O Bambu Utilizações
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O Bambu Utilizações
O Bambu O Bambu é uma planta lenhosa classificada como gramínea, da mesma família da canade-açúcar. Seu colmo (caule) é constituído basicamente de fibra (70% do volume) e amido (paredes dos entrenós). Existem cerca de 1.300 espécies no mundo, que se distribuem naturalmente dos trópicos às regiões temperadas, tendo, no entanto, maior ocorrência nas zonas quentes e com chuvas abundantes das regiões tropicais e subtropicais da Ásia, América do Sul e África, sendo que 62% das espécies são nativas da Ásia, 34% das Américas e 4% da África e Oceania. O Brasil possui 34 gêneros e 232 espécies de bambus nativos (174 consideradas endêmicas). A maioria das espécies nativas brasileiras são de classificação ornamental, com exceção do gênero Guadua, um tipo de bambu gigante conhecido popularmente como “taquaruçú” muito utilizado em construção. O Bambu é a planta de maior velocidade de crescimento no Planeta, bastando alguns meses desde a brotação à fase adulta, já com 20m ou 30 de altura. Desempenha com eficiência as funções de proteção do solo e seqüestro de carbono, além de fornecer alimento e matéria-prima de qualidade para inúmeras aplicações. Conhecido como “a planta dos mil usos” e “a madeira dos pobres&rd”, o Bambu é também um material naturalmente tecnológico, conhecido como “aço vivo”, graças à sua alta resistência à ruptura, sob tração, e sua grande flexibilidade. Por isso, só mesmo o desconhecimento e o uso indevido explicam o preconceito de vê-lo como obsoleto e de qualidade inferior. Utilizações Enzimas, hormônios, substâncias para cosméticos, xampus, cultivo de bactérias, carvão, energia, óleo comestível, álcool, tecidos, aquedutos, cordas, pontes, papel, artesanato, material para engenheira e alimentos. Até se fabrica um extrato de sílica extraída do bambu, chamado tabashir, empregado contra asma e também como afrodisíaco. Das células retiradas da camada externa do colmo se produz uma bebida que combate a febre; das folhas verdes é extraída uma loção para os olhos. Na construção, civil e rural, o Bambu pode ser usado em estruturas (colunas, vigas e lastro), em lajes (substituindo o aço), em fechamentos (painéis com adobe, que apresentam ótimo conforto térmico) e em muxarabis, protegendo visualmente os ambientes. Serve também para telhas, forros e maçanetas, além de ser adequado para determinados tipos de encanamentos d´água. Uma outra novidade é a massa obtida da fibra de bambu, utilizada na produção de papel e em redes para a armação de lajes. Menos custos e mais sustentabilidade O alto grau de resistência das fibras do bambu dispensa, na construção de casas, estruturas de ferro, além de reduzir a necessidade de cimento, tornando-as, assim, cerca de 40% mais baratas que as erguidas totalmente em alvenaria. Economia que resulta também em vantagens ecológicas. A produção de cimento e tijolos necessita de fontes de energia tradicionais que, de modo insustentável, liberam uma grande quantidade de gás carbônico. O bambu, ao contrário, é um material natural, renovável, de alta produtividade, trabalhável, transportável e de fácil propagação. Um terreno de 20m x 20m é suficiente para construir duas casas de 8m x 8m e fornecer, anualmente, uma quantidade de bambu suficiente para construir uma outra habitação. Ao contrário das árvores, que uma vez cortadas não crescem novamente, o bambu pode ser colhido sem que se configure devastação da plantação. Colhido e manejado corretamente, quase não se percebe que foi efetuada uma colheita, pois a plantação (bosque ou touceira) continuará repleta de indivíduos mais jovens. Em áreas degradadas, o plantio de bambu ajuda a recuperar o solo e conter a erosão, além de aumentar a umidade relativa do ar, dando suporte ao crescimento de espécies arbóreas nativas. Construção - Experiências no Brasil e no mundo Há exemplos bem-sucedidos do uso do bambu na construção, em projetos públicos e particulares, em várias partes do mundo. Na América Latina, podemos destacar Argentina, Colômbia, Costa Rica, Equador, Peru, Venezuela e Brasil. A Costa Rica é considerada atualmente um dos países mais desenvolvidos na produção de habitação de baixa renda com bambu. A produção, iniciada em 1995, gira em torno de 200 casas por mês, que atendem a todos os pré-requisitos exigidos pela ONU. O Projeto Nacional de Bambu, iniciado em 1986 e atualmente transformado em Fundação, conquistou um prêmio mundial concedido pela instituição inglesa “Building and Social Housing Foudation (BSHF), que todos os anos premia os países que realizam esforços para dotar de moradias os cidadãos mais necessitados. Incrivelmente, a Costa Rica não tinha espécies próprias para construção nem a tradição de utilização. A primeira muda de bambu para este fim foi levada para o país em meados dos anos 80, pelo então chefe de Estado, após uma visita ao Brasil. No Brasil, pesquisas universitárias em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará têm contribuído para uma melhor utilização do bambu nas construções. Programas habitacionais de médio e longo prazo com estratégias bem-definidas, como o costa-riquenho, porém, podem funcionar como indutores decisivos para que o Brasil concretize seu potencial para produzir, em larga escala, habitações feitas de bambu, reduzindo o vergonhoso déficit habitacional. “Temos sim uma alternativa viável e plenamente disponível, se não nova, renovada, revista e acessível para colaborar definitivamente com um acréscimo importante na qualidade de vida do nosso meio”. Cultivo, Colheita e Tratamento O bambu se desenvolve bem na maioria dos tipos de solos, entretanto, os solos férteis, soltos e bem drenados, com pH entre 5,0 e 6,5 são os mais adequados para o desenvolvimento pleno do bambu. Solos muito úmidos ou que apresentem um lençol freático alto podem inibir um melhor desenvolvimento e solos salinos não são adequados para o cultivo. Quanto à necessidade de chuvas, de maneira geral, os bambus se desenvolvem bem com precipitações iguais ou superiores a 1.200mm anuais. O principal fator a se observar para se obter culmos resistentes é a forma e a hora da colheita. A época do ano que o bambu guarda uma maior parte de suas reservas nas raízes (rizomas) é o inverno, o momento antes do aparecimento dos novos brotos. Colhendo nesta hora obtemos um bambu com menos açúcar, que é o alimento dos insetos e fungos, que aparecem menos no inverno. Por isso a cultura popular brasileira afirma que são os meses sem a letra “R” as mais indicadas para o corte: maio, junho, julho e agosto. Após este período, de fato, começa a geração de novos brotos e o açúcar sobe para os colmos, sendo uma atração para os insetos e fungos. Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de construção devese escolher os bambus maduros, com cerca de três a quatro anos, quando atingiram sua resistência ideal. Estando na época certa do ano, deve-se escolher a fase adequada da lua, que é a minguante. Dentro da fase adequada da lua, as horas antes do amanhecer são as ideais. Após o corte, aconselha-se deixar o bambu em pé no local de colheita, ainda apoiado nos vizinhos, por cerca de duas a três semanas. Neste tempo ele secará, ainda em estados de temperatura, pressão e umidade em que sempre viveu. Os passos seguintes de tratamento diferem entre si segundo a quantidade de colmos colhidos, a disponibilidade de recursos e de transporte, a finalidade de uso, etc.. Existem diversas formas de tratamento ou “cura” do bambu, que utilizam técnicas e materiais naturais ou químicos. Pode-se apenas deixar o bambu imerso em água (piscina, tanque ou riachos) por algumas semanas ou utilizar substâncias como o ácido boro ou óleo. Milenar e moderno O Bambu é uma planta ancestral e de crescente importância para a humanidade, sendo conhecido como “a madeira dos pobres” na Índia, “o amigo das pessoas” na China e “o irmão” no Vietnã. Os Hindus consideram o bambu como símbolo de amizade, por entenderem que a planta serve ao homem “do berço ao túmulo”. Na China, é considerado símbolo de longevidade. No Japão, frequentemente um bosque de bambu circunda santuários religiosos, como parte de uma barreira sagrada contra o mal. Nas Ilhas Andaman, na Ásia, os habitantes acreditam que a humanidade emergiu de um como de bambu. Nas Filipinas, acredita-se que o primeiro homem e a primeira mulher despontaram de um colmo de bambu que emergiu em uma ilha criada após a batalha das forças elementais (Céu e Oceano). Há mitos semelhantes na Malásia, no Japão e no Havaí. No Ocidente ele é bem menos conhecido, sendo geralmente associado a obras de menor importância, apesar de utilizações bastante ilustres na História recente, como no primeiro filamento utilizado em uma lâmpada por Thomas Alva Edison (carvão de bambu) e na construção dos primeiros aviões por Alberto Santos Dumont. Hidalgo Lopez (2003) comentou que atualmente tem-se revivido vários antigos usos que se faziam com o bambu, como aplicações em medicina, farmácia, química e em outros campos industriais. Curiosidades O colmo (caule) do bambu já nasce com o mesmo diâmetro que terá por toda a vida. Os brotos do bambu se alongam continuamente de 20 cm a 100 cm por dia. A floração do bambu e sua conseqüente produção de sementes é um fenômeno raro. Numa mesma touceira, geralmente acontece apenas uma vez na vida. Referências e Bibliografia CARDOSO JR., Rubens Cardoso. Arquitetura com Bambu. Mato Grosso do Sul: Dissertação – UNIDERP, UFRGS/PROPAR, 2000. PEREIRA, MARCO A. R. e BERALDO, ANTONIO L. Bambu de Corpo e Alma. Ed. Canal 6, Bauru/SP, 2007. Vídeo “Construções com Bambu”, do CPT-Viçosa/MG; Sites: www.bambubrasileiro.com www.sitiovagalume.com