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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FONTES INQUISITORIAIS12 Felipe Augusto Barreto Rangel3 Resumo: Os registros inquisitoriais possuem grande relevância para as novas reflexões acerca das vivências das colônias atlânticas do mundo moderno, revelando uma série de elementos especiais para os estudos socioculturais, desvelando trajetórias, sujeitos atípicos e situações diversas. Experiências dos mais distintos extratos sociais são protagonizadas neste corpus documental, produzido no âmbito de uma série de movimentações, intercaladas por repressões e resistências, envolvendo a atuação institucional das inquisições. Nosso objetivo neste trabalho é refletir sobre algumas das transformações pelas quais o campo do conhecimento histórico passou, pensando a inserção da documentação inquisitorial como contributo especial nesse processo, ampliando, ainda mais, os objetos, métodos e abordagens historiográficas. Para tanto, iremos destacar alguns autores que utilizaram este material em suas pesquisas, refletindo sobre aspectos de suas respectivas produções. Palavras-chave: Inquisição. Historiografia. Fontes. Abstract: The inquisitorial records have great relevance for new reflections on the experiences of the Atlantic colonies of the modern world, revealing a number of special elements for socio-cultural studies, unveiling trajectories, subject atypical and different situations. Experiences of the different social classes are led this documentary corpus, produced under a series of movements, interspersed by repression and resistance, involving the performance of institutional inquisitions. Our goal in this paper is to discuss some of the transformations for which the field of historical knowledge went, thinking the insertion of inquisitorial documentation as a special contribution to this process, expanding further, objects, methods and historiographical approaches. To do so, we will highlight some authors who used this material in his research, reflecting on aspects of their respective productions. Keywords: Inquisition. Historiography. Sources. 1 Recebido em 16/05/2014. Aprovado em 11/08/2014. Este texto foi elaborado a partir das produções das disciplinas Teoria e Metodologia da História, Tópicos em História Social da Cultura e Tópicos em História Regional e Local, desenvolvidas durante os dois primeiros semestres do Mestrado em História da Universidade Estadual de Feira de Santana, PGH –UEFS. 3 Graduado em Licenciatura em História – UNEB. Mestrando em História pelo Programa de Pós Graduação em História na Universidade Estadual de Feira de Santana, PGH-UEFS. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB. E-mail: [email protected]. 2 Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais Um dos grandes méritos das documentações jurisdicionais é a evidência, mesmo com as devidas ressalvas, de personagens que não ocupavam grandes postos na vida social, sejam religiosos ou civis, e que não eram destaque nas premissas de perfil positivista. São relativamente escassas as fontes que tratam dos comportamentos e atitudes de indivíduos dos segmentos populares do passado, para além das produções destes instrumentos de repressão social e religiosa. E foi, justamente, a própria tentativa de reprimir desvios, de alçada religiosa ou não, que possibilitou o registro pormenorizado, muitas vezes, das práticas cotidianas de determinados indivíduos. Tornando-se, assim, material de suma importância para a pesquisa histórica. Existiram diversas inquisições pela Europa: a Medieval, fundada em 1184; a Espanhola, de 1478; a Portuguesa, de 1536; e a Romana, em 1542. A Inquisição portuguesa, instituição geradora das fontes as quais nos debruçamos, foi criada na primeira metade do século XVI, através da bula Cum ad nihil magis, promulgada pelo papa Paulo III. Dentre os objetivos mais proeminentes que levaram Portugal a solicitar a Roma a implantação desta instituição em seus domínios, destaca-se, primeiramente, o desejo de controlar os cristãos-novos, ou judeus convertidos, súditos do rei, ao se rastrear as heresias (MARCOCCI; PAIVA, 2013, pp. 23-30). Com os desbravamentos ultramarinos, o contato com povos de culturas diversas, e ainda os ares turbulentos da Reforma protestante, Portugal procurou controlar a cultura, a sociedade e a religião. Pretendeu assim, “mudar o reino, arrancando-lhe os pecados e sintonizando-o com os cânones da verdade da fé, tal como preceituada pela Igreja de Roma” (MARCOCCI; PAIVA, 2013, p. 77). Com o tempo, outros crimes de cunho moral e religioso foram incorporados, como a sodomia, blasfêmia, feitiçaria, entre outros. A Coroa e a Igreja mantinham íntimas relações no âmbito inquisitorial, ou, como nos fala Stuart Schwartz, “a Inquisição buscou impor a ortodoxia e a exclusividade religiosa como assunto de política de Estado” (SCHWARTZ, 2009, p. 27). Os desvios da fé tinham grande impacto em um Estado em que os ritos da Igreja católica legitimavam as ações da Coroa. Destacam-se, na produção inquisitorial, os regimentos, tratados demonológicos, manuais diversos e os éditos de fé, que continham os preceitos da base normativa institucional; além dos compêndios de denunciação e diligências das visitações, os cadernos do promotor e os processos completos, que, por tratarem diretamente de réus Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel e testemunhas, das mais diferentes origens, apresentam uma riqueza maior de elementos, contextuais e cotidianos, que os primeiros. Vale ressaltar que só destacamos estes por serem mais recorrentes no uso enquanto fontes históricas. Ainda existe uma imensa gama de outros documentos avulsos ou incompletos, recheando os arquivos, como cartas, pareceres, pedidos de habilitação e correspondências. (CALAINHO; TAVARES, 2012) A riqueza destas informações, caras ao ofício do historiador, ao tratar do cotidiano das camadas populares, foram registradas de forma indireta. Tendo em vista que, na elaboração de um processo, por exemplo, diversas pessoas tornavam-se depoentes, registrando uma série de elementos circundantes à realidade do possível réu. Para além do crime propriamente dito, o contexto em que este foi efetuado deveria ser evidenciado também, considerando a possibilidade de outros participantes serem autuados, além de se objetivar conhecer de onde vinham as ideias de cunho herético. Figura, então, como parte de uma realidade documentada, que fornecia subsídios para que a própria ação dos religiosos se configurasse nos moldes da efetivação do crime. Dentre as possibilidades destes caminhos, a partir de novos olhares sobre esta documentação, o movimento dos Annales, no início do século XX, merece ser citado. Mesmo considerando que o uso de fontes inquisitoriais na pesquisa histórica fosse bem anterior que o movimento. Os Annales possibilitaram o que podemos tratar como uma renovação da historiografia, ao contrapor a história dita “historicizante” a uma necessidade de problematização e crítica ao conhecimento, através, também, da aproximação com outras ciências sociais. Esse movimento abriu espaço para novos sujeitos, objetos e abordagens, além de mostrar a existência de outros caminhos, longe de uma perspectiva unicamente político-estatal. Peter Burke, ao explorar alguns dos novos campos da então nascente história cultural, aponta que, nos últimos tempos, “muitas áreas da vida humana, antes consideradas inalteráveis foram reivindicadas como territórios do historiador” (BURKE, 2000, p. 41). As ciências sociais se desenvolviam em diversas direções, surgindo a necessidade dos historiadores de expandirem também suas fronteiras. Diferente dos caminhos de uma escrita positivista, com seu “discurso do acontecimento”, privilegiando grandes homens e eventos - tratando de uma “verdade” presente no documento, em que cabia ao historiador apenas resgatá-la - estas novas 202 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais perspectivas permitiram que indivíduos simples ganhassem cena e figurassem como ponto central. Estas análises não necessariamente se circunscrevem apenas a um local, mas revelam dimensões mais amplas, temporal e espacialmente. Vale dizer, sobre a história positivista, que nem todas as suas premissas foram ultrapassadas: o rigor nos métodos de investigação, por exemplo, é uma de suas grandes heranças para a historiografia atual. Os grandes trabalhos de referência, que utilizaram fontes inquisitoriais e que trataremos aqui, por ventura ou não, confundem-se com uma nova perspectiva de análise, inaugurada por historiadores italianos, chamada de micro-história. São obras que se tornaram notáveis justamente pelo trato diferenciado que deram os seus autores ao material histórico, em grande parte ancorados em documentações inquisitoriais variadas. Carlo Ginzburg, expoente da micro-história italiana, Giovanni Levi, pertencente a mesma estirpe do autor anterior, e Emmanuel Le Roy Ladurie, historiador francês da segunda geração dos Annales, apresentam trabalhos bastante significativos, apontando diferentes caminhos para a escrita de uma história baseada em documentações jurisdicionais, com perspectivas de abordagens relativamente distintas. Narrativas envolvendo trajetórias de indivíduos e vilarejos figuram com destaque, alterando-se escalas de tempo e espaço, no intuito de, partindo de pequenos fragmentos de um passado registrado, revelar movimentações “maiores”, digamos assim. Obra fundamental, que deu maior visibilidade para esse tipo de documentação, além de provocar a configuração de um método especial de análise – o método indiciário -, partindo de questões minúsculas, foi O Queijo e os Vermes, do historiador italiano Carlo Ginzburg. A narrativa construída pelo autor enfatiza as vivências do moleiro friuliano, Domenico Scandella, conhecido como Mennochio, denunciado e investigado pelo Santo Ofício italiano, no século XVI, por suas proposições heréticas, ou, melhor dizendo, sua forma especial de interpretar os preceitos religiosos. Munido da ideia de circularidade cultural, burilada por Mikhail Bakhtin, o autor analisa as informações presentes nos processos movidos contra Mennochio (foram dois, em períodos distintos), percebendo os diversos fios que teciam, de forma extremamente particular, a sua concepção de uma cosmogonia religiosa, regente de todo o universo. A partir daí o autor formula e discute a sua ideia de circularidade, na qual as culturas ditas populares e letradas possuíam Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel grande interação, de forma circular: de baixo para cima e de cima para baixo (GINZBURG, 2006, p. 10). Ginzburg nos ensina que o papel das fontes não é ilustrar as proposições do historiador, mas fornecer elementos que possibilitem a problematização de um real. Partindo desta premissa, não nos debruçamos sob o passado tal como ele foi, mas sobre um discurso que foi construído sobre este passado, cabendo a nós extrair os indícios e analisar as entrelinhas. O autor discute, de forma bastante significativa, o caráter etnográfico das documentações inquisitoriais, ao trazerem em seu cerne fragmentos de um cotidiano, como dito anteriormente. Uma das grandes questões que permeia o uso das fontes inquisitoriais é a natureza na qual foram produzidas, baseadas na disseminação de medos pedagógicos, individuais e coletivos. A exposição, em locais públicos, dos sambenitos – roupas usadas pelos réus durante os Autos de Fé -, os temores em torno das Visitações, os períodos da graça, o próprio conhecimento de determinados procedimentos utilizados nas investigações, como a tortura – que não era uma pena, mas um dos instrumentos dos inquéritos, visando se extrair uma verdade em determinados casos -, e na busca constante do segredo e sigilo, são pontos relevantes na condução dos processos e denunciações. Segundo Marcocci e Paiva, a partir do século XVII, “o Santo Ofício preparou questionários detalhados para os diversos tipos de crimes, destinados a uniformizar procedimentos, procurando encontrar padrões de avaliação das respostas” (MARCOCCI; PAIVA, 2013, p. 198). Deste modo, buscava-se uma especialização nas ações, para que os delitos fossem encontrados da forma mais exata possível. Vale dizer ainda que alguns documentos, como tratados demonológicos e sessões regimentais, eram produzidos a partir da combinação destas informações das investigações de réus. Diversos pesquisadores se debruçaram sobre estes pontos, analisando questões técnicas do funcionamento inquisitorial. Mostraram que nem sempre a intransigência imperava, nem sempre os procedimentos eram seguidos, e o segredo guardado. “Nem sempre as sentenças eram viciadas e arbitrárias, e nem sempre, para os inquisidores, mais valia condenar um inocente do que libertar um culpado” (MARCOCCI; PAIVA, 2013, p. 201). De todo modo, na sanha de se desencravar das memórias os fundamentos de possíveis heresias praticadas, como os lendários sabás de algumas partes da Europa, muitos inocentes se perdiam entre os discursos, acabando por confessar situações que 204 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais eram interpretadas à luz de uma demonização pelos inquisidores. Torturas físicas, cansaço e pressão psicológica faziam com que, nas palavras de Ginzburg, as respostas dos investigados fossem um “eco” das questões feitas pelos religiosos (GINZBURG, 1990/1991). Ginzburg nos alerta sobre as concepções exageradas, e deformantes, que cercaram o material inquisitorial durante longo tempo. Diz que “O fato de uma fonte não ser “objetiva” (mas nem mesmo um inventário é “objetivo”) não significa que seja inutilizável. (...) Mesmo uma documentação exígua, dispersa e renitente pode, portanto, ser aproveitada” (GINZBURG, 2006, p. 16). Os filtros e distorções não são mérito apenas para com as fontes geradas em contextos de repressão, com no caso das inquisições. Toda fonte deve ser analisada e problematizada detalhadamente, e este foi um dos grandes ensinamentos dos Annales, no que concerne à crítica documental. Neste ponto, Stuart Schwartz, em seu mais recente trabalho, baseado em fontes inquisitoriais, nos diz que As próprias condições em que foram obtidos os depoimentos, inclusive a disparidade de poder entre o indivíduo e a Igreja, a sombra constante de uma ameaça implícita de tortura, o diálogo desigual entre os inquisidores cultos e os prisioneiros muitas vezes analfabetos, e as múltiplas estratégias dos acusados, dos acusadores e das testemunhas complicam o uso desses registros. Nem sempre as confissões eram necessariamente expressões de uma verdadeira crença, e tampouco as denúncias e acusações vinham isentas de outras motivações. Muitas vezes o valor dos documentos consiste não só na veracidade de uma determinada denúncia ou na precisão da defesa como também, em igual medida, na revelação do quadro mental dos inquisidores e dos réus (SCHWARTZ, 2009a, p. 27). Ginzburg defende a proposta de que se a documentação de cunho inquisitorial permite reconstruir as vivências de personalidades individuais, biografias, por exemplo, é absurdo descartá-las em nome, apenas, de abordagens das massas anônimas. Acrescenta ainda que “Alguns estudos biográficos mostraram que um indivíduo medíocre, destituído de interesse por si mesmo – e justamente por isso representativo -, pode ser pesquisado como se fosse um microcosmo de um estrato social inteiro de determinado período histórico” (GINZBURG, 2006, p. 20). E foi justamente isto que ele fez ao trabalhar com os processos referentes ao moleiro friuliano. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel Em seu célebre artigo Sinais: Raízes de um paradigma indiciário, Ginzburg apresenta o método indiciário, numa proposta de sustentar teoricamente os trabalhos aos quais já havia se dedicado. Vale dizer que, as obras produzidas pelo autor, em que ele utiliza esta metodologia, são anteriores à escrita deste artigo, o que confere a ele um caráter de “justificação teórica fundante” para o novo método de pesquisa.4 Baseado nas perspectivas epistemológicas de alguns estudiosos do final do século XIX – como Morelli, Holmes e Freud. Ginzburg, exemplificando sua proposta com base no método morelliano de crítica artística – de Giovanni Morelli, da década de 1870 – aponta que, Os museus, dizia Morelli, estão cheios de quadros atribuídos de maneira incorreta. Mas devolver cada quadro ao seu verdadeiro autor é difícil: muitíssimas vezes encontramo-nos frente a obras não-assinadas, talvez repintadas ou num mal estado de conservação. Nessas condições, é indispensável poder distinguir os originais das cópias. Para tanto, porém (dizia Morelli), é preciso não basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas, portanto mais facilmente imitáveis, dos quadros: os olhos erguidos para o céu dos personagens de Purigino, o sorriso dos de Leonardo, e assim por diante. Pelo contrário, é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia: os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés (GINZBURG, 1989, p. 144). O trecho acima nos revela, seguindo apenas um dos autores trabalhados por Ginzburg, os termos de um método de análise voltado para a distinção de obras de arte. Para a disciplina histórica, o autor molda um novo paradigma, no qual os pequenos detalhes, ditos negligenciáveis, presentes na documentação, podem ser elementos reveladores para se pensar âncoras de determinados contextos, em diversas escalas. Neste sentido, Ronaldo Vainfas nos alerta que “É necessário perceber as crenças e comportamentos cotidianos conectados à sociedade, economia e política” (VAINFAS, 2002, p. 90). Não é o detalhe pelo detalhe, mas o indício, compondo um intrincado mosaico de relações sociais, econômicas, culturais etc. Assim, afirma Ginzburg no mesmo trabalho, comparando então o fazer historiográfico ao conhecimento médico e Obras publicadas, cronologicamente: Os andarilhos do bem, em 1966; O Queijo e os Vermes, em 1976; História Noturna, em 1979. O artigo Sinais, que explica a estrutura do indiciarismo, foi escrito e inserido na coletânea Mitos, Emblemas e Sinais, datada de 1989. Foi elaborado, então, 10 anos após a escrita de seus maiores trabalhos acerca das crenças religiosas populares no início da Época Moderna. (Todas as referências se encontram no final do trabalho.) 4 206 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais até mesmo venatório, que “o conhecimento histórico é indireto, indiciário, conjectural” (GINZBURG, 1989, p. 157). Nas perspectivas pré-Annales, o historiador tinha a função de recuperar grandes eventos e, através da documentação, que na maioria das vezes compreendia ao aparelho estatal, conduzir uma narrativa legitimadora de determinados processos políticos oficiais. “Aqui, nessa ênfase ao Estado, sujeito histórico universal, aparece ainda, e claramente, a influência das filosofias da história” (REIS, 2004, p. 16). Ginzburg mostra um movimento inverso, ao apresentar a importância e a necessidade de se construir outras metodologias, próprias para a escrita da história. Uma história de repressões inquisitoriais, de inquietações camponesas, de domínio religioso, revelando elementos de uma cultura popular em relativa circularidade, com interseções, ainda, com as outras ciências sociais. Basicamente, esse novo formato de história, compreendendo os âmbitos cultural e social, atuou em três frentes de reformulações: novos problemas, ao trazer a própria história para discussão, inclusive em seu estatuto científico; novas abordagens, enriquecendo os setores tradicionais da história, não se circunscrevendo apenas à elite política e econômica; e novos objetos, diversificando o campo epistemológico do ofício do historiador (CAIRE-JABINET, 2003). O contexto histórico mundial havia se modificado, no início do século XX, e diante da pluralidade de culturas humanas, bem como da própria crise que a disciplina apresentava, se fez necessário mudar também a forma de escrita, de reconstituição de um passado. Assim, de forma bastante clara, João Carlos Reis aponta que o programa dos Annales consistiu na interdisciplinaridade, a mudança dos objetos de pesquisa, que passavam a ser as estruturas econômico-social-mental, a mudança na estrutura da explicação-compreensão em história, a mudança no conceito de fonte histórica e, sobretudo, embasando todas as propostas anteriores, a mudança do conceito de tempo histórico, que agora consiste, fundamentalmente, na superação estrutural do evento (REIS, 2004, pp. 77 – 78). O segundo estudo em destaque, de Emmanuel Le Roy Ladurie, Montaillou, povoado occitânico, possui grande relevância também neste contexto, trabalhando numa perspectiva histórico-antropológica. O autor, utilizando os escritos do bispo Jacques Fournier, quando este era integrante do corpo inquisitorial, objetivou reconstruir parte das vivências dos indivíduos de determinada região, seu mundo mental e material, Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel partindo dos elementos cotidianos registrados nos inquéritos. Segundo ele, “As confissões estão escoradas, assentadas, nas descrições fornecidas pelos acusados sobre suas ‘fatias de vida’, cotidianas e substanciais” (LE ROY LADURIE, 1997, p. 17). A Inquisição, atuante na região de Montaillou, vila do Languedoc ao sul da França, durante a década de 1320, buscou os rastros do catarismo - espécie de movimento de cunho cristão, considerado herético pela Igreja católica, por se misturar em tradições tidas como pagãs.5 O autor contextualiza Montaillou de uma forma especial, pois se preocupa mais com a narrativa e o potencial etnográfico das fontes que com as questões mais ligadas à Igreja, ao feudalismo ou ao próprio catarismo (VAINFAS, 2002, p. 50). Estes pontos só aparecem implicitamente no texto, misturados a minúsculas frações da vida daquele povoado, refletindo as configurações culturais a partir de composições sociais. O trabalho de Le Roy Ladurie permite refletir sobre diversos elementos especiais das fontes inquisitoriais para a escrita da história, ao cruzá-las com outros registros. Em primeiro, podemos destacar a importância da feitura da fonte. Para iniciar a sua análise, o autor produz toda uma investigação sobre as trajetórias do religioso Jacques Fournier, responsável pelas inquirições, para entender elementos de sua mentalidade, formação e produção. A partir da reconstrução da trajetória física e intelectual do religioso é que as configurações de “sua Montaillou” são elaboradas: “torturava-os pouco; interrogava-os com minúcia e demora de tempo, a fim de acossar no meio deles a heresia cátara, ou simplesmente o desvio com relação ao catolicismo oficial” (LE ROY LADURIE, 1997, p. 11). Ambos produziram, em perspectivas diferenciadas, logicamente, etnografias. Se por um lado Jacques Fournier investigava elementos da heresia cátara, por outro, Emmanuel Le Roy Ladurie analisou os seus registros lançando luz ao que se armazenou, para além da heresia. Evocamos novamente Ginzburg, que, ao tratar de sua experiência de pesquisa nos acervos inquisitoriais, nos diz que o “testemunho ilusório que os inquisidores estavam tentando arrancar dos réus não era diferente, no fim das contas, daquilo que nós estamos procurando; [...] eu me sentia como se observasse por sobre os ombros dos juízes, seguindo as suas pegadas” (GINZBURG, 1990/1991, p. 12). Em suas formulações, inquisidores se transformaram em antropólogos. A Inquisição italiana se fez presente pelo Languedoc entre as décadas de 1240 a 1250, e em 1318 a 1326. A região era conhecida como “terra prometida do erro.” (LE ROY LADURIE, 1997, p. 13.) 5 208 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais Emmanuel Le Roy Ladurie produziu uma reflexão incisiva sobre as fontes. Aponta que “Todo estudo histórico deve ou deveria começar por uma crítica das fontes” (LE ROY LADURIE, p. 12). A qualidade do documento reside justamente na existência do empenho do bispo Jacques Fournier em rastrear as posturas desviantes e conduzir os interrogatórios. O religioso se empenhou na elaboração do dossiê, guardando-o consigo até quando foi papa, e depositando, posteriormente, na Biblioteca do Vaticano, permanecendo até os dias de hoje. É uma documentação bastante farta, contabilizando um total de 578 interrogatórios. Vale dizer, que nem todas as pesquisas, empreendidas em bases inquisitoriais, obtém tanto sucesso na busca documental como a deste autor. Para determinados lugares e situações, a documentação inquisitorial pode ser extremamente escasso, levando o historiador a lançar mão de outros recursos. Os motivos se justificam desde a pouca atenção dos tribunais em um período específico, ou ausência de ministros para desbravar determinada situação, ou mesmo a falta de cuidado e conservação, o que levou inúmeros maços com registros singulares a serem destruídos através do tempo. Nesta obra, as intercalações de escalas, de casos individuais (biografias) e eventos coletivos, aparecem de diversas formas. Em alguns momentos o autor, mesmo tratando do século XIII, avança ao século XVII, em imensas progressões, para explicar determinadas situações, pela própria carência de fontes. Num dos casos Nossos documentos, como disse, falam-nos sobretudo, nessa matéria, da autoridade pública e da senhoria local, que pertencem, ambos, ao conde de Foix; assim como dos representantes que este tem no lugar: o castelão, militar; e o bailio, judiciário (em princípio). Em compensação, a mesma documentação, habitualmente tagarela, é muda quanto aos direitos senhoriais de Montaillou. Precisamos remediar esta carência; e, para isso, consultar esse ou aquele dossiê de época tardia. Uma excelente investigação de 1672 indica que o rei da França é senhor de Montaillou, enquanto sucessor legítimo dos direitos dos antigos condes de Foix. (LE ROY LADURIE, 1997, p. 40) Assim, o grande desafio que o autor coloca é justamente o trato das fontes. O historiador deve se tornar íntimo delas, entendendo os seus processos de elaboração, imergindo-as em seus respectivos contextos, para depois pensar nas problemáticas de seu objeto e na construção de sua narrativa. Montaillou apresenta uma escrita de história que atravessa estruturas territoriais e temporais, relativamente longas, partindo de pequenos depoimentos cotidianos agrupados. Como dito anteriormente, a Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel documentação eleita pelo autor foi privilegiada, pelo seu imenso volume, mas esta proposta pode ser utilizada em outras circunstâncias, em apenas um processo individual, por exemplo, já que Um processo da Inquisição, dependendo da heresia ou do herege em causa, pode alcançar mais de mil fólios manuscritos, cuja leitura exige conhecimentos paleográficos e pesquisa paralela de tipo filológico e/ou vocabular, considerando as alterações de uma mesma língua nos últimos 400 ou 500 anos. Além disso, o processo inquisitorial não é um prontuário homogêneo com indicação fria e explícita de informações, senão um dossiê complexo, composto de peças variadas. Há documentos administrativos inerentes à processualística inquisitorial prevista nos regimentos; há pareceres de funcionários especializados, a exemplo dos qualificadores, no caso de ser necessária a identificação e refutação de proposições heréticas, nos quais não raro ocorrem citações eruditas e em latim; há documentos resultantes das diligências mandadas fazer pelos inquisidores, nas quais são arguidas testemunhas em número variado, por vezes sobre um detalhe das acusações contra o réu ou relativo às suas contraditas; há os documentos acusatórios dos denunciantes ou mesmo confissões de cumplices que contém delações – em regra trasladados e incluídas no dossiê; há libelos acusatórios, contraditas de procuradores e, sobretudo, documentos relacionados aos interrogatórios – havendo por vezes inúmeras sessões de inquirição IN GENERE e IN SPECIE, consistindo essas peças na maior evidência da relação dialógica estabelecida entre juiz e réu em um processo inquisitorial ou de tipo inquisitorial. (VAINFAS, 2002, pp. 100 – 101) Apesar de longa a citação acima, acreditamos na pertinência de ser colocada na íntegra, já que sistematiza de forma especial a natureza, em suas diversas sessões e camadas, de um processo inquisitorial. Diversas mãos participam da escrita destas partes, algumas se repetindo de documento para documento, permitindo a identificação de posturas individuais com relação aos delitos, entendimentos e termos de quem estava “filtrando” as informações que eram extraídas, regendo o ritual de inquirição. Nesta perspectiva, a documentação permite reconstruir indivíduos anônimos em seus respectivos contextos, sejam acusados ou acusadores. Em meio às inquirições e denúncias, de acusados e testemunhas, perfilam elementos do cotidiano nos registros, compondo um mosaico interessante do que poderiam ser as vivências dos indivíduos investigados; e eram diversas as motivações que levavam as pessoas à alçada das 210 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais inquisições: tensões, inimizades, conflitos entre senhores e escravos etc.6 Vale lembrar que esta movimentação, esse registro, era permeada por diversas estratégias discursivas, tanto dos réus, que visavam se livrar das garras repressoras da religião, quanto dos próprios inquiridores que, obstinadamente, montavam aparatos discursivos – questionários regimentados, como dito anteriormente, objetivando vasculhar a memória dos réus. Os discursos eram elaborados dentro de estruturas já existentes, pois existiam manuais, ou sessões dentro dos próprios regimentos, instruindo as inquirições. Com isso, O desejo de verdade por parte dos inquisidores (a verdade deles, naturalmente) produziu um testemunho extremamente rico para nós – profundamente distorcido, todavia, pelas pressões psicológicas e físicas que representavam um papel tão poderoso nos processos de feitiçaria (GINZBURG, 1990/1991, p. 12). Forneciam informações, mesmo que cotejadas, das relações estabelecidas em dado período. A estas lacunas, cabe ao historiador lançar mão de uma imaginação histórica, construída através de pesquisas significativas em torno das possibilidades em um determinado período. Um bom exemplo destas estratégias é perceptível na obra de João José Reis, Domingos Sodré, sacerdote africano, fortemente questionada pela ousadia de sua estrutura narrativa. O autor não utiliza documentações inquisitoriais, no entanto suas reflexões acerca das fontes, em geral, são válidas para nossa discussão. João Reis reflete sobre a repressão aos candomblés na Bahia oitocentista, o convívio de escravos e libertos, dentre outras questões, através das vivências de um celebre africano. Não utiliza fontes inquisitoriais, como dito, mas processos crimes, entre outras. Vale dizer que estas duas documentações – processos inquisitoriais e processos crimes - possuem natureza semelhante em sua estrutura, e figuram, também, entre os materiais de destaque das perspectivas socioculturais. Na ausência de fontes, em alguns momentos, revelando-se ainda a tenuidade da narrativa, João José Reis lança mão de reconstruções de cenários, incluindo outros personagens, enquanto integrantes daquela mesma realidade. Em um dos momentos, diz ele que “A greve de 1857 foi mais um movimento no qual Domingos, se fosse ganhador, poderia ter entrado. Se não o fez, decerto conhecia africanos que sim”7 (REIS, 6 Sobre este ponto, ver alguns exemplos de situações no capítulo Deflagração de conflitos. (SOUZA, 2009, pp. 258 – 300) 7 Grifo nosso. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel 2008, p. 90). Assim, a intercalação de casos diversos, compondo cenários, através da imaginação histórica, revela alguns dos atuais caminhos da escrita da história. O autor diz ainda, no epílogo da obra, para não nos distanciarmos muito de nossos objetivos, que “É possível fazer dessas histórias pessoais uma estratégia para entender o processo histórico que constituiu o mundo moderno” (REIS, 2008, p. 315). Neste sentido, as fórmulas e estruturas clássicas de escrita foram dilatando seus horizontes. Por um lado, o campo de ação do historiador cresceu significativamente, por outro, algumas crises se configuraram, diante da diluição de certas fronteiras que conferiam estatuto à disciplina perante as outras ciências sociais. No entanto, um forte movimento, de caráter empírico, colocando a análise das fontes em primeiro plano, confere uma trilha segura às perspectivas do historiador, já que “a qualidade da produção histórica depende do questionário elaborado pelo historiador; a validade das respostas obtidas remete, para além dos procedimentos empregados, à pertinência da documentação mobilizada em relação às questões propostas” (BOUTIER; JULIA, 1998, p. 38). Giovanni Levi, por seu turno, discute as vivências socioculturais de pequenos vilarejos da região do Piemonte italiano, no século XVII. As fontes que utiliza são documentos de exorcismos, produzidos pelo religioso Giovan Battista Chiesa, vigário de Santena, que visitou, em campanha, diversas localidades da região. Através dos contatos estabelecidos nas vilas, os registros foram tomando as formas das vivências locais, como num espelho, ao qual o reflexo se apresenta, só que se alterando de acordo com elementos como grau, distância e luminosidade. As transformações sociais da região foram exploradas pelo autor, ao reunir os registros dos exorcismos com documentações latifundiárias e paroquiais. De forma semelhante a Emmanuel Le Roy Ladurie, o que percebemos são diversas camadas compondo este formato de escrita, que vão, paulatinamente, se desprendendo das limitações de situações localizadas, para entender movimentações mais amplas – como o esfacelamento do sistema feudal, as novas configurações hierárquicas e os níveis de transformação religiosa. No entanto, as situações específicas apresentadas pelas fontes não servem unicamente como ponto de partida, perdendo-se no desenrolar das tramas. Os indivíduos e situações sobrevivem nesta intensa alteração de escalas, conferindo nivelamentos ao que poderia se transformar em uma estrutura abstrata. 212 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais Ronaldo Vainfas, ao discutir os meandros dos modelos de história macrossocial e a microanálise, aponta que No caso da história geral ou macrossocial, perde-se de vista a história vivida, a experiência concreta dos indivíduos, em favor de sujeitos sociais abstratos; perde-se a vivacidade e dramaticidade dos enredos singulares face às dinâmicas generalizantes. [...] No caso da microanálise a história se torna capaz de funcionar como a “ciência do vivido”, oferecendo ao leitor universos sociais que forçosamente escapam ao olhar macroanalítico – e nem por isso são menos verdadeiros ou reais (VAINFAS, 2002, p. 149). Assim, torna-se pertinente pensar a realidade histórica a partir de pequenos pontos de análise, estudos de caso, por exemplo, de forma a dar visibilidade a pequenas movimentações sociais, não menos importantes para a História. Os processos inquisitoriais são elementos importantes, devido ao seu valor etnográfico, dentro destes caminhos teórico-metodológicos, pois revelam, muitas vezes, a partir de pequenas situações, reflexos indiciários de todo um contexto em determinado período. Os relatos não se revelam deslocados de um contexto mais amplo, capaz de lhes fornecer sustentação suficiente. Não muito distante de nós, no caso brasileiro, é consenso que a obra fundadora das mentalidades foi O Diabo e a Terra de Santa Cruz, de Laura de Mello e Souza (2009). Com fontes inquisitoriais e devassas eclesiásticas, a autora reconstrói o universo da feitiçaria e da religiosidade popular americana durante o período colonial. Interessante perceber como tardiamente, no Brasil, estas renovações historiográficas, que já pululavam na França, chegaram. As mentalidades começaram a balizar as pesquisas em 1960, enquanto só na década de 80 o referido trabalho é escrito. O período ditatorial brasileiro foi uma das causas desta paralização historiográfica, que permitiu ao marxismo a ocupação de lugar destacável nas produções do país. A autora utiliza a mesma noção de circularidade cultural de Ginzburg, apontando a fusão de crenças em território americano, não sendo possível enquadrar determinada prática em um sistema cultural específico. O mérito da obra seria não apenas pensar religião em seu sentido dogmático, mas tratar de uma cotidianidade imersa nestas demandas particulares, e que foram registradas pela Inquisição portuguesa. Relações escravistas, males do corpo, demandas sociais de diversas ordens, são questões que são levantadas nesta obra. Historien (Petrolina). ano 5. n. 10. Jan/Jun 2014: 200-215. Felipe Augusto Barreto Rangel À guisa de conclusão, retomando alguns pontos, percebemos que o papel da fonte supera as dimensões de ilustração de um dado período. Elas, sustentadas nas proposições do pesquisador, fornecem elementos que possibilitam a problematização de um real. Partindo ainda da premissa de que – abandonando algumas das ideias positivistas – não nos debruçamos sob o passado, mas sim sobre um discurso que foi construído sobre o passado e que nos aparece a ser transformado em fonte. Inevitavelmente, o discurso histórico é subjetivo, mas não está completamente distante da realidade. “Trata-se de uma construção mental imaginária, de uma “invenção”, mas que é preciso procurar fundar sobre bases firmes, vestígios rigorosamente, testemunhos precisos, exatos, na medida do possível” (REIS, 2004, pp. 102 - 103). Por fim, acreditamos na importância da reflexão acerca da formatação de estudos como os apontados acima. As críticas a trabalhos como estes, que se sustentam, muitas vezes, em métodos qualitativos, alegam o perigo de se pensar sociedades a partir de sujeitos atípicos. Estes casos não estão desligados do seu mundo social de origem, por mais excepcionais que sejam as trajetórias. Cabe ao pesquisador estabelecer uma estrutura compreensiva de seus recortes, munido de clareza teórica e metodológica, para poder decifrar os indícios realmente pertinentes. Quantidades não definem, em regra, o mérito a uma pesquisa. Nas palavras de Ginzburg, “Uma leitura atenta de um número relativamente pequeno de textos, relacionados com uma crença possivelmente circunscrita, pode ser mais compensadora (penso eu) do que uma acumulação maciça de documentação repetitiva” (GINZBURG, 1990/1991, p. 20). Referências Bibliográficas AROSTEQUI, Julio. História e Historiografia: os fundamentos. In. AROSTEQUI, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru, SP: Edusc, pp. 23-96, 2006. BOUTIER, Jean; JULIA, Dominique. (org.) Passados recompostos: campos e canteiros da história. Rio de Janeiro: Editora UFRJ: Editora FGV, 1998. BURKE, Peter. Variedades da História Cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. CAIRE-JABINET, Marie-Paule. Introdução à Historiografia. Bauru, SP: EDUSC, 2003. CALAINHO, Daniela Buono; TAVARES, Célia Cristina da Silva. Um guia de fontes para o estudo da Inquisição portuguesa. In. CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt S.; LOMBARDI, 214 Algumas considerações sobre fontes inquisitoriais José Claudinei; MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha. (org.) A Pesquisa e a Preservação de Arquivos e Fontes para a Educação, Cultura e Memória. Campinas, São Paulo: Editora Alínea, pp. 219-234, 2012. GINZBURG, Carlo. História Noturna: decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. ________________. O Inquisidor como antropólogo. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. I, no. 21, pp. 09-20, 1990/1991. ________________. 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