Edição 44

Transcrição

Edição 44
CON
TEXTO
CONTEXTANDO
PG 3
JORNAL
Nº 44
Ano 12 - São Cristóvão/ SE, Dezembro de 2014
Nesta edição, a professora Sônia Meire fala sobre a importância da mulher no cenário
político e o que precisa ser
feito para incluir o sexo feminino na politica.
CURTA & COMPARTILHE
O CONTEXTO NA WEB
Fanpage: www.facebook.com/contextoufsimpresso
Edição Digital (Acervo): http://issuu.com/contexto-ufs
Jornal laboratorial produzido por alunos do curso de jornalismo da UFS
CAMPUS NO SERTÃO
PREVÊ INTEGRAÇÃO
Questões Raciais. O que Comemorar?
A vida do negro no Brasil: 2014 retomou o debate sobre as quesA cidade de Glória, situada no tões raciais na sociedade brasileira, revelando que o preconceito
sertão sergipano, sediará o novo e o racismo ainda persistem. Neste cenário, a Semana da ConsCampus da UFS e irá reunir es- ciência Negra destaca-se como momento de reflexão. PG 6/7
tudantes e comunidade a partir
de 2015.
WHATSAPP E SUAS
INFLUÊNCIAS
Para os mais íntimos whats, ou
zapzap. Essa tecnologia contribui para a comunicação, mas o
seu uso excessivo pode causar
vários problemas, muitas vezes
não perceptíveis. PG 23
ILUSTRAÇÃO: FRANCELINO JR
2015 JÁ COMEÇOU
PARA O CONFIANÇA
Com o acesso garantido o clube começa a projetar a temporada 2015
visando o título do Campeonato
Sergipano e a permanência na Série C do “Brasileirão”.
35%
INFLAÇÃO AFETA O
BOLSO DE TODOS
O aumento persistente dos preços
corrói o poder de compra das famílias e pode gerar incertezas na
economia quando é muito acentuEsse é o número de muçulmanos estimado para próximos 20 ado. PG 8
anos, passando dos atuais 1,3 bilhão para 2,2 bilhões até 2034.
Cercada de preconceitos e estigmas é necessário conhecer os fundamentos e as crenças dos seguidores de Mohamed. PG 9/10
FOTO: BRUNO CAVALCANTE
ISLAMISMO: A RELIGIÃO QUE
MAIS CRESCE NO PLANETA
EDITORIAL
Preparar um jornal como o Contexto é para nós alunos do curso de Jornalismo, a oportunidade de vivenciar a prática dentro da academia, as muitas
experiências que nos aguardam no mercado de trabalho. Desse modo, pensamos essa edição diante de um cenário pós eleições 2014, no qual vamos
abordar de forma enfática a atual situação da política no Brasil.
entende por inflação. Já em Mundo, convidamos você leitor a entender
o funcionamento do programa Ciências sem Fronteiras, e a religião
que mais cresceu em 2014, o Islamismo.
Assuntos contundentes que irão fazer com que você, caro leitor, se
sinta bem informado com cada tema aqui abordado. Iremos também
A Edição 44 do Contexto é pluritemática e apresenta um dossiê sobre o tratar da expansão do Campus de Glória, na editoria de Educação, e
cenário político no Brasil, abrangendo os desafios da mulher na política, em um alerta acerca do avanço da obesidade no Brasil e no mundo, no
um país ainda muito machista onde as mulheres são minorias nos lugares espaço destinado à Saúde.
de debate político. Também problematizamos as questões raciais, além de
E para aqueles que não conhecem como é o processo de descarte do
enfatizar o uso das redes sociais dentro de um cenário político nacional e material tecnológico, terão algumas dicas. Sem esquecer das dicas de
regional.
como usar o aplicativo WhatsApp e sua relação com as pessoas. TereNa construção desse jornal, será mostrado no caderno de Economia, como mos o prazer de apresentar o crescimento do audiovisual em Sergipe,
está sendo o ingresso de universitários no mercado de trabalho, e o que se nosso orgulho. E ai? Está esperando o que? Tenha uma ótima leitura.
EXPEDIENTE
CHARGE
Universidade Federal de Sergipe
Campus Prof. José Aloísio de Campos
Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE
Reitor - Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli
Vice- Reitor - Prof. Dr. André Maurício C. Souza
Pró- Reitor de Graduação - Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses
Diretora do CECH - Drª. Iara Maria Campelo Lima
Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
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Fone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: [email protected]
Coordenação Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares
(DRT - 1195/SE)
Planejamento Visual: Saullo d’Anunciação
Colaboração: Ives Deluc
Equipe Contexto - Edição 45
Ana Lúcia
Bruno Cavalcante
Carolina Leite
Cleydson Santos
Demétrius Oliveira
Deyse Tuanne
Ediê Reis
Fernanda Sales
Felipe Goettenauer
Helena Sader
Isadora Santos
OPINIÃO
(DES)ORDEM E
(ANTI)PROGRESSO
“Todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e em direitos”. Essa é uma
citação extraída do Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Mas quando relacionada ao racismo, apresenta uma contradição.
Todos iguais? Em que lugar? Uma sociedade que
se diz moderna e evoluída ainda contém pessoas retrógradas que humilham o seu próximo por
causa de uma simples cor de pele. Essas pessoas
conhecem os Direitos Humanos?
O racismo não é um tema atual, no entanto
continua presente e pouco se foi combatido. A
discriminação cultural, profissional e religiosa;
e o aumento da violência contra negros, nos faz
lembrar alguns acontecimentos importantes que
foram desencadeados durante o ano de 2014.
Como a campanha “eu não sou macaco”, que
mesmo sendo suscitada por estrangeiros, serve
de exemplo para a sociedade brasileira que ainda
convive lado a lado com o racismo. É admirável
que mesmo depois de tantos anos, existem pessoas que não “conhecem” os Direitos Humanos.
São pessoas assim, que vive um retrocesso, onde
fixaram suas raízes no tempo da escravidão e por
lá ficaram. O mais engraçado é que muitas delas
gostam de um sambinha, saboreando uma boa
feijoada ou uma bela moqueca. Aqueles velhos
costumes trazidos dos negros.
Essa sociedade desordenada e preconceituosa
“ajuda” a construir uma cultura antiprogressista
no Brasil. Esse mesmo Brasil que é formado por
uma miscigenação de raças, onde somos todos
brancos, negros, pardos e índios. Então, por que
ainda existe racismo? Leis e fiscalizações existem.
O que falta mesmo é a sociedade se conscientizar
e aprender o significado da palavra “respeito”.
Cabe à educação familiar e escolar fazer o seu
trabalho, pois uma sociedade que “comemora” o
Dia da Consciência Negra e o Dia da Denúncia
contra o racismo, não é uma sociedade consciente.
Acreditar que não existe um racismo latente
na sociedade atual é acreditar que nunca houve
escravidão no Brasil.”
Por Isadora Santos, aluna do curso de
Jornalismo/ UFS.
SUMÁRIO
POLÍTICA
3, 4,
5e6
ECONOMIA
7e
8
MUNDO
9e
10
Juliana Santana
Jussara Gonçalves
Kamille Perez
Leilane Coelho
Lorena Freire
Mary Belfort
Miguel Carlos
Rafael Lima
Rodrigo Alves
Silvânio Júnior
Silvia Rodrigues
EDUCAÇÃO
11 e
12
saúde&meio
ambiente
13, 14,
15, 16 e
ciência&
tecnologia&
CULTURA
ESPORTE
comportamento
18, 19,
20 e
22, 23,
24 e
26,
27 e
cont
exta
ndo
3
COM PROFESSORA SÔNIA MEIRE
Professora Doutora em educação na Universidade Federal de Sergipe e candidata a governadora de Sergipe pelo PSOL nas eleições de 2014.
por KAMILLE PEREZ
[email protected]
CONTEXTO: A senhora acha que os
partidos sergipanos e nacionais dão
espaços realmente para as mulheres?
(Com relação a posições de destaques
dentro do partido)
SÔNIA MEIRE: A entrada da mulher na
política é uma conquista e faz parte da luta
pela reafirmação da mulher nos espaços de
poder. Em geral, em uma sociedade marcada pelo patriarcado, é comum que os partidos
tenham dificuldades para reconhecer o poder da mulher, tanto é, que alguns partidos criaram cotas para mulheres para
incentivar a participação feminina. O PSOL por exemplo, em
seu último congresso aprovou,
por unanimidade, que em todas as instâncias de direção do
partido tem que ter no mínimo
50% de mulheres.
apenas 10% dos eleitos são de mulheres.
No senado, entre os 27 vagas disponíveis as
mulheres conseguiram ocupar apenas 5. Na
assembleia legislativa de Sergipe a bancada feminina eleita foi de 16,7%, houve uma
diminuição em relação à eleição de 2010. A
diminuição nas bancadas estaduais ocorreu
em 16 estados brasileiros.
C: O partido ao qual a senhora se candidatou, normalmente apoia as mulheres aos pleitos eleitorais?!
SM: Sim, a candidata a presidenta da República é um exemplo disto, mas não significa
dizer que não se tenha necessidade de discutir a participação das mulheres na política.
O último congresso do partido
aprovou por unanimidade a
participação de mulheres em
todos os espaços internos do
mesmo. No entanto, muita luta ainda há por
se fazer para que as mulheres ocupem cada
vez mais o espaço público, os espaços de
poder representando um projeto socialista,
um projeto de transformação real.
C: Há diferença na concorrência entre homens e mulheres na política
sergipana e/ou nacional?
SM: Sim, a maior parte dos candidatos
nacionalmente e em Sergipe, inclusive os
eleitos foram homens. Na câmara federal
C: O que a senhora pensa com relação
a participação das mulheres nos movimentos sociais locais e nacionais? E
se existem muitas mulheres envolvidas nesses movimentos?
SM: Sim, As mulheres cada vez mais lideram as mobilizações, as lutas, estão à frente
de movimentos sindicais e sociais e à frente
do seu próprio tempo.
C: Visto em conta que a maioria dos
eleitores sergipanos são do sexo femi-
nino, o que a senhora pensa a respeito das mulheres não votarem massivamente em você?!
SM: O voto em mulheres na conjuntura das
eleições não pode ser visto de forma direta de que mulher poderia votar em mulher.
Historicamente as mulheres foram submetidas ao mundo privado. A participação da
mulher no mundo público da política exige uma
transformação completa
das relações assumidas
pela sociedade do capital. A negação da mulher
na política tem haver
com uma questão econômica cuja base é a exploração. Por isso, lutamos
para que as mulheres
não se candidatem apenas para constar e os
partidos alcançarem a
cota de participação feminina.
Nas eleições em Sergipe
o financiamento privado, o apelo emocional
e o assédio para que as
pessoas não perdessem
o emprego, mesmo que
precarizado, foram alguns fatores que marcaram a decisão de mulheres e homens. Por isso,
não se pode dizer que
mulher não vota em mulher. Vota sim, mas antes
de votar na mulher, vota
no projeto e nós tivemos uma parcela significativa de mulheres e de jovens que apostaram no projeto que estávamos defendendo
e não apenas votou porque era uma figura
feminina que defendia o projeto, embora
consideremos que a candidatura também
tivesse destaque em ser mulher, até porque
os adversários eram todos homens. Neste
caso, o projeto ousado sendo defendido por
uma única candidata mulher conseguia dialogar muito bem com a população.
po
líti
ca
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política
DESAFIOS DA MULHER NA POLÍTICA
Imagem: Creative Commons
Mesmo com todas as dificuldades e preconceitos, a presença feminina no cenário político apresenta avanços.
Apesar disso, o número de mulheres na Assembleia Legislativa ainda é consideravelmente pequeno
Lideranças políticas femininas pelo mundo: da esquerda para a direita, Cristina Kirchner, da Argentina,
Dilma Rousseff, do Brasil e Angela Merkel, da Alemanha
O
número de mulheres no Brasil, segundo
o IBGE, é de aproximadamente seis milhões a mais que o número de homens. Mesmo
com essa grande diferença,não é difícil perceber que os cargos de chefia e os salários mais
altos ainda são, na sua maioria, ocupados pelo
sexo masculino.
A conquista do voto feminino, a Carta Magna de 1988, e várias outras conquistas tem
contribuído para o avanço da participação da
mulher nos cenários públicos, diminuindo a
discriminação e garantindo assim o direito de
igualdade, entretanto a presença feminina ainda é escassa nos cargos de poder.
No cenário político, a primeira mulher na
América do Sul, por exemplo, a ser eleita prefeita, foi a Luíza Alzira Soriano, que venceu as
eleições de 1928 na Cidade de Lajes (RN). Nesse ano, a eleição para presidente foi a primeira
a ter duas mulheres na lista dos três principais
candidatos, e Dilma Rousseff, foi a primeira
presidenta eleita no Brasil, em 2000, sendo reeleita neste ano de 2014.
Em Sergipe a situação é a mesma, embora
Sílvia Fontes, do PDT, tenha sido a Deputada
Estadual mais votada no Estado, seguida de
Maria Mendonça, do PP, das 27 vagas ofertadas para a Assembleia Legislativa, apenas cinco foram preenchidas por mulheres e nenhuma Deputada Federal foi eleita ou reeleita em
2014.
Uma pesquisa realizada no inicio do mês de
outubro pelo DataSenado confirmou o que os
brasileiros acham a respeito da pequena participação da mulher na política, segundo eles, os
fatores vão desde a falta de interesse por política até a falta de apoio dos partidos políticos.
Outro fator dominante é o fato dos partidos serem comandados por homens.
Para a Professora e candidata ao cargo de governadora de Sergipe pelo Psol ( Partido Socialismo e Liberdade), nas eleições de 2014, Sônia
Meire, a entrada da mulher na política é uma
conquista e faz parte da luta pela reafirmação
da mulher nos espaços de poder. Segundo a
professora, isso dificulta o reconhecimento da
mulher no espaço politico e com isso alguns
partidos acabaram criando cotas para incentivar a participação feminina. Mas a inclusão de
cotas não é o suficiente. “A negação da mulher
na política tem haver com uma questão econômica cuja base é a exploração. Por isso, luta-
mos para que as mulheres não se candidatem
apenas para constar e os partidos alcançarem a
cota de participação feminina.
Embora todas as dificuldades enfrentadas
pelo sexo feminino para “ter espaço” na sociedade, o nomes de mulheres que estão sendo reconhecidas pela competência vem crescendo.
Angela Merkel, Chanceler da Alemanha desde
2005 e líder do partido União Democrata-Cristã desde 2000, Cristina Kirchner, Presidenta
da Argentina desde 2007, e, a representante brasileira Dilma Rousseff, que comanda o
Brasil desde 2000, são alguns dos nomes de
mulheres importantes no mundo. Número esse
que tende a crescer cada vez mais
por KAMILLE PEREZ
[email protected]
política
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AS REDES SOCIAIS INVADEM A POLÍTICA
Curtidas e compartilhamentos se difundem em largas proporções e influenciam diretamente no cenário
político brasileiro, criando um novo espaço para discussões
A
s mídias sociais são formas de relacionamento interpessoais que a cada dia vem se
consolidando mais. Facebook, twitter, instagram,
whatsapp e outras tantas mídias se difundem a
cada dia, e fortalecem laços interativos entre seus
usuários, formando amizades virtuais.
Os espaços virtuais já constituem um palco
para a diversidade de relacionamentos. Entretanto, no ano de 2014, a internet inovou, além das
formas de relacionamento, a web abriu uma brecha para o debate político.
Uma enxurrada de conteúdo foi produzida, a
militância virtual ganhou espaço e os discursos
online se perpetuaram, dando visibilidade a candidatos e proposta, gerando assim uma nova dimensão para votação de cargos eletivos.
Todo esse material, vira matéria-prima para os
estudos desenvolvidos por Vitor Braga, pesquisador na área e docente da Universidade Federal de
Sergipe, que desenvolve estudos científicos acerca dessa revolução digital.
“A transformação imediata trazida pelas redes
sociais para o processo político/eleitoral, foi a
forma de se perceber a audiência da campanha.
Nas campanhas anteriores com tv, radio folder,
cartazes, o termômetro do processo era feito através de pesquisas, diretamente com o público, era
uma comunicação mais vertical. Atualmente a
forma de se perceber a audiência é totalmente diferente. Hoje em dia o fato (de campanha) acontece agora e instantaneamente gera compartilhamento e tuites, etc”, disse Vitor Braga, mostrando
os avanços trazidos por essa revolução digital.
Segundo Vitor, a necessidade de estar atento ao universo digital, bem como de gerenciar o
perfil dos candidatos, expõe o surgimento de um
novo personagem dentro dos bastidores das campanhas, os profissionais de mídias sociais, já que
há funções muito específicas que são desenvolvidas por esses profissionais.
Para o pesquisador, a grande marca deixada
pela convergência midiática dentro do cenário
político, foi a modificação da audiência. “Não se
pode imaginar que essa audiência é semelhante
ao modelo que já existia, porque é uma audiência
que trabalha com várias plataformas e consegue
informação de várias formas, tanto através da mídia social, quando das suas redes sociais particulares”, disse ele Braga.
As eleições de 2014 marcaram o desafio dos
profissionais de campanha em trabalhar de forma
sinuosa com a convergência midiática. Alcançando os maiores avanços já vistos pela globalização,
a internet desafiou o marketing de campanha a se
remodelar.
Leandro Gonçalves da Luz, publicitário que
atuou diretamente na campanha política de candidato, sentiu diretamente os impactos desta
nova dinâmica que fora imposta pelos ambientes virtuais. Há cinco anos na área, diz que a comunicação virtual permite alcançar interações
nunca vistas, já que a velocidade de interação é
sempre alta. Entretanto relata que essa rápida difusão tem seus contrapontos, uma vez que há geração de conteúdo instantâneo permite a difusão
de muitos boatos inverídicos.
Para o publicitário, os articuladores de campanha devem estar sempre atentos ao universo vir-
tual para ter controle sobre as informações que
são geradas a cada instante. “Manter um controle
sobre o universo do candidato online é a melhor
maneira de evitar possíveis crises, entretanto
quando formadores de opinião espalham notícias
sobre boas ações do candidato a mensuração positiva é excelente”, disse ele ressaltando a importância dos formadores de opinião.
A formação de opinião nas redes sociais é um
ponto controverso, opiniões emergem a cada instante, sendo
difícil encontrar aquele que fica ileso, ao que é
difundido. É o caso do estudante de design grá-
opiniões formadas somente pelo senso comum),
fato que acarreta em discussões “políticas” pessoais, com a presença de xingamentos, preconceitos
e até mesmo um sentimento de ódio ou separatistas”, disse ela, com pesar.
Em relação aos xingamentos e discursões públicas, estas foram ampliadas pelas mídias sociais. Um compartilhamento, seguido de um
comentário de discórdia era o suficiente para instaurar o caos virtual. Amizades sendo desfeitas,
e o discurso de ódio sendo levado a proporções
elevadas.
Com uma postura pró-ativa virtualmente, Vi-
Ilustração: Fernando Caldas
fico, Vitor Araújo. Com 20 anos, declara-se um
militante virtual com orgulho. Acostumado a
compartilhar informações para o seus seguidores, avalia o espaço virtual, como um ambiente
mais cômodo para emergir a discursão politica.
A estudante de Relações Internacionais, Paula
Alves, analisa a importância das redes sociais no
cenário político brasileiro desde o ano de 2013.
“Podemos ressaltar a importância das redes sociais na política desde o ano passado, durante as
manifestações de junho, já que boa parte da organização dessas manifestações se deu via internet”, disse a estudante.
Para ela, é necessário dirimir os pontos positivos e negativos, que fora proporcionados por essa
convergência midiática.
“A maior participação e interesse da sociedade civil pela própria política (mesmo porque esta
vem se tornando mais acessível), a veiculação de
dados que não são beneficiados pela imprensa
“mainstream” e a rápida mobilização de um número significativo de pessoas”, disse ela elencando a carga positiva do cenário de convergência.
Todavia, Paula aponta pontos negativos que foram observados durante a campanha política. “A
falta de “confiabilidade” de muitas informações
que circulam de maneira bem mais fácil (ou seja,
aqueles a veiculação de boatos que mais desinformam do que informam) e a falta de um debate teórico, com argumentos mais sólidos (gerado por
tor Araújo mostra-se muito tranquilo em relação
a todo esse discurso de ódio que foi gerado nas
redes sociais. “Acredito que tenha sido (o ódio),
fruto de um temperamento hostil daqueles que
acreditam que propostas políticas e ideologias
devem ser difundidas (ou combatidas) através do
medo, e não por meio da contra argumentação”,
concluiu ele.
Alheio a essa agressividade, Vitor vê seus compartilhamentos como uma maneira de difundir
propostas ideológicas de forma discursiva.
Com a missão de lidar e prepara toda uma
campanha política, o publicitário Leandro, espera desafios cada vez maiores para as próximas
eleições.
“Nas próximas campanhas os profissionais devem estar mais atentos ao diálogo, sempre focando em humanizar e quebrar as barreiras a modo
de gerar aproximação entre o candidato e o público geral. Campanhas transparentes e dinâmicas”,
disse ele.
Assim, na geração dos likes e compartilhamentos, o cenário político virtual ganha espaço e visibilidade, incumbindo aos militantes e gestores de
campanha direcionar o agendamento virtual
por LORENA FREIRE
[email protected]
política
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QUESTÕES RACIAIS: O QUE COMEMORAR?
Uma proposta de análise sobre a vida dos negros no Brasil, suas lutas e conquistas, mediante as manifestações referentes a semana da consciência negra
Imagem: Blog da UNEGRO/Rio de Janeiro
“
- Mãe porque eu sou diferente de todo mundo
da minha escola e daqui de casa?
- Como assim Maria*?
- É mãe eu sou diferente, sou preta, meu cabelo é
ruim, de bruxa não gosto de ser assim!
- Mas quem te disse isso minha filha?
- Todo mundo na escola”.
Esse é parte do diálogo entre mãe e filha que balançou toda estrutura familiar, quando aos sete anos
de idade, Maria Luiza (pseudônimo que atribuímos
à criança para preservar sua identidade), questionou
os pais a respeito da cor de sua pele e seus cabelos,
devido aos atos de bullying sofridos na escola. Caçula
de quatro filhos de uma família descendente direta
de escravos, que se orgulha da história de seus antepassados, Maria é a que maior evidencia os traços
afro. Descobriu isso através do preconceito e intolerância de uma sociedade que se diz não racista, mas
que na verdade vive um racismo disfarçado. Ser a
mais negra da família nunca exigiu uma conversa
sobre o assunto, como afirma dona Josefa (também
pseudônimo), mãe da criança. “Sempre soubemos
que ela era diferente, o que chamamos de tinta mais
forte, mas todos somos negros com raízes afro muito bem claras e nos orgulhamos disso, nunca vimos
a necessidade de dizer a ela ‘filha você é mais negra
que seus irmãos’.”, explica.
Entretanto, passada a fase da creche - pelo visto
também a fase da inocência, agora matriculada no 1º
ano do ensino fundamental a pequena afro-brasileira se deparou com uma enorme situação de preconceito das piores formas possíveis e não só dos colegas
de mesma idade, mas também de educadores, que se
omitiam e se negavam a enxergar o problema. Maria
Luiza, deixava agora de ter o próprio nome respeitado na escola para ser chamada de “cuscuz queimado”, “tição preto”, “carvãozinho”, “nega preta” “filhote de urubu”, “cabelo de bombril”, “cabelo de bruxa”,
etc. Não é preciso ter formação em psicologia para
imaginar o que tudo isso provocou na cabeça e na
vida de um ser no início da formação do seu conhecimento de mundo e que esses traumas serão levados
para toda vida.
Toda essa situação jamais imaginada pelos familiares, fez com que soluções fossem buscadas na tentativa de resolver o problema do preconceito, porém
esse problema é de difícil solução em um país onde
impera a “lei do mais forte”, o racismo encoberto e
falta de aceitação do outro. Segundo a família, junto
à escola, nada se conseguiu fazer, no entendimento
da direção e dos professores isso era coisa de criança.
“A escola nem nos deu atenção, por vezes ia lá conversar com diretora, professora, e elas simplesmente
me diziam que era coisa de criança, que eles se entenderiam entre eles mesmos e que eu não me preocupasse”, afirma a mãe de Maria.
Mas, em casa, os transtornos de tudo sofrido na
escola traziam problemas: Maria Luiza não se alimentava direito, não queria sair de casa “para não se
queimar no sol”, porque para ela a cor de sua pele
era “preta” por causa do sol, ir à escola estava fora
de cogitação, queria se isolar do mundo “até ficar
branca”. Em sua imaginação infantil, um dia seria
“normal” como aqueles que a maltratavam, várias situações foram vividas durante todo esse processo de
aceitação. Seu comportamento antes de uma criança
alegre, empolgada com a escola, brincalhona, sorridente fora trocado pelo de uma pequena depressiva, chorava constantemente, buscava diariamente
entender porque não era igual, questionava-se com
Deus, porque Ele a teria feito assim. Com o passar
do tempo, na tentativa de ser aceita no seio escolar,
entregava o próprio lanche para os colegas, pagava
com as poucas moedas que ganhava por minutos de
paz onde ninguém lhe dissesse nenhum dos apelidos, comparava-se aos outros e de nenhuma forma
entendia a cor de sua pele.
Foi necessário um longo acompanhamento psicológico profissional e um processo junto ao Ministério
Público para que a escola tomasse alguma providência. Atualmente aos 10 anos de idade, passados três
de toda essa fase, Maria Luiza entende um pouco melhor a situação, mas algumas coisas ainda não foram
aceitas, mesmo agora se reconhecendo como negra e
defendendo-se dos insultos que sofre. Mudou o cabelo através de processos químicos e diz: “É melhor
evitar o sol intenso para não ficar ainda mais preta”.
A história dessa criança nos faz refletir a necessidade
de em pleno século XXI debater a vida dos negros no
Brasil desde o processo de colonização até os atuais
dias de preconceitos velados.
Há 319 anos na data que hoje se comemora o dia
da consciência negra morria Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, morto em 20 de novembro de
1695, justamente por lutar pelo direito de ser negro,
disseminar a cultura afro e as religiões de matrizes
africanas. No período em que se reafirmam essas lutas através dessa data dita comemorativa surge uma
nova nesse cenário, o dia da denúncia contra o racismo (19/02). Mas, faz-se necessário que a sociedade
de modo geral se questione sobre o que comemorar
nessas datas, além de refletir sobre as conquistas e
lutas do negro no Brasil, e o estilo de vida do povo que
é maioria no país segundo censo do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) como também
da cultura e religião que propagam.
A atualidade de uma temática tão antiga expõe o
paradoxo que vive a sociedade diante do racismo, de
certo modo obriga o poder público a criar ações que
atendam aos anseios do povo afro. Nesse sentido,
entre 2003 e 2008, foram aprovadas as leis 10.639
e 11.645 que estabelecem a obrigatoriedade da inclusão no currículo oficial da rede de ensino o tema:
“História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”. Para
o prof. Dr. Eduardo Quintana responsável por inúmeras pesquisas sobre diversidade étnica e cultural
na Universidade Federal Fluminense (UFF), o fato
das leis existirem não significa que elas defendam os
interesses dos negros. “Existem as leis, mas há ainda um grande e necessário debate para que essas leis
efetivamente se cumpram. Tratar as questões raciais
é entender que não adianta existir a lei sem a devida
política
7
efetivação delas, até porque o grande desafio dessas
leis é colocar as questões raciais como processos civilizatórios”, afirma.
Em 2014, foi criado pelo governo um projeto de lei
que reserva 20% das vagas de concursos públicos da
União para candidatos negros. A lei 12.990/2014 foi
proposta pelo Executivo, em novembro de 2013, teve
uma tramitação extremamente rápida no Congresso Nacional. É importante notar que a lei representa
uma etapa subsequente à adoção de reserva de vagas
para estudantes negros e pardos nas universidades
públicas brasileiras. Essa reserva de vagas nos concursos públicos não apenas se mostra compatível
como cumpre a determinação do artigo 39 do Estatuto da Igualdade Racial, que determina: Art. 39.
“O poder público promoverá ações que assegurem a
igualdade de oportunidade no mercado de trabalho
para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o incentivo
à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas”.
RELIGIÃO
Esse debate sobre as questões raciais vai muito
além da reivindicação do direito de ser respeitado
independentemente da cor da pele e chama atenção
para as reivindicações do direito de disseminar uma
cultura e professar o que para a comunidade afro é
uma religião. Mesmo que a maior parte dos negros
no Brasil se declare cristãos existe uma parte da população, cerca de 0,3% de brasileiros que se dizem
pertencentes as manifestações religiosas de matrizes
africanas, o Candomblé e a Umbanda, ainda assim a
sociedade pensa essas manifestações somente como
uma cultura étnica, ou vulgarmente conhecida como
“macumba”, “coisas do demônio”, etc, não como
uma religião, e esses modelos já estão afirmados no
imaginário da sociedade.
Para o Professor Doutor da Universidade Federal
de Sergipe (UFS), Genésio José dos Santos, foram
mais de três séculos de dominação europeia, de linhagem religiosa católica, e com a disseminação de
outras práticas religiosas ligadas ao cristianismo, a
perseguição aos cultos aos orixás, intensificou-se. “A
demonização tornou-se mais forte a partir das práticas religiosas protestantes que resolveram eleger as
de matriz africana como seus verdadeiros alvos, com
algumas poucas exceções. Mas, o que falta ser exercitado pela sociedade brasileira e pelos cristãos é o respeito a diversidade e ao caráter plural da cultura brasileira. Esta sociedade precisa livrar-se da ignorância
que é reflexo da falta de conhecimento”, afirma.
Já para a lei, segundo o Juiz da 17ª vara do Rio de
Janeiro, Eugênio Rosa de Araújo, são mesmo apenas
manifestações religiosas. Do ponto de vista social
quando o juiz toma uma decisão como essa ele põe
na lei o que para a massa já está posto como prática
diária de não aceitação do outro com seus direitos,
deveres, jeito de ser e ver o mundo, colocando em
dúvida ainda, o que afirma a Constituição de 1988,
quando diz que “O estado é laico”.
Conforme afirma José Thiago da Silva Filho, ou
Thiago Fragata (como é conhecido), historiador, poeta e diretor do Museu Histórico de Sergipe, o problema está em um Estado que se diz laico, mas está
diretamente ligado a uma religião. “Depois de toda
uma experiência colonizadora europeia no Brasil,
que animalizou africanos através de uma escatologia
para justificar a escravidão como um mandamento
divino, uma libertação e uma igualdade foi garantida
na letra da lei, mas a Constituição e o Código Penal
apesar de suas atualizações do último século, não refletiu ou alterou a realidade preconceituosa, racista”.
Segundo o Professor Dr. Genésio Santos, essa laicidade do Estado não se enquadra nas práticas religiosas de matriz africana. “Não existem políticas de
Estado obrigando qualquer tipo de comemoração a
essas práticas. Mas, o Estado Brasileiro, continua,
mesmo com a constituição dizendo que o Estado é
Laico, comemorando as datas do calendário católico,
com a instituição de feriados, inclusive. O fato de ser
instituído o Dia Nacional da Consciência Negra foge
totalmente do propósito, visto que não existe o dia
de comemoração à Iemanjá, a Oxalá ou a Iansã, por
exemplo”, explica.
Se pensarmos no que foi feito historicamente com
as religiões e/ou práticas religiosas que não o catolicismo na América Latina e demais porções do globo
terrestre, esse imaginário de demonização das manifestações religiosas de matrizes africanas, está longe de ser desconstruído e requer muito mais esforço
para que isso aconteça. “Quando um juiz reconhece
que existem sim manifestações religiosas distintas
do cristianismo, não está favorecendo as práticas religiosas de matriz africana, ao contrário, está abrindo os olhos da sociedade para o caráter plural destas
práticas, e por isso mesmo, a diversidade tem que ser
respeitada. Se nos reconhecermos diferentes uns dos
outros, porém iguais diante da lei, muita coisa pode
mudar na convivência em sociedade”, afirma o professor Genésio.
CULTURA
Com o objetivo de atender a necessidade de uma
política cultural de Estado que seja inclusiva e democrática, o Ministério da Cultura, em parceria com
a Fundação Nacional das artes, criou o projeto que
fomenta as produções artísticas de produtores negros. Durante a chamada semana da consciência negra, muitos eventos, inclusive nas escolas públicas e
particulares, buscaram demonstrar uma dita cultura
africana, com danças, histórias e memórias contadas
sobre os escravos e a história da África, que direta ou
indiretamente reforçam estereótipos do imaginário
infantil e reafirmam preconceitos.
Essas manifestações executadas por pedagogos
não refletem a real necessidade de se educar para
o combate ao preconceito, aceitação e expressão da
cultura afro. Thiago Fragata, afirma que o que se tenta, de forma “atabalhoada”, é reafirmar o contributo
do povo africano para construção do Brasil. “É lamentável algumas práticas educativas que no anseio
de afirmar ou reafirmar negritude e essa contribuição cultural do povo negro, acabam por defender o
protagonismo do negro em detrimento do branco ou
índio. Acredito que o foco deve ser a diversidade e a
tolerância; é preciso construir as práticas educativas
e planejamento tendo como orientação a diversidade e a tolerância. Negritude dentro de um quadro
abrangente de diversidade cultural, religiosidade de
matriz africana dentro de um país que preconiza a
tolerância religiosa, um país laico”, justifica.
Dentre esses eventos realizados nas redes de ensino para afirmação da negritude, estão presentes os
concursos de beleza negra que buscam identificar de
forma excludente e por vezes racista, padronizações
de beleza segundo a cultura do capitalismo, ditando
formas para rostos e corpos atenderem critérios aleatórios. Usando o discurso de valorização da negritude, esses concursos expõem meninos e meninas de
diferentes idades que nesses “eventos especiais” são
reconhecidos como bonitos.
Segundo Thiago Fragata, esse é mais um exemplo
do que chama de “atividade afirmativa atabalhoada”. “Assistimos nas escolas a tal da eleição da beleza
negra e seus festejados concursos. Ora, buscar um
padrão de beleza negro será a fórmula para se contrapor ao padrão de beleza branco, sabendo o quanto
este é excludente, ditado por uma minoria de modistas, orientado para satisfazer um nicho do mercado
de produtos de “beleza”? Não, não precisamos celebrar um padrão de beleza negro para incentivar a autoestima entre os jovens. A autoestima é que deveria
ser o foco”, explica.
Já entre os eventos culturais, em São Cristóvão na
semana da consciência negra foi realizada a quinta
edição do “O CÍRCULO DOS OGÃS: africanidade e
resistência em São Cristóvão”. Um evento ecumênico e democrático cujo objetivo é mobilizar as comunidades de terreiros de São Cristóvão e a sociedade
sergipana para um dia de reflexão sobre direitos e
cidadania. “Tenho dito que pensamos este evento
focado na tolerância religiosa e na diversidade cultural brasileira, se ele mantém seu foco nas questões
étnico-raciais é por conta do preconceito inaceitável
que perdura em pleno século XXI, das injustiças e
invisibilidade social que vive, por exemplo, o povo
de terreiros deste país. Não por acaso o tema do V
Círculo dos Ogãs (2014) foi “Mulheres Negras”. Imaginemos que no mercado de trabalho de hoje, uma
mulher negra ganha menos que o homem branco, a
mulher branca e o homem negro”, afirma Thiago que
é também um dos organizadores do evento.
Ainda sobre o dia da consciência negra, o professor
Genésio chama atenção para o fato de que essa data
não foi estabelecida para comemoração. “A Semana
da Consciência Negra não foi criada para comemoração das práticas religiosas de matriz africana nem
de sua cultura e sim para refletir a importância da
participação dos negros de origem africana na constituição da sociedade brasileira. Até porque a sociedade brasileira historicamente negou esta presença
negro-africana em seu seio, colocando os negros em
situação de inferioridade, com propósitos bem definidos, a partir de uma ideologia europeia dominante, perpassando pelo processo, inclusive de formação
escolar”.
A chamada Semana da Consciência Negra não
foi instituída nem pelo Estado e nem pelo Governo
do Brasil e sim pelo Movimento Negro politicamente organizado, com o propósito de fazer com que os
negros brasileiros possam conhecer e reconhecer a
sua verdadeira história, que de forma alguma é àquela inventada pelos descendentes de europeus, tanto
de origem portuguesa como espanhola, nos primeiros momentos da colonização. Já que, as regras da
convivência social brasileira estabeleceram ao longo
dos anos condições que fizeram com que negros não
se orgulhassem de suas origens, não só através dos
estereótipos sobre as religiões de matrizes africanas,
seja pelo modo como se vestem os praticantes destas,
seja pelo modo como usam seus cabelos, ou os dias
da semana que guardam, ou mesmo pela demonização das mesmas, mas também através de ditados
populares e muito usuais como: “A coisa tá preta”,
ou, “aquela/e é a ovelha negra da família”, etc. Essas
regras de certo modo são responsáveis por situações
como a que vivenciou Maria Luiza e sua família, continuarem acontecendo em pleno século XXI.
126 anos nos separam daquele 13 de maio de 1888
(data em que a escravidão foi abolida no Brasil), não
há mais a senzala, o tronco, o feitor, nem o chicote,
mas manteve-se o preconceito, o racismo, a discriminação, a inferiorização do negro em detrimento
ao branco e todas as marcas dos longos anos de domínio europeu. “A história dos africanos e dos seus
descendentes deve estar na pauta do dia das escolas
e das universidades para que a ignorância seja um
dia superada e a convivência entre pessoas de cores
e práticas religiosas distintas seja verdadeiramente
harmônica. Não se pode negar que as conquistas do
movimento negro organizado vêm se estabelecendo
de forma progressiva e de certo modo, mesmo que
aos poucos, a sociedade brasileira vai entendendo
que mesmo de forma velada o racismo está presente
em seu meio e que precisa ser superado”, conclui o
professor Genésio.
por ANA LUCIA
[email protected]
política
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QUEREM A VOLTA DO TERROR?
Defensores da Intervenção Militar pedem o poder e a força no país. Torturados relacionam o pedido às
mais tristes lembranças dos Anos de Chumbo
O
escândalo na Petrobrás e a crise de abastecimento de água ocorrida na cidade de São
Paulo são umas das situações deflagradoras no qual
o Brasil está vivendo. Por outro lado, um forte apelo
tem sido provocado pela extrema direita quando pedem a volta da Intervenção Militar.
Foram através de manifestações ocorridas na cidade de São Paulo, maior concentração de pessoas, em
Junho deste ano e em outras cidades do país que militantes da direita e parcela da sociedade sem filiação
aos partidos, foram às ruas requerer a volta dos militares ao governo. E foi no Facebook, que essa “luta”
ganhou força, frases do tipo: “Intervenção militar já”
e “Sociedade quer que os militares voltem a governar
o Brasil”, foram publicadas e curtidas.
E porque a Intervenção Militar deve ser entendida como instituição de uma Ditadura Militar? Para
entender um pouco do que é militarização, a pesquisadora e mestre em História, formada pela Universidade Federal de Sergipe - UFS, Mislene Vieira dos
Santos, explica: “a militarização pode ser pensada
como um resultado de uma tomada de poder pelos
militares”.
Num momento em que acontecem mobilizações
nas ruas que apelam para uma intervenção militar
na vida política e institucional brasileira é urgente e
necessária uma reflexão sobre as condições que permitiram a implantação da ditadura militar no Brasil.
O golpe de 31 de março de 1964 foi um dia de triste
memória que se transformou em uma ditadura de 21
anos. Mediante a esse fato, vamos voltar ao tempo e
encontrar na história, a lembrança da tomada de poder pelos chamados “Generais de guerra”.
O GOLPE
O golpe militar veio de uma confluência de interesses civis, da elite, do patronato que estava num
momento de efervescência cultural que vinha se delineando nas décadas de 1950 e 1960. “Além do crescimento do populismo, as ameaçadoras reformas de
base, um contexto internacional de bipolarização entre os Estados Unidos, que ajudou a eclodir ditaduras
na América Latina e a União Soviética”, explica Mislene. Naquele contexto, qualquer pessoa que se identificasse com ações voltadas para a população, para o
desenvolvimento mais igualitário, de visão de riqueza, de reformas, já era “taxado” como comunista.
Nesse momento, o então presidente eleito João
Goulart, estava perdendo espaço dos grupos políticos
de direita (conservadores), que se viam ameaçados
pelas suas propostas de reformas de base. As forças
de esquerda ficaram surpresas e desarticuladas, com
dificuldade de organização, onde aos poucos a nova
ordem militar era estabelecida.
RETRATOS DA DITADURA EM SERGIPE
Na noite do dia 31 de março de 1964, havia rumores de que tropas militares estavam se deslocando
para a capital sergipana. “Uma multidão se dirigira
para o Palácio do Governo, para ter respostas do que
se tratava. Logo em seguida, o deputado federal Euvaldo Diniz da União Democrática Nacional (UDN),
foi preso, causando um certo alarde. Em seguida, o
delegado regional do trabalho e líderes sindicalistas
também foram presos”, contextualiza Mislene.
No momento do golpe, o governador de Sergipe
na época, João das Seixas Dória, estava no Rio de Ja-
neiro. Quando retornou, dia 01 de Abril de 1964, no
período da noite, emitiu uma mensagem para a população sergipana se colocando a favor das reformas
de base, da proposta que vinha sendo delineada pelo
presidente João Goulart. Poucas horas após o pronunciamento, o Palácio do Governo foi invadido por
militares, prendendo o então governador de Sergipe.
“Em primeira instância ele é levado para Salvador,
onde fica detido, de lá é levado para a ilha Fernando
de Noronha, onde ficou preso com Miguel Arraes, o
ex-governador de Pernambuco”, explica a pesquisadora.
Seixas Dória passou mais de 100 dias preso, causando mobilizações por ser uma figura representativa, após ser liberto, todos os seus direitos políticos
foram cassados por 10 anos. Diante disso, o vice-governador, Sebastião Celso de Carvalho, assume o Governo em Sergipe.
Um dos primeiros focos de ação foram com os políticos, fazendo uma “Operação limpeza”, destituindo
prefeitos, deputados e vereadores. Os que tivessem
históricos de corrupção eram retirados dos mandatos e àqueles que tinham uma identificação com as
reformas de base do governo de Seixas Dória ou com
o de João Goulart, eram cassados. “A ideia da “Operação limpeza”
era passar para
a
sociedade,
que tudo estava sendo feito
em nome da
segurança nacional”, conta
Mislene. Era
importante fortalecer a segurança interna
para haver um
desenvolvimento econômico.
Além do judiciário que estava debilitado,
a igreja católica
em Sergipe estava dividida,
de um lado o
Arcebispo Dom Luciano Cabral Duarte, da
ala dos conservadores (de apoio), do outro, o
Arcebispo Dom José Vicente Távora, da ala progressista, que achava a ditadura um tremendo retrocesso
político.
O 28º Batalhão de Caçadores não foi só fisicamente e representativamente um símbolo forte das ações
dos militares do Estado de Sergipe, mas foi nesse local que se desencadearam as prisões, torturas físicas e
psicológicas dos detidos. “Houve torturados em Sergipe”, afirma Mislene. Ela relata que os torturados, na
maioria das vezes levavam tapões, socos, gritos, uma
forma de captar informações.
PRESOS E TORTURADOS
Wellington Mangueira, ex-integrante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi um desses sergipanos
torturados. Preso político várias vezes, Mangueira sofreu por defender ideais de liberdade numa época em
que era proibido até pensar ou manifestar opiniões
que fossem divergentes dos militares. Ele relata como
foi o dia que foi preso pela primeira vez: “Não me recordo muito bem da data, se foi dia 03 ou 04 de Abril
de 1964, só sei que foi quando estava eu e meu colega
Mário Jorge, saindo do Atheneu, e de repente parou
um jipe do exército, saiu dele soldados armados e nos
obrigaram a entrar no jipe”.
O professor de comunicação da UFS, Sebastião de Sá
Figueiredo, tinha 13 anos quando eclodiu o período
militar em Sergipe. “O período militar em Sergipe foi
um grande choque”, disse. Segundo o professor, o
golpe não foi só dos militares, mas também dos civis.
“Um golpe de direita, antiprogressista. Só que depois
os militares não deixaram os civis participarem”, confirma.
Sebastião foi preso no dia 13 de dezembro de 1982,
durante o Congresso oficial do PCB, que de forma camuflada estava intitulado de “Reunião de Comunistas”, na sede do Jornal Voz da Unidade, localizado na
Praça Dom José Gaspar, Centro de São Paulo. “Tive
uma arma apontada na minha cabeça”, relata.
Após a prisão em São Paulo, o professor da UFS
respondeu um processo de lei de segurança durante
5 anos, no qual não podia trabalhar. “Quando eu iria
trabalhar, era logo demitido”, enfatiza.
Foto: Miguel Carlos
À esquerda Wellington e à direita
Sebastião
Querer ressurgir um movimento ao qual trouxe
desconforto para o Brasil, é romper toda uma discussão acerca da democracia. “Se a democracia tem
seus defeitos, vamos aprimorá-la”, disse Wellington.
Segundo ele, o período militar é marcado por ser a
maior desgraça que o povo brasileiro sofreu durante
toda a história. “O golpe deixou marcas doloridas e
impossíveis de serem apagadas por sua perversidade, quando prendia e torturava quem não aceitava
as ordens dos militares. O golpe também foi terrível
pela insegurança generalizada e pelo medo que todos
sentíamos. A ditadura brasileira foi criminosa, sobretudo, pela falta de respeito ao livre pensar do ser humano”, conclui
por MIGUEL CARLOS
[email protected]
mu
nd
o
9
política
ISLÃ CRESCE PELO MUNDO
Dos sete bilhões de habitantes no planeta, cerca de 1,3 bilhão são muçulmanos representando 25% da
população mundial
C
erca de um milhão de muçulmanos está
no Brasil, sendo que a maioria dos seguidores do Islã encontram-se na Ásia e no
Oriente Médio. Atualmente, o islamismo é a
religião que mais cresce perdendo apenas para
o cristianismo. Os dados apontam, portanto,
que os admiradores de Alá fazem parte de uma
realidade social, política e religiosa em âmbito
mundial.
Desconhecida pela grande maioria, o Islã
é vítima de preconceito por está associada a
casos de terrorismo. Homens bombas e fanáticos religiosos pregando a morte de infiéis
estão numa minoria disposta a matar e morrer, movida por teorias segundo as quais um
“fiel suicida” garantiria um lugar de honra no
paraíso. Esses são movidos pelo fanatismo e a
interpretação ao pé da letra de textos sagrados. O verdadeiro mulçumano nega a violência
e prega a união de preceitos e a busca da paz
para a humanidade.
Pouca gente sabe, mas na Rua Nestor Sampaio, no bairro Luzia, funciona o Centro Cultural Islâmico de Sergipe. Criado em Janeiro
deste ano o centro tem o objetivo de esclarecer equívocos sobre o Islã e divulgar os verdadeiros ensinamentos da religião para a comunidade sergipana. Mulçumanos de Aracaju,
Areia Branca, Itabaiana, Itabaianinha e Simão
Dias e até mesmo de outros países aproveitam
o espaço para as orações e sermões.
CRESCIMENTO DO ISLAMISMO
Com o crescente número de fiéis e de líderes, o
aumento de mesquitas e centros islâmicos se torna necessário, hoje são 115 espalhados pelo Brasil, em 2005 eram 70. O representante dos mulçumanos em Sergipe, Bruno Gabriel, acredita que
o aumento se dá pela divulgação da religião em
língua portuguesa. “Há mais líderes falando e ensinando o islã em português. Isso ajuda no entendimento e divulgação da religião”, disse Bruno.
A língua tem sido o fator principal para a reversão de brasileiros sem origem muçulmana. No
islã todos nascem muçulmanos, por isso quando
se falam de novos adeptos eles não usam a palavra “conversão”, mas sim “reversão”. Bruno
também explica que os líderes religiosos não tinham o incentivo a se dedicarem ao idioma, pois
o desejo era retornar para o Oriente Médio, mas
o pensamento deles vêm mudando por pensarem
em se estabelecer no Brasil.
Ainda sobre o crescimento do Islamismo, o
sociólogo Rodorval Ramalho afirma que existem
muitas razões para uma pessoa se converter ou
trocar de religião. A mudança ocorre desde a necessidade de apoio para enfrentar o cotidiano e a
busca de sentindo para a vida. “Os processos de
conversão não devem ser vistos como novidade.
No começo do cristianismo, por exemplo, as mulheres se converteram em massa, pois aquela nova
religião lhes tratava como iguais aos homens. No
mundo moderno, com o pluralismo religioso, as
conversões são mais comuns, tendo em vista que
cada indivíduo escolhe a religião que quiser. No
caso do islã, é interessante observar que uma religião tão restritiva ao individualismo moderno
chame tanto a atenção de indivíduos modernos,”
explica Rodorval.
Além da língua, a facilidade para se tornar
um muçulmano também tem colaborado para o
crescimento deles no Brasil. A reversão acontece
quando a pessoa diz por três vezes a frase diante
de um interlocutor: “Não há Deus se não Deus e
o Profeta Muhammad é seu mensageiro”. Depois
dessa etapa de confissão, a pessoa passa a praticar as cinco orações diárias, fazer caridade aos
mais necessitados, participar do jejum durante o
mês do Ramadã e se tiver condições financeiras,
faz a peregrinação à cidade saudita de Meca.
REVERSÃO
“São 17h45. Está na hora da oração da tarde”,
avisa Fagner Santos, convertido há três dias, interrompendo a entrevista. Ele se levanta, pede licença e vai apressado ao banheiro. Lava as mãos,
em seguida a boca, barba e orelha, umedece os
cabelos e entra no salão do Centro Islâmico.
mundo
10
Ajoelhado, ora por cerca de cinco minutos.
Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser casado com um praticante da religião. Também não
é necessário estudar ou se preparar especialmente
para a ocasião. A reversão acontece quando a pessoa diz por três vezes a frase “Não há Deus se não
Deus e o Profeta Muhammad é seu mensageiro”
diante de um interlocutor. Depois dessa etapa de
confissão a pessoa passa a praticar as cinco orações
diárias, fazer caridade aos mais necessitados, participar do jejum durante o mês do Ramadã e se tiver
condições financeiras, faz a peregrinação à cidade
saudita de Meca.
Mas voltando para o Fagner, ele mora no município de Lagarto há 75km da capital. Há oito anos
era evangélico, se converteu ao Islamismo por que
precisava de algo que acalmasse espiritualmente.
“Sempre tive muita fé em um Deus supremo, mas
me faltava alguma coisa. Agora, se Deus quiser,
morrerei muçulmano”, explica Fagner.
Quem se converteu há um ano foi Paulo Andrade. Ele conheceu o Islã por meio de um amigo muçulmano, em uma época em que só queria saber de
diversão. “Gostava de beber, de cair na noite.Tinha
uma irresponsabilidade típica dos jovens”, conta
Paulo. Quando anunciou sua decisão de se converter ao islamismo, a família católica ficou apreensiva.
As piadinhas, como “vai virar terrorista”, duraram
pouco tempo. “Quando perceberam a mudança da
minha postura, das minhas atitudes, viram que a
religião estava me fazendo bem. Na primeira vez
que minha mãe me viu jejuando durante o Ramadã,
ela se emocionou e chorou”, relata Paulo.
A LIGAÇÃO DO MUNDO ISLÂMICO
COM O TERRORISMO
Onde se veem conflitos envolvendo os muçulmanos eles podem ser explicados pelas diferenças
internas, aliadas à miséria e à carência de educação,
que contribuíram para o surgimento de grupos fundamentalistas religiosos. Movidos pelo fanatismo e
interpretação ao pé da letra de textos sagrados. A
maioria dos muçulmanos é contra aos ataques suicidas e considera um pecado extremo, uma ofensa
contra Alá, na medida em que atenta contra o dom
da vida.
A maioria dos muçulmanos são contra aos ataques
suicidas e considera um pecado extremo, uma ofensa contra Alá, na medida em que atenta contra o
dom da vida .
Algumas opiniões de mulçumanos em Sergipe
sobre o assunto:
“No verdadeiro Islã, o terror não existe. No Islã,
matar um ser humano é um ato tão grave como a
infidelidade. Ninguém pode matar um ser humano. Ninguém pode tocar numa pessoa inocente,
inclusive nos tempos de guerra.” – Bruno Gabriel
“O Islã tem respeitado sempre diferentes pontos
de vista e ideias, e isto deve ser entendido para que
possa ser valorizado adequadamente. Lamento
dizer que nos países onde vivem os muçulmanos,
alguns líderes religiosos e muçulmanos imaturos
não têm mais armas à mão do que sua interpretação fundamentalista do Islã. Usam-na para atrair
algumas pessoas para lutas que servem para seus
próprios propósitos.” – Mustafá
“Uma das pessoas mais odiada no mundo é
Osama Bin Laden, por ter manchado o nome do
Islã. Criou uma imagem muito ruim. Inclusive,
ainda que tentássemos todo o possível para reparar o terrível dano ocorrido, levaríamos anos para
repará-lo.” – Fagner Santos
“É nosso erro; é um erro da nação. É um erro
da educação. Um muçulmano de verdade, alguém
que entende o Islã em todos seus aspectos, não
pode ser um terrorista. É duro para uma pessoa ser
muçulmana se está envolvido com terrorismo ao
mesmo tempo. A religião não permite o assassinato de pessoas para cumprir uma meta.” – Edivilson
Ramos
TRAJES
O uso do véu é um dos traços culturais que mais
chamam atenção daqueles que não são muçulmanos, principalmente das mulheres. Em Aracaju,
onde o calor é muito forte, as pessoas não muçulmanas questionam a adoção do traje, que acompanha roupas folgadas que cobrem todo o corpo, mas
quem usa pouco se importa.
As muçulmanas se dizem protegidas ao usar o
acessório. Quanto ao calor, alegam sentir-se melhor
do que parece porque os trajes as protegem do sol.
“A mulher tem de conhecer a religião para saber os motivos pelos quais usa o véu”, diz Kátia Ahmad , 32 anos.
Natural de Estância, ela se casou com um muçulmano e
acabou se envolvendo com o islamismo.
A adoção do véu é uma norma do islamismo registrada
no Alcorão, uma das ordens que Deus enviou aos muçulmanos. “A mulher é chamada a se proteger, a cobrir seu
cabelo e se vestir com roupa adequada, seja durante os
momentos da oração ou no dia a dia”, diz Kátia. Ao contrário da mulher, o homem não precisa se cobrir porque
não chama atenção como a figura feminina. Kátia lembra
da diferença entre o véu e a burca. “O véu é usado pelos
muçulmanos, a burca não. Não é um ato islâmico, é um
costume afegão”, explica
por BRUNO CAVALCANTE
[email protected]
Foto: André Teixeira
Livros e folhetos do Centro Cultural Islâmico de Sergipe
CURIOSIDADES
1 Todos os ensinamentos contidos no Alcorão têm força de lei.
2 Alá é o nome do Deus único do islamismo.
3 Alcorão que dizer o livro, assim como a palavra bíblia.
4 No Alcorão, Alá é identificado por 99 adjetivos. Três deles são
“pacificador”, “misericordioso” e “clemente”.
5 Maria, mãe de Jesus, é a única mulher que o Alcorão chama
pelo nome.
6 Jesus Cristo é citado 25 vezes no alcorão. Ele aparece ora
como filho de Maria ora como o messias Jesus, filho de Maria.
Mas, para o islamismo, Jesus Cristo foi apenas um profeta.
7 Segundo os muçulmanos, os ensinamentos de Jesus Cristo
foram mal interpretados pelos cristãos.
mundo
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CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
Conheça o programa e entenda como ele funciona
O
programa Ciência sem Fronteiras começou a
atuar em 2012, uma inciativa em conjunto dos
Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas
respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –,
e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC.
Trata-se de investimentos para a formação de mão
de obra qualificada e proporciona aos jovens que passam na prova, uma bolsa de estudos no exterior. Ciências Exatas e da Terra; Engenharias e demais áreas
tecnológicas; Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação são algumas das áreas contempladas pelo programa.
O Contexto UFS conversou com o coordenador
do curso de Relações Internacionais, Professor Israel
Roberto Barnabé (foto). O Ciência sem Fronteiras é
acompanhado na UFS pelo setor CORI/PROSGRAP
e já beneficiou cerca de 270 alunos em três anos.
Contexto: Quais os pontos positivos e os negativos do Ciência sem Fronteiras?
Prof. Israel Roberto: Eu vejo mais pontos positivos, eu acho que é um programa que nunca existiu
antes e o Brasil não tem uma história de bolsa sanduiche para graduação. As bolsas para graduações são
mínimas, muito pontuadas e o programa Ciência sem
Fronteiras muda isso, porque o principal público atingido foram os alunos de graduação. É um programa
que se estende também para pós-graduação e os alunos tem possibilidade de fazer doutorado, mestrado
profissional, mas cerca de 80% das bolsas estão destinadas ou foram ocupadas até agora por alunos de
graduação, então o primeiro aspecto positivo é esse,
possibilitar que alunos da graduação façam uma bolsa
sanduíche no exterior. O aluno no exterior aprimora
a língua estrangeira, a partir da convivência com uma
cultura diferente. Ele também conhece metodologias
de ensino em universidades diferentes, outra realidade da educação e volta para o Brasil, eu acho que
mais crítico, com relação à própria educação inclusive
pensando e apontando também os pontos positivos
da universidade brasileira. Costumo dizer que o aluno
de um modo geral volta mais brasileiro, porque não há
um deslumbramento com relação à universidade estrangeira, é claro que do ponto de vista de infraestrutura boa parte dessas universidades estão melhores
construídas do que algumas brasileiras, mas do ponto
de vista de como as aulas são ministradas, qual que é
a metodologia, eles também voltam para o Brasil conhecendo melhor os pontos positivos da universidade
brasileira.
C: A meta do Ciência sem Fronteiras era levar 101
Foto: Arquivo Pessoal
mil estudantes para o exterior. Aqui na UFS quantos
alunos foram contemplados?
IR: O programa começou em 2012 e a proposta foi
lançada em 2011, então como foi um movimento muito rápido as universidades não estavam preparadas
ainda para o trâmite desses alunos, por isso o acompanhamento não foi muito cuidadoso no início para
as universidades federais de um modo geral. Agora a
UFS está fazendo um levantamento mais cuidadoso e
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) vai mandar a lista com todos os
alunos. Mas, aqui na UFS, nós mandamos entre 250
e 270 alunos para o Mundo todo, nós temos alunos
em toda a Europa, Oceania, Ásia, América do Norte,
então nossos alunos estão bem espalhados.
C: Os alunos dos cursos de humanas não são contemplados pelo programa, mas no dia 18 de novembro deste ano o “Idioma sem Fronteiras” foi lançado
pelo MEC vinculado ao Ciência sem Fronteiras, para
alunos e professores, então quais são as metas com relação a esse novo programa?
IR: O programa Idioma sem fronteiras do MEC
tem o objetivo de preparar os alunos para participarem do programa Ciência sem Fronteiras, continua
ainda dentro das áreas prioritárias, então os alunos
que não estão aptos para irem para o programa Ciência sem Fronteiras acabam não participando desse novo programa, mas nós criamos agora na UFS o
“Idioma sem Fronteiras da UFS”, com o objetivo de
oferecer cursos inicialmente de francês, espanhol e
inglês para alunos que não sejam contemplados pelo
Ciência sem Fronteiras e para os professores da UFS
e técnicos administrativos, justamente para fazer com
que esses alunos, professores ou funcionários estejam
preparados e aptos com o idioma, para participarem
de um intercâmbio, seja pelo Ciência sem Fronteiras
ou para outras possibilidades que surjam.
C: Professor Israel Barnabé o senhor acredita que
futuramente os alunos das áreas de humanas serão
contemplados?
IR: Eu não vejo um horizonte muito amplo para
isso, nós recebemos a visita da representante do CNPq
na semana acadêmica e ela mostrou novamente as
áreas prioritárias. Tem todo um motivo para isso, eu
não vejo muito horizonte para ampliação dessas áreas
para as áreas de humanas. Já foi lançado agora o Ciência sem Fronteiras II, que deve ir de 2016 a 2020, e
as áreas contempladas continuam as mesmas, então
eu não vejo muito avanço nesse sentido. Essa segunda
etapa prevê mais de 100 mil bolsas e o MEC vai fazer
um esforço para que os alunos de pós-graduação participem mais.
Uma das modalidades dadas pelo programa é
a graduação sanduíche, essa bolsa tem validade
de 12 a 18 meses e a meta a ser alcançada para
ela até o ano de 2015 é de 64 mil bolsas.
Adriana Guimarães, aluna do curso de Biomedicina da UNIT, foi contemplada por essa modalidade no final do ano passado e no dia 2 de
janeiro deste ano viajou para Hungria para estudar na University of Szeged. “Sempre quis sair
do Brasil, explorar novas culturas, ver as diferenças entre as sociedades e ainda combinar isso a
possibilidade de estudar em uma universidade
diferente, conceituada e que me proporcionasse
ampliar ainda mais o meu conhecimento”, rela-
tou.
Ela conheceu o programa pela televisão e procurou entender como ele funcionava através da internet. “Escolhi a Hungria por ser um país que se localiza na
Europa Central e com baixo custo de vida, pelas universidades serem bem con-
Foto: Maria Belfort
Natália da Silva Rosa, 19 anos é estudante do 4º
período do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe e f alou para o Contexto UFS. O
curso dela não está dentro das áreas contempladas.
“Eu me sinto prejudicada porque cursando Letras eu teria certa necessidade de viajar, pois estudo
português e inglês. Se eu viajasse seria uma grande oportunidade para desenvolver melhor o que
eu aprendi na universidade, mas o meu curso não
é contemplado, não só o meu como também Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Design Gráfico, que do meu ponto de vista seria importante
para os alunos terem
essa
oportunidade.
Os cursos que trazem
mais renda são os beneficiados, enquanto
que os outros não têm
aproveitamento e não
trariam renda para o
país e por isso eles não
investem. O governo
sempre passa a proposta de investir em
educação e nas categorias de base, mas
mesmo assim essa
classe é esquecida e
Foto: Arquivo Pessoal
não tem o Ciência sem
Fronteiras e outros programas
que auxiliem. O Idioma sem Fronteiras é parecido
com o programa que já existia, o Inglês sem Fronteiras, que quando a pessoa faz um curso de exatas
ela consegue viajar, mas se for da área de humanas
ela só faz um curso de inglês. Então só aperfeiçoou
o que já tinha antes, a diferença é que no Idioma
sem Fronteiras a pessoa consegue estudar outras
línguas.
ceituadas e principalmente pela oportunidade de ter contato com outra língua
além do inglês”, explicou.
Com relação ao ensino, Adriana contou que existem muitas diferenças entre o
ensino do Brasil e da Europa, especificamente da Hungria. Primeiramente, existe
uma diferença entre a atuação profissional de cada curso, diferença de legislação mesmo de cada profissional; segundo, existe diferença entre o tempo de
graduação, pós-graduação, por exemplo, o curso de biologia lá dura dois anos,
mas para o profissional poder atuar na área ele não pode ser somente graduado, então obrigatoriamente ele tem que fazer a sua pós-graduação.
“O ensino nas aulas também é diferente, as matérias na Hungria são divididas muito detalhadamente porque eles veem tudo muito mais aprofundado
que no Brasil, por isso a quantidade de matérias por semestre é maior, mas em
compensação cada matéria tem uma carga horária menor do que no Brasil, então consequentemente eles acabam sendo mais bem preparados para atuar no
mercado de trabalho”, completou Adriana
por MARIA BELFORT
[email protected]
eco
no
mia
12
política
INFLAÇÃO AFETA O SEU COTIDIANO
Aracaju possui a cesta básica mais barata do país, fato que possibilita uma melhor qualidade de vida aos
moradores da capital sergipana
A
inflação está presente no dia-a-dia de todos
os brasileiros, seja com maiores ou menores
índices. Porém, muitos não sabem o que ela significa
para a nossa economia e que está diretamente ligada
ao poder de compra da população, podendo afetar
até mesmo sua qualidade de vida.
Inflação não é um simples aumento de preço, é
o processo persistente de aumento de preço, que
corrói o poder de compra das famílias e pode gerar
incertezas na economia quando é muito acentuado.
Entre as consequências que a inflação gera ao desequilibrar a economia está a atualização salarial para
recompor o poder de compra.
Para controlar esse constante aumento de preços,
é preciso que o governo adote medidas eficazes. As
duas medidas mais comuns são o aumento das taxas
de juros e o corte de gastos públicos.
O economista Ricardo Lacerda, assessor econômico do governo do estado de Sergipe e professor
da Universidade Federal de Sergipe, explica que
muitas vezes esses remédios contra a inflação podem ter efeitos colaterais muito danosos, “como o
desemprego, perda de rendimentos para as famílias
e redução de serviços públicos”.
O aumento dos níveis de preços é medido através
de diversos índices, como por exemplo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o Índice de
Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) e o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os índices diferenciam-se pelo tipo de cálculo realizado que variam de acordo com a renda, região,
produto, período, dentre outras especificidades que
tornam a pesquisa mais segura.
Isso ocorre por que a inflação não afeta a todos da
mesma forma. “Nas famílias mais pobres, alimentação e transporte pesam mais. Já nas famílias mais
Foto: André Teixeira
ricas, itens como refeição fora de
casa e educação são os que mais
pesam. Portanto, se os preços
dos alimentos subirem muito, as
famílias mais pobres serão mais
afetadas. Mas, se isso ocorrer
com as mensalidades escolares e
os serviços, serão as famílias mais
ricas as mais impactadas”, afirma
Ricardo.
Nas últimas décadas, o brasileiro enfrentou diversas alterações
nos índices e sentiu as consequências no orçamento. De acordo
com o IPCA, em 1994, o índice inflacionário chegou a 18,57%, hoje
convivemos com 5,05%. Para a
dona de casa, Mônica Duarte, a
redução das taxas, nos últimos 20
anos, gerou equilíbrio e estabilização da moeda, proporcionando aos brasileiros uma maior capacidade
de aquisição de produtos.
A consumidora relata que no ano de 1994, durante o governo de José Sarney, a alta dos preços ocorria
praticamente a todo instante. “Não dava para saber
o preço das coisas, se hoje eu comprasse um produto por um preço, com certeza amanhã já não seria
mais o mesmo”, explica Mônica. Ela considera que a
principal diferença é que hoje temos a possibilidade
de nos planejar economicamente para comprar algo
daqui há alguns meses. “Antes não era assim, tinha
que ser de imediato, pois futuramente aquele produto não teria o mesmo preço”, completa.
SERGIPE
O Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese) foi criado na década de 50 pelo movimento sindical brasileiro para
desenvolver pesquisas e indicadores permanentes.
Entre eles, destacam-se as pesquisas de preços, de
emprego e renda, como também o cálculo da Cesta
Básica Nacional, medido mensalmente em 16 capitais brasileiras.
Aracaju é uma das cidades analisadas e possui
a cesta básica mais barata do país. De acordo com
o Dieese, o valor da cesta na capital sergipana é de
R$ 232,82, com variação mensal de -0,15 %. Porém,
não são feitas medições oficiais do IPCA em Sergipe.
Na região Nordeste, as pesquisas são feitas apenas
nas regiões metropolitanas de Salvador, Recife e
Fortaleza.
Segundo Ricardo Lacerda, há expectativa que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
amplie a pesquisa do IPCA para todas as capitais
brasileiras. “Isso seria muito importante para acompanhar a evolução dos preços em Sergipe. Por enquanto, temos que observar as taxas nacionais e as
das regiões metropolitanas do Nordeste, que refletem realidades mais próximas das nossas. No caso
da região Metropolitana de Salvador, o IPCA subiu
6,44% nos últimos doze meses e na região metropolitana de Recife, 6,72%, enquanto a média nacional
foi 6,59%, nada muito distante uma das outras”,
conclui o economista
por CAROLINA LEITE
[email protected]
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
O índice indica a variação mensal do custo de
vida médio das famílias com renda mensal entre
1 e 40 salários mínimos das 11 principais regiões
metropolitanas do país.
edu
ca
ção
13
política
EVASÃO AFETA AS UNIVERISDADES
Falta de apoio, estrutura e imaturidade na escolha do curso são os principias motivos das desistências do
estudantes.
Foto: arquivo pessoal
O ex estudante Thiago Cordeiro não se
desitido
A
evasão escolar causa diversos prejuízos
tanto nos aspectos econômico, social e
humano. Os motivos que levam ao estudante
desistir dos cursos são inúmeros, pois podem
ser por motivos pessoais, por falta de intimidade com as disciplinas ofertadas pelo curso,
por questões financeiras, entre outros. Além
disso, muitos estudantes não conseguem se
manter na Universidade, e precisam conciliar
trabalho e estudo. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), o índice
médio de evasão nas instituições públicas é de
12% e nas particulares é de 26%. Os cursos com as menores
concorrências são os
de maiores índices
de desistências e vice
versa.
Um exemplo de
um desses casos de
desistência do curso
superior é o de Thiago Cordeiro, ex-estudante de jornalismo da Universidade
Federal de Sergipe.
Thiago tem 30 anos
e trabalha como segurança, ele trancou
o curso no segundo
período, pois não
se identificou com a
área e se decepcionou com a falta de
estrutura e equipamentos. Essa é uma
das queixas mais
frequentes entre os
alunos desistentes,
como também a falta de incentivos do
governo e da própria
universidade. O ex-universitário conta ainda que tentou
trocar de curso, mas
as opções que foram
dadas eram limitadas já que era obrigatório a optar por
cursos
vinculados
às disciplinas que
ele estava cursando.
“Se tivesse recebido
arrepende de ter
mais incentivos do
governo ou da própria universidade haveria mais chances de
continuar”, lamenta.
Thiago também comenta sobre o papel da
administração das universidades nesse processo. “Ainda falta uma administração responsável e organizada dos recursos financeiros
recebidos pela universidade, onde o foco principal seja uma reforma estrutural relacionada
à construção e manutenção de novos espaços
de conhecimento e reforma e manutenção dos
espaços antigos dando a estes um acervo material que beneficie tanto servidores quanto
docentes.” Ele pretende agora fazer um curso
técnico profissionalizante pois acredita que
todo tipo de conhecimento é valido, só que no
caso de universidade publicas se perde muito
tempo e atualmente os cursos técnicos estão
abrindo varias portas.
A falta de estrutura é realmente uma das
principais causas que incentivam o abandono
das graduações. Muitos estudantes se veem
numa corda bamba, tendo que equilibrar a
vida pessoal, muitas vezes turbulenta com as
dificuldades encontradas na faculdade. Essa
situação pode acabar obrigando o universitário a abandonar um curso para encontrar uma
alternativa que traga resultados mais imediatos.
Outro fator apontado para a as evasões, é
a falta de maturidade dos estudantes na hora
de escolher o curso, a maioria tem de fazer a
escolha por uma determinada opção ainda na
adolescência, uma fase por si só muito conturbada. Um estudo feito pelos pesquisadores
Emmanuel Ribeiro Cunha e Marília Costa Morosini aponta que 63,25% dos evadidos, situam-se na faixa etária entre 18 e 25 anos, descartando, desse modo, a “pouca idade” como
um sinalizador de evasão. Consideram, entretanto, a “imaturidade vocacional”, ou seja, o
pouco conhecimento sobre si e sobre o mundo
do trabalho, como uma das causas do abandono desses estudantes.
Para reverter essa situação muito tem que
ser feito. Uma das ideias mais apoiadas pelos
professores é a criação do cargo de professor
orientador, para auxiliar os alunos na superação das dificuldades durante os cursos de
graduação, o que pode influir sobre a decisão
do abandono ou da permanência do aluno em
seu curso. Na UFS uma das alternativas em
prática é o aumento no número de bolsas para
o auxilio na manutenção do universitário na
graduação, como por exemplo, moradia, alimentação e transporte. Existe também um
programa de inclusão de alunos em repúblicas
nas proximidades do campus. Porém, há muito a ser debatido. É necessário maior investimento maior na estrutura dos cursos para que
possam garantir suporte efetivo no aprendizado dos alunos e mais atenção às suas necessidades básicas
por RAFAEL LIMA
[email protected]
educação
14
UFS PREVÊ INTEGRAÇÃO NO SERTÃO
A cidade de Glória, situada no sertão sergipano, sediará o novo Campus da UFS e irá reunir estudantes e
comunidade a partir de 2015.
Fotos: Fernanda Sales
1
8 de março de 2014.
Essa é a data que
o Ministério da
Educação (MEC)
informou que a
cidade de Nossa
Senhora da Glória, localizada a
126 km da capital, foi escolhida
para sediar o novo
Campus da Universidade Federal
de Sergipe (UFS).
Este Campus, que
é considerado o
“Campus do SerKitéria sonha cursar medicina tão”, terá sua sede
veterinária
em Glória, mas irá
beneficiar estudantes de todo o sertão sergipano, que
terão a possibilidade de ingressar na Universidade,
sem precisar se deslocar para uma cidade distante da
sua. Enquanto a sede definitiva está em processo de
licitação, o Campus do Sertão terá uma sede provisória, para que os estudantes comecem a estudar no
segundo semestre de 2015. Serão ofertados os cursos
de Zootecnia, Medicina Veterinária, Agronomia e
Agroindústria, com 50 vagas em cada curso. O ob-
E
m entrevista à redação do Contexto UFS, o Reitor da Universidade Federal de Sergipe, Ângelo
Antoniolli (foto), explica com exclusividade como funcionará o Campus do Sertão e como a mobilização
popular foi importante para a sua instalação.
Como aconteceu essa mobilização entre as cidades do sertão pela luta do Campus? E como Glória
estava inserida?
A interiorização da Universidade Federal de Sergipe
é uma conquista essencial e o Campus para o sertão
sergipano está há muito tempo em discussão. Toda a
região do semiárido se mobilizou na época em que
alguns representantes discutiram a importância da
universidade naquela região. Desde 2006, quando a
UFS começou a se expandir fora de São Cristóvão, que
a cidade de Glória entrou no debate. Mas aconteceu
primeiramente em Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto e
apenas este ano acontece a conquista do povo que de
fato já debatia sobre o assunto. É preciso que a gente reconheça que quem iniciou a discussão foi Glória, mas todos
os municípios
estavam envolvidos, todo o
sertão esteve
presente nessa
luta.
E o modelo
pedagógico
implantado
nesse Campus
está voltado
para a região?
Sim. Foi fácil
de pensar num
Campus para o
jetivo é formar o aluno dentro do ambiente em que
este irá trabalhar e a proposta é que os estudantes estejam integrados com a comunidade local.
Na visão dos estudantes e professores da cidade
de Nossa Senhora da Glória, o Campus da UFS será
o pontapé inicial para estimular ainda mais que os
estudantes ingressem na carreira acadêmica. A expectativa desse campus para a população é grande e
todos anseiam que a chegada do Campus do Sertão
traga benefícios para a comunidade local e estudantes. De acordo com Denival Araújo, professor do
Ensino Médio do Colégio Estadual Manoel Messias
Feitosa (CEMMF), o Campus do Sertão irá estimular os alunos a ingressarem numa universidade com
mais facilidade. “Pensar em uma universidade ainda
era um sonho distante, pois o acesso à universidade
era difícil e nem todo mundo consegue se manter
em outra cidade. Então, com um Campus aqui em
Glória, a locomoção e acessibilidade facilitará a vida
de alunos da região”, explica o professor.
Denival ainda destaca que já participou de manifestações em prol do campus. “Eu estive engajado
nesses movimentos de luta porque acho positivo a
escola apoiar o Campus. Outro motivo foi por uma
questão própria, porque eu sempre quis ter estudado na minha cidade, mas como não tive essa oportunidade, quero contribuir que meus alunos e que
a próxima geração de estudantes consigam ter esse
privilégio”.
Outro ponto positivo destacado pelo professor é a
valorização da própria cidade. “Glória é uma cidade
em desenvolvimento, considerada a capital do sertão
e localizada bem geograficamente, então trazendo
um campus pra cá, traz também o desenvolvimento,
a oportunidade de trabalho, um incremento positivo
no comércio, e o estímulo para os jovens da cidade e
das regiões vizinhas”, finaliza.
A estudante do 2º ano do Ensino Médio do
CEMMF, Kitéria Letícia Amorim, explica que o
Campus irá fazer com que ela tenha mais chance de
fazer o curso de Medicina Veterinária. “Como eu
gosto de animais eu sempre tive vontade de fazer o
curso de medicina veterinária, mas minhas condições não eram favoráveis e o deslocamento era complicado. Hoje em dia eu já vejo essa possibilidade,
pois com a UFS aqui eu posso estudar na minha cidade, ficar perto da minha família, e trabalhar futuramente no lugar onde eu vivo”, ressalta a aluna.
Kitéria ainda explica que se mobilizou junto com
outros estudantes nessa luta e que está ansiosa com
a chegada desse Campus. “Para mim a universidade
é um anseio não de agora, mas de muito tempo. O
campus da UFS no Alto Sertão sergipano foi uma
luta que eu participei. E com essa conquista eu quero estudar aqui, me formar aqui e trabalhar aqui.
Quando eu terminar o 3º ano, meu objetivo é fazer o
vestibular da UFS em Glória, para aperfeiçoar tudo
aquilo que eu já vivencio no dia-a-dia”, ressalta.
Sertão, pois ele estará muito ligado ao arranjo produtivo local, onde a universidade vai fazer parte da história de todo o semiárido. Então é fácil pensar quais
os cursos podem melhorar tudo aquilo que já existe
lá. O modelo pedagógico que estamos pensando é
fazer com que a universidade esteja integrada a toda
aquela comunidade. Sua sede foi escolhida para ser
em Glória, mas suas ações estão sendo pensadas e
discutidas para interagir com toda a região, modificando positivamente o ambiente coletivo. Então eu
posso afirmar que o Campus do Sertão beneficiará
não apenas glória, mas toda a região sertaneja.
Já que o Campus vai interagir com a comunidade, quais foram os critérios para definir os cursos?
Quando pensamos nos cursos de Medicina Veterinária, Zootecnia, Agronomia e Agroindústria, pensamos na ligação com a tecnologia de indústria, com
o arranjo produtivo do leite e do queijo, e com os
animais daquela região. A medicina veterinária e a
zootecnia, por exemplo, tem muito a ver com os rebanhos, e nós temos que apoiar o que já existe, melhorando, qualificando e dando uma orientação mais
própria para os micro-produtores. Vamos intervir com
o pequeno agricultor, e quando eu digo nós vamos
intervir, eu me refiro aos nossos alunos, professores e
técnicos administrativos, que estarão integrados naquela produção. Cada assentamento e microrregião
vai sofrer uma ação positiva da UFS, pois ela não está
sendo pensada para ficar no seu intramuros e apenas
formar o aluno, ela vai formar o aluno dentro do ambiente em que ele vai agir e trabalhar futuramente.
Esse modelo de integração de universidade e
comunidade já existe em outro Campus?
Sim. Nós pensamos nessa integração porque já temos uma experiência. Usamos o Campus de Lagarto
como referência. Lá toda a saúde é focada na saúde
da família, toda formação em saúde é focada na inte-
gração dos alunos com a comunidade. E no sertão vai
ter a mesma coisa, a diferença é que nesse Campus
o foco é a agricultura familiar. Tanto o aluno como o
professor também aprende com o agricultor, pois é
ele que está ali no dia-a-dia, que agora será assistido e
orientado. E os alunos vão aprender com o agricultor,
pois seu currículo prevê visitas do primeiro ao último
ano o acompanhamento dentro da agricultura familiar.
Sobre a sede? O que está sendo feito? Já tem
uma sede provisória equipada para receber os alunos?
Nós temos uma sede provisória, que já funciona, a
EAD, um ensino a distancia da UFS. Tem laboratório de
física, biologia, química e já está tudo montado para
receber esses alunos. As aulas serão realizadas com
dois cursos pela manhã e dois a tarde. Além dos laboratórios, já está sendo construída a estrutura física das
novas salas de aulas.
E o espaço definitivo do Campus?
Estamos nas tratativas dos espaços definitivos
e ainda esse mês ou mês que vem já quero voltar a
dialogar com o prefeito e governador à vista de adiantar um pouco mais. A data prevista para começar a
obra poderá ser definida esse ano, mas ainda está em
processo de licitação. Já estamos avançados com essa
sede provisória que pode servir durante dois anos. As
tratativas estão entre a Embrapa e um espaço na zona
rural, mas a meta seria construir um hospital veterinário para tratar dos animais e trazer uma estrutura
por FERNANDA SALES
[email protected]
saúde
&meio
ambiente
15
política
VENENO QUE SE PÕE À MESA
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Cerca de 500 mil pessoas são contaminadas por
ano no país e as consequências ainda são desconhecidas aos que consomem.
N
a década de 20 os agrotóxicos passaram a ser
primeiro risco é o de intoxicação através do contao direutilizados com o objetivo de combater as pragas
to sem o uso de equipamentos de proteção apropriados
e aumentar a produtividade agrícola. Esses produtos
como luvas, macacão, botas e máscara. A manipulação
são resultado de processos químicos, biológicos e físiincorreta pode levar ao agricultor problemas sérios de
cos feitos para alterar a composição da fauna e da flora
saúde como complicações renais e do fígado, lesões
e, dessa forma, evitar o dano causado por alguns seres
neurológicas ou intoxicação aguda, como vômitos, desvivos. No Brasil, os agrotóxicos foram utilizados de formaios, distúrbios cardíacos e pulmonares.
ma frequente a partir da década de 1960 e, segundo o
Ministério do Meio Ambiente, hoje é o maior consumiDANOS AO MEIO AMBIENTE
dor desse tipo de defensivo agrícola do mundo.
Em entrevista o gestor ambiental Manuel Cardoso
Quando utilizados de forma correta, desempenham
informa que o uso incorreto e indiscriminado de agrobem o papel de combate às pragas sem prejudicar os
tóxicos causa danos irreparáveis ao meio ambiente,
alimentos, mas se o agricultor não souber ter alguns
mas que, ainda assim, a aplicação de qualquer forma
cuidados na aplicação ou abusar da quantidade e do
afetará o solo. Os cuidados com o uso começam no
tempo ideal de ação, o produto passa a ser um grande
transporte dos produtos em veículos apropriados, pasrisco por causar intoxicações tanto a quem manuseia,
sam pelo armazenamento em local isolado, a aplicação
quanto aos consumidores dos alimentos, pasFonte: Movimento Sem Terra
sando pelos moradores das áreas agrícolas,
além dos danos ao meio ambiente.
Acontece que mesmo diante aos riscos e as
leis criadas, o país que mais consome esses produtos ainda facilita no controle e monitoramento do uso, enquanto a população se contamina.
Em outubro de 2013, por exemplo, a Agência de
Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou em 36%
das amostras analisadas substâncias proibidas
no Brasil e alimentos impróprios para consumo.
RISCOS À SAÚDE HUMANA
Segundo dados de uma pesquisa realizada
pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Anvisa, em
2011, com amostras coletadas em todos os estados do Brasil, cerca de um terço dos alimentos
consumidos regularmente pelos brasileiros estão contaminados por algum tipo de agrotóxico. Além disso, 28% dessas amostras avaliadas
continham ingredientes não autorizados para o
cultivo ou extrapolaram os limites dos resíduos
aceitáveis (Limite Máximo dos Resíduos - LMR).
Outra pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que cerca de 500 mil brasileiros são
contaminados por ano.
São dados que preocupam e fazem refletir sobre as
consequências dessa contaminação. A presença desses
ingredientes não autorizados nos alimentos consumidos configuram a maior preocupação pois, assim como
explicado em entrevista pelo nutricionista Antônio
Dantas, os efeitos desse consumo vão desde complicações agudas e subagudas como dores no estômago e na
cabeça, passando por problemas neurológicos e desequilibrio hormonal, até danos crônicos como o câncer.
Os efeitos na saúde não se limitam apenas aos consumidores dos alimentos, os agriculturoes que fazem
uso do produto e a população que vive ao redor das
plantações também sofrem com a intoxicação. Segundo o técnico em agropecuária Adelmo Paulo Santos, o
de normas. A lei mais importante é a Lei nº 7802/89,
que rege o processo de registro de um produto agrotóxico, regulamentada pelo Decreto nº 4074/02, que
estabelece que “os agrotóxicos, para serem produzidos,
exportados, importados, comercializados e utilizados
devem ser previamente registrados em órgão federal,
de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos
federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio
ambiente e da agricultura.”.
O Ibama realiza a avaliação do potencial de periculosidade ambiental de todos os agrotóxicos registrados no
Brasil. A Anvisa, que é o orgão que fiscaliza regulamenta, analisa e controla e fiscalizar produtos e serviços que
envolvam riscos à saúde, coordena o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA)
com a finalidade de fiscalizar o abuso dos agrotóxicos, a
Rede Nacional de Centros de Informação Toxicológica
(Renaciat) e promove capacitações em toxicologia. Ou
seja se uma empresa vender produtos que têm
contaminantes em excesso ela receberá advertência, multa ou apreensão do produto.
O engenheiro agrônomo Flávio Silva de Santana afirma que, no caso de uso dos agrotóxicos,
cabe principalmente ao agricultor respeitar as
orientações fornecidas pelo fabricante, além do
receituário agronômico fornecido pelo técnico responsável, o qual prescreve as orientações
técnicas e fitas sanitárias que o produtor deverá
seguir.
ALTERNATIVAS AO USO
Foto ilustrativa
rigorosamente focada no alvo e o descarte das embalagens em unidades autorizadas.
Manuel ressalta também que os efeitos negativos
prejudicam fauna, flora e os recursos hídricos que podem ser carreados através da chuva, chegando até o
leito dos rios, o que ocasionará a poluição das águas e,
em consequência, a mortandade de seres aquáticos e
o envenenamento humano através de pescados e pelo
consumo da água. Ou seja, de alguma forma a contaminação chega ao contato humano.
LEIS DE CONTROLE
Pela relevância em relação à sua toxicidade e pelo
alto consumo no Brasil, os agrotóxicos possuem uma
grande cobertura legal no Brasil, com amplo número
A biotecnologia é a aplicação de seres vivos,
agentes biológicos, que tem como a função, no
caso do agronegócio, a preservação da plantação. O Brasil hoje conta com o suporte natural,
técnico e de pesquisa para o amplo desenvolvimento da biotecnologia, mas falta incentivo para
o seu desenvolvimento. O incentivo brasileiro
cai muito mais sob a produção de agrotóxicos do
que para o uso de outras tecnologias que não se
mostram economicamente viáveis.
A Agroecologia é a melhor alternativa para
aqueles que procuram evitar alimentos com residuos
tóxicos. A alimentação orgânica, embora ainda não
amplamente difundida, está ganhando a a atenção de
consumidores que procuram um estilo de vida mais
saudável.
Em Aracaju o “Cantinho da Roça” surgiu para difundir a prática dessa alimentação livre de aditivos tóxicos.
Contando com a agricultura familiar, os organizadores
realizavam feiras que disponibilizavam alimentos orgânicos e, além disso, eventos culturais, esportivos e educativos que tornam o lugar ainda mais interessante
por EDIÊ REIS
reisediê@gmail.com
saúde&meioambiente
16
CRESCE NÚMERO DE OBESOS
Com uma alimentação com baixo valor nutritivo somado ao sedentarismo, o número de pessoas com sobrepeso e obesidade aumenta no Brasil
Foto: Leilane Coelho
C
onhecida como o acúmulo
de gordura no corpo, a obesidade é considerada um dos principais problemas de saúde pública,
não só no Brasil, como no mundo.
Segundo dados divulgados pela pesquisa da Vigitel (Vigilância de fatores
de risco e proteção para doenças por
inquérito telefônico), 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal, sendo
destes 17,5 % obesos, o que comprova
que o Brasil manteve o índice de população acima do peso em relação ao ano
de 2012.
A doença foi dividida em três tipo
baseando-se no Índice de massa corporal (IMC), como tipo 1, moderado e
excesso leve de peso, onde o paciente
apresenta IMC entre 30 e 34,9 kg, tipo
2,obesidade leve ou moderado, onde
o IMC fica entre 35 e 39,9 kg e tipo 3,
obesidade mórbida, onde o IMC é excede 40 kg.
Pela sua complexidade e sua disseminação tão silenciosa, mas visivelmente perceptível por todos os lados, a obesidade tornou-se o
mal do século, atingindo não só adultos, como
crianças e chegando com força aos países em desenvolvimento, como é o caso do brasil. O fato é
que o país passa por uma transição epidemiológica e nutricional, onde os casos de desnutrição estão diminuindo e os de sobrepeso e obesos estão
aumentando. Estes casos, referem-se principalmente aos homens que estão aderindo cada vez
mais a uma alimentação com baixo valor nutritivo somado ao sedentarismo. Conforme os dados
da Vigitel, os homens tem mais excesso de peso
que as mulheres, a diferença chega a 7%.
Aqui no estado de Sergipe, não existe estudos
concretos que comprovem em números quantas
pessoas possuem a doença ou estão no caminho
de adquiri-la. Mas, basta andar nas ruas da capital para perceber que o número de pessoas com
sobrepeso e obeso é grande.
Especialista em endocrinologia, Layla Wanderley Cordeiro, afirma que os principais fatores
de risco para obesidade em Sergipe são a falta de
atividade física e os hábitos alimentares inadequados, com alto consumo de alimentos pobres
em nutrientes e fibras, mas ricos em gorduras, sal
e açúcar.
Sabe-se que má alimentação é um caminho
para a obesidade, mas existem casos em que a
genética ou a compulsão alimentar, consequência de fatores psicológicos, influenciam o peso.
Diego Garcia, estudante, 23, sempre teve propensão ao sobrepeso e chegou a pesar 129 kg. Decidido a adquirir uma qualidade de vida melhor,
NÃO SABE CALCULAR O ÍNDICE DE
MASSA CORPORAL? É FÁCIL
Basta dividir o peso (kg) pela altura (metros).
Ex: IMC = 50 (peso) ÷ 1,60 (altura)²
IMC = 50 ÷ 2,56
IMC = 19,5 = PESO NORMAL
QUER SABER EM QUE ÍNDICE VOCÊ ESTÁ? CONFIRA
OS PERCENTUAIS
Entre 17 e 18,49 - Abaixo do peso
Entre 18,5 e 24,99 - Peso normal
Entre 25 e 29,99 - Acima do peso
Entre 30 e 34,99 - Obesidade I
Entre 35 e 39,99 - Obesidade II
Acima de 40 - Obesidade III
Lanche de fast-food
Diego contrariou a genética e todos os fatores que
o levavam a obesidade e foi dos 129 kg aos 69 kg.
Com a ajuda de um nutricionista, atividades físicas e uma alimentação balanceada, ele mantém
uma vida saudável, sem exageros e garante que a
vida melhorou muito após quase um ano de dedicação ao emagrecimento.
O caminho para o emagrecimento nem sempre é fácil, uma opção que tem sido acessível a
muitos pacientes, feita tantos em hospitais particulares, quanto públicos é a cirurgia bariátrica
mais conhecida como redução de estômago. O
método vem sido utilizado por muitos médicos,
mas tem sofrido uma banalização e levado a muitos pacientes a não acompanharem corretamente
todo o processo de tentativa de emagrecimento.
O problema é que muitos paciente fazem a cirurgia sem saber que o procedimento só deve ser feito após acompanhamento com psicólogo, nutricionista e atividade físicas.
O número de pessoas procurando o emagrecimento cedo e o aumento de obesos reflete a população jovem que está se desenvolvendo. Com uma
alimentação rica em gordura e alimentos industrializados o quadro de obesidade infantil cresce
a cada ano.
A nutricionista Camila Godoy Corrêa afirma
que isso pode ocorrer devido vários fatores, como
a praticidade e a correria dos pais no dia a dia.
“Eles trabalham demais e acabam pecando na
alimentação dos filhos e na própria alimentação.
Estes hábitos infelizmente irão refletir no crescimento dessa criança, e a chance dessa ser um
adulto obeso é grande, ou certa.”, explica.
Rico em fast-foods, alimentos gordurosos e
poucos nutritivos, o Brasil caminha para uma realidade cruel de países desenvolvidos, com uma
população rica em conhecimento e pobre em educação alimentar
por LEILANE COELHO
[email protected]
17
saúde&meioambiente
CICLOATIVISMO MOBILIZA ARACAJU
O incentivo ao uso da bicicleta cresce na capital sergipana e busca amenizar o trânsito
intenso
A
mobilidade urbana é algo que vem sendo
ria da mobilidade urbana, possibilitando o diálo”A Ciclo Urbano tem percebido uma quantidade
discutido com mais intensidade à medigo entre motoristas, pedestres e principalmente
expressiva de usuários de bicicleta que aderida que as grandes cidades são tomadas cada vez
ciclistas.
ram à ideia de usar os modais não só para lazer
mais por veículos, causando grande transtorno
e passam a usar para ir ao trabalho também. É
Para o presidente da Ciclo Urbano, Luciano
ao trânsito. Para muitos, é difícil conviver com a
aí que observamos que a infraestrtura cicloviária
Aranha, é preciso haver diálogo entre o poder
realidade de incluir em seu roteiro diário engare sinalização não existem, expondo os ciclistas a
público e sociedade. “Para resolver o problema
rafamentos quilométricos, em horários de pico
acidentes”.
da mobilidade urbana, ou ao menos amenizar o
ou até fora dele.
trânsito caótico que é cada vez mais comum nas
O aumento no número de veículos é um fato
nossas cidades, é preciso que o poder público
CICLISTA
que acomete às grandes cidades do país. Aracaju,
atente para essas necessidades. O projeto de traO ator Kassem Afif mora na Zona Sul da capiapesar de geograficamente pequena, é uma das
zer bicicletas que podem ser usadas pela populatal e vai ao trabalho todos os dias de bicicleta, no
capitais que apresenta o maior número de carros
ção, não só pode ser uma opção de mobilidade,
Centro. Ele afirma que os ganhos em optar por
por habitantes. Segundo dados de 2013 divulgacomo também traz bons resultados para a quaum meio de transporte alternativo são bons, mas
dos peloDepartamento Nacional de Trânsito (Delidade de vida e socialização das pessoas”, disse.
que a rota de ciclovias precisa ser melhorada. “Já
natran), Aracaju possui cerca de 160 mil veículos.
Luciano diz ainda que, apesar da extensão da
faz um tempo que troquei veículos motorizados
São quase 3 habitantes por veículo.
malha cicloviária existente, Aracaju está longe de
por bicicleta e gosto muito. Chego mais rápido ao
Uma forma de tentar mudar esse quadro e amepossuir um ambiente que de fato possibilite a inmeu trabalho, além de ajudar na melhoria da minizar o grande fluxo de veículos nas ruas é buscar
tegração entre motoristas e ciclistas. “As ciclovias
nha saúde já que de certa forma é um exercício.
alternativas de locomoção que possibilitem uma
da nossa cidade oferecem um tráfego tranquilo
Mas seria mais interessante que existisse uma
maior fluidez ao caórota que desse contico trânsito. O uso da
ta de todo o trajeto e
bicicleta pode ser um
não só nas avenidas de
bom exemplo dessa
grande movimento”,
iniciativa, que faz descomenta.
se meio de transporte
Kassem afirma ainalgo que vai além dos
da
que em alguns ponmomentos de lazer. tos o risco é constante
O
Cicloativismo,
pois as ciclovias não se
movimento que defenestendem. Ele acredide o uso da bicicleta,
ta que outro fator que
vem crescendo na ciincomoda um pouco
dade de Aracaju com a
é o clima da cidade.
ideia de mostrar para
“Chega um momento
os cidadãos que pode
em que não tem mais
lançar mão de transciclovias e aí tenho que
portes
motorizados
disputar espaço com
em detrimento de uma
os carros. Outra coisa
maneira mais benéfium pouco chata é o
ca, não só ao trânsito
sol forte, mas quanto a
como também à saúde
isso nada podemos fade quem opta por pezer. De resto, andar de
dalar.
bicicleta é uma ótima
Aracaju possui hoje
saída pra quem não
uma malha cicloviária
deseja perder tempo
com extensão de cerca
em engarrafamentos”,
de 60 km, situada em
disse.
pontos da cidade onde
Apesar dos probleo fluxo de veículo é inmas existentes com
tenso. Os dados são da Su- Cicloativismo está se tornando opção para sergipanos
a malha cicloviária de
perintendência Municipal
Aracaju, o presidente
de Transportes e Trânsito de Aracaju (SMTT),
da Ciclo Urbano, Luciano Aranha, acredita que a
para as magrelas em alguns pontos de grande fluque afirma também que existe o projeto de amcidade está dando grandes passos para a melhoxo de carros, mas isso não é tudo. Se não houver
pliação em 21,8 km das ciclovias da cidade.
ria da infraestrutura. “Firmando parcerias com
uma ampliação da malha e criação de ciclorrotas
Segundo levantamento entre as prefeituras
diversas entidades e órgãos públicos, a capital
que atendam as necessidades de um ponto a oudas capitais brasileiras e o Instituto Brasileiro
sergipana deve se destacar ainda mais por oferetro, não adiantará muito”, afirmou.
de Geografia e Estatística (IBGE), a dimensão
cer uma opção para a mobilidade urbana, já que
Segundo o presidente, as ciclorrotas são “ciclodas ciclovias destaca Aracaju como um dos lugaestudos dão conta de que o número de usuários
vias que se interligam e facilitam o deslocamento
res mais bem avaliados nos quesitos: proporção
de bicicletas tem crescido muito e a cidade precido ciclista por diferentes pontos da cidade, em
entre o número total de ciclovias e o número de
sa atender a demandas”, conta Luciano
meio ao trânsito intenso ou calmo. Não se trata
habitantes, soma total da malha cicloviária e esapenas de uma ligação entre origem e destino
paços destinados às bicicletas. através da malha cicloviária, mas a possibilidade
A ONG Ciclo Urbano, um dos mais expressivos
de oferecer ao ciclista, um trajeto tranquilo”.
movimentos de incentivo ao uso da bicicleta na
Luciano conta que não basta apenas invescapital, promove ações para que a utilização de
tir em ciclovias se não houver uma estruturação
biciletas como meio de transporte se torne um
para promover a segurança de quem decide optar
hábito. A ONG foi criada em 2007, com a finalipor SILVÂNIO JÚNIOR
por esse meio de transporte, e ainda que as ciclodade de orientar a sociedade na busca da [email protected]
vias existentes podem trazer riscos aos ciclistas.
saúde&meioambiente
18
CHIKUNGUNYA VOLTA A ATACAR
Doença semelhante a dengue se espalha pelo mundo sendo confiramada em países como França, México, Estados Unidos e Brasil. OMS considera a situação grave.
A
infecção febril causada pelo vírus Chikungunya (CHIKV), pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus,
também conhecido como mosquito da dengue.
Em contrapartida, se comparado com a dengue,
mata com menos frequência.
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), desde 2014 o vírus já foi identificado em 19 países. Em menos de 2 anos quase 2
milhões de casos, sendo a maioria na Índia.
Depois de assolar o mundo, a doença chegou
ao Brasil e até o dia 15 de novembro, o Ministério
da Saúde registrou 1.364 casos de Febre Chikungunya no Brasil, sendo 125 confirmados por critério laboratorial e 1.239 por critério clínico-epidemiológico. Do total, 71 casos são importados,
ou seja, de pessoas que viajaram para países com
transmissão da doença, como República Dominicana, Haiti, Venezuela, Ilhas do Caribe e Guiana Francesa.
Os outros 1.293 foram diagnosticados em pessoas sem registro de viagem internacional para
países onde ocorre a transmissão. Destes casos,
chamados de autóctones, 531 foram registrados
no município de Oiapoque (AP), 563 em Feira de
Santana (BA), 196 em Riachão do Jacuípe (BA),
um em Matozinhos (MG), um em Pedro Leopoldo (MG) e um em Campo Grande (MS).
Diferentemente da dengue, que tem quatro
subtipos, o vetor chikungunya é único. Uma vez
que a pessoa é infectada e se recupera, torna-se
imune à doença. Quem já contraiu a dengue não
está livre da chikungunya, pois apesar de transmitidos pelo mesmo mosquito e com sintomas
similares são vírus distintos.
SINTOMAS
Os principais são: início abrupto de febre febre
acima de 39 graus e dores intensas nas articulações de pés e mãos. Podendo ocorrer, também,
dor de cabeça, dores nos músculos e manchas
vermelhas na pele.
Em torno de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas. O Ministério da Saúde definiu que devem ser consideradas como suspeitos
todos os que apresentarem febre de início súbito maior de 38,5ºC e artralgia (dor articular) ou
artrite intensa com início agudo e que tenham
histórico recente de viagem às áreas nas quais o
vírus circula de forma contínua. A dor articular,
presente em 70% a 100% dos casos, é intensa e
afeta principalmente pés e mãos - geralmente
tornozelos e pulsos e em maior intensidade do
que na dengue.
Sobre o desenvolvimento da doença, Taíse Cavalcante, coordenadora do Programa Municipal
de Controle da Dengue em Aracaju, alerta: “os
sintomas surgem em cerca de três a doze dias,
mas a doença em si não representa grande risco à saúde. Já a Dengue age mais lentamente no
organismo só que se não tratada a tempo pode
levar a morte. Por isso recomendamos que as
pessoas busquem prevenir as doenças e em caso
de aparecimento dos sintomas procurem quanto
antes os serviços de saúde”.
Muitas vezes, os sintomas em indivíduos infectados são suaves e a infecção pode passar des-
Foto: Marc AuMarc, Creative commons
Mosquito Aedes Aegypti, um dos transmissores da doença
percebida, ou ser diagnosticada como dengue.
Indivíduos maiores de 65 anos tiveram uma
taxa de mortalidade 50 vezes superior quando
comparados ao adulto jovem (menores de 45
anos de idade). Apesar de não ser claro por que
os adultos mais velhos têm um risco aumentado
para doença mais grave, pode ser devido à resposta imunológica diminuída.
TRANSMISSÃO
O vírus é transmitido pela picada da fêmea de
mosquitos infectados. São eles o Aedes aegypti e
o Aedes albopictus. O mosquito adquire o vírus
CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o
período de viremia.
A sua única forma de transmissão é através do
mosquito e não existe transmissão entre indivíduos.
O risco aumenta, portanto, em épocas de calor e chuva, mais propícias à reprodução dos insetos. Esses mosquitos podem ser encontrados
mordendo todo o dia, embora possa haver picos
de atividade no início da manhã e final da tarde.
Em compensação, comparado com a dengue, o
novo vírus mata com menos frequência. Apesar
de não haver um grupo de risco é mais suscetível em idosos, quando a infecção é associada a
outros problemas de saúde, ela pode contribuir
como causa de morte, porém complicações sérias
são raras, de acordo com a Organização Mundial
da Saúde (OMS). Além disso, o vírus dificilmente
causa um dano definitivo ao organismo.
Não há evidências de que o vírus seja transmitido da mãe para o feto durante a gravidez.
Porém, a infecção pode ocorrer durante o parto.
Também não há evidências de transmissão pelo
leite materno.
OS MOSQUITOS
O Aedes aegypti tem presença essencialmente
urbana e a fêmea alimenta-se preferencialmente
de sangue humano. O mosquito adulto é encontrado dentro das residências e os habitats das
larvas estão mais frequentemente em depósitos
artificiais (pratos de vasos de plantas, lixo acumulado, pneus, recipientes abandonados etc.).
O mosquito Aedes aegypti mede menos de um
centímetro, tem aparência inofensiva, cor café
ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas.
O indivíduo não percebe a picada, pois não dói
e nem coça no momento. Por ser um mosquito
que voa baixo - até dois metros - é comum ele picar nos joelhos, panturrilhas e pés. A voa até mil
metros de distância de seus ovos. Com isso, os
pesquisadores descobriram que a capacidade do
mosquito é maior do que os especialistas acreditavam.
O Aedes albopictus está presente majoritariamente em áreas rurais, peri-urbanas(áreas dentro ou próximas à áreas urbanas) e alimenta-sese principalmente de sangue de outros animais,
embora também possa se alimentar de sangue
humano. Suas larvas são encontradas mais frequentemente em habitats naturais, como internódios de bambu, buracos em árvores e cascas
de frutas. Recipientes artificiais abandonados
nas florestas e em plantações também podem
servir de criadouros.
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
Ainda não existe um tratamento específico
para a doença, como no caso da dengue. O tratamento é paliativo, com uso de antipiréticos e
analgésicos para aliviar os sintomas. Não é recomendado usar o ácido acetil salicílico (AAS)
devido ao risco de hemorragia. Recomenda-se
repouso absoluto ao paciente, que deve beber líquidos em abundância.
Como a doença é transmitida por mosquitos,
é fundamental que as pessoas reforcem as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos
nas suas casas e na vizinhança. As medidas que
as pessoas devem tomar são exatamente as mesmas recomendadas para a prevenção da dengue.
Taíse Cavalcante informa que a prevenção é
baseada no mesmo modo do combate à dengue,
e o cuidado é diminuir o maior número possível
de mosquitos adultos através da eliminação de
locais que sirvam de acúmulo de água para que
os ovos não se transformem em mosquitos adultos transmissor da doença.
Atendendo portarias do Ministério da Saúde,
a Secretaria de Estado da Saúde oferece suporte
aos municípios sempre que é identificado algum
risco de ocorrência de surtos ou epidemias. Sidney Sá, coordenadora do Núcleo de Endemias da
Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe (SES),
explica que “há uma brigada de controle e prevenção a dengue e Chikungunya, composta por
cinquenta agentes, que visita os municípios em
risco iminente agindo no controle do vetor. Além
disso temos os carros fumacê (aqueles que que
passam soltando uma fumaça que prejudica os
mosquitos, mas são inofensivas aos outros seres)
que em uma situação de surto devem ser utilizados para o controle do vetor em sua fase adulta”.
DIAGNÓSTICO
O vírus só pode ser detectado em exames de
laboratório. São três os tipos de testes capazes de
detectar o Chikungunya: sorologia, PCR em tempo real (RT-PCR) e isolamento viral. Todas essas
técnicas já são utilizadas no Brasil para o diagnóstico de outras doenças e estão disponíveis
nos laboratórios de referência da rede pública.
Para agilizar o diagnóstico e fornecer o tratamento no menor tempo possível Sidney Sá comenta que “no estado de Sergipe foram capacitados médicos e enfermeiros da atenção básica dos
75 municípios para que os mesmos identifiquem
um caso suspeito, e dessa forma casos suspeitos
sejam identificados com maior rapidez”.
ORIENTAÇÕES EM CASO DE SUSPEITA
A pessoa que suspeitar estar infectava deve
procurar a unidade de saúde mais próxima, imediatamente. É aconselhável evitar a automedicação, pois ela pode mascarar sintomas, dificultar
o diagnóstico e agravar o quadro do paciente.
Segundo Sidney Sá em caso de surto o Estado
possui uma estrutura hospitalar, onde há hospitais regionais e um de urgência na capital com
profissionais já capacitados para atender a casos
suspeitos que porventura apareçam. “Mesmo
com toda essa estrutura, precisamos da ajuda
de todos para que surtos ou epidemias não ocorram, principalmente por ser uma doença que
seus principais criadouros encontram-se dentro
de nossas residências”, salienta.
No Brasil, a notificação de casos é obrigatória. Os casos suspeitos da doença devem ser
comunicados e/ou notificados em até 24 horas
a partir da suspeita inicial. Qualquer estabelecimento de saúde, seja ele público ou privado,
deve informar a ocorrência de casos suspeitos às
Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e
ao Ministério da Saúde.
saúde&meioambiente
Os mosquitos transmitiam a doença para africanos abaixo do Saara, mas os surtos não ocorriam até junho de 2004. A partir desse ano, a
febre chikungunya teve fortes manifestações no
Quênia, e dali se espalhou pelas ilhas do Oceano
Índico. Da primavera de 2004 ao verão de 2006,
ocorreu um número estimado em 500 mil casos.
A partir de fevereiro de 2005, um grande surto de chikungunya ocorreu em ilhas do Oceano
Índico. Um grande número de casos importados
da Europa foi associado com este surto, principalmente em 2006, quando a epidemia do Oceano Índico estava em seu auge. Um outro grande
surto de chikungunya ocorreu entre 2006 e 2007
na Índia. Vários outros países do Sudeste da Ásia
também foram afetados. Desde 2005, a Índia,
Indonésia, Tailândia, Maldivas e Myanmar têm
relatado mais de 1,9 milhões de casos. Em 2007
foram relatados os primeiros casos na Europa.
Um surto localizado no nordeste da Itália. Houveram 197 casos registrados durante esse surto e
confirmou que os mosquitos por Aedes Albopictus são possíveis na Europa.
No final de 2013, foram registradas transmissões autóctone em vários países do Caribe
(Anguila, Aruba, Dominica, Guadalupe, Guiana
Francesa, Ilhas Virgens Britânicas, Martinica,
República Dominicana, São Bartolomeu, São
Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Martinho)
e em março de 2014, na República Dominicana.
Toda a população do continente é considerada
como vulnerável, por dois motivos: como nunca circulou antes em nossa região, e por conta
disso ninguém tem imunidade ao vírus e ambos
os mosquitos capazes de transmitir a doença estão presentes praticamente em toda às áreas das
Américas. A partir de outubro de 2014, mais de
776 000 casos suspeitos de Chikungunya foram
registrados nas ilhas do Caribe, países da América Latina e alguns países sul-americanos. 152
mortes também foram atribuídas a esta doença
durante o mesmo período. Sendo este o primeiro
surto documentado de chikungunya com transmissão autóctone nas Américas.
No Brasil, foram registrados casos em estados
como Bahia, Amapá e São Paulo. No México, algumas pessoas já haviam mostrado sintomas da
doença, mas elas haviam contraído o vírus no exterior, detectando seu primeiro caso doméstico
em novembro desse ano.
Na França de acordo com a OMS, quatro infecções ocorreram em uma mesma família, que
apresentou sintomas entre o dia 20 de setembro
e 12 de outubro deste ano. As pessoas infectadas vivem em uma localidade próxima de onde
ocorreu um caso de chikungunya importado de
Camarões. Foram registrados outros casos no
Caríbe e Estados Unidos.
Segundo Sidney Sá, a possibilidade da doença
chegar a Sergipe é muito grande, principalmente
pela presença nacional das duas espécies de Aedes que transmite a Febre, além do mais a proximidade geográfica com o município de Feira
de Santana (BA) onde já houveram vários casos
confirmados é outro agravante. “Já foi identificado um caso importado no município de São Cristovão. E para que a doença não avance e tome
proporções incontroláveis é necessário que as
atividades de controle do vetor sejam permanentes e vigilância sobre possíveis casos contínua”,
completa.
Falando sobre o município de Aracaju Taíse
completa “o trabalho do Programa Municipal de
Controle da Dengue vem acontecendo em Aracaju e com a perspectiva de que com mais uma
doença transmitida pelo Aedes aegypti as ações
devem ser intensificadas”.
Chikungunya significa “aqueles que
se dobram” na língua maconde, um dos
idiomas da Tanzânia.
Refere-se à aparência curvada dos pacientes que foram atendidos na primeira epidemia documentada, na Tanzânia, localizada
no leste da África, entre 1952 e 1953.
por DEMÉTRIUS OLIVEIRA
[email protected]
Gráfico: Demétrius Oliveira
19
CHIKUNGUNYA PELO MUNDO
A Chikungunya já foi identificada em cerca de
40 países da Ásia, África, Europa e também nas
Américas. Infecções humanas na África têm tido
níveis relativamente baixos para um número
de anos, mas em 1999-2000, houve um grande
surto na República Democrática do Congo, e em
2007 houve um surto no Gabão.
Divisão dos 1.239 casos da Febre confirmados por critério clínicoepidemiológico. Escala meramente ilustrativa. Amapá (531), Bahia
(759), Mato Grosso do Sul (01) e Minas Gerais (02)
20
ciência&
tecnologia&
comportamento
DESCARTE DE ELETROELETRÔNICOS
Com os avanços tecnológicos e o alto consumo, o lixo eletrônico descartado de forma inadequada, tornouse um grande problema ambiental
N
o Brasil e no mundo, é evidente o avanço tecnológico. O mercado da tecnologia não para
de produzir equipamentos modernos, fazendo surgir
sempre, um novo modelo no mercado tecnológico.
Mas já que se produz tanto, é indispensável que existam questionamentos sobre o que ocorre com tantos
equipamentos eletrônicos, quando não são mais uteis
ou ficaram para trás no quesito modernidade.
Em meio a essas dúvidas, surgem perguntas como:
O que acontece com eles? Para onde vão? Onde podem
ser descartados de maneira correta, sem prejudicar
o meio ambiente? Há um local adequado de descarte
desses equipamentos? Existe algum risco maior se esse
descarte não for realizado de forma adequada e segura?
Para responder a essas perguntas, é necessário primeiro explicar o que é o lixo eletrônico. Segundo o Programa da ONU (Organização das Nações Unidas) Para
o Meio Ambiente (PNUMA), lixo eletrônico é todo resíduo material produzido pelo descarte de equipamentos
eletrônicos, como monitores de computadores, telefones celulares e baterias, computadores, televisores, câmeras fotográficas e impressoras.
Ainda de
acordo com o
Foto: Deyse Tuanne
programa
da
ONU, o problema
ocorre quando o
equipamento apresenta defeito ou se
torna ultrapassado, e o descarte é
realizado no meio
ambiente, trazendo
danos preocupantes. Como estes
equipamentos possuem substâncias
químicas em suas
composições como
o chumbo, cádmio,
mercúrio, berílio,
além de outros, podem provocar contaminação do solo e
da água.
Tamiris de CarTamiris Aparecida,
valho, estudante do
estudante de Engenharia
sexto período do
Agronômica-UFS
curso de Engenharia Agronômica da
Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica que o
cádmio é um metal pesado, cancerígeno, que é encontrado em baterias de celular. “ Quando essas baterias
são descartadas em locais indevidos, este metal é liberado e contamina o solo, plantas como o alface, que pode
absorver grandes quantidades de cádmio, devido o fato
do metal possuir estrutura similar ao Zinco, que é o nu-
triente da planta”, conta.
Além do contaminar o meio ambiente, estas substâncias químicas podem provocar doenças graves em
pessoas que coletam produtos em lixões, terrenos baldios ou na rua. Outro fator que preocupa, é o de que estes equipamentos são compostos também por grande
quantidade de plástico, metais e vidro, e esses materiais
demoram muito tempo para se decompor no solo; tornando-se, mais um agravante ao meio ambiente.
Ainda sobre o alto consumo desses produtos eletrônicos, Tamiris aponta três possíveis fatores responsáveis por esse consumismo na sua opinião: “ Facilidade
de compra e popularização desses produtos, baixo preço de alguns produtos importados, como os celulares
vindos da China (piratas), e o próprio consumismo, a
necessidade de estar sempre trocando um modelo de
celular por um mais moderno, ou comprando um produto eletrônico por status, alguns não compram produtos, compram marcas”.
DESCARTE INADEQUADO
O que muita gente não sabe, é que em função da
complexidade do problema da contaminação, do aumento considerável da produção, consumo e do consequente descarte de eletroeletrônicos, foram elaboradas
leis federais específicas, que estão em vigor em diversas
partes do mundo, e que obrigam as empresas a darem
um destino correto a esses materiais. No Brasil, no dia
5 de Agosto de 2010, foi aprovada a Lei Federal nº 12.
3055 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos,
ela obriga que se dê um destino adequado aos resíduos
eletrônicos. No Estado de São Paulo, essas políticas foram aprovadas um pouco mais cedo, em julho de 2009,
a Lei Estadual 13.576 que institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação
final de lixo tecnológico, entrou em vigor.
Questionado sobre a sua visão em relação a produção, o consumo, e o descarte em locais desapropriados
de equipamentos eletroeletrônicos, o Coordenador da
Casa de Ciência e Tecnologia da Cidade de Aracaju (CCTECA), Paulo Augusto César Almeida, Técnico em química, Pedagogo e Astrônomo amador há mais de vinte
anos, relata que o consumo exagerado é o problema e
por isso o descarte de material incorreto. “Não temos
uma política bem definida, poderiam criar em cada capital uma empresa que recolheria o lixo naquele local.
Para mim é um descaso do governo mesmo, ele tem
dinheiro pra fazer isso e infelizmente não tem a iniciativa”, detalha.
Para não provocar a contaminação e poluição do
meio ambiente, é preciso fazer o descarte do lixo eletrônico em lugares adequados como, empresas e cooperativas que atuam na área da reciclagem. Já no caso
dos celulares e suas baterias, estes podem ser entregues
nas empresas de telefonia celular, que encaminham
estes resíduos de maneira segura, não gerando danos
Foto: Deyse Tuanne
Paulo Almeida, Coordenador da
CCTECA
ao meio ambiente, ou ainda na CCTECA, onde funciona o projeto “Save the planet” que se preocupa com o
meio ambiente, recolhe todo o lixo reciclável e todas as
terças-feiras um caminhão da Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (CARE) que
conta com a doação desse material, recolhe e realiza a
reciclagem.
Segundo Paulo Almeida, a pilha tem substâncias
químicas como cádmio, chumbo, e algumas possuem
mercúrio, que é muito tóxico e se espalha facilmente na
atmosfera e no solo. Esses elementos que estão dentro
da pilha irão reagir, e quando for retirada a energia de
dentro dela, estará acontecendo uma ração química de
elétrons gerando a energia que é utilizada.
Sobre o que acontece depois do uso da pilha e em relação a parte do processo de reciclagem, o Coordenador
da CCTECA, conta que depois que acontece essa reação
química, onde temos a geração de subprodutos, essas
pilhas são encaminhadas para as indústrias químicas
que podem separar esses elementos e reutilizá-los.
“Além de não gerar danos você reutiliza a matéria-prima, pois a maioria dos elementos químicos podem ser
isolados através de processos de separação, podendo
ser usados nas próprias pilhas ou em outros processos
industriais”.
Outra opção é doar os equipamentos em boas condições de uso, mas que não estão mais dentro da modernidade tecnológica, para instituições sociais que
realizam seu trabalho na área de inclusão digital. Além
de não contaminar o meio ambiente, esta ação ajudará pessoas carentes. Deixá-los em oficinas de concerto,
onde algumas peças podem ser reaproveitadas, ou até
mesmo, o eletrônico por completo, é um outro viés
por DEYSE TUANNE
[email protected]
21
ciência&tecnologia&comportamento
BEM-VINDO À NAVE PLANETÁRIO
A CCTECA Galileu Galiliei é praticamente uma viagem ao universo, apresentando aos seus visitantes as
respostas que a ciência tem para tudo que existe ao nosso redor. Vamos conhecer?
Q
uem nunca ouviu falar que existe vida
fora da terra, que estrelas cadentes realizam desejos e que o homem foi à lua? Ou
se questionou sobre a origem da vida, como
as coisas funcionam e do que são feitas? Que
o universo é um mistério ninguém tem dúvida, mas você sabia que existe um lugar para
desvendá-lo? A ciência explica e a a Casa de
Ciência e Tecnologia de Aracaju (CCTECA),
considerado o terceiro planetário mais moderno do mundo, vai ajudar você a descobrir
sobre tudo que existe ao nosso redor.
Química, física, biologia e matemática são
disciplinas que fazem parte de todo currículo escolar e muitos questionam para que servem, sem saber que elas estão presentes no
nosso cotidiano. Naquele filme 3D que você
assistiu, no seu automóvel, na iluminação das
ruas, na composição do detergente, na bateria do celular, entre outras coisas que muitas
vezes passam despercebidas.
O diretor do planetário, Augusto Cesar Almeida, que é Técnico em Química, Pedagogo
e como ele mesmo diz Astrônomo amador
desde 1986, acredita que o espaço é uma ótima oportunidade para as escolas utilizarem
como laboratório para os seus alunos, além
de propagar um turismo científico na cidade.
Foto: Arquivo CCTECA e Silvia Rodrigues
“Muitas escolas nos procuram, não só daqui
do Estado, mas de Estados vizinhos também.
Assim como visitas técnicas de pessoas da
área e grupos de turistas de várias partes do
mundo” relata.
PROJETOS
Há cinco anos que a CCTECA apresenta aos
seus visitantes o conhecimento das ciências,
com suas salas de Óptica, Mecânica, Eletricidade, Matemática e Biologia, além da Estação Espacial Pedagógica (sala de projeção do
Planetário) e os diversos projetos de estudos
para todos os interessados.
Uma das principais atrações da Casa é o
Planetário, que possui uma cúpula de seis
metros de diâmetro e capacidade para 31 pessoas. No local, são projetadas imagens de planetas, constelações, galáxias, além de filmes
educativos. “Apesar de estar numa cúpula pequena, não perdemos em qualidade para nenhum outro centro”, afirma Augusto.
Na sala de biologia, os instrutores mostram
que não é necessário ser cientista para querer
entender como e por que os fenômenos ocorrem. Estudantes de todas as escolas e visitantes têm a oportunidade de saber como funciona o nosso corpo.
Os efeitos do alcoolismo, os efeitos do
fumo, do levantamento de peso incorreto,
além de uma maleta com instrumentos que
mostram de forma didática as consequências
do uso das drogas no organismo. Há ainda
um esqueleto humano, microscópio, modelos de célula animal e vegetal, pele humana,
modelos embrionários e a evolução do crânio
humano.
Muito além de receber visitas, a Casa de
Ciências promove diversos projetos. O projeto Café Consciência é realizado no último
domingo de cada mês, onde um cientista é
convidado a falar sobre um tema para os visitantes. “A cada edição, cientistas e pensadores são convidados para realizarem uma
apresentação sobre um tema relevante para a
sociedade”, explica o diretor da CCTECA.
Existe ainda um projeto voltado exclusivamente para crianças do ensino fundamental
- do 5º ao 9º. É o Jovem Cientista, que possibilita aos adolescentes o contato mais real
com experimentos. São reuniões realizadas
dois sábados por mês, em que os alunos têm
noções de robótica, ciências, técnicas de programação e memorização, além da montagem
de pequenos projetos.
Outro projeto desenvolvido é a observação
com telescópios, onde os interessados podem
acompanhar as observações em dias de lua
crescente e cheia, sempre às 18h.
VISITA
A visita guiada a todas as instalações do Planetário duram em média duas horas. Além das
salas, os visitantes podem ter uma rica experiência com os diversos experimentos interativos do espaço. Ao todo, o espaço dispõe de 81
equipamentos que proporcionam o conhecimento prático dos fenômenos do cotidiano. Os
visitantes também tem à disposição três equipamentos externos, entre eles o Gyrotex, que
simula a ausência da gravidade com círculos
giratórios e que é usado em treinamentos da
Nasa e Força Aérea. A CCTECA Galileu Galilei
tem muito mais a apresentar e quem tiver interesse pode ir fazer uma visita. O Planetário
está localizado na Avenida Oviedo Teixeira, no
Parque Augusto Franco (Parque da Sementeira), próximo ao Shopping Jardins. Das terças
às sextas-feiras, o horário de visitação é das 9h
às 12h e das 14h às 17h. Aos sábados e domingos, a visitação vai das 14h às 17h. Nos sábados
e domingos em que ocorrem as observações, a
visitação é das 18h às 20h
por SILVIA RODRIGUES
[email protected]
22
ciência&tecnologia&comportamento
PUNIÇÕES REAIS PARA CRIMES VIRTUAIS
Comentários e postagens ofensivas, durante as eleições, causaram dor de cabeça a muitos usuários das
redes
A
disputa eleitoral rea
lizada recentemente dividiu o país entre em
dois polos. As discursões,
sobre qual candidato deveria assumir a presidência,
causaram intrigas pessoais
e ofensas, as quais transformaram as redes sociais
em um verdadeiro ringue
de batalha. Os comentários
muitas vezes preconceituosos, ofensivos e absurdos
fugiram totalmente de controle e muita gente se sentiu
ofendida. Esse tipo de ação
é crime e a pessoa pode exigir, em tribunal, que o autor
do comentário tenha que
pagar uma multa, além da
detenção de até três anos.
Não é de hoje que crimes
cibernéticos vêm aconteLegenda da imagem. Aceaquat ecupien dusam, occusciatur?
cendo na internet. Quem não
se lembra do famoso caso Carolina Dieckmann,
deo gerou muita polêmica e modificou a vida de
no qual a atriz teve fotos íntimas divulgadas sem
muitas mulheres, que não podiam sair na rua sem
a sua autorização. E deste ocorrido originou-se a
ser julgadas ou discriminadas pela sociedade. O
Lei 12.737/2012 que tipifica como crime uma série
material trazia con
de condutas no ambiente virtual. Desde invasão
teúdo de caráter ofensivo e de injúria, que para a
acomputadores, tapolícia, é considerado um “crime contra a honFoto: Ascom SSP-SE
blets, smartphones,
ra”.
conectados ou não
O delegado Alexandro Vieira, explica que os inà internet, como
ternautas que ‘xingam’ os nordestinos ou es
também interrupcrevem comentários preconceituosos, estão
ção internacional
cometendo “crime contra a honra”. Vieira ainda
do serviço de interacrescenta que os usuários e administradores de
net, obtenção de inpáginas ao postarem esses tipos de comentários
formação privada,
estão cometendo injúria racial e não racismo como
comercialização dos
muitos pensam. “É possível a pratica do racismo,
dados obtidos sem
que é a discriminação propriamente dita, e a injúautorização.
ria racial, que é a ofensa pessoal com uso de terEm Sergipe, um
mos racistas”, afirma.
caso que chocou o
Desde 30 de novembro de 2012 quando foi sanestado, foi o vídeo
cionada a lei, apelidada de Carolina Dieckmann,
divulgado na incrimes como esses é investigado e os responsáveis
ternet difamando
punidos. Segundo especialistas, isso é reflexo de
adolescentes, muium mundo cada vez mais conectado, segundo datas eram menores
dos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísde idade, intitulado
tica (IBGE), 50,1% dos brasileiros estavam conec“as mais rodadas de
tados na internet em 2013, sendo que a maioria é
Itabaiana”. Esse víjovem de 16 a 18 anos. Levando em consideração
ACONTECEU
COMIGO...
Eduardo Rodrigo, 22 anos, Estudante
de Geografia da Universidade Tiradentes (Unit)
se sentiu ofendido com comentários
que circularam após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Segundo ele ao
navegar pela internet, como de costume, viu diversos comentários de xenofobia, que o deixou indignado. Mas um
em especial, no facebook, chamou sua
atenção, o comentário dizia: “Malditos
nordestinos mortos de fome! Tem mesmo é que se ferrar junto com o PT”.
Indignado com o ocorrido, Rodrigo
entra em contato, através do facebook,
com a pessoa e rebate a sua colocação
dizendo:
“Você deveria repensar seu comentário. Seu preconceito, é que fez o Brasil
ser como é!”. A pessoa não respondeu e
em seguida deleta a sua conta do facebook “sem se desculpar ou se redimir”.
Rodrigo ver essa atitude como um
as pessoas que tem acesso à internet
78% dos usuários, de todas as idades, tem conta ou página em alguma
rede social (Facebook , Twitter, Instagram).
Vieira relata que a grande maioria não comente esse tipo de crime,
pelo contrario repudiam essa ação,
mas essa minoria se torna um problema quando fazem comentários
inapropriados nas redes sociais. “As
ofensas na rede social representam
o maior número de registros na Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC)”, afirma.
Qualquer discurso que promova a
xenofobia na internet pode para no
tribunal. Desde que a pessoa que se
sinta ofendida procure uma delegacia especializada e faça a ocorrência.
“Os casos de menor potencial ofensivo tem penas inferiores há dois
anos e são julgados pelos Juizados
Especiais Criminais, normalmente resultando em conciliações ou penas alternativas”,
explica o delegado.
O QUE FAZER
As pessoas que se sentirem vítima deste tipo de
ação deve se encaminhar a uma delegacia especializada, no caso de Sergipe a DRCC, onde receberá
todas as orientações adequadas. Os especialistas
alertam para o fato de guardar provas, o ideal é fazer uma ata notorial, no qual o profissional do cartório acessa o conteúdo e atesta sua existência, porém esse é um processo caro. Outro método seria
usar o print screen (cópia da tela do computador).
Se o possível infrator usar uma página anônima
ou falsa para disseminar ideias ofensivas, e o internauta se sente incomodado, também deve ser
feito a denúncia, pois segundo o delegado existem
técnicas próprias para identificar e punir o autor
dos insultos. Ainda pode ser feita a denuncia em
diversos meios disponíveis, como entra em contato com a própria rede social, contatar ONGS que
luta e protege os direitos humanos na rede, por
exemplo, a Safernet
ato de covardia, “porque ela está atacando a nossa democracia, ou seja,
todo mundo tem o direito de voltar em
quem quiser. Se a presidente ganhou
foi porque a maioria assim votou”, explica. Ele ainda relata outros comentários ofensivos, os quais, diziam que todos os nordestinos eram burros, idiotas
por terem reeleito a presidenta.
“Observo que hoje o mundo é movido pela internet e que neste há os mesmo preconceitos que encontramos na
rua”, relata Rodrigo.
por JUSSARA GONÇALVES
[email protected]
Foto: Arquivo pessoal
23
ciência&tecnologia&comportamento
ENTRE O VÍCIO E A NECESSIDADE
WhatsApp: o limite entre os dois lados do aplicativo que vem revolucionando a comunicação
P
ensar em uma comunicação moderna,
instantânea, prática e ao mesmo tempo
divertida, é pensar hoje, no WhatsApp, ou para
os mais íntimos, apenas “whats”. Ou zapzap.
Essa tecnologia reforça o quanto as pessoas são
dependentes de relações, e por isso, fica cada
vez mais raro encontrar alguém que não possui esse aplicativo. Ligações? SMS? Estes estão
sendo substituídos, já que as pessoas podem
conversar em tempo (quase) real com várias
outras ao mesmo tempo. Pedir o número de
uma pessoa se tornou inadequado, as pessoas
querem agora “o seu whats”. Nesse universo,
as mudanças são inerentes e constantes, a cada
atualizada, uma novidade. Agora não basta apenas enviar uma mensagem e esperar a resposta.
É preciso saber se chegou e se foi visualizada.
Quantas pessoas já ficaram com raiva quando
viram aqueles dois tracinhos azuis e nada de
resposta? Quantas pessoas se sentiram “deslocadas” do mundo quando o WhatsApp ficou
sem funcionar? Muitas outras se conheceram,
se aproximaram e resolveram diversos problemas, com o simples teclar neste aplicativo.
Sua funcionalidade adentrou o mundo das
comunicações e facilitou a interação de diversas pessoas. Nas eleições desse ano, por exemplo, vários candidatos (senão todos) utilizaram
o WhatsApp para divulgar suas campanhas e
interagir com seu “público”. Não é diferente
com diversas empresas e seus colaboradores
que se adequaram ao novo meio para garantir
melhores resultados diante de seus clientes.
Para Tiago Santos, supervisor da IBI Promotora de Vendas – Aracaju, as empresas precisam
se adequar às novas realidades de mercado,
principalmente aos avanços tecnológicos que
tem contribuído consideravelmente para estreitar a relação “cliente x empresa”.
Esse aplicativo também agregou diversas
vantagens na comunicação interna da empresa,
pois além de ser uma comunicação barata, consegue atingir uma grande quantidade de pessoas de forma rápida e em tempo real. “Temos
um grupo criado para os supervisores, onde são
passadas informações a todo o momento, desde flash de vendas às comunicações atualizadas sobre normas, procedimentos da empresa,
campanhas de vendas, dentre outros assuntos.
Cada supervisor, por sua vez, cria o seu grupo
adicionando os funcionários da loja. Nesse, são
passadas informações pertinentes à loja, frases
e vídeos motivacionais, e é claro, também existe o momento de descontração e entretenimento com o grupo”, afirma Tiago.
OUVINDO OS ESPECIALISTAS
“
Hoje, estar conectado é meio que uma regra
para viver em sociedade, me sentiria perdida
sem o WhatsApp”, Maíra Sandes, estudante de
medicina. A opinião da estudante reflete a realidade da nossa sociedade, onde a comunicação
é necessária e o auxílio de ferramentas, como o
WhatsApp, é essencial para qualifica-la. Mas o
uso desse aplicativo não apresenta apenas benefícios. “Considero-me dependente do WhatsApp,
porque deixo o celular sempre ao meu alcance.
Não consigo ficar mais de uma hora sem ver, só
quando estou dormindo (risadas)”, afirma Maíra.
Essa dependência vem se tornando comum entre os usuários que não se veem mais sem essa
tecnologia. Para a estudante, esse vício modificou
alguns hábitos de sua rotina, como a perda de
foco nos estudos, por exemplo. “Quando estou
estudando tenho que deixar o celular longe do alcance de minhas mãos, porque já é algo mecânico, mas não consigo ficar muito tempo sem ver”,
conta. A psicóloga clínica, Ilza Donald, explica
que isso normalmente acontece devido aos benefícios ofertados pela tecnologia. “O usuário fica
tão voltado para os benefícios que não percebe o
quanto se torna dependente dele, mas nosso cérebro é um computador natural, cabe a nós mesmos saber equilibrar e dominar as nossas ações”,
ressalta.
Outro problema, causado pelo uso (excessivo)
do WhatsApp, é a mudança nas relações sociais,
uma substituição: deixar o real e se contentar apenas com o virtual. Como diz o grande McLuhan
em seu livro, “Os meios de comunicação como
extensões do homem”, muitas pessoas são mais
sociáveis utilizando uma tecnologia do que num
ambiente com várias outras pessoas.
Esse comportamento facilita o distanciamento
do mundo real e uma aproximação do mundo
virtual. Essa é a preocupação. “A comunicação
que se estabelece mediada pelos ‘bate-papos’,
parte do entendimento de que ‘ele vai ficar lá e
eu aqui’, o que gera um nível de segurança, mas
ao mesmo tempo, talvez, a pessoa perceba em algum momento uma falta de sentido para aquela
experiência, porque tem coisas que não serão
expressas pela fala, mas sim pelo olhar, pelo
toque, que muitas vezes abrimos mão, quando
estamos envolvidos com essas tecnologias”, afirma a psicóloga e professora da Universidade Federal de Sergipe, Danielle de Gois. O aplicativo,
como forma de substituição, proporciona uma
falsa socialização à medida que não vai aproximar “pessoa - pessoa”, mas sim uma tecnologia
sempre interferindo nessa relação (superficial).
Por isso, é importante saber dosar as relações
e utilizar o WhtasApp como “um meio”, e não
como “ única forma” de interação. “A tecnologia
pode aproximar à medida que a utilizamos não
como substitutiva, mas como um aparato que
está a nosso serviço, e não nós a serviço dele. É
um recurso que podemos usar para marcar um
encontro com alguém, por exemplo, e não como
um impedimento de encontrá-lo por já estarmos satisfeitos com as trocas de mensagens”, diz
a psicóloga
por ISADORA PINHO
[email protected]
ENTREVISTA
Vitor Braga
Online
O que é o aplicativo WhatsApp?
É uma ferramenta utilizada em dispositivos
móveis para uma comunicação na perspectiva
de um instant Message.
Qual a funcionalidade deste aplicativo?
Poder conversar com as pessoas num fluxo
de conversação diferente de outros meios, já
que este é utilizado em dispositivos móveis e
permite a interação a “qualquer hora”.
Como surgiu este aplicativo e o que
marcou sua trajetória até hoje?
O WhatsApp foi criado em 2009 por Brian Acton e
Jan Koum, com o intuito de materializar a ideia de
mobilidade e praticidade na comunicação. Em 2012
já alcançava cerca de 10 milhões de mensagens. Em
2013, alcançou a marca de 250 milhões de usuários
e 25 bilhões de mensagens enviadas e recebidas
por dia. Nesse ano de 2014, o WhatsApp foi vendido
para o Facebook, que pagou 19 bilhões de dólares
por sua aquisição, sendo que 15 bilhões em ações do
Facebook e 4 bilhões de dólares em dinheiro. Hoje o
seu forte, além da mobilidade nas conversações, é a
criação de grupos, que permitem maior interação e
divulgação de informações. Recentemente, o limite de
pessoas por grupo foi ampliado de 50 para 100.
Charge: Yves Deluc
24
A PERFORMACE DA DOR
A exposição “Performance da Dor”, apresenta ao público um misto
de emoções, que apresentam as variadas sensações de dor, baseada
nas obras de artista plástica mexicana Frida Kahlo.
A
Performance da Dor marcou os dois meses finais de 2014, com seu inicio na primeira sexta-feira de novembro, dia 7, e com data de término no dia
11 de dezembro, a exposição apresentou para o público
um universo no qual se permitia transitar entre diversas linguagens, tais como a fotografia, a pintura corporal e a encenação. A exposição foi apresentada no Sesc
Centro, e bateu recordes de público, com repercussão
até na mídia local.
De autoria das alunas do curso de áudio visual da
Universidade Federal de Sergipe (UFS), Janaína Vasconcelos e Camila Pedroza, a exposição apresenta 7
obras que fazem releituras de pinturas renomadas da
artista plástica mexicana, Frida Kahlo. Janaína Conta
que o trabalho surgiu da simples ideia e vontade de
querer fazer um projeto fotográfico autoral, usando a
obra de Frida Kahlo como base referencial.
“No início era tudo muito ingênuo, eu só pensava
que a única coisa que não queria era remakes de Frida
Kahlo, fora isso não sabia ao certo o que queria. Até que
conversei com Camilla, que já trabalhava com pintura
corporal e daí iniciamos o processo criativo e de pesquisa sobre o tema”, conta aluna apaixonada por fotografia, Janaína.
As artistas deram uma palestra na II Semana Acadêmica da Universidade Federal de Sergipe, na qual
falaram sobre todo o processo de criação da exposição.
Segunda elas o processo foi bem gradual, porém não
linear. A necessidade de fazer as 7 obras realmente tomou força a partir do primeiro ensaio, no qual a obra da
coluna partida de Frida Kahlo foi feita, as artistas decidiram se aprofundar mais no universo da dor.
“Buscamos referencias em autores da fotografia,
psicologia, psicanálise, e até na própria vida e obra de
Frida. Depois dessa fase de pesquisa pudemos retornar
as atividades mais práticas relacionadas diretamente a
se fazer as fotografias, no caso os ensaios, e no terceiro
momento do processo foi onde iniciamos os trabalhos
laboratoriais de experimentações de novas técnicas e
formatações para essas imagens capturadas. Essa última fase se desdobrou até o momento final da galeria,
com a montagem das peças”, conta Janaína
Foto: Felipe Goettenauer
Sem duvidas o que chama mais atenção em toda a
exposição são as diferentes texturas em que as fotografias são apresentadas, e como as obras receberam um
tratamento manual, se utilizando de diversos elementos que só tornam a exposição ainda mais impressionante
FRIDA KAHLO
Nascida em 1907, no México, Magdalena
Carmen Frieda Kahlo y Calderón foi uma artista que pintou seus quadros com a dor de
uma vida. Frida Kahlo retratava, quase sempre em auto-retratos, a angústia de não poder ter filhos e dos seus diversos problemas
na coluna, frutos de um acidente de bonde
aos 18 anos, quando um pára-choque perfurou suas costas e saiu por sua vagina. O
acidente foi uma base para sua vida artística, já que seus primeiros quadros foram feitos ainda no período de convalescência e
as graves sequelas foram temas para obras
como “A Coluna Partida” e “Without Hope”.
Pelo forte conteúdo das suas pinturas, foi
considerada surrealista por grandes nomes
das artes plásticas, título que negou prontamente, afirmando que pintava apenas a sua
realidade. Frida Kahlo morreu em 1954, seu
atestado de óbito registra embolia pulmonar,
mas a hipótese de um suicídio por overdose
de remédios não é descartada por causa da
última anotação em seu diário: “Espero que
minha partida seja feliz, e espero nunca mais
regressar - Frida”. As cinzas do seu corpo estão juntas a diversos dos seus quadros no
Museu Frida Kahlo, localizado na casa onde
viveu, A Casa Azul, em Coyoacán, México.
Releitura da obra “A coluna Partida” por Janaína Vasconcelos
cul
tu
ra
Entrevista Ping Pong
com Janaína Vasconcelos
Janaína tem 23 anos e já está no final do curso de audio visual da Universidade Federal de
Sergipe (UFS) , ela pretende seguir carreira de
fotógrafa e já está conseguindo se projetar no
cenário cultural de Aracaju.
Contexto: Qual foi sua reação ao completar a
exposição e abri-la para o público?
JV: Poderia falar melhor em sensação, parecia pisar em nuvens e nem acreditar que aquele
processo todo se realizava no mundo material
de fato. A reação é de satisfação, gratidão, muita
alegria.
Contexto: Por que Frida Kahlo?
JV: A autora mexicana já era um símbolo que
queríamos tratar desde o inicio do projeto, foi a
chave inicial para se pensar em fotografar, talvez por admiração mesmo. Porém logo depois
de toda pesquisa traçamos nossa linha principal
para se tratar do tema dor, e a Frida foi a melhor
autora escolhida para se tratar desse tema, ja que
sua via inteira foi perpassada intensamente por
esse elemento.
Contexto: Contente com o resultado?
JV: Completamente, plenamente, absurdamente, demasiadamente!
Contexto: O que achou da reação do público?
JV: Não sei ao certo do público em geral, mas
em vários casos vi as pessoas curiosa sobre os
usos dos materiais “novos” em fotografia.
Contexto: Pretende expor em algum outro lugar?
JV: Pretendemos levar ao máximo de lugares
possíveis.
Contexto: Para você, o que é arte plástica?
JV: É se pensar a dimensão poética especialmente, materialmente, sensualmente.
Contexto: Já se considera uma fotografa profissional?
JV: Não. Diria que pela metade. Falo isso
porque tecnicamente sei que existe muito a se
aprender, mas principalmente porque não é uma
atividade que me mantém financeiramente por
inteiro.
Contexto: Vocês estudam da UFS? A Universidade deu algum incentivo?
JV: Sim, os professores do nosso departamento e o FOTOUFS ( os mais próximos a nós) acreditaram desde o inicio nessa ideia.
Contexto: O que o publico deve absolver da
exposição?
JV: A experiência, espero que cada um experiencie ao seu modo
por FELIPE GOETTENAUER
[email protected]
cultura
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PROMESSA MUSICAL PARA 2015
Quando o assunto é MPB, para seduzir o público
dos barzinhos, o campo mais seguro é a releitura de canções de famosos ícones, e entre uma e
outra música, composições aparecem, mas isso
não é unânime, há gente que arrisca e se dá bem
com shows completamente autorais. Por isso nesta edição trazemos uma seleção de três trabalhos
fonográficos para conhecer ou rever sergipanos
autênticos que contribuíram para o crescimento
da música sergipana em 2014.
Mestrinho/ CD- Opinião
O itabaianense Mestrinho acaba de lançar o CD
Opinião. Filho do forrozeiro Erivaldo de Carira,
Mestrinho é sanfoneiro desde os seis anos e aos
doze já fazia shows na região. Aos dezessete foi
embora para São Paulo onde formou o Trio Juriti
chamando a atenção de artistas com Elza Soares,
Zélia Duncan dentre outros, gente que o sergipano fez parcerias. O músico faz parte da banda de
Gilberto Gil e também participou da construção
do mais recente CD do artista baiano, intitulado
Gilberto Samba. Tal conexão, fez com que o renomado cantor também participasse do seu primeiro CD solo.
FOTO DIVULGAÇÃO
N
da de pesquisa para que isso aconteça. Algumas
participações especiais com novos instrumentos,
tentar colocar mais música autoral, estamos ainda numa busca e em fase de experimentação”,
relatou a promissora cantora da nova geração. É
esperar esperar pra ver.
CONTEXTANDO
MÚSICA
Se tem uma tradição que é seguida todos
os fins de ano pela maioria das pessoas, é
o balanço positivo e negativo do ano que
está prestes a findar. Quando o assunto é
música, a coisa tende a ficar no esquecimento, a não ser nas famosas premiações
da TV que muitas vezes privilegiam uma
pequena quantidade de notórios talentos
da indústria cultural deixando esquecidos
tantos outros expoentes do Brasil continental. A situação piora ainda mais, quando
novos ou velhos artistas estão fora do eixo
Rio/ São Paulo. No menor estado do Brasil
não é diferente, nossos artistas estão nos
bares tentando um lugar ao sol.
Raquel Delmondes/ CD -Vem Cantar
Meu Samba
Conhecida pelo timbre de voz que lembra as cantoras do rádio, Raquel Delmondes tem
no segundo CD “Vem Cantar Meu Samba” doze
faixas, onde onze delas são assinadas por compositores sergipanos. Além do samba, ritmo que dá
o tom do disco e da carreira, o canto pós Bossa
Nova é outra grande paixão.
FOTO DIVULGAÇÃO
ascida em berço artístico, seria quase impossível Ananda se enveredar por outros
caminhos. Dona de um sobrenome forte na cultura sergipana, a cantora é sobrinha de Ismar Barreto, um dos maiores compositores da história da
música no estado e de Antônio Barreto, líder do
grupo Mamulengo de Cheiroso, personagem que
também é alvo desta edição do caderno de cultura do Jornal Contexto. Não bastasse isso, a sergipana também tem em Elis Regina uma de suas
grandes inspirações; Patrícia Polayne, renomada
artista de Sergipe, foi a responsável por colocá-la no palco. Evidente que o fato de ser rodeada
por tantos ícones, faria das raízes do seu trabalho
bastante fortes, mas a composição das mesmas
não ficou só por aí e teve Granada, cidade localizada no sul da Espanha, uma das fontes para a
sua obra musical que passeia pelo estilo cigano,
bem típico do lugar onde foi morar aos 14 anos.
Neste ano, mais precisamente em junho, Ananda estreou junto a banda que é composta por sua
família, a tia Mary Barreto tocando cavaquinho,
flauta e também sendo vocal, o primo Dami Narayana tocando violão, João Mário no baixo e Pedrinho Mendonça na percussão. O show ganhou
o nome de “A Fuego Lento”, com repertório que
mesclou música de Cabo Verde, coco, salsa, musica espanhola e música brasileira.
O primeiro passo da carreira foi dado em uma
noite chuvosa em Aracaju. “A princípio parecia
que ia sair tudo errado, pensei que não iria dar
ninguém. Era um espaço aberto e o palco estava todo montado já. De repente vejo uma galera
começando a chegar, em respeito aos que já estavam no local tinha que fazer de qualquer maneira, daí falei com Chico (proprietário do espaço) e
sugeri de fazer dentro da sala, era a nossa única
opção, fiquei muito feliz, que mesmo com a aquela chuvarada toda as pessoas ficaram curiosas e
vieram espiar o que eu estava aprontando”, conta
a cantora. O show foi um sucesso, e as críticas do
público foram as melhores.
Ananda vem formando público ao longo dos
últimos meses e é um dos destaques da atual cena
musical sergipana. Quando o assunto é produção
local, a cantora se mostra contente e diz que vê
muitas bandas sendo prestigiadas pelo público.
Outro fator é o surgimento de muitas cantoras.
Ela brinca dizendo que o sergipano é exigente,
mas na sua opinião o que falta por aqui são mais
produtores para poder lapidar esses talentos e expandi-los pelo Brasil.
Todo artista tem o sonho de gravar o primeiro
CD, mas a morena tem o pé no chão e quer primeiro preparar o terreno e fazer uma garimpagem de possíveis parcerias com compositores já
que é apenas interprete. “Se quero mesmo seguir
cantando acho que ter uma material palpável do
que faço é um cartão de visita, para participar
de editais, festivais, fazer contato com artistas
de outros estados, enfim, tem que sonhar e fazer
também por onde esse sonho chegue até a gente,
as coisas não caem do céu, mas ultimamente isso
é algo que muita gente tem me falado, não precisa
ser um CD, um EP seria algo mais viável talvez”,
explica. Os próximos passos agora consistem em
montar algo novo. “Estamos num processo ain-
Banda NaurÊa/ EP - Na Dansanteria
NaurÊa, uma das bandas mais bem sucedidas da
música sergipana, lançou neste ano um EP composto por quatro faixas inéditas. Famosa por sua
versatilidade que vai de ritmos regionais a latinos,
as músicas foram gravadas no Ori Studio em Aracaju, mixadas em Recife (PE) e masterizadas em
Seattle (EUA) e segue a mesma linha de qualidade da diversão, característica que é prioridade no
trabalho do grupo.
FOTO DIVULGAÇÃO
Cantora Ananda Barreto desponta na cena sergipana
Foto: divulgação
por RODRIGO ALVES
[email protected]
esp
or
te
26
2015 JÁ COMEÇOU PARA O CONFIANÇA
Com o acesso garantido o clube começa a projetar a temporada 2015 visando o título do Campeonato
Sergipano e a permanência na Série C do Brasileirão
Foto: Marcos Borges
U
m ano diferente para a Associação Desportiva Confiança (ADC). Assim será 2015,
quando o Dragão do Bairro Industrial terá uma
temporada cheia de jogos. Campeonato Sergipano, Copa do Nordeste, Copa do Brasil e, a maior
expectativa, o Brasileirão da Série C. Por isso é
necessário um bom planejamento, uma equipe
forte e competitiva, além de jogadores e diretoria
comprometidos com o trabalho a nível profissional.
A diretoria do clube começou esse planejamento com a manutenção do técnico Betinho, que foi
essencial na conquista do acesso à Série C. Além
disso, o clube já trabalha em cima do elenco para a
próxima temporada que exigirá um plantel maior
e mais qualificado. Por isso, as negociações para
a permanência de jogadores importantes na temporada 2014 estão em andamento, dentre eles o
experiente Geraldo e o xodó da torcida e principal
jogador da equipe, Leandro Kível.
O diretor de futebol, Ernando Rodrigues, diz
que 70% do elenco será mantido e novos jogadores serão contratados para reforçar a equipe
e disputar a titularidade com os que já estão no
grupo. Por isso, a escolha desses jogadores será
feita com cautela e muita tranquilidade, para não
dar espaço a erros.
Mas, para que esse planejamento seja cumprido e o Confiança não enfrente problemas financeiros durante a temporada, o clube terá que
solucionar um problema crônico: a falta de investimentos. Mesmo com as verbas repassadas durante as competições, a exemplo da cota de TV, o
clube necessitará de patrocinadores. Porém, historicamente os empresários sergipanos não costumam investir grandes montes no futebol.
Mas, o diretor de futebol do Confiança acredita
que o clube tem o que oferecer para atrair patrocinadores. “O Confiança tem um calendário que
começa no mês de janeiro e vai até novembro. O
patrocinador já sabe que vai ter sua marca vinculada a uma equipe grande do futebol sergipano
que vai passar em canais de televisão”, afirma o
diretor. Segundo Ernando, o clube contratou uma
empresa especializada para cuidar do marketing
e da assessoria.
COMPETIÇÕES
Para quem pensa que o Confiança está com a
cabeça apenas na Série C, se engana. O primeiro
objetivo do Dragão é a conquista do Campeonato Sergipano, que começa no dia 25 de janeiro.
O time proletário está no Grupo A onde também
estão Itabaiana, Estanciano, Amadense e Boquinhense. Por isso, o Confiança terá que começar
o ano ‘com tudo’. O primeiro desafio é contra o
Boca Júnior.
Já no dia 05 de fevereiro o Confiança começa
a disputar, simultaneamente ao Sergipão, a Copa
do Nordeste, competição que dá ao campeão uma
vaga na Copa Sul-Americana. O Dragão caiu na
chave do Vitória – BA, Serrano – BA e América RN. O primeiro jogo será contra o Vitória – BA. A
equipe sergipana espera fazer uma boa competição, que pode ser encarada como uma prévia dos
desafios que estão por vir no Brasileiro – Série C.
Competição que o Confiança disputará com o
objetivo de se manter, mas sem deixar de almejar o acesso a Segunda Divisão do Brasileiro. “O
Confiança tem que entrar na Série C querendo
ascender a Série B como ele entrou na Série D
querendo o acesso para a Série C. A conquista ou
não dessa vaga é fruto de um trabalho bem feito e
exitoso. Mas ainda assim você entra com o desejo
dos grandes de querer ascender; caso contrário
você está fadado ao fracasso”, ressalta o editor de
esportes do Correio de Sergipe, Marcos Borges.
Um fator importante para a disputa dos campeonatos será a reabertura do Estádio Lourival Batista, o Batistão, que possibilitará que os jogos do
Confiança (em casa) sejam realizados na Capital,
diferente do ano de 2014 quando foram disputados em Itabaiana. Isso será bom financeiramente
para o clube, uma vez que o Batistão comporta
mais torcedores do que o Presidente Médici, e
logisticamente para a torcida, que não precisará
mais se deslocar até a cidade serrana para ver os
jogos do Dragão
por CLEYDSON SANTOS
[email protected]
FALA, TORCEDOR
FELIPE LIMA
“A empolgação pela
nova temporada é
grande.
Classificado para a Série C, que
cada vez mais ganha
prestigio no cenário nacional, favorito ao
título estadual e disputando mais duas
grandes competições, além de ter o estádio Lourival Batista recém-reformado
ao seu dispor, o Confiança tem nas mãos
a oportunidade de se estruturar financeiramente e aumentar sua visibilidade”.
BRENO OLIVEIRA
“Espero que o Confiança em 2015 se
mantenha forte e
com a dereminação
que o time teve durante os campeonatos disputados no
decorrer desse ano. O calendário para
o ano de 2015 está bem recheado e
dando visibilidade ao futebol e ao estado de Sergipe. E como diz o Hino:
‘SOU CONFIANÇA EM TODO BRASIL’”.
esporte
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CRUZEIRENSES FAZEM A FESTA EM ARACAJU
Para celebrar a boa fase no time, os torcedores de Sergipe da Raposa criaram a torcida “AracajuZeiros”
Foto: arquivo pessoal
Cruzeirenses na primeira viagem com a torcida organizada, para partida entre Vitória e Cruzeiro. A vitória deu ao time o título de Tricampeão (2013)
Mais uma edição do Campeonato Brasileiro
chegou ao fim. Mas, parece que algumas coisas
não mudaram tanto assim de um ano para o outro. Repetindo a dose de 2013, o Cruzeiro Esporte
Clube se sagrou campeão da maior competição
nacional novamente. Conquistando a taça em
dois anos consecutivos, o cruzeirense tem motivo
de sobra para estar sorrindo à toa. E se engana
quem pensa que a alegria se limita às ruas do estado de Minas Gerais. Em Aracaju, os torcedores
celestes elaboram as mais diversas formas de trazer o Mineirão para perto e comemoram o bom
momento da equipe.
Seja assistindo às partidas aos montes nos bares da capital ou levando caravanas para cidades
próximas onde o Cruzeiro vai jogar, os cruzeirenses residentes em Sergipe dão seu jeito de curtir
a Raposa. E foi desse jeito que surgiu a torcida
AracajuZeiros.
Criada por volta de outubro de 2013, através
das redes sociais, a AracajuZeiros já reúne mais
de cem integrantes. Movidos pelo excelente momento vivido pela equipe no ano passado, os cruzeirenses passaram a espalhar o amor pela camisa celeste também em Aracaju.
É o caso de Neto Oliveira, sergipano de Itabaianinha. O estudante conta que começou a se encantar pela Raposa aos 4 anos de idade. “Comecei
em 1993. Meu pai, botafoguense, convidou vários
amigos para assistir Cruzeiro vs Botafogo. Acontece que o Cruzeiro acabou goleando o Botafogo.
Depois disso, relatos da minha mãe, eu só falava
em Cruzeiro”, contou Neto.
Neto esteve presente na partida decisiva entre
Cruzeiro e Grêmio em 2013, que praticamente
colocou as duas mãos da Raposa na taça, depois
de 10 anos sem vencer o Brasileiro. “Os últimos
anos foram de pura felicidade. Um time que eu
apostava render em 2014, ganhou 2013 também.
Entrou para a história, porque, para cruzeirense,
ter poucos brasileiros incomodava”, disse.
E essa história
de que futebol e
mulheres não se
misturam é coisa do passado. A
estudante Mirele
Bispo acompanha
o time há mais de
10 anos e conta
que é encantada
com o time Cinco Estrelas. “Acho que o sonho de
qualquer torcedor é viver o que eu vivi nessas últimas temporadas”, disse a garota.
A AracajuZeiros organiza viagens para acompanhar a equipe. No ano passado, a torcida começou com o pé direito. A primeira viagem realizada
já consolidou o título, na partida entre Vitória e
Cruzeiro. A equipe celeste venceu por 3 a 1. Em
2014, os integrantes voltaram a se reunir para assistir juntos e no estádio às partidas entre Bahia x
Cruzeiro, Vitória x Cruzeiro e Santa Rita x Cruzeiro. E, pelo visto, a torcida faz bem ao time. Todas
as vezes que esteve presente, a AracajuZeiros viu
a equipe vencer os jogos.
“Para
cruzeirense,
ter poucos
brasileiros
incomodava”
RECORDES
LADO ALVINEGRO DA FORÇA
Se sobrou rivalidade em Minas Gerais durante as eleições de 2014, no
futebol não foi diferente. Disputando o topo do
Brasil, Aécio Neves e Dilma Roussef dividiram
opiniões de eleitores. Coincidentemente, os times do coração dos candidatos também apresentam grande rivalidade. Dilma, Atlético Mineiro.
Aécio, torcedor do Cruzeiro. Dilma levou as eleições, mas sobrou alegrias para os dois candidatos
dentro de campo.
O Cruzeiro não é o único responsável por tornar Belo Horizonte a capital do futebol brasileiro.
O Clube Atlético Mineiro também vem de grande fase, tendo conquistado em dois anos consecutivos dois títulos de grande expressão e inéditos para o clube: Copa Libertadores da América
(2013) e Copa do Brasil (2014).
O último título conquistado pelo Galo teve um
sabor ainda mais especial. Após partidas históricas contra Corinthians e Flamengo nas quartas
e semifinais, consecutivamente, o Atlético-MG
aguardava nada menos que o maior rival na final da competição: o Cruzeiro, maior vencedor
da competição, junto com o Grêmio, com quatro
títulos.Mas, dessa vez, não teve como evitar o sucesso do clube atleticano, que venceu as partidas
de ida e volta e se sagrou campeão da Copa pela
primeira vez.
As partidas pararam Belo Horizonte por semanas e declararam a cidade como capital do futebol
em 2014.
Apesar da forte rivalidade, Cruzeiro e Atlético
Mineiro dividem o momento brilhante em suas
histórias. Capaz até de deixar muito carioca e
paulista com uma pintada de inveja
por HELENA SADER
[email protected]
esporte
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DESAFIOS DO PARADESPORTO
Em um cenário pouco favorável para o esporte, o paraciclista sergipano Ulisses Freitas vence a falta de
patrocínio com muita disciplina e força de vontade.
C
om uma gama variada em desportos, o cenário sergipano se faz dinâmico e diversificado,
porém a dificuldade de apoio financeiro dá poucas
oportunidades ao desenvolvimento de determinadas
modalidades no estado. Nesse ambiente se desenvolve o paraciclismo, categoria que se destacou no ultimo ano rendendo medalhas aos atletas sergipanos.
Ulisses Freitas, campeão da penúltima etapa da Copa
do Brasil de Paraciclismo 2014, é um exemplo de dedicação e superação no esporte. Ele participou de todas
as etapas da Copa este ano e subiu ao pódio cinco vezes
contabilizando dois bronzes, duas pratas e um ouro.
Sempre buscando um lugar de destaque para Sergipe, Ulisses vem divulgando o nome do Estado
nas competições nacionais e incentivando os paraciclistas conterrâneos a serem atuantes no esporte.
Para o presidente da Federação Sergipana de Ciclismo, Jairo Vieira, a divulgação de um calendário competitivo ajuda na evolução dos atletas que sempre almejaram um padrão nacional. Atuante na Federação
desde 2005 e há um ano ocupando o cargo de presidente, Jairo afirma que atualmente oito para-atletas são assistidos pela Federação, sendo cinco deles
na categoria handbike, a mesma que revelou Ulisses
como competidor de futuro desde 2011. Ainda sobre a
modalidade, o presidente destaca que o paraciclismo
tem evoluído muito nos últimos dois anos não falta
apoio da Federação de Ciclismo com divulgações intensivas das competições e das conquistas dos atletas.
Apesar de existir um incentivo financeiro mínimo vindo dos setores municipal e federal Jairo
destaca que não é suficiente para manter um esporte com o custo tão alto. “A parte de patrocínio é
muito complicada pois muitas empresas, e alguns
órgãos privados ainda não abriram os olhos para
o esporte, principalmente para o paraciclismo.
Mesmo com a Lei de Incentivo ao Esporte são poucas as empresas que investem-no setor”, afirma.
A Lei de Incentivo ao Esporte em vigor desde o ano
de 2006 permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam ao Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte, respeitando a porcentagem de 1%
para as empresas e 6% no caso de pessoas físicas.
Ulisses concorda que falta mais abertura financeira
para os patrocínios e declara que, apesar de alguns
patrocinadores suspenderem a ajuda, ainda exibem
suas marcas e logotipos em camisas dos atletas. “Visto, não faço questão, não brigo por isso, mas muitos
que estampam as minhas camisas como patrocinadores já pararam de financiar o esporte há algum
tempo”, critica. Ulisses participa também do programa Bolsa Atleta, promovido pela Prefeitura Municipal de Aracaju. O programa busca incentivar atletas
que representam a capital em competições regionais
e nacionais. Mesmo assim a Bolsa não atinge o ideal
de cobertura em gastos com equipamento e viagens
para as competições.
Segundo opresidente da Federação, o que falta
para Sergipe ser reconhecido no cenário nacional
como grande incentivador do paraciclismo é o apoio
de grandes incentivadores para o esporte. “Só precisamos do apoio de pessoas sérias que acreditam no
esporte como uma inclusão social que possibilita qualidade de vida e saúde. Apoiando assim a Federação,
os nossos ciclistas e os nossos paraciclistas”, ressalta.
Ulisses Freitas em competição. (Foto: Acervo Pessoal)
ULISSES, O CAMPEÃO
Encontrei nosso personagem logo após uma competição local, visivelmente cansado porém satisfeito
com os últimos resultados da sua carreira. Todos ao
redor o cumprimentavam com respeito e admiração
enquanto ele passava acompanhado da esposa e do irmão. Ulisses sorria e se dirigia ao stand dos atletas para
esperar a premiação. “Corri porque gosto, sempre estou nos eventos esportivos da minha cidade.” disse a
um fotojornalista próximo a ele ao passar entre o aglomerado de atletas próximo ao pódio de premiação.
No microfone Ulisses foi anunciado e mesmo
estando sem a handbike de competição conseguiu o primeiro lugar. Depois da medalha e da
pose pra fotos ele falou sobre seu início no esporte e as pretensões para o futuro focado sempre na ascensão como destaque no paraciclismo.
Ulisses Freitas iniciou a sua carreira nos esportes em
2010 com o basquete de cadeira de rodas, mas foi com
a individualidade competitiva do paraciclismo que
ele se identificou. Em fevereiro de 2011 o para-atleta
decidiu começar a competir na modalidade e em abril
do mesmo ano em São Paulo, durante a Copa do Brasil de Paraciclismo, Ulisses teve sua primeira glória. A
surpreendente medalha de bronze em seu primeiro
ano como competidor oficial foi para ele uma emoção
ímpar já que sua única pretensão naquele momento era ganhar experiência no esporte para as futuras
corridas. “A medalha de bronze foi uma surpresa e
um impulso na minha carreira. Eu estava disputando com os destaques do país,” declara empolgado.
Apesar das dificuldades de patrocínio e equipamentos o atleta não parou com os treinos. Seguindo
em competições regionais e nacionais durante esses
quase quatro anos no esporte Ulisses, conseguiu em
outubro deste ano sua primeira medalha de ouro na
Copa do Brasil de Paraciclismo. O primeiro lugar no
pódio possibilitou ao atleta um maior destaque no
nível nacional e ampliou seu foco para as competições internacionais. Ulisses atribui essa evolução ao
equipamento que conseguiu recentemente com a
ajuda de amigos, colegas de profissão e empresários.
A nova bike espanhola por ser configurada como
intermediaria na modalidade lhe proporcionou uma
corrida mais justa com os demais competidores, confirmando as expectativas de que aliando o treino ao
equipamento adequado ele cresceria na competição.
“Claro que essa bike não é a top de linha, mas é como se
diz,: nordestino tem esse sangue de cabra da peste e luta
até o final” sorri enquanto fala da sua conquista recente.
Sobre ser o primeiro sergipano a chegar tão longe neste tipo de competição ele diz ser engraçado o teor das piadinhas a respeito de sua origem.
Para ele o que importa antes de tudo é trazer vitorias para sua terra natal. Orgulhoso de sua de
sua gente busca sempre evoluir e levar junto para
o lugar mais alto do pódio o nome de Sergipe.
Após essa injeção de confiança que a medalha de
ouro lhe deu Ulisses resolveu largar o curso de direito e investir ainda mais nos treinos e em sua carreira
de atleta profissional, tudo isso com apoio da família, amigos e esposa. A meta agora é a Paraolimpíada
2016, na Austrália onde Ulisses sonha conseguir destaque entre os dez melhores para-atletas mundiais.
“Quero colocar o nome de Aracaju e de Sergipe na
história”, conclui.
por JULIANA ROLLEMBERG
[email protected]

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