Ser Professor

Transcrição

Ser Professor
Outubro/2003
Nº 261
Rua Pirituba, 61/65 - B. Casa Branca - Santo André - SP - CEP: 09015-540 - Fone: 4994-0700
Ser Professor (a)
É buscar dentro de cada um de nós
forças para prosseguir, mesmo com toda pressão,
toda tensão, toda falta de tempo...
Esse é nosso exercício diário!
Ser professor (a) é se alimentar do conhecimento
e fazer de si mesmo (a) janela aberta para o outro.
Ser professor (a) é formar gerações, propiciar o
questionamento e abrir as portas do saber.
Ser professor (a) é lutar pela transformação...
É formar e transformar,
através das letras, das artes, dos números...
Ser professor (a) é conhecer os limites do outro.
E, ainda assim, acreditar que ele seja capaz...
Ser professor (a) é também reconhecer que
todos os dias são feitos para aprender...
Sempre um pouco mais...
Ser professor (a)
É saber que o sonho é possível...
É sonhar com a sociedade melhor...
Inclusiva...
Onde todos possam ter acesso ao saber...
Ser professor (a) é também reconhecer que somos,
acima de tudo, seres humanos, e que temos licença para rir, chorar,
esbravejar.
Porque assim também ajudamos a pensar e construir o mundo.
Todos os dias do ano são seus, professor(a)!
Parabéns!
Fonte: Jornal AconteeCendo, nº. 22, Setembro de 2001
Homenagem ao professor(a)
Tudo vale a pena, quando a
vocação é grande
“Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra
o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
ditadura de direita ou de esquerda.
Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação,
contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a
miséria na fartura.
Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.
Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza.
Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela
some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não
luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo descuidado,
corre o risco de se amofinar e já não ser testemunho que deve ser de lutador
pertinaz, que cansa mas não desiste”.
“(...) Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
(Fernando Pessoa)
Paulo Freire, mestre de todos nós.
Duas garotinhas de dez anos de idade
conversam sobre o que querem ser na vida. A primeira,
orgulhosa, nem pensa duas vezes: “quero ser
médica!”. A segunda diz “e eu quero ser professora”.
“Professora? Só isso?”, retrucou a menina, com uma
certa arrogância. A amiga nem se abalou: “E você
acha que vai se tornar médica como? Tendo aulas
com um monte de professores, oras!”
Esse diálogo simples, que se repete entre
milhares de crianças todos os dias, revela aquilo que
estamos acostumados a sentir na própria pele: o
descaso com o ofício de professor, que hoje possui
uma imagem desgastada em virtude de todas as
transformações que a educação sofreu em nosso país.
Mas, como afirmou a menina, não há jornalista,
advogado, médico ou outro doutor que não tenha,
algum dia, freqüentado salas de aula, dividindo
diariamente suas experiências com os mestres que
nos ensinam não só matemática, física, química, como
nos ensinam sobre a própria vida.
Os salários são baixos, as condições de ensino
são, hoje, muitas vezes precárias, mas a maior virtude
do mestre está em ensinar. Em conduzir crianças,
adolescentes, adultos, a algum rumo na vida.
É possível que não nos recordemos de todos
os professores com quem tivemos contato nesta vida,
mas sem dúvida nos lembramos de algum mestre
em especial. A primeira professora costuma ser
sempre inesquecível, assim como aquele mestre na
faculdade que nos ajudou a tomar um rumo mais
acertado na profissão.
Apesar de todos os percalços, de todas as
dificuldades, é nos mestres em quem confiamos.
Mestres que não abandonam seus caminhos, por mais
difíceis que sejam, mantendo vivo o compromisso de
educar. Como dizia Fernando Pessoa, “tudo vale a
pena, se a alma não é pequena”. Aos professores de
almas enormes, aqui vai o nosso muito obrigado por
nos ensinar a viver. Feliz Dia dos Professores!
Diretoria do SINPRO-ABC
Ser Professor e Professora é acreditar
que um outro mundo é possível
Certa lenda conta que duas crianças estavam
patinando em cima de um lago congelado. Era uma
tarde nublada, fria e as crianças brincavam sem
preocupação.
De repente, o gelo se quebrou e uma das crianças
caiu na água. A outra criança, vendo que seu
amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma
pedra e começou a golpear o gelo.
Quando os bombeiros chegaram e viram o que
havia acontecido, perguntaram ao menino:
- Como você fez isso? É impossível que você tenha
quebrado o gelo com essa pedra em suas mãos tão
pequenas!
Nesse instante, apareceu um ancião e disse:
- Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
- Como?!
O ancião respondeu:
- Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer
que não poderia fazer!1
É isto que ocorre na escola ou fora dela, muitas
vezes. Pessoas nos dizendo que isto ou aquilo não é
possível!
Um colega dizendo que este ou aquele aluno não
consegue aprender!
Nós, como professores, estamos o tempo todo
pensando em como encorajar nossos alunos em suas
descobertas, em seu autoconhecimento. Nos
preocupamos em tornar nossas aulas atraentes,
estimulantes e agradáveis. Procuramos auxiliar jovens
e crianças a avançarem em seus desafios, a
descobrirem quem são e do que são capazes. Nos
aventuramos com nossos alunos.
Precisamos sempre dar prioridade ao que o aluno
aprende e não ao que queremos ensinar. Acariciar e
preservar o espírito de cada um, pois, mesmo não
sendo o mais inteligente da classe, com certeza
resplandecerá com elogios e estímulos ao invés de
murchar com descrédito e humilhação.
É fundamental que tenhamos consciência de que
somos modelo de valores e padrões que o aluno imitará
ou rejeitará; levará na lembrança para a vida toda ou
esquecerá.
Esta é a parte profissional que nos toca. No
entanto, temos nossa vida pessoal e todas as
obrigações.
Contudo, assim como na lenda acima citada, não
podemos deixar que nos digam o que podemos ou
não fazer. Quando desejamos atingir um objetivo, nada
e nem ninguém pode nos impedir.
Muitas vezes, nos deixamos abater pelas
cobranças do dia-a-dia, por uma discussão com um
colega de trabalho, por um mal-entendido com um
pai de aluno, por uma atividade sem sucesso, por um
problema familiar, pelas relações pessoais, de um
modo geral, nem sempre muito fáceis.
No entanto, “a força de ser pessoa significa a
capacidade de acolher a vida assim como ela é (...).
A força de ser pessoa traduz a capacidade de conviver,
de crescer e de humanizar-se com estas dimensões
de vida(...)”2
Assim, podemos enfrentar as situações do
cotidiano com uma atitude saudável, agindo de forma
a contribuir para a transformação de nossa sociedade,
para que os alunos com quem trabalhamos sejam
cidadãos preocupados com a transformação deste
mundo, conscientes das desigualdades sociais e
dispostos a trabalhar para a eliminação disto tudo, e
não simplesmente pensar que ‘não temos nada com
isso’, tomando uma atitude passiva perante as
mazelas que acontecem todos os dias bem diante de
nossos olhos.
Mais uma vez, não podemos permitir que nos
digam:
-Isto não é possível!
Lutemos! Acreditando em nossas capacidades,
na certeza de que “um outro mundo é possível”.
EXPEDIENTE
O Professor - Boletim Informativo do SINPRO-ABC - Sindicato dos Professores do Grande ABC
• Presidente: Célia Regina Ferrari • Diretor Responsável: Oswaldo de Oliveira Santos Jr.
• Jornalista: Luciana Mastrorosa • Diagramação e ilustração: Israel Barbosa
• Tiragem: 4000 exemplares • Gráfica: Diário Artes Gráficas
A publicação não se responsabiliza por matérias assinadas e declarações de terceiros.
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Profª. Denise Fernandes Pereira
1
2
Manoela Vitorino
Boff, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão
pela terra. Editora Vozes, 1999.
Receita de professor: criatividade,
persistência e amor pela profissão
Divulgação
sobrevivência básica, nem sempre com a qualidade
desejada. Em virtude disso, seu aperfeiçoamento
profissional fundamental não acontece, a não ser que
a própria instituição se encarregue disso. Como o
professor tem de dar conta de muitas escolas com
um número elevado de alunos, normalmente segue
apostilas ou livros didáticos, tornando-se um executor
de tarefas e não aquele que conduz e motiva o aluno
para reorganizar conhecimentos adquiridos e
transformados cientificamente”, completa Maria Lúcia.
Profissão Feminina
É inegável que, até hoje, o magistério seja uma
profissão onde a presença feminina é maioria. Isso
ocorre, sobretudo, porque dar aulas um dia já foi um
diferencial social, sobretudo para a mulher. Na década
de 1950, quando a inserção feminina no mercado de
trabalho ainda era considerada um mito, lecionar era
a saída para as mulheres que desejavam se dedicar
a outras atividades, sem precisar abandonar o lar e
os filhos. Era possível trabalhar somente meio período,
recebendo um salário razoável, e ainda ter tempo para
cuidar da vida. “Eu sou da década de 1960”, afirma
Maria Lúcia. “Nessa época, o costume era educar as
meninas para serem boas mães e donas de casa, e
os meninos para se tornarem homens de negócios.
Portanto eu acabei seguindo o mesmo destino de
tantas outras meninas. Como professora, poderia me
realizar num trabalho simples e ao mesmo tempo
cuidar da família. Por incrível que pareça, na época,
casar com uma professora era sinal de status, porque
socialmente a profissão era respeitada e bem
remunerada”, conta a professora.
Todos sabemos que as condições de ensino,
hoje em dia, estão cada vez mais complexas e,
muitas vezes, piores. No entanto, muitos professores
persistem no caminho da educação, acreditando e
lutando por melhores condições de ensino. Um
exemplo dessa luta é o da professora Maria Lúcia
Micali Cantu, atualmente professora aposentada, que
sempre militou pelas causas sociais. Maria Lúcia, 55
anos de vida e 35 de profissão, é uma apaixonada
pela educação. Como ela mesma se define, é uma
“dinossaura” do ensino, pois acompanhou as diversas
mudanças que acompanharam a educação nos
últimos trinta anos.
Depois de trabalhar a vida toda em São Paulo,
atualmente Maria Lúcia dedica-se também a ensinar
História, uma de suas grandes paixões,
voluntariamente no cursinho da Soab Sociedade Amigos de Boiçucanga - , no litoral
paulista, tentando auxiliar alunos de escolas
públicas que desejam se preparar para o
“Hoje o professor não dá mais
vestibular, mas não podem pagar.
informação, os alunos chegam com elas!
Com sua experiência de 35 anos de
Cabe ao professor ajudar a selecioná-las
profissão, Maria Lúcia discute o que considera
alguns pontos cruciais da educação hoje em dia.
e transformá-las em conhecimento
afastando ainda mais os homens dessa profissão.
Isso não significa que a democratização do ensino
seja ruim. Acontece que há ausência de políticas
educacionais, de políticas competentes para conciliar
o profissional com um ensino de qualidade”, afirma.
“Não podemos esquecer que toda classe
trabalhadora perde gradativamente seu poder
aquisitivo, não só o magistério que, sem dúvida, foi
uma das categorias mais atingidas”, completou.
Ser professor hoje
“Com a nova LDB e a globalização, tudo está
mudando. Ser professor hoje é escolher uma profissão
pra lá de promissora, mas é preciso uma mudança
radical do professor na sua maneira de encarar o
ensino. Essa mudança deve começar com uma
reflexão sobre sua prática no dia-a-dia para que o
magistério seja encarado como profissão, e não como
um simples ofício”, diz Maria Lúcia. A professora
defende a idéia de que “ensinar é mais do que uma
extensão do trabalho doméstico ou mera execução
de tarefas”. A professora acredita que uma sociedade
que quer ser igualitária e democrática “necessita de
um professor que aprenda a discutir, argumentar e
construir coletivamente o saber cientifico e o espaço
escolar, superando os conflitos e convivendo com as
diferenças”.
“Hoje o professor não dá mais informação, os
alunos chegam com elas! Cabe ao professor ajudar a
selecioná-las e transformá-las em conhecimento
cientifico, usando suas teorias na prática. Ele deve
‘aprender a aprender’ com os alunos e com toda a
comunidade, que precisam participar da escola”,
defende a professora.
Apesar de todos os pesares, Maria Lúcia
continua acreditando na profissão de educador,
e afirma que, mesmo não tendo escolhido ser
professora por vontade própria, “tornei-me
professora por imposição do meu pai”, assim que
entrou numa sala de aula, apaixonou-se. E não
saiu mais. “Aprendi muito com a prática da
cientifico, usando suas teorias na prática.
educação”, afirma Maria Lúcia. “Adquiri
Ele deve ‘aprender a aprender’ com os
experiência para lidar com os seres humanos;
alunos e com toda a comunidade, que
aprendi a ter tranqüilidade nas escolhas e
precisam participar da escola”
decisões e, acima de tudo, ganhei sabedoria
“Acredito que os salários ruins são a
para criar meus quatro filhos. Não tenho do que
principal questão a ser levantada para que uma
me queixar”.
escola pública ou privada mantenha bons
“Por isso, antes de escolher esta
profissionais. O valor hora-aula, infelizmente, não
promissora
profissão eu diria que os jovens
corresponde mais às necessidades básicas do
Esse
quadro
só
começou
a
mudar,
segundo
precisam
amar
e
gostar do ser humano, encarar o
profissional”, afirma a professora.
Maria
Lúcia,
com
a
democratização
do
ensino
na
fato
de
dar
aulas
como uma profissão, ser
“Conciliar sobrevivência de qualidade, moradia,
década
de
1980.
Foi
justamente
nessa
época
que,
competente,
criativo
e
perseverante”,
afirmou. Agora,
comida saudável, lazer e saúde, com a necessidade
com
as
mudanças,
o
professor
começou
a
perder
seu
a
escolha
é
sua!
de estar estudando constantemente é o grande dilema.
Para que isso aconteça, o professor virou um ‘bóia- status e seu poder aquisitivo, passando a trabalhar
fria’. Todo ano corre atrás das aulas fechando seu mais do que um período, com um salário menor. “Isso
(Por Luciana Mastrorosa)
bloco em várias escolas para conseguir sua tornou a profissão socialmente desprestigiada,
Questão salarial
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Tribunal Internacional dos Crimes
do Latifúndio do Pará: um ato
contra a impunidade
Realizado segundo foro conciliatório com a Metodista
No último dia 29 de setembro realizou-se na
sede do Semesp – Sindicato das Entidades
Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino
Superior no Estado de São Paulo – o segundo foro
conciliatório entre o Sinpro ABC e o Instituto Metodista
de Ensino Superior, visando à solução de conflitos
trabalhistas.
Após três horas de negociações, a Metodista
confirmou a devolução aos professores das cartas
de renúncia aos reajustes salariais de setembro de
2003 e janeiro de 2004, de acordo com o que foi
definido no foro anterior. A Metodista propôs, ainda,
85% de estabilidade para os professores, mas a
proposta não foi aceita pelo Sinpro ABC, que defende
100% de estabilidade para o corpo docente.
Ficou decidido também que o 13º salário dos
professores será pago 50% em novembro, 25% em
20 de dezembro e 25% junto com o pagamento do
salário de dezembro.
O próximo foro está marcado para o dia 19 de
janeiro de 2004, para discutir as reposições e perdas
do período. A mobilização permanente dos
professores é necessária para alcançar nossos
objetivos.
Foro conciliatório da UNIABC
O Sinpro ABC permanece em negociação
com a UNIABC na tentativa de solucionar os
conflitos coletivos entre a mantenedora e os
professores. Solicitamos aos professores que
denunciem ao Sindicato todos os casos de
abuso e desrespeito à convenção coletiva.
O professor que tiver dúvidas sobre o
cálculo de suas férias deve procurar o
Departamento Jurídico do Sinpro ABC para rever
o cálculo.
Escrever é comprometer-se
O movimento social camponês realiza de 27 a
30 de outubro de 2003, em Belém, o Tribunal
Internacional dos Crimes do Latifúndio do Pará, quinze
anos depois da realização do Tribunal da Terra.
A iniciativa ocorre para discutir a situação de
violência e os conflitos agrários no Pará, que atingem
proporções gigantescas, envergonhando o estado, que
paira como o primeiro em violência no ranking
nacional. Registros organizados pela Comissão
Pastoral da Terra mostram que, nos últimos 30 anos,
foram assassinados 726 camponeses no estado do
Pará. De 1971 a 1985, observaram-se 340
assassinatos em decorrência de conflitos fundiários.
De 1986 a 2002, foram vitimados 386 camponeses,
demonstrando assim a persistência no tempo do
padrão de violência existente no estado. De todos
esses crimes, houve apenas 7 condenações, sendo
três mandantes, Jerônimo Alves de Amorim, Edílson
Laranjeiras e Vantuir de Paula; um intermediário,
Francisco de Assis Ferreira; e três pistoleiros, Péricles
Ribeiro Moreira, José Serafim e Ubiratan Ubirajara.
O massacre de Eldorado do Carajás configurase como o caso mais emblemático de impunidade,
onde 19 camponeses foram assassinados e depois
de 7 anos nenhum dos policiais envolvidos foi para a
cadeia, apesar de dois comandantes terem sido
condenados. A impunidade, infelizmente, não tem
recebido nenhuma atenção especial por parte do Poder
Judiciário do Pará. Por isso, o Tribunal Internacional
dos Crimes do Latifúndio quer julgar todos esses
crimes contra camponeses e lideranças populares no
estado, a partir da elucidação dos casos mais graves
e emblemáticos, especialmente os ocorridos nos
governos de FHC e Almir Gabriel.
Participam deste evento entidades,
personalidades nacionais e internacionais, ativistas
e defensores dos direitos humanos.
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Sérgio Simka *
A palavra texto significa tecido. Com efeito, o texto
é um tecido composto de palavras que se reúnem em
frases, períodos e parágrafos. Mas antes de assumir
essa forma, o texto começa na mente de quem vai
escrevê-lo.
Aí é que reside o grande problema do ensino de
“redação”: ensinam-se técnicas, macetes, dicas, truques,
fórmulas pré-fabricadas de textos, esquemas, roteiros,
etc., mas não se ensina a pensar.
Tem sido comum, nas aulas de redação, a prática
de sugerir aos alunos que escrevam sobre um assunto
em relação ao qual, na maioria das vezes, não têm
sequer afinidade ou aproximação com suas experiências
de vida. A essa prática não se agrega um componente
fundamental, que é o de levar os alunos a se debruçarem
sobre a questão proposta, a discutirem a matéria, a
questioná-la, a enxergá-la de diversas facetas.
Em outras palavras, os alunos não são levados a
pensar sobre o assunto; não se propõe uma discussão
na qual possam externar o que pensam relativamente à
questão. As aulas de redação têm sido momentos
enfadonhos dos quais os alunos participam mais para
se verem livres da tarefa do que para poderem ter a
oportunidade de exteriorizar suas opiniões; participam
mais por questões de recebimento de nota do que por
questões de assumir um compromisso intelectual.
Pois o escrever é comprometer-se intelectualmente; é assumir antes um compromisso com você
mesmo, diante do que pensa sobre o assunto, sobre
aquilo em que acredita, sobre aquilo que forma seu
conjunto de valores e concepções de mundo. Escrever é
conhecer-se; escrever, como dizia Clarice Lispector, é
lembrar-se do que nunca existiu. Escrever, segundo
Roland Barthes, é espantar-se.
Espantamo-nos à medida que conhecemos
sobre nós mesmos, sobre o que nos impulsiona, sobre
o que nos mantém ligados à existência, etc.
Mas nada disso parece merecer a atenção de
nossos alunos e dos professores, mergulhados que se
encontram num ensino de redação cujo foco consiste
em distanciar cada vez mais os alunos de constituírem
os sujeitos de seu próprio dizer, de seu próprio texto,
que se assenta em experiências de vida, pessoal e
intransferível.
Daí o medo da folha em branco, dos bloqueios
que costumam vir associados ao ato de escrever. Porque
o escrever, na maior parte das vezes, esteve ligado a um
ato que gerou mais frustração do que prazer, que causou
mais traumas do que benefícios, que serviu mais para
aferir a correção gramatical do que para aferir a
capacidade de organização textual-discursiva, que
sempre esteve associado mais a um dom que poucos
têm do que a uma habilidade que todos podem adquirir.
O escrever sempre gerou medo. Temos medo de
escrever porque não sabemos pensar. Porque à
proporção que o ensino nos levava a não pensar, o
ensino nos levava a ter medo de escrever. E escrever,
dentro dessa concepção, pressupunha conhecer as
regras gramaticais, que o ensino também não nos
ensinava. Somos um misto de sem-língua, sem-texto,
sem-escrita, sem-pensamento com outra porção bem
grande de com-medo, com-frustração, com-bloqueios.
O resultado, como se vê, não é nada animador.
Devemos mudar o foco de nossas aulas de
redação, alterando as estratégias, que façam com que o
medo de escrever se transforme no prazer de escrever.
Quando há prazer, tudo fica mais fácil; é mais gostoso,
você não vê a hora, você fica superbem, você fica de bem
com a vida. Por que então não ficar de bem com o ato de
escrever, conferindo-lhe prazer e não medo?
* Sérgio Simka é professor universitário e
autor de Ensino de Língua Portuguesa e Dominação:
por que não se aprende português? (Musa), entre
outros. Seu site: www.sergiosimka.com .
Fórum Social Brasileiro
MEC adia exame de certificação
para professores
Como conseqüência dos protestos ocorridos
em todo o país, o MEC transferiu para o segundo
semestre de 2004 a realização do Exame Nacional
de Certificação para Professores. A mudança foi
anunciada no dia 12 de setembro, em Brasília, durante
o 1º Encontro Nacional do Sistema de Formação
Continuada e Certificação dos Professores.
No encontro, realizado pela Secretaria de
Ensino Fundamental para definir as matrizes do exame,
houve diversas manifestações contrárias à certificação,
tal qual ocorrera na maior parte dos estados, em
agosto último.
Das 27 reuniões estaduais realizadas para
discutir as matrizes do exame, 14 resultaram em
documentos contrários à iniciativa do MEC, em
particular contra a forma de encaminhamento adotada.
Destes, seis estados, inclusive São Paulo, se
recusaram a discutir as matrizes. O encontro paulista
ocorreu no dia 25 de agosto e contou com a
participação da FEPESP, do SINPRO-SP e do
SINPRO-ABC.
No Encontro Nacional, os professores da rede
privada estiveram representados pela CONTEE, pela
FEPESP e pelo SINPRO-SP. Estiveram presentes
cerca de 800 delegados, divididos em vinte e dois
grupos de trabalhos, cujos relatórios deveriam ser
apresentados, debatidos e votados em plenário, por
todos os delegados.
Para evitar que se repetisse em Brasília o que
ocorrera nos encontros estaduais, os organizadores
do seminário impediram que fossem levados a plenário
os relatórios contrários ao exame de certificação,
muitos dos quais exigiam a revogação da Portaria
1204, que instituiu a certificação.
Houve ainda acusações de que os grupos de
trabalho foram previamente organizados de maneira a
isolar, num único local, todos os delegados contrários
à iniciativa do MEC.
Gafes marcam a
abertura do encontro
A cerimônia de abertura do Encontro Nacional
foi palco de várias impropriedades.
Dizendo-se “ministro dos professores”,
Cristovam Buarque tentou justificar o exame de
certificação comparando a categoria a “atletas que
devem correr atrás de medalhas”. Cometeu também
a deselegância de afirmar que os sindicatos, por serem
entidades corporativas, não assumem a luta pela
qualidade de ensino.
Talvez para mostrar que a certificação era coisa
de Primeiro Mundo, foi convidado a falar o adido
cultural da Espanha, que se encarregou de explicar
como o exame funcionava em seu país. Descobriuse, então, que, em comum, havia apenas a
semelhança nos nomes.
A “certificación” espanhola não é nem de longe
a versão tupiniquim inventada pelo MEC. Do outro lado
do Atlântico, é apenas concurso para ingresso no
serviço público. Uma vez aprovado, o professor não
tem que se submeter a exames de cinco em cinco
anos, como aqui. Lá, ele terá garantidas as condições
para desenvolver a formação continuada, inclusive com
licença para estudos.
Depois de seis anos, poderá ainda candidatarse a um acréscimo salarial - uma espécie de
aceleração no quadro de carreira - mediante os cursos
que tenha realizado no período.
Vale lembrar que o professor espanhol não deve
trabalhar em duas, três ou mais escolas, nem precisa
lecionar para mais de 600 alunos, como é freqüente
no Brasil. O discurso do adido cultural espanhol,
portanto, só faz reforçar as críticas à proposta do MEC.
Fonte: FEPESP
Governo retira projeto de
lei sobre terceirização
O Executivo enviou mensagem ao Congresso Nacional, pedindo a retirada do PL 43/02, que
legaliza a contratação terceirizada. Na mensagem, o governo alerta para as graves conseqüências que
o projeto trará aos trabalhadores, caso ele seja aprovado.
A decisão final, contudo, cabe aos parlamentares, que deverão votar se aceitam ou não a retirada.
Por isso, o Sinpro recomenda que os trabalhadores pressionem os parlamentares e partidos
políticos e enviem mensagem, exigindo a aprovação da mensagem presidencial e a conseqüente retirada
do projeto de lei.
O I Fórum Social Brasileiro, que se realizará de
06 a 09 de novembro de 2003 em Belo Horizonte, Minas
Gerais, foi convocado pelas organizações da sociedade
civil, constituintes do Conselho Brasileiro, seguindo a
Carta de Princípios do Fórum Social Mundial.
Os eixos a serem abordados no Fórum Social
Brasileiro serão discutidos através de conferências
propostas pelo Conselho Brasileiro e também em
atividades auto-gestionadas que serão realizadas pelas
redes e movimentos sociais: painéis, mesas de diálogo,
testemunhos, oficinas, seminários, debates,
convergências, assembléias e laboratórios organizados
pelas entidades participantes.
Para onde vai o Brasil?
“`É evidente a assimetria entre os
co-signatários do projeto
conhecido como Alca”
“Pretensamente com o mesmo propósito de
mobilizar recursos políticos para colher vantagens
econômicas, os Estados Unidos tomaram a
iniciativa de integrar, sob seu comando, as
economias do hemisfério Ocidental.
No caso singular do Canadá, a integração
dá continuidade a um processo histórico. Mas, na
América Latina, e em particular no Brasil, esse
plano de integração continental reveste-se de maior
gravidade. Com efeito entre iguais, o Brasil está
firmando um compromisso entre desiguais, pois
quem o lidera é a maior potência econômica, política
e militar do mundo.
É evidente a assimetria entre os futuros cosignatários do projeto conhecido como Alca, que
estabelece regras comuns para aspecto abrangente
de atividades. Em outras palavras, o plano acarreta
clara perda de soberania para o Brasil, que terá de
renunciar a um projeto próprio de desenvolvimento,
abdicar de uma política tecnológica independente
e esfacelar o seu já fragilizado sistema industrial.
Se o modelo de integração européia objetiva
homogeneizar os padrões de desenvolvimentos de
seus membros, permitindo a mobilidade da mãode-obra, a Alca, ao contrário, exclui toda a
possibilidade de fluxos migratórios.
E, mesmo que não excluísse, seria tão
prejudicial para o nosso país que, parodiando às
avessas o famoso escritor que fugiu do nazismo e
veio se suicidar entre nós, poderíamos proclamar:
o Brasil é um país sem futuro.
Faço essas reflexões para enfatizar nossa
responsabilidade coletiva na construção de um
Brasil melhor. Resta-nos velar para que a chama
criativa se mantenha acesa e ilumine as áreas mais
nobres do espírito humano.”
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2003.
Celso Furtado
Fonte: Sindicato dos Economistas do Rio de
Janeiro / Conselho Regional de Economia-RJ.
Pág. 05
Participe do 5º Congresso do Sinpro-ABC
O Sinpro-ABC promove nos dias 17,18 e 19 de outubro seu 5º Congresso. O tema
deste ano é “Professor: Educador ou prestador de serviço? Educação não é mercadoria!”.
O evento será realizado no Pampas Palace Hotel, em São Bernardo do Campo, e terá a
seguinte programação:
17 de outubro – Abertura – 19h00
Presença confirmada:
Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP)
Julio Turra (CUT)
Gilmar Mauro (MST)
Dep. Ivan Valente (PT-SP)
18 de outubro – das 9h00 às 18h00
Presença confirmada:
Roberto Romano (Unicamp)
Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp)
Sérgio Haddad (PUC-SP)
19 de outubro – 9h00 às 12h00
Reforma estatutária
Educação não é mercadoria! As inscrições para o 5º Congresso do Sinpro-ABC
podem ser feitas no telefone (11) 4994-0700 ou na sede da entidade.
Caderno de Formação nº. 4
Paulo Freire:
um educador do Povo
O Sindicato dos
Professores do ABC
Paulista – Sinpro ABC –
oferece aos professores
e professoras o seu
Caderno de Formação
número 4 – Paulo Freire:
um educador do Povo.
Este caderno é entregue
à categoria no momento
do 5º Congresso do
Sinpro ABC, quando se
debate o papel dos
educadores – Professor:
educador ou prestador
de serviço?
Paulo Freire nos
deixou a certeza e a confiança de que a educação é um
instrumento de humanização e libertação da mulher e
do homem que sofrem as agruras da opressão política,
econômica e cultural. Ensinou que a educação é uma
conduta, uma postura de vida, uma atitude de respeito
pela cultura popular.
Paulo Freire sintetiza o verdadeiro lutador do povo
brasileiro, que jamais sucumbiu, que jamais se deixou
levar pelos interesses dos poderosos, e esteve sempre
ao lado dos pobres e oprimidos.
Desejamos que os princípios do mestre Paulo
Freire nos permitam seguir lutando e confiando na
educação como um dos instrumentos de libertação do
ser humano.
Estamos certos de que um novo mundo é possível
a partir da solidariedade entre as pessoas.
Informações: (11) 4994-0700
Tome nota
Agenda 2004
Criativando
Auxílio para Crianças
Nascemos criativos,
mas, à medida que crescemos,
nossa criatividade vai sendo
sufocada
por
adultos
interessados em “manter tudo
como está”, porque o novo, o
diferente, ameaça aquilo que
está estabelecido, perturbando
a harmonia da acomodação.
Acontece no lar, na escola e
na sociedade.
Mas aqueles que ousam
perceber a riqueza e o potencial
criativo das crianças, incentivando-as e promovendolhes os meios de desenvolvê-lo, descobrem, fascinados
a contribuição que elas têm a dar, para tornar tudo mais
interessante, atraente e belo.
O resultado tem sido surpreendente e inspirador.
É isso que está sendo repartido com você, educador/a
de educação religiosa, através deste Criativando.
E por ser dinâmico e criativo, está em suas mãos
criar também ao usar esta material, descobrindo novas
formas de fazer.
Já está pronta a Agenda do Professor 2004,
com o tema “Terra”. Os professores(as) sócios
receberão a agenda já nos próximos dias.
Nossos representantes visitarão as escolas
para fazer a entrega, mas se o professor desejar poderá
retirar a agenda na sede do SINPRO-ABC.
Sindicalize-se!
Informações: (11) 4994-0700
Autores:
Prof. Luiz Carlos Ramos
Profa.Neusa Cezar da Silva
Prof. Oswaldo de Oliveira Santos Junior
Profa.Telma Cezar da Silva Martins
Contatos: (11) 4427-4908 ou
(11) 4368-8087 (com Telma)