Ser Professor
Transcrição
Ser Professor
Outubro/2003 Nº 261 Rua Pirituba, 61/65 - B. Casa Branca - Santo André - SP - CEP: 09015-540 - Fone: 4994-0700 Ser Professor (a) É buscar dentro de cada um de nós forças para prosseguir, mesmo com toda pressão, toda tensão, toda falta de tempo... Esse é nosso exercício diário! Ser professor (a) é se alimentar do conhecimento e fazer de si mesmo (a) janela aberta para o outro. Ser professor (a) é formar gerações, propiciar o questionamento e abrir as portas do saber. Ser professor (a) é lutar pela transformação... É formar e transformar, através das letras, das artes, dos números... Ser professor (a) é conhecer os limites do outro. E, ainda assim, acreditar que ele seja capaz... Ser professor (a) é também reconhecer que todos os dias são feitos para aprender... Sempre um pouco mais... Ser professor (a) É saber que o sonho é possível... É sonhar com a sociedade melhor... Inclusiva... Onde todos possam ter acesso ao saber... Ser professor (a) é também reconhecer que somos, acima de tudo, seres humanos, e que temos licença para rir, chorar, esbravejar. Porque assim também ajudamos a pensar e construir o mundo. Todos os dias do ano são seus, professor(a)! Parabéns! Fonte: Jornal AconteeCendo, nº. 22, Setembro de 2001 Homenagem ao professor(a) Tudo vale a pena, quando a vocação é grande “Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo descuidado, corre o risco de se amofinar e já não ser testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste”. “(...) Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu”. (Fernando Pessoa) Paulo Freire, mestre de todos nós. Duas garotinhas de dez anos de idade conversam sobre o que querem ser na vida. A primeira, orgulhosa, nem pensa duas vezes: “quero ser médica!”. A segunda diz “e eu quero ser professora”. “Professora? Só isso?”, retrucou a menina, com uma certa arrogância. A amiga nem se abalou: “E você acha que vai se tornar médica como? Tendo aulas com um monte de professores, oras!” Esse diálogo simples, que se repete entre milhares de crianças todos os dias, revela aquilo que estamos acostumados a sentir na própria pele: o descaso com o ofício de professor, que hoje possui uma imagem desgastada em virtude de todas as transformações que a educação sofreu em nosso país. Mas, como afirmou a menina, não há jornalista, advogado, médico ou outro doutor que não tenha, algum dia, freqüentado salas de aula, dividindo diariamente suas experiências com os mestres que nos ensinam não só matemática, física, química, como nos ensinam sobre a própria vida. Os salários são baixos, as condições de ensino são, hoje, muitas vezes precárias, mas a maior virtude do mestre está em ensinar. Em conduzir crianças, adolescentes, adultos, a algum rumo na vida. É possível que não nos recordemos de todos os professores com quem tivemos contato nesta vida, mas sem dúvida nos lembramos de algum mestre em especial. A primeira professora costuma ser sempre inesquecível, assim como aquele mestre na faculdade que nos ajudou a tomar um rumo mais acertado na profissão. Apesar de todos os percalços, de todas as dificuldades, é nos mestres em quem confiamos. Mestres que não abandonam seus caminhos, por mais difíceis que sejam, mantendo vivo o compromisso de educar. Como dizia Fernando Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Aos professores de almas enormes, aqui vai o nosso muito obrigado por nos ensinar a viver. Feliz Dia dos Professores! Diretoria do SINPRO-ABC Ser Professor e Professora é acreditar que um outro mundo é possível Certa lenda conta que duas crianças estavam patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada, fria e as crianças brincavam sem preocupação. De repente, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear o gelo. Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino: - Como você fez isso? É impossível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra em suas mãos tão pequenas! Nesse instante, apareceu um ancião e disse: - Eu sei como ele conseguiu. Todos perguntaram: - Como?! O ancião respondeu: - Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não poderia fazer!1 É isto que ocorre na escola ou fora dela, muitas vezes. Pessoas nos dizendo que isto ou aquilo não é possível! Um colega dizendo que este ou aquele aluno não consegue aprender! Nós, como professores, estamos o tempo todo pensando em como encorajar nossos alunos em suas descobertas, em seu autoconhecimento. Nos preocupamos em tornar nossas aulas atraentes, estimulantes e agradáveis. Procuramos auxiliar jovens e crianças a avançarem em seus desafios, a descobrirem quem são e do que são capazes. Nos aventuramos com nossos alunos. Precisamos sempre dar prioridade ao que o aluno aprende e não ao que queremos ensinar. Acariciar e preservar o espírito de cada um, pois, mesmo não sendo o mais inteligente da classe, com certeza resplandecerá com elogios e estímulos ao invés de murchar com descrédito e humilhação. É fundamental que tenhamos consciência de que somos modelo de valores e padrões que o aluno imitará ou rejeitará; levará na lembrança para a vida toda ou esquecerá. Esta é a parte profissional que nos toca. No entanto, temos nossa vida pessoal e todas as obrigações. Contudo, assim como na lenda acima citada, não podemos deixar que nos digam o que podemos ou não fazer. Quando desejamos atingir um objetivo, nada e nem ninguém pode nos impedir. Muitas vezes, nos deixamos abater pelas cobranças do dia-a-dia, por uma discussão com um colega de trabalho, por um mal-entendido com um pai de aluno, por uma atividade sem sucesso, por um problema familiar, pelas relações pessoais, de um modo geral, nem sempre muito fáceis. No entanto, “a força de ser pessoa significa a capacidade de acolher a vida assim como ela é (...). A força de ser pessoa traduz a capacidade de conviver, de crescer e de humanizar-se com estas dimensões de vida(...)”2 Assim, podemos enfrentar as situações do cotidiano com uma atitude saudável, agindo de forma a contribuir para a transformação de nossa sociedade, para que os alunos com quem trabalhamos sejam cidadãos preocupados com a transformação deste mundo, conscientes das desigualdades sociais e dispostos a trabalhar para a eliminação disto tudo, e não simplesmente pensar que ‘não temos nada com isso’, tomando uma atitude passiva perante as mazelas que acontecem todos os dias bem diante de nossos olhos. Mais uma vez, não podemos permitir que nos digam: -Isto não é possível! Lutemos! Acreditando em nossas capacidades, na certeza de que “um outro mundo é possível”. EXPEDIENTE O Professor - Boletim Informativo do SINPRO-ABC - Sindicato dos Professores do Grande ABC • Presidente: Célia Regina Ferrari • Diretor Responsável: Oswaldo de Oliveira Santos Jr. • Jornalista: Luciana Mastrorosa • Diagramação e ilustração: Israel Barbosa • Tiragem: 4000 exemplares • Gráfica: Diário Artes Gráficas A publicação não se responsabiliza por matérias assinadas e declarações de terceiros. Pág. 02 Profª. Denise Fernandes Pereira 1 2 Manoela Vitorino Boff, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Editora Vozes, 1999. Receita de professor: criatividade, persistência e amor pela profissão Divulgação sobrevivência básica, nem sempre com a qualidade desejada. Em virtude disso, seu aperfeiçoamento profissional fundamental não acontece, a não ser que a própria instituição se encarregue disso. Como o professor tem de dar conta de muitas escolas com um número elevado de alunos, normalmente segue apostilas ou livros didáticos, tornando-se um executor de tarefas e não aquele que conduz e motiva o aluno para reorganizar conhecimentos adquiridos e transformados cientificamente”, completa Maria Lúcia. Profissão Feminina É inegável que, até hoje, o magistério seja uma profissão onde a presença feminina é maioria. Isso ocorre, sobretudo, porque dar aulas um dia já foi um diferencial social, sobretudo para a mulher. Na década de 1950, quando a inserção feminina no mercado de trabalho ainda era considerada um mito, lecionar era a saída para as mulheres que desejavam se dedicar a outras atividades, sem precisar abandonar o lar e os filhos. Era possível trabalhar somente meio período, recebendo um salário razoável, e ainda ter tempo para cuidar da vida. “Eu sou da década de 1960”, afirma Maria Lúcia. “Nessa época, o costume era educar as meninas para serem boas mães e donas de casa, e os meninos para se tornarem homens de negócios. Portanto eu acabei seguindo o mesmo destino de tantas outras meninas. Como professora, poderia me realizar num trabalho simples e ao mesmo tempo cuidar da família. Por incrível que pareça, na época, casar com uma professora era sinal de status, porque socialmente a profissão era respeitada e bem remunerada”, conta a professora. Todos sabemos que as condições de ensino, hoje em dia, estão cada vez mais complexas e, muitas vezes, piores. No entanto, muitos professores persistem no caminho da educação, acreditando e lutando por melhores condições de ensino. Um exemplo dessa luta é o da professora Maria Lúcia Micali Cantu, atualmente professora aposentada, que sempre militou pelas causas sociais. Maria Lúcia, 55 anos de vida e 35 de profissão, é uma apaixonada pela educação. Como ela mesma se define, é uma “dinossaura” do ensino, pois acompanhou as diversas mudanças que acompanharam a educação nos últimos trinta anos. Depois de trabalhar a vida toda em São Paulo, atualmente Maria Lúcia dedica-se também a ensinar História, uma de suas grandes paixões, voluntariamente no cursinho da Soab Sociedade Amigos de Boiçucanga - , no litoral paulista, tentando auxiliar alunos de escolas públicas que desejam se preparar para o “Hoje o professor não dá mais vestibular, mas não podem pagar. informação, os alunos chegam com elas! Com sua experiência de 35 anos de Cabe ao professor ajudar a selecioná-las profissão, Maria Lúcia discute o que considera alguns pontos cruciais da educação hoje em dia. e transformá-las em conhecimento afastando ainda mais os homens dessa profissão. Isso não significa que a democratização do ensino seja ruim. Acontece que há ausência de políticas educacionais, de políticas competentes para conciliar o profissional com um ensino de qualidade”, afirma. “Não podemos esquecer que toda classe trabalhadora perde gradativamente seu poder aquisitivo, não só o magistério que, sem dúvida, foi uma das categorias mais atingidas”, completou. Ser professor hoje “Com a nova LDB e a globalização, tudo está mudando. Ser professor hoje é escolher uma profissão pra lá de promissora, mas é preciso uma mudança radical do professor na sua maneira de encarar o ensino. Essa mudança deve começar com uma reflexão sobre sua prática no dia-a-dia para que o magistério seja encarado como profissão, e não como um simples ofício”, diz Maria Lúcia. A professora defende a idéia de que “ensinar é mais do que uma extensão do trabalho doméstico ou mera execução de tarefas”. A professora acredita que uma sociedade que quer ser igualitária e democrática “necessita de um professor que aprenda a discutir, argumentar e construir coletivamente o saber cientifico e o espaço escolar, superando os conflitos e convivendo com as diferenças”. “Hoje o professor não dá mais informação, os alunos chegam com elas! Cabe ao professor ajudar a selecioná-las e transformá-las em conhecimento cientifico, usando suas teorias na prática. Ele deve ‘aprender a aprender’ com os alunos e com toda a comunidade, que precisam participar da escola”, defende a professora. Apesar de todos os pesares, Maria Lúcia continua acreditando na profissão de educador, e afirma que, mesmo não tendo escolhido ser professora por vontade própria, “tornei-me professora por imposição do meu pai”, assim que entrou numa sala de aula, apaixonou-se. E não saiu mais. “Aprendi muito com a prática da cientifico, usando suas teorias na prática. educação”, afirma Maria Lúcia. “Adquiri Ele deve ‘aprender a aprender’ com os experiência para lidar com os seres humanos; alunos e com toda a comunidade, que aprendi a ter tranqüilidade nas escolhas e precisam participar da escola” decisões e, acima de tudo, ganhei sabedoria “Acredito que os salários ruins são a para criar meus quatro filhos. Não tenho do que principal questão a ser levantada para que uma me queixar”. escola pública ou privada mantenha bons “Por isso, antes de escolher esta profissionais. O valor hora-aula, infelizmente, não promissora profissão eu diria que os jovens corresponde mais às necessidades básicas do Esse quadro só começou a mudar, segundo precisam amar e gostar do ser humano, encarar o profissional”, afirma a professora. Maria Lúcia, com a democratização do ensino na fato de dar aulas como uma profissão, ser “Conciliar sobrevivência de qualidade, moradia, década de 1980. Foi justamente nessa época que, competente, criativo e perseverante”, afirmou. Agora, comida saudável, lazer e saúde, com a necessidade com as mudanças, o professor começou a perder seu a escolha é sua! de estar estudando constantemente é o grande dilema. Para que isso aconteça, o professor virou um ‘bóia- status e seu poder aquisitivo, passando a trabalhar fria’. Todo ano corre atrás das aulas fechando seu mais do que um período, com um salário menor. “Isso (Por Luciana Mastrorosa) bloco em várias escolas para conseguir sua tornou a profissão socialmente desprestigiada, Questão salarial Pág. 03 Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio do Pará: um ato contra a impunidade Realizado segundo foro conciliatório com a Metodista No último dia 29 de setembro realizou-se na sede do Semesp – Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo – o segundo foro conciliatório entre o Sinpro ABC e o Instituto Metodista de Ensino Superior, visando à solução de conflitos trabalhistas. Após três horas de negociações, a Metodista confirmou a devolução aos professores das cartas de renúncia aos reajustes salariais de setembro de 2003 e janeiro de 2004, de acordo com o que foi definido no foro anterior. A Metodista propôs, ainda, 85% de estabilidade para os professores, mas a proposta não foi aceita pelo Sinpro ABC, que defende 100% de estabilidade para o corpo docente. Ficou decidido também que o 13º salário dos professores será pago 50% em novembro, 25% em 20 de dezembro e 25% junto com o pagamento do salário de dezembro. O próximo foro está marcado para o dia 19 de janeiro de 2004, para discutir as reposições e perdas do período. A mobilização permanente dos professores é necessária para alcançar nossos objetivos. Foro conciliatório da UNIABC O Sinpro ABC permanece em negociação com a UNIABC na tentativa de solucionar os conflitos coletivos entre a mantenedora e os professores. Solicitamos aos professores que denunciem ao Sindicato todos os casos de abuso e desrespeito à convenção coletiva. O professor que tiver dúvidas sobre o cálculo de suas férias deve procurar o Departamento Jurídico do Sinpro ABC para rever o cálculo. Escrever é comprometer-se O movimento social camponês realiza de 27 a 30 de outubro de 2003, em Belém, o Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio do Pará, quinze anos depois da realização do Tribunal da Terra. A iniciativa ocorre para discutir a situação de violência e os conflitos agrários no Pará, que atingem proporções gigantescas, envergonhando o estado, que paira como o primeiro em violência no ranking nacional. Registros organizados pela Comissão Pastoral da Terra mostram que, nos últimos 30 anos, foram assassinados 726 camponeses no estado do Pará. De 1971 a 1985, observaram-se 340 assassinatos em decorrência de conflitos fundiários. De 1986 a 2002, foram vitimados 386 camponeses, demonstrando assim a persistência no tempo do padrão de violência existente no estado. De todos esses crimes, houve apenas 7 condenações, sendo três mandantes, Jerônimo Alves de Amorim, Edílson Laranjeiras e Vantuir de Paula; um intermediário, Francisco de Assis Ferreira; e três pistoleiros, Péricles Ribeiro Moreira, José Serafim e Ubiratan Ubirajara. O massacre de Eldorado do Carajás configurase como o caso mais emblemático de impunidade, onde 19 camponeses foram assassinados e depois de 7 anos nenhum dos policiais envolvidos foi para a cadeia, apesar de dois comandantes terem sido condenados. A impunidade, infelizmente, não tem recebido nenhuma atenção especial por parte do Poder Judiciário do Pará. Por isso, o Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio quer julgar todos esses crimes contra camponeses e lideranças populares no estado, a partir da elucidação dos casos mais graves e emblemáticos, especialmente os ocorridos nos governos de FHC e Almir Gabriel. Participam deste evento entidades, personalidades nacionais e internacionais, ativistas e defensores dos direitos humanos. Pág. 04 Sérgio Simka * A palavra texto significa tecido. Com efeito, o texto é um tecido composto de palavras que se reúnem em frases, períodos e parágrafos. Mas antes de assumir essa forma, o texto começa na mente de quem vai escrevê-lo. Aí é que reside o grande problema do ensino de “redação”: ensinam-se técnicas, macetes, dicas, truques, fórmulas pré-fabricadas de textos, esquemas, roteiros, etc., mas não se ensina a pensar. Tem sido comum, nas aulas de redação, a prática de sugerir aos alunos que escrevam sobre um assunto em relação ao qual, na maioria das vezes, não têm sequer afinidade ou aproximação com suas experiências de vida. A essa prática não se agrega um componente fundamental, que é o de levar os alunos a se debruçarem sobre a questão proposta, a discutirem a matéria, a questioná-la, a enxergá-la de diversas facetas. Em outras palavras, os alunos não são levados a pensar sobre o assunto; não se propõe uma discussão na qual possam externar o que pensam relativamente à questão. As aulas de redação têm sido momentos enfadonhos dos quais os alunos participam mais para se verem livres da tarefa do que para poderem ter a oportunidade de exteriorizar suas opiniões; participam mais por questões de recebimento de nota do que por questões de assumir um compromisso intelectual. Pois o escrever é comprometer-se intelectualmente; é assumir antes um compromisso com você mesmo, diante do que pensa sobre o assunto, sobre aquilo em que acredita, sobre aquilo que forma seu conjunto de valores e concepções de mundo. Escrever é conhecer-se; escrever, como dizia Clarice Lispector, é lembrar-se do que nunca existiu. Escrever, segundo Roland Barthes, é espantar-se. Espantamo-nos à medida que conhecemos sobre nós mesmos, sobre o que nos impulsiona, sobre o que nos mantém ligados à existência, etc. Mas nada disso parece merecer a atenção de nossos alunos e dos professores, mergulhados que se encontram num ensino de redação cujo foco consiste em distanciar cada vez mais os alunos de constituírem os sujeitos de seu próprio dizer, de seu próprio texto, que se assenta em experiências de vida, pessoal e intransferível. Daí o medo da folha em branco, dos bloqueios que costumam vir associados ao ato de escrever. Porque o escrever, na maior parte das vezes, esteve ligado a um ato que gerou mais frustração do que prazer, que causou mais traumas do que benefícios, que serviu mais para aferir a correção gramatical do que para aferir a capacidade de organização textual-discursiva, que sempre esteve associado mais a um dom que poucos têm do que a uma habilidade que todos podem adquirir. O escrever sempre gerou medo. Temos medo de escrever porque não sabemos pensar. Porque à proporção que o ensino nos levava a não pensar, o ensino nos levava a ter medo de escrever. E escrever, dentro dessa concepção, pressupunha conhecer as regras gramaticais, que o ensino também não nos ensinava. Somos um misto de sem-língua, sem-texto, sem-escrita, sem-pensamento com outra porção bem grande de com-medo, com-frustração, com-bloqueios. O resultado, como se vê, não é nada animador. Devemos mudar o foco de nossas aulas de redação, alterando as estratégias, que façam com que o medo de escrever se transforme no prazer de escrever. Quando há prazer, tudo fica mais fácil; é mais gostoso, você não vê a hora, você fica superbem, você fica de bem com a vida. Por que então não ficar de bem com o ato de escrever, conferindo-lhe prazer e não medo? * Sérgio Simka é professor universitário e autor de Ensino de Língua Portuguesa e Dominação: por que não se aprende português? (Musa), entre outros. Seu site: www.sergiosimka.com . Fórum Social Brasileiro MEC adia exame de certificação para professores Como conseqüência dos protestos ocorridos em todo o país, o MEC transferiu para o segundo semestre de 2004 a realização do Exame Nacional de Certificação para Professores. A mudança foi anunciada no dia 12 de setembro, em Brasília, durante o 1º Encontro Nacional do Sistema de Formação Continuada e Certificação dos Professores. No encontro, realizado pela Secretaria de Ensino Fundamental para definir as matrizes do exame, houve diversas manifestações contrárias à certificação, tal qual ocorrera na maior parte dos estados, em agosto último. Das 27 reuniões estaduais realizadas para discutir as matrizes do exame, 14 resultaram em documentos contrários à iniciativa do MEC, em particular contra a forma de encaminhamento adotada. Destes, seis estados, inclusive São Paulo, se recusaram a discutir as matrizes. O encontro paulista ocorreu no dia 25 de agosto e contou com a participação da FEPESP, do SINPRO-SP e do SINPRO-ABC. No Encontro Nacional, os professores da rede privada estiveram representados pela CONTEE, pela FEPESP e pelo SINPRO-SP. Estiveram presentes cerca de 800 delegados, divididos em vinte e dois grupos de trabalhos, cujos relatórios deveriam ser apresentados, debatidos e votados em plenário, por todos os delegados. Para evitar que se repetisse em Brasília o que ocorrera nos encontros estaduais, os organizadores do seminário impediram que fossem levados a plenário os relatórios contrários ao exame de certificação, muitos dos quais exigiam a revogação da Portaria 1204, que instituiu a certificação. Houve ainda acusações de que os grupos de trabalho foram previamente organizados de maneira a isolar, num único local, todos os delegados contrários à iniciativa do MEC. Gafes marcam a abertura do encontro A cerimônia de abertura do Encontro Nacional foi palco de várias impropriedades. Dizendo-se “ministro dos professores”, Cristovam Buarque tentou justificar o exame de certificação comparando a categoria a “atletas que devem correr atrás de medalhas”. Cometeu também a deselegância de afirmar que os sindicatos, por serem entidades corporativas, não assumem a luta pela qualidade de ensino. Talvez para mostrar que a certificação era coisa de Primeiro Mundo, foi convidado a falar o adido cultural da Espanha, que se encarregou de explicar como o exame funcionava em seu país. Descobriuse, então, que, em comum, havia apenas a semelhança nos nomes. A “certificación” espanhola não é nem de longe a versão tupiniquim inventada pelo MEC. Do outro lado do Atlântico, é apenas concurso para ingresso no serviço público. Uma vez aprovado, o professor não tem que se submeter a exames de cinco em cinco anos, como aqui. Lá, ele terá garantidas as condições para desenvolver a formação continuada, inclusive com licença para estudos. Depois de seis anos, poderá ainda candidatarse a um acréscimo salarial - uma espécie de aceleração no quadro de carreira - mediante os cursos que tenha realizado no período. Vale lembrar que o professor espanhol não deve trabalhar em duas, três ou mais escolas, nem precisa lecionar para mais de 600 alunos, como é freqüente no Brasil. O discurso do adido cultural espanhol, portanto, só faz reforçar as críticas à proposta do MEC. Fonte: FEPESP Governo retira projeto de lei sobre terceirização O Executivo enviou mensagem ao Congresso Nacional, pedindo a retirada do PL 43/02, que legaliza a contratação terceirizada. Na mensagem, o governo alerta para as graves conseqüências que o projeto trará aos trabalhadores, caso ele seja aprovado. A decisão final, contudo, cabe aos parlamentares, que deverão votar se aceitam ou não a retirada. Por isso, o Sinpro recomenda que os trabalhadores pressionem os parlamentares e partidos políticos e enviem mensagem, exigindo a aprovação da mensagem presidencial e a conseqüente retirada do projeto de lei. O I Fórum Social Brasileiro, que se realizará de 06 a 09 de novembro de 2003 em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi convocado pelas organizações da sociedade civil, constituintes do Conselho Brasileiro, seguindo a Carta de Princípios do Fórum Social Mundial. Os eixos a serem abordados no Fórum Social Brasileiro serão discutidos através de conferências propostas pelo Conselho Brasileiro e também em atividades auto-gestionadas que serão realizadas pelas redes e movimentos sociais: painéis, mesas de diálogo, testemunhos, oficinas, seminários, debates, convergências, assembléias e laboratórios organizados pelas entidades participantes. Para onde vai o Brasil? “`É evidente a assimetria entre os co-signatários do projeto conhecido como Alca” “Pretensamente com o mesmo propósito de mobilizar recursos políticos para colher vantagens econômicas, os Estados Unidos tomaram a iniciativa de integrar, sob seu comando, as economias do hemisfério Ocidental. No caso singular do Canadá, a integração dá continuidade a um processo histórico. Mas, na América Latina, e em particular no Brasil, esse plano de integração continental reveste-se de maior gravidade. Com efeito entre iguais, o Brasil está firmando um compromisso entre desiguais, pois quem o lidera é a maior potência econômica, política e militar do mundo. É evidente a assimetria entre os futuros cosignatários do projeto conhecido como Alca, que estabelece regras comuns para aspecto abrangente de atividades. Em outras palavras, o plano acarreta clara perda de soberania para o Brasil, que terá de renunciar a um projeto próprio de desenvolvimento, abdicar de uma política tecnológica independente e esfacelar o seu já fragilizado sistema industrial. Se o modelo de integração européia objetiva homogeneizar os padrões de desenvolvimentos de seus membros, permitindo a mobilidade da mãode-obra, a Alca, ao contrário, exclui toda a possibilidade de fluxos migratórios. E, mesmo que não excluísse, seria tão prejudicial para o nosso país que, parodiando às avessas o famoso escritor que fugiu do nazismo e veio se suicidar entre nós, poderíamos proclamar: o Brasil é um país sem futuro. Faço essas reflexões para enfatizar nossa responsabilidade coletiva na construção de um Brasil melhor. Resta-nos velar para que a chama criativa se mantenha acesa e ilumine as áreas mais nobres do espírito humano.” Rio de Janeiro, 13 de junho de 2003. Celso Furtado Fonte: Sindicato dos Economistas do Rio de Janeiro / Conselho Regional de Economia-RJ. Pág. 05 Participe do 5º Congresso do Sinpro-ABC O Sinpro-ABC promove nos dias 17,18 e 19 de outubro seu 5º Congresso. O tema deste ano é “Professor: Educador ou prestador de serviço? Educação não é mercadoria!”. O evento será realizado no Pampas Palace Hotel, em São Bernardo do Campo, e terá a seguinte programação: 17 de outubro – Abertura – 19h00 Presença confirmada: Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP) Julio Turra (CUT) Gilmar Mauro (MST) Dep. Ivan Valente (PT-SP) 18 de outubro – das 9h00 às 18h00 Presença confirmada: Roberto Romano (Unicamp) Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp) Sérgio Haddad (PUC-SP) 19 de outubro – 9h00 às 12h00 Reforma estatutária Educação não é mercadoria! As inscrições para o 5º Congresso do Sinpro-ABC podem ser feitas no telefone (11) 4994-0700 ou na sede da entidade. Caderno de Formação nº. 4 Paulo Freire: um educador do Povo O Sindicato dos Professores do ABC Paulista – Sinpro ABC – oferece aos professores e professoras o seu Caderno de Formação número 4 – Paulo Freire: um educador do Povo. Este caderno é entregue à categoria no momento do 5º Congresso do Sinpro ABC, quando se debate o papel dos educadores – Professor: educador ou prestador de serviço? Paulo Freire nos deixou a certeza e a confiança de que a educação é um instrumento de humanização e libertação da mulher e do homem que sofrem as agruras da opressão política, econômica e cultural. Ensinou que a educação é uma conduta, uma postura de vida, uma atitude de respeito pela cultura popular. Paulo Freire sintetiza o verdadeiro lutador do povo brasileiro, que jamais sucumbiu, que jamais se deixou levar pelos interesses dos poderosos, e esteve sempre ao lado dos pobres e oprimidos. Desejamos que os princípios do mestre Paulo Freire nos permitam seguir lutando e confiando na educação como um dos instrumentos de libertação do ser humano. Estamos certos de que um novo mundo é possível a partir da solidariedade entre as pessoas. Informações: (11) 4994-0700 Tome nota Agenda 2004 Criativando Auxílio para Crianças Nascemos criativos, mas, à medida que crescemos, nossa criatividade vai sendo sufocada por adultos interessados em “manter tudo como está”, porque o novo, o diferente, ameaça aquilo que está estabelecido, perturbando a harmonia da acomodação. Acontece no lar, na escola e na sociedade. Mas aqueles que ousam perceber a riqueza e o potencial criativo das crianças, incentivando-as e promovendolhes os meios de desenvolvê-lo, descobrem, fascinados a contribuição que elas têm a dar, para tornar tudo mais interessante, atraente e belo. O resultado tem sido surpreendente e inspirador. É isso que está sendo repartido com você, educador/a de educação religiosa, através deste Criativando. E por ser dinâmico e criativo, está em suas mãos criar também ao usar esta material, descobrindo novas formas de fazer. Já está pronta a Agenda do Professor 2004, com o tema “Terra”. Os professores(as) sócios receberão a agenda já nos próximos dias. Nossos representantes visitarão as escolas para fazer a entrega, mas se o professor desejar poderá retirar a agenda na sede do SINPRO-ABC. Sindicalize-se! Informações: (11) 4994-0700 Autores: Prof. Luiz Carlos Ramos Profa.Neusa Cezar da Silva Prof. Oswaldo de Oliveira Santos Junior Profa.Telma Cezar da Silva Martins Contatos: (11) 4427-4908 ou (11) 4368-8087 (com Telma)