades e necessidades relativas a cada objetivo de organização:
- técnica: a que cuida de todos os detalhes das atividades em sua realização. É ela quem faz o acompanhamento dos jogos por exemplo, dando condições ideais para sua execução. É ela quem faz a montagem
das tabelas de jogos, a que cuida da pontuação e outras necessidades
vitais para cada jogo;
- financeira: esta é a que deve buscar o dinheiro que vai financiar toda
a organização. Deve elaborar um quadro com todas as despesas e
viabilizar formas de se conseguir o dinheiro, seja com doações, patrocínios, ou taxas de inscrição. Depende de dados que as outras
comissões a envia;
- de recursos físicos e materiais: comissão responsável pelos locais de realização das atividades. Deve selecionar, reservar e se responsabilizar
para que este seja o mais ideal para cada tipo de prática. É também
esta comissão que cuida do material necessário nas atividades;
- de arbitragem: responsável pela seleção e controle das pessoas que farão
a arbitragem dos eventos, podendo ser árbitros profissionais ou não;
- disciplinar: esta comissão se responsabiliza pela disciplina dos participantes, seja aquela que acontece durante os jogos ou mesmo aquela
resultante do comportamento dos envolvidos como um todo;
- de premiação: a que cuida da premiação aos participantes;
- de transporte: a que cuida do transporte de todos os envolvidos, se
responsabiliza em dar condições de deslocamento;
125
- de alimentação: deve pensar na alimentação das pessoas que participam das
atividades, sejam as que jogam, as que assistem ou as que trabalham.
- social: aquela que cuida das atividades como festas, cerimônias e outras atividades de celebração;
ESPORTE E LAZER
- de avaliação: acompanha todo o evento, fazendo uma detalhada avaliação de tudo o que se dá. Pode e deve fazer uso de informações obtidas
com os participantes. A idéia é que os dados desta comissão permitam
que todas ações durante e após a sua efetiva ação possam ser pensadas
de maneira a entender até que medida foram alcançados os objetivos.
Estas comissões e suas atividades são na verdade exemplos, mas lembramos aqui que, em cada torneio ou campeonato, as pessoas envolvidas com a
organização é que devem pensar quais as comissões são necessárias e que trabalho cada uma vai executar. O importante é que se pense na organização como um
todo, tentando prever todas as situações que podem acontecer, para que assim se
tenha plena condição de que a organização cubra todas as partes do evento.
Cada comissão de organização tem suas próprias tarefas, todavia o ideal é
que possam atuar juntas, pois uma depende da outra. O mais indicado é que
cada comissão sempre que possível organize suas atividades por escrito, pois
desta forma se guardam registros que podem ser usados durante e após as
atividades de planejamento.
Cada comissão pode atuar mais fortemente em uma fase ou outra da
organização geral, mas todas devem sempre estar atentas às solicitações da comissão geral, que justamente é aquela que reúne componentes de todas as comissões e assim enxerga o evento como um todo mais facilmente.
É possível perceber que o número e o tipo de comissões que serão montadas vai variar de acordo com o porte e tipo de evento. No caso de um torneio, que
é mais rápido, podem ser exigidas menos comissões do que num campeonato,
que por ser mais longo também requisita maior trabalho.
A proposta de se organizar torneios e campeonatos a partir de comissões,
é entendida como sendo a ideal por ser esta uma forma de se distribuir os
trabalhos entre diversas pessoas. Todavia sabemos que muitas vezes todo este
trabalho acaba sendo feito por apenas uma pessoa, o que provoca naturalmente
um acúmulo e faz com que o esforço seja muito mais intenso.
Quando isto acontece, significa que todo o trabalho, que seria dividido
entre várias pessoas nas comissões, acaba sendo feito de maneira concentrada e
por isto mesmo deve-se ter muito mais atenção e cuidado, além de exigir um
tempo maior para a organização.
Desta forma, sempre que possível deve-se ter mais pessoas envolvidas
com os trabalhos, pessoas estas que sejam comprometidas e tenham a responsabilidade suficiente para executar cada tarefa exigida.
126
b) Execução: É todo o trabalho executado durante a realização de um
* Torneios: realizados a partir de eliminatórias, com as equipes distribuídas
em chaves e com possibilidades diferentes de organização, tais como:
* Eliminatória simples;
- Eliminatória do tipo consolação;
- Eliminatória dupla;
* Campeonatos: são montados em sistema de rodízios e podem ser dos
tipos:
- Rodízio simples;
- Rodízio duplo;
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
torneio e campeonato. Aqui que se efetivam as ações de algumas comissões que são responsáveis pelo andamento de tudo o que acontece numa
competição: a técnica, a de arbitragem, a de espaços físicos, a de arbitragem etc. A ideal execução de uma competição vai depender do modelo
adotado, ou seja, se um torneio ou um campeonato. Aqui, indicamos os
tipos possíveis para cada um destes e mais à frente apresentaremos maiores exemplos:
- Rodízio em séries;
obs: Mais a frente damos exemplos dessas possibilidades de organização.
c) Avaliação: a grande finalidade da avaliação é poder de forma concreta
analisar todas as situações ocorridas durante a competição. A avaliação
deve levar em conta os dados das comissões que foram as responsáveis
pelo planejamento e pela execução da competição. Por mais que se monte uma comissão de avaliação, todos os que estão envolvidos no evento
devem ser ouvidos. A avaliação além de analisar o que já foi feito, fornece dados para o que se fará adiante num outro momento. Assim, em uma
outra realização, tudo o que foi identificado na avaliação pode ser levado em conta. A avaliação, como todas as outras fases, pode ser feita de
forma oral, mas deve ter um registro por escrito. A avaliação deve levar
em conta os dados relativos à quantidade e os que falam da qualidade de
toda a organização.
ATIVIDADE 19
Caros alunos e alunas, vamos verificar se os conceitos básicos foram bem
entendidos? Seu professor(a) aplicará um questionário para testar seus
conhecimentos. Aproveite para tirar suas dúvidas.
127
CASOS
ESPORTE E LAZER
Até agora vimos as diferentes formas de organização de torneios e campeonatos, o que é necessário para se realizar este trabalho. A partir daqui iremos ver
alguns exemplos de organização de tabelas de jogos. Estes exemplos serão divididos entre torneios e campeonatos, já que para cada um existem formas mais
adequadas de se montar uma competição. Mostraremos os exemplos mais simples e comuns para serem usados.
Como já vimos, o torneio é um evento rápido e normalmente montado no
modelo de eliminatórias. Estas eliminatórias vão variar de acordo com o número
de participantes e os objetivos da organização. Os participantes são distribuídos
por chaves, definidas por sorteio. Dos quatro tipos possíveis, falaremos de dois:
a) Eliminatória simples: sua organização varia de acordo com o número de
participantes e se este número é uma potência de dois (2,4,8,16,32...) ou
não. Quando o número de participantes é uma potência de dois, as chaves
são organizadas de forma tal que todos joguem entre si já a partir da primeira rodada. Na competição vão seguindo as equipes que vencem seus
jogos até se chegar a final como vencedora. Neste modelo há sempre uma
final. Quando o número de competidores não é uma potência de dois,
alguns ficam de fora na primeira rodada (os isentos), para que na seguinte
possa existir um número de competidores que seja uma potência de dois.
Para isto, se diminui, do primeiro número potência de dois superior ao
número de participantes, o próprio número de participantes e daí se tiram
os isentos. Isto segue até que o número de participantes seja uma potência
de dois.
* Exemplo com número de equipes que seja potência de dois:
O número de jogos (NJ) é determinado usando a seguinte fórmula:
número de concorrentes (NC) menos um, ou seja NJ=NC-1. Um
torneio com oito equipes terá sete jogos, pois NJ=8-1 =7.
Exemplo de torneio com 8 equipes.
128
Primeiro se determina o número de isentos da primeira rodada diminuindo do número potência de dois logo acima ao de participantes.
Exemplo: num torneio com sete equipes, ficaria assim: isentos=1, já
que 8 (número potência de dois) menos 7 (participantes)=1. Feito
isto, a competição segue até se chegar a final. O número de jogos se
determina usando a fórmula NJ=NC-1 (nesse caso 7-1=6)
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
* Exemplo com número de equipes que não seja potência de 2:
b) Eliminatória do tipo de consolação: Esta competição é organizada para
que as equipes derrotadas no primeiro jogo possam ter uma segunda chance. Desta forma, é montada a chave inicial e acontece à primeira rodada. A
partir daí os vencedores seguem a chave inicial e os perdedores vão para
uma outra chave e isto acontece ao mesmo tempo. A intenção é apontar
um vencedor do torneio principal e outro de um evento chamado de consolação. Na organização das chaves se segue a mesma ordem de se ter ou
não um número de competidores em potência de 2.
129
ESPORTE E LAZER
c) Num campeonato os participantes competem entre si ao menos uma
vez. Esta competição é organizada na forma de rodízio e pode ter um
turno ou dois. A cada jogo se atribui uma pontuação que difere entre
empate, vitória e derrota. A equipe que não se apresenta para um jogo
é derrotada no chamado W.O e além de não somar pontos, pode perder. Os tipos mais comuns de rodízio são:
* Rodízio simples: é a competição disputada em um único turno, de uma
única vez. Quando o número de participantes está em número par,
todos jogam em todas as rodadas. Quando há número ímpar, em cada
rodada uma equipe fica isenta. O número de jogos é definido pela
fórmula: NJ=NC multiplicado por (NC-1) /2. Exemplo com oito equipes: NJ=8 X (8-1)/2 - NJ=8x.(7)/2 - NJ=56/2 - NJ= 28. Quanto ao
número de rodadas, sempre que os competidores forem em número
par se terá uma rodada a menos que este número (8 competidores=7
rodadas); quando o número for ímpar, as rodadas sempre serão em
número igual ao de competidores (9 competidores=9 rodadas).
Exemplo com número par de equipes = 8
nj= 8.(8-1)/2 = nj= 8.(7)/2 = nj=56/2 = nj=28
número de rodadas = nc-1 = 7
Exemplo com número impar de equipes = 9
nj=9.(9-1)/2= nj=9.(8)/2 = nj=72/2 = nj=36
número de rodadas = número de participantes = 9
130
Exemplo com número par de equipes = 8
NJ= 8.(8-1) = NJ= 8.(7) = NJ=56
número de rodadas = NC-1x2 = 7x2 =14
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
* Rodízio duplo: Segue o mesmo princípio do rodízio simples. Neste
caso se altera a ordem dos jogos e se for o caso, a sede onde este é
realizado. A definição do número de jogos é assim: NJ=NC.(NC-1)
NJ=8.(8-1) NJ=8(.7) NJ=56. O número de rodadas se duplica em
relação ao rodízio simples e as equipes jogam entre si duas vezes.
Exemplo com número par de equipes = 8
NJ= 8.(8-1) = NJ= 8.(7) = NJ=56
número de rodadas = NC-1x2 = 7x2 =14
131
ESPORTE E LAZER
Exemplo com número impar de equipes = 9
NJ=9.(9-1)= NJ=9.(8) = NJ=72
número de rodadas = número de participantes = 9x2 = 18
ATIVIDADE 20
Vamos checar se você entendeu? Seu professor apresentará uma série de
casos de organização e faça seu melhor para resolver as questões
lançadas.
SUGESTÕES
132
Todos sabemos o quanto pode ser atraente e agradável à realização de um
torneio ou um campeonato, o quanto eventos como estes mobilizam e envolvem um número enorme de pessoas que se sentem motivadas com tudo o que
uma competição pode oferecer; isto vale tanto para os que participam competindo quanto para os que participam assistindo. Para nós interessa ver que para
que tudo aconteça bem, existe sempre uma pessoa ou grupo de pessoas que
executa todo o trabalho de organização.
Tentamos mostrar os fatores que são necessários para o trabalho de organização. Nosso interesse foi o de apontar os aspectos e fundamentos necessários
para o bom desenrolar da preparação de torneios e campeonatos, reconhecendo
que existem ao menos três etapas e que estas, por mais que as pensemos em
separado, acabam sempre dependendo uma da outra, de forma tal que cabe ao
organizador o papel de pensar um torneio ou um campeonato em sua totalidade.
Seleção Brasileira de Futebol - Copa do Mundo de 2002
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Os fundamentos técnicos aqui tratados têm justamente o papel de melhor
estruturar e facilitar tudo o que envolve uma organização. Desta forma, a própria
compreensão da necessidade de uma anterior organização é muito importante,
reconhecer que um evento esportivo de sucesso só acontece com um grande
trabalho de organização.
É sempre muito importante levar em conta os interesses, as necessidades e
as capacidades de quem está envolvido com o trabalho de organização. Deve
haver uma preocupação com as questões típicas de cada realidade, desde a escolha da modalidade até a determinação do tipo de atividade.
O trabalho de organização precisa ser visto em sua totalidade. O cuidado
com cada parte, o zelo com que se faz cada mínima tarefa, é algo de muita
importância, pois cada ação isolada é parte do conjunto de ações que vão influenciar no resultado final, que esperamos seja sempre o melhor.
De nada adiante pensar a realização de um grande campeonato de futebol
se, por exemplo, só existe um campo para sua realização. Da mesma forma não
vai ter sentido pensar um torneio de futebol se não existe uma equipe de trabalho
que possa dar conta de todas as tarefas ao mesmo tempo.
Devemos sempre fazer aquilo que cabe em nossa realidade, que nos é possível, e isto deve ser pensada a partir de fatores como: aspectos sociais (como é a
comunidade em que se trabalha); recursos financeiros (quais os recursos disponíveis para o trabalho); aspectos técnicos (formas de organização); recursos físicos
(qual ou quais os espaços disponíveis para os trabalhos). Ainda, tempo (quanto
tempo há para a realização do evento); recursos materiais (do que se dispõe para
o evento); recursos humanos (com quantas e quais pessoas pode-se contar para
os trabalhos) e principalmente, o que se pretende com a realização do torneio ou
do campeonato e em que medida esta atividade pode contribuir e ser importante
num quadro geral.
133
ESPORTE E LAZER
A organização de torneios e campeonatos deve ser pensada em conjunto a
outros dados e nunca de forma isolada, pois ela deve representar uma forma de
ação que visa oferecer à comunidade uma atividade que possa lhe trazer benefícios, que possa garantir formas de acesso e participação à prática esportiva como
um bem social, um direito que todo cidadão deve poder usufruir.
Com este tipo de pensamento, as pessoas que se propõem a trabalhar com
tarefas da organização de torneios e campeonatos devem se mostrar dispostas a
atuar em prol de bem comum, sendo as atividades resultantes de seu exercício
profissional uma mostra das possibilidades que cada cidadão e cada comunidade
tem de se relacionar com o outro e com o meio, de maneira solidária e fraterna.
Neste sentido, devemos estar atentos ao papel educativo que os esportes e
suas competições tem, já que entendidos como uma forma de ação social que
envolve um número grande de pessoas em todas as suas atividades, tanto as de
organização quanto as referentes a sua própria prática, é importante que sempre
se trabalhe com atenção a este fato, a possibilidade educativa, isto para quem
participa e para quem trabalha.
Desta maneira, o ideal é que se esteja disposto a não apenas cumprir uma
tarefa profissional, mas, para além disto, deve se desejar ter uma ação política.
Deve se pensar que este tipo de trabalho, este tipo de atividade social, pode contribuir com a formação das pessoas que nela estão envolvidas e também com a própria comunidade, até mesmo pelo fato
de que, como visto, são atividades que despertam grande interesse,
que podem ser mecanismos de envolvimento, participação e ação.
O papel de quem organiza, mais do que exercer tarefas, é o de ser um
agente social, um cidadão preocupado com os benefícios que sua atividade pode trazer à comunidade.
134
Na sociedade, homens e mulheres estão envolvidos com uma série de situações e fatos que de forma direta influenciam suas vidas, situações sobre as quais
podem ter maior ou menor controle.
Estas são determinantes no que se refere às suas condições de vida, na forma
com que têm ou não acesso a fatores que podem ser considerados vitais. Dentre
estes está o trabalho, que aqui é visto como um bem indispensável ao ser humano,
na sua relação com o outro e com o meio, e claro para a própria sobrevivência.
Na atualidade, o trabalho se apresenta de maneira muito diferente do que em
tempos atrás. Hoje são muito variadas as funções profissionais que podem ser exercidas, contudo estas aparecem e desaparecem de maneira muito mais rápida, exigindo do trabalhador uma capacidade de se ajustar às diferentes exigências e aos
novos tipos de tarefas que surgem. Existem ainda fatores diversos que tornam o
acesso ao trabalho cada vez mais difícil, fazendo com que a busca por um posto
seja sempre intensa e difícil.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Caracterização da ocupação
As atuais possibilidades de atuação profissional levam em conta as características de cada localidade, tendo em vista o que esta apresenta de realidade e o
que para cada local é mais apropriado e específico.
Neste sentido, áreas como esporte e lazer têm se mostrado importantes,
pois a procura de serviços nestes setores tem aumentado fortemente nos últimos
tempos. Por vários motivos é cada vez maior o interesse demonstrado pelas pessoas em se aproximar de atividades de esporte e lazer, fazendo aumentar o interesse do setor privado e daí a oferta de serviços.
Da mesma forma, o poder público tem aumentado sua atenção para estes
setores, inclusive em função de crescimento das exigências da população, e isto
também tem gerado maiores oportunidades de trabalho. Lembremos que estas
são áreas que exigem um número muito grande de profissionais.
A ampliação das possibilidades e campos de trabalho em esporte e lazer acaba por aumentar as exigências sobre as pessoas que pretendem aí trabalhar, seja no
setor público, seja no privado. Estas exigências tratam dos aspectos que podem ser
apontados como indicados e mesmo necessários às pessoas que pretendem atuar
nestas atividades, aspectos estes que tentam definir um perfil com as características
essenciais para o desenvolvimento das atividades profissionais em esporte e lazer.
Inicialmente podemos falar que quando se atua profissionalmente com esporte e lazer, sempre se desenvolverá o trabalho em contato direto com o público, que vai variar de acordo com a localidade, demonstrando assim modos e
interesses diferentes na busca e na motivação para a realização das atividades.
Devemos reconhecer que são muitos os espaços sociais possíveis para se
135
atuar com esporte e lazer. Estes que podem ser fechados ou abertos, em contato
direto com a natureza ou não; podem ou não contar com recursos e equipamentos para a prática. Tudo isto faz com que as atividades possam ser as mais variadas possíveis, sempre exigindo atenção do trabalhador .
ESPORTE E LAZER
No que se refere aos conhecimentos técnicos, é importante que o profissional conheça bem os fatores que são necessários àquilo que é sua atividade, sabendo reconhecer as formas de organização e realização de suas tarefas. Deve ainda
saber que para cada atividade existe um conjunto de normas e regras que são à
base de sua ação no trabalho.
Este conhecimento técnico deve sempre ser aperfeiçoado, buscando-se novas informações sobre cada assunto, na tentativa de estar em dia com aquilo que
se pensa e se faz. Também é necessário saber que a parte técnica de seu trabalho
não existe sozinha, devendo sempre se associar ao compromisso do profissional.
O aspecto que trata do compromisso profissional fala da responsabilidade, do cuidado que o trabalhador deve ter em tudo o que faz, da atenção e zelo
por seu trabalho. Este compromisso ainda se apresenta na forma com que se
relaciona com as demais pessoas envolvidas com as atividades, no cumprimento dos objetivos indicados para cada ação e na tentativa de fazer com que seu
trabalho seja importante não apenas para si próprio, mas para todos que se
envolvem, os que trabalham, os que participam e toda a comunidade.
Assim, algumas características pessoais importantes são: seriedade, comprometimento, respeito ao próximo e a si mesmo, constante busca de aperfeiçoamento.
Cada pessoa possui uma forma própria de ser, de se relacionar e isto deve
ser obviamente considerado. Todavia alguns dados são importantes para quem
trabalha com esporte e lazer: capacidade de auto-organização, pontualidade,
saber trabalhar em equipe, liderança, ser tolerante, dinamismo nas ações, ter
capacidade de agir em várias situações, demonstrar alegria e simpatia, saber
usar da criatividade para agir e construir o próprio trabalho, boa capacidade de
comunicação pessoal e com grande público, autonomia e independência, demonstrar cuidado com equipamentos e materiais, além de olhar crítico.
136
Hoje é amplamente reconhecida a importância e o valor da prática de atividades esportivas e de lazer. Este reconhecimento se dá pelas possibilidades que
estas atividades tem de oferecer maior qualidade de vida às pessoas que a elas
tem acesso. Isso certamente tem contribuído para ampliar os locais de trabalho
para o monitor de esporte e lazer.
Podemos a princípio identificar dois grandes espaços de trabalho: para
melhor definição os chamaremos de formal e informal. Numa identificação mais
simples, consideramos formal como aquele que possui algum tipo de registro e
portanto controlado por alguma norma; já o informal é aquele que, ao contrário
do primeiro, não possui nenhum tipo de registro, onde as formas de controle são
mais abertas.
Por força das características e normas, o formal é mais rígido e possui
condições mais controladas que o informal no que se refere às ações do trabalhador. Ao passo que o trabalho formal oferece mais garantias e maior segurança,
ele é mais restrito, com menor possibilidades de acesso aos postos de trabalho,
tanto no setor privado quanto no público.
MONITOR DE ESPORTES DE LAZER
Onde trabalha o monitor de
esporte e lazer
Em associação a esta condição do espaço de trabalho, aparece o próprio
modo de vínculo profissional: a pessoa que trabalha com esporte e lazer pode
atuar como autônoma ou ser registrada formalmente, pode trabalhar sozinha ou
se vincular a um grupo de pessoas, surgindo aí também a possibilidade de organização de uma cooperativa. Outro fator que devemos analisar é que o trabalho
pode ser fixo ou pode ser temporário.
Um ponto a se destacar é que assim como as próprias atividades em esporte e lazer se modificam bastante ao longo dos tempos, surgindo sempre novas
práticas, da mesma forma os locais de trabalho e suas características se transformam. Ao mesmo tempo em que isto pode ser considerado uma dificuldade, é
também uma vantagem, já que faz com que fatos novos apareçam sempre, ampliando as ofertas de postos de trabalho.
Reconhecendo estas realidades de trabalho, tentaremos apontar os locais
que podem ser vistos como possibilidades para se trabalhar nestas áreas, para
depois associarmos a estes suas características centrais, aquelas que são as mais
específicas em cada um destes.
Como exemplo, apontamos diversos e variados locais de trabalho. Entendemos que cada um possui elementos próprios, mas em algum sentido podem se juntar
sob características comuns, seja em sua forma de ação, seja em sua organização.
* hotéis, pousadas, condomínios;
137
* instituições de ensino, clubes sociais, clubes esportivos;
* praças, parques públicos, acampamentos, ruas de lazer, praias, festas;
* parques infantis, casas de festas, parques temáticos, excursões, colônia de
férias;
* associações de moradores, sindicatos, entidades corporativas;
* organizações não governamentais, empresas, escritórios;
ESPORTE E LAZER
* iniciativas do poder público
138
Além das características que são específicas a cada espaço, existem fatores
comuns a todos que vão apontar as formas de se trabalhar: infra-estrutura, objetivos da atividade, tipo de atividade, público alvo, tempo disponível e outros.
Estes fatores mais gerais devem ser vistos e analisados antes da realização
da atividade. Desta forma o planejamento pode ser pensado já tendo cada situação desta em vista, facilitando assim sua ideal execução. Isto é, um fator de destaque em qualquer trabalho com esporte e lazer é que sempre devemos conhecer
bem cada local, identificando suas características, seus objetivos, suas possibilidades e seus limites e isto em relação à sua estrutura ou à sua organização.
O que chamamos de evento
Um evento é um acontecimento que tem como característica principal ocasionar o encontro de pessoas. Os eventos possuem uma finalidade específica,
podendo estar ligado inclusive a razões comerciais, ou seja, visam incrementar
negócios. Por exemplo: uma rede de supermercados vai abrir uma nova loja e
organiza uma festa de inauguração com o objetivo de atrair clientes.
Os eventos são muito comuns e fazem parte do nosso dia-a-dia; muitos
passam até despercebidos, como a programação de férias de um shopping-center ou uma semana de atividades esportivas de um clube. Uma festa de aniversário ou um casamento também são eventos, porém não possuem fins comerciais,
como é o caso da maioria dos que conhecemos.
As empresas descobriram nos eventos uma grande fonte de promoção de
sua marca e têm investido cada vez mais nessa área. Os eventos já fazem parte
das ações de marketing que estas empresas desenvolvem. O que é marketing? De
forma simplificada, podemos dizer que é um conjunto de atividades empresariais
destinadas à descoberta, conquista, manutenção e expansão de mercados para as
empresas e suas marcas.
ANIMADOR DE EVENTOS
INTRODUÇÃO
O mercado de eventos, por ser dinâmico, está em crescente desenvolvimento, por diversos motivos, tais como: sua influência na vida econômica das empresas, a importância de reunir pessoas com interesses
comuns, a promoção de produtos, o lançamento de campanhas, o
estabelecimento de contatos comerciais, o estreitamento do relacionamento com os clientes etc.
CLASSIFICAÇÕES
Podemos classificar os eventos, por área de interesse, da seguinte forma:
Artístico: Promoção da expressão cultural de um povo, através da música, dança, teatro, artes plásticas etc. Exemplo: Show de Música.
Científico: Trata de assuntos ligados às ciências. Exemplo: Congresso de
Medicina.
Cívico: Promove assuntos relacionados à pátria Exemplo: Desfile de Comemoração do Dia da Independência – 7 de setembro.
Esportivo: Evento de qualquer área esportiva. Exemplo: Campeonato
de Vôlei de Praia.
Promocional: Visa promover um produto, uma pessoa, uma instituição
141
ou um governo. Exemplo: Festa de lançamento de um novo aparelho de
telefone celular.
Religioso: trata de assuntos religiosos, seja qual for a crença. Exemplo:
Procissão de Nossa Sra. Aparecida.
Turístico: promove o turismo de um ou mais locais. Exemplo: Fórum
Mundial de Turismo.
ESPORTE E LAZER
Institucional: desenvolve, mantém ou aperfeiçoa a imagem de uma
empresa. Exemplo: Festa de comemoração de uma empresa que alcançou os resultados pretendidos.
Atenção! É importante observar que esses tipos de eventos podem vir
associados. Podemos ter um evento científico junto com um esportivo; ou um
turístico com um artístico; e assim por diante. O animador de eventos pode ser
convidado para organizar qualquer uma dessas atividades e muitas vezes pode
influenciar no sentido de torná-la mais global, mais abrangente.
Os eventos também são classificados por tipos. Alguns exemplos:
* Feira: Evento direcionado e segmentado para um mercado específico, com objetivo de venda. Tem duração média de uma semana e é realizado normalmente em pavilhões ou
centros de exposições.
* Congresso: Evento em que profissionais da mesma área de atuação se reúnem para discutir sobre temas comuns.
Feira livre
* Coquetel: Comemoração de curta duração de uma data ou acontecimento onde
são servidas comidas e bebidas.
* Exposição: Exibição ao público de algum produto ou obra (artística, científica...) podendo haver vendas ou não.
* Fórum: Reunião com objetivo de atrair grande público para discussão de um
tema.
* Competições: Podem ser divididas em torneios e campeonatos. Se você desejar saber maiores informações sobre essas atividades, dê uma olhada na ocupação de “monitor de esportes e lazer”.
Há ainda um diversificado número de eventos que não vamos abordar aqui
nessa ocupação: festas, colônias de férias, manhãs de lazer, excursões. De qualquer maneira, as informações aqui contidas podem te ajudar a organizá-las. E se
você desejar saber maiores informações sobre estes outros eventos, dê uma olhada nas outras ocupações que compõe este livro.
142
Em relação ao público, os eventos podem ser classificados em:
* Abertos: Um evento é aberto quando qualquer pessoa tem o direito de
participar do mesmo. Um show em uma casa de espetáculos pode ser um exemplo: pagando o ingresso, a pessoa assiste ao show. Outro exemplo de evento
aberto é o desfile de 7 de setembro que algumas cidades organizam; por ser
realizado na rua, qualquer pessoa pode comparecer. Nosso intuito é sempre tenta garantir que o maior número de pessoas possa participar da atividade;
Vale a pena, para encerrar este item, definirmos ainda o que chamamos de
“público-alvo”. É um grupo de pessoas que o organizador, ou seu cliente, quer
atingir, ou seja, deseja que compareça ao seu evento. Por exemplo: uma loja de
roupas sociais masculinas vai fazer uma festa. Qual será seu público-alvo? Para
responder a esta pergunta você deverá fazer outra: quem compra seus produtos?
Resposta: homens de 30 a 45 anos. Logo, os homens entre 30 e 45 anos são o
público alvo.
ANIMADOR DE EVENTOS
* Fechados: Já um evento fechado é aquele que, de alguma forma, restringe o público, quando a distribuição de convites é feita para pessoas pré-determinadas, ou seja, quando já existe um público-alvo definido.
ATIVIDADE 21
Pense agora nos diferentes eventos que você conhece e que já esteve presente. Tente fazer uma classificação destes, a partir do que você aprendeu.
Definir bem o público-alvo é uma tarefa
importante do animador de eventos, pois isso
determina inclusive os seus objetivos e as estratégias
a serem utilizadas para a boa organização da atividade.
Vamos discutir um pouco mais sobre isso no próximo
item.
143
Todas as fases de organização
de um evento
Agora que já conceituamos os eventos e de que forma eles podem ser classificados, vamos entender como funciona a produção de um evento.
ESPORTE E LAZER
OBJETIVO
O primeiro passo é definir o objetivo principal do evento, tendo assim
conhecimento do que se pretende alcançar com sua realização. Como exemplo,
os objetivos principais de eventos institucionais podem ser:
* Lançamento de produto ou campanha publicitária (tênis,
CD, filme, por exemplo);
* Promoção de vendas de produtos tradicionais que
precisam ser melhor divulgados;
* Inauguração de um espaço (centro cultural, sala de cinema,
escola, academia, nova filial ou edifício, por exemplo);
* Confraternizações em geral (festas de fim de ano, data
comemorativa, sucesso de vendas/lucro, por exemplo);
* Divulgação ou promoção de um determinado tema (seminário, palestra,
congresso);
* Metas de um trabalho comunitário (manhã de lazer preparado no contexto de um programa de lazer em uma associação de moradores, por
exemplo).
PÚBLICO-ALVO
Definido o objetivo, definimos também o público-alvo. É através desta
definição fundamental que estaremos traçando os passos seguintes. Isto determina a escolha do local, da data e do horário; o fundamental é ter em mente que essa
dimensão também é responsável pelo sucesso do evento.
Um evento bem-sucedido é aquele que atinge satisfatoriamente o público
pretendido, pois qualquer atividade onde não haja a participação de pessoas não
pode dar certo. O projeto não visa à participação de qualquer público, mas daquele que possui afinidade com seu objetivo.
PROJETO
144
O evento nasce de uma idéia sua ou de uma sugestão de outra pessoa que,
neste caso, pode ser seu cliente, seu chefe ou seu sócio. Para materializar esta
idéia, é preciso “colocá-la no papel” de forma clara e objetiva; por isso faz-se
necessária a redação de um projeto.
Os projetos podem ser desenvolvidos pelas próprias empresas que querem
divulgar sua marca/produto, ou por autônomos e empresas de eventos que vendem seus projetos para outras instituições. Logo, para realizar seu evento, é necessário captar recursos financeiros por meio diversos, inclusive patrocínios.
Um projeto, para captação de recursos, precisa ser claro e objetivo, podendo estar dividido da seguinte forma:
Apresentação - Definição do evento. Do que se trata?
Objetivo - O que se pretende alcançar?
Justificativa - Por que fazê-lo?
Programação - Quais são os principais envolvidos, locais e períodos
de realização?
ANIMADOR DE EVENTOS
Por exemplo: uma empresa de eventos idealizou um projeto de música
popular brasileira e precisa de dinheiro para concretizá-lo. Ela precisa localizar
uma outra empresa que possa patrociná-lo, buscando aquela cujo perfil se enquadre ao evento. O próximo passo é redigir um projeto para apresentar sua
idéia e captar o patrocínio necessário.
Ficha técnica - Quem são as pessoas envolvidas na realização do projeto? (Elenco, Diretor, Coordenador, Produtor, Atrações...)
Realização - Quem é o responsável? Qual a sua experiência? O que já
realizou?
Público-alvo - Qual o perfil do seu público?
Plano de comunicação - Estratégias e ferramentas de divulgação/Onde o evento vai ser divulgado? (Canais: jornais, revistas, rádios, canais de TV). Quais materiais impressos serão produzidos? Onde serão distribuídos?
Cronograma de execução - Descrição das atividades a
serem executadas e o prazo de realização de cada uma delas.
Planos de cotas - Definir tipos e cotas de parceria.
O projeto pode possuir alguns tipos de assinatura: Patrocínio, Co-Patrocínio, Apoio. Por exemplo: Quem oferecer 50% da verba para a realização do
evento é patrocinador; quem oferecer 25% é co-patrocinador; e quem participar com empréstimo ou doação de materiais é apoiador. Assim, cada um deles
terá um tipo de retorno diferenciado e é evidente que quem participar com a
maior verba possuirá mais direitos do que os restantes (maior cota de convites,
logomarca impressa no material gráfico com maior destaque, etc).
Se o projeto já possui um apoio ou patrocínio, ou se ele estiver beneficiado por alguma lei de incentivo, isto deverá ser citado nesta parte.
Retorno ao patrocinador - Quais os benefícios para o eventual patrocinador? O que ele ganha ao patrocinar o evento em questão?
145
Especificar os retornos de acordo com o tipo de assinatura:
- Inserção da marca da empresa: Material gráfico, brindes.
- Marketing de Relacionamento: Coquetel para clientes especiais, cota
de convites, ações exclusivas.
- Desdobramentos: Continuidade do projeto, lançamento de um novo
produto.
ESPORTE E LAZER
Planilha de custos - Apresentar os custos e qual a verba que será
utilizada para cada item ou serviço, de forma resumida.
Anexos - Você pode anexar ao projeto tudo o que pode ajudar na sua
apresentação, como: histórico, materiais impressos, fotografias, gráficos, pesquisas, reportagens, portfólios, etc.
Atenção, temos algumas dicas:
- Nem sempre é necessário apresentar a planilha de custos detalhada para
o possível patrocinador, sendo suficiente apenas a apresentação do custo
total do projeto.
- Uma apresentação bem feita é fundamental para a boa
recepção e aceitação do projeto.
- Use muita criatividade na hora de formatar um projeto, pois
uma forma inovadora de apresentação pode contribuir para sua
aprovação.
- Não esqueça de inserir no projeto o seu contato: e-mail e
telefone.
- Se puder não apresente, no mesmo período, o mesmo projeto a
empresas concorrentes.
- Evite apresentá-lo apenas por e-mail ou correio, marque uma reunião.
- Junto ao projeto envie uma Carta de Apresentação, para que a pessoa que
receber o projeto saiba o que está recebendo.
- Use a logomarca de seu possível patrocinador no projeto; ele vai perceber
que você se preocupou em apresentar um projeto exclusivo.
PRÉ-PRODUÇÃO (PLANEJAMENTO)
Esta etapa engloba todas as ações que antecedem a produção e que são
essenciais à realização efetiva do evento. Aqui é planejado o “passo-a-passo” da
produção.
146
Captação de recursos materiais e financeiros
Com o projeto finalizado, o próximo passo é “vendê-lo”. Normalmente
são procuradas empresas que tenham interesse em aliar sua marca ao evento
em questão. Para tal, é importante acompanhar o desenvolvimento do
ANIMADOR DE EVENTOS
mercado para saber a quem apresentar o projeto e assim evitar importunar
sem necessidade um Gerente de Marketing ou de Comunicação de uma
empresa, “fechando as portas” para um investimento futuro.
Muitos projetos também podem contar com apoiadores, que normalmente são empresas de pequeno e médio porte que, em troca de inserção de sua
logomarca no material gráfico confeccionado para o evento, ou outra forma de divulgação, oferecem seus serviços, emprestam materiais ou ajudam
na organização; funcionam como parceiros do evento.
É preciso ficar atento, pois muitas empresas de grande porte só patrocinam um projeto sócio-cultural quando enquadrado em alguma lei de incentivo fiscal (Lei Rouanet - Lei n° 8.313/91 – Federal, Leis Municipais
ou Estaduais de Incentivo à Cultura).
Quando tratamos de um evento que já tem verba disponível, a captação
de recursos e a redação do projeto de captação não são necessárias. Assim sendo, será preciso apenas redigir uma proposta, apresentando o evento
e seus serviços. É importante registrar todas as informações por escrito,
para uma melhor orientação.
Planejamento
Planejar um evento é, ao contrário do que muitos pensam, algo bastante
complexo. Esta atividade envolve providências de naturezas diversas que,
na maioria das vezes, devem ser tomadas em um curto prazo de tempo.
Uma pequena falha no início da produção pode gerar problemas graves
mais adiante. De qualquer forma, um bom animador de eventos é aquele
que sabe administrar os imprevistos e corrigir essas falhas a tempo.
Nem todos os projetos devem seguir uma ordem específica de organização. Por mais que existam modelos e publicações sobre este tema, é impossível prever um evento do início ao fim sem que haja, durante a produção, alterações significativas no seu andamento.
Por agrupar um grande número de atividades interligadas, dificilmente
um evento é realizado como planejado em sua totalidade. De qualquer
forma, é importante prever as ações a serem tomadas para se ter uma
visão do todo e, dessa forma, lidar com as alterações que deverão acontecer no andamento da produção. Por isso é importante a confecção de
uma Lista de Tarefas ou Check-List., isto é, uma planilha informando
atividades divididas por categorias da seguinte forma:
147
É possível organizar a Lista de Tarefas por ordem alfabética das atividades,
por importância das atividades, por data de início da ação, pelo responsável ou como preferir.
PRODUÇÃO (“MÃO-NA-MASSA”)
Na pré-produção viabilizamos as condições básicas necessárias para a realização do evento e planejamos as atividades a serem desenvolvidas; agora iremos executá-las.
ESPORTE E LAZER
Verba
Com a verba definida e captada (caso o projeto seja comercializado) o
próximo passo a ser tomado é a verificação e análise do orçamento disponível. Só assim poderão ser consolidadas as estratégias do evento.
No projeto já se tem idéia do valor total do evento; nesta etapa, distribuise a verba da melhor forma possível, visando atingir o objetivo e os resultados esperados, principalmente quando não se consegue a verba total
solicitada inicialmente.
* Temos algumas dicas:
- Quando fechar seu orçamento, calcule o valor total do projeto
em um percentual acima do valor real (atualmente calculamos em
média 20%), para que não haja surpresas durante a realização
efetiva do projeto. Normalmente os projetos são idealizados
muito antes e, durante o período entre a criação e sua
concretização, poderão acontecer fatores alheios à sua vontade,
tais como inflação, aumento de câmbio de moedas estrangeiras,
alteração da programação do projeto, gastos extraordinários ou
imprevistos, entre outros
- Sempre que possível, a verba captada para a realização do evento deve ser
depositada em uma conta bancária. Caso você seja autônomo, é aconselhável abrir uma conta exclusiva para o projeto, para se ter maior controle dos
pagamentos.
Formação de equipes
A reunião com os envolvidos na produção do evento, a contratação de
assistentes e a troca de idéias com o cliente são feitas logo no início.
Dividem-se as tarefas de acordo com o Check List e direcionam-se as
responsabilidades.
Local
148
Existem várias opções de locais para a realização de eventos, de acordo
com suas características. Dentre eles podemos citar: auditórios, bares, casas de espetáculos, casas de festas, centros comerciais, centros culturais,
centros de convenções, cinemas, teatros, clubes, escolas, universidades,
bibliotecas, estádios, galerias de arte, hotéis, museus, parques, praças, praias,
resorts, restaurantes, fazendas, sítios, entre outros.
A escolha do local deve ter afinidade com o projeto e o tamanho adequado para suportar a estrutura e número de participantes esperados.
Devem ser observadas as seguintes questões na escolha do local para a
realização do evento:
Está bem localizado? Seu público terá facilidade de acesso? Possui pontos de táxi, ônibus ou metrô próximos?
* Serviços Disponíveis
* Infra-estrutura e Equipamentos:
ANIMADOR DE EVENTOS
* Acesso
Com todas essas informações em mãos, já será possível ter noção de quais
serviços e equipamentos deverão ser contratados e alugados.
Temos uma dica: vá ao local para verificar estas questões pessoalmente;
não confie apenas em catálogos ou Internet!
Data
É importante ter conhecimento do calendário de eventos da cidade para
não marcar uma data que coincida com o projeto de outro evento, dividindo assim o público-alvo. Outro fator importante é a visibilidade dos
feriados e fins-de-semana.
Horário
Antes de definir o horário do evento é importante lembrar que devemos
sempre prever atrasos, normalmente de 30 minutos.
Serviços de terceiros
Já sabemos do que o local do evento dispõe e já temos apoiadores ofere-
149
cendo serviços ou materiais. Após analisar os serviços e materiais que faltam, é preciso orçá-los com empresas especializadas. É importante orçar
com no mínimo três empresas distintas, para verificar o custo-benefício
dos serviços de cada uma delas.
Dentre os serviços normalmente contratados para um evento estão:
ESPORTE E LAZER
* Serviços:
- Bufê
- Decoração
- Assessoria de Imprensa
- Programação Visual
- Gráfica
- Equipamentos
- Transporte (aéreo e terrestre)
- Filmagem
- Fotografia
- Serviço de Entrega
- Outros
* Atrações:
- Músicos
- Atores
- Dançarinos
- Palestrantes
* Recursos Humanos:
- Produtor
- Animador
- Coordenador de Palco
- Segurança
- Limpeza
- Telefonista
- Secretária
- Manobristas
- Recepcionistas
- Garçom
- Apresentador
- Intérprete
- Técnicos de Luz e Som
- Motorista
Temos algumas dicas:
- Tente deixar combinado com todos os fornecedores que o pagamento
seja efetuado 15 dias (ou mais) após o evento; assim você terá mais
tempo para se organizar financeiramente.
- Procure fechar o máximo de serviços com o mesmo fornecedor para
conseguir um bom desconto e um prazo maior para o pagamento.
- Sempre exija nota fiscal dos serviços contratados, porque além de ser
uma obrigação fiscal, algumas empresas patrocinadoras exigem prestação de contas.
Material gráfico
A programação do evento deve ser estabelecida para que seja iniciada a
confecção do material gráfico. É preciso considerar:
150
- Resumo das atividades
- Breve histórico profissional dos participantes
- Ficha técnica
- Telefone para informações ou RSVP *
- Valor a ser pago
- Forma de pagamento
* Em francês: “Répondez, s´il vous plaît” significa “Responda, por favor”. Este serviço é usado quando há necessidade de confirmação de
presenças. No convite há um telefone para o qual o convidado liga e
confirma sua presença.
Cada evento possui uma necessidade de divulgação, por isso não há como
padronizar o material a ser confeccionado nem a respectiva quantidade.
Entre os materiais gráficos e brindes normalmente produzidos estão: convites, folders, filipetas, cartazes, programas, out-doors, fichas de inscrição,
certificados, credenciais, pastas, camisetas, canetas, blocos, catálogos, saias
de mesa ou palco, manuais de expositor, bonés ou viseiras, outros.
ANIMADOR DE EVENTOS
- Data do evento
- Dia da semana
- Local
- Horário
- Tema
- Atrações
Tão importante quanto a criação e a confecção destes materiais é a sua
distribuição. É fundamental que este material seja distribuído em locais
freqüentados por seu público-alvo. Para o envio através dos correios, ou
serviços especializados, é fundamental ter uma lista de contatos com possíveis participantes (mala-direta). No caso de eventos institucionais, a distribuição também pode ser feita na própria empresa, através de e-mail ou
comunicados internos. Uma dica: algumas empresas ou profissionais autônomos atuam na distribuição de cartazes e convites; contratá-los pode tornar sua distribuição mais eficaz.
Agenda
Com a data se aproximando, é importante organizar a agenda do evento.
Todos os envolvidos na produção devem ter sua agenda em mãos, assim
como os telefones de contato de todos os integrantes da equipe, fornecedores, palestrantes, músicos etc.
Informações de uma agenda:
- Data
- Dia da semana
- Horário
- Atividade
- Observações
- Informações Adicionais
- Responsável
- Telefones e e-mails úteis
- Local
151
Exemplo:
ESPORTE E LAZER
PÓS-PRODUÇÃO (CONCLUSÃO / DESFECHO)
Após a realização do evento é preciso fechar a produção e colher os frutos
do seu projeto. Um fechamento de produção bem feito é sinal de um trabalho
bem realizado. Isso dará base para os próximos eventos, assim como contribuirá
para uma maior credibilidade de seu profissionalismo perante seu cliente ou patrocinador.
Desmontagem
Tão importante como a montagem do evento é a sua desmontagem. Deixar o local de realização do evento como lhe foi entregue é algo que
demonstra profissionalismo. Alguns locais oferecem este serviço e você
não precisa se preocupar, porém manter tudo na melhor ordem possível
é importante.
Acompanhar a desmontagem do palco, dos banners, dos estandes e de
outros materiais e equipamentos é imprescindível. Não é só porque o
evento foi finalizado que acabou o seu trabalho. Alguns espaços têm prazos para desmontagem, principalmente aqueles que têm uma agenda de
eventos cheia.
A devolução de todos os equipamentos alugados ou cedidos também
deverá ser imediata, de preferência no mesmo dia ou no dia seguinte.
Prestação de contas
Com o seu evento finalizado é hora de fazer o fechamento de custos e a
análise dos créditos e débitos, o pagamento dos fornecedores e, além
disso, será preciso organizar as notas fiscais e recibos.
Análise
Analise os resultados do evento, verificando:
152
- a quantidade de visitas e presenças no evento;
- a quantidade de receita gerada / lucro do evento;
- o Clipping* do evento feito pela assessoria de imprensa;
- a eficiência da divulgação realizada (medida geralmente pelo número de
visitantes ou por uma ficha de avaliação preenchida por esses participantes).
- orçamento previsto x orçamento realizado
- qualidade dos serviços prestados por terceiros;
- qualidade das visitas e das vendas realizadas;
- qualidade do trabalho da Assessoria de Imprensa.
Relatório de avaliação
Após a análise, você poderá transformar os dados obtidos em um único
documento. Este documento poderá ser distribuído para toda a equipe; dessa forma, será possível apresentar ações bem sucedidas e falhas que deverão
ser evitadas no próximo evento.
É possível igualmente também apresentar um relatório para seu cliente ou patrocinador. Neste caso, não será preciso abordar todos os assuntos da produção. Destaque aqueles que atendam à demanda de quem irá recebê-lo.
ANIMADOR DE EVENTOS
* Clipping: Reunião de todas as matérias, comentários e anúncios que saíram sobre o evento em jornais, revistas ou outras publicações.
Alguns eventos podem e devem ser avaliados pelos participantes. Para isso,
a produção pode confeccionar uma ficha de avaliação para ser preenchida
ao final das atividades.
A avaliação da equipe de produção também é fundamental no que diz respeito
às estratégias adotadas. É importante realizar uma reunião da equipe, nos dias
seguintes ao evento, já que as informações ainda estão claras. Essas avaliações
serão muito importantes no desenvolvimento do próximo projeto.
Para redigir um relatório, responda as seguintes perguntas:
- O patrocinador/apoiador alcançou o retorno prometido?
- A data, local e horário do evento foram bem escolhidos?
- O evento obteve espaço nos meios de comunicação?
- Os fornecedores foram eficazes?
- Quais materiais gráficos foram produzidos? (modelos, tamanhos e
quantidade).
- Houve algo importante que tenha contribuído para o sucesso do
evento e que deva ser registrado?
- Houve alguma falha na produção que deve ser corrigida em um
próximo evento?
- Há planos para a realização de uma nova edição deste evento?
Fechamento
É de bom tom oferecer aos palestrantes, artistas, convidados e principais
fornecedores um “kit” do evento podendo conter: material gráfico pro-
153
ESPORTE E LAZER
duzido (folder, cartaz, convite, programa), brindes (camiseta, bloco, caneta, pasta), fotografias, fita de vídeo ou DVD, CD-ROM, levantamento das
fichas de avaliação entregues aos participantes, cartas e e-mails de agradecimento ou elogio, clipping, seu cartão de visita.
Algumas dicas:
- Além do kit para o patrocinador, faça o seu!
Guarde parte do material gráfico produzido (um
mínimo de 10 de cada peça) para o seu arquivo
pessoal.
- Tenha sempre uma pasta reunindo material de
todos os eventos de que tenha participado; organize
seu portfólio.
- Para obter sua própria Lista de Contatos, pense em fazer uma ficha de
inscrição para os participantes do evento e cadastre-os.
- Busque apoiadores que forneçam serviços ou materiais que sejam de
extrema importância no seu evento, assim você reduz seus custos.
- Antes de apresentar seu projeto, verifique se a empresa abre normalmente programas de incentivo, e se existe afinidade entre ela e o
evento em questão.
- Guarde todas as correspondências e documentos utilizados durante a
produção. Depois do projeto realizado, veja quais deverão ser arquivados.
- Um evento é como uma impressão digital, não há igual. Por isso, o bom
produtor, organizador e/ou animador de eventos é aquele que sabe
administrar todos os passos aqui citados da melhor forma possível e de
acordo com suas necessidades.
ATIVIDADE 22
Chegou a hora! Vamos pensar na produção de um evento? Seu professor
vai ajudar em todas as fases necessárias. Aproveite para tirar todas as suas
dúvidas.
154
Animando o evento
“Animar um evento” pode ter duas interpretações: animar no sentido
de fazer graça, de entreter, ou animar no sentido de promover, fazer acontecer, dar vida. Por isso vemos, em muitos casos, a função do animador ser
vinculada à do produtor.
ANIMAR = ENTRETER
O animador pode ser aquele que possui a função de um apresentador, que
faz improvisações para divertir, informar, instruir ou entreter o público, apenas
no dia do evento, como um mestre de cerimônias, um locutor, ou mesmo um
ator. Apresenta e anima eventos ou espetáculos com a orientação de roteiros préestabelecidos ou redigidos por ele mesmo.
ANIMADOR DE EVENTOS
A animação de eventos está ligada à promoção de lazer e ao fomento de
práticas que ocupem, com qualidade, o tempo livre.
Este profissional, normalmente autônomo, atua em atividades recreativas,
esportivas e culturais, em outros tipos de eventos, programas de rádio e TV. A
capacidade de adaptação a situações diversas e a capacidade de estabelecer empatia com o público são suas maiores virtudes.
ANIMAR = DAR VIDA
Já é sabido que o animador é aquele que faz a mediação entre o público e o evento, seja no dia de sua realização,
seja criando, planejando e produzindo o mesmo.
O conceito de animação de eventos vem sendo adaptado, pois os profissionais da área que atuam em pequenos grupos e comunidades criaram um grande diferencial: o domínio
do público e das atividades a serem aplicadas.
Os produtores-animadores são grandes entusiastas do lazer e da cultura.
São aqueles que estimulam a realização de eventos, atuando de forma mais
acentuada com grupos, locais ou empresas específicas.
Por isso a função atual do animador de eventos vai mais além de animar o
público a participar de um evento; ele pode ser também o responsável por
identificar e aplicar as atividades que terão melhor aceitação. Animar um evento é conhecer o seu público, projetar as práticas compatíveis, produzir e colher
resultados que serão a base para a próxima ação.
O que se vê com freqüência no mercado é a atuação precipitada de produtores que não identificam seu público antes da realização do evento. Por isso, a
155
função de animador complementa a do produtor. Este faz a ponte entre o público
e o evento, por possuir a função de mediador, estando apto a produzir eventos
que se enquadrem ao perfil de uma ou outra comunidade, por exemplo.
ESPORTE E LAZER
A produção de um evento, em uma comunidade, deveria ser sempre promovida por profissionais que se identifiquem com a mesma, pois eles saberão
promover práticas que estejam de acordo com o local, com o gosto do públicoalvo e principalmente com o benefício artístico, cultural, esportivo e de lazer
que esta prática agregará.
Animando um evento, assumimos uma responsabilidade perante um público que precisa ser consultado, olhado, pesquisado. Muitos eventos são feitos
erroneamente com base nos modismos e no que está em voga. Isso geralmente
acarreta verdadeiros desastres: o profissional não agrada a seu público, não
agradando diretamente a seu cliente, se houver, e fecha portas para futuros
trabalhos. Veja alguns exemplos abaixo:
* Exemplo 1
Você é contratado por uma empresa automobilística cujo público é formado pela alta classe social, com possíveis compradores de carros importados. Esta empresa pede que você projete um evento para captar
novos clientes. O que você pode propor? Um show de pagode na praia
ou um concerto no Teatro Municipal? Com certeza o público desta
empresa não iria a um show na praia. Se você, como profissional da
área, apresenta um projeto sem estudar o seu cliente e seu público-alvo,
com certeza não será bem sucedido.
* Exemplo 2
Você quer idealizar um projeto para captar patrocínio. Sua idéia inicial é
um torneio de vôlei de praia. Você pode apresentar este projeto para
uma empresa que atua somente em Brasília? Claro que não, pois o público desta empresa não iria se deslocar de sua cidade para assistir ao
torneio em uma cidade litorânea, e os moradores desta cidade litorânea
não interessariam seu cliente.
156
É preciso agir de forma cautelosa; o profissional precisa ser, antes de tudo,
um grande pesquisador e estar ligado com o que está acontecendo no mundo.
Conforme visto nesses exemplos, é cada vez maior a necessidade de formação de profissionais que tenham visão. Até pouco tempo, um evento era
visto como uma simples festa ou um acontecimento sem muita importância.
Mas hoje, o mercado, vendo o grande potencial desta área, está exigindo maior
competência dos que assumem esta função.
Uma festa de aniversário, uma reunião de trabalho, um encontro de amigos, tudo isso são pequenos eventos cotidianos que promovemos. Entretanto,
quando encarados como profissão, tudo muda de figura e há que se ter muita
responsabilidade e noção da complexidade desta função.
Caracterização da ocupação
De qualquer modo, animar um evento é uma arte. O animador de um evento é o artista dos bastidores. Artista, porque deve ser versátil e estar consciente
de que podem ocorrer situações inesperadas onde será preciso improvisar. E,
principalmente, porque trabalha com sua criatividade, sendo responsável, mesmo que fique “invisível” ao público, pela realização de eventos que levam diversão e informação cultural de qualidade para as pessoas.
Por este motivo este profissional precisa desenvolver as seguintes características:
Dinamismo
Capacidade de se adaptar a novas situações e desafios, improvisar e agir
com dinamismo;
ANIMADOR DE EVENTOS
Já existem cursos de preparação de profissionais de eventos, porém boa
parte dos profissionais que atuam no mercado é formada pela experiência própria adquirida, inclusive, a partir dos acertos e erros cometidos.
Organização
Organizar o passo-a passo da produção para ter sempre o
maior controle possível das ações;
Desinibição
Por muitas vezes precisará falar em público, apresentar
projetos e eventos e liderar equipes;
Criatividade
Inovar seus projetos com idéias e soluções criativas, propor novas ações;
Controle
Muitas vezes as coisas não acontecem como foram planejadas. É preciso
ter a cabeça no lugar e estar calmo para solucionar problemas e administrar conflitos.
Atenção/Observação
Além da atenção ao desenvolvimento do projeto e das atividades de produção, este profissional precisa estar atento ao que acontece ao seu redor.
Como já foi dito anteriormente, o animador também precisa ser um grande
pesquisador ligado a tudo que acontece no mundo dos eventos. É preciso
ter cultura geral, saber quais são as novidades, os novos espaços para
realização de eventos, os novos serviços oferecidos, as empresas que estão investindo nesta área, e vários outros fatores que farão deste um profissional diferenciado no mercado.
157
ESPORTE E LAZER
Segurança
Desde a apresentação do projeto até a execução do mesmo é preciso
estar muito seguro do que se fala e do que se propõe, agir sempre com
iniciativa e trabalhar com determinação. Como já vimos, muitas vezes,
uma ação não sai como planejada; por isso é necessário ter esta segurança
ao tomar novas decisões e passar credibilidade aos integrantes da equipe
e a seu cliente.
Entrosamento
Raramente uma produção de evento pode ser realizada por uma única
pessoa; por isso todo profissional da área de eventos precisa saber trabalhar em equipes, demonstrar motivação, capacidade de discernimento e
de relacionamento interpessoal, respeitar e ouvir opiniões, ponderar opiniões divergentes, reconhecer que cada profissional envolvido no projeto
tem muito a acrescentar.
Informação
O profissional de eventos precisa estar sempre se atualizando, estudando
para não ficar “para trás”. Como é uma área de formação nova, se possível, esteja sempre fazendo cursos de aperfeiçoamento.
Confiança
Demonstrar clareza de expressão verbal e ter capacidade de persuasão é
muito importante nesta área. Você precisa convencer o seu cliente ou o
seu patrocinador de que aquele projeto vai ser um sucesso.
Responsabilidade
O animador é o responsável pelos eventos que organiza e pelas pessoas
que participam dele. Não podemos esquecer que além da responsabilidade social que muitos eventos agregam, este profissional é responsável
também pela boa conduta do evento, pela imagem daqueles que participam seja como apoiadores ou como equipe. É ele ainda, ou alguém indicado por ele, que administra a verba e os equipamentos do evento.
Essas são apenas algumas das qualidades esperadas de um profissional de
eventos; muitas delas são aplicadas a outras áreas de atuação, mas o que qualquer profissional precisa ter em mente é que agindo com clareza e honestidade
será bem sucedido.
158
Principalmente em uma área que está em ascensão
e aperfeiçoamento profissional, a cada dia nos deparamos
com novidades e temos que aprender novas formas de
trabalhar, além de conhecer maiores oportunidades.
É preciso refletir sobre isso.
Onde trabalha o animador
de eventos
DE
EVENTOS
“No Brasil, a cadeia de eventos envolve cerca de 80 milhões de participantes, gera 2,9 milhões de
empregos diretos e indiretos e causa impactos em 56 setores da economia. Estima-se que este ramo
de atividade tenha crescido 7% anualmente no País nos últimos anos. Aproximadamente 327 mil
eventos e 160 grandes feiras acontecem no Brasil anualmente. No mundo, o setor de eventos
movimenta US$ 4 trilhões anuais, empregando 255 milhões de pessoas” (Informações retiradas do
site da ABEOC- Associação Brasileira de Empresas de Eventos: www.abeoc.org.br – 3/11/2005).
Estes números estratosféricos fizeram com que a Organização das Nações
Unidas (ONU) reconhecesse oficialmente a indústria de feiras e eventos como
categoria econômica diferenciada no “Padrão Internacional de Classificação de
Atividades Econômicas” (International Standard Industrial Classification of All
Economic Activities – ISIC).
ANIMADOR DE EVENTOS
O MERCADO
Como podemos ver, o mercado está em crescimento. Com isso, os eventos
estão cada vez maiores, em maior número, e mais sofisticados, o que vem exigindo a formação de profissionais especializados neste setor. Por esse motivo, existem cursos direcionados para a formação de profissionais de eventos, sejam eles
de extensão, graduação e pós-graduação. Porém, conforme citado anteriormente, a maioria dos profissionais que atuam no mercado atualmente foi formada
pelo dia-a-dia de trabalho, no exercício de sua função.
ATUAÇÃO
DO
ANIMADOR
DE
EVENTOS
O animador de eventos possui um campo muito amplo de trabalho, podendo atuar como coordenador de eventos, assistente de produção, consultor,
entre outros. Pode trabalhar como autônomo, ter sua própria empresa ou ser
contratado por empresas especializadas no ramo. Pode atuar em todas as fases
de uma produção ou apenas em parte. O animador pode apenas projetar um
evento ou realizar um evento pré-projetado. Ele pode ser contratado para fazer a
prestação de contas de um evento ou controlar a distribuição de materiais. Ele
está habilitado a acompanhar todas as fases de uma produção desde a criação,
planejamento e a execução de eventos de pequeno, médio e grande porte.
O animador deve estar apto para criar, idealizar, estruturar,
coordenar, controlar e agir. Ele pode criar/propor o evento,
estruturá-lo, enquadrar seu projeto nas Leis de Incentivo
à Cultura, captar recursos, administrar a verba para sua
realização, formar equipes e liderá-las.
159
Os profissionais normalmente encontram necessidade de se especializarem
em uma área, podendo ser a de produção de eventos artísticos, esportivos, institucionais, entre outros. E dentro de cada uma destas áreas ainda encontramos
subdivisões.
Dentro da área de produção artística, por exemplo, temos as áreas de cinema, dança, música, teatro, artes plásticas. Cada uma delas possui suas próprias
características e peculiaridades.
ESPORTE E LAZER
LOCAIS
DE
TRABALHO
Os eventos ocorrem em locais variados, sendo alguns deles até inusitados.
Dentre os locais de atuação podemos citar alguns: Associação de Moradores,
Auditórios, Bares, Casas de Espetáculos, Casas de Festas, Centros Comerciais,
Centros Culturais, Centros de Convenções, Cinemas, Clubes, Empresas, Escolas,
Estádios, Fazendas, Galerias de Arte, Hotéis, Museus, Parques, Praças Públicas,
Praias, Resorts, Restaurantes, Shoppings, Sítios, Teatros, Universidades.
O Animador pode atuar nestes locais, supervisionando os eventos lá realizados e estabelecendo políticas de realização de eventos. Porém, normalmente este profissional trabalha em escritórios, planejando os projetos que acontecerão possivelmente em algum dos lugares citados acima.
Os Animadores costumam trabalhar em escritórios próprios ou em escritórios de empresas que os contratam para a produção de um determinado evento.
Alguns profissionais da área, pela facilidade de ambiente de trabalho, podem
inclusive trabalhar em casa.
É bom para o profissional da área de eventos ter conhecimento de uso de
internet, de aplicativos para redação de textos, confecção de planilhas e apresentação de slides (informática).
160
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