Jul 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino

Transcrição

Jul 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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jul-ago/11
ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 5 - Nº 22 – JULHO /AGOSTO 2011
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Editorial
Para abrir as portas do mercado mundial de genética
O ARCO JORNAL é o veículo informativo da
ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES
DE OVINOS – ARCO
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E
xistem
ações
que foram realizadas durante
o Governo Lula com as
quais concordo e acredito tenham sido plenamente corretas. Quando
o ex-presidente Fernando Henrique iniciou um
roteiro de viagens por
várias partes do mundo,
levou consigo diversos empresários e produtos brasileiros para
serem comercializados além das fronteiras brasileiras. Esta inclusive, pelo que sei, foi a razão de ter em seu staff de ministros,
Pratini de Morais, no Ministério da Agricultura, pois ele estava
acostumado com as questões de comércio e promoção de produtos
no exterior.
No caso do ex-presidente Lula a promoção de produtos oriundos do agronegócio, felizmente, não sofreu descontinuidade, ao
contrário, foi reforçada e ampliada até, inclusive com a presença
constante da Apex Brasil, Agência de Promoção de Exportações
e Investimentos, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Dentro deste contexto, houve um fato percebido
pelo Governo passado que eu acho de extrema importância. Após
anos de pesquisas e trabalhos no campo, a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária, Embrapa, conseguiu desenvolver e dominar a tecnologia de produção de alimentos em regiões tropicais,
que é o caso de grande parte do território brasileiro.
A ação positiva do Governo Lula foi justamente reconhecer
esta qualidade tecnológica que a pesquisa brasileira conquistou
e, através de acordos com países situados em regiões semelhantes, como os africanos, exportar este conhecimento, usá-lo como
moeda de troca, como promoção do nosso país, e do que temos
de bom, lá fora. É preciso ressaltar que foi justamente o domínio
desta tecnologia de produção tropical que nos fez hoje sermos
grandes produtores de carne, soja, milho, arroz e outros produtos,
muitos deles exportados para diversos países. E, ao mesmo tempo, por termos desenvolvido tecnologia genética, conseguimos
“domar” a técnica de melhoramento genético das várias raças
zebuínas, a ponto de sermos também, exportadores de sêmen e
embriões, projeto que tem obtido grande sucesso através da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, ABCZ, em conjunto
com a Apex Brasil.
Mas, se o Governo Lula tem isto de positivo, devo ressaltar
que deixou de realizar uma ação extremamente importante para
nós, ovinocultores. Se olharmos para o projeto que a ABCZ está
realizando, temos algo que a ovinocultura poderia estar fazendo
HUMOR
e não está, porque falta a conclusão e implantação de um programa extremamente importante; o Plano Nacional de Controle
Sanitário Ovino.
Da mesma forma que na produção de grãos ou de genética
zebuína ou mesmo de bovinos europeus, a ovinocultura brasileira
possui mais de 35 anos de seleção genética natural nas raças consideradas nativas brasileiras, Santa Inês, Crioula, Morada Nova,
Cariri, entre outras. E, com certeza, 50 anos na seleção genética
das chamadas “exóticas”, ou seja, Texel, Suffolk, Ideal, Merino
Australiano, Corriedale, etc. Todas elas, sem dúvida alguma, já
poderiam receber o selo de produto brasileiro, pois estão genética
e morfologicamente adaptadas ao nosso clima, solo e sistema de
produção. Todas elas possuem hoje altíssimo grau de evolução
genética em clima tropical e subtropical, o que nos dá total condições de elaborar um projeto de exportação desta genética para
países que possuam condições climáticas semelhantes às nossas,
podendo gerar uma renda não só ao produtor, como ao País.
Mas, e muitas vezes aparece um “Mas, não podemos fazer
isto”. E a principal causa? Não termos um Plano Nacional de
Controle Sanitário Ovino implantado. Sem este instrumento, não
podemos firmar qualquer protocolo sanitário, dando a outros países a certeza de que estamos livres de doenças importantes, que
afetam a ovinocultura como, por exemplo, scrapie, maedi visna,
língua azul, entre outras. Sem este certificado podemos somente vender para nós mesmos, dentro de nossas fronteiras, ficando
com um mercado altamente restrito, quando poderíamos trabalhar para atender demandas que já nos foram solicitadas. No ano
passado, por exemplo, criadores do Paraguai manifestaram interesse em adquirir animais de criatórios brasileiros. Infelizmente
tivemos que recusar a oferta.
Esta herança deixada pelo Governo passado, precisa ser resolvida imediatamente. Precisamos definir os parâmetros de um
plano e iniciar sua implantação para que rapidamente possamos
ter certificados sanitários aprovados por outros países e, com
isto, pensarmos num programa de exportação da nossa genética, nos mesmos moldes da ABCZ. Precisamos abrir portas para
novas oportunidades de negócios e nos tornarmos também, fornecedores de genética ovina tropical Made in Brazil. Precisamos
motivar e debater este tema dentro de todo o Sistema produtivo, a fim de conquistar a determinação do Governo Federal, no
sentido de tirar da gaveta este Plano Sanitário, de uma vez por
todas. Acredito que já é hora disto e não podemos deixar passar. Falemos com nossos representantes no Congresso, para que
se sensibilizem e façam coro conosco. Precisamos nos unir, para
conseguir abrir, definitivamente, as portas do mercado mundial
de genética ovina.
Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO
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Manejo
Boas práticas de manejo na hora do pré
e pós-parto aumentam a produtividade
É um período crítico que pode definir a vida da cordeirada daquela estação
Foto: Divulgação
A par dos costumes regionais e das diferenças de manejo entre as propriedades devido às suas rotinas próprias, o período que antecede à estação de
nascimento dos cordeiros e também, o seguinte, após o parto, requer que
certas boas regras devam ser praticadas para uma produção harmônica e
também uma redução, quase ao nível zero, de perdas de cordeiros no pós
parto. Atitudes que o criador deve ter para dar boas condições às mães a
terem um período de “maternidade” positivo a fim de que a fêmea e o cordeiro se recuperem logo e comecem seu processo produtivo rapidamente.
Para tratar deste tema, o ARCO Jornal entrevistou três especialistas no
assunto, o zootecnista e professor da Universidade de Marília, São Paulo, e
Responsável Técnico da Cabanha Unimar, Cledson Augusto Garcia, o Médico Veterinário e também professor da Universidade de Passo Fundo, Rio
Grande do Sul, Hélio Carlos Rocha e a Médica Veterinária e pesquisadora
da Embrapa Meio-Norte, de D.Sc. de Teresina, Piauí, Tânia Maria Leal.
Nelson Moreira
ARCO Jornal - É importante que o produtor faça um planejamento para que sua parição
aconteça num mesmo período ou é melhor espaçar ao longo de um ou dois meses?
Hélio Carlos Rocha - Em relação a este
assunto prefiro espaçar a parição ao longo de
um ou dois meses, pelos seguintes motivos: a)
melhor atendimento as necessidades tanto da
ovelha como do(s) cordeiro(s); b) menor risco
de efeitos climáticos adversos no momento da
parição; c) melhor utilização da mão-de-obra
na propriedade; d) execução do serviço com
melhor qualidade; e) possibilidade de utilizar
instalações para a parição, pelo escalonamento
do número de fêmeas em trabalho de parto.
Cledson Augusto Garcia - A estação de
monta para o criador que nunca adotou a prática de manejo reprodutivo deve ter a duração
de três meses, no segundo ano reduzir para 60
dias, já no terceiro realizar com 45 dias de duração e com possibilidade de redução para 30
dias num futuro, objetivando aumentar a pressão de seleção nas matrizes, ou seja, sempre
segurar aquelas com maior eficiência reprodutiva.
Tânia Maria Leal - A grande vantagem do
planejamento da estação de parição é a possibilidade de realizar uma programação de partos visando épocas (aos períodos) de melhor
preço e demanda de carne. Além disso, permite programar os nascimentos para épocas
mais propícias à sobrevivência das crias, além
de proporcionar um aumento na uniformidade dos cordeiros com lotes mais homogêneo
e pronto para abate em uma determinada época. Portanto, caso o produtor decida
concentrar a produção de cordeiros, ele deve
programar as coberturas para que se tenha
tempo suficiente para a gestação, nascimento,
aleitamento e engorda dos cordeiros destinados à venda naquele período. É preciso levar
em consideração que a concentração de nascimentos vai demandar mais mão-de-obra e uma
maior oferta de alimentos para os animais, naquela ocasião.
ARCO Jornal - Para que se tenha qualquer
uma destas situações, o que o produtor deve
fazer em termos de infraestrutura na propriedade?
Hélio Carlos Rocha - Para rebanhos grandes há necessidade de locais apropriados ao
processo de parição, como por exemplo, piquetes abrigados dos ventos, secos, próximos
da sede e protegidos de predadores. Para rebanhos pequenos e médios a infraestrutura poderá ser adaptada através de pocilgas, estábulos
ou aviários de corte sem utilização. Algumas
adaptações à infraestrutura existente fornecerão ótimas condições para o processo de parição e atendimento ao recém-nascido.
Cledson Augusto Garcia - A infraestrutura
deve ser o mais simples e funcional, o interessante é ter boa pastagem (com calagem e adubação), além da adoção do pastejo rotacionado, respeitando o período de descanso de cada
gramínea e/ou leguminosa da região. Outro
ponto importante é a capacitação da mão de
obra, pois é ela quem faz o resultado positivo
acontecer.
Tânia Maria Leal - O maior obstáculo para
o sucesso da concentração de parições das
ovelhas em determinada época é indisponibi-
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Boa Alimentação no pré parto é imprescindível
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Manejo
lidade na quantidade e qualidade do alimento
a ser fornecido para a engorda dos cordeiros e
escassez de mão-de-obra.
ARCO Jornal - Parição a campo ou assistida, ou seja, em locais mais reservados, próximos da casa?
Hélio Carlos Rocha - Sempre é aconselhável ter a parição o mais próximo possível da
casa ou da sede da propriedade, uma vez que o
acompanhamento é facilitado pela proximidade. A vista dos olhos sempre é melhor do que
em pensamento.
Cledson Augusto Garcia - O piquete maternidade é primordial, pois deve ser localizado próximo a casa do proprietário ou funcionário, facilitando o manejo com as matrizes e
cordeiros, pois qualquer descuido nessa fase
pode ocasionar grandes perdas, como por
exemplo, partos distócicos (difíceis), cordeiro
que não conseguiu ingerir o colostro (nesse
caso fazer a desobstrução do teto), rejeição por
parte da ovelha, além de ataque de predadores,
entre outros.
Tânia Maria Leal - As parições devem
ocorrer sempre que possível, em piquetes maternidade, para facilitar a assistência ao parto
e às crias, quando se fizerem necessárias. As
ovelhas ainda prenhes devem ser constantemente observadas. Geralmente os partos das
ovelhas ocorrem sem a necessidade da interferência do homem, mas em alguns casos o
auxílio é necessário.
ARCO Jornal - Em regiões onde o inverno
tem períodos bem rigorosos, antecipar a parição para o outono é uma boa medida?
Foto: Divulgação
Cledson: para regiões frias, antecipe a parição para o outono
Hélio Carlos Rocha - Em regiões de inverno rigoroso antecipar a parição para o outono é
um prática mais do que razoável, assim como
propiciar a parição com o período de chuvas
em regiões com déficit hídrico. Quanto melhor
as condições na parição, melhor será a recuperação da ovelha e melhor será o ganho de peso
do(s) cordeiro(s).
Cledson Augusto Garcia - A estação de
parição deve ocorrer no outono em locais com
inverno rigoroso, como é o caso da região sul.
Nesse caso a saída é antecipar a estação de
monta. Em outras regiões com inverno menos
rigoroso podemos realizar a estação de monta
em outras épocas, desde que a nutrição seja
adequada. Tenho acompanhado um projeto
de ovinos no Pará, município de Paragominas
(Grupo Pagrisa) e já na região Norte o problema
é o excesso de chuvas nos meses de fevereiro a
abril, consequentemente aumentando a mortalidade dos cordeiros, ocasionado por problemas
respiratórios, além de hipotermia. Isso demonstra que para cada região tem que ter uma
boa programação na época de monta e parição,
em função das condições climáticas e a disponibilidade da pastagem, para isso o criador
deve procurar algum técnico da região, objetivando reduzir a mortalidade dos cordeiros na
fase neonatal.
Tânia Maria Leal - Os cordeiros são sensíveis a invernos rigorosos. Portanto, nas regiões
onde o inverno é rigoroso, a disponibilidade
de alimentação nos pastos é escassa e não se
dispõe de condições para confinar as ovelhas e
suas crias em apriscos, deve-se evitar que a estação de parição coincida com o período mais
frio do ano. Uma alternativa seria concentrar
as coberturas nos meses de abril e maio para
que os nascimentos ocorram na primavera.
ARCO Jornal - Quais os fatores que podem influenciar positivamente para uma boa
“maternagem”?
Hélio Carlos Rocha - Além dos aspectos
relacionados à infraestrutura e qualificação
da mão-de-obra na propriedade, podem-se
enumerar os seguintes fatores: a) genótipo; b)
idade da ovelha; c) peso vivo da ovelha; d) alimentação ou nutrição; e) produção de leite; f)
peso do(s) cordeiro(s) ao nascer; g) sexo do(s)
cordeiro(s)
Cledson Augusto Garcia - Primeiramente
aquisição de matrizes de boa procedência, isso
para quem está iniciando na atividade. Para
quem já está na área, fazer uma seleção de
matrizes mais produtivas, ou seja, com maior
habilidade materna, que são aquelas que não
rejeitam cordeiros e que desmamam os cordeiros mais pesados, em função da maior produção de leite. Para identificar quais são as
melhores devemos fazer uma boa escrituração
zootécnica, que nada mais é que identificar todas as matrizes e cordeiros, além do registro
do peso ao nascer, peso ao desmame, entre
outras ocorrências que acontecem na época da
parição, aliado a uma boa avaliação genética.
Tânia Maria Leal - Na ovinocultura essa
relação mãe-cria é conhecida como habilidade
materna. O comportamento da ovelha antes,
durante e após o parto tem grande influência
sobre a sobrevivência do cordeiro. A maioria das mortes de cordeiros ocorre no período perinatal devido à fome, falta de cuidados
por parte da mãe e exposição às condições
ambientais. Deve-se observar especialmente
as fêmeas primíparas, caso a mãe não esteja
cuidando dequadamente da cria, é preciso
manter a ovelha e o cordeiro em uma pequena
área para estabelecer a relação mãe/cria. Em
países, como a Austrália, a habilidade materna
é utilizada como um dos critérios para seleção
de ovinos.
ARCO Jornal - Cuidados pré e pós-partos?
Tosquia? Limpeza do úbere?
Hélio Carlos Rocha - Os principais cuidados pré-parto relacionam-se aos aspectos de
nutrição, de forma que o cordeiro tenha um
bom peso ao nascer, evitando-se a toxemia de
gestação, tanto pela falta como pelo excesso
de alimentação. O excesso de alimentação
também pode conduzir aos partos distócicos
em função do tamanho do cordeiro e pelo de-
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pósito de gordura na pélvis da ovelha. Em relação à limpeza de úbere na parição só se justifica para as regiões onde a lã tem importância
econômica, sendo praticamente desnecessária
em raça destinada à produção de carne. Já a
tosquia pré-parto é um manejo interessante
para criações do sul do Brasil conduzidas em
campo nativo, com baixa oferta de alimentação. Nestas condições a tosquia pré-parto (7090 dias de gestação) oportuniza as fêmeas a
maior ingesta de alimento, e consequentemente, uma melhora no ganho de peso vivo do cordeiro ao nascimento.
Cledson Augusto Garcia – Concordo com
meu colega Hélio, é importante o cascarreio,
que nada mais é que a limpeza da lã ao redor
da vulva e ânus, proporcionando uma melhor
higiene no momento da parição, além da retirada do excesso das mesmas ao redor do
úbere, facilitando a sucção do colostro, pois as
vezes nos ovinos lanados, pode acontecer do
cordeiro ter dificuldade em localizar o teto.
Tânia Maria Leal - Na fase de pré parto
as ovelhas devem ser manejas com bastante
cuidado, evitando traumatismos, longas caminhadas, passagens rápidas em porteiras,
estresses alimentares, como trocas bruscas de
alimentos que não são comuns na alimentação
das mesmas. É preciso estar vigilante quanto
à questão nutricional das ovelhas, especialmente nos últimos 50 dias de gestação; neste
período ocorre 70% do desenvolvimento fetal,
verificando-se maior exigência nutricional da
mãe, especialmente, nas gestações múltiplas.
No final da gestação, é importante manter as
ovelhas em piquete maternidade em local próximo ao manejador. Essa medida favorece à
assistência ao parto. Quando necessário devese realizar uma limpeza do úbere no final da
gestação.
Uma nutrição adequada é fundamental para
o reinício da atividade ovariana pós-parto. As
fêmeas devem estar bem nutridas no final da
prenhez e no pós-parto (fases de maior demanda nutricional), para que possam reduzir o período de anestro após o parto. A utilização de
técnicas apropriadas de manejo, como a amamentação controlada, que visa a diminuição do
efeito acumulado da frequência e intensidade
da amamentação, e a suplementação alimentar
da ovelha no pós-parto, que objetiva suprir as
exigências nutricionais que são aumentadas
devido à lactação, contribui para antecipar o
aparecimento do primeiro cio pós-parto.
ARCO Jornal – Em geral qual a “melhor
idade” para colocar a fêmea em cobertura?
Hélio Carlos Rocha - Existem dois fatores
que devem ser considerados neste questionamento, o primeiro diz respeito ao desenvolvimento corporal da fêmea propriamente dita,
pois não deveremos prejudicar este desenvolvimento com a justificativa de antecipar o período reprodutivo. O segundo aspecto está relacionado com a raça ou genótipo que estamos
trabalhando, e, por conseguinte, o peso vivo
deste animal no momento de colocá-lo em reprodução. Há uma relação bastante interessante para este aspecto que aponta a necessidade
da fêmea possuir no mínimo 65% do peso de
uma fêmea adulta da raça para ser possível
colocá-la em reprodução sem comprometer o
seu desenvolvimento corporal e reprodutivo.
Animais muito jovens quando em reprodução, como por exemplo, aos 8 meses de idade,
apresentam diversos problemas (abandono da
cria), que muitas vezes inviabilizam esta técnica. Como medida qualitativa em um rebanho
poderíamos optar por fêmeas com 1,5 anos e
com no mínimo 65% do peso vivo de uma fêmea adulta da raça criada.
Cledson Augusto Garcia - Idade nunca inferior a 7 meses, mas o ideal é considerar que
as borregas tenham 70% do peso médio adulto
do seu rebanho ou raça. Exemplo: Se o peso
médio do seu rebanho é 50 kg de peso vivo,
iniciar a monta quando as borregas estiverem
no mínimo com 35 kg.
Tânia Maria Leal - Cobertura realizada
antes dos animais atingirem esse peso comprometerá o desenvolvimento da futura matriz.
ARCO Jornal - Quais os principais cuidados para com o recém-nascido a fim de diminuir as perdas por morte?
Hélio Carlos Rocha - Logo após a parição,
Ter maternidade é aconselhável
se possível, examinar o recém-nascido para
verificar alguma anormalidade e intervir se
necessário, pesar o cordeiro, colocar tintura de
iodo no umbigo, identificar o animal e facilitar a amamentação. Outros cuidados a serem
observados nesta questão é o local de parição
para evitar contaminação da ovelha e/ou do
cordeiro e a produção de leite pela ovelha. O
local de parição deve estar limpo e se possível
higienizado. As ovelhas na parição devem ter
seus úberes examinados para se certificar de
que as mesmas são capazes de produzir leite, e
este, seja suficiente para atender as necessidades do cordeiro.
Cledson Augusto Garcia – Essa é sempre
nossa intenção, reduzir ao máximo a mortalidade, pois cada cordeiro que morre é um prejuízo certeiro. Alguns pontos para a minimiza-
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Manejo
ção desse item seria a boa nutrição das ovelhas no terço final de gestação, ou seja, cuidados nos últimos 50 dias, pois nessa fase tem
um aumento do crescimento fetal da ordem de
75%. A boa nutrição também contribui com
o aumento do número de células alveolares
(produtoras do leite materno), inclusive proporcionando um aumento no peso ao nascer.
Desta maneira, o mesmo nasce com maior
deposição de gordura perirenal, consequentemente aumentando sua chance de sobrevivência, caso ele demore para ingerir o colostro. O
ideal que a ingestão do colostro ocorra nas primeiras 8 horas, tempo de maior absorção pelo
intestino das imunoglobulinas, que confere
maior resistência orgânica para os cordeiros
neonatos, até o primeiro mês de vida. Nesse
período (30 dias de vida), iniciam as vacinas
importantes, de acordo com a região. O ideal é
que a mortalidade em cordeiros com até 2 a 3
Hélio Carlos Rocha
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meses (idade do desmame) não ultrapasse
10%.
Tânia Maria Leal - Para reduzir o índice
de mortalidade das crias e, consequentemente aumentar o número de crias desmamadas/
ovelha/ano, torna-se necessária a adoção de
alguns cuidados desde o nascimento até o desmame.
Os cordeiros devem ficar com as mães e
separados do restante do rebanho durante as
primeiras 72 horas após o nascimento; Caso
haja disponibilidade de infra-estrutura, o cordeiro deve permanecer separado da mãe para
que seja feito um controle da amamentação,
com mamada duas vezes ao dia (pela manhã
e final da tarde); é importante que durante o
período de aleitamento, seja oferecido uma
suplementação alimentar com volumoso de
boa qualidade e concentrado para estimular o
desenvolvimento do rúmen.
ARCO Jornal - O uso de creepfeeding é
imperativo ou alternativa para a produção?
Hélio Carlos Rocha - Animais que tiveram
acesso ao creepfeeding apresentam melhor
desenvolvimento quando comparados com
aqueles que não tiveram acesso ao alimento.
Antes de ser uma questão de ganho de peso, é
uma técnica que prepara o cordeiro para superar o desmame com vantagens, ou seja, é um
investimento no futuro do animal.
Cledson Augusto Garcia - Considero alternativa com bom resultado para ovelhas de
parto gemelar ou múltiplos, borregas na primeira parição (devido à menor produção de
leite), ou em situações que a pastagem não
esteja com boa qualidade, entre outras. Mas
Fotos: Divulgação
Sempre é bom manter o rebanho por perto na época de parição
os trabalhos de pesquisas realizados em todo
Brasil, pelas diferentes Instituições de Ensino
e órgãos de pesquisas, sempre têm demonstrado resultados positivos, contribuindo com
o maior ganho de peso dos cordeiros, menor
tempo no confinamento e, consequentemente,
reduzindo a idade de abate. Outro ponto positivo é a maior resistência à verminose, em
função da boa nutrição nessa fase.
Tânia Maria Leal - O uso de “creep feeding” (cocho com alimentos concentrados)
é uma alternativa para o produtor, principalmente quando se deseja realizar o desmame
mais precocemente objetivando fazer terminação dos animais em confinamento ou a pasto e, também, quando o produtor é especializado em venda de cordeiros a terceiros.
ARCO Jornal - Para regiões onde o custo
de pastagem ou mesmo por questões de clima
não é possível ter este tipo de alimento, qual
a tua indicação?
Hélio Carlos Rocha - As alternativas à
pastagem são o feno, a silagem e o uso de
resíduos de produtos agrícolas, desde que se
tenha certeza de que não estão contaminados
por fungos.
Cledson Augusto Garcia - Em local com
pouca oferta de forragem o melhor é plantar
alguma capineira (Napier ou Cana), suplementação com ração concentrada ou sal mineral proteinado ou em último caso comprar
feno de terceiros. Isso sendo imediatista. Mas
pensando a médio e longo prazo o ideal seria fazer uma análise de solo, substituindo a
pastagem nativa, com realização de calagem
e adubação, seguida de um bom planejamento
de pastejo rotacionado. Agora pensando numa
maneira racional, a melhor opção seria aproveitar o excesso de forragem nas águas e confeccionar seu próprio feno ou silagem.
Tânia Maria Leal - Opções de alimentação animal para regiões onde não é possível
ter pastagem de boa qualidade: Utilizar vegetação nativa, cujas folhas, vagens e ramos são
bastante apreciados pelos ovinos; Na época
seca, recomenda-se o uso de sais proteinados ou mistura múltiplas que são suplementos protéico-minerais, produzidos a partir da
adição de fontes de nitrogênio solúvel (uréia),
visando o ganho de peso e/ou a manutenção
de peso dos animais; Fenos de leucena, feijão-guandu, mandioca etc.; Silagem de milho,
sorgo, gramíneas com adição de cana-de-açúcar; Restos das culturas agrícolas que também
representam uma importante fonte de utrien-
Cordeiros devem mamar nas primeiras horas de nascimento
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tes para os ovinos.
ARCO Jornal - É válido para a produção
pensar num desmame no cedo? Quais as vantagens? O cordeiro pode ter perdas com esta
técnica?
Hélio Carlos Rocha - Quanto mais leite o
cordeiro ingerir, melhor será o seu ganho de
peso vivo. Não existe período tão favorável
ao ganho de peso vivo do cordeiro como no
período de aleitamento. Por esta razão deveremos propiciar que o cordeiro mame o máximo possível, estimulando também, a máxima
produção de leite pela ovelha. Desmames precoces, com menos de 45 dias, só se justificam
para sistemas de produção de leite, para sistemas de produção de carne deveriam contemplar períodos entre 60 e 100 dias.
Cledson Augusto Garcia - O ideal é desmamar os cordeiros com 60 a 90 dias, dependendo da nutrição e produção de leite da
ovelha, além da sua condição corporal. Ovelhas de partos duplos quando mal nutridas na
fase pré parto e durante a lactação resultam
em rápida perda de condição corporal, consequentemente baixando sua resistência orgânica, propiciando uma verminose, nesse
caso o desmame precoce, com 45 a 60 dias
teria benefício, para contornar o erro de manejo em fases fisiológicas anteriores. Quando
isso acontece pode até ter a morte do cordeiro
pela péssima nutrição do mesmo.
Tânia Maria Leal - Na criação de ovinos
para produção de carne e pele, as crias devem
ser apartadas das mães entre 84 a 90 dias de
idade. Em sistemas mais intensivos essa idade
pode ser reduzida. O desmame precoce (aos
45 dias) pode ser usado quando se deseja uma
terminação em confinamento desses animais,
além de contribuir para a antecipação do cio
da ovelha após o parto.
ARCO Jornal - Como evitar mastites?
Hélio Carlos Rocha - O problema de mastite está relacionado ao meio ambiente, à raça,
ao animal (individuo). Portanto, sempre será
mais interessante prevenir do que remediar a
mastite. Em período de aleitamento observar
a higiene dos locais onde as ovelhas permanecem com os cordeiros, os quais devem ser
o mais limpo possível. Para fêmeas em perío-
dos seco pode-se utilizar medicamentos intramámario, mas antes disto, o produtor deverá
consultar um médico veterinário de sua confiança e discutir este assunto.
Cledson Augusto Garcia - Não desmamar os cordeiros precocemente, ou seja,
quando as ovelhas estão no pico máximo de
produção de leite, principalmente para aquelas de maior produção de leite e estão bem
nutridas, pois nesse caso é mais difícil sua
secagem, ocorrendo um relaxamento do esfíncter (canal do teto), facilitando a entrada
de bactérias para o úbere. Na Nova Zelândia a idade de desmame é entre os 90 a 120
dias, sendo que 50% dos cordeiro atingem o
peso de abate nessa data. Isso demonstra a boa
contribuição do leite para o ganho de peso dos
cordeiros. Lembrando que lá eles trabalham
com 1 parto/ano, entretanto tem uma taxa de
desmama variando de 140 a 180%, resultados obtidos em função da avaliação genética
com grande profissionalismo do país, sempre
selecionando matrizes com maior habilidade
materna, além da boa nutrição das ovelhas e
cordeiros, com a realização da adubação dos
pastos em todo território nacional.
Tânia Maria Leal - Na formação da raça
Santa Inês entraram animais da raça Bergamácia, de potencial leiteiro, por isso as ovelhas Santa Inês também apresentam grande
potencial leiteiro, o que contribui para aumentar os problemas de mastite. Portanto,
ao fazer o desmame precoce deve-se adotar
medidas cautelares, uma vez que o leite residual pós-desmame pode acarretar alta
incidência de mastites.
Medidas de controle e profilaxia
Após o desmame precoce ou morte do
cordeiro, deve-se restringir água e alimento
da ovelha até cessar a produção de leite; Examinar as ovelhas antes da estação de monta,
procurando-se eliminar aquelas fêmeas que
apresentam lesões no úbere, com isso é possível remover ovelhas menos produtivas e reduzir possíveis fontes de infecção presentes no
rebanho; Evitar lesões traumáticas no úbere
e/ou tetos das ovelhas, para não predispor à
contaminação por algum patógeno presente
na boca do cordeiro ou no ambiente; Isolar
Fotos: Divulgação
Após o parto é bom revisar as ovelhas quanto às doenças perinatais
as ovelhas com mastites clínicas, até sua completa recuperação, evitando assim, a contaminação de outros animais; Em rebanhos com
história de mastite grave, pode-se recomendar
a aplicação de antimastíticos no desmame.
ARCO Jornal - Existem doenças pósparto que afetem as fêmeas? Quais? Como
tratá-las?
Hélio Carlos Rocha - Algumas doenças
que afetam as fêmeas no pós-parto são: prolapso retal, de vagina e uterino; e doenças
carenciais, como hipocalcemia. O tratamento
destes problemas inicia com um manejo corretos dos animais pelo produtor, suplementação com sal mineral e também uma consulta
a um médico veterinário, que é o profissional
habilitado para diagnosticar e recomendar um
tratamento adequado a cada doença.
Cledson Augusto Garcia – Além das já
citadas pelo Hélio lembro ainda da Brucelose e Toxoplasmose, que podem ocasionar a
abortos no terço final de gestação. Ambas são
detectadas com exame de sangue e o correto é
descartar aquelas que são positivas.
Tânia Maria Leal - As doenças mais comuns no pós-parto são: Infecções puerperais
que na sua grande maioria são causadas por
bactérias e tratadas com antibióticos específicos; Retenção de placenta tratada com antibióticos. •
jul-ago/11
8
Reportagem
Silagem: as dicas dos especialistas
Fotos: Divulgação
Na edição anterior do ARCO Jornal procuramos mostrar numa
ampla reportagem as vantagens e alguns fundamentos da silagem, levando em consideração a máxima
“quem guarda sempre tem”. Rigorosas temperaturas baixas ou extremos de calor permeados
de seca fazem com que a pastagem nativa não
seja suficiente para alimentar e engordar as
milhares de cabeças de ovinos distribuídas
pelos campos a fora desse imenso Brasil, de
marcantes diversidades climáticas. Levando em
consideração a importância e complexidade do
assunto, este jornal vai além, e busca mostrar
agora quais são os tipos de silagem mais recomendados por especialistas no assunto, e qual se adéqua melhor às regiões produtoras de ovinos e seus rebanhos.
Eduardo Fehn Teixeira & equipe
J
á se sabe da importância de manter
reservas forrageiras para garantir o
ganho de peso de seus exemplares e a
lucratividade no campo. Apesar de existirem
técnicas como a fenagem e o pré-secado, a
silagem apresenta uma série de vantagens
em relação a esses processos, como menor
investimento, diversidade de materiais para
ensilar, além de valor nutricional diferenciado.
Para escolher qual é a melhor opção para
cada região e rebanho, é necessário conhecer os tipos de silagens mais usadas.
Cana, milho ou sorgo?
Fazer silagem evita perda de peso no inverno
As silagens de milho, sorgo e cana são
boas opções para alimentação de ovinos,
mas existem características específicas de
cada uma que podem determinar a escolha
entre elas. A qualidade nutricional é um
exemplo, alerta o engenheiro agrônomo e
sócio da Boviplan - empresa que trabalha na
intensificação da pecuária brasileira há 28
anos - Rodrigo Panago. O valor nutricional
das silagens citadas, diz Panago, decresce na
seguinte ordem: silagem de milho, sorgo e
cana. No entanto, o profissional explica que
esta sequência só é válida quando o processo de produção for feito com a mesma eficiência, ou seja, se uma silagem de milho
for feita sem um mínimo de qualidade no
processo de ensilagem, acabará por ter uma
qualidade nutricional inferior a da silagem
de cana. “Caso a necessidade seja a de utilizar uma fonte de volumoso mais rica (alto
desempenho animal), a escolha deveria cair
primeiro sobre a silagem de milho. Por outro lado, existem outros fatores que ajudam
a definir a escolha por um tipo de silagem,
a relação custo/benefício é um dos mais importantes. Geralmente, o custo de produção
cresce na seguinte ordem: cana, sorgo e milho”, avalia.
Outro item apontado pelo profissional é a
avaliação criteriosa da necessidade de área
para produção. Em geral, para se produzir a
mesma quantidade de silagem é necessário
uma área três vezes maior para silagem de
milho do que para a silagem de cana, devido
a produção por área desta última ser muito superior. Assim como o produtor deve
ter ciência de que para produzir silagem de
milho ele deve plantar todo ano, no caso da
silagem de cana ele só planta a cada seis a
sete anos.
Panago, que também é Presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável, acrescenta ainda que deve ser levado em consideração na escolha da melhor
alternativa de silagem a região do Brasil
em que está localizado o rebanho. A cultura
>>>
9
jul-ago/11
do sorgo, por exemplo, não apresenta altas
produtividades em regiões frias, ao contrário do milho. No caso da cana, que também
vai melhor em regiões mais quentes, ela não
tem bom desempenho em regiões onde a
seca é severa, já que a sua colheita ocorre no
período seco do ano, ao contrário do milho
e do sorgo. “Primeiro é preciso conhecer realmente quais são os pontos importantes na
produção da silagem, depois é preciso ter organização suficiente para conseguir realizar
as operações com qualidade e, por último, é
preciso lembrar que a forma da retirada do
material de dentro do silo também interfere
na qualidade de armazenamento do restante
que ainda não foi utilizado”, avisa.
A importância dos inoculantes
De acordo com a diretora técnica da Kera
Nutrição Animal, Maria Regina Flores, a
silagem só se estabiliza quando o PH da
forragem, que originalmente está ao redor
de 6,5 cai para menos de 4,5. Esse proces-
O top benefício de cada opção:
Silagem de cana - demanda menor por área de produção e custo de produção menor
Silagem de milho - sua alta qualidade nutricional
Silagem de sorgo - melhor opção para produção em safrinha e regiões de baixa pluviosidade.
Dicas práticas ao produtor:
- Produzir partículas pequenas e uniformes (facas da colhedora sempre afiadas)
- Realizar o processo da retirada da planta e a vedação do silo em menor tempo possível, caprichar e muito na compactação da massa.
- Na hora de retirar a silagem do silo não use conchas para evitar o revolvimento do
material que já está estocado.
- Nenhuma das dicas anteriores será válida se o produtor não se atentar à janela de
corte ideal para a cultura que ele pretende ensilar, pois ao errar o momento ideal da
colheita o produtor fatalmente já levará um produto abaixo da qualidade potencial para
ser estocado.
Experiência garante bons resultados
Foto: Divulgação
Fernando Gottardi: fã da silagem
Proprietário da Cabanha Araçá, em Valparaíso (SP), o criador das raças Suffolk e Texel,
Fernando Gottardi, 49 anos, é fã da silagem,
seja ela do que for feita. Gottardi lança mão da
técnica há pelo menos 20 anos, para garantir
e otimizar o nível de nutrição de seus animais
durante todo o ano.
Na região em que está localizada sua propriedade, a pastagem fica escassa de junho a
setembro, época em que as chuvas não são frequentes. “É o período de parição e os animais
precisam de comida. A silagem é uma técnica
eficiente e, se comparada a outros tipos de alimento, é mais em conta também”, avalia. Os
tipos mais usados pelo produtor são as silagens
de milho, sorgo, forrageiros e cana, mas ele
confessa predileção pelas silagens feitas com o
milho e o sorgo.
Para que o resultado seja positivo, Gottardi
alerta que é necessário desenvolver o alimento com apoio técnico. “É muito fácil de errar
no ponto da silagem e a alimentação não ser
nutritiva o suficiente. O trabalho deve ser feito
com auxílio técnico para se tornar satisfatório.
Planejamento é tudo. Se o produtor sabe bem
qual é a época que não vai ter pastagem natural, tem que se preparar antes para isso”, lembra Gottardi.
so só é possível graças a produção de ácido
láctico pelas bactérias lácticas. Enquanto
isso não acontecer estarão se desenvolvendo coliformes e clostrídios, com perda de
energia, proteínas e produção de toxinas,
especialmente a histamina e cadaverina, explica Maria Regina. “Não se pode eliminar
esse desenvolvimento dessas bactérias, mas
pode se fazer com que a diminuição de PH
seja feito em período mais curto possível .
Por isso, quanto mais bactérias láticas por
gramas de silagem, maior vai ser o valor nutritivo da silagem final. Sem o inoculante, o
processo demoraria de 30 a 40 dias. Com um
inoculante de qualidade, o tempo de espera
cai para 48 horas. Isso faz toda a diferença,
nada substitui uma silagem de qualidade”,
explica a especialista.
(Veja as fases da ensilagem em quadro
abaixo) Silagem: custo x benefício
O custo de produção para silagem varia
muito, diz Panago, porque há diferenças na
escala, tipo de cultura a ser ensilada, fertilidade do solo e por aí vai. Mas, ressalta, em
geral uma silagem tem entre R$ 35 a R$ 90
por tonelada de matéria original (matéria
úmida). Em sistemas onde parte do rebanho
precisa estar estabuldado, mesmo que por
pouco tempo, explica o agrônomo, a suplementação volumosa através de silagem, capineira ou feno é fundamental, seja qual for
o teor de concentrados na dieta. Em regiões
onde os períodos secos são muito variáveis,
ocasionando redução na produção de pastagens, ou em sistema de produção em que a
lotação da fazenda também for variável no
período seco é possível deixar de utilizar
a silagem produzida, para então utilizá-la
futuramente, pois uma silagem bem feita e
bem armazenada dura por muitos anos, esclarece o agrônomo. “O uso da capineira
como fonte de volumoso é mais barato do
que a produção de silagem, mas na maioria
dos casos seu uso é impeditivo por questões
operacionais (corte diário), porém em todos
os casos não há como oferecer volumoso a
partir de capineiras com a mesma qualidade
ao longo do período de suplementação, pois
o amadurecimento das plantas é natural, significando queda na qualidade nutricional do
alimento”, afirma.
Panago acredita que não há uma grande
desvantagem ao se produzir ensilagem, mas
há uma falta de consciência entre os produtores sobre o potencial e a realidade em relação à qualidade da silagem que ele produziu.
“Não é porque a silagem não está totalmente
estragada que ela tem a qualidade preservada. Muitos produtores não se dão conta que
o custo de produção é o mesmo para uma silagem bem feita e para a silagem produzida
de forma amadora, já o desempenho animal
nunca é o mesmo, prejuízo que nem sempre
ele é capaz de perceber”, diz.
>>>
jul-ago/11
10
Reportagem
Entenda as fases da ensilagem:
FASE 1
Na FASE 1 ocorrem dois tipos de
atividades:
I) Respiração: Ela irá ocorrer até
o momento em que não houver mais
oxigênio (O2) em contato com a planta, mas até lá a respiração da planta
transformará açúcares em água, gás
carbônico e calor, com consequente
perda de valor nutritivo da forragem.
Açúcares + O2 CO2 + H2O + Calor (com perda de energia)
II) Modificações estruturais: Essas
modificações estruturais são causa­das
pelas enzimas da planta:
Polissacarídeos solúveis Glicose +
Frutose
Proteínas Ácidos Amínicos
OTIMIZAÇÃO DA FASE 1
Não podemos evitar esta fase, mas
podemos fazê-la mais breve para diminuir as perdas de nutrientes. Para
tanto, compactação é essencial. Para
uma boa compactação é importante
picarmos bem a forragem, no caso de
silagens de planta inteira (0,5 – 2cm),
e termos uma boa umidade (no caso
do milho planta inteira, 35%).
FASE 2
Esta fase inicia com o desaparecimento do oxigênio do silo e nela temos vários tipos de microrganismos
ativos, como os clostrídios, coliformes
e bactérias lácticas: heterofermentativas e homofermentativas.
Como atuam estas bactérias?
Clostrídios: seu habitat natural é a
terra, e estão presentes na planta. Eles
ocasionam perdas de energia e proteínas, e também produzem substâncias tóxicas e de gosto e cheiro ruins,
como a amônia, o ácido acético e o
ácido butírico. Os Clostrídios podem
ser de dois tipos:
Clostrídios Sacarolíticos (fermentação butírica): se olharmos a reação
química que esse microrganismo ocasiona veremos que eles prejudicam
a redução do pH da silagem pois ele
transforma 2 moléculas de ácido láctico, que é um ácido forte, em 1 molécula de ácido butírico. O ácido butírico é um dos principais respon­sáveis
pelo mau cheiro da silagem.
2 Ácido Láctico 1 Ácido Butírico
+ 2 CO2 + 2 H2O (com perda de energia)
Clostrídios
Proteolíticos
(fermentações
amoniacais):
essa espécie de
clostrídio é a
principal responsável pela produção de substâncias tóxicas e de
gosto ruim. Eles
consomem proteínas e produzem: ácido acético, NH3, CO2,
ácido isobutí­
rico, histamina,
cadaverina, triptamina, e outras aminas tóxicas.
Coliformes Fecais: Seu habitat é o
intestino, principalmente das fezes, e
são levados para o silo pela terra.
Açúcares Ácido Acético + CO2
(com perda de energia)
Ácido Amínicos NH3* + Ácido
Graxos Voláteis (com perda de proteínas)
* O cheiro de amoníaco indica perda de proteínas.
Bactérias Lácticas: Esses são os
microrganismos que produzem o áci­
do láctico que nos interessa.
A flora láctica é dividida em homofermentativa e heterofermentativa.
Suas diferentes atuações são apresentadas a seguir:
• Bactérias Lácticas Heterofermentativas
1 Glicose 1 Ácido Láctico + 1 Ál-
cool + CO2 + Ácido Fórmico
3 Frutose Ácido Láctico + 1 Ácido
Acético + 2 Manitol + CO2(causam
perda de energia)
• Bactérias Lácticas Homofermentativas
1 Glicose ou 1 Frutose 2 Ácido
Láctico
Analisando a ação de cada uma,
concluímos que o que nos interessa
Não podemos evitar esta fase, mas
podemos ter uma redução rápida do
pH de 6,0 para 4,5 ou menor; e para
que isso aconteça, necessitamos inocular com bactérias lácticas homofermentativas em ALTA CONCENTRAÇÃO.
FASE 3
Essa fase inicia-se quando atingimos o pH de estabilidade, ou seja,
pH < 4,5; nesta fase somente
Fotos: Divulgação
temos atividade das bactéria
lácticas, das quais devemos
favorecer as homofermentativas, já que estas produzem
exclusivamente ácido lác­
tico, conforme explicado na
Fase 2.
OTIMIZAÇÃO
DA
FASE 3
Para otimizar esta
fase tudo o
que podemos fazer é
utilizar um
inoculante
que possua
é a prealta condomicentração
nância
bacteriana
da flora
e composto
láctica
de bactéhomoria lácticas
fermenhomofer­
tativa, pois essa produz exclusivamen- mentativas de alta eficiência, como foi
te ácido láctico, enquanto que a hete- explicado na otimização da Fase 2.
rofermentativa produz 50% de ácido
FASE 4
láctico e 50% de outras substâncias,
Essa fase inicia-se com a abertura
ou seja, as bactérias homofermentati- do silo para a alimentação. Ela é ca­
vas reduzem mais rapidamente o pH racterizada pela parte frontal do silo
consumindo menos açúcar e portanto, em contato com o ar, o que torna pospreservando mais o valor nutritivo da sível a multiplicação de fungos, levesilagem.
duras e mofos.
Essa fase terminará quando o pH
Esses organismos estão presentes
chegar abaixo de 4,5. A partir daí, os no ar, mas a principal contaminação
coliformes fecais e os clostrídios se da silagem é da forragem; a única rainativam, e as únicas bactérias a se zão pela qual eles ainda não haviam
desenvol­verem serão as lácticas.
se desen­volvido é por que não havia
OTIMIZAÇÃO DA FASE 2
oxigênio no meio.
OTIMIZAÇÃO DA FASE 4
Existem quatro procedimentos
para otimizar esta fase:
I. COMPACTAR MUITO BEM:
A compactação é uma das operações
mais importantes para se obter uma
silagem de boa qualidade, pois é compactando bem que expulsamos o máximo de ar de dentro do silo e tornamos o meio anaeróbico, ou seja, sem
a presença de oxigênio. Para uma boa
compactação devemos observar que
a largura do silo seja de pelo menos
uma vez e meia a largura do trator
utiliza­do, os pneus do trator sejam
o mais finos possíveis e a forragem
seja picada em pedaços de até 2cm.
No caso de silagens de grão úmido é
essencial para uma boa compactação
termos uma umidade de aproximadamente 35%.
II. FEEDOUT 1: A alimentação
do rebanho deverá ser de pelo menos
20cm da frente do silo por dia, pois
em média, em um silo bem compactado, é esse o tanto que o ar infiltrará
no silo.
III. FEEDOUT 2: A retirada de
silagem deverá ser feita de maneira
mais próxima do ideal que seria se pudéssemos cortar uma fatia perfeita da
frente do silo.
IV. INOCULAÇÃO ESPECÍFICA: Existem inoculantes específicos
no mer­cado para melhorar a estabilidade aeróbica da silagem, como o
KERA-SIL GRÃO ÚMIDO. Esses
inoculantes têm em sua formulação,
além de bactérias lácticas, bac­térias
propiônicas que transformam o ácido
láctico em ácido propiônico, substância que tem propriedades fungistáticas, ou seja, impede o desenvolvimento de fungos, leveduras e mofos.
Esses inoculantes foram formulados
para silagens de grão úmi­do, cana e
sempre que a compactação seja dificultada devido aos seus problemas
com mofos e leveduras. •
FONTE: Kera Nutrição Animal
11
jul-ago/11
Reportagem
Ovino & Café: uma parceria produtiva
Fotos: Divulgação
Quando o pecuarista busca associar a prática da ovinocultura
com alguma outra atividade agrícola - em uma mesma área - ele
está revelando ser um empreendedor e certamente vai alcançar
os seus objetivos apoiando-se em pesquisas ou em experiências já
existentes. Integrar a criação de ovinos com plantações de café
é uma dessas alternativas, se bem aplicadas, que impulsionam o
agronegócio com a redução nos custos de mão de obra, por exemplo, e consequente ganho financeiro.
É
Nicolau Balaszow
preciso entender que a integração é uma forma de
unir duas atividades em
uma área comum e, neste sentido,
devem trazer resultados satisfatórios para o sistema como um todo.
Para o médico veterinário e consultor, Juarez Simões, o método
pode até não beneficiar uma das
atividades, mas ainda assim poderá ser considerada como vantajosa. “A integração utilizando ovinos acontece em vários lugares do
mundo já há muito tempo”, informa Simões que entende ser bastante produtiva esta prática que, além
de permitir um melhor manejo dos
pastos, também é utilizada visando
o controle de verminoses. Ele justifica esta afirmativa dizendo que a
grande maioria dos vermes é parasita específico de determinada espécie animal, sendo destruídos ao
serem ingeridos pela outra espécie
integrada.
No contexto da associação entre ovinos & café as vantagens se
apresentam nos seguintes itens:
Otimização do uso das áreas;
Existência de um segundo produto
para a comercialização; Diluição
e redução de custos; Retorno do
esterco para a lavoura.
Otimização das áreas
Este primeiro item consiste no
uso dos locais que ficam ociosos
como as entrelinhas e carreadores, onde acontece o crescimento
de pastagem que será consumida
pelos animais. “Em algumas situações, diz Simões, é interessante
formarmos o pasto no meio da
lavoura, pensando não apenas nos
animais, mas também no manejo da mesma.” Porém, na grande
maioria dos casos, os animais se
alimentam do pasto nativo, não
sendo formadas pastagens especiais. O produtor rural, Heron de
Carvalho faz este tipo de manejo,
pois, na sua propriedade, em Campos Altos, MG, diz que o que an-
tes era uma área para ser roçada,
“agora virou carne, pois com este
pasto em meio ao cafezal, alimento os meus animais que ganham
peso e os borregos ficam prontos
rapidamente para a venda”.
Comercialização
Um segundo produto a ser
vendido passa a ser uma forma
de apoio, especialmente em períodos de baixa de preço de uma das
atividades, socorrendo o caixa da
propriedade. Além disso, explica
o veterinário, quando se calcula
o ganho por unidade de área, este
ganho tende a ser maior nas áreas
integradas do que nas que se realiza apenas uma das atividades.
Heron está há quatro anos nesta
atividade e explica ser necessário
um período maior com esta prática
para ter uma conclusão mais definitiva sobre a prática, mas de imediato reconhece que “as vantagens
se apresentam, principalmente, no
agregar mais renda para a minha
propriedade”.
Diluição de custos
Há redução e diluição de custos,
o que se deve ao fato de que alguns
custos passam a ser rateados entre
as duas atividades. Valores como
manutenção e depreciação de alguns implementos, custos da sede
quando estes existem, além dos salários de funcionários que passam a
ser divididos. “Para isso, devemos
sempre nos lembrar que o rateio
deve ser proporcional ao uso do
implemento ou do funcionário em
cada atividade. Por exemplo: se o
controle do horímetro do trator já
é importante quando se tem apenas
uma atividade, essa importância é
ainda maior quando esse trator é
usado em mais de um procedimento, caso contrário, os lançamentos
financeiros serão feitos de forma
prejudicial a uma delas”, orienta.
Mas os benefícios neste item
não param por aí, a redução de
custos também aparece em de-
integração com ovinos traz outra renda ao produtor
corrência da menor necessidade
de combate às pragas. Isto é, normalmente observa-se uma redução
no custo da roçagem, química ou
mecânica, já que boa parte do que
seria retirado passa a ser consumido pelos ovinos. “Uma observação interessante que temos feito
em algumas propriedades é que,
talvez, com o passar dos anos de
integração, a capacidade de suporte animal da área trabalhada diminua. E isto pode ocorrer devido ao
pastejo seletivo dos animais já que
existem pragas que não são consumidas”, descreve o médico complementando que com o passar dos
anos estas pragas podem se tornar
dominantes, reduzindo o consumo
pelos animais. Neste sentido, ele
sugere formar algum tipo de pastagem no espaço livre da lavoura.
Quanto à questão da lotação de
animais, Simões entende que de 7
a 12 animais por hectare pode ser
o mais adequado, pois as variáveis
que interferem no número de animais dependem da qualidade do
solo, do manejo adotado e a forma
do plantio do cafezal, com maior
ou menor adensamento. Não menos importante é que dificilmente
consegue-se trabalhar o rebanho
única e exclusivamente na área da
lavoura. Sempre haverá a necessidade de outras áreas de escape ou
áreas para a produção de alimentos, já em que determinadas épocas do ano será necessário retirar
os animais da lavoura como nos
períodos de florada, colheita e utilização de determinados defensivos. Heron explica que, durante o
período de chuvas, a situação fica
ainda melhor. “Nesta época o pasto
é abundante e faço um menor uso
de silagem, mas, na seca, é preciso
dar um reforço alimentar porque
o pasto está reduzido e, sem esse
suplemento, os animais acabam
comendo as folhas dos cafezais”,
informa.
Retorno do esterco para a lavoura
Este procedimento acontece
em propriedades onde os animais
são recolhidos à noite ou nas propriedades onde haja etapas de confinamento. Nestes casos, é muito
comum utilizar a casca de café na
cama dos currais. Na medida em
que os animais vão urinando e defecando na cama, esta vai se transformando em um composto com
grandes benefícios para o solo do
cafezal.
“O mais importante é que seja
feito um bom planejamento antes
de iniciar a atividade. A definição
de metas e objetivos com a integração serão os primeiros passos.
Após é importante a opinião de
um técnico que tenha a experiência com o sistema, pois somente
esta pessoa será capaz de dizer se
o planejamento traçado terá condições de ser alcançado”, destaca o
veterinário. •
jul-ago/11
12
Especial
E
Sergipe: o menor quer ser o melhor
stado com o menor rebanho ovino do
Nordeste brasileiro, Sergipe pretende
se tornar rapidamente uma referência
genética nas raças Santa Inês e Dorper. A tese é
simples: Quem não é nem de longe o maior, só
poder querer ser o melhor... Com cerca de 250
mil animais entre ovinos e caprinos, Sergipe
concentra sua criação basicamente em 13 municípios do Alto Sertão, Agreste e Centro-Sul,
formando o Arranjo Produtivo Local (APL) da
ovinocaprinocultura.
O presidente da Associação Sergipana dos
Criadores de Caprinos e Ovinos (Ascco), Arnaldo Dantas Barreto Neto, destaca a importância
do rebanho Santa Inês sergipano, que tem atraído compradores de todo o país, em especial do
Sudeste e Centro-Oeste brasileiros. Um dos berços da raça – surgida de seleção natural no Nordeste - é
justamente o estado
do Sergipe.
“Não queremos
nos tornar produtores de carne, nem
ampliar o rebanho
de forma descontrolada. O nosso foco
é desenvolver e
Felisbelo Almeida Neto
exportar genética”,
Do Paquetá, exemplar típico do
Santa Inês do Sergipe
resume Arnaldo Dantas. Segundo ele, os resultados dos leilões de elite de Santa Inês demonstram que a fama da genética sergipana já cruzou
fronteiras estaduais e até internacionais.
De olho nisso, a associação implantou um
programa chamado de DNA Sergipe, que envolve a avaliação genética de reprodutores com o
uso de DEPs (Índices das Diferenças Esperadas
na Progênie) em parceria com a Universidade
de São Paulo (USP). Este programa está sendo
desenvolvido pela USP em 12 Estados, com
10 mil nascimentos já registrados em nível nacional. A Ascco também está desenvolvendo a
Informe Publicitário
Sanduíche de Cordeiro Tibagiano
Pão baguete, carne de cordeiro desfiada,
queijo prato, requeijão, alface e tomate. A receita
é simples, mas o sabor especial do cordeiro surpreende os degustadores. O Sanduíche de Cordeiro Tibagiano é apresentado pelo Hotel Itagy
no cardápio do seu restaurante, que participou
do festival gastronômico Brasil Sabor, promovido pela ABRASEL em 2011 .
A empresária Simone Arnt comenta que é o
quarto ano em que o Itagy participa do Festival
gastronômico. “Primeiro apresentamos o Cordeiro Guartelá, depois o Pene Tibagi e ano passado
o Cordeiro Fortaleza”, diz, realçando que todos
levam carne de cordeiro como ingrediente principal.
“A expectativa é novamente lançar anualmente um prato de sucesso. Toda vez que
apresentamos um prato no Festival, ele se torna o mais pedido aqui”, relata. “Hoje a carne de
cordeiro é nossa principal venda. Sai mais que
picanha e mignon porque é nossa especialidade. Principalmente os turistas pedem, querem
conhecer a comida típica”, conta.
O sanduíche é uma criação coletiva, segundo Simone. “Todo ano fazemos uma reunião com
as cozinheiras e decidimos o que serviremos. Fazemos vários testes até chegarmos a um prato”.
Desta vez, a opção foi por popularizar a carne que tem sabor diferenciado. “Quebrar esse mito de
que o cordeiro só é servido em pratos refinados. É uma carne que está em alta na gastronomia e
vai bem num sanduíche também”, garante a empresária.
A história do cardápio do Hotel Itagy com a carne de cordeiro está vinculada desde o início, já
que um dos empreendimentos da família é a criação de cordeiros. “É um animal jovem por isso
a carne é mais macia, com teor moderado de gordura, bastante nutritiva e com sabor marcante,
diferente das outras. É acompanhada muito bem com um bom vinho”, descreve Simone.
A participação consecutiva do hotel em festivais gastronômicos é também fator de desenvolvimento turístico para Tibagi, na opinião da secretária municipal de Meio Ambiente e Turismo,
Cecília Nanuzi Pavesi. “A apresentação de um prato tibagiano representa bastante porque o nome
da cidade aparece em toda a divulgação do evento. Mostra também que temos aqui uma culinária
especial para agradar turistas”, afirma.
avaliação morfológica para tipo – Rampes, bem
como biotecnologias e assessoramento técnico
contínuo, envolvendo mais de 100 criadores e
prestadores de serviços do segmento, sempre de
olho na qualificação do seu rebanho.
Segundo o técnico da ARCO, Felisbelo José
de Almeida Neto, o rebanho sergipano é estimado em 250 mil cabeças, pertencentes a 13.153
criadores, de acordo com a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário do Sergipe (Emdagro). Deste rebanho, voltado basicamente para
a produção de genética e carne como produto
final, predomina o Santa Inês, com 80%, o Dorper e White Dorper (15%) e demais mestiços.
O técnico que acompanha o rebanho explica
que a criação é realizada a pasto, sobre capim
pangola e estrela africana na região centro-sul;
já no alto sertão a pastagem é buffel e pangolão. “Os criadores de elite criam os animais
semiconfinados, alimentando com rações peletizadas e leguminosas produzidas na própria
fazenda como, por exemplo, leucena gliricidas.
“Quase 80% dos criadores de elite usam creepfreeding”, destaca Felisbelo. Os rebanhos, em
sua maioria, são pequenos, não ultrapassando as
250 cabeças por criador. Na maioria dos casos, a
ovinocultura é uma atividade complementar da
bovinocultura de corte.
No segmento, o projeto mais audacioso é o
Cordeiro Serigy, que envolve associados da Ascco, numa aliança com frigoríficos, Federação e
Secretaria da Agricultura, para atingir mercados
O
Fotos: Divulgação
Arnaldo Dantas
exigentes – chamado de Premium pelo presidente Arnaldo Dantas. Para 2012, a previsão inicial
de abates é de 5 mil animais, com projeções para
15 mil cabeças em 2015.
No campo das exposições, a 2ª Expovec, que
se realiza de 4 a 11 de setembro no município de
Lagarto, terá a presença de 1.200 animais pertencentes a 70 expositores. Na programação, o
leilão “DNASergipe”, marca com que a Ascco
pretende vestir todos os seus associados. A marca, aliás, já pode ser conferida no site – www.
ascco.com.br, onde está descrita boa parte do
projeto de melhoramento, o cronograma de leilões e o desenvolvimento do marketing. •
Pesquisa avança no Estado
crescimento da raça Santa Inês contribuiu também para o aumento do número de investimentos genéticos com o
intuito de incrementar a capacidade produtiva
e outras características do animal. No entanto, para pesquisadores da Embrapa Tabuleiros
Costeiros (Aracaju – SE), é preciso cautela para
que esses investimentos não representem ameaça à originalidade e à diversidade genética da
raça. Os pesquisadores acreditam que com o
passar do tempo, esses animais podem perder
as características originais.
Atentos à vulnerabilidade desta raça, a Embrapa Tabuleiros Costeiros criou o Núcleo de
Conservação do Ovino Santa Inês, com o ob-
jetivo de manter um rebanho de ovinos que
represente a diversidade genética da raça e um
banco de material genético (sêmen, DNA, embrião). A Embrapa mantém de 700 animais no
Campo Experimental Pedro Arle, em Frei Paulo, SE. Este é considerado o maior rebanho institucional da raça, sendo quase todo registrado
na ARCO.
Nesta unidade da Embrapa, o pesquisador
Amaury de Oliveira desenvolveu o produto
Curadermite, que previne e combate a doença
da podridão dos cascos de ovinos e caprinos e
também de bovinos. Em breve, o Curadermite
chega ao mercado, produzido por um laboratório em parceria com a Embrapa. •
13
jul-ago/11
Genética
Sistemas de cruzamentos uma ferramenta
eficiente para o aumento da produtividade
MV MSc. Edson Siqueira Filho
A
espécie ovina é caracterizada
pela diversidade de raças com
diferentes aptidões produtivas,
para lã, carne, leite e pele; também
apresenta raças que podem apresentar
habilidade para fornecer mais de um
produto com qualidade, são as chamadas raças de dupla aptidão ou mistas.
Cada raça é um produto das forças de
seleção que ocorreram no ambiente em
que ela evoluiu. Na espécie ovina são
catalogadas mais de duas mil raças
oriundas dos mais distintos pontos do
planeta, e cada uma exibe os reflexos
adaptativos da região de origem.
As raças provenientes dos trópicos
evoluíram com a presença elevada de
calor, de doenças tropicais, de grandes
variações na disponibilidade de nutrientes e do alto desafio dos parasitas internos e externos. A seleção natural sob
circunstâncias de baixa disponibilidade
nutricional e elevadas taxas de calor favoreceu animais com uma intensidade
metabólica baixa e como conseqüência
baixa exigência de alimentação de manutenção. Os animais com intensidade
metabólica baixa apresentam pequena
produção endógena de calor e conseqüentemente menor apetite. Enquanto
a baixa produção de calor endógeno é
vantajosa em climas quentes, a baixa
intensidade metabólica traduz-se em
um baixo potencial de crescimento. Nas
ovelhas oriundas dessa área não sofrem
influencia significativa do fotoperíodo
para a estação reprodutiva, pela baixa
variação entre luz e escuridão que ocorre nessas áreas durante todo o ano. As
raças oriundas de zonas temperadas têm
baixa resistência aos estresses tropicais.
A menos que esses sejam controlados
ou eliminados, a produtividade de raças
européias em ambientes hostis, também
é baixa. A finalidade das raças produtoras de carne das zonas temperadas
principalmente da Europa tem sido,
por muitos séculos, produzir carne para
o consumo humano. A seleção, desta
maneira, produziu raças com elevados
potenciais de fertilidade e elevado potencial metabólico. A elevada atividade
metabólica permite ao animal ganhar
peso rapidamente quando há alimento
de alta qualidade em abundância, mas
também perdem peso na mesma veloci-
dade quando há restrição alimentar.
No Brasil o principal produto da
ovinocultura é a carne, um dos fatores
que colaboraram, para esse estágio,
foi o grande aumento de consumo nos
últimos anos. Atualmente a carne de
cordeiro é utilizada em grandes restaurantes como o prato de destaque e ganhou o status de carne da moda na alta
gastronomia. Para manter esse status,
abastecer o mercado e atrair mais consumidores é importante que a criação
seja mais eficiente e alcance um nível
mais alto de produção juntamente com
o incremento da qualidade do produto.
A utilização de raças especializadas na
produção de carne, em geral oriundas de
áreas temperadas, nos sistemas de produção podem ser determinantes para o
sucesso do criatório, mas, para usufruir
do máximo padrão produtivo destas é
necessário conciliar as aptidão produtiva, as condições ambientais, além do
sistema de produção.
O Brasil é um país de dimensões
continentais, marcado pela diversidade
climática, de relevos, dos tipos de solos
e vegetações; entre outras características que marcam nossa miscigenação.
Com isso não temos um sistema de produção ou uma raça que seja eficiente do
Oiapoque ao Chuí. O sucesso de uma
criação de ovinos de corte começa na
escolha certa do sistema de produção
que se adeqüe as condições determinadas pela região em que se atue. Outra
discussão muito comum é sobre qual a
melhor raça para produzir carne, mas
assim como nos sistemas de produção
também não existe a melhor. O que devemos considerar são raças que se adaptem melhor a determinadas condições
de clima e vegetação e que juntamente
com um sistema de produção adequado
permitam a máxima exploração produtiva do rebanho viabilizando economicamente a criação. O Brasil possui,
oficialmente, vinte e oito raças ovinas,
cada uma delas com suas características
de produção, adaptação e aptidão produtivas particulares.
Além da produção com raças puras
existe também a possibilidade do acasalamento inter-racial, com o objetivo
de potencializar as características produtivas e adaptativas especiais de duas
raças em um único indivíduo, este tipo
de animal também não dispensa um sistema de produção eficiente, buscando
aumentar a lucratividade pelo aumento
da produtividade com essa prática. Nenhuma raça é perfeita, cada uma apresenta pontos fortes e fracos, e, portanto,
não se pode situar nenhuma no topo do
ranking para todas as características de
produção em todos os ambientes, bem
como fazer comparações diretas entre o
desempenho de cada uma em condições
ambientais diferentes.
Há raças com aptidão para corte que
apresentam alto potencial genético para
as características de produção, incluindo
o crescimento e a reprodução, conseqüentemente, elas demonstram alta produtividade em sistemas de produção em
ambientes temperados e que oferecem
aos animais alta qualidade na alimentação. Entretanto faltam a elas a resistência
ao estresse dos trópicos, especialmente
endo e ecto parasitas e estresse térmico.
Nessas condições, elas apresentam baixa
produtividade, ou em circunstancias extremas, podem inclusive morrer.
As raças de origem tropical estão
bem adaptadas para sobreviver nas condições de pastejo desta zona, mas sua
produtividade é baixa quando comparada àquela das raças de clima temperado no seu ambiente original. As raças
tropicais têm resistência elevada ao estresse dos trópicos e podem expressar
intensamente seu potencial genético,
que para as características de produção
é baixo quando comparado as raças de
Heterose na
Progênie (%)
0
Heterose
Maternal (%)
0
Em nível de índividuo
Em nível de rebanho (com a
100
0 (mãe A)
necessidade de produzir fêmeas de
reposição A)
50
0
Em nível de índividuo
100
100 (mãe AxB)
Em nível de rebanho (com a
necessidade de produzir fêmeas de
reposição A e B)
75
50
Sistemas de Cruzamentos
Raças Puras
Cruzamento
Terminal
de 2 raças
(AXB)
Cruzamento
Terminal
de 3 raças
(AXB)XC
(Parte I)
clima temperado.
Esta situação pode ser mudada aumentando-se a adaptação tropical das
raças temperadas e simultaneamente
mantendo seu alto potencial de produção ou aumentando-se o potencial de
produção das raças tropicais e simultaneamente mantendo seu alto nível de
adaptação tropical. Este melhoramento
pode ser obtido pela seleção, dentro de
cada tipo de raça, e é muito lento se comparado com o que pode ser conseguido
cruzando-se tipos raciais. Ao contrário
desse processo relativamente lento, o
cruzamento entre raças permite que as
características complementares de dois,
ou mais grupos raciais sejam combinadas, simples, rápida e eficazmente. O
animal produto do cruzamento combina
o elevado potencial de produção da raça
de clima temperado com a adaptação da
raça tropical, por exemplo. Entretanto,
podem ocorrer diferenças entre cruzamentos, tanto na quantidade, quanto na
qualidade da carcaça e da carne, segundo a raça paterna, materna, sistema de
criação e idade e peso de abate.
Escolhendo-se as raças apropriadas para o cruzamento, o potencial de
produção e a adaptação tropical dos
animais cruzados podem ser combinados ao seu ambiente – quanto mais
complementares forem as raças, maior
é a produtividade. O cruzamento entre
raças gera heterose, ou vigor hibrido
que dá um ganho adicional que permite
que a produtividade dos animais cruzados exceda a produtividade média de
ambas as raças base. É muito desejável
manter a heterose elevada em rebanhos
comerciais. A heterose para qualquer
característica é gerada cruzando-se raças que diferem na freqüência dos genes. As diferenças nas freqüências dos
genes são maiores para aquelas raças
que estão mais separadas em suas raízes
genéticas, conseqüentemente heterose
se manifesta com maior evidencia para
cruzamentos entre raças de origens mais
distantes (Veja tabela).
Os benefícios dos cruzamentos interraciais não são exclusividade para
os rebanhos de corte. Para as criações
de explorações leiteiras a mesma teoria
pode ser seguida na busca por maiores
índices produtivos. De maneira geral
em países tradicionais na ovinocultura
leiteira a estratégia mais utilizada sempre foi a seleção dentro de uma raça
pura. Além das culturas regionais e das
necessidades de manutenção de determinadas raças para as denominações de
origem dos produtos; essa prática também era mantida pela dificuldade de
manejo de duas raças ou diversos “tipos raciais” dentro do mesmo rebanho.
A inseminação artificial é uma ferramenta excelente para promover a
utilização do cruzamento interraciais
nos rebanhos. Em ambas as explorações não há a necessidade de criar e
selecionar outra raça, para fornecer os
reprodutores, dentro da propriedade,
facilitando o manejo e as práticas adotadas. Também minimiza os riscos de
perdas de reprodutores, seja por morte
ou ineficiência reprodutiva, acarretada
por estresse ambiental, nutricional ou
sanitário, já que o recomendado é que a
raça paterna, seja a raça mais produtiva,
que em geral não é adaptada. A prática
mais adequada para a aplicação da IA,
nestes casos, é manter na propriedade
um rebanho materno com base em uma
raça adaptada as condições ambientais
e ao sistema de manejo. Inseminando
essas ovelhas com sêmen de reprodutores, com alto potencial genético para
produção, de raças paternas. Assim o
resultado desse cruzamento são produtos adaptados e com índices produtivos
elevados.
Nos próximos artigos discutiremos
os diferentes métodos de cruzamentos
mais utilizados: 1) Cruzamento entre
duas raças ou cruzamento industrial;
2) Cruzamento triplo ou tricross; 3)
Cruzamento absorvente e 4) Métodos
alternativos cruzamentos. Assim planificando e auxiliando na hora de optar
pela metodologia mais adequada para
cada objetivo de produção. •
jul-ago/11
14
Notícia
Empresária Paulista investe no mercado de carne ovina
A
confiança no potencial do mercado consumidor brasileiro
para a carne ovina foi determinante na decisão da empresária Priscilla
Quirós em investir na criação da Cabanha Oviedo. Seu projeto é lançar no
início de 2012 a marca Premium Lamb.
Inspirada na tradição de sua família, de
origem espanhola, que há 100 anos cria
ovinos em Oviedo, capital das Astúrias,
Espanha, a empresária iniciou o projeto
há aproximadamente dois anos. Priscilla
fez um teste com um pequeno rebanho
em uma fazenda, em Morungaba, SP.
Um galpão para confinamento de 10 mil
cordeiros, fábrica de ração para os animais. Com os R$ 4 milhões investidos
até o momento (de um total de R$ 6 milhões previstos), a empresária já ergueu
um galpão para confinamento de 10 mil
cordeiros e uma fábrica de ração.
Em novembro, com o apronte do
primeiro lote de cordeiros, a empresa
Fotos: Divulgação
Priscilla Quirós
lançará a marca Premium Lamb, que
em 2012 poderá fornecer até oito toneladas por mês. Em 2013, a idéia é abrir
três boutiques de carne: na capital paulista, em Campinas e em outro município ainda não definido. Depois de lançado os cortes e as lojas a expectativa
de faturamento é de R$ 2,5 milhões.
Atualmente, a Cabanha Oviedo tem
1,5 mil matrizes e, ao final de 2012, a
meta é chegar até 3,5 mil. “Queremos
crescer pelo menos três vezes mais nos
próximos anos”, comenta Priscilla. Ela
ainda aponta a importância de uma parceria com outros criadores: “neste mercado só sobrevive quem tem estrutura e
escala”, condiciona.
Priscilla explica que a marca Premium Lamb será o resultado de um
tricross, cruzamento entre Santa Inês
e White Dorper, fechando com Poll
Dorset. “A marca Cabanha Oviedo comercializará diferentes tipos de cortes,
como paleta e pernil, e pretende estimular os chefs de cozinha a criarem novos
cortes, permitindo o aumento das vendas do produto temperado”, explica.
No processo de produção Priscilla
explica que já possui animais resultantes do tricross, mas a maioria nascerá
na primavera. Segundo sua observação,
os animais tricross são homogêneos, robustos e estruturados e são desmamados
com 25 kg em até 60 dias, enquanto os
meio sangue só atingem este peso aos 80
dias. “O uso do tricross nos dá vantagem
em termos comerciais: o ciclo do cordeiro diminui e o custo também, ganhando
em rotatividade”, afirma. O rendimento
de carcaça no tricross é de 48%.
A raça Santa Inês foi escolhida como
base dos ventres por ser uma raça que
cicla o ano todo, muito prolífera, boa
mãe, bem leiteira e com a ocorrência de
muitos partos duplos e triplos. Já com a
White Dorper o objetivo foi conquistar
a máxima padronização do rebanho e
de carcaça exigida hoje pelo mercado.
“Depois de vários testes de cruzamento o que tivemos melhor resultado com
relação a padronização foi com o White
Dorper, assegura a criadora. Ela disse
ainda que este cruzamento dá um cho-
que genético incrível. Os animais saem
com características White Dorper: pesados, grande porte e carcaça uniforme.
Outro ponto favorável é o equilíbrio de
gordura que torna a carne mais suave,
fruto da combinação da característica
de carne magra do Santa Inês com o
White Dorper.
A raça Poll Dorset entra como
raça terminal para dar maior ganho de
peso e maior acabamento de carcaça e,
principalmente, maior rendimento da
carcaça. Os cordeiros atingem o peso
necessário em curto período de tempo uma produção mais rentável com maior
rotatividade. “O Poll Dorset é muito resistente e as fêmeas são ótimas mães e
tem abundância de leite, essencial para
o crescimento dos cordeiros na fase
mais sensível que é no primeiro mês
de vida. É uma raça que agrega corpo
e um sabor incrível à carne”, finaliza
Priscilla. •
Informe Publicitário
SOFTWARE AUMENTA DESEMPENHO DE REBANHO OVINOS
Para garantir bons resultados e aumentar a
produtividade, o acompanhamento do rebanho é fundamental, seja de bovinos ou ovinos.
Com base nesse preceito, novas tecnologias
têm surgido unindo a vida no campo à informática para facilitar a vida do produtor rural e
gerar informações concretas, garantindo assim,
que esse produtor possa fazer as devidas modificações e investimentos em sua produção.
Uma dessas ferramentas que já fazem parte do
mercado rural é o software Pecuária Brasil Ovinos, voltado exclusivamente para a produção
ovina e que promete melhorar o desempenho
do rebanho.
Segundo Nelson Bernardi Júnior, médico
veterinário da Pecuária Brasil Assessoria, ele é
um software completo para controle zootécnico e financeiro de ovinos. Ele serve tanto para a
cultura de corte comercial como para a ovinocultura voltada para a criação de animais elite,
ou seja, ovinos registrados.
— É um software muito fácil de usar, completo e abrange muitos relatórios e ferramentas
para promover o desempenho do rebanho. Ele
serve para que o produtor obtenha informações e consiga incrementar constantemente o
desempenho zootécnico do rebanho — afirma
o médico veterinário.
Ao obter os dados no campo, o criador
pode lançá-las no software e extrair as estatísticas. Para Bernardi, ele não conseguiria obter
essas estatísticas anotando os dados em um
caderno ou uma planilha de Excel, como é feito
em muitos casos.
— Com as informações que consegue retirar do software, o criador passa a enxergar
quem são os animais e qual o rendimento e
desempenho zootécnico de cada um deles.
Com esta informação em mãos, ele consegue
promover o melhoramento genético do plantel — explica.
Além do melhoramento genético que o
agricultor consegue fazer no rebanho ao enxergar quem são os melhores animais, ele
também consegue checar quais os resultados
que o manejo e a alimentação utilizados na
propriedade trazem para ele. De acordo com
o veterinário, o pecuarista consegue analisar
se suas práticas de manejo são adequadas e
adotar as medidas para conseguir um desempenho cada vez melhor.
— Um dos principais cuidados que o criador ou técnico deve ter é com a coleta de dados. Ele deve coletar dados de forma correta
no campo, contando com uma pessoa que seja
cuidadosa nessa parte. Esse funcionário deve
Software é importante ferramenta no gerenciamento do rebanho
ser bem treinado e orientado para anotar as informações necessárias e lançá-las no software.
Mas isso também não é nenhum “bicho de sete
cabeças” — conta.
Bernardi diz ainda que é fundamental ter o
controle do rebanho para melhorar a produtividade e que, com essas informações retiradas
do software, o produtor consegue implantar
medidas para melhorar a produtividade. Já em
relação ao preço, o veterinário explica que parte de um valor único.
— A licença permanente custa R$350, ou
seja, o produtor paga esse valor somente uma
vez e não precisa renovar, pagar mensalidade
ou anuidade. Essa licença dá direito a 12 meses
de atualizações e suporte técnico. No entanto,
se o produtor quiser fazer mais atualizações
depois desse período, ele deve comprar novamente a licença — explica ele.
Repórter: Kamila Pitombeira
Fonte: Portal Dia de Campo - www.diadeacampo.com.br
15
jul-ago/11
Artigo
Integração lavoura pastagem favorece ovinocultura
André Sorio (*)
N
o Centro-Oeste brasileiro,
os meses de outubro a abril
são os mais favoráveis em
termos de produção de pasto, devido
ao calor e principalmente às chuvas.
Após o período de abundância de
alimento, sobrevêm alguns meses
de seca, em alguns lugares acompanhados também do frio, e aí o pasto
cresce mais lentamente e o criador de
ovinos tem dificuldade de alimentar
seu rebanho.
Como consequência, temos a
diminuição do ganho de peso dos
borregos e borregas e, na maioria
das vezes, até mesmo perda de peso
das ovelhas de cria. Este é um dos
motivos principais da dificuldade encontrada pelos criadores do CentroOeste para aumentar seus rebanhos
de ovinos. Ao mesmo tempo, o fato
de as ovelhas não se alimentarem de
forma adequada durante parte do ano
implica diretamente em diminuição
das taxas de prenhez, parição e desmama.
No entanto, em algumas regiões
de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, esta realidade começa a
mudar. Nas áreas de lavoura, é comum que o agricultor plante braquiária no final da cultura de verão, para
servir de cobertura verde durante a
época de estiagem. Lá pelo mês de
novembro, esta braquiária é dessecada, para a execução do plantio direto
de grãos.
A braquiária costuma ser plantada no final da estação chuvosa, em
fevereiro ou março. Ela germina,
mas com o sombreamento provocado pela soja ou pelo milho ela não
consegue crescer. Logo após a colheita, aproveitando as últimas chuvas da temporada, o pasto apresenta
um crescimento vigoroso. Assim, a
pastagem pode ser utilizada cerca de
30-40 dias depois, no final de maio
ou início de junho. O cuidado que
deve ser tomado pelo agricultor é
retirar os animais da área de lavoura no início de outubro, para que o
pasto possa crescer e formar a massa
que o plantio direto necessita para ter
sucesso.
A espécie preferida pelos agricultores para essa cobertura de inverno
é a braquiária ruziziensis, que, para
sorte dos criadores de ovelhas é também a braquiária de melhor qualida-
Foto: Divulgação
pg 14 - pg 15 - plantar pastagem protege a terra e rende lucros.
de nutricional. Assim, se conseguem
pastagens de bom valor nutricional
e que podem manter lotações significativas, de 25-40 ovelhas adultas por hectare, preferencialmente
animais solteiros, ovelhas que não
estejam com cria ao pé. Eventualmente, também borregas de recria.
Ou seja, existe um recurso forrageiro
abundante, à disposição das ovelhas
durante a época em que as pastagens
perenes diminuem sua produção.
Os criadores do Centro-Oeste
têm aproveitado esta possibilidade
de integração de duas formas principais. A mais comum é que o criador
de ovelhas acerte com o agricultor
um valor para colocar seus animais
na área de lavoura/pastagem. Para
este ano de 2011, o valor praticado
no Centro-Oeste variou de R$ 2 a 4
por ovelha adulta por mês.
Mas outro formato de negócio tem
ganhado força nos últimos tempos.
Vários agricultores têm se tornado,
também, criadores de ovelhas. Durante a época de chuvas, as ovelhas
são criadas de forma intensiva em
pastos situados nas chamadas áreas
marginais de lavoura. São partes da
propriedade que não se prestam para
a produção de grãos, mas são ótimas
para pastagem. Durante a seca, os
animais são transferidos para as áreas onde foi plantado braquiária, ajudando a preservar os pastos perenes
da propriedade.
Assim, a integração agricultura
com ovinos no Centro-Oeste tem
proporcionado benefícios diretos aos
criadores de ovelhas, com alimentação disponível na época seca e aos
agricultores, com uma renda nada
desprezível em aluguel de pasto em
áreas que antes não rendiam nenhum
centavo.
Mas é interessante observar como
esta disponibilidade de pastagem
durante a seca também serve como
atrativo para a entrada de novos investidores na ovinocultura. E sempre
é importante lembrar que os agricultores costumam apresentar boa capacidade de gestão e gostam de exploração econômica que possibilite obter
grande escala de produção. Com isto
podemos antever que em breve deveremos ter carne ovina de boa qualidade e em abundância à disposição do
consumidor, mantendo a ovinocultura
como a atividade pecuária que mais
cresce no Brasil. •
(*)engenheiro-agrônomo, M.Sc.,
consultor em ovinocultura
intensiva.
[email protected]
jul-ago/11
16

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