Dissertao PDF

Transcrição

Dissertao PDF
UNIVERSIDADE PARANAENSE
COMPARAÇÃO ENTRE SUTURAS DE CÓRNEA E
CONTROLADORES DA PRESSÃO INTRA-OCULAR EM
FACECTOMIAS EXTRACAPSULARES EM CÃES
PEDRO RAFAEL APULCRO CORREA MARCHAN
UMUARAMA, 2008
UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR
Mestrado em Ciência Animal
COMPARAÇÃO ENTRE SUTURAS DE CÓRNEA E
CONTROLADORES DA PRESSÃO INTRA-OCULAR EM
FACECTOMIAS EXTRACAPSULARES EM CÃES
Orientado: PEDRO RAFAEL APULCRO CORREA MARCHAN
Orientador: Prof. Dr. GENTIL FERREIRA GONÇALVES
Dissertação
apresentada
a
Universidade Paranaense como parte
dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Ciência Animal.
UMUARAMA - PR
FEVEREIRO DE 2008
1
UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR
Mestrado em Ciência Animal
PEDRO RAFAEL APULCRO CORREA MARCHAN
COMPARAÇÃO ENTRE SUTURAS DE CÓRNEA E
CONTROLADORES DA PRESSÃO INTRA-OCULAR EM
FACECTOMIAS EXTRACAPSULARES EM CÃES
ORIENTADOR: Prof. Dr. GENTIL FERREIRA GONÇALVES
Aprovada em: _____/_____/_____
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Gentil Ferreira Gonçalves – Presidente
Prof. Dr. Duvaldo Eurides
Prof. Dr. Max Gimenez Ribeiro
Umuarama, 28 de fevereiro de 2008
2
Dedico este trabalho a minha
esposa Mariangela Régio
Vieira Marchan por todos os
momentos de compreensão,
ajuda e carinho, a minha mãe
Solange
Marchan
e
a
memória de meu pai Dr.
Edson Marchan.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por todas as oportunidades que me foram cedidas e a capacidade
de realizá-las.
Agradeço a todas as pessoas a minha volta, familiares, amigos, mentores que
colaboraram não só em minha formação intelectual como em minha formação pessoal
e que ficaria impossível citar aqui.
Agradeço a todos os acadêmicos do curso de Medicina Veterinária, que ajudaram a
realizar e concluir este trabalho.
Agradeço aos proprietários de todos os animais pela compreensão e confiança em nós
depositada.
Agradeço a CAPES, pela bolsa de estudo e incentivo à pesquisa científica.
Agradeço ao meu maior mentor, professor Dr. Gentil Ferreira Gonçalves por tudo que
me foi ensinado
Agradeço a todos os funcionários do Hospital Veterinário da Universidade Paranaense
– UNIPAR.
A minha família, minha mãe Solange de Oliveira Correa Marchan, a memória de meu
pai Dr. Edson Apulcro Marchan e a minha irmã Ticiana Correa Marchan
A minha esposa Mariângela Régio Vieira Marchan, pelo companheirismo, paciência,
dedicação e amor em todas as horas.
4
Momentos difíceis nos fortalecem
5
UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR
Mestrado em Ciência Animal
MARCHAN, PEDRO RAFAEL APULCRO CORREA, COMPARAÇÃO ENTRE
SUTURAS DE CÓRNEA E CONTROLADORES DA PRESSÃO INTRAOCULAR EM FACECTOMIAS EXTRACAPSULARES EM CÃES. MESTRADO
EM CIÊNCIA ANIMAL. UNIVERSIDADE PARANAENSE, 2008, 37 P.
RESUMO
Com o avanço da medicina veterinária, cresce a necessidade de novas
pesquisas. Com o aumento da longevidade dos animais de companhia vem
junto à qualidade de vida e a saúde desses animais. A catarata é uma
enfermidade que na maioria das vezes acometem animais senis, e que o
tratamento é cirúrgico. O objetivo desse trabalho foi de diminuir o custo geral
do procedimento e melhorar a qualidade e o conforto para o paciente no pósoperatório. No primeiro trabalho “sutura corneana simples contínua em
facectomias extracapsulares em cães”, foram utilizados 10 cães de idade, sexo
e peso variados, portadores de catarata, nos quais foram realizados
facectomias extracapsulares. Ambas as córneas foram suturadas com fio
mononailon 9.0, sendo a córnea direita com padrão simples interrompido e a
esquerda com padrão simples contínuo, isso para diminuir o tempo cirúrgico, e
conseqüentemente diminuindo o custo anestésico, visto que o protocolo é
diferenciado devido ao controle da pressão intra-ocular. Ainda, diminuir a
quantidade de fio utilizado e melhorar a qualidade e o conforto do paciente no
pós-operatório pela quantidade de pontos ancorados na córnea, diminuindo o
processo inflamatório.
O segundo trabalho “pressão intra-ocular e o uso de dorzolamida comparada
ao timolol no pós-operatório imediato de facectomias extracapsulares em cães”
teve como objetivo a comparação de fármacos controladores da pressão intraocular no pós-operatório de facectomias extracapsulares. Cada colírio é de
uma classe, agem de formas diferentes e tem custos diferentes. Neste trabalho
foram utilizados sete cães, em que depois de realizada facectomia
extracapsular foi utilizado colírio de dorzolamida no olho direito e maleato de
timolol no olho esquerdo e mensurada a pressão intra-ocular com o tonômetro
Tono-pen® XL. Ambos os trabalhos tiveram resultados satisfatórios. Com o uso
da sutura contínua o tempo cirúrgico foi de 35 minutos em média, enquanto a
média para a sutura interrompida foi de 50 minutos, tendo na sutura simples
interrompida um prolongamento da uveíte em relação ao olho suturado com
padrão simples contínuo. No segundo trabalho, não se observou diferença
entre os fármacos, o uso de maleato de timolol ou dorzolamida mantém a
pressão intra-ocular em valores restritos aos fisiológicos.
Palavras-chaves: Suturas, pressão intra-ocular, facectomias, catarata, cães.
6
UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR
Mestrado em Ciência Animal
MARCHAN, PEDRO RAFAEL APULCRO CORREA, CONTRAST BETWEEN
SUTURE OF CORNEA AND INTRA OCULAR PRESSURE CONTROLLER IN
EXTRA CAPSULAR FACECTOMY IN DOGS. MASTERS DEGREE IN ANIMAL
SCIENCE. UNIVERSIDADE PARANAENSE, 2008, 37 P.
ABSTRACT
With the advance of the veterinarian medicine, grows the need for new
researches. With the increase of company animals longevity comes together life
quality and health of them. The cataract is a disease that most of time appears
on senile animals, and that the treatment is surgical. The objective of this work
was to diminish the general costs of the procedure and improve the quality and
the comfort for post operative patients. On the first work “simple continuous
corneal suture in extra capsular facectomy in dogs”, it was observed ten dogs of
variable age, sex and weight, with diagnosis of cataract, in which were
accomplished extra capsular procedure. Both corneas were sutured with nylon
ware 9.0, were the right cornea was sutured with simple interrupted pattern and
the left cornea with simple continuous pattern, this was to diminish the surgical
time, and in consequence to diminish the anesthesia cost, as seem that the
protocol is different because of intra ocular pressure control. And also
diminishing the quantity of ware used, improving the quality and comfort for
patients on post operative by the quantity of the stitches on the cornea,
diminishing the inflammatory process.
The second work “intra ocular pressure and the use of dorzolamide in contrast
to timolol on the immediate post operative of extra capsular facectomy in dogs”,
had as objective to contrast medicines that control intra ocular pressure on post
operative of extra capsular procedure. Each eyewash is from a class, act on
different ways and have different costs. On this work were observed seven
dogs, in which after the extra capsular facectomy were used dorzolamide
eyewash on the right eye and timolol maleat on the left one, and it was
measured the intra-ocular pressure with tonômetro Tono-pen® XL. Both works
had satisfactory results. With the use of the continuous pattern the surgical time
was around 35 minutes, while the medium time for the simple interrupted was
50 minutes, having on the simple interrupted pattern a prolonging of the uveitis
when compared to the eye that was sutured with the simple continuous pattern.
On the second work is was not observed a difference between the medicines,
the use of timolol meleat or dorzolamide keeps the intra ocular pressure in
restricted values of physiologic.
Key words: Suture, intra ocular pressure, facectomy, cataract, dogs.
7
SUMÁRIO
Capitulo 1
Sutura corneana simples contínua em facectomias extracapsulares em
cães................................................................................................................. 09
Capitulo 2
Pressão intra-ocular e o uso de dorzolamida comparada ao timolol no pósoperatório
imediato
de
facectomias
extracapsulares
em
cães................................................................................................................. 19
8
SUTURA CORNEANA SIMPLES CONTÍNUA EM FACECTOMIAS
EXTRACAPSULARES EM CÃES1
Pedro Rafael A. C. Marchan2, Gentil F. Gonçalves3, Marshal C. Leme4, Mariana L.
M. de Paiva5, Natalie B. Merlini5, Willian Megda6, Duvaldo Eurides7
ABSTRACT
The execution of surgery for cataract extraction in dogs increases everyday, although
the cost of the procedure and the surgical time are reasons for not to taken the operation.
Ten dogs of different sex, age and weight, with diagnosis of cataract were undergone to
facectomy extra capsular. Both corneas were sutured with nylon ware 9.0. The right
cornea was sutured with simple interrupted pattern and the left cornea with simple
continuous pattern. In terms of efficacy and safety both sutures are equal, in esthetic and
comfort terms the continuous pattern is superior when it is compared to the sutures
made in the same animal, with the same string and applied by the same surgeon. The
surgical time of the continuous pattern was around 35 minutes, while the medium time
for the simple interrupted was 50 minutes. The time of the uveitis occurrence was
longer in the eye used interrupted suture compared to the eye sutured with continuous
pattern. The simple interrupted pattern of suture can be used in extra capsular surgeries
for cataract extraction in dogs with similar results of the use of simple interrupted suture
pattern.
INDEX TERMS: Continuous suture, cataract, dogs, ophthalmology.
1
Recebido em 30 de janeiro de 2008.
Médico Veterinário, Acadêmico de Mestrado em Ciência Animal – UNIPAR (Universidade
Paranaense), Rua 13 de Maio 154, apto 22 bloco 02 residencial Portal do Lago, CEP 85 812-191,
Cascavel - PR Brasil fone 45-30356007 e-mail – [email protected]
3
Médico Veterinário, Mestre, Doutor. Professor Titular do Curso de Medicina Veterinária e do Mestrado
em Ciência Animal da UNIPAR. Pesquisador do IPEAC – UNIPAR.
4
Médico Veterinário, Mestre. Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da – UNIPAR.
Pesquisador do IPEAC – UNIPAR.
5
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária UNIPAR. Bolsista do Programa Externo de Bolsas de
Iniciação Científica (PEBIC) – IPEAC – Fundação Araucária.
6
Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária UNIPAR. Bolsista do Programa Interno de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) – IPEAC.
7
Médico Veterinário, Mestre, Doutor, Professor Titular da Faculdade de Medicina Veterinária UFU
(Universidade Federal de Uberlândia).
2
9
RESUMO
A realização de facectomia extracapsular em cães aumenta a cada dia, porém o custo e o
período de tempo tem impedido as intervenções cirúrgicas. Foram utilizados 10 cães de
idade, sexo e peso variados, portadores de catarata, foram submetidos a facectomias
extracapsulares. Ambas as córneas foram suturadas com fio mononailon 9.0, sendo que
a córnea direita com padrão simples interrompido e a esquerda simples contínuo. Em
termos de eficácia e segurança as duas suturas se equivaleram, em termos estéticos e de
conforto para o animal a sutura simples contínua apresentou melhor resultado, quando
comparadas às suturas no mesmo animal, com o mesmo fio, e aplicadas por um mesmo
cirurgião. O tempo cirúrgico da sutura simples contínua foi de 35 minutos em média,
enquanto a interrompida foi de 50 minutos. Com a sutura simples interrompida notou-se
maior duração da uveíte em relação ao olho com a simples contínua. A sutura simples
contínua pode ser utilizada em cirurgias de facectomia extracapsular em cães com
resultados semelhantes ao uso da sutura simples interrompida.
TERMOS DE INDEXAÇÃO: Sutura contínua, facectomia, cães, oftalmologia
INTRODUÇÃO
A incidência de catarata em cães é relativamente grande e suas causas são as
mais variadas. O tratamento preconizado atualmente é a remoção cirúrgica do conteúdo
lenticular alterado. A técnica mais moderna é a facoemulsificação, porém os custos do
equipamento ainda são proibitivos a realidade social da medicina veterinária no Brasil.
A extração extracapsular, apesar de obter resultados menos satisfatórios, é uma opção
factível. O tempo cirúrgico, portanto é um dos fatores que interferem com o sucesso do
procedimento (GELLAT 2002).
O cão diferentemente do ser humano possui uma túnica vascular intra-ocular
muito sensível e que ao menor sinal de injúria produz processo inflamatório severo.
Fato também que influencia de forma negativa na recuperação de olhos submetidos à
facectomia extracapsular. Isso se deve a amplitude da incisão, cerca de 25 milímetros de
extensão, exposição total da câmara anterior, a própria retirada do conteúdo lenticular, e
ao tempo cirúrgico (GELLAT 2002).
Atualmente preconiza-se sutura simples interrompida para procedimentos de
extração de catarata extracapsulares em cães. Os efeitos dessa sutura sobre a córnea são
de desvio do seu eixo de refração e produção de astigmatismo, com prejuízos à visão.
10
Este tipo de sutura prevê a aplicação de nós a cada ponto aplicado, o que aumenta o
tempo cirúrgico e o tempo de exposição dos componentes intra-oculares, aumentando
assim a uveíte pós-operatória. Para uma incisão de cerca de 20 mm são aplicados
aproximadamente 30 pontos com 30 nós, que ficam sobre a córnea até caírem, cerca de
seis a oito meses, o que produz irritação e prurido, podendo comprometer o sucesso do
procedimento cirúrgico. A cada ponto aplicado e nós efetuados o fio deve ser incisado,
para que se inicie outro ponto, o que gera uma perda de fio. Tendo-se em mente o custo
dos fios para microcirurgia, qualquer desperdício pode ser uma limitação em termos de
custos para o proprietário do animal (SLATTER 1990).
A opacidade de lente é chamada de catarata e possui várias causas. Uma vez
instalada a catarata o tratamento é cirúrgico. Sua causa na maioria das vezes, não é bem
definida. Alterações nas funções da lente tais como nutrição, metabolismo energético,
protéico, e balanço osmótico, podem resultar em opacidade, assim, vários fatores podem
levar a catarata, como genético, nutricional, metabólico, tóxico, radiação, parasitários,
microbiológicos, infecciosos ou senis (SLATTER 1990).
Existe um conceito de que a facectomia só deve ser realizada em olhos com
cataratas maduras, o que é fundamentado em resultados relativamente pobres obtidos
em extrações extracapsulares (GLOVER & CONSTANTINESCU 1997). Este conceito
se deve a ocorrência de uveíte pós-operatória, quando realizadas as extrações
extracapsulares em cataratas imaturas, devido ao extravasamento de conteúdo lenticular
e reação imune. Cataratas imatura e/ou intumescida tiveram resultados pós-operatórios
melhores com a facoemulsificação, em relação à recuperação visual dos pacientes, isso
pode ser explicado pelo processo da cirurgia, que consiste na irrigação e posteriormente
retirada, por sucção, de qualquer resquício de lente presente. Quando a catarata ainda
não esta madura o seu conteúdo é menos denso, facilitando a sua emulsificação e
posterior aspiração (BAGLEY & LAVACH 1994).
Um exame oftálmico completo deve ser realizado no animal para se identificar
outros problemas associados, tais como glaucoma e degeneração do disco óptico. Se
houver uveíte lente induzida, esta deve ser controlada com corticoterapia tópica antes da
cirurgia (NASISSE et al. 1991). Outra recomendação é a eletrorretinografia, quando não
se pode avaliar o fundo de olho com segurança, a ultra-sonografia ocular também é
indicada nesses casos, podendo auxiliar na verificação de um descolamento de retina ou
neoplasia (SLATTER 1990, GELLAT 2002).
11
Mesmo sendo uma das causas de catarata, a diabete mellitus não é um
impedimento para a cirurgia, desde que seja instituído um pós-operatório diferenciado e
a manutenção das taxas de glicose séricas em níveis aceitáveis seja mantido (BAGLEY
& LAVACH 1994).
A medicação pré-operatória pode ser iniciada entre 72 e 24 horas antes do
procedimento cirúrgico. Esta consiste, de acordo com a experiência dos autores, na
administração de midriáticos parassimpatolíticos a cada seis horas, corticoterapia e
antibioticoterapia tópica com o mesmo intervalo. Quinze minutos antes da cirurgia os
autores recomendam a aplicação tópica de midriático, corticosteróide, antibiótico e
antiinflamatório não esteróide. Flunixim meglumine na dose de 0,25mg/kg é
recomendado por via intravenosa logo após a indução anestésica (NASISSE et al. 1991,
BAGLEY & LAVACH 1994, SMITH et al. 1996). A medicação pré-operatória tem
como objetivos, garantir uma boa midríase durante o procedimento e tentar evitar as
reações inflamatórias no pós-operatório (SLATTER 1990, GELLAT 2002).
A capsulotomia anterior pode ser iniciada com agulha hipodérmica ou um
cistótomo, criando-se um arco dorsal na posição de duas a dez horas, e pode ser
completada por laceração com uma pinça de cápsula anterior no sentido horário
(NASISSE et al. 1991, BAGLEY & LAVACH 1994).
A câmara anterior deve ser preenchida com uma solução viscoelástica, para
diminuir os efeitos deletérios sobre o endotélio corneal. Esta solução pode ser
hialuronato de sódio, condroitin sulfato e metilcelulose (BRESCIANI et al. 1996,
MIYAUCHI et al. 1996). O conteúdo lenticular deve ser deslocado por hidrodissecação,
introduzindo uma sonda entre a cápsula anterior da lente e o conteúdo lenticular, e
delicadamente injetando-se solução salina balanceada (SLATTER 1990, GELLAT
2002).
Segundo Fossum et al. (2001), o padrão de sutura interrompido simples é
realizado inserindo a agulha através do tecido, de um lado de uma incisão ou ferimento,
passando-a para o lado oposto e amarrando-se o fio. O padrão contínuo simples consiste
em uma série de suturas interrompida simples, com um nó em cada extremidade. Ambas
as suturas são fáceis e rápidas de ordenar e a vantagem da sutura interrompida em
relação à contínua é que a destruição de uma sutura não faz com que a linha inteira
falhe, no entanto as suturas interrompidas simples levam mais tempo que os padrões
contínuos e resultam em mais materiais estranhos (nós) no ferimento. Ambas as suturas
podem ser usadas em quase todos os tecidos corpóreos.
12
A poliglactina 910 é um fio de sutura sintético, absorvível, multifilamentar
fabricado com um copolímero de lacteto e de glicoleto com poliglactina 370. Ele é
revestido de estearato de cálcio. Sua taxa de perda de força tênsil é de 35% com14 dias
e 65% com 21 dias. A poliamida (náilon) é um fio sintético, não absorvível e
monofilamentar. É tipicamente forte e induzem a reação tecidual mínima (FOSSUM et
al. 2001).
A córnea pode ser suturada com fio absorvível ou não, de preferência sintético,
sendo mais utilizado o náilon e a poliglactina 910, com numeração variando de 8-0 a
10-0, em um padrão de sutura simples interrompido (SLATTER 1990, GELLAT, 2002).
Córneas podem ser suturadas com pontos separados com fio mononylon 10-0, há relatos
de sutura simples contínua e sutura mista em casos de transplantes de córnea com
pacientes humanos portadores de ceratocone (MASCARO et al. 2007). Conforme Mota
et al. (2003) córneas de coelhos foram suturadas com o padrão simples separados com
fio poliglactina 910 no 7.0 comparadas ao uso N-butil cianoacrilato na oclusão das
córnea contralateral de todos os coelhos, ambos obtendo sucesso na síntese da ferida
estabilizando o conteúdo intra-ocular, sendo o adesivo superior ao fio quanto a evolução
do processo cicatricial.
Com o intuito de diminuir o processo inflamatório e a infecção secundária, é
recomendado a corticoterapia subconjuntival ao término do procedimento. A
antibioticoterapia e a corticoterapia tópica e oral normalmente são implementadas, até a
absorção dos pontos de sutura, além da aplicação de midriáticos tópicos o flunixim
meglumine tem sido usado (NASISSE et al. 1991, BAGLEY & LAVACH 1994,
SMITH et al. 1996). Resta salientar que estas indicações podem ser alteradas de acordo
com a preferência e experiência de cada cirurgião.
O aumento da pressão intra-ocular nas primeiras 12 horas de PO é sugerido
como normal, porém deve ser monitorado e administrado medicação profilática ao
desenvolvimento de glaucoma (SMITH et al. 1996).
A uveíte pós-operatória deve ser esperada como decorrência do trauma
cirúrgico, no entanto, na maioria dos casos ela responde bem ao tratamento específico
(BAGLEY & LAVACH 1994). Outras alterações são edema corneal, opacificação
capsular (DAVIDSON et al. 1991), e ruptura da cápsula posterior da lente com prolapso
de humor vítreo (GLOVER & CONSTANTINESCU 1997).
O tipo de incisão corneal utilizada pode ser uma das causas de lesões no
endotélio corneano durante a facectomia por facoemulsificação com implante de LIO.
13
Desta forma, uma comparação entre dois tipos de incisões corneais para cirurgia de
facoemulsificação e implante de LIO, uma com 3,5mm e outra com 5,0mm, para avaliar
seus efeitos em longo prazo sobre as células do endotélio corneal, foi utilizada em
humanos. Onde observaram que as incisões menores produziam menor lesão as células
do endotélio corneal após um ano (DICK et al. 1996).
O objetivo desse trabalho foi de avaliar a sutura simples contínua como uma
alternativa para cirurgias de facectomia extracapsular em cães.
MATERIAL E MÉTODOS
O protocolo de estudo foi aprovado pela comissão de bioética CEPEEA, da
UNIPAR-Universidade Paranaense.
Foram utilizados 10 cães (Canis Familiaris), portadores de catarata madura, de
raças variadas, quatro machos e seis fêmeas, com idades entre sete e 11 anos, pesando
entre 3,5 e 12 quilogramas. Os animais foram selecionados de acordo com o
amadurecimento da catarata, integridade física, reflexo pupilar e intensidade da uveíte
facogênica. Ao serem considerados aptos ao protocolo experimental os proprietários
foram comunicados.
Os animais passaram por avaliação clínica completa e laboratoriais. Como,
hemograma, provas de função hepática, renal e tempo de coagulação. Foram submetidos
à medicação pré-operatória, colírio de neomicina e polimixina B associado à
dexametasona seis vezes ao dia por no mínimo dez dias e colírio de atropina 1% duas
horas antes do procedimento cirúrgico.
Como medicação pré-anestésica os animais receberam 0,044mg/kg de sulfato de
atropina via subcutânea. Depois de 10 minutos 0,005mg/kg de cloridrato de fentanila
via intravenosa, associado a 0,1mg/kg de acepromazina também IV. A veia cefálica foi
canulada por um cateter intravenoso 20G, conectado a um equipo ligado a uma solução
cristalóide de Ringer com lactato de sódio. A indução anestésica se deu por injeção
intravenosa lenta de propofol na dose de 5mg/kg. Ao atingir plano anestésico os animais
foram intubados e conectados a um sistema semi-fechado de anestesia inalatória, onde
receberam uma mistura de oxigênio, protóxido de nitrogênio e isoflurano.
A tricotomia abrangeu a área periocular. A anti-sepsia foi realizada por irrigação
abundante do bulbo ocular com solução de clorexedina a 0,4% e limpeza mecânica do
saco conjuntival com esponjas cirúrgicas embebidas na mesma solução.
A pele
periocular sofreu anti-sepsia com clorexedina 2%.
14
Foi realizado cantotomia das pálpebras e aplicação de três pontos eqüidistantes,
na fáscia bulbar, fixados no pano de campo. Foi aplicado blefarostato de Castroviejo
para exposição do bulbo ocular e contenção das pálpebras. Foi realizada uma incisão em
córnea clara, a cerca de um milímetro do limbo, com bisturi espatulado, na posição de
12 horas, sendo estendida até as posições de duas e 10 horas com tesoura de córnea
direita e esquerda. A córnea foi afastada e solução viscoelástica de metilcelulose a 2%
foi aplicada na câmara anterior. A cápsula anterior da lente sofreu capsulorexis circular
com cistótomo. Procedeu-se a hidrodissecação do conteúdo lenticular com cânula 25G e
solução salina balanceada. O conteúdo lenticular foi retirado com alça de lente e a
cápsula posterior da lente lavada com solução salina balanceada para retirada de
eventuais resquícios. As câmaras anterior e posterior foram lavadas com solução salina
balanceada e a córnea foi suturada.
A córnea do olho direito foi aproximada com pontos simples interrompido e a do
olho esquerdo com padrão simples contínuo, com fio mononailon 9-0. Os tempos
cirúrgicos entre o início da incisão até o término da sutura foram marcados em
cronômetro.
O pós-operatório imediato constou de tratamento hospitalar com atropina colírio
1% a cada 12 horas por cinco dias, colírio de neomicina, polimixina B e dexametasona a
cada quatro horas por cinco dias, colírio de dorzolamida 2%, a cada 12 horas por cinco
dias e colar Elizabetano. Sistemicamente os animais receberam 1,1mg/kg de flunixim
meglumine a cada 24 horas por três dias.
Os animais foram avaliados durante 45 dias, sendo verificado de forma subjetiva
a reação inflamatória da íris, reação inflamatória e córnea, opacidade corneana,
fotofobia e blefaroespasmo. Aos 30 e 45 dias de PO foi avaliada a capacidade visual em
ambiente com obstáculos, cada olho foi avaliado separadamente, com o contralateral
vendado.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A triagem dos animais se mostrou de difícil realização, pois a maioria dos
pacientes atendidos com catarata eram idosos e apresentavam algum impedimento
clínico para a realização da cirurgia. Segundo Slatter (1990), a catarata é uma
enfermidade de inúmeras etiologias, porém neste caso a maioria dos casos de catarata
foi considerada hereditária.
15
Após a triagem e a seleção dos pacientes o controle da uveíte se mostrou
eficiente com o uso tópico do medicamento proposto num intervalo entre 10 e 20 dias,
não havendo a necessidade do uso de corticoterapia subconjuntival conforme
recomendado por Nasisse et al. (1991), Bagley e Lavach (1994), Smith et al. (1996).
O procedimento anestésico se apresentou efetivo. Possibilitou a realização da
intervenção cirúrgica. Manteve os animais calmos e livres de estresse excessivo.
Apresentaram ainda um tempo de recuperação anestésico com os animais em estação
após a extubação, a única divergência comparada aos autores NASISSE et al. 1991,
BAGLEY & LAVACH 1994, SMITH et al. 1996, foi o uso do flunixim meglumine
subcutâneo no pós-operatório e não no pré-operatório, IV e na dose de 1.1 mg/kg e não
na dose de 0,25 mg/kg.
Os tempos cirúrgicos para cada olho foram em média de 50 minutos para o
direito e de 35 minutos para o esquerdo, demonstrando a realidade escrita por Fossum et
al. (2002), onde é descrito que o padrão contínuo leva menos tempo para ser realizado
em relação ao interrompido.
Os animais operados apresentaram sinais de visão desviando de obstáculos logo
ao se recuperar da anestesia. A reação inflamatória no PO imediato foi notada em todos
os animais como edema de pálpebras, fotofobia e blefaroespasmo, como descrito por
Davidson et al. (1991), Bagley e Lavach (1994).
Aos sete dias de PO os pontos da cantorafia foram retirados em todos os animais
que apresentaram uma cicatrização satisfatória da pele, sem intercorrências. Ambos os
olhos em todos os animais apresentavam uveíte severa, reação inflamatória intensa na
córnea na região dos pontos, com neovascularização, edema e opacidade de córnea local
corroborando as afirmações de Davidson et al. (1991), Bagley e Lavach (1994), com
exceção da ocorrência do edema capsular.
Aos 15 dias de PO nos animais avaliados a uveíte se mostrou mais intensa no
olho direito, quando comparado ao esquerdo. O olho direito apresentava reação
inflamatória intensa com presença de neovasos, opacidade de córnea e edema. O olho
esquerdo apresentava edema de córnea e reação inflamatória menos severa, com menor
congestão episcleral, menos neovasos, e opacidade no local da sutura, a sutura contínua
estava presente, porém os pontos se mostravam com uma menor tensão sem áreas de
compressão e fio solto do que ao final de sua aplicação, mostrando-se uma nova opção
para sutura e divergindo de Gellat (2002) e Slatter (1990), que indicam principalmente a
sutura simples interrompida.
16
Aos 30 dias de PO os animais apresentavam visão efetiva, comprovada por teste
em sala com obstáculos, sendo que os animais desviavam dos mesmos. Ambos os olhos
apresentavam uveíte leve. O olho esquerdo apresentava fios de sutura sem áreas de
compressão, boa cicatrização da córnea, com opacidade no local da cicatriz. O olho
direito apresentava reação inflamatória com os pontos sem tensão, a opacidade no local
da sutura se apresentava mais evidente que no olho contralateral. O que demonstra
superioridade da contínua em relação à interrompida, concordando com as afirmações
de Fossum et al. (2001), onde se estabeleceu que os pontos interrompidos (nós) causam
maior reação ao corpo estranho, neste caso a uveíte e ceratite.
Aos 45 dias o olho esquerdo não apresentava sinais de uveíte, a cicatriz menos
opaca na córnea e o fio de sutura incrustado nas camadas corneanas sem tensão. O olho
direito uveíte leve e os pontos sobre a cicatriz corneana estavam sem tensão, assim
demonstrando superioridade da sutura contínua em relação à interrompida, como
descrito por Fossum et al. (2001).
CONCLUSÕES
Não existem diferenças expressivas na reparação cicratricial de córneas
aproximadas com sutura simples contínua em simples separadas nas facectomias
extracapsulares de cães. A sutura simples contínua pode ser utilizada em cirurgias de
facectomias extracapsulares em cães.
Agradecimentos: Ao Hospital Veterinário da UNIPAR – Universidade Paranaense –
Umuarama – Paraná e todos os seus funcionários, ao Prof. Dr. Gentil F. Gonçalves, a
todos os professores e alunos que colaboraram com o trabalho juntamente com a
CAPES pela bolsa de estudo, aos proprietários dos animais e aos animais, que sem os
quais este trabalho não seria possível.
Referências
Bagley L.H., lavach J.D. 1994. Comparision of postoperative phacoemulsification
results in dogs with and without diabetes mellitus: 153 cases (1991-1992). J Am Vet
Med Assoc, v. 205, n. 8, p. 1165-1169.
17
Bresciani C. et al. 1996. Dynamic viscosity and corneal endothelial protection with
Healonid, Healon GV, Provisc and Viscoat during phacoemulsification. J Fr
Ophthalmol, v. 19, n. 1, p. 63-71.
Davidson M.G. et al. 1991. Phacoemulsification and intraocular lens implantation: a
study of surgical results in 182 dogs. Prog Vet Comp Ophthalmol, v. 1, n. 4, p. 233-238.
Dick, H.B., et al. 1996. Long term endothelial cell loss following phacoemulsification
through a temporal clear corneal incision. J Cataract Refract Surg, v. 22, n. 1, p. 63-71.
Fekrat, S., et al. 1995. Pseudophakic candida parapsilosis endophtalmitis with a
consecutive keratitis. Cornea, v. 14, n. 2, p. 216-216.
Fossum et al. 2001. Cirurgia de pequenos animais. Editora Roca, São Paulo, SP. 1ª ed,
pg. 48-57.
Gellat K. N. 2002. Manual de Oftalmologia Veterinária. São Paulo: Manole. 620p.
Gilger B. C. 1997. Phacoemulsification: Technology and fundamentals. Vet Clin North
Am: Small Anim Pract, v. 27, n. 5, p. 1131-1141.
Glover T. D., Constantinescu, G.M. 1997. Surgery for cataracts.Vet Clin North Am:
Small Anim Pract, v. 27, n. 5, p. 1143-1171.
Hayashi K., et al. 1996. Corneal endothelial cell loss in phacoemulsification surgery
with silicone intraocular lens implantation. J Cataract Refract Surg, v. 22, n. 6, p. 743747.
Mascaro et al. 2007. Transplante de córnea em ceratocone: avaliação dos resultados e
complicações obtidos por cirurgiões experientes e em treinamento. Arquivo Brasileiro
de Oftalmologia. v. 70, n. 3, p. 395-405.
Miyauchi S., et al. 1996. Protective efficacy of sodium hyaluronate on the corneal
endothelium against the damage induced by sonication. J Ocul Pharmacol Ther, v. 12,
n. 1, p. 39-50.
Mota et al. 2003. Utilização do adesivo N-butil cianoacrilato e o do fio poliglactina na
raffia de córnea em coelhos (oryctolagus cunicullus). Brazilian Journal al Veterinary
Research and Animal Science. v. 40, n 5, p 334-340.
Nasisse M. P. et al. 1991. Phacoemulsification and intraocular lens implantation: a
study of surgical results in 182 dogs. Prog Vet Comp Ophthalm, v. 1, n. 4, p. 225-232.
Oxford K. W. et al. 1995. Aspergillus endophitalmitis after sutureless cataract surgery.
Am J Ophthalm, v. 120, n. 4, p. 534-535.
Peiffer R.L., Gaiddon J. 1991. Posterior chamber intraocular lens implantation in the
dog: results of 65 implants in 61 pacients. J Am Anim Hosp Assoc , n. 27, p. 453-462.
18
Pissela P.J., Pietrini D., Limon S. 1996. Anterior cellular proliferation and silicone
implant. Apropos of a case. J Fr Ophthalm, v. 19, n.10, p. 615-618.
Saika S. et al. 1996. Electron microscopic observations on the posterior lens capsule
after implantation of a silicone intraocular lens in rabbits. Nippon-Gauka-GakkaiZasshi, v. 100, n. 9, p. 687-691.
Slatter D. 1990. Fundamentals of veterinary ophthalmology, 2ª ed. Philadelphia:
Saunders, cap. 14: Lens: p.365-399.
Smith P. J. et al. 1996. Ocular hypertension following cataract surgery in dogs: 139
cases (1992-1993). J Am Vet Med Assoc, v. 209, n. 1, p. 105-111.
Taylor M. M. et al. 1995. Intraocular bacterial contamination during cataract surgery in
dogs. J Am Vet Med Assoc, v. 206, n. 11, p. 1716-1720.
Willians D. L., Boydell I. P., Long, R. D. 1996. Current concepts in the management of
canine cataract: a survey of technique used by surgeons in Britain, europe and USA and
a review of recent literature. Vet Rec, v. 138, n. 15, p. 347-35
19
EFEITOS DA DORZOLAMIDA E TIMOLOL NO CONTROLE DE PRESSÃO
INTRA-OCULAR NAS FACECTOMIAS EXTRACAPSULARES EM CÃES.
THE EFFECTS OF DORZOLAMIDA AND TIMOLOL IN THE CONTROL OF
INTRA-OCULAR PRESSURE IN THE EXTRACAPSULAR FACECTOMY IN
DOGS
Pedro Rafael Apulcro Correa Marchan8; Gentil Ferreira Gonçalves9; Marshal
Costa Leme10; Natalie Bertelis Merlini11; Ney Luis Pippi5
Resumo
Nas cirurgias de cataratas de cães, uma das dificuldades é discernir qual fármaco deve
ser utilizado no controle da pressão intra-ocular. Sete cães, portadores de catarata fora
submetidos a facectomia extracapsular e a daministraçao de colírio de dorzolamida no
olho direito e maleato de timolol no olho esquerdo. A pressão intra-ocular foi
mensurada com o tonômetro Tono-pen® XL em períodos pós-operatórios. Notou-se que
em animais portadores de catarata submetidos à facectomia extracapsular o uso de
maleato de timolol ou dorzolamida mantém no pós-operatório a PIO nos valores
fisiológicos.
Palavras-chave: Dorzolamida, timolol, Facectomia, cães, oftalmologia
8
Médico Veterinário, Acadêmico de Mestrado em Ciência Animal – UNIPAR, Rua 13 de Maio 154, apto
22 bloco 02 residencial Portal do Lago, CEP 85 812-191, Cascavel - PR Brasil fone 45-30356007 e-mail–
[email protected]
9
Médico Veterinário, Mestre, Doutor. Professor Titular do Curso de Medicina Veterinária e do Mestrado
em Ciência Animal da UNIPAR. Pesquisador do IPEAC – UNIPAR.
10
Médico Veterinário, Mestre. Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da – UNIPAR.
Pesquisador do IPEAC – UNIPAR.
11
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária. Bolsista do Programa Interno de Bolsa de Iniciação
Científica (PIBIC), COPIC, DEGPP, UNIPAR.
5
Médico Veterinário, Mestre, Doutor, professor titular da Universidade Federal de Santa Maria
20
Abstract
In the dog’s caracts surgery one of the difficulties is to discern what drug should be
used to control the intra-ocular pressure. Seven dogs which suffered from cataracts were
undergone to extracapsular facectomy and received dorzolamide eyewash in the right
eye and timolol maletat in the left eye. The intra-ocular pressure was measured with
tonômetro Tono-pen® XL in the period of post-surgery. The results obtained show that
the in patients with cataracts undergone to extracapsular facectomy the use of timolol
maleat or dorzolamide keeps a PIO to physiologic values.
Key words: Dorzolamide, Timolol, facectomy, dogs, ophthalmology
Introdução
A incidência de cataratas em cães é relativamente grande e suas causas são as
mais variadas. O tratamento preconizado atualmente é a remoção cirúrgica do conteúdo
lenticular alterado. A técnica mais moderna é a facoemulsificação, porém os custos do
equipamento ainda são proibitivos na realidade social da medicina veterinária no Brasil.
A facectomia extracapsular, apesar de obter resultados menos satisfatórios, é uma opção
factível. O tempo cirúrgico, portanto, é um dos fatores que interferem no sucesso do
procedimento (GELLAT, 2000).
A catarata, segundo HELPER (1989), se refere a qualquer opacidade da lente ou
de sua cápsula, que ocorre devido a alterações em sua estrutura normal. Durante o
processo de evolução da catarata poderá haver eventos que influenciem na pressão intraocular (PIO), seja diminuindo-a ou aumentando-a, de forma transitória ou permanente.
Geralmente esses eventos estão associados a alterações secundárias, tais como a uveíte
lente induzida, ou a alterações mecânicas (GELLAT, 2000). O tratamento preconizado
21
para cataratas, no intuito da restituição da visão, é cirúrgico, sendo definido como
facectomia. Podendo ser realizada, em cães, da forma extracapsular ou por
facoemulsificação. As variáveis que são critérios para a seleção do paciente para o
procedimento não serão discutidas nessa revisão, porém alguns parâmetros referentes a
PIO são proibitivos à cirurgia (SLATTER, 1990).
A PIO é dada pelo equilíbrio entre a formação e a drenagem do humor aquoso,
distende o bulbo ocular, lhe dá sua forma característica e a consistência firme das
túnicas fibrosas (SLATTER, 1990 e GUM, 1991).
O humor aquoso é um liquido transparente que preenche as câmaras anterior e
posterior do olho, entre a córnea e a lente. Têm como funções manter a PIO, garantindo
o formato do bulbo ocular, nutrir os tecidos banhados por ele que são avasculares, assim
como recolher seus catabólitos. È produzido na câmara posterior por ultrafiltração
através dos capilares fenestrados dos processos ciliares e pela secreção de solutos
acompanhados por água através do epitélio ciliar (COULTER & SCHIMIDT, 1984;
PASQUINI et al., 1996). Sua produção se dá por uma combinação de processos
passivos como difusão, diálise e ultrafiltração, e transporte ativo, envolvendo a enzima
anidrase carbônica. A razão de formação de humor aquoso varia entre as espécies, com
valores de 15ml/min no gato e 2ml/min em humanos (MACRI & CEVAREO, 1975).
O humor aquoso circula da câmara posterior para a anterior entre a íris e a lente,
através da pupila, até sua drenagem no ângulo irido-corneano. Gradientes térmicos
produzem um fluxo constante unidirecional (convecção), entretanto quando as pálpebras
estão fechadas a temperatura intra-ocular é bem uniforme (SAMUELSON, 1991).
A drenagem do humor aquoso através da fissura ciliar é comandada pela
diferença de pressão entre a PIO e a pressão no interior do plexo venoso escleral
(COOK, 1997). Em adição a esta drenagem convencional existe uma drenagem uveo-
22
escleral pequena, cerca de 15% no cão e 3% no gato, que é independente da PIO
(SAMUELSON et al., 1989).
Segundo SLATTER (1990), o aumento da PIO até o limite de 30 mmHg é tido
como hipertensão ocular, sendo o diagnóstico de glaucoma reservado para aquelas
pressões acima de 40mmHg, com comprovadas lesões do nervo óptico e retina.
Se a uveíte lente induzida não for monitorada e controlada, o ângulo de filtração
eventualmente poderá se tornar obstruído por células inflamatórias, fibrina, humor
aquoso rico em proteínas e macrófagos contendo material lenticular (STADES, et. al.,
1996; GELLAT, 2000).
A anestesia pode ser um fator que interfira com a PIO em cirurgias intraoculares, dessa forma o anestesista deve ser criterioso e evitar drogas que aumentem a
PIO e ainda outras que facilitem manobras que poderiam interferir com a PIO, tais
como a intubação endotraqueal (MENEZES & ALVARES, 1992).
O protocolo de tratamento adotado no pré e trans-operatório deve garantir uma
menor interferência do cirurgião com o tecido uveal, através da midríase durante o ato
operatório, assim como uma reação menos drástica de tal tecido em face de sua
ocorrência. Se tais fatos não forem observados uma uveíte severa no pós-operatório
pode aumentar as chances de flutuação na PIO e um glaucoma secundário pode advir
(NASISSE et al., 1991).
Aumentos de PIO transitórios acima de 30mmHg no período compreendido
entre 0 e 72 horas após o termino da cirurgia de catarata, têm sido referidos como
hipertensão ocular pós-operatória (HOP). Esse fenômeno tem sido atribuído a variações
nas condições relacionadas à inflamação intra-ocular, debris no humor aquoso e rotas de
drenagem, hérnia do vítreo, retenção de substância viscoelástica na câmara anterior e
aposição apertada da incisão (SMITH et al. 1999). Este aumento transitório da PIO
23
durante a HOP diminui espontaneamente ou responde a terapia antiglaucomatosa e se
resolve entre 24 e 48 horas. Porém, DZIEZYC (1990) e TAYLOR et al. (1995),
chamaram a HOP erroneamente de glaucoma secundário.
Os resultados obtidos por SMITH et al. (1996), indicam que o período mais
crítico de HOP são as primeiras 12 horas de pós-operatório (PO), onde 51% dos animais
estudados apresentaram PIO entre 25 e 30mmHg e 33% apresentaram PIO acima de
30mmHg, valores que reduziram para 1,4 e 1,1% até as 72 horas de PO.
A anidrase Carbônica é uma enzima distribuída pelo organismo, possui múltiplas
funções fisiológicas. Nos rins regula o volume urinário, a secreção de H+ e a reabsorção
de Na+ no estágio de filtração glomerular. Está também envolvida nos processos de
trocas gasosas nos pulmões, na regulação do pH sangüíneo e na secreção de H+ no suco
gástrico. Têm sido descritas sete isozimas para a anidrase carbônica em seres humanos,
os tipos I, II e IV são detectados nos tecidos oculares. A isozima II da anidrase
carbônica é a mais importante na formação do humor aquoso e ela cataliza a reação
H2O + CO2 - H2CO3 - H+ = HCO3- nas células epiteliais não pigmentadas no corpo
ciliar. Além disso, a presença de anidrase carbônica foi também confirmada na córnea,
lente, retina e coróide. Os inibidores da anidrase carbônica são comumente utilizados
por via oral como tratamento para redução de pressão intra-ocular (INOUE, et al. 2004).
No entanto a incidência de efeitos colaterais tem sido observada com esse tipo de
administração (EPSTEIN e GRANT, 1977).
Após a descoberta desses efeitos colaterais, foi introduzido na oftalmologia a
forma tópica dos inibidores da anidrase carbônica (IAC). Apesar de sua ampla
utilização, poucas pesquisas são encontradas na literatura veterinária consultada. O
colírio e cloridrato de dorzolamida é geralmente bem tolerado, como monoterapia e
24
como terapia aditiva (LAIBOVITZ et al., 1996). GELATT, (2000) relatou que a
dorzolamida a 2% apresentou efetiva redução da PIO em cães.
Dorzolamida foi formulada como colírio. O hidrocloreto de dorzolamida em
colírio é caracterizado por sua excelente permeabilidade corneana, alta especificidade
pela isozima II e efetividade em reduzir a PIO com equivalente ou maior eficácia que a
terapia oral (SUGRUE, et al. 1990; LIPPA, 1991). Em cães seu uso foi recomendado
para diminuir a pressão intra-ocular em olhos saudáveis (CAWRSE, et al. 2001), e em
olhos glaucomatosos (GELLAT e MACKAY, 2001)
O Timolol antagonista β-adrenérgico tópico destaca-se na terapia médica antiglaucomatosa por ser um medicamento amplamente utilizado na Medicina Humana,
apresenta baixo custo e fácil disponibilidade. Reduz a produção do humor aquoso,
porém suas ações farmacocinéticas e farmacodinâmicas ainda não estão completamente
estabelecidas (ZIMMERMAN, 1993; RITTENHOUSE et al., 1998; SHIELDS, 1998).
Na Medicina Veterinária, resultados inconstantes na queda da PIO dos cães são
descritos, e diferentes opiniões ainda existem em relação à eficácia destes fármacos em
pacientes caninos glaucomatosos (GUM et al.,1991; GELATT, 1998).
O maleato de timolol reduz a PIO mais pela inibição da produção do humor
aquoso do que pelo aumento da drenagem (COAKES & BRUBAKER, 1985); supõe-se
que o timolol bloqueia os receptores.
Para a aferição da PIO, existe, a tonometria digital, a tonometria de indentação e
a tonometria de aplanação. Dentre os tipos de tonômetro disponíveis, destacam-se os
que utilizam a técnica de aplanação e indentação, sendo este último o mais
recomendado na oftalmologia veterinária (DZIEZYC et al., 1992; GELATT, 1998)
Segundo DZIEZYC et al. (1992), o Tono-pen apresenta a mesma efetividade na
mensuração da PIO comparativamente ao Mackay-Marg, com vantagens de apresentar
25
custo inferior, fácil manuseio e ser portátil. GELATT (1998) afirma ser o aparelho de
tonometria mais indicado na rotina Veterinária.
O tonômetro de aplanação mensura a PIO pela força requerida para aplanar uma
área constante da região central da córnea (SLATTER (1990). Alguns tipos são
empregados na Medicina Veterinária, como o Tono-pen-XL (Mentor, Norwell, MA),
modelo pneumatográfico 30 (Mentor, Norwell, MA) e o tonômetro Mackay-Marg, cuja
produção é limitada (GELATT, 1998). Estes tonômetros não sofrem interferência da
rigidez ou das características dos tecidos como o de Schiotz, entretanto são sensíveis à
retração palpebral, podendo obter pressões elevadas (SLATTER (1990). Utilizando-se
anestesia tópica, com o cão em estação ou sentado, pode-se obter facilmente várias
medidas da PIO com o método de aplanação. A principal desvantagem destes aparelhos
é o custo mais elevado, no entanto, são mais precisos em relação ao tonômetro de
Schiotz.
Verificar a variação da pressão intra-ocular no Pós-operatório imediato em
facectomias extracapsulares em cães portadores de catarata e os efeitos da utilização
tópica da dorzolamida comparada ao maleato de timolol em seu controle foi o objetivo
desse estudo.
Material e métodos
Foram utilizados 07 cães, portadores de catarata bilateral, de raças variadas,
cinco machos e duas fêmeas, com idades entre sete e 11 anos, pesando entre 3,5 e 12
quilogramas. Os proprietários se comprometeram com o projeto e aceitaram realizar
todas as etapas do tratamento pré, trans e pós-operatório, assim como deixar o paciente
internado no HV para realização do PO e avaliações diárias por 30 dias. Os animais
26
foram selecionados de acordo com o amadurecimento da catarata, integridade física,
reflexo pupilar e intensidade da uveíte facogênica.
Os animais passaram por avaliação clínica completa e exames laboratoriais. Tais
como, hemograma, provas de função hepática e renal e tempo de coagulação. Sendo
considerados aptos os animais foram submetido à medicação pré-operatória, que
consistiu em aplicação tópica de colírio de neomicina e polimixina B associado à
dexametasona12 seis vezes ao dia por no mínimo 10 dias. Aplicação tópica de colírio de
atropina 1%13 2 horas antes do procedimento cirúrgico.
Como medicação pré-anestésica os animais receberam 0,044mg/kg de sulfato de
atropina14 via sub-cutânea. Depois de 10 minutos 0,005mg/kg de cloridrato de fentanila
15
via intra-venosa, associado a 0,1mg/kg de acepromazina16 também IV. A veia cefálica
foi canulada por um cateter intravenoso 20G, conectado a um equipo ligado a uma
solução cristalóide de ringer com lactato de sódio. A indução anestésica se deu por
injeção intravenosa lenta de propofol17 na dose de 5mg/kg. Ao atingir plano anestésico
os animais foram intubados e conectados a um sistema semi-fechado de anestesia
inalatória, onde receberam uma mistura de oxigênio, protóxido de nitrogênio e
isoflurano18, que garantiram a manutenção do plano anestésico durante o procedimento
cirúrgico.
A tricotomia abrangeu a área periocular. A anti-sepsia foi realizada por irrigação
abundante do bulbo ocular com solução de clorexedina a 0,4% e limpeza mecânica do
saco conjuntival com esponjas cirúrgicas embebidas na mesma solução.
A pele
12
Maxitrol ®, Alcon Laboratórios do Brasil Ltda., São Paulo-SP
Atropina 1% colírio, Allergan Produtos Farmacêuticos Ltda., Guarulhos-SP
14
Atropina 1%, Allergan Produtos Farmacêuticos Ltda., Guarulhos-SP
15
Fentanest®, Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira-SP
16
Acepram 0,2%®, Rhobifarma Industria Farmacêutica Ltda São Paulo-SP
17
Propovan®, Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira-SP
18
Isoforine®, Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira-SP
13
27
periocular sofreu anti-sepsia com clorexedina 2%. Em seguida os campos cirúrgicos
estéreis foram aplicados.
O procedimento consistiu na incisão do canto lateral das pálpebras para melhor
exposição da córnea. A fixação do bulbo ocular se deu pela aplicação de três pontos
eqüidistantes, na fáscia bulbar, fixados ao campo operatório. Um blefarostato de
Castroviejo foi aplicado para contenção das pálpebras. A incisão foi realizada em
córnea clara, a cerca de 1 milimetro do limbo, com bisturi espatulado, na posição de 12
horas, sendo estendida até as posições de 2 e 10 horas com tesoura de córnea direita e
esquerda. A córnea foi afastada e solução vicoelástica de metilcelulose a 2%
19
foi
aplicada na câmara anterior. A cápsula anterior da lente sofreu capsulorexis circular
com cistótomo. Procedeu-se a hidrodissecação do conteúdo lenticular com cânula 25G e
solução salina balanceada20. O conteúdo lenticular foi retirado com alça de lente e a
cápsula posterior da lente lavada para retirada de eventuais resquícios. As câmaras
anterior e posterior foram lavadas com solução salina balanceada e a córnea foi suturada
em um padrão simples interrompido com fio mononailon 9-021. O canto lateral das
pálpebras foi suturado em padrão simples interrompido com fio mononailon 5-0.
O pós-operatório imediato constou de tratamento hospitalar com atropina colírio
1% a cada 12 horas por cinco dias, colírio de neomicina, polimixina B e dexametasona a
cada 4 horas por 30 dias, colírio de dorzolamida 2%22, a cada 12 horas por 10 dias no
olho direito e colírio de maleato de timolol a 0,5%23 a cada 12 horas no olho esquerdo
por 10 dias, e colar Elizabetano. Por via intra-muscular os animais receberam 1,1mg/kg
de flunixim meglumine24 a cada 24 horas por 3 dias.
19
Solução Viscoelástica 2%, Ophthalmos Ind. e Comer. de Produtos Farmacêuticos Ltda, São Paulo-SP
Salina balanceada, Ophthalmos Ind. e Comer. de Produtos Farmacêuticos Ltda, São Paulo-SP
21
Technofio, Ale-Indústria Comércio LTDA, Goiânia-GO
22
Trusopt®, Merck Shanp Dohne Farmacêutica Ltda, Campinas-SP
23
Timolol, Alcon Laboratórios do Brasil Ltda., São Paulo-SP
24
Banamine®, Ind. Quím. e Farm. Schering-Plough S/A, Rio de Janeiro-RJ
20
28
Após aplicação de anestésico tópico cloridrato de tetracaína 1% e fenilefrina
0,1%18 a pressão intra-ocular foi mensurada com tonômetro de aplanação TONOPEN®
XL, no momento zero (0), aquele imediatamente ao término do procedimento cirúrgico
e a cada 2 horas nas primeiras 24 horas, passando a ser mensurada a cada 6 horas nas 96
horas subseqüentes (dias 2, 3, 4 e 5 de PO) e a cada 12 horas até o término do PO, aos
30 dias.
Resultados e Discussão
As mensurações da PIO realizadas no dia 0 foram a cada 2 horas, iniciando ao
término do procedimento cirúrgico. O olho direito teve aumento de pressão intra-ocular
nas primeiras 4 horas de PO. Notou-se redução gradativa até as 24 horas, sendo que a
média máxima registrada foi 22,7 mmHg, permanecendo dentro dos limites fisiológicos
para a espécie conforme, LAIBOVITZ et al. (1996), GELATT (1998).
O olho esquerdo apresentou PIO máxima 3 horas após o PO, não ultrapassando
a média de 23,2 mmHg. O comportamento da curva das médias de PIO observadas nas
primeiras 24 horas de PO foi semelhante entre os olhos, ZIMMERMAN (1993);
RITTENHOUSE et al. (1998) e SHIELDS (1998), denotando resposta semelhante aos
tratamentos diferenciados instituídos. Sendo que pela análise estatística pelo teste de
comparação entre médias “t” de student, não se observou diferença significativa entre os
olhos.
18
Colírio Anestésico, Allergan Produtos Farmacêuticos Ltda., Guarulhos-SP
29
Média Dia 0
25
PIO mmHg
20
15
Média O.D
10
Média O.E
5
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Tempo
Gráfico 1. Valores das médias da pressão intra-ocular (PIO), em mmHg, de cães submetidos à
facectomia extracapsular, tratados com dorzolamida no olho direito (OD) e maleato de
timolol no olho esquerdo (OE), mensuradas a cada 2 horas (de T1 a T12), nas primeiras 24
horas de PO.
Nas 96 horas subseqüentes a PIO foi mensurada a cada 6 horas em ambos
os olhos ocorreu uma estabilidade nos valores médios entre os olhos, com oscilações de
14 a 16 na média, para o olho direito e de 16 a 17,9 na média para o olho esquerdo
(Gráfico 2). Pelo teste estatístico aplicado não houve diferença significativa entre os
olhos no período avaliado. Outra observação foi a manutenção dos valores de PIO
dentro dos limites fisiológicos com ambos os tratamentos até o quinto dia de PO.
LAIBOVITZ et al. (1996); GELATT (1998).
30
PIO mmHg
Média Dia 1 a Dia 4
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Média O.D
Média O.E
1
2
3
4
Tempo
Gráfico 2. Curvas dos valores das médias da pressão intra-ocular (PIO), em mmHg, de cães submetidos à
facectomia extracapsular, tratados com dorzolamida no olho direito (OD) e maleato de timolol
no olho esquerdo (OE), mensuradas a cada 6 horas (de T1 a T4), entre o 10 e 40 dias de PO.
A partir do sexto dia de PO as aferições se reduziram a intervalos de 12 horas,
sendo apresentadas as médias semanais do grupo de animais avaliados no gráfico 3.
As medias de PIO para o OD foram de 11,1 a 12,5 mmHg enquanto a do OE
oscilou entre 11,5 a 11,7 mmHg. Através desses valores não foi constatado diferença
significativa entre os valores de cada olho. O que verifica controle semelhante da PIO
entre os olhos após a retirada dos colírios controladores de pressão, com manutenção
dos valores da PIO em limites fisiológicos em ambos os olhos. LAIBOVITZ et al.
(1996); GELATT (1998).
31
Média Dia 5 a Dia 30
13
PIO mmHg
12,5
12
Média O.D
11,5
Média O.E
11
10,5
10
1
2
Tempo
Gráfico 3. Curvas dos valores das médias da pressão intra-ocular (PIO), em mmHg, de cães submetidos à
facectomia extracapsular, tratados com dorzolamida no olho direito (OD) e maleato de timolol
no olho esquerdo (OE), mensuradas a cada 12 horas (de T1 a T2), entre o 50 e 300 dias de PO.
Conclusão
A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que em cães portadores de
catarata submetidos à facectomia extracapsular e a administração tópica de maleato de
timolol ou dorzolamida mantém no pós-operatório a PIO dentro dos padrões
fisiológicos.
Agradecimentos: Ao Hospital Veterinário da UNIPAR – Universidade Paranaense –
Umuarama – Paraná e todos os seus funcionários, ao Prof. Dr. Gentil F. Gonçalves, a
todos os professores e alunos que colaboraram com o trabalho juntamente com a
CAPES pela bolsa de estudo, aos proprietários dos animais e aos animais, que sem os
quais este trabalho não seria possível.
O protocolo de estudo foi aprovado pela comissão de bioética CEPEEA, da
UNIPAR-Universidade Paranaense.
32
Referências
BIROS, D.J.; GELLAT, K.N.; BROOKS, D.E.; et al. Development of glaucoma after
cataract surgery in dogs: 220 cases (1987 - 1998). J Am Vet Med Assoc. V. 216, n. 11,
p. 1780-1786. 2000.
BROOKS, D.E. Glaucoma in the dog and cat. Vet Clin North Am: Small Anim Pract, v.
20, p. 775-797, 1990.
CAWRSE, M.A.; WARD, D.A.; HENDRIX, D.V. Effects of topical application of a
2% solution of dorzolamide on intraocular and aqueous humour flow rate in clinically
normal dogs. Am J Vet Res. v.62, n. 6, p. 859-863, 2001.
COAKES, R.L.; BRUBAKER, R.F. The mechanism of Timolol in lowering Intraocular
pressure: in the normal eye. Arch. Ophthalmol., V. 96, p. 2045 – 2048, 1985.
COOK, C.S. Surgery for glaucoma. Vet Clin North Am: Small Anim Pract, v. 27, n. 5,
p. 795-807, 1997.
COULTER, D.B.; SCHMIDIT, G.M. Olho e visão. In: SWENSON, J.D. DukesFisiologia dos animais domésticos. 10 ed, Guanabara-Koogan: Rio de Janeiro, cap. 46,
1984. p. 631-642.
DZIEZYC, J. Cataract surgery: current approaches. Vet Clin North Am Small Anim
Pract. V. 20, n. 3, p. 737-754, 1990.
EPSTEIN, D.L.; GRANT, M. Carbonic anhydrase inhibitor side effects. Arch
Ophthalmol. n. 95. p. 1378-1382, 1977.
GELATT, K.N. Essentials of veterinary ophthalmology. 1. ed. Philadelphia: Williams
& Wilkins. 2000. Chap. 8. The canine glaucomas. p. 165- 196.
GELATT, K.N.; MCKAY, E.O. Changes in pressure associated with dorzolamide and
oral methazolamide in glaucomatous dogs. Vet Ophthalm. v.4, n.1, p. 61-67. 2001.
GLOVER, T.D.; CONSTANTINESCU, G.M. Surgery for cataracts. Vet Clin North
Am: Small Anim Pract, v. 27, n. 5, p. 1143-1171, 1997.
GUM, G.G. Physiology of the eye. In. GELLAT, K. N. Veterinary Ophthalmology. 2.
ed. Philadelphia: Lea & Febiger. 1991. Chap. 2. p. 124-161.
HELPER, L.C. Magrane’s canine ophthalmology. 4.ed. Philadelphia: Lea & Febiger.
1989. Cap. 9. Glaucoma. P. 183-214.
INOUE, J.; OKA, M.; AOYAMA, Y.; KOBAYASHI, S.; UENO, S.; HADA, N.;
J Ocul Pharmacol Ther. v.20, n.1, p. 1-13. 2004.
33
JAFFE, M.S.; JAFFE, G.F. Cataracts surgery and its complications. 5. ed. St. Louis:
Mosby. 1990. p. 400-411.
JAFFE, N.S.; JAFFE, M.S.; JAFFE, G.F. Glaucoma in aphakia. In. JAFFE, N.S.;
LAIBOVITZ, R., BOYLE, J., SYNDER, E. Dorzolamide versus pilocarpine as
adjunctive therapies to timolol: a comparison of patient preference and impact daily life.
Clin. Ther., V. 18, p 821 – 832, 1996.
LIPPA, H.P.J. The Eye: Topical Carbonic Anhydrase Inhibitors. The carnonic
anhydrase. Nova York: Plenum. 1991. p. 171-181.
MACRI, F.; CEVAREO, S. Ciliary ganglion stimulation: II neurogenic intraocular
pathway for excitatory effects on aqueous humour production and outflow. Invest
Ophthalm Vis Sci, v. 14, p. 471, 1975.
MENEZES, M.S.; ALVAREZ, M.A.P. Anestesiologia em oftalmologia. In. MANICA,
J.T. Anestesiologia: princípios e técnicas . Porto alegre: Artes médicas. 1992. p. 355360.
MILLER, P.E.; STANZ, K.M.; DUZIELZIG, R.R.; MURPHY, C.J. Mechanisms of
acute intraocular pressure increases after phacoemulsification lens extraction in dogs.
Am J Vet Res. V. 58, n. 10, p. 1159-1165, 1997.
NASISSE, M.P.; DAVIDSON, M.G.; JAMIESON, V.E.; et al. Phacoemulsification and
intraocular lens implantation: a study of surgical results in 182 dogs. Prog Vet Comp
Ophthalm, v. 1, n. 4, p. 225-232, 1991.
PASQUINI, C.; SPURGEON, T.; PASQUINI, S. Anatomy of domestic animals.
Sistemic and regional approach. 7. ed. Sudz Publishing, 1996. Chap. 11: Common
integument- Eye- Ear: p. 546-550.
PEIFFER, G.; GUM, G.G. Determination of the facility of aqueous humour outflow in
the dog. Am J Vet Res, v. 37, p. 1473, 1976.
RITTENHOUSE, K.D., PEIFFER, R.L., POLACK, G.M. Evaluation of microdialysis
sampling of aqueous humor for in vivo models of ocular absorption and disposition. J.
Pharm. Biomed. Anal., V. 16, p 951 – 959, 1998.
SAMUELSON D. A. Ophthalmic embryology and anatomy. In. GELLAT, K. N.
Veterinary Ophthalmology. 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger. 1991. Chap. 1. p. 3-123.
SAMUELSON, D.; GELLAT, K. Aqueous outflow in the Beagle II. Postnatal
morphologic development of the iridocorneal angle: corneoescleral trabecular
meshwork and angular aqueous plexus. Curr Eye Res. v. 3, p. 795-807, 1984.
34
SAMUELSON, D.; GUM, G.G.; GELLAT, K.N. Ultrastructural changes in aqueous
outflow apparatus of Beagles with inherited glaucoma. Invest Ophthalm Vis Cis, v. 30,
p. 550-561, 1989.
SHIELDS, M.B. Textbook of glaucoma. 41 ed. Baltimore: Williams e Wilkins. 1998.
SLATTER, D. Fundamentals of veterinary ophthalmology, 2 ed. Philadelphia:
Saunders, 1990. Chap. 14: Lens: p.365- 399.
SMITH, P.J.; BROOKS, D.E.; LAZARUS, J.A.; et al. Ocular hypertension following
cataract surgery in dogs: 139 cases (1992-1993). J Am Vet Med Assoc, v. 209, n. 1, p.
105-111, 1996.
STADES, F.C.; BOEVÉ, M.H.; NEUMANN, W.; WYMAN, M. Fundamentos de
oftalmologia veterinária. 1. ed. São Paulo: Manole. 1999. 204p.
SUGRUE, M.F.; MALLORCA, P.; SCHWAM, H.; et al . A comparison of L-671, 152
and MK-927, two topically effective ocular hypotensive carbonic anhydrase inhibitors,
in experimental animals. Curr Eye Res. v.9, p. 607-615. 1990.
TAKEDA, T.; TAKEHANA, M. Effects of dorzolamide hydrocloride on ocular tissues.
TAYLOR, M.M.; KERN, T.J.; RIIS, R.C.; et al. Intraocular bacterial contamination
during cataract surgery in dogs. J Am Vet Med Assoc. v. 206, p. 1716-1720. 1995.
ZIMMERMAN, T.J., ZALTA, A.H. Facilitating patient compliance in glaucoma
therapy. Survey. Ophthalmol. V. 28, p. 252 – 257, 1993.
35

Documentos relacionados