a origem da língua portuguesa: contexto geral e brasileiro

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a origem da língua portuguesa: contexto geral e brasileiro
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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 5 • Número 14 • novembro 2014
A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA: CONTEXTO GERAL E
BRASILEIRO
Patricia Damasceno Fernandes (UEMS)1
[email protected]
Natalina Sierra Assêncio Costa (UEMS)2
[email protected]
RESUMO: a história de uma língua está relacionada à história de seu povo ou nação, o contato entre
diferentes etnias, a relação de dominação e submissão entre elas. A Língua Portuguesa em si, se originou
do Latim Vulgar, uma variante da língua, na época falada por grande parte da população inculta. A
Língua Portuguesa do Brasil foi formada a partir da mescla entre povos e suas respectivas culturas. A
maior parte das pessoas que chegaram ao Brasil e construíram uma vida eram escravos, imigrantes,
portugueses, além deles tinham os índios que aqui viviam e mesmo com a pressão dos colonizadores, nos
deixaram como legado tanto elementos relacionados à língua quanto tradições e costumes. Os
colonizadores portugueses também contribuíram para a grande variação de nossa língua materna, vindos
de regiões diferentes de Portugal e povoam diversas regiões do Brasil. No presente trabalho
discorreremos sobre a origem da Língua Portuguesa no contexto geral e no contexto brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa; Origem; Contexto geral; Contexto brasileiro.
RESUMEN: la historia de una lengua se relaciona con la historia de su pueblo o nación, el contacto entre
los diferentes grupos étnicos, la relación de dominación y sumisión entre ellas. La Lengua Portuguesa se
originó a partir del Latín Vulgar, una variante de la lengua, hablada en la época por gran parte de la
población inculta. La Lengua Portuguesa de Brasil se forma a partir de la mezcla de la gente y sus
culturas.La mayoría de las personas que vienieron al Brasil y construyeron una vida eran esclavos,
inmigrantes, portugueses; más allá de ellos eran los indios que vivían aqui y que incluso con la presión de
los colonos nos dejaron como legado tanto elementos relacionados con el idioma quanto tradiciones y
costumbres. Incluso los colonos portugueses contribuyeron a la amplia variación en nuestra lengua
materna, venidos de diferentes regiones de Portugal poblam varias regiones de Brasil. En este artículo
vamos a discutir el origen de la Lengua Portuguesa en un contexto general y en el contexto brasileño.
PALABRAS CLAVE: Portugués; Origen; Contexto general; Contexto brasileña.
1. Introdução
As concepções de língua que tem maior relevância para os estudos linguísticos
são duas: a primeira considera a língua como sistema imutável e a segunda como
sistema que varia no tempo, espaço social, espaço geográfico e num mesmo indivíduo.
1
2
Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
Professora Doutora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
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A linguística moderna nasce a partir da teoria de Ferdinand de Saussure, que
tinha a língua como um sistema que conhecia apenas sua ordem própria, tendo como
objeto de estudo a língua considerada em si mesma. Os ensinamentos de Saussure
serviram de base para o estruturalismo, que se recusava e levar em conta a parte social
da língua.
Em contra partida, com o avanço dos estudos surgem uma nova visão sobre a
língua com William Labov de que a língua é um fato social e que é variável de acordo
com fatores condicionadores sociais.
Sociedade e língua estão ligadas não somente no estudo da variação, mas desde
a origem da própria língua. A exemplo disso tem-se o Latim, a língua que deu origem a
nossa língua materna. O Latim tinha uma variante de prestígio, naturalmente usadas
pelas classes de maior nível social, mas também possuía a variante popular que era
chamada de Latim Vulgar, por ser a língua dos povos mais simples, sem escolaridade e
sem posses.
A realidade sociolinguística do Brasil repete essa divisão ocorrida com o Latim,
formando duas grandes normas do Português brasileiro: a norma culta sendo usada pela
elite e a norma popular falada por grande parte da população que adquire a língua em
condições precárias e não possui recursos para mudar isso.
Levando em consideração essa semelhança histórica entre a língua que deu
origem e a língua filha, trataremos neste trabalho sobre a história geral de nossa língua
materna e também sobre sua formação no Brasil.
2. A língua e sua história
Nossa história começa com o Latim em Roma, quando o idioma passa a ser
utilizado como instrumento literário, adquire duas novas vertentes: o Clássico e o
Vulgar. É importante destacar que essas duas vertentes não eram línguas diferentes, mas
formas diferentes de realização da mesma.
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Contemporaneamente, podemos dizer que o Clássico era a variante de prestígio,
usada pela elite, estudiosos e escritores importantes e que o Vulgar era a variante
popular usado pela grande massa que não possuía escolarização e bens. As duas
modalidades do Latim eram denominadas pelos romanos respectivamente como: sermo
urbanus e sermo vulgaris.
Coutinho assim conceitua as duas vertentes do Latim:
Diz-se Latim Clássico a língua escrita, cuja imagem está perfeitamente
configurada nas obras dos escritores latinos. Caracteriza-se pelo apuro do
vocabulário, pela correção gramatical, pela elegância do estilo, numa palavra,
por aquilo que Cícero chamava, com propriedade, a urbanitas. [...]. Chamase Latim Vulgar o Latim falado pelas classes inferiores da sociedade romana,
inicialmente e depois de todo o Império Romano. Nestas classes estava
compreendida a imensa multidão das pessoas incultas que eram de todo
indiferentes às criações do espírito, que não tinham preocupações artísticas e
literárias, que encaravam a vida pelo lado prático, objetivamente.
(COUTINHO, 1976, p. 29-30).
Após a ruína do Império Romano, o Latim Vulgar se expande livremente pelos
domínios das hordas bárbaras e é adotado como idioma comum de povos diversos,
originando diferentes romances e depois a várias línguas neolatinas.
As línguas neolatinas não são todas originadas do Latim, a relação entre aquelas
e este resultou em modificações regionais do Latim, das quais surgiram as línguas
Românicas.
As línguas Românicas são as línguas que conservaram em seu vocabulário,
morfologia e sintaxe, vestígios de filiação ao Latim sendo elas: o português, o espanhol,
o catalão, o francês, o italiano, o reto-romano, o dalmático, o romeno e o sardo.
A Língua Portuguesa veio do Latim Vulgar introduzido na Lusitânia pelos
romanos, região localizada ao ocidente da Península Ibérica.
Coutinho nos explica a Língua Portuguesa da seguinte forma:
Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o português é o próprio Latim
modificado. É licito concluir, portanto, que o idioma falado pelo povo
romano não morreu, como erradamente se assevera, mas continua a viver
transformado, no grupo de línguas românicas ou novilatinas. (COUTINHO,
1976, p 46).
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Para saber sobre a origem do português é preciso conhecer sobre a história da
Península Ibérica.
2.1
A romanização da Península Ibérica
Por volta de 218 a.c os romanos invadem a Península Ibérica, que era habitada
por povos autóctones como: celtas, iberos, púnico-fenícios, lígures e gregos. O episódio
ficou conhecido como Guerras Púnicas e visava o controle do acesso ao Mediterrâneo
que até então pertencia aos cartagineses.
Após a invasão e a derrota dos púnicos, o poder dos romanos e
consequentemente do Latim passam a ser quase que predominante. A região foi dividida
a princípio em duas partes: ao oriente da península a Hispania Citerior e ao seu ocidente
a Hispania Ulterior.
Formou-se uma cultura citadina, mais desenvolvida economicamente, e mais
isolada de Roma: para viajar à capital do Império, só de navio. Em
consequência, desenvolveu-se nessa região uma modalidade conservadora do
Latim Vulgar, particularmente na Bética, em que iria surgir o GalegoPortuguês. Esta língua românica, portanto, seria mais conservadora no
vocabulário, na fonética e na sintaxe, transformando menos o Latim Vulgar.
(CASTILHO, 2009, p. 06).
Diante desta mescla entre romanos e os povos que já viviam na Península o
Latim fica cada vez mais distante do que era inicialmente o Latim imperial.
2.2
Os germânicos invadem a Península
Em 409 os romanos sofrem ataques de povos de origem germânica: Vândalos,
Suevos e Alanos, sendo somente os Alanos os que sobreviveram por muito tempo e
acabaram originando o reino da Gallaecia.
[...] com a chegada dos povos germânicos à península a nomeadamente
os suevos à Galiza visse como o Latim vai tornar realmente numa
língua franca entre galaicos-romanos (provavelmente bilíngues em Latim e
galaico-lusitano) e suevos com a língua trazida do centro da Germânia,
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que distante entre si buscassem no Latim o seu ponto de encontro.
(BARBOSA, 2005. p. 3).
Os suevos são derrotados pelos visigodos e incorporam a Península a seu
território. Enquanto isso o Latim vai passando por mais transformações. A contribuição
dos visigodos para a Língua Portuguesa foi basicamente relacionada a nomes próprios
de pessoas e lugares.
Após a invasão germânica formou-se um sentimento nacional como nos diz
Castilho:
A grande importância linguística da invasão germânica está em que seu
domínio libertou as potencialidades diferenciadoras da península em relação
a Roma, não mais considerada como metrópole. Formou-se um sentimento
nacional, e entre os sécs. VI e IX o Latim Vulgar Hispânico, matizado pelos
germanismos, começou a dialetar-se nos diversos Romances de que surgiriam
a partir do séc. X as línguas românicas ibéricas. (CASTILHO, 2009, p. 19).
2.3
Os Árabes invadem a Península
Em 711 a Península foi invadida pelos árabes também chamados de mouros, que
derrotaram os visigodos. Após o ocorrido surge na região o desenvolvimento da ciência
e da arte.
O desenvolvimento literário foi muito intenso, a ponto de pensarem alguns
historiadores da literatura que a poesia lírica medieval da Península Ibérica
seja de origem árabe. Estudos linguísticos foram cultivados, para as
explicações do Alcorão. (CASTILHO, 2009, p. 22).
A herança árabe deixada para a Língua Portuguesa e espanhola foi a introdução
de inúmeras palavras para designar novos conhecimentos.
A dinastia de origem árabe Omíada comandou por muito tempo, sendo
derrubada em 1031, o que em 1117 resultou na invasão dos Almohadas. Em seguida os
Mouros foram sendo expulsos aos poucos para o Sul da Península, possibilitando a
formação de Portugal (séc. VII), Aragão e Castela até 1492. Quando Castela derrotou o
último estado árabe se juntou com Aragão e formou a Espanha.
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2.4
Galego-Português
Os cristãos foram para o Sul da Península para tomar a região dos Mouros que lá
estavam refugiados. O processo de invasão moura e derrota dos mesmos foram
responsáveis pela formação de três línguas peninsulares: o galego-português, a Oeste; o
castelhano, no centro; e o catalão, a Leste. Nasce então, um Reino independente,
Portugal.
Adotada pelos moçárabes do país, por todos os elementos alógenos
participantes do repovoamento, assim como pelos muçulmanos que aí
haviam ficado, esta língua galego-portuguesa do Norte vai sofrer uma
evolução gradativa e transformar-se no português. (TEYSSIER, 2007. p. 7).
As regiões tomadas dos mouros pelos cristãos ficavam despovoadas, então os
conquistadores cristãos as povoavam com pessoas vindas do Norte difundindo ainda
mais o Galego-Português por toda a parte central e meridional do território de Portugal.
O Galego-Português foi utilizado no território português desde sua consolidação
no início do séc. XII, quando se isolou do reino de Leão e Galícia.
2.5
Separação entre Portugal e Galícia
Portugal se torna cada vez mais consolidada o Rei D. Afonso III se instala em
Lisboa e o centro cultural e político do país passa a girar em torno de Lisboa e Coimbra.
O isolamento entre Galícia e Portugal foi devido à fronteira entre os Reinos de
Leão e Castela, aumentando ainda mais com a expulsão dos mouros em 1249 e a derrota
dos castelhanos em 1385.
Com essa separação então Portugal e Galícia, Portugal se torna independente
dando oportunidade para a fixação definitiva do português, fortificando a unidade
nacional.
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Foi de grande ajuda as traduções feitas por religiosos que já tinham entendido
que agora o Latim estava restringido a ser conhecido apenas pelo clérigo, ajudando a
promover o português pelo país. Em 1290, D. Denis torna a Língua Portuguesa, a língua
oficial do território.
Levou tempo para que se tomasse consciência do Português como uma nova
língua. Tiveram importância nesse ofício duas instituições, que agiram como
centros irradiadores de cultura na Idade Média: os mosteiros, onde se
levavam a cabo traduções de obras latinas, francesas e espanholas (Mosteiros
de Santa Cruz e Alcobaça) e a Corte, para a qual convergiam os interesses
nacionais. Escreviam ali fidalgos e trovadores, aprimorando a língua literária.
(CASTILHO, 2009. p. 34)
3. A Língua Portuguesa no Brasil
Entre os séculos XV e XVI tem início o período das grandes navegações, a
colonização portuguesa começa efetivamente em 1532 quando a Língua Portuguesa
começa a ser transportada para o Brasil.
Aqui ela entra em contato com as línguas dos povos nativos que já viviam em
nosso país, os índios.
De acordo com Guimarães (2005) pode-se dividir em quatro
etapas a relação da Língua Portuguesa com as outras línguas praticadas no Brasil.
A primeira se refere ao início da colonização até 1654 quando os holandeses
saíram de nosso país. Assim a Língua Portuguesa convive com as línguas indígenas que
eram cerca de 1175 conforme McCleary (2007), com as línguas gerais e com o
holandês.
As línguas gerais eram línguas tupi, que tinham a função de uma língua franca,
era falada pela maioria da população e serviam para facilitar a comunicação entre índios
de tribos diferentes, entre índios e portugueses e seus descendentes. A Língua
Portuguesa efetivamente era usada apenas em documentos oficiais e praticados pelas
pessoas que estavam ligadas a administração da colônia.
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A segunda etapa vai da saída dos holandeses do Brasil até a chegada da família
real no Brasil. “A saída dos holandeses muda o quadro de relações entre línguas no
Brasil na medida em que o português não tem mais a concorrência de uma outra língua
de Estado (o holandês)”.(GUIMARÃES, 2005, p.24).
A partir de agora a Língua Portuguesa irá concorrer com as línguas indígenas,
em especial, as gerais e as línguas africanas que vieram para o nosso país com os
escravos nos navios negreiros.
Logo, os colonizadores tomam medidas para estreitar ainda mais o uso de
línguas diversas na colônia e acabam com o uso das línguas gerais. Neste momento
ficam em nosso país um grande número de índios, portugueses vindos de diversas
regiões de Portugal e os escravos africanos. “Para se ter uma idéia, no século XVI foram
trazidos para o Brasil 100 mil negros. Este número salta para 600 mil no século XVII e
1,3 milhão no século XVIII”. (GUIMARÃES, 2005, p.24).
As línguas gerais foram proibidas nas escolas sendo permitido usar
exclusivamente a Língua Portuguesa. Em 1757 foi criado o Diretório do índio por
Marquês de Pombal que na época era ministro de Dom José I, proibindo o uso de
língua geral na colônia, somando tudo isso ao grande contingente de portugueses que
chegavam ao pais, a Língua Portuguesa foi ficando cada vez mais predominante.
A terceira etapa começa com a chegada da família real ao Brasil devido a Guerra
com a França e vai até nossa independência. Em 1826 a questão da língua nacional do
Brasil foi criada no Parlamento brasileiro.
A chegada da família real ao nosso país possibilitou a realização de fatos
importantes como a oficialização do Rio de Janeiro como capital do império, a criação
da imprensa e da Biblioteca nacional, mudando o quadro cultural brasileiro, e também a
grande circulação da Língua Portuguesa tanto escrita quanto falada.
A quarta etapa irá transformar a Língua Portuguesa em língua nacional, pois em
1827 realizaram-se várias discussões em torno do ensino da língua, sugerindo que os
professores ensinassem a ler e escrever usando a gramática da língua nacional. Foi
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proposto que os diplomas dos médicos no Brasil fossem redigidos em Linguagem
nacional.
Outro fato importante deste período foi a chegada de imigrantes ao país trazidos
pelo governo para trabalharem aqui e ajudarem no desenvolvimento da nação, e
novamente temos várias línguas convivendo entre si: as línguas indígenas, as línguas
dos africanos, as línguas dos imigrantes e a Língua do colonizador.
As línguas indígenas e africanas eram consideradas inferiores, acreditavam que
pertenciam a povos primitivos ou escravos; as línguas dos imigrantes não tinham essa
caracterização, porém fazia-se o possível para impor apenas a Língua Portuguesa como
língua oficial, nacional e materna do Brasil.
Há uma dualidade que marca a Língua Portuguesa no Brasil. As pessoas que
viviam nos grandes centros urbanos eram influenciadas linguisticamente pela elite
(metrópole). Já as pessoas que viviam mais afastadas, no interior do país adquiriam a
língua em situações precárias.
Dos princípios da colonização até 1808, e daí por diante com intensidade
cada vez maior, se notava a dualidade linguística entre a nata social, viveiro
de brancos e mestiços que ascenderam, e a plebe, descendente dos índios,
negros e mestiços da colônia. (SILVA NETO, 1963, p.88-89).
Essa dualidade se reflete até hoje nas variantes de prestígio e popular de nossa
língua.
Os vernáculos ficaram por muito tempo mais ou menos circunscritos às
regiões interioranas e isoladas. No século XX, assistimos, porém, a dois
fenômenos de notáveis consequências linguísticas: a migração das
populações de pequenas cidades e zonas rurais para os grandes centros e a
difusão dos meios de comunicação de massa. Instala-se, então, nesses
centros, um processo de diglossia, onde atuam duas forças antagônicas: por
um lado, o padrão tradicional de redução flexional da própria língua,
exacerbado pela situação de contato entre dialetos diferentes; por outro, a
pressão do prestígio da norma culta, imposta pela ação da escola, dos meios
de comunicação e do status das classes mais favorecidas. (BORTONIRICARDO, 2005, p. 33).
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O próprio Latim possuía duas vertentes o Latim Clássico e o Latim Vulgar. Ao
longo dos anos o Latim Vulgar foi se misturando às línguas dos conquistadores da
Península Ibérica e prevaleceu.
Do Latim Vulgar sugiram as línguas Românicas, nossa língua materna foi uma
delas e assim como nossa “língua mãe” a Língua Portuguesa em sua chegada ao Brasil
se misturou as línguas indígenas, africanas e dos imigrantes e novamente de divide em
uma modalidade popular e outra de prestígio.
Com isso destaca-se a importância de considerar que as essas duas modalidades
fazem parte de nossa língua, porque estão inseridas em sua história desde o princípio,
então não há porque tornar pejorativo as variantes populares, mas se faz de grande
importância, levar aos falantes da língua as duas modalidades para que possam conhecêlas plenamente e saber lidar com as mais diversas situações comunicativas.
Considerações Finais
O desenvolvimento dos estudos linguísticos possibilitaram que a língua passasse
a ser compreendida de um sistema homogêneo, imutável e não social á um sistema
variável, heterogêneo, porém sistematizável e que deve ser analisado levando em
consideração os fatores sociais dos seus falantes.
Portanto é de fundamental importância para o estudo de uma língua, saber então
a história de seu povo, as relações de dominação e submissão entre etnias e as mesclas
entre línguas em contato.
O Latim foi a língua que originou a Língua Portuguesa, por meio da história do
Latim já é possível verificar que na época, havia uma divisão dentro dela, que a
classificava em uma modalidade de prestígio, usada na literatura, em documentos
oficiais e religiosos, e outra modalidade que era utilizada pela população menos
favorecida.
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Ao longo do tempo o que permaneceu foi o Latim Vulgar porque seus falantes o
mantinham vivo, não somente vivo como em desenvolvimento, porque a língua ia se
modificando a medida que diferentes povos conquistavam a Península Ibérica.
A Língua Portuguesa quando chega ao Brasil também passa por muitas
modificações porque tem outras línguas em contato com ela, e diferentes povos a
adquirem em condições distintas, porque estavam inseridos em contextos e grupos
linguísticos diversos.
A aquisição da língua de maneiras diferentes, cria na sociedade novamente uma
divisão na língua, uma de prestígio e outra popular. Em geral a modalidade de prestigio
é considerada parte da língua, já a outra, na maioria das vezes é alvo de preconceito
linguístico.
A linguística nos mostra que as mesmas forças que agiram sobre a língua no
passado ainda agem sobre ela no presente. A história nos prova que tanto a variante
considerada culta, quanto a variante popular fazem parte da língua e que conhecer
apenas uma delas não é o suficiente para compreendê-la e usá-la plenamente.
Referências Bibliográficas
BARBOSA, J. M. Uma história da língua. Disponível em: <http://www.agal-gz.org>.
Acesso em: 05 de julho de 2014.
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? São Paulo: Parábola.
2005 p.33.
CASTILHO, A. Como, onde e quando nasceu a Língua Portuguesa?. in: Museu da
Língua Portuguesa. 2009. p. 06, 19, 22, 34. Disponível em: < http://www.estacaodaluz.
org.br >. Acesso em: 01 de julho de 2014.
COUTINHO, I. L. Pontos da Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,
1976. P.29-30, 46.
GUIMARÃES, E. A Língua Portuguesa no Brasil. Cienc. Cult. vol. 57 no. 2. São
Paulo. Abr/Jun 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=
S0009 - 6725 2005000200015&script=sci_arttext> acesso em: 07 de julho de 2014.
p.24.
MCCLEARY, L. Curso de Licenciatura em Letras-Libras. – UFSC. 2007.
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SILVA NETO, S. Introdução ao estudo da Língua Portuguesa no Brasil. 2 ed. Rio
de Janeiro: INL. 1963.p. 88-89.
TEYSSIER, P. História da Língua Portuguesa. Tradução de Celso Cunha. São Paulo:
Martins Fontes. 1997. p. 07.
Recebido Para Publicação em 19 de agosto de 2014.
Aprovado Para Publicação em 25 de outubro de 2014.
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