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artigo de revisão Controle da infecção em implantodontia Implantology infection control Maria Claudia CHRISTOVAM1, Rafael Andrade MOSCATIELLO2, Rafael Muglia MOSCATIELLO3, Vitoria Aparecida Muglia MOSCATIELLO4, Daldy Endo MARQUES5, Dalva Maria ROCHA6, Fátima Neves Faraco SCHWED7 Resumo O correto emprego de procedimento de biossegurança é fundamental para o efetivo controle da infecção nos consultórios odontológicos. O conceito de biossegurança e sua respectiva aplicação têm como objetivo principal dotar os profissionais de ferramentas que visem desenvolver as atividades com grau de segurança adequado seja para o profissional de saúde, seja para o meio ambiente. Na odontologia atual, os procedimentos realizados são muitas vezes complexos e expõem os profissionais a riscos ocupacionais. Dentre estes podemos citar os riscos biológicos, físicos, químicos e mecânicos. Os biológicos, pela contaminação por fungos, bactérias e vírus; os físicos, pelo manuseio de instrumentos perfurocortantes, além do contato por radiações, ruídos e outros; os químicos, pela manipulação de materiais dentários, muitas vezes tóxicos; e finalmente os riscos mecânicos pelas posturas de trabalho inadequadas e movimentos repetitivos prolongados. Estes riscos podem ser reduzidos, senão eliminados, com cuidados específicos e aplicação de normas e rotina de biossegurança como meios de prevenção. O objetivo deste trabalho é orientar e prevenir os profissionais da Implantodontia, quanto aos riscos de infecção possíveis de ocorrer em sua rotina de trabalho e principalmente aos seus pacientes. Palavras-chave: Exposição a agentes biológicos. Implantes dentários. Infecção. Abstract The correct use of biosecurity’s procedures is fundamental to its effective control over infections at odontological clinics. The concept of biosecurity and it’s application has as main purpose to give professionals the correct tools to develop dental activities with a higher level of security, not only for themselves but as well as for the environment. Inside today’s dentistry, there are very complex procedures that expose professionals to employment risks like biological, physical, chemical and mechanical. The biological contamination is caused by fungus, bacteria and virus; physical is caused by sharp tools or used during procedures, not to mention radiation, noise and others; chemical contamination can happen by handling dental materials, most of them toxics; finally, mechanical risks are caused by inappropriate posture and repetitive body movements during work. These risks can be reduced or even eliminated with specific care and Biosecurity’s standards as means of prevention. This work’s objective is to orientate and prevent professionals from Implantology about possible infections that can occur in daily bases, especially with their patients. Key words: Exposure to biological agents. Dental implants. Infection. Endereço para correspondência: Maria Claudia Christovam Rua Ouvidor Portugal, 679 Vila Monumento 01551-000 – São Paulo – São Paulo - Brasil E-mail: [email protected] Recebido: 02/02/2011 Aceito: 05/04/2011 1. Especialista em Implantodontia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. Especialista em Endodontia, Universidade Metodista, Rudge Ramos, SP, Brasil. 2. Doutor em Ciências Radiológicas. Professor responsável pelo Curso de Especialização em Implantodontia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. 3. Mestrando em Clínicas Odontológicas (Implantodontia). Professor do Curso de Especialização em Implantodontia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. 4. Doutora em Ciências Radiológicas, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 5. Especialista em Implantodontia. Professor do Curso de Especialização em Implantodontia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. 6. Mestre em Lasers. Professora do Curso de Especialização em Implantodontia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. 7. Doutora em Clínica Integrada. Coordenadora do Programa de Mestrado de Odontologia, Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil. Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 49-55, jan./abr. 2011 49 Controle da infecção em implantodontia INTRODUÇÃO O conceito de biossegurança e sua respectiva aplicação têm como objetivo principal dotar os profissionais e as instituições de ferramentas que visem desenvolver as atividades com grau de segurança adequado seja para o profissional de saúde, seja para o meio ambiente ou para a comunidade18. A despeito do tremendo benefício dos implantes dentais, todos estes dispositivos utilizados na Implantodontia, apresentam um risco de infecção que representam uma causa da perda da osseointegração e de problemas de infecção do leito ósseo implantado, ou seja, abscesso endósseo ou osteomielite. O conceito recentemente prevalente é o de se adotar precauções universais (PU), também conhecidas como precauções padrão (PP), o que significa que tomaremos cuidados de biossegurança iguais com todos os pacientes, considerando que todos podem oferecer riscos de transmissão quer saibam ou não disto13. Em toda atividade odontológica, tão importante quanto o aprimoramento técnico e científico é a conscientização dos riscos no que se refere à biossegurança25,27. O objetivo deste trabalho é orientar e prevenir os profissionais da Implantodontia, quanto aos riscos de infecção possíveis de ocorrer em sua rotina de trabalho e principalmente aos seus pacientes. REVISÃO DE LITERATURA As precauções padrão, também chamadas básicas em algumas publicações no Brasil, constituem uma tentativa de reduzir os riscos de transmissão de micro-organismos de fontes conhecidas e desconhecidas, sendo designadas para o atendimento de todos os pacientes, independente do diagnóstico ou da condição infecciosa presumida28. São consideradas medidas básicas no controle de infecção: a higienização das mãos, o uso dos equipamentos de proteção individual, as técnicas assépticas, os cuidados com instrumentos perfurocortantes e demais resíduos dos serviços de saúde, os cuidados no manuseio e transporte de artigos e roupas contaminados com secreções corpóreas, a limpeza e desinfecção de superfícies e o reprocessamento de artigos. Apesar de não aparecer no documento oficial dos CDC de 1996, quando foram apresentadas as Precauções Padrão, a imunização dos profissionais da área de saúde é reconhecidamente uma precaução11. IMUNIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE A imunização dos profissionais da área de saúde é indicada com o objetivo de proteção profissional, interrupção da cadeia de transmissão de doenças infectocontagiosas, proteção indireta de doentes e pessoas não vacinadas da comunidade, diminuição do absenteísmo, ou seja, diminuição das ausências 50 dos trabalhadores, e por fim, redução dos gastos com diagnóstico e tratamento de doenças imunopreveníveis. No Brasil, as doenças cuja proteção deve ser feita com o emprego de vacina para o profissional da área da saúde são: hepatites A e B, difteria, tétano, rubéola, sarampo, influenza e tuberculose28. Ao contrário do que muitos possam pensar, o vírus da hepatite B é muito mais infectante e resistente que o vírus causador da AIDS, o HIV6. Os cirurgiões-dentistas ocupam o primeiro lugar no coeficiente de acidentabilidade, o que pode ser explicado pela prática diária com materiais perfuro-cortantes26. A vacinação contra hepatite B tem sido recomendada tanto para dentistas, como para auxiliares, técnicos de higiene dental e protesistas. Esta vacina deve ser aplicada em 3 doses e é recomendada a realização de sorologia (pesquisa de anticorpos anti-HBs) para comprovação de imunidade após o término do esquema vacinal16. A hepatite C é considerada pela OMS a Doença do Terceiro Milênio, um problema de saúde pública mundial. É uma doença subclínica, pois 90% dos infectados a desconhece, e seu tratamento é sintomático; não existe vacina até o momento, tamanha sua complexidade imunológica. A única medida eficaz para eliminação do risco de infecção pelo vírus da hepatite C é por meio da prevenção da ocorrência do acidente1,14. Em virtude de que nem todos os pacientes portadores de HIV, do vírus da hepatite B, ou outros patógenos importantes, possam ser identificados previamente à realização de um procedimento invasivo, é recomendado que todos os pacientes, indiscriminadamente, sejam considerados potencialmente contaminados e que, consequentemente, precauções padronizadas sejam utilizadas em todos procedimentos, com todos os pacientes16. A inoculação percutânea acidental de agulhas contaminadas com o HIV está relacionada a baixíssimo risco de seroconversão. Encontra-se na ordem de 0,3%, com uma única inoculação parenteral. Este índice pode ser considerado baixo, ao ser comparado com o risco de seroconversão para a hepatite B, que pode chegar a 37% após acidente com agulha contaminada8. HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS A higienização das mãos é considerada a mais simples e importante medida na prevenção de infecções. É eficiente para a remoção dos micro-organismoss transitórios. O termo engloba 4 formas de descontaminação das mãos cuja escolha depende do objetivo ao qual se destinam: higienização, utilizando água e sabão; fricção antisséptica, pelo uso de soluções alcoólicas a 70%; higienização antisséptica, por meio do uso do sabão associado a um antisséptico; e antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório, utilizando escovas descartáveis impregnadas ou não com antisséptico. Embora ainda existam controvérsias sobre o antisséptico ideal, deve-se escolher um que atenda à legislação específica com comprovada ação microbicida, de ação rápida e com efeito residual. Os que melhor atendem a estes requisitos são as soluções iodóforas e a clorexidina28. Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 49-55, jan./abr. 2011 artigo de revisão Christovam MC, Moscatiello RA, Moscatiello RM, Moscatiello VAM, Marques DE, Rocha DM, Schwed FNF EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Os equipamentos de proteção individual são barreiras mecânicas designadas para proteger a pele, as mucosas oculares, nasais e bucais, os cabelos, as roupas e os pés contra a contaminação por sangue e outros fluídos orgânicos13. Todo paciente deve ser tratado como se fosse portador de moléstia transmissível e incurável. Os cuidados relativos à sua proteção e da equipe de trabalho tem que ser rotineiramente tomados23. Os EPIs indicados para a equipe odontológica são: jaleco, gorro, máscara, luvas, óculos e sapatos fechados, sendo que os óculos protetores e o gorro são considerados necessários também, para o paciente28. As máscaras deveriam fornecer filtração de mais de 95% dos micro-organismos, além de proteger contra névoas, espirros e aerossóis13. O grau de contaminação, tanto com o que vem do exterior como o que vem da boca e do trato respiratório do profissional, é tão grande que se admite que ela deva ser trocada, no máximo, a cada 1 ou 2 horas com o mesmo paciente e imediatamente entre um paciente e outro12. Os óculos de proteção também devem ser rotineiramente utilizados pelos cirurgiões-dentistas. São indicados sempre que existir possibilidade de contato de sangue e fluidos corpóreos com as mucosas dos olhos. Partículas podem ser projetadas a uma velocidade aproximadamente de 96 km/h, e a conjuntiva apresenta menos barreira de proteção que a pele23. Os óculos adequados devem possuir barreiras laterais, devem ser confortáveis e de transparência o mais absoluta possível e, também devem ser de material de fácil limpeza. Os óculos de proteção devem ser limpos pelo menos diariamente e sempre que houver sujidade visível. Devem ser guardados secos preferentemente embalados. A desinfecção com álcool, após a lavagem, seria adequada em situações de excessiva contaminação16. A não utilização do gorro possibilita que o aerossol resultante do uso da alta rotação e aparelho de profilaxia, se deposite no cabelo e couro cabeludo dos profissionais. É indicada em todo atendimento em que houver a formação de aerossol-spray23. Os cabelos, assim como a barba e o bigode, são fontes de contaminação e corpos estranhos. Micro-organismos como o S. Aureus e outros estão presentes nos cabelos. Por esse motivo devem ser cobertos com gorro, especialmente em procedimentos cirúrgicos12. Luvas de procedimento ou estéreis são equipamentos de proteção individual descartáveis, não devendo ser reaproveitadas sob nenhuma hipótese. Procedimentos invasivos não devem ser feitos com luvas de procedimento já que eles requerem esterilidade. Devem ser trocadas entre pacientes ou quando se nota perfuração. As microperfurações causadas nas luvas pelo uso variam de acordo com o material, duração do uso e tipo de procedimento realizado. Durante os procedimentos as luvas entram em contato com um grande número de materiais e produtos químicos que podem comprometer a integridade do látex de que são feitas13. CUIDADOS COM AS SUPERFÍCIES A limpeza é a remoção de resíduos sólidos ou líquidos pelo uso de água, ação mecânica e sabão ou detergentes28. A desinfecção é definida como a eliminação de microorganismos na forma vegetativa das superfícies fixas e artigos. Para a realização da desinfecção de superfície, vários agentes químicos e físicos podem ser utilizados. A escolha adequada do desinfetante determina o sucesso do processo de desinfecção15. A desinfecção de artigos por meio químico deve ser realizada por uma das seguintes formas: glutaraldeído a 2% em solução, mantendo-se o material em imersão por 30 minutos; formaldeído a 4%; peróxido de hidrogênio a 6%; hipoclorito de sódio a 0,5%; álcool etílico a 70%, fazendo-se fricção através de técnica adequada, durante 10 minutos 4. A limpeza deve preceder os processos de desinfecção, uma vez que a ação dos desinfetantes é limitada na presença de sujeira, matéria orgânica e oleosidade28. O álcool 70% é considerado um agente desinfetante de nível intermediário, que age por desnaturação de proteínas dos micro-organismos. É indicado para desinfecção de artigos e superfície e antissepsia de pele, e tem como vantagens ser de ação rápida, baixo custo, fácil disponibilidade e compatibilidade com metais. A utilização de álcool 70% por imersão de artigos é contra-indicado e a eficácia de sua aplicação em superfícies está condicionada ao procedimento de três fricções, com intervalo de secagem28. O hipoclorito de sódio também é classificado como desinfetante de nível intermediário e seu mecanismo de ação se dá por inibição das reações enzimáticas dentro das células, desnaturação das proteínas e inativação do ácido nucléico. É indicado na concentração de 10.000 parte por milhão (ppm) (1%) para desinfecção de superfícies de bancadas e equipamentos e desinfecção de artigos que requerem apenas nível intermediário28. As soluções de clorexidina são efetivas contra as bactérias Gram-positivas e menos eficazes para bactérias Gramnegativas, fungos, bacilos da tuberculose, esporos e vírus da hepatite. Atualmente a clorexidina é extensivamente utilizada sendo parte da formulação de produtos para lavagem de mãos, colutórios e também desinfetantes, devido ao seu alto espectro de atividade, substantividade e baixo grau de irritação tecidual15. O glutaraldeído a 2%, embora seja um germicida de alto nível, tem sua aplicação restrita a artigos. Não é recomendado para a desinfecção de superfícies devido a sua toxicidade7. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS NA CLÍNICA ODONTOLÓGICA A questão dos resíduos de serviços de saúde não pode ser analisada apenas no aspecto da transmissão de doenças infecciosas. Também está envolvida a questão da saúde do trabalhador e a preservação do meio ambiente, sendo essas questões, preocupações da biossegurança. Acreditase que o gerenciamento adequado dos resíduos possa Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 49-55, jan./abr. 2011 51 Controle da infecção em implantodontia contribuir significativamente para a redução da ocorrência de acidentes de trabalho, especialmente aqueles provocados por perfurocortantes10. O gerenciamento dos RSS tem como objetivo proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos profissionais, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente28. Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde pela ANVISA em 2004 e CONAMA em 2005: grupo A (potencialmente infectantes), grupo B (químicos), grupo C (rejeitos radioativos), grupo D (resíduos comuns), grupo E (perfurocortantes). LIMPEZA DOS ARTIGOS O primeiro passo é a limpeza prévia ou desincrustração, que é a remoção da matéria orgânica do instrumental, que deve ser realizada o mais rápido possível após a utilização cirúrgica, utilizando soluções enzimáticas na concentração e pelo tempo de exposição determinados pelo fabricante destas soluções químicas. O segundo passo é a descontaminação, ou seja, a limpeza de micro-organismos na forma vegetativa, utilizando soluções à base de fenol ou de amônia19. A limpeza de artigos poderá ser feita por qualquer das seguintes alternativas: fricção mecânica, utilizando água e sabão, auxiliada por esponja, pano, escova, ou, máquina de limpeza com jatos de água quente ou detergente, ou, máquinas de ultrassom com detergentes-desencrostantes17. A limpeza automatizada pelo uso de cubas ultrassônicas é a melhor e mais segura forma para artigos contaminados com secreção orgânica. Outra vantagem é a minimização do risco ocupacional durante a limpeza28. A descontaminação de artigos poderá ser feita por qualquer uma das seguintes alternativas: fricção auxiliada por esponja, pano, escova, embebidos com produto para esta finalidade, ou, imersão completa do artigo em solução desinfetante acompanhada ou não de fricção com escovaesponja, ou, pressão de jatos de água com temperatura entre 60 e 90 graus centígrados, durante 15 minutos, ou, imersão do artigo na água em ebulição por 30 minutos, ou, autoclavagem prévia do artigo ainda contaminado, sem o ciclo de secagem. A escolha da alternativa deve ser baseada nas possibilidades do estabelecimento, obedecendo a natureza do artigo em processamento17. MEIOS FÍSICOS PARA ESTERILIZAÇÃO A esterilização é o procedimento que visa a eliminação total dos micoorganismos (vírus, bactérias, micróbios e fungos), seja na forma vegetativa ou esporulada19. Basicamente o método de escolha para a esterilização é o físico, isto é, a utilização do calor como meio de esterilização. Esta depende da temperatura e do tempo de exposição. Quanto maior a temperatura, menor o tempo de exposição requerido. O calor seco é menos eficaz que o úmido, exigindo um tempo de exposição maior12. 52 • Autoclave É o meio mais confiável e deve ser o método de primeira escolha em consultórios, clínicas e hospitais para se esterilizar materiais que suportam as temperaturas. É o melhor meio, pois possui boa penetrabilidade12. A esterilização pelo vapor saturado sob pressão realizado em autoclave é considerada um método seguro e eficaz que destrói todas as formas de vida microbiana numa temperatura entre 121 0C a 135 0C. A autoclave é indicada para o reprocessamento de todos os artigos termorresistentes, com exceção a óleos e pós 28. Os estojos autoclaváveis podem ser esterilizados a 121 0 C a 1 ATM de pressão durante 30 minutos ou a 134 0C a 2 ATM de pressão durante 20 minutos19. Os indicadores químicos aplicáveis às autoclaves gravitacionais, de mesa, e recomendados para artigos utilizados em procedimentos de implantes são os de classe I e VI. Os indicadores classe I são tiras de papel impregnadas com tinta termocrômica que mudam de cor quando expostas ao calor. São considerados indicadores de processo e demonstram que o artigo passou pela temperatura indicada deste processo de esterilização. Os indicadores classe IV ou simuladores são indicadores internos projetados para reagir com todos os parâmetros críticos do processo de esterilização, sendo que esta reação (viragem) acontece no final do ciclo de esterilização ampliando a margem de segurança do teste. Os indicadores biológicos são preparados padronizados de esporos bacterianos de modo a produzir suspensões contendo em torno de 10 esporos por unidade. Os micro-organismos mais resisitentes à esterilização pelo vapor saturado sob pressão e utilizado no teste é o Bacillus stearothermophilus28. A observação frequente e concomitante dos controles físico, químico e biológico é considerada o padrão ouro do controle de qualidade dos processos de esterilização, entretanto vale lembrar que estes são indicadores do bom funcionamento do equipamento e que a esterilização depende de cada etapa operacional que inicia com a garantia de limpeza do artigo28. • Estufa ou forno de Pasteur Atualmente é mais usada para produtos que são danificados pela umidade da autoclave ou que esta não possa penetrá-los como, por exemplo, pós, derivados de petróleo e instrumentos de corte. Não podemos menosprezar totalmente o seu uso que, se for feito apropriadamente, pode ser efetivo12. As últimas recomendações do Ministério de Saúde para o calor seco são: metais 170 0C por 60 minutos e 160 0C por 120 minutos; substâncias em pó a cada 100 gramas a 160 0C por 120 minutos, e para óleos cuja altura não deve passar de 0,5cm, 160 0C por 120 minutos. O tempo de exposição deve ser cronometrado a partir do alcance da temperatura indicada. As embalagens recomendadas para este processo são as caixas metálicas de inox ou alumínio28. Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 49-55, jan./abr. 2011 artigo de revisão Christovam MC, Moscatiello RA, Moscatiello RM, Moscatiello VAM, Marques DE, Rocha DM, Schwed FNF ÁCIDO PERACÉTICO Uma nova alternativa para os termossensíveis é o ácido peracético em baixas concentrações (0,001% a 0,2%) que tem uma rápida ação bactericida, fungicida, virucida e esporicida, dependendo da concentração e do tempo de exposição. Apresenta como desvantagem ser instável, corrosivo para metais como o cobre, latão, bronze e ferro galvanizado, e causar irritação nos olhos e trato respiratório. Suas vantagens são: baixa toxicidade, ser biodegradável, e ainda, ter boa ação na presença de matéria orgânica. Em concentrações mais elevadas, pode-se obter desinfecção de alto nível em 10 minutos de exposição e esterilização em apenas 1 hora. Este produto pode ser uma alternativa para o guia cirúrgico, pois é compatível com silicone e acrílico28. É reconhecido internacionalmente como um potente esterilizante e não há relatos de resistência microbiana a este princípio ativo. É eficaz inclusive, sobre a Mycobacterium chelonae que, comprovadamente, já apresentou resistência ao glutaraldeído a 2%3. É uma substância que veio somar e tornar mais prático o dia-a-dia de profissionais que também utilizam métodos de esterilização a frio (artigos termo-sensíveis), diminuindo o tempo de exposição aos artigos, bem como, a toxicidade ao operador e ao paciente2. DISCUSSÃO Em minha opinião, devemos considerar todos os pacientes potencialmente contaminados e ter precauções padronizadas com todos eles. É importante os profissionais ficarem atentos para o fato de que diante de um acidente perfurocortante deve-se fazer a degermação das mãos com um antisséptico e nunca utilizar hipoclorito de sódio ou composto fenólico, que possam vir a piorar o quadro. Na sequência, deve-se fazer a identificação da sorologia do paciente e a quimioprofilaxia pósexposicional. É conhecido o baixo risco de seroconversão com acidente percutâneo de agulhas contaminadas com o vírus da imunodeficiência humana. Para a transmissão do HIV ou vírus da hepatite B após acidente percutâneo, é importante analisar a quantidade de sangue inoculado no acidente e a quantidade de partículas virais presentes no sangue8,13,16,23. O vírus da hepatite B é muito mais infectante e resistente que o vírus causador da AIDS. Sua transmissão se dá de várias maneiras, e por apresentar estabilidade no meio ambiente existe a possibilidade de transmissão pelo sangue ou secreções. Acredito ser de extrema importância que os profissionais da área de saúde saibam que a vacina contra hepatite B é aplicada em 3 doses, pois muitos profissionais esquecem da segunda ou terceira dose. Para a hepatite C não existe vacina até o momento. O risco de aquisição após exposição percutânea está entre 3% a 10%, não havendo benefício com o uso de imunoglobulinas. Concordo que prevenir acidentes, é o único meio de não contrair a infecção pelo vírus da hepatite C1,6,8,14. Concordo plenamente que a higienização das mãos seja a mais importante medida na prevenção de infecções, por sua simplicidade e por remover micro-organismos transitórios. Entendo ser importante também que as mãos sejam a principal via de transmissão de infeções em nosso ambiente de trabalho5,28. Concordo com os autores que afirmam que os equipamentos de proteção individuais protegem a pele, as mucosas oculares, nasais e bucais, os cabelos, as roupas e os pés da contaminação por sangue e outros fluídos orgânicos, e os cuidados devem ser tomados rotineiramente, considerando todos os pacientes como infectados13,23. Em minha opinião, a máscara é uma das principais barreiras mecânicas indispensáveis na clínica odontológica. É muito importante observar que quando molhadas, devem ser trocadas, pois perdem eficiência quando umidecidas e para evitar esse processo, podemos usar escudos faciais12-14. A limpeza é o primeiro passo, já que os desinfetantes têm ação limitada na presença de sujeira, matéria orgânica e oleosidade. Em qualquer processo de esterilização, é necessária a lavagem prévia rigorosa dos artigos com soluções desencrostantes e enxágue em água4,28. Devemos fazer a eliminação de micro-organismos na forma vegetativa das superfícies fixas e artigos, sendo utilizados vários agentes químicos e físicos para a sua desinfecção4,15,28. O álcool 70% é um agente desinfetante de nível intermediário, e sua aplicação para desinfecção de artigos e superfícies deve ser realizada por meio de três fricções, com intervalo de secagem. É usado também na antissepsia da pele. Assim como o álcool 70%, o hipoclorito também é considerado um desinfetante de nível intermediário pela inibição das reações enzimáticas dentro das células, desnaturação das proteínas e inativação do ácido nucléico. Quando na concentração a 1% é usado para superfícies e artigos que requerem apenas nível intermediário, espalhando o produto e aguardando a secagem por 10 minutos28. O gluconato de clorexidina de 2% a 4% em detergente e 0,5% alcoólico, vem sendo utilizada em produtos para lavagem das mãos, colutórios e desinfetantes15. O lixo contaminado e as agulhas e instrumentos perfurocortantes devem ser colocados em embalagens rígidas com tampa. Se a embalagem for impermeável, introduzir hipoclorito de sódio a 10% no interior. Para os produtos contaminados que não sejam perfurocortantes, utilizar sacos de plástico branco com indicação de material contaminado. As caixas de descarte de cor amarela servem exclusivamente para perfurocortantes, sendo que as agulhas não devem ser reencapadas ou encurvadas14,22. Os artigos críticos necessitam de esterilização por penetrarem através da pele e mucosa do paciente. Os semicríticos requerem desinfecção de médio ou alto nível, ou esterilização. Os artigos destinados ao contato com a pele Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 49-55, jan./abr. 2011 53 Controle da infecção em implantodontia íntegra do paciente são os não-críticos e requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível17. O método de escolha para a esterilização é o físico, utilizando calor. Quanto maior a temperatura, menor o tempo de exposição, sendo o calor seco menos eficaz que o úmido. A esterilização visa a eliminação total dos micro-organismos, vírus, bactérias, micróbios e fungos, seja na forma vegetativa ou esporulada12,19. Considero ser a autoclave o meio mais confiável e de primeira eleição em consultório e clínicas, para se esterilizar materiais que suportam as temperaturas. O efeito biocida é obtido pela transferência do calor latente do vapor para os artigos que age coagulando proteínas celulares e inativando os micro-organismoss12,28. É de suma importância e concordo com a necessidade de realizar o controle de qualidade dos processos de esterilização em autoclave através do controle com indicadores químicos multiparamétricos, e o controle biológico semanal utilizando esporos de Bacillus sthearothermophilus28. Colocar os indicadores químicos no interior da caixa de artigos para a cirurgia de implante, e caso na abertura do pacote, não tenha ocorrido a viragem, é indicativo de que a esterilização não foi alcançada, não podendo ser utilizado este material para o procedimento de implante28. A estufa é utilizada para esterilizar produtos que são danificados pela umidade da autoclave ou que esta não possa penetra-los como os derivados de petróleo, pós e instrumentos de corte. A principal vantagem da estufa é que o seu processo não é tão corrosivo para os instrumentos de corte9,12,28. O ácido peracético em baixas concentrações tem uma rápida ação bactericida, fungicida, virucida e esporicida, dependendo da concentração e tempo de exposição. Acredito ser a melhor opção na desinfecção. No protocolo de esterilização de instrumental e artigos termossensíveis, o ácido peracético se encaixa em duas importantes etapas, desinfecção e esterilização: a desinfecção de alto grau, feita até o momento com imersão no glutaraldeído a 2%, durante 30 minutos. O ácido peracético realiza a desinfecção de alto grau em apenas 10 minutos e não necessita de pré-enxágue dos mesmos para remoção de matéria orgânica. Artigos termorresistentes são esterilizados a frio. Até então, em imersão de 10 horas no glutaraldeído a 2%. O ácido peracético esteriliza em imersão de 1 hora2-3,20-21,24,28. Considerado altamente tóxico ao operador e ao paciente, o formoldeído já é questionado desde a década de 80 e, recentemente, o uso do glutaraldeído foi proibido para serviços odontológicos no Estado de São Paulo2. CONCLUSÃO A partir da presente revisão de literatura, foi possível concluir que os profissionais da área de saúde devem estar atentos aos possíveis riscos e infecções que podem ocorrer em sua rotina de 54 trabalho. O conceito recentemente prevalente é o de se adotar precauções universais, ou precauções padrão, o que significa que tomaremos cuidados de biossegurança iguais com todos os pacientes, considerando-os possíveis transmissores. REFERÊNCIAS 1. Bianchini MA. O passo a passo cirúrgico na implantodontia da instalação à prótese. São Paulo: Santos; 2008. 2. Borges LC. Ácido peracético: uma novidade ecológica. Só Técnicas Estéticas. 2008;4(4):124-5. 3. Borges LC. Ácido peracético. Uma revolução na biossegurança. Só Técnicas Estéticas. 2005;2(1):24-5. 4. Conselho Federal de Odontologia. Biossegurança. Rio de Janeiro: CFO; 1997. 5. Faizibaioff R, Kignel S. Princípios de biossegurança em implantodontia. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2000;54(4):329-34. 6. Faraco FN, Moura APF. 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