Jul 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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Jul 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
1 jul-ago/11 ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 5 - Nº 22 – JULHO /AGOSTO 2011 jul-ago/11 2 Editorial Para abrir as portas do mercado mundial de genética O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos 2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira Filho 1º Secretário: Carlos Ely Garcia Júnior 2º Secretário: Almir Lins Rocha Júnior 1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares 2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia CONSELHO FISCAL Titulares Wilfrido Augusto Marques Joel Rodrigues Bitar da Cunha Thiago Beda Aquino Inojosa de Andrade Suplentes José Teodorico de Araújo Filho Ricardo Altevio Lemos Francisco André Nerbass SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O. Superintendente Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto Edemundo Ferreira Gressler CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO Presidente: Fabrício Wollmann Willke SUPERVISOR ADMINISTRATIVO Paulo Sérgio Soares GERENTE ADMINISTRATIVO Bismar Augusto Azevedo Soares ARCO JORNAL Coordenação Geral Nelson Moreira Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação/Redação Nicolau Balaszow Colaborador Luca Risi - charge Fotografia Banco de Imagens ARCO Jornal e Divulgação Departamento Comercial Paula Vasconcellos e Luana Rosales [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9784 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] Foto de Capa: Eduardo Amato / Ovitec E xistem ações que foram realizadas durante o Governo Lula com as quais concordo e acredito tenham sido plenamente corretas. Quando o ex-presidente Fernando Henrique iniciou um roteiro de viagens por várias partes do mundo, levou consigo diversos empresários e produtos brasileiros para serem comercializados além das fronteiras brasileiras. Esta inclusive, pelo que sei, foi a razão de ter em seu staff de ministros, Pratini de Morais, no Ministério da Agricultura, pois ele estava acostumado com as questões de comércio e promoção de produtos no exterior. No caso do ex-presidente Lula a promoção de produtos oriundos do agronegócio, felizmente, não sofreu descontinuidade, ao contrário, foi reforçada e ampliada até, inclusive com a presença constante da Apex Brasil, Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Dentro deste contexto, houve um fato percebido pelo Governo passado que eu acho de extrema importância. Após anos de pesquisas e trabalhos no campo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, conseguiu desenvolver e dominar a tecnologia de produção de alimentos em regiões tropicais, que é o caso de grande parte do território brasileiro. A ação positiva do Governo Lula foi justamente reconhecer esta qualidade tecnológica que a pesquisa brasileira conquistou e, através de acordos com países situados em regiões semelhantes, como os africanos, exportar este conhecimento, usá-lo como moeda de troca, como promoção do nosso país, e do que temos de bom, lá fora. É preciso ressaltar que foi justamente o domínio desta tecnologia de produção tropical que nos fez hoje sermos grandes produtores de carne, soja, milho, arroz e outros produtos, muitos deles exportados para diversos países. E, ao mesmo tempo, por termos desenvolvido tecnologia genética, conseguimos “domar” a técnica de melhoramento genético das várias raças zebuínas, a ponto de sermos também, exportadores de sêmen e embriões, projeto que tem obtido grande sucesso através da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, ABCZ, em conjunto com a Apex Brasil. Mas, se o Governo Lula tem isto de positivo, devo ressaltar que deixou de realizar uma ação extremamente importante para nós, ovinocultores. Se olharmos para o projeto que a ABCZ está realizando, temos algo que a ovinocultura poderia estar fazendo HUMOR e não está, porque falta a conclusão e implantação de um programa extremamente importante; o Plano Nacional de Controle Sanitário Ovino. Da mesma forma que na produção de grãos ou de genética zebuína ou mesmo de bovinos europeus, a ovinocultura brasileira possui mais de 35 anos de seleção genética natural nas raças consideradas nativas brasileiras, Santa Inês, Crioula, Morada Nova, Cariri, entre outras. E, com certeza, 50 anos na seleção genética das chamadas “exóticas”, ou seja, Texel, Suffolk, Ideal, Merino Australiano, Corriedale, etc. Todas elas, sem dúvida alguma, já poderiam receber o selo de produto brasileiro, pois estão genética e morfologicamente adaptadas ao nosso clima, solo e sistema de produção. Todas elas possuem hoje altíssimo grau de evolução genética em clima tropical e subtropical, o que nos dá total condições de elaborar um projeto de exportação desta genética para países que possuam condições climáticas semelhantes às nossas, podendo gerar uma renda não só ao produtor, como ao País. Mas, e muitas vezes aparece um “Mas, não podemos fazer isto”. E a principal causa? Não termos um Plano Nacional de Controle Sanitário Ovino implantado. Sem este instrumento, não podemos firmar qualquer protocolo sanitário, dando a outros países a certeza de que estamos livres de doenças importantes, que afetam a ovinocultura como, por exemplo, scrapie, maedi visna, língua azul, entre outras. Sem este certificado podemos somente vender para nós mesmos, dentro de nossas fronteiras, ficando com um mercado altamente restrito, quando poderíamos trabalhar para atender demandas que já nos foram solicitadas. No ano passado, por exemplo, criadores do Paraguai manifestaram interesse em adquirir animais de criatórios brasileiros. Infelizmente tivemos que recusar a oferta. Esta herança deixada pelo Governo passado, precisa ser resolvida imediatamente. Precisamos definir os parâmetros de um plano e iniciar sua implantação para que rapidamente possamos ter certificados sanitários aprovados por outros países e, com isto, pensarmos num programa de exportação da nossa genética, nos mesmos moldes da ABCZ. Precisamos abrir portas para novas oportunidades de negócios e nos tornarmos também, fornecedores de genética ovina tropical Made in Brazil. Precisamos motivar e debater este tema dentro de todo o Sistema produtivo, a fim de conquistar a determinação do Governo Federal, no sentido de tirar da gaveta este Plano Sanitário, de uma vez por todas. Acredito que já é hora disto e não podemos deixar passar. Falemos com nossos representantes no Congresso, para que se sensibilizem e façam coro conosco. Precisamos nos unir, para conseguir abrir, definitivamente, as portas do mercado mundial de genética ovina. Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO 3 jul-ago/11 Manejo Boas práticas de manejo na hora do pré e pós-parto aumentam a produtividade É um período crítico que pode definir a vida da cordeirada daquela estação Foto: Divulgação A par dos costumes regionais e das diferenças de manejo entre as propriedades devido às suas rotinas próprias, o período que antecede à estação de nascimento dos cordeiros e também, o seguinte, após o parto, requer que certas boas regras devam ser praticadas para uma produção harmônica e também uma redução, quase ao nível zero, de perdas de cordeiros no pós parto. Atitudes que o criador deve ter para dar boas condições às mães a terem um período de “maternidade” positivo a fim de que a fêmea e o cordeiro se recuperem logo e comecem seu processo produtivo rapidamente. Para tratar deste tema, o ARCO Jornal entrevistou três especialistas no assunto, o zootecnista e professor da Universidade de Marília, São Paulo, e Responsável Técnico da Cabanha Unimar, Cledson Augusto Garcia, o Médico Veterinário e também professor da Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Hélio Carlos Rocha e a Médica Veterinária e pesquisadora da Embrapa Meio-Norte, de D.Sc. de Teresina, Piauí, Tânia Maria Leal. Nelson Moreira ARCO Jornal - É importante que o produtor faça um planejamento para que sua parição aconteça num mesmo período ou é melhor espaçar ao longo de um ou dois meses? Hélio Carlos Rocha - Em relação a este assunto prefiro espaçar a parição ao longo de um ou dois meses, pelos seguintes motivos: a) melhor atendimento as necessidades tanto da ovelha como do(s) cordeiro(s); b) menor risco de efeitos climáticos adversos no momento da parição; c) melhor utilização da mão-de-obra na propriedade; d) execução do serviço com melhor qualidade; e) possibilidade de utilizar instalações para a parição, pelo escalonamento do número de fêmeas em trabalho de parto. Cledson Augusto Garcia - A estação de monta para o criador que nunca adotou a prática de manejo reprodutivo deve ter a duração de três meses, no segundo ano reduzir para 60 dias, já no terceiro realizar com 45 dias de duração e com possibilidade de redução para 30 dias num futuro, objetivando aumentar a pressão de seleção nas matrizes, ou seja, sempre segurar aquelas com maior eficiência reprodutiva. Tânia Maria Leal - A grande vantagem do planejamento da estação de parição é a possibilidade de realizar uma programação de partos visando épocas (aos períodos) de melhor preço e demanda de carne. Além disso, permite programar os nascimentos para épocas mais propícias à sobrevivência das crias, além de proporcionar um aumento na uniformidade dos cordeiros com lotes mais homogêneo e pronto para abate em uma determinada época. Portanto, caso o produtor decida concentrar a produção de cordeiros, ele deve programar as coberturas para que se tenha tempo suficiente para a gestação, nascimento, aleitamento e engorda dos cordeiros destinados à venda naquele período. É preciso levar em consideração que a concentração de nascimentos vai demandar mais mão-de-obra e uma maior oferta de alimentos para os animais, naquela ocasião. ARCO Jornal - Para que se tenha qualquer uma destas situações, o que o produtor deve fazer em termos de infraestrutura na propriedade? Hélio Carlos Rocha - Para rebanhos grandes há necessidade de locais apropriados ao processo de parição, como por exemplo, piquetes abrigados dos ventos, secos, próximos da sede e protegidos de predadores. Para rebanhos pequenos e médios a infraestrutura poderá ser adaptada através de pocilgas, estábulos ou aviários de corte sem utilização. Algumas adaptações à infraestrutura existente fornecerão ótimas condições para o processo de parição e atendimento ao recém-nascido. Cledson Augusto Garcia - A infraestrutura deve ser o mais simples e funcional, o interessante é ter boa pastagem (com calagem e adubação), além da adoção do pastejo rotacionado, respeitando o período de descanso de cada gramínea e/ou leguminosa da região. Outro ponto importante é a capacitação da mão de obra, pois é ela quem faz o resultado positivo acontecer. Tânia Maria Leal - O maior obstáculo para o sucesso da concentração de parições das ovelhas em determinada época é indisponibi- >>> Boa Alimentação no pré parto é imprescindível jul-ago/11 4 Manejo lidade na quantidade e qualidade do alimento a ser fornecido para a engorda dos cordeiros e escassez de mão-de-obra. ARCO Jornal - Parição a campo ou assistida, ou seja, em locais mais reservados, próximos da casa? Hélio Carlos Rocha - Sempre é aconselhável ter a parição o mais próximo possível da casa ou da sede da propriedade, uma vez que o acompanhamento é facilitado pela proximidade. A vista dos olhos sempre é melhor do que em pensamento. Cledson Augusto Garcia - O piquete maternidade é primordial, pois deve ser localizado próximo a casa do proprietário ou funcionário, facilitando o manejo com as matrizes e cordeiros, pois qualquer descuido nessa fase pode ocasionar grandes perdas, como por exemplo, partos distócicos (difíceis), cordeiro que não conseguiu ingerir o colostro (nesse caso fazer a desobstrução do teto), rejeição por parte da ovelha, além de ataque de predadores, entre outros. Tânia Maria Leal - As parições devem ocorrer sempre que possível, em piquetes maternidade, para facilitar a assistência ao parto e às crias, quando se fizerem necessárias. As ovelhas ainda prenhes devem ser constantemente observadas. Geralmente os partos das ovelhas ocorrem sem a necessidade da interferência do homem, mas em alguns casos o auxílio é necessário. ARCO Jornal - Em regiões onde o inverno tem períodos bem rigorosos, antecipar a parição para o outono é uma boa medida? Foto: Divulgação Cledson: para regiões frias, antecipe a parição para o outono Hélio Carlos Rocha - Em regiões de inverno rigoroso antecipar a parição para o outono é um prática mais do que razoável, assim como propiciar a parição com o período de chuvas em regiões com déficit hídrico. Quanto melhor as condições na parição, melhor será a recuperação da ovelha e melhor será o ganho de peso do(s) cordeiro(s). Cledson Augusto Garcia - A estação de parição deve ocorrer no outono em locais com inverno rigoroso, como é o caso da região sul. Nesse caso a saída é antecipar a estação de monta. Em outras regiões com inverno menos rigoroso podemos realizar a estação de monta em outras épocas, desde que a nutrição seja adequada. Tenho acompanhado um projeto de ovinos no Pará, município de Paragominas (Grupo Pagrisa) e já na região Norte o problema é o excesso de chuvas nos meses de fevereiro a abril, consequentemente aumentando a mortalidade dos cordeiros, ocasionado por problemas respiratórios, além de hipotermia. Isso demonstra que para cada região tem que ter uma boa programação na época de monta e parição, em função das condições climáticas e a disponibilidade da pastagem, para isso o criador deve procurar algum técnico da região, objetivando reduzir a mortalidade dos cordeiros na fase neonatal. Tânia Maria Leal - Os cordeiros são sensíveis a invernos rigorosos. Portanto, nas regiões onde o inverno é rigoroso, a disponibilidade de alimentação nos pastos é escassa e não se dispõe de condições para confinar as ovelhas e suas crias em apriscos, deve-se evitar que a estação de parição coincida com o período mais frio do ano. Uma alternativa seria concentrar as coberturas nos meses de abril e maio para que os nascimentos ocorram na primavera. ARCO Jornal - Quais os fatores que podem influenciar positivamente para uma boa “maternagem”? Hélio Carlos Rocha - Além dos aspectos relacionados à infraestrutura e qualificação da mão-de-obra na propriedade, podem-se enumerar os seguintes fatores: a) genótipo; b) idade da ovelha; c) peso vivo da ovelha; d) alimentação ou nutrição; e) produção de leite; f) peso do(s) cordeiro(s) ao nascer; g) sexo do(s) cordeiro(s) Cledson Augusto Garcia - Primeiramente aquisição de matrizes de boa procedência, isso para quem está iniciando na atividade. Para quem já está na área, fazer uma seleção de matrizes mais produtivas, ou seja, com maior habilidade materna, que são aquelas que não rejeitam cordeiros e que desmamam os cordeiros mais pesados, em função da maior produção de leite. Para identificar quais são as melhores devemos fazer uma boa escrituração zootécnica, que nada mais é que identificar todas as matrizes e cordeiros, além do registro do peso ao nascer, peso ao desmame, entre outras ocorrências que acontecem na época da parição, aliado a uma boa avaliação genética. Tânia Maria Leal - Na ovinocultura essa relação mãe-cria é conhecida como habilidade materna. O comportamento da ovelha antes, durante e após o parto tem grande influência sobre a sobrevivência do cordeiro. A maioria das mortes de cordeiros ocorre no período perinatal devido à fome, falta de cuidados por parte da mãe e exposição às condições ambientais. Deve-se observar especialmente as fêmeas primíparas, caso a mãe não esteja cuidando dequadamente da cria, é preciso manter a ovelha e o cordeiro em uma pequena área para estabelecer a relação mãe/cria. Em países, como a Austrália, a habilidade materna é utilizada como um dos critérios para seleção de ovinos. ARCO Jornal - Cuidados pré e pós-partos? Tosquia? Limpeza do úbere? Hélio Carlos Rocha - Os principais cuidados pré-parto relacionam-se aos aspectos de nutrição, de forma que o cordeiro tenha um bom peso ao nascer, evitando-se a toxemia de gestação, tanto pela falta como pelo excesso de alimentação. O excesso de alimentação também pode conduzir aos partos distócicos em função do tamanho do cordeiro e pelo de- >>> 5 jul-ago/11 Tânia Maria Leal pósito de gordura na pélvis da ovelha. Em relação à limpeza de úbere na parição só se justifica para as regiões onde a lã tem importância econômica, sendo praticamente desnecessária em raça destinada à produção de carne. Já a tosquia pré-parto é um manejo interessante para criações do sul do Brasil conduzidas em campo nativo, com baixa oferta de alimentação. Nestas condições a tosquia pré-parto (7090 dias de gestação) oportuniza as fêmeas a maior ingesta de alimento, e consequentemente, uma melhora no ganho de peso vivo do cordeiro ao nascimento. Cledson Augusto Garcia – Concordo com meu colega Hélio, é importante o cascarreio, que nada mais é que a limpeza da lã ao redor da vulva e ânus, proporcionando uma melhor higiene no momento da parição, além da retirada do excesso das mesmas ao redor do úbere, facilitando a sucção do colostro, pois as vezes nos ovinos lanados, pode acontecer do cordeiro ter dificuldade em localizar o teto. Tânia Maria Leal - Na fase de pré parto as ovelhas devem ser manejas com bastante cuidado, evitando traumatismos, longas caminhadas, passagens rápidas em porteiras, estresses alimentares, como trocas bruscas de alimentos que não são comuns na alimentação das mesmas. É preciso estar vigilante quanto à questão nutricional das ovelhas, especialmente nos últimos 50 dias de gestação; neste período ocorre 70% do desenvolvimento fetal, verificando-se maior exigência nutricional da mãe, especialmente, nas gestações múltiplas. No final da gestação, é importante manter as ovelhas em piquete maternidade em local próximo ao manejador. Essa medida favorece à assistência ao parto. Quando necessário devese realizar uma limpeza do úbere no final da gestação. Uma nutrição adequada é fundamental para o reinício da atividade ovariana pós-parto. As fêmeas devem estar bem nutridas no final da prenhez e no pós-parto (fases de maior demanda nutricional), para que possam reduzir o período de anestro após o parto. A utilização de técnicas apropriadas de manejo, como a amamentação controlada, que visa a diminuição do efeito acumulado da frequência e intensidade da amamentação, e a suplementação alimentar da ovelha no pós-parto, que objetiva suprir as exigências nutricionais que são aumentadas devido à lactação, contribui para antecipar o aparecimento do primeiro cio pós-parto. ARCO Jornal – Em geral qual a “melhor idade” para colocar a fêmea em cobertura? Hélio Carlos Rocha - Existem dois fatores que devem ser considerados neste questionamento, o primeiro diz respeito ao desenvolvimento corporal da fêmea propriamente dita, pois não deveremos prejudicar este desenvolvimento com a justificativa de antecipar o período reprodutivo. O segundo aspecto está relacionado com a raça ou genótipo que estamos trabalhando, e, por conseguinte, o peso vivo deste animal no momento de colocá-lo em reprodução. Há uma relação bastante interessante para este aspecto que aponta a necessidade da fêmea possuir no mínimo 65% do peso de uma fêmea adulta da raça para ser possível colocá-la em reprodução sem comprometer o seu desenvolvimento corporal e reprodutivo. Animais muito jovens quando em reprodução, como por exemplo, aos 8 meses de idade, apresentam diversos problemas (abandono da cria), que muitas vezes inviabilizam esta técnica. Como medida qualitativa em um rebanho poderíamos optar por fêmeas com 1,5 anos e com no mínimo 65% do peso vivo de uma fêmea adulta da raça criada. Cledson Augusto Garcia - Idade nunca inferior a 7 meses, mas o ideal é considerar que as borregas tenham 70% do peso médio adulto do seu rebanho ou raça. Exemplo: Se o peso médio do seu rebanho é 50 kg de peso vivo, iniciar a monta quando as borregas estiverem no mínimo com 35 kg. Tânia Maria Leal - Cobertura realizada antes dos animais atingirem esse peso comprometerá o desenvolvimento da futura matriz. ARCO Jornal - Quais os principais cuidados para com o recém-nascido a fim de diminuir as perdas por morte? Hélio Carlos Rocha - Logo após a parição, Ter maternidade é aconselhável se possível, examinar o recém-nascido para verificar alguma anormalidade e intervir se necessário, pesar o cordeiro, colocar tintura de iodo no umbigo, identificar o animal e facilitar a amamentação. Outros cuidados a serem observados nesta questão é o local de parição para evitar contaminação da ovelha e/ou do cordeiro e a produção de leite pela ovelha. O local de parição deve estar limpo e se possível higienizado. As ovelhas na parição devem ter seus úberes examinados para se certificar de que as mesmas são capazes de produzir leite, e este, seja suficiente para atender as necessidades do cordeiro. Cledson Augusto Garcia – Essa é sempre nossa intenção, reduzir ao máximo a mortalidade, pois cada cordeiro que morre é um prejuízo certeiro. Alguns pontos para a minimiza- >>> jul-ago/11 Manejo ção desse item seria a boa nutrição das ovelhas no terço final de gestação, ou seja, cuidados nos últimos 50 dias, pois nessa fase tem um aumento do crescimento fetal da ordem de 75%. A boa nutrição também contribui com o aumento do número de células alveolares (produtoras do leite materno), inclusive proporcionando um aumento no peso ao nascer. Desta maneira, o mesmo nasce com maior deposição de gordura perirenal, consequentemente aumentando sua chance de sobrevivência, caso ele demore para ingerir o colostro. O ideal que a ingestão do colostro ocorra nas primeiras 8 horas, tempo de maior absorção pelo intestino das imunoglobulinas, que confere maior resistência orgânica para os cordeiros neonatos, até o primeiro mês de vida. Nesse período (30 dias de vida), iniciam as vacinas importantes, de acordo com a região. O ideal é que a mortalidade em cordeiros com até 2 a 3 Hélio Carlos Rocha 6 meses (idade do desmame) não ultrapasse 10%. Tânia Maria Leal - Para reduzir o índice de mortalidade das crias e, consequentemente aumentar o número de crias desmamadas/ ovelha/ano, torna-se necessária a adoção de alguns cuidados desde o nascimento até o desmame. Os cordeiros devem ficar com as mães e separados do restante do rebanho durante as primeiras 72 horas após o nascimento; Caso haja disponibilidade de infra-estrutura, o cordeiro deve permanecer separado da mãe para que seja feito um controle da amamentação, com mamada duas vezes ao dia (pela manhã e final da tarde); é importante que durante o período de aleitamento, seja oferecido uma suplementação alimentar com volumoso de boa qualidade e concentrado para estimular o desenvolvimento do rúmen. ARCO Jornal - O uso de creepfeeding é imperativo ou alternativa para a produção? Hélio Carlos Rocha - Animais que tiveram acesso ao creepfeeding apresentam melhor desenvolvimento quando comparados com aqueles que não tiveram acesso ao alimento. Antes de ser uma questão de ganho de peso, é uma técnica que prepara o cordeiro para superar o desmame com vantagens, ou seja, é um investimento no futuro do animal. Cledson Augusto Garcia - Considero alternativa com bom resultado para ovelhas de parto gemelar ou múltiplos, borregas na primeira parição (devido à menor produção de leite), ou em situações que a pastagem não esteja com boa qualidade, entre outras. Mas Fotos: Divulgação Sempre é bom manter o rebanho por perto na época de parição os trabalhos de pesquisas realizados em todo Brasil, pelas diferentes Instituições de Ensino e órgãos de pesquisas, sempre têm demonstrado resultados positivos, contribuindo com o maior ganho de peso dos cordeiros, menor tempo no confinamento e, consequentemente, reduzindo a idade de abate. Outro ponto positivo é a maior resistência à verminose, em função da boa nutrição nessa fase. Tânia Maria Leal - O uso de “creep feeding” (cocho com alimentos concentrados) é uma alternativa para o produtor, principalmente quando se deseja realizar o desmame mais precocemente objetivando fazer terminação dos animais em confinamento ou a pasto e, também, quando o produtor é especializado em venda de cordeiros a terceiros. ARCO Jornal - Para regiões onde o custo de pastagem ou mesmo por questões de clima não é possível ter este tipo de alimento, qual a tua indicação? Hélio Carlos Rocha - As alternativas à pastagem são o feno, a silagem e o uso de resíduos de produtos agrícolas, desde que se tenha certeza de que não estão contaminados por fungos. Cledson Augusto Garcia - Em local com pouca oferta de forragem o melhor é plantar alguma capineira (Napier ou Cana), suplementação com ração concentrada ou sal mineral proteinado ou em último caso comprar feno de terceiros. Isso sendo imediatista. Mas pensando a médio e longo prazo o ideal seria fazer uma análise de solo, substituindo a pastagem nativa, com realização de calagem e adubação, seguida de um bom planejamento de pastejo rotacionado. Agora pensando numa maneira racional, a melhor opção seria aproveitar o excesso de forragem nas águas e confeccionar seu próprio feno ou silagem. Tânia Maria Leal - Opções de alimentação animal para regiões onde não é possível ter pastagem de boa qualidade: Utilizar vegetação nativa, cujas folhas, vagens e ramos são bastante apreciados pelos ovinos; Na época seca, recomenda-se o uso de sais proteinados ou mistura múltiplas que são suplementos protéico-minerais, produzidos a partir da adição de fontes de nitrogênio solúvel (uréia), visando o ganho de peso e/ou a manutenção de peso dos animais; Fenos de leucena, feijão-guandu, mandioca etc.; Silagem de milho, sorgo, gramíneas com adição de cana-de-açúcar; Restos das culturas agrícolas que também representam uma importante fonte de utrien- Cordeiros devem mamar nas primeiras horas de nascimento >>> 7 jul-ago/11 tes para os ovinos. ARCO Jornal - É válido para a produção pensar num desmame no cedo? Quais as vantagens? O cordeiro pode ter perdas com esta técnica? Hélio Carlos Rocha - Quanto mais leite o cordeiro ingerir, melhor será o seu ganho de peso vivo. Não existe período tão favorável ao ganho de peso vivo do cordeiro como no período de aleitamento. Por esta razão deveremos propiciar que o cordeiro mame o máximo possível, estimulando também, a máxima produção de leite pela ovelha. Desmames precoces, com menos de 45 dias, só se justificam para sistemas de produção de leite, para sistemas de produção de carne deveriam contemplar períodos entre 60 e 100 dias. Cledson Augusto Garcia - O ideal é desmamar os cordeiros com 60 a 90 dias, dependendo da nutrição e produção de leite da ovelha, além da sua condição corporal. Ovelhas de partos duplos quando mal nutridas na fase pré parto e durante a lactação resultam em rápida perda de condição corporal, consequentemente baixando sua resistência orgânica, propiciando uma verminose, nesse caso o desmame precoce, com 45 a 60 dias teria benefício, para contornar o erro de manejo em fases fisiológicas anteriores. Quando isso acontece pode até ter a morte do cordeiro pela péssima nutrição do mesmo. Tânia Maria Leal - Na criação de ovinos para produção de carne e pele, as crias devem ser apartadas das mães entre 84 a 90 dias de idade. Em sistemas mais intensivos essa idade pode ser reduzida. O desmame precoce (aos 45 dias) pode ser usado quando se deseja uma terminação em confinamento desses animais, além de contribuir para a antecipação do cio da ovelha após o parto. ARCO Jornal - Como evitar mastites? Hélio Carlos Rocha - O problema de mastite está relacionado ao meio ambiente, à raça, ao animal (individuo). Portanto, sempre será mais interessante prevenir do que remediar a mastite. Em período de aleitamento observar a higiene dos locais onde as ovelhas permanecem com os cordeiros, os quais devem ser o mais limpo possível. Para fêmeas em perío- dos seco pode-se utilizar medicamentos intramámario, mas antes disto, o produtor deverá consultar um médico veterinário de sua confiança e discutir este assunto. Cledson Augusto Garcia - Não desmamar os cordeiros precocemente, ou seja, quando as ovelhas estão no pico máximo de produção de leite, principalmente para aquelas de maior produção de leite e estão bem nutridas, pois nesse caso é mais difícil sua secagem, ocorrendo um relaxamento do esfíncter (canal do teto), facilitando a entrada de bactérias para o úbere. Na Nova Zelândia a idade de desmame é entre os 90 a 120 dias, sendo que 50% dos cordeiro atingem o peso de abate nessa data. Isso demonstra a boa contribuição do leite para o ganho de peso dos cordeiros. Lembrando que lá eles trabalham com 1 parto/ano, entretanto tem uma taxa de desmama variando de 140 a 180%, resultados obtidos em função da avaliação genética com grande profissionalismo do país, sempre selecionando matrizes com maior habilidade materna, além da boa nutrição das ovelhas e cordeiros, com a realização da adubação dos pastos em todo território nacional. Tânia Maria Leal - Na formação da raça Santa Inês entraram animais da raça Bergamácia, de potencial leiteiro, por isso as ovelhas Santa Inês também apresentam grande potencial leiteiro, o que contribui para aumentar os problemas de mastite. Portanto, ao fazer o desmame precoce deve-se adotar medidas cautelares, uma vez que o leite residual pós-desmame pode acarretar alta incidência de mastites. Medidas de controle e profilaxia Após o desmame precoce ou morte do cordeiro, deve-se restringir água e alimento da ovelha até cessar a produção de leite; Examinar as ovelhas antes da estação de monta, procurando-se eliminar aquelas fêmeas que apresentam lesões no úbere, com isso é possível remover ovelhas menos produtivas e reduzir possíveis fontes de infecção presentes no rebanho; Evitar lesões traumáticas no úbere e/ou tetos das ovelhas, para não predispor à contaminação por algum patógeno presente na boca do cordeiro ou no ambiente; Isolar Fotos: Divulgação Após o parto é bom revisar as ovelhas quanto às doenças perinatais as ovelhas com mastites clínicas, até sua completa recuperação, evitando assim, a contaminação de outros animais; Em rebanhos com história de mastite grave, pode-se recomendar a aplicação de antimastíticos no desmame. ARCO Jornal - Existem doenças pósparto que afetem as fêmeas? Quais? Como tratá-las? Hélio Carlos Rocha - Algumas doenças que afetam as fêmeas no pós-parto são: prolapso retal, de vagina e uterino; e doenças carenciais, como hipocalcemia. O tratamento destes problemas inicia com um manejo corretos dos animais pelo produtor, suplementação com sal mineral e também uma consulta a um médico veterinário, que é o profissional habilitado para diagnosticar e recomendar um tratamento adequado a cada doença. Cledson Augusto Garcia – Além das já citadas pelo Hélio lembro ainda da Brucelose e Toxoplasmose, que podem ocasionar a abortos no terço final de gestação. Ambas são detectadas com exame de sangue e o correto é descartar aquelas que são positivas. Tânia Maria Leal - As doenças mais comuns no pós-parto são: Infecções puerperais que na sua grande maioria são causadas por bactérias e tratadas com antibióticos específicos; Retenção de placenta tratada com antibióticos. • jul-ago/11 8 Reportagem Silagem: as dicas dos especialistas Fotos: Divulgação Na edição anterior do ARCO Jornal procuramos mostrar numa ampla reportagem as vantagens e alguns fundamentos da silagem, levando em consideração a máxima “quem guarda sempre tem”. Rigorosas temperaturas baixas ou extremos de calor permeados de seca fazem com que a pastagem nativa não seja suficiente para alimentar e engordar as milhares de cabeças de ovinos distribuídas pelos campos a fora desse imenso Brasil, de marcantes diversidades climáticas. Levando em consideração a importância e complexidade do assunto, este jornal vai além, e busca mostrar agora quais são os tipos de silagem mais recomendados por especialistas no assunto, e qual se adéqua melhor às regiões produtoras de ovinos e seus rebanhos. Eduardo Fehn Teixeira & equipe J á se sabe da importância de manter reservas forrageiras para garantir o ganho de peso de seus exemplares e a lucratividade no campo. Apesar de existirem técnicas como a fenagem e o pré-secado, a silagem apresenta uma série de vantagens em relação a esses processos, como menor investimento, diversidade de materiais para ensilar, além de valor nutricional diferenciado. Para escolher qual é a melhor opção para cada região e rebanho, é necessário conhecer os tipos de silagens mais usadas. Cana, milho ou sorgo? Fazer silagem evita perda de peso no inverno As silagens de milho, sorgo e cana são boas opções para alimentação de ovinos, mas existem características específicas de cada uma que podem determinar a escolha entre elas. A qualidade nutricional é um exemplo, alerta o engenheiro agrônomo e sócio da Boviplan - empresa que trabalha na intensificação da pecuária brasileira há 28 anos - Rodrigo Panago. O valor nutricional das silagens citadas, diz Panago, decresce na seguinte ordem: silagem de milho, sorgo e cana. No entanto, o profissional explica que esta sequência só é válida quando o processo de produção for feito com a mesma eficiência, ou seja, se uma silagem de milho for feita sem um mínimo de qualidade no processo de ensilagem, acabará por ter uma qualidade nutricional inferior a da silagem de cana. “Caso a necessidade seja a de utilizar uma fonte de volumoso mais rica (alto desempenho animal), a escolha deveria cair primeiro sobre a silagem de milho. Por outro lado, existem outros fatores que ajudam a definir a escolha por um tipo de silagem, a relação custo/benefício é um dos mais importantes. Geralmente, o custo de produção cresce na seguinte ordem: cana, sorgo e milho”, avalia. Outro item apontado pelo profissional é a avaliação criteriosa da necessidade de área para produção. Em geral, para se produzir a mesma quantidade de silagem é necessário uma área três vezes maior para silagem de milho do que para a silagem de cana, devido a produção por área desta última ser muito superior. Assim como o produtor deve ter ciência de que para produzir silagem de milho ele deve plantar todo ano, no caso da silagem de cana ele só planta a cada seis a sete anos. Panago, que também é Presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável, acrescenta ainda que deve ser levado em consideração na escolha da melhor alternativa de silagem a região do Brasil em que está localizado o rebanho. A cultura >>> 9 jul-ago/11 do sorgo, por exemplo, não apresenta altas produtividades em regiões frias, ao contrário do milho. No caso da cana, que também vai melhor em regiões mais quentes, ela não tem bom desempenho em regiões onde a seca é severa, já que a sua colheita ocorre no período seco do ano, ao contrário do milho e do sorgo. “Primeiro é preciso conhecer realmente quais são os pontos importantes na produção da silagem, depois é preciso ter organização suficiente para conseguir realizar as operações com qualidade e, por último, é preciso lembrar que a forma da retirada do material de dentro do silo também interfere na qualidade de armazenamento do restante que ainda não foi utilizado”, avisa. A importância dos inoculantes De acordo com a diretora técnica da Kera Nutrição Animal, Maria Regina Flores, a silagem só se estabiliza quando o PH da forragem, que originalmente está ao redor de 6,5 cai para menos de 4,5. Esse proces- O top benefício de cada opção: Silagem de cana - demanda menor por área de produção e custo de produção menor Silagem de milho - sua alta qualidade nutricional Silagem de sorgo - melhor opção para produção em safrinha e regiões de baixa pluviosidade. Dicas práticas ao produtor: - Produzir partículas pequenas e uniformes (facas da colhedora sempre afiadas) - Realizar o processo da retirada da planta e a vedação do silo em menor tempo possível, caprichar e muito na compactação da massa. - Na hora de retirar a silagem do silo não use conchas para evitar o revolvimento do material que já está estocado. - Nenhuma das dicas anteriores será válida se o produtor não se atentar à janela de corte ideal para a cultura que ele pretende ensilar, pois ao errar o momento ideal da colheita o produtor fatalmente já levará um produto abaixo da qualidade potencial para ser estocado. Experiência garante bons resultados Foto: Divulgação Fernando Gottardi: fã da silagem Proprietário da Cabanha Araçá, em Valparaíso (SP), o criador das raças Suffolk e Texel, Fernando Gottardi, 49 anos, é fã da silagem, seja ela do que for feita. Gottardi lança mão da técnica há pelo menos 20 anos, para garantir e otimizar o nível de nutrição de seus animais durante todo o ano. Na região em que está localizada sua propriedade, a pastagem fica escassa de junho a setembro, época em que as chuvas não são frequentes. “É o período de parição e os animais precisam de comida. A silagem é uma técnica eficiente e, se comparada a outros tipos de alimento, é mais em conta também”, avalia. Os tipos mais usados pelo produtor são as silagens de milho, sorgo, forrageiros e cana, mas ele confessa predileção pelas silagens feitas com o milho e o sorgo. Para que o resultado seja positivo, Gottardi alerta que é necessário desenvolver o alimento com apoio técnico. “É muito fácil de errar no ponto da silagem e a alimentação não ser nutritiva o suficiente. O trabalho deve ser feito com auxílio técnico para se tornar satisfatório. Planejamento é tudo. Se o produtor sabe bem qual é a época que não vai ter pastagem natural, tem que se preparar antes para isso”, lembra Gottardi. so só é possível graças a produção de ácido láctico pelas bactérias lácticas. Enquanto isso não acontecer estarão se desenvolvendo coliformes e clostrídios, com perda de energia, proteínas e produção de toxinas, especialmente a histamina e cadaverina, explica Maria Regina. “Não se pode eliminar esse desenvolvimento dessas bactérias, mas pode se fazer com que a diminuição de PH seja feito em período mais curto possível . Por isso, quanto mais bactérias láticas por gramas de silagem, maior vai ser o valor nutritivo da silagem final. Sem o inoculante, o processo demoraria de 30 a 40 dias. Com um inoculante de qualidade, o tempo de espera cai para 48 horas. Isso faz toda a diferença, nada substitui uma silagem de qualidade”, explica a especialista. (Veja as fases da ensilagem em quadro abaixo) Silagem: custo x benefício O custo de produção para silagem varia muito, diz Panago, porque há diferenças na escala, tipo de cultura a ser ensilada, fertilidade do solo e por aí vai. Mas, ressalta, em geral uma silagem tem entre R$ 35 a R$ 90 por tonelada de matéria original (matéria úmida). Em sistemas onde parte do rebanho precisa estar estabuldado, mesmo que por pouco tempo, explica o agrônomo, a suplementação volumosa através de silagem, capineira ou feno é fundamental, seja qual for o teor de concentrados na dieta. Em regiões onde os períodos secos são muito variáveis, ocasionando redução na produção de pastagens, ou em sistema de produção em que a lotação da fazenda também for variável no período seco é possível deixar de utilizar a silagem produzida, para então utilizá-la futuramente, pois uma silagem bem feita e bem armazenada dura por muitos anos, esclarece o agrônomo. “O uso da capineira como fonte de volumoso é mais barato do que a produção de silagem, mas na maioria dos casos seu uso é impeditivo por questões operacionais (corte diário), porém em todos os casos não há como oferecer volumoso a partir de capineiras com a mesma qualidade ao longo do período de suplementação, pois o amadurecimento das plantas é natural, significando queda na qualidade nutricional do alimento”, afirma. Panago acredita que não há uma grande desvantagem ao se produzir ensilagem, mas há uma falta de consciência entre os produtores sobre o potencial e a realidade em relação à qualidade da silagem que ele produziu. “Não é porque a silagem não está totalmente estragada que ela tem a qualidade preservada. Muitos produtores não se dão conta que o custo de produção é o mesmo para uma silagem bem feita e para a silagem produzida de forma amadora, já o desempenho animal nunca é o mesmo, prejuízo que nem sempre ele é capaz de perceber”, diz. >>> jul-ago/11 10 Reportagem Entenda as fases da ensilagem: FASE 1 Na FASE 1 ocorrem dois tipos de atividades: I) Respiração: Ela irá ocorrer até o momento em que não houver mais oxigênio (O2) em contato com a planta, mas até lá a respiração da planta transformará açúcares em água, gás carbônico e calor, com consequente perda de valor nutritivo da forragem. Açúcares + O2 CO2 + H2O + Calor (com perda de energia) II) Modificações estruturais: Essas modificações estruturais são causadas pelas enzimas da planta: Polissacarídeos solúveis Glicose + Frutose Proteínas Ácidos Amínicos OTIMIZAÇÃO DA FASE 1 Não podemos evitar esta fase, mas podemos fazê-la mais breve para diminuir as perdas de nutrientes. Para tanto, compactação é essencial. Para uma boa compactação é importante picarmos bem a forragem, no caso de silagens de planta inteira (0,5 – 2cm), e termos uma boa umidade (no caso do milho planta inteira, 35%). FASE 2 Esta fase inicia com o desaparecimento do oxigênio do silo e nela temos vários tipos de microrganismos ativos, como os clostrídios, coliformes e bactérias lácticas: heterofermentativas e homofermentativas. Como atuam estas bactérias? Clostrídios: seu habitat natural é a terra, e estão presentes na planta. Eles ocasionam perdas de energia e proteínas, e também produzem substâncias tóxicas e de gosto e cheiro ruins, como a amônia, o ácido acético e o ácido butírico. Os Clostrídios podem ser de dois tipos: Clostrídios Sacarolíticos (fermentação butírica): se olharmos a reação química que esse microrganismo ocasiona veremos que eles prejudicam a redução do pH da silagem pois ele transforma 2 moléculas de ácido láctico, que é um ácido forte, em 1 molécula de ácido butírico. O ácido butírico é um dos principais responsáveis pelo mau cheiro da silagem. 2 Ácido Láctico 1 Ácido Butírico + 2 CO2 + 2 H2O (com perda de energia) Clostrídios Proteolíticos (fermentações amoniacais): essa espécie de clostrídio é a principal responsável pela produção de substâncias tóxicas e de gosto ruim. Eles consomem proteínas e produzem: ácido acético, NH3, CO2, ácido isobutí rico, histamina, cadaverina, triptamina, e outras aminas tóxicas. Coliformes Fecais: Seu habitat é o intestino, principalmente das fezes, e são levados para o silo pela terra. Açúcares Ácido Acético + CO2 (com perda de energia) Ácido Amínicos NH3* + Ácido Graxos Voláteis (com perda de proteínas) * O cheiro de amoníaco indica perda de proteínas. Bactérias Lácticas: Esses são os microrganismos que produzem o áci do láctico que nos interessa. A flora láctica é dividida em homofermentativa e heterofermentativa. Suas diferentes atuações são apresentadas a seguir: • Bactérias Lácticas Heterofermentativas 1 Glicose 1 Ácido Láctico + 1 Ál- cool + CO2 + Ácido Fórmico 3 Frutose Ácido Láctico + 1 Ácido Acético + 2 Manitol + CO2(causam perda de energia) • Bactérias Lácticas Homofermentativas 1 Glicose ou 1 Frutose 2 Ácido Láctico Analisando a ação de cada uma, concluímos que o que nos interessa Não podemos evitar esta fase, mas podemos ter uma redução rápida do pH de 6,0 para 4,5 ou menor; e para que isso aconteça, necessitamos inocular com bactérias lácticas homofermentativas em ALTA CONCENTRAÇÃO. FASE 3 Essa fase inicia-se quando atingimos o pH de estabilidade, ou seja, pH < 4,5; nesta fase somente Fotos: Divulgação temos atividade das bactéria lácticas, das quais devemos favorecer as homofermentativas, já que estas produzem exclusivamente ácido lác tico, conforme explicado na Fase 2. OTIMIZAÇÃO DA FASE 3 Para otimizar esta fase tudo o que podemos fazer é utilizar um inoculante que possua é a prealta condomicentração nância bacteriana da flora e composto láctica de bactéhomoria lácticas fermenhomofer tativa, pois essa produz exclusivamen- mentativas de alta eficiência, como foi te ácido láctico, enquanto que a hete- explicado na otimização da Fase 2. rofermentativa produz 50% de ácido FASE 4 láctico e 50% de outras substâncias, Essa fase inicia-se com a abertura ou seja, as bactérias homofermentati- do silo para a alimentação. Ela é ca vas reduzem mais rapidamente o pH racterizada pela parte frontal do silo consumindo menos açúcar e portanto, em contato com o ar, o que torna pospreservando mais o valor nutritivo da sível a multiplicação de fungos, levesilagem. duras e mofos. Essa fase terminará quando o pH Esses organismos estão presentes chegar abaixo de 4,5. A partir daí, os no ar, mas a principal contaminação coliformes fecais e os clostrídios se da silagem é da forragem; a única rainativam, e as únicas bactérias a se zão pela qual eles ainda não haviam desenvolverem serão as lácticas. se desenvolvido é por que não havia OTIMIZAÇÃO DA FASE 2 oxigênio no meio. OTIMIZAÇÃO DA FASE 4 Existem quatro procedimentos para otimizar esta fase: I. COMPACTAR MUITO BEM: A compactação é uma das operações mais importantes para se obter uma silagem de boa qualidade, pois é compactando bem que expulsamos o máximo de ar de dentro do silo e tornamos o meio anaeróbico, ou seja, sem a presença de oxigênio. Para uma boa compactação devemos observar que a largura do silo seja de pelo menos uma vez e meia a largura do trator utilizado, os pneus do trator sejam o mais finos possíveis e a forragem seja picada em pedaços de até 2cm. No caso de silagens de grão úmido é essencial para uma boa compactação termos uma umidade de aproximadamente 35%. II. FEEDOUT 1: A alimentação do rebanho deverá ser de pelo menos 20cm da frente do silo por dia, pois em média, em um silo bem compactado, é esse o tanto que o ar infiltrará no silo. III. FEEDOUT 2: A retirada de silagem deverá ser feita de maneira mais próxima do ideal que seria se pudéssemos cortar uma fatia perfeita da frente do silo. IV. INOCULAÇÃO ESPECÍFICA: Existem inoculantes específicos no mercado para melhorar a estabilidade aeróbica da silagem, como o KERA-SIL GRÃO ÚMIDO. Esses inoculantes têm em sua formulação, além de bactérias lácticas, bactérias propiônicas que transformam o ácido láctico em ácido propiônico, substância que tem propriedades fungistáticas, ou seja, impede o desenvolvimento de fungos, leveduras e mofos. Esses inoculantes foram formulados para silagens de grão úmido, cana e sempre que a compactação seja dificultada devido aos seus problemas com mofos e leveduras. • FONTE: Kera Nutrição Animal 11 jul-ago/11 Reportagem Ovino & Café: uma parceria produtiva Fotos: Divulgação Quando o pecuarista busca associar a prática da ovinocultura com alguma outra atividade agrícola - em uma mesma área - ele está revelando ser um empreendedor e certamente vai alcançar os seus objetivos apoiando-se em pesquisas ou em experiências já existentes. Integrar a criação de ovinos com plantações de café é uma dessas alternativas, se bem aplicadas, que impulsionam o agronegócio com a redução nos custos de mão de obra, por exemplo, e consequente ganho financeiro. É Nicolau Balaszow preciso entender que a integração é uma forma de unir duas atividades em uma área comum e, neste sentido, devem trazer resultados satisfatórios para o sistema como um todo. Para o médico veterinário e consultor, Juarez Simões, o método pode até não beneficiar uma das atividades, mas ainda assim poderá ser considerada como vantajosa. “A integração utilizando ovinos acontece em vários lugares do mundo já há muito tempo”, informa Simões que entende ser bastante produtiva esta prática que, além de permitir um melhor manejo dos pastos, também é utilizada visando o controle de verminoses. Ele justifica esta afirmativa dizendo que a grande maioria dos vermes é parasita específico de determinada espécie animal, sendo destruídos ao serem ingeridos pela outra espécie integrada. No contexto da associação entre ovinos & café as vantagens se apresentam nos seguintes itens: Otimização do uso das áreas; Existência de um segundo produto para a comercialização; Diluição e redução de custos; Retorno do esterco para a lavoura. Otimização das áreas Este primeiro item consiste no uso dos locais que ficam ociosos como as entrelinhas e carreadores, onde acontece o crescimento de pastagem que será consumida pelos animais. “Em algumas situações, diz Simões, é interessante formarmos o pasto no meio da lavoura, pensando não apenas nos animais, mas também no manejo da mesma.” Porém, na grande maioria dos casos, os animais se alimentam do pasto nativo, não sendo formadas pastagens especiais. O produtor rural, Heron de Carvalho faz este tipo de manejo, pois, na sua propriedade, em Campos Altos, MG, diz que o que an- tes era uma área para ser roçada, “agora virou carne, pois com este pasto em meio ao cafezal, alimento os meus animais que ganham peso e os borregos ficam prontos rapidamente para a venda”. Comercialização Um segundo produto a ser vendido passa a ser uma forma de apoio, especialmente em períodos de baixa de preço de uma das atividades, socorrendo o caixa da propriedade. Além disso, explica o veterinário, quando se calcula o ganho por unidade de área, este ganho tende a ser maior nas áreas integradas do que nas que se realiza apenas uma das atividades. Heron está há quatro anos nesta atividade e explica ser necessário um período maior com esta prática para ter uma conclusão mais definitiva sobre a prática, mas de imediato reconhece que “as vantagens se apresentam, principalmente, no agregar mais renda para a minha propriedade”. Diluição de custos Há redução e diluição de custos, o que se deve ao fato de que alguns custos passam a ser rateados entre as duas atividades. Valores como manutenção e depreciação de alguns implementos, custos da sede quando estes existem, além dos salários de funcionários que passam a ser divididos. “Para isso, devemos sempre nos lembrar que o rateio deve ser proporcional ao uso do implemento ou do funcionário em cada atividade. Por exemplo: se o controle do horímetro do trator já é importante quando se tem apenas uma atividade, essa importância é ainda maior quando esse trator é usado em mais de um procedimento, caso contrário, os lançamentos financeiros serão feitos de forma prejudicial a uma delas”, orienta. Mas os benefícios neste item não param por aí, a redução de custos também aparece em de- integração com ovinos traz outra renda ao produtor corrência da menor necessidade de combate às pragas. Isto é, normalmente observa-se uma redução no custo da roçagem, química ou mecânica, já que boa parte do que seria retirado passa a ser consumido pelos ovinos. “Uma observação interessante que temos feito em algumas propriedades é que, talvez, com o passar dos anos de integração, a capacidade de suporte animal da área trabalhada diminua. E isto pode ocorrer devido ao pastejo seletivo dos animais já que existem pragas que não são consumidas”, descreve o médico complementando que com o passar dos anos estas pragas podem se tornar dominantes, reduzindo o consumo pelos animais. Neste sentido, ele sugere formar algum tipo de pastagem no espaço livre da lavoura. Quanto à questão da lotação de animais, Simões entende que de 7 a 12 animais por hectare pode ser o mais adequado, pois as variáveis que interferem no número de animais dependem da qualidade do solo, do manejo adotado e a forma do plantio do cafezal, com maior ou menor adensamento. Não menos importante é que dificilmente consegue-se trabalhar o rebanho única e exclusivamente na área da lavoura. Sempre haverá a necessidade de outras áreas de escape ou áreas para a produção de alimentos, já em que determinadas épocas do ano será necessário retirar os animais da lavoura como nos períodos de florada, colheita e utilização de determinados defensivos. Heron explica que, durante o período de chuvas, a situação fica ainda melhor. “Nesta época o pasto é abundante e faço um menor uso de silagem, mas, na seca, é preciso dar um reforço alimentar porque o pasto está reduzido e, sem esse suplemento, os animais acabam comendo as folhas dos cafezais”, informa. Retorno do esterco para a lavoura Este procedimento acontece em propriedades onde os animais são recolhidos à noite ou nas propriedades onde haja etapas de confinamento. Nestes casos, é muito comum utilizar a casca de café na cama dos currais. Na medida em que os animais vão urinando e defecando na cama, esta vai se transformando em um composto com grandes benefícios para o solo do cafezal. “O mais importante é que seja feito um bom planejamento antes de iniciar a atividade. A definição de metas e objetivos com a integração serão os primeiros passos. Após é importante a opinião de um técnico que tenha a experiência com o sistema, pois somente esta pessoa será capaz de dizer se o planejamento traçado terá condições de ser alcançado”, destaca o veterinário. • jul-ago/11 12 Especial E Sergipe: o menor quer ser o melhor stado com o menor rebanho ovino do Nordeste brasileiro, Sergipe pretende se tornar rapidamente uma referência genética nas raças Santa Inês e Dorper. A tese é simples: Quem não é nem de longe o maior, só poder querer ser o melhor... Com cerca de 250 mil animais entre ovinos e caprinos, Sergipe concentra sua criação basicamente em 13 municípios do Alto Sertão, Agreste e Centro-Sul, formando o Arranjo Produtivo Local (APL) da ovinocaprinocultura. O presidente da Associação Sergipana dos Criadores de Caprinos e Ovinos (Ascco), Arnaldo Dantas Barreto Neto, destaca a importância do rebanho Santa Inês sergipano, que tem atraído compradores de todo o país, em especial do Sudeste e Centro-Oeste brasileiros. Um dos berços da raça – surgida de seleção natural no Nordeste - é justamente o estado do Sergipe. “Não queremos nos tornar produtores de carne, nem ampliar o rebanho de forma descontrolada. O nosso foco é desenvolver e Felisbelo Almeida Neto exportar genética”, Do Paquetá, exemplar típico do Santa Inês do Sergipe resume Arnaldo Dantas. Segundo ele, os resultados dos leilões de elite de Santa Inês demonstram que a fama da genética sergipana já cruzou fronteiras estaduais e até internacionais. De olho nisso, a associação implantou um programa chamado de DNA Sergipe, que envolve a avaliação genética de reprodutores com o uso de DEPs (Índices das Diferenças Esperadas na Progênie) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Este programa está sendo desenvolvido pela USP em 12 Estados, com 10 mil nascimentos já registrados em nível nacional. A Ascco também está desenvolvendo a Informe Publicitário Sanduíche de Cordeiro Tibagiano Pão baguete, carne de cordeiro desfiada, queijo prato, requeijão, alface e tomate. A receita é simples, mas o sabor especial do cordeiro surpreende os degustadores. O Sanduíche de Cordeiro Tibagiano é apresentado pelo Hotel Itagy no cardápio do seu restaurante, que participou do festival gastronômico Brasil Sabor, promovido pela ABRASEL em 2011 . A empresária Simone Arnt comenta que é o quarto ano em que o Itagy participa do Festival gastronômico. “Primeiro apresentamos o Cordeiro Guartelá, depois o Pene Tibagi e ano passado o Cordeiro Fortaleza”, diz, realçando que todos levam carne de cordeiro como ingrediente principal. “A expectativa é novamente lançar anualmente um prato de sucesso. Toda vez que apresentamos um prato no Festival, ele se torna o mais pedido aqui”, relata. “Hoje a carne de cordeiro é nossa principal venda. Sai mais que picanha e mignon porque é nossa especialidade. Principalmente os turistas pedem, querem conhecer a comida típica”, conta. O sanduíche é uma criação coletiva, segundo Simone. “Todo ano fazemos uma reunião com as cozinheiras e decidimos o que serviremos. Fazemos vários testes até chegarmos a um prato”. Desta vez, a opção foi por popularizar a carne que tem sabor diferenciado. “Quebrar esse mito de que o cordeiro só é servido em pratos refinados. É uma carne que está em alta na gastronomia e vai bem num sanduíche também”, garante a empresária. A história do cardápio do Hotel Itagy com a carne de cordeiro está vinculada desde o início, já que um dos empreendimentos da família é a criação de cordeiros. “É um animal jovem por isso a carne é mais macia, com teor moderado de gordura, bastante nutritiva e com sabor marcante, diferente das outras. É acompanhada muito bem com um bom vinho”, descreve Simone. A participação consecutiva do hotel em festivais gastronômicos é também fator de desenvolvimento turístico para Tibagi, na opinião da secretária municipal de Meio Ambiente e Turismo, Cecília Nanuzi Pavesi. “A apresentação de um prato tibagiano representa bastante porque o nome da cidade aparece em toda a divulgação do evento. Mostra também que temos aqui uma culinária especial para agradar turistas”, afirma. avaliação morfológica para tipo – Rampes, bem como biotecnologias e assessoramento técnico contínuo, envolvendo mais de 100 criadores e prestadores de serviços do segmento, sempre de olho na qualificação do seu rebanho. Segundo o técnico da ARCO, Felisbelo José de Almeida Neto, o rebanho sergipano é estimado em 250 mil cabeças, pertencentes a 13.153 criadores, de acordo com a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário do Sergipe (Emdagro). Deste rebanho, voltado basicamente para a produção de genética e carne como produto final, predomina o Santa Inês, com 80%, o Dorper e White Dorper (15%) e demais mestiços. O técnico que acompanha o rebanho explica que a criação é realizada a pasto, sobre capim pangola e estrela africana na região centro-sul; já no alto sertão a pastagem é buffel e pangolão. “Os criadores de elite criam os animais semiconfinados, alimentando com rações peletizadas e leguminosas produzidas na própria fazenda como, por exemplo, leucena gliricidas. “Quase 80% dos criadores de elite usam creepfreeding”, destaca Felisbelo. Os rebanhos, em sua maioria, são pequenos, não ultrapassando as 250 cabeças por criador. Na maioria dos casos, a ovinocultura é uma atividade complementar da bovinocultura de corte. No segmento, o projeto mais audacioso é o Cordeiro Serigy, que envolve associados da Ascco, numa aliança com frigoríficos, Federação e Secretaria da Agricultura, para atingir mercados O Fotos: Divulgação Arnaldo Dantas exigentes – chamado de Premium pelo presidente Arnaldo Dantas. Para 2012, a previsão inicial de abates é de 5 mil animais, com projeções para 15 mil cabeças em 2015. No campo das exposições, a 2ª Expovec, que se realiza de 4 a 11 de setembro no município de Lagarto, terá a presença de 1.200 animais pertencentes a 70 expositores. Na programação, o leilão “DNASergipe”, marca com que a Ascco pretende vestir todos os seus associados. A marca, aliás, já pode ser conferida no site – www. ascco.com.br, onde está descrita boa parte do projeto de melhoramento, o cronograma de leilões e o desenvolvimento do marketing. • Pesquisa avança no Estado crescimento da raça Santa Inês contribuiu também para o aumento do número de investimentos genéticos com o intuito de incrementar a capacidade produtiva e outras características do animal. No entanto, para pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju – SE), é preciso cautela para que esses investimentos não representem ameaça à originalidade e à diversidade genética da raça. Os pesquisadores acreditam que com o passar do tempo, esses animais podem perder as características originais. Atentos à vulnerabilidade desta raça, a Embrapa Tabuleiros Costeiros criou o Núcleo de Conservação do Ovino Santa Inês, com o ob- jetivo de manter um rebanho de ovinos que represente a diversidade genética da raça e um banco de material genético (sêmen, DNA, embrião). A Embrapa mantém de 700 animais no Campo Experimental Pedro Arle, em Frei Paulo, SE. Este é considerado o maior rebanho institucional da raça, sendo quase todo registrado na ARCO. Nesta unidade da Embrapa, o pesquisador Amaury de Oliveira desenvolveu o produto Curadermite, que previne e combate a doença da podridão dos cascos de ovinos e caprinos e também de bovinos. Em breve, o Curadermite chega ao mercado, produzido por um laboratório em parceria com a Embrapa. • 13 jul-ago/11 Genética Sistemas de cruzamentos uma ferramenta eficiente para o aumento da produtividade MV MSc. Edson Siqueira Filho A espécie ovina é caracterizada pela diversidade de raças com diferentes aptidões produtivas, para lã, carne, leite e pele; também apresenta raças que podem apresentar habilidade para fornecer mais de um produto com qualidade, são as chamadas raças de dupla aptidão ou mistas. Cada raça é um produto das forças de seleção que ocorreram no ambiente em que ela evoluiu. Na espécie ovina são catalogadas mais de duas mil raças oriundas dos mais distintos pontos do planeta, e cada uma exibe os reflexos adaptativos da região de origem. As raças provenientes dos trópicos evoluíram com a presença elevada de calor, de doenças tropicais, de grandes variações na disponibilidade de nutrientes e do alto desafio dos parasitas internos e externos. A seleção natural sob circunstâncias de baixa disponibilidade nutricional e elevadas taxas de calor favoreceu animais com uma intensidade metabólica baixa e como conseqüência baixa exigência de alimentação de manutenção. Os animais com intensidade metabólica baixa apresentam pequena produção endógena de calor e conseqüentemente menor apetite. Enquanto a baixa produção de calor endógeno é vantajosa em climas quentes, a baixa intensidade metabólica traduz-se em um baixo potencial de crescimento. Nas ovelhas oriundas dessa área não sofrem influencia significativa do fotoperíodo para a estação reprodutiva, pela baixa variação entre luz e escuridão que ocorre nessas áreas durante todo o ano. As raças oriundas de zonas temperadas têm baixa resistência aos estresses tropicais. A menos que esses sejam controlados ou eliminados, a produtividade de raças européias em ambientes hostis, também é baixa. A finalidade das raças produtoras de carne das zonas temperadas principalmente da Europa tem sido, por muitos séculos, produzir carne para o consumo humano. A seleção, desta maneira, produziu raças com elevados potenciais de fertilidade e elevado potencial metabólico. A elevada atividade metabólica permite ao animal ganhar peso rapidamente quando há alimento de alta qualidade em abundância, mas também perdem peso na mesma veloci- dade quando há restrição alimentar. No Brasil o principal produto da ovinocultura é a carne, um dos fatores que colaboraram, para esse estágio, foi o grande aumento de consumo nos últimos anos. Atualmente a carne de cordeiro é utilizada em grandes restaurantes como o prato de destaque e ganhou o status de carne da moda na alta gastronomia. Para manter esse status, abastecer o mercado e atrair mais consumidores é importante que a criação seja mais eficiente e alcance um nível mais alto de produção juntamente com o incremento da qualidade do produto. A utilização de raças especializadas na produção de carne, em geral oriundas de áreas temperadas, nos sistemas de produção podem ser determinantes para o sucesso do criatório, mas, para usufruir do máximo padrão produtivo destas é necessário conciliar as aptidão produtiva, as condições ambientais, além do sistema de produção. O Brasil é um país de dimensões continentais, marcado pela diversidade climática, de relevos, dos tipos de solos e vegetações; entre outras características que marcam nossa miscigenação. Com isso não temos um sistema de produção ou uma raça que seja eficiente do Oiapoque ao Chuí. O sucesso de uma criação de ovinos de corte começa na escolha certa do sistema de produção que se adeqüe as condições determinadas pela região em que se atue. Outra discussão muito comum é sobre qual a melhor raça para produzir carne, mas assim como nos sistemas de produção também não existe a melhor. O que devemos considerar são raças que se adaptem melhor a determinadas condições de clima e vegetação e que juntamente com um sistema de produção adequado permitam a máxima exploração produtiva do rebanho viabilizando economicamente a criação. O Brasil possui, oficialmente, vinte e oito raças ovinas, cada uma delas com suas características de produção, adaptação e aptidão produtivas particulares. Além da produção com raças puras existe também a possibilidade do acasalamento inter-racial, com o objetivo de potencializar as características produtivas e adaptativas especiais de duas raças em um único indivíduo, este tipo de animal também não dispensa um sistema de produção eficiente, buscando aumentar a lucratividade pelo aumento da produtividade com essa prática. Nenhuma raça é perfeita, cada uma apresenta pontos fortes e fracos, e, portanto, não se pode situar nenhuma no topo do ranking para todas as características de produção em todos os ambientes, bem como fazer comparações diretas entre o desempenho de cada uma em condições ambientais diferentes. Há raças com aptidão para corte que apresentam alto potencial genético para as características de produção, incluindo o crescimento e a reprodução, conseqüentemente, elas demonstram alta produtividade em sistemas de produção em ambientes temperados e que oferecem aos animais alta qualidade na alimentação. Entretanto faltam a elas a resistência ao estresse dos trópicos, especialmente endo e ecto parasitas e estresse térmico. Nessas condições, elas apresentam baixa produtividade, ou em circunstancias extremas, podem inclusive morrer. As raças de origem tropical estão bem adaptadas para sobreviver nas condições de pastejo desta zona, mas sua produtividade é baixa quando comparada àquela das raças de clima temperado no seu ambiente original. As raças tropicais têm resistência elevada ao estresse dos trópicos e podem expressar intensamente seu potencial genético, que para as características de produção é baixo quando comparado as raças de Heterose na Progênie (%) 0 Heterose Maternal (%) 0 Em nível de índividuo Em nível de rebanho (com a 100 0 (mãe A) necessidade de produzir fêmeas de reposição A) 50 0 Em nível de índividuo 100 100 (mãe AxB) Em nível de rebanho (com a necessidade de produzir fêmeas de reposição A e B) 75 50 Sistemas de Cruzamentos Raças Puras Cruzamento Terminal de 2 raças (AXB) Cruzamento Terminal de 3 raças (AXB)XC (Parte I) clima temperado. Esta situação pode ser mudada aumentando-se a adaptação tropical das raças temperadas e simultaneamente mantendo seu alto potencial de produção ou aumentando-se o potencial de produção das raças tropicais e simultaneamente mantendo seu alto nível de adaptação tropical. Este melhoramento pode ser obtido pela seleção, dentro de cada tipo de raça, e é muito lento se comparado com o que pode ser conseguido cruzando-se tipos raciais. Ao contrário desse processo relativamente lento, o cruzamento entre raças permite que as características complementares de dois, ou mais grupos raciais sejam combinadas, simples, rápida e eficazmente. O animal produto do cruzamento combina o elevado potencial de produção da raça de clima temperado com a adaptação da raça tropical, por exemplo. Entretanto, podem ocorrer diferenças entre cruzamentos, tanto na quantidade, quanto na qualidade da carcaça e da carne, segundo a raça paterna, materna, sistema de criação e idade e peso de abate. Escolhendo-se as raças apropriadas para o cruzamento, o potencial de produção e a adaptação tropical dos animais cruzados podem ser combinados ao seu ambiente – quanto mais complementares forem as raças, maior é a produtividade. O cruzamento entre raças gera heterose, ou vigor hibrido que dá um ganho adicional que permite que a produtividade dos animais cruzados exceda a produtividade média de ambas as raças base. É muito desejável manter a heterose elevada em rebanhos comerciais. A heterose para qualquer característica é gerada cruzando-se raças que diferem na freqüência dos genes. As diferenças nas freqüências dos genes são maiores para aquelas raças que estão mais separadas em suas raízes genéticas, conseqüentemente heterose se manifesta com maior evidencia para cruzamentos entre raças de origens mais distantes (Veja tabela). Os benefícios dos cruzamentos interraciais não são exclusividade para os rebanhos de corte. Para as criações de explorações leiteiras a mesma teoria pode ser seguida na busca por maiores índices produtivos. De maneira geral em países tradicionais na ovinocultura leiteira a estratégia mais utilizada sempre foi a seleção dentro de uma raça pura. Além das culturas regionais e das necessidades de manutenção de determinadas raças para as denominações de origem dos produtos; essa prática também era mantida pela dificuldade de manejo de duas raças ou diversos “tipos raciais” dentro do mesmo rebanho. A inseminação artificial é uma ferramenta excelente para promover a utilização do cruzamento interraciais nos rebanhos. Em ambas as explorações não há a necessidade de criar e selecionar outra raça, para fornecer os reprodutores, dentro da propriedade, facilitando o manejo e as práticas adotadas. Também minimiza os riscos de perdas de reprodutores, seja por morte ou ineficiência reprodutiva, acarretada por estresse ambiental, nutricional ou sanitário, já que o recomendado é que a raça paterna, seja a raça mais produtiva, que em geral não é adaptada. A prática mais adequada para a aplicação da IA, nestes casos, é manter na propriedade um rebanho materno com base em uma raça adaptada as condições ambientais e ao sistema de manejo. Inseminando essas ovelhas com sêmen de reprodutores, com alto potencial genético para produção, de raças paternas. Assim o resultado desse cruzamento são produtos adaptados e com índices produtivos elevados. Nos próximos artigos discutiremos os diferentes métodos de cruzamentos mais utilizados: 1) Cruzamento entre duas raças ou cruzamento industrial; 2) Cruzamento triplo ou tricross; 3) Cruzamento absorvente e 4) Métodos alternativos cruzamentos. Assim planificando e auxiliando na hora de optar pela metodologia mais adequada para cada objetivo de produção. • jul-ago/11 14 Notícia Empresária Paulista investe no mercado de carne ovina A confiança no potencial do mercado consumidor brasileiro para a carne ovina foi determinante na decisão da empresária Priscilla Quirós em investir na criação da Cabanha Oviedo. Seu projeto é lançar no início de 2012 a marca Premium Lamb. Inspirada na tradição de sua família, de origem espanhola, que há 100 anos cria ovinos em Oviedo, capital das Astúrias, Espanha, a empresária iniciou o projeto há aproximadamente dois anos. Priscilla fez um teste com um pequeno rebanho em uma fazenda, em Morungaba, SP. Um galpão para confinamento de 10 mil cordeiros, fábrica de ração para os animais. Com os R$ 4 milhões investidos até o momento (de um total de R$ 6 milhões previstos), a empresária já ergueu um galpão para confinamento de 10 mil cordeiros e uma fábrica de ração. Em novembro, com o apronte do primeiro lote de cordeiros, a empresa Fotos: Divulgação Priscilla Quirós lançará a marca Premium Lamb, que em 2012 poderá fornecer até oito toneladas por mês. Em 2013, a idéia é abrir três boutiques de carne: na capital paulista, em Campinas e em outro município ainda não definido. Depois de lançado os cortes e as lojas a expectativa de faturamento é de R$ 2,5 milhões. Atualmente, a Cabanha Oviedo tem 1,5 mil matrizes e, ao final de 2012, a meta é chegar até 3,5 mil. “Queremos crescer pelo menos três vezes mais nos próximos anos”, comenta Priscilla. Ela ainda aponta a importância de uma parceria com outros criadores: “neste mercado só sobrevive quem tem estrutura e escala”, condiciona. Priscilla explica que a marca Premium Lamb será o resultado de um tricross, cruzamento entre Santa Inês e White Dorper, fechando com Poll Dorset. “A marca Cabanha Oviedo comercializará diferentes tipos de cortes, como paleta e pernil, e pretende estimular os chefs de cozinha a criarem novos cortes, permitindo o aumento das vendas do produto temperado”, explica. No processo de produção Priscilla explica que já possui animais resultantes do tricross, mas a maioria nascerá na primavera. Segundo sua observação, os animais tricross são homogêneos, robustos e estruturados e são desmamados com 25 kg em até 60 dias, enquanto os meio sangue só atingem este peso aos 80 dias. “O uso do tricross nos dá vantagem em termos comerciais: o ciclo do cordeiro diminui e o custo também, ganhando em rotatividade”, afirma. O rendimento de carcaça no tricross é de 48%. A raça Santa Inês foi escolhida como base dos ventres por ser uma raça que cicla o ano todo, muito prolífera, boa mãe, bem leiteira e com a ocorrência de muitos partos duplos e triplos. Já com a White Dorper o objetivo foi conquistar a máxima padronização do rebanho e de carcaça exigida hoje pelo mercado. “Depois de vários testes de cruzamento o que tivemos melhor resultado com relação a padronização foi com o White Dorper, assegura a criadora. Ela disse ainda que este cruzamento dá um cho- que genético incrível. Os animais saem com características White Dorper: pesados, grande porte e carcaça uniforme. Outro ponto favorável é o equilíbrio de gordura que torna a carne mais suave, fruto da combinação da característica de carne magra do Santa Inês com o White Dorper. A raça Poll Dorset entra como raça terminal para dar maior ganho de peso e maior acabamento de carcaça e, principalmente, maior rendimento da carcaça. Os cordeiros atingem o peso necessário em curto período de tempo uma produção mais rentável com maior rotatividade. “O Poll Dorset é muito resistente e as fêmeas são ótimas mães e tem abundância de leite, essencial para o crescimento dos cordeiros na fase mais sensível que é no primeiro mês de vida. É uma raça que agrega corpo e um sabor incrível à carne”, finaliza Priscilla. • Informe Publicitário SOFTWARE AUMENTA DESEMPENHO DE REBANHO OVINOS Para garantir bons resultados e aumentar a produtividade, o acompanhamento do rebanho é fundamental, seja de bovinos ou ovinos. Com base nesse preceito, novas tecnologias têm surgido unindo a vida no campo à informática para facilitar a vida do produtor rural e gerar informações concretas, garantindo assim, que esse produtor possa fazer as devidas modificações e investimentos em sua produção. Uma dessas ferramentas que já fazem parte do mercado rural é o software Pecuária Brasil Ovinos, voltado exclusivamente para a produção ovina e que promete melhorar o desempenho do rebanho. Segundo Nelson Bernardi Júnior, médico veterinário da Pecuária Brasil Assessoria, ele é um software completo para controle zootécnico e financeiro de ovinos. Ele serve tanto para a cultura de corte comercial como para a ovinocultura voltada para a criação de animais elite, ou seja, ovinos registrados. — É um software muito fácil de usar, completo e abrange muitos relatórios e ferramentas para promover o desempenho do rebanho. Ele serve para que o produtor obtenha informações e consiga incrementar constantemente o desempenho zootécnico do rebanho — afirma o médico veterinário. Ao obter os dados no campo, o criador pode lançá-las no software e extrair as estatísticas. Para Bernardi, ele não conseguiria obter essas estatísticas anotando os dados em um caderno ou uma planilha de Excel, como é feito em muitos casos. — Com as informações que consegue retirar do software, o criador passa a enxergar quem são os animais e qual o rendimento e desempenho zootécnico de cada um deles. Com esta informação em mãos, ele consegue promover o melhoramento genético do plantel — explica. Além do melhoramento genético que o agricultor consegue fazer no rebanho ao enxergar quem são os melhores animais, ele também consegue checar quais os resultados que o manejo e a alimentação utilizados na propriedade trazem para ele. De acordo com o veterinário, o pecuarista consegue analisar se suas práticas de manejo são adequadas e adotar as medidas para conseguir um desempenho cada vez melhor. — Um dos principais cuidados que o criador ou técnico deve ter é com a coleta de dados. Ele deve coletar dados de forma correta no campo, contando com uma pessoa que seja cuidadosa nessa parte. Esse funcionário deve Software é importante ferramenta no gerenciamento do rebanho ser bem treinado e orientado para anotar as informações necessárias e lançá-las no software. Mas isso também não é nenhum “bicho de sete cabeças” — conta. Bernardi diz ainda que é fundamental ter o controle do rebanho para melhorar a produtividade e que, com essas informações retiradas do software, o produtor consegue implantar medidas para melhorar a produtividade. Já em relação ao preço, o veterinário explica que parte de um valor único. — A licença permanente custa R$350, ou seja, o produtor paga esse valor somente uma vez e não precisa renovar, pagar mensalidade ou anuidade. Essa licença dá direito a 12 meses de atualizações e suporte técnico. No entanto, se o produtor quiser fazer mais atualizações depois desse período, ele deve comprar novamente a licença — explica ele. Repórter: Kamila Pitombeira Fonte: Portal Dia de Campo - www.diadeacampo.com.br 15 jul-ago/11 Artigo Integração lavoura pastagem favorece ovinocultura André Sorio (*) N o Centro-Oeste brasileiro, os meses de outubro a abril são os mais favoráveis em termos de produção de pasto, devido ao calor e principalmente às chuvas. Após o período de abundância de alimento, sobrevêm alguns meses de seca, em alguns lugares acompanhados também do frio, e aí o pasto cresce mais lentamente e o criador de ovinos tem dificuldade de alimentar seu rebanho. Como consequência, temos a diminuição do ganho de peso dos borregos e borregas e, na maioria das vezes, até mesmo perda de peso das ovelhas de cria. Este é um dos motivos principais da dificuldade encontrada pelos criadores do CentroOeste para aumentar seus rebanhos de ovinos. Ao mesmo tempo, o fato de as ovelhas não se alimentarem de forma adequada durante parte do ano implica diretamente em diminuição das taxas de prenhez, parição e desmama. No entanto, em algumas regiões de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, esta realidade começa a mudar. Nas áreas de lavoura, é comum que o agricultor plante braquiária no final da cultura de verão, para servir de cobertura verde durante a época de estiagem. Lá pelo mês de novembro, esta braquiária é dessecada, para a execução do plantio direto de grãos. A braquiária costuma ser plantada no final da estação chuvosa, em fevereiro ou março. Ela germina, mas com o sombreamento provocado pela soja ou pelo milho ela não consegue crescer. Logo após a colheita, aproveitando as últimas chuvas da temporada, o pasto apresenta um crescimento vigoroso. Assim, a pastagem pode ser utilizada cerca de 30-40 dias depois, no final de maio ou início de junho. O cuidado que deve ser tomado pelo agricultor é retirar os animais da área de lavoura no início de outubro, para que o pasto possa crescer e formar a massa que o plantio direto necessita para ter sucesso. A espécie preferida pelos agricultores para essa cobertura de inverno é a braquiária ruziziensis, que, para sorte dos criadores de ovelhas é também a braquiária de melhor qualida- Foto: Divulgação pg 14 - pg 15 - plantar pastagem protege a terra e rende lucros. de nutricional. Assim, se conseguem pastagens de bom valor nutricional e que podem manter lotações significativas, de 25-40 ovelhas adultas por hectare, preferencialmente animais solteiros, ovelhas que não estejam com cria ao pé. Eventualmente, também borregas de recria. Ou seja, existe um recurso forrageiro abundante, à disposição das ovelhas durante a época em que as pastagens perenes diminuem sua produção. Os criadores do Centro-Oeste têm aproveitado esta possibilidade de integração de duas formas principais. A mais comum é que o criador de ovelhas acerte com o agricultor um valor para colocar seus animais na área de lavoura/pastagem. Para este ano de 2011, o valor praticado no Centro-Oeste variou de R$ 2 a 4 por ovelha adulta por mês. Mas outro formato de negócio tem ganhado força nos últimos tempos. Vários agricultores têm se tornado, também, criadores de ovelhas. Durante a época de chuvas, as ovelhas são criadas de forma intensiva em pastos situados nas chamadas áreas marginais de lavoura. São partes da propriedade que não se prestam para a produção de grãos, mas são ótimas para pastagem. Durante a seca, os animais são transferidos para as áreas onde foi plantado braquiária, ajudando a preservar os pastos perenes da propriedade. Assim, a integração agricultura com ovinos no Centro-Oeste tem proporcionado benefícios diretos aos criadores de ovelhas, com alimentação disponível na época seca e aos agricultores, com uma renda nada desprezível em aluguel de pasto em áreas que antes não rendiam nenhum centavo. Mas é interessante observar como esta disponibilidade de pastagem durante a seca também serve como atrativo para a entrada de novos investidores na ovinocultura. E sempre é importante lembrar que os agricultores costumam apresentar boa capacidade de gestão e gostam de exploração econômica que possibilite obter grande escala de produção. Com isto podemos antever que em breve deveremos ter carne ovina de boa qualidade e em abundância à disposição do consumidor, mantendo a ovinocultura como a atividade pecuária que mais cresce no Brasil. • (*)engenheiro-agrônomo, M.Sc., consultor em ovinocultura intensiva. [email protected] jul-ago/11 16