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PONTOS DE MARCAÇÃO ANATÔMICA VERTEBRAL E OS
PROGRAMAS UTILIZADOS NA BIOFOTOGRAMETRIA: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Anatomical vertebral markers and used softwares in
photogrammetry: a systematic review
Lincoln da Silva1
Thiago Bratti Chaves2
Marco Augusto Marques Rocha3
Cleber Alexandre Malagoli4
Themis Goretti Moreira Leal de Carvalho5
Noé Gomes Borges Junior6
RESUMO
A avaliação postural por meio da biofotogrametria tem sido cada vez mais utilizada. Porém,
não há um consenso entre quem aplica essa técnica, no que diz respeito aos principais
pontos de marcação e softwares utilizados na análise da postura humana, o que justifica esse
estudo que teve como objetivo verificar na presente literatura, se existe um padrão de
marcação anatômica, com os pontos mais utilizados para avaliação da coluna vertebral por
biofotogrametria, determinando quais são os programas mais utilizados para a realização
dessa avaliação. As buscas de publicações foram realizadas nas bases de dados do Scielo,
Bireme e Periódicos eletrônicos da Capes, que foram consultados retrospectivamente até o
ano de 1980. As palavras chave utilizadas na pesquisa foram: avaliação postural, coluna
vertebral e biofotogrametria. Esse estudo limitou-se aos artigos completos escritos em
português. Os pontos de marcação anatômica mais utilizados foram: C7, L5, T12, T7, T3 e
C4. O Software de Avaliação Postural (SAPO), ALCimagem e Corel Draw foram os
programas mais utilizados, sendo que o SAPO foi o mais utilizado dentre todos os estudos.
Concluindo, foi possível verificar uma preferência na utilização dos pontos anatômicos
vertebrais C7, T12 e L5. O Software mais utilizado foi o SAPO.
Palavras-Chave: Postura, Coluna Vertebral, Fotogrametria.
1
Mestrando em Ciências do Movimento Humano- CEFID/UDESC
2
Fisioterapeuta Egresso na Faculdade Anhanguera de São José/SC
3
Fisioterapeuta Egresso na Faculdade Anhanguera de São José/SC
4
Fisioterapeuta Egresso na Faculdade Anhanguera de São José/SC
5
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria/RS
6
Doutor em Biophysique Electrophysiologie pela Université D'auvergne Clermont I/França e Pós-doutor pela
Université Blaise Pascal/França
BIOMOTRIZ ISSN: 2317-3467 V.9, N. 01, 2015
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PONTOS DE MARCAÇÃO ANATÔMICA VERTEBRAL E OS PROGRAMAS UTILIZADOS
NA BIOFOTOGRAMETRIA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
ABSTRACT
The postural assessment through photogrammetry has been increasingly used. However,
there is no consensus among those who apply this technique that shows which are the
principal markers and software used to analyze human posture.The aim of this is to verify in
current literature, if there is a pattern of anatomical mark , with the most used points to
evaluate the spine by photogrammetry . Perform the description of these points and see which
are the most used programs for the purposes of evaluation. The publication search was
conducted in the Scielo databases, Bireme and Periodicos Capes that were consulted
retrospectively by the year 1980. The key words used in the research were: postural
assessment, spine and photogrammetry. This study was limited to completed articles written in
Portuguese. the most used vertebral markers were: C7, L5, T12, T7, T3 and C4. The
Software de Avaliação Postural (SAPO), ALCimagem and Corel Draw were the most used
softwares, and the SAPO was the most used among all studies. Concluding it was possible to
observe a preference in the use of vertebral anatomical points C7, T12 and L5. The most used
software was the SAPO.
Keywords: Posture, Spine, Photogrammetry.
INTRODUÇÃO
Para que ocorra o alinhamento postural, músculos, articulações e todas as
estruturas envolvidas devem se encontrar em um estado de perfeito equilíbrio, com
mínimo esforço e sobrecarga, gerando assim, eficiência para o aparelho locomotor
poder realizar sua função (KENDALL, 2007). Hábitos errados produzem sobrecarga
sobre as estruturas que dão suporte ao nosso corpo, provocando desequilíbrios que
geram desvios posturais (AMANTÉA, 2004; DETSCH, 2007). Existe um consenso
com relação à postura padrão proposto por Kendall em 1995, além deste, outros
autores apresentaram contribuições a respeito de qual deveria ser a postura mais
correta (CHARRIÈRE, 1987; BIENFAIT, 1995; BRICOT, 2001). Porém, quando se
trata da avaliação postural, seguir a referência deixada por estes autores e realizar
uma avaliação correta pode ser uma tarefa muito complexa (IUNES, 2005).
Grande parte dos profissionais que trabalham com postura utiliza uma
avaliação postural clássica, ou seja, visual. Esta se faz por meio da observação das
curvaturas e assimetrias nos planos sagital e frontal anterior e posterior (KENDALL,
1995; DUNK, 2004). Porém, a avaliação postural visual não é precisa, e acaba
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PONTOS DE MARCAÇÃO ANATÔMICA VERTEBRAL E OS PROGRAMAS UTILIZADOS
NA BIOFOTOGRAMETRIA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
dependendo da interpretação e experiência do avaliador, não sendo replicável,
principalmente quando comparada entre diversos avaliadores (FEDORAK, 2003;
IUNES, 2005).
Entretanto, com a evolução tecnológica, vem sendo utilizados programas
computadorizados que quantificam os dados de imagens corporais em distâncias e
ângulos.
Esta técnica é definida como biofotogrametria (CARADONA, 1997). O
desenvolvimento da biofotogrametria aconteceu a partir da utilização de unidades
métricas aplicadas em imagens fotográficas de movimentos corporais. Estas imagens
foram então interpretadas, gerando assim uma nova ferramenta para o estudo da
postura humana (SACCO et al, 2007).
Desde então, a
técnica
passou por aperfeiçoamentos e difundiu-se
rapidamente. Entre suas vantagens, destacam-se o seu baixo custo, alta precisão,
facilidade na interpretação dos resultados, arquivamento e acesso aos registros. Além
disso, a possibilidade do registro das alterações posturais no decorrer do tempo pode
facilitar a identificação de problemas, ainda que sutis (RICIERI, 2005).
Apesar de a biofotogrametria ser uma ferramenta muito útil para avaliar os
desvios posturais e haver várias referências, na literatura, sobre qual a forma da
coluna vertebral em uma boa postura, quando se trata do método de realização da
avaliação postural, há divergência entre os autores na escolha dos pontos de
marcação vertebral e dos programas computadorizados para análise das imagens.
Isso dificulta a tomada de decisão do avaliador, que acaba ficando em dúvida em
relação a quais pontos anatômicos deve demarcar e qual programa pode utilizar para
se realizar uma boa avaliação. Sendo assim, esse estudo objetiva verificar na
literatura, quais os pontos de marcação vertebral mais utilizados na avaliação da
coluna vertebral, por meio da biofotogrametria, e os programas mais usados para a
realização dessa avaliação, ajudando pesquisadores e profissionais de saúde nas
suas decisões.
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METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma revisão sistemática de literatura, sem
meta-análise, sobre os pontos de marcação anatômica vertebral e os programas
utilizados na biofotogrametria.
Para examinar o conjunto de publicações sobre o tema, foram realizadas
buscas nas bases de dados eletrônicas do Scielo, Bireme e Periódicos da Capes, que
foram consultados retrospectivamente até o ano de 1980. As palavras chave
utilizadas
na
pesquisa
foram:
"avaliação
postural",
"coluna
vertebral"
e
"biofotogrametria". Esse estudo limitou-se aos artigos, dissertações e teses escritas
em português.
Os estudos selecionados tiveram seu conteúdo analisado na íntegra, seguindo
os seguintes critérios de inclusão: (1) utilizar análise postural por meio da
biofotogrametria, (2) utilizar marcações na coluna vertebral. Na análise dos dados,
foram observados os pontos de marcação anatômica da coluna vertebral e os
programas utilizados para o tratamento das imagens.
RESULTADOS
Utilizando-se a combinação dos termos de busca foram encontrados 104
publicações nas bases de dados. Respeitando-se os critérios de inclusão e retirandose os artigos repetidos, restaram 25 publicações, conforme o quadro-resumo abaixo.
Quadro 1 - Resumo dos artigos selecionados na pesquisa
Autor
IUNES
Ano
Número de Tipo de Programas
Marcações
participantes análise utilizados
vertebrais
postural na análise
das
imagens
2005
21
V*,BC** ALCImagem C4, C7, T7, T12, L3,
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ALCImagem
APPID
22
224
44
52
12
14
16
BC
BC,
RX***
BC
BC, RX
BC
BC
BC
BC
BC
2010
2010
2010
288
49
15
BC
BC
BC
NI
Corel-Draw
SAPO
SOUZA
VEIGA
LIMA
2011
2011
2011
24
33
21
BC
BC
BC
SAPO
Fisiometer®
SAPO
GLANER
SANTOS
PERIGOLO
BIASOTTOGONZALEZ
MACEDO
ALMEIDA
BORGES
BARBOSA
FERREIRA
2012
2012
2012
2012
30
30
8
91
BC
BC
BC
BC
SAPO
SAPO
SAPO
ALCImagem
L5
C7
C7, T2, T4, T6, T8,
T10, T12, L2, L4, S2
C7, T3
C7, T9, L5
C7, T12, L5
C7, T7, L1
C7, T12
NI
C4, C7, T7, T12, L3,
L5
T12, L5
C7, T12 e L5
C4, C7, T7, T12, L4,
S1
C7, T3
L5
C4, C7, T7, T12, L3,
L5
C7, T3
C7, T3, T7, L4
C7, T3
C7
2013
2013
2013
2013
2014
9
34
18
39
66
BC
BC
BC
BC
BC
Corel-Draw
SAPO
SAPO
Corel-Draw
Corporis
Pro 3.1
C7, T9, L5
C7, T3
C7, T7, L1
C5, T9, L5
C3, C7, T7, T12, L3,
L5
AIKAWA
2006
COMERLADO 2007
16
24
MELO
DÖHNERT
SANCHEZ
YI
RODRIGUES
CUNHA
IUNES
2007
2008
2008
2008
2009
2009
2010
GRAUP
CHEMIN
REIS
SAPO
Corel-Draw
ALCImagem
SAPO
Autocad
Corel Draw
ALCImagem
* Visual; ** Biofotogrametria Computadorizada; *** Radiografia
As marcações vertebrais mais utilizadas na biofotogrametria são demonstradas
no Gráfico-1. Foi observado um total de vinte marcações vertebrais. Os pontos que
mais se destacaram foram respectivamente: C7 (18 autores), L5 (10), T12 (9), T7 (8),
T3 (6), C4 (5), T9 (3), L3 (3), L4 (3), C3 (2), L1 (2). Os demais foram utilizados apenas
uma vez.
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Gráfico 1 - Número de Estudos por Marcação Vertebral na Biofotogrametria
Marcações Vertebrais Mais Utilizadas
20
18
Número de Estudos
16
14
12
10
8
6
4
2
0
C3 C4 C5 C7 T2 T3 T4 T6 T7 T8 T9 T10 T12 L1 L2 L3 L4 L5 S1
Marcação Vertebral
FONTE: Autor, 2014.
Dentre os programas mais utilizados, destacam-se os programas: Software de
Avaliação Postural (SAPO), ALCimagem e Corel Draw, independentemente de quais
versões foram utilizadas. Os três programas juntos, somam dezenove dos vinte e
cinco artigos selecionados nesse estudo. Os outros programas utilizados, Aplicativo
Corporis Pro 3.1 Data Hominis Tecnologia®, Autocad-2006, Software Fisiometer de
Posturograma® e APPID (Avaliação Postural a Partir de Imagens Digitais), foram
utilizados em apenas 1 trabalho cada (Gráfico 2).
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Gráfico 2 - Programas Mais Utilizados
Programas Mais Utilizados
Número de Estudos
12
10
8
6
4
2
0
APPID
AUTOCAD
CORPORIS FISIOMETER ALCIMAGEM
PRO
COREL
DRAW
SAPO
Software Utilizado
FONTE: Autor, 2014
DISCUSSÃO
As vértebras mais utilizadas na avaliação postural, por meio da biofotogrametria,
correspondem à última vértebra de cada segmento da coluna. Na coluna cervical
(C7), Torácica (T12) e Lombar (L5).
Na prática da anatomia palpatória, recomenda-se que comece a avaliação
vertebral pelo processo espinhoso da vértebra C7, devido ser o processo mais
aparente dentre todos, e pelo processo espinhoso da T7, por estar no ponto médio da
linha formada entre os ângulos inferiores das escápulas (DUFOUR, 1989). Talvez, a
facilidade em encontrar esses pontos fez parte do critério de escolha nos estudos
pesquisados.Porém, outras vértebras que são referências na marcação vertebral, tais
como, T3, que se apresenta entre as espinhas da escápula, L4, por ficar na linha
imaginária entre as cristas ilíacas e S1 por estarem entre as espinha ilíacas póstero
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superiores (DUFOUR, 1989), não tiveram uma utilização muito expressiva dentre os
estudos revisados.
A quantidade de musculatura e o sobrepeso do indivíduo que está sendo
avaliado também podem influenciar a marcação vertebral na biofotogrametria, pois
esses fatores geram dificuldades na palpação e demarcação dos pontos vertebrais
(GLANER, 2012).
Outro fator que pode influenciar na precisão e escolha dos pontos e técnicas
de demarcação é a experiência do avaliador. Estudo realizado em 2003 demonstrou
que fisioterapeutas formados faziam a marcação anatômica de forma mais precisa
que o realizado por estudantes da mesma área (BILLIS, FOSTER & WRIGHT, 2003).
Esse trabalho pesquisou a marcação vertebral de três vértebras, C5, T6 e L5. A
demarcação do processo espinhoso da vértebra L5 apresentou a maior dificuldade
descrita pelos avaliadores.
Porém, nos estudos pesquisados nessa revisão, o
processo espinhoso da vértebra L5 foi o segundo ponto mais demarcado.
Dos 25 estudos pesquisados, seis artigos não apresentaram a referência para
escolha das marcações vertebrais utilizadas. Dentre os estudos que demonstraram o
critério de escolha dos pontos para a avaliação postural, Graup et al. (2010) e Chemin
et al. (2010) citaram o estudo realizado em 1995 (CHRISTIE, 1995) apontando alta
correlação entre o método aplicado na avaliação postural com os dados radiológicos.
Christie (1995) utilizou dois métodos: i) um para medir a lordose lombar e a cifose
torácica (FLINT, 1963) e ii) outro para avaliar a posição da cabeça e dos ombros
(BRAUN, 1989).
Para avaliação da lordose lombar, também foi utilizado um ângulo formado por
três pontos anatômicos: L1, espinha ilíaca anterossuperior (EIAS) e trocanter maior.
Sendo a EIAS o vértice do ângulo (BORGES, 2013). Essas referências de marcação
anatômicas foram retiradas do estudo de Yi et al. (2008), que, por sua vez, não
justificou a escolha dos pontos de marcação anatômica, deixando dúvida se o critério
de escolha foi baseado em algum estudo não identificado ou na experiência prévia
dos autores.
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Comerlato (2007) utilizou a referência deixada por Dufour (1989) para
marcação anatômica dos pontos e, ao avaliar a escoliose, comparou a análise
radiológica com a biofotogrametria por meio da correlação entre o ângulo de Cobb e
as Flechas de Charrière e Roy (CHARRIÈRE & ROY, 1987). Foi demonstrada forte
correlação entre os resultados quantitativos fornecidos pelos dois métodos de
avaliação. Porém, o estudo de Döhnert & Tomasi (2008), ao examinar a postura de
adolescentes, não constatou correlação significativa entre o ângulo de Cobb e a
avaliação da escoliose por meio da biofotogrametria. Destaca-se que esse estudo não
apontou o critério de escolha dos pontos de marcação.
Barbosa et al. (2013) apresentou como referência, na marcação anatômica, o
mesmo protocolo apresentado por Ricieri et al. em 2008. Esse estudo avaliou
mulheres adultas com câncer de mama, enquanto que a pesquisa de Ricieri propôs o
protocolo de avaliação postural para crianças com problemas respiratórios.
Ferreira et al.(2014), ao avaliar a postura de mulheres adultas com migrânea,
também se baseou em um protocolo de avaliação proposto inicialmente para crianças
com problemas respiratórios (BELLI, 2009). Nesse estudo de referência, foi verificado
o coeficiente de correlação intraclasse para se determinar a reprodutibilidade do
método de avaliação postural. Essa avaliação obteve níveis excelentes de
reprodutibilidade em quase todos os pontos de marcação anatômica, podendo ser
uma boa referência na avaliação pediátrica (BELLI, 2009).
Glaner et al (2012) e Santos et al (2012) justificaram suas marcações
anatômicas por meio do tutorial do SAPO. Este informa os pontos a serem marcados,
tipo de marcadores, posição da câmera, do avaliador e do sujeito avaliado (SAPO,
2014).
O programa de avaliação SAPO, o mais utilizado dentre todos os programas
citados, pode ter sido mais escolhido por ser um programa desenvolvido
exclusivamente para esse tipo de avaliação. Outro fator que pode ter contribuído para
a escolha do programa, é por ser de fácil aplicação e distribuído gratuitamente na
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internet. Ele possibilita a mensuração de ângulo, posição, comprimento, alinhamento
corporal e centro de gravidade (SAPO, 2014).
O SAPO também foi demonstrado como uma boa ferramenta clínica, pois
apresentou boa fidedignidade nas medidas, quando avaliadas pelo mesmo autor
(GLANER, 2012).
O programa ALCImagem-2000 apresentou alta fidedignidade entre duas
digitalizações de uma mesma imagem (IUNES, 2005), e quando as marcações e
análises foram realizadas por avaliadores diferentes, o programa apresentou alta
objetividade (IUNES, 2009). Um fato que pode ter influenciado na alta objetividade é
que cada avaliador realizou todos os procedimentos da coleta de dados, tais com, a
marcação dos pontos, o posicionamento dos marcadores e a captura da imagem.
Com relação aos programas Autocad e Corel Draw, sua utilização é justificada,
pois, por meio deles, podem ser realizadas as mensurações de ângulos e distâncias
verticais e horizontais, após a calibração do sistema por meio de referências deixadas
na imagem (RODRIGUES, 2009; BARBOSA, 2013).
O programa APPID foi utilizado em apenas um estudo, o qual demonstrou ser uma
boa opção na detecção dos desvios laterais da coluna vertebral quando comparado à
avaliação radiológica (COMERLATO, 2007).
Quanto aos aplicativos Corporis Pro 3.1 Data Hominis Tecnologia® e o Software
Fisiometer de Posturograma® também foram utilizados na medida de ângulos e
distâncias (VEIGA, 2011; FERREIRA, 2014).
CONCLUSÃO
Conclui-se que há uma preferência na utilização das marcações anatômicas
(C7, T3, T7, T12, L3 e L5) na realização da biofotogrametria da coluna vertebral.
Porém, alguns fatores podem influenciar na decisão de quem avalia, tais como, a
quantidade de musculatura e obesidade do indivíduo avaliado, e a experiência prévia
do avaliador.
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O programa para tratamento das imagens mais utilizado foi o SAPO, sendo
que a avaliação da coluna vertebral, por meio da biofotogrametria, recebe forte
influência das imagens e pontos de marcação que são propostos por esse software.
Tendo em vista que algumas pesquisas realizadas em adultos basearam suas
marcações vertebrais em modelos utilizados para o estudo de crianças e outras não
apresentaram qualquer referência que justificasse a marcação dos pontos utilizados.
Além da influência do biotipo do indivíduo avaliado e da experiência do avaliador. São
necessários mais estudos que justifiquem a utilização de cada marcação anatômica
vertebral para a avaliação postural na biofotogrametria. Avaliando-se a objetividade,
fidedignidade e reprodutibilidade inter e intra examinadores, por faixa etária e índice
de massa corpórea do indivíduo avaliado.
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