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ATIVIDADES ANTROPOGÊNICAS E EUTROFIZAÇÃO EM DUAS LAGOAS DE MANAUS, ESTADO DO AMAZONAS Domitila Pascoaloto1*; Climéia C. Soares2, Núbia Abrantes Gomes3 Resumo – Foram investigadas a qualidade da água e a comunidade fitoplanctônica de duas lagoas urbanas de Manaus. A Lagoa do Japiim apresentava evidente floração de cianobactérias, o Lago Amazônico possuía água levemente água esverdeada. A primeira recebe aporte de esgotamento doméstico e a última é abastecida principalmente por água oriunda de tanques de criação de peixeboi. Em cada local foram realizadas três coletas de água no período chuvoso e três no de estiagem. Os dois locais estiveram eutrofizados, com valores de pH e, principalmente, alcalinidade, condutividade, íon amônio e fosfato bem mais elevados na Lagoa do Japiim. Foram registradas seis espécies no fitoplâncton da Lagoa do Japiim, com floração (“bloom”) da cianobactéria Planktothrix cf. agardi, mesma espécie registrada em estudos anteriores, indicando que os esforços despendidos para melhorar a qualidade da água no local tem sido ineficientes. Foram registradas 16 espécies no Lago Amazônico, com maior abundância das clorofíceas Scenedesmus acuminatus e Desmodesmus communis. Os resultados indicam que as águas do Lago Amazônico estão eutrofizadas e são apropriadas para atividades de piscicultura enquanto a Lagoa do Japiim nas condições atuais só servem, de fato, para paisagismo. Palavras-chave: Qualidade da água, fitopâncton, limnologia HUMAN ACTIVITIES AND EUTROPHICATION AT TWO POUNDS IN MANAUS, AMAZON STATE. Abstract – Water quality and phytoplankton community of two urban lakes of Manaus were investigated. The Lagoa do Japiim had clear bloom of cyanobacteria, the Amazon Lake had slightly greenish water. The first pound receives domestic sewage contribution and the latter is fueled primarily by water coming from the manatee tanks. Each site were visited three times during the rainy season and three in the dry season. The two locations were eutrophic, with pH values and, especially, alkalinity, conductivity, ammonium ion and phosphate values higher in Lagoa do Japiim. Six species of algae were recorded in the phytoplankton Japiim pond wich had cyanobacteria Planktothrix cf. agardi bloom. These species were recorded there in previous studies, indicating that the efforts to improve water quality at the site have been inefficient. No bloom algae were found at Lago Amazônico, where were recorded 16 species of algae, with greater frequency of green algae Scenedesmus acuminatus and Desmodesmus communis. The results indicate that the Lago Amazônico waters are eutrophic and are suitable for fish farming activities while the Lagoa do Japiim under current conditions only serve, in fact, for landscaping. Keywords: Water quality, phytoplankton, limnology 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Dinâmica Ambiental. Av. André Araújo, 2.936 – Petrópolis. CEP 69067-375 Manaus, AM. [email protected]. 2 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Biodiversidade. Av. André Araújo, 2.936 – Petrópolis. CEP 69067-375 Manaus, AM. [email protected]. 3 Universidade Federal de Rondônia, Centro de Estudos da Biodiversidade, BL IV e 401. Capitão Ene Garcez, 2413 – Aeroporto. CEP 69310-000 Boa Vista, RR. [email protected]. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 INTRODUÇÃO Manaus, capital do estado do Amazonas, é bastante visitada por abrigar o principal (ou um dos principais) polo industrial do Brasil, e possui como uma das principais atrações naturais o encontro do rio Negro com o rio Solimões, formando o principal “encontro das águas” na Amazônia, após o qual o rio passa a ser chamado de “Amazonas”. Nessa região existem vários lagos e lagoas. Na região urbana do município, dentre esses ambientes lênticos, encontram-se o a “Lagoa do Japiim” e o “Lago Amazônico”. Conforme a definição de Esteves (2011), ambos os locais podem ser considerados lagoas. São poucas as informações sobre a qualidade da água ou composição das espécies de algas na Lagoa do Japiim. Em novembro de 2005 (quando a lagoa ainda era denominada popularmente por “Lagoa das Tartarugas” e o local era propriedade particular) foram observadas várias espécies de algas e nenhum indício evidente de eutrofização; entretanto, em abril de 2006 a lagoa foi encontrada coberta por macrófitas e já não havia oxigênio na água (Pascoaloto et al., 2014). Em dezembro de 2008 a área entrou em obras para a implementação do Parque Lagoa do Japiim, e as algas e cianobactérias voltaram a se reproduzir, porém pouco tempo depois as macrófitas voltaram a aparecer em algumas oportunidades (seguidas pelo aumento do mau cheiro na lagoa); várias medidas foram implementadas tentando diminuir a carga orgânica na água (Ossame, 2013), porém até o momento a medida mais efetiva foi a retirada das macrófitas. Já há alguns anos não são observadas macrófitas cobrindo a lagoa (elas são retiradas quando é observado que estão ocupando mais de 10% da área do local). Nas condições atuais ela é relacionada a uma “massa pastosa, consequência da entrada de esgoto das mais de 200 residências irregularmente estabelecidas dentro da propriedade, as quais derramam diariamente na lagoa todo tipo de dejetos e efluentes, o que causa mau cheiro na água e muitas vezes “espanta” os visitantes” (Brilhante, 2014). Segundo Ribeiro (2011) e Pascoaloto et al. (2014), a entrada contínua desses esgotos é, de fato, a principal razão da Lagoa do Japiim apresentar, há vários anos, águas de coloração fortemente esverdeada, indicativas de floração de algas ou, principalmente, de cianobactérias. O Lago Amazônico é uma das principais atrações do Bosque da Ciência. A água que abastece o lago vem, principalmente, do tanque de peixe-boi (Trichelus inunguis), mas ela também recebe o aporte dos tanques das Ariranhas ((Ptenura brasiliensis) e do Lago do Puraquê (Electrophorus electricus), além de água de precipitação atmosférica. As águas do lago em geral apresentam XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 coloração levemente esverdeadas, indicando floração de algas (Souza et al., 2005; Pascoaloto et al., 2014). O objetivo deste estudo foi comparar a qualidade da água e a comunidade fitoplanctônica dessas duas lagoas urbanas. MATERIAL E MÉTODOS Neste estudo foi adotado como conceito de lagoa “corpos d`água em que a radiação pode alcançar o sedimento, possibilitando, consequentemente, o crescimento de macrófitas aquáticas em toda a sua extensão” (Esteves, 2011). Foram incluídos dois locais de estudo (Figura 1), “Lagoa do Japiim” e “Lago Amazônico” (Figura 1), visitados entre março/2013 e março/2014. Lago Amazônico Lagoa do Japiim Figura 1: Localização e configuração dos locais de estudo (fotografados por Domitila Pascoaloto). As amostras de água foram coletadas com garrafa tipo Van Dorn, acondicionadas em frascos de polietileno quimicamente limpos e transportadas para laboratório de Química Ambiental (CDAM/INPA) para determinação de pH (potenciometria); condutividade elétrica (C.E.) (potenciometria); turbidez (turbidimetria); demanda química de oxigênio (DQO) (titulometria); dureza, íons cálcio e magnésio (titulometria); íons sódio, potássio, silicato, amônia, nitrato, nitrito e fosfato (espectrofotometria), segundo APHA et al. (2005). A determinação do oxigênio dissolvido foi feita pelo método de Winkler modificado (Golterman et al., 1978), por titulometria. As XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 determinações de fósforo total e nitrogênio total foram feitas por colorimetria, segundo Valderrama (1980). Os dados de precipitação foram obtidos na página do INMET (http://www.inmet.gov.br/sim/gera_graficos.php). Análises de fitoplâncton foram realizadas apenas na coleta de março/2014, a fim de confirmar se as espécies dominantes seriam as mesmas dos estudos anteriores (Soares et al., 2006; Feitosa et al., 2011; Ribeiro, 2011). As algas foram coletadas com rede para plâncton com abertura de 25 µm e fixadas em solução de Transeau (Bicudo & Menezes, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 21 espécies de algas planctônicas, sendo 16 no Lago Amazônico e seis na Lagoa do Japiim (Tabela 1). Tabela 1: Espécies de algas planctônicas registradas nos locais. Espécie/Sítio Amostral Lagoa do Japiim Lago Amazônico Cyanoprocariophyta (Cyanobacteria) Microcystis sp. Planktothrix cf. agardi x x Chlorophyta (Chlorophyceae) Coelastrum sp. x x Desmodesmus cf. communis (Hegewald) Hegewald Desmodesmus sp. Kirchneriella lunaris (Kirchner) Möbius x Pediastrum duplex Meyen Scenedesmus acuminatus (Lag.) Chod. x Scenedesmus denticulatus Lagerheim Tetrallantos lagerheimii Teiling Bacillariophyta (Bacillariophyceae/Diatomáceas) x x x x x x x x x Aulacoseira cf. italica (Ehrenberg) Simonsen Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonse Eunotia sp. Gomphonema sp. Euglenophyta (Euglenophyceae) x x x x Euglena acus Ehrenberg E. oxyuris Schmarda Lepocincles sp. Phacus longicauda (Ehrenberg) Dujardin Phacus sp. 1 Phacus sp. 2 Trachelomonas sp. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos X X X 4 A diversidade de algas observadas no Lago Amazônico foi bem menor do que aquela encontrada por Soares et al. (2006), que registraram 34 espécies. Estudos anteriores no Lago Amazônico (Soares et al., 2006; Feitoza et al., 2011) mostraram domínio Chlorophyta (65% e 53%, respectivamente). Em nosso estudo Chlorophyta também foi a classe mais bem representada (39,1%), porém em proporção levemente superior a Euglenophyta, o que sugere que atualmente o lago esteja mais eutrofizado. No entanto em março/2014 o Lago Amazônico estava parcialmente coberto por macrófitas (Pistia stratiotes), oriundas do tanques de água de peixe-boi (nesta data estava sendo realizada a limpeza dos berçários); assim, existe a possiblidade que a menor diversidade de algas, bem como a assembleia de espécies, observada em nosso estudo esteja relacionada com a redução da luminosidade. O único estudo sobre comunidades de algas na Lagoa do Jappim foi o de Ribeiro (2011), que estudou cianobactérias. Não houve diferença entre os resultados obtidos por esse autor e os registrados em nossos estudos. Os resultados das variáveis ambientais (pH, alcalinidade, condutividade, DQO, nitrato, íon amônio, fosfato e magnésio) na água de ambas as lagoas encontram-se na Figura 2. O índice pluviométrico dos meses referentes às coletas encontram-se na Figura 3. Os valores elevados de pH e condutividade elétrica observados no Lago Amazônico podem estar relacionados ao processo de fotossíntese, conforme verificado no estudo de Souza et al. (2006). Não existem dados sobre a produção primária na Lagoa do Japiim, de forma que é difícil afirmar se os valores altos dessas duas variáveis ambientais estão relacionados à fotossíntese das algas e cianobactérias ou se são devidos apenas à entrada de esgoto de residências adjacentes ao Parque Municipal Lagoa do Japiim. No entanto os valores observados para oxigênio dissolvido nesse local a sugerem alta taxa de fotossíntese pelo fitoplâncton, tendo em vista que o igarapé Quarenta (para o qual a água da lagoa escoa e que também recebe forte aporte de esgotamento doméstico), apresenta baixas concentrações ou mesmo ausência desse gás (Melo et al., 2006; Pascoaloto et al., 2014) - para Foi observada uma tendência de aumento na oxigenação da Lagoa do Japiim e redução da mesma no Lago Amazônico em função do aumento da precipitação XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 Figura 2: Valores médios das variáveis ambientais pH, alcalinidade, condutividade, DQO, nitrato, íon amônio, fosfato e oxigênio dissolvido nos locais de estudo. ( Lago Amazônico, Lagoa do Japiim). XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 Figura 3: Chuva acumulada mensal nos meses de referência ao estudo. CONCLUSÃO Os resultados indicam que ambos os locais apresentaram metabolismo envolvendo forte processo de fotossíntese, seja por algas ou por cianobactérias, indicando a entrada de águas enriquecidas (principalmente em nitrogênio e fósforo) nos locais. Novos estudos devem ser realizados nos locais para se compreender melhor a relação entre o metabolismo nas duas lagoas e a precipitação atmosférica, no entanto os resultados atuais sugerem que a água da chuva melhora as condições da água da Lagoa do Japiim e favorece a produção primária, enquanto no lago Amazônico acontece o inverso. A presença de Pistia stratiotes no Lago Amazônico no mês março/2014 foi prejudicial às algas e reduziu a taxa de oxigênio. Medidas devem ser tomadas durante a limpeza dos tanques de peixe boi no Bosque da Ciência para evitar a propagação dessas macrófitas no lago. AGRADECIMENTOS: À Fapeam. Aos técnicos de campo e laboratório do RHANIA (CDAM/INPA). 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