Mobilidade Urbana: Ciclovia Urban Mobility: Bike Path Carril Bici
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Mobilidade Urbana: Ciclovia Urban Mobility: Bike Path Carril Bici
Mobilidade Urbana: Ciclovia Urban Mobility: Bike Path Carril Bici: Movilidad Urbana Mateus de Melo Almeida Horta 1 Silvio Costa Saraiva 2 Willemar de Souza Campos 3 RESUMO O cenário da Mobilidade Urbana no Brasil é desafiador, pois é preciso aliar o conforto e o bem-estar da população, com projetos que saibam equilibrar desenvolvimento e sustentabilidade. A utilização da bicicleta é uma excelente alternativa para intermediar os aspectos citados e é apresentado a seguir alguns dados sobre a mobilidade urbana no Brasil e suas tendências; como a utilização da bicicleta pode ser uma alternativa de deslocação da população e algumas informações sobre o Plano de Mobilidade Urbana para a cidade de Belo Horizonte visando 2020. Palavras-chave: Mobilidade. Ciclovia. Bicicleta. Abstract:The scenario of Urban Mobility in Brazil is challenging as it is necessary to combine the comfort and the population's well-being, with projects that know to balance development and sustainability. Use of bicycle is an excellent alternative to broker the above aspects and is presented below some data on urban mobility in Brazil and trends; as the use of the bicycle can be a displacement of the population of alternative and some information about the Urban Mobility Plan for the city Belo Horizonteof 2020. Keywords:Mobility. Bike path. Bike. Resumen:El escenario de la movilidad urbana en Brasil es un reto, ya que es necesario combinar el confort y el bienestar de la población, con proyectos que saben equilibrar el desarrollo y la sostenibilidad. El uso de la bicicleta es una excelente alternativa para negociar los aspectos anteriores y se presenta a continuación algunos datos sobre la movilidad urbana en Brasil y las tendencias; como el uso de la bicicleta puede ser un desplazamiento de la población de alternativa y alguna información sobre el Plan de Movilidad Urbana para la ciudad de Belo Horizonte objetivo para 2020. Palavras clave:Movilidad. Ciclovía. Bike. 1 Graduando em Engenharia Civil. Faculdade Kennedy de Engenharia. [email protected] Graduando em Engenharia Civil. Faculdade Kennedy de Engenharia. [email protected] 3 Graduando em Engenharia Civil. Faculdade Kennedy de Engenharia. [email protected] Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 2 1. INTRODUÇÃO Inevitavelmente com o crescimento da população nas grandes cidades aliado ao crescimento econômico, as vias urbanas estão ocupadas por transportes públicos e particulares, com isso, a população sofre com congestionamentos. Nesse sentido, a melhoria e otimização do espaço viário tornou-se fator preponderante para reduzir os impactos provenientes deste crescimento principalmente ao meio ambiente, mas também pela melhoria e bem-estar das pessoas. No caso do trânsito nas grandes cidades do Brasil, é necessário fazer o planejamento urbano, que consiste na permanente necessidade de manutenção do equilíbrio entre o crescimento da demanda por mais áreas de circulação de veículos com as limitações do espaço urbano. A partir desta ideia, começa a se considerar outros meios de transportes para diminuir a utilização dos veículos particulares no dia-a-dia, melhorando a fluidez do tráfego (FERRAZ; TORRES, 2001). A medida em que o governo com medidas econômicas de fomento a aquisição de veículos, com facilidades como a redução de IPI, as vendas de carros aumentaram e muito nos últimos anos, mas o investimento adequado em mobilidade urbana para equilibrar este cenário não aconteceu. Com isso, todos os dias milhares de pessoas sofrem com os congestionamentos e falta de infraestrutura urbana adequada. Para minimizar o impacto da utilização em massa de veículos automotores nas médias e grandes cidades, a bicicleta pode funcionar como alternativa, mas para que isso ocorra é preciso o investimento adequado em infraestrutura para o transporte cicloviário. Contudo, para que a ciclovia seja implantada nas cidades, é necessário que o sistema atenda às linhas de desejo de movimentação dos usuários, de acordo com sua necessidade (KIRNER, 2006). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 2. TRANSPORTE E MOBILIDADE URBANA Segundo Vasconcellos (2000) o deslocamento das pessoas a partir das suas necessidades sociais e econômicas podem ser feitos a pé ou por algum meio de veículo motorizado ou não motorizado. Em países em desenvolvimento, as pessoas deslocam-se em média duas vezes por dia e em países desenvolvidos, as pessoas se deslocam uma vez. Neste caso, uma grande cidade do Brasil com 3 milhões de habitantes, deslocam-se 6 milhões de vezes por dia, sendo estes, feitos com conforto ou não, dependendo do nível econômico de cada pessoa. A partir dos anos 60, em muitas cidades – e regiões metropolitanas – a qualidade do sistema de mobilidade urbana é deficiente e caro, com impactos negativos na vida das pessoas e nos custos econômicos e por fim danos ambientais para a sociedade. Por isso é necessário o estudo das condições efetivas de mobilidade para diminuir o impacto da falta de planejamento e investimento em melhorias na mobilidade urbana no Brasil (IPEA, 2011). O Gráfico 1 apresenta as características da mobilidade da população da cidade do Rio de Janeiro em dois momentos 1950 e 2005. Gráfico 1: Mobilidade na cidade do Rio de Janeiro (1950-2005) Fonte: Grupo de Estudos de Integração da Política de Transportes (Geipot, 1985) e Associação Nacional de Transporte Pública (ANTP, 2005). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 O gráfico apresenta duas mudanças essenciais na mobilidade da população, sendo que no transporte público, verifica-se o desaparecimento do bonde e o grande aumento do uso do ônibus; e na área do transporte individual, observa-se a ampla utilização do automóvel. No panorama geral observa-se que se deixou de utilizar o bonde e o trem, que consumiam energia elétrica para funcionar, para utilizar um transporte que utiliza essencialmente combustíveis fósseis (IPEA, 2011). Os gráficos 2 e 3 apresentam um panorama mais recente, a partir da década de 1980, ocorridas nas grandes cidades metropolitanas do Brasil. Observa-se a queda no uso do transporte público (de 68%para 51% do total de viagens motorizadas) e o aumento no uso do automóvel (de 32% para 49%). Verifica-se também que essas mudanças estruturais poluem muito mais que nas décadas anteriores, com aumento dos congestionamentos e acidades de trânsitos, além disso, aumentou o consumo de energia e gastos dos usuários (IPEA, 2011). Gráfico 2:Divisão modal de viagens motorizadas, áreas metropolitanas (1977). Fonte:Geipot (1985); áreas: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém, Fortaleza. Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Gráfico 3:Divisão motorizadas, áreas metropolitanas (2005). Fonte:Vasconcellos (2000). modal de viagens 2.1. Características atuais da Mobilidade De acordo com o Ministério das Cidades (2005) a mobilidade urbana é o resultado da interação dos deslocamentos de pessoas e bens nas cidades. De fato, o conceito de mobilidade urbana não se restringe apenas ao deslocamento de veículos ou do conjunto de atividades para esses deslocamentos. Para o WBCSD (2004) a mobilidade é reconhecida como um dos mais importantes pré-requisitos para um padrão e qualidade de vida melhor. O deslocamento das pessoas é fundamental para o acesso a serviços essenciais do cotidiano. A mobilidade também é importante na circulação de mercadorias e bens acessíveis à população, permitindo o giro econômico dos estados e do país. O crescimento do número de automóveis e caminhões nos últimos cem anos, transparece o crescimento e a conscientização de que a mobilidade é importante e precisa de melhor gerenciamento das partes envolvidas no seu processo. Outro fator preponderante da evolução da mobilidade urbana foi a flexibilidade em termos de onde podem ir e quando o desejam fazer as pessoas no dia-a-dia (WBCSD, 2004). Mas o crescimento sem acompanhamento, proporciona problemas de poluição, congestionamentos, riscos de vida e de ferimentos graves, ruídos e rupturas em comunidades e nos ecossistemas (WBCSD, 2004). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 A constante utilização de combustíveis fósseis e o crescimento da demanda do transporte rodoviário contribuem para o aumento da poluição. Por causa desse cenário, o Programa de Controle da Poluição Veicular (Proconve) regula os novos veículos produzidos no país pela indústria nacional, para reduzir a emissão de poluentes no meio ambiente. Apesar dessas medidas de controle, o problema da poluição atmosférica é muito grave, principalmente nas regiões metropolitanas com grandes frotas de veículos automotores. Na Tabela 1, observa-se a emissão de poluentes pelos veículos usados nas cidades com mais de 60 mil habitantes (IPEA, 2011). Tabela 1:Emissão de poluentes por modo de transporte, 2007 (municípios com mais de 60 mil habitantes). Fonte:IPEA (2011, p. 14). Nos países de terceiro mundo, em geral, as cidades crescem de forma desordenada e não planejada. Dessa forma, as pessoas passam a conviver com uma série de problemas como falta de infraestrutura urbana, em especial para a população de menor renda, e a degradação ambiental. A forma como se ocupa o solo urbano, aliada às políticas setoriais pouco integradas, propicia a má qualidade do sistema de mobilidade das cidades (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005). Segundo Silva (2006a) a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana do Brasil, atua na função de melhorar a mobilidade urbana nas cidades e nos estados, a fim de mediar o atrito associado à cidade, corresponde à facilidade de deslocamentos de pessoas e bens na área urbana. No que diz respeito à mobilidade, os indivíduos podem ser pedestres, ciclistas, usuários de transporte coletivo ou motoristas; sendo assim o deslocamento pode ser feito de esforço direto (deslocamento a pé) ou por meio de transporte não motorizados (bicicletas, carroças, cavalos) e motorizados (coletivos e individuais). Nos municípios com mais de 60 mil habitantes, existe um sistema viário de 282 mil quilômetros, sendo a maioria dessas vias de trânsito local, com tráfego de Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 moradores em 77%, havendo 11% de vias coletoras e 12% de vias arteriais e de trânsito rápido. A frota que circula nestes municípios é de 20 milhões de veículos, sendo 15,2 milhões de automóveis e 75% de veículos comerciais e leves (IPEA, 2011). Existem alguns fatores que implicam em redução permanente ou temporária de movimentação dos indivíduos como: renda do indivíduo, idade, sexo, capacidade para compreender mensagens, capacidade para utilizar veículos e equipamentos de transporte, entre outros (SILVA, 2006a). Num município com mais de 60 mil habitantes, são realizados cerca de 148 milhões de deslocamentos por dia. O Gráfico 4 informa que as pessoas fazem 35% dos deslocamentos a pé, 32% por transporte coletivo e 28% por automóvel. Em relação ao transporte coletivo, os ônibus atendem 84% dos deslocamentos, nesse caso, representando a maior parte (IPEA, 2011). Gráfico 4:Divisão modal, cidades com mais de 60 mil habitantes (2007). Fonte:IPEA (2011, p. 13). Nos tempos atuais, questões relativas à mobilidade tomam grandes proporções nas áreas urbanas, por causa dos problemas associados às condições de deslocamentos como acesso ao trabalho, educação, recreação, compras e aos Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 serviços essenciais às pessoas. Entretanto, tem consumido recursos financeiros, humanos e naturais com impactos importantes ao meio ambiente, que prejudicam as políticas sustentáveis tão difundidos nos tempos atuais (SILVA, 2006b). Em contrapartida, outros fatores como segurança, saúde, emprego e moradia fazem parte também dos aspectos importantes relacionados à qualidade de vida das pessoas, que devem ser sistematicamente integrados a uma mobilidade urbana adequada tanto nesta geração, quanto nas próximas, pois, a preocupação é somente para resolver os problemas atuais, não se tem medidas satisfatórias para que as futuras gerações não tenham os mesmos problemas que agora (SILVA, 2006b). Com o crescimento e desenvolvimento das cidades e com a falta de um bom planejamento da mobilidade urbana, relacionado também a uma má qualidade do transporte público, tem levado a população a problemas graves com os congestionamentos, pois as pessoas estão preferindo transitar com transporte próprio, do que utilizar o transporte público (SILVA, 2006b). Mas o aumento da frota de veículos particulares circulando nas vias tem complicado a rotina das pessoas. O incentivo do governo federal para aquisição de veículos, para aquecer o mercado interno e amenizar os impactos negativos da economia mundial no Brasil, a redução de IPI tem sido um atrativo para que a venda de automóveis cresça. Segundo o IPEA (2011) os veículos acima de 2000 cilindradas pagam 25% de Imposto sobre Produtos Industrializados conforme Tabela 2. Essa diferença é justificada pelo governo, pela redução que esses veículos proporcionam no consumo de combustíveis fósseis e na emissão de poluentes. Tabela 2:Incidência de impostos nos preços de automóveis (2004). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Fonte:IPEA (2011, p. 16). Para minimizar o impacto do aumento da frota de veículos particulares é preciso investir em transporte público de qualidade, mas que também seja eco eficiente, e criar políticas de incentivo para reduzir a utilização de transporte motorizado. De acordo com a Tabela 3, observa-se que em 2003 a 2007 as viagens de transporte público apresentam crescimento importante, em especial o transporte metro-ferroviário. O transporte por bicicleta apresenta aumento desde 2003 e teve um crescimento de 8% entre 2006 e 2007 segundo a Agência Nacional de Transporte Público (ANTP, 2008). Tabela 3: Evolução das viagens por modo no Brasil (milhões de viagens/ano). Fonte: ANTP (2008). Tratando-se de transporte em nível internacional, é evidente que o transporte motorizado apresenta bons benefícios para a sociedade em geral, mas em contrapartida, o meio ambiente é bastante prejudicado, visto que a utilização de combustíveis fósseis como principal fonte energética e seus produtos derivados poluem e geram grandes quantidades de resíduos (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007a). Com isso, o objetivo de políticas de sustentabilidade para a mobilidade urbana, aliada a redução do impacto ambiental, é dada pela capacidade de gastar o mínimo de energia possível para realização das viagens realizadas pelas pessoas, verificando assim a progressiva limitação das viagens motorizadas, advindos da aproximação dos locais de trabalho aos de moradia das pessoas e acesso mais fácil a outros serviços essenciais (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007a). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 2.2. Tendências A frota de automóveis e motocicletas apresenta aumentos significativos nos últimos anos e são indicadores que precisam ser acompanhados de perto, para que o governo crie medidas que aliam o desenvolvimento econômico do país com as vendas, e o investimento necessário para minimizar o impacto do aumento. O gráfico 5apresenta que, em 2008, foram vendidos no Brasil cerca de 2,2 milhões de automóveis e 1,9 milhão de motocicletas (IPEA, 2011). Gráfico 5:Vendas de autos e motos no Brasil. Fonte:IPEA (2011, p. 21). Este cenário é composto pelo aumento do poder aquisitivo das pessoas aliado a política do governo em conceder isenções de impostos, o mercado financeiro facilitar a aquisição dos veículos e pela deficiência do transporte público. Entretanto, permanecendo estas condições, as frotas de automóveis e motos deverão aumentar chegando ao dobro até o ano de 2025 tornando então impraticável daqui uns tempos, a utilização das vias urbanas (IPEA, 2011). No que tange a questão de segurança na mobilidade, o Brasil apresenta os maiores índices de acidentes dentre os países em desenvolvimento, visto que, mesmo com a promulgação do novo Código de Trânsito em 1997 para implementar Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 medidas de segurança, ainda é muito alta a taxa de morte por 100 mil habitantes, principalmente pelo aumento do uso da motocicleta, conforme gráfico 6 (IPEA, 2011). A partir do cenário de alta na taxa de mortes, observa-se no Gráfico 6, que no período entre 1996 e 2006, 7,6 milhões de motocicletas entraram em trânsito, cerca de 8 mil tiveram acidentes fatais, que é um dado importante e deve ser acompanhado de perto pelos órgãos públicos responsáveis (IPEA, 2011). Gráfico 6:Taxa de mortalidade no trânsito, Brasil. Fonte:IPEA (2011, p. 22). De acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no período entre 1997 e 2007 houve no Brasil um aumento de 5% no número de mortos em acidentes de transporte urbano conforme Gráfico 7. Mesmo sendo um assunto complicado, este dado é positivo comparado com o aumento da frota de veículos, já que mais que dobrou nos últimos anos. Este cenário vem de encontro com promulgação do novo código de trânsito mais rígido implantado em 1997, aliado também as políticas de fiscalização e educação de trânsito (IPEA, 2011). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Gráfico 7:Evolução das mortes no trânsito. Fonte:IPEA (2011, p. 23). Entretanto, em outras categorias os resultados não foram satisfatórios, sendo que os motociclistas, que em outras décadas tinham estatísticas de mortes baixa, corresponderam em 2007 por aproximadamente 22% do total de mortes por acidentes de transporte, representando o mesmo valor para mortes com automóveis, mas levando em consideração que a frota representa 1/3 da frota de automóveis no Brasil, é um índice muito alto (IPEA, 2011). Em relação aos pedestres, salienta-se que em outras épocas, os acidentes já representaram 40% das mortes de trânsito no Brasil, em 2007 o índice está na casa dos 26% conforme Gráfico 8. Mesmo o índice representando uma queda, é importante salientar que os pedestres representam a parte vulnerável no trânsito e é preciso investir em projetos que minimizem ainda mais este índice (IPEA, 2011). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Gráfico 8:Mortes por acidente de transporte (2007). Fonte:IPEA (2011, p. 24). Por fim, a outra tendência observada na mobilidade urbana é em relação ao ciclo vicioso de perda de competitividade do transporte público rodoviário, que vem de encontro a crescente política de incentivo a aquisição de transporte particular, falta de investimentos adequados ao sistema de transporte público e o rendimento baixo da atividade, que impactam na perda de qualidade do serviço, aumento das tarifas e baixo rendimento financeiro. A Figura 1 apresenta a dinâmica de perda de produtividade e atratividade do transporte público urbano (IPEA, 2011). Figura 1:Ciclo vicioso da perda de competitividade do transporte urbano. Fonte:IPEA (2011, p. 25). Em contrapartida do transporte rodoviário, o transporte metro ferroviário está em grande expansão, por ser mais produtivo em transporte em massa. Os sistemas gerenciados pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), tiveram aumento de demanda superior a 70% nos últimos dez anos, e tem uma ótima expectativa de crescimento para as próximas décadas (IPEA, 2011). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 2.3. A utilização da Bicicleta Segundo Vasconcelos (2000) a bicicleta é utilizada em muitos países e em alguns deles como Japão, Índia, Holanda e China a sua posse é mais comum(salvo alguns aspectos relevantes), do que veículos motorizados. O crescimento do número de ciclistas é constante nos tempos atuais, mas ainda é preciso investir de forma mais adequada para que sua utilização seja mais difundida. Para Cavil et al. (2009) atualmente, a implementação de políticas ambientais, estão sendo difundidas em alguns países visando melhorar suas políticas sustentáveis de transportes, melhorando as vias para os ciclistas e consequentemente, melhorando alguns aspectos relevantes para a população como a saúde das pessoas. O costume de andar de bicicleta varia de acordo com aspectos relacionados a localidade e investimentos adequados. A característica natural do ambiente é fortemente influenciada pela conectividade local, a proximidade entre origens e destinos e o ritmo da expansão residencial. Locais com infraestrutura adequada ajudam a proporcionar educação, sensibilização e eventos que difundem e incentivam a utilização da bicicleta (ZAHRAN ET AL., 2008). De acordo com Braga e Miranda (2006) alguns fatores podem encorajar e difundir a utilização da bicicleta como meio de transporte como: condições e características do indivíduo; status, imagem /representação do ciclista e consequente atitude face ao mesmo (visto com naturalidade em alguns países ou cidades, mas com preconceitos em outros locais); diferenças culturais; clima; ambiente e relevo; propósito da viagem; características do tráfego e da cidade; Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 configuração geométrica do local; renda e custo do transporte em seus diferentes modos; infraestrutura existente para o uso da bicicleta (incluindo estacionamentos e vestiários); riscos de acidentes; segurança pública; incentivos por parte de empregadores; políticas voltadas para o uso da bicicleta e características de acessibilidade. O Brasil tem uma frota de bicicleta estima em 60 milhões, ocupando expressiva posição no mundo em relação à sua venda, mas, conta com cerca de 2.505 km de infraestrutura de vias exclusivas para circulação, que é considerado baixa comparando as suas medidas continentais (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007b). De acordo com Braga e Miranda (2006) ainda é muito tímido o investimento e viabilização de políticas voltadas à construção de redes de ciclovias. É precária a oferta de locais para estacionamentos, com segurança adequada. Questões econômicas estão associadas à prática do ciclismo, visto que, nas regiões periféricas sua utilização e o deslocamento é feito geralmente para destinos mais distantes das residências. No ano de 2007 a Secretaria de Transportes e da Mobilidade Urbana (SEMOB) desenvolveu o “Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta”, fomentando junto aos governos municipais, estaduais e Distrito Federal a utilização da bicicleta como modo de transporte, com mais segurança. Estas medidas visam melhorias no deslocamento das pessoas em centros urbanos, como forma de redução do custo da mobilidade e outros aspectos relevantes(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007b). Em pequenos centros urbanos, com menos de 50 mil habitantes, a utilização da bicicleta como veículo individual, representa mais de 90% do total das cidades brasileiras, dividindo com os pedestres a maioria dos deslocamentos nessas cidades. Já em cidades médias, a diferença entre as cidades pequenas e a presença eventual de linhas de transporte coletivo, às vezes em condições desfavoráveis, pois a exploração dos serviços é feita somente se for viável, quando Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 a demanda é concentrada e as distâncias são grandes (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007b). Nas grandes cidades, onde o transporte coletivo é mais acessível, a situação muda, pois, o tráfego é mais denso, o que representa maior tempo despedindo nos deslocamentos diários. De fato, as bicicletas se encontram em grande escala nas regiões periféricas, onde as condições se assemelham às encontradas nas cidades médias, aliado a precariedade do transporte público e da necessidade de complementar seus percursos(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007b). 2.4. Aspectos gerais do PlanMob em Belo Horizonte Em Belo Horizonte, o PlanMob (2014) propõe que a rede cicloviária da cidade para o cenário de 2020 com investimentos restritos (e plenos descrito a seguir) abrange uma extensão total de 94 km de ciclovias e ciclofaixas, com diferentes níveis de segregação, sendo: 69 km de ciclovias de alta segregação; 13 km de ciclovias de média segregação; 12 km de ciclovias de baixa segregação; Os níveis de segregação visam dar ao usuário segurança e conforto, evitando a interação com o tráfego de veículos motorizados. As ciclovias são, também, separadas em unidirecionais e bidirecionais, conforme a Figura 2 (PLANMOB, 2014). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Figura 2: Transporte não motorizado – Rede cicloviária. Fonte: PlanMob (2014, p. 15). No ano de 2020, com investimentos plenos, está prevista a instalação de136km de ciclovias/ciclofaixas (PLANMOB, 2014): 112 km de ciclovias de alta segregação; 17 km de ciclovias de média segregação; 8 km de ciclovias de baixa segregação; Os níveis de segregação visam dar ao usuário segurança e conforto, evitando a interação com o tráfego de veículos motorizados; as ciclovias são, também, separadas em unidirecionais e bidirecionais, conforme a Figura 3 (PLANMOB, 2014). Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 Figura 3: Transporte não motorizado – Rede cicloviária. Fonte: PlanMob (2014, p. 19). Em 2020, no cenário em que há investimentos plenos, as bicicletas são responsáveis pelos 6% complementares,quando o transporte privado apresenta redução em sua participação na divisão modal,face ao cenário de restrição de investimentos conforme Figura 4 (PLANMOB, 2014). Figura 4:Distribuição modal. Fonte: PlanMob (2014, p. 30). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização da bicicleta é uma alternativa importante no deslocamento das pessoas, pois além de contribuir com a saúde e a boa forma das pessoas que a Revista Pensar Engenharia, v.3, n. 1, Jan./2015 utilizam, é também reconhecidamente como um dos melhores meios de transportes do mundo e muito utilizada em outros países. Um fator importante quando se estuda os aspectos da Mobilidade Urbana, é o ciclo que começa na evolução da tecnologia, com a criação de meio de transportes mais modernos e seguros, mas que utilizam formas de energias não tão sustentáveis, como os combustíveis fósseis, com o crescimento econômico que esta evolução proporciona ao país. Mas é importante salientar que, se os governos não adequarem seus orçamentos para acompanhar o crescimento da economia e da demanda, os impactos advindos deste cenário podem ser catastróficos. Este estudo apresentou que a utilização da bicicleta como meio de transporte pela população, pode ser um caminho para melhorar o trânsito urbano, pois além de ser econômico, a bicicleta não causa impactos ao meio ambiente. Se houver uma política adequada para motivar a utilização deste meio de transporte, daqui alguns anos, a melhora deste processo pode ser significativa. Nota-se que o projeto de investimento em Mobilidade Urbana para Belo Horizonte para o ano de 2020, apresenta cenários de investimentos restritos e plenos. O que vai ser implantado vai depender da capacidade de investimento do Município e a economia do país, mas é importante afirmar que o cenário para os próximos anos é desafiador, pois o crescimento da população aliado com as necessidades básicas de locomoção vai crescer desordenadamente e é preciso estar preparado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Nacional dos Transportes Públicos - ANTP - Relatório Geral 2008. Sistema de informações da mobilidade urbana. São Paulo: ANTP, 2008. BRAGA, M. G. C., MIRANDA, A.C.M. Análise dos Sistemas Cicloviários Brasileiros e Propostas para seu Desenvolvimento. Pluris 2006 – Congresso Luso Brasileiro para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável, Portugal. CAVILL, N., et al. 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